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Sem Opção Veículo: O Globo - Caderno: Economia - Seção: E agora, Brasil? - Assunto: Economia - Página: 21 22 23 - Publicação: 09/04/20 URL Original: 'E agora, Brasil?’: Além dos desafios. Um futuro com mais diálogo e solidariedade 'E agora, Brasil?’: Além dos desafios. Um futuro com mais diálogo e solidariedade Debate virtual reuniu o secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, a economista Zeina Latif e a empresária Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza O Brasil que sairá da crise do coronavírus terá que vencer uma recessão profunda e duradoura sob cenário externo adverso e missão fiscal redobrada. Será preciso fugir à tentação de transformar em permanentes os gastos emergenciais que a pandemia exige, mas superando as deficiências em matéria de saúde, saneamento e inclusão que ela escancara. O desafio extrapola, porém, os limites da economia, exigindo transformações no próprio tecido social: empresas mais solidárias; uma classe política mais madura e aberta ao diálogo; um país menos desigual. Essa é a rota traçada no seminário “E agora, Brasil?”, que reuniu esta semana em debate virtual o secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, a economista Zeina Latif e Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza. O evento foi realizado pelos jornais O GLOBO e Valor Econômico, com patrocínio do Sistema Comércio através da CNC, do Sesc, do Senac e de suas Federações. Renda:Pandemia torna urgente ajuda à população vulnerável Segundo Zeina, as discussões sobre o futuro partem de passos em falso no passado. A crise ressalta mazelas de um país desigual, com saneamento escasso e informalidade que abarca 40% dos trabalhadores, dificultando a implementação de medidas de socorro. O próprio Mansueto admite que levar o auxílio emergencial de R$ 600 à população será “um esforço de guerra”. ““Não somos uma sociedade coesa, que olha para o próximo. O sentimento de solidariedade tem que perpassar nossas relações”” Para piorar, argumenta Zeina, o Brasil repetiu e potencializou os erros de seus pares ocidentais na reação à pandemia. Ignorou alertas externos e internos e levou semanas para impôr isolamento: — O Ocidente inteiro errou, tirou poucas lições do que acontecia no Oriente. Mas o Brasil errou mais, elevando o custo econômico e dificultando a definição de estratégias. Emprego:Diante das mudanças impostas pelas restrições sanitárias, é preciso agilidade para evitar demissões O custo econômico vai ser alto, prevê ela. A parada foi brusca, terá consequências duradouras e será agravada por um mundo mais fechado. Mas a consultora defende que, além de medidas econômicas, mudanças sociais serão necessárias: — Não somos uma sociedade coesa, que olha para o próximo. O sentimento de solidariedade tem que perpassar nossas relações. Eliminar oportunismos é uma forma de garantir uma transição melhor do isolamento, porque o movimento não será tranquilo. Importância das reformas Para Mansueto, uma lição da crise é a necessidade das reformas. Foi graças àquelas já feitas que “não sairemos quebrados desta crise”, observa, citando a importância dos juros baixos para financiar um déficit temporariamente maior do setor público, podendo chegar a R$ 500 bilhões este ano. Setor produtivo:Indústria terá de ganhar espaço na cadeia global de fornecedores, dizem analistas Afinal, diz o secretário, o envelhecimento rápido da população brasileira exigirá mais gastos com o Sistema Único de Saúde (SUS), que já não corresponde às necessidades. Ele defende mudanças constitucionais para tornar esse investimento mais eficiente, como a retirada de percentuais mínimos de investimento, que, apesar de meritórios, criam uma amarra. ““Além de reformas, vamos precisar de muito diálogo e solidariedade”” Mansueto Almeida Secretário do Tesouro Mas Mansueto concorda com Zeina que a atual crise reforça a necessidade de maturidade política e solidariedade social: — Além de reformas, vamos precisar de muito diálogo e solidariedade. Depois da Segunda Guerra, os países se reconstruíram e

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SemOpção

Veículo: O Globo - Caderno: Economia - Seção: E agora, Brasil? - Assunto:Economia - Página: 21 22 23 - Publicação: 09/04/20URL Original:

'E agora, Brasil?’: Além dos desafios. Um futuro commais diálogo e solidariedade'E agora, Brasil?’: Além dos desafios. Um futuro commais diálogo e solidariedadeDebate virtual reuniu o secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, aeconomista Zeina Latif e a empresária Luiza Helena Trajano, do MagazineLuizaO Brasil que sairá da crise do coronavírus terá que vencer uma recessão profunda e duradoura sob cenário externo adverso emissão fiscal redobrada. Será preciso fugir à tentação de transformar em permanentes os gastos emergenciais que a pandemiaexige, mas superando as deficiências em matéria de saúde, saneamento e inclusão que ela escancara. O desafio extrapola,porém, os limites da economia, exigindo transformações no próprio tecido social: empresas mais solidárias; uma classe políticamais madura e aberta ao diálogo; um país menos desigual.Essa é a rota traçada no seminário “E agora, Brasil?”, que reuniu esta semana em debate virtual o secretário do Tesouro,Mansueto Almeida, a economista Zeina Latif e Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração do MagazineLuiza. O evento foi realizado pelos jornais O GLOBO e Valor Econômico, com patrocínio do Sistema Comércio através da CNC, doSesc, do Senac e de suas Federações.Renda:Pandemia torna urgente ajuda à população vulnerávelSegundo Zeina, as discussões sobre o futuro partem de passos em falso no passado. A crise ressalta mazelas de um paísdesigual, com saneamento escasso e informalidade que abarca 40% dos trabalhadores, dificultando a implementação demedidas de socorro. O próprio Mansueto admite que levar o auxílio emergencial de R$ 600 à população será “um esforço deguerra”.““Não somos uma sociedade coesa, que olha para o próximo. O sentimento de solidariedade tem que perpassar nossasrelações””Para piorar, argumenta Zeina, o Brasil repetiu e potencializou os erros de seus pares ocidentais na reação à pandemia. Ignoroualertas externos e internos e levou semanas para impôr isolamento:— O Ocidente inteiro errou, tirou poucas lições do que acontecia no Oriente. Mas o Brasil errou mais, elevando o custoeconômico e dificultando a definição de estratégias.Emprego:Diante das mudanças impostas pelas restrições sanitárias, é preciso agilidade para evitar demissõesO custo econômico vai ser alto, prevê ela. A parada foi brusca, terá consequências duradouras e será agravada por um mundomais fechado. Mas a consultora defende que, além de medidas econômicas, mudanças sociais serão necessárias:— Não somos uma sociedade coesa, que olha para o próximo. O sentimento de solidariedade tem que perpassar nossasrelações. Eliminar oportunismos é uma forma de garantir uma transição melhor do isolamento, porque o movimento não serátranquilo.

Importância das reformasPara Mansueto, uma lição da crise é a necessidade das reformas. Foi graças àquelas já feitas que “não sairemos quebradosdesta crise”, observa, citando a importância dos juros baixos para financiar um déficit temporariamente maior do setor público,podendo chegar a R$ 500 bilhões este ano.Setor produtivo:Indústria terá de ganhar espaço na cadeia global de fornecedores, dizem analistasAfinal, diz o secretário, o envelhecimento rápido da população brasileira exigirá mais gastos com o Sistema Único de Saúde(SUS), que já não corresponde às necessidades. Ele defende mudanças constitucionais para tornar esse investimento maiseficiente, como a retirada de percentuais mínimos de investimento, que, apesar de meritórios, criam uma amarra.““Além de reformas, vamos precisar de muito diálogo e solidariedade””Mansueto AlmeidaSecretário do TesouroMas Mansueto concorda com Zeina que a atual crise reforça a necessidade de maturidade política e solidariedade social:— Além de reformas, vamos precisar de muito diálogo e solidariedade. Depois da Segunda Guerra, os países se reconstruíram e

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montaram uma rede de assistência social. Como não faremos no século XXI?No varejo:Novos hábitos vão transformar comércio e serviçosEsta crise, de fato, coloca as outras em perspectiva.— Ninguém pensou que um dia a gente viveria algo parecido. A crise do governo Collor foi 20% do que vivemos hoje — comentaLuiza Trajano, que era diretora executiva do Magazine Luiza em 1990, quando o governo confiscou as cadernetas de poupançados brasileiros.Se a turbulência atual é inédita, também são novas as ferramentas para fazer frente a ela. O Magazine Luiza adotou estratégiaspara aprofundar a digitalização do negócio.— Temos de buscar saídas. Lógico que vamos voltar, mas não vamos ser os mesmos. Nada vai ser o mesmo. Veja os nossoscustos fixos hoje. Cortamos tudo o que dava para cortar que não sejam pessoas, e vimos como vender o máximo pela internet —conta Luiza.““Temos de buscar saídas. Vamos voltar, mas nada vai ser o mesmo””Luiza Helena TrajanoPresidente do Conselho de Administração do Magazine LuizaA colunista do GLOBO Míriam Leitão, uma das mediadoras do encontro, acredita que a crise do coronavírus é aquela que vaipassar o país a limpo:— Vamos pensar no que a gente fez e nos ajudou, como adotar a democracia, acabar com a inflação e ter contas públicastransparentes. Mas também no que não fizemos e vamos ter que fazer. Ao longo dos anos, o governo deixou muita gente paratrás.Demora:Para empresária, ajuda do governo tem de ‘chegar logo’ na pontaPara o editor executivo e colunista do Valor Econômico Cristiano Romero, que também mediou o debate, sairemos mais pobresdesta crise, mas, talvez, conscientes de que não podemos ser tão desiguais:— Desse momento vulnerável e ao mesmo tempo reflexivo emergirá uma sociedade mais fraterna e preocupada com todos osque nela vivem.

'E agora, Brasil?’: Pandemia torna urgente ajuda àpopulação vulnerávelRennan Setti, Glauce Cavalcanti e Lucila Soares3 minutos

Desafio de levar renda a quem está sem trabalhar é ampliado pela informalidade da mão de obraRIO - A pandemia do coronavírus explicitou o fosso social brasileiro, tornando urgente o socorro à população mais vulneráveltanto em termos econômicos como de saúde. Diante disso, segundo o secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, aspreocupações fiscais ficarão em segundo plano neste momento.— No momento, o foco é saúde, proteger as pessoas vulneráveis e fazer o máximo para a manutenção do emprego — afirma. —Todos precisam ser adultos, se unir e colocar isso como prioridade.Leia mais:Futuro pós-crise vai além dos desafios econômicos e exige mais diálogo e solidariedadeO secretário defende as medidas de isolamento, ressaltado que essa restrição sanitária torna obrigatório para o Estado protegeraqueles que não estão podendo trabalhar, sobretudo os que estão na economia informal. Ele cita a importância do auxílio de R$600:— O governo precisa encontrar essas pessoas (vulneráveis) e dar alguma renda. Nessa hora, precisamos contar com o Estado. Eainda bem que o Brasil tem um Estado com uma rede de assistência social muito grande, criada ao longo dos anos pós-Constituição.Emprego:Diante das mudanças impostas pelas restrições sanitárias, é preciso agilidade para evitar demissõesA economista e consultora Zeina Latif afirma que as características socioeconômicas do Brasil dão a medida da urgência:— Somos um país pobre. É preciso olhar para os mais necessitados, que estão muitas vezes do nosso lado.Segundo Luiza Trajano, a assistência aos mais frágeis é crucial, porque o necessário isolamento social de quem pode ficar emcasa tem impactos econômicos difíceis de contornar:— O Brasil já optou pela quarentena horizontal. Colocou quase que todo mundo já dentro de casa. Fecharam as lojas, fecharamtodos. Hoje, se você abrir isso, não vai ter cliente nas ruas. Não tem mais o que se discutir.Demora:Para empresária, ajuda do governo tem de ‘chegar logo’ na pontaNa varejista, a ampliação do programa “Magazine e você” permite que as pessoas desempregadas utilizem a plataforma daempresa para vender produtos on-line e gerar renda.

'E agora, Brasil?’: Diante das mudanças impostas pelas

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restrições sanitárias, é preciso agilidade para evitardemissõesGlauce Cavalcanti, Lucila Soares e Rennan Setti5-7 minutos

Segundo Luiza Helena Trajano, presidente do conselho do Magazine Luiza, maior desafio, agora, é manter os empregos RIO - Com a demanda travada e o isolamento social daqueles que podem ficar em casa, uma das preocupações centrais emmeio à pandemia é a preservação do emprego no país. Para Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza, é preciso agilidade paraevitar demissões, permitindo que as empresas atravessem a crise — sobretudo as pequenas e médias — e consigam aos poucosretomar as atividades para, mais adiante, poder acolher jovens que estão chegando ao mercado.No futuro:Pós-crise vai além dos desafios econômicos e exige mais diálogo e solidariedade— O maior desafio, agora, é manter os empregos. Nós focamos para ver o que poderíamos fazer agora, por enquanto, paramanter emprego e não sair demitindo — diz a empresária, que participou do evento “E agora, Brasil?”, ressaltando as mudançasrápidas ocorridas. — Levei dez anos para o novo chegar da noite para o dia. A gente tinha a missão de levar digitalizaçãoàqueles que não tinham e não podiam e, em cinco dias, está quase todo mundo digitalizado. É um novo inesperado que a gentevai ter que ter muita cautela, muita humildade e muita união para lidar com ele.Proteção social:Pandemia torna urgente ajuda à população vulnerávelCom quase 40 mil funcionários, o Magazine Luiza dispensou trabalhadores em contrato de experiência — mas não aqueles quehaviam saído de outra empresa para trabalhar com eles — e deu férias a grande parte dos colaboradores. Na terça-feira,anunciou ainda que vai reduzir em 80% a remuneração do presidente e do vice-presidente da companhia e já avalia como vaiusar as regras da MP 936, que permite reduzir jornada e salário ou suspender contrato do trabalhador, com compensação viaseguro-desemprego.““Levei dez anos para o novo chegar da noite para o dia. A gente tinha a missão de levar digitalização àqueles que não tinham enão podiam e, em cinco dias, está quase todo mundo digitalizado” ”Luiza Helena TrajanoPresidente do conselho da Magazine Luiza— O Congresso passou rápido as medidas. E, de repente, temos agora que passar as medidas tomadas para não mandarembora para o sindicato. Criamos uma burocracia danada que, neste momento, não dá — comenta Luiza, referindo-se à liminardo ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), que exige que acordos individuais entre patrão eempregado sejam validados pelos sindicatos.Demora:Para empresária, ajuda do governo tem de ‘chegar logo’ na ponta

Habilidade emocionalPara Zeina, o atual momento exige ações rápidas:— É uma crise que pede medidas urgentes, e você vai lá e, numa decisão monocrática, impõe uma obrigação assim? Tudo issoprejudica a eficácia das políticas — pondera. Em nota, o Supremo informou que o plenário da Corte deve analisar a liminar do ministro na sessão do próximo dia 16.““O governo tem que entrar também, na medida do possível, com programas para ajudar na manutenção do emprego””Mansueto AlmeidaSecretário do Tesouro NacionalO secretário do Tesouro Nacional, Mansueto de Almeida, afirma que atender os empresários é um dos grandes desafios dogoverno atualmente:Setor produtivo:Indústria terá de ganhar espaço na cadeia global de fornecedores, dizem analistas— Eu acredito que tem vários empresários que estão fazendo de tudo para manter o emprego. Mas, hoje, eles não têm fluxo decaixa. Então, o governo tem que entrar também, na medida do possível, com vários programas para ajudar na manutenção doemprego. Num país que somou 12,3 milhões de desempregados em fevereiro, segundo o IBGE, Zeina alerta que a retomada pós-crise nãovai ser fácil:— É parada brusca, mas com consequências duradouras. O impacto é grande no caixa das empresas, no desemprego, então aconfiança de consumidores e empresários demora a voltar.““O impacto é grande no caixa das empresas, no desemprego, então a confiança de consumidores e empresários demora avoltar””Luiza destaca ainda que o mercado de trabalho, que já vinha em transformação, com as restrições econômicas impostas pela

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pandemia da Covid-19, vai mudar ainda mais, principalmente em relação aos mais jovens.No varejo:Novos hábitos vão transformar comércio e serviços— Eles só vão ter emprego se enfrentarmos a desigualdade social — observa, destacando que é preciso ainda habilidadeemocional. — Vimos que se contrata pela capacidade técnica, mas se manda embora pelo comportamento. Então, acima detudo, tem de ter capacidade para saber lidar com pessoas.

'E agora, Brasil?': Para empresária, ajuda do governotem de ‘chegar logo’ na pontaLucila Soares, Glauce Cavalcanti e Rennan Setti4-5 minutos

Secretário do Tesouro destaca restrições constitucionais à liberação de crédito RIO - “Chega logo!” O apelo, que sintetiza a angústia de milhares de empresários de todos os portes e setores que sofrem osefeitos da crise da Covid-19, foi a tônica da participação de Luiza Trajano, do Magazine Luiza, no debate “E agora, Brasil?”.Apesar de aprovar as medidas adotadas pelo governo até agora, ela fez questão de ressaltar a importância de fazer os recursoschegarem logo às mãos dos empresários, principalmente os pequenos e médios.— As medidas anunciadas pelo governo, a princípio, foram boas. Minha preocupação é que cheguem na ponta. E o Brasil é muitoconfuso e burocrático para chegar na ponta. Eu acho que é uma preocupação que tem de ser de todos nós agora — diz Luiza.Do lado do governo, que já destinou recursos para socorrer as empresas, a questão é que existem restrições constitucionais àliberação de crédito, como lembrou o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida. Entre elas está a negativa de crédito acompanhias que tenham dívidas com a Previdência Social.

Insegurança jurídicaMansueto lembra que o governo está tomando outras medidas para aliviar a vida das empresas, como a permissão para queelas deixem de recolher por três meses a parcela federal do Simples. Mas não por muito tempo.— Se for até três meses, é um cenário. Se passar disso, todo mundo vai ter que sentar na mesa, ter união, ter uma discussãoséria, madura e transparente, e ver o que fazer — comenta o secretário.Para a economista e consultora Zeina Latif, o problema da insegurança jurídica é central para entender os motivos pelos quaisos recursos demoram tanto a chegar à ponta. Zeina dá como exemplo a dificuldade de executar garantias em caso deinadimplência:— Segundo o Banco Mundial, o Brasil só consegue executar 14% das garantias, ou seja, o banco tem dificuldade de recuperar osseus recursos em caso de inadimplência, mesmo com garantias. Na OCDE (Organização para a Cooperação e DesenvolvimentoEconômico), esse índice é de 70%; nos países vizinhos do Brasil, entre 35% e 50%.O vice-presidente financeiro da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Leandro Domingos Teixeira Pinto, destaca que houveliberação de R$ 800 bilhões para as empresas, mas esses recursos são créditos oferecidos por bancos:— As regras são muito restritivas, mesmo nos bancos estatais. Muitas empresas vão continuar em dificuldades, muitas vãofechar as portas, mas as que vão ficar precisarão de caixa para poder manter seus negócios e seus empregos.Outro desafio para o enfrentamento da crise levantado pela CNC durante o “E agora, Brasil?” é o corte por três meses de 50%das contribuições recolhidas pelas empresas para financiar o Sistema S, que abriga as federações de comércio, indústria,transportes e as micro, pequenas e médias empresas.Mansueto lembrou que os recursos do Sistema S são parafiscais, ou seja, não configuram recolhimento aos cofres públicos, esim uma contribuição compulsória das empresas sobre sua folha de pagamento, para ações de apoio social e de formaçãoprofissional para os empregados de todos os setores. A redução por três meses tem por objetivo aliviar o custo da folha depagamento das empresas.

'E agora, Brasil?': Novos hábitos vão transformarcomércio e serviçosLucila Soares5-7 minutos

Adaptações nos negócios, como o fortalecimento dos canais digitais e ‘home office’, prometem permanecer após pandemia RIO - A crise do coronavírus atingiu o comércio varejista, que esboçava uma ainda tímida recuperação. A imagem de lojasfechadas e ruas vazias é a grande marca da pandemia e o indicativo de um longo período de dificuldades, mesmo depois do fimda restrição sanitária. As empresas estão sem funcionar, com custos fixos que não recuaram proporcionalmente ao tombo no

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faturamento, e precisarão de prazo e apoio para se recuperarem. Ao mesmo tempo, ao impor restrições severas aofuncionamento do comércio físico, a crise revela mudanças no comportamento de consumidores e empresas que vieram paraficar. A primeira delas é, evidentemente, o fortalecimento dos canais digitais como ferramenta indispensável para comércio eserviços, e sua crescente integração aos estabelecimentos físicos.No futuro:Pós-crise vai além dos desafios econômicos e exige mais diálogo e solidariedadeAndré Diz, professor de Economia do Ibmec, lembra que o e-commerce responde por apenas 4,5% do varejo brasileiro, o querevela um enorme potencial de crescimento:— Quem estiver totalmente fora do on-line está fora do ecossistema de negócios. O relacionamento direto com o consumidorcontinuará sendo fundamental. Mas a decisão de ir fisicamente aos lugares passa pelo mundo on-line.Para o vice-presidente financeiro da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Leandro Domingos Teixeira Pinto, a pandemiavai obrigar o comércio varejista a promover uma mudança radical, mesmo em micro e pequenas empresas. Para ele, oisolamento das pessoas que podem ficar em casa está tendo “efeito pedagógico”, obrigando os empresários a descobrir novasformas de fazer negócios, com baixo custo, maior velocidade e eficácia:Proteção social:Pandemia torna urgente ajuda à população vulnerável— Depois desta crise, o mercado realmente vai mudar. Nós vamos ter que ter outro tipo de abordagem para seguir funcionando.Algumas mudanças já acontecem, são fruto da necessidade de sobreviver e revelam novos caminhos para empresas, seusempregados e seus clientes. A adoção do home office é o mais eloquente exemplo de mudança forçada pela pandemia quecertamente veio para ficar. Empresas que temiam não ter como aferir a produtividade de seus funcionários nessa modalidadetiveram que se render a ela e colhem bons resultados — com efeito colateral igualmente bom para as vendas de computadores.Em recente debate virtual promovido por um banco, Helio Rotenberg, presidente da Positivo Tecnologia, contou que os estoquesde computadores foram praticamente zerados no primeiro trimestre do ano.Emprego:Diante das mudanças impostas pelas restrições sanitárias, é preciso agilidade para evitar demissõesA educação à distância é outro setor que revelou novas possibilidades e deve experimentar grande crescimento, na avaliação deRoberto Kanter, professor dos cursos de MBA da Fundação Getulio Vargas. Além das escolas e cursos de idiomas, entraramnessa modalidade academias de ginástica e serviços de meditação. A tendência é que muitos continuem a oferecer essapossibilidade a seus alunos, como complemento a atividades presenciais.

Serviços integradosDemora:Para empresária, ajuda do governo tem de ‘chegar logo’ na pontaQuem já trabalhava com canais integrados de venda de produtos e serviços passará com menos sequelas pela crise. Mesmoesses, no entanto, estão sendo confrontados com problemas de logística e infraestrutura. Grandes redes de supermercados, quejá operavam com serviço de delivery on-line, tiveram que dar um passo atrás e disponibilizar pedidos por WhatsApp em algumaslojas para conseguir entregar em prazos razoáveis.— A logística virou um ponto vital, o diferencial entre decolar ou se tornar exemplo de péssimo serviço —diz o presidente daFecomércio-RJ, Antonio Florêncio de Queiroz.Setor produtivo:Indústria terá de ganhar espaço na cadeia global de fornecedores, dizem analistasO serviço de banda larga é outro gargalo que começa a se desenhar. Só não entrou em colapso com o enorme crescimento dehome office e outras demandas porque ainda é serviço restrito a uma parcela relativamente pequena da população. André Dizlembra que a internet brasileira é uma das mais caras do mundo:— A barreira de preço é enorme. O brasileiro padrão tem pacote de dados pré-pago e contado na unha. Não deu nó porquepoucos podem pagar.Antonio Queiroz concorda, e fornece um dado expressivo: 70% das micro e pequenas empresas não têm e-commerce. Por isso, aFecomércio vai disponibilizar em breve uma plataforma gratuita para esse segmento.

'E agora, Brasil?': Indústria terá de ganhar espaço nacadeia global de fornecedores, dizem analistasGlauce Cavalcanti4-5 minutos

Setor precisa garantir maior competitividade para brigar com outros países e ampliar exportações RIO - A indústria brasileira precisa se tornar mais competitiva e ganhar inserção na cadeia global de fornecedores, avaliamespecialistas no setor. Por ora, o foco deve ser garantir a produção nos segmentos essenciais — como alimentos, medicamentose artigos de limpeza —, além do fornecimento de artigos para o combate ao coronavírus, que avança com a adaptação defábricas em todo o país para produzir itens como ventiladores pulmonares, máscaras e protetores faciais. O tombo na produção,contudo, será inevitável.No futuro:Pós-crise vai além dos desafios econômicos e exige mais diálogo e solidariedade

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Os setores essenciais tendem a ter atividades preservadas, mas há entraves.— Uma crise como esta é similar a uma economia de guerra. A indústria se torna essencial e tem de ser preservada pelo Estadopara garantir o abastecimento para saúde e para o consumo geral. Para ter capacidade de dar escala à produção, pode-seadaptar e ajudar — destaca João Paulo Alcântara, diretor da Firjan/IEL.Grandes grupos reduziram capacidade e adaptaram linhas de produção nesse sentido. L’Oréal, Ambev e Natura começaram aproduzir álcool em gel, enquanto a Alpargatas está fabricando máscaras, jalecos e calçados para profissionais de saúde. Aindústria automotiva, com produção quase paralisada, vem atuando na recuperação e produção de respiradores para UTIs.Proteção social:Pandemia torna urgente ajuda à população vulnerável

Retomada gradualBoa parte dos esforços é direcionada a doações ao setor de saúde. Nas pequenas empresas, porém, a produção desses artigosvisa também à comercialização, como via para gerar receita e manter o negócio de pé.Demora:Para empresária, ajuda do governo tem de ‘chegar logo’ na pontaPara Carlos Abijaodi, diretor de desenvolvimento industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), as medidas anunciadaspelo governo federal vão ajudar a reduzir o impacto no setor:— As medidas atendem total ou parcialmente 80% das propostas que apresentamos ao governo. Dão condições de respirar emanter a estrutura viva. Não vai ser fácil. A retomada vai ser muito gradual, porque o dinheiro e as oportunidades serãoescassas.Emprego:Diante das mudanças impostas pelas restrições sanitárias, é preciso agilidade para evitar demissõesAo mesmo tempo, continua Abijaodi, a crise abre uma oportunidade para o país:— Está claro que as cadeias globais não podem ficar ancoradas num único país ou região produtora de determinados insumos.Seremos uma opção para ocupar esse espaço, ampliar exportações.Renata, do FGV/Ibre, também enxerga a oportunidade. Ela ressalta, porém, que há etapas a serem cumpridas para aproveitá-la:— Isso vai exigir uma política industrial bem desenhada para tornar a produção brasileira mais competitiva, incluindo aaprovação de grandes reformas estruturais, como a tributária.No varejo:Novos hábitos vão transformar comércio e serviçosOs primeiros efeitos da crise global já aparecem nos indicadores da indústria, por causa do fechamento de fábricas na China noinício do ano.— Os dados de fevereiro mostram o efeito de um problema de oferta de insumos, principalmente nos segmentos dependentesde materiais vindos da China. A partir de março, passou a ser também um problema de demanda, pelo freio no consumo nopaís. O maior impacto será em bens duráveis e de maior valor, como automóveis, celulares e eletrodomésticos mais caros — dizRenata de Mello Franco, economista do FGV/Ibre, destacando ainda o peso da falta de confiança do consumidor e dosempresários.

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