enade direito penal

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Direito Penal 1. Introdução teórica 1.1. Direito Penal O professor Paulo José da Costa Júnior (2010) ensina que não há sociedade sem direito; não há direito sem sociedade. (...) Apresenta-se o direito, antes de mais nada, como um ordenamento de limitações, determinando a cada cidadão: você poderá ir até aqui, e não além. Além de ser o direito um sistema de normas reguladoras, assume também um papel organizador e criador. O direito penal é uma das espécies de direito. Pode ser definido como o conjunto das normas que descrevem os crimes, cominando sançõespela sua infração. Como se vê, a denominação da matéria, sob certo ângulo, é imprópria ou incompleta, já que não cuida apenas da pena, mas também do crime. Por isso, não foraa tradição, seria preferível a denominação direito criminal. O direito penal se inclui entre os ramos do direito público. Sua atuação independe da vontade do ofendido, constituindo função e dever do Estado. Publica igualmente a imposição e aplicação da sanção, que não pode ser confiada a quem sofreu ofensa, mas ao magistrado estatal. O Decreto-lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940, Código Penal, é a lei fundamental que regula esse ramo do direito no Brasil. A parte Especial do Código Penal está dividida em: Crimes Contra a Pessoa; Crimes Contra o Patrimônio, Crimes Contra a Propriedade Imaterial; Crimes Contra a Organização do Trabalho; Crimes Contra o Sentimento Religioso e Contra o Respeito aos Mortos; Crimes Contra os Costumes, Crimes Contra a Família, Crimes Contra a Incolumidade Pública;

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DIREITO PENAL

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Direito Penal

1. Introduo terica 1.1. Direito Penal

O professor Paulo Jos da Costa Jnior (2010) ensina que no h sociedade sem direito; no h direito sem sociedade. (...) Apresenta-se o direito, antes de mais nada, como um ordenamento de limitaes, determinando a cada cidado: voc poder ir at aqui, e no alm. Alm de ser o direito um sistema de normas reguladoras, assume tambm um papel organizador e criador. O direito penal uma das espcies de direito. Pode ser definido como o conjunto das normas que descrevem os crimes, cominando sanespela sua infrao. Como se v, a denominao da matria, sob certo ngulo, imprpria ou incompleta, j que no cuida apenas da pena, mas tambm do crime. Por isso, no foraa tradio, seria prefervel a denominao direito criminal. O direito penal se inclui entre os ramos do direito pblico. Sua atuao independe da vontade do ofendido, constituindo funo e dever do Estado. Publica igualmente a imposio e aplicao da sano, que no pode ser confiada a quem sofreu ofensa, mas ao magistrado estatal.

O Decreto-lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940, Cdigo Penal, a lei fundamental que regula esse ramo do direito no Brasil.

A parte Especial do Cdigo Penal est dividida em:

Crimes Contra a Pessoa;

Crimes Contra o Patrimnio, Crimes Contra a Propriedade Imaterial;

Crimes Contra a Organizao do Trabalho;

Crimes Contra o Sentimento Religioso e Contra o Respeito aos Mortos;

Crimes Contra os Costumes, Crimes Contra a Famlia, Crimes Contra a Incolumidade Pblica;

Crimes Contra a Paz Pblica;

Crimes Contra a F Pblica e

Crimes Contra a Administrao Pblica.

1.2. Infanticdio

O infanticdio crime previsto no artigo 123 do Cdigo Penal, nos Crimes Contra a Pessoa.Segundo o professor Guilherme de Souza Nucci (2007),

o verbo matar o mesmo do homicdio, razo pela qual a nica diferena entre o crime de infanticdio e o homicdio a especial situao em que se encontra o agente. Matar significa eliminar a vida de outro ser humano, de modo que preciso que o nascente esteja vivo no momento em que agredido. Estado puerperal aquele que envolve a parturiente durante a expulso da criana do ventre materno. H profundas alteraes psquicas e fsicas, que chegam a transtornar a me, deixando-a sem plenas condies de entender o que est fazendo. uma hiptese de semi-imputabilidade que foi tratada pelo legislador com a criao de um tipo especial. O puerprio o perodo que se estende do incio do parto at a volta da mulher s condies pr-gravidez. Como toda me passa pelo estado puerperal algumas com graves perturbaes e outras com menos desnecessria a percia. O infanticdio exige que a agresso seja cometida durante o parto ou logo aps, embora sem fixar um perodo preciso para tal ocorrer.

O objeto jurdico do infanticdio , portanto, a vida. O sujeito passivo o recm-nascido ou ser nascente. O sujeito ativo a me do recm-nascido ou ser nascente, mas a doutrina predominante no Brasil entende pela possibilidade de concurso de pessoas no infanticdio, ou seja, coautores e participantes tambm respondem por infanticdio. Por ser um crime doloso contra a vida, o infanticdio julgado pelo tribunal do jri.

Pela regra geral do art. 30 do Cdigo Penal, as circunstncias de carter pessoal no se comunicam, salvo quando elementares do crime. Isso equivale dizer que, se a condio de carter pessoal for parte integrante do tipo penal, ela se comunica. Assim, os elementos do tipo penal do infanticdio Prprio Filho e Estado Puerperal, mesmo sendo pessoais, fazem com que o terceiro que participa do crime, seja em coautoria ou participao, responda pelas penas do infanticdio e no do homicdio qualificado.

A maioria dos doutrinadores entende que, no caso do infanticdio, a melhor sada seria que a conduta da me de matar o prprio filho sob a influncia do estado puerperal fosse uma modalidade de homicdio privilegiado, em que o privilgio de responder por um delito de pena maior beneficiaria somente a me.

1.3. Crime de Roubo

Roubo o crime previsto no artigo 157 do Cdigo Penal e definido como

subtrair coisa mvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaa ou violncia pessoa, ou depois de hav-la, por qualquer meio, reduzido impossibilidade de resistncia:

Pena - recluso, de quatro a dez anos, e multa.Os sujeitos ativos e passivos do roubo podem ser quaisquer pessoas. Mesmo aquele que seja vtima apenas da violncia e no da subtrao consumada, ser sujeito passivo do roubo porque os objetos jurdicos protegidos so o patrimnio, a integridade fsica e a liberdade do indivduo. O roubo um crime que exige sempre o dolo, a inteno, no sendo conhecida hiptese de roubo por culpa.Os artigos 63 e 64 do Cdigo Penal tratam da reincidncia, conforme segue.

Art. 63 - Verifica-se a reincidncia quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentena que, no Pas ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior.Art. 64 - Para efeito de reincidncia:

I - no prevalece a condenao anterior, se entre a data do cumprimento ou extino da pena e a infrao posterior tiver decorrido perodo de tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o perodo de prova da suspenso ou do livramento condicional, se no ocorrer revogao;II - no se consideram os crimes militares prprios e polticos.(Redao dada pela Lei 7.209, de 11.7.1984)Os doutrinadores ensinam que a reincidncia pode ser real ou ficta. Para Guilherme de Souza Nucci (2007),reincidncia real: quando o agente comete novo delito depois de j ter efetivamente cumprido pena por crime anterior; reincidncia ficta: quando o autor comete novo crime depois de ter sido condenado, com trnsito em julgado, mas ainda sem cumprir a pena.A reincidncia uma circunstncia que agrava a pena, pode impedir a substituio da pena privativa de liberdade pela pena restritiva de direitos ou multa; se praticada em crime doloso, pode impedir o direito a sursis, entre outras consequncias todas elas elencadas na legislao.

Embora gere inmeras consequncias, a reincidncia no qualificadora do crime de roubo, porque, no artigo 157 do Cdigo Penal, no est prevista em nenhum inciso. De fato, o pargrafo segundo do artigo 157 prev o que segue.

2 - A pena aumenta-se de um tero at metade:

I - se a violncia ou ameaa exercida com emprego de arma;

II - se h o concurso de duas ou mais pessoas;

III - se a vtima est em servio de transporte de valores e o agente conhece tal circunstncia.

IV - se a subtrao for de veculo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior; (includo pela Lei 9.426, de 1996)V - se o agente mantm a vtima em seu poder, restringindo sua liberdade. (includo pela Lei 9.426, de 1996) 3 Se da violncia resulta leso corporal grave, a pena de recluso, de sete a quinze anos, alm da multa; se resulta morte, a recluso de vinte a trinta anos, sem prejuzo da multa.(Redao dada pela Lei 9.426, de 1996)Qualificadoras so somente as situaes elencadas pelo legislador logo aps a previso do crime no caput e que preveem penas superiores quelas da figura principal. O crime de roubo possui causas especiais de aumento de pena, previstas no 2, incisos I, II, III, IV e V. qualificador somente o 3, uma vez que, para a conduta ali prevista, o legislador comina pena diferente da pena da figura principal.Assim, a reincidncia no pode ser, em relao ao roubo, nem qualificadora e nem causa especial de aumento de pena por absoluta falta de previso legal quanto a essas situaes. No entanto, a reincidncia, por ser causa genrica de aumento de pena, tecnicamente conhecida como circunstncia agravante, conforme dispe o art. 61, inc. I do Cdigo Penal, ser considerada para fins de fixao da pena-base (arts. 59 e 68 do CP).1.4. Crimes Comissivos e Crimes OmissivosOs crimes podem ser classificados em comissivos e omissivos.Para Damsio E. de Jesus (1998),

crimes comissivos so os praticados mediante ao; omissivos, mediante inao. Nos primeiros, o sujeito faz alguma coisa; nos segundos, deixa de faz-la. O critrio divisor se baseia no comportamento do sujeito. A mata B ministrando veneno e sua alimentao. Temos um crime comissivo, pois o meio de execuo se constituiu de ao, de um comportamento positivo. A deixa de prestar assistncia, quando possvel faz-lo sem risco pessoal, a criana abandonada. Comete o crime de omisso de socorro (art. 153). um crime omissivo. A me pode suprimir a vida do filho com instrumento ou mediante privao de alimentos. No primeiro caso comete um crime comissivo; no segundo, comissivo por omisso. Da os crimes, sob o aspecto da ao, dividirem-se em a) comissivos propriamente ditos; b) comissivos por omisso. Os crimes omissivos possuem as seguintes categorias: crimes omissivos prprios; crimes omissivos imprprios ou comissivos por omisso; crimes de conduta mista. Crimes omissivos prprios ou de pura omisso se denominam os que se perfazem com a simples absteno da realizao de um ato, independentemente de um resultado posterior. O resultado imputado ao sujeito pela simples omisso normativa. (...) Crimes omissivos imprprios (ou comissivos por omisso) so aqueles em que o sujeito, mediante uma omisso, permite a produo de um resultado posterior, que os condiciona. Nesses crimes, em regra, a simples omisso no constitui crime. o exemplo da me que deixa de alimentar o filho, causando-lhe a morte. Por ltimo, denominam-se crimes de conduta mista os omissivos prprios que possuem fase final positiva. H uma ao inicial e uma omisso final. Ex. apropriao indbita de coisa achada.1.5. Tribunal do JriO tribunal do jri, no Brasil, est previsto na Constituio Brasileira, no artigo 5, inciso XXXVIII, letras a a d. um dos direitos e garantias fundamentais estipulados pelo artigo 5 e constitui uma garantia do devido processo legal que , por sua vez, uma garantia do direito a liberdade. No entender do professor Guilherme de Souza Nucci (2007), temos a instituio do jri, no Brasil, para constituir o meio adequado de, em sendo o caso, retirar a liberdade do homicida. Nada impede a existncia de garantia da garantia, o que perfeitamente admissvel, bastando ver, a ttulo de exemplo, que o contraditrio tambm garantia do devido processo legal. Insista-se: no garantia direta da liberdade do indivduo acusado de crime doloso contra a vida, mas sim do devido processo legal. Logo, se o jri condenar ou absolver est cumprindo, igualmente, sua funo.O tribunal do jri tratado pelo Cdigo de Processo Penal a partir do artigo 406 e, recentemente, em 09 de junho de 2008, foi promulgada a Lei 11.689, que alterou dispositivos do Cdigo de Processo Penal relativos ao jri. O principal objetivo das mudanas implementadas foi conferir maior simplicidade e celeridade aos julgamentos realizados pelos tribunais do jri em todo o Brasil.1.6. Crime de Estelionato

O crime de estelionato est previsto no artigo 171 do Cdigo Penal. O objeto jurdico o patrimnio; o sujeito ativo e o sujeito passivo podem ser qualquer pessoa. O objeto material a vantagem obtida ou coisa alheia, bem como a pessoa que incide em erro. O professor Guilherme de Souza Nucci (2007) ensina que

h vrias formas de cometimento de estelionato, prevendo-se a genrica no caput. Obter vantagem (benefcio, ganho ou lucro) indevida induzindo ou mantendo algum em erro. Significa conseguir um benefcio ou um lucro ilcito em razo do engano provocado na vtima. Esta colabora com o agente sem perceber que est se despojando de seus pertences. Induzir quer dizer incutir ou persuadir e manter significa fazer permanecer ou conservar. Portanto, a obteno da vantagem indevida deve-se ao fato de o agente conduzir o ofendido ao engano ou quando deixa que a vtima permanea na situao de erro na qual se envolveu sozinha. possvel, pois, que o autor do estelionato provoque a situao de engano ou apenas dela se aproveite. De qualquer modo, comete a conduta proibida.O professor Damsio de Jesus (1998) esclarece o que segue.

O estelionato delito material. Crime material aquele cujo tipo descreve o comportamento e menciona o resultado, exigindo a sua produo. Na espcie, o legislador define o comportamento do sujeito, empregando fraude no induzimento ou na manuteno de algum em erro, e o resultado, vantagem ilcita em prejuzo alheio. O ncleo do tipo o verbo obter. Dessa forma, para a existncia do delito imprescindvel que o sujeito obtenha vantagem ilcita. Em outros termos, o CP exige a produo do resultado duplo (vantagem ilcita em prejuzo alheio). Por isso, exigindo o tipo a produo do resultado, o crime material e no formal.Questes 21, 22 e 23Questo 21.

Para responder s questes 4 e 5, leia o texto abaixo, extrado da obra Os miserveis de Victor Hugo.Uma porta de dois batentes, ento fechada, a separava da grande sala onde se instalara o tribunal.

A escurido era tamanha, que ele no receou dirigir-se ao primeiro advogado que encontrou.

Meu senhor disse em que ponto esto?

J acabaram respondeu o advogado.

Acabaram!

Esta palavra foi repetida com tal expresso, que o advogado se voltou.

Perdo; mas, por acaso, o senhor algum parente do ru?

No; no conheo ningum por aqui. Mas houve alguma condenao?

Sem dvida. No podia ser de outro modo.

Trabalhos forados?

Por toda a vida.

Ele, ento, replicou com voz to fraca, que apenas se podia ouvir.

A identidade ento foi provada?

Que identidade? perguntou o advogado. No havia nenhuma identidade a constatar. O caso era muito simples. A mulher matou a prpria filha, o infanticdio foi provado, o jri negou ter havido premeditao e ela foi condenada por toda a vida.

Ento, uma mulher? disse ele.

Mas, claro. Uma tal de Limosin. De que estava falando?

De nada; mas, j que tudo acabou, como que a sala ainda est iluminada?

Ah! Esse outro julgamento, que comeou h, mais ou menos, duas horas.

Que julgamento?

tambm um caso muito simples. Trata-se de uma espcie de vagabundo, um reincidente, um grilheta que praticou um roubo. No sei mais como se chama. Afinal, tem mesmo cara de bandido. S por aquela cara eu o mandaria para as gals.

...................................................................................................................................

Como havia muitas causas a julgar, o presidente havia marcado para o mesmo dia dois casos simples e breves. Comeara pelo infanticdio [...] O homem havia roubado frutas, mas isso no estava bem provado: o que era certo era terele estado nas gals de Toulon.

...................................................................................................................................

Quem era aquele homem? Fez-se um inqurito, ouviram-se testemunhas; todas estavam unnimes, e durante osdebates novos esclarecimentos vieram elucidar a questo. A acusao dizia [...] O defensor desempenhara-se admiravelmente, nesse linguajar de provncia... .

(HUGO, V. Os Miserveis. So Paulo:Amricas, 1967).

Analisando o caso como se tivesse acontecido nos dias atuais no Brasil, verifique as seguintes afirmaes.I. Quem comete dois crimes e condenado por eles reincidente, ainda que o segundo seja praticado antes de ser condenado pelo primeiro.

II. O infanticdio pode ser praticado pela me, ou pelo pai.

III. O roubo, ainda que de coisa de menor valor, configura crime.

Em relao s afirmaes, somenteA. I est correta.

B. II est correta.

C. III est correta.

D. I e II esto corretas.

E. II e III esto corretas.

Questo 22.

Relativamente ao direito penal, analise as afirmativas a seguir.I. Os crimes omissivos so aqueles em que o agente viola o dever jurdico de agir, imposto pela norma, e basta a desobedincia ao comando da norma para caracterizar o delito. So condies para a ocorrncia dos crimes omissivos o conhecimento da situao tpica da qual surge o dever e a possibilidade fsica real de realizar a ao ordenada.

II. Os crimes omissivos so aqueles em que o agente viola um dever de conduta, imposto pela norma, devendo iniciar a prtica de um ato concreto para que ele se materialize. So condies para a ocorrncia dos crimes omissivos o conhecimento da situao tpica, da qual surge o dever e a possibilidade psquica real de realizar a ao ordenada.

III. A diferena entre os crimes omissivos prprio e imprprio que, no primeiro, a obrigao de agir decorre da norma; ao passo que, no segundo a obrigao resultado de um especial dever jurdico de agir. Se a me deixa de alimentar o filho, que morre em decorrncia dessa omisso, pratica o crime de homicdio. Se um terceiro pratica a mesma conduta, pratica o crime de omisso de socorro qualificada.

IV. Em regra, todos os crimes comissivos podem ser praticados por omisso, salvo aqueles em que necessria uma atividade do agente. So elementos do crime comissivo por omisso a absteno da atividade que a norma impe, a supervenincia do resultado tpico em virtude da omisso, a ocorrncia da situao de fato da qual deflui o dever de agir. Esto corretas somente as afirmativas

A. I, III e IV.B. II e IV.C. I e II.D. I e III.E. II e III.

Questo 23.

Paulo e Roberto so amigos e resolvem abrir uma empresa, destinada concesso de financiamento para a aquisio de imveis com juros bem abaixo do mercado, a Morar Bem Ltda. No contrato social, Paulo e Roberto so scios, cada um com 50% das cotas, e ambos com poderes de gerncia. Inicialmente, o negcio vai bem. Diversos clientes, atrados pelas taxas de juro diferenciadas, pagam a Morar Bem Ltda., no ato de assinatura do contrato, o sinal de R$10.000,00 e passam a efetuar prestaes mensais de R$1.000,00. Nos termos do contrato, depois de seis meses, o cliente j estaria apto a receber o financiamento de R$30.000,00 para a compra de sua casa prpria. Contudo, logo Paulo e Roberto constatam que o empreendimento invivel, pois a quantidade de dinheiro captada no suficiente para honrar o compromisso firmado com os clientes. Tentando salvar o empreendimento, Paulo e Roberto tomam as seguintes providncias: publicam anncios em jornais de grande circulao para captar mais clientes, anunciando falsamente que cem por cento dos clientes j haviam sido contemplados e estavam plenamente satisfeitos, e destacando mais uma vez que a Morar Bem Ltda. pratica a menor taxa de juros do mercado. Por cautela, para se preservarem contra eventuais aes cveis e penais, promovem uma alterao do contrato social da empresa, retirando-se da sociedade e fazendo figurar como scios-gerentes dois empregados: Marcela e Ricardo. Na prtica, apesar da alterao contratual, Paulo e Roberto continuaram a comandar a empresa. Passados cinco anos, centenas de pessoas haviam sido lesadas.

Qual a situao jurdico-penal de Paulo e Roberto?

A. Paulo e Roberto no praticaram crime algum, pois os expedientes utilizados caracterizam mera fraude civil. Devem responder com seu patrimnio pelo dano causado aos clientes da Morar Bem Ltda.

B. Paulo e Roberto praticaram crime de estelionato, pois utilizaram expediente fraudulento, para ludibriar terceiros e lograram obter vantagem patrimonial ilcita.

C. Paulo e Roberto s podem ser responsabilizados por fatos ocorridos anteriormente alterao do quadro social da empresa. A responsabilidade penal por crime cometido por meio de pessoa jurdica daqueles que figuram com scios-gerentes, no caso, Marcela e Ricardo.

D. Paulo e Roberto praticaram crime de apropriao indbita, pois se apropriaram do dinheiro de que tinham posse por fora do contrato firmado.

E. Paulo e Roberto no praticaram crime de estelionato ou de apropriao indbita. Ambos atuaram culposamente, pois no previram o resultado danoso e tais crimes no esto previstos na modalidade culposa no Cdigo Penal.

2. Indicaes bibliogrficas

COSTA Jr, P. J. Curso de Direito Penal. 11. ed. So Paulo: Saraiva, 2010. GARCIA, B. Instituies de Direito Penal. 4. ed. So Paulo: Max Limonad, 1978. JESUS, D. E de. Cdigo Penal Anotado. 8. ed. So Paulo: Saraiva, 1998.

MARQUES, J. F. Tratado de Direito Penal. Campinas: Millenium, 2002.

MIRABETE, J. F.; FABBRINI, R. N. Manual de Direito Penal. 22. ed. So Paulo: Atlas,2007 NUCCI, G. S. Manual de Direito Penal. 3. ed. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.1. Introduo tericaDireito Administrativo e Direito PenalA questo tem por objetivo discutir a abrangncia da responsabilidade civil do Estado, embora tenha incio com uma abordagem sobre o terrorismo.

No mbito da responsabilidade civil do Estado, o objetivo discutir se o agente pblico que pratica ato culposo ou doloso sempre gera para o Estado o dever de indenizar a vtima.

Determina o pargrafo 6( do artigo 37 da Constituio Federal que

A administrao pblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios obedecer aos princpios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficincia e, tambm, ao seguinte: (REDAO DADA PELA EMENDA CONSTITUCIONAL N 19, DE 1998).(...)

6 - As pessoas jurdicas de direito pblico e as de direito privado prestadoras de servios pblicos respondero pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsvel nos casos de dolo ou culpa.Comentando o artigo, Carlos Roberto Gonalves (2012) afirma queHouve alterao da Constituio de 1988, anterior, no tocante responsabilidade civil da Administrao Pblica. Estendeu-se essa responsabilidade, expressamente, s pessoas jurdicas de direito pblico e s de direito privado, prestadores de servios pblicos. E substituiu-se a expresso funcionrios por outra mais ampla: agentes.Duas alteraes relevantes comearam a ser discutidas entre os estudiosos de responsabilidade civil: o conceito de servio pblico e o de agentes pblicos, utilizado agora em substituio a funcionrio pblico.

Ambos foram adotados para permitir maior abrangncia, sabido que o Estado nem sempre realiza suas atividades de forma direta, ou por meio exclusivo de funcionrios pblicos.

Jos da Silva Pacheco, citado por Carlos Roberto Gonalves (2012), esclarece que,tendo sido usada a expresso servios pblicos, h que conceb-la como gnero, de que o servios administrativos seria mera espcie, compreendendo a atividade ou funo jurisdicional e tambm a legislativa, e no somente a administrativa do Poder Executivo; e, no que se refere ao agente, deve ser entendido no sentido de quem, no momento do dano, exercia atribuio ligada sua atividade ou funo. Desse modo, abrange o 6( do art. 37 da CF a responsabilidade da Unio, dos Estados, do Distrito Federal, Municpios e autarquias; dos Poderes Legislativo, Judicirio e Executivo; das empresas pblicas, sociedades de economia mista e sociedades privadas, quando no exerccio de servio pblico e por dano diretamente causado pela execuo desse servio, para cuja caracterizao exclui-se o critrio orgnico ou subjetivo.A abrangncia da responsabilidade do Estado ficou ampliada a partir da Constituio Federal de 1988, porm no se pode perder de vista que h uma restrio que foi contemplada: os atos dos agentes pblicos vo gerar responsabilidade civil quando forem exercidos nessa condio, ou seja, de agentes pblicos.

O artigo 43 da Lei 10.406/02, o Cdigo Civil brasileiro, no mesmo sentido, determina queAs pessoas jurdicas de direito pblico interno so civilmente responsveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo.

O uso da expresso nessa qualidade, quando se refere ao agente pblico, indica que a legislao contemplou uma restrio. O agente pblico que praticar ato doloso ou culposo que cause dano a outrem, quando no estiver em atividade prpria de seu cargo ou funo, no poder carrear responsabilidade para o Estado. O mesmo se dar em relao s omisses, que tambm so fonte de danos para terceiros.

Questo 45Questo 45.

O terrorismo, em virtude de sua gravidade e de sua alta lesividade, considerado pela Constituio como crime inafianvel e insuscetvel de graa ou anistia (art. 5o, XLIII). De outro lado, o artigo 37, 6o, da Constituio estabelece a responsabilidade do Estado por atos de seus agentes. Em determinado caso, um servidor pblico investigado por ter, em contato com outros indivduos, cometido ato de terrorismo, detonando explosivo em imvel particular de grande circulao, e, por isso, causado leso a pessoas e danificado bens. A alegada ao ilcita teria sido praticada no horrio de expediente do servidor, que teria utilizado, como meio de facilitao do seu acesso ao local alvo do atentado, sua identidade funcional. Nessa hiptese,

A. as vtimas dos danos tero direito a ser indenizadas pelo Estado, o qual, nesse caso, no poder alegar nenhuma excludente de responsabilidade, dado o carter inafianvel do ilcito.

B. as vtimas dos danos tero direito a ser indenizadas pelo Estado, porque o Estado no responde criminalmente, mas apenas civilmente, pelos atos de seus servidores.

C. no h que se cogitar de responsabilidade do Estado, pois, por definio, o Estado que a vtima do crime de terrorismo.

D. o fato de o agente do suposto crime ser servidor pblico, agindo em horrio do expediente, no elemento suficiente por si para gerar a responsabilidade do Estado.

E. a eventual absolvio penal do servidor pblico por insuficincia de provas implicar a iseno da responsabilidade do Estado.2. Indicaes bibliogrficas CAVALIERI FILHO, S. Programa de responsabilidade civil. 6. ed. So Paulo: Malheiros, 2006. DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil brasileiro: responsabilidade civil. 16. ed. So Paulo: Saraiva, 2002. v. 7.

GONALVES, C. R. Responsabilidade Civil. 14. ed. So Paulo: Saraiva, 2012.

PEREIRA, C. M. S. Responsabilidade Civil. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005.

RODRIGUES, S. Direito Civil: responsabilidade civil. 20. ed. So Paulo: Saraiva, 2007, v. 4.1. Introduo terica Direito Penal, Direito Internacional e Direito EmpresarialO objetivo da questo discutir a aplicao da lei penal brasileira nos casos de crime a distncia.

Determina o artigo 6 do Cdigo Penal brasileiro o que segue.Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ao ou omisso, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.

Comentando o artigo supra, afirma Guilherme de Souza Nucci (2008) queteorias sobre o lugar do crime: para o lugar do crime tambm existem trs teorias: a) atividade: considera-se local do delito aquele onde foi praticada a conduta (atos executrios); b) resultado: o lugar do crime aquele onde ocorreu o resultado (consumao); c) mista ou da ubiquidade: o lugar do crime tanto onde houve a conduta, quanto o local onde se deu o resultado. Adotamos, segundo o art. 6, a teoria mista.

Conflito entre o artigo 6 do CP e o art. 70 do CPP: levando-se em considerao que o art. 70 do Cdigo de Processo Penal estabelece a competncia ser determinada pelo lugar em que se consumar a infrao, poder-se-ia sustentar a existncia de uma contradio entre a lei penal (teoria mista) e a lei processual penal (teoria do resultado). Ocorre que o art. 6 do Cdigo Penal destina-se, exclusivamente, ao denominado direito penal no espao, quando um crime tiver incio no Brasil e terminar no exterior ou vice-versa ( o denominado crime distncia). Para delitos cometidos no territrio nacional, continua valendo o disposto no art. 70 da lei processual. Nesse prisma: STJ: competente para processar e julgar a ao o juzo do lugar em que se consumar a infrao.Celso Delmanto e outros (2007), no Cdigo Penal Comentado, afirmam o que segue.Lugar do Crime Determinao do Lugar do Crime: das trs teorias existentes a respeito (da atividade, do resultado e da ubiquidade), nosso CP tomou por critrio o princpio da ubiquidade. Assim, considera-se o local do crime tanto o lugar do comportamento (ao ou omisso) como o do resultado. Geralmente, a questo no suscita maiores dvidas, a no ser nos chamados crimes a distncia e nas tentativas.

Crimes a distncia: So assim denominadas as infraes em que a ao ou omisso se d em um pas e o resultado ocorre em outro. Como exemplo, um estelionato praticado no Brasil e consumado na Argentina (ou vice-versa). Nos termos deste art. 6, incide a lei brasileira, desde que: 1. Aqui tenham sido praticados todos ou algum dos atos executrios (lugar onde ocorreu a ao ou omisso, no todo ou em parte). 2. Ou aqui se tenha produzido o resultado do comportamento criminoso (bem como onde se produziu... o resultado).O professor Damsio de Jesus (2010) ensina o que segue.Basta que uma poro da conduta criminosa tenha ocorrido em nosso territrio para ser aplicada nossa lei. Da as palavras de grande significao tcnica de Nelson Hungria, com que expunha um critrio de soluo da questo: imprescindvel que o crime haja tocado o territrio nacional.

(...)

Nos denominados crimes a distncia que apresenta relevncia jurdica a adoo da teoria da ubiquidade.

Os crimes podem ser de espao mnimo ou de espao mximo, segundo se realizem ou no no mesmo lugar os atos executrios e o resultado. Na hiptese negativa, fala-se em crime a distncia. Assim, um crime executado na Argentina e consumado no Brasil. Sendo o crime um todo indivisvel, basta que uma de suas caractersticas se tenha realizado em territrio nacional para a soluo do problema dos crimes a distncia. Mesmo que o fato seja punido no estrangeiro, tocando nosso territrio, incide sobre a lei penal nacional.Assim, no Brasil, vigora a teoria da ubiquidade, tambm chamada de teoria mista ou da unidade. Para essa teoria, o local do crime tanto o local da conduta como o do resultado.

Questo 50Questo 50.

Algum publica em uma pgina pessoal na rede mundial de computadores, fotos de crianas e adolescentes (entre 8 e 16 anos) nuas ou em situaes que denotam atividade sexual. O Ministrio Pblico no conseguiu, ainda, desvendar a identidade do autor, mas tem provas de que as fotos esto disponveis em um site controlado por uma empresa estrangeira. Conseguiu provar, tambm, que foram disponibilizadas na rede mundial de computadores por meio de um computador situado no Brasil e que todos os acessos a tais fotos ocorreram por meio de computadores tambm situados no Brasil.

Com base nos dados acima, possvel afirmar que o crime

A. est sujeito aplicao da lei brasileira, j que praticado por brasileiro no exterior.

B. est sujeito aplicao da lei brasileira, j que praticado no Brasil, independentemente da nacionalidade do agente.

C. est sujeito aplicao da lei brasileira, j que o Brasil se obrigou a reprimi-lo por meio de um Tratado Internacional.

D. no est sujeito aplicao da lei brasileira, j que praticado no pas da sede da empresa estrangeira.

E. no est sujeito aplicao da lei brasileira, j que praticado por estrangeiro no Brasil.

2. Indicaes bibliogrficas

DELMANTO, C. et al. Cdigo Penal Comentado. 7. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2007.

GARCIA, B. Instituies de Direito Penal. 7. ed. So Paulo: Max Limonad, 2008. JESUS, D. Direito Penal. Parte Geral. 31. ed. So Paulo: Saraiva, 2010.

NUCCI, G. S. Cdigo Penal Comentado. 9. ed. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.

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Questo 20 Enade 2009.

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Questo 32 Enade 2006.

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