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NATAN BATISTA FINANCEIRO 7º SEMESTRE

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NATAN BATISTA

FINANCEIRO

7º SEMESTRE

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Sumário: Capítulo 1 – Introdução ao Direito ................................ Página 1

Financeiro

1. Atividades Estatais e Conceito de Direito ........................ Página 1 Financeiro 1.1. Primórdios ........................................................................................... Página 1 1.2. Criação do Estado Moderno e suas Funções .............................. Página 1 1.3. Atividade Financeira do Estado .................................................... Página 3 1.4. Conceito de Direito Financeiro ...................................................... Página 4

2. Normas do Direito Financeiro ................................................... Página 4

Capítulo 2 – Do Estudo dos Pilares do ..................... Página 6

Direito Financeiro

1. Introdução ................................................................................................. Página 6 2. Receita .......................................................................................................... Página 6

2.1. Introdução .......................................................................................... Página 6 2.2. Espécies de receita ............................................................................ Página 7

2.2.1. Quanto à periodicidade ou regularidade ..................... Página 7 2.2.1.1. Receita Ordinária .................................................. Página 7 2.2.1.2. Receita Extraordinária ......................................... Página 8

2.2.2. Quanto à Origem ................................................................ Página 8 2.2.2.1. Receita Originária.................................................. Página 8 2.2.2.2. Receita derivada.................................................... Página 9

2.2.3. Receitas definidas pela Lei 4.320/64 ............................... Página 9 2.2.3.1. Receita corrente ..................................................... Página 10 2.2.3.2. Receita de capital .................................................. Página 10

3. Orçamento ................................................................................................ Página 10 3.1. Introdução .......................................................................................... Página 10 3.2. Tipos de Orçamento ......................................................................... Página 10

3.2.1. Orçamento Legislativo ....................................................... Página 10 3.2.2. Orçamento Executivo ......................................................... Página 11 3.2.3. Orçamento Misto ................................................................. Página 11

3.3. Espécies de Orçamento .................................................................... Página 11 3.3.1. Orçamento tradicional ou clássico .................................. Página 11 3.3.2. Orçamento de desempenho ou por realizações .......... Página 11 3.3.3. Orçamento de base zero ou por estratégia .................. Página 12 3.3.4. Orçamento-programa ....................................................... Página 12 3.3.5. Orçamento participativo ................................................... Página 13

3.4. Materialização do Orçamento ...................................................... Página 13 3.4.1. Plano Plurianual ................................................................. Página 14

3.4.1.1. Conceito ................................................................... Página 14 3.4.1.2. Do encaminhamento e do prazo de ................. Página 15

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vigência 3.4.2. Lei de Diretrizes Orçamentárias ...................................... Página 16

3.4.2.1. Conceito ................................................................... Página 16 3.4.2.2. Do encaminhamento ............................................ Página 18

3.4.3. Lei Orçamentária Anual.................................................... Página 19 3.4.3.1. Conceito ................................................................... Página 19 3.4.3.2. Do encaminhamento ............................................ Página 20

3.5. Natureza Jurídica do Orçamento ................................................. Página 21 3.6. Orçamento autorizativo e impositivo .......................................... Página 21 3.7. Princípios Orçamentários ................................................................ Página 22

3.7.1. Princípio da Legalidade .................................................... Página 22 3.7.2. Princípio da Exclusividade ................................................ Página 24 3.7.3. Princípio da Anualidade ou Periodicidade .................. Página 24 3.7.4. Princípio da Universalidade e do Orçamento Bruto .. Página 25 3.7.5. Princípio da Não Afetação da Receita de Impostos .. Página 27

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Introdução ao Direito Financeiro

1. Atividades Estatais e Conceito de Direito Financeiro

Como bem fazemos em todas as introduções cujo conteúdo é uma ciência

humana, convém que passemos brevemente pelos momentos históricos

responsáveis pela ciência em questão como conhecemos hoje.

Não será diferente com o Direito Financeiro. Aqui, contudo, para que o

entendamos em sua integralidade, é necessário que analisemos a estrutura do Estado

e como ele alcançou os moldes atuais.

Pois bem, vejamos.

1.1. Primórdios

No início, os humanos se reuniam em pequenos grupos nômades. Significa

dizer que não nos fixávamos em um local específico, mas perambulávamos em busca

do essencial.

Com o passar dos milênios, notou-se que algumas necessidades gerais que

surgiam não eram atendidas através do modelo nômade que havia se instalado,

motivo pelo qual os grupos passam a se fixar em determinados lugares e passam a

executar tarefas que outrora não eram possíveis, como o cultivo de alimentos,

animais e a produção de pequenos utensílios, vestimentas etc.

Desta maneira, tornou-se comum as trocas entre os grupos, tendo em vista

que cada um deles possuía determinada atividade como especialidade.

1.2. Criação do Estado Moderno e suas Funções

Essa interação comum foi responsável pela necessidade da criação de um ente

politicamente organizado capaz de gerir os interesses públicos. É aí que surge o

Estado.

Hoje, o conceito de Estado Moderno está atrelado a quatro elementos, quais

sejam: (i) soberania; (ii) território; (iii) povo e; (iv) finalidade. Podemos conceituá-lo

por, como já o fizemos no resumo de Ciência Política e Teoria do Estado, território

submetido a uma soberania, seja ela estatal ou real, cuja finalidade se dá pela identidade

apontada pela vida social do povo.

Nas palavras de Carlos Moraes Ramos Filho:

Podemos, assim, conceituar o Estado como pessoa jurídica soberana,

constituída por um povo organizado sobre determinado território, sob o

comando de um governo, para fins de alcançar o bem comum daquele povo.

Atentemo-nos ao último dos elementos constituintes do Estado, a finalidade.

A finalidade do Estado, basicamente, remete-se a agir com o intuito de alcançar o

bem comum do povo que o compõe.

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José Geraldo Brito Filomeno (apud. Carlos Moraes Ramos Filho), afirma ser a

finalidade do povo:

[A finalidade é] a realização global do ser humano, quer do ponto de vista

biológico, quer do psíquico, o que deve ser propiciado pelo Estado mediante

criação de condições de cunho político (mantendo as seguranças interna e

externa), jurídico (buscando o Estado de direito mediante a criação, execução e

aplicação do ordenamento jurídico) e social (proporcionando à população em

geral, e à sua faixa mais carente, em especial, condições de superação de sua

insuficiência e necessidades de cunho educacional, de saúde, saneamento básico,

lazer etc).

Nota-se, portanto, não se tratar o Estado de elemento como fim em si mesmo,

mas elemento meio para que o povo alcance seus fins. Para que se alcancem os fins,

contudo, é necessário que sejam observadas as necessidades básicas.

Para tanto, o Estado deve organizar suas provisões, haja vista sua capacidade

não ser ilimitada, visando o atendimento das denominadas necessidades coletivas ou

públicas. Daí surge, por exemplo, o Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre

o Interesse Privado, que dá à Administração Pública o poder legítimo para adotar

determinadas ações que dirimem ações individuais que lesionem a coletividade.

Ao Estado incumbe se preocupar com as questões que envolvam ou a

coletividade ou que lhe envolva por se tratar de necessidade pública.

Importante ressaltar, porém, que estes elementos [necessidade coletiva e

necessidade pública] não se confundem, pois toda necessidade pública será coletiva,

mas nem toda necessidade coletiva será pública.

A necessidade coletiva diz respeito a um grupo determinado e específico de

pessoas, como os direitos referentes aos condomínio; enquanto as necessidades

públicas são aquelas que a todos interessam, não sendo possível, contudo, que se

determine o interesse individual de cada um. Além disso, a satisfação das

necessidades públicas exige a criação de lei que a preveja, sendo, portanto, fruto de

ação política.

A ação política, percebamos, está diretamente ligada ao grupo que se

encontra no controle do Governo do país, porquanto havendo vários caminhos que

podem ser percorridos, cabe às entidades políticas decidir por qual deles optar. Por

exemplo, a depender dos indivíduos que componham o Governo do país serão

despendidos mais ou menos recursos para a execução de determinado serviço

público.

Nesse raciocínio, portanto, as ações incumbidas ao Estado estarão/estão

definidas na Constituição ou nos demais instrumentos legislativos do ordenamento

jurídico. Por outro lado, ao interesse privado incumbirão as atividades

expressamente vedadas ao Estado ou aos indivíduos facultada.

Citando exemplos:

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Art. 177, caput, da Constituição Federal. Constituem monopólio da União:

I – a pesquisa e a lavra das jazidas de petróleo e gás natural e outros

hidrocarbonetos fluidos;

II – a refinação do petróleo nacional ou estrangeiro;

III – a importação e exportação dos produtos e derivados básicos

resultantes das atividades previstas nos incisos anteriores;

IV – o transporte marítimo do petróleo bruto de origem nacional ou de

derivados básicos de petróleo produzidos no País, bem assim o transporte, por

meio de conduto, de petróleo bruto, seus derivados e gás natural de qualquer

origem;

V – a pesquisa, a lavra, o enriquecimento, o reprocessamento, a

industrialização e o comércio de minérios e minerais nucleares e seus derivados,

com exceção dos radioisótopos cuja produção, comercialização e utilização

poderão ser autorizadas sob regime de permissão, conforme as alíneas b e c do

incido XXIII do caput do art. 21 desta Constituição Federal.

[...]

Art. 199, caput, da Constituição Federal. A assistência à saúde é livre à

iniciativa privada.

Ao Estado, portanto, cabe a execução, direta ou indireta, de inúmeras ações

que visam atender às necessidades básicas da população, sejam coletivas ou públicas.

Essas ações configuram o que chamamos de atividade-fim do Estado, a atividade

administrativa.

1.3. Atividade Financeira do Estado

Para exercer sua atividade-fim, é necessário que seja dado ao Estado meios

para que assim o faça, ou seja, necessita de meios econômicos/recursos financeiros

para agir em prol das necessidades da população. É aí que surge a atividade financeira

do Estado.

A atuação do Estado em sua atividade-fim, ou seja, a execução das atividades

administrativas somente é possível se o Estado executar atividade-meio, qual seja, a

atividade financeira.

A atividade financeira, por sua vez, tem por fim, nas palavras de Carlos Moraes

Ramos Filhos: “Obter, criar, gerir e despender os meios patrimoniais que possibilitem

ao Estado o desempenho daquelas outras atividades que se referem à realização de seus

fins.”

Em outras palavras, como já dissemos, a atividade financeira (atividade-meio

do Estado) visa executar todos os elementos capazes de obter ou criar recursos,

organizá-los e despendê-los em prol da atividade-fim do Estado (atividade

administrativa), visando atingir a finalidade da população.

Dessa definição, é possível que cheguemos à conclusão que a atividade

financeira do Estado se baseia, basicamente, em quatro elementos: (i) obter (adquirir)

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recursos – também denominado de receita; (ii) pactuar/criar receita – através dos

créditos/débitos ou dívidas; (iii) gerir os recursos – através dos denominados

orçamentos; (iv) praticar/despender dos meios possuídos – denominado de despesa.

Estes são os quatro pilares da Atividade Financeira do Estado (receita,

crédito/débito, despesa e orçamento), conforme estudaremos adiante.

A Atividade Financeira do Estado é objeto do estudo de algumas ciências,

dentre elas a Ciência das Finanças, o Direito Financeiro e o Direito Tributário, sendo o

segundo deles (Direito Financeiro) o objeto do nosso estudo neste resumo.

1.4. Conceito de Direito Financeiro

Para Carlos Moraes Ramos Filho, é o conceito de Direito Financeiro:

... ramo didaticamente autônomo do direito, formado pelo conjunto

harmônico das proposições jurídico-normativas que disciplinam as relações

jurídicas decorrentes do desempenho da atividade financeira do Estado, exceto o

que se refira à obtenção de receitas que correspondem ao conceito de tributos.

Conforme estabelece o Dicionário Jurídico Acquaviva:

Ramo do direito público interno que trata da captação e da gestão dos

recursos econômicos com que os órgãos públicos contam para o desempenho de

sua missão. Da mesma forma que qualquer cidadão, o Estado carece de numerário

para satisfazer às suas necessidades de realizar obras e prestar serviços à

sociedade. Daí a importância do Direito Financeiro, cuja autonomia é

implicitamente reconhecida na CF, tendo em vista o disposto nos arts. 145 a 169.

Utilizando-se de ambos os conceitos, podemos definir o Direito Financeiro

como ramo do Direito responsável por abranger o conjunto de regras, diretrizes,

princípios e normas segundo as quais o Poder Público executará sua atividade

financeira-meio, ou seja, segundo as quais adquirirá (receita), criará

(créditos/débitos), organizará (orçamento) e despenderá (despesas) recursos com o

intuito de executar a sua atividade-fim, qual seja, a atividade administrativa.

Importante ressaltar, ainda, que não cabe ao Direito Financeiro definir os

meios pelos quais se adquirirá receita no que se refere ao recolhimento de tributos,

haja vista se tratar do objeto de estudo do Direito Tributário.

2. Normas do Direito Financeiro

São basicamente quatro as disposições normativas que regem o Direito

Financeiro, vejamos:

(i) Constituição Federal – principalmente no que se refere, como já

comentado, aos arts. 145 a 169 da Carta Magna;

(ii) Lei nº 4.320/64 – lei que disciplina normas expressas da Constituição

Federal:

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Art. 24 da Constituição Federal. Compete à União, aos Estados e ao Distrito

Federal legislar concorrentemente sobre:

I – direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico.

[...]

Art. 163 da Constituição Federal. Lei complementar disporá sobre:

I – finanças públicas.

[...]

Art. 165, §9º, da Constituição Federal. Cabe à lei complementar:

I – dispor sobre o exercício financeiro, a vigência, os prazos, a elaboração e

a organização do plano plurianual, da lei de diretrizes orçamentárias e da lei

orçamentária anual;

II – estabelecer normas de gestão financeira e patrimonial da

administração direta e indireta bem como condições para a instituição e

funcionamento de fundos;

III – dispor sobre critérios para a execução equitativa, além de

procedimentos que serão adotados quando houver impedimentos legais e

técnicos, cumprimento de restos a pagar e limitação das programações de caráter

obrigatório, para a realização do disposto nos §§ 11 e 12 do art. 166.

Em que pese o art. 24, I, da Constituição, acima transcrito, dispor

expressamente que compete aos entes políticos legislar sobre o Direito Financeiro,

não houve norma nesse sentido, sendo necessário que a lei aqui em comento (Lei nº

4.320/64) fosse recepcionada com status de Lei Complementar.

Conforme estabelece a ementa da lei ora comentada: “Estatui Normas Gerais

de Direito Financeiro para elaboração e contrôle dos orçamentos e balanços da União,

dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal.”

(iii) Lei Complementar nº 101/00 – também denominada Lei de Responsabilidade

Fiscal, afirma a ementa: “Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a

responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências.”

(iv) Leis Ordinárias – especialmente no que diz respeito ao (iv.i) Plano

Plurianual; (iv.ii) Lei de Diretrizes Orçamentárias; e (iv.iii) Lei Orçamentária Anual, todas

estudas especificamente por nós posteriormente.

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Do Estudo dos Pilares do Direito Financeiro

1. Introdução

Pois bem. Como dito por nós na introdução deste resumo, entende-se por

Direito Financeiro o conjunto de normas, princípios, regras e diretrizes segundo as

quais o Poder Público/Administração Pública executa sua atividade financeira-meio,

adquirindo (receita), criando (créditos/débitos), organizando (orçamento) e

despendendo (despesas) recursos com o intuito de executar a sua atividade-fim, a

atividade administrativa.

Estabelecemos, naquela ocasião, serem quatro os pilares do Direito

Financeiro, quais sejam: (i) Receita; (ii) Orçamento; (iii) Créditos/Débitos; e (iv)

Despesas.

Importante frisarmos, novamente, que ao Direito Financeiro somente cabe

em sua inteireza o orçamento, os créditos/débitos e as despesas, incumbindo-lhe a

receita nos quesitos instituição, arrecadação e destinação, com exceção dos tributos,

objeto de estudo do Direito Tributário, ocasião em que somente cabe ao objeto de

estudo deste resumo a destinação, isto é, a que serão aplicados.

Estudemos cada uma delas.

2. Receita 2.1. Introdução

Primeiramente, convém que conceituemos receita. Antes, porém, convém

informarmos que há duas conceituações válidas. A primeira delas dada pela lei e a

segunda delas estabelecida pela doutrina.

Conforme estabelece a lei, entende-se por receita, numa concepção ampla,

qualquer recurso que adere aos cofres públicos, independentemente de sua origem,

ficando à disposição da Administração Pública.

Nesse sentido, estabelece o art. 57 da Lei nº 4.320/64:

Art. 57 da Lei nº 4.320/64. Ressalvado o disposto no parágrafo único do art.

3º desta lei serão classificados como receita orçamentária, sob as rubricas

próprias, tôdas as receitas arrecadadas, inclusive as provenientes de operações

de crédito, ainda que não previstas no Orçamento.

A doutrina, porém, apresente conceito menos amplo. Segundo Aliomar

Baleeiro, receita é a entrada de recurso que, integrando-se ao patrimônio, público,

sem quaisquer reservas, condições ou correspondência no passivo, vem acrescer o

seu vulto, como elemento novo e positivo.

Significa dizer que para a doutrina a entrada de determinados recursos serão

mero ingresso, ao passo que para a definição legal serão consideradas receitas. Nas

palavras de Carlos Moraes Ramos Filho:

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Nessa acepção – que se situa no plano da Ciência das Finanças –, toda

receita pública é uma entrada, mas nem toda entrada é uma receita pública, pois

somente se qualifica como receita pública a entrada de recurso que se efetive de

maneira permanente (definitiva) no patrimônio do Estado, isto é, que não esteja

condicionada à sua devolução ou correspondente baixa patrimonial.

Seriam, assim, meros “ingressos”, “entradas de caixa” ou “movimentos de

fundos”, pois destituídas de caráter definitivo, as seguintes entradas: as cauções,

as finanças e os depósitos recolhidos ao Tesouro e o produto dos empréstimos

(internos ou externos) contraídos pelos Estados. A caução que se oferece como

garantia da proposta de licitação deve ser restituída, uma vez superado o objeto

da garantia, do mesmo modo que a fiança dada para a manutenção de algum

comportamento será restituída tão logo perdido o objeto a que se destinava. Se

em determinado pleito há exigência de depósito, ingressa ele nos cofres públicos;

todavia, vencendo o litigante particular o feito, deverão os valores depositados

retornar ao seu patrimônio. Se o Poder Público obtém empréstimo, terá que

devolvê-lo à instituição financeira. Em todos os casos citados, consoante

destacado, o dinheiro ingressa a título precário e temporariamente, sem passar a

pertencer ao Estado. Dito de outro modo, há entrada, mas provisória, pois os

recursos ingressam nos cofres públicos, mas neles não permanecem, devendo o

Estado restituir seu montante a quem de direito.

Transpassado o conceito, partamos para a análise das espécies de receita.

2.2. Espécies de receita

Analisaremos as espécie de receita quanto a três categorias: (i) quanto à

periodicidade; (ii) quanto à origem; (iii) receitas correntes; e (iv) receitas de capital.

2.2.1. Quanto à periodicidade ou regularidade

São duas as espécies: (i) receita ordinária e (ii) receita extraordinária.

2.2.1.1. Receita ordinária

Dá-se pelas receitas que provêm de fontes permanentes. Por esse motivo são

regulares, ou seja, compõem permanentemente o orçamento público. Em outras

palavras, são as receitas cuja arrecadação é comum, corriqueira, previsível, esperada.

Podemos citar como exemplos a arrecadação de ICMS (Imposto sobre a

Circulação de Mercadorias e Serviços) pelo Estado ou de ISS (Imposto sobre Serviço)

pelo Município:

Art. 155 da Constituição Federal. Compete aos Estados e ao Distrito Federal

instituir impostos sobre:

[...]

II – operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de

serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda

que as operações e as prestações se iniciem no exterior.

[...]

Art. 156 da Constituição Federal. Compete aos Municípios instituir

impostos sobre:

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[...]

III – serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II,

definidos em lei complementar.

2.2.1.2. Receita extraordinária

Por outro lado, considerando-se receitas extraordinárias aquelas que provêm

de fontes acidentais. Por acidentais entendem-se as fontes não previstas,

esporádicas, inconstantes ou excepcionais. Em outras palavras, são as receitas cuja

arrecadação é incomum, específica, pontual.

Podemos citar como exemplos o imposto extraordinário de guerra ou o

empréstimo compulsório em caso de guerra ou calamidade pública:

Art. 148 da Constituição Federal. A União, mediante lei complementar,

poderá instituir empréstimos compulsórios:

I – para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade

pública, de guerra externa ou sua iminência.

[...]

Art. 154 da Constituição Federal. A União poderá instituir:

[...]

II – na iminência ou no caso de guerra externa, impostos extraordinários,

compreendidos ou não em sua competência tributária, os quais serão suprimidos,

gradativamente, cessadas as causas de sua criação.

2.2.2. Quanto à origem

A classificação quanto à origem, como o próprio nome revela, leva em

consideração a fonte da qual surgiu a receita, sendo duas as espécies: (i) receita

originária e (ii) receita derivada.

2.2.2.1. Receita originária

Dá-se por receita originária aquelas derivadas da exploração econômica dos

bens da Administração Pública, ainda que delegadas a particulares, ou seja, ainda que

provenientes da Administração Pública indireta. Nota-se, portanto, que tais receitas

sempre se originarão segundo as regras do direito privado, pois terão por fonte a

utilização dos serviços e produtos oferecidos pelo Estado por parte dos particulares.

Sendo derivadas de relações jurídicas de direito privado, importante lembrar,

também, que também serão computados como receita originária, segundo Carlos

Moraes Ramos Filho, “as doações, a herança vacante, o preço pago pela utilização de

um serviço de natureza econômica ou pela utilização de bem público, o preço de

vendas realizadas ou o aluguel de imóveis locados pelo Poder Público, os juros pela

aplicação de dinheiro disponível, bem como a compensação financeira assegurada

aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios e a órgãos da administração direta

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da União, pela exploração de recursos minerais no respectivo território, plataforma

continental, mar territorial ou zona econômica (art. 20, §1º, in fine, CF).”

2.2.2.2. Receita derivada

De outra mão, entende-se por receita derivada aquela provenientes de

atividades praticadas por particulares e cuja arrecadação se dá em virtude da

existência de elemento legislativo que assim impõe. Nesse caso, portanto, as receitas

não têm origem em atividade praticada pelo Estado, mas pelos particulares.

Podemos citar como exemplos os tributos, as multas e quaisquer outras

receitas que decorrem de exigência do Estado (jus imperii).

2.2.3. Receitas definidas pela Lei 4.320/64

É a disposição da lei:

Art. 11 da Lei 4.320/64. A receita classificar-se-á nas seguintes categorias

econômicas: Receitas Correntes e Receitas de Capital.

§1º. São Receitas Correntes as receitas tributária, de contribuições,

patrimonial, agropecuária, industrial, de serviços e outras e, ainda, as

provenientes de recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito

público ou privado, quando destinadas a atender despesas classificáveis em

Despesas Correntes.

§2º. São Receitas de Capital as provenientes da realização de recursos

financeiros oriundos de constituição de dívidas; da conversão, em espécie, de

bens e direitos; os recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou

privado, destinados a atender despesas classificáveis em Despesas de Capital e,

ainda, o superávit do Orçamento Corrente.

§3º. O superávit do Orçamento Corrente resultante do balanceamento dos

totais das receitas e despesas correntes, apurado na demonstração a que se

refere o Anexo nº 1, não constituirá item de receita orçamentária.

§4º. A classificação da receita obedecerá ao seguinte esquema:

RECEITAS CORRENTES

RECEITA TRIBUTÁRIA

Impostos.

Taxas.

Contribuições de Melhoria.

RECEITA DE CONTRIBUIÇÕES

RECEITA PATRIMONIAL

RECEITA AGROPECUÁRIA

RECEITA INDUSTRIAL

RECEITA DE SERVIÇOS

TRANSFERÊNCIAS CORRENTES

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OUTRAS RECEITAS CORRENTES

RECEITAS DE CAPITAL

OPERAÇÕES DE CRÉDITO

ALIENAÇÃO DE BENS

AMORTIZAÇÃO DE EMPRÉSTIMOS

TRANSFERÊNCIAS DE CAPITAL

OUTRAS RECEITAS DE CAPITAL

2.2.3.1. Receita corrente

Conforme estabelece o art. 11, §1º, acima transcrito, entende-se por receita

corrente as receitas: (i) tributária; (ii) de contribuições; (iii) patrimoniais; (iv)

agropecuárias; (v) industriais; (vi) de serviços; (vii) transferências correntes; e (viii)

outras receitas correntes.

2.2.3.2. Receita de capital

Nos moldes do art. 11, §2º, são consideradas receitas de capital: (i) operações

de crédito; (ii) alienação de bens; (iii) amortização de empréstimos; (iv) transferência de

capital; e (v) outras receitas de capital.

3. Orçamento 3.1. Introdução

Como dissemos quando da definição de Direito Financeiro, estabelecemos o

orçamento como sendo o ato de gerir os recursos públicos. Dessa feita, tem-se por

orçamento o meio segundo a qual se prevê as receitas que estarão à disposição do

Poder Público, autorizando o Poder Executivo, por certo período de tempo

denominado exercício financeiro, a realizar as despesas nela dispostas e destinadas à

realização dos serviços públicos.

Tais despesas estarão previstas em disposições legais específicas (três,

conforme veremos adiante), nas quais as receitas e despesas estarão

pormenorizadamente discriminadas.

3.2. Tipos de Orçamento

Antes de realizarmos o estudo das espécies de orçamento, convém que

elenquemos quais são os tipos de orçamento.

Os tipos de orçamento estão diretamente ligados à participação dos Poderes

na atividade financeira. Por esse motivo, são três os tipos de orçamento: (i)

orçamento legislativo; (ii) orçamento executivo; e (iii) orçamento misto.

3.2.1. Orçamento Legislativo

Tem-se por orçamento legislativo aquele no qual o Poder Legislativo é

incumbido da elaboração, votação e controle orçamentário. Nota-se, portanto, que

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nesse tipo de orçamento não há a participação de qualquer dos demais poderes,

inclusive o Poder Executivo.

3.2.2. Orçamento Executivo

Trata-se do mesmo exposto acima, contudo as funções serão incumbidas

exclusivamente ao Poder Executivo, não havendo a participação dos demais Poderes.

3.2.3. Orçamento Misto

Sendo o modelo adotado pelo Brasil, trata-se do tipo de orçamento no qual

ambos os poderes, Legislativo e Executivo, participam efetivamente do

gerenciamento dos recursos financeiros do Estado.

Nesse caso, cabe ao Poder Executivo elaborá-lo e executá-lo o orçamento,

enquanto cabe ao Poder Legislativo votá-lo e fiscalizá-lo.

3.3. Espécies de Orçamento

Partamos, agora, para o estudo das espécies de orçamento, identificando qual

delas é adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro. Vejamos, são cinco as espécies

de orçamento, quais sejam: (i) orçamento tradicional ou clássico; (ii) orçamento de

desempenho ou por realizações; (iii) orçamento de base zero ou por estratégia; (iv)

orçamento-programa; e (v) orçamento participativo.

Estudemos cada um deles.

3.3.1. Orçamento tradicional ou clássico

O orçamento tradicional ou clássico tratava-se de mero registro contábil das

receitas e despesas do Governo. Havia clara dissociação entre o orçamento e o

planejamento, tendo em vista que não constava, por exemplo, os planos do governo

para o exercício financeiro, ou seja, somente dispunha acerca dos meios, e não das

finalidades.

A crítica feita a tal espécie de orçamento é no sentido de que com o novo

exercício financeiro as tabelas que compunham o orçamento somente eram copiadas

e replicadas, não havendo, de fato, uma criação orçamentária baseada nas

pretensões do Governo. A essa prática deu-se a nomenclatura incrementalismo.

3.3.2. Orçamento de desempenho ou por realizações

Esta espécie de orçamento passou a se preocupar mais com o resultado dos

gastos, não se fixando somente nos meios de compra do Estado (receita e despesa).

Com a adoção do referido orçamento, suas disposições não mais se tratavam

de planilhas, mas esboçavam as finalidades almejadas pelas ações estatais,

principalmente no que diz respeito às finalidades sociais Estado.

Importante ressaltar, contudo, que tal disposição ainda não atingia a

discricionariedade e pormenorização com a qual as despesas, receitas e finalidades

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são hoje apresentadas, isto é, não havia um inter-relacionamento entre receitas e

despesas e suas destinações. O programa era, na verdade, composto por dois

elementos distintos, o objeto de gasto, no qual eram dispostas as receitas e despesas,

e o programa de trabalho, cujo teor apresentava as ações que se visava desenvolver.

Ocorre que, em que pese passar a dispor acerca das finalidades, a

Administração Pública não se via obrigada a segui-lo, tendo em vista que inexistia

disposição legal que assim a obrigasse.

3.3.3. Orçamento de base zero ou por estratégia

A doutrina diverge acerca da natureza jurídica deste orçamento. Enquanto

uma corrente entende se tratar de espécie de orçamento independente/autônoma,

outra posição defende ser apenas uma fase orçamentária, não se tratando, portanto,

de espécie de orçamento.

Adotaremos a primeira das correntes, explicando os elementos que a

compõe.

O orçamento de base zero ou por estratégia é espécie de orçamento no qual,

ao planejar o exercício financeiro não é possível que se utilize dos valores mínimos

apresentados pelo exercício financeiro anterior.

Aqui, o orçamento deveria ser feito mediante análise crítica na qual todos os

recursos e despesas deveriam ser justificados em sua totalidade, não havendo o que

se falar em replicação de utilizações anteriores.

Daí a nomenclatura de base zero, tendo em vista que a sua estruturação

deveria ser feita sem molde predeterminado, justificando-se cada elemento

estabelecido.

3.3.4. Orçamento-programa

De proêmio, adiantamos que se trata da espécie de orçamento adotada pelo

ordenamento jurídico brasileiro. Portanto, será a espécie por nós estudada com

maior profundidade neste resumo.

Muito se assemelha ao orçamento de desempenho ou por realização, mas com

ele não se deve confundir.

Aqui, não há o que se falar em desvinculação da Administração Pública para

com os elementos que o compõem, porquanto existe disposição legal que a obriga a

segui-lo. Nesse sentido, é a disposição da Lei nº 4.320/64:

Art. 2º da Lei nº 4.320/64. A Lei do Orçamento conterá a discriminação da

receita e despesa de forma a evidenciar a política econômica financeira e o

programa de trabalho do Govêrno, obedecidos os princípios de unidade,

universalidade e anualidade.

§1º. Integrarão a Lei do Orçamento:

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I – Sumário geral da receita por fontes e da despesa por funções do

Govêrno;

II – Quadro demonstrativo da Receita e Despesa segundo as Categorias

Econômicas, na forma do Anexo nº I;

III – Quadro discriminativo da receita por fontes e respectiva legislação;

IV – Quadro das dotações por órgãos do Govêrno e da Administração.

§2º. Acompanharão a Lei do Orçamento:

I – Quadros demonstrativos da receita e planos de aplicação dos fundos

especiais;

II – Quadros demonstrativos da despesa, na forma dos Anexos nºs 6 a 9;

III – Quadro demonstrativo do programa anual de trabalho do Govêrno, em

termos de realização de obras e de prestação de serviços.

Nota-se que não apenas dispõe acerca da receita e despesas e suas

finalidades, mas exige sejam discriminados e apresentados pormenorizadamente,

integrando, portanto, orçamento e planejamento, ou seja, focando tanto nos meios,

como nas metas/resultados a serem atingidos.

Para se atingir o orçamento esperado, é necessário que se estabeleça as

metas na denominada fase de planejamento, de modo que nele contenha

informações referentes à atividade prometida e pretendida pela gestão, estimando

os recursos de trabalho necessários, ou seja, revelando os projetos planejados, bem

como estimando os custos e recursos que serão despendidos para a sua realização,

devendo, ao longo do exercício financeiro, divulgar indicativos de desempenho,

avaliando as ações financeiras do Estado.

Dessa forma, objetiva-se a eficiência, eficácia e efetividade.

3.3.5. Orçamento participativo

Por fim, temos o denominado orçamento participativo. Tal espécie de

orçamento tem por foco a participação do povo nas decisões do Estado, meio

segundo o qual se validaria a atividade financeira do mesmo.

Para tanto, seriam realizadas audiências públicas com o intuito de discutir

questões orçamentárias para a organização da atividade do Governo.

Esta espécie de orçamento é indicada pela Lei de Responsabilidade Fiscal aos

municípios, por possuírem organização de menores proporções.

3.4. Materialização do Orçamento

O orçamento, conforme estipulado pela Constituição Federal, será

consubstanciado por três leis, quais sejam: (i) Plano Plurianual; (ii) Lei de Diretrizes

Orçamentárias; e (iii) Lei Orçamentária Anual.

Estabelece a Constituição Federal:

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Art. 165, caput, da Constituição Federal. Leis de iniciativa do Poder

Executivo estabelecerão:

I – o plano plurianual;

II – as diretrizes orçamentárias;

III – os orçamentos anuais.

Estudemos cada uma delas.

3.4.1. Plano Plurianual

3.4.1.1. Conceito

Dispõe a Constituição Federal:

Art. 165, §1º, da Constituição Federal. A lei que instituir o plano plurianual

estabelecerá, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da

administração pública federal para as despesas de capital e outras delas

decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada.

Destrinchemos o conceito apresentado pela Constituição, explicando cada um

dos elementos nele constantes. Ao final, apresentemos a nossa conceituação,

levando em conta cada um dos elementos analisados em apartado.

(i) Diretrizes – cabe ao Plano Plurianual estabelecer as normas estratégicas

segundo as quais a atividade financeira do Estado ocorrerá. Trata-se, portanto, de um

norte ao Estado, cabendo às demais instâncias a ele ligadas respeitar os elementos

nesta lei dispostos. Nesse sentido, confira-se o disposto no §4º do art.165, acima

referido:

Art. 165, §4º, da Constituição Federal. Os planos e programas nacionais,

regionais e setoriais previstos nesta Constituição serão elaborados em

consonância com o plano plurianual e apreciados pelo Congresso Nacional.

Importante ressaltar, inclusive, conforme indica a doutrina, que qualquer

investimento que venha a exceder o disposto no PPA não poderá ser iniciado até que

nela se faça constar através dos meios que veremos posteriormente.

(ii) Objetivo – como já mencionado anteriormente, mais precisamente no

primeiro Capítulo, quando da explicação do Estado Moderno e suas funções,

indicamos que as ações voltadas à atividade financeira do Estado são realizadas por

meio de atos políticos. Significa dizer que os rumos tomados pelo país nessas

questões serão determinados em virtude daqueles que se encontram no controle do

Governo.

Os objetivos, por assim dizer, relacionam-se justamente a esses rumos.

Tratam-se da indicação das políticas públicas as quais visa o Estado adotar, indicando

o comportamento financeiro do mesmo frente aos desafios, demandas e

oportunidades impostos para o desenvolvimento do País em prol do alcance das

metas estabelecidas.

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(iii) Metas – as metas, por sua vez, nada mais são do que os desdobramentos

dos objetivos. Enquanto os objetivos indicam os meios segundo os quais o Estado

caminhará, as metas determinam a qual lugar se almeja alcançar.

(iv) Despesas de capital – dá-se pela determinação dos gastos de receita com

o intuito de adquirir ativos financeiros. Ativos financeiros, por sua vez, podem ser

conceituados por qualquer alternativa disponível para ser negociada no mercado

financeiro e de capitais. Nela se incluem, portanto, além da moeda propriamente dita,

instalações, equipamentos, material permanente, títulos representativos do capital

de empresas ou entidades de qualquer natureza, bem como as amortizações de

dívida e concessões de empréstimos.

Importante ressaltar, remetendo-nos à espécie de orçamento adotada pelo

ordenamento jurídico brasileiro, qual seja, orçamento-programa, não somente ser

necessário sejam citadas as despesas, mas também seja discriminada e

pormenorizada, indicando o modo segundo o qual se executará.

(v) Programadas de duração continuada – tratam-se dos programas cuja

execução não apresentam termo predeterminado, podendo durar por período não

estabelecido.

• • • •

Levando em consideração todos os elementos analisados, temos como Plano

Plurianual a lei responsável por: (i) nortear as atividade financeiras da Administração

Pública, (ii) indicando as políticas públicas adotadas, bem como o posicionamento do

Estado diante das demandas, desafios e oportunidades impostos ao Estado que visão

o (iii) desenvolvimento do país em prol das metas almejadas. Para tanto, (iv)

especificará os programas cuja finalidade é adquirir ativos financeiros, seja os de

período determinado ou (v) indeterminado.

Resumidamente, o Plano Plurianual apresenta o querer-fazer do Estado.

3.4.1.2. Do encaminhamento e do prazo de vigência

Em que pese a disposição do art. 165, §9º, I, da Constituição Federal, não houve

a criação de lei complementar que dispusesse acerca desse assunto:

Art. 165, §9º, da Constituição Federal. Cabe à lei complementar:

I – dispor sobre o exercício financeiro, a vigência, os prazos, a elaboração e

a organização do plano plurianual, da lei de diretrizes orçamentárias e da lei

orçamentária anual.

Sendo assim, ainda se aplica o disposto no art. 35, §2º, I, do ADCT:

Art. 35, §2º, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Até a

entrada em vigor da lei complementar a que se refere o art. 165, §9º, I e II, serão

obedecidas as seguintes formas:

I – o projeto do plano plurianual, para vigência até o final do primeiro

exercício financeiro do mandato presidencial subsequente, será encaminhado até

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quatro meses antes do encerramento do primeiro exercício financeiro e devolvido

para sanção até o encerramento da sessão legislativa.

Portanto, o procedimento segundo o qual será enviado o projeto de lei que

dispõe acerca do plano plurianual será o seguinte:

Na esfera federal, conforme aduz o artigo acima transcrito, caberá ao

Presidente da República elaborar o Plano Plurianual no primeiro ano de mandato,

devendo ele enviar o projeto de lei ao Poder Legislativo até quatro meses

anteriormente ao encerramento do primeiro exercício financeiro. Significa dizer que

o projeto de lei deve ser remetido à apreciação do legislativo até o dia 31 de agosto.

Enviado, cabe ao Congresso Nacional votá-lo, sendo devolvido ao Presidente

da República, para sanção, promulgação e publicação, até o final do respectivo

exercício financeiro, ou seja, até o dia 22 de dezembro do mesmo ano.

Sancionado, promulgado e publicado, o Plano Plurianual entrará em vigor a

partir do próximo exercício financeiro, segundo ano de mandato, e terá vigência de

quatro anos.

Portanto, é certo que no primeiro ano do mandato presidencial não há o que

se falar em Plano Plurianual do atual governo, devendo ser seguidas as diretrizes

estabelecidas no Plano Plurianual do mandato anterior.

Nesse sentido, explica a doutrina:

Considerando ser de quatro anos o mandato do Presidente da República

(art. 82 da CF, com redação determinada pela Emenda Constitucional n. 16/97),

conclui-se, por conseguinte, ter o PPA a mesma duração, a contar do início do

segundo ano do mandato presidencial, encerrando-se com o fim do primeiro ano

do mandato da futura gestão, consoante dispõe o ADCT da Constituição de 1988.

É executado, pois, o PPA nos últimos três anos do mandato presidencial

em curso e no primeiro ano do mandato presidencial subsequente, havendo,

destarte, execução entrelaçada, com mandatos presidenciais diferentes,

circunstância esta devidamente justificada por Tupinambá Miguel Castro do

Nascimento: “As administrações dos governos que se sucedem, notadamente

quando de colaboração política partidária diversa, muitas vezes significam

compartimentos estanques, iniciando-se novos investimentos e se abandonando

os anteriores. Tal maneira de proceder, certamente, traz prejuízos à continuidade

da administração e à própria orientação estatal. Com o plano plurianual, pelo

menos no primeiro exercício financeiro do novo governo, há uma orientação de

continuidade de investimento, não havendo aquela ruptura comum em todo

início de um novo mandato presidencial. Além do mais, esta técnica impede que,

ao iniciar um mandato presidencial, não haja um plano previsto de política

governamental”.

3.4.2. Lei de Diretrizes Orçamentárias

3.4.2.1. Conceito

Estabelece o art. 165, §2º, da Constituição Federal, além do disposto nos arts.

99, §1º, 127, §3º, e 134, §§ 2º e 3º:

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Art. 165, §2º, da Constituição Federal. A lei de diretrizes orçamentárias

compreenderá as metas e prioridades da administração pública federal, incluindo

as despesas de capital para o exercício financeiro subsequente, orientará a

elaboração da lei orçamentária anual, disporá sobre as alterações na legislação

tributária e estabelecerá a política de aplicação das agências financeiras oficiais

de fomento.

• • • •

Art. 99, §1º, da Constituição Federal. Os tribunais elaborarão suas

propostas orçamentárias dentro dos limites estipulados conjuntamente com os

demais Poderes na lei de diretrizes orçamentárias.

[...]

Art. 127, §3º, da Constituição Federal. O Ministério Público elaborará sua

proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes

orçamentárias.

[...]

Art. 134, §2º, da Constituição Federal. Às Defensorias Públicas Estaduais são

asseguradas autonomia funcional e administrativa e a iniciativa de sua proposta

orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes e subordinação

ao disposto no art. 99, §2º.

Art. 134, §3º, da Constituição Federal. Aplica-se o disposto no §2º às

Defensorias Públicas da União e do Distrito Federal.

Igualmente fizemos quando da explicação da lei anterior, analisaremos cada

um dos elementos que compõem o seu conceito, nos moldes da Constituição,

fornecendo conceito que os abrange em sua totalidade ao final.

(i) Metas e prioridades – a Lei de Diretrizes Orçamentárias terá por fim analisar

os objetivos e metas do Plano Plurianual e dividi-los entre os anos em que viger para

que, ao final, tenham sido atingidos.

(ii) Alterações na legislação tributária – importante informar que não se utiliza

o termo “alterar” com o intuito de efetivamente incorporar normas que tem por fim

criar, majorar ou alterar a alíquota ou base de cálculo de determinado tributo. O

termo aqui empregado é no sentido de que caberá à Lei de Diretrizes Orçamentárias

considerar as alterações ocorridas na legislação tributária, nela fazendo constar tais

alterações. Afinal, somente é possível que o tributo seja aplicado diante da previsão

legal prévia na LDO.

Nesse sentido, inclusive, convém transcrevermos trecho da ADI nº 3.949/DF,

segundo a qual:

A expressão “legislação tributária”, contida no §2º do art. 165, da

Constituição Federal, tem sentido lato, abrangendo em seu conteúdo semântico

não só a lei em sentido formal, mas qualquer ato normativo autorizado pelo

princípio da legalidade a criar, majorar, alterar alíquota ou base de cálculo,

extinguir tributo ou em relação a ele fixar isenções, anistia ou remissão (STF, ADI-

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MC 3.949/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, Plano, j. em 14.08.2008, DJe-148, divulg.

06.08.2009, public. 07.08.2009).

(iii) Orientar a elaboração da Lei Orçamentária Anual – como dito

anteriormente, cabe à Lei de Diretrizes Orçamentária fazer com que o previsto no

PPA seja, até o final de sua vigência, cumprido. Para tanto, deve criar meios para que

a Lei de Orçamentária Anual assim possa fazer. Nesse sentido, a LDO divide-se da

mesma forma que a LOA, de modo que a execução dos elementos nela contidos seja

o mais facilitado o possível.

A Lei de Diretrizes Orçamentária dividir-se-á, portanto, em (iii.i) orçamento

fiscal; (iii.ii) investimentos e (iii.iii) seguridade social, nos termos do art. 165, §5º, da

Constituição Federal, referente à divisão da LOA (vide tópico 3.4.3, infra).

(iv) Estabelecer política de aplicação das agências financeiras oficiais de

fomento – trata-se da regulação de uma das atividades referentes ao critério objetivo

que identifica a Administração Pública, ou seja, trata-se de uma das ações do Estado,

o fomento. Entende-se por fomento o incentivo à atividade privada de utilidade

pública por meio de subsídios, favor fiscal ou financiamento através das instituições

financeiras.

• • • •

Nessa senda, podemos definir a Lei de Diretrizes Orçamentárias como a lei que

tem por finalidade (i) indicar os meios pelos quais se executarão os objetivos

estabelecidos no PPA, (ii) considerar e incorporar as alterações ocorridas na

legislação tributária, (iii) orientar a elaboração da Lei Orçamentária Anual na medida

em que tem como principal objetivo dispor acerca do que pode ser feito em relação

à atividade financeira do Estado, nos moldes do PPA, bem como (iv) regularizar a

realização de fomento à atividade privada de utilidade pública.

Resumidamente, podemos estabelecer que a LDO é o poder-fazer da atividade

financeira do Estado.

3.4.2.2. Do encaminhamento

Segue-se o estabelecido no art. 35, §2º, II, do ADCT:

Art. 35, §2º, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Até a

entrada em vigor da lei complementar a que e refere o art. 165, §9º, I e II, serão

obedecidas as seguintes normas:

[...]

II – o projeto de lei de diretrizes orçamentárias será encaminhado até oito

meses e meio antes do encerramento do exercício financeiro e devolvido para

sanção até o encerramento do primeiro período da sessão legislativa.

Significa dizer, portanto, que, cabendo ao Chefe do Executivo elaborá-lo, sua

remessa ao Poder Legislativo deverá ocorrer até oito meses e meio antes do

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encerramento do exercício financeiro, ou seja, deverá ser remetido para votação até

o dia 15 de abril.

Remetido, caberá ao Poder Legislativo, como dito, votá-lo, devolvendo-o ao

Poder Executivo para sanção, promulgação e publicação até o primeiro período da

sessão legislativa, isto é, até o dia 17 de julho.

Não havendo a devolução até a referida data, observar-se-á o disposto no art.

57, §2º, da Constituição Federal, segundo o qual:

Art. 57, §2º, da Constituição Federal. A sessão legislativa não será

interrompida sem a aprovação do projeto de lei de diretrizes orçamentárias.

Sancionado, promulgado e publicado, somente terá efeitos no próximo

exercício financeiro, tendo vigência anual.

3.4.3. Lei Orçamentária Anual

3.4.3.1. Conceito

É a disposição do art. 165, § 5º, da Constituição Federal:

Art. 165, §5º, da Constituição Federal. A lei orçamentária anual

compreenderá:

I – o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos

e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e

mantidas pelo Poder Púbico;

II – o orçamento de investimento das empresas em que a União, direta ou

indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto;

III – o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e

órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos

e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público.

Nota-se, portanto, que são três os orçamentos que deverão constar da Lei

Orçamentária Anual, quais sejam: (i) Orçamento Fiscal; (ii) Orçamento de Investimento;

(iii) Orçamento da Seguridade Social. Vejamos cada um deles:

(i) Orçamento Fiscal – dispõe acerca dos recursos gerais da Administração

Pública, seja direta ou indireta. Comporta, portanto, as receitas e despesas dos

Poderes da União, órgãos, membros e entidades.

(ii) Orçamento de Investimento – refere-se aos investimentos do Estado, isto

é, aos recursos despendidos em prol das empresas cuja maioria do capital social com

direito a voto pertença à Administração Pública.

Este e o elemento anterior observarão o disposto no art. 165, §7º, da

Constituição Federal:

Art. 165, §7º, da Constituição Federal. Os orçamentos previstos no §5º, I e II,

deste artigo, compatibilizados com o plano plurianual, terão entre suas funções a

de reduzir desigualdades inter-regionais, segundo critério populacional.

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(iii) Orçamento da Seguridade Social – diz respeito ao dispêndio de recursos

com as entidades e órgãos vinculados à seguridade social, seja da Administração

Pública direta ou indireta, seus fundos e fundações.

• • • •

Esboçados os elementos acima referidos, podemos afirmar que a Lei

Orçamentária Anual expõe, de fato, o orçamento pelo qual a atividade financeira do

Estado se regerá, porquanto indica precisamente aquilo que a Administração pública

efetivamente pode fazer (poder-fazer).

Nesse sentido, afirma Carlos Moraes Ramos Filho:

A Lei Orçamentária Anual (LOA) conterá a discriminação da receita e da

despesa, de forma a evidenciar a política econômico-financeira e o programa de

trabalho do Governo (art. 2º, da Lei n. 4.320/64). É com base nas autorizações da

LOA que as despesas do exercício são executadas.

É a disposição do artigo referenciado:

Art. 2º, caput, da Lei 4.320/64. A Lei do Orçamento conterá a discriminação

da receita e despesa de forma a evidenciar a política econômica financeira e o

programa de trabalho do Govêrno, obedecidos os princípios da unidade,

universalidade e anualidade.

Excedendo o dispêndio de recursos com determinado elemento ou diante da

necessidade de novos gastos, é necessário que seja apresentado ao Congresso

Nacional projeto de lei que requeira a concessão de crédito adicional, nos termos do

art. 165, §8º, da Constituição Federal:

Art. 165, §8º, da Constituição Federal. A lei orçamentária anual não conterá

dispositivo estranho à previsão da receita e à fixação da despesa, não incluindo na

proibição a autorização para abertura de créditos suplementares e contratação

de operações de crédito, ainda que por antecipação de receita, nos termos da lei.

3.4.3.2. Do encaminhamento

Aplicar-se-á o disposto no art. 35, §2º, III, do ADCT:

Art. 35, §2º, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Até a

entrada em vigor da lei complementar a que se refere o art. 165, §9º, I e II, serão

obedecidas as seguintes normas:

[...]

III – o projeto de lei orçamentária da União será encaminhado até quatro

meses antes do encerramento do exercício financeiro e devolvido para sanção até

o encerramento da sessão legislativa.

Portanto, é certo que, sendo o Chefe do Poder Executivo o responsável por

sua elaboração, deverá haver a sua remessa ao Poder Legislativo até quatro meses

antes do encerramento do exercício financeiro, ou seja, deverá ser remetido até 31

de agosto.

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Recebido, cabe ao Poder Legislativo votá-lo, devolvendo para sanção,

promulgação e publicação até o encerramento da sessão legislativa, isto é, até 22 de

dezembro.

Sancionada, promulgada e publicada, gerará efeitos a partir do próximo

exercício financeiro, vigendo pelo período de um ano.

3.5. Natureza Jurídica do Orçamento

Pergunta-se: dispondo as Leis que compreende a atividade financeira do Estado

elementos concretos, e não abstratos, seriam elas consideradas leis em sentido

material?

Não. A teoria que prevalece na doutrina é no sentido de que se tratam de

conjunto de leis ordinárias e temporárias em sentido formal, haja vista observarem

critérios os critérios procedimentais legislativos necessários para tanto.

Segundo Ricardo Lobo Torres, trata-se de “lei formal, que apenas prevê as

receitas públicas e autoriza os gastos, sem criar direitos subjetivos e sem modificar leis

tributárias e financeiras.”

3.6. Orçamento autorizativo e impositivo

Ficou claro que ao elaborar a LOA, caberá ao Chefe do Poder Executivo prever

as receitas e despesas que terá, porquanto a LOA configura o poder-fazer da atividade

financeira do Estado; contudo, somente entrará em vigor no próximo exercício

financeiro.

Por esse motivo, entende-se a LOA como indicadora da disponibilidade

orçamentária, ou seja, é responsável por prever a disponibilidade de recursos e não

os indicar como de fato o são (disponibilidade financeira), haja vista que sua

elaboração se dará em período anterior à sua vigência e, portanto, aplicação.

Não apenas isso, mas também se levará em consideração se haverá receita

para a execução do que nela conste e se tal ação é compatível com as necessidades

coletivas da população.

Nesse raciocínio, não há o que se falar em obrigatoriedade de se seguir à risca

os elementos nela constantes, tendo em vista que se tratam de meras especulações.

Trata-se, em verdade, de autorização para as atividades financeiras do Estado, e não

mandamentos.

Ainda assim, haverá uma ocasião em que suas disposições serão impositivas,

qual seja: diante de emenda parlamentar individual ou de bancada ou de relator de

orçamento.

Ocorre que recentemente foi vetada emenda feita por relator de orçamento,

fazendo-se presumir que esta disposição, contudo, não mais é considerada.

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3.7. Princípios Orçamentários

Partamos, agora, para o estudo dos princípios orçamentários, sendo eles: (i)

Princípio da Legalidade; (ii) Princípio da Exclusividade; (iii) Princípio da Anualidade ou

Periodicidade; (iv) Princípio da Universalidade; (v) Princípio do Orçamento Bruto; (vi)

Princípio da Não Afetação da Receita de Impostos.

Vejamos cada um deles:

3.7.1. Princípio da Legalidade

O Princípio da Legalidade ou da Reserva Legal afirma que somente serão

considerados orçamentos aqueles que estiverem previstos em lei formal. Significa

dizer que somente serão válidos tais elementos, uma vez que dispostos em

instrumento cuja elaboração observou o procedimento legislativos previsto em lei.

Nesse sentido, dispõe o art. 167 da Constituição Federal:

Art. 167, caput, da Constituição Federal. São vedados:

I – o início de programas ou projetos não incluídos na lei orçamentária

anual;

II – a realização de despesas ou a assunção de obrigações diretas que

excedam os créditos orçamentários ou adicionais;

III – a realização de operações de créditos que excedam o montante das

despesas de capital, ressalvadas as autorizadas mediante créditos suplementares

ou especiais com finalidade precisa, aprovados pelo Poder Legislativo por maioria

absoluta;

IV – a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa,

ressalvadas a repartição do produto da arrecadação dos impostos a que se

referem os arts. 158 a 159, a destinação de recursos para as ações e serviços

públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento do ensino e para

realização de atividades da administração tributária, como determinado,

respectivamente, pelos arts. 198, §2º, 212 e 37, XXII, e a prestação de garantias às

operações de crédito por antecipação de receita, previstas no art. 165, §8º, bem

como o disposto no §4º deste artigo;

V – a abertura de crédito suplementar ou especial sem prévia autorização

legislativa e sem indicação dos recursos correspondentes;

VI – a transposição, o remanejamento ou a transferência de recursos de

uma categoria de programação para outra ou de um órgão para outro, sem prévia

autorização legislativa;

VII – a concessão ou utilização de créditos ilimitados;

VIII – a utilização, sem autorização legislativa específica, de recurso dos

orçamentos fiscal e da seguridade social para suprir necessidade ou cobrir déficit

de empresas, fundações e fundos, inclusive dos mencionados no art. 165, §5º;

IX – a instituição de fundos de qualquer natureza, sem prévia autorização

legislativa;

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X – a transferência voluntária de recursos e a concessão de empréstimos,

inclusive por antecipação de receita, pelos Governos Federal e Estaduais e suas

instituições financeiras, para pagamento de despesas com pessoal ativo, inativo e

pensionistas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;

XI – a utilização dos recursos provenientes das contribuições sociais de que

trata o art. 195, I, a, e II, para a realização de despesas distintas do pagamento de

benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201;

XII – na forma estabelecida na lei complementar de que trata o §22 do art.

40, a utilização de recursos de regime próprio de previdência social, incluídos os

valores integrantes dos fundos previstos no art. 249, para a realização de

despesas distintas do pagamento dos benefícios previdenciários do respectivo

fundo vinculado àquele regime e das despesas necessárias à sua organização e ao

seu funcionamento;

XIII – a transferência voluntária de recursos, a concessão de avais, as

garantias e as subvenções pela União e a concessão de empréstimos e de

financiamentos por instituições financeiras federais aos Estados, ao Distrito

Federal e aos Municípios na hipótese de descumprimento das regras gerais de

organização e de funcionamento de regime próprio de previdência social.

Contudo, são duas as exceções ao referido princípio. Uma delas, inclusive está

disposta no próprio art. 167, acima transcrito. Vejamos:

Art. 167, §3º, da Constituição Federal. A abertura de crédito extraordinário

somente será admitida para atender a despesas imprevisíveis e urgentes, como

as decorrentes de guerra, comoção interna ou calamidade pública, observado o

disposto no art. 621.

Trata-se do denominado crédito adicional extraordinário (espécie de crédito

adicional), conforme abaixo explicado:

1 Art. 62, caput, da Constituição Federal. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las ao Congresso Nacional.

CRÉDITO (DESPESA) ADICIONAL – tratam-se das autorizações de despesas não

computadas ou insuficientemente dotadas na Lei de Orçamento, sendo três as

espécies:

(i) Créditos adicionais suplementares – são os créditos destinados a reforço de

dotação orçamentária, ou seja, já há previsão legal dos créditos, porém

insuficientes;

(ii) Créditos adicionais especiais – são os créditos destinados a despesas para as

quais não haja dotação orçamentária específica. Significa dizer que se trata de

crédito necessário, mas não previsto na Lei Orçamentária;

(iii) Créditos adicionais extraordinários – são os créditos destinados a despesas

urgentes e imprevisíveis, reconhecida situação de (i) guerra; (ii) comoção interna;

ou (iii) calamidade pública.

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3.7.2. Princípio da Exclusividade

Disposto no art. 165, §8º, primeira parte, afirma que não é possível que conste

no orçamento da atividade financeira do Estado elemento diverso da fixação de

despesa e previsão de receita. Não é possível, portanto, o que a doutrina denomina

de caudas orçamentárias. Nesse sentido, é a norma:

Art. 165, §8º, da Constituição Federal. A lei orçamentária anual não conterá

dispositivo estranho à previsão da receita e à fixação da despesa, não se incluindo

na proibição a autorização para abertura de créditos suplementares e contratação

de operações de crédito, ainda que por antecipação de receita, nos termos da lei.

Como foi possível visualizar, o próprio dispositivo nos apresenta as duas

exceções ao referido princípio, sendo elas:

(i) Créditos suplementares – como visto na tabela na página anterior disposta,

entende-se por crédito adicional suplementar os créditos (despesas) destinados a

reforço de dotação orçamentária, ou seja, já há previsão legal dos créditos, porém

insuficientes. Em que pese ser possível sejam previstos por Emenda à Constituição,

podem, também, ter previsão na própria Lei Orçamentária, ocasião em que serão

exceção ao Princípio da Exclusividade.

(ii) Contratação de operações de crédito – define o art. 29, III e §1º, da Lei de

Responsabilidade Fiscal:

Art. 29 da Lei de Responsabilidade Fiscal. Para os efeitos desta Lei

Complementar, são adotadas as seguintes definições:

[...]

III – operações de crédito: compromisso financeiro assumido em razão de

mútuo, abertura de crédito, emissão e aceite de título, aquisição financiada de

bens, recebimento antecipado de valores provenientes da venda a termo de bens

e serviços, arrendamento mercantil e outras operações assemelhadas, inclusive

com o uso de derivativos financeiros.

[...]

§1º. Equipara-se a operação de crédito a assunção, o reconhecimento ou a

confissão de dívida pelo ente da Federação, sem prejuízo do cumprimento das

exigências dos arts. 15 e 16.

Não se trata, como visto, de receita ou despesa, mas de possibilidade de

obtenção de recursos externos por meio do endividamento. Podemos citar como

exemplo a antecipação de receita prevista para o próximo ano, tendo por caução esta

mesma receita.

3.7.3. Princípio da Anualidade ou Periodicidade

Como dito anteriormente, as Leis Orçamentárias têm caráter transitório, ou

seja, possuem vigência temporária, tendo termo determinado. Nos moldes do art. 34

da Lei 4.320/64: “O exercício financeiro coincidirá com o ano civil.” Desta forma, fica

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estabelecido que a Lei Orçamentária terá vigência anual que coincidirá com o ano

civil, ou seja, vigerá do dia 1º de janeiro a 31 de dezembro.

Esse entendimento é assim fixado em decorrência da limitação humana, haja

vista se tratar de dispositivo legal que prevê as receitas e despesas. Seguindo tal

raciocínio e adotando as palavras de Walter Paldes Valério, as previsões “serão tanto

mais falhas e irreais quanto maior for o período de sua vigência, sabido como é que a

atividade e ordem econômica, seja privada, seja pública, é essencialmente mutável.”

Além disso, a adoção de período determinado exige do Poder Legislativo seja

realizado controle frequente da atividade financeira do Estado.

Há, contudo, uma exceção, conforme estabelece o §2º do art. 167 da

Constituição Federal:

Art. 167, §2º, da Constituição Federal. Os créditos especiais e

extraordinários terão vigência no exercício financeiro em que forem autorizados,

salvo se o ato de autorização for promulgado nos últimos quatro meses daquele

exercício, caso em que, reabertos nos limites de seus saldos, serão incorporados

ao orçamento do exercício financeiro subsequente.

Portanto, são exceções os (i) créditos especiais e (ii) extraordinários, uma vez

que o ato que os autoriza for promulgado nos últimos quatro meses daquele

exercício, ocasião na qual serão incorporados ao exercício financeiro posterior se

houver saldo.

• • • •

Por fim, importante que o diferenciemos do Princípio da anualidade no Direito

Tributário.

Este princípio do Direito Tributário não mais existe, tendo sido substituído

pelo Princípio da Anterioridade, segundo o qual somente será arrecadado do

contribuinte tributo previsto anteriormente ao início do respectivo exercício

financeiro.

3.7.4. Princípio da Universalidade e do Orçamento Bruto

Disposto nos arts. 165, §5º, da Constituição Federal e 3º, 4º e 6º da Lei 4.320/64,

afirma que todas as receites e todas as despesas devem ser incluídas na Lei

Orçamentária de forma bruta, sem que se faça qualquer dedução:

Art. 165, §5º, da Constituição Federal. A lei orçamentária anual

compreenderá:

I – o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos

e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e

mantidas pelo Poder Púbico;

II – o orçamento de investimento das empresas em que a União, direta ou

indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto;

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III – o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e

órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos

e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público.

• • • •

Art. 3º da Lei nº 4.320/64. A Lei de Orçamentos compreenderá tôdas as

receitas, inclusive as de operações de crédito autorizadas em lei.

Parágrafo único. Não se consideram para os fins deste artigo as operações

de credito por antecipação da receita, as emissões de papel-moeda e outras

entradas compensatórias, no ativo e passivo financeiros.

Art. 4º da Lei nº 4.320/64. A Lei de Orçamento compreenderá tôdas as

despesas próprias dos órgãos do Govêrno e da administração centralizada, ou

que, por intermédio deles se devam realizar, observando o disposto no art. 2º.

[...]

Art. 6º da Lei nº 4.320/64. Tôdas as receitas e despesas constarão da Lei de

Orçamento pelos seus totais, vedadas quaisquer deduções.

§1º. As cotas de receitas que uma entidade pública deva transferir a outra

incluir-se-ão, como despesa, no orçamento da entidade obrigada a transferência

e, como receita, no orçamento da que se deva receber.

§2º. Para cumprimento do disposto no parágrafo anterior, o calculo das

cotas terá por base os dados apurados no balanço do exercício anterior aquele

em que se elaborar a proposta orçamentária do governo obrigado a transferência.

Há, contudo, quatro exceções, tendo sido três delas já reveladas pelos artigos

acima transcritos. São elas: (i) operação de crédito por antecipação de receita; (ii)

emissões de papel-moeda; (iii) entradas compensatórias; (iv) cobrança de tributos.

Vejamos cada uma delas:

(i) Operação de crédito por antecipação de receita – conforme já explicamos

quando das exceções ao Princípio da Exclusividade, trata-se da possibilidade de

obtenção de recursos externos por meio do endividamento no qual se adquire receita

que somente seria adquirida em momento posterior dando como caução a garantia

do recebimento da própria receita;

(ii) Emissões de papel-moeda – tendo em vista que a sua determinação é

imprevisível, dependendo do aumento ou não da demanda em virtude da

movimentação do mercado financeiro, não se exige esteja disposta na Lei

Orçamentária;

(iii) Entradas compensatórias – entende-se como entradas compensatórias os

valores que o ente público recebe como fiel depositário, seja no passivo ou ativo

financeiro. Significa dizer que são receitas que serão devolvidas, haja vista não

pertencerem ao Estado. Tendo em vista sua natureza imprevisível, não necessitam

de previsão na Lei Orçamentária. Podemos citar como exemplo o caução depositado

em virtude de abertura de licitação.

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(iv) Cobrança de tributos – não se exige que os tributos estejam previstos na

Lei Orçamentária, haja vista que a existência de lei ordinária que o autorize

anteriormente ao início do exercício financeiro é suficiente, conforme determina a

Súmula nº 66 do STF:

Súmula nº 66 do Supremo Tribunal Federal. É legítima a cobrança do

tributo que houver sido aumentado após o orçamento, mas antes do início do

respectivo exercício financeiro.

3.7.5. Princípio da Não Afetação da Receita de Impostos

Tal princípio define que determinados recursos públicos não podem ser

vinculados a determinados gastos, ou seja, devem ser arrecadados sem destinação

especial, mas com o intuito de financiarem todas as despesas públicas.

É o caso da carga tributária (compreendida por taxas, contribuições de

melhoria, contribuição social, empréstimos compulsórios e impostos), haja vista que

não devem possuir vínculo a nenhum serviço/fundo/objeto específico. Nesse sentido

é o art. 167, IV, da Constituição Federal:

Art. 167 da Constituição Federal. São vedados:

[...]

IV – a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa,

ressalvadas a repartição do produto da arrecadação dos impostos a que se

referem os arts. 158 e 159, a destinação de recursos para as ações e serviços

públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento do ensino e para

realização de atividades da administração tributária, como determinado,

respectivamente, pelos arts. 198, §2º, 212 e 37, XXII, e a prestação de garantias às

operações de crédito por antecipação de receita, previstas no art. 165, §8º, bem

como o disposto no §4º deste artigo.

Há, conforme acima exposto, cinco exceções, conforme o mnemônico a seguir

transcrito:

Repartição do produto;

Saúde;

Educação;

Garantia às operações de crédito por antecipação de receita;

Atividade da Administração tributária;

Garantia à União ou pagamento de débitos para com ela.

Vejamos cada uma das exceções:

(i) Repartição do produto - os arts. 158 e 159 estabelecem que deverão os

Municípios e a União destinar parte de seus impostos a determinadas despesas;

(ii) Saúde e educação – dispõem os arts. 198, §2º, e 212 da Constituição Federal:

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Art. 198, §2º, da Constituição Federal. A União, os Estados, o Distrito

Federal e os Municípios aplicarão, anualmente, em ações e serviços públicos de

saúde recursos mínimos derivados da aplicação de percentuais calculados sobre:

I – no caso da União, a receita corrente líquida do respectivo exercício

financeiro, não podendo ser inferior a 15% (quinze por cento);

II – no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produto da arrecadação

dos impostos a que se refere o art. 155 e dos recursos de que tratam os arts. 157 a

159, inciso I, alínea a, e inciso II, deduzidas as parcelas que forem transferidas aos

respectivos Municípios;

III – no caso dos Municípios e do Distrito Federal, o produto da arrecadação

dos impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam os arts. 158

e 159, inciso I, alínea b e §3º.

[...]

Art. 212 da Constituição Federal. A União aplicará, anualmente, nunca

menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco

por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a

proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino.

§1º. A parcela da arrecadação de impostos transferida pela União aos

Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, ou pelos Estados aos respectivos

Municípios, não é considerada, para efeito do cálculo previsto neste artigo,

receita do governo que a transferir.

§2º. Para efeito do cumprimento do disposto no “caput” deste artigo,

serão considerados os sistemas de ensino federal, estadual e municipal e os

recursos aplicados na forma do art. 213;

§3º. A distribuição dos recursos públicos assegurará prioridade ao

atendimento das necessidades do ensino obrigatório, no que se refere a

universalização, garantia de padrão de qualidade e equidade, nos termos do plano

nacional de educação.

§4º. Os programas suplementares de alimentação e assistência à saúde

previstos no art. 208, VII, serão financiados com recursos provenientes de

contribuições sociais e outros recursos orçamentários.

§5º. A educação básica terá como fonte adicional de financiamento a

contribuição social do salário-educação, recolhida pelas empresas na forma da lei.

§6º. As cotas estaduais e municipais da arrecadação da contribuição social

do salário-educação serão distribuídas proporcionalmente ao número de alunos

matriculados na educação básica nas respectivas redes públicas de ensino.

Vê-se, portanto, que a Constituição reserva parcela do produto da

arrecadação de impostos à saúde e à educação.

(iii) Garantias às operações de crédito por antecipação de receita – como já

vimos, está previsto no art. 165, §8º, e dá-se pela possibilidade de obtenção de

recursos externos por meio do endividamento no qual se adquire receita que

somente seria adquirida em momento posterior dando como caução a garantia do

recebimento da própria receita.

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(iv) Atividade da Administração Tributária – afirma o art. 37, XXII, da

Constituição Federal:

Art. 37 da Constituição Federal. A administração púbica direta e indireta de

qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios

obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade

e eficiência e, também, ao seguinte:

[...]

XXII – as administrações tributárias da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios, atividades essenciais ao funcionamento do Estado,

exercidas por servidores de carreiras específicas, terão recursos prioritários para

a realização de suas atividades e atuarão de forma integrada, inclusive com o

compartilhamento de cadastros e de informações fiscais, na forma da lei ou

convênio.

Trata-se de destinação específica de recursos à atividade administrativa

tributária, responsável pela arrecadação de tributos.

(v) Garantia à União ou pagamento de débito para com eles – trata-se de

exceção que garante a vinculação de parte dos recursos dos entes políticos ao

pagamento de débitos de que é credora a União. Nesse sentido é o §4º do art. 167:

Art. 167, §4º, da Constituição Federal. É permitida a vinculação de

receitas próprias geradas pelos impostos a que se referem os arts. 155 e

156, e dos recursos de que tratam os arts. 157, 158 e 159, I, a e b, e II, para a

prestação de garantia ou contragarantia à União e para pagamento de

débitos para com esta.