fabiana pina

10
Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP-USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom. Fabiana Pina - Universidade Estadual Paulista Acordo MEC-USAID: ações e reações (1966-1968) A década de 60 foi marcada, entre outras coisas, por acordos assinados entre o Brasil e a USAID (Agency for International Development). Criado no período da guerra fria, este órgão norte-americano tinha como objetivo assessorar países subdesenvolvidos. Essa assessoria ocorreu em várias áreas, como por exemplo, na agricultura com o acordo CONTAP-USAID assinado em 1966 para o treinamento de técnicos rurais. Também se previa o assessoramento na área da educação, em especial, no ensino superior. Também nesse setor, a guerra fria constituía o elemento que dirigia as ações do acordo. Segundo Santos (2005, p. 117), O pano de fundo da contribuição técnica para o ensino superior se transformar em prioridade da USAID foi o conflito EUA versus URSS, pois a chave para que o Brasil permanecesse uma sociedade livre e um país amigo próximo dos EUA estava no ensino superior. De acordo com Fausto, no início da ditadura militar, o Brasil estava em péssimas condições econômicas e, por isso, recebia apoio dos EUA, que não queriam que o país, a exemplo de Cuba, se tornasse comunista. Para Solange, o “auxilio dos EUA para países subdesenvolvidos se deu devido à falta de dinheiro que estes tinham para conseguir consumir os produtos norte- americanos”. A mesma autora definiu a USAID como Agência norte-americana para o desenvolvimento internacional, agência bilateral responsável pelas reações estabelecidas entre os EUA e os países periféricos, que contribuiu decisivamente na ordenação, regulação e concretização de parte da retórica da aliança para o progresso, construindo as decisões quanto às doações e empréstimos em favor dos países periféricos e realizando um novo ajuste entre os países capitalistas. (2005, p.40) Assim, o acordo MEC-USAID, e, principalmente a atuação da USAID, não somente no Brasil, mas em todos os países periféricos, podem ser compreendidos como uma ação dos EUA para garantir a vigência do sistema capitalista nestes países e transferir para estes as concepções e a organização social, política e econômica que prevalecia nos Estados Unidos.

Upload: larissatheiss2468

Post on 20-Oct-2015

13 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de Histria: Poder, Violncia e Excluso. ANPUH/SP-USP. So Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom.

    Fabiana Pina - Universidade Estadual Paulista

    Acordo MEC-USAID: aes e reaes (1966-1968)

    A dcada de 60 foi marcada, entre outras coisas, por acordos assinados

    entre o Brasil e a USAID (Agency for International Development). Criado no

    perodo da guerra fria, este rgo norte-americano tinha como objetivo

    assessorar pases subdesenvolvidos. Essa assessoria ocorreu em vrias reas,

    como por exemplo, na agricultura com o acordo CONTAP-USAID assinado em

    1966 para o treinamento de tcnicos rurais. Tambm se previa o assessoramento

    na rea da educao, em especial, no ensino superior. Tambm nesse setor, a

    guerra fria constitua o elemento que dirigia as aes do acordo. Segundo

    Santos (2005, p. 117),

    O pano de fundo da contribuio tcnica para o ensino superior se transformar em prioridade da USAID foi o conflito EUA versus URSS, pois a chave para que o Brasil permanecesse uma sociedade livre e um pas amigo prximo dos EUA estava no ensino superior.

    De acordo com Fausto, no incio da ditadura militar, o Brasil estava em

    pssimas condies econmicas e, por isso, recebia apoio dos EUA, que no

    queriam que o pas, a exemplo de Cuba, se tornasse comunista. Para Solange, o

    auxilio dos EUA para pases subdesenvolvidos se deu devido falta de

    dinheiro que estes tinham para conseguir consumir os produtos norte-

    americanos. A mesma autora definiu a USAID como

    Agncia norte-americana para o desenvolvimento internacional, agncia bilateral responsvel pelas reaes estabelecidas entre os EUA e os pases perifricos, que contribuiu decisivamente na ordenao, regulao e concretizao de parte da retrica da aliana para o progresso, construindo as decises quanto s doaes e emprstimos em favor dos pases perifricos e realizando um novo ajuste entre os pases capitalistas. (2005, p.40)

    Assim, o acordo MEC-USAID, e, principalmente a atuao da USAID,

    no somente no Brasil, mas em todos os pases perifricos, podem ser

    compreendidos como uma ao dos EUA para garantir a vigncia do sistema

    capitalista nestes pases e transferir para estes as concepes e a organizao

    social, poltica e econmica que prevalecia nos Estados Unidos.

  • Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de Histria: Poder, Violncia e Excluso. ANPUH/SP-USP. So Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom.

    Limitaremos o nosso trabalho ao estudo dos acordos referentes

    educao superior no Brasil que ocorreu especificamente em 10 de junho de

    1966, intitulado: Acordo MEC-USAID de Assessoria para a Modernizao da

    Administrao Universitria. Foi revisto dez meses depois e substitudo por

    outro ttulo: Acordo MEC-USAID de Assessoria do Planejamento do Ensino

    Superior. O contexto nacional no qual o acordo foi assinado pode ser

    considerado um momento significativo dos problemas referentes

    universidade. Problemas de ordem quantitativa, j que a procura pelas vagas na

    universidade era maior do que esta oferecia (assim como hoje) e qualitativos.

    Para Romanelli (1986, p. 209),

    A crise servia de justificativa de interveno (MEC-USAID), mas no passava de um pretexto para assegurar ao setor externo oportunidade para propor uma organizao de ensino capaz de antecipar-se refletindo-a na fase posterior do desenvolvimento econmico.

    O ensino, de acordo com o discurso do presidente Castelo Branco, no V

    Frum Universitrio, deveria preparar cidados de alto nvel cultural que teriam

    a misso de impulsionar o desenvolvimento do pas. O estudante deveria, antes

    de desejar um simples diploma, alcanar amplos conhecimentos que lhe

    permitiriam ser elemento til ao progresso e prosperidade da sociedade. Em

    contrapartida, na Universidade no se poderia permitir o fortalecimento das

    ideologias. Era necessrio um aperfeioamento da comunidade universitria.

    Desse modo, da perspectiva do governo, este acordo era a soluo possvel e

    mais apropriada para uma ao de melhoria do ensino no perodo.

    A modernizao da sociedade era um dos principais objetivos do

    governo e, para alcan-la, o sistema educacional deveria caminhar neste

    sentido. Os Estados Unidos eram o exemplo mximo do sucesso alcanado

    atravs desta modernizao. Por isto, para os governantes, no haveria nada

    mais coerente que seguir o modelo adotado por ele. De acordo com Cunha, A

    modernizao da universidade objetivava nessa perspectiva (re)produzir aqui a

    cincia internacional (EUA), a ser ensinada segundo padres de idntica

    categoria, sem veleidades autonomistas. Na revista Educao e Sociedade

    Veiga escreveu que, no perodo, os Estados Unidos, crescentemente,

    tornavam-se fonte de inspirao de paradigmas educacionais fruto do

    estreitamento das relaes diplomtico-militares e econmicas entre o gigante

  • Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de Histria: Poder, Violncia e Excluso. ANPUH/SP-USP. So Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom.

    desenvolvimento do norte e o subdesenvolvimento do sul (Apud

    ROMANELLI, 1982, p.38). Em sntese, a justificativa do governo estava

    pautada na idia de que para alcanarmos modernizao e o desenvolvimento

    deveramos inclusive seguir os modelos educacionais dos EUA.

    Em 1965 o professor norte-americano Rudolph Atcon realizou um

    estudo sistematizado da situao das universidades brasileiras a pedido do ento

    diretor do ensino superior do ministrio da educao e cultura, Raymundo

    Monis de Arago, que teve o seguinte nome: Rumo reformulao estrutural

    da universidade brasileira. De acordo com Cunha, citando o prprio Atcon

    (...) para que a reformulao ocorresse a universidade deveria se libertar de

    todas as malhas do estado, ter autonomia plena para se desenvolver enquanto

    empresa privada (Apud, CUNHA, 1988, p.139). Atcon defendia o planejamento

    do sistema educacional voltado s necessidades do mercado. Para tatno a

    universidade teria que seguir os seguinte objetivos: primeiramente educao e

    treinamento profissional, pesquisa cientfica e cursos de especializao,

    extenso universitria e educao superior geral.

    O convnio assinado em 1966 apresenta uma sntese da situao

    educacional do perodo, na qual o relatrio citado a cima foi de extrema

    importncia j que o acordo pautou-se vrias de suas consideraes neste

    relatrio. Com base nestes estudos sobre a situao da universidade brasileira, o

    acordo chama a ateno para a necessidade de uma reformulao do ensino que

    seria feita atravs de uma reforma bem organizada e com bases amplas no

    setor da administrao universitria. A assistncia proposta pelo rgo inclua

    consultoria tcnica, uma srie de seminrios a fim de estimular outras

    instituies interessadas a considerar a execuo de programas semelhantes e

    cursos de curta durao nos EUA, para treinamento e especializao de pessoal

    brasileiro necessrio avaliao, adaptao e instituio de novos processos e

    tcnicas administrativas essenciais. A assistncia a princpio no seria para

    todas as universidades, mas somente para aquelas que estavam interessadas e

    preparadas, que j tivessem atingido seu grau de amadurecimento para reforma

    administrativa da universidade.

    O objetivo era estimular e prestar assistncia a um mximo de 18

    universidades brasileiras, pblicas e particulares, nos seus esforos para

    executar e institucionalizar reformas administrativas que resultariam em maior

    economia e eficincia operacional. Para isto, seriam enviados consultores norte-

  • Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de Histria: Poder, Violncia e Excluso. ANPUH/SP-USP. So Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom.

    americanos que teriam como trabalho visitar as instituies determinadas, a fim

    de estabelecer o interesse especifico e as necessidades de reforma.

    Proporcionariam servios de consultoria quelas instituies e realizariam

    seminrios no Brasil sobre problema, tais como controle de custos,

    administrativo-financeira, planejamento fsico de cidades universitrias e

    distribuio de cursos de acordo com os interesses e as necessidades das

    diferentes universidades.

    No segundo convnio, citado no incio deste trabalho, foi dada uma

    nfase maior ao dos brasileiros no programa. A todo instante o convnio

    afirma que as ltimas e definitivas decises em relao s mudanas seriam de

    competncia das autoridades brasileiras. Assim, a esta caberia ainda aprovar ou

    no os planos que seriam elaborados para a reformulao da universidade.

    Mais, ainda, o convnio prev que os planos, sero colocados em execuo

    pelas autoridades brasileiras. Desta forma no bastavam propostas dos

    assessores norte-americanos. Estas propostas deveriam ser aprovadas pelos

    brasileiros responsveis e postas em prtica por eles. No entanto algumas

    questes devem ser feitas: em que consistiam as propostas do acordo? Elas

    abriam caminho para uma nova concepo de funcionamento da universidade?

    Os cursos oferecidos aos brasileiros nos EUA consistiam em que? Qual era a

    concepo de universidade defendia por este americanos? Quem eram os

    brasileiros envolvidos no convnio? O fato que somente atravs do estudo

    minucioso das concepes norte-americanas referentes universidade, dos seus

    objetivos para com a Universidade Brasileira e a anlise das propostas que

    foram efetivadas poderemos compreender melhor o que significou este acordo

    para o ensino superior brasileiro.

    Temos como objetivos neste trabalho mostrar as premissas do acordo

    MEC-USAID, que podem ser resumidas nas propostas do professor Atcon.

    Pretendemos analisar o acordo no interior das lutas polticas da dcada de 1960,

    com o objetivo de mostrar como, para o governo, a efetivao deste acordo era

    uma maneira de conter e, se possvel, acabar com as constantes manifestaes

    dos estudantes que estavam insatisfeitos com as condies universitrias da

    poca. Por ltimo, complementando o nosso trabalho, pretendemos analisar o

    modo como a sociedade brasileira encarou o acordo, examinando tanto suas

    crticas como a opinio dos que o defendiam.

  • Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de Histria: Poder, Violncia e Excluso. ANPUH/SP-USP. So Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom.

    As crticas feitas ao acordo foram muitas. Pelegrini, em seu livro A UNE

    nos anos 60: utopias e prticas polticas no Brasil, analisa a reao da UNE

    diante do acordo. As crticas feitas pelos intelectuais esto em artigos

    publicados em revistas como Revista Civilizao Brasileira. Tambm temos as

    crticas feitas por Jos Nilo Tavares (1980) e Ted Goertzel (1967). Existem

    tambm as publicaes daqueles que defenderam direta ou indiretamente as

    propostas do acordo, como as de Ansio Teixeira e de Newton Sucupira, ambos

    publicados na Revista Brasileira de Estudos Pedaggicos.

    De acordo com Ted Goertzel, o livro base dos planejadores americanos

    de desenvolvimento educacional foi um estudo chamado Educao, Fora-

    humana e Progresso Econmico de Frederico Harbison e Chals Muers. Para

    eles, a educao superior era parte e parcela do processo de desenvolvimento

    econmico e nela estava a fora necessria e capaz para o aumento das

    indstrias. A concepo geral de progresso defendida por eles era o

    empresarialismo, que dava especial importncia s cincias naturais, como

    engenharia, medicina e treinamento empresarial. A maior crtica que o autor

    apresenta a esta concepo est relacionada negao que ela apresenta entre a

    Universidade e o resto da comunidade. Quando os empresrios recomendam,

    com empenho, que as universidades sirvam sociedade, querem dizer servir

    aos grupos dirigentes da sociedade (GOERTZEL, 1967, p.126). Tinham como

    objetivo o treinamento para carreiras especficas em vez do desenvolvimento

    das foras intelectuais gerais. Mas, para os que defendiam o acordo, o

    desenvolvimento econmico era mais lento em alguns pases devido falta de

    fora humana tecnicamente treinada, por isso os pases subdesenvolvidos

    deveriam investir nas cincias que contribuiriam para este lado, como as j

    citadas. Para o autor, o acordo MEC-USAID pretendia formar tcnicos que

    atuariam em setores da sociedade e no na sociedade. No entanto, o autor

    lembra que, diferentemente do que o governo e o rgo norte-americano

    pareciam acreditar a formao de tcnicos no era o nico e nem o fator

    essencial para a industrializao. A concluso do autor a seguinte:

    No meu propsito, contudo, resolver aqui os problemas educacionais

    do Brasil. No entanto, uma concluso certa. Estes problemas so, fora

    de dvida, muito complexos e sutis, e, fora de dvida, importantes

    demais para que possam ser entregues a uma comisso de cinco

  • Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de Histria: Poder, Violncia e Excluso. ANPUH/SP-USP. So Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom.

    planejadores de desenvolvimento americanos (GOERTZEL, 1967,

    p.137).

    Na mesma linha de raciocnio de Goertzel, podemos colocar a Unio

    Nacional dos Estudantes, que tambm se posicionou contra os acordos MEC-

    USAID. Desde abril de 1964, a UNE passou a atuar na clandestinidade at 1968

    (FAUSTO/GORENDER) e nos Fruns realizados por ela que encontramos

    parte de suas concepes. No XXVIII Frum, os estudantes afirmaram que o

    governo militar prope para a universidade, uma universidade e um

    universitrio inteiramente distantes e alienados dos problemas do seu pas e do

    seu povo. Quando comparamos as propostas do governo (pautadas no acordo)

    e a da Unio Nacional dos Estudantes, a diferena entre elas clara e so

    praticamente opostas. A reforma proposta pela Unio Nacional dos Estudantes

    seria a proposta revolucionria, como caracterizada por Goertzel, em

    contraposio proposta empresarialista do governo juntamente com a USAID.

    Para a UNE os acordos MEC-USAID representavam um plano de infiltrao

    imperialista do ponto de vista de uma filosofia poltica que se assimilada, viria a

    proporcionar a manuteno do sistema capitalista. Em decorrncia disto, eles

    lutavam contra o acordo de garantia de investimentos estrangeiros e combatiam

    a integrao do Brasil ao mercado armamentista americano e negavam a

    interveno da Amaznia (PELEGRINE, 1998, p.101). De acordo com Cunha,

    para os estudantes, os objetivos dos convnios MEC-USAID levariam a

    universidade a uma estrutura arcaica e empresarial. No entanto os estudantes

    queriam uma universidade crtica, autnoma, queriam a democratizao do

    ensino, a gratuidade de todos os nveis, vestibulares de habilitao e no de

    seleo e a expanso dos cursos noturnos.

    Em 1968, Carlos Marighella escreveu o Chamamento ao povo

    brasileiro, no qual fez uma pequena citao ao acordo MEC-USAID:

    O acordo MEC-USAID vem sendo posto em prtica pela ditadura, com o propsito de aplicar em nosso pas o sistema norte-americano de ensino e de transformar nossa Universidade em uma instituio de capital privado, onde somente os ricos posam estudar (1968).

  • Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de Histria: Poder, Violncia e Excluso. ANPUH/SP-USP. So Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom.

    Ele tambm se colocava contra o acordo e poderia encaixar-se nos

    setores da sociedade que acreditavam que este acordo levaria privatizao do

    ensino no Brasil (Histria geral da civilizao brasileira).

    Jos Nilo Tavares escreveu um artigo que contou com a colaborao de

    Darcy Ribeiro, no qual eles caracterizaram o acordo como uma forma de

    recolonizao cultural. Para eles o acordo fortaleceu a ideologia democrtica

    entre as novas geraes, aprofundou as bases para o futuro beneficiamento dos

    interesses econmicos e financeiros americanos no pas, criou entre os

    brasileiros a imagem do amigo americano. Alm destes fatores, para os EUA o

    Brasil seria um vasto mercado de consumo de obras didticas, pedaggicas,

    cientficas, propagandsticas e a assistncia educao em longo prazo seriam

    altamente rendosas.

    Podemos ver que a divulgao do acordo provocou reaes contrrias

    por parte de diferentes setores da sociedade. No entanto, houve tambm aqueles

    que direta ou indiretamente defendiam a interveno norte-americana no

    ensino. Ao analisarmos o artigo escrito por Paul Riouer, Reforma e Revoluo

    na Universidade, as propostas que ele apresenta como necessrias para a

    reestruturao da universidade condizem com aquelas defendidas por Atcon e

    pelos assessores norte-americanos; entretanto no h um aprofundamento

    terico nestas propostas como fazem a UNE e Goertzel. O que ele nos apresenta

    so medidas relacionadas estrutura da universidade. Outro artigo publicado na

    mesma revista o de Newton Sucupira A reestruturao das universidades,

    o qual apresenta a justificativa da reestruturao das universidades com

    medidas apresentadas tanto nas concepes norte-americanos quanto nas

    apresentadas por Paul Ricour. So destas crticas e destas propostas que nasce

    parte da Reforma Universitria de 1968. Portanto o que temos nesta reforma

    so resultados de propostas anteriores inclusive aquelas dos assessores norte-

    americanos. Assim, no poderemos falar realmente que o acordo

    assiduamente citado por estes autores e est explcito na Reforma de 1968, mas

    podemos nos questionar sobre as propostas desta Reforma e as defendidas por

    estes autores que esto enraizadas nos fundamentos dos acordos MEC-USAID.

    Parte da nossa estrutura universitria fruto destas anlises apresentadas

    ao longo do trabalho, como por exemplo, a adoo de professores com

    exclusividade e tempo integral, o sistema de crditos e as matrias optativas.

    Cabe questionarmos se seria possvel considerarmos a nossa universidade como

  • Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de Histria: Poder, Violncia e Excluso. ANPUH/SP-USP. So Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom.

    empresarialista ou revolucionria, ou talvez, ainda a resposta a esta pergunta

    nos diria que no h como enquadr-la em nenhum destes rtulos.

    O tema de extrema importncia para quem quer compreender a

    estrutura universitria brasileira atual, j que apresenta projees que chegam

    at nossos dias e questes referentes universidade que ainda hoje esto sem

    suas devidas respostas e conseqentemente sem a sua necessria soluo.

    Como exemplo, podemos citar as consideraes feita por Atcon, ao afirmar que

    a Universidade Brasileira era/ uma universidade elitista e que no foi

    encontrado o ponto de equilbrio entre uma administrao pblica e uma

    administrao privada. Apesar de todos os problemas at aqui arrolados

    preciso pensar tambm que a Universidade Brasileira hoje uma universidade

    relativamente bem sucedida e que assim como parte dos quesitos problemticos

    so resultados do processo histrico social no qual nos propusemos estudar os

    fatores positivos tambm o so.

    Referncias bibliogrficas:

    ALVES, Mrcio Moreira. O beab dos MEC-USAID. Rio de janeiro: Edies Gernasa, 1968.

    ARAPIRACA, Jos Oliveira. A USAID e a educao brasileira: um estudo a partir de uma

    abordagem crtica do capital humano. So Paulo: Cortez, 1982.

    ATCON, Rudolph. Rumos a reformulao estrutural da universidade brasileira. Rio de

    Janeiro: MEC, 1965.

    BRASIL-MEC. Discurso do Senhor Marechal Humberto de Alencar Castello Branco, ao

    encerrar o V Frum Universitrio, em 10 de outubro de 1964, Rio de Janeiro: MEC/DESU,

    1964.

    BURK, Peter. A escola dos Annales 1929-1989. A revoluo Francesa da historiografia. 2

    ed. So Paulo: Ed. Universidade Estadual Paulista, 1991.

    CUNHA, Luiz Antnio. A universidade crtica. Rio Janeiro: Francisco Alves, 1989.

  • Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de Histria: Poder, Violncia e Excluso. ANPUH/SP-USP. So Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom.

    ___________________ A universidade reformanda. Rio de janeiro: Francisco Alves, 1988.

    CUNHA, Luiz e GES, Moacyr de. O golpe na educao. 10 ed., Rio de Janeiro: Jorge Zahar

    Ed, 1999. (Brasil, os anos de autoritarismo).

    FVARO, Maria de Lourdes de A. A universidade brasileira em busca de sua identidade.

    Petrpolis-RJ: Vozes, 1977.

    FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. Educao no Brasil, anos 60. Rio de Janeiro: Edies

    Loyola, 1984. (Coleo Educao).

    FERNANDES, Florestan. Universidade Brasileira: reforma ou revoluo? So Paulo: Alfa-

    Omega, 1975.

    GERMANO, Jos W. Estado militar e educao no Brasil (1964-1985). So Paulo: Cortez,

    Campinas: EDUNICAMPI, 1933.

    GORENDER, Jacob. Combate nas trevas. A esquerda brasileira: das iluses perdidas luta

    armada.

    GOERTZEL, Ted. MEC-USAID: Ideologia de desenvolvimento americano aplicado

    educao superior brasileira. IN: Revista Civilizao brasileira, Rio de Janeiro, VIII, n. 14, p.

    123-137, jul. 1967.

    LEGOFF, Jacques e NORA, Pierre. Histria: novas abordagens. 4 ed. Rio de Janeiro:

    Francisco Alves, 1995.

    NOGUEIRA, Francis Mary G. Ajuda externa para a educao brasileira: da USAID ao

    Banco Mundial. Cascavel: EDUNIOESTE, 1999.

    RMOND, Ren (org.). Por uma Histria Poltica. Rio de Janeiro: UFRJ, 1996.

    ROMANELLI, Otaza de Oliveira. Histria da educao no Brasil (1930-1973). Petrpolis:

    Vozes, 1986.

    SANTO, der Fernando. O ensino superior no Brasil e os Acordos MEC-USAID: o

    intervencionismo norte-americano na educao brasileira. Maring: Universidade Estadual

    de Maring, 2005.

  • Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de Histria: Poder, Violncia e Excluso. ANPUH/SP-USP. So Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom.

    SUCUPIRA, Newton. A reestruturao das Universidades Federais. IN: Revista Brasileira

    de Estudos Pedaggicos, Rio de Janeiro, VL, n. 111 e 112, p.21-83, jul/set 1968

    TAVARES, Jos Nilo. Educao e imperialismo no Brasil. IN: Revista Educao e Sociedade,

    So Paulo, VII, n. 7, p. 5-53, setembro 1980.

    TEXEIRA, Ansio. Uma perspectiva da educao superior no Brasil. IN: Revista Brasileira

    de Estudos Pedaggicos, Rio de Janeiro, VL, n. 111 e 112, p. 21-83, jul/set 1968.