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Nº 59 - abr./mai./jun. de 2012 - ANO XIII Associação de Deficientes Visuais e Amigos Apple inova com dispositivos acessíveis Convivaware p. 10 CONVIVA fala com um dos Titulares do Ritmo Profissão: p. 4 Um novo Código Florestal? Ecoconvivência p. 9 Uma filipeta com o alfabeto, os algarismos arábicos e alguns sinais gráficos em braile, confeccionada na gráfica da ADEVA, acompanha esta edição do CONVIVA. SHUTTERSTOCK

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Page 1: Ecoconvivência p. 9 - Associação de Deficientes Visuais ... · Marquês e Conde. Eram esses os apelidos dos seis integrantes do Titulares do Ritmo, um dos grupos musicais mais

Nº 59 - abr./mai./jun. de 2012 - ANO XIII Associação de Deficientes Visuais e Amigos

Apple inova com dispositivos acessíveis

Convivaware p. 10

CONVIVA fala com um dos Titulares do Ritmo

Profissão: p. 4

Um novo Código Florestal?

Ecoconvivência p. 9

Uma filipeta com

o alfabeto, os

algarismos arábicos

e alguns sinais

gráficos em braile,

confeccionada na

gráfica da ADEVA,

acompanha esta

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O ato de ir e vir é um direito básico do cidadão, garantido pela Constituição brasileira. No entanto, essa ação, que pode parecer extremamente simples, em certos casos especiais necessita de apoio e aprendizado.

É o caso do portador de deficiência visual, cujo sucesso e integração na sociedade dependem também da formação de orientadores capazes, comprometidos e conhecedores das limitações dos seus alunos, assim como de seus sonhos, desejos e, principalmente, de sua busca por liberdade, educação e formação profissional.

Com a ajuda da ADEVA e de seus professores, tudo isso é possível. E quem me garante são os mais de 30 anos dedicados a ensinar orientação e mobilidade para pessoas cegas, trabalho coroado com a maior das recompensas: sentir-me útil para a sociedade.

Não existe alegria maior do que ter acompanhado de perto a trajetória da grande maioria dos meus alunos na ADEVA, auxiliando-os a realizar seus objetivos. Na educação, vencendo barreiras, subindo degraus até a glória da sua formação universitária; na trajetória

profissional, onde quase tudo parecia impossível, as conquistas demonstraram o contrário; no esporte, quem diria, várias medalhas paralímpicas foram conquistadas; no social, famílias constituídas no amor revelam que valeu a pena não ter medo de ser feliz.

Estou me despedindo dessa atividade voluntária, que sempre me deu prazer, com o sentimento do dever cumprido e segura de que esse trabalho fundamental continuará sendo realizado pela ADEVA, que hoje conta com três professores voluntários devidamente capacitados pelo mestre Silas Maciel e com uma turma formada por 30 alunos. Mas muito mais poderia ser feito com a ajuda de patroci-nadores, públicos ou privados.

Nesta “carta de despedida”, quero, acima de tudo, agradecer a Deus, que me mostrou esse caminho e iluminou a minha vida.

Aos meus ex-alunos e eternos amigos, meu muito obrigada por terem me permitido participar de suas histórias de vida e conquistas.

Sim. Existe um verdadeiro sentido da vida.

“Meu primeiro emprego foi numa empresa em que trabalhei por sete anos e meio enviando mensagens para bips. Eu já sabia que existia a Lei de Cotas, mas não tenho certeza se a minha contratação foi por causa dela. Por ter uma filha deficiente visual, o dono criou um projeto para empregar pessoas com deficiência.

Eu achava que as empresas não deveriam contratar um deficiente devido à obrigatoriedade de uma lei, e sim pela sua capacidade de trabalhar e produzir. Hoje, porém, sei que isso é uma utopia. Penso que se não fosse pela Lei de Cotas, boa parte das empresas não empregaria deficientes.

Uma vez contratados, a maioria de nós prova que é capaz, porém, quase não temos oportunidades para crescer profissionalmente, ao contrário das pessoas sem deficiência.

Em 2011, por meio de um projeto da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), fiz um curso de

capacitação de seis meses pela Avape (Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência), em que tive aulas de português, matemática financeira, negociações bancárias, técnicas de vendas etc., o que me levou para o Citibank, onde estou faz um ano.

Atualmente, trabalho na área de cobrança, mas já aprendi a vender cartões de crédito, empréstimos pessoais, além de atender telefone e dar informações gerais, tudo isso graças à Lei de Cotas, à qual eu era contra. Antes, já havia trabalhado em outras duas empresas.

Os deficientes não devem se acomodar e têm o direito de ‘brigar’ pela realização dos seus sonhos profissionais. A Lei de Cotas é a entrada para o mercado de trabalho; cabe a nós saber aproveitar as oportunidades que ele oferece.”

Fátima Farias, 37, trabalha como assistente da gerência no Citibank Brasil

Lei de Cotas: bem ou mal?

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A primeira porta para a cidadania

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Marizia Calife Barsuglia, professora voluntária de mobilidade e uma das fundadoras da ADEVA

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IV CARNADEVANo dia 11 de fevereiro aconteceu o IV CARNADEVA, baile

pré-carnavalesco da ADEVA, com direito a concurso de melhor fantasia e sorteio de vários prêmios. Após muita folia, foram premiados 12 participantes nas categorias luxo, comicidade, originalidade e infantil e também o folião mais animado do baile. Confira abaixo as fotos do evento e a lista de prêmios:

� Infantil: as três melhores fantasias foram premiadas com um par de Passaportes da Alegria do Playcenter.

� 1º lugar Luxo e Originalidade: vale-cortesia com direito a acompanhante do restaurante Mestiço.

� 1º lugar Comicidade: vale-cortesia com acompanhante do restaurante Rubayat.

� 2º lugar Luxo: vale-cortesia com acompanhante do restaurante Dalva e Dito.

� 2º lugar Originalidade: vale-cortesia com acompanhante do restaurante Sotero.

� 2º lugar Comicidade: vale-cortesia com acompanhante da 1900 Pizzeria.

� 3º lugar Luxo, Originalidade e Comicidade: caixa de minissom digital.

� Folião mais animado: par de Passaportes da Alegria do Playcenter.

Na ocasião, ainda foram sorteados um celular, oferecimento da empresa Spoladore Eventos; dois vales-cortesia da churrascaria Fogo de Chão; dois pares de Passaportes da Alegria; e 20 sacolas ecológicas oferecidas pela empresa Debrin Brasil.

A ADEVA também foi premiada com a presença de um público muito animado e do pessoal da Apae, que abrilhantou ainda mais a festa.

Além das empresas que apoiaram com os vários prêmios, a ADEVA contou com a colaboração da Festa Express, que doou enfeites para a decoração do salão e adereços que foram distribuídos entre os convidados. No ano que vem tem mais!

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Cora l da ADEVAÓtima oportunidade de lazer e

aprendizado, o Coral da ADEVA está com inscrições abertas a todos

os associados e ao público em geral. Regido pelo maestro Júlio Battesti, os ensaios acontecem

todas as terças-feiras, das 17h às 19h, no Centro de Treinamento da ADEVA (Rua São Samuel, 174 -

Vila Mariana). Participe!

Rodrigo na Era Digital

No dia 5 de maio, um sábado, acontece o lançamento do livro “Rodrigo na Era Digital”, de Markiano Charan Filho, diretor-presidente da ADEVA. O evento

será realizado no Museu Lasar Segall (Rua Berta, 111, Vila Mariana - São Paulo), das 15h às 19h. Na ocasião, haverá visita monitorada com audiodescrição a algumas obras da exposição temporária “Poéticas do Mangue”. Com ilustrações de Valeriano, “Rodrigo na Era Digital” (Nova Alexandria, 36 págs.) é o terceiro livro da série criada por Markiano.

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Por Lúcia Nascimento [email protected]

Rei, Príncipe, Duque, Visconde, Marquês e Conde. Eram esses os apelidos dos seis integrantes do Titulares do Ritmo, um dos grupos musicais mais afinados do Brasil.

Formado por seis deficientes visuais, o Titulares tem sua origem no Instituto São Rafael para Deficientes Visuais, de Belo Horizonte, onde, além do ensino fundamental, seus “nobres” integrantes estudaram teoria musical e canto, nos idos de 1940.

“O mais gozado é que nos tratávamos assim”, lembra o ritmista e voz aguda do grupo, João Cândido Brito, 83, o Visconde.

Segundo ele, a ideia de formar um grupo musical nasceu de uma roda de samba que os jovens costumavam fazer nos recreios. “Na brincadeira, percebemos que muitos colegas gostavam de cantar, mas nem todos levavam jeito. Então, o Chico [Francisco Nepomuceno, o Rei] me chamou para que fizéssemos uma seleção, a fim de formar um grupo”, recorda.

Uma vez formado, o sexteto começou a cantar nos eventos do São Rafael, inspirado por conjuntos como Quatro Ases e Um Curinga, Bando da Lua, Anjos do Inferno e Os Cariocas.

Ao ouvi-los, o apresentador e diretor

Elias Salomé, do programa “Escola de Rádio”, que revelava talentos musicais, ficou tão emocionado, que os contratou imediatamente.

A estreia profissional do Titulares do Ritmo foi no dia 3 de setembro de 1945, na Rádio Inconfidência Mineira, com o samba “Como Se Faz Uma Cuíca”, de Pedro Caetano.

Por seis meses, cantaram na Inconfidência, o que fez com que ganhassem dinheiro, conquistassem os ouvintes e a concorrente, a Rádio Guarani, para onde se transferiram.

Já bem conhecidos em Minas Gerais, em 1947, a convite de uma turma de normalistas da Escola Caetano de Campos, da qual fazia parte a professora Dorina de Gouvêa Nowill, o sexteto viajou para São Paulo para uma série de shows na Fundação para o Livro do Cego no Brasil (hoje Fundação Dorina Nowill).

Embora ainda tivessem um programa na Rádio Guarani, eles já estavam decididos a se estabelecer em São Paulo. Para atingir esse objetivo, Brito conta que eles organizaram uma nova excursão pelo sul de Minas, onde enfrentaram muita chuva e pouco público.

Ajudados pelo ex-colega Geraldo Sandoval e pela Fundação, eles conseguiram se instalar definitivamente na capital paulista em fevereiro de 1948,

onde estrearam com grande sucesso na Rádio Gazeta.

Carreira em São Paulo e futebol

A passagem do Titulares do Ritmo pela Gazeta durou aproximadamente um ano. Como o público era muito seleto, Brito explica que eles decidiram se transferir para a Rádio Bandeirantes, mais popular. Lá eles trabalharam de 1949 a 1956, participando de toda a programação da emissora.

Em 1950, assinaram contrato com a gravadora Odeon e lançaram seu primeiro disco, interpretando o bolero “Llanto de Luna”, de J. Gutierrez e Roberto Corte Real, e o samba “Nega Distinta Taí”, de Francisco Nepomuceno. Gravaram também a marcha “Chiquita”, de Chico e Baiano, e o samba “Não Põe A Mão”, de Mutt, Arnô Canegal e Buci Moreira, primeiro grande sucesso do grupo.

Nos anos seguintes, passaram por quase todas as gravadoras brasileiras. Foram vários sucessos, entre sambas, toadas, marchas, foxtrote, baião, e mais de 16 LPs gravados. Tiveram ainda dois programas exclusivos, um na Rádio Tupi e outro na Record.

Hinos de clubes de futebol, como os do Corinthians e do Grêmio, também

Eles cantaram as coisas do BrasilCONVIVA conversa com um dos integrantes do Titulares do Ritmo

Titulares do Ritmo: Francisco e Geraldo Nepomuceno de Oliveira, Domingos Ângelo de Carvalho, João Cândido Brito, Joaquim Alves e Sóter Cordeiro

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fizeram parte do repertório musical do Titulares. Em função da conquista da Copa do Mundo da Suécia, em 1958, gravaram as marchas “Brasil! Brasil!”, de Alceu Menezes, e “A Taça do Mundo É Nossa”, de Mau, Dag e Lau, que se tornaram grandes sucessos e ainda hoje são lembradas.

Ao longo da carreira, o grupo fez também várias produções voltadas para as festas natalinas, como as gravações, em 1959, de “O Tannebaum”, de Ernst Anschultz, e do fox “Sinos de Belém”, com versão de Evaldo Rui. No mesmo ano, lançaram, pelo selo Califórnia, o rock-balada “Estúpido Cupido”, de H. Greenfield e N. Sedaka, com versão de Fred Jorge, e o maxixe “João Cachaça”, de Vitor Dagô. No ano seguinte, pelo mesmo selo, gravaram as marchas--hino “Hino a São Paulo” e “Hino do Estudante”, de Júlio Revoredo.

Os Titulares do Ritmo também fizeram “background” para inúmeros cantores, de Sílvio Caldas e Elizeth Cardoso a Benito de Paula.

TelevisãoNa tevê, os Titulares integraram o elenco das

Emissoras Associadas (1956), das Unidas (1960) e da TV Excelsior (1965), e participaram de diversos programas, com destaque para o “Programa Viva o Samba”, de Silvio Santos.

Nos anos 60, gravaram, pela RGE, uma série de três LPs (The Playing’s) interpretando covers de sucessos americanos acompanhados de quatro vozes femininas. No entanto, Brito conta que o trabalho não pôde ser divulgado à época devido ao contrato que eles tinham com a RCA. “A primeira propaganda dos LPs foi uma foto nossa com um disco tampando os nossos rostos, para ninguém nos reconhecer”, recorda.

Ganhadores de seis prêmios Roquete Pinto, os Titulares se destacaram também nos jingles. Um dos seus trabalhos mais famosos foi o jingle de Natal que eles fizeram para a Casas Pernambucanas. “Foi a propaganda mais bonita já existente no Brasil”, afirma Brito sem falsa modéstia.

Dos seis Titulares do Ritmo, infelizmente, apenas dois estão vivos: Domingos Ângelo de Carvalho, o Duque, e Brito, que falou com o CONVIVA.

Natural de Bom Jesus do Galho (interior de Minas), Brito vive e mora em São Paulo. Casado há 58 anos com Carmen, tem quatro filhas e quatro netos.

Para os deficientes visuais que sonham em vencer como ele e os colegas, Brito recomenda paciência e perseverança: “Se vocês desistirem, ninguém saberá que existiram”.

João Cândido Brito, o Visconde

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Signo: Aquário.Uma cor: Rosa.

Hobby: Colecionar caixinhas de música.Um filme: “Ao Mestre, Com Carinho” (1967).Um livro: “Amor Sem Igual”, de Danielle Steel.

Um estilo de música: Popular.Uma música: “A Viagem”, de Cleberson

Horsth e Aldir Blanc, interpretada pelo grupo Roupa Nova.

Cantora preferida: Cláudia.Cantor: Roberto Carlos.

Sobre a deficiência: Ela tem de ser esquecida, para a pessoa poder viver.

Religião: Espírita.Deus: É o centro do universo.

Amigos: Tenho poucos, mas verdadeiros.Amor: É desejar a felicidade de quem você ama, mesmo que custe a sua infelicidade.

Esporte preferido: Vôlei.Time do coração: Corinthians.

Família: Quando unida, é o maior passo para um lar feliz.

Um sonho: Que um dia não haja mais violência, desigualdade e preconceito.

O que fazer para viver melhor? Se colocar no lugar do outro.

Uma frase: “Quem quer o mundo mudar, deve por si começar.”

Jogo rápido com Eva Martins

Eva, um talento que faz parte das vitórias da ADEVA

Associada desde 2000, venceu no dominó e brilhou nos palcos

Por Lúcia Nascimento [email protected]

“O teatro abriu muitas portas para mim.” É o que revela Eva Martins, 60, cega de nascença e um talento com uma linda história de vitórias na ADEVA. “Eu não sou fundadora, mas conheço a entidade desde a sua inauguração, em 1978, ano em que nasceu o meu filho. Eu era vendedora ambulante na época e fui informada por alguns colegas de que lá vendia papel sulfite. Então fui, comprei e conheci a Sandra [Maciel, vice-presidente da ADEVA]”, lembra.

Ágil na leitura em braile, Eva se destacou na ADEVA recitando e interpretando textos, como quando da I Gincana Cultural Louis Braille, promovida pela Sociedade Amigos da Biblioteca Braille do Centro Cultural São Paulo e que envolveu, além da ADEVA, mais duas entidades de deficientes visuais: o Centro de Apoio ao Deficiente Visual (Cadevi) e o Amigos Pra Valer. Na disputa, Eva fez a leitura da crônica “Criança, escrava da mídia”, de Laércio Taioli, e conseguiu a nota máxima, dando uma importante contribuição para a vitória da equipe Golfinhos, da ADEVA.

Na mesma competição, ela também participou do jogo de perguntas e respostas e do torneio de duplas de dominó, ao lado do colega Sérgio Danna, obtendo o segundo lugar nas duas disputas. Na gincana anterior promovida pelo Cadevi,

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em 2000, foi campeã de dominó ao lado do filho Sandro, também representando os Golfinhos. “Dominó é a única coisa que eu sei jogar”, confessa.

Com uma bela voz de contralto, Eva também integrou, por cerca de um ano, o coral da ADEVA. Mas a sua paixão é o teatro.

Talento no palcoEm 2003, a ADEVA firmou uma parceria com a Secretaria

da Cultura do Estado de São Paulo, por meio do projeto Talentos Especiais, que levou vários de seus alunos e associados

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para uma oficina de teatro. Eva foi uma das primeiras partici-pantes do grupo, que, sob a orientação e direção da atriz Nina Mancin, encenou no palco do Teatro Ruth Escobar a peça “Retalhos”, uma coletânea de textos de vários autores.

“Eu contracenei com a Liane [Constantino, ex-editora do CONVIVA] e com a Inesita, prima dela. Éramos três velhas fofoqueiras”, diverte-se. Nos dois anos seguintes, Nina dirigiu o mesmo grupo nas peças “O Girassol” e “Um Lugar Qualquer”, de Renato Benedetti, além de vários textos de Shakespeare, todos com a brilhante atuação de Eva.

Nascida em Guararapes (oeste do Estado), Eva conta que desde menina tinha uma queda pelo teatro. Junto com um primo, escrevia peças, preparava os atores e montava o cenário na varanda da casa de sua avó. “Era tudo muito bem ensaiadinho. Se algum personagem precisasse desmaiar, já tinha uma cama para ele cair”, recorda. A plateia, que, segundo ela, ficava no quintal da casa, aplaudia muito e, no outro dia, pedia bis.

Eva estudou até a oitava série no Instituto de Cegos Padre Chico, no Ipiranga, e diz que nos vários eventos realizados lá era sempre ela a oradora da turma, inclusive na cerimônia da sua formatura. Posteriormente, fez o segundo grau no Colégio Estadual Casimiro de Abreu, na Vila Guilherme, e no Colégio Estadual Dr. Miguel Vieira Ferreira, na Vila Medeiros.

Seu primeiro emprego foi na extinta Fábrica de Biscoitos Duchen, onde trabalhou por um ano. Posteriormente, começou um curso de programação no Instituto Brasileiro de Incentivos Sociais; fez curso de massoterapia; trabalhou como vendedora ambulante; e, finalmente, em 1989, prestou concurso público para operadora de câmara escura no Estado, trabalho que exerce até hoje, prestando serviços no Hospital do Mandaqui, no setor de raio X.

Casada há 21 anos com o também servidor público Aguinaldo, Eva tem três filhos: Ricardo, Sandro e Denise; e três netos: Giulia, Gustavo e Eduardo.

Em 2000, Eva se tornou associada da ADEVA e fez todos os cursos que a entidade lhe ofereceu, como os de informática, telemarketing e liderança. Hoje, ela frequenta a associação em ocasiões especiais, mas acompanha de perto o trabalho e os cursos profissionalizantes oferecidos, que, na sua opinião, estão cada dia melhores. “Eu só lamento o fato de muitos jovens deficientes que recebem o Loas [amparo assistencial] não quererem trabalhar. É muito importante poder estudar e trabalhar ao mesmo tempo”, diz.

Por sua vez, Eva ainda sonha voltar ao teatro e, se possível, fazer um curso profissionalizante nessa área. “O teatro me ajudou muito. Se eu já não era inibida, fiquei melhor”, conclui.

ADEVA e Instituto de Pesquisas

Eldorado firmam parceria

Visando a capacitação e a inclusão da pessoa com deficiência visual no mercado de trabalho, a ADEVA e o Instituto de Pesquisas Eldorado firmaram, no final de 2011, uma parceria para ensinar programação Cobol (linguagem de computação em mainframe) a seus alunos.

Após um primeiro contato, o Instituto Eldorado viu na ADEVA a possibilidade de atingir pela primeira vez o deficiente visual por meio de um braço do projeto de capacitação profissional Oficina do Futuro, que apoia desde 2004.

Criado em 2007, o Oficina do Futuro PcD é uma iniciativa do Instituto de Pesquisas Eldorado em parceria com empresas e instituições ligadas à temática das pessoas com deficiência, que acreditam no potencial dessa importante parcela da sociedade e na sua integração no mercado brasileiro de tecnologia da informação e comunicação.

“O Cobol ainda é um grande mercado de trabalho para o deficiente e com essa parceria com o Instituto Eldorado podemos preparar os deficientes visuais de São Paulo e Campinas para entrar no mercado de trabalho atualizados com o que há de mais novo nessa área no momento”, diz Sandra Maciel, vice-presidente da ADEVA.

Fundado em dezembro de 1997 em Campinas e em operação desde março de 1999, o Instituto Eldorado foi criado com foco em pesquisa e desenvolvimento na área de tecnologia da informação e comunicação e na capacitação de pessoas para esse mercado.

A ideia agora é que a ADEVA continue fazendo outros cursos em parceria com o Instituto, que no momento está oferecendo um de capacitação técnica profissional em lógica de programação e introdução a SQL.

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Por Ivan de Oliveira Freitas [email protected]

Esperança de medalha para o Brasil, o futebol de cinco, ou fut5, que já foi tema da edição 53 do CONVIVA, é uma dasEsperança de medalha para o Brasil, o futebol de cinco, ou fut5, que já foi tema da edição 53 do CONVIVA, é uma das 20 modalidades que estarão presentes nos Jogos Paralímpicos de Londres, que acontecem entre os dias 29 de agosto e 9 de setembro de 2012.

Modalidade do futebol exclusiva para cegos e deficientes visuais, o fut5 tem uma peculiaridade especial: o goleiro é o único atleta que enxerga dentro das quatro linhas. Mas para que ele não leve vantagem sobre os demais jogadores, algumas adaptações foram feitas: a área de defesa abrange apenas 2 metros à frente da trave, e o goleiro não pode sair em hipótese alguma, muito menos tocar na bola ou em algum adversário fora dela. No futsal, por exemplo, a área do goleiro é de 6 metros e ele pode sair da área e até fazer gol.

Assim sendo, resolvemos entrevistar o goleiro da seleção brasileira de fut5 Antônio Taffarel de Carvalho, 24, que joga pela equipe da APADV (Associação de Pais, Amigos e Deficientes Visuais) de São Bernardo do Campo desde 2007, e está treinando com o time que irá em busca do inédito tricam-peonato paralímpico em Londres.

CONVIVA: Você joga futebol há quanto tempo?Taffarel: Comecei a jogar futebol com quatro anos. Era muito agitado e minha mãe optou por me colocar em uma escolinha para que eu gastasse um pouco de energia.

CV: E futebol de cinco, quando e como começou?Taffarel: Após encerrar a minha carreira no futebol de campo profissional, em 2006, ingressei na faculdade de Educação Física. Lá conheci a modalidade e, em 2007, uma amiga me apresentou a alguns integrantes da APADV de São Bernardo.

CV: Quais eram as suas expectativas antes de conhecer essa modalidade?Taffarel: Sinceramente, acreditei que ia conhecer a instituição e iniciar um trabalho voluntário, com foco social, pois não imaginava a capacidade e eficiência com que os cegos podem jogar futebol.

CV: Quais foram as dificuldades encontradas?Taffarel: Nos primeiros treinos, encontrei bastante dificuldade na adaptação ao tipo de orientação necessária que deveria passar aos atletas dentro do jogo. Além do meu posicionamento diante de um atleta antes do chute.

CV: Quais são as diferenças básicas de ser goleiro de futsal e de fut5?Taffarel: O goleiro de futsal convencional tem liberdade total de movimentos. No fut5, os goleiros são limitados por área menor de 2 metros de comprimento por 5 metros de largura. Por isso, a velocidade de reação tem de ser maior, para defesas a distâncias curtas. Além, é claro, do posicio-namento e da orientação diferenciada que citei anteriormente.

CV: Quais são as suas metas para 2012?Taffarel: Estou em preparação para os Jogos Paralímpicos de Londres com a seleção brasileira, portanto o primeiro objetivo é a conquista da medalha de ouro.Passadas as Paralimpíadas, iniciarei uma nova preparação visando o Campeonato Brasileiro com a APADV.

Fut5 do Brasil vai em busca do tri em Londres

CONVIVA fala com Taffarel, goleiro da seleção de futebol de cinco

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CuriosidadeVocê sabia que existem áreas de preservação permanente ocupadas por áreas

urbanas? O Estádio Beira-Rio, o Cristo Redentor e o Palácio do Planalto são

três exemplos. A ideia é regularizá-las desde que não estejam em áreas de

risco. Em contrapartida, as áreas de proteção de mananciais e as faixas de APP

deverão ser recuperadas. Como incentivo à regularização ambiental de imóveis

rurais, o novo código prevê a suspensão de multas para proprietários que deci-

direm regularizar seu imóvel recuperando as APPs e a Reserva Legal.

Por Sidney Tobias de Souza [email protected]

Nos últimos meses, ouviu-se uma enxurrada de opiniões favoráveis e contrárias ao novo Código Florestal brasileiro. Certamente, o assunto é polêmico, pois há interesses antagônicos envolvidos. Ruralistas, ambien-talistas, gestores públicos e pequenos agricultores defendem ou combatem pontos do código que lhes interessam ou não. Mas o que muda de fato?

A fim de proteger a mata ciliar, o código atual, que vigora desde 1965, exige uma faixa de proteção a partir das margens dos rios de 30 a 500 metros, dependendo da largura do rio, e isso não mudou. A nova medição, porém, será feita a partir do leito regular e não mais do leito maior (períodos de cheia), o que na prática diminui o espaço de preservação. Além disso, há uma exceção para os rios estreitos com até 10 metros de largura. Caso a mata ciliar desses rios tenha sido totalmente devastada, a obrigatoriedade de recomposição é de apenas 15 metros. É bom lembrar que a função da mata ciliar não é apenas impedir a erosão, mas também proteger a fauna e a flora. Portanto, o plantio de árvores somente não basta. É necessário haver uma cobertura florestal, uma faixa de proteção ambiental em evolução natural. Para isso, o limite de 30 metros é pouco.

Para pequenos açudes com menos de 1 hectare, construídos em propriedades rurais visando a dessedentação de animais, será dispensada a Área de Proteção Permanente (APP).

Já represas em zona rural com até 20 hectares de superfície deverão manter APP de 15 metros, no mínimo, se não forem usadas para abastecimento público ou geração de energia. Caso contrário, a APP deverá ser de 30 a 100 metros em área rural, e de 15 a 50 metros em área urbana.

O novo código exige que as indústrias que utilizam grande quantidade de matéria-prima florestal tenham um Plano de Suprimento Sustentável (PSS), com indicação das áreas de origem da matéria-prima e cópia do contrato de fornecimento. Além disso, o PSS de empresas que consomem grande quantidade de lenha ou carvão vegetal deverá prever o uso exclusivo de florestas plantadas.

O novo código também prevê que o controle da origem do carvão, da madeira e de outros subprodutos florestais fique disponível na internet.

Para exploração de florestas nativas, o código exige licenciamento ambiental com base em um Plano de Manejo Florestal Sustentável (PMFS), no qual devem constar mecanismos de controle dos cortes, da regeneração e do estoque existente. O corte autorizado para uso do solo pela agropecuária, o manejo de florestas plantadas fora da reserva legal e a exploração não comercial realizada por agricultores familiares estão isentos do PMFS.

O novo código permite a manutenção de culturas de espécies lenhosas (café, uva, maçã) ou de atividades silviculturais, assim como a infraestrutura física associada a elas em APPs de topos de morros, montes e serras com altura mínima de 100 metros e inclinação superior a 25 graus, bem como em locais com altitude superior a 1,8 mil metros.

Nesses casos, a tragédia da Região Serrana do Rio, no ano passado, deveria servir como alerta. Naquela região, houve plantio de café. A cobertura vegetal da serra, portanto, era resto de floresta, incapaz de absorver uma grande precipitação.

Enfim, o novo código está aí. Nós, brasileiros, não queremos uma repetição da destruição que aconteceu na Mata Atlântica na Amazônia, nem uma desertificação, com o solo envenenado e esgotado. Fiquemos atentos!

A polêmica em torno do novo Código FlorestalReforma “flexibiliza” a recomposicão de áreas

desmatadas e a preservação ambiental

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Por Laercio Sant’Anna [email protected]

Por mais que eu me esforce, não consigo colocar em palavras o que experimentei no dia que o meu sobrinho chegou em casa com o novo iPhone 4S. Ele colocou o aparelho em minhas mãos e disse: “Pronto, tio, já ativei a acessibilidade. Vê se é verdade”. Então, cinco minutos depois, sem conhecer praticamente nada do celular e do leitor de tela VoiceOver, consegui acessar um vídeo no YouTube e tirar uma foto da caçulinha da família com qualidade perfeita.

Os amigos leitores que enxergam não têm ideia do sentimento experimentado por um deficiente visual quando este se sente realmente incluído na sociedade. E é exatamente isso que a Apple tem feito há mais de 20 anos, ao criar soluções inovadoras para pessoas com deficiência ou não.

Para nós, deficientes visuais, está disponível o VoiceOver. É o primeiro leitor de tela baseado em gestos manuais. Em vez de decorar comandos de teclado ou pressionar teclas minúsculas, basta passar o dedo pela tela do aparelho para ouvir a descrição do item e, com dois toques, acioná-lo. Basta deslizar rapidamente o dedo da esquerda para a direita (como se estivesse limpando uma sujeira da tela) para que o software cite item por item do aplicativo aberto. Um movimento rápido de cima para baixo com dois dedos fará com que o texto apresentado na tela seja lido a partir do ponto que está até o fim do documento.

Outro recurso muito interessante é o rotor. Rodando dois dedos na tela como se gira um botão de rádio, a forma como o VoiceOver se desloca numa página da internet é modificada, com base numa definição escolhida por você. Por exemplo, o arrastar do dedo para cima ou para baixo

pode permitir percorrer uma página por cabeçalho, hiperlink, botões, imagens, etc.

O VoiceOver fala 21 idiomas e funciona com todas as aplicações que tenham sido desenvolvidas seguindo os padrões de acessibilidade do W3C.

Para as pessoas idosas ou que têm dificuldade de enxergar, está disponível o zoom, recurso que permite ampliar a tela em até cinco vezes. O zoom funciona em qualquer ponto, incluindo as telas iniciais. Se o usuário preferir um contraste maior, é possível mudar a tela para branco sobre preto. Para as pessoas com outros tipos de deficiência, é possível, por exemplo, no caso das pessoas com problemas auditivos, encaminhar os canais de áudio direito e esquerdo para ambos os fones, para que seja possível escutar os dois

canais em qualquer dos lados. Para as pessoas surdas, estão disponíveis ainda recursos que facilitam o uso de legendas em vídeos e podcasts.

Um dos últimos lançamentos da Apple foi o iPhone 4S. Dentre os inúmeros recursos desse smartphone, vale a pena citar o Siri. Com ele, o aparelho pode ser totalmente operado por comandos de voz. Basta dizer “me lembre da reunião com o José amanhã às 11h”, para que o compromisso seja registrado no celular, ou “que horas são?”, para que o aparelho responda a hora certa. É uma pena que ainda não esteja disponível em português e que por ser

novidade ainda esteja apresentando alguns problemas de reconhecimento.

No entanto, para um amante de tecnologia, é realmente um sonho poder apontar um iPhone ou iPad para uma pessoa e ouvir “rosto grande centralizado” antes de bater uma foto. Pena que para o bolso da grande maioria ainda continue sendo um pesadelo.

Apple inova e traz o deficiente “de volta para

o futuro”Empresa cria importantes recursos de acessibilidade, como o VoiceOver e o Siri

App StoreA App Store é uma loja virtual da Apple que oferece milhares de pro-gramas (aplicativos) para baixar por preços muitas vezes acessíveis. Basta conectar seu produto Apple a ela e, com um cartão de crédito, adquirir o software desejado. O processo de download é muito simples também. É possível, por exemplo, instalar um aplicativo que indica a contagem dos batimentos cardíacos da pessoa pelo simples toque de um dedo na tela.

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http://www.adeva.org.br

Totalmente reformulado, o site da ADEVA oferece melhor na-

vegação e compreensão para quem usa o teclado, o mouse ou

um software leitor de tela. Entre as novidades, destacam-se a

versão para leitura e download dos CONVIVAs e um novo

sistema de doações on-line.

http://blogdaaudiodescricao.

blogspot.com.br

O Blog da Audiodescrição tem como propósito manter os

leitores bem informados sobre as últimas novidades da audio-

descrição no Brasil e no mundo, além de buscar apoio para o

esclarecimento e convencimento de administradores públicos

e empresários sobre os benefícios da prática.

http://www.dicionarioderuas.

prefeitura.sp.gov.br

Parte do Arquivo Histórico da Prefeitura de São Paulo, o

Dicionário de Ruas permite ao usuário consultar a origem do

nome de qualquer uma das ruas da metrópole por meio de

uma busca rápida. Conta ainda com textos sobre legislação,

histórico das placas e uma bela galeria de imagens.

O rádio e o esporte das multidões

Não há histórias mais ricas em conquistas e grandes jornadas do que as memoráveis coberturas esportivas realizadas pelo rádio brasileiro nas últimas décadas. Protagonizadas por uma verdadeira epopeia de radialistas, essas coberturas marcaram um período glorioso do futebol brasileiro, como as conquistas da Copa do Mundo da Suécia, em 1958, e do Chile, quatro anos depois, cujo jubileu de ouro comemora-se neste mês de junho. Portanto, momento oportuno para reverenciarmos esse grande feito do esporte brasileiro, com a participação imperiosa do rádio. Naquele 30 de maio de 1962, cerca de 70 milhões de brasileiros estavam mais uma vez mobilizados em torno da estreia da seleção brasileira (que buscava o bicampeonato) diante do México.

Naquela época, as coberturas internacionais eram extremamente complexas e muitas vezes o trabalho era realizado quase “no escuro”, isto é, sem retorno. No entanto, os registros fonográficos disponíveis ainda hoje resgatam no velho som do SSB (sistema de transmissão de longa distância) as lembranças de uma época romântica do rádio, assim como o poder de superação de uma geração de verdadeiros fenômenos da transmissão esportiva, discípulos do saudoso Nicolau Tuma, o “locutor-metralhadora”, criador do estilo das narrativas rápidas do futebol.

A Radional, empresa de comunicação oficial do governo, tinha a missão de receber e redistribuir o sinal vindo do exterior para as emissoras de origem, o que tornava o complemento operacional ainda mais difícil. Mas, apesar de todas essas limitações operacionais, o rádio teve participação decisiva na consolidação dessas conquistas, uma vez que ainda estava distante a fase das transmissões diretas pela televisão. De forma funcional, emocionante e imediata, o rádio levou ao torcedor brasileiro uma campanha quase perfeita da seleção de ouro, como ficou conhecida a equipe que conquistou o bicampeonato mundial diante da Tchecoslováquia na grande final do dia 17 de junho.

O rádio brasileiro mais uma vez destacou-se com os trabalhos desenvolvidos brilhantemente pelas rádios Bandeirantes, com Pedro Luiz e Edson Leite, Panamericana (atual Jovem Pan), com Geraldo José de Almeida e Geraldo Blota, e Guanabara, do Rio, com Odovaldo Cozi, João Saldanha, Don Alsei Camargo e Mário Viana.

Por Geraldo Pinheiro

Fanáticos por Futebol: de segunda a sexta, a partir das 22h. Apresentação: Marcelo Duarte. Rádio Bandeirantes - AM 840 e FM 90,9.Memória do Plantão: todo domingo, às 12h30. Apresentação: Vander Luiz. Rádio Jovem Pan - AM 620 e FM 100,9.

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EXPEDIENTE: Jornalista responsável: rafael Brandimarti (Mtb 62.567). colaboradores: geraldo pinheiro da Fonseca Filho, Ivan de Oliveira Freitas, laercio Sant’Anna, lothar Antenor Bazanella, lúcia Nascimento (Mtb 29.273), Márcio Spoladore, Markiano charan Filho, Sandra Maciel, Sidney tobias de Souza. correspondência: rua São Samuel, 174, Vila Mariana, cep 04120-030 - São paulo (Sp) - telefones: 11 5084-6693 / 5084-6695 - fax: 11 5084-6298 - e-mail: [email protected] - site: www.adeva.org.br. editoração: Fernanda lorenzo. revisão: célia Aparecida Ferreira. Fotolitos e impressão: cortesia garilli Artes gráficas ltda. - tel.: 11 2696-3288 - e-mail: [email protected] tiragem: 1.000 exemplares. DIStrIBuIçãO grAtuItA.

Um dedo de trova

Infância é brinquedo usadoque um dia a vida resolvetomar um pouco emprestadoe nunca mais nos devolve.

Arlindo Tadeu Hagen - MG Longe agora a infância vai...E nos caminhos que trilho,que triste é dizer “meu pai”,sem que respondas “meu filho”!

Sérgio Bernardo - RJ “Depois não quer que eu me queixe”,diz ao doutor, a velhinha,“meu pé tem olho-de-peixe,meu olho, pé-de-galinha!”

Lothar Bazanella - SP

Círculo viciosoBailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:Quem me dera que fosse aquela loura estrela,Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme: Pudesse eu copiar o transparente lume,Que, de grega à gótica janela,Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!Mas a lua, fitando o sol, com azedume: Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquelaClaridade imortal, que toda a luz resume!Mas o sol, inclinando a rútila capela: Pesa-me esta brilhante auréola de nume...Enfara-me esta azul e desmedida umbela...Por que não nasci eu um simples vaga-lume?

Machado de Assis

Por Lothar Antenor Bazanella

Shut

terS

tOck

100 anos de Jorge AmadoPara celebrar o cente-nário do escritor Jorge Amado, o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, abriga, a partir do dia 17 de abril, a e xpos i ç ão Jo rge Amado e Universal. Com acervo pertencen-te à Fundação Casa de Jorge Amado, a mostra está dividida em cinco módulos que abarcam

os personagens, a vida política, a malandragem e a sensualidade presentes na obra do autor, e a Bahia. Museu da Língua Portuguesa - Praça da Luz, s/nº (próximo à estação Luz do Metrô). De terça a domingo, das 10h às 17h30. R$ 6. Grátis aos sábados. Até 22/07.

ExposiçãoO Centro Cultural São Paulo recebe, entre os dias 28 de abril e 3 de junho, a mostra Sentido - Matrizes de Gravura, onde o público é convidado a sentir a expressão da gravura proporcionada pela textura da matriz ao tato. Parte do programa Livre Acesso, do CCSP, na exposição estão representados alguns dos mais relevantes gravadores brasileiros da atualidade. CCSP - Rua Vergueiro, 1.000 (próximo à estação Vergueiro do Metrô). Espaço Mário Chamie (Praça das Bibliotecas). De terça a sexta, das 11h às 20h; sábados, domingos e feriados, das 11h às 18h. Entrada franca.

PasseioAdaptado para receber pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, o Hotel Fazenda Campo dos Sonhos é uma ótima opção para o fim de semana ou feriado. Localizado na Serra da Mantiqueira, a seis quilômetros da cidade de Socorro (SP), é uma fazenda que começou a trabalhar com o turismo rural e se transformou num aconchegante hotel-fazenda. Informações e reservas: (19) 3895-3161 ou pelo site www.campodossonhos.com.br

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