dos delitos e das penas

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DOS DELITOS E DAS PENAS O Iluminismo no Direito Penal Cesare Bonesana nasceu em 1738, em Milão. Marquês de Beccaria, estudou na França, com jesuítas, e naquele país teve contato com a filosofia iluminista do século, sobretudo, através das obras de Montesquieu e Helvétius, mas também com muitos dos enciclopedistas, como Rousseau, Voltaire, Diderot, etc. Em sua época, predominava a noção de vingança no tratamento dispensado a criminosos. As penas aplicadas contra autores de delitos eram punições raivosas, exibição do poder do Estado (do príncipe) sobre o delituoso na forma de espetáculos de atrocidades, como: enforcamentos, queimações, decapitações, esquartejamentos e outras brutalidades. Torturas, que comuns nas prisões insalubres, além de diversos tipos de abusos. Foi contra esse tipo de direito penal que Beccaria se insurgiu, por volta de 1760, quando militou, no jornal II Café, ao lado dos irmãos Pietro e Alessandro Verri. Como resultado dessa militância, surgiu o tratado filosófico “Dos Delitos e das Penas” (1764), em que o autor propõe a racionalização dos processos penais, através da publicidade dos julgamentos, da abolição da pena de morte (considerada improdutiva), da proporcionalidade entre delito e pena, torturas, confiscações e abusos violentos por parte do Estado, entre outras propostas. A premissa de “Dos Delitos e das Penas” é que as vantagens da sociedade devem ser igualmente repartidas entre todos os seus. A natureza humana, porém, leva os homens a se comportar de forma que alguns acumulam benefícios e a maioria se serve apenas de miséria. Por isso, a lei deve se basear em Verdades universais, não em paixões e necessidades passageiras. A lei só é boa se garantir a

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Resenha de "Dos delitos e das penas", de Cesare Beccaria por uma aluna da Faculdade do Vale do Itapecuru - FAI.

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DOS DELITOS E DAS PENASO Iluminismo no Direito Penal

Cesare Bonesana nasceu em 1738, em Milo. Marqus de Beccaria, estudou na Frana, com jesutas, e naquele pas teve contato com a filosofia iluminista do sculo, sobretudo, atravs das obras de Montesquieu e Helvtius, mas tambm com muitos dos enciclopedistas, como Rousseau, Voltaire, Diderot, etc. Em sua poca, predominava a noo de vingana no tratamento dispensado a criminosos. As penas aplicadas contra autores de delitos eram punies raivosas, exibio do poder do Estado (do prncipe) sobre o delituoso na forma de espetculos de atrocidades, como: enforcamentos, queimaes, decapitaes, esquartejamentos e outras brutalidades. Torturas, que comuns nas prises insalubres, alm de diversos tipos de abusos.Foi contra esse tipo de direito penal que Beccaria se insurgiu, por volta de 1760, quando militou, no jornal II Caf, ao lado dos irmos Pietro e Alessandro Verri. Como resultado dessa militncia, surgiu o tratado filosfico Dos Delitos e das Penas (1764), em que o autor prope a racionalizao dos processos penais, atravs da publicidade dos julgamentos, da abolio da pena de morte (considerada improdutiva), da proporcionalidade entre delito e pena, torturas, confiscaes e abusos violentos por parte do Estado, entre outras propostas.A premissa de Dos Delitos e das Penas que as vantagens da sociedade devem ser igualmente repartidas entre todos os seus. A natureza humana, porm, leva os homens a se comportar de forma que alguns acumulam benefcios e a maioria se serve apenas de misria. Por isso, a lei deve se basear em Verdades universais, no em paixes e necessidades passageiras. A lei s boa se garantir a segurana de todos, sem margem possibilidade de um inocente ser condenado a atrocidades.Sua argumentao, contratualista, afirma que os homens se organizam em sociedade, abrindo mo de uma parte de sua liberdade, apenas em troca da segurana. Elegem o soberano que garanta o cumprimento do contrato e, da, deriva o direito de punir. Mas se o Estado, em vez de proteger, ameaar a segurana das pessoas, elas se insurgiro. Assim, o autor afirma que as leis devem ser elaboradas segundo os sentimentos indelveis do corao humano, ou a mudana pela fora ser inexorvel. O direito de punir tem sua origem na necessidade de segurana, e no no medo, logo, as penas no devem ter carter vingativo, mas utilitrio e educativo. Seguidor de Montesquieu, Beccaria advogava a separao dos poderes legislativo e judicirio. O legislador deve representar a sociedade o juiz deveria julgar os casos, segundo as leis, e, no caso do direito penal, aplicar somente as penas estabelecidas, visando a segurana e a liberdade dos membros da sociedade. A interpretao das leis deve ser objetiva, atravs da lgica aristotlica, evitando intepretaes arbitrrias. A sociedade deve conhecer as leis para que calcular o risco do delito, e gozar com segurana da liberdade e dos seus bens, por isso as leis devem ser claras.Beccaria se opunha s prises baseadas em indcios fracos, pois, alm de serem poos de tormento e fome, a marca da infmia permanecia contra o suspeito, mesmo que sua inocncia fosse provada. A condenao deveria ser precedida de investigao racional do crime, com provas que se sustentem; os julgamentos devem ser pblicos, assim como as provas do crime, para o exame da sociedade; os juris devem ser isentos. s testemunhas deve ser dada confiana de acordo com o grau de interesse quanto mais o interesse em mentir, menor o valor do testemunho. As acusaes secretas deveriam ser abolidas, pois favorecem o abuso de poder e levam tirania.Cesare Beccaria tambm se preocupou em estabelecer princpios contra a prtica da tortura, considerando-a: no caso da investigao, irracional e imoral, pois submete a ultraje e aflio um cidado em pleno gozo de seus direitos, pois no foi condenado; no caso dos condenados, intil, pois o condenado deve ser punido com a pena fixada em lei. A fim de evitar a tortura, props que o acusado no deve ser obrigado a fornecer provas contra si a confisso extrada a ferro era comum nos tribunais da Europa.Um dos princpios mais famosos de Beccaria a proporcionalidade entre delito e pena. A pena no poderia ser superior ao dano causado pelo criminoso. Assim, se um crime foi apenas comeado, ele deve ser punido para desencorajar atitudes criminosas, mas a punio deve ser menor do que a do crime efetivamente perpetrado. De igual modo deve haver gradaes de pena, no caso de cumplicidade equilibrando o grau de participao e de vantagem no crime e a penalidade que a lei deve estabelecer.Quanto pena de morte, alm de considerar imoral, Beccaria a considera intil, pois no educa a sociedade. A impresso do terror passageira, e, conquanto seja muito repetida, ela perde o efeito sobre os espritos das pessoas. De forma que ele a privao da liberdade e os trabalhos forados so mais eficazes, pois produzem impresso duradoura, um efeito educativo ainda mais marcante em quem a testemunha do em quem a sofre.Quanto ao banimento e confiscao de bens, seguindo o princpio da proporcionalidade, Beccaria afirma que o banimento s deve acontecer se o delito for certo, no apenas verossmil, que no deve ser dado ao que vai justia pela primeira vez, que deve ser prefervel ao que j estrangeiro e que o banido deve manter seu direito de provar inocncia e recuperar os demais direitos. Quanto ao confisco ele defende que a quantidade de bens confiscados deve ser proporcional ao delito.Os processos devem ser rpidos, pois a demora angustia o acusado (que pode, enfim, ser um inocente), e quanto mais de perto a pena seguir o delito, maior ser o seu efeito didtico na sociedade. A impunidade no pode existir, pois o rigor das penas no tem efeito se a certeza do castigo no for inexorvel no deve haver perdo para os delitos, pois o direito de punir no de um, da sociedade, e o perdo do ofendido no invalida a necessidade de exemplo.Beccaria tambm reflete sobre o sistema prisional, defendendo que os asilos, as prises, etc. devem estar sob estrito controle das leis, evitando o surgimento de pequenas tiranias, pois, na sociedade, a lei deve seguir o cidado onde quer que ele v. O uso de por a cabea a prmio condenado, pois incita a violncia.O cidado pode fazer tudo que no e proibido pela lei. Os crimes devem ser medidos de acordo com a gravidade: os mais graves so os que atentam contra a sociedade; em seguida, os que atentam contra os cidados em particular; e, por ltimo, os que se referem a condutas que perturbam a tranquilidade pblica. No primeiro caso esto contra representantes do Estado; no segundo, o roubo, o homicdio, a injria, etc.; no terceiro, as perturbaes, os tumultos, etc. As penas devem ser proporcionais gravidade do delito.Cesare Beccaria foi um pensador iluminista e sua obra , alm de um magistral tratado jurdico, um manifesto pelas liberdades individuais. Seu pensamento tende a regulamentar, atravs da racionalidade das leis, a ao do Estado, limitando o poder punitivo, produzindo uma sociedade em que a finalidade das leis seja o bem estar da sociedade, baseada na vontade comum. As influncias do pensamento de Beccaria esto presentes at hoje em muitas legislaes, no princpio da proporcionalidade, na substituio da ideia de vingana pela de sano, na manuteno de direitos aos acusados e condenados, e ainda oferece elementos para reflexo da realidade atual.