doença obstrutiva alta
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Doença Obstrutiva AltaTRANSCRIPT
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54 Revista de Pediatria SOPERJ - v. 13, no 2, p54-60 dez 2012
Obstruo Respiratria Alta em Pediatria
Rosanna Vilardo Mannarino Pneumologista e Endoscopista Peditrica do Setor de Pneumologia Peditrica UNIRIO Mdica da UTI neonatal do HUGG/UNIRIO Mestre em pediatria pela UFRJ
iNtRODUOA obstruo das vias respiratrias um
dos problemas mais comuns encontra-
dos em servios de atendimento mdico
peditrico e resulta em morbidade sig-
nificativa em todo o mundo. Lactentes
e crianas maiores so mais suscetveis
ao comprometimento das vias respira-
trias por estes motivos: (i) as vias dessa
populao so mais estreitas e compla-
centes em relao s do adulto; e (ii)
a laringe das crianas mais ceflica.
Alguns pacientes podem evoluir rapida-
mente para quadros mais graves, com
obstruo completa das vias respirat-
rias, caracterizando uma emergncia
mdica que dever ser prontamente
identificada e tratada. Caso contrrio,
poder evoluir para hipoxemia grave,
com possvel leso neurolgica e des-
fecho ruim.1-3
importante ressaltar que a resistn-
cia das vias respiratrias inversamente
proporcional a 1/4 da potncia do raio.
Logo, pequenas redues na rea trans-
versal, causadas por edema ou outros
processos inflamatrios, acarretam um
importante aumento na resistncia ao
fluxo de ar e no esforo respiratrio.1,3,4
Clinicamente, a obstruo da via
respiratria superior inclui sintomas
gerais, como, por exemplo, o aumen-
to da frequncia e do trabalho respira-
trios, ao passo que, ao exame fsico,
frequentemente se encontram: altera-
o da voz, do choro e da tosse, estridor
(estridor inspiratrio, mais comum, ou
bifsico), e diminuio da expansibili-
dade pulmonar, com pouca entrada de ar ausculta.
O estridor um som respiratrio s-
pero produzido pela passagem de ar
em uma via respiratria estreitada. De
acordo com a fase respiratria em que
o estridor ouvido, localiza-se a obstru-
o, que pode estar: (i) no nvel supra-
gltico ou gltico, em caso de estridor
inspiratrio; ou (ii) abaixo das cordas
vocais verdadeiras (por exemplo, tra-
queomalcia), em caso de estridor ex-
piratrio. Leses fixas produzem estri-
dor bifsico, ouvido em ambas as fases
respiratrias.1,2
Do ponto de vista fisiopatolgico, na
obstruo da via respiratria superior,
o paciente apresenta hipoventilao
devido reduo do volume corrente,
a qual compensa com o aumento da
frequncia respiratria. Na gasome-
tria, encontram-se o aumento do gs
carbnico e a reduo do oxignio. Ao
ofertar oxignio, obtm-se a melhora
da oxigenao; entretanto, em relao
ao gs carbnico, somente h melhora
com a ventilao.5
As principais causas da obstruo da
via respiratria em crianas so infec-
ciosas, destacando-se aquelas virais. As
excees so difteria, traquete bacte-
riana e epiglotite.
O termo crupe ou obstruo aguda da laringe refere-se a um grupo he-
terogneo de processos infecciosos que
cursam com tosse ladrante ou estriden-
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te e associam-se rouquido, estridor
inspiratrio e angstia respiratria.
Diante de um quadro de obstruo
respiratria alta, de suma importncia
uma anamnese detalhada, para verifi-
car: o incio abrupto ou no, o tempo
de evoluo, a existncia de sinais de
infeco viral ou a existncia de histria
pregressa de alergia. Essas informaes
so importantssimas e norteiam o diag-
nstico.
Aps a introduo da vacinao con-
tra H. influenzae, a epidemiologia das
doenas infecciosas das vias respirat-
rias mudou, haja vista que diminuram
os casos de epiglotite e reapareceram
aqueles de traquete bacteriana.6
As principais patologias em crian-
as so de causa congnita, infecciosa,
tumoral, traumtica, alrgica, entre
outras. As principais doenas de cada
grupo so estas:1
(i) Patologias congnitas anoma-lias craniofaciais (micrognatia e
glossoptose), como, por exemplo,
Pierre-Robin, Treacher-Collins
e Mobius; macroglossias (trisso-
mia 21 e metablicas), como, por
exemplo, glicogenoses e hipergli-
cemia; atresia de coanas; cistos
tireoglossos e glossofarngeos,
malcias, como, por exemplo, tra-
queo, laringo e bronquiomalcia.
(ii) Patalogias infecciosas supra-glotite, laringotraqueobronquite
(crupe), laringite bacteriana-pseu-
domembranosa, laringite estridu-
losa, celulites cervicais, adenites,
hipertrofia amigdalianas ou ade-
noidais, abscessos retrofarngeo e
periamigdaliano.
(iii) Patologias tumorais, hemato-lgicas e vasculares anel vas-cular, linfomas, hemangiomas.
(iv) Patologias traumticas este-
nose subgltica aps a extubao,
ruptura de traqueia, inalao e
queimaduras, aspirao de corpo
estranho.
(v) Patologias alrgicas edema an-gioneurtico e alrgico.
(vi) Outras patologias paralisia de cordas vocais, laringoespasmo,
neuropatias.
PATOLOGIAS INFECCIOSAS
Crupe viralO termo sndrome do crupe caracte-
riza um grupo de doenas que variam
em relao etiologia e ao comprome-
timento anatmico, cuja sintomatolo-
gia inclui: rouquido, tosse ladrante,
estridor inspiratrio e desconforto res-
piratrio, de acordo com a gravidade de
cada caso.5.Quando a etiologia viral,
denomina-se crupe viral; porm, outras
etiologias podem estar presentes, in-
cluindo traquete bacteriana e difteria. 7
Classifica-se a doena conforme a
extenso do acometimento das vias
respiratrias; (i) se restrita laringe,
denomina-se laringite; (ii) se a inflama-
o compromete a laringe e a traqueia,
chama-se laringotraquete; (iii) se hou-
ver comprometimento dos bronquolos,
associado ao da laringe e da traqueia,
caracteriza-se um quadro de laringotra-
queobronquite. 5,7
Laringotraqueobronquite a causa mais comum da obstruo das
vias respiratrias superiores em crianas
e responsvel por 90% dos casos de
estridor. Para essa patologia, a etiologia
viral a mais comum, cujos principais
vrus so: parainfluenza (tipos 1, 2 e
3), influenza A e B e vrus respiratrio
sincicial (VSR). Em crianas maiores de
5 anos, destaca-se o Mycoplasma pneu-
moniae.4,7
Essa doena acomete crianas de 1 a
6 anos, com pico de incidncia aos 18
meses, e mais frequente no sexo mas-
culino. 7 A maioria dos casos inicia-se
com uma infeco do trato respiratrio
superior, havendo rinorreia, faringite,
tosse leve e febre baixa com durao
de 1 a 3 dias. Posteriormente, surgem
os sinais e os sintomas da obstruo das
vias respiratrias superiores. Nesse per-
odo, a criana apresenta tosse ladrante,
rouquido e estridor inspiratrio, bem
como elevao e persistncia de febre.
Os sintomas pioram noite e, em ge-
ral, resolvem-se entre 3 a 7 dias, mas
podem durar at 14 dias em episdios
mais graves. 4,7
Os pacientes com laringotraqueo-
bronquite apresentam sintomas leves
que no progridem para obstruo pro-
gressiva das vias respiratrias. O diag-
nstico clnico e no requer radiogra-
fias de pescoo com raios horizontais,
pois os achados radiolgicos so de pou-
co valor, uma vez que possvel encon-
trar, na radiografia de regio cervical,
um estreitamento da subglote (sinal da
ponta de lpis ou torre de igreja) em
crianas saudveis ou com crupe. At
50% das crianas com quadro clnico de
crupe viral apresentam radiografia cer-
vical normal. Entretanto, a radiografia
de pescoo ser til quando se inves-
tigar outra etiologia para os sintomas
apresentados (aspirao de corpo es-
tranho ou epiglotite), embora o exame
radiolgico no possa postergar a ma-
nuteno da via respiratria prvea.4,7
Tratamento
O principal objetivo do tratamento a
manuteno da via respiratria prvea.
As principais teraputicas utilizadas so:
(i) Nebulizao com soluo fisio-lgica prtica muito utilizada; porm, sem comprovao de efi-
ccia.
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(ii) Administrao de oxignio e hidratao adequada medidas de suporte bsicas.
(iii) Corticosteroide medicao muito utilizada e de importante
impacto na involuo do crupe.
Ampla evidncia de melhora,
com reduo da gravidade dos
sintomas, da necessidade de in-
ternao, da durao da hospita-
lizao, do tempo de permanncia
na emergncia, da necessidade de
admisso em unidade de terapia
intensiva (UTI) e da necessidade
de associao de adrenalina rac-
mica (nvel de evidncia 1a).
Extensamente estudada, a dexa-
metasona foi considerada um po-
tente glicocorticoide, em virtude
do longo perodo de ao e da pos-
sibilidade de ser administrada por
via oral ou parenteral. A adminis-
trao oral mostrou ser to eficaz
quanto a intramuscular; porm,
mais barata, menos invasiva e de
mais fcil aplicao. As doses va-
riam de 0,15 a 0,6 mg/kg de acor-
do com a gravidade da doena,
com dosagem mxima de 10 mg.
A budesonida inalatria tambm
utilizada e apresenta resultados
semelhantes queles da dexame-
tasona em casos de crupe leve ou
moderado. Trata-se de um glico-
corticosteroide sinttico com forte
atividade anti-inflamatria tpica
e baixa atividade sistmica, cuja
dose de 2 mg/dose, duas vezes
por dia, durante 5 dias.
(iv) Epinefrina inalatria tem um efeito importante na diminuio da
sintomatologia do crupe, pois atua
como vasoconstrictor na mucosa
da regio subgltica e, dessa for-
ma, diminui o edema. Utiliza-se a
adrenalina pura, com efeito similar
adrenalina racmica, na nebuli-
zao, com uma dose de 0,5 ml,
na concentrao de 1:1000 para
cada 1 a 2 kg de peso (mximo de
5 ml). Como o efeito da medica-
o breve, em torno de 2 horas,
o paciente pode retornar ao estado
inicial de desconforto aps o final
da ao desse medicamento, logo,
a criana deve permanecer no setor
de emergncia por 3 a 4 horas.
(v) Intubao a maioria das crian-as com crupe melhora com o uso
de dexametasona e epinefrina;
portanto, no so necessrias a
admisso na UTI e a intubao. J
os casos que evoluem com sinais
de obstruo progressiva e hipoxia
so admitidos na UTI. A manipu-
lao de vias respiratrias doentes
e edemaciadas complicada, pelo
risco de sua obstruo total. Nos
episdios em que essa obstruo
iminente, o procedimento deve
ser realizado em local adequado e
por profissional experiente. O di-
metro interno da cnula traque-
al de 0,5 mm a menos do que
o dimetro ideal para a idade da
criana. 1,5
Laringite estridulosa clinicamente semelhante laringo-
traqueobronquite aguda; porm, no se
apresenta com prdromos virais e febre
no paciente e na famlia. Alm disso,
parece ter origem alrgica, e no infla-
matria, e pode ser desencadeada por
uma infeco viral.
Os episdios ocorrem, com mais fre-
quncia, durante a noite, em crianas
entre 3 meses e 3 anos de idade, tm
incio sbito e podem ser precedidos
por coriza e rouquido. A criana acor-
da com tosse seca e metlica, inspirao
ruidosa e angstia respiratria e man-
tm-se afebril. Geralmente, a gravidade
dos sintomas diminui em algumas ho-
ras, e o paciente permanece com uma
leve rouquido. Esses episdios recor-
rem vrias vezes; portanto, quando ne-
cessrio, o tratamento segue a mesma
linha de conduta da laringotraqueo-
bronquite.
A laringite estridulosa representa
mais uma reao alrgica a antgenos
virais do que uma infeco direta, ape-
sar de a patognese ser desconhecida.1,4
Supraglotite uma infeco grave da epiglote e das
estruturas supraglticas que resulta em
obstruo da via respiratria superior
e letalidade elevada. Anteriormente, a
terminologia da doena era epiglotite;
porm, foi alterada por se tratar de uma
doena que no envolve apenas a epi-
glote, mas tambm regies adjacentes.
1,5
Aps a introduo, no calendrio, da
vacina contra o H. influenzae tipo b, a
incidncia dessa doena diminuiu bas-
tante. Alm desse, outros microrganis-
mos podem estar envolvidos, tais como
S. aureus, Klebsiela sp, S. pyogenes, vrus
e cndida.6
O padro etrio de acometimento
pela doena mudou: era mais comum
em crianas em torno de 3 anos e, a
partir de 1990, passou a predominar a
partir de 7 anos e afetar, com mais fre-
quncia, adolescentes e adultos.6
um quadro de instalao rpida e
abrupta, havendo febre e toxemia pre-
coce. Na maioria dos casos, as crianas
apresentam disfagia, estridor, salivao
profusa, voz abafada, desconforto res-
piratrio progressivo, agitao e ansie-
dade. A criana assume uma postura de
proteo da via respiratria, inclinando
o corpo para frente, com hiperextenso
do pescoo, protuso do queixo e posi-
cionamento da lngua para fora, fazendo
que a saliva escorra pela boca (posio
tripoide). A criana apresenta sinais de
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descompensao circulatria e sepse.5,8
A supraglotite uma emergncia m-
dica e necessita de tratamento imedia-
to, de modo que uma via respiratria
seja instalada sob condies adequadas
o mais rpido possvel. Para tanto, a
criana deve ficar sentada e com oxi-
gnio, estando acompanhada dos pais
ou de pessoa conhecida para acalm-la.4
Haja vista a possibilidade de uma cri-
cotireotomia ou de uma traqueostomia,
o cirurgio e o anestesista devem ser
contactados, alm de o material j estar
separado. Com o reconhecimento pre-
coce da doena e a intubao eletiva,
em um ambiente adequado e por pro-
fissional treinado, a evoluo da criana
bem melhor. Dessa forma, reduz-se a
mortalidade. O dimetro da cnula tra-
queal deve ter de 0,5 a 1,0 mm a menos
do que a ideal para a idade, bem como
se utiliza a lmina curva, para no cau-
sar mais danos epiglote.
Aps a estabilizao das vias respira-
trias, as culturas devem ser coletadas
(hemocultura e cultura da superfcie
epigltica), alm de iniciar antibitioco-
terapia venosa (ceftriaxone, cefotaxime
e associao de ampicilina com sulbac-
tam). Aps os resultados das culturas, o
esquema antibitico deve ser reavaliado
de acordo com o germe isolado.4,5
A supraglotite geralmente se resol-
ve aps alguns dias de antibitico, e o
paciente estvel que apresenta escape
ao redor do tubo endotraqueal pode
ser extubado. Entretanto, essa prtica
controversa e, por conseguinte, no
adotada em todos os servios. A anti-
bioticoterapia deve permanecer de 7 a
10 dias, no havendo recomendaes
para o uso de corticoide ou epinefrina
inalatria no curso da doena.1,4
Laringotraquete bacteriana uma obstruo grave da via respira-
tria superior. Aps a imunizao con-
tra H. influenzae, a traquete bacteriana
tornou-se uma doena rara e emergiu
como a principal causa da obstruo das
vias respiratrias, considerada poten-
cialmente fatal.4-6
O principal agente etiolgico o S.
aureus, porm H. influenzae, Streptococcus
piognico (grupo A), S. pneumoniae, Neis-
seria sp, Moraxella catarrhalis, Klebsielal
sp e outros micro-organismos podem
caus-la. H evidncias de co-infeco
viral, indicando que a infeco viral pr-
via favorece a colonizao bacteriana.5
O quadro inicia-se como uma larin-
gotraquete viral, ocorrendo piora gra-
dual, com febre alta, toxicidade, pros-
trao e obstruo das vias respiratrias.
Alm disso, o paciente no melhora
com o uso de corticoide e epinefrina
inalatria.1
A confirmao diagnstica faz-se pela
endoscopia respiratria, que demonstra
um exsudato purulento na laringe e na
traqueia, com necrose da mucosa e for-
mao de membranas semiaderentes na
luz da traqueia. Essas membranas, em
geral, so responsveis pela obstruo
das vias respiratrias.
A maioria dos casos evolui para intu-
bao endotraqueal devido obstruo
das vias respiratrias; logo, esses pacien-
tes devem ser admitidos na UTI. Geral-
mente associada a uma cefalosporina
de terceira ou quarta gerao, inicia-se
a antibioticoterapia venosa, com cober-
tura para os germes mencionados. Alm
disso, a terapia suplementar com oxig-
nio pode ser necessria. No obstante, o
prognstico para os episdios costuma
ser bom.
PATOLOGIAS CONGNITAS
Laringomalcia e laringotraqueo-malciaLaringomalcia a anomalia congnita
mais comum da laringe e acompanha-
da de estridor inspiratrio, o qual me-
lhora na posio prona e detectvel
desde o nascimento ou nas primeiras
semanas de vida. Nesses pacientes, o
choro normal.1
A laringomalcia deve-se flacidez
da cartilagem da laringe e resulta em
colapso das pregas ariepiglticas sobre a
epiglote durante a inspirao. Dessa for-
ma, o estridor do tipo inspiratrio.9 O
diagnstico faz-se pela laringoscopia, e
a maioria dos casos resolve-se em torno
dos dois anos de idade, sem interveno
cirrgica.
As crianas portadoras dessa anomalia
pioram em infeces virais, sendo neces-
sria, em alguns casos, a intubao endo-
traqueal, devido ao colapso das vias res-
piratrias. Nesses episdios, comum a
administrao de corticosteroide e adre-
nalina racmica, na tentativa de dimi-
nuir o edema inflamatrio. Alm disso,
evita-se o uso de broncodilatadores, pois
pode relaxar ainda mais a musculatura
brnquica e piorar o quadro.
A traqueomalcia pode ser primria
ou secundria, cujas causas mais co-
muns so os anis vasculares e a dilata-
o cardaca.1,9 A forma primria deve-
-se ao comprometimento estrutural da
prpria traqueia; enquanto a secund-
ria resulta da compresso extrnseca das
vias respiratrias
Estenose traquealA estenose subgltica responsvel por
12% das obstrues de origem cong-
nita e so mais frequente em meninos.
As estenoses congnitas so raras e de
etiopatogenia obscura. A estenose deve-
-se formao de um tecido fibroso e
espessado, entre as cordas vocais e a re-
gio cricoide, e ocasiona uma reduo
das vias respiratrias.1,10
O estridor ocorre desde as primeiras
semanas de vida, ou quando o paciente
apresenta uma infeco das vias respi-
ratrias, cujo diagnstico confirmado
pela broncoscopia. No h melhora do
estridor com a mudana de decbito.
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At 30% desses pacientes apresentam
malformaes cardacas ou vasculares,
que devem ser reparadas antes do repa-
ro da traqueia.1
O tratamento depende de avaliao
endoscpica prvia, em que se analisam
o tipo e a extenso da estenose. Em al-
guns casos, esse exame pode ser comple-
mentado com a realizao de tomografia
computadorizada helicoidal de pescoo,
com reconstruo tridimensional.9
Nos segmentos curtos, menores de
1 cm, de aspecto membranoso e sem
sinais de malcia, opta-se pela dilata-
o mecnica. Aps esse procedimento,
utiliza-se corticosteroide. A cirurgia
indicada quando no h respostas aps
3 ou 4 semanas de dilatao e uso de es-
teroides, bem como quando o segmento
afetado grande.1,9
A tcnica de dilatao por vlvulas
metlicas um procedimento seguro,
quando realizado por profissionais ade-
quadamente treinados, em centro ci-
rrgico e sob anestesia geral. Utiliza-se
a sonda metlica de Chevalier-Jackson,
com ogivas elpticas de 7 cm de exten-
so e calibre progressivo que varia a cada
0,5 mm no maior dimetro. Aumenta-se
o dimetro da sonda de acordo com a
facilidade da dilatao. O procedimento
procura atingir 80% a 90% da via respi-
ratria esperada para o paciente.9
Fstula traqueoesofgicaEm geral, a fstula traqueoesofgica
(FT) vem acompanhada de atresia de
esfago ou esfago em fundo cego. A
conexo fistulosa com a traqueia ocorre
no esfago distal, o que corresponde a
87% dos casos. Pacientes acometidos
por essa patologia apresentam espuma
e bolhas na boca e no nariz, aps o nas-
cimento, assim como episdios de tosse,
cianose e desconforto respiratrio. Na
maioria dos casos, o diagnstico rea-
lizado no perodo neonatal. Em relao
aos pacientes que no possuem atresia
de esfago, o diagnstico mais tardio,
quando a criana tem pneumonites re-
correntes sem uma causa evidente.1,11
A taxa de sobrevivncia a essa patolo-
gia alta, em torno de 90%, devido ao
grande desenvolvimento dos cuidados
intensivos neonatais, do reconhecimen-
to precoce e da interveno adequada.
Alm disso, 50 % dos pacientes so no
sindrmicose no apresentam outras
anomalias; enquanto o restante pos-
sui anomalias associadas, geralmente a
sndrome VATER (vertebral, anorretal,
traqueal, esofgica, renal ou displasia
ssea do rdio).1,11
Anomalias craniofaciaisNo grupo das anomalias craniofaciais,
destaca-se a sndrome de Pierre-Robin,
na qual os lactentes portadores apre-
sentam quadro obstrutivo precoce.1
Essa sndrome consiste em micrognatia
acompanhada por uma arcada alta ou
fenda palatina. A lngua de tamanho
normal, mas o assoalho bucal reduzi-
do. Portanto, pode ocorrer obstruo
passagem de ar, o que, na maioria dos
casos, requer interveno cirrgica para
evitar a sufocao. Alguns pacientes
necessitam de intubao endotraqueal
ou, mais raramente, de traqueostomia.
A posio prona melhora a condio
desses pacientes, pelo menos no incio;
porm, em muitos casos, faz-se mister
a cirurgia. A extenso mandibular no
recm-nascido pode melhorar o tama-
nho da mandbula, aprimorando a res-
pirao e facilitando a alimentao.1
Aps o procedimento cirrgico, esses
pacientes precisam de cuidados intensi-
vos e intubao endotraqueal prolonga-
da, devido ao edema de face e pescoo.1
Vasculares e tumores
Anis vasculares
So anomalias congnitas do arco arti-
co e dos ramos principais que resultam
na formao de anis vasculares em tor-
no da traqueia e do esfago e levam
obstruo das vias respiratrias. Os dois
tipos mais comuns de anis completos
so o arco artico duplo e o arco artico
direita, com subclvia esquerda aber-
rante e ligamento arterioso esquerdo.1,12
Quando o anel vascular comprime a
traqueia e o esfago, a sintomatologia
inicia-se no perodo de lactncia. Os sin-
tomas encontrados so: sibilncia cr-
nica, estridor persistente, disfagia com
vmito e tosse metlica. Os pacientes
podem, ainda, apresentar apneia ou cia-
nose, relacionadas alimentao. Alm
disso, morte sbita pode ocorrer. 1,12
O diagnstico realizado pela radio-
grafia simples de trax e pescoo, que
evidencia o desvio traqueal, e deve ser
complementado pelo ecocardiograma,
que delimita o anel vascular e afasta ou-
tras cardiopatias. Alm desses exames,
a broncoscopia determina a extenso
do estreitamento das vias respiratrias.
Convm destacar que o cateterismo car-
daco raramente necessrio.1,12
O tratamento cirrgico para pa-
cientes sintomticos que apresentem
evidncias radiolgicas de compresso
traqueal. Aps a correo cirrgica, at
10% dos pacientes podem permanecer
com sintomatologia respiratria, as quais
desaparecero em torno de um ano. Os
pacientes podem apresentar traqueoma-
lcia e estenose brnquica, o que exige,
muitas vezes, reparo cirrgico.
Hemangioma
Embora no seja uma causa comum de
estridor, o hemangioma um dos tumo-
res mais comum na infncia, cuja loca-
lizao normalmente a regio supra-
gltica ou subgltica. Algumas crianas
com hemangioma de laringe tambm
apresentam hemangiomas cutneos,
malformao vascular que apresenta
crescimento, em mdia, at o sexto ms
de vida, quando comea a regredir.
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A manifestao clnica mais comum o
estridor, que pode ser bifsico. O diagns-
tico realizado pela endoscopia respira-
tria. Corticoides so utilizados dos casos
moderados aos graves; porm, s vezes,
necessria a correo cirrgica.1,13
Papilomatose de laringe
Papilomatose larngea uma doen-
a rara, causada pelo papilomavrus
humano tipos 6 e 11. A idade mdia
de surgimento 3 anos de idade. As
crianas apresentam rouquido; e os
lactentes, alterao no choro e estridor.
comum o diagnstico inicial de larin-
gite recorrente. Os papilomas possuem
rpido crescimento e levam obstru-
o das vias respiratrias superiores.
O diagnstico realizado pelo aspecto
das leses na endoscopia e confirmado
pela patologia. O tratamento consta na
remoo das leses e, em alguns casos,
no uso de radiao.13
PATOLOGIAS ALRGICAS E TRAUMAMTICAS
Obstruo aps a intubaoNesse grupo de patologias, destaca-se a
obstruo alta aps a intubao endo-
traqueal. Os melhores cuidados intensi-
vos atuais e a melhora da qualidade dos
tubos endotraqueais diminuram a inci-
dncia de leses nas vias respiratrias.
As complicaes relacionadas intu-
bao endotraqueal podem ser precoces
ou tardias. As precoces relacionam-se ao
ato da intubao, quando, por exemplo,
pode ocorrer a lacerao ou o hematoma
das cordas vocais, ao passo que as tardias
referem-se permanncia do tubo, sendo
a mais comum a estenose subgltica. Os
sintomas de obstruo alta relacionados
estenose subgltica podem aparecer entre
2 e 6 semanas aps a extubao.1
O tratamento, nesses casos, segue a
mesma linha da estenose subgltica
congnita.
Edema angioneurticoO edema angioneurtico faz parte de
uma reao alrgica global que compro-
mete as vias respiratrias, em razo de
edema de mucosas, como, por exem-
plo, lngua, faringe, laringe e traqueia.
de instalao sbita e, portanto, deve
ser prontamente tratado; caso contr-
rio, evolui para obstruo total das vias
respiratrias.1
O tratamento envolve administrao
de adrenalina intramuscular ou endo-
venosa (IM ou EV), associada a anti-
-histamnicos e corticosteroide.
Aspirao de corpo estranhoAcidentes na infncia so importante
causa de morbimortalidade no mundo,
entre os quais se destaca a aspirao de
corpo estranho (ACE) nas vias respira-
trias.2 Estatsticas americanas demons-tram que 5% de bitos por acidentes de
menores de 4 anos decorrem de ACE,
principal causa de morte acidental de
menores de 6 anos nos domiclios.2 No Brasil, a ACE a terceira maior causa
de acidentes com morte.2,14. A ACE mais comum em meninos e nas crianas
menores de trs anos.
A ACE em crianas associa-se falha
no reflexo de fechamento da laringe,
ao controle inadequado da deglutio
e ao hbito de levar objetos boca. O
descuido ou o desaviso dos pais com
determinados objetos passveis de as-
pirao, como, por exemplo, brinque-
dos pequenos e alguns alimentos, so
fatores predisponentes da ACE. 14 O diagnstico precoce da ACE essen-
cial, pois o retardo no reconhecimento
e no tratamento pode incorrer em se-
quela definitiva ou dano fatal. O grande
nmero de pacientes tratado por se-
manas ou meses como casos de doen-
as respiratrias recorrentes, antes da
suspeita da ACE. O tempo gasto para
realizar o diagnstico de corpo estranho
extremamente importante, haja vista
que o diagnstico tardio ou errado re-
sulta em complicaes respiratrias, tais
como pneumonias, abscessos pulmona-
res e sequelas brnquicas que podem
ser reversveis ou no.
Clinicamente, aps a ACE, ocorre
acesso de tosse e engasgo, que podem,
ou no, ser valorizados pelos pais. A
ACE tambm pode ser suspeitada no
primeiro quadro sbito de sibilncia. Os achados clnicos dependem do tipo,
do tamanho e da localizao do corpo
estranho e incluem tosse persistente,
diminuio localizada da entrada de ar,
sibilos localizados ou difusos e dificul-
dade respiratria.
A radiografia de trax normal no ex-
clui o diagnstico de ACE, pois o corpo
estranho pode no ser metlico e, por-
tanto, no ser visualizado no exame de
raios X. Alm disso, pode no ter com-
prometimento de atelectasias ou hipe-
rinsuflao localizada.
Na literatura, a predominncia do
corpo estranho de natureza orgnica,
como, por exemplo, amendoim, feijo
e milho, variando de acordo com os h-
bitos alimentares regionais.
Sempre que houver suspeita de aspi-
rao de corpo estranho mandatria
a realizao de broncoscopia rgida sob
anestesia geral.
CONCLUSOPediatras que trabalham em emergn-
cias devem estar familiarizados com as
principais causas da obstruo das vias
respiratrias de pacientes, cujo diagns-
tico precoce e intervenes adequadas
favorecem a evoluo desses quadros.
Alm disso, a habilidade na manipu-
lao das vias respiratrias deve ser
constantemente treinada. Portanto,
atualizaes sobre os principais mto-
dos diagnsticos e teraputicos tambm
so de grande relevncia, de modo a
evitar o uso desnecessrio de recursos
e medicaes.
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AVALiAO
42. Qual o principal agente etiolgico da traquete bacteriana?
a) H. influenzae
b) Moraxella catarrhalis.
c) S. aureus.
d) Streptococcus piognico.
43. Qual a posio adotada pela criana com supraglotite?
a) Sentada, mantendo a boca fechada.
b) Deitada e de boca aberta.
c) Em p, sem hiperextenso do pescoo.
d) Sentada, com hiperextenso do pescoo e inclinao do corpo para frente.
44. Assinale a afirmativa verdadeira em relao aspirao de corpo estranho.
a) Suspeita-se de ACE apenas quando houver relato de engasgo.
b) Radiografia de trax normal exclui o diagns-tico de ACE.
c) A ACE mais comum em crianas maiores.
d) Os meninos e os lactentes so mais acometidos pela ACE.
45. Em relao laringomalcia, correto afirmar que:
a) uma patologia grave da laringe, com prog-nstico reservado.
b) O choro da criana normal, e o estridor melhora na posio prona.
c) uma patologia da laringe que frequente-mente apresenta cianose.
d) Aparece desde os primeiros dias de vida e requer correo cirrgica.
46. Qual a complicao tardia mais comum relacionada ao tubo endotra-queal?
a) Estenose brnquica.
b) Hematoma de cordas vocais.
c) Estenose subgltica.
d) Enfisema subcutneo.
47. Em caso de laringotraquete viral, na emergncia, qual a conduta aps a nebulizao com epinefrina?
a) Alta para casa, com prescrio de corticoide inalatrio.
b) Alta para casa, com prescrio de nebulizao com broncodilatador.
c) Observao na emergncia por um perodo de 3a 4 horas e reavaliao do quadro.
d) Observao na emergncia por um perodo de 3 a 4 horas e prescrio de nebulizao com epinefrina para casa
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A Criana Vtima de Violncia .................... 4
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Reanimao Neonatal ................................ 10
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Falncia Cardiopulmonar em Paciente Peditrico ..................................................... 14
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Anafilaxia ..................................................... 24
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Abordagem das Crises Epilpticas na Emergncia Peditrica................................ 29
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Urgncia em Cirurgia Peditrica ............... 35
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Asma Aguda na Infncia ............................ 43
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Obstruo Respiratria Alta em Pediatria ........................................ 54
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Febre no Lactente ....................................... 64
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Doena Falciforme na Emergncia .......... 68
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MeningiteBacterianaAguda..................... 72
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Atualidades na Sepse e Choque Sptico Peditrico ..................................................... 77
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68. a) M b) M C) M d) M e) M
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