fichamento: benjamin, walter - pequena história da fotografia

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Autor: BENJAMIN, Walter Obra: Pequena História da Fotografia, IN: Obras Selecionadas p.91 Já se pressentia a chegada da fotografia Objetivo: fixar as imagens da câmera escura p.92 Disseminação da prática da fotografia, artes das feiras do que indústria em um primeiro momento. Críticas a invenç.ão – fixar efêmeras imagens de espelho não é somente uma impossibilidade, como a ciência alemã provou irrefutavelmente, mas um projeto sacrilégio. O homem foi feito à semelhançaa de Deus, e a imagem de Deus não pode ser fixada por nenhum mecanismo humano. Apenas os artitas poderiam, movidos por uma inspiração celeste, atrever-se a reproduzir esses traços. Conceito filisteu de arte, alheio a qualquer consideraçãoo técnica e que pressente seu própio fim no advento provocativo da nova técnica. Conceito fetichista de arte que fundamentou debates de teóricos da fotografia surante quase cem anos. Tentaram justificar a fotografia diante do mesmo tribunal que ela havia derrubado. P. 93 Arago - “Quando os inventores de um novo instrumento o aplicam à observaçãoo da natureza, o que eles esperavam da descoberta é sempre uma pequena fração das descobertas sucessivas, em cuja a origem está o instrumento.” p.94 “a técnica mais exata pode dar às suas criações um valor mágico que um quadro nunca mais terá para nós. Apesar de toda a perícia do fotógrafo e de tudo que existe planejado em seu comportamento, o observador sente a necessidade irresistível de procurar nessa imagem a

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Fichamento do texto Pequena História da Fotografia de Walter Benjamin

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Page 1: FICHAMENTO: BENJAMIN, Walter - Pequena História da Fotografia

Autor: BENJAMIN, WalterObra: Pequena História da Fotografia, IN: Obras Selecionadas

p.91Já se pressentia a chegada da fotografiaObjetivo: fixar as imagens da câmera escura

p.92Disseminação da prática da fotografia, artes das feiras do que indústria em um primeiro momento.

Críticas a invenç.ão – fixar efêmeras imagens de espelho não é somente uma impossibilidade, como a ciência alemã provou irrefutavelmente, mas um projeto sacrilégio. O homem foi feito à semelhançaa de Deus, e a imagem de Deus não pode ser fixada por nenhum mecanismo humano.

Apenas os artitas poderiam, movidos por uma inspiração celeste, atrever-se a reproduzir esses traços. Conceito filisteu de arte, alheio a qualquer consideraçãoo técnica e que pressente seu própio fim no advento provocativo da nova técnica.

Conceito fetichista de arte que fundamentou debates de teóricos da fotografia surante quase cem anos.

Tentaram justificar a fotografia diante do mesmo tribunal que ela havia derrubado.

P. 93Arago - “Quando os inventores de um novo instrumento o aplicam à observaçãoo da natureza, o que eles esperavam da descoberta é sempre uma pequena fração das descobertas sucessivas, em cuja a origem está o instrumento.”

p.94“a técnica mais exata pode dar às suas criações um valor mágico que um quadro nunca mais terá para nós. Apesar de toda a perícia do fotógrafo e de tudo que existe planejado em seu comportamento, o observador sente a necessidade irresistível de procurar nessa imagem a pequena centelha do acaso, do aqui e agora, com o qual a realidade chamuscou a imagem...”

A natureza que fala à câmera não é a mesma que fala ao olhar; é outra, especialmente porque substitui a um espaço que ele percorre inconscientemente.

A fotografia nos mostra essa atitude, através dos seus recursos auxiliares. Só a fotografia revela esse inconsciente ótico, como só a psicanálise revela o inconsciente pulsional.

Page 2: FICHAMENTO: BENJAMIN, Walter - Pequena História da Fotografia

Características estruturais, tecidos celulares, com os quais operam a técnica e a medicina, tudo isso tem mais afinidades originais com a câmara que a paisagem impregnada de estados afetivos, ou o retrato que exprime a alma do seu modelo.

p.95

O fenômeno da fotografia parecia uma grande e misteriosa experiência. O não olhar direto ao fotografo. “A nitidez dessas fisionomias assustava, e tinha a impressão de que os pequenos rostos humanos que apareciam na imagem eram capazes de ver-nos, tão surpreendente era para todos a nitidez insólita dos primeiros daguerreótipos.”

p.96

Orlik – a síntese da expressão, obtida à força pela longa imobilidade do modelo, é a principal razão pela qual essas imagens, semelhante em sua simplicidade a quadros evocam no observador uma impressão mais persistente e mais durável que as produzidas pelas fotografias modernas.

Tudo nessas primeiras imagens era organizado para durar

p.97

A verdadeira vítima da fotografia não foi a pintura de paisagem, e sim o retrato em miniatura.

1840 – maioria dos pintores de miniaturas se transformaram em fotógrafos.

Os homens de negócios se instalaram profissionalmente como fotógrafos, e quando, mais tarde, o hábito de retoque, graças ao qual o pintor se vingou da fotografia, acabou por generalizar-se, o gosto experimentou uma brusca decadência.

p.98

O retrato dos anos 60 contrasta com as primeiras fotografias, em que os homens não lançavam no mundo um olhar desolado e perdido. Havia uma aura entorno deles, um meio atravessado por seu olhar lhes dava a sensaçãoo de plenitude e segurançaa.

p.99Continuum absoluto da luz mais clara à sombra mais escura: equivalente técnico que era gerado devido a longa exposição. Com o tempo, ele desapareceu, e para supri-lo foi desenvolvido para criar a ilusão de áurea.

p.100Evento decisivo na fotografia: relação entre o fotografo e sua técnica.

Page 3: FICHAMENTO: BENJAMIN, Walter - Pequena História da Fotografia

“As fotos parisienses de Atget são as percussoras da fotografia surrealista, a vanguarda do único destacamento verdadeiramente expressivo que o surrealismo conseguiu pôr em marcha. Foi o primeiro a desinfetar a atmosfera sufocante difundida pela fotografia convencional, especializada em retratos, durante a época da decadência.”

p.101“Ele saneia essa atmosfera, purifica-a: começa a libertar o objeto de sua aura. [...] Ele buscava as coisas perdidas e transviadas, e, por isso, tais imagens se voltam contra a ressonância exótica, majestosa, romântica, dos nomes de cidade; elas sugam a aura da realidade como uma bomba suga água de um navio que afunda.”

O que é aura: É uma figura singular, composta de elementos espaciais e temporais: a aparição única de uma coisa distante, por mais próxima que ela esteja.

Retirar o objeto de seu invólucro, destruir sua aura, é a característica de uma forma de percepçãoo cija capacidade de captar o “semelhante” no mundo é tão aguda que, graças à reprodução, ela consegue captá-lo até no fenômeno único.

p.102

Nas imagens de Atget a cidade foi esvaziada, como uma casa que ainda não encontrou moradores. Nessas obras, a fotografia surrealista prepara uma saudável alienaçãoo do homem com relação a seu mundo ambiente.

É óbvio que esse novo olhar está ausente precisamente naquele gênero que via de regra era mais cultivado pelos fotógrafos: o retrato representativo e bem remunerado.

Pela primeira vez em décadas o cinema russo ofereceu uma oportunidade de aparecer diante da câmera a pessoas que não tinham nenhum interesse em fazer-se fotografar.

p.103

August Sander

p.104Debate entrono da estética da “fotografia como arte” ou invés de “arte como fotografia”.

Somos forçados a reconhecer que a concepção das grandes obras se modificou simultaneamente com o aperfeiçoamento das técnicas de reprodução. Não podemos vê-las como criações indivisuais ; elas se transformaram em criações coletivas tão possantes que precisamos diminuí-las para que nos apoderemos delas.