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Experiências Corporativas em Sustentabilidade e Responsabilidade Social” foi escrito por um Grupo de Docentes Doutores e Mestres, que observou a necessidade de analisar e divulgar as práticas que as empresas estão adotando. Os autores têm experiência consolidada na área e por serem de diferentes áreas, possibilitam múltiplos olhares, unindo teoria e prática.

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ExpEriências corporativas Em sustEntabilidadE E rEsponsabilidadE social

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ExpEriências corporativas Em sustEntabilidadE E rEsponsabilidadE social

São Paulo 2015

Autores Alessandro Marco Rosini

Angela Cristina TepassêAngelo Palmisano

Carlos Vital GiordanoMartha Mercado Paredes

Paula Meyer Soares PassaneziPaulo Emílio Alves dos Santos

Autores e Organizadores Fernando de Almeida Santos Orlando Roque da Silva Luiz Claudio Gonçalves

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Copyright © 2015 by Editora Baraúna SE Ltda

Capa Filipe de Almeida Santos

Diagramação Felippe Scagion

Revisão Alexandra Resende

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

________________________________________________________________

E96

Experiências corporativas em sustentabilidade e responsabilidade social / Fernando de Almeida Santos ... [et al.] ; coordenação Fernando de Almeida Santos, Orlando Roque da Silva , Luiz Claudio Gonçalves. - 1. ed. - São Paulo : Baraúna, 2014.

ISBN 978-85-437-0219-3

1. Ecologia. 2. Meio ambiente. 3. Educação ambiental. 4. Sustentabilidade. I. Santos, Fernando de Almeida. II. Silva, Orlando Roque da. III. Gonçalves, Luiz Claudio.

14-18509 CDD: 577 CDU: 502.1________________________________________________________________09/12/2014 09/12/2014

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTAEDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua da Quitanda, 139 – 3º andarCEP 01012-010 – Centro – São Paulo - SPTel.: 11 3167.4261www.EditoraBarauna.com.br

Todos os direitos reservados.Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem a expressa autorização da Editora e do autor. Caso deseje utilizar esta obra para outros fins, entre em contato com a Editora.

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Prefácio

O livro Experiências corporativas em sustentabilidade e responsabilidade social representa um trabalho de exce-lência, elaborado por um conjunto de professores douto-res e mestres, que abordam de maneira prática e objetiva temas relevantes e contemporâneos relacionados à sus-tentabilidade e responsabilidade Social.

Os organizadores convidaram experientes profissio-nais relacionados ao tema obtendo, assim, ricas contribui-ções para esta área do conhecimento. Nos textos é possí-vel, de forma aplicada, compreender como atuar na gestão social e ambiental corporativa. Além de atuais, são úteis para a formação de profissionais, que necessitam tratar das temáticas em suas práticas no cotidiano das organizações.

Para as empresas contribuirá fortemente para a ela-boração de estratégias e políticas sobre as questões aqui abordadas. Destaca-se, ainda, que os cursos superiores devem contemplar as questões ambientais, e neste senti-do, esta obra também apresenta uma riqueza de conteú-dos e informações.

No primeiro capítulo são apresentadas as infor-mação de natureza social e ambiental corporativa, e, de maneira prática e sistematizada, como devem ser apre-sentados os demonstrativos. Este capítulo possibilita, inclusive, uma compreensão do leitor para desenvolvi-mento e implantação destes demonstrativos.

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No segundo capítulo são apresentados indicadores para a sustentabilidade, abordando as formas de elabo-ração de indicadores e metas, apresentando ferramentas que contribuem para a gestão nas empresas.

No capítulo seguinte é apresentada uma discussão acerca dos conceitos sobre a metodologia de Avaliação Am-biental Estratégica (AAE), com o objetivo de avaliar suas potencialidades e limitações dentro do cenário nacional.

No penúltimo capítulo é apresentado o Papel das Organizações Internacionais (OLS) na construção da agenda ambiental global e do desenvolvimento sustentá-vel, demonstrando que esta preocupação ambiental não é somente local ou ocorre de forma isolada.

Por fim, no último capítulo, com o objetivo de de-monstrar de maneira aplicada a um setor econômico a complexidade da gestão relacionada à segurança, são abor-dados os sistemas portuários, que envolvem a movimen-tação de diversos tipos de materiais, máquinas, equipa-mentos e sistemas de transporte, entre outros, e discutir a complexa e desafiadora dimensão da segurança portuária.

Assim, recomendo fortemente a leitura desta obra, em face de sua contribuição objetiva e aplicada neste tão importante tema em nossa sociedade, oportunidade que aproveito para parabenizar os organizadores pela iniciati-va e aos autores pelas contribuições.

Prof. Dr. Angelo PalmisanoDoutor em Ciências Sociais. Mestre e Graduado em Ad-ministração pela PUC-SP. Pró-Reitor Acadêmico, Professor,

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Pesquisador e Coordenador do Mestrado Profissional de Administração em Governança Corporativa do Centro Uni-versitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU).

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Sumário

Capítulo 1 – Informações corporativas de natureza social e ambiental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15Balanço social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16Modelo ibase . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18Guia de elaboração de balanço social do instituto ethos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19Guia de diretrizes da global reporting initiative (GRI) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21NBC T 15 – Norma Brasileira de Contabilidade . .22Síntese dos demonstrativos sociais e ambientais . . 26Padronização de indicadores . . . . . . . . . . . . . . . . 27Etapas da elaboração e implantação dos dados de na-tureza social e ambiental . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30Consolidação do processo . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31Análise dos demonstrativos . . . . . . . . . . . . . . . . . 31Análise horizontal ou histórica . . . . . . . . . . . . . . 32Análise vertical . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34Análise por quocientes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36Revisão periódica do processo . . . . . . . . . . . . . . . 36

Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

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Capítulo 2 – Indicadores para a sustentabilidade . .40

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

Indicadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

Dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

Informações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

Indicadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

Metas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

Principais ferramentas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

Ecological footprint (pegada ecológica) . . . . . . . . 58

Dashboard of sustainability (painel de controle da sustentabilidade) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

Barometer of sustainability (Barômetro da susten-tabilidade) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

Considerações Finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72

Capítulo 3 – Avaliação ambiental estratégica: conceitos e aplicabilidade no cenário nacional . . . . . . . . . . . . .74

Introdução .......................................................... 75

As origens da avaliação ambiental estratégica (AAE) .. 79

Vantagens e desvantagens .................................... 83

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da aplicacao da AAE ................................................83

Tipos de avaliação ambiental estratégica ...................84

Procedimentos metodológicos da avaliação ambien-tal estratégica (AAE) .......................................... 85

As etapas para implantação da avaliação ambiental estratégica (AAE) ............................................... 86

As limitações para a adoção da ................................94

avaliação ambiental estratégica .................................94

Considerações finais.................................................95

Referências ..............................................................98

Capítulo 4 – Produção mais limpa como instrumento de competitividade empresarial: conceitos e implantação . . 100

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101

Produção limpa e produção mais limpa: conceitos e características . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102

Processo de implantação da abordagem produção mais limpa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113

Etapas de implantação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114

da produção mais limpa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114

Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128

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Capítulo 5 – O Papel das Organizações Internacionais (OIS) na construção da agenda ambiental global e do desenvolvimento sustentável . . . . . . . . . . . . . . . . . 131

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132Desenvolvimento e desenvolvimento sustentável: a construção de uma nova abordagem . . . . . . . . . . 133As organizações internacionais (OIS) e seu papel na construção da agenda ambiental global . . . . . . . . 147As organizações não governamentais (ONGS) interna-cionais: origens e seu papel no sistema da ONU . .150A criação da UNESCO e sua súmula de proteção à natureza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .154Uma ong para o meio ambiente: o programa das na-çõess unidas para o meio ambiente (PNUMA) . . 157Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 162

Capítulo 6 – A segurança dos navios e instalações portuárias e os planos de emergência . . . . . . . . 165

Risco e segurança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 166O código ISPS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 168Objetivos do código ISPS . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171Conteúdo do código ISPS . . . . . . . . . . . . . . . . . 172Como o código ISPS funciona . . . . . . . . . . . . . . 174

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Avaliação da Segurança do Navio (Ship Security As-sessment – SSA) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175Planejamento da Segurança do Navio (Ship Security Plan – SSP) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177Oficial de segurança do navio (ship security offi-cer – SSO) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 178Avaliação de segurança das instalações portuárias (port facility security assessment – PFSA) . . . . . 179Plano de segurança das instalações portuárias (port facility security plan – pfsp) . . . . . . . . . . . . . . . 181Diretor de segurança das instalações portuárias (port facility security officer – pfso) . . . . . . . . . . . . . . 182Níveis de segurança O procedimento de geral de acordo com o código isps . . . . . . . . . . . . . . . . . 185Planos de controle de emergências . . . . . . . . . . 187Programa de gerenciamento de risco . . . . . . . . . 188Considerações Finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 192Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 194

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caPítulo 1 – informaçõeS corPorativaS de natureza Social e ambiental

Fernando de Almeida Santos – Doutor em Ciên-cias Sociais pela PUC-SP, Mestre em Administração de Empresas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Graduado em Ciências Contábeis e em Administração Pública pela Universidade Católica Dom Bosco e em Ad-ministração pelo UNIFIEO. Especialista em Avaliação Institucional, em Administração Financeira e em Educa-ção à Distância. Professor universitário há 17 anos, pes-quisador, com experiência empresarial, além de autor de livros e artigos sobre Administração, Sustentabilidade e Contabilidade. Consultor Empresarial.

e-mail: [email protected]

Paulo Emilio Alves dos Santos – Doutor em Ad-ministração pela Universidade de São Paulo (USP) (par-te deste na Universidade Ruhr-Bochum na Alemanha), Mestre em Administração de Empresas pela Universidade Mackenzie e Graduado em Psicologia pela PUC-SP. Atuou em Recursos Humanos pelas Empresas Grupo Basf, Re-ckitt Benckiser, Confab Industrial e Mercedes-Benz. Pro-fessor nos cursos de pós-graduação da FMU, ESPM e BSP.

RESUMOEste capítulo aborda os conceitos teóricos e apre-

senta modelos utilizados pelas empresas para divulgação de dados relativos à responsabilidade social. Ao final é demonstrada a relevância de se realizar a análise destes

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dados, de forma a demonstrar a contribuição das insti-tuições para a sociedade e o compromisso delas com a melhoria da qualidade de vida, com as demandas sociais e, consequentemente, com a sustentabilidade.

Palavras-chave: Análise dos demonstrativos sociais e ambientais; balanço social; saúde; serviço.

introdução Este capítulo discute as formas implantadas de de-

monstrativos sociais, entre eles o balanço social e a possi-bilidade de desenvolvimento de indicadores que possibili-tem a análise do desempenho. Na primeira seção mostra--se a concepção de balanço social como ferramenta para a comunicação com as partes interessadas da sociedade e seus principais modelos no Brasil; a seguir, suscitado pelo fato de que os modelos se assemelham em alto grau, e que isso dificulta a adesão das empresas, é feita uma reflexão sobre padronização e indicadores. Na terceira é abordada a hipótese do desenvolvimento de quocientes que propi-ciem a análise de desempenho e comparabilidade.

Os demonstrativos não são obrigatórios, mas vale destacar que essa liberdade na elaboração, está, de maneira incipiente, sendo restringida pela Norma Brasileira de Con-tabilidade T 15 (NBC T 15), que especifica conteúdos mí-nimos e procedimentos para as demonstrações Informações de Natureza Social e Ambiental, sendo que consiste em uma proposta muita próxima ao balanço social. Assunto que será debatido em detalhes na seção final deste artigo.

Resumidamente, tais fatos mostram que para manter a credibilidade destes instrumentos de comunicação com

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a sociedade seria necessário olhos atentos e críticos na lei-tura dos balanços sociais das empresas. Nesse sentido, o objetivo deste artigo é ofertar modelos de balanços sociais e padrões mínimos, baseados nas reconhecidas técnicas de análise de indicadores contábeis e financeiros, para a esco-lha e implantação deste nas empresas, de forma a possibili-tar maior crítica e efetividade aos demonstrativos.

balanço Social

A sociedade concede a alguns agentes, em especial empresas, a possibilidade de suprir suas necessidades. Transporte, alimentação, bens de consumo, saúde fazem parte do rol dessas concessões ao setor privado. A con-trapartida para estes agentes tem sido historicamente a remuneração e o lucro. Este arranjo, entretanto, tem se modificado nas ultimas décadas, pois exige-se que as em-presas não somente ofereçam um serviço de qualidade, mas também prestem contas de suas ações (FREIRE et al, 2008). O meio tradicional de comunicar tal prestação de contas tem sido as demonstrações contábeis, que trazem importantes dados sobre a saúde financeira da empresa. Trata-se, no entanto, de uma comunicação incompleta com a sociedade, já que há diversas partes interessadas nas ações de uma corporação, os denominados stakehol-ders (empregados, clientes, fornecedores etc.) e, por con-seguinte, a comunicação não deveria privilegiar a lin-guagem voltada ao mercado investidor e financeiro, mas também incorporar termos de fácil entendimento para pessoas leigas em contabilidade (TEIXEIRA et al, 2011).

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A alternativa mais efetiva para esta comunicação tem sido por meio do balanço social. Este pode ser en-tendido como um demonstrativo cuja finalidade é apre-sentar o grau de comprometimento da instituição com a sociedade e com o meio ambiente. Evidenciam-se neste um conjunto de informações sobre os investimentos rea-lizados, projetos, benefícios e ações sociais.

A revisão da literatura aponta para inúmeros bene-fícios na sua utilização: a) mostra uma atitude ética e res-ponsável por parte da empresa; b) agrega valor ao nome da organização, além de atrair investidores, pois o balan-ço social evidencia que a empresa tem uma gestão profis-sionalizada que busca agregar valor às partes interessadas; d) traz subsídios para definições das políticas de recursos humanos e decisões de incentivos fiscais (RIOS, 2012).

No Brasil, a ideia começou a ser debatida na década de 1970, mas apenas nos anos 1980 surgiram os primei-ros balanços sociais de empresas. A partir da década de 1990 houve um processo de consolidação com corpo-rações de diferentes setores passaram a publicar balanço social anualmente. Fato a destacar neste processo de se-dimentação é que o BNDES não financia empresas que não tenham Balanço Social ou Ambiental.

Apesar de todos os avanços na teoria e na disse-minação entre grandes corporações, e ainda, diante de tantas vantagens, apenas uma ínfima parte das empresas se aventura na sua elaboração (TEIXEIRA et al, 2011). É legítimo perguntar sobre os motivos que funcionam como obstáculos para sua elaboração no Brasil.

O primeiro aspecto a se questionar, como observa Freire (2008), é se a empresa entende os conceitos re-

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lacionados à responsabilidade social. Pode-se supor que a organização está aparelhada somente para se autoexa-minar nos aspectos operacionais ou financeiros, que são tangíveis e quantitativos, mas não sobre os impactos so-ciais e ambientais decorrentes de suas atividades. Algo que, talvez, somente empresas de grande porte, com seus inúmeros recursos, conseguiriam realizar.

O segundo ponto a ser ressaltado é que a oferta de modelos de relatórios de sustentabilidade é gran-de e suas diferenças não estão claras para os possíveis aderentes. Problema este que aponta para maneiras de mensurar as contribuições à sociedade. Não por acaso, na produção cientifica comparativos entre modelos são frequentemente estudados (GODOY et al, 2007; PUP-PIM, 2004; PUPPIM, 2005).

Há três modelos-padrão de balanço social disponí-veis no Brasil que refletem tais dilemas. Abordaremos tais modelos a seguir.

modelo ibaSe

De modo pioneiro, em 1997, o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, e o Instituto Brasileiro de Análise Econômico (IBASE), fizeram uma campanha de cons-cientização sobre a importância do balanço social e sua divulgação voluntária para as empresas. Como resultado de tal mobilização realizaram balanços sociais empresas como Inepar, Usiminas, Companhia Energética de Bra-sília (CEB) e a Light. Parcerias também foram estabele-cidas com a Federação das Indústrias do Estado do Rio

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de Janeiro (Firjan), o Serviço Social da Indústria (Sesi), a Fundação Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social (Fides), a Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec), o jornal Gazeta Mercantil, além de algumas universidades.

A ideia subjacente no modelo de balanço social desta entidade é que a simplicidade garante aderência e envolvimento de maior número de corporações Dessa maneira, esta metodologia inspira-se no formato dos ba-lanços financeiros, já que as empresas estariam mais acos-tumadas com tal formato. É feito em forma de planilha e reúne informações sobre a folha de pagamentos, os gastos com encargos sociais de funcionários e a participação nos lucros. Além disso, detalha as despesas com controle am-biental e os investimentos sociais externos nas diversas áreas – educação, cultura, saúde etc.

Apesar de ter aberto as portas para o balanço social como instrumento da responsabilidade social da empresa, modelos mais completos como o do Instituto Ethos ou GRI foram trazidos à luz. No ano de 2010, o Ibase interrompeu a divulgação de seu modelo. Sua influência, no entanto, ainda é evidente nos relatórios de algumas empresas.

Guia de elaboração de balanço Social do inStituto ethoS

O instituto Ethos teve como embrião o Pensamento Nacional de Bases Empresariais (PNBE), um movimento de jovens empresários que buscava aplicar um ideário am-

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plo para sociedade, como aprofundamento da democracia, combate aos abusos de poder econômico, melhor distribui-ção de renda. Tem como associados empresas de diferentes setores e portes, que se estima o faturamento anual corres-pondente a aproximadamente 35% do PIB brasileiro.

O instituto Ethos é uma ONG que tem como as-sociados empresas de diferentes setores e portes, com um estimado faturamento anual correspondente a aproximadamente 35% do PIB brasileiro. Sua missão, divulgada no site <www3.ethos.org.br/> seria a de au-xiliar as empresas a assimilar o conceito de responsa-bilidade social empresarial e incorporá-lo ao dia a dia de sua gestão. Isto se daria por meio de novas políticas e práticas, demonstrando aos acionistas a importân-cia de compromisso com as partes interessadas da so-ciedade. Na prática um modelo de balanço social foi elaborado visando o processo contínuo de avaliação e aperfeiçoamento das empresas. Os indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial são resumida-mente: valores e transparência, público interno, meio ambiente, fornecedores, consumidores, clientes, co-munidades e governo, e sociedade.

Um aspecto diferencial deste modelo, em compara-ção com aquele do Ibase, é a incorporação de princípios, indicadores e diretrizes para a elaboração de relatórios. Além disso, há a possibilidade de certificação e vasta do-cumentação disponível.

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Guia de diretrizeS da Global rePortinG initiative (Gri) A Global Reporting Initiative (GRI) é uma Organiza-

ção Não Governamental (ONG) fundada em 1997 a fim de constituir-se como uma plataforma para as empresas divulgarem suas iniciativas relacionadas a programa das Nações Unidas como o Pacto Global, aos Objetivos do Milênio e aos Princípios do Equador, além de estarem to-talmente alinhados com os índices de sustentabilidade da bolsa de Nova York (DJSI) e de Londres (FTSE4good).

Os relatórios de sustentabilidade baseados na GRI contam diretrizes para a elaboração de relatórios, estabele-ce os princípios e indicadores que as organizações podem usar para medir e comunicar seu desempenho econômico, ambiental e social. O diferencial deste relatório é a interna-cionalização, já que um número crescente de companhias vem adotando as diretrizes e os indicadores GRI, confe-rindo ainda mais credibilidade à iniciativa. Se, em 1999, apenas 20 organizações fizeram relatórios GRI, atualmente já são 2000 organizações (www.globalreporting.org).

A Natura Cosméticos foi a empresa pioneira, no Bra-sil, com a publicação de seu relatório em 2004. Atualmen-te, diversas empresas brasileiras publicam relatórios GRI, sendo 34 delas formalmente, por meio do site da GRI. No setor do agronegócio, as usinas de cana-de-açúcar estão sendo pioneiras, por meio do apoio da UNICA. Algumas empresas brasileiras que divulgam relatórios GRI: Aracruz Celulose, Natura Cosméticos, Bunge, Usina São Manoel, Duratex, Medley, Petrobrás, Banco Itaú, Wal-Mart Brasil.

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nbct 15 – norma braSileira de contabilidade

No ano de 2006 foi aprovado pelo Conselho Federal de Contabilidade a NBC T 15 (Norma Brasileira de Contabili-dade – 15), que estabelece procedimentos para evidenciação de informações de natureza social e ambiental. Esta Norma tem o objetivo de demonstrar para a sociedade a responsabi-lidade social das empresas.

Apesar de não ser um instrumento obrigatório, a NBC T 15 traz alguns importantes avanços, como a necessidade de um contador e de um auditor, além de estabelecer um grupo mínimo de indicadores.

O conteúdo deste modelo é bem simplificado frente àqueles do Instituto Ethos e do GRI. De forma resumida, devem-se evidenciar informações sobre:

a) a geração e a distribuição de riqueza;b) os recursos humanos;c) a interação da entidade com o ambiente externo; d) a interação com o meio ambiente.

Apesar da simplificação e do apelo legal desta norma, Teixeira (2011) formulou um estudo visando investigar quais são as informações socioambientais, demonstradas nos relatórios publicados por 65 empresas de capital aberto que deveriam seguir às recomendações da NBC T 15. Os dados da pesquisa revelaram que:

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a) nenhuma empresa pesquisada publicou qualquer de-monstração contábil denominada como Demonstrativo de Informações de Natureza Social e Ambiental (DINSA);

b) 63% das empresas estudadas não evidenciam o nome do responsável pelas informações de natureza socio-ambiental conforme recomenda a NBC T 15. Isso demons-tra como o processo de reflexão dos impactos sociais e am-bientais ainda é difícil para as empresas.

A seguir apresenta-se um quadro síntese do modelo NBC T 15:

Quadro 1 – Informações de natureza social e am-biental, conforme a NBC T 15

1 – Geração e distribuição de riquezaRiqueza gerada e distribuída pela entidade, apresentada conforme a Demonstração do Valor Adicionado, definida na NBC T 3.

2 – Recursos Humanos 2.1 Quanto à remuneração e benefícios concedidos aos empregados, administradores, terceirizados e autônomos:a) remuneração bruta segregada por empregados, administradores, terceirizados e autônomos;

b) relação entre a maior e a menor remuneração da entidade, considerando os empregados e os administradores;

c) gastos com encargos sociais;

d) gastos com alimentação;

e) gastos com transporte;

f) gastos com previdência privada;

g) gastos com saúde;

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h) gastos com segurança e medicina do trabalho;

i) gastos com educação (excluídos os de educação ambiental);

j) gastos com cultura;

k) gastos com capacitação e desenvolvimento profissional;

l) gastos com creches ou auxílio-creche;

m) participações nos lucros ou resultados.

Estas informações devem ser expressas monetariamente pelo valor total do gasto com cada item e a quantidade de empregados, autônomos, terceirizados e administradores beneficiados.

2.2 Nas informações relativas à composição dos recursos humanos devem ser evidenciados:a) total de empregados no final do exercício;

b) total de admissões;

c) total de demissões;

d) total de estagiários no final do exercício;

e) total de empregados portadores de necessidades especiais no final do exercício;

f) total de prestadores de serviços terceirizados no final do exercício;

g) total de empregados por sexo;

h) total de empregados por faixa etária, nos seguintes intervalos:

- menores de 18 anos

- de 18 a 35 anos

- 36 a 60 anos

- acima de 60 anos

i) total de empregados por nível de escolaridade, segregados por:

- analfabetos

- com ensino fundamental

- com ensino médio

- com ensino técnico

- com ensino superior

- pós-graduados

j) percentual de ocupantes de cargos de chefia, por sexo.

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2.3 Nas informações relativas às ações trabalhistas movidas pelos empregados contra a entidade devem ser evidenciados:a) número de processos trabalhistas movidos contra a entidade;

b) número de processos trabalhistas julgados procedentes;

c) número de processos trabalhistas julgados improcedentes;

d) valor total de indenizações e multas pagas por determinação da justiça.

Para o fim desta informação, os processos providos parcialmente ou encerrados por acordo devem ser considerados procedentes.

3 – Interação da entidade com o ambiente externo3.1 Nas informações relativas à interação com a comunidade devem ser evidenciados os totais dos investimentos em:a) educação, exceto a de caráter ambiental;

b)cultura;

c) saúde e saneamento;

d) esporte e lazer, não considerados os patrocínios com finalidade publicitária;

e) alimentação.

3.2 Nas informações relativas à interação com os clientes devem ser evidenciados:a) número de reclamações recebidas diretamente na entidade;

b) número de reclamações recebidas por meio dos órgãos de proteção e defesa do consumidor;

c) número de reclamações recebidas por meio da Justiça;

d) número das reclamações atendidas em cada instância arrolada;

e) montante de multas e indenizações a clientes, determinadas por órgãos de proteção e defesa do consumidor ou pela Justiça;

f) ações empreendidas pela entidade para sanar ou minimizar as causas das reclamações.

Nas informações relativas aos fornecedores, a entidade deve informar se utiliza critérios de responsabilidade social para a seleção de seus fornecedores.

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Fonte: SANTOS, Fernando Almeida (2009, p. 498-500) – Dados ex-traídos da Norma Brasileira de Contabilidade CFC NBC T 15, de 19 de agosto de 2004 – Informações de Natureza Social e Ambiental.

SínteSe doS demonStrativoS SociaiS e ambientaiS

Na prática, o que se evidencia neste cenário da res-ponsabilidade social corporativa, com seus instrumen-tos, é uma oferta variada de modelos de balanço social, havendo algum tipo de concorrência entre eles. Curio-samente há mais similaridades do que diferenças entre estes (GODOY et al, 2007; PUPPIM, 2004; PUPPIM, 2005). O que gera confusão aos possíveis aderentes.

Neste sentido, uma breve reflexão sobre um tema pouco estudado como a padronização, que tenta enten-

4 – Interação com o meio ambiente a) investimentos e gastos com manutenção nos processos operacionais para a melhoria do meio ambiente;

b) investimentos e gastos com a preservação e/ou recuperação de ambientes degradados;

c) investimentos e gastos com a educação ambiental para empregados, terceirizados, autônomos e administradores da entidade;

d) investimentos e gastos com educação ambiental para a comunidade;

e) investimentos e gastos com outros projetos ambientais;

f) quantidade de processos ambientais, administrativos e judiciais movidos contra a entidade;

g) valor das multas e das indenizações relativas à matéria ambiental, determinadas administrativa e/ou judicialmente;

h) passivos e contingências ambientais.

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der quais forças originam o movimento de repetição de standards, pode trazer algumas novas ideias ao debate so-bre balanço social.

Padronização de indicadoreS

Para o sociólogo Antony Giddens (2008), a padro-nização é uma força presente na sociedade, mas ainda pouco estudada. Esta se materializa em standards, por exemplo, na educação (disciplinas, cursos, material didá-tico), na saúde (protocolos, procedimentos), no compor-tamento das pessoas (padrões de beleza, entretenimento).

Adotando um enfoque sociológico ao abordar este tema, Brunnson (2000) propõe que há três tipos de padronização:

a) ser algo: classificam coisas ou atores. Isso quer di-zer, por exemplo, estabelecer padrões sobre o que é ser um telefone, um fax, sistema métrico ou Celsius. Ou ainda na Ciência, a classificação de plantas, dicionários técnicos;

b) o que se faz: são padrões direcionados a com-portamento, vide livros de etiqueta, educação, relacio-namento, como lidar com problemas financeiros, como armazenar, como manufaturar; como a liderança deve atuar; como a contabilidade deve ser exercida etc.

c) o que temos: deve-se ter um plano para carreira; obje-tivos claros; plano estratégico, um departamento de qualidade.

Neste contexto, o papel de padronizador pertence a movimentos sociais, ONGs, meio acadêmico, associações profissionais. São organizações privadas, não controladas pelo Estado, que detêm certa autorregulação ao criar suas próprias regras. Duas características são relevantes no seu

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funcionamento: a) Situam-se no mercado global, onde encontram pouca concorrência, ultrapassando inclusi-ve o Estado, pois tem caráter internacional b) A adesão aos padrões são voluntárias e não há obrigatoriedade em segui-los integralmente.

Algumas vantagens desta forma organização para a sociedade são evidentes: trata-se de uma maneira efe-tiva de transmitir informações, pois se todos seguem o mesmo padrão, não há necessidade de detalhar os fatos caso a caso, reduzindo a quantidade de informações na transação. Além disto, torna fácil obter informações e co-ordenar ações. Criam similaridade e homogeneidade de pessoas mesmo longe numa escala global Por fim, gera, dissemina e armazena soluções otimizadas.

As desvantagens também devem ser contabilizadas: pode encobrir comportamentos tecnocráticos, distan-ciados da realidade, descontextualizados no espaço e no tempo. E por fim, ignorar o indivíduo, desqualificando a subjetividade, sabedoria e experiência acumuladas.

Até aqui se apresentou um panorama geral sobre um tema pouco estudado, como a padronização.

No âmbito corporativo, os padrões podem ser defi-nidos como pedaços de aconselhamento oferecidos a um grande número de potencial aderentes. São soluções oti-mizadas para o uso de vários agentes. Adquire um colo-rido especial não somente pela disseminação de padrões gerenciais (vide ISO 9000; PMI; normas contábeis, ou ainda, balanços sociais), mas principalmente pela criação e gerenciamento de indicadores.

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Estes podem ser classificados, por exemplo, como internos ou externos; antecedentes ou posteriores; de fre-quência ou profundidade.

Para Campos et al (2012) algumas propriedades dos indicadores devem ser consideradas num processo de mensuração:

• Relevante e neutro: capacidade de informar sobre o aspecto que se deseja monitorizar, dificuldade em ser mani-pulado e refletir o âmbito correto da forma mais econômica.

• Simples: de fácil obtenção.• Comparável: capacidade de ser replicado dentro e

fora da organização.• Disponível: acessível sem restrições nos períodos

que a empresa determina.• Confiável: procedente de fontes de informação

confiáveis e consistentes, com os sistemas de controle in-terno adequados.

• Preciso: com capacidade de identificar as diferen-tes situações e detectar alterações significativas.

• Verificável: transparente e com facilidade em de-terminar a sua confiabilidade e rigor.

Ao constatar que os demonstrativos sociais apre-sentavam muitas similaridades, que acabavam por gerar mais confusão do que clareza para os potenciais aderen-tes, esboçou-se nesta seção a tentativa de reflexão sobre as forças que padronizam os comportamentos das organiza-ções e suas mensurações com indicadores.

Antes de cair em um mimetismo irrefletido, to-mou-se como premissa neste artigo que as organizações deveriam estar munidas de reflexão critica no processo

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de formulação de um balanço social. Isso quer dizer, na prática, que deveriam identificar as forças sociais que conduzem à padronização e o que realmente são indica-dores, e como funcionam.

Nesse sentido, como demonstrado na próxima se-ção, é necessário estabelecer etapas claras na elaboração e divulgação dos dados de natureza social e ambiental pode facilitar a escolha de modelos de balanço social e inteligi-bilidade na analise dos dados coletados.

etaPaS da elaboração e imPlantação doS dadoS de natureza Social e ambiental A elaboração e divulgação dos dados de natureza

social e ambiental são um contínuo desafio para as em-presas e para a sociedade, sendo que há quatro etapas cla-ramente destacadas. As etapas são:

1. Elaboração e implantação.2. Consolidação do processo.3. Análise dos demonstrativos.4. Revisão periódica do processo. Elaboração e

implantaçãoA Instituição, ao elaborar os demonstrativos de na-

tureza social e ambiental, deve analisar os modelos cita-dos existentes e buscar adaptá-los para a realidade e as necessidades da empresa e do setor.

Há empresas que elaboram relatórios qualitativos sustentáveis, mas que não possuem dados quantitativos. Esse fato dificulta muito a análise e o acompanhamento de agentes, principalmente externos.

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Para elaboração é fundamental a participação de profissionais qualificados, além da inclusão de profissio-nais da área contábil. Observa-se, porém, que é igualmen-te importante a participação de profissionais de diversas áreas e de representantes externos, pois proporciona uma maior transparência e ética ao processo.

Para se adequar à NBC T 15, considera-se necessária a participação de um contador, que será o responsável pelo processo, e de um auditor independente que será o responsável por rever o processo.

conSolidação do ProceSSo

O processo pode ser consolidado com um trabalho contínuo de divulgação e conscientização interna e ex-terna, além de ser muito relevante o apoio institucional.

Esta consolidação possibilita maior visibilidade para a Instituição, fato que pode melhorar a imagem institu-cional, mas que, também, expõe mais a empresa. Como a responsabilidade social e a sustentabilidade são dois as-pectos muito relevantes para as empresas, buscar a conso-lidação é muito relevante para ampliar a competitividade, facilitar fontes de financiamento.

análiSe doS demonStrativoS

A Gestão Financeira e Contábil é fundamental para o desenvolvimento e para sua sustentabilidade e, consequen-temente, para continuar a cumprir a sua função social.

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Devido a este fato, durante anos se desenvolveram várias técnicas de análise das demonstrações desenvolvidas.

A análise das demonstrações contábeis e financeiras ocorre por diversos métodos, porém destacam-se a aná-lise horizontal ou histórica, a análise vertical e a análise por quocientes.

análiSe horizontal ou hiStórica

A análise horizontal permite visualizar o desem-penho para comparar, por meio da comparação dos dados econômicos e financeiros em diferentes perío-dos além de possibilitar comparações com o mercado e com outras empresas.

Segundo Hoji (2004) “a análise horizontal tem a fi-nalidade de evidenciar a evolução dos itens das demons-trações contábeis por períodos. Calculam-se os números – índices estabelecendo o exercício mais antigo como ín-dice base, ou seja, 100”.

Matarazzo (2010) observa que “a evolução de cada conta mostra os caminhos trilhados pela empresa e as possíveis tendências”.

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Para realizar a análise horizontal no exemplo foram considerados 5 anos, pois assim possibilita uma avaliação do desempenho. Outra observação é que 2008 foi o ano de re-ferência, portanto considerado 100%. Quando o percentual for de até 100% significa uma evolução do indicador, quan-do abaixo disso houve um decréscimo.

No caso os resultados demonstram que a empresa tem uma tendência significativa de diminuir o número de recla-mações nas diversas instâncias.

análiSe vertical

A análise vertical, por sua vez, analisa os demonstrati-vos, comparando a sua composição estrutural, por exemplo, para os valores do Ativo, compara-se ao seu total. Da mes-ma maneira, para valores da Demonstração do Resultado do Exercício, compara-se ao Faturamento.

No caso da Tabela 1, pode-se comparar o número de reclamações com o faturamento. O que pode ser observado é que há uma redução significativa no número de reclama-ções, independente da instância, contudo, se o faturamento teve uma redução maior, proporcionalmente, as reclamações estão aumentando.

Portanto, apresenta-se a seguir a Tabela 2, que demonstra uma hipótese de queda no faturamento, o que demonstra que a empresa de fato não está melhorando os seus processos, de forma que reduziram as reclamações, mas está perdendo os clientes.

Por exemplo, o número de reclamações diretamente na enti-dade reduziram em 61% no período de 5 anos, mas o faturamen-to reduziu em 83%, logo, aumentou reclamações. Se comparar en 2010, as reclamações representavam 0,0018% do faturamento e em2014, 0,0042% representado um aumento de 44%

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análiSe Por quocienteS

A análise por quocientes consiste em realizar divisões, com o objetivo de possibilitar uma análise e comparabi-lidade. Marion (2009, p. 11) afirma que “os indicadores (ou índices ou quocientes) significam o resultado obtido de duas grandezas”.

No caso do exemplo citado é possível, ainda, compa-rar o número de reclamações com aspectos como:

a) o número de clientes;b) o número de pedidos;c) a satisfação do cliente;d) o número de devoluções;e) o volume de devoluções;f) o número de clientes que não realizam novas compras.

reviSão Periódica do ProceSSo

Periodicamente, no mínimo anualmente, é funda-mental rever o processo, a fim de aprimorá-lo e possibilitar a melhoria contínua. Verificando sempre aspectos como visibilidade, funcionalidade, viabilidade, funcionalidade e ética. Esta revisão, também, deve ter a participação de agentes internos e externos.

conSideraçõeS finaiS

Os demonstrativos de natureza social e ambiental são fundamentais para a competitividade das instituições, as-

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sim como a melhoria da sociedade, garantindo desenvol-vimento com responsabilidade social.

Para implantação e desenvolvimento destes demons-trativos se propõe a execução das quatro etapas, que con-templam: elaboração e implementação, consolidação do processo, análise dos demonstrativos e revisão periódica.

O que se observa é que tais demonstrativos, apesar de fundamentais, ainda precisam ser mais desenvolvidos e aprimorados e não podem ser utilizados apenas como instrumentos de propaganda e marketing das empresas. Portanto, este desenvolvimento deve buscar a contribui-ção efetiva para uma sociedade melhor e mais sustentável.

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referênciaS

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caPítulo 2 – indicadoreS Para a SuStentabilidade

Carlos Vital Giordano – Doutor em Ciências So-ciais pela PUC-SP e mestre em Administração de Em-presas pela PUC-SP. Especialista em Estratégia, Gestão por Indicadores Integrados, Gestão da Inovação, Gestão de Projetos, Empreendedorismo, Sistemas de Informa-ção, Tecnologia da Informação e Sistemas Sustentáveis. Professor universitário há 18 anos, pesquisador, experi-ência empresarial (consultor), além de autor de livros e artigos sobre Administração, Indicadores Empresariais, Sustentabilidade, Tecnologia da Informação, Sistemas de Informação, Inovação e Estratégia.

RESUMOO acerto na tomada de decisão é fator de suma im-

portância para a gestão eficiente. Estas decisões, que obri-gatoriamente levam à prática de ações e movimentam recursos (que se mal usados retornam desperdícios), se devidamente feitas, tendo como base as experiências do tomador de decisões, acrescidas do apoio de informações originárias dos sistemas, do amparo de outras soluções permitidas pelas tecnologias de informação, ou não, e, principalmente, os instrumentos de controle representa-dos por painéis, tabelas, gráficos e outras demonstrações administrativas gerenciais, consentem uma possibilidade maior para o melhor retorno possível nas movimentações dos recursos aplicados.

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A gestão baseada em indicadores, normalmente já utilizada em diversas áreas administrativas, como finan-ças, marketing, produção, logística e outras, alcançaram grau de valia significativa também no âmbito da gestão da sustentabilidade e dos seus agregados. Dessa manei-ra, torna-se indispensável uma revisão dos conceitos, da construção, da disponibilidade, da aplicabilidade, da in-fluência e do uso dos indicadores empresariais na gestão sustentável, bem como, na apresentação de exemplos in-tegrados e funcionais para esses fins. Encerra o texto as considerações finais representadas, em síntese, pela não mais exequível gestão apurada sem indicadores integra-dos, levando, no caso da sua ausência, a perda irreversível de competitividade ou mesmo a supressão do negócio.

Palavras-chave: Competitividade; informação; in-dicadores; sustentabilidade.

introdução

Os fluxos, os processos e as atividades (e suas tarefas) existentes em uma organização são melhores administra-dos com base em informações. Portanto, a informação é componente imprescindível para a gestão, porque na sua correta interpretação, o dirigente adota decisões e cons-trói os seus planos para bem administrar o seu setor ou até mesmo toda a empresa.

As informações disponibilizadas pelos sistemas e outras tecnologias não devem apresentar apenas o cará-ter de uma das áreas da organização, porque, potencial-mente, essas mesmas soluções abrem novos horizontes

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para a elaboração de outros resultados, que retratem as situações de diferentes setores da empresa, permitindo, assim, a criação de importantes suportes para as deci-sões dos administradores.

Os resultados esperados e alcançados em termos fi-nanceiros, por vezes acobertam, em médios e longos pra-zos, problemas internos no ambiente da empresa, repre-sentados por desvios de qualidade na produção, erros sis-temáticos na logística, práticas de marketing incompletas e problemas ambientais e de sustentabilidade. Por isso, torna-se essencial a perfeita integração dos resultados ob-tidos, nível a nível, preferencialmente indo do mais baixo para o mais alto, fazendo com que ao final, se alcancem valores que contemplem os inúmeros componentes for-madores desses mesmos indicadores.

O indicador, por sua vez, é um número dotado de uma unidade (tipo) e de um contexto, que expressa o es-tado de algo medido (normalmente os resultados de de-cisões tomadas e de ações iniciadas pelo gestor), e é consi-derado relevante para o funcionamento da área. Para isso, os sistemas de informação (baseados em computadores ou não) geradores de indicadores se alimentam dos dados e das informações armazenadas pela organização. Desse modo, bons indicadores necessitam de dados (e/ou in-formações) corretamente coletados, devidamente elabo-rados e precisos. Ao final, os indicadores mostram, com maior ou menor nível de detalhes, como um processo específico se comporta e como as ações planejadas estão sendo desenvolvidas. Os indicadores, por fim, mensuram atividades (ou as tarefas dentro das atividades) para que

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estas possam ser comparadas, corrigidas, reforçadas ou eliminadas. Em resumo: administradas.

Os indicadores (que na verdade expressam nume-ricamente, no tempo, as ações perpetradas) devem sa-tisfazer apropriadamente as necessidades dos gestores e também precisam apresentar diversidade. Em outras palavras, espalharem-se por toda a organização, departa-mentos, setores e postos de trabalho, tendo como refe-rencial uma construção lógica integrada (princípio que pode ser chamado de causa e efeito), fugindo assim dos tradicionais modelos baseados somente em números liga-dos prioritariamente à área financeira, por exemplo.

De acordo com Antunes (2013), ao encarar a sus-tentabilidade como um processo de negócios e não um coletivo de projetos sociais e/ou ambientais é fundamen-tal não apenas prestar contas do dinheiro, mas também do que o uso do dinheiro significou para a sociedade e para a empresa. O autor alerta ainda para o fato de que os indicadores vinculados à sustentabilidade não são tão fáceis de medir, às vezes em função do tempo decorrido para se alcançar determinado fim. Destaca, por exemplo, que é mais significativo o impacto (aumento da renda da família do aluno) de um curso de capacitação patrocina-do pela empresa do que o monitoramento do compare-cimento às aulas ou das notas obtidas nas avaliações. Por outro lado, reforça-se que esses indicadores de controle em hipótese alguma devem ser descartados, porque per-tencem a outras esferas de interpretações.

Das dificuldades mencionadas anteriormente, so-bressaem nitidamente o estabelecimento de indicadores

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que reflitam não apenas as perspectivas tradicionalmente presentes (financeira, operacional etc.), mas também os aspectos social, ambiental, cultural, entre outros.

Assim, existem metodologias (devidamente aplica-das com êxito em outras áreas) que podem ser utilizadas com sucesso nas medições voltadas para a sustentabilida-de. Estão disponíveis, ainda, outras soluções funcionais específicas para o desenvolvimento sustentável, como: Ecological Footprint Method, Dashboard of Sustainability e o Barometer of Sustainability.

indicadoreS

Notório é o fato de que o desenvolvimento sustentá-vel é um processo em aperfeiçoamento mediante a com-binação de três vertentes de desenvolvimento, que visam ganhos para a sociedade, para as empresas e para as pes-soas. São elas: melhoria da qualidade do ambiente, cres-cimento econômico e promoção de benfeitorias para a sociedade. Estabelecer bases sólidas para que isso ocorra, tornam necessárias a criação, a coleta, a tabulação, a apre-sentação e o acompanhamento de indicadores (resultado das ações executadas), objetivos e metas, que fornecerão o desempenho para, se necessário, as devidas correções, ajustamentos e finalizações, buscando, ao final, o sucesso esperado.

Para o IBGE (2013), os indicadores representam ferramentas constituídas por uma ou mais variáveis asso-ciadas de diferentes maneiras, no sentido de revelar signi-ficados mais extensos sobre determinados acontecimen-

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tos ou estudos em observação. Refletem medidas, manei-ras de mensuração, parâmetros, que contêm conjuntos de informações normalmente sintetizadas em números. Embora ocorram em maior número no formato quanti-tativo, explicam Kayano e Caldas (2002), apresentam-se também, na forma qualitativa, permitindo, assim, corre-lacionar fenômenos entre si ou ao longo do tempo.

Para a FNQ (2012), a questão não é se o sistema de medição do desempenho de uma organização é im-portante ou não, mas se a medição sistemática, seguin-do uma estrutura de indicadores (e não apenas dados ou informações gerenciais) planejada e balanceada, faz diferença na capacidade de uma organização apresentar resultados excelentes, sustentáveis e, ainda, decorrentes das práticas de gestão existentes.

Assim, a medição sistemática, estruturada e balance-ada permite às organizações monitorar seu desempenho, e, dessa forma, realizar rapidamente intervenções com base em indicadores pertinentes e confiáveis, à medida que ocorrem as flutuações em seus valores.

É de suma importância, para começar, explicar a di-ferenciação entre os conceitos de dados, informações e indicadores, e suas características principais.

dadoS

Dados são itens referentes a uma descrição primá-ria de objetos, eventos, atividades e transações que são gravados, classificados e armazenados, mas não chegam a

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ser organizados de forma a transmitir algum significado específico. Trata-se de registros de fatos, de fenômenos, de eventos (TURBAN; McLEAN; WETHERBE, 2010).

informaçõeS

Para os mesmos autores, a informação é todo con-junto de dados organizados de forma a terem sentido e valor para seu destinatário. Este interpreta o significado, tira conclusões e faz deduções a partir deles. Os dados processados por um programa aplicativo (virando infor-mação) têm uso mais específico e maior valor agregado do que aqueles simplesmente recuperados de um banco de dados. Esse aplicativo pode ser um sistema de geren-ciamento de estoques, um sistema de matrículas on-line de uma universidade, ou um sistema de internet para compra e venda de ações ou um sistema de controle de indicadores para a sustentabilidade.

indicadoreS

Já os indicadores representam resultados de ações e, dentre suas características, destaca-se a existência de fórmulas para seu cálculo que preferencialmente, e no mínimo, preconizem uma razão (conta de dividir) entre duas informações, o que demonstra a existência de um número genuíno e contextualizado. Por fim, o indicador é aquele que mais auxilia na tomada de decisão e com maior qualidade do que as informações ou os dados.

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Tomando-se como exemplo os indicadores ambien-tais, estes podem ser entendidos como a representação de um conjunto de dados, informações e conhecimen-tos acerca de determinado fenômeno urbano/ambiental capaz de expressar e comunicar, de maneira simples e objetiva, as características essenciais (como ocorrência, magnitude e evolução, entre outros aspectos) e o signi-ficado (como os efeitos e a importância socioambiental associado) desse fenômeno aos tomadores de decisão e à sociedade em geral. Sua adoção, para Amorim (2013), envolve a perspectiva de ser utilizado no acompanha-mento de cada fenômeno urbano/ambiental ao longo do tempo, no sentido de avaliar o progresso ou retrocesso em relação ao meio ambiente.

Para melhor explicação da importância da razão, ao invés do número puro, em tomadas de decisões baseadas em indicadores, examina-se o problema das cidades rela-tivo aos resíduos sólidos, que a NBR 10.004, da ABNT, define como sendo os resíduos nos estados sólido e semis-sólido, que resultam de atividades da comunidade, sendo de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola e de serviços de varrição.

A Tabela 1 revela a coleta em quilogramas de resí-duos sólidos domiciliares em uma cidade de 249.100 habitantes (atual) no decorrer dos últimos 7 anos. Lem-brando que, de acordo com Jardim (1995), as carac-terísticas dos resíduos sólidos domésticos (RSD) são influenciadas por vários fatores como: número de ha-bitantes, poder aquisitivo, nível educacional, hábitos e costumes da população; condições climáticas e sazonais;

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e as mudanças na política econômica de um país tam-bém são causas que influenciam na composição dos re-síduos sólidos de uma comunidade.

Tabela 1 – Resíduos/Habitante

Ano Resíduos (Kg) Habitantes Kg/Habitante2007 199.801 261.000 0,7662008 198.258 258.000 0,7682009 197.987 255.000 0,7762010 197.841 254.000 0,7792011 196.220 251.500 0,7802012 195.515 250.000 0,7822013 195.050 249.100 0,783

Fonte: Autor

Como observado, se levadas em consideração so-mente as quantidades em quilogramas de resíduos gera-das a cada ano (número puro), tem-se uma tendência à redução, -2,4% (de 2007 para 2013). Contudo, avalian-do a quantidade per capita, nota-se a evolução na gera-ção de resíduos por pessoa (razão entre os quilogramas produzidos e a população), +2,3% (de 2007 para 2013). Outros dois itens estatísticos de relevância nessa análise: primeiro, a correlação entre os quilogramas gerados e a razão calculada: -0,90 (fortemente negativa); e, segundo, a regressão linear simples para inferir a razão em 2020, igual a 0,81 kg/habitante.

Não existem graves problemas em empregar uma es-trutura de medição preponderantemente baseada em indi-

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cadores puros, mas deve-se levar em conta certos cuidados nas interpretações alcançadas, para não levar a decisões equivocadas. Além disso, um dos motivos relevantes para se adotar indicadores genuínos em detrimento a indicado-res puros é que aqueles permitem comparações inerentes com outras organizações ou entidades, o que é extrema-mente útil para a gestão em termos de benchmarking.

Outro tópico essencial é o sentido numérico deseja-do do indicador. Alguns apresentam resultados esperados quando sobem, outros, os resultados desejados seriam para quando caem. No exemplo anterior é melhor que as quantidades de quilos de resíduos diminuam, o que a princípio era o que estava acontecendo. Em contraparti-da, a produção per capita estava subindo, o que não é o desejado. Maus indicadores (ou más leituras dos indica-dores) podem confundir ou até precipitar decisões que irão desperdiçar recursos, tão escassos para a maioria das organizações e dos governos.

metaS

Um indicador de desempenho é um dado numéri-co ao qual se atribui uma meta cuja tradução periódica é submetida à atenção dos gestores de uma instituição (FNQ, 2012). O dado numérico relativo a um indi-cador pode ser convertido em uma meta. Essa meta deve estar atrelada a uma unidade de tempo (t), sendo que podem ser considerados dois tempos diversos: o primeiro, o de partida, (01/01/20xx); e o segundo, o de chegada, (01/01/20xx+t).

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Na sua constituição, um indicador deve ter relação com outros indicadores de níveis superiores e de níveis inferiores, construindo, assim, uma rede conectada de indicadores tanto no sentido vertical, como também, em alguns casos, no sentido horizontal. Explicando melhor: um indicador depende e é dependente de outros indica-dores (ver Quadro 1).

Segundo a FNQ (2012), um modelo muito utili-zado é aquele que divide os indicadores em três níveis básicos de hierarquia:

• EstratégicoSão usados para avaliar os principais efeitos da es-

tratégia nas partes interessadas e nas causas desses efeitos, refletindo os objetivos e as ações que pertencem à organi-zação como um todo, e não a um setor ou processo.

• GerencialSão usados para verificar a contribuição dos setores

(departamentos) e/ou processos de ponta a ponta orga-nizacionais à estratégia e para avaliar se esses setores e/ou processos buscam seus objetivos.

• OperacionalServem para avaliar se os processos ponta a ponta,

os subprocessos ou padrões de trabalho individuais estão sujeitos à melhoria contínua e à busca da excelência.

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Quadro 1 – Relações (nível) entre indicadores

INDICADORESNível

EstratégicoNível

GerencialNível Operacional

Cidade saudável

Condições de ar na cidade

* Plantio de árvores (Ambiente) = 500.000.

* Regulagem dos motores (Transportes) = 804 ônibus.

* Fiscalização nas empresas (Desenvolvimento) = 1.200.

* Campanhas ao público (Comunicações) = 90.

Rede de esgotos...

...Outros

indicadores ...

Fonte: autor, a partir de dados coletados na Prefeitura de Sorocaba (os nomes entre parênteses representam as Secretarias Municipais).

Então, um indicador possui texto (o que represen-ta), números (valor de saída e valor de chegada), sentido (melhor para mais ou para menos), datas (partida e con-clusão) e deve-se levar em consideração pontos de che-cagem entre as duas datas anteriores, para verificação e adoção de ações corretivas caso o que se pretende não esteja sendo realizado.

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No exemplo do Quadro 1, referente à Prefeitura Mu-nicipal, o indicador estratégico é Cidade saudável; os ge-renciais são as condições do ar na cidade, rede de esgotos, mobilidade urbana, reciclagem e outros; os operacionais são plantio de árvores, regulagem nos motores dos ônibus, fiscalização ambiental das empresas e campanhas de cons-cientização sobre o meio ambiente. Existem ainda, no nível operacional, outros indicadores no âmbito das diretorias e seções da Secretaria do Meio Ambiente, que planejariam as ações (monitoradas por checagens periódicas) para alcan-çar as metas determinadas pelos números mostrados. Tudo isso até a data estipulada, por exemplo, 31/12/20xx.

Ainda tomando-se como base para a discussão o Quadro 1, apontam-se como indicadores do tipo Moni-toramento (só de controle, de alcançar metas diretas, ten-dendo a do tipo puro) o plantio de 500.000 árvores, a re-gulagem dos 804 ônibus da frota, a fiscalização ambiental em 1.200 empresas e as 90 inserções de comunicação (jor-nais, revistas, rádios, TVs etc.) planejadas; e ainda como Monitoramento o indicador de condições do ar na cida-de. Porém, o indicador Cidade Saudável, está acima desse nível, e pode ser considerado um indicador de Impacto, assim definido porque é o resultado mais elevado da soma dos outros indicadores que o compuseram e, não raramen-te, muito maior em retorno para os munícipes do que a simples soma dos indicadores de níveis menores. Familiar-mente é chamado de indicador “E aí?” Foram feitos todos os esforços, colocadas em funcionamento todas as práticas planejadas e, ao final, obtêm-se efetivamente (impacto) um ambiente de Cidade saudável? Os indicadores de mo-nitoramento normalmente compõem os indicadores de

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Impacto. Ou ainda, em outra perspectiva, os indicadores de Monitoramento podem compor outros indicadores de Monitoramento. Existe ao final um entrelaçamento lógico construído a partir da “inteligência” na construção de to-dos os indicadores necessários.

No ambiente empresarial toma-se como exemplo o indicador Satisfação dos Clientes, que na data de saída está em 90,5% e deverá alcançar na data de chegada, 24 meses depois, 93,5%. A árvore de conexão entre os indi-cadores para atingir esse indicador de Impacto certamen-te é composta de diversos indicadores de Monitoramen-to em vários níveis. Supondo que a empresa disponha de uma equipe de manobristas em seu estacionamento (muito usado pelos clientes), a satisfação dos clientes com os serviços desses profissionais faz parte do cálculo do in-dicador maior, mesmo passando por outros níveis inter-mediários até chegar ao topo.

Ainda para as empresas privadas, uma infinidade de indicadores, tanto de Impacto quanto de Monitoramen-to, podem ser desenvolvidos ou absorvidos de modelos existentes, entre estes se destacam: emissões, efluentes, geração de resíduos, uso de água, economia de energia, conformidade ambiental, controles ambientais dos forne-cedores, materiais utilizados, biodiversidade, reciclagem, preservação, práticas trabalhistas, ações sociais, segurança e saúde no trabalho, programas que desenvolvam a socie-dade e treinamento dos colaboradores.

No Quadro 2, Pavani e Scucuglia (2011) exemplifi-cam indicadores de responsabilidade pública, calculados a partir de índices e taxas.

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Finalmente, é fundamental, de acordo com a FNQ (2012), que os indicadores realmente comuniquem a in-tenção do objetivo. Por exemplo, o objetivo de melhorar o atendimento ao cliente pode ser alcançado e monito-rado de várias formas, e os gestores deverão escolher o indicador ou indicadores que realmente comuniquem o que a organização espera de seus colaboradores em rela-ção ao atendimento. Devem, portanto, ser quantificáveis, confiáveis e medidos, preferencialmente, de maneira con-tínua. Sempre que possível, relembrando, deve-se utilizar indicadores que mostrem um índice ou taxa, em vez de uma grandeza absoluta.

aPreSentação

Management Cockpit (dashboard ou painel de bordo) é o termo adotado usualmente para representar o ambiente de gestão em que as informações de indicadores estratégi-cos e de processos estão disponíveis para o gestor, relatam Pavani Jr. e Scucuglia (2011). As representações mostram os indicadores no formato de velocímetros, termômetros, números digitais, gráficos ou barras coloridas e outras figu-ras, que obrigatoriamente devem apresentar os valores do-tados de qualidade em suas informações. O ideal é: menos beleza e sofisticação, e mais relevância, facilidade de enten-dimento, elaboração de análises e números significativos para o gestor tomar, rapidamente, suas decisões.

Tufte (apud Pavani Jr. e Scucuglia, 2011) postula uma série de erros importantes que devem ser evitados em apresentações gráficas profissionais. O autor ressalta

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a qualidade interpretativa das informações, viabilizando decisões corretas, mesmo que isso não privilegie a sofis-ticação das representações gráficas. O mais importante é que a informação subsidie decisões e controles, e não a composição de belos e coloridos painéis de bordo.

Para isso, são definidas as regras básicas:• Utilizar apenas gráficos lineares, de barras, rela-

cionais ou data-maps.• Os gráficos do tipo pizza não devem ser utilizados.• Privilegiar a integridade nos métodos gráficos

(esquivar-se de erros estatísticos).• Providenciar o contexto analítico necessário.• Priorizar altas taxas de preenchimento de dados.• Não utilizar grades no fundo dos gráficos.• Priorizar a alta densidade gráfica.• Não utilizar efeitos visuais.• Não utilizar abreviações.• Os gráficos devem provocar curiosidade, não

repugnância.O dashboard ao final é a apresentação visual deta-

lhada e interativa das informações mais relevantes e im-prescindíveis para informar o(s) estado(s) de um ou mais objetivos de negócio. As informações mostradas estão consolidadas e devidamente ajustadas em uma única tela (esteticamente proveitosa)  para fácil acompanhamento dos itens a controlar.

A ideia é pensar o dashboard como um lugar de ex-tensão limitada e usar soluções inteligentes, buscando aperfeiçoar ao máximo possível as áreas disponíveis na tela, no papel ou em outra mídia de apresentação.

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Qual porcentagem do espaço deve ser ocupada por textos, gráficos, dados e informações relevantes? A saída é a perfeita busca das maximizações desses componen-tes, diminuindo fontes maiores, não sobrepondo figuras ou criando legendas complexas. Evitar ainda uma tabela e um gráfico sobre a mesma série de informações é im-portante saber selecionar corretamente. Tudo deverá ser de fácil reconhecimento, entendimento, análise e inte-ração usuário/dashboard.

Não estão descartados, mesmo assim, apresentações mais modestas em que são mostrados somente poucos grá-ficos e/ou tabelas. A originalidade do que deve ser apre-sentado fica a critério do desenvolvedor dos instrumentos.

PrinciPaiS ferramentaS

A partir da década de 1990 começaram a ser desen-volvidos com mais atenção os indicadores de sustentabi-lidade, visando a avaliação dos avanços sociais em termos de sustentabilidade. Foram acrescidos aos já tradicionais indicadores econômicos e sociais, os referentes às dimen-sões cultural, espacial e ambiental, no intuito de mensu-rar a evolução dos progressos nessas áreas. Nessa dinâmi-ca surgem diversos indicadores, que devem ter suas ela-borações fundamentadas em formulações e ferramentas devidamente contextualizadas com suas relevâncias.

Van Ballen (2005) em seu estudo utilizando técnica Delphi, aquela que recorre aos conhecimentos de espe-cialistas em rodadas seguidas de avaliações, reconheceu, dentre as ferramentas existentes, três como as mais signi-

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ficativas para a elaboração de indicadores de sustentabi-lidade: Ecological Footprint, Dashboard of Sustainability e Barometer of Sustainability.

ecoloGical footPrint (PeGada ecolóGica)

A ferramenta se baseia no conceito de capacidade de carga, fazendo a transformação do consumo de matéria--prima e a assimilação de dejetos de um sistema econô-mico ou população humana, em área correspondente de terra produtiva ou água.

O método calcula a área necessária para manter uma determinada população ou sistema econômico, tendo como referências a energia, recursos naturais e a capaci-dade de absorção de resíduos ou dejetos do sistema.

O cálculo é realizado da seguinte maneira:• Cálculo da média anual de consumo em termos

de utilização de terras.• Estima-se a área apropriada per capita para a produ-

ção dos itens de consumo escolhidos dividindo-se o consu-mo anual per capital pela produtividade média anual.

• A área total é obtida multiplicando-se a área mé-dia obtida pelo número de habitantes da região.

Para que haja uma padronização dos dados usados, as estimativas geralmente utilizam médias nacionais de consumo e médias mundiais de produtividade da terra. Por meio do tamanho do Ecological Footprint é possível vislumbrar os padrões de consumo e produtividade, au-xiliando na elaboração de modelos de gestão.

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O cálculo é fundamentado na premissa de que para cada item de matéria ou energia consumida pela socie-dade, deva existir determinada área de terra, em um ou mais ecossistemas, que é necessária para fornecer o flu-xo destes recursos e depositar seus dejetos. Destaca-se ainda que, para alcançar a sustentabilidade, um sistema precisa levar em consideração o tempo e a capacidade de regeneração dos ecossistemas.

Assim, o Ecological Footprint representa a área do ecossistema necessária para assegurar a sobrevivência de uma determinada população ou sistema (CHAMBERS; SIMMONS; WACKERNAGEL, 2000; e WACKER-NAGEL e REES, 1996), representando a apropriação de uma determinada população sobre o sistema em que ela está inserida, implicando no levantamento dos coefi-cientes técnicos de cada tipo de consumo feito, em con-traste com as demandas de recursos naturais exigidos. A contabilização final é calculada por meio da equiva-lência em água e/ou terra em função da população, das matérias-primas e das tecnologias existentes e utilizadas. O modelo avalia o consumo dos recursos pelas ativida-des humanas com a capacidade de suporte da natureza e aponta se seus impactos no ambiente global são susten-táveis em longo prazo.

Outro resultado importante da ferramenta é a per-missão para que se estabeleçam comparações entre na-ções, cidades e até indivíduos.

O estudo feito por Magela (2013), na cidade e no Estado de São Paulo, e apresentado em junho de 2012, no Rio +20, revela que a Pegada Ecológica média dos

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habitantes do Estado é 3,52 hectares por pessoa (gha), enquanto que para os habitantes da capital é de 4,38. Isso significa que se todos no mundo consumissem da forma que os habitantes do Estado, dois planetas seriam necessários para sustentar esse estilo de vida; e se todos vivessem como as pessoas da cidade de São Paulo, seriam necessários 2,5 planetas.

O estudo indicou ainda que as famílias residentes na cidade de São Paulo com renda de até dois salários mínimos alcançaram a Pegada de 2,46 (gha), enquanto que para a faixa de renda mais alta a Pegada foi de 11,5. No Estado de São Paulo a Pegada Ecológica variou de 1,8 hectares globais (gha) por pessoa, na faixa de renda familiar menor, a 8 hec-tares globais no grupo com renda familiar maior.

Em comparação com o valor médio do Brasil (ver Tabela 2), a Pegada Ecológica da cidade de São Paulo é 49% maior; e para o Estado é 25% maior. Por sua vez a Pegada do Estado é 20% maior que a média brasileira, que é 2,93 hectares globais por pessoa (o equivalente a uma escala global de 1,6 planetas). O tamanho da Pegada média mundial é de 2,7 hectares globais (1,5 planetas).

Tabela 2 – Ecological Footprint (Regiões)

Pegada EcológicaRegião ghaMundo 2,70Brasil 2,93

Estado de São Paulo 3,52Cidade de São Paulo 4,38

Fonte: Autor, adaptando de Magela (2013).

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daShboard of SuStainability (Painel de controle da SuStentabilidade)Quarenta e seis indicadores divididos em três di-

mensões da sustentabilidade compõem a construção deste instrumento, sendo estas: a econômica, a social e a ambiental (ver Quadro 3). A elaboração gráfica é a tradi-cional dos dashboards, assemelhada a um painel de avião, tendo como base três mostradores, cada um indicando uma das dimensões mencionadas. Além desses, é apura-da a média dos valores para o estabelecimento do Índice de Desenvolvimento Sustentável (Sustainable Develop-ment Index, SDI). Van Ballen (2005) informa que esse instrumento representa as unidades de informação que resumem as características de um sistema, evidenciando assim, os pontos do sistema.

Quadro 3 – Quantidade de indicadores por área

Área IndicadoresAmbiental 13Econômica 15

Social 18Fonte: Autor, adaptando de www.compendiosustentabilidade.com.br.

No desenvolvimento da ferramenta, seus idealiza-dores iniciaram pelo exame de quais indicadores seriam os mais apropriados para uso. Em seguida, selecionaram aqueles que apresentaram maior importância para o mo-delo, segundo as perspectivas desejadas.

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Cores foram escolhidas para simbolizar o desempe-nho dos indicadores, sendo utilizada a variação do ver-melho para o verde, tendo sido definida ainda uma pon-deração igualitária para os três indicadores, contribuindo igualmente para o cálculo final de sustentabilidade.

Basicamente a representação gráfica (um velocíme-tro, por exemplo) apresenta um semiarco com gradua-ções indicadoras de partes menores dos valores mínimos e máximos. O semiarco é dividido em três cores, verme-lha à esquerda, amarela ao centro, e verde à direita, para alertar em que estado está o indicador simbolizado. Para finalizar a compreensão da apresentação, um ponteiro é acrescentado, posicionado exatamente no valor atual da variável em exame. Esse posicionamento, no verde, ama-relo ou vermelho indicará o acerto ou o início de práticas para levar o ponteiro aos valores desejados. Alcança-se, ao final, quatro indicadores desenvolvidos, três para as áreas e um com a média calculada. Além desses, se requerido, poderão ser criadas telas subjacentes para apresentar to-dos os 46 indicadores.

Como a ferramenta anterior (Footprint), o SDI per-mite comparações entre nações, regiões, áreas urbanas e outras, que se fizerem necessárias.

Um destaque do Dashboard of Sustainability re-side no fato deste ter sido desenvolvido para avaliar a sustentabilidade levando em conta as interações entre as suas dimensões do desenvolvimento sustentável, di-ferente de outros indicadores de sustentabilidade que tendem a examinar as dimensões do desenvolvimento sustentável de forma isolada.

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Hardi (apud Bellen, 2004), enfatiza que o Dashbo-ard of Sustainability foi concebido para informar os to-madores de decisão, a mídia e ao público em geral da situação de desenvolvimento sustentável de sistemas pú-blicos ou privados, de pequena ou de grande escala, na-cional, regional, local ou setorial.

Para consultas sobre o IDS no Brasil, com possibili-dades de recortes por cidade ou Estados, além de outras abordagens estatísticas, acesse o link www.sidra.ibge.gov.br/bda/pesquisas/ids/default.asp.

barometer of SuStainability (barômetro da SuStentabilidade)O Barômetro da Sustentabilidade é o resultado do

trabalho das equipes de desenvolvimento de dois institu-tos: o The International Development Reseach Center e o The World Conservation Union, tendo como objetivo funcional as medições relativas à sustentabilidade. O mé-todo serve para apoiar os tomadores de decisão, nas áreas governamentais e não governamentais, para planejamen-tos, análises e soluções dos esforços relativos ao desenvol-vimento sustentável.

Prescott-Allen (apud Van Ballen, 2013), um dos idealizadores da ferramenta, destaca uma característica distinta do Barômetro, que é a sua capacidade de com-binar indicadores no sentido de auxiliar nas conclusões permitidas, mesmo considerando valores e perspectivas paradoxais. Reforça ainda a necessidade da busca de uma grande variedade de questões e/ou dimensões, no sen-

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tido de integrá-las em termos sistêmicos. Exemplifica a argumentação mostrando que os indicadores de violên-cia, emprego, economia, qualidade da água, educação, entre outros, devem ser combinados, de forma coerente, senão corre-se o risco da obtenção de confusão ao invés de números confiáveis e integrados (lembrando que esses números vão gerar as iniciativas, os deslocamentos de re-cursos para os seus ajustes nos sentidos desejados). Não devem, portanto, sofrer uma avaliação em separado.

Uma saída para o problema é a adoção de escalas de desempenho, visando a combinação coerente dos indica-dores utilizados. Ao lado de uma determinada escala a ser usada encontra-se o ótimo e, no outro, o ruim. Todo o continuum da escala serve como suporte para as indicações mais apropriadas das medidas em exame, utilizando uma mesma escala geral para diferentes variáveis. Daí se alcança uma maneira mais correta para a associação de indicadores.

Tudo começa com a definição do Sistema e da Meta, chegando-se, a seguir, aos indicadores passíveis de medição e, desta maneira, de sensibilidade sobre os seus desempe-nhos. Acrescenta-se a isso, a hierarquização. O autor citado enfatiza que esse é o caminho mais lógico para transformar os conceitos gerais de desenvolvimento sustentável, bem--estar e progresso em um grupo de condições humanas e ecológicas concretas (VAN BELLEN, 2013).

A apresentação é feita por meio de índices, em re-presentação gráfica, fácil de entender e explicar, e, tam-bém, para exibir uma visão geral do estado da sociedade e do meio ambiente.

Levando-se em conta ainda que um indicador isola-do não seja suficiente para alertas mais precisos, sendo o

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arranjo procedente entre valores o formador de quadros mais aproximados das situações em exame, que podem ser biofísicas e/ou relativas ao meio ambiente, ou ainda, de saúde social.

Um fato a ser considerado desde o princípio se re-fere às escolhas dos indicadores, devendo todos eles, sem exceção, ser portadores de características mensuráveis, forçosamente em termos numéricos.

Para a compreensão mais apropriada, é valioso deta-lhar os principais subíndices das dimensões:

• Ecosfera: Identifica as tendências da função eco-lógica no tempo.

a) Água.b) Terra.c) Ar.d) Biodiversidade.e) Utilização de recursos.

• Social: Representa o nível geral de bem-estar da sociedade.

a) Bem-estar dos indivíduos.b) Saúde.c) Desemprego.d) Pobreza.e) Rendimentos.f ) Crimes.g) Educação.h) Negócios.i) Atividades humanas.

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O Quadro 4, criado a partir da Tabela 3, expõe no Barômetro as dimensões bem-estar social (bem-estar hu-mano) e ecosfera (bem-estar do ecossistema), montadas bidimensionalmente e levando em conta escalas relativas, variando de 0 (situação ruim) a 100 (situação boa). Lem-brando que dimensões normalmente possuem compo-nentes menores que as formam e que foram logicamen-te arranjados para alcançar o indicador mais confiável e exato possível. Para as devidas avaliações, na visualização mais ampla permitida pelo Quadro, observa-se a medida de sustentabilidade e de insustentabilidade dos países sul americanos selecionados.

Quadro 4 – Barômetro

Soci

al

100 (melhor)

80

60 (3) (1) (5)40 (2) (4)20 (pior)

0 20 40 60 80 100Ecosfera

Fonte: Autor, adaptando Prescott-Allen (apud Van Bellen, 2013).

Configura-se evidente que os indicadores, ao assu-mirem valores neutros, ou insignificantes, ou ainda, de significância desconhecida, devem ser excluídos do pro-cesso. Por outro lado, indicadores estritamente descriti-vos devem ser descartados, uma vez que fazem parte do

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contexto e não podem ser modificados (VAN BELLEN, 2013). Da esquerda para a direita, no quadro, é possível adotar cores a cada valor, para intensificar a visibilidade em termos de posicionamentos melhores (quanto mais à direita e acima, melhor) ou piores dos países.

Tabela 3 – Barômetro de Sustentabilidade (países selecionados da América do Sul)

Ecosfera SocialArgentina (1) 40 55Brasil (2) 36 45Chile (3) 30 55Colômbia (4) 42 43Equador (5) 56 43Fonte: Autor, adaptando Prescott-Allen (apud Van Bellen, 2013).

A avaliação dos indicadores, de acordo com Pres-cott-Allen (apud VAN BALLEN, 2013), envolve seis ci-clos ou estágios:

1. Definir o sistema e as metas. O sistema consiste nas pessoas e no ambiente da área a ser avaliada. As metas abrangem uma visão sobre o desenvolvimento sustentá-vel e fornecem a base para a decisão sobre o que realmen-te a avaliação deve medir.

2. Identificar questões e objetivos. Questões são assuntos-chave ou preocupações principais, característi-cas da sociedade humana e do ecossistema que devem ser considerados para se ter uma real visão de sua situação. Objetivos fazem as metas mais específicas.

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3. Escolha dos indicadores e critérios de desempenho. Indicadores são aspectos mensuráveis e representativos de uma questão e os critérios de desempenho são os padrões alcançáveis e desejáveis para cada um dos indicadores.

4. Medição e organização dos indicadores. Os re-sultados dos indicadores devem ser guardados em suas medidas originais, a eles devem ser atribuídos os es-cores relativos ao critério da escala de desempenho e depois organizados.

5. Combinação dos indicadores. Os resultados dos indicadores devem ser combinados dentro da hierarquia do sistema e de cada um dos eixos separadamente.

Alocação, organização e revisão dos resultados. For-necer uma leitura visual dos resultados para que esta re-vele um quadro geral da situação por meio de um índice de desempenho. A revisão pode ligar a avaliação à ação pela análise dos resultados, sugerindo quais ações são ne-cessárias e onde devem ser aplicadas. A revisão também fornece um diagnóstico para a elaboração de programas e projetos. O autor declara ainda que

as dimensões são amplas o suficiente para aco-modar a maioria das preocupações das socieda-des atuais, sendo que qualquer questão conside-rada importante para o bem-estar da sociedade e do meio ambiente tem seu lugar dentro de uma das dimensões. Estas dimensões representam conceitos que não são puramente técnicos, que são igualmente importantes e facilmente combi-náveis dentro de índices de bem-estar (Prescott--Allen apud VAN BALLEN, 2013).

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Com o método examinado anteriormente, e usando as adaptações adequadas, é possível ainda a sua aplicação em empresas, públicas ou privadas, apresentando o Barô-metro não mais por países como no Quadro 4, mas sim por áreas, departamentos, diretorias ou a empresa toda (ver Quadro 5 e Tabela 4).

Quadro 5 – Barômetro para empresas

Soci

al

10080 (4)60 (2) (3) (5)40 (1)200 20 40 60 80 100

Ecosfera

Fonte: Autor.

Tabela 4 – Barômetro de Sustentabilidade (Empresas)

Ecosfera SocialLogística (1) 20 40Compras (2) 40 60P & D (3) 60 40RH (4) 60 80Produção (5) 80 60

Fonte: Autor.

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conSideraçõeS finaiS

É possível, mediante métodos, ferramentas, concei-tos e iniciativas adequadas aferir a sustentabilidade.

Esses processos envolvem práticas fundamentadas em ações visando a construção de rotinas lógicas, base-adas em números, para alcançar o resultado desejado, que é o apoio aos tomadores de decisão (principalmente aquelas voltadas para o futuro) em suas movimentações apropriadas de recursos, evitando assim os desperdícios.

Destacam-se nesses processos os seguintes tópicos:

a) Planejamento e elaboração das lógicas de integra-ção entre os indicadores em desenvolvimento.

b) Idealização das fórmulas matemáticas e estatísti-cas pertinentes.

c) Coleta dos dados e das informações.d) Tratamento.e) Tabulação.f ) Aplicação das técnicas de mensuração.g) Avaliação.h) Apresentação.i) Monitoramento.j) Correções concernentes.

Emissões de carbono, biodiversidade, segurança ambiental, desempenho econômico, proteções sociais, bem-estar diversos, entre outros, são todos indicadores que, se devidamente associados, geram dimensões mais elevadas e mais consistentes. A composição desses indi-

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cadores mais sintéticos deve ser desenvolvida a partir de índices menores, para assim obter o controle irrestrito dos ambientes e da sustentabilidade (esses menores ainda poderão ser criados de outros, em escalas mais inferiores) semelhante a um modelo em cascata.

Os evidentes desafios nas integrações entre as di-mensões da sustentabilidade, levando-se em conta a complexidade na quantidade e na setorização dos dados e informações coletadas, são atenuados pelos instrumentos gerados para a indicação, servindo estes como ferramen-tas válidas de gestão ambiental, facilitando a dissemina-ção do conhecimento e a avaliação das intenções e ações para a gestão de excelência. Permitem, segundo Maga-lhães (2007), em sentido mais amplo, a instituir um sis-tema real e eficaz de governança de sustentabilidade.

Em tempos de computadores mais rápidos no pro-cessamento de dados e grande capacidade de memori-zação, infraestrutura de comunicação cada vez mais po-tente, de tecnologias inovadoras para a correta coleta de dados e informações, e de construções impensáveis em termos de algoritmos e cálculos, a apresentação de indica-dores para a sustentabilidade conquista poderosos aliados para o seu gerenciamento, que pode ser feito em todas as áreas ambientais e sociais.

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referênciaS

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caPítulo 3 – avaliação ambiental eStra-téGica: conceitoS e aPlicabilidade no cenário nacional

Paula Meyer Soares – Doutora e Mestre em Eco-nomia pela Fundação Getúlio Vargas – SP, graduada em Ciências Econômicas pela Universidade de Fortaleza. Atualmente trabalha na universidade de Brasília como professora e pesquisadora na área de energia e sustenta-bilidade. Possui experiência na área de Ciência Política, com ênfase nos seguintes temas: crescimento econômico, sustentabilidade, energia e meio ambiente.

Luiz Claudio Gonçalves – Doutor em Engenharia de Produção, Mestre em Engenharia de Produção, Mestre em Administração de Empresas, Mestre em Turismo Am-biental. Possui especialização em marketing, especialização em planejamento empresarial e graduação em engenharia elétrica. Professor e pesquisador nas áreas de Administra-ção de Empresas e Engenharia de Produção nos seguintes temas: Gestão da Cadeia de Suprimentos e Logística, Ges-tão de Operação, Gestão de Marketing, Gestão de Susten-tabilidade (energia, meio ambiente e sociedade).

RESUMOA consecução da atividade econômica imputa a

transformação de recursos naturais em bens destinados ao suprimento das necessidades dos indivíduos. Apesar dos avanços tecnológicos e das tomadas de decisões, esses

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processos produtivos podem ou não danificar ou impac-tar no meio ambiente. Tendo em vista a progressiva pre-ocupação de ambientalistas e organismos internacionais com respeito ao meio ambiente, é salutar a criação de metodologias que mensurem os efeitos dessas decisões tomadas no bojo das organizações e sinergias em áreas afins. O presente capítulo, por meio de uma pesquisa bi-bliográfica apresentará uma discussão acerca dos concei-tos da metodologia de Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) com o propósito de avaliar suas potencialidades e limitações dentro do cenário nacional. A AAE é um procedimento sistemático e contínuo que busca fornecer subsídios para a adoção de decisões produtivas sustentá-veis por meio da formulação de políticas, planos e pro-gramas de tal modo a assegurar a integração efetiva dos aspectos biofísicos, econômicos, sociais e políticos.

Palavras-chave: Meio ambiente; avaliação ambien-tal estratégica; sustentabilidade; políticas públicas.

introdução Sob a ótica de Clark (1994), as intervenções huma-

nas no meio ambiente são percebidas como uma con-dição indispensável para o desenvolvimento de qualquer país. Todavia, a maneira como os seres humanos exe-cutam essas intervenções, ao longo dos tempos, tem-se revelado extremamente danosa tanto para a sociedade como para as condições ambientais do planeta. O atual cenário socioambiental e econômico apresentado por di-

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versos países mostra evidências que revelam a prática de um modelo de desenvolvimento politicamente injusto, socialmente perverso e ambientalmente predatório. Fe-lizmente, a crescente consciência em relação aos danos ambientais causados pelo homem à natureza levaram as populações, principalmente dos países desenvolvidos, a exigir que critérios ambientais fossem explicitamente considerados no processo de tomada de decisão.

Foi dentro desse contexto que surgiu nos EUA o The National Environmental Policy Act (NEPA),1, foi aprovado em 1969 pelo Congresso Americano,2 como sendo o primeiro documento legal no mundo que estabe-lecia, de uma forma mais abrangente, as relações entre o processo de tomada de decisão e as preocupações relativas à qualidade ambiental (Egler, 1998). Na visão desse mes-mo autor, embora o principal objetivo do NEPA fosse o estabelecimento de uma política nacional que abordas-se as questões ambientais de uma maneira mais ampla, houve uma redução no seu escopo inicial, quando de sua implantação. (EGLER, 1998)

Sob a ótica de Rocha e Pereira (2005), a institucio-nalização do NEPA é um marco da conscientização am-biental mundial. A crescente demanda de grupos orga-nizados na sociedade pela atenção aos efeitos ambientais das decisões nos projetos produtivos resulta no NEPA. É importante a observância e identificação dos impactos 1 Lei de Política Nacional para o Meio Ambiente.2 Essa lei foi aprovada pelo presidente Nixon em 1 de janeiro de 1970, tendo em sua essência a garantia que o processo de tomada de decisão seria equilibrado em relação ao meio ambiente e ao interesse público (Clark, 1994).

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ambientais, dos efeitos ambientais negativos da proposta, das alternativas da ação, da relação entre a utilização dos recursos ambientais em curto prazo e a manutenção ou mesmo melhoria do seu padrão em longo prazo.

Apesar dessa redução em seu escopo, atualmente o NEPA é particularmente conhecido pela elaboração do Environmental Impact Statement (EIS)3 e, consequente-mente da metodologia associada a essa declaração, que foi a Environmental Impact Assessment (EIA), conhe-cida no Brasil como Avaliação de Impactos Ambientais (AIA). Nas décadas seguintes, essa metodologia ex-pandiu-se para muitos países, inclusive para a América Latina. Cabe destacar que a Colômbia foi pioneira em adotá-la em 1974, seguida pela Venezuela, em 1976. Já no Brasil, a EIA foi estabelecida na Lei de Política Am-biental de 1981, sendo posteriormente regulamentada pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONA-MA) em 1986. (ROCHA e PEREIRA, 2005)

Em relação à AIA, Foladori e Chang (2012) salien-tam que apesar dessa metodologia ser considerada como um valioso instrumento de avaliação ambiental, logo se percebeu que a mesma não era suficiente para prever os diversos danos ambientais decorrentes do atual nível de desenvolvimento da sociedade. Esse fato pode ser expli-cado pelo próprio conceito de AIA4, que segundo Cunha (2000) é entendido como um estudo destinado a identi-

3 Ato de Declaração de Impactos Ambientais4 A Avaliação de Impactos Ambientais tem como objetivo prevenir e minimizar as alterações que podem ocorrer na elaboração de um projeto ou determinada atividade, pois o estudo é essencialmente um instrumento de previsão. (SILVA, 1994)

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ficar, interpretar e prevenir as consequências ou os efei-tos que determinados projetos ou ações podem causar para a saúde e ao bem-estar do homem e ao entorno. Dessa maneira, o que se percebe é que a AIA vem sendo utilizada para avaliar os impactos gerados somente por projetos específicos, não levando em conta outros tipos de situações. Por exemplo, a elaboração de uma política fiscal, como um imposto sobre a produção agrícola, pode exercer implicações ambientais muito importantes, indu-zindo os agricultores a explorarem ainda mais a terra para compensar o custo fiscal. Porém, esse tipo de política, não está sujeito, em razão de suas características, à aplica-ção de AIA (ROCHA e PEREIRA, 2005)

Ainda, com relação às críticas referentes às limita-ções da AIA5 como um instrumento não eficaz na preven-ção dos diversos tipos de impactos ambientais existentes, o MMA (2002) destaca que a AIA é uma metodologia, cujo objetivo se restringe a subsidiar decisões de aprova-ção de projetos individuais, e não os processos de planeja-mento e as ações políticas e estratégicas que os originam.

As questões e situações de conflito e termos de uso dos recursos e da proteção ambiental, surgidas nas diferentes eta-pas de elaboração de políticas públicas e planejamento de-vem ser devidamente respondidas e solucionadas por meio de um processo sequencial de entendimento e avaliação das consequências ambientais de sua implementação. 5 No processo de Avaliação de Impactos Ambientais (AIA), são ca-racterizadas todas as atividades impactantes e os fatores ambientais que podem sofrer impactos dessas atividades, os quais podem ser agrupados nos meios físico, biótico e antrópico, variando com as características e a fase do projeto (SILVA, 1994).

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aS oriGenS da avaliação ambiental

eStratéGica (aae)As referências a respeito da metodologia de AAE re-

montam ao início da elaboração dos conceitos de AIA nos Estados Unidos, onde as experiências adquiridas com sua implementação muito contribuíram para o desen-volvimento das etapas e procedimentos do processo de AAE. Porém, na visão de Egler (1998), devem-se tomar certos cuidados para não considerar a AAE como sendo uma evolução natural do processo de AIA, pois a herança metodológica da AIA pode dificultar o desenvolvimento de processos e metodologias específicas para AAE. Cabe ressaltar que, apesar da AAE estar fundamentada nos princípios de AIA, essa constitui um novo instrumento de avaliação ambiental (IAIA/EIA, 1999), o qual está as-sociado aos seguintes aspectos:

• conceito ou visão de desenvolvimento sustentável nas políticas, nos planos e nos programas;

• natureza estratégica das decisões;• natureza contínua do processo de decisão;• valor opcional, que está relacionado à existência

de uma variedade de alternativas envolvidas em um pro-cesso estratégico.

De acordo com o MMA (2002, p.15),

a terminologia Avaliação Ambiental Estratégica6, corresponde à tradução literal da expressão ingle-

6 Também conhecida como Avaliação de Impactos de PPP (Políticas, Planos e Programas).

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sa Strategic Environmental Assessment (SEA), designação genérica que se convencionou adotar para a identificação do processo de avaliação am-biental de políticas, planos e programas (PPP).

Em consequência, a forma mais simples de se definir AAE é “a avaliação dos impactos ambientais de uma polí-tica, um plano ou um programa”. Entretanto, como essa definição tende a ser muito vaga, outras mais abrangentes têm sido sugeridas, enfatizando os conceitos de gestão ambiental, desenvolvimento sustentável e processo de-cisório. Esses mesmos autores sugerem ainda que pode--se conceituar o termo Política como a linha de conduta geral ou direção que o governo está ou estará adotando, apoiada por juízos de valor que orientem seus processos de tomada de decisões. Já o termo Plano é a estratégia composta de objetivos, alternativas e medidas, incluindo a definição de prioridades, elaborada para viabilizar a im-plementação de uma política. Por fim, o termo Programa é entendido como a agenda organizada de compromissos, propostas, instrumentos e atividades necessárias para im-plementar uma política, podendo ou não estar integrada a um plano. A partir desses conceitos, pode-se considerar que os PPPs representam uma hierarquia do processo de planejamento, culminando com a elaboração de projetos específicos, ou seja:

Política Plano Programa Projeto

Assim, tendo em vista os conceitos acima citados, Sadler e Verheen (1996, p.27) sugerem que:

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AAE é um processo sistemático para avaliação de consequências ambientais das iniciativas propos-tas na política, plano ou programa, para assegu-rar que as consequências ambientais estejam ple-namente incluídas e devidamente encaminhadas na fase inicial e mais apropriada do estágio de tomada de decisão, juntamente com considera-ções de ordem econômica e social.

Ainda com relação às definições de AAE, salienta-se que uma das definições mais utilizadas foi proposta por Partidário (1999, p.20), a qual ressalta que:

Avaliação Ambiental Estratégica é o procedimento sistemático e contínuo de avaliação da qualidade do meio ambiente e das consequências ambien-tais decorrentes de visões e intenções alternativas de desenvolvimento, incorporadas em iniciativas, tais como a formulação de políticas, planos e pro-gramas (PPP), de modo a assegurar a integração efetiva dos aspectos biofísicos, econômicos, sociais e políticos, o mais cedo possível, aos processos pú-blicos de planejamento e tomada de decisão.

A partir da definição anterior, Agra Filho (2001) e MMA (2002) destacam que a AAE tem o principal propósito de subsidiar os tomadores de decisão estra-tégica no processo de promoção do desenvolvimento sustentável. Além disso, tem um papel de extrema re-levância na indução de uma mudança de atitudes e das práticas de decisão, tornando-se um vetor de transição

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da agenda convencional de proteção ambiental para a agenda de sustentabilidade7.

Desse modo, a AAE pretende enfatizar mais os aspec-tos conceituais de uma determinada ação e menos uma de-finição geográfica ou tecnológica específica. Dentro dessa perspectiva, o cenário de aplicação da AAE engloba uma diversidade de ações governamentais, que podem abran-ger tanto temáticas usualmente desvinculadas da questão ambiental, como os Tratados Internacionais, Processos de Privatização, Programas Operacionais de Estruturação, Orçamentos Nacionais, quanto as mais convencionais, re-lativas às Políticas Globais e Setoriais, Planejamento e Or-denamento Territorial, Planejamento Setorial, etc.

Ainda com relação às origens conceituais da AAE, Burian (2006) defende que, por ser um instrumento novo, o consenso em relação a sua conceituação ainda não reflete sua aplicação.

Para o World Bank (2002), enquanto a AAE, em al-guns lugares do mundo, se comporta como uma extensão da AIA aplicada no nível de PPPs, em outros predomina a visão de que ela possibilita a compreensão de um caminho em direção à efetiva sustentabilidade ambiental, com maior flexibilidade de elaboração, visando garantir que os impac-tos ambientais de PPPs possam ser totalmente considerados.

7 O foco da agenda convencional de proteção ambiental incide princi-palmente, nos efeitos ou sintomas do desenvolvimento na fase final do processo decisório. Já a agenda de sustentabilidade propicia uma instru-ção mais integrada para os tomadores de decisão, focalizando objetiva-mente as fontes geradoras de problemas ambientais ou das condições de insustentabilidade das ações em questão. (AGRA FILHO, 2001)

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vantaGenS e deSvantaGenS da aPlicacao da aae

Segundo Oliveira e Bursztyn (2001) a aplicação da AAE é justificada por diversas razões. Dentre elas:

a) auxilia na tomada de decisão uma vez que permi-te a articulação dos objetivos ambientais com os objetivos sociais e econômicos;

b) torna a avaliação de impactos ambientais e sociais mais pró-ativa, antecipando mais que reagindo às pro-postas de desenvolvimento;

c) considera os impactos cumulativos mais do que a própria AIA em nível de projeto (existe um diagnostico etapa a etapa);

d) permite a consideração de alternativas de execução dos projetos. Tudo isso é possível desde que o projeto esteja na fase de planejamento e permite o aperfeiçoamento das ações mitigadoras no decorrer da execução do projeto.

Em suma, a AAE supera algumas limitações da AIA e isso justifica a sua crescente implementação. O escopo de atuação da AAE é amplo e flexível e permi-te a consideração de alternativas à adoção de medidas de mitigação que vão muito além dos projetos indivi-duais. A observância dos efeitos cumulativos dos im-pactos ambientais na fase de planejamento influencia as tomadas de decisões. Ademais, a AAE considera os efeitos das decisões políticas, de planejamento, de pro-jetos e de programas, os PPPs.

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tiPoS de avaliação ambiental eStratéGica

Constantemente, a AAE é percebida como um ins-trumento único, pressupondo-se que sejam os mesmos critérios procedimentos e técnicas de avaliação a serem aplicados, quer se trate da avaliação de políticas, planos ou programas. Todavia, a realidade dos fatos e as experi-ências internacionais têm demonstrado o contrário, reve-lando que a AAE é um instrumento ambiental de grande flexibilidade. Sendo assim, enquanto o processo de AIA, que é direcionado para o licenciamento de projetos, apre-senta as mesmas características para qualquer que seja a natureza do empreendimento, distinguindo-se apenas no conteúdo dos estudos de impacto ambiental, o processo de AAE de acordo com o tipo de aplicação, assume dis-tintas e variadas formas, tanto em termos dos modelos institucionais em que opera, como do seu conteúdo téc-nico (PARTIDÁRIO, 2000).

Com relação à tipologia da AAE, destaca-se a di-ferença existente entre dois possíveis modelos de abor-dagens que influenciam a estrutura conceitual da AAE, conforme apresenta Partidário (2000, 2007), a seguir:

• Modelo de abordagem política (top-down), que se fundamenta no sistema de desenvolvimento e avaliação de decisões estratégicas (PPPs), é uma abordagem que adota mecanismos mais abrangentes e estratégicos de formulação de políticas e instrumentos de planejamento, aplicando a esses os procedimentos de avaliação ambiental.

• Modelo de abordagem de projetos (bottom-up), o qual se apoia nos procedimentos de AIA de projetos,

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generalizando-a para a avaliação de decisões em níveis mais elevados na hierarquia de planejamento (PPPs). As-sim, enquanto o modelo de abordagem política confere à AAE, uma natureza estratégica, permitindo que os ins-trumentos de AAE se integrem mais facilmente aos pro-cessos de decisão e às práticas de formulação de políticas e de planejamento, o modelo de abordagem de projeto transforma a AAE em instrumento de aplicação discreta, motivada pela existência de documentação sobre planos ou programas que facilitem a avaliação de suas consequ-ências ambientais, segundo metodologias adequadas.

Esses dois tipos de abordagens, associadas às parti-culares características dos processos decisórios a respeito das PPPs existentes em cada país, podem determinar di-ferentes sistemas de AAE.

ProcedimentoS metodolóGicoS da avaliação ambiental eStratéGica (aae)Segundo o MMA (2002) e Partidário (2007), os

procedimentos técnicos de AAE envolvem algumas ques-tões iniciais e uma sequência de etapas básicas operacio-nais. Não existe uma determinação a respeito dos tipos de políticas, planos e programas que requerem a realização de AAE. A decisão de implementação, na maioria dos casos, depende da abrangência da decisão estratégica e do nível de impacto causado ao meio ambiente e à so-ciedade, mais precisamente, depende do trade-off8 entre

8 Literalmente, esse termo pode ser traduzido como dilema/impasse. Em Economia, o mesmo significa “uma situação de escolha conflitante”.

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as prováveis interferências socioambientais adversas e os ganhos econômicos esperados.

aS etaPaS Para imPlantação da avaliação ambiental eStratéGica (aae)A partir da experiência internacional, segundo o MMA

(2002) é possível identificar 8 etapas sequenciais básicas para a condução operacional de um processo de AAE:

1ª etapa – Seleção das propostas de decisão estra-tégica (Screening)

Essa etapa consiste na clara definição da necessidade de se aplicar a AAE a certa PPP em análise, evitando-se, assim, atrasos nos processos de tomada de decisão. Há três possibilidades de situações que devem ser considera-das: a PPP deve ser submetida à AAE; a PPP está isenta de AAE; e a necessidade de se submeter à PPP a AAE deve ser detalhadamente apreciada.

No primeiro momento dessa seleção, desenvolve-se um breve exame visando verificar se as características da decisão estratégica em questão propiciam a aplicação da AAE, considerando-se as probabilidades das ocorrências de impactos socioambientais significativas resultantes de sua implementação. Ainda nesse momento, deve-se questionar sobre o grau estratégico da PPP em análise, já que quanto mais elevado o nível hierárquico da decisão, maior seu grau estratégico e, consequentemente, mais abrangentes os efeitos em cascata que possam ocorrer nos níveis subsequentes da hierarquia de planejamento.

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Duas outras importantes tarefas são também ne-cessárias nessa etapa: a primeira consiste na definição da matriz institucional interveniente, ou seja, os principais órgãos e instituições governamentais intervenientes no processo de planejamento e avaliação ambiental, consi-derando as informações sobre o nível de decisão estra-tégica (política, plano, programa) e o tipo de AAE a ser aplicada (setorial ou regional). A segunda é a elaboração de uma avaliação preliminar dos impactos resultantes da PPP, visando à seleção daquelas a serem submetidas ao processo de AAE. Essa avaliação preliminar deve conside-rar os prováveis impactos diretos, indiretos e cumulativos e suas sinergias. É importante assegurar que o potencial de impactos ambientais, identificados no estágio inicial de elaboração da PPP, possa ser levado em consideração ao longo de todo o processo de planejamento.

2ª Etapa – Estabelecimento dos prazos (Timing)Após a realização da seleção das decisões estratégi-

cas que foram consubstanciadas em PPP é necessário o desenvolvimento da análise temporal da PPP em ques-tão, ou seja, a definição dos prazos das etapas de formu-lação, avaliação e tomada de decisão e a duração da fase de implementação. Trata-se de verificar os cronogramas de formulação do tipo de PPP, de forma isolada e con-juntamente com outras fases do processo de AAE, iden-tificando-se os casos de incidência temporal que possam acarretar problemas e as respectivas medidas de ajuste.

Assim sendo, as principais ações integrantes do pro-cesso e implementação da PPP devem ser devidamente

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identificadas, desde a fase de pré-implementação até a de operação, avaliando-se também os prazos e a distribuição temporal, em certo ano fiscal ou qualquer outro período administrativo. Os métodos de apoio para essa análise in-cluem a elaboração de cronogramas que definam marcos temporais importantes da PPP e a aplicação de softwares de gerenciamento de projetos que permitam avaliar quais os caminhos críticos de tempo.

3ª e 4ª Etapas – Definição do conteúdo (Scoping) e a realização dos estudos de avaliação ambiental

Uma vez estabelecida a necessidade de se proceder a realização de estudos ambientais e documentar o pro-cesso de AAE, do ponto de vista operacional, devem ser desenvolvidas as seguintes atividades técnicas:

a) Estabelecimento dos propósitos da AAEUm dos motivos para se iniciar um processo de AAE

pode ser a existência de um requisito legal. Todavia, a percepção que a PPP necessita ser apreciada à luz de ob-jetivos de proteção ambiental justifica a sua aplicação. Além disso, considerando-se a escassez de recursos diver-sos (humanos, financeiros e de tempo), a decisão de se elaborar uma AAE pode ser tomada em função do custo de oportunidade e do valor agregado, obtidos a partir da avaliação ambiental das diferentes alternativas de formu-lação da PPP.

Em geral, os propósitos da AAE podem incluir:• a incorporação dos princípios de sustentabilidade

socioambiental à PPP;

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• a ligação da PPP com a Agenda 21; e, • a consideração de aspectos socioambientais relevan-

tes e prevenção de impactos negativos em recursos ambien-tais estratégicos.

b) Identificação de objetivos, público-alvo e indicadoresUma vez identificado o propósito da AAE, devem ser

claramente definidos seus objetivos e, de acordo com es-ses, o público-alvo envolvido em termos de comunicação e participação no processo. O público-alvo compreende a população e os agentes econômicos do país, de certo setor, uma região, espacialmente localizados, explicita ou implicitamente, os quais tenham interesse direto na im-plementação da PPP. De posse dos objetivos e do público--alvo, pode-se agora definir as metas de sustentabilidade e seus respectivos indicadores.

c) Estabelecimento das responsabilidadesNesse item, cabe identificação e respectiva definição das

funções e das responsabilidades de cada uma das instituições envolvidas no processo de elaboração da PPP. Inclui-se aqui também a análise da PPP visando à definição de outras ins-tâncias de planejamento em que se insere.

d) Identificação dos grupos de interesses (stakehol-ders) e formas de participação

Definidas as etapas anteriores, cabe aqui a elaboração de uma das fases mais complexas e controversas do proces-so de elaboração da PPP que é a execução do levantamen-to dos grupos de interesses que nela atuam, assim como a

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determinação dos mecanismos para a participação des-ses grupos na própria elaboração da PPP. Apesar de sua complexidade operacional, esse levantamento deve ser realizado buscando identificar todos aqueles que possam, de alguma forma, ser afetados, conturbar ou até mesmo colaborar com a implementação da PPP. Como método de apoio, pode-se incluir a realização de entrevistas diri-gidas com representantes e formadores de opinião desses grupos, bem como a qualificação do grau de organização e experiência em situações semelhantes. Trata-se da “Aná-lise da Percepção Ambiental” das comunidades locais e associações civis envolvidas, de modo que sejam efeti-vamente identificados os problemas e anseios relativos à implementação da PPP.

e) Levantamento e caracterização das questões ambientais relevantes

Essa tarefa compreende a caracterização da quali-dade e, se possível, da capacidade de suporte da área de interesse, em termos de seus ecossistemas e bacias hidrográficas potencialmente afetadas, além de outras unidades territoriais que apresentem características am-bientais significativas. Trata-se de uma análise ambien-tal objetiva, direcionada às principais questões e nos aspectos relevantes na implementação da PPP. Para tal, podem ser utilizados, dados estatísticos e índices sociais e de qualidade ambiental, mapeamento geográfico de potencialidades e restrições ambientais, desenvolvidos por entidades de pesquisa e órgãos públicos afins, além de outras informações úteis.

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f ) Identificação de alternativasA identificação e desenvolvimento de alternativas de

solução é um dos passos mais relevantes do processo de AAE, pois permitem que se escolham as melhores deci-sões com base em informações organizadas. O principal propósito dessa fase da AAE está centrado na identifica-ção das alternativas de diversas naturezas (localização de ações e projetos, investimento, emprego de tecnologias) para a PPP em análise, verificando-se as opções mais ade-quadas, em termos do uso dos recursos ambientais ou que gerem menores perdas de qualidade ambiental para se alcançar os mesmos objetivos.

g) Previsão de impactos e comparação de alternativasEssa atividade consiste na identificação e análise dos

prováveis e relevantes impactos ambientais decorrentes da implementação da PPP, visando-se obter informações a respeito das diferenças entre a situação atual e a futura na área de interesse da PPP. A atividade de análise e de previsão dos impactos busca identificar as mudanças que poderão ocorrer e verificar se são aceitáveis, fornecendo subsídios para a seleção da melhor alternativa da PPP, do ponto de vista da sustentabilidade. Os estudos de pre-visão devem ser elaborados por profissionais altamente qualificados, adotando-se critérios compatíveis com as metas de sustentabilidade e qualidade ambiental que fo-ram previamente definidos.

As ferramentas técnicas empregadas nos estudos de impacto incluem algumas técnicas de previsão aliadas a

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outras técnicas, tais como: técnica de cenários; sistemas de informação geográfica (SIG); redes de interação de impactos e técnicas especificas de avaliação de impactos cumulativos e sinérgicos.

h) Definição de procedimentos de acompanha-mento da implementação da PPP

A última tarefa técnica de avaliação a ser realizada é a definição das ações de monitoramento da qualidade ambiental e das respectivas entidades que serão respon-sáveis por essas atividades e dos custos associados. Essas atividades são necessárias para a correta verificação das reais consequências ambientais da decisão a ser tomada.

5ª Etapa – Documentação e informaçãoEssa etapa diz respeito à apresentação dos resultados

das etapas anteriores e dos estudos e análises técnicas, na forma de um documento altamente detalhado, cujo pro-pósito está direcionado à correta comunicação aos gru-pos de interesse, suporte para os tomadores de decisão e subsídio para a preparação dos documentos finais de formulação e decisão a respeito da PPP.

6ª Etapa – Revisão O controle de qualidade do processo e das ativida-

des técnicas da AAE é uma atividade crucial para asse-gurar que seus resultados sejam consistentes em termos técnico-operacionais. Assim sendo, a revisão deve ser atribuída a especialistas independentes, que não tenham participado do processo. As dificuldades inerentes desse processo de revisão podem ser reduzidas pela comparação

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dos resultados com outros casos semelhantes, pela veri-ficação da qualidade técnica dos estudos e pelo cumpri-mento das atividades de base.

7ª Etapa – Tomada de decisãoConsiderando-se os resultados da AAE, a decisão fi-

nal sobre a implementação da PPP, finalmente pode ser tomada com segurança e confiabilidade. Cabe aqui des-tacar que os resultados da análise ambiental da PPP apro-vada devem servir para orientar a formulação e avaliação das PPPs que delas se originem, segundo os princípios da avaliação ambiental em cascata (tiering process).

8ª Etapa – Acompanhamento da implementação da decisão estratégica

Por fim, essa última etapa trata da realização das ações de monitoramento da qualidade ambiental prevista na etapa de análise dos impactos. As informações referen-tes aos reais impactos socioambientais da implementação da decisão são reunidas e devidamente comunicadas às instituições envolvidas e às instâncias de tomada de deci-são, de forma que se possa avaliar a necessidade de altera-ções e correções das determinações preconizadas na PPP.

Partidário (2007) ressalta que essa sequência de etapas, não deve ser vista como uma receita que se aplica ipsis verbi a todos os casos. A aplicação da AAE deve ser ajustada aos diferentes contextos de decisão, a diferentes escalas e objeti-vos de avaliação. Assim, para aumentar as possibilidades de sucesso na implementação, a metodologia de AAE deve ser flexível e ajustável a cada caso a que se aplique.

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aS limitaçõeS Para a adoção da avaliação ambiental eStratéGica

Sob a ótica de Thérivel e Partidário (1996), a adoção da AAE apresenta algumas limitações de cunho técnico e de procedimentos. As limitações técnicas estão intrinsecamente relacionadas à abrangência das áreas da AAE e do grande número de alternativas. A compilação e organização dos dados torna-se uma tarefa árdua e complexa aumentando o grau de incerteza quanto a sua aplicabilidade. Contraria-mente, nos projetos que utilizam a AIA, a limitação refere-se à utilização de informações restritas ou incompatíveis. No caso de uma AAE nacional, pode acontecer de se despreza-rem alguns impactos importantes em nível local, mas que exercem influência na decisão em nacional.

Em relação a essas limitações, Egler (1998) ressalta que grande parte dos desafios enfrentados para a imple-mentação da AAE em diversos países decorre de questões de natureza política e institucional. Dentre esses motivos políticos, destacam-se: a natureza confidencial do processo de formulação das políticas, planos e programas, a resistên-cia que as instituições apresentam em relação ao processo de integração de ações; e o modelo econômico vigente que prega a redução do Estado, incentivando as privatizações. Para esse autor, a fragmentação das ações públicas é uma questão que está dificultando a efetiva implementação de políticas nacionais, particularmente na área ambiental.

Ainda com relação às possíveis barreiras existentes na implementação da AAE, Thérivel e Partidário (1996) destacam algumas barreiras como:

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a falta de conhecimento e de experiência na identi-ficação dos fatores ambientais que devem ser considerados, avaliação dos impactos que poderiam surgir e como pode ser realizada a elaboração de políticas de forma integrada;

os obstáculos institucionais e organizacionais que acarretam a necessidade de efetiva coordenação entre os departamentos governamentais;

a falta de recursos e de diretrizes que assegurem a implementação da AAE;

a inexistência de compromisso político para im-plementação da AAE;

a precariedade das metodologias de AAE existen-tes ainda não bem desenvolvidas;

as práticas atuais de AIA para projetos não são necessariamente aplicáveis para a AAE e podem inibir uma abordagem mais ampla e consistente da AAE;

a limitação do envolvimento público na tomada de decisão.

Tais barreiras podem comprometer a qualidade da AAE, a visão ampliada e holística dos projetos sem a participação da sociedade, o compartimento de soluções com os responsáveis pelo projeto e impactantes pode difi-cultar a visualização dos impactos ambientais efetivos do projeto em todas as suas fases.

conSideraçõeS finaiS

De acordo com LIMA (2003), devido aos aspec-tos da conjuntura econômica, social e ambiental e do processo de planejamento público nacional, tem-se ve-

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rificado a necessidade de algumas adequações aos pres-supostos de aplicação da AAE no Brasil, como ocor-re internacionalmente. Em nosso país, o histórico da AAE em âmbito federal está relacionado à evolução do planejamento da indústria de eletricidade, que executa ações de planejamento de médio e de longo prazo, asse-melhando-se assim, às características do processo AAE. Percebe-se que há intenção, por parte do governo fede-ral, particularmente do Ministério de Meio Ambiente (MMA), de implementar a AAE no âmbito do sistema de planejamento nacional e criar condições institucio-nais para se implementar o seu uso. Todavia, é necessá-rio que se desenvolvam medidas de melhoria dos pro-cessos de interlocução entre os agentes governamentais.

Com relação à implementação da AEE, Egler (1998, 2001) destaca três principais aspectos que podem ser ressaltados visando reforçar a oportunidade e relevância desse processo no Brasil. O primeiro é a natureza signi-ficativamente diferente das intervenções feitas no terri-tório nacional, quando comparadas com outros países. Diferentemente de outros países, o Brasil dispõe ainda de imensas áreas a serem ocupadas. Assim, o uso de um procedimento de avaliação baseado no processo de AAE, em função de suas características é muito mais apropria-do para a situação nacional do que o processo de AIA, o qual tem aplicação restrita para projetos. A partir dessa premissa, tende a ficar evidente que se, por exemplo, as intervenções do setor energético na Amazônia tivessem sido avaliadas por um processo de AAE que abrangesse

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toda aquela região, ao invés de terem sido avaliadas pelo processo AIA para cada empreendimento executado, os resultados relativos ao contexto socioambiental seriam significativamente diferentes.

Um segundo aspecto relevante são os esforços já desenvolvidos tanto em nível federal como estadual, vi-sando colocar em prática o Programa de zoneamento Ecológico Econômico (zEE), programa esse que tem como objetivo desenvolver um processo de avaliação para uso territorial que venha, de forma efetiva, con-siderar a integração dos domínios econômico, social e ambiental no processo de tomada de decisão. Uma vez que o zEE e a AAE compartilham objetivos comuns, a implantação da AAE no Brasil pode representar um reforço para o zEE e vice-versa.

Por fim, o terceiro aspecto está relacionado ao atual cenário ambiental mundial que, praticamente, impõe a necessidade de que as questões ambientais sejam pensa-das a partir de uma perspectiva mais ampla de planeja-mento e não apenas em nível local. Essa perspectiva é claramente apontada em documentos como a Agenda 21 e Convenção de Mudanças Climáticas e de Conservação da Diversidade Biológica.

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caPítulo 4 – Produção maiS limPa como inStrumento de comPetitividade emPreSarial: conceitoS e imPlantação

Luiz Claudio Gonçalves – Doutor em Engenharia de Produção, Mestre em Engenharia de Produção, Mes-tre em Administração de Empresas, Mestre em Turismo Ambiental, Especialização em Marketing, Especialização em Planejamento Empresarial e graduado em Engenharia Elétrica. Professor e pesquisador nas áreas de Administra-ção de Empresas e Engenharia de Produção nos seguin-tes temas: Gestão da Cadeia de Suprimentos e Logística, Gestão de Operação, Gestão de Marketing, Gestão de Sustentabilidade (energia, meio ambiente e sociedade).

RESUMOAdotar a Produção Mais Limpa (P+L) como estra-

tégia de competitividade contempla as necessidades das empresas em aliar crescimento econômico e social com os princípios da sustentabilidade ambiental. Nesse sentido, considera-se que a P+L tenda ser uns dos instrumentos mais indicados, pois essa é capaz de contribuir tanto para a eficiência dos processos produtivos e redução dos danos ambientais, como para a melhoria na imagem corporati-va e, consequentemente, para o desenvolvimento de van-tagens competitivas. Dessa forma, o presente texto, por meio de uma pesquisa qualitativa e bibliográfica, busca apresentar os principais conceitos dessa abordagem am-biental, sugerindo-a como um instrumento a ser utiliza-do na busca da melhoria da competitividade empresarial.

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Palavras-chave: Gestão ambiental; Produção Mais Lim-pa; meio ambiente; prevenção da poluição; competitividade.

introdução

A intensificação da industrialização, juntamente com a explosão demográfica, a produção e o consumo em mas-sa, a urbanização e a modernização agrícola são alguns as-pectos da evolução histórica das sociedades humanas que geraram desenvolvimento econômico, mas que resultaram em uma enorme degradação ambiental sem precedentes.

Com o aumento das pressões governamentais e da sociedade, passou-se a exigir das empresas medidas de controle sobre seus impactos ambientais. Houve uma grande evolução nas últimas décadas, o que fez com que as empresas implantassem sistemas de gestão ambiental em suas fábricas forçando essas a se adequarem às novas normas e legislações. Apesar desses avanços, a preocupa-ção com o meio ambiente no meio empresarial é ainda, em muitos casos, vista como uma obrigação legal, um custo para a empresa. São poucas as empresas que per-cebem a preocupação com o meio ambiente como uma oportunidade de inovar, de reduzir custos e tornar a em-presa mais competitiva.

Para tal, surge como uma alternativa, a possibilida-de das empresas adotarem processos e tecnologias limpas, que segundo Getzner (2002), são justificáveis na medida em que podem levar a um aumento de produtividade e competitividade dessas, resultante da economia de custos e à racionalização dos desperdícios no âmbito dos proces-sos produtivos. Dentre essas alternativas de tecnologias

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limpas, destaca-se a abordagem Produção Mais Limpa, a qual está sendo amplamente utilizada visando a agrega-ção de valor e geração de lucro para as empresas. (CNTL, 2012a; MEDEIROS et al., 2007).

Produção limPa e Produção maiS limPa: conceitoS e caracteríSticaS

Considera-se que, para melhor entender o conceito da abordagem ambiental Produção Mais Limpa (Cleaner Production) ou P+L como também é grafada, inicialmen-te. É necessário, se conhecer os conceitos acerca da abor-dagem ambiental denominada de Produção Limpa (PL).

Segundo Furtado e Furtado (2010), os princípios da Produção Limpa (Clean Production) surgiram nos anos 1980, por meio de uma proposta da organização am-bientalista internacional Greenpeace, a qual iniciou uma campanha visando estimular mudanças mais profundas no comportamento industrial das empresas naquele pe-ríodo. Nesse sentido, o objetivo dessa campanha estava na busca de definir um sistema de produção industrial que incorporasse a variável ambiental em todas as fases produtivas, tendo como foco principal a prevenção na geração de resíduos.

Sendo assim, conforme Getzner (2002) e Furtado e Furtado (2010), a PL consiste em um modelo de admi-nistração industrial visando reorientar a geração de bens e serviços. Para Fresner (1998), PL é uma estratégia pre-ventiva que visa minimizar os impactos dos processos e produtos no meio ambiente. Seu foco principal é criar,

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nas empresas, a conscientização para a prevenção da po-luição, procurando a fonte das emissões e desperdícios, por meio de um programa para uso eficiente dos recursos.

Cabe também salientar que de acordo com Furtado e Furtado (2010), o conceito de PL questiona e propõe a eliminação ou a substituição do modelo produtivo end-of--pipe9 (ou seja, “final de tubo”), o qual é responsável pela prática da contenção de resíduos na fonte, para posterior tratamento e descarte) pelo modelo cradle to grave (ou seja, “do berço a cova”), que defende as estratégias e procedi-mentos que levam em conta a prevenção da geração de resíduos e dos impactos à saúde humana, bem como a pro-moção de maior eficiência no uso de água e energia, esta-belecendo, assim, uma visão mais ampla das relações entre o sistema produtivo industrial e o meio ambiente.

Na visão de UNEP (2012) a abordagem ambiental PL somente ganhou força e visibilidade no mundo a par-tir de 1990 quando a agência da ONU, dedicada ao meio ambiente chamado de Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), criou o conceito de Pro-dução Mais Limpa (P+L), que pode ser entendido como a aplicação continuada de uma estratégia ambiental pre-ventiva e integrada aos processos, produtos e serviços, a

9 O termo “fim de tubo” tem sido utilizado a partir do original em in-glês “end of pipe” denotando processos industriais que possuem con-trole apenas na etapa final. Um exemplo característico de uma aborda-gem “fim de tubo” é a instalação de filtros para retenção de poluentes em chaminés nas fábricas. Dessa forma, observa-se que as várias etapas do processo industrial continuam gerando poluentes quando esse for “tratado” apenas no final do “tubo”, ou seja, no final do processo por medidas apenas paliativas. (MOOR; MULDER; VERGRAGT; 2005)

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fim de aumentar a eficiência e reduzir os riscos para os homens e o meio ambiente. Com a proposta de criação da P+L, o PNUMA teve como propósito, fomentar a manufatura de produtos e o uso de processos industriais que: aumentassem a eficiência; prevenissem a poluição do ar, água e solo; reduzissem resíduos na fonte de polui-ção e minimizassem os riscos para a população humana e ao meio ambiente. Dessa maneira, CNTL (2003) afirma que a P+L consiste em um programa da UNIDO/UNEP que surgiu em 1991, por meio de uma abordagem in-termediária entre a Produção Limpa do Greenpeace e a prática de minimização de resíduos da agência norte--americana de proteção ambiental denominada de Envi-ronmental Protection Agency (EPA).

Em termos de conceito geral, a P+L é uma abor-dagem sistematicamente organizada para atividades de produção, a qual tem efeitos positivos no meio ambiente. Essas atividades incluem minimização de uso de recursos, ecoeficiência melhorada e redução na fonte, com objetivo de melhorar a proteção do meio ambiente e reduzir riscos para os organismos vivos. (GLAVIC E LUKMAN, 2007)

Na visão de Furtado e Furtado (2010, p.320), a P+L

[...] visa nomear o conjunto de medidas que tor-nam o processo produtivo mais racional, com o uso inteligente e econômico de utilidades e ma-térias-primas e principalmente com mínima ou, se possível, nenhuma geração de contaminantes”.

Ao contrário das tecnologias ambientais convencio-nais, as quais focam a prática de “fim de tubo”, a P+L

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busca integrar os objetivos ambientais aos processos de produção, a fim de reduzir os resíduos e as emissões em termos de quantidade e periculosidade. Sendo assim, pe-rante o meio ambiente, a P+L proporciona diminuição dos impactos ambientais, redução de resíduos, gases tó-xicos e efluentes, otimização do uso de água e de energia, além de maiores condições de saúde e segurança aos cola-boradores e à população de forma geral. (FURTADO E FURTADO, 2002)

Um aspecto fundamental do conceito de P+L, se-gundo UNEP (2012) é o de que essa representa uma estratégia win-win,10 sendo favorável tanto para o de-sempenho ambiental como para desempenho econômico das empresas. Assim, as perdas no processo de produção podem ser consideradas como fortes evidências de um desempenho ineficiente dessas empresas, enquanto os es-forços para a redução do consumo de energia e matéria--prima, bem como para a redução e prevenção de geração de qualquer perda resultam na melhoria da produtivida-de, fato esse que, certamente trazem amplos benefícios econômicos e ambientais para as empresas.

Corroborando com a afirmação anterior, Nascimen-to et al. (2008), P+L trata-se de um instrumento capaz de proporcionar a competitividade empresarial, pois es-tabelece medidas visando reduzir os danos ambientais em todas as etapas do processo produtivo, o que acarreta a diminuição dos custos, impactos e aumento da competi-tividade empresarial.

10 Relações de mútuo benefício, onde todas as partes ganham (SPANGLER, 2003)

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A aplicação dos conceitos de P+L pressupõe qua-tro atitudes básicas. A primeira, e a mais importante, é a busca pela não geração de resíduos, por meio da racio-nalização das técnicas de produção. Quando o primeiro conceito não pode ser aplicado integralmente, a segunda atitude proposta pela P+L é a minimização da geração dos resíduos. Já o reaproveitamento dos resíduos no pró-prio processo de produção é a terceira atitude defendi-da, enquanto a quarta alternativa é a reciclagem, com o aproveitamento das sobras ou do próprio produto para a geração de novos materiais. (CNTL, 2012)

Figura 1 – Níveis de aplicação da P+L

Fonte: CNTL (2012).

Cabe destacar que, apesar de serem considerados si-milares, os conceitos de PL e P+L apresentam algumas

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diferenças, que podem ser relevantes. Dessa forma, na vi-são de Greenpeace (1997) e Furtado e Furtado (2010), as diferenças conceituais entre PL e P+L são:

a) PRODUÇÃO LIMPA – Segundo o GREENPEACE: Processo – atóxico, energia-eficiente, utilizador de

materiais renováveis, extraídos de modo a manter a viabi-lidade do ecossistema e da comunidade ou, se não renováveis passíveis de reprocessamento atóxico e energia--eficiente, não poluidor durante todo o ciclo de vida do produto, preservador da diversidade da natureza e da cul-tura social, promotor do desenvolvimento sustentável.

Produto – durável e reutilizável, fácil de desmontar e remontar, mínimo de embalagem, utilização de materiais de reciclados e recicláveis.

b) PRODUÇÃO MAIS LIMPA – Segundo o PNUMA:Processo – conservação de materiais, água e energia,

eliminação de materiais tóxicos e perigosos, redução da quantidade e toxicidade de todas as emissões e resíduos, na fonte, durante a manufatura.

Produto – redução do impacto ambiental e para a saúde humana, durante todo o ciclo de vida do produto, da extração da matéria-prima, manufatura, consumo, uso e disposição, descarte final.

Todavia, apesar dessas diferenças, tanto a PL quanto a P+L fazem uso, de critérios comuns, como a autossustentabi-lidade dos recursos naturais, redução do uso de matérias-pri-mas, de água e energia, prevenção da geração de resíduos na fonte e uso da metodologia de Avaliação do Ciclo de Vida do

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Produto. A respeito desse fato, Furtado e Furtado (2010) destaca que a P+L, basicamente adota os mesmos concei-tos da PL, exceto os princípios de Precaução e Controle Democrático (grifo do autor). Na verdade, o conceito de P+L visa melhorar o produto ou o processo produtivo, de modo a deixá-lo “mais limpo11“, do que era anteriormen-te12. Dessa maneira, Thorpe (2012) ressalta que a PL (Clean) abrange elementos técnicos e econômicos, também previs-tos pelo conceito de P+L (Cleaner). Entretanto, a PL vai além da P+L, incorporando outros aspectos jurídicos, políti-cos e sociais, que são explicitados, a seguir.

11 “Produção Menos Suja”, pois não é um processo efetivamente limpo.12 Quando foi constatado que o principal causador da diminuição da Camada de Ozônio eram os gases CFC”s, as indústrias e os cen-tros de pesquisa buscaram novas alternativas de gases refrigerantes. O foco foi melhorar o processo existente (Produção Mais Limpa) e não buscar um processo sustentável (Produção Limpa). Os cientistas propuseram então o emprego dos HFC”s (hidrofluorcarbonos). Cer-tamente, houve um ganho significativo, pois o impacto na Camada de Ozônio foi reduzido. Porém, como a substância alternativa não foi avaliada sob o prisma da sustentabilidade, descobre-se agora que o uso dos HFC”s contribui muito para o Aquecimento Global.

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Quadro 1: Diferenças na estrutura conceitual da PL e da P+L

COMPONENTES PL P+LSistema Global de Produção presente presenteResponsabilidade Continuadado Produtor

presente presente

Princípio da Precaução presente não está presentePrincípio da Integração presente presentePrincípio da Prevenção presente presentePrincípio do Controle Democrático presente não está presente

Fonte: Elaborado pelo autor.

a) Sistema Global de Produção (PL e P+L): Pro-põe que a gestão industrial incorpore a visão integrada da manufatura, incluindo: fonte de materiais, sua esco-lha, extração e uso; processo de produção, acabamento, sistema de embalagem e transporte e; opções de manejo ambiental para resíduos, produtos, suas embalagens e os remanescentes de produtos, ao final de sua vida útil, com preferência para a sequência de redução de resíduos na fonte e reciclagem. A incineração deve ser evitada e o des-pejo em aterros é visto com reservas.

b) Responsabilidade Continuada do Produtor (pre-sente na PL e P+L): A responsabilidade continuada do produtor obriga a indústria a pagar pelos custos de desti-nação e tratamento de seus próprios resíduos, produtos e respectivas embalagens.

c) Princípios fundamentais da PL

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c1) Princípio da Precaução (presente somente na PL): pelo princípio da precaução, o produtor, não a comunida-de e nem o governo, é o responsável pelo ônus da prova de que determinado produto, processo ou material não irá causar danos ao homem e ao ambiente. Sempre que houver indícios de problemas ambientais, recomenda-se o redesenho do sistema de produção. Como exemplo, cita--se a medida cautelar, já adotada na Europa, que obriga a indústria a eliminar ou reduzir os ingressos na natureza de materiais gerados pelas atividades produtivas e humanas, sempre que houver indícios de que determinado material ou produto exibe potencial ou possa causar danos ao am-biente e/ou ao homem, independentemente de confirma-ção científica. Assim, esse princípio dá o benefício da dúvi-da científica para as pessoas e o planeta, baseado nos níveis mais inferiores do ponto de equilíbrio das provas.

c2) Princípio da prevenção (presente na PL e P+L): esse princípio propõe a total substituição da prática de controle da poluição (end-of-pipe) pelo princípio da prevenção da geração de resíduos e dos consequentes impactos ambientais. A prática de end--of-pipe realimenta o mercado de resíduos perigosos e tóxicos, ao contrário do princípio da prevenção, que elimina resíduos indesejáveis, favorece a reciclagem, a reutilização ou reuso de materiais e redução de custos no processo. O princípio da prevenção não depende de regulamentação, nem de acordos voluntários. Esse princípio traduz a vontade da empresa, derivada do entendimento de sua responsabilidade pública.

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c3) Princípio da Integração (presente na PL e P+L): estabelece que os princípios da precaução e da prevenção sejam aplicados em todos os fluxos do sistema global de produção. O princípio da integração requer um espectro mais amplo de informações. Para isso, esse princípio faz uso da Avaliação do Ciclo-de-Vida (ACV) do produto, técnica essa que é capaz de verificar a melhoria ambiental que pode ocorrer, a partir de mudanças na matéria-prima, produto, processo ou uso do produto. Segundo Silva e Ku-lay (2007), a ACV pode ser entendida como uma técnica para avaliação dos aspectos ambientais e impactos poten-ciais associados a um produto, envolvendo todas as etapas que vão desde a retirada da natureza das matérias-primas (cradle) até a disposição do produto final (grave), surgiu nos anos 1970 e ganhou maior impulso na década de 1990, com o objetivo de garantir a segurança de produtos e processos para o ambiente e saúde humana. Basicamente, a ACV abrange levantamentos e análises sistêmicas susten-tadas por três etapas: (1) inventário de entradas e saídas de energia e matérias-primas, abrangendo: extração, aqui-sição, armazenagem, processo de manufatura, distribuição e transporte, uso, reuso, reciclagem, gestão de resíduos e efluentes; (2) análise de impacto provocado por tal libera-ção, incluindo a avaliação ecológica, econômica e social de tais impactos e; (3) valoração dos impactos, traduzindo o significado ou os valores relativos para os diferentes efeitos, bem como as conclusões sobre tais impactos.

c4) Princípio do Controle Democrático (presente somente na PL): as tendências internacionais apontam

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para a importância da participação pública nos assuntos que ultrapassam os limites de métodos puramente cientí-ficos e afetam, diretamente, os interesses da sociedade co-mum, como um todo. Portanto, esse princípio propõe que os trabalhadores, clientes e a comunidade em geral, por estarem diretamente sujeitos aos impactos dos processos industriais, produtos e suas embalagens, devam ter acesso às informações a respeito das emissões, efeitos, potenciais danos, segurança e outros dados impactantes na qualida-de ambiental e saúde humana. Assim sendo, o controle democrático requer livre acesso a tais informações e, dessa maneira, recomenda-se que a indústria mantenha sistemas de levantamento da opinião pública a respeito de seus pro-cessos, produtos e embalagens, para a tomada de decisões de negócios e política de comunicação ambiental.

Sendo assim, conforme os parágrafos anteriores, a P+L inclui processos mais simples, não necessariamente requerendo a implementação de tecnologias de ponta, podendo atingir um número maior de organizações, que não detêm o desenvolvimento tecnológico. Esse modelo que prioriza a prevenção da poluição revelou-se como um importante instrumento para diminuição dos impactos no meio ambiente, utilizando-se de recursos mais factí-veis para a realidade das organizações (CNTL, 2003).

Apesar de se apresentar uma estrutura mais factível de ser implantada, Moura et al (2005) salienta que, de forma geral, ainda existe uma grande relutância pelas em-presas na utilização da abordagem de P+L. Os maiores obstáculos ocorrem em função da resistência à mudan-ça; da concepção errônea (falta de informação sobre a técnica e a importância dada ao ambiente natural); da

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não existência de políticas nacionais que deem suporte às atividades de P+L; das barreiras econômicas (alocação incorreta dos custos ambientais e investimentos) e das barreiras técnicas (acesso a novas tecnologias).

ProceSSo de imPlantação da abordaGem Produção maiS limPa

A implantação da abordagem ambiental P+L pres-supõe inovação, incremento competitivo e responsabili-dade socioambiental, uma vez que tal processo prevê em sua origem, a prevenção da poluição e a busca do desen-volvimento sustentável. (CNTL, 2003)

Nesse sentido, a implementação de um Programa de P+L possibilita à empresa o melhor conhecimento do seu processo industrial, por meio do monitoramento cons-tante para manutenção e desenvolvimento de um sistema eco-eficiente de produção com a geração de indicadores ambientais e de processo. Esse monitoramento permitirá à empresa identificar necessidades de: pesquisa aplica-da, informação tecnológica e programas de capacitação. Além disso, o Programa de P+L irá integrar-se aos Siste-mas de Qualidade, Gestão Ambiental e de Segurança e Saúde Ocupacional, proporcionando o completo enten-dimento do sistema de gerenciamento da empresa.

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Figura 2 – Integração de sistemas por meio da P+L

Fonte: CNTL (2003).

Assim, a seguir, busca-se apresentar as etapas de im-plantação e as ações necessárias para operacionalização da P+L, conforme proposto pelo CNTL (2003), Silva e Medeiros (2006) e Gasi e Ferreira (2007):

etaPaS de imPlantação da Produção maiS limPa Etapa 1: Planejamento e organização (pré-avaliação)O processo de implantação da P+L tem início com

o reconhecimento da necessidade da sua implantação. Nesse sentido, o primeiro passo na implantação de um programa de P+L é a pré-sensibilização do público-alvo (empresários e gerentes), por meio da realização de uma visita técnica, visando a exposição dos casos de sucesso, à empresa interessada, bem como a avaliação das atividades executadas por essa empresa, no intuito de identificar as reais possibilidades da implantação da P+L, bem como

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o tempo e os recursos disponíveis dedicados a mesma. Cabe aqui salientar que, para que a implantação da P+L tenha sucesso desde o início é de fundamental impor-tância, o total apoio da alta administração da empresa, a qual deve estar a todo o momento, comprometida com o programa. Assim, essa etapa deve buscar atender a três objetivos básicos:

a) definir a amplitude da avaliação: consiste em definir o escopo da avaliação, ou seja, se o trabalho irá atender a toda a planta industrial ou processos previamente selecionados;

b) estabelecer a estratégia a ser adotada para execu-ção do trabalho: consiste em definir o tempo de aplicação da metodologia e os horários para capacitação e sensibili-zação dos funcionários;

c) elaborar o(s) fluxograma(s) de produção: consis-te em identificar as etapas que compõem os serviços a serem analisados.

Um dos pontos essenciais que impactam direta-mente no sucesso da implantação da P+L fundamenta--se na elaboração de uma equipe de trabalho ou força tarefa, também denominada Ecotime. Essa equipe deve ser capacitada e sensibilizada, de forma a disseminar os fundamentos da P+L para os demais funcionários da empresa. Dependendo do porte da empresa e da com-plexidade da sua planta industrial, deve-se buscar um Ecotime que “cubra” todos os setores da empresa. Para

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microempresas, esse, muitas vezes, pode ser formado por apenas uma pessoa.

A sensibilização do Ecotime deve consistir no reco-nhecimento da prevenção como etapa anterior às ações de “fim de tubo” e no entendimento da P+L como prin-cípio de melhoria contínua. Nessa fase, deve-se ressaltar os problemas ambientais atuais e os impactos ambientais causados pelo setor em que se enquadra a empresa.

A capacitação do Ecotime consiste na explicitação das etapas que compõem a implementação da P+L, as-sim como no atendimento das dúvidas que por ventura podem surgir durante o decorrer do trabalho em campo.

Etapa 2: Avaliação das oportunidades (elabora-ção do diagnóstico ambiental e de processos)

Essa etapa contempla o estudo do fluxograma do processo produtivo, realização do diagnóstico ambiental e de processo e a seleção do foco de avaliação. O diagnós-tico ambiental e de processos é o instrumento que serve como a base de dados da P+L. Sendo assim, esse deve fornecer um amplo panorama da real situação da empre-sa diante da sua relação com o meio ambiente. Assim, tal diagnóstico deve permitir reconhecer:

a) as principais matérias-primas, auxiliares e insu-mos utilizados no(s) processo(s) produtivo(s), inclusive os toxicologicamente mais importantes com respectiva quantidade utilizada e custo de aquisição;

b) o volume de produtos produzidos;c) os principais equipamentos utilizados no(s)

processo(s) produtivo(s);

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d) as fontes de abastecimento e finalidades do uso de água, bem como o tipo de tratamento utilizado;

e) o consumo de energia e de combustíveis;f ) os locais de armazenamento e formas de acondi-

cionamento de matérias-primas, insumos e produtos;g) a conformidade ou não com a legislação ambiental;h) os resíduos sólidos gerados, a forma de acondicio-

namento, o local e tipo de armazenamento e a sua desti-nação final;

i) a existência ou não de emissões atmosféricas e sis-temas de controle utilizados;

j) a existência ou não de efluentes líquidos e sistemas de tratamento utilizados;

l) os custos relativos ao controle dos resíduos gera-dos (armazenamento, tratamento, transporte, disposição, e outros) e perdas de matéria-prima e insumos.

Os dados obtidos no diagnóstico ambiental e de processos, principalmente, aqueles que dizem respeito às entradas e saídas do processo produtivo são essenciais para a elaboração do balanço ambiental. Para tal, utili-zam-se fluxogramas simplificados, elaborados na etapa de Pré-Avaliação, de forma combinada, com os dados obti-dos no diagnóstico ambiental. Dessa forma, elabora-se o balanço ambiental, por meio da construção de fluxogra-mas de processo (entrada e saída).

O desenvolvimento de fluxogramas para os proces-sos e atividades setoriais da empresa fornece as informa-ções a respeito dos locais das saídas de poluentes de cada atividade ou processo.

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Considera-se que, em um processo industrial, as en-tradas são constituídas pelas matérias-primas, produtos auxiliares, água e energia. As saídas são os produtos aca-bados e semiacabados. Todavia, encontram-se nos pro-cessos industriais outras saídas que são os poluentes ge-rados, os quais devem ser tratados de maneira adequada.

A abordagem P+L expõe de maneira contundente a proteção ambiental integrada à produção, a qual propõe os seguintes questionamentos: De onde vêm nossos resíduos e emissões? Por que afinal se transformaram em resíduos?

O balanço ambiental deve responder a tais questio-namentos, a fim de procurar identificar os pontos críticos da geração dos resíduos, bem como as informações sobre a sua causa e, posterior consequência.

Com relação ao Balanço Econômico, esse deve apre-sentar os custos referentes ao controle dos resíduos, ou seja, a soma dos custos de tratamento de efluentes, re-síduos sólidos e emissões atmosféricas, além dos custos com transporte, acondicionamento e disposição final dos resíduos gerados. De igual modo, devem-se apurar os custos com perdas de matéria-prima, sendo possível analisar o real custo do resíduo gerado, sendo este, muitas vezes, desconhecido pela empresa.

Em relação ao Balanço Tecnológico, esse deve verifi-car o nível de tecnologia adotada pela empresa.

Por fim, a etapa 2 é finalizada com a identificação de oportunidades e/ou problemas diagnosticados na elaboração do balanço ambiental, econômico e tecnológico do processo produtivo. Essas oportunidades e ou problemas podem estar relacionados ao impacto ambiental proporcionado por deter-

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minada atividade, a problemas de saúde e segurança ocupa-cional dos trabalhadores, a custos associados ao controle de re-síduos (fim de tubo), a problemas tecnológicos, entre outros.

As informações apuradas, até então, devem permitir a identificação de oportunidades de aplicar a P+L para a solução dos problemas diagnosticados (possíveis desper-dícios de materiais, procedimentos operacionais inade-quados, entre outros).

Além disso, devem-se determinar as interfaces com outras áreas ou ambientes da empresa, que afetam a área avaliada. Sendo assim, a avaliação consiste em descrever os problemas encontrados, as oportunidades de aplicação da metodologia proposta para solução dos mesmos, a estraté-gia ou ação a ser implementada, bem como as barreiras e necessidades para efetiva aplicação. Deve ser dada especial atenção aos pontos críticos dos sistemas que geram maior quantidade de resíduos e ao controle dos processos produ-tivos que apresentam desvios em sua eficiência, gerando mais resíduos do que originalmente estimado.

Etapa 3: Identificação das opções para aplicação da Produção Mais Limpa

Com base nas causas de geração de resíduos descri-tas na etapa anterior, são possíveis a realização de modifi-cações em vários níveis de atuação da empresa (processo e produto) e aplicações de estratégias visando ações de P+L, conforme figura 1.

Ao analisar as alternativas de redução de resíduos na fonte (nível 1), percebe-se que existem duas opções a serem seguidas, ou seja, a modificação no processo ou a modificação no produto, as quais podem envolver:

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a) técnicas de housekeeping: consiste em limpezas pe-riódicas, uso cuidadoso de matérias-primas e com o pro-cesso, alterações no layout físico, ou seja, disposição mais adequada de máquinas e equipamentos que permitam reduzir os desperdícios, elaboração de manuseio para ma-teriais e recipientes, etc. O housekeeping permite, ainda, mudanças nas condições operacionais, ou seja, alterações nas vazões, nas temperaturas, nas pressões, nos tempos de residência e outros fatores que atendam às práticas de Prevenção de Resíduos;

b) substituição de matérias-primas: consiste na identificação de materiais mais resistentes que possam vir a reduzir perdas por manuseio operacional, ou ainda, a substituição de materiais tóxicos por atóxicos e não reno-váveis por renováveis;

c) mudanças tecnológicas: utilização de equipamen-tos mais eficientes do ponto de vista da otimização dos recursos utilizados uso de controles e de automação que permitam rastrear perdas ou reduzir o risco de acidentes de trabalho, entre outras.

d) substituição de produto: essa opção pode envol-ver o cancelamento de uma linha produtiva, no qual o produto acabado apresente problemas ambientais signi-ficativos, ou ainda, a substituição de um produto com características tóxicas por outro menos tóxico;

e) redesenho do produto (eco design): consiste em desenvolver uma nova concepção do produto que leve em consideração a variável ambiental como fator de redução de custos e oportunidades de negócios. Nessa etapa, há necessidade de uma análise combinada de substituição

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de materiais tóxicos por atóxicos e não renováveis por re-nováveis, alterações nas dimensões do produto, aumento da vida útil do produto, facilidade de reciclagem de seus componentes e otimização produtiva ou de processos.

Encerradas as opções de redução de resíduos na fon-te (nível 1), devem-se buscar alternativas para reciclagem interna (nível 2). Nesse nível, considera-se que os resídu-os que não podem ser evitados, devem, preferencialmen-te, ser reintegrados ao processo de produção da empresa. A reciclagem interna busca fazer com que o resíduo possa retornar à cadeia produtiva ou mesmo ser reaproveitado por setores administrativos.

Após analisadas as possibilidades de modificação no processo e modificação no produto (nível 1) e reciclagem interna (nível 2), deve-se proceder à análise da reutiliza-ção de resíduos e emissões fora da empresa, ou seja, por meio da reciclagem externa (nível 3). Nessa etapa, deve--se adotar medidas internas que viabilizem uma recicla-gem externa dos resíduos, como a segregação de resíduos na fonte. Entende-se que se um resíduo não tem valor “para uma empresa”, pode ter valor “para outra”.

É importante ressaltar que a priorização deve ser ela-borada em conjunto com a alta administração, pois é essa que determina o planejamento estratégico da empresa, assim como a sua disponibilidade financeira e tecnológi-ca para mudanças nos processos produtivos e produtos.

Etapa 4: Estudo de viabilidade econômica, técni-ca e ambiental das prioridades

Nessa etapa, deve-se analisar a viabilidade das op-ções de P+L, por meio de dados econômicos, técnicos e dos consequentes impactos ambientais.

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A elaboração do estudo de viabilidade econômi-ca das prioridades está baseada no fato de que algumas oportunidades de P+L podem implicar em razoáveis in-vestimentos, geralmente devido à compra de equipamen-tos com alto grau de inovação tecnológica.

Sendo assim, deve-se obrigatoriamente comparar as alternativas de P+L, a fim de identificar qual a opção mais viável do ponto de vista econômico.

Os métodos de avaliação mais difundidos para ava-liar as propostas de investimento são o Prazo de Retorno (Payback), o Valor Presente Líquido (VPL) e a Taxa In-terna de Retorno (TIR). Não existe uma única metodo-logia que seja adequada para tal avaliação. É necessário o estudo de cada caso, bem como o emprego de mais de um método de avaliação, dado as limitações previstas em cada metodologia.

Os resultados encontrados durante a atividade de avaliação técnica, ambiental e econômica possibilitarão a seleção das medidas viáveis de acordo com os critérios estabelecidos pelo Ecotime.

Etapa 5 – Plano de implantação e monitoramentoO plano de monitoramento consiste em estabelecer

os pontos de medição para analisar a eficiência do processo produtivo. Nesse sentido, é necessário indicar no fluxogra-ma produtivo os pontos de monitoramento e os parâme-tros a serem monitorados, a fim de que seja possível man-ter um controle sobre as operações realizadas na empresa. Tais procedimentos têm como objetivo principal assegurar a melhoria contínua dos processos e produtos.

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Para processos não complexos, geralmente, utiliza-se da ferramenta 5W 1H para fins de monitoramento das operações. Dessa forma, sabe-se o que será monitorado, quem, onde, quando e por que irá se monitorar determi-nado processo. Já para processos complexos, recomenda--se utilizar, de forma combinada, o 5W 1 H com outras ferramentas (checklist – para verificação das etapas a se-rem cumpridas, gráficos de controle para fins de análise de tendências na ocorrência de problemas e, compara-ções, entre outras que se fizerem convenientes).

O monitoramento pode envolver, desde uma sim-ples medição de efluentes, até um completo programa para realização de um balanço ambiental, tecnológico e econômico por etapa do processo.

Após selecionar as opções economicamente viáveis de implantação, ou seja, após análise das oportunidades de implantação de P+L, a empresa deve colocá-las em prática. Tal procedimento consiste, de maneira restrita, na implantação propriamente dita das oportunidades de P+L priorizadas pela alta direção.

Etapa 6: Registro documental dos casos de suces-so de implantação de P+L

Diversos autores consideram de alta relevância que o registro documental dos casos de sucesso na implantação da P+L na empresa deve ser realizado de imediato. Isso deve ser feito a fim de que a alta direção tenha, de manei-ra efetiva, acesso a relatórios apresentando, sempre que necessário, às alternativas de implantação propostas pela P+L, assim como esse registro deve servir de suporte para futuras aplicações da P+L na empresa.

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Barreiras à implantação da Produção Mais LimpaNa visão de Gasi e Ferreira (2007), Quelhas e

Henriques (2007), Furtado e Furtado (2010) e CNTL (2003), apesar dos atraentes ganhos econômicos e das reduções significativas nos impactos ambientais, a ado-ção generalizada de ações de P+L permanece ainda limi-tada. Estudos identificaram uma série de barreiras po-tenciais que podem impedir ou retardar a adoção dessa abordagem nas empresas, que são:

a) Conceituais• Indiferença: falta de percepção do potencial papel

positivo da empresa na solução dos problemas ambientais.• Interpretação limitada ou incorreta do concei-

to de P+L.• Resistência às mudanças.

b) Organizacionais• Falta de liderança interna para questões ambientais.• Percepção pelos gerentes do esforço e risco relacio-

nados à implementação de um programa de Produção mais Limpa (falta de incentivos para participação no programa e possibilidade de revelação dos erros operacionais existentes).

• Abrangência limitada das ações ambientais den-tro da empresa.

• Estrutura organizacional inadequada e sistema de informação incompleto.

• Experiência limitada com o envolvimento dos empregados em projetos da empresa.

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c) Técnicas• Ausência de uma base operacional sólida (com

práticas de produção bem estabelecidas, manutenção preventiva etc.)

• Complexidade da P+L (necessidade de empreen-der uma avaliação extensa e profunda para identificação de oportunidades de P+L).

• Acesso limitado à informação técnica mais ade-quada à empresa, bem como desconhecimento da capa-cidade de assimilação dessas técnicas pela empresa.

d) Econômicas• Investimentos em P+L não são rentáveis quando

comparados a outras alternativas de investimento.• Desconhecimento do montante real dos custos

ambientais da empresa.• Alocação incorreta dos custos ambientais aos se-

tores onde são gerados.

e) Financeiras• Alto custo do capital externo para investimentos

em tecnologias.• Falta de linhas de financiamento e mecanismos

específicos de incentivo para investimentos em Produção mais Limpa.

• Percepção incorreta de que investimentos em P+L representam um risco financeiro alto devido à natu-reza inovadora desses projetos.

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f ) Políticas• Foco insuficiente em P+L nas estratégias ambiental,

tecnológica, comercial e de desenvolvimento industrial.• Desenvolvimento insuficiente da estrutura de

política ambiental, incluindo a falta de aplicação das po-líticas existentes.

Na visão de Gasi e Ferreira (2007); CNTL (2003) e Furtado e Furtado (2010), as diversas barreiras men-cionadas anteriormente impedem a visualização da diver-sidade de benefícios da abordagem P+L, tanto para as empresas, quanto para a sociedade. Os benefícios mais evidentes são a melhoria da competitividade (por meio da redução de custos ou melhoria da eficiência) e a re-dução dos encargos ambientais causados pela atividade industrial. Além disso, verifica-se a melhoria da quali-dade do produto, bem como das condições de trabalho, contribuindo direta e indiretamente para a segurança dos clientes e dos trabalhadores.

conSideraçõeS finaiS

De modo geral, verifica-se que a abordagem P+L é um importante instrumento para alcançar os requisitos propostos pelo desenvolvimento sustentável, apesar de ainda não ser uma prática na maioria das empresas, so-bretudo empresas brasileiras.

Constata-se ainda que a aplicação da P+L é de fun-damental importância para as empresas em geral, pois visa otimizar o consumo de matérias-primas, água e ener-gia, reduzindo custos operacionais, além de buscar solu-

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ções lucrativas para a redução da geração dos resíduos ao longo de todo o processo produtivo.

Neste sentido, a P+L pode ser vista como uma di-retriz para a melhoria da competitividade das empre-sas, possibilitando que essas possam desenvolver pro-dutos, processos e tecnologias, que sejam efetivamente aplicadas na prevenção da poluição, tendência essa que está sendo crescentemente valorizada pelo mercado. Ao mesmo tempo, os objetivos da P+L exigem inves-timentos em inovações e melhorias nas práticas básicas das empresas, com o objetivo de substituir insumos e seus decorrentes processos, fatores esses que contribuem para o desenvolvimento de vantagens competitivas, fa-vorecendo a criação de um círculo virtuoso de melho-rias em prol da competividade das empresas.

É importante salientar que os investimentos pro-postos ao longo da implantação da abordagem P+L estão fortemente atrelados ao desenvolvimento competitivo das empresas e seu devido fortalecimento na imagem em-presarial. Assim, ao investir na implantação da P+L, essas empresas estão dando um passo extremamente relevante, para a melhoria da qualidade ambiental, mas, principal-mente, para garantir sua competitividade no mercado.

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caPítulo 5 – o PaPel daS orGaniza-çõeS internacionaiS (oiS) na conStru-ção da aGenda ambiental Global e do deSenvolvimento SuStentável

Ângela Cristina Tepassê – Mestre em Economia Política na PUC-SP. Atualmente é técnica do Obser-vatório do Trabalho do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) e Pro-fessora da Faculdade Cásper Líbero. Atua principalmente nos seguintes temas: crescimento econômico e comércio com a China.

e-mail: [email protected]

Dra . Martha Mercado Paredes – Doutora em Sociologia e Política pela PUC-SP. Mestre em Ciências Sociais na PUC-SP. Graduada em Ciências Sociais pela PUC-SP. Participou do Programa de intercâmbio ASA--Carl Duisberg Gesellschaft, Berlim, Alemanha (1990-91). Pesquisadora associada do Núcleo Observatório das Metrópoles na PUC-SP. Professora do Curso de Relações Internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco.

e-mail: [email protected]

RESUMOEsse trabalho trata de investigar e discutir os papéis

que as Organizações Internacionais (OIs) desempenham na elaboração e execução das políticas voltadas à susten-tabilidade, estabelecendo uma injunção com os modelos

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de desenvolvimento econômico adotados na contempora-neidade. A pesquisa foi desenvolvida por meio de levanta-mento e discussão de referências bibliográficas consagradas na área em questão.

Pelos resultados obtidos, pudemos identificar uma reconfiguração no entendimento e operacionalização dos processos de desenvolvimento e a influência exercida pelas OIs, no que concerne à mobilização e implantação de uma agenda que busca estabelecer uma relação integrada entre o homem e o meio ambiente e, por conseguinte, com o pró-prio sentido de desenvolvimento, nesse caso, na construção do desenvolvimento sustentável.

Palavras-chave: Organizações internacionais; desen-volvimento; sustentabilidade; agenda ambiental global.

introdução

O presente capítulo tem como objetivo geral discutir o papel das Organizações Internacionais (OIs) na constru-ção do desenvolvimento sustentável. A preocupação com o tema se manifesta a partir da mobilização dos múltiplos atores e segmentos da sociedade que, por meio da insti-tucionalização de suas organizações e a pressão junto aos governos locais colocou em pauta a agenda do movimento ambientalista. Movimento esse que surge e mantém-se par-tilhando ideias e ações que se caracterizam pelo seu caráter rizomático, contínuo. A questão ambiental nos coloca face a face com os diversos aspectos da relação homem e meio ambiente, a maneira como nos apropriamos e tratamos os ecossistemas – coisificados, recursos para nossa satisfação –, e como produzimos, consumimos e descartamos.

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Para o pensamento econômico hegemônico o domínio sobre o meio ambiente é visto como essencial tanto ao pro-gresso quanto ao bem-estar humano. Apesar da força dessa premissa, um restabelecimento difuso de uma “consciência biocêntrica” retoma o sentido de interdependência entre o homem e natureza e a aceitação de uma responsabilidade ética e que revela a busca de novos valores e entendimentos.

Para cumprir com o objetivo geral, o trabalho está es-truturado em cinco seções, além desta introdução e das con-siderações finais. Na primeira seção é apresentada a discussão em torno da construção teórica dos conceitos de desenvol-vimento e sustentabilidade. Nas demais seções discute-se o papel das Organizações Internacionais (OIs), tanto as Orga-nizações Intergovernamentais (OIGs) no sistema da ONU quanto as Organizações não governamentais (ONGs) na promoção e consecução da agenda ambiental global.

deSenvolvimento e deSenvolvimento SuStentá-vel: a conStrução de uma nova abordaGem

É no contexto da recomposição das forças mundiais após o fim da Segunda Grande Guerra que se fortalece um discurso cuja principal característica é a concepção de desenvolvimen-to alinhado com uma racionalidade econômica que buscava a máxima produtividade, a geração de poupança e a criação de investimentos que levassem à acumulação contínua.

A “teoria do desenvolvimento”, como ficou conhecida essa escola, buscava identificar os obstáculos à implantação do sistema econômico moderno e definir seus instrumentos

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de regulamentação, capazes de alcançar os resultados de-sejados no sentido de aproximar cada sociedade existen-te de um modelo tido como ideal de desenvolvimento. Cabe observar que o conceito de desenvolvimento é dife-rente de crescimento. O último pode ser entendido como uma mudança quantitativa de indicadores econômicos. Já o primeiro para que haja desenvolvimento é preciso haver mudanças qualitativas da sociedade, mas sempre associado a um processo de crescimento econômico.

O percursor da teoria do desenvolvimento foi W.W. Rostow (1974),13 e, para ele, o processo de desenvolvimen-to se daria em cinco etapas pelas quais os países não desen-volvidos deveriam passar para atingir as condições existen-tes nos países desenvolvidos. Tais etapas eram: Sociedade tradicional, Pré-condições para a decolagem, Decolagem, Marcha para a maturidade e Era do Consumo de Massa. A questão do desenvolvimento passou a ser, portanto:

um modelo ideal de ações econômicas, sociais e po-líticas interligadas que ocorreriam em determinados pa-íses, sempre que se dessem as condições ideais à sua “de-colagem” [...], tais condições dependiam apenas de um conjunto de medidas econômicas tomadas por qualquer Estado nacional que assumisse uma ideologia desenvolvi-mentista (SANTOS, 2000, p. 17).

Alexander Gerschenkron (1964),14 já havia percebi-do que as etapas de Rostow não eram universais, ou seja,

13 A edição utilizada nesse artigo é de 1974, mas a primeira edição foi publicada em 1960.14 A edição utilizada nesse artigo é de 1964, mas a primeira edição foi publicada em 1962.

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não seriam apropriadas ao desenvolvimento de todos os países e que, lições do passado não poderiam ser aplica-das de forma eficaz. O problema que se verificou nesse tipo de raciocínio, foi que as sociedades, para esses eco-nomistas, se desenvolveriam de forma separada umas das outras. Como se elas não se interrelacionassem e, como se isso não afetasse o desenvolvimento entre elas.

Com a criação da Comissão Econômica para a Amé-rica Latina – CEPAL, em 1948, pelo Conselho Econô-mico e Social das Nações Unidas (ECOSOC), um grupo de economistas latino-americanos tratou de buscar solu-ções para o problema do subdesenvolvimento das regiões periféricas do globo.

Dentre os principais economistas estava Raul Pre-bisch e Celso Furtado e, para eles, o desenvolvimento estava ligado ao processo de industrialização. Prebisch chamou a atenção para o fato de que as relações econô-micas entre Centro15 e Periferia16 tendem a reproduzir

15 Celso Furtado definiu o centro como a economia onde esteve a iniciativa de industrialização e geração de progresso técnico, o mo-tor das transformações que se iam produzindo por toda parte. A periferia, portanto, seria para ele, “as regiões que, nesse quadro de transformações, tinham suas estruturas econômicas e sociais mol-dadas do exterior, mediante a especificação do sistema produtivo e a introdução de novos padrões de consumo” (FURTADO, 2000: 76) 16 Para Prebisch era fundamental perceber que os chamados centro e periferia constituem dois grupos de economias que possuem estreita troca entre si, não havendo atraso ou estágio pretérito de desenvolvi-mento. Esses conceitos expõem as especificidades históricas dos países periféricos em relação ao centro, utilizando, para isso, sua inserção par-ticular na divisão internacional do trabalho (AMORIM, 2001).

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as condições do subdesenvolvimento e a aumentar o fosso entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Os Cepalinos questionavam as teorias do comércio inter-nacional baseadas na “lei das vantagens comparativas” formulada por David Ricardo, o qual mostrava que o comércio internacional levaria os países à especialização da produção de acordo com os custos relativamente me-nores da mão de obra e que este processo geraria ganhos a todos os países (CARDOSO, 1993).

Os economistas ligados à CEPAL tentavam mostrar que as relações econômicas entre esses dois tipos de países não gerava ganho para todos por que os países centrais se apropriavam da maior parte dos frutos do progresso técnico (CARDOSO, 1993).

Segundo Celso Furtado (1985), a difusão do pro-gresso técnico nos países da América Latina no período primário-exportador deu-se por meio da moderniza-ção do consumo de uma parcela da população. Mas as técnicas produtivas teriam se mantido essencialmente tradicionais. Ou seja, os agroexportadores utilizavam o excedente produtivo para modernizar o seu consumo, em detrimento da modernização da esfera da produção. Resumidamente, elas importavam bens de consumo ao invés de bens de capital.

Assim, para a Antiga CEPAL, ciclo após ciclo, os preços primários tenderiam a cair frente aos dos bens industrializados. A esse processo dar-se-ia o nome de deterioração dos termos de troca. Portanto, para a CE-PAL de 1950, não havia como se desenvolver absorven-do a mão de obra excedente se não pelo caminho da

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industrialização,17 viabilizada pelo chamado processo de substituição de importações. Entretanto, o papel da agricultura de exportação seria, para ela, fundamental na geração de divisas necessárias para importar máquinas e equipamentos utilizados no processo de industrialização.

No início dos anos 1960, no entanto, muitas eco-nomias periféricas já haviam logrado desenvolver uma indústria, entretanto, ainda assim, podia-se observar que: a) apesar do crescimento econômico de muitos países que se industrializaram, a instabilidade macroeconômica também cresceu; b) a urbanização criava poluição, empo-brecimento e favelização nas cidades; c) o mundo estava se polarizando com a Guerra Fria.

A partir de então, tornou-se difícil explicar o por-quê, apesar das condições aparentemente favoráveis, não se tomaram às medidas necessárias para garantir a conti-nuidade do desenvolvimento ou por que as providências tomadas não alcançaram seus objetivos (CARDOSO & FALETTO, 1970).

O aumento do produto bruto foi suficiente para promover em alguns estados a reorganização do siste-ma econômico. Entretanto, no âmbito social e político não se reorganizaram na direção esperada (CARDOSO & FALETTO, 1970). A industrialização não foi capaz de incorporar a maioria da população aos frutos do pro-

17 Os cepalinos seguiam a tradição keynesiana, por isso, para eles os tra-balhadores não têm controle sobre a oferta de mão de obra e nem sobre o seu preço. Portanto, a absorção do excedente populacional só se daria pelo aumento da quantidade de capital na economia. Ou seja, o emprego dependia da expansão industrial e da urbanização (AMORIM, 2001).

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gresso técnico e não havia eliminado a vulnerabilidade externa, apenas mudando a sua natureza. Esses fenô-menos levariam ao questionamento do pensamento da CEPAL. As críticas a essa corrente foram inúmeras. A própria CEPAL reviu algumas de suas ideias, afirman-do ser necessário alterar a estrutura social e redistribuir a renda principalmente por meio da reforma agrária. Para os cepalinos, o Estado agora deveria alterar privilégios, direcionar o crescimento industrial e remover barreiras (BIELSCHOWSKY, 1998).

Outros críticos acreditavam que a industrialização seria um equívoco, pois os recursos extraviados retiravam do mercado a sua eficiência alocativa, e o país perderia ao desobedecer à “lei das vantagens”. O planejamento das ações econômicas feitas pelo Estado podia levar a um es-tatismo socializante, burocrático e ineficaz. Mas a defesa da intervenção do Estado pelos teóricos Cepalinos era justamente com vistas à manutenção e ao crescimento do capitalismo na periferia.

Outra crítica relevante é a de que as construções teóri-cas acerca do desenvolvimento, apesar do esforço em mantê--las neutras em termos de valores, não conseguiam esconder que se estava considerando como uma sociedade ideal as so-ciedades europeias e os Estados Unidos da América.

Até a década de 1960, no entanto, nenhuma escola de pensamento econômico considerava que no processo econômico são produzidos resíduos que devem ir para al-gum lugar e novos recursos devem vir de algum lugar fora do sistema. Ou seja, que a economia não é O Todo, mas um subsistema de um sistema maior: o “meio ambiente”.

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O primeiro economista a fazer tal consideração foi Georgescu-Roegen em seu livro The Entropy Law and the Economic Process, de 1971. Nesse texto, o autor recorre à Lei da Entropia (2ª lei da termodinâmica) para explicar o processo econômico. Tal lei afirma que é impossível cons-truir um dispositivo, que opere segundo um ciclo, e que não produza outros efeitos além da transferência de calor de um corpo quente para um corpo frio, sempre há dissi-pação energia. De acordo com Cechin (2008, p.66), a lei da entropia nos assegura que não podemos usar a mesma energia indefinidamente, queimando o mesmo carvão ad infinitum. Se isso fosse possível, não haveria escassez de fato e também não haveria resíduos do processo produtivo uma vez que se poderia “reciclar” 100%. Um país pobre em recursos naturais como o Japão não precisaria importar matérias-primas, e muitas populações não teriam sido for-çadas a migrar por causa da exaustão do solo.

Para Georgescu-Roegen o processo econômico é uma transformação entrópica e unidirecional onde, ele-mentos da natureza são transformados em bens econômi-cos e, nesse processo, são produzidos os resíduos de difícil reaproveitamento e alocação.

Em 1972, um estudo elaborado por um grupo inter-disciplinar do MIT para o Clube de Roma, adiciona novas questões ao debate sobre desenvolvimento ao abandonar a hipótese de um sistema aberto com relação à fronteira dos recursos naturais e colocar a seguinte questão: O que aconteceria se o desenvolvimento econômico chegasse a se concretizar? Isto é, se desenvolvimento econômico é tido como universalização dos padrões de vida e consumo dos

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países ricos, o que aconteceria com o mundo caso isso fosse efetivamente atingido? (FURTADO, 1985, p. 17).

Furtado, em seu livro, O mito do desenvolvimento econômico, conclui que:

O custo em termos de depredação do mundo físico, desse estilo de vida é de tal forma eleva-do que toda a tentativa de generalizá-lo levaria inexoravelmente ao colapso de toda uma civiliza-ção, pondo em risco as possibilidades de sobrevi-vência da espécie humana. Temos assim a prova definitiva de que o desenvolvimento econômico – ideia de que os povos pobres podem algum dia desfrutar das formas das formas de vida dos atu-ais povos ricos – é simplesmente irrealizável. Sa-bemos agora de forma irrefutável que as econo-mias da periferia nunca serão desenvolvidas, no sentido de similares às economias que formam o atual centro do sistema capitalista. Mas como negar que essa ideia tem sido de grande utilida-de para mobilizar os povos da periferia e leva--los a aceitar enormes sacrifícios, para legitimar a destruição de formas de cultura arcaicas, para explicar e fazer compreender a necessidade de destruir o meio físico, para justificar formas de dependência que reforçam o caráter predatório do sistema produtivo? Cabe, portanto, afirmar que a ideia de desenvolvimento econômico é um simples mito (FURTADO 1985, p.75).

Com isso, passa-se a questionar a ideia de desenvol-vimento econômico que estava por trás da teoria. Furtado

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(1985) explica que apenas parte da população dos países subdesenvolvidos consegue adotar os padrões de consumo dos países desenvolvidos, e isso só é possível a partir da apropriação do excedente gerado pelo comércio exterior.

Para ele, o processo de adoção de padrões de consu-mo sofisticados, sem o correspondente processo de acu-mulação de capital e progresso nos métodos produtivos, é o que ele chama de modernização. Esse processo de mo-dernização era viabilizado por meio da apropriação do excedente gerado pelo comércio exterior, que podia ser obtido por meio do aumento da taxa de exploração ou via aumento das exportações. Quanto maior as possibili-dades de modernização do consumo, mais intensa tende a ser a pressão no sentido de ampliar o excedente.

A composição de uma cesta de bens de consumo determina os métodos produtivos a serem adotados e a intensidade de capital e trabalho a serem empregados. Dessa maneira, aumenta-se a produção de bens de uso popular, os recursos mais abundantes tendem a ser mais utilizados, como terra e trabalho não especializado, e recursos escassos tendem a ser menos utilizados, como capital e trabalho especializado. Já na produção de bens mais sofisticados, que são consumidos pelos mais ricos, é exigido o emprego mais intenso dos recursos escassos. O aumento do consumo dos ricos significa introduzir novos produtos na cesta de bens de consumo, enquan-to aumentar o consumo das massas significa difundir o uso dos produtos já conhecidos. O primeiro requer o direcionamento de mais recursos para as inovações, o que significa dizer, que seria necessário o desenvolvi-

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mento de pesquisa, logo, o emprego de trabalho espe-cializado, um recurso escasso nos países subdesenvol-vidos (FURTADO, 1985). Com isso, alguns autores passam a colocar o desenvolvimento mais como uma questão do tipo de indústria que se adota, do que me-ramente como desenvolvimento industrial.

Deste lado estariam os economistas ecológicos e o “programa bioeconômico mínimo” formulado por Ge-orgescu-Roegen, no qual seria necessário adotar algumas medidas para que os impactos no meio ambiente fossem reduzidos. Entre elas, destacam-se:

ajudar os países subdesenvolvidos a ascender, com maior rapidez possível, a uma existência mais digna de ser vivida, mas em nada luxuosa; diminuir progressiva-mente a população até certo nível no qual uma agricul-tura orgânica bastasse para a sua conveniente nutrição; evitar todo e qualquer desperdício de energia; curar a sede mórbida por gadgets extravagantes, para que os fa-bricantes parem de produzir esse tipo de “bens”; acabar também com essa doença do espírito humano que é a moda, para que os produtores se concentrem na durabi-lidade; as mercadorias mais duráveis devem passar a ser concebidas supondo-se que possam ser consertadas; re-duzir o tempo de trabalho e redescobrir a importância do lazer (VEIGA, 2006).

Essas primeiras ideias levaram alguns economistas a pensar em uma teoria do desenvolvimento que levasse em consideração a sustentabilidade, ou seja, maneiras de otimizar e obter a qualidade de vida das populações, sem comprometer a existência das gerações futuras, garantindo

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a diversidade cultural humana e também das outras espé-cies com as quais os homens partilham a vida no planeta.

Contudo, para os economistas convencionais, mais otimistas, a natureza não se configura obstáculo para o crescimento. Para eles, as invenções tecnológicas e o progresso científico sempre teriam a capacidade de alterar as combinações de fatores de produção no senti-do de poupar os recursos escassos e substituir eventual escassez (VEIGA, 2006).

Essa concepção acabou sendo batizada de “sustenta-bilidade fraca”, pois, para eles, no limite, o estoque de re-cursos naturais pode até exaurir-se, desde que seus declí-nios sejam contrabalançados por acréscimos nos demais fatores (capital e trabalho) (VEIGA, 2006).

Observa-se que os teóricos que estão no lado da cha-mada “sustentabilidade forte”, são menos otimistas em relação às possibilidades de substituição entre fatores de produção. “Entendem que o critério de justiça interge-rações não deve ser a manutenção do capital total, mas sim sua parte não-reproduzível, que chamam de “capital--natural”” (VEIGA, 2006, p 61) e propõem que os danos ambientais sejam compensados.

Ainda para os economistas convencionais, o proble-ma da escassez de recursos naturais é tratado como “im-perfeições do mercado” e, portanto, pode ser solucionado com a criação de novos mercados para bens ambientais, como mercado de direitos de poluir e quotas de emissões, utilizando-se de técnicas de valoração e adotando, para isso, a ideia de valor de existência, medido pela análise de custo/benefício de alterações do bem-estar, pois

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para um indivíduo, o valor da mudança para uma situação preferida será revelado pela “dispa”: sua disposição de pagar por esse ganho. Se, ao contrário, houver perda, será revelada pela “dis-co”: sua disposição de aceitar algo como com-pensação. Para a sociedade, o valor líquido de uma mudança ambiental pode ser avaliado pela diferença entre o total das “dispa” dos que espe-ram ganhar e o total das “disco” do que esperam perder (VEIGA, 2006, p. 63).

Discute-se ainda como utilizar esses métodos de va-loração para a criação de um sistema de contas nacionais que leve em consideração a depredação do meio ambien-te no cálculo do PIB. O chamado PIB verde.

Tais métodos de valoração e análises de custo/benefí-cio passaram a ser utilizadas pelas mais diversas correntes de pensamento econômico. O ponto de discórdia estaria, portanto, em outra questão. Para os economistas ecológi-cos, os recursos naturais e capitais são geralmente comple-mentares e não substitutos e os serviços da natureza esta-riam sendo usados a uma taxa superior àquela que a bios-fera é capaz de suportar no longo prazo (VEIGA, 2006).

Dessas duas visões extremas, surgiu um caminho do meio, apresentado por Ignacy Sachs em seu livro Cami-nhos para o Desenvolvimento Sustentável (2009).18 Para ele, o economista deve retornar a economia política e “a um planejamento flexível negociado e contratual, simul-taneamente aberto para as preocupações ambientais e sociais” (SACHS, 2009, p. 60). “É necessária uma com-18 A edição utilizada aqui é de 2009, mas o livro foi lançado em 2002.

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binação viável entre economia e ecologia, pois as ciências naturais podem descrever o que é preciso para um mundo sustentável, mas compete às ciências sociais a articulação das estratégias de transição rumo a este caminho” (SA-CHS, 2009, p. 60). Trata-se de uma nova abordagem que propõe, simultaneamente, desenvolvimento econômico, equidade social e equilíbrio ambiental, tendo como um dos instrumentos para a sua realização, a intervenção ins-titucional, que se responsabilizaria por controlar a uti-lização de recursos, o emprego de técnicas “limpas” de produção e privilegiaria as necessidades ao invés das de-mandas dos hábitos arraigados de consumo.

De fato, nos anos 1980 esse novo conceito, desen-volvimento sustentável, se estabelece. O termo teria sido utilizado abertamente, pela primeira vez, no Building a sustainable Society, o manifesto do partido ecológico da Grã-Bretanha, escrito por Lester Brown, do Worldwatch Institute, em 1981. Em 1987, no relatório Nosso Futu-ro Comum (Our common future) – que ficou também conhecido como Relatório Brundtland, em homenagem a presidente da Comissão – Gro Harlem Brundtland – este se tornou popular. Mas foi apenas em 1992 que os governos do mundo inteiro oficializaram o conceito de desenvolvimento sustentável, durante a Cúpula da Ter-ra – Eco 92, reunião realizada no Rio de Janeiro, Brasil (KAMINKER, 2002, s/p)

A percepção dos responsáveis pelo relatório, insta-dos a encontrar soluções para a relação desenvolvimento econômico e meio ambiente, atestaram que o desenvol-vimento consumiu, de forma predatória, os recursos am-

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bientais e que a degradação e destruição do meio ambien-te comprometia de forma irremediável o desenvolvimen-to econômico. A comissão apontou a má utilização do conhecimento e da técnica, produzindo um desenvolvi-mento “insustentável”, observaram ainda que:

a produção industrial cresceu mais de 50 vezes no último século, sendo que quatro quintos des-se crescimento se deram a partir de 1950. Esses números refletem e prefiguram profundos im-pactos sobre a biosfera, à medida que o mundo investe em habitação, transporte, agricultura e indústria. Grande parte do crescimento econô-mico se faz à custa de matérias-primas de flores-tas, solos, mares e vias navegáveis. [...] Enquanto isso, as indústrias que dependem de recursos do meio ambiente, e que mais poluem, se multipli-cam com grande rapidez no mundo em desen-volvimento, onde o crescimento é mais urgente e há menos possibilidades de minimizar efeitos colaterais nocivos. [...] A ecologia e a economia estão cada vez mais entrelaçadas – em âmbito lo-cal, regional, nacional e mundial – numa rede de causas e efeitos. (Nosso futuro comum - Comis-são Mundial sobre o Meio Ambiente e Desen-volvimento, 1991. p. 4-5)

No que concerne à noção de “desenvolvimento sus-tentável”, a comissão observou que, este não é um estado permanente de harmonia, mas um processo de mudanças no qual a exploração de recursos, a orientação de inves-

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timentos, os rumos do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional estão de acordo com as necessida-des atuais e futuras (Nosso futuro comum – Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1991. p. 397).

A interdependência entre meio ambiente e os pro-cessos de produção e distribuição de bens foi o tema cen-tral dos diversos painéis apresentados à comissão, que estabeleceu sete ações estratégicas visando mitigar os efei-tos desse modelo. Aprofundar e melhorar o crescimento; satisfazer as necessidades essenciais em termos de empre-go, de alimentação, de energia, de água e de salubridade, manter a taxa demográfica num nível sustentável; conser-var e valorizar os recursos naturais; reorientar a tecnolo-gia para gerenciar os riscos; e integrar o meio ambiente e a economia aos processos de decisão.

A noção de desenvolvimento sustentável que se con-solidou na UNCED-92 pode parecer de simples defini-ção, porém sua implantação requer transformações efeti-vas nas estruturas de produção e na forma de organização socioeconômica contemporânea.

aS orGanizaçõeS internacionaiS (oiS) e Seu PaPel na conStrução da aGenda ambiental Global

A maior parte das organizações internacionais (OIs) se institui a partir da segunda metade do século XX. Elas dividem-se em: organizações intergovernamentais (OIGs) e as organizações não governamentais (ONGs) e

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são responsáveis pelas práticas e aperfeiçoamento da coo-peração internacional.

As OIs tiveram um papel fundamental na consoli-dação da agenda ambiental. Elas funcionam como are-na de negociação e suas ações viabilizam e estimulam à cooperação. Por meio dessas organizações, os Estados estabelecem interações regulares com as OIGs do siste-ma das Nações Unidas e com as ONGs transnacionais (MINGST, 2009). No que diz respeito à causa ambien-tal, as OIGs possibilitam os fóruns de negociação e o de-senvolvimento de coalizões, elas facilitam a formação de redes transgovernamentais e transnacionais compostas de protagonistas subnacionais e não governamentais. Além disso, essas organizações podem ser o lugar onde são ne-gociadas importantes mudanças na distribuição interna-cional do poder (MINGST, 2009, p.157).

As OIGs têm sua razão de ser estabelecida pela sua funcionalidade e pela dualidade de sua atuação. Como estrutura social delimita e regula um jogo de forças, tor-nando-se objeto de suas correlações que tentam atraí-la na busca da consecução de seus objetivos. Como ator autônomo se orienta como uma força, que opera e defi-ne o jogo social, procurando orientá-lo, para a obtenção dos seus próprios objetivos. Essa dualidade conduz sua ação institucional: é autônoma, porque se desenvolve se-guindo suas próprias regras e as decisões tomadas pelos seus órgãos, mas não é independente, pois é orientada pelas forças que atuam em seu interior, mas com as quais não pode ser confundida. As OIGs se apresentam como instituições nas quais os Estados estabelecem interações

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regulares, e simultaneamente, atuam autonomamente no sistema internacional global.

Herz (2004, p. 23) assinala que:as OIGs são ao mesmo tempo atores centrais do sis-

tema internacional, fóruns onde ideias circulam, se legi-timam, adquirem raízes e também desaparecem e, meca-nismos de cooperação entre Estados e outros atores.

As OIGs contribuem para a construção de normas e regras e dispõem de mecanismos que garantem a adequa-ção a essas normas e regras. Dessa maneira, o sistema dos regimes internacionais tem a capacidade de fortalecer as regras do jogo, que podem ser definidos como: os prin-cípios (crenças), as normas (padrões gerais) e as regras (prescrições e proscrições específicas), os procedimentos de tomada de decisão (regras de escolha coletiva), explí-citos ou não, que possibilitam a convergência das expec-tativas dos atores, nos diferentes temas que envolvem o sistema internacional (HERz, 2004).

De acordo com Mingst:as OIGs, juntamente com os Estados, frequen-

temente lideram a criação e a manutenção de regras e princípios internacionais baseados em suas preocu-pações comuns. Elas estabelecem expectativas sobre o comportamento de outros Estados, que passaram a ser conhecidas de modo geral como regimes interna-cionais. Os estatutos das OIGs incorporam normas, regras e processos de tomada de decisões dos regimes. Como reúnem os membros do regime, as OIGs aju-dam a reduzir o incentivo de trapacear e valorizam a boa reputação (2009, p. 157).

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As OIGs surgem para buscar a superação dos pro-blemas de ação coletiva, condicionando os limites dos resultados produzidos por ações isoladas e tornando os processos de decisão o locus de resultados otimizados.

aS orGanizaçõeS não GovernamentaiS (onGS) internacionaiS: oriGenS e Seu PaPel no SiStema da onu

A denominação “Organização Não Governamental” (ONG) foi criada pela ONU no ano de 1945, para de-signar todas aquelas entidades estabelecidas fora da esfera governamental, ou ainda, entidades não estatais. Num pri-meiro momento, o termo foi adotado pelas agências inter-nacionais de financiamento, as ONGs dos países desenvol-vidos, que financiavam projetos e fomentavam políticas de planejamento e desenvolvimento nos países em desenvol-vimento. Elas eram denominadas de ONGDs (Organiza-ções Não Governamentais de Desenvolvimento).

Inúmeros estudos se dedicaram a estabelecer as ori-gens das ONGs, delimitar seus campos de atuação, cir-cunscrever suas prerrogativas e definir precisamente seus significados.19. Segundo Scherer-Warren as ONGs pode ser definidas como:

organizações formais, privadas, porém com fins públi-cos, sem fins lucrativos, autogovernadas e com participação de parte de seus membros como voluntários, objetivando

19 Para uma consulta mais aprofundada, ver os trabalhos pioneiros de LANDIM (1993); FERNANDES (1994, 2000); COELHO (2000); SCHERER-WARREN (1994, 1998).

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realizar mediações de caráter educacional, político, assessoria técnica, prestação de serviços e apoio material e logístico para populações-alvo específicas, ou para segmentos da sociedade civil, tendo em vista expandir o poder de participação des-ta como o objetivo último de desencadear transformações sociais ao nível micro (do cotidiano e/ou local) ou ao nível macro (sistêmico e/ou global) (1994, p. 165).

De acordo com a investigação desenvolvida, pu-demos aferir que há duas principais definições dessas organizações, a primeira associa as ONGs a uma recon-figuração na forma de participação política da sociedade civil, a segunda, estabelece que as ONGs podem ser de-finidas a partir das atividades que desenvolvem, inscre-vendo-as no chamado “terceiro setor”, o que pressupõe, a partir dessa perspectiva, que há um primeiro (Estado) e um segundo (Mercado) setor. Nessa segunda aborda-gem se estabelece os limites a atuação das ONGs em consonância com os demais setores sociais. Apesar das divergências analíticas, há uma unanimidade no que diz respeito às novas práticas de ação coletiva conduzidas pelas ONGs, onde sua participação política opera base-ada em uma lógica setorial e suas ações são proativas e visam resultados previamente estabelecidos.

As ONGs se caracterizam pelo sentido público de sua atuação e pela não obtenção de lucros como finalida-de de sua existência. A especificidade de suas operações pode ser ainda delimitada por outras características, tais como: estrutura organizacional (quadro administrativo, rotinas e gerenciamento), dinamismo e profissionalização de sua atuação e um significativo esforço voluntário.

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As áreas de atuação das ONGs podem ser divididas em duas grandes categorias: a de prestação de serviços e a de ativismo político e/ou mobilização, as quais, por vezes, se combinam. As ONGs podem também ser carac-terizadas como grupos de pressão (lobbies) que, preser-vando um relativo grau de independência em relação aos governos, procuram influenciar as decisões políticas por meio de mecanismos bem articulados de pressão. Estes envolvem a mobilização da opinião pública recorrendo, por exemplo, as manifestações e happenings, atraindo a mídia para sua causa, fiscalizando o governo e denun-ciando irregularidades.

De um lado as ONGs são livres para tratar e im-pulsionar uma nova agenda, desenvolvendo novas pers-pectivas e promovendo novas políticas. De outro, os go-verno dever tratar dos problemas imediatos, trabalhando dentro da perspectiva dos diversos interesses e estruturas burocráticas da qual dependem, que tendem a reafirmar o status quo. Outro aspecto positivo no que concerne às ações das ONGs é:

NGOs are more likely to be source of new ideas, and where they have their own operational programmes, they can the test-bed for new policies. At a more fundamental level, if values start to change in socie-ty, it will be NGOs are important because they set the agenda for change: they provide the dynamics of global politics (WILLETTS, 1996, p. 133).

Apesar dos governos ainda serem os responsáveis pela formulação das políticas públicas, nas últimas dé-

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cadas passaram a partilhar as prerrogativas dessa agen-da com os demais atores sociais. O aumento da influ-ência das ONGs está relacionado com a transformação e avanços nos processos de comunicação e difusão das mídias globais, na medida em que essa mudança possibi-lita o trabalho em redes transnacionais. Especialmente as ONGs ambientalistas que:

have been at the forefront of the communications revolution, networking both through simple orga-nizations, producing newsletters, and through the use of the internet (WILLETS, 1996, p. 134).

Um marco para a atuação das ONGs foi sua par-ticipação na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED-1992), tornando de conhecimento do grande público sua exis-tência e atuação – sem dúvida ao papel de difusão exer-cido pelos canais de comunicação – que divulgaram sua presença e participação como um ator independente e proativo nas propostas e resultados da Conferência. Cabe salientar a importância que teve o comitê organizador da UNCED-92, que possibilitou o credenciamento sem precedentes das ONGs, tanto na Conferência quanto na implantação da agenda ambiental (TAVARES, 1999).

A dinâmica global que obriga a adoção de novas estratégias impulsiona as ONGs a uma ampliação de suas parcerias que, por conseguinte, irão influenciar o modus operandi e os padrões de relacionamento com outros atores sociais. As ONGs estariam representando

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de forma mais concreta os interesses que orientam as demandas da sociedade, influenciando decisivamente a opinião pública, o governo e os organismos interna-cionais. Seu poder de ação e mobilização – propondo, cobrando e denunciando – são beneficiados pela infor-mação em tempo real dos media. O crescimento dessas organizações parece contribuir para o estabelecimento de novos contornos e procedimentos no debate ambien-tal global, que ultrapassa os interesses e vontades dos Estados enquanto atores individuais.

a criação da uneSco e Sua Súmula de Proteção à natureza

A UNESCO foi fundada em novembro de 1946 (Paris-França), para promover a cooperação interna-cional na educação, ciência e cultura. Sua agenda para 1947 centrava-se em medidas para cooperar na recons-trução do pós-guerra, especialmente, no campo da edu-cação; seu departamento de Ciências Naturais (um dos sete departamentos da UNESCO) recebeu 12% do or-çamento da UNESCO para 1948; a palavra “conserva-ção” aparecia na constituição da UNESCO apenas em relação a livros, obras de arte e “monumentos históri-cos e científicos”. Foi o esforço de alguns cientistas que, fosse incorporado à súmula da UNESCO, a partir de 1947, a proteção da natureza (a preservação de plantas e animais raros era um dever científico).

Até os anos 1970, a UNESCO foi o principal organis-mo da ONU a tratar das questões relativas ao meio ambiente.

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Tendo como meta promover o intercâmbio científico e tecnológico entre os países-membros e fomentar progra-mas voltados à educação, a UNESCO tratou de encami-nhar as demandas de organismos mistos – compostos por Estados, grupos privados e ONGs. Além disso, também apoiando financeiramente as iniciativas IUPN (Internatio-nal Union for the Protection of Nature – União Interna-cional para a Proteção da Natureza) uma das mais tradicio-nais organizações conservacionistas do mundo.

O primeiro encontro internacional promovido pela UNESCO (em conjunto com a FAO, OMS e OIT) com efeitos positivos para o movimento ambientalista foi a Conferência Científica da ONU sobre a Conservação e Utilização de Recursos (UNSCCUR) que ocorreu em 1949, nos EUA (em Lake Success, estado de Nova York), contando com a participação 49 nações (excetuando-se a URSS). Os principais temas da conferência foram: a crescente pressão sobre os recursos naturais; a interdepen-dência de recursos; uma análise das carências críticas de alimentos, florestas, animais e combustíveis; o desenvol-vimento de novos recursos através de tecnologia aplicada; técnicas de recursos educacionais para países subdesenvol-vidos; e o desenvolvimento integrado das bacias hidro-gráficas. Como podemos notar, as discussões pautaram-se pela abordagem científica de cada um dos temas anali-sados, tangenciando, apenas, uma abordagem política da questão ambiental. Como não havia recursos disponíveis à consecução da agenda, os resultados do encontro deve-riam subsidiar ações futuras. A Conferência possuía ape-nas status consultivo, ficando impossibilitada de estabe-

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lecer adesão de governos às suas deliberações, bem como realizar acordos internacionais. Apesar disso, conforme observa McCORMICK (1992, p. 53), “inquestionavel-mente, a UNSCCUR foi o primeiro marco importante na ascensão do movimento ambientalista internacional”.

Somente quase duas décadas depois ocorreu outra importante reunião internacional. Em 1968, em Paris, reuniram-se 64 Estados, 14 organizações intergoverna-mentais e 13 ONGs. Assim como na reunião anterior, um conjunto de organismos internacionais – UNESCO, FAO, OMS, Programa Internacional de Biologia (subsi-diado pela UNESCO) – disponibilizou recursos e a logís-tica para a realização da Conferência Intergovernamental de Especialistas sobre as Bases Científicas para o Uso e Conservação Racionais dos Recursos da Biosfera, conheci-da mundialmente como Conferência da Biosfera. Naquele encontro foram discutidos os impactos ambientais causa-dos na biosfera pela ação humana. O discurso cientificista dominou a reunião, na qual os temas sociais e políticos ficaram em segundo plano. Seu produto mais importante foi o programa interdisciplinar – O Homem e a Biosfera, criado em 1970 – que procurou reunir estudiosos dos sis-temas naturais, que buscavam solucionar as consequências do processo produtivo sobre o meio ambiente.

A UNESCO realizou, ainda, conferências sobre educação ambiental. A primeira ocorreu em Belgrado (Iugoslávia), em 1975, e recebeu o nome de Encontro de Belgrado. Nela foi elaborada a Carta de Belgrado, que preconizava: a interdisciplinaridade e a prática pedagógi-ca envolvendo o corpo discente e sua prática cotidiana.

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Em 1977, Tbilisi (Geórgia) foi sede da Primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Am-biental, que propôs uma agenda abrangente que se esten-desse para todos os segmentos da população e não apenas àqueles em idade escolar. Depois Moscou, 1987 – Con-gresso Internacional de Educação e Formação Ambien-tais, resoluções: estratégias internacionais para ações no campo da Educação Ambiental para a década de 1990.

Todas estas reuniões foram estratégicas e criaram um ambiente propício que possibilitou à realização da Confe-rência sobre o Meio Ambiente Humano que ocorreu em Estocolmo em 1972. É aqui que terá lugar a instituciona-lização na ONU da questão ambiental, até então tratada tangencialmente e, somente nas décadas 1980 (países eco-nomicamente avançados) e 1990 (nos países em desenvol-vimento), tornada central nas agendas dos governos e dos organismos internacionais (McCORMICK ,1992).

uma onG Para o meio ambiente: o ProGrama daS naçõeSS unidaS Para o meio ambiente (Pnuma)Em dezembro de 1972 foi criado pela Assembleia

Geral das Nações Unidas o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) que passou a funcio-nar em 1973. Num primeiro momento, ele operava como um programa de ação voltado às questões ambientais e obteve pouco a pouco maior importância política junto à ONU, muito embora ainda não tivesse o prestígio de

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organismos como a UNESCO ou a FAO. O PNUMA também coordena o Fundo Mundial para o Meio Am-biente – que conta com a contribuição de vários países filiados – sendo muitas vezes confundido com ele.

A criação no PNUMA não foi fácil. Os países pe-riféricos eram contra, pois acreditavam que ele seria um instrumento utilizado pra frear o desenvolvimento, im-pondo normas de controle ambiental adotadas pelos países centrais. A primeira discussão envolvendo o PNUMA foi com relação à sua sede. Os países centrais o queriam em alguma região do Sul, pois já sediavam muitos dos orga-nismos da ONU. As ONGs também o queriam em algum país do hemisfério norte e, sua argumentação se baseava na distância das mídias e do desprestigio que acarretaria estar distante dos centros de tomada de decisão. Já os países em desenvolvimento não o queriam de jeito algum, pois as-sociavam o PNUMA com maior rigor e fiscalização sobre seus processos e atividades econômicas.

Após muito polêmica, a sede do PNUMA foi es-tabelecida em Nairóbi, Quênia. Entre a escolha da sede e sua instalação definitiva se passaram 11 anos (1984), apesar dos esforços de Maurice Strong, seu primeiro di-retor executivo. A aplicação do Plano de Ação definido em Estocolmo resultou insignificante, sendo que a me-lhor estratégia desenvolvida pelo PNUMA foi: a am-pliação do programa de capacitação de pessoal, voltado para a definição de planos regionais e nacionais, que permitisse a leitura integrada dos problemas ambientais em escala global. Em outras palavras o PNUMA inves-tiu na formação de um Staff articulado, que facilitaria

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a instalação de programas de educação ambiental e de mudança de legislação, com base numa visão conserva-cionista dos recursos naturais.

Apesar do poder limitado desde sua criação, o PNU-MA buscou nas últimas décadas ampliar sua importân-cia, pelas transformações ocorridas no cenário mundial – mudanças climáticas, crescimento exponencial da de-vastação –, fenômenos que ignoram as fronteiras e exi-gem uma solução supranacional, além do fortalecimento de outros atores no cenário internacional.

conSideraçõeS finaiS

Esse artigo teve como objetivo investigar e apresen-tar os desdobramentos e consequências da atuação das OIs – intergovernamentais e não governamentais – no que concerne à construção, difusão e implantação de po-líticas baseadas no desenvolvimento sustentável.

Em meio a tantas tentativas de solucionar o gap entre meio ambiente e ação humana, o que nos pareceu mais cha-mar atenção é uma perspectiva convergente onde as socie-dades pós-industriais esforçam-se, em meio a esse aparente caos, por criar uma reconfiguração dos valores que orien-tam à vida, tanto no que concerne a um novo discurso ético quanto às inovações tecnológicas, baseadas em novos designs e processos de produção e difusão do conhecimento.

A ideia de desenvolvimento sustentável é uma nova abordagem que propõe, simultaneamente, desenvolvi-mento econômico, equidade social e equilíbrio ambien-tal, tendo como um dos instrumentos para a sua realiza-

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ção, a intervenção institucional, que se responsabilizaria por controlar a utilização de “recursos”, bens naturais, o emprego de tecnologias “limpas” de produção. Além dis-so, privilegiaria as necessidades ao invés das demandas dos hábitos arraigados de consumo e o planejamento ne-gociado aberto e democrático, no que concerne aos pro-blemas ambientais e sociais.

Essa transição será tão ou mais expressiva do que a passagem da ordem feudal à ordem capitalista. Ao mesmo tempo nos parece que as múltiplas abordagens do que pretendemos com a construção do modelo de desenvolvimento sustentável implica, dificulta e retarda sua efetiva implantação.

É nesse sentido que as OIs ganham importância, já que tiveram um papel fundamental na consolidação da agenda ambiental. Seu protagonismo está fundamentado nas suas funções de arena de negociação e como mecanis-mo de estímulo à cooperação. Por meio dessas organiza-ções, os Estados estabelecem interações regulares com as organizações intergovernamentais do sistema das Nações Unidas e com as ONGs transnacionais, possibilitando os fóruns de negociação e o desenvolvimento de coalizões.

Dessa perspectiva, as OIGs e as ONGs transna-cionais têm um papel consolidado de protagonismo no cenário internacional. Apesar dessa posição, assinalamos que muitas deixaram de exercer a função de opositoras e críticas aos Estados e passaram a desempenhar outras, muito em consonância com o establishment, garantindo um crescimento de seu poder e recursos. Parece-nos evi-

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dente que o enfrentamento por si só não garante suas funções, no entanto, essa necessidade de “burocratiza-ção”, nos parece pôr em risco as premissas que possibili-taram sua existência e protagonismo.

Por fim, cabe observar que se a crise ambiental é de fato global e, por conseguinte exige uma ação transna-cional, não é essa posição em larga medida adotada pelos Estados e os demais atores do sistema internacional. Os problemas decorrentes da ação antrópica não são enfren-tados globalmente, por maior que sejam os esforços das Organizações Internacionais (OIs) nessa direção e, tra-balhar para que suas ações em prol da sustentabilidade surtam efeito tem sido seu maior mérito.

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caPítulo 6 – a SeGurança doS navioS e inStalaçõeS PortuáriaS e oS PlanoS de emerGência

Orlando Roque da Silva – PhD em Administração pela Florida Christian University, doutor em Engenha-ria da Produção pela Universidade Metodista de Piraci-caba, mestre em Administração pela PUC-SP, graduado em Administração pelo Centro Universitário Sant’Anna. Professor e pesquisador em dinâmica de sistemas com-plexos. Seus interesses de pesquisas incluem o estudo do comportamento dinâmico dos sistemas urbano-indus-triais, em suas dimensões ambiental, econômica e social, através do desenvolvimento de modelos computacionais que permitam simular as relações de causa e efeito, se-gundo a abordagem da dinâmica de sistemas.

Alessandro Marco Rosini – Pós-doutorado em Ad-ministração de Empresas pela FEA USP, Doutorado em Comunicação e Semiótica – Tecnologia da Informação e Mestrado em Administração de Empresas – Planejamen-to Estratégico pela PUC-SP, pós-graduação em Admi-nistração de Empresas, Graduado em Física. Experiência em mais de 20 anos de atuação na área de Tecnologia da Informação, Governança Corporativa e Gestão Edu-cacional nos segmentos empresarial e educacional, na área industrial, distribuição e de serviços, apresentando visão sistêmica e multidisciplinar. Professor Universitá-rio (Mestrado, pós-graduação e graduação) nas áreas de administração, tecnologia, educação e comunicação en-

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volvendo as subáreas de tecnologias da informação e co-municação, organização e estratégia.

RESUMOO objetivo deste capítulo é apresentar os sistemas

portuários, que envolvem a movimentação de diversos tipos de materiais como contêineres, granéis líquidos e sólidos, máquinas e equipamentos, diversos sistemas de transporte e discutir a complexa e desafiadora questão da segurança portuária. O ambiente portuário engloba uma grande quantidade de situações que apresentam dois as-pectos essenciais. Por um lado, essas situações evoluem com o tempo conforme sua própria dinâmica e as variáveis envolvidas no sistema são temporais. Por outro, elas não podem ser tratados pelos operadores como uma sucessão organizada de transformações e de estados discretos. Neste sentido todo processo dinâmico é realizado sob forte pres-são de tempo e, como o porto é um ambiente altamente complexo as probabilidades de ocorrência de acidentes se multiplicam, levando o porto a elaborar e manter planos de emergências para determinados tipos de ocorrências bem como um programa de gerenciamento de risco.

Palavras-chave: risco, segurança, código ISPS, der-ramamento de óleo

riSco e SeGurança

Risco e perigo são as mães da proteção e da segu-rança. Desde o início dos tempos, quando os ancestrais humanos lutavam com as mãos e armas de pedra contra

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a natureza selvagem, nasceu o sentido de proteção. Eles nunca dormiram em um lugar onde sentiam o perigo de ser surpreendido por animais selvagens, por outros seres humanos ou que houvesse indícios de risco natural como a proximidade de vulcões.

A segurança nasceu quando os seres humanos aprenderam a viver em sociedades. Com o tempo o ser humano, para se protegerem dos perigos que estavam expostos, passaram a viver em aglomerações dando ori-gem a pequenos vilarejos, aldeias e cidades. No entanto, quando parecia que estavam protegidos novos perigos fo-ram descobertos. O sentido de segurança foi ampliado da proteção do indivíduo para a segurança da comunidade. Paredes foram construídas ao redor das cidades para evi-tar os ataques inimigos, e as línguas dos espiões foram cortadas para impedir que o vazamento de informações. Segurança e proteção são duas palavras que na maioria das vezes se unem ou são usada uma no lugar da outra.

Em geral, proteção é reduzir o risco ou ocorrência de dano, perda ou morte, que ocorrerá por causa de alguns eventos acidentais ou causas naturais, como desastres na-turais, enquanto segurança é reduzir o risco ou ocorrên-cia de dano, perda ou morte, que ocorrerá por causa de ações deliberadas ou intencionais (NEAL, 2000).

O transporte intermodal é um termo em transpor-te que, recentemente, tem sido utilizada em simultâneo com a globalização e de utilização crescente na economia mundial (DONOVAN, 2004). Atualmente, a cadeia lo-gística do comércio mundial não tem sentido sem o uso do transporte intermodal.

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Enquanto isso, o transporte marítimo não é apenas a parte principal e mais influente desta cadeia logística intermodal, mas também o meio de transporte mais vul-nerável a riscos. Wengelin (2006) tem metaforicamente comparado o transporte intermodal com o fluxo de san-gue em nosso corpo, onde o fluxo arterial é o sistema de transporte aquaviário, predominantemente marítimo, e o fluxo capilar representa outros meios de transporte como o aéreo, o ferroviário, o rodoviário e o dutoviário.

Uma vez que o poder de cada cadeia de suprimento depende do poder de seu elo mais fraco (COLEMAN & JENNINGS, 1998), a segurança em logística marítima assume grande importância tanto na pauta dos executi-vos de empresas quanto na pauta dos gestores públicos.

Muito embora haja uma boa quantidade de fato-res de riscos, por exemplo, contrabando, roubo de carga, passageiros clandestinos ou imigrantes ilegais, nenhum desses riscos tem implicações ambientais significativas. A grande preocupação sobre a segurança portuária repousa nos ataques terroristas às instalações portuárias e nas ati-vidades operacionais potencialmente degradantes do meio ambiente marítimo, principalmente àquelas relacionadas com o transporte e movimentação de petróleo e derivados, substâncias nocivas como ácidos e óxidos, granéis sólido (enxofre, fertilizantes, minérios) e cargas em geral.

o códiGo iSPS

Em novembro de 2001, após o trágico evento de 11 de setembro, mostrando que nenhum país do mundo está

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a salvo de ataques terroristas, a Organização Marítima In-ternacional (IMO) resolveu desenvolver novas medidas relativas à segurança de navios e instalações portuárias. Posteriormente, em dezembro de 2002, uma nova regra para problema da segurança em navios e instalações por-tuárias foi definida por uma Conferência Diplomática na sede da IMO em Londres. Esta regra entrou em vigor em 1 de julho de 2004, para reforçar a segurança marítima e evitar atos terroristas contra o transporte marítimo e instalações portuárias.

A nova regra está na forma de emenda à Convenção SOLAS (Segurança da Vida Humana no Mar) de 1974. O nome completo deste novo regulamento é Internatio-nal Ship and Port Facility Security Code (Código Interna-cional para a Proteção de Navios e Instalações Portuárias) ou simplesmente ISPS Code.

Como mencionado anteriormente, a proteção e a segurança são duas questões diferentes que IMO pro-curou tratar no novo regulamento. Antes de aprovar o código ISPS, o SOLAS teve um capítulo (capítulo XI) que continha medidas especiais para reforçar a segurança marítima, mas esse capítulo, em dezembro de 2002, foi renomeado para capítulo XI-1 e um novo capítulo (Ca-pítulo XI-2) foi adicionado com medidas especiais para reforçar a segurança marítima. O código ISPS foi adicio-nado como um suplemento a este novo capítulo.

O capítulo XI-2 se aplica aos navios de passageiros e navios de carga com capacidade de 500 toneladas brutas (GT) e para cima, incluindo embarcações de alta veloci-dade, unidades móveis de perfuração offshore e instala-

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ções portuárias, que servem navios envolvidos em viagens internacionais. O código contém duas partes, A e B. A primeira parte (A) é obrigatória e a segunda parte (B) é apenas uma orientação ao implementar medidas de segu-rança na parte A. Reconhece-se que a extensão a que se aplica a orientação pode variar dependendo da natureza da instalação portuária e do navio, seu comércio e de car-ga. Apesar disso, na adoção do código, os EUA declara-ram que a conformidade com a Parte B seria obrigatória para navios de bandeira americana e para todos os navios de bandeira estrangeira que visitarem os EUA. Além dis-so, eles tentaram persuadir o Comitê de Segurança Ma-rítima (MSC) para aprovar uma alteração que indicaria se o Plano de Proteção do Navio (SSP) foi complacente. Esta solicitação não foi aceita na sessão 77 do Comitê de Segurança Marítima em maio de 2003 e foi relatado na circular 1097 que a Parte B é recomendatória (REGIS-TER LLOYD, 2007).

Além disso, o Parlamento da União Europeia, no seu novo regulamento20 para reforçar a segurança dos na-vios e das instalações portuárias tornou algumas seções da parte B do código obrigatória, mas apenas para seus Estados membros. De acordo com a diretiva europeia, as propriedades e infraestruturas como tanques de petróleo ou usinas de energia, que estão localizados na área portu-ária são importantes e devem ser protegidas bem como as áreas próximas delas.

20 Regulamento (CE) n. 725/2004 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 31 de março de 2004, sobre melhoria na proteção e segurança dos navios e das instalações portuárias. Entrou em vigor em 15 de julho de 2007.

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objetivoS do códiGo iSPS

Basicamente, o código ISPS é aplicado para garantir que a segurança dos navios, das instalações portuárias e na interface porto/navio, seguirá um padrão em termos mundiais. Como o código ISPS foi elaborado baseando--se em atividades de gestão de risco, uma vez aplicado as avaliações de risco contínuo devem ser feita em intervalos regulares de tempo, para ter certeza de que a segurança de transporte marítimo está sendo cumprida. Portanto, o objetivo principal do código ISPS é estabelecer um qua-dro uniforme e internacional para as avaliações de risco na indústria do transporte marítimo, ou seja, nos navios, instalações portuárias e na interface porto/navio.

Os objetivos gerais do código ISPS, como IMO mencionou, são:

i. estabelecer um quadro internacional, envolven-do a cooperação entre as empresas usuárias do sistema de transporte marítimo, as agências governamentais, as administrações locais, os portos e as empresas de nave-gação para detectar e avaliar as ameaças de segurança e tomar medidas preventivas contra incidentes que afe-tem navios ou instalações portuárias utilizadas no co-mércio internacional;

ii. estabelecer os respectivos papéis e responsabilida-des de todas estas partes interessadas, em nível nacional e internacional, para garantir a segurança marítima;

iii. garantir o intercâmbio de informações relaciona-do à segurança;

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iv. fornecer uma metodologia de avaliação da segu-rança de modo a ter planos e procedimentos para reagir a mudança nos níveis de segurança;

v. garantir que medidas adequadas e proporcionais de segurança marítima foram tomadas.

conteúdo do códiGo iSPS

Parte AParte A do código ISPS contém 19 seções e dois

apêndices. As seções contêm definições, aplicações, as responsabilidades dos participantes e informações técni-cas sobre os requisitos do Código. Ele define:

i. as obrigações das empresas de transporte ma-rítimo, dos navios, das instalações portuárias e do País contratante, quanto a identificação e avaliação dos bens e infraestruturas das instalações portuárias, que são impor-tantes para proteger;

ii. os requisitos necessários que as avaliações de ris-cos e planos de segurança devem seguir;

iii. a maneira como os registros devem ser fornecidos e como devem ser mantidos;

iv. as informações sobre a formação e os exercícios realizados pela tripulação e pessoal do porto;

v. as exigências sobre a certificação e verificação dos navios de acordo com as recomendações dos apêndices da parte A. Essas exigências compreendem os requisitos definidos pelo ISSC.21 O cumprimento dessas exigências é requisito básico para emissão dos certificados.21 International Ship Security Certificate (Certificado Internacional de Segurança Naval)

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Parte BComo parte A do código ISPS, a parte B do código

contém 19 parágrafos, conforme descritos no quadro a seguir. De certa forma, a aplicação da parte A, sem levar em conta a parte B, parece um esforço vão. Devemos fi-car atentos às diferentes interpretações do código ISPS, isto é, um dos principais pontos fracos do código, pois o código pode tornar-se ineficaz em muitos aspectos um vez que temos que ter em mente todos os parágrafos da parte B ao implementar a parte A do código. Nos apêndi-ces da parte B são fornecidos o formulário de Declaração de Segurança (DOS) e o formulário de Declaração de Conformidade das instalações portuárias.

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Quadro 1 – Parágrafos da parte B do ISPS Code

PARTE B DO CÓDIGO ISPSParágrafo 1 INTRODUÇÃOParágrafo 2 DEFINIÇÕESParágrafo 3 APLICAÇÕES

Parágrafo 4 RESPONSABILIDADES DOS PAÍSES CONTRATANTES

Parágrafo 5 DECLARAÇÃO DE SEGURANÇA

Parágrafo 6 OBRIGAÇÕES DAS EMPRESAS DE TRANSPORTE

Parágrafo 7 SEGURANÇA DOS NAVIOSParágrafo 8 AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA DOS NAVIOSParágrafo 9 PLANO DE SEGURANÇA DO NAVIOParágrafo 10 REGISTROS

Parágrafo 11 DIRETOR DE SEGURANÇA DA EMPRESA TRANSPORTADORA

Parágrafo 12 OFICIAL DE SEGURANÇA DO NAVIO

Parágrafo 13 TREINAMENTO, SIMULAÇÕES E EXERCÍCIOS DE SEGURANÇA DO NAVIO

Parágrafo 14 SEGURANÇA DA INSTALAÇÃO PORTUÁRIA

Parágrafo 15 AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA DA INSTALAÇÃO PORTUÁRIA

Parágrafo 16 PLANO DE SEGURANÇA DA INSTALAÇÃO PORTUÁRIA

Parágrafo 17 DIRETOR DE SEGURANÇA DA INSTALAÇÃO PORTUÁRIA

Parágrafo 18TREINAMENTO, SIMULAÇÕES E EXERCÍCIOS DE SEGURANÇA DA INSTALAÇÃO PORTUÁRIA

Parágrafo 19 VERIFICAÇÃO E CERTIFICAÇÃO DE NAVIOS

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como o códiGo iSPS funciona

Uma vez que o código ISPS é baseado na avaliação de risco, o primeiro passo para implantar o código é a avaliação de risco à segurança. A avaliação de risco à se-gurança é um processo que identifica pontos fracos em infraestruturas e estruturas físicas, bases de dados e sis-temas de informação, sistemas de comunicação, sistemas de proteção pessoal, processos ou outras áreas que podem levar a uma violação de segurança e que pode representar um risco para pessoas ou propriedades. Ele também suge-re opções para eliminar ou mitigar os riscos identificados e suas consequências.

De acordo com o código ISPS devemos considerar dois tipos de avaliações de segurança: A Avaliação de Pro-teção do Navio (SSA) e a Avaliação de Segurança das Ins-talações Portuárias (PFSA). Após a implementação da SSA e da PFSA, o Plano de Proteção do Navio (SSP) e Plano de Proteção das Instalações Portuárias (PFSP) devem ser preparados de acordo. Isso significa que as avaliações de segurança são parte essencial e integrante do processo de desenvolvimento e atualização dos planos de segurança. Para cada plano de segurança, há um agente de segurança que é responsável para a implementação do plano.

avaliação da SeGurança do navio (ShiP Security aSSeSSment – SSa)A Avaliação de Proteção do Navio (SSA) é uma ava-

liação que define as partes vulneráveis da estrutura do

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navio ou operação. De acordo com a Parte A do código ISPS, a SSA deve incluir uma vistoria de segurança. Ela deve considerar as pessoas, atividades, serviços e opera-ções que é importante para proteger. Também deve con-siderar todas as possíveis ameaças e vulnerabilidades que podem ocorrer com o navio, enquanto ela está fundeada, atracado no cais, ou no mar.

Além disso, os conflitos entre segurança e medidas de segurança devem ser bem pensados. O código ISPS é a prin-cipal referência desta parte. É parte essencial e integrante do processo de desenvolvimento e atualização do plano de se-gurança do navio, por isso deve ser revisto periodicamente. O diretor de segurança da empresa de navegação (CSO) é a pessoa responsável pela SSA em todos os navios pertencen-tes à empresa. Ele deve garantir que a avaliação de segurança do navio seja realizada para cada um dos navios da frota da empresa cumprindo as disposições do código ISPS. Quando SSA for feita o Interim-ISSC pode ser emitido. Além do mais a SSA tem que ser elaborada por uma Organização de Proteção Reconhecida (RSO), que é uma organização certi-ficada para trabalhar em questões de segurança.

Figura 1: Avaliação de Proteção do Navio de acordo com o código ISPS

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Planejamento da SeGurança do navio (ShiP Security Plan – SSP)Após a elaboração do SSA, o Plano de Proteção do

Navio (SSP) poderá ser preparado de acordo com a SSA. Um plano de segurança do navio é um plano para asse-gurar que todas as medidas a bordo foram devidamente concebidos para proteger o navio, pessoas a bordo, car-gas, unidades de transporte de carga e provisões do navio contra os riscos de um incidente de segurança. Para pre-parar a SSP, todos os cenários que podem ocorrer devem ser considerados e as ações apropriadas, de acordo com a ameaça específica, devem ser pensadas. O SSP deve ser revisado e atualizado periodicamente de acordo com a SSA. Como a SSA, o SSP pode ser feito por um RSO. Neste caso, o RSO não poderá ser o mesmo que prepa-rou a SSA. Quando o SSP for elaborado e aprovado, o Certificado de Segurança Internacional de Navios (ISSC) pode ser emitido.

Figura 2 – o Plano de Proteção do Navio de acordo com o código ISPS

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oficial de SeGurança do navio (ShiP Security officer – SSo)O Oficial de Segurança do Navio (SSO) é a pessoa

a bordo do navio responsável perante o mestre, para a segurança do navio, incluindo implementação e manu-tenção do SSP. O Oficial de Segurança está em ligação com o Diretor de Segurança da Empresa (CSO) e com o Diretor de Segurança do Porto (PFSO). O Oficial de Segurança também pode ser o comandante do navio.

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Figura 3: Oficial de Segurança do Navio de acordo com o código ISPS

avaliação de SeGurança daS inStalaçõeS PortuáriaS (Port facility Security aSSeSSment – PfSa)A avaliação de segurança das instalações portuárias

(Port Facility Security Assessment – PFSA) é uma análise de risco de todos os aspectos da operação de uma ins-talação portuária, a fim de determinar quais partes dela são mais suscetíveis a riscos. Todas as ameaças possíveis devem ser consideradas. A vulnerabilidade de cada alvo e as consequências de cada ataque deve ser considerada enquanto se elabora o PFSA.

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Figura 4 – Procedimento de segurança do navio de acordo com o código ISPS

A avaliação deve incluir, pelo menos, os seguintes elementos:

1. Identificação e avaliação dos bens e infraestrutu-ras que são importantes para proteger;

2. Identificação das ameaças possíveis aos bens e in-fraestruturas e da probabilidade de sua ocorrência, jun-tamente com suas consequências, a fim de estabelecer e priorizar medidas de segurança necessárias;

3. Identificação, seleção e priorização de contrame-didas e mudanças de procedimentos e seu nível de eficá-cia na redução da vulnerabilidades;

4. Identificação dos pontos fracos, incluindo fatores humanos, as infraestruturas, políticas e procedimentos.

O País Contratante (CG) é responsável pela im-plantação da PFSA nos portos que estão localizados no seu território, também pode delegá-la a uma RSO para

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levar a cabo. Como a SSA, a PFSA deve ser revisada e atualizada periodicamente, especificamente quando ocor-rer grandes mudanças nas instalações portuárias. Após a elaboração da PFSA o Plano de Segurança das Instalações Portuárias (PFSP) deve ser preparado de acordo com as recomendações.

Figura 5 – Port Facility Security Assessment de acordo com o código ISPS

Plano de SeGurança daS inStalaçõeS Por-tuáriaS (Port facility Security Plan – PfSP)Quando a PFSA for preparada, o Plano de Seguran-

ça das Instalações Portuárias (PFSP) deve ser concebido de acordo com a PFSA que foi elaborada. O PFSP é um plano para assegurar a aplicação de medidas destinadas a proteger dos riscos de um incidente as instalações portu-árias e navios dentro da zona portuária, pessoas, cargas, unidades de transporte de carga e provisões para os na-vios dentro da instalação portuária. O Diretor de Segu-rança das Instalações Portuárias (PFSO) é o responsável pelo desenvolvimento, implantação, revisão e manuten-ção do PFSP.

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A aprovação do PFSP é de responsabilidade do país contratante, que pode ser delegada a um RSO. O mes-mo que foi observado para a segurança do navio, a RSO que preparou a PFSA não pode contribuir no processo de aprovação do PFSP.

Figura 6 – Port Facility Security Plan de acordo com o código ISPS

diretor de SeGurança daS inStalaçõeS PortuáriaS (Port facility Security officer – PfSo)Diretor de Segurança das Instalações Portuárias

(PFSO) é a pessoa apontada como responsável pelo desen-volvimento, implantação, revisão e manutenção do Plano de Segurança das Instalações Portuárias (PFSP) e pela liga-ção com o Oficial de Segurança do Navio (SSO) e com o Diretor de Segurança da Empresa de Navegação (CSO).

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Figura 7 – Port Facility Security Officer de acordo com o código ISPS

Na figura a seguir representamos a conclusão dos procedimentos de segurança das instalações portuárias de acordo com o código ISPS.

Figura 8 – Procedimento de segurança das instala-ções portuárias de acordo com o código ISPS

DIRETOR DE SEGURANÇA DA EMPRESA DE NAVEGAÇÃO (CHIEF SECURITY OFFICER – CSO)

É a pessoa em terra, designado pela empresa pro-prietária do navio, para garantir que uma avaliação de

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segurança do navio (SSA) seja realizada, que um plano de segurança do navio (SSP) seja desenvolvido e apresenta-do para aprovação e, posteriormente, implantado e man-tido. Ele também é o elo entre o diretor de segurança das instalações portuárias e o oficial de segurança do navio.

Figura 9 – Diretor de Segurança da Empresa de Na-vegação de acordo com o código ISPS

níveiS de SeGurança

Foram definidos três níveis de segurança para os na-vios e instalações portuárias. Os países contratantes são responsáveis por definir o nível de segurança para suas instalações portuárias e também para os navios. Cada ní-vel tem seu próprio significado específico:

• Nível de segurança 1: é o nível mínimo para o qual as medidas de proteção deverão ser mantidas;

• Nível de segurança 2: é o nível de segurança para o qual medidas adicionais de proteção devem ser manti-dos, por um período limitado de tempo, como resultado do aumento do risco de um incidente de segurança;

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• Nível de segurança 3: é o nível de segurança espe-cífico para o qual medidas de proteção adicionais devem ser mantidos, por um período limitado de tempo, quan-do um incidente de segurança é provável ou iminente, embora não possa ser possível identificar o alvo.

Quando um navio solicitar uma vaga perto de uma instalação portuária, tanto o navio quanto a instalação portuária devem ter o mesmo nível de segurança. Por-tanto, se um deles tem o nível de segurança menor do que o outro, aquele que tiver o nível mais baixo tem que aumentar o seu nível de segurança, caso contrário, o navio não tem permissão para atracar. O nível de se-gurança do navio será relatado às instalações portuárias através da Declaração de Segurança (DOS) antes de en-trar no território porto.

o Procedimento de Geral de acordo com o códiGo iSPS

A adoção do código ISPS pode trazer impactos positivos ou negativos sobre os serviços nos portos por sua implantação. Os impactos da adoção do código, em alguns outros setores mais gerais, incluem: lotação, lead time, de nível de serviço, verificando a eficácia do proces-so, e eficiência. Esses fatores foram escolhidos conside-rando os fatores-chave da cadeia de suprimentos.

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Figura 10 – Diagrama geral dos procedimentos de acordo com o código ISPS

Considerando que o código ISPS é uma regra bas-tante nova e poucos anos se passaram desde que entrou em vigor (julho 2004), até o presente poucos levanta-mentos sobre seu impacto foram realizados.

Embora tenha havido alguns esforços para encontrar os efeitos do código em diferentes segmentos da indústria e do comércio global, não há obras semelhantes que fale sobre os impactos do código ISPS nas atividades portu-árias e do porto. A maioria dos trabalhos sobre o código ISPS tratou de lidar com ameaças à segurança marítima ou não. Outros estudos nesta área são sobre os impactos do código sobre os armadores, os trabalhadores maríti-mos, os interessados, proprietários da carga e outras par-tes que estão trabalhando no transporte marítimo.

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Há dois importantes estudos feitos para revelar os impactos do código na área do porto, são os relatório da UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comér-cio e Desenvolvimento) sobre o financiamento de custos e relacionadas da implementação do código ISPS sobre todas as regiões, e uma pesquisa realizada por Mattias Wengelin sobre o desempenho do código ISPS nos portos suecos.

PlanoS de controle de emerGênciaS

O objetivo do plano de controle de emergências do porto é estabelecer os procedimentos técnicos e adminis-trativos a serem seguidos por ocasião da ocorrência de emergências, de maneira que, através de ações planejadas, seja possível se evitar ou mitigar suas consequências.

O plano aplica-se não apenas às instalações portuá-rias como também às áreas arrendadas, que direta ou in-diretamente dependem da infraestrutura portuária para atendimento emergencial. Considerando as instalações e as atividades desenvolvidas, estão potencializados os se-guintes cenários acidentais:

Cenário 1 – Navios• Incêndio quando da movimentação de combustíveis.• Incêndio quando da movimentação de carga geral.• Incêndio e/ou explosão quando da movimenta-

ção de gases inflamáveis.• Vazamento de óleo quando das operações de

abastecimento dos navios.• Vazamento de produtos perigosos quando das

operações de carga e descarga de navios.

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Cenário 2 – Em terra• Incêndio quando da movimentação de combustíveis.• Incêndio quando da movimentação de carga geral.• Incêndio e explosão quando da movimentação de

gases inflamáveis.• Incêndio em armazéns de combustíveis a granel.• Incêndio em armazéns de carga geral.• Incêndio e/ou explosão em armazéns de inflamá-

veis a granel.• Vazamento de produtos perigosos em armazéns

e pátios especializados em carga a granel ou fracionada.• Incêndio em prédios da administração portuária.• Incêndio em oficinas de manutenção.• Incêndio em almoxarifado.

Cenário 3 – Emergência Médica• Acidentes.• Mal súbito.

Cenário 4 – Atentado às instalações portuárias• Bomba.• Sabotagem.

ProGrama de Gerenciamento de riSco

O gerenciamento de riscos no porto pode ser defi-nido como o processo de formulação e implantação de medidas e procedimentos que têm por objetivo preve-nir, reduzir e controlar os riscos existentes numa instala-ção, de modo a manter a sua continuidade operacional

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dentro de padrões de segurança considerados toleráveis ao longo de sua vida útil.

O programa de gerenciamento de riscos tem por principal finalidade prover uma sistemática voltada para o estabelecimento dos requisitos contendo orientações de gerenciamento, com vistas à prevenção de eventos inde-sejáveis ou mesmo para a minimização das consequências em casos de ocorrências anormais envolvendo as opera-ções sob a atribuição da Autoridade Portuária. Seu prin-cipal objetivo é prevenir a ocorrência de acidentes am-bientais que possam colocar em risco a integridade física dos funcionários da Autoridade Portuária, bem como a segurança da população da região e o meio ambiente.

A coordenação geral do programa de gerenciamento de riscos é de responsabilidade da Autoridade Portuária, a quem cabe delegar outras atribuições e responsabilidades, de acordo com as atividades previstas no programa.

Cabe aqui ressaltar que os procedimentos e ativida-des elencadas no programa de gerenciamento de riscos, referem-se exclusivamente às atividades no âmbito de competência contemplando:

• Amarração de embarcações.• Operação de braços de carregamento.• Operação do sistema de combate a incêndio.Assim, para a sua efetividade, o programa foi estrutu-

rado contemplando as ações necessárias para a prevenção de acidentes ambientais, bem como para a minimização de eventuais impactos caso ocorram situações anormais.

O programa de gerenciamento de riscos abrange aspectos relativos à segurança das operações, procedi-

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mentos operacionais e de manutenção, treinamento e capacitação de técnicos e operadores, procedimentos de resposta a emergências e análise de riscos, no âmbito das atribuições da Autoridade Portuária.

O programa de gerenciamento de riscos contempla as seguintes atividades:

1 . Informações de segurançaEsta atividade contempla o levantamento das infor-

mações de segurança, das instalações, das características e dos riscos das operações.

2 . Análise e revisão de riscosTem por objetivo identificar situações perigosas, ava-

liar a severidade de eventuais impactos e fornecer os sub-sídios necessários para permitir a implementação de me-didas mitigadoras para a redução e o controle dos riscos.

3 . Gerenciamento de modificaçõesAs instalações portuárias estão sujeitas a modificações

contínuas, com o objetivo de aumentar a eficiência das ope-rações e os aspectos de segurança, bem como para a ade-quação de eventuais necessidades dos clientes. Assim, faz-se necessária a realização de reparos e/ou adaptações, tempo-rárias ou não, as quais podem introduzir novos riscos ou mesmo comprometer os sistemas de segurança projetados para operarem em outras condições. Portanto, estes proce-dimentos ou modificações só podem ser aplicados após uma minuciosa e detalhada análise das possíveis implicações que possam acarretar anormalidades na segurança das operações.

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4 . ManutençãoOs procedimentos de manutenção têm por objetivo

garantir o correto funcionamento dos equipamentos des-tinados às operações da Autoridade Portuária, de maneira a evitar que eventuais falhas possam comprometer a con-tinuidade operacional, a segurança das instalações, das pessoas e do meio ambiente. O programa de manutenção contempla a identificação e categorização, frequência de inspeções e testes, bem como a respectiva documentação dos resultados de inspeção e serviços realizados.

5 . Procedimentos operacionaisO objetivo deste item é formalizar os procedimentos

operacionais realizados pela Autoridade Portuária, os quais estão estabelecidos nas Normas Operacionais específicas.

6 . Capacitação de recursos humanosO Programa de Treinamento dos funcionários da Au-

toridade Portuária contempla cursos específicos de acordo com as atividades desempenhadas, além de programas de capacitação sobre segurança, meio ambiente e qualidade.

7 . Investigação de incidentesO objetivo da investigação de incidentes é obter o

maior número possível de elementos que possam iden-tificar as causas básicas do fato ocorrido, a fim de preve-nir novas ocorrências similares. Incidentes que resultem ou possam resultar em desconformidades operacionais, danos à integridade física de pessoas, danos ao patrimô-nio ou impactos ambientais são obrigatoriamente inves-

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tigados. De acordo com a natureza e complexidade do incidente o coordenador geral do programa de gerencia-mento de riscos estabelece um grupo de trabalho, o qual conta com técnicos especializados, internos ou externos à Autoridade Portuária, para proceder a investigação e re-comendar as ações a serem implantadas para a prevenção de futuros incidentes similares.

8 . AuditoriasO objetivo das auditorias é levantar situações de não

conformidade que possam influenciar na segurança das atividades desenvolvidas pela Autoridade Portuária, de forma a prevenir situações que possibilitem ou contribu-am para a ocorrência de eventos indesejáveis.

9 . Plano de ação de emergência (PAE)Cabe à Autoridade Portuária elaborar um Plano de

Ação de Emergência (PAE) específico para as suas opera-ções, o qual é integrado aos demais planos das empresas operadoras no porto.

conSideraçõeS finaiS

As questões da segurança portuária abordadas neste capítulo mostram o quanto ela é complexa e de difícil implantação. No caso brasileiro, a implantação de me-didas preventivas e corretivas pelo Comitê de Defesa do Litoral (CODEL), nos anos 1980, do Programa de Ge-renciamento de Riscos a partir de 1988 pela CETESB e a promulgação da Lei Federal n. 9.966/2000, tiveram in-

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fluência positiva na redução da frequência dos acidentes, na otimização da capacidade de resposta e na minimiza-ção desses impactos, mas ainda temos muito que avan-çar. No âmbito do Plano de Gerenciamento de Riscos vale ressaltar o Plano Integrado de Emergências (PIE) da Associação Brasileira de Terminais de Granéis Líquidos, contemplando ações de respostas na zona portuária, retro portuária e no estuário com substâncias químicas.

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