A construção da noção de tempo 1

A construção da noção de tempo longo (sécs. XVII – XVIII)

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Noções de tempo

� Tempo cíclico e tempo linear; mudanças graduais ou catastróficas.

� Tempo natural= sempre presente; há evidências desde o Paleolítico Superior (representações da periodicidade da lua durante a ‘Idade do Gelo’).

� Tempo absoluto= físico-matemático; surge como produto da Revolução Científica (Galileu e Newton). “Os trabalhos secretos da Natureza ... são meros produtos de Movimento, Quantidade e Magnitude” (Robert Hooke, 1665).

� Tempo geológico= ?

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Fósseis: antes problema do que solução

�Questão central: “As pedras que têm forma de concha são lapides sui generis, produzidas naturalmente por uma virtude plástica qualquer, latente na Terra ou na cavidade em que são encontradas? Ou devem sua forma e aspecto externo às conchas e aos peixes que elas representam e que foram transportados para os lugares do descobrimento por um dilúvio, um terremoto ou outras causas?” (Robert Plot, supervisor do

Ashmolean Museum, 1705)

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Fósseis: antes problema do que solução

� Tese da origem orgânica:ponto de partida = constatação de semelhanças e de diferenças notáveis � problema em reconhecer espécies extintas � ruptura na “Grande Cadeia do Ser” e imperfeição na obra do Criador � estímulo ao ateísmo.

� Alternativas = não são espécies extintas, mas sim atuais aindadesconhecidas[partes remotas do globo (John Ray, 1692)].

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Fósseis: antes problema do que solução

� Explicações p/ origem orgânica(corpos marino-montanos) (N. Steno e R. Hooke):– Os ventos transportaram as conchas até os montes;– Restos de cascas de alimentação de pescadores;– Os corpos marinhos permaneceram “agarrados” à Terra

quando, depois da Criação, as águas se retiraram p/ os mares;– Os corpos marinhos foram transportados por grandes

transbordamentos ou inundações do mar; para alguns, durante o Dilúvio;

– Os mares já foram mais vastos e cobriram as montanhas há tempos;

– Há mais de uma explicação.

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Fósseis: antes problema do que solução

� Tese da origem inorgânica:ponto de partida = a Natureza possui virtudes plásticasque moldam esses objetos � há formas que não têm função alguma � semelhanças casuais entre os seres � imperfeição [crítica de Robert Hooke(1668): a Natureza não cria nada em vão].

� Alternativas = extinção com o Dilúvio.

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Gravura mostrando o Dilúvio Página de rosto de um livro sobre plantas fósseis, Scheuchzer, 1709

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Fósseis: antes problema do que solução

�Explicações p/ origem inorgânica(John Ray e AthanasiusKircher):– Ovas e sêmens levíssimos foram levados por vapores de água

subterrânea até o alto; nasceram quando esses vapores se condensaram; permaneceram “a seco e embrulhados na terra”e se petrificaram;

– A Terra, competindo em fecundidade com o mar, produziu plantas e animais semelhantes;

– Os corpos marino-montanos são produzidos pela Terra apenas em suas cascas, pois esta não pode produzir o interior (partes moles);

– São caprichos da natureza;– Originam-se na “podridão geradora”.

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Ilustrações da Metallotheca Vaticana, de Michele Mercati (1541-1593), o mais rico museu geológico de sua época. Mercati acreditava que os

fósseis nasciam nas próprias rochas.

“Cornos de Amon”

e

Glossopetras(línguas petrificadas; conhecidas desde a Antigüidade clássica)

‘Pedra na qual nascem as conchas terrestres’

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Duas alternativas em jogo

� Natureza como série de formas imutáveis e ordem de estruturas permanentes � fósseis são pedras e objetos naturais mais estranhos do que os outros ∴ são apenas observados.

OU

� Natureza como processo que se desenrola no tempo, conjunto de estruturas só aparentemente constantes �

fósseis são documentos ou vestígios do passado, sinais de processos que se desenvolveram ∴ são lidos� a própria Natureza tem história.

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Nicolau Steno (Niels Steensen) (1638 – 1686)� Nascido em Copenhagen� Médico (anatomista)� Viagens pela Europa; médico e

naturalista na corte de Fernando II de Médici (Florença)

� Luterano � Católico (1667)� Bispo em Schwerin (onde morreu)� Obra principal: Pródromo de uma

dissertação sobre o sólido naturalmente contido no sólido(1669; ~ 60 págs.)

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Principais contribuições

�Identificação das “glossopetras” = Dentes de tubarão, reconhecidos a partir da dissecação de um espécime capturado em 1666 no Mediterrâneo.

�Reconhecimento do ambiente de deposição das rochas a partir da associação entre os fósseis e o restante do material.

� ORIGEM ORGÂNICA DOS FÓSSEIS

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Ilustração de Mercati utilizada por Steno em 1667, comparando a cabeça de um tubarão e seus dentes com as glossopetras.

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Principais contribuições de Steno

�Princípio da superposição: “todas as camadas, exceto a mais baixa, são contidas em 2 planos paralelos ao horizonte”. Quanto mais baixa, mais antiga (mas ainda dentro da cronologia bíblica).

�Reconhecimento de “deformações”: “as camadas que estão inclinadas em relação ao horizonte foram paralelas a ele em outra época” (≠ outras explicações, como Descartes).

�Princípio da constância dos ângulos das faces dos cristais.

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Tempo de longa duração

� Estabelecido ao final do século XVIII (em torno de alguns milhões de anos).

� Abraham Gottlob Werner (1749-1817) = tempo linear.

� James Hutton (1726 -1797) = tempo cíclico.� Estabelecimento da bioestratigrafia (sucessão

de faunas) e da coluna geológica do tempo:– Cuvier e Brongniart (1808) – Bacia Sedimentar de

Paris;– William Smith (1816) – interior da Inglaterra.

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Seção estratigráfica ‘geral e ideal’ da Bacia de Paris (publicada em 1811). Construída a partir de diversas seções transversais.

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Coluna

Bioestra-

tigráfica de

William

Smith

(1816)

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Mudanças bruscas ou graduais?

�Sucesso >>> dos fósseis para datações e correlações (William Smith, Georges Cuvier e Alexandre Brongniart) � como e quando estes animais e plantas desapareceram?

� >> variedade de formas extintas: enormes ossos de vertebrados (mastodontes) até as grandes conchas com estrutura espiralada (amonitas)

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Georges Cuvier

� Coleções de ossos fósseis (Museu de História Natural de Paris)

� Anatomia Comparada �correlação entre função e estrutura � reconstrução de vertebrados extintos (sáurios, pássaros e mamíferos)

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Georges Cuvier

� Zoologia & Geologia = reconstrução integral do ambiente de cada época � Paleoambientes.

�� progressiva sucessão de formas de vida atéhumanos

� populações separadas por períodos de “revolução”= mudanças abruptas.

Problema: Como reconstituir uma história sem testemunhas, nem tampouco com um relato mais geral (como o bíblico) que lhe conferisse consistência a priori?

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�Alternativa I– explicar o passado da Terra em termos de causas de mesmo tipo e intensidade do que as atualmente existentes (James Hutton) = Uniformitarismo’

� “o presente é a chave do passado”

� ciência geológica = estudo de processose dos objetos/espécimes nestes processos, e não mais tomados isoladamente.

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�Alternativa II: grandes e repentinos eventos, como catástrofes, ocorreram em tempos passados, mesmo que na atualidade não fossem mais observados

evidências demandavamtais interpretações.

Explicações baseadas em eventos extremos �

‘Catastrofismo’

Memória sobre as Minas da capitania de Minas Gerais... (1801)

José Vieira Couto (1752 – 1827), formado em Filosofia e Medicina em Coimbra:

“Observo ainda mais outros fenômenos, que todos eles indicam uma revolução que aqui tem remexido e alterado toda a superfície da terra (...). Que pasmosa força sacudiu as entranhas destes montes, revirou o seu interior para fora, levoude rojo estes cristais? (...) Por toda a parte vejo o selo da desolação, de ruínas e calamidades por que um dia passou esta parte do globo; vejo por toda a parte os vestígios dos elementos conjurados contra ele, do fogo, das águas e dos ventos; vejo as pegadas de um lapso de tempo que foge a toda compreensão humana; e nós, com tudo isso, dormimos descansados sobre tal monte de ruínas! ”