revista congresso de humanização

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A importância da espiritualidade na saúde é inegável. A pessoa humana, ao buscar a saúde física, deve ser considerada integralmente. Os profissionais da saúde são chamados hoje a fazer da espiritualidade uma aliada; para isto, é necessário dar atenção ao pluralismo religioso em nossa sociedade. A Igreja Católica e o Instituto Marista, como aliados da saúde, querem contribuir nesta missão. 1º Congresso de Humanização – Aliança Saúde

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A importância da espiritualidade na saúde é inegável. A pessoa humana, ao buscar a saúde física, deve ser considerada integralmente. Os profissionais da saúde são chamados hoje a fazer da espiritualidade uma aliada; para isto, é necessário dar atenção ao pluralismo religioso em nossa sociedade. A Igreja Católica e o Instituto Marista, como aliados da saúde, querem contribuir nesta missão.

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Page 1: Revista Congresso de Humanização

A importância da espiritualidade

na saúde é inegável. A pessoa

humana, ao buscar a saúde

física, deve ser considerada

integralmente. Os profissionais

da saúde são chamados hoje a

fazer da espiritualidade uma

aliada; para isto, é necessário

dar atenção ao pluralismo

religioso em nossa sociedade. A

Igreja Católica e o Instituto

Marista, como aliados da saúde,

querem contribuir nesta missão.

1º Congresso de Humanização – Aliança Saúde

Page 2: Revista Congresso de Humanização

A espiritualidade na saúde tornou-se, atualmente, um tema

indispensável ao se pensar em evolução na qualidade de vida

das pessoas. Não deixa de ser um assunto polêmico, sobretu-

do por ser, ainda, pouco explorado por parte de quem não está

diretamente ligado ao âmbito das religiões. Muito facilmente

se relaciona a espiritualidade com atitudes devocionais um

tanto fundamentalistas. Na história não nos faltam exemplos

que ilustram e apóiam essa forma de pensar. Talvez por isso o

tema da espiritualidade tenha sido às vezes rejeitado por

muitos profissionais da saúde, ou por pessoas ligadas às

ciências em geral.

A pós-modernidade, no entanto,

relativizou tanto o cientificismo

como a religiosidade tradiciona-

lista. A confiança na ciência

ganha um lugar mais modesto

ao se perceber as grandes ques-

tões humanas que precisam ser

resolvidas e que, para além das

ciências, dependem muito mais

de convicções, atitudes éticas,

morais, crenças e ideais: como

sustentabilidade, ecologia,

integralidade do ser humano,

felicidade, dignidade, igualdade,

paz etc. As grandes religiões

tradicionais também sofreram

um descrédito, não em relação a

suas propostas religiosas, mas à forma como muitos dos seus

“líderes” religiosos administram seus “bens espirituais” e

normatizam o sagrado. Parece que a institucionalização do

sagrado é que acaba sendo rejeitada em grande parte na

atualidade. Há, fora da formalidade, uma verdadeira explosão

por buscas de respostas no transcendente.

Nesse contexto, a espiritualidade, independentemente das

nuances atuais que vem ganhando, emerge como algo inevi-

tável. Não há como rejeitá-la. Trata-se da questão do sentido

de vida, da liberdade, da consciência, das razões profundas

da existência, da fé, da esperança e do amor. Todos, ateus ou

religiosos, somos espirituais, queiramos ou não. Lidamos

com os limites inevitáveis como o sofrimento e a morte. Não

temos as respostas, resta-nos a angústia ou a busca de senti-

do. Mesmo que para alguns o “nada” parece ser o que há de

mais coerente, ainda assim a afirmação dele não deixa de ser

uma crença.

Parece-nos que temos um problema para se resolver. Temos a

necessidade de espiritualidade e não temos mais grandes

instâncias normatizadoras do espírito humano. Como pode-

remos desenvolver uma espiritualidade sadia? A essa per-

gunta muitas respostas se apresentam. De modo geral, bus-

ca-se redescobrir grandes princípios religiosos, até mesmo

nas próprias religiões (fala-se

em refundação); fala-se em

espiritualidade entre os execu-

tivos; funda-se, cotidianamen-

te, novas formas de crenças e

vidas religiosas etc. O tempo

(ou o juízo humano amadureci-

do no tempo), acreditamos, irá

se encarregaram de selecionar,

diante das transitórias configu-

rações culturais, as proposições

mais sólidas e plausíveis.

A presente reflexão pretende

ser uma proposição a mais. No

entanto, colocando-se como

uma proposta focada na identi-

dade cristã e marista, funda-

mentada em princípios já comprovados na história, que são

ao mesmo tempo convergentes aos ensinamentos das gran-

des religiões e às exigências éticas de nosso tempo.

Buscamos “beber” na fonte da tradição, com fidelidade, e

buscar, no hoje, novas formas de ler e transformar a realidade.

Nessa proposição, queremos fazer o recorte de temas que

sejam pertinentes à nossas práticas de promoção da saúde.

Para tanto, as páginas que seguem buscarão fazer uma leitura

do tema da espiritualidade nas grandes religiões, identifican-

do a mística que as envolvem; fazer igualmente um recorte da

religião cristã, católica, identificando alguns de seus grandes

princípios; e, por fim, a abordagem da especificidade do

carisma marista, dando ênfase a questões espirituais que

julgamos pertinentes à nossa atuação na área da saúde.

A espiritualidade é própria do espírito que é parte

integrante de todo o ser humano que é formado de

corpo, alma e espírito. Todos a têm pelo simples fato

de existirem. A questão está em querer ou se dispor

a desenvolver esta dimensão intrínseca ao próprio

ser. Assim como se busca desenvolver o intelecto

ou o próprio corpo físico cujas finalidades e benefí-

cios são óbvios. O motivo, a razão de se desenvolver

a dimensão espiritual, pode se resumir assim: a espi-

ritualidade leva a pessoa a transcender além da limi-

tada capacidade perceptiva da razão - psique - e

além da massa bruta material a ponto de perceber

valores que dêem sentido à vida. (Roberto Kerber)

ESPIRITUALIDADE NA SAÚDE, Sob o olhar MARISTA

3

Page 3: Revista Congresso de Humanização

Cada religião apresenta um sistema de pensamento próprio,

no entanto, todas caminham muito próximas e acabam se

desdobrando para promover a mesma finalidade: a promoção

da vida, a harmonia, a paz, a salvação, a justiça e a felicidade

do ser humano. O cultivo, a origem e o sentido da espirituali-

dade nesse âmbito igualmente ganham muitas conotações,

ao mesmo tempo em que se convergem num mesmo fim.

Para os índios nativos estadunidenses, por exemplo, quando

nascemos temos a primeira inspiração. O “in” significa dentro

e “pirar” vem de espírito. Ao nascer, para essas civilizações

tradicionais, colocamos o espírito para dentro e dali pra frente

ficamos com ele durante toda a existência. Este espírito só

passará quando dermos o último expiro, ou seja, quando colo-

carmos o espírito para fora.

Outras tradições religiosas buscam mais sua fonte de inspira-

ção para a significação da espiritualidade ao aprender a ler as

palavras de Deus no grande livro da Natureza, que está ao

nosso redor, e em nós mesmos. Buscam decifrar as mensagens

de Deus impressas nos astros, nas linhas das mãos, na íris dos

olhos, no fundo do inconsciente, nos sonhos e daí por diante.

Mística e Espiritualidade

A mística nas grandes tradições religiosas

Algumas tradições religiosas, ainda, preferem acentuar a

leitura da espiritualidade no cotidiano da vida. Promovem

a busca de Deus, a qualquer hora, e acreditam ser possível

encontrá-lo em qualquer lugar. Outras a consideram possível

ao se traçar um caminho solitário, no qual nos vemos fracos e

frágeis; incapazes de encontrarmos conforto e proteção em

outro lugar que não seja em nossos corações, e luz nas

nossas próprias consciências.

Independentemente das variáveis que as compreensões

possíveis sobre espiritualidade permitem, para entender o que

de comum há sobre espiritualidade entre as diversas crenças é

necessário compreender um outro conceito: a mística. Pois é

justamente enquanto mística que as religiões farão da espiri-

tualidade que adotam uma postura concreta e comum de

vivência de fé.

Esta abordagem merece um estudo mais aprofundado; no

entanto, para nossa finalidade, é suficiente abordarmos de

forma sintética palavras que nos ajudarão a compor sobre essa

temática uma visão geral.

ESPIRITUALIDADE NO PENSAMENTO

DAS DIVERSAS TRADIÇÕES RELIGIOSAS

4

Ter Espiritualidade significa buscar o

sentido da vida para além da vida; é abrir-se

para a transcendência; é dar um passo para

além do racionalismo filosófico e cientificista

que predominou no mundo moderno.

Ter mística consiste em fazer uma

experiência concreta de fé, em comunidade.

A mística não é somente uma idéia ou uma

concepção de mundo. Ela é uma experiência

pessoal, uma experiência religiosa, uma

experiência de Deus na vida cotidiana.

Cada Tradição Religiosa possui uma mística,

um objetivo a ser atingido e que pretende

ajudar as pessoas a serem mais perfeitas,

mais humanas, mais idênticas àquilo que

é a plenitude da vida, a vida para além da

vida mortal.

A idéia de mística, que pode ser entendida

como a idéia de perfeição, tem sua origem

no vocabulário chinês: Tão, que remete ao

jeito de entender a vida, o mundo, o

sofrimento, a morte; enfim, a existência.

Page 4: Revista Congresso de Humanização

No Judaísmo

No cristianismo

No Islamismo

No Hinduísmo

No Budismo

A vida segundo o Espírito compreende a vida no mundo, mas

confirmada pelas coisas do alto. Sobre isso, é oportuno compre-

ender a distinção feita na Bíblia entre o homem natural e o

homem espiritual. Paulo, em I Cor. 2,14, diz que o homem natu-

ral não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe

parece loucura; e não pode entendê-las porque elas se discer-

nem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo,

e ele de ninguém é discernido. Quando a Bíblia fala em homem

espiritual ela está fazendo menção ao homem que é guiado pelo

Espírito Santo de Deus, e não pela carne. Paulo, ainda, em

Romanos 8,14, diz “Porque todos os que são guiados pelo

Espírito de Deus, esses são filhos de Deus”.

a) A vida segundo o Espírito

• Foi crucificado em Cristo, e vive não mais ele, mas Cristo é

quem vive na vida dele (Gl 2,20).

• Têm compromisso e é fiel a Deus (2Tm 2, 13).

• Não se conforma com este mundo (Rm 12, 2).

• Sua fé é eminentemente baseada em Cristo (Rm 3,26 e Ap14, 12).

• Tem coragem de ser pesado na balança de Deus (Jo 31, 6).

• Tem coragem de ser sondado por Deus (Sl 139, 23).

ESPIRITUALIDADE NO PENSAMENTO DO CRISTIANISMO CATÓLICO

No seguimento de Cristo, duas questões tornam-se primordiais

para que uma autêntica espiritualidade cristã se desenvolva de

forma sadia: a vida segundo o Espírito e o consentimento das

coisas de Deus na liberdade.

A liberdade e a vida segundo o Espírito

1

Em síntese, o homem espiritual segundo a Bíblia :3

6

A espiritualidade no cristianismo está relacionada à concre-

tização do amor a Deus e ao próximo em atitudes de perdão,

acolhida, fraternidade, solidariedade, caridade, e outras

tantas necessárias para se promover a vida. No entanto, isso

só é possível pela graça de Deus, aliada ao empenho huma-

no. O cristão, portanto, necessariamente é um seguidor de

Cristo. Vive um discipulado. Dele aprende o que deve ser

feito e recebe as graças para bem realizá-lo. Segundo José

Nivaldo, “o cerne da espiritualidade cristã está em seguir a

Jesus. Quando decidimos conscientemente seguir o seu

caminho, então a espiritualidade cristã começa a fluir em

nós. O Pai, pelo seu Espírito, vai-nos transformando na ima-

gem de seu Filho à medida que damos os passos no cami-

nho. Fora do discipulado, não há espiritualidade cristã” .2

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Page 5: Revista Congresso de Humanização

deriva da palavra espírito, do latim espiritus:

sopro, vento; do grego pneuma: vento, força,

mediador, pessoa, e do hebraico ruah, (palavra

feminina): movimento; sem movimento não há

vida. É o ar que se respira, é mais que o ar na sua

composição química é a essência do ar, é a

essência da vida que se move nas pessoas.

A Bíblia, em seu primeiro capítulo, refere-se ao

espírito como organizador do universo; o caos

se transforma em cosmos. No livro do Gênesis

encontramos a seguinte passagem: “A terra

estava informe e vazia; as trevas cobriam o

abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as

águas” (Gn 1, 2).

Compreender a espiritualidade significa ques-

tionar paradigmas usuais, ver uma realidade

diferente daquela de costume, encontrar for-

mas menos sofridas de convivência, entender

nossa interdependência e necessidade de

ajuda mútua, ver o outro como uma totalidade

incompleta.

A espiritualidade faz a pessoa dar um mergulho

dentro de si mesma gerando transformação.

Aproxima-a cada vez mais de si mesma, fazendo

com que conheça cada vez melhor suas forças e

Como abordado anteriormente, a mística está relacionada ao dom e fogo que faz sair de si para sonhar, crer, lutar, caminhar e trabalhar. É a força que converte e convence o coração do sujeito. A espiritualidade é o sopro que movimenta, que faz questionar, que produz a mudança e faz compreender que os valores do espírito humano aproximam o sujeito do seu próximo, da natureza e de Deus.

Mística x Espiritualidade Na tradição cristã

é uma palavra que deriva de mistério, que vem do grego Mysterion

que é igual a Múein, e quer dizer iniciar, instruir alguém nos mistérios.

Mistério significa perceber o caráter escondido, não comunicado de

uma realidade ou de uma intenção. Em seu sentido pessoal significa

o ilimitado de todo o conhecimento.

Na tradição bíblico-cristã a mística é entendida como iniciativa

gratuita de Deus. É Ele quem atrai para si as criaturas, que num

segundo momento se deixam cativar ou seduzir. O profeta Jeremias

traduz tal experiência nos termos: “Seduziste-me Senhor e eu me

deixei seduzir” (Jr 20,7).

Mística, então, é um dom que leva a sair da acomodação, do pessi-

mismo, para viver a esperança, a liberdade, o serviço. É o fogo que

impulsiona a sonhar, a crer, a lutar, a caminhar, a trabalhar. Aquela

dimensão que alimenta as energias vitais da pessoa e que vai além

do princípio do interesse, dos fracassos e sucessos. O entusiasmo em

favor da vida, da paixão pela missão, de ser um profissional eficiente

de formar a nova geração na crença e nos valores, de passar para os

outros a riqueza de vida e da experiência já adquirida.

A mística tem a força de unir duas realidades que a sociedade

moderna vem separando cada vez mais pelo seu acentuado indivi-

dualismo: Serviço e prazer. O serviço se refere ao outro. O prazer a

si mesmo. Na atualidade valoriza-se muito o prazer percebido

como satisfação das próprias necessidades. A mística cristã conse-

gue também combinar a dor com o prazer, o sofrimento com a

alegria, a labuta com o gozo. Ela nos revela o prazer do serviço ao

irmão nas pegadas do Mestre. É o que São Francisco de Assis

resumiu bem na oração: “Ó mestre, fazei que eu procure mais:

consolar que ser consolado, compreender que ser compreendido,

amar que ser amado. Pois é dando que se recebe, é perdoando que

se é perdoado; e é morrendo que se vive para a vida eterna”.

A mística nos remete para a missão. A experiência mística cristã

termina, necessariamente, na missão. O apóstolo São João nos

escreve na primeira epístola de modo direto e simples: “Se alguém

disser que ama a Deus, e odeia seu irmão, é um mentiroso. Com

efeito, quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a

Deus, a quem não vê” (Jo 4, 20). Por isso, a experiência mística de

Deus acontece quando a pessoa dá atenção ao que sucede ao seu

redor e consigo mesmo. A mística não é, pois, privilégio de alguns,

mas é uma dimensão da vida humana a qual todos têm acesso

quando descem ao nível mais profundo de si mesmos e dão aten-

ção aos acontecimentos, identificando as manifestações de Deus.

seus limites. Como diz Leonardo Boff, “a

Espiritualidade é aquilo que produz a mudan-

ça dentro da pessoa. O ser humano é um ser

de mudanças, pois nunca está pronto, está

sempre se construindo: física, psíquica, social

e culturalmente”.

Como acho que nossa experiên-cia fala mais do que palavras bonitas, gostaria de deixar aqui o que sinto na espiritualidade:

Espiritualidade é desde a alegria de ter nascido até a respiração que faço agora.

É descobrir a providência divina nas dificuldades diárias.

É reconhecer a presença de Deus, quando o mundo a sua volta te apedreja.

É ir dormir morrendo de cansaço, mas feliz por ter sentido Deus no serviço ao outro.

É ter o privilégio de conseguir esquecer mágoas e transformá-las em aprendizado para nós mesmos.É afirmar: "Deus é Pai" em agra-decimento e pedir quando em dúvida: "Seja feita a vontade de Deus".

Enfim, ser espiritual é ser louco para o mundo e viver degustando pedacinhos do céu na realidade humana e acreditar. Perguntar no final do dia: Como senti Deus hoje?

Ainda mais ter a resposta para tal pergunta...”

(Maria de Lourdes Machado)

Psíquica

Social Cultural

Física

ESPIRITUALIDADE CRISTÃ

b) A liberdade dos filhos de Deus

Sobre a liberdade que o cristão deve ter para que sua opção por

Deus seja autêntica, é oportuno compreender um dos textos da

Bíblia, a carta de São Paulo aos Gálatas, que afirma que

somente quem opta pela autêntica liberdade se aventura no

caminho espiritual: “Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade.

Não abuseis, porém, da liberdade... Pelo contrário, fazei-vos

servos uns dos outros pela caridade” (Gl 5, 13).

Os frutos do espírito, que são o sinal do autocontrole e fazem

entrar na verdadeira liberdade são os seguintes: caridade,

alegria, paz, longanimidade, afabilidade, bondade, fidelidade,

mansidão e continência. Contra estes não há lei (Gl 5, 22 - 23).

Aqueles que vivem estes frutos do espírito não têm mais lei

porque são orientados pelo amor e quem ama jamais poderá

fazer o mal, nem a si mesmo e nem ao próximo. São João da

Cruz, na sua visão de liberdade e de plenitude da vida, ensina

que quem chega ao cimo do monte encontra somente a honra

e a glória de Deus, e que para o justo não há lei, a não ser a lei

Discipulado: A palavra discípulo e a palavra disciplina vêm da mesma raiz latina — discipulus, que significa aluno.

Salienta a prática e o exercício. No caso do cristianismo, o discípulo é aquele que esforça-se por seguir os ensinamentos

do Mestre, Jesus. É aquele que o segue por reconhecer nele a sua liderança, a coerência de suas palavras e ações.

Espiritualidade Depoimento

do verdadeiro o amor, que se faz doação. Este não lhe permi-

te mais ser escravo de nada e de ninguém. Então, podemos

dizer que são espirituais aqueles que podem dizer com since-

ridade como Paulo apóstolo: "Não sou mais eu quem vivo,

mas é Cristo quem vive em mim" . A Lei do amor é o próprio

Cristo. Portanto, fica claro que a vida exige crescimento e

aperfeiçoamento. Todos são chamados à perfeição, ou seja,

qualquer cristão é chamado a plenitude da vida cristã e à

perfeição da caridade que promoverá um teor de vida mais

humano (LG 40).

Deixando por hora de lado outras possíveis abordagens do

termo, segundo Flávio de Castro, é possível considerar que a

Espiritualidade Cristã Geral consiste na procura sistemática e

livre do crescimento da caridade com Deus e da caridade

fraterna. Crescer na vida sobrenatural é ser elevado por Deus

a uma participação maior na vida divina, e ao mesmo tempo

crescer na abertura e no cultivo do amor .

4

5

9

Mística

Page 6: Revista Congresso de Humanização

Para Marcelino Champagnat, Maria é um modelo de confi-

ança e de abandono nas mãos de Deus. Dela aprendeu o

exemplo de acolhida, presença, humildade, perseverança e

atitude de serviço ao próximo. Insistiu junto aos Irmãos

Maristas a que a tivessem

como exemplo e que testemu-

nhassem essa devoção por

meio de obras concretas e

fecundas.

Portanto, hoje, a adesão à espi-

ritualidade marial, nesse con-

texto marista, não se trata de

adesão a uma simples idéia ou

devoção. Contemplar e imitar

Maria deve traduzir-se no ofe-

recimento do trabalho do dia-

a-dia, no serviço fraterno, na

acolhida e na ajuda às pessoas

com as quais se convive. No

atendimento ao próximo deve-

se procurar fazer com que se

sinta feliz através de pequenos

gestos e detalhes, e isso implica

em estar atento às necessida-

des e descobrir algo de Deus no

cotidiano.

Não se pode ser Marista (Irmão

ou Leigo) apenas de nome. Sê-lo

em verdade significa que a espi-

ritualidade vivida por Marcelino

modelou o coração daquele que

quer ser “marista” de tal manei-

ra que já não pode viver sem ela;

de tal maneira que ela reforma,

forma e transforma tornando-o um “ser marista” renovado

tal como Marcelino . O Espírito transforma o coração e impele

para a missão. Foi assim que aconteceu com Maria, e é assim

que deve acontecer com cada um de nós.

O carisma marista consiste no dom que Deus concedeu a Marcelino Champagnat e seus Irmãos de Maria de colocar as suas próprias vidas a serviço da educação das pessoas de sua época, sobretudo das crianças e dos jovens. Essa iniciativa frutificou e se perpetuou na história por meio das pessoas que

Um acontecimento foi providen-cial para que Marcelino Champagnat fundasse o Instituto dos Irmãos de Maria. Chamado a confessar um jovem doente num povoado, pôs-se imediatamente a caminho, conforme seu costu-me. Antes de ouvi-lo em confis-são, fez-lhe uma série de pergun-tas (...) estremeceu-se ao verifi-car que ele ignorava os principais mistérios, não sabendo nem

A intuição do carisma não é algo linear,

diversos fatores e situações da comunida-

de influem no discernimento. Ser seguidor

de Cristo, hoje, ao estilo de Champagnat,

significa comprometer-se com a missão de

tornar Jesus Cristo conhecido e amado,

A ESPIRITUALIDADE E O CARISMA

NO INSTITUTO MARISTA

Marcelino Champagnat nasce a 20 de maio de 1789, em Marlhes,

aldeia montanhosa no centro-leste da França. A Revolução

Francesa acaba de estourar. Ele é o nono filho de uma família

cristã. Sua educação é essencialmente familiar. Sua mãe e sua tia

– que é irmã religiosa e se abriga na casa dos Champagnat para

fugir dos revolucionários – despertam nele fé sólida e profunda

devoção a Maria. Seu pai, agricultor e comerciante, possui instru-

ção acima da média; desempenha um papel político na aldeia e

na região, transmite a Marcelino a habilidade para os trabalhos

manuais, o gosto pelo trabalho, o senso das responsabilidades e

a abertura às idéias novas.

Quando Marcelino está com 14 anos, um padre o visita e o convi-

da para a vida sacerdotal. Marcelino, de quase nenhuma escolari-

dade, vai se mover a estudar; muitos o desaconselham e procu-

ram dissuadi-lo desta iniciativa, porém ele decide ir ao seminário.

Os anos difíceis do Seminário Menor de Verrières (1805-1813)

são para ele uma etapa de verdadeiro crescimento humano e

espiritual.

Impressionado pelo abandono cultural e espiritual das crianças da

campanha, Marcelino sente a urgência de fundar uma Instituição

para a educação cristã da juventude. Após sua ordenação sacerdo-

tal, é enviado como ajudante na paróquia de La Valla. A visita a

um adolescente de 17 anos, às portas da morte e sem

conhecer Deus, o perturba profundamente, impelindo-o a

empreender e a gestar um projeto majestoso.

A 2 de janeiro de 1817, apenas a 6 meses de sua chegada à cidade

de La Valla, Marcelino reúne seus dois primeiros discípulos: a

Instituição Marista nasce na pobreza e humildade, na total confian-

ça em Deus, sob a proteção de Maria. Além de garantir seu ministé-

rio paroquial, Marcelino se dedica a formação de seus discípulos, e

os transforma em educadores – “formava-os nas ciências e lhes

dava a conhecer os melhores métodos de ensino”. Sem tardar, abre

escolas. As vocações vêm, e a primeira casa, apesar de aumentada

pelo próprio Marcelino, torna-se logo pequena demais. As dificul-

dades são numerosas, mas ele é persistente e não desanima.

Marcelino, homem de fé profunda, vê em Maria, a "Boa Mãe", o

"Recurso Habitual", a "Primeira Superiora". Sua grande humilda-

de, seu senso profundo da presença de Deus, fazem-lhe superar,

com muita paz interior, as numerosas provações.

"Tornar Jesus Cristo conhecido e amado" é a missão Marista. A

educação é o meio privilegiado para essa missão de evangelização.

Marcelino inculca em seus seguidores o respeito, o amor às crian-

ças e jovens, a atenção aos mais pobres. Aconselha a vivência da

presença prolongada entre as crianças e jovens. A simplicidade, o

espírito de família, o amor ao trabalho, o agir em tudo do jeito de

Maria, são os pontos essenciais de seu empreendimento.

Morre aos 51 anos de idade, a 6 de junho de 1840. Seu empreendi-

mento contava com “280 irmãos e 48 estabelecimentos que atendiam

cerca de 7000 alunos”. Hoje sua obra está presente em 79 países e

atende aproximadamente 500 mil crianças e jovens.

A Intuição de Champagnat

b) Visão integral da pessoa

O Carisma do Instituto MARISTA

mesmo se Deus existia. Aflito (...) começou a ensinar-lhe os principais mistérios e as verda-des essenciais da salvação.

Depois de o ter confessado (...) deixou-o para atender a outro doente, na casa vizinha.Ao voltar, perguntou como estava o rapaz: “Morreu instan-te após sua saída”, responde-ram os pais em lágrimas.

(Champagnat) Voltou todo

O evento MONTAGNE

(Jean Baptiste Furet)

compenetrado destes sentimen-tos, cismando: “quantos outros meninos se encontram, todos os dias, na mesma situação, corren-do o mesmo risco, por não haver ninguém que os instrua nas verdades da fé”. E, então, o pensamento de fundar uma sociedade de Irmãos, destinados à instrução cristã, perseguiu-o com tamanha insistência (...)

se identificam, movidas pelo Espírito, com essa mesma propos-ta, adaptando-a às necessidades dos dias de hoje. Durante sua vida, o fundador deixou seu legado por meio de uma vida intei-ra de doação ao próximo. O dom recebido por Champagnat foi interpretado por ele próprio e os primeiros Irmãos. a) Do Jeito de Maria

Duas grandes frentes, dentre outras

possíveis, caracterizam o carisma

marista:

a) a dedicação à obra da educação do

jeito de Maria; e b) a busca pela for-

mação integral do ser humano.

partilhando a vida no dia a dia e fazendo

da espiritualidade marista uma fonte de

vitalidade. A espiritualidade é vivida na e

para a missão; a missão cria e anima a vida

partilhada; a vida partilhada é, por sua vez,

fonte de espiritualidade e de missão .6

Champagnat, com toda sua herança familiar e sua formação

sacerdotal da época, servindo a uma comunidade que sofria os

efeitos da revolução francesa, da desorganização das instituições

públicas e da assistência deficiente do estado, percebeu que era

preciso desenvolver uma ação

que de forma sólida pudesse

desenvolver o cidadão na dimen-

são humana e espiritual; em sín-

tese, desenvolver a personalida-

de integralmente. O aspecto inte-

gral ainda quer dizer adaptado

ao sujeito em suas mentalidades

diversas, que a busca da verdade

seja facilitada de todos os

modos, particularmente pelo

amor, pelo entusiasmo e com

métodos apropriados .

O ser humano se constitui em

uma unidade que abrange o

físico, o saber, os valores da

vida, a consciência e a fé. Ele é

chamado a se desenvolver em

todos estes aspectos. Em todas

estas situações a missão maris-

ta procura servir e desenvolver o

ser humano. É o que se chama

de formação ou desenvolvimen-

to integral da pessoa huma-

na. O programa para o cultivo

da pessoa humana na sua inte-

gralidade parte sempre da con-

cepção do humanismo cristão.

Para que o um marista seja

capaz de dar atenção a todas as

áreas da personalidade é neces-

sário viver o tanto quanto possível tais realidades para dar tes-

temunho de vida; para isto, todos os valores precisam ser trata-

dos a partir de um senso crítico sério: valores sociais, culturais,

psicológicos e transcendentais .

7

8

9

11

Carisma, o que é?

No dicionário grego clássico, chárisma, charísmatos,

recebe as seguintes versões: obséquio, benevolência,

dom. A base do termo cháris, cháritos, versa os seguintes

significados: prazer, alegria, encanto exterior, beleza,

respeito, benevolência, favor, desejo de agradar, condes-

cendência, reconhecimento, agradecimento, recompen-

sa e até mesmo salário. Colocamos isto em atenção à

palavra de Platão, que se antecipou aos nossos tempos

modernos que, pensando ser original, fala em “poder da

palavra” ou word power.

Quando se fala em carisma se entende a ação esplen-

dente, superior, miraculosa ou misteriosa. Para compre-

ender melhor o que se entende por carisma na mística

cristã é importante ler um trecho precioso de São Paulo

no que se refere a este tema:

“Acerca dos dons espirituais, não quero que sejais ignoran-

tes. Vós bem sabeis que, como pagãos, éreis levados aos

ídolos mudos, segundo éreis guiados. Eis por que vos quero

fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito diz:

Jesus é anátema. Ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor

senão pelo Espírito Santo. Ora há diversidade de dons, mas

o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o

Senhor é o mesmo. Há diversidade de operações, mas é o

mesmo Deus que opera tudo em todos” (1 Cor 12, 1-6).

Portanto, Paulo lançou os primeiros fundamentos na com-

preensão teológica do termo carisma que nada mais é que

um dom do Espírito Santo que nasce no meio da comunida-

de cristã por inspiração do Espírito Santo, para responder às

necessidades espirituais e sociais de cada época.

Page 7: Revista Congresso de Humanização

Cada carisma tem seu distintivo, suas características e os

acentos especiais na vivência da mística e da espiritualidade.

Os principais aspectos do carisma marista estão centrados na

visão integral da pessoa humana e na pedagogia que tem

como modelo Maria, Mãe de Jesus. Desta visão e ambiente

educativo decorrem os valores norteadores, que são: a pre-

sença, a simplicidade, o espírito de família e o amor ao traba-

lho. Eles emergem da vivência do carisma por parte do próprio

fundador e se perpetuam na história, orientando as gerações.

A presença e o testemunho

A presença junto às pessoas é uma demonstração de amizade

e estima. Ao destinar tempo aos outros além das relações

Os valores e a mística

da missão Maristameramente formais, cria-se a oportunidade do conhecimento

mútuo em nível pessoal. Para Champagnat, a presença deve-

ria ser significativa e se constituía num espaço para o teste-

munho de vida, o principal e mais eficaz meio para se educar.

A simplicidade como estilo de vida

A simplicidade deve expressar-se no trato com as pessoas,

sobretudo por meio de uma relação autêntica e sincera,

tomada despretensiosamente e sem duplicidade. A simplici-

dade é fruto da unidade entre espírito e coração, ser e agir,

revelando sinceridade em relação a si mesmo e a Deus .

À simplicidade se acrescenta a humildade e a modéstia, que

constituem as “três violetas” da tradição marista, permitindo

10

12 13

necessidades espirituais e sociais da comunidade

local, estendido a toda a Igreja, a serviço da humanida-

de. Seu núcleo consiste em realizar a missão de tornar

Jesus Cristo conhecido e amado entre as crianças,

os jovens e os adultos.

• O carisma marista envolve uma espiritualidade cen-

trada em Cristo e ao mesmo tempo marial. Eis um

lema marista: “Tudo a Jesus por Maria, tudo a Maria para

Jesus”.

• Marcelino Champagnat era um homem de coração

grande. Seu empenho se abria ao mundo em forma de

serviço à vida: Para ele, tornar Jesus Cristo conhecido e

amado significa também ajudar ao próximo a se tornar

um "bom cristão e virtuoso cidadão".

• Para Champagnat, a espiritualidade marista implica

em formar comunidade e partilhar a vida. O teste-

munho de vida, para ele, era o principal meio para edu-

car. O ambiente em que Champagnat quis trabalhar se

espelha no lar de Nazaré (ambiente de família), onde se

dialoga e cada um procura fazer o melhor de si para que

seja de entendimento e sabedoria (simplicidade), onde

todos se esforçam para bem cumprir suas tarefas (espíri-

to de trabalho), na seriedade dos compromissos, na

constante atualização e no planejamento consciente das

atividades.

• Na pedagogia proposta por Champagnat, para bem

educar é preciso antes de tudo amar, e amar a todos

igualmente.

• Champagnat deseja que seus companheiros estejam

próximos das pessoas (presença), isto implica em grande

possibilidade de animar e capacitar aspectos positivos,

desenvolvendo a maturidade afetiva em clima de confi-

ança e amizade, e desfazer tensões e desavenças. Enfim,

estar presente como exemplo voluntário e gratuito

de integração, desenvolvendo e realizando a dimensão

da paternidade ou da maternidade junto às pessoas.

• A Igreja reconhece que a intuição de São Marcelino

continua viva hoje e é um presente de Deus para o

mundo . A missão marista é chamada a multiplicar-se,

até abranger todas as dioceses do mundo . O leigo maris-

ta acredita que Deus o convoca a prolongar essa

intuição na história, como seguidor de Cristo .

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17

que Deus aja por meio dos seguidores do carisma maris-

ta, buscando “fazer o bem sem barulho”. Sendo consci-

ente das limitações e potencialidades, se está mais apto a

compreender o outro, respeitando-o na sua dignidade e

liberdade .

O espírito de família como ambiente de trabalho

O espírito de família espelha-se no lar de Nazaré. É feito

de amor e perdão, entreajuda e apoio, esquecimento de

si, de abertura aos outros e de alegria (Cl 3,12-15). Esse

espírito haure força e fervor no amor de Cristo. Impregna

as atitudes e o proceder da família marista, de modo que

irradia aos que a encontram .

O grande desejo de Champagnat é que a relação entre

Irmãos, leigos e pessoas que freqüentam as obras

Maristas seja como entre membros de uma família que se

ama . Todos são desafiados a colocar em prática este

desejo do fundador, mesmo nas obras mais complexas.

O amor ao trabalho e constância como dedicação

ao Reino de Deus

Marcelino Champagnat era homem de trabalho, enérgi-

co, inimigo da preguiça. Ele próprio formou-se com esfor-

ço tenaz e total confiança em Deus, e com essas caracte-

rísticas impregnou o seu ministério paroquial, fundou a

sua família religiosa e empreendeu todos os seus proje- tos . Marcelino Champagnat, como construtor, mostra a

importância de estar disposto a “arregaçar as mangas”,

preparado para fazer o que for necessário à realização da

Missão. Quem quiser ser seu discípulo deve seguir o seu

exemplo, sendo generoso de coração, constante e perse-

verante no trabalho cotidiano, bem como nos esforços

empreendidos na própria formação permanente.

O amor ao trabalho deve ser desenvolvido nos diversos

ambientes das obras por meio de uma cuidadosa prepa-

ração dos projetos, planejamento e avaliação das ativida-

des, programas e acompanhamentos . Para dar conta

desta exigência é preciso ser prospectivo e decidido a

desenvolver respostas criativas às necessidades das

pessoas.

• O carisma (dom do espírito) de Champagnat é um novo

modo de viver o Evangelho, uma resposta concreta às

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12

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15

Sintetizando alguns aspectos relevantes do carisma marista

Page 8: Revista Congresso de Humanização

A questão da espiritualidade vem ganhado espaço no

âmbito da saúde. Há basicamente duas grandes tendên-

cias em andamento que justificam esse avanço:

Uma é já bastante difundida e está relacionada à necessidade que

as pessoas têm, sobretudo em estado de saúde debilitada, de

encontrar sentido para os fatos que predominam e ocorrem em

sua própria vida. Neste âmbito, há, por um lado, as diversas pers-

pectivas teóricas e práticas oferecidas pelas religiões ou mesmo

por formas de crenças latentes; e, por outro lado, há também a

subjetividade do indivíduo que busca as suas próprias razões para

suas crenças e experiências (que envolve a

dimensão afetiva, inclusive) religiosas que

acaba por desenvolver.

Neste contexto, o respeito às propostas

objetivas das religiões bem como às livres

adesões pessoais torna-se algo sagrado. No

entanto, não absoluto. Se o que as religiões

têm em comum é a mística de envolver o ser

humano em ações que promovam a vida,

jamais qualquer crença deverá se justificar

se não promover de fato a vida. Neste

ponto, a ética acaba por ser a grande guar-

diã da relação espiritualidade e saúde. Ao mesmo tempo em que o

campo das crenças é sublime, a ética torna-se a ferramenta indis-

pensável para que ela de fato seja coerente e sadia.

Outra tendência que promove o avanço da relação espirituali-

dade x saúde está mais relacionada ao campo científico.

Independentemente da questão do respeito às crenças e à

normalização ética para que esse procedimento – espiritualida-

de x saúde – seja sadio, há o dado científico que abrange tanto a

área da saúde como das ciências teológicas/filosóficas.

Risco – O médico toca em um ponto

importantíssimo. Quando a religiosidade

toma o lugar da medicina, as coisas se

complicam. Quem leva a fé a ferro e fogo e

decide depositar tudo nas mãos de Deus

corre o sério risco de perder a vida. Um

estudo feito pelo médico Riad Yunes com

Diferentemente do QI, encontrado nos

computadores, e do QE, que existe nos

mamíferos superiores, o QS (inteligên-

cia espiritual) é exclusivamente humano

e o mais fundamental das três inteligên-

cias. Ele se relaciona com a necessida-

Já são muitos os médicos que fazem essa constatação no dia

a dia. O oncologista Riad Yunes, do Hospital do Câncer de

São Paulo, é um deles. “Os pacientes que têm religiosidade

parecem suportar mais as dores e o tratamento. Também

lidam melhor com a idéia da morte”, observa.

Esse tipo de informação já aparece em diversas pesquisas.

Muitas estão sendo feitas sob a batuta do médico Harold

Koenig, da Universidade de Duke (EUA). Entre seus achados

estão resultados interessantes. Pessoas que adotam práti-

cas religiosas ou mantêm alguma espiritualidade apresen-

tam 40% menos chance de sofrer de hipertensão, têm um

sistema de defesa mais forte, são menos hospitalizadas, se

recuperam mais rápido e tendem a sofrer menos de depres-

são quando se encontram debilitadas por enfermidades.

“Hoje há muitas evidências científicas de que a fé e métodos

como a oração e meditação ajudam os indivíduos”, afirma

Thomas McCormick, do Departamento de História e Ética

Médica da Universidade de Washington (EUA).

Estimulados por essa realidade, os cientistas procuram res-

postas que elucidem de que modo esse sentimento interfere

na manutenção ou recuperação da saúde. Há algumas expli-

cações. Uma delas se baseia numa verdade óbvia: a de que

quem cultiva a espiritualidade tende a ter uma vida mais sau-

dável. “Os estudos comprovam que a religiosidade proporcio-

na menos comportamentos auto-destrutivos como suicídio,

ESPIRITUALIDADE, SAÚDE E O CARISMA MARISTA

abuso de drogas e álcool, menos stress e mais satisfação. A

sensação de pertencer a um grupo social e compartilhar as

dificuldades também contribuiria para manter o paciente

amparado, com melhor qualidade de vida”, explica o psiquia-

tra Alexander Almeida, do Núcleo de Estudos de Problemas

Espirituais e Religiosos do Instituto de Psiquiatria da Univer-

sidade de São Paulo (USP).

Para os cientistas, essa explicação é só o começo. O que se

quer saber é o que se passa na intimidade do organismo

quando as pessoas oram, lêem textos sagrados e qual o

impacto disso na capacidade de se defender das doenças.

Embora não existam estudos conclusivos, acredita-se que

esse plus esteja relacionado a mudanças produzidas pela fé

na bioquímica do cérebro. “Setores do sistema nervoso

relacionados à percepção, à imunidade e às emoções são

alteráveis por meio das crenças e significados atribuídos

aos fatos, entre outros fatores. Assim, um indivíduo religio-

so tem condições de atribuir significados elevados ao seu

sofrimento físico e padecer menos do que um ateu ou

agnóstico”, explica o psicólogo e clínico João Figueiró, do

Centro Multidisciplinar da Dor do Hospital das Clínicas

(HC/SP).

Para aprofundar as investigações, está surgindo até um

novo campo de conhecimento, chamado de Neuroteologia.

Espiritualidade na saúde Espiritualidade e saúde, um encontro inevitável

(Celina Côrtes, Cilene Pereira e

Mônica Tarantino, Revista IstoÉ 01/06/2005)

três mil pacientes de câncer de mama no

Hospital do Câncer de São Paulo mostra o

quanto essa possibilidade é real. Segundo o

trabalho, 20% das mulheres preferiram

fazer tratamentos espirituais antes de se

submeter à cirurgia e tomar os medicamen-

tos indicados pelos médicos. “Quando (Celina Côrtes, Cilene Pereira e

Mônica Tarantino, Revista IstoÉ 01/06/2005)

voltaram ao hospital, três ou quatro meses

depois, os tumores tinham dobrado de

tamanho”, diz Yunes. Como se vê, o equilí-

brio entre as necessidades da alma e as do

corpo é um dos segredos de uma boa saúde.

de humana de significado, uma

questão muito presente na mente dos

homens... O QS é que utilizamos para

desenvolver nosso anseio e capaci-

dade de sentido, visão e valor.

Permite-nos sonhar e progredir. Ele está

nas coisas em que acreditamos e no

papel que nossas crenças e valores

desempenham nas ações que empre-

endemos. É, essencialmente, o que nos

torna humanos.

(Danah Zohar)

1514

Nunca se buscou tanto como agora no campo científico a compre-

ensão do processo de cura desencadeado ou fortalecido pela fé,

pelo cultivo da espiritualidade. A Neuroteologia, por exemplo,

aponta resultados de pesquisas que impressionam quando o

assunto é a influência da espiritualidade na longevidade, no

sistema imunológico, no processo de psicossomatização, de

prevenção, entre outros. Sobre esse assunto, é oportuno ouvir os

Doutores Andrew Newberg e Harold Koening, conforme indicação

do vídeo anexado .

Já no campo das ciências teológicas e filosóficas (e afins) vem se

desenvolvendo uma abordagem

mais elaborada em linguagem atual

sobre a compreensão do ser humano

em sua integralidade, concebendo-o

como um ser de mente (inteligên-

cia), corpo (física), emoções (cora-

ção) e, sobretudo, de consciência

(espírito). Autores clássicos, como

Agostinho de Hipona, por exemplo,

desenvolveram essa forma de com-

preender o ser humano há séculos;

no entanto, percebe-se uma redes-

coberta dessa compreensão a partir de autores atuais, que

buscam estabelecer pontes entre suas especialidades e as

diversas formas de pensar e crer. Para muitos desses autores, a

espiritualidade é o centro referencial e responsável por harmo-

nizar e potencializar todas as dimensões do ser humano. Para a

saúde, que busca tratar o ser humano como um ser integral – e

isso é ponto pacífico – ignorar a espiritualidade seria um erro.

Ao mesmo tempo, terceirizar esse assunto somente para as

religiões seria comodidade ou talvez ignorância. É chegado o

tempo de redescobrir caminhos entre espiritualidade e saúde.

18

Page 9: Revista Congresso de Humanização

Por ser a sadia vivência da espiritualidade algo tão relevante

no âmbito da saúde, o Instituto marista se vê desafiado a

buscar integrar em suas ações formais nos hospitais um

processo dinâmico que dê espaço e potencialize a vivência

saudável da espiritualidade. Neste contexto busca-se

potencializar somente iniciativas que estejam plenamente

harmonizadas com a ética e seus princípios, bem como com

as ciências (Humanização).

A missão marista de Tornar Jesus Cristo conhecido e ama-

do, herdada do fundador, pode ser compreendida hoje

como uma oportunidade de tornar reais as atitudes própri-

as de Jesus no cotidiano hospitalar: acolhida, atenção,

cuidado, serviço, o viver em comunidade, o perdão, a cura, a

solidariedade, a fraternidade, dentre outras. Tudo isso,

tendo em mente seus anseios mais profundos: a dignidade

dos seres humanos, por serem filhos de Deus; a visão inte-

gral do ser humano; a busca da verdade e construção de um

mundo mais justo e fraterno.

A partir desses imperativos evangélicos e de missão, algu-

mas grandes linhas devem nortear o trabalho marista na

área da saúde:

a) Atendimento integral, qualificado e humani-

zado ao paciente

O atendimento qualificado ao paciente é a razão maior de

todos os nossos esforços na área da saúde, e busca harmoni-

zar as dimensões física, psíquica, social e espiritual.

Realizado com a preocupação de considerar o ser humano

em sua integralidade, é também um ação educativo-pastoral

e está focada na dignidade humana: autonomia, liberdade e

consciência. Assim, esse deve ajudar o indivíduo a ampliar a

compreensão sobre si mesmo e conduzi-lo à responsabilida-

de e ao cuidado sobre sua própria vida e a dos demais.

b) Constituição de comunidade hospitalar basea-

da nos valores humanos, cristãos e maristas

Condição indispensável para o atendimento qualificado e

integral ao paciente é a constituição de uma comunidade

hospitalar na qual predomine a humanização nas relações, nos

processos e procedimentos. É importante o cultivo das relações

humanas no cotidiano e ao mesmo tempo a atenção especial

desta temática no treinamento e desenvolvimento do pessoal.

Nesse sentido, os valores humanos, cristãos e maristas são

permanentemente traduzidos em comportamentos, constituin-

do-se em diferenciais em nosso jeito de cuidar, gerir e educar.

c) Constituir-se num espaço de pesquisa, educa-

ção e debate sobre Bioética e Humanização

O serviço da saúde unido ao da educação, em nossa Instituição,

carrega em si mesmo uma responsabilidade: ao lado dos

conhecimentos consolidados na formação e nas ações de

nossos profissionais, são promovidas permanentes pesquisas,

debates e ocasiões sistemáticas de ensino sobre questões

relacionadas à bioética nas quais os elementos do cristianismo

sejam considerados como meios de promoção da vida. Como

hospitais escola, a atenção aos acadêmicos e à formação dos

profissionais da saúde deve fazer parte de nosso cotidiano.

Essas atividades e conteúdos devem fazer parte de nossa cultu-

ra interna e são estendidos à sociedade e à Igreja.

d) Dedicar-se ao serviço da educação em preven-

ção e promoção da saúde

O carisma marista nos impele a desempenhar um serviço de

prevenção em saúde junto à sociedade, com caráter educati-

vo. Quando os conhecimentos construídos por nossos profis-

sionais da saúde são partilhados com a população, sobretudo

às pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade,

além de ser um serviço de prevenção em saúde é também

promoção da cidadania.

Algumas posturas que cada profissional pode cultivar no dia a dia do ambiente de trabalho:

Mostrar-se sociável no relacionamento com os colegas de tra-

balho. Reconhecer seus potenciais e suas limitações propon-

do-se a ajudar e a aprender com a ajuda das outras pessoas.

Tornar-se descomplicado com as pessoas, fazer-se próximo.

Realizar suas atividades sem ostentação. Buscar adequar a

linguagem às pessoas com quem se relaciona.

SIMPLICIDADE

a) Algumas pessoas vivem identidades

diferentes da marista, porque fizeram

opções de vida distintas da cristã; outras,

por já terem encontrado seu próprio lugar

na Igreja. A Instituição acolhe e respeita

as diferentes opções e caminhos.

b) Outras pessoas são atraídas pelo teste-

munho dos Irmãos. Admiram o seu modo

Garantir seu desenvolvimento profissional por méritos pró-

prios sem sobrepor-se aos outros. Compartilhar seus conhe-

cimentos e talentos.

Esforçar-se para reconhecer e corrigir as suas próprias limi-

tações, estando aberto a opiniões e sugestões. Procurar ser

transparente nas relações humanas e na realização do tra-

balho, para que suas qualidades sejam repartidas e suas fra-

quezas sanadas.

Empenhar-se em se fazer próximo e acessível aos pacientes /

clientes, atendendo-os com alegria, respeito e eficiência.

HORIZONTES MARISTAS NA SAÚDE

Níveis de adesão e compromisso dos leigos Maristasde vida e desejam vincular-se à sua espiri-

tualidade e à sua missão, sem entender

isso como vocação partilhada.

c) Há um terceiro grupo que, a partir de

um processo pessoal de discernimento,

decide viver sua espiritualidade e sua

missão cristãs do jeito de Maria, seguindo

a intuição de São Marcelino Champagnat.

Esforçamo-nos por ser íntegros, autênticos e

transparentes. Assim, nossa simplicidade é fruto

da unidade entre ser e agir e se expressa no

trato com as pessoas. Está ligada à humildade

e à modéstia que nos ajudam a compreender

melhor nossas potencialidades e limitações, e

nos fazem aptos a aceitar os outros,

respeitando-os em sua dignidade e liberdade.

No Instituto Marista, todos os

colaboradores são convidados a

harmonizar-se com os princípios

herdados do fundador, Marcelino

Champagnat. No entanto, há três

níveis de engajamento e todos

eles são respeitados e valoriza-

dos na Instituição :19

17

A partir da Identidade e missão maristas, propomos uma

tradução dos valores referenciais numa linguagem

adequada a nossa realidade corporativa. Ao mesmo tempo,

colocamos algumas sugestões de comportamentos

possíveis relacionados aos referidos valores. A finalidade

destes é de orientar a nossa caminhada.

Competências e valores Maristas

Page 10: Revista Congresso de Humanização

Algumas posturas que cada profissional

pode cultivar no dia a dia do ambiente de

trabalho:

Realizar seu trabalho de forma que contagie o ambiente hospita-

lar, tornando-o um lugar agradável.

Apesar dos obstáculos ou desafios diários, concentrar-se na sua

vocação de promover a saúde. Nada ou ninguém prejudica esse

ideal pessoal.

Buscar melhoria continua na realização do seu trabalho. Buscar

formação própria, atualização constante.

Envolver-se com o trabalho por mais simples que possa parecer a

atividade, independentemente de seu cargo. Ser proativo, não

ficar preso a status ou cargo. Envolver-se com todos e se colocar

em espírito de aprendizagem e serviço.

Algumas posturas

que cada profissio-

nal pode cultivar no

dia a dia do ambien-

te de trabalho:

Ser verdadeiro em suas atitudes e

palavras estabelecendo uma

relação de confiança e transpa-

rência.

Ter postura educadora (exemplo,

coerência de atitudes), auxiliando

as pessoas em seu desenvolvi-

mento pessoal e profissional.

Acolher as pessoas no ambiente de trabalho fazendo com que

se sintam estimados e valorizados. Orientar as pessoas de

maneira discreta e no momento oportuno. Praticar a escuta

ativa, estabelecendo o diálogo harmonioso.

Auxiliar as pessoas a encontrar soluções para seus problemas

cotidianos. Encorajá-las a expressarem suas idéias.

Cultivar o desenvolvimento da competência, da transparência e

da credibilidade, buscando criar um clima de confiança no

ambiente de trabalho / hospital.

Reconhecer que, pela presença significativa no ambiente

hospitalar, torna-se estímulo / motivação para que os pacientes

encarem seu processo com otimismo e esperança.

Compreender que presença significativa envolve, além da

escuta e da orientação, cuidar das pessoas para que não sofram

danos materiais, físicos e morais.

Utilizar adequadamente os recursos (materiais, humanos, financei-

ros) que estão a sua disposição com a finalidade de cumprir o

trabalho que lhe foi solicitado. Adotar uma postura em evitar des-

perdícios e gastos supérfluos.

Basear suas decisões com imparcialidade, sem se valer de simpati-

as ou antipatias. Ser ético na condução das suas atividades. Pautar

suas ações no principio da equidade.

Ter consciência de que, nas relações de trabalho e na vida em

sociedade, os deveres e obrigações caminham sempre juntos.

Procurar conciliar um caráter íntegro com as devidas competências.

Criar clima de entusiasmo e envolvimento no ambiente de traba-

lho, exercendo efeito energizador sobre os demais. Ser otimista,

buscar potencializar os pontos positivos. Quanto à necessidade de

crítica, saber ser firme nos princípios e suave com as pessoas.

PRESENÇA SIGNIFICATIVAAcreditamos que o exemplo de vida é o meio mais eficaz na construção de um ser humano pleno. Por

isso, buscamos estar próximos das pessoas, inculturando-nos em suas realidades, valorizando e

cultivando os laços de cuidado e ternura, solicitude e afabilidade, e construindo uma sólida relação de

confiança marcada por uma presença atenta e acolhedora.

Um dia chamaram-no para um doente. Apressa-se em

visitá-lo e encontra um homem coberto de chagas, na

maior miséria, tendo apenas alguns trapos a cobrir-lhes

a nudez e as úlceras. Profundamente movido de compa-

ixão à vista de tantas dores e tanta miséria, dirige-lhe,

primeiramente, palavras de conforto. Depois, corre para

casa, chama o Irmão ecônomo e ordena-lhe que leve

imediatamente colchão, lençóis e cobertores ao infeliz

que aqui acabava de visitar.

-Mas, Padre, não temos nenhum colchão sobrando.

-Como! Não encontra nenhum colchão na casa?

-Não, nenhum. Deve lembrar-se que dei o último faz

alguns dias.

-Pois bem! Retire o colchão da minha cama e leve-o

agora mesmo ao pobre do homem.

(Jean Baptiste Furet)

A exemplo de Marcelino Champagnat, somos constantes e perseverantes no trabalho cotidiano.

Realizamos as tarefas que nos cabem com disposição, generosidade e espírito cooperativo.

Esforçamo-nos para promover a nossa própria formação permanente e para fornecer respostas

criativas aos desafios da realidade. Pelo exemplo, ensinamos que o trabalho é meio de realização

pessoal e contribuição para o bem-estar da sociedade.

AMOR AO TRABALHO

Uma experiência de Champagnat

1918

Page 11: Revista Congresso de Humanização

Se os médicos estão se valendo de práticas religiosas

talvez isso seja um indicativo de que afinal existe algo

acima do conhecimento humano que o cientificismo puro

não consegue explicar. Talvez seja também um dos nós de

encontro entre ciência e religião. A ciência não pode mais

se arvorar direito de ser expressão máxima dos fatos, nem

a religião pode se escorar em dogmas, creditando todos

os fenômenos ao sobrenatural. Há um ponto em comum

entre essas duas vertentes, resgatadas, por exemplo, por

expoentes da ciência como Albert Einstein, Niels Bohr e

Construímos entre as pessoas uma relação de parceria ativa, acolhendo-as e compreendendo-nos

como diferentes e complementares. Valorizamos a construção coletiva, a autonomia responsável,

a flexibilidade, a ajuda mútua e o perdão. Ousamos construir comunidade, com alegria, e fazer

dela fonte de vida.

Algumas posturas que cada profissional

pode cultivar no dia a dia do ambiente de

trabalho:

Tratar as demais pessoas de maneira cordial, independente de

classe social, raça, religião, gênero, função e/ou cargo ocupado.

Inquietar-se com a aflição ou a tristeza alheia e oferecer a ele

seu acolhimento e compreensão. Ao mesmo tempo, saber

manter o equilíbrio entre o profissional e o pessoal nas rela-

ções com os pacientes e colegas de trabalho.

Utilizar palavras e adotar atitudes educadas nos relaciona-

mentos, buscando o diálogo como forma de proporcionar o

crescimento das pessoas.

ESPÍRITO DE FAMÍLIA SENSIBILIDADE COMUNITÁRIA

Privilegiar o trabalho em equipe na realização das suas ativida-

des e partilhar seus conhecimentos em benefício do bem comum.

Empenhar-se em promover a harmonia no ambiente de trabalho.

Respeitar as diferenças pessoais. Acolher a diversidade. Empenhar-

se em promover o bom êxito em benefício de todos.

Promover a sinergia entre os membros de sua área de atuação e

de todos na organização. Celebrar as conquistas das pessoas e da

Instituição.

Saber dar e receber feedback, acolher os apontamentos que lhe

são feitos em vista de seu crescimento e desenvolvimento pessoal

e profissional.

Praticar e promover a comunicação pessoal que é transparente,

verdadeira, assertiva e afetiva.

Religião x Ciência

ALGUNS RELATOS QUE MERECEM DESTAQUE:

(José Antônio Mariano)

Wolfgang Pauli que perceberam que a ciência chegara a

um ponto em que lhe era impossível abordar toda a

complexidade de fenômenos que assolam o ser humano.

Tanto que, em 1986, uma declaração conjunta assinada

por alguns intelectuais de peso como o paquistanês

Abdus Salam (Prêmio Nobel de Física) e o francês Jean

Dausset (Prêmio Nobel de Medicina) afirmava que a

ciência e as tradições espirituais são complementares e

não contraditórias e que o intercâmbio entre elas "abre

as portas para uma nova visão da humanidade" .20

2120

Page 12: Revista Congresso de Humanização

O diagnóstico do câncer pode afetar a espiritualidade do pacien-

te tanto de forma positiva quanto negativa. Por exemplo, uma

pessoa ao receber o diagnóstico pode aproximar-se mais de Deus,

apoiar-se em pessoas religiosas e buscar coragem e otimismo

para enfrentar a doença e tratamentos. Outras podem questionar

e se revoltarem contra tudo em que ou quem acredita. Surgindo

então perguntas como: Por que isso está acontecendo comigo? O

que eu fiz ou deixei de fazer para merecer passar por tudo isso?

Espiritualidade refere-se a crença em algo superior, uma força,

uma energia, comumente chamada de Deus. E a crença nessa

força superior daria sentido à vida e à morte. A conexão com Deus,

ou como queira chamar, proporciona esperança, confiança e fé

para o enfrentamento de acontecimentos estressantes e doloro-

sos. Uma pessoa que compartilhe desse conceito não precisa

participar de nenhuma religião organizada ou institucionalizada.

Impacto da Espiritualidade na Qualidade de Vida de Pacientes Oncológicos

NOTASNão existe pesquisa a respeito, mas pode-se avaliar a impor-

tância do vínculo espiritual para o dependente, a partir dos

seus testemunhos de vida sobre como deixaram a droga. De

cada dez, pelo menos nove falam em Deus - como O enten-

dem - como fundamental no seu processo de recuperação.

Em seguida, vem o cônjuge, a família, os amigos. Disso se

infere que, seja qual for à estratégia terapêutica adotada, se

Deus não estiver presente, o dependente pode até abandonar

A importância de Deus notratamento dos dependentes

(José Antônio Mariano)

a droga, mas isso não quer dizer que esteja recuperado. Deus

é importante tanto no processo de recuperação em si, como

no pós-tratamento, essa sim a fase mais difícil. Os grupos de

mútua-ajuda não abrem mão de Deus, nomeando-o demo-

craticamente como Poder Superior, desvinculando-O de

rótulos e emblemas. A espiritualidade é importante. E“a

religião não precisa da ciência para justificar sua existência

ou seu encanto" .21

22

CONSIDERAÇÕES FINAIS

· A espiritualidade não pode e não deve ser utilizada de forma mercantilista.

· Vivemos em um mundo pluralista (esta mudança é recente) e muitos de nós

nos formamos em um mundo “uniforme cristão”; portanto, precisamos

nos informar para poder ajudar aos pacientes a viver em plenitude.

· Ano decorrer do nosso texto, mas cultivamos o ecumenismo

e respeitamos as outras denominações religiosas.

s nossas instituições têm uma orientação cristã e marista, como vimos

A espiritualidade pode ajudar proporcionando sentimentos de

confiança, esperança e proteção. Crendo que existe uma força

superior, Deus que está acima de tudo, de todos e que tudo

pode, tudo provê. Por pior que seja o prognóstico, Seu poder,

Seu amor podem curar.

Para ajudar um paciente oncológico é importante refletir qual

foi a importância da crença em Deus ao longo da vida. Essa cren-

ça trouxe esperança, vontade de lutar diante das dificuldades?

Tornou a pessoa mais forte? Caso sim, a melhor dica talvez seja

ela ter a coragem de falar para Deus toda sua revolta. Todas as

suas dúvidas e medos. Afinal, a gente só briga com quem a gen-

te se importa e acredita que vale a pena resgatar a amizade e

confiança. E, finalmente, dizer como é importante a presença

Dele durante todos os tratamentos .22

1 - Cf. Moggi, Jair. A Espiritualidade é o Grande Capital desta Era. Site:

(Acesso em: 12-03-2010 – 18h).

2 - Cf. Nivaldo, Pr. José. A Espiritualidade do discipulado - Outros destaques. Site:

(Acesso: 28-02-2010 -16h).

3 - Cf. Milomem, Valmir Nascimento. Por dentro da espiritualidade moderna. Site:

(Acesso: 28-02-2010 -17h).

4 - Gálatas 2, 20. E Cf. Movimento cristão do COLTEC (RCC). Espiritualidade. Site:

(Acesso: 28-02-2010 - 11h25).

5 - Cf. De Castro, Pe. Flávio Cavalca. A Espiritualidade Conjugal e os Compromissos na ENS. Site:

; (Acesso: 28-02-

2010 - 16h).

6 - Cf. Instituto dos Irmãos Marista. Em torno da mesma mesa. A vocação dos leigos maristas de Champagnat. Roma. Ed.: C.S.C.

GRÁFICA. 2009. pág. 34, nº 34.

7 - Cf. Minga, Ir. Teófilo. O que é o ano da Espiritualidade. Site:

(Acesso: 28-02-2010 - 18h45).

8 - Cf. Escorihuela Pujol, Josep Maria; Moral Barrio, Juan e Serra Llansana, Lluís. O Educador Marista. Sua Identidade seu Estilo

Educativo; EDELVIVES (Editorial Luís Vives), Zaragoza, Espanha, 1985, pág. 83.

9 - Cf. . Escorihuela Pujol, Josep Maria; Moral Barrio, Juan e Serra Llansana, Lluís. O Educador Marista. Sua Identidade seu Estilo

Educativo; EDELVIVES (Editorial Luís Vives), Zaragoza, Espanha, 1985, pág. 80.

10 - FURET, Jean-Baptiste. Avis, Leçons, sentences et instructions de Vénérable Père Champagnat. Paris/Lyon, Librairie

Catholique Emmanuel Vitte, 1927. Pág. 425.

11 - Ir. Charles HOWARD. Espiritualidade Apostólica Marista, Circulares, v. XXIX, p. 459.

12 - Regles Comunes, 1852, 2.ª p. XI,2; V 464ss.

13 - FURET, Jean Baptiste. Vida de São Marcelino José Bento Champagnat. São Paulo: Loyola; SIMAR. 1999. Pág. 223.

14 - FURET, Jean Baptiste. Vida de São Marcelino José Bento Champagnat. São Paulo: Loyola; SIMAR. 1999. Pág. 193.

15 - SILVEIRA. Irmão Luiz, FMS. II Capítulo Geral do Instituto dos Pequenos Irmãos de Maria: 1852 – 1853 – 1854. Anexo 2: Guia das

Escolas, p. 204.

16 - Cf. Caderno 4 do Pe. Champagnat. AFM 132.4, p. 33, nº 6.

17 - Cf. Instituto dos Irmãos Marista. Em torno da mesma mesa. A vocação dos leigos maristas de Champagnat. Roma. Ed.: C.S.C.

GRÁFICA. 2009. Pág. 33, nº 33.

18 - Programa Globo Repórter – Ciência e Fé. Direção: Denise Cunha. Exibido em 09 de abril de 2004.

19 - Cf. Instituto dos Irmãos Marista. Em torno da mesma mesa. A vocação dos leigos maristas de Champagnat. Roma. Ed.: C.S.C.

GRÁFICA. 2009. Pág. 26, nº 8, 9 e 10.

20 - Cf. Mariano, José Antônio; Espiritualidade em alta, Site: .

(Acesso: 28-02-2010 - 11h35).

21 - Cf. Mariano, José Antônio; Espiritualidade em alta, Site: .

(Acesso: 28-02-2010 - 11h35).

22 - Cf. Gonçalvez Gimenes, Maria da Gloria Impacto da Espiritualidade na Qualidade de Vida de Pacientes Oncológicos, Site:

. (Acesso: 28-02-2010 - 16h45).

http://br.hsmglobal.com/notas/41773-a-espiritualidade-e-o-

grande-capital-desta-era

http://www.betesdaanapolis.com.br/a-

espiritualidade-do-discipulado/

http://comoviveremos.com/2007/08/02/por-dentro-

da-espiritualidade-moderna/

http://www.coltec.ufmg.br/~mcc/index.htm

http://www.magnificat.srv.br/adm/upload/Espiritualidade%20Conjugal%20e%20ENS%20-%20Pe.%20Cavalca.pdf

http://www.google.com.br/search?hl=pt-

BR&q=Espiritualidade+Marista,+afinal+o+que+%C3%A9%3F&start=20&sa=N

http://adroga.casadia.org/tratamento/espiritualidade_em_alta.htm

http://adroga.casadia.org/tratamento/espiritualidade_em_alta.htm

http://www.oncoguia.com.br/site/interna.php?cat=129&id=2228&menu=54

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