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Revista Virtual Direito Brasil – Volume 2 – nº 1 - 2008 1 Franquia Imobiliária, uma Criação de Novos Negócios Maria Bernadete Miranda Mestre em Direito das Relações Sociais, sub-área Direito Empresarial, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Coordenadora e Professora do Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Di- reito de Itu e Professora de Direito Empresarial, Direito do Consumidor e Mediação e Arbitragem da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis de São Roque. Advogada. Resumo Este artigo tem por objetivo examinar a Franquia Imobiliária e como se apre- senta na realidade jurídica brasileira. Abstract This article has the objective of the Immovable Franchising in the light of Bra- silian legal reality. 1. Introdução Há 25 anos, na Austrália, surgia um novo conceito que revolucionou a organi- zação das empresas imobiliárias: a franquia. Embora originária do mesmo continente que o canguru, ao contrário do animal exótico que só sobrevive em seu habitat natu- ral, a franquia logo conquistou adeptos em várias partes do mundo. Hoje, nos Estados Unidos, país que copiou com grande sucesso a idéia dos australianos, existem mais de 42 organizações franqueadoras, congregando 14 mil unidades franqueadoras. Segundo as estatísticas, a operação na forma de franquia faz com que os negócios sejam 40% superiores ao sistema individual. A franquia reúne, como em um shopping, um número grande de lojas (imobili- árias), só que por meio de um sistema de informação. Embora espalhadas geografi- camente, as lojas estão integradas por um sistema central de ofertas. A maior opção de imóveis ofertados atrai um grande número de consumidores e se transforma me melhores chances de negócios para todos. No Brasil, o sistema de franquia imobiliário está sendo introduzido desde feve- reiro de 1993, contando atualmente com 03 (três) franqueadores imobiliários, onde o

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Revista Virtual Direito Brasil – Volume 2 – nº 1 - 2008

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Franquia Imobiliária, uma Criação de Novos Negócios

Maria Bernadete Miranda

Mestre em Direito das Relações Sociais, sub-área Direito Empresarial, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Coordenadora e Professora do Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Di-reito de Itu e Professora de Direito Empresarial, Direito do Consumidor e Mediação e Arbitragem da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis de São Roque. Advogada.

Resumo

Este artigo tem por objetivo examinar a Franquia Imobiliária e como se apre-

senta na realidade jurídica brasileira.

Abstract

This article has the objective of the Immovable Franchising in the light of Bra-

silian legal reality.

1. Introdução

Há 25 anos, na Austrália, surgia um novo conceito que revolucionou a organi-

zação das empresas imobiliárias: a franquia. Embora originária do mesmo continente

que o canguru, ao contrário do animal exótico que só sobrevive em seu habitat natu-

ral, a franquia logo conquistou adeptos em várias partes do mundo.

Hoje, nos Estados Unidos, país que copiou com grande sucesso a idéia dos

australianos, existem mais de 42 organizações franqueadoras, congregando 14 mil

unidades franqueadoras. Segundo as estatísticas, a operação na forma de franquia

faz com que os negócios sejam 40% superiores ao sistema individual.

A franquia reúne, como em um shopping, um número grande de lojas (imobili-

árias), só que por meio de um sistema de informação. Embora espalhadas geografi-

camente, as lojas estão integradas por um sistema central de ofertas. A maior opção

de imóveis ofertados atrai um grande número de consumidores e se transforma me

melhores chances de negócios para todos.

No Brasil, o sistema de franquia imobiliário está sendo introduzido desde feve-

reiro de 1993, contando atualmente com 03 (três) franqueadores imobiliários, onde o

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ponto forte da franquia está na ampliação do potencial de venda de um imóvel inse-

rido no sistema.

Toda a rede franqueada tem acesso imediato ao cadastro geral de imóveis e

de clientes. Existem outras vantagens: “A publicidade institucional, as compras, a

comunicação interna e o treinamento das equipes têm seus custos rateados entre os

franqueadores que aprimoram suas formas de atendimento”. No sistema de franquia,

as experiências e as informações sobre o mercado são trocadas de maneira efetiva

e produzem uma sinergia entre todos os seus integrantes.

A grande dúvida do mercado é quanto ao pagamento das comissões. Na

franquia, tanto quem capta quanto quem vende o imóvel ganha suas comissões in-

tegrais, e as imobiliárias dividem os lucros em partes iguais.

O sistema trazido da Austrália ganhou, no Brasil, um elemento adicional: os

lançamentos. Se desejar, o franqueado recebe todo o material promocional e partici-

pa das vendas do lançamento do franqueador, independente de sua localização.

No Brasil, não temos uma legislação, somente existe a Lei. Nº. 8.955, de 15

de dezembro de 1994, que dispõe sobre o contrato de franquia e dá outras provi-

dências. Essa lei apenas disciplina a formação do contrato, só dá os requisitos para

que se faça o franchising, mas não regula, pois não há norma.

Nos Estados Unidos, o resultado das franquias imobiliárias pode ser avaliado

pelas 42 empresas franqueadoras e pelas 14.000 unidades franqueadoras em ope-

ração. As franquias imobiliárias se expandem, pelo mundo.

Na Europa já estão presentes na França, no Reino Unido, Itália, Espanha,

Portugal, Alemanha..

Na Ásia e pacífico estão presentes no Japão, Coréia do Sul Taiwan, Hong

Kong e Austrália.

No Continente Americano, além dos Estados Unidos, já estão consolidadas

no Canadá e nos últimos quatro anos se expandem rapidamente no México.

E de cada cinco imobiliárias de alta qualidade, quatro são franqueadas, se-

gundo pesquisa realizada com compradores e vendedores de imóveis em cidades

médias americanas.

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Depois dos Estados Unidos e Japão, o Brasil será a terceira potência em

franquia, prevê a Associação Internacional de Franchising.

2. O Corretor de Imóveis

A história do Corretor de Imóveis é tão irrequieta, dinâmica e rotativa como a

própria imagem do Corretor através dos tempos.

De tal modo confunde-se com “Estórias de Corretor” que, não raro, compro-

mete a postura de seriedade do historiador.

Não será absurdo nem ilógico situá-lo na mais remota saga da humanidade,

mesmo além dos lindes do habitat dos Orientais.

Com efeito, sempre existiram homens que não aceitavam a própria escravi-

dão, nem, posteriormente, a condição de subordinado de nenhum mercado rico.

O que estaria, então, ao irresignado que, de outro lado, também não tinha ca-

pital de giro para tocar o comércio? Até hoje sabe-se que a característica fundamen-

tal do Corretor é a criatividade, é a fértil imaginação. Isto é de tal modo marcante que

alguns levam ao exagero de tentar vender um imóvel que ainda não existe...

Diz-se que foi assim que chegando o levantino preso, a Roma, e não tendo

como defender-se, procurou agradar ao seu capturador, alta autoridade imperial,

mostrando-lhe como sendo tão importante, morava tão modestamente em seu con-

forto... De imediato, comprometeu-se, uma vez liberto, encontrar confortável vivenda

para o poderoso carcereiro, a esta altura já influenciado pelo prisioneiro.

Daí em diante foi tudo fácil, já se podia ganhar alguns Sestércios no incipiente

mercado imobiliário de Roma.

É por isso que não falta quem afirme que o Corretor de Imóveis sempre exis-

tiu, era o profissional à procura de uma profissão.

Esse profissional que agiliza o negócio, e também o responsável pela circula-

ção da riqueza, com a velocidade e a economia de tempo que traz proveito para to-

dos, era no Brasil o profissional que não tinha encontrado a sua identidade, nem a

da sua profissão, até que o Congresso Nacional votou a Lei nº. 4.116, promulgada

em 27 de agosto de 1962.

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Afinal, era o público reconhecimento do Poder Legislativo que assim atestava

a importância fundamental do Corretor de Imóveis no sociedade brasileira.

Ao delimitar o campo de atuação do Corretor de Imóveis, a Lei nº. 4.116/62

exigia um vago título de escolaridade, sem maiores referências, que terminou por

contagia-lo com a seiva da inconstitucionalidade.

Ao exigir um título, diploma ou certificado como pressuposto de inscrição do

conselho, a Lei terá que mencionar o respectivo curso com seu currículo e sua carga

horária. Se tal não ocorre no estatuto regulamentador, outro paralelo há de o regis-

trar. Esse foi o mérito da Lei nº. 6.530 de 12 de maio de 1978.

Mais realista e mais lúcido, o seu artigo segundo já situa o curso em nível mé-

dio e o domina de “Técnico em Transações Imobiliárias”.

A categoria profissional que se despertou com a Lei nº. 4.116/62, redescobriu-

se com a Lei nº. 6.530/78, está caminhando a passos largos para ser, em breve, o

celeiro de valores técnicos de nível superior, prontos a dar a sua colaboração às al-

tas autoridades do país, a emprestar experiência a órgãos da administração pública,

às empresas privadas, enfim, a todos os usuários dos seus serviços profissionais, os

verdadeiros beneficiados.

3. A Franquia e o Corretor no Ano 2000

Uma “seleção natural”, em que os componentes se destacarão dos queixosos

que aguardam de braços cruzados a passagem da crise econômica, deverá marcar

a evolução no sistema de franquia imobiliária no Brasil.

Aqueles que preferem arregaçar as mangas e inventar formas de garantir ao

menos uma estabilização no resultado financeiro, precisarão, é verdade, dominar

com maestria a grande arte de gerir os negócios em momentos de aperto e, sobre-

tudo, assumir uma atitude respeitosa em relação ao parceiro e consumidor.

Os esforços de profissionalização e qualificação, somados, constituem uma

senha imbatível para se preservar o lucro e tocar o empreendimento para a frente.

O sistema passará por um processo de aprimoramento qualitativo muito forte,

uma depuração rigorosa. Vão se sair bem as empresas que trabalham com equipes

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enxutas e que possuem um sistema operacional testado e uma estrutura administra-

tiva sólida e experimentada.

Em franchising, não existem minas de ouro, mas os seguimentos de presta-

ção de serviços costumam ser rentáveis porque os investimentos são baixos e a dis-

seminação se faz de maneira rápida.

O Corretor de Imóveis precisa mudar sua imagem perante o público, hoje, pa-

ra que chegue ao ano 2000 fortalecido. O consumidor é mais exigente e informado,

por isso é preciso resgatar a imagem do profissional.

O mercado imobiliário é um transatlântico sem capacidade de manobras e re-

ações rápidas, por isso os próximos anos não serão fáceis para o setor.

Para mudar essa situação, a concorrência selvagem deverá ser eliminada, as

avaliações amortizadas e o proprietário considerado o ponto central da atividade do

Corretor.

Houve um tempo em que o Corretor de Imóveis era o único responsável pelo

imóvel: cuidava da avaliação, da divulgação do preço, e também das negociações e

dos contratos. Representava integralmente o proprietário e recebia por este trabalho

a comissão de 3%. Na década de 50, foi colocado em prática um novo método de

trabalho em que o Corretor deixou de ter exclusividade para a venda de um imóvel.

As imobiliárias cresceram, oferecendo ao proprietário maior facilidade de venda, e

aos compradores, mais opções de escolha, o que exigiu maior número de pessoas

para a captação de imóveis.

O novo sistema encareceu as operações, e, consequentemente, subiram os

valores das comissões para 5%. Isso gerou o processo de rejeição dos proprietários

pelas intermediações imobiliárias.

Em 1970, as bolsas de valores começaram a atrair investimentos de classe

média, o que diminuiu a venda de imóveis, provocando o desinteresse dos Correto-

res de Imóveis pela atitude. Então, surgiram as empresas fortes para suprir as defi-

ciências dos profissionais inexperientes, e os plantões imobiliários, que facilitam o

acesso ao imóvel.

Além disso, houve mudanças na política habitacional, enquanto a atividade

profissional permaneceu estagnada. Praticamente nada excepcional foi criado no

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Brasil, nesses vinte anos, no setor imobiliário, surgindo, agora, a novidade das fran-

quias imobiliárias.

O Corretor possuidor de uma franquia terá o direito e as vantagens de usar

uma marca sólida em sua área de atuação. Será o símbolo visível da força do fran-

queado.

O que irá determinar a escolha da região de atuação de uma franquia imobili-

ária, bem como a análise do potencial desse mercado, será o conhecimento e a in-

fluência na comunidade, que são fatores importantes para a atração de negócios e

clientes.

O franqueado contará com orientação para escolha e locação do ponto mais

adequado para sua imobiliária conquistar a liderança local. Disporá de projeto arqui-

tetônico e de layout interno e externo para sua loja, além de toda a padronização de

impressos, materiais promocionais e uniformes. Terá também programas abrangen-

tes de treinamento, envolvendo atendimento, avaliação, administração, legislação,

vendas imobiliárias e aperfeiçoamento de sua equipe.

Contará com tudo aquilo que mais falta a um agente imobiliário isolado. Como

franqueado de uma imobiliária, tudo estará a sua disposição: informações sobre o

mercado, tendências dos negócios, dados atualizados e tudo mais para o sucesso

de seu trabalho.

Estará informado sobre as constantes modificações Jurídicas envolvidas com

as transações imobiliárias. Estar a par dessas atualizações é mais um forte diferen-

cial para o franqueado.

Terá acesso a importantes ferramentas gerenciais para o seu negócio. Siste-

ma de banco de dados de clientes para administrar e manter um contato permanen-

te, como também de imóveis para um eficiente gerenciamento de sua carteira e a-

cesso à central de Imóveis da rede franqueadora. Sistema de controle financeiro fa-

cilitando o controle das operações administrativas e financeiras de sua unidade, co-

mo o rateio de comissões, contas a pagar e receber.

O franqueado contará com todo o sistema e a força da Rede franqueadora. Is-

to significa uma estreita parceria para o sucesso e plena realização como dono do

seu próprio destino.

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4. Definições de Franquia

Para Maria Helena Diniz “Franquia ou franchising é o contrato pelo qual uma

das partes (franqueador ou franchisor) concede, por certo tempo, à outra (franquea-

do ou franchisee) o direito de comercializar a marca, serviços ou produtos que lhe

pertence, recebendo, em troca, certa remuneração”.

Assevera Fran Martins que “O contrato de franquia compreende uma presta-

ção de serviços e uma distribuição de certos produtos, de acordo com as normas

convencionais. A prestação de serviço é feita pelo franqueador ao franqueado, pos-

sibilitando a este a venda de produtos que tragam a marca daquele. A distribuição é

tarefa do franqueado, que se caracteriza na comercialização do produto. Os dois

contratos agem conjuntamente, donde ser a junção de suas normas que dá ao con-

trato a característica de franquia”.

Orlando Gomes diz que “Com o vocábulo franchising, designa-se a operação

pela qual um empresário concede a outro o direito de usar a marca de um produto

seu com assistência técnica para sua comercialização, recebendo, em troca, deter-

minada remuneração. É um contrato que se aproxima da concessão exclusiva, da

distribuição, do fornecimento de prestação de serviços. Não é, outrossim, locação

nem mandato, mas figura autônoma, embora híbrida”.

Para Waldírio Bulgareli “Franchising é a operação pela qual um comerciante,

titular de uma marca comum, cede seu uso, num setor geográfico definido, a outro

comerciante. O beneficiário da operação assume integralmente o financiamento do

sua atividade e remunera o seu co-contratante com uma percentagem calculada so-

bre o volume dos negócios. Repousa sobre a cláusula de exclusividade, garantindo

ao beneficiário, em relação aos concorrentes, o monopólio da atividade”.

Ensina Nelson Abrão que “Um contrato pelo qual o titular de uma marca de

indústria, comércio ou serviço (franqueador), concede seu uso a outro empresário

(franqueado), posicionando em nível de distribuição, prestando-lhe assistência no

que concerne aos meios e métodos para viabilizar a exploração dessa concessão,

mediante o pagamento de uma entrada e um percentual.”

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Para Jorge Pereira Andrade “Franquia é o contrato pelo qual uma empresa in-

dustrial, comercial ou de serviços, detentora de uma atividade mercadológica vitorio-

sa, com marca ou no comercial notórios (franqueadora), permite a uma pessoa física

ou jurídica (franqueada), por tempo e área geográfica exclusiva e determinada, o uso

de sua marca, para venda ou fabricação de seus produtos e/ou serviços, mediante a

uma taxa inicial e porcentagem mensal sobre o movimento de vendas. Oferece, por

isso, todo o seu Know-How administrativo, de marketing e publicidade e exige, em

contrapartida, um absoluto atendimento a suas regras e normas; permite ou não a

subfranquia; neste caso, deve ser o franqueado pessoa jurídica de Direito Privado”.

Para o Conselho de Desenvolvimento Comercial do Ministério da Indústria e

Comércio(BR): “Franquia é um sistema de distribuição de bens e serviços, pelo qual

o titular de um produto, serviço ou método, devidamente caracterizados por uma

marca registrada, concede a outros comerciantes, que se ligam ao titular por relação

contínua, a licença e assistência para a expansão do produto no mercado”.

A Corte de Apelação de Paris, em decisão de 28/04/1978, assevera que

“Franchising é um método de colaboração entre duas ou várias empresas comerci-

ais, uma franqueadora, outra franqueada, pelo qual a primeira, proprietária de um

nome de uma razão social conhecidos, siglas, símbolo, marca de fábrica comércio ou

de serviços, bem como de savoir-faire particular, colocada à disposição de outra o di-

reito de utilizar, mediante um pagamento ou outra vantagem, uma coleção de produ-

tos ou de serviços, originais ou específicos, para explorar obrigatoriamente e total-

mente, segundo técnicas comercias experimentadas, desenvolvidas e periodicamen-

te recicladas, de uma maneira exclusiva, para o fim de realizar um melhor impacto

sobre um mercado considerado e de obter um desenvolvimento acelerado da ativi-

dade comercial das empresas envolvidas; esse contrato pode ser acompanhado de

uma ajuda industrial, comercial ou financeira, permitindo a integração na atividade

comercial do concedente franqueador, em benefício do franqueado iniciado em uma

atividade técnica original e num savoir-faire fora do comum, permitindo a manuten-

ção de imagem de marca do serviço ou do produto vendido e o desenvolvimento da

clientela por menor custo e com uma maior rentabilidade para as duas partes, que

conservam juridicamente uma independência total”.

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No entendimento de Guyénot “Franchising é a concessão de uma marca de

produtos ou serviços à qual se acrescenta a concessão de conjunto de métodos e

meios de venda”.

Para Jean- Marie Leloup “Franchising é o contrato sinalagmático, de execução

sucessiva, pelo qual uma empresa, denominada franqueadora, confere a uma ou vá-

rias empresas denominadas franqueadas, o direito de reproduzir, sob as instruções e

com a assistência contínua da franqueadora, o sistema de gestão previamente expe-

rimentado pela franqueadora”.

Philippe Bersis entende que “a franquia se define como um método de colabo-

ração entre uma empresa, o franqueador de uma parte, e um ou vários empresários,

os franqueadores de outra parte”.

A US Departament of Commerce diz que “É um método de fazer negócios no

qual é conferido a um franqueado o direito de produzir ou vender mercadorias ou

serviços sob uma formatação mercadológica definida pelo franqueador. O franquea-

dor concede ao franqueado o uso de sua marca registrada, seu nome e sua publici-

dade”.

A Internacional Franchise Association (IFA) entende que “Uma franquia é um

contínuo relacionamento entre o franqueador e o franqueado, no qual o total dos co-

nhecimentos do franqueador, imagem, sucesso, técnicas de manufatura e marketing

são fornecidos ao franqueado mediante remuneração”.

A Comissão Belga de Distribuição diz que; “A franquia é um sistema de cola-

boração entre duas empresas diferentes, porém ligadas a um contrato em virtude do

qual uma delas concede a outra, mediante o pagamento de uma quantia e sob con-

dições bem determinadas, o direito de exploração de uma marca ou fórmula comer-

cial representados por um símbolo gráfico ou emblema, assegurando-lhe ao mesmo

tempo ajuda e alguns serviços regulares destinados a facilitar esta exploração”.

Concluímos que o sistema de franquias, também identificado no Brasil como

“franquia comercial”, é a melhor maneira de se obter a organização dos canais de

distribuição, com baixo risco de investimento e maior probabilidade de sucesso no

negócio. Em determinadas situações, funciona como uma poderosa ferramenta de

marqueting, utilizando metodologia rápida e segura de comercialização, através da

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união de duas partes em prol do desenvolvimento de um mesmo negócio. De um la-

do, temos a figura do franqueador, e do outro, os franqueados.

5.O Contrato de Franquia

O contrato de franquias é um acordo de vontades entre franqueador e fran-

queado, objetivando a implantação e operação pelo último, de um negócio, de acor-

do com as regras estabelecidas pelo primeiro, de modo que disso decorram benefí-

cios para ambos. Em regra é um contrato bilateral, consensual, comutativo, oneroso

e contínuo ou de execução continuada.

Para Maria Helena Diniz: a) Bilateral é aquele em que cada um dos contra-

entes é simultânea e reciprocamente credor ou devedor do outro, pois produz direi-

tos e obrigações para ambos, tendo por característica principal o sinalagma, ou seja,

a dependência recíproca de obrigações; daí serem também denominados contratos

sinalagmáticos.

b) Consensual ou não-solene é o que se perfaz pela simples anuência das

partes, sem necessidade de outro ato. A ordem jurídica não exige, para que se a-

perfeiçoem, senão o acordo das partes, não impondo, portanto, nenhuma forma es-

pecial para sua celebração. Basta o consentimento dos contratantes para a sua for-

mação.

c) Comutativo vem a ser aquele em que cada contratante, além de receber

do outro prestação relativamente equivalente a sua, pode verificar, de imediato, essa

equivalência. Portanto, nesse contrato, cada contraente se obriga a dar ou fazer algo

que é considerado como equivalente àquilo que lhe dão ou que fazem.

d) Oneroso é o que traz vantagens para ambos os contraentes, pois estes so-

frem um sacrifício patrimonial, correspondente a um proveito almejado.

e) Contínuos são os contratos que se protraem no tempo, caracterizando-se

pela prática ou abstenção de atos reiterados, solvendo-se num espaço mais ou me-

nos longo de tempo. Ocorrem quando a prestação de um ou de ambos os contraen-

tes se dá a termo.

Logo, todo contrato de franquia deve ter os seguintes elementos básicos:

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1) Presença de duas pessoas: a) Franqueador que deve ser aquele que de-

tém a marca e o Know-how de comercialização de um determinado bem ou serviço,

cedendo contratualmente os direitos de revenda e uso, e promovendo assistência na

organização, gerenciamento e administração do negócio. b) Franqueados que são

os que adquirem contratualmente o direito de comercializarem o bem ou serviço,

dentro de um mercado exclusivo, utilizando os benefícios da marca e o apoio para o

gerenciamento do negócio.

2) Titularidade da marca: É preciso que haja, por parte de alguém (franque-

ador), a titularidade de uma marca, de uma idéia, produto, serviço, método ou pro-

cesso, ou ainda a propriedade de algum equipamento, juntamente com o Know-how

relativo ao mesmo ou, ainda, a combinação de vários ou de todos esses fatores.

3) Concessão de licença: Necessária se faz a concessão de uma licença,

por parte do franqueador a outrem (franqueado) para a exploração dessa marca, i-

déia, produto, serviço, método, processo ou equipamento.

4) Condicionamento da licença; Tal licença deverá estar condicionada à ob-

servância de uma série de normas com relação ao local em que e ao modo pelo qual

o franqueado deverá atuar no desempenho de sua atividade.

5) Remuneração: Deve haver alguma forma de remuneração, direta ou indi-

reta, pelo franqueado ou franqueador, em troca da licença e dos serviços que o

mesmo lhe deve prestar ao longo de toda vigência do contrato. No Brasil é comum

que essa remuneração esteja embutida nos preços dos produtos ou serviços que o

franqueado deva adquirir do franqueador ou de seus licenciados, para revenda.

As principais disposições que o contrato deve ter se referem a:

a) Objeto a que se destina a franquia;

b) Prazo de vigência, se houver e eventuais condições para rescisão unilate-

ral;

c) Remuneração inicial (taxa de franquia) e royalties devidos pelo franqueado

ou franqueador, se houver;

d) Obrigação, do franqueado, de acatar, sem qualquer reserva, a orientação e

as instruções que lhe sejam transmitidas pelo franqueador, em tudo quanto diga res-

peito à implantação e operação de sua franquia;

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e) Os produtos ou serviços que poderão ser fabricados, comercializados ou

prestados no recinto da franquia;

f) O território no qual o franqueado poderá exercer sua atividade e a condição

em que o faz, se com ou sem exclusividade;

g) Eventuais garantias que o franqueado deva prestar ao franqueador;

h) responsabilidade e atribuição de cada parte no que se refere à publicidade

da marca e promoção envolvendo a franquia, tanto a nível local, quanto a nível regi-

onal ou nacional.

Uma outra cláusula, que costuma incluir, é aquela que objetiva garantir ao

franqueador o direito de preferência para aquisição de franquia e de suas instala-

ções e estoques.

Além destas, é evidente que o contrato deverá conter todas as demais cláusu-

las e condições que sejam julgadas essenciais para o sucesso da operação ou para

garantir a continuidade do bom relacionamento que deve se verificar entre franquea-

dor e franqueado, levando em conta as peculiaridades do negócio.

Como ocorre em qualquer contrato, o de franquia pode extinguir-se:

1) Por seu cumprimento integral, ou pelo decurso de prazo estipulado para a

sua vigência, se esse for determinado, sem que se verifique prorrogação, expressa

ou tácita, do mesmo;

2) Pelo distrato, que é o acordo entre as partes, isto é, um novo contrato, com

a finalidade de dissolver o anterior;

3) Por ato unilateral, mesmo sem justa causa, se houver cláusulas contratuais

que dêem lugar à sua extinção;

4) Judicialmente, por iniciativa de uma das partes, quando a outra deixar de

cumprir qualquer das obrigações assumidas através do contrato ou que lhe decor-

ram da lei, sempre ressalvados os casos fortuitos e os motivos de força maior.

6. Considerações Finais

O negócio de franquia existe a quase um século, mas ainda está longe, muito

longe, mesmo, da saturação. Apenas nos Estados Unidos, alguns setores já não

comportam investimentos, e o mercado externo é hoje a grande alternativa do cres-

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cimento. A cada dia, franqueadores americanos conquistam milhares de consumido-

res no mundo inteiro, Do próspero Japão ao emergente México, das caóticas cida-

des do Terceiro Mundo as requintadas capitais européias, sem perder de vista a rá-

pida evolução do Leste europeu. Sem dúvida, a franquia é um sucesso. Uma manei-

ra consagrada de fazer negócios e de distribuir bens ou serviços, porém suficiente-

mente flexível para acomodar as mudanças impostas pelos gostos variados de bi-

lhões de clientes em diferentes partes do planeta.

Depois de brilhar solitária por quase três anos no Brasil, as poucas franquias

imobiliárias começam a fazer escola e a inspirar novos projetos pelo país. O fran-

queado conta com todo sistema e a força do franqueador, isto significa uma estreita

parceria para o sucesso e uma plena realização como dono de seu próprio destino.

Todos os franqueados de uma imobiliária terão acesso a todos os imóveis

disponíveis da rede, multiplicando sua carteira e aumentando suas chances de ven-

das. Esse dinamismo resulta em maiores rendimentos para as equipes de venda, a-

traindo o maior número de corretores qualificados, que participarão em reuniões de

motivação, convenções e congressos para a aprimoramento técnico-profissional do

franqueado e de sua equipe.

O franqueado compartilhará dos mais recentes projetos e tipos de produtos

que vierem a ser desenvolvidos, através do franqueador, em sua procura constante

por novas alternativas de mercado. As possibilidades da franquia imobiliária no Brasil

são imensas, e o caminho já está iluminado.

Referências Bibliográficas

ABRÃO, Nelson. Da franquia comercial. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1984. ANDRADE, Jorge Pereira. Contratos de franchising e leasing. São Paulo: Atlas, 1993. BERNARD, Daniel Alberto. Franchising: avalie este investimento. São Paulo: A-tlas, 1993. BESIS, Philippe. Le contrat de franchisage. Paris: LGDJ,1994. BULGARELLI, Waldírio. Contratos comerciais. São Paulo: Atlas, 1984.

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Revista Virtual Direito Brasil – Volume 2 – nº 1 - 2008

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