Ética e atuação política no marxismo - subsídios para uma discussão contemporânea

Upload: igor-fernandes-de-oliveira

Post on 14-Jul-2015

35 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Artigo

TICA E ATUAO POLTICA NO MARXISMO: SUBSDIOS PARA UMA DISCUSSO CONTEMPORNEA

ETHICS AND POLITICAL ACTION IN MARXISM: ELEMENTS FOR A CONTEMPORARY DISCUSSION

LA TICA Y LA ACCIN POLTICA EN EL MARXISMO: ELEMENTOS PARA UNA DISCUSIN CONTEMPORNEA

Igor Fernandes Oliveira1

Resumo: O presente artigo pretende colaborar para as discusses em torno da relao entre tica e atuao poltica no interior do marxismo. Para tanto, elegemos discutir o tema a partir dos textos clssicos de Marx e Gramsci. Apesar da clara limitao do nmero de autores discutidos, pode-se argumentar que os problemas e solues colocadas por Marx e Gramsci atravessam o debate marxista em geral, permitindo, por isso, vislumbrar alguns dilemas e possibilidades centrais dados problemtica no campo. Palavras-chave: tica, Poltica, Marxismo, Hegemonia Abstract: The present article attempts to discussions around the relationship between ethics and political activism within Marxism. Thus, we have chosen to discuss the theme from the classic texts of Marx and Gramsci. Despite the clear limitation of the number of authors discussed, it can be argued that the problems and solutions raised by Marx and Gramsci cross the Marxist debate in general, allowing therefore to glimpse some dilemmas and opportunities related to the central issue in the field. Key-words: Ethics, Politics, Marxism, Hegemony Resumen: Este artculo trata de discusiones en torno a la relacin entre la tica y la accin poltica dentro del marxismo. Para ello, se opt por discutir el tema de los textos clsicos de Marx y Gramsci. A pesar de la clara limitacin del nmero de autores tratados, se puede argumentar que los problemas y las soluciones planteadas por Marx y Gramsci cruzar el debate marxista en general, permitiendo, por tanto, a vislumbrar algunos dilemas y oportunidades de atencin a la cuestin central en el campo. Palabras clave: tica, Poltica, Marxismo, Hegemonia

IntroduoO presente artigo pretende colaborar para as discusses em torno da relao entre tica e atuao poltica no interior do marxismo. Para tanto, elegemos discutir o tema a partir dos textos clssicos de Marx e Gramsci. O primeiro formulou suas teses atacando os problemas tradicionais colocados pela relao entre tica e poltica em seu prprio tempo. J Gramsci, colaborou de forma decisiva para reconceitualizar a questo, historicizando-a e associando-a integralmente a um movimento poltico (hegemnico). Apesar da clara limitao do nmero de autores discutidos, pode-se argumentar que os problemas e solues colocadas por Marx e Gramsci atravessam o debate marxista em geral, permitindo, por isso, vislumbrar alguns dilemas e possibilidades centrais dados problemtica no campo.Germinal: Marxismo e Educao em Debate, Londrina, v. 2, n. 2, p. 196-206; ago. 2010 196

Artigo

nesse sentido que tambm pretendemos colaborar para a discusso sobre a relao entre essas duas dimenses no debate poltico atual. Num perodo em que a transformao poltica est desacreditada e subsiste um apelo forte tica nas micro-polticas, torna-se interessante rediscutir a relao entre estes dois conceitos no interior da tradio marxista. Como relacion-los? necessrio dissociar estas duas preocupaes? Arrastada pelo roldo de transformaes da poltica no mundo contemporneo, a prpria esquerda no pde se desviar do tema, e alguns intelectuais marxistas consagrados no deixaram de mobilizar determinada concepo de tica em sua atuao poltica 2. A tica deve predominar sobre a poltica?

Marx (e Engels): ambigidades de uma questo ausenteComo destacou Guido Liguori, na teoria de Marx, como em grande parte do marxismo, parece no haver espao para os problemas da tica e da moral. Imbudo de um esprito realista e de uma viso antimoralista da histria, Marx atacou ferozmente qualquer tentativa por demais abstrata e universalizante de qualificar a conduta humana. Em uma sociedade atravessada por conflitos e desigualdades de classe cada vez mais avassaladores, como a que observava, no deveria haver espao para o estabelecimento de uma tica pura, afastada das consideraes sobre as condies concretas em que os homens viviam e se relacionavam. 3 Para os objetivos deste texto, podemos destacar trs pontos no pensamento do autor que parecem sustentar essa posio em sua relao com a ao poltica. Primeiramente, ao enfatizar o constante abalo de todo o sistema social, que distingue a poca burguesa de todas as precedentes, Marx e Engels vislumbram um quadro no qual as noes tradicionais de moral e dignidade parecem simplesmente dissolver-se sob as presses da acumulao de capital:Onde quer que tenha conquistado o Poder, a burguesia calcou aos ps as relaes feudais, patriarcais e ildicas. Todos os complexos e variados laos que prendiam o homem feudal aos seus superiores naturais, ela os despedaou sem piedade, para s deixar subsistir, de homem para homem, o lao frio do interesse, as duras exigncias do pagamento vista. [...] Fez da dignidade pessoal em simples valor de troca; substituiu as numerosas liberdades, conquistadas com tanto esforo, pela nica e implacvel liberdade de comrcio. (MARX, ENGELS, 1983, p. 23)

Neste quadro, onde tudo o que slido desmancha no ar (BERMAN , 2007), a atividade poltica prtica corria o risco de se ossificar ao apegar-se unicamente a luta por uma dignidade perdida. Seria justamente na compreenso das transformaes contemporneas e na resposta poltica a elas que o proletariado poderia encontrar a chave para uma transformao social realmente efetiva. Por isso, qualquer tentativa de estabelecer atividade poltica um fim absoluto relacionado a tica ou a moralidade estaria fadada, segundo o autor, a incorrer em um raciocnio metafsico ou mesmo idealista. Mas podemos colocar a questo: o processo de luta dos trabalhadores no mobilizaria nenhuma dimenso tica? No Manifesto Comunista, como em outros textos dos autores, a questo simplesmente no formulada nestes termos. Ao enfatizar a desestabilizao constante de todas as relaes sociais sob o modo capitalista de produo, Marx e Engels (1988) desconfiam de qualquer ao pautada unicamente naGerminal: Marxismo e Educao em Debate, Londrina, v. 2, n. 2, p. 196-206; ago. 2010 197

Artigo

luta pela moralidade. A tica, em sua acepo tradicional, no deveria servir de base para a atuao poltica prtica, uma vez que essa se associava a transformao efetiva de toda atividade social, sob condies histricas e sociais sem precedentes. Em segundo lugar, como um desdobramento do primeiro ponto, Marx parece recusar qualquer possibilidade de estabelecer um ideal nico, mesmo que tico, como motivao isolada da ao poltica. Como uma postulao radical da unio entre teoria e prtica, o autor defende que a revoluo no poderia conceber-se a si mesma afastada de seu movimento prtico-concreto: como agente por excelncia da transformao social, o proletariado no deveria apegar-se a um ideal abstrato passado ou mesmo futuro, mas, a partir de suas condies gerais de vida, movimentar-se buscando transformar a si mesmo e o mundo. Tambm no Manifesto Comunista, Marx e Engels explicitam claramente esse ponto de vista:As concepes tericas dos comunistas no se baseiam, de modo algum, em idias ou princpios inventados por tal ou qual reformador do mundo. So apenas a expresso geral das condies reais de uma luta de classes existente, de um movimento histrico que se desenvolve sob os nossos olhos. (MARX; ENGELS, 1988, p. 31)

Posteriormente, na terceira parte do texto (Literatura Socialista e Comunista), questionada a atuao do socialismo e comunismo crtico-utpico justamente por fixar a organizao social em um fim teleolgico e absoluto: atividade social [os socialistas e comunistas utpicos] substituem sua prpria imaginao pessoal; s condies histricas da emancipao, condies fantasistas; organizao gradual e espontnea do proletariado em classe, uma organizao da sociedade pr-fabricada por eles. A histria futura do mundo se resume para eles, na propaganda e na prtica de seus planos de organizao social. (MARX; ENGELS, 1988, p. 44)

Nesse trecho fica claro que, em sua crtica ao socialismo que consideravam utpico, Marx e Engels descartam qualquer possibilidade de ao poltica que no se conceba como atividade social; que coloque um ideal puro acima de suas condies histricas de vida e emancipao. Nesse sentido, defendem a proposta de que no ser um projeto poltico pr-concebido que dever servir de base para a ao da classe trabalhadora, como vem nas propostas de Fourier ou Saint-Simon, mas, ao contrrio, o prprio processo de luta em seu movimento histrico. 4 Como conciliar tica e poltica em uma formulao que se recusa a estabelecer um ideal nico como mvel da ao poltica? Certamente, nos escritos marxianos, parece no haver espao para o estabelecimento de uma motivao tica abstrata e absoluta, e, nestes termos, ela no se coloca como questo. Ao privilegiar a atuao poltica como atividade social, revolucionria, Marx parece ter deixado a problemtica dos valores que devem ser buscados pela prtica poltica margem de sua reflexo. A poltica no se relaciona diretamente com a atuao valorativa dos sujeitos em qualquer esfera prescrita, mas est dialeticamente envolvida na luta de classes. evidente que pode-se descobrir uma motivao tica para a atuao poltica nos escritos do autor presente, por exemplo, nas noes de justia, igualdade e liberdade que acompanhavam seus argumentos , mas, ao privilegiar a luta realizada em seu movimento histrico, essa dimenso no se coloca nem como determinante nem como elemento decisivo para a ao revolucionria.5 Nas condies em que se reproduz a sociedade capitalista, a classeGerminal: Marxismo e Educao em Debate, Londrina, v. 2, n. 2, p. 196-206; ago. 2010 198

Artigo

trabalhadora s encontrar a verdadeira justia, igualdade e liberdade em seu prprio processo de luta social: transformar a si mesmo, a relao entre os homens e destes com o mundo exigia o abandono de qualquer a priori em relao a universalidade destas noes. Por fim, principalmente em seus escritos mais maduros, Marx se recusa a qualificar a explorao observada no modo de produo capitalista como diretamente injusta. As relaes econmicas e sociais responsveis pela produo e a reproduo das exacerbadas desigualdades sociais capitalistas no derivam diretamente da falta de moral do burgus. Ao invs disso, a explorao capitalista continuamente reforada pelas prprias caractersticas da fora de trabalho e de todo um desenvolvimento histrico precedente das foras produtivas e sociais, que Marx, como cientista social, pretendia descrever. Se Proudhon qualificou a propriedade como um roubo, uma imoralidade continuamente perpetuada, Marx a descreveu como uma relao social prpria a todo um modo de produo. Afinal, em sua prpria reflexo ontolgica, Marx buscou relacionar o que os homens dizem, imaginam e concebem s determinaes e objetivaes presentes no processo de produo social da realidade. A tica, como objeto de conhecimento, no poderia ser encarada independentemente das circunstncias de desenvolvimento da vida material:Partimos dos homens reais, ativos, e base de seu processo real demonstramos o desenvolvimento dos reflexos e ecos ideolgicos desse processo de vida. [...] Moral, religio, metafsica, todo o resto da ideologia e de suas formas correspondentes de conscincia, no retm mais a aparncia e independncia. (MARX, ENGELS, 1977, p. 14)

Muitas vezes associou-se a essa proposio um cientificismo forte e objetivista: a descrio da estruturao da sociedade capitalista feita em termos objetivos, por vezes ignorava a agncia dos sujeitos e sua relativa liberdade 6. Nesse sentido, a explicao objetivista anulava qualquer possibilidade de existncia da ao humana na histria, sendo esta descrita unicamente em funo de uma conjugao de determinantes econmicos, polticos e ideolgicos. Estando a conduta humana determinada diretamente por esses fatores, a existncia de qualquer preocupao tica na poltica poderia ser explicada como uma expresso de uma alienao particular a todo um modo de produo, uma vez que ela se manifesta sob condies especficas de produo social, e, ao no enfrent-las de frente, acabava indiretamente por legitim-las. Nestes termos, qualquer relao entre tica e poltica poderia ser concebida como uma ideologia (falsa conscincia) que tinha como fim exclusivo retardar o avano revolucionrio. Se nos primeiros pontos que destacamos poderia subsistir uma motivao tica de Marx em relao ao estabelecimento de uma sociedade mais justa embora, como destacamos, ela no se colocasse para a luta revolucionria como um ideal isolado das condies histricas especficas , neste segundo, essa motivao poderia ser mesmo apagada em face de uma formulao estritamente cientfica. Como cientista social, o observador poderia colocar a si mesmo radicalmente acima de qualquer proposio valorativa ou normativa, considerando qualquer idia ou valor existente na sociedade, um produto ideolgico direto do modo de produo capitalista. A partir desse ponto de vista, que tende a operar com uma separao radical entre sujeito e objeto, no existe qualquer motivao moral crtica social, que se contenta em autodenominar-se cientfica. 7Germinal: Marxismo e Educao em Debate, Londrina, v. 2, n. 2, p. 196-206; ago. 2010 199

Artigo

Gramsci: o querer tico-polticoSe poderia derivar dos escritos marxianos uma formulao que associasse os valores morais em poltica a alienao especfica de toda uma estrutura econmica, em Gramsci, a questo colocada sob ngulo diverso. Em primeiro lugar, o autor recusa qualquer tentativa de enxergar os valores ideolgicos em geral como reflexo direto de condies estritamente econmicas de produo material. Combinando uma leitura ampla do Prefcio de 1859, das Teses sobre Feuerbach e a reavaliao do ltimo Engels, Gramsci chega a uma concepo positiva das ideologias, onde a definio de falsa conscincia inaceitvel (LIGUORI, 2007, p. 80). Alm disso, o autor desenvolve uma srie de reflexes que exploram os processos polticos (hegemnicos) de organizao, difuso e articulao das vises de mundo que no autorizam a identificao pura e simples entre as mesmas e as condies materiais de produo social, procurando dar conta da complexidade de mediaes existentes entre esses dois domnios. Como parte integrante das superestruturas, determinados valores ticos presentes na conduta poltica no poderiam ser considerados unicamente como um produto (alienao) particular de determinada estrutura econmica. No entanto, Gramsci no se limita a rejeitar uma viso que considerasse a associao entre tica e poltica ideolgica (falsa conscincia). Se os escritos marxianos poderiam deixar implcita a associao entre determinados valores e a prtica poltica, Gramsci afirma com todas as palavras, a motivao tica que funda a sua atuao como dirigente comunista; como um fim a ser buscado. Como um dos exemplos dessa posio, podemos indicar a digresso do autor em seus pargrafos sobre o conceito de catarsis sobre a necessidade da configurao de uma nova forma tico-poltica; forma essa que associa a superao de todo um momento histrico-social que ento se apresentava:Pode-se empregar a expresso catarsis para indicar a passagem do momento puramente econmico (ou egosta-passional) ao momento tico-poltico, isto , a elaborao superior da estrutura em superestrutura na conscincia dos homens. Isto significa, tambm, a passagem do objetivo ao subjetivo e da necessidade liberdade. A estrutura da fora exterior que subjuga o homem, assimilando-o e o tornando passivo, transforma-se em meio de liberdade, em instrumento para criar uma nova forma tico-poltica em fonte de novas iniciativas. (GRAMSCI, 1966, p. 53)

Neste trecho, o momento tico-poltico de que fala Gramsci deve ser a motivao da vida poltica: deve-se buscar chegar a um mundo integralmente diverso, no qual os limites histricos e sociais da necessidade e da objetividade divises de classe sejam politicamente superados, e onde seja possvel vivenciar o reino da liberdade, de uma vida moral realmente efetiva. Essa passagem revela uma relao entre a proposta gramsciana e a formulao marxista sobre o comunismo como o verdadeiro reino da liberdade o reino da verdadeira auto-realizao humana, como um fim em si mesmo. Porm, se nos escritos de Marx, como destacamos, esta motivao tica e normativa exista muitas vezes de modo implcito, Gramsci no se esquiva a coloc-la no centro de sua motivao poltica. Outras passagens de seus escritos parecem associar um aspecto tico a preocupao com determinados momentos da ao poltica, ou, em seus prprios termos, a organizao do consenso. Gramsci nos fala sobre a criao de um bloco intelectual-moral pela unidade entre os intelectuais e a

Germinal: Marxismo e Educao em Debate, Londrina, v. 2, n. 2, p. 196-206; ago. 2010

200

Artigo

massa, sobre um tipo de tica que deve marcar a organizao e a atividade do partido poltico, e mesmo sobre a criao de uma tica mais adequada a uma concepo do real 8. Estes trechos parecem indicar que, para alm da motivao ltima de realizao de um mundo moral verdadeiramente efetivo, Gramsci tambm relacionou sua preocupao tica com o contexto poltico e histrico mais imediato, onde determinadas condutas deveriam ser sustentadas para a realizao e a organizao das vontades coletivas. Como entender esses usos dos conceitos de tica e moral nos Cadernos? Como no cair em um uma proposio puramente idealista sobre a questo? Em primeiro lugar cabe destacar que Gramsci tambm est longe de considerar a problemtica tradicional da tica de forma universalista ou abstrata, tal como foi atacado vigorosamente pelo prprio Marx em seu tempo. Se Marx recusou qualquer tentativa de qualificar a conduta em geral em uma sociedade marcada por agudos conflitos de classe, Gramsci igualmente no concebe a tica em sua reflexo como um elemento isolado de condies histricosociais especficas. Em seus pargrafos sobre o conceito tica, discutidos luz de uma proposio kantiana, o autor desenvolve aspectos da questo:TICA A mxima de Kant Atue de tal maneira que a tua conduta possa tornar-se, em condies similares, uma norma para todos os homens menos simples e bvia do que a primeira vista possa parecer. O que que se entende por condies similares? 9 [...] A mxima kantiana pode ser considerada um trusmo [...] pressupe uma nica cultura, uma nica religio, um conformismo mundial. A objeo que no me parece exata esta de que no existem condies similares, j que entre as condies est compreendido aquele que atua [...] possvel que a mxima de Kant esteja ligada a seu tempo, ao iluminismo cosmopolita e concepo crtica do autor [...]. Portanto aquele que atua o portador das condies similares, ou seja o criador delas: isto , ele deve atuar segundo um modelo que gostaria de ver difundido entre todos os homens. (GRAMSCI, 1966, p. 60)

Atacando a possibilidade de no existirem condies histricas similares, Gramsci associa essa concepo tica tradicional a um trusmo tipicamente iluminista, prpria a toda uma concepo de homem universalista que ganhou desenvolvimento a partir do sculo XVIII. Como apontou Guido Liguori, ele, historicista absoluto, considera a moral um fato plenamente histrico: a generalizao e a universalizao de um princpio moral levariam apenas a generalizao de crenas historicamente determinadas (LIGUORI, 2007, p. 133); no podendo, por isso, ser o que conhecemos como tica uma reflexo isolada das condies de vida dos homens. Nesse sentido, interessante notar desde j, que Gramsci associa o problema tico a toda uma difuso de modos de vida especficos, que necessitam ser historicamente difundidos e conformados. Podemos agora estender nossa questo: considerando a tica um fato plenamente histrico, como Gramsci concebe, em sua atuao e reflexo, aspectos que relacionam a moral atuao poltica? Aqui nos aproximamos do ponto que gostaria de destacar neste artigo, principalmente em funo do que acredito ser a contribuio gramsciana para o problema dentro do marxismo. Escrevendo sobre a cincia moral e o materialismo histrico, o autor nos ajuda a esclarecer esse ponto:A base cientfica de uma moral do materialismo histrico, ao que me parece, deve ser buscada na afirmao de que a sociedade no se prope objetivos para cuja soluo j no existam as condies necessrias 10. Existindo as condies, a soluo dos Germinal: Marxismo e Educao em Debate, Londrina, v. 2, n. 2, p. 196-206; ago. 2010 201

Artigo

objetivos torna-se dever, a vontade de tornar-se livre. A moral se transformaria em uma pesquisa das condies necessrias para a liberdade, do querer em um certo sentido, na direo de um certo fim, bem como para a demonstrao de que estas condies existem. (GRAMSCI, 1966, p. 119-120)

Cabe primeiramente destacar que, neste trecho, a problemtica tradicional da tica como a gnosiologia dos juzos referentes conduta humana no encontra seu lugar. Em termos epistemolgicos, a tica no somente objeto de conhecimento. Como destacam outros autores, Gramsci parece ampliar a problemtica e a associ-la a toda uma difuso e conformao de modos de vida especficos, a um momento de hegemonia. No campo do marxismo, Georg Lukcs desenvolveu uma reflexo sobre a tica a partir do fundamento imanente do prprio processo do fazer-se homem, onde as dimenses do trabalho e do ser social adquiriram centralidade. Gramsci, estendendo esse domnio, no associa a problemtica apenas a uma gnese materialista da categoria, mas, alm disso, relaciona-a a um momento poltico, no sentido forte do termo, hegemnico. nesse sentido que concebe o Estado como tico, educador 11. nesse sentido tambm que os intelectuais participam de determinada direo moral nas formaes sociais e que a tica liga-se a toda uma concepo do mundo e a modos de vida desenvolvidos historicamente. O que tal definio parece ressaltar exatamente a necessidade de complexos processos polticos na conformao e organizao de determinada tica, entendida no unicamente como um juzo valorativo e normativo acerca da universalidade humana, mas como uma dimenso inerente a existncia e a organizao dos modos de vida nas formaes sociais. Por isso, na sociedade capitalista ela no deixa de associar-se hegemonicamente, mesmo quando deixa implcita ou se coloca acima dessa relao, ao momento da produo e reproduo da vida econmica (s necessidades impostas pela contnua acumulao do capital) e as necessidades de unificao das fraes da classe dominante no Estado. Estando a base cientfica de uma moral do materialismo histrico diretamente associada determinadas condies necessrias para a liberdade, ela se desloca de seu ngulo estritamente subjetivo e se associa a um momento poltico e histrico. Longe de relacionar a questo a uma problemtica abstrata ou universalista dos valores humanos, Gramsci a identifica processos sociais e polticos especficos direo de um certo fim presentes na prpria organizao das concepes de mundo e dos modos de vida: um querer-ser que tambm poltico, inserido em condies histricas e correlaes de foras especficas. Acredito que somente neste sentido que se pode compreender a preocupao do autor com determinada tica da ao poltica: no como um ideal nico que deve pautar a poltica em todos os contextos, mas como um sentido geral que deve marcar a atuao poltica em seu movimento histrico (hegemnico), e, como procura desenvolver em muitos de seus escritos, na relao inerente com os modos de vida especficos envolvidos no processo. Aqui, a tica deixa de ser valor transcendente sociedade e liga-se, atravs do momento poltico, aos processos histricos de produo e reproduo da vida. Nesse mbito se pode compreender o interesse constante e vigoroso de Gramsci pelas especificidades da formao social que historicamente se desenvolveu na Itlia e com o envolvimento da classe trabalhadora italiana ao longo de todo esse processo. A problemtica no pode deixar de considerarGerminal: Marxismo e Educao em Debate, Londrina, v. 2, n. 2, p. 196-206; ago. 2010 202

Artigo

os diferentes momentos econmicos, polticos e culturais que marcam a realizao dos modos de vida, especialmente os da classe trabalhadora em constituio, e a forma como, atravs de uma construo hegemnica, eles se relacionam com os imperativos especficos do desenvolvimento capitalista. Tal observao tambm pode ser avaliada pela freqente associao que o autor faz deste problema com todo o questionamento acerca do Estado. Desta forma, podemos ressaltar que, se Gramsci nos indica a necessidade da formao de um bloco intelectual-moral e da construo de determinada tica para a atividade partidria, no com o objetivo abstrato de qualificar condutas ou de alcanar determinado fim teleolgico, mas de enfatizar determinadas condies para a realizao prtica das vontades coletivas, para a transformao dos prprios modos de vida em seu pleno movimento poltico. Aqui, a tica no deve se colocar acima da economia ou mesmo da poltica como uma esfera parte, mas, assumindo a sua relao com os diversos momentos presentes na totalidade da vida social, deslocar-se definitivamente de sua problemtica idealista: uma tica ampliada, poderamos dizer, e integralmente ligada atuao poltica, construo de uma outra hegemonia. Essa associao entre determinada tica e a atividade poltica tambm parece estar intimamente ligada a toda a reavaliao que o autor faz da atividade poltica, j destacada por ampla literatura. Se os escritos marxianos no definiram uma atitude nica que pautasse o processo poltico e encaminhasse a revoluo social, pelas prprias caractersticas em que Marx formulou o problema 12, Gramsci associa uma nova atitude revolucionria s transformaes histricas do poltico no Ocidente. Diferentemente do momento vivido por Marx, onde predominou a guerra de movimento, Gramsci vislumbrava uma nova fase histrica onde predominaria a guerra de posio resultado de toda uma complexidade adquirida pelas superestruturas e pelo Estado na construo do consenso. Nesse sentido, o autor efetua toda uma ampliao terica do poltico e do Estado, onde a estratgia revolucionria deveria assumir um novo sentido e relacionar-se efetivamente com a prxis social na construo de uma hegemonia da classe trabalhadora (BUCI-GLUUCKSMANN, 1980). Por isso, se a poltica liga-se a organizao da vontade coletiva em relao s complexidades assumidas pela hegemonia no mundo capitalista ocidental, ela no pode prescindir de uma dimenso tica, mesmo que conceitualmente redefinida em sua relao com a prxis social.

Consideraes Finais: tica ou poltica?Nas ltimas dcadas cansou-se de denunciar a poltica como mera tcnica, como instrumento unicamente funcional que passava por cima de tudo e se utilizava de todos os meios para alcanar seus fins. Denunciou-se a falta de tica da poltica ancorando-se a ao social em um ideal tico-humanista, por vezes potencializado pela visibilidade e o espetculo que lhe proporciona a mdia. As questes tambm no deixaram de estar presentes na teoria poltica contempornea: Gadamer, por exemplo, se apoiou em uma noo de tolerncia como limite da atuao poltica; j Habermas, atuando com propriedade no debate poltico internacional, em determinada concepo de tica para a realizaoGerminal: Marxismo e Educao em Debate, Londrina, v. 2, n. 2, p. 196-206; ago. 2010 203

Artigo

poltica das aes-comunicativas. No obstante a importante contribuio destes autores para o desenvolvimento das discusses associadas questo, o que estas posies parecem manifestar exatamente a separao radical efetuada entre tica e atuao poltica: sendo a poltica mera tcnica desprovida de sentido, optou-se pela tica como mvel por excelncia da ao social. fcil perceber que essa concepo da atividade poltica como mera tcnica, em oposio a moral, no encontra sua expresso nos textos clssicos de Marx. Embora o autor no deixasse de defender explicitamente o uso de alguma violncia poltica para desenvolver o processo revolucionrio, ela no serviria unicamente como tcnica para alcanar um fim teleolgico, mas para desencadear desenvolvimentos cujas realizaes, por sua amplitude e potencialidade, no deveriam ser socialmente previstas (TEXIER, 2005). Por outro lado, ao privilegiar a ao como atividade social, revolucionria, Marx tambm no deixou nenhum lugar para qualquer problemtica tica, em seu sentido tradicional. Poltica e tica, em seus sentidos estreitos, no encontram aqui seu lugar e desenvolvimento, nem se colocam como questes primeiras da ao revolucionria. Com as exigncias e experincias histricas e polticas postas pelo sculo XX, essas ambigidades encontraram posies opostas dentro do marxismo. Vrlander (tal como alguns tericos contemporneos) considerando os limites do marxismo como cincia econmica e social, buscou na tica kantiana uma base para a ao poltica prtica, socialista aqui a tica orientaria a ao revolucionria, fornecendo-lhe uma base para a atuao poltica e social pretensamente ausente no marxismo. Por outro lado, a negao da existncia de qualquer proposio tico-normativa no interior do marxismo, reduzindo o mesmo a uma cincia objetiva, por vezes resultou em passividade poltica as leis histricas determinariam o processo social ou em poltica cientfica stricto sensu um olhar puramente objetivo produzia a acelerao na histria, o caminho da revoluo. Diante desse dilema, cabe-nos indagar: estamos fadados a optar por uma submisso estrita da poltica tica ou a uma negao mecanicista da validade poltica da ltima? Como destacamos ao longo do texto, Gramsci parece, ainda hoje, nos dar indicaes importantes sobre o problema. Se um ideal tico se coloca hoje em dia como base nica para o desenvolvimento de aes sociais, denunciando-se a poltica como mera manipulao e excluindo qualquer considerao mais ampla sobre as presses e determinaes do modo de produo capitalista 13, o autor nos coloca outros aspectos e pressupostos para pensar a questo. Em primeiro lugar, Gramsci no recusa a motivao tica de sua atuao poltica, afirmando explicitamente a busca pelo que chama um mundo moral realmente efetivo. Porm, ao invs de considerar a questo sob um referencial universalista, relaciona-a as condies histricas e sociais que tornariam possveis essa realizao: as condies de vida atuais que tornariam possveis a construo e a organizao de outras vises de mundo e modos de vida. Por isso, se o autor no considera a poltica mera tcnica, ampliando o seu conceito de Estado e poltica, tambm no considera a tica mero ideal, devendo esta relacionar-se diretamente com um sentido histrico e hegemnico mais abrangente um sentido que deve orientar e se relacionar, praticamente, aos diversos aspectos da produo e realizao da vida nas coletividades. neste sentido

Germinal: Marxismo e Educao em Debate, Londrina, v. 2, n. 2, p. 196-206; ago. 2010

204

Artigo

que o Estado tico e deve-se se construir, politicamente, uma nova tica sob a hegemonia da classe trabalhadora. Nos termos desse deslocamento conceitual acredito que podemos efetivamente repensar a questo. Tal como Gramsci, podemos assumir e relacionar nosso ideal tico a difuso e a organizao de todo um modo de vida sob condies histricas e sociais especficas. Sua reflexo insiste exatamente em no desconsiderar a relao entre os ideais e a prxis social. Nesse sentido, no basta questionar a poltica como tcnica e se apoiar em um ideal humano desvinculado da prxis, mas, tambm, assumindo que esse ideal encontra-se historicamente articulado a prpria organizao dos modos de vida como um todo, envolv-lo na prpria dinmica dos processos sociais. Se encontramos atualmente a luta por uma tica humanista que abstrai a relao entre a mesma e a atividade social, e com isso, desconsidera as determinaes e presses que continuam a marcar a reproduo do modo de produo capitalista, com todas as suas conseqncias sociais, Gramsci nos convida a articular essas duas dimenses na luta por uma transformao poltica efetiva. Tal como argumenta Ellen Wood (2003), uma luta efetivamente democrtica no pode situar-se unicamente no mbito tico-poltico em seu sentido estrito, mas, considerando a produo e reproduo da vida real em toda a sua amplitude, tem de enfrentar os diferentes imperativos econmicos que continuam cada vez mais a determinar as circunstncias e momentos da vida social. Tambm aqui, a tica no deve limitar a atuao poltica, mas, em sua acepo ampla (histrica), justamente envolv-la e potencializ-la em sua realizao.

RefernciasBERMAN, Marshall. Tudo o que slido desmancha no ar. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2007. BUCI-GLUCKSMANN, Christinne. Gramsci e o Estado: por uma teoria materialista da filosofia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. GRAMSCI, Antonio. Cadernos do crcere. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2000. ______. Concepo dialtica da histria. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1966. LIGUORI, Guido. Roteiros para Gramsci. Rio de Janeiro: UFRJ, 2007. MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alem. Rio de Janeiro: Grijalbo, 1977. MARX, K.; ENGELS, F. Proletrios e comunistas. In: ______. O manifesto do partido comunista. So Paulo: Global, 1988, p.21-47. ______. Obras escolhidas. So Paulo: Alfa-mega, 1983. TEXIER, Jacques. Revoluo e democracia em Marx e Engels. Rio de Janeiro: UFRJ, 2005. VSQUEZ, Adolfo Snches. tica e marxismo. In: BORON, Atlio; AMADEO, Javier; GONZALEZ, Sabrina A teoria marxista hoje: problemas e perspectivas. So Paulo: Expresso Popular, 2007. Disponvel em http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/campus/marxispt/cap.%2012.doc, acesso em 24/06/2010

Germinal: Marxismo e Educao em Debate, Londrina, v. 2, n. 2, p. 196-206; ago. 2010

205

Artigo

WOOD, Ellen. Democracia contra capitalismo: a renovao do materialismo histrico. So Paulo: Boitempo, 2003.

Notas:Bolsista de Iniciao Cientfica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPQ) na modalidade PIBIC, e integrante do grupo de pesquisa Memria, Histria e Produo de Conhecimento em Educao (MEHPCE), organizado no mbito da Faculdade de Educao da Universidade Federal Fluminense. 2 Edward P. Thompson um exemplo nesse sentido, principalmente em sua luta pelo desarmamento nuclear na dcada de 1980. 3 Guido Liguori desenvolveu o tema da moral e do conformismo em Marx e Gramsci, reflexo que serviu de inspirao direta para o presente artigo. Porm, procuramos traar aqui no uma discusso centrada no tema do conformismo, mas na relao entre tica e atuao poltica na obra dos autores. (LIGUORI, 2007, p. 129). 4 Deixamos de lado aqui o questionamento acerca da ambigidade da expresso apenas a expresso geral das condies reais de uma luta de classes existente, procurando compreender as implicaes dessa formulao no estabelecimento da relao entre tica e poltica no texto dos autores, conforme destacaremos abaixo. 5 Guido Liguori observa que alguns autores, como Gerry Cohen, John Roemer e Jon Elster, acabaram reforando ao mximo essa dimenso normativa das formulaes marxianas e descobriram Marx como um filsofo moral sem o saber. Destaca, porm, que em seu entendimento, tais autores acabaram confundindo uma teoria moral com a moralidade motivacional do autor. (LIGUORI, 2007, p. 130). 6 Nesse sentido interpretou-se radicalmente a clebre passagem do Prefcio a Contribuio Crtica da Economia Poltica: [...] na produo social de sua existncia, os homens entram em relaes determinadas, necessrias, independentes de sua vontade [...]. (MARX, ENGELS, 1983, p. 301). 7 Adolfo Snches Vzquez (2007) ressalta que esta reduo do marxismo cincia, com a sua conseguinte incompatibilidade com a moral, est presente, entre outras, na interpretao althusseriana do anti-humanismo terico de Marx. 8 Sobre este ltimo ponto, Gramsci (2000, p. 20) escreveu: por isso que deve-se chamar a ateno para o fato de que o desenvolvimento poltico do conceito de hegemonia representa alm do progresso poltico-prtico um grande progresso filosfico, j que implica e supe necessariamente uma unidade intelectual e uma tica adequadas a uma concepo do real que superou o sendo comum e tornou-se crtica, mesmo que dentro de limites ainda restritos. 9 Guido Liguori observa que a expresso kantiana exata, que Gramsci cita de memria, a seguinte: Atua de modo que a mxima da tua vontade possa sempre valer em toda poca como princpio de uma legislao. O autor destaca que a incluso da expresso em condies similares no texto de Gramsci um indcio da crtica anti-universalista que o autor formula em relao questo. (LIGUORI, 2007, p. 133-134). 10 Gramsci extrai essa formulao do Prefcio da Contribuio Crtica da Economia Poltica. 11 Gramsci (apud BUCI-GLUCKSMANN, 1980, p. 128) comenta: Tarefa educativa e formadora do Estado, que tem sempre por fim criar tipos de civilizao [civilit] novos e mais elevados, de adaptar a civilit e a moralidade das massas populares mais amplas s necessidades do contnuo desenvolvimento capitalista. Gramsci coloca a problemtica do Estado tico principalmente em seus apontamentos sobre Hegel, Croce e Gentile, nos quais questiona as posies idealistas associando-as a um momento de hegemonia. 12 Jacques Texier, amparado em extensa documentao dos autores, destaca que, ao contrrio do que se consagrou em parte do debate marxista no sculo XX, Marx e Engels no definiram um nico caminho que levasse ao comunismo (revoluo, ditadura do proletariado, sociedade sem classes). Observa, ao contrrio, que o caminho traado pelos autores expressou uma srie de possibilidades de acordo com a anlise do contexto poltico nacional observado, uma vez que para Marx e Engels, a poltica stricto sensu era uma questo secundria em relao revoluo social. Isso no significa que o comunismo poderia ser construdo cumulativamente sob uma ordem social amparada nos pressupostos do desenvolvimento capitalista e das relaes de classe, mas que a transformao da totalidade da prxis social, uma verdadeira transformao da vida prtica em geral, deveria ocupar o primeiro plano do pensamento revolucionrio, o que era condicionado de diferentes formas pelos arranjos das sociedades que Marx observou em seu tempo, e que exigia estratgias que levassem em conta essas especificidades. (TEXIER, 2005). 13 Penso por exemplo no discurso que busca legitimar a atuao da maioria das ONGs.1

Germinal: Marxismo e Educao em Debate, Londrina, v. 2, n. 2, p. 196-206; ago. 2010

206