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IMAGENS COMO MEDIADORAS NA EDUCAÇÃO CTS: OBRAS DE PAWEL KUCZYNSKI Ana Paula Gorri [email protected] Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Metodologia de Ensino Florianópolis/SC João Paulo Ganhor [email protected] Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica. Campus Universitário Reitor João David Ferreira Lima Florianópolis – Santa Catarina Resumo: O presente artigo tem como propósito contribuir na concepção e articulação de práticas pedagógicas, no âmbito da Educação Científica e Tecnológica, comprometidas com pressupostos do campo dos Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia (ESCT) ou estudos Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) e, consequentemente, associadas a uma percepção que contemple a ciência e a tecnologia (CT) além de suas dimensões unicamente racionais, localizando-a em suas complexas relações históricas, políticas, sociais, etc. Deste modo, propomos a articulação dos fundamentos desse campo com um importante recurso metodológico que vem sendo ressaltado no âmbito das pesquisas em Educação em CT – dada a centralidade da imagem em nossos dias – a saber: a utilização de imagens como recurso pedagógico. Nesse sentido, apontamos a notável potencialidade das obras do artista plástico polonês Pawel Kuczynski na concretização de tais perspectivas. Para isso, foram consultadas um total de 100 obras disponibilizadas pelo autor, buscando elementos referentes à dimensões que envolvessem CT, resultando em um acervo final de 27 imagens que, dada suas principais temáticas, configuram-se como rico material desencadeador de questionamentos e reflexões acerca das principais problemáticas de nosso período histórico, direta e intimamente atreladas à CT. Palavras-chave: CTS, Obras de arte, Pawel Kuczynski. 1 INTRODUÇÃO A visão pública da Ciência e da Tecnologia (CT) nos países capitalistas centrais foi fortemente alterada no decorrer do século XX, diretamente afetada por desencadeamentos

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IMAGENS COMO MEDIADORAS NA EDUCAÇÃO CTS: OBRASDE PAWEL KUCZYNSKI

Ana Paula Gorri – [email protected] Federal de Santa Catarina, Departamento de Metodologia de EnsinoFlorianópolis/SCJoão Paulo Ganhor – [email protected] Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Educação Científicae Tecnológica.Campus Universitário Reitor João David Ferreira LimaFlorianópolis – Santa Catarina

Resumo: O presente artigo tem como propósito contribuir na concepção e articulação depráticas pedagógicas, no âmbito da Educação Científica e Tecnológica, comprometidas compressupostos do campo dos Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia (ESCT) ou estudosCiência, Tecnologia e Sociedade (CTS) e, consequentemente, associadas a uma percepçãoque contemple a ciência e a tecnologia (CT) além de suas dimensões unicamente racionais,localizando-a em suas complexas relações históricas, políticas, sociais, etc. Deste modo,propomos a articulação dos fundamentos desse campo com um importante recursometodológico que vem sendo ressaltado no âmbito das pesquisas em Educação em CT – dadaa centralidade da imagem em nossos dias – a saber: a utilização de imagens como recursopedagógico. Nesse sentido, apontamos a notável potencialidade das obras do artista plásticopolonês Pawel Kuczynski na concretização de tais perspectivas. Para isso, foram consultadasum total de 100 obras disponibilizadas pelo autor, buscando elementos referentes àdimensões que envolvessem CT, resultando em um acervo final de 27 imagens que, dada suasprincipais temáticas, configuram-se como rico material desencadeador de questionamentos ereflexões acerca das principais problemáticas de nosso período histórico, direta eintimamente atreladas à CT.

Palavras-chave: CTS, Obras de arte, Pawel Kuczynski.

1 INTRODUÇÃO

A visão pública da Ciência e da Tecnologia (CT) nos países capitalistas centrais foifortemente alterada no decorrer do século XX, diretamente afetada por desencadeamentos

histórico-sociais que assolaram o período. Auler e Bazzo (2001, p. 1) indicam que “adegradação ambiental, bem como a vinculação do desenvolvimento científico e tecnológico àguerra (as bombas atômicas, a guerra do Vietnã com seu napalm desfolhante)” foramsignificativas ao indicar a necessidade de uma relação mais crítica com essas instâncias dofazer humano. Santos e Mortimer (2002, p. 4) apontam ainda a preocupação em relação àqualidade de vida nos países industrializados, o enfraquecimento da participação pública nasdecisões – concedida apenas a uma elite especializada – e o medo dos excessos tecnológicos.Dessa forma, “a desconfiança da ciência como tal se fundiu com o medo de suasconsequências práticas” (HOBSBAWM, 1995, p. 513). Ainda nesse sentido, Bazzo (1998,apud VAZ et al, 2009, p. 107) aponta as décadas de 1960 e 1970 como períodos em que o“desenvolvimento científico-tecnológico conseguiu passar de um extremo ao outro, indo domilagre à destruição”.

Nesse contexto, ao contrário do período histórico que marca o início desse século –caracterizado primordialmente por uma excessiva euforia e esperança em relação aos produtose às intermináveis possibilidades que a CT se mostrava capaz de prover – o complexo de CTpassa a ser atrelado não mais a um projeto de emancipação e melhoramento da vida humana,mas sim a um complexo processo global de dominação. Santos e Mortimer (2002, p. 2), emanálise da obra de Habermas, indicam que a ciência e a técnica:

[...] cumprem a função de legitimação da dominação, pois as metodologiascientíficas levam a uma dominação da natureza com uma eficácia cada vez maior,proporcionando os instrumentos para uma dominação cada vez mais eficiente dohomem sobre o homem

Dentro de tal conjuntura, alguns autores situam paralelamente as publicações doslivros A Estrutura das Revoluções Científicas, de Thomas Kuhn (AULER, 2002; AULER &BAZZO, 2001) e Silent Spring (em tradução livre, “Primavera Silenciosa”), da bióloganaturalista Rachel Carsons (AULER & BAZZO, idem); ambas em 1962, como fatoresrelevantes para desencadear um debate político mais notável quanto ao complexo de Ciência eTecnologia (CT). E, nesse sentido, “postular algum controle da sociedade sobre a atividadecientífico-tecnológica” (AULER, 2002). É dentro desse contexto histórico que se fortalece oque tem sido denominado movimento Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), fundamentadoprincipalmente pela busca por uma visão mais crítica do desenvolvimento científico etecnológico, como forma de equiparação social e democrática e ampliação das participaçõesem tomadas de decisões públicas.

Referindo-se a esse movimento, Bazzo et al (2003 apud Vaz et al 2009, p. 106)afirmam que ele tem evoluído em três grandes direções

[...] no campo da pesquisa, como uma alternativa à reflexão acadêmica sobre ciênciae tecnologia; no campo da política pública, promovendo à criação de diversosmecanismos democráticos que facilitem à abertura e processos de tomada de decisãoem questões concernentes a política científico-tecnológica; e no campo da educação(grifo nosso)

Os trabalhos desenvolvidos no contexto desses campos estão fundamentados em duasperspectivas principais que vêm marcando o desenvolvimento dessa área, a saber: europeia enorte-americana (BAZZO, LINSINGEN, TEIXEIRA, 2003; AULER & BAZZO, 2001). A primeira“caracteriza-se como uma tradição de investigação acadêmica, mais que educativa ou dedivulgação, tendo como principais conhecimentos formadores de sua base as ciências sociais,dentre elas a sociologia, a antropologia e a psicologia” (VAZ et al, 2009); já a última utiliza-se de análises e reflexões éticas e políticas, e preocupa-se primordialmente com as

consequências sociais e ambientais do desenvolvimento de CT (CACHAPUZ, 2008). Nãoobstante, recentemente tem sido relevado a existência de reflexões acerca das relações CTStambém em países da América Latina, iniciados por volta dos anos 1960 e 1970. Guardandosuas particularidades, tal perspectiva vem sendo denominada “CTS latinoamericano”. Nessecontexto, von Linsingen (2007) afirma que se o movimento CTS se origina principalmente naEuropa, a partir da confluência de importantes e distintos referenciais teóricos, na AméricaLatina sua origem se remete principalmente à reflexão da ciência e da tecnologia como umaatribuição de políticas públicas. Nessa direção, esse autor (idem) afirma que:

Mesmo não sendo parte de uma comunidade explicitamente identificada como CTS,isso se configurou como um pensamento latinoamericano em política científica etecnológica (Vaccarezza, 1998), posteriormente identificado como “PensamentoLatino Americano de Ciência, Tecnologia e Sociedade” (PLACTS)”

Consequentemente, mesmo que se caracterize como reflexões ligadas a ciência e atecnologia, essa perspectiva latino-americana pouco incidiu em temáticas voltadas à Educaçãoem Ciências e Tecnologias, como as outras perspectivas que as possuíam como importantefoco de interesse. Nesse sentido, Membiela (2002) aponta que, após a consolidação, noscampus universitários, dos aspectos centrais do movimento CTS, vê-se uma gradual extensãotambém à escola secundária principalmente na década de 80. Porém, e principalmente nocontexto educacional, esse movimento não apresenta um discurso consensual quanto aos seusobjetivos e modalidades (AULER, 2002), incluindo, dentre outras: simples fatormotivacional, discussões de questões sociais, abordagem sobre a natureza do conhecimentocientífico e tecnológico, formação de cidadãos crítico, participativos em decisões queenvolvam conhecimentos de CT, equiparação democrática e educação científica como açãopolítico-social. Entretanto é possível vislumbrar algumas nuances principais que, em grandemedida, são consonantes. Nesse sentido, von Linsingen (2007) afirma que educar em umaperspectiva coerente com os pressupostos dos estudos CTS é fundamentalmente:

[...] possibilitar uma formação para maior inserção social das pessoas no sentido dese tornarem aptas a participar dos processos de tomadas de decisões conscientes enegociadas em assuntos que envolvam ciência e tecnologia […] É, igualmente,apostar no fortalecimento e ampliação da participação democrática

Dentro dessa interpretação, a escola deve se colocar como espaço de construção eprática de participação democrática em relação à temas que envolvam CT. No entanto, essemesmo autor (idem) pontua que a tecnociência permeia praticamente todas as instâncias davida em sociedade, o que ilustra a magnitude e complexidade dos temas relacionados àsperspectivas CTS. Que precisam ser acompanhados por concepções e práticas pedagógicas,no contexto da educação científica e tecnológica, que sejam capazes de abarcardinamicamente tal complexidade, seja em seus fundamentos e pressupostos, seja em suasmetodologias.

Especificamente em relação à dimensão metodológica, pretendemos trazer para adiscussão, aproximando dos tópicos ligados aos estudos CTS acima explicitados, umainteressante possibilidade pedagógica que vem sendo destacada em diversas áreas de pesquisaem educação, inclusive em educação científica e tecnológica, a saber: a utilização de imagense obras de arte em sala de aula. Nesse sentido, Klein e Laburú (2009) indicam que diversasorientações no âmbito das pesquisas em educação científica têm relevado a importância dasinvestigações acerca das possibilidades de integração de diferentes linguagens no ensino deciências, especialmente as que analisam dimensões discursivas e imagéticas em contextosreais de sala de aula. Esses autores afirmam que:

Símbolos, fotografias, figuras e esquemas constituem elementos importantes nadescrição e desenvolvimento de significados do conhecimento científico. A imagem,em seus diversos suportes, assume um lugar central na sociedade atual e tem sidocada vez mais requisitada como um recurso discursivo. No mundo científico, alémdo papel icônico ou representativo, passa a ser também um meio de divulgação e desensibilização científica

Bazzo (2012) propõe que os estudos CTS podem ser um importante elo deaproximação entre a cultura humanística e a científica. Consonante a tal perspectiva,destacamos ainda que a proposta metodológica de utilização de imagens pode auxiliar naamplificação de tal potencialidade dos estudos CTS, fornecendo vislumbramento de práticaspedagógicas mais integrativas em relação às inúmeras dimensões que compõe a vida humana,principalmente as diretamente ligadas ao universo e as culturas juvenis. Mais do que relevar apotencialidade da utilização de imagens, enquanto elemento artístico e diretamente ligado àdimensões subjetivas e contemplativas, pretendemos ressaltar a utilização de imagens quecarreguem em si referentes diretos aos principais problemas de nosso período histórico, deforte conteúdo político e questionador e, principalmente, alinhadas a um profundo desconfortocom nossa atual organização social.

Nesse sentido, nosso principal objetivo é propor e refletir acerca das possibilidades deutilização da obra do artista plástico polonês Pawel Kuczynski no âmbito da educaçãocientífica e tecnológica, contribuindo na articulação de práticas pedagógicas fundamentadasem perspectivas do campo dos estudos CTS.

2 O AUTOR

Pawel Kuczynski nasceu na cidade de Szczecin, capital da voivodia1 da PomerâniaOcidental, localizada na região noroeste da Polônia, às margens do Rio Oder. Nascido em1976, graduou-se no ano de 2001 na Academia de Belas Artes de Poznan (também naPolônia), com especialização em artes gráficas. Desde 2004, dedica-se à produção deilustrações satíricas de forte apelo político e social. Suas obras fornecem – por meio derecursos artísticos de que lança mão – importantes elementos desencadeadores de reflexõesacerca das mais variadas e urgentes problemáticas contemporâneas que têm permeado odesenrolar de nosso período histórico. Dessa forma, suas críticas perpassam as mais variadastemáticas sociais, como temas ligados à pobreza, trabalho infantil, corrupção política,exploração, desigualdade social, etc.

3 MATERIAL E MÉTODOS

A busca pelas obras potencialmente relevantes dentro da proposta do trabalho foirealizada exclusivamente por meio de acervo próprio do artista publicado na plataformadigital Pictorem2, e que possui direcionamento direto a partir de sua página pessoal nainternet3. Esse acervo apresenta um total de 100 imagens disponíveis, que foram catalogadas eanalisadas individualmente buscando identificar elementos ou recortes que em alguma medida

1 O termo voivodia, ou província, refere-se ao mais alto grau da subdivisão administrativa da Polônia. Surgidasdesde o século XIV e após inúmeras reformulações, hoje existem - desde 1999 - 16 voivodias constituindo oterritório polonês.2 O acervo completo pode ser visualizado em: http://goo.gl/W3nCFM. Consultado em 27/08/2014.

3 O endereço eletrônico referido é www.pawelkuczynski.com

contemplassem dimensões concernentes à ciência e a tecnologia e, principalmente, às suasrelações e impactos na sociedade de maneira geral. Como já ressaltado anteriormente, asprincipais questões e problemáticas do mundo contemporâneo se remetem ou estãofundamentadas em alguma proporção em conhecimentos ou artefatos associados à CT. Nessesentido, elas possivelmente podem ser diagnosticadas como estando presentes de algumaforma em grande parte das imagens analisadas – quiça todas. Para contornar tal questãometodológica, optou-se pela seleção apenas daquelas imagens que possuíssem elementossignificativos de referências à CT, que estivessem mais fortemente atrelados a grandestemáticas associadas à principais focos e assuntos no contexto da educação em científica etecnológica. A partir dessa busca inicial foram selecionados 27 trabalhos.

Essa primeira lista apresentou uma significativa diversidade de assuntos e referências àimportantes questões contemporâneas, ilustrando, em alguma medida, a extensão de possíveistemáticas emergidas das obras desse artista que guardam grandes potencialidades para oEnsino em Ciências e Tecnologias. Na tentativa de estabelecer alguma sistematicidade eordenamento do acervo obtido em relação as potenciais temáticas, propomos um arranjo paraas imagens selecionadas em possíveis categorias, não objetivando com isso realizar umadivisão estanque e em alguma medida arbitrária da obra do artista, mas sim facilitar aapropriação desses materiais por parte de professores e pesquisadores no âmbito da Educaçãocientífica e tecnológica, bem como sua articulação com tópicos curriculares, sequênciasdidáticas, abordagens de determinados conteúdos ou temáticas, etc. Ressaltamos ainda que,dada a complexidade dos temas contemporâneos, grande parte das imagens que compuseramo acervo possuem dimensões que perpassam várias categorias concomitantemente, o queilustra o íntimo embricamento entre as principais questões da humanidade em nosso períodohistórico e a necessidade de uma postura mais dialogante entre as inúmeras esferas do pensare do fazer humano. Desejamos indicar com isso que qualquer acontecimento atual enquadradoem uma possível temática, necessariamente está inter-relacionado à várias outras temáticas.Determinado evento relacionado, por exemplo, à questão ambiental, naturalmente possuirá àele atrelado dimensões ligadas também as formas e incentivos de consumo na sociedadeocidental dominante e, consequentemente as formas de produção de seus bens de consumo, oque remete à divisão social do trabalho e a toda desigualdade social dela derivada, etc.Entretanto, cada uma das imagens selecionadas foi alocada em apenas uma das categoriaspropostas – aquela que mais representava elementos centrais e de destaque nas obras.

Nesse sentido, foram elaboradas cinco categorias principais que aqui foramdenominadas: CT e Desenvolvimento Humano; CT e Questão Ambiental; CT e QuestãoEnergética; CT e Indústria Bélica; e, por fim, CT e Desigualdade Social.

4 ANÁLISE E DISCUSSÕES

Em concordância com o que foi apontado no item anterior, de um total de 100 imagensdisponibilizadas no acervo consultado do autor, foram selecionadas 27 que possuíamreferentes diretos à ciência e/ou à tecnologia. Dada a extensão dessa lista final e a natureza dopresente artigo, não serão expostas todas as obras escolhidas e que poderiam aqui estarpresentes. Entretanto, selecionamos dois exemplares de imagens para cada categoriaelaborada, como forma de ilustrar individualmente cada uma das categorias bem como asprincipais perspectivas e problemáticas que as compõem. Nesse sentido, a seguir sãomostradas as obras representativas das categorias, acompanhadas de algumas reflexões acercadas potencialidades que podem ser desencadeadas por cada uma – ou pelo conjunto – dasimagens no âmbito da Educação Científica e Tecnológica em perspectivas que se aproximemdo campo dos estudos CTS. Contribuindo não apenas com as reflexões nesse campo, mas

também com os atores diretamente envolvidos nas cotidianas materializações de práticaspedagógicas nas diversas escolas brasileiras, e demais espaços educacionais.

CT e Desenvolvimento Humano: Essa categoria procura contemplar imagens que fazemreferência à importantes dimensões que envolvem o desenvolvimento da própria naturezahumana, e sua inerente necessidade coletiva. Tomando o humano necessariamente enquantoser social e coletivo, as obras que a compõe ilustram fatos ou acontecimentos contemporâneosque têm incidido diretamente nas formas como vem sendo materializada a coletividade e asrelações interpessoais de maneira geral. Os exemplares são mostrados a seguir:

(a) (b)

Fig. 1 – Exemplares da categoria CT e Desenvolvimento Humano

No primeiro caso – figura 1(a) - são mostrados elementos de CT interferindodiretamente nas formas e modalidades das relações sociais. No plano principal destaca-se ologo da maior rede social do mundo, justaposta à uma câmera de vigilância, que écuidadosamente observada por um sujeito que parece se esconder da mesma. A imagem jogacom a composição de um elemento de tecnologia de comunicação (dentre outras) que carregaem si grandes potencialidades para o aperfeiçoamento e aprofundamento das relações sociaise dos benefícios que delas emergem, com um elemento de vigilância, de segurança - retratoclaro de um estado de relações desestabilizadas e carentes de confiança, inseguras contra umprovável “inimigo nocivo”. Apontando para o fato de que as possíveis consequências da CTtranscendem os elementos em si, e seus pressupostos unicamente racionais, abarcando e sendodeterminada nas complexas e idiossincráticas apropriações que os diversos grupos sociais delafazem.

Já na figura 1(b), remete-se diretamente à outras importantes dimensões humanas: acriatividade, a subjetividade, as artes. A ideia básica dessa imagem é a possível inibição dodesenvolvimento de práticas manuais, artísticas – consequentemente de dimensões maisintuitivas e subjetivas do ser humano – nas novas gerações, por efeito principalmente doíntimo contato com as novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs). Ilustrando talproblemática, o artista mostra um mouse de computador que comanda uma serra elétrica que,guiada pelas mão de um trabalhador, corta pincéis guiados por outras mãos Numa referênciametafórica de um objeto utilizado comumente para desmatar florestas e suas árvores,desmatando a criatividade, a subjetividade, não obstante o imenso potencial dedesenvolvimento e criação desencadeado pelas TICs.

CT e Questão Ambiental: Talvez a mais ampla e diretamente atrelada à temáticas que vêm seconsolidando como dominantes nas grandes mídias, nos discursos dos grandes líderes ecorporações, enfim, nas principais preocupações de nosso tempo, essa categoria agrupa as

obras que se referem primordialmente à problemáticas ligadas à questão ambiental, suascausas e consequências. Das inúmeras possibilidades, optamos em exibir dois exemplos deobras que contemplam diferentes influências da CT nessa questão e indícios da postura quetem sido hegemonicamente assumida em relação à tais influências. As imagens são mostradasa seguir:

(a) (b)

Fig. 2 – Exemplares da categoria CT e Questão Ambiental

Na figura 2(a) o principal impacto ambiental retratado é a poluição dos ar, osmecanismos de produção, tratamento e descarte dos produtos de combustões, habitualmentepresentes em enorme parcela das grandes indústrias. Além disso, destacam-se ainda emprimeiro plano, dois trabalhadores que aparentemente pintam uma fumaça extremamentedensa e poluída com uma cor branca que mais parece nuvens. Crítica e referência direta àmedidas superficiais no que concerne à temáticas ambientais, que limitam-se a disfarçar ouatenuar os impactos das consequências que não serão questionadas em si, mas não se propõemquestionar a organização e as necessidades [grande parte artificial e ideologicamente criadas]sociais que requerem esses níveis e formas de relações predatórias com o meio ambiente.Ressalta-se que, novamente, a CT pode estar envolvida de diversas formas e em váriosmomentos dessa cadeia de produção, tanto legitimando políticas e discursos superficiais -como alguns exemplos da Revolução Verde na agricultura, Reflorestamento,Desenvolvimento Sustentável, Tecnologias apropriadas, Inovação ambiental, etc - mastambém sustentando práticas de resistência e incentivo às culturas mais orgânicas einstrinsecamente ligadas e comprometidas com a preservação e respeito à diversidade dafauna e flora. No segundo caso, figura 2(b), em um mesmo enquadramento é retratado aevolução dos impactos e consequências gerado pela atrelada evolução dos artefatostecnológicos envolvidos - nesse caso, as tecnologias de transmissão/recepção de ondaseletromagnéticas. Dessa forma, um ambiente que já fora recortado e transformado com ainstalação de grandes torres de transmissão - que, roubando os habitats naturais dos pássaros,a eles oferecem apenas os fios de alta tensão como poleiros e as chaves e transformadorescomo locais para construírem seus ninhos - é novamente atravessado com o desenvolvimentoda CT, que passa então a realizar transmissões pelo ar, não mais pelo fios. O artista joga como absurdo e o satírico, ilustrando que agora resta aos pássaros empoleirar nos sinais emitidospelos celulares.

CT e Questão Energética: Diretamente atrelada a anterior (CT e Questão Ambiental) essacategoria remete-se especificamente à questão de produção e consumo de fontes energéticas, eas problemáticas a elas atreladas. As duas imagens mostradas à seguir como exemplares dessa

categoria, foram por nós escolhidas para compor um conjunto de contraponto entre duasfontes energéticas que têm assumido acentuada centralidade e destaque em nosso períodohistórico. A figura 3(a) faz referência à Energia Nuclear, que é uma das formas mais recentesde produção de energia e, não obstante as recentes tragédias envolvendo Usinas Nucleares4, éconsiderada por muitos especialistas e países a solução para a questão energética(naturalmente existem inúmeras outras posições, inclusive diametralmente opostas à essa). Aolado, a figura 3(b) ressalta questões relacionadas a principal fonte energética mundial, oPetróleo, e as relações de poder geopolíticas que se desencadeiam em seu entorno, comreferência direta às invasões estadunidenses (representada pelo comboy que monta umaBomba cabeça de cavalo, mundialmente utilizada na extração de petróleo) à países do OrienteMédio sobre diversos pretextos como segurança mundial, “missões de pacificação”, “guerraao terrorismo”, etc.

(a) (b)

Fig. 3 – Exemplares da categoria CT e Questão Energética

Ressaltando novamente a intrínseca aproximação entre as temáticas de cada categoriaelaborada, a questão acima exposta remete-se, ou possui dimensões simultâneas einterconectadas, diretamente à tópicos da próxima categoria: o enorme empreendimentomundial em CT para fins bélicos.

CT e Indústria Bélica: Como já exemplificado na categoria anterior - por meio das relações deforça globais em torno do petróleo - aqui estão agrupadas imagens que abarcam temáticasreferentes à relação entre a CT e o empreendimento bélico mundial. Assim, é proposto oquestionamento mesmo do absurdo que envolve mantermos grande parcela dodesenvolvimento do conhecimento atual atrelado à criação/aperfeiçoamento de elementosdestinados à guerra, ao ato de ferir ou tirar a vida de outro(s). Nesse sentido, a figura 4(a)ilustra tal desconforto jogando, novamente, com a indicação satírica e absurda através de umelemento exclusivamente criado para a guerra (armamentos de maneira geral) que possui emsi uma opção de paz (expressa por um símbolo mundialmente atrelado à movimentospacifistas e hippies5). Já na figura 4(b) uma, aparentemente, importante pessoa pública, talvez

4 O acidente mais recente ocorreu em 11 de março de 2011 quando a Central Nuclear de Fukushima I, no Japão,foi atingida por um tsunami. Esse tem sido considerado o maior acidente nuclear desde Chernobyl, na Ucrânia,em 1986.5 É interessante destacar que esse símbolo foi criado na Inglaterra durante a década de 1950, exatamente nocontexto de movimentos que militavam pelo desarmamento nuclear. Esse fato é extremamente pertinente aocontexto desse trabalho, dado que ilustra um importante episódio histórico associado à relações entre dimensõescientíficas e/ou tecnológicas e a sociedade civil de maneira geral, o que em si configura-se como objeto docampo dos estudos CTS.

um renomado líder político, acena enquanto desce de um avião seguindo por um tapetevermelho assentado sobre mísseis. Metáfora visual aos fundamentos dos poderes globaisinstituídos, que se fundamentam primordialmente em guerras e conflitos. Nesse contexto enão por acaso, todos os países considerados potencias mundiais destinam grandes percentuaisde seus PIBs (Produto Interno Bruto) para pesquisas em grandes centros de CT, muitosinclusive ligados a importantes centro universitários como por exemplo o MIT (singla eminglês para Instituto de Tecnologia de Massachusetts).

Essas perspectivas podem trazer importantes leituras para a educação em CT,propondo até mesmo reflexões acerca da neutralidade do conhecimento em CT. É possívelpensar em neutralidade quando em alguns dos principais centros de formação da comunidadecientífica e tecnológica existem inúmeros departamentos, laboratórios e grandes somas emfinanciamentos, dirigindo as demandas e focos de pesquisas, temas contemplados, áreas deformação favorecidas, empregabilidade dos constantes formandos, etc.

(a) (b)

Fig. 4 – Exemplares da categoria CT e Indústria Bélica

CT e Desigualdade Social: A última categoria elaborada agrupa imagens que trazemtemáticas ligadas a diferentes maneiras em que a CT emerge e se relaciona à contextos denítida desigualdade e injustiça social, retomando de certa forma a já citada tese de Habermas(SANTOS & MORTIMER, 2002, p. 2) que afirma que a técnica é instrumento de legitimaçãoda dominação humana. Assim, podem servir como desencadeadores/auxiliadores de debates ereflexões acerca não apenas da produção do conhecimento em CT mas de suas diferentespossibilidades de apropriação e ressignificação pelos diversos grupos sociais, e asdesigualdades que se manifestam também em sua gênese e difusão. Nesse sentido, Barros(2002, p. 79) afirma:

“A difusão dos avanços tecnológicos [...] como tem sido realizado, é um discursounilateral que visa ao treinamento de maior número de pessoas no uso de novosprodutos e, dessa forma, atinge uma seleta camada da população que pode aspirar ausufruir as novas facilidades. A grande maioria da população mundial não temrecursos que permitam participar de um modelo que demanda altas somas de recursospara implementar as novas tecnologias”

As imagens expostas a seguir procuram abarcar essa questão das diferentes formas epossibilidades de apropriações sociais da CT, e como elas se inscrevem dentro de relações deforça historicamente instituídas. A figura 5(a) ilustra uma extrema situação onde pessoas sãoobrigadas a provocarem um incêndio para que pudessem ter acesso à alguma fonte de água,nesse caso a utilizada para apagar as chamas. Ou seja, um retrato que mostra um mundo depolarização dos conhecimentos científicos e tecnológicos, onde se é possível conceber e

construir grandes aviões e locomover-se entre quaisquer localidades de nosso planeta,carregando as mais inúmeras necessidades, como por exemplo a água. Mas não é capaz dedistribuí-la à todos tornando-a, de recurso abundante, item exclusivo de algumas parcelas dapopulação mundial. À tantos milhões restam apenas os gestos de desespero e a ressignificaçãode elementos que também envolvem CT, como na imagem onde são utilizados um fósforo ealguma espécie de combustível para provocar o incêncio. A figura 5(b) mostra uma situaçãojá habitual em várias partes do mundo: os limpadores de parabrisas de carros em semáforos.Jogando com a transposição dessa relação no tempo, o artista a expõe em um enredo debrincadeira infantil, mas onde se mantém e se manifestam os símbolos do recorte no qual umelemento de CT se faz centralmente presente, nesse caso, o automóvel. Expressando inclusiveas inúmeras dimensões que envolvem esse recorte de apropriação social da CT, como porexemplo o recorte de classe e de cor. Vide que na imagem um garoto loiro (simbolizando asclasses abastadas que, em sua maioria, são constituídas por pessoas brancas), que é quempossui e pode usufruir desse artefato, recusa que garotos pardos (como a gritante maioria dasclasses oprimidas) limpem o seu carro de brinquedo. Ou seja, na infância, em torno de umbrinquedo; quando adultos, em torno de um veículo; mas permanecem as diferenças de acessoe apropriação – o que para muitos significa impossibilidade de acesso.

(a) (b)

Fig. 5 – Exemplares da categoria CT e Desigualdade Social

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como visto, o que vem sendo comumente denominado campo dos estudos Ciência,Tecnologia e Sociedade (CTS), apesar do grande dissenso em seus pressupostos e finalidades,busca um alargamento nas abordagens em relação ao desenvolvimento do conhecimentocientífico e tecnológico, ressaltando sua inescapável dimensão de construto social e, assim,atrelado necessariamente a fatores diversos que transcendem meras conjecturas racionais.Dessa forma, aprecia-se o complexo de CT como uma instância imersa no tecido social que ocerca, influenciando (e sendo influenciada) inúmeras esferas da vida contemporânea. Nessecontexto, as abordagens no âmbito da Educação Científica e Tecnológica precisaminevitavelmente abranger tais perspectivas, trazendo para seus espaços e práticas a intrínsecacomplexidade a elas relacionadas e reflexões quanto as problemáticas que constante edinamicamente são desencadeadas envolvendo dimensões da CT. No intuito de contribuir naarticulação de práticas pedagógicas que contemplem tais perspectivas, propomos vinculá-las àum recurso didático que vem sendo destacado no âmbito da educação em ciências: autilização de imagens em sala de aula.

No decorrer do trabalho, procuramos evidenciar algumas potencialidades da utilizaçãodesse recurso, por meio das obras do artista polonês Pawel Kuczynski. Dada a natureza dostemas por ele abordados e sua postura crítica e denunciativa, suas imagens constituem-secomo importantes elementos imagéticos, capazes de desencadear temas e reflexões nocontexto da Educação em CT, fortemente consonante com as perspectivas dos estudos CTSaqui expostas. Assim, suas obras compõem um acervo extremamente pertinente à essa área ede fácil acesso para os educandos e educadores – visto que grande parte de seu material estádisponível na Internet, inclusive em sua própria página pessoal – o que pode contribuir naadequação desse tipo de proposta à uma maior diversidade de contextos. Não pretendemoscom isso, assumir uma diretividade meramente prescritiva em relação ao que (e como) deveser realizado (ou não) na dinâmica de sala, sufocando ainda mais a já ameaçada autonomiadocente; mas, pelo contrário, contribuir em seu fortalecimento, apontando um acervo quepode ser grande auxiliador em suas elaborações diárias de práticas pedagógicas e fonte dericos materiais paradidáticos. Nesse sentido, a partir do acervo total que tivemos acesso,propomos a organização de imagens potencialmente pertinentes em categorias que em algumamedida auxiliem na sistematização dessa busca em relação aos temas e conteúdos quepossivelmente estejam sendo, ou venham a ser, trabalhados.

Ressaltamos ainda que, apesar da enorme variedade de temas e particularidadesemergidas em cada categoria proposta, uma dimensão das relações CTS atravessapraticamente todas as obras analisadas, a saber: a apropriação/ressignificação social da ciênciae da tecnologia. Ou seja, os diferentes níveis de possibilidade e capacidade que os diversosgrupos sociais apresentam em relação aos construtos da CT e, como essa relação está sempreassociada as necessidades e práticas sociais que, na tensão com outras tantas, possuem algumgrau de estabilidade. Nessa direção, as obras aqui exploradas retratam recorrentemente comoa CT está incorporada nas relações de força e dominação estabelecidas e, assim, infelizmenteainda tem contribuído na manutenção e ampliação das abissais desigualdades que nossoperíodo histórico apresenta. Não obstante, tal percepção pode também provocar reflexõesmais significativas na direção de questionarmos as causas de tal estado de coisas,vislumbrando outras possibilidades para as infinitas modalidades de relações entre ciência-tecnologia-sociedade, alinhadas à um projeto de mundo menos injusto e mais libertador.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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IMAGES AS MEDIATORS IN STS EDUCATIONS: WORKS OFPAWEL KUCZYNSKI

Abstract: This article aims to contribute to the conception and articulation of pedagogicalpractices within the Scientific and Technological Education committed to assumptions of thefield of Social Studies of Science and Technology (SSST), or Science Technology and Society(STS) and, therefore, associated with a perception that contemplates the science and thetechnology (ST) beyond its only rational dimensions, locating it in its complex historical,political and social relations. Thus, we propose the articulation of the foundations of the fieldwith an important methodological resource that has been highlighted in the context ofresearch in Education in ST – given the centrality of the image in our time – namely, the useof images as a pedagogical resource. In this sense, we point out the remarkable potential ofthe works of Polish artist Pawel Kuczynski towards those prospects. For this, were consulteda total of 100 works, seeking evidence concerning dimensions involving ST, resulting in afinal list of 27 images that, given its main themes, are configured as trigger rich material ofquestions and reflections about the main problems of our historical period, directly andintimately linked to the CT.

Key-words: CTS, Work of art, Pawel Kuczynski.