epidemiologia e serviços de saúde - biblioteca virtual...

86
Epidemiologia e Serviços de Saúde R E V I S TA D O S I S T E M A Ú N I C O D E S A Ú D E D O B R A S I L | Volume 19 - Nº 1 - janeiro / março de 2010 | ISSN 1679-4974 1

Upload: vukhanh

Post on 09-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

artigos neste número

Epidemiologiae Serviços de SaúdeR E V I S T A D O S I S T E M A Ú N I C O D E S A Ú D E D O B R A S I L

| Volume 19 - Nº 1 - janeiro / março de 2010 |

ISSN 1679-4974

1

» EDITORIAL : Pesquisas em serviços de saúde edesenvolvimento da epidemiologia no SUS

Maria Regina Fernandes de Oliveira

» Mortes maternas: revisão do fator de correção para os dados oficiais

Carolina Terra de Moraes Luizaga, Sabina Léa Davidson Gotlieb,Maria Helena Prado de Mello Jorge e Ruy Laurenti

» Epidemia de leishmaniose visceral no Município de Campo Grande-MS, 2002 a 2006

Mara Beatriz Grotta Furlan

» Aspectos relacionados à conservação de vacinas nas unidades básicas de saúde da cidade do Recife – Pernambuco

Giselle Karine Muniz de Melo, Janice Vasconcelos Oliveira e Maria Sandra Andrade

» Perfil epidemiológico da tuberculose no Município de Teresina-PI, no período de 1999 a 2005

Danieli Maria Matias Coêlho, Rosângela Lopes Viana,Clarice Alves Madeira, Luiz Oscar Cardoso Ferreira e Viriato Campelo

» Frequência de Papilomavírus humano (HPV) e Chlamydia trachomatis em gestantes

Virgínia da Conceição Ribes Amorim Bezerra Brandão,Heloisa Ramos Lacerda e Ricardo Arraes de Alencar Ximenes

» Fatores associados à mortalidade neonatal precoce:análise de situação no nível local

Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes

» Características da atenção básica associadas ao risco de internar por condições sensíveis à atenção primária:revisão sistemática da literatura

Fúlvio Borges Nedel, Luiz Augusto Facchini, Miguel Martín e Albert Navarro

» Impacto da Legislação Restritiva do Álcool na Morbimortalidade por Acidentes de Transporte Terrestre – Brasil, 2008

Deborah Carvalho Malta, Marta Maria Alves da Silva, Cheila Maria Lima,Adauto Martins Soares Filho, Marli de Mesquita Silva Montenegro,Márcio Dênis Medeiros Mascarenhas, Otaliba Libânio de Morais Neto,José Gomes Temporão e Gerson Oliveira Penna

www.saude.gov.br/svs

www.saude.gov.br/bvs

disque saúde 0800.61.1997

Ep

ide

mio

log

ia e

Se

rviço

s de

Sa

úd

e :re

vista

do

Siste

ma

Ún

ico d

e S

de

do

Bra

sil :Vo

lum

e 1

9 - N

º 1 - ja

ne

iro / m

arço

de

20

10

Page 2: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

Epidemiologia e Serviços de Saúde

I S S N 1679-4974

R E V I S T A D O S I S T E M A Ú N I C O D E S A Ú D E D O B R A S I L

A revista Epidemiologia e Serviços de Saúde do SUS

é distribuída gratuitamente. Para recebê-la, escreva à

Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços - CGDEP

Secretaria de Vigilância em Saúde - SVS

Ministério da Saúde

SCS, Quadra 4, Bloco A, Edifício Principal, 5o Andar

Brasília-DF. CEP: 70304-000

ou pelo site:

http://www.saude.gov.br/svs

A versão eletrônica da revista está disponível na Internet:

http://www.saude.gov.br/svs

http://www.saude.gov.br/bvs

http://www.iec.pa.gov.br

E no portal de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal

de Nível Superior (Capes/MEC), http://www.periodicos.capes.gov.br

Indexação: LILACS

| Vol u me 19 - No 1 - janeiro / março de 2010 |

Page 3: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

© 2003. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.Os artigos publicados são de responsabilidade dos autores e não expressam, necessariamente, a posição do Ministério da Saúde. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial. Para republicação de qualquer material, solicitar autorização dos editores.

ISSN 1679-4974

Epidemiologia e Serviços de Saúde / Secretaria de Vigilância em Saúde. - Brasília : Ministério da Saúde, 1992- Trimestral ISSN 1679-4974 ISSN 0104-1673 Continuação do Informe Epidemiológico do SUS. A partir do volume 12 número 1, passa a denominar-se Epidemiologia e Serviços de Saúde 1. Epidemiologia.

Editor GeralGerson Oliveira Penna - SVS/MS

Editora ExecutivaMaria Regina Fernandes de Oliveira - SVS/MS

Editoras AssistentesAna Maria Johnson de Assis - SVS/MSAna Maria Sobreiro Maciel - SVS/MSElza Helena Krawiec - SVS/MSMarta Helena Paiva Dantas - SVS/MS

Editor de TextoLuís Sérgio de Rezende Moura - SVS/MS

Editor GráficoFabiano Camilo Silva - SVS/MS

Comitê EditorialCarlos Machado de Freitas - ENSP/Fiocruz/RJDenise Aerts - Ulbra/RSEliseu Alves Waldman - FSP/USP/SPGuilherme Loureiro Werneck - UFRJ/RJJosé Cássio de Moraes - FCM-SC/SPJosé Ueleres Braga - UFRJ/RJMaria Cecília de Souza Minayo - Fiocruz/RJMaria Fernanda Lima-Costa - NESP/CPqRR/Fiocruz/MGIná dos Santos - UFPEL/RSMaria Inês Costa Dourado - ISC/UFBa/BAMarilisa Berti de Azevedo Barros - FCM/Unicamp/SPPedro Luiz Tauil - FM/Unb/DF

ConsultoresCarla Magda S. Domingues - SVS/MSCarlos Augusto Vaz - SVS/MSDaniela Buosi Rohlfs - SVS/MSDéborah Malta - SVS/MSDráurio Barreira - SVS/MSEduardo Hage Carmo - SVS/MSGeorge Santiago Dimech - SVS/MSGiovanini Evelin Coelho - SVS/MSGuilherme Franco Netto - SVS/MSHeloiza Machado de Souza - SVS/MSJosé Lázaro de Brito Ladislau - SVS/MSMárcia Furquim - FSP/USP/SPMaria da Glória Teixeira - UFBa/BAMaria Aparecida de Faria Grossi - SVS/MSMariângela Batista Galvão Simão - SVS/MSMaria Arindelita Neves de Arruda - SVS/MSOtaliba Libânio de Morais Neto - SVS/MSRicardo Gadelha de Abreu - SVS/MSSandra Helena Maia Gurgel - SVS/MSSônia Maria Feitosa Brito - SVS/MSVera Regina Barea - SVS/MSWanderson Kleber de Oliveira - SVS/MS

Projeto EditorialAndré FalcãoTatiana Portela

Projeto GráficoFabiano Camilo Silva - SVS/MS

Revisão de Textos em InglêsNádia Paranaíba - SVS/MS

Normalização BibliográficaRaquel Machado Santos - Funasa/MS

Editoração EletrônicaEdite Damásio da Silva - SVS/MS

Tiragem30.000 exemplares

Page 4: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

Sumário

15

25

7

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1): jan-mar 2010

33

43

51

3

EDITORIAL

Pesquisas em serviços de saúde e desenvolvimento da epidemiologia no SUS

ARTIGOS ORIGINAIS

Mortes maternas: revisão do fator de correção para os dados oficiais

Maternal deaths: reviewing the adjustment factor for official data

Carolina Terra de Moraes Luizaga, Sabina Léa Davidson Gotlieb, Maria Helena Prado de Mello Jorge e Ruy Laurenti

Epidemia de leishmaniose visceral no Município de Campo Grande-MS, 2002 a 2006

Visceral Leishmaniasis Epidemic in Campo Grande, State of Mato Grosso do Sul, Brazil, from 2002 to 2006

Mara Beatriz Grotta Furlan

Aspectos relacionados à conservação de vacinas nas unidades básicas de saúde da cidade do Recife – Pernambuco

Aspects Related to Vaccines Conservation at Primary Care Health Units in the City of Recife, State of Pernambuco, Brazil

Giselle Karine Muniz de Melo, Janice Vasconcelos Oliveira e Maria Sandra Andrade

Perfil epidemiológico da tuberculose no Município de Teresina-PI, no período de 1999 a 2005

Epidemiological Features of Tuberculosis in the City of Teresina, Piaui State, Brazil, from 1999 to 2005

Danieli Maria Matias Coêlho, Rosângela Lopes Viana, Clarice Alves Madeira, Luiz Oscar Cardoso Ferreira e Viriato Campelo

Frequência de Papilomavírus humano (HPV) e Chlamydia trachomatis em gestantes

Frequency of Human Papillomavirus (HPV) and Chlamydia trachomatis in Pregnant Women

Virgínia da Conceição Ribes Amorim Bezerra Brandão, Heloisa Ramos Lacerda e Ricardo Arraes de Alencar Ximenes

Fatores associados à mortalidade neonatal precoce: análise de situação no nível local

Factors Associated with Neonatal Mortality: Situation Analysis at the Local Level

Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes

ARTIGO DE REVISÃO

Características da atenção básica associadas ao risco de internar por condições sensíveis à atenção primária: revisão sistemática da literatura

Primary Health Care Risk Factors for Hospitalization for Ambulatory Care Sensitive Conditions: Systematic Literature Review

Fúlvio Borges Nedel, Luiz Augusto Facchini, Miguel Martín e Albert Navarro

61

Page 5: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

77

79

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1): jan-mar 2010

NOTA TÉCNICA

Impacto da Legislação Restritiva do Álcool na Morbimortalidade por Acidentes de Transporte Terrestre – Brasil, 2008

Impact of the Legal Alcohol Restriction in the Morbidity and Mortality by Transport-Related Injuries – Brazil, 2008

Deborah Carvalho Malta, Marta Maria Alves da Silva, Cheila Maria Lima, Adauto Martins Soares Filho, Marli de Mesquita Silva Montenegro, Márcio Dênis Medeiros Mascarenhas, Otaliba Libânio de Morais Neto, José Gomes Temporão e Gerson Oliveira Penna

AGRADECIMENTO

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO 81

Page 6: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

5 Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1): 5-6, jan-mar 2010

Pesquisas em serviços de saúde e desenvolvimento da epidemiologia no SUS

Editorial

A Epidemiologia e Serviços de Saúde mantém, no seu primeiro fascículo do ano de 2010, o compromisso com a divulgação de estudos e pesquisas que têm como enfoque os dados gerados nos serviços de saúde e cujos resultados voltam-se para o aprimoramento dos serviços, para o uso da informação para a ação e para o impacto em saúde coletiva. Com esse compromisso, no número 1 de 2010 publicamos seis artigos originais, um artigo de revisão e uma nota técnica.

O artigo de Luizaga e colaboradores1 discute a necessidade de aprimorar os dados relativos às mortes mater-nas, especialmente face à meta de redução da mortalidade materna em 75% até 2015, conforme pactuado nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM).2 O propósito do estudo foi estimar novos fatores de correção a partir das mortes maternas estudadas em todas as capitais brasileiras no ano de 2002. A publicação do artigo visa enriquecer a discussão e suscitar que novas metodologias sejam desenvolvidas para a obtenção de estimativas cada vez mais fidedignas para o tema. Soares & Menezes3 também abordam a mortalidade, com foco na mortali-dade neonatal precoce, da mesma forma contribuindo por meio da informação para o cumprimento da meta dos ODM2 de reduzir em dois terços a mortalidade de menores de cinco anos até 2015. A abordagem metodológica do estudo é a de linkage entre bancos de dados de informações de mortalidade e de nascidos vivos; estima fatores de risco para a mortalidade neonatal precoce para um distrito sanitário do Município de Salvador que apresenta, historicamente, piores indicadores de mortalidade infantil em comparação a outros locais da capital baiana. O estudo discute condições demográficas, sociais e de serviços de saúde que seriam responsáveis pela manutenção dos coeficientes no local e propõe gestões para atingir e modificar fatores determinantes como, por exemplo, a melhora da atenção em todo o ciclo da gravidez e puerpério e atenção diferenciada para mulheres com menor escolaridade.

Dados de doenças de notificação compulsória também são analisados e trazem informações relevantes para o controle de endemias que se mantém ou re-emergem como desafios para os serviços de vigilância. A leishmaniose visceral é uma doença infecciosa que tem ganhado cada vez mais importância e visibilidade no campo da saúde pública, devido à sua expansão geográfica e urbanização. Apresenta um ciclo de transmissão complexo e as suas medidas de controle desafiam os serviços de saúde de vigilância. Campo Grande é um exemplo de capital onde a doença adquiriu essa importância e o artigo de Furlan4 descreve a epidemia ocorrida no município no período de 2002 a 2006. Ao apresentar os dados da epidemia, a autora discute as complexas relações da transmissão, as características ambientais que poderiam estar envolvidas com o aparecimento e manutenção do ciclo no local, além de apresentar questões ligadas à organização dos serviços de saúde, como por exemplo a necessidade de profissionais capacitados para as ações de controle tempestivas. Outra endemia abordada é a tuberculose no Município de Teresina no período de 1999 a 2005, cujos dados são apresentados e discutidos por Coelho e cola-boradores;5 o artigo expõe a necessidade de melhor qualidade no preenchimento dos dados de notificação, assim como de articulação cada vez maior com a atenção básica para o diagnóstico e conduta precoces e oportunos. A Aids como fator de risco é discutida em artigo de Brandão e colaboradores6 por meio de estudo transversal analítico que identificou maior frequência de infecções por Papilomavírus humano e por Chlamydia trachomatis em gestantes infectadas pelo HIV, o que caracteriza essa população como de maior risco para o desenvolvimento de câncer cervical.

Tem-se no estudo de Melo e colaboradores,7 mais um exemplo de pesquisa extremamente operacional – aquela que ocorre no âmbito dos serviços de saúde, visando a diagnosticar e solucionar problemas dos serviços. Os autores investigaram, por meio de amostra probabilística, unidades básicas de saúde e seus profissionais quanto ao conhecimento e aplicação dos procedimentos relacionados à conservação de imunobiológicos preconizados pelo Programa Nacional de Imunizações. Detectaram problemas que podem ser corrigidos e alertam os serviços quanto à necessidade do correto e preciso cumprimento das orientações relativas à rede de frio, de modo a garantir os efetivos resultados no controle de doenças imunopreveníveis.

Page 7: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

6 Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1): 5-6, jan-mar 2010

O artigo de Nedel e colaboradores8 é fruto de um exaustivo trabalho de revisão sistemática sobre características da atenção básica associadas ao risco de internar por condições sensíveis à atenção primária (CSAP). Por meio de metodologia extremamente rigorosa aplicada à avaliação da qualidade dos artigos a serem selecionados, des-creve 18 estudos publicados em vários países destacando os principais resultados de cada um deles e os fatores associados a internações por CSAP. Debate sobre a qualidade dos artigos selecionados, o método de avaliação de qualidade adotado, as listas de CSAP construídas, as dificuldades quanto à comparabilidade entre estudos, o modelo de atenção primária brasileiro e os dados gerados nesse nível de atenção, a possibilidade de análise de CSAP pelos serviços de saúde de modo a utilizar o indicador na gestão do SUS e ainda propõe o novo descritor “hospitalização evitável” que associado à “atenção primária à saúde” seria de contribuição para sistematizar o conhecimento no tema. A ampla discussão, sem dúvida, cumpre com o objetivo de revisar um tema absolutamente prioritário e relevante para o SUS.

A Nota Técnica, de autoria de Malta e colaboradores,9 trata de análise exploratória sobre o impacto da chamada “lei seca” na morbimortalidade por acidentes de transporte terrestre no Brasil. A estratégia, efetivada fora do setor, pode impactar a saúde da coletividade, especialmente, em um agravo que responde por elevada mortalidade na sociedade brasileira.

Por último, os editores da Epidemiologia e Serviços de Saúde agradecem aos relatores que trabalharam no ano de 2009, pela valiosa contribuição e revisão cuidadosa dos artigos submetidos, o que tem garantido a qualidade da publicação e, principalmente, o cumprimento da sua missão principal – desenvolver a epidemiologia no SUS.

Maria Regina Fernandes de OliveiraEditora Executiva

Referências

1. Luizaga CTM, Gotlieb SLD, Jorge MHM, Laurenti, R. Mortes maternas: revisão do fator de correção para os dados oficiais. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2010; 19(1):7-14.

2. Sachs JD, McArthur JW. The Millennium Project: a plan for meeting the Millennium Development Goals [Internet]. Published online January 12, 2005 [cited 2008 Jul]. Available from: http://image.thelancet.com/extras/04art12121web.pdf

3. Soares ES & Menezes GMS. Fatores associados à mortalidade neonatal precoce: análise de situação no nível local. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2010; 19(1):51-60.

4. Furlan MBG. Epidemia de leishmaniose visceral no Município de Campo Grande – MS, 2002 a 2006. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2010; 19(1):15-24.

5. Coelho DMM, Viana RL, Madeira CA, Ferreira LOC, Campelo V. Perfil epidemiológico da tuberculose no Município de Teresina –PI, no período de 1999 a 2005. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2010; 19(1):33-42.

6. Brandão VCRAB, Lacerda HR, Ximenes RAA. Frequência de Papilomavírus humano (HPV) e Chlamydia trachomatis em gestantes. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2010; 19(1):43-50.

7. Melo, GKM, Oliveira, JV, Andrade, MS. Aspectos relacionados à conservação de vacinas nas unidades básicas de saúde da cidade do Recife-Pernambuco. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2010; 19(1):25-32.

8. Nedel FB, Facchini LA, Martín M, Navarro A. Características da atenção básica associadas ao risco de internar por condições sensíveis à atenção primária: revisão sistemática da literatura. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2010; 19(1):61-75.

9. Malta DC, Silva MMA, Lima CM, Soares Filho AM, Montenegro MMS, Mascarenhas MDM, et al. Impacto da legislação restritiva do álcool na morbimortalidade por acidentes de transporte terrestre – Brasil, 2008. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2010; 19(1):77-78.

Page 8: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

7

Maternal deaths: reviewing the adjustment factor for official data

Artigo originAl Mortes maternas:

revisão do fator de correção para os dados oficiais*

Endereço para correspondência: Universidade de São Paulo, Faculdade de Saúde Pública, Departamento de Epidemiologia, Av. Dr. Arnaldo, 715, Cerqueira César, São Paulo-SP, Brasil. CEP: 01246-904E-mail: [email protected]

Carolina Terra de Moraes LuizagaMestranda do Departamento de Epidemiologia, Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo-SP, Brasil

Sabina Léa Davidson GotliebDepartamento de Epidemiologia, Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo-SP, Brasil

Maria Helena Prado de Mello JorgeDepartamento de Epidemiologia, Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo-SP, Brasil

Ruy LaurentiDepartamento de Epidemiologia, Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo-SP, Brasil

ResumoO objetivo foi comparar as mortes maternas existentes no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM/MS) com as

do “Estudo da mortalidade de mulheres em idade fértil” e estimar novos fatores de correção. Analisaram-se 7.332 declara-ções de óbito feminino (DO) de dez a 49 anos, de residentes nas capitais brasileiras, no 1° semestre de 2002. Realizou-se pareamento dos conjuntos de DO (as originalmente preenchidas pelos médicos e aquelas obtidas com o resgate de dados) com as DO do SIM/MS. A subenumeração das mortes por causas maternas, no SIM/MS, foi de 21,4% e, das mortes maternas, 16%. Os novos fatores de ajuste para as mortes maternas nas regiões brasileiras foram: 0,93 (Norte), 1,17 (Nordeste), 1,28 (Sudeste), 1,10 (Sul) e 1,47 (Centro-oeste); para o país, foi igual a 1,19. Os Comitês de Morte Materna investigam os óbitos femininos em idade fértil, mas, ainda, restam imprecisões que podem inviabilizar condutas preventivas eficientes.

Palavras-chave: morte materna; sistemas de informações em saúde; declaração de óbito.

SummaryThe objectives were to compare maternal deaths notified at the Ministry of Health Information System on Mortality

(SIM/MS) with those detected in the “Study on the mortality of fertile women in Brazil” and to estimate a new adjustment factor. A total of 7,332 official death certificates (DC), from the 1st semester of 2002, of women aged 10-49, residents in the nation’s state capitals, were analyzed. Database linkage was performed to compare the underlying cause of death at SIM/MS with the study results. Data show there was inadequate notification of deaths due to maternal causes (21.4%) and to maternal deaths (16%). The new national adjustment factor for maternal deaths was 1.19. Committees on Maternal Mortality are efficient; nevertheless, there is lack of information on official deaths, which could make it difficult to manage adequately the situation.

Key words: maternal death; health information systems; death certificates.

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):7-14, jan-mar 2010

* Este estudo é parte integrante do projeto "Estudo sobre a mortalidade de mulheres de 10 a 49 anos com ênfase na mortalidade materna", realizado pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, apoiado pelo Ministério da Saúde, Organização Pan-Americana da Saúde e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Ministéreio da Ciência e Tecnologia.

Page 9: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

8

Revisão do fator de correção de mortes maternas

Introdução

Para Laurenti,1 dois fatos dificultam o conhecimento da verdadeira intensidade das mortes maternas no Brasil. O primeiro é a subinformação, mortes não inseridas no Sistema de Informações sobre Mortali-dade do Ministério da Saúde (SIM/MS) e o segundo é o preenchimento inadequado das causas de morte nas declarações de óbito (DO) pelos médicos. A falha pode ocorrer por uma razão específica, já que a causa básica da morte até pode estar declarada pelo médico, mas, não há a informação se esta morte estava ou não relacionada à gravidez, ao parto e ao puerpério. Assim, proporcionalmente, as causas maternas são as menos informadas.

Visando à melhoria da qualidade da informação e prevenção das mortes por causas maternas, o Minis-tério da Saúde (MS) propôs, em 1987, a criação de Comitês de Morte Materna (CMM), para executarem busca ativa e investigação dos óbitos de mulheres em idade fértil nos municípios. De 1993 a 1996, foram implantados comitês estaduais de morte materna em todos os estados da federação.2

Em 1999, ficou estabelecido que a vigilância epi-demiológica das mortes infantis e maternas é função das secretarias municipais, executando essas ações, de forma complementar ou suplementar às das secretarias estaduais de saúde (Portaria n° 1.399, 15/12/1999). Cabe ao representante do Comitê ou ao técnico da vigilância epidemiológica dirigir-se ao domicílio da falecida ou à instituição hospitalar, para confirmar ou descartar que a morte tenha ocorrido durante gravidez, parto ou puerpério de até 12 meses.2 Em vários locais, estes vêm conseguindo resgatar, corrigir os dados de morte materna e transmitir correções para que sejam incorporadas ao SIM/MS.2

Nos órgãos gestores do SIM/MS, a DO pode ser cor-rigida, alterando-se as causas declaradas pelo médico, em caráter unicamente estatístico e epidemiológico e, nunca, jurídico. Legalmente a DO oficial não pode ser modificada, após ser preenchida pelo médico atestante e entregue ao cartório para registro do óbito. O Centro Brasileiro de Classificação de Doenças da Organiza-ção Mundial da Saúde (CBCD/OMS) e o MS criaram normas para a incorporação das causas detectadas, no âmbito do SIM/MS.3

Considerando que nem todos os municípios brasi-leiros contam com um CMM ou técnico da vigilância

epidemiológica, o número oficial de mortes maternas, ainda não corresponde ao real. Para suprir tal falha, são propostos fatores de correção (razão entre a soma das mortes maternas resgatadas após as investigações mais as mortes maternas oficiais declaradas, eliminando-se as que não foram consideradas como morte materna, dividindo-se por este último valor). Este fator é aplicado ao total de mortes maternas oficiais, para que os indica-dores estimados sejam mais próximos aos reais.4,5

Interessado em conhecer a verdadeira mortalidade materna, o MS propôs o “Estudo da mortalidade de mulheres em idade fértil (dez a 49 anos), com ênfase na mortalidade materna” (Projeto GPP),6 em todas as capitais de estados brasileiros e Distrito Federal. Foi adotada a metodologia Reproductive Age Mortality Survey,7 com resgate dos dados e preenchimento de uma nova DO (DO-N), por um médico. Após, as causas de morte declaradas na DO original (DO-O) foram comparadas com as da DO pós-investigação (DO-N), considerada padrão-ouro. Foi estimada uma subenu-meração de 40% e calculados fatores de correção para as cinco regiões brasileiras.6,8 Surgiu, então, a hipótese de superdimensionamento dos fatores de ajuste,6,8 pois foram calculados em relação às DO-O, sem a atuação dos Comitês ou técnicos da vigilância.

O objetivo da atual pesquisa foi comparar as mortes maternas resgatadas no Projeto GPP6 com as existentes no SIM/MS, após possível correção pelos Comitês ou técnicos da vigilância epidemiológica e estimar novos fatores de correção.

Metodologia

Os bancos do Projeto GPP6 (conjuntos de DO-O e de DO-N) e do SIM/MS, disponibilizados em CD-ROM,3 foram usados como fonte de dados (Figura 1).

Em 1999, ficou estabelecido que a vigilância epidemiológica das mortes infantis e maternas é função das secretarias municipais, executando essas ações, de forma complementar ou suplementar às das secretarias estaduais de saúde (Portaria n° 1.399, 15/12/1999).

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):7-14, jan-mar 2010

Page 10: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

9

Carolina Terra de Moraes Luizaga e colaboradores

Na análise das mortes de mulheres em idade fértil, dois conceitos devem ser entendidos: mortes por causas maternas e mortes maternas. A OMS, na Classificação Internacional de Doenças, em sua Décima Revisão (CID-10),9 define causas maternas como “todas as categorias incluídas no Capítulo XV- Gravidez, Parto e Puerpério- da CID-10, abrangendo inclusões e exclusões citadas, no início do capítulo” e morte materna como “a morte de uma mulher durante a gestação ou dentro de um período de 42 dias após o término da gestação, independente da duração ou da localização da gravidez, devida a qualquer causa relacionada com ou agravada pela gravidez ou por medidas em relação a ela, porém não devida a causas acidentais ou incidentais”. Por-tanto, nesta última definição, estão excluídas as mortes por causas maternas ocorridas entre 43 dias e um ano após o parto, as chamadas mortes maternas tardias, e as sequelas de causa materna, ocorridas

mais de um ano após o parto, mas, cuja causa básica era uma causa materna.

Foi realizado o pareamento (linkage) das 3.265 DO de mulheres de dez a 49 anos, residentes nas capitais de estados brasileiros e do Distrito Federal, referentes a 2002, de cada um dos bancos, tendo como critério de identificação, o número da DO oficial, a cidade, o domicílio da falecida e a data do óbito. A causa básica da morte foi classificada e codificada segundo regras da CID-10.9

Foram selecionadas 3.265 DO, todavia, os períodos do estudo variaram de acordo com as capitais, pois, na metodologia, definiu-se o critério de, no mínimo, 50 mortes em cada cidade. Para tal, foi necessário coletar mortes femininas de dez a 49 anos durante: 1) seis meses para Rio Branco, Boa Vista, Macapá, Palmas, Vitória e Florianópolis (populações pequenas), 2) quatro meses em Goiânia e Aracaju, 3) dois meses para as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo (populações

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):7-14, jan-mar 2010

Figura 1 - Esquema do pareamento das Declarações de Óbito (DO) dos bancos de dados e fatores de ajuste segundo blocos. Mortes de mulheres de 10 a 49 anos, residentes nas capitais de estados brasileiros e no Distrito Federal. Brasil, 1° semestre de 2002

Observações:a) DO-O: declaração de óbito original.b) DO-N: declaração de óbito nova, isto é, preenchida por médicos da equipe da pesquisac) SIM/MS: Sistema de Informações do Ministério da Saúde, com inserção de correções relativas às mortes femininas em idade fértilFator de ajuste A = razão entre totais de óbitos por causas maternas e por mortes maternas nas DO-N e nas DO-O, obtidos no Projeto

GPPFator de ajuste B = razão entre totais de óbitos por causas maternas e por mortes maternas nas DO-N e no SIM/MS, obtidos nesta

pesquisa, após atuação de Comitês de Morte Materna e/ou técnicos da vigilância epidemiológica

Bloco 1 Bloco 2 Bloco 3

DO-Oa

DO preenchida pelo médico assistente

DO-Nb

DO obtida em pesquisa

(Padrão ouro)

SIM/MSc

DO corrigida por Comitê e/ou

técnico

Fator de ajuste A

Fator de ajuste B

Page 11: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

10

grandes) e 4) três meses para as demais 17 capitais e Distrito Federal. Para a análise dos conjuntos de capitais de cada uma das cinco regiões e do conjunto de capitais do país como um todo, houve a ponderação dos dados, para que a mortalidade pudesse se referir, homogeneamente, à ocorrida no primeiro semestre de 2002. Nas áreas onde a coleta era referente a três meses, os óbitos foram duplicados; os relativos a dois meses foram triplicados; para os óbitos ocorridos em quatro meses, as mortes foram multiplicadas por 1,5 e, nas capitais cujas mortes referiam-se a seis meses, não houve necessidade de ponderação.6,8 Após esse procedimento, a população de estudo referiu-se a 7.332 DO.

Do total de 3.265 DO, no pareamento (linkage) dos três bancos, não foi possível localizar o respectivo par de 135 DO, pois não constavam do SIM/MS ou a DO-O não apresentava número legível. Desta forma, o material compôs-se de 3.130 DO a serem analisadas segundo a causa básica de morte. Nesta etapa, a seleção das DO baseou-se na codificação como causa materna, independentemente da fonte a que a DO pertencia. No caso das mortes maternas, para estimar a subenume-ração e respectivo fator de ajuste, foram excluídas as mortes maternas tardias e as sequelas, pois não satis-faziam à definição da OMS.9 Em todas as etapas foram utilizados os programas Epi Info® e Excel®.

Considerações éticasO projeto inicial foi aprovado pelo Comitê de Ética

em Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da USP. Conforme o estabelecido na Resolução n° 196/96 (outubro de 1996) do Conselho Nacional de Saúde, houve assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido por todos os entrevistados.

Resultados

Região NorteA atuação dos técnicos da vigilância epidemiológica

e/ou dos CMM da Região Norte fez com que a subenu-meração de mortes por causas maternas diminuísse de 21,9%, para 9,4% (DO-N versus SIM/MS). Assim, o fator de correção passou de 1,28 para 1,10, na compa-ração do SIM/MS com o padrão-ouro. Excluindo-se as cinco mortes maternas classificadas como tardias, das 32 mortes por causas maternas nas DO-N, restaram 27 mortes maternas. Como no SIM/MS constavam

29 mortes maternas, detectou-se superenumeração no SIM/MS, ao ser comparado com as DO padrão-ouro (7,4%), resultando em um fator de correção igual a 0,93 e a Razão de Mortalidade Materna (RMM), con-forme definição da OMS,9 reduziu-se para 60,5 por 100.000 nascidos vivos (Tabelas 1, 2 e 3).

Região Nordeste Relativamente às suas capitais, entre as DO-N, houve

74 mortes por causas maternas, enquanto que, no SIM/MS, foram detectados 59 casos, resultando em uma subenumeração de 20,3% nas estatísticas oficiais; o fator de correção foi estimado em 1,25. Consideran-do apenas mortes maternas, deve ser excluído um total de 12 dos 74 casos detectados nas DO padrão-ouro, pois eram mortes maternas tardias, restando 62 mortes; nas estatísticas oficiais, excluir-se-iam seis mortes maternas tardias dos 59 casos presentes no SIM/MS, resultando em 53 mortes maternas. Desta forma, a proporção de mortes maternas omitidas foi de 14,5% e o fator de ajuste foi igual a 1,17; a RMM passou de 57,9 para 67,7 por 100.000 nascidos vivos (Tabelas 1, 2 e 3).

Região SudesteEntre as DO-O, 55 eram mortes por causas ma-

ternas que, após a investigação dos Comitês e/ou dos técnicos da vigilância epidemiológica, passaram a 63, no SIM/MS. No entanto, comparando com o padrão-ouro (DO-N), no SIM/MS detectou-se um total 25,9% menor e fator de ajuste igual a 1,35. Quanto às mortes maternas, a investigação detectou 78 óbitos e, no SIM/MS, havia 61 mortes (subenumeração de 21,8%). Se as DO-O não tivessem sido corrigidas, a subenumeração no SIM/MS seria ainda maior. O fator de ajuste estimado foi igual a 1,28 e a RMM era igual a 37,4, tornando-se 47,9 por 100.000 nascidos vivos (Tabelas 1, 2 e 3).

Região SulApós o resgate de dados, entre as DO-N das capitais

sulinas houve 13 óbitos e no SIM/MS havia dez mortes por causas maternas, resultando em omissão de informação de 23,1% e fator de correção de 1,30. Entre as DO-O, a discrepância foi ainda maior, pois, eram apenas seis mortes por causas maternas. Entre as mortes por causas maternas, detectadas após a investigação, duas eram tardias, restando, então, entre

Revisão do fator de correção de mortes maternas

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):7-14, jan-mar 2010

Page 12: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

11

as DO-N, 11 mortes maternas; a subenumeração reduziu-se para 9,1%, com fator de correção de 1,10; a RMM, que era de 38,1, passou para 41,9 por 100.000 nascidos vivos (Tabelas 1, 2 e 3).

Região Centro-oestePara a Região Centro-oeste, entre as DO-N, havia

25 óbitos por causas maternas e, no SIM/MS, 19 mortes; a subinformação foi de 24%, com fator de ajuste igual a 1,32. Quanto às mortes maternas, no SIM/MS, existiam 15 óbitos e entre as DO-N, 22 mortes maternas, resultando em diferencial pronunciado (31,8%), o fator de ajuste foi igual a 1,47 e a RMM que era 33,6, tornou-se 49,4 por 100.000 nascidos vivos (Tabelas 1, 2 e 3).

BrasilRelativamente às mortes por causas maternas,

para o conjunto de capitais dos estados brasileiros, verificou-se uma grande diferença entre os totais obtidos nos três bancos. Assim, foram selecionados 229, 180 e 140 casos, respectivamente, no GPP, no SIM/MS e naquelas DO-O preenchidas pelos médicos das localidades. Comparando os resultados às DO-N

(padrão-ouro), concluiu-se haver subinformação de 38,9% entre as DO-O e de 21,4% no SIM/MS. O fator de correção foi de 1,27 para os óbitos existentes no SIM/MS (Tabelas 1 e 2).

Quanto às mortes maternas, a subenumeração também diminuiu após a atuação dos Comitês e/ou técnicos da vigilância epidemiológica; assim, das 200 mortes maternas detectadas no GPP, foram 140 entre as DO-O (30% a menos) e 168 mortes maternas no SIM/MS (16% menor). O fator de correção foi 1,19, resultando em RMM de 54,0, quando era de 45,4 por 100.000 nascidos vivos (Tabelas 1, 2 e 3).

Discussão

É mundialmente reconhecida a necessidade de aprimorar as estatísticas relativas às mortes maternas, tanto do ponto de vista quantitativo como qualitativo, pois seus valores são usados na construção de vários indicadores de nível de saúde. Vários motivos podem ser aventados para explicar a ausência parcial desses dados, desde um possível desconhecimento do médico sobre o preenchimento correto da DO ou, até, sua negligência em atestar as reais causas do óbito. O não

Carolina Terra de Moraes Luizaga e colaboradores

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):7-14, jan-mar 2010

Tabela 1 - Número e subenumeração de óbitos, por causas maternas (CM) e mortes maternas (MM), segundo fonte e região. Capitais brasileiras, 1º semestre de 2002

Região

Fonte Subenumeração (%)a

DO-N DO-O SIM/MSb(DO-N)–(DO-O)c

(DO-N)d

(DO-N)–(SIM/MS)

(DO-N)

CM MM CM MM CM MM CM MM CM MM

Norte 32 27 25 25 29 29 21,9 7,4 9,4 -7,4

Nordeste 74 62 38 38 59 53 48,6 38,7 20,3 14,5

Sudeste 85 78 55 55 63 61 35,3 29,5 25,9 21,8

Sul 13 11 6 6 10 10 53,8 45,5 23,1 9,1

Centro-oeste 25 22 16 16 19 15 36,0 27,3 24,0 31,8

Brasil 229 200 140 140 180 168 38,9 30,0 21,4 16,0

a) Subenumeração estimada após o pareamento das declarações de óbito (nesta pesquisa).

b) SIM/MS: Sistema de informações sobre mortalidade do Ministério da Saúde.

c) DO-O: Declaração de óbito original (preenchida pelo médico).

d) DO-N: Declaração de óbito nova (obtida na pesquisa GPP).

Page 13: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

12

conhecimento da utilidade da informação contida no documento, para estudos epidemiológicos e de Saúde Pública, e uma possível intenção velada de omitir a ocorrência do evento podem ser acrescentados como prováveis razões. Tais atitudes causam lacuna nas esta-tísticas e redundam, consequentemente, em inadequa-

do planejamento de ações relevantes e insubstituíveis dos setores governamentais, principalmente, voltados à saúde materno-infantil.

A comparação dos três bancos de dados relativos às mortes femininas de dez a 49 anos, das capitais de estados brasileiros, do 1° semestre de 2002, desta

Revisão do fator de correção de mortes maternas

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):7-14, jan-mar 2010

Tabela 2 - Fatores de ajuste Aa e Bb para causas maternas (CM) e para mortes maternas (MM) segundo região. Capitais brasileiras, 1º semestre de 2002

Região

Fator de ajuste Aa Fator de ajuste Bb

(DO-N)c

(DO-O)d

(DO-N)e

(SIM/MS)e

CM MM CM MM

Norte 1,28 1,08 1,10 0,93

Nordeste 2,03 1,76 1,25 1,17

Sudeste 1,55 1,35 1,35 1,28

Sul 2,17 1,83 1,30 1,10

Centro-oeste 1,56 1,10 1,32 1,47

Brasil 1,66 1,40 1,27 1,19

a) Razões entre os totais de óbitos obtidos na Pesquisa GPP.

b) Razões entre os totais de óbitos obtidos nesta pesquisa.

c) e d) Pesquisa GPP6

e) Nesta pesquisa

Tabela 3 - Razão de mortalidade materna (RMM)a por 100 mil nascidos vivos e fatores de ajusteb A e B segundo fontes e regiões. Capitais brasileiras, 1º semestre de 2002

Região

Projeto GPP Neste estudo, com dados pareados

RMMDO-O

Fator de ajuste A

RMMc

DO-NRMM

SIM/MSFator deajuste B

RMMc

DO-N

Norte 56,0 1,08 60,5 65,0 0,93 60,5

Nordeste 41,5 1,76 73,2 57,9 1,17 67,7

Sudeste 33,7 1,35 45,4 37,4 1,28 47,9

Sul 22,9 1,83 42,0 38,1 1,10 41,9

Centro-oeste 44,8 1,10 49,3 33,6 1,47 49,4

Brasil 38,8 1,40 54,3 45,4 1,19 54,0

a) Conforme definição da OMS9

b) A - Razões entre os totais de óbitos obtidos na Projeto GPP; B - Razões entre os totais de óbitos obtidos nesta pesquisa

c) As razões de mortalidade materna baseadas nas DO-N do Projeto GPP deveriam apresentar os mesmos valores; entretanto, isto não aconteceu, pois, neste estudo era necessário o pareamento das DO das três fontes. Com isto, houve perda de 135 DO, resultando em RMM com valores minimamente diferentes.

Page 14: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

13

pesquisa, permitiu avaliar indiretamente a atuação de Comitês de Morte Materna e/ou de técnicos da vigilância epidemiológica, responsáveis pelo resgate de novos dados sobre essas mulheres. Com o ganho detectado, pode ser aventada a hipótese de que tanto os Comitês como os técnicos vêm atuando satisfatoriamente. Deve ser lembrado, no entanto, que, apesar de uma boa cobertura nos estados e capitais, ainda não engloba a totalidade dos municípios. Assim, na falta dos Comitês, seria importante a atuação da vigilância epidemiológi-ca. Recomenda-se altamente, tanto para uma melhor assistência e prevenção dos agravos ocorridos no ciclo gravídico-puerperal, como para o aprimoramento das estatísticas, que haja expansão do número e fortaleci-mento dos Comitês de Morte Materna locais.

Na comparação dos resultados neste estudo, a ação dos órgãos de investigação resultou no esperado, isto é, houve diminuição das diferenças, pois as subenume-rações foram de 38,9% para 21,4%, considerando as mortes por causas maternas e de 30% para 16%, no caso das mortes maternas. Conclui-se que os fatores de correção anteriores estavam superdimensionados, pois resultaram somente da comparação entre as DO-O e DO-N. Em face da metodologia aqui adotada, sugere-se que os fatores estimados sejam adotados no nível das capitais, mesmo tendo havido pequena perda de 135 DO (4,1%), no pareamento dos três bancos, representando uma provável limitação deste estudo.

Outro ponto a ser mencionado é que a análise dos dados possibilitou, ainda, uma melhor exploração das diferenças conceituais entre as mortes por causas

maternas e mortes maternas. Sabe-se que os mé-dicos quase nunca preenchem o item da DO referente ao intervalo de tempo entre o parto e a morte.10 Esse fato pode favorecer classificações equivocadas, pois alguns casos declarados como morte materna pode-riam ter ocorrido, na verdade, depois de 42 dias ou, mais raramente, após um ano do parto; neste caso não seriam mortes maternas e sim mortes por causas maternas, ocasionando superenumeração das mor-tes maternas. As informações aqui obtidas mostram que, na prática, não há compensação entre as mortes maternas não declaradas pelos médicos como tais e aquelas atestadas indevidamente.10 Aspecto importante refere-se ao fato de que, analisando-se as DO-O, não foi possível distinguir mortes maternas das tardias e das sequelas de morte materna, pois, o momento da morte, no ciclo gravídico-puerperal, dificilmente é anotado pelo médico na DO, apesar de haver normas e espaços na DO para preencher tais informações.

No momento atual, em que as Metas do Milênio11 fo-calizam a necessária redução da mortalidade materna, em 75%, até 2015, o aprimoramento dessa informação é um dos grandes desafios a serem vencidos pelos órgãos ligados à identificação, investigação e correção dos dados relativos às mortes maternas.

As investigações dos óbitos de mulheres em idade fértil devem continuar, pois, desta forma, os dados do SIM/MS tornar-se-ão cada vez mais confiáveis, servindo de subsídios para uma adequada análise epidemiológi-ca e consequente adoção de ações que venham reduzir as evitáveis mortes maternas.

Carolina Terra de Moraes Luizaga e colaboradores

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):7-14, jan-mar 2010

Referências

1. Laurenti R. Mortalidade materna: desafios para sua redução e a questão da mensuração e coleta de dados. Eurolac Conference; 2004 abr. 10-16;

Recife, PE.

2. Ministério da Saúde. Manual dos comitês de mortalidade materna. 3ª ed. Brasília: MS; 2007.

3. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. Banco de Dados dos Sistemas de Informação sobre Mortalidade (SIM) e Nascidos Vivos (SINASC): 1998 a 2004 [CD-ROM]. Brasília: MS; 2006.

4. Word Health Organization; United Nations International Children’s Emergency Fund. Revised

1990. Estimates of maternal mortality. A new approach by WHO and Unicef. WHO/Frh/Msm/96.11 Unicef/Pzn/96.1. Geneva: WHO; Unicef, 1996.

5. Laurenti R, Mello Jorge MHP, Gotlieb SLD. Reflexões sobre a mensuração da mortalidade materna. Cadernos de Saúde Pública 2000;16(1):23-30.

6. Ministério da Saúde. Estudo da mortalidade de mulheres de 10 a 49 anos, com ênfase na mortalidade materna. Relatório final. Brasília: MS; 2006.

7. Bouvier-Colle MH, Varnoux N, Costes P, Hatton F . Reasons for the underreporting of maternal mortality in France, as indicated by a survey of all deaths of

Page 15: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

14

Revisão do fator de correção de mortes maternas

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):7-14, jan-mar 2010

women of childbearing age. International Journal of Epidemiology 1991;20(3):717-721.

8. Laurenti R, Mello Jorge MHP, Gotlieb SLD. A mortalidade materna nas capitais brasileiras: algumas características e estimativa de um fator de ajuste. Revista Brasileira de Epidemiologia 2004;

7:(4):449-460.

9- Organização Mundial da Saúde. Classificação estatística internacional de doenças e problemas relacionados à saúde. Décima revisão (CID-10). São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; 1995.

10. Laurenti R, Mello Jorge MHP, Gotlieb SLD. Mortes maternas e mortes por causas maternas. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2008;

17(4):283-292.

11. Sachs JD, McArthur JW. The Millennium Project: a plan for meeting the Millennium Development Goals [Internet]. Published online January 12, 2005 [cited 2008 Jul]. Available from: http://image.thelancet.com/extras/04art12121web.pdf

Recebidoem06/10/2008 Aprovadoem03/10/2009

Page 16: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

15

Visceral Leishmaniasis Epidemic in Campo Grande, State of Mato Grosso do Sul, Brazil, from 2002 to 2006

Artigo originAl Epidemia de leishmaniose visceral no

Município de Campo Grande-MS, 2002 a 2006

Endereço para correspondência: Ministério da Saúde, Rua Belizário Lima 236, Campo Grande-MS, Brasil. CEP: 79004-270E-mail: [email protected]

Mara Beatriz Grotta FurlanSecretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde, Campo Grande-MS, Brasil

ResumoEste estudo tem o objetivo de descrever a epidemia de leishmaniose visceral no município de Campo Grande, Mato Grosso do

Sul. Foram analisados os casos de leishmaniose visceral notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação desde 2002, ano de início da epidemia até o ano 2006. Nesse período ocorreram 568 casos e 43 óbitos (letalidade de 7,7%), sendo que 72,1% dos óbitos (31/43) ocorreram na faixa etária maior de 40 anos, na sua maioria associada à coinfecção com outros patógenos. A maior incidência ocorreu na faixa etária menor de cinco anos. Três das sete regiões administrativas concentraram 67,6% dos casos. As análises realizadas mostraram a evolução da epidemia, desde o seu início em 2002, tendo as incidências permanecido altas até 2006, a despeito das medidas de controle.

Palavras-chave: leishmaniose visceral; Leishmania chagasi; epidemia; letalidade.

SummaryThis study aims to describe the visceral leishmaniasis epidemic in the municipality of Campo Grande, Mato Grosso

do Sul State, Brazil. Cases of visceral leishmaniasis registered in the Information System for Notifiable Diseases since 2002 – when the epidemic started – up to 2006 were analyzed. During that period there were 568 cases and 43 deaths (7.7% lethality) and 72.1% of deaths occurred in patients aged over 40 years (31 out of 43 patients), mostly associated with co-infection with other pathogens. The highest incidence occurred in the age group under 5 years old. Three of the seven administrative regions have concentrated 67.6% of the cases. The analysis has shown the course of the epidemic, since its beginning, in 2002, and that the incidence remained high up to 2006, in spite of the control measures.

Key words: visceral leishmaniasis; Leishmania chagasi; epidemic; lethality.

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):15-24, jan-mar 2010

Page 17: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

16

Introdução

Nos últimos vinte anos tem sido registrado o au-mento do número de casos de leishmaniose visceral (LV) tanto no Brasil como em diversos países da Ásia, África, Américas e Europa.1 Anualmente, estima-se que ocorram 600 mil novos casos clínicos2 e 75 mil óbitos por LV em todo o mundo.3 Cerca de 90% dos casos são registrados em apenas seis países, incluindo o Brasil.4 O aumento da incidência da LV está associado às modificações do meio ambiente, à migração, ao processo desordenado de urbanização e aos fatores de risco individuais como a aids e desnutrição.5

No Brasil, a LV foi descrita inicialmente na década de 1930 em áreas rurais da Região Nordeste, que concentrava 90% dos casos registrados no país até a década de 1990.6 Atualmente, é uma doença endêmica em quatro das cinco regiões, exceto na Região Sul, tendo aumentado sua importância no contexto da saúde pública devido à expansão da área geográfica e à urbanização.7

A despeito das medidas de controle desenvolvidas no Brasil nos últimos vinte anos, ainda não há consenso sobre o impacto dessas medidas,8 tendo sido regis-trado o aumento da incidência em centros urbanos e epidemias em grandes cidades das regiões Nordeste, Sudeste e Centro-oeste.9-11

Em Mato Grosso do Sul, desde a década de 1980 a LV esteve restrita a dois municípios do Estado. A partir de 1995 a doença atingiu outros municípios, desta-cando-se a epidemia no município de Três Lagoas, no ano 2001.12 Em 1998 foi registrado o primeiro caso autóctone de LV canina em Campo Grande-MS.13 Em inquérito sorológico canino realizado em 1998 em diferentes áreas da cidade, foram examinados 6.204 cães, dos quais 1,3% resultaram soropositivos. No ano 2000 foi identificado pela primeira vez o vetor Lutzomyia longipalpis14 e em 2001 examinaram-se 3.250 cães dos quais 2,1% foram soropositivos. Em 2002 foram notificados os primeiros casos humanos autóctones, caracterizando o início da epidemia de LV na capital do Estado.

As medidas emergenciais de controle consistiram na redução do reservatório canino (eliminação de cães soropositivos) e controle do vetor (aplicação de inseti-cida residual). Entretanto, a despeito dessas medidas, registrou-se o aumento progressivo da incidência de casos humanos.

Este estudo tem o objetivo de descrever a epidemia de leishmaniose visceral no município de Campo Grande no período de 2002 a 2006.

Metodologia

O Município de Campo Grande, capital do Estado de Mato Grosso do Sul, tem uma população estimada em 765.247 habitantes.15 A média anual da temperatura é de 23°C e apresenta uma estação chuvosa no verão e seca no inverno. A área urbana é constituída por sete regiões administrativas: Segredo, Prosa, Anhan-duizinho, Centro, Bandeira, Imbirussu e Lagoa. A urbanização é de 98,6% e caracteriza-se pela expansão horizontal e vegetação abundante.

Os dados foram obtidos das fichas de investigação do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) dos casos de LV registrados no período de 2002 a 2006. Para o cálculo da incidência foram utilizadas as estimativas populacionais do IBGE dos anos 2002 a 2006,15 residentes no município de Campo Grande e classificados como confirmados. Os casos foram confirmados através dos métodos imunológicos (Imunofluorescência indireta – IFI e Enzyme-Linked Immunosorbent Assay – ELISA) e/ou exames parasitológicos (visualização do parasita em lâmina ou cultura). Para o cálculo da incidência foram utilizadas as estimativas populacionais do IBGE dos anos 2002 a 2006 e dados fornecidos pela Secre-taria Municipal de Saúde. Os dados dos inquéritos sorológicos caninos e dos imóveis com aplicação de

Epidemia de leishmaniose visceral em Campo Grande-MS

No Brasil, a LV foi descrita inicialmente na década de 1930 em áreas rurais da Região Nordeste, que concentrava 90% dos casos registrados no país até a década de 1990. Atualmemte, é uma doença endêmica em quatro das cinco regiões, exceto na Região Sul, tendo aumentado sua importância no contexto da saúde pública devido à expansão da área geográfica e à urbanização.

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):15-24, jan-mar 2010

Page 18: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

17

inseticida foram fornecidos pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ). Os dados demográficos, delimitação geográfica e mapas das regiões administrativas foram fornecidos pelo Instituto Municipal de Planejamento Urbano. Determinou-se a frequência anual dos casos em cada região administrativa de acordo com faixa etária, sexo e evolução clínica. Com a base do Sinan/Módulo Dados, determinou-se o período entre a data de notificação e do início dos sintomas de acordo com a evolução clínica: casos curados e dos óbitos. Por meio de planilha Excel/Módulo Ferramentas/Análise de dados, obteve-se as respectivas Médias, Medianas, Desvios Padrão e Intervalos de Confiança. Para análise estatística foram utilizados os testes two-sample t-test e Mediana de Mood, considerados p< 0,05 significativo e Intervalo de confiança (IC) de 95%.

Considerações éticasO estudo foi realizado com dados secundários, sem

riscos à população de estudo e sem a identificação nominal dos sujeitos.

Resultados

No período de 2002 a 2006 foram registrados 568 casos confirmados de LV humana residentes em Campo Grande, com idade que variou de três meses até 93 anos (Média: 25,6; Desvio Padrão: 22,3). Vinte e oito por cento dos casos (160/568) eram menores de cinco anos e 64% (363/568) eram do sexo masculino. Febre, esplenomegalia e hepatomegalia estavam presentes em

95%, 85% e 78% dos casos, respectivamente. Febre e hepatoesplenomegalia estavam presentes em 69% dos casos e seis casos (1%) não tiveram registro desses sintomas.

O diagnóstico parasitológico foi obtido em 66% dos casos (376/568), 27% (155/568) foram confirmados por meio de testes imunológicos e 7% (37/568) não tinham registro de comprovação laboratorial.

O período entre a data da notificação do caso e o início dos sintomas da doença variou de zero a 385 dias (IC 38,6-48,3:Média:43,4; Mediana:21,0; Desvio Padrão:58,7), diferindo entre os casos que evoluíram para cura e os que evoluíram para óbito: nos casos com evolução para cura, o período variou de 0 a 385 dias (IC 37,1-47,1: Média:42,0; Mediana:20,0; Desvio Padrão:58,1) e nos casos com evolução para óbito o período variou de zero a 243 dias (IC 40,1-78,4: Média:59,5; Mediana:41,0; Desvio Padrão:63,2). Segundo o two-sample t-test não houve diferença estatisticamente significante entre as médias (p-valor = 0,086) e o teste da mediana de Mood demonstrou diferença estatisticamente significante entre as Media-nas (p-valor =0,013).

A estimativa de incidência de LV para toda a população variou de 3,1 casos/100.000 habitantes no primeiro ano (2002) até o máximo de 21,3 ca-sos/100.000 habitantes em 2006. Crianças menores de cinco anos tiveram o maior risco, com incidência que variou de 11,3 até 64,3 casos/100.000 habitantes. A segunda população com maior risco foram aqueles com idade de 60 e mais anos: a incidência variou de

Mara Beatriz Grotta Furlan

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):15-24, jan-mar 2010

Tabela 1 - Distribuição do número de casos e da incidência (por 100.000 hab.) de leishmaniose visceral segundo faixa etária e ano calendário em Campo Grande-MS. Brasil, 2002 a 2006

Faixa etária

2002 2003 2004 2005 2006 Total

Casos Incidência Casos Incidência Casos Incidência Casos Incidência Casos Incidência Casos Incidência

< 5 7 11,3 28 44,3 40 62,1 41 61,1 44 64,3 160 43,0

5 a 9 2 3,0 9 13,3 18 26,1 22 31,0 14 19,1 65 22,4

10 a 19 5 3,5 18 12,5 8 4,0 18 12,0 10 7,0 60 22,4

20 a 39 5 2,1 17 7,0 33 13,2 39 15,0 45 17,0 139 13,0

40 a 59 2 1,5 17 13,0 22 16,0 24 17,0 27 18,4 92 16,1

60 e + 1 2,0 8 16,0 10 19,1 14 26,0 19 34,2 52 24,0

TOTAL 22 3,1 97 14,0 131 18,2 158 21,0 160 21,3 568 18,5

Fonte: Sistemade Informação de Agravos de Notificação (Sinan)

Page 19: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

18

2,0 casos /100.000 habitantes no ano 2002 até 34,2 casos/100.000 habitantes, no ano 2006 (Tabela 1).

Dos 568 casos confirmados, 559 continham infor-mação sobre a evolução clínica dos quais 43 foram registrados como óbitos (letalidade de 7,7%), que variou entre homens e mulheres: no sexo masculino a letalidade foi 8,9% (32/358) e no sexo feminino 5,5% (11/201) (Tabela 2). Os casos com registro de infecção associada apresentaram a letalidade de 16,5% (20/121) e nos casos sem o registro de infeção a letalidade foi 4,5% (23/447).

Do total de 568 casos, 121 continham informação de coinfecção com LV: 28 casos (23,1%) com infecção por HIV; nove (7,4%) com tuberculose e 84 casos (69,4%) com “outras”infeções.

No primeiro ano da epidemia (2002) os casos foram registrados em todas as regiões administrativas. (Figura 1). Ao longo do período, a região Anhandui-zinho se destacou das demais regiões em número de casos de LV (178/568), seguida das regiões Lagoa (127/568) e Imbirussu (79/568). Sessenta e sete por cento de todos os casos residiam nessas áreas.

A maior incidência foi registrada na região Lagoa, em 2005 (41,3 casos/100.000 habitantes), quase duas vezes maior do que a incidência para toda a cidade no mesmo ano (21,0 casos/100.000 habitantes). Diferen-temente, a menor incidência em 2005 foi observada na região Centro, com 8,2 casos/100.000 habitantes, correspondendo a 39% da incidência de toda a cidade

(21,0 casos/100.000 habitantes) (Figura 1). A incidên-cia foi maior nas regiões Lagoa (27,4 casos/100.000 habitantes), Anhanduizinho (24,0 casos/100.000 ha-bitantes) e Imbirussu (18,5 casos/100.000 habitantes) (Figura 2). A letalidade também variou nas diversas regiões: 7,8% na região Anhanduizinho; 6,3% na região Lagoa; 15,1% no Centro; 9,1% na região Bandeira; 6,7% na região Segredo; 5,4% na região Prosa e 5,1% na região Imbirussu.

Em inquéritos sorológicos caninos realizados no período de 2002 a 2006, foram coletadas 116.642 amostras, das quais 29.493 foram soropositivas (25,3%). Foram borrifados 463.232 imóveis no período de 2003 a 2006 sendo que no ano 2004 o número de imóveis borrifados foi maior do que nos demais anos, sendo reduzido progressivamente até o ano 2006 (Tabela 3).

Discussão

As análises aqui realizadas caracterizaram a epide-mia de leishmaniose visceral e o aumento da incidência ao longo do período analisado. A confirmação do diagnóstico parasitológico obtido em 66% dos casos pode denotar um provável erro de preenchimento e/ou a ausência do registro na ficha de investigação, considerando-se que um estudo realizado no Hospital Universitário, Unidade Referência para diagnóstico e tratamento da LV em Mato Grosso do Sul, demonstrou

Epidemia de leishmaniose visceral em Campo Grande-MS

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):15-24, jan-mar 2010

Tabela 2 - Distribuição do número de casos, óbitos e letalidade (%) de leishmaniose visceral, por faixa etária e sexo em Campo Grande-MS. Brasil, 2002 a 2006

Faixa etária

SexoAmbos os sexos

Masculino Feminino

Óbitos Casos Letalidade Óbitos Casos Letalidade Óbitos Casos Letalidade

< 5 – 81 – 2 74 2,7 2 155 1,3

5 a 9 – 40 – 1 25 4,0 1 65 1,5

10 a 19 1 30 3,3 – 30 – 1 60 1,7

20 a 39 5 97 5,1 3 40 7,5 8 137 5,8

40 a 59 14 70 20,0 1 22 4,5 15 92 16,3

60 e + 12 40 30,0 4 11 36,3 16 51 31,3

TOTAL 32 358 8,9 11 201 5,5 43 559 7,7

Fonte: Sistemade Informação de Agravos de Notificação (Sinan)

Page 20: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

19

Centro

Mara Beatriz Grotta Furlan

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):15-24, jan-mar 2010

Figura 1 - Distribuição do número de casos e incidência de leishmaniose visceral segundo as regiões administrativas e ano calendário em Campo Grande-MS. Brasil, 2002 a 2006

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan)

Região Segredo60

50

40

30

20

10

02002 2003 2004 2005 2006

50

40

30

20

10

0

60

50

40

30

20

10

02002 2003 2004 2005 2006

0

Região Anhanduizinho50

40

30

20

10

60

50

40

30

20

10

02002 2003 2004 2005 2006

Região Bandeira50

40

30

20

10

0

50

40

30

20

10

02002 2003 2004 2005 2006

Região Lagoa60 50

40

30

20

10

0

60

50

40

30

20

10

02002 2003 2004 2005 2006

50

40

30

20

10

Região Imbirussu

0

60

50

40

30

20

10

02002 2003 2004 2005 2006

50

40

30

20

10

0

Região Prosa

60

50

40

30

20

10

02002 2003 2004 2005 2006

50

40

30

20

10

0

Região Centro

120100

80604020

02002 2003 2004 2005 2006

140

180160

Total do Município50

40

30

20

10

0

N° d

e ca

sos

N° d

e ca

sos

N° d

e ca

sos

N° d

e ca

sos

N° d

e ca

sos

N° d

e ca

sos

N° d

e ca

sos

N° d

e ca

sos

Inci

dênc

ia p

/100

.000

hab

.In

cidê

ncia

p/1

00.0

00 h

ab.

Inci

dênc

ia p

/100

.000

hab

.In

cidê

ncia

p/1

00.0

00 h

ab.

Inci

dênc

ia p

/100

.000

hab

.In

cidê

ncia

p/1

00.0

00 h

ab.

Inci

dênc

ia p

/100

.000

hab

.In

cidê

ncia

p/1

00.0

00 h

ab.

Anos Anos

Anos Anos

Anos Anos

Anos Anos

Page 21: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

20

Epidemia de leishmaniose visceral em Campo Grande-MS

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):15-24, jan-mar 2010

Figura 2 - Distribuição da incidência de leishmaniose visceral segundo região administrativa em Campo Grande-MS. Brasil, 2002 a 2006

N

Tabela 3 - Número de imóveis borrifados, número de amostras caninas examinadas, positivas e proporção de positivas. Campo Grande, MS. 2002 a 2006

Ano Imóveis borrifados

Amostras caninas

Examinadas Positivas %

2002 – 7.668 731 9,5

2003 63.011 13.885 5.275 38,0

2004 205.884 12.876 4.314 34,0

2005 121.656 28.677 9.569 33,0

2006 77.111 53.536 9.604 18,0

TOTAL 463.232 116.642 26.793 23,7

Fonte: Centro de Controle de Zoonoses

N

S 3. Segredo

5. Imbirussu

6. Anhanduizinho

1. Bandeira

2. Centro

7. Lagoa

4. Prosa

Região1234567

Incidencia9,7

14,411,215,218,524,027,4

O L

Page 22: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

21

Mara Beatriz Grotta Furlan

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):15-24, jan-mar 2010

a presença do parasita em 83,6% dos casos de LV estudados.16

A ocorrência de epidemia de LV em área urbana de capitais brasileiras, primeiramente descrita nos municípios de Teresina-PI,17 São Luís-MA18 e Natal-RN9 na Região Nordeste do país, demonstrou a mudança do perfil epidemiológico da doença, como influência do processo migratório do campo para as grandes cidades.19 Entretanto, passados mais de 20 anos, ainda ocorrem epidemias em capitais como Belo Horizon-te-MG,10 Palmas-TO20 e Cuiabá-MT11 assim como a descrita em Campo Grande, no presente estudo.

A abertura de avenidas acompanhando os cursos dos córregos e a derrubada da vegetação para constru-ção de casas populares foram fatores de mudança do ambiente21 que podem ter contribuído para o aumento da densidade do vetor L. longipalpis22 e da introdução da doença em Campo Grande.

O diagnóstico de LV em cão procedente do muni-cípio de Corumbá, a mais antiga área de ocorrência da LV canina e humana no Estado,23 pode evidenciar a existência de um fluxo migratório de animais doentes procedentes de áreas endêmicas, que poderia explicar a ocorrência da doença na população canina e intro-dução da doença na população humana.

Os resultados deste estudo demonstraram uma distribuição desigual da ocorrência da LV nas regiões. Verificou-se que os dois primeiros casos diagnostica-dos eram residentes nas regiões Norte (Segredo) e Sul (Anhanduizinho), demonstrando a provável dispersão da ocorrência da doença, desde o início da epidemia. A distribuição da LV se mostrou claramente heterogênea e 67,6% dos casos concentraram-se em três regiões. A incidência maior nas Regiões Sul e Oeste (Lagoa e Anhanduizinho) pode ter sido devido às condições ambientais diferenciadas e mais propícias para a adaptação do vetor.

As prováveis causas da diferença da incidência de casos humanos nas diferentes regiões podem também estar relacionadas com a deficiência das medidas de controle e da capacidade de detecção e notificação dos casos suspeitos. Contudo, para uma possível explica-ção devem ser consideradas a densidade do vetor L. longipalpis e a prevalência da população canina. Um estudo realizado em Belo Horizonte demonstrou que 84% dos casos de LV humana estavam relacionados a casos caninos.24 Em Araçatuba, o inquérito canino censitário mostrou uma prevalência geral de 12,1%,

mas que variou entre 4,1% a 25,8% nos diferentes setores do município.25

As regiões Anhanduizinho e Prosa podem ser consideradas as áreas com maior aumento da popu-lação susceptível devido à construção de conjuntos habitacionais, ampliação de avenidas e construção de parques de lazer ao longo das margens dos córregos. As diferenças na incidência entre as regiões indicam que as medidas de vigilância devem contemplar os diferentes contextos capazes de influenciar a ocor-rência da doença.

Os dados apresentados sugerem que ao longo do período houve, provavelmente, a redução das medidas direcionadas ao controle do vetor e o incremento das medidas de controle do reservatório. Os resultados obtidos quanto à letalidade dos casos com coinfec-ção, são semelhantes aos obtidos no Município de Três Lagoas-MS12 e ao citado na literatura, de que a infecção é uma das principais complicações da LV e associa-se a um curso fatal em cerca de 50% dos casos.26 A dificuldade de acesso aos serviços de saú-de, retardando o diagnóstico, pode ser considerado um importante fator para a ocorrência dos óbitos. O diagnóstico tardio dos casos que foram a óbito pode ter contribuído para essa evolução, como descrito no Estado de Mato Grosso.11

Supõe-se que mesmo antes da introdução da doença, as unidades de saúde já notificassem casos de LV procedentes de outros municípios, conside-rando-se então que os profissionais de saúde teriam o conhecimento da sintomatologia da doença, o que influenciaria positivamente na detecção mais precoce dos casos suspeitos.

A abertura de avenidas acompanhando os cursos dos córregos e a derrubada da vegetação para construção de casas populares foram fatores de mudança do ambiente que podem ter contribuído para o aumento da densidade do vetor L. longipalpis e da introdução da doença em Campo Grande.

Page 23: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

22

Epidemia de leishmaniose visceral em Campo Grande-MS

Referências

Os resultados obtidos neste estudo mostraram a mé-dia de 43,4 dias entre o início dos sintomas e a notifica-ção dos casos, denotando uma possível deficiência das ações de vigilância epidemiológica e, provavelmente, das demais medidas. Considera-se, todavia que, por se tratar de doença que apresenta um curso insidioso e o aparecimento do quadro clínico clássico ser variável, não seria esperada a detecção imediata dos casos. Por outro lado, como os sinais iniciais podem apresentar-se de forma discreta, os pacientes não procuram o atendimento até que a doença se manifeste. No entanto, como esse período variou de zero a 385 dias, houve, provavelmente, erro de preenchimento da ficha de notificação, considerando ser improvável que esses casos tenham sido diagnosticados no mesmo dia do início dos sintomas.

Em um estudo realizado no município de Três Lagoas12 observou-se que as manifestações clínicas da doença foram precoces, podendo-se inferir que condições semelhantes poderiam ser encontradas em Campo Grande.

O aumento da incidência e a ocorrência de epidemia de LV em centros urbanos tem sido objeto de estudos referentes ao efeito das medidas de controle na redução de incidência da doença, demonstrando que a baixa sensibilidade dos exames empregados na rotina para o diagnóstico na população canina, a morosidade na remoção dos cães soropositivos e a reposição dos cães infectados podem ser os fatores que interferem na efeti-vidade da medida.27-29 Todavia, outros autores demons-traram que a eliminação de cães soropositivos pode ser fator relevante na redução da incidência da LV.30

Uma revisão bibliográfica incluindo 66 estudos sobre a efetividade das medidas de controle no Brasil, infere sobre a inconsistência dos achados em diferentes trabalhos sobre o efeito da eliminação de cães soropositivos na redução de incidência de casos

humanos.8 Neste estudo, como os percentuais de positi-vidade canina são referentes ao número de amostras de diferentes regiões ou bairros e não estão detalhadas as áreas de abrangência e a periodicidade em que foram realizados, ou mesmo se estão sobrepostos os dados de uma mesma área onde já tinham sido realizados o inquérito e a eliminação dos cães soropositivos, não foi possível analisar a relação entre a eliminação de cães e a ocorrência de casos humanos.

Os resultados deste estudo mostraram o aumento progressivo da incidência da LV em todos os anos, porém, caso as medidas de controle de fato não tenham impacto, a extinção da epidemia poderia ocorrer pela progressiva redução da população susceptível, deter-minada pela ocorrência de imunidade duradoura e pela presença de infectados assintomáticos.15

Outro aspecto de fundamental importância, rela-cionado à efetividade das estratégias de controle da LV em centros urbanos, seria a falta de sustentabilidade de um sistema de vigilância permanente, com a utili-zação extensiva de recursos humanos e financeiros.31 Considera-se que a deficiência de recursos humanos capacitados e outros fatores operacionais, especial-mente em municípios de médio e grande porte, têm inviabilizado a execução das medidas de prevenção e controle da leishmaniose visceral preconizadas pelo Ministério da Saúde no Brasil.

Agradecimentos

A autora agradece especialmente ao Dr. Sergio Sou-za da Cunha (Universidade Federal de Mato Grosso) pela valiosa orientação, ao Dr. Pedro Sadi Monteiro (Universidade de Brasília), à Dra Maria da Glória Tei-xeira (Universidade Federal da Bahia) e aos técnicos da Secretaria Municipal de Higiene e Saúde Pública do Município de Campo Grande.

1. Anstead GM, Chandrasekar B, Zhao W, Yang J, Perez LE, Melby PC. Malnutrition alters the innate immune response and increases early visceralization following Leishmania donovani infection. Infection and Immunity 2001; 69:4709-4718.

2. Desjeux P. Human leishmaniases: epidemiology and public health aspects. World Health Statistics Quaterly 1992;45:267-275.

3. Wijeyaratne PM, Jones-Arsenault LK, Murphy CJ. Endemic disease and development: the leishmaniases. Acta Tropica 1994;56:349-364.

4. Chappuis F, Sundar S, Hailu A, Ghalib H, Rijal S, Peeling RW, et al. What are the needs for

diagnosis, treatment and control? Nature Reviews Microbiology 2007; 5:873-882.

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):15-24, jan-mar 2010

Page 24: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

23

5. Desjeux P. The increase in risk factors for leishmaniasis worldwide. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine & Hygiene 2001;

95:239-243.

6. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. Manual de vigilância e controle da leishmaniose visceral. Brasília: MS; 2003.

7. Contijo CMF, Melo MN. Leishmaniose visceral no Brasil: quadro atual, desafios e perspectivas. Revista Brasileira de Epidemiologia 2004;7:338-349.

8. Palatnik-de-Souza CB, Santos WR, França-Silva JC, Costa RT, Reis AB, Palatnik M, et al. Impact of canine control on the epidemiology of canine and human visceral leishmaniasis in Brazil. American Journal of Medicine and Hygiene 2001;65:510-517.

9. Jerônimo SM, Oliveira RM, Mackay S, Costa RM, Sweet J, Nascimento ET, et al. An urban outbreak of visceral leishmaniasis in Natal, Brazil. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine & Hygiene 1994;88:386-388.

10. Bevilacqua PD, Paixão HH, Modena CM, Castro MCPS. Urbanização da leishmaniose visceral em Belo Horizonte. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia 2001;53:1-8.

11. Mestre GL, Fontes CJ. The spread of the visceral leishmaniasis epidemic in the State of Mato Grosso, 1998-2005. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 2007;40:42-48.

12. Oliveira ALL, Paniago AMM, Dorval MCE, Oshiro ET, Leal CR, Sanches M, et al. Emergent outbreak of visceral leishmaniasis in Mato Grosso do Sul State. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 2006;39:446-450.

13. Silva ES, Oliveira AG, Carvalho FG, Silva EA, Friozi E, Farias R. Primeiro relato de leishmaniose visceral canina em área urbana do município de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Resumos do 36o Congresso Brasileiro de Medicina Tropical; 2000 Feb. 20-24; São Luís, MA. Brasília; 2000.

14. Oliveira AG, Falcão AL, Brazil RP. Primeiro encontro de Lutzomyia longipalpis (Lutz & Neiva, 1912) na área urbana de Campo Grande, MS. Revista de Saúde Pública 2000;34:654-655.

15. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estimativas populacionais. Rio de Janeiro: IBGE; 2006 [acesso ago 2007]. Disponível em: ftp://ftp.ibge.gov.br/Estimativas_Projecoes_Populacao.

16. Brustolini YM, Cunha RV, Dorval ME, Oshiro ET, Pontes ERJC, Oliveira NA, et al. Comparison of conventional methods for diagnosis of Visceral Leishmaniasis in children of the Center-West Region of Brazil. The Brazilian Journal of Infectious Diseases 2007;11:106-109.

17. Costa CHN, Pereira HF, Araujo MV. Visceral Leishmaniasis epidemic in the State of Piaui, Brazil, 1980-1986. Revista de Saúde Pública 1990;

24:361-372.

18. Costa JML, Viana GMC, Saldanha ACR, Nascimento MDSB, Alvim AC, Burattini MN, et al. Visceral Leishmaniasis in the State of Maranhão, Brazil: evolution of an epidemic. Cadernos de Saúde Pública 1995;11:321-324.

19. Vieira JBF, Coelho GE. Leishmaniose visceral ou calazar: aspectos epidemiológicos e de controle. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 1998;31:85-92.

20. Glória MRB. Leishmaniose visceral: situação epidemiológica e distribuição espacial, município de Palmas, Tocantins [dissertação de Mestrado].

Rio de Janeiro (RJ): Escola Nacional de Saúde Pública; 2006.

21. Silva EA, Andreotti R, Honer MR. Behavior of Lutzomyia longipalpis, the main vector of American visceral leishmaniasis, in Campo Grande, State of Mato Grosso do Sul. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 2007;40:420-425.

22. Oliveira AG, Galati EAB, Oliveira O, Oliveira GRO, Espindola AR, Dorval MEC, et al. Abundance of Lutzomyia longipalpis (Diptera: Psychodidae: Phlebotominae) and urban transmission of visceral leishmaniasis in Campo Grande, state of Mato Grosso do Sul, Brazil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 2006;101:869-874.

23. Nunes VLB, Yamamoto YY, Rego FA, Dorval MEC, Galati EAB, Oshiro ET, et al. Aspectos epidemiológicos da leishmaniose visceral em cães de Corumbá, Mato Grosso do Sul. Brazilian Journal of Veterinary Reserch 1988;8:17-21.

24. Margonari C, Freitas CR, Ribeiro RC, Moura ACM, Timbó M, Gripp AH, et al. Epidemiology of visceral leishmaniasis through spatial analysis, in Belo Horizonte municipality, state of Minas Gerais,

Brazil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 2006;101:31-38.

Mara Beatriz Grotta Furlan

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):15-24, jan-mar 2010

Page 25: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

24

25. Camargo-Neves VL, Katz G, Rodas LAC, Polleto DW, Lage LC, Spínola RMF, et al. Use of spatial analysis tools in the epidemiological surveillance of American visceral leishmaniasis, Araçatuba, Sao Paulo, Brazil, 1998-1999. Cadernos de Saúde Pública 2001;17:1263-1267.

26. Barral A, Pedral-Sampaio D, Grimaldi Jr G, Momen H, McMahon-Pratt D, Ribeiro de Jesus A, et al. Leishmaniasis in Bahia, Brazil: evidence that Leishmania amazonensis produces a wide spectrum of clinical disease. American Journal of Medicine and Hygiene 1991;44:536-546.

27. Braga MDM, Coêlho ICB, Pompeu MML, Evans TG, MacAullife IT, Teixeira MJ, et al. Control of canine visceral leishmaniasis: comparison of results from a rapid elimination program of serum-reactive dogs using an immunoenzyme assay and slower elimination of serum-reactive dogs using filter paper elution indirect immunofluorescence. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 1998;31:419-424.

28. Courtenay O, Quinnell RJ, Garcez LM, Shaw JJ, Dye C. Infectiousness in a cohort of brazilian dogs: why culling fails to control visceral leishmaniasis in areas of high transmission. Journal of Infectious Diseases 2002;186:1314-1320.

29. Andrade AM, Queiroz LH, Nunes GR, Perri SHV, Nunes CM. Dog replacement in an area endemic for visceral leishmaniasis. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 2007;40:594-595.

30. Ashford DA, David JR, Freire M, David R, Sherlock I, Eulalio MC, Sampaio DP, Badaró R. Studies on control of visceral leishmaniasis: impact of dog control on canine and human visceral leishmaniasis in Jacobina, Bahia, Brazil. American Journal of Tropical Medicine and Hygiene 1998;59:53-57.

31. Werneck GL, Farias TJC, Farias GC, Silva FO, Chaves FC, Gouvêa MV, Costa CHN, Carvalho FA. Avaliação da efetividade das estratégias de controle da leishmaniose visceral na cidade de Teresina, Estado do Piauí, Brasil: resultados do inquérito inicial – 2004. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2008;17:87-96.

Recebidoem02/01/2009 Aprovadoem25/09/2009

Epidemia de leishmaniose visceral em Campo Grande-MS

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):15-24, jan-mar 2010

Page 26: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

25

Aspects Related to Vaccines Conservation at Primary Care Health Units in the City of Recife, State of Pernambuco, Brazil

Artigo originAl Aspectos relacionados à conservação de

vacinas nas unidades básicas de saúde da cidade do Recife – Pernambuco

Endereço para correspondência: Avenida Beira Rio, 701, Apto 501, Madalena, Recife-PE, Brasil. CEP 50610-100E-mail: [email protected]

Giselle Karine Muniz de MeloDepartamento de Saúde Pública e Ciências do Comportamento, Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças, Universidade de Pernambuco, Recife-PE, Brasil

Janice Vasconcelos OliveiraDepartamento de Saúde Pública e Ciências do Comportamento, Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças, Universidade de Pernambuco, Recife-PE, Brasil

Maria Sandra AndradeDepartamento de Saúde Pública e Ciências do Comportamento, Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças, Universidade de Pernambuco, Recife-PE, Brasil

ResumoEstudo descritivo, realizado em 39 unidades básicas de saúde (UBS) com o objetivo de caracterizar o conhecimento e os

procedimentos dos vacinadores na conservação das vacinas nas UBS em Recife, Pernambuco. Quarenta e um por cento dos vacinadores não realizam a ambientação das bobinas de gelo reciclável; 61,5% não monitoram a temperatura da caixa térmica após o preparo; 38,5% não trocam as bobinas no início do turno da tarde. Ressalta-se que 46,1% das geladeiras apresentam vedação inadequada e há inexistência de termômetros de cabo extensor para monitoramento das caixas térmicas. Esses são fatores que podem contribuir para a exposição dos imunobiológicos a variações de temperaturas e consequente inativação dos componentes imunogênicos. Recomenda-se prioridade na aquisição dos equipamentos para a conservação das vacinas e o monitoramento por meio de supervisão das atividades dos vacinadores. Os resultados apontam para a importância de capacitações que trabalhem a partir de diagnósticos de situações locais e alerta que a sucessão de pequenas falhas pode comprometer a credibilidade que a vacinação vem adquirindo nas últimas décadas.

Palavras-chave: vacinas; programas de imunização; rede de frio; centros de saúde.

SummaryThat is a descriptive study, performed in 39 primary care health units, aiming to describe the knowledge and procedures

of the vaccinators related to vaccines conservation at primary care health units in Recife, capital city of Pernambuco. Data show that 41% of vaccinators do not check the appropriate temperature (2-8°C) of ice packs in the cold box; 61.5% do not monitor the cold box temperature after preparation; 38.5% do not change the ice packs in the beginning of the afternoon shift. Moreover, 46.1% of the refrigerators have inadequate gasket and that there were no outdoor cable thermometers to monitor the cold box. These factors may contribute to the exposure of immunobiological drugs to temperature flow and consequently to the inactivation of immunogenic components. Priority is recommended for the acquisition of storage equipment for vaccines conservation, and for monitoring, through supervision, the vaccinators activities. Those results point to the importance of capacity building based on the local situation, and alert that the succession of small failures can hamper the credibility that vaccination has been acquiring in the late decades.

Key words: vaccines; immunization programs; cold chain; health centers.

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):25-32, jan-mar 2010

Page 27: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

26 Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):25-32, jan-mar 2010

Introdução

A vacinação vem ocupando um lugar de destaque entre os instrumentos de saúde pública utilizados pelos governos e autoridades sanitárias. Vista como respon-sável pelo declínio acelerado da morbimortalidade por doenças imunopreveníveis nas últimas décadas em nosso país, a vacina tem a finalidade de assegurar uma proteção específica ao indivíduo imunizado,1 sendo considerada, por muitos, responsável por salvar inúmeras vidas e evitar a propagação de uma série de doenças.2,3 O uso crescente da utilização dos imuno-biológicos, no entanto, traz consigo a necessidade de garantir a qualidade desses produtos.2

Observa-se escassez de estudos nacionais sobre a conservação de imunobiológicos nos serviços de saú-de, aspecto fundamental para a manutenção e avanço no controle das doenças imunopreveníveis. Ressalta-se, no entanto, a disponibilidade de detalhada e rígida normatização nacional sobre o tema disponibilizada pelo Programa Nacional de Imunização (PNI).

A institucionalização do PNI, criado em 1973, sob a responsabilidade do Ministério da Saúde (MS), traz pontos referentes ao controle de qualidade de soros e vacinas, através da implantação da Rede de Frio (RF) – processo de armazenamento, transporte e manipu-lação das vacinas utilizadas nos Programas de Vacina-ção, com o objetivo de assegurar suas características imunogênicas.4,5 No entanto, a segurança e eficácia dos imunobiológicos só serão asseguradas se os profissio-nais de saúde, especialmente os que atuam na sala de

vacinação, utilizarem os procedimentos corretos de transporte, manipulação e estocagem.4,6

Considerando o exposto, esse estudo teve por obje-tivo caracterizar o conhecimento e procedimentos dos técnicos e auxiliares de Enfermagem na conservação dos imunobiológicos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) em Recife-PE. Procurou-se construir o perfil profissional e avaliar a adequação dos procedimentos utilizados em relação às normas estabelecidas pelo PNI e RF. Espera-se assim contribuir com os gestores das UBS, oferecendo-lhes elementos para o planejamento de estratégias voltadas para a qualificação profissional dos vacinadores através de atividades de educação permanente e formação profissional.

Metodologia

Trata-se de um estudo descritivo, realizado no período de novembro de 2006 a março de 2007, em salas de vacinação das UBS da cidade do Recife-PE. Para o estudo foram consideradas as UBS do Programa de Saúde da Família integrantes dos Distritos Sanitários (DS) e que possuem a seguinte distribuição (e numero de UBS abrangidos por eles): DS I (09), DS II (18), DS III (21), DS IV (16), DS V (12) e DS VI (27), perfazendo um total de 103 UBS.

O município de Recife possui uma área de 217.494 km2, uma população de 1.422.905 habitantes, com 118.041 entre zero e quatro anos;7 apresenta uma mortalidade infantil de 15,5 por 1.000 nascidos vivos, considerando apenas os óbitos e nascimentos coletados pelo Sistema de Informação sobre Mortali-dade e pelo Sistema de Informação de Nascidos Vivos (SIM/Sinasc). Possui 94 bairros que se agrupam em 18 microrregiões e estas em seis regiões político-admi-nistrativas, correspondentes, na estrutura da Secretaria de Saúde, aos DS. Funcionam no município 103 UBS,8 nas quais atuam 271 equipes do programa de saúde da família, compostas por 1.770 agentes comunitários de saúde.

A população de estudo foram todos os vacinado-res que trabalham em UBS no município de Recife, Pernambuco. Para cálculo da amostra, foram consi-derados como estratos os DS (n=6) e como unidades amostrais as UBS (n=103). A amostra foi calculada em função do número de UBS de cada DS, cálculo esse baseado em técnicas de processos probabilísticos com

Conservação de vacinas em unidades básicas de saúde

O município de Recife possui uma área de 217.494 km2, uma população de 1.422.905 habitantes, com 118.041 entre zero e quatro anos; apresenta uma mortalidade infantil de 15,5 por 1.000 nascidos vivos, considerando apenas os óbitos e nascimentos coletados pelo Sistema de Informação sobre Mortalidade e pelo Sistema de Informação de Nascidos Vivos (SIM/Sinasc).

Page 28: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

27 Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):25-32, jan-mar 2010

estratificação proporcional, assim distribuída: DS I (04), DS II (07), DS III (08), DS IV (06), DS V (04) e DS VI (10), resultando em uma amostra de 39 UBS.

Foi aplicado um teste piloto em vacinadores de uma unidade de saúde a fim de estimar uma preva-lência inicial de erros relacionados ao conhecimento dos vacinadores sobre rede de frio; foi verificado que 20% dos vacinadores desconheciam os procedimentos de conservação de vacinas. Utilizou-se um intervalo de confiança de 95%, prevalência estimada de 20%, erro tolerável de amostragem de 5% e perdas de até 10%. Após o dimensionamento da amostra por estrato, foi realizado sorteio aleatório simples entre todas as unidades de cada DS, não levando em consideração características ou particularidades das UBS. O único critério de exclusão foi a recusa do vacinador em participar do estudo. A coleta dos dados foi realizada mediante aplicação de formulários estruturados, com-postos de duas partes: a primeira, respondida pelos técnicos e auxiliares de enfermagem, e a segunda, que confrontava as questões respondidas pelos sujeitos da pesquisa, preenchida pelos pesquisadores mediante observação local das salas de vacina. Os dados foram analisados utilizando-se o software Epidemiologia em Microinformática – EPI INFO versão 5.0 1b.9

Definiram-se como categorias de análise os dados referentes aos aspectos gerais dos sujeitos pesquisa-dos, tais como: categoria profissional; sexo; idade; escolaridade; tempo de trabalho em sala de vacina; e treinamentos específicos em sala de vacinas. Foram também analisadas as respostas dos sujeitos pesquisa-dos com relação às atividades diárias e conhecimentos específicos dos procedimentos relacionados à con-servação de imunobiológicos. A terceira categoria de análise foi a observação dos procedimentos adotados nas salas de vacina, realizada pelos pesquisadores em visitas às UBS, seguindo um roteiro previamente definido. As categorias analisadas foram: capacidade e condições de vedação da geladeira e caixa térmica; organização interna da geladeira; monitoramento da temperatura da geladeira e caixa térmica; e rotina de trabalho dos vacinadores durante toda a jornada de trabalho.

Realizou-se a análise descritiva a partir de tabelas de distribuição de frequência. Adicionalmente foi cal-culado o intervalo de confiança para as prevalências estimadas. Em toda a análise foi utilizado o nível de significância de 5%.

Considerações éticasO estudo está em consonância com a Resolução n°

196 de 10/ 10/ 1996 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Pernambuco.

Resultados

O percentual das UBS avaliadas (n=39) variou de 33,3% a 38,8% de unidades amostrais por estrato e foi considerado homogêneo. Foram entrevistados 39 profissionais, sendo 28 técnicos de enfermagem (71,8%) e 11 auxiliares de enfermagem (28,2%); 89,7% dos entrevistados trabalham há mais de um ano em sala de vacina (Tabela 1). Quando categorizados por DS (n=6) verifica-se que apenas em dois DS os vacinadores de todas as UBS pesquisadas receberam treinamentos específicos para trabalhar em sala de vacina no último ano.

A Tabela 2 mostra variáveis referentes à categoria “atividade diária” realizada pelos técnicos e auxiliares de enfermagem e contém perguntas sobre a rotina executada no dia-a-dia, relacionada a procedimentos que visam a garantir a temperatura adequada dos imunobiológicos. As respostas referentes à categoria “conhecimentos específicos”, que permitem avaliar os sujeitos pesquisados quanto ao suporte teórico que pos-suem acerca de conceitos básicos de conservação dos imunobiológicos, estão demonstradas na Tabela 3.

Nas visitas, verificou-se que todas as geladeiras utilizadas são do tipo doméstico e todas as UBS apresentavam um equipamento para conservação das vacinas. A capacidade de armazenamento dessas geladeiras era de 280 litros ou superior, em 87,2% das unidades (34), e com capacidade inferior, em 12,8% das unidades (05). Considerando a organização do espaço interno das geladeiras utilizadas, a começar pelos congeladores (ou evaporadores), observa-se que em 41,0% dessas unidades (16 UBS) as geladeiras apresentavam todo o espaço do congelador preenchido pelo gelo reciclável e em 59,0% (23 UBS) as geladeiras não apresentavam esta condição. Sobre a organização das prateleiras do equipamento refrigerado, em 66,7% das unidades pesquisadas (26 UBS) armazenavam-se as vacinas virais na primeira prateleira das geladeiras e em 33,3% (13 UBS) verificou-se a presença de vaci-nas bacterianas na primeira prateleira das geladeiras; 30,8% das unidades pesquisadas (12 UBS) armaze-

Giselle Karine Muniz de Melo e colaboradores

Page 29: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

28 Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):25-32, jan-mar 2010

Conservação de vacinas em unidades básicas de saúde

Tabela 1 - Descrição da amostra dos profissionais de saúde (n=39) segundo sexo, faixa etária, escolaridade, tempo de trabalho em sala de vacinação e treinamentos recebidos em Recife- PE. Brasil, 2007

Características N % IC95%

SexoMasculino 2 5,1 0,6 – 17,3

Feminino 37 94,9 82,7 – 99,4

Faixa Etária

18 - 28 4 10,3 2,8 – 24,2

29 - 39 17 43,6 27,8 – 60,4

40 - 50 16 41,0 25,6 – 57,9

> 50 anos 2 5,1 0,6 – 17,3

Escolaridade

Ensino Fundamental Completo 1 2,6 0,1 – 13,5

Ensino Médio Completo 37 94,8 82,7 – 99,4

Ensino Superior Completo 1 2,6 0,6 – 17,3

Tempo de trabalho em sala de vacinação

< 1 ano 4 10,3 2,8 – 24,2

De 1 – 4 anos 14 35,8 21,2 – 52,8

Mais de 4 anos 21 53,9 37,2 – 69,9

Treinamento em vacinaçãoSim 38 97,4 86,5 – 99,9

Não 1 2,6 0,1 – 13,5

Nº. treinamentos no último anoa

Um 20 52,6 35,8 – 69,0

De dois a quatro 8 21,1 9,6 – 37,3

Mais de quatro 2 5,3 0,6 – 17,7

Nenhum 8 21,0 9,6 – 37,3

a) Um dos pesquisados não respondeu a esta questão.

Tabela 2 - Distribuição e proporção dos técnicos e auxiliares de enfermagem (n=39), segundo a categoria “atividade diária” em Recife-PE. Brasil, 2007

Atividade diáriaSim Não

N % N %

Leitura diária de temperatura 39 100,0 – –

Leitura no início do trabalho 39 100,0 – –

Leitura no fim do trabalho 38 97,4 01 2,6

Temperatura registrada no mapa de controle 39 100,0 – –

Utiliza termômetro de cabo extensor após preparo da CTa 15 38,5 24 61,5

Troca das bobinas de gelo ao iniciar a jornada da tarde 24 61,5 15 38,5

Realiza ambientação das bobinas de gelo 23 59,0 16 41,0

Degelo e limpeza da geladeira a cada 15 dias ou com camada de gelo superior a 0,5 cm 32 82,1 07 17,9

a) CT: Caixa térmica

Page 30: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

29 Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):25-32, jan-mar 2010

Giselle Karine Muniz de Melo e colaboradores

navam vacinas bacterianas na segunda prateleira das geladeiras e apresentavam termômetro de máxima e mínima, corretamente posicionado. Vinte e sete UBS (69,2%) armazenavam outros imunobiológicos na segunda prateleira das geladeiras, juntamente com o posicionamento incorreto do termômetro de máxima e mínima. Com relação à terceira prateleira verificou-se que 30,8% (12) não a possuíam, dos que a possuíam, 81,5% (22) a utilizam para armazenamento de esto-ques de vacinas bacterianas e diluentes. Em relação à prateleira inferior, 100% dos equipamentos não estavam preenchidos em sua totalidade com garrafas com água e corante (Tabela 4) e utilizavam garrafas de diversos tamanhos e tipos.

A presença de produtos na porta da geladeira foi observada em dois (5,1%) equipamentos. Destes, 20 equipamentos refrigerados (51,3%) não apresentavam condição adequada de vedação quando realizado o teste para a sua verificação, conforme recomendado pelo Manual de RF do PNI.4

A capacidade das caixas térmicas (CT) apresentou-se adequada (armazenavam entre sete a 12 litros) em todas as UBS. Do total das caixas térmicas preparadas nos dias de visita dos avaliadores (79,5%), 83,9% apresentavam tampas perfeitamente ajustadas, não apresentavam rachaduras e/ou furos e não possuíam drenos, de acordo com o preconizado pelo Manual de RF do PNI4 e 87,1% mantinham-se fora do alcance da luz solar direta e distante de fontes de calor.

Discussão

Os profissionais de enfermagem têm participação efetiva no processo de conservação dos imunobioló-gicos, fato já verificado por outros autores em estudos realizados no serviço público.10-13 A legislação que regulamenta a prática de enfermagem dispõe que os profissionais de enfermagem estão aptos a executarem tal atividade. Vale ressaltar que o Conselho Federal de Enfermagem propõe a qualificação profissional por parte dos auxiliares de enfermagem.

A maioria dos pesquisados trabalha há mais de três anos em sala de vacinação, o que pressupõe maior experiência profissional. Associa-se a isso o expressivo relato dos pesquisados de que receberam treinamentos específicos em salas de vacina, o que sugere profissionais mais capacitados. No entanto, existem profissionais que não receberam nenhum treinamento no último ano. Ressalta-se a importância da educação continuada em sala de vacina uma vez que novas vacinas são incorporadas, novos conhecimentos adicionados, tornando imprescindível a capacitação na prática cotidiana das salas de vacina. A importância da educação continuada deve-se ao fato de se privilegiar as oportunidades educativas surgidas no cotidiano dos trabalhadores de saúde. A partir da análise do contexto podem ser estabelecidas opções através das quais se indicariam alternativas para desenvolver o processo de capacitação, tais como o desenvolvi-

Tabela 3 - Distribuição dos técnicos e auxiliares de enfermagem (n=39) segundo a categoria “conhecimentos específicos” em Recife-PE. Brasil, 2007

Conhecimentos específicosSim Não Não sabe

N % N % N %

Vacinas deterioram-se em temperatura ambiente 38 97,4 – – 01 2,6

CTa adequadas mantêm a temperatura por até 24 h 22 56,4 14 35,9 03 7,7

Temperatura da CT varia entre +2°C e +8°C 35 89,8 02 5,1 02 5,1

Garrafas na prateleira inferior contribuem na manutenção da temperatura da geladeira 35 89,8 02 5,1 02 5,1

Vacinas virais podem ser submetidas a temperaturas negativas 13 33,3 22 56,4 04 10,3

Vacinas bacterianas podem ser submetidas a temperaturas negativas 03 7,7 33 84,6 03 7,7

a) CT: Caixa térmica

Page 31: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

30 Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):25-32, jan-mar 2010

Conservação de vacinas em unidades básicas de saúde

Tabela 4 - Distribuição dos itens observados pelos pesquisadores relacionados às condições gerais da geladeira utilizada na sala de vacinação (n=39) por ocasião das visitas realizadas nas unidades básicas de saúde em Recife-PE. Brasil, 2007

Itens observadosSim Não

N % N %

Capacidade da geladeira igual ou superior a 280 litros 34 87,2 5 12,8

Gelo reciclável ocupando todo o espaço do congelador 16 41,0 23 59,0

Presença de produtos na porta da geladeira 2 5,1 37 94,9

Primeira prateleira armazenando vacinas virais 26 66,7 13 33,3

Segunda prateleira armazenando vacinas bacterianas, soros em uso e termômetro de máxima e mínima 12 30,8 27 69,2

Terceira prateleira armazenando estoque de vacinas bacterianas, toxóides, soros e diluentesa 22 81,5 5 18,5

Prateleira inferior preenchida com garrafas com água e corante – – 39 100,0

Condição adequada de vedação da geladeira 19 48,7 20 51,3

a) Doze (30,8%) das geladeiras não apresentavam a terceira prateleira

mento de conhecimentos e habilidades que “poderão adquirir-se gradual e progressivamente, segundo se apresenta um problema relacionado com o objetivo educacional”.14

Observou-se que todos os profissionais pesquisados conhecem a importância da realização da leitura diária de temperaturas, realizada no início e no final da jor-nada de trabalho, e do registro em impresso próprio, notificando as alterações ao seu supervisor. Resultado também encontrado por Aranda10 (2006). No entanto, verifica-se que 61,5% dos sujeitos da pesquisa não fazem o monitoramento da temperatura após o preparo da caixa térmica, especialmente pela falta de equipa-mento destinado a esta finalidade. Entre os que não realizam o monitoramento utilizando o termômetro de cabo extensor, 38,5% também não realizam a troca das bobinas de gelo reciclável no inicio da jornada de trabalho do turno da tarde. Alia-se a isso o fato de que 41% dos pesquisados não realizam a ambientação das bobinas de gelo. Estes fatores podem contribuir para a exposição dos imunobiológicos a variações de temperaturas que podem provocar a inativação dos componentes imunogênicos.4,15

Ressalta-se que a utilização do termômetro de cabo extensor após o preparo das caixas, recomendado pelo Manual de RF do PNI,4 não faz parte da rotina dos vacinadores, verificando-se a falta do equipamento destinado a esta finalidade na maioria das unidades visitadas. Para um bom gerenciamento do Programa de Imunização das UBS a aquisição e utilização do equi-pamento deve ser prioridade por ser de fundamental importância para assegurar a eficácia das vacinas.

Quando questionados sobre as vacinas que podem ser submetidas a temperaturas negativas, observa-se bom conhecimento sobre as vacinas bacterianas, dife-rentemente dos resultados apresentados para vacinas virais. No entanto, considerando a baixa utilização de termômetro de cabo extensor após o preparo das caixas térmicas e o importante número de vacinadores que não realizam a ambientação das bobinas, pode haver exposição dos imunobiológicos a temperaturas negativas e consequente risco de redução de sua efe-tividade por esta exposição. Resultados referentes ao desconhecimento pelas equipes técnicas dos prejuízos acarretados pelas baixas temperaturas foram encontra-dos em estudo realizado em São Paulo em 2006.10

Page 32: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

31 Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):25-32, jan-mar 2010

Giselle Karine Muniz de Melo e colaboradores

Apesar do bom nível de informação que possuem os técnicos e auxiliares de enfermagem pesquisados, deve-se considerar que foram observadas falhas referentes à organização interna da geladeira, o que pode comprometer a qualidade dos imunobiológicos. Falhas no cumprimento da organização interna da ge-ladeira são referidas em outros estudos.10-12 No estudo das UBS no município de Recife, foram encontradas bobinas de gelo reciclável na posição horizontal e vertical (não ocupando todo o espaço do congelador) e número insuficiente de garrafas de água com corante na última prateleira, além da utilização de garrafas inadequadas. A importância da verificação das normas de organização interna da geladeira, relacionadas ao armazenamento das bobinas de gelo reciclável no evaporador e ao acondicionamento das garrafas com água, prende-se ao fato de contribuir para a lenta ele-vação da temperatura na eventualidade de interrupção do fornecimento de energia elétrica ou defeito do equipamento.4 Esses procedimentos de armazenamen-to das bobinas de gelo reciclável no evaporador e de acondicionamento das garrafas com água, exequíveis e eficazes no auxilio da manutenção da temperatura adequada, não são observados na maioria das UBS, o que sugere que os vacinadores não assimilaram como prática de rotina da sala de vacinação a necessidade da execução correta de tais procedimentos.

Foi observado quanto a segunda prateleira das geladeiras, que apenas 30,8% das UBS, armazenavam corretamente as vacinas bacterianas e apresentava os termômetros de máxima e mínima, no centro, em posição vertical,6,14 estando os mesmos ausentes ou presentes em outros locais de difícil visualização, o que pode comprometer o correto monitoramento da temperatura interna da geladeira.

Em relação às caixas térmicas, verificou-se que a maioria delas apresentava adequada condição de

vedação e mantinha-se fora do alcance da luz solar e distante de fontes de calor, como recomenda o Manual de RF do PNI.4

Os profissionais pesquisados demonstram conhe-cimento teórico do processo, mas não executam esse conhecimento na prática, por falta de infraestrutura nas unidades para a conservação adequada das vaci-nas, uma vez que foram verificados equipamentos com problemas (46,1% das geladeiras com inadequada condição de vedação) e a falta de equipamentos (termômetros). Dificuldades na gestão das atividades também impedem a prática adequada do processo de conservação de vacinas. Essas dificuldades de gestão decorrem da ausência de procedimentos operacionais padronizados (“procedimentos padrão”) que possam ser verificados e monitorados através de um trabalho de supervisão, permitindo assim o controle das ativida-des e a minimização da dicotomia teoria e prática.

Este estudo aponta para a necessidade de capacitar os profissionais que operacionalizam a conservação das vacinas nas UBS, prioritariamente com o estabelecimen-to de educação continuada e da presença sistemática de um trabalho de supervisão que colabore para a aplicação do aprendizado dessa capacitação na prática cotidiana, tendo em vista o fato de que as informações teóricas fornecidas pelos vacinadores durante esta pesquisa nem sempre estavam totalmente de acordo com a prática observada. Ações educativas no ambiente de trabalho podem representar oportunidades para instrumentalizá-lo como eixo educativo, privilegiando o enfrentamento e a solução de problemas.14 O moni-toramento das atividades educativas possibilitaria as correções e ajustes do processo de capacitação.

É importante refletir que a sucessão de pequenas falhas pode comprometer a credibilidade que os imunobiológicos vêm conquistando nessas últimas décadas, sendo fundamental para a manutenção dessa credibilidade a orientação dos profissionais e o moni-toramento dos processos que envolvem a manipulação dessas substâncias, por parte dos supervisores das unidades e gestores de saúde do município. Para essa orientação e monitoramento, deve-se utilizar o suporte teórico e metodológico disponibilizado pelo PNI/MS como instrumento para ações capazes de operar uma transformação das atividades realizadas nas salas de vacinas, de maneira que se possa atingir, assim, a qualidade na prestação do serviço e contribuir para o controle das doenças imunopreveníves.

Quando questionados sobre as vacinas que podem ser submetidas a temperaturas negativas, observa-se bom conhecimento sobre as vacinas bacterianas, diferentemente dos resultados apresentados para vacinas virais.

Page 33: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

32 Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):25-32, jan-mar 2010

1. Abbas AK, Lichtman AH. Cellular and molecular immunology. 5ª ed. New York: Elsevier; 2005.

2. Ponte CF. Vacinação, controle de qualidade e produção de vacinas no Brasil a partir de 1960. História, Saúde Manguinhos 2003;10(2):619-653.

3. Temporão JG. O Programa Nacional de Imunizações (PNI): origens e desenvolvimento. História, Saúde Manguinhos 2003;10(2):601-617.

4. Fundação Nacional de Saúde. Manual de rede de frio. 3ª ed. Brasília: Funasa; 2001.

5. Secretaria de Saúde do Paraná. Programa de imunizações e sala de vacina. Curitiba: SES; 2005.

6. Fundação Nacional de Saúde. Capacitação de pessoal em sala de vacinação – manual do treinando. Brasília: Funasa; 2001.

7. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo e Sociedade: estatísticas para a cidadania. Revista do censo [Internet]. 2000 edição n. 10 [acesso 2007 maio 8]. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/censo/.

8. Secretaria da Administração do Estado de Pernambuco; Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco. Informações municipais [Internet]. Recife: SEA [acesso 2007 maio 8]. Disponível em: http://www.sare.pe.gov.br.

9. Dean AG, Dean JA, Burton AH, Dicker RC. Epi Info, version 5: a word processing, database and statistics program for epidemiology on micro-computers. Atlanta: Centers for Disease Control and

Prevention; 1990.

10. Aranda CMSS, Moraes JC. Rede de frio para a conservação de vacinas em unidades públicas do município de São Paulo: conhecimento e prática. Revista Brasileira de Epidemiologia 2006;

9(2):172-185.

11. Lima GZ, Baldy JLS, Souza MSO. Uso de refrigeradores para conservação de vacinas nas unidades de saúde do município de Londrina, Paraná. Pediatria (São Paulo) 1985;7:17-19.

12. Mendes IF, Pral MM, Miyaki C, Gallina NMF, Petricevich VL, Fang FLW, et al. Avaliação das condições de estocagem de vacinas vivas, atenuadas contra sarampo, em postos de vacinação credenciados e em centros de saúde do estado de São Paulo. Revista de Saúde Publica 1985;19:444-449.

13. Oliveira SA, Homma A, Mahul DC, Loureiro MLP, Camillo-Coura L. Avaliação das condições de estocagem de vacina contra o sarampo nas unidades sanitárias dos municípios de Niterói e São Gonçalo, Estado do Rio de Janeiro. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo 1991;33(4):313-318.

14. Haddad J, Mojica MJ, Chang M; Organizacion Panamericana de la Salud. Processo de educación permanente en salud. Educación Médica y Salud 1987;21:11-29.

15. Fundação Nacional de Saúde. Manual de normas de vacinação. Brasília: Funasa; 2001.

Recebidoem25/06/2008 Aprovadoem23/09/2009

Referências

Conservação de vacinas em unidades básicas de saúde

Page 34: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

33

Epidemiological Features of Tuberculosis in the City of Teresina, Piaui State, Brazil, from 1999 to 2005

Perfil epidemiológico da tuberculose no Município de Teresina-PI, no período de 1999 a 2005

Endereço para correspondência: Universidade Federal do Piauí, Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Parasitologia e Microbiologia, Campus Ministro Petrônio Portella, Ininga, Teresina-PI, Brasil. CEP: 64049-550E-mail: [email protected]; [email protected]

Danieli Maria Matias CoêlhoFundação Municipal de Saúde, Teresina-PI, Brasil

Rosângela Lopes VianaFundação Municipal de Saúde, Teresina-PI, Brasil

Clarice Alves MadeiraSecretaria de Estado da Saúde do Piauí, Teresina-PI, Brasil

Luiz Oscar Cardoso FerreiraFaculdade de Ciências Médicas, Universidade de Pernambuco, Recife-PE, Brasil

Viriato CampeloDepartamento de Parasitologia e Microbiologia, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Piauí, Teresina-PI, Brasil

Artigo originAl

ResumoO trabalho descreve o perfil epidemiológico da tuberculose no município de Teresina-PI, Brasil, de 1999 a 2005. É um

estudo epidemiológico descritivo de série histórica com dados coletados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) e no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Município, sobre casos novos notificados de tuberculose, residentes em Teresina-PI, analisando-se características demográficas, socioeconômicas e clínicas. Foi encontrada uma taxa média de incidência de casos novos de 50,1/100.000 hab. e coeficiente médio de mortalidade de 3,3 por 100.000 hab. Os doentes são predominantemente do sexo masculino (64,0%), com menos de sete anos de escolaridade (70,33%) e de adultos jovens (58,8%), apesar de a maior taxa de incidência ter sido observada na faixa etária de 50 anos e mais. Em 80,23% dos casos, encontrou-se a forma pulmonar e quanto à evolução, 71,07% foram curados e 17,15% tiveram alta por transferência. O trabalho possibilitou conhecer as características da população estudada e as dificuldades, no Sinan, do Programa de Controle da Tuberculose no município de Teresina.

Palavras-chave: tuberculose; perfil epidemiológico; Teresina-PI.

SummaryThis work describes the epidemiological features of tuberculosis in the city of Teresina, Piauí State, Brazil, from

1999 to 2005. This is a descriptive epidemiologic study of historical series on newly reported tuberculosis cases among residents of Teresina, State of Piaui, by analyzing their demographic, socioeconomic and clinical characteristics. Data were collected from the Information System for Notifiable Diseases (Sinan) and from the Information System on Mortality in Teresina. The median incidence rate of new cases was 50.1/100,000 population and the mean mortality coefficient was 3.3/100,000 population. The disease has affected mostly males (64.0%), those who had less than 7 ye-ars of formal education (70.33%) and in young adults (58.8%), although the highest incidence rate was found in the age group of 50 and over. Pulmonary tuberculosis was found in 80.23% of all cases. As for the course of the disease, 71.07% of patients were cured and 17.15% were transferred from one health service to another. This study has helped understand the characteristics of the population studied and the difficulties of the Tuberculosis Control Program in the city of Teresina as far as Sinan is concerned.

Key words: tuberculosis; epidemiological profile; Teresina, Piauí.

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):33-42, jan-mar 2010

Page 35: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

34

Tuberculose em Teresina-PI

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):33-42, jan-mar 2010

Introdução

A tuberculose é uma doença infecciosa crônica causada pelo Mycobacterium tuberculosis. A Organi-zação Mundial de Saúde (OMS) estima que um terço da humanidade seja infectada pelo bacilo da doença, com mais de oito milhões de casos novos e três milhões de mortes devido à enfermidade por ano.1,2

A tuberculose é hoje a maior causa de morbidade e mortalidade entre as doenças infecto-contagiosas no mundo, sendo responsável por um quarto das mortes evitáveis em adultos. Em março de 1993, a OMS declarou a tuberculose como uma emergência de âmbito mundial.2,3

Existe grande diferença na distribuição da doença nas diversas regiões do mundo: 21% dos infectados estão em países desenvolvidos, ao passo que 79% estão nos países pobres e em desenvolvimento. Outra diferença é que nos países desenvolvidos, a maior parte dos infectados situa-se na faixa etária acima de 50 anos e nos países em desenvolvimento, 80% dos infectados encontram-se entre 15 e 59 anos, portanto, na faixa de maior produtividade social. Do total de oito milhões de casos novos, 5% ocorrem em países desenvolvidos e 95% naqueles em desenvolvimento. Os coeficientes de incidência e de mortalidade nos países em desenvolvimento são de 171 e 60/100.000 hab. e nos desenvolvidos 23 e 2/100.000 hab., res-pectivamente.2

Portanto, pode-se dizer que a tuberculose é ree-mergente nos países ricos e permanecente nos países pobres.2 Dentre os fatores relacionados com este fato, destacam-se os sociais como determinantes associados à ocorrência da doença, como baixa renda familiar, educação precária, habitação precária/inexistente, famílias numerosas, adensamentos comunitários, má nutrição, alcoolismo e outras doenças infecciosas associadas.4-7 Outro fator que veio agravar a situação foi o advento da pandemia da síndrome da imunodefi-ciência adquirida (aids), pois quando comparado a um indivíduo não infectado, o indivíduo com infecção pelo HIV (o vírus da imunodeficiência humana) apresenta risco dez vezes maior de desenvolver a tuberculose.3 Por outro lado, a tuberculose é a terceira infecção oportunista mais frequente no momento do diagnóstico de caso de aids.3

Segundo o Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT), estima-se anualmente para o

país uma prevalência de 50 milhões de infectados, com cerca de 111.000 casos novos e 6.000 óbitos, e um coeficiente de incidência de 47,2/100.000 hab., variando de 29,6/100.000 hab. na região Centro-oeste para 53,1/100.000 hab. na região Nordeste.2,8 Oito estados brasileiros apresentam incidências acima da média nacional, sendo os maiores valores para o Rio de Janeiro e Amazonas e os menores para Goiás e Distrito Federal.2 Em 2005, o Piauí apresentava-se abaixo da média nacional, com 43,2 casos /100.000 hab. e Teresina acima da média com 50,2 /100.000 hab. Nas capitais, a doença apresenta as mais altas incidências devido à alta densidade demográfica e aos bolsões de pobreza, propiciando um elevado risco de infecção. Deve-se considerar também que, por haver maior oferta de serviços de saúde nessas cidades, existem melhores condições de notificação, diagnóstico e tratamento.5

O Brasil encontra-se na 15ª posição entre os 22 países de maiores cargas de casos de tuberculose no mundo.8 A maior concentração dos casos está entre 20 e 49 anos de idade.2

No Brasil, em 1975, foi criado o PNCT e em 1999, o Ministério da Saúde (MS) definiu a doença como prioridade entre as políticas públicas de saúde, estabe-lecendo diretrizes para ações descentralizadas entre as três esferas de governo (federal, estadual e municipal) e fixando metas para diagnosticar 70% dos casos espe-rados e curar pelo menos 85% desses casos.7

Este estudo tem o objetivo de traçar o perfil epidemiológico dos casos novos de tuberculose de residentes no Município de Teresina-PI, notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Pretende-se ainda, identificar os óbitos por tuberculose (A16.9, CID 10, 1997)9 e os óbitos por HIV associados com tuberculose (B20.0, CID 10,1997),9 de residentes em Teresina-PI, registrados no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), com a finalidade de realizar uma avaliação do seu comportamento nessa população, e, assim, contribuir para um melhor conhecimento da doença e melhor atuação dos profissionais de saúde quanto às ações de prevenção e controle.

Metodologia

Este trabalho consiste em um estudo epidemiológi-co descritivo de série histórica realizado no Município

Page 36: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

35

Danieli Maria Matias Coêlho e colaboradores

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):33-42, jan-mar 2010

de Teresina, no período de 1999 a 2005. Foi escolhida a série histórica a partir de 1999 devido o Município de Teresina ter passado para o sistema de gestão ple-na em 1996 e os dois anos subsequentes terem sido períodos de ajuste.

Teresina é a capital do Estado do Piauí e encontra-se localizada no Centro-Norte do estado e Meio-Norte do Nordeste brasileiro. Em 2007, sua população era de 815.060 habitantes. Segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2000), 94,7% da população reside em área urbana. O município possui uma superfície total de 1.702km2, sendo apenas 228 km2 de área urbana.9,10

A população de Teresina, segundo IBGE, no ano de 1999 era de 691.942 habitantes, sendo que 53,3% era do sexo feminino, 45,9% estava na faixa etária de 0 a 19 anos, 43% na faixa de 20 a 49 anos e 11 % na faixa de 50 anos e mais.10 Em 2005, a população era de 788.770 habitantes, sendo que 53,1% era do sexo feminino, 42,5% encontrava-se na faixa etária de 0 a 19 anos, 45,3% na faixa de 20 a 49 anos e 12,2% na faixa de 50 anos e mais.10 Observou-se nestes sete anos do estudo, que a população de Teresina teve um cres-cimento de 13,99%, mantendo-se a mesma proporção entre os sexos e crescimento de 5,53% na faixa etária de 0 a 19 anos, de 20,06% na faixa de 20 a 49 anos e 27,10% na faixa de 50 anos e mais.

Foram incluídos no estudo os casos novos de tuberculose de residentes no Município de Teresina, registrados no Sinan, bem como os óbitos por tuber-culose de residentes em Teresina registrados no SIM, ambos os sistemas sob gestão municipal da Fundação Municipal de Saúde (FMS) da Prefeitura de Teresina.

Considera-se, segundo o MS, como caso de tuber-culose todo indivíduo com diagnóstico confirmado por baciloscopia ou cultura e aquele em que o médico, com base nos dados clínico-epidemiológicos e no resultado de exames complementares, firma o diagnóstico de

tuberculose. Como “caso novo” considera-se o doente com tuberculose que nunca se submeteu à quimiote-rapia antituberculosa, fez uso de tuberculostáticos por menos de 30 dias, ou submeteu-se ao tratamento para tuberculose há cinco anos ou mais.7

Pesquisou-se o Sinan Windows versão 7.0, por meio das seguintes variáveis constantes na ficha de Investi-gação de tuberculose: faixa etária, escolaridade, sexo, forma clínica, diagnóstico baciloscópico, associação com o agravo aids, tratamento supervisionado e situa-ção de encerramento do caso. Utilizaram-se tabelas do programa Tabwin versão 3.2, do Sinan Windows versão 7.0, onde se observou que parte dos casos nos quais o paciente (caso novo) teve alta por transferência de uma Unidade de Saúde e foi notificado por transferência (modo de entrada) em outra Unidade, não estavam vinculados. Assim, foi realizada a vinculação manual, considerando-se o encerramento após a vinculação. Também foram impressos relatórios (Sinan) dos casos de duplicidade, pesquisando-se as duplicidades ver-dadeiras dos casos novos, ou seja, o mesmo paciente foi notificado, durante o mesmo tratamento, mais de uma vez pela mesma Unidade de Saúde.11 Nesses casos, um foi excluído dos registros da contagem. No SIM, foram pesquisados os óbitos tendo como causa básica a tuberculose (CID A16.9) e os óbitos por HIV associados com tuberculose (CID B.20.0).

Foram calculadas as taxas de incidência por sexo (masculino, feminino) e por faixa etária (0 a 19 anos, 20 a 49 anos e 50 anos e mais), dividindo-se o número de casos novos de tuberculose pela po-pulação e multiplicando-se por 100.000, para cada ano estudado; bem como as taxas médias dos casos novos, do coeficiente de incidência e do coeficiente de mortalidade, que consistem no somatório dos números absolutos, dividindo-se por sete. As tabelas foram construídas utilizando-se o programa Word e os gráficos utilizando-se o programa Excel do software Microsoft Office 2.000.

As bases populacionais por ano, sexo e faixa etária foram obtidas no site do Datasus.10

Considerações éticasO estudo utiliza dados secundários, respeitando-

se a confidencialidade e o anonimato dos sujeitos notificados nos Sistemas de Informação. A pesquisa foi registrada no Sistema Nacional de Ética e Pesquisa (Sisnep) – folha de rosto número 134510 – e apro-

Existe grande diferença na distribuição da doença nas diversas regiões do mundo: 21% dos infectados estão em países desenvolvidos, ao passo que 79% estão nos países pobres e em desenvolvimento.

Page 37: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

36 Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):33-42, jan-mar 2010

vada pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) – número do protocolo 0039.0-07, da Universidade Federal do Piauí (UFPI).

Resultados

No período de 1999 a 2005, foram notificados em Teresina, 2.600 casos novos de tuberculose por todas as formas clínicas, com média de 371 casos/ano (Tabe-la 1). Em relação aos dados sociodemográficos, foram encontrados 1.664 casos do sexo masculino (64%), e 931 casos do sexo feminino (35,8%) (Figura 1). Isto mostra uma razão de masculinidade de 1,78:1. A idade variou entre menor de um ano e maior de 80 anos. Apesar de 58,8% dos casos situarem-se entre 20 e 49 anos de idade, a maior taxa de incidência foi na faixa etária de 50 anos e mais (124,78/100.000 hab.). A taxa de incidência na faixa etária de 0 a 19 anos foi de 13,08/100.000 hab. e 65,64/100.000 na faixa de 20 a 49 anos (Figura 2). Dos 2.600 casos estudados, 794 casos (30,53%) possuíam até três anos de escolaridade (analfabetos ou semianalfabetos), 1.035 casos (39,80%) possuíam quatro a sete anos de escolaridade (ensino fundamental incompleto), 491 casos (18,88%) de oito a 11 anos de escolaridade (ensino médio incompleto ou completo) e 105 casos (4,03%) com mais de 12 anos de escolaridade (ensino médio completo ou ensino superior).

Com referência aos dados clínico-epidemiológicos, os casos ficaram distribuídos em 80,23% na forma pulmonar da doença, 17,23 % na forma extrapul-monar e 2,53% na forma pulmonar associada com a extrapulmonar. Em 82,11% dos casos, foi realizada a baciloscopia do escarro para o diagnóstico da tuberculose, sendo 65,05% com resultado positivo e 34,94% negativo. Quando investigada a comorbidade aids, encontrou-se a associação em 1,73 % dos casos (45 casos). Vale salientar que a informação sobre esta variável não estava disponível (ignorado/branco) em 89,57% dos casos. Com relação à administração do tratamento aos pacientes de tuberculose, 28% tiveram seu tratamento autoadministrado, enquanto 12,5% foram supervisionados por profissional de saúde (médico, enfermeiro, dentista, auxiliar ou técnico de enfermagem, atendente de consultório odontológico ou agente comunitário de saúde) ou alguém próximo ao paciente, considerado como responsável por seu tratamento pelo serviço de saúde – tratamento supervisionado (TS) – e em 59,5% a informação não estava disponível (ignorado/branco). Isso pode ser justificado pelo fato dessa variável ter entrado no sistema (Sinan) apenas em 2003 e considerada de preenchimento obrigatório somente no final de 2004, na versão 6.0 do Sinan Windows.12

Quanto à condição de encerramento dos casos novos notificados de residentes em Teresina e cons-

Tuberculose em Teresina-PI

Tabela 1 - Distribuição dos casos e do coeficiente de incidência (por 100.000 habitantes) e coeficiente de mortalidade (por 100.000 habitantes) por tuberculose, segundo o ano de ocorrência no Município de Teresina-PI. Brasil, 1999 a 2005

Anos Casos novos Coeficiente de incidência Coeficiente de mortalidade

1999 406 58 5,2

2000 363 50 4,6

2001 399 55 2,3

2002 354 48 3,6

2003 338 45 2,1

2004 375 49 2,3

2005 365 46 3,0

MÉDIA 371 50,1 3,3

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM); Fundação Municipal de Saúde de Teresina-PI, 2007.

Page 38: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

37 Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):33-42, jan-mar 2010

Danieli Maria Matias Coêlho e colaboradores

Figura 1 - Coeficiente de incidência de tuberculose (por 100.000 hab.), segundo o sexo e ano de ocorrência no Município de Teresina-PI, Brasil, 1999 a 2005

Figura 2 - Coeficiente de incidência de tuberculose (por 100.000 hab.), segundo faixa etária e ano de ocorrência no Município de Teresina-PI, Brasil, 1999 a 2005

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM); Fundação Municipal de Saúde de Teresina-PI, 2007.

180

160

140

120

100

80

60

40

20

01999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Média

Ano

0 a 19 anos 20 a 49 anos 50 anos e mais

Coefi

cien

te d

e in

cidê

ncia

p/1

00.0

00 h

ab.

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM); Fundação Municipal de Saúde de Teresina-PI, 2007.

90

80

70

60

50

40

30

20

10

01999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Média

Ano

Coefi

cien

te d

e in

cidê

ncia

p/1

00.0

00 h

ab.

FemininoMasculino

Page 39: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

38 Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):33-42, jan-mar 2010

Tuberculose em Teresina-PI

tantes no estudo, 71,07% apresentaram cura, 4,34 % abandonaram o tratamento, 17,15% foram transferidos e 4,26 % tiveram óbito (Tabela 2 e Figura 3), 1,92% tiveram mudança de diagnóstico, 0,11 % apresentaram tuberculose multiresistente e 1,11% apresentaram encerramento ignorado.

Na Figura 4, encontra-se a distribuição dos óbitos por tuberculose com um total de 171 e dos óbitos por HIV associados com tuberculose, com um total de 18 casos. O coeficiente de mortalidade por tuberculose em Teresina, no período de 1999 a 2005, variou de 2,1 a 5,2 por 100.000 hab., com média de 3,3 óbitos por 100.000 hab. (Tabela 1).

Discussão

O estudo mostrou que em relação ao número de casos novos notificados/ano, a taxa de incidência apresentou diminuição devido à pequena variação no número de casos, em relação ao aumento da popula-ção, nos anos de 1999 a 2005. A tuberculose afetou mais os indivíduos do sexo masculino, na faixa etária de 20 a 49 anos, faixa de maior produtividade, situação semelhante encontrada no Brasil1,2 e em outras capi-tais, como São Paulo-SP12 e Salvador-BA,5 bem como

em Teresina, em outros estudos realizados nos anos de 1981 a 199013 e 1999 a 2004.14

Apesar do maior número de casos na faixa etária de 20 a 49 anos, a maior taxa de incidência foi encon-trada na faixa de 50 anos e mais. Este fato constitui um problema de saúde pública, face ao crescimento populacional neste grupo, que foi de 27,1% na cidade, no período estudado, observando-se com isso, que a tuberculose em Teresina e no Brasil vem apresentando maior incidência nos maiores de 50 anos, conforme constatado no estudo de mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias no Município de Teresina, nos anos de 1971 a 2000;15 e no estudo realizado na cidade de Salvador, sobre o perfil da tuberculose na década de 1990.5 Nesta faixa etária a associação está relacionada ao aumento da expectativa de vida e à alta proporção de indivíduos com infecção latente de tuberculose, reativada pela ocorrência de desordens crônicas, evidenciando uma mudança no perfil da doença.5,16

Conforme estudo realizado no Município de Piripiri-PI, no período de 1997 a 2000,4 o percentual de casos de tuberculose encontrado nos menores de 15 anos, foi de 4,8%. Em Teresina, detectou-se 3,0%, o que confirma a discrepância com o pressuposto pelo MS,

Figura 3 - Percentual de casos novos de tuberculose segundo situação de encerramento e ano de ocorrência no Município de Teresina-PI, Brasil, 1999 a 2005

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM); Fundação Municipal de Saúde de Teresina-PI, 2007.

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Total

90,0

80,0

70,0

60,0

50,0

40,0

30,0

20,0

10,0

0,0

Ano

Cura Abandono Óbito Transferência

%

Page 40: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

39 Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):33-42, jan-mar 2010

Danieli Maria Matias Coêlho e colaboradores

Figura 4 - Distribuição dos óbitos por tuberculose e óbitos por HIV associados com tuberculose, segundo o ano de ocorrência no Município de Teresina-PI, Brasil, 1999 a 2005

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM); Fundação Municipal de Saúde de Teresina-PI, 2007.

Tabela 2 - Distribuição dos casos novos de tuberculose curados, segundo a escolaridade e ano de ocorrência no Município de Teresina-PI. Brasil, 1999 a 2005

Escolaridade

Anos

Ignorado 0 a 3 anos 4 a 11 anos 12 anos e mais Não se aplica Total

N % N % N % N % N % N %

1999 7 2,6 83 30,7 170 63,0 3 1,1 7 2,6 270 100

2000 17 6,3 66 24,4 180 66,4 2 0,7 6 2,2 271 100

2001 9 3,0 67 22,6 208 70,0 8 2,7 5 1,7 297 100

2002 26 10,2 44 17,3 168 66,1 5 2,0 11 4,3 254 100

2003 7 2,6 95 35,6 136 51,0 24 9,0 5 1,9 267 100

2004 6 2,5 77 32,0 132 55,0 20 8,3 5 2,0 240 100

2005 10 4,0 87 35,0 131 52,6 16 6,4 5 2,0 249 100

TOTAL 82 4,4 519 28,1 1.125 60,9 78 4,2 44 2,4 1.848 100

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM); Fundação Municipal de Saúde de Teresina-PI, 2007.

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

40

35

30

25

20

15

10

5

0

Ano

Tuberculose HIV/TB

Óbit

os

Page 41: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

40 Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):33-42, jan-mar 2010

Tuberculose em Teresina-PI

que é de 15%. Alguns autores5,16 relatam a dificuldade em diagnosticar os casos nesta faixa etária, bem como a não notificação, devido a tratamento, por meio de testes terapêuticos.

Os dados de escolaridade encontrados neste estudo foram concordantes com os da literatura, que relata a inexistência ou baixa escolaridade da maioria dos casos, sendo um fator de risco para a tuberculose, contribuindo inclusive para a não adesão ao tratamento e para o aumento da taxa de abandono. A baixa escola-ridade da população é reflexo de todo um conjunto de condições socioeconômicas precárias, que aumentam a vulnerabilidade à tuberculose e são responsáveis pela maior incidência da enfermidade e pela menor ade-rência ao respectivo tratamento.4 Porém, o percentual de cura encontrado na pesquisa, nos indivíduos com menos de sete anos de escolaridade, foi proporcional ao número de casos nessa população. Jordan e cola-boradores, no ano de 2000,17 em revisão de literatura sobre adesão em doenças crônicas, afirmam ser baixo o poder de predição de status econômico, como a escolaridade.

O conhecimento do perfil socioeconômico do agravo tuberculose se faz importante não apenas para nortear as políticas públicas, mas também para dire-cionar as ações de atenção básica, inclusive através da implementação dessas ações pela Estratégia de Saúde da Família (ESF).

A realização da baciloscopia é prioritária para o diagnóstico da forma pulmonar da doença,18 encontra-da em 80,23% dos casos estudados. Outros estudos em Teresina, nos anos de 1981 a 1990 relataram 83,2%,15 em Salvador, na mesma década, 85,3%5 e em Belo Horizonte (2001-2002), 76,4%,19 porém abaixo do percentual estimado para o Brasil pelo Ministério da Saúde (90%).20 A realização da baciloscopia é também de grande interesse para as atividades de controle de saúde pública, buscando a interrupção da cadeia de transmissão da doença. A positividade (65,05%) teve redução comparada ao estudo na década anterior, que foi de 73,8%,15 ficando abaixo do estimado para o país pelo MS (70%).20

Com relação à coinfecção aids/tuberculose, o fato de 89,57% dos casos terem informação “ignorado/branco”, próximo ao encontrado no Município de Salvador (84,2%) na década de 90,5 mostra a defi-ciência do preenchimento da ficha de investigação, como também o fato de que esta informação não está

sendo obtida no momento do diagnóstico da tubercu-lose, sendo a sorologia solicitada após a notificação,5 apesar da epidemia de aids exercer forte influência na magnitude e na gravidade da situação dos doentes com tuberculose.13 Em Ribeirão Preto-SP, em um es-tudo realizado nos anos de 1998 a 2006, o percentual de não realizado/ignorado foi de apenas 17,4%.21 A coinfecção foi identificada em apenas 1,73% dos casos, situação parecida com o Município de Salvador, que foi de 1,2%,5 muito inferior ao encontrado no Município Ribeirão Preto (27,1%).21

Com relação ao tratamento supervisionado (TS), houve melhora da informação apenas a partir de 2003, quando da sua implantação, o que explica o alto percentual de ignorado/branco nos anos anteriores. A partir de 2003, com o baixo percentual de ignorado/branco, ainda é alto o percentual de TS não realizado. Espera-se melhora deste quadro nos próximos anos, pois segundo o PNCT, o TS deve ser oferecido a todos os casos identificados, sejam estes casos novos, rein-gresso, de recidiva ou de retratamento.7

Quanto ao encerramento dos casos, o percentual de cura de 71,07%, abaixo da meta preconizada pelo PNCT,7,20 pode ser explicado pelo alto percentual de transferência (17,15%), que se deve em parte pelo fato de que muitos casos não foram transferidos para outras Unidades de Saúde de Teresina, e, sim, para outras cidades do Piauí e a outros estados. Isto ocorre devido Teresina ser considerada referência do setor da saúde na região.14 Assim, no momento da notificação, o paciente fornece o endereço onde se hospeda na cidade por considerar um local de boa assistência médica, entrando no sistema como caso de Teresina. Posteriormente, o mesmo pede para ser tratado na cidade onde reside, tendo alta por transfe-rência sem que a sua evolução seja acompanhada no município de Teresina e sim no município pra onde foi transferido.

Outro fator que contribui para o alto percentual de transferência, que foi observado na coleta dos dados, é a não vinculação de parte dos casos que receberam alta por transferência e tiveram modo de entrada no Sinan como transferência em outra unidade de saúde, para que o encerramento seja o da evolução do caso, em um único registro.

Quanto ao abandono, a média dos sete anos encon-tra-se de acordo com a meta do PNCT, que deve ser menor que 5%,20 porém variou entre 2,7% em 2003 e

Page 42: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

41

6,5% em 2001. Em outros estudos encontrou-se taxa média de 12,4% (2001 a 2002) em Belo Horizonte17 e 16,6% (1998 a 2000) em Cuiabá.17

O coeficiente de mortalidade com taxa média de 3,3 óbitos por 100.0000 hab. nos anos de estudo foi próxi-mo ao encontrado em Fortaleza (1999 a 2003)22 e no Brasil (2000), que foi de 3,3 e 3,0 óbitos por 100.000 hab. respectivamente,14 e inferior à Salvador (1990 A 2000), com coeficiente de 8,5/100.000 hab.5

Durante os anos de estudo, foram encontrados 18 óbitos por HIV associados com tuberculose (CID B20.0),9 com uma proporção de 9,5 óbitos por tuber-culose (CID A16.9)9 para 1 óbito por HIV associado com tuberculose, dado que não é suficiente para uma análise mais detalhada dessa associação, não sugerin-do uma importância significativa da infecção pelo HIV no padrão da tuberculose na cidade de Teresina.

A pesquisa possibilitou conhecer o perfil da tuber-culose em Teresina, nos anos de estudo, porém não foi possível avaliar a qualidade do Programa Nacional de Controle da Tuberculose no município devido ao elevado percentual de alta por transferência para outros municípios do Piauí e de outros estados. Observou-se

que no Sinan de Teresina, as informações sobre tuber-culose têm melhorado ao longo dos anos, mas ainda apresentam falhas no preenchimento da ficha de inves-tigação pelos profissionais de saúde e na vinculação dos casos na própria coordenação do programa.

Constatou-se que a tuberculose em Teresina, no período estudado, apresentou um maior número de casos na faixa etária de 20 a 49 anos, mas a maior taxa de incidência ocorreu na faixa etária de 50 anos e mais, mais especificamente no sexo masculino. Vale ressaltar a importância de realização, pelo município, de estra-tégias para ações preventivas e de diagnóstico precoce nessa faixa etária, como a busca ativa de casos através da atenção básica – Estratégia de Saúde da Família.

Ainda como sugestão, este trabalho destaca a necessidade de, nas capacitações dos profissionais envolvidos no programa sobre tuberculose, reforçar o preenchimento correto da ficha de investigação, bem como ressaltar a importância do tratamento supervisionado. Faz-se necessário também melhorar a vinculação dos casos no Sinan, no nível municipal, e definir estratégias para reduzir o alto percentual de transferência.

Referências

1. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de vigilância epidemiológica. 6a ed. Brasília: MS; 2006.

2. Veronesi R, Focaccia R. Tratado de infectologia. 3a ed. São Paulo: Ed. Atheneu; 2005. p.1139-1206.

3. Kritski AL; Organização Mundial da Saúde. TB/HIV: manual clínico para o Brasil. Brasília: OMS; 1996.

4. Mascarenhas MDM, Araújo LM, Gomes KRO. Perfil epidemiológico da Tuberculose entre casos notificados no município de Piripiri, Estado do Piauí, Brasil. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2005;14(1):7-14.

5. Xavier MIM, Barreto ML. Tuberculose na cidade de Salvador, Bahia, Brasil: o perfil na década de 1990. Cadernos de Saúde Pública 2007;23(2):445-453.

6. Ferracio M, Cruz RA, Biagolini REM. Tratamento supervisionado da Tuberculose: a opinião da equipe do Programa Saúde da Família. Revista de Saúde Coletiva 2007;4(14):55-61.

7. Ministério da Saúde. Manual técnico para o controle da Tuberculose. 6a ed. Brasília: MS; 2002.

8. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de Controle da Tuberculose. Brasília: MS; 2004.

9. Organização Mundial da Saúde. Classificação estatística internacional de doenças e problemas relacionados à saúde. Décima revisão (CID 10).

São Paulo. Editora da Universidade de São Paulo; 1997.

10. Ministério da Saúde, Datasus. Informações de saúde: informações demográficas e socioeconômicas: população residente [Internet]. Brasília: MS [acesso 2007 jul.18-19, para informações de jan./dez. 1997 a 2007]. Disponível em: http://www.datasus.gov.br/.

11. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Datasus. Roteiro para uso do Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Sinan NET. Brasília: MS: 2006.

Danieli Maria Matias Coêlho e colaboradores

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):33-42, jan-mar 2010

Page 43: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

42

12. Bierrenbach AL, Gomes ABF, Noronha EF, Sousa MFM. Incidência de Tuberculose e taxa de cura, Brasil, 2000 a 2004. Revista de Saúde Pública 2007;41 Suppl 1:24-33.

13. Galesi VMN, Almeida MMMB. Indicadores de Mortalidade Hospitalar de Tuberculose no Município de São Paulo. Revista Brasileira de Epidemiologia 2007;10(1):48-55.

14. Casimiro JQG, Sousa LAN, Viana RL. Perfil epidemiológico da Tuberculose no município de Teresina (PI) no período de 1999 a 2004 [monografia de Especialização em Saúde Pública]. Teresina (PI): Universidade Federal do Piauí; 2005.

15. Carvalho AMC, Nunes JQ, Milanez MRM, Oliveira SLC. Estudo epidemiológico da Tuberculose em Teresina (PI), 1981–1990 [monografia de Especialização em Epidemiologia]. Teresina (PI): OPAS, UFMG, UFPI, NESP-PI; 1992.

16. Campelo V, Gonçalves MAG, Donadi EA. Mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias no município de Teresina-Pi (Brasil), 1971 a 2000. Revista Brasileira de Epidemiologia 2005;8(1):31-40.

17. Ferreira SMB, Silva AMC, Botelho C. Tratamento da Tuberculose Pulmonar em Cuiabá, Mato Grosso, Brasil (1998-2000): distribuição espacial. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2004;

13(3):175-184.

18. Barros PAN, Carneiro RFL, Freitas TVS, Portela MH, Campelo V. Estudo epidemiológico da Tuberculose no município de Teresina-(PI), no período de 1993 a 1998. Teresina: UFPI; 1999. p. 42. Relatório PIBIC/CNPq-UFPI, V Encontro de Pesquisadores da UFPI.

19. Paixão LMM, Gontijo ED. Perfil de casos de Tuberculose notificados e fatores associados ao abandono, Belo Horizonte-MG. Revista de Saúde Pública 2007;41(2):205-213.

20. Fundação Nacional de Saúde. Tuberculose: guia de vigilância epidemiológica. Brasília: Funasa; 2002.

21. Lucca MES. Análise epidemiológica da Tuberculose e coinfecção HIV/TB em Ribeirão Preto-SP, de 1998 a 2006 [tese de Mestrado]. Ribeirão Preto (SP): Universidade de São Paulo; 2008.

22. Prefeitura Municipal de São Paulo, Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, Coordenação do Programa de DST/Aids. Boletim Epidemiológico [Internet]. 2003 dez. [acesso 2007 ago. 6, para informações de jan./dez. 2001]; (7). Disponível em: http://www10.prefeitura.sp.gov.br/dstaids/novo_site/quemsomos.

Recebidoem24/11/2008 Aprovadoem02/09/2009

Tuberculose em Teresina-PI

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):33-42, jan-mar 2010

Page 44: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

43

Frequency of Human Papillomavirus (HPV) and Chlamydia trachomatis in Pregnant Women

Frequência de Papilomavírus humano (HPV) e Chlamydia trachomatis em gestantes

Endereço para correspondência: Rua Vicente Ferreira, 77, Torre, Recife-PE, Brasil. CEP: 50710-250E-mail: [email protected]

Virgínia da Conceição Ribes Amorim Bezerra BrandãoPrograma de Pós Graduação em Medicina Tropical, Universidade Federal de Pernambuco, Recife-PE, BrasilFaculdade de Ciências Médicas, Universidade de Pernambuco, Recife-PE, BrasilCentro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros, Universidade de Pernambuco, Recife-PE, Brasil

Heloisa Ramos LacerdaPrograma de Pós Graduação em Medicina Tropical, Universidade Federal de Pernambuco, Recife-PE, BrasilFaculdade de Ciências Médicas, Universidade de Pernambuco, Recife-PE, Brasil

Ricardo Arraes de Alencar XimenesPrograma de Pós Graduação em Medicina Tropical, Universidade Federal de Pernambuco, Recife-PE, BrasilFaculdade de Ciências Médicas, Universidade de Pernambuco, Recife-PE, Brasil

ResumoEste estudo transversal de caráter analítico teve por objetivo avaliar a frequência da infecção pelo Papilomavírus humano (HPV)

e Chlamydia trachomatis, bem como de alterações citopatológicas e colposcópicas em um grupo de 96 gestantes (51 HIV soro-positivas e 45 HIV soronegativas) no período de abril de 2006 a maio de 2007. Todas responderam a questionário padrão seguido de atendimento ginecológico. Foram coletadas amostras da cérvice uterina para pesquisa de HPV e C. trachomatis pela técnica de Captura de Híbrido (CH II®) para a colpocitologia oncótica e, por fim, realizou-se o exame colposcópico. Os dados foram armazenados e analisados no Epi Info, versão 6.04 e SPSS versão 9.0. Utilizou-se o teste do Qui-quadrado considerando o valor de 5% (p<0,05) como limiar de significância para análise estatística. Das gestantes HIV positivas, 62,7% foram positivas para HPV e 17,6% para C. trachomatis. Entre as gestantes HIV negativas, 17,8% e 4,4% foram positivas para o HPV e para a C. trachomatis, respectivamente. A colpocitologia oncótica identificou maior frequência de lesões intraepiteliais escamosas cervicais de baixo grau em ambos os grupos, sendo 21,6% entre as gestantes HIV positivas e 13,3% no grupo HIV negativo. O epitélio acetobranco foi o achado colposcópico mais reiterado nos dois grupos. Concluiu-se que a infecção pelo HPV e por C. trachomatis é mais frequente em gestantes infectadas pelo HIV caracterizando, desta forma, à luz de conhecimentos atuais, uma população de maior risco de desenvolver câncer cervical.

Palavras-chave: papilomavírus humano; colpocitologia; lesões intraepiteliais cervicais; Chlamydia trachomatis.

SummaryA cross-sectional analytical study was conducted in order to identify the frequency of the Human Papillomavirus (HPV)

infection, Chlamydia trachomatis, colposcopic and cytological findings in a group of 96 pregnant women (51 HIV positive and 45 HIV negative) from April 2006 to May 2007. All patients went through a standard questionnaire, followed by gynecologi-cal examination. Samples were collected for HPV survey and C. trachomatis by the Hybrid Capture II technique for oncotic colpocytology (Papanicolaou), followed by colposcopy. Data were stored and analyzed using Epi Info, version 6.04 and SPSS version 9.0. For statistical analysis the chi-square test were used with level of significance set at 5%. Among the HIV posi-tive pregnant women 62.7% were positive for HPV and 17.6% were positive for C. trachomatis. In contrast, for HIV negative pregnant women 17.8% and 4.4% were positive for HPV and C. trachomatis, respectively. The Pap smear identified a larger amount of low grade squamous intraepithelial lesions in both groups, 21.6 % in HIV positive pregnant women and 13.3% in HIV negative pregnant women. The acetowhite epithelium was the most frequent colposcopy abnormality. In conclusion, the infection by HPV and C. trachomatis is more common in pregnant women infected with HIV, characterizing, thus, based on current knowledge, a population that is more susceptible to cervical cancer.

Key words: human papillomavirus; cytology; cervical squamous intraepithelial lesion; Chlamydial infection.

Artigo originAl

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):43-50, jan-mar 2010

Page 45: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

44

HPV e Chlamydia trachomatis em gestantes

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):43-50, jan-mar 2010

Introdução

A neoplasia do colo uterino representa a segunda causa de morte de mulheres por câncer no Brasil, superada apenas pela neoplasia da mama. Ela constitui um problema de saúde pública e é doença passível de ser prevenida, estando diretamente vinculada ao grau de desenvolvimento do país.1 Cerca de 3% das neoplasias do colo uterino são diagnosticadas durante o ciclo gravídico-puerperal.2

O carcinoma cervical desenvolve-se a partir de lesões precursoras, as quais têm potencialidade para progressão se não são detectadas e tratadas preco-cemente. Evidências epidemiológicas e moleculares apontam que a infecção pelo Papilomavírus humano (HPV) desempenha importante papel no surgimento da neoplasia.3 Embora necessária, a infecção pelo HPV não é suficiente para o desenvolvimento do câncer cervical,4 exigindo a coexistência de outros fatores que possibilitem a transição da infecção cervical ao câncer. Alguns fatores são inerentes ao HPV (genóti-po, carga viral, persistência e integração ao DNA do hospedeiro);3 outros estão relacionados ao hospedeiro quais sejam: multiparidade,5 uso de contraceptivos orais,6 antecedentes de múltiplos parceiros sexuais,7 tabagismo,8 antecedentes de doenças sexualmente transmissíveis, como o herpes simplex, Chlamydia trachomatis9 e, particularmente, a síndrome da imu-nodeficiência humana (Aids).10

A epidemia causada pelo HIV, que nos seus pri-mórdios era preponderantemente identificada em indivíduos do sexo masculino, atualmente, no Brasil, apresenta razão de 1,5:1(homens/mulheres).11 A forma sexual de transmissão é hoje responsável pela multiplicidade dos novos casos da doença, responden-do a via de transmissão heterossexual pelo número cada vez maior de mulheres diagnosticadas com HIV/Aids.11 Dentre as pessoas atualmente infectadas, 85% estão em idade reprodutiva. A gestação é uma etapa peculiar na vida da mulher, na qual ocorrem importantes modificações no sistema imunológico, o que favorece o desenvolvimento de agentes infecciosos, entre eles o HPV e consequente aumento no risco de adquirir uma DST.2,12

A infecção pelo HPV na gestação tem sido estudada e apresenta resultados discordantes. Poucos trabalhos têm se referido a achados citológicos/colposcópicos e à presença da infecção pelo HPV em grávidas HIV

positivas. Portanto, o objetivo deste estudo foi avaliar a frequência da infecção pelo HPV e C. trachomatis, bem como de alterações citopatológicas e colpos-cópicas em um grupo de gestantes, acompanhado em maternidade de referência para atendimento de doenças infecciosas.

Metodologia

Trata-se de estudo transversal de caráter analítico, do qual participaram 96 gestantes (51 gestantes HIV positivas e 45 gestantes HIV negativas) atendidas no Centro de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam), mater-nidade pública do Recife-PE, no período de abril de 2006 a maio de 2007. Como critério de inclusão, foram admitidas mulheres, em qualquer período gestacional, que possuíam um β-HCG positivo ou um ultrassom confirmatório da gravidez.

A gestante HIV positiva teve dois testes positivos pelo método ELISA (ensaio imunoenzimático) e um teste sorológico confirmatório (imunofluorescência indireta), conforme normas estabelecidas pelo Pro-grama Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde do Brasil.13 Gestantes com sorologia negativa para o HIV constituíram o grupo de comparação.

Foi excluída da pesquisa paciente que apresentava sangramento genital, vulvovaginite que impossibilitasse a colposcopia e a colpocitologia por ocasião do exame ou era portadora de déficit mental que prejudicasse o entendimento e as respostas para o preenchimento do formulário específico.

As gestantes que aceitaram participar do estudo responderam a questionário padronizado e foram submetidas a exame ginecológico que obedecia à sequência: inspeção, introdução de espéculo vaginal, coleta de material para captura híbrida e colpocitologia oncótica e, em seguida, a colposcopia. A detecção de

A epidemia causada pelo HIV, que nos seus primórdios era preponderantemente identificada em indivíduos do sexo masculino, atualmente, no Brasil, apresenta razão de 1,5:1 (homens/mulheres).

Page 46: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

45

Virgínia da Conceição Ribes Amorim Bezerra Brandão e colaboradores

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):43-50, jan-mar 2010

HPV e o diagnóstico de C. trachomatis foram realiza-dos por Captura Híbrida II®. Procedeu-se conforme protocolos técnicos sugeridos pelo fabricante. O espé-cime biológico foi acondicionado em tubo contendo tampão de transporte (Specimen Transport Medium – STM) e enviado com intervalo máximo de 12 dias para Digene do Brasil, São Paulo, Brasil, para sua interpretação.

A Captura Híbrida II® é um exame processado pela técnica de hibridização molecular, que usa sondas não radioativas com amplificação da detecção dos híbri-dos por quimioluminescência. Os resultados foram apresentados como taxas relativas de unidades de luz (RLU) de amostra/calibrador onde RLU correspondeu a 1.0 pg/mL de HPV por célula para o vírus e 1.0 pg/mL de bactéria por célula para a C. trachomatis. O passo seguinte era a coleta de material para citologia oncó-tica, utilizando-se a espátula de Ayre para o raspado da ectocérvice (junção escamo-colunar) e escova (cytobrush®) para coleta da amostra endocervical. O material foi estendido em lâminas de vidro, pre-viamente identificadas, e fixado com álcool a 95%. A coloração foi realizada pelo método de Papanicolaou e as lâminas avaliadas no Laboratório de Citopatologia do Cisam. De acordo com a citologia oncótica os lau-dos foram emitidos com base no Sistema Bethesda:14 normal; processo inflamatório; atipias escamosas de significado indeterminado (ASCUS); lesão intraepitelial de baixo grau (compreendendo efeito citopático pelo HPV e/ou neoplasia intraepitelial cervical grau I -NIC I); e lesão de alto grau (compreendendo neoplasia intraepitelial cervical grau II e III – respectivamente NIC II e NIC III).

A colposcopia encerrava o exame. Inicialmente era colocada solução fisiológica a 0,9% para inspeção cervical. Seguia-se a aplicação, no colo uterino, de ácido acético a 3% com objetivo de pesquisar áreas acetorreagentes. Por fim, com a utilização do lugol, era realizado o teste de Schiller. As descrições das imagens colposcópicas obedeceram à classificação da nomen-clatura internacional dos aspectos colposcópicos de Roma, referendada pela Federação Internacional de Patologia Cervical e Colposcopia,15 tendo sido consi-derados atípicos os achados colposcópicos: epitélio acetobranco; pontilhado; mosaico; e vasos atípicos.

Os dados foram armazenados e analisados no sof-tware Epi Info, versão 6.04 e SPSS versão 9.0. Para comparação de frequências, utilizou-se o teste do Qui-

quadrado. Foi considerado o valor de 5% (p<0,05) como limiar de significância estatística.

Considerações éticasEste estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética

em Pesquisa da Universidade de Pernambuco sob o número CISAM/009/05, quando foi iniciado. Todas as pacientes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Resultados

A faixa etária das mulheres desta pesquisa foi de 14 a 41 anos, com média igual a 26,1 + 6,5 anos. As gestantes HIV positivas eram mais jovens, sendo 10 (20,8%) adolescentes. Houve predomínio de mulheres casadas/com companheiro e o grau de instrução das gestantes HIV positivas era menor (Tabela 1).

Dentre as variáveis, com diferença significante entre os grupos, destacaram-se o início de atividade sexual, a multiplicidade de parceiros sexuais, a multiparidade, a ocorrência de DST prévia, bem como presença de C. trachomatis e infecção pelo HPV entre as gestantes HIV positivas (Tabela 2).

Alterações colposcópicas foram encontradas em ambos os grupos estudados, tendo algumas pacientes mais de uma alteração. A citologia oncótica identificou anomalias em células epiteliais escamosas com maior frequência entre gestantes HIV positivas (21,6%, p<0,03), havendo o predomínio de lesão de baixo grau (Tabela 3). Não houve necessidade de biópsia em nenhuma das gestantes HIV positivas.

No grupo das gestantes HIV negativas, a citologia diagnosticou um caso de lesão intraepitelial de alto grau (NIC III - carcinoma in situ) cuja colposco-pia apresentava epitélio acetobranco denso e vasos atípicos. A histologia, confirmando o diagnóstico colpocitológico, não pôde afastar possibilidade de invasão. Submetida à cirurgia de alta frequência, o laudo final foi carcinoma epidermóide invasor, grau II, com múltiplos focos de invasão vascular.

Discussão

Estima-se que a prevalência da infecção pelo HPV na gravidez varie entre 5,4% e 68,8%, estando as mulheres jovens sob risco mais elevado, provavelmente devido ao alto nível de atividade biológica cervical, aos níveis

Page 47: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

46 Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):43-50, jan-mar 2010

HPV e Chlamydia trachomatis em gestantes

Tabela 1 - Características biossociais das 96 gestantes examinadas no Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros em Recife-PE. Brasil, abril 2006 a maio 2007

CaracterísticasGestante HIV (+)

n=51Gestante HIV (-)

n=45 p-valorn % n %

Grupo etário ≤19 10 19,6 4 8,9 0,00120 a 29 33 64,7 23 51,1≥30 8 15,7 18 40,0

Estado civilSolteira 9 17,6 3 6,7 0,372Casada/companheiro 37 72,5 39 86,6Separada/divorciada/viúva 5 9,8 3 6,7

Grau de instruçãoNenhum curso 21 41,2 12 26,7 0,051Primeiro grau 16 31,4 11 24,4Segundo grau 14 27,5 22 48,9

Rendimento familiar (salário mínimo)a

<1 15 30,6 15 34,9 0,8241-3 34 69,4 28 65,1

a) Não sabiam informar: duas gestantes HIV (+); duas gestantes HIV (-)

Tabela 2 - Distribuição das variáveis relacionadas à atividade sexual, doenças sexualmente transmissíveis e história reprodutiva de 96 gestantes estudadas no Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros em Recife-PE. Brasil, abril 2006 a maio 2007

Variáveis relacionadasà atividade sexual

Gestante HIV (+)n=51

Gestante HIV (-)n=45 p-valor

n % n %Coitarca

12 - 14 20 39,2 5 11,1 0,01915 - 19 27 52,9 31 68,9≥20 4 7,8 9 20,0

Multiplicidade parceiros sexuais 50 98,0 32 71,1 <0,001Número de parceiros sexuais

1 - 2 14 27,5 24 53,3 0,001 3 - 4 17 33,3 16 35,6≥5 20 39,2 5 11,1

Gestação prévia 32 62,7 27 60,0 <0,001Número de filhos

1 14 41,4 15 55,6 0,6352 10 34,5 8 29,6≥3 8 24,1 4 14,8

Tempo de gestação1º trimestre 12 23,5 10 22,2 0,0882º trimestre 18 35,3 25 55,63º trimestre 21 41,2 10 22,2

DSTa 27 62,7 11 24,4 <0,001Chlamydia trachomatis 9 17,6 2 4,4 0,023

DNA-HPV 32 62,7 8 17,8 <0,001HPV-Alto risco 30 93,8 8 100,0 <0,001

a) Oito gestantes HIV (+) não sabiam informar.

Page 48: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

47 Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):43-50, jan-mar 2010

Virgínia da Conceição Ribes Amorim Bezerra Brandão e colaboradores

Tabela 3 - Distribuição dos achados colposcópicos e citológicos das 96 gestantes estudadas no Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros em Recife-PE. Brasil, abril 2006 a maio 2007

Colposcopia e citologiaGestante HIV (+)

n=51Gestante HIV (–)

n=45 p-valorn % n %

Colposcopia alterada 25 49,0 17 37,8 0,468Alterações colposcópicasEpitélio acetobranco 22 43,1 14 31,1Pontilhado – – 2 4,4Mosaico 3 5,9 – –Vaso atípico – – 2 4,4

Alterações colpocitológicas 11 21,6 6 13,3 0,037Citologia

Normal 8 15,7 10 22,2 0,099Processo inflamatório 32 62,7 29 64,4ASCUSa 2 3,9 1 2,2HPVb 4 7,8 1 2,2NIC Ic 3 5,8 3 6,6HPV NIC Id 2 3,9 – –NIC IIIe – – 1 2,2

Microbiologia vaginalLactobacillus 8 15,7 9 18,8Flora mista 22 43,1 24 50,0Bactéria cocóide 13 25,5 7 14,6Gardnerella 7 13,7 5 10,4Tricomonas 3 5,9 – –Fungos 19 37,2 12 25,0

a) Atipias escamosas de significado indeterminado

b) Papilomavírus humano

c) Neoplasia intraepitelial cervical grau I

d) Papilomavírus humano e neoplasia intraepitelial cervical grau I

e) Neoplasia intraepitelial cervical grau III

crescentes de estrogênios e à imaturidade cervical.2 Entre estas, a maior exposição do epitélio colunar da endocérvice, apresentaria maior suscetibilidade a agentes fisicoquímicos e biológicos16 favorecendo a transmissão do HPV e de outros micro-organismos.

No presente estudo, a frequência de infecção pelo HPV foi de 62,7% entre as gestantes HIV positivas, estando 93,8% infectadas por algum tipo de HPV oncogênico. Embora com percentual quatro vezes menor – 17,8% – todas gestantes HIV negativas foram positivas para HPV de alto risco.

Comparadas com as gestantes HIV negativas estu-dadas, o grupo de mulheres HIV positivas apresentou maiores frequências de início precoce de atividade se-xual, multiplicidade de parceiros, multiparidade, baixa escolaridade e baixa renda, o que, segundo Coelho e colaboradores,17 são variáveis frequentemente associa-das às mulheres HIV positivas com infecção pelo HPV.

A associação entre a infecção pelo HPV e mu-lheres infectadas pelo HIV está bem documentada pela literatura,10,17-20 que assinala, para este grupo, maior prevalência de HPV de alto risco, persistência e recorrência, quando comparadas com mulheres HIV negativas. Campos e colaboradores,21 em 2005, utilizando a reação de cadeia de polimerase, concluiu que mulheres soropositivas para o HIV apresentam maior prevalência de DNA-HPV na cérvice uterina com tendência à infecção por múltiplos tipos específicos de HPV em comparação a mulheres HIV negativas.

É importante lembrar que a gestação, por meio dos altos níveis de progesterona, imunossupressor biológico,6 pode acelerar e intensificar a infecção pelo HPV de alto risco oncogênico, particularmente o tipo 16, demonstrando a alta sensibilidade para ativação, persistência e transformação deste vírus durante o período. O HPV-16 é o tipo prevalente em

Page 49: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

48 Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):43-50, jan-mar 2010

HPV e Chlamydia trachomatis em gestantes

lesões neoplásicas cervicais em todo o mundo sendo apontado, no Brasil, como predominante em diversas regiões do país.12,18

A infecção por C. trachomatis foi quatro vezes mais frequente entre as gestantes HIV positivas. Sua presen-ça, que no ciclo gravídico-puerperal pode repercutir sobre o concepto causando infecções pulmonares e oftálmicas, poderá desencadear trabalho de parto prematuro, amniorrexe prematura, baixo peso ao nascer e óbito fetal. Estudos epidemiológicos sugerem que a infecção pela C. trachomatis aumente o risco de carcinoma escamoso cervical.9,22

Madeleine e colaboradores,23 em 2007, verifica-ram que o risco de carcinoma escamoso cervical associado com anticorpos para a C. trachomatis é maior (OR=1,6; IC

95%: 1,1-2,2), sendo esta associação

independente do tipo de HPV identificado no tecido tumoral. Encontraram associação entre sorotipos específicos de C. trachomatis e carcinoma escamoso em seis de dez sorotipos (B, D, E, G, I e J ).

Embora não estejam bem esclarecidos os meca-nismos biológicos que explicariam a associação C. trachomatis e câncer cervical, autores concluíram que a persistência de infecção por tipos oncogênicos de HPV torna-se mais provável em mulheres com infecção prévia pela bactéria.24

A frequência de lesões intraepiteliais do colo uteri-no, identificada pela citologia oncótica, foi de 21,6% entre as gestantes HIV positivas, sendo todas lesões intraepiteliais de baixo grau. Entre as 11 grávidas, em cujos esfregaços distinguiam-se atipias celulares, seis (54,4%) apresentavam critérios citomorfológicos compatíveis com infecção pelo HPV.

Os processos inflamatórios fizeram-se presentes em mais de 60% das gestantes. Entre as gestantes HIV positivas, as alterações inflamatórias mais comuns foram decorrentes de infecções por fungo semelhante a outro estudo com o mesmo grupo populacional.25 Já a taxa de infecção por Trichomonas vaginalis, embora baixa, está de acordo com outros estudos brasileiros; segundo Adad e colaboradores,26 observou-se uma diminuição no número de casos de tricomoníase nas últimas décadas, o que pode ser atribuído ao tratamento com metronidazol e melhores condições de saúde pública.

A alta frequência de intensos processos inflamató-rios pode dificultar o diagnóstico da citologia, contri-buindo para resultado falso-negativo na população HIV positiva.27 É importante salientar que a gravidez não modifica de maneira significativa os índices de resul-tados falso-negativos e falso-positivos, porém várias mudanças fisiológicas comuns à gestação podem causar dificuldades na interpretação do esfregaço cervical. Assim, a hipertrofia da cérvice e ectopia leva a sangra-mentos, podendo resultar em uma amostra inadequada; o muco cervical mais espesso dificulta a descamação celular, podendo resultar em um esfregaço escasso; a presença de células trofoblásticas pode ser confun-dida com herpes simplex vírus ou lesão intraepitelial de baixo grau e os processos inflamatórios, quando purulentos, correspondem a esfregaços inadequados, podendo mascarar quadro de atipias.28

As alterações colposcópicas foram mais frequen-tes entre as gestantes HIV positivas, sendo o epitélio acetobranco (EAB) o achado colposcópico mais diag-nosticado. As alterações leucoacéticas são destacadas como as mais importantes de todas as características colposcópicas, pois estão associadas com todos os graus de neoplasias intraepiteliais cervicais.29 Entretan-to, a ação gravídica de interferência sobre as imagens colposcópicas leva a algumas manifestações, as mais significativas no âmbito da transformação anormal. O epitélio acetobranco gravídico aparece como uma área com superfície irregular, elevada e falsamente espessada.30

Os resultados do presente estudo apontam alta frequência de infecção pelo HPV de alto risco em ambos os grupos. Do mesmo modo, as gestantes HIV positivas também apresentaram a alta frequência da infecção por C. trachomatis o que, à luz dos conhe-cimentos atuais, caracteriza esta como uma população com alto risco de desenvolver câncer cervical e que, portanto, necessita ser acompanhada a fim de prevenir o processo de transformação maligna.

Agradecimentos

Ao Ministério da Saúde e à Organização Pan-Ame-ricana de Saúde pelo apoio financeiro na realização deste trabalho.

Page 50: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

49 Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):43-50, jan-mar 2010

Virgínia da Conceição Ribes Amorim Bezerra Brandão e colaboradores

1. Elfgren K, Rylander E, Radberg T, Strander B, Strand A, Paajanen K, et al. Colposcopic and

histopathologic evaluation of women participating in population-based screening for human papillomavirus

deoxyribonucleic acid persistence. American Journal of Obstetrics and Gynecology 2006; 7:37-45.

2. Correia HS, Cornetta MCM, Gonçalves AKS. Infecção genital pelo papilomavírus humano (HPV) em mulheres grávidas. Revista Brasileira de Genitoscopia 2006;1:14-19.

3. Ho GYF, Burk RD, Klein S, Kadish AS, Chang CJ, Prabhudas P. Persistent genital human papíllomavirus infection as a risk factor for persistent cervical dysplasia. Journal of the National Cancer Institute 1995;87:1365-1371.

4. Herrero R, Castle PE, Schiffman M, Bratti MC, Hildesheim A, Morales J, et al. Epidemiologic profile of type-specific human papillomavirus infection and cervical neoplasia in Guanacaste, Costa Rica. Journal of Infectious Diseases 2005;191:1796-1807.

5. Munoz N, Franceschi S, Bosetti C, Moreno V, Herrero R, Smith JS, et al. Role of parity and human papillomavirus in cervical cancer: the IARC multicentric case-control study. Lancet 2002;359:1093-1101.

6. Moreno V, Bosch FX, Munoz N, Meijer CJ, Shah KV, Walboomers JM, et al. Effect of oral contraceptives on risk of cervical cancer in women with human papillomavirus infection: the IARC multicentric case-control study. Lancet 2002;359:1085-1092.

7. Temmerman M, Tyndall MW, Kidula N, Claeys P, Muchiri L, Quint W. Risk factors for human papillomavirus and cervical precancerous lesions, and the role of concurrent HIV-1 infection. International Journal of Gynecology & Obstetrics 1999;65:171-181.

8. Beutner KR, Tyring S. Human papillomavirus and human disease. American Journal of Medicine 1997;102:9-15.

9. Koskela P, Anttila T, Bjørge T, Brunsvig A, Dillner J, Hakama M, et al. Chamydia trachomatis infection as a risk factor for invasive cervical cancer. International Journal of Cancer 2000;85:35-39.

10. Levi JE, Fernandes S, Tateno AF, Motta E, Lima LP, Eluf-Neto J, et al. Presence of multiple human papillomavirus type in cervical samples from HIV-infected women. Gynecologic & Oncology 2004;92:225-231.

11. Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico AIDS/DST [Internet]. 2008 [acesso 2008 set. 13]. Disponível em: http://www.aids.gov.br/data/Pages/LUMIS9A49113DPTBRIE.htm.

12. Armbruster-Moraes E, Ioshimoto LM, Leão E, Zugaib M. Prevalence of “high risk” human papillomavirus in the lower genital tract of Brazilian gravidas. International Journal of Gynecology & Obstetrics 2000;69:223-227.

13. Ministério da Saúde. Manual de controle das Doenças Sexualmente Transmissíveis – DST [Internet]. Brasília: MS; 2006 [acesso 2008 mar. 19]. Disponível em: http://www.aids.gov.br/data/Pages/LUMIS9D30FACFPTBRIE.htm.

14. Berek JS. Simplification of the New Bethesda 2001 Classification System. American Journal of Obstetrics and Gynecology 2003;188 Suppl 3:2-5.

15. Walker P, Dexeus S, De Palo G, Barrasso R, Campion M, Girardi F, et al. International terminology of colposcopy: an update report from the International Federation for Cervical Pathology and Colposcopy. Obstetrics & Gynecology 2003;101:175-177.

16. Carestiato FN, Carvalho MOO, Ribeiro MO, Marinho M, Barbosa FM, Silva LE, et al. Estudo de infecção por Papilomavírus Humanos em pacientes do sexo feminino, detectados pela Técnica de Captura do Híbrido: levantamento dos casos. Jornal Brasileiro de Doenças Sexualmente Transmissíveis 2002;14:9-12.

17. Coelho RA, Facundo MKF, Nogueira AL, Sakano CRSB, Ribalta JCL, Baracat EC. Relação entre diagnóstico citológico de neoplasia intraepitelial cervical e índices de células CD4+ e de carga viral em pacientes HIV-soropositivas. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia 2004;26:97-102.

18. Camara GNL, Cerqueira DM, Oliveira APG, Silva EO, Carvalho LGS, Martins CRF. Prevalence of human Papillomavirus types in women with pre-neoplastic and neoplastic cervical lesions in the Federal District

Referências

Page 51: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

50 Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):43-50, jan-mar 2010

HPV e Chlamydia trachomatis em gestantes

of Brazil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 2003;98:879-883.

19. Ferenczy A, Coutlée F, Franco E, Hankins C. Human papillomavirus and HIV coinfection and riskof neoplasias of the lower genital tract: a review of recent developments. Canadian Medical Association Journal 2003;169:431-434.

20. Ellerbrock TV, Chiasson MA, Bush TJ, Sun XW, Sawo D, Brudney K, et al. Incidence of cervical squamous intraepithelial lesions in HIV-infected women.

Journal of the American Medical Association 2000;283:1031-1037.

21. Campos RR, Melo VH, Del Castilho DM, Nogueira CPF. Prevalência do papilomavírus humanos e seus genótipos em mulheres portadoras e não-portadoras do vírus da imunodeficiência humana. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia 2005;27:248-256.

22. Smith JS, Bosetti C, Munoz N, Herrero R, Bosch FX, Eluf-Neto J, et al. Chlamydia trachomatis and invasive cervical cancer: a pooled analysis of the IARC multicentric case-control study. International Journal of Cancer 2004;111:431-439.

23. Madeleine MM, Anttila T, Schwartz SM, Saikku P, Leinonen M, Carter JJ, et al. Risk of cervical cancer associated with Chlamydia trachomatis antibodies by histology, HPV type and HPV cofactors. International Journal of Cancer 2007;120:650-655.

24. Linhares IM, Aguiar M, Caetano ME, da Conceição PSP, Wojitani MDCH, Giraldo PC. Chlamydia trachomatis e câncer. Revista Brasileira de Genitoscopia 2008;2:22-25.

25. Mota GR. Avaliação da infecção e caracterização de tipos de papilomavírus humano (HPV) em gestantes infectadas pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV-1) [tese Doutorado]. São Paulo (SP): Escola Paulista de Medicina; 2002.

26. Adad SJ, Lima RV, Sawan ZTE, Silva MLG, Souza MAH, Saldanha JC, et al. Frequency of Trichomonas vaginalis, Candida SP and Gardnerella vaginalis in cervical-vaginal smears in four different decades. São Paulo Medical Journal 2001;119:200-205.

27. Auge APF, Piato S, Frade AB, Paes RP, Moura CMC, Santos ALD, et al. Frequência de neoplasia intraepitelial cervical em portadoras do vírus da imunodeficiência humana. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia 2000;22:573-577.

28. Cronjé HS, van Rensburg E, Niemand I, Cooreman BF, Beyer E, Divall P. Screening for cervical neoplasia during pregnancy. International Journal of Gynecology & Obstetrics 2000;68:19-23.

29. Singer A, Monaghan MJ, editores. Colposcopia, patologia & tratamento do trato genital inferior. Porto Alegre: Artes Médicas; 1995.

30. Gilardi EM, Remotti G. Fisiologia do colo uterino na gravidez e colposcopia. In: De Palo, editor. Colposcopia e patologia do trato genital inferior. 2a ed. Rio de Janeiro: Medsi; 1996. p.212-222.

Recebidoem30/06/2008 Aprovadoem28/08/2009

Page 52: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

51

Factors Associated with Neonatal Mortality: Situation Analysis at the Local Level

Artigo originAl Fatores associados à mortalidade neonatal precoce:

análise de situação no nível local*

Endereço para correspondência: Segunda Mandchúria, 08 Edifício Ana Bolena, Caixa Dágua, Salvador-BA, Brasil. CEP: 40320-350 E-mail: [email protected]

Enio Silva SoaresDistrito Sanitário Liberdade, Secretaria Municipal de Saúde, Prefeitura Municipal de Salvador, Salvador-BA, Brasil

Greice Maria de Souza MenezesPrograma de Estudos em Gênero e Saúde, Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal da Bahia, Salvador-BA, Brasil

ResumoEste estudo analisou os fatores que têm exercido maior influência na manutenção da Mortalidade Infantil Neonatal Precoce,

entre os anos de 2000 e 2005, no Distrito Sanitário Liberdade, Salvador, Bahia. Os dados foram coletados das declarações de nascimento e de óbito e validados através de linkage; para a identificação dos fatores associados à mortalidade, foram realizadas análises univariada e bivariada. A taxa de mortalidade neonatal precoce foi de 24,22 óbitos por mil nascidos vivos. A análise bivariada mostrou que características maternas como baixa escolaridade, idade gestacional até 36 semanas, relato de realização de menos de seis consultas de pré-natal, gestação múltipla, parto vaginal, além do baixo peso ao nascer do recém-nascido estiveram associadas com a mortalidade neonatal precoce, em níveis de significância estatística. A assistência pré-natal e pós-natal deve se organizar no Distrito para prevenir alguns desses fatores e reduzir as iniquidades originadas nas diferenças sociais.

Palavras-chave: sistemas de informação; mortalidade neonatal precoce; fatores de risco.

SummaryThis study examined the factors that have exerted greater influence in the maintenance of Early Neonatal Infant

Mortality, between the years of 2000 and 2005, in the Liberdade Health District. Data were collected from birth and death records and validated through linkage; for the identification of factors associated with mortality, univariate and bivariate analysis were taken. The early neonatal mortality rate was 24.22 deaths/1,000 live births. Bivariate analysis showed that the effects of variables – low education of the mother; gestational age up to 36 weeks; less than six prenatal visits; low birth weight; multiple pregnancy and vaginal delivery – were significant to mortality. Prenatal and post-natal care must be organized in order to prevent some of these factors and to reduce inequities due to social differences.

Key words: information systems; early neonatal mortality; risk factors.

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):51-60, jan-mar 2010

* Estudo desenvolvido como parte dos requisitos para a conclusão do Curso de Especialização em Análise de Dados Secundários em Epidemiologia, realizado pelo Instituto de Saúde Coletiva (ISC/UFBA) em parceria com a Secretaria de Vigilância em Saúde/Ministério da Saúde e o Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com apoio da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador, Bahia.

Page 53: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

52

Introdução

A mortalidade infantil é classicamente considerada um dos melhores indicadores do nível de vida e bem estar social de uma população.1-3 O Brasil ainda conta com níveis alarmantes e eticamente inaceitáveis de mortalidade infantil, apesar das taxas decrescentes nos últimos dez anos. Estudos têm demonstrado a im-portância de intervenções na redução da mortalidade infantil em todo o país, com destaque especial para as ações dos serviços de saúde.3,4

A mortalidade nos primeiros dias de vida expressa a complexa conjunção de fatores biológicos, socioeco-nômicos e assistenciais,5,6 esses últimos relacionados à atenção à gestante e ao recém-nascido.6,7 No Brasil, na última década, observou-se uma redução dos óbitos infantis, em todas as regiões do país, particularmente daqueles ocorridos no período pós-neonatal. Desse modo, os óbitos neonatais passaram a ser o principal componente da mortalidade infantil, atualmente res-ponsável por mais da metade dos óbitos no primeiro ano de vida.8

No Estado da Bahia (BA), em 2004, as taxas de mortalidade infantil exibiam valores em torno de 30 óbitos para cada mil crianças nascidas vivas (nv), estando em patamares muito acima dos aceitáveis pela Organização Mundial da Saúde.9

Em Salvador-BA, nos últimos anos, a mortalidade infantil sofreu uma redução gradativa, passando de 27/1.000 nv em 2000, para 21,8/1.000 nv em 2005, isto é, um decréscimo de 24%. Neste mesmo período, o componente neonatal precoce não acompanhou esta tendência, com redução de apenas 9%, constituindo assim um ponto crítico na redução da mortalidade em crianças com menos de um ano.10-12 Nessa capital, a mortalidade infantil não se distribui de forma homogê-nea nos 12 Distritos Sanitários. Acentuadas diferenças socioeconômicas e culturais, além das iniquidades de acesso aos serviços de saúde entre grupos e indivíduos, ou seja, desigualdades em saúde, contribuem para a heterogeneidade na distribuição da mortalidade infantil na cidade. Além de sistemáticas e relevantes, estas desigualdades são também evitáveis, injustas e desnecessárias.13

Entre 2000 e 2005, o Distrito Sanitário Liberdade (DSL), que concentra grande contingente da população afrodescendente, apresentou a maior taxa de mortalida-de infantil da cidade, o mesmo ocorrendo em relação à

taxa de mortalidade neonatal precoce (21,4/1.000, em 2005). Esta ultima situação contribui para a manuten-ção de elevados patamares do indicador na cidade. No período, não se observou uma redução dos valores da mortalidade infantil no DSL, mas uma oscilação, com a menor taxa registrada em 2002 (22/1.000 nv) e a maior em 2005 (30/1.000 nv).

Para enfrentar o desafio da redução da mortalidade infantil e de seus componentes, o sistema de infor-mação é uma importante ferramenta para detecção dos fatores de risco. A disponibilidade de dados so-cioeconômicos e de saúde, desagregados por distrito sanitário, é essencial para identificação de áreas de risco e de grupos populacionais para os quais devem ser priorizados cuidados de saúde. As possibilidades de utilização dos Sistemas de Informação em Saúde em estudos epidemiológicos, em particular estudos sobre a mortalidade infantil, dependem, em grande medida, do grau de cobertura de dois Sistemas: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), na área do estudo, bem como da qualidade dos dados registrados.

Em Salvador, o SIM e Sinasc apresentavam co-berturas acima de 90 e 93%, respectivamente, no período analisado. A qualidade da informação desses sistemas no município é considerada boa, ainda que se reconheça a persistência de problemas, como pre-enchimento incorreto e incompleto de alguns campos dos formulários que os alimentam sem que, entretanto, isto comprometa a análise dos seus dados.8

O presente trabalho tem o objetivo de estudar a mortalidade neonatal precoce no DSL, na capital baiana, e explorar sua associação com fatores socioe-conômicos, reprodutivos e assistenciais registrados no Sinasc e no SIM. Os resultados servirão de base para o enfrentamento da mortalidade neonatal precoce,

Fatores associados à mortalidade neonatal precoce

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):51-60, jan-mar 2010

A mortalidade nos primeiros dias de vida expressa a complexa conjunção de fatores biológicos, socioeconômicos e assistenciais, esses últimos relacionados à atenção à gestante e ao recém-nascido.

Page 54: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

53

subsidiando o planejamento das ações dos serviços de saúde e favorecendo medidas intersetoriais na busca da redução deste evento e das iniquidades, fruto das disparidades sociais.

Metodologia

O estudo foi realizado no DSL, uma área político-administrativa do município de Salvador com extensão territorial de 6,4 km2, um dos 12 distritos sanitários que são unidades de planejamento e gestão local de saúde. Trata-se de uma investigação de natureza ex-ploratória, tendo sido analisados os dados de nascidos vivos e de óbitos infantis ocorridos no período de 2000 a 2005, no DSL, registrados no SIM e Sinasc.

Foi realizado um linkage entre esses dois bancos de dados, utilizando-se o método do relacionamen-to probabilístico de registros, a partir do conceito de escore limiar proposto por Newcombe. Foram adotados os passos descritos por Camargo e Coeli, utilizando-se o programa Reclink III.14 Foram utiliza-das as variáveis: data de nascimento; peso ao nascer; endereço de residência da mãe; nome da mãe; e data de nascimento, para facilitar a identificação do par perfeito. Na presença de discordância no registro de uma dessas variáveis, optou-se pelo dado informado na Declaração de Nascido Vivo (DN), pois é reconhecida a melhor qualidade dos dados do Sinasc.

A variável dependente deste estudo é o óbito neonatal precoce. As variáveis independentes foram classificadas em três sub-conjuntos: sócio-demográ-ficas (idade, situação conjugal e grau de instrução da mãe); relacionadas à gestação e ao parto (número de consultas no pré-natal, idade gestacional, tipo de gravidez e tipo de parto); e relacionadas ao recém-nas-cido (sexo, raça/cor e peso ao nascer). Foi ajustado o número de consultas de pré-natal à idade gestacional através de um novo índice construído pelos autores, baseado no calendário mínimo recomendado pelo Ministério da Saúde.

Para o cálculo da taxa de mortalidade neonatal precoce utilizaram-se como numerador os óbitos ocorridos do nascimento até o sexto dia de vida e como denominador, os nascidos vivos. Foi realizada análise uni e bivariada, sendo calculadas as razões de mortalidade e seus respectivos intervalos de 95% de confiança.

Considerações éticasAs bases de dados foram cedidas pela Secretaria

Municipal de Saúde, e os pesquisadores submeteram o projeto de pesquisa ao Comitê de Ética do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, obtendo aprovação.

Resultados

Entre 2000 e 2005, segundo o SIM, foram registra-dos 430 óbitos infantis no DSL, sendo 409 (95,11%) no período neonatal e 21 (4,88%) no pós-neonatal. Entre as mortes neonatais, 301 (73,59%) ocorreram no período neonatal precoce e 108 (26,41%) no neonatal tardio. A taxa de mortalidade infantil neonatal precoce (TMINP) para o DSL foi de 24,22 óbitos/1.000 nv.

Dos 301 óbitos neonatais precoces, foi possível identificar no Sinasc 218 (72,42%), sendo que 83 (27,5%) óbitos foram descartados da análise pela impossibilidade de formação de pares verdadeiros no processo de linkage. Esta perda ocorreu por duas razões: a primeira, provavelmente por sub-registro no Sinasc, não tendo sido preenchida a DN para estes nascimentos; a segunda, por problemas na qualidade da informação, pois nesses casos o nome da mãe não havia sido registrado, dado este importante no proces-so de linkage adotado neste trabalho (Figura 1).

Analisando-se as características maternas, obser-va-se que a maior parcela dos óbitos ocorreu entre os recém-nascidos (RN) de mulheres entre 20 a 34 anos (66,51%). Chama atenção que embora um terço (27,10%) dos óbitos tenha ocorrido entre RN cujas mães ainda eram adolescentes, foi nesse grupo que se identificou o maior risco de morte (23,19 óbitos/1.000 nv) (Tabela 1). Quanto ao estado civil materno, 56,90% dos óbitos foram entre RN de mães solteiras e um terço (30,70%) entre aqueles de mulheres separa-das ou viúvas; as maiores taxas de mortalidade também foram verificadas nesses grupos. Os RN de mulheres solteiras apresentaram assim uma probabilidade de morrer duas vezes maior quando comparados àqueles de mulheres casadas (Tabela 1).

Sobre a escolaridade das mães, verifica-se que a proporção de óbitos foi maior entre RN de mães com menor instrução, sendo de apenas 10,62% entre aqueles de mulheres com 12 ou mais anos de estudo. A maior taxa de mortalidade neonatal precoce foi

Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):51-60, jan-mar 2010

Page 55: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

54 Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):51-60, jan-mar 2010

Fatores associados à mortalidade neonatal precoce

Figura 1 - Fluxograma do linkage entre Sinasc e SIM em Salvador-BA. Brasil, 2000 a 2005

Tabela 1 - Óbitos infantis neonatais precoces, mortalidade proporcional, taxa de mortalidade infantil neonatal precoce e razão de mortalidade, segundo características sócio-demográficas maternas no Distrito Sanitário Liberdade em Salvador-BA. Brasil, 2000 a 2005

CaracterísticasÓbitos neonatais precoces

N MPa

(%) TMINPb RMc IC95%

Faixa etária (em anos)

14-19 59 27,1 23,19 1,38 1,02-1,86

20-34 145 66,5 16,82 1,0

35 e + 14 6,4 11,08 0,66 0,60-1,14

Estado civil

Solteira 124 56,9 19,31 2,01 1,33-3,04

Casada 27 12,4 9,62 1,0

Viúva/separada 67 30,7 20,94 1,40 1,40-3,39

Escolaridade (em anos de estudo)

Nenhuma 40 18,3 310,08 20,10 12,43-32,50

1-3 39 17,9 53,35 3,46 2,08-5,75

4-7 49 22,5 10,51 0,68 0,42-1,11

8-11 67 30,7 12,38 0,80 0,50-1,28

12 e + 23 10,6 15,43 1,0

Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc).

a) Mortalidade proporcional

b) Taxa de mortalidade infantil neonatal precoce por 1.000nv

c) Razão de mortalidade

Banco de dados do ”Sinasc“

Banco de dados do ”SIM“

Nascidos Vivos residentes no Distrito Sanitário Liberdade

2000 a 2005N=12.426

Óbitos neonatais precoces de nascidos vivos do Distrito

Sanitário Liberdade2000 a 2005

N=301

Linkage

DN DO

Perdas83

Não houve perdas de DN

DO e DN pareadasN=218

Pareamento

Page 56: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

55 Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):51-60, jan-mar 2010

Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes

encontrada entre RN de mães que declararam não possuir qualquer ano de estudo (310,08/1.000 nv), valor 20 vezes maior do que aquele do grupo de RN de mães com maior escolaridade (Tabela 1).

Ocorreu maior proporção de óbitos em RN cujas mães tiveram gestação única (89,45%), mas o risco de morrer foi 6,67 vezes maior entre crianças de mães com gestação gemelar ou tripla. Quanto à duração da gestação, foi registrado maior percentual de óbitos entre RN prematuros, isto é de mães que pariram com 22 a 36 semanas de gestação, mas o risco de morte foi maior naqueles prematuros extremos, isto é, com menos de 22 semanas. Comparados aos RN a termo, os grandes pre-maturos apresentaram chances muito maiores de morrer antes de sete dias de vida (Tabela 2). Maior proporção de óbitos ocorreu em RN cujas mães tiveram parto vaginal, tendo a cesárea aparentemente um comportamento de fator de proteção, uma vez que se observou menor taxa de mortalidade em RN de mulheres que tiveram esse tipo de parto. A realização de sete ou mais consultas de pré-natal também se mostrou como fator de proteção para a mortalidade neonatal precoce. O risco de morte tem

tendência concordante, com claro efeito gradiente, pois quanto maior número de consultas menor foi o risco de morte. Comparando-se grupos extremos, constata-se que os RN cujas mães não fizeram pré-natal ou apenas uma a três consultas apresentaram cerca de quatro vezes o risco de morrer do que aqueles cujas mães fizeram o número de consultas preconizadas pelo Ministério da Saúde (Tabela 2).

Analisando-se características do RN, registrou-se maior proporção de óbitos em RN do sexo masculino (64,70%); também entre eles se observou quase duas vezes maior risco de morrer do que entre aqueles do sexo feminino. Quanto à raça/cor, verificou-se maior percentual de óbitos entre RN pardos (78,44%), mas as maiores razões de mortalidade foram observadas entre os RN indígenas e pretos, sendo, respectivamente, 31,76 e 2,90 vezes maior que entre os brancos. Sobre o peso ao nascer, verificou-se um maior percentual de óbitos (78,44%) e maior risco de morrer entre os RN de baixo peso, sendo 30 vezes mais elevado do que aquele registrado entre RN que nasceram com peso normal (Tabela 3).

Tabela 2 - Óbitos infantis neonatais precoces, mortalidade proporcional, taxa de mortalidade infantil neonatal precoce e razão de mortalidade, segundo características reprodutivas maternas e assistenciais no Distrito Sanitário Liberdade em Salvador-BA. Brasil, 2000 a 2005

CaracterísticasÓbitos neonatais precoces

N MPa

(%) TMINPb RMc IC95%

Tipo de gestaçãoÚnica 195 89,4 15,97 1,0Múltipla 23 11,6 106,48 6,67 4,42-10,05

Duração da gestação (em semanas)Menos de 22 18 8,3 750,00 310,20 214,15-449,48De 22 a 36 161 73,9 167,5 57,75 39,94-83,50De 37 a 41 33 15,1 2,90 1,042 e + 6 2,7 92,31 31,82 13,81-73,34

Tipo de partoVaginal 165 75,7 20,79 1,0Cesário 53 24,3 11,80 0,57 0,42-0,77

Número de consultas de pré-natalNenhuma 76 34,9 60,65 4,77 7,86-16,971-3 49 22,5 68,92 4,78 8,65-19,914-6 55 25,2 17,06 1,07 e + 38 17,4 5,25 0,15 0,11-0,21

Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc).

a) Mortalidade proporcional

b) Taxa de mortalidade infantil neonatal precoce por 1.000 nv

c) Razão de mortalidade

Page 57: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

56 Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):51-60, jan-mar 2010

Fatores associados à mortalidade neonatal precoce

Tabela 3 - Óbitos infantis neonatais precoces, mortalidade proporcional, taxa de mortalidade infantil neonatal precoce e razão de mortalidade, segundo características do recém-nascido no Distrito Sanitário Liberdade em Salvador-BA. Brasil, 2000 a 2005

CaracterísticasÓbitos neonatais precoces

N MPa

(%) TMINPb RMc IC95%

Sexo

Masculino 141 64,7 22,85 1,86 1,41-2,44

Feminino 77 35,3 12,31 1,0

Raça/cor

Branca 7 3,2 9,13 1,0

Preta 20 9,2 26,49 2,90

Parda 171 78,4 16,18 1,77

Indígena 20 9,2 289,86 31,76

Peso ao nascer (em grs)

Até 2.499 171 78,4 126,20 29,73 21,63-40,85

>2.500 47 21,6 4,25 1,0

Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc).

a) Mortalidade proporcional

b) Taxa de mortalidade infantil neonatal precoce por 1.000 nv

c) Razão de mortalidade

Discussão

Os determinantes da mortalidade infantil são ampla-mente estudados, no entanto, seu conhecimento tem produzido pouco impacto na sua redução em diferen-tes regiões do País. As desigualdades sociais apontam a necessidade de adoção de políticas visando à equidade e universalidade da atenção à saúde. O monitoramento da mortalidade infantil é de fundamental importância, principalmente em países como o Brasil, onde a mag-nitude das desigualdades sociais é relevante.4

O Brasil é signatário dos Objetivos de Desenvolvi-mento do Milênio (ODM), compromisso proposto às nações pela Organização Mundial da Saúde no ano 2000 para reduzir em dois terços, entre 1990 e 2015, a mortalidade de crianças menores de cinco anos.8 Portanto, o alcance da meta proposta pelos ODM depende essencialmente da redução do componente neonatal precoce.

Segundo Gomes e Santo,10 duas estratégias básicas podem ser adotadas para redução da mortalidade infantil: uma mais global que poderia ser chamada de “político-econômica”, e outra de caráter mais técnico. A primeira seria desenvolvida pelos governos ao prio-rizarem investimentos sociais para melhoria do bem

estar de amplas camadas da sociedade; e a segunda, mais específica, por meio da formulação e implantação de ações de saúde ou de assistência médica. No país, a redução da mortalidade neonatal é um grande de-safio para os serviços de saúde, governo e sociedade, pelas altas taxas vigentes concentradas nas regiões e populações mais pobres.13,14 Ações extrassetoriais, mais particularmente de educação e assistência social, devem ser efetivadas e, no setor saúde, considera-se prioritário o investimento na reestruturação da atenção à gestante e ao recém-nascido, com articulação entre as ações do pré-natal na rede básica e a assistência ao parto, no âmbito hospitalar.3,15

O Estado da Bahia em seu Plano Estadual de Saúde 2004-2007, intitulado “Mais Saúde com Qualidade: Reduzindo Desigualdades”, estabeleceu um com-promisso de redução das altas taxas de mortalidade infantil. Entretanto, as estratégias elencadas neste Plano favoreciam, de forma global, a redução do componente pós-neonatal em detrimento das ações voltadas para a redução das mortes neonatais, estas últimas estáveis desde a década de 1990.7

O município de Salvador tem enfrentado dificulda-des na redução da mortalidade neonatal, uma vez que a acentuada desigualdade social e o precário acesso

Page 58: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

57

Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):51-60, jan-mar 2010

a serviços de saúde de qualidade vêm contribuindo para a manutenção de um cenário desfavorável para a redução das mortes infantis.

No distrito estudado, os nascidos vivos que foram a óbito na primeira semana de vida, eram, na sua maioria, do sexo masculino, prematuros, e com baixo peso ao nascer. Eram filhos de mães jovens, entre 20 a 34 anos, solteiras ou separadas (87,60%) e pouco escolarizadas (58,75% tinha até 8 anos de estudo). Apenas 17,43% das mães realizaram sete ou mais consultas de pré-natal.

A TMINP do DSL (24,2 por mil nascidos vivos) foi superior à média da capital baiana no mesmo período, de 15,45 por mil nascidos vivos e situa-se também acima da registrada na maioria dos Distritos Sanitá-rios de Salvador. Este valor é considerado alarmante quando comparado às taxas dos outros estados da federação.9

Os indicadores socioeconômicos são importantes na análise dos determinantes da mortalidade infantil neonatal precoce. Entretanto, nos bancos de dados de nascidos vivos e óbitos, o indicador disponível, proxy da condição socioeconômica, é o numero de anos de estudo da mãe. Neste estudo, confirmou-se que os RN de mães sem instrução ou com menos anos de estudo apresentaram o risco de morte neonatal precoce mais elevado. Dados para comparar as condições de vida entre os distritos sanitários não estão disponíveis nos bancos de dados analisados e é uma limitação deste estudo.

Os RN das mulheres que se declararam solteiras, viúvas ou separadas apresentaram maiores risco de morte, em concordância com os estudos de Helena16 e Araújo.2 Nestes autores, a associação esteve presente tanto na análise univariada como após a regressão, mas perdendo significância estatística após o ajuste, o que pode ser explicado em parte pela força das variáveis biológicas. Para Martins,13 o estado civil da mãe não está associado à mortalidade, na analise multivariada. Talvez, as diferenças metodológicas nos estudos acima possam ter contribuido para os dierentes achados. Para alguns autores16,17 a presen-ça de companheiro materno tem sido relacionada a uma menor mortalidade neonatal. A participação do companheiro não só possibilita um maior aporte financeiro, como se reflete na aceitação social da mãe e do RN, trazendo mais apoio e estímulo aos cuidados necessários a ambos.

As faixas etárias com as altas taxas de fecundidade têm sido aquelas abaixo de 20 e acima de 34 anos. Neste estudo, encontrou-se maior risco de morte ne-onatal precoce apenas entre RN de gestantes abaixo de 20 anos, assim como Bercini,3 em pesquisa realizada no Sul do Brasil. Esta posição não está bem definida entre os autores, devendo-se levar em consideração outros fatores, como os socioeconômicos, que podem ter maior influência em relação aos biológicos.

A insuficiência de consultas de pré-natal esteve fortemente relacionada ao óbito neonatal precoce, como constatado em pesquisas prévias.2,6 Embora outros aspectos relativos ao pré-natal não tenham sido abordados neste trabalho, como período de início das consultas e qualidade da atenção pré-natal recebida, a associação entre maior mortalidade e número de con-sultas reforça a necessidade de melhoria na atenção à gestante. O número maior de consultas no pré-natal como fator protetor para o óbito neonatal, indica a importância dos cuidados durante a gestação, assim, um acompanhamento gestacional mais assíduo pode identificar precocemente e prevenir ocorrências lesivas para o recém-nascido.

Neste estudo, a associação entre a gravidez múltipla e, sobretudo, tríplice e a mortalidade neonatal esteve presente. Embora o número de eventos tenha sido pequeno, este achado é plausível e concordante com outras investigações.17 Os nascidos vivos de gravidez múltipla apresentam uma alta incidência de baixo peso ao nascer e prematuridade. Em muitos estudos2,3,6,7 constituem fatores de risco para o óbito neonatal pre-coce. É de fundamental importância que as gestantes com gestação múltipla sejam identificadas precoce-mente no pré-natal e recebam atenção especial durante a gestação e o parto, com recursos de saúde lhes sendo ofertados, de modo a evitar que seus recém-nascidos venham a falecer nos primeiros dias de vida.

O tipo de parto também esteve relacionado com a mortalidade neonatal precoce, achado igualmente des-tacado por Leal e Szwarcwald, avaliando a mortalidade perinatal e neonatal precoce no município do Rio de Janeiro.13 A Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) recomenda que a proporção de cesáreas não deva ultrapassar 20% e a Organização Mundial da Saúde, 15% dos partos. Como visto, neste estudo, a cesárea representou 24,3% de todos os partos, ou seja, um pouco acima do preconizado pela FIGO.18 O efeito protetor da cesariana pode estar re-

Page 59: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

58

Fatores associados à mortalidade neonatal precoce

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):51-60, jan-mar 2010

lacionado a outros fatores, tais como atenção ao parto de qualidade, acesso e nível socioeconômico da mãe, contudo, o Sinasc não permite este tipo de análise e é uma limitação deste estudo. Outros tipos de estudo relacionados à avaliação dos serviços de saúde talvez elucidem esses resultados referentes à via de parto de modo mais apropriado.

É consenso na literatura a prematuridade como um fator de risco para a mortalidade neonatal precoce.1,9 Neste estudo, não foi diferente, embora tenha sido constatado também um risco de morte elevado entre RN de mulheres com gestação acima de 42 semanas. Não foi possível afastar que parte dos óbitos neonatais de grandes prematuros se tratasse de fato de abortos, registrados incorretamente por profissionais. Diante das definições vigentes que podem dar margem a con-fusões, o recém-nascido que nasce com algum sinal de vida é considerado nascido-vivo, independente da idade gestacional, enquanto que o aborto relaciona-se com o produto de até 22 semanas de gestação.19 Ainda que neste estudo, tenham sido selecionados apenas os RN que foram a óbito e que tinham também uma DN, supõe-se que um número desconhecido desses óbitos possa corresponder a abortos.

O sexo do recém-nascido mostrou associação com o óbito neonatal neste estudo, igualmente ao observado por Araujo e colaboradores2 e por Menezes e cola-boradores,20 que encontraram risco aumentado para os recém-nascidos do sexo masculino. Segundo os autores acima, a explicação de menor mortalidade no sexo feminino seria o amadurecimento mais precoce do pulmão fetal no sexo feminino com diminuição de problemas respiratórios, que estão entre as principais causas de óbito neonatal.

Na literatura,6,7 o baixo peso ao nascer das crianças está intrinsecamente associado à mortalidade neonatal precoce, tal como encontrado na presente investiga-ção. Para Moraes,17 os RN com baixo peso estão mais vulneráveis a problemas de imaturidade pulmonar e transtornos metabólicos, podendo causar ou agravar alguns eventos que os acometem, aumentando o risco para a mortalidade. Chama atenção, todavia, que um quinto (21,6%) dos óbitos neonatais precoces tenha ocorrido em crianças com peso acima de 2.500 gramas. Como teoricamente não deveriam acontecer óbitos em crianças que nascem com peso normal, provavelmente podem ter existido patologias asso-ciadas que tenham contribuído para o desfecho letal.

Também, é possível que a situação socioeconômica da mãe se reflita no acesso a diferentes condições de atenção à saúde, particularmente durante a gravidez, o parto e o período neonatal. Os bancos de dados do SIM e Sinasc não disponibilizam dados que permitam o conhecimento dessa situação, necessitando uma coleta de dados dos prontuários. Este achado merece investigação posterior.

Os fatores relacionados à mortalidade neonatal precoce, identificados no presente estudo, foram na sua maioria características reprodutivas maternas e assistenciais e os achados convergem para aqueles de investigações locais realizadas em outras regiões do país.6-8 As ações voltadas para alterar essa situação devem ser desenvolvidas em distintos níveis, envolven-do as três esferas do governo e a sociedade, com o objetivo primeiro de evitar o nascimento em situação de risco e, na sua ocorrência, de oferecer um suporte adequado visando à sobrevida do neonato e da mãe, sem sequelas danosas.

Esforços devem ser empreendidos para garantir ampla cobertura de ações que se estenda a todo ciclo gravídico-puerperal no DSL, oportunizando para todas as mulheres intervenções qualificadas no pré-natal, durante o trabalho de parto e no parto e na assis-tência ao recém-nascido. É eticamente inaceitável a ocorrência de óbitos potencialmente evitáveis como detectados neste estudo. Faz-se necessária também a ampliação da oferta de serviços de atenção básica no DSL. Se considerarmos a Portaria GM/MS nº 648/2006 que estabelece, entre outros itens, a relação entre o número de habitantes e a quantidade de postos de saúde – uma unidade básica de saúde para cada trinta mil habitantes21 seriam necessárias, então, mais duas

O número maior de consultas no pré-natal como fator protetor para o óbito neonatal, indica a importância dos cuidados durante a gestação, assim, um acompanhamento gestacional mais assíduo pode identificar precocemente e prevenir ocorrências lesivas para o recém-nascido.

Page 60: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

59

Referências

1. Andrade SM, Soares DA, Matsuo T, Souza RKTS, Mathias TAFM, Iwakura MLH, et al. Condições de vida e mortalidade infantil no estado do Paraná, Brasil, 1997-2001. Cadernos de Saúde Pública

2006;22(1):181-189.

2. Araújo BF, Bozzeti MC, Tanaka ACA. Mortalidade neonatal precoce no município de Caxias do Sul: um Estudo de Coorte. Jornal de Pediatria 2000;76(3):200-206.

3. Bercini IO. Mortalidade neonatal de residentes em localidade urbana da Região

Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):51-60, jan-mar 2010

unidades básicas de saúde no DSL. Em 2006, o distrito contava com quatro unidades básicas de saúde para uma população de 174.747 habitantes.22 Do mesmo modo, é fundamental a ampliação de leitos neonatais de alta complexidade que apresentam um déficit sig-nificante na cidade.

Os equipamentos de saúde de alta complexidade, presentes no DSL, fazem parte de uma rede desorga-nizada e desarticulada e incapaz de assegurar uma mínima cobertura tanto dos residentes deste distrito sanitário quanto da população do município, nos períodos analisados, conforme preconizado pela Por-taria MS n° 1101/2002,23 a qual estabelece coberturas assistenciais mínimas com base populacional.

O Sinasc e o SIM, ambos gerenciados pelo Minis-tério da Saúde, integram os Sistemas de Informações em Saúde de abrangência nacional e possibilitam análises comparativas entre diversos estados, municí-pios, regiões e distritos. A utilização desses Sistemas de Informação para analisar a mortalidade infantil neonatal precoce no DSL se mostrou muito útil, apesar das perdas no linkage dos bancos de dados devido às falhas no preenchimento dos formulários que alimentam estes Sistemas – Declarações de Óbito e de Nascido Vivo –, a exemplo do nome da mãe. Isto também eliminou a possibilidade de verificação de todos os óbitos ocorridos no período estudado. É possível que os casos perdidos correspondam a mães e RN em situações adversas relacionadas ao momento de registro de dados. Embora essa seja uma limitação do estudo, não invalidou os seus resultados. Desse modo, é relevante o aperfeiçoamento da qualidade do preenchimento desses formulários, uma vez que geram informações fundamentais para elaboração de políticas públicas de saúde.

O presente estudo utilizou as bases de dados do SIM e do Sinasc, de fácil acesso e alto potencial de informação para o conhecimento da situação de saúde

de populações. O uso da técnica de linkage entre esses bancos mostrou-se bastante útil, igualmente, o proces-so facilitado graças à utilização do software Reclink III. As bases de dados estudadas permitiram a adequada investigação dos fatores mais fortemente relacionados à mortalidade infantil neonatal precoce, mostrando a relevância desses sistemas de informações para o estudo de problemas de saúde. As taxas de cobertura dos sistemas analisados permitiram a produção de dados que representam a realidade local.

Os resultados apresentados no presente trabalho evidenciam a necessidade de rever o acesso aos serviços de saúde no DSL, assim como a qualidade da assistência no pré-natal, mas também as condições de assistência ao parto e dos cuidados imediatos após o nascimento. A forte associação da mortalidade neonatal precoce com a baixa instrução materna indica que as gestantes com menor escolaridade devem ser alvo de atenção especial nos serviços de saúde, independente de qualquer outra característica que possam apresentar.

Concluí-se ser importante estimular a utilização dos dados gerados pelos sistemas de informações de base epidemiológica no planejamento das ações de saúde e a sensibilização dos profissionais de saúde para o correto preenchimento dos documentos que os alimentam, no caso específico a Declaração de Óbito e Declaração de Nascido Vivo.

A redução da mortalidade neonatal precoce está ligada ao reconhecimento da sua importância pelos gestores do sistema de saúde. Conferir visibilidade a esta situação é tarefa primeira para a tomada de decisões.

As características sócio-demográficas maternas, reprodutivas, assistenciais e do recém-nascido são importantes indicadores que podem ser utilizados como condições de alerta para monitoramento deste componente da mortalidade infantil.

Page 61: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

60

Sul do Brasil. Revista de Saúde Pública 1994; 28(1):38-45.

4. Silva LMV, Paim JS, Costa MCN. Desigualdades na mortalidade, espaço e estratos sociais. Revista de Saúde Pública 1999;33(2):187-197.

5. Duarte CMRD. Qualidade de vida e indicadores de saúde: aspectos da mortalidade infantil no estado do Rio de Janeiro e suas regiões. Cadernos de Saúde Pública 1992;8(4):414-427.

6. Duarte JLMB, Mendonça GAS. Comparação da mortalidade neonatal em recém-nascidos de muito baixo peso ao nascimento, em maternidades do município do Rio de Janeiro, Brasil. Cadernos de Saúde Pública 2005;21(5):1141-1447.

7. Drumond EF, Machado CJ, França E. Óbitos neonatais precoces: análise de causas múltiplas de morte pelo método Grade of Membership. Cadernos de Saúde Pública 2007;23(1):157-166.

8. Ministério da Saúde, Rede Interagencial de Informações para a Saúde. Indicadores de Dados Básicos - IDB 2006 [Internet]. Brasília: RIPSA; 2007 [acesso 2007 nov.]. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/idb2007/c01.htm.

9. Gomes JO, Santo AH. Mortalidade infantil em município da região centro-oeste paulista, Brasil, 1990 a 1992. Revista de Saúde Pública 1997;31(4):330-341.

10. Leal MC, Szwarcwald CL. Evolução da mortalidade neonatal no estado do Rio de Janeiro, Brasil (1979 a 1993): análise por causa segundo grupo de idade e residência. Cadernos de Saúde Pública 1996;

12:243-252.

11. Leal MC, Szwarcwald CL. Características da mortalidade neonatal no estado do Rio de Janeiro na década de 80: uma visão espaço-temporal. Revista de Saúde Pública 1997;31:457-465.

12. Leal MC, Szwarcwald CL. Análise espacial da mortalidade neonatal precoce no município do Rio de Janeiro, 1995-1996. Cadernos de Saúde Pública 2001;17(5):1199-1210.

13. Martins FE, Velásquez-Meléndez G. Determinantes da mortalidade neonatal a partir de uma coorte de nascidos-vivos, Montes Claros, Minas Gerais, 1997-1999. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil 2004;4(4):405-412.

14. Camargo Jr KR, Coeli CM. Manual RecLink III. Cadernos de Saúde Pública 2001;192(2):2-13.

15. Ministério da Saúde. Agenda de compromissos para a saúde integral da criança e redução da mortalidade infantil. Brasília: MS; 2004.

16. Helena ETS, Sousa CA, Silva CA. Fatores de risco para a mortalidade neonatal em Blumenau, Santa Catarina: linkage entre bancos de dados. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil 2005;5(2):209-217.

17. Morais Neto OL, Barros MBA. Fatores de risco para a mortalidade neonatal e pós-neonatal na Região Centro-Oeste do Brasil: linkage entre bancos de dados de nascidos vivos e óbitos infantis. Cadernos de Saúde Pública 2000;16(2):477-485.

18. Organizacion Panamericana de la Salud. Las condiciones de salud en las Américas. Washington DC: OPS; 1990.

19. Laurenty R, Mello Jorge MHP. O atestado de óbito. 5ª ed. São Paulo: Centro Colaborador da OMS para a Família de Classificações, Centro Brasileiro de Classificação de Doenças; 2004.

20. Menezes AMB, Barros FC, Victora CG, Tomasi E, Halpern R, Oliveira ALB. Fatores de risco para mortalidade perinatal em Pelotas, RS, 1993. Revista de Saúde Pública 1998;32(3):209-216.

21. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n. 648, de 28 de março de 2006. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica. Diário Oficial da União, Brasília, p.71-76, 29 mar. 2006. Seção 1.

22. Secretaria da Saúde do Estado da Bahia. Diretoria de Informação a Saúde [Internet]. Salvador: SES [acesso 2007 set., para informações sobre dados demográficos]. Disponível em: http://www.saude.ba.gov.br/dis.

23. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n. 1.101, de 12 de junho de 2002. Estabelece os parâmetros de cobertura assistencial no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS. Diário Oficial da União, Brasília, p. 36, 13 jun. 2002. Seção 1.

Recebidoem28/10/2008 Aprovadoem30/09/2009

Fatores associados à mortalidade neonatal precoce

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):51-60, jan-mar 2010

Page 62: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

61

Primary Health Care Risk Factors for Hospitalization for Ambulatory Care Sensitive Conditions: Systematic Literature Review

Artigo de revisão Características da atenção básica associadas ao risco

de internar por condições sensíveis à atenção primária: revisão sistemática da literatura*

Endereço para correspondência: Curso de Medicna, Universidade de Santa Cruz do Sul, Av. Independência, 2293, Bloco 53, Sala 5313, Santa Cruz do Sul-RS, Brasil.CEP: 96815-900 E-mail: [email protected]

Fúlvio Borges NedelCurso de Medicina, Universidade de Santa Cruz do Sul , Santa Cruz do Sul-RS, BrasilGrups de Recerca d’Amèrica i Àfrica Llatines, Unitat de Bioestadística, Facultat de Medicina, Universitat Autònoma de Barcelona (GRAAL-UAB), Barcelona, Espanha

Luiz Augusto Facchini Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia, Departamento de Medicina Social, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas-RS, Brasil

Miguel Martín Grups de Recerca d’Amèrica i Àfrica Llatines, Unitat de Bioestadística, Facultat de Medicina, Universitat Autònoma de Barcelona (GRAAL-UAB), Barcelona, Espanha

Albert Navarro Grups de Recerca d’Amèrica i Àfrica Llatines, Unitat de Bioestadística, Facultat de Medicina, Universitat Autònoma de Barcelona (GRAAL-UAB), Barcelona, Espanha

ResumoAs hospitalizações por Condições Sensíveis à Atenção Primária (CSAP) – pneumonias bacterianas, complicações da diabete

e da hipertensão, entre outras – são um indicador indireto da efetividade do primeiro nível de atenção à saúde. Foi feita uma revisão sistemática de estudos sobre características da atenção primária associadas ao risco de internação por CSAP, indexados na MEDLINE e LILACS. A maioria dos estudos foi realizada nos Estados Unidos e Espanha, utilizando análise transversal de dados secundários. Na Espanha, as taxas de internação por CSAP não se associaram ao tamanho da população adscrita, ao médico ou enfermeiro. A continuidade da atenção associou-se a menores taxas, nos Estados Unidos e Canadá. A continuidade da atenção, a equipe multidisciplinar e, em menor destaque, a população adscrita ao médico mostraram-se associadas em diferentes estudos à menor probabilidade de hospitalização por CSAP. Em conclusão, os princípios fundamentais da atenção primária associaram-se a um menor risco de internar por CSAP.

Palavras-chave: atenção primária à saúde; sistemas de saúde; política de saúde; indicadores básicos de saúde.

SummaryHospitalizations for Ambulatory Care Sensitive Conditions (ACSC) – bacterial pneumonias, diabetes and complica-

tions of hypertension, among others – are an indirect indicator of the first level of health care effectiveness. Systematic review of the literature on primary care services related to the risk of hospital admission for ACSC, through computer searches of MEDLINE and LILACS was done. Most studies found were cross-sectional analysis of secondary data, from USA and Spain. In Spain, ACSC rates were not associated with the number of patients per general practitioner or nurse. Continuity of care was associated with lower hospitalization rates for ACSC in USA and Canada. Some aspects, such as continuity of care, multidisciplinary team, and, at a least degree, the population per general practitioner, have been associated with a decreasing risk of hospitalization for ACSC. Delivered primary care services were associated with a lower risk of hospitalization for ACSC.

Key words: primary health care; health systems; health policy; health status indicators.

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):61-75, jan-mar 2010

* A preparação deste artigo foi facilitada por uma bolsa de estágio de doutorado no exterior concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) ao primeiro autor, na Unitat de Bioestadística da UAB. [BEX 0024/07-4]. Apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas como parte de tese doutoral.

Page 63: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

62

Introdução

Condições Sensíveis à Atenção Primária (CSAP) são problemas de saúde atendidos por ações típicas do primeiro nível de atenção e cuja evolução, na falta de atenção oportuna e efetiva, pode exigir a hospitali-zação, como pneumonias bacterianas, complicações da diabete e da hipertensão, asma, entre outros. Tais hospitalizações servem de instrumento para a avaliação e monitoramento da efetividade desse nível do sistema de saúde. O indicador surgiu nos Estados Unidos ao final dos anos 1980 para identificar camadas da popu-lação sem acesso à atenção ambulatorial e estudar seu impacto financeiro sobre o sistema de saúde.1-6 Após sua aplicação na Espanha, país com sistema nacional de saúde universal, territorializado e hierarquizado com base na Atenção Primária à Saúde (APS), passou a ser utilizado como indicador da efetividade nesse nível do sistema.7-10

Atualmente, é um dos indicadores de acesso à aten-ção de qualidade propostos para os Estados Unidos11 e para os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),12 e há estudos sobre o tema em diferentes continentes.13-20 O Minis-tério da Saúde brasileiro lançou em abril de 2008 a Lista Brasileira de Condições Sensíveis à Atenção Primária.21 A lista compreende dezenove grupos de causas e é resultado de um longo trabalho de validação por consenso entre especialistas.22,23

A literatura científica tem mostrado, com crescente consistência, uma associação inversa entre o acesso a serviços ambulatoriais e as hospitalizações por essas causas.24-27 Após a extensão de cobertura do Medicare para crianças na Califórnia, houve redução nas taxas de hospitalização por CSAP, enquanto outras causas não sofreram variação.28,29 No mesmo sentido, pessoas com maior continuidade de afiliação a um plano de saúde têm menor risco de internar por CSAP.30 Estudos comparativos mostram melhores resultados em paí-

ses com sistema de saúde universal que nos Estados Unidos.5,7,18 Diversos estudos têm ainda mostrado pior situação do indicador em populações pobres ou marginalizadas,6,19,31-34 mesmo controlando para a gravidade clínica do caso35 ou para a prevalência da doença.36

Com as mudanças operadas no sistema de saúde norte-americano a partir da década de 1990 e a prolífica produção daquele país sobre o indicador, vêm-se acumulando evidências de que pacientes que consultam em serviços organizados segundo princípios mais próximos da Atenção Primária à Saúde (APS) – as Health Maintance Organizations e outros – ou que residem em áreas com maior proporção desses serviços internam menos por CSAP que aqueles que consultam em serviços de atenção ambulatorial “tra-dicional”.6,24,37,38

Menos estudos focaram características da APS relacionadas às internações por CSAP.6,13,39 Sabe-se pouco sobre uma questão fundamental para a gestão da Atenção Básica (AB) do Sistema Único de Saúde (SUS): quais aspectos da estrutura, organização e processo de trabalho na APS associam-se à variabi-lidade das taxas de internações? O crescente uso do indicador no cenário internacional e no Brasil,15,23,40-42 sua utilidade para o SUS como sistema universal de saúde e as necessidades de avaliação da AB justificam uma síntese da literatura científica sobre o tema, faci-litando o desenvolvimento de estudos locais e melhor compreensão da situação brasileira.

O objetivo desta revisão bibliográfica foi sintetizar as características da APS associadas ao risco de hospi-talização por CSAP, em estudos publicados em revistas científicas da área da saúde sobre o indicador.

Metodologia

Estratégia de buscaAs buscas não foram limitadas por data de publi-

cação ou quaisquer outras restrições; foi realizada uma busca nas bases bibliográficas MEDLINE e LILACS, respectivamente pela PUBMED (www.pub-med.gov) e BVS (www.bireme.br), com os seguintes termos: (avoidable[TIAB] OR preventable[TIAB] OR amenable[TIAB]) AND (((hospitalisation[TIAB] OR hospitalisations[TIAB] OR hospitalization[TIAB] OR hospitalizations[TIAB]) OR (hospital[TIAB] AND (admission[TIAB] OR admissions[TIAB] OR

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):61-75, jan-mar 2010

Condições sensíveis à atenção primária

Condições Sensíveis à Atenção Primária (CSAP) são problemas de saúde atendidos por ações típicas do primeiro nível de atenção e cuja evolução, na falta de atenção oportuna e efetiva, pode exigir a hospitalização.

Page 64: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

63

discharge[TIAB] OR discharges))) OR “ambula-tory care sensitive”[TIAB]) AND (“Primary Health Care”[Mesh] OR “Ambulatory Care”[Mesh]) AND (“Health Services Research”[Mesh] OR “Health Services Administration”[Mesh]).

Para artigos publicados em 2008 a busca na MEDLINE não incluiu descritores. Na LILACS a busca foi ampliada para ((avoidable OR preventable OR amenable) AND hospital$)) OR (ambulatory care sensitive) em inglês, ((interna$ OR hospitaliza$) AND evita$)) OR (condições sensíveis) em português e em espanhol. Foi ainda realizada outra com os termos hospital$ AND “atenção primária” OR “atención pri-maria” e revisados os artigos resultados desta busca cujo assunto era Atenção Primária à Saúde.

Complementarmente, utilizou-se o mecanismo de busca do Google (www.google.com.br) na Internet com os termos [“condições sensíveis” “hospitalizações evitáveis” “atenção primária”] e seus correspondentes em espanhol, para a busca de artigos publicados em revistas latino-americanas não indexadas nas bases anteriores. Finalmente, a bibliografia de cada estudo selecionado foi avaliada de acordo com os critérios de inclusão e seleção. A busca foi atualizada em dezembro de 2008.

Critérios de inclusãoArtigos originais com resultados de pesquisas

sobre características da APS associadas ao risco de internação por CSAP, publicados em revistas científicas. Os estudos deveriam ter, portanto, a internação por CSAP como desfecho e como exposição pelo menos uma característica da APS, seja de estrutura (número de habitantes por equipe de saúde ou por médico, por exemplo), processo (modos de organização da aten-ção), ou desempenho (grau de cumprimento de metas de atenção, como pré-natal, puericultura etc.). Foram incluídos os estudos que consideravam pelo menos uma causa aguda e uma crônica entre as CSAP.

Critérios de exclusãoForam excluídos os artigos que: 1) tratavam de

grupo de causas específico (como doenças cardio-vasculares evitáveis pela atenção primária), sem conformar um agregado de diferentes tipos de causas; 2) tratavam de pacientes institucionalizados (casas geriátricas etc.); 3) tratavam apenas das internações em unidades hospitalares específicas (Unidade de

Tratamento Intensivo etc.); 4) tratavam apenas de avaliação econômica; 5) apesar de incluir medidas de potencial interesse a esta revisão, como o número de médicos por habitante, não faziam referência direta ao número de usuários por médico ou equipe de saúde; 6) tratavam apenas do efeito da melhoria do acesso à APS sobre as hospitalizações por CSAP.

Avaliação da qualidade metodológica dos estudosA qualidade metodológica dos estudos foi avaliada

segundo critérios selecionados do índice de Downs & Black.43 Embora esse instrumento tenha sido inicial-mente proposto para estudos de coorte e caso-contro-le, a justificativa dos autores para estabelecimento dos mesmos critérios de análise em estudos experimentais e observacionais de indivíduos – o fato de que todos medem exposição, fatores de confusão e desfecho – também pode se aplicar a estudos de agregados de indivíduos, ditos ecológicos, predominantes na análise de indicadores de saúde, assim como a análises trans-versais da ocorrência de fenômenos, independente do nível de agregação da unidade de análise.

Assim, utilizamos critérios de Downs e Black apli-cáveis ao conjunto desses estudos – transversais e longitudinais, independente do nível de agregação da unidade de análise – para avaliar a qualidade dos estu-dos revisados. Sobre o relato do estudo, pontuamos a clareza de descrição de: 1) objetivo ou hipóteses, 2) principais resultados a serem medidos, na seção de In-trodução ou Métodos, 3) características dos pacientes incluídos no estudo [nesse critério consideramos, em vez dos “pacientes”, as unidades de análise (paciente, setor censitário, município, etc.), de modo a permitir a aplicação da pergunta a estudos de agregados de pacientes], 4) principais fatores de confusão em cada grupo de comparação, 5) principais achados do estudo, 6) real valor-p [ou, segundo nosso critério, o intervalo de confiança] encontrado e não expressões como “não significativo” ou “< 0,05”, exceto quando menor de 0,001. Sobre a validade externa, 7) se as unidades observacionais eram representativas de toda a população de origem. Sobre a validade interna, 8) a adequação dos testes estatísticos utilizados, 9) a acurácia (validade e precisão) na medida dos principais desfechos e 10) se houve adequado ajuste para confundimento. A pontuação mínima foi zero e a máxima onze.

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):61-75, jan-mar 2010

Fúlvio Borges Nedel e colaboradores

Page 65: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

64

Características dos estudosOs estudos foram caracterizados quanto ao período

de publicação, país de origem, tipo de estudo, restrição quanto à faixa etária, número de causas ou grupos de causas consideradas CSAP, tipo de dados analisados (primários ou secundários), nível de agregação dos dados e principais resultados descritos. Os resultados descritos foram classificados em dois grandes grupos: 1) análises do papel de variáveis de estrutura, pro-cesso e desempenho dos serviços sobre as taxas de internação por CSAP e 2) análises do papel do modelo de atenção.

Resultados

A busca inicial nas bases bibliográficas resultou em 1.814 (776 PUBMED + (781 + 288) LILACS) referên-cias, reduzidas ao final da seleção para 18 artigos, con-forme representado na Figura 1. Obviamente, muitas das referências encontradas na LILACS repetem as da PUBMED, pois várias revistas latino-americanas são indexadas em ambas as bases. A busca na LILACS acres-centou um artigo à fase de leitura, que não cumpria os critérios de seleção. A busca no GOOGLE acrescentou um artigo à revisão, de revista indexada à LILACS, mas que não foi encontrado na busca pela BVS.

Como se vê na Tabela 1, a maioria dos estudos foi realizada nos Estados Unidos (oito), e Espanha (cin-co), com análise transversal (oito). Todos utilizaram dados secundários, inclusive nos quatro estudos com dados primários. Englobam um período de 14 anos, mas a maioria é recente: dos 18 estudos reunidos, 13 foram publicados a partir de 2001 e metade a partir de 2003. O ano com maior produção de artigos (quatro) foi 2006. Aproximadamente metade dos estudos teve como unidade de análise o indivíduo ou a internação, enquanto a outra metade utilizou diferentes modos de agregação geográfica dos dados. Há uma grande variedade de faixas etárias enfocadas, bem como do número de causas consideradas evitáveis em cada estudo, que têm um coeficiente de variabilidade de 56,4%. Predominam os estudos com uma lista ampla de causas, embora seis estudos não usem mais de seis causas para construir o indicador.

Variáveis de estrutura, processo e desempenho dos serviçosA Figura 2 e a Tabela 2 representam a relação entre

características de estrutura, processo e desempenho da APS e as hospitalizações por CSAP, nos artigos re-visados, para as variáveis de nosso interesse. Vemos que a maioria das variáveis estudadas associou-se

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):61-75, jan-mar 2010

Figura 1 - Fluxograma da seleção dos artigos

Resultado inicial – títulos ou resumos lidos

MEDLINE: 776

LILACS: 781 + 288

GOOGLE : 753 + 289

Pré-selecionados – artigos lidos

MEDLINE: 53

LILACS: 1

GOOGLE: 6

Selecionados – artigos incluídos na revisão

MEDLINE: 17

GOOGLE: 1

Revisão da bibliografia dos artigos

Artigos lidos: 4

Selecionados: 0

Condições sensíveis à atenção primária

Page 66: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

65 Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):61-75, jan-mar 2010

Tabela 1 - Descrição dos estudos incluídos na revisão

Ref.a Autor D/Bb Ano País Tipo de estudo Faixa etária

Lista de códigos

Tipo de dados

Nível de agregação Principais resultados

7 Casanova & Starfield 11 1995 Espanha Caso-controle 0-15 21 Secundários Indivíduo

Probabilidade semelhante de internação independente do

tipo de médico (pediatra versus generalista ou de família) e do tipo de unidade (centro de saúde versus

consultório médico)

50 Gill 8 1997 EUA Transversal 0-64 17 Secundários IndivíduoMais de 50% das consultas com

a mesma equipe de saúde não se associa às taxas

9 Casanova e colaboradores 8 1998 Espanha Transversal 0-14 21 Secundários Distrito

sanitário‘Novo modelo’ de APSc não diferiu

do anterior

44 Gadomski e colaboradores 11 1998 EUA Antes-e-depois <19 18 Secundários Indivíduo

Modelo testado não faz diferença Mais consultas, maiores taxas

Mais consultas preventivas, menores taxas

48 Gill & Mainous 8 1998 EUA Longitudinal 1-64 17 Secundários Indivíduo Continuidade diminui as taxas

13 Caminal e colaboradores 11 2001 Espanha Transversal Todas 22 Secundários ABSd

Funcionamento 24h do CSe, maiores taxas

Proximidade ao hospital, maiores taxas

24 Falik e colaboradores 11 2001 EUA Longitudinal 0-64 20 Secundários Hospitalização Menores taxas com APS regular

51 Hakim & Bye 9 2001 EUA Longitudinal <2 4 Secundários Indivíduo Estar em dia com a puericultura reduz o risco de internar por CSAPf

53 Jiwa e colaboradores 5 2002 Inglaterra Intervenção 75e+ 14 Primários e

secundários Indivíduo Sem poder estatístico, inconclusivo

45 Ansari e colaboradores 11 2003 Austrália Transversal Todas 19 Secundários Multinível Mais médicos generalistas e

consultas, menores taxas

47 Márquez-Calderón e colaboradores 9 2003 Espanha Transversal Todas 29 Secundários Município/ABS ‘Novo modelo’ de APS, taxas

menores

52 Steiner e colaboradores 10 2003 EUA Caso-controle <3 6 Secundários Indivíduo Consultas prévias não se associam

39 Bermúdez-Tamayo e colaboradores 9 2004 Espanha Transversal Todas 6 Secundários Município Menores taxas em áreas com centro

de saúde (versus Consultório)

26 Ansari e colaboradores 11 2006 Austrália Transversal 18e+ 30 Primários e

secundários ABSMaior nº de consultas, menores

taxasNº de médicos não faz diferença

54 Kane e colaboradores 9 2006 EUA Longitudinal 65e+ 4 Secundários Indivíduo

Programa novo melhor apenas para controles da mesma área sem atenção domiciliar ou comunitária

49 Menec e colaboradores 10 2006 Canadá Transversal 67e+ 28 Primários e

secundários IndivíduoMenores taxas com acesso regular

(+ de 75% das consultas com o mesmo médico)

46 Mobley e colaboradores 11 2006 EUA Espacial 65e+ 11 Secundários ABS

Áreas com maior razão de profissionais não-médicos / médicos têm menores taxas

55 Elias & Magajewski 6 2008 Brasil Longitudinal várias 5 Primários e secundários Município

Resultados para causas separadas; municípios com PSFg adequado têm

taxas mais baixas

a) Ref.: Referência bibliográfica neste artigo

b) D/B: Índice de Downs & Black43 modificado: máximo 11 pontos

c) APS: Atenção Primária à Saúde

d) ABS: Área Básica de Saúde

e) CS: Centro(s) de Saúde

f) CSAP: Condições Sensíveis à Atenção Primária

g)PSF: Programa Saúde da Família

Fúlvio Borges Nedel e colaboradores

Page 67: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

66

CSb versus consultório

Pediatra versus c.geral/m. famíliaConsultas APSc

Consultas preventivasContinuidade do cuidador

Acesso horário normal (versus 24 hs.)

Puericultura em dia

Consulta preventiva esporádicaVacinas em dia

Puericultura em diaConsulta preventiva esporádica

Vacinas em diaPuericultura em dia

Consulta preventiva esporádicaVacinas em dia

Programa de APS ampliada

Consultas médico APS/hab.Crianças com puericultura em dia

+1 consulta de puericultura+1 consulta em APS

>75% consultas mesmo médicoAno 2001

Ano 1996

MulheresHomens

CS versus consultório

Indivíduos

Indivíduos

IndivíduosABSd

Indivíduos

Indivíduos

Indivíduos

Indivíduos

IndivíduosIndivíduos

Municípios

Indivíduos

Indivíduos

1.508

16.116

13.495151

23.696

30.199

41.346

59

1.217.976394

34

1.863

?

Nottinghamshire, UK

Valencia, Es

Maryland, EUA

Delaware, EUACatalunha, Es

California, EUA

Georgia, EUA

Michigan, EUA

Victoria (rural), AuDenver (EUA)

Granada, Es

Manitoba, Ca

0.5 1 1.5 2 2.5 3

7

44

4813

51

53

4552

39

49

Ref. Local n Variáveis Efeitoa

a) Efeito: razões de odds, proporção, taxa ou hazards. Variáveis ajustadas por diferentes modelos, segundo o estudo. Os pontos à esquerda da linha vertical da figura indicam resultados favoráveis (menos internações por CSAP)

b) CS: Centro de Saúde

c) APS: Atenção Primária à Saúde

d) ABS: Área Básica de Saúde

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):61-75, jan-mar 2010

significativamente a um menor risco de internação por CSAP.

Em Valência, na Espanha, um estudo de caso-con-trole com 1.508 crianças não encontrou diferenças no risco de hospitalização por CSAP segundo o tipo de médico (pediatra versus generalista ou médico de família e comunidade) e tipo de unidade de saúde (centro de saúde versus consultório médico).7 Em Maryland, Estados Unidos, realizar mais consultas por problemas clínicos em serviços de atenção primária associou-se a um maior risco de internação por CSAP em menores de 19 anos de idade, enquanto um maior número de consultas preventivas associou-se à redu-

ção no risco de internação por essas causas.44 Esse resultado contrasta em parte com os encontrados em Victoria, Austrália, onde o número de consultas de APS associou-se a um pequeno efeito redutor das taxas de internação por CSAP em pessoas de todas as faixas etárias (Tabela 2).45

Mobley e colaboradores,46 estudando idosos de 65 e mais anos de idade, encontraram menores taxas em áreas com maior razão entre o número de profissio-nais não médicos na APS e o de médicos. O aumento dessa razão em um desvio-padrão associou-se a uma redução de duas internações por CSAP para cada mil usuários. Também o número de consultas médicas

Figura 2 - Variáveis de estrutura e desempenho de serviços de atenção primária e sua associação com hospitalização por CSAP nos estudos publicados: referência bibliográfica (Ref.), local, tamanho da amostra (n), unidade de análise e variável de estudo, e ‘forest plot’ dos resultados

Condições sensíveis à atenção primária

Page 68: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

67 Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):61-75, jan-mar 2010

Tabela 2 - Variáveis de estrutura e desempenho dos serviços de atenção primária e risco de internar por Condições Sensíveis à Atenção Primária, nos estudos revisados

Ref. Autor, ano / local Variável N Coef. IC95%

ErroPadrão P

46

Mobley e colaboradores, 2006 Consultas médicas / usuário

6.455 Áreas de Saúde

-0,63 0,174 <0,01

EUA Razão profissionaisNão-médicos / médicos -38,23 7,78 <0,01

47

Márquez-Calderón e colaboradores, 2003 Pop. adscrita por médico

34 Municípios0,76 0,22

Granada, Es Pop. adscrita por enfermeiro 0,68 0,14

26Ansari, 2006 Médicos APS /mil hab.

32 Áreas de Saúde

-2,03 -6,52 – 2,46 0,38

Victoria, Au Consultas APS /10 mil hab. -0,134 <0,01

por usuário teve um efeito benéfico estatisticamente significativo, embora muito pequeno. Na província de Granada, na Espanha, as taxas de internação por CSAP não se associaram ao tamanho da população adscrita ao médico ou enfermeiro (Tabela 2).47

A continuidade da atenção também se associou a menores taxas de internação por CSAP nos Estados Unidos e Canadá.48-50 Em municípios da Catalunha, com apenas uma Área Básica de Salud (ABS), Caminal e colaboradores13 encontraram menores taxas em pacientes oriundos de ABS cujo centro de saúde funcionava em horário normal que nas daqueles com funcionamento continuado durante as 24 horas do dia. Outras variáveis estudadas foram a disponibilidade de consultas de medicina de família pela manhã e tarde e a possibilidade de marcar consulta com antecipação e a realização de visitas domiciliares para idosos. Nenhuma delas entrou no modelo final de ajuste, e suas medidas de efeito não são apresentadas no artigo.

Em crianças pequenas beneficiárias do Medicaid, a puericultura, e em menor grau uma consulta pre-ventiva esporádica, associaram-se consistentemente em três estados norte-americanos, a um menor risco de internação por CSAP.51 Estar com as vacinas em dia associou-se a maior risco de internar por CSAP na Califórnia e, sem significância estatística apesar de mais de trinta mil observações, na Geórgia. Em Michi-gan, as crianças com vacinação em dia apresentaram menor risco de internar por CSAP, efeito semelhante em magnitude e significância estatística ao da consulta preventiva esporádica. O efeito da puericultura, com

os mesmos critérios para estar ‘em dia’, foi estudado também em Denver, nos EUA, onde as crianças com puericultura em dia ou, de modo semelhante, cada consulta de puericultura a mais, também se associaram a menor risco de internação, embora sem significância estatística.52

Na Inglaterra, um estudo de intervenção ampliando as possibilidades de manejo clínico da APS sobre 19 de 59 idosos considerados em risco de internação por CSAP foi inconclusivo.53 Finalmente, percebemos ainda no gráfico (Figura 2) que em 34 municípios grana-dinos, na Espanha, as internações por CSAP também ocorreram com menor frequência em áreas em que a atenção se dá em centros de saúde e não nos consul-tórios médicos do antigo modelo sanitário.39

Modelos de atençãoA Tabela 3 sintetiza os resultados que comparam

o risco de internar por CSAP entre pessoas atendidas segundo um modelo mais próximo ou mais distante dos princípios da APS. Na Espanha, três estudos dife-rentes não encontraram associação entre as taxas e o fato do centro de saúde de origem do paciente ser do chamado ‘novo modelo’ de atenção primária.9,13,39 Em Granada39 as taxas de hospitalização por angina, para as mulheres, e por parada cardíaca, para os homens, foram discretamente menores nas áreas com o ‘novo modelo’ implantado, mas a variável não entrou no modelo de ajuste final para o indicador global.

Nos Estados Unidos, uma análise da população atendida pelos Federally Qualified Health Centers no país mostrou que usuários regulares desses centros

Fúlvio Borges Nedel e colaboradores

Page 69: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

68 Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):61-75, jan-mar 2010

Tabela 3 - Comparação de modelos de atenção sobre o risco de internar por Condições Sensíveis à Atenção Primária, nos estudos revisados

Ref. Autor, ano Local Variável NEfeitoa

RRc IC95%

R2 b p

9Casanova e

colaboradores, 1998

Comunidade Valenciana, Es,

1993

Reforma da APS

23 Áreas de Saúde

0,12 0,61

Comunidade Valenciana, Es,

1994-0,19 0,44

Catalunha, Es, 1993

55 Setores Sanitários

-0,12 0,43

Catalunha, Es, 1994 -0,32 0,03

13Caminal e

colaboradores, 2001

Catalunha, Es Reforma da APS d 151 Áreas Básicas de Saúde 0,92 0,9 – 0,94

24Falik e

colaboradores, 2001

EUA FQHC e x Medicaid 48.738 Hospitalizações 0,8 0,67 – 0,95

44Gadomski e

colaboradores, 1998

Maryland, EUA MAC f x Medicaid 16.116 Indivíduos 0,98 0,94 – 1,03

54Kane e

colaboradores, 2006

Wisconsin, EUA

Pacientes de outros

prestadores, sem atenção domiciliar e comunitária

WPP g x controles da vizinhança

5.722 Pessoas-mês

3,72 1,97 – 7,06

WPP x controles fora da área 1,08 0,54 – 2,19

Pacientes de outros

prestadores, com atenção domiciliar e comunitária

WPP x controles da vizinhança

2.132 Pessoas-mês

0,39 0,12 – 1,21

WPP x controles fora da área 1,28 0,54 – 3,08

a) Exceto quando indicado (d), os valores apresentados são os descritos no modelo final de ajuste do estudo revisado.

b) r2: Coeficiente de correlação linear

c) RR: Risco Relativo

d) Dados da análise bivariada; a variável perdeu significância e não foi incluída no modelo final de ajuste.

e) FQHC: Federally Qualified Health Centers

f) MAC: Maryland Access to Care

g) WPP: Wisconsin Partnership Program

de APS tiveram menor risco de internar por CSAP.24 Outro plano de saúde para os pobres daquele país, o Maryland Access to Care (MAC), não se associou à internação hospitalar por essas causas.44 Ainda nos EUA, idosos usuários de outro plano do qual também se esperam ações interdisciplinares de promoção e

reabilitação da saúde e prevenção de doenças, mas que se baseia na procura liberal do médico generalista pelo paciente, o Wisconsin Partnership Program (WPP), tiveram taxas mais baixas apenas que seus controles da vizinhança que recebiam atenção pelo Medicare ou Medicaid sem atenção domiciliar ou comunitária.54

Condições sensíveis à atenção primária

Page 70: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

69 Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):61-75, jan-mar 2010

Elias e Magajewski,55 em Santa Catarina, também estudaram as CSAP, embora analisando causas sepa-radas e sem tratar o indicador de modo integrado. Utilizando critérios de estrutura e processo, classifica-ram a atenção à saúde dos municípios do extremo sul catarinense com o Programa Saúde da Família (PSF) implantado como “adequada” ou “inadequada”, e compararam a tendência das taxas de hospitalização no SUS por diabetes, pneumonia em menores de cinco anos, pneumonia em maiores de 60 anos, diarréia em menores de cinco anos, Acidente Vascular Cerebral (AVC) e Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), no período 1999 a 2004. As tendências foram semelhantes nos dois grupos de municípios para todas as causas, salvo o AVC, que teve taxas constantes nos municípios com atenção inadequada, enquanto aumentou naqueles com atenção considerada adequada. As taxas de in-ternação por diabete e pneumonia em maiores de 60 anos foram um pouco menores nos municípios com atenção adequada, enquanto as taxas de internação por pneumonia em menores de cinco anos e de IAM foram maiores nestes municípios que naqueles com atenção considerada inadequada.

Qualidade metodológica dos estudos revisadosSegundo os critérios utilizados, os estudos foram

classificados, de modo geral, como de boa qualidade metodológica. Treze dos 18 artigos somaram nove ou mais pontos, de um máximo possível de 11. A classificação mínima atingida foi de cinco pontos. Os objetivos ou hipóteses foram geralmente bem descritos e a análise bem conduzida. Segundo os autores, os resultados foram limitados mais pela abrangência dos dados disponíveis que pela sua qualidade, apesar do uso de dados secundários de registro rotineiro.

Discussão

Cremos que a busca realizada foi bastante exaustiva e deve ter encontrado a grande maioria, senão a totali-dade, dos artigos publicados em revistas científicas da área da saúde, pois as referências bibliográficas dos artigos revisados não acrescentaram novos artigos à revisão. Não obstante, a busca na MEDLINE, em virtu-de do grande número de referências sobre os temas buscados no título ou resumo do artigo (‘[tiab]’), foi restrita pela combinação de descritores utilizada, o

que poderia fazer com que não se encontrasse algum artigo. Entretanto, a busca sem os descritores resultou em 1.741 referências (dados não apresentados), o que a tornaria muito ineficiente.

A busca bibliográfica sobre hospitalizações evitá-veis por ações do primeiro nível de atenção à saúde é dificultada pelo grande número de artigos que se referem ao tema usando diferentes denominações, objetivos e enfoques de análise, o que por sua vez resulta em certa variabilidade dos descritores (MeSH Terms) usados. Por outro lado, vários artigos que usam termos como “hospitalização” e “evitável” não tratam de CSAP. Além disso, não foi encontrado um descritor que se aproximasse à idéia de hospitalização evitável, o que tornaria a busca mais eficiente.

Vale citar que há cerca de um ano temos duas bus-cas de notificação periódica na PUBMED: 1) uma mais restrita, usando descritores, (hospitalization[mh] AND ambulatory care[mh]) AND (ambulatory care sensitive [tiab] OR discharge [tiab] OR sensitive conditions [tiab]), que parece ter uma sensibilidade bastante baixa, sem alta especificidade; e 2) outra mais ampla, ((avoidable OR preventable OR amenable) AND (hospitalization OR (hospital AND discharge)) OR (ambulatory AND care AND sensitive)), que tampouco é muito útil a uma revisão sistemática, pela grande quantidade de artigos encontrados que não tratam do tema.

A concentração dos artigos nos últimos seis anos mostra o interesse crescente na utilização do indicador em todo o mundo. Além disso, seu desenvolvimento e aplicação aos sistemas de saúde se apóiam em estudos de elevada qualidade metodológica, sugerindo um rápido amadurecimento metodológico e teórico na abordagem do tema.

Avaliações do efeito do número de médicos ou cen-tros de saúde sobre as taxas de internação por CSAP foram excluídas do estudo quando essa medida não refletia o número de potenciais usuários por médico ou centro. Essa condição depende do sistema de saúde de cada país. Na Espanha, com um Sistema Nacional de Saúde de base territorial e efetivamente universal, o número de médicos de APS por habitante em uma “Área Básica de Salud” ou município é uma média do número de usuários destinados a cada profissional em cada região. Nos Estados Unidos, de onde provêm a grande maioria dos estudos revisados, as fronteiras dos condados têm pouco a ver com a busca por atenção à

Fúlvio Borges Nedel e colaboradores

Page 71: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

70

saúde e embora as “Health Services Areas (HSA)” – um ou mais condados agrupados segundo a provisão de recursos – sejam mais apropriadas para essa medida,56 o número de médicos por habitante de uma HSA não representa a oferta de profissionais em cada plano de saúde, que é como se organiza o acesso. Tais estudos foram excluídos porque consideramos que à organi-zação da Atenção Básica do SUS, especialmente o PSF, o que importa é conhecer a adequação do número de usuários destinados por médico ou equipe de saúde.

A relação entre o número de pacientes por médico e a probabilidade de que o diagnóstico de internação fosse uma CSAP (e não outra causa) foi estudada em pacientes internados em um hospital Italiano, em 2007.57 A probabilidade de uma CSAP entre as inter-nações foi maior para os pacientes cujo médico do centro de saúde de origem tinha mais pacientes sob sua responsabilidade. Fatores associados à probabilidade de que a internação hospitalar se dê por uma CSAP também foram estudados em Bagé, RS, em 2006/07.23 No modelo multivariável para os pacientes internados usuários de centros de saúde de AB ‘tradicional’, a proporção de CSAP foi menor naqueles cujos centros foram melhor avaliados na organização da atenção. Num hospital distrital de Valência (o mesmo do ar-tigo incluído na revisão),7 a maior probabilidade de diagnóstico de CSAP entre as crianças atendidas por pediatras que por generalista ou médico de família e comunidade desaparecia ao controlar para a idade.8

No entanto, é preciso tomar esses resultados com cautela, já que as análises referem-se apenas a pacien-tes hospitalizados. A probabilidade de que, entre os pacientes internados, a causa de internação seja uma CSAP não representa o risco de internar por CSAP, razão pela qual esses estudos não foram incluídos entre os artigos desta revisão.

A utilidade do indicador tem sido posta em dúvida porque: as listas de códigos de causas consideradas

CSAP são construídas por consenso e não por estudos de base empírica; a hospitalização por CSAP é condi-cionada por aspectos não controlados pela APS, como a distância entre a residência do paciente e o hospital; as taxas frequentemente se associam de modo mais forte às condições socioeconômicas da população que aos recursos de atenção primária disponíveis; há certa inconsistência entre o número de médicos e as taxas observadas.56,58,59

As listas de causas têm evoluído para um padrão de lista ampla, com várias causas, agudas e crônicas,11-

14,21 e a validade de construto do indicador tem sido reiterada. No entanto, há ainda grande variabilidade entre as listas, além das faixas etárias incluídas nas diferentes pesquisas, limitando a comparabilidade dos estudos. De outra parte, mesmo que a distância do domicílio ao hospital não seja uma característi-ca da APS, se há pessoas sendo hospitalizadas por problemas que deveriam ser resolvidos na atenção primária antes que fosse necessária a hospitalização, este é um problema da APS. O indicador traz à tona o problema e permite a identificação de descritores que o enfoquem, facilitando a elaboração de pesquisas específicas mais acuradas.

Finalmente, é bastante conhecido que as condições de saúde da população – e sobretudo seus diferen-ciais – são fortemente dependentes do modo como se organiza a distribuição social da riqueza. Esse fato relaciona-se intimamente com a chamada “lei dos cuidados inversos”, nome dado à observação – bas-tante óbvia, se olhamos nossa organização social – de que comumente há maior oferta de serviços onde as populações são menos carentes deles. Vimos,7 porém, que a mal chamada “lei” pode ser “revogada”, pelo menos em certos aspectos (ou “parágrafos”, para seguir a metáfora), por sistemas nacionais de saúde universais.

Não obstante esses problemas, diferentes aspectos da validade do indicador têm sido reiterados,17,60,61 e não parece mais haver dúvida de sua utilidade para a identificação de populações com necessidades insatis-feitas, no que se refere à APS,6 embora permaneçam dúvidas sobre quais fatores além do acesso podem impactar melhor essas taxas.

A continuidade da atenção, um dos princípios fundamentais da APS, associou-se em diferentes estudos48,49 a menor probabilidade de hospitalização por CSAP. Relacionada a esse princípio, a consulta de

É bastante conhecido que as condições de saúde da população – e sobretudo seus diferenciais – são fortemente dependentes do modo como se organiza a distribuição social da riqueza.

Condições sensíveis à atenção primária

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):61-75, jan-mar 2010

Page 72: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

71

puericultura também se associou a menores taxas, numa análise longitudinal em três estados norte-ameri-canos.51 Embora um efeito semelhante encontrado em outro estudo, tipo caso-controle e com muito menos sujeitos, não tenha alcançado significância estatística, essa parece ser uma importante variável descritora do desempenho dos serviços de APS em crianças, que deveria ser considerada para modelos de análise da variabilidade das taxas de CSAP. Se a utilização de protocolos para outros usuários, ou se um maior número de visitas domiciliares também se associa a um menor risco de internação é um tema em aberto para a pesquisa no SUS.

No Brasil, o Sistema de Informação da Atenção Bá-sica (SIAB) registra os atendimentos em puericultura realizados pela equipe de saúde e o número de crian-ças pesadas – que poderia ser um proxy do número de crianças com puericultura em dia – por microárea de saúde. Assim, esse pode ser um indicador útil na análise da variabilidade das taxas de hospitalização por CSAP em municípios com o PSF implantado. Ob-viamente, sua utilidade dependerá da confiabilidade e validade da informação registrada.

Outra característica importante da atenção primá-ria, o trabalho em equipe multiprofissional, apresentou um forte efeito redutor das taxas de internação por CSAP em idosos nos Estados Unidos.46 Como dito anteriormente, o trabalho em equipe também asso-ciou-se a menor probabilidade de diagnóstico CSAP nos pacientes internados em Bagé.23

É interessante notar que uma questão candente em muitos municípios, o horário de funcionamento das unidades de saúde, foi estudado nos pequenos municípios da Catalunha, onde não funcionar por 24 horas associou-se a menores taxas. Possivelmente o horário continuado de atenção reflita um modelo mais interventor, levando a maiores taxas.13 Os Federally Qualified Health Centers (FQHC) dos Estados Unidos parecem, numa olhada superficial, ter melhor efeito que a reforma da APS na Espanha, mas deve-se lembrar que os usuários regulares dos FQHC foram compara-dos a uma população muito pouco assistida pela APS, os beneficiários do Medicaid, enquanto na Espanha as taxas foram comparadas às de outra população que também tinha uma boa atenção primária.

Entre as questões analisadas nos artigos revisados, permanece em aberto uma de especial interesse ao PSF: a relação entre o número de habitantes por equipe

de saúde e as taxas de hospitalização por CSAP. Vale lembrar que na Espanha e Itália, onde essa caracte-rística foi estudada,39,57 o número de habitantes por profissional da APS é muito menor que no PSF.

Os artigos eram, de modo geral, de boa qualidade metodológica, segundo os critérios utilizados. Por outro lado, a pouca variabilidade sugere certa inadequação dos critérios, que foram criados para estudos biomédi-cos com pacientes, com foco na etiologia,43 sendo adap-tados, nesta revisão, à análise de estudos de agregados populacionais, com foco em saúde pública.

Alguns estudos36 realizam suas análises contro-lando pela ocorrência da doença, enquanto outros28 manifestam essa incapacidade como uma limitação. Entretanto, a adequação desse procedimento para a análise dos fatores associados ao risco de internar por CSAP não deve ser aceita per se, ela depende do objetivo do estudo. Se o foco é a validade do indicador, isto é, saber se a variabilidade observada se deve de fato ao sistema de saúde e não à ocorrência ou gravidade da doença, o ajuste será adequado. Também quando se comparam modelos de atenção, pode ser adequado o ajuste pela ocorrência da doença.

Por outro lado, quando o objetivo é avaliar a efe-tividade da APS, isto é, sua capacidade de resolver os problemas de saúde da sua população de referência, o ajuste pode ser inadequado. Como não se pode aceitar que áreas com maior ocorrência da doença recebam atenção à saúde insuficiente – e portanto que tenham maiores taxas de hospitalização por CSAP –, na aná-lise de sistemas universais de saúde o mais adequado parece ser não incluir estimativas de ocorrência da doença no modelo de ajuste. Nesse sentido, controlar pela ocorrência populacional da doença equivaleria, quando se analisam fatores determinantes das taxas, a aceitar a insuficiência do sistema em áreas de maior necessidade.

Concomitante ao incremento do PSF, tem avançado a pesquisa em APS no Brasil.62 O modo de implanta-ção do PSF cria uma situação de quasi-experiência, propícia à avaliação de seu impacto, e as CSAP são um indicador específico para a APS que pode ser tabulado para todos os municípios brasileiros com informações disponíveis na internet (Bases de Dados do Sistema de Informações Hospitalares do SUS – SIH/SUS).63 O nível mínimo de agregação dessas bases é o município, o que impede o relacionamento do paciente internado com a unidade de saúde de sua área de residência.

Fúlvio Borges Nedel e colaboradores

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):61-75, jan-mar 2010

Page 73: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

72

O SUS tem vários sistemas de informação com dados úteis à avaliação da atenção básica, especialmente o SIAB. Três limitações ao uso do SIAB são: uso quase exclusivo pelas Equipes de Saúde da Família, a pouca confiabilidade em várias de suas informações e a es-trutura pulverizada das bases de dados, dificultando o manejo dos dados além das tabulações operadas pelo sistema. Outra dificuldade, de aspecto mais geral e bastante limitante para a pesquisa, é a não ligação dos dados entre os diferentes sistemas de informação.

Um algoritmo no SIH/SUS que relacionasse o ende-reço do paciente (informado na internação) à unidade de saúde de referência de sua área de residência e a possibilidade de vinculação dessas informações com

bases de dados do SIAB melhor estruturadas seriam de grande apoio à pesquisa e avaliação da atenção primária no Brasil, fornecendo informação de melhor qualidade para a gestão do SUS.

As hospitalizações por CSAP são um indicador útil ao SUS. A definição da lista brasileira de causas,21 a disponibilização das bases do SIH/SUS e de softwares como o TabWin permitem seu uso pelas Secretarias Municipais de Saúde e o desenvolvimento da pesqui-sa sobre o tema no Brasil. A definição de um novo descritor (MeSH Term) “hospitalização evitável”, que poderia então ser associado à “Atenção Primária à Saúde” seria uma grande contribuição à sistematização do conhecimento no tema.

1. Bigby J, Dunn J, Goldman L, Adams JB, Jen P, Landefeld CS, et al. Assessing the preventability of emergency hospital admissions. A method for evaluating the quality of medical care in a primary care facility. American Journal of Medicine 1987;83(6):1031-1036.

2. Carr W, Szapiro N, Heisler T, Krasner MI. Sentinel health events as indicators of unmet needs. Social Science and Medicine 1989;29(6):705-714.

3. Billings J, Teicholz N. Uninsured patients in District of Columbia hospitals. Health Affairs (Millwood) 1990;9(4):158-165.

4. Billings J, Zeitel L, Lukomnik J, Carey TS, Blank AE, Newman L. Impact of socioeconomic status on hospital use in New York City. Health Affairs (Millwood) 1993;12(1):162-173.

5. Billings J, Anderson GM, Newman LS. Recent findings on preventable hospitalizations. Health Affairs (Millwood) 1996;15(3):239-249.

6. Ansari Z. The concept and usefulness of Ambulatory Care Sensitive Conditions as indicators of quality and access to primary health care. Australian Journal of Primary Health 2007;13(3):91-110.

7. Casanova C, Starfield B. Hospitalizations of children and access to primary care: a cross-national comparison. International Journal of Health Services 1995;25(2):283-294.

8. Casanova C, Colomer C, Starfield B. Pediatric hospitalization due to ambulatory care-sensitive

conditions in Valencia (Spain). International Journal of Quality in Health Care 1996;8(1):51-59.

9. Casanova MC, Peiro PR, Barba AG, Salvador VX, Colomer RJ, Torregrosa BMJ. Avoidable pediatric hospitalization in the Community of Valencia and Catalonia. Gaceta Sanitaria 1998;12(4):160-168.

10. Caminal HJ, Casanova MC. La evaluacion de la atencion primaria y las hospitalizaciones por ambulatory care sensitive conditions. Marco conceptual. Atencion Primaria 2003;31(1):61-65.

11. U.S. Department of Health & Human Services; Agency for Healthcare Research and Quality. AHRQ Quality Indicators, prevention quality indicators: technical specifications. Rockville: AHRQ;

2008. Available from: http://www.qualityindicators.ahrq.gov.

12. Mattke S, Kelley E, Scherer P, Hurst J, Gil LML; the HCQI Expert Group Members. Health care quality indicators project initial indicators report 2006 Mar. 9. OECD HEALTH WORKING PAPERS N. 22.

13. Caminal HJ, Starfield B, Sanchez RE, Hermosilla PE, Martin MM. La Atencion primaria de salud y las hospitalizaciones por ambulatory care sensitive conditions en Cataluna. Revista Clinica Española 2001;201(9):501-507.

14. Population Health Division. The Victorian ambulatory care sensitive conditions study: preliminary analyses. Melbourne: Victorian Government Department of Human Services; 2001.

Referências

Condições sensíveis à atenção primária

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):61-75, jan-mar 2010

Page 74: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

73

15. Fundação João Pinheiro. Centro de Estudos Econômicos e Sociais: atenção básica à saúde em Minas Gerais: desigualdades na distribuição de recursos financeiros e na prestação de serviços básicos após a introdução do Piso da Atenção

Básica (PAB). Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro; 2003.

16. Niti M, Ng TP. Avoidable hospitalisation rates in Singapore, 1991-1998: assessing trends and inequities of quality in primary care. Journal of Epidemiology and Community Health 2003;

57(1):17-22.

17. Laditka JN, Laditka SB, Probst JC. More may be better: evidence of a negative relationship between physician supply and hospitalization for ambulatory care sensitive conditions. Health Services Research 2005;40(4):1148-1166.

18. Gusmano MK, Rodwin VG, Weisz D. A new way to compare health systems: avoidable hospital conditions in Manhattan and Paris. Health Affairs (Millwood) 2006;25(2):510-520.

19. Roos LL, Walld R, Uhanova J, Bond R. Physician visits, hospitalizations, and socioeconomic status: ambulatory care sensitive conditions in a Canadian setting. Health Services Research 2005;40(4):

1167-1185.

20. Dharmalingam A, Pool I, Baxendine SJS. Trends and patterns of avoidable hospitalisations in New Zealand: 1980-1997. New Zealand Medical Journal 2004;117(1198):U976.

21. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria no 221, de 17 de abril de 2008. Publica a lista brasileira de internações por condições sensíveis à atenção primária. Diário Oficial da União, Brasília, p. 70-71, 18 abr. Seção 1.

22. Alfradique ME, Bonolo PF, Dourado I, Lima-Costa MF, Macinko J, Mendonça CS, et al. Internações por condições sensíveis à atenção primária: a construção da lista brasileira como ferramenta para medir o desempenho do sistema de saúde (Projeto ICSAP - Brasil). Cadernos de Saúde Pública 2009;25(6):1337-1349.

23. Nedel FB, Facchini LA, Martin Mateo M, Vieira LAS, Thumé E. Programa Saúde da Família e condições sensíveis à atenção primária, Bagé (RS). Revista de Saúde Pública 2008;42(6):1041-1052.

24. Falik M, Needleman J, Wells BL, Korb J. Ambulatory care sensitive hospitalizations and emergency

visits: experiences of Medicaid patients using federally qualified health centers. Medical Care 2001;39(6):551-561.

25. Bermudez D, Baker L. The relationship between SCHIP enrollment and hospitalizations for ambulatory care sensitive conditions in California. Journal of Health Care for the Poor and Underserved 2005;16(1):96-110.

26. Ansari Z, Laditka JN, Laditka SB. Access to health care and hospitalization for ambulatory care sensitive conditions. Medical Care Research and Review 2006;63(6):719-741.

27. Kronman AC, Ash AS, Freund KM, Hanchate A, Emanuel EJ. Can primary care visits reduce hospital utilization among Medicare beneficiaries at the end of life? Journal of General Internal Medicine 2008;23(9):1330-1335.

28. Bindman AB, Chattopadhyay A, Auerback GM. Medicaid re-enrollment policies and children’s risk of hospitalizations for ambulatory care sensitive conditions. Medical Care 2008;46(10):1049-1054.

29. Cousineau MR, Stevens GD, Pickering TA. Preventable hospitalizations among children in California counties after child health insurance expansion initiatives. Medical Care 2008;46(2):142-147.

30. Goldman LE, Chattopadhyay A, Bindman AB. Comparisons of health plan quality: does the sampling strategy affect the results? Medical Care 2008;46(7):752-757.

31. Korenbrot CC, Ehlers S, Crouch JA. Disparities in hospitalizations of rural American Indians. Medical Care 2003;41(5):626-636.

32. Shah BR, Gunraj N, Hux JE. Markers of access to and quality of primary care for aboriginal people in Ontario, Canada. American Journal of Public Health 2003;93(5):798-802.

33. Laditka JN, Laditka SB. Race, ethnicity and hospitalization for six chronic ambulatory care sensitive conditions in the USA. Ethnicity and Health 2006;11(3):247-263.

34. Agha MM, Glazier RH, Guttmann A. Relationship between social inequalities and ambulatory

care-sensitive hospitalizations persists for up to 9 years among children born in a major Canadian urban center. Ambulatory Pediatrics

2007;7(3):258-262.

Fúlvio Borges Nedel e colaboradores

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):61-75, jan-mar 2010

Page 75: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

74

35. Laditka JN. Hazards of hospitalization for ambulatory care sensitive conditions among older

women: evidence of greater risks for African Americans and Hispanics. Medical Care

Research and Review 2003;60(4):468-495; discussion 496-508.

36. Laditka JN, Laditka SB, Mastanduno MP. Hospital utilization for ambulatory care sensitive conditions: health outcome disparities associated with race and ethnicity. Social Science and Medicine 2003;57(8):1429-1441.

37. Zhan C, Miller MR, Wong H, Meyer GS. The effects of HMO penetration on preventable hospitalizations. Health Services Research 2004;39(2):345-361.

38. Epstein AJ. The role of public clinics in preventable hospitalizations among vulnerable populations. Health Services Research 2001;36(2):405-420.

39. Bermudez-Tamayo C, Marquez-Calderon S, Rodriguez del Aguila MM, Perea-Milla Lopez E, Ortiz Espinosa J. Caracteristicas organizativas de la atencion primaria y hospitalizacion por los principales ambulatory care sensitive conditions. Atencion Primaria 2004 Apr. 15;33(6):305-311.

40. Silva AAM, Gomes UA, Tonial SR, Silva RA. Fatores de risco para a hospitalização de crianças de um a quatro anos em São Luís, Maranhão, Brasil. Cadernos de Saúde Pública 1999;15(4):749-757.

41. Henrique F, Calvo MC. Assessment of the Family Health Program in municipalities in Santa Catarina State, Brazil. Cadernos de Saúde Pública 2008;24(4):

809-819.

42. Dias-da-Costa JS, de Borba LG, Pinho MN, Chatkin M. Quality of primary care as measured by preventable hospitalizations in the South of Brazil. Cadernos de Saúde Pública 2008;24(7):1699-1707.

43. Downs SH, Black N. The feasibility of creating a checklist for the assessment of the methodological quality both of randomised and non-randomised studies of health care interventions. Journal of Epidemiology and Community Health 1998;52(6):377-384.

44. Gadomski A, Jenkins P, Nichols M. Impact of a Medicaid primary care provider and preventive care on pediatric hospitalization. Pediatrics 1998;

101(3):E1.

45. Ansari Z, Barbetti T, Carson NJ, Auckland MJ, Cicuttini F. The Victorian ambulatory care sensitive conditions

study: rural and urban perspectives. Sozial-und Praventivmedizin 2003;48(1):33-43.

46. Mobley LR, Root E, Anselin L, Lozano-Gracia N, Koschinsky J. Spatial analysis of elderly access to primary care services. International Journal of Health Geographics 2006;5:19.

47. Marquez-Calderon S, Rodriguez del Aguila MM, Perea-Milla E, Ortiz J, Bermudez-Tamayo C. Factores asociados a la hospitalizacion por procesos sensibles a cuidados ambulatorios en los municipios. Gaceta Sanitaria 2003;17(5):360-367.

48. Gill JM, Mainous AG 3rd. The role of provider continuity in preventing hospitalizations. Archives of Family Medicine 1998;7(4):352-357.

49. Menec VH, Sirski M, Attawar D, Katz A. Does continuity of care with a family physician reduce hospitalizations among older adults? Journal of Health Services Research and Policy 2006;11(4):196-201.

50. Gill JM. Can hospitalizations be avoided by having a regular source of care? Family Medicine 1997;29(3):166-171.

51. Hakim RB, Bye BV. Effectiveness of compliance with pediatric preventive care guidelines among Medicaid beneficiaries. Pediatrics 2001;108(1):90-97.

52. Steiner JF, Braun PA, Melinkovich P, Glazner JE, Chandramouli V, LeBaron CW, et al.

Primary-care visits and hospitalizations for ambulatory-care-sensitive conditions in an inner-city health care system. Ambulatory Pediatrics 2003;3(6):324-328.

53. Jiwa M, Gerrish K, Gibson A, Scott H. Preventing avoidable hospital admission of older people. British Journal of Community Nursing 2002;7(8):426-431.

54. Kane RL, Homyak P, Bershadsky B, Flood S. The effects of a variant of the program for all-inclusive care of the elderly on hospital utilization and outcomes. Journal of the American Geriatrics Society 2006;54(2):276-283.

55. Elias E, Magajewski F. A atenção primária à saúde no sul de Santa Catarina: uma análise das condições sensíveis à atenção ambulatorial, no período de 1999 a 2004. Revista Brasileira de Epidemiologia 2008;11(4):633-647.

56. Parchman ML, Culler S. Primary care physicians and avoidable hospitalizations. Journal of Family Practice 1994;39(2):123-128.

Atenção primária e hospitalizações evitáveis

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):61-75, jan-mar 2010

Page 76: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

75

57. Rizza P, Bianco A, Pavia M, Angelillo IF. Preventable hospitalization and access to primary health care in an area of Southern Italy. BMC Health Services Research 2007;7(1):134.

58. Ricketts TC, Randolph R, Howard HA, Pathman D, Carey T. Hospitalization rates as indicators of access to primary care. Health & Place 2001;7(1):27-38.

59. Steiner JF. Hospitalizations for ambulatory care-sensitive conditions: where do we go from here? Ambulatory Pediatrics 2007;7(3):263-264.

60. Laditka JN. Physician supply, physician diversity, and outcomes of primary health care for older persons in the United States. Health Place 2004;10(3):231-244.

61. Pappas G, Hadden WC, Kozak LJ, Fisher GF. Potentially avoidable hospitalizations: inequalities in rates between US socioeconomic groups. American Journal of Public Health 1997;87(5):811-816.

62. Harzheim E, Stein AT, Álvarez-Dardet C, Ruiz Cantero MT, Kruse CK, Vidal TB, et al. Revisão sistemática sobre aspectos metodológicos das pesquisas em atenção primária no Brasil. Revista da AMRIGS 2005;49(4):248-252.

63. Ministério da Saúde. Bases de dados do Sistema de Informações Hospitalares do SUS. Brasília: MS. Disponível em: www.datasus.gov.br.

Fúlvio Borges Nedel e colaboradores

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):61-75, jan-mar 2010

Recebidoem19/06/2009 Aprovadoem26/10/2009

Page 77: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

A Secretaria de Vigilância em Saúde é uma grande produtora de publicações na área de saúde pública no Brasil. São títulos de referência revisados e reeditados periodicamente, além de outros lançamentos inéditos. O objetivo principal é promover o desenvolvimento científico e tecnológico, prestar cooperação técnica e financeira aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios, contribuindo para a descentralização das ações de saúde e para a melhoria dos serviços públicos.

Nossas publicações são distribuídas gratuitamente, sendo proibida a comercialização. Os critérios de distribuição objetivam atender, prioritariamente, aos gestores, às secretarias e à rede de serviços de saúde dos estados e municípios, às bibliotecas de instituições acadêmicas e aos eventos das áreas de atuação da SVS.

Aqui você encontra as publicações da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde

A coleção das publicações da Secretaria de Vigilância em Saúde está atualizada e disponibilizada em formato PDF

www.saude.gov.br/svs

Page 78: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

77 77

Impact of the Legal Alcohol Restriction in the Morbidity and Mortality by Transport-Related Injuries – Brazil, 2008

notA técnicA Impacto da Legislação Restritiva do Álcool na Morbimortalidade por Acidentes de Transporte Terrestre – Brasil, 2008

Endereço para correspondência: Coordenação Geral de Doenças e Agravos Não Transmissíveis, Departamento de Análise de Situação em Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde, SAF Sul, Trecho 02, Lotes 05 e 06, Bloco F, Torre I, Edifício Premium, Térreo, Sala 14,Brasília-DF, CEP: 70070-600E-mail: [email protected]

Deborah Carvalho MaltaCoordenação Geral de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis, Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde, Brasília-DF, BrasilUniversidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG, Brasil

Marta Maria Alves da SilvaCoordenação Geral de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis, Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde, Brasília-DF, BrasilUniversidade Federal de Goiás, Goiânia-GO, Brasil

Cheila Maria LimaCoordenação Geral de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis, Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde, Brasília-DF, Brasil

Adauto Martins Soares FilhoCoordenação Geral de Informação e Análise Epidemiológica, Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde, Brasília-DF, Brasil

Marli de Mesquita Silva MontenegroCoordenação Geral de Informação e Análise Epidemiológica, Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde, Brasília-DF, Brasil

Márcio Dênis Medeiros MascarenhasCoordenação Geral de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis, Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde, Brasília-DF, BrasilUniversidade Federal do Piauí, Teresina-PI, Brasil

Otaliba Libânio de Morais NetoDepartamento de Análise de Situação de Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde, Brasília, BrasilUniversidade Federal de Goiás, Goiânia-GO, Brasil

José Gomes TemporãoMinistério da Saúde, Brasília-DF, Brasil

Gerson Oliveira PennaSecretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde, Brasília-DF, Brasil

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):77-78, jan-mar 2010

Page 79: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

78

Nota Técnica:Impacto da Legislação Restritiva do Álcool na Morbimortalidade por Acidentes de Transporte Terrestre – Brasil, 2008

O consumo excessivo de bebidas alcoólicas constitui-se em relevante problema de Saúde Pública, pois apresenta como consequências diretas, ou relacionadas, o surgimento de doenças cardiovasculares, neoplasias, transtornos mentais e comportamentais, absenteísmo, acidentes de trabalho e de transporte, agressões, homicídios, suicídios e elevada frequência de ocupação de leitos hospitalares. Estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam a participação dessa substância como causa específica de morte na proporção de 40% a 60% das vítimas de acidentes de transporte terrestre (ATT).

O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) foi implantado pela Lei n° 9.503, de 23 de setembro de 1997, e modificado pela Lei n° 11.705, de 19 de junho de 2008, conhecida popularmente como “Lei Seca”, que inibe o consumo de bebida alcoólica pelo condutor de veículo automotor. Esta nova regulamentação inclui e pode classificar a infração como crime com pena de reclusão, quando a concentração de álcool for superior a 0,6g/l. Considerando a relação do consumo de bebida alcoólica e a ocorrência de ATT, a presente Nota Técnica tem por finalidade apresentar os resultados preliminares da avaliação do impacto da medida legislativa de restrição do álcool na morbidade e mortalidade por ATT no Brasil.

Para realizar essa avaliação foram analisadas as bases de dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS) referentes a 2007 e 2008 de 26 capitais e Distrito Federal.

Os resultados apontam para redução de 24.545 (-23,2%) internações por ATT envolvendo residentes das capitais brasileiras e Distrito Federal ao se compararem os registros do segundo semestre de 2008 àqueles observados no mesmo período de 2007. Quando os registros foram agregados por região geográfica, a maior redução foi observada para o conjunto de capitais das regiões Norte (-28%) e Nordeste (-27,2%), seguidas das regiões Sudeste (-21,7%), Centro-oeste (-20,2%) e Sul, (-17%), as quais apresentaram as menores proporções de redução. Para o conjunto de capitais brasileiras e Distrito Federal, houve um decréscimo de 17,4% na frequência mensal de internações hospitalares por ATT na rede credenciada ao SUS entre os meses de junho e dezembro de 2008. Antes da vigência da “Lei Seca”, observava-se uma tendência inversa, ou seja, aumento da frequência de internações por ATT no mesmo período de 2007.

Em relação aos dados de mortalidade disponibilizados pelo SIM, houve redução de 796 (-22,6%) mortes por ATT entre residentes das capitais brasileiras e Distrito Federal ao se compararem os registros do período pós “Lei Seca” com os observados no segundo semestre de 2007. As capitais do Sudeste e Nordeste apresentaram, em conjunto, as maiores reduções (-42,4% e -21%, respectivamente). No conjunto de capitais das Regiões Centro-oeste e Norte foram identificadas as menores reduções (-9,5% e -8,7%, respectivamente). A Região Sul foi a única a registrar aumento no número de mortes por ATT após a vigência da “Lei Seca”, apresentando incremento de 4,4%. Para o conjunto de capitais brasileiras e Distrito Federal, percebeu-se decréscimo de 28,7% na ocorrência de óbitos por ATT entre os meses de junho e dezembro de 2008, enquanto no mesmo período de 2007, os registros apresentavam tendência de aumento na ocorrência de mortes por essa causa.

A redução da frequência de óbitos e internações por ATT mostra que a “Lei Seca” vem protegendo a vida, tor-nando-se uma medida salutar para a prevenção deste problema. Torna-se importante a manutenção e ampliação de medidas como a fiscalização, além de medidas de comunicação e educação e fiscalização de forma continuada e sistemática, para que não haja retrocesso nestes avanços. Estas medidas, entretanto, devem se dar de forma arti-culada e integradas com outros setores governamentais e não governamentais. Portanto, é um desafio para gestores públicos e sociedade civil a indução de mudanças nos hábitos e comportamentos, de modo a torná-los seguros e saudáveis, e implementar políticas públicas promotoras de saúde e paz no trânsito, associadas à promoção de ambientes seguros e saudáveis dentro da perspectiva da mobilidade humana e da qualidade de vida.

Restrição de ácool e morbimortalidade por acidentes de transporte

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):77-78, jan-mar 2010

Page 80: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

79

A Epidemiologia e Serviços de Saúde: revista do Sistema Único de Saúde do Brasil adota o processo de revisão de artigos científicos por pares. Cada artigo submetido aos editores da revista também é analisado por especialistas convidados, externos à Secretaria de Vigilância em Saúde e ao Ministério da Saúde.

O parecer técnico, trabalho dedicado e de excelência, de importância fundamental para o aprimoramento da qualidade dos manuscritos selecionados, condiciona-se à manutenção do anonimato dos pareceristas quando do envio do parecer ao autor.

Agradecemos publicamente a esses especialistas que, durante o ano de 2009, contribuíram com sua análise para a seleção dos artigos candidatos a divulgação pela revista. São eles:

Adauto José Gonçalves de AraújoAirton Tetelbom SteinAlberto NovaesAlcindo Antônio FerlaAlessandra Gutierrez de OliveiraAna Cecília Silveira Lins SucupiraAna Cláudia Dantas de MedeirosAna Lucia EscobarAna Lúcia Ribeiro de VasconcelosAna Maria de BritoAntônio Ignácio de Loyola FilhoAntonio José de AmorimAntônio Ruffino NettoBrígida Cristina do Amaral Botelho PrudencioCarla Lourenço Tavares de AndradeCarlos Augusto Costa Pires de Oliveira Carlos Eduardo Aguilera CamposCarlos Fernando Salgueirosa de Andrade Carlos Henrique Nery CostaCarlos Machado de FreitasCássia Maria BuchallaCélia Pereira Caldas Cibele Aparecida CrispimClarice Umbelino de FreitasClarissa Beatriz Palatnik de SousaCláudia Maria Bógus Claudia Medina CoeliClaudia Regina Bonini DomingosCláudio Guedes SalgadoClélia Maria Sarmento de Souza ArandaCor Jesus Fontes Daphne RattnerDavid José de Barros MachadoDébora Falleiros de MelloDélia Maria de Moura Lima HermannDenise Rangel Ganzo de Castro AertsDivane VargasDjalma de Carvalho Moreira FilhoEdina Mariko Koga da SilvaEduardo Barbosa BeserraEdvaldo Carlos Brito Loureiro Eliana Dias MatosEliana Martorano AmaralEliel Soares OrenhaEliseu Alves WaldmanElma Mathias DessuntiEnirtes Caetano Prates MeloErnani Tiaraju de Santa HelenaFátima Mitiko TenganFernando Lopes Gonçales JuniorFrancisco de Assis MendonçaGerusa Maria FigueiredoGil SevalhoGisela Rita Alvarenga MarquesGizelton Pereira AlencarGloria Regina da Silva e SáGuilherme Loureiro WerneckGulnar Azevedo e SilvaGustavo Adolfo Sierra RomeroHillegonda Maria DutilhIma Aparecida BragaIná da Silva SantosIsabella Chagas Samico

Ivan de Lucena AnguloIvan José MacielJailma MarinhoJoria Viana Guerreiro José Bento Pereira Lima José Cássio de MoraesJosé Guilherme Cecatti José Ivo dos Santos PedrosaJosé Uereles BragaJosué LaguardiaKátia Jung de CamposLaerte Pereira de AlmeidaLaura Camargo Macruz FeuerwerkerLaurinda Rosa MacielLenice de Castro Mendes VillelaLetícia Fortes LegayLucia Ferro BricksLuciana Branco da MottaLuciana Petrucci GiganteLuciene Burlandy Campos de AlcântaraLuis Carlos Zeferino,Luiz CamanoLuiz Carlos MorroneLuiz Tadeu Moraes FigueiredoLygia Carmen VanderleiMárcia Alves da Silva Márcio Medeiros Mascarenhas DenisMarco Akerman Marco Antônio Vasconcelos RêgoMarco Aurélio de Anselmo PeresMarcos da CunhaMarcos VirmondMaria Angela Fernandes FerreiraMaria Aparecida ContiMaria Aparecida de Assis PatrocloMaria Cecília de Souza MinayoMaria Cecília Pereira BinderMaria Cristina Teixeira CangussuMaria Cynthia BragaMaria da Conceição Cavalcanti MagalhãesMaria da Glória Teixeira Maria das Graças Carvalho Ferriani Maria de Fátima MarinhoMaria de Fátima MilitãoMaria Elizabeth Moraes Cavalheiros DorvalMaria Fernanda Furtado LimaMaria Helena Mello JorgeMaria Helena Palucci MarzialeMaria Inês Battistela NemesMaria Ines Fernandes PimentelMaria Leide Wand-Del-Rey de OliveiraMaria Lucia Fernandes PennaMaria Luiza Carvalho de LimaMaria Margarita Urdaneta GutierrezMariana de Andréa Vilas-Boas HackerMário Vianna VettoreMariza Miranda Theme FilhaMarli Marques da CruzMarli Terezinha Oliveira VannuchiMartha Cecília Suárez MutisMary Angela ParpinelliMauricio Teixeira Leite de VasconcellosMauro Rosa Elkhoury

Agradecimento

Page 81: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

80

Mônica da Costa SerraMônica SerraPaula Dias BevilacquaPaulo Germano FriasPedro Luiz TauilRafael Kopschitz Xavier BastosRegina Célia de Menezes Succi Regina FlauzinoRegina Lúcia Mendonça LopesRegina Maura Bueno FrancoRicardo GallerRicardo Lourenço de Oliveira Rita Goreti AmaralRivaldo Venancio da CunhaRoger dos Santos RosaRosana Aquino Guimarães Pereira Roseli La Corte dos SantosSabina Léa Davidson Gotlieb

Sandra de Souza HaconSebastião de Sousa AlmeidaSelma Maffei de AndradeSergio Oliveira de PaulaSilvana Granado Nogueira da GamaSílvia Helena F. VendraminiSonia NatalSusan Martins PereiraTelma Maria Evangelista de Araújo Tereza Cristina Scatena VillaTereza Maria Piccinini FeitosaTereza Setsuko TomaValeria Cavalcanti RollaValéria Maria de Azeredo Passos Valéria SaraceniVânia Reis GirianelliWilliam Waissman

Agradecimento

Page 82: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

81

Normas para publicação

IntroduçãoA Epidemiologia e Serviços de Saúde é uma publi-

cação trimestral de caráter técnico-científico destinada aos profissionais dos serviços de saúde e editada pela Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemio-logia em Serviços, da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (CGDEP/SVS/MS). Sua principal missão é difundir o conhecimento epidemiológico vi-sando ao aprimoramento dos serviços oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), metodologias, e estudos aplicáveis às ações de vigilância, prevenção e controle. Nela, também são divulgadas portarias, regimentos e resoluções do Ministério da Saúde, bem como normas técnicas relativas aos programas de prevenção e assis-tência, controle de doenças e vetores.

A política editorial da publicação está pautada nos “Requisitos Uniformes para Manuscritos Submetidos a Periódicos Biomédicos” do International Commit-tee of Medical Journal Editors – ICMJE (http://www.icmje.org/).

Modalidades de trabalhosO Corpo Editorial da revista acolhe manuscritos

nas seguintes modalidades: 1) Artigos originais nas diversas linhas temáticas, como por exemplo: análise de situação de saúde, estudos etiológicos, avaliação epidemiológica de serviços, programas e tecnologias, e avaliação da vigilância epidemiológica (limite: 20 laudas); 2) Artigos de revisão crítica – sobre tema relevante para a Saúde Coletiva – ou de atualização em tema controverso ou emergente (limite: 30 laudas); 3) Ensaios – interpretações formais e sistematizadas, bem desenvolvidas e concludentes sobre dados e conceitos referentes a assuntos de domínio público todavia pou-co explorados (limite: 15 laudas) –; 4) Relatórios de reuniões ou oficinas de trabalho sobre temas de Saúde Coletiva, suas conclusões e recomendações (limite: 25 laudas); 5) Artigos de opinião – comentários su-cintos sobre temas específicos –; 6) Notas prévias; e 7) Republicação de textos relevantes para os serviços de saúde, originalmente editados por outras fontes de divulgação técnico-científica.

Apresentação dos trabalhos O trabalho apresentado deve ser acompanhado de

uma carta dirigida à Editoria da revista e do Termo de Transferência de Direitos Autorais. Os autores são os responsáveis pela veracidade e ineditismo do trabalho.

A carta de encaminhamento deve expressar: 1) que o manuscrito ou trabalho semelhante não foi publica-do, parcial ou integralmente, tampouco submetido à publicação em outros periódicos; 2) os conflitos de interesse dos autores com a pesquisa relatada ou a sua inexistência; e 3) que todos os autores participaram na elaboração do seu conteúdo intelectual – desenho e execução do projeto, análise e interpretação dos dados, redação ou revisão crítica e aprovação da versão final. A carta deve ser assinada por todos os autores, sem exceção.

Transferência de direitos autoraisOs artigos publicados pela Epidemiologia e Servi-

ços de Saúde são de sua propriedade. Sua reprodução – total ou parcial – por outros periódicos, tradução para outro idioma ou criação de vínculos eletrônicos com artigos da revista não é permitida, senão sob autorização expressa destes editores.

Deve ser enviado, junto com a carta de encami-nhamento, o “Termo de cessão de direitos autorais” assinado por cada um dos autores e cujo modelo encontra-se na página eletrônica da SVS: http://portal.saude.gov.br/portal/saude/area.cfm?id_area=1133.

Formato de um trabalho para publicaçãoO trabalho deve ser digitado em português, espaço

duplo, fonte Times New Roman 12, no formato RTF (Rich Text Format), impresso em folha-padrão A4 com margens de 3cm e remetida a cópia impressa e gravação magnética (CD-Rom, disquete) exclusiva-mente por correios. Tabelas, quadros, organogramas e fluxogramas apenas são aceitos se elaborados pelo Microsoft Office (Word; Excel); e gráficos, mapas, foto-grafias, somente se elaborados nos formatos EPS, BMP ou TIFF, no modo CMYK, em uma única cor – preto, em suas várias tonalidades. Todas as páginas devem ser numeradas, inclusive as das tabelas e figuras. Não são aceitas notas de texto de pé de página. Tabelas e figuras devem vir em arquivos separados.

Cada manuscrito, obrigatoriamente, deve conter:

Página de rosto - compõe-se de: 1) título do artigo – em português e inglês; 2) título resumido para refe-rência no cabeçalho das páginas; 3) nome completo dos autores e da instituição a que pertencem com o endereço completo, números de fax e de telefones para

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):81-84, jan-mar 2010

Page 83: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

82 Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):81-84, jan-mar 2010

Normas para publicação

contato; 4) E-mail do autor principal para contato; 5) Créditos a órgãos financiadores da pesquisa, se pertinente.

Resumo - parágrafo de 150 palavras, estruturado com as seguintes seções: 1) objetivo; 2) metodologia; 3) resultados; e 4) conclusão do estudo.

Para pesquisas clínicas, é obrigatória a apresenta-ção do número de identificação em um dos registros de ensaios clínicos validados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo ICMJE (http://www.icmje.org/).

Imediatamente ao Resumo, devem ser listados três a cinco descritores, escolhidos a partir da lista de Descritores de Saúde do Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde da Organização Pan-Americana de Saúde [Bireme/Or-ganização Pan-Americana da Saúde (OPAS-OMS)], ou três a cinco palavras-chave escolhidas a partir de dados do resumo.

Summary - versão em inglês do Resumo, que também deve ser acompanhado dos descritores ou palavras-chave em inglês (key words).

Relatório completo – Introdução, Metodologia, Resultados, Discussão, Agradecimentos e Referências, nesta ordem, seguidos das tabelas e figuras em ordem seqüencial. Todos esses itens são obrigatórios para os artigos originais (detalhes na seção seguinte); as de-mais modalidades de artigos podem dispor desse ou de outro formato, à escolha do autor, sempre pautado na racionalidade, objetividade, clareza e inteligibilidade do relatório.

O relatório completo de um artigo original deve respeitar a seguinte seqüência estrutural:

IntroduçãoApresentação do problema, justificativa e objetivo

do estudo, nesta ordem.

MetodologiaDescrição da metodologia, com os procedimentos

analíticos adotados. Pesquisas clínicas devem apresentar número de

identificação em um dos registros de ensaios clínicos validados pela OMS e pelo ICMJE (http://www.icmje.org/).

Considerações éticas - desde que pertinentes, devem ser destacadas como último parágrafo da Me-todologia, fazendo menção às comissões de ética em pesquisa que aprovaram o projeto.

ResultadosExposição dos resultados alcançados, podendo con-

siderar tabelas e figuras, desde que auto-explicativas (ver o item tabelas e figuras).

DiscussãoComentários sobre os resultados, suas implicações

e limitações. Discussão do estudo com outras publica-ções de relevância para o tema e no último parágrafo da seção, as conclusões.

AgradecimentosApós a secção da discussão e no fim do relato do

estudo; devem-se limitar ao mínimo indispensável.

ReferênciasPara a citação das referências, no texto, deve-se

utilizar o sistema numérico. Os números serão grafa-dos em sobrescrito (sem parênteses), imediatamente após a passagem do texto em que é feita a citação e separados entre si por vírgulas. Em caso de números sequenciais de referências, separá-los por um hífen, enumerando a primeira referência e a última do in-tervalo da citação (Ex.: 7,10-16). Após a Discussão ou Agradecimentos, as referências serão listadas segundo a ordem de citação no texto.

Em cada referência, deve-se listar até os seis pri-meiros autores, seguidos da expressão et al para os demais. Os títulos de periódicos, livros e editoras de-vem constar por extenso. As citações são limitadas a 30, preferencialmente. Para artigos de revisão sistemática e meta-análise, não há limite de citações.

O formato das referências deve seguir os “Re-quisitos Uniformes para Manuscritos Submetidos a Periódicos Biomédicos” do ICMJE (http://www.icmje.org/) com adaptações definidas pelos editores, conforme os exemplos abaixo:

Anais de congresso1. Silva EM, Santos E, Guerra NMM, Marqui R, Melo SCC

e Leme TH. Escorpionismo em Bandeirantes, Paraná: ações integradas na análise da situação e controle do

Page 84: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

83

escorpião amarelo – Tityus serrulatus. In: Anais da 8a

Expoepi – Mostra Nacional de Experiências Bem-Sucedidas em Epidemiologia, Prevenção e Controle de Doenças; 2008; Brasília, Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, 2008. p.84.

Artigos de periódicos2. Melione LPR, Mello Jorge MHP. Morbidade Hospitalar

por Causas Externas no Município de São José dos Campos, Estado de São Paulo, Brasil. Epidemiologia e Serviços de Saúde. 2008; 17(3):205-216.

Autoria institucional3. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em

Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Doenças Infecciosas e Parasitárias: guia de bolso. 7a ed. rev. Brasília: Ministério da Saúde; 2007.

Livros4. Fletcher RH, Fletcher SW, Wagner EH. Epidemiologia

Clínica. 4a ed. Porto Alegre: Armed; 2006.

Livros, capítulos de5. Medronho RA, Perez MA. Distribuição das Doenças

no Espaço e no Tempo. In: Medronho RA et al. Epidemiologia. São Paulo: Atheneu. P.57-71.

Material não publicado6. Tian D, Stahl E, Bergelson J, Kreitman M. Signature of

balancing selection in Arabidopsis. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America. No prelo 2002.

Portarias e Leis7. Portaria no 1, de 17 de janeiro de 2005. Regulamenta

a implantação do Subsistema de Vigilância Epidemiológica em Âmbito Hospitalar, integrando o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica. Diário Oficial da União, Brasília, p.39, 16 fevereiro 2005. Seção 1

8. Brasil. Lei no 9.431, de 6 de janeiro de 1997. Decreta a obrigatoriedade do Programa de Controle de Infecção Hospitalar em todos os hospitais brasileiros. Diário Oficial da União, Brasília, p.165, 7 jan. 1997. Seção 1.

Referências eletrônicas9. Ministério da Saúde. Informações de saúde [acessado

durante o ano de 2002, para informações de 1995

a 2001] [Monografia na internet] Disponível em http://www.datasus.gov.br

10. Almeida MF, Novaes HMD, Alencar GP . Mortalidade neonatal no Município de São Paulo: influência do peso ao nascer e de fatores sócio-demográficos e assistenciais. Rev. Bras. Epidemiol. 2002; 5(1):93-107 [acessado em 11 nov. 2008]. Disponível em http://www.scielosp.org/pdf/rbepid/v5n1/11.pdf

Teses11. Waldman EA. Vigilância epidemiológica como prática

de saúde pública [Tese de Doutorado]. São Paulo (SP): Universidade de São Paulo; 1991.

Tabelas e figurasAs tabelas e as figuras (são considerados como

“figuras”: quadros, gráficos, mapas, fotografias, desenhos, fluxogramas, organogramas) devem ser enviadas, em arquivos separados, por ordem de ci-tação no texto.

O título deve ser conciso, evitando o uso de abre-viaturas ou siglas; estas, quando indispensáveis, serão traduzidas em legendas ao pé da própria tabela ou figura.

Tabelas, quadros, organogramas e fluxogramas apenas serão aceitos se elaborados pelo Microsoft Office (Word; Excel); e gráficos, mapas, fotografias, somente se elaborados nos formatos EPS, BMP ou TIFF, no modo CMYK, em uma única cor – preto, em suas várias tonalidades.

Uso de siglasSiglas ou acrônimos com até três letras devem ser

escritos com maiúsculas (Ex: DOU; USP; OIT). Em sua primeira aparição no texto, acrônimos desconhecidos serão escritos por extenso, acompanhados da sigla en-tre parênteses. Siglas e abreviaturas compostas apenas por consoantes serão escritas em letras maiúsculas. Siglas com quatro letras ou mais serão escritas em maiúsculas se cada uma delas for pronunciada sepa-radamente (Ex: BNDES; INSS; IBGE). Siglas com quatro letras ou mais e que formarem uma palavra (siglema), ou seja, que incluírem vogais e consoantes, serão escritas apenas com a inicial maiúscula (Ex: Funasa; Datasus; Sinan). Siglas que incluírem letras maiúsculas e minúsculas originalmente, serão escritas como foram criadas (Ex: CNPq; UnB). Para siglas estrangeiras,

Normas para publicação

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):81-84, jan-mar 2010

Page 85: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

84

recomenda-se a correspondente tradução em por-tuguês, se for largamente aceita; ou o uso da forma original, se não houver correspondência em português, ainda que o nome por extenso – em português – não corresponda à sigla. (Ex: Unesco = Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura; MRPII = Manufacturing Resource Planning). Algumas siglas, popularizadas pelos meios de comunicação, assumiram um sentido próprio; é o caso de AIDS = síndrome da imunodeficiência adquirida, sobre a qual o Ministério da Saúde decidiu recomendar que seus documentos a reproduzam como se tratasse de nome de doença, “aids”, em letras minúsculas. (Brasil. Fundação Nacional de Saúde. Manual de editoração e produção visual da Fundação Nacional de Saúde. Brasília: Funasa, 2004. 272p.).

Análise e aceitação dos trabalhosOs trabalhos submetidos são analisados por re-

visores (revisão por pares) e publicados desde que aprovados pelo Comitê Editorial e Editoria Executiva.

Endereço para correspondência:Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em ServiçosEpidemiologia e Serviços de Saúde: revista do Sistema Único de Saúde do BrasilSCS, Quadra 4, Bloco A, Edifício Principal,5o andar, Asa SulBrasília-DFCEP: 70304-000

Telefones: (61) 3213-8387 / 3213-8393Telefax: (61) 3213-8404

E-mail: [email protected]

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):81-84, jan-mar 2010

Normas para publicação

Page 86: Epidemiologia e Serviços de Saúde - Biblioteca Virtual ...bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/revista_epi_vol19_n1.pdf · Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes ... especialmente

artigos neste número

Epidemiologiae Serviços de SaúdeR E V I S T A D O S I S T E M A Ú N I C O D E S A Ú D E D O B R A S I L

| Volume 19 - Nº 1 - janeiro / março de 2010 |

ISSN 1679-4974

1

» EDITORIAL : Pesquisas em serviços de saúde edesenvolvimento da epidemiologia no SUS

Maria Regina Fernandes de Oliveira

» Mortes maternas: revisão do fator de correção para os dados oficiais

Carolina Terra de Moraes Luizaga, Sabina Léa Davidson Gotlieb,Maria Helena Prado de Mello Jorge e Ruy Laurenti

» Epidemia de leishmaniose visceral no Município de Campo Grande-MS, 2002 a 2006

Mara Beatriz Grotta Furlan

» Aspectos relacionados à conservação de vacinas nas unidades básicas de saúde da cidade do Recife – Pernambuco

Giselle Karine Muniz de Melo, Janice Vasconcelos Oliveira e Maria Sandra Andrade

» Perfil epidemiológico da tuberculose no Município de Teresina-PI, no período de 1999 a 2005

Danieli Maria Matias Coêlho, Rosângela Lopes Viana,Clarice Alves Madeira, Luiz Oscar Cardoso Ferreira e Viriato Campelo

» Frequência de Papilomavírus humano (HPV) e Chlamydia trachomatis em gestantes

Virgínia da Conceição Ribes Amorim Bezerra Brandão,Heloisa Ramos Lacerda e Ricardo Arraes de Alencar Ximenes

» Fatores associados à mortalidade neonatal precoce:análise de situação no nível local

Enio Silva Soares e Greice Maria de Souza Menezes

» Características da atenção básica associadas ao risco de internar por condições sensíveis à atenção primária:revisão sistemática da literatura

Fúlvio Borges Nedel, Luiz Augusto Facchini, Miguel Martín e Albert Navarro

» Impacto da Legislação Restritiva do Álcool na Morbimortalidade por Acidentes de Transporte Terrestre – Brasil, 2008

Deborah Carvalho Malta, Marta Maria Alves da Silva, Cheila Maria Lima,Adauto Martins Soares Filho, Marli de Mesquita Silva Montenegro,Márcio Dênis Medeiros Mascarenhas, Otaliba Libânio de Morais Neto,José Gomes Temporão e Gerson Oliveira Penna

www.saude.gov.br/svs

www.saude.gov.br/bvs

disque saúde 0800.61.1997

Ep

ide

mio

log

ia e

Se

rviço

s de

Sa

úd

e :re

vista

do

Siste

ma

Ún

ico d

e S

de

do

Bra

sil :Vo

lum

e 1

9 - N

º 1 - ja

ne

iro / m

arço

de

20

10