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FACULDADE FASERRA Pós Graduação em Fisioterapia em Terapia Intensiva Maria Cecília Borges Andrade Cabral Efeitos dos programas de reabilitação pulmonar em pacientes com tuberculose: uma revisão da literatura Manaus 2017

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Page 1: Efeitos dos programas de reabilitação pulmonar em ......evidências para pacientes com doenças respiratórias crônicas que sejam sintomáticos e frequentemente tenham diminuição

FACULDADE FASERRA

Pós Graduação em Fisioterapia em Terapia Intensiva

Maria Cecília Borges Andrade Cabral

Efeitos dos programas de reabilitação pulmonar em pacientes com

tuberculose: uma revisão da literatura

Manaus

2017

Page 2: Efeitos dos programas de reabilitação pulmonar em ......evidências para pacientes com doenças respiratórias crônicas que sejam sintomáticos e frequentemente tenham diminuição

Maria Cecília Borges Andrade Cabral

Efeitos dos programas de reabilitação pulmonar em pacientes com

tuberculose: uma revisão da literatura

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado à Pós Graduação em

Fisioterapia em Terapia Intensiva,

Faculdade FASERRA, como pré

requisito para a obtenção do título

de Especialista, sob a Orientação

da Professora: Roberta Lins

Gonçalves.

Manaus

2017

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Efeitos dos programas de reabilitação pulmonar em pacientes com

tuberculose: uma revisão da literatura

MARIA CECÍLIA BORGES ANDRADE CABRAL ¹

[email protected]

ROBERTA LINS GONÇALVES²

RESUMO

Introdução: A reabilitação pulmonar (RP) tem mostrado efeitos positivos nas mais

diversas disfunções respiratórias. Os pacientes com tuberculose pulmonar são potenciais

beneficiários para este tipo de intervenção. Objetivo: Avaliar os efeitos da reabilitação

pulmonar em pacientes com tuberculose. Métodos: Foi realizada uma revisão da

literatura, entre primeiro de setembro de 2016 a 15 de setembro de 2016 nas bases de

dados MEDLINE, SCIELO, LILACS e PEDRO, foram selecionados para revisão os

estudos publicados entre 1996 e 2016, também foram incluídos da busca resumos de

congresso, anais, teses, dissertações e as referências dos artigos selecionados

Resultados: Foram encontrados 168 estudos para análise de título, resumo e data de

publicação, destes, apenas sete foram incluídos na revisão. Conclusão: Foi possível

observar que não existe uma padronização das condutas realizados dentro da RP em

pacientes com tuberculose, entretanto, a inclusão dessa população em programas de

reabilitação obteve melhorias na qualidade de vida, tolerância ao exercício e sintomas

crônicos.

Palavras-chave: reabilitação pulmonar, fisioterapia, tuberculose.

¹ Pós graduanda em Fisioterapia em Terapia Intensiva

² Orientadora Doutora em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Minas Gerais

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INTRODUÇÃO

A Tuberculose (TB) é uma das doenças infecciosas que mais contribui para

morbidade e mortalidade no mundo todo1,2

. Em 2015, foram notificados 6,4 milhões de

pessoas com TB aos Programas Nacionais de Tuberculose (PNTs) e relatadas à

Organização Mundial de Saúde (OMS). Dez países representam 77% do total estimado

entre incidência e notificações, com a Índia, a Indonésia e a Nigéria sozinhas

representando quase a metade do total3.

Cerca de 90% dos casos de TB correspondem à forma pulmonar4. Após a

inalação do bacilo é desencadeada uma reação inflamatória local que ao final resulta em

cicatrização da área comprometida com posterior calcificação5. Todo esse processo de

cascata inflamatória ocasiona em alterações da função pulmonar que são evidenciadas

pela redução dos volumes e capacidades pulmonares, pressões respiratórias e tolerância

ao exercício 6,7

.

O diagnóstico tardio e o retardo no início do tratamento estão associados ao grau

da lesão do parênquima pulmonar8. No paciente com tuberculose, já foram descritos

distúrbios ventilatórios restritivos e mistos como sequelas após o término do

tratamento9. Os distúrbios ventilatórios obstrutivos, incluindo a obstrução crônica não

reversível, também foram relatados em outros estudos7,10

.

A Reabilitação Pulmonar (RP) é uma intervenção global e multidisciplinar,

baseada em evidências, dirigida a indivíduos com doença respiratória crônica,

sintomáticos e, frequentemente, com redução das suas atividades de vida diária11

. É

indicada a todos os pacientes que apresentam dispneia, reduzida tolerância ao exercício

e restrição nas suas atividades, apesar de já estarem no máximo da terapêutica

medicamentosa pertinente12

. A RP abrange de atividades educativas, exercício aeróbico,

exercícios de fortalecimento, suporte psicossocial e nutricional do paciente e tem sido

amplamente difundida e aplicada em pacientes portadores de Doença Pulmonar

Obstrutiva Crônica 13,14,15

.

Sabendo que os pacientes com tuberculose pulmonar evoluem com piora na

função respiratória e podem ser inseridos no programa de reabilitação pulmonar, o

objetivo deste trabalho foi identificar os efeitos dos programas de reabilitação pulmonar

em pacientes com tuberculose.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Segundo a definição do Documento de Reabilitação Pulmonar da Sociedade

Americana de Tórax e da Sociedade Europeia Respiratória, publicado em 2006, a

reabilitação pulmonar é uma intervenção multiprofissional, integral e baseada em

evidências para pacientes com doenças respiratórias crônicas que sejam sintomáticos e

frequentemente tenham diminuição das atividades da vida diária. A reabilitação

pulmonar, integrada ao tratamento individualizado do paciente, é delineada para reduzir

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sintomas, aperfeiçoar a capacidade funcional, aumentar a participação do indivíduo em

atividades da sociedade, podendo reduzir os custos por meio da estabilização ou

reversão das manifestações sistêmicas da doença16

.

Os programas bem direcionados de RP resultam em melhora na habilidade de

realização das atividades de vida diária, na capacidade de realizar exercícios, na

qualidade de vida, na redução dos sintomas respiratórios, da ansiedade e da depressão

dos pacientes portadores de doenças pulmonares crônicas17

. Está bem documentado na

literatura que a RP promove melhora na capacidade funcional de exercício, na qualidade

de vida, reduz a dispneia18

, e a frequência e duração das internações, além de reduzir a

frequência de exacerbações19

.

A avaliação inicial de um paciente deve compreender testes físicos e a aplicação

de questionários referentes a qualidade de vida, depressão, ansiedade e conhecimentos

sobre a doença. Este conjunto de dados tem por finalidade avaliar o grau de

interferência do estado emocional e físico sobre a capacidade física do paciente e

permite auxiliar o planejamento do programa de recondicionamento20

.

A avaliação da qualidade de vida em pacientes com doença respiratória crônica

permite inferir o impacto que a doença tem sobre a vida da pessoa. Outra finalidade da

avaliação da qualidade de vida é comparar, ao final do programa, as mudanças que

possam ter ocorrido, independentemente das mudanças fisiológicas21

.

No entanto, os estudos brasileiros carecem de trabalhos sobre a estrutura e os

efeitos de programas de RP desenvolvidos no país22

. Sabendo que o Brasil está entre os

20 países no mundo com maior casos de TB3, e que esses pacientes provavelmente

apresentam disfunções respiratórias e funcionais, durante e/ou após o tratamento, é

fundamental que sejam produzidos estudos para melhorar a assistência desse grupo.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foi realizada uma revisão da literatura entre primeiro a quinze de setembro de

2016. Foram incluídos apenas os ensaios clínicos (randomizados e não randomizados),

em inglês, espanhol e português, publicados entre 1996 e 2016, encontrados nas bases

de dados: MEDLINE, LILACS, SCIELO e PEDRO. Os descritores utilizados nas

buscas estão citados na Tabela 1. Também foram incluídos na revisão resumos de

congresso, anais, teses, dissertações e as referências dos artigos selecionados. Como a

base de dados PEDRO é um banco de dados de estudos dentro da área da Fisioterapia,

exclusivamente nela os descritores utilizados foram somente “pulmonary tuberculosis”,

já que os demais descritores são referentes à área de fisioterapia e reabilitação.

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Tabela I: Descritores utilizados para a busca nos bancos de dados

Banco de dados Descritores

MEDLINE/SCIELO/LILACS

pulmonary tuberculosis AND (physiotherapy OR pulmonary

rehabilitation OR pulmonary physiotherapy OR rehabilitation

respiratory OR physical respiratory OR therapy pulmonary

OR therapy respiratory OR rehabilitation).

PEDRO pulmonary tuberculosis

RESULTADOS

Foram encontrados 166 artigos nas bases de dados selecionadas para a busca e 2

estudos de outras fontes (teses, anais, resumos de congresso, referência dos estudos

selecionados). Na figura 1 está descrita a forma de seleção dos estudos encontrados para

inclusão na revisão. Dos sete estudos selecionados, um foi publicado em espanhol,

realizado na Colômbia, um em português, feito no Brasil, e cinco em inglês (quatro no

Japão e um na Colômbia). Destes, dois foram ensaios clínicos randomizados e cinco

ensaios clínicos não randomizados.

Tada et al.23

realizaram um estudo clínico não randomizado, avaliando os efeitos

da reabilitação pulmonar em pacientes com sequelas de TB pulmonar no Japão. A RP

consistiu de técnicas de relaxamento, treinamento respiratório, exercício, treino de

musculatura respiratória e orientações educacionais. Ao final da RP os pacientes foram

reavaliados e melhorias significativas foram encontradas na CVF (de 1.48 l para 1.59 l),

no VEF1 (0,93 l para 1.02 l), na PaO2 (67.1Torr para 72.4 Torr), na distância percorrida

no Teste de Caminhada de Seis minutos (TC6) (303 metros para 339 metros), na Pimáx

(38.5cmH2O para 47.4cmH2O), nas atividades de vida diária, dispneia e qualidade de

vida. Porém o estudo não demonstra o quão estatisticamente significativo foi a

intervenção. Os efeitos encontrados nessa população foram independentes de cirurgia

torácica prévia, padrão de comprometimento ventilatório, achados na radiografia de

tórax e grau de insuficiência respiratória.

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Ando et al. 24

em um ensaio clínico não randomizado, compararam o efeito da

RP em pacientes com sequelas de TB pulmonar e pacientes com Doença Pulmonar

Obstrutiva Crônica (DPOC). O estudo foi realizado em dois momentos, no primeiro, os

pacientes foram avaliados e comparados e notou-se que entre os grupos a CVF foi

significativamente menor e CVF/VEF1 significativamente maior no grupo com sequela

de TB (p< 0,01), refletindo a natureza restritiva da disfunção respiratória pós TB

pulmonar. No segundo momento, os pacientes foram submetidos a RP que consistia em

técnicas de relaxamento, exercícios respiratórios, treino de força de baixa intensidade de

MMSS e MMII por 30 min, treino de resistência com caminhada por 15 min. (>90% da

velocidade no TC6min) e 20 minutos de atividades educativas em cada consulta. Após o

PRP os pacientes foram reavaliados e foram observadas melhorias significativas nos

dois grupos, na distância percorrida no TC6min., no MRC, no TDI e ADL.

1 estudo foi excluído por duplicidade

(encontrado tanto no MEDLINE como

no PEDRO).

Estudos selecionados para avaliação mais detalhada

(n= 9): 4 do MEDLINE, 2 PEDRO, 1 Resumo de

congresso, 1 referência dos artigos selecionados.

Total de estudos incluídos na revisão sistemática: 7

Artigos identificados através da busca

nos bancos de dados: n = 166 (152

MEDLINE, 1 SCIELO, 0 LILACS, 13

PEDRO).

Estudos excluídos do Pedro (n=11): 11

título e pelo resumo fora do tema.

Estudos excluídos do MEDLINE (n=148):

1 fora da data estipulada para os estudo, 3

sem acesso ao estudo, 134 pelo título e

pelo resumo fora do tema, 10 fora da data

e sem acesso ao estudo.

Figura I – Fluxograma de inclusão dos estudos na revisão.

Estudos adicionais encontrados em outras

fontes: n= 2 (resumos de congresso, anais,

teses, dissertações, referências dos artigos

selecionados).

Total de estudos encontrados para analisar título,

resumo, data de publicação n = 168.

Excluído o estudo encontrado no Scielo

por não ser o desenho de estudo incluído

na pesquisa.

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Tabela II: Características dos estudos quanto ao local da pesquisa, desenho de estudo e população.

Autores, ano País, cidade Participantes (n) Desenho do estudo

Estágio da TB

Tada A. et al. (2002) Japão, Okayama 37 Ensaio clínico não randomizado Após tratamento completo para TB

pulmonar

Morihide Ando et al. (2002) Japão, Osaka 64 Ensaio clínico não randomizado Após tratamento completo para TB

pulmonar

Viviane Viegas Rech et al. (2005) Brasil, Porto Alegre 50 Ensaio clínico randomizado Em tratamento para TB pulmonar

(hospitalizados)

Naoyuki Yoshida et al. (2006) Japão, Tokyo 14 Ensaio clínico não randomizado Após tratamento completo para TB

pulmonar

Donna de Grass et al. (2014) África do Sul, Cape

Town 67 Ensaio clínico randomizado

Em tratamento ambulatorial para TB

pulmonar, sendo 2/3 TB MDR

Jhonatan Betancourt-Peña et al.

(2015) Colombia, Cali 11 Ensaio clínico não randomizado

Após tratamento completo para TB

pulmonar

Rivera J.A. et al. (2015) Colombia, Cali 8 Ensaio clínico não randomizado Após tratamento completo para TB

pulmonar

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Tabela 3. Características e efeitos dos programas de reabilitação pulmonar.

Autores, ano

Métodos para avaliação

Componentes da RP

Duração e

frequência da

RP

Principais resultados

Conclusão

Tada A. et al.

(2002)

Espirometria, gasometria

arterial, TC6min, dispneia,

qualidade de vida.

Relaxamento, treinamento

respiratório, exercícios, treino de musculatura respiratória,

orientação.

3,9 semanas.

Não relata

frequência durante a

semana.

Aumento da CVF, FEV1,

PaO2, TC6, Pimax; Redução da dispneia;

E melhoria na qualidade de

vida

Melhora da função pulmonar,

tolerância ao exercício, sintomas e

qualidade de vida.

Morihide Ando et

al. (2002)

Espirometria, gasometria

arterial, MRC, BDI, TDI, ADL, TC6min.

Relaxamento, exercícios

respiratórios, treino de força de

baixa intensidade de MMSS e MMII por 30 min, treino de

resistência com caminhada por 15

min. (>90% da velocidade no TC6min), 20 min. Atividades

educativas em cada consulta.

9 semanas,

1x por semana

60 minutos.

Melhorias significativas na

distância percorrida no

TC6min., MRC, TDI e ADL.

RP se mostrou benéfica tanto para

pacientes com sequelas de TB tanto para paciente com DPOC.

Viviane Viegas

Rech et al. (2005)

Saturação de oxigênio,

dispneia e fadiga geral

pela escala de Borg,, TC6min.

Aquecimento (5-10min. exercícios

ativos dos MMSS e MMII), 3 dias

na semana exercícios resistidos para MMSS e 2 dias para MMII.

5 semanas

Realizado 5 dias durante

a semana por 60

min.

Aumento da tolerância e da

distância percorrida no TC6min redução na dispneia

percebida pela escala de Borg.

O condicionamento físico em

pacientes com TBP ativa

hospitalizados melhora a tolerância ao exercício e diminui

dispneia.

Naoyuki Yoshida et

al. (2006)

Espirometria, gasometria

arterial, TC6min, teste de esteira

Exercícios diários de caminhada

em um corredor do hospital. O treinamento era iniciado em suas

velocidades máximas, e a mesma

era aumentada gradualmente de acordo com cada paciente

2 semanas

2 vezes ao dia Duração 15 min.

Aumento significativo no

consumo máximo de oxigênio e na distância percorrida no

TC6min.

O treinamento realizado mostrou-se como uma modalidade segura e

eficaz para a melhoria do

desempenho do exercício de pacientes com sequela de

tuberculose pulmonar.

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Donna de Grass et

al. (2014)

Espirometria,TC6min,

escala de Borg para taxa de esforço percebido,

HRQoL

Exercícios respiratórios, correção postural, correção da tosse,

exercícios cardiovasculares de

baixo impacto, caminhada mais rápida que o paciente tolerasse.

6 semanas

Não relata

frequência durante a semana

e o tempo de cada sessão.

A tendência dos efeitos da RP sobre a função pulmonar foi

para aumentos, mas não houve diferença estatística entre os

grupos de intervenção e

controle no final da sexta semana nos valores de CVF e

VEF1. Tendência semelhante foi observada para a tolerância

ao exercício, e não houve

diferença significativa na qualidade de vida.

O resultado do estudo fornece

motivação para uma maior

consideração e implementação de um programa de reabilitação

pulmonar para pacientes com sequelas de tuberculose pulmonar.

Jhonatan

Betancourt-Peña et

al. (2015)

Espirometria, IMC, MRC, TC6min. e pico de VO2

estimado, QHAD, SGRQ

Exercícios respiratórios, exercício aeróbico por 30 minutos iniciando

com 80% da velocidade alcançada

no TC6min, fortalecimento muscular de MMSS, atividades de

educação.

8 semanas

3 sessões por semana

Duração 60

minutos.

Aumento significativo na

distância percorrida no TC6min, aumento no Pico de

VO2 estimado, aumento

qualidade de vida, redução da ansiedade e depressão.

Existe boa tolerância ao exercício

nos pacientes com sequelas de TB pulmonar em um PRP. Os

fisioterapeutas devem considerar a

diferença do TC6min no início e no final do programa como uma

variável confiável relacionado ao

aumento da capacidade funcional.

Rivera J.A. et al.

(2015)

Pico de VO2, TC6min.,

SF-36 e SGRQ

Treino físico (de força e aeróbico),

educação e treino de atividades de vida diária.

8 semanas

3x por semana

Aumento no pico de VO2, na

distância no TC6, no domínio físico do SF36 e no SGRQ.

Melhora significativa da

capacidade aeróbica e na qualidade de vida.

TC6min: Teste de caminhada de seis minutos; MRC: Medical Research Council; IMC: Índice de massa corpórea; QHAD: Questionário Hospitalar de Ansiedade e Depressão; HRQoL: Health Related Quality of Life;

SGRQ: Saint George Respiratory Questionnaire; BDI: Baseline dyspnea index;TDI: Transition dyspnea index; ADL: Activities of daily living; Pimáx: Pressão inspiratória máxima; PaO2:Pressão arterial de oxigênio;

CVF: Capacidade vital forçada; VEF1: Volume expirado forçado no primeiro segundo.

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2

No ensaio clínico randomizado de Rech e colaboradores25

, o objetivo foi

comparar a sensação de dispneia, fadiga, saturação de oxigênio (SatO2) e a distância

percorrida no TC6 em indivíduos com TB pulmonar hospitalizados antes e após um

programa de exercícios físicos. No grupo intervenção (GI), com 23 pacientes, houve

diferença estatisticamente significativa entre as duas avaliações no TC6min (347,75m

para 414,25m; p=0,002) e na dispneia percebida pela escala de Borg (3,09 para 1,58;

p=0,005). Enquanto que no grupo controle (GC), com 27 pacientes, não houve diferença

significativa entre as avaliações. O programa de exercícios foi constituído de:

aquecimento (5-10min. exercícios ativos dos MMSS e MMII), três dias na semana

exercícios resistidos para MMSS e dois dias para MMII. Os exercícios foram realizados

durante cinco semanas, cinco dias durante a semana por 60 minutos. Importante

ressaltar que 78,3% dos pacientes do GI e 63% do GC eram tabagistas. Seis pacientes

(33,3%) do GI e 12 (66,75%) do GC eram HIV positivo.

Yoshida et. al.26

realizaram um ensaio clínico não randomizado para examinar se

um treino de exercícios com caminhada livre, sem esteira, era efetivo para a melhora da

tolerância ao exercício em pacientes com sequela de TB pulmonar, caracterizados com

distúrbio ventilatório restritivo. Foram realizados duas vezes por dia, durante duas

semanas. Observaram que a tolerância ao exercício teve aumento significativo no

consumo máximo de oxigênio (de 13,6 ± 2,8 para 14,8 ± 2,8 ml/kg /min; p <0,01) e na

distância percorrida no TC6min (399 ± 62 para 467 ± 65m; p <0,01) após o treino.

Porém não houve melhora significativa na percepção dos sintomas.

Já o ensaio clínico randomizado de Grass e colaboradores27

, teve o objetivo de

determinar se a adesão a um programa de reabilitação pulmonar domiciliar de seis

semanas poderia melhorar as medidas de base de função pulmonar, a tolerância ao

exercício e da qualidade de vida relacionada à saúde (HRQoL) em pacientes em

tratamento ambulatorial para TB pulmonar, sendo que 2/3 já estavam com TB MDR.

Cada grupo foi composto por 23 pacientes, tanto o GC como o GI. O GI realizou

exercícios respiratórios, correção postural, correção da tosse, exercícios

cardiovasculares de baixo impacto, caminhada na velocidade mais rápida durante seis

semanas. A tendência dos efeitos da RP sobre a função pulmonar foi para aumentos,

porém não houve diferença estatística entre os GI e GC no final da sexta semana nos

valores de CVF (p = 0,2; IC 95%: -0,9 a 0,51) bem como VEF1 (p = 0,1; IC a 95%: -

0,07 a 0,51). Tendência semelhante foi observada para a tolerância ao exercício, e não

houve diferença significativa na qualidade de vida (p = 0,789).

No estudo de Betancourt-Peña et. al.28

na Colômbia, os autores tiveram o

objetivo de descrever o impacto de um programa de reabilitação pulmonar em pacientes

com sequelas de TB pulmonar. 11 pacientes realizaram a RP, que incluiu exercícios

respiratórios, exercício aeróbico por 30 minutos iniciando com 80% da velocidade

alcançada no TC6min, fortalecimento muscular de MMSS, atividades de educação por

oito semanas, três sessões por semana, durante 60 minutos. Observaram ao final da RP

aumento significativo de 110,2m±112,5 na distância percorrida no TC6min (p=0,009),

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3

aumento de 3,1±3,2mlxkg/min no Pico de VO2 estimado, aumento qualidade de vida

(p=0,02), redução da ansiedade (p=0,007) e depressão (p=0,03).

No último estudo analisado, realizado por Rivera et. al. 29

também na Colômbia,

os autores quiseram descrever os efeitos da RP na capacidade aeróbica e qualidade de

vida em pacientes com sequela de TB pulmonar. O PRP consistiu de treino físico (de

força e aeróbico), educação e treino de atividades de vida diária por 60 minutos, três

vezes na semana durante oito semanas. Na avaliação final o pico de VO2 teve um

aumento de 1,7ml/kg/min (p=0,039), a distância no TC6 teve aumento de 63,6 metros

(p= 0,014), o domínio físico do SF36 aumentou 6.98 pontos (p= 0,039) e SGRQ

aumentou 13 pontos (p=0,039).

DISCUSSÃO

Diversas pesquisas mostram os resultados positivos da RP em pacientes com

DPOC11,12,30,31

, entretanto, poucos são os estudos analisando os efeitos da RP nos

paciente com TB. Um dos artigos incluídos na revisão, realizou uma comparação entre

pacientes com DPOC e pacientes com TB pulmonar, e concluíram que ambos se

beneficiam com os programas de reabilitação24

. As duas populações podem apresentar

dispneia, reduzida tolerância ao exercício e restrição nas suas atividades de vida diária,

o que já indicaria a realização de um programa de reabilitação pulmonar28

.

Apenas dois estudos relataram a RP em pacientes com TB MDR27,32

. O estudo

de caso de Wilches et. al32

, que não foi incluído dentro dos estudos da revisão, concluiu

que a RP para o paciente analisado foi suficiente para melhorar sua funcionalidade,

obtendo aumento da distância percorrida no TC6min, da força de musculatura

periférica, redução da dispneia e redução do esforço percebido avaliado pela escala de

Borg. Entretanto no ensaio clínico randomizado de Grass et. al.27

, onde 2/3 da

população analisada era composta por pacientes de TB MDR, mostrou apenas tendência

a aumento da tolerância ao exercício e sem diferenças importantes para a qualidade de

vida. Apesar disso, ele considera a implementação da RP importante para pacientes com

sequelas de tuberculose pulmonar, pois gera um impacto positivo sobre a

funcionalidade.

Somente três estudos26,28,29

avaliaram o VO2 máximo, uma variável importante

que deve ser incluída na análise da performance física33,34

. Todos os estudos23-29

avaliaram a qualidade de vida e tolerância ao exercício pelo TC6min e mostraram

resultados relevantes comprovando os efeitos benéficos da RP nos pacientes de TB

pulmonar. O autor recomenda que os fisioterapeutas deveriam considerar a diferença do

TC6min no início e no final do programa como uma variável confiável relacionada ao

aumento da capacidade funcional28

. Os resultados indicam que os métodos de avaliação

utilizados são ferramentas uteis a serem incluídas na RP para mensurar os ganhos

obtidos.

Nenhum estudo relatou comparação entre os efeitos da RP nos casos de

tuberculose droga sensível e de TB MDR, ou comparação entre pacientes com TB e

Page 13: Efeitos dos programas de reabilitação pulmonar em ......evidências para pacientes com doenças respiratórias crônicas que sejam sintomáticos e frequentemente tenham diminuição

4

com TB/HIV. Também foi notado que não existe um protocolo bem definido de RP

para esse grupo. Cada estudo incluído na pesquisa utilizou métodos diferentes de

intervenção, de acordo com a população estudada, o que pode interferir na significância

dos resultados.

CONCLUSÃO

A análise das evidências disponíveis na literatura sobre os efeitos da reabilitação

pulmonar em pacientes com tuberculose nos permite verificar um desfecho significativo

na melhoria da qualidade de vida e funcionalidade dos pacientes. Seja ela TB ativa, após

o término do tratamento ou mesmo TB MDR. Concluindo então que a reabilitação é

uma ferramenta importante no cuidado e que precisa ser acrescentada na assistência ao

paciente com tuberculose.

É interessante que futuros estudos realizem ensaios clínicos com populações

maiores, comparando os efeitos da RP nos pacientes com TB MDR e os com

tuberculose droga sensível, descrevendo a história da doença, tratamentos prévios e suas

incapacidades. Assim como mais pesquisas também devem ser realizadas para

descrever os efeitos da RP nos indivíduos coinfectados com TB/HIV.

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