fase 1 do processo executivo

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1 ALGUMAS NOTAS À FASE 1DO PROCESSO EXECUTIVO A - PENHORA IMEDIATA / DESPACHO LIMINAR / CITAÇÃO PRÉVIA Com o Dec. Lei n? 226/2008, de 11 de Novembro, o legislador deu mais um passo no sentido da desjudicialização da acção executiva, reforçando os poderes do agente de execução, e assumindo como um dos seus objectivos tomar as execuções mais simples e eliminar formalidades desnecessárias, como expressamente consta do respectivo preâmbulo. Contudo, apesar da simplificação da acção executiva surgir no topo das intenções propostas no preâmbulo do citado diploma, a reformulação e a redacção adoptada quanto a algumas das suas normas, não foi especialmente feliz, tendo vindo a levantar algumas divergências quanto à sua interpretação. Assim, tendo sido eliminada a regra geral consagrada no revogado art. 812°, n''l , do Código de Processo Civil (ao qual pertencerão todas as normas citadas sem menção de origem), segundo a qual, na falta de disposição legal em contrário, o processo era conc1uso ao juiz para despacho liminar, as normas que têm gerado maiores divergências interpretativas são precisamente as constantes dos artigos 812°-C, 812°-D, 812°-E, e . . 812°-F, de cuja conjugação se retirará quais os casos em que haverá lugar à penhora imediata, à remessa para despacho liminar e à citação prévia. Com efeito, como refere a Prof. DI"", Mariana França Gouveia, todas as hipóteses previstas nos arts. 812°-C a 812°-F, respeitam a excepções - estão previstas para casos especificamente determinados na sua letra -, esquecendo-se o legislador de formular uma regra geral! . . Analisemos assim, algumas questões interpretativas, que têm vindo a ser suscitadas na aplicação das citadas normas. 1 Cfr., "A Novíssima Acção Executiva", in http://tribunaldefamiliaemenoresdobarreiro.blogspoLcom.

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Page 1: Fase 1 Do Processo Executivo

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ALGUMAS NOTAS À FASE 1DO PROCESSO EXECUTIVO

A - PENHORA IMEDIATA / DESPACHO LIMINAR / CITAÇÃO

PRÉVIA

Com o Dec. Lei n? 226/2008, de 11 de Novembro, o legislador deu mais um

passo no sentido da desjudicialização da acção executiva, reforçando os poderes do

agente de execução, e assumindo como um dos seus objectivos tomar as execuções

mais simples e eliminar formalidades desnecessárias, como expressamente consta do

respectivo preâmbulo.

Contudo, apesar da simplificação da acção executiva surgir no topo das

intenções propostas no preâmbulo do citado diploma, a reformulação e a redacção

adoptada quanto a algumas das suas normas, não foi especialmente feliz, tendo vindo a

levantar algumas divergências quanto à sua interpretação.

Assim, tendo sido eliminada a regra geral consagrada no revogado art. 812°, n''l ,

do Código de Processo Civil (ao qual pertencerão todas as normas citadas sem menção

de origem), segundo a qual, na falta de disposição legal em contrário, o processo era

conc1uso ao juiz para despacho liminar, as normas que têm gerado maiores divergências

interpretativas são precisamente as constantes dos artigos 812°-C, 812°-D, 812°-E, e. .812°-F, de cuja conjugação se retirará quais os casos em que haverá lugar à penhora

imediata, à remessa para despacho liminar e à citação prévia.

Com efeito, como refere a Prof. DI"", Mariana França Gouveia, todas as

hipóteses previstas nos arts. 812°-C a 812°-F, respeitam a excepções - estão previstas

para casos especificamente determinados na sua letra -, esquecendo-se o legislador de

formular uma regra geral! .

. Analisemos assim, algumas questões interpretativas, que têm vindo a ser

suscitadas na aplicação das citadas normas.

1 Cfr., "A Novíssima Acção Executiva", in http://tribunaldefamiliaemenoresdobarreiro.blogspoLcom.

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2

Artigo 812°-C (penhora imediata/citação prévia)

Nos casos expressamente previstos nas als. a) a d), do art. 812°-C, não haverá

lugar a dúvidas: o agente de execução procede de imediato à penhora - isto é, não há

lugar a despacho liminar nem a citação prévia.

Contudo, a interpretação de tal norma tem suscitado acesas discussões, uma vez

que, nem no art. 81r-c nem nas disposições seguintes, respeitantes à fase introdutória,

o legislador refere qual o destino para os demais casos aí não incluídos,

nomeadamente:

• documento exarado ou autenticado por notário ou outras entidades:

o em que, não excedendo o montante da dívida a alçada da Relação, não seja

apresentado documento comprovativo da interpelação do devedor, quando tal

interpelação seja necessária ao vencimento da obrigação;

o excedendo o montante da dívida a alçada da relação, o exequente não mostre ter

exigido o cumprimento por notificação judicial avulsa;

• qualquer outro título de obrigação pecuniária vencida:

o de montante não superior à alçada da relação, em que tenha sido indicado à

penhora estabelecimento comercial, direito menor que sobre ele incida ou

quinhão em património que o inclua;

o de montante superior à alçada da relação.

Assim, e na ausência de uma resposta clara e expressa por parte do legislador,

várias soluções têm sido encontradas, defendendo uns que, em tais casos, haverá lugar a

despacho liminar', outros que haverá lugar, tão somente, a citação prévia", e outros

ainda que haverá lugar a despacho liminar e a citação prévia".

2 Cfr., Prof. Lebre de Freitas, "A Acção Executiva, Depois da Reforma da Reforma", 5' Ed., CoimbraEditora, pago 159 e 160, que continua a considerar ais. do art. 812°-C como casos de dispensa de despacholiminar.3 Cfr., neste sentido, Eduardo Paiva e Helena Cabrita, "O Processo Executivo e o Agente de Execução",Coimbra, Editora, pago 85 e 86.4 Cfr., Prof. Mariana França Gouveia, propondo que, na falta de uma regra geral se recupere a antiga,havendo lugar a despacho liminar e a citação prévia (cfr., estudo e local citado).

Page 3: Fase 1 Do Processo Executivo

3

Quanto a nós, tal lacuna só poderá ser preenchida pelo recurso a uma análise

comparativa das alterações introduzi das com a "reforma da reforma" da acção

executiva, nas normas constantes da Secção I (Fase Introdutória) atinentes à acção

executiva comum (arts. 810° a 812°-B, actuais arts. 810° a 812°-F).

Assim, desde logo se constata que o anterior art. 812°-A, sob a epígrafe,

"Dispensa de despacho liminar", foi objecto de revogação, sendo cindido em dois:

- passando o seu n01 a corresponder, embora com algumas alterações, ao actual

art. 812°-C, agora sob a epígrafe "Diligências iniciais";

- passando o seu n02 a corresponder ao actual 812°-D, sob a epígrafe, "Remessa

do processo para despacho 1iminar".

Por sua vez, a regulamentação constante do anterior art. 812°, sob a epígrafe

"Despacho liminar e citação prévia" (com excepção do seu n''], que foi pura e

simplesmente eliminado), passou a constar dos actuais art. 812°-E (que corresponde,

sensivelmente, aos ns. 2 a 6 do revogado art. 812°) e do n02 do art. 812°-F (que

corresponde ao n07do antigo art. 812°).

Ora, será que o objectivo destas alterações se ficou por uma diferente

"arrumação" ou reorganização das normas respeitantes ao despacho liminar e à citação

prévia, ou pretendeu uma alteração mais profunda, de harmonia com a filosofia geral da

"reforma da reforma", de desjudicialização da acção executiva - tornar as execuções

mais simples e eliminar formalidades processuais desnecessárias, reforçando o papel do

agente de execução -, ou seja, visando uma diminuição das hipóteses em que a

execução se encontra sujeita a despacho liminar'l

Inclinamo-nos para a segunda das soluções apontadas.

Desde logo, e em primeiro lugar, note-se que, dentro desta reorganização da fase

introdutória do processo, foi eliminado o n" 1 do arfo 812~ segundo o qual "sem

prejuízo do disposto no n01 do art. 81r-A, o processo é concluso ao juiz para despacho

liminar",

5 Cfr., Preâmbulo do DL 22612008.

Page 4: Fase 1 Do Processo Executivo

4

Do teor de tal norma, retirava-se, então, a ilação de que a verificação de

despacho liminar seria o regime regra e de que a dispensa de despacho liminar de• _ ,. •. . - 6citação previa constítuma a excepçao .

Ora, o facto de tal norma ter sido suprimida é um elemento que terá,

necessariamente, de ser atendido ou a tomar em conta, na interpretação a dar às demais

normas contidas nos actuais arts. 812-C a 812°-F.

Por sua vez, o revogado nOI do art. 812°-A, dispunha que nas execuções

baseadas nos títulos aí previstos nas ais. a) a d), "não tem lugar a despacho liminar".

Assim, nas hipóteses aí expressamente previstas, não havendo lugar a despacho

liminar, não haveria igualmente lugar a citação prévia (n"l do art. 812°-B), pelo que se

procederia de imediato à penhora.

Por contraposição às execuções baseadas nos títulos aí previstos, relativamente

às quais se previa a dispensa de despacho liminar, as execuções baseadas nos títulos não

incluídos nas diversas alíneas a) a d), encontrar-se-iam sujeitas a despacho Iiminar '.

Ora, no actual art. 812°-C, onde constam os casos previstos als. a) a d), do n"l ,

do anterior art. 812°-A, a expressão "sem prejuízo do disposto no n02, não tem lugar a

despacho liminar nas execuções baseadas em ( ... )", foi substituída pela expressão:

"Sem prejuízo do disposto no artigo seguinte, o agente de execução ( ... ) procede

à penhora nas execuções baseadas em (. ..)".

Ou seja, ao elencar as hipóteses previstas nas ais. a) a d) do n''I do art. 812°-C, o

legislador já não teve em mente determinar quais os casos em que há, ou não, lugar a

remessa do processo para despacho liminar, determinação esta que fez constar

expressamente do art. 812°-D.

E, note-se que, já no âmbito da anterior reforma da acção executiva, o Professor

Lebre de Freitas defendia que, na falta de documento comprovativo da interpelação do

6 Cfr., O Professor Lebre de Freitas, referindo que a dispensa do despacho liminar constituiu, desde oinício, um ponto quente dos trabalhos preparatórios da reforma, afirma que a solução final acabou porrestringir os casos de despensa de despacho liminar e de citação prévia, "optando, aliás, por estabelecercomo regra, o despacho liminar e a citação prévia do executado, e como excepção, a despensa dodespacho (art. 812°-A) e a despensa de citação (art. 812°-B)" - "Código de Processo Civil Anotado", Vol.3°, Coimbra, Editora, pago291.7 Assim, se o montante da dívida não excedesse a alçada da relação e não fosse apresentado documentocomprovativo da interpelação do devedor quando necessário ao vencimento da obrigação, haveria lugar adespacho liminar (por exclusão da aI. c) do n"! do art. 812°-A).

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devedor, quando a lei o exija para o vencimento da obrigação, e quando o exequente

optar por desde logo mover a execução, caso em que só a citação valerá como

interpelação, de iure constituendo o despacho liminar seria dispensável, podendo o caso

ter o tratamento do art. 812°, n01 (citação prévia sem necessidade de despacho do juiz)".

Ou seja, especialmente nos casos excluídos pelas ais. b) e c) - de falta de

documento comprovativo da interpelação do devedor - a citação prévia do executado

será suficiente para acautelar os interesses em jogo, concedendo ao executado

exactamente as mesmas garantias da interpelação extrajudicial prévia, não se

vislumbrando, a necessidade de haver lugar a despacho liminar.

Face às considerações expostas, retiramos a seguinte regra geral, quanto ao teor

do art. 812°-C:

- Nas hipóteses previstas nas ais. a) a c) do art. 812°- C, o agente de execução

procede de imediato à penhora - não há lugar a citação prévia, nem a despacho

liminar.

- Nas hipóteses excluídas pelo art. 8l2°- C (e desde que não caiam na previsão

do art. 812°-D, que prevê os casos de remessa para despacho liminar), há, tão só, lugar

a citação prévia.

Artigo 812°-D (Remessa para despacho liminar).

1. Remessa para despacho liminar.

No art. 812°-D, estabelece-se quais os casos em que o agente de execução

remete o processo ao juiz para despacho liminar.

E, note-se que, em meu entender, só se encontrarão sujeitos a despacho liminar

os casos expressamente previstos nesta norma, aos quais haverá que acrescentar

unicamente um outro - sempre que, encontrando-se a execução sujeita a citação prévia,

o exequente requeira justificadamente a dispensa de tal citação com fundamento em

justificado receio de perda de garantia patrimonial do seu crédito - , aditamento que, de

qualquer modo, só se aplicará às execuções para pagamento de quantia certa.

8 Cfr., José Lebre de Freitas e Armindo Mendes, "Código de processo bvil Anotado", Vol. 3, pago300.

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De entre as hipóteses aí previstas, ressaltam desde logo, os casos em que tal

remessa, se impõe por força da natureza do título (alíneas c) e d)):

• execuções fundadas em actas de assembleia de condóminos, nos termos do DL

n° 268/94, de 25.10,

• execuções fundadas em título executivo, nos termos da Lei n" 6/2006, de 27.02

(Novo RAU) - execuções para entrega de imóvel locado, na sequência de

denúncia ou resolução do contrato e de para pagamento das rendas em dívida;

Em segundo lugar, é exigida a remessa para despacho liminar,

independentemente da espécie de título executivo:

• execuções movidas apenas contra o devedor subsidiário (art. 828° do CPC) -

ex., sempre que, por negócio ou por lei, há um devedor principal e um devedor subsidiário, com

o beneficio da excussão prévia, como é o caso do fiador (art. 63800, n''I do eC).

• no caso de obrigação condicional ou dependente de prestação, e a prova de que

se verificou a condição ou se efectuou a prestação não possa ser feita por

documentos (ns. 2 e 3 do art. 804°).

As restantes hipóteses referem-se a casos em que, embora a natureza do título

não impusesse a remessa do processo para despacho liminar, surgindo dúvidas ao

agente de execução sobre o título, deverá suscitar a intervenção do juiz:

• Se o agente duvidar da suficiência do título ou da interpelação ou notificação

do devedor: (al.e) do art. 812°-D);

• Se o agente suspeitar que se verifica uma das situações previstas nas ais. b) e.c),

do n'Tdo art. 81r-E:

1. Excepções dilatórias, não supríveis, de conhecimento oficioso (alínea

b), do n"! do art. 812°-E):

2. Fundando-se a execução em título negocial, seja manifesto, face aos

elementos constantes dos autos, a inexistência de factos constitutivos ou a

existência de factos impeditivos ou extintivos da obrigação exequenda que

ao juiz seja lícito conhecer (al. c), da citada norma.

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• se pedida a execução de sentença arbitral, o agente de execução duvidar que o

litígio pudesse ser submetido a decisão por árbitros, quer por estar submetido

por lei, exclusivamente a tribunal judicial ou a arbitragem necessária, quer por

o direito litigioso não ser disponível para o seu titular.

2. Nos processos remetidos para despacho Iiminar, por força do art. 812°-D,

haverá lugar necessariamente lugar a citação prévia?

Segundo o nOS do art. 812°-E, "quando o processo deva prosseguir e, no caso do

n03 do art. 804°, o devedor deva ser ouvido, o juiz profere despacho de citação do

executado para, no prazo de 20 dias, pagar ou opor-se à execução".

Contudo, em nosso entender, tal norma não deverá lida no sentido literal de que,

sempre que o processo seja remetido para despacho liminar e o processo haja de

prosseguir, tal implique necessariamente que se proceda à citação prévia do executado.

Nas hipóteses previstas nas alíneas c) e d) - execuções fundadas em actas de

assembleias de condóminos ou em título fx~~~vo nos termos da Lei n~ 612006, de

27.02 -, em que está em causa a natureza do título e que têm em comum tratar-se de

títulos não assinados pelo devedor, justificar-se-á plenamente a imposição da citação

prévia.

Nas execuções movidas unicamente contra o devedor subsidiário (aI. a) do art.

812°-D), dúvidas não haverá de que, igualmente, se impõe a citação prévia,

nomeadamente porque tal é expressamente imposto pela aI. a), do n02 do art. 812°-F.

Na hipótese prevista na aI. b) (obrigação condicional ou dependente de

prestação, na qual a prova da verificação da condição ou de que se efectuou a prestação,

não possa ser feita por documentos), o juiz apenas ordenará a citação do executado se

entender necessária a audição do devedor, nos termos das disposições conjugadas dos

nOSdo art. 812°-É e n03 do art. 804°. ~\7..-0(;: •..•.....•-".~.

Nas restantes hipóteses, previstas nas als. e), f), e g), em que a remessa se deve

unicamente à existência de dúvidas do agente de execução quanto a irregularidades do

título ou da execução, se o juiz entender que a execução é de prosseguir, não se

descortina nenhuma razão justificativa para nos afastarmos das regras gerais - sendo de

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proceder à citação prévia, unicamente, se tal se mostrar necessário por força do art.

812°-C ou, caso se trate de uma das hipóteses expressamente previstas no n02 do art.

812°-F.

Artigo 812°-F (Citação prévia e dispensa de citação prévia).

1. Citação prévia, em simultâneo com a remessa do processo para despacho

limiar?

o entendimento de que o n02, do art. 812°-F, impõe ou permite que, em tais

casos, a citação prévia possa preceder ou ser efectuada em simultâneo com a remessa

para despacho liminar é, no nosso ponto de vista, inadmissível e indefensável.

Primeiro, porque nem sequer uma leitura literal de tal norma aponta em nesse

sentido: o n02 do art. 812°-F, apenas dispõe, que nas hipóteses previstas nas ais. a) a d),

há sempre citação prévia, sem necessidade de despacho do juiz, ou seja, que, em tais

situações haverá, sempre, lugar à citação prévia e que o agente de execução deverá

proceder a tal citação sem necessidade de despacho do juiz a ordená-la.

Por outro lado, as normas não podem ser interpretadas isoladamente, e

independentemente do restante regime previsto nas leis de processo, havendo que

atender ainda aos conceitos jurídicos em causa.

Ora, no Código de Processo Civil, o despacho liminar, é o despacho do juiz pelo

qual procede à apreciação do requerimento inicial, precedendo a citação.

Uma análise da evolução legislativa permitirá um esclarecimento cabal de tal

figura jurídica.

Antes das grandes alterações operadas na acção declarativa pelo DL 329-N95,

de 12 de Dezembro, depois de autuada a petição e de pago o preparo inicial, o processo

era concluso ao juiz para analisar a petição e proferir o primeiro despacho.

Nunca se procedia à citação do réu sem despacho que a precedesse e, nesse

despacho, o juiz poderia tomar uma de três atitudes: ordenar a citação do réu, convidar o

autor a completar ou a corrigir a petição, ou indeferir liminarmente a petição.

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E, se o DL 339-N95, veio suprimir, como regra, o despacho liminar na acção

declarativa, tal despacho liminar manteve-se na acção executiva, quer na forma

ordinária quer na forma sumária (com a única diferença de que, na execução sumária, o

juiz ao proferir despacho liminar, se entendesse que a execução se encontrava em

condições de prosseguir, em vez de ordenar a citação do executado, ordenava a penhora

e só após esta, o executado era notificado para se opor à execução).

Com a reforma da acção executiva introduzida pelo DL 38/2003, de 8 de Março,

estabeleceram-se alguns casos de dispensa de despacho liminar, sendo que, não

havendo lugar a despacho liminar, em regra, não havia citação prévia do executado, ou

seja, ele só era citado depois da penhora efectuada (art. 812°-B). Nos casos em que

havia lugar a despacho liminar, a regra era o juiz determinar a citação do executado (n06

do art. 812°). Ou seja, não havendo motivo para indeferimento, o juiz, quando proferisse

despacho liminar, nele ordenava a citação do executado.

Como afirma Jorge Augusto Pais de Amaral, "o indeferimento denomina-se

liminar quando é proferido no limiar do processo, antes de ter lugar a citação'".

E, a citação prévia, conceito este introduzido pelo Dec. Lei n° 38/2003, de 08 de

Março, é a citação que precede a penhora (não tendo o sentido de corresponder à

citação que precede o despacho liminarJO".

À luz do espírito do CPC vigente, se o réu ou executado é citado sem que o

requerimento inicial seja submetido a despacho de juiz, o despacho que posteriormente

venha a proferir sobre o requerimento inicial, não será nunca um despacho liminar!

Por fim, a citação do executado, a efectuar antes ou em simultâneo com a

remessa do processo para despacho liminar, importaria, mesmo, a prática de actos

inúteis:

Ao executado entretanto citado é-lhe concedido um prazo para pagar ou deduzir

oposição (prazo este que é peremptório, relativamente à faculdade de deduzir oposição),

sendo que o juiz, ao apreciar liminarmente o requerimento executivo, poderá rejeitá-lo

9 Cfr., "Direito Processual Civil, 8" ed., Almedina, 2009, pago 186.10 Cfr. Neste sentido José Lebre de Freitas, quando afirma: "pode porém, o exequente, no requerimentoexecutivo, pedir a dispensa da citação prévia, isto é, da citação anterior à penhora, in Código deProcesso Civil Anotado, Vol. 3., pago305.

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total ou parcialmente, ou convidar o exequente a juntar documentos ou a supnr

deficiências do R.E., tornando inútil a oposição entretanto deduzida pelo executado.

Por outro lado, atentar-se-á em que, se a al. a) do n02, do art. 812°-F contempla

uma hipótese em que, por força da al. a) do art. 812°-D, se encontrará sujeita igualmente

a despacho liminar (por se tratar de execução movida contra o devedor subsidiário), as

demais hipóteses previstas ais. b), c) e d);?'em sequer se encontram abrangidas pelo art.

8I2°-D, pelo que nem sequer se tratarão de casos em que a lei imponha a remessa para

despacho liminar.

Concluindo, entendemos que a expressão contida no n02 do art. 8I2°-F "Nos

processos remetidos ao juiz pelo agente de execução para despacho liminar", se

encontra aí por mero lapso de escrita, devendo, pura e simplesmente, ser eliminada.

Face às considerações expostas, e recapitulando, existirão os seguintes casos de

citação prévia, sem necessidade de despacho liminar:

- títulos executivos não incluídos no art. 812°-C (e que, em simultâneo, também

se não incluam na previsão do art. 812°-D);

- casos referidos nas alíneas b) e c), do n02 do art. 812°- F;

- citação efectuada nos termos do art. 833°-B, n04 (no caso se não serem

encontrados bens penhoráveis).

2. Contradição entre a aI. d) do n02, do art. 81r-F, e o n° 3 do art. 83r do

CPC - execução anterior terminada sem integral pagamento.

Segundo a aI. a) do n02 do art. 81 r-F, há sempre citação prévia, "quando, no

registo informático de execuções, conste a menção da frustração, total ou parcial, de

anterior acção executiva movida contra o executado".

E, dispõe o n03do art. 832°:

"Quando contra o executado tenha sido movida execução terminada sem integral

pagamento, o agente de execução prossegue imediatamente com as diligências prévias à

penhora e com a comunicação do seu resultado ao exequente, não se aplicando o ns. 4 a

7 do art. 833°-B e extinguindo-se imediatamente a execução caso não sejam

encontrados nem indicados bens à penhora pelo exequente".

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Tais normas, tendo ambas exactamente o mesmo âmbito de aplicação e visando

a mesma exacta situação - execução anterior terminada sem integral pagamento -

impõem procedimentos absolutamente distintos e contraditórios e incompatíveis entre

si: a primeira das normas citadas impõe a citação prévia do executado e a segunda

exclui-a ou dispensa-a expressamente.

Como interpretar, o hipotético pensamento e vontade do legislador?

Partindo do princípio de que o legislador não terá pretendido consagrar duas

soluções antagónicas, uma delas dever-se-á necessariamente a mero lapso.

Vejamos assim, a origem de ambas as normas em causa, bem como o tratamento

que tinha tal situação no regime anterior à reforma do DL 226/2008.

Na anterior reforma da acção executiva, o n03 do art. 832°, dispunha que,

"quando contra o executado tenha sido movida execução terminada sem integral

pagamento, têm lugar as diligências previstas no n01 do artigo seguinte, após o que o

exequente é notificado, sendo caso disso, para indicar bens penhoráveis no prazo de 30

dias, suspendendo-se a instância se nenhum bem for encontrado".

E, o n03 do art. 812°-B dispunha expressamente que "a dispensa da citação

prévia tem sempre lugar quando, no registo informático de execuções, conste a menção

da frustração, total ou parcial, de anterior acção executiva movida contra o executado".

Ou seja, no regime anterior, desde que o solicitador de execução constatasse que

contra o devedor havia sido movida execução terminada sem integral pagamento, era

decretada a suspensão da instância, sem necessidade de se citar previamente o

executado.

Ora, tendo em consideração o espírito e objectivos das sucessivas reformas da

acção executiva (celeridade e eficácia, pretendendo-se evitar a propositura de execuções

e tornando-as mais simples, como se refere no preâmbulo do DL 226/20008, de 20.11) a

solução a dar a tal situação ao abrigo do actual regime, só poderá ser a prevista no n03

do art. 832: extinção do processo, sem necessidade de se ouvir o executado - ou seja,

"não se aplicando o disposto nos ns. 4 a 7 do art. 833°-B" -, precisamente porque, tendo

já ocorrido a extinção da instância por inexistência de bens numa outra execução, o

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executado já terá necessariamente sido citado em tal processo para indicar bens à

penhora e advertido das consequências dafalsidade oufalta de declarações.

Havendo já um processo que foi extinto por falta de bens, e no qual a extinção

foi precedida da audição do executado, não faria sentido a obrigatoriedade de repetição

dessa citação em cada uma das novas execuções que venham a ser instauradas contra o

executado e na pendência das quais o agente de execução continua a não encontrar bens

ao executado nem os mesmos sejam indicados pelo exequente.

Conclusão: a alínea d) do n02 do art. 812°-F dever-se-á a mero lapso, devendo

ser eliminada, por incompatibilidade com o regime previsto no n03 do art. 832°.

3. Se, actualmente, o exequente só pode requerer a dispensa de citação

prévia nos processos que tenham sido remetidos para o juiz, de acordo com o art.

81ZO-D.

Dispõe o n03 do art. 812°-F, que "Nos processos remetidos ao juiz pelo agente

de execução, de acordo com o artigo 812°-D, o exequente pode requerer que a penhora

seja efectuada sem a citação prévia do executado".

Qual o alcance de tal norma?

Pretender-se-á com a mesma delimitar as situações em que ao exequente é

possibilitada a formulação de tal pedido, determinando-se que só nos processos

remetidos ao juiz, ao abrigo do disposto no art. 81r-D, o exequente pode requerer a

dispensa de citação prévia?

No regime anterior ao DL 226/2008, o n02 do art. 812°-B, dispunha que "nas

execuções em que tem lugar despacho liminar, bem como nas movidas contra o devedor

subsidiário, o exequente pode requerer que a penhora seja efectuada sem a citação

prévia do executado, tendo para o efeito que alegar factos que justifiquem o receio de

perda da garantia patrimonial do seu crédito e oferecer de imediato os meios de prova".

O pedido de dispensa de citação prévia, com fundamento no receio de perda de

garantia patrimonial, só se encontrava previsto para os casos em que houvesse lugar a

despacho liminar, e nas execuções movidas contra o devedor subsidiário.

E porquê?

Page 13: Fase 1 Do Processo Executivo

13

Por uma razão muito óbvia: porque, na vigência de tal regime, não havendo

lugar a despacho liminar, em regra, não havia lugar a citação prévia.

A grande diferença de regimes está no facto de que, no regime anterior, em

regra, quando não havia lugar a despacho liminar, a penhora era efectuada sem citação

prévia do executado - n''l do art. 8l2°-B, enquanto que, actualmente, há inúmeros casos

em que há lugar a citação prévia sem que a lei imponha a remessa para despacho

liminar.

Actualmente, temos três tipos de situações:

- casos em que se procede de imediato à penhora (art. 8l2°-C);

- casos em que se procede à citação prévia do executado (nas situações não

abrangidas pelo disposto no art. 8l2°-C e ainda nas hipóteses previstas nas ais. a) a c),

do art. 812°F);

- casos em que os autos são remetidos ao juiz para despacho liminar (art. 812°-

D), após o que, poderá, ou não, haver lugar a citação prévia do executado.

Assim, fará sentido, que se restrinja a possibilidade de o exequente requerer a

despensa de citação prévia, aos casos em que há lugar a despacho liminar, por força do

art.8l2°-D?

A resposta terá de ser necessariamente negativa.

A actual lei (tal como a anterior) permite ao exequente requerer a dispensa de

citação prévia no requerimento executivo, "nos casos em que seja admissivel" (art.

810°, nOI, al.j).

E, actualmente (também, tal como no regime anterior), a dispensa de citação

prévia pode ser requerida pelo exequente em dois momentos distintos:

- no requerimento executivo inicial, alegando factos que justifiquem o receio de

perda da garantia patrimonial do seu crédito, e oferecendo, de imediato os meios de

prova (n03 do art. 812°-F).

- posteriormente, quando das diligências para citação resultar dificuldade em

efectuar a citação pessoal, e se a demora justificar o receio de perda de garantia

patrimonial (nOS do art. 812°-F).

Page 14: Fase 1 Do Processo Executivo

14

E o fundamento para a dispensa de citação prévia continua também, a ser

exactamente o mesmo - justo receio de perda de garantia patrimonial do crédito do

exequente - tratando-se como de um enxerto de uma providência caute/ar de arresto

numa fase liminar da acção executiva, como vem sendo entendido por alguns autores 11.

Assim, e em nosso entender, desde que alegue factos que justifiquem o receio de

perda da garantia patrimonial do seu crédito, ou ocorrendo especial dificuldade em

efectuar a citação prévia, pode o exequente requerer a dispensa de citação prévia,

sempre que a execução em causa a ela se encontre sujeita, ou seja:

- não só quando ocorra uma das situações previstas nas ais. a) a d), do art. do art.

- como ainda nas hipóteses excluídas do art. 812°-C,

- e ainda nas hipóteses previstas nas ais. a), b), e c), do art. 8l2°-F.

Ou seja, parece-nos que, mais uma vez, a expressão "nos processos remetidos ao

juiz pelo agente de execução", constante do n03 do art. 8l2°-E, deveria, também ela, ser

pura e simplesmente eliminada.

B. EXECUÇÃO PARA ENTREGA DE COISA CERTA E PARA

PRESTAÇÃO DE FACTO.

1. Citação prévia.

Ao contrário do que ocorre na execução comum (para pagamento de quantia

certa), quer na execução para entrega de coisa certa, quer na execução para prestação de

facto, há sempre lugar à citação prévia do executado, em conformidade com o disposto

nos arts. 928° e 933°, do CPC.

Ou seja, tendo o legislador previsto expressamente a obrigatoriedade de citação

prévia do executado, em tais formas especiais de execução, não será de aplicar

subsidiariamente a norma constante do art. 812°-C, pelo que, haverá lugar a citação

prévia, ainda que se baseie em decisão judicial ou arbitra!.

2. Despacho Liminar.

11 Cfr., neste sentido, Prof. José Lebre de Freitas, "Agente de Execução e Poder Jurisdicional", in Rev.THEM1S, Ano IV, n07, 2003, pago27.

Page 15: Fase 1 Do Processo Executivo

15

Quanto à obrigatoriedade de remessa do processo para despacho liminar, não

existindo, nas disposições previstas especialmente para este tipo de acções, qualquer

norma que estabeleça um regime diferente, ser-lhe-á aplicável o regime previsto no art.

8l2°-D, para a acção executiva comum, com as devidas adaptações.

Assim, encontrar-se-ão sujeitas a despacho liminar, entre outras, as execuções:

- para entrega de coisa certa, fundadas em título executivo nos termos da Lei n°

6/2006, de 27 de Fevereiro (aI. d), do art. 8l2°-D);

- execução para prestação de facto, em que a obrigação esteja dependente de

condição suspensiva ou de outra prestação, cuja prova não possa ser feita por

documentos;

- se o agente de execução duvidar da suficiência do título ou da interpelação ou

notificação do devedor (aI. f) do art. 812°-D);

- se o agente de execução suspeitar que se verifica alguma das situações

previstas nas als. B) e c), do n"! do art. 8l2°-E.

Da aplicação de tais regras, resultará, assim que, nomeadamente, não se

encontrará sujeita a despacho liminar, por ex., a execução para entrega de coisa certa

fundada em decisão judicial ou arbitral, ou em documento particular, assinado pelo

devedor no qual ele se obrigue a proceder à entrega do imóvel que ocupa em

determinado prazo, ou documento autenticado ou exarado por notário ou outras

entidades com competência para tal.

3. Dispensa de citação prévia.

Permitirá a actual lei, que o exequente requeira a dispensa de citação prévia, nas

demais formas de processo executivo?

Quer quando é pedida no requerimento executivo inicial, quer quando é pedida

posteriormente, por ocorrer especial dificuldade em efectuar a citação prévia, tal

dispensa tem sempre como fundamento o justo receio da garantia patrimonial do seu

crédito, fundamento este que não se verificará na execução para entrega de coisa certa.

Quanto à execução para prestação de facto, embora, em determinadas

circunstâncias, possa prosseguir para pagamento da indemnização compensatória ou

Page 16: Fase 1 Do Processo Executivo

16

para pagamento do custo da prestação a efectuar por outrem, procedendo-se à penhora e

seguindo os demais termos do processo de execução para pagamento de quantia certa

(n"l do art. 833° e ns. 1 e 2 do art. 835°), tal prosseguimento terá de ser precedido por

uma fase de liquidação da obrigação, em relação à qual o executado terá

necessariamente de ser ouvido.

Pelo que, pelo menos, por ora, tenderemos a concluir pela inaplicabilidade do

disposto nos ns. 3 a 5, do art. 812°-F, às demais formas de processo executivo.

B - Remessa para despacho liminar, no caso de verificação de

excepções dilatórias de conhecimento oficioso.

Tendo-me sido solicitado que me pronunciasse igualmente sobre as excepções

da instância e tendo constatado que à Exma. Dra. Maria de Lurdes Mesquita, oradora

desta mesma mesa, havia sido pedido que tratasse de alguns pressupostos processuais, e

a fim de evitar eventuais coincidências quanto aos temas expostos, optei por efectuar

unicamente uma breve referência à verificação de "excepções dilatórias, não supríveis,

de conhecimento oficioso", que por força da aI. f), do art. 812°-D, imporão ao agente de

execução a remessa do processo para despacho liminar.

1. Excepções dilatórias, não supríveis, de conhecimento oficioso:

As excepções dilatórias obstam a que o tribunal conheça do mérito da causa e

dão lugar à absolvição da instância ou à remessa do processo para outro tribunal - n02

do art. 493° do CPC.

Prevendo a al. f) do art. 812°-D do CPC, que o Agente de execução deverá

remeter o processo para despacho liminar se suspeitar que se verifica uma das situações

previstas na aI. b), do n'T, do art. 8l2°-E -, e respeitando esta alínea à possibilidade de o

juiz proferir despacho de indeferimento liminar quando ocorram excepções dilatórias,

não supríveis, de conhecimento oficioso, retirar-se-á a conclusão de que o agente de

execução só deverá remeter o processo para despacho liminar quando se verifique

alguma excepção dilatória que importe a absolvição da instância e já não quando a

mesma importe tão só a remessa para outro tribunal.

Page 17: Fase 1 Do Processo Executivo

17

Excluídas da ai. f), ou seja, da obrigatoriedade de envio do processo para

despacho liminar, ficarão, assim, os casos de incompetência relativa do tribunal -

incompetência em razão do território, do valor da causa e da forma do processo (art.

108°) - uma vez, que se tais excepções forem julgadas procedentes, o processo é

remetido para o tribunal competente (salvo se a incompetência radicar na violação de

pacto privativo de jurisdição, caso em que o réu é absolvido da instância), nos termos do

n03 do art. 111°.

Note-se que, de qualquer modo, a relevância da incompetência relativa do

tribunal, só se fará sentir se ocorrer algum incidente declarativo ou for suscitada alguma

questão jurisdicional que incumba ao juiz decidir, caso em que, sendo-lhe o processo

remetido para conhecimento de tais questões, poderá, sempre, declarar-se incompetente,

remetendo o processo para o tribunal competente.

Restarão, assim, as seguintes excepções dilatórias, de conhecimento oficioso,

cuja verificação deverá levar o agente de execução a remeter o processo para despacho

liminar:

- incompetência absoluta do tribunal (infracção das regras de competência em

razão da matéria, da hierarquia e das regras de incompetência internacional) - art. 1010;

- falta de personalidade judiciária, ou que, sendo incapaz, não está devidamente

represen tado;

- Ilegitimidade de alguma das partes;

- Falta de constituição de advogado, sendo o patrocínio obrigatório.

- Cumulação ilegal e coligação ilegal de exequentes ou de executados.

1.1. Incompetência absoluta do tribunal

1.1.1. Incompetência Internacional

Quanto à competência internacional, o Regulamento de Bruxelas I e a

Convenção de Lugano, que se sobrepõem às normas internas sobre incompetência

Page 18: Fase 1 Do Processo Executivo

18

internacional dos tribunais portugueses, vieram aferir a competência da execução de

sentença pela situação dos bens:

Tratando-se de executar decisão proferida num outro Estado vinculado e nele

dotado de exequibilidade, são exclusivamente competentes os tribunais do Estado do

lugar da execução (art. 22, n05, do Regulamento CE n° 44/2201 de 22.12.2000, e art.

16°, n05, da Convenção de Bruxelas), isto é, do Estado (ou Estados) em cujo território

se situem os bens a apreender e em que, consequentemente, terão lugar os actos

executivos propriamente ditos".

No Código de Processo Civil, consta uma única norma a atribuir expressamente

competência internacional aos tribunais portugueses, em sede de acção executiva, e

respeitante às execuções sobre imóveis situados em território português - al. b), do art.

65-A (na redacção introduzida pela Lei n° 52/2008, de 28 de Agosto).

De qualquer modo, e face às inúmeras interpretações que têm vindo a ser dadas

pela jurisprudência e doutrina quanto à aplicação, ou não, à acção executiva dos

critérios estabelecidos no art. 65°, e pensados claramente para a acção declarativa,

sugere-se que o agente de execução remeta o processo ao juiz sempre que se verifique

algum elemento de conexão com jurisdições de outros Estados:

o título executivo seja uma sentença proferida noutro Estado ou um título

extrajudicial emitido noutro Estado;

os bens móveis ou imóveis não se encontrarem em território português;

o executado não tiver residência em território português,

(independentemente de se tratar de execução para pagamento de quantia certa,

para entrega de coisa certa ou para prestação de facto).

1.1.2. Competência em razão da matéria.

São da competência dos tribunais judiciais, as causas que não sejam atribuídas a

outra ordem jurisdicional (art. 66°).

Os tribunais judiciais são também competentes para executar as decisões

proferidas por outros órgãos jurisdicionais carecidos de competência executiva:

12 Cfr., neste sentido, José Lebre de Freitas, "A Acção Executiva, depois da Reforma da Reforma", 5" ed.,pag.116.

Page 19: Fase 1 Do Processo Executivo

19

- decisões proferidas por julgados de paz (art. 6° da Lei 78/2001, de 13.07);

- decisões proferidas por tribunais arbitrais (art. 30° da Lei n° 31/86, Lei da

Arbitragem Voluntária);

Com competência exclusiva para a execução das suas decisões, temos a

jurisdição fiscal e a jurisdição da segurança social e os tribunais de jurisdição

administrativa e fiscal (aI. n), do n''l , do art. 4°, do ETAF, e 157°, ns. 1 e 2, do CPTA).

Os juízos de competência especializada serão, mesmo nas circunscrições

abrangidas pela competência dos juízos de execução, em regra, competentes para

executar as respectivas decisões (art. 126°, ns. 1 e 2, e 134° da LOFTJ), bem como para

as execuções por dívidas de custas e multas por si aplicadas: - juízos de família e

menores, juízos de trabalho, juízos criminais.

1.1.3. Competência em razão da hierarquia.

Em sede executiva, apenas os tribunais de primeira instância têm competência

executiva (art. 90° a 95°).

1.2. Falta de personalidade judiciária, ou incapaz não devidamente

representado.

Exemplos:

Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional, que, sendo organismos periféricos da

administração directa do Estado, não têm personalidade jurídica;

execução instaurada contra menor ou incapaz, sem que seja chamado à execução o seu

representante (pais ou tutor).

1.3. Ilegitimidade de alguma das partes;

Ocorrerá ilegitimidade do exequente, quando a execução é movida por quem não

figura no título como credor - ex., execução instaurada por uma instituição de crédito

que não coincide com a entidade mutuária (ilegitimidade activa), sem que invoque e

junte documento comprovativo de eventual cessão de créditos.

Ocorrerá ilegitimidade do executado, no caso de execução instaurada contra

quem não figura no título como devedor - ex.: execução movida também contra o

cônjuge, quando este não conste como devedor no contrato e o exequente não requeira a

Page 20: Fase 1 Do Processo Executivo

20

sua citação para declarar que aceita a comunicabilidade da dívida, ao abrigo do disposto

no n02 do art. 825°; ou, execução com base num cheque emitido de uma conta com dois

titulares, instaurada contra o co-titular que não emitiu ou assinou o cheque.

Na execução contra os herdeiros da pessoa que figure no título como sucessor,

deve o exequente, no requerimento executivo, deduzir os factos constitutivos da

sucessão, sem necessidade de oferecer prova desses factos, prova que só se imporá se o

executado vier a invocar a sua ilegitimidade':'.

Já no caso de ocorrer sucessão no direito por parte da pessoa que no título figure

como credor, terá o exequente não só de alegar a causa da sucessão (mortis causa ou

entre vivos), mas igualmente de juntar prova da mesma (escritura de habilitação de

herdeiros ou de documento que comprove a cessão do crédito ou do direito).

1.4. Falta de constituição de advogado, sendo o patrocínio obrigatório.

Não confundir a falta de constituição de advogado com a situação mais

frequente em que o requerimento executivo é subscrito por advogado, mas por mero

lapso, ou outro motivo, não é junta procuração aos autos, caso em que, o A.E., deverá,

ele próprio convidar o advogado a proceder à junção da procuração em falta no prazo de

10 dias, remetendo o processo ao juiz unicamente no caso de tal falta não se encontrar

sanada decorrido tal prazo.

1.5. Cumulação ilegal e coligação ilegal de exequentes ou de executados.

Para a cumulação e coligação serem admissíveis, todos os pedidos devem

encontrar-se sujeitos à mesma forma de processo executivo (para pagamento de quantia

certa, entrega de coisa certa ou execução para prestação de facto).

Tratando-se de coligação passiva, é necessário que a execução tenha por base o

mesmo título.

Quanto à cumulação sucessiva, prevista no art. 54°, não se encontrará,

actualmente sujeita a despacho liminar, devendo o agente de execução remeter o

processo a despacho unicamente no caso de tal cumulação lhe suscitar dúvidas quanto à

13 Cfr., neste sentido, Fernando Amâncio Ferreira, "Curso de Processo de Execução", l l" ed., pago 80.

Page 21: Fase 1 Do Processo Executivo

21

sua admissibilidade, ao abrigo das disposições conjugadas dos arts. 812°-D, al. f) e

812°-E, n'T, aI. b).

3. Ainda que o processo haja de ser remetido para despacho liminar por virtude

da natureza do título (ex., acta de condomínio), se o agente de execução se apercebeu da

existência de qualquer excepção dilatória de conhecimento oficioso, deverá remeter o

processo ao juiz com a informação de que o mesmo é remetido não só por força da aI. c)

do art. 812°-C, como ainda por lhe suscitarem dúvidas quanto à competência do

tribunal, ou quanto à ilegitimidade de uma das partes, ou seja, com base na aI. f), do art.

812°-C.

Só após chegar à conclusão que não é caso de recusa nem de remessa do

processo para despacho liminar, o agente de execução apreciará se é de proceder de

imediato à penhora ou se é de efectuar a citação prévia do executado (arts. 812°-C e n02

do art. 812°-F).

Maria João Areias

(Juíza do 2° Juízo Cível de Coimbra)

Page 22: Fase 1 Do Processo Executivo

I JORNADAS DE ESTUDO DOS AGENTES DE EXECUÇÃO

O PAPEL DO AGENTE DE EXECUÇÃO PERANTE A FALTA DE

PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS

•Lurdes Varregoso MesquitaEspinho, 9 de Abril de 2010

A) Nota introdutória

o tema que me proponho desenvolver enquadra-se nos pressupostos processuais da acção

executiva, que é uma matéria basilar no processo executivo e tem especial relevância no

exercício das novas competências atribuídas ao agente de execução na fase inicial da acção

executiva, seja aquando do recebimento/recusa do requerimento executivo (811°), seja na

decisão sobre o curso da acção executiva (812°-C a 812°-F).

Na verdade, como sempre acontece em processo civil, a regularidade do processo depende da

verificação de determinadas condições processuais. A acção executiva e a realização dos actos

de natureza executiva pressupõem a verificação de determinados pressupostos processuais.

No caso concreto do processo executivo, a atendibilidade dessas condições passa não só pelos

pressupostos processuais gerais (personalidade e capacidade judiciárias, legitimidade,

patrocínio judiciário obrigatório, competência do tribunal), mas também por pressupostos

processuais específicos (título executivo, certeza, exigibilidade e liquidez da obrigação

exequenda).

Serão estas questões de natureza processual que, sendo caso disso, determinarão a recusa do

requerimento executivo (811°) ou a remessa do processo para despacho liminar, por efeito do

disposto no art. 812°-D, alíneas e), f) e g), se o mesmo não tiver sido remetido por outro

motivo .

• Docente do Departamento de Direito da Escola Superior de Gestão do Instituto Politécnica do Cávado e doAve e do Departamento de Direito da Universidade Portucalense Infante D. Henrique.

Page 23: Fase 1 Do Processo Executivo

Optámos por tratar o tema procurando analisar como deve o agente de execução posicionar-se

quando identifica a falta de um pressuposto processual.

Até à revisão de 2008, admito que estas questões não preocupassem de sobremaneira os

agentes de execução visto que a sua intervenção ocorria, para citação ou penhora, sem que

lhes fosse exigível qualquer controlo sobre a regularidade do processo. Após a entrada em

vigor do DL 226/2008, de 21 de Novembro, as coisas já não se passam assim.

Na verdade, os agentes de execução passaram a ter especiais responsabilidades na tramitação

da acção executiva, designadamente no que diz respeito à identificação e reconhecimento da

verificação dos pressupostos processuais.

O agente de execução deve dominar a matéria dos pressupostos processuais e, sobretudo,

saber em que momento e qual o procedimento que deve adoptar perante a falta de um

pressuposto processual.

B) Recusa do requerimento executivo

1. Actualmente, a tramitação da acção executiva é exclusivamente electrónica e o

requerimento executivo dá entrada, preferencialmente, por via electrónica, acompanhado da

cópia do título executivo e dos documentos, bem como do comprovativo do pagamento da

taxa de justiça (810°.6, 7 e 9).

Quando haja sido constituído mandatário, o requerimento executivo deve ser entregue por via

electrónica, sob pena de a parte incorrer no pagamento imediato de multa (0,5 LlC), salvo

alegação e prova de justo impedimento (810°.10 e 11).

O requerimento executivo é dirigido ao tribunal competente e o sistema informático assegura,

sem haver lugar a autuação, que seja criado um número único do processo, que o mesmo seja

distribuído e, de seguida, enviado para o agente de execução (810°.7 e 8).

É ao agente de execução que compete receber ou recusar o requerimento executivo,

procedendo, desde logo, ao controlo formal que antes cabia à secretaria. Os fundamentos de

recusa do requerimento executivo mantiveram-se, mas passou a ser o agente de execução a

assumir esta tarefa, dado o afastamento da secretaria judicial da fase inicial do processo

executivo.

2

Page 24: Fase 1 Do Processo Executivo

2. O art. 811° foi introduzido pelo DL 38/2003, de 8 de Março, e não tinha precedente no

direito anterior. Quando surgiu, foi entendido como uma adaptação do regime dos arts. 474° a

476° à acção executiva, ainda que a sua formulação determinasse para a secretaria uma

competência mais ampla na acção executiva do que na acção declarativa. Ou seja, enquanto

que na acção declarativa a secretaria apenas pode proceder ao controlo formal externo da

petição inicial, na acção executiva tinha competência também para avaliar a total omissão da

causa de pedir, do pedido líquido ou da escolha da prestação, que são vícios de conteúdo e

determinam a falta de pressupostos processuais. O Professor Lebre de Freitas justificava esta

diferença adiantando que "a reforma da acção executiva intentou reduzir as intervenções

judiciais ao mínimo exigível e não integram este mínimo os casos em que a petição executiva

patenteia deficiências graves de que facilmente se aperceba um não jurista com alguma

preparação profissional, desde que esteja aberta ao exequente a via da reclamação para o. ." I

JUIZ .

Assim, constituíam motivo de recusa,

No âmbito do mero controlo formal:

o O requerimento executivo não respeitar o modelo aprovado (811°. a);

o Omissão de algum dos requisitos formais essenciais, ou seja, elementos que

devem obrigatoriamente constar do requerimento executivo, como sejam

• identificação das partes (com indicação do nome e domicílio ou sede

do executado e, no caso do exequente, dos demais elementos de

identificação, como NIC e NIF, que lhe é sempre possível indicar);

indicação do domicílio profissional do mandatário judicial, quando

constituído;

indicação do fim da execução;

formulação do pedido;

indicação do valor da causa;

não estar assinado;

••

••• não estar redigido em língua portuguesa;

o Não juntar comprovativo do prévio pagamento da taxa de justiça ou da

concessão de apoio judiciário (811".c);

I LEBRE DE FREITAS; RIBEIRO MENDES, Código de Processo Civil Anotado, Vol. 3°, Coimbra: CoimbraEditora, pp. 286 e 287.

3

Page 25: Fase 1 Do Processo Executivo

o Falta de apresentação do título executivo ou da sua cópia (811o.b);

o Manifesta insuficiência do título ou cópia apresentada (811o.b);

No âmbito do controlo do conteúdo, a título de excepção consentida (811°, a),

conjugado com o 810°),

o Falta de exposição dos factos que fundamentam o pedido, quando não constem

do título executivo (total omissão da causa de pedir);

o Falta de liquidação da obrigação (quando a obrigação é ilíquida);

o Falta de escolha da prestação, quando a obrigação é alternativa e a escolha

pertença ao credor.

Acrescente-se que a recusa deve ser fundamentada por escrito e dela cabe reclamação para o

juiz, cuja decisão é irrecorrível, salvo quando esteja em causa a insuficiência do título ou a

falta de exposição dos factos (811°.2). Neste caso, é admissível recurso até à Relação, nos

termos do art. 475.2, subsidiariamente aplicável.

A circunstância de o requerimento executivo ter sido recusado não impede que o exequente

apresente novo requerimento corrigido ou apresente o documento em falta, beneficiando da

data de apresentação do primeiro requerimento, desde que o faça no prazo de 10 dias a contar

da recusa ou da notificação da decisão judicial que confirme a recusa.

3. Com o DL 226/2008, de 21 de Novembro, o art. 811° foi alterado, mas apenas quanto ao

titular da competência de recusa, passando a ser o agente de execução a recusar receber o

requerimento executivo. Esta alteração deve ser entendida como uma mera adaptação do

dispositivo ao novo papel do agente de execução, que passa a dirigir a acção executiva desde

que ela dá entrada no tribunal até que se extingue.

Como se sabe e já foi afirmado pela doutrina e pela jurisprudência, com a criação da figura

do agente de execução pretendeu-se, especialmente, deslocar do tribunal (juiz efuncionários)

para o agente de execução o desempenho dum conjunto de tarefas que, não constituindo

exercício do poder ;urisdicional. podem ficar a cargo de funcionários ou profissionais

liberais, oficialmente encarregados de, por conta do exequente, promover e efectuar as

diligências executivas.

4

Page 26: Fase 1 Do Processo Executivo

Nestes termos, entendemos que os poderes que se extraem do art. 811° em nada se alteraram,

nem o legislador deu sinais nesse sentido, modificando-se apenas o sujeito que os exerce, que

passou a ser o agente de execução.

A interpretação a dar aos casos de recusa deve ser aquela que já resultava do art. 811°,

exactamente nos termos que vigorou desde 15 de Setembro de 2003 até 31 de Março de 2009.

4. Se a interpretação do art. 8110 pode ir além dos limites que resultaram da sua configuração

originária? Não nos parece.

O facto de essa atribuição passar a ser do agente de execução não justificará, só por si, que

possa haver recusa noutras situações que extravasem o mero controlo formal, ainda que

possam configurar situações análogas àquelas que referimos supra e que identificámos como

excepções consentidas de recusa por vício de conteúdo, como aconteceria porventura com a

falta de exigibilidade da prestação.

A ratio que esteve subjacente a estas excepções, ou seja, reduzir as intervenções judiciais ao

mínimo exigivel, sendo que nesse mínimo não se enquadram casos em que o requerimento

executivo contém deficiências graves e facilmente perceptíveis, desde que haja possibilidade

de reclamação para o juiz, não se vê alterada com a revisão de 2008 e nada justifica que o

disposto no art. 8110 tenha outra leitura que não aquela que já estava estabilizada à luz da

reforma de 2003.

5. Sem prejuízo dos casos já enunciados como de recusa do requerimento, vejamos algumas

situações em particular:

i) Falta ou manifesta insuficiência do título executivo

O requerimento executivo deve ser acompanhado da cópia ou do original do título executivo

(810°.6.a). Assim, se o requerimento executivo for apresentado desacompanhado do

respectivo título executivo ou acompanhado de um título executivo que não tem qualquer

relação com a execução em causa, haverá motivo para recusa do requerimento (811o.1.b).

O mesmo sucede se o agente de execução concluir pela manifesta insuficiência do título

executivo. Porém, se tiver dúvidas, suscita a intervenção do juiz de execução, nos termos da

al. e), do art. 8l2°-D.

5

Page 27: Fase 1 Do Processo Executivo

A insuficiência do título prende-se unicamente com os requisitos processuais que o

documento tem que reunir para que constitua título executivo, não se devendo confundir com

a validade do acto jurídico que lhe está subjacente.

São casos como: documento particular não assinado pelo devedor; sentença condenatória com

recurso pendente, quando este tenha efeito suspensivo; requerimento de injunção sem fórmula

executória; documento particular do qual conste obrigação pecuniária ilíquida, não liquidável

por simples cálculo aritmético; sentença de condenação genérica sem que se demonstre ter

ocorrido liquidação em sede declarativa; títulos executivos formados ao abrigo do NRAU,

sem que se cumpram os requisitos exigidos, como por exemplo, juntar a comunicação ao

arrendatário, desacompanhada do contrato de arrendamento.

Diferente tratamento terá uma situação em que se cumpram os requisitos processuais do

documento, mas possam estar em causa os requisitos substantivos.

Se, perante um título negocial, a relação subjacente consubstanciar um negócio formal, cuja

forma não foi cumprida, estará em causa uma desconformidade entre o título e a relação

subjacente que, sendo de conhecimento oficioso e resultando do título ou do próprio

requerimento executivo, não poderá determinar uma recusa do requerimento, mas antes a

remessa dos autos para despacho liminar (812°-D.f), conjugado com o 812°-E.1.c). As

situações que possam potenciar desconformidade entre o título e a obrigação exequenda

devem ser remetidas ao juiz de execução.

Por sua vez, se a insuficiência do título for determinada pelo facto de o título apenas cobrir

parte do pedido formulado pelo exequente, essa circunstância não deve dar lugar a recusa,

mas sim a remessa dos autos para despacho liminar, com vista ao convite ao aperfeiçoamento

ou indeferimento parcial, consoante o juiz conclua pela possibilidade ou impossibilidade de

apresentação do título em falta.

ii) Falta de exposição dos factos

A reforma do processo executivo introduzida pelo DL 38/2003, de 8 de Março, visou não só

desjudicializar o processo executivo, mas também simplificá-lo com a introdução de

procedimentos menos solenes e formais, com salvaguarda das garantias mínimas e inerentes

aos direitos do executado. Uma demonstração dessa simplificação ocorreu precisamente em

relação aos elementos que devem constar do requerimento executivo, afastando-se a aplicação

6

Page 28: Fase 1 Do Processo Executivo

do disposto no art. 4670 e estabelecendo-se que a exposição dos factos que fundamentam o

pedido seria sucinta e até podia ser dispensada desde que constassem do título executivo.

Há casos, porém, que levantaram dúvidas quanto à necessidade de exposição dos factos no

requerimento executivo, como sucedeu com o requerimento de injunção no qual foi aposta a

fórmula executória e também com os títulos de crédito.

Em qualquer das situações, o entendimento mais correcto é de que não é exigível a exposição

dos factos, logo, a sua falta não é motivo de recusa.

A orientação jurisprudencial tem sido neste sentido, como se pode concluir pelos exemplos

que seguem:

Tendo sido dada à execução a mera obrigação cambiária e junta a "letra de câmbio" de

que a mesma resulta, não há necessidade de expor quaisquer outros factos no

requerimento executivo, bastando, por isso, assinalar a quadrícula correspondente a

que os factos "constam exclusivamente do título executivo". (Acórdão da Relação do

Porto, de 24/01/2005)

Em conclusão, diremos que dada à execução obrigação titulada em letra de câmbio

junta aos autos executivos, correctamente preenchida, da mesma resulta clara a

factualidade fáctica fundamentadora da pretensão executiva formulada, não tendo

cabimento que se exija do exequente a exposição sucinta dos factos que fundamentam

o pedido, uma vez que se verifica o condicionalismo inserto na segunda parte da al. b),

do n° 3, do art. 8100 do CPC. Deve considerar-se que uma letra de câmbio

completamente preenchida onde consta como relação subjacente "transacção

comercial" - ao ser junta por um requerimento executivo contém a exposição sucinta

dos factos que fundamentam o pedido (Acórdão da Relação do Porto, de

23/06/2005)

Apresentado como título executivo uma letra de câmbio totalmente preenchida tal

basta para satisfazer os requisitos para o requerimento executivo. (Acórdão da

Relação do Porto de 10/03/2005)

Se a um requerimento destinado a exigir o cumprimento de obrigação pecuniária, nos

termos do artigo 70 do DL 269/98, de 1 de Setembro, for aposta a fórmula executória

7

Page 29: Fase 1 Do Processo Executivo

ele constitui título executivo. Dispondo, assim, de força executiva, não pode ser

indeferido liminarmente o requerimento (executivo) - baseado em injunção - com o

fundamento de ser inepto, por falta de causa de pedir. (Acórdão da Relação do Porto

de 03/05/2004)

Seja qual for a qualificação adoptada, a verdade é que é um título executivo, previsto

na alínea d) do citado art." 46°, seguindo a respectiva execução os termos do processo

sumário para pagamento de quantia certa, a qual tem como limites as importâncias a

que se refere a alínea d) do art." 13° do mencionado DL n." 269/98, ou seja, a quantia

pedida, a taxa de justiça paga, os juros de mora desde a data da apresentação do

requerimento de injunção e juros à taxa de 5% ao ano a contar da data da aposição da

fórmula executória (cfr. art." 21°, n.os 1 e 2 do DL n." 269/98). Deste modo, o

requerimento inicial de um processo de injunção a que foi aposta a fórmula executória

vale por si e não carece de ser acompanhado de quaisquer documentos,

designadamente dos que serviram de suporte ao processo de injunção, para ter força

executiva (cfr. Acs. da RL de 5/7/200 e 15/12/2000, sumariados in

http://www.dgsi.ptljtrl00032864 c 00028594). Tal título é condição necessária da

acção executiva, já que deve acompanhar o respectivo requerimento inicial. E é

condição suficiente no sentido de que dispensa qualquer indagação prévia sobre a real

existência do direito a que se refere. Constando, como deve constar, a obrigação cuja

prestação se pretende obter coercivamente no documento que constitui o título

executivo, este faz presumir a sua existência, sem prejuízo de esta presunção poder ser

ilidida mediante embargos de executado. Desta forma, há suficiência do título com a

consequente autonomia em face da obrigação exequenda, à semelhança da autonomia

do título de crédito, face à obrigação subjacente. (Acórdão da Relação do Porto de

16/03/2004)

A propósito dos títulos de crédito, dizia Abrantes Geraldes: Sendo imprescindível, na acção

declarativa, a alegação defactos constitutivos do direito litigioso (art" 467~ n" 1, aI. d)), já o

requerimento executivo se basta na generalidade dos casos, com a alusão ao conteúdo do

próprio documento, o qual, fazendo presumir a existência da relação causal da obrigação,

traduz, em termos que se revelam geralmente suficientes e seguros, as posições jurídicas de

cada um dos sujeitos e o conteúdo da relação de crédito cuja obrigação se pretende executar.

8

Page 30: Fase 1 Do Processo Executivo

Tal documento reveste-se de determinadas características que revelam por si os factos de

onde promana o direito de crédito que subjaz à pretensão deduzida ...2.

No caso de títulos de crédito prescritos, se a obrigação exequenda coincide com a obrigação

cartular nada se altera ao que foi dito, porque a execução tomará o rumo adequado, consoante

o caso, e só o executado poderá invocar a prescrição em sede de oposição à execução. Porém,

se a obrigação exequenda for a obrigação que resulta da relação subjacente e o título de

crédito está a ser tomado como mero quirógrafo, então, a exposição dos factos é

imprescindível e a sua falta poderá determinar a recusa do requerimento executivo.

o mesmo se dirá, por exemplo, se o título consubstanciar um documento particular de

reconhecimento de dívida em que o exequente não apresente os factos tendentes à

demonstração da relação subjacente, o que poderá motivar a recusa do requerimento

executivo, por falta de exposição dos factos.

iii) Omissão de liquidação ou da escolha da prestação

A dedução de pedido ilíquido ou a falta de escolha da prestação, no caso de a obrigação ser

alternativa ou genérica de espécie indeterminada, quando a escolha pertença ao credor, são

situações que determinam a falta de liquidez e de certeza da obrigação exequenda -

pressupostos específicos da acção executiva - mas que o legislador, excepcionalmente,

incluiu nas causas de recusa do requerimento executivo.

6. Os agentes de execução têm que saber identificar a falta de pressupostos processuais,

porém, com excepção dos casos em que a lei expressamente tenha admitido a recusa com

fundamento nesse facto, não têm que diligenciar no sentido do suprimento dessa falta, salvo

no que respeita a provocar a intervenção judicial para o efeito.

Extravasam os motivos de recusa, por exemplo, os casos seguintes:

Casos de falta de constituição de mandatário, quando obrigatória

Casos de cumulação indevida e de coligação ilegal

2 "Themis", Revista da Faculdade de Direito da UNL, Ano IV, n° 7, 2003, A Reforma daAcção Executiva, pág. 35

9

Page 31: Fase 1 Do Processo Executivo

Casos em que falta a demonstração da verificação da condição ou do oferecimento da

prestação pelo credor

Nas obrigações a prazo, não ter decorrido o prazo

C) O reconhecimento e o tratamento a dar à falta de pressupostos processuais

1. A falta de pressupostos processuais leva-nos à presença de excepções dilatórias que,

consoante possam ou não ser sanadas, constituem excepções dilatórias supríveis ou excepções

dilatórias insupríveis.

Se o requerimento executivo tiver sido recebido (ainda que não o tivesse de ser) e estivermos

na presença de uma acção executiva cuja tramitação inicial comporte despacho liminar, é o

juiz que vai aferir das irregularidades do requerimento executivo e da falta de pressupostos

processuais de conhecimento oficioso, actuando em conformidade, seja proferindo despacho

de convite ao aperfeiçoamento, seja indeferindo liminarmente a execução (812°-E.I, 2 e 3)3.

3 A fase introdutória da acção executiva é a fase mais sensível e determinante do processo executivo e, nãoobstante, foi a mais sacrificada com a revisão de 2008.O legislador teve uma necessidade obsessiva de referir «todas» as situações que entendeu configuráveis comosituações de despacho liminar e de dispensa de despacho liminar, esquecendo-se que ao construir disposiçõesfechadas corria o risco, como sucedeu, de criar vazios.Tendo abandonado a metodologia anterior, que definia uma regra (prolação de despacho liminar) e,paralelamente, as excepções, o legislador optou por fazer enumerações pretensamente taxativas, deixandoomissos uma série de casos que acabam por não se enquadrar nem no âmbito do 812°-C, nem no do 8I2°-D. Fezmal e dificultou a tarefa dos intérpretes.Percebe-se que o legislador não quis manter uma disposição da qual resultasse que o processo, a não ser queconfigurasse um situação de dispensa de despacho liminar, tinha de ser concluso ao juiz para despacho liminar,pois, dessa forma contrariava a intenção de afastar o fantasma do «poder geral de controlo do processo» porparte do juiz.Mas, já não se percebe que o tenha feito sem que criasse um regime alternativo, inteligível e capaz de darresposta a todas as situações, ainda que estatisticamente menos relevantes.O legislador limitou-se a introduzir um ou outro caso novo e, no mais, apenas arrumou os casos que a lei já antesprevia expressamente como execuções onde:- havia sempre despacho liminar (anterior 812°-A.2; actuaI812°-D.a e b)- havia citação prévia sem necessidade de despacho liminar (anterior 812°.7; actual 812°-F.2 a, b e c)- o funcionário (agora o agente de execução) suscitava a intervenção do juiz (anterior 812°-A.3; actual 812°-D e,f, g)

Daqui resultou um circuito fechado, onde, perante uma situação concreta, somos levados a percorrer os arts.812°-C, 812°-D e 812°-F, na esperança de o subsumir nos casos previstos, sob pena de nenhuma outra solução seextrair, expressamente, da lei, como acontece, por exemplo, com uma execução baseada em documentoparticular assinado pelo devedor onde conste obrigação pecuniária vencida de valor superior à alçada do tribunalda relação.Perante casos deste tipo, a solução mais consensual tem sido a de aplicar o regime que vigorava antes dasalterações introduzidas pelo DL 226/2008, ou seja, despacho liminar e citação prévia, com apelo à racionalidadeda solução e com fundamento no elemento histórico-interpretativo.

10

Page 32: Fase 1 Do Processo Executivo

2. Nas execuções em que esteja dispensado o despacho liminar, é o agente de execução que,

atenta a verificação de excepções dilatórias não supríveis, de conhecimento oficioso, provoca

a intervenção do juiz, ainda que estejamos na presença de um caso de dispensa de despacho

liminar (aliás, é isso que quer significar a expressão "sem prejuízo do disposto no artigo

seguinte", mencionada no corpo do art. 812°-C).

Serão casos de remessa inequívoca do processo para despacho liminar, quer por força do art.

812°-D.e) e g), conjugado com o art. 812°-E.l.a), quer por via do art. 812°-D.f), conjugado

com o art. 812°-E.l.b), de onde poderá resultar, confirmada a falta, o indeferimento liminar do

requerimento executivo.

Que casos, designadamente, podem ser aqui enquadrados:

O juiz confirma a insuficiência do título executivo, de que o agente de execução

suspeitou (manifesta para o juiz, mas não manifesta para o agente de execuçãol);

Obrigação a prazo, em que o prazo ainda não decorreu;

Falta de personalidade judiciária do exequente;

Falta de legitimidade das partes (quando não constam do título como credor e devedor

ou não são seus sucessores, ou quando, sendo terceiros, não são titulares da garantia

real prestada)

Incompetência absoluta do tribunal (por violação das regras de competência

internacional, em razão da hierarquia e em razão da matéria);

Caso julgado

3. De outro modo, se as excepções dilatórias forem supríveis, determinam, em primeira linha

um despacho de convite ao aperfeiçoamento e só depois, não sendo a falta corrigida, o

indeferimento da acção executiva.

Em conclusão, no que concerne à fase introdutória da execução:- As situações previstas no 812°-C determinam a dispensa de despacho liminar, salvo se o agente de execuçãosuscitar a intervenção do juiz pelas razões indicadas nas ais. e), f) e g) do 812°-D;- As situações previstas no 812°-D, a) a d) são remetidas para despacho liminar, ainda que configurem uma dassituações de dispensa de despacho liminar;- Quando não há despacho liminar, não há citação prévia e a penhora é imediata (812°-F.l);- Se há despacho liminar, há citação prévia, salvo se outro for o conteúdo do despacho;- As situações previstas nas ais. a) a d) do art. 812°-F consubstanciam excepções ao 812°-D, logo procede-se àcitação prévia, sem necessidade de despacho liminar.- Há, ainda, a possibilidade de o exequente requerer a dispensa de citação prévia, com fundamento na perda degarantia patrimonial, nos casos em que, de acordo com o regime aplicável, haveria citação prévia (812°-F.3 e 4)

11

Page 33: Fase 1 Do Processo Executivo

Porém, qual o adequado enquadramento desta situação na tramitação inicial da acção

executiva, visto que:

i) Com ressalva do que se disse supra acerca dos motivos de recusa, não se vislumbra que

todas as situações possam resolver-se em sede de recebimento do requerimento executivo;

ii) O art. 812°-D.f) apenas remete para o n." 1 do art. 812°-E.b), onde só são referenciadas as

excepções dilatórias não supríveis, de conhecimento oficioso;

iii) A disposição correspondente, antes do DL 226/2008 (ou seja, o revogado art. 812°-A.3. b)

dispunha que o funcionário judicial devia suscitar a intervenção do juiz quer nas situações de

indeferimento liminar, por ocorrência de excepções dilatórias não supríveis (por isso remetia

para o antigo art. 812°.2. b), que nas situações em que identificasse a possível ocorrência de

convite ao aperfeiçoamento, em face de excepções dilatórias supríveis (logo, remetia também

para o antigo art. 812°.4);

iv) Não há qualquer referência remissiva para o art. 812°-E. 3.

A não ser que se trata de mais um lapso do legislador, nada nos leva a concluir que tenha

havido intenção de excluir a remessa dos autos a despacho liminar nos casos de convite ao

aperfeiçoamento.

Na verdade, a revisão operada pelo DL 226/2008 fez cair uma parte do texto legal que hoje

corresponde à aI. f) do art. 812°-D, mas terá sido intencional? A circunstância de o legislador

ter sido tão descuidado na redacção dos artigos 812°-C a 812-F não nos dá qualquer segurança

na resposta afirmativa a esta interrogação.

Por outro lado, se à luz da legislação anterior o controlo da secretaria sobre a alegação da

causa de pedir ou sobre a insuficiência do título executivo já suscitavam, na doutrina, dúvidas

sobre se essa faculdade não envolveria o exercício de competências jurisdicionais, cremos que

O legislador não terá pretendido exceder-se nas competências que cometeu aos agentes de

execução e, por isso, não terá ido além desses mesmos poderes.

Tudo o mais, ou seja, ainda que se trate de excepções dilatórias supríveis, determinará

remessa dos autos para despacho liminar, mesmo que isso não resulte expressamente da aI. f)

do 812°-D, conjugada com o n." 1 do art. 812°-E.

12

Page 34: Fase 1 Do Processo Executivo

Face ao que até aqui se disse, vejamos algumas situações, a título exemplificativo, que podem

ter o tratamento exposto:

Casos de falta de constituição de mandatário, quando obrigatória

Casos de cumulação indevida, quando uma das execuções pode avançar

Casos de coligação ilegal

Casos em que falta a demonstração da verificação da condição ou do oferecimento da

prestação pelo credor

4. Por fim, justifica-se, em especial, uma palavra relativamente à questão da (in)competência

territorial do tribunal, considerando alguma jurisprudência que já versou sobre a matéria.

A violação das regras de competência em razão do território determina uma incompetência

relativa do tribunal, que pode ser oficiosa ou inoficiosa (art. 108° a 110°).

Até à Lei 14/2006 e no que diz respeito às regras da competência territorial na acção

executiva, o tribunal conhecia oficiosamente da infracção das regras de competência previstas

nos arts. 90°.1 e 94°.2, mas já não podia conhecer da violação das regras dos arts. 90°. 2, 91°,

93° e 94°.1, salvo se a incompetência fosse arguida pelo executado.

Neste contexto legal, quando o funcionário judicial suscitava a intervenção do juiz de

execução para conhecer da incompetência territorial decorrente da violação do disposto do art.

94°.1 e o juiz se pronunciava no sentido de declarar o tribunal incompetente, remetendo os

autos para o tribunal competente, era frequente surgirem decisões superiores a revogar o

despacho, determinando que o mesmo devia ser substituído por outro que, não conhecendo da

incompetência relativa do tribunal em função do território, ordenasse o prosseguimento dos

autos.

Assim aconteceu, por exemplo, no Acórdão da Relação do Porto de 12/12/20054, onde se

sustentou:

Em face do disposto no art. 110°, n° 1 do CPCivil supra mencionado, em que se

referem os casos em que é consentido o conhecimento oficioso da incompetência

relativa, a situação dos autos não é enquadrável nas previstas sob as als. a) e c) de tal

normativo, já que se não mostra expressamente incluída nas descritas na al. a) e se não

4 E, no mesmo sentido, no Acórdão da Relação do Porto de 08/05/2006.

13

Page 35: Fase 1 Do Processo Executivo

trata de processo que deva correr como dependência de outro. Assim, só a sua inclusão

no previsto na al. b) do n°l, do art. 110°, do CPCivil, consentiria o conhecimento

oficioso de tal questão - incompetência relativa. Porém, quando na mencionada al. b)

se prescreve que deve ser conhecida oficiosamente pelo tribunal a incompetência em

razão do território «Nos processos cuja decisão não seja precedida de citação do

requerido», tem-se em vista os processos em que pode ocorrer uma decisão de mérito

sobre o pedido sem citação do requerido, situação essa que não ocorre, no caso da

execução, com o mero despacho liminar de controle e de prosseguimento da execução

(intercalar), e o que se verificará tão só, se for caso disso, com a apreciação de

oposição que venha a ser deduzida (sempre no seguimento de prévia citação para o

efeito) [Cfr., neste sentido, acs. desta Relação de 17.1.2002, proc. n° 1990/01 (33

Secção) e de 4.11.2004, proc. n° 0435755, in 'www.dgsi.pt'],

E se concluiu:

r. Em execução para pagamento de quantia certa o JUIZ não pode conhecer

oficiosamente da incompetência territorial, por não estar em causa processo que

postule decisão não precedida de citação do executado - sendo, por isso, inaplicável o

preceituado na al. b) do n" 1 do art. 110° do Código de Processo Civil.

lI. Tal normativo ao usar a palavra "decisão", visa os processos em que, sem citação

do requerido, possa haver decisão de mérito, o que não acontece na execução, o juiz só

O poderá fazer se a excepção for invocada, pelo executado, em sede de oposição.

Alterada a redacção do da al. a) do art. 110° e nela passando a incluir-se a primeira parte do

n." 1 do art. 94°, cai por terra a fundamentação supra exposta, pois a infracção a esse preceito

passa a ser de conhecimento oficioso. Mas, outra questão poderá colocar-se, qual seja a de

saber se se justifica a remessa dos autos para despacho liminar com esse fundamento (agora

pelo agente de execução) e com base no art. 812°-D. f), quando, efectivamente, este preceito

remete para o art. 812°-E. 1, que trata apenas, e só, de casos de indeferimento liminar.

Ora, como se sabe, se a excepção de incompetência em razão do território for julgada

procedente, a consequência legalmente prevista é a remessa dos autos para o tribunal

competente e não o indeferimento (111°. 3).

Pode daqui resultar, de forma legítima, a dúvida sobre se cabem no âmbito da previsão legal

do 812°-D. f), os casos de incompetência territorial, mesmo que sejam de conhecimento

oficioso.

14

Page 36: Fase 1 Do Processo Executivo

Na verdade, a resposta passará por saber até que ponto o executado sairá prejudicado pela

preterição do foro territoriallegalrnente (e imperativamente) previsto até ao momento em que

é citado para deduzir oposição à execução, nela podendo suscitar a excepção de

incompetência.

Por outro lado, as regras de competência cuja violação o legislador determinou serem de

conhecimento oficioso são entendidas como foros imperativos, cujas razões que

determinaram a sua fixação são de superior interesse (veja-se o exemplo do foro real previsto

no n." 2 do art. 940) e de que o legislador entendeu não abrir mão.

Este motivo, só por si, poderá justificar uma sindicância sobre o cumprimento desses

preceitos, pelo que, provocar a intervenção judicial não é de todo desprovida de motivo, ainda

que se reconheça que a situação cai num vazio legal. Por isso, talvez se justificasse uma

clarificação da lei neste ponto.

15

Page 37: Fase 1 Do Processo Executivo

Ana Cristina Tomé Frade - CP n~ 2260Rua Rosa Falcão, 24 - 12 A3000-348 Cormora

I JORNADAS DE ESTUDOS DOS AGENTES DE EXECUÇÃO

ESPINHO, 09 de Abril de 2010

FASE 1

A)

TUDO SE DEVERIA TORNAR O MAIS SIMPLES POSSÍVEL, MAS NÃO TÃOi: ~

SIMPLIFICADO.< Esta frase não foi dita por mim, mas por Einstein.

Contudo, ent,!=ndoque se adapta perfeitamente ao quadro actual da nossa

situação enguantoAgentes de Execução.~i '

<;passo a explicar : ..a reforma da acção executiva iniciada em

2003 com o DL 38/2003, de S/Março, cujo modelo foi recentemente

aperfeiçoado pelo DL 226/2008, de 20/NovEm\bro, visa , como se refere;.!

no preâmbulo, tornar as execuções mais simples e eliminar formalidades

processuais 9,esnecessárias.

implementação, a concretização da ideia na prática, nem sempre é

coincidente com o propósito.

Com efeito, sem pretender pôr em causa os objectivos,

logicamente positivos, da reforma, permitam-me, em meu nome pessoal,

Page 38: Fase 1 Do Processo Executivo

Ana cristina TornéRua Rosa Falcão, 243000-348 Coimbra

Frade - CP n2 2260- 19 A

enquanto Agente de Execução, manifestar o meu total desagrado por

alguns dos norrnativos introduzidos no sistema.

B)

- Desde logo, o primeiro deles é a livre substituição :

Se 0f,'pi!opósito era reforçar os deveres deontológicos do

Agente de .Bxecucão ,~ atribuir urna maior eficácia às execuções através:;

da concorrência, entre os próprios Agentes no desempenho das suas

funçqes, coi:ilb~nefícios para a celeridade processual, desenganem-se os

que,:,assimpensaram oU'/,aindapensam.

Nada disso acontece.

A livre substituição só está a criar atropelos entre

Colegas e urna dependência quase hierárquica entre os exequentes e seus

Mi~mdatários, e os Agentes de Execução.

o que, se está a verif'lcar é que os Agentes de Execução, a. . . .

fim de agr~darem aos seus;'~lientes", tendem a 01vidar alguns dos mais

:basilares deveres da sua actividade, ou seja, a isenção, a

imparcialidade e a verticalidade.!~::

Neste contexto oexequente passa a exercer urna posição. '-:"0

dominante em detrimento do executado.

desagrado, desacordo e repudio perante a medida da livre substituição

do Agente de Execução.

Concordo com a substituição, sim, plenamente, quando haja

motivos devidamente fundamentados para tal.

Page 39: Fase 1 Do Processo Executivo

Ana Cristina Torné Frade - CP nQ 2260Rua Rosa Falcão, 24 - lQ A3000-348 Coimbra

- Outras incongruências que se verificam nesta reforma, são

as variadas interpretações, contradições, incongruências e excepções ,

a que os nossos queridos e sobejamente conhecidos artigos 8122's (do

C ao F) dão azo.

Com se é salutar para o desenvolvimento,

elasticidade e d~~cussão intelectual dos juristas as variadas

interpretações normativas, a divergência dessas normas legislativas,:.:~.:

espeqialmente :§.squ~ se debatem nesta mesa, é, para os Agentes de_. :oj o:"~

Exec:Ução. um autentic'éJ"quebra cabeças".

o Agente de Execução, enquanto figura híbrida que é •. .

enquanto profissional liberal imbuído de funções consideradas de

na.tureza púb:J..ica,é apanhado numa teia de interpretações antagónicas e

divergentes!, queobaralhain e não lhe conseguem atribuir a segurança e

clarividêncIa de '.estar a desempleilharas suas funções com a máxima,

Ôbjectividade que se impõe;

Isto porque são tantos os provimentos emanados pelos

diversos. Tribunais a nível nacional, nos quais as opiniões dos.:

Senhores .ti Magistrados divergem, já não falar das divergentespara e:;: :'{i-

dispersas opiniões dos Senhores Mandatários, dos Senhores

Conservadores .'-~~·:::·:··i::i:',:;;~i.:)~ir.i'! 7ii :::;::

~.~,~:':"J:[lfT/?FfSr/!!:(vej a-se ,..... ;·:·'i:;:::(;:-~'· <:';:;~ ;:'~':<'~';;.:!

'. H.~ •• ~: ,:_;;': ••

forças públiêas'i:®~";';+í'8'Posto X ou Y

e dos Senhores Comandantes das

exigem, para além do despacho

judicial, a marcação da diligência com no mínimo 8 dias de

antecedência e um aviso no próprio dia 30 minutos antes da hora

marcada, sob pena de não comparecerem no local ... enfim

Page 40: Fase 1 Do Processo Executivo

Ana cristina ToméRua Rosa Falcão, 243000-348 Coimbra

F~ade - CP n2 2260- 1" A

Neste contexto, outra alternativa não resta ao Agente de

Execução a não ser desempenhar as suas funções com a firme convicção

que está a ser um profissional com total verticalidade, honestidade,

bom senso, ética, espírito de sacrifício e o muito estudo que se

impõe, sendo capaz de ultrapassar os mais variados obstáculos com que

~. :.

outro ,;i obstáculo'.'~ - :

responsabiiidad~ acrescida do

que vislumbro quanto à amplitude e

Agente de Execução, é a recusa do

requElrimentp executivo

É çerto que nos termos do disposto no art. 8119, nQ 1 do

CPC, o Agente de Execução recusa o requerimento executivo nas, .o." .:':\~

situações explanadas nas aIs. a), b) e c) do mesmo normativo legal.

ora , se todos nós, Agentes de Execução, sabemos ler e

iIlterpretaras normas, a verdade é que, ao recusarmos um requerimento

executivo a um Mandatário , é ce~to -e sabido que outros requerimentos

execut.Lvos" não virão _mais parar ao nosso escritório, quer daquele

<MandatáriQ, quer dos seus amigos, porque "aqui deI rei" aquele Agente

de Execu<[ão recusou-me um requerimento executivo

; E corno nenh~ -de nós t.em um o:denado

! ...

fixo ao final do mês,

precisamos desses requerimentos .__executivos para poder pagar as

estruturas -que cri~p;~:_}!/~-g-~·(:l~§i~;o,o que fazer?'0'0 '-. : ):i/; ,~::·,~·:::.:·-:/:··_~~~:·;~):·~~}i}h)/.(;

ASô]\:!çâÔi-"encontrada para tentar contornar o normativo

legal previsto no art. 811g, n2 1 do CPC, é das duas uma :

a) ou cordialmente convidamos o Mandatário a sanar o vício;

ou

b) enviamos o processo para despacho liminar, sem

fundamentar o motivo, e aguardamos que seja o Magistrado a recusar.

Page 41: Fase 1 Do Processo Executivo

Ana cristina Tomé Frade - CP nO 2260Rua Rosa Falcão, 24 - 1" A3()()()-348 Co irnbra

É certo que nestas circunstancias corremos o sério risco de

sermos condenados em multa de montante entre 0,5 a 5 UC, nos termos do

nQ 3 do art. 8092 do CPC, porque se há fundamento para recusa, é ao

Agente de Execução que compete tal acto, mas por outro lado, se o

fizermos de imediato criamos inimizades com os nossos supostos

\\client~~:;" ! ...

ainda no tocante à recusa do requerimento executivo:

)J,m}a.os fundamentos que motiva a recusa do requerimento'-i

execUtivo é a, falta /ide comprovativo do prévio pagamento da taxa de~. :~~ ;~j

justiça (cfr.'art. 8119, nº 1, a l . c) por força do preceituado na a L.

f)do art. 47i4º do mesmodiploma legal).

Sendo certo que na parte geral do Código de Processo Civil,~i~ .

,"o •• _

os ns s 1 e 2 doart. 1502-A preceituam que se o comprovativo junto for::. .

de valor inferior ao devido equivale à falta de junção, e o n" 3

;refere expressamente que não implica a recusa da peça processual,

porque é,que este normativo não se pode e deve aplicar igualmente às::1

acções executivas ?-:.,":

Por um~.,~.-ffif~~;%;~:~~l,;(Mdebom senso, celeridade e eficácia.:.:;;'i ;.:~i.~:~~)r(.:~_:·-.:_::;~~'J;:' :',

processual ,'êieiB:;:;qúe""inenhum Magistrado nos condenará em multa se

enviarmos um convite ao Mandatário para em 10 dias juntar documento

comprovativo com o valor correcto sem ter que recusar.

E já agora porque não considerar igualmente como

fundamento de recusa ou convite a juntar comprovativo de pagamento a

Page 42: Fase 1 Do Processo Executivo

Ana Cristina Tomé Frade - CP n2 2260Rua Rosa Falcão, 24 - lº A3000-348 Cormbra

provisão da Fase 1 ao Agente de Execução ? Isto é: equiparar I no

momento do pagamento, a taxa de justiça inicial com a provisão para a

Fase 1.

- Outro ,dos fundamentos que deveria ser motivo de recusa do:,.':. !)i

requeriin~nto executivo, no meu modesto entendimento, deveria ser a

falta! de,'. :'1

correctos:,1

elementos identificativos das partes, mas

especialmepte dos e~ecutados... ~:.: . ~ , .:

:t,Isto, porque se geram confusões enormes com a inexactidão

:i;

dos v'par'co s, dados P'~ssoais que muitas vezes são carreados para o

processo.

Em 'alguns casos apenas consta o nome do executado (muitas

vezes incompleto ou com abreviaturas) a morada (a maioria das vezes

incompleta) .e mais nada.

O Oficial de Justiça ao tentar introduzir os dados no

Registo Inf6rmático de Execuções; ou o Agente de Execução quando este

;~cto estiv~r dis;onível naaplicação informática, bem corno a tentativa

:de e f ect.uar pesquisas, enfrentam logo ali um bloqueio intransponível

';:

porque aparecem uma quantidade de nomes idênticos.í.~.r~

Re~9l)}.~B~~_,:;;~';~/(\:}-!:~~iháticada Provisão para a Fase 1,

permi tam-med.:i~26j~á~ii-;:;;furi;1:enteda infeliz redacção da actual tabela

de honorários do Agente de Execução prevista na Portaria 33l-B/2009,

de 30/Março.

Por um lado, porque, no meu modesto entendimento I apenas

deveria haver dois pedidos de provisão ordinários e não três como se

encontra previsto e implementado.

Page 43: Fase 1 Do Processo Executivo

Ana Cristina Tomé Frade - CP n~ 2260Rua Rosa Falcão, 24 - 19 A3000-348 Coimbra

Um pedido de provisão inicial, de valor igual para todos os

Agentes de Execução.

Um segundo pedido na fase da venda.

Poderia haver pedidos de reforço de provisão

extraordinários ou intermédios, sempre que se encontrasse esgotada a

provisÊ{o~~;inicialmente entregue, em função dos actos praticados ou

despesasexcepcion~is efectuadas, depois, de, obviamente demonstrados." ,-, !:;."

tais factos. . ....~.J

o çJe se !;bassaactualmente e que eu já publicamente.'.~ mais

do {Que uma vez. ti,J:e oportunidade de manifestar o meu desacordo.

consiste na seguinte aberração: por exemplo, hoje foi-nos paga a:.;

provisão para a Fast= 1 e amanhã, depois de consultadas as bases de;2dados para apurar o património dos executados e notificar o Mandatário

d? resultado de tais pesquisas ao abrigo do preceituado no art. 833Q-B

d~ CPC, esdou a enviar-lhe já O i~edido de provisão para a Fase 2 e a

informá-Io/ que não tramito o processo sem que este valor esteja

pago ...

Trata-se de um acto que, muito embora esteja,;:'j

processuàlmente previsto e devidamente regulamentado, em nada enobrece

a acti vidadedo Agente de Execução, já tido no meio judicial como um

autentico

Opostamente a esta situação, nos processos em que existe

citação prévia, basta que haja 1 executado e o mesmo não se consiga

citar pela via postal, para de imediato se esgotar a provisão entregue

para a Fase 1 só com as deslocações ou delegações a efectuar , sendo

Page 44: Fase 1 Do Processo Executivo

.~a Cristina Tomé Frade - CP n2 2260Rua Rosa Falcão, 24 - 12 A3000-348 Coimbra

certo que o Agente de Execução não pode pedir reforço de provisão

porque ainda não atingiu o estádio da Fase 2.

Comestes exemplos facilmente se infere o quão desajustada

está esta Tabela.

- urna outra incongruência que detecto e não se adapta de'. :::

forma 'nenhuma à 'reâlidade actual dos Agentes de Execução é a situaçãor::: :i:;

da incompetência absoluta ou relativa, quer em razão de matéria, quer.; . . . o::;.::

de te~ritóiio, quer quanto ao valor da causa.

iPas~'o a e~plicar se conjugarmos o disposto no art. 110Q

do CEC, com oart. 81'~!1-E, aI.b) "ex vi" do que preceitua a al . f) do

art. 812Q-D do mesmo diploma legal, verificamos que o Agente de.... ,

Execução deve remeter o processo a despacho liminar, quando a acção

não tenha sido proposta em Tribunal territorialmente competente,

quando tenha sido proposta nos Juízos Cíveis, quando pelo seu valori.:.i

deveria ter sí.do nas Varas, qu~ndÇ), um outro exemplo, tenha sido

proposta riÚmTribunal Cível,quando se trata de assunto de natureza

familiar e exista Tribunal competente nessa matéria.

Se outrora fazia" sentido o processo ser enviado para o

Tribunal" competente e era menos um processo que se tramitava naquele

Tribunal' e ' ía~~r'~iHW,~*~i~f~i,~,i,~ê~grr~lmenteI será o mesmoAgente de Execução

a continuar;à"t:diliii2k'l!'tO"do o processado, quer esteja o processo no

Tribunal de Faro ou de Braga e pode qualquer um dos Magistrados dessas

comarcas nem tomar sequer contacto com o mesmo.

Logo, fará sentido conduzir o processo a despacho liminar

ou, fará mais sentido, cordialmente, convidar o exequente através do

Page 45: Fase 1 Do Processo Executivo

Ana cristina Tomê Frade - CP n2 2260Rua Rosa Falcão, 24 - 12 A3000-348 Coimbra

seu Mandatário, a suprir ele próprio essa deficiência a fim de nã.o

ferir susceptibilidades e criar as atrás referidas inimizades ?

Numa outra vertente, considero, enquanto Agente de

Execução, que ainda não se encontra bem articulada a comunicação entre

o Tribuh&l e os Agentes de Execução quanto às informações processuais

adicionais que d~v~ ser levadas ao conhecimento destes, mas que, por

imperativos legais, são tramitadas no próprio Tribunal.

Refiro-me, por exemplo, à informação se foi ou não deduzida

oposição à i execução;',se foi ou não prestada caução, se foi ou não

dedu'zi da reclamação d!3 créditos, por quem, qual o Mandatário ou qual o

valor.

São elementos essenciais à normal tramitação e prossecução

dos fins Si,aacção executiva, os quais, se não forem levados ao

conhecimento do Agente de Execução, podem gerar vários atropelos

processuais.

A sugestão é obvia: da mesma forma que ao Agente de

Execução .compete levar ao conhecimento dos autos todo o acta que

repute de relevante para o processo, também o Tribunal deverá informar

desse tipo de ocorrência.

- E por falar em Comunicações entre o Tribunal e o Agente

de Execução, as quais são agora efectuadas preferencialmente pela via

electrónica, através dos respectivos sistemas informáticos, gostaria

de, por um lado, manifestar uma palavra de apreço pela forma como

finalmente o nosso sistema SISAAE/GPESE está a funcionar, sem grandes

Page 46: Fase 1 Do Processo Executivo

Ana Cristina Tomé Frade - CP ng 2260Rua Rosa Falcão, 24 - IR A3000-348 Coirnbra

quebras, ao fim de quase 7 anos, tem sido uma tarefa árdua que

finalmente está a dar os seus frutos e, por outro, de publicamente

efectuar a sugestão que já várias vezes enviei por mail sobre esta

matéria que é a de, se possível, ser colocado um ícone diferente para

assinalar as comunicações que vêm via postal das que apenas nos chegam

pela via'informática para evitar a duplicidade que hoje existe.

mudando de matéria: um outro problema tem surgido com

frequência, espelho da falta de informação que existe quanto às amplas

furrcões agora desempenhadas pelo Agente de Execução: trata-se do

cumprimento do d.ispós t,o no art. 2802, n2 3 do CPC, ou seja, a

verificação dó cumprimentodas obrigações tributárias, outrora nas

acções executivas cumprido pela Secretaria Judicial e actualmente pelo

Agente de Execução.

o que frequentemente tem sucedido é que o Agente de

Execução, ao dar cumprimento a este normativo legal, através de Ofício

<remetido preferencialmente por via electrónica ao Serviço de Finanças

competente, cuja minuta foi emanada pelo nosso Colégio e é idêntica à

enviada \pelos Tribunais, pede-nos o Serviço de Finanças para

especificarmos qual a obrigação fiscal que não foi cumprida, ou então,

noutros casos, insurg~.s:~~,y,~q:';',~landatáriocontra o Agente de Execução.- ...;-.:- .... ,. ";

da causa ! ...

- Uma outra chamada de atenção que gostaria de salientar é

o que preceituam os n9s 4 e 5 do art. 808Q do CPC, ou seja, nas

execuções em que o Estado seja o exequente, o Agente de Execução é o

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Ana Cristina Tomé Frade - CP n" 2260Rua Rosa Falcão, 24 - 1" A3000-348 Coirnbra

Senhor Oficial de Justiça, da mesma forma que nas comarcas onde não

existam Agentes de Execução ou ocorra outra causa de impossibilidade,

também pode o exequente requerer que os actos sejaro praticados por

estes profissionais do foro.

Sempre que o exequente beneficia de apoio judiciário na

rnodalid~de de atribuição de agente de execução, quem deve desempenhar

estas funções éig1.lalmente o senhor Oficial de Justiça I como, aliás,

se encontra consaç rado no art. 35LA da Lei 34/2004, de 29/Julho,

alterada pela Lei n9.47/2007, de 28/Agosto) .

- Permitam-me também aqui referir o Registo Informático deExecuções

Preceitua o n9. 3 do art. 806º do CPC, em vigor desde

31/Março/20Q9, que compete ao Agente de Execução introduzir

diariamente os dados constantes nas diversas alíneas do nº 2 do mesmo

normativolegal, ou seja, a identificação dos bens penhorados, dos

créditos reclamados, a extinção ou suspensão da instância.

o que é certo (e perdoem-me os senhores da parte

informática se estou a errar) I é que ainda hoje tentei efectuar uma

simples consul ta via electrónica e não consegui I quanto mais alterar

ou eliminà':"los.

Ainda no tocante ao Registo Informático de Execuções,

permitam-me aqui realçar o facto de, estando o mesmo actualizado e em

normal funcionamento, ser de extrema importância o que preceituam os

n2s 4 e 5 do art. 8322 do CPC, o qual já se encontrava em vigor, mas

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Ana Cristina Tomé Frade - CP n° 2260Rua Rosa Falcão, 24 - lQ A3000-348 Coimbra

que por vezes poderá passar um pouco despercebido ao Agente de

Execução.

Trata-se do seguinte: ao consultar o registo informático de

execuções e o Agente de Execução verificar que se encontra pendente

uma outra execução para pagamento de quantia certa contra o mesmo.. :.-

executaà.~, deve proceder à remessa do requerimento executivo para esse

outro pro~esso,~ernpre que o exequente seja titular de um direito real

de garantia, sobre o),bem penhorado nesse outro processo pendente e não

tenha ainda sido proferida sentença de verificação e graduação de

créditos.

Quando .:,~nÇJ,momento da remessa, o processo anterior já

esteja na fase do concurso de credores, o requerimento executivo vale

reclarna'~ão de crédi tos, assumindo o exequente a posição decorno

reclarnanteicaso contrário, constitui-se a coligação de exequentes.

Passando agora para urna outra temática: a Lista Pública;de :E:xecuçê)ea

.::;

Desde há poucos dias a·esta parte é que se consegue inserir

os executados na lista pública de

evident~ ao pree~~~~~~1:.;.;.?".,.[.~.~.,~W,[0Vàriados,.:.:-. ··:'·f::;":-."

.,.:::',',- ..... ,: .. :;.: .v:.in f o r'rná t Loa .' ........,

execuções, obedecendo como é

campos para concluir a operação

Confesso que até agora ainda não tive tempo de explorar

devidamente essa área, por isso, aguardo ansiosamente por ouvir os

Ilustres oradores da Mesa 5.

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Ana cristina Tomé Frade - CP nE 2260Rua Rosa Falcão, 24 - le A3000-348 Coimbra

- Ora, permitam-me concluir que se os meios ainda não estão

totalmente ao dispor do Agente de Execução para proceder eficazmente

ao cumprimento das tramitações legais basilares e com as quai s se

inicia o processo executivo, como é que se pode fazer, ao final de um

ano, o balanço estatístico da celeridade processual com que os Agentes<, ·!1

de Execih~Eí.otramitam os processos ? É ainda impossível.

:!",

Evidentemente que daqui!:.,

a alguns meses ou até semanas

poderá passar a ser uma realidade a tão ambicionada celeridade e

econ(Jmia pr9ce~sual,:iiaté porque para quem já desbravou tanto terreno

desde Setembro de 2003 até aos dias de hoje, actualmente estamos no. :,

limiar do ideal, ao passo que em 2003 estávamos na idade da pedra em

termos de processo executivo.

ÇurioséUllenteessa altura, ou seja, o limiar do ideal, irá,

por certo, ser . coincidente corno ingresso dos novos Agentes de

Execução a quem aproveito desde já o ensejo para cumprimentar e

',desejar as maiores felicidades e poder-lhes-á ser atribuída a

eficácia.e celeridade da acção executiva, o.que a meu ver, perdoem-me,t;

não corr~sponderá efectivamente à verdade como atrás se demonstrou.

Voltando.àtêfuáf'iB::;;;r'idaLista Pública de Execuções, naquelas; .. ::'::;::':! ,::':':~-/.:··;d:-.':; :<::~-',:::,~·:~';'(;ii/;';

execuções enlq:\l~),6:~Q~g,~~~~ojá deveria constar da lista pública e não

consta por razões de ordem meramente informática, o Agente de Execução

é obrigado a tramitar as mesmas por imposição dos exequentes, com as

inerentes pesquisas, tentativas de citação, enfim... um trabalho

improdutivo, inútil, frustrante e inglório que muitas vezes não é bem

compreendido pelos Senhores Mandatários que requerem mais este e

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Ana Cristina Tomê Frade - CP n~ 2260Rua Rosa Falcão, 24 - lQ A3000-348 Coimbra

aquele acta, mais esta e aquela tentativa e se o Agente de Execução

alerta para o facto de estar a encarecer o processo com actos que em

nada vão ajudar o exequente a recuperar o seu crédito, ainda se

insurgem contra o Agente de Execução e requerem de imediato a sua

substi tuição porque o Agente de Execução substi tuído não quer é ter-, 1

trabalho :>;! •••

;',:~-,;.:!

Um' outro assunto que entendo ser pertinente trazer ao

debate e refle~ão: á cumulação sucessiva de execuções ;

Prevista no art. 542 do CPC, depara-se o Agente de Execução

variadas vezes com aseguinte.situação:

....

'Numa ..,execução proposta .:' ao abrigo do regime anterior, é

possível curnular a execução de um novo título?

o Manual de Perguntas e Respostas sobre a Acção Executiva

d.í.spon.í.b iLí.aado pela Comissã~para a Eficácia das Execuções refere

taxativamente que não, em virtude de o novo regime só ser aplicável

apenas às execuções,,'iristâgl:'éil,das a partir de 31/Março de 2009 e àsy-;,"; '.:.>~~~;;:::~';~~'.:~~?:~-':'i;·D?/;·:::':·

execuções pêridenE~i:iapiica-se o regime anterior (cfr. arte 23.2 doDecreto-Lei n.2 226/2008, de 20 de Novembro).

Muito embora concorde com o supra referido em virtude daperturbação processual que seguramente decorreria da aplicação

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Ana Cristina Tomé Frade - CP nQ 2260Rua Rosa Falcão, 24 - lQ A3000-348 Coimbra

simultânea de dois regimes processuais, o certo é que já vários

Magistrados discordaram desta interpretação, com a fundamentação

igualmente plausível de que o que é cumulado é um outro título

executivo e não é proposta nenhuma nova acção executiva.

No entanto,i,:

infor.maticamente, torna-se inviável ao:~!j

Mandat~riÓ'; cumuã.az'ao processo já anteriormente existente um novo

título, t~ndo "'que':,'preencher, via CITIUS, um novo requerimento

exec~tivo, ao p1al "{'~i ser atribuída uma nova numeração, podendo até

ser distribhid~: a um ,JUizo completamente diverso daquele onde corre o

processo princJpal.

Verifica-se, assim, que o Agente de Execução tem em curso

uma cumulaç~o sucessiva de ,execuções que mais não é do que váriosI:;:;i

processos distintos .

0.;:".:

Permitam-me aqui deixar umas palavras de puro saudosismo ;

dessa altura, e de 7 anos, fui empregada forense de uma

sociedade de Advogados com os quais trabalhei desde 1986 até 2003 e

tenho saudades daquele tempo em que os diversos operadores judiciários

cooperavam entre si, trabalhavam em conjunto em prol do cidadão, não

andavam de costas voltadas entre os próprios pares, corno agora se

verifica.

Page 52: Fase 1 Do Processo Executivo

Ana Cristina Tomé Frade - CP n2 2260Rua Rosa Falcão, 24 - lº A

3000-348 Coimbra

Actualmente o legislador já não é o Prof. Lebre de Freitas

ou outrora o Prof. Alberto dos Reis, ou o Prof. Vaz Serra, entre

outros Ilustres, e que, quando dúvidas surgiam sobre a interpretação

de determinada norma lá estava a clarividência necessária para

estrutU:r~!damentedirimir o eventual conflito da norma e esclarecer a",regrapeléis pessoas' que a criaram.

: ~ : • o !:: .

0.": :

"" "

""Actualmente, o que se conhece do nosso panorama jurídico, e

aqui.;concretam~nte,áas reformas da acção executiva, é que são vários

os legisladores, vár Los académicos,:'::

cujos nomes ninguém conhece, que

tentam enquadrar no sistema judicial português um copy/paste da

realidade fr~cesa ou belga, sem previamente testar os enquadramentos

legais e essencialmente os aspectos culturais do nosso povo .!".:

C)

Depois de feitas todas estas considerações, é chegada a

altura de abordar as diferentes vertentes da Fase 1 :

- Quanto à Execução para Pagamento de Quantia Certa

da mais instaurada nos nossos

Tribunais :nã6<m~i;ÇbG';~1'~I1garuma vez que considero o trabalho que se

encontra publicado na área restrita da página informática do Colégio

da Especialidade subordinado ao tema Resumo de Procedimentos da Fase

1, um manual extremamente bem elaborado e como tal uma ferramenta de

trabalho à qual todos devemos recorrer.

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Ana Cristina Tomé Frade - CP n2 2260Rua Rosa Falcão, 24 - 12 A3000-348 Coimbra

Da mesma forma que o trabalho disponível na mesma página

sobre Perguntas Frequentes, cujas respostas concretas àquelas questões

foram trabalhadas e ponderadas, e muito bem a meu ver, quer pela Srª

Dr~ Maria João Areias, quer pelo nosso Ilustre Colega Armando

Oliveira.

Como tal, sobre essa matéria, dou por integralmente

reproduzid.o o te9r\J1e tais trabalhos.

- Quanto à Execução para Entrega de Coisa Certa

A maior di,ficuldade na tramitação deste tipo de execução,

prende-se, no meu modesto entendimento, com a análise do título

executivo.

N9 entanto, como habitualmente a mais usada é para entrega

de imóveis.arrendados, fundada por isso em título lavrado nos termos

da Lei 6/2006, obriga forçosamente a remessa do processo para despacho

liminar nos termos da al . d) do art. 812!!-D do CPC.

No entanto, se o título fôr uma sentença, aí, não se remete;:;

a despacho liminar, mas há sempre citação prévia, pelo que este é um

tipo de processo, quanto a mim, muito simples, célere e eficaz.

com a entrega do locado, sem

incidentes, nem oposições.

Temos que ter sempre muita atenção e cautela ao que

preceituam os nQs 2, 4, 5 e 6 do art. 930Q do CPC para que no acta da

entrega não surjam imprevistos pelo facto de não termos, por exemplo,

Page 54: Fase 1 Do Processo Executivo

~_ Ana Crist:ina Tomé Frade - CP n" 2260

Rua Rosa Falcão, 24 - 12 A3000-348 Coimbra

notificado a Câmara Municipal e a Segurança Social para o vulgarmente

designado \\despejo" e assim ter que ser agendada uma nova data.

Se se tratar de outro tipo de entrega de coisa certa e ao

Agente de Execução se suscitarem dúvidas quanto ao título, remete-lo-á

para des~acho liminar conforme dispõe o art. 812E-D, alo e) do CPC.

Por exemplo, se a coisa a entregar fôr um objecto móvel,

que desapareceu, pode este tipo de acção ser convertido numa execução'::;

para paqemerrt o, de quantia certa, mediante a prévia liquidação do

prej~uízo causado (cfr~jart. 9312, 4662, n!!2, 378E, 3802, 8052 e 8012,

n2 1 do CPC e 817Q do C. Civil).

Se surgirem as situações previstas nos art2s 930Q-B, 9302-

C,', 930!!-D, 9~0!!-E e 931!! , todos do CPC, estes artigos não levantam,

quanto a mim,.;, dúvidas de interpretação.

Todos fossem tão claros quanto estes, especialmente os

'812' s ... '

- Quanto à Execução para prestação de Facto :,São 10,?S artigos que regulam este tipo de execução. Como

tal, também não se ';~~~~:~:B'~~(\wtândesdificuldades de interpretação ..:.".:'.'j';.:'. '::':".::'.:.::", :.: .:.:::~

~':" . ::',:.::".. ' . - :···'·;:;:f·7::·.:~'--;·· ," .

Há que referir, no entanto, aquilo que já todos nós

sabemos, mas que nunca é demais re1embrar:

- a prestação do facto pode ser positivo ou negativo, de

natureza fungível ou infungível.

Page 55: Fase 1 Do Processo Executivo

Ana Cristina Tomé Frade - CP n~ 2260Rua Rosa Falcão. 24 - 12 A3000-348 Coimbra

Conforme a situação que ternos que analisar, assim iremos

enquadrar com os normativos legais correspondentes.

Em qualquer caso, este tipo de execução inicia-se sempre

pela citação, ainda que a execução se funde em sentença, conforme

dispõeb'nº 2 do art. 933º do CPC.

.Também a execução para prestação de facto pode ser

convertida em execução para pagamento de quantia certa nos termos dos

ar t s s 934Q e 935Q dó' CPC, caso o exequente pretenda uma Lndemn i.zaoão

pel~ dano sofrido.:'.;

Habitualmente o exequente opta pela prestação do facto por

outrérn, pelo:que terá que requerer ao Agente de Execução a nomeação de

um perito que avalie o custo da prestação, para que se possa proceder:,Õ,:

à penhora de bens necessários para'o pagamento da quantia apurada.

":0 que normalmente tenho por hábito fazer é notificar o

exeguente:para indicar um perito e após, notificar o executado que tem

o prazo de 5 dias para dizer se se opõe ou não à nomeação daquele

perito.

- Quanto,~;i,~~~ç-~~~p:i;,'Especialpor Alimentos,::,::.:, ,. :~~.o:.·~:....".. '

:. ":-.::; '-;'<,,'.:"Regliiadâ'riôs art Q s a 1121º-A do CPC, tem

especificidades próprias.

Tratando-se de um processo tutelar cuja demora pode causar

prejuízo aos interesses dos menores, trata-se de um processo urgente,

cuja análise e processamento requer uma especial atenção por parte do

Agente de Execução.

Page 56: Fase 1 Do Processo Executivo

Ana Cristina Tomé Frade - CP nQ 2260Rua Rosa Falcão, 24 - 19 A3000-348 Coimbra

- Um outro assunto que se poderá enquadrar perfeitamente na

temática desta mesa é a predisposição do Agente de Execução para a

efectivação de Notificações Avulsas.

i:·Da leitura do art. 2619 do CPC parece tudo muito simples e

de facto ~ssim é'.;

desde que encontremos o requerido, se fôr logo na

primeira visita então é uma sorte, entregamos-lhe o duplicado e cópia:" ~,

';

dos documentos que o acompanham, lavramos a certidão do acto e o. . ~:;

notificandoas~ina. Tudo muito bem.

o pior é 9uando não o conseguimos encontrar, não obstante

irmos lá uma, duas, três ou mais vezes, ou quando o mesmo se recusa a

assinar, ou quando encontramos terceira pessoa que até convive com o

requerido.

Ora, se da leitura do artigo 2612 do CPC se depreende que a

Notificação Avulsa apenas produz efeitos se efectuada na própria

;:pessoa do requerido, mas se por outro lado se trata de um acta

equiparado à citação para efeitos de interrupção do prazo

prescricional conforme resulta dos muitos Acordãos que analisei,:; .

porque ~ãO poder aplicar às No~ificações Avulsas o que preceituam as

regras' da citação':-F~~,}.g~~q~é'iiteo que dispõe o art. 2392 e segs. do:.:~'.. : .~,-:::;':" ;" ....

.",": :;·::·::-:·)1:.:· ..·:: ", .~.:::,

CPC?

- Quanto aos processos de execução previstos no âmbito do

CÓdigo de Processo de Trabalho ;

Page 57: Fase 1 Do Processo Executivo

_~~a Cristina Tomé Frade - CP n2 2260-Rua Rosa Falcão, 24 - I" A

3000-348 Coimbra

Inicia-se este tipo de acção executiva nos termos previstos

no artº 88º do referido Código.

No meu modesto entendimento, e com todo o respeito pelas

opiniões divergentes, que sei que existem, por aplicação do disposto

no n2 2do art. 12 da Portaria 33l-A/2009, de 30/Março, este tipo de

execução não compet'e ao Agente de Execução tramitar .

..Par a além deste normativo legal, também o art. 892, n2 1 do;:

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CPT, refere expressamente que é a secretaria que notifica o credor. .

para. :nomear:',beris do devedor.

No .entanto, decorrida esta fase, e logo após o credor

nomear os bens, o Tribunal têm-nos remetido o requerimento de nomeação

de bens (t.ão simplesmente, por vezes numa folhinha A4 onde não se

vislumbram sequer quem são as partes) e lá ternos andado a penhorar" ~.

:. . ..

bens ao devedor .e a trami tar as fases seguintes.

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Não obstante o código de Processo de Trabalho estar

constantemente a remeter a aplicabilidade subsidiária para o Código de

Processo civiL convém aqui realçar o facto de haver diferenças de,- ".

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Page 58: Fase 1 Do Processo Executivo

;~~a Cristina Tomé Frade - CP n2 2260~Rua Rosa Falcão, 24 - 12 A

3000-348 Coimbra

Inicia-se este tipo de acção executiva nos termos previstos

no artQ 88Q do referido Código.

No meu modesto entendimento, e com todo o respeito pelas

opiniões divergentes, que sei que existem, por aplicação do disposto

no ne 2do art. P da Portaria 33l-A/2009, de 3D/Março, este tipo de

execução não compete ao Agente de Execução tramitar.'.:! ~:...-' .

.Paz a além deste norrnativo legal, também o art. 8ge, ne 1 do:.:;

CPT, refere expressamente que é a secretaria que notifica o credor

paramomear be:ds do devedor.--- "'"""--."., -.--.. -- ~~

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No 'entanto, decorrida esta fase, e logo após o credor

nomear os bens, o Tribunal têm-nos remetido o requerimento de nomeação

de bens (t ão simplesmente, por vezes numa folhinha A4 onde não se

v,islumbrarn .saque.r quem são as partes) e lá temos andado a penhorar

bens ao devedor .e a tramitar as fks~s seguintes.

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Não obstante o Código de Processo de Trabalho estar

constantemente a remeter a aplicabilidade subsidiária para o Código de

processo'; crvil,'. .,: : : .~. .: .' .... '- - .. .

convém aqui realçar o facto de haver diferenças de

trami tacão , desde, logo porque a execução se inicia com a nomeação de

o nQ 2 do art. 892 daquele diploma

-:»:

Após a penhora de bens I o executado é notificado {e não

citado) simul taneamente com o requerimento executivo do despacho

determinativo da penhora e da realização desta para no prazo de 10

di?s, querendo, deduzir oposição (cfr. art. 912 do CPT).

Page 59: Fase 1 Do Processo Executivo

Ana Cristina Tomé Frade - CP n2 2260Rua Rosa Falcão, 24 - 12 A3000-348 Coimbra

- Um outro assunto que se poderá enquadrar perfeitamente na

temática desta mesa é a predisposição do Agente de Execução para a

efectivação de Notificações Avulsas.

Da leitura do art. 261Q do CPC parece tudo muito simples e

de facto assim é. desde que encontremos o requerido, se fôr logo na

primeira visita então é uma sorte, entregamos-lhe o duplicado e cópia

dos documentos que o acompanham, lavramos a certidão do acto e o," . .

notificandoas~ina. Tudo muito bem.

o p,ior é quando não o consegu~mos encontrar, não obstante

irmos lá uma, duas, três ou mais vezes, ou quando o mesmo se recusa a

assinar, ou quando encontramos terceira pessoa que até convive com o

requerido.

Ora, se da leitura do artigo 261"- do CPC se depreende que a

Notificação Avulsa apenas produz efeitos se efectuada na própria

,pessoa do requerido, mas se por outro lado se trata de um acto

equiparado à para efeitos interrupção docitação de prazo

prescricional conforme resulta dos muitos Acordãos que analisei,

porque não poder aplicar às Notificações Avulsas o que preceituam as

regras o que dispõe ,o art. 2392 e 6egs. do

CPC?

- Quanto aos processos de execução previstos no âmbito doCódigo de Processo de Trabalho ;

Page 60: Fase 1 Do Processo Executivo

êAna Cristina Tomé Frade - CP nº 2260-Rua Rosa Falcão, 24 - 1º A- 3000-348 Coímbra

,

A regra é não ser admitida reclamação de créditos, à

excepção das situações previstas no n2 2 do art. 98Q do CPT.

- Quanto aos procedimentos cautelares :

No meu modes to entendimento, e com todo o respei to pelas

opiniões'divergentês, que sei que existem, também neste caso, por

aplicação do disposto no nº 2 do art. 1º da Portaria 331-A/20D9, de: :'.~

3D/Março, este tipo de acto não compete ao Agente de Execução tramitar

sim ao bficiaf de Justiça,mas por se tratar de um processo

declarativo.i:'

No entanto, porque se encontra previsto o pagamento dos

arrestos ou arrolamentos na nossa Tabela de honorários, o que é certo

que nos têm" sido remetidos' e o Agente de Execução tem que forçosamente:~;

dar prioridade a este acta por vse tratar de um processo urgente,

conforme preceitua o art.3822 do CPC.

Por último, que longa vai a PFesente exposição, o tempo éo":".;

curto, e'llão os querendo maçar mais, tendo consciência que muito ficou

por dizer, termino parafraseando Madre Teresa de Calcutá \\A nossa

missão não é julga:r:,,9.V~§-'-;'~:!;r~?~toou injusto: é apenas ajudar"...... ::::.') ..' ':;.:~~.~.:.~:"":'::;:.~":f!'.;::'.t

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