dissertação fabiana

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1. INTRODUOA nova fronteira de ocupao da Amaznia Brasileira estaria constituindo-se por frentes localizadas, impulsionadas por uma maior diversidade de atores e por diferentes motivaes econmicas. Possui como origem um contexto diferenciado daquela das dcadas de 1960 e 1970, quando o governo federal induziu a formao da fronteira agrcola na Amaznia, com seu prolongamento at as dcadas de 1980 e 1990 (BECKER, 2005). Neste contexto de ocupao, configura-se o arco de desmatamento em avano contnuo, representando uma extensa regio que cobre a poro leste, sudeste e sul da Amaznia Brasileira, entre os estados do Par, Mato Grosso e Rondnia. No sul do

Amazonas a presso que estimula seu avano se origina nos estados vizinhos, dentre eles Rondnia, que j conheceu os processos de desmatamento intensos relacionados expanso da fronteira agropecuria e sua consolidao. O municpio de Machadinho dOeste, fazendo parte do arco de desmatamento amaznico, apresenta como processo marcante de ocupao a implantao de projetos de assentamentos governamentais diferenciados. So projetos que possibilitaram estudos prvios de pedologia e topografia e delimitao de lotes agrcolas acompanhando a topografia do terreno, em contraste com a simples demarcao em forma de espinha de peixe, aplicado na maioria de outros assentamentos em Rondnia. Outro diferencial de ocupao refere-se a delimitao de unidades de conservao de uso sustentvel, a partir de reservas florestais agrupadas, dispostas em blocos (BATISTTELA & BRONDIZIO, 2001). So unidades de conservao que tm funcionado como uma barreira contra o avano do desmatamento. Entretanto, as ameaas do desmatamento ilegal transformaram essas unidades em reas sob forte presso, dada as suas respectivas localizaes no arco de desmatamento amaznico. O processo intenso de antropizao ocorrido nas ltimas dcadas no municpio tem proporcionado condies para ajustes morfodinmicos na paisagem em funo da substituio da cobertura vegetal natural por cultivos agrcolas e, atualmente, tambm por pastagens. Nessas tendncias de ajustes tem aumentado escoamento superficial das guas pluviais e iniciado processos erosivos induzidos acelerados, tendo como conseqncia assoreamentos e degradao na qualidade dos solos e guas, prejudicando uso futuro da terra e a biodiversidade. Desta forma, o trabalho em apreo visa a compreenso do processo de ocupao do municpio de Machadinho dOeste e sua relao com a degradao ambiental e social com a

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anlise do equilbrio natural da paisagem (eroso natural ou geolgica) e processos erosivos acelerados induzidos como ajustes morfodinmicos no municpio.

1.1. LOCALIZAO DA REA DE ESTUDO O municpio de Machadinho dOeste localiza-se no nordeste de Rondnia (Figura 1), entre as coordenadas geogrficas 62 33 e 61 27 de longitude oeste e 8 34 e 9 49 de latitude sul. Apresenta como limites os estados do Amazonas (a norte) e Mato Grosso (a leste) e os municpios rondonienses Vale do Anari (a sul), Cujubim, Rio Crespo e Ariquemes (a oeste). O acesso rea pode ser feito a partir de Porto Velho pela rodovia federal asfaltada BR-364 em direo sul do estado. Aps percorrer 200 km at a cidade de Ariquemes, seguese mais 150 km pelas rodovias estadual no pavimentadas RO-257 e RO-133, at a rea de estudo.

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2. MTODOS, ETAPAS E MATERIAIS DA PESQUISA2.1. MTODO DE ANLISE As realidades existentes no municpio de Machadinho dOeste demonstram as interferncias geradas pelas relaes entre o local e o global. Percebe-se que a paisagem do municpio encontra uma organizao desigual em suas pores, resultante de aes antrpicas exercidas ao longo dos anos e suas conseqncias de desequilbrio morfodinmico. De acordo com Amorim (2007) so nos recortes regionais que a manifestao do poder poltico encontra espaos para territorializar-se, o que promove um ordenamento do territrio usado. O estudo da categoria regio na geografia, como categoria de anlise do trabalho em apreo, se configura em um conceito chave que rege significativas particularidades e peculiaridades espaciais, haja vista as transformaes que ocorrem no espao sejam elas polticas, sociais, culturais, econmicas e/ou ambientais.

2.2. MTODOS DE OBTENO DOS DADOS O desenvolvimento da pesquisa dividiu-se em trs etapas na busca da aquisio de dados. Na primeira etapa foram realizados levantamento bibliogrfico e elaborao de mapas temticos e de vulnerabilidade natural eroso. Na segunda etapa, com os trabalhos de campo, caracterizou-se o meio fsico, sua dinmica e suas relaes com a ocupao da rea, com vistas ao entendimento morfodinmico e validao dos mapas e dados obtidos no geoprocessamento. Na terceira etapa realizaram-se os estudos e anlises de granulometria, mineralogia e petrografia das amostras coletadas no campo, obtendo-se dados mais detalhados para a avaliao da evoluo da eroso acelerada, bem como para o entendimento do contexto e relaes evolutivas dos Campos Amaznicos.

Primeira etapa - Levantamento bibliogrfico: foi realizado um levantamento de informaes bibliogrficas disponveis abrangendo o tema, com a consulta do acervo bibliogrfico de instituies pblicas e privadas atuantes no estado, tanto em Porto Velho como em Machadinho dOeste, incluindo, tambm, a biblioteca virtual cientfica Scientific Electronic Library Online SCIELO. - Elaborao de mapas temticos e de vulnerabilidade eroso: para a elaborao desses mapas visando interpretao dos dados do meio fsico, obtiveram-se as bases de dados do

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PLANAFLORO (RONDNIA, 2002b), na escala de 1: 250.000 em formato shapefile, disponibilizados pelo Centro Tcnico e Operacional de Porto Velho do Sistema de Proteo da Amaznia SIPAM e da CPRM na escala de 1:1.000.00 (QUADROS & RIZZOTTO, 2007). Com esses dados disponveis, utilizou-se os softwares TerraView para melhor visualizao dos temas e o SPRING por ser um programa que possibilita operar em vrias escalas e administrar dados vetoriais e matrizes, alm de proporcionar o cruzamento de dados atravs do LEGAL/SPRING. Para a apresentao dos mapas temticos utilizou-se o software ArcGIS. O mtodo adotado para a gerao dos mapas de vulnerabilidade natural eroso foi baseado na proposta de Crepani et al. (1996), que recentemente tem sido aplicado em outras reas em Rondnia (SILVA & MANIESI, 2005) e no Acre (CHELLY & MANIESI, 2008). Desta forma, as unidades de paisagens so analisadas a partir do conceito de ecodinmica de Tricart (1977), utilizando-se informaes obtidas a partir das imagens de satlites para estudos integrados. Esse mtodo estabelece uma relao entre os processos de morfognese e pedognese, onde ao predominar a morfognese prevalecem os processos erosivos modificadores das formas de relevo, e ao predominar a pedognese prevalecem os processos formadores de solos. Na seqncia dos trabalhos integraram-se os mapas temticos dos diversos componentes ambientais (clima, geologia, geomorfologia, pedologia e vegetao), atribuindose valores de vulnerabilidade (relativos e empricos) a cada tema de anlise. Tais valores consideram os processos que influenciam no desenvolvimento da pedognese e/ou morfognese e convencionados nas seguintes classes: estvel, moderadamente estvel, medianamente estvel/vulnervel, moderadamente vulnervel e vulnervel. Com os valores atribudos para as unidades de cada mapa temtico reinterpretado sobre as imagens de satlite, so feitas as integraes destes mapas atravs da lgebra de mapas (BARBOSA, 1997) em um SIG, gerando o mapa de vulnerabilidade natural eroso. Desta forma, Crepani et al. (1996) atriburam valores de estabilidade para cada unidade (Tabela 1) para expressar a vulnerabilidade natural eroso. Esse modelo aplicado a cada tema individualmente dentro de cada uma das unidades da paisagem natural. As unidades mais estveis apresentaro valores mais prximos de 1,0, as intermedirias ao redor de 2,0 e as unidades de paisagens mais vulnerveis estaro prximas de 3,0.

6 Tabela 1. Avaliao da vulnerabilidade das unidades de paisagem natural com base em Tricart (1977). Fonte: Crepani et al. (1996). UNIDADE Estvel Intermediria Instvel RELAO PEDOGNESE/MORFOGNESE Prevalece a pedognese Equilbrio entre pedognese e morfognese Prevalece a morfognese VALOR 1,0 2,0 3,0

Segunda etapa - Trabalhos de campo: esta atividade visou o reconhecimento da rea, verificar os tipos de uso e ocupao do solo, detectar tipos de degradao ambiental e processos de eroso acelerada e reconhecimento in loco das unidades caracterizadas em seus respectivos mapas temticos. Com a disponibilidade dos mapas obtidos atravs de tcnicas de geoprocessamento, os trabalhos de campo auxiliaram na caracterizao e validao das classes de vulnerabilidade natural eroso, obteno de dados envolvendo processos de eroso acelerada e suas relaes com a geologia, geomorfologia, pedologia, vegetao e atividades antrpicas. Os trabalhos de campo foram desenvolvidos em um total de 7 dias, distribudos em duas etapas. Uma primeira etapa (10 a 12/05/2007) refere-se a uma fase de reconhecimento e primeiros registros fotogrficos. Uma segunda etapa (17 a 20/06/2008) onde se teve a

oportunidade de se realizar a descrio detalhada dos pontos visitados com coleta de amostras e registros fotogrficos. No campo foram realizados 26 pontos georreferenciados de observao e descrio, dentre os quais 7 pontos com registros fotogrficos, 10 pontos com registros fotogrficos e coletas de amostras e 1 ponto com coleta de amostra e posterior anlise em laboratrio e 8 pontos com registros fotogrficos, coletas de amostras e posterior anlise em laboratrio. No total foram coletadas 26 amostras, dentre elas 8 de rochas e 18 de sedimentos e solos, bem como foram obtidas 813 fotografias no campo, e, no laboratrio, 65 fotomicrografias e 427 fotografias dos gros de sedimentos e solos na frao areia. A anlise da natureza dos materiais ocorreu atravs de observaes diretas no campo e trabalhos complementares com a interpretao de lminas petrogrficas e granulomtricas em laboratrio. Como auxlio para os trabalhos de campo foram obtidos dados georreferenciados no GPS e foram posteriormente integrados a um SIG, gerando informaes para a elaborao dos mapas temticos e de localizao.

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Terceira etapa (trabalhos no laboratrio) Anlises petrogrficas: inicialmente esta etapa de trabalho voltou-se para a descrio e anlises petrogrficas mesoscpicas, com o objetivo de selecionar amostras para o posterior exame microscpico. Para as trs rochas selecionadas foram confeccionadas sees delgadas (MCH-9; MCH-15 e MCH-16), utilizando-se dos equipamentos laboratoriais da CPRM de Porto Velho e Manaus. As sees delgadas foram examinadas na CPRM/Porto Velho, com auxlio de um microscpio petrogrfico binocular sob luz polarizada. Esses estudos permitiram a caracterizao microscpica da mineralogia, feies texturais e estruturais das rochas, como estudado por Maniesi (1997), Maniesi & Oliveira (1997) e Maniesi & Oliveira (2002), alm da identificao dos constituintes detrticos e autignicos e a avaliao dos percentuais modais de seus constituintes minerais. A preparao inicial da elaborao de sees delgadas foi realizada na CPRM de Porto Velho, com cortes na rocha em fatias, com a menor espessura possvel e tamanhos prximos a 2 x 4 cm. Para a etapa seguinte as fatias de rocha foram encaminhadas para a CPRM de Manaus para desbastamento da amostra com p abrasivo na politriz at o seu rebaixamento a uma espessura na ordem de 0,03 mm, verificada na cor de interferncia de gros de quartzo. Para amostra MCH-9 por tratar de uma rocha frivel, teve-se a necessidade de um cozimento prvio com blsamo do Canad num recipiente durante certo tempo e depois resfriada. Com a penetrao do blsamo nas fraturas e poros da rocha, produziu-se a sua cimentao e a seguir foi serrada, seguindo, a partir de ento, o mesmo mtodo para as demais amostras. Anlises granulomtricas: as anlises granulomtricas foram realizadas para identificar as diferentes propores entre areia e silte+argila dos materiais coletados. A caracterizao granulomtrica realizada no laboratrio da CPRM de Porto Velho, com a utilizao de lupa binocular. Levou-se em conta as anlises de populaes de partculas, ou seja, a medida de freqncias relativas de partculas dentro de intervalos de tamanhos. O resultado obtido representa a freqncia relativa com que os diferentes tamanhos entre um limite superior e um limite inferior esto presentes na populao de partculas. O mtodo empregado foi o de peneiramento a seco, utilizando-se sries padronizadas de peneiras, com dimetros conhecidos de abertura de suas malhas compreendidos nas classes de areia muito grossa (1 a 2 mm), areia grossa (0,5 a 1 mm), areia mdia (0,25 a 0,50 mm),

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areia fina (0,125 a 0,250 mm) e areia muito fina (0,062 a 0,125 mm), da escala granulomtrica segundo a classificao de Wentworth (1922). As peneiras selecionadas foram colocadas uma sobre a outra, em ordem descendente de abertura da tela, com uma tampa e um fundo, possuindo um encaixe, de modo que no haja perdas de material. A massa de material sedimentar foi suficiente para fornecer massas significativas em cada tela. O conjunto levado a um dispositivo vibrador e deixado vibrar por um tempo necessrio para que haja a separao das partculas de diferentes tamanhos. Anlises mineralgicas: estas anlises foram realizadas com o auxlio de em lupa binocular nos intervalos granulomtricos da frao areia, em seis amostras selecionadas para anlises granulomtricas (MCH-4, MCH-7, MCH-8, MCH-9, MCH-18 e MCH-22). Para cada classe granulomtrica, desde areia muito grossa a areia muito fina foram observadas as fraes na lupa binocular, levando-se em conta as caractersticas dos gros e o grau de arredondamento, bem como para determinao mineral a partir de suas propriedades como: cor, brilho, clivagem, magnetismo, trao, dureza e transparncia.

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3. O MUNICPIO DE MACHADINHO DOESTEO municpio de Machadinho dOeste surgiu como NUAR - Ncleo Urbano de Apoio Rural do Projeto de Colonizao Machadinho (Fotografia 1), implantado pelo Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria - INCRA, em 1982, como parte do POLONOROESTE, cujo nome foi dado em homenagem ao importante rio, afluente do rio Machado, que corta a rea do projeto (FILHO, 1995). At 1987 a rea de Machadinho dOeste fazia parte dos municpios de Ariquemes, Jaru e Ji-Paran. Somente em 1988 ele se tornou municpio pela Lei 198 de 11/05/88, com seus limites ampliados, resultando uma rea total de 8.556 km2, sendo ocupada por 32.214 habitantes, segundo o senso de 2008 (IBGE, 2008b).

Fotografia 1. Viso geral do Ncleo Urbano de Apoio Rural - NUAR Machadinho, no ano de 1986. Fonte: Foto obtida na Unidade Avanada do INCRA de Machadinho dOeste, autor desconhecido.

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3.1. INFLUNCIA DOS PROGRAMAS DE COLONIZAO NOS MODOS DE OCUPAO NO MUNICPIO DE MACHADINHO DOESTE Em 1966 foi iniciada uma nova fase dos programas de desenvolvimento do governo brasileiro para a explorao econmica da regio amaznica. O foco do planejamento de desenvolvimento regional foi deslocado para a regio relativamente isolada do norte do pas (KOHLHEPP, 2002). Com a finalidade de promover, executar e controlar a reforma agrria o INCRA disps, em 1970, de um esquema de colonizao em larga escala para a maior poro do espao nacional: a Amaznia. Os projetos recentes de colonizao oficial se iniciaram com o PIN (Programa de Integrao Nacional), prevendo a sua colonizao numa faixa de 100 km de cada lado a cada rodovia federal (BECKER, 1998). Outros projetos foram implantados cada um com um grau diferente de responsabilidade do INCRA, so eles: PIC (Projeto Integrado de Colonizao), PA (Projeto de Assentamento) e PAR (Projeto de Assentamento Rpido). O PIC teve como objetivo organizar o assentamento, inclusive com assistncia financeira e tcnica aos colonos, geralmente assentados em grandes extenses de rea, envolvendo significativo nmero de famlias. O PA e PAR foram criados visando a regularizao de glebas rurais com recursos federais disponveis basicamente para a demarcao topogrfica, sem haver o aporte de recursos para implantao de infra-estrutura bsica. Desta forma, a atuao do Estado se restringe a simples demarcao e titulao das parcelas ocupadas espontaneamente. De acordo com Becker (1998), para a ocupao rpida do territrio dois instrumentos bsicos foram utilizados: a) a consolidao da rodovia BR-364, que permitiu canalizar os fluxos de agricultores expropriados pela modernizao agrcola do sul do pas; b) o PIC (Projeto Integrado de Colonizao) que apresentou um significativo efeito-demonstrao. Isto em funo de um pequeno nmero de parceleiros que foram assentados com a assistncia do Estado, atraindo grande massa de populao que espontaneamente se assenta com suas prprias mos de acordo com o modelo oficial, sendo posteriormente a sua situao regularizada. Em contrapartida, o fluxo populacional excedeu em muito a capacidade de controle do INCRA, obrigando o Estado a se adaptar, recorrendo a novas formas de assentamento cada vez com menores lotes (50 ou 20 ha, em vez de 100) e menor investimento do Estado. A procura de um pedao de terra para plantar, mais de 20.000 brasileiros migraram para Rondnia somente entre janeiro e fevereiro de 1987, vindos de diversas partes do

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territrio nacional. Apesar das dificuldades crescentes que enfrenta o estado, o mito da terra prometida continua mobilizando e atraindo homens e mulheres de todo o pas, sobretudo os marginalizados pelo processo de modernizao da agricultura do centro-sul do pas (MIRANDA et al., 1998). Dois momentos se identificam no processo. O primeiro relaciona-se aos projetos do tipo PIC, onde se tinha maior assistncia ao colono e localizaram-se nos estados do Par e Rondnia. Quando o fluxo de migrantes tornou-se no controlado intensificaram-se os

conflitos e potencializaram-se ainda mais com a crise do final dos anos 70. Em um segundo momento, multiplicaram-se rapidamente os assentamentos, porm sem assistncia aos colonos. So situaes que ocorreram desde o fim da dcada de 1970 at o incio da dcada de 1980 nos estados de Rondnia, Acre, Amazonas e Roraima, e, de modo simultneo, o governo delegava iniciativa privada os projetos de colonizao (BECKER, 1998).

3.1.1. POLONOROESTE e o Projeto Machadinho Em maio de 1981 criado o Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil (POLONOROESTE), como tentativa de racionalizar quadro regional de ocupao. Com recursos do governo brasileiro e do Banco Mundial, sob a coordenao da Superintendncia de Desenvolvimento do Centro-Oeste (SUDECO), o POLONOROESTE abrangeu a rea de influncia da rodovia BR-364, entre Cuiab e Porto Velho. Teve os seguintes objetivos principais: contribuir para a maior integrao nacional; promover a adequada ocupao demogrfica da regio noroeste do Brasil, absorvendo populaes economicamente marginalizadas de outras regies e proporcionando-lhes emprego; aumentar a produo da regio e a renda de sua populao; reduzir as disparidades de desenvolvimento intra e inter-regionais; assegurar o crescimento da produo em harmonia com as preocupaes de preservao do sistema ecolgico e de proteo s comunidades indgenas. A expectativa do POLONOROESTE era destinar os recursos na ordem de US$ 1.288.000.000,00 prioritariamente para infra-estrutura de transporte, que inclua a reconstruo e pavimentao dos 1450 km da BR-364 entre Cuiab e Porto Velho (WORLD BANK, 1992). Dentre as aes do programa, incluiu a implantao de dezenas de projetos de colonizao agrcola, como o de Machadinho dOeste, visando o assentamento de pequenos agricultores sem-terras para a prtica de agricultura familiar (RONDNIA, 2002a). O Projeto de Assentamento Machadinho d Oeste foi criado em 1980 e implantado em 1982 atravs do POLONOROESTE. A primeira fase de implantao do projeto (MATTOS &

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YOUNG, 1991) foi desenvolvida em uma rea 209.000 ha, com 2.934 lotes para colonos, divididos em 4 glebas, alm de um ncleo urbano principal (2.000 ha), um aeroporto (59 ha), 10 ncleos secundrios (953 ha) e 17 reservas florestais (68.000 ha). Em funo dos estudos pedolgicos e topogrficos previamente realizados, o projeto de Machadinho dOeste inovou no desenho de sua grade de propriedades. Enquanto a maioria dos assentamentos rurais de Rondnia foi implantada seguindo o modelo espinha de peixe, no projeto Machadinho as estradas e lotes acompanharam sempre que possvel a topografia. Alm disso, o projeto tambm incluiu as reservas florestais agrupadas, dispostas em blocos, que posteriormente foram decretadas como Reservas Extrativistas Estaduais (BATISTTELA & BRONDIZIO, 2001). Na seqncia da poltica de colonizao da Amaznia, novos projetos foram implantados e regularizados pelo INCRA, e, a partir do ano de 1995, o municpio teve a participao em mais 13 outros projetos de assentamentos, so eles: Machadinho, Pedra Redonda, Santa Maria I, Tabajara, Unio, Santa Maria II, Tabajara II, Lajes, Cedro Jequitiba, Amigos do Campo, Asa do Avio, Maria Mendes e o Projeto de Desenvolvimento Sustentado Agrrio Cernambi (Figura 2).

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3.1.2. PLANAFLORO O PLANAFLORO (Plano Agropecurio e Florestal de Rondnia) foi o projeto sucessor do POLONOROESTE, sendo elaborado e negociado pelo governo do estado entre 1988 e 1991, aprovado pelo Senado Federal em janeiro de 1993, e teve seu desenvolvimento at dezembro de 2002 (RONDNIA, 2002a). Em face das circunstncias, o PLANAFLORO se direcionou para a consolidao da infra-estrutura instalada e conservao ambiental. O objetivo era viabilizar a ocupao econmica e auto-sustentada de Rondnia, por meio da melhoria da qualidade de vida dos produtores rurais e do manejo adequado dos recursos naturais, tendo como pblico alvo os pequenos produtores rurais, seringueiros, pescadores e populaes indgenas. Para subsidiar a elaborao do PLANAFLORO foi idealizado o zoneamento socioeconmico e ecolgico como uma estratgia para reverter os problemas sociais e ambientais causados pela expanso desordenada da fronteira agrcola. Sua primeira

aproximao ocorreu ainda durante o POLONOROESTE, entre 1986 e 1988, com escala de trabalho e representao de 1:1.000.000. Entre 1996 e 1998 foram realizados estudos para subsidiar a elaborao da segunda aproximao do zoneamento socioeconmico e ecolgico de Rondnia, que foi concluda em 1999 e instituda pela Lei Complementar 233, de 06 de junho de 2000, utilizando-se escala de trabalho de 1:250.000 e representao de 1:1.000.000. O resultado desta segunda aproximao foi a definio de trs zonas para todo o estado, sendo a primeira dividida em quatro, a segunda em duas e a terceira em trs subzonas. Na rea do municpio de Machadinho dOeste esto delimitadas as Subzonas 1.1; 1.2; 1.3; 2.1; 3.1 e 3.2, com as seguintes caractersticas: Subzona 1.1 reas com alto nvel de ocupao humana e alto potencial natural (solo com boa aptido agrcola e com baixa suscetibilidade a eroso), onde o uso da floresta natural j no pode ser feito, dado o elevado nvel de antropismo. Subzona 1.2 mdio nvel de ocupao humana (potencial social), todavia em processo acelerado de ocupao agropecuria, com converso da floresta, mais ainda predominando a cobertura florestal natural, onde a aptido agrcola preponderante regular, a vulnerabilidade natural eroso predominantemente baixa e mdia, recomendou-se regularizao fundiria, mas com controle de explorao florestal e do desmatamento. Subzona 1.3 reas onde predomina a cobertura vegetal natural, cujo processo de ocupao agropecuria incipiente, com expressivo potencial florestal, com aptido agrcola predominantemente restrita, mdio nvel de suscetibilidade eroso, recomendou-se que as

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atividades agropecurias existentes podem ser mantidas, mas sua expanso no deve ser estimulada. Subzona 2.1 reas onde o nvel de ocupao humana pouco expressivo ou inexpressivo e a suscetibilidade eroso significativa, recomendou-se que sejam exploradas em seu estado natural ou conservadas. Nestas zonas os estudos indicaram existncia de espcies raras de animais ou vegetais ou ambientes raros. Subzona 3.1 reas constitudas por unidades de conservao do uso sustentvel. Subzona 3.2 reas constitudas por unidades de proteo integral. No perodo do PLANAFLORO pores do municpio de Machadinho dOeste foram constitudas por 18 unidades de conservao estaduais, com a finalidade de conservar a natureza. Posteriormente, em 2006, uniram-se a estas unidades o Parque Nacional Campos Amaznicos e a Reserva Biolgica Jaru, ambas como unidade de conservao federal (Figura 3). So unidades de conservao divididas em dois grupos com caractersticas especficas,

so eles: Unidades de Proteo Integral e Unidades de Uso Sustentvel.

a) Unidades de Proteo Integral: nestas unidades admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, fazendo parte no municpio as seguintes unidades: Parque Nacional e Reserva Biolgica. - Parque Nacional: tem como objetivo a preservao de ecossistemas naturais de grande relevncia ecolgica e beleza cnica, possibilitando a realizao de pesquisas cientficas e o desenvolvimento de atividades de educao e interpretao ambiental, de recreao em contato com a natureza e de turismo ecolgico (MMA, 2004). No municpio tem-se como Parque Nacional os Campos Amaznicos, criado em 21 de junho de 2006, com 873.570 mil hectares. Abrange os municpios de Manicor e Nova Aripuan no Amazonas, Machadinho dOeste em Rondnia e Colniza no Mato Grosso. Abrange ainda os trechos dos rios Roosevelt, Guaribas, Branco, Madeirinha e Ji-Paran, estando inserida no arco do desmatamento.

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O parque composto por trs blocos separados por uma faixa de cinco quilmetros de cada lado da estrada do Estanho que cruza a unidade de conservao. Protege uma enorme variedade de ecossistemas, incluindo diferentes formaes florestais, bem como trata-se de uma das maiores manchas de cerrado os "campos" de toda Amaznia. - Reserva Biolgica: tem como objetivo a preservao integral da biota e demais atributos naturais existente em seus limites, sem interferncia humana direta ou modificaes ambientais, excetuando-se as medidas de recuperao e seus ecossistemas alterados e as aes de manejo necessrias para recuperar e preservar o equilbrio natural, a diversidade biolgica e os processos ecolgicos naturais (MMA, 2004). Como representante desta unidade tem-se a Reserva Biolgica Jaru, criada pelo decreto Federal 83.716 de 11 de julho de 1979, e ampliada em 2006 incorporando reas de Machadinho d Oeste. Est situada na parte leste do municpio e encontra-se drenada pelos tributrios da bacia hidrogrfica do rio Machado. Abrange os municpios de Machadinho dOeste, Ji-Paran, Vale do Anari, Ouro Preto (RONDNIA, 2002a).

b) Unidades de Uso Sustentvel: o objetivo bsico das Unidades de Uso Sustentvel compatibilizar a conservao da natureza com o uso sustentvel de parcela dos seus recursos naturais. Esto representadas no municpio de Machadinho dOeste pela Reserva Extrativista e pela Floresta Estadual de Rendimento Sustentado. - Reserva Extrativista: trata-se de uma rea utilizada por populaes extrativistas tradicionais, cuja subsistncia baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistncia e na criao de animais de pequeno porte. Tem como objetivos bsicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populaes, e assegurar o uso sustentvel dos recursos naturais da unidade (MMA, 2004). Das 25 Reservas Extrativistas atualmente existentes em Rondnia, 16 fazem parte do municpio de Machadinho dOeste (Tabela 2) onde 15 delas foram originadas a partir de reas de antigas Reservas Florestais criadas em blocos no Projeto de Assentamento Machadinho (RONDNIA, 2002a). Esto distribudas de forma aleatria, sem conexo entre elas.

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Tabela 2. Reservas Extrativistas do municpio de Machadinho dOeste. Fonte: Rondnia (2002a) e *SIPAM (2006). UNIDADE DECRETO DE CRIAO ESTADUAL 7095 de 04/091995 7106 de 04/09/1995 7105 de 04/09/1995 7097 de 04/09/1995 7109 de 04/09/1995 7101 de 04/09/1995 7100 de 04/09/1995 7102 de 04/09/1995 7096 de 04/09/1995 7103 de 04/09/1995 7099 de 04/09/1995 7098 de 04/09/1995 7107 de 04/09/1995 7108 de 04/09/1995 7104 de 04/09/1995 REAS (HECTARES) 8.923,2090 18.100,00 10.200,00 600,3607 802,5166 815,4633 1.758,0759 1.135,1793 9.503,1284 5.566,2166 2.450,1162 1.448,9203 882,2141 537,4691 3.188,0291 115.278,7366 NMERO REA COM DE VEGETAO HABITANTES NATURAL (%) 10 100 181 97,94 27 98,89 04 98,94 09 99,78 28 99,48 13 97,58 03 89,51 66 98,59 18 100 13 99,39 16 96,49 09 99,17 04 98,45 No h dados 98,8 139 97,5*

ANGELIM AQUARIQUARA CATANHEIRA FREIJ GARROTE IP ITABA JATOB MARACATIARA MASSARANDUBA MOGNO PIQUI ROXINHO SERINGUEIRAS SUCUPIRA RIO PRETO-JACUND 7336 de 17/01/1996

- Floresta Estadual de Rendimento Sustentado (FERS): uma rea natural que abriga populaes tradicionais, cuja existncia baseia-se em sistemas sustentveis de explorao dos recursos naturais desenvolvidos ao longo de geraes e adaptados s condies ecolgicas locais, desempenhando um papel fundamental na proteo da natureza e na manuteno da diversidade biolgica (MMA, 2004). No municpio de Machadinho dOeste esto delimitadas as FERSs Rio Machado e a Cedro. A FERS Rio Machado foi criada pelo Decreto Estadual 4571 de 23 de maro de 1990, situada na poro norte do estado e com uma rea de 115.750,3359 ha, compreende os municpios de Porto Velho e Machadinho dOeste. A FERS Cedro, por sua vez, foi criada pelo Decreto Estadual 7601 de 08 de outubro de 1996 e est situada no municpio de Machadinho dOeste com uma rea de 2.566,743 ha.

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3.2. USO E OCUPAO DO SOLO O municpio de Machadinho dOeste apresenta como processo marcante de ocupao a implantao de projetos de assentamentos governamentais diferenciados. So projetos que possibilitaram a delimitao de unidades de conservao de uso sustentvel e integral, bem como lotes agrcolas e estradas acompanhando a topografia do terreno, em contraste com a simples demarcao em forma de espinha de peixe aplicado na maioria dos assentamentos em Rondnia. Trata-se de um modo de ocupao que tem direcionado a configurao das atividades desenvolvidas inicialmente ligadas agricultura e a explorao madeireira e, posteriormente, a pecuria. As atividades extrativistas tambm se mostram de importncia significativa no municpio. So unidades ocupadas de modo sustentvel por populaes tradicionais, com a prtica de um modelo de uso e ocupao bem diferente do que se observa no entorno dessas unidades, tendo como principal produto explorado a borracha, alm da castanha e leo de copaba. A ocupao dos lotes instalados pelo Projeto de Assentamento Machadinho no foi aleatria. No incio da ocupao (dcada de 1980), aps desmatar uma parte do seu lote, o agricultor ocupava a maior parte do seu tempo com cultivo de culturas anuais. As reas com culturas perenes, capoeira e pastagens ficavam restritas a poucos hectares. Com o passar do tempo, o crescimento da rea destinada s culturas anuais diminuiu, dando lugar s culturas perenes, pastagens e capoeira. A rea ocupada por culturas perenes tem ultrapassado a de culturas anuais por volta de 5 anos de idade do lote. Aps 6 anos, a tendncia dos lotes tem sido apresentar maior rea ocupada por pastagens e capoeira (MATTOS & YOUNG, 1991). Nessas circunstncias agrcolas foi implantado na sede da EMBRAPA em Machadinho d Oeste o campo experimental de Sistemas Agroflorestais (SAFs) durante o assentamento de agricultores pelo Projeto Integrado de Colonizao do INCRA, com os trabalhos executados atravs de recursos do POLONOROESTE. Trata-se de uma alternativa monocultura agrcola, por serem capazes de manter a fertilidade dos solos e a sustentabilidade (ALMEIDA et al., 1995). O SAFs de Machadinho dOeste ocupa uma rea de 208 ha, desse total, somam-se 170 hectares com mata virgem e espcies agrcolas nativas e outras adaptveis. As dificuldades da implantao da agricultura familiar e de entender a dimenso e a dinmica desta ocupao agrcola cada vez mais consolidada na Amaznia e seu impacto

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ambiental proporcionou em 1982 o desenvolvimento de um projeto de monitoramento ambiental (EMBRAPA/ECOFORA) de mdio e longo prazo, atravs do acompanhamento de um nmero significativo de propriedades rurais no municpio de Machadinho dOeste. Teve como objetivo a caracterizao e o monitoramento dos sistemas de produo praticados pelos pequenos agricultores e tambm a elaborao de uma srie temporal e espacial de dados sobre custos de produo, desempenho dos diversos cultivos, evoluo dos sistemas de produo em uso, alm de gerar indicadores sobre a sustentabilidade da atividade agrcola na Amaznia (MANGABEIRA et al., 2002). Por outro lado, a pecuria vem se tornando uma atividade econmica cada vez mais incorporada no municpio, e tem permitido a curto prazo a capitalizao da agricultura ao mesmo tempo em que justifica a apropriao de grandes quantidades de terra por poucos. A explorao da madeira complementa o quadro do uso do solo (BECKER, 1998), intensificando a presso sob novas reas. As unidades de conservao delimitadas em Machadinho dOeste tm funcionado como uma barreira contra o avano do desmatamento. Entretanto, as ameaadas pelo desmatamento ilegal transformam essas unidades em reas sob forte presso, uma vez que o municpio est inserido no arco do desmatamento amaznico (Figura 4), ou seja, em uma poro regional compreendendo o leste, sudeste e sul da Amaznia, configurado devido ao avano da fronteira agrcola (MACHADO & AGUIAR, 2001). Entre os fatores apontados para o surgimento da fronteira agrcola est a disponibilidade de crditos e subsdios fiscais para a agropecuria e implantao da malha rodoviria a partir da instalao de projetos de assentamentos que mobilizaram importantes recursos financeiros nas dcadas de 1970 e 1980 (LIMA & MAY, 2005). Nas duas ltimas dcadas, os fatores que possibilitam o avano da fronteira agrcola na Amaznia Legal e a crescente taxa de desmatamento sugerem que uma nova dinmica est influenciando o desmatamento na regio, estando relacionada a dois elementos centrais: 1) a estratgia de integrao da Amaznia ao espao produtivo brasileiro, juntamente com a consolidao da poltica de integrao regional da Amrica do Sul, pelos programas Brasil em Ao (1996/1999) e Avana Brasil (2000/2003); e 2) a poltica macroeconmica de cunho exportadora que impulsiona atividades econmicas como a pecuria, a exportao de commodities agrcolas e a extrao madeireira, especialmente as ilegais (FEARNSIDE & LAURANCE, 2002).

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Figura 4. Amaznia Legal e localizao do arco do desmatamento. Fonte: Machado & Aguiar (2001).

A dinmica dos desmatamentos diferente entre os estados da Amaznia, que tem suas polticas fundirias e histricos de ocupao distintos. O processo de desmatamentos em Rondnia, caracterizado pela ocupao primeiramente de pequenos colonos, bastante distinto dos ocorrentes no Par e no Mato Grosso. diferente tambm em relao localizao ao longo do arco do desmatamento, dependendo principalmente do grau de consolidao da fronteira, isto , da distncia aos mercados, da existncia de mo-de-obra e de infra-estrutura, particularmente de estradas e tambm do tipo de vegetao e, portanto, da existncia de madeiras comercializveis (MARGULIS, 2000). Verifica-se que ao longo do processo de ocupao a extrao de madeira, agricultura e pecuria so as principais atividades econmicas que determinam o uso do solo no municpio de Machadinho dOeste.

a) Setor madeireiro: este setor tem carter pioneiro no estado de Rondnia. Foi um dos setores responsveis pela expanso do estado, com a criao de novos municpios e ainda exerce peso decisivo na sua economia (SANTOS, 2007). Segundo dados do IBGE (2007), no ano de 2006 a quantidade de madeira em tora chegou a 372. 760 metros cbicos e em 2007 chegou a 375.000 metros cbicos (IBGE, 2008a). Esses nmeros levam em conta somente a madeira extrada de forma legal.

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b) Agricultura: pelo processo de colonizao da rea ainda h uma predominncia de agricultura familiar, aberta a absoro de mo-de-obra (Fotografias 2 e 3). As culturas praticadas so dos tipos temporrias, onde a produo de arroz ganha destaque por ser cultivada pela maioria dos agricultores, e do tipo permanente, onde o caf a cultura mais cultivada. A baixa fertilidade e/ou conhecimento do solo apontado pelos agricultores como o principal problema que limita a produo agrcola (EMBRAPA, 2009) e que no utilizam tcnicas e prticas de conservao do solo no cultivo do caf (Tabela 3). c) Pecuria: a pastagem representa o uso do solo mais significativo da rea desmatada. O incremento da bovinocultura corresponde tambm ao aumento do desmatamento em Rondnia. Em Machadinho dOeste a pecuria apresenta quantidade de destaque para os bovinos, seguidos por galinhas, vacas e sunos.Tabela 3. Dados da produo agrcola e da pecuria em Machadinho dOeste em 2005 e 2007. Fonte: Modificado de IBGE (2007; 2008a).

PRODUOAGRICULTURA PERMANENTE (toneladas) Caf Banana Cacau Mamo Mandioca AGRICULTURA Arroz TEMPORRIA Milho (toneladas) Feijo Bovino PECURIA Galinha (cabeas) Vaca Suno

Quantidade produzida 2005 Quantidade produzida 20077.560 3.543 450 16 64.200 5.756 5.250 190 200.750 40.774 28.156 9.446 1.474 933 450 24 64.200 4.637 5.775 836 215.719 50.602 27.993 9.055

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Fotografia 2. Plantao de milho, RO-133, a aproximadamente 7 km da rea urbana, ponto MCH-20. Autora: Fabiana Barbosa Gomes, maio de 2007.

Fotografia 3. Plantao de caf, linha TF 05, ponto MCH-4A. Autora: Fabiana Barbosa Gomes, junho de 2008.

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3.3. CARACTERIZAO DO MEIO FSICO 3.3.1. Clima Segundo a classificao de Kppen o tipo climtico da regio do tipo Aw quente e mido, apresentando precipitao elevada. A mdia anual da precipitao ocorre em seis faixas diferentes no municpio que vo de 2.100 a 2.600 mm/ano e com temperaturas mdias de 24 a 26 graus (Figura 5). Os maiores dficits hdricos podem ser registrados nos meses de julho, agosto e setembro. Nesse perodo tambm ocorrem s temperaturas mdias mensais e dirias mais elevadas. As maiores precipitaes incidem nos meses de dezembro, janeiro, fevereiro e maro, com mdia acima de 2.700 mm/ano (MIRANDA et al., 1997). Ainda com relao a temperatura, ocorre na regio o fenmeno da friagem, que consiste em queda de temperatura brusca e de curta durao. Esse fenmeno conseqncia da penetrao das massas de ar procedentes da Patagnia, invadem at a regio equatorial, atravs da depresso do vale do rio Guapor (RONDNIA, 2002b).

3.3.2. Hidrografia O municpio de Machadinho dOeste est inserido na bacia do rio Machado, que representa a mais extensa dentre as sete bacias hidrogrficas de Rondnia, possuindo o segundo maior potencial hidreltrico, com 1.666 Mw do total das bacias hidrogrficas do estado que chegam a 16.120 Mw. Esto presentes trs das treze sub-bacias que pertencem a bacia do rio Machado, que so as sub-bacias do baixo rio Machado, com uma rea de 5.495,3178 km2, a do mdio rio Machado com uma rea de 7.063,7683 km2 e a do rio Machadinho com 5.514,3627 km2 (RONDNIA, 2002b), como mostra a Figura 6. O rio Machado, como rio principal, segue seu curso em direo geral sul-norte at latitude 8 57 sul, onde h um desvio brusco para oeste, at seu desaguar no rio Madeira. O desvio do rio foi denominado por Cruz (1974) como cotovelo de captura, relacionado a interferncia de reativao holocnicas de estruturas antigas e soerguimentos com reajuste da drenagem.

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3.3.3. Geologia Em termos de evoluo geolgica, a regio de Machadinho dOeste abrange unidades que remontam a histria do tempo geolgico desde o Paleoproterozico at o Cenozico (Figura 7). Paleoproterozico-Mesoproterozico (2,2 Ga 1,75 Ga) Os estgios iniciais paleoproterozicos so marcados por processos de aglutinao de massas continentais com fechamento de oceanos e ambientes deposicionais conexos (SCANDOLARA, 2002). Rochas do embasamento regional podem constituir representantes plutnicos desses antigos processos precursores dos cintures mveis mesoproterozicos. As coberturas metavulcanossedimentares mesoproterozicas configuram supracrustais de natureza orognica relacionada a um cinturo mvel de idade 1,85 1,55 Ga, envolvendo os blocos continentais Rio Negro e Juruena (TEIXEIRA et al., 1989). No municpio de Machadinho dOeste, este estgio de evoluo geolgica est representado pela Sute Metamrfica Quatro Cachoeiras e pelo Complexo Jamari. Mesoproterozico Neproterozico (1,5 Ga 1,3 Ga) O regime tectnico vigente foi do tipo distensivo, tendo gerado estruturas que controlam ascenso de corpos magmticos tipos granitides intrusivos de idades prximas a 1,4 Ga. Entre esses corpos tem-se a Sute Intrusiva Serra Providncia que aflora na regio de Machadinho dOeste e tambm outros corpos como Santo Antnio, Teotnio e Alto Candeias. O perodo entre 1,2 e 0,95 Ga relaciona-se a fase de coliso de segmentos litosfricos e agregao de extensas massas crustais, configurando o supercontinente Rodnia (HOFFMAN, 1991). No final desse perodo houve uma generalizada reativao distensiva regional, envolvendo a intruso de corpos granitides epizonais de caractersticas intraplacas que afloram na regio de Machadinho dOeste, denominados de Sute Intrusiva Rondnia (QUADROS & RIZZOTTO, 2007), descritos originalmente por Kloosterman (1968). Na fragmentao neoproterozica do supercontinente Rodnia incluem bacias sedimentos continentais representados pela Formao Palmeiral, que ocorrem no limite nordeste do municpio de Machadinho dOeste. So constitudos por arenitos e ortoconglomerados gerados por um sistema fluvial entrelaado (SCANDOLARA, 2002).

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Quaternrio (2 Ma atualmente) - Sedimentos Aluvionares: coberturas presentes em quase todos os cursos de drenagens principais, como rio Machado, rio Machadinho e igarap do Inferno. Ocorrem como sedimentos aluvionares e coluvionares depositados nos canais fluviais e plancies de inundao dos sistemas de drenagem atual. So representados por materiais detrticos, compostos por sedimentos arenosos, siltosos e argilosos com nveis de cascalho (QUADROS & RIZZOTTO, 2007). - Coberturas sedimentares indiferenciadas: esto relacionadas aos depsitos sedimentares associados a ambientes de leques aluviais, canais fluviais, plancies de inundao lacustre, com restos de lateritas (QUADROS & RIZZOTTO, 2007).

3.3.4. Geomorfologia O contexto geomorfolgico regional do municpio de Machadinho dOeste (Figura 8), interpretado no mbito do estado de Rondnia (RONDNIA, 2002b), revela caractersticas morfolgicas relacionadas s categorias de agradao (unidades deposicionais ou agradacionais) e degradao (unidades denudacionais), como segue: a) Unidades Agradacionais So relacionadas a processos de acumulao de sedimentos e zonas de depresso relativas, estando ligadas a desgastes provocados por agentes exodinmicos, so elas: - Plancies Aluviais e Depresses: tratam-se de superfcies deposicionais geradas por acumulao fluvial geralmente sujeitas a inundaes peridicas, correspondendo s vrzeas atuais ou zonas embrejadas. A sedimentao predominante arenosa a sltica arenosa com eventuais conglomerados. Seu processo de gerao sazonalmente alimentado nos perodos de cheias. - Plancies Fluviais: trata-se de uma unidade de deposio associada s plancies fluviais das drenagens. Dado sua representatividade, os rios e suas plancies fluviais foram caracterizadas em subunidades relacionadas aos rios principais e aos rios secundrios, sem que haja qualquer diferenciao entre os processos atuantes. O exemplo o do subsistema do rio Machado. - Terraos Fluviais: so constitudos pelas reas localizadas ao longo das faixas fluviais, onde se localizam depsitos antigos.

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- Unidades em Areias Brancas e Escoamento Impedido: representada por extensas superfcies arenosas, refletindo uma colorao esbranquiada e sendo um produto residual do intemperismo qumico sobre formaes mais antigas. Foram depresses inseridas em contexto de Superfcies de Aplanamento e por isso o escoamento das guas dificultado. - reas Alagadas: representam reas continuamente alagadas e no consideradas como pntanos pela pequena produo de matria orgnica. - Lagos: em sua maioria, esto associados ao sistema de drenagem, ocorrendo ora em trechos interfluviais, ou ento prximos drenagem.

b) Unidades Denudacionais Compreendem as formas de relevo elaboradas por processo de denudao que so responsveis pelo seu rebaixamento progressivo. encontradas so as seguintes: - Nveis de Superfcie de Aplanamento: so arrasamentos generalizados remanescentes do relevo, gerados por processos erosivos. Tratam-se de superfcies arrasadas progressivamente por meio de lenta denudao, atravs de um processo de rebaixamento do nvel de base. Nvel II: as cotas atingidas por esta superfcie distribuem-se no intervalo de 200-300m. Nvel III: as cotas atingidas por esta superfcie so inferiores a 200 m. - Agrupamentos de morros e colinas: so feies geomorfolgicas associadas a morros e colinas dispersas regionalmente. So relevos residuais, associados a diferentes rochas do embasamento cristalino, no possuindo controle estrutural ntido. Na regio as unidades denudacionais

3.3.5. Solos Em funo da diversidade litolgica e do relevo, os solos da rea do municpio de Machadinho dOeste apresentam grandes variaes em suas propriedades morfolgicas, fsicas, qumicas e mineralgicas (RONDNIA, 2002b). Esto presentes no municpio de Machadinho dOeste as classes latossolos, planossolos, cambissolos, regossolos, areias quatzosas e solos glei (Figura 9). As caractersticas dessas classes so descritas por Guerra & Cunha (2006), como segue. a) Latossolos: classe constituda por solos minerais no hidromficos de seqncia de Horizontes A, BW e C. So solos profundos e no raro o horizonte B latosslico ocorre com mais de 2 metros de espessura.

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A diferena das propriedades qumicas, fsicas e mineralgicas muito pouco perceptvel ao longo do perfil. So solos de muito baixa fertilidade natural, fortemente cidos e elevados teores de alumnio trocvel. Desta classe, entre os tipos de solo que ocorrem na rea esto: - Latossolos Amarelos (LA): so solos com teores de sesquixido de ferro (Fe2O3) at 7%. Apresentam consistncia dura a muito dura quando esto secos e acumulao maior de argila natural, isto , argila dispersa na gua. Esta caracterstica favorece o aumento da densidade aparente que se reflete numa porosidade total mais baixa e maior coeso dos elementos estruturais do que em outros latossolos. O horizonte A superficial pouco espesso e de baixos teores de matria orgnica e o horizonte B, principalmente os argilosos e muito argilosos, apresentam estrutura prismtica fracamente desenvolvida que se desfaz em blocos subangulares. - Latossolos Vermelho-Amarelos (LL): so solos com teores de sesquixido de ferro (Fe2O3) entre 7% e 11%. Embora haja predomnio de goetita, entre os xidos de ferro, os teores de hematita aumentam medida em que os solos se tornam mais avermelhados. - Latosssolos Vermelho-Escuros (LV): so solos com teores de sesquixido de ferro (Fe2O3) entre 11 e 18%. comum nesses solos a ocorrncia de estrutura ultra pequena granular fortemente desenvolvida. Embora sejam solos de fertilidade natural muito baixa, ocorrncia de indivduos com boas reservas de nutrientes mais acentuada do que nos Latossolos Vermelho-Amarelos. Ocupam extenses de superfcies planas a suaves onduladas e esto relacionados, principalmente, s coberturas metassedimentares associadas s coberturas sedimentares inconsolidadas. b) Planassolos (W): abrangem solos de drenagem deficiente com seqncia de horizontes, preferencialmente, do tipo A, E, Bt ou Btg (e C ou Cg e transio abrupta entre os horizontes E e B. Os horizontes A e E so, em geral, de textura arenosa e apresentam contraste ntido com o horizonte B de textura mais argilosa. c) Cambissolos (C): compreendem solos pouco desenvolvidos e com horizonte B incipiente, onde o material subjacente ao horizonte A sofreu alteraes em grau no muito avanado. Contudo, o suficiente para o desenvolvimento de cor e/ou estrutura, podendo apresentar, no mximo, menos da metade do volume do horizonte B incipiente, constitudo por fragmentos de material originrio ou no. Estes solos podem ocorrer em superfcies planas de sedimentos quaternrios aluviais.

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d) Regossolos (E): compreendem solos poucos profundos, com seqncia de horizontes A, C e R. So de textura arenosa e cascalhenta com abundante ocorrncia de minerais facilmente intemperizveis o horizonte A fracamente desenvolvido com baixos teores de matria orgnica. Ocorrem freqentemente associados s paisagens de cambissolos e litossolos. e) Areias Quartzosas (Q): formadas por solos profundos de constituio areno-quartzosa compreendendo apenas as classes texturais areia e areia franca, colorao amarelada e avermelhada, extremamente pobre de nutrientes e com horizonte A fracamente desenvolvido. f) Solos Glei (G): compreendem solos hidromrficos. Apresenta horizonte A superficial de cor preta, teores de matria orgnica elevados e espessura variando de 10 a 30 cm. A partir da base do horizonte A ou H, os horizontes e/ou camadas apresentam cores acinzentadas ou cinzentas, com mosqueados amarelados e avermelhados causados pelos processos de oxireduo devido s oscilaes do lenol fretico.

3.3.6. Vegetao A fertilidade dos solos no um fator decisivo (pelo menos nas formaes primrias) na caracterizao dos tipos de vegetao existentes em Rondnia, quando comparada a fatores como o relevo, a drenagem e a constituio fsica do solo. Em Machadinho dOeste, a cobertura vegetal (Figura 10) formada pela presena de Floresta Ombrfila Aberta, Floresta Ombrfila Densa, Formaes Pioneiras, Savana (cerrado) e reas de tenso ecolgica ou de contato (RONDNIA, 2002 a). a) Floresta Ombrfila Aberta (A): vegetao que ocupa grandes extenses de terrenos de litologias variadas e modelados diversos (formas de acumulao e dissecadas) caracterizada por um perodo seco pouco pronunciado, e temperaturas mdias acima de 22C. As copas so pouco contguas e o estrato arbustivo pouco denso. As subformaes deste tipo de vegetao que ocorrem na regio so: as Florestas Ombrfilas Abertas submontana com palmeiras, Submontana com cips, Aluvial com palmeiras e Terras Baixas com palmeiras. Entre as subformaes deste tipo de floresta, a que possui maior predominncia na rea a Floresta Ombrfila Aberta Submontana com Palmeiras, caracterizada principalmente pela fcies floresta-de-cips.

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b) Floresta Ombrfila Densa (D): vegetao multiestrata. O primeiro estrato de rvores emergentes (Macrofanerfitas) que sobressaem por cima da floresta, estando em exposio completa; o segundo constitudo por rvores quase todas da mesma altura (mesofanerfitas), o dossel propriamente dito, o que se considera como cobertura uniforme; o terceiro, j da submata, dominado, formado por plantas da regenerao natural, e o quarto, por baixo do anterior, formado por arbustos, subarbustos e ervas mais altas, formando andares arbustivos herbceos. No nvel do solo, medram apenas vegetais cifilos menores como pteridfitas, fungos variados e fanergamas. As subformaes deste tipo de floresta que ocorrem na rea so: as Florestas Ombrfilas Densas Aluvial dossel emergente, Aluvial dossel uniforme, Terras Baixas dossel emergente e Submontana dossel uniforme. c) Formaes Pioneiras (P): vegetao instalada nos solos cujo modelado de acumulao, seja por influncia marinha, seja fluvio-marinha ou puramente fluvial (vrzea atuais, terraos) ou ainda fluvio-lacustres. Essa possui sempre plantas adaptadas (que vo das herbceas at arbreas), as condies ecolgicas desses ambientes, sempre sujeitos influncia de inundaes. Em Machadinho dOeste este tipo de vegetao representado por trs subformaes: Formaes Pioneiras com influncia fluvial e/ ou lacustre arbustiva com palmeiras; com influncia fluvial e lacustre arbustiva sem palmeira e com influncia fluvial e/ ou lacustre herbcea. d) Savana (Cerrado) (S): vegetao que aparece em cobertura arentica do Par, Amazonas e Rondnia. Essas reas mantm uma identidade paleoclimtica atravs das suas formas de vida e, embora ilhadas pela floresta amaznica, apresentam certa uniformidade florstica, caracterizada por uma cobertura herbcea mais ou menos densa, mais bem representada pelas gramneas. Entre as subformaes de Savana que esto presentes na rea de Machadinho esto as Savana Florestada e Savana Parque com floresta-de-galeria, vegetao de maior representao na rea. Possuem como caracterstica principal revestir extensas reas de relevo aplainado. Sua homogeneidade s interrompida por encraves florestais que, por vez ou outra, se alternam em meio ao conjunto e pelas florestas-de-galeria que acompanham as margens dos rios menores. e) Contato (reas de tenso ecolgica) (SO): ocorre quando dois ou mais tipos de vegetao existentes na rea se contatam, justapondo-se ou interpenetrando-se. No primeiro caso cada

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mosaico guarda a identidade fisionmica sem se misturar, no caso dos ectono, a diferena fisionmica passa a ser visvel. Frequentemente nessas reas ocorrem endemismos, que as melhor identificam.

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4. REFERENCIAL TERICO4.1. EROSO 4.1.1. Definio e tipos de eroso A eroso pode ser provocada por interferncias em um ou mais de seus fatores quer (1) naturais (eroso natural ou geolgica), representando o meio fsico por meio do clima, substrato rochoso, relevo, solo vegetao, quer (2) antrpicas (eroso acelerada), referenciando formas de uso e ocupao do solo. Tratam-se de processos resultantes da dinmica de um determinado sistema ambiental que est em desequilbrio, no sendo eficiente o suficiente para dissociar sua prpria energia disponvel. Ento ocorre adaptao no sistema atingindo um novo estado de equilbrio, em conseqncia podem gerar feies erosivas (BACK, 1997). No caso da eroso natural ou geolgica, como parte essencial na evoluo das paisagens naturais, est associada a processos de intemperismo responsveis pela formao dos solos em tempo geolgico e produziu diversos tipos de topografia atuais. Sob condies de eroso natural, a formao de solo e a eroso desenvolveram atravs dos tempos os solos hoje existentes. A cobertura vegetal de vital importncia para a manuteno do estado de equilbrio e qualquer alterao que nela se produza tende a conduzir eroso acelerada. A eroso natural ou geolgica que se manifesta como uma ocorrncia normal dos processos de modificao da superfcie terrestre reconhecvel somente com o decorrer de longos perodos de atividade (BERTONI & LOMBARDI NETO, 2005). Quando o processo erosivo mais veloz que a formao do solo, havendo uma ruptura no equilbrio natural do meio, ocorre a eroso acelerada ou antrpica, caso tenha sido provocada pela ao humana. A eroso natural ou geolgica cede lugar eroso acelerada como resposta do meio em busca de novas condies de estabilidade em funo da substituio da vegetao natural por outro tipo de cobertura vegetal, o qual no proporciona proteo eficiente contra a eroso, dificultando o estabelecimento do processo pedogentico que recomporia a camada erodida (GUERRA & CUNHA, 2006).

4.1.2. Processos Erosivos Os processos erosivos comeam quando foras dirigentes dos agentes de eroso, como gotas de chuva, causam a desagregao do solo e seu transporte (erosividade). A capacidade

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da chuva de causar eroso do solo atribuda proporo e distribuio dos pingos dgua, segundo a carga de energia da chuva. A chuva como representante do agente erosivo gua, responsvel por desencadear o mecanismo que representa uma das principais fases do ciclo hidrolgico, o escoamento superficial, este que ocorre quando a capacidade de armazenamento de gua no solo saturada durante um evento chuvoso, e proporciona a ocorrncia e o transporte de gua na superfcie terrestre (VIEIRA, 1973; GUERRA, 2005). Essa parcela de gua de precipitao que escoa a grande responsvel pelas alteraes morfogenticas de carter erosivo. Ao movimentar-se pela encosta, a gua o faz a partir de trs tipos de escoamento: em filetes (1), atravs de uma rede de pequenos canais temporrios, tpico em declives fracos; laminar (2), onde aps o aumento da chuva a rede de pequenos canais no comporta o volume de gua e transborda gerando uma lamina de gua que pode chegar a 10 cm; e concentrado (3), quando ocorre um aumento progresso do volume de gua, o escoamento laminar passa a ser concentrado, nessa situao, registra-se uma hierarquizao e turbilhamento do escoamento, com considervel carga slida o que redunda em um intenso poder erosivo. Nos trechos finais o fluxo concentrado encaixa-se as depresses naturais do terreno, como as estradas e trilhas de gado, carregando materiais como carga slida e formando sulcos, ravinas e voorocas (RODRIGUES, 1982; OLIVEIRA, 2005). As variaes que ocorrem nas taxas de eroso em diversos locais, muitas vezes prximos so determinadas pelos fatores controladores (clima, geologia, relevo, solos, cobertura vegetal e uso do solo). A interao e combinao desses fatores determinam se certas reas erodem mais do que outras. A interveno do homem pode alterar esses fatores e conseqentemente, apressar ou retardar os processos erosivos. Dessa forma, se devem levar em considerao, mltiplas variveis para compreender o processo (GUERRA & CUNHA, 2006).

4.1.3. Formas Erosivas a) Eroso Laminar A eroso laminar atua na remoo de camadas delgadas de solo atravs do escoamento superficial que se distribui pelas encostas de forma dispersa. Essa forma de escoamento ocorre, quase sempre, sob condies de chuva prolongada, quando a capacidade de armazenamento de gua no solo e nas suas depresses e irregularidades saturam, cada pequena poro de gua toma o caminho de menor resistncia, concentrado em pequenas

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depresses e ganhando velocidade medida que a lmina de gua e a declividade do terreno aumentam, e a chuva erode sem causar ravinamento ou voorocas (GUERRA, 2005; ARAJO et al., 2007). A eroso laminar um mecanismo de escape importante da encosta e fonte de sedimentos para reas situadas a jusante. A quantidade de material transportado depende da capacidade de transporte da enxurrada que influenciada pelo tamanho, densidade e forma das partculas do solo, e pelo efeito de retardamento da vegetao e de outras obstrues (BERTONI & LOMBARDI NETO, 2005). O ressecamento outra forma de eroso laminar. Ocorre quando camadas superficiais de solos com textura grossa secam e perdem sua coeso aparente (ARAJO et al., 2007). A eroso laminar arrasta primeiro as partculas mais leves do solo. Por sua ao, os solos adquirem colorao mais clara, e considerando que a parte mais ativa do solo de maior valor, a integrada pelas menores partculas, pode-se julgar os seus efeitos sobre a fertilidade do solo, a diminuio progressiva da produtividade. b) Sulcos e ravinas Atravs de pequenas irregularidades na declividade do terreno, a enxurrada concentrase em alguns pontos do terreno, ao atingir volume e velocidade suficientes, comea a formar riscos mais ou menos profundos, dando incio a eroso em sulcos (BERTONI & LOMBARDI NETO, 2005). No caso da eroso por ravinamento, esta ocorre a partir da remoo de solo pela gua por canais visveis ou canaletas muito pequenas, mas bem definida, onde h concentrao do fluxo sobre o solo (ARAJO et al., 2007). As ravinas so muitas vezes caractersticas efmeras nas encostas e quase sempre so iniciadas a uma distncia crtica do topo da encosta onde o escoamento superficial torna-se canalizado. Elas podem ser formadas prximas a base das encostas, onde uma pequena inciso recua em direo ao topo da encosta (GUERRA, 2005), mas so as condies locais onde o processo se estabelece que determinam onde as ravinas se iniciam (DE PLOEY, 1983). Os sucos e as ravinas formados na superfcie de encosta com vegetao relativamente degradada, ou no interior de voorocas, indicam as rotas de organizao do escoamento superficial concentrado (OLIVEIRA, 2005). Na formao das ravinas, as condies fsicoqumicas dos solos so de grande importncia. Nos solos mais argilosos, h uma maior dificuldade de se formarem ravinas, enquanto nos solos mais arenosos elas se formam com mais facilidade. Os tipos de prticas de cultivo tambm influenciam no grau de dificuldade na

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implantao desses processos erosivos. Resultados obtidos por Robinson & Naghizadeh (1992) apontaram diferenas de at dez vezes superiores em termos de eroso, em relao aos campos cultivados com mtodos tradicionais, enquanto que nos campos plantados com sistemas de cultivos mais modernos, praticamente no houve eroso. Desta maneira, o desmatamento e o uso agrcola do solo podem acelerar os processos de formao de sulcos e ravinas. Esses processos se agravam mais onde ocorrem chuvas concentradas em perodos em que os solos esto desprotegidos de cobertura vegetal e em locais com caractersticas de alta produo de escoamento superficial e camada superficial do solo solta (ARAJO et al., 2007; GUERRA, 2005). Uma vez estabelecidas em uma encosta, as ravinas tendem a evoluir atravs de bifurcaes que configuram pontos de rupturas. As gotas de chuvas aumentam ainda mais a capacidade de transporte de um fluxo de gua dentro das ravinas atravs da remoo de sedimentos, nas pores situadas entre as prprias ravinas, assim as ravinas podem evoluir e se conectar com processos erosivos de maiores propores, que so as voorocas (GUERRA, 2005). c) Vooroca O termo booroca deriva do tupi-guarani IBI-OROC e corresponde a terra rasgada ou rasgo no solo. Dependendo da regio onde ocorre, atribuem-se outros nomes para o mesmo processo erosivo, tais como: vossoroca, buraco, grota, groto, desbarrancado, botoroca, soroca, cavo, barroca (Portugal), lavaka (Repbica Malgaxe) e gully erosion (pases da lngua inglesa) (RODRIGUES, 1982). As voorocas so procedentes das ravinas conforme mencionam Guerra (2005), Rodrigues (1982) e Arajo et al. (2007). A origem dessa forma de eroso ocasionada por grandes concentraes de enxurrada que passam no mesmo sulco, que se amplia pelo deslocamento de grandes massas de solo, formando grandes cavidades em extenso e em profundidade. Esse tipo de eroso surge em qualquer terreno, mas geralmente se instala em terrenos de baixa a mdia declividade, razo pela qual so avistadas somente quando se chega prximo aos seus taludes. Desenvolvem-se tanto em sedimentos como em solos de taludes naturais e artificiais, porm preferencialmente nos sedimentos siltico-arenosos recentes, face relativa facilidade com que so erodidos (RODRIGUES, 1982). Dentre as principais caractersticas que compe as voorocas esto a sua relativa permanncia em encostas. Suas caractersticas fsicas associam-se a presena de paredes laterais ngremes e, em geral, fundo chato, ocorrendo fluxo de gua no seu interior durante os

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eventos chuvosos, que ao aprofundarem algumas vezes atingem o lenol fretico (GUERRA & CUNHA, 2005). Segundo Bertoni & Lombardi (2005) as formas de voorocas variam em funo do material que constitui o solo, pois, em sendo os diferentes horizontes do solo de consistncia uniforme, as paredes da vooroca sero relativamente verticais e, se o material for muito frivel, estar sujeito a freqentes desmoronamentos. Por outro lado, quando o material do subsolo ou de horizontes mais profundos for mais resistente que o horizonte superficial, as voorocas tendem a apresentar paredes em forma de V. Em relao drenagem, as voorocas podem ser dos tipos desconectadas e conectadas da drenagem. As desconectadas podem ser condicionadas pelas propriedades fsicas dos depsitos sedimentares/solos, por caractersticas lito-estruturais do substrato geolgico e por aspectos topogrficos e morfomtricos das encostas e cabeceiras de drenagem, alm da interveno direta ou indireta das atividades humanas (SALGADO et al., 1995). Por outro lado, as conectadas a rede de drenagem, desenvolvem-se nos fundo de vale e reetrncias das cabeceiras de drenagens preenchidos por depsitos aluvio-coluviais relacionados ao evento holocnico de entulhamento generalizado da paisagem, podendo seu desencadeamento ser condicionado por descontinuidades texturais dos depsitos sedimentares (PEIXOTO et al., 1989). Em geral o ndice anual de avano de uma vooroca varivel, sendo mais rpido em alguns estgios de seu ciclo de desenvolvimento que em outros. As observaes indicam que a velocidade de avano decresce progressivamente nos estgios finais de desenvolvimento. Os fatores condicionantes, tais como as caractersticas dos materiais geolgicos, topografia, uso do solo e volume de enxurrada so os que alteram a intensidade de desenvolvimento da vooroca. Uma mudana de um ou mais desses fatores na cabeceira da vooroca pode alterar seu ndice de avano (BERTONI & LOMBARDI NETO, 2005). As voorocas podem ser bastante destrutivas em termos de danos a rodovias, aterros e pastagens. So difceis de serem controladas e retidas. O desgaste contnuo da base da vooroca leva ao seu aprofundamento e alargamento, enquanto o desgaste das cabeceiras prolonga o canal para reas ainda no atingidas pela vooroca (ARAJO et al., 2007).

4.1.4. Problemas relacionados eroso em estradas A instalao de estradas resulta em mudanas na paisagem que elas atravessam e freqentemente o maior trauma ambiental para os ecossistemas adjacentes, devido ao

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movimento de material inconsolidado e outras atividades que podem causar distrbios em uma sub-bacia (FORMAN & ALEXANDER, 1998). A construo inapropriada e a manuteno inadequada das estradas so as principais origens de eroso e sedimentos provocados pelo homem, representando um grande impacto aos recursos naturais e, conseqentemente, srias perdas econmicas (FAO, 1989). O corte da camada superficial da estrada para regularizar as imperfeies pode gerar um material o qual comumente depositado nas laterais, o que os torna fontes potenciais de sedimentos (GONALVES, 2002). De maneira geral, independente de sua classificao, as estradas freqentemente interferem nos padres naturais de drenagem e fluxo da gua, e tendem a promover a concentrao das guas de vrios modos, pois sua superfcie compactada dificulta a infiltrao, levando a um aumento nas taxas do escoamento superficial (BAESSO & GONALVES, 2003). De maneira mais especfica, a contribuio com o processo erosivo em funo da densidade de estradas em uma sub-bacia, sua localizao em relao declividade, rios e solos, bem como seu padro de construo (FAO, 1989). O comprimento da rampa e o declive tambm so fatores importantes que influenciam diretamente a intensidade dos processos erosivos (GUCINSKI et al., 2001; FAO, 1989). Garcia et al. (2003) realizaram um experimento para determinar o volume da enxurrada e a perda do solo em estradas florestais em condies naturais de chuva. Concluram que o volume de enxurrada era mais afetado pelo comprimento do segmento enquanto que a produo de sedimentos era mais influenciada pela declividade da rampa. A impreciso dos projetos de drenagem, principalmente por no levarem em conta a natureza dos terrenos quanto a suscetibilidade eroso, o desinteresse pelos investimentos em obras complementares ao projeto da estrada propriamente dito e a falta de manuteno so as principais causas da grande incidncia de ravinas e voorocas encontradas nas reas rurais. Essas feies erosivas so observadas tanto ao longo da plataforma, nos cortes e aterros, como fora dela, em caixas de emprstimos, reas de jazidas exploradas, junto aos ps de aterros e a jusante das obras de transposio (bueiros, pontilhes e pontes). Comumente observam-se ravinas e voorocas associadas s estradas, atingindo propriedades rurais adjacentes estrada, causando riscos a agricultura, obras civis e perda de valores estticos e paisagsticos (RODRIGUES, 1982; GONALVES, 2002). O aumento do escoamento superficial e da eroso no resulta diretamente das atividades florestais em si, como por exemplo, o corte e o desbaste, mas sim os processos de

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ocorrncia localizada sendo originados principalmente nas estradas, nos carreadores e em reas compactadas. Assim, o planejamento adequado dessas atividades torna-se necessrio para alcanar um controle mais efetivo da eroso (FONTANA, 2007). Segundo FAO (1989) a manuteno freqentemente negligenciada ou realizada impropriamente, resultando em rpida deteriorao da estrada. Reconhece-se que para a manuteno de estradas essencial preservar sua condio original de construo, proteger recursos adjacentes e preserv-los e proporcionar eficincia durante todo o percurso, por isso necessrio um comprometimento em adotar as tcnicas adequadas de construo j conhecidas e por conseguintes tcnicas de manuteno.

4.2. A UTILIZAO DE TCNICAS DE GEOPROCESSAMENTO Na segunda metade do sculo XX a tecnologia de informtica possibilitou o armazenamento e representao de informaes em ambiente computacional, com anlises combinando diversos mapas e dados, abrindo, desta forma, espao para o advento do Geoprocessamento (CMARA et al., 2004). O geoprocessamento utiliza tcnicas matemticas e computacionais para o tratamento da informao geogrfica e que vem influenciando de maneira crescente as reas de cartografia, anlise de recursos naturais, transportes, comunicaes, energia e planejamento urbano e regional (CMARA et al., 2004). As ferramentas computacionais para geoprocessamento, denominadas de Sistemas de Informaes Geogrficas (SIG), permitem realizar anlises complexas, ao integrar dados de diversas fontes e ao criar bancos de dados georreferenciados. Tornam ainda possvel automatizar a produo de documentos cartogrficos (CMARA et al., 2004). Para que as informaes do mundo real sejam representadas em um Sistema de Informao Geogrfica o espao geogrfico modelado segundo vises complementares relacionadas a geo-campo e geo-objeto. O Modelo de geo-campo representa a distribuio espacial de uma varivel que possui valores em todos os pontos pertencentes a uma regio geogrfica, num dado momento t. O modelo de campos enxerga o espao geogrfico como uma superfcie contnua, sobre a qual variam fenmenos a serem observados segundo diferentes distribuies. O Modelo de geo-objeto trata o geo-objeto como um elemento nico que possui atributos no-espaciais e est associado a mltiplas localizaes geogrficas. A localizao

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pretende ser exata e o objeto distinguvel de seu entorno. O modelo de objetos representa o espao geogrfico como uma coleo de entidades distintas e identificveis. Ainda podem ser consideradas as informaes no espaciais, os chamados objetos no-espaciais que englobam qualquer tipo de informao que no seja georreferenciada e que se queira agregar a um SIG. Os dados a serem trabalhados em geoprocessamento podem ser temticos, cadatrais e numricos de terreno, como segue: Dados temticos: descrevem a distribuio espacial de uma grandeza geogrfica, expressa de forma qualitativa. Desta maneira os mapas temticos gerados mostram uma regio geogrfica em polgonos segundo valores relativos a um tema qualquer. Dados Cadastrais: distingue-se do temtico, pois cada um de seus elementos um objeto geogrfico, que possui atributos e pode estar associado a vrias representaes grficas. Desta maneira os mapas cadastrais gerados apresentam objetos identificveis, utilizando uma representao topolgica (CMARA et al., 1996). Modelos Numricos de Terreno: utilizado para denotar a representao quantitativa de uma grandeza que varia continuamente no espao, cada ponto geogrfico associado a um valor numrico. Os dados esto associados a algum tipo de representao. Quando a representao de um elemento ou objeto uma tentativa de reproduzi-lo o mais exatamente possvel sua representao vetorial, desta maneira qualquer entidade ou elemento grfico de um mapa reduzido a trs formas bsicas; pontos, linhas, reas ou polgonos. A representao matricial consiste no uso de uma malha quadricular regular sobre a qual se constri, clula a clula, o elemento que est sendo representado (CMARA et al., 2004).

4.2.1. Sistema de Informao Geogrfica (SIG) O Sistema de Informao Geogrfica (SIG) realiza o tratamento computacional de dados geogrficos georreferenciados e recupera informaes no apenas com base em suas caractersticas alfanumricas, mas tambm atravs de sua localizao espacial. Proporciona a disponibilizao em um ambiente de trabalho de informaes interrelacionadas e com localizao geogrfica. A partir das informaes existentes podem ser criadas novas informaes sobre a anlise espacial de dados geogrficos (RUHOFF, 2004). As principais caractersticas dos Sistemas de Informao Geogrficas so: inserir e integrar, numa nica base de dados, informaes espaciais provenientes de dados cartogrficos, dados censitrios e cadastro urbano e rural, imagens de satlite, redes e modelos

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numricos de terreno; e oferecer mecanismos para combinar as vrias informaes, atravs de algoritmos de manipulao e analises bem como para consultar, recuperar, visualizar e plotar o contedo da base de dados georreferenciados. Numa viso abrangente, pode-se indicar que a estrutura de um SIG possui os seguintes componentes: a) Interface com usurio; b) Entrada e integrao de dados; c) Funes de consulta e anlise espacial; d) Visualizao e plotagem; e) Armazenamento e recuperao de dados, organizados sob a forma de um banco de dados geogrficos (CMARA et al., 2004). Cada sistema, em funo de seus objetivos e necessidades, implementa esses componentes de formas distintas, mas todos esto presentes em um SIG conforme a Figura 11. As organizaes de um ambiente de trabalho num SIG esto baseadas de duas maneiras. A primeira organizao baseada num banco de dados geogrficos, onde o usurio define inicialmente o esquema conceitual associado s entidades do banco de dados geogrficos, indicando para cada tipo de dados seus atributos no-espaciais e as representaes geomtricas associadas. Procede-se da mesma forma que num banco de dados tradicional, onde a definio da estrutura do banco precede a entrada dos dados. O SPRING/INPE um exemplo de sistemas organizados como banco de dados geogrficos. A segunda organizao baseada em projeto, onde o usurio define inicialmente um referencial geogrfico que delimita uma regio de trabalho e, a seguir, define as entidades geogrficas que compe o projeto. Um projeto usualmente composto por um conjunto de nveis, camadas ou planos de informaes (PIs), que variam em nmero, tipos de formatos e de temas, conforme as necessidades de cada tarefa ou estudo. Os PIs (Planos de Informaes) de um projeto podem pertencer a diferentes classes de dados relacionadas com os formatos de representao de dados disponveis no SIG utilizado. Esta organizao da informao espacial muito conveniente para permitir que diferentes variveis sejam integradas ao banco de dados e que diferentes tipos de estudo possam ser realizados, combinando to somente os fenmenos de interesse. Por serem diversas as possibilidades de anlise e integrao de dados espaciais disponvel em um SIG, este foi utilizado para manipular as informaes das unidades de paisagem que subsidiaram a elaborao do mapa de vulnerabilidade natural eroso, onde se empregou o programa LEGAL (Linguagem Espacial para Geoprocessamento Algbrico). A linguagem LEGAL proposta por Cmara (1995) tem como objetivo prover um ambiente geral para anlise geogrfica, incluindo operaes de manipulao (lgebra de campos), consulta espacial e apresentao de resultados de consulta e manipulao em um nico software.

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ESTRURA GERAL DE SISTEMAS DE INFORMAO GEOGRFICAInterfaceEntrada e Integr. Dados Consulta e Anlise Espacial Visualizao Plotagem

Gerncia Dados Espaciais

BANCO DE DADOS GEOGRFICO

Figura 11. Estrutura geral de Sistemas de Informao Geogrfica. Fonte: Cmara et al. (2004).

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5. RESULTADOS E DISCUSSESCom a aplicao dos mtodos propostos obteve-se dados geoprocessados relacionados a vulnerabilidade natural eroso (item 5.1), dados de campo e laboratrio (item 5.2) e dados relacionados a eroso induzida acelerada (item 5.3).

5.1. VULNERABILIDADE NATURAL EROSO Para a avaliao de interferncias de fatores naturais erosivos na denominada eroso natural ou geolgica (BACK, 1997; BERTONI & LOMBARDI NETO, 2005), so previstas estimativas de estabilidades e instabilidades naturais eroso como parte essencial na evoluo de paisagens naturais. Para a avaliao desses fatores no municpio de Machadinho dOeste foi utilizado a anlise sistmica da paisagem, segundo o mtodo de Crepani et al. (1996), desenvolvido a partir do conceito de ecodinmica de Tricart (1977), com a seleo de dados disponveis (RONDNIA, 2002a; QUADROS & RIZZOTTO, 2007), e elaborao de um banco de dados (temas geologia, geomorfologia, pedologia, vegetao e precipitao). Com a utilizao do programa LEGAL/SPRING/INPE realizam-se operaes para cada tema envolvido, transformando-os em geo-campos numricos (item 5.1.1), e a integrao dos mapas numricos de cada tema originou o mapa de vulnerabilidade natural eroso da rea de estudo atravs da lgebra de mapas em um SIG (item 5.1.2). A seqncia de operao utilizada no programa LEGAL/SPRING/INPE e os pesos estabelecidos para as unidades de cada tema para os clculos de gerao dos geo-campos numricos esto listados no Apndice (A). A partir da operao aritmtica do programa LEGAL foi gerado um novo geo-campo numrico Apndice (B), com a operao de fatiamento ajustou-se os valores com as classes, em seguida, atravs da operao de reclassificao, agruparam-se as 21 classes em seus respectivos intervalos de valores de vulnerabilidade natural eroso, com a seqncia listada no Apndice (C).

5.1.1. Vulnerabilidade natural eroso por tema GEOLOGIA As unidades geolgicas da rea de estudo identificadas na Figura 12 e reconhecidas nos trabalhos de campo com coleta de amostras e anlises de laboratrio (item 5.2) representam histrias geolgicas de parte do Proterozico (Paleo, Meso e Neoproterozico) e parte do Fanerozico, mais especificamente do Quaternrio. Desta forma, configura-se uma

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evoluo geolgica com processos magmticos, metamrficos e sedimentares de diversas naturezas e gerao de litologias variadas. Os ndices de vulnerabilidade adotados para os litotipos das unidades geolgicas presentes na rea de estudo, e corroborado por Crepani et al. (1996), variam desde 1,5 para granitides neoproterozicos e mesoproterozicos, a at 3,0 no caso para sedimentos aluvionares quaternrios (Tabela 4). O grau de coeso das rochas apresenta-se como informao bsica para a avaliao ecodinmica, considerando-se a relao morfognese e pedognese proposta por Tricart (1977) e adaptado por Crepani et al. (1996). Isto em funo de que para rochas pouco coesas prevista a prevalncia de processos erosivos modificadores das formas de relevo (morfognese), enquanto que nas rochas coesas devem prevalecer os processos intempricos e conseqentemente a formao de solos (pedognese). Em decorrncia de menor grau de coeso e por prevalecer a morfognese, algumas unidades receberam valores prximos ou iguais a 3,0 (vulnervel), no caso de sedimentos quaternrios, tanto os indiferenciados, distribudos na poro central e extremo noroeste da rea, quanto os aluvionares, distribudos junto as drenagens principais da rea (rios Machado e Machadinho e igarap do Inferno). Por outro lado, rochas com maior grau de coeso (granitides e gnaisses) so as predominantes na rea de estudo e pertencem as unidades Sutes Intrusiva Rondnia e Serra da Providncia, Sute Metamrfica Quatro Cachoeiras e Complexo Jamari. So unidades geolgicas onde prevalece a pedognese, tendo recebido valores de vulnerabilidade prximos a 1,0 e 2,0 nos clculos numricos (moderadamente estvel vulnervel). Na poro norte da rea de estudo os arenitos da Formao Palmeiral so considerados como de vulnerabilidade intermediria (moderadamente vulnervel) em virtude de seu ndice adotado de 2,4 nos clculos numricos (Figura 12).Tabela 4. Valores de vulnerabilidade natural eroso para as unidades geolgicas. NDICES DE VULNERABILIDADE 3,0 2,8 2,4 1,5 1,5 1,6 1,6

UNIDADES GEOLGICAS Sedimentos Aluvionares - Quaternrio Coberturas Sedimentares Indiferenciadas - Quaternrio Formao Palmeiral - Neoproterozico Sute Intrusiva Rondnia - Neoproterozico Sute Intrusiva Serra da Providncia - Mesoproterozico Sute Metamrfica Quatro Cachoeiras - Paleoproterozico Complexo Jamari - Paleoproterozico

.

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52

GEOMORFOLOGIA Um dos principais fatores para se definir os valores referentes vulnerabilidade natural eroso das feies do relevo o da intensidade de dissecao do relevo. De acordo com Crepani et al. (1996) quanto menor for a intensidade de dissecao, menores sero os valores atribudos as unidades geomorfolgicas na escala de vulnerabilidade, ou seja, valores mais prximos estabilidade (prximos a 1,0). Da mesma forma, as unidades geomorfolgicas que apresentam maiores intensidades de dissecao receberam valores da escala de vulnerabilidade mais prximos de 3,0, ou seja, prximos da classe vulnervel (Tabela 5 e Figura 13).

Tabela 5. Valores de vulnerabilidade natural eroso para as unidades geomorfolgicas. NDICES DE VULNERABILIDADE 3,0 3,0 2,8 2,8 2,8 3,0 3,0

UNIDADES GEOMORFOLGICAS Depresses Depresses, lagos - reas alagadas Terraos fluviais altos no dissecados Terraos fluviais altos com dissecao baixa Terraos fluviais baixos com dissecao baixa Plancies inundveis e vales - rios principais Plancies inundveis e vales - rios secundrios Superfcie de aplanamento - nvel II (200-300) com relevo plano e superfcies com couraas ferruginosas. Superfcie de aplanamento - nvel II (200-300) com dissecao baixa e nenhum ou espordicos inselbergs e tors. Superfcie de aplanamento - nvel II (200-300) com dissecao mdia e nenhum ou espordicos inselbergs e tors. Superfcie de aplanamento - nvel II (200-300) com dissecao mdia e muitos tors e hillocks residuais. Superfcie de aplanamento - nvel II (200-300) com dissecao alta e nenhum ou espordicos inselbergs e tors. Superfcie de aplanamento - nvel II (200-300) com dissecao alta e muitos tors e hillocks residuais. Superfcie de aplanamento - nvel III (< 200) com dissecao baixa e nenhum ou espordicos inselbergs e tors. Superfcie de aplanamento - nvel III (< 200) com dissecao alta

1,8

1,6

1,6

1,8

1,6

1,8

1,6

53 e nenhum ou espordicos inselbergs e tors. Agrupamento de morros e colinas/aberto com colinas/inselbergs baixos e mdios. Agrupamento de morros e colinas/denso com colinas/inselbergs mdios e altos. Unidades em areias brancas e escoamento impedido. Agrupamento aberto de morros e colinas com controle estrutural 1,6 3,0 1,6 1,6 1,6

As unidades geomorfolgicas que tiveram maior expresso na classificao de vulnerabilidade natural eroso (Figura 13) foram as Unidades Denudacionais localizadas no centro sul da rea de estudo, com ndices de vulnerabilidade 1,6 e 1,8, e as Plancies Aluviais e Depresses, principalmente na poro norte da rea, com ndices de vulnerabilidade 2,8 e 3,0. Apesar de aparecerem em menor expresso as Unidades Estruturais/Denudacionais e Unidades em Areias Brancas e Escoamento Impedido obtiveram ndice 3,0 de vulnerabilidade.

PEDOLOGIA Para a atribuio de valores de vulnerabilidade eroso das unidades pedolgicas, foram analisados os parmetros referentes ao tipo de solo, suas caractersticas mineralgicas e o seu grau de desenvolvimento. Nas unidades pedolgicas representadas por latossolos so consideradas estveis e o valor atribudo na escala de vulnerabilidade de 1,0. Os solos do tipo podzlicos so considerados intermedirios e o valor atribudo na escala de vulnerabilidade so 2,0. Para as unidades pedolgicas consideradas vulnerveis atribudo o valor 3,0 e representam solos jovens com perfis incipientemente desenvolvidos (Tabela 6), caracterizados como solos aluviais, regossolos e areias quartzosas (Figura 14). Os latossolos exibem uma distribuio de maior abrangncia na rea de estudo. Este tipo de solo recebeu ndices de vulnerabilidade que variam de 1,0 a 1,6. Seus valores mais elevados referem a sua associao com areias quartzosas ou solos glei distrficos num mesmo polgono. Na poro norte da rea de estudo encontram-se solos com ndices elevados de vulnerabilidade natural eroso. So planassolos, classificados como um tipo de podzlico, solos glei, regossolos, areias quartzosas e cambissolo (Figura 14).

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55 Tabela 6. Valores de vulnerabilidade natural eroso para as unidades pedolgicas. NDICES DE VULNERABILIDADE 2,5 2,05 3,0 2,7 3,0 1,0 1,45 1,6 1,0 1,3 1,3 1,5 1,0 1,6 1,0

UNIDADES PEDOLGICAS Cambissolos distrficos Cambissolos distrficos + latossolo vermelho escuro Regossolos eutrficos Solos glei distrficos, textura argilosa e mal drenado Solos glei distrficos, textura argilosa Latossolos amarelos distrficos, textura argilosa Latossolos amarelos distrficos + cambissolo distrfico Latossolos dmarelos distrficos + solos glei distrfico Latossolos amarelos distrficos, textura mida Latossolos amarelos distrficos + podzlico amarelo Latossolos amarelos distrficos + planassolo distrfico Latossolos amarelos distrficos + areias quartzosas Latossolos amarelos distrficos, textura argilosa Latossolos amarelos distrficos + solo aluvial distrfico Latossolos vermelho amarelos distrficos, textura argilosa Latossolos vermelho amarelos distrficos + latossolo amarelo distrfico Latossolos vermelho amarelos distrficos + latossolo vermelho escuro distrfico Latossolos vermelho amarelos distrficos + podzlico vermelho amarelo distrfico Latossolos vermelho amarelos distrficos , textura argilosa e relevo suave ondulado Latossolos vermelho amarelos distrficos + areias quartzosas Latossolos vermelho amarelos distrficos Latossolos vermelho amarelos distrficos + solos glei distrficos Latossolos vermelho amarelos distrficos + latossolo vermelho amarelo distrfico Areias quartzosas Planassolos distrficos

1,0

1,0

1,3

1,0 1,6 1,0 1,6

1,0 3,0 2,0

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VEGETAO Para se determinar os valores de vulnerabilidade natural eroso do tema vegetao, obteve-se dados do tipo de vegetao que ocorre no municpio de Machadinho dOeste (Figura 15), analisando-se a densidade da cobertura vegetal com o auxlio da imagem de satlite, parmetro este de grande significncia para a atribuio dos valores (Tabela 7). De acordo com Crepani et al. (1996), para a cobertura vegetal das unidades de paisagem so atribudos os seguintes valores: a) valores prximos a 1,0 (estabilidade) vegetao composta por Floresta Ombrfila Densa, Aberta e Mista; b) valores prximos a 1,4 e 1,7 (moderadamente estvel) - para cobertura vegetal composta por Floresta Estacional Semidecidual, Savana Florestada, Estepe arbrea e Formao Campinarana; c) valores prximos a 2,0 (mediana) - para cobertura vegetal composta por Savana Arborizada, Floresta Estacional Decidual, Campinarana Arborizada, Estepe Arborizada e Buritizal; d) valores prximos a 2,3 e 2,6 (moderadamente vulnervel) - para cobertura vegetal composta por Savana Parque, Savana Estpica Parque e; e) valores prximos a 3,0 (vulnervel) - para cobertura vegetal composta por Savana Gramneo-Lenhosa, Campinarana Gramneo-Lenhosa, vegetao secundria e pastagem. Os casos especiais referem-se aos denominados encrave e ectono, que so a mistura entre tipos de vegetao diferente. Para obter-se o valor na escala de vulnerabilidade do contato do tipo ectono, calculou-se a mdia aritmtica dos tipos de vegetao que esto nele contido. A rea do municpio de Machadinho dOeste conta com uma significativa variedade de tipos de cobertura vegetal, combinados ou no. Os ndices mais elevados de

vulnerabilidade natural eroso so representados pelas savanas e formaes pioneiras identificados na poro norte da rea de estudo, e em polgonos onde ocorre a combinao de vegetao natural com vegetao secundria, encontrada principalmente na poro sul da rea de estudo (Figura 15).

58 Tabela 7. Valores de vulnerabilidade natural eroso para as unidades de vegetao. NDICES DE VULNERABILIDADE 3,0

UNIDADES DE VEGETAO rea Urbana Pastagem + vegetao secundria + floresta ombrfila aberta com cips. Floresta ombrfila aberta Pastagem + vegetao secundria. Floresta ombrfila aberta Pastagem + vegetao secundria. Floresta ombrfila densa Pastagem + vegetao secundria. Contato savana Pastagem. Floresta Ombrfila Aberta Pastagem. Floresta Ombrfila Densa Floresta ombrfila aberta aluvial com palmeiras Floresta ombrfila aberta terras baixas com palmeiras + com cips + floresta ombrfila densa terras baixas Floresta ombrfila aberta submontana com cips Floresta ombrfila aberta submontana com cips + palmeiras Floresta ombrfila aberta submontana com cips + palmeiras + floresta ombrfila densa submontana dossel emergente Floresta ombrfila aberta submontana com cips + floresta ombrfila densa submontana dossel emergente Floresta ombrfila aberta submontana com cips + floresta ombrfila densa submontana dossel emergente + floresta ombrfila aberta submontana com palmeiras Floresta ombrfila aberta submontana com palmeiras Floresta ombrfila aberta submontana com palmeiras + cips Floresta ombrfila aberta submontana com palmeiras + floresta ombrfila aberta submontana com palmeiras com cips + floresta ombrfila densa submontana dossel emergente Floresta ombrfila aberta submontana com palmeiras + floresta ombrfila densa submontana dossel emergente Floresta ombrfila aberta submontana com palmeiras + floresta ombrfila densa submontana dossel emergente + floresta ombrfila aberta submontana com cips Floresta ombrfila densa aluvial + floresta ombrfila aberta aluvial com palmeiras Floresta ombrfila densa aluvial dossel emergente

2,8 2,8 2,8 2,8 2,8 2,8 1,5

1,2 1,2 1,2

1,2

1,1

1,2 1,2 1,2

1,2

1,2

1,2

1,1 1,0

59 Floresta ombrfila densa terras baixas + floresta ombrfila aberta aluvial com palmeiras Floresta ombrfila densa submontana dossel emergente + floresta ombrfila aberta submontana com cips Floresta ombrfila densa submontana dossel emergente + floresta ombrfila aberta submontana com palmeiras + floresta ombrfila aberta submontana com cips Floresta ombrfila densa submontana dossel uniforme Formaes pioneiras com influncia fluvial e /ou lacustre arbustiva com palmeiras Formao pioneira influncia fluvial arbustiva sem palmeiras + formaes pioneiras com influncia fluvial e /ou lacustre - h