déficit habitacional no brasil 2008

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  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

    1

    Contrato que entre si celebram a Fundao Joo Pinheiro (FJP) e a Unio, por intermdio do Ministrio das Cidades, por meio do contrato de emprstimo no. 7338-BR, assinado com o BANCO INTERNACIONAL PARA RECONSTRUO E DESENVOLVIMENTO-BIRD (BANCO MUNDIAL) para Assistncia Tcnica ao Setor Habitacional TAL HABITAO, para atualizar o estudo Dfi cit Habitacional no Brasil utilizando como fonte de dados para seu clculo os dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (Pnad)/IBGE, referentes a 2008.

    DFICIT HABITACIONAL NO BRASIL

    2008

    DFICIT HABITACIONAL NO BRASIL

    2008

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

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    APRESENTAO DE PONTOS NO TEMPO(De acordo com a ABNT - NB 113 - Normas para Datar)

    As sries temporais consecutivas so apresentadas nas tabelas e grfi cos por seus

    pontos inicial e fi nal ligados por hfen (-); as no-consecutivas, ligados por barra (/).

    SINAIS CONVENCIONAIS UTILIZADOS:

    ... Dado numrico no-disponvel

    .. No se aplica dado numrico- Dado numrico igual a zero no resultante de arredondamento

    Brasil. Ministrio das Cidades. Secretaria Nacional de Habitao.

    Dfi cit habitacional no Brasil 2008 / Ministrio das Cidades. Secretaria Nacional de Habitao. Braslia, Ministrio das Cidades, 2011 140 p.Elaborao: Fundao Joo Pinheiro, Centro de Estatstica e Informaes.

    ISBN: 978-85-7958-019-2

    1. Habitao Brasil. 2. Poltica habitacional Brasil. 3. Poltica urbana Brasil. I. Ttulo

    CDU: 333. 32 (81)

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

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    DFICIT HABITACIONAL NO BRASIL

    2008

    DFICIT HABITACIONAL NO BRASIL

    2008

    Braslia

    Abril de 2011

    Ministrio das CidadesSecretaria Nacional de Habitao

    Ministrio das CidadesSecretaria Nacional de Habitao

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

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  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

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    Sumrio 1 INTRODUO, 9

    2 PRESSUPOSTOS METODOLGICOS E ASPECTOS CONCEITUAIS BSICOS, 11

    2.1 Pressupostos metodolgicos, 11

    2.2 Aspectos conceituais bsicos, 15

    2.2.1 Dfi cit habitacional, 18

    2.2.2 Inadequao de domiclios, 21

    2.3 Consideraes sobre a fonte de dados utilizada e aprimoramentos

    metodolgicos, 23

    3 O DFICIT HABITACIONAL EM 2008, 29

    3.1 Estimativa do dfi cit habitacional para 2008, 29

    3.2 O dfi cit habitacional urbano em 2008 segundo faixas de renda familiar em

    salrios mnimos, 35

    3.3 Dfi cit habitacional em aglomerados subnormais, 40

    3.4 Dfi cit habitacional versus domiclios vagos, 42

    4 OS COMPONENTES DO DFICIT HABITACIONAL EM 2008, 45

    4.1 A composio do dfi cit habitacional, 45

    4.1.1 Os componentes do dfi cit habitacional em aglomerados subnormais, 52

    4.2 Caracterizao dos subgrupos das famlias conviventes, 54

    5 INADEQUAO DOS DOMICLIOS, 59

    5.1 Critrios de inadequao dos domiclios, 59

    5.1.1 Inadequao fundiria urbana, 64

    5.1.2 Adensamento urbano excessivo em domiclios prprios, 66

    5.1.3 Cobertura inadequada, 69

    5.1.4 Domiclios sem banheiro, 72

    5.1.5 Carncia de infraestrutura urbana, 74

    5.2 Inadequao dos domiclios nos aglomerados subnormais, 79

    6 DOMICLIOS ADEQUADOS, 81

    6.1 Domiclios adequados em aglomerados subnormais, 85

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

    6

    7 EVOLUO DO DFICIT HABITACIONAL 2007-2008, 87

    7.1 Dfi cit habitacional comparado 2007-2008, 87

    7.2 Evoluo dos componentes do dfi cit habitacional 2007-2008, 91

    8 APNDICE SRIE HISTRICA, 98

    8.1 Evoluo do Dfi cit Habitacional 2000/2005-2008: uma inferncia, 99

    8.2 Histrico do Dfi cit Habitacional 2000/2005-2008, 105

    8.3 Histrico da Inadequao de Domiclios 2000/2005-2008, 121

    9 ANEXOS, 135

    10 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS, 137

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

    7

    Apresentao com grande satisfao que a Secretaria Nacional de Habitao do Ministrio das

    Cidades apresenta mais um exemplar da srie de estudos sobre o dfi cit habitacional

    no pas, elaborado pelo Centro de Estatstica e Informaes da Fundao Joo Pinheiro

    (CEI/FJP), em parceria com o Banco Mundial, no mbito do contrato de emprstimo

    para Assistncia Tcnica ao Setor Habitacional TAL HABITAO.

    O desenvolvimento de diversos estudos sobre as necessidades habitacionais do

    pas, produzidos com informaes atualizadas, com comparabilidade e abrangncia

    nacional, tem sido fundamental para o setor habitacional. Esses estudos tm auxiliado

    o planejamento, a tomada de decises, a formulao e o monitoramento e avaliao das

    polticas pblicas habitacionais nos diferentes nveis de governo.

    Ademais, estamos caminhando para a construo de uma importante srie histrica do

    Dfi cit Habitacional no Brasil, que j conta com publicaes referentes aos anos de 1991,

    2000, 2005, 2006, 2007 e, agora, 2008. O presente estudo traz indicadores baseados nas

    informaes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios Pnad 2008, elaborada

    e divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatstica IBGE, calculados de

    acordo com a metodologia desenvolvida pela FJP, a qual j se tornou referncia dentre

    especialistas, representantes de governo, redes acadmicas nacionais, universidades,

    centros de pesquisas e entidades profi ssionais. Importante ressaltar que, sempre que

    possvel, essa metodologia tem sido aprimorada com o objetivo de melhor retratar a

    situao da habitao no pas. Assim, pretendemos continuar buscando contribuir para a

    diminuio da lacuna de informaes e conhecimento relacionados ao setor habitacional

    brasileiro.

    No momento brasileiro atual, j comeamos a vislumbrar uma srie de resultados

    positivos e, por isso mesmo, esse momento exige um olhar positivo para o futuro.

    Em 2008, o dfi cit continua seguindo tendncia de diminuio em termos relativos e

    destaca-se que, nos ltimos anos, apresentou reduo tambm em termos absolutos.

    Nesse caminho, devemos continuar implementando aes planejadas e responsveis, as

    quais garantam o acesso moradia digna a todos os cidados brasileiros.

    Ins Magalhes

    Secretria Nacional de Habitao

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

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  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

    9

    1 INTRODUO

    O estudo Dfi cit Habitacional no Brasil 2008 apresenta as informaes mais recentes sobre as

    necessidades habitacionais no pas, calculadas de acordo com a metodologia da Fundao Joo Pinheiro

    (FJP). Em parceria com a Secretaria Nacional de Habitao do Ministrio das Cidades, o Centro de

    Estatstica e Informaes da FJP tem elaborado nos ltimos anos estudos sobre o dfi cit habitacional e

    a inadequao dos domiclios no Brasil. A pesquisa de 2008 aqui apresentada contou tambm com a

    parceria do Banco Internacional para Reconstruo e Desenvolvimento (BIRD). Este o stimo volume da

    srie de estudos1 , com dados atualizados para 2008, representativos para o pas, Unidades da Federao e

    regies metropolitanas selecionadas. Os dados so gerados com base na anlise dos resultados da Pesquisa

    Nacional por Amostra de Domiclios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatstica (IBGE).2 No

    segundo semestre de 2009 foram divulgados os resultados da Pnad 2008.

    A metodologia desenvolvida originalmente no primeiro estudo da srie permanece orientando as

    pesquisas. O primeiro relatrio foi o Dfi cit Habitacional no Brasil, de 1995 (referente a 1990 e 1991),

    que sistematizou as informaes da rea habitacional em duas vertentes de anlise: o dfi cit habitacional

    e a inadequao dos domiclios. Basicamente o conceito de dfi cit indica a necessidade de construo de

    novas moradias para atender demanda habitacional da populao em um dado momento. Por sua vez, a

    inadequao no est relacionada ao dimensionamento do estoque de moradias, mas sim s especifi cidades

    dos domiclios existentes que prejudicam a qualidade de vida de seus moradores. Os conceitos adotados

    e os componentes estudados esto no captulo 2 deste relatrio: Pressupostos Metodolgicos e Aspectos

    Conceituais Bsicos.

    Considerada referncia entre os estudiosos da questo habitacional, e adotada ofi cialmente pelo

    governo federal, a metodologia da FJP tem sido aprimorada, sempre que possvel, com a preocupao em

    retratar cada vez mais fi elmente a situao habitacional do Brasil. Nesse sentido, a possibilidade de melhor

    trabalhar a questo da coabitao familiar, introduzida a partir do clculo dos indicadores para 2007,

    propiciou um substantivo avano metodolgico. Poder identifi car, entre o total das famlias conviventes,

    1 FUNDAO JOO PINHEIRO. Centro de Estudos Polticos e Sociais. Dfi cit Habitacional no Brasil. Belo Horizonte, 1995; FUNDAO JOO PINHEIRO. Centro de Estatstica e Informaes. Dfi cit Habitacional no Brasil 2000. Belo Horizonte, 2001; FUNDAO JOO PINHEIRO. Centro de Estatstica e Informaes. Dfi cit Habitacional no Brasil, municpios selecionados e microrregies geogrfi cas. Belo Horizonte, 2 ed., 2005; FUNDAO JOO PINHEIRO. Centro de Estatstica e Informaes. Dfi cit Habitacional no Brasil 2005. Belo Horizonte, 2006; FUNDAO JOO PINHEIRO. Centro de Estatstica e Informaes. Dfi cit Habitacional no Brasil 2006. Belo Horizonte, 2008; FUNDAO JOO PINHEIRO. Centro de Estatstica e Informaes. Dfi cit Habitacional no Brasil 2007. Belo Horizonte, 2009.

    2 Pesquisa divulgada anualmente a cada segundo semestre com representatividade estatstica para o Brasil, as Unidades da Federao e as regies metropolitanas selecionadas: Belm, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, So Paulo, Curitiba e Porto Alegre. Com base na Pnad, portanto, no possvel o detalhamento do dfi cit habitacional para os municpios. Isso s pode ser feito a partir dos dados dos censos demogrfi cos, realizados a cada dez anos. O volume Dfi cit Habitacional no Brasil, municpios selecionados e microrregies geogrfi cas, publicado em 2005, fornece estimativas municipais baseadas no Censo Demogrfi co de 2000.

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

    10

    aquelas que efetivamente almejam constituir um domiclio exclusivo, de modo que apenas essas so

    consideradas dfi cit habitacional, implicou em salto qualitativo das estimativas produzidas. Para tal, foi

    essencial a introduo de duas perguntas especfi cas sobre o assunto a partir do questionrio da Pnad

    2007. Estas permitiram que os nmeros do dfi cit habitacional retratassem de maneira mais acurada a

    realidade, colocando disposio da sociedade e dos governos nova e relevante informao, para colaborar

    orientao e avaliao das aes pblicas na habitao de interesse social.

    O relatrio aqui apresentado, nesse sentido, se constitui em novo avano no esforo contnuo para

    oferecer instrumental cada vez mais sofi sticado de interveno no espao urbano a dois destinatrios: os

    diversos nveis de governo e todos os demais que, de maneira direta ou indireta, interagem tanto com

    as polticas habitacionais stricto sensu (construo de novas unidades habitacionais), como com aquelas

    que possuem forte ligao com elas: infraestrutura e saneamento bsico, legalizao fundiria, reforma e

    ampliao de casas, urbanizao de favelas, transporte pblico, gesto metropolitana, polticas sociais e

    meio ambiente, entre outras.

    A seguir sero discutidos os conceitos e a metodologia (captulo 2) e na sequncia sero apresentados

    os resultados do dfi cit e da inadequao de moradias para 2008 (captulos 3, 4, 5 e 6). Posteriormente

    haver uma comparao entre os principais resultados do dfi cit habitacional em 2007 e em 2008 (captulo

    7), uma vez que a metodologia para ambos os anos idntica pois os clculos foram elaborados levando em

    considerao os avanos metodolgicos mais recentes. Ao fi nal do estudo, como apndice, ser apresentada

    uma srie histrica com os anos 2000 e 2005 a 2008 (captulo 8). Em razo dos avanos metodolgicos

    obtidos no ano de 2007, algumas opes foram necessrias para garantir comparabilidade srie histrica.

    Essas opes esto explicadas no apndice Srie Histrica (os dados do ano 2000 foram inseridos apenas

    como referncia, mas a sua comparabilidade com os outros anos limitada, como ser explicado).

    Outro ponto a mencionar que este estudo incorporou, para os anos de 2005 a 2008, os novos pesos

    disponibilizados por meio da reponderao da amostra da Pnad, considerando os resultados da Contagem

    Populacional de 2007 (veja item 2.3 no captulo 2). Em funo da reponderao, entre outros fatores, alguns

    resultados anteriormente publicados sofreram alterao, de modo que prevalecem os dados apresentados

    neste estudo.

    Espera-se que as estimativas aqui apresentadas contribuam para melhorar a apreenso das condies

    de vida e moradia da populao do Brasil em 2008.

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

    11

    2 PRESSUPOSTOS METODOLGICOS E ASPECTOS CONCEITUAIS BSICOS

    2.1 Pressupostos metodolgicos

    Os modelos de construo de ndices partem necessariamente de pressupostos que, embora muitas

    vezes no explicitados, merecem ser debatidos. Isso porque, primeiramente, pressupostos resultam de

    opes analticas que, no mnimo, podem ser questionadas a partir de outros paradigmas. Segundo porque

    o acesso a esse arcabouo de valores condio essencial para compreender a lgica do modelo proposto

    e, consequentemente, estar apto a avaliar se os seus componentes so consistentes com as premissas

    enunciadas.

    O primeiro pressuposto adotado neste estudo considera que, em uma sociedade profundamente

    hierarquizada e extremamente desigual como a brasileira, no se deve padronizar as necessidades de

    moradia para todos os estratos de renda. Trabalhar com ndices sociais numa realidade como essa signifi ca

    enfrentar um grande desafi o. Certamente seria mais cmodo e simples para o analista fazer tbula rasa

    dessa complexidade social seja do ponto de vista tcnico ou do de justifi cativa poltica e, dessa forma,

    utilizar parmetros idnticos para tratar a questo habitacional. No entanto, esse posicionamento implica

    problemas substantivos: os ndices assim levantados possuem menor serventia para tomadas de deciso

    pelo poder pblico.

    Sob uma perspectiva sociolgica, o problema da moradia revela o dinamismo e a complexidade de

    determinada realidade socioeconmica. As necessidades do habitat, nesse sentido, no se limitam

    exclusivamente a um objeto material, [...] mas dependem da vontade coletiva e se articulam s condies

    culturais e a outros aspectos da dimenso individual e familiar" (BRANDO, 1984, p. 103). Dessa forma,

    as demandas habitacionais so diversas nos diferentes segmentos sociais e, alm disso, variam e se

    transformam com a prpria dinmica da sociedade.

    Discutir a extrema heterogeneidade e a desigualdade social do nosso pas pode parecer redundante. No

    entanto, relevante enfrentar o fato de que, em uma sociedade com ndices de desigualdade to elevados,

    questes aparentemente universais como educao, servios de sade e habitao no so facilmente

    comparveis entre as diferentes manifestaes locais da pobreza. Em outras palavras, seria possvel dizer

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

    12

    que, em muitos aspectos, no h mercados reais que operem igualmente para todos o substrato dessa

    proposio sendo o de que o processo de penetrao capitalista da sociedade ainda apresenta lacunas e/ou

    defi cincias importantes (REIS, 1988).

    A opo por essa conceituao, porm, no isenta de riscos. Ela abre o fl anco para crticas doutrinrias

    de que, quando se privilegia a atual estrutura social perversa como base de clculo, se legitima o status quo

    ou se prope indiretamente uma cidadania social de segundo nvel para as populaes pobres. Entretanto,

    para atuar positivamente em determinada estrutura social necessrio primeiramente evitar camufl -la,

    como ocorre quando construmos ndices padronizados profundamente alijados da realidade.

    fundamental reconhecer no territrio as manifestaes locais, heterogneas e especfi cas, que se

    do como aceitao da expanso de certas variveis hegemnicas do sistema econmico no territrio ou

    contraposio a elas. Porm, simultaneamente, h tendncias gerais similares que podem ser identifi cadas

    em territrios diversos. Algumas tendncias recentes para a Amrica Latina e o Caribe, nesse sentido,

    foram apontadas pela ONU-Habitat (2010): A melhoria de condies se tornou mais lenta nas cidades

    da regio. As cidades so cada vez mais desiguais, e nota-se a necessidade de maior ao dos governos

    para reduzir a pobreza. O meio ambiente tambm tem sido um campo de pouca atuao. Alm disso,

    somam-se aos desafi os das reas urbanas: transporte pblico de qualidade, necessidade de construo de

    habitaes populares adequadas a preo acessvel, de urbanizao de favelas, de melhorias nas residncias

    precrias, de ampliao dos servios de infraestrutura especialmente em reas de forte adensamento e

    de regularizao fundiria de bairros populares, entre outros.

    Apesar desses inmeros problemas, nos ltimos vinte anos, ocorreram melhorias no negligenciveis

    na vida urbana na Amrica Latina e no Caribe. A maioria da populao das grandes cidades tem acesso aos

    servios bsicos, e a longevidade aumentou. A urbanizao certamente contribuiu para essas melhorias, uma

    vez que os avanos foram muito mais rpidos nas grandes cidades do que nas pequenas e nas reas rurais.

    A qualidade da vida urbana nas maiores cidades melhorou muito ao longo dos anos, em razo tambm de

    fortes inverses em infraestrutura e servios, por vezes possibilitadas por emprstimos de organizaes

    internacionais obtidos pelos governos (GILBERT/ONU-HABITAT, 2010). No entanto, o cenrio na regio,

    o Brasil includo, se apresenta ainda repleto de desafi os mais simples e mais complexos, de curto e longo

    prazo quando se analisa o acesso universal aos direitos sociais, entre eles o direito moradia.

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

    13

    O segundo pressuposto de que a discusso do tema habitacional possui fortes interfaces com

    outras questes recorrentes e complementares. inadequada uma abordagem setorial que busque reduzir

    a complexidade do habitat a um dfi cit habitacional stricto sensu.

    Frente a um contexto desse tipo, no por acaso que, nas grandes metrpoles brasileiras, tanto os

    programas de regularizao fundiria como os de urbanizao de assentamentos precrios so instrumentos

    de polticas pblicas vinculados questo da habitao popular extremamente importantes nas

    lutas de muitas associaes de moradores de favelas e de bairros clandestinos em busca da integrao

    socioeconmica.

    Em suma, ao se analisar a questo habitacional, a relao com outras polticas urbanas um dos

    aspectos a ser considerado. Em funo da interdependncia da moradia com outras esferas, nem sempre

    um simples incremento dos programas de habitao a soluo mais indicada para melhorar as condies

    habitacionais da populao mais pobre. Isso porque esses programas podem ser inviabilizados caso no

    sejam integradas a eles outras polticas urbanas, como de transporte, energia eltrica, esgotamento sanitrio

    e abastecimento de gua (AZEVEDO, 1996).

    Desse modo, uma questo fundamental a ser discutida diz respeito prpria nomenclatura de dfi cit

    habitacional. No sentido tradicional, ela induz equivocadamente expectativa de enfrentar o problema da

    moradia de forma setorial. Alm disso, camufl a uma complexa realidade por meio de uma quantifi cao

    padronizada, atemporal e neutra.

    Em razo disso to importante a inovao trazida pelo modelo da Fundao Joo Pinheiro ao trabalhar

    tambm o conceito de inadequao dos domiclios. Ele parte do pressuposto de que, em muitos casos, a

    melhor forma de enfrentar o problema habitacional implementar polticas complementares e recorrentes

    s polticas habitacionais e no, obrigatoriamente, construir mais unidades habitacionais. Graas em

    especial a essa abordagem, a metodologia da FJP difere muito de outras que possuem vis orientado aos

    interesses da indstria da construo civil e que reduzem a questo da habitao popular exclusivamente

    necessidade de construo de novas residncias (AZEVEDO; ARAJO, 2007).

    Tomando como base esses pressupostos, a metodologia utilizada pela Fundao Joo Pinheiro a

    partir de 1995 com mais de uma dcada de experincia e aprimoramento foi um importante marco

    para a rediscusso do chamado dfi cit habitacional por sua abordagem, amplitude e pela divulgao

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

    14

    dos resultados. Seu principal mrito foi rearticular de forma inovadora muitas contribuies realizadas

    anteriormente.

    Schwartzman (2004) afi rma que os valores centrais dos sistemas estatsticos efi cazes so a legitimidade

    e credibilidade. Esta ltima componente essencial para a aceitao e adoo de padres e procedimentos

    uniformes. As bases da credibilidade decorrem de inmeros fatores, entre os quais destacam-se:

    a) a informao confi vel aquela procedente de instituies que no sejam identifi cadas como a servio de

    um grupo de interesse ou ideologia especfi ca;

    b) a informao aceita como confi vel aquela fornecida por pessoas ou instituies com forte perfi l

    profi ssional e tcnico;

    c) nmeros produzidos com estabilidade e consistncia so mais facilmente aceitos do que aqueles que

    variam e dependem de diferentes metodologias;

    d) pesquisas avulsas tendem a ser questionadas com mais frequncia que os resultados de prticas

    estatsticas permanentes e continuadas.

    Tambm por ter se tornado referncia nacional, a metodologia desenvolvida pela FJP tem sido alvo de

    crticas e sugestes ao longo dos ltimos anos. Elas foram avaliadas, levando em conta tanto sua viabilidade

    tcnica em funo das fontes de dados disponveis quanto sua real contribuio para a obteno de

    resultados mais fi dedignos. O ajuste fi no destinado ao aprimoramento constante e incremental do modelo

    metodolgico foi realizado sem prejuzo da possibilidade de comparao da srie histrica elaborada desde

    a segunda metade da dcada de 90 do sculo passado.3 Foram tambm incorporados ajustes decorrentes

    de observaes da equipe tcnica do projeto.

    Substantivo avano metodolgico foi propiciado pela possibilidade de melhor trabalhar a questo da

    coabitao familiar, a partir do clculo dos indicadores para 2007. Com o novo desenho do questionrio

    da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (Pnad) a partir de 2007, tornou-se possvel identifi car,

    entre o total das famlias conviventes, aquelas que efetivamente tm inteno de constituir um domiclio

    exclusivo. Foi essencial para isso a introduo de duas perguntas especfi cas sobre o assunto a partir do

    questionrio da Pnad 2007 (ver seo 2.3). Isso signifi cou um salto qualitativo das estimativas produzidas,

    3 Tal como se ver nesse volume, todas as vezes em que ocorre a calibragem do modelo, so apresentadas, tambm, tabelas snteses que permitem a comparao histrica dos novos dados utilizando a metodologia anterior.

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

    15

    pela oportunidade de aprimorar a captao do componente coabitao familiar na atualizao dos clculos

    do dfi cit habitacional, o que era esperado h algum tempo. Tanto o estudo sobre o dfi cit habitacional no

    Brasil de 2007 quanto o de 2008 foram realizados com base nessas atualizaes.

    O incremento na qualidade das informaes geradas vem acompanhado, no entanto, da difi culdade, no

    primeiro momento, de se manter a comparabilidade com os resultados divulgados para os anos anteriores.

    Para enfrentar tal fato e atingir maior comparabilidade, este relatrio de pesquisa apresenta o apndice Srie

    Histrica. Nele, os dados oriundos das Pnads de 2005 a 20084 foram, sempre que possvel, recalculados a

    partir das atualizaes metodolgicas recentes. Para o componente coabitao familiar, porm, impossvel

    recalcular automaticamente as estimativas. Inexiste o dado no passado ( impossvel separar as famlias

    conviventes secundrias em dfi cit e no-dfi cit, j que ainda no eram feitas as perguntas acrescentadas

    ao questionrio da Pnad 2007). Considerando esses fatores, duas alternativas so apresentadas: numa

    estimado o dfi cit habitacional da srie histrica segundo a forma de clculo utilizada nos trabalhos

    anteriores (considerando todas as famlias conviventes secundrias dfi cit habitacional). Na outra

    apresentado um exerccio de aplicao de redutores nos dados de 2000, 2005 e 2006 a partir das mdias

    das estimativas mais recentes sobre as famlias conviventes secundrias (considerando dfi cit habitacional

    apenas aquelas com inteno de constituir novo domiclio). O objetivo possibilitar uma nova leitura dos

    dados antigos em uma srie histrica alternativa elaborada a partir da metodologia atualizada. Parte-se do

    princpio de que quanto mais dados obtidos no futuro sobre as famlias conviventes secundrias, maior a

    propriedade com que se poder inferir sobre as estimativas do passado.

    2.2 Aspectos conceituais bsicos

    A partir do conceito mais amplo de necessidades habitacionais, a metodologia desenvolvida pela FJP

    trabalha com dois segmentos distintos: o dfi cit habitacional e a inadequao de moradias. Como dfi cit

    habitacional entende-se a noo mais imediata e intuitiva de necessidade de construo de novas moradias

    para a soluo de problemas sociais e especfi cos de habitao detectados em certo momento.

    Por outro lado, o conceito de inadequao de moradias refl ete problemas na qualidade de vida

    dos moradores: no esto relacionados ao dimensionamento do estoque de habitaes e sim s suas

    4 Vale tambm mencionar que este estudo incorporou, para os anos de 2005 a 2008, os novos pesos disponibilizados por meio da reponderao da amostra da Pnad, possibilitada pelos resultados da Contagem Populacional de 2007 (ver seo 2.3).

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

    16

    especifi cidades internas. Seu dimensionamento visa ao delineamento de polticas complementares

    construo de moradias, voltadas para a melhoria dos domiclios.

    Com a preocupao de identifi car as necessidades habitacionais, principalmente da populao pobre,

    os nmeros do dfi cit e da inadequao de domiclios so detalhados para diversas faixas de renda familiar,

    como feito nas verses anteriores do estudo. Eles tm como enfoque principal retratar famlias com at trs

    salrios mnimos de renda, limite superior para o ingresso em grande nmero de programas habitacionais

    de interesse social.

    limitadora, porm, a utilizao do salrio mnimo como parmetro exclusivo para a estratifi cao

    da clientela. A maior crtica refere-se aos efeitos perversos das enormes discrepncias regionais. Ao se

    trabalhar com critrios padronizados para uma realidade nacional extremamente complexa e desigual,

    no possvel formalmente defi nir os setores mais desprovidos das diversas regies. Nesses casos, a

    apropriao por setores melhor inseridos na estrutura social local dos programas habitacionais voltados

    teoricamente para os mais pobres pode se dar com toda a legitimidade das regras em vigor.

    Levando essa ponderao em considerao e visando apresentar uma alternativa de avaliao da

    situao que contemplasse as famlias em situao de extrema pobreza, em alguns estudos anteriores5

    a parcela dos 10% mais pobres, tomando como referncia apenas os moradores em reas urbanas, foi

    identifi cada para cada Unidade da Federao. Para eles, foram calculados o dfi cit habitacional e sua

    participao no total das necessidades estimadas. Essa opo de anlise pode ter uso interessante para os

    governos estaduais mirando a formulao de programas habitacionais.

    Sero explicados os conceitos de dfi cit habitacional e inadequao de domiclios e apresenta-se os

    componentes que constituem os dois conceitos (quadro 2.1).

    5 FUNDAO JOO PINHEIRO. Centro de Estatstica e Informaes. Dfi cit Habitacional no Brasil, municpios selecionados e microrregies geogrfi cas. Belo Horizonte, 2 ed., 2005; FUNDAO JOO PINHEIRO. Centro de Estatstica e Informaes. Dfi cit Habitacional no Brasil 2007. Belo Horizonte, 2009.

    5 FUNDAO JOO PINHEIRO. Centro de Estatstica e Informaes. Dfi cit Habitacional no Brasil, municpios selecionados e microrregies geogrfi cas. Belo Horizonte, 2 ed., 2005; FUNDAO JOO PINHEIRO. Centro de Estatstica e Informaes. Dfi cit Habitacional no Brasil 2007. Belo Horizonte, 2009.

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

    17

    QUADRO 2.1 METODOLOGIA DE CLCULO DO DFICIT HABITACIONAL

    E DA INADEQUAO DE DOMICLIOS 2008

    ESPECIFICAO COMPONENTES DETALHAMENTO

    a) Habitaes precrias - Domiclios rsticos - Domiclios improvisados

    b) Coabitao familiar - Cmodos alugados, cedidos

    e prprios - Famlias conviventes

    secundrias com inteno de constituir domiclio exclusivo

    c) nus excessivo com aluguel

    DFICIT HABITACIONAL

    d) Adensamento excessivo de moradores em domiclios alugados

    Clculo para reas:

    Urbana Total Aglomerado rural

    de extenso urbana

    Rural ( exceo do componente c)

    Aglomerados subnormais

    Clculo por faixas de renda familiar em salrios mnimos para reas urbanas

    a) Adensamento excessivo de moradores em domiclios prprios

    b) Carncia de servios de infraestrutura (energia eltrica, abastecimento de gua, esgotamento sanitrio, coleta de lixo)

    c) Inadequao fundiria urbana

    d) Inexistncia de unidade sanitria domiciliar exclusiva

    INADEQUAO DE DOMICLIOS

    e) Cobertura inadequada

    Clculo para reas:

    Urbana Total Aglomerado rural

    de extenso urbana

    Aglomerados subnormais

    Clculo por faixas de renda familiar em salrios mnimos para reas urbanas

    Fonte: Fundao Joo Pinheiro (FJP), Centro de Estatstica e Informaes (CEI), 2010.

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

    18

    2.2.1 Dfi cit habitacional

    O conceito de dfi cit habitacional utilizado est ligado diretamente s defi cincias do estoque de

    moradias. Engloba aquelas sem condies de serem habitadas em razo da precariedade das construes

    ou do desgaste da estrutura fsica. Elas devem ser repostas. Inclui ainda a necessidade de incremento

    do estoque, em funo da coabitao familiar forada (famlias que pretendem constituir um domicilio

    unifamiliar), dos moradores de baixa renda com difi culdade de pagar aluguel e dos que vivem em casas e

    apartamentos alugados com grande densidade. Inclui-se ainda nessa rubrica a moradia em imveis e locais

    com fi ns no residenciais. O dfi cit habitacional pode ser entendido, portanto, como dfi cit por reposio

    de estoque e dfi cit por incremento de estoque.

    O dfi cit por reposio de estoque refere-se aos domiclios rsticos, aos quais deveria ser acrescida

    parcela devida depreciao dos domiclios. Tradicionalmente, utilizando o conceito do IBGE, os

    domiclios rsticos so aqueles sem paredes de alvenaria ou madeira aparelhada. Em decorrncia das suas

    condies de insalubridade, esse tipo de edifi cao proporciona desconforto e traz risco de contaminao

    por doenas.

    A depreciao de domiclios se enquadra nessa rubrica de dfi cit por reposio, uma vez que h o

    pressuposto de um limite para a vida til de um imvel. A partir dele, e dependendo de sua conservao,

    sua substituio completa inevitvel. Ressalte-se, entretanto, que h um percentual de imveis antigos

    que, em razo de sua precariedade limitada, por terem passado regularmente por manuteno e reformas,

    exigem apenas reparos na estrutura fsica, de modo a continuarem a ser habitados. Eles so classifi cados

    como domiclios inadequados e no so considerados dfi cit para efeito dessa metodologia. Difi culdades

    de acesso a dados e informaes que permitam clculos com um mnimo de aproximao da realidade

    impedem, no entanto, a incorporao desse componente s estimativas das necessidades habitacionais.

    Em relao aos aspectos metodolgicos, tanto as informaes levantadas pela Pnad como pelos censos

    demogrfi cos no permitem o clculo da depreciao dos imveis. Na realidade esse um indicador difcil

    de ser apreendido com as informaes atualmente disponveis.

    Em razo de a depreciao de domiclios ser um indicador impossvel de calcular e at que se possa

    vislumbrar a superao dessa difi culdade, a separao conceitual em dfi cit por reposio de estoque e dfi cit

    por incremento de estoque possui pouca relevncia do ponto de vista dos clculos. Metodologicamente ela

    permanece uma distino importante. No entanto, foi retirada do quadro-sntese de modo a tornar mais

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

    19

    clara a apresentao do que de fato calculado. Neste sentido, vale destacar o conceito de habitaes

    precrias, que considera os domiclios rsticos e os domiclios improvisados (veja a defi nio abaixo) no

    seu clculo, uma vez que faz sentido refl etir sobre ambos esses componentes de maneira conjunta.

    Na metodologia, de todo modo, o dfi cit por incremento de estoque contempla os domiclios

    improvisados, parte da coabitao familiar e dois tipos de domiclios alugados: os fortemente adensados

    e aqueles em que famlias pobres (renda familiar at trs salrios mnimos) pagam 30% ou mais da sua

    renda para o locador.

    O conceito de domiclios improvisados engloba todos os locais e imveis sem fi ns residenciais e

    lugares que servem como moradia alternativa (imveis comerciais, embaixo de pontes e viadutos, carcaas

    de carros abandonados e barcos e cavernas, entre outros), o que indica claramente a carncia de novas

    unidades domiciliares.

    Tradicionalmente, a coabitao familiar compreendia a soma das famlias conviventes secundrias

    que vivem junto a outra famlia no mesmo domiclio6 e das que vivem em cmodo exceto os cedidos pelo

    empregador. Na nova fase da metodologia, desde 2007, a principal proposta de ajuste do modelo refere-se

    frmula de apreenso desse componente.

    No caso brasileiro h uma expectativa extremamente difundida entre todos os setores sociais na

    busca da habitao unifamiliar, refl etida no ditado popular Quem casa quer casa. Apesar disso, houve

    questionamentos legtimos elaborao deste estudo, ao longo dos anos, sobre a incluso da totalidade

    da coabitao nos clculos do dfi cit habitacional. A impossibilidade de contar com fontes de dados que

    permitissem caracterizar melhor essas famlias impedia, no entanto, que se identifi casse a parcela que

    realmente deveria ser considerada carente de moradia. At 2007, apenas pesquisas especfi cas haviam

    levantado informaes detalhadas sobre a questo. Era preciso, no entanto, que, num pas continental

    e extremamente complexo e diversifi cado social e territorialmente como o Brasil, houvesse informaes

    detalhadas sobre a coabitao familiar disponveis no mbito regional.7

    6 Segundo o critrio do IBGE as famlias conviventes secundrias so constitudas por, no mnimo, duas pessoas ligadas por lao de parentesco, dependncia domstica ou normas de convivncia, e que residem no mesmo domiclio com outra famlia denominada principal.

    7 No incio de 2006, uma parceria entre o IBGE e a Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) possibilitou a realizao de um survey sobre as necessidades habitacionais em Campos dos Goytacazes (RJ), cidade com populao estimada de 400 mil habitantes. Essa pesquisa de campo, apresentada no volume Dfi cit Habitacional no Brasil 2005, se baseou na metodologia utilizada pela FJP e permitiu maior detalhamento das famlias conviventes secundrias. Logo depois foi possvel realizar outra pesquisa piloto, utilizando a mesma metodologia, na Regio Metropolitana de Belo Horizonte, com seus resultados sendo discutidos no Dfi cit Habitacional no Brasil 2006.

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

    20

    Isso foi possvel a partir da incorporao pelo IBGE de duas questes especfi cas sobre o assunto

    no questionrio bsico da Pnad 2007. Tais questes permitiram identifi car, entre o total das famlias

    conviventes, aquelas que afi rmam desejar constituir domiclio exclusivo, consideradas ento dfi cit

    habitacional.8 Ressalte-se, entretanto, que, entre aquelas famlias conviventes secundrias que afi rmaram

    no cogitar naquele momento morar num domiclio exclusivo (portanto, consideradas no-dfi cit), houve

    um percentual considervel que tambm respondeu, em outra questo, ter decidido viver em coabitao em

    decorrncia de questes fi nanceiras. Acreditamos que essas famlias poderiam ser consideradas demanda

    reprimida. Posteriormente e de forma incremental, um percentual delas pode se transformar em aspirante

    a um domiclio exclusivo, acarretando a ampliao do dfi cit habitacional. Dados disponveis sobre a

    diminuio relativa de forma constante desse tipo de famlia nos ltimos anos reforam tal assertiva.

    As famlias residentes em cmodos foram includas no dfi cit habitacional porque esse tipo de moradia

    mascara a situao real de coabitao, uma vez que os domiclios so formalmente distintos. Segundo a

    defi nio do IBGE, os cmodos so domiclios particulares compostos por um ou mais aposentos localizados

    em casa de cmodo, cortio, cabea-de-porco etc.

    O terceiro componente do conceito de dfi cit habitacional o nus excessivo com aluguel urbano.

    Ele corresponde ao nmero de famlias urbanas com renda familiar de at trs salrios mnimos que moram

    em casa ou apartamento (domiclios urbanos durveis) e que despendem 30% ou mais de sua renda com

    aluguel.9 Observa-se que nas pesquisas iniciais essa questo foi considerada inadequao habitacional e no

    dfi cit habitacional. Essa postura, entretanto, foi reavaliada a partir dos clculos para 2000. Questionou-se

    o fato de que, para determinada parcela pobre da sociedade, o aluguel no uma opo, diferentemente do

    que ocorre com alguns setores da classe mdia. Para estes ltimos, pagar aluguel em bairros melhores e de

    mais status prefervel a comprar imvel em reas suburbanas de pior localizao.

    H ainda a experincia dos movimentos dos sem casa e similares. Eles mostram que a maioria de

    seus membros so pessoas que pagam aluguel excessivamente alto relativamente renda familiar. A maior

    preocupao dessas famlias no ter condio de continuar a pagar o aluguel e sofrer uma forte queda

    8 As demais, que afi rmaram no pretender constituir novo domiclio, foram excludas do clculo do dfi cit habitacional.9 O ndice de comprometimento mximo de renda familiar foi defi nido tendo em vista parmetro tradicional do antigo Banco Nacional da Habitao, ainda hoje seguido pela Caixa Econmica Federal, que considera esta percentagem o mximo tolervel de gasto direto no fi nanciamento habitacional.

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

    21

    na qualidade da habitao. Nesse caso, passariam a depender de cmodos cedidos provisoriamente por

    parentes e amigos ou seriam obrigados a buscar refgios nas favelas, seja alugando nas mais bem localizadas

    que possuem servios de consumo coletivo (gua, luz, maior acessibilidade, escolas pblicas, entre

    outros) seja ocupando ou tomando posse de terrenos nas periferias distantes das grandes metrpoles,

    com parcos servios pblicos e normalmente grande difi culdade de acesso.

    Desde 2007, outro ajuste metodolgico adotado se refere ao componente adensamento excessivo

    de moradores em domiclios alugados (quarto componente do dfi cit). O adensamento excessivo

    de moradores (nmero mdio de moradores superior a trs pessoas por dormitrio) era, at 2007, um

    componente apenas da inadequao de domiclios (e no do dfi cit habitacional). A partir de ento,

    passou-se a considerar dfi cit habitacional um percentual dos domiclios com adensamento excessivo: os

    apartamentos e as casas alugados. Como, nesses casos, o inquilino no pode ampliar o imvel nem vend-lo

    para comprar outro maior, caracteriza-se a necessidade potencial de um novo imvel para essas famlias.

    Ressalte-se que o adensamento excessivo em imveis prprios continuou a ser considerado um caso tpico

    de inadequao de domiclios. Ele permite ao proprietrio ampliar ou negociar o imvel para se mudar

    para unidade habitacional maior, ainda que, na maioria das vezes, num bairro menos valorizado.

    2.2.2 Inadequao de domiclios

    As habitaes inadequadas no proporcionam condies desejveis de habitao, o que no implica,

    contudo, necessidade de construo de novas unidades. Pelo conceito adotado, so passveis de serem

    identifi cadas somente as localizadas em reas urbanas. No so contempladas as reas rurais que

    apresentam formas diferenciadas de adequao no captadas pelos dados utilizados. Excluiu-se do

    estoque a ser analisado os domiclios inseridos em alguma das categorias do dfi cit habitacional. Ao

    contrrio dele, os critrios adotados para a inadequao habitacional no so mutuamente exclusivos.

    Os resultados, portanto, no podem ser somados, sob risco de mltipla contagem (a mesma moradia

    pode ser simultaneamente inadequada segundo vrios critrios). Alm disso, como foi mencionado, eles

    so apresentados de forma segmentada para possibilitar a elaborao de polticas pblicas especfi cas e

    propiciar informaes particulares que permitam ao poder pblico estabelecer diferentes prioridades para

    cada tipo de inadequao.

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

    22

    Como inadequados so classifi cados os domiclios com carncia de infraestrutura, adensamento

    excessivo de moradores (em domiclios prprios), problemas de natureza fundiria, cobertura inadequada,

    sem unidade sanitria domiciliar exclusiva ou em alto grau de depreciao.

    So considerados domiclios carentes de infraestrutura todos os que no dispem de ao menos um

    dos seguintes servios bsicos: iluminao eltrica, rede geral de abastecimento de gua com canalizao

    interna, rede geral de esgotamento sanitrio ou fossa sptica e coleta de lixo.

    O adensamento excessivo considera apenas os domiclios (casas e apartamentos) prprios. Os

    alugados so incorporados aos clculos do dfi cit habitacional. Caracteriza situao em que o nmero mdio

    de moradores no domiclio superior a trs por dormitrio. O nmero de dormitrios corresponde ao total

    de cmodos10 que servem, em carter permanente, de dormitrio para os moradores do domiclio. Nele

    incluem-se aqueles assim utilizados em funo de no haver acomodao adequada para essa fi nalidade.

    Para o clculo do indicador, foram considerados somente os membros da famlia principal, uma vez que as

    famlias secundrias foram incorporadas ao dfi cit habitacional.

    A inadequao fundiria refere-se aos casos em que pelo menos um dos moradores do domiclio

    tem a propriedade da moradia, mas no, total ou parcialmente, a do terreno ou da frao ideal de terreno

    (no caso de apartamento) onde ela se localiza. Ressalte-se que a incidncia dessa inadequao est longe de

    se restringir aos chamados aglomerados subnormais11 e atinge muitos bairros populares, especialmente

    nos subrbios e periferias das grandes metrpoles.

    Sob cobertura inadequada esto includos todos os domiclios que, embora possuam paredes de

    alvenaria ou madeira aparelhada, tm telhado de madeira aproveitada, zinco, lata ou palha; ainda que

    telhados de sap e similares possam ser considerados uma alternativa em reas rurais muito restritas das

    regies Norte e Nordeste do pas.

    10 Cmodos so todos os compartimentos integrantes do domiclio separados por paredes, inclusive banheiros e cozinha, e os situados na parte externa do prdio, desde que constituam parte do domiclio. No so considerados os corredores, alpendres, as varandas abertas e outros compartimentos utilizados para fi ns no-residenciais, como garagens, depsitos etc.

    11 A informao relativa aos setores subnormais frequentemente utilizada como proxy de favelas, embora envolva uma srie de limitaes. Segundo a defi nio do IBGE, o setor especial de aglomerado subnormal corresponde ao conjunto constitudo por um mnimo de 51 domiclios, ocupando ou tendo ocupado, at perodo recente, terreno de propriedade alheia (pblica ou particular), dispostos, em geral, de forma desordenada e densa, e carentes, em sua maioria, de servios pblicos essenciais.

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

    23

    A inexistncia de unidade sanitria domiciliar exclusiva defi ne o domiclio que no dispe de

    banheiro ou sanitrio de uso exclusivo. Isso tanto ocorre nos cortios tradicionais como em terrenos com

    dois ou mais domiclios ocupados por famlias pobres ligadas por parentesco ou fortes laos afetivos.

    Alm desses componentes, deveria ser considerada ainda uma parcela de domiclios em funo da

    depreciao dos imveis. Essa parcela defi nida como o complemento dos domiclios com mais de 50 anos

    de construo cuja reposio considerada necessria e que, portanto, so includos no dfi cit habitacional.

    Dessa maneira, aqueles imveis com mais de 50 anos que no devem ser repostos, no so dfi cit, e precisam

    apenas de manuteno muitas vezes somente pequenos cuidados seriam considerados inadequados

    na metodologia. Entretanto, como foi mencionado anteriormente, esse componente depreciao de

    domiclios no calculado em razo da inexistncia de informaes tanto no nvel nacional como no

    regional. No quadro 2.2 encontram-se os principais conceitos e indicadores utilizados.

    2.3 Consideraes sobre a fonte de dados utilizada e aprimoramentos metodolgicos

    Como base de dados, foi utilizada a Pnad 2008, divulgada pelo IBGE no segundo semestre de 2009, por

    meio do processamento de seus microdados. Essa pesquisa tem periodicidade anual e representatividade

    para o Brasil, as Unidades da Federao e regies metropolitanas selecionadas. Seu desenho amostral e

    algumas especifi cidades na concepo bsica condicionam limitaes para a aplicao da metodologia:

    a) O escopo do estudo fi ca restrito s bases territoriais pesquisadas. impossvel calcular indicadores

    para municpios. Para eles, a metodologia desenvolvida exige um nvel de detalhamento de informaes s

    disponvel nos censos demogrfi cos, feitos a cada dez anos;

    b) Apenas so estimados o dfi cit e a inadequao habitacional para nove regies metropolitanas

    historicamente pesquisadas pela Pnad: Belm, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro,

    So Paulo, Curitiba e Porto Alegre;

    c) So postas disposio informaes para os aglomerados subnormais. Segundo defi nio adotada

    pelo IBGE, eles se aproximam da defi nio de favelas. Com toda certeza, os nmeros identifi cados no

    conseguem captar a realidade dessa parcela mais pobre da populao e quantifi cam um total bem inferior

    ao que efetivamente reside nessas reas, segundo outras fontes;

    d) Informaes teis para que se possa trabalhar a depreciao dos imveis so indisponveis.

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

    24

    QUADRO 2.2 PRINCIPAIS CONCEITOS E INDICADORES DA METODOLOGIA

    DE CLCULO DAS NECESSIDADES HABITACIONAIS

    Aglomerado Subnormal: segundo defi nio do IBGE, o

    conjunto constitudo por no mnimo 51 unidades habitacionais

    (barracos, casas etc.) ocupando ou tendo ocupado, at perodo

    recente, terreno de propriedade alheia (pblica ou particular),

    dispostas, em geral, de forma desordenada e densa, e carentes,

    em sua maioria, de servios pblicos essenciais.

    Carncia de Servios de Infraestrutura: domiclios que

    no dispem de ao menos um dos seguintes servios bsicos:

    iluminao eltrica, rede geral de abastecimento de gua com

    canalizao interna, rede geral de esgotamento sanitrio ou

    fossa sptica e coleta de lixo.

    Coabitao Familiar: compreende a soma das famlias

    conviventes secundrias (apenas aquelas que tm inteno

    de constituir domiclio exclusivo so consideradas dfi cit

    habitacional) e das que vivem em domiclios localizados em

    cmodos exceto os cedidos por empregador.

    Cobertura Inadequada: domiclios com paredes de

    alvenaria ou madeira aparelhada e cobertura de zinco, palha,

    sap, madeira aproveitada ou outro material que no seja

    telha, laje de concreto ou madeira aparelhada.

    Cmodos: domiclios particulares compostos por um ou mais

    aposentos localizados em casa de cmodo, cortio, cabea-

    de-porco etc.

    Dfi cit Habitacional: noo mais imediata e intuitiva de

    necessidade de construo de novas moradias para a soluo

    de problemas sociais e especfi cos de habitao detectados

    em certo momento.

    Densidade Excessiva de Moradores por Dormitrio:

    quando o domiclio apresenta um nmero mdio de moradores

    superior a trs por dormitrio.

    Domiclios Improvisados: locais construdos sem fi ns

    residenciais que servem como moradia, tais como barracas,

    viadutos, prdios em construo, carros etc.

    Domiclios Rsticos: aqueles sem paredes de alvenaria ou

    madeira aparelhada, o que resulta em desconforto e risco de

    contaminao por doenas, em decorrncia das suas condies

    de insalubridade.

    Famlias Conviventes ou Famlias Conviventes

    Secundrias: so constitudas por, no mnimo, duas pessoas

    ligadas por lao de parentesco, dependncia domstica ou

    normas de convivncia, e que residem no mesmo domiclio

    com outra famlia denominada principal. Apenas aquelas

    que tm inteno de constituir domiclio exclusivo so

    consideradas dfi cit habitacional.

    Habitaes Precrias: conceito que contabiliza os domiclios

    improvisados e os domiclios rsticos, considerando que

    ambos caracterizam dfi cit habitacional.

    Inadequao de Domiclios: refl ete problemas na

    qualidade de vida dos moradores. No esto relacionados

    ao dimensionamento do estoque de habitaes e sim a

    especifi cidades internas do mesmo.

    Inadequao Fundiria Urbana: situao onde pelo menos

    um dos moradores do domiclio declara ter a propriedade da

    moradia, mas informa no possuir a propriedade, total ou

    parcial, do terreno ou a frao ideal de terreno (no caso de

    apartamento) em que ela se localiza.

    Inexistncia de Unidade Sanitria Domiciliar Exclusiva:

    domiclio que no dispe de banheiro ou sanitrio de uso

    exclusivo.

    nus Excessivo com Aluguel: corresponde ao nmero

    de famlias urbanas, com renda familiar de at trs salrios

    mnimos, que moram em casa ou apartamento e que

    despendem mais de 30% de sua renda com aluguel.

    Fonte: Fundao Joo Pinheiro (FJP), Centro de Estatstica e Informaes (CEI), 2010.

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

    25

    Por outro lado, a introduo de alteraes no questionrio bsico da Pnad 2007 permitiu ampliar

    as possibilidades de tratamento de um dos aspectos essenciais da metodologia de clculo do dfi cit

    habitacional. Como discutido anteriormente, questes especfi cas sobre as famlias conviventes secundrias

    levaram ao refi namento do mtodo de apreenso do componente coabitao familiar. Foram dois os pontos

    pesquisados:

    1) Qual o principal motivo de morar neste domiclio com outra(s) famlia(s)? (fi nanceiro, sade, vontade

    prpria, outros motivos)

    2) Existe a inteno (da famlia) de se mudar e constituir outro domiclio?

    Outros aspectos ainda poderiam ser levantados para refi nar a apreenso da real contribuio da

    convivncia familiar para os clculos do dfi cit habitacional. O principal deles a forma de considerar as

    famlias que afi rmaram no ter inteno de constituir novo domiclio, mas que, em resposta primeira

    pergunta declararam que o motivo da coabitao era de carter fi nanceiro. possvel que a resposta

    negativa da maioria dessas famlias esteja relacionada com a sua percepo de que no teria condies

    fi nanceiras de pensar, naquele momento, em um domiclio exclusivo. No entanto, pode-se vir a considerar

    esse grupo especfi co uma demanda reprimida. Em outro momento, em caso de surgirem, por exemplo,

    programas habitacionais com generosos subsdios para os setores populares, ou de juros menores para

    setores mdios, um percentual dessa demanda reprimida de forma incremental poderia se transformar em

    demanda real, integrando o que defi nimos como dfi cit habitacional.12

    No resta dvida, porm, de que a possibilidade de considerar dfi cit apenas as famlias com inteno

    de constituir domiclio exclusivo j representa um avano qualitativo sem precedentes nas estimativas

    produzidas.

    Outra questo importante de ser mencionada a que trata da reponderao dos microdados

    da amostra da Pnad, decorrente dos resultados obtidos pela Contagem Populacional efetuada pelo

    IBGE em 2007. De acordo com o IBGE, os resultados da Pnad 2008 foram produzidos considerando os

    dados da reviso 2008 da projeo da populao do Brasil como varivel independente para expanso

    12 Outra questo que futuramente pode tornar-se interessante para a discusso de um possvel aprimoramento do dfi cit habitacional diz respeito ao papel do sogro ou da sogra que coabitam, respectivamente, com noras e genros. Pesquisas preliminares publicadas anteriormente (FUNDAO JOO PINHEIRO. Centro de Estatstica e Informaes. Dfi cit Habitacional no Brasil 2007. Belo Horizonte, 2009) mostram a importncia dessas pessoas para a manuteno da famlia nuclear, seja como proprietrios, seja como locatrios, seja como provedores aposentados. Alm disso, parte relevante das sogras participa tambm dos trabalhos domsticos e cuidados com as crianas. Em suma, alguns desses arranjos familiares podem estar mascarando a existncia de uma famlia secundria convivente.

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

    26

    da amostra. Os pesos de 2001 at 2007 foram recalculados de forma a permitirem a comparabilidade. As

    projees de populao so calculadas por meio de mtodo demogrfi co e devem ser alteradas no caso de

    disponibilidade de novas informaes de suas fontes de origem, como censos demogrfi cos ou pesquisas

    domiciliares por amostragem ou estatsticas vitais. Para o IBGE (2009)13, Como este mtodo consiste

    em trabalhar separadamente cada componente demogrfi ca, ou seja, a mortalidade, a fecundidade e os

    movimentos migratrios, faz-se necessria a reviso peridica das medidas e dos indicadores desses nveis

    luz de novas informaes.

    O impacto da reponderao da amostra da Pnad no estudo do dfi cit habitacional no Brasil se d

    nos dados divulgados com base nela para os anos at 2007, pois, em razo da alterao dos pesos que

    caracterizam a amostra, ocorreram pequenas modifi caes nos resultados anteriores da Pnad. Em

    funo disso, os resultados dos estudos Dfi cit Habitacional no Brasil 2005, 2006 e 2007 tambm foram

    recalculados e sofreram algumas alteraes. por esse motivo que alguns resultados aqui disponveis

    para esses trs anos diferem dos anteriormente publicados. No caso de 2007, como a metodologia

    rigorosamente idntica de 2008, as alteraes nos resultados podem chamar mais ateno. Para garantir

    a comparabilidade dos dados com os anos anteriores do estudo Dfi cit Habitacional no Brasil, foi realizado

    para esta publicao o apndice Srie Histrica. Como ser explicado na respectiva seo captulo 8

    ele conta com resultados reponderados para os anos de 2005 a 2008 e tambm busca compatibilizar os

    aprimoramentos metodolgicos recentes (veja a seguir quais foram essas adaptaes).

    Aprimoramentos metodolgicos recentes A seguir sero destacados os quatro refi namentos

    metodolgicos que ocorreram aps 2005, com o objetivo de esclarecer e detalhar a metodologia utilizada

    na elaborao da publicao:

    Aprimoramento 1

    Componente: domiclios improvisados

    Ano de incio: 2008

    Descrio: sabido que a Pnad subestima o componente domiclios improvisados em razo de

    limitaes para capt-los decorrentes da sua amostra. Para aproximar mais da realidade a presena desse

    componente no clculo do dfi cit habitacional, desde o incio deste estudo foi realizada uma comparao

    entre o percentual de domiclios improvisados encontrado numa dada Pnad com o percentual de domiclios

    13 http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/Pnad19082009.shtm. Acesso em julho de 2010.

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

    27

    improvisados identifi cado no ltimo censo disponvel. Como esperado, o percentual era sempre muito

    maior no censo do que na Pnad. Em razo disso, o percentual de domiclios improvisados do censo era

    aplicado para o mesmo componente na respectiva Pnad em anlise, visando a tornar o dado disponvel

    mais prximo da realidade. Ao fazer isso para a Pnad 2008, no entanto, notou-se possvel superestimao

    do nmero de domiclios improvisados, que aparentemente passaram a pesar em excesso no total do dfi cit

    habitacional. Considerando esse elemento, optou-se por no aplicar mais o percentual do censo e por

    utilizar o dado bruto da Pnad referente aos domiclios improvisados, uma vez que, inclusive pela distncia

    maior em relao ao Censo de 2000 e por mudanas no cenrio da habitao no pas, a inferncia sobre este

    componente tornou-se menos passvel de apurao.

    Observao sobre o apndice Srie Histrica: aprimoramento aplicado para os anos 2005 a 2008.

    Aprimoramento 2

    Componente: coabitao familiar famlias conviventes

    Ano de incio: 2007

    Descrio: at 2006 o componente considerava a totalidade das famlias conviventes. Com a incluso

    de duas novas perguntas no questionrio bsico da Pnad, como j explicado, foi possvel identifi car

    a parcela desse componente que, de fato, pode ser classifi cada como dfi cit, o que corrigiu um sabido

    superdimensionamento anteriormente inevitvel. Passou-se a trabalhar com famlias conviventes

    selecionadas (correspondente s famlias que afi rmaram desejar constituir domiclio exclusivo).

    Observao sobre o apndice Srie Histrica: como no possvel acessar as famlias conviventes

    selecionadas para os anos anteriores a 2007, duas opes so apresentadas, conforme ser melhor

    explicado no captulo 8. Ser apresentado o clculo do dfi cit com o total das famlias conviventes, para

    permitir comparabilidade entre todos os anos, e, como um exerccio, foi aplicada para os anos do estudo

    sem as perguntas (2000, 2005 e 2006) a mdia dos percentuais correspondentes s famlias conviventes

    selecionadas dos anos nos quais elas foram feitas (2007 e 2008).

    Aprimoramento 3

    Componente: adensamento excessivo

    Ano de incio: 2007

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

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    Descrio: at 2006 o componente tratava do adensamento excessivo, considerado inadequao

    de domiclios. Em 2007 o componente foi dividido em adensamento excessivo de domiclios prprios,

    considerado inadequao de domiclios (inadequao porque se supe que possam ser ampliados ou servir

    como recurso aquisio de outro imvel maior), e em adensamento excessivo de domiclios alugados,

    considerado dfi cit habitacional.

    Observao sobre o apndice Srie Histrica: aprimoramento aplicado para os anos 2005 a 2008.

    Aprimoramento 4

    Componente: cobertura inadequada

    Ano de incio: 2006

    Descrio: at 2005 esse item no era considerado na inadequao de domiclios. A partir de 2006 ele

    passa a s-lo.

    Observao sobre o apndice Srie Histrica: aprimoramento aplicado para os anos 2005 a 2008.

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

    29

    3 O DFICIT HABITACIONAL EM 2008

    A seguir sero apresentadas as estimativas do dfi cit habitacional para o ano de 2008. O comportamento

    dos resultados neste captulo ser descrito considerando o dfi cit total e seu percentual em relao aos

    domiclios particulares permanentes, ambos por situao do domiclio (localizao em rea urbana, rural de

    extenso urbana, ou rural) e segundo regies geogrfi cas, Unidades da Federao e regies metropolitanas.

    As informaes tambm sero detalhadas para os aglomerados subnormais. Alm disso, ser apresentada

    a distribuio por faixas de renda familiar em salrios mnimos.

    3.1 Estimativa do dfi cit habitacional para 2008

    Em 2008, o dfi cit habitacional estimado corresponde a 5,546 milhes de domiclios, dos quais 4,629

    milhes, ou 83,5%, esto localizados nas reas urbanas (tabela 3.1). Em relao ao estoque de domiclios

    particulares permanentes do pas, o dfi cit corresponde a 9,6%, sendo 9,4% nas reas urbanas e 11% nas

    rurais. Na comparao entre 2008 e a estimativa recalculada de 2007 (veja captulo 7 desta publicao),

    houve queda de 442.754 unidades habitacionais no montante considerado como dfi cit habitacional no

    Brasil.

    Do total do dfi cit habitacional, 36,9% localizam-se na regio Sudeste, o que corresponde a 2,046

    milhes de unidades. Em seguida vem a regio Nordeste com 1,946 milho de moradias estimadas como

    dfi cit, o que corresponde a 35,1% do total (grfi co 3.1). As nove reas metropolitanas do pas selecionadas

    pela Pnad possuem 1,537 milho de domiclios classifi cados como dfi cit, o que representa 27,7% das

    carncias habitacionais do pas.

    importante observar que, apesar dos valores absolutos expressivos similares, o dfi cit diferenciado

    quanto sua composio nas regies Sudeste e Nordeste. Nesta ltima, a participao da rea rural no total

    bem maior do que na primeira (grfi co 3.1). No Nordeste, o dfi cit habitacional divide-se em 1,305 milho

    de moradias necessrias nas reas urbanas e em 641 mil moradias necessrias nas reas rurais. J na regio

    Sudeste, as unidades habitacionais (UH) necessrias nas reas urbanas somam 1,969 milho, enquanto na

    rea rural elas somam apenas 76 mil (tabela 3.1).

    A diferena relativa entre Nordeste e Sudeste tambm expressiva: enquanto na regio Sudeste o dfi cit

    representa 8,1% do total dos domiclios (somente acima da regio Sul, que possui 6,5%), na Nordeste,

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

    30

    por outro lado, o dfi cit corresponde a 13,0% do total dos domiclios (o que signifi ca o segundo maior

    percentual e perde apenas para a regio Norte, que tem 13,8%). Vale observar tambm que nas regies

    Nordeste e Norte o dfi cit nas reas rurais supera os 12%. Na regio Centro-Oeste o dfi cit representa 9,8%

    do total dos domiclios (tabela 3.1).

    Nas Unidades da Federao, os valores absolutos do dfi cit habitacional so muito expressivos em So

    Paulo, nico estado cuja necessidade de novas unidades habitacionais ultrapassa um milho de moradias,

    correspondendo a 1,060 milho, 8,2% dos seus domiclios particulares permanentes. Desse total, 510 mil

    unidades esto na Regio Metropolitana de So Paulo (RMSP). Em seguida vem a Bahia, com 485 mil

    moradias em dfi cit habitacional, ou 11,5%, 116 mil na RM de Salvador; Minas Gerais, com 474 mil, 7,8%,

    dos quais 115 mil na RM de Belo Horizonte; Maranho, com 434 mil, 26,9%; e Rio de Janeiro, com 426 mil,

    8,1%, sendo que na RM do estado esto expressivos 320 mil domiclios (mapas 3.1 e 3.2).

    Em termos relativos e considerando somente as reas urbanas, o estado do Amazonas possui o maior

    destaque, pois l o dfi cit corresponde a 18,7% do estoque de domiclios urbanos. No Maranho ele

    corresponde a 17,6%; no Par, a 14,8%; no Distrito Federal, a 14,4%; e em Roraima, a 13,8%. Pode-se

    observar que trs dessas cinco Unidades da Federao (Amazonas, Roraima e Par) esto na regio Norte.

    Quanto s regies metropolitanas e em termos percentuais, na RM de Belm, na regio Norte, o dfi cit

    corresponde a 15% dos domiclios urbanos; j nas RMs da regio Nordeste esto os demais percentuais

    mais altos das reas urbanas: a do Recife, com 11,4%, a de Fortaleza, com 10,4% e a de Salvador, com 10,2%

    (tabela 3.1).

    Considerando apenas as reas rurais, percentualmente, a situao crtica no Maranho, onde o dfi cit

    representa 51% das moradias rurais; no Amap, onde ele soma 31,8%; em Tocantins, onde atinge 24%, no

    Cear, 17,6%; e no Piau, 16,5% (tabela 3.1).

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

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    Fonte: Dados bsicos: Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatstica (IBGE), Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (Pnad), 2008.Elaborao: Centro de Estatstica e Informaes / Fundao Joo Pinheiro.Nota: (1) No clculo do dfi cit habitacional o componente coabitao familiar inclui apenas as famlias conviventes que declararam inteno de constituir novo domiclio.

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    MAPA 3.1DFICIT HABITACIONAL TOTAL, SEGUNDO UNIDADES DA FEDERAO BRASIL 2008

    Fonte: Dados bsicos: Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatstica (IBGE), Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (Pnad), 2008.Elaborao: Centro de Estatstica e Informaes / Fundao Joo Pinheiro.

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    MAPA 3.2DFICIT HABITACIONAL PERCENTUAL EM RELAO AO TOTAL DE DOMICLIOS PARTICULARES PERMANENTES, SEGUNDO UNIDADES DA FEDERAO BRASIL 2008

    Fonte: Dados bsicos: Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatstica (IBGE), Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (Pnad), 2008.Elaborao: Centro de Estatstica e Informaes / Fundao Joo Pinheiro..

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    Fonte: Dados bsicos: Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatstica (IBGE), Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (Pnad) - 2008.Elaborao: Centro de Estatstica e Informaes / Fundao Joo Pinheiro.

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    3.2 O dfi cit habitacional urbano em 2008 segundo faixas de renda familiar em salrios mnimos

    A anlise segundo faixas de renda mdia familiar mensal em termos de salrios mnimos tem sido

    apresentada em todos os volumes da srie sobre o dfi cit habitacional. O objetivo dessa anlise identifi car

    e destacar os domiclios urbanos na faixa mais baixa de renda, alvo preferencial das polticas pblicas que

    visem melhoria das condies de vida da populao.

    Dessa maneira, foram identifi cados os nmeros do dfi cit habitacional urbano segundo faixas de renda

    em salrios mnimos. Tradicionalmente o estudo tem apresentado as faixas de renda divididas em quatro

    categorias: at 3, mais de 3 a 5, mais de 5 a 10, e mais de 10. Nessa diviso, os sem renda so

    inclusos na faixa at 3 e os sem declarao de renda ou no declarada so excludos da contagem.

    No estudo atual apresenta-se essa diviso (tabela 3.2), de modo a manter a comparabilidade com os

    anos anteriores e tambm apresentada outra diviso (tabela 3.3), em cinco categorias, para ampliar as

    possibilidades de anlise.

    Considerando a diviso tradicional nas quatro categorias mencionadas, o padro de renda das famlias

    urbanas que demandam novas moradias no se alterou. O grfi co 3.2 reafi rma a concentrao do dfi cit

    habitacional na faixa at trs salrios mnimos: 89,6%. A categoria mais de trs a cinco compreende

    7,0% das famlias, a mais de cinco a dez, 2,8% e a mais de dez, 0,6%. Assim, as famlias com renda at

    cinco salrios mnimos totalizam 96,6% do dfi cit habitacional urbano.

    Conforme a tabela 3.2, essa tendncia se repete em todas as regies, de forma mais acentuada na

    Nordeste, que possui 95,6% do dfi cit na faixa at trs salrios mnimos e 2,8% entre trs e cinco salrios

    mnimos. Esse padro pode ser observado em todas as Unidades da Federao da regio Nordeste. Nas

    regies Sul e Sudeste, enquanto na faixa mais baixa de renda os percentuais so ligeiramente menores,

    83,4% e 87,5% respectivamente, na faixa imediatamente superior se apresentam mais elevados, com 11,4%

    e 8,7%. Chamam a ateno nesse sentido Santa Catarina, com 76,6% do dfi cit na faixa mais baixa de renda

    e 16,5% na imediatamente superior, e o Amap, que, com 78,4% e 16,2%, diverge do padro da regio

    Norte.

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

    36

    Quando a categoria de at trs salrios mnimos desmembrada (tabela 3.3), observa-se que a

    participao das famlias sem renda no dfi cit no pode ser desprezada. No entanto, o dfi cit atinge com

    maior intensidade famlias com renda de at 3 salrios mnimos. No Brasil, 9,1% do dfi cit atingem

    famlias sem renda. Nas regies Nordeste e Centro-Oeste, o percentual acima de 10,5%. Na regio Sul

    encontra-se o menor percentual, 6,0%. Na regio Norte, o percentual prximo ao do pas (9,3%) e na

    regio Sudeste chega a 8,4%.

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    Fonte: Dados bsicos: Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatstica (IBGE), Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (Pnad), 2008.Elaborao: Centro de Estatstica e Informaes / Fundao Joo Pinheiro.Nota: No clculo do dfi cit habitacional o componente coabitao familiar inclui apenas as famlias conviventes que declararam inteno de constituir novo domiclio. (1) Inclusive rural de extenso urbana. (2) Exclusive sem declarao de renda.

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    GRFICO 3.2DFICIT HABITACIONAL URBANO POR FAIXAS DE RENDA MDIA FAMILIAR MENSAL, EM SALRIOS MNIMOS (SM) - BRASIL - 2008

    at 389,6%

    (4.113.659)

    mais de 3 a 5 7%

    (320.053)

    mais de 5 a 10 2,8%

    (128.512)

    mais de 10 0,6%

    (28.226)

    Fonte: Dados bsicos: Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatstica (IBGE), Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (Pnad) - 2008.Elaborao: Centro de Estatstica e Informaes / Fundao Joo Pinheiro. Nota: Inclusive rural de extenso urbana; exclusive sem declarao de renda.

    Considerando-se as famlias brasileiras com renda mdia de at trs salrios mnimos, a participao

    no dfi cit de 80,5% (tabela 3.3). Na regio Nordeste, o percentual de 84,7%, o maior do pas. A regio

    Sul, com o menor percentual do pas, tem 77,4% do dfi cit concentrado nessa faixa de renda. Nas outras

    trs regies, o percentual prximo de 79%.

    Os resultados que levam em conta o ponto de corte em seis salrios mnimos para as categorias

    intermedirias (tabela 3.3), quando comparados com os encontrados na tabela 3.2, com ponto de corte de

    cinco salrios mnimos, indicam um aumento de 1,2 ponto percentual para o Brasil. No Amap e nos estados

    da regio Sul, o aumento superior a 2,0%. Em algumas Unidades da Federao, como Acre, Roraima,

    Paraba, Alagoas e Bahia, no houve alterao nos percentuais segundo o corte de renda. Isso signifi ca

    que no h dfi cit em famlias com renda mdia de seis salrios mnimos, o que deve estar relacionado

    amostra da Pnad.

    Os resultados da tabela 3.3 indicam, tambm, que o dfi cit habitacional nas faixas de renda acima de

    seis salrios mnimos inexpressivo. No Brasil, representa 2,2% do dfi cit total.

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    Fonte: Dados bsicos: Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatstica (IBGE), Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (Pnad), 2008.Elaborao: Centro de Estatstica e Informaes / Fundao Joo Pinheiro.Nota: No clculo do dfi cit habitacional o componente coabitao familiar inclui apenas as famlias conviventes que declararam inteno de constituir novo domiclio. (1) Inclusive rural de extenso urbana. (2) Exclusive sem declarao de renda.

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    3.3 Dfi cit habitacional em aglomerados subnormais

    O estudo preocupa-se com apresentar os nmeros do dfi cit habitacional para as reas onde supostamente

    deveriam ser encontradas as piores condies de moradia. Por essa razo so analisados os aglomerados

    subnormais que, segundo a defi nio do IBGE, se aproximam do conceito de favelas14. No entanto, sabido

    que os setores assim identifi cados correspondem a nmero bastante inferior ao encontrado na realidade

    dos grandes centros urbanos. Em 2007 o Centro de Estudos da Metrpole (CEM) do Centro Brasileiro de

    Anlise e Planejamento (Cebrap) realizou um estudo para a Secretaria Nacional de Habitao do Ministrio

    das Cidades com o objetivo de identifi car os setores censitrios que apresentavam perfi s socioeconmico,

    demogrfi co e de caractersticas habitacionais urbanas similares aos setores censitrios classifi cados como

    aglomerados subnormais. Esses setores foram ento denominados assentamentos precrios15. Certamente

    foi uma contribuio valiosa para o debate e a mensurao dos ncleos precrios. Mesmo assim, dada a

    impossibilidade de contar com outra fonte de dados que fornea informaes para todo o pas, optou-se por

    considerar os nmeros divulgados pelo IBGE, apesar de subenumerados.

    relevante mencionar que, em todos os estudos da srie que trabalha os nmeros do dfi cit habitacional,

    tanto na metodologia de clculo atual como nas verses anteriores, contrariada a expectativa de que

    nas reas de aglomerados subnormais as carncias habitacionais seriam maiores. Embora essas reas

    supostamente apresentem piores condies econmicas, o que se observa uma situao similar

    verifi cada nas demais reas urbanas do pas. Os nmeros encontrados para os aglomerados subnormais e

    sua participao no total do dfi cit habitacional esto na tabela 3.4.

    No universo dos 2,066 milhes de domiclios situados em aglomerados subnormais em 2008, 254

    mil so classifi cados como dfi cit, o que corresponde a 12,3% das moradias dessas reas e a 5,5% do

    dfi cit habitacional urbano (tabela 3.4). Do total em dfi cit, 179 mil unidades localizam-se nas regies

    metropolitanas. Quando se compara esse resultado com o percentual do dfi cit habitacional do pas, de

    9,6% (tabela 3.1), observa-se que a situao dos aglomerados subnormais no muito mais drstica.

    14 Segundo defi nio do IBGE, aglomerado subnormal o conjunto constitudo por no mnimo 51 unidades habitacionais (casas, barracos etc.) ocupando ou tendo ocupado, at perodo recente, terreno de propriedade alheia (pblica ou particular), dispostas, em geral, de forma desordenada e densa. Em sua maioria so carentes de servios pblicos essenciais. 15 O estudo Aplicao de Geoprocessamento para a Poltica de Habitao em Assentamentos Precrios, elaborado pelo Centro de Estudos da Metrpole (CEM)/Centro Brasileiro de Anlise e Planejamento (Cebrap), para a Secretaria Nacional de Habitao do Ministrio das Cidades, identifi ca 6.880 setores como assentamentos precrios, alm dos 7.696 setores censitrios classifi cados pelo IBGE como aglomerados subnormais. A publicao Assentamentos precrios no Brasil urbano encontra-se disponvel em: www.cidades.gov.br.

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

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    Fonte: Dados bsicos: Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatstica (IBGE), Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (Pnad), 2008.Elaborao: Centro de Estatstica e Informaes / Fundao Joo Pinheiro.Nota: No clculo do dfi cit habitacional o componente coabitao familiar inclui apenas as famlias conviventes que declararam inteno de constituir novo domiclio. (1) Todos os domiclios em aglomerados subnormais rurais se localizam em reas de extenso urbana.

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

    42

    De maneira geral, esse padro pode ser verifi cado tambm nas regies e suas Unidades da Federao.

    Uma exceo a regio Sul, onde o dfi cit habitacional relativo nos aglomerados subnormais bem maior

    (16,2%) que o total da regio (6,5%).

    3.4 Dfi cit habitacional versus domiclios vagos

    Um fator que se destaca a cada nova atualizao do estudo sobre o dfi cit habitacional o grande

    montante dos domiclios vagos. A aparente contradio entre um dfi cit de moradias ao lado de um enorme

    nmero de imveis vagos sempre uma fonte de questionamento. apontada tambm a impossibilidade

    de obteno de maiores detalhamentos sobre as condies, a localizao, situao de propriedade e o

    padro da construo desse estoque de moradias. Pode-se obter, apenas, a distino entre imveis em

    construo ou reforma, em condies de serem ocupados e em runas. Uma caracterizao maior de

    vital importncia para o delineamento do perfi l desses domiclios e a identifi cao da parcela que mais

    provavelmente poderia ser direcionada a suprir parte das carncias de habitao da populao16.

    De acordo com a Pnad 2008, o Brasil possui 7,542 milhes de imveis vagos, 72% dos quais localizados

    em reas urbanas e 28% em reas rurais. Desse montante, 6,307 milhes esto em condies de serem

    ocupados, 894 mil esto em construo ou reforma e 340 mil, em runas. Excetuando-se estes ltimos, os

    demais so o estoque do mercado, uma vez que representam as unidades prontas e aquelas com potencial

    para serem habitadas em futuro prximo. Seria essencial poder identifi car a que pblico as unidades vagas

    esto direcionadas, uma vez que o dfi cit habitacional atinge com maior intensidade as famlias de mais

    baixa renda. Especula-se que muitas dessas moradias no sejam adequadas ao perfi l do consumidor que

    realmente precisa ser atendido.

    A tabela 3.5 apresenta os domiclios vagos com potencial para serem habitados. So 7,202 milhes de

    unidades, 72,7% em reas urbanas e 27,3% em reas rurais. Pouco menos da metade desses domiclios, 3,078

    milhes, encontram-se na regio Sudeste. So Paulo sozinho responde por 1,337 milho de unidades.

    Embora os domiclios vagos no entrem no cmputo dos domiclios particulares permanentes, a razo

    entre essas duas categorias permite uma comparao com os valores percentuais do dfi cit habitacional.

    16 A unidade vaga, segundo o IBGE, aquela que estava desocupada na data base da pesquisa. Difere da unidade fechada, que aquela que estando ocupada, no havia moradores no perodo de coleta da pesquisa. Sobre elas no existem informaes detalhadas, apenas possvel a identifi cao de caractersticas das unidades domiciliares bagas atravs da varivel tipo de entrevista, onde o pesquisador de campo assinala as que estavam em condies de serem habitadas, as de uso ocasional, as em runas e as em construo ou reforma.

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

    43

    A tabela 3.5 mostra que no Brasil os domiclios vagos correspondem a 12,5% dos domiclios particulares

    permanentes, o que representa 3 pontos percentuais a mais que o dfi cit habitacional (ver tabela 3.1). O

    percentual de vagos supera o dfi cit na maioria das Unidades da Federao. Maranho se destaca por

    ter um percentual de domiclios vagos bastante inferior ao do dfi cit. Supondo um cenrio em que todos

    os domiclios vagos pudessem ser ocupados pelos defi citrios, ainda assim o Maranho teria um dfi cit

    habitacional estimado em 288 mil domiclios, ou 17,8% dos domiclios particulares permanentes.

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    Fonte: Dados bsicos: Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatstica (IBGE), Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (Pnad), 2008.Elaborao: Centro de Estatstica e Informaes / Fundao Joo Pinheiro.Nota: (1) No inclui os domiclios em runas e os de uso ocasional.

  • Dfi cit Habitacional no Brasil 2008

    45

    4 OS COMPONENTES DO DFICIT HABITACIONAL EM 2008

    Em relao aos componentes do dfi cit habitacional, importante ressaltar que duas mudanas

    introduzidas no estudo de 2007 foram mantidas nos clculos de 2008: o adensamento excessivo de

    domiclios alugados um indicador de carncia de domiclio e, entre as famlias conviventes, foram

    contabilizadas como dfi cit somente aquelas que manifestaram o desejo de constituir novo domiclio.

    Neste captulo sero apresentados os nmeros de cada componente e sua participao no total do dfi cit

    habitacional.

    4.1 A composio do dfi cit habitacional

    O grfi co 4.1 apresenta a composio do dfi cit habitacional por situao do domiclio. O componente

    coabitao familiar aparece com grande peso relativo no dfi cit habitacional, mesmo considerando parte

    dele somente as famlias conviventes que declararam inteno de constituir novo domiclio. Nas reas

    rurais esse componente relativamente menor e perde espao para a habitao precria, que aparece em

    destaque. O nus excessivo com aluguel segue como fator importante na defi nio das carncias do setor

    principalmente nas regies metropolitanas. No Brasil, a coabitao familiar representa 39,3% do total do

    dfi cit habitacional, o nus excessivo com aluguel, 34,0%, as habitaes precrias, 20,5% e o adensamento

    excessivo dos domiclios alugados, 6,1%.

    Nas tabelas 4.1 e 4.2 so observados os nmeros de cada componente. confi rmada a maior presena

    das habitaes precrias na regio Nordeste, grande parte delas localizadas nas reas rurais. O nus

    excessivo com aluguel continua o fator mais relevante na regio Sudeste. O adensamento excessivo pouco

    relevante qualquer que seja a regio considerada (grfi co 4.2 e mapa 4.1).

    O padro da distribuio desses componentes por situao de domiclio condicionado pelas diferentes

    caractersticas socioeconmicas regionais. Essas diferenas esto explicitadas na tabela 4.3.

    O Brasil possui 1,138 milho de habitaes precrias, sendo que pouco mais da metade, 623 mil,

    esto nas reas rurais. Elas esto localizadas principalmente nas regies Nordeste e Norte, que concentram

    849 mil unidades. Deve-se destacar a presena marcante desse componente na regio Sul, principalmente

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    0%

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    100%

    Total Urbana Rural RMs

    GRFICO 4.1COMPOSIO DO DFICIT HABITACIONAL, POR SITUAO DO DOMICILIO

    E REGIES METROPOLITANAS (RMs) - BRASIL - 2008

    habitao precria coabitao familiar nus excessivo com aluguel adensamento excessivoFonte: Dados bsicos: Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatstica (IBGE), Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (Pnad), 2008.Elaborao: Centro de Estatstica e Informaes / Fundao Joo Pinheiro. Nota: No clculo do dfi cit habitacional o componente coabitao familiar inclui apenas as famlias conviventes que declararam inteno de constituir novo domiclio.

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    Fonte: Dados bsicos: Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatstica (IBGE), Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (Pnad), 2008.Elaborao: Centro de Estatstica e Informaes / Fundao Joo Pinheiro. Nota: (1) No clculo do dfi cit habitacional o componente coabitao familiar inclui apenas as famlias conviventes que declararam inteno de constituir novo domiclio.

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    Fonte: Dados bsicos: Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatstica (IBGE), Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (Pnad), 2008.Elaborao: Centro de Estatstica e Informaes / Fundao Joo Pinheiro.Nota: (1) O componente nus excessivo com aluguel foi calculado para a rea urbana, incluindo rural de extenso urbana.

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    MAPA 4.1DISTRIBUIO PERCENTUAL DOS COMPONENTES DO DFICIT HABITACIONAL,

    SEGUNDO REGIES GEOGRFICAS BRASIL 2008

    Fonte: Dados bsicos: Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatstica (IBGE), Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (Pnad), 2008.Elaborao: Centro de Estatstica e Informaes / Fundao Joo Pinheiro.Nota: No clculo do dfi cit habitacional o componente coabitao familiar inclui apenas as famlias conviventes que declararam inteno de constituir novo domiclio.

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    nas reas urbanas, que concentram 75% das ocorrncias. provvel que tal magnitude esteja relacionada

    tradio local do uso de casas de madeira aparelhada, o que pode trazer problemas na identifi cao

    dos domiclios rsticos e contribuir para que o nmero contabilizado retrate uma situao pior do que a

    realidade.

    A coabitao familiar continua o fator que mais contribui em nmeros absolutos para o clculo

    do dfi cit habitacional no pas. Em 2008, so 2,182 milhes de ocorrncias, 87% delas nas reas

    urbanas. As regies Nordeste e Sudeste apresentam os maiores montantes (776 mil e 747 mil ocorrncias

    respectivamente), enquanto a regio Norte apresenta o maior valor relativo (51,5% do dfi cit habitacional

    resultado da coabitao familiar).

    O nus excessivo com aluguel, que atinge 1,888 milho de famlias urbanas no pas, est concentrado

    na regio Sudeste, onde 991 mil famlias comprometem grande parcela da renda com tal despesa. Por ser

    um indicador que refl ete a difi culdade do mercado imobilirio de se adequar ao perfi l de demanda da

    populao, espera-se que tenha maior peso nos grandes centros urbanos. Em termos relativos destacam-se

    tambm a regio Centro-Oeste, principalmente o Distrito Federal, e a Sul. Na regio Norte, o nus pouco

    expressivo.

    O adensamento excessivo dos domiclios alugados o componente que menos contribui

    para o dfi cit habitacional e um fenmeno quase exclusivo das reas urbanas. So 337 mil domiclios

    afetados no pas, dos quais 97% localizam-se nessas reas. Na regio Sudeste, 9,0% do dfi cit resultam do

    adensamento. So 193 mil domiclios, 128 mil somente em So Paulo. Nas demais regies, a participao

    desse componente no dfi cit total de 6,0% no mximo. Vale lembrar que esse componente foi desagregado

    a partir do estudo de 2007. Embora sua participao nos componentes no seja de destaque, isso pode ser

    decorrncia do seguinte fato: se o domiclio tiver sido contabilizado em outro componente por exemplo

    nus excessivo ele no pode ser contado novamente. Isso necessrio para que no haja mltipla

    contagem e os componentes possam ser somados, de modo a gerar o nmero do dfi cit total.

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    Fonte: Dados bsicos: Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatstica (IBGE), Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (Pnad), 2008. Elaborao: Centro de Estatstica e Informaes / Fundao Joo Pinheiro. Nota: (1) No clculo do dfi cit habitacional o componente coabitao familiar inclui apenas as famlias conviventes que declararam inteno de constituir novo domiclio.

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    4.1.1 Os componentes do dfi cit habitacional em aglomerados subnormais

    Nos aglomerados subnormais, a coabitao familiar o componente que mais contribui para o dfi cit

    habitacional, com 46,7% (tabela 4.4). O padro de predominncia se repete para as regies e Unidades da

    Federao, exceto para a regio Sul, o Rio Grande do Sul, Amazonas e Distrito Federal.

    Nos locais onde a coabitao familiar no predomina, o componente mais expressivo o que detecta

    as habitaes precrias. O maior destaque a regio Sul, que atribui 64,6% do dfi cit a esse componente,

    graas ao estado do Rio Grande do Sul, que possui 68,8% dos domiclios em condies precrias, dentre

    aqueles considerados dfi cit habitacional nos aglomerados subnormais. Esse dado refora a suspeita

    de interpretao equivocada por parte dos entrevistadores sobre o tipo das paredes predominantes nas

    edifi caes, elevando o nmero de domiclios rsticos no estado.

    Relativamente s reas urbanas, o nus excessivo com aluguel tem menor presena entre os domiclios

    dos aglomerados subnormais, especialmente na regio Sudeste.

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