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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
O IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS DE QUALQUER NATUREZA –
ISSQN E SUAS DIVERGÊNCIAS PERANTE AS INSTITUIÇÕES
FINANCEIRAS BANCÁRIAS
Por: PAULO ALOAN DA COSTA BERNARDO
Orientador
Prof. PATRÍCIA PORTAL
Rio de Janeiro
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2013
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
O IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS DE QUALQUER NATUREZA
ISSQN E SUAS DIVERGÊNCIAS PERANTE AS INSTITUIÇÕES
FINANCEIRAS BANCÁRIAS
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Direito Público e Tributário
Por: Paulo Aloan da Costa Bernardo
3
AGRADECIMENTOS
....ao meu DEUS que sempre me amou
incondicionalmente, o SENHOR
sempre estará em primeiro lugar na
minha vida.
4
DEDICATÓRIA
.....dedico a minha mãe Ana Rita “amor
verdadeiro”, aos meus filhos Allan, Kawan
e Laís e todos que me ajudaram direta e
indiretamente.
5
RESUMO
A nossa pesquisa tem por finalidade expor as discussões e
interpretações em relação ao Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza
(ISSQN), abordando em especial as divergências perante as Instituições
Financeiras, as disposições legais a Lei Complementar nº 116/03 e a
Jurisprudência sobre o imposto. Trazendo uma resumida evolução histórica do
Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza, comentando sua existência e
sua história no Ordenamento Jurídico Nacional. Também será abordada sua
incidência tributária, e a taxatividade da lista de serviços que a Lei
Complementar nº. 116/03 instituiu sendo considerado também os serviços
listados por essa legislação. A competência Tributária do Imposto, o sujeito
passivo, suas Alíquotas e Base de Cálculo.
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METODOLOGIA
Através de pesquisa bibliográfica, em abordagem descritiva a partir de
fontes constantes em livros, artigos, peças processuais, doutrina e legislações
publicadas em meios impressos ou eletrônicos, inclusive aos livros Curso de
Direito Financeiro e Tributário de Ricardo Lobo Torres e Impostos Federais,
Estaduais e Municipais de Leandro Paulsen e José Eduardo de Melo Soares e
ainda a julgados do site do STJ dentre outros materiais da internet.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - O ISSQN 09
1.1 – Origem 09 1.2 – Princípios Relacionados 10 1.2.1 – O Princípio da Legalidade 10 1.2.2 – O Princípio da Anterioridade 13 1.2.3 – O Princípio da Noventena 15 1.3 – Competência 17 1.4 – Fato Gerador 23 1.5 – Base de Cálculo 28 CAPÍTULO II - O CONTRIBUINTE 31
2.1 – Sujeito Passivo 37 2.2 – Lançamento 39 CAPÍTULO III – OS SERVIÇOS TRIBUTÁVEIS 43
3.1 – A Jurisprudência 45 CAPITULO IV – AS DIVERGÊNCIAS DO ISSQN 47 4.1 – As Atividades Bancárias e Financeiras 49 4.2 – A Responsabilidade Fiscal 62 CONCLUSÃO 64
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 65
ÍNDICE 66 FOLHA DE AVALIAÇÃO 68
8
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como finalidade crucial expor os principais
questionamentos sobre o Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza
(ISSQN) bancário.
De uma forma geral, o ISSQN é um tributo que existe em nosso
ordenamento jurídico desde 1965, e existem grandes divergências em relação
ao tributo mencionado, com inúmeras doutrinas e jurisprudências conflitantes.
Ao analisarmos o primeiro Relatório da Comissão Especial para
elaborar o Anteprojeto da reforma de discriminação Constitucional de rendas,
observamos, que a ideia principal foi acabar com o tributo de Indústrias e
Profissões, cuja definição legal não era suficiente para identificá-lo, levando os
Municípios à pratica de distorções econômicas recorrendo a bases de cálculos
arbitrárias ou rotineiras.
As controvérsias existem desde aproximadamente 1965 (ou seja, desde
sua criação), época inclusive que surgiu o Código Tributário Nacional (1966),
pois para uns o Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza ISSQN, era a
simples continuação do Imposto de Indústrias e Profissões (Aliomar Baleeiro e
Manoel Lourenço Filho), já para outros como por exemplo Alexandre da Cunha
Ribeiro Filho, nada tinha haver um Imposto com o outro.
Divergências são o que não faltam ao Imposto Sobre Serviços de
Qualquer Natureza ISSQN nos dias de hoje, pelo fato de alguns Municípios
interpretarem de forma ludibriada o rol da Lei Complementar nº. 116/03, haja
vista a lista de serviços ser taxativa e não comportar a aplicação da analogia,
visando alcançar hipóteses de incidência diferentes das ali determinadas.
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CAPITULO 1 – O ISSQN
...Deus seja Louvado.
1.1 – ORIGEM
De acordo com o artigo 156, III da CRFB/ 88 é de competência dos
Municípios instituir Imposto sobre serviço de qualquer natureza, exceto aqueles
serviços elencados no rol do artigo 155, II da CRFB/88, definidos na legislação
complementar.
É o que Ricardo Alexandre ensina:
“Assim ressalvados os serviços constitucionalmente
colocados sobre o campo de incidência do ICMS
(comunicação e transporte interestadual e intermunicipal),
qualquer serviço pode ser tributado pelos municípios,
desde que definido em Lei Complementar. O tributo
(ISSQN) possui nítida finalidade fiscal, constituindo-se em
importante fonte de recursos para o desempenho da
atividade financeira dos Municípios “.(ALEXANDRE,
Ricardo, Direito tributário esquematizado, pg.639, ed.
Método, 2010).
Pode-se afirmar que o termo “prestação de serviços” nesse caso
configura-se em uma obrigação de fazer, fato declarado pela Suprema Corte
que inclusive determinou que a prestação de serviços de maneira nenhuma
poderá ser confundida com locação de bens móveis, e diga-se de passagem é
10
impossível a incidência de ISSQN sobre a locação de bens móveis conforme
preceitua a Súmula Vinculante de número 31, vejamos:
É inconstitucional a incidência do Imposto sobre Serviços
de Qualquer Natureza – ISS sobre operações de locação
de bens móveis.
O Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza – ISSQN, substituiu a
partir da reforma de 1965, o Imposto de Indústrias e Profissões, da
competência dos Municípios.
O ISSQN, foi inicialmente disciplinado, mediante enumeração taxativa,
pelo Decreto-Lei nº. 406/68, modificado pelo Decreto-Lei nº. 834/68, que
continha 62 itens.
Posteriormente a Lei Complementar nº. 56/87 elevou para 100 os
itens da listagem de fatos geradores, que ainda foram acrescidos de outros
itens pela Lei Complementar nº. 100/99, hoje em dia a matéria está regulada
pela Lei Complementar nº. 116/2003, com a listagem dividida em 40 itens, que
por sua vez, se subdividem em inúmeros subitens, mas a enumeração,
defeituosa e lacunosa, já é objeto de reexame pelo Congresso Nacional, pelo
Projeto de Lei da Câmara nº. 70/02.
O ISSQN é um imposto não cumulativo que tem por objetivo combater
os efeitos econômicos do imposto sobre o volume de vendas porém com a
percepção econômica de serviços como seu principal produto.
É de origem europeia, criado para equilibrar o imposto geral e também
como no Brasil para combater o imposto sobre grandes volumes de vendas.
Incide sobre serviços realizados por pessoas físicas e jurídicas, excluindo-se
os de competência do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
(ICMS).
1.2 – Princípios Relacionados
11
Não podemos deixar de mencionar em nosso trabalho, os princípios
aos quais o ISSQN está sujeito, analisaremos então cada um deles de forma
bastante objetiva.
1.2.1– O Princípio da Legalidade
O Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza – ISSQN está
sujeito ao princípio da legalidade.
Este princípio é um dos principais do ordenamento jurídico brasileiro,
inclusive consagrado a nível constitucional, por isso, não esta limitado apenas
ao direito tributário, mas sim a praticamente todos os ramos do direito, tendo
em vista se tratar de um dos pilares do estado democrático de direito.
O referido princípio esta esculpido no artigo 5°, II da CRFB/88, que
assim dispõe:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei;
É de conhecimento geral que, os tributos são prestações pecuniárias
compulsórias instituídas em lei, por isso não é facultado aos contribuintes o
pagamento, pois trata-se de uma obrigação.
Desse princípio (legalidade), surge a necessidade de se instituir lei
para o aumento ou criação de tributos, tal afirmação também ganha ânimo no
artigo 150, I da CRFB/88 e no artigo 3° do CTN, vejamos:
12
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas
ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios:
I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;
Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória,
em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não
constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e
cobrada mediante atividade administrativa plenamente
vinculada.
Não é um princípio de exclusividade do direito tributário, até por que
demonstra a ideia da soberania da lei, é portanto uma espécie de proteção a
liberdade das pessoas, como informamos acima é uma característica de um
Estado Democrático de Direito.
Em poucas palavras, este princípio em matéria tributária tem por
objetivo esclarecer que a norma que irá criar ou aumentar o tributo seja
pormenorizada definida pela lei ordinária, inclusive sua incidência, sujeitos
passivos e ativos, alíquotas, base de cálculo, ou seja a lei deverá descrever
detalhadamente o tributo.
Vejamos o que ensina Ricardo Alexandre:
A palavra "exigir", constante do transcrito artigo 150, I
da CF, possui o sentido de cobrar o tributo. Como a
cobrança depende, por óbvio, da prévia instituição da
exação, o dispositivo acaba por impor que tributo só pode
ser criado por lei, seja ordinária, ou complementar
(somente no caso de Empréstimos Compulsórios, do
Imposto Sobre Grandes Fortunas - IGF, e dos Impostos
13
ou Contribuições Residuais - conforme os artigos 148;
153, VII; 154, I e 195, §4° todos da CF), (ALEXANDRE,
Ricardo, Direito tributário esquematizado, pg.111, ed.
Método, 2010).
Apenas a título de conhecimento, vale informar que, como os
tributos são criados através de lei, necessário se faz que sejam alterados ou
extintos através de um ato de hierarquia igual ou superior, ou seja, não será
possível por exemplo criar ou alterar um tributo através de um decreto, tendo
em vista este ser hierarquicamente inferior a uma lei, os tributos somente
poderão ser instituídos, extintos ou alterados através de lei ou Emenda
Constitucional, é o que esta disposto no artigo 97 do Código Tributário
Nacional:
Art. 97. Somente a lei pode estabelecer:
I - a instituição de tributos, ou a sua extinção;
II - a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o
disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65;
III - a definição do fato gerador da obrigação tributária
principal, ressalvado o disposto no inciso I do § 3º do
artigo 52, e do seu sujeito passivo;
1.2.2 – O Princípio da Anterioridade
Outro princípio ao qual o Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza
- ISSQN está sujeito é ao princípio da anterioridade.
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Primeiramente devemos ressaltar que a Constituição Federal Brasileira
diz que é defeso que os Municípios, Estados, Distrito Federal e a União cobrar
os tributos no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que
os instituiu ou aumentou, é o que encontramos no artigo 150, III, "b" da
CRFB/88:
Art. 150 - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas
ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios:
I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;
II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se
encontrem em situação equivalente, proibida qualquer
distinção em razão de ocupação profissional ou função
por eles exercida, independentemente da denominação
jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos;
III - cobrar tributos:
a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início
da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado;
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido
publicada a lei que os instituiu ou aumentou;
c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja
sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou,
observado o disposto na alínea b;
O brilhantíssimo Ricardo Alexandre ensina que o referido princípio
existe para "proteger o contribuinte, não impedindo, portanto, a imediata
aplicação das mudanças que diminuam a carga tributária a que o contribuinte
15
está sujeito (casos de extinção ou redução de tributos) ou que não tenham
qualquer impacto sobre essa carga tributária", trata-se de um princípio
exclusivo do direito tributário, aplicável na esfera federal, estadual (distrital) e
municipal.
Não tem por objetivo vedar a tributação, criação ou majoração dos
tributos mas sim fixar o modo que a tributação deverá ser exercida, esclarecer
a produção dos efeitos da incidência do tributo de acordo com o tempo.
Resumindo-se, o princípio da anterioridade estabelece um prazo no
qual ficará impedida a cobrança da nova incidência do tributo atribuindo um
tempo razoável para o contribuinte do tributo se preparar para novo
pagamento.
Vejamos o que diz Ricardo Alexandre:
Em suma, a ideia principal do princípio é proteger o
contribuinte contra a imediata aplicação de normas que
aumentem a carga tributária a que ele já está sujeito
(casos de instituição ou majoração de tributos),
(ALEXANDRE, Ricardo, Direito tributário esquematizado,
pg.139, ed. Método, 2010).
Como podemos perceber, um tributo somente deverá ser cobrado pelo
Estado (quando falo em estado aqui me refiro a União, Estados, Distrito
Federal e Municípios), no ano posterior aquele em que a referida lei (princípio
da legalidade, como vimos acima), que o criou ou alterou foi promulgada.
1.2.3 - O Princípio da Noventena
O ISSQN também está sujeito ao princípio da noventena, que
consiste em uma proteção ao contribuinte contra eventuais surpresas, pois
prevê noventa dias para o contribuinte se organizar financeiramente para o
pagamento do tributo.
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Existem relatos, que quando a Constituição Federal foi promulgada
esses noventa dias entre a data da promulgação de uma lei que alterasse ou
instituísse um tributo somente eram aplicados as contribuições para
financiamento da seguridade social, na forma do artigo 195, §6° da CRFB/88,
vejamos:
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a
sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei,
mediante recursos provenientes dos orçamentos da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
e das seguintes contribuições sociais: (Vide Emenda
Constitucional nº 20, de 1998).
§ 6º - As contribuições sociais de que trata este artigo só
poderão ser exigidas após decorridos noventa dias da
data da publicação da lei que as houver instituído ou
modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150,
III, "b".
Ricardo Alexandre em seu livro Direito Tributário Esquematizado nos
traz maiores explicações sobre o princípio da noventena:
"Tornou-se um clamor dos contribuintes que a noventena
passasse a ser regra geral e, num raro caso de Emenda
Constitucional que beneficiou o contribuinte, a EC
42/2003 promoveu a mudança desejada, incluindo no
artigo 150, III, da Constituição, uma alínea c, cujo texto é
bastante parecido com aquele constante no artigo 195,
§6° da CF/88, destinado exclusivamente ás contribuições
para a seguridade social".(ALEXANDRE, Ricardo, Direito
tributário esquematizado, pg.143, ed. Método, 2010).
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Então podemos dizer que, desde a promulgação da mencionada
Emenda Constitucional 42/2003 em reverência ao princípio da não surpresa a
noventena tornou-se exigível salvo, exceções, assim como a anterioridade.
O princípio da noventena como mencionado no trecho acima
elaborado por Ricardo Alexandre, está insculpido no artigo 150, III, alínea "c"
da CRFB/88 com um texto semelhante ao do artigo 195,§6° da CRFB/88, que
assim dispõe:
Art. 150 - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas
ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios:
III - cobrar tributos:
a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início
da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado;
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido
publicada a lei que os instituiu ou aumentou;
c) antes de decorridos noventa dias da data em que
haja sido publicada a lei que os instituiu ou
aumentou, observado o disposto na alínea b;
Se eventualmente houver uma instituição ou majoração de tributos a
menos de noventa dias do término do exercício financeiro, a cobrança deverá
observar os noventa dias e não poderá ser exigida no dia 1° de janeiro do ano
seguinte, pois seria uma violação ao princípio da noventena.
Não se esquecendo que os noventa dias começam a contar a partir da
data da publicação da lei que institui ou majora o tributo, observando-se
também a regra do princípio da anterioridade.
Após analisarmos os princípios aos quais o ISSQN está sujeito,
passaremos agora a competência do tributo.
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1.3 - COMPETÊNCIA
O Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza-ISSQN é de
competência dos Municípios, e está previsto no artigo 156, III, da Constituição
Federal de 1988, é regulado pela Lei Complementar nº. 116/03, que prevê em
lista que é taxativa, os serviços tributáveis pelos Municípios. A referida lei
estabeleceu dois critérios espaciais adversos em relação à competência para
tributar o ISSQN.
Vejamos o que dispõe o artigo 156, III da CRFB/88:
Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:
III - serviços de qualquer natureza, não
compreendidos no art. 155, II, definidos em lei
complementar.
O primeiro critério da norma determina que, em regra, imposto
municipal deverá ser pago no local do estabelecimento ou domicílio prestador
da execução do serviço, conforme disposto no artigo 3º, in verbis:
Art. 3o O serviço considera-se prestado e o imposto
devido no local do estabelecimento prestador ou, na
falta do estabelecimento, no local do domicílio do
prestador, exceto nas hipóteses previstas nos incisos
I a XXII, quando o imposto será devido no local:
I – do estabelecimento do tomador ou intermediário do
serviço ou, na falta de estabelecimento, onde ele estiver
domiciliado, na hipótese do § 1o do art. 1o desta Lei
Complementar;
19
II – da instalação dos andaimes, palcos, coberturas e
outras estruturas, no caso dos serviços descritos no
subitem 3.05 da lista anexa;
III – da execução da obra, no caso dos serviços descritos
no subitem 7.02 e 7.19 da lista anexa;
IV – da demolição, no caso dos serviços descritos no
subitem 7.04 da lista anexa;
V – das edificações em geral, estradas, pontes, portos e
congêneres, no caso dos serviços descritos no subitem
7.05 da lista anexa;
VI – da execução da varrição, coleta, remoção,
incineração, tratamento, reciclagem, separação e
destinação final de lixo, rejeitos e outros resíduos
quaisquer, no caso dos serviços descritos no subitem
7.09 da lista anexa;
VII – da execução da limpeza, manutenção e
conservação de vias e logradouros públicos, imóveis,
chaminés, piscinas, parques, jardins e congêneres, no
caso dos serviços descritos no subitem 7.10 da lista
anexa;
VIII – da execução da decoração e jardinagem, do corte e
poda de árvores, no caso dos serviços descritos no
subitem 7.11 da lista anexa;
IX – do controle e tratamento do efluente de qualquer
natureza e de agentes físicos, químicos e biológicos, no
caso dos serviços descritos no subitem 7.12 da lista
anexa;
X – (VETADO)
20
XI – (VETADO)
XII – do florestamento, reflorestamento, semeadura,
adubação e congêneres, no caso dos serviços descritos
no subitem 7.16 da lista anexa;
XIII – da execução dos serviços de escoramento,
contenção de encostas e congêneres, no caso dos
serviços descritos no subitem 7.17 da lista anexa;
XIV – da limpeza e dragagem, no caso dos serviços
descritos no subitem 7.18 da lista anexa;
XV – onde o bem estiver guardado ou estacionado, no
caso dos serviços descritos no subitem 11.01 da lista
anexa;
XVI – dos bens ou do domicílio das pessoas vigiados,
segurados ou monitorados, no caso dos serviços
descritos no subitem 11.02 da lista anexa;
XVII – do armazenamento, depósito, carga, descarga,
arrumação e guarda do bem, no caso dos serviços
descritos no subitem 11.04 da lista anexa;
XVIII – da execução dos serviços de diversão, lazer,
entretenimento e congêneres, no caso dos serviços
descritos nos subitens do item 12, exceto o 12.13, da lista
anexa;
XIX – do Município onde está sendo executado o
transporte, no caso dos serviços descritos pelo subitem
16.01 da lista anexa;
XX – do estabelecimento do tomador da mão-de-obra ou,
na falta de estabelecimento, onde ele estiver domiciliado,
21
no caso dos serviços descritos pelo subitem 17.05 da lista
anexa;
XXI – da feira, exposição, congresso ou congênere a que
se referir o planejamento, organização e administração,
no caso dos serviços descritos pelo subitem 17.10 da lista
anexa;
XXII – do porto, aeroporto, ferroporto, terminal rodoviário,
ferroviário ou metroviário, no caso dos serviços descritos
pelo item 20 da lista anexa.
Como podemos ver, os incisos do artigo mencionado cuidam de
serviços em que para sua execução é preciso grande infraestrutura ou
mobilização, como os de obras de construção civil, demolição, elétrica e
manutenção de vias.
Trata-se de uma justa repartição de receitas tributárias, uma vez que
em decorrência da prestação do serviço, um Município tem seus bens e
serviços públicos onerados, como por exemplo, com o desgaste de estradas
municipais, com a poluição, com perigos relacionados à segurança pública,
com a utilização dos postos de saúde municipais, em caso de acidente do
prestador ou seus familiares.
O artigo 4° da Lei Complementar nº. 116/03 conceitua o termo
estabelecimento prestador, vejamos:
Art. 4o Considera-se estabelecimento prestador o local
onde o contribuinte desenvolva a atividade de prestar
serviços, de modo permanente ou temporário, e que
configure unidade econômica ou profissional, sendo
irrelevantes para caracterizá-lo as denominações de
sede, filial, agência, posto de atendimento, sucursal,
escritório de representação ou contato ou quaisquer
outras que venham a ser utilizadas.
22
Como podemos ver estabelecimento prestador, segundo o artigo 4º da
Lei Complementar nº. 116/03, é o local onde o prestador desenvolve a
atividade de prestar serviços.
E isso pode ser de modo permanente ou temporário, bastando que se
forme no local da execução do serviço uma unidade econômica ou profissional.
Assim, as denominações de sede, filial, escritório são irrelevantes para
caracterizar um estabelecimento prestador.
O estabelecimento Comercial é o complexo de bens e serviços
através do qual determinada atividade é explorada.
É composto por bens corpóreos, como as mercadorias, instalações,
equipamentos, utensílios, veículos etc., e por bens incorpóreos – assim as
marcas, patentes, direitos, ponto, dentre vários.
Nem sempre é possível definir sem maiores cuidados a competência
municipal em relação ao ISSQN, a atividade de prestar serviços muitas vezes
não se faz em um único ato, podendo ser fracionada e executada em locais
diversos.
Vejamos o comentário do advogado Daniel Andrade Pinto:
“ A possibilidade de instituição de substituição tributária,
isto é, de retenção do Imposto municipal pelo tomador de
serviços, sem reservas relativamente à determinação do
Município onde o ISSQN deve ser recolhido, permite que
dois Municípios exijam o referido imposto sobre a mesma
prestação de serviços. É o que ocorre quando o serviço é
prestado e devido o imposto no, local do estabelecimento
ou domicilio do prestador, mas a execução do serviço
ocorre em Município diverso, o qual instituiu a substituição
tributária. No dia 10 de agosto de 2010, em decisão no
Recurso Especial nº. 1.160.253 – MG (2009/0188086-8),
o STJ entendeu que se um prestador, que esteja
estabelecido em um Município, prestar serviços em outro,
não terá seu “estabelecimento” transferido para lá, para
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fins de incidência do ISSQN: por exemplo, se uma
sociedade empresária estabelecida num determinado
Município, prestar serviços uma única vez em outro
Município, o ISSQN deve ser pago no local em que está
sediada. No entanto, se essa mesma sociedade aluga
uma sala comercial nesse outro Município, contrata
funcionários e lá passa a exercer a atividade econômica,
a tributação, aí sim, será devida na localidade em que for
prestado o serviço.Conforme a Corte Superior,
independente da localização da sede da empresa,
quando houver um conjunto de bens e equipamentos
considerável no local onde o serviço for prestado, isto é,
se necessária para prestação de serviços uma
significante infra-estrutura no local da execução do
serviço, o ISSQN deverá ser recolhido ali neste local, pois
o estabelecimento prestador será transferido para lá.
Caso contrário, o ISSQN será devido no local da sede do
prestador de serviços, nos termos da Lei Complementar
nº. 116/2003. Casos como este podem gerar conflitos
intermináveis entre contribuintes e Fazendas Municipais,
vez que a grande maioria dos Municípios brasileiros não
tem condições de manter um corpo fiscal e jurídico capaz
de descrever, analisar e entender de forma razoável os
fatos e efeitos da lei. (http://www.crc-
ce.org.br/crcnovo/home.php?st=listinfo&info_id=643,dispo
nível em 08.08.13)
1.4 – FATO GERADOR
O Fato Gerador do ISSQN está disposto no artigo 1º da Lei
Complementar nº 116/03, nos seguintes termos:
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“Artigo 1º. O Imposto Sobre Serviços de Qualquer
Natureza, de competência dos Municípios e do
Distrito Federal, tem como fato gerador a prestação
de serviços consoantes da lista anexa, ainda que
esses não se constituam como atividades
preponderantes do prestador.
§1º. O Imposto incide também sobre o serviço
proveniente do exterior do País ou sua prestação se
tenha iniciado no exterior do País.
§2º. Ressalvadas as exceções expressas na lista anexa,
os serviços nela mencionados não ficam sujeitos ao
Imposto Sobre Operações Relativas à Circulação de
Mercadorias e Prestações de Serviços de Transporte
Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação – ICMS,
ainda que sua prestação envolva fornecimento de
mercadorias.
§3º. O Imposto de que trata esta Lei Complementar incide
ainda sobre os serviços prestados mediante a utilização
de bens e serviços públicos explorados economicamente
mediante autorização , permissão ou concessão, com o
pagamento de tarifa, preço ou pedágio pelo usuário final
do serviço.
§4º. A incidência do imposto não depende da
denominação dada ao serviço prestado”.
25
Em regra o ISS deverá ser recolhido no ente (Município ou Distrito
Federal), onde encontrar-se o estabelecimento prestador do serviço, porém,
como toda regra tem sua exceção, o recolhimento do imposto poderá ser feito
no ente (Município ou Distrito Federal), no qual o serviço foi realizado, nos
casos de serviços caracterizados por sua realização no estabelecimento do
tomador.
Vejamos a redação do artigo 3° da Lei Complementar nº. 116/03:
Art. 3o O serviço considera-se prestado e o imposto
devido no local do estabelecimento prestador ou, na
falta do estabelecimento, no local do domicílio do
prestador, exceto nas hipóteses previstas nos incisos
I a XXII, quando o imposto será devido no local:
I – do estabelecimento do tomador ou intermediário do
serviço ou, na falta de estabelecimento, onde ele estiver
domiciliado, na hipótese do § 1o do art. 1o desta Lei
Complementar;
II – da instalação dos andaimes, palcos, coberturas e
outras estruturas, no caso dos serviços descritos no
subitem 3.05 da lista anexa;
III – da execução da obra, no caso dos serviços descritos
no subitem 7.02 e 7.19 da lista anexa;
IV – da demolição, no caso dos serviços descritos no
subitem 7.04 da lista anexa;
V – das edificações em geral, estradas, pontes, portos e
congêneres, no caso dos serviços descritos no subitem
7.05 da lista anexa;
VI – da execução da varrição, coleta, remoção,
incineração, tratamento, reciclagem, separação e
26
destinação final de lixo, rejeitos e outros resíduos
quaisquer, no caso dos serviços descritos no subitem
7.09 da lista anexa;
VII – da execução da limpeza, manutenção e
conservação de vias e logradouros públicos, imóveis,
chaminés, piscinas, parques, jardins e congêneres, no
caso dos serviços descritos no subitem 7.10 da lista
anexa;
VIII – da execução da decoração e jardinagem, do corte e
poda de árvores, no caso dos serviços descritos no
subitem 7.11 da lista anexa;
IX – do controle e tratamento do efluente de qualquer
natureza e de agentes físicos, químicos e biológicos, no
caso dos serviços descritos no subitem 7.12 da lista
anexa;
X – (VETADO)
XI – (VETADO)
XII – do florestamento, reflorestamento, semeadura,
adubação e congêneres, no caso dos serviços descritos
no subitem 7.16 da lista anexa;
XIII – da execução dos serviços de escoramento,
contenção de encostas e congêneres, no caso dos
serviços descritos no subitem 7.17 da lista anexa;
XIV – da limpeza e dragagem, no caso dos serviços
descritos no subitem 7.18 da lista anexa;
XV – onde o bem estiver guardado ou estacionado, no
caso dos serviços descritos no subitem 11.01 da lista
anexa;
27
XVI – dos bens ou do domicílio das pessoas vigiados,
segurados ou monitorados, no caso dos serviços
descritos no subitem 11.02 da lista anexa;
XVII – do armazenamento, depósito, carga, descarga,
arrumação e guarda do bem, no caso dos serviços
descritos no subitem 11.04 da lista anexa;
XVIII – da execução dos serviços de diversão, lazer,
entretenimento e congêneres, no caso dos serviços
descritos
XIX – do Município onde está sendo executado o
transporte, no caso dos serviços descritos pelo subitem
16.01 da lista anexa;
XX – do estabelecimento do tomador da mão-de-obra ou,
na falta de estabelecimento, onde ele estiver domiciliado,
no caso dos serviços descritos pelo subitem 17.05 da lista
anexa;
XXI – da feira, exposição, congresso ou congênere a que
se referir o planejamento, organização e administração,
no caso dos serviços descritos pelo subitem 17.10 da lista
anexa;
XXII – do porto, aeroporto, ferroporto, terminal rodoviário,
ferroviário ou metroviário, no caso dos serviços descritos
pelo item 20 da lista anexa.
Então podemos dizer que, sobre a incidência do ISSQN não há muito
o que se debater, tendo em vista que o Imposto Sobre Serviços de Qualquer
Natureza, tem como fato gerador, sob uma óptica material a prestação de
28
serviços, de maneira que para sua incidência torna-se imprescindível a
referida prestação, caso contrário torna-se impossível a tributação.
1.5 – BASE DE CÁLCULO
A base de cálculo do ISSQN é o preço do serviço, conforme definido
pelo artigo 7º da Lei Complementar nº. 116/03. Não poderia ser diferente, pois
a base de cálculo deve ser sempre uma grandeza que quantifique a riqueza
tributada pelo imposto, senão vejamos:
Artigo 7º. A base de cálculo do imposto é o preço do
serviço.
§1º. Quando os serviços descritos pelo subitem 3.04 da
lista anexa forem prestados no território de mais de um
Município, a base de cálculo será proporcional, conforme
o caso, à extensão da ferrovia, rodovia, dutos e condutos
de qualquer natureza, cabos de qualquer natureza, ou ao
número de postes, existentes em cada Municípios.
§2º. Não se incluem na base de cálculo di Imposto Sobre
Serviços de Qualquer Natureza:
I - O valor dos materiais fornecidos pelo prestador dos
serviços prestados nos itens 7.02 e 7.05 da lista de
serviços anexa a esta Lei Complementar;
De acordo com Carla Cristina Paschoalotte Rossi:
A base de cálculo integra o aspecto quantitativo da
hipótese, uma vez que tem a finalidade de mensurar o
29
quantum devido, ou seja, é a partir da base de cálculo
que se poderá atribuir o valor pecuniário da obrigação
tributária. É neste sentido, que o caput do artigo 9º do
Decreto-Lei nº. 406/68, disciplina que a base de cálculo
do ISSQN, é o preço do serviço, trazendo em seus
parágrafos 1º e 3º, a exceção à regra, ou seja, a
incidência de imposto fixo, aplicável em alguns
casos.(http://jus.com.br/artigos/4817/o-issqn-em-face-da
emenda-constitucional-no-37-02-e-da-leicomplementar-
no-116-03/3, disponível em 08.08.13)
Vejamos:
Art 9º A base de cálculo do imposto é o preço do
serviço.
§1º - Quando se tratar de prestação de serviços sob a
forma de trabalho pessoal do próprio contribuinte, o
imposto será calculado, por meio de alíquotas fixas
ou variáveis, em função da natureza do serviço ou de
outros fatores pertinentes, nestes não compreendida
a importância paga a título de remuneração do
próprio trabalho.
§2º - Na prestação dos serviços a que se referem os
itens 19 e 20 da lista anexa o imposto será calculado
sobre o preço deduzido das parcelas correspondentes:
a) ao valor dos materiais fornecidos pelo prestador dos
serviços;
b) ao valor das subempreitadas já tributadas pelo
imposto.
30
§3° - Quando os serviços a que se referem os itens 1,
4, 8, 25, 52, 88, 89, 90, 91 e 92 da lista anexa forem
prestados por sociedades, estas ficarão sujeitas ao
imposto na forma do § 1°, calculado em relação a
cada profissional habilitado, sócio, empregado ou
não, que preste serviços em nome da sociedade,
embora assumindo responsabilidade pessoal, nos
termos da lei aplicável.
Assim, podemos dizer que, em regra a base de cálculo do ISSQN é
o preço do serviço. A aplicação do imposto com valor fixo, só tem lugar,
segundo a Doutrina e a Jurisprudência desde que seja mais benéfico que o
imposto venha a ser calculado pelo faturamento, ou seja, pelo preço do
serviço.
31
CAPÍTULO 2 – O CONTRIBUINTE
De acordo com o artigo 5º da Lei Complementar nº. 116/2003,
contribuinte do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza é o prestador do
serviço, vejamos, o que diz o artigo mencionado:
Artigo 5o - Contribuinte é o prestador do serviço.
A jurisprudência também é clara neste sentido, vejamos:
TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL. IMPOSTO
SOBRE SERVIÇOS DE QUALQUER NATUREZA –
ISSQN. AGENCIAMENTO DE MÃO-DE-OBRA
TEMPORÁRIA. ATIVIDADE-FIM DA EMPRESA
PRESTADORA DE SERVIÇOS. BASE DE CÁLCULO.
PREÇO DO SERVIÇO. VALOR REFERENTE AOS
SALÁRIOS E AOS ENCARGOS SOCIAIS. MATÉRIA
DECIDIDA PELA 1ª SEÇÃO, NO RESP 1.138.205/PR, DJ
DE 01/02/2010. JULGADO SOB O REGIME DO ART.
543-C DO CPC. 1. A base de cálculo do ISS é o preço do
serviço, consoante disposto no artigo 9º, caput, do
Decreto-Lei 406/68. 2. As empresas de mão-de-obra
temporária podem encartar-se em duas situações, em
razão da natureza dos serviços prestados: (i) como
intermediária entre o contratante da mão-de-obra e o
terceiro que é colocado no mercado de trabalho; (ii) como
prestadora do próprio serviço, utilizando de empregados a
ela vinculados mediante contrato de trabalho. 3. A
intermediação implica o preço do serviço que é a
comissão, base de cálculo do fato gerador consistente
32
nessas "intermediações". 4. O ISS incide, nessa hipótese,
apenas sobre a taxa de agenciamento, que é o preço do
serviço pago ao agenciador, sua comissão e sua receita,
excluídas as importâncias voltadas para o pagamento dos
salários e encargos sociais dos trabalhadores. Distinção
de valores pertencentes a terceiros (os empregados) e
despesas com a prestação. Distinção necessária entre
receita e entrada para fins financeiro-tributários. 5. A
exclusão da despesa consistente na remuneração de
empregados e respectivos encargos da base de cálculo
do ISS, impõe perquirir a natureza das atividades
desenvolvidas pela empresa prestadora de serviços. Isto
porque as empresas agenciadoras de mão-de-obra, em
que o agenciador atua para o encontro das partes, quais
sejam, o contratante da mão-de-obra e o trabalhador, que
é recrutado pela prestadora na estrita medida das
necessidades dos clientes, dos serviços que a eles
prestam, e ainda, segundo as especificações deles
recebidas, caracterizam-se pelo exercício de
intermediação, sendo essa a sua atividade-fim. 6. A
Primeira Seção, quando do julgamento do REsp
1.138.205/PR, sujeito ao regime dos "recursos
repetitivos", reafirmou o entendimento de que
"Consectariamente, nos termos da Lei 6.019, de 3 de
janeiro de 1974, se a atividade de prestação de serviço
de mão-de-obra temporária é prestada através de pessoal
contratado pelas empresas de recrutamento, resta
afastada a figura da intermediação, considerando-se a
mão-de-obra empregada na prestação do serviço
contratado como custo do serviço, despesa não dedutível
da base de cálculo do ISS."Art. 4º - Compreende-se como
empresa de trabalho temporário a pessoa física ou
33
jurídica urbana, cuja atividade consiste em colocar à
disposição de outras empresas, temporariamente,
trabalhadores, devidamente qualificados, por elas
remunerados e assistidos. Art. 11 - O contrato de trabalho
celebrado entre empresa de trabalho temporá(...) rio e
cada um dos assalariados colocados à disposição de uma
empresa tomadora ou cliente será, obrigatoriamente,
escrito e dele deverão constar, expressamente, os
direitos conferidos aos trabalhadores por esta Lei. Art. 15
- A Fiscalização do Trabalho poderá exigir da empresa
tomadora ou cl (...) iente a apresentação do contrato
firmado com a empresa de trabalho temporário, e, desta
última o contrato firmado com o trabalhador, bem como a
comprovação do respectivo recolhimento das
contribuições previdenciárias. Art. 16 - No caso de
falência da empresa de trabalho temporário, a empresa
tomadora ou cliente é solidariamente responsável pelo
recolhimento das contribuições previdenciárias, no
tocante ao tempo em que o trabalhador esteve sob suas
ordens, assim como em referência ao mesmo período,
pela remuneração e indenização previstas nesta Lei. (...)
Art. 19 - Competirá à Justiça do Trabalho dirimir os litígios
entre as empresas de serviço temporário e seus
trabalhadores."7. Nesse diapasão, o enquadramento legal
tributário faz mister o exame das circunstâncias fáticas do
trabalho prestado, delineadas pela instância ordinária,
para que se possa concluir pela forma de tributação. 8. In
casu, na própria petição inicial, a empresa recorrida
procede ao seu enquadramento legal, in verbis:"A autora
é pessoa jurídica que tem como objetivo principal,
dentro outros, á prestação de serviço de locação de
mão-de-obra efetiva, nos termos de seu contrato
34
social. Como empresa prestadora de serviços, a
autora é contribuinte do Imposto sobre Serviços de
Qualquer Natureza (ISSQN), de acordo como art. 84 da
Lei Complementar n.º 56/87, incidente sobre as
quantias específicas, pagas a título de remuneração
pelos serviços prestados aos contratantes. (...) Ao
prestar serviços de fornecimento de mão-de-obra, a
autora atua como "intermediária" entre o trabalhador e as
empresas tomadoras de serviços."Vale dizer, autora é
contratada para recrutar mão-de-obra, de acordo com os
critérios e exigências fixados por seus contratantes (...)"
9. O Tribunal “a quo”, a seu turno, assentou que: Trata-se
de empresa que se ativa no setor de locação de mão obra
e como tal, presta serviços para terceiros, atuando como
intermediária entre estes e o trabalhador, não exercendo
sobre eles ingerência e percebendo, além da
remuneração pelo agenciamento, também o repasse de
encargos devidos ao Estado, tais como FGTS,
Previdência Social, dentre outros. De sorte que,
vislumbra-se, nesta hipótese, o recebimento de
importâncias com destinos diversos, sendo que um
refere-se ao valor pago pelo agenciamento e outro ao
reembolso sobre o salário e encargos sociais pagos pela
contratante. Trata-se de saber se a base de cálculo do
ISS refere-se à totalidade do pagamento ou apenas ao
valor recebido a título de agenciamento. A questão é de
meridiano clareza, pois, sobre os encargos sociais e
salários pagos pela tomadora não pode incidir ISS, pois,
estão fora de sua base de cálculo, por constituir mero
repasse destinado ao pagamento de encargos sociais e
salários. Situação diversa é a remuneração pelo serviço
de agenciamento, pois este, sem dúvida, configura
35
autêntica base de cálculo do ISS, de sorte que, deve-se
excluir da base de cálculo do ISS tanto receitas
financeiras, quanto ressarcimento de valores pagos, que
não constituem receita, pois, tais valores não pertencem à
empresa contribuinte. Com efeito, não se admite o
pagamento do ISS calculado sobre uma base de cálculo
fictícia, ou seja, advinda de valores que não têm qualquer
relação com o serviço efetivamente prestado, tornando-
se, com isto, evidente que tributos os quais um
determinado prestador de serviço recebe para repasse ao
Estado, não pode incorporar a base de cálculo do ISS,
por não serem tais valores recebidos a título de
pagamento de serviços. De forma que, em sintonia com
entendimento do STJ, tem-se que a "empresa que
agencia mão-de-obra temporária age como intermediária
entre o contratante da mão-de-obra e o terceiro que é
colocado no mercado de trabalho. A intermediação
implica o preço do serviço que é a comissão, base de
cálculo do fato gerador consistente nessas
'intermediações'". O implemento do tributo em face da
remuneração efetivamente percebida conspira em prol
dos princípios da legalidade, justiça tributária e
capacidade contributiva. A Turma julgadora entendeu
ainda que o "ISS incide, apenas, sobre a taxa de
agenciamento, que é o preço do serviço pago ao
agenciador, sua comissão e sua receita, excluídas as
importâncias voltadas para o pagamento dos salários e
encargos sociais dos trabalhadores. Distinção de valores
pertencentes a terceiros (os empregados) e despesas,
que pressupõem o reembolso. Distinção necessária entre
receita e entrada para fins financeiro-tributários." 10. Com
efeito, verifica-se que o Tribunal incorreu em inegável
36
equívoco hermenêutico, porquanto atribuiu, à empresa
agenciadora de mão-de-obra temporária regida pela Lei
6.019/74, a condição de intermediadora de mão-de-obra,
quando a referida lei estabelece, in verbis: "Art. 4º -
Compreende-se como empresa de trabalho temporário a
pessoa física ou jurídica urbana, cuja atividade consiste
em colocar à disposição de outras empresas,
temporariamente, trabalhadores, devidamente
qualificados, por elas remunerados e assistidos. (...) Art.
11 - O contrato de trabalho celebrado entre empresa de
trabalho temporário e cada um dos assalariados
colocados à disposição de uma empresa tomadora ou
cliente será, obrigatoriamente, escrito e dele deverão
constar, expressamente, os direitos conferidos aos
trabalhadores por esta Lei. (...) Art. 15 - A Fiscalização do
Trabalho poderá exigir da empresa tomadora ou cliente a
apresentação do contrato firmado com a empresa de
trabalho temporário, e, desta última o contrato firmado
com o trabalhador, bem como a comprovação do
respectivo recolhimento das contribuições previdenciárias.
Art. 16 - No caso de falência da empresa de trabalho
temporário, a empresa tomadora ou cliente é
solidariamente responsável pelo recolhimento das
contribuições previdenciárias, no tocante ao tempo em
que o trabalhador esteve sob suas ordens, assim como
em referência ao mesmo período, pela remuneração e
indenização previstas nesta Lei. (...) Art. 19 - Competirá à
Justiça do Trabalho dirimir os litígios entre as empresas
de serviço temporário e seus trabalhadores." 11. Destarte,
a empresa recorrida encarta prestações de serviços
tendentes ao pagamento de salários, previdência social e
demais encargos trabalhistas, sendo, portanto, devida a
37
incidência do ISS sobre a prestação de serviços, e não
apenas sobre a taxa de agenciamento. 12. À luz da novel
metodologia legal, publicado o acórdão do julgamento do
recurso especial, submetido ao regime previsto no artigo
543-C, do CPC, os demais recursos já distribuídos,
fundados em idêntica controvérsia, deverão ser julgados
pelo relator, nos termos do artigo 557, do CPC (artigo 5º,
I, da Res. STJ 8/2008). 13. Agravo regimental desprovido.
(STJ , Relator: Ministro LUIZ FUX, Data de Julgamento:
18/05/2010, T1 - PRIMEIRA TURMA)
2.1 – O Sujeito Passivo
O sujeito passivo da obrigação tributária é a pessoa obrigada ao
pagamento do tributo ou da penalidade pecuniária, conforme preceitua o artigo
121 do Código Tributário Nacional, vejamos:
Artigo 121 - Sujeito passivo da obrigação principal é a
pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou
penalidade pecuniária.
Parágrafo único - O sujeito passivo da obrigação principal
diz-se:
I - contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta
com a situação que constitua o respectivo fato gerador;
II - responsável, quando, sem revestir a condição de
contribuinte, sua obrigação decorra de disposição
expressa de lei.
38
Pode também ser o sujeito passivo o contribuinte, ou seja, a pessoa
que tem relação pessoal e direta com o fato gerador, ou o responsável, aquele
que embora não seja o contribuinte, está obrigado ao pagamento por conta de
previsão em Lei.
O Decreto-Lei nº. 406/68 atribuía a sujeição passiva apenas ao
prestador de serviços, ou seja, ao contribuinte, embora alguns Municípios já
vinham disciplinando sobre a responsabilidade de terceiros, em especial
quanto as obras de construção civil.
A Lei Complementar nº. 116/03, disciplina em seu artigo 5º que
contribuinte do imposto é o prestador de serviços, porém em seu artigo 6º,
repetindo o disposto no artigo 128 do Código Tributário Nacional, concede aos
Municípios e Distrito Federal, a faculdade de atribuir à terceira pessoa, a
responsabilidade pelo crédito tributário.
Vejamos o que diz o artigo 128 do CTN;
Artigo 128 - Sem prejuízo do disposto neste Capítulo, a
lei pode atribuir de modo expresso a responsabilidade
pelo crédito tributário a terceira pessoa, vinculada ao fato
gerador da respectiva obrigação, excluindo a
responsabilidade do contribuinte ou atribuindo-a a este
em caráter supletivo do cumprimento total ou parcial da
referida obrigação.
Porém, para essa atribuição somente é possível se tratando-se de
pessoa vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação, nesse caso, o
tomador de serviços.
Além disso, pode a Lei que instituir o Imposto, e estabelecer a total
exclusão da responsabilidade do prestador de serviços, caracterizando a
substituição tributária, ou estabelecer a responsabilidade subsidiária entre o
prestador e o tomador de serviços, visando o cumprimento total ou parcial da
obrigação, podendo esta se estender às multas e demais acréscimos legais.
39
Devido a isso, restará aos Municípios e ao Distrito Federal adotar
através de lei, os critérios para responsabilização de terceiros ao pagamento
do ISSQN, devendo porém, atribuir essas responsabilidades às pessoas
jurídicas que possuam instrumentos de arrecadação e controle das verbas.
Apesar de a Lei Complementar nº. 116/03 não especificar se
qualquer pessoa atrelada ao fato gerador pode ser responsabilizada pelo
recolhimento do tributo, as leis municipais em regra atribuem tal
responsabilidade apenas às pessoas jurídicas, até por que as pessoas físicas
não possuem mecanismos efetivos para proceder a retenção do imposto na
fonte, caso contrário poderia acontecer de se chegar ao absurdo de alguém ir
até uma oficina mecânica para consertar um automóvel e na hora do fato
gerador, ter que calcular o ISSQN para proceder a retenção na fonte, imagine
só que loucura, seria até cômico.
2.2 – Lançamento
Em relação ao lançamento do ISSQN, este é feito por homologação,
vejamos o que ensina Ricardo Alexandre:
"O ISS é lançado por homologação, pois é o próprio
sujeito passivo que, a cada fato gerador, calcula o
montante do tributo devido e antecipa o pagamento sem
prévio exame da autoridade administrativa, cabendo a
esta verificar a correção do procedimento e, se for o caso,
homologá-lo, podendo ainda, lançar de ofício as
diferenças porventura devidas." (Alexandre, Ricardo,
direito tributário esquematizado, pg 643, ed. Método,
2010)
Porém nos tributos sujeitos ao lançamento por homologação como é
o caso do ISSQN, quando o contribuinte não declara e não paga o tributo,
40
autoriza-se o lançamento de ofício, de acordo com o artigo 150, § 4º do CTN,
aplicando-se a regra do artigo 173, I do mesmo diploma legal.
Vejamos:
Art. 150 - O lançamento por homologação, que ocorre
quanto aos tributos cuja legislação atribua ao sujeito
passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio
exame da autoridade administrativa, opera-se pelo ato em
que a referida autoridade, tomando conhecimento da
atividade assim exercida pelo obrigado, expressamente a
homologa.
§ 4º - Se a lei não fixar prazo à homologação, será ele de
5 (cinco) anos, a contar da ocorrência do fato gerador;
expirado esse prazo sem que a Fazenda Pública se tenha
pronunciado, considera-se homologado o lançamento e
definitivamente extinto o crédito, salvo se comprovada a
ocorrência de dolo, fraude ou simulação.
Art. 173 - O direito de a Fazenda Pública constituir o
crédito tributário extingue-se após 5 (cinco) anos,
contados:
I - do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o
lançamento poderia ter sido efetuado;
Esse entendimento é pacífico na jurisprudência, neste sentido:
TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. ISS SOBRE
OPERAÇÕES DE ARRENDAMENTO MERCANTIL
(LEASING). TRIBUTO DE LANÇAMENTO POR
41
HOMOLOGAÇÃO. NÃO PAGAMENTO QUE IMPLICA
EM LANÇAMENTO DE OFÍCIO. INCIDÊNCIA
RECONHECIDA PELO STF E STJ. MUNICÍPIO
COMPETENTE. NOVO ENTENDIMENTO DO STJ. RESP
1.060.210/SC.FATOS GERADORES OCORRIDOS
ANTES DE 2003. APLICAÇÃO DO DECRETO-LEI
406/68, ART. 12. SEDE DO PRESTADOR DO
SERVIÇO.FATOS GERADORES OCORRIDOS A
PARTIR DE 2003. VIGÊNCIA DA LC
116/03.COMPETÊNCIA DO MUNICÍPIO ONDE A
PRESTAÇÃO DO SERVIÇO FOI PERFECTIBILIZADA.
BASE DE CÁLCULO.PREÇO DO SERVIÇO. TOTAL
DOS VALORES PAGOS PELO ARRENDATÁRIO AO
ARRENDADOR. PRECEDENTES DO STJ.MULTA
PUNITIVA POR SONEGAÇÃO. 100% DO VALOR DO
TRIBUTO. PREVISÃO LEGAL MUNICIPAL. AUSÊNCIA
DE CARÁTER CONFISCATÓRIO. GRAVIDADE DA
CONDUTA.MANUTENÇÃO DO QUANTUM. 1. Conforme
a posição unânime do STJ oriunda do julgamento do
REsp 1.060.210/SC, em 28.11.2012 (DJ-e 05.03.2013),
para fatos geradores ocorridos na vigência do DL 406/68
será competente para a cobrança do tributo o Município
que possuir a sede da empresa contribuinte. 2. Para os
fatos geradores ocorridos na vigência da LC 116/03 a
competência será do Município em que o serviço é
perfectibilizado. 3. O local onde o serviço foi finalizado,
segundo o STJ, é "onde a relação é perfectibilizada,
assim entendido o local onde se comprove haver unidade
econômica ou profissional da instituição financeira com
poderes decisórios suficientes à concessão e aprovação
do financiamento - núcleo da operação de leasing
financeiro e fato gerador do tributo." (STJ, REsp
42
1.060.210/SC). 4. "Tanto o art. 9º do DL 406/68 como o
art. 7º da LC 116/03 estabelecem que a base de cálculo
do tributo é o preço do serviço; a complexidade do
contrato de arrendamento mercantil, destacada pelo STF,
não permite pinçar partes dele para o fim de definir o
serviço prestado, (...). O preço do serviço, no caso em
tela, só pode ser entendido como tudo aquilo que o
arrendatário paga ao arrendador em troca da
disponibilização e fruição do bem objeto do contrato."
(STJ, REsp 1.060.210/SC, Rel. Min. Napoleão Nunes
Maia Filho, j.28/11/2012 - voto primitivo).Recurso 1
parcialmente provido. Recurso 2 parcialmente conhecido
e, nesta parte, provido.Sentença parcialmente alterada
em sede de Reexame Necessário, por maioria.
(TJ-PR - CJ: 10091824 PR 1009182-4 (Acórdão), Relator:
Ruy Cunha Sobrinho, Data de Julgamento: 16/04/2013, 1ª
Câmara Cível, Data de Publicação: DJ: 1098 13/05/2013)
43
CAPÍTULO 3 – OS SERVIÇOS TRIBUTÁVEIS
De acordo com parte doutrina, há uma contradição no próprio texto
constitucional quando atribuiu a competência aos Municípios para instituir
Imposto sobre “serviços de qualquer natureza”, e, ao mesmo tempo, faz uma
limitação; os “definidos em Lei Complementar”.
Assim dispõe o artigo 156, III da CRFB/88:
Art. 156 - Compete aos Municípios instituir impostos sobre:
III - serviços de qualquer natureza, não compreendidos no
Art. 155, II, definidos em lei complementar ;
O texto sem dúvidas deixa uma certa dúvida ao ser lido, vejamos a
seguir as palavras do ministro Carlos Velloso, que adota o seguinte
posicionamento:
“O ISS é um imposto municipal. É dizer, ao Município
competirá instituí-lo (CF, art. 156, III). Todavia, está ele
jungido à norma de caráter geral, vale dizer, à lei
complementar que definirá os serviços tributáveis, lei
complementar do Congresso Nacional (CF, art. 156, III).
Isto não quer dizer que a lei complementar possa definir
como tributáveis pelo ISS serviços que, ontologicamente,
não são serviços. No conjunto de serviços tributáveis pelo
ISS, a lei complementar definirá aqueles sobre os quais
poderá incidir o mencionado imposto. (...) a lei
complementar, definindo os serviços sobre os quais
incidirá o ISS, realiza a sua finalidade principal, que é
afastar os conflitos de competência, em matéria tributária,
44
entre as pessoas políticas (CF, art. 146, I). E isso ocorre
em obséquio ao pacto federativo, princípio fundamental
do Estado e da República (CF, art. 1º) (...) não adoto a
doutrina que defende que a lista de serviços é
exemplificativa.” (RE 361.829, voto do Rel. Min. Carlos
Velloso, julgamento em 13-12-2005, Segunda Turma, DJ
de 24-2-2006.)
Já o entendimento de Clélio Chiesa:
“Geraldo Ataliba e Aires F. Barreto, reportando-se à lição
de Rui Barbosa, ponderam que a Constituição não retira
com a mão direita aquilo que deu com a mão
esquerda.Admitir que os “serviços de qualquer natureza”
é que haverão de ser definidos, imporá contradictio in
terminis . Se são de qualquer natureza, prescindem de
definição;se são definidos, não serão jamais os de
qualquer natureza, mas sim, os definidos. Invocando a
lição de Carlos Maximiliano salientam que devem ser
afastados as interpretações impossíveis ou ilógicas, pois,
é da mais gritante falta de lógica, tanto comum, como
jurídica, a interpretação que pretende atribuir a esse
preceito o significado de atribuir à Lei Complementar o
definir “serviços de qualquer natureza” para efeito de abrir
espaço à competência tributária dos Municípios. Nessa
mesma diapasão é o pensamento de Roque Antonio
Carazza, pois segundo o renomado jurista, a competência
municipal para tributar serviços independe da edição de
Lei Complementar que os defina, segue-se daí, que o
legislador complementar não pode fixar rol de serviços
tributáveis pelos Municípios. De fato não é dado ao
45
legislador complementar estabelecer quais serviços o
Município pode tributar por meio de ISS”.
Pelo que conseguimos entender, diferente do entendimento do
ministro Carlos Velloso, o autor acima quis dizer que os serviços definidos em
Lei Complementar tem mero caráter exemplificativo, pois carecem de sentido
lógico a suposta delegação concedida pelo Constituinte, exatamente para o
Legislador Complementar terminar a sua obra. Se não fosse, entretanto seu
intuito, teria se expressado de forma clara.
Assim, ao invés de serviços de qualquer natureza definidos em Lei
Complementar, simplesmente se diria “serviços listados em Lei
Complementar”.
3.1 – A Jurisprudência
Porém, a jurisprudência, sobre esse assunto, inclinou-se em sentido
contrário, ao consagrar a legitimidade do rol da “lista de serviços” baixado por
Lei Complementar. Tanto é assim que foi ela considerada “taxativa”, como
consta no RE 75.952, de 29 de outubro de 1973, o qual foi Relator o Ministro
Thompson Flores.
Este entendimento permanece até hoje, admitindo-se, porém, em
relação a cada item daquela “lista”, interpretação extensiva e analógica.
Como podemos verificar no seguinte julgado:
MANDADO DE SEGURANÇA. ISSQN. SERVIÇOS DE
PULVERIZAÇÃO AÉREA. LISTA ANEXA À LEI
COMPLEMENTAR Nº 116/03. TAXATIVIDADE.
INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA. INCIDÊNCIA. I - A
jurisprudência desta Corte sedimentou-se no sentido de
que a Lista de Serviços para efeito de incidência de ISS é
taxativa, admitindo-se, contudo, uma leitura extensiva de
46
cada item, a fim de se enquadrarem serviços idênticos
aos expressamente previstos. II - A Lei Complementar nº
116/2003 prevê expressamente, em seu item 7.13, a
tributação dos serviços de pulverização de lavouras, não
importando o modo pelo qual ele é efetivamente
realizado. III - Agravo regimental improvido
(STJ - AgRg no Ag: 1067941 MS 2008/0129854-2,
Relator: Ministro FRANCISCO FALCÃO, Data de
Julgamento: 21/10/2008, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data
de Publicação: DJe 10/11/2008)
47
CAPÍTULO 4 - AS DIVERGÊNCIAS DO ISSQN
Na obra “Impostos, Federais, Estaduais e Municipais”, 6ª edição revista
e atualizada dos Autores Leandro Paulsen e José Eduardo Soares de Melo,
retira-se muito bem o conceito de atividades bancárias e financeiras, e pelo o
que vimos não se confunde com a competência tributária municipal, pois o que
fica claro é que a competência é da União, tanto por lei quanto pela
jurisprudência, se não vejamos:
A Lei Federal nº. 4595/64, regula as referidas atividades na forma
seguinte:
Artigo 17 - Consideram-se instituições financeiras, para
os efeitos da legislação em vigor, as pessoas jurídicas
públicas ou privadas, que tenham como atividade
principal ou acessória a coleta, intermediação ou
aplicação de recursos financeiros próprios ou de
terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia
de valor de propriedade de terceiros.
Parágrafo único. Para os efeitos desta lei e da legislação
em vigor, equiparam-se às instituições financeiras as
pessoas físicas que exerçam qualquer das atividades
referidas neste artigo, de forma permanente ou eventual.
Artigo 18 - As instituições financeiras somente poderão
funcionar no País mediante prévia autorização do Banco
Central da República do Brasil ou decreto do Poder
Executivo, quando forem estrangeiras.
§ 1º Além dos estabelecimentos bancários oficiais ou
privados, das sociedades de crédito, financiamento e
investimentos, das caixas econômicas e das cooperativas
de crédito ou a seção de crédito das cooperativas que a
48
tenham, também se subordinam às disposições e
disciplina desta lei no que for aplicável, as bolsas de
valores, companhias de seguros e de capitalização, as
sociedades que efetuam distribuição de prêmios em
imóveis, mercadorias ou dinheiro, mediante sorteio de
títulos de sua emissão ou por qualquer forma, e as
pessoas físicas ou jurídicas que exerçam, por conta
própria ou de terceiros, atividade relacionada com a
compra e venda de ações e outros quaisquer títulos,
realizando nos mercados financeiros e de capitais
operações ou serviços de natureza dos executados pelas
instituições financeiras.
§ 2º O Banco Central da Republica do Brasil, no exercício
da fiscalização que lhe compete, regulará as condições
de concorrência entre instituições financeiras, coibindo-
lhes os abusos com a aplicação da pena nos termos
desta lei.
§ 3º Dependerão de prévia autorização do Banco Central
da República do Brasil as campanhas destinadas à coleta
de recursos do público, praticadas por pessoas físicas ou
jurídicas abrangidas neste artigo, salvo para subscrição
pública de ações, nos termos da lei das sociedades por
ações.
Pelo que vimos até aqui, o entendimento do autor Leandro
Paulsen, é contrário, pois para ele, “instituições bancárias e financeiras
desenvolvem complexas e diversificadas atividades, tendo como finalidade
básica a concessão de créditos (empréstimos, financiamentos, descontos e
etc.), a realização de depósitos, aplicações em investimentos e etc., que
seriam suscetíveis de incidência do IOF ( artigo 153, V da CFRB/88), bem
49
como específicas operações de câmbio, e relativas a títulos e valores
mobiliários, sujeitas aos demais impostos federais, de competência exclusiva
da União”. (PAULSEN, Leandro, De Melo, Impostos Federais, Estaduais e
Municipais pg 22, Livraria do Advogado, 2011).
4.1 – Atividades Bancárias e Financeiras
Diversas atividades que são realizadas para atingir os empréstimos
entre outros produtos, representam meros elementos intermediários ou
complementares, que não se dissociam dos negócios bancários e financeiros,
como é o caso do fornecimento de talão de cheques; a locação e a
manutenção de cofres particulares, terminais eletrônicos, terminais de
atendimento; a devolução de títulos, protesto, sustação de protesto,
manutenção e representação de títulos.
Nessa esteira, existe o entendimento que carece de ser analisado,
se as atividades tributadas pelo Município estão contidas na Lista de Serviços
Anexa à Lei Complementar nº. 116/03, notadamente à vista do que dispõe o
art. 156, III da CRFB/88, que para alguns com a leitura se conclui que o serviço
para permitir a incidência do imposto, deve estar especificamente definido em
Lei Complementar.
Impende salientar que o Supremo Tribunal Federal reconheceu a
existência de repercussão geral sobre o caráter taxativo da lista de serviços
sujeitos ao ISSQN, de que trata o art. 156 da CRFB/88, por decisão assim
ementada:
Decisão: 1. A Corte, ao analisar o RE nº 615580 (Rel.
Min. ELLEN GRACIE, DJe de 20.8.2010), substituído pelo
RE nº 635548, da mesma relatoria, reconheceu a
existência de repercussão geral em tema idêntico ao
versado no presente recurso, razão pela qual, com
50
fundamento no art. 328, § único, do RISTF, determino a
devolução dos autos ao Tribunal de origem, para os fins
do art. 543-B do CPC. Publique-se. Int.. Brasília, 28 de
junho de 2012.Ministro Cezar PelusoRelator
(STF - RE: 633501 RJ , Relator: Min. CEZAR PELUSO,
Data de Julgamento: 28/06/2012, Data de Publicação:
DJe-150 DIVULG 31/07/2012 PUBLIC 01/08/2012)
Na linha de pensamento que as atividades tributadas pelos
Municípios possuem caráter taxativo, pode-se tirar a seguinte máxima, que
existe uma ofensa ao princípio da legalidade considerar que as contas,
operações ativas e aditamento aos depositantes estariam sujeitas ao Imposto
Sobre Serviços de Qualquer Natureza, haja vista que muito mais que
interpretar restritivamente, acaba-se por empregar o uso da interpretação
analógica ao equipará-las às atividades previstas item 96 do referido Decreto-
Lei nº. 406/68, que assim dispõe:
96 - Instituições financeiras autorizadas a funcionar pelo
Banco Central: fornecimento de talão de cheques;
emissão de cheques administrativos; transferência de
fundos; devolução de cheques; sustação de pagamento
de cheques; ordens de pagamento e de créditos, por
qualquer meio; emissão e renovação de cartões
magnéticos; consultas em terminais eletrônicos;
pagamentos por conta de terceiros, inclusive os feitos fora
do estabelecimento; elaboração de ficha cadastral;
aluguel de cofres; fornecimento de segunda via de avisos
de lançamento de extrato de contas; emissão de carnês
(neste item não está abrangido o ressarcimento, a
instituições financeiras, de gastos com portes do Correio,
51
telegramas, telex e teleprocessamento, necessários à
prestação dos serviços).
Daí surgem as dúvidas se os serviços que não constam na Lista de
Serviços aprovada por Lei Complementar poderão suportar a exação municipal
em razão da sua taxatividade.
O fisco paulistano observa o lançamento tributário relativo aos
serviços prestados por financeiras, com o entendimento de que não incidiria o
ISSQN sobre avais e fianças. Na medida em que tais institutos são garantias
necessárias à segurança de determinadas operações de crédito, constituindo
operações tipicamente financeiras e creditícias.
Em relação aos serviços prestados por estas instituições assim
entendeu o STJ:
TRIBUTÁRIO. ISS. SERVIÇOS ACESSORIOS
PRESTADOS POR BANCOS.NÃO INCIDENCIA. LISTA
ANEXA AO DECRETO-LEI N.
406/68.TAXATIVIDADE.OS SERVIÇOS DE
DATILOGRAFIA, ESTENOGRAFIA,
SECRETARIA,EXPEDIENTE ETC. PRESTADOS PELOS
BANCOS NÃO POSSUEM CARATER AUTONOMO,
POIS INSEREM-SE NO ELENCO DAS OPERAÇÕES
BANCARIAS ORIGINARIAS, EXECUTADAS, DE
FORMA ACESSÓRIA, NO PROPOSITO DEVIABILIZAR
O DESEMPENHO DAS ATIVIDADES-FIM INERENTES
ASINSTITUIÇÕES FINANCEIRAS.A LISTA DE
SERVIÇOS ANEXA AO DECRETO-LEI N. 406/68 E
TAXATIVA,NÃO SE ADMITINDO, EM RELAÇÃO A ELA,
O RECURSO A ANALOGIA,VISANDO A ALCANÇAR
HIPOTESES DE INCIDENCIA DIVERSAS DAS
52
ALICONSIGNADAS.PRECEDENTES.RECURSO
IMPROVIDO, SEM DISCREPANCIA.
(STJ - REsp: 69986 SP 1995/0035020-3, Relator: Ministro
DEMÓCRITO REINALDO, Data de Julgamento:
02/10/1995, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação:
DJ 30/10/1995 p. 36734)
A análise dos itens 95 e 96 (lista anexa à Lei Complementar 56/87)
levou o STJ à conclusão de que o ISSQN se aplica aos serviços de cobrança
de títulos descontados, não tendo incidência sobre as atividades de abertura
de crédito, de adiantamento a depositante, de compensação de cheques e de
títulos, e de saques em caixa eletrônico.
Entende também o STJ:
Tributário. ISS. Embargos de Declaração. Violação do art.
535, I e II do CPC. Comissões e corretagens de câmbio.
Atividades de intermediação. Ausência de previsão na
listagem da Lei Complementar 56/87. Serviço de
expediente”. (....)
“2. O ISS não incide sobre os serviços bancários de
comissões e corretagens de câmbio, assim como em
operações financeiras de intermediação nominadas
FIRCE 26, porquanto tais atividades não se encontram
relacionadas nos itens 95 e 96 da Lei Complementar nº.
56/87”. “3. Os serviços de expediente inserem-se no
procedimento ordinário das operações bancárias, sendo
serviços auxiliares e acessórios, não revestidos, portanto,
de autonomia necessária para figurar serviço
individualizável e, por conseqüência, constituir-se fato
53
gerador do ISS”. (REsp. 347.046-RJ – Rel. Min. João
Otávio Noronha – j. 23.4.04 – DJU 1 de 3.5.04)
A Associação Mineira de Municípios – AMM, realizou um encontro
de prefeitos e procuradores para debater o Tema ISSQN BANCÁRIO –
CONSULTA E UTILIZAÇÃO DE SISTEMA ELETRÔNICO DE DECLARAÇÃO.
Visando a aumentar a arrecadação dos Municípios, com uma nova
fonte de tributação, utilizando-se da interpretação da lista anexa a Lei
Complementar nº. 116/2003, a associação realizou esse encontro entre
Prefeitos e Procuradores para debater o ISSQN Bancário.
Entre outros assuntos, foi mencionado que, com a utilização de um
sistema informativo de declaração do Imposto Sobre Serviços – ISSQN,
viabiliza-se uma perfeita identificação de receitas de serviços, tendo em vista o
alto grau de dificuldade técnica envolvida no exame da contabilidade das
Instituições Financeiras que executam serviços bancários.
O sistema seria desenvolvido para captação de informações sobre
serviços prestados pelas entidades do sistema financeiro (bancário),
respeitando o sigilo fiscal e bancário.
O sistema abrange dois módulos: I - o módulo administração,
instalado na Secretária de Fazenda para o recebimento das declarações e sua
fiscalização, criando-se uma pré-auditoria com emissão de notificações e autos
de infração, se necessário; II - o módulo de declaração, instalado na agência
bancária, a fim de obter a informação correta dos serviços prestados no
período, de acordo com as contas da COSIF, e itens constantes na lista anexa
à Lei Complementar nº. 116/03, bem como dos serviços tomados por terceiros
pelas Instituições Financeiras.
O Superior Tribunal de Justiça aprovou a Súmula 424 que versa
sobre a legitimidade da incidência do Imposto Sobre Serviço, em serviços
bancários.
Vejamos a referida Súmula:
54
É legítima a incidência de ISS sobre os serviços
bancários congêneres da lista anexa ao DL n. 406/1968 e
à LC n. 56/1987.
De acordo com o STJ, a lista de serviços que recebem agora
incidência do ISSQN consta no anexo ao Decreto-Lei nº. 406/68, que se refere
a normas gerais de direito financeiro aplicáveis aos impostos sobre operações
relativas à circulação de mercadorias e sobre serviços de qualquer natureza.
Para os Ministros, a cobrança é legitima porque existe a
possibilidade de interpretação extensiva de cada item para abarcar serviços
congêneres aos elencados pelo Decreto-Lei nº. 406/68.
A incidência de ISSQN, conforme determina a Súmula, também vale
para a Lei Complementar 56/87, que deu nova redação à lista de serviços do
referido Decreto.
O entendimento pacificado pelo STJ já estava sendo referendado,
desde 2007, no julgamento de diversos processos no Tribunal. No ano
mencionado (2007), o Banco Santander Meridional interpôs um Resp. com o
objetivo de mudar um acórdão do Tribunal de Justiça do Paraná sobre o tema.
O banco ofereceu Embargos à execução fiscal apresentada pelo
Município paranaense de União da Vitória, decorrente de auto de infração pelo
não recolhimento de ISSQN incidente sobre operações contidas na lista de
serviços do Decreto Lei.
O Santander argumentou, entre outros motivos, que houve nulidade
do título executivo e decadência da exigência fiscal referente ao período de
dezembro de 1993 a agosto de 1994, para o Ministro relator do recurso no
STJ, Luiz Fux, que negou o pedido, a jurisprudência é no sentido de que a lista
de serviços anexa ao Decreto-Lei nº. 406/68, para efeito de incidência de
ISSQN sobre serviços bancários, é taxativa, admitindo-se, contudo, uma leitura
extensiva de cada item, a fim de enquadrar algum serviço idêntico aos
expressamente previstos.
55
Em outro caso, a decisão no mesmo sentido. No próprio STJ, o
Banco do Brasil interpôs uma ação contra acórdão do Tribunal de Justiça
daquele estado.
O banco contestou tarifas cobradas pelo Município de Curitiba,
alegando que os valores diziam respeito a custos operacionais não
contemplados na lista de serviços anexa ao Decreto-Lei nº. 406/68.
A relatora do recurso, Ministra Eliana Calmon, que rejeitou o pedido
do Banco do Brasil, destacou que é pacificadora entre as duas Turmas da
Primeira Seção do STJ, o mesmo entendimento referente à incidência do
ISSQN sobre serviços bancários.
Vejamos:
TRIBUTÁRIO – SERVIÇOS BANCÁRIOS – ISS – LISTA
DE SERVIÇOS – TAXATIVIDADE – INTERPRETAÇÃO
EXTENSIVA. 1. A jurisprudência desta Corte firmou
entendimento de que é taxativa a Lista de Serviços
anexa ao Decreto-lei 406/68, para efeito de incidência
de ISS, admitindo-se, aos já existentes apresentados
com outra nomenclatura, o emprego da interpretação
extensiva para serviços congêneres. 2. Recurso
especial não provido. Acórdão sujeito ao regime do
art. 543-C do CPC e da Resolução STJ 08/08.
(STJ , Relator: Ministra ELIANA CALMON, Data de
Julgamento: 23/09/2009, S1 - PRIMEIRA SEÇÃO)
PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. ISS. ALEGADA
NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO. VALIDADE DA
CDA. IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS DE QUALQUER
NATUREZA - ISS. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA.
56
ENQUADRAMENTO DE ATIVIDADE NA LISTA DE
SERVIÇOS ANEXA AO DECRETO-LEI Nº 406/68.
ANALOGIA. IMPOSSIBILIDADE. INTERPRETAÇÃO
EXTENSIVA. POSSIBILIDADE. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. FAZENDA PÚBLICA VENCIDA.
FIXAÇÃO. OBSERVAÇÃO AOS LIMITES DO § 3.º DO
ART. 20 DO CPC. IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO EM
SEDE DE RECURSO ESPECIAL. REDISCUSSÃO DE
MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. SÚMULA 07 DO STJ.
DECADÊNCIA DO DIREITO DE O FISCO CONSTITUIR
O CRÉDITO TRIBUTÁRIO. INOCORRÊNCIA. ARTIGO
173, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CTN. 1. O Imposto sobre
Serviços é regido pelo DL 406/68, cujo fato gerador é a
prestação de serviço constante na lista anexa ao referido
diploma legal, por empresa ou profissional autônomo,
com ou sem estabelecimento fixo. 2. A lista de serviços
anexa ao Decreto-lei n.º 406/68, para fins de incidência
do ISS sobre serviços bancários, é taxativa, admitindo-se,
contudo, uma leitura extensiva de cada item, no afã de se
enquadrar serviços idênticos aos expressamente
previstos (Precedente do RE 361829/RJ">STF: RE
361829/RJ, publicado no DJ de 24.02.2006; Precedentes
do STJ: AgRg no Ag 770170/SC, publicado no DJ de
26.10.2006; e AgRg no Ag 577068/GO, publicado no DJ
de 28.08.2006). 3. Entrementes, o exame do
enquadramento das atividades desempenhadas pela
instituição bancária na Lista de Serviços anexa ao
Decreto-Lei 406/68 demanda o reexame do conteúdo
fático probatório dos autos, insindicável ante a incidência
da Súmula 7/STJ (Precedentes do STJ: AgRg no Ag
770170/SC, publicado no DJ de 26.10.2006; e REsp
445137/MG, publicado no DJ de 01.09.2006). 4. Deveras,
57
a verificação do preenchimento dos requisitos em
Certidão de Dívida Ativa demanda exame de matéria
fático-probatória, providência inviável em sede de
Recurso Especial (Súmula 07/STJ). 5. Assentando a
Corte Estadual que" na Certidão de Dívida Ativa consta o
nome do devedor, seu endereço, o débito com seu valor
originário, termo inicial, maneira de calcular juros de
mora, com seu fundamento legal (Código Tributário
Municipal, Lei n.º 2141/94; 2517/97, 2628/98 e 2807/00) e
a descrição de todos os acréscimos "e que"os demais
requisitos podem ser observados nos autos de processo
administrativo acostados aos autos de execução em
apenso, onde se verificam: a procedência do débito
(ISSQN), o exercício correspondente (01/12/1993 a
31/10/1998), data e número do Termo de Início de Ação
Fiscal, bem como do Auto de Infração que originou o
débito", não cabe ao Superior Tribunal de Justiça o
reexame dessa inferência. 6. Vencida a Fazenda Pública,
a fixação dos honorários advocatícios não está adstrita
aos limites percentuais de 10% e 20%, podendo ser
adotado como base de cálculo o valor dado à causa ou à
condenação, nos termos do artigo 20, § 4º, do CPC
(Precedentes: AgRg no AG 623.659/RJ, publicado no DJ
de 06.06.2005; e AgRg no REsp 592.430/MG, publicado
no DJ de 29.11.2004). 7. A revisão do critério adotado
pela Corte de origem, por eqüidade, para a fixação dos
honorários, encontra óbice na Súmula 07, do STJ, e no
entendimento sumulado do Pretório Excelso:"Salvo limite
legal, a fixação de honorários de advogado, em
complemento da condenação, depende das
circunstâncias da causa, não dando lugar a recurso
extraordinário"(Súmula 389/STF). 8. O Código Tributário
58
Nacional, ao dispor sobre a decadência, causa extintiva
do crédito tributário, assim estabelece em seu artigo
173:"Art. 173. O direito de a Fazenda Pública constituir o
crédito tributário extingue-se após 5 (cinco) anos,
contados: I - do primeiro dia do exercício seguinte àquele
em que o lançamento poderia ter sido efetuado; II - da
data em que se tornar definitiva a decisão que houver
anulado, por vício formal, o lançamento anteriormente
efetuado. Parágrafo único. O direito a que se refere este
artigo extingue-se definitivamente com o decurso do
prazo nele previsto, contado da data em que tenha sido
iniciada a constituição do crédito tributário pela
notificação, ao sujeito passivo, de qualquer medida
preparatória indispensável ao lançamento."9. A
decadência ou caducidade, no âmbito do Direito
Tributário, importa no perecimento do direito potestativo
de o Fisco constituir o crédito tributário pelo lançamento,
e, consoante doutrina abalizada, encontra-se regulada
por cinco regras jurídicas gerais e abstratas, quais sejam:
(i) regra da decadência do direito de lançar nos casos de
tributos sujeitos ao lançamento de ofício, ou nos casos
dos tributos sujeitos ao lançamento por homologação em
que o contribuinte não efetua o pagamento antecipado;
(ii) regra da decadência do direito de lançar nos casos em
que notificado o contribuinte de medida preparatória do
lançamento, em se tratando de tributos sujeitos a
lançamento de ofício ou de tributos sujeitos a lançamento
por homologação em que inocorre o pagamento
antecipado; (iii) regra da decadência do direito de lançar
nos casos dos tributos sujeitos a lançamento por
homologação em que há parcial pagamento da exação
devida; (iv) regra da decadência do direito de lançar em
59
que o pagamento antecipado se dá com fraude, dolo ou
simulação, ocorrendo notificação do contribuinte acerca
de medida preparatória; e (v) regra da decadência do
direito de lançar perante anulação do lançamento anterior
(In: Decadência e Prescrição no Direito Tributário, Eurico
Marcos Diniz de Santi, 3ª Ed., Max Limonad, págs.
163/210). 10. Nada obstante, as aludidas regras
decadenciais apresentam prazo qüinqüenal com dies a
quo diversos. 11. Assim, conta-se do"do primeiro dia do
exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia
ter sido efetuado"(artigo 173, I, do CTN), o prazo
qüinqüenal para o Fisco constituir o crédito tributário
(lançamento de ofício), quando não prevê a lei o
pagamento antecipado da exação ou quando, a despeito
da previsão legal, o mesmo inocorre, sem a constatação
de dolo, fraude ou simulação do contribuinte, bem como
inexistindo notificação de qualquer medida preparatória
por parte do Fisco. No particular, cumpre enfatizar que"o
primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o
lançamento poderia ter sido efetuado"corresponde,
iniludivelmente, ao primeiro dia do exercício seguinte à
ocorrência do fato imponível, sendo inadmissível a
aplicação cumulativa dos prazos previstos nos artigos
150, § 4º, e 173, do CTN, em se tratando de tributos
sujeitos a lançamento por homologação, a fim de
configurar desarrazoado prazo decadencial decenal. 12.
Por seu turno, nos casos em que inexiste dever de
pagamento antecipado (tributos sujeitos a lançamento de
ofício) ou quando, existindo a aludida obrigação (tributos
sujeitos a lançamento por homologação), há omissão do
contribuinte na antecipação do pagamento, desde que
inocorrentes quaisquer ilícitos (fraude, dolo ou
60
simulação), tendo sido, contudo, notificado de medida
preparatória indispensável ao lançamento, fluindo o termo
inicial do prazo decadencial da aludida notificação (artigo
173, parágrafo único, do CTN), independentemente de ter
sido a mesma realizada antes ou depois de iniciado o
prazo do inciso I, do artigo 173, do CTN. 13. Por outro
lado, a decadência do direito de lançar do Fisco, em se
tratando de tributo sujeito a lançamento por homologação,
quando ocorre pagamento antecipado inferior ao
efetivamente devido, sem que o contribuinte tenha
incorrido em fraude, dolo ou simulação, nem sido
notificado pelo Fisco de quaisquer medidas preparatórias,
obedece a regra prevista na primeira parte do § 4º, do
artigo 150, do Codex Tributário, segundo o qual, se a lei
não fixar prazo a homologação, será ele de cinco anos, a
contar da ocorrência do fato gerador:"Neste caso,
concorre a contagem do prazo para o Fisco homologar
expressamente o pagamento antecipado,
concomitantemente, com o prazo para o Fisco, no caso
de não homologação, empreender o correspondente
lançamento tributário. Sendo assim, no termo final desse
período, consolidam-se simultaneamente a homologação
tácita, a perda do direito de homologar expressamente e,
conseqüentemente, a impossibilidade jurídica de lançar
de ofício"(In Decadência e Prescrição no Direito
Tributário, Eurico Marcos Diniz de Santi, 3ª Ed., Max
Limonad , pág. 170). 14. A notificação do ilícito tributário,
medida indispensável para justificar a realização do
ulterior lançamento, afigura-se como dies a quo do prazo
decadencial qüinqüenal, em havendo pagamento
antecipado efetuado com fraude, dolo ou simulação, regra
que configura ampliação do lapso decadencial, in casu,
61
reiniciado. Entrementes,"transcorridos cinco anos sem
que a autoridade administrativa se pronuncie, produzindo
a indigitada notificação formalizadora do ilícito, operar-se-
á ao mesmo tempo a decadência do direito de lançar de
ofício, a decadência do direito de constituir juridicamente
o dolo, fraude ou simulação para os efeitos do art. 173,
parágrafo único, do CTN e a extinção do crédito tributário
em razão da homologação tácita do pagamento
antecipado"(Eurico Marcos Diniz de Santi, in obra citada,
pág. 171). 15. Por fim, o artigo 173, II, do CTN, cuida da
regra de decadência do direito de a Fazenda Pública
constituir o crédito tributário quando sobrevém decisão
definitiva, judicial ou administrativa, que anula o
lançamento anteriormente efetuado, em virtude da
verificação de vício formal. Neste caso, o março
decadencial inicia-se da data em que se tornar definitiva a
aludida decisão anulatória. 16. In casu: (a) cuida-se de
tributo sujeito a lançamento por homologação; (b) a
obrigação ex lege de pagamento antecipado do ISSQN
pelo contribuinte não restou adimplida, no que concerne
aos fatos geradores ocorridos no período de dezembro de
1993 a outubro de 1998, consoante apurado pela
Fazenda Pública Municipal em sede de procedimento
administrativo fiscal; (c) a notificação do sujeito passivo
da lavratura do Termo de Início da Ação Fiscal, medida
preparatória indispensável ao lançamento direto
substitutivo, deu-se em 27.11.1998; (d) a instituição
financeira não efetuou o recolhimento por considerar
intributáveis, pelo ISSQN, as atividades apontadas pelo
Fisco; e (e) a constituição do crédito tributário pertinente
ocorreu em 01.09.1999. 17. Desta sorte, a regra
decadencial aplicável ao caso concreto é a prevista no
62
artigo 173, parágrafo único, do Codex Tributário,
contando-se o prazo da data da notificação de medida
preparatória indispensável ao lançamento, o que sucedeu
em 27.11.1998 (antes do transcurso de cinco anos da
ocorrência dos fatos imponíveis apurados), donde se
dessume a higidez dos créditos tributários constituídos
em 01.09.1999. 18. Recurso especial parcialmente
conhecido e desprovido.
(STJ - REsp: 766050 PR 2005/0113794-7, Relator:
Ministro LUIZ FUX, Data de Julgamento: 28/11/2007, S1 -
PRIMEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: DJ 25/02/2008
p. 265)
4.2 – A Responsabilidade Fiscal
A Lei de Responsabilidade Fiscal, Lei Complementar n° 101/00, abriu
uma nova era para a gestão pública municipal, tanto em termos de deveres
como de direitos. Ela estabeleceu, por exemplo, a obrigatoriedade de cobrança
de todos os impostos previstos em Lei pela administração municipal, da qual o
prefeito é o maior responsável. No caso de ineficiência de arrecadação,
previsto por essa legislação, qualquer cidadão pode acionar a justiça contra o
prefeito e até propor a cassação de seu mandato, por motivo de improbidade
administrativa.
Dentro desse contexto, é comum nos municípios brasileiros a falta
de cobrança do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza bancário, que
deve ser pago às prefeituras pelas agências de bancos, representantes
bancários e prestadores de serviço em geral. Nas regiões Norte e Nordestes a
ocorrência desse problema é maior do que em outras regiões. Municípios
paraenses estão jogando fora cerca de R$ 200 milhões por ano, devido à falta
de cobrança desse Imposto dos bancos.
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Geralmente a receita da prefeitura triplica, quando passa a cobrar o
ISSQN bancário com eficiência. Os motivos que levam a essa renúncia fiscal
variam desde o simples desconhecimento da legislação Federal, que
estabelece as obrigações do gestor público em relação à arrecadação de
impostos, até a falta de instrumentos e ferramentas de gestão adequadas para
executar a cobrança.
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CONCLUSÃO
Analisando os pontos estudados na nossa pesquisa observamos que,
sem dúvidas há de se levar em consideração o princípio da legalidade estrita
em relação a instituição e cobrança de tributos.
E diante de tantas controvérsias que pairam em torno do Imposto
Sobre Serviços de Qualquer Natureza, incidente ou não nos serviços
bancários, percebemos que a existe necessidade de sanar ou ao menos
amenizar tais conflitos, tendo em vista que a Lei Complementar nº. 116/03,
possui varias impropriedades, trazendo novas discussões, além das já trazidas
pela Emenda Constitucional nº. 37 de 12 de julho de 2002.
Com toda humildade, temos que a referida Lei (Lei Complementar
nº. 116/03), não é auto aplicativa, uma vez que, de acordo com a disposição
Constitucional, compete aos Municípios instituírem e cobrarem o Imposto
Sobre Serviços de Qualquer Natureza, bem como fixar suas alíquotas.
Ademais, deve-se interpretar o dispositivo legal, levando em
consideração à Lei de Responsabilidade Fiscal, ou seja, a administração
Municipal, deve interpretar e cobrar o ISSQN dos serviços bancários de forma
extensiva e por analogia sim, mesmo que para muitos, esta pratica se
configure em uma tributação aonde não se teria competência, já que é
pertencente a União tributar o IOF, ou então ficaria o prefeito exposto a sofrer
uma sanção por via da referida Lei de Responsabilidade Fiscal.
65
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ALEXANDRE, Ricardo, Direito Tributário Esquematizado, 4 ed. São Paulo,
Método, 2010.
CARVALHO, Paulo de Barros, curso de direito tributário , 22 ed. São Paulo:
Saraiva, 2010.
COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 15 ed. São Paulo:
Saraiva, 2004.
DA CUNHA RIBEIRO FILHO, Alexandre. ISS O Imposto Sobre Serviços. Rio
de Janeiro: Expresso e Cultura, 1972.
DE MATTOS GOMES, Aroldo. O NOVO REGRAMENTO DO ISS EFETUADO
PELA LC 116/2003, São Paulo. São Paulo, 2006.
LOBO, Torres Ricardo, Curso de direito financeiro e tributário, 17ª edição, Rio
de Janeiro, Renovar.
PAULSEN, Leandro, DE MELO SOARES, José Eduardo, Impostos Federais,
Estaduais e Municipais , Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011.
http://www.forumcompetitividade.pa.gov.br
http://www.portalamm.org.br
http://www.jusbrasil.com.br
http://wikipedia.org
htt://www.crc-ce.org.br
66
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
O ISSQN 09
1.1 – Origem 09
1.2 – Princípios Relacionados 10
1.2.1 – O Princípio da Legalidade 10
1.2.2 – O Princípio da Anterioridade 13
1.2.3 – O Princípio da Noventena 15
1.3 – Competência 17
1.4 – Fato Gerador 23
1.5 – Base de Cálculo 28
CAPÍTULO II
O CONTRIBUINTE 31
2.1 – Sujeito Passivo 37
2.2 – Lançamento 39
CAPÍTULO III
OS SERVIÇOS TRIBUTÁVEIS 43
3.1 – A Jurisprudência 45
67
CAPÍTULO IV
AS DIVERGÊNCIAS DO ISSQN 47
4.1 – As Atividades Bancárias e Financeiras 49
4.2 – A Responsabilidade Fiscal 62
CONCLUSÃO 64
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 65
ÍNDICE 66
FOLHA DE AVALIAÇÃO 68
68
FOLHA DE AVALIAÇÃO
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