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APLICAÇÃO DA INTEGRAL NA DETERMINAÇÃO DE CARACTERÍSTICAS GEOMÉTRICAS DE SEÇÕES PLANAS DE ESTRUTURAS EM BARRAS Rogério Simões [email protected] Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC Rua Doutor Getúlio Vargas, 2822 Ibirama Santa Catarina Ivanete Zuchi Siple [email protected] Universidade do Estado de Santa Catarina UDESC Rua Paulo Malschitzki, s/n, Campus Universitário Prof. Avelino Marcante, Bairro Zona Industrial Norte Joinville Santa Catarina Elisandra Bar de Figueiredo [email protected] Universidade do Estado de Santa Catarina UDESC Rua Paulo Malschitzki, s/n, Campus Universitário Prof. Avelino Marcante, Bairro Zona Industrial Norte Joinville Santa Catarina Resumo: Neste trabalho apresentamos uma investigação desenvolvida na disciplina de Mecânica dos Sólidos num curso de Engenharia de uma Universidade Pública envolvendo o uso da integral definida num problema de cálculo de características geométricas dos elementos estruturais em forma de barra. Essa investigação explora aplicações do cálculo contempladas no material didático elaborado pelo professor da disciplina. Neste artigo, trazemos aplicações nas quais é possível estabelecer as conexões com o cálculo, evidenciando a importância do domínio da ferramenta matemática e das reflexões na prática pedagógica, tanto do professor de Cálculo, quanto do Engenheiro. Palavras-chave: Aplicações da Integral Definida; Ensino de Cálculo; Características Geométricas de Seções Planas.

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APLICAÇÃO DA INTEGRAL NA DETERMINAÇÃO DE

CARACTERÍSTICAS GEOMÉTRICAS DE SEÇÕES PLANAS DE

ESTRUTURAS EM BARRAS

Rogério Simões – [email protected]

Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC

Rua Doutor Getúlio Vargas, 2822

Ibirama – Santa Catarina

Ivanete Zuchi Siple – [email protected]

Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC

Rua Paulo Malschitzki, s/n, Campus Universitário Prof. Avelino Marcante, Bairro Zona

Industrial Norte

Joinville – Santa Catarina

Elisandra Bar de Figueiredo – [email protected]

Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC

Rua Paulo Malschitzki, s/n, Campus Universitário Prof. Avelino Marcante, Bairro Zona

Industrial Norte

Joinville – Santa Catarina

Resumo: Neste trabalho apresentamos uma investigação desenvolvida na disciplina de

Mecânica dos Sólidos num curso de Engenharia de uma Universidade Pública envolvendo o

uso da integral definida num problema de cálculo de características geométricas dos

elementos estruturais em forma de barra. Essa investigação explora aplicações do cálculo

contempladas no material didático elaborado pelo professor da disciplina. Neste artigo,

trazemos aplicações nas quais é possível estabelecer as conexões com o cálculo,

evidenciando a importância do domínio da ferramenta matemática e das reflexões na prática

pedagógica, tanto do professor de Cálculo, quanto do Engenheiro.

Palavras-chave: Aplicações da Integral Definida; Ensino de Cálculo; Características

Geométricas de Seções Planas.

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1. INTRODUÇÃO

Um dos grandes desafios no ensino da matemática em nível superior ainda é, sem dúvida,

a tão famosa relação entre teoria e prática, especialmente no ensino de Cálculo Diferencial e

Integral. A questão latente: que matemática é necessária ensinar aos estudantes de

Engenharia? já foi tema de discussão de um simpósio de ensino de engenharia, envolvendo

matemáticos e engenheiros, ocorrido em 1907, na Universidade de Chicago, evidenciando que

não é recente a preocupação com a Matemática ensinada no ensino superior (SLAUGHT

1908, apud GOMES 2009).

O ensino e aprendizagem do Cálculo Diferencial e Integral, para professores e alunos,

revelam-se como uma tarefa ao mesmo tempo atraente e difícil, pois proporciona um campo

fértil para as aplicações em diferentes áreas de formação, porém exige conhecimentos nessas

diversas áreas e requer uma mobilidade na prática docente. Além disso, outro obstáculo

enfrentado pelo professor é como superar as dificuldades que os alunos apresentam ao

utilizarem a matemática como ferramenta numa situação problema. Em muitos casos o aluno

entende o contexto da aplicação, porém a fragilidade do conhecimento matemático faz com

que ele não tenha êxito na resolução do problema. Por outro lado, ocorre a situação contrária.

O aluno sabe trabalhar com as ferramentas, como por exemplo, técnicas de derivação e

integração de funções, mas não consegue estabelecer conexões dessas ferramentas num

problema prático e nem relacioná-las com a formação posterior em disciplinas especificas.

Defendemos a ideia de que o ensino da técnica é fundamental, porém a técnica isolada

não possibilita uma aprendizagem significativa. Acreditamos que o ensino pode tornar-se

mais significativo se o professor preocupar-se em saber em que e como são aplicados, no

curso de formação, os conteúdos ensinados. Essa prática pedagógica, diferentemente da

metodologia tradicional que envolve essencialmente as técnicas de transmissão de

conhecimento, memorização e repetição de exercícios, pode motivar os alunos e propiciar-

lhes uma matemática significativa na sua área de atuação. Com essa prática é possível

trabalhar com o conteúdo programático de uma disciplina estabelecendo possíveis conexões

com outras, sejam elas anteriores ou posteriores na grade curricular. De acordo com

FIGUEIREDO et al. (2012) essa prática suscita uma questão, a qual deveria ser inerente ao

trabalho do docente: por quanto tempo um professor, em sua respectiva disciplina, pára para

pensar sobre o que está ensinando? A resposta a esse questionamento leva o professor a

refletir sobre a gênese do conteúdo ensinado, a relação desse conteúdo com as demais

disciplinas e a sua importância na formação do acadêmico.

SILVA e NETO (2012) também abordam essa problemática no ensino do cálculo,

enfatizando que o professor ao ensinar tal disciplina deve levar em consideração a própria

epistemologia histórica do cálculo, levando em consideração sua gênese e desenvolvimento.

Entretanto observam que Tradicionalmente, as formas de trabalho mais utilizadas em sala de aula continuam

sendo o uso do livro-texto, a exposição oral e o resumo de matérias, coadjuvados por

exercícios passados no quadro. A tendência natural é manter uma unidade de

conhecimento básico para todos os estudantes, de modo a proporcionar uma

formação unitária e sólida de matemática. Os professores, em sua maioria, não

propõem pesquisas para os alunos realizarem e, em geral, o livro texto funciona

como fonte única de informação teórica e aplicação. Como qualquer livro texto tem

suas limitações, haverá sempre necessidade de se produzir dados adicionais, mais

abrangentes, voltados aos interesses dos alunos e dos cursos a que pertencem, de tal

modo que percebam a importância daquilo que estão estudando na contextura de

suas especialidades (SILVA & NETO, 2012, p.5.)

Com base nesse panorama, os educadores que ministram disciplinas de cálculo sentem-se

desafiados a identificar estratégias de ensino que contemplem tais especialidades. Neste

trabalho, apresentamos uma aplicação da integral definida, oriunda de um trabalho

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colaborativo entre professores de Cálculo e de disciplinas específicas de Engenharia. O

principal objetivo dessa aplicação é propiciar a relação entre “teoria e prática”, auxiliando

professor e aluno na compreensão da aplicação da ferramenta Integral num problema de

cálculo de características geométricas dos elementos estruturais em forma de barras que

compõem um edifício (vigas, pilares etc) ou que compõe uma determinada máquina (eixos,

alavancas etc).

Na sequência apresentamos os procedimentos metodológicos, a relação da aplicação com

o conteúdo matemático, uma aplicação e as considerações finais.

2. METODOLOGIA

Dentro da problemática do ensino Cálculo, especificamente o de integral definida, a

questão norteadora desse trabalho foi: Quais ferramentas do cálculo o(s) professor(es) de

Engenharia utiliza(m) em sua(s) disciplina(s) específica(s)?

Assim, num primeiro momento, selecionamos um professor que usa as ferramentas de

cálculo na disciplina de Mecânica dos Sólidos do Curso de Engenharia Sanitária de uma

Universidade Pública. A escolha baseou-se nos seguintes fatores: acesso ao material da

disciplina, disponibilidade e colaboração do professor para estabelecer a transposição do

problema físico para a modelagem matemática.

Com o intuito de responder a questão proposta, utilizamos como estratégia metodológica

uma investigação das aplicações contempladas no material didático elaborado pelo professor

da referida disciplina. Neste artigo, trazemos aplicações nas quais é possível estabelecer as

conexões com o cálculo, evidenciando a importância do domínio da ferramenta matemática e

das reflexões na prática pedagógica, tanto dos professores de Cálculo, quanto do Engenheiro.

3. CARACTERÍSTICAS GEOMÉTRICAS DE SEÇÕES DE BARRAS

Existem muitas aplicações da integral definida na Engenharia. No caso específico da

Engenharia Civil e da Engenharia Mecânica, para o cálculo dos elementos estruturais em

forma de barra que compõem um edifício (vigas, pilares etc) ou que compõe uma determinada

máquina (eixos, alavancas etc) são importantes algumas características geométricas das

seções desses elementos estruturais, como por exemplo, centroide, momentos de primeira

ordem ou momentos de inércia, os quais podem ser determinados utilizando a integral

definida.

O cálculo dessas características geométricas pode ser simplificado, quando a seção

apresentar uma forma simples (retângulo, círculo, triângulo etc.) ou uma associação dessas

formas geométricas, mas essa simplificação nem sempre é possível, pois muitas vezes as

formas atribuídas aos elementos estruturais por arquitetos levam a seções dos elementos

estruturais bem complexas (principalmente quando se utiliza funções algébricas para se

determinar a forma dessas seções), necessitando um estudo mais aprofundado para o cálculo

de suas características geométricas.

Na sequência explanaremos como determinar matematicamente essas características

geométricas de uma dada estrutura.

3.1. Centroide da Seção de uma Estrutura em Barra

O centroide pode ser definido como sendo o centro geométrico de um corpo, de uma

superfície ou de uma linha. No caso específico de estruturas em barras é interessante conhecer

o centroide da seção dessa barra. Normalmente a determinação da posição do centroide é

simples devido às formas geométricas usuais das seções das estruturas em barras (círculos,

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retângulos ou associação dessas formas), mas em muitos casos essa determinação não é tão

simples. Matematicamente o centroide de uma seção é dado pelo ponto cujas coordenadas são

obtidas pelas médias das coordenadas de todos os pontos da forma geométrica que compões

esta seção. O conhecimento da posição do centroide de uma seção é de extrema importância

em mecânica dos materiais quando se trabalha com estruturas em barras submetidas a

esforços normais (tração e compressão) ou barras submetidas à flexão, pois sem esta posição

não se consegue, dentre outros fatores, determinar a distribuição das tensões que atuam ao

longo da seção da barra.

Para se determinar o centroide, considere uma superfície plana, de área A, contida no

plano yz, de peso W aplicado no centroide dessa superfície (ponto C), como indicado na

Figura 1a. Essa superfície é equivalente à outra superfície dividida em n áreas ΔAi de

respectivos pesos ΔWi aplicados em seus respectivos centroides, como indicado na Figura 1b.

Figura 1 – Equilíbrio de uma Superfície Plana

Como as duas superfícies são equivalentes e estão em equilíbrio em relação ao sistema de

coordenadas dado, pode-se dizer que o torque que a força W gera ao redor dos eixos y e z na

Figura 1a (esforço de giro da força W posicionada no centroide da superfície, ao redor dos

eixos y e z) é igual à somatória dos torques das n forças ΔWi, correspondente a cada elemento

de área ΔAi (Figura 1b) ao redor dos mesmos eixos, descrito pelas equações (1) e (2). Deve-se

lembrar que o torque de uma força em relação a um eixo é dado pela multiplicação do módulo

da força pela distância perpendicular ao eixo ao qual se quer obter o torque.

Também se pode dizer que a somatória das n forças ΔW (na direção x) será igual à força

W, ou seja:

x

y

z

O

zc

yc

W

C

x

y

z

O

ΔWi

ΔAi

(a) (b)

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Se cada elemento de área ΔAi tender a zero (consequentemente n→∞), pode-se reescrever

as equações (1), (2) e (3) como sendo:

(4)

(5)

(6)

Caso a superfície seja homogênea e de espessura uniforme (nesse caso o centroide da

superfície irá coincidir com o seu centro de gravidade), pode-se escrever:

(7)

(8)

sendo:

γ – peso específico da superfície, por unidade de volume;

t – espessura da superfície;

A e dA – área e diferencial de área da superfície, respectivamente.

Substituindo as equações (7) e (8) nas equações (4), (5) e (6), obtêm-se:

(9)

(10)

(11)

Como o peso específico da superfície (γ) e a espessura da superfície (t) são considerados

constantes para uma seção de uma estrutura em barra, as equações (9), (10) e (11) podem ser

simplificadas, obtendo-se:

(12)

(13)

(14)

Deve-se lembrar de que o diferencial de área é dado por dA=dy.dz, logo as integrais das

equações (12), (13) e (14) são integrais duplas, ou seja, são integrais sobre uma área nas

coordenadas y e z. Utilizando essas equações, consegue-se determinar o centroide da seção de

uma barra por integração direta.

3.2.Momentos de Primeira Ordem da Seção de uma Estrutura em Barra

Os momentos de primeira ordem da seção de uma estrutura em barra são utilizados em

mecânica dos materiais quando se faz necessária a determinação das tensões cisalhantes em

barras (tensões que estão contidas no plano da seção, ou seja, no plano yz), geralmente

produzidas pela ação de carregamentos transversais. Os momentos de primeira ordem estão

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associados à resistência geométrica da seção da barra em suportar a ação dessas tensões

cisalhantes.

A integral da equação (12) é conhecida como o momento de primeira ordem da seção de

área A em relação ao eixo y, representada por Qy:

(15)

Analogamente, a integral da equação (13) define o momento de primeira ordem da seção

de área A em relação ao eixo z (Qz):

(16)

Como o resultado das integrais das equações (15) e (16) irão fornecer grandezas

geométricas elevadas à terceira potência, no S.I., os momentos de primeira ordem são

expressos em [m3].

3.3. Momentos de Inércia da Seção de uma Estrutura em Barra

Os momentos de segunda ordem da seção de uma estrutura em barra, ou também

conhecidos como momentos de inércia, são utilizados em mecânica dos materiais quando se

faz necessária a determinação das tensões normais em barras quando essas estão submetidas à

flexão (tensões perpendiculares ao plano da seção, ou seja, perpendiculares ao plano yz,

variando linearmente ao longo da seção), que podem ser produzidas pela ação de

carregamentos transversais ou de forças de giro (na Engenharia Civil conhecidas como

momentos fletores). Os momentos de inércia estão associados à resistência geométrica da

seção da barra em suportar a ação dessas tensões normais que produzem uma flexão da barra.

Conforme dedução apresentada em BEER et al. (2006, p. 473-474) pode-se definir os

momentos de inércia de uma seção como sendo:

(17)

(18)

sendo Iy o momento de inércia em relação ao eixo y e Iz o momento de inércia em relação ao

eixo z. Como o resultado das integrais das equações (17) e (18) irão fornecer grandezas

geométricas elevadas à quarta potência, no S.I., os momentos de inércia são expressos em

[m4].

Ao contrário dos momentos de primeira ordem, os momentos de inércia de uma seção

sempre serão positivos (pois as coordenadas y e z estão elevadas ao quadrado). Como dito

anteriormente, essa característica geométrica das seções está diretamente ligada a problemas

de flexão de estruturas compostas por barras e sempre será necessário o seu cálculo em

relação aos eixos centroidais da seção, ou seja, os eixos y e z que passam pela posição do

centroide da seção. Na maioria das vezes, esse cálculo, se torna mais fácil com a utilização do

Teorema dos Eixos Paralelos ao invés de se proceder ao cálculo dos momentos de inércia

diretamente em relação aos eixos centroidais.

Para descrever o Teorema dos Eixos Paralelos, considere a seção de área A (Figura 2) na

qual se conhece o momento de inércia I em relação a um eixo AA’.

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Figura 2 – Teorema dos Eixos Paralelos para uma Seção de área A

Representando por y a distância entre um elemento de seção de área dA e o eixo AA’

(Figura 2) e utilizando a equação (18), pode-se escrever:

(19)

Traçando agora um eixo BB’, paralelo a AA’ a uma distância d do eixo AA’, que passa

pelo centroide C da seção (denominado eixo centroidal), com distância entre o elemento de

seção de área dA e o eixo BB’, pode-se escrever:

(20)

Substituindo a equação (20) na equação (19), obtêm-se:

(21)

Expandindo-se o termo dentro da integral da equação (21), obtêm-se:

(22)

A primeira integral representa o momento de inércia da seção em relação ao eixo

centroidal BB’ ( ). A segunda integral representa o momento de primeira ordem da seção em

relação ao eixo centroidal BB’ e, o valor do momento de primeira ordem em relação a um

eixo que passa pelo centroide da seção sempre será igual à zero, pois se a área for dividida em

duas regiões (uma acima do eixo centroidal e outra abaixo desse eixo) os valores obtidos para

o momento de primeira ordem dessas regiões serão iguais em módulos, mas possuirão sinais

opostos, logo resultando em um momento de primeira ordem final igual a zero. A terceira

integral representa a área A da seção. Desta forma, obtêm-se:

(23)

A equação (23) é conhecida como Teorema dos Eixos Paralelos, ou seja, o momento de

inércia de uma seção em relação a um eixo qualquer é igual à soma do momento de inércia

em relação ao eixo paralelo que passa pelo centroide da seção ( ) com o produto da área da

seção (A) com a distância perpendicular entre o eixo e o centroide da seção elevada ao

quadrado (d2).

Logo, utilizando os eixos coordenados y e z, pode-se escrever a equação (23) como

sendo:

(24)

C

A A’

B B’ y

dA

d

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(25)

Desta forma, a determinação dos momentos de inércia em relação aos eixos centroidais

pode ser realizada utilizando-se os mesmos limites de integração para a obtenção do centroide

da seção e aplicando-se posteriormente o Teorema dos Eixos Paralelos por meio das equações

(24) e (25). Esses momentos de inércia em relação aos eixos centroidais serão utilizados para

se determinar a resistência das barras em relação a esforços de flexão. Se esses eixos

centroidais não corresponderem a pelo menos um eixo de simetria da seção, será necessária

ainda a determinação dos eixos principais de inércia obtidos através de uma rotação destes

últimos, mas essa determinação não será objeto de estudo deste artigo.

4. APLICAÇÃO

Supondo-se que um arquiteto projetou uma viga com seção transversal como apresentada

na Figura 3 (Adaptado de BEER et al., 2006, p.245) com o intuito de ter essa viga, além da

função estrutural, também a função de escoamento de água da chuva do telhado de uma casa.

Sabendo-se que essa barra está sujeita a um carregamento transversal proveniente do peso

próprio da viga e do peso na água que pode estar sobre ela, procederemos ao cálculo das

características geométricas desta seção necessárias para o seu posterior dimensionamento.

Observem que todo o cálculo dessas características será feito de forma genérica (sem a

utilização de valores fixos), pois no dimensionamento de estruturas desse tipo se faz

necessário muitas vezes adequar as dimensões da seção transversal para se ter um melhor

dimensionamento da estrutura como um todo, inclusive com o teste de materiais diferentes e

com resistências mecânicas diferentes.

Figura 3 – Exemplo de Seção Transversal

Para a determinação da área da seção será utilizado a equação (14):

Para a determinação dos momentos de primeira ordem serão utilizadas as equações (15) e

(16):

L L

a

z

y

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Para a determinação da posição do centroide serão utilizadas as equações (12) e (13):

Para determinar os momentos de inércia da seção em relação aos eixos dados serão

utilizadas as equações (17) e (18):

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Para a determinação dos momentos de inércia da seção em relação aos eixos centroidais

serão utilizadas as equações (24) e (25):

Essas características geométricas determinadas (centroide, momentos de primeira ordem

e momentos de inércia) associadas aos eixos principais de inércia, ao tipo de material a ser

utilizado (concreto armado, aço, alumínio, madeira etc) e aos carregamentos (forças) que

estão presentes na estrutura (peso próprio, peso da água, vento etc) irão possibilitar o seu

dimensionamento de tal forma a atender as necessidades da sua utilização. Não existe uma

forma ideal para a seção de uma estrutura em barra, mas com certeza o conhecimento correto

das características geométricas apresentadas anteriormente será de extrema importância para o

seu dimensionamento.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um dos caminhos para ultrapassar as barreiras, ou pelo menos estabelecer uma ponte, do

ensino de cálculo é o professor sair de sua zona de conforto, buscando conhecer em que

situações as ferramentas do cálculo são aplicadas, além das tradicionais abordadas pelos

livros didáticos que, em geral, não aparecem em situações cotidianas. Muitas vezes, ao

tentarmos contextualizar um determinado problema, não refletimos se a função matemática

utilizada é de fato factível, pois isso envolveria a modelagem e a conexão de algumas áreas de

conhecimento que fogem do domínio específico da formação matemática. Porém, para nós

professores é difícil de sair dessa zona de conforto, pois ao adentramos em outras áreas,

caminhamos muitas vezes por terrenos desconhecidos, tendo que admitir que a matemática

pela matemática não é suficiente, necessitando de pesquisas em outros campos de

conhecimento, no qual o trabalho colaborativo pode ser um elemento facilitador desse

processo.

Não é trivial para os professores perceberem a grande relação do cálculo, especificamente

da integral, ligada com aplicações em outras áreas, por isso permanecemos muitas vezes na

prática tradicional, não correndo riscos, mas também privando os alunos de aplicações

significativas em outros contextos. Entretanto, um processo de ensino e aprendizagem

baseado na relação teoria e prática pode se revelar um ambiente rico para essas conexões.

Observou-se com a investigação realizada, que há a necessidade de uma fundamentação

teórica específica aprofundada para estabelecer as conexões entre o problema físico e as

ferramentas do cálculo, na qual o trabalho colaborativo entre os professores de cálculo e

engenharia foi fundamental. Com a experiência vivenciada, nós, professores de cálculo,

percebemos a validação significativa da ferramenta da integral em outras aplicações em

disciplinas específicas, tais como o cálculo e a interpretação geométrica da integral dupla,

além da transição da notação da integral dupla num contexto de integral definida simples.

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Também se faz necessário aqui contextualizar a necessidade dos professores das áreas

específicas dos cursos saírem da sua zona de conforto, pois atualmente com as inúmeras

ferramentas computacionais existentes para solução de problemas físicos e matemáticos, esses

professores geralmente restringem a sua didática em problemas usuais, utilizando, no caso do

assunto abordado neste artigo, formas geométricas simples de seções nas quais as

determinações das características geométricas podem ser realizadas de outras formas,

fugindo-se da utilização da integral definida. Esse tipo de procedimento leva a formação

deficitária do acadêmico, que quando deparado com situações diferentes, como a apresentada

na aplicação, não sabe resolver o problema proposto, ou mesmo, não tem ideia de se os

resultados obtidos através das ferramentas computacionais expressam o que realmente eles

pretendiam determinar. Logo, utilizarmos toda a dedução teórica apresentada neste artigo não

deve servir somente para justificar problemas usuais e já incessantemente discutidos na

literatura, mas deve servir para mostrar que quando dominamos os conceitos específicos (no

caso aqui os conceitos de mecânica dos sólidos) associados aos conceitos matemáticos,

conseguimos inovar em formas das estruturas e melhorar a sua eficiência na aplicação a que

se destina.

Um currículo de um curso não pode ser definido somente por meio de disciplinas que

possuem ementas e pré-requisitos, mas sim definido como uma série de conteúdos

programáticos que possuem uma estrita relação ao longo do curso e propiciem, a cada assunto

abordado, uma extensão dos assuntos anteriores, transformando esse currículo, não em uma

“colcha de retalhos” de conhecimentos, mas sim em uma “teia” de conhecimentos

interdependentes.

6. BIBLIOGRAFIA

BEER, F. P.; JOHNSTON, R.; EISENBERG, E. R. Mecânica Vetorial Para

Engenheiros – Estática. 7.ed., Pearson Education, 2006.

FIGUEIREDO, E. B; AZEVEDO, E.B.; MORO, G.; SIPLE, I.Z. Ensino de Disciplinas

Básicas da Matemática em Nível Superior numa Perspectiva de Trabalho Colaborativo. III

Simpósio Nacional de Ciência e Tecnologia. UTFPR, Ponta Grossa, 2012.

GOMES, G.H. A matemática em um curso de Engenharia: vivenciando culturas.

Tese de Doutorado (Doutorado em Educação Matemática) Pontifícia Universidade Católica

de São Paulo, PUC-SP, 2009.

SILVA, J.F; NETO, H.B. Questões básicas do Ensino de Cálculo. Disponível em:

<http://www.multimeios.ufc.br/arquivos/pc/artigos/artigo-questoes-basicas-do-ensino-de-

calculo.pdf> Acesso em: 28 de agosto de 2014.

APPLICATION OF THE INTEGRAL IN DETERMINING

GEOMETRIC CHARACTERISTICS OF PLANE SECTIONS OF

COLUMN STRUCTURES

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Abstract: In this paper, we present an investigation developed in the Solid Mechanics course

in an Engineering program at a public university involving the use of the definite integral in a

calculus problem related to the geometrical characteristics of column-shaped structural

elements. This research explores the applications of calculus included in the didactic material

prepared by the course's professor. In this paper, we show applications where it is possible to

establish connections with calculus, proving the importance of the mastery of the

mathematical tool and reflections on the teaching technique, on the part of both the calculus

professor and the engineer.

Keywords: Applications of Definite Integral; Calculus Teaching; Geometric Characteristics

of Plane Sections.