tcc_identidade militar-al of pm enio, matos e monteiro
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Secretaria de Estado de Segurança Pública
Instituto de Ensino de Segurança do Pará
Coordenadoria de Ensino Superior
Academia de Polícia Militar “Cel. Fontoura”
Curso de Formação de Oficiais da Polícia Militar
Cezar Rodrigues Monteiro Júnior
Enio Félix de Oliveira Maxwell Matos de Sousa
Identidade Militar na Polícia Militar do Estado do Pará:
Estudo comparativo entre o 6º BPM e BPOT
Marituba/Pará
2010
1
Cezar Rodrigues Monteiro Júnior
Enio Félix de Oliveira
Maxwell Matos de Sousa
Identidade Militar na Polícia Militar do Estado do Pará:
Estudo comparativo entre o 6º BPM e BPOT
Trabalho apresentado como requisito parcial para a
qualificação de TCC do Curso de Formação de Oficiais da
Polícia Militar do Pará, realizado no Instituto de Ensino de Segurança do Pará e Academia de Polícia Militar do Pará
“Cel. Fontoura”.
Orientador: Prof. MSc. Ronaldo Braga Charlet.
Marituba/Pará
2010
2
Cezar Rodrigues Monteiro Júnior
Enio Felix de Oliveira
Maxwell Matos de Sousa
Identidade Militar na Polícia Militar do Estado do Pará:
Estudo comparativo entre o 6º BPM e BPOT
Trabalho apresentado como requisito parcial para a
qualificação de TCC do Curso de Formação de Oficiais da
Polícia Militar do Pará, realizado no Instituto de Ensino de
Segurança do Pará e Academia de Polícia Militar do Pará
“Cel. Fontoura”.
Orientador: Prof. MSc. Ronaldo Braga Charlet.
Data de aprovação: ______ / ______ /__________
Banca Examinadora
_________________________________________________________
Prof. Ronaldo Braga Charlet - Orientador.
MSc. em Planejamento e Desenvolvimento
Universidade Federal do Pará
_________________________________________________________
Prof. Jesiane Calderaro Costa Vale - Examinador.
MSc. Em Psicologia Clínica e Social
Universidade Federal do Pará
_________________________________________________________
Prof. - Examinador.
MSc.
3
CDD 025
MONTEIRO JÚNIOR, Cezar Rodrigues; OLIVEIRA, Enio Félix de;
SOUSA, Maxwell Matos de.
Identidade Militar na Polícia Militar do Estado do Pará:
Estudo comparativo do 6º BPM e BPOT. Orientador: Prof. MSc.
Ronaldo Braga Charlet. 2010. 64p.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação com Bacharelado
em Defesa Social e Cidadania) – Instituto de Ensino de Segurança do
Pará, Curso de Formação de Oficiais da Polícia Militar, Marituba,
2010.
1. Identidade – 2. Polícia Militar – 3. Militarismo – 4.
Segurança Pública.
4
Aos homens e mulheres que diuturnamente se
dedicam a atividade policial ostensiva, em
defesa da sociedade.
5
AGRADECIMENTOS
Agradecemos inicialmente a Deus, pela vida e oportunidade de nos profissionalizar a
nos concedida;
A nossa família, pelo contínuo apoio em circunstâncias de adversidade experimentadas,
seja de âmbito profissional, ou na área pessoal.
Ao nosso orientador, Capitão PM Ronaldo Braga Charlet, que, através do seu
conhecimento acadêmico, profissional e pessoal, permitiu que compreendêssemos a
importância desse trabalho para nossa carreira e para instituição a que servimos.
Aos instrutores da Disciplina Metodologia da Pesquisa, Major PM Carmo e Professora
Sônia Passos, pelo apoio dispensado aos alunos da Academia de Polícia Militar “Coronel
Fontoura” na construção dos primeiros passos dos trabalhos de conclusão de curso.
E a todos aqueles que, de forma direta ou indireta, contribuíram para a construção desta
empreitada.
6
“Fazer-te invencível significa conhecer-te a ti
mesmo”
Sun Tzu
7
RESUMO
MONTEIRO JÚNIOR, Cezar Rodrigues; OLIVEIRA, Enio Félix de; SOUSA, Maxwell
Matos de. Identidade Militar na Polícia Militar do Estado do Pará: Estudo comparativo
do 6º BPM e BPOT. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação com Bacharelado em
Defesa Social e Cidadania) – Instituto de Ensino de Segurança do Pará, Curso de Formação
de Oficiais da Polícia Militar, Marituba, 2010.
As discussões sobre segurança pública vêm se intensificando à medida que a sociedade vem
sofrendo transformações, e nesse contexto a Polícia Militar encontra-se inserida, sendo ponto
central de algumas dessas discussões, como por exemplo, os debates referentes à
desmilitarização das Polícias Militares, unificação das polícias, entre outros. Tais
transformações e discussões influenciam nas mudanças ocorridas na Polícia Militar, mais
especificamente a do Estado do Pará, que é o objeto da presente pesquisa, mudanças essas que
geram algumas inconsistências em relação à percepção da Identidade da Corporação. Neste
sentido, a presente pesquisa busca fazer uma análise da Identidade da Polícia Militar do Pará,
verificando de que forma essa Identidade é formada e quais fatores externos influenciam
nessa formação. Para isso, a metodologia utilizada será uma análise bibliográfica a partir da
pesquisa de vários autores que discutem sobre o tema. Também foram aplicados questionários
no Batalhão de Policiamento Tático e no 6° Batalhão de Polícia Militar, para o fim de realizar
a análise comparativa objetivando entender quais fatores são determinantes para a definição
de uma Identidade da instituição, e assim poder elucidar se a mesma é consolidada ou
adaptativa, considerando também se há identidades diferentes dentro do órgão em questão.
Palavras-chave: Identidade, Polícia Militar, militarismo, segurança pública.
8
ABSTRACT
MONTEIRO JÚNIOR, Cezar Rodrigues; OLIVEIRA, Enio Félix de; SOUSA, Maxwell
Matos de. Military Identity in the Military Police of the State of Pará: a comparative
study of 6th
BPM and BPOT. Work of Conclusion Curse (Graduation with Bachelor in
Social Defense and Citizenship) – Institute of Teaching of Security of Pará, Formation Curse
of Oficials of Military Police, Marituba, 2010.
Discussions about public safety have been intensifying the extent that society is going
through, and in that context the Military Police is inserted, and some central point of these
discussions, such as debates concerning the demilitarization of the Military Police, unification
of police, among others. These changes influence the discussions and changes in the Military
Police, specifically the state of Para, which is the object of the present research, they are
creating some inconsistencies regarding the perception of Identity Corporation. This sense,
this research seeks to analyze the identity of the Military Police of Para, checking out how this
identity is formed, and what external factors influence this formation. For this, the
methodology will be a literature review from the research of several authors who discuss the
subject. Questionnaires will also be made in the Battalion Tactical Policing and the 6th
Military Police Battalion, which is a comparative analysis aiming to understand which factors
are decisive for the definition of an institution's identity, and thus be able to elucidate whether
it is consolidated or institution's identity, and thus be able to elucidate whether it is
consolidated or adaptive considering whether there are different identities within the organ in
question.
Key-words: Identity, Military Police, military, public safety.
9
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Imagem 1 - Policiais Militares utilizando o fardamento ainda na coloração azul-
petróleo, em janeiro de 1986.
25
Imagem 2 - Oficial e Cadetes durante treinamento para a solenidade de 25 de se-
tembro em 2009.
25
Imagem 3 - Figura 3 - Prédio antigo do 2º BPM em 1902
26
Imagem 4 - Fotografia do antigo prédio do 2º BPM em 2009
27
Imagem 5 - Prédio do CFAP, antigo asilo de imigrantes no final do século XIX
27
Imagem 6 - Usina de Cremação. Prédio onde atualmente funciona o CME,
imagem registrada no início do século XX.
28
Imagem 7 - Atual sede do Comando de Missões Especiais
28
Imagem 8 - Brasão do 6º BPM gravado no estandarte do quartel
43
Imagem 9 - Faixada do 6º BPM
44
Imagem 10 - Figura de dois policiais militares que morreram durante o serviço, na
entrada do BPOT.
46
Imagem 11 - Brasão do Batalhão de Polícia Tática
46
Imagem 12 - Brasão de ROTAM
47
Imagem 13 - Oração de BPOT
47
Imagem 14 - Alunos do Nivelamento do ROTAM: exigência para o ingresso no
BPOT.
48
10
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - 1ª questão do questionário: Além de ser policial você se sente militar?
49
Gráfico 2 - 2ª questão do questionário: você considera o militarismo necessário a
Polícia Militar?
50
Gráfico 3 - 3ª questão do questionário aplicado: você se auto-identifica com a
instituição policial militar?
51
Gráfico 4 - Você integra o efetivo de seu batalhão há quanto tempo?
52
Gráfico 5 - Você considera a hierarquia e a disciplina essenciais a atividade
Policial Militar?
52
Gráfico 6 - Os policiais militares que servem em sua unidade seguem os princípios
dos direitos humanos em sua atuação?
53
Gráfico 7 - Você acredita que a conduta dos policiais militares com que serve são
pautadas na moral e ética?
54
Gráfico 8 - Você atribui valor as simbologias de sua unidade?
54
Gráfico 9 - Você arriscaria sua vida pela missão policial militar?
55
11
LISTA DE SIGLAS
AMAN – Academia Militar das Agulhas Negras
APM – Academia de Polícia Militar
BPM – Batalhão de Polícia Militar
BPOT – Batalhão de Policiamento Tático
CBM – Corpo de Bombeiros Militares
CEDPM – Código de Ética e Disciplina da Polícia Militar
CEL – Coronel
CFAP – Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças
CFO – Curso de Formação de Oficiais
CFSD – Curso de Formação de Soldados
CIA - Companhia
CME – Comando de Missões Especiais
DH – Direitos Humanos
EB – Exército Brasileiro
FAB – Força Aérea Brasileira
IGPM – Inspetoria Geral das Polícias Militares
JIM – Jornada de Instrução Militar
OPM – Organização Policial Militar
MB – Marinha do Brasil
NGA – Normas Gerais de Ação
PM – Policial Militar / Polícia Militar
PMPA – Polícia Militar do Estado do Pará
ROTAM – Ronda Ostensiva Tático Motorizada
ROCAM – Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas
12
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
13
2 ASPECTOS TEÓRICOS E DEFINIDORES DA IDENTIDADE
17
2.1 OS FUNDAMENTOS ÉTICOS DA CULTURA POLICIAL MILITAR
PARAENSE
20
2.2 A TRADIÇÃO COMO MEIO DE CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE
23
2.2.1 TRADIÇÃO NA PMPA “VERSUS” POLÍTICA
29
2.2.2 IDENTIDADE POLICIAL MILITAR: O SENTIMENTO DE PERTENÇA À
PM
31
3 O MILITARISMO E A POLÍCIA MILITAR
34
3.1 A PERSPECTIVA VICIADA SOBRE O MILITARISMO
36
3.2 PARADIGMAS SOBRE A PRÁTICA POLICIAL
37
3.3 A SOCIALIZAÇÃO PROFISSIONAL: O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO
DO MILITAR
39
4 O MILITARISMO NO 6º BPM E NO BPOT
42
4.1 O 6º BATALHÃO DE POLÍCIA MILITAR “CEL ARRUDA”
42
4.2 O BATALHÃO DE POLÍCIA TÁTICA
44
4.3 ANÁLISE DE DADOS
49
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
57
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
61
APÊNDICE
64
13
1 - INTRODUÇÃO
O atual sistema de segurança pública vigente em nosso país tem sofrido rigorosas
análises, imanando sempre as principais atenções ao sistema policial, e com isso árduas
críticas que apontam para a unificação das polícias, sua desmilitarização, para o aparente
paradoxo entre a garantia de um estado democrático de direito afiançado pela atividade
policial e o militarismo na instituição Policial Militar.
As pesquisas de âmbito sociológico/antropológico têm apresentado trabalhos
sobre a atividade policial, utilizando-se da hipótese da incompatibilidade do exercício do
poder de polícia de segurança pública com o militarismo que ainda organiza e dá forma às
polícias estaduais ostensivas brasileiras.
Muito dessa discussão advém do discurso de “buscar adequar o sistema policial
brasileiro às exigências do estado democrático de direito” 1, pois a maioria dos autores reforça
que o fato das polícias brasileiras preservarem o militarismo as torna incompatíveis de
policiar a sociedade moderna. Para Muniz, reside aí a crise de identidade das polícias
militares brasileiras, em especial na forma como esses profissionais são educados nas escolas
de formação policial militar.2
A rigor a ótica que vem sendo direcionada para o estudo das polícias militares
vem de fora da instituição para dentro e não de policiais militares para compreenderem a sua
realidade interna, de modo a entenderem e teorizarem acerca dos valores que regem a
instituição.
Destacamos o estudo desenvolvido por DA SILVA et al3, monografia de conclusão
do Curso de Formação de Oficiais, onde discutem as formas como essa identidade policial
militar se manifesta, conflitando diversas vezes entre uma instituição que cultua um passado
1 MUNIZ, Jacqueline. A Crise de Identidade das Polícias Militares Brasileiras: Dilemas e Paradoxos da
Formação Educacional. In: Security and Defense Studies Review, Vol 1, Winter 2001. p. 177. 2 Ibdem, p. 03. 3 DA SILVA, Aldaíze Santos. MARTINS JÚNIOR, Mário José; GAUDÊNCIO, Itamar Rogério Pereira. Refle-
xões sobre a(s) identidade(s) da Polícia Militar do Pará: Um olhar sobre a APM “Cel. Fontoura”. Maritu-
ba, 2008.
14
cuja força e violência são exaltados, em contraste com uma corporação policial que deseja ser
promotora dos direitos humanos e patrimônio da sociedade.
Dessa maneira, estudar a construção de uma identidade Policial Militar significa
entender a influência da concepção militarista e sua prática pedagógica,
demonstrando quais os seus reflexos no âmbito da formação policial militar, a partir
do perfil estabelecido pela Polícia Militar do Pará (PMPA), o qual visa formar
profissionais que tenham compromisso em defender os valores éticos, da cidadania e dos direitos humanos.4
Em outra discussão, envolvendo muitas vezes a paradoxa relação entre Teoria e
Prática, analisamos os argumentos que apontam para o espírito militar como ferramenta inútil
ao serviço policial, sendo apenas um aglomerado de expressões abstratas, sem definições
consensuais, apenas no campo da teoria, sem aplicação prática, utilizamos das palavras de
Otaviano Pereira, o qual afirma que “(...) antes de ser uma questão simplesmente de ordem
intelectiva, a compreensão da teoria resolve-se muito mais como uma questão de método e de
comportamento”5. Esse autor percebe na práxis como sendo “a ação projetada, refletida,
consciente, transformada do natural, do humano e do social.”6
De acordo com Paulo Storani, temos que:
Embora não faltem críticas em relação ao modelo militarista adotado pelo Estado
para sua força policial de patrulhamento ostensivo, como também ao ethos
guerreiro, desenvolvido na prática diária do confronto com criminosos armados, o
fato concreto é: este é o modelo vigente, e que contribuiu para o processo de
institucionalização e construção da identidade social da Polícia Militar; que assim
será, até que seja mudado pelos os mandatários, quando entendermos que não esteja
mais atendendo às necessidades sociais; quanto maior o conhecimento sobre estas
instituições, melhor o entendimento sobre dever ou não mudá-las.7
Logo, o problema que nos motivou a desenvolver essa pesquisa reside numa série
de discussões feitas pela sociedade, como a desmilitarização das polícias, a unificação dos
órgãos de segurança pública, a Polícia e Direitos Humanos, o vínculo de subordinação da PM
ao Exército Brasileiro. Dessa forma, desenvolvemos a problemática da seguinte maneira: a
PMPA apresenta características consolidadas ou não com relação a ser Polícia e ser Militar?
Além de tentar identificar quais são essas características.
Desta forma, com ênfase na crise de identidade policial militar, num contexto de
discussões sobre a melhor forma de organizar as instituições policiais de segurança pública,
esse trabalho tem por escopo realizar um ensaio sobre a análise da identidade militar na
instituição, deixando claro que por ser militar, a Polícia Militar tem, marcadamente, suas
4 Idem, p. 12. 5 Pereira, Otaviano. O que é teoria. São Paulo: Brasiliense, 2006. P. 13. 6 Idem. p. 77. 7 STORANI, Paulo. “Vitória sobre a morte”: o “rito de passagem” na construção da identidade dos Opera-
ções Especiais. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Fede-
ral Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Antropologia Social. 2008. p. 34.
15
ações orientadas dentro do militarismo, do qual não poderá se dissociar o estudo dessa
instituição.
Todavia, essa pesquisa se desenvolveu a partir da premissa de que o militarismo é
uma excelente ferramenta para a padronização de atitudes, podendo ser utilizado para
doutrinar os policiais que diariamente estão engajados na atividade de segurança pública.
Desde que bem ministrado, os ensinamentos que constituem a essência do militarismo podem
ser muitos uteis a formação dos agentes.
O significado de militarismo que utilizamos se afasta do entendimento de que a
ação beligerante é o fim da atividade militar. Consideramos que a cultura militar, muito rica
de elementos simbólicos, pode/deve potencializar os valores que alicerçam a atividade8, é
nessa característica que percebemos os benefícios da utilização do militarismo como forma de
disciplinar o comportamento, a partir de uma maior identificação com os símbolos, princípios
e os significados que eles apresentam.
Nesse sentido a construção da identidade é um dos pontos importantes a serem
pensados pelos gestores da corporação e precisa ser trabalhada durante a formação inicial e
reforçada ao longo da carreira policial militar, para que a forma de perceber, pensar e agir9
esteja sempre fundamentada na missão da corporação, trabalhando em prol do bem estar
social.
Nosso objetivo geral é compreender se a Polícia Militar do Pará possui uma
identidade consistente, ou mutável conforme convenções políticas, e fazer um breve estudo
sobre a identidade militar na corporação. Nessa seara especificamos alguns objetivos como a
análise das influências que o vínculo de subordinação ao Exército causa na Polícia Militar,
considerando as missões constitucionais de cada entidade. Verificamos também se a
identidade policial militar na PMPA está associada ao militarismo. Além de analisar quais
fatores contribuem para a mudança de Doutrina na instituição e consequentemente para a
formação de uma nova Identidade. Por fim, analisar se dentro da instituição há variados tipos
de Identidade.
Para alcançarmos tais objetivos utilizamos nos valemos de uma pesquisa de
natureza exploratória, “pois partimos de uma hipótese e aprofundamos seu estudo nos limites
8 Ao nos referirmos à atividade apontamos para a missão constitucionais destinadas a cada força militar brasilei-
ra – Marinha do Brasil (MB), Exército Brasileiro (EB), Força Aérea Brasileira (FAB), Polícias Militares (PM) e
Corpo de Bombeiros Militares (CBM). 9 STORANI, 2008, p. 14.
16
de uma realidade específica”10
. As fontes de informação utilizadas foram do tipo
bibliográficas, a partir da pesquisa de vários autores e através da pesquisa de campo, nas
unidades de Polícia Militar pesquisadas e abaixo referenciadas. Quanto ao objeto da pesquisa,
utilizamos de uma abordagem metodológica, procurando formas/procedimentos para
alcançarmos determinados objetivos.
O procedimento técnico de coleta de dados é o de estude de caso, por
considerarmos que através desta categoria podemos abranger as principais características
daquilo que está sendo estudado. Optamos pelo método indutivo, por acreditar partirmos de
afirmações particulares até alcançarmos a generalização. Nossa abordagem é quantitativa, por
meio da aplicação de questionários nas unidades policiais militares que serviram de objeto de
pesquisa dentro da Polícia Militar do Pará.
Os quartéis dos quais foram levantados os dados são o 6º Batalhão de Polícia
Militar “Coronel (Cel.) PM Arruda” e o Batalhão de Policiamento Ostensivo Tático (BPOT).
As considerações que forem realizadas compõem o enfoque comparativo, com vistas a
ressaltarmos as similaridades e diferenças entre os padrões de comportamentos desses
profissionais.
A razão de escolhermos essas duas organizações policiais militares (OPM) foi a
natureza da atividade, pois na prática essas duas OPM‟s realizam o Policiamento Ostensivo,
entretanto o 6º BPM é uma unidade de Policiamento Geral, usualmente chamado de
“comum”, enquanto que o BPOT se vale de recursos e treinamentos especiais, para atuar em
situações críticas, denominadas de “missões especiais”.
Faremos rapidamente uma ênfase na forma como se constitui a identidade militar
desses policiais, ou seja, a formação que os instruiu, os cursos de formação inicial –
socialização primária – e outros eventos instrutivos – socialização secundária.
A partir dos dados levantados nessas duas OPM‟s discorreremos sobre a
consistência ou não dos valores militares nesse meio policial, pois consideramos que é muito
importante que as instituições policiais evoluam, ajustando-se as demandas da sociedade, pois
a proteção dos cidadãos é sua razão de ser, entretanto se faz necessário estabelecer nos valores
morais e estéticos que fundamentam a conduta do efetivo um melhor controle dos
comportamentos e de sua eficiência.
10 Normas para Apresentação de Trabalhos de Conclusão dos Cursos de Nível Superior do IESP. Marituba. 2010,
p. 17.
17
2 - ASPECTOS TEÓRICOS E DEFINIDORES DA IDENTIDADE
Buscando compreender o significado do conceito de identidade e a forma como os
estudiosos discorrem a esse respeito, consideramos os meios mais usuais para
compreendermos tal definição, sejam os dicionários e enciclopédias, sejam os conceitos
desenvolvidos por pesquisadores da psicologia, sociologia, antropologia e outras ciências.
Nessa seara, observamos de pronto que esses meios de informação nos fazem referência às
formas como os indivíduos são reconhecidos – identidade social – ou se reconhecem –
identidade pessoal.
Uma definição ainda incipiente acerca de identidade pode ser vislumbrada da
seguinte forma: identidade é o “aspecto coletivo de um conjunto de características pelas quais
algo é definitivamente reconhecível, ou conhecido” 11
.
Avançando na tentativa de melhor definir o que seria a identidade, nos apoiamos
nos escritos de Stuart Hall, o qual em diversas pesquisas aponta para duas categorias que tem
afinidade com o presente estudo, a saber: a identidade do sujeito sociológico e a do pós-
moderno12
. Tais identidades são entendidas como importantes para o desenvolvimento do
nosso pensamento.
Stuart Hall discorre sobre o tema, definindo sujeito sociológico a partir das
características pessoais somadas às influências externas que instituiriam a identidade, ou seja,
seria a interação entre o eu e a sociedade13
. Desta forma, afirma que “A identidade, então,
costura (...) o sujeito à estrutura. Estabiliza tanto os sujeitos quanto os mundos culturais que
eles habitam, tornando ambos reciprocamente mais unificados e predizíveis.”14
Por outro lado, teríamos a identidade do sujeito pós-moderno, por sua vez mais
complexa que a anterior, tendo em vista que esse indivíduo experimenta tempos de
transformações institucionais e estruturais. O maior contato com os sistemas culturais provoca
essa instabilidade, ou seja, o sujeito não incorporaria uma identidade fixa, mas identificações
11 FERREIRA, Aurélio. B. de H. Novo Dicionário Aurélio século XXI. Rio de janeiro: Nova Fronteira, 1999. 12 Hall, Stuart. Identidade cultural da pós-modernidade - 10ª edição. DP&A editora. 13 Ibidem, p. 11. 14 Ibidem, p 12.
18
que estão constantemente sendo transformadas, concepções em constante transformação.
Neste sentido, sobre o homem da pós-modernidade e de sua postura identitária,
analisa:
A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia. Ao
invés disso, à medida que os sistemas de significação e representação cultural se
multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e
cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos
identificar – ao menos temporariamente.15
Desta forma, podemos perceber que a peleja pela afirmação da identidade
presente em qualquer instituição que tenta manter-se viva ao longo dos tempos se fragiliza em
virtude das mudanças naturais ou provocadas, isto é, pela interação social existente que tem
como conseqüência espontânea a criação de novas demandas. Na PMPA não é diferente.
Entretanto, como se trata de uma instituição cuja atuação é fundamental para o bem estar
social, essas transformações precisam ser refletidas, mantendo os princípios saudáveis ao bom
desempenho da instituição.
Porém, se percebe a forma incipiente e secundária que a PMPA se opõe a essas
transformações. Surge então a necessidade de adotar uma postura firme diante dessas
mudanças institucionais e estruturais vivenciadas pelo homem e pelas corporações da pós-
modernidade. Portanto, evidenciamos nossa adesão à necessidade de se resgatar o sujeito
sociológico, como conceitua Stuar Hall, estando esse profissional de segurança pública
embasado em uma rede de símbolos/valores que o torne por eles orientados.
A forma como a construção dessa identidade deve ser instituída não pode ser sem
um planejamento prévio, mas feita de forma a verdadeiramente repassar ao aluno policial
militar, ainda no período de formação inicial, e aquele profissional já formado, muitas vezes
com vários anos de serviço, a possibilidade de entrar em contato diariamente com esse ethos
policial militar.
Portanto, explicitamos que acreditamos na necessidade de que sejam instituídas
mudanças na PMPA, entretanto essas transformações precisam ser implantadas menos em
âmbito estrutural (organização básicas), e sim nos homens e mulheres que constituem a
corporação, para que possam ter uma identidade consolidada, forte o suficiente para orientar
suas ações. Não se pode admitir que o indivíduo não possua qualquer sentimento de pertença
e auto-identificação com a instituição a qual está inserido.
Tomando por base Paulo Storani, observamos que ele discorre sobre o tema
15 Ibidem, p 13.
19
identidade policial militar, sugerindo alguns atributos que constituiriam essa categoria e nos
permitindo melhor entendermos o que vem a ser tal identidade:
O „espírito de corpo‟, assim como o „espírito militar‟, são representações sociais do
„militarismo‟ que, juntamente com outros atributos, constituem características da
identidade adquirida, ou incorporada, pelos processos de socialização da instituição
militar.16
Para esse mesmo autor a aquisição ou incorporação dessa identidade,
fundamentada na hierarquia e disciplina, constitui e conserva um ethos, definido por Gueertz
apud Storani como sendo “aspectos morais (e estéticos) de uma dada cultura, os elementos
valorativos” 17
.
Temos que esses aspectos morais influenciaram na geração da estrutura observada
atualmente nas Polícias Militares, onde segundo Paulo Storani:
Este ethos militar gerou um modelo aplicado à organização profissional das polícias
ostensivas brasileiras. Sua adoção, segundo Muniz (1996)18, obedeceu ao processo
histórico, narrado anteriormente, e é caracterizado pela evocação de imagens do
universo propriamente militar. Estas imagens estão presentes na própria designação
institucional (Polícia Militar), como também em sua estrutura burocrática
(Batalhões, companhias, pelotões).19
Celso Castro, por outro lado pesquisou o processo de construção do ser militar
nos cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras, e afirma o seguinte:
Através de manuais e apostilas o cadete adquire conhecimentos sem dúvida
indispensáveis ao exercício da profissão, mas é na interação cotidiana com outros
cadetes e com oficiais que ele aprende como é ser militar.20
Portanto, para muito além das leis, códigos, regulamentos, normas e manuais, a
Academia deve ser o espaço onde “o cadete vive um processo de socialização profissional
durante o qual deve aprender os valores, atitudes e comportamentos apropriados à vida
militar”21
. Segundo ele essa forma de aprendizagem tem um fundamental valor para a
consolidação de uma identidade militar e nos remete a definição de Stuart Hall, anteriormente
citada, sobre o sujeito sociológico.
É importante salientar que esse processo de socialização descrito por Castro
16 STORANI, 2008. p. 31. 17 GUEERTZ, Cliford. A interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989, p. 83 Apud Storani. 18 MUNIZ, Jacqueline. “Ser Policial é, Sobretudo, uma Razão de Ser”: Cultura e Cotidiano da Polícia Mili-
tar do Estado do Rio de Janeiro. Tese apresentada ao Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro
como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutor em Ciência Política – IUPERJ. 1999. 19 STORANI, loc. cit. 20 CASTRO, Celso. O espírito militar: um antropólogo na caserna – 2 ed. revista. – Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Ed., 2004: 15. 21 CASTRO, 2004, p. 15.
20
refere-se à formação inicial, onde o rigor das exigências sobre a conduta é maior. Mais tarde,
findo os estágios de transição, considerado formado, esse militar não está sujeito às mesmas
exigências e severidades que experimentou enquanto aluno.
2.1 OS FUNDAMENTOS ÉTICOS DA CULTURA POLICIAL MILITAR PARAENSE
Em 13 de fevereiro de 2006 foi promulgada no Pará a lei 6.83322
, instituindo o
Código de Ética e Disciplina da Polícia Militar do Pará (CEDPM), sem dúvida um importante
passo para definir os preceitos éticos e as formas de apurar os desvios de condutas, conforme
preconiza o artigo primeiro dessa mesma lei. No Título II (Da Deontologia Policial Militar),
Capítulo I (Do Valor Policial Militar), o artigo 17 diz o seguinte:
São atributos inerentes à conduta do policial militar, que se consubstanciam em va-
lores policiais militares:
I - a cidadania;
II - o respeito à dignidade humana;
III - a primazia pela liberdade, justiça e solidariedade;
IV - a promoção do bem-estar social sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade, religião e quaisquer outras formas de discriminação;
V - a defesa do Estado e das instituições democráticas;
VI - a educação, cultura e bom condicionamento físico;
VII - a assistência à família;
VIII - o respeito e assistência à criança, ao adolescente, ao idoso e ao índio;
IX - o respeito e preservação do meio ambiente;
X - o profissionalismo;
XI - a lealdade;
XII - a constância;
XIII - a verdade real;
XIV - a honra; XV - a honestidade;
XVI - o respeito à hierarquia;
XVII - a disciplina;
XVIII - a coragem;
XIX - o patriotismo;
XX - o sentimento de servir à comunidade estadual;
XXI - o integral devotamento à preservação da ordem pública, mesmo com o risco
da própria vida;
XXII - o civismo e o culto das tradições históricas;
XXIII - a fé na missão elevada da Polícia Militar;
XXIV - o espírito de corpo, orgulho do policial militar pela OPM onde serve;
XXV - o amor à profissão policial-militar e o entusiasmo com que é exercida; XXVI - o aprimoramento técnico-profissional.
Dessa forma, com o advento desse rol de valores, são lançados alguns dos
alicerces da conduta policial militar que, se exigidos e experimentados diariamente, podem
ser absorvidos pela tropa e constituir elementos da identidade desses policiais militares. No
artigo 18 do CEDPM são descritos os preceitos éticos da Polícia Militar que confirmam e
reforçam os valores acima descritos.
22 PARÁ, Lei Estadual nº 6.833, de 13 de fevereiro de 2006. Institui o Código de Ética e Disciplina da Polícia
Militar do Estado do Pará. Diário Oficia do Estado do Pará, nº 30.624, de 15 de fevereiro de 2006.
21
Definir quais os valores que constituem o ethos dessa comunidade é de
fundamental importância para que seus integrantes possam ter condições de pautar seu
comportamento a partir desses itens, de outra forma não haveria referencial para se orientar e
exigir de seus semelhantes à mesma prática.
No que toca a enumeração desse rol de preceitos, todos eles descritos no conjunto
de leis da PMPA como integrantes da ética policial militar, podemos citar mais alguns, dessa
vez fazendo menção do Estatuto dos policiais militares da Polícia Militar do Estado do Pará23
,
enumerando itens que alcançam diversos aspectos da vida do indivíduo, por exemplo:
Art. 29 - São manifestações essenciais do valor Policial-Militar:
I - O sentimento de servir à comunidade estadual, traduzido pela vontade inabalável
de cumprir o dever Policial-Militar e pelo integral devotamento à manutenção da or-
dem pública, mesmo com o risco da própria vida;
II - O civismo e o culto das tradições históricas;
III - A fé na missão elevada da Polícia Militar;
IV - O espírito de corpo, orgulho do Policial-Militar pela Organização onde serve;
V - O amor à profissão Policial-Militar e o entusiasmo com que é exercida;
VI - O aprimoramento técnico-profissional.24
Na mesma lei ainda podemos citar, arrolados em uma seção que dispõe sobre a
ética policial militar:
Art. 30 - O sentimento do dever, o pundonor Policial-Militar e o decoro da classe
impõem, a cada um dos integrantes da Polícia Militar, conduta moral e profissional,
irrepreensíveis, com observância dos seguintes preceitos da ética Policial-Militar:
I - Amar a verdade e a responsabilidade como fundamentos da dignidade pessoal;
II - Exercer, com autoridade, eficiência e probidade as funções que lhe couberem em decorrência do cargo;
III - Respeitar a dignidade da pessoa humana;
IV - Acatar as autoridades civis;
V - Cumprir e fazer cumprir as Leis, os regulamentos, as instruções e as ordens das
autoridades competentes;
VI - Ser justo e imparcial nos julgamentos dos atos e na apreciação do mérito dos
subordinados;
VII - Zelar pelo preparo moral, intelectual e físico, próprio e dos subordinados, ten-
do em vista o cumprimento da missão comum;
VIII - Praticar a camaradagem e desenvolver, permanentemente, o espírito de coope-
ração;
IX - Empregar todas as suas energias em benefício do serviço; X - Ser discreto em suas atitudes, maneiras e em sua linguagem escrita e falada;
XI - Abster-se de tratar, fora do âmbito apropriado, de matéria sigilosa de qualquer
natureza;
XII - Cumprir seus deveres de cidadão;
XIII - Proceder de maneira ilibada na vida pública e na particular;
XIV - Observar as normas da boa educação;
XV - Garantir assistência moral e material ao seu lar e conduzir-se como chefe de
família modelar;
XVI - Conduzir-se, mesmo fora do serviço ou na inatividade, de modo a que não se-
jam prejudicados os princípios da disciplina do respeito e do decoro Policial-Militar;
23 LEI Nº 5.251 DE 31 DE JULHO DE 1985, dispõe sobre o Estatuto dos Policiais-Militares da Polícia Militar
do Estado do Pará e dá outras providências. 24 Ibidem.
22
XVII - Abster-se de fazer uso do posto ou graduação para obter facilidades pessoais
de qualquer natureza ou para encaminhar negócios particulares ou de terceiros;
XVIII - Abster-se o Policial-Militar, na inatividade, do uso das designações hierár-
quicas quando:
a) Em atividade político-partidária;
b) Em atividade comerciais ou industriais;
c) Para discutir ou provocar discussões pela imprensa a respeito dos assuntos políti-
cos ou Policiais-Militares, excetuando-se os de natureza exclusivamente técnica, se
devidamente autorizado;
d) No exercício de cargo ou de função de natureza civil mesmo que seja da adminis-
tração pública; XIX - Zelar pelo bom nome da Polícia Militar e de cada um de seus integrantes, o-
bedecendo e fazendo obedecer aos preceitos da ética Policial-Militar.25
A leitura desse trecho da lei nos faz refletir a amplitude dessas normas policial mi-
litar, exercendo influência em todos os âmbitos da vida dele, desde a conduta durante o servi-
ço, do tratamento dos assuntos familiares, dos vínculos político partidários até a inatividade,
ocasião em que está afastado do serviço policial militar, porém não deve descuidar da obser-
vação desses valores, sob pena de responder na esfera administrativa.
Essa discussão suscita novamente mencionarmos o texto de Pereira, valendo-nos
sobre o debate de teoria e prática, referindo-nos naquilo que é preconizado no campo das
idéias quando confrontado com o fazer diário desses policiais militares.
Para entendermos melhor a forma como o policial militar percebe, pensa e age, a
partir da observação dele das normas instituídas pela própria corporação, consideramos válida
a observação sobre o processo de construção de identidade citado por Paulo Storani ao apoiar
conceitos utilizados por Victor Turner, fracionando essa transformação em três fases, são elas:
(...) separação, margem [ou “limen”] e reagregação. A primeira fase (separação)
abrange o comportamento simbólico que significa o afastamento do indivíduo ou de
um grupo [...]. Durante o período “liminar” intermediário, as características do
sujeito ritual (o “transitante”) são ambíguas; passa através de um domínio cultural
que têm poucos, ou quase nenhum, dos atributos do passado ou do estado futuro. Na
terceira fase [reagregação ou reincorporação] consuma-se a passagem.26
Essa discussão é importante para visualizarmos cada etapa em que o indivíduo é
submetido dentro do rito de passagem para a incorporação de um novo “eu”. Dessa forma
acreditamos que a socialização policial militar deve fomentar o hábito da prática desses
valores. Não admitimos, dessa forma, o discurso com o intuito de afastar a responsabilidade
da corporação na formação das virtudes nesses profissionais.
Portanto, percebemos que no processo de construção da identidade, durante a fase
liminar o sujeito deveria receber todo o arcabouço de valores, hábitos e práticas comum a
cultura em que está sendo inserido. E considerando que a formação policial militar, seja ela
25 Ibidem. 26 TURNER, 1974, P. 116, apud STORANI, 2008, 21.
23
primária ou secundária27
, é nesse estágio que o sujeito passaria a receber as influências dessas
máximas para que constantemente busque nelas a orientação para suas práticas profissionais.
Entretanto, reforçamos o que fora dito anteriormente, apoiado nos textos de
Castro, que a socialização está muito além daquilo que é normatizado pela letra da lei, se dá
muito mais pela relação com os demais sujeitos, nesse caso os policiais militares.
Em razão dos tempos de mudança da pós-modernidade, considerando os escritos
de Stuart Hall, é muito importante que se estabeleçam de forma escrita todos os
valores/princípios que constituam a identidade, para que se firmem e sejam preservados –
mais importante ainda é que sejam exigidos/observados ininterruptamente pelos indivíduos –,
resistindo o tempo que for necessário. Dessa forma evitaríamos que o policial militar fosse
caracterizado como o sujeito pós-moderno, vivenciaria então aquilo que anteriormente foi
descrito como sujeito sociológico.
2. 2 – A TRADIÇÃO COMO MEIO DE CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE
O debate sobre a identidade também inclui as discussões sobre as tradições,
muitas vezes ligadas à vivência militar e policial-militar. Essa categoria importa-nos à medida
que pensamos nela como fruto de invenções humanas, como afirma o historiador Eric
Hobsbawm, o qual afirma que:
Por „tradição inventada‟ entende-se um conjunto de práticas, normalmente reguladas
por regras tácita ou abertamente aceitas; tais práticas de natureza ritual ou simbólica
visam inculcar certos valores e normas de comportamento através da repetição, o
que implica, automaticamente, uma continuidade em relação ao passado. Aliás,
sempre que possível, tenta-se estabelecer continuidade com um passado histórico
apropriado .28
O que se observa é que a Polícia Militar do Pará tem manifestado pouco interesse
em construir uma tradição. Apesar de comumente denominada de “briosa corporação de
Fontoura” a PM do Pará é uma instituição que tem sofrido muitas transformações, e nesse
contexto pouco ou nenhum cuidado tem demonstrado para com sua história.
Vale ainda lembrarmos que no rol de leis policiais militares existem previsões
para o culto das tradições, a saber no CEDPM, art. 17, XXII e no Estatuto dos policiais
27 Utilizamos essas categorias para descrever a socialização inicial, vivenciada durante a formação nas escolas
policial militar (Curso de Formação de Soldados e Curso de Formação de Oficiais), enquanto a formação secun-
dária seria experimentada com a prática policial diária e com os cursos de especialização disponibilizados pela
corporação. Essas categorias são ajustes das definições desenvolvidas por BERGER & LUCKMANN, 1985, p.
175 apud STORANI, 2008, 133. 28 HOBSBAWN, Eric. Introdução: A Invenção das Tradições. In: HOBSBAWM, Eric; RANGER, Terence
(org). A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997, p. 9.
24
militares da Polícia Militar do Estado do Pará, no art. 29, II.
Da Silva et al fazem uma análise da história da PMPA e tecem algumas
considerações sobre as tradições que ela diz cultuar.
O estudo e a compreensão dos mitos exaltados na atualidade, proporcionarão maior
entendimento da identidade coletiva, criada por determinados grupos da instituição,
que ao longo de praticamente séculos mantiveram uma estrutura que exalta a
arbitrariedade, a improvisação e a repressão como práticas culturais construídas
historicamente e que muitas vezes não se admite plenamente na sociedade, pois,
estudar os mitos de Fontoura, da criação da Polícia Militar dentre outros, nos parece a chave para a compreensão de muitos dos problemas atuais, como a improvisação
no trabalho e muitas vezes as acusações de autoritarismo interno e externo. No
entanto, essas características são valores evidenciados e constroem o cotidiano da
própria Instituição Policial militar paraense.29
Os autores afirmam que a identidade da PMPA está ligada a personagens e
eventos históricos que vão de encontro com a prática policial como a entendemos hoje, ou
seja, valorizar eventos como a participação das tropas em Canudos, lideradas pelo Cel
Fontoura, patrono da Polícia Militar Paraense. Não queremos ser anacrônicos, mas apenas
pontuar que a opção por essa figura histórica, assim como a de Tiradentes à patrono cívico da
nação brasileira30
, remonta a um período de instabilidade política, em que o discurso político
manobrava esse raciocínio.
Nesse sentido, a construção da imagem do Coronel Fontoura é ligada aos ideais
republicanos, que assim como Tiradentes, necessitavam de heróis para respaldar o sistema de governo vigente, onde após o conflito militar de canudos, que passam a
destacar a imagem do combate contra os sertanejos de Conselheiro para exemplificar
mais um Mito republicano no nível local31
Segundo esses autores a PMPA vive um conflito entre aquilo que cultua e o que
deseja ser, uma entidade forte, legalista, patrimônio da sociedade paraense e promotora dos
direitos humanos. Consideramos que se faz necessário compreendermos os contextos sociais e
políticos experimentados em cada época, a que figurou o Cel Fontoura liderando as tropas
paraenses, e a realidade atual, onde se pensa o exercício policial de maneira totalmente
diferente daqueles tempos.
Insistindo na discussão sobre tradição, inúmeros são os exemplos que poderíamos
citar, entre os quais as mais recentes mudanças que atingiram o fardamento, quer no que
concerne à tonalidade que deixou de ser “azul petróleo” (Figura 1) para tornar-se “verde-
folha” (Figura 2), sem quaisquer estudos consistentes a esse respeito. Abaixo uma fotografia
29 DA SILVA, MARTINS JR., GAUNDÊNCIO, p. 44-45. 30 Brasil, Lei nº 4.897, de 09 de dezembro de 1965. Declara Joaquim da Silva Xavier, o Tiradentes, patrono
cívico da Nação Brasileira. 31 DA SILVA, MARTINS JR. GAUDÊNCIO, p. 47.
25
de policiais militares usando o uniforme ainda na tonalidade “azul-petróleo”.
FIGURA 1 - Policiais Militares utilizando o fardamento ainda na coloração azul-
petróleo, em janeiro de 1986.
FONTE: Arquivo Pessoal do CAP PM Ronaldo Braga Charlet.
A seguir uma imagem do fardamento da PMPA em sua nova coloração, verde-
folha:
FIGURA 2 - Oficial e Cadetes durante treinamento para a solenidade de 25 de
setembro em 2009.
FONTE: fotografia de Maxwell Matos de Sousa, 2009.
Outra situação, que corrobora para isso foram as modificações relativas às
insígnias de identificação das graduações das praças – soldados, cabos e sargentos -, antes nas
mangas das gandolas32
, e que agora estão sobre os ombros desses militares, no mesmo local
que ficam as estrelas dos oficiais, que representam os postos ocupados por eles.
32 Peça do fardamento militar
26
É importante registrar que muitas dessas mudanças são instituídas sem que seja
feita uma adequação nos regulamentos que ditam as condutas policiais militares. Podemos
citar o Regulamento dos Uniformes da Polícia Militar do Pará33
, datado de 08 de março de
1976, em que parte de seu conteúdo não é observado, considerando as transformações que o
fardamento PM foi submetido ao longo do tempo.
Para a construção de uma identidade é importante que sejam criados mecanismos
para que as formas de perceber, pensar e agir daqueles que são submetidos a esse processo de
construção possuam uma determinada constância, pois não podemos deixar de considerar as
transformações inevitáveis que os grupamentos sociais estão sujeitos. Portanto, contemplamos
também as normas escritas como instituto de preservação das condutas, uma espécie de saber
formal, provocador de um nivelamento pela igualdade de procedimentos.
Ainda explorando os exemplos de preservação das tradições, vemos os prédios
que pertencem a PMPA serem substituídos, desocupados, ou ainda, com evidente aspecto de
abandono como, por exemplo, as edificações do 2º Batalhão de Polícia Militar Tiradentes
(Figura 3 e 4), um prédio localizado na área do centro histórico de Belém e que inclusive fora
tombado pelo Departamento de Patrimônio Histórico da Secretaria de Cultura34
.
FIGURA 3 - Prédio antigo do 2º BPM em 1902.
FONTE: Acervo digital do Estado-Maior Estratégico.
33 Decreto Estadual nº 9.521, de 08 de março de 1976. Aprova o Regulamento dos Uniformes da Polícia Militar
do Paráe dá outras providências. 34 CHARLET, Ronaldo Braga. Batalhão de Guardas da PMPA: marcas do passado na construção da memória
policial militar. Disponível em <
http://www.pm.pa.gov.br/br/index.php?option=com_content&task=view&id=879&Iitemid=98 > Acesso em: 28
de junho de 2010.
27
A fotografia a seguir retrata o mesmo prédio em 2009, demonstrando a falta de
cuidados na preservação do patrimônio histórica da instituição:
FIGURA 4 - Fotografia do antigo prédio do 2º BPM em 2009.
FONTE: Acervo digital do Estado-Maior Estratégico.
O prédio do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Figura 5), antes
instalado na ilha do Outeiro, distrito de Icoaraci, também fora desativado como escola de
formação de praças, tendo o efetivo e mobiliário sido remanejados para o quartel do Comando
Geral, numa instalação que antes era da Força Aérea, adquirida pela Polícia Militar do Pará,
enquanto que o prédio antigo se encontra sem a devida utilização como quartel.
FIGURA 5 - Prédio do CFAP, antigo asilo de imigrantes no final do século XIX.
FONTE: CHARLET, Ronaldo Braga. Centro de Memória Policial Militar: intervindo pela
preservação do patrimônio histórico e cultural. 2010.
28
Além dos prédios, como último exemplo temos a edificação localizada na Avenida
Alcindo Cacela esquina com Av. Fernando Guilhon (Figura 6), o qual abrigou o Esquadrão de
Cavalaria e o Batalhão de Trânsito e se encontra sofrendo há alguns anos a falta de cuidados
com sua estrutura, inclusive tendo ocorrido um desabamento de parte do telhado.
FIGURA 6 - Usina de Cremação. Prédio onde atualmente funciona o CME, imagem
registrada no início do século XX.
FONTE: CHARLET, op cit. p. 69.
Imagem atual do prédio acima, onde está sediado o Comando de Missões
Especiais (Figura 7):
FIGURA 7 - Atual sede do Comando de Missões Especiais.
FONTE: CHARLET, op. cit. p. 70.
29
O fenômeno de substituições de elementos que antes pareciam tradicionais
aparenta fazer referência a concepção de identidade do sujeito pós-moderno desenvolvida por
Stuart Hall citado anteriormente. Também essa afirmação corrobora com o pensamento de
José Luiz dos Santos, que ao definir cultura, aponta que essa categoria seria “(...) uma
construção histórica, seja como concepção, seja como dimensão do processo social”35
.
Afirma ainda que “(...) a cultura é um produto coletivo da vida humana”36
e que
“nada do que é cultural pode ser estanque, porque a cultura faz parte de uma realidade onde a
mudança é um aspecto fundamental.”37
Essa discussão nos faz questionar sobre a importância
desses elementos que são substituídos/transformados, entre a tradição e costume. A primeira
tem como objetivo a invariabilidade, “o passado real ou forjado a que elas se referem práticas
fixas (normalmente formalizadas), tais como a repetição”38
. Entretanto os costumes
admitiriam mudanças, pois “(...) pode mudar até certo ponto, embora evidentemente seja
tolhido pela exigência de que deve parecer compatível ou idêntico ao precedente”39
.
De qualquer forma mudanças são inevitáveis, conforme o debate entre esses
autores tem demonstrado, e mesmo em instituições militares onde as características que
compõe a identidade são bastante tradicionais “a decadência do costume inevitavelmente
modifica a „tradição‟ à qual ele geralmente está associado.”40
Essa é uma das razões que
alguns autores que discutem temas policiais apontarem para uma crise existencial (como
Jaqueline Muniz41
e Raimundo Moraes Leal42
), espécie de fenômeno decorrente entre uma
suposta incompatibilidade da atividade de polícia com o militarismo. Entretanto nos parece
ser fruto de mudanças mal planejadas, que não atuam no comportamento humano de forma
positiva, e sim na parte mais visível, como exemplo os fardamentos, as viaturas e as fachadas
dos quartéis.
2.2.1 TRADIÇÃO NA PMPA “VERSUS” POLÍTICA
As transformações que ocorrem na Polícia Militar se dão em parte pela
proximidade com que se envolve de maneira vulnerável no terreno movediço da política.
35 SANTOS, José Luiz dos. O que é Cultura. São Paulo: Editora Brasiliense, 1983. P. 37. 36 Ibidem, p. 37. 37 Ibidem, p. 39. 38 HOBSBAWM, op. cit. p. 10. 39 HOBSBAWM, 1997. p. 10. 40 HOBSBAWM, loc. cit. 41 MUNIZ, Jacqueline. A Crise de Identidade das Polícia Militares Brasileras: Dilemas e Paradoxos da
Formação Educacional. In: Security and Defense Studies Review. Vol. 1 p. 177-198. 2001. 42 LEAL, Raimundo Moraes. Polícia Militar e Cidadania: crise de identidade e reflexo na segurança públi-
ca. Belém. 2008.
30
O Marechal José Pessoa, que foi comandante da Escola Militar do Realengo e
idealizador da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), embora venha de uma
importante família de políticos, entre eles, o presidente da República Epitácio Pessoa (1919 a
1922), e o presidente da Paraíba João Pessoa (1928 a 1930)43
, percebia a instabilidade
provocada pela própria natureza da atividade política e a atividade castrense:
Para José Pessoa, política e disciplina militar eram, portanto, duas coisas que não
deviam se misturar. (...) gerações homogêneas de oficiais seriam aquelas
disciplinadas e „divorciadas‟ da política, enquanto as heterogêneas seriam as
„sacrificadas‟ pela política, que fere a disciplina militar.44
Concluindo-se assim que disciplina militar, homogeneização e afastamento
político se interligam e causam sustentabilidade para a identidade militar.
As mudanças legais provocadas pela Constituição Federal, promulgada em 1988,
incluindo modificações nas previsões das instituições policiais, cujo escopo se tornou
essencialmente a segurança pública, não cessaram as discussões e insatisfações ao sistema de
organização dessas instituições policiais.
Paulo Storani, foi convidado a fazer um comentário em uma página na internet
sobre as discussões que envolvem a desmilitarização das polícias, nessa ocasião fez críticas
sobre a falta de demarcação do que seria essa desmilitarização:
Seria acabar com a hierarquia militar? Com a farda? Com as demonstrações típicas
de militares, como continências, ordem unida e toque de corneta? Usam o termo,
mas ninguém define o que é", (...) foi plantado um conceito em que todos os males
da PM viriam do fato de ela ser militar. Mesmo desmilitarizada, a PM não deixaria
de fazer o que já faz. Isso parece mais um pano de fundo para a institucionalização
de uma Polícia Civil uniformizada.45
Tais mutações têm provocado dificuldade de sedimentação da identidade policial
militar. No entanto se tem notado através da história que essa crise de auto-identificação não é
de exclusividade da citada instituição, porém de muitas outras como o próprio Exército brasi-
leiro.
Todo o período (1920 e 30) foi marcado por profundas divisões no interior da
instituição militar, já visíveis desde o golpe de 1889 e os primeiros anos da República. Nos anos 20 essas divergências levaram a uma série de revoltas
„tenentistas‟ – 1922, 1924, Coluna Prestes – que culminaram na revolução de 30.
Esta não representou de forma alguma, a obtenção de um consenso no interior do
Exército. Nos anos que seguiram, ocorreram sérios conflitos internos, motivados por
43 CASTRO, Celso. A Invenção do Exército Brasileiro. Jorge Zahar Editor. Rio de Janeiro: 2002. p. 38. 44 Ibd. p. 41. 45 LEMLE, Marina. A controversa desmilitarização das polícias. Disponível em: <
http://www.comunidadesegura.org/pt-br/MATERIA-a-controversa-desmilitarizacao-das-policias > Acesso em:
04 de junho de 2010.
31
divergências doutrinárias, organizacionais e políticas. Dezenas de movimentos
(incluindo agitações, protestos e revoltas) abalaram o Exército entre 1930 e a
instauração do Estado Novo (1937-1945).46
Assim percebe-se no Exército brasileiro uma necessidade de “reorganização”,
após décadas de bombardeio organizacionais e ideológicas, adotando para isso um conjunto
de elementos simbólicos diametralmente novos.
Quem assiste a uma cerimônia de formatura dos novos oficias do Exército Brasileiro
na Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende (RJ), dificilmente deixa de sentir-se imerso na atmosfera de tradição que cerca o evento. Vários elementos
sugerem a herança de um passado imemorial: o espadim, cópia em miniatura da
espada de Caxias, patrono do Exercito; a entrada de cadetes no pátio principal
trazendo bandeiras e estandartes; a aparição dos formandos vestindo uniformes
históricos. No entanto, todos esses elementos são bem mais recentes do que
pretendem aparecer e, além disso, foram conscientemente inventados.47
Percebe-se a formação de uma identidade através da invenção cultural, atribuição,
aquisição e institucionalização de valores, desencadeando assim a consolidação da
estabilidade institucional, como podemos verificar no processo que tornou institucional o
patrono do Exército Brasileiro, onde “nas três primeiras décadas republicanas, Osório
desfrutava de amplo prestígio no Exército e era o personagem histórico mais comemorado”48
e “a partir da introdução oficial do „culto a Caxias‟ em 1923, nas décadas seguintes ocorreu à
substituição de Osório por Caxias como modelo ideal do soldado brasileiro.”49
Observa-se
que tal mudança não ocorreu por acaso, em meio à instabilidade institucional o
estabelecimento de um patrono como Duque de Caxias tinha o intento, no plano simbólico, da
asseveração do valor da legalidade e do afastamento da política.
Mudanças, ou até mesmo invenções culturais, precisam ser instituídas, porém como
temos afirmado, de forma consciente, estando os seus provocadores cientes dos resultados que
essas transformações podem produzir.
2.2.2 – IDENTIDADE POLICIAL MILITAR: O SENTIMENTO DE PERTENÇA À PM
O sentimento de algo que permanece para além das mudanças, por mais que
inventadas intencionalmente, encontra terreno infértil na PM, tanto por tais invenções não
apresentarem um fundo histórico, uma contigüidade com o real, quanto pelas constantes
perdas de valores e destruição de simbologias.
46 CASTRO, 2002. p. 12. 47 Ibidem. p. 9. 48 Ibidem. p. 15. 49 Ibidem. p. 13.
32
É importante ressaltar que a invenção cultural não se dá num terreno absolutamente
livre e sim num campo de possibilidades histórica e culturalmente limitado; o
passado é recriado por referência a um estoque simbólico anterior e precisa guardar
uma verossimilhança com o real, sob o risco de não vingar.50
Se a construção da identidade está aliada a forma como o indivíduo se percebe
individualmente e em grupo, certamente está vinculada a padronização de condutas, logo a
compreensão e a incorporação da missão policial militar por cada integrante.
Em 1926, o comandante da 1ª Brigada do Exercito, em ordem do dia, dizia que a
cultura moral do soldado brasileiro deveria ser trabalhada não apenas
individualmente pelo próprio soldado no dia-a-dia, mas também em consagrações
coletivas, nas quais sua alma vibre „unissonamente na comunhão do mesmo
pensamento.51
A Polícia Militar enquanto estiver condicionada a essa investidura militar, precisa
valorizar toda a gama de símbolos e qualquer outro elemento peculiar à caserna, e mais
importante, saber trabalhar isso em seu favor, essa é a nossa maior proposta nesse trabalho.
Não significa que devamos menosprezar o termo Polícia, pelo contrário, essa
expressão dá propósito à corporação e aponta o caminho para onde todo o sentimento
apreendido na escola militar, ou seja, a identidade militar se fundamenta.
Devemos ter em mente que é fundamental que os agentes policiais preservem um
sentimento de pertença à Policia Militar, que estejam inteiramente comprometidos com sua
missão e que o cumprimento desta lhes proporcione orgulho profissional, satisfação e
realização pessoal: “fé na missão elevada da Polícia Militar”52.
O espírito militar é fomentado através da construção de tradições e simbologias
que exercitam atributos da área afetiva como a disciplina, o respeito, a coragem, a abnegação,
a lealdade, o comprometimento, a ética, a honestidade, a empatia, a justiça, a legalidade, a
cortesia, a verdade, a discrição, a fé na missão policial militar. Tais valores são de extrema
importância para uma boa imagem da corporação, como parâmetros de conduta, uma vez que
freqüentemente a PM tem sido associada a atos de corrupção e violência.
Nesse contexto as condutas desses policiais militares seriam corretas não apenas
pela coerção legal, isto é, o sujeito estaria obrigado a agir em razão da previsão legal, porém
muito mais pela coação moral, ou seja, pela disciplina consciente e ética.
O principal controle de que os novos preceitos disciplinares seriam seguidos deveria
ser a consciência dos próprios cadetes, através da criação do que José Pessoa
50 CASTRO, 2002. p. 11. 51 Ibd. p. 21. 52 CEDPM, Art. 17, XXIII.
33
chamou, em sua autobiografia, de „um novo estado psicológico‟, que tornaria cada
um „escravo de sua dignidade pessoal. Cada cadete era prisioneiro de si mesmo. E,
podemos afirmar, não havia prisão mais sólida.53
É necessário desta forma, diluir o pragmatismo quase cultural no seio da tropa
Policial Militar, que leva a pensar o Militarismo como uma simples teoria inaplicável à prática
policial, e fazer com que se entenda a doutrina militar como um meio extremamente eficaz
para o fim policial através da padronização de condutas, disciplina, comprometimento e dever
cívico.
Essa padronização de condutas, disciplina e comprometimento harmonizam de
forma natural uma identidade Policial Militar. Torna claro para o profissional de segurança
pública sua missão (Polícia) e sua filosofia (Miitar), através da disciplina consciente.
53 CASTRO, 2002. p. 41.
34
3 - O MILITARISMO E A POLÍCIA MILITAR.
O militar geralmente é associado às ações belicosas, e mesmo em estado de paz
funciona como um corpo armado que garante o respaldo para a diplomacia. Todavia
instituições de Segurança Pública em diversos países assumiram características e até a
identidade militar.
Para alguns estudiosos, como é o caso de David Bayley, “Este tipo de
especialização imperfeita tem sido uma característica constante no continente europeu,
representado pelo sistema da gendarmerie”54
. As gendarmes foram desenvolvidas
inicialmente na França, composta por militares, e a eles eram incumbidas à manutenção da lei
e da ordem em aéreas rurais e ao longo das principais vias.
A ligação entre as Forças Policiais e o Exército não apresenta somente um
contexto histórico, mas sim “Uma forte razão para a participação militar continua no
policiamento em todos os lugares foi a necessidade de lidar com erupções prolongadas,
severas ou generalizadas de violência cometida por um grande numero de pessoas”55
, mas
uma interseção nas suas funções, que vão da utilização da força, o risco da perda da vida, o
essencial controle organizado de um grande efetivo, o devotamento profissional necessário
para execução de ambas as atividades, ao sentimento de dever cívico.
Desta maneira, a Polícia Militar do Estado do Pará foi, em sua história, muito
mais uma corporação, com características de exército, envolvida em batalhas como as de
Canudos, do que uma organização propriamente policial, permanecendo mais dirigida para
fins de segurança interna e defesa social do que para funções de segurança pública. No século
XX isso ficou mais latente durante o governo de Getúlio Vargas (1930-1945) e durante os
governos militares (1964-1985).
O fato que marcou, decisivamente, o papel da corporação na história recente foi sua
participação nos órgãos de informações do Exército e em suas ações de repressão
das manifestações públicas durante a ditadura militar, como força de controle de
distúrbios civis. Desviando-se, de forma significativa, de seu objetivo como força de
54 BAYLEY. David H. Padrões de Policiamento. EDUSP. São Paulo: 2006, p. 53. 55 Ibidem. p. 54
35
segurança pública, a Polícia Militar incorporou o estigma social associado à tortura e
à repressão da liberdade política e de expressão. Este estigma contribuiu para o
cenário da segurança pública, que passou a ser construído a partir da década de 80, e
influenciou o papel da Polícia Militar, como instituição de controle social (...).56
No processo de redemocratização experimentado em meados dos anos 80 do
século XX, percebe-se um fenômeno envolvendo as Polícias Militares em todo o Brasil e as
Forças Armadas. Essas últimas após estarem cerca de duas décadas no poder, protagonizando
episódios de violência contra a própria sociedade, associados à doutrina de segurança
nacional, retornaram para seus quartéis e iniciaram um processo de valorização de suas
imagens em prol de uma maior aceitação pública.
Por outro lado as Polícias Militares permaneceram nas ruas exercendo a atividade
policial e experimentando uma forte animosidade com a sociedade, fermentada pelo período.
Da Silva, Martins Jr. e Gaudêncio ao analisar o vínculo constitucional da PM com
o Exército fazem a seguinte afirmação:
Uma das principais mudanças passa pela construção de uma identidade desatrelada
do Exército Brasileiro, pois como observa Balestreri57 a polícia nada tem a ver com
as Forças Armadas, do ponto de vista da funcionalidade do cotidiano, pois ambas
têm lógicas, propostas e doutrinas distintas: „É uma afronta à lógica democrática
sujeitar as forças policiais a qualquer vínculo vertical com as Forças Armadas,
porque são instituições que existem para causas diversas‟58. Afirma ainda o autor
que o problema do „militarismo‟ não está no rito, na estética, nas patentes, nos
uniformes, mas na ideologia que contaminou, por meio transversos, instituições com
finalidade não ofensiva.59
Observa-se que os autores concordam que não existe harmonia na ligação entre as
Policias Militares e o Exército. E é principalmente nessa discussão que muitos autores se
debruçam e constroem seus conceitos sobre esse vínculo constitucional. Essas visões sobre a
Polícia Militar abordam em especial supostas heranças legadas pelos anos de exceção no
Brasil, marcas que imprimiriam influência até os dias de hoje nas corporações de segurança
pública e que justificariam a forma violenta de alguns episódios envolvendo a sociedade e a
Polícia Militar.
Nesse sentido, percebe-se que a construção da identidade coletiva da Polícia Militar
do Pará segue uma influência militar que ao longo da história ocorreu a partir de
uma ênfase ao caráter de combate da tropa e não aproximação com a população,
com o significado social de que „a polícia vem do povo‟, ao contrário, as camadas
populares viam na polícia um representante legítimo do poder constituído, onde em
determinados momentos históricos a polícia procurava cumprir a ordem pública e afastá-las e discipliná-las, pois, eram consideradas camadas perigosas para o
56 STORANI, 2008, p. 28. 57 BALESTRERI, Ricardo Brisolla. Direitos Humanos: Coisa de Polícia. 2 ed. Passo Fundo: CAPEC, 2002. 58 Ibidem, p. 69 59 BALESTRERI, 2002, p. 69 apud DA SILVA, MARTINS JR., GAUDÊNCIO, 2008, p. 22.
36
sistema.60
Essa forma de perceber o militarismo insiste em vincular o militar à prática de
violência, portanto para atividade policial criaria uma relação insustentável num Estado que
pretende zelar pela incolumidade de seus cidadãos.
Se considerarmos apenas o fazer policial, onde se consideram apenas as ações
policiais que se processaram de forma violenta, sem que conheçamos a forma como esse
policial percebe, pensa e age, certamente essa perspectiva será preconceituosa, portanto
viciada. Insistimos em atribuir ao militarismo uma forma de padronização de condutas,
inclusive aspectos referentes à utilização da força e controle de agressividade.
3.1 – A PERSPECTIVA VICIADA SOBRE O MILITARISMO
Nas discussões sobre a prática policial ostensiva desempenhada pela PMPA
surgem então dois elementos que nos permitem questionar a atuação dos agentes dessas
instituições: Seria o militarismo o responsável pelas práticas de violência cometidas pelos
policiais militares? Ou a falta de um preparo técnico com vistas a melhor qualificar esse
profissional da segurança pública?
Carlos Albuquerque e Eduardo Machado61
, discutindo sobre a modernização da
formação e ritos da instituição policial militar baiana, a partir de um novo currículo de ensino
à Academia de Polícia Militar (APM) da Bahia confrontando com uma atividade por eles
denominada de Jornada de Instrução Militar (JIM), instrução policial em área de selva onde os
alunos experimentam seções de tortura, humilhação e intenso desgaste físico, em nome de
uma superação individual, uma espécie de rito de passagem, relata:
Tentaremos interpretar a JIM como um momento de grande ambivalência, uma vez
que, ainda que se trate de apenas uma atividade extracurricular, assume proporções na transmissão da identidade profissional maiores que o conjunto de disciplinas que
compõem o amplo quadro curricular. Nessa perspectiva, a JIM teria a propriedade de
inverter e debilitar os conteúdos do novo currículo oficial da Academia, colocando-
se claramente na contramão do que a própria polícia denomina de modernização da
sua identidade.62
Os autores se referem ao militarismo como uma forma de deturpar a prática
policial, ou seja, não acreditam que haja compatibilidade entre o militarismo e a atividade de
polícia de segurança pública:
60 DA SILVA, MARTINS JR., GAUDÊNCIO, p. 50 61 ALBUQUERQUE, Carlos Linhares de; MACHADO, Eduardo Paes. Sob o signo de Marte: modernização,
ensino e ritos da instituição policial militar. In: Sociologias, nº 5. Porto Alegre: jan/jul 2001, p. 214-237. 62 Ibidem, p. 215.
37
Em alguns países da América Latina, as polícias militares absorveram parte do
imaginário do Exército para compor sua própria imagem (...). Uma expressão disso
está na imitação das práticas de instrução observadas pelo exército. Não é a toa que,
formadas nesta tradição, essas polícias são tão selváticas63
com os trabalhadores, nas
greves, e com os excluídos, nas periferias, ambos tratados como feras da selva.64
Portanto a identidade militar incorporada pelas polícias militares faria com que
esses agentes policiais passassem a ter uma atitude violenta, transferindo mais tarde isso para
o cidadão comum, o cliente dele, se pensarmos o segurança como um serviço prestado por
esse policial militar. Essa forma de compreender o militarismo difere da que propomos nesse
trabalho.
3.2 – PARADIGMAS SOBRE A PRÁTICA POLICIAL
Ainda na discussão sobre a possibilidade do militarismo provocar uma prática
incompatível com os padrões policiais de um Estado Democrático de Direito, Paulo Storani
faz algumas reflexões a partir dos estudos de Jorge da Silva 65
e menciona três espécies de
paradigmas, onde o primeiro percebe-se a seguir:
O paradigma prevencionista, consideraria a segurança pública como uma questão
tanto da comunidade quanto do poder público, apresentando princípios pró-ativos de
atuação. Tal paradigma estaria orientado por atividades preventivas, com ênfase na
mediação de conflitos, estabelecendo o foco nos cidadãos. A pretensão deste paradigma seria controlar o crime pelo uso seletivo da força, ou seja, aplicar uma
resposta adequada ao fato e proporcional à resistência encontrada.66
Podemos notar que este paradigma trata a Segurança Pública da mesma forma que
o art. 144 da Constituição Federal de 1988, o qual define como atores deste segmento, tanto o
poder público como a sociedade, trazendo para esta a responsabilidade de fortificar o caráter
preventivo do controle do crime.
Já no segundo paradigma temos:
O paradigma penalista consideraria a segurança pública um problema apenas da
alçada do governo e do judiciário, apresentando princípios reativos de ação. Por esse
paradigma, os infratores seriam focalizados individualmente e a atividade policial
estaria pautada na lei penal, com foco nos fatos criminais. A repressão policial, pela
aplicação das leis penais, seria a solução para a questão da segurança pública. O
número de inquéritos instaurados e de pessoas encarceradas referenciaria o sucesso
63 “Como para os cadetes do Exército, o maior de todos os elogios entre os alunos, na APM, é poder ser chamado
de selvático! Gritar para o outro: - É selva! Significa que o selvátivo ultrapassou os limites, fez-se herói, guer-
reiro [grifo nosso].” ALBUQUERQUE; MACHADO, 2001, p. 218. 64 Ibidem, p. 219. 65 DA SILVA, Jorge. Controle da Criminalidade e Segurança Pública na Nova Ordem Constitucional. Rio de
Janeiro: Forense, 2003. 66 STORANI, 2008, p. 29.
38
desta política.67
Neste paradigma observamos o foco penal dado à segurança pública, que apesar
de não concordar com o texto da nossa Constituição Federal é o utilizado hoje,
sobrecarregando assim principalmente as Polícias Militares e Poder Judiciário os quais são
amplamente criticados pela sociedade, já que grande parte da mesma acredita que o modelo
de segurança pública citado nesse paradigma é o correto, pois é comum ouvirmos em
noticiários as reclamações feitas pela população em questões atinentes a segurança.
No terceiro paradigma podemos observar outro contexto:
Ao pensar segurança pública pelo “paradigma militarista”, podemos categorizá-la
como sendo todas as medidas necessárias à preservação da ordem urbana,
constituída de ações reativas amparadas por uma lógica de confronto contra os
possíveis perturbadores. Desta forma, as desordens públicas manifestas se constituiriam em problema a ser resolvido por meio de táticas de combate, em que
inimigos seriam identificados e neutralizados. Filho 68 afirma que, na concepção
militarista, haveria locais próprios para um teatro de operações onde as baixas
poderiam ser consideradas algo esperado pelo embate entre forças opostas.69
Podemos perceber nesse paradigma, que a idéia de segurança pública tem uma
análise semelhante ao período da Ditadura Militar com a Constituição Federal de 1967 e a
Doutrina de Segurança Nacional, objetivando assim combater o “inimigo do estado”.
A partir dessa análise Paulo Storani aponta duas espécies de cenários, um de
maior potencial ofensivo e outro de menor potencial ofensivo70
. O primeiro seria mais
compatível com os paradigmas penalistas e militaristas, enquanto o segundo teria maior
afinidade com o paradigma prevencionista, inclusive esse último nos parece semelhante a
filosofia de Polícia Comunitária/Segurança Cidadã.
Cientes disso podemos tomar iniciativas para que a formação de nossos policiais e
o cotidiano deles possa ser vivenciado segundo a disciplina de promoção dos direitos do
cidadão. A fiscalização do serviço policial, com vistas a uma melhor qualidade do mesmo, é
de fundamental importância nesse processo. Nesse caso todos os agentes, independentes de
graduação ou posto, precisam diuturnamente zelar pela disciplina consciente de toda a tropa,
numa relação de fiscalização mútua.
67 Ibidem. 68 FILHO, Wilson de Araújo. Ordem Pública ou Ordem Unida? Uma análise do curso de formação de sol-
dados da Policia Militar em composição com a política de segurança pública do governo do Estado do Rio
de Janeiro: Possíveis dissonâncias. p 11 a 164. In Políticas Públicas de Justiça Criminal e Segurança Pública.
Niterói: EDUFF, 2003. 69 STORANI, 2008, loc. cit. 70 STORANI, 2008, p. 30.
39
3.3 – A SOCIALIZAÇÃO PROFISSIONAL: O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO
MILITAR
SILVA et al. registram em sua obra que as práticas pedagógicas implantadas na
formação militar durante a educação inicial apresentam descompasso entre o que se quer da
corporação enquanto instituição policial e o que se realmente se tem, fruto dessa
aprendizagem escolar.
(...) apesar dos avanços, o processo educacional dentro das instituições militares
ainda continua a privilegiar a formação de policiais militares a intervirem nas
relações de poder através da violência e submissão (...).71
Os autores ressaltam que essa formação se processa com a violação do “Eu” e na
padronização de atitudes. Esse primeiro fenômeno também é discutido por Paulo Storani,
porém o referenciado como “mortificação do eu”, considerando que “no meio policial e
policial militar este processo foi identificado (...) como uma estratégia de incorporação de
valores e construção de uma nova identidade social”72
. Essa discussão se encontra
originalmente em Goffman73
, ao discorrer sobre as Instituições Totais, que seria:
Um local de residência e trabalho onde um grande número de indivíduos com
situações semelhantes, separados da sociedade mais ampla por considerável período
de tempo, levam uma vida fechada e formalmente administrada.74
Castro comenta as semelhanças e destaca as diferenças entre o modelo de
Goffman sobre instituições totais e as corporações militares.
Em primeiro lugar, inexiste uma divisão rígida entre „equipe direigente‟ e
„internados‟ (...). Em segundo lugar, Goffman deixa claro que nas instituições totais não se busca uma „vitória cultural‟ sobre o internado, mas a manutenção de uma
tensão entre seu mundo doméstico e o mundo institucional, para usar essa tensão
persistente como „uma força estratégica no controle dos homens‟. Numa academia
militar busca-se justamente uma „vitória cultural‟ e não criar uma „tensão
persistente‟: a academia é claramente vista como um local de passagem, um estágio
a ser superado. Em terceiro lugar, Goffman trata principalmente dos
estabelecimentos de participação compulsória. Numa academia militar, ao contrário,
só fica quem quer.75
Esse método de construção da identidade se propõe a incorporar novos valores
71 SILVA et al. 2008, p. 21. 72 STORANI, 2008. p. 68. 73 GOFFMAN, Erving, Manicômios, Prisões e conventos. São Paulo:Perspectiva. 2005. p. 11. 74 CASTRO, Celso. A socialização profissional dos militares brasileiros: notas sobre uma investigação an-
tropológica na caserna. In: Etnográfica, VIII (I). Lisboa: 2004, p. 81. 75Ibidem.
40
através da desconstrução da identidade civil para forjar a identidade militar. A expressão
“forjar” é comum no meio castrense e se refere as adversidade em que o neófito enfrenta
durante seu rito de passagem, ou seja, da transição de sua identidade anterior, paisana, para
seu novo status, militar.
Ao entrar [o novato], é imediatamente despido do apoio dado por tais disposições
[sociais de seu mundo doméstico]. Na linguagem exata de algumas de nossas mais
antigas instituições totais, começa uma série de rebaixamentos, degradações,
humilhações e profanações do eu. O seu eu é sistematicamente, embora muitas vezes
não intencionalmente, mortificado. Começa a passar por algumas mudanças radicais
em sua carreira moral, uma carreira composta pelas progressivas mudanças que
ocorrem nas crenças que tem a seu respeito e a respeito dos outros, que é
significativa para ele.76
Esse processo marca a liminaridade, etapa seguinte a separação, pois após o
iniciado ter sido destituído de sua condição anterior, ou, destruição de sua essência, é
lançado a um estado de submissão e desapossado de toda estrutura político-jurídica que antes
experimentava. Portanto, liminaridade sinaliza o estágio de transição, onde após ser separado
da sociedade passa a ter sua identidade modelada.
Toda essa sucessão de eventos pretende “sacudir o sistema de valores pessoais e
verificar, na prática, o que foi avaliado pelos testes psicológicos sobre a agressividade
controlada e controle emocional”77
. A justificativa é a utilização dessa pressão como forma de
adestrar os policiais a resistirem as adversidades cotidianas, porém sem que deixassem de
desempenhar os papéis sociais previstos constitucionalmente, ou seja, garantir a segurança
pública, sem que cometessem abusos de autoridade.
Esse choque cultural é intenso, e a adaptação a identidade militar na PMPA se dá
de forma semelhante a descrita por Castro:
Durante a adaptação (...) o dia é ocupado com muita „ordem-unida‟ (treinamento
coletivo de marchas continências e posturas militares), educação física, instruções
sobre os regulamentos, conhecimentos do espaço da Academia, preenchimento de
questionários com finalidade diversas, recebimento de uniformes e vários
procedimentos burocráticos.78
Castro ainda observa que:
„Pressão‟ é a palavra mais usada pelos cadetes quando falam sobre a adaptação. Essa
pressão seria exercida principalmente pelos tenentes, oficiais com os quais os
novatos estão em estreito contato o dia todo, e por diversos meios, como por
exemplo através dos „exercícios de vivacidade‟, ordens dadas em seqüencia rápida e sem uma finalidade aparente. (...) Apesar da pressão revestir-se por vezes de um
caráter físico, como nos exemplos dados, os cadetes afiram que ela é basicamente
76 GOFFMAN, 2005, p.24, apud STORANI, 2008, p. 82. 77 STORANI, 2008, p. 83 78 CASTRO, 2004, p. 19.
41
psicológica.79
Essa desconstrução da identidade civil para a instituição de uma militar, que se
utiliza dessa “mortificação do eu”, isto é, a destruição da essência da condição anterior com o
objetivo de construir um novo “eu” (o policial militar), dentro de uma comunidade (a Polícia
Militar), deve ser cuidadosamente planejada e executada, pois deve deixar bem claro para o
sujeito desse processo qual o seu propósito junto a sociedade, realizando uma delimitação do
papel social desse indivíduo, fazendo com que a forma como perceba, pense e aja esteja
sempre alicerçada na missão institucional da PMPA.
Os ordálios e humilhações, com freqüência de caráter grosseiramente fisiológico, a
que os neófitos são submetidos, representam em parte a destruição de uma condição
anterior e, em parte, a têmpera da essência deles, a fim de prepará-los para enfrentar as novas responsabilidades e refreá-los de antemão, para não abusarem de seus
novos privilégios, cuja forma lhes é impressa pela sociedade.80
Insistimos na idéia de que o militarismo é uma importante ferramenta para ajus-
tar/condicionara conduta do homem. Esse processo de construção da identidade deve ser ela-
borado com vistas a que o neófito possa receber as influências a praticar a missão constitucio-
nal da instituição policial militar, logo, atuar de forma a promover obediência ao artigo 144 da
Constituição Federal81
.
79 Ibidem, p. 20. 80 TURNER, 1974, p. 127, apud STORANI, 2008, p. 83) 81 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988. Diária Oficial da União
nº 191-A, de 5-10-1988.
42
4 – O MILITARISMO NO 6º BPM E NO BPOT
Nossa hipótese será posta à prova quando fizermos o comparativo entre as os
Batalhões que nos propomos a estudar. Acreditamos ser válido fazer menção da legislação que
criou essas unidades policiais militares e a partir dessas normas identificarmos a missão de
cada uma delas.
4.1 – O 6º BATALHÃO DE POLÍCIA MILITAR “CEL ARRUDA”
O 6º Batalhão de Polícia Militar foi criado pelo Decreto nº 3.929, de 22 de agosto
de 1985. Essa OPM na época era sediada na capital do Estado e incorporava o Pelotão de
Choque, o Canil e a Companhia de Rádio Patrulha. Essa formação seria um embrião daquilo
que mais tarde, mais especificamente em 1999, o Comando de Missões Especiais82
.
Entretanto, em 26 de maio de 1992, é promulgado um Decreto Estadual83
, tendo
dele sido desvinculado o efetivo que nele estava incorporado acima descrito, e a partir de en-
tão sua sede esteve no município de Ananindeua. Esse desmembramento fracionou esse con-
tingente, sendo criado a partir de então o Batalhão de Polícia de Choque, reativada a Compa-
nhia de Polícia de Rádio-Patrulha e o Canil que ali existia passou a estar instalado nas depen-
dências do CFAP, quando o mesmo ainda funcionava na ilha de Outeiro.
A partir dessa normatização o 6º BPM passava a atuar como “unidade convencio-
nal de Policiamento Ostensivo”84
.
Em 04 de novembro de 1993, no Decreto nº 2002, foi conferido nome ao 6º BPM:
O GOVERNADOR DO ESTADO DO PARÁ, usando de suas atribuições que lhe
são conferidas pelo art. 135, inciso X da Constituição Estadual e,
CONSIDERANDO o destacado propósito de expressar o reconhecimento e gratidão
do Estado e da Polícia Militar, homenageando a memória do ex-servidor militar,
82 PARÁ. Decreto 3.670, de 07 de outubro de 1999. Cria na estrutura organizacional da Polícia Militar do
Pará o Comando de Missões Especiais, o Comando de Cooperação Institucional, e dá outras providências. 83 PARÁ. Decreto nº 817-A, de 26 de maio de 1992. Cria e reestrutura da PMPA Organizações Policiais
Militares (OPM) e dá outras providências. 84 Idem, Art. 2º.
43
CEL PM ANTÔNIO FERNANDO CALDEIRA DE ARRUDA, falecido em serviço,
no exercício de suas funções na CASA MILITAR desta Governadoria;
CONSIDERANDO que o pranteado CEL ARRUDA, quando no desempenho de su-
as atividades profissionais se destacou por sua dedicação, probidade, zelo e interes-
ses pelas causas do Estado e de sua instituição;
CONSIDERANDO finalmente, que o ex-Oficial superior policial-militar, exercendo
o Comando do 6º Batalhão de Polícia Militar com proficiência e raras qualidades da
administração de tão importante função.
DECRETA:
Art. 1º - Fica denominado BATALHÃO CEL ARRUDA, o 6º Batalhão de Polícia
Militar, localizado no município de Ananindeua. Art. 2º - Este decreto entra em vigor na data de sua publicação, ficando revogadas as
disposições em contrário.
PALÁCIO DO GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ, em 04 de novembro de
1993.85
A leitura desse Decreto nos remete a discussão acima sobre tradição, mais especi-
ficamente aquela que relatou a escolha do patrono do Exército. Certamente a homenagem ao
Cel PM Arruda, concedendo seu nome ao 6º BPM foi com o interesse de fazer com que seu
efetivo pudesse em seu exemplo se inspirar em atuar conforme descreve o decreto, com dedi-
cação, zelo e interesse pelas causas do Estado e da corporação PM.
Foi perguntado aos policiais militares sobre os significados dos elementos que
constituem o brasão da unidade (Figura 8), entretanto nenhum deles soube responder, de-
monstrando assim a falta de conhecimento sobre a simbologia da OPM.
FIGURA 8 - Brasão do 6º BPM gravado no
estandarte do quartel.
FONTE: fotografia de Maxwell Matos de
Sousa, 2010.
O 6º Batalhão é constituído por duas zonas de policiamento, a 3ª e a 14ª ZPOL,
onde realiza policiamento ostensivo em quase toda a área do município de Ananindeua, área
85 PARÁ, Decreto nº 2002, de 04 de novembro de 1993.
44
esta configurada com ocupações e áreas que, além de difícil acesso, exteriorizam variados
males da sociedade.
A unidade apresenta considerável estrutura física (Figura 9) em relação a outras
unidades da região metropolitana, possuindo inclusive um pequeno auditório para reuniões e
instruções.
FIGURA 9 - Faixada do 6º BPM.
FONTE: fotografia de Maxwell Matos de Sousa, 2010.
A atividade que o 6º BPM realiza é a de policiamento ostensivo geral, através de
viaturas, motocicletas, bases móveis de policiamento a pé.
O ingresso no 6º BPM não exige qualquer espécie de aprimoramento técnico, tra-
tando-se como uma simples complementação do efetivo.
4.2 – O BATALHÃO DE POLÍCIA TÁTICA
Em 27 de março de 2001, pelo Decreto nº 4.56086
, foi criada a Companhia Inde-
pendente Tático –Operacional (Cia. Tático), com a finalidade ter “como missão específica
atuar na proteção de pessoas e bens públicos, em situações de risco e ameaças derivadas de
perturbação da ordem pública, precedendo o Batalhão de Choque”87
.
Com a promulgação do decreto governamental nº 2362, de 31 de julho de 2006,
a Companhia foi transformada em Batalhão de Polícia Tática (BPOT). A partir de então,
86 PARÁ, Decreto nº 4560, de 27 de março de 2001. Cria a Companhia Independente Tático-Operacional, a
Companhia Independente de Policiamento com Cães e a Companhia Independente de Polícia Fluvial com
Unidades de Polícia Militar (UPM) e dá outras providências. 87 Ibidem, Art. 2º, I.
45
contando com um efetivo maior, pode melhor desempenhar a missão para a qual foi criado,
em especial o apoio as Zonas de Policiamento.
A composição do BPOT se faz através de duas Companhias (Cia) denominadas de
Ronda Ostensiva Tático Motorizada (ROTAM) e Ronda Ostensiva com Apoio de Motos
(ROCAM). Seu quartel está localizado no interior do complexo do Comando Geral da PMPA
e está subordinado ao Comando de Missões Especiais.
Suas ações estão disciplinas em uma doutrina, como forma de Normas Gerais de
Ação (NGA)88
, orientando os procedimentos das seções administrativas, até a conduta dos
policiais militares em abordagem policial durante o patrulhamento. Essa sem dúvida é um dos
diferenciais entre uma tropa especializada e uma generalista89
, pois além disciplinam mais
ainda o comportamento do policial durante a execução de suas atividades.
Essa doutrina ainda preconiza sobre o perfil do policial combatente de ROTAM,
descreve:
O policial militar que serve na ROTAM deve possuir uma só tendência e um só
esforço, realizar-se enquanto Policial Militar e manter-se na experiência de servir
em uma unidade diferenciada.
A existência de um sistema defensivo específico, a saber, a ideologia da profissão
Policial, denominada doutrina, preserva o comportamento do homem. O compor-
tamento não digno irá influenciar negativamente na coletividade que é a ROTAM,
a qual reúne em seus seios policiais militares engajados num trabalho comum em prol da sociedade.
(...) Existem alguns padrões e normas a serem seguidos em relação à postura e
comportamento do policial que serve na ROTAM, seja em lugares públicos ou
não, em deslocamentos com a viatura para atendimento às ocorrências, ou sim-
plesmente, no patrulhamento de rotina. Em todas as ocasiões, o policial é a ponta
de toda estrutura organizacional, sendo assim, seu comportamento deve ser verda-
deiramente padronizado. Os padrões de postura, compostura, legalidade e honesti-
dade têm parcela muito expressiva junto à comunidade.
O princípio básico para servir na ROTAM é o voluntariado. É preciso que o ho-
mem deseje servir, sendo sua conduta familiar e profissional quase que irrepreen-
síveis, pois o importante é o exemplo do fazer. A doutrina, nada mais é que conjunto de princípios que servem de base a um sis-
tema de ensinamentos.90
Certamente essa norma auxilia no controle dos homens que servem no BPOT, não
apenas no que concerne ao serviço, mas também no comportamento dele como policial
militar, em especial na forma como encara a missão da corporação e sua OPM.
88 Normas que estabelecem nos mínimos detalhes as atribuições e competências de cada policial militar que
serve. 89 Utilizamos esse termo “policiamento generalista” para nos referirmos às tropas de policiamento ostensivo
ordinário, atualmente desempenhadas pelas Zonas de Policiamento (ZPol), enquanto que as tropas de missões
especiais atuam em situações que escapam ao controle das ZPol ou atuam de forma a reforçar, apoiando essa
última. 90 Esse trecho foi transcrito de um manual convencionalmente chamado de DOUTRINA DE ROTAM – PMPA.
Segundo foi informado pelos policiais militares que servem no BPOT esse texto não foi publicado oficialmente,
entretanto ele é utilizado pela tropa como recurso de orientação da conduta individual e coletiva.
46
No quartel do BPOT foi criado um ambiente que reforça o compromisso dos
policiais, utilizando-se de frases de efeito, imagens, orações e os símbolos (Figura 10) do
BPOT e da ROTAM.
FIGURA 10 - Figura de dois policiais militares que morreram durante o
serviço, na entrada do BPOT.
FONTE: fotografia de Maxwell Matos de Sousa, 2010.
Os policiais militares que servem no BPOT relataram que o brasão da OPM
(Figura 11), caracterizado por uma espécie de “T”, com setas em cada uma das extremidades,
faz referência à versatilidade característica da atividade do batalhão, graças ao treinamento
que contempla a atuação em diferentes cenários, que vão desde o policiamento ostensivo
motorizado à atuação de uma tropa de choque ligeiro.
FIGURA 11 - Brasão do Batalhão de Polícia Tática.
FONTE: fotografia de Maxwell
Matos de Sousa, 2010.
47
O símbolo da ROTAM (Figura 12) tem sua simbologia em especial na imagem do
raio, que representa a velocidade e energia com que atuam os policiais militares.
FIGURA 12 - Brasão de ROTAM.
FONTE: fotografia de Maxwell Matos de Sousa, 2010.
A tropa que inicia seu serviço apresenta rituais constantes como o de realizar uma
oração (Figura 13), com entonação de brado, com os seguintes dizeres:
FIGURA 13 - Oração de BPOT.91
FONTE: fotografia de Maxwell Matos de Sousa, 2010.
91 Oh! Senhor dos Exércitos/ Fazei com que o taticano permaneça:/Perseverante, Destemido e Audaz./ Para o
perigo enfrentar/ A qualquer hora do dia ou da noite/ Em área urbana ou rural/ E ainda que ande pelo vale das
sombras,/Não temerá mal algum/ E assim agradecer,/ Por sermos dignos de tal glória/ Sua presença nos traz
esperança/ E é uma benção poder servir e proteger a sociedade/ Mesmo com o sacrifício da própria vida/ Agora e
sempre,/ Amém!/ Tático!!!
48
Tais valores são não só preservados, mas cultivados e estendidos não só na rotina
da unidade, mas principalmente na instituição destes valores no decorrer dos cursos de
aperfeiçoamento técnico.
O ingresso no BPOT é facultado a voluntários que se sujeitam a um treinamento
inicial, conhecido por eles como nivelamento (Figura 14), onde o policial militar é bastante
exigido fisicamente e psicologicamente, visando o aperfeiçoamento técnico.
FIGURA 14 - Alunos do Nivelamento do ROTAM: exigência para o ingresso no BPOT. FONTE: fotografia de Maxwell Matos de Sousa, 2010.
E neste sentido, voltamos ao raciocínio desenvolvido por Storani e Castro de que
a auto-identificação com a unidade é construída neste período, o que esses autores se referem
como socialização profissional.
Podemos também compreender esse treinamento inicial como uma espécie de
socialização secundária, assim como o Curso de Operação de ROTAM92
.
Percebe-se durante essa socialização secundária a destruição da identidade
mencionada por Storani, onde com formas simples como a descaracterização do nome em
substituição ao número, e a já utilização do rajado urbano durante os cursos, ocorre de certa
forma a mortificação do “eu” falada do Goffman.
92 A diferenciação do Nivelamento de ROTAM e do Curso de Operações de ROTAM se deve ao fato do primei-
ro possuir um período reduzido, de quinze a vinte dias, sendo ministradas instruções básicas para a atuação na
unidade, enquanto o segundo, com o período de quarenta e cinco a cinqüenta dias, se detém a instruções mais
aprofundadas acerca da atividade.
49
Assim assumi-se a identidade intrínseca da unidade, porém percebemos uma
negação da própria identidade da polícia militar, com a pouca utilização visível de
nomenclaturas ou simbologias da Polícia Militar, e neste sentido, embora a CIOE não seja
objeto específico de nossos estudos, percebe a não utilização nem mesmo do brasão da PMPA
nos uniformes dos integrantes desta unidade.
Cria-se assim uma espécie de unidade, de certa forma, dissociada da instituição,
que consideramos maléfica para o conjunto.
4.3 – ANÁLISE DE DADOS
O questionário93
desenvolvido contou com dez perguntas, todas objetivas, com
exceção de uma que questionava sobre o tempo de serviço nas unidades estudadas. As
interrogações propostas foram dirigidas a compreender a forma como os policiais militares se
percebem individualmente e coletivamente no aspecto militar, bem como esta percepção
influencia na atividade segundo a ótica dos entrevistados. As respostas se limitaram as opções
de marcar afirmativa ou negativamente. A última pergunta foi construída a partir do rol de
valores que o CEDPM institui como atributos inerentes a atividade policial militar, listando
alguns deles em seqüência para que marcassem caso percebessem a existência deles na OPM .
A primeira pergunta questionou o seguinte: “Além de ser policial você se sente
militar?”, e o gráfico com as respostas é o seguinte:
GRÁFICO 1 - 1ª questão do questionário: Além de ser policial você se sente militar?
93 O questionário desenvolvido foi aplicado no mês de outubro de 2010, num total de 179. O efetivo do 6º BPM
é de 457 policiais militares, tendo sido respondidos 110 questionários. No BPOT seu efetivo conta com 271
policiais militares, dos quais 69 responderam as questões propostas.
50
Podemos analisar no resultado desta pergunta, a concordância da maioria dos
policiais dos dois batalhões referente à questão levantada, mas vale ressaltar que a
porcentagem de perguntas afirmativas foi maior no BPOT do que no 6° BPM, fato que pode
comprovar uma maior sensação de militarismo individual no primeiro batalhão citado.
Atribuímos essa maior adesão dos policias militares do BPOT ao conjunto de símbolos e
valoração desses pelos pm‟s dessa unidade, diferente do 6º BPM em que os policiais pouco
conhecem a simbologia de seu quartel, conforme veremos a seguir, no gráfico referente a
questão de número oito.
A segunda questão interrogou os policiais da seguinte forma: “você considera o
militarismo necessário a Polícia Militar?”, os resultados são apresentados graficamente, de
acordo com o gráfico abaixo:
GRÁFICO 2 – 2ª questão do questionário: você considera o militarismo necessário a Polícia
Militar?
Percebemos nessa questão, ampla discordância entre as duas unidades, onde a
maioria dos policiais do 6° BPM responderam negativamente e a maior parte dos policiais do
BPOT responderam positivamente, situação esta que nos remete a uma possível aversão ao
militarismo ou o não entendimento das características inerentes ao militar por parte dos
policiais da primeira unidade.
Já no caso do BPOT verificamos que a organização do batalhão advém de
atributos essenciais às organizações militares, circunstâncias que possivelmente comprovam o
resultado, já que, se temos um batalhão organizado por causa da presença de atributos
militares podemos inferir que o militarismo é importante para unidade e consequentemente
para a instituição como um todo.
51
A terceira pergunta questionou o seguinte: “você se auto-identifica com a institui-
ção policial militar?”. Podemos verificar nos gráficos abaixo as resposta nas duas unidades:
GRÁFICO 3 – 3ª questão do questionário aplicado: você se auto-identifica com a
instituição policial militar?
Verificamos que a auto-identificação dos policiais militares com a missão PM nas
duas OPM é intensa, entretanto existe a diferença de 15,65% entre as duas unidades, sendo o
BPOT a entidade onde existe uma maior afinidade com objetivo da instituição.
Essa diferença pode residir na forma como esses policiais percebem essa missão,
ou seja, o 6º BPM não possui nenhum recurso simbólico que apóie essa auto-identificação,
enquanto que o BPOT tem no uso de elementos simbólico os meios de intensificar a aceitação
do propósito da instituição.
A quarta questão nos informa a respeito do tempo de serviço na unidade dos
policiais militares que responderam o questionário, e tivemos as seguintes respostas:
52
GRÁFICO 4 – 4ª questão do questionário: Você integra o efetivo de seu batalhão há
quanto tempo?
A quinta questão dizia o seguinte: você considera a hierarquia e a disciplina
essenciais a atividade Policial Militar? As respostas estão baixo representadas:
GRÁFICO 5 – 5ª questão do questionário: você considera a hierarquia e a disciplina
essenciais a atividade Policial Militar?
Através do gráfico observamos uma ligeira diferença entre os percentuais das duas
unidades estuda. De forma a concluir que embora o 6º BPM tenha considerado o militarismo
desnecessário a atividade, conforme os resultados da segunda questão, na maioria dos
integrantes (78,18%) consideram os pilares deste militarismo, hierarquia e disciplina,
essenciais a atividade Policial Militar, chegando-se ao desfecho que muitos atribuem a
ineficiência do militarismo não a seu cerne, mas sim a forma com que tem sido utilizada na
53
PMPA.
A sexta questão provocou os policiais militares a responder sobre a forma de
atuação dos PM‟s: “Os policiais militares que servem em sua unidade seguem os princípios
dos direitos humanos em sua atuação?”
GRÁFICO 6 – 6ª questão do questionário: Os policiais militares que servem em sua
unidade seguem os princípios dos direitos humanos em sua atuação?
Essa pergunta foi inserida como forma de tentarmos verificar a conduta dos
policiais, se são disciplinadas ou não pelas normas modernas de atuação policial adicionadas
aquelas eminentemente militares, que consideramos válidas e as descrevemos anteriormente.
Observamos que conforme as respostas o BPOT aparece como a unidade que atua
disciplinada pelas normas dos DH. A diferença entre o 6º BPM e a outra OPM é de 16,05%.
Se voltarmos a considerar os resultados da primeira pergunta - Além de ser
policial você se sente militar? – vemos que essa identificação maior com o militarismo, apesar
de apresentar pequena diferença entre as unidades, demonstra que majoritariamente não está
voltada à prática de violência, portanto, conforme afirmamos, não é incompatível com a
atividade policial de segurança pública.
A sétima questão fez os policiais militares refletirem sobre a conduta dos policiais
militares sobre ética e moral, perguntando se na prática diária policial eles a observavam,
conforme:
54
GRÁFICO 7 – 7ª questão do questionário: Você acredita que a conduta dos policiais
militares com que serve são pautadas na moral e ética?
Tendo em vista o enfoque antes abordado sobre a ligação do militarismo aos
preceitos éticos e morais devido a uma valorização de atributos previstos no Código de Ética,
mais à frente abordados no questionário, como a honra, a fé na missão elevada da Policia
Militar, e até mesmo o orgulho, o civismo e o patriotismo, percebemos uma valoração a estes
atributos e uma preocupação maior com a conduta pautada não apenas no temor a sanção da
lei, mas, sobretudo no desenvolvimento de uma boa conduta ajustada pela consciência
individual, fruto da mencionado socialização profissional.
A oitava questão foi formulada desta forma: Você atribui valor as simbologias de
sua unidade? O gráfico representa as respostas nos questionários:
GRÁFICO 8 – 8ª questão do questionário: Você atribui valor as simbologias de sua
unidade?
55
O valor atribuído aos símbolos, prática relevantes nas instituições militares, que se
configuram quase como um culto as coisas abstratas, tomam um disparate quantitativo entre
os batalhões estudados, uma vez que percebemos não só um maior número destas simbologias
no BPOT, mas também uma maior valoração desta categoria, o que acreditamos tornar
atividades de natureza intensa, como no caso das Forças Armadas e Corpo de Bombeiros e
Policias Militar, menos sacrificantes e mais gratificantes, pela atribuição de valores a
elementos impessoais e que representam um interesse de uma coletividade por um bem maior.
A nona questão considerou o desprendimento do policial militar, a saber: Você
arriscaria sua vida pela missão policial militar? O gráfico a seguir apresenta as respostas:
GRÁFICO 9 – 9ª questão do questionário: você arriscaria sua vida pela missão policial
militar?
Vale ressaltar que nesta pergunta, o objetivo é verificar se o policial arriscaria sua
vida pela missão policial militar e não somente o risco proveniente de ser policial militar,
característico da profissão. No resultado, percebemos pequena diferença entre os percentuais
de perguntas afirmativas, que foram maioria em ambas as unidades. Tal situação pode estar
vinculada com a 3° questão, onde a maioria dos policiais que responderam ao questionário, se
auto-identificam com a instituição policial militar, ocasionando assim a uma maior aceitação
do risco proveniente da missão policial militar.
A décima questão propôs uma série de valores considerados pelo Código de Ética
da PMPA, portanto consideramos algo que já é previsto como conduta adequada aos policiais
militares desde a promulgação em 2006. Solicitamos aqueles que responderiam o questionário
que marcassem todas as alternativas que acreditassem estar presentes em sua OPM,
Apresentamos as respostas desse questionário em tabela, em razão do número de questões,
56
conforme abaixo discriminado:
TABELA 1 - 10ª questão do questionário, os policiais deveriam marcar todas as alternativas que
acreditavam estar presentes em sua unidade
Ao observamos a tabela percebemos similaridades e diferenças, algumas vezes
acentuadas entre as duas unidades. Atribuímos essas diferenças a forma como o militarismo é
tratado, ou seja, a forma como os valores, os símbolos e os atributos, o que anteriormente
mencionamos como ethos militar.
A forma de tratamento da simbologia e dos atributos militares no BPOT cria nos
policiais militares uma maior auto-identificação com essas categorias sugeridas na décima
questão.
Essa mesma questão no 6º BPM apresentou variações maiores, como exemplo os
valores apresentados nos itens constância, honestidade, patriotismo, civismo e culto as
tradições históricas, espírito de corpo, aprimoramento técnico profissional e condicionamento
físico.
6° BPM BPOT Diferença
Profissionalismo 87,27% 100% 12,73%
Lealdade 69,09% 94,20% 25,11%
Constância 26,36% 56,81% 30,45%
Compromisso com a verdade 54,55% 91,30% 36,75%
Honra 63,64% 94,20% 30,56%
Honestidade 59,09% 95,65% 36,56%
Respeito à Hierarquia 69,09% 94,20% 25,11%
Disciplina 71,82% 95,65% 23,83%
Coragem 81,82% 95,65% 13,83%
Patriotismo 36,36% 82,61% 46,25%
Sentimento de servir 52,63% 89,86% 37,23%
O civismo e o culto as tradições históricas 20% 57,97% 37,97%
A fé na missão elevada da PM 79,71% 89,86% 10,15%
Espírito de corpo 60% 97,10% 37,1%
Orgulho em servir em sua OPM 70% 98,55% 28,55%
O entusiasmo em exercer a atividade policial militar 52,73% 89,86% 37,13%
Aprimoramento técnico profissional 30% 95,65% 65,65%
Condicionamento físico 27,27% 92,75% 65,48%
57
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
O entendimento de militarismo aqui impresso é o de que essa forma de
organização possui uma forte capacidade de disciplinar o homem, seja em âmbito pessoal,
seja na espera profissional.
A estrutura ideológica militar é conhecidamente tradicional e é construída
segundo o propósito da corporação que abraça essa forma de organização, ou seja,
entendemos não haver uma só espécie de militarismo, mas sim uma essência que se ajusta à
missão da instituição.
Portanto, com relação às Forças Armadas elas não experimentam o mesmo
militarismo, apossam-se de uma matriz constituída de valores fundamentais que tornam o
homem disciplinado, leal e orgulhoso de sua missão.
Essa lógica é também pertinente à Polícia Militar. Sua missão constitucional é de
garantir a preservação da ordem pública, orientada por normas modernas de atuação policial,
como por exemplo, os Direitos Humanos. Trata-se, portanto, de um processo de construção de
identidade. O indivíduo deve ser sujeito de um artifício de “desconstrução do eu” para a
assimilação da filosofia da instituição. Suas ações devem estar doutrinadas nos atributos e
valores que incorporou em sua formação – socialização profissional.
Nosso problema inicial era o de responder a seguinte questão: a PMPA apresenta
características consolidadas ou mutáveis com relação a ser Polícia e ser Militar? Nossa
pesquisa nos orientou a perceber que o sujeito se percebe como policial e entende algumas das
mudanças estratégicas de como executar esse policiamento, ou seja, a técnica exigida pela
missão constitucionalmente ordenada. Entretanto o aspecto militar não é tão vislumbrado,
portanto, sofre cotidianamente transformações de ordem formal e informal, influenciando as
relações diárias nos quartéis e a forma como realizada sua atividade. Concluímos que não há
consolidação na identidade militar na PMPA, considerando as pesquisas bibliográficas e a
observação de campo realizada.
Ratificamos o nosso entendimento do prejuízo que sofre a instituição por não
58
acolher essa forma de controle da conduta humana. Fica evidente que o militarismo na PMPA
é mais intenso durante a fase de formação – socialização primária -, após isso ele sofre um
intenso afrouxamento, fruto do pragmatismo existente na corporação que não reflete em seu
contingente um sentimento de pertença. Existe a necessidade de se institucionalizar a
valoração dos símbolos, atributos e valores, construídos a partir de uma “invenção da PMPA”,
como diria HOBSBAWN e CASTRO94
, quando discorrem sobre a construção do imaginário
acerca das instituições. Essa iniciativa deve ser original e ir além do vínculo constitucional
que existe entre as Polícias Militares e o Exército, pois o militarismo que deve existir em cada
uma dessas instituições deve ser diferente, em razão do propósito delas não ser igual.
Obviamente deve se buscar reconhecer e se apropriar dos prósperos exemplos da
disciplina/doutrina experimentadas nas outras corporações militares.
Ao analisarmos quais fatores contribuem para a mudança de Doutrina na instituição e
consequentemente para a formação de uma nova identidade verificamos que a relação de
subordinação desenfreada com a política torna a instituição fraca, pois esta deve existir em prol
daquilo que a regra jurídica preconiza. As constantes mudanças de políticas de segurança
provocam alguns desajustes que refletem na organização da instituição e no homem que a
compõe.
A pesquisa sobre a existência de variados tipos de identidade dentro da PMPA se
confirma pela observação das unidades estudadas. O 6º BPM desenvolveu uma cultura policial
militar em que o policial restringe o vínculo com a OPM em que serve à um simples local de
trabalho, onde chega para cumprir sua jornada de trabalho e em seguida retorna para sua casa, sem
reconhecer os símbolos que representam a singularidade do quartel. Diferentemente do BPOT
cuja programação contempla instruções e o ingresso no batalhão se faz por meio de uma
socialização secundária, em que ajusta a conduta do homem e os procedimentos policiais próprios
de uma tropa especializada.
A ação policial militar deve inspirar na sociedade credibilidade, para isso deve ser
uma tropa condicionada a prevenir e reprimir com base na legalidade, necessidade e
proporcionalidade. Esse condicionamento deve ir além da simples prática e alcançar nos agentes
policiais a capacidade de refletir sobre suas ações, de considerar a moralidade delas, através dos
conjuntos de atributos e valores que constituem essa moral.
A tropa da Polícia Militar do Pará deve ser bem preparada tecnicamente para
disponibilizar um serviço de qualidade à sociedade e o homem que compõe esse efetivo deve
sentir-se realizado e orgulhoso de sua profissão. Alcançar esse objetivo não passa simplesmente
94 Fazemos referência a obra a Invenção das Tradições, organizada por Eric Hobsbawn, e a Invenção do Exérci-
to, de Celso Castro.
59
pela criação elementos simbólicos ou a criação de ambiente de lealdade e camaradagem no
interior dos quartéis, temos considerar outros fatores como remuneração, assistência jurídica,
assistência médica etc., não é nossa pretensão discorrer sobre todas essas categorias, entretanto
reconhecemos que quanto mais a instituição demonstra zelo pelo policial militar maior serão as
chances dele se sentir acolhido, portanto possuir o sentimento de pertença à corporação.
Moniz Barreto, em comunicação com o rei de Portugal, no ano de 1893, relata o
seguinte:
Senhor, umas casas existem, no vosso Reino, onde homens vivem em comum,
comendo mesmo alimento, dormindo em leitos iguais. De manhã a um toque de
corneta se levantam, para obedecer. De noite, a outro toque de corneta se deitam,
obedecendo. Da vontade fizeram renúncia como da vida. Seu nome é sacrifício. Por
ofício desprezam a morte e o sofrimento físico, Seus pecados mesmo são generosos,
facilmente esplêndidos. A beleza das suas ações e tão grande que os poetas não se
cansam de a celebrar. Quando eles passam juntos, fazendo barulho, os corações mais
cansados sentem estremecer alguma coisa dentro de si. A gente conhece-os por
militares: Eu cá chamo-lhes padres. Padres de religião augusta, a única possível nos
dias de hoje; a do civismo. Por essa divina hulmidade que os faz semelhantes a
coisas, eles se levantam acima dos outros homens. Corações mesquinhos lançam-
lhes em rosto o pão que comem; como se os cobres do pré pudessem pagar a
liberdade e a vida. Publicistas de vista curta acham-nos caros demais, como se
alguma coisa houvesse mais cara que a servidão. Eles, porém, calados, continuam
guardando a Nação do estrangeiro e de si mesma. Pelo preço de sua sujeição, eles
compram a liberdade para todos e a defendem na invasão estrangeira e do jugo das
paixões. Se a força das coisas os impede agora de fazerem em rigor tudo isto, algum
dia o fizeram, algum dia o farão. E, desde hoje, é como se o fizessem. Porque, por
definição, o Homem de guerra é nobre. Enquanto ele se põe em marcha, à sua
esquerda vai a coragem, e à sua direita a disciplina.95
A leitura dessa texto, apesar da diferença temporal, reflete a prática tradicional dos
militares. O militarismo, como nossa hipótese afirma, é um meio de garantir a disciplina e o
doutrinamento humano, e nossa pesquisa revelou que se bem administrado os elementos que
constituem essa ideologia podem provocar no homem um sentimento de pertencimento e
adesão ao discurso de sua unidade. A partir disso é necessário se pensar nessa doutrina, para
que todas as unidades, sejam as sediadas na capital paraense, sejam os destacamentos policiais
militares nos municípios mais distantes possam contar com homens e mulheres entusiasmados
95 BARRETO, Muniz. Carta a El-Rei de Portugal sobre a situação do paíz e seus remédios. Lisboa: s.n.,
1893.
60
de exercer a profissão que os realiza e os orgulha, para que sua satisfação esteja em realizar
um serviço de qualidade à sociedade, resguardando-a muitas vezes dela mesma, controlando
ações dos cidadãos em prol da incolumidade das pessoas e do patrimônio. Dessa forma,
constituiríamos uma identidade forte, resistente aos modismos, e capaz de alcançar o
sentimento dos homens que constituem a tropa policial militar do Pará.
61
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64
APÊNDICE
APÊNDICE A - Questionário aplicado ao 6º BPM E BPOT
Posto/Graduação:
Idade:
Tempo de Serviço: Unidade de Serviço:
1- Além de ser policial você se sente militar? ( ) sim ( ) não
2- Você considera o militarismo necessário à Polícia Militar? ( ) sim ( ) não
3- Você se auto-identifica com a instituição policial militar? ( ) sim ( ) não
4- Você integra o efetivo de seu batalhão há quanto tempo? ___________
5- Você considera a hierarquia e a disciplina essenciais a atividade Policial Militar?
( ) sim ( ) não
6- Os policiais militares que servem em sua unidade seguem os princípios dos direitos humanos
em sua atuação? ( ) sim ( ) não
7- Você acredita que a conduta dos policiais militares com que serve são pautadas na moral e éti-
ca? ( ) sim ( ) não
8- Você atribui valor as simbologias de sua unidade? ( ) sim ( ) não ( ) não as conheço
9- Você arriscaria sua vida pela missão policial militar? ( ) sim ( ) não
10- Das alternativas abaixo marque todas que acreditar serem presentes em seu batalhão:
a) Profissionalismo;
b) Lealdade; c) Constância;
d) Compromisso com a verdade;
e) Honra
f) Honestidade; g) Respeito à hierarquia;
h) Disciplina;
i) Coragem; j) Patriotismo;
k) Sentimento de servir;
l) O civismo e o culto as tradições históricas;
m) A fé na missão elevada da PM; n) Espírito de corpo;
o) Orgulho em servir em sua OPM;
p) O entusiasmo em exercer a atividade policial militar; q) Aprimoramento técnico profissional;
r) Condicionamento físico.
65
Instituto de Ensino de Segurança do Pará
Coordenadoria de Ensino Superior
Academia de Polícia Militar “Cel Fontoura”
Curso de Formação de Oficiais da Polícia Militar
BR 316, Km 13, s/n CEP.: 67200-000 – Marituba – Pará - Brasil