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Félix de Jesus Neves Fatores Associados ao Déficit Estatural em Crianças Quilombolas Menores de 5 Anos na Região Nordeste do Brasil Rio de Janeiro 2017

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Félix de Jesus Neves

Fatores Associados ao Déficit Estatural em Crianças Quilombolas Menores de 5 Anos na

Região Nordeste do Brasil

Rio de Janeiro

2017

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Félix de Jesus Neves

Fatores Associados ao Déficit Estatural em Crianças Quilombolas Menores de 5 Anos na

Região Nordeste do Brasil

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Epidemiologia em Saúde

Pública, da Escola Nacional de Saúde Pública

Sergio Arouca, na Fundação Oswaldo Cruz,

como requisito parcial para obtenção do título

de Mestre em Epidemiologia em Saúde

Pública. Área de concentração: Epidemiologia

Orientador: Prof. Dr. James Robert Welch

Coorientadora: Profª. Dra. Aline Alves Ferreira

Rio de Janeiro

2017

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Catalogação na fonte

Fundação Oswaldo Cruz

Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde

Biblioteca de Saúde Pública

N519f Neves, Félix de Jesus. Fatores associados ao estado nutricional de crianças

quilombolas menores de 5 anos na região Nordeste do Brasil /

Félix de Jesus Neves. -- 2017.

113 f. : il. ; tab.

Orientador: James Robert Welch. Coorientadora: Aline Alves Ferreira. Dissertação (mestrado) – Fundação Oswaldo Cruz,

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro, 2017.

1. Grupo com Ancestrais do Continente Africano. 2. Estado

Nutricional. 3. Determinantes Sociais da Saúde. 4. Epidemiologia.

5. Lactente. 6. Pré-Escolar. 7. Desigualdades em Saúde. 8. Brasil. I. Título.

CDD – 22.ed. – 363.8

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Félix de Jesus Neves

Fatores Associados ao Déficit Estatural em Crianças Quilombolas Menores de 5 Anos na

Região Nordeste do Brasil

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Epidemiologia em Saúde

Pública, da Escola Nacional de Saúde Pública

Sergio Arouca, na Fundação Oswaldo Cruz,

como requisito para obtenção do título de

Mestre em Epidemiologia em Saúde Pública.

Área de concentração: Epidemiologia

Aprovada em: 06 de junho de 2017.

Banca Examinadora

Profº Dr. Felipe Guimarães Tavares

Universidade Federal Fluminense, Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa

Profº Dr. Ricardo Ventura Santos

Fundação Instituto Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca

Profº Dr. James Robert Welch (Orientador)

Fundação Instituto Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca

Rio de Janeiro

2017

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Dedico este trabalho a todos aqueles que sofreram ou sofrem

com o racismo e com a exclusão social.

A todo negro que lutou por equidade, e pelo direito à vida.

A Zumbi e tantos outros líderes que marcharam contra

a exploração do povo negro.

E a todos que levam consigo o orgulho de ter na mãe África,

a origem de sua ancestralidade.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por iluminar a minha trajetória, sempre mostrando qual o melhor caminho a

ser seguido e me dando forças para superar todas as adversidades.

À minha mãe Amenailza, meu pai Félix, meus irmãos Reiza e Manley, e minha vó

Lourdes, que me deram o suporte necessário para que eu alcançasse esse objetivo. Apesar da

distância, vocês apostaram no melhor pra nós, e disso eu jamais esquecerei.

À minha noiva Suzana, minha companheira, minha maior incentivadora e o grande

amor da minha vida. Obrigado Inha, por acreditar em mim. Essa vitória é nossa.

Aos meus amigos, primos e primas, tios e tias que torceram pelo meu sucesso.

Ao meu orientador James Welch, pela disposição, por todo conhecimento

compartilhado, pela compreensão e pela amizade verdadeira.

À minha coorientadora Aline Ferreira, por me guiar nos momentos desafiadores, e por

toda dedicação a este trabalho.

A Carlos E. A. Coimbra Jr., por todas ideias e sugestões oferecidas.

Aos membros da banca examinadora, Felipe Tavares e Ricardo Ventura Santos, pela

disponibilidade, pelo olhar crítico e pelas sugestões que contribuíram para o enriquecimento

desta dissertação.

A todos os funcionários da ENSP-FIOCRUZ, pelos serviços prestados, e por fazerem

parte dessa grande experiência.

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Vamos amigo, lute!

Vamos amigo, lute!

Vamos amigo, lute!

Vamos amigo, ajude!

senão,

a gente acaba perdendo o que já conquistou...

Vamos levante e lute!

Vamos levante e ajude!

Vamos levante e grite!

Vamos levante agora!

Que a vida não parou

A vida não para aqui

A luta não acabou

e nem acabará

Só quando a liberdade raiar...

Só quando a liberdade raiar...

Edson Gomes

O meu cabelo é chapado, sem precisar de chapinha

Canto rap por amor, essa é minha linha

Sou criança, sou negra, também sou resistência

Racismo aqui não, se não gostou, paciência.

Mc Soffia.

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RESUMO

Estudos recentes realizados em comunidades quilombolas no Brasil demonstraram que

essa população vive em condições de vulnerabilidade social, com baixo poder aquisitivo,

condições inadequadas de habitação, saneamento básico precário, acesso limitado a serviços

de saúde e escolaridade baixa. Ademais, apresentam um perfil de morbidade com prevalência

elevada de agravos nutricionais, como anemia e desnutrição infantil. Identificar as

prevalências de estado nutricional em crianças quilombolas pré-escolares e analisar possíveis

associações com fatores socioeconômicos e demográficos é fundamental para entender como

atuam os diferentes fatores de risco na saúde dessa população. Frente a isso, o presente estudo

teve como objetivo descrever o estado nutricional e analisar os indicadores

sociodemográficos, econômicos, de acesso a programas sociais e serviços de saúde, de

saneamento e de caracterização domiciliar associados à baixa estatura-para-idade em crianças

< 5 anos na região Nordeste, residentes em comunidades quilombolas tituladas. Utilizando os

dados da Pesquisa de Avaliação da Situação de Segurança Alimentar e Nutricional em

Comunidades Quilombolas Tituladas (2011), foi analisado o universo de 1.265 crianças, sem

métodos de amostragem específicos. Foram identificadas as prevalências de estado nutricional

para os indicadores estatura-para-idade (E/I), peso-para-idade (P/I), Índice de massa corpórea-

para-idade (IMC/I) e peso-para-estatura (P/E). Para a baixa E/I, calcularam-se razões de

prevalência e intervalos de confiança utilizando o teste de Wald. Nas análises bivariadas e

multivariadas utilizou-se regressão de Poisson com variância robusta. Foi realizada

modelagem hierarquizada em quatro níveis. Variáveis com p < 0,30 nas análises bivariadas

foram selecionadas, permanecendo no modelo final aquelas com p < 0,05. Quanto aos

resultados, a prevalência de excesso de peso segundo IMC/I e P/E foi de 3,2% e 2,8%,

respectivamente. O déficit ponderal atingiu 6,1% da população estudada e o déficit estatural,

14,1%. Maiores prevalências foram observadas no Maranhão (20,4%), em domicílios sem

banheiro, água encanada e água tratada (17,5%, 16,4% e 19,6%, respectivamente).

Indicadores associados com o desfecho no modelo final foram: alfabetização da mãe (RP

0,40; IC95% 0,18 – 0,85), mãe com excesso de peso (RP 0,36; IC95% 0,14 – 0,90) e iluminação

não elétrica no domicílio (RP 2,67; IC95% 1,11 – 6,43). A elevada prevalência de déficit

estatural, associada a condições socioeconômicas, aponta que a população quilombola no

Nordeste enfrenta preocupantes desigualdades de saúde em comparação à população não

quilombola. São necessárias estratégias de inclusão social visando melhorias nas suas

condições de vida, minimizando o quadro encontrado.

Palavras-chave: povos tradicionais, estado nutricional, Nordeste, determinantes sociais, epidemiologia.

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ABSTRACT

Recent studies carried out in maroon (quilombola) communities in Brazil have shown

that this population lives in conditions of social vulnerability, with low purchasing power,

inadequate housing conditions, poor basic sanitation, limited access to health services, and

low schooling. In addition, the morbidity profile of the maroon population segment presents a

high prevalence of nutritional diseases, such as anemia and child malnutrition. Identifying the

prevalence of nutritional indicators in maroon children of pre-school age and possible

associations with socioeconomic and demographic factors is fundamental for understanding

how different risk factors affect the health of this population. The objective of this study was

to describe the nutritional status and analyze socio-demographic, economic, access to social

programs and health services, sanitation, and household characteristic indicators associated

with stunting among children under 5 years in the Brazil’s Northeast region living in titled

maroon communities. Using data from the Food and Nutrition Security Assessment Survey in

Maroon Titled Communities (2011), the universe of 1,265 children was analyzed without

sampling methods. The prevalence of nutritional indicators based on height-for-age (H/A),

weight-for-age (W/A), body mass index-for-age (BMI/A), and weight-for-age (W/H) indexes

was described. For low H/A, prevalence ratios and confidence intervals were calculated using

the Wald test. In the bivariate and multivariate analyses of low H/A, Poisson regression with

robust variance was used. Hierarchical modeling was performed according to five levels.

Variables with p < 0.30 in the bivariate analyses were selected. Those with p < 0.05 were

retained in the final adjusted model. According to the results, the prevalence of overweight

based on BMI/A and W/H was 3.2% and 2.8%, respectively. Underweight was also identified

in 2.8% of the study population. Stunting was encountered in 14.1% of children. Higher

prevalence ratios were observed in Maranhão state (20.4%), households without a bathroom,

piped water, and treated water (17.5%, 16.4%, and 19.6%, respectively). Indicators associated

with low H/A in the final model were: maternal literacy (PR 0.40, 95% CI 0.18 – 0.85),

maternal overweight (PR 0.36, 95% CI 0.14 – 0.90), and non-electric illumination in the

household (RP 2.67, CI 95% 1.11-6.43). High prevalence of stunting associated with

socioeconomic conditions indicates that the maroon population in Northeast Brazil faces

worrying health inequalities compared to the non-maroon population. Social inclusion

strategies are needed that promote improvements in the living conditions of the population.

Keywords: traditional peoples, nutritional status, Northeast, social determinants, epidemiology.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - População de estudo, Pesquisa de Avaliação da Situação de Segurança

Alimentar e Nutricional em Comunidades Quilombolas Tituladas,

Brasil, 2011.................................................................................................

62

Tabela 2 - Distribuição de crianças quilombolas < 5 anos residentes em terras

tituladas de acordo com o sexo, por características demográficas,

Pesquisa de Avaliação da Situação de Segurança Alimentar e Nutricional

em Comunidades Quilombolas Tituladas, região Nordeste, Brasil

2011............................................................................................................

64

Tabela 3 - Distribuição de dados faltantes para as variáveis peso, altura e idade,

segundo características sociodemográficas selecionadas, para crianças

quilombolas < 5 anos residentes em terras tituladas, Pesquisa de

Avaliação da Situação de Segurança Alimentar e Nutricional em

Comunidades Quilombolas Tituladas, região Nordeste, Brasil 2011........

65

Tabela 4 - Prevalências de escores z de estatura-para-idade (E/I), peso-para-idade

(P/I), peso-para-estatura (P/E) e imc-para-idade (IMC/I) em crianças

quilombolas < 5 anos residentes em terras tituladas, segundo sexo,

Pesquisa de Avaliação da Situação de Segurança Alimentar e Nutricional

em Comunidades Quilombolas Tituladas, região Nordeste, Brasil

2011............................................................................................................

66

Tabela 5 - Prevalência de baixo peso-para-idade (P/I) e baixa estatura-para-idade

(E/I) em crianças quilombolas < 5 anos residentes em terras tituladas,

segundo variáveis independentes, Pesquisa de Avaliação da Situação de

Segurança Alimentar e Nutricional em Comunidades Quilombolas

Tituladas, região Nordeste, Brasil 2011......................................................

69

Tabela 6 - Razão de prevalências não ajustada para baixa estatura-para-idade em

crianças quilombolas < 5 anos residentes em terras tituladas, segundo

variáveis independentes, Pesquisa de Avaliação da Situação de

Segurança Alimentar e Nutricional em Comunidades Quilombolas

Tituladas, Região Nordeste, Brasil, 2011...................................................

72

Tabela 7 - Resultados da modelagem hierarquizada inicial e final para baixa

estatura-para-idade em crianças quilombolas < 5 anos residentes em

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terras tituladas, segundo variáveis independentes, Pesquisa Nacional de

Avaliação da Situação de Segurança Alimentar e Nutricional em

Comunidades Quilombolas Tituladas, Região Nordeste, Brasil,

2011............................................................................................................

75

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 13

2 REVISÃO DA LITERATURA........................................................................... 16

2.1 RAÇA E RACISMO NA SAÚDE........................................................................ 16

2.1.1 Desigualdades sociais na perspectiva de raça/cor............................................. 16

2.1.2 Iniquidades em saúde e suas inter-relações com raça/cor e

racismo...................................................................................................................

21

2.1.3 Variáveis de pertencimento racial e sua relevância para estudos

epidemiológicos em populações quilombolas.....................................................

25

2.2 EPIDEMIOLOGIA DOS AGRAVOS NUTRICIONAIS................................. 30

2.2.1 Transição demográfica, epidemiológica e nutricional no

Brasil......................................................................................................................

30

2.2.2 Epidemiologia da obesidade, anemia ferropriva e desnutrição em

crianças..................................................................................................................

33

2.3 ASPECTOS HISTÓRICOS, POLÍTICOS E DE SAÚDE DE QUILOMBOS E

QUILOMBOLAS...................................................................................................

38

2.3.1 Quilombo: visão histórica da palavra................................................................. 38

2.3.2 Comunidades quilombolas e as políticas públicas............................................. 43

2.3.3 Condições de vida e saúde em comunidades quilombolas no

Brasil......................................................................................................................

46

3 OBJETIVOS......................................................................................................... 51

3.1 OBJETIVO GERAL............................................................................................... 51

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS................................................................................ 51

4 METODOLOGIA................................................................................................. 52

4.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO......................................................................... 52

4.2 ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA DE AVALIAÇÃO DA

SITUAÇÃO DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL

EM COMUNIDADES QUILOMBOLAS TITULADAS (2011)...........................

52

4.3 ASPECTOS ÉTICOS............................................................................................. 54

4.4 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO DO PRESENTE ESTUDO.................................... 54

4.5 ANÁLISE DOS DADOS....................................................................................... 55

4.5.1 Seleção e sistematização das variáveis do estudo original................................ 55

4.5.2 Qualidade dos dados............................................................................................ 59

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4.5.3 Estatística e análise dos dados............................................................................ 60

5 RESULTADOS.................................................................................................... 62

6 DISCUSSÃO........................................................................................................ 77

7 CONCLUSÕES................................................................................................... 89

REFERÊNCIAS.................................................................................................. 91

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1 INTRODUÇÃO

Em décadas recentes, a população brasileira passou por um processo de

desenvolvimento econômico e urbanização, acompanhado por uma marcada transição

alimentar e nutricional (Mauricio et al. 2006; Popkin, 2001; Schmidt et al. 2011). Com

mudanças na condição socioeconômica da população e a implementação de políticas públicas

de saúde, aliados ao aumento da industrialização e globalização, grande parte da população

experimentou melhorias nas condições de habitação e saneamento e maior acesso aos serviços

de saúde, assim como redução das taxas de doenças infectocontagiosas (Luz, 1991; Schmidt

et al., 2011; Vasconcelos e Gomes, 2012). Esse processo também resultou na redução da

prevalência de desnutrição, especialmente em crianças, e no aumento das taxas de sobrepeso e

obesidade (Amuna e Zotor, 2008; Monteiro et al., 2009).

A obesidade configura-se em importante fator de risco para doenças ortopédicas,

respiratórias e outras doenças crônicas não transmissíveis como dislipidemias, hipertensão

arterial e diabetes mellitus tipo 2 (Soares e Petroski, 2003; Pinheiro et al., 2004). Os processos

de transição epidemiológica e nutricional em vários países corroboraram para que a obesidade

se tornasse um dos distúrbios nutricionais mais prevalentes na população mundial (Ogden et

al., 2010; Ng et al., 2014). Por sua vez, a desnutrição infantil, caracterizada pelos déficits

ponderal e estatural em relação à idade da criança, pode trazer prejuízos importantes para o

seu crescimento e desenvolvimento (Mondini e Monteiro, 1998; Monte, 2000; Fernandes,

2003). No Brasil, em 2009, 1,9% das crianças em idade pré-escolar apresentavam déficit

ponderal, e o déficit estatural atingiu 6,0% da população nessa faixa etária (IBGE, 2010).

A transição alimentar é representada pelo aumento das taxas de obesidade, e redução

das taxas de desnutrição, resultado da mudança no padrão alimentar de uma população, com

consumo elevado de calorias provenientes de gorduras e açúcares simples, e baixa ingestão de

carboidratos complexos e fibras (Popkin e Gordon-Larsen, 2004). No entanto, as mudanças

no perfil de saúde que acompanharam a transição nutricional não atingiram a população

brasileira uniformemente. Várias minorias raciais e étnicas, incluindo as populações negra e

indígena, que sofrem desproporcionalmente de desvantagem socioeconômica e violência

social, apresentam piores perfis de morbidade em relação à obesidade e à desnutrição

(Coimbra e Santos 2000; Ferreira et al. 2010). A literatura recente aponta que comunidades

quilombolas também sofrem de exclusão social e insegurança alimentar (Ferreira, 2011;

Bezerra et al., 2014).

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As dinâmicas de desigualdades de saúde nas minorias populacionais estão

relacionadas às condições de vida e de trabalho. Entre os diversos fatores sociais que

contribuem para a determinação dos agravos nutricionais em determinadas populações, estão

as condições socioeconômicas, dimensões culturais, comportamentais, psicológicas e étnico-

raciais (Buss e Pelegrini Filho, 2007). Alguns estudos têm apontado relação importante entre

as condições socioeconômicas e a prevalência de obesidade em adultos e desnutrição infantil,

principalmente nos estratos de menor renda (Wang, 2001; Romani e Lira, 2004; Monteiro e

Conde, 1999; Monte, 2000). A desnutrição também tem sido relacionada às condições

ambientais de saneamento (Ludwig, 1999).

Um fator importante para a determinação dos agravos nutricionais em minorias

sociais, e das condições de saúde em geral, é o racismo. Sua característica excludente e

discriminatória impacta negativamente na condição socioeconômica de segmentos

populacionais específicos, como a população negra, que apresenta menor acesso à educação e,

consequentemente, ao mercado de trabalho e condições adequadas de habitação. Esse quadro

reflete em piores condições de saúde quando comparados àqueles que historicamente têm sido

socialmente mais privilegiados (Williams, 1999).

Como resultado de uma história de séculos de desigualdade social, a população

quilombola vive em condições de vida precárias em comparação a outros segmentos da

população brasileira, com marcadas iniquidades socioeconômicas e acesso limitado ao

saneamento básico e a serviços de saúde (Santos e Silva, 2014). As origens desse grupo de

identidade social estão relacionadas ao período escravocrata, época onde as primeiras

comunidades quilombolas foram formadas como estratégia para buscar autonomia (Florentino

e Amantino, 2012). Estima-se que existam hoje quase 3.000 comunidades quilombolas em

território brasileiro (Fundação Cultural Palmares, 2015).

Apesar de serem poucos os estudos epidemiológicos que investigaram essa população

em âmbito nacional (Freitas et al., 2011), alguns trabalhos demonstram a centralidade da

exclusão social para seu perfil de saúde e condições de vida (Ferreira et al, 2011; Bezerra et

al., 2014). A maioria dos domicílios nessas comunidades pertence à classe socioeconomica E,

apresenta índice elevado de baixa escolaridade materna e esgotamento sanitário inadequado, e

não é atendida pela rede pública coletora de lixo (Silva et al., 2008). Além disso, muitas

comunidades não dispõem de unidades de saúde (Pereira et al., 2008). Todos esses fatores têm

contribuído negativamente nos perfis de morbimortalidade da população quilombola

(Guimarães e Silva, 2015). Por exemplo, estudos sobre as condições de saúde de crianças

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16

quilombolas < 5 anos demonstram prevalências elevadas de anemia e diarreia (Ferreira et al,

2011), excesso de peso e déficit estatural (Pereira et al., 2008; Guimarães e Silva, 2015), e

mortalidade infantil (Guerrero et al., 2007) quando comparados a outros grupos

populacionais.

A partir de 1988, a população quilombola passou a figurar no cenário sociopolítico

brasileiro, após décadas de luta por reconhecimento (em relação à visibilidade social e

reconhecimento territorial) liderada pelos movimentos negro e quilombola (Marques e

Gomes, 2013). Apesar da criação de politicas públicas voltadas para a melhoria das suas

condições de vida, os indicadores sociais evidenciam desvantagem socioeconômica em

relação à população não quilombola, e a invisibilidade social ainda faz parte da sua realidade.

O presente estudo visa contribuir para a maior compreensão do papel dos fatores

socioeconômicos e de exclusão social na determinação no perfil de saúde nutricional da

população quilombola < 5 anos na região Nordeste do Brasil, buscando dar visibilidade a seus

principais problemas sociais e de saúde. Por meio do reconhecimento desses problemas, o

estudo tem o potencial de subsidiar estratégias de controle e prevenção de estado nutricional

inadequado, e no desenvolvimento de medidas de redução das desigualdades sociais.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 RAÇA E RACISMO NA SAÚDE

2.1.1 Desigualdades sociais na perspectiva de raça/cor

De acordo com Foucault (1976), o racismo contemporâneo configura-se a partir do

discurso científico do século XIX da “luta de raças”, segundo o qual se busca o

reconhecimento da superioridade racial, baseando-se na categorização de populações

humanas através de características fenotípicas. Segundo Lovejoy (2002), sua expressão

histórica mais impactante está representada na escravidão, um crime contra a humanidade em

que africanos e seus descendentes eram tirados de seu continente e traficados por

colonizadores europeus. Seus proprietários tinham completo poder jurídico sobre eles, e lhes

era devida total obediência (Carneiro, 2002).

A noção de inferiorização do negro surgiu entre os colonizadores europeus para

justificar a escravidão no século XIV, e ao longo do tempo (por exemplo, após a abolição da

escravatura, durante e após a Primeira e Segunda Guerra Mundial), outros conceitos e

estereótipos surgiram para defender a tese de inferioridade (por exemplo, os racismos

científico, biológico-social e do Estado) (Foucault, 1976; Dussel, 2004; Theodoro, 2008;

Maio, 2015). Em perspectiva mundial, a ideologia racista evidencia as diferenças raciais de

forma negativa, criando uma base para a produção de preconceitos e estigmas que

culminaram em variadas formas de desigualdades sociais, desde o período escravocrata até os

dias atuais (Ianni, 1996).

Após a abolição da escravatura no Brasil, novas maneiras de expressão do racismo

surgiram, contribuindo para a manutenção das desigualdades raciais (Theodoro, 2008) de

maneira parecida com o que ocorreu em outros países, como nos Estados Unidos (Bonilla-

Silva, 1994). Nesta seção será dada atenção às principais formas de racismo que se

estabeleceram após a abolição da escravatura em âmbito mundial, e suas relações com o atual

quadro de desigualdade social entre os distintos grupos raciais e outros grupos de identidade

no Brasil, inclusive os quilombolas dos quais se trata o presente trabalho.

Após a publicação da teoria da evolução em 1859 pelo naturalista britânico Charles

Darwin, muitos cientistas da área das ciências naturais, europeus e norteamericanos, que

acreditavam em superioridade racial passaram a buscar evidências biológicas que

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demonstrassem que alguns grupos populacionais estariam mais avançados no processo

evolutivo quando comparados a outros. Nisso se ampara o racismo científico, que argumentou

contra a miscigenação (mistura entre raças) por considerar que os traços genéticos europeus,

apontados como superiores, seriam enfraquecidos (Hofbauer, 2006). Também promoveu a

eugenia de raças, a qual teve como um de seus primeiros proponentes Francis Galton, que

propunha a “manipulação” da seleção natural através de estratégias que culminassem no

melhoramento genético desses indivíduos considerados mais desenvolvidos (Bashford e

Levine, 2010).

Segundo Mai e Angerami (2006), Galton defendia que a eugenia devia pautar-se no

conhecimento dos elementos prejudiciais ou benéficos à qualidade racional do indivíduo, e ser

voltada para o alcance do bem-estar dos indivíduos julgados superiores. Para esse fim, as

autoras relatam que eram utilizadas duas vertentes da eugenia: a negativa e a positiva. A

eugenia negativa visava extinguir os seres considerados inferiores, ou segregá-los e limitar as

suas capacidades reprodutivas. Já a eugenia positiva, não menos prejudicial, propunha o

aperfeiçoamento das competências humanas através da reprodução de descendentes de

europeus, saudáveis, num ambiente onde fosse promovida a educação, saúde e que oferecesse

boas condições de vida. Essa abordagem biodeterminista da raça, pautada nos aspectos

biológicos do ser humano, predominou por muito tempo no meio científico, em detrimento da

perspectiva de raça como um constructo social (Kaufmann e Cooper 2001 apud Kabad et al.,

2012).

No início do século XX, a eugenia ganhava força em vários países. Em 1907, a

esterilização compulsória foi legalizada nos Estados Unidos, reforçando a exclusão social de

negros, imigrantes, e pessoas com deficiência física e mental (Bizzo, 1995; Beiguelman,

1997). Mais tarde, na década de 1920, foi criado na Suécia o Instituto de Biologia Racial,

onde a prática da esterilização tornou-se comum (Bizzo, 2006). No final dessa década, a Suíça

aprovou uma lei que reconhecia a eugenia como uma forma de “higiene racial”, defendendo

que indivíduos considerados inferiores (em especial as pessoas com deficiência mental)

representavam não só um impedimento à evolução, mas também a principal causa dos

problemas sociais. Esse mesmo ponto de vista fazia parte do discurso na década de 1930 dos

intelectuais da Alemanha, Noruega, Suécia, Dinamarca e Finlândia (Mottier e Gerodetti,

2007; Maciel, 1999).

Na Argentina predominava a eugenia positiva, com foco na evolução da população

através da criação de políticas públicas, diferentemente do que ocorria no Peru e na Bolívia.

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Nesses países, boa parte da população era formada por descendentes de indígenas, os quais

eram vistos como não civilizados, semelhante ao modo como os negros eram observados no

Brasil. A ideia de eugenia era compartilhada por muitos intelectuais brasileiros, trazendo

discussões sobre o papel que cabia aos negros, índios, mestiços e imigrantes no processo de

construção de um país civilizado (Hochman et al., 2010). Como relata Maio (2015), a elite

intelectual do país possuía muita influência política, e suas posições sobre como a raça

deveria ser considerada em termos de construção da nacionalidade, tinham grande impacto

nos rumos que o país tomava no início do século XX após a Proclamação da República.

Muitos desses intelectuais disseminavam a ideia da miscigenação no país como uma moléstia

que tornaria a sociedade totalmente degenerada em tempos futuros. Com base nesse

pensamento, a eugenia positiva ganhou adeptos no Brasil, os quais relacionavam a

intervenção no ambiente e no estilo de vida para a promoção da saúde da população, pautada

no controle da miscigenação.

A eugenia negativa também tinha incentivadores, como o médico Renato Kehl, maior

defensor do discurso eugênico no Brasil e propositor de medidas como a proibição de

matrimônio entre brancos e “degenerados”, e esterilização de pessoas com deficiência mental,

ambas rejeitadas pelo Congresso Nacional (Hochman et al., 2010). Em contrapartida,

pensadores como o sociólogo pernambucano Gilberto Freyre defendiam que era preciso

dissociar raça e progresso, e admitir que brancos, negros e índios tinham a mesma

importância no processo de formação da nação (Araújo, 1994). Apesar desse posicionamento

tentar combater o racismo, acabou fortalecendo-o por fazer alusão à uma “democracia racial”,

onde todos os grupos raciais viveriam em harmonia, escondendo as suas relações de poder e

mascarando o racismo e as desigualdades sociais por ele provocadas (Araújo, 1994;

Ciconello, 2008).

Criada após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, a Organização das Nações

Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) foi um importante marco para o

cenário de racismo e desigualdade social em escala mundial e também no Brasil. Um de seus

objetivos era combater o racismo científico que havia se disseminado progredido em todo o

mundo nas décadas anteriores, promulgando a disseminação do conceito de raça como um

constructo social, e não um fato biológico (Brattain, 2007). De acordo com Bhopal (2004),

com o fim da Segunda Guerra, o conceito biológico de raça passou a ser considerado

ultrapassado e mal definido na área de saúde pública, pois baseava-se especificamente nas

características fenotípicas dos indivíduos para explicitar as distinções sociais entre os grupos.

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A UNESCO foi uma importante porta-voz do discurso contra o conceito biodeterminista de

raça, que alcançou todo o mundo (Brattain, 2007). As justificativas para o racismo científico

então passaram a ser contestadas, como aconteceu no Brasil, tornando-o enfraquecido (Maio,

2015).

Porém, mesmo com a deslegitimação do racismo científico, os problemas e as

desigualdades raciais persistiam após os anos 1940, em âmbito mundial (Ianni, 1996). Isso

acontecia porque outras formas de racismo passaram a predominar, como o racismo

biológico-social (Foucault, 1976). Esse conceito baseia-se em um poder centralizado e

organizado pelo Estado que não visa uma luta de raças para que uma se sobreponha à outra, e

sim na segregação e marginalização racial e seus produtos, como as desigualdades sociais

(Dussel, 2004).

Em diversos países, o racismo continuava a ter influência direta nas desigualdades

sociais que expunham as minorias étnicas à marginalização e exclusão social, e que existiam

desde a época da escravidão (Guimarães, 1999). Tais desigualdades, a exemplo do que ocorria

no período escravocrata, sustentam-se na crença de que os grupos raciais se diferenciam em

capacidade, direitos e posição social, o que justifica a predominância, por exemplo, de

brancos nas classes socioeconômicas mais altas, e de negros nas classes mais baixas (Santos,

2005).

Nos anos 1970 no Brasil, a democracia racial foi denunciada pelo movimento negro

como um mito, uma ideia utópica que camuflava as verdadeiras relações raciais, e o

preconceito contra negros e indígenas. Com isso, as iniquidades sociais provocadas pelo

racismo passaram a ser divulgadas com mais intensidade e discutidas no meio político

(Jaccoud e Beghin, 2002). Apesar do intenso crescimento socioeconômico pelo qual passava o

país desde a década de 1950 (Amuna e Zotor, 2008), as evidências demonstram que brancos e

pretos, faziam parte de diferentes espaços e apresentavam distintas condições sociais no Brasil

(Batista et al., 2013). Ou seja, o desenvolvimento do país não beneficiou igualmente os

distintos grupos raciais.

As diferenças sociais entre os grupos raciais permanecem no Brasil nos dias atuais.

Apesar de indivíduos pretos e pardos atualmente representarem quase metade da população

brasileira (49,9%) (IBGE, 2010), eles possuem piores condições de vida, como exposto por

Pinheiro (2009). O autor apresenta um perfil das desigualdades raciais no Brasil no livro

Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, onde sinaliza que no Brasil, os indivíduos

considerados pretos e pardos possuem menos escolaridade, piores condições de renda,

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habitação e saúde, e taxa de mortalidade mais elevada quando comparados à população

branca. Outros estudos ressaltam ainda, que este segmento da sociedade é um dos mais

afetados pela pobreza e pela desigualdade no mercado de trabalho (Jaccoud e Beghin, 2002) e

sofrem mais com a violência (Ciconello, 2008).

No final dos anos 1990, a escolaridade média de um adulto de 25 anos no Brasil era de

6,0 anos de estudo, chegando a 8,4 anos na população branca. Entre pretos e pardos, a média

praticamente não mudava, alcançando 6,1 anos de estudo (Henriques, 2001). Essa diferença é

acentuada em 2001, quando comparados brancos e pretos que concluíram o ensino

fundamental ou médio, com grande influência da condição socioeconômica e da

discriminação como agravantes dessa disparidade (Soares e Alves, 2003). Em relação à renda,

no início deste século, 70,0% dos pretos e pardos faziam parte dos 10,0% mais pobres da

população brasileira (PNUD, 2005). Em 1999, a renda per capita entre negros1 equivalia a

1,36 salários mínimos, enquanto os brancos alcançavam uma renda de 4,74 salários mínimos

(Oliveira, 2003). No Nordeste, especificamente entre os homens, a média de rendimento

salarial de brancos chegava a 2,98 salários mínimos, quase o dobro da média alcançada por

pretos e pardos, de 1,53 salários mínimos, segundo dados coletados em 1996 (Campante et

al., 2004). No ano de 1999, quase metade (46,4%) dos pobres de cor preta no Brasil estavam

concentrados na região Nordeste, enquanto a proporção de brancos era de 33,2% (Henriques,

2001).

No quesito moradia, de acordo com Oliveira (2003), em 1996, 35,0% dos domicílios

chefiados por pretos ou pardos no Brasil não possuíam água encanada e 50,0% não tinham

esgotamento sanitário. Em domicílios chefiados por brancos, as prevalências eram de 19,0% e

26,4%, respectivamente.

Tais desigualdades dificultam a inclusão social dos negros no Brasil, afastando a

perspectiva de igualdade de oportunidades para todos os grupos raciais (Heringer, 2002). Mais

ainda, o racismo e suas consequências (principalmente as desigualdades socioeconômicas)

determinam iniquidades na saúde entre as raças, num reflexo de seu legado histórico de

promoção da segregação racial (Williams, 2004). O racismo afeta também outros grupos de

identidade social, como os povos quilombolas. Esses povos, cujo componente histórico está

diretamente associado à escravidão, à luta por liberdade, e por igualdade racial, apresentam

más condições de saúde decorrentes principalmente dos processos de discriminação e

1 Na pesquisa de Oliveira (2003), o termo “negro” é empregado para o conjunto de pessoas pretas e pardas, já

que há grande semelhança entre os dois grupos nos indicadores sociais, no tocante às condições de vida e saúde (Guimarães, 2003).

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exclusão social ao qual são submetidos (Pereira et al., 2008; Vieira e Monteiro, 2013). A

proximidade de povos quilombolas com a população negra se observa, além da perspectiva da

discriminação, no diálogo da luta por igualdade através dos movimentos negro e quilombola,

com o intuito de utilizar essa ligação histórica para fortalecer os dois movimentos (Cardoso e

Gomes, 2011).

2.1.2 Iniquidades em saúde e suas inter-relações com raça/cor e racismo

Em 27 de novembro de 1978, foi aprovada e proclamada na 20ª Conferência Geral da

UNESCO a “Declaração sobre a raça e os preconceitos raciais”, com o propósito de eliminar

o racismo e as discriminações de sexo, linguagem, religião ou qualquer outra opinião (Gomes,

2001). Em seu artigo 3º, consta:

“Qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada na

raça, cor, etnia ou nacionalidade, ou intolerância religiosa motivada

por considerações racistas, que destrói ou compromete a igualdade

soberana dos Estados e o direito dos povos à livre determinação, ou

que limita de um modo arbitrário ou discriminatório o direito ao

desenvolvimento integral de todos os grupos e seres humanos é

incompatível com as exigências de uma ordem internacional justa e

que garanta o respeito aos direitos humanos; o direito ao

desenvolvimento integral implica em igualdade de acesso aos meios

de progresso e realização individuais e coletivos em um clima de

respeito pelos valores das civilizações e culturas, tanto nacionais

quanto universais” (UNESCO, 1979, p. 63).

Mesmo após os esforços da UNESCO em criar uma agenda de combate ao racismo, a

segunda metade do século XX foi marcada por conflitos raciais em perspectiva mundial

(Ianni, 1996). Por exemplo, os Estados Unidos se tornaram pioneiros em justificar as

desigualdades raciais, legitimando-as a partir de supostas características que se distinguiam

entre os grupos raciais (coragem, ambição, perseverança, dentre outros) (Guimarães, 1999). A

partir do final do século XIX, a constituição estadunidense legalizava a separação de brancos

e afro-americanos em espaços públicos como os ônibus, o que provocou a divisão da

sociedade em grupos de pró-integracionistas e segregacionistas (Oliven, 2007). As leis

segregacionistas que perduraram no país até os anos 1960 definiam que não havia (e não

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deveria haver) quaisquer relações biológicas entre brancos e afro-americanos (Telles e Bailey,

2002). Ademais, as estratégias do governo que visavam beneficiar a população negra nos anos

1970 não agradava a maioria dos brancos em algumas regiões (Andrews, 1985). Essas

relações, como relatam Ianni (1996) e Williams (1999), ainda produzem impacto na sociedade

americana contemporânea refletindo em desigualdades raciais.

Na África do Sul, o reconhecimento legal da segregação foi fundamentado na ideia de

que a diferenciação racial deveria ser vista como normal e genuína das interações sociais, e

qualquer forma de integração sinalizava um movimento que ia contra o processo natural das

relações humanas. Não era negado aos grupos raciais o direito de se desenvolverem, mas cada

um deveria fazê-lo de forma independente, separados, e dentro de suas possibilidades

(Ribeiro, 2002). Com a chegada do Partido Nacional ao poder em 1948, foram definidas

subcidadanias com o propósito de marginalizar as minorias étnicas, separando os classificados

como brancos, africanos, indígenas e “pessoas de cor”. Essa política que vigorou no país até a

eleição do Congresso Nacional Africano (CNA) em 1994 teve impacto direto nas relações

sociais, num processo semelhante ao ocorrido nos Estados Unidos (Guimarães, 1999; Silva,

2006).

O racismo no Brasil não se amparou em bases legais, como ocorreu em outros países

da América e África. A desigualdade racial era negada e confundida com a desigualdade de

classes (Guimarães, 1999). Ainda é forte na sociedade brasileira a crença de que vivemos em

uma democracia racial, amparada no mito de que as três raças concebidas como fundadoras da

nossa nação convivem de forma harmoniosa. Esse é um fator que distorce a situação real de

injustiças e iniquidades raciais no país, e cria um discurso ilusório de sociedade como um

todo, sem indistinções (Schwarcz, 2012). Além disso, faz com que a categoria “raça” ocupe

um espaço limitado nos estudos sobre desigualdade, especialmente na área da saúde, por ser

tratada com uma variável de pouca importância na determinação do processo saúde-doença.

Nesse sentido, a democracia racial configura-se num mecanismo ainda mais prejudicial

(Coimbra Jr. e Santos, 2000), já que as relações raciais têm forte influência no acesso aos

serviços de saúde e nas condições de saúde dos indivíduos (Barata, 2009).

Conforme Buss e Pelegrini Filho (2007), além dos fatores de risco e proteção que

influenciam a saúde mais diretamente, como as dimensões biológicas e comportamentais, as

questões sociais, econômicas, culturais, psicológicas, ambientais e étnico-raciais (como o

racismo) também afetam a saúde e o desenvolvimento de doenças e agravos à saúde na

população. Tais fatores, chamados Determinantes Sociais da Saúde (DSS), podem atuar de

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forma direta ou indireta em âmbito individual e coletivo, gerando riscos à saúde de

magnitudes diferentes. De acordo com os autores, uma das formas de avaliar como os DSS

influenciam no surgimento de doenças é através do estudo sobre a associação do processo

saúde-doença com as distintas condições socioeconômicas e suas consequências

(desigualdade na educação, no acesso aos serviços de saúde, nas condições de habitação e

saneamento). Atrelada à essa abordagem está a avaliação dos fatores psicossociais na situação

de saúde, analisando como a compreensão acerca das desigualdades sociais podem ser

nocivas à saúde (provocando estresse e outros agravos).

No caso do racismo, segundo Williams (1999), sua relação com a saúde se dá

primeiramente através da restrição do nível socioeconômico dos grupos raciais

estigmatizados. Ou seja, a raça determinaria o nível socioeconômico do indivíduo. Em

consequência, ter-se-ia a limitação do acesso à educação e ao mercado de trabalho, e a

segregação que resulta em piores condições de habitação. Segundo o autor, todos esses fatores

podem configurar um maior risco para o surgimento de doenças, e influenciam no seu

tratamento devido ao acesso prejudicado aos serviços de saúde.

Araújo et al. (2010) também argumentam que as condições socioeconômicas

individualmente (geralmente priorizadas em estudos de saúde), não são suficientes para

explicar as desigualdades entre os grupos raciais. Devido a isso, nos Estados Unidos, as

iniquidades em saúde têm sido investigadas com a utilização da raça (analisada como variável

de exposição) como fator de risco para desfechos de saúde, e o termo racismo como a

ferramenta que promove a desigualdade. Williams (1999) aponta a taxa de mortalidade por

todas as causas em afro-americanos reduziu consideravelmente entre 1950 e 1995

(respectivamente 1236,7 e 765,7/100.000 habitantes). No entanto, quando comparados à

brancos, as taxas de mortalidade nesses períodos foram respectivamente 55,0% e 58,0%

maiores. Em 1996, a taxa de mortalidade por ataque cardíaco na população afro-americana era

47,0% maior em comparação aos indivíduos brancos, e 475,0% maior em relação à morte por

HIV/AIDS. Segundo o autor, existem importantes diferenças de recursos e posição social

entre os grupos raciais, onde os brancos estiveram sempre no topo, afro-americanos nas

posições inferiores, e as demais categorias situadas entre as duas.

Recentemente no Brasil, o quesito raça/cor foi introduzido definitivamente nos bancos

de dados dos sistemas de informação, o que tem fomentado a discussão sobre a importância

da sua utilização em pesquisas em saúde (Lima, 2010). Segundo Chor e Lima (2005):

“Existem evidências empíricas nas áreas de educação, trabalho e

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justiça que indicam que a discriminação racial é fator estruturante

das desvantagens econômicas e sociais enfrentadas por minorias

étnico-raciais no Brasil. Apesar disso, as desigualdades étnico-

raciais, no âmbito da saúde, têm sido pouco investigadas” (Chor e

Lima, 2005, p. 1).

Tal invisibilidade acaba por reforçar o racismo evidenciado nos serviços de saúde, que

afeta negativamente tanto usuários quanto profissionais (Kalckman et al., 2007). Algumas das

influências da discriminação racial na saúde são expostas por Maio e Monteiro (2005). Os

autores relatam que no Brasil, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos, as desigualdades

raciais provocadas pelo racismo são verificadas por meio da histórica associação de

desvantagem para pretos e pardos quando comparados a brancos. Essas desvantagens são

referentes à educação, renda, habitação, aliadas à suas consequências desfavoráveis, como

dificuldade de inserção no mercado de trabalho e ascensão social, implicando negativamente

na saúde do indivíduo. Os níveis de racismo percebido e internalizado tendem a afetar a

autoestima de pretos e pardos e prejudicar sua autoconfiança, refletindo em situações

psicofisiológicas que podem trazer danos à saúde. Lopes (2004) acrescenta que o estado

psicossocial de mulheres e homens negros é amplamente afetado pela demanda de uma

integração social, e ao mesmo tempo, pela necessidade de se preservar dos efeitos prejudiciais

dessa integração.

Diversos agravos de saúde atingem mais os indivíduos de determinadas minorias

raciais ou de identidade social nos países onde residem. Por exemplo, as complicações

causadas pelo diabetes na população dos Estados Unidos são mais comuns entre as minorias

étnicas do país, como a população negra e de origem hispânica (Boulton et al., 2005). Na

Inglaterra, mulheres negras são mais afetadas pela obesidade do que as mulheres de qualquer

outro grupo racial (Rennie e Jebb, 2005). No Brasil, a infecção por HIV e desenvolvimento da

AIDS é mais prevalente entre pretos e pardos, em comparação à população de indivíduos

brancos (BRASIL, 2016). Para além da identificação da existência de iniquidades em saúde, a

epidemiologia busca averiguar porque estas desigualdades existem. Esse é o principal

questionamento epidemiológico ao analisar as relações entre raça, identidade e pertencimento

étnico com fatores socioeconômicos e condições de saúde (Bhopal, 2004).

A percepção do estado de saúde, que envolve em sua avaliação aspectos físicos e

emocionais relacionados à sensação de bem-estar, foi avaliada pela Pesquisa Nacional de

Saúde (PNS), realizada em 2013 (IBGE, 2014). Seu objetivo foi gerar dados sobre a situação

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de saúde, estilo de vida, e acesso a serviços de saúde da população brasileira (Souza-Júnior,

2013). O estudo apontou que a autoavaliação de vida e de saúde é mais satisfatória em

indivíduos brancos, quando comparados com pretos ou com pardos (IBGE, 2014). Também

mostrou que a raça/cor está entre os principais motivos para a discriminação nos serviços de

saúde (IBGE, 2015). No Nordeste, com o agravante do difícil acesso aos serviços de saúde

por boa parte da população (Victora et al., 2011), pardos apresentam uma desvantagem na

condição de saúde em relação à indivíduos brancos (Santos, 2005).

Em 2000, a prevalência de puérperas pretas e pardas que não realizaram consultas de

pré-natal no Brasil foi 36,0% maior quando comparadas às puérperas brancas. Na região

Nordeste essa proporção aumentou para 40,0% (Lopes, 2004). De 1998 a 2000, 25,0% das

mortes por causas externas no Brasil foram atribuídas a homens pretos e pardos, enquanto

16,0% se distribuía na população de homens brancos (Lopes, 2005). A taxa de mortalidade

infantil em 2002 foi de 38,8 por mil nascidos vivos entre pretos, e 21,7 por mil nascidos vivos

entre os brancos (Cardoso et al., 2005). No Nordeste, o risco de morte antes de completar o

primeiro ano de vida praticamente dobra em pretos e pardos, em comparação à nascidos vivos

declarados brancos (Santos e Moura, 1998).

Para que essas e outras iniquidades sejam minimizadas, é necessária uma maior

divulgação dos dados sobre a saúde de indivíduos de raça/cor preta ou parda, assim como uma

articulação ainda mais forte com o movimento negro e as instituições que atuam no campo de

promoção da saúde da população negra no país (Oliveira, 2003). Além disso, deve ser

investigada a situação de povos de comunidades tradicionais que também são afetadas

amplamente pelo racismo, como é o caso das comunidades quilombolas (Freitas et al, 2011).

As marcas do racismo nessa população são representadas, entre outros fatores, pelo alto grau

de vulnerabilidade social, com importantes consequências na saúde. Dar maior atenção a esse

processo envolve tanto um resgate histórico das relações entre e representações de grupos

raciais e outros grupos de identidade social, quanto a importância de retirar as minorias da

invisibilidade social no país (Silva 2008; Bezerra et al., 2014).

2.1.3 Variáveis de pertencimento racial e sua relevância para estudos

epidemiológicos em populações quilombolas

Considerando a raça como uma construção social (segundo a perspectiva

antropológica), mutável quanto às perspectivas temporal e dos contextos sociais, as relações

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raciais precisam ser consideradas em termos de toda a conjuntura histórica à qual estão

envolvidas (Santos, 2005). A complexa associação entre a raça/cor do indivíduo e fatores

como a educação e a condição socioeconômica tem grande relevância entre os aspectos que

afetam a condição de saúde em nível físico, social e mental (Lillie-Blanton et al., 1996; Lilie-

Blanton e Laveist, 1996). Por isso, a utilização da variável “raça/cor” em estudos brasileiros

que abordam discussões acerca dos condicionantes e determinantes no processo saúde-doença

facilita identificar como as desigualdades sociais impactam nos índices de morbimortalidade

(Kabad et al., 2012). Em 1995, o governo federal criou o Grupo de Trabalho Interministerial

para Valorização da População Negra, utilizando o quesito raça/cor como critério de

promoção e execução de políticas públicas com ênfase na sua cidadania. Isso fomentou o

aumento de estudos relacionados à saúde desse segmento da população (Fry, 2000). Apesar da

atual ampla utilização do uso da variável raça/cor em estudos epidemiológicos no Brasil, não

há consenso com respeito a sua compatibilidade com as realidades sociais e utilidade para

caracterizar as desigualdades em saúde no país. Esta seção trata da importância e as limitações

da utilização do conceito de raça na produção de dados epidemiológicos sobre as

desigualdades em saúde, com destaque nas populações que se identificam como negras e

quilombolas.

Autores como Laguardia (2004) e Muniz (2010) apontam que, muitas vezes, a

metodologia utilizada em estudos epidemiológicos que incluem variáveis relacionadas a raça

é imprecisa, o que influencia negativamente a validade dessas pesquisas, em âmbito mundial.

As principais críticas referem à maneira de classificação e o método de coleta dessa

informação. Os autores relatam que, em muitas pesquisas, as categorias que buscam capturar

distinções raciais são investigadas superficialmente, sem considerar sua construção histórica.

Assim, as pesquisas reduzem realidades dinâmicas e socialmente formadas, em “fatos”

estáticos e delimitados. Apesar de representar uma tentativa de quantificação objetiva,

raça/cor se caracteriza como uma variável de classificação subjetiva, cuja identificação pode

variar entre indivíduos e grupos de acordo com as culturas e os contextos sociais e históricos

aos quais estejam envolvidos (Laguardia, 2007; Travassos e Willians, 2004). Pesquisas que

analisem questões raciais precisam apresentar e justificar as metodologias utilizadas para a

classificação segundo grupo racial, justificando a adequação da maneira que os sujeitos foram

identificados, assim como sua relevância analítica para a pergunta de pesquisa (Kabad et al,

2012).

Nos Estados Unidos os estudos utilizam uma ampla variedade de categorias para a

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classificação de race and ethnicity (termo utilizado em décadas recentes em pesquisas que

envolvem raça e etnia). Em pesquisas de saúde, é mais comum o uso de seis delas: indígena

norte-americano, asiático, negro, branco (categorias raciais), hispânico e não hispânico

(categorias étnicas) (Mays et al., 2003; Travassos e Williams, 2004). Nesse caso, a categoria

negra, utilizada desde o final do século XX, diz respeito ao indivíduo que se identifica com

sua ancestralidade africana (Bhopal, 2004). No Brasil, o primeiro censo nacional em 1872

utilizou as categorias branco, preto, pardo e caboclo (referente à indígenas) para classificação

racial da população. Atualmente, o IBGE faz uso de cinco categorias raciais: branco, preto,

pardo, amarelo e indígena (IBGE, 2011). É notável que esse sistema de classificação não

inclui “negro” ou “quilombola”, termos de identidade de grande relevância social e política no

país.

O termo “negro” no Brasil serve para caracterizar os descendentes de africanos

trazidos ao país no período da escravidão. Também é utilizado para incluí-los num grupo de

minoria política com necessidade de inclusão social e política para minimizar as condições

sociais desfavoráveis existentes devido a séculos de desigualdade racial (Munanga, 1989 apud

Piza e Rosenberg, 1999). Neste caso, cabe ressaltar que em algumas pesquisas, os “pretos” e

“pardos” são agrupados para formar a categoria analítica “negro”, metodologia justificada

pelo argumento de que os dois grupos compartilham de condições de vida similares

(Laguardia, 2004). A categoria “pardo” foi inicialmente utilizada nos censos para classificar

pessoas que não se consideravam pretas nem brancas, ocupando uma posição intermediária

entre os dois grupos (Santos, 2005). A junção de pretos e pardos em um único grupo também

é uma estratégia de análise em estudos epidemiológicos justificada pelo percentual menor de

pessoas que se autodeclaram pretas (Laguardia, 2004). Segundo Maggie (1988) apud Piza e

Rosenberg (1998) referir-se à “negro” denota valor cultural, diferentemente da raça/cor

branca, e que não determina subordinação de uma raça à outra.

De acordo com Buss e Pellegrini Filho (2007), as pesquisas que relacionam

determinantes sociais e indicadores de saúde permitem avaliar processos de saúde e doença do

ponto de vista não exclusivamente biológico, considerando também o ambiente social em que

as pessoas estão inseridas, as desigualdades sociais e os fatores psicossociais. Os autores

afirmam que a saúde do indivíduo sofre influência de fatores (como raça, escolaridade,

saneamento, condições de habitação estilo de vida, idade e hereditariedade) que atuam de

forma mais ou menos direta como fatores de risco ou proteção de agravos. Dessa forma,

alguns grupos apresentam uma maior vulnerabilidade social e piores condições de vida, e

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consequentemente, os fatores de risco ou de proteção à saúde os atingem de forma distinta.

Existe no Brasil uma associação entre condição socioeconômica e percepção de

raça/cor. Indivíduos de menor condição socioeconômica tendem a ser mais identificados

como pretos do que brancos, e quando analisados aqueles com melhor condição financeira, a

situação se inverte (Bastos et al., 2008). Isso mostra que além das características físicas ou de

identidade, o conceito de raça/cor é afetado por condições extrínsecas ao indivíduo,

relacionadas ao seu status socioeconômico (Osorio, 2003).

Identificar os fatores e mecanismos que contribuem para as iniquidades raciais na

saúde é uma forma de compreender como o processo saúde-doença é influenciado pelas

diferentes formas de exclusão social, e porque alguns grupos raciais apresentam piores

condições de saúde em relação a outros (Fry, 2000). Dentre esses mecanismos, podemos citar

a forma como o racismo impacta negativamente no bem-estar psicológico do indivíduo (preto,

pardo ou indígena, por exemplo), por gerar uma sobrecarga de stress relacionada à adaptação

e interação social prejudicadas (Faro e Pereira, 2011). De forma similar, outros grupos de

identidade social, como os povos quilombolas, também são afetados pelo componente

histórico do racismo com implicações para as condições de saúde (Leite, 2008). Nesse

contexto, a variável raça/cor atua como proxy da inserção racial e social, sendo altamente

relacionada a outros indicadores como condição socioeconômica e escolaridade (Soares Filho,

2009; Silva et al., 2013). As distinções no processo saúde-doença entre grupos raciais e de

identidade social, têm forte influência na criação de políticas de redução das desigualdades e

promoção da saúde da população (Bhopal, 2004; Chor, 2005).

A classificação do indivíduo quanto à sua identidade racial é uma tarefa bastante

difícil devido à complexidade do conceito de raça, que envolve aspectos históricos e sociais,

além de percepções sobre a aparência física, ancestralidade e biologia (Kaufman e Cooper,

2001). O conceito de raça hoje envolve as percepções sociais acerca das características

consideradas marcadores de distinção entre grupos numa determinada população. Essas

percepções não são universais, podendo variar entre indivíduos, grupos sociais, regiões e

culturas. Adicionalmente, podem mudar ao longo do tempo e ser fatores estruturantes do

processo de construção de identidades sociais (Alves et al., 2005). A reação social à essas

identidades é o que caracteriza as relações raciais em uma sociedade, mostrando que a raça

está mais relacionada às interações entre os indivíduos do que com a cor da sua pele (Muniz,

2010). Por exemplo, no caso de quilombolas, a promoção do reconhecimento do processo de

construção da sua identidade foi um dos meios utilizados para reivindicar maior visibilidade e

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participação nos meios social, político e jurídico, assim como a garantia de direitos humanos

(Leite, 2008).

Os métodos de classificação de raça/cor mais utilizados no Brasil são a

autoclassificação e a heteroclassificação (Osorio, 2003). Segundo Bastos et al. (2008),

autoclassificação envolve a escolha de resposta pelo entrevistado baseando-se nas suas

considerações de pertencimento e identificação. O caso de crianças é uma exceção, sendo que

a autoclassificação delas muitas vezes é feito por seus pais ou outro adulto. Por sua vez, a

heteroclassificação é feita pelo entrevistador com base na sua própria percepção sobre a

categoria que o entrevistado se encaixa. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE) tem utilizado nas últimas décadas o método de autoclassificação para a identificação

da “cor ou raça” dos respondentes em suas pesquisas (Kabad et al. (2012). No entanto, as

categorias de raça/cor utilizadas pelo órgão (branco, preto, pardo, amarelo e indígena) não são

adequadas na população quilombola, devido ao fato deste ser um grupo de identidade social e

não um grupo racial, apesar da proximidade histórica com a população negra.

A autoclassificação segundo raça/cor pelo entrevistado prioriza a percepção subjetiva

de identidade da pessoa em relação aos outros, incluindo o próprio entrevistador. Por isso a

metodologia é mais comumente utilizada em estudos epidemiológicos do que a

heteroclassificação, segundo a qual, a raça/cor dos sujeitos da pesquisa é atribuída pelo

próprio pesquisador (Laguardia, 2004). No entanto, os métodos de classificação, sejam

através de autoclassificação ou heteroclassificação, devem ser consistentes com os objetivos

específicos de cada pesquisa (Bastos et al., 2008). Segundo Travassos e Williams (2004), a

importância da escolha da metodologia para a atribuição de raça/cor deriva-se de seu papel

como um proxy de inserção social, tendo implicações para a interpretação de resultados de

estudos em saúde pública. Portanto, a classificação e atribuição de raça/cor envolve toda a

complexidade dos conceitos de raça e identidade social, assim como a vulnerabilidade social

apresentada por determinados grupos sociais e dos processos históricos em que estas

diferenças surgiram. Dessa forma, o uso crítico e criterioso do conceito de raça/cor em

pesquisas epidemiológicas possibilita a compreensão das desigualdades em saúde derivadas

do racismo e da exclusão social (Laguardia, 2004).

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2.2 EPIDEMIOLOGIA DOS AGRAVOS NUTRICIONAIS

2.2.1 Transição demográfica, epidemiológica e nutricional no Brasil

Nesta subseção irei discorrer sobre as principais relações entre as transições

demográfica, epidemiológica e nutricional, e os perfis de morbimortalidade em perspectivas

mundial e nacional.

A redução das taxas de natalidade e mortalidade a partir do século XX na maioria dos

países desenvolvidos e em desenvolvimento, com consequente diminuição da população

infantil e jovem e aumento da população idosa, caracteriza um processo chamado de transição

demográfica (Kalache et al., 1987). Esse processo divide-se em três etapas: “fase primitiva”,

momento em que há alta taxa de natalidade e mortalidade, estabilizando o tamanho da

população; “fase de divergência de coeficientes”, com permanência da taxa de natalidade

elevada e queda da taxa de mortalidade provocando um rápido crescimento populacional;

“fase de convergência de coeficientes”, etapa em que a taxa de natalidade fica menor que a

taxa de mortalidade, com consequente envelhecimento da população. O processo é concluído

com uma aproximação das taxas de natalidade e mortalidade (ambas com valores baixos),

levando ao aumento da esperança de vida e também ao envelhecimento populacional

(Vermelho e Monteiro, 2006).

Enquanto a população mundial era de 2,5 bilhões em 1950, esse número quase

triplicou até 2005, chegando a 6,5 bilhões (Bongaarts, 2009), apesar desse incremento

populacional não ter ocorrido de forma uniforme ao redor do mundo. Lesthaeghe e Neels

(2002) distinguem dois períodos dessa transição demográfica. A primeira, que se iniciou na

Europa Ocidental no século XVIII, foi atribuída por Thomas Robert Malthus às eficiências da

época na produção industrial de alimentos e melhorias nas condições de saúde (Alves, 2002).

Com a subsequente modernização da produção agrícola durante a Revolução Verde no século

XX, houve rápido crescimento populacional com um intenso desenvolvimento

socioeconômico, aumento da demanda por capital humano e inclusão da mulher no mercado

de trabalho, com redução das taxas de natalidade (Rios-Neto 2009). Posteriormente, em

diferentes momentos, a transição também alcançou países nos outros continentes, incluindo o

Brasil.

De acordo com Alves (2008), a transição demográfica representa um importante

fenômeno social em âmbito mundial. No Brasil, segundo esse autor, um importante resultado

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do processo de transição demográfica foi a mudança na estrutura das pirâmides etárias entre

os anos 1950 e 2000, onde se observa um aumento significativo da população acima de 65

anos e queda acentuada da proporção de indivíduos < 15 anos. A população total do país em

1950 era de 51.827.766 habitantes, e em 2000, 169.799.170. Em 1950, a população idosa

representava 2,4% (1.269.169) da população total do país, e em 2000, 5,9% (9.935.100). Nos

mesmos anos, a população < 15 anos representou 41,9% (21.694.794) e 29,6% (50.266.122)

(IBGE, 2004). Em 2010 a população brasileira chegou a 190.755.799 habitantes, sendo 7,5%

(14.081.477) com 65 anos ou mais e 24,1% (45.932.294) com < 15 anos (IBGE, 2010).

Paralelo a esse processo tem-se a transição epidemiológica, fenômeno marcado por

mudanças nos padrões de morbidade e mortalidade das populações: com a redução das

prevalências e das taxas de mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias e aumento das

prevalências de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) (Goldani et al., 2012). O

processo de transição epidemiológica tem ocorrido em todo o mundo desde o fim da Segunda

Guerra Mundial, e tem demonstrado os mecanismos que determinam os padrões de saúde e

doença em diferentes contextos sociais (Omran, 2001).

As mudanças socioeconômicas (urbanização, crescimento econômico) provocaram

modificações comportamentais na população (aumento do sedentarismo, tabagismo e

etilismo, dietas ricas em gorduras e açúcares, e baixo consumo de carboidratos complexos,

fibras e micronutrientes) e deram origem nos anos 1980 a um processo de transição

nutricional e alimentar em esfera mundial (Popkin e Gordon-Larsen, 2004). O seu principal

reflexo encontra-se no importante decréscimo da prevalência de desnutrição e no aumento

cada vez mais expressivo de sobrepeso e obesidade, em países de alta, baixa e média renda

(Batista Filho e Rissin, 2003; Monteiro et al., 2000).

Na América Latina, a urbanização, a globalização e a pobreza foram importantes

fatores ligados à transição nutricional e alimentar, como relatam Mauricio et al. (2006).

Segundo estes autores, a população residente em área urbana aumentou em todos os países da

região, assim como a disponibilidade de alimentos industrializados e de baixo custo. Com

isso, o padrão alimentar que antes era baseado no consumo de alimentos não processados,

passou a ser caracterizado pelo consumo excessivo de gorduras e açúcares, principalmente

entre a população mais pobre dos países em desenvolvimento.

Entre estes países está o Brasil, que acompanhou esse processo de transição

nutricional (Popkin, 2001). Schmidt et al. (2011) expõem que entre os anos 1970 e 2000,

houve no país uma diminuição na aquisição de alimentos como feijão, arroz e hortaliças.

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Ademais, foi observado um aumento na compra de alimentos processados (os quais são ricos

em gorduras trans, como biscoitos), ricos em gordura saturada, açúcar e sódio. O consumo

excessivo desses alimentos pode representar um fator de risco para o desenvolvimento de

DCNTs como a obesidade e o diabetes mellitus tipo 2 (Bray e Popkin, 1998; Sartorelli e

Franco, 2003), e a hipertensão arterial (Chobanian et al., 2003). Segundo Vasconcelos e

Gomes (2012), o acelerado processo de desenvolvimento econômico aliado ao avanço

tecnológico transformou grande parte da população rural do país em urbana, e provocou o

aumento da esperança de vida ao nascer e melhoria das condições de vida. Além disso, as

taxas de fecundidade, natalidade e mortalidade infantil diminuíram, tendo como consequência

o envelhecimento da população, devido ao aumento na proporção de idosos no país.

As melhorias nas condições socioeconômicas, além da criação de políticas de saúde,

permitiram um melhor acesso das pessoas aos serviços de saúde, e melhores condições de

habitação e saneamento, o que fez reduzir as taxas de doenças infectocontagiosas (Luz, 1991;

Vasconcelos e Gomes, 2012). Porém, com o desenvolvimento econômico e a evolução da

tecnologia, a população passou a praticar menos atividade física e consumir uma quantidade

elevada de calorias, provocando um aumento acelerado das DCNTs na segunda metade do

século XX. (Monteiro e Conde, 1999; Tardido e Falcão, 2006; Pestana e Espírito Santo,

2007).

As mudanças no comportamento da população brasileira relacionado ao estilo de vida

(práticas alimentares não saudáveis, sedentarismo, etilismo e tabagismo) estão entre os meios

de estabelecimento dos padrões de saúde e de doença relacionadas às transições demográfica

e epidemiológica, com impacto nos atuais perfis de morbidade e mortalidade (Tardido e

Falcão, 2006). Levy-Costa et al. (2005), avaliaram a tendência de disponibilidade alimentar

nos domicílios brasileiros entre 1974 e 2003. Identificaram nesse intervalo um aumento de

400% no consumo de biscoitos e refrigerantes, e de 300% no consumo de embutidos. Durante

todo esse período, a disponibilidade de frutas e verduras nos domicílios permaneceu entre 3 e

4%.

O padrão de atividade física foi avaliado na Pesquisa Nacional por Amostra de

Domicílios (PNAD) realizada em 2008, que teve entre seus objetivos descrever os fatores de

risco para a saúde (como o sedentarismo) da população brasileira. Observou-se que 20,0% dos

indivíduos > 18 anos não praticavam atividade física (compreendida pela realização de

exercício físico, esporte ou faxina no domicílio, pelo hábito de ir ao trabalho a pé ou de

bicicleta, carregar peso ou passar mais horas andando do que parado no trabalho). A

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inatividade física, que segundo a PNAD foi mais prevalente em homens (25,0%) do que em

mulheres (14,9%) (BRASIL, 2010), é um fator de risco para o desenvolvimento do excesso de

peso (sobrepeso e obesidade) (Pereira et al., 2003), agravo que atualmente apresenta

prevalência elevada no Brasil (Amuna e Zotor, 2008).

Além do aumento das taxas de excesso de houve também uma redução da prevalência

de desnutrição, especialmente em crianças, quando avaliada segundo o indicador

antropométrico estatura-para-idade (Monteiro et al., 2009). Esse indicador é uma importante

ferramenta de identificação de desnutrição crônica na população infantil, pois caracteriza o

crescimento histórico da criança, podendo evidenciar um ganho de estatura deficiente durante

um longo período (Araújo e Campos, 2009). Batista Filho e Rissin (2003) destacam o

desaparecimento do kwashiorkor, também denominado desnutrição edematosa, e a

erradicação do marasmo nutricional (desnutrição provocada por perda acentuada de tecido

adiposo e muscular). Informações sobre as atuais prevalências de obesidade e desnutrição

serão apresentadas na subseção a seguir.

2.2.2 Epidemiologia da obesidade, anemia ferropriva e desnutrição em crianças

O excesso de peso (sobrepeso e obesidade) é caracterizado em geral pelo acúmulo

excessivo de gordura no organismo, resultando em inadequações no balanço energético que

acarretam ganho de peso (Pereira et al., 2013). Além dos agravos já citados, tem forte

associação com a origem de dislipidemias e alguns tipos de cânceres (Field et al., 2001;

Baumgartner et al., 1995).

Já a desnutrição pode ser compreendida, em termos antropométricos, pelo baixo peso

em relação à altura ou idade, sendo observado também um crescimento linear prejudicado no

caso de crianças. Apesar da redução em suas prevalências, ainda representa um grave

problema de saúde pública no mundo, sobretudo na infância, pois pode trazer prejuízos

importantes para o crescimento e desenvolvimento (Mondini e Monteiro, 1998; Monte, 2000;

Fernandes, 2003). Os fatores de risco para o seu desenvolvimento são aqueles relacionados ao

desenvolvimento de doenças infecciosas (como condições precárias de habitação e

saneamento), identificados geralmente em áreas rurais e de baixo desenvolvimento econômico

(Olinto et al., 1993; Batista Filho e Rissin, 2003).

A obesidade e a desnutrição, juntamente com a anemia ferropriva, são os principais

agravos nutricionais que acometem a população infantil, apresentando altas prevalências em

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diversos países, como evidenciado por Ogden et al., (2010) e pela Organização Mundial da

Saúde (OMS) (WHO,2007; 2015). São agravos que estão relacionados com o processo de

transição nutricional que ocorreu em diversos países, inclusive no Brasil (Batista Filho, 2008;

Tardido e Falcão, 2006). Nesta subseção será descrita a evolução do perfil epidemiológico

desses distúrbios nutricionais na esfera mundial e no Brasil, relacionando-os com fatores

socioeconômicos, ambientais e genéticos que influenciam no seu desenvolvimento.

A crescente prevalência da obesidade tem acometido distintas faixas etárias e estratos

socioeconômicos em muitos países (Popkin e Gordon-Larsen, 2004; Gigante et al., 2006). Em

crianças, a obesidade reveste-se de particular importância, pois pode aumentar em duas vezes

o risco do seu estabelecimento também na idade adulta (Serdulla et al., 1993; Freedman et al.,

2001; Ogden et al., 2010). Além disso, pode ter consequências como problemas metabólicos,

a exemplo da resistência insulínica, hipertrigliceridemia, hipercolesterolemia, esteatose

hepática, e problemas cardiovasculares como a hipertrofia cardíaca. Também apresenta

associação com o desenvolvimento de doenças respiratórias (apneia do sono, síndrome de

Pickwick) e doenças ortopédicas, como a osteoartrite (Soares e Petroski, 2003). Foi estimado

no ano de 2010 que o excesso de peso estaria associado à causa de morte de 3,9 milhões de

pessoas em todo o mundo (Ng et al., 2014).

A prevalência mundial de obesidade entre crianças com idade de 2 a 5 anos aumentou

de 5,0% para 19,6% entre 1976 e 2008. No mesmo período, a prevalência do agravo passou

de 5,0% para 18,1% em adolescentes de 12 a 19 anos (Ogden et al., 2010).

No Brasil, os dados de obesidade também tiveram importante aumento, principalmente

nos extratos socioeconômicos menos favorecidas (Pinheiro et al., 2004), apesar do

crescimento estar acontecendo num ritmo mais lento, comparado à evolução do agravo em

âmbito mundial. Em crianças < 5 anos, a prevalência de excesso de peso aumentou de 5,5%

para 7,3%, entre os anos de 1989 e 2006 (Cocetti et al., 2012). Na Pesquisa Nacional de

Orçamentos Familiares (POF) realizada em 2008-2009, foi identificada no grupo de idade de

5 a 9 anos uma prevalência de obesidade de 14,3% (IBGE, 2006). Este estudo de abrangência

nacional, apresenta informações sobre as despesas familiares (consumo, gastos, rendimentos),

e relacionadas ao estado nutricional da população em todos os grupos de idade, utilizando o

método de amostragem para seleção dos domicílios (IBGE, 2010).

Na região Nordeste, a evolução das prevalências de obesidade em crianças foi descrita

na POF 2008-2009, que apresentou os resultados de estudos anteriores realizados em 1974-

1975 (Estudo Nacional de Despesas Familiares – ENDEF), em 1989 (PNSN), e 2002-2003

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(POF) (IBGE, 2010). Comparando os resultados encontrados no primeiro estudo com os

observados na POF 2008-2009, a prevalência de obesidade na região em crianças de 5 a 9

anos de idade aumentou de 2,6% para 13,2% entre os meninos, e de 1,3% para 8,9% entre as

meninas. Em relação aos indivíduos na faixa etária de 10 a 19 anos de idade, a prevalência do

agravo passou de 0,2% para 3,8% no sexo masculino e de 0,2% para 3,0% no sexo feminino

(IBGE, 2010). Esses valores evidenciam que a obesidade tem evoluído mais rapidamente na

região Nordeste do que em âmbito nacional. Isso pode estar relacionado ao fato da região

apresentar as piores condições socioeconômicas do país com reflexo nas condições de saúde

da população, já que os 9 estados da região estão entre os 12 estados brasileiros com menor

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), em relação aos indicadores de renda, longevidade

e educação (PNUD, 2013).

A literatura nacional e internacional informam que os fatores que mais se associam

com a obesidade/sobrepeso são os socioeconômicos (como por exemplo, escolaridade e

renda) (Nayga, 2000; Wang, 2001; Monteiro et al., 2003; Pinheiro et al., 2004), relacionados

ao estilo de vida (como os hábitos alimentares e padrões de atividade física) (Hu, 2003;

Pinheiro et al., 2004), e genéticos (a exemplo da deficiência congênita de leptina ou no seu

receptor) (Montague et al., 1997; Marques-Lopes et al., 2004). Monteiro e Conde (1999), ao

avaliarem a tendência da evolução da obesidade no Brasil por estratos socioeconômicos

observaram que na população com 20 anos de idade ou mais, entre os anos 1975 e 1989 as

classes sociais mais pobres apresentavam uma maior prevalência do agravo, resultado

identificado também entre 1989 e 1997 na população masculina. Antes disso, esse distúrbio

nutricional era mais frequente em indivíduos com uma melhor condição socioeconômica

(Pinheiro et al., 2004). Tal mudança está relacionada com o processo de transição nutricional

resultado do acelerado desenvolvimento econômico no país na segunda metade do século XX.

Esse desenvolvimento permitiu à população de estratos sociais mais pobres o acesso

financeiro à alimentos industrializados com alto teor calórico (Ferreira et al., 2010).

Outro agravo nutricional que acomete crianças em vários países é a anemia ferropriva.

Configura-se como a carência de micronutrientes mais prevalente no mundo (WHO, 2001).

Esse agravo nutricional ganha destaque importante na população infantil, especialmente em

menores de dois anos devido à fatores como o desmame e rápida velocidade de

desenvolvimento e ganho estatural. Ademais, crianças nessa faixa etária apresentam alta

prevalência de doenças infecciosas e parasitárias. Essas condições conferem a esse grupo um

risco maior de anemia quando comparadas às crianças com idade superior a 24 meses (Silva

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et al., 2001). No período de 1990 a 1995, a prevalência mundial de anemia ferropriva em

crianças < 5 anos foi de 11,7% (WHO, 2001). Já em 2011, foi estimada uma prevalência de

42,6% de anemia em crianças de 6 a 59 meses de idade (WHO, 2015).

A prevalência total de anemia ferropriva no Brasil em crianças < 5 anos no ano de

2006 era de 20,9% (BRASIL, 2009). Em 2011, o agravo afetou 24,0% da população de 6 a 59

meses de idade (WHO, 2015). A evolução do agravo foi analisada por Monteiro et al. (2000),

através de dois inquéritos domiciliares realizados na cidade de São Paulo nos anos de

1984/1985 e 1995/1996. O autor identificou um aumento na sua prevalência, passando de

35,3% para 46,9%. Em estudo realizado por Osório et al. (2001) no estado de Pernambuco,

foi encontrada uma prevalência de 40,9% de crianças com anemia, sendo mais prevalente na

zona rural do que nas áreas urbanas e metropolitanas. Esses dados demonstram que a

prevalência de anemia no Brasil atinge valores tão elevados quanto à obesidade, apresentando

um caráter epidêmico e configurando-se em um importante problema de saúde pública.

(Batista Filho et al., 2008).

Além da obesidade e da anemia, a desnutrição também representa um importante

distúrbio nutricional na população infantil em esfera mundial. De acordo com a WHO (2007),

a prevalência de déficit estatural em crianças com idade inferior a 5 anos era de 39,7% em

1990. Em 2007, o agravo atingiu 28,5% dessa população. O déficit estatural evidencia

desnutrição infantil, a qual representa a segunda principal causa de morte nos países

emergentes, por estar intimamente ligada com a pobreza e com problemas de saúde como as

doenças infecciosas (Monte, 2000). Assim como ocorre com a obesidade, a desnutrição

infantil está relacionada ao ambiente de convívio, características socioeconômicas,

escolaridade materna, peso ao nascer, amamentação, dentre outros fatores (Romani e Lira,

2004).

Entre as principais pesquisas que investigam a prevalência de desnutrição entre

crianças < 5 anos no Brasil, podemos citar a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde

(PNDS). Trata-se de um inquérito de âmbito nacional que apresenta dados de indicadores

sociais e de saúde da população residente em áreas rural e urbana. Essa pesquisa de

abordagem quantitativa foi realizada pela última vez em 2006, onde foram selecionados

14.617 domicílios particulares por amostragem probabilística complexa de dez estratos

amostrais, e incluiu variáveis sociodemográficas e de saúde de mulheres em idade reprodutiva

e de crianças < 5 anos. Entre os seus principais objetivos, estiveram a avaliação do estado

nutricional e a segurança alimentar, identificar padrões de morbidade e mortalidade na

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infância e analisar o acesso aos serviços de saúde (Cavenaghi, 2009). A prevalência de déficit

estatural em crianças < 5 anos na edição de 1996 foi de 13,4% (Monteiro et al., 2009). Na

edição da pesquisa realizada em 2006, o agravo foi menos prevalente, atingindo 7,0% de

indivíduos nessa faixa etária (RASIL, 2008).

Além da PNDS, outros inquéritos nacionais já haviam evidenciado as modificações no

perfil nutricional em crianças < 5 anos no Brasil, como o ENDEF realizado em 1974–1975.

Este foi um estudo transversal com amostragem probabilística, que avaliou informações

relacionadas ao consumo alimentar, despesa familiar e estado nutricional da população

nacional segundo fatores demográficos e socioeconômicos. Foi verificado que 18,4% da

população estudada apresentava déficit de peso-para-idade. Esse número é bastante superior

ao encontrado na PNSN do ano de 1989, que reconheceu 7,1% de crianças nessa condição

(Monteiro et al., 1993). Estes foram dois inquéritos que utilizaram em sua metodologia uma

amostragem probabilística das famílias brasileiras, sendo de abrangência nacional e

representativo da população brasileira, assim como a POF de 2002–2003. Nesta pesquisa foi

identificado que 7,0% de crianças < 5 anos estavam com déficit de peso-para-idade (IBGE,

2006). Em sua versão seguinte, realizada em 2008–2009, 6,0% das crianças < 5 anos

analisadas apresentaram déficit de estatura-para-idade. (IBGE, 2010).

Na região Nordeste, a prevalência de déficit de estatura-para-idade foi reduzida de

33,9% para 22,1% entre 1986 e 1996, chegando a 5,9% em 2006, de acordo com dados da

PNDS nesses dois períodos. Essa queda pode estar associada a alterações em fatores

socioeconômicos que ocorreram nesses períodos, como por exemplo o aumento na

prevalência de domicílios classificados pelo menos como classe média (classes A, B e C)

entre 1996 e 2006, de 14,8% para 34,1%, redução na prevalência de baixa escolaridade

materna (0 a 3 anos de estudo) de 61,6% para 16,9% e aumento no número de domicílios com

acesso à rede pública de água e esgoto (de 8,2% para 27,7%), entre 1986 e 2006 (Lima et al.,

2010).

Esses resultados sobre desnutrição infantil demonstram, de uma maneira geral, uma

melhoria no estado nutricional de crianças no território brasileiro, assim como ocorreu na

região Nordeste, estando associados, como mencionado acima no texto, à fatores como

melhor acesso aos serviços de saúde e desenvolvimento econômico. Embora seja importante

dar destaque a essa redução, os índices de desnutrição ainda representam um número elevado,

afetando principalmente indivíduos de baixa renda (Teixeira, 2006).

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39

2.3 ASPECTOS HISTÓRICOS, POLÍTICOS E DE SAÚDE DE QUILOMBOS E

QUILOMBOLAS

2.3.1 Quilombo: visão histórica da palavra

De origem Bantu, grupo etnolinguístico localizado principalmente na África

subsaariana, as primeiras instâncias da palavra quilombo nos documentos históricos vêm de

Angola no ano 1615, e se referem à “acampamento guerreiro na floresta” (Tillquist, 2013). O

conceito de quilombo na África envolve um conjunto de indivíduos de diferentes grupos

familiares ou de descendência, que origina um grupamento integrado de guerreiros afastados

de suas famílias e comunidades de origem e organizados para formar poderosos exércitos.

Essa organização militar também envolveu a centralização do poder em um chefe, conferindo

aos quilombos um aspecto político hierárquico (Munanga, 1996).

As características militar e política dos quilombos africanos são a base conceitual da

constituição de comunidades, também chamadas quilombos, no Brasil, surgidos durante o

período escravocrata (Munanga, 1996). Segundo Leite (2000), de início, se caracterizavam

por habitações formadas por escravos que fugiam das senzalas para escapar da escravidão.

Em sua composição política, se associavam à resistência defensiva necessária para a sua

manutenção no período colonial, que influenciava na sua forma de organização e refletia na

sua extensão, duração, e na quantidade de indivíduos que os formavam, entre outros fatores.

Ademais, apresentavam diferentes estratégias de subsistência, incluindo: agricultura,

extrativismo, comércio, pecuária, mineração, saques e prestação de serviços (Leite 2000). A

autora acrescenta que, ao longo do tempo, isso conferia um perfil econômico que garantia a

sobrevivência da população quilombola, caracterizando uma condição sociopolítica

estruturalmente bem estabelecida. Geralmente eram formados em áreas isoladas como matas,

florestas e pântanos, tanto para manter afastamento dos senhores de escravos quanto para

garantir seus meios de subsistência e autonomia (Florentino e Amantino, 2012).

A palavra quilombo foi documentada no país pela primeira vez durante o período

colonial, mais precisamente no ano de 1740 pelo Conselho Ultramarino2, sendo seu primeiro

significado, o seguinte:

“Toda habitação de negros fugidos, que passem de cinco, em parte

2 Órgão instituído em Portugal por Dom João IV para centralizar a administração do Brasil, Reino, Madeira,

Açores, Cabo Verde, Guiné, São Tomé e Príncipe, Lugares de África-Marrocos e Argel, Moçambique, Angola, Timor, Macau e Índia (Abrantes, 1997).

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despovoada, ainda que não tenham ranchos levantados e nem se

achem pilões nele” (Conselho Ultramarino, 1740 apud Schmit et al.,

2002, p. 2).

O conceito foi contestado por alguns autores, como Almeida (1999), alegando que a

definição conceituava de forma simplista os quilombos no Brasil com base nos pressupostos

de fugas de pelo menos cinco escravos em local isolado. Segundo o autor, seus tipos de

moradia variaram bastante em termos de construção e existiam quilombos com pilões

utilizados para descascar arroz, que simbolizavam a subsistência do grupo. Vale ressaltar que

as fugas, no enredo da formação dos quilombos, eram as chamadas “fugas-rompimento”, onde

existia o interesse dos fugitivos em escapar da escravidão. Estas se diferenciam das “fugas-

reivindicativas”, cujo principal objetivo era o apelo aos senhores por melhorias de vida

(Florentino e Amantino, 2012).

Relatos posteriores, como o de Malheiros (1866), evidenciam que tal conceito teria

sofrido mudanças importantes ao longo do tempo. Embora também retrate os quilombos

como ajuntamentos de escravos fugidos, o autor também se refere aos quilombos utilizando a

nomenclatura de “mocambos”. Além disso, ressalta que os grupos podiam ser grandes ou

pequenos, sem uma quantidade mínima de pessoas pré-estabelecida. Segundo Florentino e

Amantino (2012), às vezes eram melhor definidos como hordas, grupos menores (formados

por menos de dez fugitivos) que dedicavam suas atividades principalmente para a caça e

roubos. Através do contato com escravos, indígenas e homens livres de cor, era possível

garantir a manutenção e desenvolvimento da horda pela comercialização dos produtos

provenientes da economia doméstica e extração dos recursos naturais locais (ou por saques), e

por obtenção de bens materiais e de consumo. Assim, ocorria a transição do status de horda

para quilombo, onde as atribuições demográfica, social e política passavam a conferir ao

grupo uma identidade associada à noção de pertencimento territorial.

Outros autores, como Freitas et al. (2011), acrescentam que os quilombos também

eram formados no período pós-abolição. Nesse momento, eles eram constituídos por ex-

escravos expulsos dos centros das cidades por serem vistos como sinônimo de atraso e

degeneração, sendo-lhes negada naquele meio a chance de viver como membros dignos da

sociedade. Apesar dessas adjeções, os conceitos até aqui expostos atribuíam aos quilombos

brasileiros a ideia definitiva de escravos rebeldes que alcançavam a liberdade através das

fugas, e que permaneciam em terras isoladas. Esse era um importante meio de resistência ao

regime escravocrata (Cardoso, 2010), mas não dava conta de descrever toda a complexa

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associação entre escravo, quilombo, e sociedade escravista (Schmitt et al., 2002). Além disso,

pouco promove o entendimento sobre os quilombos na contemporaneidade, já que essa ideia

se mantém cristalizada em um período passado, sem adaptação às mudanças sociais que

ocorreram no país (movimentos sociais, luta pelo reconhecimento de direitos, etc.) até os dias

atuais (Marques e Gomes, 2013; Silva 2008). Por isso, muitos autores, como Almeida (1998)

e Cardoso (2010), realizaram estudos criticando as limitações e inconsistências históricas da

palavra, sugerindo sua ressemantização para melhor adequação aos diferentes contextos

referentes à história do país.

Para a compreensão adequada da ressignificação de quilombo, é preciso relacioná-la

com o movimento social negro no Brasil. Com a abolição da escravatura em 1888, e a

Proclamação da República no ano seguinte, a população negra continuava marginalizada e

sem representação política e econômica (Domingues 2007). Ainda se deparavam com a

discriminação causada pela emergência do racismo científico, o qual foi promovido pelo

argumento de que a mistura racial, do ponto de vista biológico, seria regressiva e prejudicial à

população, devido ao enfraquecimento das características genéticas herdadas dos europeus

(Hofbauer, 2006). Dessa forma, devido à necessidade de representação social da população

negra para promover a sua inclusão social, começou a crescer o número de grupos

representativos do movimento social negro no Brasil (alguns foram criados poucos anos

antes, como a Sociedade Progresso da Raça Africana de 1891, e o Clube 28 de Setembro,

formado em 1897), liderados por escravos libertos, ex-escravos e os seus descendentes. O

movimento negro então ajudava a dar visibilidade à população negra, divulgando e

problematizando as suas principais dificuldades econômicas, de habitação e saúde, dentre

outras (Domingues, 2007).

A relação do movimento negro com os quilombos no Brasil se inicia a partir dos anos

30, quando os militantes políticos constituíram uma visão de quilombo como um elemento

unido que reforçasse a construção de uma identidade negra. O principal obstáculo para isso

era a forma segregadora com que, naquela época, o país lidava com as diferenças raciais

(Nascimento, 1991 apud Leite, 1999). A partir daí, o conceito de quilombo passou a agregar

além do fator histórico, uma abordagem que trazia elementos de militância e de resposta

contra o preconceito racial. Assim, o processo de ressignificação começava a se aliar à

construção da cidadania que até então não era privilégio da população negra (Arruti, 1997;

Leite, 1999).

Na década de 1970, pautada no resgate da heroica luta contra a escravidão, o termo

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ganha o enfoque revolucionário de resistência cultural e política, tornando-se um símbolo da

luta social negra. Era um momento em que cresciam as manifestações sociais contra a

desigualdade racial e a repressão militar, sendo a palavra utilizada tanto para fortalecer a auto-

afirmação da população negra, quanto para fomentar a mobilização política da época. Essas

manifestações buscavam reivindicar a criação de direitos voltados para as populações negra e

quilombola (Leite, 1999; Silva, 2008). Uma dessas reivindicações dizia respeito ao direito à

propriedade, relacionado com o reconhecimento legal da territorialidade quilombola. Em

virtude disso, na década de 80 o termo “remanescente de quilombo” passou a fazer parte dos

cenários intelectual, político e jurídico no Brasil. O intuito era constitucionalizar a essência do

conceito tanto em referência ao aspecto histórico quanto à existência desses grupos nos dias

atuais, além da premissa demográfica de ocupar uma extensão territorial (O’Dwyer, 2007;

Leite, 1999), baseando-se na discussão da abolição como um processo inacabado, trazendo a

importância de reparar o erro da escravidão. Parte desse propósito foi alcançado com a

Promulgação da Constituição Federal no ano de 1988, através do artigo 68, que trata:

“Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam

ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo

o Estado emitir-lhes os títulos respectivos” (BRASIL, 2016, p. 160).

A titulação pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma agrária (INCRA) é a

fase final de reconhecimento do território quilombola, que concebe a garantia de que os

direitos de determinadas políticas públicas e programas sociais, previstos em lei para essa

população sejam exercidos. Ou seja, permite o direito constitucional à terra inalienável e

coletiva e o acesso a programas e benefícios destinados aos residentes de tais terras. As

comunidades certificadas ainda estão em processo de reconhecimento de suas terras, e até que

seus títulos sejam emitidos, não lhes é dado legalmente o direito à propriedade (Fundação

Cultural Palmares, 2015). Importante ressaltar que a titulação é a etapa conclusiva de

reconhecimento do território quilombola, enquanto outros status, como a certificação, apenas

reconhece a comunidade como quilombola sem garantir legalmente o direito à propriedade.

De acordo com a Comissão Pró-Índio de São Paulo (2015), o processo de titulação

pode ser demorado e envolve desde a obtenção da Certidão de Registro no Cadastro Geral de

Remanescentes de Comunidades Quilombolas junto à Fundação Cultural Palmares, passando

pelo envio do processo para a Casa Civil, demarcação física do território pelo Instituto

Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), até o registro do título em cartório

após a outorga. Hoje existem no Brasil 2.607 comunidades quilombolas certificadas, sendo

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1.657 (64%) na região Nordeste, 319 (12%) na região Norte, 351 (13%) na região Sudeste,

158 (6%) na região Sul, e 122 (5%) na região Centro-Oeste. Até 2016, foram expedidos 207

títulos, garantindo a titulação de238 comunidades em todo o país (INCRA, 2016).

O termo “remanescente das comunidades dos quilombos” ganhou força nos meios

social e político e foi se consolidando como uma nomenclatura adequada e que atendia a

demanda da população quilombola pelo reconhecimento de direitos. A definição não fazia

referência apenas a um fator histórico, ou a um lugar, mas agregava aqueles que pertenciam a

esse lugar, seus atores sociais (Marques e Gomes, 2013). Seu significado foi documentado no

dia 20 de novembro de 2003, no Decreto nº 4.887, onde consta no Artigo 2º:

“Consideram-se remanescentes das comunidades dos quilombos, para

os fins deste Decreto, os grupos étnico-raciais, segundo critérios de

auto-atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações

territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra

relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida”

(BRASIL, 2003, p. 1).

As comunidades quilombolas então representam um fenômeno de consolidação

territorial e identidade étnica indissociáveis, aliados aos aspectos sociopolíticos pautados na

busca por autonomia e reconhecimento (Marques e Gomes, 2013), podendo também agregar o

histórico aspecto de luta e resistência heroica à escravidão, que conferiu à esses grupos o

status de ícones da luta negra (Arruti, 1997). A Associação Brasileira de Antropologia, ao

reconhecer e reafirmar o exposto na Constituição sobre os remanescentes das comunidades

dos quilombos, relata que a noção de quilombo não somente diz respeito à grupamentos

afastados da sociedade ou uma população totalmente homogênea. São grupos que

compartilham uma identidade étnica e um território (Associação Brasileira de Antropologia,

1997). Para a compreensão das comunidades quilombolas em seu conceito, é necessário

considerar a sua busca pela autonomia, a compreensão das diferenças culturais em relação aos

distintos grupos sociais (Chagas, 2001), e a ressignificação que o termo sofreu ao longo dos

anos, que representou a sua inserção no campo das políticas públicas, abrangendo tanto o

passado de resistência, quanto o presente de reconhecimento de direitos (Marques e Gomes,

2013).

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2.3.2 Comunidades quilombolas e as políticas públicas

A compreensão histórica sobre os processos de formação dos quilombos no período

colonial até o seu reconhecimento em tempos mais recentes é fundamental para a inserção dos

povos quilombolas no campo das políticas públicas no Brasil (Calheiros e Stadtler, 2010). O

direito ao território obtido pelos povos quilombolas através da Constituição Federal de 1988

representa uma grande vitória do movimento negro após décadas de luta por visibilidade

social (Marques e Gomes, 2013). Segundo Leite (2008), foi esse movimento que, através do

discurso de seus militantes nas décadas de 1970 e 1980, levou a luta dos quilombolas para a

Assembleia Nacional Constituinte, para favorecer a sua inclusão no campo jurídico de forma

efetiva. As reivindicações que a opressão sofrida durante a escravidão deveria ser reparada

através da consolidação dos direitos dos povos quilombolas a terra, cidadania e proteção

cultural foram atendidas no artigo 68 da Constituição Federal. Essa conquista levou essa

população a emergir como sujeitos políticos atuantes com suas próprias demandas sociais no

cenário brasileiro (Arruti, 1997). Com isso, o governo federal passou a dar maior atenção para

a criação de políticas públicas direcionadas a esse grupo populacional (BRASIL, 2006), tanto

em relação ao direito latifundiário, quanto para as questões culturais, de educação, de saúde e

tantos outras que até então não lhes eram reconhecidos legalmente (Leite, 2008).

Nessa seção serão apresentadas as principais conquistas sociopolíticas da população

quilombola desde a promulgação da Constituição até os dias atuais, além de identificar

algumas das barreiras e desafios que ainda fazem parte do seu cotidiano. A maioria das

políticas e programas atualmente direcionados à população quilombola atende também as

populações rural (não quilombola) e indígena, entre outras. As políticas e programas

direcionados especificamente para os quilombolas estão tratados nessa seção.

Políticas de promoção da igualdade racial são aquelas direcionadas à grupos raciais

que são marginalizados socialmente em um ou mais aspectos (Rodrigues, 2010). Grupos

racialmente diferenciados, como os quilombolas, demandam ações de reparação para

melhoria de suas condições de vida e saúde que resultaram do processo histórico de exclusão

social (Mattos, 2006). Entre essas demandas estão melhorias no acesso à saúde (Vieira e

Monteiro, 2013), nas condições de habitação e saneamento (Amorim et al., 2013), e

ampliação e qualificação da educação, valorizando as especificidades de cada comunidade em

relação à cultura (Arruti, 2009; SEPPIR, 2012).

Em 2003, foi criada a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial

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(SEPPIR) (Abramo, 2008) com o objetivo de coordenar a criação e instituição das políticas de

promoção da igualdade racial no país (SEPPIR, 2013). Poucos meses depois foi publicado o

Decreto 4887 de 2003 que regulamentou o processo de titulação de territórios quilombolas

(BRASIL, 2003). Uma das primeiras atividades realizadas pela SEPPIR foi à criação em 2004

do Programa Brasil Quilombola (PBQ) que apresentou medidas de consolidação do acesso a

terra, de melhoria da infraestrutura e de serviços públicos, e de crescimento econômico e

participação social em prol da população quilombola (SEPPIR, 2013). Em parceria com o

Ministério da Educação, buscou também aprimorar a formação de professores para atuação

nas comunidades (Moehlecke, 2009). Além disso, se une a outros programas para favorecer

melhores condições de vida dentro das comunidades quilombolas. Um exemplo é a interface

com o Plano Brasil sem Miséria. Esse plano, lançado em 2011 e coordenado pelo Ministério

do Desenvolvimento Social e Agrário (MDS), tinha como propósito a erradicação da pobreza

no Brasil (Paes-Souza, 2013) e, aliado ao PBQ, teve o objetivo de reduzir a prevalência

elevada de quilombolas vivendo abaixo da linha de extrema pobreza (BRASIL, 2006). No

PBQ também está inserido o Programa de Apoio à Comunidades Quilombolas, cujo foco está

no custeio de projetos relacionados à segurança alimentar e nutricional e direcionados para a

população quilombola (SEPPIR, 2013).

A Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável de Povos e Comunidades

Tradicionais, criada em 2006, visa promover o fortalecimento da garantia dos direitos dos

povos tradicionais (quilombolas, indígenas, seringueiros, pescadores, ciganos, quebradeiras de

coco babaçu, dentre outros), principalmente por meio de: desenvolvimento sustentável,

respeitando suas identidades e métodos organizacionais, valorização cultural, promoção da

saúde com ênfase na segurança alimentar e nutricional; e eliminação da discriminação (Brasil,

2007; Duprat, 2007). Segundo Silva (2007), trata-se de uma política transversal, cujos

objetivos favorecem o processo de reduzir a invisibilidade social à qual esses povos estavam

submetidos. Ademais, valoriza a importância dessas comunidades no entendimento acerca dos

hábitos de preservação da natureza, associando-os aos principais responsáveis pela

conservação da biodiversidade.

As ações de melhoria das condições habitacionais e sanitárias nas comunidades

quilombolas são realizadas através do Programa Saneamento Básico, Programa Água para

Todos e pelo Programa Nacional de Habitação Rural. As obras do Programa Saneamento

Básico, coordenadas pela Fundação Nacional de saúde (FUNASA) correspondem à melhoria

do acesso à água encanada e esgotamento sanitário em comunidades rurais e tradicionais

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(como instalação de tanques sépticos e banheiros) (BRASIL, 2006). Os recursos para o

desenvolvimento das ações do programa são definidos com base em dados epidemiológicos e

indicadores de condições sociais das comunidades (Turolla, 2002). O Programa Água para

Todos, que faz parte do Plano Brasil sem Miséria, disponibiliza o acesso à água em

comunidades rurais carentes onde o abastecimento é precário, para domicílios com renda per

capita menos de R$ 140,00 (BRASIL, 2006). Tem grande relevância no Nordeste, região onde

a seca produz grandes impactos negativos, principalmente no sertão (Campos, 2014). Já o

Programa Nacional de Habitação Rural disponibiliza recursos para quilombolas e indivíduos

de outras comunidades tradicionais em área rural adquirir materiais para construção ou

reforma (D’Amico, 2011).

Em relação aos programas voltados para a segurança alimentar e nutricional, podemos

citar o Programa Aquisição de Alimentos (PAA), destinado para produtores de agricultura

familiar em comunidades quilombolas, além de trabalhadores rurais e indígenas (Anjos et al.,

2004). Esse programa distribui nos domicílios em situações de insegurança alimentar,

alimentos produzidos por agricultores cadastrados no Programa Nacional de Fortalecimento

da Agricultura Familiar (PRONAF) (BRASIL, 2006). O PRONAF busca o fortalecimento da

agricultura familiar através da melhoria da infraestrutura fundamental à produção agrícola e

profissionalização dos produtores rurais (Schneider et al., 2004).

Outras ações criadas em benefício dos povos quilombolas foram a Portaria 1.434 de

2004 do Ministério da Saúde (MS), que aumenta em 50% os investimentos em Equipes de

Saúde da Família e Saúde Bucal que atuam em municípios onde existem comunidades

quilombolas (Freitas, 2011), e o Selo Quilombos do Brasil, criado em 2009 para fortalecer e

valorizar as práticas associadas a sua cultura através da identificação dos produtos

comercializados por comunidades quilombolas (BRASIL, 2006).

A principal barreira para a instituição de políticas para os povos quilombolas está no

entendimento jurídico de quem são e qual seu papel social, como aponta Leite (2008).

Segundo essa autora, após a publicação do Artigo 68 da Constituição Federal, a discussão

sobre quilombolas fez ressurgir ideias que questionavam a validade de seus direitos e

preconceitos que antes os deixavam na situação de invisibilidade social. Dessa forma,

permanecem dúvidas em relação à capacidade do governo em garantir de forma justa aos

quilombolas seus direitos ao território, às manifestações artísticas, à saúde, à educação e

tantos outros que há muito tempo tem sido reivindicados.

Apesar da importância das políticas e programas direcionadas à população

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quilombola, e dos benefícios que têm proporcionado, ainda é necessária uma maior atenção às

especificidades culturais apresentadas por cada comunidade (Arruti, 2008). Entre as propostas

de fortalecimento dessas políticas estão a priorização da regularização territorial das

comunidades em situação de extrema vulnerabilidade social ou situadas em áreas de conflito

(disputa de terras). Em relação à qualidade de vida, propõe-se a criação de uma base de dados

com informações obtidas através de mapeamento das comunidades quilombolas para

subsidiar o planejamento de ações de acordo com as necessidades apresentadas por cada

comunidade (SEPPIR, 2012). Apesar de ser lento (Leite, 2008), o avanço dos povos

quilombolas no campo político perpassou o objetivo específico de reconhecimento do

território, alcançando os eixos relacionados à outras características sociais e culturais, como a

educação, saúde e a qualidade de vida (Arruti, 2009).

2.3.3 Condições de vida e saúde em comunidades quilombolas no Brasil

Mesmo com o aumento da visibilidade social e política dos povos quilombolas a partir

da conquista do direito à terra na Constituição Federal em 1988, com consequente criação de

políticas públicas direcionadas à essa população, os indicadores de desenvolvimento social

ainda evidenciam desigualdades quando comparados quilombolas e não quilombolas (Santos

e Silva, 2014). O reflexo dessas desigualdades nos quilombolas (más condições de vida) nos

aspectos econômico, psicológico e comportamental tem forte influência no estabelecimento

de suas condições de saúde (Freitas et al., 2011, Santos e Silva, 2014). Nesta subseção serão

apresentadas as atuais condições de vida e saúde dos povos quilombolas no Brasil,

discorrendo sobre os seus agravos mais prevalentes, a partir das principais pesquisas

disponíveis que buscaram abordar esse tema.

Segundo Freitas et al. (2011), as condições de vida e saúde em comunidades

quilombolas é um tema pouco estudado, especialmente em âmbito nacional. Isso prejudica

tanto o conhecimento acerca da vulnerabilidade social desse segmento da população e os

principais agravos de saúde que os acometem, quanto a redução das iniquidades existentes na

atenção à saúde no Brasil. Na conjuntura internacional, a realidade não é diferente. A palavra

inglesa “maroons”, utilizada em vários países nas Américas como Jamaica (Sheridan, 1985) e

nos Estados Unidos (Rowe, 2003), tem significado similar à “quilombolas” do Brasil. Entre as

poucas pesquisas sobre a saúde de maroons podemos citar a realizada por Krishnadath e

colaboradores (2016), que analisou as diferenças entre as prevalências de síndrome

metabólica entre “grupos étnicos” no Suriname. Entre indivíduos de renda mais baixa, a

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prevalência foi maior entre maroons (53,7%) do que na população geral (33,5%). Os autores

também apontam que a chance de um maroon que completou o ensino médio desenvolver

síndrome metabólica foi 70% menor em comparação aos que tinham concluído apenas o

ensino primário, confirmando a influência dos fatores sociais na saúde.

Já no Brasil, a literatura disponível sobre o assunto evidencia dados que indicam que

quilombolas vivem em condições de saneamento básico precário e baixos níveis de

escolaridade, entre outras, que estão associadas com piores condições de saúde. Amorim et al.

(2013), ao analisarem as condições de vida e de saúde em uma comunidade quilombola do

interior da Bahia, observou que 88,0% das residências não dispunham de água encanada e em

75,3% não havia sanitário. Pessoas analfabetas ou que não concluíram o ensino primário

representaram 60,4% da população estudada, Análises das suas condições de saúde

identificaram 23,0% de indivíduos com hipertensão arterial sistêmica, e uma prevalência

35,4% de parasitoses intestinais.

Um estudo de abrangência nacional que avaliou a condição social, política, cultural,

econômica e de saúde da população quilombola no Brasil foi a Chamada Nutricional

Quilombola realizada em 2006. Como informado por Santos et al. (2008), essa pesquisa teve

como objetivo principal avaliar o estado nutricional de crianças < 5 anos em 22 unidades da

federação, que foram vacinadas na fase final da campanha de vacinação daquele ano. O

estudo foi do tipo transversal, sendo o universo formado por 843 comunidades cadastradas

pelo Centro de Cartografia Aplicada e Informação Geográfica (CIGA), e a amostra final

composta por 60 comunidades, sendo 13 delas tituladas.

Pereira et al. (2008) identificaram que, em relação ao acesso à serviços públicos de

saúde e transporte, 11,0% das comunidades estudadas pela Chamada Nutricional Quilombola

não contavam com o serviço dos Agentes Comunitários de Saúde, 38,0% não tinham Posto de

Saúde da Família (PSF), e 69,0% não dispunham de transporte coletivo. Esses valores são

preocupantes se consideradas as grandes distâncias que muitas vezes existem entre as

comunidades (geralmente situadas na zona rural) e a zona urbana, onde é mais fácil encontrar

atendimento por equipes de saúde (Travassos e Viacava, 2007). Em relação ao saneamento

básico, os autores mencionaram que o lixo não era coletado pela rede pública em 71,0% dos

domicílios. Quase metade dos domicílios (45,9%) tinham esgoto a céu aberto e em 35,9%

deles a água para consumo não era tratada (Silva et al., 2008). Essas condições sanitárias

podem trazer à essa população um grande risco de desenvolvimento de doenças

infectocontagiosas e parasitárias, sobretudo em idosos e crianças, por serem mais vulneráveis

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devido às condições biológicas impostas pelas suas faixas etárias (Ludwig, 1999).

Comparando os resultados apresentados pela Chamada Nutricional Quilombola com

os obtidos por outros estudos de abrangência nacional é possível identificar uma desvantagem

considerável da situação de vida dos povos quilombolas em relação à população não

quilombola. Em relação à escolaridade materna, os resultados da Chamada Nutricional

Quilombola informados por Silva et al. (2008) mostraram que 7,3% das mães de crianças < 5

anos eram analfabetas, e 15,7% cursaram o ensino médio. Já na PNDS, Cunha (2009)

identificaram entre as mulheres em idade reprodutiva uma prevalência de 3,0% de

analfabetismo. A prevalência das que cursaram o ensino médio foi de 36,9%.

A escolaridade está intimamente relacionada à condição econômica do indivíduo

(Lima, 1995), e é importante ressaltar que em 11% das comunidades não haviam escolas. Isso

pode estar refletido nas prevalências de 57,0% de “famílias” investigadas na Chamada

Nutricional Quilombola dentro da classe E, 33,4% na classe D e apenas 9,1% nas classes B e

C. Nenhuma família entrevistada pertencia à classe A (Silva et al., 2008). Quanto à situação

econômica das famílias avaliadas na PNDS, aproximadamente 3% apresentavam perfil

econômico de classe A, 65% eram de classe média (classes B e C), em torno de 24% se

enquadravam na classe D e 7,5% pertenciam à classe E (Cavenaghi, 2009). Tanto a PNDS

quanto a Chamada Nutricional Quilombola, utilizaram o Critério Brasil de Classificação

Econômica, proposto pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa, para classificar as

famílias quanto à classe econômica. Pesquisas que utilizam esse critério para a coleta de

dados sobre a situação econômica consideram a presença de bens no domicílio adquiridos por

compra, aluguel, empréstimo, dentre outros. Outros quesitos avaliados são a existência de

vaso sanitário no banheiro privativo do domicílio e o grau de instrução do chefe de domicílio

(ABEP, 2014)

Quanto ao perfil nutricional das crianças menores de 5 anos avaliadas pela Chamada

Nutricional Quilombola, destaca-se a prevalência elevada de déficit de estatura-para-idade

(E/I), atingindo 15,0% do total dessa população (Taddei et al., 2008). Esse valor representa

um quadro preocupante de desnutrição crônica, já que o comprometimento do índice E/I pode

refletir um crescimento deficiente durante um longo período e prejudicar o desenvolvimento

da criança (Araújo e Campos, 2008). O estado nutricional de crianças quilombolas menores

de 5 anos também foi investigado em 2011, cinco anos após a realização da Chamada

Nutricional Quilombola, através da Pesquisa de Avaliação da Situação de Segurança

Alimentar e Nutricional em Comunidades Quilombolas Tituladas. Essa é a pesquisa que

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50

produziu os dados analisados na presente dissertação. A pesquisa estudou 169 comunidades

remanescentes de quilombos tituladas de um universo de 177, em 55 municípios de 14

estados brasileiros. Nas publicações já produziram sobre esse estudo, foi analisada a situação

de segurança alimentar e nutricional das crianças quilombolas, bem como seu acesso à

serviços e programas do governo (Pinto et Al., 2014). A prevalência observada de déficit de

E/I na pesquisa foi de 18,7%, tendo associação significativa com baixo peso ao nascer e mães

com baixo peso. Esse resultado demonstra que o quadro de crescimento em crianças

quilombolas não melhorou entre 2006 e 2011. Maiores informações referentes à Pesquisa de

Avaliação da Situação de Segurança Alimentar e Nutricional em Comunidades Quilombolas

Tituladas serão apresentadas nas próximas seções do presente estudo.

Apesar de não haver pesquisas publicadas sobre as condições de vida e saúde em

comunidades quilombolas no Brasil em perspectiva regional, alguns estudos com abordagem

estadual merecem aqui serem citados. Ferreira et al. (2011), realizou estudo sobre nutrição e

saúde de crianças < 5 anos em comunidades remanescentes dos quilombos em Alagoas,

estado com um dos menores valores de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país

(Santos et al., 2009). Foi identificado que mais da metade da população estudada (60,8%)

pertence à classe E. A grande maioria das famílias estudadas eram beneficiárias de algum

programa de transferência de renda (76%). A prevalência de doença respiratória e diarreia foi

de 27,2% e 33,8% respectivamente, agravos de saúde que possuem associação com as

condições de habitação (Waldman, 1997). A prevalência de anemia apresentou um número

alarmante: 52,7% das crianças da amostra estavam com valores de hemoglobina e glóbulos

vermelhos abaixo do normal, principalmente nas crianças com idade entre 12 e 24 meses.

Essa prevalência é maior que a encontrada por Vieira et al. (2010), em uma amostra de 666

crianças alagoanas de 6 a 60 meses de idade, onde 45,0% delas apresentaram o agravo.

Bezerra et al. (2014) investigaram as condições de vida em comunidades quilombolas

na cidade de Vitória da Conquista, na Bahia. Apenas 9,7% dos domicílios possuíam rede de

esgoto ligada à rede pública, e a coleta pública de lixo não era realizada. A renda per capita

em 58,4% dos domicílios era menor ou igual a ¼ de salário mínimo, e 51,2% dos indivíduos

maiores de 18 anos estava desempregada. O Agente Comunitário de Saúde (ACS) não

realizava visita em 25,8% dos domicílios. Na população geral do município, Escorel et al.

(2007) identificaram que de 100 “famílias” analisadas, 18,0% não tinha recebido visita do

ACS nos 30 dias anteriores à realização da pesquisa.

A população quilombola vive em precariedade socioeconômica, e os programas de

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51

transferência de renda são essenciais para a sobrevivência desse povo (Ferreira et al., 2011;

Moura et al., 2014). Para Pereira et al. (2008), a condição econômica e de saúde de

quilombolas é reflexo da discriminação e exclusão que afeta essa população, em uma das

características que determinam a desigualdade racial no Brasil. São indivíduos que demandam

a promoção de melhores condições de vida para que as desigualdades sociais sejam reduzidas,

promovendo equidade para todos os grupos populacionais e categorias raciais no país.

Percebe-se que os poucos estudos que avaliaram as condições de vida em

comunidades quilombolas evidenciam que as melhorias socioeconômicas experimentadas

pela população geral (não quilombola) no Brasil ainda não atingiram a população quilombola

de forma igual. Essa situação tem reflexo no seu cenário de saúde, por influenciar no

desenvolvimento de determinados agravos, entre eles, a anemia, doenças infecciosas, e

aqueles relacionados à desnutrição (como déficit de estatura).

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52

3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Descrever o estado nutricional e analisar os indicadores sociodemográficos,

econômicos, de acesso a programas sociais e serviços de saúde, de saneamento e de

caracterização domiciliar associados à baixa estatura-para-idade em crianças quilombolas

menores de 5 anos na região Nordeste, residentes em comunidades quilombolas tituladas.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1. Descrever as prevalências de estatura-para-idade, peso-para-idade, peso-para-altura e

IMC-para-idade.

2. Descrever as prevalências do indicador estatura-para-idade segundo características

sociodemográficas, econômicas, de acesso a programas sociais e serviços de saúde, de

saneamento e de caracterização domiciliar.

3. Analisar associações entre baixa estatura-para-idade e variáveis sociodemográficas,

socioeconômicas, de acesso a programas sociais e serviços de saúde, de saneamento e de

caracterização domiciliar.

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53

4 METODOLOGIA

4.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO

Trata-se de um estudo de delineamento transversal e abordagem quantitativa,

utilizando dados secundários para descrever indicadores de estado nutricional de crianças

quilombolas e possíveis associações com variáveis demográficas e socioeconômicas. Foram

utilizados dados derivados da ‘Pesquisa de Avaliação da Situação de Segurança Alimentar e

Nutricional em Comunidades Quilombolas Tituladas’, realizada em 2011. Os dados foram

divulgados publicamente em 2013, disponibilizado no site do Ministério do Desenvolvimento

Social e Agrário. O estudo foi realizado em cooperação com o Programa das Nações Unidas

para o Desenvolvimento (PNUD) e com apoio financeiro do MDS, sob coordenação do Dr.

Luiz Antônio dos Anjos, da Fundação Euclides da Cunha, Universidade Federal Fluminense

(UFF) (Pinto et al., 2014).

4.2 ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA DE AVALIAÇÃO DA

SITUAÇÃO DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL

EM COMUNIDADES QUILOMBOLAS TITULADAS (2011)

A Pesquisa de Avaliação da Situação de Segurança Alimentar e Nutricional

em Comunidades Quilombolas Tituladas, que gerou os dados analisados no presente estudo,

teve como objetivo principal descrever e analisar o estado nutricional de crianças quilombolas

< 5 anos de idade residentes em comunidades quilombolas tituladas, assim como investigar a

segurança alimentar e nutricional das famílias nessas comunidades e avaliar a sua condição

socioeconômica, acesso a serviços, políticas e programas vinculados ao governo federal

(Pinto et al., 2014). Este estudo avaliou a população de todas as comunidades quilombolas

tituladas até 2009. A população incluiu todos os residentes das 177 comunidades quilombolas

tituladas na época do planejamento da pesquisa, distribuídas em 55 municípios e 14 unidades

federativas do Brasil. Buscou-se avaliar a totalidade da população residente nessas

comunidades, sem utilizar técnicas de amostragem.

Ao final, no período de abril a setembro de 2011, foram coletados dados de 40.548

indivíduos em 169 comunidades. A redução no total de comunidades planejadas e pesquisadas

de 177 para 169 se deve ao fato de algumas comunidades terem se reorganizado, mesclando-

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54

se umas às outras antes da realização do trabalho de campo (Pinto et al., 2014).

Foram utilizados questionários quantitativos semi-estruturados para a coleta de dados.

Segundo Pinto et al. (2014), esses questionários foram elaborados de uma maneira

cooperativa entre diferentes setores do governo, como o MDS, o MS, o INCRA, e a Secretaria

de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR). A Coordenação Nacional das

Comunidades Quilombolas também auxiliou nessa etapa, designando representantes de

comunidades quilombolas para participar do processo. O pré-teste foi realizado pelo

Departamento de Avaliação da Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação (DA/SAGI),

do MDS.

O primeiro instrumento intitulado “Questionário liderança – sobre todas as

comunidades do território titulado”, coletou informações referentes às características gerais

das comunidades, bem como seu acesso a políticas e programas sociais, presença de escolas,

serviços de saúde. Esse questionário foi respondido por 162 lideranças comunitárias. O

segundo questionário denominado “Características dos moradores” aplicado durantes

entrevistas domiciliares, incluiu perguntas sobre as características do domicílio, situação

socioeconômica, segurança alimentar dos moradores por meio da Escala Brasileira de

Segurança Alimentar e Nutricional (EBIA) e condições de saúde das crianças < 5 anos. Foi

respondido por 9.191 chefes ou representantes de domicílios. Os questionários, assim como o

banco de dados estão disponíveis ara consulta online no site do MDS.

A coleta dos dados antropométricos das crianças < 5 anos foi realizada com a balança

digital TANITA® (modelo HS 302) com capacidade para 150 kg. Para a aferição do

comprimento de crianças < 2 anos, foi utilizado um infantômetro de madeira desenvolvido

especialmente para a pesquisa, com medidas entre 10 e 120 cm, e para as demais crianças, foi

utilizado o antropômetro da marca WCS, com precisão de 0,1 cm e capacidade de 210 cm

(Luiz Anjos, comunicação pessoal, 13/01/2017). Mais detalhes podem ser consultados no

relatório “Cadernos de Estudos: Desenvolvimento em debate. Quilombos do Brasil:

Segurança alimentar e nutricional em territórios titulados” (Pinto et al., 2014).

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55

4.3 ASPECTOS ÉTICOS

A participação na pesquisa original foi voluntária, sendo o consentimento obtido

verbalmente (Luiz Anjos, comunicação pessoal, 13/01/2017). Informações sobre os

procedimentos éticos da pesquisa não estão disponíveis para consulta online no site do MDS

ou em documentos disponibilizados sobre a pesquisa. Por utilizar dados secundários,

disponíveis em sítio eletrônico gratuitamente, produzidos pela Pesquisa de Avaliação da

situação de Segurança Alimentar e Nutricional em Comunidades Quilombolas Tituladas, não

houve necessidade de submissão do presente estudo ao Comitê de Ética em Pesquisa.

4.4 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO DO PRESENTE ESTUDO

A população alvo do presente estudo foram as crianças quilombolas < 5 anos

residentes em áreas tituladas na região Nordeste. Os critérios de inclusão do presente estudo

foram: 1) ter sido declarada quilombola pelo entrevistado; 2) residir em terra quilombola

titulada; 3) residir na região Nordeste; 4) ter < 5 anos de idade. O raciocínio para os critérios 1

e 2 baseou-se no fato de que, na pesquisa original, a população estudada contou com alguns

participantes que não se consideram quilombolas, ou que não residiam em área quilombola

titulada. Ou seja, estes não fazem parte da população de interesse do presente estudo, já que o

foco foram os quilombolas residentes de áreas tituladas. Quanto ao terceiro critério, a escolha

de limitar o estudo ao Nordeste, foram consideradas as suas diferenciações sociais em relação

às demais regiões do país, como economia e saúde (Travassos et al., 2000), que podem

influenciar nas condições de vida e saúde de quilombolas. A inclusão do critério 4 baseia-se

nas particularidades biológicas da faixa etária < 5 anos relacionados ao crescimento e

desenvolvimento que lhes confere uma maior vulnerabilidade à desnutrição (Olinto et al.,

1993; WHO, 2006). Os critérios de exclusão foram: 1) ter sido declarada não-quilombola; 2)

morar em área quilombola não titulada; 3) não residir na região Nordeste; 4) ter idade ≥ 5

anos.

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56

4.5 ANÁLISE DOS DADOS

4.5.1 Seleção e sistematização das variáveis do estudo original

Para a seleção das variáveis disponíveis no banco de dados da pesquisa original,

considerou-se o modelo de determinantes sociais da saúde, que consiste em uma série de

fatores de natureza social que atuam de forma mais ou menos direta sobre a saúde e bem-estar

do indivíduo (Buss e Pellegrini Filho, 2007). Assim, dentre as variáveis disponíveis na

pesquisa, foram selecionadas para inclusão nas análises estatísticas as variáveis evidenciadas

na literatura com potencial para influenciar o baixo peso e baixa estatura nas crianças

quilombolas (ver parte 2.3.2 da revisão da literatura).

As variáveis selecionadas foram referentes à características demográficas, acesso a

serviços de saúde e programas sociais, escolaridade, condição socioeconômica, acesso a

alimentos, saneamento básico, caracterização domiciliar e condição de saúde. O Quadro 1

apresenta as variáveis escolhidas para serem analisadas no presente estudo.

Quadro 1. Variáveis selecionadas do banco de dados da Pesquisa de Avaliação da

Segurança Alimentar e Nutricional em Comunidades Quilombolas Tituladas, Brasil,

2011

Código* Nome Descrição* Tipo* Valores*

D Sexo Sexo do morador Categórica 1 = Feminino

2 = Masculino

E Data de

nascimento

Data de nascimento do

morador

Contínua DD.MM.AAAA

Data Data da

entrevista

Data da entrevista Contínua DD.MM.AAAA

UF Estado Categórica 1=AP

10=PI

11=RJ

12=RS

13=SE

14=SP

2=BA

3=GO

4=MA

5=MG

6=MS

7=MT

8=PA

9=PE

p2 Número de

moradores

Quantitativo de pessoas

que moram na residência

Contínua 99=NS/NR*

p3 Número de

moradores < 5

anos

Quantitativo de crianças

menores de 5 anos que

moram na residência

Categórica 0=0

1=1

2=2

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57

Código* Nome Descrição* Tipo* Valores*

3=3

4=4

5=5

6=6

7=7

8=8

9=9

10=10

99=NS/NR*

p5 Se considera

quilombola

O senhor(a) ou alguma

pessoa que mora na

residência se considera

quilombola

Categórica 1=Sim

2=Não

9=NS/NR*

p6 Casa dentro do

território

titulado

A casa fica dentro do

território titulado da

comunidade quilombola

Categórica 1=Sim

2=Não

9=NS/NR*

p8 Domicílio

próprio

A casa é: Categórica 1=Própria - já paga

2=Própria - ainda pagando

3=Alugada

4=Cedida

5=Outra

9=NS/NR*

p9 Cômodos Quantidade de cômodos

da residência

Categórica 99=NS/NR*

p11 Iluminação Forma de iluminação da

residência

Categórica 1=Elétrica (de rede, gerador,

solar)

2=Óleo, querosene ou gás de

botijão

3=Outra

4=Não tem

9=NS/NR*

p12 Coleta de lixo O lixo da casa é: Categórica 1=Coletado diretamente

2=Coletado indiretamente

3=Queimado ou enterrado na

propriedade

4=Jogado em terreno baldio ou

logradouro

5=Jogado em rio, lago ou mar

6=Outro Destino

p14 Banheiro Existência de banheiro

na residência

Categórica 1=Sim

2=Não

9=NS/NR*

p16 Água

encanada

Possui água encanada Categórica 1=Sim

2=Não

9=NS/NR*

p18 Água tratada

na casa

A água de beber da

família é tratada na casa

Categórica 1=Sim

2=Não

3=NS/NR*

p24 ACS A família recebe a visita

frequente do agente

comunitário de saúde

Categórica 1=Sim

2=Não

9=NS/NR*

p25 ESF A família é atendida por

Equipe de Saúde da

Família

Categórica 1=Sim, equipe básica

2=Sim, com equipe de saúde

bucal (dentista)

3=Não

9=NS/NR*

p26 Atendimento A família é atendida por Categórica 1=Sim

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58

Código* Nome Descrição* Tipo* Valores*

pelo CRAS assistente social ou

equipe do CRAS

2=Não

9=NS/NR*

p30.1 Programa

Cisternas

Algum morador tem

acesso aos programas ou

serviços: Cisterna com

captação da água da

chuva pelo telhado

Categórica 1=Sim

2=Não

9=NS/NR*

p30.6 Programa

Bolsa Família

Algum morador tem

acesso aos programas ou

serviços: Programa Bolsa

Família

Categórica 1=Sim

2=Não

9=NS/NR*

p44.1.f Carne Na última semana, havia

disponível para consumo

na casa: Carne de vaca,

bode, cabra, porco,

frango, galinha, pato,

peru

Categórica 1=Sim

2=Não

9=NS/NR*

p44.1.h Peixe Na última semana, havia

disponível para consumo

na casa: Peixe

Categórica 1=Sim

2=Não

9=NS/NR*

p44.1.j Ovos Na última semana, havia

disponível para consumo

na casa: Ovos

Categórica 1=Sim

2=Não

9=NS/NR*

p44.1.r Leite Na última semana, havia

disponível para consumo

na casa: leite e derivados

(queijo, requeijão,

coalhada, iogurte, etc.)

Categórica 1=Sim

2=Não

9=NS/NR*

p50 Raça/cor Cor do entrevistado Categórica 1=Branca

2=Preta

3=Parda

4=Amarela

5=Indígena

9=NS/NR*

88=NA**

p49_chefe Escolaridade

do chefe do

domicílio

Escolaridade do chefe do

domicílio

Categórica 1=Ensino básico

2=Analfabeto / nunca estudou

3=Fundamental (1º grau)

incompleto

4=Fundamental (1º grau)

completo

5=Ensino médio (2º grau)

incompleto

6=Ensino médio ou (2º grau)

completo

**7=Superior (graduação)

incompleto

8=Superior (graduação) completo

9=Pós-graduação

88=NA**

99=NS/NR*

p54_chefe Chefe trabalha Está trabalhando (chefe

do domicílio)

Categórica 1=Sim

2=Não

3=Não, é aposentado

9=NS/NR*

88=NA**

en4 Estado

nutricional da

Estado nutricional da

mãe baseado no IMC

Categórica 1=Baixo peso

2=Adequado

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59

Código* Nome Descrição* Tipo* Valores*

mãe 3=Sobrepeso

4=Obesidade

Escola_mae Escolaridade

da mãe

Escolaridade da mãe Categórica 1=Ensino básico

2=Analfabeto / nunca estudou

3=Fundamental (1º grau)

incompleto

4=Fundamental (1º grau)

completo

5=Ensino médio (2º grau)

incompleto

6=Ensino médio ou (2º grau)

completo

7=Superior (graduação)

incompleto

8=Superior (graduação) completo

9=Pós-graduação

88=NA**

99=NS/NR*

fx_rendperc Renda com

Bolsa Família

Faixas de renda per

capita com BF

Categórica 1=menor do que 70

2=70 |-- 140

3=140 |-- 255

4=255 |-- 510

5=maior ou igual a 510

*Reproduzido de Dicionário de Variáveis – Quilombolas (MDS, 2011)

NS/NR: Não souberam / não responderam

NA: Não se aplica

Foram excluídas as respostas em branco, e as marcadas como “não se aplica” ou “não

souberam/não responderam”. Como detalhado adiante, as variáveis contínuas foram

reclassificadas em duas ou mais categorias, assim como algumas variáveis categóricas foram

reagrupadas. As variáveis que no estudo original estavam divididas em respostas “sim” e

“não” não sofrerem alterações no presente estudo, e foram analisadas conforme categorização

da pesquisa original e detalhamento no Quadro 1.

A variável “UF” também não foi modificada da versão original da pesquisa, sendo que

os estados do Nordeste com terras quilombolas tituladas foram: Bahia (BA), Maranhão

(MA), Pernambuco (PE), Piauí (PI) e Sergipe (SE).

Quanto às características sociodemográficas da criança, a idade foi calculada a partir

das datas de nascimento e da data coleta dos dados e classificada segundo os grupos: < 12

meses; ≥ 12 e < 24 meses; ≥ 24 e < 36 meses; ≥ 36 e < 48 meses; e ≥ 48 e < 60 meses. A

variável “raça/cor” levou em conta apenas as crianças heteroclassificadas pelo entrevistado

como brancas, pretas ou pardas, sendo excluídas amarelas e indígenas (2,6%).

Para a “alfabetização do chefe do domicílio” e “alfabetização da mãe”, a classificação

se deu em duas categorias: analfabetos, com ensino básico ou analfabetos funcionais (os que

reconhecem algumas letras e números, mas não compreendem leituras mais complexas)

(Ribeiro et al., 2002), e ensino fundamental, médio, superior ou pós-graduados.

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A variável “estado nutricional da mãe” no estudo base foi classificado de acordo com

o Índice de Massa Corporal (IMC), respeitando os pontos de corte preconizadas pela OMS

(WHO, 1995): baixo peso (< 18,5), peso adequado (≥ 18,5 e < 25), sobrepeso (≥ 25 e < 30) e

obesidade (≥ 30). Esses foram reagrupados em duas categorias: sobrepeso e obesidade (grupo

1) e baixo peso e peso adequado (grupo 2):

Para avaliar a renda domiciliar na população, a variável categórica “renda per capita”

foi reclassificada em dois grupos: < R$ 70,00 e ≥ R$ 70,00 e < R$ 255,00; e ≥ R$ 255,00

(esta última uniu as três categorias originais ≥ R$ 70,00 e < R$ 255,00, ≥ 255,00 e < 510,00 e

≥ R$ 510,00). A variável “Chefe trabalha” foi reorganizada em duas categorias: a primeira

formada pela junção de chefes de domicílio empregados e aposentados, e a segunda foi

formada pelos desempregados. Em relação à variável “domicílio próprio”, a divisão ocorreu

em duas categorias: casa própria (já paga ou ainda pagando) e casa não própria, que incluiu

casa alugada, cedida ou outra resposta.

A variável “número de crianças < 5 anos no domicílio” foi reclassificada em dois

grupos: com uma e mais de uma criança na residência, assim como foi feito para a variável

“número de moradores no domicílio”, que foi classificada em ≤ 4 e > 4 moradores. O número

de cômodos foi classificado em dois grupos: ≤ 3 e > 3.

Em relação ao saneamento básico, as respostas para a variável “coleta de lixo” foram

agrupadas como “sim” (coletado direta ou indiretamente pela rede pública) e “não”

(queimado ou enterrado na propriedade, jogado em terreno baldio ou logradouro, jogado em

rio, lago ou mar, ou outro destino).

4.5.2 Qualidade dos dados

Foi realizada uma análise descritiva da distribuição segundo estado e sexo de crianças

que não apresentavam dados para peso, altura e idade, que são essenciais para a construção

das variáveis principais do desfecho desse estudo. O teste qui-quadrado ( χ²) foi utilizado para

verificar se as diferenças percentuais entre os dados faltantes entre as categorias de cada

variável. A pesquisa original não quantificou ou justificou os indivíduos que não participaram

das entrevistas ou faltaram dados. Assim, no presente estudo não foi possível quantificar a

relação entre não participação, ou participação parcial, com as razões que as justificam.

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61

4.5.3 Estatística e análise dos dados

O banco de dados foi consolidado no programa Microsoft Excel® 2010. A

sistematização e análise dos dados foram realizadas com os programas IBM SPSS Statistics

(versão 20) e RStudio (versão 0.98.1103 Final). Neste último, foram utilizadas as bibliotecas

Epidisplay (Chongsuvivatwong, 2015) e Sandwich (Lumley e Zeileis, 2015).

Os dados de peso, estatura e idade coletados na pesquisa original foram utilizados para

a construção dos índices antropométricos estatura-para-idade (E/I), peso-para-idade (P/I),

índice de massa corporal-para-idade (IMC/I) e peso-para-estatura (P/E) em escores z. Essa

etapa foi realizada no software WHO Anthro 2011, programa livre e de domínio público

(Blössner, 2011). Foram excluídas as crianças que apresentaram escore z que apresentavam

implausibilidade biológica, sendo eles: E/I < -6 ou > 6, P/I < -6 ou > 5, IMC/I e P/E < -5 ou >

5 (Blössner et al., 2009). Os índices antropométricos foram classificados segundo os pontos

de corte para crianças < 5 anos preconizados pela OMS (WHO, 2006).

Foram criadas as variáveis baixa E/I e baixo P/I. Para isso, cada uma foi categorizada

de forma dicotômica segundo o escore z, utilizando os pontos de corte de -2 para ambas

variáveis (BRASIL, 2011). O desfecho para o presente estudo nas análises bivariada e

multivariada foi baixa E/I, classificado de forma dicotômica (sim e não). As variáveis

independentes estão descritas no Quadro 1.

Inicialmente, avaliou-se a associação de cada variável independente com os desfechos

por meio de regressão de Poisson com variância robusta. Esta etapa consistiu nas análises

bivariadas, onde foram verificadas as associações entre os diversos fatores independentes e o

desfecho. As variáveis com p-valor < 0,30 foram selecionadas para a etapa seguinte (análise

multivariada).

Na análise multivariada, foi também utilizada a regressão de Poisson com variância

robusta, seguindo o método de modelagem hierarquizada com inserção manual de variáveis,

distribuídas em quatro níveis de acordo com a sua proximidade com o desfecho. A finalidade

foi analisar fatores proximais e distais relacionados à baixa estatura-para-idade.

Foi criado um modelo conceitual onde os fatores demográficos e socioeconômicos

apresentavam relação mais distante com baixa estatura-para-idade, em comparação às demais

variáveis selecionadas para o estudo. Ou seja, o crescimento e desenvolvimento do indivíduo

são influenciados em última instância pelas distintas condições sociais apresentadas por cada

estado, pelo sexo, pela idade e pela raça/cor da criança. Dessa forma, no primeiro nível de

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62

análise, foram agrupadas essas variáveis de características demográficas. No segundo nível

foram agregadas as variáveis referentes ao acesso à serviços de saúde, e no terceiro, aquelas

relativas à escolaridade (materna e do chefe do domicílio), renda, e acesso à alimentos fontes

de proteína. Procedeu-se dessa maneira porque o acesso a serviços de saúde relacionados aos

fatores sociodemográficos pode interferir no tratamento de enfermidades que estão

relacionadas à baixa estatura-para-idade. Por sua vez, aspectos socioeconômicos, relacionados

à educação e ao acesso a alimentos, potencialmente têm influência mais direta com o

desenvolvimento do agravo do que o fator anteriormente citado. No quarto nível, foram

reunidas as variáveis de saneamento básico e caracterização domiciliar, que têm forte

associação com o surgimento de doenças que constituem fatores de risco para o déficit

estatural, como enteroparasitoses e diarreia.

Em cada nível, permaneceram as variáveis que apresentaram p-valor < 0,05 para o

ajuste final do modelo do nível seguinte. Este procedimento foi aplicado nos demais níveis da

análise hierárquica, implicando no controle das variáveis dos níveis anteriores.

Foram calculadas as razões de prevalência e seus respectivos intervalos de confiança

(IC = 95%) a partir do teste estatístico de Wald.

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63

5 RESULTADOS

A população de estudo da Pesquisa de Avaliação da Situação de Segurança Alimentar e

Nutricional em Comunidades Quilombolas Tituladas totalizou 40.548 indivíduos, dos quais

57,7% (n = 23.415) residiam na região Norte, 28,9% (n = 11.701) no Nordeste, 3,2% (n =

1.313) no Sudeste, 0,3% (n = 104) no Sul e 9,9% (n = 4.015) no Centro-Oeste (Tabela 1). A

população masculina (51,6%; N = 20.937) foi maior que a feminina. A população < 5 anos

correspondeu a 11,9% da população total (N = 4.831)3 . Destes, 2,48% (n = 120) não eram

quilombolas, e 4,9% (n = 237) residia em área não titulada. A população com idade entre 5 e

17 anos correspondeu à 33,2% (N = 13.453) da população total, dos quais 2,4% (n = 321)

foram classificados como não quilombolas e 1,1% (n = 148) não residiam em área titulada.

Entre aqueles com idade igual o superior a 18 anos, que representaram 53,4% (N = 21.639) da

população total, 2,6% (n = 572) não se consideraram quilombolas e 0,2% (n = 45) moravam

em território não titulado. Alguns dos valores percentuais citados acima não estão

representados em tabela.

Tabela 1. População de estudo, Pesquisa de Avaliação da Situação de Segurança Alimentar e

Nutricional em Comunidades Quilombolas Tituladas, Brasil, 2011.

População Não quilombola

Fora da área

titulada <5 anos

Variáveis N N % N % N %

Região

Norte 23415 368 1,57 111 0,47 2833 12,1

Nordeste 11701 535 4,57 188 1,61 1353 11,7

Sudeste 1313 55 4,19 4 0,30 137 10,4

Sul 104 0 0,00 3 2,88 12 11,5

Centro-Oeste 4015 86 2,14 136 3,39 496 12,4

Total 40548 1044 2,57 442 1,09 4831 11,9

Sexo

Feminino 19611 514 2,62 217 1,11 2372 12,1

Masculino 20937 530 2,53 225 1,07 2459 11,7

Total 40548 1044 2,57 442 1,09 4831 11,9

Raça

Branca 1466 90 6,1 34 2,3 223 15,2

Preta 21483 333 1,6 173 0,8 2267 10,5

Parda 15984 453 2,8 153 1,0 2084 13,0

Amarela 162 3 1,9 5 3,1 21 13,0

3 O total de indivíduos avaliados com data de nascimento registrada no banco de dados (39.923) foi menor que o

número total de indivíduos avaliados pela pesquisa (40.548).

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População Não quilombola

Fora da área

titulada <5 anos

Variáveis N N % N % N %

Indígena 539 133 24,7 68 12,6 61 11,3

Total 39634 1012 2,55 433 1,09 4656 11,7

Idade (anos)

<5 4831 120 2,48 237 4,90 ─ ─

≥ 5 e < 18 13453 321 2,39 148 1,10 NA NA

≥ 18 e < 50 16003 406 2,54 13 0,08 NA NA

≥ 50 5636 166 2,95 32 0,57 NA NA

Total 39923 1013 2,54 430 1,08 NA NA

NA: Não se aplica

Nas publicações “Cadernos de estudos: Quilombos do Brasil: Segurança Alimentar e

Nutricional em Territórios Titulados” e “Sumário Executivo: Pesquisa de Avaliação da

Situação de Segurança Alimentar e Nutricional em Comunidades Quilombolas Tituladas”

(Pinto et al., 2014) não há informações sobre a quantidade de indivíduos que, apesar de

fazerem parte do universo do estudo, por algum motivo não participaram das entrevistas (seja

por recusa, ausência ou deficiência) ou não tiveram dados apresentados (seja devido

interrupção da entrevista ou falha no registro dos dados).

Considerando os critérios de inclusão, das 169 comunidades da pesquisa original

localizadas em todas as regiões, 33,1% (n = 56) eram localizadas na região Nordeste e

fizeram parte do estudo. Das 1.353 crianças < 5 anos na região, 88 foram identificadas pelo

entrevistado como não quilombolas ou residentes em domicílios situados fora de território

quilombola titulado. Assim, a população alvo deste estudo foi composta por 1.265 crianças

(93,5% do total). Esses dados não estão apresentados em tabela.

Os dois estados com maior número de crianças analisadas foram Maranhão e Bahia,

representando 36,9% e 32,5% da população analisada, respectivamente. Sergipe foi o estado

com a menor população (4,2%; n = 53) (Tabela 2). Esses percentuais não estão apresentados

em tabela. O Maranhão também foi o estado com a maior diferença nas proporções de

crianças segundo sexo, e o único onde essa diferença foi estatisticamente significante, com

54,6% (n = 255; p = 0,047) sendo meninas. No caso do Pernambuco e Piauí, a porcentagem

de meninos foi maior que a de meninas (53,3%; n = 98 e 52,7%; n = 79 respectivamente).

Com relação à idade, a maior diferença no número de crianças entre os sexos foi

observada na faixa etária ≥ 12 e < 24 meses, com 58,1% (n = 118; p = 0,021) neste grupo

sendo meninas (Tabela 2).

(Continuação da Tabela 1)

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Tabela 2. Distribuição de crianças quilombolas < 5 anos residentes em terras tituladas de

acordo com o sexo, por características demográficas, Pesquisa de Avaliação da Situação de

Segurança Alimentar e Nutricional em Comunidades Quilombolas Tituladas, Região

Nordeste, Brasil 2011.

Feminino Masculino

Variável N N % N % p-valor

Estado

Bahia 411 207 50,4 204 49,6 0,882

Maranhão 467 255 54,6 212 45,4 0,047

Pernambuco 184 86 46,7 98 53,3 0,376

Piauí 150 71 47,3 79 52,7 0,514

Sergipe 53 27 50,9 26 49,1 0,891

Total 1265 646 51,1 619 48,9 ─

Idade (meses)

< 12 225 112 49,8 113 50,2 0,947

≥ 12 e < 24 203 118 58,1 85 41,9 0,021

≥ 24 e < 36 226 111 49,1 115 50,9 0,790

≥ 36 e < 48 243 126 51,9 117 48,1 0,564

≥ 48 e < 60 237 121 51,1 116 48,9 0,745

Total 1134 588 51,9 546 48,1 ─

p-valor referente ao teste qui-quadrado.

Do total de crianças analisadas, 10,8% (n = 136) faltavam informação de peso, 14,9%

(n = 189) de estatura e 10,4% (n = 131) de idade (Tabela 3). Entre os estados, a maior

proporção de crianças sem informação de peso ocorreu no Piauí (14,7%; n = 22), de estatura

no estado do Maranhão (17,6%; n = 82) e de idade, em Sergipe (28,3%; n = 15). O estado da

Bahia apresentou menores porcentagens de crianças com dados faltantes para peso (7,8%; n =

32). As diferenças entre as proporções de dados faltantes segundo Estado foram significativas

tanto em relação ao peso, quanto para estatura e idade. Por sexo, a proporção de dados

faltantes foi maior entre os meninos, sendo 12,1% (n = 75) para o peso, 15,7% (n = 97) em

relação à estatura, e 11,8% (m = 73) referente à idade, contra as respectivas porcentagens de

9,4% (n = 61), 14,2% (n = 92) e 9,0% (n = 58) apresentadas pelas meninas (diferenças não

significantes).

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Tabela 3. Distribuição de dados faltantes para as variáveis peso, altura e idade, segundo

características sociodemográficas selecionadas, para crianças quilombolas < 5 anos residentes

em terras tituladas, Pesquisa de Avaliação da Situação de Segurança Alimentar e Nutricional

em Comunidades Quilombolas Tituladas, Região Nordeste, Brasil, 2011.

Peso Estatura Idade

Variável N n % N % N %

Estado

p < 0,001*

p < 0,001*

p < 0,001*

Bahia 411 32 7,8 53 12,9 72 17,5

Maranhão 467 61 13,1 82 17,6 28 6,0

Pernambuco 184 15 8,2 20 10,9 8 4,3

Piauí 150 22 14,7 25 16,7 8 5,3

Sergipe 53 6 11,3 9 17,0 15 28,3

Total 1265 136 10,8 189 14,9 131 10,4

Sexo

p = 0,230

p = 0,716

p = 0,190

Feminino 646 61 9,4 92 14,2 58 9,0

Masculino 619 75 12,1 97 15,7 73 11,8

Total 1265 136 10,8 189 14,9 131 10,4

* Resultado com p < 0,05

p: p-valor referente ao teste qui-quadrado

A prevalência de crianças com baixa estatura-para-idade foi de 14,1% (n = 137)

(Tabela 4). A prevalência no sexo masculino (14,7%; n = 68) foi maior em comparação ao

sexo feminino (13,6%; n = 69). Crianças com baixo peso-para-idade representaram 6,1% (n =

63) da população analisada, com os meninos apresentando uma prevalência um pouco maior

(6,6%; n = 30) que as meninas (5,9%; n = 33). Quanto ao estado nutricional de elevado IMC-

para-idade, a prevalência geral foi de 3,2% (n = 31), sendo 3,3% (n = 15) no sexo masculino e

3,2% (n = 16) no sexo feminino. Essas diferenças segundo sexo não foram estatisticamente

significativas. Com relação ao elevado peso-para-estatura, a prevalência foi de 2,8% (n = 29),

sendo igual entre as meninas e os meninos.

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Tabela 4. Prevalências de escores z de estatura-para-idade (E/I), peso-para-idade (P/I), peso-

para-estatura (P/E) e IMC-para-idade (IMC/I) em crianças quilombolas < 5 anos residentes

em terras tituladas, segundo sexo, Pesquisa de Avaliação da Situação de Segurança Alimentar

e Nutricional em Comunidades Quilombolas Tituladas, Região Nordeste, Brasil, 2011.

Escore z

< -2,00 ≥ -2,00 e ≤ 2,00 > 2,00

Índice N N % n % N %

E/I p = 0,932 p = 0,150 p = 0,683

Feminino 508 69 13,6 426 83,9 13 2,6

Masculino 464 68 14,7 385 83,0 11 2,4

Total 972 137 14,1 811 83,4 24 2,5

P/I

p = 0,705

p = 0,160

p = 0,095

Feminino 542 33 5,9 490 90,4 19 3,5

Masculino 487 30 6,6 447 91,8 10 2,1

Total 1029 63 6,1 937 91,1 29 2,8

IMC/I p = 0,715

p = 0,152

p = 0,857

Feminino 503 16 3,2 471 93,6 16 3,2

Masculino 457 14 3,1 428 93,7 15 3,3

Total 960 30 3,1 899 93,6 31 3,2

P/E p = 0,602

p = 0,357

p = 0,853

Feminino 543 18 3,3 510 93,9 15 2,8

Masculino 510 15 2,9 481 94,3 14 2,7

Total 1053 33 3,1 991 94,1 29 2,8

p: p-valor referente ao teste qui-quadrado entre os sexos

Referente ao baixo P/I, a prevalência foi maior entre as crianças que tinham mães

analfabetas (9,9%; n = 19; p = 0,008), e que residiam em domicílios sem banheiro (7,5%; n =

47; p = 0,008), e sem água encanada (6,9%; n = 42; p = 0,015) (Tabela 5).

Algumas variáveis apresentaram um p-valor muito próximo da significância na análise

das prevalências de baixo P/I. Entre as famílias4 não beneficiadas pelo Programa Bolsa

Família, 9,1% (n = 15; p = 0,081) das crianças apresentaram baixo P/I. (Tabela 5). Crianças

que moravam em domicílios com três cômodos ou menos tiveram maior prevalência de baixo

P/I (7,1%; n = 49; p = 0,060). Nas residências cuja iluminação se dava através de combustível

ou outras fontes, ou não tinham iluminação, o agravo foi mais prevalente (11,5%; n = 7; p =

0,072). Nas famílias não atendidas por ESF, houve maior prevalência (7,7%; n = 35; p =

0,075) de baixo P/I.

O baixo P/I foi mais prevalente no estado do Piauí (9,0%; n = 11), na faixa etária ≥ 24

e < 36 meses (7,4 %; n = 15), e entre as crianças brancas (8,2%; n = 4) (Tabela 5). Também

foi maior em crianças que viviam em residências onde o chefe do domicílio não era

4Nomenclatura utilizada no estudo original.

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alfabetizado (6,7%; n = 19), que tinham mães com excesso de peso (7,1%; n = 33), e em

domicílios cuja renda per capita era < R$ 70,00 (6,9%; n = 45). Nos domicílios onde o chefe

estava empregado ou aposentado, a prevalência de baixo P/I foi de 6,9% (n = 45), maior do

que nos domicílios que tinham chefes desempregados (4,5%; n = 17). A prevalência foi maior

nas crianças que não residiam em domicílio próprio (6,5%; n = 8), e que não tinham acesso

aos Programas Cisternas (6,5%; n = 60). Houve menor prevalência de baixo P/I em

residências onde a água para consumo era tratada (5,2%; n = 32), e onde o lixo era coletado

pela rede pública (4,4%; n = 8). O baixo P/I foi mais prevalente entre as crianças que tiveram

episódios de diarreia na semana antecedente à pesquisa (6,5%; n = 6) do que nas que não

tiveram (6,0%; n = 42). Também houve maior prevalência nos domicílios onde moravam mais

de uma criança < 5 anos (7,0%; n = 37), ou residiam 4 ou menos pessoas (5,7%; n = 35). Foi

identificada maior prevalência em domicílios onde havia carne ou ovo disponível para

consumo (6,6%; n = 49 e 6,5%; n = 40, respectivamente), onde o ACS não visitava com

frequência (7,5%; n = 17) e em famílias não atendidas por assistente social ou equipe do

CRAS (6,4%; n = 50). Todos esses achados não foram estatisticamente significantes.

Em relação à baixa E/I, observou-se maior prevalência no estado do Maranhão, onde

20,4% (n = 75) das crianças apresentaram o agravo. Sergipe, com 6,2% (n = 2), apresentou a

menor prevalência (p = 0,001) (Tabela 5). Quanto à faixa etária, as prevalências variaram de

9,5% (n = 18), entre as < 12 meses, à 17,6% (n = 36), entre aquelas com idade ≥ 36 e < 48

meses, porém sem significância estatística. Na análise segundo raça/cor, a prevalência de

baixa E/I foi maior entre indivíduos brancos (19,6%; n = 9) e menor entre os pardos (12,2%; n

= 41), diferença também não estatisticamente significante.

Crianças que residiam em domicílios com chefe analfabeto apresentaram uma

prevalência maior de baixa E/I (15,1%; n = 41), assim como ocorreu entre as crianças que

tinham mães analfabetas (17,6%; n = 32) e com excesso de peso (16,4%; n = 71) (Tabela 5).

Da mesma forma, o agravo foi mais prevalente em crianças que viviam em domicílios com

renda per capita inferior à R$ 70,00 (15,2%; n = 95), ou que residiam em casa própria (14,2%;

n = 120) No entanto, tais resultados não foram estatisticamente significantes.

Foi encontrada maior prevalência de baixa E/I em domicílios com chefe empregado ou

aposentado (15,7%; n = 96), em comparação aos domicílios onde o chefe estava

desempregado (10,8%; n = 38; p = 0,034), e em domicílios não beneficiados pelo Programa

Cisternas (14,9%; n = 131) quando comparados às residências que dispunham do serviço

(6,5%; n = 36; p = 0,028) (Tabela 5).

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O agravo foi menos prevalente em domicílios beneficiados pelo Programa Bolsa

Família (14,0%; n = 115), em comparação aos não beneficiados (15,3%; n = 22) (Tabela 5),

porém esse resultado não obteve significância estatística.

Em crianças residentes em domicílios com número de cômodos > 3, a prevalência de

déficit de estatura foi de 9,0% (n = 29), menor que a prevalência apresentada por aquelas que

viviam em domicílios com 3 ou menos cômodos (16,5%; n = 107; p = 0,001) (Tabela 5). A

prevalência em residências com banheiro (9,1%; n = 34) também foi menor do que em

domicílios que não possuíam o cômodo (17,5%; n = 103; p = 0,001). Em domicílios com

água encanada, a prevalência foi 10,7% (n = 42), menor do que em casas sem água canalizada

(16,4%; n = 95; p = 0,013). A proporção de crianças com baixa E/I em domicílios que não

tratavam a água para consumo (19,6%; n = 76) foi maior que a encontrada nos domicílios que

tratavam a água (9,9%; n = 57; p = 0,001).

A baixa E/I foi mais prevalente em domicílios que não tinham acesso à coleta de lixo

pela rede pública (15,0%; n = 121), e onde eram utilizados combustível ou outras fontes para

a iluminação, ou que não eram iluminados (20,7%; n = 12) (Tabela 5). Também houve maior

prevalência entre as crianças que tiveram episódios de diarreia na semana anterior à entrevista

(20,4%; n = 19), e em domicílios onde residia mais de uma criança < 5 anos (15,0%; n = 76)

ou onde moravam mais de 4 pessoas(15,2%; n = 89). Não houve significância estatística para

essas diferenças.

A prevalência de baixa E/I foi maior entre crianças que tinham carne disponível para

consumo no domicílio (14,1%; n = 100), e entre as que não tinham ovo disponível para

consumir (14,7%; n = 56) (Tabela 5). Esses resultados não foram significantes.

Crianças que não recebiam visita frequente do Agente Comunitário de Saúde

apresentaram maior prevalência de baixa E/I (21,5%; n = 45) do que aquelas que recebiam

(12,1%; n = 92; p = 0,001) (Tabela 5). A prevalência de baixa E/I também foi maior em

crianças que não eram atendidas por Equipe de Saúde da Família (17,7%; n = 77) em relação

às que eram atendidas (10,8%; n = 57; p = 0,002). As crianças de famílias que não eram

atendidas por membro do Centro de Referência de Assistência Social apresentaram maior

prevalência de déficit de estatura (15,1%; n = 11), quando comparadas às famílias atendidas

(11,4%; n = 25) (resultado sem significância estatística).

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Tabela 5. Prevalência de baixo peso-para-idade (P/I) e baixa estatura-para-idade (E/I) em

crianças quilombolas < 5 anos residentes em terras tituladas, segundo variáveis

independentes, Pesquisa de Avaliação da Situação de Segurança Alimentar e Nutricional em

Comunidades Quilombolas Tituladas, Região Nordeste, Brasil, 2011.

Baixo P/I

† Baixa E/I

Variável N N % N N %

Estado

p = 0,392 p = 0,001*

Bahia 321 17 5,3 301 32 10,6

Maranhão 390 27 6,9 368 75 20,4

Pernambuco 162 7 4,3 155 16 10,3

Piauí 122 11 9,0 116 12 10,3

Sergipe 34 1 2,9 32 2 6,3

Idade (meses)

p = 0,894 p = 0,186

< 12 196 10 5,1 190 18 9,5

≥ 12 e < 24 191 12 6,3 181 29 16,0

≥ 24 e < 36 202 15 7,4 180 26 14,4

≥ 36 e < 48 217 12 5,5 205 36 17,6

≥ 48 e < 60 223 14 6,3 216 28 13,0

Raça/cor p = 0,775 p = 0,320

Branca 49 4 8,2 46 9 19,6

Preta 578 33 5,7 542 79 14,6

Parda 357 22 6,2 337 41 12,2

Alfabetização do chefe do

domicílio p = 0,624 p = 0,574

Não alfabetizado 283 19 6,7 271 41 15,1

Alfabetizado 730 43 5,9 685 94 13,7

Alfabetização da mãe

p = 0,008* p = 0,096

Não alfabetizada 191 19 9,9 182 32 17,6

Alfabetizada 648 31 4,8 613 78 12,7

Mãe com excesso de peso

p = 0,119 p = 0,099

Sim 462 33 7,1 432 71 16,4

Não 278 12 4,3 269 32 11,9

Renda per capita (R$)

p = 0,180 p = 0,192

< 70,00 654 45 6,9 626 95 15,2

≥ 70,00 375 18 4,8 346 42 12,1

Condição ocupacional do

chefe do domicílio p = 0,119 p = 0,034*

Desempregado 375 17 4,5 353 38 10,8

Empregado ou aposentado 648 45 6,9 613 96 15,7

Domicílio próprio p = 0,855 p = 0,687

Sim 895 54 6,0 845 120 14,2

Não 124 8 6,5 117 15 12,8

Domicílio beneficiado pelo

Programa Cisternas p = 0,163 p = 0,028*

Sim 101 3 3,0 92 6 6,5

Não 926 60 6,5 878 131 14,9

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71

Baixo P/I

† Baixa E/I

Variável N N % N N %

Domicílio beneficiado pelo

Programa Bolsa Família p = 0,081 p = 0,675

Sim 861 48 5,6 824 115 14,0

Não 164 15 9,1 144 22 15,3

Nº de cômodos do domicílio

p = 0,060 p = 0,001*

≤ 3 688 49 7,1 648 107 16,5

> 3 339 14 4,1 323 29 9,0

Domicílio com banheiro

p = 0,008* p < 0,001*

Sim 394 15 3,8 373 34 9,1

Não 624 47 7,5 589 103 17,5

Domicílio com água

encanada p = 0,015* p = 0,013*

Sim 416 20 4,8 391 42 10,7

Não 611 42 6,9 579 95 16,4

Água para consumo tratada

no domicílio

p = 0,139 p < 0,001*

Sim 619 32 5,2 578 57 9,9

Não 404 30 7,4 388 76 19,6

Coleta de lixo pela rede

pública p = 0,293 p = 0,075

Sim 181 8 4,4 165 16 9,7

Não 848 55 6,5 807 121 15,0

Forma de iluminação do

domicílio p = 0,072 p = 0,137

Elétrica 968 56 5,8 914 125 13,7

Combustível e outras fontes,

ou não possui 61 7 11,5 58 12 20,7

Episódio de diarreia na

semana anterior p = 0,874 p = 0,085

Sim 93 6 6,5 93 19 20,4

Não 696 42 6,0 643 88 13,7

Nº de crianças < 5 anos no

domicílio p = 0,218 p = 0,374

1 502 26 5,2 467 61 13,1

>1 527 37 7,0 505 76 15,0

Nº de moradores no

domicílio

p = 0,513 p = 0,238

≤ 4 417 28 6,7 385 48 12,5

≥ 5 e ≤ 10 612 35 5,7 587 89 15,2

Carne disponível para

consumo no domicílio p = 0,244 p = 0,925

Sim 746 49 6,6 710 100 14,1

Não 281 13 4,6 260 36 13,8

Ovo disponível para

consumo no domicílio p = 0,443 p = 0,606

Sim 615 40 6,5 590 80 13,6

Não 412 22 5,3 380 56 14,7

Visita frequente do ACS

p = 0,332 p = 0,001*

Sim 798 46 5,8 758 92 12,1

(Continuação da Tabela 5)

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72

Baixo P/I

† Baixa E/I

Variável N N % N N %

Não 226 17 7,5 209 45 21,5

Família atendida por ESF p = 0,075 p = 0,002*

Sim 564 28 5,0 528 57 10,8

Não 457 35 7,7 435 77 17,7

Família atendida por equipe

do CRAS p = 0,505 p = 0,173

Sim 230 12 5,2 219 25 11,4

Não 779 50 6,4 736 111 15,1 † Escore z < -2 (WHO, 2006)

* Resultado com p-valor < 0,05

ACS: Agente Comunitário de Saúde; CRAS: Centro de Referência de Assistência Social; ESF: Equipe de Saúde

da Família; p: p-valor segundo teste chi-quadrado.

Considerando somente resultados estatisticamente significantes (p-valor < 0,05), a

prevalência de baixa E/I foi 65% menor em crianças que tinham mães alfabetizadas, em

comparação às não alfabetizadas (RP 0,35; IC95% 0,17–0,73; p = 0,005) (Tabela 6). Crianças

cujas mães tinham excesso de peso apresentaram uma prevalência 63% maior de baixa E/I,

quando comparadas às mães que não tinham (RP 0,37; IC95% 0,14–0,96; p = 0,041).

A prevalência do agravo foi 1,4 vezes maior em crianças que não residiam em

domicílio próprio, em comparação as crianças que residiam (RP 2,40; IC95% 1,02–5,62; p =

0,043) (Tabela 6). Nos domicílios onde o lixo não era coletado pela rede pública, a

prevalência de baixa E/I foi 6,39 vezes maior em comparação aos que tinham acesso a esse

serviço (RP 7,39; IC95% 1,02–53,16; p = 0,046). A prevalência foi 1,75 vezes maior nos

domicílios que não tinham luz elétrica, ao serem comparados aos domicílios que dispunham

do serviço (RP 2,75; IC95% 1,01–7,52; p = 0,047).

Não houve diferenças significantes (p ≥ 0,05) nas razões de prevalências não ajustadas

entre baixa estatura-para-idade e as variáveis estado, sexo, idade, raça/cor, alfabetização do

chefe do domicílio, renda per capita, condição ocupacional do chefe do domicílio, domicílio

beneficiado pelo Programa Cisternas, domicílio beneficiado pelo Programa Bolsa Família,

número de cômodos do domicílio, mãe com excesso de peso, renda per capita, renda

domiciliar total, domicílio próprio, domicílio com banheiro, domicílio com água encanada,

água para consumo tratada no domicílio, episódio de diarreia na semana anterior, número de

crianças < 5 anos no domicílio, número de moradores no domicílio, carne disponível para

consumo no domicílio, ovo disponível para consumo no domicílio, visita frequente do ACS,

família atendida por ESF e família atendida por assistente social ou equipe do CRAS (Tabela

6).

(Continuação da Tabela 5)

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73

As variáveis que apresentaram pelo menos uma associação com a baixa E/I com p <

0,30 nas análises bivariadas foram: Estado (p = 0,236), sexo (p = 0,275) idade (p = 0,274),

raça/cor (p = 0,189), alfabetização da mãe (0,005), mãe com excesso de peso (p = 0,041),

renda per capita (p = 0,226), condição ocupacional do chefe do domicílio (p = 0,267),

domicílio próprio (p = 0,043), domicílio beneficiado pelo Programa Cisternas (p = 0,182),

domicílio com banheiro (p < 0,087), domicílio com água encanada (p = 0,064), água para

consumo tratada no domicílio (p = 0,129), coleta de lixo pela rede pública (p = 0,046), forma

de iluminação do domicílio (p = 0,047), carne disponível para consumo no domicílio (p =

0,249) e família atendida por ESF (p = 0,002) (Tabela 6). Todas essas variáveis foram

selecionadas para a análise multivariada na etapa seguinte.

Tabela 6. Razão de prevalências não ajustada para baixa estatura-para-idade em crianças

quilombolas < 5 anos residentes em terras tituladas, segundo variáveis independentes,

Pesquisa de Avaliação da Situação de Segurança Alimentar e Nutricional em Comunidades

Quilombolas Tituladas, Região Nordeste, Brasil, 2011.

Variável N N RP IC95% p-valor†

Estado

Bahia 301 32 Ref (1)

Maranhão 368 75 1,18 (0,54 – 2,61) 0,665

Pernambuco 155 16 0,47 (0,13 – 1,63) 0,236*

Piauí 116 12 0,42 (0,05 – 3,13) 0,404

Sergipe 32 2 NA NA NA

Sexo

Feminino 508 69 Ref (1)

Masculino 464 68 1,51 (0,71 – 3,20) 0,275*

Idade (meses)

< 12 190 18 Ref (1)

≥ 12 e < 24 181 39 1,89 (0,60 – 5,94) 0,274*

≥ 24 e < 36 180 26 1,11 (0,29 – 4,12) 0,874

≥ 36 e < 48 205 36 1,53 (0,47 – 5,03) 0,476

≥ 48 e < 60 216 28 1,02 (0,27 – 3,81) 0,969

Raça/cor

Branca 46 9 Ref (1)

Preta 542 79 0,57 (0,15 – 2,06) 0,392

Parda 337 41 0,39 (0,09 – 1,58) 0,189*

Alfabetização do chefe do

domicílio

Não alfabetizado 271 41 Ref (1)

Alfabetizado 685 94 0,93 (0,41 – 2,11) 0,874

Alfabetização da mãe

Não alfabetizada 182 32 Ref (1)

Alfabetizada 613 78 0,35 (0,17 – 0,73) 0,005**

Mãe com excesso de peso

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74

Variável N N RP IC95% p-valor†

Sim 432 71 Ref (1)

Não 269 32 0,37 (0,14 – 0,96) 0,041**

Renda per capita (R$)

< 70,00 626 95 Ref (1)

≥ 70,00 316 42 0,60 (0,26 – 1,37) 0,226*

Condição ocupacional do

chefe do domicílio

Desempregado 613 96 Ref (1)

Desempregado 353 38 0,61 (0,25 – 1,45) 0,267*

Domicílio próprio

Sim 845 120 Ref (1)

Não 117 15 2,40 (1,02 – 5,62) 0,043**

Domicílio beneficiado pelo

Programa Cisternas

Sim 92 6 Ref (1)

Não 878 131 3,78 (0,53 – 26,7) 0,182*

Domicílio beneficiado pelo

Programa Bolsa Família

Sim 824 115 Ref (1)

Não 144 22 0,91 (0,33 – 2,48) 0,856

Nº de cômodos do domicílio

≤ 3 648 107 Ref (1)

> 3 323 29 0,86 (0,36 – 2,04) 0,744

Domicílio com banheiro

Sim 373 34 Ref (1)

Não 589 103 2,13 (0,89 – 5,11) 0,087*

Domicílio com água

encanada

Sim 391 42 Ref (1)

Não 579 95 2,42 (0,94 – 6,16) 0,064*

Água para consumo tratada

no domicílio

Sim 578 57 Ref (1)

Não 388 76 1,76 (0,84 – 3,68) 0,129*

Coleta de lixo pela rede

pública

Sim 165 16 Ref (1)

Não 807 121 7,39 (1,02 – 53,16) 0,046**

Forma de iluminação do

domicílio

Elétrica 914 125 Ref (1)

Combustível e outras fontes,

ou não possui 58 12 2,75 (1,01 – 7,52) 0,047**

Episódio de diarreia na

semana anterior

Sim 93 19 Ref (1)

Não 643 88 2,34 (0,33 – 16,27) 0,388

Nº de crianças < 5 anos no

domicílio

1 467 61 Ref (1)

(Continuação da Tabela 6)

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75

Variável N N RP IC95% p-valor†

>1 505 76 1,36 (0,63 – 2,93) 0,423

Nº de moradores no

domicílio

≤ 4 385 48 Ref (1)

> 4 587 89 0,89 (0,43 – 1,85) 0,765

Carne disponível para

consumo no domicílio

Sim 710 100 Ref (1)

Não 260 36 1,57 (0,72 – 3,39) 0,249*

Ovo disponível para

consumo no domicílio

Sim 590 80 Ref (1)

Não 380 56 0,72 (0,33 - 1,60) 0,429

Visita frequente do ACS

Sim 758 92 Ref (1)

Não 209 45 1,24 (0,50 – 3,06) 0,638

Família atendida por ESF

Sim 528 57 Ref (1)

Não 435 77 2,00 (0,96 – 4,14) 0,060*

Família atendida por

assistente social ou equipe

do CRAS

Sim 219 25 Ref (1)

Não 736 111 1,53 (0,60 – 3,88) 0,364 † Wald’s test

* Resultado com p < 0,30

** Resultado com p < 0,05

ACS: Agente Comunitário de Saúde; CRAS: Centro de Referência de Assistência Social; ESF: Equipe de Saúde

da Família; IC: intervalo de confiança; Ref: referência; RP: razão de prevalência.

NA: Não se aplica

De acordo com a análise multivariada do modelo inicial, no primeiro e segundo níveis,

as variáveis analisadas não apresentaram significância estatística (Tabela 7). Já no terceiro

nível, entre as crianças que tinham mães alfabetizadas, a prevalência de déficit estatural foi

58% menor em comparação às mães que eram analfabetas (RP 0,42; IC95% 0,19 – 0,94; p =

0,034). No modelo final, essa diferença aumentou para 60% (RP 0,40; IC95% 0,18–0,85; p =

0,017). O excesso de peso da mãe no modelo inicial aumentou a prevalência de baixa E/I em

64% (RP 0,36; IC95% 0,14–0,90; p = 0,029), sendo mantida no modelo final (RP 0,36; IC95%

0,15–0,96; p = 0,030).

No quarto nível, as variáveis pré-selecionadas foram analisadas juntamente com as

variáveis “alfabetização da mãe” e “mãe com excesso de peso”. Nos modelos inicial e final,

em domicílios onde havia acesso à iluminação elétrica, a prevalência de baixa E/I foi 1,67

vezes maior, em comparação aos domicílios que utilizavam combustível ou outras fontes de

energia (RP 2,67; IC95% 1,11 – 6,43; p = 0,028) (Tabela 7).

(Continuação da Tabela 6)

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76

As variáveis que não apresentaram significância estatística no modelo inicial foram:

estado (p = 0,529; 0,175; 0,411); sexo (p = 0,583); idade (0,292; 0,860; 0,713; 0,988);

raça/cor (p = 0,510; 0,170); a família é atendida por ESF (p = 0,060); renda per capita (p =

0,183); condição ocupacional do chefe do domicílio (p = 0,103); domicílio próprio (p =

0,145); carne disponível para consumo no domicílio (p = 0,837); domicílio beneficiado pelo

Programa Cisternas (p = 0,278); domicílio com banheiro (p = 0,361); domicílio com água

encanada (p = 0,835); água para consumo tratada no domicílio (p = 0,248) e coleta de lixo

pela rede pública (p = 0,104) (Tabela 7).

Tabela 7. Resultados da modelagem hierarquizada inicial e final para baixa estatura-para-

idade em crianças quilombolas < 5 anos residentes em terras tituladas, segundo variáveis

independentes, Pesquisa Nacional de Avaliação da Situação de Segurança Alimentar e

Nutricional em Comunidades Quilombolas Tituladas, Região Nordeste, Brasil, 2011.

Modelo inicial Modelo final

Variável RP IC95% p-valor† RP IC95% p-valor

Nív

el 1

Estado

Bahia Ref (1) — — —

Maranhão 1,32 (0,55 – 3,20) 0,529 — — —

Pernambuco 0,44 (0,13 – 1,43) 0,175 — — —

Piauí 0,43 (0,06 – 3,13) 0,411 — — —

Sergipe ─ ─ ─ — — —

Sexo

Feminino Ref (1) — — —

Masculino 1,60 (0,72 – 3,56) 0,243 — — —

Idade

< 12 Ref (1) — — —

≥ 12 e < 24 1,91 (0,57 – 6,39) 0,292 — — —

≥ 24 e < 36 1,12 (0,30 – 4,09) 0,860 — — —

≥ 36 e < 48 1,25 (0,36 – 4,29) 0,713 — — —

≥ 48 e < 60 1,00 (0,27 – 3,68) 0,988 — — —

Raça/cor

Branca Ref (1) — — —

Preta 0,60 (0,13 – 2,70) 0,510 — — —

Parda 0,35 (0,07 – 1,56) 0,170 — — —

Nív

el 2

A família é

atendida

por ESF

Sim Ref (1) — — —

Não 2,00 (0,96 – 4,14) 0,060 — — —

Nív

el 3

Alfabetização da

mãe

Não alfabetizada Ref (1) Ref (1)

Alfabetizada 0,42 (0,19 – 0,94) 0,034* 0,40 (0,18 – 0,85) 0,017*

Mãe com

excesso de peso

Sim Ref (1) Ref (1)

Não 0,36 (0,14 – 0,90) 0,029* 0,36 (0,14 – 0,90) 0,030*

Renda per

capita (R$)

< 70,00 Ref (1) — — —

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77

Modelo inicial Modelo final

Variável RP IC95% p-valor† RP IC95% p-valor

≥70,00 0,58 (0,26 – 1,28) 0,183 — — —

Condição

ocupacional do

chefe do

domicílio

Empregado ou

aposentado Ref (1) — — —

Desempregado 0,46 (0,18 – 1,16) 0,103 — — —

Domicílio

próprio

Sim Ref (1) — — —

Não 2,11 (0,77 – 5,82) 0,145 — — —

Carne disponível

para consumo

no domicílio

Sim Ref (1)

Não 1,09 (0,44 – 2,69) 0,837 — — —

Nív

el 4

Domicílio

beneficiado pelo

Programa

Cisternas

Sim Ref (1) — — —

Não 2,96 (0,41 – 21,06) 0,278 — — —

Domicílio com

banheiro

Sim Ref (1) — — —

Não 1,43 (0,66 – 3,11) 0,361 — — —

Domicílio com

água encanada

Sim Ref (1) — — —

Não 0,90 (0,37 – 2,22) 0,835 — — —

Água para

consumo tratada

no domicílio

Sim Ref (1) — — —

Não 1,52 (0,74 – 3,10) 0,248 — — —

Coleta de lixo

pela rede

pública

Adequada Ref (1) — — —

Inadequada 4,96 (0,71 – 34,47) 0,104 — — —

Forma de

iluminação do

domicílio

Elétrica Ref (1) Ref (1)

Outra fonte ou

não possui 2,67 (1,11 – 6,43) 0,028* 2,67 (1,11 – 6,43) 0,028*

† Wald’s test

* Resultado com p < 0,05

ESF: Equipe de Saúde da Família; IC: intervalo de confiança; Ref: referência; RP: razão de prevalência.

(Continuação da Tabela 7)

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78

6 DISCUSSÃO

Na população quilombola < 5 anos residente em territórios titulados na Região

Nordeste, as prevalências de excesso de peso foram apenas 3,2% e 2,8% segundo os índices

IMC/I e P/E, respectivamente. Segundo a PNDS, na população geral da mesma região a

prevalência referente ao P/E foi de 7,0% no ano de 2006 (Monteiro et al., 2009). Segundo o

mesmo estudo, a prevalência nacional de excesso de peso nessa faixa etária segundo P/E foi

de 7,3%. Os valores encontrados no presente estudo sugerem que excesso de peso não foi o

agravo nutricional que mais atingiu as crianças quilombolas estudadas em 2011. Essas

evidências sugerem que a população de estudo ainda não foi impactada pela transição

nutricional da mesma forma que foi observada em outros segmentos da população brasileira.

A presença de déficit ponderal foi identificada em 6,1% das crianças quilombolas

avaliadas. Em 2006 esse agravo acometeu 2,2% das crianças do Nordeste, e 1,9% da

população nacional, de acordo com dados da PNDS (Monteiro et al., 2009). A prevalência de

crianças quilombolas com déficit ponderal no presente estudo sugere que a desnutrição aguda

atingiu mais as comunidades quilombolas da região Nordeste do que a população não

quilombola no país em anos recentes. Segundo a OMS, prevalências de baixo P/I maiores de

5% são preocupantes devido a sua associação com aumento na mortalidade, mas somente são

consideradas graves ao atingir 10-14% (WHO, 1997).

A desnutrição crônica apresentou um quadro ainda mais alarmante na população de

estudo. O déficit estatural foi observado em 14,1% das crianças quilombolas na faixa etária de

interesse na região Nordeste. Apesar da redução das prevalências da desnutrição nas últimas

décadas em esfera mundial devido à transição nutricional, o agravo ainda se configura em um

importante problema de saúde pública, com prevalências elevadas em distintas populações,

que geralmente vivem em condição de vulnerabilidade social (Monte, 2000). Apesar de não

haverem outros estudos que tenham identificado a situação nutricional dos povos quilombola

em toda o Nordeste, é importante comparar esses achados com a população não quilombola

da região. De acordo com os resultados da POF, a prevalência de déficit estatural era 5,9% na

população não quilombola na região Nordeste em 2008-2009 (IBGE, 2010), valor muito

menor que o evidenciado no presente estudo. Na região do semiárido nordestino, Monteiro et

al. (2006) também identificaram uma prevalência do agravo bastante menor na população em

idade pré-escolar (6,6%). Essa região é vulnerável a surtos epidêmicos de fome e,

consequente, desnutrição aguda devido aos longos períodos de seca que caracterizam a região

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(Castro, 1984).

É importante ressaltar que maior parte das comunidades quilombolas na região

Nordeste estão localizadas em áreas rurais, já que no período escravista e pós-abolição em que

os quilombos foram formados havia a necessidade de isolamento, estratégia que garantia um

afastamento dos senhores de escravos e facilitava sua subsistência através da agricultura e

pesca, dentre outros meios de produção (Florentino e Amantino, 2012). Ao avaliar dados

produzidos pela PNAD em 1995, 1999, 2002 e 2005, Sobel et al. (2010) evidenciaram que em

2005 a proporção da população classificada como pobre no Nordeste era de 60,0% na área

rural, e 46,4% na zona urbana. Foi o estado de Alagoas que mais contribuiu para esses

números (65,8% e 49,1% respectivamente). Esse quadro socioeconômico sugere a

possibilidade de que as disparidades nas prevalências de déficit estatural observadas entre

quilombolas e não quilombolas na região Nordeste podem ser relacionadas à condição

socioeconômica, incluindo fatores como escolaridade, condições de habitação e acesso à

serviços de saúde, com potencial para contribuir para a determinação da desnutrição infantil

(Romani e Lira, 2004).

A prevalência de déficit estatural observada no presente estudo também foi similar

àquela identificada pela Chamada Nutricional Quilombola, realizada em 2008, para a

população quilombola nacional (15,0% das crianças < 5 anos) (Taddei et al., 2009). Porém,

quando comparada à população não quilombola, as diferenças são maiores. Os dados mais

recentes produzidos pela POF 2008-2009 sobre a situação nutricional de pré-escolares

mostraram que a prevalência observada no presente estudo foi mais de duas vezes maior que o

valor do agravo em âmbito nacional (6,0%) (IBGE, 2010). Resultados oriundos da PNDS de

1996, divulgados há duas décadas, mostram que na época a prevalência nacional de déficit

estatural na população infantil < 5 (13,5%) era inferior à observada entre os quilombolas no

Nordeste em 2011 (Monteiro et al., 2009).

Esses achados referentes aos quilombolas no Nordeste podem estar relacionados, em

parte, com as condições de vida da região, caracterizadas por pronunciadas desigualdades

sociais. Os nove estados que compõem a região estão entre os 12 piores ranqueados em

relação ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) (PNUD, 2010). Esse índice, proposto

pela Organização das Nações Unidas (ONU), visa apresentar a situação socioeconômica de

uma população, através da análise de indicadores de renda (analisada em relação ao Produto

Interno Bruto), educação (que leva em consideração a taxa de matrícula nos níveis

fundamental, médio e superior, além do índice de alfabetização) e longevidade (avaliada

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através da expectativa de vida) (Rezende et al., 2005; Oliveira et al., 2007). Os dados

produzidos pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2015 (PNAD) evidenciam

essa situação (IBGE, 2016). A pesquisa, que utiliza amostragem probabilística de domicílios,

retrata a condição socioeconômica da população brasileira por Grandes Regiões e Unidades

da Federação, através de diversos indicadores socioeconômicos. De acordo com a PNAD, o

Nordeste é a região do país que apresenta a maior taxa de analfabetismo entre a população

com 15 anos de idade ou mais (16,2%), sendo quase quatro vezes maior que a evidenciada nas

regiões Sudeste (4,3%) e Sul (4,1%). Entre a população economicamente ativa, é a região que

apresenta a menor prevalência de pessoas com algum tipo de ocupação (55,1%). Em

comparação, essa proporção na região Sudeste é de 58,7% (maior proporção entre as regiões

brasileiras). O Nordeste também possui a menor média de rendimento mensal domiciliar (R$

2.114,00), que é bem abaixo da média nacional (R$ 3.1876,00) e das médias de rendimento

das regiões Sudeste e Sul (ambas R$ 3.686,00) (IBGE, 2016).

Também segundo a PNAD, o Nordeste é a região com a segunda maior prevalência de

domicílios não atendidos pela rede geral de abastecimento de água (20,3%) e sem acesso à

coleta pública de lixo (20,9%). Fica atrás apenas da região Norte, com prevalências de 39,8%

e 21,5%, respectivamente. Já o Sudeste é a região com maior cobertura desses serviços, com

prevalências de apenas 7,8% e 3,6%, respectivamente (IBGE, 2016). Esses números são

consistentes com os resultados do presente estudo, pois a maioria dos domicílios das

comunidades avaliadas não possuía banheiro, água encanada e acesso à rede pública coletora

de lixo, indicadores relacionados à piores condições econômicas. Nessas residências, a

prevalência de déficit estatural foi maior em comparação aos domicílios com banheiro, água

encanada e com acesso à coleta pública de lixo. Em relação à essa última variável, por

exemplo, foi identificada na análise bivariada associação entre falta de acesso ao serviço e

déficit estatural. Alguns estudos na região produziram achados semelhantes. Em uma pesquisa

que avaliou 14 comunidades quilombolas do Tocantins, foi observada uma associação entre

falta de coleta de lixo pela rede pública e situação de insegurança alimentar, condição

intimamente relacionada à desnutrição (Monego et al. 2010). Em outro exemplo, desta vez em

população não quilombola, Rissin et al. (2013) verificaram na cidade de Recife que nos

domicílios abastecidos pela rede geral de abastecimento de água, onde a água para consumo

era tratada e o lixo coletado pela rede pública, houve menor prevalência de déficit estatural.

Outra condição que tem sido observada nas comunidades quilombolas do Nordeste e

que pode ter relação com a prevalência de déficit estatural é a alta proporção de indivíduos

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com enteroparasitoses. De acordo com Andrade et al. (2010), a precariedade de saneamento

básico e abastecimento de água atuam também como fatores de risco para o desenvolvimento

das enteroparasitoses, que por sua vez, são fatores de risco para a desnutrição. Essa situação

foi observada por Amorim et al. (2013). Em uma comunidade localizada no sudoeste da

Bahia, os autores encontraram número elevado de residências que não possuíam banheiro ou

água canalizada, e alta prevalência de indivíduos diagnosticados com parasitoses intestinais.

O Programa Cisternas, que está inserido no Plano Brasil sem Miséria, foi criado

visando a promoção do acesso à água para consumo de animais e seres humanos, e para

produção agrícola através da construção de cisternas para captação e armazenagem de água da

chuva. Destina-se à população rural de baixa renda afetada pela escassez de água provocada

pela seca, priorizando povos e comunidades tradicionais do semiárido (BRASIL, 2013). O

acesso ao programa foi acompanhado por menor prevalência de déficit estatural entre os

indivíduos que residiam em domicílios atendidos pelo programa. Existem vários estudos no

Brasil que demonstram que esse programa é associado com melhoria das condições de vida e

saúde, já que a água em más condições de consumo pode ser um meio de veiculação de

doenças, como as enteroparasitoses (Neves, 2000). Por exemplo, Luna (2011) observou uma

menor ocorrência de episódios de diarreia (agravo que possui íntima relação com a

desnutrição) em domicílios com cisternas, quando comparados aos que não tinham, na região

do semiárido do Nordeste. Em outro exemplo, Santos e Silva (2009) apontam que o uso das

cisternas melhora a qualidade da água consumida e utilizada pelos agricultores, com

consequente impacto na saúde. Algumas evidências de como o programa pode contribuir para

melhorias de saúde são evidentes em Araújo et al. (2011), segundo qual a água captada auxilia

na produção variada de alimentos ajudando a suprir as necessidades nutricionais do indivíduo,

previne contra o surgimento de doenças e ainda promove hábitos alimentares saudáveis.

Apesar de não haverem outros estudos sobre a saúde da população quilombola por

região, é possível comparar os resultados desse estudo com outros realizados em alguns

estados do Nordeste. Ferreira et al., (2011) por exemplo, observaram que 11,5% de

quilombolas < 5 anos do estado de Alagoas (estado que não foi analisado no presente estudo)

apresentaram déficit estatural, prevalência similar à identificada no presente estudo. Esse é o

estado brasileiro com pior IDH (0,631), além de ser pior colocado também quando analisados

isoladamente o IDH de educação (0,520) e de longevidade (0,755) (PNUD, 2010). No

Maranhão, Chagas et al. (2013) identificaram nos seis maiores municípios do estado que 8,5%

das crianças < 5 anos na população geral apresentavam déficit estatural, valor próximo do

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encontrado em todo o Brasil na POF 2008-2009. Porém, em relação às crianças quilombolas,

a prevalência é maior. No presente estudo, o Maranhão foi o estado que apresentou maior

prevalência do agravo (20,4%). O Maranhão é o estado do Nordeste com maior número de

comunidades quilombolas localizadas em terras tituladas (51) (Comissão Pró-Índio de São

Paulo, 2017). A elevada prevalência do agravo pode estar relacionada ao baixo IDH (0,639)

que o estado apresenta em relação aos demais que fizeram parte do estudo. Já o estado de

Sergipe, que apresentou a menor prevalência (6,2%), possui dentre esses estados o segundo

melhor IDH (0,665) (PNUD, 2010).

A maior parte das comunidades quilombolas do Brasil está situada no estado da Bahia.

Das 2.641 comunidades existentes no país (tituladas e certificadas), 618 (23,4%) estão em

território baiano (Fundação Cultural Palmares, 2016; CPISP, 2017). Depois do Maranhão, a

Bahia foi o estado que apresentou maior prevalência de déficit estatural (10,6%) no presente

estudo. Esse valor pode ter relação com a alta prevalência de parasitoses, condições precárias

de saneamento e grande número de domicílios de baixa renda, como identificado por Cabral-

Miranda et al. (2008) em comunidades quilombolas do estado. O acesso limitado aos serviços

de saúde e a baixa escolaridade nessas comunidades, são situações observadas por Gomes et

al. (2013) e Bezerra (2014) que também podem estar relacionadas à essa prevalência. Além

disso, a Bahia é o estado brasileiro com maior proporção de indivíduos autodeclarados pretos

(17,1%) (IBGE, 2010), segmento populacional que há séculos figura entre as camadas menos

favorecidas da população brasileira em relação às condições socioeconômicas, de vida e de

saúde (Oliveira, 2003). No presente estudo, mais da metade da população estudada se

autodeclarou preta (58,7%), ou seja, grande parte dos indivíduos analisados podem viver em

situação de exclusão social tanto por causa de sua identidade social (quilombola), quanto pela

sua identidade racial. Outro aspecto que merece destaque no estado da Bahia é o fato de um

grande número de comunidades quilombolas do estado estarem situadas no Recôncavo. Nessa

região havia forte presença de escravos, enviados para o trabalho nos engenhos de cana de

açúcar em municípios como o de Cachoeira. Só nesta cidade, até 2005 haviam 10

comunidades quilombolas tituladas (Amorim e Germani, 2005). Da abolição da escravatura

até a década de 1950, a região do Recôncavo foi gradativamente perdendo importância

política e econômica, além de ser intensamente explorada por empresas petrolíferas que

prejudicaram a estrutura social de várias cidades, atingindo principalmente a população mais

pobre, dentre elas, a quilombola (Brandão, 2007).

Mesmo tendo sido observada maior prevalência de déficit estatural em domicílios com

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chefe empregado, vale ressaltar aqui a prevalência elevada de desemprego na população

estudada (36,5%). Este achado pode estar relacionado à forte presença de analfabetismo

(28,4%), e ao perfil econômico, pois observou-se que em 69,3% dos domicílios, a renda per

capita era inferior a R$ 70,00 (estes percentuais não estão expostos em tabela).

Devido ao processo histórico de priorização de investimentos econômicos na região

Sudeste, a região Nordeste enfrenta uma situação de desvantagem em relação à mão-de-obra

qualificada. O impacto do avanço tecnológico no mercado de trabalho passou a exigir maior

nível de escolaridade para a realização das atividades ocupacionais, prejudicando aqueles com

menor acesso à educação de qualidade (Araújo e Lima, 2010). No caso dos quilombolas, esse

acesso é ainda mais difícil, por viverem geralmente em áreas isoladas e pouco assistidas. Em

diagnóstico realizado pela SEPPIR (2012), sobre as ações realizadas pelo Programa Brasil

Quilombola, constatou-se que muitas crianças quilombolas com idade entre 4 e 7 anos nunca

estudaram. As escolas se localizam longe das comunidades, apresentam condições precárias

de infraestrutura (estrutura de palha ou pau-a-pique, e instalações sanitárias em condições

inadequadas), e possuem pouca disponibilidade de água potável. Ademais, os transportes

utilizados para conduzir as crianças no trajeto entre a casa e a escola são insuficientes (assim

como é insuficiente o número de professores com formação adequada para inserir no currículo

escolar o contexto cultural dos povos quilombolas). Ou seja, é possível que a não oferta de

educação adequada contribui para o quadro negativa em relação a desemprego, a baixa renda,

e a desnutrição infantil Evidência disso está na associação positiva entre analfabetismo da

mãe e déficit estatural na criança, como observado na análise bivariada. Carvalhaes e Benício

(2002) também identificaram que a baixa escolaridade materna duplica a chance de

desnutrição infantil, relatando que o nível de escolaridade da mãe é um fator determinante da

capacidade materna para o cuidado da criança.

Outro indicador relacionado à mãe que aumentou a prevalência de déficit estatural na

criança foi o excesso de peso, como identificado na análise bivariada. A presença de excesso

de peso materno e do déficit estatural em crianças em um mesmo domicílio tem sido

evidenciada em outros estudos, como o realizado por Silveira et al., (2010). Em 23 favelas do

estado de Alagoas, os autores observaram que, quando analisados o excesso de peso e baixa

estatura da mãe de forma conjunta (IMC > 25,0 kg/m² e < 1,55m, respectivamente), há forte

associação com o déficit estatural na criança. Géa-Horta et al. (2016) identificaram que

fatores socioeconômicos como a baixa escolaridade da mãe e condições inadequadas de

habitação se associam com a presença combinada de excesso de peso na mãe e crescimento

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linear prejudicado em crianças na mesma residência. Os autores sugerem que o baixo nível de

escolaridade materna, além de limitar o conhecimento sobre alimentação saudável, dificulta o

acesso ao mercado de trabalho, afetando a renda da mãe. Dessa forma, opta-se por um

consumo alimentar compensatório, priorizando alimentos calóricos que promovem saciedade,

mas que são pobres em proteínas e micronutrientes. Isso reflete em excesso de peso na mãe e

prejudica o crescimento da criança, pois segundo Akré (1994) essa é a faixa etária que exige

maior consumo de proteínas, para atingir o potencial de crescimento e desenvolvimento. Esse

evento é chamado de dupla carga de má nutrição, quando membros de uma mesma família

apresentam simultaneamente dois tipos de distúrbios nutricionais (Géa-Horta, 2016). Na

avaliação do estado nutricional da criança, é necessário considerar o contexto domiciliar em

que ela está inserida e o modo como acontece a interação com esse ambiente, sendo a mãe um

importante elo de ligação, alguém com quem os hábitos alimentares são aprendidos,

influenciando diretamente no seu estado nutricional (Engstrom e Anjos, 1996).

Ainda nas análises bivariadas, observou-se que viver em domicílio próprio foi um

fator de proteção contra o déficit estatural. Em outro estudo, em que foi avaliada uma

população não quilombola beneficiária do Programa Bolsa Família na cidade de Maceió, foi

identificada associação entre pessoas que não residiam em domicilio próprio e insegurança

alimentar (Cabral et al., 2013). Esse resultado pode ser atribuído à necessidade de chefes de

domicílio que não possuem casa própria e pagam aluguel de destinar parte da renda domiciliar

para esse fim, o que pode comprometer a renda disponível para a aquisição de alimentos e

influenciar na segurança alimentar do domicílio, e no estado nutricional dos moradores.

A iluminação do domicílio é um indicador relacionado à condição econômica em

estudos epidemiológicos. A presença de iluminação elétrica no domicílio pode estar

relacionada à condição financeira, às dinâmicas de inclusão social da população (Alves,

2004), e ao acesso a serviços públicos básicos (rede elétrica pública) e programas sociais

(como o Programa Luz para Todos). Este último programa foi criado com o objetivo de

fornecer energia elétrica para a população rural sem acesso a esse serviço público (BRASIL,

2003). Neste estudo, a análise bivariada indicou associação entre o domicílio possuir energia

proveniente da rede elétrica, e proteção contra o déficit estatural, assim como observado em

outras regiões do país. Por exemplo, Kassouf (1994) identificou que o crescimento de

crianças nas regiões Sudeste e Sul é significativamente associado com esse indicador, na área

rural e em domicílios de baixa renda, o que demonstra a importância desse serviço na saúde.

A presença de energia elétrica no domicílio pode estar relacionada à condição socioeconômica

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(Alves, 2004). Camargo et al. (2008) expõem que o acesso ao serviço favorece o acesso à

informação, ao permitir a introdução de políticas como a de inclusão digital. Também traz

melhorias à saúde ao possibilitar que alimentos sejam conservados em geladeira, evitando o

uso de técnicas antigas de conservação (salgar carnes, por exemplo), o que contribui para uma

alimentação de qualidade. Os resultados da associação deste indicador com o déficit estatural

no presente estudo reforçam a relevância da exclusão social para as condições de saúde de

crianças quilombolas.

As crianças residentes em domicílios com mais de três cômodos apresentaram menor

prevalência de déficit estatural. Alguns estudos já haviam demonstrado achados semelhantes

em crianças vivendo em situação precária (Teixeira e Eller, 2004; Santos et al., 2008). A

quantidade de cômodos no domicílio constitui um importante indicador socioeconômico,

utilizado como proxy de renda e escolaridade, sendo que aquelas pessoas cujas residências

têm maior número de cômodos, pertencem às classes financeiramente mais favorecidas

(Moreira e Nico, 2010), possuindo mais escolaridade e conhecimento sobre a prevenção

contra o déficit estatural.

A avaliação do acesso a serviços de saúde gerou resultados consistentes com outros

estudos de quilombolas na região Nordeste. No presente estudo, nos domicílios que eram

visitados frequentemente pelo ACS, houve menor prevalência de déficit estatural. Do mesmo

modo, observou-se menor prevalência em crianças que eram atendidas por ESF. Um estudo

realizado por Ferreira e Torres (2015) demonstra a importância das ESF na saúde da

população quilombola. Os autores evidenciaram em comunidade localizada na cidade de

Maceió, que o acesso à saúde melhorou após a implantação de uma ESF em uma Unidade

Básica de Saúde. Esses achados sugerem a importância da promoção da saúde em

comunidades quilombolas através da implementação de ESFs. Devido à essa relevância, em

2011 foram implantadas 2.008 ESFs em 1.177 municípios brasileiros, direcionadas ao

atendimento em comunidades quilombolas (SEPPIR, 2012). Considerando essa dinâmica, a

estratégia do Governo Federal de aumentar em 50% os investimentos direcionados às ESFs

atuantes em cidades onde existem comunidades quilombolas, a partir de 2004 (Freitas et al.,

2011) pode ter reduzido o potencial impacto para o déficit estatural.

Apesar de não ter sido encontrada associação entre idade da criança e déficit estatural,

algumas pesquisas têm demonstrado que crianças com menor idade têm maior chance de

apresentar o agravo em comparação às crianças com mais anos de vida. Por exemplo, ao

avaliarem o estado nutricional de crianças < 6 anos vivendo em contexto de vulnerabilidade

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social na Paraíba, Pedraza et al. (2016) identificaram associação significativa entre idade e

déficit estatural. As crianças com idade de 6 a 36 meses tiveram uma chance 81,0% maior de

apresentar o agravo, quando comparadas com aquelas na faixa etária de 37 a 72 meses. O fato

das crianças mais novas serem mais susceptíveis ao déficit estatural pode estar relacionado às

questões fisiológicas apresentadas pelos mais novos e que podem influenciar no

desenvolvimento do agravo. De acordo com Akré (1994) no primeiro ano de vida, o peso da

criança dobra nos primeiros quatro meses, e triplica em relação ao peso do nascimento no

final do primeiro ano. Há também nesse período um incremento de 50% na estatura. Além

disso, os órgãos e esqueleto estão em constante formação. Devido a esse intenso período de

crescimento e desenvolvimento, a necessidade de macronutrientes é três vezes maior que a de

adultos (considerando a ingestão por quilo de peso) e um consumo insuficiente pode acarretar

em déficits de peso e estatura. Outro fato que merece destaque é que nesse período

geralmente ocorre o desmame e introdução de novos alimentos (alimentação complementar).

Caso isso ocorra precocemente, podem ocorrer problemas de saúde como diarreia e alergias

alimentares.

A análise multivariada evidenciou que um conjunto de fatores relacionados à condição

socioeconômica de mães (analfabetismo e excesso de peso) e domicílios (domicílio sem

acesso à energia elétrica) aumentaram a prevalência de déficit estatural na população

estudada. Alguns autores já haviam chamado a atenção para a importância da associação entre

analfabetismo e excesso de peso maternos, e acesso à rede de energia elétrica na saúde em

menores de 5 anos. Em modelagem hierarquizada realizada por Olinto (1993), a escolaridade

da mãe também apresentou associação significativa com o agravo em população infantil.

Oliveira et al. (2007) também observou associação em relação ao nível socioeconômico do

domicílio. A mesma associação foi observada por Benício et al. (2013) em 5.507 municípios

brasileiros.

Os resultados do modelo final do presente estudo demonstram a centralidade da

situação socioeconômica na qual a criança está inserida para o seu crescimento linear, e a

necessidade de estratégias de inclusão social como alternativa de melhorar as condições de

vida e de saúde da população quilombola. As desigualdades raciais como produtor de

exclusão social tem dificultado o acesso do quilombola à alimentação adequada (excesso de

peso da mãe) devido à renda monetária baixa e ao consumo alimentar compensatório. Além

disso, prejudica o acesso a serviços públicos, mesmo aqueles com grande alcance nacional,

como a educação (alfabetização da mãe) e a rede elétrica de energia (iluminação elétrica no

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domicílio).

Como a variável “raça-cor” não apresentou significância estatística em relação com

estado nutricional no presente estudo, é possível que o estigma sofrido pela população

quilombola não está relacionado exclusivamente com as características fenotípicas, mas

também com a identificação social que esse povo possui com os africanos que foram

escravizados no Brasil. Essa ligação faz com que as relações sociais entre quilombolas e não

quilombolas sejam marcadas pela exclusão social, verificada pela desvantagem que o

primeiro grupo enfrenta quanto às condições de vida e saúde. Mesmo com o racismo

científico sendo deslegitimado no Brasil na década de 1940 (Ianni, 1996), as desigualdades

raciais continuaram fazendo parte do cenário do país (Batista et al., 2013). Nessa época, o

racismo biológico-social ganhava força, cuja característica segregadora ainda sentenciava

negros e quilombolas à marginalização social, demográfica e política (Dussel, 2004). Com

isso, o intenso desenvolvimento econômico pelo qual passou o país nos anos 1950, com

melhorias nas condições de vida e saúde da população (Amuna e Zotor, 2008), não teve o

mesmo impacto em quilombolas e não quilombolas, já que o primeiro grupo hoje apresenta

piores indicadores de habitação, renda, educação e saúde (Pereira et al, 2008). Ademais,

mesmo com o processo de transição nutricional pelo qual passa o país, fenômeno que tem

como uma de suas principais características a redução nas prevalências de desnutrição

(Popkin, 2001), esse agravo ainda apresenta prevalência elevada na população quilombola,

como evidenciado neste estudo. O cotidiano de segregação que esse povo enfrenta tem

dificultado o seu desenvolvimento econômico, sendo a inclusão social a alternativa mais

viável para que esse quadro seja revertido.

Além da população quilombola, outro segmento populacional no Brasil que enfrenta

um processo histórico de exclusão social caracterizado por discriminação e estigmas, com

consequências para suas condições de vida e saúde é a população indígena (Coimbra Jr. e

Santos, 2000). Além disso, são povos que têm em comum a predominância rural de seus

territórios e a luta pelo reconhecimento legal desses territórios (Ricardo e Ricardo, 2011).

Dados do I Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição dos Povos Indígenas realizado em 2008-

2009, mostram uma importante semelhança nas prevalências de déficit estatural em relação ao

presente estudo. O agravo atingiu 13,9% das crianças indígenas < 5 anos na região Nordeste

(Horta et al., 2013), valor similar ao encontrado na presente pesquisa para a mesma região

(14,1%).

Considerando o contexto fora do Brasil, a África do Sul apresenta um ponto de

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comparação interessante. A exclusão social e todas suas consequências foram impostas à

população quilombola no Brasil e à negra em ambos países, com reflexo nas suas condições

de saúde (Guimarães, 1999; Ribeiro, 2002). A prevalência de déficit estatural encontrada no

presente estudo é similar a identificada por Kimani-Murage et al. (2010) na população de

mesma faixa etária em uma área rural da África do Sul, onde foram identificadas 18,0% de

crianças com o agravo. A região possui uma das piores taxas de pobreza do país, com uma

prevalência de desemprego de 29,0% entre os homens, saneamento básico precário, escassez

de água frequente, índices elevados de analfabetismo e difícil acesso à serviços de saúde.

Percebe-se como nos dias atuais, as marcas da exclusão social decorrentes do histórico

processo do racismo impactam negativamente nas condições de saúde de uma população,

sendo necessárias intervenções políticas e sociais para que esse quadro não continue a ser

perpetuado.

O presente estudo apresenta uma série de limitações. O número expressivo de dados

faltantes no banco de dados sobre o peso, a estatura e a idade das crianças podem ter

influenciado nos resultados finais. Além disso, outras informações importantes para a análise

dos dados não estão disponíveis para consulta, como o número de indivíduos que não

participaram das entrevistas na pesquisa original, nem as justificativas para essas perdas

(como recusa à participação no estudo ou ausência no dia da entrevista). Isso não permitiu a

quantificação do número de pessoas que não foram avaliadas, ou que tiveram informações

parciais no banco disponibilizado. Acrescente-se também que a pesquisa cujos dados foram

aqui analisados não teve por objetivo específico dimensionar as consequências do racismo

sobre desfechos em saúde, de modo que as associações identificadas devem ser interpretadas

com cautela quanto à causalidade. Apesar dessas limitações, vale ressaltar a importância de

estudos como esse, considerando a escassez de informações disponíveis na literatura sobre a

população quilombola da região Nordeste como um todo.

Ademais, estudos epidemiológicos de delineamento transversal não são capazes inferir

causalidade. Ou seja, não é possível afirmar se as variáveis que apresentaram associação

significativa com o desfecho estudado são causas, ou consequências do déficit estatural.

É importante ressaltar que este estudo avaliou somente as 62 comunidades da região

Nordeste que até 2011 haviam recebido o título de “Comunidade Remanescente de

Quilombo”, sendo que existem ao todo no Brasil 207 comunidades nesta situação. No entanto,

esse número é muito inferior a quantidade total de comunidades com residentes que se

identificam como quilombolas no país. Até os dias atuais, foram expedidos no Brasil 207

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títulos que beneficiam apenas 238 comunidades quilombolas, sendo que 40,0% delas (96)

localizam-se no Nordeste. Das 2.401 comunidades certificadas, 61,7% (1.482) estão situadas

na região (Fundação Cultural Palmares, 2015; INCRA, 2016). Ou seja, o estudo não avaliou

um grande conjunto de comunidades, sugerindo que investigações adicionais em comunidades

certificadas serão necessárias para caracterizar o estado nutricional em crianças quilombolas

fora de áreas tituladas.

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7 CONCLUSÕES

As prevalências de elevado IMC/I e P/E, e de baixo P/I encontradas nesse estudo

foram relativamente baixas, sendo a baixa E/I o agravo nutricional mais alarmante na

população estudada. Mesmo com os processos de transição epidemiológica e nutricional em

todo o mundo sendo acompanhados pela redução das prevalências de desnutrição, esse

distúrbio nutricional ainda se configura em um importante problema de saúde pública em

determinados contextos sociais (Monte, 2000). Em países em desenvolvimento, acomete

principalmente grupos com piores condições socioeconômicas (Petrou e Kupek, 2010). No

Brasil, apesar do intenso período de desenvolvimento a partir da segunda metade do século

XX (Vasconcelos e Gomes, 2012), as consequentes melhorias de vida não beneficiaram toda a

população igualmente. As desigualdades regionais são evidentes, sendo a região Nordeste a

que apresenta pior nível de desenvolvimento socioeconômico (PNUD, 2010), apresentando

áreas que até hoje são caracterizadas por situação de extrema pobreza (Monteiro et al., 2006).

Em relação às desigualdades sociais, destacam-se as precárias condições de vida às quais

estão submetidas a população quilombola com reflexo nas suas condições de saúde, marcas de

um processo histórico de exclusão social (Pereira, 2008). A alta prevalência de déficit

estatural encontrada nesse estudo associada com condições socioeconômicas aponta que a

população quilombola no Nordeste enfrenta preocupantes desigualdades de saúde em

comparação à população não quilombola da região e do país. A necessidade de assistência a

esse grupo populacional nos âmbitos social e de saúde apresenta um caráter de urgência,

considerando essa preocupante situação de desvantagem socioeconômica que influencia

negativamente as suas condições de saúde lhe impõe uma indesejável condição de povo

excluído.

A análise da contribuição dos fatores socioeconômicos e demográficos à condição de

saúde em comunidades quilombolas é um importante meio para compreender como o

processo saúde-doença ocorre nesse segmento da população. Isso porque o componente

histórico indissociável da formação e da identificação do povo quilombola (Marques e

Gomes, 2013) é permeado pelo racismo e pela exclusão social desde o final do século XVI,

período onde foi formado o primeiro quilombo brasileiro (Fernandes, 1999). Essa população

lida com diferentes formas de discriminação racial, refletindo em desigualdades sociais nas

áreas de educação, trabalho, habitação e saúde, quando comparada à população não

quilombola (Pereira et al., 2008). Considerar essas particularidades socioculturais, a sua

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identidade, a luta por igualdade e a busca pelo reconhecimento social e jurídico é

fundamental, já que esses são fatores que influenciam tanto a sua inserção social quanto as

suas interações com outros grupos (raciais ou de identidade social), gerando mecanismos que

por sua vez, influenciam nas suas condições de vida.

É importante que sejam realizados outros estudos que analisem as condições de saúde

da população quilombola em conjuntura regional e nacional. A literatura sobre o assunto é

escassa, dificultando a compreensão de como essa população vive, quais são suas demandas

políticas, e qual sua contribuição nos quadro social, político e cultural da população brasileira.

Novas pesquisas serão essenciais para que sejam gerados dados comparativos com o atual

estudo, permitindo acompanhar o processo de desenvolvimento econômico dessa população, e

evidenciando se as estratégias de inclusão social e redução das desigualdades estão

produzindo efeito positivo.

O presente estudo fortalece a visibilidade social e política da população quilombola,

apontando para a necessidade de ações de inclusão social que favoreçam a melhoria de

condições de vida com potencial para reduzir a prevalência de déficit estatural em crianças.

Medidas preventivas contra a desnutrição em crianças podem contribuir para a redução de

outros agravos nas demais fases da vida.

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