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EDUCAÇAO CIENTÍFICA NO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO BÁSICA Eliane Regina Martins Batista [email protected] Universidade Federal do Amazonas Humaitá - Amazonas Evandro Ghedin [email protected] Universidade do Estado de Roraima Boa Vista - Roraima Resumo: A educação científica durante nas últimas décadas vem se constituindo como imprescindível no processo educativo e na formação de cidadãos (KRASILCHIK, 2000; SANTOS, 2007; CHASSOT, 2001, 2003; DEMO, 2010), sobretudo, na perspectiva da inclusão social. Neste artigo realizamos a análise do documento “A ciência para o século XXI: uma nova visão e uma base de ação” produzido pela UNESCO com a finalidade de verificarmos as influências destas orientações nas políticas educacionais e curriculares para o desenvolvimento da educação científica no currículo da educação básica. Constatamos que a educação científica não está explicitamente contemplada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) e nas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (2010), restringindo-se as disciplinas responsáveis pelo conhecimento físico e natural no ensino fundamental; verifica-se maior ênfase no ensino médio, ampliando a compreensão de ciência e de outros aspectos relacionado à ciência e a tecnologia, e também, na educação profissional e tecnológica. O que reforça a primazia de se trabalhar a educação científica desde a infância até o ensino médio, de forma integrada no currículo e na perspectiva da formação para a cidadania. Palavras-chave: Educação científica, Currículo escolar, Educação básica. 1 INTRODUÇÃO A educação científica vem se constituindo como necessária e essencial no processo de escolarização, principalmente diante das exigências da sociedade contemporânea; entretanto, pode se afirmar que não havia uma expressiva preocupação com a educação científica, tendo em vista que até pouco tempo as disciplinas de ciências naturais não figuravam na educação escolar, “até a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1961, ministravam-se aulas de Ciências Naturais apenas nas duas últimas séries do antigo curso ginasial. Essa lei estendeu a obrigatoriedade do ensino da disciplina a todas as séries ginasiais, mas apenas a

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EDUCAÇAO CIENTÍFICA NO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO BÁSICA

Eliane Regina Martins Batista – [email protected]

Universidade Federal do Amazonas

Humaitá - Amazonas

Evandro Ghedin – [email protected]

Universidade do Estado de Roraima

Boa Vista - Roraima

Resumo: A educação científica durante nas últimas décadas vem se constituindo como

imprescindível no processo educativo e na formação de cidadãos (KRASILCHIK, 2000;

SANTOS, 2007; CHASSOT, 2001, 2003; DEMO, 2010), sobretudo, na perspectiva da inclusão

social. Neste artigo realizamos a análise do documento “A ciência para o século XXI: uma

nova visão e uma base de ação” produzido pela UNESCO com a finalidade de verificarmos as

influências destas orientações nas políticas educacionais e curriculares para o

desenvolvimento da educação científica no currículo da educação básica. Constatamos que a

educação científica não está explicitamente contemplada na Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (1996) e nas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação

Básica (2010), restringindo-se as disciplinas responsáveis pelo conhecimento físico e natural

no ensino fundamental; verifica-se maior ênfase no ensino médio, ampliando a compreensão

de ciência e de outros aspectos relacionado à ciência e a tecnologia, e também, na educação

profissional e tecnológica. O que reforça a primazia de se trabalhar a educação científica

desde a infância até o ensino médio, de forma integrada no currículo e na perspectiva da

formação para a cidadania.

Palavras-chave: Educação científica, Currículo escolar, Educação básica.

1 INTRODUÇÃO

A educação científica vem se constituindo como necessária e essencial no processo de

escolarização, principalmente diante das exigências da sociedade contemporânea; entretanto,

pode se afirmar que não havia uma expressiva preocupação com a educação científica, tendo

em vista que até pouco tempo as disciplinas de ciências naturais não figuravam na educação

escolar, “até a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1961, ministravam-se

aulas de Ciências Naturais apenas nas duas últimas séries do antigo curso ginasial. Essa lei

estendeu a obrigatoriedade do ensino da disciplina a todas as séries ginasiais, mas apenas a

partir de 1971, com a Lei no 5.692, Ciências passou a ter caráter obrigatório nas oito séries do

primeiro grau (BRASIL, 1998, p.19)”.

O ensino de ciências vem se desenvolvendo de forma diferenciada, a Lei 4.024 – Diretrizes

e Bases da Educação, de 21 de dezembro de 1961, ampliou bastante a participação das ciências

no currículo escolar, que passaram a figurar desde o 1º ano do curso ginasial. No curso colegial,

houve também substancial aumento da carga horária de Física, Química e Biologia. Essas

disciplinas passavam a ter a função de desenvolver o espírito crítico com o exercício do método

científico. O cidadão seria preparado para pensar lógica e criticamente e assim ser capaz de

tomar decisões com base em informações e dados (KRASILCHIK, 2000).

Mais tarde, o enfoque do ensino de ciências muda radicalmente na legislação, voltando-se

para a formação profissionalizante exigida no contexto da ditatura. De acordo com Krasilchik

(2000) quando de novo houve transformações políticas no país pela imposição da ditadura

militar em 1964, o papel da escola modificou-se, deixando de enfatizar a cidadania para buscar

a formação do trabalhador, considerada naquele momento, peça importante para o

desenvolvimento econômico do país.

Hoje, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB, nº 9.394/1996 tem como finalidade

a formação integral dos estudantes abrangendo a formação para a cidadania e para o mundo

trabalho; estabelecendo no parágrafo 2° do seu artigo 1°, que a educação escolar deverá

vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social, além de possibilitar a formação básica do

cidadão na escola fundamental; e exige o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo, a

compreensão do ambiente material e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos

valores em que se fundamenta a sociedade. No ensino médio assume a função de consolidação

dos conhecimentos, a preparação para o trabalho e o exercício da cidadania.

Nesta perspectiva, verifica-se que o ensino de ciências vem mudando de enfoque na

legislação educacional, os quais atendem aos interesses e prioridades para a educação escolar

considerando diferentes contextos. Além disso, estas mudanças e proposições para o ensino de

ciências ocorrerem mediante vários fatores e influências, não somente restrita aos governantes,

mas também dos resultados das investigações e estudos de educadores e pesquisadores.

Santos (2007) pontua que a ênfase no ensino de ciências proposta pelos educadores em

ciência tem mudado em função do contexto sócio-histórico. No final dos anos de 1950

propunha-se em preparar os jovens para adquirir uma postura de cientista. Em decorrência dos

problemas ambientais na década de 1960 houve preocupação com os aspectos relacionados ao

modelo de desenvolvimento científico e tecnológico; No fim dos anos de 1970 se acentuava as

propostas que privilegiavam a ênfase nas inter-relações ciência, tecnologia e sociedade. Este

autor esclarece ainda que outros enfoques para a educação científica continuaram a surgir:

enquanto alguns autores defendiam a educação para a ação social responsável, a partir de uma

análise crítica sobre as implicações sociais da ciência e da tecnologia, outros passaram a

defender a compreensão da natureza da atividade científica como aspecto central na educação

científica.

Atualmente são muitas questões no centro dos debates, as quais se relacionam à ciência, a

tecnologia e a sociedade (CTS), o letramento/alfabetização científica, a educação tecnológica,

a educação científica (dentre outras questões) vem marcando fortemente as discussões e estudos

realizados por agências internacionais, pesquisadores, cientistas e educadores. A

problematização destas questões traz novas demandas para a educação formal e não formal, em

que se considera a necessidade de se trabalhar a educação científica na educação básica.

Com base no exposto e ao entender que o ensino de ciências em diferentes épocas assume

finalidades específicas no projeto educacional, realizamos uma reflexão teórica sobre a

educação científica no currículo da educação básica1. Este artigo está dividido em duas seções,

1Atividade exigida na disciplina Educação em Ciências, Tecnologia e Cidadania no Programa de Pós-graduação

em Educação em Ciências e Matemática da Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática, Polo da

na primeira elencamos alguns apontamentos sobre a relevância da educação científica e suas

possibilidades para a formação de cidadãos. Na segunda, realizamos análise do documento: A

ciência para o século XXI: uma nova visão e uma base de ação2 elaborado pela UNESCO

(Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), objetivando

compreender como estas recomendações podem ter influenciado na elaboração de políticas

educacionais e curriculares. Fizemos um recorte a partir de dois documentos legais: a Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB n°. 9.394/1996 e nas Diretrizes Curriculares

Nacionais Gerais para a Educação Básica - DCNGEB (Resolução CNE/CEB nº 4 de 2010), nos

quais buscamos os descritores “educação científica” e/ou “educação em ciências” para

verificarmos nestes documentos como se expressa a educação científica no currículo da

educação básica.

2 EDUCAÇÃO CIENTÍFICA: APONTAMENTOS INICIAIS

A educação científica vem assumindo centralidade na formação de estudantes da educação

básica, um dos aspectos que nos chamou atenção, expresso na Conferência Mundial sobre

Ciência e na Declaração sobre Ciências e a Utilização do Conhecimento Científico (1999),

refere-se à imprescindibilidade da educação científica para possibilitar a formação de cidadãos

para a tomada responsável de decisões.

Muitos autores e estudiosos defendem a relevância da educação científica na educação

básica. Nestes termos, emergem movimentos que defendem que os currículos contemplem a

inclusão de temáticas relacionadas à alfabetização/letramento científico (LORENZETI;

DELIZOICOV, 2001; AULER; DELIZOICOV, 2001; CHASSOT, 2001, 2003; SCHULZE,

2006), e do ensino CTS (SANTOS, 2007, 2008; LINSINGEN, 2007; SANTOS, MORTIMER,

2001; AULER; BAZZO, 2001).

Santos (2007) discute a educação científica na perspectiva de letramento como prática

social, aponta que isto implica um desenho curricular que incorpore práticas que superem o

modelo de ensino predominante nas escolas, centradas na memorização, repetição de conteúdos

e desvinculadas dos diferentes contextos. Segundo o autor:

[...] a diferenciação entre alfabetização e letramento, pois na tradição escolar a

alfabetização científica tem sido considerada na acepção do domínio da linguagem

científica, enquanto o letramento científico, no sentido do uso da prática social, parece

ser um mito distante da prática de sala de aula. Ao empregar o termo letramento,

busca-se enfatizar a função social da educação científica contrapondo-se ao restrito

significado de alfabetização escolar (2007, p.479).

O letramento científico, não se limita ao domínio dos conceitos, fórmulas, gráficos e/ou

tabelas, ampliam-se para as práticas sociais e culturais. Além de trazer aportes do letramento

científico, Santos destaca a relevância do movimento CTS, sua contribuição para a educação

científica, e salienta seu objetivo:

O objetivo central desse ensino na educação básica é promover a educação científica

e tecnológica dos cidadãos, auxiliando o aluno a construir conhecimentos, habilidades

e valores necessários para tomar decisões responsáveis sobre questões de ciência e

tecnologia na sociedade e atuar na solução de tais questões (Aikenhead, 1994; Santos

& Mortimer, 2000; Santos & Schnetzler, 1997; Solomon, 1993; Teixeira, 2003; Yager,

1990). (2007, p.482)

Universidade do Estado do Amazonas. 2 Este documento tem como base a Conferência Mundial sobre Ciência, realizada em Santo Domingo em 1999; e

a Declaração sobre Ciências e a Utilização do Conhecimento Científico, realizada em Budapeste em 1999.

É possível perceber que há forte influência de movimentos que consideram a necessidade

do letramento/alfabetização científica, como também, do ensino CTS no currículo da educação

básica, os quais representam possibilidades para o desenvolvimento da educação científica.

Nesta dinâmica a educação científica pode ser desenvolvida com base em diferentes

enfoques, Chassot (2001) aponta alfabetização científica como fundamental neste processo,

principalmente, por considerá-la uma das dimensões para potencializar alternativas que

privilegiam uma educação mais comprometida. Este autor ainda entende que a ciência é uma

linguagem, assim ser alfabetizado cientificamente é saber ler a linguagem em que está escrita a

natureza, neste sentido é necessário considerar alfabetização científica como o conjunto de

conhecimentos que facilitariam aos homens e mulheres fazer uma leitura do mundo em que

vivem e, sobretudo, entendessem a necessidade de transformá-lo em algo melhor. Situando seu

posicionamento a favor de uma ciência que não esteja restrita as comunidades científicas e aos

professores, mas que possibilite a inclusão social.

A defesa da alfabetização científica destaca-se como uma prerrogativa para a compreensão

do contexto que envolve os sujeitos e, sobretudo, para a autonomia na resolução dos problemas

diários. Nestes termos, Chassot sugere que:

[...] poderíamos pensar que alfabetização científica signifique possibilidades de que a

grande maioria da população disponha de conhecimentos científicos e tecnológicos

necessários para se desenvolver na vida diária, ajudar a resolver os problemas e as

necessidades de saúde e sobrevivência básica, tomar consciência das complexas

relações entre ciência e sociedade (Furió et al., 2001). Parece válido considerar a

ciência como uma parte da cultura de nosso tempo (Serres, 1991), (2003, p. 97).

A educação científica emerge como elemento necessário no processo educacional,

principalmente, no contexto da sociedade em que o conhecimento é produzido de forma

intensiva. Nesta perspectiva, Demo (2010) esclarece que a educação científica se apoia,

primordialmente, na expectativa da sociedade intensiva do conhecimento, reconhecendo que a

produção do conhecimento inovador se tornou, tanto mais, um divisor de águas em termos de

oportunidades.

Desse modo, a educação científica precisa ser desenvolvida na educação básica a partir da

autonomia dos alunos e professores na produção do conhecimento, e não da repetição

conteúdos, metodologias ou procedimentos, ou seja, “em vez de conhecimento aberto para abrir

as cabeças, oferece-se um pacote fechado que alinha escolas, professores e alunos, de modo

reprodutivo, tacanho. Evitam-se, assim, o estudo, pesquisa, elaboração em nome de propostas

enrijecidas e, na prática, imbecilizantes (DEMO, 2010, p.17)”.

O autor defende que como parte da formação do aluno o processo formativo ocorre

conjuntamente com a construção de conhecimentos, apontando a educação pela pesquisa com

uma relevante perspectiva,

Em geral, vemos pesquisa como iniciativa metodológica e própria de figuras dotadas

de expertise elevada e envoltas em ambientes neutros/objetivos, de gosto positivista.

Pesquisa como modo de produzir conhecimento é referência substancial. Não se trata

de colocar reparos nisso. Trata-se de vincular esta atividade àquela da formação

discente, de tal forma que o processo formativo se gere no próprio processo de

construção do conhecimento. Quando o aluno aprende a lidar com método, a planejar

e a executar pesquisa, a argumentar e a contra-argumentar, a fundamentar com a

autoridade do argumento, não está só ‘fazendo ciência’, está igualmente construindo

a cidadania que sabe pensar. Esta visão teria ainda a vantagem de procurar alguma

distância frente às expectativas do mercado que, invariavelmente, não leva em conta

o desafio da formação cidadã. Para o mercado, educação científica se reduz a

estratégia de competitividade globalizada. Esta perspectiva permanece importante,

porque seria tolo ignorar o mercado. Mas não se pode esquecer que estamos falando

de ‘educação científica’, ou seja, de um processo educativo (DEMO, 2010, p.20).

A centralidade no processo de formação envolve a educação pela pesquisa destacando-a

como perspectiva que pode contribuir com a educação científica, a qual não pode preocupa-se

apenas com as questões de preparação para o mercado, mas, sobretudo, da formação do cidadão.

E adverte que em “termos práticos, a educação científica aponta para a necessidade de recuperar

o nosso atraso na esfera das ciências e que aparece em inúmeras dimensões: falta de professores

básicos em matemática e ciências; licenciaturas consideradas ineptas e obsoletas; desempenho

mais que pífio dos alunos nessas áreas; afastamento e desapreço comum dos pedagogos frente

à matemática e às ciências; atraso lancinante da pedagogia nesta parte, sem falar no

desconhecimento dos desafios virtuais (2010, p.20)”.

Demo (2010) também destaca que a educação em ciências precisa ser desenvolvida com

seriedade e compromisso e que não seja efetivada através de iniciativas eventuais e apelativas,

defende que:

A ideia mais apropriada é, acima de tudo, cuidar que os alunos aprendam bem na

escola. Dentro deste “aprender bem” (Demo, 2009c) comparecem ciências e

matemática naturalmente. Isto não impede que, circunstancialmente, se dê atenção

redobrada às ciências, desde que se tenha a autocrítica suficiente para reconhecer que

se trata muito mais de recuperar o atraso do que de intensificar aprendizagens já bem

feitas. Fazer melhor o que já se faz bem é uma coisa. Outra coisa é correr, em geral

tropeçando, para alcançar níveis que estão a léguas à nossa frente. Neste sentido,

educação científica implica reconstruir toda nossa proposta de educação básica, não

só para realçar os desafios da preparação científica para a vida e para o mercado, mas

principalmente para implantar processos de aprendizagem minimamente efetivos

(2010 p.20-21).

A educação científica precisa ser desenvolvida tendo como foco o processo educativo, a

formação para a cidadania e a ética, sobretudo, formar estudantes que possam refletir a respeito

das diferentes situações e contribuir para a melhoria da sua qualidade de vida. Para que

educação cientifica tenha o devido impacto estrutural é preciso investir em quatro condições:

reconstruir outras estratégias de aprendizagem, refazer a proposta de formação docente,

transformar as escolas em laboratório de pesquisa e produção do conhecimento, transformar os

alunos em pesquisadores (DEMO, 2010).

Os desafios são muitos para a concretização da educação científica na educação escolar, há

muito que melhorar em vários aspectos: estruturais, no financiamento de pesquisas e projetos,

na formação de professores, na elaboração de políticas e propostas pedagógicas. Portanto,

consideramos com base no que defendem os autores citados que a educação científica

comparece como fundamental para o desenvolvimento dos alunos e para a formação da

cidadania.

3 EDUCAÇÃO CIENTÍFICA: DAS RECOMENDAÇÕES INTERNACIONAIS À

DEFINIÇÃO DE POLÍTICAS LOCAIS.

A educação científica vem se constituindo, na agenda internacional e local, numa temática

urgente, ao se considerar que a ciência e a tecnologia contribuem como fator de

desenvolvimento, mas também pode trazer problemáticas sérias para todos os países. Esta

preocupação foi exposta por Koïchiro Matsuura, ao afirmar que:

[...] é de grande urgência no momento e não pode ser adiado, de forma alguma, por

dois motivos. Por um lado, como é de nosso conhecimento, recentes descobertas de

grande porte nas áreas de ciência e tecnologia são extremamente promissoras para a

melhoria da humanidade. Mas, por outro lado, como bem sabemos, e como é

enfatizado na Declaração de Santo Domingo, as aplicações da ciência e da tecnologia

podem vir a causar danos ao meio-ambiente, geralmente provocando desastres

industriais, ou desestabilizando relações sociais locais. Ainda temos contato com

grandes porções da população mundial que são excluídas dos tão sonhados benefícios

que surgem com o desenvolvimento (UNESCO, 2003, p.7).

Há o reconhecimento de que a ciência e a tecnologia podem contribuir com a melhoria das

condições de vida da humanidade, há receio quanto aos possíveis danos ou desastres que podem

causar, e ainda a constatação que há uma população excluída de seus benéficos. Além destes

aspectos, Macedo e Katzkowicz (2003) esclarecem que a formação científica e tecnológica é

um privilégio de uns poucos, sinalizam que há possibilidade de superar esse privilégio, se

ampliada para diversos setores, possibilitando que a população tenha conheci mentos que lhes

permitam tomar as decisões da vida diária, significa colocar a formação científica necessária e

pertinente à disposição de todos os cidadãos e cidadãs.

O que impõe a necessidade de pensar a ciência, sobretudo, como um direito de todos os

cidadãos, em que a educação científica figura com condição indispensável. Para Macedo e

Katzkowicz (idem), no século XXI, a ciência deva se converter em um bem compartilhado

solidariamente em benefício de todos os povos; que se reconheça a necessidade, cada vez maior,

dos conhecimentos científicos para a tomada de decisões, no setor público como no setor

privado; e que o acesso ao saber científico com fins pacíficos se faça, desde muito cedo, como

parte do direito à educação de todos os sujeitos.

Estes argumentos indicam que a educação científica não pode ficar restrita há poucos

privilegiados, excluindo, principalmente, as mulheres e os pobres de seu acesso, mas deve

desenvolver-se em diversos setores, em especial na educação escolar enquanto um direito.

Neste sentido, a UNESCO defende que:

[...] acesso ao conhecimento científico, a partir de uma idade muito precoce, faz parte

do direito à educação de todos os homens e mulheres, e que a educação científica é de

importância essencial para o desenvolvimento humano, para a criação de capacidade

científica endógena e para que tenhamos cidadãos participantes e informados (2003,

p.29).

Os argumentos em defesa da educação científica e tecnológica, enquanto instrumento que

pode contribuir para diminuir as desigualdades sociais e de gênero, na harmonia com a natureza,

do desenvolvimento sustentável trazem responsabilidades para as autoridades que assinaram a

Declaração de Budapeste. De acordo com Macedo e Katzkowicz (2003) estas autoridades

assumiram o compromisso de que o ensino científico, em sentido amplo, sem discriminação e

abrangendo todos os níveis e modalidades, é um requisito prévio e essencial da democracia e

do desenvolvimento sustentável.

Com este compromisso firmado foi organizada uma “Agenda para a ciência: base de

ação” em que se definiram diretrizes operacionais: Ciência para o conhecimento:

conhecimento para o progresso; Ciência para a paz e para o desenvolvimento; Ciência na

sociedade e para a sociedade. No que se refere à educação científica, há recomendações

relativas ao seu desenvolvimento, onde se apontou demandas para a elaboração de políticas

públicas e educacionais em diferentes âmbitos: de combate ao preconceito de gênero e aos

pobres, na formação dos professores, orientações para os sistemas de ensino, as instituições

educacionais.

Após dez anos foi elaborada a Declaração da América Latina e Caribe no Décimo

Aniversário da Conferência Mundial sobre Ciência em 2009, os representantes se reuniram para

analisar os progressos e os resultados alcançados durante a última década, no sentido de propor

novas ações futuras de forma a cumprir os acordos definidos nos documentos da Conferência

Mundial sobre Ciência. Neste momento reconhecerem que o cenário mundial exige maiores

esforços para consolidar o proposto na Conferência em Budapeste, verificou-se que houve,

[...] progressos muito heterogêneos, como o crescimento desigual do número de

profissionais envolvidos com as atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e a

forma como a ciência e a tecnologia respondem às demandas socioeconômicas nas

diferentes regiões do planeta. Ainda, observou-se que muitas das metas almejadas nos

documentos da Conferência Mundial sobre Ciência de Budapeste estão longe de

serem alcançadas. Destacou-se a permanência da concentração da produção e da

absorção do conhecimento, principalmente nos países desenvolvidos, o que tem

contribuído para aumentar a distância tecnológica entre esses países e aqueles ainda

em desenvolvimento. Também, reconheceu-se que a intensificação das relações

globalizadas e da internacionalização da produção científica e tecnológica continua

limitada por restrições na circulação e na divulgação do conhecimento produzido

(UNESCO, 2009, p.2-3).

O que levou ao entendimento de que é preciso aumentar significativamente as capacidades

em ciência, tecnologia e inovação na América Latina e Caribe; reduzir, por um lado, as

disparidades internas da ALC (América Latina e Caribe) e, por outro, suas diferenças em relação

a outras regiões mais avançadas nos campos científico-tecnológicos; contribuir com a

elaboração e a implementação de estratégias de desenvolvimento baseadas na capacidade de

gerar, apropriar e utilizar conhecimento; potencializar a contribuição da CTI (ciência,

tecnologia e inovação) para fortalecer a competitividade; estimular a participação cidadã;

melhorar a qualidade de vida; conservar o meio ambiente; ampliar as oportunidades de

emprego; reduzir a exclusão social; estimular a cooperação regional; promover a solução

pacífica dos conflitos e desenvolver uma cultura de paz em todos os âmbitos e níveis. Portanto,

é necessário e urgente articular políticas, elaborar estratégias coordenadas e linhas de ação

específicas para os países da região (UNESCO, 2009).

Nesta reunião definiram um Programa Estratégico Regional, com orientação para o

desenvolvimento de diferentes políticas: Políticas Públicas para a Inovação; Políticas Públicas

de Educação; Políticas de Divulgação, Popularização e Apropriação da Ciência, Tecnologia e

Inovação; Políticas de Acesso e Difusão da Informação Científica e Tecnológica; Políticas de

Redução de Riscos de Desastres; Políticas de Ética, Ciência, Tecnologia e Sociedade.

As políticas públicas para a educação indicam a necessidade uma política de longo prazo,

que devem ser priorizadas para conseguir alcançar os objetivos propostos para o

desenvolvimento da ciência, da tecnologia e da inovação na educação escolar, bem como, na

educação não formal.

A conferência e as declarações para a ciência apontam a necessidade de políticas públicas

e educacionais para o seu desenvolvimento. Diante disto, verificamos quais foram as

influências destas recomendações nas políticas educacionais e curriculares do país, a partir do

recorte de dois documentos legais: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB n°.

9.394/1996 e nas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica – DCNGEB,

após análise verificamos a ausência dos descritores (educação científica e/ou educação em

ciências) nestes documentos, o que não quer dizer que não esteja presente a preocupação com

a educação científica na educação escolar.

Verificamos que a UNESCO (2003, 2009) apresenta recomendações para a educação

escolar, as quais se concentram em três pontos centrais: a formação e valorização docente; os

sistemas de ensino e organização curricular; ampliação da educação científica nas instituições

educacionais (educação contínua com foco na educação científica, técnica e vocacional, e

melhoria da educação científica e tecnológica). Abordaremos somente o tópico que trata dos

sistemas de ensino e organização curricular.

No que tange aos sistemas de ensino aponta-se a necessidade de elaboração de novos

currículos, metodologias e novos recursos, ou seja, devem ser desenvolvidos pelos sistemas

educacionais nacionais novos currículos, metodologias de ensino e novos recursos que levem

em conta o gênero e a diversidade cultural, como resposta às mudanças ocorridas nas

necessidades educacionais das sociedades (UNESCO, 2003).

Em nosso país, os sistemas de ensino (federal, estadual e municipal) são incumbidos de

organizar, manter e desenvolver os seus respectivos sistemas, contudo, são definidas

competências específicas, respeitando-se suas peculiaridades. Atualmente, a União é incumbida

de estabelecer, em colaboração com os estados, o Distrito federal e aos municípios,

competências e diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que

nortearão os currículos e os conteúdos mínimos de modo a assegurar a base nacional comum

(LBD, 1996, IV, art. 9). As responsabilidades delegadas aos sistemas de ensino são muitas e se

constituem desafios, para o desenvolvimento da educação científica no currículo da educação

básica.

A LDB (1996) preconiza que a educação básica abrange os processos formativos que se

desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino

e pesquisa, nos movimentos sociais e as organizações da sociedade civil e nas manifestações

culturais (art. 1°), bem como, deve ser articulada ao mundo do trabalho e à prática social,

conforme parágrafo segundo. Neste sentido, a educação básica assume o compromisso de

articular as questões que envolvem a vida na sociedade, assegurando à formação comum,

indispensável à formação para a cidadania e fornece-lhes os meios para progredir no trabalho e

nos estudos posteriores (art. 22).

No Parecer CNE/CEB n°. 7/2010 há observância do artigo 1º da Constituição Federal, que

trata dos princípios fundamentais da cidadania e da dignidade da pessoa humana, do pluralismo

político, dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. Nessas bases, assentam-se os

objetivos nacionais e, por consequência, o projeto educacional brasileiro: construir uma

sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a

marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos sem

preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Além disso, o referido Parecer (2010) reafirma a garantia de que a educação básica é um

direito universal e alicerce indispensável para a capacidade de exercer em plenitude o direto à

cidadania. É o tempo, o espaço e o contexto em que o sujeito aprende a constituir e reconstituir

a sua identidade, em meio a transformações corporais, afetivoemocionais, socioemocionais,

cognitivas e socioculturais, respeitando e valorizando as diferenças. Liberdade e pluralidade

tornam-se, portanto, exigências do projeto educacional.

Desse modo, esclarecem que para alcançar inclusão social a educação escolar deve

fundamentar-se na ética e nos valores da liberdade, na justiça social, na pluralidade, na

solidariedade e na sustentabilidade, cuja finalidade e o pleno desenvolvimento de seus sujeitos,

nas dimensões individual e social de cidadãos conscientes de seus direitos e deveres,

compromissados com a transformação social (Parecer CNE/CEB n°. 7/2010).

As DCNGEB (2010) ao tratar do acesso e permanência para a conquista da qualidade social

(Título IV) acrescenta no art. 9º, que a escola de qualidade social adota como centralidade o

estudante e sua aprendizagem, o que pressupõe atendimento de nove requisitos, dentre os quais

se destaca: IX - a realização de parceria com órgãos, tais como os de assistência social e

desenvolvimento humano, cidadania, ciência e tecnologia, esporte, turismo, cultura e arte,

saúde, meio ambiente. Emergindo questões relacionadas à ciência e a tecnologia e ao meio

ambiente.

Apesar de afirmar a relevância da ciência e da tecnológica, verificamos que a educação

científica não é contemplada desde a tenra idade (educação infantil) nestes documentos, ou seja,

a apesar de se considerar o desenvolvimento dos aspectos físico, afetivo, intelectual e social,

não há menção ao desenvolvimento da educação científica na infância, seja na LDB (1996) ou

nas DCNGEB (2010). Em contrapartida, verificou-se esta preocupação no Parecer CNE/CEB

n° 7/2010 ao afirmar a necessidade de superar a distância entre as tecnologias da informação

e comunicação nas escolas, mediante a aproximação destes recursos tecnológicos para

estimular e criar novos métodos didáticos-pedagógicos, tendo em vista que “o conhecimento

científico, nos tempos atuais, exige da escola o exercício da compreensão, valorização da

ciência e da tecnologia desde a infância e ao longo de todo a vida em busca da ampliação do

conhecimento científico: uma das condições para exercício da cidadania (2010, p.21)”.

No ensino fundamental, obrigatório, com duração de nove anos e gratuito na escola pública,

iniciando-se aos seis anos de idade, deverá formar o cidadão (LDB, 1996, art. 32), assim

descritas: I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno

domínio da leitura, da escrita e do cálculo; II – a compreensão do ambiente natural e social, do

sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade. Isto

é confirmado nas DCNGEB verifica-se que há a indicação dos conhecimentos que devem ser

trabalhados no ensino fundamental, recomendado no art. 24, inciso III onde há referência às

ciências naturais.

No ensino médio a LBD (1996) aponta aspectos abrangentes para a educação científica, o

currículo deverá observará o disposto na Seção I e as seguintes diretrizes (art. 36): I – destaca

a educação tecnológica básica, a compreensão do significado da ciência, das letras e das artes;

o processo histórico de transformação da sociedade e da cultura; a língua portuguesa como

instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania.

Ainda a LDB (1996, art. 36, §1°) indica aspectos relevantes para o desenvolvimento da

educação científica, ampliando as possibilidades do currículo, ao assegurar que os conteúdos,

as metodologias e as formas de avaliação serão organizados de tal forma que ao final do ensino

médio o educando demonstre: I – domínio dos princípios científicos e tecnológicos que

presidem a produção moderna.

Verifica-se que a preocupação com a educação científica emerge explicitamente no ensino

médio, havendo, portanto, direcionamento para a compreensão do significado da ciência, e dos

princípios científicos e tecnológicos. Os quais são ratificados nas DCNGEB (2010, art.26)

dentre os princípios e finalidades do ensino médio destaca-se: IV - a compreensão dos

fundamentos científicos e tecnológicos presentes na sociedade contemporânea, relacionando a

teoria com a prática.

Desse modo, o ensino médio deve ter uma base unitária sobre a qual podem se assentar

possibilidades diversas como preparação geral para o trabalho ou, facultativamente, para

profissões técnicas; na ciência e na tecnologia, como iniciação científica e tecnológica; na

cultura, como ampliação da formação cultural (DCNGEB, 2010, art. 26, §1°). No que tange a

Educação Profissional e Tecnológica também se preceitua que no cumprimento dos objetivos

da educação nacional, integra-se aos diferentes níveis e modalidades de educação e às

dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia, e articula-se com o ensino regular e com

outras modalidades educacionais: Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial e

Educação a Distância (art. 30, DCNGEB, 2010).

Diante do exposto, verificamos que o currículo da educação básica contempla aspectos

relacionados à ciência e a tecnologia, contudo, estes aspectos são expressos de forma contun-

dente na formação de estudantes do ensino médio e tecnológico, do que no ensino fundamental,

na contrapartida não há explicitamente indicação do desenvolvimento da educação científica

na infância. Apesar de evidenciarmos que há documentos curriculares, como: Referencial Cur-

ricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) que apresenta um documento que trata do

Conhecimento de Mundo e neste está incluso entre os objetos de conhecimento A Natureza e a

Sociedade, este eixo de “trabalho reúne temas pertinentes ao mundo social e natural. A intenção

é que o trabalho ocorra de forma integrada, ao mesmo tempo em que são respeitadas as especi-

ficidades das fontes, abordagens e enfoques advindos dos diferentes campos das Ciências Hu-

manas e Naturais (1998, p.163)”. É importante salientar que apesar de haver um eixo em que

se deve trabalhar com as ciências naturais no RCNEI (1998) não vislumbramos indicação clara

do desenvolvimento da educação científica na LDB (1996) e nas DCNGEB (2010) para a in-

fância.

No que tange a responsabilidade das instituições educacionais com a educação científica,

verificamos que as recomendações da UNESCO (2003) reconhecem seu papel na formação dos

estudantes, os quais devem ser incentivados no processo decisório relativo à educação e à

pesquisa. Esta questão sugere que o processo educativo deve pautar-se na associação de

conhecimentos científicos, na pesquisa e na tomada de decisões, em que os estudantes sejam

realmente considerados enquanto sujeitos ativos e não meros receptores dos conhecimentos, na

maioria das vezes os professores trabalham de forma descontextualizados.

Além disso, destaca-se que as instituições educacionais devem oferecer educação científica

básica a estudantes de outras áreas que não a das ciências. Elas devem também fornecer

oportunidades para o aprendizado de ciências ao longo de toda a vida (UNESCO, 2003).

Reconhecemos que outros estudantes de áreas distintas precisam ter acesso à educação

científica, entretanto, é válido destacar que as instituições de ensino na maioria das vezes, não

possuem as mínimas condições de estrutura física, material e de recursos humanos, falta

investimentos e acompanhamento dos responsáveis pelas redes de ensino, sobretudo, apoio para

o desenvolvimento de projetos e metas educacionais.

A educação científica surge como necessária para as demais áreas do currículo, mas não

podemos desconsiderar que as instituições de ensino, muitas vezes, não possuem professores

formados para atender a demanda das disciplinas de Ciências

Naturais/Biologia/Química/Física, o que sugere a necessidade de pensar processos de formação

que contemple a educação científica para professores que expressassem este interesse, contudo

este é mais um desafio para ampliar a educação científica na educação básica.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os documentos internacionais produzidos pela UNESCO destacam a necessidade do

desenvolvimento da educação científica no processo de escolarização em virtude da

necessidade de formar cidadãos comprometidos e que saibam se posicionar frente aos fatos e

acontecimentos do cotidiano, e sobretudo, na perspectiva da inclusão social.

No contexto local a preocupação com a ciência e a tecnologia se expressa nas políticas

educacionais e curriculares, as quais podem ter diferentes influências não somente da

UNESCO, mas também de pesquisadores e estudiosos que desde a década de 1980 vem

contribuindo com as discussões a respeito da formação de cidadãos e cidadãs para a tomada

responsável de decisões (DEMO, 2010; CHASSOT, 2001, 2003; SANTOS, 2007, 2008;

LINSINGEN, 2007; SANTOS, MORTIMER, 2001). Mas não podemos negar que esta

empreitada requer maiores compromissos de todos os envolvidos e responsáveis pela educação

escolar.

Consideramos que a educação científica não está explicitamente contemplada nos

documentos legais (LDB, 1996; DCNGEB, 2010), para todas as etapas da educação básica,

restringindo-se as disciplinas responsáveis pelo conhecimento físico e natural; verifica-se maior

ênfase no ensino médio, ampliando a compreensão de ciência e de outros aspectos relacionado

à ciência e a tecnologia, e também, na educação profissional e tecnológica. O que reforça a

primazia de se trabalhar a educação científica desde a infância até o ensino médio, de forma

integrada no currículo e na perspectiva da formação para a cidadania.

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SCIENCE IN EDUCATION CURRICULUM OF BASIC EDUCATION

Abstract: Science education during the last decades is becoming an essential process in the

education and training of citizens (KRASILCHIK, 2000, SANTOS, 2007; CHASSOT, 2001,

2003; DEMO, 2010), especially in the perspective of social inclusion. In this article we analyze

the document "Science for the twenty-first century: a new vision and a basis for action" produced

by UNESCO with the aim we have verified the influences of these guidelines in educational and

curricular policies for the development of science education in the curriculum basic education.

Found that science education is not explicitly contemplated in the Law of Directives and Bases

of National Education (1996) and the National Curriculum Guidelines for General Basic

Education (2010), limiting in the disciplines responsible for the physical and natural knowledge

in elementary school; there is greater emphasis on secondary education, expanding the

understanding of science and other aspects related to science and technology, and also in

professional and technological education. This reinforces the primacy of working science

education from early childhood through high school, in an integrated manner in the curriculum

and the prospect of training for citizenship.

Key-words: Science Education, School curriculum, Basic education.