fraudes intelectuais
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Fraudes intelectuaisTRANSCRIPT
Mais um caminhão de fraudes intelectuais: Lewis Wolpert contra William Lane Craig – Parte 1Quando mencionei que o nível do debate sobre a existência de Deus a partir da
chegada do neo-ateísmo estava muito baixo, nem nas minhas piores
expectativas conseguia imaginar que seria possível bater o recorde e jogar o nível
abaixo do ralo.
Mas aconteceu.
Lewis Wolpert, um biólogo (hmm… quem diria? Outro cientista, exatamente como
eu havia comentado no texto linkado acima) debateu com William Lane Craig e deu
uma aula de como NÃO se portar em um debate.
E o pior: ele cita “Deus, um Delírio” (filosoficamente irrelevante; está mais para
auto-ajuda, como você pode ver aqui) como referência duas ou três vezes no
debate.
Tendo esse preparo intelectual, não podíamos esperar muita coisa de Wolpert.
Abaixo, um resumo dos estratagemas praticados por ele no debate:
Falta de coerência: Wolpert diz (8:49, parte 3/12) que acredita que a crença
em Deus é falsa. Ao longo do debate, faz distinção de emergência (alias,
preciso publicar aquela série sobre Schopenhauer logo) para dizer que “só
não possui evidências que é verdadeira”. (O que já vimos que é um erro
lógico no texto “O Grande Erro de Richard Dawkins”)
Estratégia de intimidação: Wolpert começa com um dos mais baixos
estratagemas possível (final da parte 3), que é o Ateus são Fortes, Teístas são
Fracos. Tenta, de cara, aplicar uma falácia genética gigantesca “Vocês
acreditam nisso porque se sentem melhor. Essa é a origem da religião e das
suas crença em Deus”. Ou seja, existem os “durões” que aceitam os fatos e
os “fracos” que precisam se anestesiar. Obviamente, isso não passa em um
crivo lógico, pois a existência de Deus independe dos motivos que alguém
tem para acreditar nele. O argumento também é facilmente parodiável, pois
basta dizermos que “Você não acredita em Deus por medo do Inferno, etc”
que dará no mesmo.
Pluralismo religioso: O velho estratagema da ampliação indevida (0:65,
4/12). Por existirem várias religiões diferentes, não quer dizer que TODAS são
inválidas por causa disso. Pode ser que uma seja verdadeira. Craig
apresentou os argumentos para o Cristianismo e Wolpert apenas ignorou.
“Quem criou Deus?”: pergunta velha e batida, a mesma que Dawkins faz a
exaustão no seu livro. Apenas o que COMEÇA a existir (tem um início) precisa
ser criado. Se existir eternamente, não. Seria o mesmo caso do Universo caso
ele fosse eterno. “Se Deus não precisa de causa, por que o Universo precisa?”
Porque, infelizmente (para Wolpert), as evidências científicas e filosóficas são
mais plausíveis para o início do Universo como o conhecemos.
Deus barbudo sentado em uma nuvenzinha: Wolpert pergunta: “Por que
Deus tem uma forma humana?” (2:13, 4/12). O quê?! Wolpert realmente acha
que essa é a versão da teologia ou está tentando atacar uma visão lícita a
uma criança de 8 anos, no máximo?! E o argumento de Craig de que Deus é
imaterial?
Repetir o mantra “Não há evidências, não há evidências, não há
evidências”: 90% da argumentação do biólogo consiste em repetir, sem
parar, que não há evidências. Mas ele não refuta as oferecidas por WLC e
nem especifica quais as evidências esperadas (tratarei dessa técnica nos
próximos dias).
Self-selling e ad hominem: Perto de 5:34 (parte 6), ele ataca Craig dizendo
“Eu sei que é difícil para filósofos dizer isso, mas nós, Cientistas, admitimos
que não sabemos as coisas”. Ou seja, a refutação apresentada para o
argumento cosmológico foi: “Não sei!” Ora, qualquer principiante em lógica
sabe que, para recusarmos uma hipótese, ou demonstramos a falsidade de
uma das premissas ou que a conclusão não segue de (p1) e (p2). Wolpert
NÃO faz isso.
E esse é só o início. O número de fraudes é TÃO grande, que será necessário ainda
fazer uma parte 2.
A partir de agora, faço uma campanha: biólogos, fiquem no laboratório!
Ou, pelo menos, leiam algum livro de lógica para saber o que é uma falácia
genética antes de debater filosofia…