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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU A IMPORTÂNCIA DA INTERDISCIPLINARIDADE NA PRÁTICA DA MEDIAÇÃO DE CONFLITOS FAMILIARES Por: Soria de Fatima Teixeira Pereira Lessa ORIENTADOR: Prof. Dr. William Rocha Rio de Janeiro 2016 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM – FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

A IMPORTÂNCIA DA INTERDISCIPLINARIDADE NA PRÁTICA

DA MEDIAÇÃO DE CONFLITOS FAMILIARES

Por: Soria de Fatima Teixeira Pereira Lessa

ORIENTADOR:

Prof. Dr. William Rocha

Rio de Janeiro 2016

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM – FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

Apresentação de monografia à Universidade Candido

Mendes como condição prévia para a conclusão do

Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Mediação

de Conflitos com Ênfase em Família.

Por: Soria de Fatima Teixeira Pereira Lessa

A IMPORTÂNCIA DA INTERDISCIPLINARIDADE NA PRÁTICA

DA MEDIAÇÃO DE CONFLITOS FAMILIARES

Rio de Janeiro 2016

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus e a Maria mãe de Deus e nossa mãe, pela força nos momentos da fraqueza, pela esperança nos momentos do desanimo e pela luz que iluminou meu caminho acadêmico aqui mais uma vez materializado.

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DEDICATÓRIA

Dedico a minha amada mãe, a memória do meu saudoso pai, a minha querida filha idealista e mediadora nata e ao meu marido, presença sempre valiosa, companheiro no percurso desta nova realização.

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RESUMO

A pesquisa, ora apresentada, se dirige a todos os profissionais que

atuam no Instituto de mediação, principalmente familiar, neste novo Instituto

que se fortalece a cada dia. A construção da prática de mediação familiar, tem

fomentado uma abordagem interdisciplinar, de modo que corresponda aos

anseios dos profissionais que lidam com as demandas complexas.

Analisou-se a mediação familiar como lócus privilegiado para a

atuação interdisciplinar, colaborando na dinâmica de restabelecimento da

comunicação humana. Primeiramente, elucidou-se a interdisciplinaridade e sua

essência dialógica entre os Saberes, correlacionando posteriormente com a

mediação de conflitos enquanto política pública visando a efetividade da cultura

de paz. Identificou-se a necessidade de pontuar o marco e impacto da

mediação interdisciplinar na humanização do direito das famílias, promovendo

um outro olhar sob a família, suas demandas, questões subjetivas e

socioculturais. Aprofundou-se aspectos intrínsecos da mediação familiar,

evidenciando peculiaridades das relações afetivas, da vivência familiar e

empasses que levam a cultura do litígio. Utilizando como estratégia para a

retomada do diálogo e do protagonismo de decisões sobre o futuro, a mediação

familiar interdisciplinar. Constatou-se a importância da interdisciplinaridade na

contribuição da prática de mediação de conflitos, como um instrumento de (re)

construção do diálogo e de fortalecimento da potencialidade de cada indivíduo e

de sua autonomia, a partir de um olhar ampliado sob a questão apresentada,

potencializando novas possibilidades de resolução de conflitos.

Finalizou-se com a reflexão sobre o novo paradigma apresentado ao

Judiciário, e ainda em construção, pautado na prática da mediação familiar

interdisciplinar como meio de acesso à Justiça, tendo como fundamento a

comunicação e a intercompreensão entre os mediandos e como princípio a

dignidade da pessoa humana.

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METODOLOGIA

A metodologia foi desenvolvida através de pesquisa bibliográfica,

leitura de livros e artigos que levaram ao problema proposto e respaldaram a

análise do tema ora proposto para pesquisa.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

A Interdisciplinaridade 10

CAPÍTULO II

A Mediação de Conflitos e a Interdisciplinaridade 24

CAPÍTULO III

A Contribuição da Interdisciplinaridade na Mediação Familiar 47

CONCLUSÃO 77

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 87

ÍNDICE 89

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INTRODUÇÃO

Analisar a contribuição da Interdisciplinaridade, na prática da

Mediação de Conflitos, principalmente familiar, se faz necessária tendo em vista

que apesar das equipes de mediação terem em sua maioria advogados,

identifica-se outros profissionais nesta atuação, compondo com seus saberes o

Instituto da Mediação Judicial ou Extrajudicial.

A Interdisciplinaridade consiste no diálogo entre as diversas áreas do

Saber que contribuem com observações e suas especificidades próprias de

cada campo de estudo, ampliando a visão de um mesmo conflito,

complementando-se, facilitando a comunicação para uma possível solução de

um problema.

Entende-se assim, que a interdisciplinaridade fortalece o diálogo

entre as áreas do saber, favorecendo a compreensão das situações que as

relações humanas podem criar, e, portanto, a contextualização do que é trazido

pelos mediandos.

A Interdisciplinaridade facilita também o entendimento das

necessidades e interesses dos mediandos enquanto sujeitos sociais, ampliando

assim, as possibilidades do restabelecimento da comunicação entre as partes e

da resolução do conflito.

O Instituto da Mediação se fortalece desta forma, se repensa e se

renova, numa relação participativa e construtiva de uma prática de colaboração

entre os saberes, com essência pacificadora e missão de política pública

visando o bem comum.

Durante o estudo objetivou-se inicialmente abordar as modalidades

de Interdisciplinaridade e sua adequação na composição do Instituto da

Mediação de Conflitos. Posteriormente descreveu-se a relação da

Interdisciplinaridade no campo da prática da Mediação de Conflitos como um

instrumento de diálogo e superação da fragmentação do conhecimento,

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facilitando assim, o entendimento das demandas dos mediandos. E por fim,

identificar a contribuição da Interdisciplinaridade na contextualização do que é

trazido pelo mediandos, ampliando a melhoria da comunicação entre os

mesmos e das possiblidades de resolução do conflito.

Considerando-se que a interdisciplinaridade traz uma relevante

contribuição na medida em que viabiliza que as áreas do saber se

complementem e contribuam entre si, para a ampliação das possibilidades de

resolução de conflitos e da pacificação das relações humanas.

Considerando-se que na prática da mediação a interdisciplinaridade

favorece o diálogo entre distintas correntes doutrinárias, podendo-se criar

novas vertentes, linhas de desenvolvimento, de forma mais eficaz e coerente

com as necessidades dos indivíduos sociais e suas peculiaridades sejam

subjetivas ou sociais, fortalecendo assim o Instituto da Mediação de Conflitos.

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CAPÍTULO I

A Interdisciplinaridade

“ A esperança é o sonho do homem acordado”.

Aristóteles

Podemos dar inúmeras definições para interdisciplinaridade.

Destacamos uma delas:

“ A interdisciplinaridade, sem cessar invocada, levada a efeito

nos domínios mais diversos, quer se trate de pesquisa, de

ensino ou de realizações de ordem técnica, não é uma questão

evidente, que possa dispensar explicações e análises

aprofundadas, mas um tema que merece e ser levado em

consideração e constituir um dos objetos essenciais da

reflexão de todos quantos vêem na fragmentação das

disciplinas científicas um esfacelamento dos horizontes do

saber ” ( HILTON JAPIASSU, Interdisciplinaridade e patologia

do saber, p. 42 ).

1.1 A interdisciplinaridade e suas Modalidades

De acordo com a autora Águida Arruda Barbosa, existem diferenças

importantes entre a disciplinaridade a multidisciplinaridade, a

pluridisciplinaridade e a interdisciplinaridade, sendo esta construída pelo diálogo

de saberes de diversas disciplinas que se complementam. Ainda para a autora,

o conceito de Interdisciplinaridade envolve maior complexidade, sendo seu

significado ainda não plenamente sintetizado para um entendimento universal,

pois trata-se de uma abordagem recente do conhecimento humano. Trata-se

para a mesma, de uma ação individual vinda da ampliação do conhecimento, se

tornando coletiva na medida em que acontece a transformação da atividade do

pensar em do fazer.

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Segundo a autora Malvina Ester Muszkat, na transdisciplina as

disciplinas são consideradas um meio, não um fim em si mesmas. Assim não há

uma lógica única na transdiciplinaridade.

A autora acima citada, ainda ressalta que sobre a

Interdisciplinaridade, esta se refere a transferência dos métodos de uma

disciplina para outra disciplina. Poderíamos referenciar ao tema da monografia

sendo exemplificada pela utilização de disciplinas como Serviço Social e

Psicologia na esfera do Direito. Também é destacado pela Referida autora que

a abordagem multidisciplinar se refere a acrescentar algo mais a uma disciplina,

mas estando a serviço exclusivamente da própria disciplina que recebe da outra

disciplina. Exemplificando o tema abordado, como que a utilização do Serviço

Social e ou da Psicologia focando para o enriquecimento do Direito.

Segundo o autor Hilton Japiassu, não há um sentido epistemológico

único e estável ao tempo “ Interdisciplinar”. Destacando os conceitos definidos

pelo autor com “ vizinhos”, sendo eles o de “disciplinaridade”,

“multidisciplinaridade”, “pluridisciplinaridade” e transdisciplinaridade”. Para o

autor a “ ...disciplinaridade tem o mesmo sentido que ciência”. E seguindo a

obra do mesmo a “disciplinaridade” é a exploração científica especializada de

um domínio homogêneo de estudo, sendo um “conjunto sistemático e

organizado de conhecimentos”, sendo esta exploração um fazer surgir novos

conhecimentos que se substituem os antigos.

No que se refere a “ multidisciplinariedade”, pode-se na prática

evocar uma simples justaposição dos recursos e várias disciplinas, sem

necessariamente evidenciar-se como uma prática coordenada e de equipe.

Na multidisciplinaridade ainda segundo o referido autor, ”a solução

de um problema só exige informações tomadas de empréstimo a duas ou mais

especialidades ou setores de conhecimentos, sem que as disciplinas levadas a

contribuírem por aquele que as utiliza sejam modificadas ou enriquecidas”.

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Ainda segundo o autor, ao analisar as diferenças, “Tanto o

multidisciplinar quanto o pluridisciplinar realizam apenas um agrupamento,

intencional ou não, certos módulos disciplinares”, sem relação entre as

disciplinas (o primeiro) ou com algumas relações (o segundo) ”.

O multidisciplinar, pluridisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar

podem ser descritos, conforme aponta o trabalho de E. Jantsch na obra de

Hilton Japiassu, mediante a correlação com níveis de cooperação e de

coordenação crescente das disciplinas, considerando da seguinte forma, “ O

multidisciplinar visa a construção de um sistema disciplinar de apenas um nível

e com diversos objetivos. E o pluridisciplinar visa a construção de um sistema

de um só nível e com objetivos múltiplos, mas apresentando certa cooperação,

mas excluído toda a coordenação.

Pelo referido estudo, a multidisciplinaridade é descrita como uma

gama de disciplinas sem aparecer as relações que podem existir entre elas.

Desta forma, a pluridisciplinaridade é definida como uma

justaposição de diversas disciplinas no mesmo nível hierárquico e agrupadas

fazendo aparecer as relações existentes entre elas.

No que se trata da interdisciplinaridade, esta é caracterizada pela

intensidade das trocas entre os especialistas e pelo nível de integração das

disciplinas. Tendo nesta abordagem uma integração conceitual, sendo mais que

um simples monólogo de disciplinas ou um diálogo, mas sim, a construção de

um campo unitário do conhecimento, superando fronteiras disciplinares.

A interdisciplinaridade pode ser entendida, desta forma, como uma

certa reciprocidade nos intercâmbios, de forma que no final do processo

interativo, cada disciplina saia enriquecida. O autor, define também, como

ramos do saber que se integram e convergem depois de terem sido

comparados e julgados.

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No que se refere as modalidades da interdisciplinaridade, define-se

os tipos de relações interdisciplinares, em ordem ascendente de “maturidade”,

como os propõe Heckhavsen, citado na obra de Hilton Japiassu:

a) A interdisciplinaridade heterogênea seria no âmbito do caráter

enciclopédico, combinando programas diferentemente dosados.

Segundo Heckhausen, um reflexo desse tipo de interdisciplinaridade

na área universitária, seria encontrado nas disciplinas, ditas

“imperialistas”, ou seja, naquelas consideradas como fundamentais

que se utilizam das demais como disciplinas “auxiliares”,

b) A pseudo-interdisciplinaridade define-se como “as tentativas de

utilização de certos instrumentos conceituais e de análise

considerados epistemologicamente neutros, identifica-se que não

basta utilizar instrumentos comuns para conduzir a uma prática

interdisciplinar”. Mantém-se assim, uma grande distância entre os

“domínios de estudo” e os graus de “integração teórica” e disciplinas

tão variadas.

c) A Interdisciplinar auxiliar trata-se de uma disciplina a tomar de

empréstimos a uma outra, seu método ou procedimentos, destaca-

se que em alguns casos não ultrapassa o domínio da

ocasionalidade e das circunstâncias provisórias. Mas em outros

casos, é mais durável na medida em que uma disciplina se vê

constantemente forçada a utilizar métodos de outra disciplina.

d) Interdisciplinaridade compósita define-se em reunir várias

especialidades de forma a encontrar soluções técnicas para a

solução de grandes e complexos problemas na sociedade atual.

Mas identifica-se como uma conjugação de disciplinas por

aglomeração, apesar da contribuição, ambas guardam a autonomia

e a integridade de seus métodos, de seus conceitos chaves e de

suas epistemologias.

e) A Interdisciplinaridade unificadora procede-se de uma coerência

bastante estreita dos domínios de estudo das disciplinas, com

integração de seus graus de integração teórica e dos métodos.

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Segundo o autor Hilton Japiassu, pode-se reduzir as cinco

modalidades de interdisciplinar a duas. A primeira define como

interdisciplinaridade linear ou “cruzada”, sendo uma forma mais elaborada de

pluridisciplinaridade. Neste caso não existem reciprocidade nas trocas, sendo

praticamente nula a cooperação metodológica. As disciplinas que fornecem

informação, fazem como disciplinas “auxiliares”, numa situação de dependência

ou de subordinação. E a segunda modalidade define-se como interdisciplinar

“estrutural”, a interação das disciplinas ocorre ao mesmo tempo num diálogo em

igualdade, as trocas são reciprocas, o enriquecimento é mútuo, não havendo

supremacia de uma disciplina sobre as demais.

Segundo o autor Hilton Japiassu, “O que há é uma combinação das

disciplinas, correspondendo ao estudo de novos campos de problemas, cuja

solução exige a convergência de várias disciplinas, tendo em vista levar a efeito

uma ação informada e eficaz.

Entende-se que a Interdisciplinaridade, não é apenas um conceito

teórico, impõe-se como uma prática. Primeiramente aparece como uma prática

individual, apresentando-se como uma atitude de espírito, feita de curiosidade,

de abertura, sendo apenas exercida e não pode ser aprendida. Em segundo

lugar a Interdisciplinaridade aparece como prática coletiva sendo necessário

que todos estejam abertos ao diálogo, reconhecendo tanto o que lhes falta

como o que podem ou devem receber dos outros. Só se adquire essa atitude

através do trabalho em equipe interdisciplinar.

Destaca-se também na obra do referido autor, a existência de uma

passagem gradual do multi e do pluri ao interdisciplinar, ou seja, da não-

integração a integração.

Para o autor a pesquisa interdisciplinar faz apelo a diversos

pesquisadores que ao olharem a um mesmo problema no viés de cada

especialidade, decorra de seus saberes reunidos e integrados a um

conhecimento mais completo, e não uma justaposição de dados de várias

disciplinas.

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Ainda segundo ao autor, o triunfo do positivismo foi de suscitar a

repartição do espaço mental do saber em departamentos isolados e com

fronteiras rígidas. Portanto, sabe-se que o trabalho interdisciplinar é de

realização difícil pois segundo o autor existe uma primeira fase de informação

mútua em que as disciplinas se veem a outra exterior a si mesma. Depois, em

fase que cada especialista entrevê as questões que os outros lhe colocam e por

fim, a fase de tomada de consciência coletiva. Exige-se uma educação de

ambas as partes para não ser superficial.

A aproximação deve implicar um confronto dos pontos de vista de

modo que as diversas interpretações possam interpenetra-se com vistas a uma

melhor compreensão do objeto a ser estudado, ultrapassando as diferenças

com vistas a um conhecimento mais rico e matizado.

Implica-se em se facilitar as trocas e as cooperações reciprocas,

favorecendo as convergências e as complementaridades interdisciplinares.

Uma atitude interdisciplinar pauta-se no respeito mútuo e de

igualdade, mas fundada sobre a competência de cada especialista,

compreendendo que cada especialista reconheça o caráter parcial e relativo de

sua própria disciplina. Faz-se necessário que cada um adquira certa

familiaridade com uma disciplina diferente da sua, desta forma cada especialista

sai enriquecido através da cooperação e interação como fim.

Tendo em vista que segundo o autor “O conhecimento humano é

sintético e global antes de ser analítico e especializado”. A importância da

interdisciplinaridade se faz presente nas relações humanas e com o meio,

também pelo fato da exigência de unidade, estar na própria origem de todo

saber, por mais especializado que seja.

Para trabalhar em conjunto, segundo o autor torna-se fundamental

dizer de quê se fala, o quê se faz, como se faz e com que objetivo. Também

destaca as verdadeiras comunicações que define como relações que irão levar

a uma transformação interna da totalidade das disciplinas em interação.

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Outro ponto interessante tratado pelo autor é de “discernir dois

métodos distintos e complementares na forma de abordar o interdisciplinar”.

Identifica-se o nível prospectivo que se confirma na própria tarefa

interdisciplinar. E o nível retrospectivo, sendo no âmbito de reflexão

interdisciplinar.

No primeiro método relaciona-se à realidade concreta dos

empreendimentos humanos e da história. E a tarefa é realizada por disciplinas

“operantes” ou “cooperantes”. E no segundo método foca-se na instauração da

unidade do objeto do saber.

Sendo os dois métodos interdisciplinares convergentes e

complementares.

No que se refere a linguagem comum, o importante a ser destacado

é que cada especialista não fale a mesma linguagem e utilize os mesmos

conceitos dos demais, mas sim, que possam todos serem capazes de

compreender essas linguagens e esses conceitos. O autor destaca que a

autonomia de cada disciplina seja preservada, sendo uma condição de

harmonia de suas relações com as demais disciplinas, cada especialista possa

conhecer o vocabulário de cada um.

1.2 A Interdisciplinaridade e o diálogo entre os saberes

Até o fim do Séc. XIX, o destino das ciências humanas está

vinculado aos de filosofia. Segundo o autor, “ As tentativas das academias e

das sociedades de sábios do Séc.XVIII, veio associar-se o movimento

enciclopedista do Sec. XVIII, cuja intenção foi a de congregar num único corpo,

os elementos dispersos do domínio da ciência. Todavia, o Séc.XIX, veio colocar

um fim a essas esperanças de unidade, sobretudo com o surgimento das

especializações...”

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Segundo o autor, o triunfo do positivismo, origina-se na repartição do

espaço mental do saber em departamentos isolados.

O positivismo foi o grande responsável segundo o autor Hilton

Japiassu, pela fragmentação das ciências do homem, pois seus métodos

apresentam sérias lacunas. Não dando respostas aos problemas complexos

que somos hoje em dia confrontados.

Para ampliar as possibilidades, a abordagem interdisciplinar traz a

colaboração, interações recíprocas nas trocas de dados, de informação, de

metodologia entre diversas disciplinas. Indo, segundo o autor, além do sentido

parcial e limitado da realidade.

O especialista, dizia G.K. Chsterton, é aquele que possui um

conhecimento cada vez mais extenso relativo a um domínio cada vez mais

restrito. Segundo Georges Gusdorf, citado na obra “Interdisciplinaridade e

patologia do saber “do autor Hilton Japiassu, quanto mais se desenvolvem e se

diversificam as disciplinas do conhecimento, mais perdem o contato com a

realidade, separando-se da realidade global.

Ainda destacado por Georges Gusdorf, “um velho adágio ensina:

summum jus, numma injuria” o formalismo jurídico de uma teoria abstrata,

desligado da referência à uma vida real, pode assim trair a essência mesma da

função jurídica. Podendo desenvolver o desconhecimento de implicações

próximas e longínquas da existência humana. Desta forma, a dissociação

crescente das disciplinas científicas, acaba por apresentar-se desmembrada da

realidade humana.

Chega-se, portanto, o momento de uma nova epistemologia, não se

privando somente de uma reflexão sobre cada ciência em particular procurando

os especialistas, em comum, a restauração das significações humanas do

conhecimento.

Dando continuidade, o desafio ultrapassa o domínio da

epistemologia. Segundo Geoges Gusdorf, as ciências definem cada uma por

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sua vez, a consciência da humanidade. As ciências em migalhas são a

consciência de uma humanidade esfacelada, por um saber sempre mais

preciso, mas não se interessando pelo essencial.

Ainda segundo o mesmo, esse saber fragmenta, gera uma patologia

contemporânea do saber traduzindo a deficiência ontológica. “ Não se trata

apenas de uma patologia do saber, mas de uma patologia da existência

individual e coletiva”.

Identifica que o homem da especialidade queira ser, ao mesmo

tempo, um homem da totalidade, ampliando o olhar de cada saber para a

totalidade e universalidade.

No que se refere ao comparativo das equipes pluridisciplinares e as

com abordagem interdisciplinar, aquelas se reúnem mas permanecem

estranhos uns aos outros por sua formação, com linguagens diferentes e não

se harmonizam entre si. Enquanto a interdisciplinar impõe a cada especialista

que transcenda na própria especialidade, conscientes de seus próprios limites

no que se refere a acolher as contribuições de outras disciplinas, articulando-se

o conhecimento.

Concluindo assim, a interdisciplinaridade se trata de uma

epistemologia, sendo que substitui a dissociação da complementariedade e de

convergência dos saberes visando a totalidade do saber, possibilitando a

promoção da humanidade do homem.

Segundo o autor Hilton Japiassu, em sua obra “A

Interdisciplinaridade e patologia do saber”, a interdisciplinaridade apresenta-se

como uma exigência interna das ciências humanas, sendo uma necessidade

para uma melhor inteligência da realidade que elas nos fazem conhecer. As

relações interdisciplinares impõem para a formação do homem quanto para

responder as necessidades da ação. ” E colocar o problema da

interdisciplinaridade nas ciências humana já é colocar, parece-me, a questão do

diálogo dessas disciplinas”. Sendo de significativa importância fomentar

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abordagens no mundo contemporâneo que tenham como essência o diálogo, a

complementariedade, visando ampliar os olhares dos saberes visando uma

melhor compreensão dos fatos apresentados e ou vivenciados.

Ainda segundo o autor Hilton Japiassu, “ O conhecimento

interdisciplinar, até bem pouco tempo condenado ao ostracismo pelos

preconceitos positivistas, fundados numa epistemologia da dissociação do

saber, começa a ganhar direitos de cidadania, a ponto de correr o risco de

converte-se em moda”. Mas sabe-se do desafio de uma ação interdisciplinar,

pois cada vez mais identificamos um número crescente de especializações

sendo uma fragmentação crescente do horizonte epistemológico.

Entende-se segundo o autor que o esfacelamento das disciplinas é

explicado pelos preconceitos da mentalidade positivista.

A ação pautada na interdisciplinaridade prevê a interação de

saberes, promovendo o enriquecimento recíproco das disciplinas em que os

conflitos devem ceder o lugar ao trabalho em comum, objetivando uma visão

totalizante.

O autor Hilton Japiassu, aponta razões para a atuação

interdisciplinar:

1- Proporciona trocas generalizadas para além de uma

reorganização do meio científico, como para a transformação

Institucional a serviço da sociedade e do homem;

2- Amplia a formação geral de todos participantes do

empreendimento interdisciplinar;

3- Questiona a possível acomodação dos cientistas em seus

pressupostos implícitos, dificultando as trocas e descobertas;

4- Melhor preparação para a formação profissional compreendendo

a contribuição de várias disciplinas;

5- Prepara e engaja para a pesquisa em equipe, os especialistas

aprendem a conhecer os seus limites metodológicos

promovendo o diálogo pelo trabalho em comum;

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6- Assegura e desenvolve a educação permanente através de

reciclagem continuada.

Segundo o autor Hilton Japiassu, a partir sobretudo do séc. XIX,

ocorre a especialização sem limites, das disciplinas científicas, originando uma

fragmentação crescente do horizonte epistemológico.

A metodologia interdisciplinar exige de cada especialista uma

reflexão mais profunda e mais inovadora sobre os conceitos de ciência e de

filosofia.

Esta nova abordagem de partilha do saber e de suas inter-relações

pode provocar uma atitude de resistência ou de recusa ao fenômeno

interdisciplinar.

Segundo o autor Hilton Japiassu, este fenômeno tem dupla origem,

sendo “uma interna, tendo por característica essencial o remanejamento geral

do sistema das ciências, que acompanha seu progresso e sua organização,

outra externa, caracterizando-se pela mobilização cada vez mais extensa dos

saberes convergindo em vista da ação”.

Ainda de acordo com o autor, a interdisciplinaridade está sob um

tríplice protesto sendo estes: contra um saber fragmentado, contra o divórcio

crescente ou esquizofrênico intelectual, contra o conformismo das situações

adquiridas e das ideias recebidas ou impostas.

Destaca-se que a relativação do fato que na medida que o saber

cada vez mais compartimenta, divide e subdividi a sociedade, sendo

apresentado uma realidade dinâmica, sendo a vida percebida em sua dimensão

de complexidade e de indissociável. Desta forma, ressalta-se que o

conhecimento e a ação se conjugam.

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Segundo o autor “ Porque é o homem em situação, e não, o homem

atemporal, a-histórico, desenraizado culturalmente”.

Por tal questão, justifica-se também, a importância da abordagem

interdisciplinar nas relações humanas, bem como na mediação de conflitos, pois

favorece e potencializa o diálogo entre os saberes, proporcionando uma visão

ampliada da questão subjetiva e existencial e concreta do que se apresente aos

profissionais independente de sua formação científica.

Não se tem como presunção considerar a interdisciplinaridade o

único método capaz de resolver todas as questões apresentadas mas cabe

destacar que pelo estudo, que é de grande importância o esforço de aproximar,

integrar os conhecimentos. Atendendo as necessidades intelectuais e afetivas e

de interesses de pesquisadores no que se refere a uma realidade vivida que se

apresenta global e multidimensional.

O autor cita em sua obra que o objetivo ideal a ser alcançado é de

descobrir nas ciências humanas, as leis estruturais de sua constituição e de seu

funcionamento, isto é, o que identifica como denominador comum, mediante um

confronto dialético das disciplinas.

Diante da complexidade da vida, do homem em situação de

problemas cada vez mais complexos em uma sociedade em mutação, visa a

descoberta de melhores métodos para planejar e guiar a ação. Isto inclui novas

informações, ampliando as perspectivas da resolução de problemas sociais

concretos.

Ao utilizarmos uma ação interdisciplinar, alcançamos para além de

um enriquecimento recíproco, mas sim, um conhecimento mais inteiro do

fenômeno humano.

A interdisciplinaridade pode potencializar a solidariedade e a

complementaridade dos saberes, contra as barreiras culturais através de uma

pedagogia da unidade das ciências humanas visando um universalismo mais

amplo do conhecimento.

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Desta forma, destaca-se que a interdisciplinaridade tem papel

importante nas respostas a problemas complexos, sejam de ordem pessoal ou

de social. Segundo o autor, Hilton Japiassu, deve-se o objeto do conhecimento

englobar o conjunto dos sistemas de trocas entre os indivíduos (ou

coletividades) e o seu meio-ambiente, tendo o conhecimento da ação coletiva e

de funcionamento das organizações sociais. Dando, portanto, respostas aos

questionamentos sociais, através de uma cooperação interdisciplinar sendo

considerada uma ação inteligente informada de convergência de um saber

totalizante.

A autora Eliana Riberti Nazareth retrata em sua obra, a experiência

em grupos de reflexões e debates de profissionais de diversas áreas, sobretudo

da psicanálise e do direito. Tendo como objetivo a troca de conhecimento

ultrapassando, segundo a mesma, as fortalezas construídas pelos saberes,

ampliando-se assim, a visão de mundo.

A autora também pontua a interdisciplinaridade como uma

possibilidade de discutir problemas e dificuldades humanas sob diversos

olhares das disciplinas.

Segundo Jairo Gonçalves Carlos, é factível a interação entre os

saberes que possam parecer distintos, sendo esta interação uma forma

complementar que viabiliza um saber crítico-reflexivo. Ainda segundo o

pesquisador, a interdisciplinaridade surge através dessa perspectiva, sendo

uma forma de superar a fragmentação entre os saberes. Outro ponto destacado

é o diálogo, entre os saberes, relacionando-se entre si alcançando um

entendimento da realidade, do contexto, do conhecimento, bem como a

articulação de ações de disciplinas, visando um interesse em comum. Para o

autor, a interdisciplinaridade nos propõe uma nova postura diante do

conhecimento, pretende que construamos um conhecimento global e

contextualizante, rompendo assim, com as barreiras das disciplinas para a

compreensão da realidade em sua complexidade.

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Segundo a autora Águida Arruda Barbosa, a mediação trata-se de

um conhecimento interdisciplinar cuja prática produz conhecimento

transdisciplinar. A transdisciplinaridade solidifica-se em uma atitude

transcultural de respeito as diferenças e se faz compreendida como uma

decorrência da interdisciplinaridade. A produção deste conhecimento

interdisciplinar pressupõe atitude de observação e de cooperação com outros

saberes de outras disciplinas, integrando-os num conhecimento proveniente da

inteligência criativa, sendo uma nova pedagogia que se afasta da extrema

especialização ao encontro da complementariedade dos saberes. Destaca que

não se pode mais pensar em unidisciplina e suas derivações, em meio a

globalização, sendo imprescindível o conhecimento global interdisciplinar,

resultante em conhecimento transdisciplinar. Eis para a referida autora, o que

existe de novo no Instituto da mediação.

~

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CAPÍTULO II

A mediação de conflitos e a interdisciplinaridade

“ Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão”.

Fernando Pessoa

2.1. A mediação de conflitos como política pública

Segundo Christopher W. Moore, desde o início da história o conflito

apresenta-se em todas as sociedades e, portanto, nas relações humanas,

sejam no âmbito familiar entre os cônjuges, filhos, pais e filhos. Assim como de

vizinhança, ambiente de trabalho, organizações, grupos étnicos e racionais,

comunidades, assim como, no âmbito governamental e entre nações e os

cidadãos. A mediação, para o autor, pode viabilizar ou fortalecer a confiança e

respeito entre as partes ou minimizar custos bem como, prejuízos psicológicos.

Segundo o autor, a mediação tem uma trajetória em quase todas as

culturas do mundo. Cita culturas, sejam elas, judaicas, cristãs, islâmicas,

hinduístas, budistas, confucionistas e muitas culturas indígenas tiveram em sua

tradição a prática da mediação.

Ainda segundo o mesmo, com a ascensão da sociedade secular no

Ocidente, a medição também se ampliou. Houve também o crescimento da

mediação na América e em outras colônias e finalmente nos Estados Unidos e

no Canadá. Um aspecto destacado referente ao crescimento da mediação no

ensino foi o aumento dos programas que objetivam o treinamento da juventude

na mediação entre colegas. Sendo geradores de impactos importantes nos

níveis dos conflitos escolares (Smith e Sidwell, 1990) e, em alguns casos, uma

redução na violência das gangues (Wahrhftig, 1995). Estimula-se assim, as

decisões cooperativas do cotidiano.

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Segundo a autora Eliana Riberti Nazareth, a palavra mediação vem

do latim mediatio ou meditationis, significando “ intervenção com que se busca

produzir um acordo” ou “processo pacífico de acerto de conflitos, cuja solução é

sugerida, não imposta às partes”. Tem-se a informação dos primeiros registros

de utilização da mediação provavelmente a 300 a. C., na Grécia antiga e

posteriormente foi aplicada a mediação no Direito romano. Mas a autora

ressalta que em ambos a mediação não era tratada como uma possibilidade

legal. Outro ponto interessante a observar, durante séculos a mediação era

utilizada pela Igreja católica e pela ortodoxa, o clero administrava questões de

disputas apresentadas na sociedade.

Ainda segunda a autora, apenas em meados de 1936, iniciou-se um

dito sistema de mediação numa localidade de Boston mas de forma ainda

rudimentar. Nos anos 70 se espalhou pelo EUA, sendo incorporada ao sistema

legal. E segundo a autora Eliana Riberti Nazareth, “ Como berço da

metodologia no país, a Universidade de Harvard acabou impondo seu próprio

modelo de mediação”. Tendo os mediadores norte-americanos um leque amplo

de atuação.

Para a referida autora, o conflito aparece sempre que há

necessidades, motivos ou interesses opostos, desencadeando crises. Retrata

que no idioma chinês, crise é um momento perigoso em que as coisas

começam a dar errado, sendo uma situação em que se deve ter cautela.

Estando a mediação inserida neste contexto, com o objetivo de transformar a

situação de perigo iminente em oportunidades de mudança.

A autora descreve em sua obra, que os conflitos têm origens

diversas como aspectos históricos, políticos, familiares e psicológicos.

Segundo o autor Carlos Eduardo Vasconcelos, o conflito é descrito

como dissenso. Apesar de ser algo da natureza humana em uma situação

conflituosa tratam-se as partes normalmente como adversários ou inimigos. E

este estado emocional, como trata o autor, estimula as polaridades

desfavorecendo a percepção do interesse comum as partes. Ainda segundo o

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mesmo, quando temos o entendimento de ser inevitável o conflito nas relações

humanas, somos capazes de desenvolvermos soluções de cunho

autocompositivas. Mas quando não nos colocamos com postura responsável,

tenderá a tratamentos de linguagem violenta ou de confronto.

Portanto para o referido autor, o conflito era visto como algo a ser

eliminado pela sociedade, concebendo a paz com a ausência do conflito. Mas

atualmente não se tem esse entendimento, sendo a paz “...um bem

precariamente conquistado por pessoas ou sociedades que aprenderam a lidar

com o conflito”.

A evolução do conflito e as ações degeneradas pela violência,

segundo o autor, variam mediante ao contexto intersubjetivo histórico, social,

cultural e econômico. Quanto a solução transformadora do conflito dependerá

“...do reconhecimento das diferenças e da identificação dos interesses comuns

e contraditórios pois a relação interpessoal está alicerçada em expectativas,

valor ou interesse comum”. Desta forma o conflito interpessoal compreende o

aspecto relacional, que são os valores, sentimentos, crenças e expectativas

intercomunicados, o aspecto objetivo e a trama desdobramento dessa

dinâmica.

Contextualizando historicamente a mediação no poder judiciário,

identifica-se, conforme citação no Manual de Mediação Judicial – CNJ com

organização do Juiz André Gomma de Azevedo, a vinculação direta ao

movimento de acesso à Justiça iniciado nos anos 70. Como uma possibilidade

sistêmica para melhoria do referido acesso, na perspectiva do jurisdicionado.

Também se destaca, o movimento pela busca de formas de solução de

problemas que viessem colaborar na melhoria das relações sociais, e da

comunicação entre as partes do conflito. Promovendo assim, uma nova fase de

orientação de métodos autocompositivos no atendimento da demanda dos

usuários de forma satisfatória, bem como, favorecendo a redução de custos e

principalmente a reparação das relações sociais.

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A autora Águida Arruda Barbosa, destaca que no Canadá e na

França, devido principalmente ao pensamento da cultura francesa, o conceito

de mediação vem como princípio, dando ênfase para um meio adequado que

vise a humanização das relações jurídicas.

Segundo o autor Carlos Eduardo de Vasconcelos, a “ Mediação de

conflitos não se dá à margem dos princípios jurídicos”, sendo os valores mais

aproximados, os de direitos humanos. Destaca ser indicado para a formação

dos mediadores, acessar esses princípios fundamentais constitucionais e

internacionais. O autor faz uma referência a Declaração Universal da ONU em

que na medida que visavam a promoção da paz entre as nações, analisaram

que a promoção dos direitos humanos seria uma condição para que a paz,

perdurasse conforme o ideal proposto.

Segundo o referido autor, o Estado democrático já indicado na

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, deve “...assegurar o

exercício dos direitos, numa sociedade fraterna, pluralista e sem

preconceitos...” comprometida com a solução dos conflitos de forma pacífica.

Desta forma, o autor destaca o poder-dever da sociedade de resolução pacífica

de conflito, de forma independente da atuação do Poder Judiciário. Esse

protagonismo, segundo o autor, deve ser de forma dialética e dinâmica

integrar/suplementar o sistema autônomo do direito, para o atendimento dos

princípios gerais que embasam a solução dos conflitos por meio da restauração

das relações intersubjetivas visando a dignidade da pessoa humana.

Ressalta ainda que a justiça de paz aqui referida, já é “...prevista no

Capítulo III, do Poder Judiciário, Disposições Gerais, art. 98, II, da Constituição

Federal de 1988”. Conforme citação do Conselho Nacional de Justiça, a partir

da Resolução 125 do CNJ de 29/11/2010 deu-se início à estruturação da

Política Judiciária Nacional, uma Política Pública lançada em meados de 2011.

Ainda segundo o referido autor, as políticas Públicas que visam a efetivação do

acesso à justiça são indispensáveis ao desenvolvimento da comunicação

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construtiva, solidária e emancipatória, no alcance da cultura de paz e dos

direitos humanos.

Segundo a autora Águida Arruda Barbosa a partir de 1990,

desenvolveu-se o conhecimento da mediação no Brasil, nesta época foram

recebidas as primeiras notícias sobre as experiências norte-americanas,

canadenses e francesas, incentivando a efetivação do referido Instituto no

cenário jurídico nacional. Para a autora um fator determinante para certa

estagnação dessa efetivação ocorreu pela ausência de políticas públicas

apropriadas para a difusão desta forma de acesso à justiça.

Para a autora, as políticas públicas contem a capacidade pragmática,

sendo fundamentais para a implementação de ações efetivas de inclusão

social. Também aprimoram os meios de formação e fortalecimento da

cidadania. A autora cita em sua obra, que a mediação foi contemplada pela

política pública instituída pela Resolução do Conselho Nacional de Justiça –

CNJ, no ano de 2010.

A autora, ainda destaca o Novo Código de Processo Civil e o Projeto

do Estatuto das Famílias. Referente ao NCPC este distingui os Institutos de

mediação e da conciliação. “ O art.165 § 2 descreve a atividade de conciliação,

destacando a descrição da atividade de mediação no § 3 do mesmo artigo”,

definindo a diferença entre eles. A autora evidencia que se identifica o

desenvolvimento doutrinário de um conceito apropriado à mediação familiar

interdisciplinar. Segundo a mesma, as divergências nos dispositivos que

regulam a mediação no NCPC serão aprimoradas por meio da interpretação

sistemática e teleológica, utilizando-se da doutrina nacional e estrangeira,

visando a coerência teórica a prática social, de conformidade com a tendência

mundial de adotar este meio de acesso à justiça.

A referida autora ressalta o instituto de mediação previsto no Projeto

de Lei Estatuto das Famílias, cuja iniciativa de elaboração se deu pelo Instituto

Brasileiro de Direito de Família – IBDFAM, recebendo parecer favorável da

Comissão de Direitos Humanos, e Legislação Participativa. Destaca-se o PLS

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no art. 145, “ ...a possibilidade de Varas e Câmaras especializadas, dotadas de

equipe multidisciplinar, conciliadores e mediadores”. E art.146 destaca que o

juiz poderá sugerir a mediação judicial ou extrajudicial.

Segundo a autora, a efetividade de implantação da prática da

mediação é possível por um único caminho: Educação, garantindo a mudança

de cultura de litígio para a da comunicação.

Ainda segundo a mesma, a primeira resposta à demanda de

cidadania é o aperfeiçoamento de acesso à justiça, tendo como essência os

direitos individuais – subjetivação dos direitos, consequentemente a inserção

social efetiva, garantindo a preservação da identidade e o respeito ao princípio

constitucional de proteção à dignidade da pessoa humana. A mediação,

“...apresenta-se como uma ferramenta ao aperfeiçoamento da cidadania”. Desta

forma, é um fenômeno que através da sociedade civil vem se moldando de

forma a responder as demandas de identificação das diferenças, reconhecendo

a subjetivação dos direitos.

Segundo o autor Boaventura de Souza Santos, existe a necessidade

de uma mudança democrática da Justiça no Brasil, através de uma inovação

institucional para atender as demandas de dificuldade o acesso à justiça. Cita-

se também que “ A adjudicação judicial moderna tem como característica

saliente criar dicotomias drásticas entre ganhadores e perdedores, mas só

depois de aturados e prologados procedimentos de contraditórios e provas

convincentes”. (Santos, 2007, p. 83-84). Faz-se necessário a busca pelo

restabelecimento da paz nas relações compreendendo os aspectos sócio-

políticos e cultural.

O autor Daniel Carneiro, destaca como importante, a implementação

pelo Brasil de incentivos pelo Tribunal de Justiça de práticas de mediação de

conflitos. Ressalta em seu artigo ”Mediação de conflitos como instrumento de

acesso à justiça e incentivo a cidadania” do Tribunal de Justiça da Bahia, o

projeto “ Balcão de Justiça e Cidadania”, criado em 2003, com a finalidade de

estimular e viabilizar o acesso gratuito à justiça. “ O Balcão de Justiça se

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consolidou como o instrumento eficaz de acesso à justiça por pessoas carentes

situam-se próximos de bairros periféricos. O Balcão possui 26 unidades na

capital Salvador e 23 no interior do Estado. Há ainda, uma unidade móvel para

atendimento e mediação que se dirige a localidades que não tenham unidade

fixa”. (Carneio, 2010). Sendo um Programa com perspectiva interdisciplinar, que

agregou saberes de profissionais de diferentes áreas de conhecimento, na

expectativa de melhora das relações de convivência e de uma sociedade

implicada na cultura de paz.

Segundo a autora Malvina Ester Muszkat, a mediação de conflitos

traz em si mesma a potencialidade de um novo compromisso político voltado

para igualdade e diminuição da violência. Ainda segundo a mesma, o desejo de

grupos interdisciplinares em atuarem na mediação de conflitos é provável que

se deia justamente por este fato de um novo compromisso político. O campo de

atuação para a interdisciplinaridade na mediação se dá em programas sociais,

escritórios ou consultórios particulares. Destaca também atuações voluntárias

buscando desconstruir cultura de disputa e rivalidade nas relações de conflito.

Para a referida autora, a mediação de conflitos se concebe de forma

comprometida com a epistemologia contemporânea de perspectiva ecológica,

ou seja, referente a construção dos significados contextualizados, mediante

vários locais. E construtivista, aplicável a qualquer campo da vida humana.

Ressalta a mediação de conflitos, como saber, não como uma prática

paternalista de senso comum e intuitiva. A autora pontua que a mediação não é

abordada em sua obra, como uma prática de senso comum ou como método

pragmático de resolução de conflitos. Destaca que a mediação implica um

saber, uma episteme resultante de vários outros saberes.

Para a autora Malvina Ester Muszkat, a mediação foi aprendida pela

própria “ ... como um importante veículo de transmissão de democracia, por

meio de horizontalização das relações humanas”. A autora cita Foucault,

quando o mesmo sinaliza para a complexidade do ser e da cultura, observando

que sob um mesmo fato na História, presenciam-se diferentes reações.

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Segundo a mesma, a mediação tem por finalidade a possibilidade de

que o mediador possa rever seus padrões, oferendo novas ferramentas para

lidar com as diferenças existentes entre os seres humanos, sob a lógica do

pacto e revalorização da pessoa humana. Desta forma, otimizará o diálogo

onde ele não se faz presente, sendo esta uma qualidade transformativa da

mediação, principalmente no âmbito familiar.

Ainda segundo a Malvina Ester Muszkat, a mediação representa

nova lógica nas relações entre indivíduo e sociedade. A mediação não pode ser

vista como mais um instrumento do modelo paternalista de pensar os direitos

humanos e cidadania. Ressalta-se que se a mediação não for apreendida como

uma nova capacidade de pensar, agir e existir poderá correr o risco de ser

aprisionada pelos velhos dogmas que se propõe a abandonar.

Concluindo, para a referida autora, a mediação é um instrumento de

democracia e assim, deve ser compreendida.

Para Giselle Câmara Groeninga, apesar de haver no percurso

percorrido pelo Instituto de Mediação, mais cursos desta prática colaborativa e

de cultura de paz do que de fato sessões de mediação, destaca-se a importante

contribuição que é a mudança de paradigma e de seus impactos de

transformação no judiciário, bem como na sociedade.

Segundo a mesma, a judicialização também é oriunda de uma

crescente consciência dos Direitos associada a uma angústia social, devido a

fatores como: esgarçamento do tecido social, cultura patriarcal e paternalista.

Busca-se assim, vivenciar outras qualidades nos relacionamentos e outras

formas de exercício e legitimação de autoridade.

Ainda segundo Giselle Câmara Groeninga, a mediação pode ser

vista para além de um método de desafogar o judiciário, e sim como uma

maneira de entender os conflitos e de questionamento quanto ao tratamento

que lhes é dado. Amplia-se a percepção de seu aspecto, de seus determinantes

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e seus efeitos. A mediação assim, carrega consigo um método de

conhecimento dos conflitos.

Desta forma, a mediação é uma possibilidade de opção de atuação

em situações de conflitos, contemplada nas novas leis, apresentando-se como,

uma mudança paradigmática. A autora ressalta: “... antes uma boa mediação e

mesmo uma boa demanda, do que um mau acordo”.

Segundo a mesma, a mediação por seu caráter de mudança de

paradigma, deve ser exercida para compreender de forma ampla os conflitos,

inclusive com o propósito de transformação da realidade de conflito

apresentada.

Para o autor Carlos Eduardo de Vasconcelos no que se refere ao

conflito na Era dos Conhecimentos, os valores, expectativas e interesses

manifestam quer uma supremacia de uma cultura de dominação, quer de uma

cultura de paz e direitos humanos. Para melhor entendimento desta dinâmica,

descreve elementos que caracterizam cada uma dessas culturas. Na cultura de

dominação prevalecem a desigualdade, a hierarquia, a verticalidade enquanto

sob uma cultura de paz e direitos humanos espera-se a igualdade, autonomia

da vontade e relações horizontalizadas. Também na cultura de dominação,

predomina o decisionismo, o patrimonialismo, a competição predatória, ao

absolutismo e fundamentalismo. Já na cultura de paz e direitos humano

predomina-se a mediação, o compartilhamento dos saberes, negociação

cooperativa, com vistas aos interesses comuns e ao respeito às diferenças.

O autor, destaca não crer em uma sociedade exclusivamente

direcionada por valores de uma cultura de paz e direitos humanos, mas sim na

possibilidade histórica dentro de um processo civilizatório de predominância da

cultura de paz à que se refere.

Segundo a autora Águida Arruda Barbosa, obriga-se afastar o

pensamento de que a mediação é um mecanismo que existe para resolver

problema, como também de desafogar o judiciário. Deve-se afirmar que é uma

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ferramenta de promoção da transformação do conflito, de aperfeiçoamento do

acesso à justiça.

Para a autora, a mediação chega ao Brasil por duas linhas: O

modelo francês em São Paulo no ano de 1989 e pela Argentina chegou ao sul

do Brasil com o modelo dos Estados Unidos em 1990. O objetivo da mediação

é diminuir a distância entre o judiciário e o cidadão, visando o aprimoramento

dos instrumentos de acesso à justiça, mas em primeiro plano vem como uma

forma de desafogar o sistema judiciário.

Ainda segundo a autora, apesar dessa intenção, não se pode deixar

de destacar que a mediação aparece como possibilidade de transformação do

judiciário, agrega grupos e instituições comprometidas com o desenvolvimento

de um modelo brasileiro de mediação.

Tratando da regulação da mediação, em ordem cronológica, a autora

descreve os movimentos legislativos para este fim. Primeiro, o Projeto de Lei n

4.827/98 da deputada Zulaiê Cobra Ribeiro adotando o modelo francês de

mediação. Posteriormente, no início de 1990, nasce uma nova iniciativa

legislativa da Professora Ada Pellegrini Ginove em conjunto com juristas em

sua maioria processualistas, criam um Projeto de Lei da Mediação. Tratando-se

este de influências norte-americanas, modelo de resolução de conflitos com

vistas a desafogar o judiciário. E em 2003 com objetivo de conciliar o Projeto de

Lei da Mediação com o Anteprojeto da Lei da Mediação, realizou-se uma

audiência pública em caráter especial, dando origem à versão consensuada

que prosseguiu para o senado, na tramitação legislativa. Esta versão objetiva

desafoga o judiciário, estando distante do conceito de mediação como princípio,

tratando-se de um conteúdo de conciliação.

Mas a autora ressalta o Estatuto das Famílias Projeto de Lei n

2.285/2007, de iniciativa do deputado Sergio Barradas Carneiro, e de autoria do

Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), celebrando nos arts. 128 e

129 do PL, a mediação familiar interdisciplinar, inclusive sugerindo a aplicação

em sede extrajudicial. Para a autora a proposta tem ingresso no ordamento

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jurídico como conceito e a partir desse lugar ensejará a necessidade de ser

compreendida e aos poucos alcançará a credibilidade como instrumento de

direito da dignidade da pessoa humana.

Segundo a autora Águida Arruda Barbosa, a mediação como

princípio, tem caráter pedagógico, pois pressupõe o aprendizado de um

comportamento que firma a comunicação, garantindo uma escuta qualificada,

valendo-se de dar vida ao princípio Constitucional de proteção à dignidade da

pessoa humana e de proteção do Estado. Ainda ressalta, que foi a comunidade

europeia que reconheceu a mediação como princípio, consolidando assim,

como um princípio ético, um comportamento humano.

Ainda segundo a autora, a mediação é uma “revolucionária mudança

de comportamento a ser implantada na cultura jurídica contemporânea”. Com a

conquista constitucional do princípio da dignidade da pessoa humana determina

novos paradigmas na conformidade da principiologia, como o princípio da

mediação e de proteção do Estado.

Para a autora existem dois pilares de sustentação das formas de

acesso à justiça, seriam: A jurisdição estatal de aplicação do direito e os

denominados equivalentes jurisdicionais que são a mediação, conciliação e

arbitragem, sendo que são institutos com conceitos próprios que se

diferenciam. Ressalta que a mediação tem uma linguagem que se diferencia da

linguagem da conciliação e da arbitragem. Na mediação, não cabe ao mediador

decidir pelos mediandos, mas sim fortalecer o papel de cada um na

responsabilidade de suas próprias escolhas. Sendo, portanto, o mediador uma

pessoa neutra, que através de uma fundamentação teórica e técnica provoca o

despertar dos recursos pessoais de cada mediando para o restabelecimento da

comunicação. Outro ponto tratado que diferencia da conciliação e arbitragem é

o caráter preventivo, não sendo a existência do conflito um pressuposto para

que aconteça a mediação.

Ainda segundo a autora, “...a mediação ocupa-se do futuro; a

arbitragem e a conciliação ocupam-se do presente”. A discriminação conceitual

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entre os equivalentes jurisdicionais, para a autora, é fundamental para o

entendimento da mediação como um conhecimento independente e autônomo.

Estando a mediação em um campo de conhecimento, cuja a prática garante o

acesso à justiça de forma igualitária, mas sabendo que se trata ainda de um

conceito em construção doutrinária.

Para a autora, a mediação utiliza técnicas de comunicação

adequadas para escuta ativa qualificada, por meio do exercício da palavra, os

mediadores estimulam a conquista da autonomia dos mediandos por meio do

resgate de recursos pessoais que como nomeia a autora, estão adormecidos e,

portanto, não acessíveis aos próprios mediandos no momento do conflito.

Segundo a autora, quando os operadores de direito se sentem parte

de uma atitude de inclusão e de transformação do conflito, como um novo

paradigma, se concretiza a prática social possibilitando um educar para a paz.

A autora também destaca que esse caminho encontra obstáculos pois apesar

de boa intenção dos órgãos públicos que se apoderam dessa metodologia

pedagógica, ocorre a confusão entre o Instituto da mediação e outras formas de

acesso à justiça, daí se faz imprescindível a diferenciação conceitual da

mediação e da arbitragem e da conciliação. Portanto, cabe ressaltar que a

mediação ocorre por meio de linguagem própria e de inclusão regida pela

conjunção E em lugar de OU, firmada com conhecimento teórico organizado,

compreendendo possibilidades e alternativas infinitas para a situação

apresentada como conflito, à serem construídos mediante os recursos pessoais

dos mediandos como também da condução do mediador. A autora denomina

como a dinâmica da intersubjetividade, tendo como propósito o exercício da

humanização do acesso à justiça sem juízo de valor sob os mediandos.

Ainda a autora ressalta em sua obra, que a iniciativa do Conselho

Nacional de Justiça (CNJ) de editar a notável Resolução n.125 faz parte da

educação para a paz, sendo um estimulo para que o judiciário possa enfrentar a

implantação do Instituto do instituto da mediação na cultura jurídica do Brasil.

Ressalta também que a referida resolução não discrimina os conceitos de

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conciliação e mediação, para a autora se tivesse sido feita tal conceituação de

cada instituto em suas diferenciações haveria a oportunidade do estímulo de

produção científica de um modelo brasileiro de mediação. Cabe ressaltar,

segundo a autora, que a diferenciação da pacificação dos conflitos no viés da

conciliação vem da cultura norte-americana. Evidenciando a importância de

fortalecermos a educação para a paz pautada em um modelo nacional de

mediação.

Para a referida autora, a mediação é uma prática social de acesso à

cidadania visando a plena comunicação, independente da condição social e ou

intelectual e incondicionalmente a qualquer tipo de conflito. Ressalta também,

que a experiência aponta que os resultados da mediação são idênticos para

pobres e ricos, de ambos os gêneros e de continentes. Através da mediação

alcança-se a singularidade humana que é dificultada pelo estado de sofrimento

que se encontra muitas vezes os mediandos. No que se refere a prática social

segundo a autora, são necessários três participantes, os dois mediandos e o

mediador atuando com entendimento dos três fundamentos: respeito à lei,

respeito ao outro e respeito a si próprio. Como também, a manifestação da

vontade de ambos de participação, mediador e mediandos, sendo um espaço

de criatividade pessoal e social, sendo assim um acesso a cidadania.

A autora destaca que a mediação trabalha com valores humanos

universais, tendo como fundamento o princípio da dignidade da pessoa

humana.

Ainda segundo a autora, a mediação familiar exalta a linguagem

como método composto por técnicas comunicativas compreendendo uma

escuta qualificada, visando a efetivação do princípio constitucional de proteção

à dignidade da pessoa humana e de proteção do Estado. Para a autora se faz

necessário que se estabeleça a intercompreensão entre os jurisdicionados e os

agentes do direito, negando atitudes de julgamento enraizadas no paradigma já

ultrapassado por aqueles que acreditam em um novo olhar sobre o conflito.

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Cabe ressaltar a dimensão educativa e pedagógica da mediação,

vindo ao encontro da ação interdisciplinar de aproximar as ciências e de

promover uma reflexão e ação, sendo assim uma política pública de

empoderamento das partes na decisão de suas questões trazidas ao judiciário.

Destaca-se a citação do Professor Antônio Joaquim Severino autor

na obra “ Serviço social e interdisciplinaridade”, sendo uma contribuição a esta

reflexão: “ A Educação é, aliás, o exemplo dos mais evidentes, da necessidade

de uma abordagem interdisciplinar, seja como objeto de conhecimento e de

pesquisa, seja como espaço de intervenção sociocultural”.

Desta forma, fomenta-se a necessidade de um olhar direcionado ao

entendimento da possível contribuição da mediação, como política pública em

sua dimensão pedagógica, através de uma abordagem interdisciplinar, no

âmbito do direito das famílias.

2.2 – A mediação com abordagem interdisciplinar no direito das

famílias

Pela pesquisa realizada, a interdisciplinaridade convida para uma

atitude diferente para o instituto da mediação, principalmente familiar, propondo

não fragmentar o olhar mediante a especialização daquele que olha ou escuta.

Mas sim, que possa agregar num trabalho comum conceitos e observações que

se complementem a perspectiva de facilitar a comunicação, na construção da

cultura da paz.

Segundo a autora Águida Arruda Barbosa, mediante o desejo de

obtermos ferramentas adequadas para lidar com os conflitos familiares perante

os paradigmas contemporâneos que norteiam o Direito de Família brasileiro,

veio ao encontro a mediação familiar interdisciplinar. Um instituto que positiva a

mediação sob a ótica da interdisciplinaridade.

Ainda segundo a autora, o modelo de mediação familiar que se

fundamenta na cultura da paz, sustenta-se na interdisciplinaridade, nos moldes

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da comunidade europeia no que tange a mediação. Neste modelo não se

fundamenta o julgamento que exclui possibilidades, mas considera a inclusão

de ideias, o respeito mútuo e o reconhecimento das diferenças. Segundo a

mesma, o paradigma da cultura da paz se reconhece no instrumento da

mediação, e no caso com a mediação familiar interdisciplinar.

Na obra “Serviço social e interdisciplinaridade” organizada pela

Professora Jeanete L. Martins de Sá, as autoras Claudia C. Sampaio, Dalva

Rossi, Maria do Carmo Biajoni, Marilene Colodo, Marisa A.C. Tacco e Tania

Regina Savassi ressaltam em seu artigo subcapítulo “Interdisciplinaridade:

fundamentação teórica” que se pressupõe o diálogo como condição para que

haja de fato a interdisciplinaridade. A importância da comunicação pautada no

diálogo e a relação com a abordagem interdisciplinar, o referido artigo faz a

seguinte citação: “ Interdisciplinaridade não se ensina, nem se aprende,

simplesmente vive-se, exerce-se, e por isto exige uma nova pedagogia, a da

comunicação” (Fazenda, p.8).

Ainda na referida obra, as autoras Maria Therezinha Corrêa Marques

e Marilena Pinto Ramalho citam em seu artigo subcapítulo “ A

interdisciplinaridade nos movimentos ecológicos ” ressalta que a

interdisciplinaridade necessita ser entendida como uma fase de recuperação

histórica do discurso humano, evidenciando as diferenças das camadas sociais

e condenando a fragmentação oriunda da cultura dos especialismos.

Para a autora Malvina Ester Muszkat, no que se refere a respeitar o

estatuto sociocultural dos sujeitos cita que “O respeito à ecologia social é

condição para a prática da mediação, o que nos obriga a levar em conta os

aspectos relativos à singularidade dos sujeitos, suas formas de comunicação,

seu estatuto social e cultural...” Considerando assim, a importância dos

elementos relativos à singularidade de cada um, as formas de comunicação

utilizadas, bem como o estatuto social e cultural individual. Tendo em vista, a

necessidade de uma compreensão, sem julgamentos, daí a importância de

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agregar novos saberes sempre na condução do respeito ao referido estatuto

sociocultural.

Ainda segundo a autora, nos conflitos interpessoais, a mediação

necessita em sua prática considerar, “...que para além ou aquém do discurso

manifesto (posição), existe um discurso não expresso, algumas vezes

inacessível para o próprio indivíduo (interesse). ” Apresentando-se uma pauta

subjetiva com interesses ocultos, mas que foram enraizados durante uma

relação matrimonial e que impactam no conflito instaurado pelas partes.

Para autor Antônio Joaquim Severino, em seu artigo “ Subsídios para

uma reflexão sobre novos caminhos da interdisciplinaridade contido na obra

Serviço Social e Interdisciplinaridade, conclui que no “...concernente às práticas

de intervenção social, também se faz presente a necessidade de uma postura

interdisciplinar”. Ressalta também que “Toda ação social, atravessada pela

análise científica e pela reflexão filosófica, é uma práxis ...” Pressupõe a

contribuição e complementação de subsídios fornecidos pelas várias ciências,

inclusive com a colaboração de especialistas de diversas áreas das Ciências

Humanas.

O professor Marcial Barreto Casabona, doutor em direito civil,

destaca na obra da autora Eliana Riberti Nazareth que a Fundação do Instituto

Brasileiro de Estudos Interdisciplinares de Direito de Família em São Paulo no

ano de 1994, foi um marco na busca por uma integração do direito de família,

por meio de troca de conhecimentos por operadores jurídicos e profissionais de

diversas áreas. O professor destaca que a autora Eliana Riberti Nazareth, foi

uma das fundadoras do referido Instituto até a sua extinção em 2000.

Segundo a autora Eliana Riberti Nazareth, no que se refere a

formação do mediador, destaca que para atuação em casos de família é

indicado profissionais com formação em psicologia, serviço social ou ter

preferencialmente, formação em direito de família.

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Ainda tratando da área de atuação, a autora destaca que é ampla

pois “...onde há pessoas há conflitos e onde surgem conflitos cabe a

mediação”. A ética também é abordada pela autora, sendo considerado pela

mesma, que o código de ética da profissão de origem do mediador também

deva ser respeitado.

Segundo a autora Águida Arruda Barbosa, no que se refere ao direito

das famílias, através do estudo dos diversos significados dos relacionamentos,

interpessoais e da comunicação, dos conflitos sob o olhar de vários saberes e

também das lides judiciais, pretende-se desenvolver uma maior sensibilidade no

acolhimento as demandas apresentadas pelos mediandos, seja no âmbito

psicossocial e ou jurídico, através da prática da mediação, cujo objetivo é a

comunicação e não o acordo. Para a mesma, a mediação interdisciplinar

constitui-se uma ferramenta de promoção da reorganização e de transformação

do conflito, a partir de uma integração de saberes de diversas disciplinas,

construindo assim, um novo conhecimento de nível hierarquicamente superior.

Segundo Giselle Câmara Groeninga, em seu artigo “ Mediação é

espaço para diálogo e compreensão de conflitos”, a mediação com base na

interdisciplinaridade aporta ao direito conhecimentos de outras áreas do saber.

Expressa assim, uma mudança de paradigma, de disciplinar para o

interdisciplinar, considerando uma perspectiva colaboradora e transformadora,

compreendendo a complexidade das demandas, bem como, aspectos

subjetivos dos conflitos apresentados na mediação. A autora também faz uma

conclusão reflexiva de que esta mudança de paradigma acaba também por

sugerir uma análise das diferenças entre os saberes, as profissões e até

mesmo das instituições.

Ainda segundo a autora, a mediação resulta no entendimento da

complexidade dos relacionamentos, mais horizontalizados da importância dada

a efetividade, assim como, da necessidade de uma outra abordagem dos

conflitos, principalmente daqueles que tem demandado a intervenção do

judiciário, tendo em vista a judicialização dos conflitos.

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Para a autora no que se refere ao Direito, os tempos atuais há uma

necessidade de focarmos mais nosso olhar nos conceitos polissêmicos, bem

como nas especificidades das abordagens do conflito. Destaca também, que as

Comissões do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), de Mediação

e de Interdisciplinaridade, defendem a crença de que é possível resolver o

conflito “...como se ele se confundisse com a visão que lhe imprimi o Direito – o

de uma pretensão resistida – mais contribui para que ele se torne crônico, ao

invés de colaborar com a sua transformação”. Sendo necessário uma análise

sobre este contexto atual do Direito de Família.

Segundo Giselle Câmara Groeninga, a mediação interdisciplinar

amplia a consciência dos conflitos, de seus múltiplos determinantes e seus

efeitos, pressupondo a transformação por intermédio de se estabelecer ou

restabelecer a comunicação entre os mediandos. Desta foram, o acordo é

apenas um desdobramento possível, ressaltando assim, o instituto de mediação

como um instrumento de transformação.

Para a autora Águida Arruda Barbosa, “Mediação é uma linguagem

própria que se vale da própria linguagem da interdisciplinaridade...” para que

tenha abrangência, indispensável a sua manifestação plena. A mediação, pela

autora, é conferida a qualidade de amálgama de pensamento/sentimento.

Destaca que devesse ter cuidado como tem sido tratada a mediação, como

moda, retirando-a a sua essência.

Segundo a referida autora, a mediação vem como uma resposta a

necessidade da busca de um dispositivo capaz de traduzir de forma harmônica,

as normas e os fatos, revelando-lhes o sentimento.

Ressalta também, que a mediação familiar é interdisciplinar e

expressa a doutrina pós-moderna, sendo reconhecida como valiosa ferramenta

do Direito que propicia o aperfeiçoamento da comunicação.

Para a autora, com a mediação, as ciências humanas produzem uma

irrupção nas relações jurídicas, tendo em vista o viés interdisciplinar que

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permite uma complementaridade da prática social. A autora trata a mediação

interdisciplinar de forma conceitual como um princípio de vasta fundamentação

teórica, de notória complexidade pelo fato de pressupor conhecimentos de

outras disciplinas com o objetivo de produzir um conhecimento de linguagem

sofisticada.

Segundo a autora, a mediação familiar interdisciplinar foi

extensamente acolhida pelo Estatuto das Famílias, um Projeto de Lei que

recomenda uma legislação especializada para gerir as relações jurídicas de

Direito de Família. A autora cita os artis.128 e 129 da PL nas disposições gerais

do Título VII – Do Processo e do Procedimento, consta a mediação o status de

princípio, sugerindo essa atividade em sede extrajudicial, mas com previsão de

sua efetivação em justaposição à Jurisdição do Estado.

A mediação familiar interdisciplinar, representa para a autora, um

novo olhar sobre o conflito humano, aspirando ao resgate de forma harmoniosa,

da convivência humana entre pessoas que possuem relações jurídicas oriundas

do Direito de Família.

A autora denomina como a intersubjetivação da subjetividade,

promovendo a capacidade do sujeito à condição humana por meio do

compartilhamento de sentimos e pensamentos. Essa linguagem interdisciplinar

se dá em profunda comunicação que compreende os valores pós-modernos e

os pluralismos de fontes, sendo uma fonte e meio de criação.

Para a autora cabe ao IBDFAM o mérito de viabilizar o espaço de

criação e inventividade do Direito de Família do terceiro milênio.

Ainda para a mesma, aos operadores de Direito direcionam-se as

recomendações que sejam cautelosos nas demandas de âmbito do Direito de

Família, para que os profissionais busquem equilíbrio entre a razão e a emoção,

sendo, portanto, imprescindível ampliar o olhar sob a ótica interdisciplinar.

Enfatiza também, que os juízes e advogados ao se empenharem em

sua formação mais humanista do Direito de Família, estarão mais capacitados

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para lidar com o sofrimento dos sujeitos de direito, poderão assim, estar mais

inclinados a sugerir e até mesmo a aceitar a proposta da guarda compartilhada

pelo apoio da mediação interdisciplinar.

Segundo a autora, a filiação firma uma rede de relações de

parentesco, complexa e de nuances que se apresentam: Por consanguinidade,

por afinidade e por afetividade e no caso desta última ressalta-se que o Direito

de Famílias e das Sucessões tem campo para operacionalizar o princípio da

Proteção do Estado. Faz uma correlação sobre duas óticas em que se

apresenta o Direito de Família, atualmente chamado de Direito de Famílias

devido os múltiplos arranjos familiares, tem-se de um lado uma normatividade

que visa a segurança da família no que tange o enquadramento na letra da lei,

mas também, tem-se a força do Direito natural que gera uma família que se

apresenta à margem da ampla convivência familiar. Dando continuidade a esta

reflexão sobre a vida e a legislação, a constituição Federal de 1988, é lembrada

por propiciar o resgate do princípio ético de Moral Universal, garantindo assim,

a mais ampla igualdade entre os filhos. Ainda cita em sua obra, que o

denominado Espírito da Mediação se refere ao desenvolvimento da capacidade

de ir além da norma, constitui-se em um conhecimento fonte de

aprofundamento com a capacidade de penetrar no conflito privilegiando a

inclusão através da verdade e da ênfase da afetividade na família, observando

e refletindo sobre o pluralismo de comportamentos que podem advir destas

relações de afeto. Para a autora, esse Espírito de Mediação, apresenta-se

como uma atitude criativa do operador de direito mediante a delicada

compreensão do concubinato e suas relações nas no Séc. XXI, pois buscam a

satisfação da felicidade. Sendo necessário um amplo olhar sobre as vivências e

relações afetivas que se apresentam com a mudança de paradigmas e

aspectos culturais.

Para a autora, a mediação familiar interdisciplinar tem a

matricialidade nas relações afetivas, na medida em que crie um espaço de livre

desenvolvimento da personalidade.

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Desta forma, ressalta que os operadores de direito pela formação

clássica, ou seja, distante da interdisciplinaridade, tem expressado dificuldade

na compreensão do afeto em sua abrangência, fato fundamental quando se

trata de Direito de Família, pois é necessário ampliar este conceito para sua

compreensão no plano de emoção, em graus de complexidade. Trata-se,

portanto, da recuperação das relações afetivas, o abandono afetivo. Auxiliando

nos casos da reorganização da família na fase da pós-separação, viabilizando

mudanças a serem construídas pelo casal parental, para a nova dinâmica das

relações familiares.

Na ótica de que as relações afetivas são a matricialidade do Direito

de Família, as relações patrimoniais decorrentes destas, devem ser firmadas no

afeto e no livre desenvolvimento da personalidade, ou seja, no pleno

desenvolvimento das potencialidades humanas com afeto e responsabilidade.

Para a autora o direito de Família apresenta-se por um

comportamento de escuta e de compreensão, visando a possível transformação

de relações pautadas em conflito. Essa transformação, segundo reflexão da

autora, pode-se se dá pelas novas reorganizações da dinâmica familiar, seja na

reconstrução dos envolvidos juntos ou separados. Trata-se da ética do Direito

de Família que condiz com a ética da mediação guiado pelos novos paradigmas

vinculada aos direitos humanos consagrando o afeto, ou seja, sentimentos na

concepção de tudo que afeta e que não é indiferente.

Também é destacado pela autora, que o Direito de Família sob essa

ótica, viabiliza que esse conhecimento ora tratado, estenda-se e se fortaleça

pela interdisciplinaridade. Para a autora a base do conhecimento desse Direito

de Família, construído e desenvolvido no IBDFAM é a interdisciplinaridade,

sendo também, a base da mediação familiar, dando-lhe como instrumento à

prática da humanização do Direito de Família, assim como a materialidade do

princípio da dignidade humana.

Segundo a autora ressalta que a mediação normalmente é definida

como uma forma de resolução de conflitos, distanciando-se da essência deste

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Instituto. Reduzindo-a assim, a uma função que a posiciona numa relação com

o conflito, sendo a natureza da mediação relacional.

A autora destaca que ao ampliarmos o olhar sob a ótica

interdisciplinar, entende-se que a própria função da mediação se inicia antes do

conflito em si, com intuito de reconhecê-lo em sua materialidade, natureza e

desenvolvimento desde seu possível início relatado pelos mediandos, ou seja,

estado latente, até o seu estado manifesto vivenciado pelos mediandos.

Ainda segundo a autora, a mediação é indicada para aqueles que se

sentem paralisados pelo bloqueio da comunicação, sendo pelo conflito latente

ou manifesto. Na fase do conflito manifesto podem ser apresentados com

atitudes explosivas ou solidificação de um impasse, estando os mediandos já

polarizados em suas posições, não reconhecendo em suas diferenças. Para tal

é fundamental a mediação para que ambos possam compreender como cada

um vê o mesmo conflito. Esta prática social permite uma dinâmica diferenciada

que para a autora traz uma possibilidade de que na medida em que as razões

de ambos são ouvidas pelo próprio mediador, e por cada mediando, ambos se

ouvem mediante uma escuta qualificada, proporcionando a transformação do

conflito. Através do desbloqueio da comunicação, concebe-se efeitos

terapêuticos e preventivos pois a consciência de tal dinâmica não é reproduzir a

comunicação pela polarização, tendo em vista a compreensão de que a

comunicação inadequada produz sofrimentos.

Para a autora, o Direito de Família precisa de uma codificação

especializada, uma linguagem própria, viabilizando o acolhimento dos Direitos

personalíssimos. Devido a consciência do Estado da arte do Direito de Família,

obteve-se a iniciativa legislativa acerca da elaboração do Estatuto da Família

Brasileiro. Pretendeu-se assim, o aperfeiçoamento da Legislação Familiar na

medida em que procurou-se entender que os conflitos neste âmbito são

decorrentes da vida, natural do desenvolvimento da personalidade humana. A

mudança de paradigma deve ser acompanhada de ferramentas e abordagem

que sustentem tal mudança.

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Segundo a mesma, necessita-se da mediação familiar para identificar

os conflitos que compõem a relação de afeto. As ações de alimentos, em todas

as suas formas representam a predominância do contencioso das ações

jurídicas de Direito de Família. Sendo fundamental a aplicação do referido

Instituto.

Ainda segundo a autora, a prática da mediação baseia-se na

linguagem ternária que é definida como a arte de conjugar os três verbos em

uníssono: pensar, sentir e agir, sendo uma arte do agir tendo em vista que inclui

o sentimento ao lado do pensamento e da ação.

Tendo em vista os novos paradigmas que norteiam o Direito de

Família contemporâneo vincado pelo pluralismo e interdisciplinaridade, a

mediação se apresenta como uma valiosa ferramenta para a práxis dessa nova

escala axiomática. Considerando a mediação uma arte em prol da comunicação

e da humanização do Direito da Famílias.

Para autora, as questões de Direito de Família, são as mais afeitas à

mediação pelo fato dos conflitos terem como fundamento as relações de afeto.

E através da mediação familiar, que ao ter sua natureza na abordagem

interdisciplinar, atribui conhecimento do iter do conflito de forma a valorizar

como uma oportunidade de fortalecer os vínculos afetivos. Desta forma, em

uma situação de conflito conjugal, os mediandos podem decidir por manter o

sistema familiar originário ou optarem pela ruptura, retomando a capacidade de

projetos para o futuro.

A mediação familiar, para a autora, está direcionada para o futuro e a

culpa para o passado, sendo a diferença primordial no tempo de cada

sentimento/pensamento neste valoroso Instituto no âmbito familiar.

Para a autora, a mediação é um conhecimento de natureza

interdisciplinar, assim, o Direito de Família deve ir além da técnica, atuando

numa perspectiva personalizada para atender ao princípio da dignidade da

pessoa humana.

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A autora cita em sua obra, que referente a conflitos de Direito de

Família, um tema recorrente e habitual que se apresenta em núcleos familiares,

são as relações que se pautam em camuflar a verdade, entre os sujeitos de

direito que compõem o núcleo familiar.

Como essas relações frequentemente se desenvolvem de forma

inconsciente, através da mediação familiar criar-se uma possibilidade de

reflexão, desta forma, propicia-se o surgimento do que era inconsciente no nível

consciente, consentindo assim, a transformação do conflito.

CAPÍTULO III

A Contribuição da Interdisciplinaridade na Mediação

Familiar

“ Uma vida não basta ser vivida. Ela precisa ser sonhada ”.

Mario Quintana

3.1 - A mediação familiar e a interdisciplinaridade

Segundo a autora Águida Arruda Barbosa, a mediação brasileira se

edifica a partir da diferenciação desse Instituto jurídico com a conciliação e a

arbitragem. Destacando que a mediação familiar pende a se introduzir no

ordenamento jurídico através da interdisciplinaridade. Considerando que os

movimentos legislativos brasileiros estão distanciados pela falta de construção

teórica e por outro lado, pela formação ser sedimentada em uma construção da

natureza jurídica da mediação.

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Ainda segundo a autora, a medição familiar tem seu fundamento na

cultura de paz, no modelo instituído pelo programa da UNESCO que tem como

objetivo a educação para a busca de justiça sem violência, ou seja, através da

compreensão e da prática de ações pautadas na paz.

A autora avalia que a mediação se inicia no judiciário, ainda em

busca de um conceito adequado à cultura de nosso país de proporções

continentais. Daí a importância do fortalecimento da abordagem interdisciplinar

na mediação familiar de forma a contribuir com o Instituto da mediação.

Para a autora, o desenvolvimento da mediação familiar no Brasil

deve ser considerado a partir de aspectos próprios. Considerando as

dimensões continentais do País, um expressivo número de habitantes, bem

como, pelo único idioma em todo o País. Destaca também, as diferenças

regionais, com culturas diversas, assim não é indicado utilizar um modelo

generalista de mediação de conflitos familiares com tantas peculiaridades de

um povo heterogêneo. A autora acredita que o modelo que tende a ser adotado

como modelo Brasileiro é o da mediação familiar interdisciplinar, por condizer e

atender à cultura e ao perfil do brasileiro, se assemelhando mais ao modelo

Europeu de interdisciplinaridade.

Ao tratar-se da família, para a autora Eliana Riberti Nazareth, esta é

uma sociedade que se mantém no tempo. A separação ocasiona uma mudança

estrutural, que com filho (s) não será desfeita.

Segundo a autora, é na família que o ser humano satisfaz suas

necessidades básicas, havendo um intercâmbio de relações emocionais: reais,

imaginárias e simbólicas. Esses intercâmbios sejam afetivos, econômicos e de

projetos, acabam por terem formatos cada vez mais diferentes na atualidade.

Segundo a autora Malvina Ester Muszkat, a família é um objeto de

estudo privilegiado para entendimento da reprodução da cultura e da

construção de subjetividade dos indivíduos.

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Para a mesma, existem muitas razões para fortes conflitos no

contexto familiar: regras e valores, idealizações, competitividade, relações de

poder, sentimentos como ciúmes e abandono que ao se cristalizarem podem

gerar padrões de comportamento às inter-relações.

Segundo a autora, o mito romantizado da família é identificado pelo

espaço onde ocorrem os primeiros conflitos e angústias, vivenciadas entre pais

e filhos, há famílias que negam completamente os conflitos e as que ampliam

os conflitos. Até meados do Século passado, os conflitos familiares eram

contornados pela repressão exercida pelo poder do pai.

Os conflitos familiares, segundo a autora, se afloram mediante a

falência do modelo patriarcal, aos arranjos de formas de famílias, a não

aceitação de mulheres e crianças ao sistema pautado na autoridade, ao

enfraquecimento de novas formas de comunicação interpessoal. É neste

espaço de família que adquirimos nossos primeiros modelos de lidar com os

conflitos, seja repetindo ou se opondo a eles.

Eliana Riberti Nazareth, destaca em sua obra, que modelo de família

de hoje, é recente, data do Séc.XVIII. Não há muito tempo eram realizados os

casamentos por conveniência, não sendo considerado o aspecto afetivo para a

união. E no meio rural os interesses se relacionavam com a divisão do trabalho

e em alguns casos com aumento da propriedade. Esse panorama começou a

mudar no Séc.XIX, com o surgimento do Romantismo.

Para a autora o modelo de família nuclear quebrou esse paradigma,

tendo um novo status a figura da mulher e as crianças, pois as relações até

então eram marcadas pela autoridade patriarcal. No Séc. XIX que se inventa a

maternidade. É a partir de mudanças iniciais que a criança ganha importância,

sendo destacado pela a autora o termo “Proteção Integral”, com o ECA na dec.

de 1990. No contexto atual a função paterna e materna já se modifica,

exemplificando os pedidos de adoção por casais homossexuais, configurando

os novos e diferentes arranjos familiares. Sendo a mediação familiar um

instituto que atende as demandas atuais e as relacionais ao núcleo familiar.

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Ainda segundo a autora Eliana Riberti Nazareth, a mediação familiar

é o ramo que apresenta maior dificuldade para o mediador. Pois requer

autoconsciência e determinação, assim como, preparo para tal atividade.

A autora justifica tal argumentação pela complexidade do âmbito

familiar, sendo o plano subjetivo mais intricado do que o plano objetivo. Sugere

que o mediador procure o que está oculto, ou seja, que não é dito pelas partes.

No âmbito familiar a autora destaca que há questões sérias a serem

resolvidas, podendo exemplificar a guarda e convivência familiar, alimentos e

partilha de bens, assim como dificuldades por convivências conflituosas

antigas, que segunda a mesma se denomina “contabilidade emocional”.

Dificultando assim, que essas questões sejam resolvidas de forma produtiva.

Desta forma os acordos em casos de família são “trabalhosos e demorados”.

Sabe-se que por conta de aparentes detalhes os advogados

vivenciam processos que “vão e voltam”. Mas para cada parte o que se

apresenta como meros detalhes são, porém, sentimentos por quem passa por

uma separação.

Destaca-se no caso de família, pela autora, o aspecto subjetivo e

emocional, dificultando a visão das questões objetivas.

De acordo com a autora a separação é um processo traumático e

solitário. Marcando o fim de um desejo, do indivíduo, como também, de uma

convenção social. E no caso do divórcio normalmente os pais confundem o

aspecto conjugal com o parental, causando prejuízos para filhos.

A autora cita em sua obra, que alguns autores, definem quatro

esferas do divórcio e separação: Psicológica, pelo afastamento; legal, pelo fato

de iniciar o processo; econômica, pela definição dos valores referentes a

pensão e partilha e a coparental, sendo as regras de convivência com os filhos

e dos ex-cônjuges. Podendo se apresentar de maneira simultânea ou

consecutiva.

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Destaca ainda que o aspecto coparental é de fundamental

importância para a mediação familiar. Sendo neste âmbito tratadas questões de

guarda e visitas.

Na obra da referida autora é sinalizado que a escala de stress de

Holmes e Rahe, na década de 1960, o divórcio é classificado o segundo evento

mais traumático para um indivíduo.

E o processo de separação segue um script, termo utilizado pela

autora,

Incialmente com fase mais aguda, com troca de ameaças e

discussões, posteriormente a sensação culpa, fracasso e depois por alívio

quando o mesmo é consumado. E neste caso a etapa do luto é longa, tendo

aproximadamente dois anos para ser superada.

Para a autora, quando o casal tem filho (s) precisa-se pensar logo

após a fase mais aguda da separação, em como se dará e de que forma será

vivenciada a guarda, assegurando a importância na educação e no crescimento

dos filhos.

Desta forma, conclui-se que as separações são espaços de

proliferação de conflitos, por mexerem com sentimentos primitivos, como

rejeição, solidão e de não ser correspondido pelo outro.

Para autora Malvina Ester Muszkat, no caso da mediação familiar,

esta pauta subjetiva é significativa, podendo haver gesto reparatório de cada

parte, permitindo assim, salvaguardar os aspectos melhores de cada um dos

mediandos.

Segundo a referida autora, “...a família é um objeto de estudo

privilegiado para compreender tanto a reprodução da cultura como a construção

das subjetividades”. Faz-se necessário o empoderamento dos mediandos para

que possam construir de forma positiva e propositiva, compondo o presente e

estruturando o futuro. Por meio do poder compartilhado.

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Ainda segundo a autora, o empoderamento é definido como “... um

processo de aquisição de autoconfiança e autoestima que deve articular-se por

meio da cooperação e da solidariedade”.

Desta forma a interdisciplinaridade pode auxiliar no fortalecimento

deste processo com mediadores com formações principalmente, da área

humanas, não somente da área do Direito, como também, assistentes sociais e

psicólogos.

No âmbito da lide tratada no processo judicial, identifica-se uma

lógica de poder representado pela figura do juiz, apresentando-se como algo

autoritário.

Destaca-se pela autora que “...a mediação baseia-se na lógica do

poder construtivo, investindo no protagonismo e o pacto entre as pessoas”.

Portanto, uma postura de agente de transformação se faz necessária

ao mediador, sensibilizando os mediandos sobre a importância de o poder SER,

protagonista da comunicação colaborativa, sendo um contraponto ao poder

TER, de um poder de autoritário.

A autora ressalta que não é pelo fato que o Judiciário necessita da

mediação familiar para desafogar a grande demanda de processos, que ela

pode ser minimizada em sua qualidade e essência. Desta forma, não deve ser

tratada como um meio e fim para atender a demanda de processos, nem

tampouco, uma assistência psicológica pois não é terapia familiar. Tendo em

vista que não existe com a finalidade de negociar com o objetivo de “resolver”

ou “solucionar”, afasta-se do conceito de arbitragem. Quanto a questão do

grande número de processos no Judiciário pressupõe que na medida em que

tenhamos mediadores qualificados na linguagem de mediação interdisciplinar

pode-se deixar de afogar o Judiciário pois irá oferece método colaborativo e

pautado na cultura de paz. A autora ressalta que “...para a mediação familiar a

discriminação das diversas formas de comunicação otimiza o nível e

compreensão e o da intercompreensão, sendo esta última o verdadeiro objetivo

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a ser alcançado na mediação familiar. ” Entende-se que os mediandos

inconscientemente comunicam-se pela linguagem do conflito pois estão

fragilizados, consequentemente, não conseguem despertar recursos pessoais

adequado e construtivos da intercompreensão.

Para a autora a capacidade de alcançar a intercompreensão se dá

na medida que se tenha uma mudança de atitude, permitindo a circularidade da

subjetividade e da objetividade. Tendo-se o esforço de se fazer compreender e

de compreender o outro. Destaca-se que pode ocorrer a incompreensão, pelo

inexplicável e o desconhecido, pois tais fatos também compõe a dinâmica

comunicacional.

Ainda pela autora, dois aspectos importantes, um em que não se

pode dizer que não existe a comunicação entre os mediandos, mas sim, uma

comunicação inadequada. O outro ponto refere-se aos desentendimentos,

especialmente nos conflitos familiares, como oriundos da dificuldade de

comunicação, que se inicia na dificuldade de identificação dos próprios

sentimentos e na incapacidade de identificar os papéis na família, devido ao

conflito instaurado. Exalta-se esta comunicação inadequada principalmente

quando ocorre a ruptura do relacionamento de forma litigiosa, mantendo o

vínculo “conjugal” através da linguagem do conflito e muitas vezes se mantem

“em nome” da criança, prejudicando os filhos por se sentirem sufocados. A

mediação, neste caso, permite discriminar as funções da família, refletindo

sobre a questão de que o casal parental não se dissolve.

A mediação interdisciplinar, segundo a autora contribui para a

proteção dos filhos do divórcio, na medida em que permite que o ex-casal

compreenda o quanto podem contaminar as funções materno-paterno-filiais,

provocando uma mudança de atitude mediante a construção de uma

intercompreensão que cada um age e fala em nome próprio e não em nome dos

filhos.

Para a autora, a mediação além de sua metodologia e linguagem

própria necessita que essa teoria seja sedimentada através de atuação prática

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com ética. Assim, a mediação pode ser agregada a qualquer profissão que se

fundamente em uma ética compatível e que seja uma prática social que

compreenda assim, as demandas da família.

Segundo a autora, a mediação enquanto dispositivo de

aprimoramento da comunicação humana contém em si a solidariedade, em

ambos conceitos que os une, encontramos valores como fraternidade e

responsabilidade. Desta forma, a autora diferença solidariedade da ideia de

ajuda, esta vincula uma hierarquia ao estabelecer uma relação de submissão

não se evidenciando como ação de reciprocidade pois se esgota em um só ato

realizado. Por outro lado, a solidariedade pressupõe cooperação e colaboração

mútuas. Sendo, portanto, considerada pela autora como um movimento de

rede, e a reciprocidade vem do compromisso que cada um tem em multiplicar o

comportamento fraternalmente responsável por toda humanidade. Segundo a

autora “A solidariedade familiar é a mais importante, como valor jurídico, posto

que matricial de todas as demais relações de solidariedade que implicam

direitos subjetivos”. Portanto, se faz necessário o estudo por parte dos

mediadores, destes conceitos solidariedade e mediação, principalmente para

lidar com delicados litígios de família, como por exemplo ações de alimentos,

sendo a mediação uma abordagem que permite aperfeiçoar as relações

parentais, passando pela solidariedade enquanto responsabilidade inerente à

qualidade de pertença à humanidade. A mediação tem a capacidade de liberar

a inerente qualidade solidária entre sujeitos de direitos.

Outro aspecto, importante da mediação familiar, é o tratamento e

abordagem de casos em que nas relações parentais surgem dúvidas e receios

sobre a submissão dos filhos a situações das inseguranças físicas e ou

psíquicas no convívio com o (a) genitor (a). Nestes casos a autora sugere a

abordagem interdisciplinar como mais adequada, pois tem por objeto em sua

essência, o restabelecimento da comunicação humana, criando-se espaço para

a circularidade do poder da palavra considerando a dinâmica familiar de cada

família. Tendo como proposta também a conscientização dos pais, propiciando

um espaço de possíveis mudanças comportamentais, inclusive de poder

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verbalizar os receios de cada um, quanto possíveis ações de violência na

relação com o (s) filhos (s).

Para a autora, a mediação familiar tem seu valor destacado também

nas relações jurídicas vindas de Direitos de Sucessões, pois qualquer

comunicação inadequada exaltará conflitos potenciais devido a fragilidade do

momento. E a mediação nestes casos pode ter efeitos preventivos, priorizando

as relações de afeto.

Segundo a autora, a mediação familiar interdisciplinar promove a

transformação social, pois ao atuar com pessoas em vivências de sofrimentos

viabiliza possíveis mudanças na forma como as pessoas passam a lidar com as

crises familiares, sendo a mediação uma prática de impacto social pela sua

amplitude e potencialidade.

Mas segundo a autora, não se pode confundir mediação com terapia,

apesar de propiciar um espaço de escuta de angústias e de reflexão sobre o

presente e o futuro, o propósito é de que os mediandos possam compreender o

conflito através da comunicação aprimorada. Que os mediandos possam atuar

eles próprios, em possíveis alternativas que visem a transformação daquela

situação de conflito, ampliando a capacidade de reconhecerem o passado, com

o objetivo de projetar o futuro de forma colaborativa.

Para a autora, a mediação familiar ao ter a comunicação humana

como fundamento, presume que a essência do papel do mediador seja a

condução dos mediandos a compreensão e ao exercício consciente dos

variados níveis de comunicação, facilitando a intercompreensão, este sendo o

verdadeiro objetivo a ser alcançado na mediação familiar.

Para a autora, é possível alcançar o nível da intercompreensão na

mediação familiar, pela troca de informações de forma qualificada. Mas para tal,

é necessárias informações referentes a valores, sentimentos, ideias,

explicações viabilizando a circulação de subjetividade e objetividade. É uma

dinâmica comunicacional em que cada mediando tem o cuidado em se fazer

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compreender e de se esforçar para compreender o que o outro diz. Nesta

dinâmica, a autora aponta que há o espaço para a incompreensão tanto em si

ou no outro, pois aceita-se que existem o inexplicável presente em ambos

mediandos. Dois pontos são ressaltados pela autora, primeiro não há ausência

de comunicação na família, mas sim uma comunicação inadequada e o

segundo ponto destacado é a raiz dos desentendimentos familiares que está na

dificuldade de comunicação no sistema familiar. Dificultando o entendimento

dos próprios sentimentos e dos papeis de cada um na dinâmica da família. A

comunicação inadequada se evidencia principalmente na separação dos pais

com ruptura litigiosa, realimentando-se a linguagem do conflito com os filhos

sentindo-se abandonados mediante a dificuldade de diálogo entre os pais.

Para a autora, o instituto da mediação possibilita o resgate da

comunicação sedimentada na intercompreensão, compreendendo a nova

dinâmica familiar em que o casal conjugal é dissolvido, mas o casal parental

deverá se fortalecer para manter o acompanhamento dos filhos e o diálogo

entre eles.

Para a autora, as famílias contemporâneas, também denominadas

pós-modernas, precisam ser olhadas sob novo paradigma, demandam a

identificação de direitos personalíssimos de cada membro e não mais dos

direitos do núcleo familiar como um todo. Visa-se, pelo novo paradigma da

mediação, a elaboração de um projeto futuro que inclui a capacitação dos

sujeitos de direito. Assim, o mero sentenciamento nas questões familiares, não

atende as demandas dos sujeitos dessa nova configuração familiar. Pois esse

sentenciamento não acompanha o desenvolvimento da organização dos papéis

familiares, os consequentes reflexos sobre o casal parental, filho (s), ou seja, a

família.

Segundo a autora, para alcançarmos a intercompreensão é

necessária linguagem fundamentada na qualificada troca de informações, pois

pelo fato dos mediandos trazerem consigo fragilidades pela vivência do

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impasse e do conflito, não conseguem nesta fase identificarem em si os

recursos pessoais para a construção da intercompreensão.

Para a autora, a construção teórica do conceito de mediação familiar

pauta-se na distinção deste instituto com os demais. Diferencia-se na promoção

da compreensão das relações humanas, dentre elas os direitos patrimoniais.

Um ponto destacado é o reconhecimento de cada mediando da

responsabilidade pelo conflito, sendo possível buscar as soluções. Apesar de

haver uma regra geral que afasta a arbitragem às relações Jurídicas de Direito

de Família, no que tange direitos indispensáveis. Mas segundo a autora é

possível o diálogo entre a mediação familiar e arbitragem, pois irá tratar de

valorização do sentimento em prol da concretude de patrimonializada. Podendo

ser necessário utilizar duas linguagens diferentes a mediação e a arbitragem.

Neste caso, a arbitragem colabora com a atribuição de valores pecuniários, de

forma técnica.

Segundo a autora, a liberdade e mediação tem a mesma essência e

dialogam de forma que uma complementa a outra. A mediação liberta os

sujeitos do sentimento de culpa pois devolve o papel protagonista que os

capacita de projetar o futuro próximo, numa proposta de reconstrução do

projeto de vida. E a mediação familiar interdisciplinar é reconhecida como

espaço de manifestação da personalidade, afastando o sentimento de culpa,

desestabilizando a comunicação repetida de conflito que os mediandos realizam

num círculo vicioso de voltar ao passado. A dinâmica da medição acontece com

a tríplice atividade de pensamento-sentimento-ação, significado da me-di-ação.

Complementando, a Liberdade para a autora é o sentimento que anima esse

Instituto.

A mediação familiar interdisciplinar pode transformar a crise

vivenciada pelos mediandos em oportunidade de desenvolvimento, através da

promoção de conhecimentos e reconhecimentos de seus direitos e deveres nas

relações de afeto, ou seja, a responsabilidade de cada um no conflito bem

como, na busca por dissolver o conflito.

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Para a autora o entendimento dessa complexidade, ordena

necessariamente, a releitura do princípio constitucional da Proteção do Estado,

na conformidade dos paradigmas contemporâneos que norteiam o Direito de

Família na segunda década do terceiro milênio. O Princípio da Proteção do

Estado define o conflito familiar quando os papéis e funções inerentes estão

invertidos ou suprimidos ocasionando um desvio na ordem natural das coisas,

desencadeando conflito relacional afetivo e de comunicação. Portanto, cabe

ressaltar que essa atitude do Estado não se realiza no intuito de punir, sendo

este um paradigma já ultrapassado, mas sim para o desenvolvimento da

personalidade. Trata-se da ética do cuidado exercida pelo poder Judiciário.

Para a autora, a mediação é a ferramenta por excelência, para a

atuação de Proteção do Estado, mas sua linguagem é própria, não se associa

com a ação intervencionista do Judiciário.

Segundo a autora, o conceito de mediação é um instrumento de

acesso à justiça, não como meio de resolução de conflito, mas reconhecida

como princípio, pela comunidade Europeia, solidificando-se como um

comportamento, uma ética.

Ainda segundo a autora, a mediação familiar tem por objeto o

acolhimento de pessoas em sofrimento, devido ao desgaste da vivência do

conflito nas relações familiares. Esta prática social permitirá que os mediandos

possam identificar a incapacidade momentânea de decisões adequadas e da

transformação do conflito, pelo fato da escassez de seus recursos pessoais

derivada da corrosão do relacionamento. Assim, o mediador dotado de técnicas

a partir de conhecimento específico para restabelecimento da comunicação

entre os mediandos, promove um espaço de resgate da responsabilidade na

plenitude de seu conceito.

Salienta-se assim, segundo a mesma, a transformação do conflito

pela ótica da responsabilidade, no momento em que os mediandos tomam a

vida, portanto, o presente e futuro próximo nas suas próprias mãos.

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Cabe o destaque da autora, que esta prática é norteada pelo sigilo e

pela imparcialidade do mediador, outorgando assim maior confiabilidade por

parte dos mediandos e do próprio Instituto.

Valoriza-se as narrativas dos mediandos que se alternam entre razão

e sentimento, pensamento e emoção, através de uma escuta ativa e qualificada

entre mediandos e mediador. Desta forma, favorece a ação comunicativa em

que cada mediando possa ter o cuidado de fazer compreender e ter o esforço

para compreender o ponto de vista do outro, realizando a tal almejada mudança

de paradigma, em prol da transformação do conflito.

A autora define que a dinâmica da mediação tem dúplice natureza:

uma condiz à necessidade de aprendizado de um comportamento, através da

prática de técnicas com enfoque pedagógico agregando outras disciplinas de

forma complementar desta prática social. Estando o Espírito da mediação

pautado por um comportamento criativo e de incentivo da expressão de

sentimentos, ideias, valores, relatos, promovendo a circularidade da

comunicação através de um olhar mais abrangente a situação apresentada e as

relações humanas.

A autora ressalta que a responsabilidade em lugar da culpa ou da

conciliação, pode resultar no fortalecimento dos vínculos familiares e este

fortalecimento propicia a decisão de transformação de família, seja manter o

casal ou da separação. As escolhas, nos conflitos familiares comumente são

inconscientes, movidas por estímulos desconhecidos pelos mediandos.

E a mediação vem para viabilizar um espaço de transformação,

entendendo que cada dinâmica é única, composta por elemento surpresa pelo

fato das possibilidades de escolha serem múltiplas e se dão no campo do

pensamento/sentimento.

A autora descreve em sua obra, que todas as modalidades de

conflito humano são desdobramentos de comportamentos procedentes na

família de origem. Tendo em vista a complexidade das questões familiares em

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um conflito vivenciado, é possível afirmar que quem conhece a mediação

familiar está apto a lidar com qualquer outra modalidade de aplicação deste

método.

O núcleo familiar se apresenta fragilizado no conflito de seus

partícipes, estes sentem-se incapacitados para fazer escolhas devido ao

sofrimento gerado pela ruptura da comunicação ou pelo desenvolvimento desta

de forma inadequada, rompendo também os vínculos afetivos de forma

iminente ou concretizada. Por isso, o conhecimento da mediação familiar, como

técnica de comunicação prática ética e ou Espírito de medição vem alcançando

seu espaço como o primeiro lugar de busca das pessoas que estão em situação

de sofrimento.

Para a autora, o Instituto da Mediação contém conteúdo de cuidado,

em sua essência referencia-se com a ética do cuidado, ou seja, a ação humana

de preservação da vida em sua plenitude, acolhendo e permitindo a

reintegração à dinâmica familiar, no que se refere as relações intersubjetivas.

Os mediandos trazem incertezas de como lidar com o conflito, e o

mediador atuando com ação de cuidar disponibiliza um poder pedagógico

através da mediação. Sabendo-se para a autora que pode ter abrangência

inimaginável, favorecendo a consciência de si e do outro, e a consciência da

relação e do afeto.

A atuação do mediador no âmbito familiar não se traduz na esfera

terapêutica, mas sim, pedagógica, e seus efeitos podem resultar em autocura

por devolver aos mediandos a inclusão no sistema familiar de forma natural. A

demanda a ser trabalhada na mediação familiar, segundo a referida autora, é

recuperar a capacidade de falar em nome próprio, da possibilidade de narrar

seus sentimentos e de escutar o outro a quem está fortemente vinculado pelos

laços do afeto.

Para a autora a mediação é uma ética aliando justiça e cuidado,

resultando em responsabilidade. A mediação assim, consiste em uma

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transformação do conflito, sendo um resultado de natureza terapêutica, guiada

pela ética do cuidado e disseminada pelos efeitos pedagógicos devido a

aprendizagem, adquirida e desenvolvida pelos mediandos.

Cabe ressaltar, que a autora ao abordar a análise crítica do Instituto

da Mediação Familiar Interdisciplinar, requer a conscientização de que existem

limites em sua aplicação, como ao ocorrer certo nível de violência que coloque

em situação de risco a pessoa humana, seja risco de integridade física,

psíquica, moral e sexual. Somente após a garantia da proteção da dignidade da

pessoa humana de cada partícipe do sistema familiar, será possível realizar a

mediação familiar interdisciplinar.

Outro aspecto a ser avaliado pela autora, no que tange a mediação

familiar trata-se da guarda compartilhada que segundo a mesma, para obter a

organização considera a mediação familiar interdisciplinar é o único instrumento

capaz a estabelecer a comunicação neste caso, recuperando a capacidade de

reconstrução da vida afetiva. Sendo essa comunicação adequada, evitará

conflitos de lealdade com relação aos filhos e seus pais. Mas também, neste

caso a mediação tem limites, não sendo indicada a alguns casos como por

exemplo quando um dos genitores é portador de distúrbio psíquico grave,

podendo assim colocar a criança em situação de risco e vulnerabilidade.

Ressalta-se que no caso de guarda compartilhada, é necessário a

mediação interdisciplinar com o intuito da responsabilidade parental pelos filhos

e por eles próprios. Sendo um aprendizado com fases difíceis, sendo a

expressão do desenvolvimento da personalidade com responsabilidade através

de uma atuação criativa de aplicação das normas jurídicas. Segundo a autora,

inquestionavelmente as relações familiares são as mais complexas,

demandando do mediador um certo conhecimento da natureza desses vínculos

afetivos. O conflito entre os genitores manifestados pela alienação parental

também se apresenta como um relevante campo de atuação, pois a mediação

familiar estrutura-se pela interdisciplinaridade, viabiliza uma reflexão e um

diálogo, propiciando uma reorganização da família. Os conflitos oriundos de

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empresas familiares, são considerados pela mesma, também como um

importante campo de atuação.

A autora Águida Arruda Barbosa, no que tange a mediação familiar,

ressalta que a fundamentação interdisciplinar amplia para uma compreensão

como princípio da dignidade da pessoa humana, tratando-se de Direito vivo,

dialético, construído a partir da prática.

3.2 Perspectiva interdisciplinar na mediação de conflitos

familiares

A autora Águida Arruda Barbosa, destaca que para o entendimento

sobre a estrutura da mediação familiar interdisciplinar, se faz necessário

conhecer os agentes que a operam, desde o seu surgimento na França, mas

com a compreensão de que se trata de um método novo e em formação.

Segundo a mesma, deve ser ministrada a teoria de base da

mediação familiar interdisciplinar a começar pelos diversos campos que ela

abrange. Devendo ser explorada mediante a experiência profissional e pessoal

dos participantes de forma interativa, possibilitando conjugar o binômio

compreensão-ação.

Segundo o autor Carlos Eduardo de Vasconcelos, a mediação é

definida num complexo interdisciplinar de saberes científicos vindo

principalmente da comunicação da psicologia, da sociologia, da antropologia, do

direito e da teoria dos sistemas. Como também da arte, tendo em vista as

habilidades e sensibilidades do mediador no processo de mediação.

Ainda segundo o autor, a capacitação em mediação de conflitos

pressupõe metodologia de âmbito interdisciplinar devido à necessidade em lidar

com as dinâmicas do conflito e da comunicação.

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Segundo a autora Malvina Ester Muszkat a mediação de conflitos

deve ser entendida como um novo saber. Um saber que venha a dar respostas

as novas demandas apresentadas pela sociedade contemporânea.

Ainda segundo a mesma, seria a mediação uma resposta forte aos

ideais democráticos de liberdade e fraternidade. A mediação assim, se

apresenta como uma nova proposta de resolução de conflitos, com origem no

Direito, mas que “ denuncie a necessidade de um novo pacto social”. A

mediação vem resgatar o protagonismo dos atores do contexto do conflito.

Sendo assim, uma reação ao sistema tradicional de resolução de conflitos.

Segundo o autor Carlos Eduardo de Vasconcelos, no que se refere a

condução dos conflitos, a mediação de conflitos, assim como as práticas

restaurativas, devem ser as alternativas do novo paradigma da ciência. Sendo

importante, segundo o mesmo, o entendimento desse novo paradigma, a partir

do pensamento sistêmico, por parte dos mediadores na fase da formação

destes. Ainda segundo o mesmo, este novo paradigma contempla uma

abordagem sistêmica indo para além do pensar disjuntiva “ou-ou”, numa

perspectiva de complementaridade de “e-e”, compreendendo articulações, que

ultrapassam as posições sem renegar as contradições.

Desde o início do Séc.XX, cientistas de várias áreas enfrentaram

uma questão lógica, pois a lógica dita clássica se apresentava insuficiente para

lidar com as contradições insuperáveis. O autor define três aspectos do novo

paradigma da ciência, o primeiro remete à dimensão da complexidade,

contextualização, ampliação do foco, padrões interconectados, interconexões

ecossistêmicas, atitude “e-e” e princípio dialógico entre outros. O segundo

aspecto nos remete a dimensão da instabilidade, sistemas que funcionam longe

do equilíbrio, perturbação, determinismo histórico, indeterminação e

imprevisibilidade. O terceiro aspecto remete a dimensão da intersubjetividade,

construção da realidade na linguagem, determinismo estrutural, espaços

consensuais, múltiplas verdades, sistema observante e transdisciplinaridade,

dentre outros.

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O autor cita em sua obra, que o novo paradigma da ciência, auxilia

no entendimento da dinâmica das relações interpessoais, trata a alusão ao

conhecimento, como forma de acentuar o aspecto relacional, horizontal e

emancipatório das relações. Na presente era dos conhecimentos tendem a

predominar os aspectos relacionais horizontalizantes e dinâmicos das relações

interpessoais e sociais. Há, portanto, segundo o referido autor uma exigência

histórica de abordagem que considere a complexidade.

Segundo a autora Jeanete Liash Martins de Sá, a questão da

interdisciplinaridade vem nos impulsionando, profissionais da área humanas,

sendo uma alternativa que supera o obstáculo neopositivista de um saber

isolado e fragmentado, originando assim, uma análise unilateral.

Destaca-se que a busca da interdisciplinaridade tem um viés

filosófico, científico e educativo.

Segundo o autor Antônio Joaquim Severino, a unidade do saber é

destacada “...como expressão natural do conhecimento em sua gênese e

finalidade”. Destacando-se que o maior obstáculo à interdisciplinaridade é o

projeto positivista, destacando, “...a compartimentalização do saber é um

resíduo de conformação positivista”.

Sugerindo uma atitude interdisciplinar, dando base a construção da

totalidade humana, contextualizando as demandas oriundas das relações

interpessoais, culturais e sociais.

Ressalta-se que por vezes, nossa prática ainda se caracteriza como

multidisciplinar, mas numa fase intermediária na busca pela

interdisciplinaridade.

Segundo o autor, Antônio Joaquim Severino, sinaliza a

interdisciplinaridade como ...”essa vinculação, essa reciprocidade, essa

interação, essa comunidade de sentido ou essa complementaridade entre as

várias disciplinas”. Sendo, portanto, algo à ser construído pelo esforço de

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profissionais que visam a unidade do saber para melhor compreender as

demandas humanas.

Ainda segundo o mesmo, a atitude interdisciplinar se faz não na

acumulação de visões parciais de sobreposições de saberes. Para o autor /“É

preciso, pois, no âmbito dos esforços com vistas ao conhecimento da realidade

humana, praticar, intencional e sistematicamente, uma dialética entre as partes

e o todo, o conhecimento das partes fornecendo elementos para a construção

de um sentido total, enquanto o conhecimento da totalidade elucidará o próprio

sentido que as partes, autonomamente, poderiam ter”. /

Destaca-se pelo autor, a importância das ciências, sendo válidas

suas especificidades, o que se alerta justamente é o saber sobre o outro como

uma verdade vista como única, através de cada ciência, isolada do contexto

das relações humanas e sociais. Pois na realidade concreta, se articulam e se

apresentam sobre um contexto social pautado em relações interpessoais e

culturais.

Verifica-se pelo mesmo, no que se trata da ciência e filosofia, que já

se tem uma coexistência pacífica entre ambas. Mas para tal, muito contribui

uma atitude interdisciplinar, reconhecendo-se a multidisciplinaridade de olhares

que valoriza por si só a convivência de ambas, objetivando a conquista de

respostas que a humanidade almeja e que por ser complexa necessita do

aporte de ambas.

Identifica-se as ciências humanas, numa tentativa de fornecer aos

homens uma imagem da totalidade de sua própria existência. A

interdisciplinaridade na pesquisa pauta-se não na submissão de várias ciências

à uma metodologia única, mas a sensibilidade de cada uma,

complementaridade de melhor compreender a totalidade humana.

O autor Hilton Japiassu, compõe em sua obra, uma citação sobre o

trabalho interdisciplinar “ O objetivo utópico do trabalho interdisciplinar é a

unidade do saber, unidade problemática, mas que parece constituir a meta ideal

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de todo saber, que pretende corresponder a exigências do progresso humano”.

(Fazenda, p.15).

Para a autora Malvina Ester Muszkat, as aproximações entre

ciências como a sociologia, a antropologia e a psicanálise, contribuem para um

maior entendimento das relações humanas e das práticas sociais sem desloca-

las de do contexto histórico cultural. Assim como o serviço social e o direito

auxiliando na compreensão da subjetividade, da dinâmica das relações e do

contexto.

A autora cita em sua obra, o termo “alfabetização comunicacional”,

tratando-se de um treinamento desenvolvido em grupos de pré-mediação, como

uma prática de cunho pedagógico pautada no diálogo.

Citado na obra organizada pela autora Jeanete L. Martins de Sá, a

interdisciplinaridade convida que cada especialista ultrapasse os limites de seu

saber permitindo a contribuição de outras disciplinas, visando uma concepção

unitária do ser humano.

Sendo, portanto, uma questão de atitude integrativa e de

entendimento da importância das disciplinas impedindo que se tenha uma

supremacia de certa ciência, em detrimento de outra. Na lógica da

interdisciplinaridade toda ciência seria complementada por outra, com objetivos

mútuos que visem uma integralidade e unidade do saber.

A interdisciplinaridade traz um questionamento sobre o pensamento

cristalizado de saberes fragmentados, sendo uma crítica a uma educação

fragmentada. Pressupõe uma relação de mutualidade de diálogo levando a uma

intersubjetividade.

A multi e pluridisciplinaridade compreende uma atitude de

justaposição de saberes heterogêneos ou a integração de conteúdos numa

disciplina. Estas constituem etapas para a interação e para a

interdisciplinaridade. A transdisciplinaridade é o nível mais alto das relações

iniciadas em multi, pluri e interdisciplinaridade. A multidisciplinaridade é uma

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fase intermediária na construção de uma pedagogia de troca de comunicação,

elucidando uma possível etapa para interdisciplinaridade.

Segundo a autora Malvina Ester Muszkat, dentre os diferentes

modelos de mediação, o modelo interdisciplinar do advogado Daniel Bestelo

Eliçabe-Uriol (1993), a orientação vem de uma equipe em que a interdisciplina

define o encaminhamento dos casos. Ele ressalta que o mediador para ter um

melhor entendimento das questões da família precisa conhecer psicologia, o

que auxiliaria também na compreensão da estratégia mais adequada. Outro

ponto destacado pelo mesmo é a necessidade de o mediador conhecer seus

próprios conflitos para não os confundir com os das partes.

Na medida em que a mediação passou a não ser apenas um método

“alternativo ao Judiciário” para ser um novo saber, na medida em que se torna

independente do Direito, através de uma transdisciplinaridade que deixa para

trás os paradigmas científicos tradicionais, o reducionismo e o pragmatismo

originais.

Segundo a autora, o mediador “...deve ser capaz de aceitar a

diversidade, garantindo a equidade, a redistribuição de poderes, a legitimação

das partes e respeito ao estatuto sociocultural dos sujeitos”.

Considerando que para tal postura, exige-se do mediador uma

prática de mediação de discussões sistemáticas de equipe sendo abordados

valores, crenças e projeções pessoais permitindo uma reflexão sobre um

possível envolvimento ou tendência a um juízo de valores, não admitido

eticamente que juízos de valores ocorram na condução do processo de

mediação, seja judicial ou extrajudicial.

A autora define também que os mediadores devem desenvolver a

habilidade de criar mais e melhores possibilidades de manejo de como tratar os

conflitos, de forma que ambos os mediandos possam melhor atenderem suas

necessidades, ou seja uma solução construída pelos próprios mediandos e que

seja satisfatória para os mesmos.

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Para a autora Eliana Riberti Nazareth, a complexidade das questões

familiares não torna a prática do mediador fácil, para tal, não basta ser

psicólogo nem possuir formação e experiência somente em direito, sendo as

questões subliminares tão quanto importantes quanto as jurídicas.

Segundo a autora, na mediação familiar, um aspecto a ser

observado é a separação que os pais consigam fazer da esfera parental e

conjugal. Entendendo como mais seguro para os juízes e operadores de direito

se apoiarem em estudos psicológicos e sociais.

Ainda segundo a referida autora, o mediador precisa desenvolver

habilidades pois se na esfera comercial as questões objetivas e material são

mais visíveis, na esfera de família as questões subjetivas e emocional são mais

veementes. Deve-se atentar assim, para os dois planos do conflito: O objetivo e

o subjetivo. Outro ponto a ser observado com atenção pelo nível de dificuldade

são os valores éticos e morais antagônicos, cabe assim ao mediador conhecer

e avaliar essas aparentes sutilezas.

Para a autora Águida Arruda Barbosa, o princípio da mediação

interdisciplinar dá vida aos direitos, garantindo o livre desenvolvimento da

personalidade, viabilizando a capacitação dos sujeitos de direito ao alcance da

liberdade de ser humano e à igualdade, compreendida o princípio da dignidade

da pessoa humana, a igualdade de qualidade de ser humano. Assim, o princípio

da mediação interdisciplinar privilegia ao mesmo tempo, todos os princípios que

compõe o art.1 da Declaração Universal dos Direitos do Homem. A prática do

princípio da dignidade da pessoa humana através do princípio da mediação

favorece o reconhecimento e a ressignificação das diferenças entre os seres

humanos, sujeitos de direito.

Para a autora, o Direito de Família contemporâneo, inclina-se à

natureza prescritiva de um comportamento humano, não tratando de uma

natureza simplesmente condenatória, tendo o direito material um reduzido

recorte de um sistema grandioso familiar. Para tanto, destaca-se uma

costumeira demanda dos estudiosos do instituto de mediação no que tange

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associar teoria e prática, pois é um método que descreve passos para enfim

chegar ao objetivo de mediar.

Segundo a autora, no que se refere ao alcance da mediação familiar

interdisciplinar, identifica-se que o espírito de mediação internacional é a

expressão permanente da decisão, favorecendo em ambiente adequado ao

livre desenvolvimento de personalidade, sendo possível somente na mediação

familiar.

Ainda segundo a autora, a construção do conflito da mediação, como

um princípio jurídico, sob a ótica dos princípios de Moral Universal, descreve

como a linguagem do terceiro milênio. Sendo, portanto, uma busca pelo acesso

à justiça como um instrumento de mudança. Na medida em que a mediação

tem essa linguagem, se torna eficaz na construção de comunicação entre

pessoas e grupos, havendo, portanto, uma transformação do conflito, uma

renovação, distribuindo a justiça pela via do afeto, do sentimento, ao lado do

pensamento.

Para a autora, a mediação como princípio, se concretiza como

método comportamental, possibilitando a realização dos paradigmas

contemporâneos, aperfeiçoando o judiciário no atendimento daqueles que dele

necessite, bem como garantindo a execução do princípio da proteção do

Estado.

O Séc. XX foi marcado, segundo a autora, pelo paradigma da lei,

superado pelo paradigma do Juiz e posteriormente suplantado pelo paradigma

do caso. A autora ressalta que cabe ao direito promover métodos adequados

para tratar os conflitos, permitindo que os sujeitos de direito retomem a vida

digna. Portanto, a mediação inova numa atitude pós-moderna. E por se tratar

de um instituto novo, enfrenta ainda a rejeição dos que não a identificam como

instrumento da contemporaneidade. Assim, segundo a autora, a mediação

visando ampliar a compreensão dos conflitos familiares, se expressa pela

interdisciplinaridade, sendo as ciências humanas, recepcionadas nas relações

jurídicas. Desta forma, vivencia-se a integração dos diversos saberes

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fortalecendo as ciências jurídicas. Para a autora, a educação para a paz

apresenta-se como tarefa complexa e a mediação familiar interdisciplinar está

pendente de adequadas políticas públicas com vistas a alcançar a categoria

teórica do conhecimento por parte do judiciário brasileiro.

Para a autora, a mediação é considerada uma expressão de

linguagem, ora binária no sentido de demonstrar a razão e alternando ternária,

demonstrando a razão comunicativa. O ganho da dinâmica ternária, é o

fortalecimento do agir comunicativo e de ganho pessoal que passa a compor

uma rede de comportamentos a serem repetidos na esfera fora da dinâmica da

mediação, podendo ser multiplicada essa experiência com outros

relacionamentos este, segundo a autora, é o poder pedagógico da mediação.

A autora registra que a experiência em mediação familiar traz relatos

dos mediandos de que somente através do instituto da mediação houve a

oportunidade de vivenciar a plena comunicação pautada na intercompreensão

sendo, portanto, uma função pedagógica deste instituto. E o verdadeiro

resultado da mediação interdisciplinar, se concretiza, segundo a autora, quando

os mediandos compreendem essa dinâmica e preparando-os para novos

relacionamentos sem que reproduzam o paradigma do casal dissolvido.

Segundo a referida autora, a mediação familiar só pode ser pensada

pela interdisciplinaridade no sentido de ampliar a capacidade humana para a

percepção de um possível “encontro entre divergentes pontos de vista,

possibilitando a transformação da realidade vivida.

Para a autora, a mediação apresenta-se como instrumento à

efetivação da reforma judiciária, desde que entendida sob o prisma de uma

visão interdisciplinar das relações humanas possibilitando o redimensionamento

dos conflitos. Mas para adotar esta prática se faz necessário coragem de

despojar conceitos, pois exige ampliação do conhecimento, já que devem ser

acrescidos saberes de outras disciplinas, concedendo o acréscimo de

informações e reflexões que descortinem em o verdadeiro sentido das

profissões jurídicas, sendo, portanto, segundo a autora, uma atividade ousada.

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Pode-se ousar ainda traçar as diretrizes para a comissão de mediação

interdisciplinar para o próximo biênio, se instituindo metas de desenvolvimento

e de implantação do instituto de mediação familiar interdisciplinar. Uma

importante meta descrita pela autora em sua obra é a da conscientização da

responsabilidade de cuidar e o conceito de mediação, definindo uma diferente

conceituação da mediação interdisciplinar e os demais institutos, para fortalecer

o desenvolvimento do conceito da mediação à luz de uma construção teórica

pautada em princípios de Direto de Família. Outra meta importante destacada,

é a integração do conhecimento interdisciplinar como princípio ao Direito de

Família.

Faz-se necessário, segundo a autora, que os profissionais que

atuam nos conflitos familiares estendam seu conhecimento com os saberes de

outras ciências, agregando assim, capacidade perspectiva da real dimensão

dos conflitos ultrapassando os paradigmas do século passado onde os

profissionais focavam-se sua atuação na resolução dos conflitos.

Desta forma, a recomendação citada pela autora, no que se refere a

prática da mediação interdisciplinar, visando o próximo biênio, é que seja esta

prática agregada a todos que estão abertos a investir num sonho impossível

que segundo a mesma dá sentido à toda ação humana em prol de uma

verdadeira realização.

É necessário, segundo a autora, reconhecer as mudanças

paradigmáticas que iniciaram a partir da década de 1960, ampliando-se no

século XXI, não prevendo a continuidade de um caráter primitivo onde se busca

o culpado. Identifica-se que a satisfação da demanda que se apresenta no

jurisdicionado não é mais norteado para o passado, mas sim para o futuro,

princípio da mediação.

Para a autora, a mudança do judiciário deve ser realizada no

movimento de dentro para fora, refletindo-se sobre as causas que originaram o

status quo, visando atualização para diminuir a distância entre as formas de

acesso à justiça e o cidadão. Desta forma se evidencia a consciência da

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necessidade de uma Reforma do Judiciário, prevendo também uma mudança

estrutural.

Tais mudanças, segundo a autora, são condicionadas à utilizar-se de

um olhar mais ampliado sobre a real eficácia do Sistema Judiciário na

correlação ao atendimento das demandas dos cidadãos no âmbito Judiciário.

Na medida que se amplia esta visão torna-se visível um movimento de definir

diretrizes que nortearão a concepção de um novo modelo de prestação

jurisdicional.

Ressalta a autora, que a mediação se constitui um dos meios de

escolha do cidadão para o acesso à justiça, sendo este instituto, um

instrumento de mudança do judiciário dada a sua natureza interdisciplinar que

pela sua fundamentação filosófica não pode ser limitado a apenas um

instrumento de reforma do judiciário. A autora ainda destaca que a referência

da mediação para conflitos seja judicial ou extrajudicial se faz necessário o

entendimento do Espírito da mediação pelos operadores do direito, dos

princípios do instituto, e no seu caráter interdisciplinar no trato com o conflito

humano.

Desta forma, para a autora, a mediação como instrumento de

mudança, e não de reforma, não tem por finalidade desafogar o judiciário, mas

pode sim, diminuir o grande número de processos. Para a autora, a mediação

interdisciplinar utilizar-se de sua própria linguagem criativa, tendo como

princípio a dignidade da pessoa humana. Promovendo assim, a humanização

do Direito de Família exigindo dos operadores de direito o preparo científico

imprescindível para o reconhecimento da complexidade desta ação e a

responsabilidade de que assumem ao mais pleno conceito de cidadania.

Identifica-se pela autora que a operalidade da mediação é possível desde que

reconhecida como uma prática social de natureza interdisciplinar, numa ação

acolhedora do jurisdicionado, como uma pessoa digna, sujeito de direito e de

desejo, revalorizando a ética profissional dos operadores de direito.

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Assim, sinaliza que a mediação se trata de um conhecimento

ampliado pela interdisciplinaridade sendo o Instituto capaz de sedimentar a

principiologia fundamental para a interpretação das normas jurídicas.

Para a autora, a mediação não tem por objetivo desafogar o Poder

Judiciário, mas se destaca pela lógica da transformação, mas entendendo que

se trata de um conhecimento ainda em construção. Considera que para o

aprimoramento do Instituto da mediação, deve-se ter dois parâmetros

fundamentais.

Primeiro que se trata de um conhecimento Interdisciplinar, visando o

aprimoramento da prestação jurisdicional fundamental em princípios de moral

universal. Sendo uma prática social com método que acolhe o atributivo do

Direito de ser diferente e o respeito por esse, compreendendo o conflito como

manifestação natural do ser humano.

A autora define o segundo parâmetro, que sucede do primeiro, se

afirma no conceito de transformação do conflito pela conscientização do conflito

com atitude de responsabilidade pelos protagonistas da relação humana. Para

a autora, ratifica-se a mediação como um conhecimento interdisciplinar, tendo

como referência a excelência do modelo desenvolvido na França e adotado

pela Comunidade Europeia propiciando fundamentos de um pensar pós-

moderno. Por conseguinte, a mediação existe independente de reconhecimento

legal do Instituto e cabe seu aprimoramento da relação teoria e prática pois esta

atividade de medição não tem um término.

Para a autora, a questão de culpa nas relações familiares, foi

plenamente acolhida pelo Sistema Judiciário Brasileiro e reiterado no Código

Civil de 2002, vinculando um dos protagonistas como o causador do litígio.

Destaca a autora, que existe sem dúvida, uma forte tendência do

Direito Contemporâneo de afastar a culpa e substituir pelo conceito de

responsabilidade de cada um dos sujeitos de Direito por suas próprias

escolhas. Sendo a responsabilidade pelas escolhas o objeto da mediação

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familiar, como cita a autora em sua referida obra, um novo olhar sobre o conflito

familiar.

Segundo a autora, O Instituto de mediação familiar interdisciplinar

traz consigo um novo como fazer, que não possui uma complexidade

metodológica em sua prática, mas sim um conhecimento teórico e uma

linguagem própria. Agregado ao sentimento de acreditar na capacidade e na

coragem da prática da arte da comunicação humana, vivida em três tempos. O

resgate do diálogo e da compreensão de ambos mediandos por cada um e a

prática social da comunicação dos três, mediador e mediandos.

Ainda segundo a autora, a mediação familiar interdisciplinar torna-se

ferramenta imprescindível como uma forma de acesso à Justiça. Para tal, se faz

necessário o entendimento de que a mediação se trata de um conhecimento

embasado na interdisciplinaridade, ao ter uma linguagem própria dotado do

pensamento, sentimento, e da vontade para que se realize em sua plenitude.

Os paradigmas contemporâneos, para a autora, são embasados na

ação de poder transformar as relações humanas, mas, para se realizarem em

sua concretude, dependem da promoção da ampla e efetiva comunicação.

Ainda segundo a autora, apenas por criterioso e aprofundado estudo destes

novos paradigmas do Direito de Família se conseguirá dimensionar a

importância da conquista normativa do Sistema Jurídico Brasileiro. Cita

também, que a mediação familiar já se configura como o caminho teórico e

prático à ser utilizado por todos os magistrados que atuam nos conflitos

familiares. No que se refere ao divórcio do Século XXI, para a autora, se requer

a formação teórica orientada pelas conquistas científicas contemporâneas,

embasadas na interdisciplinaridade, almejando a construção de um

conhecimento transdisciplinar.

Para a autora, no presente estágio do Direito de Família faz-se

imprescindível que a formação dos profissionais que atuam na esfera de

conflitos familiares seja de natureza interdisciplinar. Atualmente, é necessário

reconhecer a visão ampliada do conhecimento dos conflitos, com

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responsabilidade através do cuidado, com a finalidade de resgatar o princípio

da verdade nas relações jurídicas da Família, para uma integração do Direito de

Família.

Segundo a autora, a mediação é a ideia cujo tempo é chegado, no

Brasil, na segunda década do terceiro milênio. Interessante pelo fato de

acontecer logo depois à década destinada a Cultura de Paz, assim batizada

pelo Unesco. Ressalta que é necessário a materialização dos novos

paradigmas, renovando-se os valores, despojando-se de preconceitos,

viabilizando assim, a transformação.

No cenário Brasileiro, o Instituto da mediação, vem como resposta a

uma crise do Judiciário, requerendo uma reflexão sistemática para o

aperfeiçoamento da própria prática. Sendo uma trajetória histórica, onde a

mediação se apresenta como instrumento de humanização do acesso à Justiça

como valor essencial a palavra, vinculando o ser humano ao ideal de Justiça.

Considerando novo paradigma, vem a mediação como uma atividade de

oposição ao julgar e ao excluir, e através do uso da palavra busca-se alcançar

a compreensão e inclusão por meio do uso da linguagem ternária pensamento-

sentimento-ação. A autora ainda complementa que através do exercício da

palavra expressado o sentimento ao lado do pensamento e da vontade (Ação)

os sujeitos de Direito conquistam a liberdade interna, favorecendo o livre

desenvolvimento da personalidade.

A mediação familiar ao promover esse espaço de uso da palavra,

permite uma reflexão mais plena e olhar abrangente para transformação interna

do conflito, podendo os sujeitos retomar a via ou refazer o caminho. Ressaltado

pela autora, que a mediação pode ser preventiva, sua prática pode acontecer

sem a existência de conflito. Cabe enfatizar, que a mediação se encontra em

vários campos: Escolar, hospitalar, comunitária, empresarial, trabalhista e

familiar.

Para a autora, a Resolução do CNJ de N 125, tem como missão

reconhecer, ressignificar e respeitar a mediação. Mas para se efetivar em sua

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plenitude necessita que seja criteriosamente distinto os conceitos de mediação

e conciliação, sendo uma recomendação na implementação desta Política

Pública.

Ressalta-se que a medição é originária dos novos paradigmas da

pós-modernidade, tratando-se de um conhecimento revestido de rigor científico.

Finalizando, a história da mediação no Brasil tem fundamento na

interdisciplinaridade, atua para romper com a cultura do litígio e implantar a

Cultura de Paz.

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CONCLUSÃO

A interdisciplinaridade exige a contribuição de cada um para a

transformação do todo, assim, todos saem transformados pela dinâmica e a

força da ação.

A interdisciplinaridade é fundamental para a construção do Instituto

de Mediação e para o entendimento desse conhecimento como prática social na

mediação familiar.

Mediar nessa perspectiva exige do mediador para além de uma

postura ética que o mesmo assuma uma atitude endógena e por tanto, mais

eficaz na compreensão da (s) demanda (s) trazidas pelos mediandos em sua

totalidade e complexidade.

Acredito que esta atitude vai promover uma perspectiva favorável na

resolução de conflitos.

No Instituto da mediação, a maioria dos mediadores é oriunda da

área de Direito, cabendo destacar a importância das demais áreas do Saber na

prática da mediação de conflitos familiares.

Para produzir um melhor entendimento do conflito, destaca-se

mediante a pesquisa realizada, a participação de mediadores de áreas do

Direito em conjunto com outros profissionais complementando saberes diversos

com um fim comum, o restabelecimento do diálogo.

Identifica-se maior possibilidade de resolução de conflitos na medida

em que se contextualiza, sob vários ângulos o conflito trazido por cada

mediando, pois, cada saber contribuirá seja na análise do próprio conflito, de

aspectos socioculturais das expectativas criadas pelos mediandos

considerando o arranjo familiar, bem como suas propostas e visões sobre a

reconciliação e da convivência, possibilitando assim uma visão ampliada na

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condução da mediação propiciando aos mediandos uma reflexão mais

complexo e totalizante.

Sabe-se quem atua na área familiar, seja qual a formação

profissional, que o próprio trabalho direto com as famílias tem conduzido à uma

prática interdisciplinar na tentativa qualificada de atender as diversas demandas

normalmente apresentadas.

Considero mediante a pesquisa realizada, que a multiplicidade de

vozes, olhares e conhecimentos amplia a reflexão de possibilidades a serem

levantadas, vindo ao encontro com a visão plural doas famílias.

Por meio do conhecimento e do diálogo interdisciplinar, de forma

colaborativa buscando pontos de interseção com respeito a todos os saberes,

podemos atuar não só com mais eficiência, como também, com mais subsídios

de promoção de diálogo entre os mediandos. Fomentando na prática da própria

atuação, a (Re) construção do diálogo entre os mediandos.

Entendesse que ao respeitarmos os saberes diferentes, agimos na

prática de forma ética em relação ao mediandos que trazem consigo

inicialmente também diferentes percepções pelo mesmo conflito. Cabe a nós

mediadores utilizarmos principalmente na mediação familiar contemporânea

uma abordagem interdisciplinar, enriquecendo a condução da mesma dando um

tratamento adequado aos conflitos, primando pela escuta qualificada e o

estimulo a potencialidade de cada um, na resolução dos conflitos através da

retomada ao diálogo.

Durante a pesquisa, identificando a importância da abordagem

interdisciplinar, verificou-se que os saberes ampliam de tal forma o olhar que

acabam por transformar a maneira de ver a mesma questão trazida como

conflito. Sendo possível desconstruir crenças e reconstruir novos olhares, bem

como construir novas possibilidades de olhares e, portanto, de novas formas de

lidar com os conflitos e de resolução dos mesmos.

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Entende-se na pesquisa a mediação como um espaço concreto de

interação de saberes, de forma ética e respeitosa na medida em que não existe

uma verdade ou um olhar hierárquico sobre o outro, mas sim, uma

complementariedade de olhares para atender de forma mais adequada e

qualificada, a diversidade e ou complexidade de demandas em um conflito

familiar, e um entendimento maior da família e seus arranjos na

contemporaneidade.

Pretende-se conhecer a mediação familiar como um diálogo

interdisciplinar contribuindo para a cultura de paz e difusão dessa prática

colaborativa enriquecendo o Instituto da mediação com abordagem pautada no

diálogo e no respeito ao saber diferente, fortalecendo assim, o objetivo do

próprio Instituto de transformação e de construção a partir do diálogo.

O olhar plural para as famílias agrega qualidade na compreensão de

questões mais complexas e que, portanto, necessitam de respostas também

complexas.

A mediação proporciona possibilidades de trabalho interdisciplinar,

foco na interação de novas alternativas a partir de novos olhares que se

complementam e uma interseção de múltiplas realidades e valores de questões

significativas para a sociedade no viés da pacificação, gerando condições de

convivência positiva através de práticas colaborativas.

A partir dessa ideia, podemos destacar que os saberes isoladamente

são incapazes de responder de forma complexa e totalizante às questões

apresentadas pela família contemporânea.

Espera-se com um olhar interdisciplinar, ver além daquilo que se

apresenta inicialmente, algo que na limitação de um único saber talvez

escapasse desse olhar ampliado da questão apresentada como conflito.

Ressalta-se que o trabalho interdisciplinar promove uma postura

diferenciada diante da realidade apresentada, pois provoca uma dinâmica

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reflexiva a criatividade de reflexões de novas possibilidades de lidar com o

conflito e de talvez resolvê-los.

A mediação, portanto, como lócus de interdisciplinaridade vem

responder demandas de resolução de conflitos, mediante a possibilidade de

tratar sob a ótica de vários olhares, o que potencializa e enriquece o diálogo e

favorece as relações interpessoais, pois há uma maior viabilidade de se

identificar necessidades e interesses específicos de cada integrante da família.

Acredito que com uma atuação pautada na interdisciplinar, o

mediador só não se coloca no lugar do especialista do saber, onde é

supostamente colocado, mas se coloca em um lugar apenas complementar a

outros saberes, estando assim, na prática fomentando nas partes também esse

respeito ao olhar diferente buscando uma visão ampla e responsável na

condução de resoluções de conflitos que atendam a ambos mediandos.

Em tempo de pós-modernidade em que as relações familiares são

complexas surge o Instituto de Mediação de conflitos como uma alternativa

aquelas decisões objetivas relacionadas ao Judiciário.

Através da mediação com um dinâmica e meio colaborativo e

pacífico traz uma possibilidade de resolução de conflitos em que os sujeitos

estão demasiadamente desgastados, são relações estabelecidas em meio de

vivências fragilizadas, para tal há a necessidade da aplicação de um meio

alternativo para tratar de forma adequada com caráter subjetivo as relações

familiares.

Conclui-se que a mediação familiar interdisciplinar por sua amplitude,

colabora para a compreensão integral dos conflitos familiares, assim sendo,

contribui para a possibilidade de sua resolução e ou para a reconstrução do

diálogo entre os mediandos.

No que ser refere a prática do Instituto da mediação, as demandas

são trazidas pelos mediandos em suas múltiplas questões a serem por eles

identificadas e passiveis de resolução, destaca-se a importância de uma visão

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de uma equipe articulada e com olhares que se complementem na observação

e reflexão.

Tratando-se da ação pedagógica da mediação na abordagem

interdisciplinar, foi possível identificar que esta prática não pode ser associada

a um único saber hierarquicamente sobrepondo-se a outro, principalmente nas

mediações judiciais em que se faz necessário a valorização das disciplinas que

venham a integrar com o Direito, objetivando melhor atender as demandas

trazidas pelos mediandos, utilizando a facilitação da comunicação dos

mediandos a partir da própria articulação da comunicação entre a equipe de

mediadores e observadores.

É imprescindível reconhecer a importância das diferenças e das

especificidades pois se apresentam no dia-a-dia da vida humana. A importância

se dá também no entendimento que as disciplinas se complementam e se

articulam de forma dialética e naturalmente independente, mas tendo como

base o diálogo e a visão ampliada do conflito, e a comunicação, fundamental na

vida quanto na esfera da equipe de mediadores e supervisões, incluindo as

trocas entre mediadores e observadores, seja na esfera judicial ou extrajudicial.

Durante o processo da pesquisa entendeu-se a importância da

especialização e especificidades na contribuição do aprofundamento do saber

com foco, desenvolvendo técnicas, mas o grande valor se dá se todas as

especializações possam servir ao saber do todo, colaborando para visão

ampliada do contexto que é apresentado pelos mediandos.

Desta forma, o olhar interdisciplinar vem ampliar numa perspectiva

de totalidade das questões que são apresentadas e, portanto, a prática

interdisciplinar acontece e assim se apresenta aos que dela participam como

uma forma de fortalecimento da ação colaborativa, da coparticipação, de escuta

ativa e de valorização da comunicação, ponto chave para a prática da

mediação.

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Identificou-se durante a pesquisa, que a interdisciplinaridade é uma

possibilidade de trazer um valor qualitativo aos olhares e escuta da equipe de

mediação, na medida que amplia a visão para a unidade do ser humano de

modo que facilite uma melhor compreensão das questões que os trazem a

sessão de mediação.

Ao buscarmos a aproximação entre as ciências, facilitamos o acesso

ao caminho da resolução de conflitos.

Considerando-se a unidade à que se quer alcançar na

interdisciplinaridade e o diálogo colaborativo casa-se bem tal abordagem já na

pré-mediação estimulando o desenvolvimento do protagonismo dos mediandos.

Refletimos com os mediandos as possibilidades trazidas e construídas pelos

próprios.

Destacou-se na pesquisa o quanto o Instituto de mediação muito tem

a se solidificar com esta abordagem interdisciplinar, integrativa de saberes e

reflexões, fomentando a cultura de paz e a restauração da comunicação

humana.

Avalia-se que a dificuldade em alcançarmos uma prática

interdisciplinar, pois trata-se de um processo de construção compreendendo

uma atitude colaborativa e comunicativa entre os saberes. A complexidade da

ação interdisciplinar se dá também pela bagagem de cada profissão que

historicamente tratou o Saber de forma fragmentada e cada vez mais

especialista. Assim como, questões ideológicas de cada postura profissional e

de relações sociais competitivas e por vezes atravessam uma postura de

colaboração e de complementaridade das disciplinas.

Entendendo-se que o Instituto de mediação se vive na prática de

mediar, assim como, a interdisciplinaridade se dá em uma nova pedagogia, a da

comunicação, uma vem ao encontro da outra, numa perspectiva de

fortalecimento da comunicação.

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Identifica-se que em uma equipe interdisciplinar é mais favorável

para o entendimento do todo, do contexto sociocultural, potencializando as

condições de criar relação comunicativa horizontal entre os mediandos.

A mediação familiar em uma estrutura interdisciplinar ao proporcionar

uma visão mais única, no sentido contrário à fragmentação do olhar, criar maior

e melhores possibilidades de escolhas pelos mediandos de como manejar o

conflito de forma que ambos possam melhor atenderem suas necessidades ou

seja uma solução que seja satisfatória para ambos.

Considero que a mediação familiar interdisciplinar, renova, diversifica

e complementa o Sistema Judiciário, com vistas a efetivação de uma política

pública que consolide uma cultura de paz e de comunicação entre os indivíduos

enquanto sujeitos de suas vidas buscando o bem comum.

A interdisciplinaridade dá ênfase na capacidade de potencializar

recursos para maior efetividade na mediação, no restabelecimento do diálogo.

Identificou-se que a própria constituição da ciência moderna

contribuiu para fragmentar os olhares, ou seja o saber, pela cultura da

especialização. Destaca-se a necessidade da articulação entre os saberes e

experiências, conhecimento e ação na prática de construção do diálogo.

Alcançando efeitos sinérgicos em situações complexas, como no caso da

mediação familiar. Reconheço enquanto profissional atuante no âmbito familiar,

a complexidade que atravessa a vida social e familiar para atender a problemas

complexos, tendo que estar capacitados para refletir junto aos mediandos para

que os mesmos possam buscar respostas complexas. Respostas

especializadas são insuficientes para dar conta destas demandas. A

complexidade da realidade social exige um olhar que não se esgota no âmbito

de uma única ciência.

Esta heterogeneidade exige a interdisciplinaridade, portanto a

eficiência de uma prática é insuficiente para construir respostas mais

adequadas, vislumbrando a necessidade de uma integralidade na atuação.

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Ao mediar, a questão apresentada bem como, a pauta a ser tratada

segundo as demandas trazidas pelos mediandos demonstra que existe de fato

uma necessidade de olhar mais amplamente para fomentar nos mediandos a

construção de respostas mais apropriadas a atendê-los, sujeitos do processo

da mediação familiar.

A contribuição da interdisciplinaridade na prática de mediação de

conflitos, principalmente familiar, se confirma na própria realidade trazida pelos

mediandos, complexa e ampla envolvimento de aspectos objetivos e subjetivos

entrelaçados e conflituosos, se fazendo imprescindivelmente um saber não

único e fragmentado pois o Saber conjunto diferencia-se de um conjunto de

Saberes. Portanto não se trata de colocar junto o que se faz separado, e sim,

construir um novo Saber. Uma atuação conjunta dos saberes viabilizará um

entendimento maior e mais claro do que as partes necessitam e seus

sentimentos, facilitando a identificação de interesses em comum.

A metodologia interdisciplinar permite introduzir novos pontos de

vista, novas linhas de reflexão a serem potencializadas. Fortalece o esforço de

um saber escutar o outro de forma que haja a complementariedade de olhares

estabelecendo um objetivo em comum: o diálogo.

Entende-se também que através da interdisciplinaridade, que as

especificidades podem contribuir para um novo Saber, mais totalizante e assim,

potencializante na prática.

A interdisciplinaridade na mediação familiar, estimula um espaço de

geração de consenso, facilitação do diálogo. Propondo o rompimento da lógica

da supremacia da cultura da especialização presente na ciência moderna.

Sendo um desafio, pois trata-se de uma mudança de paradigma. Mas tal

exigência vem da própria realidade vivenciada pela humanidade, questões

socioculturais, com diferentes arranjos sociais e familiares e de relações

interpessoais de vinculação de afeto.

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Presume-se que a interdisciplinaridade desta complementariedade

de Saber na vida contemporânea nos requer uma atitude de abertura para o

diálogo, para conhecer o outro, o novo, o diferente, o que ainda é por nós

desconhecido. Precisamos saber partilhar, olhar no sentido de aprender o olhar

do lugar do outro, compreendendo a questão sob diversos ângulos. Sabendo-se

no caso de conflitos familiares que são decorrentes também de fatores externos

e que por vezes embaralhados com questões subjetivas-afetivas que dificultam

o desatar pelo mediandos destes nós, sendo necessário a contribuição de um

facilitador de visão interdisciplinar, principalmente pelas necessidades

multidimensionais entranhadas no conflito.

Identificou-se na pesquisa que o fio condutor da utilização da

abordagem interdisciplinar na mediação de conflitos familiares, seria a atitude

de focar na essencial da mediação, diálogo e pacificação, nos remetendo a

própria abordagem interdisciplinar que carrega consigo a construção do Saber

através do diálogo das diversas disciplinas de forma colaborativa e de

complementariedade.

Na sociedade contemporânea, potencializa-se a individualidade e por

vezes que ser humano tem diversas nuances, e ele é único em suas

subjetividades para tanto se faz imprescindível o reconhecimento dessas

questões na busca de aprimorar os saberes afins e não se compartimentaliza

em “caixinhas” que não se comunicam.

Outro ponto destacado ao decorrer da referida pesquisa, é a

importância do olhar diferenciado na prática do trabalho em equipe, tendo como

reconhecimento do ser humano em seu papel de sujeito transformador

utilizando a interdisciplinaridade como forma de reflexão e de potencialização

para tal.

Na medida em que se utiliza a interdisciplinaridade facilita-se o

diálogo a partir da escuta de diferentes saberes, na prática há mais condição de

construções mais consensuais pelos mediandos. Propiciando ações conjuntas e

convergindo possíveis soluções para o conflito.

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Concluindo-se assim, que devido as necessidades humanas e

sociais se apresentarem de forma multidimensionais, uma única ciência não

proporcionará habilidades ao mediador, para fomentar a resolutividade de forma

que atenda a complexidade da realidade.

Presume-se pela pesquisa realizada que devido a sinergia de fatores

que dificultam a convivência familiar, precisa-se congregar saberes para uma

reflexão mais potencializada na construção por parte dos mediandos, de

soluções por eles identificadas de forma pacífica e dialogada no entendimento

do olhar e do lugar do outro. Esse consenso em que pode atender a um sem

desatender ao outro, uma construção de consenso da família que vai além por

vezes dos mediandos participantes de forma direta na sessão de mediação.

Destacando também, a construção do senso de importância desse instituto para

a sociedade, para que a torne menos litigiosa e mais pacífica no sentido da

construção e reconstrução do diálogo entre os indivíduos. Sendo, portanto, uma

política pública que necessita ser efetivada através de uma consciência do

poder de Ser daqueles que participam, como sujeitos de suas vidas, e não do

poder delegado a terceiro, no caso ao Juiz, sendo fundamental que os

participantes das sessões de mediação possam ser os próprios multiplicadores

desta prática social de poder pedagógico e comunicativo, pautada na dignidade

da pessoa humana e de grande relevância para a Sociedade Contemporânea.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 01

AGRADECIMENTOS 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

A Interdisciplinaridade 10

1.1 - A interdisciplinaridade e suas modalidades 10

1.2 - A interdisciplinaridade e o diálogo entre os saberes 16

CAPÍTULO II

A Mediação de Conflitos e a Interdisciplinaridade 24

2.1 - A mediação de conflitos como Política Pública 24

2.2 - A mediação interdisciplinar no direito das famílias 37

CAPÍTULO III

A Contribuição da Interdisciplinaridade na Mediação Familiar 47

3.1 - A mediação familiar e a interdisciplinaridade 47

3.2 – Perspectiva interdisciplinar na mediação de conflitos familiares 62

CONCLUSÃO 77

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 87

ÍNDICE 89