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FACULDADES CEARENSES CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL MARIA JOSÉ DE OLIVEIRA A POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO NO EIXO QUE ENVOLVE A VALORIZAÇÃO DO TRABALHADOR EM SAÚDE FORTALEZA/CEARÁ 2014

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FACULDADES CEARENSES

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS

BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL

MARIA JOSÉ DE OLIVEIRA

A POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO NO EIXO QUE ENVOLVE A

VALORIZAÇÃO DO TRABALHADOR EM SAÚDE

FORTALEZA/CEARÁ

2014

MARIA JOSÉ DE OLIVEIRA

A POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO NO EIXO QUE ENVOLVE A

VALORIZAÇÃO DO TRABALHADOR EM SAÚDE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

como requisito parcial para obtenção de grau de

Bacharel em Serviço Social pela Faculdade

Cearense – FaC.

Orientadora: Flaubênia Maria Girão Queiroz.

Fortaleza/Ceará

2014

Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274

O48p Oliveira, Maria José de

A política nacional de humanização no eixo que envolve a

valorização do trabalhador em saúde / Maria José de Oliveira.

Fortaleza – 2014.

87f. Orientador: Profª. Ms. Flaubênia Maria Girão de Queiroz.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Faculdade

Cearense, Curso de Serviço Social, 2014.

1. Trabalho em saúde. 2. Humanização. 3. Valorização. I.

Queiroz, Flaubênia Maria Girão de. II. Título

CDU 376

A todos os profissionais da saúde,

que se lançam cotidianamente à missão do cuidado.

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar ao Meu Senhor Deus Todo Poderoso que permite que coisas maravilhosas

aconteçam em minha vida.

As filhas amadas Deborah Noamí e Camilla de Oliveira que tão fortemente suportaram minha

distância.

Ao meu amado, parceiro e esposo Júlio Antônio de Medeiros.

A Meus pais Isabel Alves e Raimundo Dias (in memoriam) exemplos irreprováveis.

A Meus irmãos Dalva de Oliveira, Raimundo Dias Filho, Irailton José, Francisca Maria, Maria

Reis, Isa Alves, sempre presentes em minha vida.

A Flaubênia Girão, orientadora, amiga, inspiração, exemplo de solidariedade

As amigas queridas Nádia Bessa e Liziany Amora, amigas fiel para toda à vida.

A Raquel Abreu e Sabrina Vieira, filhas do coração.

A todo corpo Docente da Faculdade Cearense em especial as professoras Eliane Carvalho,

Joelma Freitas, Mário Henrique, Virsangela Sandy, Richelly Barbosa, professor Marco

Antônio e todos que juntos com a Faculdade Cearense cooperaram com esta oportunidade.

Aos amigos do laboratório Central do Hospital das Clinicas: Elizabeth Yokobatake, Liduína

Braga, Erivanda França, Glairta Costa, Júlio Torres, Ana Paula do Carmo, Janiel Florêncio, e

todos, que sempre me apoiaram e acreditaram nessa vitória.

A todos os Funcionários do Hospital São José especialmente a Iolanda Jacob, Paulo Germano,

Conceição Castelo, Dayne Belchior, Rita de Cássia Barbosa, Vânia Damasceno e a todos os

demais.

A Wandemberg Ribeiro grande amigo e cooperador.

As Assistentes Sociais Alessandra Liz e Tânia Braule, técnicas e amigas queridas.

Aos sujeitos das entrevistas, meu particular reconhecimento.

E a todos aqueles que direto ou indiretamente participaram deste projeto.

Restam outros sistemas fora

do solara colonizar,

ao acabarem todos

só resta o homem

(estará equipado?)

a dificílima dangerosissima viagem

de si a si mesmo:

por o pé no chão

do seu coração

experimentar

colonizar

civilizar

o homem descobrindo

em suas próprias

inexploradas entranhas

a perene insuspeitada

alegria de

CONVIVER

(Carlos Drumond de Andrade)

LISTA DE SIGLAS

AIDS: Síndrome da Imunodeficiência adquirida

CAPs: Caixas de Aposentadorias e Pensões

CAPs: Centro de Atenção Psicossocial

IAPs: Instituto de Aposentadorias e pensões

EPIs: Equipamento de Proteção Individual

HIV: HumanImmunodeficiency Virus (Vírus da imunodeficiência Humana)

INPS: Instituto Nacional de Assistência Social

IPDSC: Instituto de Pesquisas do Discurso do Sujeito Coletivo

MS: Ministério da Saúde

NR 32: Norma Reguladora nº 32

PNH: Política Nacional de Humanização

PSF: Programa de Saúde da Família

PNI: Programa Nacional de Imunização

SUS: Sistema Único de Saúde

SALTE: Saúde, Alimentação, Transporte e Energia.

SESP: Serviço Especial de Saúde Pública

SUCAM: Superintendência de Campanhas da Saúde Pública

UNICEF: Fundo das Nações Unidas para a Infância

USP: Universidade de São Paulo

RESUMO

O estudo teve como objetivo identificar como se concretiza a política Nacional de

Humanização do SUS em um hospital municipal de Fortaleza, no que diz respeito ao eixo que

envolve a valorização dos profissionais da saúde. Buscou-se também determinar as políticas

de saúde que garante direito à saúde humanizada; identificar ações de fortalecimento definidas

pela Política Nacional de Humanização para promoção e valorização dos trabalhadores no

ambiente institucional; conhecer o entendimento dos profissionais da saúde na unidade sobre

humanização no exercício do trabalho em saúde; e identificar os desafios postos a efetividade

da PHN/SUS para valorização dos profissionais na instituição. O marco teórico

fundamentador foi a Política Nacional de humanização presente na totalidade do estudo.

Jairnilson Paim e Zenaide Aguiar propiciaram as principais informações na elaboração do

resgate histórico das políticas de saúde no Brasil. Trabalhou-se com Antunes, Giordani, e

Sodré com a intenção de oferecer elementos especulativos e compreensivos sobre o trabalho

e o trabalhador em saúde, a humanização em saúde e a valorização. O estudo teve uma

abordagem com característica qualitativa, exploratória, cujo delineamento constitui como

pesquisa bibliográfica e de campo. Para a coleta de dados foi utilizado um roteiro de

entrevistas com perguntas semi–estruturadas realizada com oito sujeitos distribuídos em cinco

categorias de profissionais. O critério de inclusão destes profissionais é que os mesmos

pudessem estar desenvolvendo suas atividades diretamente ligadas ao público atendido no

Hospital Distrital Maria José Barroso de Oliveira (Frotinha de Parangaba), campo deste

estudo. Os resultados foram analisados à luz do Discurso do Sujeito Coletivo. A pesquisa

revelou que na instituição há deficiência no processo de reconhecimento e valorização do

trabalho e do trabalhador em saúde, o que reclama a materialização da PNH.

Palavras - chave: Trabalho em saúde. Humanização. Valorização.

ABSTRACT

The study aimed to identify how it operates the National Humanization of SUS policy in a

municipal hospital in Fortaleza, with respect to the axis involving the valuation of health

professionals. We attempted to also determine health policy that guarantees the right to human

health; identify actions to strengthen defined by the National Humanization Policy for

promotion and exploitation of workers in the institutional environment; know the understanding

of health professionals in the unit on humanization in the exercise of health work; and identify

the challenges posed effectiveness of PHN / SUS for valuation professionals at the institution.

The theoretical framework was founding the National Policy on present throughout the study

humanization. Jairnilson Paim and Zenaide Aguiar have provided key information in preparing

the historical restoration of health policies in Brazil. We worked with Ali, Giordani, and Sodré

with the intention of offering speculative and understanding about the work elements and

worker health, humanization of health and recovery. The study took an approach with

qualitative, exploratory characteristics, whose design is as bibliographical and field research.

For data collection, a set of interviews with semi-structured questions performed with eight

subjects divided into five categories of professionals was used. The inclusion criteria for these

professionals are that they could be developing their activities directly linked to the public

served at the District Hospital Maria José Barroso Oliveira (Frotinha of Parangaba) field study.

The results were analyzed by the Collective Subject Discourse. The research revealed that there

is a deficiency in the institution in recognition and appreciation of the work and worker health,

which calls for the materialization of the HNP process.

Keywords: Health work. Humanization. Recovery.

Lista de Quadros

1. Perfil dos sujeitos da Pesquisa............................................................. 34

2. Quadro 2. Questão 1 análise do Discurso do Sujeito Coletivo.............36

3. Quadro 3. Questão 2 análise do Discurso do Sujeito Coletivo.............41

4. Quadro 4. Questão 3 análise do Discurso do Sujeito Coletivo.............44

5. Quadro 5. Questão 4 análise do Discurso do Sujeito Coletivo.............48

6. Quadro 6. Questão 5 análise do Discurso do Sujeito Coletivo.............53

Sumário

INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 11

1.0 A SAÚDE NO BRASIL: O SUS E A PNH........................................................................ 14

1.1 Breve histórico da saúde no Brasil e a construção do SUS.........................................14

1.2 Avanços e desafios do SUS........................................................................................ 23

1.3 A Política Nacional de Humanização......................................................................... 28

2.0 TRABALHO E VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL: DESAFIOS DA PNH................. 31

2.1 Trabalho e a realidade dos trabalhadores da saúde..................................................... 31

2.2 Humanização do trabalho em saúde............................................................................35

2.3 Valorização do trabalho e do trabalhador em saúde....................................................38

3.0 PERCURSO METODOLÓGICO..................................................................................... 41

3.1 Caracterização da Pesquisa......................................................................................... 42

3.2 Campo e sujeitos da Pesquisa..................................................................................... 44

3.3 Análises dos resultados...................................................................................... ........ 47

4.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................... 78

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................................71

APÊNDICES...........................................................................................................................73

ANEXOS ................................................................................................................................83

11

INTRODUÇÃO

O presente estudo é resultado de um comportamento inquietante em esquadrinhar a

realidade dos profissionais de saúde, adquirido ao longo do Bacharelado em Serviço Social da

Faculdade Cearense. Nos primeiros semestres do curso, elaborou-se um projeto de pesquisa

com orientação para a área da saúde. O projeto adquiriu consistência relevante ao longo da

graduação, incorporou novos conhecimentos advindos de estudos teóricos e da realidade vivida

pela pesquisadora em sua experiência de estágio curricular.

A aproximação com o objeto de pesquisa se deu no período de um ano e meio (de

Fevereiro de 2012 a junho de 2013) em estágio curricular no serviço social de um hospital

vinculado à rede municipal de Fortaleza e campo deste estudo. Também foi resultado da relação

profissional da pesquisadora com a área da saúde, visto que a mesma participa do processo de

produção de saúde, exercendo função na área técnica em estabelecimento de saúde vinculado à

rede pública.

A Política Nacional de Humanização no eixo que envolve a valorização do trabalhador

em saúde, tema proposto, objetiva identificar como se concretiza a Política Nacional de

Humanização em um hospital municipal de Fortaleza no que diz respeito ao eixo que envolve

a valorização do trabalhador em saúde. O empreendimento exigiu construções teóricas

estabelecidas desde o início da história do Brasil.

Para melhor compreender o tema, buscou-se o desenvolvimento das políticas de saúde

elaborado por meio de um resgate histórico daquilo que era disponibilizado para a população

antes do Sistema Único de Saúde (SUS). É um estudo que visa determinar as políticas de saúde

com referência na garantia de direito à saúde, assim também, como os novos modelos de

intervenções para a área, construídos a partir dos princípios e diretrizes do SUS com intenções

de promover saúde de qualidade com acesso irrestrito a toda a população brasileira.

Durante o percurso da pesquisa, percebeu-se que as políticas de saúde no Brasil antes

do SUS, caracterizaram-se por acompanhar as tendências econômicas e políticas de cada

momento histórico. O primeiro capítulo mostrou que a história da saúde no Brasil foi marcada

pela ausência de intervenção do poder público nas políticas de saúde. Aguiar (2011) afirma

que não havia ações de saúde preventivas no Brasil, antes do SUS, algumas medidas

12

interventivas nessa intenção visavam apenas minimizar problemas de saúde pública com

intenções claras de amenizar qualquer problema que pudesse comprometer a produção

econômica e o comercio de exportação.

A história da saúde, portanto, construiu-se em torno da salvaguarda da política

econômica em detrimento das políticas sociais, mesmo com a proclamação da República em

1989 e a organização do Estado Brasileiro Moderno, a intervenção do Governo Federal sobre

ações de saúde, ainda encontrava-se diretamente atrelada à exportação de mercadorias, e ao

comércio internacional.

O Movimento de Reforma Sanitária1 nos anos 80 foi responsável por conceber a saúde

sob a dimensão do direito. O Movimento foi responsável também pela politização do papel da

saúde e das instituições prestadoras de serviços na área. A sociedade brasileira reclamava a

ampliação da cidadania e o direito de ter a saúde na agenda política brasileira materializada na

VIII Conferencia Nacional de Saúde2. Segundo Aguiar (2011) o relatório final da VIII

Conferência Nacional de Saúde foi inspiração para o capítulo “saúde” da Constituição Federal

de 1988.

Com a aprovação do SUS como política pública incorporou para a saúde a maioria

das reivindicações da Reforma Sanitária, representando uma das maiores conquistas sociais do

povo brasileiro. Integraram na Constituição Federal proposições advindas da sociedade civil

com relativas mudanças no papel do Estado e a alteração do sistema público de saúde.

No segundo capítulo são contemplados os avanços e desafios do SUS. Os Princípios

da integralidade, universalidade e equidade são concebidos como avanços nas políticas de saúde

gestados a partir do Movimento de Reforma sanitária. Princípios que possibilitam a

compreensão do conceito ampliado de saúde, estabelecido a partir da aprovação do SUS e

reconhecidos em sua determinação social para proteção, promoção e recuperação em saúde.

Quanto aos desafios do SUS estas são novas questões relacionadas à escassez de acesso, o

1Este foi um projeto articulado ao longo dos anos 70 e 80 encaminhado pelo Movimento sanitário composto por

profissionais de saúde, lideranças populares, trabalhadores, sindicatos, parlamentares de esquerda, intelectuais,

estudantes de saúde e algumas entidades que lideravam a luta em favor da saúde. (AGUIAR, 2011)

2A VIII Conferência Nacional de Saúde foi um evento realizado em Brasília (DF) em 1986, resultado da

redemocratização do país em 1985.

13

reconhecimento sobre as necessidades dos usuários dos serviços de saúde e a implementação

de programas de humanização das práticas e processos. Desafio com propostas de atuar nas

lacunas do SUS e instituídos na Política Nacional de Humanização.

A Política Nacional de Humanização vincula se a valorização dos diferentes sujeitos

implicados no processo de produção de saúde, o tripé da humanização: usuário, trabalhador e

gestor. A política propõe atuar a partir da autonomia e o protagonismo dos sujeitos. O

trabalhador de saúde, sujeito deste estudo, é o trabalhador do sistema capitalista que vende sua

força de trabalho em troca de um salário, esse trabalhador sofre do processo de Precarização do

trabalho, no entanto, é um trabalho ora gerador de sofrimento, ora de satisfação desde que

tenham suas atividades socialmente reconhecidas.

Este estudo conduz ao entendimento da Concretização da Política Nacional de

Humanização no eixo que envolve a valorização do trabalhador, por meio da pesquisa social

qualitativa, busca entender o universo dos motivos, das aspirações, dos valores e das atitudes

inseridas num universo de representações e intencionalidades vistas num recorte da realidade

social (Minayo, 2004). O material para análise desta pesquisa foi capturado em entrevistas

semi-estruturada e interpretado à luz do Discurso do Sujeito Coletivo.

Na problemática proposta, compreendeu-se que o trabalhador sofre das consequências

de um processo de trabalho precarizado em instituições de saúde, que esse trabalhador padece

ainda dos agravos de um trabalho não reconhecido e pouco valorizado. Mostrou-se que o

trabalhador em saúde conhece a Política Nacional de Humanização e reconhece a carência de

projetos com temas sobre humanização para a Instituição, concordando, portanto, com a

necessidade da materialização da Política Nacional de Humanização para melhoria das

condições de trabalho na unidade. As ações em ambientes hospitalares voltados para a

humanização favorecem a melhoria do ambiente de trabalho por meio da autonomia e o

protagonismo dos sujeitos implicados no processo de produção de saúde.

14

1.0 A SAÚDE NO BRASIL, O SUS E A PNH

O homem não é a soma do que tem, mas a totalidade do que ainda não tem,

Do que poderia ter (SARTRE)

O presente capítulo objetiva fundamentar a construção histórica da política de saúde no

Brasil que antecedeu o Sistema Único de Saúde (SUS), uma trajetória que adquiriu ao longo de

sua evolução, características marcantes por acompanharem as tendências políticas e

econômicas de cada momento histórico. Essas características tanto se revelaram por andarem

próximas às políticas econômicas e às sociais, quanto à obediência à ótica do capitalismo

internacional. Representava um modelo de saúde que não priorizava a saúde preventiva,

merecendo atenção apenas situações de epidemias ou endemias que, a partir de seu

agravamento, geravam resultados negativos, refletidos diretamente na área econômica e social.

(AGUIAR, 2011).

O capítulo mostra que somente a partir dos anos 80, final do século XX, com o

reconhecimento do SUS como política pública estabelecida na Constituição Federal de 1988,

foi possível visualizar a saúde concebida como direito de todos e dever do Estado e com acesso

irrestrito a toda população. O SUS significou uma das maiores conquistas sociais do povo

brasileiro. Sua materialização representa a possibilidade de progredir num processo de saúde

vinculada à condição de cidadania, relacionada com a qualidade de vida. Assim, ao longo do

estudo, vê-se que o SUS caminha em parceria com outras políticas no intuito de oferecer amplas

respostas às demandas sociais da população brasileira.

1.1 Breve Histórico da Saúde no Brasil e a Construção do SUS

No Brasil, nos anos de 1500 a 1889, períodos que corresponderam ao Brasil Colônia e

Brasil Império, respectivamente, as autoridades sanitárias lidavam com inúmeras doenças

transmissíveis, trazidas num primeiro momento, pelos colonos portugueses e, posteriormente,

pelos escravos africanos, além dos diversos estrangeiros que vinham para o Brasil, com

intenções comerciais ou imigração.(AGUIAR, 2011). Muitas dessas doenças tornaram-se

endêmicas e outras provocaram epidemias de grande gravidade, a ponto de dizimar elevado

número de contingente populacional. Eram doenças infectocontagiosas, doenças relacionadas

15

à desnutrição, além dos acidentes provocados por animais venenosos. Como mostra Aguiar

(2011)

[...] Eram frequentes as doenças sexualmente transmissíveis, a lepra (hoje conhecida

como Hanseníase), a tuberculose, a febre amarela, a cólera, a malária, a varíola,

leishmaniose, além de doenças provocadas por desnutrição, acidentes provocados por

animais peçonhentos, e as decorrentes das aglomerações urbanas nas cidades e das

condições precárias de trabalho nas lavouras. (AGUIAR, 2011, p.18).

A intervenção na saúde praticada no Brasil na época era o espelho da organização

sanitária de Portugal. Os serviços de saúde disponibilizados às tropas militares brasileiras eram

subordinados ao cirurgião-mor dos Exércitos de Portugal. O físico-mor respondia pelo

saneamento e pela profilaxia das doenças epidêmicas, além de questões relacionadas ao

trabalho dos médicos, farmacêuticos, cirurgiões, boticários, curandeiros e outros. As

autoridades locais, como as câmaras municipais, respondiam pela higiene das cidades,

fiscalização dos portos, e o comércio de alimentos. (PAIM, 2009).

Os períodos Colônia e Império (1500-1889) foram marcados pela ausência de política

de saúde no Brasil, existiam apenas medidas interventivas que visavam minimizar os problemas

de saúde pública, com intenções claras de reduzir problemas que comprometessem a produção

econômica e o comércio internacional. O saneamento dos portos por onde escoavam as

mercadorias, a urbanização e infraestrutura dos centros urbanos de maior interesse econômico

(Salvador, Recife, Ouro Preto, Rio de Janeiro, Cuiabá e São Paulo) e as campanhas de combate

às endemias frequentes e prejudiciais à produção, eram medidas pontuais, abandonadas assim

que o surto das doenças era controlado. (AGUIAR, 2011).

O acesso aos serviços médicos era limitado, restrito apenas às famílias muito ricas, entre

elas os coronéis do café. Os demais (índios, negros e brancos pobres) buscavam refúgio para

suas doenças na medicina popular, nas sangrias (extração de sangue: procedimento utilizado na

época para a cura de diversas doenças) e nas Santas Casas de Misericórdia, criadas em 1543,

destinadas ao abrigo de doentes indigentes e viajantes sem assistência médica. (AGUIAR,

2011). Segundo Paim (2009), a organização sanitária de saúde no final do império era simplória,

incapaz de oferecer respostas satisfatórias aos graves problemas de saúde que havia na época.

As soluções existiam apenas para os ricos que podiam pagar por tratamentos de saúde.

[...] Ao final do Império, era rudimentar e centralizada a organização sanitária brasileira,

incapaz de responder às epidemias e de assegurar a assistência aos doentes sem

16

discriminação. As pessoas que dispunham de recursos eram cuidadas por médicos

particulares, enquanto os indigentes eram atendidos pelas casas de misericórdia, pela

caridade, e pela filantropia. (PAIM, 2009 p. 27).

A reforma dos serviços sanitários efetuada, durante o Império (1822-1889), com a

criação da Inspetoria Geral de Higiene, a Inspetoria Geral de Saúde dos Portos e o Conselho

Superior de Saúde Pública, possibilitou, pela primeira vez no Brasil, realizar medidas voltadas

para a higiene escolar e para a proteção de crianças e adolescentes que trabalhavam em fábricas.

No entanto, essas medidas ainda eram ineficazes para o sistema sanitário brasileiro para

responder às demandas de saúde da população. (PAIM, 2009).

A proclamação da República do Brasil em1889 marca a organização do Estado

Brasileiro Moderno. Implantou-se no país um novo modelo de gestão de saúde em que a

responsabilidade das ações passava a ser atribuída aos estados. O Governo Federal atuaria

apenas onde não cabia a intervenção dos governos estaduais, ou seja, nos serviços de saúde

terrestres, marítimos e na Diretoria Geral de Saúde Pública, pois o governo tinha a finalidade

de atuar na vigilância sanitária dos portos.

Segundo Aguiar (2011), no final do século XIX e início do século XX, tiveram início

ao processo de industrialização no Brasil. Algumas iniciativas no campo da saúde pública

surgiram como a vigilância no exercício profissional e as campanhas limitadas, essas medidas

foram resultado direto das transformações econômicas e políticas específica da época.

No início do século XX, a saúde desponta como questão social3no interior da economia

capitalista exportadora cafeeira (BRAGA E PAULO, 1986 apud BRAVO, 2009) refletindo um

avanço da divisão do trabalho, ou seja, a formação de um proletariado com trabalho assalariado,

resultado do intenso processo de industrialização e urbanização. A organização da saúde nesse

período tornou-se bastante complicada. Paim (2009) retrata a saúde inserida numa completa

omissão do poder público, fato que fez emergir uma espécie de “não-sistema de saúde”, um

modo no qual a intervenção estatal só interferiria em situações quando os indivíduos sozinhos

ou a iniciativa privada não fosse capaz de responder pela demanda. Esse “não sistema” formou-

3A questão social e seu aparecimento no Brasil referem-se à generalização do trabalho livre numa sociedade

marcada pelo escravismo. Indica, ainda, a respeito de seu desdobramento como resultado da formação da classe

operária, sua participação no cenário político e a urgência em ser reconhecido pelo Estado em comporpolíticas

publicas capazes de responder às reivindicações dos trabalhadores, Iamamoto, (2009).

17

se ao longo do século XX, marcado principalmente pela separação entre as ações de saúde

pública e a assistência médico-hospitalar.

Dessa forma, no século XX, ainda persiste o predomínio de doenças pestilentas como:

cólera, febre amarela, malária, tuberculose, tifo, varíola, gripe espanhola e outras. (AGUIAR,

2011). As epidemias comprometiam a economia agroexportadora, impondo ao poder público a

adotar medidas sanitárias nas cidades, principalmente em áreas fundamentais para a economia

agrária exportadora. Algumas medidas sanitárias de combate às doenças foram implementadas,

entre elas, o combate a vetores transmissores de doenças e a vacinação obrigatória. Foi uma

época marcada pela realização de campanhas sanitárias e reforma de órgãos Federais. (PAIM,

2009).

Nos primeiros anos do século XX as campanhas sanitárias de combate as doenças, foram

lideradas pelos médicos Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, Emílio Ribas, Belisário Penna, Barros

Barreto, e outros. Segundo Paim (2009), a partir das campanhas de vacinação foram criados os

Códigos Sanitários e a implantação de instituições científicas para pesquisa biomédica,

influenciando, assim, a formação de uma comunidade científica e o estabelecimento de políticas

de saúde. No entanto, a história se repete e revela as ações de proteção à saúde no Brasil em

ações episódicas, direcionadas às doenças específicas, além de se constituírem em ações

repressoras e autoritárias, tratadas como questão de polícia, inspirada no que se denominava

polícia Sanitária.

[...] Naquela época não existia um Ministério da Saúde. A saúde era tratada mais como

caso de polícia do que como questão social. E o órgão cuidava da saúde púbica

vinculava-se ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores. A realização de

campanhas lembrava uma operação militar, e muitas das ações realizadas inspiravam-

se no que se denomina polícia sanitária. (PAIM, 2009, p.29).

Em 1920, Carlos Chagas assumiu o comando do Departamento Nacional de saúde,

inovando o modelo campanhista de Oswaldo Cruz, e elabora para o período um programa de

propaganda sobre educação sanitária para a população como forma de prevenção das doenças.

Na ocasião, foram criados alguns órgãos para controle da tuberculose, da lepra, e das doenças

sexualmente transmissíveis. Foi o nascimento da saúde pública no país, cujo modelo de

intervenção baseava-se no sanitarismo campanhista. Nessa época, surge a Previdência Social

incorporando a assistência médica dos trabalhadores como uma de suas atribuições comas

Caixas de Aposentadorias e Pensões. (CAPs) (AGUIAR, 2011).

18

As CAPs, segundo Aguiar (2011), foram juridicamente regulamentadas pela Lei Elói

Chaves de 1923. O financiamento era proveniente da União, das empresas empregadoras e do

Estado. Previa assistência médica curativa, fornecimento de medicamentos, aposentadorias,

(por tempo de serviço, por velhice, ou invalidez), pensões para dependentes, além de auxílio

funeral. (BRAVO, 2009).

Os anos de 1930 a 1937 foram marcados por uma ampla e significativa reforma do Estado,

promovida pelo então Presidente Getúlio Vargas, reforma que culminou com a Constituição de

1934 e o governo constitucional que durou até 1937. De 1937 a 1945, Vargas estabeleceu a

ditadura do Estado Novo caracterizada por forte centralização política e intervenção do Estado

nas políticas públicas. Nesse período houve a criação do Ministério do Trabalho, da Indústria e

Comércio e o Ministério da Educação e Saúde. (AGUIAR, 2011).

O Governo de Vargas foi marcado por uma relação contratual entre o capital e o trabalho,

ações que garantiram alguns direitos trabalhistas e sociais. No campo da saúde, fatores como

as precárias condições de moradia e saneamento urbano colaboraram para o agravamento das

condições de saúde da população, somado a um elevado número de acidentes de trabalho dentro

das fábricas, resultado das condições insalubres às quais os operários eram submetidos, além

de outras doenças provocadas pelo processo de exploração fabril, como mostra. (AGUIAR,

2011).

[...] Dessa forma, aos problemas antigos de saúde da população (doenças endêmicas

e epidêmicas) foram acrescidos outros decorrentes da inserção no processo produtivo

industrial e das condições precárias no modo de viver, tais como: acidentes de

trabalho, doenças profissionais, estresse, desnutrição, verminoses, entre outros.

(AGUIAR, 2011, p.24).

As medidas adotadas para o enfrentamento de tal quadro foi no sentido de manter a força

de trabalho em condições de produção. Para tanto, foi usada como estratégia a vinculação da

assistência médica à Previdência Social, transformando as CAPs em Institutos de

Aposentadorias e Pensões (IAPs) 4, no ano de 1933. Os IAPs não priorizavam a saúde. Sua

4Os IAPs (Instituto de Aposentadorias e pensões) foram criados pelo Governo Getúlio Vargas em 1933 vinculado

ao Ministério do Trabalho. A gestão das IAPs passou gradativamente para o controle do Estado, seu presidente era

nomeado pelo Presidente da República. Os representantes dos trabalhadores e patrões eram indicados pelos

sindicatos atrelados ao poder executivo. O financiamento dos IAPs era dividido em uma parte dos empregados,

outra dos empregadores e do Estado, este, centralizava todos os recursos financeiros. (Ver Aguiar, 2011, p.24)

19

prioridade era a contenção de gastos na saúde, tendo em vista a acumulação de capital para

investimento em outras áreas de interesse do governo.

O retrato da saúde no Brasil, a partir dos anos 30, assemelha-se ao do império, quando

a população de maior poder aquisitivo utilizava os serviços privados de saúde integrantes da

medicina liberal. Os IAPs ofereciam serviços limitados aos trabalhadores em exercício

funcional, a população sem vínculos previdenciários contava com os escassos serviços públicos

de saúde, os benefícios de institutos de caridade, além das práticas populares de tratamento.

(AGUIAR, 2011).

Com a deposição de Vargas em outubro de 1945, teve início no país o período de

redemocratização. Por meio de eleições populares, em 1946, Eurico Gaspar Dutra assume a

Presidência da República. Dutra lança em 1948 o plano SALTE (Saúde, Alimentação,

Transporte e Energia) aprovado em 1950. O plano SALTE destacava a saúde como prioridade,

contudo, esse plano não foi consolidado na prática. (AGUIAR, 2011).

A Política Nacional de Saúde que foi desenhada a partir de 1930, porém, consolidou-se

no período de 1945-1950. (BRAVO, 2009). Esta consolidação se realizou com a criação do

Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) no Brasil, durante a segunda Guerra Mundial, em

convênio com órgãos do governo Americano. A atuação do SESP possibilitou reduzir os casos

de tuberculose, malária e outras doenças. (AGUIAR, 2011).

O Ministério da Saúde criado em 1953 transformou muitas das campanhas sanitárias em

órgãos e serviços responsáveis pela prevenção e cuidado da febre amarela, tuberculose, lepra,

a saúde da criança e fiscalização sanitária, (PAIM, 2009), foram ações pouco significativas para

as condições de saúde da população na época. Segundo Bravo (2011), o período de 1945-1964,

mesmo havendo alguns investimentos em melhoria das condições sanitária do país, o que

campeava era a incapacidade das autoridades sanitárias em conseguir eliminar o quadro de

doenças infecciosas e parasitárias, as elevadas taxas de mortalidade infantil, a morbidade

moderna5, e a mortalidade geral.

5 Morbidade moderna é classificada como doenças do coração, neoplasias, acidentes e violência. (Paim, (2009).

20

Nos anos de 1945 a 1964, os acontecimentos políticos do governo desenvolvimentista

de Juscelino Kubitschek se destacam pela promoção de grandes transformações econômicas no

país com o apoio do capital estrangeiro. Seu governo foi marcado pelo Plano de Metas. A

construção de Brasília numa região estratégica foi o marco de seu governo, além disso, JK

promoveu um complexo desenvolvimento da indústria, e consequentemente o fortalecimento

da burguesia industrial. Em contrapartida houve o agravamento da crise econômica no país e o

crescimento da inflação e da dívida externa. (AGUIAR, 2011).

As políticas sociais do governo JK, segundo Bravo (2009), tinham caráter paliativo. No

campo da saúde, enquanto os IAPs, em seu modelo de assistência médica curativa, fortaleciam-

se, resultado do desenvolvimento acelerado da indústria, maior quantidade de trabalhadores

empregados e maior número de contribuintes. Por outro lado, aqueles empregados que

possuíam poder financeiro, cuja categoria profissional tinha influência de exercer maior pressão

no Estado, construíam hospitais próprios para o atendimento de seus segurados. As empresas,

de grande porte e de significativa relevância, insatisfeitas com a assistência dos IAPs

contratavam médicos particulares. Essa relação favoreceu a ampliação do modelo médico-

assistencial privatista, tornando-se hegemônico dos anos 60 aos anos 80. (AGUIAR, 2011).

Para Bravo (2009), esse modelo de atendimento hospitalar de natureza privada, com fins

lucrativos, montada desde os anos 50, apontava na direção da formação de corporações

médicas, ligada aos interesses capitalistas do setor. Esses interesses defendiam claramente a

privatização da saúde.

O dia 31 de março de 1964 marca a instauração do Regime Militar no Brasil. Um regime

de característica totalitária e repressora. O Regime Militarfoi resultado de articulações entre os

militares, a burguesia industrial e a elite nacional. (AGUIAR, 2011). Para Bravo (2009),

significou para a sociedade brasileira a afirmação de uma tendência de desenvolvimento

econômico-social e político que alterou os problemas estruturais do país, elevando-os a uma

dimensão de complexidade ampla e dramática.

As políticas de assistência durante o Regime Militar assumiram um caráter ampliado,

burocratizado e regularizado pelo Estado. Nesse sentido, a saúde assume características

capitalistas, isto é, implantou-se na saúde um modo gradual e intenso do predomínio financeiro

das instituições previdenciárias. Para tanto, em 1966, criou-se o Instituto Nacional de

21

Assistência Social (INPS), órgão subordinado ao Ministério do Trabalho. O INPS foi

responsável pela unificação dos antigos IAPs. Desde sua criação, o INPS assumiu a

responsabilidade pelos benefícios previdenciários e pela assistência médica de todos seus

segurados e familiares e sua gestão era do ponto de vista administrativo centralizada.

(AGUIAR, 2011).

Os serviços médicos oferecidos pelo INPS eram em grande parte comprados dos

serviços privados de saúde. Esse modelo possibilitou ainda mais o fortalecimento do setor

privado, estimulando um padrão de prática médica com ênfase no lucro. Houve ainda a

expansão da medicina de grupo, com a qual as empresas contratavam serviços médicos para a

assistência de seus empregados, e assim não contribuíam com o INPS. Era, portanto, mais um

modelo de saúde com orientação para o comércio da saúde, visando ao lucro. (AGUIAR, 2011).

As características da saúde nessa época foram do privilegiamento pelo governo do setor

privado e a medicalização da saúde. (CAVALCANTE/ZUCCO, 2009). Os serviços de saúde

durante o regime eram compostos pelo modelo clínico individual, curativo e especializado, em

detrimento às ações de saúde pública coletiva, acentuando ainda mais a lógica privatista e a

exclusão nos serviços de saúde.

[...] O privilegiamento do modelo clinico de caráter individual, curativo e especializado

em detrimento das ações coletivas e de saúde pública; a expansão do complexo médico-

assistencial privado composto pelo hospital, pela indústria farmacêutica e de

equipamentos médico-hospitalares e pela medicina de grupo; a lógica lucrativa do setor

saúde; a desigualdade de acesso e diferenciação no atendimento de acordo com a

clientela, além da exclusão de parcela importante da população do atendimento à saúde.

(AGUIAR, 2011 p. 21).

Com os recursos limitados para a saúde, o Ministério da Saúde torna-se ineficiente no

enfrentamento aos problemas de saúde pública e seu agravamento, consequência das condições

precárias de vida, em que se encontravam a maioria da população brasileira. As ações de saúde

pública reduziram-se ao controle e erradicação de algumas doenças endêmicas, agora sob a

responsabilidade da Superintendência de Campanhas da Saúde Pública - (SUCAM). (AGUIAR,

2011).

As causas da ineficiência do sistema de saúde brasileiro, em oferecer repostas

satisfatórias às demandas da saúde da população durante o Regime, são características de um

sistema de saúde ineficiente e excludente, como mostra Cavalcante e Zucco (2009).

22

A generalização da demanda social por consultas médicas em decorrência das graves

condições de saúde da população, a progressiva predominância de um sistema de

atenção médica de massa, a desvinculação do ensino médico da realidade sanitária e a

consolidação da relação autoritária, mercantilizada e tecnificada entre serviços de saúde

e usuários contribuíram para a ineficiência do sistema de saúde brasileiro em responder

ao quadro epidemiológico da época, e mantiveram uma política de saúde excludente.

(CAVALCANTE/ ZUCCO, 2009 p.69).

Diante de tantos problemas sociais e de saúde da população, no final dos anos 70, é

grande a insatisfação da sociedade. Essa situação propicia um solo fértil para o surgimento de

movimentos sociais organizados por setores progressistas, os quais reclamavam por reformas

no setor da saúde, apresentando propostas políticas alternativas compreendendo a saúde a partir

de sua determinação social. (CAVALCANTE/ZUCCO, 2009).

Os últimos anos do Regime Militar foram marcados pelo agravamento da crise

econômica caracterizada pela alta da inflação e forte recessão econômica. Por outro lado,

aumentava a participação da população nos movimentos sociais, o fortalecimento dos

sindicatos, e a oposição política, culminando em 1984 no Movimento das “Diretas Já” seguido,

pela emenda Dante de Oliveira que garantia eleições diretas para presidente da República.

(AGUIAR, 2011).

O Movimento de Reforma Sanitária foi o mais significativo movimento em defesa da

saúde. Este foi um projeto articulado ao longo dos anos 70 e 80 encaminhado pelo Movimento

sanitário composto por profissionais de saúde, lideranças populares, trabalhadores, sindicatos,

parlamentares de esquerda, intelectuais, estudantes de saúde e algumas entidades que lideravam

a luta em favor da saúde numa perspectiva de direito social e dever do Estado. (AGUIAR,

2011).

Para Paim (2009) pode ser reputado ao Movimento Sanitário a responsabilidade da

politização da função da saúde e das instituições médicas, como ainda o conceito de saúde

ampliado a partir da Conferência Nacional de Saúde.

A VIII Conferência Nacional de Saúde6foi resultado da redemocratização do País em

1985. A Conferência instalou um clima de mobilização da sociedade em prol da ampliação da

6A VIII CONFERENCIA NACIONAL DE SAÚDE realizada em 1986 em Brasília (DF) contou com a participação

de cerca de 5.000 pessoas, representantes dos diversos movimentos sociais, movimentos populares de saúde,

trabalhadores, usuários, estudantes e intelectuais da saúde, parlamentares, sindicatos, entre outros. Foram

23

cidadania, favorável em colocar a saúde na agenda política, além de difundir as propostas da

Reforma Sanitária. Criou-se, portanto, um espaço importante para debater os problemas do

sistema de saúde com propostas de reorientação da assistência médica e da saúde pública.

(AGUIAR, 2011). O relatório final da VIII Conferência Nacional de Saúde foi inspiração para

o capítulo “Saúde” da Constituição Federal de 1988, o que se desdobrou posteriormente, nas

Leis Orgânicas da saúde, a saber, Lei (8.080/90 e 8.142/90), que permitiram a implantação do

Sistema Único de Saúde. (PAIM, 2009).

Em 1988, é promulgada a nova Constituição Federal, assim também como a aprovação

do SUS como política social pública. A aprovação do SUS incorporou a maioria das propostas

do movimento de Reforma Sanitária. O SUS representa uma conquista do povo brasileiro, pois,

conseguiu incorporar na Constituição Federal proposições advindas da sociedade civil

organizada, que estabelecem mudanças no papel do Estado e alteraram o sistema público de

saúde brasileiro em seu arcabouço jurídico- institucional. (AGUIAR 2011).

1.2 Avanços e Desafios do SUS

A história da saúde no Brasil é contada sem registro do trabalho daqueles que lidaram

com as doenças e as situações de adoecimento. Importa lembrar que a trajetória da Reforma

Sanitária foi constituída muito fortemente pelos profissionais da saúde em condições de

trabalho insipientes, assim como a própria saúde da população. O SUS encontra-se estabelecido

na Constituição Federal de 1988 como um sistema de saúde pautado por um conjunto de

princípios e diretrizes válidos em todo o território nacional e que contempla a preocupação com

os profissionais de saúde, elaborando instrumentos claros de cuidado orientado para esse

público, estabelecendo na Política Nacional de Humanização seu mais claro exemplo.

A proposta de um sistema de saúde público e universal originada na VIII Conferência

Nacional de Saúde possui o diferencial de introduzir a sociedade nas discussões sobre saúde.

Confere com os princípios da PNH de fomentar a autonomia e o protagonismo dos sujeitos

(AGUIAR 2011). Uma prerrogativa que, de acordo com Bravo (2009), instituí a saúde enquanto

debatidos os princípios e diretrizes da Reforma sanitária destacando o conceito ampliado de saúde e o

reconhecimento da saúde como direitos de todos e dever do Estado (AGUIAR, 2009 p.37).

24

direito social. Os princípios filosóficos e organizativos da VIII Conferência foram gestados no

movimento social, também denominado de Reforma Sanitária. (AGUIAR, 2011).

Com a Constituição de 1988, garantiu-se juridicamente e, com a aprovação do SUS, grande

parte das reivindicações do movimento de Reforma Sanitária, instituindo a saúde como um

direito universal e dever do Estado (BRAVO, 2009). O SUS, como foi exposto em linhas

anteriores, é uma das maiores conquistas sociais do povo brasileiro, estabelecido na

Constituição Federal. Seus princípios fazem referências à democratização nas ações e nos

serviços de saúde considerados de relevância pública. (BRASIL, 2000).

A legalização do SUS estabelece avanços nos serviços públicos integrados a uma rede

hierarquizada7 e regionalizada8. O sistema está organizado de acordo com as diretrizes de

descentralização; atendimento integral com prioridade das ações preventivas, sem prejuízos dos

serviços assistenciais; e sob o controle social. Além disso, o setor privado participa de modo

complementar ao sistema. (BRASIL, 1988).

O SUS está vinculado à ideia que todos têm direito à saúde, ou seja, ligado à condição

de cidadania. Norteado pelos princípios da universalidade9, equidade10 e integralidade11 da

7O princípio de hierarquização diz que o sistema de saúde deve organizar-se por níveis de atenção e de

complexidade crescente com fluxos assistenciais estabelecidos entre os serviços de modo a garantir assistência

integral e resolutiva a população. (AGUIAR, 2011 p. 54).

8A regionalização refere-se a forma de organização do sistema de saúde com base territorial e populacional[...].

Visa uma adequada distribuição de serviços para a promoção da equidade de acesso, otimização dos recursos e

racionalidade dos gastos. (AGUIAR, 2011 P. 54)

9O princípio da universalidade é a garantia constitucional de acesso de toda a população aos serviços de saúde, em

todos os níveis de assistência sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie. [...] Uma referência ao conjunto

de políticas públicas que visam à melhoria de condições de vida da população [...] ações articuladas a um conjunto

de políticas sociais amplas relativas ao emprego, salário, previdência, educação, alimentação, ambiente, lazer e

outros (AGUIAR, 2011 p.50).

10A equidade significa assegurar ações e serviços de todos os níveis de acordo com a complexidade que o caso

requeira [...]. Este princípio assegura que a disponibilidade dos serviços de saúde considere as diferenças entre os

grupos populacionais e indivíduos de modo a priorizar aqueles que apresentam maior necessidade em função da

situação de risco e das condições de vida e saúde. Significa, portanto, um principia com base na justiça social que

busca corrigir iniquidades sociais na área da saúde. (AGUIAR, 2011 p.50)

11O princípio da integralidade no SUS pode ser compreendido a partir da lei 8.080 como um conjunto articulado e

continuo de ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigido para cada caso. [...] para que

este princípio se materialize é preciso que haja uma articulação entre a prevenção, a promoção e a recuperação no

25

atenção à saúde, propõe acesso universal e igualitário para todos, por meio de ações de

promoção, proteção e recuperação da saúde, aponta, portanto, para uma concepção de saúde

que não se reduz a ausência de doença, mas a uma vida com qualidade. (PAIM, 2009).

Um dos componentes dos avanços democráticos estabelecidos na saúde por meio do

SUS pode ser representado pela descentralização dos serviços e ações em saúde: o município,

instância federada mais próxima da realidade da população, adquire representatividade,

reconhecimento, portanto maior repasse de recurso para a saúde. Essa é parte de uma política

que reconhece o município “por excelência, o melhor dos entes federados para tratar da saúde

dada a sua maior proximidade, [...] e maior reconhecimento da ordem de prioridades e das

demandas da população local”. (BRASIL, 2000).

O SUS desde sua institucionalização tem enfrentado avanços e desafios constantes na

busca da efetivação de um projeto de saúde consistente. Projeto que não se efetiva sozinho,

vincula-se a outras políticas, unindo formas no intuito de proporcionar respostas satisfatórias

às demandas sociais da população brasileira no que diz respeito aos problemas que afeta

diretamente o campo da saúde.

O Conceito ampliado de saúde estabelecida no SUS e o reconhecimento da sua

determinação social, vigilância e promoção da saúde, acolhimento, enfoque da redução de

danos, ação sobre o território, entre outros, constituem inovações muito importantes de avanço

no processo de saúde. Atividades que se operacionalizam na perspectiva do diálogo e

articulação com outros setores do governo e da sociedade para melhor promover e proteger a

saúde da população. (PAIM, 2009).

O SUS apreendido sob essa perspectiva, não alcança a visão da totalidade de brasileiros.

Constitui desafios para o SUS saber que o público, de modo geral, possui visões distintas a

respeito do sistema de saúde no Brasil e na maioria das vezes são visões distorcidas sobre o que

é, e como funciona este sistema. Assim, segundo Paim (2009), existem diferentes concepções

do SUS: o SUS para os pobres; o SUS real; o SUS formal e o SUS democrático. Para a maioria

cuidado prestado a cada usuário dos serviços de saúde do SUS, além de ações intersetoriais para alcançar melhores

níveis de saúde individual e coletiva. (AGUIAR, 2011 p.55)

26

prevalece a ideia do SUS para os pobres, refletindo a ausência de conhecimento de uma política

pública relevante e essencial para a sociedade.

Segundo pesquisa realizada em 2003, apenas 35% do povo brasileiro é capaz de citar

espontaneamente e com precisão o significado do SUS. Se na atualidade fosse feita uma

entrevista com pessoas comuns, que passam pelas ruas, sobre o que é o SUS, algumas diria que

o SUS representa as filas em hospitais e postos de saúde. Outras diriam que são os doentes em

macas de corredores dos prontos socorros, esperando ser atendidas. Além de afirmarem que é

o atendimento de saúde para os pobres. Para os profissionais e trabalhadores de saúde que atuam

diretamente no cuidado em saúde, esses diriam que se submetem constantemente a tensões

provenientes, dentre outras fontes, das péssimas condições de trabalho e remuneração. São

condições que favorecem a culpabilidade do SUS, por parte desses trabalhadores. (PAIM,

2009).

Não se questiona tais números ao tratar da forma referente ao acesso e a qualidade das

ações e dos serviços de saúde dispensados à população. Segundo Paim (2009), essas

dificuldades referenciam problemas de distribuição desigual, da falta de infraestrutura do

sistema dos serviços de saúde, da escassez no número de estabelecimentos e de trabalhadores.

São problemas originados no financiamento, organização e gestão do SUS. Uma situação que

“revela toda a crueza com que o poder público, de um modo geral, e a iniciativa privada, em

particular, trata os cidadãos e consumidores de serviços”. (PAIM, 2011 p.89).

No entanto, o SUS apreendido a partir de seus princípios e diretrizes é a solução aos

problemas de saúde. Os aspectos do SUS dos quais poucos têm conhecimento, realiza-se nos

resultados da imensidão de procedimentos dispensados à população. O SUS realiza anualmente

bilhões de internações hospitalares, milhões de consultas, partos, cirurgias, cirurgias cardíacas,

terapias renais substitutivas (responsável por 97% pelos procedimentos de hemodiálise), mais

de um milhão de tomografias, 12mil transplantes de órgãos (95% dos transplantes feitos no

Brasil), 150 milhões de imunizações, quase meio milhão de exames de análises clínicas. Faz

atendimentos significativos de fisioterapia, odontologia, ultrassonografias, órteses e próteses.

Milhões de ações de vigilância sanitária. De modo que, essa imensidão de “Sistema” de saúde

público (considerado um dos maiores do mundo) alcança toda a população brasileira. (PAIM,

2009).

27

O SUS desenvolve ainda, ações e programas nas áreas de saúde da Família (PSF), o

Programa Nacional de Imunização (PNI). A Política Nacional de Medicamentos garante

assistência farmacêutica para medicamentos essenciais, por meio da produção de medicamentos

genéricos, farmácia popular, e garantia de terapia medicamentosa de alto custo. O SUS

proporciona assistência médica, terapêutica, e internamentos hospitalares para os quase 600

mil12portadores do vírus HIV/AIDS.

Na saúde mental, o SUS disponibiliza para todo o Brasil centros de atenção psicossocial

(CAPs), destinados ao atendimento de pessoas portadoras de transtornos mentais. Esses

programas e ações são apenas uma parte daquilo que o SUS dispõe ao atendimento integral da

população. Ao lado deles, caminham várias outras ações e projetos como a Política Nacional

de Humanização do SUS (PNH), idealizada como proposta de melhoria de atendimento aos

usuários trabalhadores e gestores do SUS. (PAIM, 2009).

Portanto, ao longo do desenvolvimento do SUS, têm-se conquistado avanços e

enfrentado desafios significativamente relevantes para a promoção da saúde. São expressões

das contradições próprias de um país onde as políticas públicas são permeadas pelas

desigualdades econômicas e sociais. Se por um lado há extensa cobertura de ações realizadas

pelo SUS a partir de uma política de integralidade, universalidade e equidade com a

incorporação de novas tecnologias e especialização dos saberes, que têm avançado no processo

de prevenir, proteger, tratar, recuperar, promover, e produzir saúde vinculada à dimensão de

uma vida com qualidade. Por outro lado surgem novas questões das quais demandam novas

respostas para o processo de produção de saúde. São questões referentes à escassez de acesos

aos serviços de saúde, a responsabilização do acompanhamento das necessidades dos usuários

dos serviços de saúde, a humanização das práticas de saúde, processos estabelecido na Política

Nacional de Humanização - PNH e diretamente relacionados com a valorização do trabalho e

do trabalhador em saúde. (BRASIL, 2004).

1.3 A Política Nacional de Humanização

12O Ministério da Saúde registrou no Brasil até junho de 2010 a presença de 592.914 casos de pessoas vivendo

como vírus do HIV/AIDS ( disponível em www.orbis.org.br acesso em 20/05/2014).

28

Em 2004 a Secretaria Executiva do Ministério da Saúde elaborou a Política Nacional de

Humanização do SUS (PNH), também conhecida como Humaniza SUS, em substituição às

ações insipientes já existentes, relacionadas à humanização na área da saúde. Um esforço para

melhorar as práticas de atendimento e humanização da atenção em saúde, tendo como referência

o acolhimento nas unidades de saúde. (PAIM, 2009). Trata-se de uma política transversal do

SUS que contempla diferentes ações e instâncias gestoras. Visa ao fortalecimento dos princípios

do SUS: integralidade, universalidade e equidade.

A idealização da PNH só foi possível em virtude da evolução do processo histórico da saúde

brasileira desencadeado pela redemocratização do Brasil, nos anos 80. Um processo que fez

surgir novas discussões a respeito das políticas de saúde no país, deixando de ser de interesse

exclusivo de técnicos em saúde e assumindo uma dimensão política, vinculada ao processo

democrático. (BRAVO, 2009).

A PNH conta com um núcleo técnico com sede em Brasília (DF), e um quadro de

consultores espalhados pelo Brasil, apoiando e desenvolvendo projetos e inovações nos

modelos de atenção e gestão do SUS nos estados, municípios e instituições de saúde. Oferece

aos gestores tecnologias e modelos de implementação de humanização, desenvolve ofertas de

cursos, oficinas, e seminários científicos, divulga experiências bem sucedidas sobre

humanização do SUS, produz material educativo e de divulgação para a implantação de

dispositivos de humanização. (PAIM, 2009).

O HUMANIZA SUS foi elaborado para atuar nas lacunas do SUS, compondo

mecanismos de enfrentamento à fragmentação do processo de trabalho e às relações entre os

diferentes profissionais e da rede assistencial. Atua sobre a precária interação e despreparo das

equipes sobre a verticalização e burocratização do sistema de saúde nos baixos investimentos e

a falta de qualificação dos trabalhadores. (BRASIL, 2004).

O entendimento sobre humanização na PNH vincula-se à valorização dos diferentes

sujeitos implicados no processo de produção de saúde: usuários, trabalhadores e gestores. Busca

a promoção, a autonomia e o protagonismo dos sujeitos, estabelecendo corresponsabilidade

entre eles, vínculos solidários e participação coletiva no processo de gestão. Identifica as

29

necessidades sociais da saúde, as mudanças dos modelos de atenção, gestão e processos de

trabalho, o compromisso com a ambiência com foco na melhoria das condições de trabalho e

de atendimento. Objetiva a institucionalização, difusão de estratégias e a apropriação de

resultados pela sociedade. Ações que se operacionalizam com a troca e construção de saberes.

(BRASIL, 2004).

Constitui princípios norteadores da humanização na PNH: a valorização da dimensão

subjetiva e social em todas as práticas de atenção e gestão no SUS, fortalecendo o compromisso

com os direitos dos usuários, destacando o respeito às questões de gênero, à etnia, à raça, à

orientação sexual, e às populações específicas (índios, quilombolas, ribeirinhos, assentados,

entre outros); o fortalecimento do trabalho em equipe multiprofissional, fomentando a

transversalidade e a grupalidade; apoio a construção de redes cooperativas, solidárias e

comprometidas, com a produção de saúde dos sujeitos; a autonomia e o protagonismo dos

sujeitos implicados no processo de produção de saúde e a corresponsabilidade entre eles;

fortalecimento do controle social com caráter participativo em todas as instâncias gestoras do

SUS; compromisso com a democratização das relações de trabalho e valorização dos

profissionais de saúde estimulando processos de educação permanente. (BRASIL, 2004).

No eixo que envolve a valorização do trabalhador, tema deste trabalho, a PNH propõe

ações de promoção que asseguram a participação dos trabalhadores nos processos de discussão

e decisão, valorizando os trabalhadores, motivando-os, promovendo o autodesenvolvimento e

crescimento profissional.

A PNH propõe ampliar o diálogo entre os profissionais, entre profissionais e população,

entre profissionais e administração, ou seja, com ações para promover uma gestão participativa

ao: fortalecer Grupos de Trabalho de Humanização com plano de trabalho definido; viabilizar

a participação dos trabalhadores nas unidades de saúde por meio de colegiados gestores;

implementar sistemas de comunicação e informação, promover o autodesenvolvimento à

ampliação do compromisso social dos trabalhadores de saúde, como também, ações de

incentivo e valorização da jornada integral ao SUS. Enfim, ao trabalho em equipe, a

participação dos trabalhadores nos processos de educação permanente capaz de qualificar as

ações e inserção na rede SUS; por conseguinte, a PHN propõe um plano de educação

permanente para trabalhadores com temas sobre humanização. (BRASIL, 2004).

30

2.0 TRABALHO E VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL: DESAFIOS DA PNH

“Se os trabalhadores, porém, pudessem viver do ar, não seria possível

comprá-los por nenhum preço”. (Karl Marx).

Neste capítulo será feito uma introdução teórica sobre a categoria trabalho, referenciada

em alguns autores. Parte-se de uma rápida abordagem das relações de trabalho dentro da

sociedade capitalista e como esta relação afeta os trabalhadores, em especial os trabalhadores

da saúde. Contudo, o capítulo se detém no tema trabalhador da saúde e nos aspectos

relacionados à sua valorização, discutida com base na Política Nacional de Humanização do

SUS.

2.1. Trabalho e a realidade dos trabalhadores da saúde

O ponto de partida é compreender o trabalho13 como a atividade pela qual o homem

transforma a natureza e ao transformá-la, transforma-se a si mesmo e a outros homens. Avia

pela qual o homem satisfaz suas necessidades como também se reproduz enquanto ser prático

social. Um movimento que consubstancia a sociabilidade humana e condição natural para

sobrevivência de sua espécie. (GUERRA, 2010).Hegel apreende o trabalho como a mola que

impulsiona o desenvolvimento humano e o núcleo capaz de explicar as formas complicadas da

atividade criadora do sujeito. (KONDER, 1991).

Com essas premissas é possível reconhecer a centralidade do trabalho para o

desenvolvimento das sociedades, acrescentado ao trabalho como atividade que possibilita ao

homem ir além da pura natureza, antecipando em sua cabeça os resultados de suas ações, ou

seja, a natureza teleológica14 do trabalho. Esta estabelece finalidades advindas das necessidades

gestadas em meio à realidade, condição que propicia ao homem a realização de sua vida

material e desenvolve seu caráter crítico transformador. (GUERRA, 2010).

13Trabalho é a atividade vital do operário [...] (Marx, 1987 p. 25)

14O trabalho é, portanto resultado de um pôr teleológico, que (previamente) o ser social tem ideado em sua

consciência, fenômeno este que não está essencialmente presente no ser biológico dos animais. É bastante

conhecida distinção marxiana entre a abelha e o arquiteto. Pela capacidade de prévia ideação, o arquiteto pode

imprimir ao objeto a forma que melhor lhe aprouver, algo que é teologicamente concebido e que é uma

impossibilidade para a abelha (Antunes, 2000 p. 136).

31

A categoria trabalho permite a compreensão da vida humana e do mundo expressa

como valores. Concepção que se manifesta em todos os momentos da história da humanidade

idealizada como a atividade vital para o homem. O trabalho é uma necessidade convertida em

atividade imposta. Na idade média o trabalho foi apontado como instrumento de tortura, aquilo

que se contrapõe ao ócio, na concepção cristã se expressa na contradição de instrumento de

martírio e ao mesmo tempo de salvação. Eis algumas dualidades e ao mesmo tempo contradição

pertinente ao mundo do trabalho: aquilo que produz e subordina; humaniza e degenera; liberta

e escraviza; emancipa e aliena. O desafio presente diante de tais contradições é dar sentido ao

trabalho e suas novas formas de ser, como este pode agir favorável na construção de sentido à

vida humana. (ANTUNES, 2005).

O trabalhador da saúde como tantos outros, fazendo parte do mundo do trabalho, é a

classe-que-vive-do-trabalho, categorizada por Antunes (2000). São aqueles trabalhadores

inseridos na totalidade dos que vendem sua força de trabalho em troca de um salário.

Trabalhadores que não se inserem (na interpretação de Marx) 15, no trabalho manual direto,

porém “incorpora a totalidade do trabalho social, a totalidade do trabalho coletivo assalariado.”

(ANTUNES, 2000 p. 102).

A “A classe-que-vive-do-trabalho” são trabalhadores produtores de serviços, seja para

uso público ou para o capitalista. São trabalhadores cujo trabalho é consumido como valor de

uso e não como trabalho que cria valor de troca, visto como trabalho improdutivo. Compreende

uma imensidão de trabalhadores “inseridos no setor de serviços, bancos, comércio, turismo,

serviços públicos, etc.”. (ANTUNES, 2000 p.102).

Essa é a força de trabalho do sistema capitalista compreendida sob o ponto de vista

social, definida como a classe trabalhadora que está fora do processo direto de produção e,

portanto, segundo Marx (1985), apenas um acessório do capital.

Do ponto de vista social, a classe trabalhadora é, portanto, mesmo fora do processo direto de trabalho, um acessório do capital, do mesmo modo que o instrumento morto de trabalho. Mesmo seu consumo individual dentro de certos limites, é apenas um momento do processo de reprodução do capital. (MARX, 1985 p.206).

15A interpretação dada por Marx sobre o trabalhador produtivo faz referência aquele trabalhador que produz

diretamente a mais-valia e participa diretamente do processo de valorização do capital [...], encontrado no

proletariado industrial o seu núcleo principal. (ANTUNES, 2000 p.102).

32

O trabalhador da saúde é também aquele trabalhador livre, que vende sua força de

trabalho em troca de sua subsistência. Trabalhador que, no processo de produção capitalista sua

força de trabalho é sua mercadoria vendida por um equivalente em dinheiro necessário à sua

reprodução e de sua família. (IAMAMOTO, 2011). Para Queiroz (2010), o trabalho em saúde

é um trabalho que se identifica dentro do processo de produção capitalista por atender a lógica

do mercado na saúde, como também, por apresentar frágeis vínculos trabalhistas e negação ou

omissão de direitos constituídos dos profissionais, reafirmando, portanto, o processo de

produção neoliberal e de exploração do trabalhador.

O trabalhador da saúde no Brasil, principalmente o trabalhador do SUS, tem sido

percebido sob dois aspectos: primeiro como parte das causas dos problemas relacionados com

o setor de saúde, resultado de uma formação reducionista (biológica e positivista), sem preparo

para atuar dentro de uma realidade que prescinde considerar todas as dimensões do ser humano;

o despreparo para lidar com os aspectos subjetivo e social do usuário do sistema de saúde; além

do estabelecimento de uma relação de classe com os usuários do SUS. (MELO, 2008).

O segundo aspecto diz respeito ao próprio trabalhador, este, como trabalhador de um

sistema público de saúde, sente-se prejudicado devido ao recebimento de baixos salários e falta

de planos de cargos e carreiras; a ausência de uma preocupação dos órgãos formadores e

organização de trabalho em prepará-lo para atuar de modo integral junto ao usuário; a

sobrecarga de trabalho marcado por uma extensa carga horária, rodízio de turnos e diferentes

locais de atuação dentro de uma mesma instituição, divisão do trabalho por tarefas e a

necessidade de mais de um emprego para que possa suprir suas necessidades, garantindo, assim,

sua subsistência; o desgaste psicológico enfrentado diariamente no seu local de trabalho, frente

ao sofrimento, à dor, à morte e à miséria advinda da população usuária, como também, à

ausência de oportunidade de usufruir de momentos de descontração e lazer elaborados como

mecanismos compensatórios ao desgaste físico e emocional. (MELO 2008).

Os aspectos acima citados se reproduzem cotidianamente na vida do trabalhador e se

transformam em consequências desastrosas, resultando naquilo que afirma Pitta (1991 p.18),

“o trabalho adoece”. De fato o trabalho em saúde, principalmente em instituições hospitalares,

torna evidente sintomas e sinais orgânicos e psíquicos inespecíficos. São sintomas

determinantes de sofrimentos que agem eficientemente e dinamicamente entre si e com outros,

33

encontrados no próprio objeto de trabalho, ou seja, no ato assistencial hospitalar, e em suas

formas de organização. (PITTA, 1991). Esse trabalho “exaurido” pode produzir no trabalhador,

além dos aspectos de adoecimento, já citados, sentimentos contrários como satisfação e prazer,

desde que esses trabalhadores sejam portadores de condições de valorização do trabalho, como

expõe Pitta (1991):

Este mesmo objeto de trabalho, paradoxalmente, é capaz de produzir satisfação e prazer

através de mecanismos defensivos de natureza sublimatória quando condições

facilitadoras permitem aos trabalhadores terem suas tarefas socialmente valorizadas.

(PITTA, 1991 p. 19).

Em 2005, o Ministério do Trabalho e Emprego elaborou a Norma Reguladora Nº 32

(NR 32), considerada um mecanismo de proteção à vida e à saúde dos trabalhadores que

desempenham atividades relacionadas à promoção e à assistência em saúde. A norma reconhece

que os trabalhadores da saúde expõem-se constantemente a riscos biológicos, químicos, riscos

de radiação, a riscos de acidentes ou a de contrair doenças provocadas pelo eventual contato

com os diferentes resíduos produzidos nas organizações de saúde. Para tanto, a NR 32 propõe

que os empregadores mantenham condições de conforto para as refeições, climatização

adequada nos diferentes ambientes de trabalho e equipamentos de proteção individual (EPIs).

Propõe ainda, capacitação no trabalho para alguns grupos específicos de trabalhadores. (MELO

2008).

A mesma norma é utilizada pelo Ministério da Saúde (MS) com o objetivo de investir

em proteção, capacitação e desenvolvimento de algumas categorias de trabalhadores em

instituições de saúde. Em contrapartida, não existe uma preocupação em melhorar os salários,

carreiras, ou investir realmente na saúde e qualidade de vida do trabalhador. (MELO 2008).

O trabalho dos profissionais em instituições de saúde é caracterizado por desenvolver

práticas compartimentalizada, negando aos mesmos a participação no processo e gerenciamento

do trabalho. As diversas categorias de profissionais não trabalham com planejamento e

organização, percebe-se em algumas equipes de profissionais a falta de planejamento e

organização e ausência de uma integração interdisciplinar, essas características impõem ao

trabalhador a fragmentação e alienação do processo de trabalho, demonstrado por Pires (1999):

Na amplíssima maioria das instituições assistenciais em saúde não existe coordenação

da assistência prestada pelos diversos grupos e profissionais de saúde. Não existem

instâncias de planejamento [...]. Também não existem espaços conjuntos de avaliação

34

da assistência e nem de avaliação dos resultados. O trabalho é compartimentalizado,

cada grupo de profissionais se organiza e presta parte da assistência em saúde separado

dos demais. (PIRES, 1999 p. 35)

O processo de fragmentação e desfiguração do homem que trabalha em múltiplas

atividades, segundo Leopardi (1999), reclama por um processo inverso de interseção entre a

reconstrução do indivíduo concreto e sua desalienação. Essa ação é consolidada pela ética

cotidiana, pela estética e liberdade, estabelecida na Política Nacional de Humanização como

proposta de atuação incentivando o protagonismo dos sujeitos e a ampliação e atenção integral

à saúde, promovendo a intersetorialidade.

2.2 Humanização do trabalho em saúde

Para falar em humanização da saúde é necessário recorrer a uma reflexão filosófica

humanística. Corrente que “centraliza seu interesse no tema da natureza ou condição humana e

coloca o homem e seus valores acima de todas as outras coisas.” (MELO 2008 p.15). Essa

reflexão exige uma abordagem que enfoca circunstância e necessidades superáveis do aspecto

biológico do ser. Abrangem circunstâncias sociais, éticas, educacionais e psíquicas como partes

dos relacionamentos humanos e diretamente ligados à atenção em saúde. (FORTE 2004).

A humanização da saúde tem seu fundamento na Declaração Universal dos Direitos

Humanos de 1948, adquirindo reforços na Conferência Internacional sobre Cuidados Primários

de Saúde, evento que aconteceu em Alma-Ata, capital do Kazaquistão Soviético em 1978,

organizado e co-patrocinado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Fundo das

Nações unidas para a Infância UNICEF. No evento, reafirmou-se a concepção de saúde não

como a ausência de doenças, mas como um completo estado de bem estar físico, mental e social,

apreendido como direito humano fundamental. (FORTE 2004).

No Brasil, a humanização da saúde adquire notoriedade a partir do final da década de

1980 com o estabelecimento do SUS, quando o termo passa a ser empregado para nomear

diversas iniciativas na área da saúde de melhoria no atendimento. A humanização na saúde se

caracteriza, segundo Oliveira (2007), como processo de transformação cultural, institucional de

reconhecimento e valorização dos aspectos subjetivos, histórico e sociocultural de usuários e

profissionais, como também das instâncias gestoras de serviços de saúde, estas, com

responsabilidade de promover boas condições de trabalho e de qualidade no atendimento.

35

Outros autores Giordani (2008), Forte (2004), Sodré (2010) apresentam concepções

diferentes sobre a humanização do trabalho em saúde. Para Giordani (2008), a humanização do

trabalho em saúde está relacionada com a ética, a moral e com o uso do bom senso no intuito

de resgatar valores humanitários. A autora defende a ideia de humanização a partir da

valorização do diálogo, a garantia da palavra como instrumento de dignidade ética. Nesses

conceitos estão inclusos a orientação prévia sobre a necessidade de conduta a ser realizada por

meio de uma linguagem verbal e corporal. O uso da linguagem no processo de humanização

gera a possibilidade de perceber o sentimento do outro em suas expressões. Para Giordani

(2008), sem comunicação não há humanização, pois a humanização depende do falar e do ouvir,

o seja, a humanização depende do diálogo com o semelhante.

Forte (2004), por sua vez, apreende a humanização em saúde a partir da singularidade

de cada pessoa, percebendo cada um em sua necessidade específica. O que possibilita a criação

de condições para o exercício da autonomia como forma de promover sujeitos autônomos,

levando em conta seus valores e vivências, dentro de suas singularidades, sem discriminação,

enfim, significa preservar a dignidade do ser humano.

Uma concepção mais ampliada sobre a humanização da saúde faz referênciasàs

possibilidades de transformação cultural e dos processos desenvolvidos nas instituições.

Concepção que considera a postura humanizada em saúde realizada a partir de uma posição

ética de respeito ao outro, de albergar o desconhecido, concebendo-o como um cidadão de

direito e não como um simples consumidor de serviços de saúde. (FORTE 2004).

O aspecto da humanização conduzido de maneira crítica, com um raciocínio mais

criterioso manifesta-se nas elaborações de Sodré (2010), ao apreender a humanização da saúde

inserida no processo de reestruturação capitalista, pontuando, assim, o processo de gestão do

trabalho em saúde em diferentes momentos históricos, a saber, “o fordismo e a acumulação

flexível em suas determinações na saúde.” (Sodré, 2010 p. 454). Sob esse panorama, assinala-

se o fordismo como o momento de afirmação da industrialização no Brasil, o advento da

modernidade e o vasto processo de urbanização.

Na saúde o próprio paradigma administrativo brasileiro (centralizado), propiciou o

surgimento de um modelo de saúde denominado saúde-fábrica. Este modelo foi resultado da

lógica intervencionista estatal e o modelo de políticas fordista para a área da saúde. A passagem

36

do fordismo-taylorismo e o modelo de Acumulação Flexível, em meados dos anos de 1990,

desvelam um mercado capitalista vislumbrando novos formatos de obtenção de maiores lucros.

Esse foi o contexto propício a tornar natural a “mercantilização da vida no capitalismo

avançado” (Sodré, 2010 p. 461), o mesmo contexto onde apolítica neoliberal estabelece os

espaços dos indivíduos dentro da sociedade. (SODRÉ, 2010).

Essa pequena introdução sobre os modelos de gestão do trabalho é apenas para apontar

a influência do modelo fordista e flexível na esfera da saúde. Serve também para o entendimento

da autora a respeito da humanização do processo de trabalho em saúde.

Para Sodré (2010), a humanização na saúde é pontuada como um discurso, ou seja, a

humanização é parte de um amontoado de ações que “dizem tornar humano aquilo que não

possui formas ou atitudes humanas” (Sodré, 2010 p. 465). Ações planejadas nas mesmas formas

flexíveis de acumulação, estas, ao mesmo tempo em que asseguram vínculos abertos com os

usuários da saúde, pode tornar o trabalho alienante.

Tem-se por pré-sabido que o discurso da humanização propõe as mesmas ações

planejadas pelas formas flexíveis de acumulação: atenção, acolhimento, cuidado, criar

vínculos - afetividade posta em um processo de trabalho que se dá em ato. Esse processo

de trabalho humanizador, ao mesmo tempo em que proporciona relações mais abertas

com o usuário, também abre precedentes para trabalhos mais alienantes do ponto de

vista de sua execução. (SODRÉ, 2010 p. 465).

A humanização da saúde, se por um lado estimula a usar menos a máquina, com menos

produção em série, ou seja, menos fordismo na saúde, por outro lado, conduz o trabalhador a

atividades profundamente alienantes, o que ocasiona, assim, uma dúbia relação no discurso da

humanização. (SODRÉ, 2010).

Ao trabalhador em saúde no modelo flexível recomenda-se desenvolver comportamento

participativo, dócil, compreensivo em suas ações e sensíveis em atitudes ou palavras. Atitudes

que reclamam uma mudança em seu espírito. Também são comportamentos cobrados dos

profissionais de saúde independentemente de suas condições de trabalho ou de exploração.

[...] Um modelo de trabalhador pressuposto pela acumulação flexível como

participativo; aquele que além do trabalho feito com as mãos, tão caro ao âmbito

hospitalar, é também requerido em seu espírito – sempre compreensivo e atento ao

outro, independentemente de suas condições de trabalho. Ou seja, uma evidência que

os níveis de exploração sobre o trabalhador da saúde atual chegaram ao extremo em

suas formas de exploração (SODRÉ, 2010 p. 465)

37

Este entendimento sobre humanização constitui numa contradição àquilo que propõe a

Política Nacional de Humanização (2004). A PNH determina a humanização se realizando na

valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo da produção de saúde. Reclama

programas e projetos em todas as instâncias do SUS comprometidos com a humanização sob a

perspectiva de valorização dos sujeitos, e transformando a humanização do SUS em desafio

que perpassa a ideia de um programa de humanização, mas, apreendida, agora, como uma

política que atravessa diferentes ações e instâncias gestoras do SUS. (BRASIL, 2004).

Portanto, a humanização na PHN, assim como já foi citada no capitulo anterior, propõe

valorizar o tripé usuários, trabalhadores e gestores do SUS, estimulando sua autonomia e

protagonismo, aumentando o grau de corresponsabilidade, não apenas na produção de saúde,

como também na reprodução dos sujeitos. Assegura a participação coletiva e solidária no

processo de gestão e identifica as necessidades sociais de saúde. Propõe mudanças nos modelos

de atenção e gestão dos processos de trabalho com foco na ambiência, melhoria das condições

de trabalho e de atendimento na rede SUS, ações que se operacionalizam com a troca e

construções de saberes. (BRASIL, 2004).

2.3 Valorização do trabalho e do trabalhador em saúde

Valorizar16 é aumentar o valor, a importância ou a qualidade de alguém. No trabalho em

saúde o termo valorizar adquire notoriedade por assumir uma dimensão estratégica e ampliada

da condição de direito e de cidadania. Valorizar o trabalho e o trabalhador em saúde é encarar

o desafio de dar sentido ao trabalho e suas novas formas de ser, favorecendo, assim o sentido

da vida humana (ANTUNES, 2005). A valorização do trabalho é o instrumento de intercessão

entre a relação de trabalho produtor de sentido e o trabalho produtor de sofrimento e desgaste.

[...] Nos serviços de saúde, o trabalho é potencialmente produtor de sentido, quando é inventivo e

participativo; e pode ser também produtor de sofrimento e desgaste, quando é burocratizado, fragmentado, e

centralizado. (BRASIL, 2008 p. 6).

A valorização do profissional de saúde importa a todos que fazem parte do processo de

produção em saúde, pressupondo uma nova organização das condições de trabalho e as relações

16O significado de valorizar está disponível na pagina eletrônica: www.duvidas. dicio.com.br/valorar-ou-valorizar/

acesso em 10.06.2014.

38

inerentes às mesmas. As ações de valorização refletem em resultados positivos na vida de quem

cuida e de quem é cuidado. É o que afirma Giordani (2008).

Na verdade, a valorização do profissional importa a todas as pessoas e às próprias

instituições, as quais deveriam ser acolhedoras, desde a entrada até a saída, de clientes

internos e externos. Todos têm uma parcela de contribuição a dar à medida que

benefícios são gerados tanto para a empresa quanto para as pessoas e o ambiente de

trabalho, refletindo na satisfação de quem cuida e de quem é cuidado. (GIORDANI,

2008 p.168)

Há uma corrente de autores que defende que a valorização no trabalho em algumas

instituições de saúde se dar a partir do reconhecimento e agradecimento da clientela atendida.

Corrente que, segundo os idealizadores concorre para o bom desempenho de todos os

profissionais que atuam em diferentes níveis de atenção à saúde, e que alcança nos serviços

públicos seu espaço máximo de atuação. (GIORDANI, 2008).

Esse é um pensamento que vai de encontro a Política Nacional de Humanização, que

apreende a valorização inserida num processo de humanização com dimensões amplas,

dimensões estabelecidas nos princípios e diretrizes do SUS.

A Política Nacional de Humanização do SUS (2004) no eixo que envolve a valorização

do trabalhador reconhece a desvalorização dos trabalhadores de saúde, traduzida nas precárias

relações de trabalho, nos baixos investimentos, nos processos de educação permanente dos

trabalhadores, na pouca participação na gestão, nos frágeis vínculos com os usuários, além da

privação do trabalhador do seu próprio processo de trabalho. (BRASIL, 2004). Reconhecer

essas questões é um passo relevante para o processo de valorização do trabalhador em saúde,

uma vez que reconhecido pelo trabalho, o profissional tende a desenvolver melhor suas

atividades.

Assim, um profissional que seja valorizado e reconhecido tem a autoestima alavancada

e tende a desenvolver uma visão mais integralizada daquele a quem assiste, melhorando

sua abordagem e cuidados dispensados ao indivíduo e à comunidade. (GIORDANI,

2008 p.168).

Diante do reconhecimento do processo de desvalorização do trabalhador do SUS, a PNH

propõe exercitar o eixo da gestão do trabalho promovendo ações que assegurem a participação

dos trabalhadores nos processos de discussão e decisão, fortalecendo e valorizando os

39

trabalhadores, sua motivação, autodesenvolvimento e o crescimento profissional. (BRASIL,

2004).

Quanto à participação dos trabalhadores do SUS nos processos de discussão e decisão

na gestão do trabalho foi estabelecida nos Princípios e Diretrizes da Política Nacional de Gestão

do Trabalho no SUS (NOB/RH-SUS)-(2005). A indicação de uma participação nos processos

de trabalho de modo bilateral e paritária, com processo de gestão democrática, através de

organização de “colegiados gestores” entre os trabalhadores das instituições e a gestão.

A participação dos trabalhadores nas unidades de saúde através de colegiados gestores

é uma das questões integrantes das diretrizes para implementação da PHN. Constitui uma

temática acompanhada de outras temáticas de igual relevância para o processo de valorização

do trabalhador instituído na PNH. Os temas mais relevantes, portanto, são: ampliação do

diálogo entre os profissionais e população, entre profissionais e administração; implementação

de sistemas de comunicação e informação promovendo o autodesenvolvimento, ampliação e

compromisso social dos trabalhadores de saúde; promoção de ações de incentivo e valorização

da jornada integral ao SUS, do trabalho em equipes, e a participação nos processos de educação

permanente de qualificação de ações e inserção dos trabalhadores da rede SUS. (BRASIL,

2004).

A Política Nacional de Humanização, no eixo que envolve a valorização do trabalhador,

exterioriza propostas concretas de valorização e pode ser considerado um documento oficial da

sociedade brasileira, em defesa do SUS, cujo acesso é disponível a todos aqueles envolvidos no

processo de produção de saúde.

40

3.0 PERCURSO METODOLÓGICO

O pesquisar é ver o que outros viram, e pensar o que nenhum outro pensou.

(Albert Szent-Gyorgyi)

A procura pelo conhecimento do mundo que o rodeia faz com que o homem desenvolva

técnicas de conhecimento da natureza das coisas como também de seu próprio comportamento.

Para tal o mesmo desenvolveu historicamente técnicas que lhe fosse possível garantir maior

grau de segurança optando por uma forma de conhecimento objetivo, racional, sistemático,

geral, verificável e falível denominado ciência. (GIL, 1999).

Foi pela procura do conhecimento permeado por um posicionamento crítico e

inquietante que a pesquisadora se propôs a estudar “a humanização”. Um princípio do

atendimento em saúde que por muito tempo despertou-lhe interesse. A justificativa pessoal da

pesquisadora sobre o tema é resultado do seu cotidiano no trabalho em uma instituição de saúde.

A pesquisadora relata que entrar diariamente no seu trabalho e ler a placa exposta na entrada da

instituição, que sua missão é à humanização, fez com que a mesma procurasse estudar como se

materializa o processo de humanização nos serviços de saúde.

O esforço fundamental foi compreender que a humanização em saúde se realiza a partir

do processo de valorização do trabalhador. (Giordani 2008). Não foi difícil perceber logo no

princípio, que a proposta de humanização em saúde é de interesse para poucos, comprovada a

partir da escassez de publicações sobre o tema.

A eleição da unidade referenciada para a realização da pesquisa foi resultado de um ano

e meio de estágio curricular na unidade, e por perceber durante este percurso que as relações de

gestão do trabalho em saúde deixavam lacunas, que propiciou oportunidade de pesquisar todas

as questões levantadas neste estudo. Outro motivo da escolha da unidade se justifica no fato de

inserção da pesquisadora como trabalhadora no corpo de profissionais que compõem a rede

SUS, embora exerça esta função em outra unidade de saúde.

Na intenção de desvendar essa realidade, a pesquisadora lançou mão da pesquisa,

apreendida como “a atividade básica das ciências na sua indagação e descoberta da realidade.”

Minayo (2004 p.23). A pesquisa, ora apresentada, é uma elaboração das ciências sociais por

atender alguns aspectos inerentes à mesma. O primeiro deles é o reconhecimento que nas

41

ciências sociais é imprescindível entender que o objeto de apreensão é histórico, isto é, cada

objeto apresenta sua forma particular de ser, apenas apresentam características em comum uns

com os outros, dependendo cada um do seu momento histórico.

Outro aspecto das ciências sociais é a consciência histórica de seu objeto, diretamente

relacionada ao nível de consciência histórica das ciências sociais. Esta se explica pela

capacidade intelectual de todos os seres humanos darem significado as suas ações e

construções; explicar intenções, atos, projetos e planejamento futuro atendendo a um nível de

racionalidade presentes nas ações humanas.

O terceiro aspecto é a identidade indissociável entre sujeito e objeto, o que cria uma

relação imbricada, solidária e comprometida. Já o quarto aspecto diz respeito à relação

estabelecida definitivamente entre o investigador social e a visão de mundo do investigador,

presente desde a concepção do objeto, até o resultado do trabalho do pesquisador. Finalmente

o objeto das ciências sociais é essencialmente qualitativo. São, portanto, constituintes das

ciências sociais que utiliza de instrumentos e técnicas para a construção de conhecimentos em

recortes da realidade. (MINAYO, 2004).

Elaborar a pesquisa social solicita o uso de metodologia científica para obtenção de

novos conhecimentos e apreensão da realidade social, pois, segundo Minayo (2004, p.22), a

metodologia “é o caminho e o instrumental próprios de abordagem da realidade”. A

metodologia caminha junto com a ciência ocupando lugar de centralidade no interior das teorias

sociais. Essa encaminha à prática a apreensão do objeto de estudo criado na abstração.

3.1 Caracterização da pesquisa

A pesquisa Humanização do SUS: Uma análise da Política Nacional de Humanização

do SUS no eixo que envolve a valorização do trabalhador é uma pesquisa de abordagem

qualitativa na área da saúde. Uma pesquisa das ciências sociais, em que o objeto de apreensão

é essencialmente de natureza qualitativo. Portanto, busca entender o universo dos motivos, das

aspirações dos valores e atitudes inseridos num universo de representações e intencionalidades,

pesquisadas num recorte da realidade social. (MINAYO, 2004).

42

Quanto ao delineamento, uma pesquisa de campo realizada no Hospital Distrital Maria

José Barroso de Oliveira, conhecido como Frotinha de Parangaba. Realizada com trabalhadores

da saúde por acessibilidade, uma forma de amostragem que consiste em escolher o entrevistado

segundo sua disponibilidade de tempo e interesse pela pesquisa. (GIL, 1995). Essa pesquisa

constitui como primeiro critério a inclusão dos sujeitos na pesquisa, outro critério de inclusão

utilizado, para a escolha dos sujeitos da pesquisa, foi que os sujeitos fossem profissionais que

estão exercendo atividades na unidade de saúde com vínculo empregatício diretamente ligado

ao SUS (pessoas trabalhadoras da saúde, ingresso na unidade por meio de concurso público).

O terceiro critério é que o profissional estivesse há mais de dois anos na instituição,

pois, entende-se, como pesquisadora e como profissional da saúde, que esse tempo confere ao

profissional uma regular propriedade sobre suas atividades na instituição. Um ultima critério

de inclusão é que o profissional exerça suas atividades com acesso direto ao público atendido,

razão justificada na PHN e no processo de valorização que inclui usuário, trabalhador e gestor

do sistema de saúde. Esse critério abre precedente para o critério de exclusão, que retira desta

pesquisa trabalhadores da unidade que estão exercendo atividades em serviços burocráticos.

As entrevistas foram realizadas entre os meses de maio e junho de 2014. A obtenção

dos dados se deu por entrevista semi-estruturada, método de coleta de informação sobre

determinado assunto científico que consiste numa combinação de perguntas abertas. A

entrevista semi-estruturada oferece a possibilidade do entrevistado “discorrer o tema proposto,

sem respostas ou condições prefixadas pelo pesquisador.” (Minayo, 2004 p.108).

A entrevista é uma técnica de investigação em que o pesquisador apresenta perguntas

formuladas ao investigado com o intuito de obter dados de seu interesse. A entrevista viabiliza

o acesso referente a todos os aspectos da vida social. Permite ao investigador obter dados em

profundidade acerca do comportamento humano. (GIL, 1995).

Esta é uma pesquisa bibliográfica (uso de livros e artigos científicos), pois foi feita uma

análise da Política Nacional de Humanização do SUS, um documento Oficial da República

Federativa do Brasil, além do uso de outros documentos oficiais.

Antes de iniciar as entrevistas, os sujeitos foram informados acerca do objeto de estudo,

sobre os aspectos éticos que envolvem a pesquisa na área da saúde, como também, sobre as

43

razões pelas quais estavam participando da pesquisa e do caráter confidencial de sua

participação. Essas informações estão disponibilizadas no do Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido – TCLE, contemplado pela Resolução 466/2012.

As entrevistas foram concedidas durante quatro visitas à unidade de saúde (Frotinha de

Parangaba), outra em uma visita domiciliar e a última foi preciso visitar a participante em outra

unidade de saúde. Enquanto se realizava as entrevistas, a pesquisadora em algumas situações

percebeu naqueles entrevistados sentimentos próximos aos seus, também percebia nas respostas

dos sujeitos muita insatisfação no ambiente de trabalho. Em alguns momentos, foi preciso parar

por algum tempo, para depois retomá-la. Essas são questões que se justificam segundo Minayo

(2004), no caráter da identidade entre o sujeito e o objeto da investigação.

Quanto à classificação por finalidade ou objetivo, o estudo se caracterizou como

exploratório. Procurou-se desenvolver e esclarecer conceitos e ideias, proporcionando uma

visão geral do tipo aproximado dos trabalhadores da saúde e seu processo de valorização

contido na PNH. O resultado foi uma problemática mais esclarecida para estudos posteriores.

(GIL, 1995).

Para analisar e interpretar os dados obtidos durante a pesquisa foi utilizado o Discurso

do Sujeito Coletivo, técnica de análise e interpretação de dados das pesquisas qualitativas que

consiste na elaboração de um discurso síntese elaborado com pedaços de discurso de sentido

semelhante, reunidos num só discurso. (Lefèvre e Lefèvre, 2005).

3.2 Campo e sujeitos do estudo

O campo da pesquisa foi o Hospital Distrital Maria José Barroso de Oliveira17 (Frotinha

de Parangaba), cuja missão é prestar atendimento humanizado ao usuário. Uma unidade de

saúde vinculada a Prefeitura Municipal de Fortaleza. O hospital inaugurado em 1977 é

referência no atendimento de urgência e emergência para traumas de média complexidade. A

unidade dispõe de 55 leitos de internamentos, UTU (Unidade de Tratamento Urgente), Centro

cirúrgico, sala de parada, laboratório de análises clínicas, farmácia, serviço social 24horas,

17 As informações a respeito da Instituição foram adquiridas em documento elaborado pela equipe que compõem

o Serviço Social do Hospital.

44

serviço de ouvidoria, além de outros. É uma unidade de saúde pública que atende diariamente

pacientes em todas as mediações clínicas.

Os sujeitos da pesquisa são constituídos por trabalhadores da saúde que exercem suas

atividades na rede. Para esta pesquisa foi eleito um universo de oito profissionais em variadas

categorias respeitando o critério de inclusão. Os sujeitos foram distribuídos em cinco categorias

de profissionais, a saber: duas técnicas de enfermagem, um técnico de hemoterapia, duas

enfermeiras, duas assistentes sociais e um médico, totalizando em oito profissionais da área da

saúde. O foco na categoria profissional se dá por compreender que, numa unidade de saúde

existem olhares e posicionamentos diferenciados sobre o processo de trabalho, entende-se ainda

que tais posicionamentos dependam, algumas vezes, do local de atuação e da função exercida

dentro da unidade.

A escolha dos sujeitos foi de modo aleatório, usando apenas o critério de inclusão dos

sujeitos na pesquisa. Os mesmos foram identificados com nomes fictícios, nomes estes

escolhidos entre nomes da massa de trabalhadores comuns, e com os quais convivemos

constantemente. A ocultação da real identidade desses sujeitos é para preservá-los de qualquer

entendimento errôneo de sua participação.

O quadro a seguir mostra o perfil dos sujeitos da pesquisa, com base em informações

adquiridas durante o processo da pesquisa de campo. Expressa dados pessoais e profissionais

da realidade dos sujeitos com significativa relevância para a compreensão das análises que se

seguem.

QUADRO 1- PERFIL DOS SUJEITOS DA PESQUISA

CRITÉRIOS QUANTIDADE %

SEXO:

Masculino

Feminino

02

06

25.0

75.0

IDADE:

De 25 a 35 anos

01

12.5

45

De 36 a 45 anos

De 46 a 55 anos

03

04

37.5

50.0

Função na Unidade:

Técnico de enfermagem

Técnico de hemoterapia

Enfermeira

Assistente Social

Médico

02

01

02

02

01

25.0

12.5

25.0

25.0

12.5

Tempo de trabalho na Instituição:

De 02 a 10 anos

Mais de 10 anos

05

03

62.5

37.5

Trabalha em outra Instituição:

Sim

Não

07

01

87.5

12.5

Conhece a PNH:

Sim

Não

06

02

75.0

25.0

Fonte:Elaboração da pesquisadora

O quadro 1 mostra que os trabalhadores pesquisados na instituição em sua maioria são

mulheres (75%), do total de trabalhadores (50%) estão acima dos 45 anos, e todos trabalham a

mais de dois anos na instituição. (37,2%) trabalham a mais de dez anos na mesma função na

unidade. (87,5%) dos entrevistados possui emprego em instituições diferentes, e (75%)

46

revelaram ter conhecimento da Política Nacional de Humanização. Os dados aqui expostos

foram resultados das entrevistas realizadas com os sujeitos, que tiveram duração de 04 a 16

minutos, transcrita literalmente e analisadas no Discurso do Sujeito Coletivo.

3.3 Análises dos resultados

A análise de dados tem o potencial de organizar os dados pesquisados e oferecer

respostas ao problema proposto na investigação. A interpretação de dados, por sua vez, serve

para dar sentido mais amplo às respostas encontradas durante o processo. (GIL, 1995). Para

esta pesquisa foi utilizado o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), método de análise de dado

que consiste numa proposta de organizar e tabular dados qualitativos de natureza verbal,

adquirido durante o processo de pesquisa. O DSC tem como fundamento a teoria da

representação social e os pressupostos sociológicos que fornecem às análises do material verbal

coletado, extraindo dos depoimentos e suas semelhanças nos discursos para compor os vários

discursos sínteses que são os DSC.

Tendo como fundamento a teoria da Representação Social e seus pressupostos

sociológicos, a proposta consiste basicamente em analisar o material verbal coletado

extraindo-se de cada um dos depoimentos. O Discurso do Sujeito Coletivo é uma

modalidade de apresentação de resultados de pesquisas qualitativas que tem

depoimentos como matéria prima sob a forma de um ou vários discursos sínteses na

primeira pessoa do singular, expediente que visa expressar o pensamento de uma

coletividade, como se esta coletividade fosse o emissor de um discurso. (LEFÈVRE,

CRESTANA E CORNETA, 2003 p. 70).

A técnica do DSC é realizada por meio de um recurso de informática, (QualiQuantisoft),

um softwere desenvolvido pelos autores da USP (Universidade de São Paulo) em uma parceria

com a Sales & Paschoal informática. A técnica objetiva a realização de pesquisas

quantiqualitativas. Foi idealizada com o objetivo de servir de instrumento para que os

pesquisadores desenvolvam suas análises em um nível maior de segurança, eficiência além de

possibilitar ao pesquisador alcançar pesquisas qualitativas que comportem um conteúdo maior

de depoimentos (IPDSC).

O QualiQuantisoft é um recurso facilitador de análise de material de pesquisa, isso

significa dizer que o software em nenhum momento substitui o papel do pesquisador. Ele

representa uma ajuda importante ao pesquisador, ao permitir, que o mesmo se concentre nas

tarefas mais nobres da pesquisa, cooperando, portanto com o pesquisador em economia de

tempo e aumento da eficácia da atividade investigativa (IPDSC).

47

QUADRO 2 – Questão 01 da Análise do Discurso do Sujeito Coletivo

1- COMO VOCÊ PERCEBE O TRABALHO E OS TRABALHADORES NA

INSTITUIÇÃO QUE VOCÊ TRABALHA?

IDEIA CENTRAL SUJEITOS

A: CONDIÇÕES DE TRABALHO

PRECÁRIO

FERNANDA, IRENE, TIAGO,

EDUARDO.

B: EU GOSTO DO QUE EU FAÇO

ANITA

C: TRABALHO ESTRESSANTE

CRISTINA, ALINE,

JULIANA.

Fonte: Elaboração da pesquisadora

A: CONDIÇÕES DE TRABALHO PRECÁRIO

DSCSUJEITOS: FERNANDA, IRENE, TIAGO, EDUARDO.

“Eu percebo muita falha no serviço público, grande parte dos trabalhadores não tem

compromisso com o trabalho; nosso trabalho aqui é desvalorizado por parte da

população usuária. O trabalho é precarizado, falta material, faltam insumos, a estrutura

é precária. Um trabalho que rola frouxo, a demanda é muito grande, a maioria precisa

assumir uma postura de compromisso e responsabilidade; eu percebo um trabalho

cansativo, sem uma organização de gestão, o trabalhador se sente explorado pelas

condições que o trabalho oferece, há uma sobrecarga de trabalho excessiva, poucos

recursos, falta segurança, o trabalhador se sente angustiado porque o mesmo tem uma

missão de responsabilidade a ser feita e não dispõe de recursos políticos que possa vê-

lo como deve ser visto. Olha o trabalho aqui, no Frotinha é muito desarticulado,

desgastante, é muito solto, é muita cobrança e nenhum reconhecimento. Eu já trabalho

aqui há 22 anos e nunca alguém da direção, da gestão, chegou para mim, e falou sobre

a importância do meu trabalho. Nunca houve qualquer espécie de reconhecimento; As

necessidades da população, eu diria, quadruplicou, tanto na necessidade, quanto no

modelo de atendimento. Poucos profissionais, sem concurso público, falta médicos,

enfermeiras, as poucas que estão trabalhando, trabalham sobrecarregadas, técnicos

sobrecarregados. Tudo isto torna o trabalho desgastante. Você não vê a instituição

melhorar, agente representa a instituição mas a instituição também tem que te dar um

nome, oferecendo boas condições de trabalho, condições para você progredir em sua

profissão, condições para você prestar um melhor atendimento, e não aumentar o

numero de pacientes com apenas dois médicos numa emergência. Uma grande

carência.Em relação aos “trabalhadores eu percebo uma grande insatisfação,

principalmente nas condições de trabalho, na sobrecarga de pacientes e na remuneração.

Realmente a remuneração é muito ruim. Uma remuneração muito ruim para um trabalho

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desgastante; o trabalho na instituição é um trabalho desgastante pelo perfil de pacientes

que lidamos diariamente, pessoas vítimas de violência urbana: facadas, tiros, acidentes.

Então, a partir desta demanda já provoca um desgaste natural nos profissionais. Por

outro lado, nem sempre as equipes estão afinadas para desenvolver este trabalho.

Trabalhando juntas, trocando experiências”.

DISCUSSÃO

O DSC acena para o elemento mediador introduzido entre a esfera da necessidade e a

da realização da mesma. (Antunes, 2000). No sistema capitalista o trabalhador vende sua força

de trabalho em troca de um salário a fim de satisfazer suas necessidades e de sua família, o

trabalho é a mercadoria do trabalhador, vendido em troca de certa quantidade de dinheiro. Essa

relação entre trabalho e necessidade de se reproduzir socialmente adquire a dimensão de

dualidades e ao mesmo tempo de contradição; o trabalho pode ser o elemento que produz e

subordina; como também pode ser humanizador e ao mesmo tempo degenerador o que liberta

o homem ou o escraviza; aquilo que o emancipa e o aliena. (ANTUNES, 2005). Essa relação

provoca nos sujeitos trabalhadores em saúde sofrimento, ou pode causar satisfação e prazer,

desde que os mesmos realizem seu trabalho com condições facilitadoras, e possam ter suas

atividades socialmente reconhecidas e valorizadas. (PITTA, 1991).

O DSC revela um processo de trabalho desorganizado, sem investimento, em condições

de trabalho, subdividido desvalorizado, não reconhecido e insatisfeito. O DSC na fala dos

sujeitos - os trabalhadores sentem-se prejudicados pelo sistema de saúde como afirma Melo

(2008), ao mencionar as precárias estruturas da instituição, da falta de material de trabalho, da

pouca remuneração, e das situações de violência na qual os trabalhadores estão expostos em

seu local de trabalho. Um trabalhador que recebe baixos salários demais de um emprego para

que venham atender suas necessidades sociais. O DSC mostra ainda, que as equipes de trabalho

pouco se articulam no intuito de oferecer um atendimento integral ao usuário do serviço. Um

reconhecimento contemplado na PNH.

[...] A esse quadro, acrescenta-se a desvalorização dos trabalhadores de saúde,

expressiva precarização das relações de trabalho, baixo investimento num processo de

educação permanente desses trabalhadores, pouca participação na gestão dos serviços e

frágil vinculo com os usuários. (BRASIL, 2004).

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A PNH propõe como processo de enfrentamento à problemática, a implementação de

mudança. Mudança no modelo de atenção que necessita imprescindivelmente de mudanças nos

modelos de gestão dos quais venham ao trabalhador em saúde espaços de criação e promoção,

ou seja, a autonomia e o protagonismo dos sujeitos implicados no processo de produção de

saúde. (BRASIL, 2004).

B: EU GOSTO DO QUE EU FAÇO

DSC SUJEITOS: ANITA

“O trabalho na instituição, na enfermagem todo mundo conhece, tiro por mim,

eu tenho compromisso, eu gosto do que eu faço, eu não acho cansativo, e... Até

agora eu nuca tive nenhum transtorno que eu possa falar no momento, eu

trabalho aonde as pessoas já chegam muito estressadas, com aquela dor, a gente

procura fazer com que o paciente mantenha a calma, nós procuramos manter a

calma diante do paciente para poder passar aquela segurança para eles que já

vem muito sofrido. Pra mim agente trabalhar com amor a profissão ajuda muito

a passar isso para o paciente, a tranquilizá-lo. Então o trabalho para mim em

saúde não é um trabalho cansativo”.

DISCUSSÃO

O DSC em parte ratifica o que Antunes (2000) revela que a satisfação no trabalho é

antes de tudo uma satisfação pessoal que se forma a partir do planejamento e dos resultados

concretos o melhor possível. Possibilita a auto realização individual e coletiva.

[...] A busca de uma vida cheia de sentido dotada de autenticidade encontra no trabalho

seu locus primeiro de realização. A própria busca de uma vida de sentido é socialmente

empreendida pelos seres sociais para sua auto realização individual e coletiva. É uma

categoria genuinamente humana que não se apresenta na natureza. (ANTUNES, 2000

p, 143).

O DSC mostra o trabalhador num momento de autorrealização no trabalho. No

depoimento, pode-se perceber que mesmo enfrentando as adversidades inerentes do processo

de trabalho em saúde, própria de instituição hospitalar, seu trabalho significa um momento de

satisfação e realização de vida e sua reprodução social. A autorrealização no trabalho pode ser

uma tarefa ora solidária ora solitária.

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A qualidade de vida no trabalho em saúde implica superar os quatro desafios específicos

e reflexivos para a atuação na área da saúde. O primeiro deles está condicionado ao trabalhador

trazer a vida para o trabalho, ou seja, o trabalhador deve perseguir e descobrir objetivos íntimos,

contudo, não se pode esquecer-se de preencher a vida com atos significativos para si e para os

outros; segundo, o trabalhador deve viver a possibilidade da solidariedade, isso significa dizer

que a solidariedade ainda pode ser um valor a ser cultivado como afirmação de superioridade

nas relações; terceiro, o trabalhador deve viver seu presente construindo o futuro. O trabalhador

deve pensar no trabalho de modo que o mesmo não seja constrangimento para sua vida, isso

significa dizer que o trabalhador deve conhecer seus limites e pensar em soluções coletivas para

o problema de todos; por fim, um quarto e último desafio é ter equilíbrio pessoal e profissional,

evitar o esgotamento no trabalho, reservar um tempo para restaurar a força interna e fortalecer

a identidade entre o profissional e pessoal. (LEOPARDI, 1999).

C: TRABALHO ESTRESSANTE

DSC SUJEITOS: CRISTINA, ALINE, JULIANA.

“O trabalho em si é estressante ....os trabalhadores uns cooperativos, outros

não... Alguns trabalhadores conseguem trabalhar direito, outros têm muita

dificuldade. Nosso trabalho aqui é com a comunidade em aberto, então, nós

fazemos todo tipo de atendimento: clinico, cirúrgico e traumatológico, com isso

lidamos com vários tipos de violência como tiros, facadas, acidentes. Quando

eles (pacientes) chegam à unidade nós ainda corremos o risco de vida, isso torna

nosso serviço mais estressante. Primeiro pela sobrecarga de trabalho mais as

ameaças de receber à vitima de violência e durante atendimento se tornar alvo

daqueles que tentam matá-lo”.

DISCUSSÃO

O discurso do DSC revela o trabalhador de saúde sofrendo de estresse provocado pelas

situações do ambiente de trabalho em instituições hospitalares. Pitta (1991) descreve esse

ambiente como produtor de doenças e sofrimento em função de sua própria natureza e

organização. O estresse no trabalho se evidencia em sintomas e sinais orgânicos e psíquicos

inespecíficos. A autora revela que tais determinantes de sofrimento são inerentes ao próprio

objeto de trabalho, ou seja, a dor, o sofrimento, a morte do outro, e neste caso acrescenta-se a

situação de exposição do trabalhador à violência urbana.

51

O enfrentamento da situação requer a construção de novos modelos interdisciplinares

de investigação que envolve questões de múltipla natureza, revelados por Pitta (1991).

Entre os estudiosos existe unanimidade sobre a influência e, ao mesmo tempo, acerca

da complexidade das relações entre saúde e trabalho, a requerer a construção de modelos

novos e necessariamente interdisciplinares de investigação. Esta pluralidade não

implica tão-somente lidar com questões técnicas e cientificas, mas também outras de

natureza filosófica, moral, política, econômica e social (PITTA, 1991 p. 19).

O que se percebe no DSC é que todas as questões verbalizadas pelos sujeitos geradores

de sofrimento, identificadas pelos sujeitos como estresse, à maioria se encontra na organização

do trabalho, gênese do sofrimento psíquico. São identificadas sem alguns fundamentos da

organização do trabalho como as longas jornadas de trabalho, a execução de tarefas pré-

determinadas por um limite de tempo, a pressão psicológica sofrida por gestões hierárquicas,

rígida e vertical, o não controle do trabalhador sobre a execução do seu trabalho, a alienação do

trabalho e do trabalhador, a subdivisão de tarefas e a desqualificação do trabalho realizado e

também de quem o realiza, são, portanto, elementos identificados por Pitta (1991) como fontes

de insatisfação resultando em agressão à saúde psíquica do trabalhador.

QUADRO 3– Questão 02 da Análise do Discurso do Sujeito Coletivo

2- COMO VOCÊ VÊ A HUMANIZAÇÃO NO EXERCÍCIO DO

TRABALHO EM SAÚDE.

IDEIA CENTRAL SUJEITOS

A: NÃO HÁ HUMANIZAÇÃO

EDUARDO E TIAGO

B: HÁ FALHAS NA HUMANIZAÇÃO

IRENE, CRISTINA

C: A HUMANIZAÇÃO É A

PARTICIPAÇÃO DE TODOS

ALINE, JULIANA, ANITA

Fonte: Elaboração da pesquisadora

A: NÃO HÁ HUMANIZAÇÃO

DSC SUJEITOS: EDUARDO, TIAGO.

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“É o que acabei de dizer....aqui não se fala em humanização. O que eu conheço

sobre humanização é o que eu vejo no meu outro trabalho. Aqui eu nunca ouvi

falar sobre humanização. É sempre a mesma coisa, você vem trabalhar, realiza

suas tarefas, e vai embora, e depois é a mesma coisa, e depois, e depois...Para

que eu possa atender alguém de modo humanizado eu preciso estar humanizado,

eu preciso estar em condições favoráveis, quer dizer, eu preciso estar bem

comigo, com minha remuneração, com a quantidade de pacientes que eu tenho

que atender, eu tenho que ter uma instituição que ofereça suporte para o

atendimento, isso gera consequentemente um atendimento humanizado. A

medicina tem andado na contramão deste processo, tem-se investido na

instituição, em tijolo e parede e tem deixado de investir nas pessoas. A

enfermeira que ganha bem, o médico que ganha bem e tem uma estrutura de

trabalho boa, um repouso digno, uma alimentação boa, condições de

atendimento favorável, automaticamente ele vai prestar um atendimento de

melhor qualidade. Agora, você ter que tratar alguém com fidalguia, você sendo

maltratado, com seu salário atrasado...A humanização no Frotinha, é

difícil....não tem nenhum projeto, nenhum meio que eu possa perceber como

esta humanização acontece aqui. Porque a humanização se articula não só com

os profissionais, mas com os usuários e principalmente com a gestão. Eu já

trabalho aqui há 09 anos e nunca participei de uma reunião com a direção. Essa

nova gestão então.... eu só os conheço de ouvir falar.. Nunca vi... mas já ouve,

já aconteceu de diretor sair de casa e vir no Frotinha final de semana, à noite

para resolver problemas, principalmente quando não tem médico”.

DISCUSSÃO

O DSC revela a ausência de humanização na instituição pesquisada. Os próprios sujeitos

não encontram em seu ambiente de trabalho a humanização, que faz uso da ética, da moral e do

bom senso com intenções de resgatar valores humanitários. A humanização é apreendida como

uma forma de perceber cada pessoa em sua necessidade específica. Os trabalhadores da

instituição estão privados de boas condições de trabalho, de alimentação de repouso adequado

para plantonista e de boa remuneração. O que se percebe é a busca de um trabalho humanizado,

do direito ao exercício da autonomia em seu ambiente de trabalho, levando em conta sua

singularidade, valores e vivencias. Constata-se que a negação de tais direitos revela a ausência

de uma política de humanização e de respeito ético com o trabalhador de saúde na instituição,

uma vez que, humanizar em saúde exige postura ética de respeito ao outro. (GIORDANI, 2008).

A Política Nacional de Humanização propõe como política transversal da rede SUS a

valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde: usuário,

trabalhador e gestor. Humanizar na PNH é promover a autonomia e o protagonismo desses

sujeitos, aumentando o grau de corresponsabilidade entre eles, com finalidade de produzir

saúde. A Política propõe ainda como enfrentamento ao cenário de descontentamento acima

53

descrito mudanças nos modelos de atenção e gestão dos processos e trabalho, focando as

necessidades do cidadão e a produção de saúde estimulando a humanização da rede hospitalar,

o compromisso com a ambiência, a melhoria das condições de trabalho e de atendimento.

B: HÁ FALHAS NA HUMANIZAÇÃO

DSC SUJEITOS: IRENE, CRISTINA, FERNANDA, ALINE

“Nas instituições há falhas diferentes. O que torna diferente o trabalho

de uma instituição para a outra é a interação entre as equipes. No meu trabalho,

aqui não há esta interação na pratica dos vários profissionais de saúde. Isso não

significa dizer que de modo geral existe uma ausência de humanização no

trabalho realizado pelas equipes, há uma grande falha nas várias instâncias de

poder e categorias profissionais em relação a humanização. A humanização é

linda, o SUS possui toda uma política de humanização, aqui no hospital

inclusive, há cinco anos foi feito todo um projeto de acolhimento para que se

estivesse este serviço de humanização, mas, só que tudo é muito lindo, no papel,

porque para que a humanização venha a acontecer é preciso que haja um

trabalho em equipe, mas uma equipe completa. O que acontece aqui é um

trabalho direcionado para dois ou três profissionais. Tudo no papel é muito

lindo, seria melhor se de fato fosse executado. Eu percebo aqui a humanização

deficiente, muito deficiente. Apesar de muita gente falar sobre a humanização,

outros não tem conhecimento do processo de humanização, não saber e não

querer se aprofundar sobre o assunto, dificulta ainda mais nosso trabalho. Deixa

a parte humana e da humanização bem longe do profissional, tornando o

trabalho mais estressante, e isto acontece com toda a equipe: médicos,

enfermeiros técnicos, a equipe toda... algumas vezes o próprio profissional

esquece que é humano. Quem é humano não trata o outro com desumanidade”

DISCUSSÃO

O DSC traz o fato de que há quem fale em humanização e há quem desconheça. Aponta

para a falta de interdisciplinaridade como sendo o principal marco da ausência de humanização

das práticas em saúde.

Segundo Oliveira (2007), a humanização na saúde é reconhecida como processo de

transformação de cultura institucional, como visto no ambiente hospitalar o que mais se

questiona é a ausência do trabalho em equipe, reclamação comprovada a partir das falasdos

DSC. A proposta da PNH a essa problemática é atuar, traduzindo os princípios do SUS de modo

a operar os diferentes equipamentos e sujeitos da rede de saúde com equipes multiprofissionais,

54

construindo trocas solidárias comprometidas com a dupla tarefa de produção de saúde e de

sujeitos. Assim, os princípios que norteiam a PNH abrigam o fortalecimento do trabalho em

equipe multiprofissional, estimulando a transversalidade e a grupalidade; o compromisso em

apoiar a construção de redes cooperativas, solidárias e comprometidas com a

corresponsabilidade nos processos de atenção e gestão, isto é, toda a equipe multiprofissional

tem o compromisso de gerenciar tais processos de modo comprometido e democrático.

C: A HUMANIZAÇÃO É PARTICIPAÇÃO DE TODOS

DSC SUJEITOS: JULIANA, ANITA

“A humanização se realiza de forma participativa, promovendo o bem para

todos, inclusive dos usuários. Eu percebo a humanização na participação do

médico no dia a dia com o paciente, aqui os pacientes são muito bem atendidos.

Eu vejo a humanização no compromisso dos médicos com o paciente

juntamente com toda a equipe”.

DISCUSSÃO

O DSC aponta para um prisma da humanização a partir da maneira como os sujeitos se

relacionam. Segundo Giordani (2008), há uma urgente necessidade de se refletir sobre a geração

e prática de uma cultura de humanização no exercício cotidiano daqueles que trabalham na área

da saúde. Existe uma dificuldade envolvendo as relações interpessoais, da falta de capacitação

permanente, da ausência de melhorias de condições necessárias à realização do trabalho. Essas

dificuldades alteram a organização dos processos de trabalho, como também, a dinâmica de

interação entre as equipes e os mecanismos de planejamento, decisão, avaliação, e participação.

O DSC mostra o entendimento de trabalhadores sobre humanização que estão inclusos

na PNH como desafios que devem ser respondidos. A PNH se desenvolve a partir dos princípios

norteadores do SUS que tem enfrentado um processo de fragmentação do trabalho e das

relações entre os diferentes profissionais, a deficiente interação entre as equipes e a

fragmentação da rede assistencial, o que dificulta a complementaridade entre a rede básica e o

sistema de referência. No DSC, apesar de se reconhecer que a humanização se realiza a partir

55

da participação de todos, os sujeitos reconhecem, por meio de suas falas, no médico um detentor

legal da gerência do ato assistencial. (PIRES, 1999).

QUADRO 4 – Questão 03 da Análise do Discurso do Sujeito Coletivo

3- PARTINDO DA PRÁTICA DO SEU TRABALHO, QUAL SEU

ENTENDIMENTO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO TRABALHO EM

SAÚDE.

IDEIA CENTRAL SUJEITOS

A: TRABALHO NÃO VALORIZADO

FERNANDA, ANITA,

TIAGO, ALINE.

B: TRABALHOREFLETIDO/

APROFUNDADO

IRENE, EDUARDO

C: A VALORIZAÇÃO DO

TRABALHO EM EQUIPE.

CRISTINA, JULIANA

Fonte: Elaboração da pesquisadora

A: TRABALHO NÃO VALORIZADO

DSC SUJEITOS: FERNANDA, ANITA, TIAGO, ALINE

“O pessoal que trabalha no setor público não é valorizado, nem por parte das

gestões, nem por parte do usuário. Faltam incentivos promocionais, como por

exemplo, cursos de qualificação, incentivo financeiro, e outros. A valorização

do nosso trabalho aqui não existe. Eu já trabalhei em alguns hospitais

particulares, onde participei de processos de valorização, com empenho da

direção em cursos de qualificação com auxiliares, funcionário padrão do mês,

eu recebi até a plaquinha. Mas aqui é rara, alguma coisa que acontece aqui, neste

sentido, são da parte dos enfermeiros imediatos, aqui, ou acolá, tem umas

festinhas, umas faixas, e só. A valorização na saúde é inexistente, eu não

consigo visualizar nada que eu possa conceituar como atitude de valorização. É

aquela coisa... a gestão exige você trabalha... às vezes até um trabalho

sobrecarregado, mas a contrapartida de reconhecer o trabalho e valorizar é bem

difícil...bem difícil. Cada profissional tem seu valor, como categoria

profissional, como participante desse processo de promoção de saúde, as

gestões custam em reconhecer este valor, tanto no sentido de reconhecimento

daquele trabalho realizado , quanto, quanto no sentido financeiro.

56

DISCUSSÃO

Valorizar em saúde é assumir uma posição de direito e de cidadania em relação aos

sujeitos produtores de saúde, ou seja, é agregar valor, seja financeiro, moral, ético e intelectual.

No trabalho em saúde a valorização dessa atividade diuturna é dispositivo estratégico de dar

sentido ao trabalho e suas novas formas de ser. O trabalho valorizado é o mecanismo que

concebe ao trabalhador dar sentido ao seu trabalho. (ANTUNES, 2005). Nesse caso,

verbalizado pelos sujeitos nos DSC, aponta para o entendimento dos profissionais da saúde na

instituição pesquisada não perceber seu trabalho valorizado, gerando grande dificuldade na

melhoria do atendimento ao usuário. A instituição não percebe que um profissional reconhecido

e valorizado importa a todas as pessoas e às próprias instituições. (GIORDANI, 2008).

A análise sobre a valorização do trabalho na instituição pesquisada solicita o

posicionamento da PNH, ou seja, aquilo que o documento propõe como mecanismo de

enfrentamento à problemática. A Política parte da premissa que a valorização se insere numa

intrínseca relação com a humanização e propõe a valorização dos diferentes sujeitos implicados

no processo de produção de saúde promovendo sua autonomia e o protagonismo no processo

da gestão em saúde. Uma valorização que se realiza a partir da participação coletiva e paritária

nos processos de gestão.

No eixo da gestão do trabalho propõe-se a promoção de ações que assegurem a

participação dos trabalhadores nos processos de discussão e decisão, fortalecendo e

valorizando os trabalhadores, sua motivação, autodesenvolvimento e o crescimento

profissional. (BRASIL, 2004).

B: TRABALHO REFLETIDO/APROFUNDADO

DSC SUJEITOS: IRENE, EDUARDO

“O meu trabalho como de toda equipe de saúde, é um trabalho sofrido, o

Assistente Social é uma pontinha mais sofrida ainda, porque por mais que ele

esteja há muitos anos no serviço de saúde ele é ainda muito questionado, por se

mostrar um trabalho pouco mensurável quantitativamente. É um trabalho, onde

os profissionais estão o tempo todo tendo que explicar o que é seu trabalho,

falar, mostrar o que é. Nosso trabalho precisa ser mais refletido, aprofundado e

com mais ações concretas. Meu trabalho, como quase todas as pessoas, eu acho

o mais importante do mundo, assim como todos os outros profissionais deve

perceber seu trabalho, o mais importante do mundo. Meu trabalho é aquilo que

57

me dar prazer, aquilo que faz com que eu possa me reproduzir socialmente, é

quem possibilita o sustento de minha família”.

DISCUSSÃO

O DSC revela que o reconhecimento sobre a valorização do trabalho na instituição

se realiza a partir da reflexão do significado do trabalho como centralidade para reprodução

das sociedades. Segundo Leopardi (1999), a vida do homem está inextricavelmente ligada

ao trabalho e ao sofrimento dele decorrente. Essa realidade pode ter duplo sentido, ou seja,

não só pode produzir sofrimento, mas também satisfação (BRASIL, 2008). O processo de

valorização do trabalho que pode produzir satisfação está inscrito na PNH, ao convocar o

trabalhador para o debate com finalidade de produzir a partir do debate políticas públicas

de saúde em todas as instâncias que envolvem o trabalho e o trabalhador em saúde. A prática

reflexiva sobre trabalho em saúde convoca a presença da PNH, pois é nela que está

paramentada a ampliação do diálogo, ou seja, a gestão participativa, viabilizada pela

participação dos trabalhadores no debate sobre saúde.

C: VALORIZAÇÃO DO TRABALHO EM EQUIPE.

DSC SUJEITOS: CRISTINA, JULIANA

“Para que meu trabalho possa ser valorizado eu percebo que é só a partir de um

trabalho em grupo, tratando com os pacientes e com outros profissionais,

resolvendo, as situações do momento me dedicando e trabalhando porque gosto

do meu trabalho. Quando você gosta do que faz e percebe a pessoa humana

como parte do seu trabalho, tudo é mais diferenciado, o serviço anda melhor, a

equipe se organiza melhor. A valorização no trabalho compreende um trabalho

em equipe evitando desagregação prejudicial ao trabalho”.

DISCUSSÃO

A assistência em saúde foi desenvolvida historicamente considerando o saber

especializado, ou seja, cada profissional de saúde desenvolve atividades diferenciadas,

intencionando a ação terapêutica. Este trabalho pode se desenvolver numa relação direta

profissional de saúde-cliente ou de maneira coletiva. Atualmente, em face da complexidade

58

diversa das doenças, o trabalho em instituições públicas ou privadas é majoritariamente um

trabalho em equipe. Como revela Pires, (1999).

A complexidade dos problemas em saúde exige conhecimentos profundos em cada área,

possibilitando que atividades ou campos do conhecimento organizem-se em novas

profissões de saúde. Mas o entendimento da totalidade só é possível com um inter-

relacionamento entre essas áreas de profissões. (PIRES, 1999 p. 32).

Apesar de o trabalho multiprofissional acontecer de modo amplo em toda a rede

assistencial, é inegável a pouca articulação entre as equipes, a ausência de coordenação nos

trabalhos desenvolvidos pelos profissionais, a falta de metodologias de trabalho e, por fim, não

existência de um espaço de avaliação dos resultados dos serviços prestados pelas equipes.

Na [...] maioria das Instituições assistências em saúde não existe coordenação da

assistência prestada pelos diversos grupos de profissionais de saúde. Não existe

instancias de planejamento [...]; que profissionais são necessários para a realização para

a realização de um trabalho adequado; que papel cada um deve desempenhar; como as

diversas atividades podem integrar-se. Também não existem espaços conjuntos de

avaliação da assistência prestada e nem de avaliação dos resultados. (PIRES, 1999).

No DSC percebe-se o sujeito concebendo a valorização no trabalho realizada a partir da

articulação das várias categorias de profissionais, de modo dinâmico. A PNH propõe a

humanização com a construção de trocas solidárias. Os princípios que norteiam a PNH

comportam o fortalecimento do trabalho em equipe multiprofissional, fomento da

transversalidade e a grupalidade, a corresponsabilidades entre os sujeitos envolvidos no

processo de produção de saúde na rede SUS, além do compromisso democrático das relações

de trabalho e da valorização dos profissionais de saúde.

QUADRO 5 – Questão 04 da Análise do Discurso do Sujeito Coletivo

4- QUE AÇÕES REALIZADAS NO SEU TRABALHO VOCÊ IDENTIFICA

COMO ATIVIDADE DE VALORIZAÇÃO E HUMANIZAÇÃO

IDEIA CENTRAL SUJEITOS

A: INCENTIVO À QUALIFICAÇÃO

FERNANDA

B: O PROFISSIONAL DA

HUMANIZAÇÃO

IRENE, JULIANA, ALINE

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C: TRABALHO VALORIZADO POR

PACIENTES

JULIANA, ANITA,

FERNANDA.

D: NÃO EXISTE AÇÃO DE

VALORIZAÇÃO

EDUARDO, ALINE

Fonte: Elaboração da pesquisadora

A: INCENTIVO À QUALIFICAÇÃO

DSC SUJEITO - FERNANDA

“Eu percebo uma ação muito boa no meu trabalho de valorização do profissional

que é o aproveitamento do profissional de nível médio que conclui uma

educação de nível superior. Como também um incentivo e apoio psicológico

por parte de toda a equipe de trabalho”.

A análise do DSC solicita uma avaliação de propostas contidas na PNH como dispositivos

de valorização do trabalhador de saúde. Não obstante, sabe-se que para qualquer trabalhador de

saúde exige de si uma qualificação prévia para ingressar no trabalho. A instituição pesquisada

que é um hospital da rede pública de Fortaleza, o ingresso para o quadro funcional se realiza

por meio de concurso ou seleção pública. No caso específico, os sujeitos pesquisados

reconhecem que a ascensão funcional, realizada na instituição a partir de novas qualificações,

constitui instrumento de valorização. Pitta (1991) reconhece que a qualificação em instituições

de saúde deve refletir o status do trabalhador na organização. A PNH propõe a participação dos

trabalhadores em processos de educação permanente que qualifique as ações e inserção do

trabalhador na rede SUS.

B: O PROFISSIONAL DA HUMANIZAÇÃO.

DSC SUJEITOS: ALINE, IRENE, JULIANA

60

“O serviço social, no meu entender, dentro de uma equipe multiprofissional de

saúde, ainda é o cantinho da humanização, é o profissional da escuta, o

profissional do acolhimento, ainda, dentre todos ao demais que fazem o serviço

da saúde. Eu até brinco que aqui parece uma delegacia, porque tudo vem pra cá.

Então, dentre todos os demais profissionais que fazem o serviço de saúde, é o

serviço social o mais conscientes, o mais orientado para o aspecto da

humanização. Se não fosse o serviço social para acolher este usuário, pergunto:

o que seria destas pessoas? O assistente social é um profissional sensível que

tenta dentro das dificuldades do trabalho fazer do pouco para que se venha a

fazer um trabalho humanizado, acolhedor, um trabalho de escuta....., porque às

vezes a pessoa não quer nada, só quer a escuta, e de modo geral a equipe de

saúde não quer escutar. Só nos profissionais eu consigo mensurar alguma forma

de valorização, mas cada um valorizando seu trabalho individual. No serviço

social há um esforço constante no sentido de promover um trabalho

humanizado”

DISCUSSÃO

No DSC, os sujeitos reconhecem na categoria de trabalhadores do Serviço Social condições

propicias para atuar no projeto de humanização da instituição. Nos Parâmetros para Atuação

dos Assistentes Sociais na Política de Saúde (2009), o Serviço Social se propõe ao desafio de

articular com os demais profissionais de saúde e movimentos sociais à defesa e à luta por

transformações estruturais nas políticas sociais, em particular na saúde.

É requisitado ao assistente social no trabalho em saúde articular e sintonizar ao movimento

de trabalhadores e de usuários pela real efetivação do SUS, conhecer as condições de vida e

trabalho dos usuários e seus determinantes sociais que interferem no processo saúde-doença,

facilitar o acesso a todos os usuários aos serviços de saúde. Devem atuar em estimulando a

interdisciplinaridade, tendo em vista a atenção em saúde, propor e construir/efetivar

conjuntamente com outros trabalhadores de saúde espaços facilitadores de participação popular

e de trabalhadores de saúde nas decisões a serem tomadas, elaborar e participar de projetos de

educação permanente, assessorar movimentos sociais. Essa atuação dos assistentes sociais na

saúde concebe ao profissional propriedade sob o tema humanização e o reconhecimento de que

é o serviço social o profissional mais habilitado para desenvolver o trabalho da humanização.

Ainda nos Parâmetros (2009), está posto a atuação do serviço social na saúde do trabalhador

como tema de significativa atuação para o assistente social. Esse tema, afeta diretamente o eixo

de valorização do trabalhador contido na PNH, tema desta pesquisa. Na saúde do trabalhador o

61

assistente Social atua no atendimento aos trabalhadores individual ou em grupo, na pesquisa,

no assessoramento e na mobilização dos trabalhadores, e também como componente de equipes

multiprofissionais.

C: TRABALHO VALORIZADO POR PACIENTES

DSC SUJEITOS: ALINE, JULIANA, ANITA, CRISTINA

“A valorização e reconhecimento eu recebo no meu trabalho são apenas por

parte dos pacientes que nos elogia, este reconhecimento e mais fácil vir dos

pacientes e com isto eu me sinto gratificada. As ações de valorização que posso

perceber no meu trabalho são quando um acompanhante ou paciente diz “muito

obrigado”, isto é raro, mas às vezes acontece... porque eles são acostumados a

nos chamar de rapariga, baitola, prostituta, vagabunda....Quando um paciente

ou acompanhante sai e diz muito obrigado, Deus lhe abençoe, ai é muito

gratificante, eu me sinto valorizado. A única coisa em que eu posso perceber

como atitudes de valorização no meu trabalho são as atitudes dos usuários,

quando eles conseguem reconhecer que nosso trabalho foi satisfatório. Ai eles

agradecem e se sentem satisfeitos pela assistência dispensada. Eu percebo ai

alguma forma de reconhecimento e valorização”.

DISCUSSÃO

No DSC, o relato do trabalhador faz referência ao agradecimento dos usuários, visto por

eles como forma de valorização do trabalho. De fato, é uma forma de reconhecer um trabalho

satisfatório para a população usuária, pois, no processo de humanização / valorização, todos

têm sua parcela de contribuição no intuito de gerar resultados positivos para um atendimento

humanizado na área da saúde. A questão presente no DSC faz referência ao atendimento em

saúde, o profissional por se sentir desvalorizado pelas condições de insalubridade do ambiente

de trabalho apropria-se de uma natural insatisfação provocada em sua maioria pelo desgaste

físico, emocional e psicológico de equipes de trabalho.

Segundo Giordani (2008), isso gera um desastre em cadeia, ou seja, funcionários

insatisfeitos atendem mal aos clientes, os clientes por sua vez se sentem maltratados devido à

má qualidade dos serviços prestados em saúde. Esse movimento é facilmente percebido pelo

usuário de saúde. O atendimento humanizado gera relação humanizada. É pelo reconhecimento

do valor do trabalho de cada profissional de saúde que se pode estimulá-lo a amenizar as

consequências das precarizações do trabalho próprias do ambiente hospitalar. O atendimento

62

humanizado é carregado de expressões de agradecimento por parte dos usuários o que gera

condições de valorização.

Muitos autores defendem a ideia de que a valorização que as instituições de saúde em

geral podem dar aos seus funcionários é o reconhecimento da clientela, concorrem ao

bom desempenho de todos os profissionais que atuam em diferentes níveis de atenção

em saúde principalmente no serviço público em que muitos princípios e práticas deixam

a desejar. (GIODANI, 2008).

A PHN esclarece, portanto, que a valorização do trabalhador em saúde não são

exclusivamente os elementos acima citados e, sim, a própria humanização que se estabelece, a

partir da valorização do tripé da humanização usuário, trabalhador e gestor. Norteado pela

autonomia e o protagonismo desses sujeitos, no que se conclui, a partir do DSC, que na unidade

de saúde há um esboço deficiente do processo de humanização que não contempla as ações

concretas estabelecidas na PNH.

D: NÃO EXISTE AÇÃO DE VALORIZAÇÃO

DSC SUJEITOS - EDUARDO

“Nenhuma....Porque eu não vejo investimento no indivíduo, não é servida uma

boa comida no almoço, não vejo um bom consultório, uma organização no

atendimento. O que eu vejo é uma sobrecarga de trabalho. É sempre mais,

sempre mais, sempre tem que atender mais. O que eu percebo é uma via de mão

única. Não vejo nada de positivo. É preciso que haja um incentivo, financeiro,

de conforto, de organização de controle de pacientes”.

DISCUSSÃO

Segundo Melo (2008), o trabalhador em saúde se sente prejudicado pelo sistema de saúde

devido às más condições de trabalho no qual este é submetido, as extensas jornadas de trabalho,

más condições estrutural para atendimento do usuário, e péssimas condições de alimentação.

Em contrapartida, NR-32 garante a todo trabalhador boas condições de alimentação,

climatização adequada no ambiente de trabalho, além de oferecer treinamento específico para

algumas categorias de trabalhadores. São elementos que colaboram com o processo de

valorização em unidades de saúde. No DSC, a verbalização dos sujeitos coopera para a

63

compreensão que na unidade de saúde não existe um processo de valorização do trabalhador,

justificado no próprio relato dos sujeitos.

QUADRO 6 – Questão 05 da Análise do Discurso do Sujeito Coletivo

5- QUE AÇÕES DE VALORIZAÇÃO VOCÊ SUGERE PARA

IMPLANTAÇÃO NO SEU TRABALHO

IDEIA CENTRAL SUJEITOS

A: MUDANÇA NA GESTÃO

ALINE, FERNANDA,

EDUARDO

B: ORGANIZAÇÃO DE EQUIPE

IRENE

C: CRIAR MECANISMO DE

VALORIZAÇÃO

CRISTINA, JULIANA,

ANITA, TIAGO

Fonte: Elaboração da pesquisadora

A: MUDANÇA A PARTIR DA GESTÃO

DSC SUJEITOS: ALINE, FERNANDA, EDUARDO

“Eu sugiro uma mudança a partir da gestão no processo de administrar. Sugiro

também o uso adequado e socializado dos recursos financeiros dispensados à

instituição. Uma gestão com participação dos trabalhadores dos usuários, um

trabalho articulado entre as várias categorias para proporcionar melhor

resultado nos atendimentos dispensados à população. Melhorar a remuneração,

limitar o numero de atendimentos, direcionarem os pacientes de cada unidade

para sua unidade específica, ou seja, aquele que é de atendimento primário que

seja encaminhado para o atendimento primário, o que for secundário do mesmo

jeito e ai por diante. Dar liberdade a gestão para utilizar os recursos financeiros.

Não mais se admite que para comprar um balde de lixo é preciso uma novela de

uma licitação que dura uns três meses”.

DISCUSSÃO

No eixo da gestão, a PNH estabelece a promoção de ações que assegure a

participação dos trabalhadores nos processos de discussão e decisão. Esse processo fortalece e

valoriza os trabalhadores – na sua motivação, no autodesenvolvimento e no crescimento

profissional. No perfil dos sujeitos, 75% dos trabalhadores se declararam ter conhecimento da

Política Nacional de Humanização. Conclui-se, pelo DSC, que a reivindicação dos

64

trabalhadores existe apenas pela materialização na PNH na instituição como instrumento de

valorização do trabalhador. As reivindicações expostas no DSC poderiam se materializar na

unidade, se a mesma fosse portadora de instrumentos de cogestão, valorização e inclusão dos

gestores, trabalhadores e usuários nos processos de discussão e produção de saúde solicitada

pela PNH.

B: ORGANIZAÇÃO DE EQUIPE

DSC SUJEITOS: IRENE

“Eu sugiro um trabalho de organização de equipe, de forma hierárquica, não no

sentido de poder, mas no sentido de seguir um fluxograma. Porem trata-se de

uma equipe sensibilizada para o aspecto que diz respeito à humanização, que

parte de uma postura de gestão. Seria uma organização no sentido, como por

exemplo, o usuário a chegar aqui, ele passaria pela portaria, para daí em diante

ter acesso aos demais serviços da instituição. Eu reclamo por uma hierarquia,

repito que não diz respeito a uma relação de poder, essa hierarquia que eu me

refiro é para que venha a funcionar aquilo que tem que funcionar, uma condição

de postura transversal que todo mundo tem seu valor, mas que deve assumir

uma postura de respeito uns os outros. Pra mim o único instrumento de

humanização na unidade eu só consigo, perceber no serviço social com a escuta

e o acolhimento. Aqui é uma situação muito difícil. A equipe não é sensível e

nós do serviço social ficamos trabalhando igual uma formiguinha”.

DISCUSSÃO

A questão do trabalho em equipe já foi discutida em alguns momentos em questões

anteriores. Questionou-se o fato do serviço de saúde se desenvolver em sua ampla maioria em

equipe, porém, a relevância da discussão foi o modo como essas equipes se organizam para

oferecer um trabalho de fato satisfatório para si e para a população. Nos serviços de saúde,

segundo Pires (1999), as equipes de saúde estão compartimentalizadas, ou seja, as equipes

desenvolvem um trabalho separadamente, cada grupo de profissionais presta parte da

assistência de saúde separado dos demais. A proposta da PNH, nesse sentido, é de atuar nas

precárias interações e despreparo das equipes, fortalecendo esse trabalho e fomentando a

transversalidade e a grupalidade, isto reduziria consideravelmente o processo de fragmentação

do trabalho e das relações entre as equipes de diferentes profissionais. No DSC, os sujeitos

reclamam pela materialização desse processo descrito pela PHN, o que se leva a concluir que

65

na instituição pesquisada, também é negado o processo de organização de equipes com base na

PNH.

C: CRIAR MECANISMO DE VALORIZAÇÃO

DSC SUJEITOS: ANITA, CRISTINA, TIAGO, JULIANA

“Eu não falo no sentido de parabenizar, eu falo no sentido de criar meios de

crescimento do profissional de enfermagem, algo que pudesse aprimorar o

profissional para que ele não fique só naquilo dali que ele faz. Algo que lhe

traga uma progressão, tipo mais reciclagem. Há algum tempo houve um curso

bem interessante de relações interpessoais, a Prefeitura disponibilizou, e nós

fomos até uma faculdade e realizamos o curso, mas o que seria interessante seria

um auditório aqui mesmo, assim seria mais fácil a participação dos colegas. A

implantação de uma triagem para mostrar o que é humanização. Eu indicaria

cursos de atualização em humanização, mostrar a realidade como o trabalho

acontece com certeza muita gente iria se conscientizar e com certeza o trabalho

melhoraria. Olha, eu só penso em humanização quando eu imagino o

HEMOCE...é a implantação de cursos, retorno financeiro adequado,

reconhecimento de seu trabalho por parte da gestão e maior interação entre os

trabalhadores. A implantação de cursos, uma compreensão por parte das

equipes, participação, consciência sobre a qualidade do trabalho dispensado à

população”.

DISCUSSÃO

O DSC mostra claramente a gritante necessidade da materialização da PNH na

instituição para a implementação do processo de humanização e valorização do trabalho e do

trabalhador em saúde. O que é solicitado pelos sujeitos no DSC é que o trabalho, executado

pelo trabalhador, e o seu profissionalismo em saúde tenham o reconhecimento quanto aos

direitos atribuídos á classe profissional. O direito a participar do processo de valorização e

humanização prescrito na PNH a partir da autonomia e protagonismo desses sujeitos. Os

sujeitos do DSC reivindicam a posse sobre seu processo de trabalho suprimido por gestões

centralizadas e verticalizadas.

O fato de 75% dos trabalhadores pesquisados terem conhecimentos da PNH,confere-

lhes propriedade para reivindicar a autonomia e o protagonismo dos mesmos nos processos de

trabalho, a qualificação com programas de educação permanente indicando composição de

conteúdos profissionalizante na graduação, pós graduação, e extensão em saúde, vinculado aos

pólos de educação permanente e às instituições de formação. O programa de educação prescrito

66

na PNH propõe a realização de cursos com temas sobre humanização. Por conseguinte, os

trabalhadores da instituição conhecem seus direitos prescritos na PNH, e reconhecem que são

direitos que necessitam se materializar, no entanto, a instituição não disponibiliza propostas

nem ações facilitadoras à concepção das propostas de valorização e humanização para o

trabalhador no que tange aos programas de educação permanente prescritos na PNH.

67

4.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta deste estudo foi analisar como se concretiza a Política Nacional de

Humanização do SUS no eixo que envolve a valorização do trabalhador em um hospital

municipal de Fortaleza, tendo como referência a Política Nacional de Humanização (PNH) os

posicionamentos dos trabalhadores da instituição adquiridos por meio da pesquisa empírica

qualitativa. Os dados foram analisados e interpretados à luz do Discurso do Sujeito Coletivo –

DSC. (Lefèvre e Lefèvre, 2005)

O estudo bibliográfico proporcionou o conhecimento da construção das políticas de

saúde no Brasil com proposta de atualizar o leitor sobre a importância da materialização do

SUS, para o processo de construção da saúde como um dos mais importantes direitos sociais

conquistados pelo povo brasileiro, proposta concebida na dimensão de direito social e dever do

Estado. Apesar do SUS estabelecer-se como política pública atrelada à condição de cidadania,

percebeu-se que a gestão em saúde enfrenta grandes desafios/lacunas na implementação de suas

propostas. Estes desafios/lacunas exigiu do Ministério da Saúde a elaboração de sujeitos

protagonistas do processo de produção de saúde, ou seja, o tripé da política de humanização: os

usuários, trabalhadores e gestores.

Com base nos estudos desenvolvidos pela pesquisadora, verificou-se uma intrínseca

relação das categorias aqui trabalhadas: o trabalho e o trabalhador em saúde, a humanização em

saúde e a valorização. Essa relação exigiu uma análise mais criteriosa estabelecida na gênese e

no desenvolvimento do trabalho. O desenvolvimento do trabalho é o próprio momento da

reprodução social do qual o homem participa de todo o processo. Essa premissa é descrita por

Antunes (2000), como o trabalho, quer em seu ir-sendo, ou em seu vir a ser, contempla sua

intenção ontológica de ir ao encontro da humanização do homem.

Não se quis aqui afirmar que o homem pode vir a ser humanizado. O homem é humano

por natureza; o que se pode apreender desta relação humanização, trabalho e valorização é que

a partir do processo de valorização do homem que a humanização das relações sociais no

trabalho é instituída. Este é um pressuposto da Política Nacional de Humanização, o

entendimento de que a humanização é a valorização dos diferentes sujeitos implicados no

processo de produção de saúde a partir da autonomia e o protagonismo desses sujeitos, usuários,

trabalhadores e gestores.

68

Nos resultados das análises desta pesquisa pode se constatar que os trabalhadores da

instituição pesquisada, quase sua totalidade (75%), conhecem a Política Nacional de

Humanização. A metade dos trabalhadores pesquisados (50%) percebe o trabalho e os

trabalhadores da instituição não reconhecidos; relatam a precarização dos serviços; a ausência

de material para desenvolver suas tarefas; a falta de uma interação entre trabalhador e gestão.

Enfim, aparece como fruto do estudo a caracterização de um trabalho desgastante e

desorganizado.

A investigação mostrou ainda que da totalidade dos sujeitos pesquisados, apenas 12.5%

se sentem realizados no trabalho que desenvolvem na instituição. Esse trabalhador como todos

os outros, faz parte das mesmas relações de trabalho no qual os demais estão submetido. O que

pode fazer a diferença nessa relação seria o trabalhador buscar sentido ao seu trabalho. Afinal,

a busca de uma vida cheia de sentido dotada de autenticidade encontra no trabalho seu locus

primeiro de realização. (ANTUNES, 2000).

Outra categoria de trabalhador na saúde percebe o trabalho como estressante (37.5%).

Os sujeitos revelam que o trabalho em saúde na instituição causa sofrimento psíquico, fruto das

próprias condições de trabalho às quais sãos submetidos. Os sujeitos relatam o desrespeito dos

usuários, poucos profissionais para uma grande demanda etc. Outra forma precária de condições

de trabalho revelada no DSC foi à submissão e exposição dos trabalhadores à violência urbana.

Sobre a questão da humanização os trabalhadores relatam nos DSC, que na instituição

não há humanização. Outros dizem que há pequenos atos que podem ser considerados como

programas de humanização, no entanto são programas portadores de falhas em sua

implementação, que não contemplam aquilo que propõe a Política Nacional de Humanização.

A valorização do trabalhador na instituição é percebida pelos sujeitos, como trabalho

não valorizado, as precárias condições de trabalho, a pouca interação entre as equipes torna o

trabalho em saúde pouco valorizado, os mecanismos de valorização instituídos na PNH são

ignorados pela gestão, negando um dos princípios da PNH que é a participação do trabalhador

nos processos de discussão e gestão.

Portanto, a instituição de saúde é portadora de grandes dificuldades geradoras de

sofrimento e angústia para o trabalhador, o que exige intervenções urgentes para que a realidade

69

que emergiu da investigação seja alterada de alguma forma. Os próprios trabalhadores,

conhecendo a PNH, propõem mudanças a partir da gestão do trabalho na unidade, propõem

também ações de valorização, motivação, trabalho em equipe e o reconhecimento dos

trabalhadores a partir da promoção de sua autonomia e protagonismo.

Sobre os resultados da investigação, mesmo sendo produto de uma situação de

aprendizagem em pesquisa acadêmica, espera-se que esses resultados sejam considerados e

possam ser utilizados para a implementação de ações que mudem a realidade apontada pelos

sujeitos que a evidenciam.

70

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72

APÊDNICE A – Entrevistas

Entrevista: 1

“Eu percebo muita falha no serviço público, grande parte dos trabalhadores não tem

compromisso com o trabalho. Nosso trabalho aqui é desvalorizado por parte da população

usuária. O trabalho é precarizado, falta material, falta insumo.... a estrutura é precária, falta

pessoa para trabalhar. Um trabalho que rola frouxo. A demanda é muito grande, a maioria dos

trabalhadores precisa assumir uma postura de compromisso e responsabilidade”.

2- “Nas instituições existem falhas diferentes. O que torna diferente o trabalho de uma

instituição para a outra é a interação entre as equipes. No meu trabalho aqui não há esta

interação na prática dos vários profissionais de saúde. Isso não significa dizer que de modo

geral existe uma ausência de humanização no trabalho realizado pelas equipes, há uma grande

falha nas várias instâncias de poder e categorias profissionais em relação à humanização”.

3- “O profissional que trabalha no setor público não é reconhecido, nem por parte das

gestões nem por parte do usuário. Falta incentiva promocional como, por exemplo: cursos de

qualificação, incentivo financeiro e outros...”

4- “Eu percebo uma ação muito boa no meu trabalho de valorização do profissional que

é o aproveitamento do profissional de nível médio que conclui uma educação de nível superior

Como também um incentivo e apoio psicológico por parte de toda a equipe de trabalho”.

5- “Eu sugiro uma mudança a partir da gestão no processo de administrar. Sugiro

também o uso adequado e socializado dos recursos financeiros dispensados à instituição”.

Entrevista 2

1- “Eu percebo o trabalho cansativo sem uma organização de gestão, o trabalhador se

sente explorado, pelas condições que o trabalho oferece, uma sobrecarga de trabalho, excessivo,

pouco recurso, falta segurança, falta um entendimento da gestão quanto a importância do

trabalhador. O nosso trabalhador se sente angustiado, porque o mesmo tem uma missão de

responsabilidade a ser feita e não dispõe de recursos políticos que possa velo-o como deve ser

visto”.

73

2- “A humanização é linda, o SUS possui toda uma política de humanização, aqui no

hospital, inclusive, há cinco anos foi feito todo um projeto de acolhimento para que se efetivasse

este serviço de humanização, mas só que é tudo muito lindo, no papel, porque para que a

humanização venha a acontecer é preciso que haja um trabalho em equipe, mas uma equipe

completa. O que acontece aqui é um trabalho direcionado para dois ou três profissionais na

tentativa de se fazer humanização, mas ele esbarra, porque não há uma adesão de toda equipe

de profissionais. Tudo no papel é muito lindo seria melhor se de fato fosse executado”.

3- “O meu trabalho como de toda equipe de saúde é um trabalho sofrido, o assistente

social é uma pontinha mais sofrida ainda, porque, por mais que ele esteja há muitos anos no

serviço de saúde, ele ainda é muito questionado, por se mostrar um trabalho pouco mensurável

quantitativamente, é um trabalho em que os profissionais estão o tempo todo tendo que explicar

o que é seu trabalho, falar, mostrar o que é nosso trabalho, mesmo assim há equipes que não

consegue visualizar, então nosso trabalho como trabalhador de saúde ainda precisa mais

refletido, aprofundado, e com mais ações concretas”.

4- “O serviço social, no meu entender, dentro de uma equipe multiprofissional de saúde,

ainda é o cantinho da humanização, é o profissional da escuta, o profissional do acolhimento,

ainda, dentre todos ao demais que fazem o serviço da saúde. Eu até brinco que aqui parece uma

delegacia, porque tudo vem pra cá. Então, dentre todos os demais profissionais que fazem o

serviço de saúde, é o serviço social o mais conscientes, o mais orientado para o aspecto da

humanização. Se não fosse o serviço social para acolher este usuário, pergunto: que seria destas

pessoas? O assistente social é um profissional sensível que tenta dentro das dificuldades do

trabalho fazer do pouco para que se venha afazer um trabalho humanizado, acolhedor, um

trabalho de escuta..., porque às vezes a pessoa não quer nada, só quer a escuta, e de modo geral

a equipe de saúde não quer escutar”.

5- “Eu sugiro um trabalho de organização de equipe, de forma hierárquica, não no

sentido de poder, mas no sentido de seguir um fluxograma. Porém trata-se de uma equipe

sensibilizada para o aspecto que diz respeito à humanização, que parte de uma postura de

gestão. Seria uma organização no sentido, como por exemplo, o usuário a chegar aqui, ele

passaria pela portaria, para daí em diante ter acesso aos demais serviços da instituição.”

74

“Eu reclamo por uma hierarquia, repito que não diz respeito a uma relação de poder,

essa hierarquia que eu me refiro é para que venha a funcionar aquilo que tem que funcionar,

uma condição de postura transversal que todo mundo tem seu valor, mas que deve assumir uma

postura de respeito uns os outros”.

“Pra mim o único instrumento de humanização na unidade eu só consigo, perceber no

serviço social com a escuta e o acolhimento.”

Aqui é uma situação muito difícil. A “equipe não é sensível e, nós do serviço social

ficamos trabalhando igual uma formiguinha...”.

Entrevista 3

1- “O trabalho na instituição, na enfermagem todo mundo conhece, tiro por mim, eu tenho

compromisso, eu gosto do que eu faço, eu não acho cansativo e.…até agora eu nunca tive

nenhum transtorno que eu possa falar no memento, eu trabalho aonde as pessoas já chegam

muito estressados, com aquela dor, a gente procura fazer com que os paciente mantenha a

calma, nós procuramos manter a calma diante do paciente para poder passar aquela segurança

pra eles, que já vem muito sofrido. Pra mim a gente trabalhar com amor a profissão ajuda muito

a passar isso para o paciente, a tranquilizá-lo. Então, o trabalho pra mim em saúde não é um

trabalho cansativo”.

2- “A humanização, eu percebo muito na participação do médico no dia a dia do

paciente, tanto dos médicos veteranos, quanto dos novatos, aqui os paciente são muito bem

atendidos, eu vejo no compromisso dos médicos com o paciente, junto com nossa participação

a humanização”.

3- “A valorização do nosso trabalho aqui não existe. Eu já trabalhei em alguns hospitais

particulares, onde já participei de processos de valorização, como o empenho da direção em

cursos de reciclagem com auxiliares, funcionário padrão do mês, eu recebi até a plaquinha.

Mas, aqui é raro. Alguma coisa que acontece aqui é da parte dos enfermeiros de imediato, aqui

ou acolá tem umas festinhas, umas faixas”.

75

4- “A valorização e reconhecimento que recebo no meu trabalho são apenas por parte

dos pacientes que nos elogia, este reconhecimento é mais fácil vir dos pacientes, e com isto eu

me sinto gratificada”.

5- “Eu não falo num sentido de parabenizar, eu falo num sentido de criar meios de

crescimento do profissional de enfermagem, algo que pudesse aprimorar o profissional, para

que ele não fique só naquilo dali que ele faz. Algo que lhe traga uma progressão, tipo mais

reciclagem. Há algum tempo houve um curso bem interessante de relações pessoais, a prefeitura

disponibilizou e nós fomos até uma faculdade e realizamos o curso, mas o que seria interessante

seria um auditório aqui mesmo, assim seria mais fácil a participação dos colegas”.

“Compromisso pra mim no meu trabalho é tudo”

Entrevista4

1.“O trabalho em si é estressante.....”

“Os trabalhadores uns cooperativos, outros não....

Alguns trabalhadores conseguem trabalhar direito, outros...tem muita dificuldade.”

“Nosso trabalho aqui é com a com a comunidade em aberto, então, nós fazemos todo tipo

de atendimento: clinico, cirúrgico, e traumatológico, com isso lidamos com vários tipos de

violência como tiros, facadas, acidentes...”

“Quando eles (pacientes) chegam na unidade, nós ainda corremos risco de vida. Isso

torna nosso serviço mais estressante. Primeiro, pela sobrecarga de trabalho, mais as ameaças de

receber a vítima de violência e em atendimento se tornar alvo daqueles que tentam matar”.

2. “Eu percebo aqui a humanização deficiente, muito deficiente. Apesar de muita gente

falar sobre humanização e outros não tem o conhecimento do processo de humanização, não

saber, e nem querer se aprofundar sobre o assunto, dificulta ainda mais nosso trabalho. Deixa a

parte humana e da humanização bem longe do profissional, tornando o trabalho mais

estressante. E isto é por toda a equipe: médicos, enfermeiros, técnicos, a equipe toda...algumas

76

vezes o próprio profissional esquece que é humano. Quem é humano não trata o outro com

desumanidade”.

3. “Para que meu trabalho possa ser valorizado, eu percebo que é só a partir de um

trabalho em grupo, tratando os pacientes e os outros profissionais, resolvendo as situações do

momento, me dedicando e trabalhando, porque gosto do meu trabalho. Quando você gosta do

que faz e percebe a pessoa humana como parte do seu trabalho tudo é mais diferenciado, o

serviço anda melhor, a equipe se organiza melhor.”

“O trabalho do enfermeiro diante de muitas situações e intercorrência ela é a cabeça,

o médico, avalia e medica. Quem faz todo cuidado e atendimento é a equipe de enfermagem,

então se você não tiver ajuda e o apoio da equipe, independente de qual seja a equipe, aquela

assistência pode se tornar uma assistência a desejar”.

4. “As ações de valorização que posso perceber no meu trabalho são quando um

acompanhante ou paciente diz: “muito obrigado”. Isto é raro, mas as vezes acontece...porque

eles são acostumados a nos chamar de rapariga, baitola, prostituta, vagabunda... Quando um

paciente ou acompanhante sai, e diz muito obrigado, Deus lhe abençoe, aíé muito gratificante

eu me sinto valorizada”.

5 – “Implantação de uma triagem, para mostrar o que é humanização. Eu indicaria cursos

de atualização em humanização, mostrar a realidade, como o trabalho acontece. Com certeza

muita gente iria se conscientizar e com certeza o trabalho melhoraria”.

Entrevista 5

1 –“Olha o trabalho aqui no Frotinha é muito desarticulado, desgastante, sem reconhecimento,

é muito solto. É muita cobrança e nenhum reconhecimento. Eu já trabalho aqui há 22 anos e

nunca alguém da direção, da gestão chegou pra mim e falou sobre a importância do meu

trabalho. Nunca houve qualquer espécie de reconhecimento.

O trabalhador com todo esse abandono, com certeza vai se tornar um trabalhador

insatisfeito, desestimulado. Aqui, a grande maioria dos trabalhadores só trabalha porque gosta

77

daquilo que faz. Porque nunca houve estimulo de nenhuma espécie. No meu outro emprego,

que é no Estado. Tem cursos, têm elogios, várias formas de reconhecimento, eu me sinto feliz

em trabalhar num lugar assim. Aqui convivemos com toda espécie de pacientes, vítima das

ruas, vítimas de violência, do abandono, então nosso estimulo é apenas o de oferecer o melhor

que podemos dar para estas pessoas”.

2- “É o que eu acabei de dizer.... aqui não se fala em humanização. O que eu conheço

sobre humanização e o que eu vejo no meu outro trabalho. Aqui eu nunca ouvi falar sobre

humanização. É sempre a mesma coisa, você vem trabalhar, realiza seu trabalho, e vai embora,

e depois é a mesma coisa... e depois... e depois...”.

3 – “A valorização na saúde é inexistente. eu não consigo visualizar nada que eu

possa conceituar como atitude de valorização. É aquela coisa... a gestão cobra você trabalha...as

vezes até um trabalho sobrecarregado, mas a contrapartida de reconhecer o trabalhador e

valorizar e bem difícil... bem difícil...”.

4- “A única coisa em que eu posso perceber como atitude de valorização no meu

trabalho são a s atitudes dos usuários, quando eles conseguem reconhecer que nosso trabalho

foi satisfatório, aí eles agradecem e se sentem satisfeitos pela assistência dispensada. Eu

percebo aí alguma forma de reconhecimento e valorização”.

5- “Olha eu só penso em humanização quando eu imagino o HEMOCE…é a

implantação de cursos, retorno financeiro adequado, reconhecimento de seu trabalho por parte

da gestão e maior interação entre os trabalhadores”.

Entrevista 6

1- “Os trabalhadores aqui são dedicados, contudo, a falta de capacitação e as cobranças

excessivas distancia a assistência e compromete o trabalho”.

2- “A humanização se realiza de uma forma participativa, promovendo o bem para

todos, inclusive o usuário”.

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3- “A valorização no trabalho compreende um trabalho em equipe, evitando

desagregação prejudicial ao trabalho”.

4- “Um trabalho participativo.”

5- “Cursos, compreensão por parte da equipe, participação, consciência sobre a

qualidade do trabalho dispensado à população”

Entrevista 7

1- “O trabalho na saúde tem se deteriorado muito. Com o decorrer dos anos esse

trabalho (de médico) se tornou uma atividade muito valorizada, muito respeitada, e realmente

houve uma mudança em relação a qualidade dos serviços em relação a satisfação dos

trabalhadores, de pacientes, no valor da remuneração...”

“Apesar da ciência e da medicina ter evoluído, por outro lado a população aumentou

muito. Há vinte anos você tinha um número x de usuário, hoje essa população é

significativamente maior, e o padrão de atendimento das emergências continua a mesma com

dois, ou três médicos, a quantidade de enfermeiras é a mesma, estrutura física é a mesma. No

Frotinha da Parangaba hoje, a estrutura é a mesma de 20 ou 30 anos atrás. A mesma estrutura,

a mesma coisa, pouca coisa realmente mudou as necessidades da população, eu diria,

quadruplicou, tanto na necessidade quanto no modelo de atendimento. A complexidade dos

pacientes, que hoje frequentam o hospital, é de pacientes bem mais complexos, pacientes

vítimas de acidentes de trânsito, cirúrgicos graves”.

“Hoje você tem o perfil de um hospital que antigamente era um hospital de periferia

que atendia coisa do cotidiano, hoje é um hospital que recebe uma demanda especializada.

Então realmente isto mudou. Por outro lado a estrutura é a mesma. Poucos profissionais, sem

concurso público, falta médicos, enfermeiras, as poucas que estão trabalhando, trabalham

sobrecarregadas, técnicos sobrecarregados. Então tudo isto torna o trabalho desgastante. Você

não vê a instituição melhorar. A gente representa a instituição, mas a instituição também tem

que lhe dar um nome, oferecendo boas condições de trabalho, condições para você progredir

em sua profissão, condições para você prestar um melhor atendimento, e não aumentar o

número de pacientes com apenas dois médicos numa emergência, uma grande carência”.

79

“Em relação aos trabalhadores eu percebo uma grande insatisfação, principalmente nas

condições de trabalho, na sobrecarga de pacientes e na remuneração. Realmente a remuneração

é muito ruim. Uma remuneração muito ruim para um trabalho desgastante, você ...veja o pessoal

da limpeza, fica o tempo todo limpando fezes, vomito, limpando cama, maca hospitalar, em

condições insalubre. Essas pessoas precisam ter uma remuneração digna, condições de trabalho

digno”.

2- “Para que eu possa atender alguém de modo humanizado, eu preciso estar

humanizado, para que eu possa estar humanizado eu preciso estar com condições favoráveis,

quer dizer eu preciso estar bem comigo, com minha remuneração, com a quantidade de

pacientes que eu tenho que atendo, eu tenho que ter uma instituição que ofereça suporte para o

atendimento, isso gera consequentemente um atendimento humanizado.”

“A medicina tem andado na contramão, tem se investido muito na instituição cientifica,

em tijolo e parede e tem deixado de investir nas pessoas. A enfermeira que ganha bem, o médico

que ganha bem e tem uma estrutura de trabalho bom, um repouso digno, uma alimentação boa,

condições de atendimento favorável, automaticamente ele vai prestar um atendimento de

melhor qualidade. Agora você ter que tratar alguém com fidalguia, você sendo maltratado, com

seu salário atrasado ai.....nem o Papa Francisco”.

3- “Meu trabalho, como quase todas as pessoas eu acho o mais importante do mundo,

assim como todos os outros profissionais deve perceber seu trabalho o mais importante do

mundo. Meu trabalho é aquilo que me dar prazer, aquilo que faz com que eu possa me

reproduzir socialmente, é quem possibilita o sustento de minha família”

5- “Nenhuma.... Porque eu não vejo investimento no indivíduo, não é servido uma boa

comida no almoço, não vejo um bom consultório, uma organização no atendimento. O

que eu vejo é uma sobrecarga de trabalho. É sempre mais, sempre mais, sempre tem que

atender mais.”

“O que eu percebo é uma via de mão única. Não vejo nada de positivo. É preciso

que haja um incentivo, financeiro, de conforto, de organização de controle de pacientes”.

80

5- “Melhorar a remuneração, limitar o número de atendimentos, direcionar os

pacientes de cada unidade para sua unidade especifica. (Aquele que é de atendimento primário

que seja encaminhado para o atendimento primário, o que for secundário do mesmo jeito e aí

por diante.) dar liberdade a gestão para utilizar os recursos financeiros. Não mais se admite que

para se comprar um balde lixo é preciso uma novela de uma licitação que dura uns três meses”.

Entrevista 8

1- “O trabalho na instituição é um trabalho desgastante pelo perfil de pacientes que

lidamos diariamente, pessoas vítimas de violência urbana: facadas, tiros, acidentes. Então a

partir dessa demanda já provoca um estresse natural nos profissionais.Por outro lado nem

sempre as equipes estão afinadas para desenvolver este trabalho, trabalhando juntos, trocando

experiências…”

“O trabalhador do Frotinha, pelo menos no serviço social, eu percebo como pessoas

comprometida com o seu trabalho, com sua categoria no sentido de realizar um trabalho de

qualidade, mas cada um realiza ali aquela tarefa de modo individual. Eu vejo profissionais com

grande capacidade e trabalhando com muito prazer na unidade”.

2- “A humanização se realiza a partir de uma interação entre os sujeitos, a

humanização seria aquilo que provocaria essa articulação entre as várias equipes de

profissionais. No Frotinha é difícil...não tem nenhum projeto, nenhum meio que eu possa

perceber como essa humanização acontece. Porque a humanização se articula não só com os

profissionais, mas com o usuário e principalmente com a gestão. Eu já trabalho aqui há 09 anos

e nunca participei de uma reunião com a direção. Essa nova gestão então, eu só conheço de

ouvir falar.NUNCAVI...mas já houve, já aconteceu de diretor sair de casa e vir no Frortinha

final de semana, à noite para resolver problemas, principalmente quando não tem médico”.

3- “Cada profissional têm seu valor, como categoria profissional, como participante

desse processo de promoção de saúde. As gestões custam em reconhecer este valor, tanto no

sentido do reconhecimento, daquele trabalho realizado, quanto no sentido financeiro”.

4- “Da parte da gestão nada acontece, os profissionais buscam soluções para as situações

ali, na hora,não há um planejamento. Só nós profissionais, eu consigo mensurar alguma forma

81

de valorização, mas cada um valorizando seu trabalho individual. No serviço social há um

esforço constante no sentido de promover um trabalho humanizado.”

5- “Uma gestão com participação dos trabalhadores, dos usuários, um trabalho

articulado entra as várias categorias para proporcionar melhor resultado nos atendimentos

dispensados a população”.

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ANEXOS

ANEXO A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - TCLE

Convidamos o Senhor (a) para participar da Pesquisa A Política Nacional de

Humanização no eixo que envolve a valorização do trabalhador em saúde, sob execução dos

(as) pesquisador(as) Maria José de oliveira (participante) e Flaubênia Maria Girão de Queiroz

(responsável), a qual pretende analisar a Política Nacional de Humanização do SUS em um

hospital municipal de Fortaleza, no eixo que envolve os profissionais de saúde.

Sua participação é voluntária e se dará por meio de entrevista semi-estruturada, que

consiste em respostas a perguntas apresentadas ao Senhor (a) pelo pesquisador. A entrevista

será realizada no Hospital Frotinha de Parangaba, com duração aproximada de 20 minutos, no

dia previamente marcado, de acordo com a sua disponibilidade. Os depoimentos desta

entrevista serão gravados com autorização.

Não há riscos decorrentes da sua participação e o (a) Sr (a) possui a liberdade de retirar

sua permissão a qualquer momento, seja antes ou depois da coleta dos dados, independente do

motivo e sem nenhum prejuízo a sua pessoa e nem ao seu trabalho na Instituição. Se o(a) Senhor

(a) aceitar participar, estará contribuindo com o entendimento da Política nacional de

Humanização no eixo que envolve a valorização do trabalhador em saúde em um hospital

municipal de Fortaleza.

Ressaltamos que tem o direito de ser mantido (a) atualizado (a) sobre os resultados

parciais da pesquisa. Esclarecemos que, ao concluir a pesquisa, será comunicado dos resultados

finais. Não há despesas pessoais para o (a) participante em qualquer fase do estudo. Também

não haverá compensação financeira relacionada à sua participação. Se existir qualquer despesa

adicional, ela será paga pelo orçamento da pesquisa.

Os pesquisadores assumem o compromisso de utilizar os dados somente para esta

pesquisa. Os resultados da pesquisa serão analisados e publicados, mas sua identidade não será

divulgada, sendo guardada em sigilo. Em qualquer etapa do estudo, poderá contatar os

pesquisadores para o esclarecimento de dúvidas ou para retirar o consentimento de utilização

dos dados coletados com a entrevista: Flaubênia Maria Girão de Queiroz, fone: (85) 88573188

e Maria José de Oliveira, pelo fone: Caso tenha alguma consideração ou dúvida sobre a ética

da pesquisa também pode entrar em contato com: Hospital São José, Site

http//www.hsj.ce.gov.br e E-mail: hsj.ce.gov.br.

.

83

Consentimento Pós–Informação

Eu, ___________________________________________________________, fui informado sobre

o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboração, e entendi a explicação. Por isso, eu

concordo em participar do projeto, sabendo que não vou ganhar nada e que posso sair quando quiser. Este

documento é emitido em duas vias que serão ambas assinadas por mim e pelo pesquisador, ficando uma via

com cada um de nós.

________________________________________ Data: ___/ ____/ ____

Assinatura do Participante

__________________________________________

Assinatura do Pesquisador Responsável

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ANEXO B

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