curso de direito tributário completo leandro paulsen - 2012

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Folha de rosto

Leandro Paulsen

CURSO DEDIREITO

TRIBUTÁRIO

— C O M P L E T O —

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4ª EDIÇÃOrevista, atualizada e ampliada

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Créditos

© Leandro Paulsen, 2012

Direitos desta edição reservados porLivraria do Advogado Editora Ltda.

Rua Riachuelo, 133890010-273 Porto Alegre RS

Fone/fax: [email protected]

www.doadvogado.com.br

_________________________________________________________________________________

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

P332c Paulsen, Leandro

Curso de direito tributário: completo / Leandro Paulsen. 4. ed. rev. atual. e ampl. –Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2012.

ISBN 978-85-7348-783-1

1. Direito tributário. I. Título.

CDU - 336.2

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Sobre o autor

Leandro Paulsen é Professor de Direito Tributário háquinze anos. Atua em cursos de graduação (PUCRS) e de pós-graduação (IBET, LFG, ESMAFE, ESM, UFRGS e PUCRS). ÉDoutor em Direitos e Garantias do Contribuinte pela Univer-sidade de Salamanca (Espanha), Mestre em Direito do Estado eTeoria do Direito pela UFRGS e Especialista em Filosofia eEconomia Política pela PUCRS. É Juiz Federal desde 1993 e,atualmente, titular da 2ª Vara Tributária de Porto Alegre. Atu-ou por quase dois anos como Juiz Auxiliar do SupremoTribunal Federal (2007 e 2010/2011) e por cerca de quatro anoscomo juiz convocado junto ao TRF4 (2003/2007). Foi Pro-curador da Fazenda Nacional (1993).

Para mais informações: www.leandropaulsen.com

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Cortesía intelectual

Escribió ORTEGA, con innegable razón, que la claridades la cortesía intelectual. Claridad en el pensar y clarid-ad en el decir. Nada más difícil, sin embargo, que laclaridad. Referida al pensamiento, obliga a la mente arealizar un esfuerzo supremo dirigido a alcanzar la es-encia de las cosas y a ordenarlas en un sistema; referidaal estilo, obliga al autor a manejar el lenguaje con uncuidado especialísimo, para evitar el vocablo oscuro oequívoco y para captar, cuando sea procedente, la metá-fora oportuna que anima da exposición e ilumina latrayectoria de las ideas.

SAINZ DE BUJANDA

Estudo Preliminar da edição española

da obra de GIANNINI Istituzioni di Diritto Tributário

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Nota à quarta edição

Você, leitor, tem em mãos um curso conciso, mas com-pleto, de Direito Tributário, roteiro ideal para o estudo damatéria. As questões constitucionais, materiais, processuais epenais são expostas aqui em conformidade com a orientaçãopredominante nos tribunais.

Na parte geral, nossa atenção é dedicada aos aspectosconceituais e ao chamado direito constitucional tributário, emque ganham espaço a estrutura do sistema tributário, a com-petência tributária, os princípios tributários e as limitações con-stitucionais ao poder de tributar.

Passamos, então, às normas gerais de direito tributário.Abordamos inicialmente a vigência, a interpretação e a ap-licação da legislação tributária. Logo, enfrentamos a obrigaçãoe o crédito tributário, expondo os tipos de fato gerador e osmodos de formalização do crédito. Estudamos o lançamento, adecadência e a prescrição. A responsabilidade e a substituiçãotambém merecem atenção especial. E não escapam a sus-pensão, a exclusão e a extinção do crédito tributário, tampoucoseus privilégios e garantias.

Já na parte especial, seguimos com a análise dos prin-cipais impostos e contribuições, bem como de algumas taxas.Cuidamos de demonstrar como foram instituídos tais tributos,

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seus fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes, dentreoutros aspectos.

Adiante, dedicamo-nos às questões procedimentais e pro-cessuais, expondo tanto o processo administrativo fiscal comoo processo judicial tributário, ou seja, as diversas ações judiciaisutilizadas pelo Fisco e pelos contribuintes para a satisfação oudefesa dos seus direitos.

Tratamos, igualmente, do chamado direito penaltributário, destacando os diversos crimes, causas suspensivas eextintivas da punibilidade.

Esperamos estar contribuindo para a formação dos profis-sionais das diversas funções jurídicas, ensejando que bem com-preendam e apliquem o Direito Tributário.

Leandro Paulsen

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Capítulo I – Tributação, DireitoTributário e Tributo

1. Origem da tributação e da sua limitação

A necessidade de defesa da liberdade e da propriedadefoi o motor das reações à arbitrariedade do poder.

Destaca-se a “extraordinária precocidade de Portugal eEspanha ao criar os mecanismos jurídicos de limitação dopoder fiscal do rei [...] o Fuero Juzgo, os forais e as cortes sãofontes, instrumentos e instituições iniciais de reconhecimentoda liberdade, de afirmação da necessidade do consentimentodas forças sociais e de limitação do poder tributário, que já

aparecem consolidados no século XII”.1

Em 1215, na Inglaterra, os barões e os religiosos im-puseram a Magna Carta para conter o arbítrio do rei, estabele-cendo a separação de poderes. Quanto à imposição de tributos,consentiram que fossem cobrados de três tributos tradicional-mente admitidos (visando ao resgate do Rei e por força da in-vestidura do primeiro filho como cavaleiro e do matrimônio daprimeira filha), mas estabeleceram que a cobrança de qualqueroutro fosse previamente autorizada por um concílio, incluindo

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o scutage, montante cobrado pela não prestação do serviço mil-

itar.2 3 4

As principais enunciações de direitos também re-stringiram de modo expresso o poder de tributar,condicionando-o à permissão dos contribuintes, mediante rep-resentantes. Tal constou do Statutum de Tallagio non Concedendo,expedido em 1296 por Eduardo I, posteriormente incorporadoà Petition of Rights, de 1628.

A Constituição dos Estados Unidos da América, de 1787,estabeleceu o poder do Congresso – e não do Executivo – paraestabelecer tributos. Senão, vejamos: “The Constitution of the Un-ited States of America ARTICLE I [...] SECTION 8. The Congressshall have the power to lay and collect taxes, duties, imposts and ex-cises, to pay the debts and provide for the common defense, and gener-al welfare of the United States; but all duties, imposts and excises

shall be uniform throughout the United States [...]”.5

Na Declaração francesa dos Direitos do Homem e do Cid-adão, de 1789, resta estampado que os tributos devem ser dis-tribuídos entre os cidadãos e dimensionados conforme as suaspossibilidades, tendo eles o direito de avaliar a necessidade dascontribuições e com elas consentir através de seus represent-

antes.6Passou-se, assim, a compatibilizar a tributação – comopoder do Estado de buscar recursos no patrimônio privado –com o direito de propriedade. As constituições mais recentesenunciam a competência tributária com algum detalhamento eestabelecem limitações ao poder de tributar. Quando uma con-stituição diz quais os tributos que podem ser instituídos, sobque forma e com respeito a quais garantias, sabe-se, a contrariosensu, que o que dali desborda é inválido.

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2. A tributação como instrumento da sociedade

O elenco de competências e o estabelecimento de limit-ações foram vistos, durante muito tempo, como instrumentospara a contenção do poder de tributar do Estado.

Mas tal perspectiva alterou-se ao longo do último século,porquanto não se concebe a tributação senão como instrumentoda própria sociedade para a consecução dos seus objetivos.

Pagar tributo já não é mais uma submissão ao Estado,tampouco um mal necessário. É, isto sim, dever fundamentalde toda pessoa que integra uma sociedade e que, por isso, tem

responsabilidade pela sua organização e manutenção.7

MARCO AURÉLIO GRECO ressalta a importância de seevoluir de uma visão do ordenamento tributário meramenteprotetiva do contribuinte para outra que nele enxergue a viabil-ização das políticas sociais. Transitamos do puro Estado deDireito, em que se opunham nitidamente estado e indivíduo,para um novo Estado, ainda de Direito, mas também Social, en-fim, para um Estado Democrático de Direito, como estampa oart. 1º da nossa Constituição da República. Isso dá lugar a umarealidade que congrega a liberdade com a participação e asolidariedade. Demonstra que Constituição brasileira de 1967foi uma Constituição do estado brasileiro, enquanto a de 1988 éda sociedade brasileira. Naquela, em primeiro lugar estava aorganização do poder; nesta, os direitos fundamentais tem pre-cedência. Naquela, a tributação era ainda foi uma Constituiçãodo Estado brasileiro, em que primeiro se dispunha sobre a es-trutura do poder, seus titulares, suas prerrogativas e sobre osbens públicos para, só então, cuidar da tributação comosimples suporte do estado, aparecendo os direitos fundamen-tais apenas ao seu final, como um resguardo devido à

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sociedade civil. Na Constituição de 1988, a pessoa humana as-sume papel central, enunciando-se, já em seu início, direitosfundamentais e sociais, e funcionalizando-se a tributação medi-ante um novo modo de outorga de competência tributária emque ganha relevância a justificação da tributação em função dasua finalidade.

Aliás, resta clara a concepção da tributação como instru-mento da sociedade quando são elencados os direitos funda-mentais e sociais e estruturado o estado para que mantenha in-stituições capazes de proclamar, promover e assegurar taisdireitos.

E não há mesmo como conceber a liberdade de expressão,a inviolabilidade da intimidade e da vida privada, o exercíciodo direito de propriedade, a garantia de igualdade, a livre inici-ativa, a liberdade de manifestação do pensamento, a livre loco-moção e, sobretudo, a ampla gama de direitos sociais, senão no

bojo de um Estado Democrático de Direito, Social e Tributário.8

Diga-se, ainda, mais: não há direito sem estado, nem estado

sem tributo.9

3. Fiscalidade10 e extrafiscalidade

ALIOMAR BALEEIRO, na sua clássica obra Uma In-trodução à Ciência das Finanças, enumera os recursos ao alcancedos governantes: “Para auferir o dinheiro necessário à despesapública, os governos, pelo tempo afora, socorrem-se de unspoucos meios universais: a) realizam extorsões sobre outrospovos ou deles recebem doações voluntárias; b) recolhem as

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rendas produzidas pelos bens e empresas do Estado; c) exigemcoativamente tributos ou penalidades; d) tomam ou forçamempréstimos; e) fabricam dinheiro metálico ou de papel. Todosos processos de financiamento do Estado se enquadram nestescinco meios conhecidos há séculos. Essas fontes de recursosoferecem méritos desiguais e assumem importância maior ou

menor, conforme a época e as contingências”.11

Os tributos figuram, na Constituição Federal brasileira,como meios para a obtenção de recursos por parte dos entespolíticos. Ademais, como na quase totalidade dos Estadosmodernos, a tributação predomina como fonte de receita, demodo que se pode falar num Estado Fiscal ou num EstadoTributário.

Os tributos são, efetivamente, a principal receita fin-anceira do Estado, classificando-se como receita derivada(porque advinda do patrimônio privado) e compulsória (umavez que, decorrendo de lei, independem da vontade das pess-oas de contribuírem para o custeio da atividade estatal).

Possuem, portanto, em geral, caráter predominantementefiscal, devendo pautar-se, essencialmente, pelos princípios dasegurança, da igualdade e da capacidade contributiva.

Mas, por onerarem determinadas situações ou operações,acabam por influenciar as escolhas dos agentes econômicos,tendo, pois, também efeitos extrafiscais.

Presentes, normalmente, tanto efeitos fiscais como ex-trafiscais, pode, inclusive, resultar difícil classificar um tributo

em uma das categorias.12

Diz-se que se trata de um tributo com finalidade extrafis-cal quando os efeitos extrafiscais são não apenas uma decorrên-cia secundária da tributação, mas seu efeito principal, delibera-

damente pretendido pelo legislador13 que se utiliza do tributo

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como instrumento para dissuadir ou estimular determinadas

condutas.14

Tal qualificação se dá, pois, pela predominância do objet-

ivo extrafiscal.15

Há dispositivos constitucionais que autorizam de modoinequívoco a utilização extrafiscal de tributos:

• na outorga de competência relativa à contribuição de in-tervenção no domínio econômico (CIDE), quando restaevidente o intuito de, através da tributação, viabilizarpolíticas econômicas ou influenciar no sentido da ob-tenção de efeitos econômicos desejados;

• nas exceções às anterioridades de exercício e/ou non-agesimal mínima e nas atenuações à legalidade re-lativamente a impostos capazes de atuar como regu-ladores da produção de bens (IPI), do comércio inter-nacional (II e IE) e da demanda monetária (IOF),atribuindo-se ao Executivo prerrogativas para a ágil al-teração da legislação respectiva;

• na previsão de que os impostos sobre a propriedadepredial e territorial urbana (IPTU) e territorial rural(ITR) sejam utilizados de modo a induzir ocumprimento da função social da propriedade (arts.170, III, e 182, § 4º, II);

• na previsão de benefícios fiscais de incentivo regional(art. 151, I);

• na determinação de estímulo ao cooperativismo (arts.146, III, c, e 174, § 2º);

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• na determinação de tratamento diferenciado e favore-cido às microempresas e às empresas de pequeno porte(art. 146, III, d).

Ademais, poderia o legislador, por exemplo, para pro-mover a saúde, direito de todos e dever do Estado (art. 196 daCF), isentar os hospitais da COFINS (contribuição para a segur-idade social que incide sobre a receita) ou isentar a produçãode remédios do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados).

O STF manifestou-se no sentido da validade de incentivosfiscais concedidos a empresas que contratam empregados commais de quarenta anos, de modo a estimular tal conduta por

parte dos contribuintes,16 bem como de desconto do IPVA acondutores que não tenham cometido infrações de trânsito, in-

centivando os contribuintes a serem bons motoristas.17

O controle da validade da tributação extrafiscal envolve,em primeiro lugar, a análise da concorrência das competênciasadministrativa (para buscar o fim social ou econômico visado)e tributária (para instituir a espécie tributária e para gravar ariqueza alcançada pela norma tributária impositiva) do entepolítico e, em segundo lugar, a análise da adequação da trib-utação para influir no sentido pretendido, ou seja, da sua eficá-cia potencial para dissuadir as atividades indesejadas ou de es-

timular as atividades ideais.18

4. Direito Tributário

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A submissão do Estado ao Direito permitiu que se colo-casse a tributação no âmbito das relações jurídicas obrigacion-ais, disciplinada mediante o estabelecimento das prerrogativasde cada parte, quais sejam, o Estado credor e o contribuinte de-vedor. E isso não apenas sob uma perspectiva estática, mastambém dinâmica, abrangendo tanto as questões materiaiscomo as garantias formais, procedimentais e processuais.

Mas a simples outorga de competências, a enunciação delimitações e a compreensão de que a tributação se dá conformeo Direito não implicou, por si só, a possibilidade de se falarpropriamente em um Direito Tributário.

A arrecadação tributária, durante muito tempo, foi objetoexclusivo da ciência das finanças e, no âmbito jurídico, doDireito Administrativo, que disciplinava as coisas do Estado.Posteriormente, tivemos a emancipação do Direito Financeirocomo disciplina a demandar cuidados específicos,identificando-se princípios próprios e produzindo-se legislaçãoespecial. Apenas no último século é que se passou a ter umtratamento sistemático específico para as questões atinentes àtributação.

MARCO AURÉLIO GRECO destaca que “O DireitoTributário é, talvez, o único ramo do Direito com data de nasci-mento definida. Embora, antes disso, existam estudos sobretributação, especialmente no âmbito da Ciência das Finanças,pode-se dizer que foi com a edição da Lei Tributária Alemã de1919 que o Direito Tributário começou a ganhar uma conform-ação jurídica mais sistematizada. Embora o tributo, em si, sejafigura conhecida pela experiência ocidental há muitos séculos,só no século XX seu estudo ganhou uma disciplina abrangente,coordenada e com a formulação de princípios e conceitos bási-cos que o separam da Ciência das Finanças, do Direito Fin-

anceiro e do Administrativo”.19 20 21

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No Brasil, foi com a Emenda Constitucional 18/65 que,pela primeira vez, se teve estruturado um sistema tributário,logo em seguida surgindo o Código Tributário Nacional, de1966, cujo projeto foi apresentado ainda no exercício da com-petência atribuída à União pela Constituição de 1946 de legislarsobre Direito Financeiro.

5. Relação com outras disciplinas jurídicas

O Direito Tributário guarda íntima relação com quase to-dos os ramos do direito. E, como todos os outros, é parte doSistema Jurídico. Aliás, há muito já se desmitificou a ideia deque se poderia ter qualquer ramo marcado por uma autonomia

que se pudesse confundir com isolamento ou independência.22

O direito é um só, ainda que contemple tratamento específico

das diversas áreas por ele regidas.23

O domínio do Direito Constitucional é fundamental paraa compreensão do Direito Tributário, absolutamente condicion-ado constitucionalmente no que diz respeito às possibilidadesde tributação e ao modo de tributar, bem como aos princípiosque regem a tributação. Temas como o sigilo bancário, o direitode petição, o direito a certidões e as cláusulas pétreas reper-cutem frequentemente na esfera tributária. A própria consider-ação da obrigação de pagar tributo como dever fundamental ea projeção do Estado Social e da solidariedade para o campotributário evidenciam as relações entre o Direito Constitucionale o Direito Tributário. A legislação tributária tem de ser recon-duzida ao Texto Constitucional para a análise da sua constitu-cionalidade, para construção das interpretações e de aplicações

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válidas. São, pois, de elevada importância os textos de Direito

Constitucional Tributário.24

O Direito Civil projeta-se com evidência para o âmbitotributário já quando da análise das normas de competência, emque se tem de considerar na sua própria dimensão os conceitos,formas e institutos de direito privado, conforme orientação ex-pressa do próprio art. 110 do CTN. Ademais, o tributo éobrigação pecuniária, servindo-lhe de referência toda a discip-lina das obrigações.

Revela-se, ainda, um Direito Administrativo Tributário,porquanto a tributação é exercida pelo estado, sendo o tributocobrado mediante atividade administrativa plenamente vincu-lada. Toda a temática dos atos administrativas, do exercício dopoder de polícia e, ainda, do processo administrativo se projetapara o Direito Tributário com tratamento específico.

O Direito Financeiro, por sua vez, guarda relação estreitacom o Direito Tributário. E isso principalmente em razão dafuncionalização da tributação, a exigir a análise da finalidadequando da instituição das contribuições e empréstimos com-pulsórios, bem como da efetiva destinação do seu produto,como critério de validação constitucional de tais tributos.

O Direito Comercial mantém relação íntima com o DireitoTributário, envolvendo os tipos de sociedade, a responsabilid-ade dos sócios, dos representantes e dos adquirentes de fundode comércio, a apuração do lucro, a função social da empresa, ointuito negocial, os diversos contratos, a falência e a recuper-ação judicial.

O Direito do Trabalho igualmente aparece com frequên-cia nas lides tributárias, pois, da caracterização ou não de re-lação de emprego, depende a incidência de contribuições pre-videnciárias sobre a folha ou a incidência de contribuiçõessobre o pagamento a autônomos, bem como, da caracterização

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ou não de determinadas verbas como salariais ou indenizatóri-as, depende a incidência de imposto de renda. Diga-se, ainda,que o inciso VIII do art. 114 da CF, acrescentado pela EC 45/04,determina que a Justiça do Trabalho execute, de ofício, ou seja,por iniciativa própria, as contribuições previdenciárias decor-rentes das sentenças que proferir, de modo que, nos autos dareclamatória trabalhista, são apuradas e exigidas as con-tribuições previdenciárias devidas pela empresa como con-tribuinte e como substituta tributária do empregado.

O Direito Internacional ganha relevo em face dos tratadose convenções internacionais em matéria tributária, estabele-cendo mercados comuns (como a União Europeia e o Mercosul)ou evitando a bitributação em matéria de imposto de renda(como a Convenção Brasil Suécia para evitar a dupla trib-utação), e da extraterritorialidade estabelecida para alguns trib-

utos federais.25 Isso sem falar no acordo sobre subsídios e me-didas compensatórias no âmbito da Organização Mundial do

Comércio (OMC).26

O Direito Processual Civil também se apresenta intima-mente relacionado com o Direito Tributário como instrumentotanto para a satisfação dos créditos do fisco como para a pro-teção, defesa e ressarcimento dos contribuintes. Há o que sepode chamar de um Direito Processual Tributário, em que in-úmeras ações assumem contornos específicos, como é o caso daexecução fiscal e da ação cautelar fiscal, de um lado, e domandado de segurança, da ação anulatória, da ação declar-atória, da ação de repetição de indébitos tributários, da ação deconsignação em pagamento e da medida cautelar de caução, deoutro.

O Direito Penal mantém relações estreitas com o DireitoTributário como decorrência da criminalização de diversas con-dutas vinculadas ao descumprimento de obrigações tributárias,

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de que é exemplo o descaminho e a apropriação indébita devalores retidos pelo substituto tributário e não recolhidos aoFisco. Ademais, seus princípios e institutos contribuem para acompreensão dos dispositivos da legislação tributária que im-põem penalidades, como multas e perdimento de bens.

6. Relação com a economia e com acontabilidade

O problema central da Economia é geração de riquezanum contexto de bens escassos e aplicações alternativas. As re-lações do Direito Tributário com a economia são intensas. Atributação implica custo para a atividade econômica, sendo quea carga e os benefícios tributários têm efeitos sobre o seu livreexercício, podendo causar violação à isonomia ou prevenirdesequilíbrios de concorrência como no caso dos mecanismospara onerar determinadas importações de modo a evitar dump-

ing.27 A complexidade da legislação tributária, ademais, influi

nos custos de transação.28 Isso sem falar que a desvalorizaçãoda moeda tem efeitos sobre a carga tributária. São, assim, in-úmeros os pontos em que a Economia e o Direito Tributário setocam intimamente.

A Contabilidade permite que se tenha transparênciaquanto às operações e à situação patrimonial das empresas,fornecendo elementos para a análise do seu desempenho e paraa gestão e planejamento das suas atividades, tenha fins lucrat-ivos ou sociais. Interessa, assim, num primeiro momento, aosadministradores, aos sócios e ao mercado. Mas também

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constitui ferramenta indispensável para a tributação, per-mitindo a identificação da ocorrência de fatos geradores e o di-mensionamento dos tributos devidos. Inúmeros conceitos con-tábeis são recorrentes na legislação tributária, como regimes decompetência e de caixa, lucro líquido, patrimônio líquido, fat-uramento etc.

É importante considerar, contudo, que há ajustes parafins de tributação, como no caso do Imposto sobre a Renda daPessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro(CSL), que não incidem propriamente sobre o lucro líquido(lucro contábil) da empresa, mas sobre o lucro real e o lucroajustado, obtidos mediante adições, exclusões e compensaçõesdeterminadas pela legislação tributária.

Além disso, como o objeto da tributação é a riqueza reve-ladora de capacidade contributiva, sob essa perspectiva é queprecisam ser consideradas as bases econômicas. Daí por quenem tudo o que contabilmente é considerado receita, por exem-plo, pode sê-lo para fins de tributação. JOSÉ ANTÔNIOMINATEL destaca que “[...] há equívoco nessa tentativa gener-alizada de tomar o registro contábil como o elemento definidorda natureza dos eventos registrados. O conteúdo dos fatos rev-ela a natureza pela qual espera-se sejam retratados, não o con-

trário”.29

7. Conceito de tributo

A Constituição Federal, ao estabelecer as competênciastributárias, as limitações ao poder de tributar e a repartição dereceitas tributárias, permite que se extraia do seu próprio texto

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qual o conceito de tributo por ela considerado.30 Cuida-se deprestação em dinheiro exigida compulsoriamente pelos entespolíticos de pessoas físicas ou jurídicas, com ou sem promessade devolução, forte na ocorrência de situação estabelecida porlei que revele sua capacidade contributiva ou sua vinculação aatividade estatal que lhe diga respeito diretamente, com vista àobtenção de recursos para o financiamento geral do Estado oupara o financiamento de atividades ou fins específicos realiza-dos e promovidos pelo próprio Estado ou por terceiros no in-teresse público.

Tais características se evidenciam quando da leitura, noTexto Constitucional, do Capítulo “Do Sistema TributárioNacional”.

A outorga de competência se dá para que os entes políti-cos obtenham receita através da instituição de impostos (arts.145, I, 153, 154, 155 e 156), de taxas (arts. 145, II, e 150, V), decontribuições de melhoria (art. 145, III), de empréstimos com-pulsórios (art. 148) e de contribuições especiais (arts. 149 e 195).Em todas as normas ali existentes, verifica-se que estamos cuid-ando de obrigações em dinheiro, tanto que há diversas refer-ências à base de cálculo e à alíquota, bem como à distribuiçãode receitas e reserva de percentuais do seu produto para ap-licação em tais ou quais áreas.

Tributa-se porque há a necessidade de recursos paramanter as atividades a cargo do Poder Público ou, ao menos,atividades que são do interesse público, ainda que desenvolvi-das por outros entes.

Obrigação que não seja pecuniária, como a de prestar ser-viço militar obrigatório, de trabalhar no Tribunal do Júri ou naseleições, não constitui tributo. Mesmo aquelas obrigações rela-cionadas com a tributação e, inclusive, alcançadas pela denom-inação de obrigações tributárias, conforme a dimensão

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conferida ao termo pelo art. 113 do Código Tributário Nacion-al, mas que sejam de fazer, não fazer ou de tolerar, como asobrigações acessórias de prestar Declaração de Ajuste do Im-posto de Renda, de não proceder ao transporte de mercadoriadesacompanhada de nota e de admitir a presença de auditorfiscal e a análise dos livros fiscais, não se confundem com aobrigação de pagar tributo. De outro lado, porém, o fato de seestar diante de obrigação pecuniária estabelecida em lei, nãorevela, por si só, sua natureza tributária, pois esta pressupõeque não haja qualquer concorrência da vontade do con-tribuinte, ou seja, que se qualifique como receita públicacompulsória.

O caráter compulsório do tributo, aliás, resta evidente namedida em que a Constituição coloca a lei, que a todos obriga,como fonte da obrigação tributária. De fato, o art. 150, I, daConstituição Federal exige que a instituição e a majoração ostributos sejam estabelecidas por lei, o que revela a sua naturezacompulsória de obrigação ex lege, marcada pela generalidade ecogência, independente da concorrência da vontade do sujeitopassivo quanto à constituição da relação jurídica. A adequadaconsideração do traço da compulsoriedade faz com que não secaracterizem como tributárias as receitas patrimoniais relativasao uso ou à exploração de bens públicos em caráter privado(taxa de ocupação de terreno de marinha e compensação fin-anceira pela exploração de recursos minerais), porquanto,nestes casos, não há compulsoriedade na constituição do vín-culo, mas adesão a um regime remuneratório.

Vê-se, ainda, que a outorga de competência tendo comoreferência simples manifestações de riqueza do contribuinte(critério da base econômica na distribuição das competências),serviços específicos e divisíveis prestados pelos entes políticos,exercício efetivo do poder de polícia, realização de obra queimplique riqueza para os proprietários de imóveis ou, ainda,

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em face da necessidade de buscar meios para custear determin-adas atividades vinculadas a finalidades específicas previstasno texto constitucional. As diversas espécies tributárias nãoguardam nenhuma relação com o cometimento de ilícitos peloscontribuintes. Daí se extrai, pois, a noção de que tributo nãoconstitui sanção de ato ilícito.

Por isso, não há que se confundir o tributo, em si, com areceita, também derivada e compulsória, que são as multas porprática de ato ilícito, fundadas no poder de punir, e não nopoder fiscal. Isso sem prejuízo de que as multas pelo des-cumprimento da legislação tributária, embora não constituindotributos, sejam consideradas, por dispositivo expresso do CTN,obrigação tributária principal, ao lado do tributo, isso para quesejam submetidos, tanto o tributo, como as multas tributárias,ao mesmo regime de constituição, discussão administrativa, in-scrição em dívida ativa e execução.

O tributo não é sanção de ato ilícito e, portanto, nãopoderá o legislador colocar, abstratamente, o ilícito comogerador da obrigação tributária ou dimensionar o montantedevido tendo como critério a ilicitude (e.g., definir alíquotamaior para o IR relativamente à renda advinda do jogo do

bicho).31 Entretanto, a ilicitude subjacente é irrelevante. Aaquisição de renda e a promoção da circulação de mercadorias,e.g., são, abstratamente consideradas, fatos lícitos e passíveis deserem tributados. Se a renda foi adquirida de modo ilegal ou sea mercadoria não poderia ser vendida no País, são fatos quedesbordam da questão tributária, são ilicitudes subjacentes quenão afastam a tributação.

Vê-se que o a Constituição recepcionou o conceito detributo constante do CTN: “Art. 3º Tributo é toda prestação pe-cuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possaexprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em

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lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamentevinculada”.

Cabe, porém, ressaltar que o art. 3º do CTN, ao se referir àinstituição por lei, refere-se a um requisito de validade e nãode existência do tributo. Requisito de existência do tributo é acompulsoriedade. A exigência de lei pelo art. 150, I, da CF,como já ocorria nas constituições anteriores, constitui limitaçãoconstitucional à instituição de tributos. Instituído tributo semlei, será inconstitucional a norma infralegal instituidora e, port-anto, inválida, restando sem sustentação a sua cobrança. Umaexigência pecuniária, compulsória, que não seja sanção de ilí-cito, cobrada pela Administração com base em uma Portaria,será, sim, tributo (os requisitos de existência estão satisfeitos),ainda que inválido (o requisito de validade – observância dalegalidade estrita – está violado).

A referência feita pelo art. 3º do CTN à cobrança medi-ante atividade administrativa plenamente vinculada e a pre-visão do art. 119 do CTN no sentido de que apenas pessoasjurídicas de direito público podem figurar como sujeito ativode obrigação tributária justificam-se em face da natureza daatividade tributária, que envolve fiscalização, imposição demultas e restrição a direitos. Assim, somente mediante ativid-ade administrativa pode ser exigido o pagamento do tributo.Pessoa jurídica de direito privado só pode figurar como destin-atária do produto da arrecadação e, ainda assim, apenasquando, sem fins lucrativos, exerça atividade do interessepúblico.

A plena vinculação a que se refere o art. 3º tem, ainda,outra implicação. Ocorrido o fato gerador da obrigaçãotributária, a autoridade administrativa tem o dever de apurá-lo, de constituir o crédito tributário, através do lançamento, ede exigir o cumprimento da obrigação pelo contribuinte. Não

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há que se dizer, por certo, que inexistam juízos de oportunid-

ade e de conveniência,32 o que se impõe em face de limitaçõesquanto à capacidade de trabalho, a exigir que se estabeleçamprioridades, e à análise custo-benefício, tudo a ser disciplinadonormativamente, como é o caso das leis que dispensam a in-scrição e o ajuizamento de débitos de pequeno valor. Alémdisso, a plena vinculação significa que a autoridade está ad-strita ao fiel cumprimento da legislação tributária, incluindo to-dos os atos regulamentares, como instruções normativas e por-tarias. É por isso, e.g., que o art. 141 do CTN diz que o créditotributário regularmente constituído somente se modifica ou seextingue, ou tem sua exigibilidade suspensa ou excluída, noscasos previstos no Código, fora dos quais não podem ser dis-pensadas a sua efetivação e as respectivas garantias, sob penade responsabilidade funcional.

Mas o conceito trazido pelo CTN não faz referência à con-dição de receita pública que é inerente ao tributo, receita estaque pode ser destinada ao próprio ente tributante ou a terceir-os, pessoas de direito público ou mesmo de direito privado,desde que sem fins lucrativos, que exerçam atividade do in-teresse público, como é o caso dos sindicatos (art. 8º, IV, da CF)e dos entes sociais autônomos (art. 240 da CF). É por esta carac-terística que se afasta a natureza tributária da contribuição aoFGTS que, implicando depósito em conta vinculada em nome

do empregado, caracteriza-se como vantagem trabalhista.33

O conceito de tributo constante do Modelo de CódigoTributário para a América Latina, embora conciso, faz referên-cia à finalidade do tributo: “Art. 13. Tributos são prestações emdinheiro, que o Estado, no exercício de seu poder de império,exige com o objetivo de obter recursos para o cumprimento deseus fins”.

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Verificados tais traços, estaremos, necessariamente, di-ante de um tributo, o que atrai a incidência do regime jurídico-tributário e, com isso, implica submissão às limitações constitu-cionais ao poder de tributar e às normas gerais de direitotributário.

8. Preços públicos e receitas patrimoniais

Enquanto os tributos têm como fonte exclusiva a lei e secaracterizam pela compulsoriedade, os preços públicos con-stituem receita originária decorrente da contraprestação porum bem, utilidade ou serviço numa relação de cunho negocialem que está presente a voluntariedade (não há obrigatoriedadedo consumo). A obrigação de prestar, em se tratando de preçopúblico, decorre da vontade do contratante de lançar mão dobem ou serviço oferecido. A fixação do preço público, por isso,independe de lei; não sendo tributo, não está sujeito às limit-ações do poder de tributar.

Já em 1969, o STF proclamava a distinção entre preçospúblicos e taxas utilizando-se do traço da compulsoriedadecomo critério, conforme se vê do enunciado da Súmula 545 doSTF: “Preços de serviços públicos e taxas não se confundem,porque estas, diferentemente daqueles, são compulsórias e têmsua cobrança condicionada à prévia autorização orçamentária,em relação à lei que as instituiu”.

O grande desafio, porém, está em definir quais os ser-viços que se caracterizam como compulsórios.

Serviços relativamente aos quais se pode requerer o des-ligamento, como os de fornecimento de água e de energia

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elétrica, tem sido considerados pelo STF e pelo STJ como sujei-

tos a preço público,34 35 ainda que não haja a faculdade deperfurar livremente poços, de modo que, a rigor, o consumo deágua tratada acaba se tornando, na prática, impositivo. Nãoconfigurando tributos, sujeitam-se ao regime jurídico comum,razão pela qual foi editada a Súmula 412 do STJ, tornando in-equívoco que “A ação de repetição de indébito de tarifas deágua e esgoto sujeita-se ao prazo prescricional estabelecido noCódigo Civil”.

Quanto ao pedágio, há precedentes do STF tanto no sen-

tido de que configuraria preço público36 como no sentido de

que se cuida de taxa de serviço, este mais recente.37

É importante ter em conta que a Constituição, ao cuidardos princípios gerais da atividade econômica, prevê aprestação de serviço público por concessionárias ou permis-sionárias, estabelecendo regime específico para tal hipótese. Oart. 175 da CF, de fato, parece estabelecer cláusula de exceçãonesses casos, fazendo com que as salvaguardas do contribuinte(limitações constitucionais ao poder de tributar) sejam sub-stituídas pela exigência de licitação (“sempre através de licit-ação”) e pela política tarifária definida em lei (“A lei disporásobre: ... III – política tarifária;”). Assim, os mesmos serviços,prestados diretamente pelo Estado, submetem-se ao regime detaxa, enquanto, prestados mediante concessão ou permissão,submetem-se ao regime de preço público.

As receitas patrimoniais também não são consideradastributárias. Não há previsão constitucional para a instituição detaxa pelo uso de bem público. Aliás, quanto a estes, em setratando de bens de uso comum, todos têm direito à sua utiliz-ação sem exclusão dos demais usuários e independentementede pagamento. Em se tratando de outro bem público cujo uso

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seja permitido/concedido a particular, em caráter exclusivo, omontante que venha a ser exigido configurará receita patrimo-nial, não se revestindo da compulsoriedade caracterizadora dostributos. É o caso da compensação financeira pela exploração

de recursos minerais,38 que pressupõe a decisão do particularde explorar bem público e pagar à União a participação que lhecabe, e da chamada taxa de ocupação de terrenos de marinha,uma espécie de aluguel pago pelo particular por ocupar a faixade marinha em caráter privado.

Configurando-se determinada contraprestação comopreço público, segue as regras que regulamentam o respectivosetor, conforme o regime legal, mas não às limitações e insti-tutos próprios dos tributos. Qualificando-se como taxa, cobradacompulsoriamente por força da prestação de serviço público deutilização compulsória do qual o indivíduo não possa abrirmão, sua exigência está sujeita às limitações constitucionais aopoder de tributar (art. 150 da CF: legalidade, isonomia, irret-roatividade, anterioridade, vedação do confisco) e às normasgerais de Direito Tributário (CTN), ou seja, ao regime jurídicotributário.

Notas do capítulo I

1 TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de Direito Constitucional Financeiro eTributário. Vol. II. Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p. 403/404.

2 UCKMAR, Victor. Princípios Comuns de Direito Constitucional Tributário. 2ªed. São Paulo: Malheiros, 1999, p. 24/25.

3 O texto da Magna Carta está disponível em:“http://www.magnacartaplus.org”.

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4 Conforme VANONI, havia um adágio inglês em matéria impositiva: “LaCorona pide, los Comune conceden, los Lores permiten.” (VANONI, E. Natura edInterpretazione delle leggi tributarie. 1932. Edição espanhola de 1961 publicadapelos Instituto de Estudios Fiscales, Madrid, p. 155).

5 GULLOP, Floyd G. The Constitution of the United States: An Introduction.USA: 1984.

6 “Déclaration des droits de l’homme et du citoyen. Article treize. Pourl’entretien de la force publique, et pour les dépenses d’administration, unecontribution commune est indisspensable; elle doit être également répartieentre tous les citoyens, en raison de leurs facultés. Article quatorze. Tous lescitoyens ont le droit de constater par eux même, ou par leurs représentants, lanécessité de la contribution publique, de la consentir librement, d’en suivrel’emploi, et d’en déterminer la quotité, l’assiette, le recouvrement et la durée.”

7 “O dever de pagar impostos é um dever fundamental. O imposto não émeramente um sacrifício, mas sim, uma contribuição necessária para que oEstado possa cumprir suas tarefas no interesse do proveitoso convívio de to-dos os cidadãos. O Direito Tributário de um Estado de Direito não é Direitotécnico de conteúdo qualquer, mas ramo jurídico orientado por valores. ODireito Tributário afeta não só a relação cidadão/Estado, mas também a re-lação dos cidadãos uns com os outros. É direito da coletividade.” (TIPKE,Klaus; YAMASHITA, Douglas. Justiça fiscal e Princípio da Capacidade Con-tributiva. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 13).

“Como dever fundamental, o imposto não pode ser encarado nem como ummero poder para o estado, nem como um mero sacrifício para os cidadãos,constituindo antes o contributo indispensável a uma vida em comunidade or-ganizada em estado fiscal. Um tipo de estado que tem na subsidiariedade dasua própria acção (económico-social) e no primado da autorresponsabilidadedos cidadãos pelo seu sustento o seu verdadeiro suporte.” (NABAIS, JoséCasalta. O Dever Fundamental de Pagar Impostos. Coimbra: Liv. Almedina, 1998,p. 679).

8 “[...] the modern economy in which we earn our salaries, own our homes,bank accounts, retirement savings, and personal possessions, and in whichwe can use our resources to consum or invest, would be impossible withoutthe framework provided by government supported by taxes.” (MURPHY,Liam; NAGEL, Thomas. The Myth of Ownership, New York: Oxford, 2002, p.8).

9 “La facultad del Estado de obtener los medios necesarios para su propia ex-istencia y, por ende, para la tutela y el mantenimiento del ordenamientojurídico, se perfila así como un elemento esencial de la misma afirmación del

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derecho. La actividad financiera, lejos de ser una actividad que limita losderechos y la personalidad del particular, constituye su presupuesto ne-cesario, puesto que sin tal actividad no existiría Estado y sin Estado no exi-stiría derecho.” (VANONI, E. Natura ed Interpretazione delle leggi tributarie.1932. A transcrição é da edição espanhola de 1961 publicada pelos Instituto deEstúdios Fiscales, Madrid, p. 183). “No puede ser odioso lo que es necesariopara la existencia misma del Estado y que tiene por finalidad única la utilidadde los ciudadanos. Como falló una vieja sentencia del Tribunal de Turín… ‘lastasas libremente votadas y conformes a la necesidad del Estado representan elorden, la libertad, la justicia, la seguridad, la beneficencia, el ejército, la ar-mada, la independencia, el honor de la patria’. Hablar de odiosidad del trib-uto significa, pues, desconocer el indisoluble vínculo entre existencia delEstado e imposición.” (VANONI, E. Op. cit., p. 182/183).

10 Atualmente, Fisco e Erário são expressões sinônimas na literaturatributária. Originalmente, contudo, tinham significado diverso, conforme en-sina VANONI, referindo-se à história romana: “En la época republicana, cajadel Estado era el aerarium, administrado por el Senado. El fiscus surgió comocaja privada del emperador, pero paulatinamente, al ir concentrándose elpoder en la persona del soberano, el fisco vino a significar la reunión de todoslos bienes del Estado en manos del emperador. Así se anuló la distinciónentre caja del Estado y caja privada del emperador…” (Op. cit., p. 183)

11 BALEEIRO, Aliomar. Uma introdução à ciência das finanças. 14ª ed. rev. eatualizada por Flávio Bauer Novelli. Rio de Janeiro: Forense, 1990, p. 115.

12 “Le imposte presentano due aspetti, quello fiscale e quello extrafiscale, deiquali i confini non sempre risultano agevolmente individuabili.” (MARTUL-ORTEGA, Perfecto Yebra. I Fini Extrafiscali Dell’Imposta. In: AMATUCCI,Andréa. Trattato di Diritto Tributário. 1º vol. Milano, CEDAN, 2001, p. 686).

13 A Ley General Tributaria española, de 2003, é muito clara em seu artigo 2:“Los tributos, además de ser medios para obtener los recursos necesarios parael sostenimiento de los gastos públicos, podrán servir como instrumentos dela política económica general y atender a la realización de los principios yfines contenidos en la Constitución.”

14 “A extrafiscalidade em sentido próprio engloba as normas jurídico-fiscaisde tributação (impostos e agravamentos de impostos) e de não tributação (be-nefícios fiscais) cuja função principal não é a obtenção de receitas ou umapolítica de receitas, mas a prossecução de objetivos económicos-sociais.”(NABAIS, José Casalta. O Dever Fundamental de Pagar Impostos. Coimbra: Liv.Almedina, 1998, p. 695). “[…] se ha generalizado la utilización del tributo – y,de forma especial, del impuesto – como un medio de conseguir otras finalid-ades: creación de empleo, fomento del desarrollo económico de una

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determinada zona, preservación del medio ambiente, ahorro de energía, repo-blación forestal”, de ahí “que quepa hoy distinguir entre impuestos fiscales–los tradicionales, aquellos cuya finalidad esencial es financiar el gastopúblico – e impuestos extrafiscales – aquellos cuya finalidad esencial está en-caminada a la consecución de esos otros objetivos-.” (QUERALT, Juan Martín;SERRANO, Carmelo Lozano; LÓPES, José M. Tejerizo; OLLERO, Gabriel Cas-ado. Curso de Derecho financiero y Tributario. 18ª ed. Madrid: Tecnos, 2007, p.90).

15 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 14ª ed. SãoPaulo: Saraiva, 2002, p. 228-229.

16 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministra ELLEN GRACIE, ADI 1.276, 2002.

17 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO, ADIMC 2.301, 2000.

18 O leading case em matéria de controle da tributação extrafiscal no Direitoespanhol é a Sentença do Tribunal Constitucional espanhol 37/87.

19 GRECO, Marco Aurélio. Contribuições (uma figura sui generis). São Paulo:Dialética, 2000, p. 147.

20 O alemão ALBERT HENSEL, considerando o advento da Reichsabgabenord-nung (Lei Tributária do Reich) de 1919 e a instauração da Administração Fin-anceira e do Tribunal Financeiro do Reich, publicou, em 1924, a obra que hojeé considerada por muitos como o primeiro grande clássico do DireitoTributário, por lhe ter dado um tratamento sistemático capaz de destacar suaautonomia como ramo do Direito, intitulada justamente Steuerrecht (DireitoImpositivo). Também merece destaque a obra de ERST BLUMENSTEIN sobreo Direito Tributário Suíço, publicada em 1926, sob o título SchweizerischenSteuerrecht, seguida da publicação, pelo mesmo autor, já em 1944, da obra Sys-tem des Steuerrechts. Outro grande clássico do Direito Tributário é a obra es-crita ainda na década de 30 pelo italiano ACHILLE DONATO GIANNINI,Istituzioni di Diritto Tributario. Não se deve olvidar, por certo, El Hecho Im-ponible, de Dino Jarach, obra em que, em 1943, cuidou da teoria geral doDireito Tributário material. Cabe destacar, contudo, que BERLIRI atribui aGRIZIOTTI a afirmação da autonomia do Direito Tributário: “Col principiodel 1900 si afferma ivece la tendeza, che si è andata poi sempre più aceentu-ando, a considerarei l diritto tributario coe una disciplina autônoma rispettoal diritto amministrativo e conseguentemente si há uma nuova fioritura diopere dedicate esclusivamente al diritto trbutario, sino a che, per mérito prin-cipalmente del Grizioti, si afferma esplicitamente l’autonomia scientifica diquesto ramo del diritto e nelaa scuola di Pavia si suscita un vivace fermentodi studi dedicati appunto allá trattazione sistemática del diritto tributário.”(BERLIRI, Antonio. Principi di Diritto Tributário. Vo. I. Seconda edizione.

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Milano: Dott. A. Giuffrè, 1967, p. 29/30) De qualquer modo, BERLIRI destacaque tal decorreu de uma construção plurisecular, com impulso na própria ne-cessidade prática de tratar com a matéria. Assim é que refere textos como oTractatus de tributis et vectigalibus populi romani, de 1619, dentre outros aindamais antigos.

21 São obras clássicas do Direito Tributário brasileiro, dentre outras: Limit-ações Constitucionais ao Poder de Tributar (1951) e Direito TributárioBrasileiro (1970), de ALIOMAR BALEEIRO, Introdução ao Direito Tributário(1958) e Fato Gerador da Obrigação Tributária (1964), de AMÍLCARFALCÃO, Teoria Geral do Direito Tributário (1963), de ALFREDOAUGUSTO BECKER, Hipótese de Incidência Tributária (1973), de GERALDOATALIBA, e Teoria da Norma Tributária (1974), de PAULO DE BARROSCARVALHO.

22 “[...] il diritto finanziario e quello tributário non costituirebbero mai unqualcosa di distaccato dagli altri rami del diritto, quase un ordinamento gi-uriico a sé, poiché, data l’unitarietà del diritto, qualunque sua branca, perquanto autonoma, è necessariamente collegata con tutte le altre con le qualiforma un tutto único inscindibile. Esattamente scrivera il D’Amelio che‘l’autonomia di un ramo del diritto non può mai spezzare e neppure incrinareil concetto unitário del diritto stesso. Il vichiano de uno universo jure è veritàfondamentale e può considerarsi una delle conquiste definitive dello spiritoumano. Gli è che l’autonomia sta all’unità come i raggi alla sfera. Sicchél’autonomia non è disintegrazione, ma parte del tutto. Ne consegue chel’autonomia di una branca del diritto non può escludere né ignorare le altrebranche anch’esse autonome, delle quali ha bisogno per vivere’.” (BERLIRI,Antonio. Principi di Diritto Tributário. Vol. I. Seconda edizione. Milano: Dott.A. Giuffrè, 1967, p. 9).

23 BECKER, Alfredo Augusto. Teoria Geral do Direito Tributário. 2ª ed. SãoPaulo: Saraiva, 1972, item 9.

24 BALEEIRO, Aliomar. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar;CARRAZA. Curso de Direito Constitucional Tributário. 24ª ed. São Paulo: Mal-heiros, 2008; PAULSEN, Leandro. Direito Tributário: Constituição e CódigoTributário à Luz da Doutrina e da Jurisprudência. 12ª ed. Porto Alegre: Liv-raria do Advogado, 2010; ÁVILA, Humberto. Sistema Constitucional Tributário.3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008; VELLOSO, Andrei Pitten. ConstituiçãoTributária Interpretada. São Paulo: Atlas, 2007.

25 Acerca da extraterritorialidade do Imposto sobre a Renda, vide o art. 43, §§1º e 2º, do CTN.

26 Vide: www.wto.org.

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27 “Existe dumping quando um país se vê invadido por mercadorias de outroa preço vil, isto é, abaixo do custo da produção, ou abaixo do preço do localde origem, a mesma época e em iguais condições, com o que se alcançadestruir a concorrência, para mais tarde elevar o valor monopolisticamente...”(BALEEIRO, Aliomar. Uma Introdução à Ciência das Finanças. 14ª ed. Rio dejaneiro: Forense, 1990, p. 294-295).

28 Em um sistema econômico, as operações estão sujeitas a custos, denomina-dos custos de transação. Quanto mais certas as regras relativas à tributação,quanto mais farta a informação, quanto maior a segurança quanto à observân-cia das garantias do contribuinte e mais rápido e efetivo seu acesso à Justiça,menores os custos de transação, ou seja, menor a inversão de recursos ne-cessária ao cumprimento das obrigações tributárias.

29 MINATEL, José Antônio. Conteúdo do Conceito de Receita e Regime Jurídicopara sua Tributação. MP, 2005, p. 244.

30 GERALDO ATALIBA criticava o fato de o CTN ter conceituado tributo emseu art. 3º, porque tal dá a impressão de que poderia tê-lo feito de forma di-versa, alterando sua essência, quando, em verdade, o legislador infraconstitu-cional não tem esse poder.

31 Mas o dimensionamento do tributo em função do cometimento de ilícitopode apresentar-se de modo disfarçado, como nos casos de concessão dedesconto de IPVA para os motoristas que não tenham cometido infração noúltimo ano. Tal acaba implicando que, embora revelem a mesma capacidadecontributiva e, portanto, tenham que ser tratados igualmente no que diz re-speito ao dever de pagar tributos, dois contribuintes venham a ser notificadospara pagamento de valores distintos a título de IPVA, o que nos parece violara noção de tributo. Vide, do STF, a ADI 2.301 MC.

32 Valem as ponderações feitas por Paulo de Barros Carvalho no sentido deque tal não é absoluto: “O magistério dominante inclina-se por entender que,nos confins da estância tributária, hão de existir somente atos vinculados, fun-damento sobre o qual exaltam o chamado princípio da vinculabilidade datributação. Entretanto, as coisas não se passam bem assim. O exercício da atu-osidade administrativa, nesse setor, se opera também por meio de atos discri-cionários, que são, aliás, mais freqüentes e numerosos. O que acontece é queos expedientes de maior importância, aqueles que dizem mais de perto aosfins últimos da pretensão tributária, são pautados por uma estrita vinculabil-idade, caráter que, certamente, influenciou a doutrina no sentido de chegar àradical generalização. Podemos isolar um catálogo extenso de atos adminis-trativos, no terreno da fiscalização dos tributos, que respondem, diretamente,à categoria dos discricionários, em que o agente atua sob critérios de conven-iência e oportunidade, para realizar os objetivos da política administrativa

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planejada e executada pelo Estado. Compreendido com essa ressalva, nadahaverá de extravagante em proclamarmos o vigor do princípio da vinculabil-idade da tributação.” (CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de DireitoTributário. 21ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 183).

33 No RE 522.897, Rel. Ministro GILMAR MENDES, o STF está discutindoqual o prazo para cobrança das contribuições ao FGTS, se o próprio das açõestrabalhistas, estabelecido pelo art. 7º, XXIX, da CF ou se o trintenário, que an-teriormente era previsto em lei específica. Dispõe a Súmula 210 do STJ: Aação de cobrança das contribuições para o FGTS prescreve em trinta (30) anos.

34 STF, Primeira Turma, Rel. Ministra ELLEN GRACIE, AReg. 201.630/DF,2002; STF, Tribunal Pleno, relator Min. RICARDO LEWANDOWSKI, RE576.189, 2009.

35 STJ, Segunda Turma, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,REsp 856.378 AgRg, 2009.

36 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro ILMAR GALVÃO, ADI 800 MC, 1992.

37 STF, Segunda Turma, Rel. Ministro CARLOS VELLOSO, RE 181.475, 1999.

38 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro CARLOS VELLOSO, ADI 2.586, 2002;STF, Primeira Turma, relator Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, RE 228.800,2001.

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Capítulo II – Espécies Tributárias

9. Características e regimes jurídicos específicos

Ao outorgar competência para a instituição das diversasespécies tributárias, a Constituição revela suas característicasintrínsecas e aponta o regime jurídico específico que lhes éaplicável.

Embora todos os tributos se submetam a regras geraiscomuns, há normas específicas para as taxas, para os impostos,para as contribuições de melhoria, para os empréstimos com-pulsórios e para as contribuições.

A importância de distinguir as diversas espécies tributári-as e de conseguir identificar, num caso concreto, de que espéciese cuida, está, justamente, no fato de que a cada uma corres-ponde um regime jurídico próprio.

Nem sempre o legislador nomeia os tributos que instituide acordo com as características essenciais de que se revestem.Por vezes, chama de taxa tributo que constitui verdadeira con-tribuição, ou de contribuição o que configura imposto. Equívo-cos de denominação podem decorrer da errônea compreensãodas diversas espécies tributárias ou mesmo do intuito de burlarexigências formais (lei complementar) ou mesmo materiais(vinculação a determinadas bases econômicas) estabelecidas

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pelo texto constitucional. Por exemplo: a União não pode criardois impostos com mesmo fato gerador e base de cálculo, nemduas contribuições de seguridade social com o mesmo fatogerador e base de cálculo; mas não há óbice constitucional aque seja criada contribuição com fato gerador idêntico a de im-posto já existente. É indispensável saber, com segurança, port-anto, se uma nova exação surgida é um imposto ou umacontribuição.

Daí por que a identificação da natureza jurídica específicade determinado tributo independe da denominação que lheseja atribuída pelo próprio legislador, devendo ser feita com

atenção aos seus traços essenciais.39

Conforme o art. 4º do CTN, tanto a denominação como asdemais características formais adotadas pela lei são irrelevantespara qualificar a espécie tributária.

Havendo equívocos na denominação atribuída pelo legis-lador, cabe ao intérprete renomear ou requalificar o tributo esubmetê-lo ao regime jurídico correspondente à espécietributária a que realmente corresponda.

10. Critérios para a identificação das espéciestributárias

A análise das normas de competência é que possibilitaidentificarmos cada espécie de tributo.

Conforme ALBERTO XAVIER, a CF não procedeu “auma classificação, mas a uma tipologia de tributos, definindouns por características atinentes à estrutura (impostos, taxas),

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outros por características ligadas à função (contribuições), out-ros por traços referentes simultaneamente a um ou outro doscitados aspectos (contribuição de melhoria) e outros ainda poraspectos de regime jurídico alheios quer à estrutura, quer à

função, como é o caso dos empréstimos compulsórios”.40

Efetivamente, a CF atribui características distintas às di-versas espécies tributárias com base em critérios que em muitodesbordam da simples natureza dos possíveis fatos geradores.Daí por que é preciso ter reservas à primeira parte do art. 4º doCTN que assim dispõe: “Art. 4º A natureza jurídica específicado tributo é determinada pelo fato gerador da respectivaobrigação [...]”. À luz do sistema tributário estabelecido pelaCF/88, a análise do fato gerador é insuficiente para a identi-ficação das espécies tributárias.

O artigo 4º do CTN, aliás, já recebia críticas antes do ad-vento da CF/88, sendo que Geraldo Ataliba destacava a im-portância da base de cálculo na identificação da espécie

tributária.41 Isso porque o estabelecimento de uma relaçãojurídico-tributária depende da previsão legal tanto do fatogerador (elemento material) como dos demais aspectos danorma tributária impositiva, com ênfase para a base de cálculo(essência do aspecto quantitativo), sendo que todos eles são ne-cessariamente convergentes e harmônicos. Assim, não apenas ofato gerador da obrigação é importante para identificar suanatureza jurídica específica, mas também sua base de cálculo.Esta é mesmo reveladora e merece muita atenção para que o le-gislador, não institua um imposto (que é tributo sobre ariqueza) sob o pretexto de estar instituindo uma taxa (necessar-iamente dimensionada com base na atividade estatal).

O art. 4º do CTN, em seu inciso II, refere, ainda, que seriairrelevante para determinar a espécie tributária “a destinação

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legal do produto da sua arrecadação”. Cuida-se de normarevogada.

Por certo que já houve tempo em que os próprios impos-

tos eram identificados pela destinação do seu produto42 e queo CTN procurou limpar a matéria do que os tributaristas con-sideravam, na época, questões de Direito Financeiro. Assim,destacou que a espécie tributária seria definida pela análise dofato gerador: se não vinculado à atividade estatal, imposto; sevinculado a serviço ou exercício do poder de polícia, taxa; sevinculado à obra pública, contribuição de melhoria, vedada aconsideração da destinação legal.

Após a CF/88, com a incorporação formal das con-tribuições especiais e empréstimos compulsórios ao SistemaTributário Nacional e o entendimento já pacificado de que as-sumiram natureza tributária, o critério estabelecido pelo art. 4º,caput e inciso II, do CTN, pode-se dizer tranquilamente, estásuperado. Embora continua servindo de referência para a dis-tinção entre impostos, taxas e contribuições de melhoria, não sepresta à identificação das contribuições especiais e dos emprés-timos compulsórios, pois estes são identificados a partir da suafinalidade. De fato, a partir do momento em que a ConstituiçãoFederal de 1988 emprestou indiscutível caráter tributário àscontribuições especiais e aos empréstimos compulsórios,colocando como traços característicos destas espécies tributári-as a sua finalidade, a destinação legal do produto da ar-recadação passou a ser aspecto relevante para a determinaçãoda natureza específica do tributo.

A “destinação legal” ou “finalidade” é, assim, atual-mente, critério importantíssimo para identificar determinadasespécies tributárias como as contribuições especiais e emprésti-mos compulsórios, pois constitui seu critério de validação

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constitucional. A competência para a instituição de tais tributosé atribuída em função das finalidades a serem perseguidas.

A presunção de validade das leis e a consequente ne-cessidade de se buscar uma interpretação conforme à Constitu-ição, faz com que se deva proceder à análise das figurastributárias à vista dos aspectos da norma tributária impositiva,e não da denominação e das demais características formais.Nesse sentido, dispõe o inciso I do art. 4º do CTN. Os limites dainterpretação conforme estão na própria caracterização das di-versas figuras tributárias. Para a requalificação de um tributocomo espécie diversa daquela enunciada expressamente na lei,impõe-se que reúna os seus traços típicos, evidenciando-se adissimulação engendrada pelo legislador. Haverá hipóteses emque restarão evidenciadas características incompatíveis com to-das as espécies tributárias, impondo-se, então, a conclusão poruma tributação sem suporte constitucional.

Dar ao tributo o tratamento jurídico da espécie corres-pondente à sua denominação, sem analisar o seu fato gerador,pode implicar sérios equívocos. A jurisprudência traz casos quetal aplicação acaba por violar direitos do contribuinte e outrosem que resta prejudicial ao próprio erário. Vejam-se, nesteponto, os seguintes exemplos:

• um verdadeiro imposto denominado taxa: se lhe désse-mos o tratamento desta, não estaria sujeito às imunid-ades constitucionais, prejudicando os entes que por elaestariam cobertos;

• um verdadeiro imposto denominado contribuição: setolerássemos a definição de seu fato gerador e de suabase de cálculo de forma idêntica ao de outro impostojá existente, incorreríamos em infração inequívoca à ex-pressa vedação de que dois impostos tenham fatogerador e base de cálculo idênticos;

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• uma taxa denominada imposto: se a tratássemos comoimposto, aceitaríamos que sua base de cálculo nãotivesse relação alguma com o serviço o que, para astaxas, é impositivo.

11. Classificação dos tributos em cinco espéciestributárias

São cinco as espécies tributárias estabelecidas pela Con-stituição: imposto, taxa, contribuição de melhoria, empréstimocompulsório e a contribuição especial.

O Min. MOREIRA ALVES, em voto condutor proferidoquando do julgamento do RE 146.733-9/SP, em que se discutiua constitucionalidade da contribuição social sobre o lucro in-stituída pela Lei 7.689/88, optou pela classificação quin-quipartida, afirmando: “De efeito, a par das três modalidadesde tributos (os impostos, as taxas e as contribuições de melhor-ia) a que se refere o artigo 145 para declarar que são compet-entes para instituí-los a União, os Estados, o Distrito Federal eos Municípios, os artigos 148 e 149 aludem a duas outras mod-alidades tributárias, para cuja instituição só a União é compet-ente: o empréstimo compulsório e as contribuições sociais, in-clusive as de intervenção no domínio econômico e de interessedas categorias profissionais ou econômicas”.

Note-se que descaberia referência ao empréstimo com-pulsório e às contribuições sociais no art. 145 da Constituição

porque, salvo as expressas exceções,43 são de competência ex-clusiva da União, estando à margem da competência tributária

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dos Estados, Distrito Federal e Municípios. O art. 145 não clas-sifica os tributos, apenas arrola os tributos da competênciatanto da União como de Estados, DF e Municípios, deixandoaos arts. 148 e 149 a referência aqueles cuja competência é maisrestrita.

Pode-ser afirmar com certeza, atualmente, que as con-tribuições e os empréstimos compulsórios constituem espéciestributárias autônomas, não configurando simples impostoscom destinação ou impostos restituíveis como impropriamentese chegou a referir anteriormente à CF/88. Aliás, impostos nemadmitem destinação específica (art. 167, IV, da CF), não sendotambém passíveis de restituição.

Assim, é preciso ter reservas ao art. 5º do CTN, que só ref-ere três espécies tributárias, dispondo: “Art. 5º. Os tributos sãoimpostos, taxas e contribuições de melhoria”. A classificaçãorealizada pelo CTN data de 1966, quando o entendimentoacerca da natureza das diversas exações não havia amadure-cido suficientemente. Basta ver, segundo o art. 4º do CTN, quea natureza jurídica específica do tributo era apurada tendo emconta tão somente o seu fato gerador, critério insuficiente paraa identificação das contribuições e dos empréstimos com-pulsórios, definidos pela Constituição Federal de 1988 não emfunção do seu fato gerador, mas da sua finalidade e dapromessa de restituição.

Vejamos a classificação dos tributos, com suas espécies esubespécies:

a) impostos

a.1. ordinários (arts. 145, I, 153, 155 e 156)a.2. residuais (art. 154, I)a.3. extraordinários de guerra (art. 154, II)

b) taxas

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b.1. pelo exercício do poder de polícia (art. 145, II, primeira parte)b.2. pela prestação de serviços públicos específicos e divisíveis (art.145, II, segunda parte)

c) contribuições de melhoria (art. 145, III)

d) contribuições

d.1. sociaisd.1.1. gerais (art. 149, primeira parte e §§ 2º, 3º e 4º)d.1.2. de seguridade sociald.1.2.1. ordinárias (art. 149, primeira parte e §§ 2º a 4º, c/c art. 195,I a IV)d.1.2.2. residuais (art. 149, primeira parte c/c art. 195, § 4º)

d.1.2.3. provisória (arts. 74 a 90 do ADCT)44

d.1.2.4. de previdência do funcionalismo público estadual, distrital emunicipal (149, § 1º)d.2. de intervenção no domínio econômico (art. 149, segunda partee §§ 2º a 4º, e art. 177, § 4º)d.3. do interesse das categorias profissionais ou econômicas (art.149, terceira parte)d.4. de iluminação pública municipal e distrital (art. 149-A)

e) empréstimos compulsórios

e.1. extraordinários de calamidade ou guerra (art. 148, I)e.2. de investimento (art. 148, II)

Sendo o Texto Constitucional exaustivo ao outorgar com-petência tributária aos entes políticos, todo e qualquer tributotem de se enquadrar em uma dessas categorias, sob pena deinvalidade.

Passemos, agora, à análise das características específicasde cada espécie tributária.

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12. Impostos45

É dever fundamental contribuir para as despesaspúblicas, sendo que o principal critério para a distribuição doônus tributário, inspirado na ideia de justiça distributiva, é acapacidade contributiva.

Tal se dá, essencialmente, através do pagamento de im-postos, tributos que incidem, necessariamente, sobre rev-elações de riqueza do contribuinte. Nesse sentido, são as nor-mas de competência dos artigos 153, 155 e 156, que indicambases econômicas relacionadas exclusivamente aos con-tribuintes, como a aquisição de renda, a circulação de mer-cadorias, a propriedade predial e territorial urbana. Os fatosgeradores de impostos, pois, serão situações relacionadas aocontribuinte, e não ao Estado, ou seja, fatos geradores não vin-culados a qualquer atividade do Estado. Como decorrência, omontante devido terá de ser dimensionado, necessariamente,com referência a tais riquezas. Assim é que, tributada a pro-priedade, a base de cálculo é o seu valor venal; tributada a cir-culação de mercadorias, o valor da operação.

De outro lado, os impostos são tributos cujo produto nãopode ser previamente afetado a determinado órgão, fundo oudespesa, nos termos do art. 167, IV, da CF, salvo as exceções ex-pressas na própria Constituição, como a necessária aplicação depercentuais em atividades voltadas aos serviços de saúde e àeducação e a possibilidade de afetação à administraçãotributária. RICARDO LOBO TORRES refere tal proibição como

“princípio da não afetação”.46 A destinação dos impostos seráfeita, pois, não por critérios estabelecidos pela lei instituidora,mas conforme a lei orçamentária.

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13. Taxas

O exercício do poder de polícia é realizado, e os serviçospúblicos são prestados porque são atividades do interessepúblico. Contudo, não há por que toda a sociedade participardo custeio de tais atividades estatais na mesma medida se sãoelas específicas, divisíveis e realizadas diretamente em face oupara determinado contribuinte que a provoca ou demanda. Daía outorga de competência para a instituição de tributo que at-ribua o custeio de tais atividades específicas e divisíveis àspessoas às quais dizem respeito, conforme o custo individualdo serviço que lhes foi prestado ou fiscalização a que foram

submetidas, com inspiração na ideia de justiça comutativa.47

O art. 145, II, da CF tem o efeito de autorizar o legisladora vincular a tais atividades do Poder Público o surgimento deobrigação tributária. Assim, as taxas são tributos que têm comofato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a util-ização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e di-visível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição.Pressupõe, pois, atuação administrativa do Estado, diretamenterelacionada ao contribuinte, indicada pelo legislador como fatogerador da obrigação tributária. Efetivamente, cada ente fed-erado tem competência para cobrar taxas pelos serviços quepreste ou pelo poder de polícia que exerça no desempenho dasua competência política-administrativa. Note-se que o art. 145da CF fala da cobrança de taxas pela União, pelos Estados, peloDistrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas re-spectivas atribuições. Mas não podem cobrar taxa relativa-mente a serviços que a CF diz serem públicos e gratuitos, comoos de saúde e de educação. Daí o advento da Súmula Vincu-lante 12: “A cobrança de taxa de matrícula nas universidades

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públicas viola o disposto no art. 206, IV, da ConstituiçãoFederal”.

O montante cobrado a título de taxa, diferentemente doque acontece com os impostos, não pode variar senão em fun-ção do custo da atividade estatal. Conforme PAULO DEBARROS CARVALHO, “em qualquer das hipóteses previstaspara a instituição de taxas – prestação de serviço público ou ex-ercício do poder de polícia – o caráter sinalagmático deste trib-

uto haverá de mostrar-se à evidência...”.48 O STF, aliás, já re-conheceu que deve haver uma “equivalência razoável entre ocusto real dos serviços e o montante a que pode ser compelido

o contribuinte a pagar”.49 Do contrário, a atividade estatal con-figuraria mero pretexto para a cobrança de montante aleatório,

caracterizador de confisco.50 Aliás, não é por acaso que o 145, §2º, da CF dispõe no sentido de que “as taxas não poderão ter

base de cálculo própria de impostos”.51 JOSÉ MAURÍCIOCONTI esclarece que a vedação se justifica “na medida em queimpede a criação de taxas que, na verdade, seriam impostosdisfarçados, ou seja, não corresponderiam a valores cobradosem função do serviço prestado ou do exercício do poder de

polícia”.52 Mas, conforme a Súmula Vinculante 29 do STF: “Éconstitucional a adoção, no cálculo do valor de taxa, de um oumais elementos da base de cálculo própria de determinado im-posto, desde que não haja integral identidade entre uma base eoutra”. E há precedentes admitindo que sua graduação tenha

por critério a capacidade contributiva.53

O produto da taxa visa a custear a atividade estatal, nãopodendo ter destinação desvinculada da mesma. De fato,sendo as taxas cobradas em razão de um serviço ou do exercí-cio do poder de polícia, está clara a intenção do Constituinte nosentido de que tal implique o custeio de tais atividades

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estatais. As taxas, diferentemente dos impostos, são tributoscom finalidade específica a determinar o destino do seuproduto. Não se lhes aplica o art. 167, IV, da CF; pelo contrário,a destinação ao custeio da atividade que lhe enseja a cobrança éessencial, podendo estar explicitamente determinada na lei in-stituidora. Ainda que não haja a vinculação expressa doproduto da arrecadação, será ela presumida. O que não se podeadmitir, pois revelaria a extrapolação da norma constitucionalde competência, é a determinação legal de aplicação em outraatividade ou em benefício de terceiros. Nas taxas, pois, há du-pla vinculação: o fato gerador é vinculado à atividade estatal e,também, necessariamente, o produto da arrecadação terá de servinculado à atividade que justifica a instituição do tributo. OSTF, aliás, já decidiu que “a vinculação das taxas judiciárias edos emolumentos a entidades privadas ou mesmo a serviçospúblicos diversos daqueles a que tais recursos se destinam sub-

verte a finalidade institucional do tributo”.54

Por fim, é preciso destacar que as taxas, em razão do seufato gerador e do seu cunho sinalagmático, não se prestam ao

cumprimento de funções extrafiscais.55

14. Contribuições de melhoria

Realizada obra pública que implique particular enriqueci-mento de determinados contribuintes, podem estes ser chama-dos ao seu custeio em função de tal situação peculiar que osdistingue. Efetivamente, havendo benefício direto para algu-mas pessoas, é razoável que o seu custeio não se dê por toda a

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sociedade igualmente, mas, especialmente, por aqueles a quema obra aproveite.

O STF é claro no sentido de que a melhoria a que se refereo art. 145, III, da CF é, necessariamente, a valorização

imobiliária.56

Pressupondo tanto a atividade do Estado (realização deobra pública), como o enriquecimento do contribuinte (valor-ização imobiliária), as contribuições de melhoria apresentam-se como tributos com fato gerador misto.

Seu produto, por sua vez, é destinado a fazer frente aocusto da obra, como já decorria, aliás, expressamente, daredação do art. 81 do CTN:

“Art. 81. A contribuição de melhoria cobrada pela Un-ião, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Mu-nicípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, é in-stituída para fazer face ao custo de obras públicas deque decorra valorização imobiliária, tendo como limitetotal a despesa realizada e como limite individual o ac-réscimo de valor que da obra resultar para cada imóvelbeneficiado.”

Os limites individual e total decorrem da próprianatureza do tributo. Além da valorização imobiliária, o propri-etário do imóvel situado na zona de influência não se distinguedos demais contribuintes, não se justificando que dele se exijavalor superior. Além do custo da obra, nenhuma receita sejustifica.

O DL 195/67 dispõe sobre a contribuição de melhoria emnível de lei complementar, assim como o CTN. Estabelece asobras que viabilizam a instituição de contribuição, comoabertura, alargamento, pavimentação, iluminação, arborização,esgotos pluviais e outros melhoramentos de praças e vias

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públicas, construção e ampliação de parques, pontes, túneis eviadutos, obras de abastecimento de água potável, esgotos,construção de aeroportos e seus acessos. Cuida, ainda, do pro-cedimento a ser observado, impondo a publicação de editalcom a delimitação da área beneficiada, orçamento e plano derateio. Indispensável, porém, de qualquer modo, que o entepolítico institua, por lei, a contribuição de melhoria relativa acada obra. Isso porque a legalidade estrita é incompatível comqualquer cláusula geral de tributação. Cada tributo depende delei específica que o institua.

15. Empréstimos compulsórios

Os empréstimos compulsórios são tributos cujo critériode validação constitucional está na finalidade: gerar recursospara fazer frente a uma situação de calamidade ou guerra ex-terna ou para investimento nacional relevante e urgente, con-forme se extrai do art. 148 da CF.

O tipo de fato gerador não é especificado pelo texto con-stitucional, podendo ser vinculado ou não vinculado. Assim,e.g., tanto o consumo de energia elétrica ou a propriedade deaeronave ou embarcação, quanto o serviço de dedetizaçãoobrigatória que vise minorar ou erradicar a propagação de epi-demia podem ser fatos geradores.

Mas o traço efetivamente peculiar e exclusivo dos em-préstimos compulsórios é a promessa de devolução, sem aqual não se caracteriza tal espécie tributária.

Quando do pagamento do empréstimo compulsório, in-cide a norma que, prevendo a sua restituição, gera direito

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subjetivo do contribuinte a tal prestação futura. Uma nova leinão pode suprimir esse direito, sob pena de ofensa ao art. 5º,XXXVI, da Constituição Federal, que garante o direito ad-quirido, dizendo que a lei não o prejudicará.

Ademais, a restituição deve ser em moeda. Isso, porque,

conforme já decidiu o STF,57 “utilizando-se, para definir o in-stituto de Direito Público, do termo empréstimo [...], a Con-stituição vinculou o legislador à essencialidade da restituiçãona mesma espécie, seja por força do princípio explícito do art.110 do CTN, ou seja porque a identidade do objeto dasprestações recíprocas é indissociável da significação jurídica evulgar do vocábulo [...]”.

Cabe destacar, ainda, que a instituição de empréstimoscompulsórios, diferentemente da generalidade dos tributos, de-pende, sempre, de lei complementar (art. 148 da CF).

16. Contribuições58

Há situações em que o Estado atua relativamente a umdeterminado grupo de contribuintes. Não se trata de açõesgerais, a serem custeadas por impostos, tampouco específicas edivisíveis, a serem custeadas por taxa, mas de ações voltadas afinalidades específicas que se referem a determinados gruposde contribuintes, de modo que se busca, destes, o seu custeioatravés de tributo que se denomina de contribuições. Não pres-supondo nenhuma atividade direta, específica e divisível, ascontribuições não são dimensionadas por critérios comutativos,

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mas por critérios distributivos, podendo variar conforme a ca-pacidade contributiva de cada um.

Designa-se simplesmente por “contribuições”59 ou por“contribuições especiais” (para diferenciar das contribuições demelhoria) tal espécie tributária de que cuida o art. 149 da Con-stituição. Já as subespécies são definidas em atenção às finalid-ades que autorizam a sua instituição: a) sociais, b) de inter-venção no domínio econômico, c) do interesse de categoriasprofissionais ou econômicas e d) de iluminação pública.

Não é correto atribuir à espécie tributária a denominaçãode “contribuições parafiscais”, tampouco de “contribuições so-ciais”. Isso porque a expressão contribuições parafiscais, em de-suso, designava as contribuições instituídas em favor de en-tidades que, embora desempenhassem atividade de interessepúblico, não compunham a Administração direta. Chamavam-se parafiscais porque não eram destinadas ao orçamento do entepolítico. Mas temos, atualmente, tanto contribuições destinadasa outras entidades como destinadas à própria Administração,sem que se possa estabelecer, entre elas, qualquer distinção noque diz respeito à sua natureza ou ao regime jurídico a que sesubmetem. Ser ou não parafiscal é uma característica acidental,que, normalmente, sequer diz com a finalidade da con-tribuição, mas com o ente que desempenha a atividade re-spectiva. De outro lado, também a locução “contribuições soci-ais” não se sustenta como designação do gênero contribuições.Isso porque as contribuições ditas sociais constituem sube-spécie das contribuições do art. 149, configurando-se quando setrate de contribuição voltada especificamente à atuação da Un-ião na área social. As contribuições de intervenção no domínioeconômico, por exemplo, não são contribuições sociais.

O custeio dentre os integrantes do grupo a que se refere aatividade estatal é característica essencial às contribuições,

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denominando-se referibilidade. Não pressupõe benefício parao contribuinte, mas que a ele se relacione a atividade enquantointegrante de um determinado grupo. O contribuinte devefazer parte do grupo, evidenciando-se uma relação de pertinên-

cia caracterizadora da referibilidade.60 Se qualquer pessoapudesse ser chamada a contribuir, seria um simples impostoafetado a determinada finalidade, o que é vedado pelo art. 167,IV, da CF.

A referibilidade é requisito inerente às contribuições, se-jam sociais, do interesse das categorias profissionais ou econ-ômicas, de intervenção no domínio econômico ou mesmo de

iluminação pública municipal.61 Assim é que só os médicos po-dem ser contribuintes da contribuição ao Conselho de Medi-cina, só os integrantes da categoria profissional podem ser con-tribuintes da contribuição ao respectivo sindicato, só os muní-cipes alcançados pela política de iluminação pública podem ser

contribuintes da contribuição de iluminação pública,62 só asempresas dedicadas a atividades rurais poderiam ser con-tribuintes da contribuição ao instituto que promove ocumprimento da função social da propriedade rural, e assimpor diante.

É importante ter em consideração, contudo, que o STJ,embora adotando entendimento que nos parece equivocado,tem diversos precedentes no sentido de que as CIDES não es-tariam sujeitas ao juízo de referibilidade, diferentemente dascontribuições do interesse de categorias profissionais ou econ-

ômicas, estas sim sujeitas a tal critério.63 Daí por que permite acobrança de contribuição ao INCRA mesmo das empresas urb-

anas.64 O STF, por sua vez, permite a cobrança da contribuiçãoao SEBRAE – que é um serviço social autônomo voltado às

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micro empresas e empresas de pequeno porte – de todas as

empresas, mesmo das médias e grandes.65

Só não haverá propriamente um juízo de referibilidadecondicionando a posição de contribuinte para as contribuiçõessociais de seguridade social, pois o art. 195 da Constituição, aoimpor o seu custeio por toda a sociedade, estabeleceu expres-samente uma especial solidariedade entre toda a sociedade,forçando, assim, uma referibilidade ampla ou global de talsubespécie. Mas mesmo esta especial solidariedade não autor-iza a cobrança de quem a lei não indique como sujeito passivo.Frise-se, ainda, que o art. 195 diz respeito exclusivamente àscontribuições de seguridade social, sendo absolutamente desca-bida a invocação da especial solidariedade por ele estabelecidacomo se aplicável fosse a outras espécies ou subespécies dascontribuições.

As contribuições só podem ser instituídas para atenderàs finalidades previstas no art. 149 e 149-A da Constituição:sociais, de intervenção no domínio econômico, do interesse dascategorias profissionais ou econômicas e, ainda, de iluminaçãopública. A destinação legal a tais finalidades justifica a sua in-stituição e a destinação efetiva legitima o prosseguimento dasua cobrança, sob pena de se descaracterizar, ao longo dotempo, a respectiva figura tributária, perdendo seu suporteconstitucional.

O desvio do produto da arrecadação que implique des-tinação para finalidade diversa da que justificou a instituiçãodo tributo, pode demonstrar a inexistência, em concreto, daatividade que visa a custear ou sua realização em intensidadedesproporcional ao custeio, implicando a invalidade, total ouparcial, originária ou superveniente, da exação.

O legislador não pode alterar a destinação das con-tribuições, sob pena de retirar-lhes o suporte constitucional

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que decorre, justamente, da adequação às finalidades previstasno art. 149 e 149-A da Constituição. O STF disse da inconstitu-cionalidade de lei orçamentária que implicava desvio de con-

tribuição de intervenção no domínio econômico.66 Apenas porEmenda Constitucional é que pode ser, excepcionalmente, des-vinculado o produto da arrecadação de contribuições, pois asnormas de competência que definem a vinculação não con-

stituem cláusulas pétreas.67

Não se pode confundir as finalidades que justificam ainstituição das contribuições, enquanto critério de validaçãoconstitucional de tais tributos (pode-se instituir tributo para de-terminadas finalidades), com o fato gerador da respectivaobrigação tributária, que é a situação definida em lei como ne-cessária e suficiente ao seu surgimento. A análise da questão,aliás, fica clara quando verificamos que há várias contribuiçõesprevistas na Constituição cuja finalidade é o custeio da segurid-ade social (finalidade que autoriza sua instituição) e cujos fatosgeradores são o pagamento de folha de salários e de remuner-ação a autônomos, a receita, o lucro.

Os fatos geradores e bases de cálculo das contribuiçõesdevem guardar adequação às bases econômicas ou materialid-ades que a Constituição admite sejam tributadas. O art. 149, §

2º, III,68 permite que as contribuições sociais e interventivas re-caiam sobre “o faturamento, a receita ou o valor da operação e,no caso de importação, o valor aduaneiro” (alínea a), ressal-vando, contudo, que podem ter alíquota específica, ou seja, emvalor certo por unidade, tonelada ou volume (alínea b). O art.195, I a IV, por sua vez, dispõe especificamente sobre a materi-alidade das contribuições de seguridade social, devendo-secombiná-lo com o art. 149, § 2º, III, para verificar o que étributável a tal título.

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17. Contribuições sociais

A outorga de competência à União para a instituição decontribuições sociais como instrumento da sua atuação na re-spectiva área, ou seja, na área social, deve ser analisada à vistados objetivos estabelecidos no Título “Da Ordem Social”, poisestes delimitarão as atividades passíveis de serem custeadaspelas contribuições sociais.

Não há, pois, uma competência irrestrita, uma cartabranca ao legislador para a criação de tributos simplesmentejustificados como destinados a uma finalidade social. A valid-ade da contribuição dependerá da finalidade buscada que, ne-cessariamente, terá de encontrar previsão no Título atinente àOrdem Social.

Vê-se, por exemplo, dos dispositivos constitucionais atin-entes à Ordem Social, que envolve ações voltadas não apenas àsaúde (art. 196), à previdência (art. 201), à assistência social (art.203), áreas que caracterizam a seguridade social, mas também àeducação (art. 205), à cultura (art. 215), ao desporto (art. 217),ao meio ambiente (art. 225) etc.

As contribuições voltadas à seguridade social são chama-das de contribuições sociais de seguridade social. Já as volta-das a outras finalidades sociais que não a seguridade, são de-nominadas de contribuições sociais gerais. Assim é que a

CPMF, que era destinada à ação da União na área da saúde,69

constituía70 uma contribuição de seguridade social, enquanto acontribuição “salário-educação”, voltada à educação funda-mental do trabalhador, constitui uma contribuição social ger-

al.71 Aliás, é mesmo fundamental observar que as con-tribuições sociais não se esgotam nas de seguridade social,

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tendo um espectro bem mais largo, pois podem ser instituídaspara quaisquer finalidades que forem na direção dos objetivosda ordem social.

Quanto às bases econômicas passíveis de tributação, ascontribuições sociais estão sujeitas ao art. 149, § 2º, III, sendoque as de seguridade social também ao art. 195, I a IV, da CF,de modo que as contribuições instituídas sobre outras bases ouestão revogadas pelas EC 33/01, ou são inconstitucionais.

18. Contribuições de intervenção no domínioeconômico

As contribuições de intervenção no domínio econômicosão conhecidas pela sigla CIDE.

O domínio econômico corresponde ao âmbito de atuaçãodos agentes econômicos. A Constituição Federal, ao disporsobre a Ordem Econômica, estabelece os princípios que devemregê-la.

Eventual intervenção é feita, pela União, para corrigir

distorções ou para promover objetivos,72 influindo na atuação

da iniciativa privada,73 especificamente em determinado seg-

mento da atividade econômica.74 Não faz sentido a ideia de in-tervenção do Estado nas suas próprias atividades – intervençãoem si mesmo.

Ademais, a intervenção terá de estar voltada a alteraçãoda situação com vista à realização dos princípios estampadosnos incisos do art. 170 da Constituição Federal. Assim é que

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serão ações aptas a justificar a instituição de contribuição de in-tervenção no domínio econômico aquelas voltadas a promover,e.g., o cumprimento da função social da propriedade – de que é

exemplo a contribuição ao INCRA75 – (art. 170, III), a livre con-corrência (art. 170, IV), a defesa do consumidor (art.170, V), adefesa do meio ambiente (art. 170, VI), a redução dasdesigualdades regionais e sociais (art. 170, VII), a busca dopleno emprego (art. 170, VIII) ou o estímulo às microempresase às empresas de pequeno porte – do que é exemplo a con-

tribuição ao SEBRAE – (art. 170, IX).76

Para o financiamento de ações de intervenção no domínioeconômico, o art. 149 da Constituição atribui à União com-petência para a instituição das CIDEs.

Não há sustentação para o entendimento de que a con-tribuição de intervenção possa ser em si interventiva, ou seja,que a sua própria cobrança implique intervenção; a con-tribuição é estabelecida para custear ações da União no sentidoda intervenção no domínio econômico.

Quanto às bases econômicas passíveis de tributação, ascontribuições de intervenção no domínio econômico estãosujeitas ao art. 149, § 2º, III, de modo que as contribuições in-stituídas sobre outras bases ou estão revogadas pelas EC 33/01,ou são inconstitucionais.

19. Contribuições de interesse das categoriasprofissionais ou econômicas

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As contribuições de interesse das categorias profissionaisou econômicas, também previstas no art. 149 da CF, são chama-das contribuições profissionais ou corporativas. Dentre elas,situam-se as contribuições para os conselhos de fiscalização

profissional77 e a contribuição sindical.78

Os Conselhos de Fiscalização Profissional são autar-quias profissionais que fiscalizam o exercício de profissões reg-ulamentadas, conforme as respectivas leis específicas. As con-tribuições devidas a tais Conselhos, como os Conselhos Region-ais de Engenharia e Arquitetura (CREA), os Conselhos Region-ais de Química (CRQ), os Conselhos Regionais de Enfermagem(COREN), são chamadas anuidades. Tendo as anuidades exigi-das pelos Conselhos de Fiscalização Profissional naturezatributária, classificando-se como contribuições sociais do in-teresse das categorias profissionais ou econômicas (art. 149 daCF), submetem-se necessariamente à legalidade estrita (art. 150,I, da CF), à irretroatividade e às anterioridades, bem como àsdemais garantias tributárias.

Os sindicatos, por sua vez, costumam ter várias fontes derecursos. Mas apenas a contribuição sindical, estabelecida porlei, é que configura tributo, enquadrando-se em seu conceito ecumprindo os requisitos para a sua instituição e cobrança. Estacontribuição sindical pode ser a de categoria profissional, es-tabelecida pelos arts. 579 e 580 da CLT, devida, anualmente,por todos os trabalhadores celetistas ao respectivo sindicato naimportância correspondente à remuneração de um dia de tra-balho, ou a de categoria econômica, como a devida pelasempresas rurais à Confederação Nacional da Agricultura, fortena previsão constante do art. 4º, § 1º, do Decreto-Lei 1.166/71.

Diferente é o caso da chamada contribuição confeder-ativa, fixada pela assembleia geral, só exigível dos filiados aosindicato respectivo, nos termos da Súmula 666 do STF. Há

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ainda, a contribuição assistencial, normalmente estabelecidapor convenção coletiva de trabalho, que, conquanto possa con-figurar obrigação dos filiados, deve ser facultativa para os nãofiliados, conforme o Precedente Normativo 119 do TST.

Também são consideradas contribuições do interesse decategorias econômicas as contribuições vertidas para os novosserviços sociais autônomos que atendem a setores específi-

cos.79 80 São elas, por exemplo, as destinadas ao Serviço Socialdo Transporte (SEST) e ao Serviço Nacional de Aprendizagemdo Transporte (SENAT), criados por força da Lei 8.706/93, bemcomo a destinada ao Serviço Nacional de Aprendizagem doCooperativismo (SESCOOP), criado por determinação da MP

1.715/98.81

20. Contribuições de iluminação pública

A EC 39/02, acrescentando o art. 149-A à Constituição,outorgou competência aos Municípios para a instituição decontribuição específica para o custeio do serviço de iluminaçãopública. Fez bem o Constituinte derivado ao optar por outorgarcompetência para a instituição de contribuição, e não de taxa.Do contrário, teríamos uma taxa pela prestação de serviço nãodivisível. Com a opção pela espécie contribuição no art. 149-A,privilegiou-se a pureza da figura das taxas tal como aparecemtradicionalmente em nosso direito, ou seja, relacionadas a ser-viços específicos e divisíveis tão somente.

A competência é para instituição de contribuição para ocusteio do “serviço de iluminação pública”. O serviço de

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iluminação pública é aquele prestado à população em carátergeral nos logradouros públicos. Não se presta, pois, ao custeiodas despesas de energia elétrica relativas aos bens públicos deuso especial, como as dos prédios em que funcionem os órgãosadministrativos do Município ou a câmara de vereadores. Taldesvio, se normativo, autoriza o reconhecimento da inconstitu-cionalidade da exação, ao menos parcial, devendo-se verificarem que medida desborda da autorização constitucional,reduzindo-se o tributo ao patamar adequado.

O caput do art. 149-A faz remissão ao art. 150, I e III, apen-as tornando inequívoca a submissão desta contribuição, comoqualquer outro tributo, às limitações constitucionais ao poderde tributar, evitando discussões sobre a sua natureza.

A contribuição para o custeio do serviço de iluminaçãopública deve ser instituída por lei municipal, cumprindo-se, as-sim, a exigência do art. 150, I, da CF. Tal lei deve estabelecer,necessariamente, ao menos, o seu fato gerador, o contribuinte,e o modo de cálculo da contribuição (base de cálculo ealíquota), não podendo delegar ao Prefeito a fixação, por de-creto ou outro ato administrativo normativo qualquer, doscritérios para o cálculo da contribuição de iluminação pública,pois tal violaria a legalidade absoluta que se exige.

Os Municípios, na instituição da contribuição para ocusteio do serviço de iluminação pública, têm, necessaria-mente, de observar as garantias da irretroatividade, da anteri-oridade de exercício e da anterioridade nonagesimal mínima(art. 150, III, a, b e c, esta acrescentada pela EC 42/03).

O sujeito ativo, de qualquer tributo, tem de ser, necessari-amente, uma pessoa jurídica de direito público, o que decorreda sua própria natureza e está expressamente previsto no art.119 do CTN. A contribuição para o custeio da iluminaçãopública é tributo que deve ter como credor, portanto, o próprio

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Município. A condição de simples arrecadador (quem recebe osvalores e repassa), contudo, pode ser delegada a pessoa jurídicade direito privado, como os bancos ou, no caso da contribuiçãode iluminação pública, as concessionárias de energia elétrica.Adequada, assim, a previsão constante do parágrafo único doart. 149-A, no sentido de que é facultada a cobrança da con-tribuição a que se refere o caput, na fatura de consumo de ener-gia elétrica.

A lei pode colocar como contribuintes os consumidoresde energia elétrica. Conforme já decidido pelo STF no RE573.675, “Lei que restringe os contribuintes da COSIP aos con-sumidores de energia elétrica do município não ofende oprincípio da isonomia, ante a impossibilidade de se identificare tributar todos os beneficiários do serviço de iluminaçãopública”.

A CIP (ou COSIP) pode ter como base de cálculo opróprio valor da conta de energia elétrica. O § 3º do art. 155 daCF não é óbice para tanto, porquanto só veda a incidência deoutro “imposto”, que não o ICMS, sobre operações relativas àenergia elétrica, não a incidência de contribuição.

Considere-se, ainda, que a “progressividade da alíquota,que resulta do rateio do custo da iluminação pública entre osconsumidores de energia elétrica, não afronta o princípio da ca-pacidade contributiva”, nos termos do que restou decidido nojá referido RE 573.675. Muitos Municípios, contudo, optarampor cobrar CIP em montante fixo, o que também é válido.

Ainda sobre tal contribuição, vide capítulo específicoainda, sobre as contribuições instituídas.

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Notas do Capítulo II

39 “A nomenclatura utilizada na lei, no que se lançou mão do vocábulo adi-cional, não me impressiona porque não se trata, a rigor, de um adicional. Oque houve foi a criação de uma contribuição nova. Aí, surge o questiona-mento: seria possível criar essa contribuição nova ...” (excerto do voto do Min.MARCO AURÉLIO por ocasião do julgamento do RE 396.266-3, relativo àcontribuição ao SEBRAE, em nov/03).

40 XAVIER, Alberto. Temas de Direito Tributário. Rio de janeiro: Lumen Juris,1991, p. 26.

41 ATALIBA, Geraldo. Hipótese de Incidência Tributária. São Paulo: RT, 1991.

42 Vide o Decreto-Lei 1.804/39.

43 Art. 149, § 1º, da CF, que outorga competência aos Estados e Municípiospara a instituição de contribuição, cobrada de seus servidores, para o custeiode regime próprio de previdência, e art. 149-A da CF que concede competên-cia aos Municípios para a instituição de contribuição de iluminação pública.

44 Esta subespécie diz respeito à Contribuição Provisória sobre Movi-mentação Financeira (CPMF), cuja última prorrogação estendeu-se até dezem-bro de 2007.

45 Sobre os diversos impostos do sistema tributário brasileiro, vide o livroque escrevemos em parceria com JOSÉ EDUARDO SOARES DE MELO: Im-postos Federais, Estaduais e Municipais. Porto Alegre: Livraria do Advogado,2011.

46 TORRES, Ricardo Lobo. Curso de Direito Financeiro e Tributário. 16ª ed. SãoPaulo: Renovar, 2009, p. 119/121.

47 FERREIRA NETO, Arthur M. Classificação Constitucional de Tributos pelaPerspectiva da Justiça. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006.

48 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21ª ed. SãoPaulo: Saraiva, 2009, p. 40.

49 Voto do Ministro MOREIRA ALVES na Representação de Inconstitucional-idade 1.077/84.

50 “TAXA: CORRESPONDÊNCIA ENTRE O VALOR EXIGIDO E O CUSTODA ATIVIDADE ESTATAL. – A taxa, enquanto contraprestação a uma ativid-ade do Poder Público, não pode superar a relação de razoável equivalência

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que deve existir entre o custo real da atuação estatal referida ao contribuinte eo valor que o Estado pode exigir de cada contribuinte, considerados, paraesse efeito, os elementos pertinentes às alíquotas e à base de cálculo fixadasem lei. – Se o valor da taxa, no entanto, ultrapassar o custo do serviçoprestado ou posto à disposição do contribuinte, dando causa, assim, a umasituação de onerosidade excessiva, que descaracterize essa relação de equival-ência entre os fatores referidos (o custo real do serviço, de um lado, e o valorexigido do contribuinte, de outro), configurar-se-á, então, quanto a essa mod-alidade de tributo, hipótese de ofensa à cláusula vedatória inscrita no art. 150,IV, da Constituição da República.” (STF, Pleno, ADI 2551 MC-QO, CELSO DEMELLO, abr/03).

51 “[...] a própria essência jurídica da taxa não permite a utilização da base decálculo normalmente moldável a algum imposto. Dito de outro modo, a basede cálculo de uma taxa, por sua própria natureza, tem de ser consoante ao as-pecto material próprio da sua hipótese de incidência (prestação de serviçopúblico ou exercício do poder de polícia), devendo, pois, consistir numa refer-ência ou um padrão para a aferição do custo do serviço ou do poder de polí-cia. [...] não só as taxas não poderão utilizar a mesma base de cálculo dos im-postos já existentes, mas, também, para fixação desta base, não poderão serlevados em conta quaisquer dos chamados índices de tributação típicos dosimpostos como o indivíduo, o patrimônio, a renda, a quantidade ou qualid-ade dos produtos ou das mercadorias.” (RAMOS FILHO, Carlos Alberto deMoraes. As taxas no direito tributário brasileiro. RTFP 55/54, abr/04).

52 CONTI, José Maurício. Sistema Constitucional Tributário/Interpretado pelosTribunais. São Paulo: Oliveira Mendes, 1997, p. 28.

53 STF, Segunda Turma, Rel. Ministro CELSO DE MELLO, RE 176.382 AReg,2000. Vide, adiante, item sobre o princípio da capacidade contributiva.

54 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro MAURÍCIO CORRÊA, ADI 2.040, 1999.

55 SEIXAS FILHO, Aurélio Pitanga. Análise da Taxa de ConservaçãoRodoviária e o Conceito de Pedágio. In: Suplemento Jurídico do Departamento deEstradas de Rodagem do Estado de São Paulo nº 144/22, 1993. Também em SeleçõesJurídicas COAD, jul/91, p. 12

56 STF, Segunda Turma, Rel. Ministro CARLOS VELLOSO, RE 114.069, 1994.

57 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE, RE 121.336,1990.

58 Sobre as diversas contribuições do sistema tributário brasileiro, vide o livroque escrevemos em parceria com ANDREI PITTEN VELLOSO. Contribuições:

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Teoria Geral, Contribuições em Espécie. Porto Alegre: Livraria do Advogado,2010.

59 DIFINI, Luiz Felipe Silveira. Manual de Direito Tributário. São Paulo:Saraiva, 2003, p. 50.

60 1. “Um segundo conceito vai definir a estrutura das contribuições. [...] paraas contribuições, é a qualificação de uma finalidade a partir da qual é possívelidentificar quem se encontra numa situação diferenciada pelo fato de o con-tribuinte pertencer ou participar de um certo grupo (social, econômico,profissional). [...] Paga-se contribuição porque o contribuinte faz parte de al-gum grupo, de alguma classe, de alguma categoria identificada a partir decerta finalidade qualificada constitucionalmente a assim por diante. Alguém‘faz parte’, alguém ‘participa de’ uma determinada coletividade,encontrando-se em situação diferenciada, sendo que, desta participação, podehaurir, eventualmente (não necessariamente), determinada vantagem.”(GRECO, Marco Aurélio. Contribuições: uma figura sui generis. São Paulo: Di-alética, 2000, p. 83/84); “A União não cobrará de toda a sociedade, por umaatuação sua que é motivada por um certo grupo. Então, encontra-se uma dis-tinção importante entre um imposto e a CIDE. Enquanto o imposto é voltadoa cobrir despesas gerais, a CIDE é voltada a cobrir despesas de uma inter-venção que, por sua vez, interessará ou será provocada por um determinadogrupo. Encontra-se uma palavra importantíssima no estudo da CIDE:REFERIBILIDADE. Haverá um grupo que tem interesse para a intervençãodo Estado, que provocou ou motivou esta, ainda que tal grupo não seja neces-sariamente beneficiado por ela.” (SCHOUERI, Luís Eduardo. Exigências daCIDE sobre Royalties e Assistência Técnica ao Exterior. RET 37/144, jun/04).“[...] a contribuição interventiva somente poderá ser exigida daqueles que ex-plorarem, sob regime de direito privado, a atividade econômica objeto da reg-ulação estatal.” (COSTA, Regina Helena. Curso de Direito Tributário. Saraiva,2009, p. 134). “[...] não é suficiente, para que uma CIDE seja havida por válida,a necessidade da intervenção da União, no segmento econômico eleito pelanorma instituidora do gravame. É preciso mais, que seja, que o tributo venhaexigido de pessoa que integra este mesmo segmento. O contribuinte, como éfácil notar, há de ser sempre alguém que tenha vínculo direto com o setor daEconomia que vai sofrer a atuação da União. Na medida em que ele vaicausar uma especial despesa ao setor ou dele vai receber um especial benefí-cio, é justamente este liame que justifica sua inserção no pólo passivo daCIDE... É certo – repisamos – que a intervenção da União no domínio econ-ômico provoca reflexos sobre toda a sociedade, até porque esta pessoa política– como todas as demais pessoas políticas – deve direcionar seu agir ao bemcomum. Entretanto, é igualmente certo que tal intervenção atinge, de modoimediato,os integrantes de um dado grupo. Pois bem, é somente deles que a

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CIDE pode ser validamente exigida.” (CARRAZZA, Roque Antonio. Con-tribuição de intervenção no domínio econômico... RDDT 170/93, nov/09).

61 “Em se tratando de contribuições de interesse de categorias profissionaisou econômicas, é razoável entender-se que o contribuinte deve ser a pessoa,física ou jurídica, integrante da categoria profissional ou econômica. pessoaque não integra qualquer uma dessas categorias não deve ser compelida acontribuinte no interesse das mesmas. Em se tratando de contribuições de in-tervenção no domínio econômico, contribuinte há de ser o agente econômicosubmetido á intervenção... Finalmente, em se tratando de contribuições de se-guridade social, tem-se de considerar que a própria Constituição cuidou dedefinir, ao delinear o âmbito dessas contribuições, quem pode ser colhidopelo legislador como sujeito passivo das mesmas.” (MACHADO, Hugo deBrito. Curso de Direito Tributário. 30ª ed. Malheiros: 2009, p. 421).

62 “[...] CONTRIBUIÇÃO DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA MUNICIPAL. ART.149-A DA CF. REFERIBILIDADE. [...] Situando-se a sede da Autora na zonarural do Município, que não é objeto de política de iluminação pública, con-forme evidenciado nos autos, não se verifica a referibilidade indispensável aque pudesse ser considerada contribuinte da contribuição em questão.” (TRF4na AC 200371030026884).

63 “A Primeira Seção, ao apreciar a exigibilidade da contribuição para oINCRA, firmou orientação no sentido de que “as contribuições especiaisatípicas (de intervenção no domínio econômico) são constitucionalmente des-tinadas a finalidades não diretamente referidas ao sujeito passivo, o qual nãonecessariamente é beneficiado com a atuação estatal e nem a ela dá causa(referibilidade). Esse traço característico que as distingue das contribuições deinteresse de categorias profissionais e de categorias econômicas” (EREsp724.789/RS, Rel. Ministra Eliana Calmon, Primeira Seção, DJ 28/5/2007).”(STJ, Primeira Turma, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, REsp 1121302,2010).

64 STJ, Primeira Turma, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, REsp673.059, 2006.

65 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro CARLOS VELLOSO, EDRE 396.266,2004.

66 STF, Tribunal Pleno, relator para o acórdão Ministro MARCO AURÉLIO,ADI 2.925, 2003.

67 Desvinculação parcial foi autorizada pela EC 27/00 e prorrogada pelasEECC 42/03 e 56/07, através do art. 76 do ADCT.

68 O § 2º do art. 149 foi acrescentado pela EC 33/01.

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69 ADCT, art. 74, § 3º.

70 A CPMF era um tributo temporário, tendo restado extinta ao final de 2007,quando esgotou-se o seu período de vigência sem nova prorrogação.

71 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro NELSON JOBIM, ADC 3, 1999.

72 “O que é intervir sobre o domínio econômico? Intervir sobre o domínioeconômico significa, num sentido negativo, corrigir distorções do mercado.Por exemplo, quando há empresas formando um monopólio, pode-se fazeruma intervenção para criar concorrência, para gerar novos agentes no mer-cado. É uma intervenção do Estado que almeja corrigir falhas do mercado.Por outro lado, muitas vezes a intervenção sobre o domínio econômico tam-bém ocorrerá positivamente, para concretizar objetivos da própria Constitu-ição. No art. 170 deste diploma, nós encontramos objetivos de atuação posit-iva do Estado, como, por exemplo, erradicar desigualdades regionais, di-minuir as desigualdades sociais, promover a microempresa, garantir a sober-ania nacional, assegurar o exercício da função social da propriedade. [...] Emambos os casos, surgida a necessidade de intervenção do Estado sobre odomínio econômico, aparece a possibilidade da cobrança de uma CIDE.”(SCHOUERI, Luís Eduardo. Exigências da CIDE sobre Royalties e AssistênciaTécnica ao Exterior. RET 37/144, jun/04).

73 “[...] a intervenção há de ser feita por lei; o setor da economia visado deveestar sendo desenvolvido pela iniciativa privada para que se possa identificarum ato de intervenção do domínio econômico; as finalidades da intervençãodevem perseguir aqueles princípios arrolados na Constituição [...]”(BALEEIRO, Aliomar. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar. 7ª ed.,atualizada por Misabel Abreu Machado Derzi. Rio de Janeiro: Forense, 1997,p. 596).

74 “A intervenção supõe a idéia de provimento pontual, circunscrito a umadeterminada área, setor, segmento da atividade econômica, que apresente ca-racterísticas que a justifiquem. [...] Relevante é deixar claro que um dos parâ-metros da instituição da contribuição é a definição de uma parcela dodomínio econômico, que atuará como critério de circunscrição da sua ap-licação, inclusive no que se refere aos respectivos contribuintes. Contribuiçãode intervenção que atinja universo que abrange todos, independente do setorem que atuem, até poderá ser contribuição, mas certamente não será mais ‘deintervenção’.” (GRECO, Marco Aurélio. Contribuições de Intervenção noDomínio Econômico e Figuras Afins. São Paulo: Dialética, 2001, p. 16-17).

75 STJ, Primeira Seção, Rel. Ministra ELIANA CALMON, EREsp 722.808,2006.

76 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro CARLOS VELLOSO, RE 396.266, 2003.

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77 STF, Segunda Turma, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,REsp 1235676, 2011.

78 STF, Segunda Turma, Rel. Ministro CARLOS VELLOSO, RE 129.930, 1991.

79 “a natureza jurídica da contribuição ao SEBRAE é diversa da devida aoSESCOOP; o tributo devido ao SEBRAE enquadra-se como contribuição deintervenção no domínio econômico, ao passo que o outro como contribuiçãono interesse de categoria profissional ou econômica.” (TRF4, APELREEX2005.71.04.003807-7, Decisão do Des. Álvaro Eduardo Junqueira, D.E. 08/07/2011).

80 SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 2ª ed. São Paulo: Saraiva,2010, p. 502.

81 Trata-se de desmembramentos das contribuições ao SESC/SENAC e SESI/SENAI.

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Capítulo III – CompetênciaTributária

21. Detalhamento da competência pelaConstituição

A competência tributária de cada ente político é estabele-cida taxativamente pela Constituição da República em seusarts. 145 a 149-A, sendo, pois, numerus clausus as possibilid-ades de tributação.

Assim é que só poderão ser instituídos tributos que pos-sam ser reconduzidos a uma das normas concessivas de com-petência tributária, sob pena de inconstitucionalidade.

O exercício, por um ente político, de competência conce-dida constitucionalmente a outro implica invasão de competên-cia. Cada qual deve se circunscrever à competência que lhe foioutorgada, não podendo extrapolá-la.

As prerrogativas advindas da outorga de competênciastributárias encontram-se regulamentadas pelos artigos 6º a 8ºdo CTN.

Como a instituição dos tributos se faz, necessariamente,por lei, a outorga de competência “compreende a competêncialegislativa plena” (art. 6º do CTN), ou seja, a possibilidade de

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legislar instituindo o tributo e, subsequentemente,regulamentando-o. A competência pode ser exercida aqualquer tempo, não estando condicionada por prazo decaden-cial. Assim, o não exercício da competência tributária não im-plica perda da possibilidade de fazê-lo, tampouco a transfere“a pessoa jurídica de direito público diversa daquela a que aConstituição a tenha atribuído” (art. 8º). Não há, pois, decadên-cia da possibilidade de instituir tributo nem transferência decompetência tributária.

A “repartição” do poder de tributar, através da atribuiçãoconstitucional de competências a cada um dos entes políticos,não se confunde, de modo algum, com a repartição de receitastributárias, prevista a partir do art. 157 da CF. Daí dispor oparágrafo único do art. 6º do CTN: “Os tributos cuja receita sejadistribuída, no todo ou em parte, a outras pessoas jurídicas dedireito público pertencem à competência legislativa daquela aque tenham sido atribuídos”.

Não se pode confundir, ainda, a parcela de poder fiscal decada ente federado, ou seja, a sua competência tributária, comas funções fiscais respectivas. Nesse sentido, veja-seBERNARDO RIBEIRO DE MORAES, em Compêndio de DireitoTributário, 4ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1995, p. 265:

“[...] a Constituição, que oferece os fins, isto é, o tributoe respectiva receita, também oferece os meios para apessoa jurídica de direito público constitucional. Aolado da competência tributária (poder de baixar normasjurídicas tributárias), a entidade tributante recebe fun-ções tributárias, decorrentes do próprio dever da Ad-ministração de aplicar as leis tributárias, de executarleis, atos ou decisões administrativas, onde se acham asfunções de fiscalizar e de arrecadar o tributo criado pelalei. Não podemos confundir, portanto, essas duas

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ordens diversas, tanto pelo fundamento como pela fi-nalidade: o poder fiscal, ou competência tributária,advindo da soberania, que se concretiza com a de-cretação da norma jurídica tributária; e as funções fisc-ais, decorrência do dever de administração, que se con-cretizam com o exercício da fiscalização e da ar-recadação do tributo. A competência tributária acha-seligada ao Poder Legislativo; as funções fiscais estão liga-das ao Poder Executivo.”

A competência, como parcela do poder fiscal, é in-delegável, ou seja, não pode a União, por exemplo, delegar aosEstados a instituição do Imposto de Renda, pois cuida-se deimposto federal concedido à União, exclusivamente, no art.153, III, da Constituição. As funções fiscais (regulamentar, fisc-alizar, lançar), são delegáveis, porquanto tal implica tãosomente transferência ou compartilhamento da titularidadeativa (posição de credor na relação jurídica tributária) ou apen-as de atribuições administrativas (atribuições de fiscalizar elançar).

Assim é que a União, instituindo as contribuições previd-enciárias, colocou, inicialmente, o INSS, que é autarquia feder-al, como credor, com todas as prerrogativas inerentes a talposição, nos termos do art. 33 da Lei 8.212/91 na redação ori-ginal e na dada pela Lei 10.256/01, e, posteriormente, atribuiua administração de tais contribuições, ainda em nome do INSS,à Secretaria da Receita Previdenciária (órgão da própria Un-ião), nos termos da Lei 11.098/05, tendo, finalmente, revogadotais delegações e assumido, ela própria, a União, a condição desujeito ativo, administrando tais contribuições através dasDelegacias da Receita Federal do Brasil, nos termos da Lei11.457/07. Quando da instituição da taxa de controle e

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fiscalização ambiental pela União, por sua vez, a Lei 10.165/00colocou a autarquia federal IBAMA como sujeito ativo.

Tais possibilidades, aliás, constam expressamente do art.7º do CTN: “A competência tributária é indelegável, salvo at-ribuição das funções de arrecadar ou fiscalizar tributos, ou deexecutar leis, serviços, atos ou decisões administrativas emmatéria tributária, conferida por uma pessoa jurídica de direitopúblico a outra, nos termos do § 3º do art. 18 da Constitu-

ição”.82 A atribuição das funções fiscais, que é revogável aqualquer tempo por ato unilateral da pessoa jurídica de direitopúblico que a tenha conferido (§ 2º), “compreende as garantiase os privilégios processuais que competem à pessoa jurídica dedireito público que a conferir” (§ 1º do art. 7º), até porque asgarantias e os privilégios são instrumentos para a cobrança dostributos. O § 3º dispõe, ainda, que “Não constitui delegação decompetência o cometimento, a pessoas de direito privado, doencargo ou da função de arrecadar tributos”. A Resolução doSenado Federal 33/06 autoriza a cessão, para cobrança, dadívida ativa dos Municípios a instituições financeiras, atravésde endosso-mandato, com antecipação de receita até o valor deface dos créditos.

Vale, considerar, também, a redação do art. 84 do CTN,constante do Capítulo sobre a Distribuição de ReceitasTributárias: “Art. 84. A lei federal pode cometer aos Estados, aoDistrito Federal ou aos Municípios o encargo de arrecadar osimpostos de competência da União, cujo produto lhes seja dis-tribuído no todo ou em parte. Parágrafo único. O dispostoneste artigo aplica-se à arrecadação dos impostos de competên-cia dos Estados, cujo produto estes venham a distribuir, no to-do ou em parte, aos respectivos Municípios”. Quanto ao ITR,tal prerrogativa da União ganhou status constitucional com o §4º do art. 153, acrescido pela EC 42/03, restando estabelecida a

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possibilidade de os Municípios celebrarem convênio com a Un-ião para fiscalizarem e cobrarem, eles próprios, o ITR, hipóteseem que ficam com 100% do produto da arrecadação, e nãoapenas com os 50% que lhes são destinados quando o tributo éfiscalizado e cobrado pela União, nos termos da nova redaçãodo art. 158, II, da CF.

22. Normas constitucionais concessivas decompetência

As normas de competência constam dos arts. 145 a 149-A,encontrando, ainda, especificações nos arts. 177, § 4º, e 195 daCF.

O artigo 145 cuida da competência da União, dos Estados,do Distrito Federal e dos Municípios para a instituição de im-postos, taxas e contribuições de melhoria.

Quanto aos impostos, o art. 145 é complementado pelosarts. 153 a 156. O art. 153 estabelece os impostos da União, en-quanto sua competência residual para instituir novos impostosdiversos dos previstos na Constituição consta no art. 154, I, esua competência para instituir imposto extraordinário deguerra é concedida pelo art. 154, II. O art. 155, por sua vez, es-pecifica os impostos dos Estados. O art. 156 cuida dos impostosdos Municípios. Sendo arroladas pela Constituição as basesque cada ente político pode tributar a título de imposto, pode-se concluir no sentido de que se trata de competênciasprivativas, ressalvada a competência da União para a institu-ição do imposto extraordinário de guerra, pois o art. 154, II,autoriza que este recaia sobre qualquer base.

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O art. 148 estabelece a competência da União para a in-stituição de empréstimos compulsórios.

O art. 149 competência da União para a instituição decontribuições sociais de intervenção no domínio econômico edo interesse das categorias profissionais ou econômicas. O art.177, § 4º, traz normas específica quanto à contribuição inter-ventiva relativa às atividades de importação e a comercializa-ção de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados eálcool combustível. O art. 195 complementa o tratamento dascontribuições sociais, estabelecendo algumas normas especiaispara as de seguridade social, sem prejuízo de que lhes sejamaplicáveis as normas do art. 149 no que forem compatíveis. O §1º do art. 149, por sua vez, dispõe sobre a competência dosEstados, do Distrito Federal e dos Municípios para a instituiçãode contribuições de previdência dos seus servidores. O art.149-A, por fim, estabelece a competência dos Municípios para ainstituição de contribuição de iluminação pública.

As normas de competência ora adotam como critério aatividade estatal, ora a base econômica a ser tributada, ora a fi-nalidade para a qual se admite a instituição do tributo, hav-endo casos, ainda, em que tais critérios são combinados, res-ultando num duplo condicionamento para o exercício da com-petência tributária.

23. Critério da atividade estatal

Há tributos cuja competência é outorgada em função daatividade estatal. É o caso das taxas e das contribuições demelhoria.

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Note-se que o art. 145, II, da CF cuida da cobrança detaxas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelosMunicípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, demodo que cada ente federado tem competência para cobrartaxas pelos serviços que preste ou pelo poder de polícia queexerça no desempenho da sua competência administrativa.

As contribuições de melhoria, por sua vez, estampadas noart. 145, III, da CF, podem ser instituídas em face de obrapública, de modo que pressupõem a atividade estatal.

24. Critério da base econômica

A competência tributária, relativamente a determinadostributos, é conferida mediante a indicação das situações reve-ladoras de riqueza passíveis de serem tributadas. Cuida-se detécnica de outorga de competência que restringe a tributação adeterminadas bases econômicas, taxativamente arroladas.

Este critério tem sido utilizado, desde a EC 18/65, para aoutorga de competências relativamente à instituição de impos-tos. Na Constituição de 1988, contudo, além a instituição de im-postos, também a instituição de contribuições sociais de se-guridade social ordinárias passou a ter o seu objeto delimitado.Mais recentemente, ainda, com a EC 33/01, a possibilidade deinstituição de quaisquer contribuições sociais e de intervençãono domínio econômico restou circunscrita a determinadasbases econômicas.

Os artigos 153, 155 e 156 estabelecem as bases econômicassobres as quais cada ente político, de forma privativa, poderáinstituir imposto, sem prejuízo, por certo, das competências

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residual e extraordinária da União, observados os seus requisi-tos próprios, nos termos do art. 154. Confere, assim, a trib-utação de determinadas riquezas à União (importação, ex-portação, renda, operações com produtos industrializados etc.),de outras aos Estados (circulação de mercadorias, propriedadede veículos automotores etc.) e de outras aos Municípios

(prestação de serviços de qualquer natureza etc.).83

O art. 195, incisos I a IV, arrola as bases econômicas passí-veis de serem tributadas para o custeio da seguridade social:folha de salários e demais pagamentos a pessoa física por tra-balho prestado, faturamento ou receita, lucro etc.

O art. 149, em seu § 2º, III, acrescentado pela EC 33/01,faz com que a outorga de competência para a instituição decontribuições sociais em geral e de intervenção no domínio eco-nômico recaia sobre o faturamento, a receita bruta ou valor daoperação e, no caso de importação, o valor aduaneiro (alínea a),sem prejuízo da possibilidade de tributação por valor fixo con-forme a quantidade de produto (alínea b). Tal inciso tem, pois,simultaneamente, um conteúdo permissivo e um conteúdo re-stritivo, pois “junge o legislador tributário à eleição de uma das

bases de cálculo que indica de forma taxativa”.84

A outorga de competência pelo critério da base econôm-ica, implica, efetivamente, por si só, uma limitação da re-spectiva competência às possibilidades semânticas (significadodas palavras) e sintáticas (significado das expressões ou frasescomo um todo, mediante a consideração da inter-relação e im-plicação mútua entre as palavras) do seu enunciado. Quando oart. 153 outorga competência para a instituição de impostosobre a renda e proventos de qualquer natureza ou sobre a pro-priedade territorial rural, impõe-se que se investigue o que sig-nificam tais expressões, analisando cada um dos termos separa-damente e em conjunto. Da mesma forma, quando o art. 155

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trata do imposto sobre a circulação de mercadorias, o ponto departida para a sua análise é investigarmos o que é circulação eo que são mercadorias. Esta técnica de abordagem decorre daprópria necessidade de cumprimento da Constituição,respeitando-se as competências outorgadas.

O art. 110 do CTN é inequívoco no sentido de que a leitributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcancede institutos, conceitos e formas de direito privado utilizados,expressa ou implicitamente, pelas Constituições Federal ouEstaduais ou pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dosMunicípios, para definir ou limitar competências tributárias.

O critério da base econômica enseja, pois, um controlematerial sobre o objeto da tributação mediante análise do fatogerador, da base de cálculo e do contribuinte em face dariqueza que pode ser tributada.

Muitos tributos instituídos com extrapolação do signific-ado possível da base econômica dada à tributação foram de-

clarados inconstitucionais pelo STF,85 conforme se pode ver docaso da contribuição previdenciária das empresas sobre o pró-labore, quando o art. 195, I, a, na redação original, só autor-

izava a instituição sobre a folha de salários,86 e do caso da con-tribuição sobre a receita bruta, quando o art. 195, I, b, só autor-

izava a instituição sobre o faturamento.87

25. Critério da finalidade

A Constituição também outorga competências pelocritério da finalidade, indicando áreas de atuação que

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justificam a instituição de tributos para o seu custeio. Assim sedá relativamente às contribuições e aos empréstimoscompulsórios.

MARCO AURÉLIO GRECO destaca que a finalidade é ocritério de validação constitucional de tais tributos, pois é o quefundamenta e dá sustentação à sua instituição e cobrança.

Ao estabelecer competências pelo critério da finalidade, aConstituição optou pela funcionalização de tais tributos,admitindo-os quando venham ao encontro da promoção depolíticas arroladas pelo próprio texto constitucional como rel-evantes para a sociedade brasileira.

Evidencia, nas espécies tributárias cuja competência édesse modo outorgada, o caráter instrumental do tributo: otributo como instrumento da sociedade para a viabilização depolíticas públicas.

Não se trata de arrecadação para a simples manutençãoda máquina estatal em geral, mas de arrecadação absoluta-mente fundamentada e vinculada à realização de determin-adas ações de governo.

A instituição de contribuições e de empréstimos com-pulsórios, portanto, é condicionada pelas finalidades que osjustificam. ANDREI PITTEN VELLOSO destaca que “O legis-lador não pode buscar toda e qualquer finalidade através dascontribuições especiais, pois no nosso sistema constitucionalnão há uma competência genérica para a instituição de tais

tributos. O que existem são competências específicas”.88

Isso enseja dois tipos de controle, um relativo à lei in-stituidora do tributo e outro relativo à efetiva destinação doproduto conforme a lei instituidora.

Cumpre verificar, primeiramente, a exata correspondên-cia da finalidade invocada na norma instituidora com aquela

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prevista na Constituição como autorizadora da instituição detais tributos. Tal controle, note-se, reporta-se ao momento exatoda publicação da lei, que fixa sua existência e validade, de-vendo ter em conta a redação do texto constitucional vigentequando do seu advento. Não havendo compatibilidade, restaráevidenciado que a lei instituidora não encontra suporte nanorma de competência e, pois, que não há competência para ainstituição do referido tributo, reconhecendo-se, por isso, a in-constitucionalidade da lei.

Mas, como os tributos que têm na finalidade o seu critériode validação constitucional só podem ser legitimamente exi-gidos se a finalidade é efetiva, real, e não um mero enunciadode intenções, sempre resta aberta, ainda, a possibilidade de an-álise da destinação. Cabe, pois, num segundo momento, verifi-car a observância, em concreto, da finalidade invocada pela leiinstituidora e que a Constituição coloca como autorizadora dotributo, ou seja, conferir se os recursos arrecadados estãoefetivamente tendo aplicação condizente com a finalidade quefundamenta a sua cobrança. A inconstitucionalidade, aqui, serásuperveniente, não da lei instituidora, mas da sua aplicação emdesconformidade com a finalidade enunciada. Este controlenão se exaure no tempo, tampouco preclui. Impende que se an-alise a lei orçamentária e demais atos normativos que cuidemda destinação de recursos, o que permite abortar, na origem,eventual desvio, de modo que o tributo seja destinado à sua fi-nalidade própria, garantindo-se a arrecadação e a aplicação ad-equadas. O Ministério Público pode e deve desempenhar talcontrole. Verificando-se, apenas a posteriori, que a destinaçãoefetiva não correspondeu à destinação legal e constitucional,restará revelada a falta de suporte válido para a cobrança,caracterizando-se, então, o pagamento indevido.

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26. Imunidades

As regras constitucionais que proíbem a tributação de de-terminadas pessoas ou bases econômicas relativamente a trib-utos específicos, negando, portanto, competência tributária, sãochamadas de imunidades tributárias. Isso porque tornamimunes à tributação as pessoas ou base econômicas nelas referi-das relativamente aos tributos que a própria regra constitucion-al negativa de competência especifica.

O texto constitucional não refere expressamente o termo“imunidade”. Utiliza-se de outras expressões: veda a institu-ição de tributo, determina a gratuidade de determinados ser-viços que ensejariam a cobrança de taxa, fala de isenção, de nãoincidência etc. Mas, em todos esses casos, em se tratando denorma constitucional, impede a tributação, estabelecendo, pois,o que se convencionou denominar de imunidades. O próprioSTF já reconheceu a natureza de imunidade a essas regras con-stitucionais de “não incidência” e de “isenção”. É o caso do RE212.637, que cuidou do art. 155, § 2º, X, a, ou seja, da imunidadeao ICMS das operações que destinem mercadorias ao exterior,e da ADI 2028, que tratou do art. 195, § 7º, acerca da imunidadeàs contribuições de seguridade social das entidades beneficen-tes de assistência social. É importante considerar que, emborahaja a referência, no texto constitucional, à isenção ou à não in-cidência, em essência constituem normas negativas de com-petência. Isso porque a isenção é benefício fiscal que pressupõea existência da competência tributária e a própria incidência,exigindo do ente tributante outra lei que afaste a cobrança dotributo relativamente ao contribuinte ou operação beneficiada.A não incidência, por sua vez, é simples consequência do fatode determinada situação não se enquadrar na hipótese de in-cidência (também chamada regra matriz de incidência

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tributária). Elevadas a normas constitucionais proibitivas detributação, deixam de ser simples isenções ou não incidências,assumindo verdadeiro caráter de imunidade.

Por se tratar de normas de competência, ainda que negat-ivas, as imunidades têm foro exclusivo na Constituição, são nu-merus clausus.

As imunidades ora dizem respeito a impostos, ora a out-ras espécies tributárias, o que depende da norma específicaque se estiver analisando. As imunidades do art. 150, VI, da CF,por exemplo, conforme consta expressamente de seu texto,limitam-se a negar competência para a instituição de impostos.Estabelece tal inciso as chamadas imunidades genéricas, nãoexcluindo a existência de outras que se possa vislumbrar aolongo do capítulo do Sistema Tributário Nacional e que, em al-guns casos, dizem respeito a outras espécies tributárias. O art.149, § 2º, I, da CF estabelece a imunidade das receitas de ex-portação às contribuições sociais e de intervenção no domínio

econômico.89 O art. 195, § 7º, da CF traz imunidade que diz re-speito às contribuições de seguridade social. No artigo 5º, in-ciso XXXIV, por sua vez, encontramos imunidade relativa ataxas.

É comum colocarem-se divergências sobre o critério parainterpretação das imunidades, se ampliativo ou restritivo. OSTF tem diversos precedentes do seu Plenário apontando parauma interpretação restritiva, como quando decidiu o alcance da

imunidade das receitas de exportação (art. 149, § 2º, I).90 Mastambém tem precedentes que ampliam o alcance de regras deimunidade, como no caso da imunidade recíproca, que a CFdiz abranger os entes políticos (art. 150, VI, a), suas autarquiase fundações públicas (art. 150, § 2º), mas que o STF estende aempresas públicas e até mesmo a sociedades de economiamista quando exerçam serviço público típico, em regime de

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monopólio ou em caráter gratuito, sem concorrência com a ini-

ciativa privada.91 Aliás, para a mesma norma de imunidade,

por vezes o STF adota critérios distintos, ora ampliativo,92 ora

restritivo.93 Entendemos que não é dado ao aplicador assumirqualquer premissa que o condicione a estender ou a restringir anorma que imuniza; deve, sim, perscrutar seu efetivo alcanceconsiderando a regra de imunidade, seu objeto, sua finalidade,enfim, todos os meios interpretativos ao seu alcance (literal, sis-temático, teleológico).

As normas negativas de competência, bastantes em si, sãoautoaplicáveis. Mas há imunidades que exigem regula-mentação, mormente quando seu texto remete expressamenteaos requisitos e condições estabelecidos em lei. A doutrina,mesmo nestes casos, preconiza majoritariamente a autoaplicab-ilidade. Entretanto, o STF trilhou caminho oposto quando anal-isou o já revogado inciso II do § 2º do art. 153 da CF,pronunciando-se pela retenção do imposto de renda na fontesobre os proventos dos aposentados com mais de sessenta ecinco anos, cuja renda total fosse constituída exclusivamente derendimentos do trabalho, até que surgisse a lei fixando os ter-

mos e limites da não incidência.94

Nos casos em que a regulamentação é expressamente re-querida pelo Texto Constitucional, discute-se o instrumento le-gislativo adequado. Duas referências são importantes paratanto. De um lado, há a exigência de lei complementar para aregulamentação de limitações ao poder de tributar, constantedo art. 146, II, da CF; de outro, a simples referência aos requisi-tos de lei no art. 150, inciso VI, alínea c (imunidade a impostosdos partidos políticos, entidades sindicais dos trabalhadores,instituições de educação e de assistência social) e no art. 195, §7º, da CF (imunidade a contribuições de seguridade social das

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entidades beneficentes de assistência social), sendo certo que oSTF mantém posição rígida no sentido de que, quando a Con-stituição refere lei, se cuida de lei ordinária, pois a lei comple-mentar é sempre requerida expressamente. Trilhando posiçãoconciliatória, o STF decidiu, em junho de 2005, no Ag. Reg. RE428.815-0, no sentido de que as condições materiais para ogozo da imunidade são matéria reservada à lei complementar,mas que os requisitos formais para a constituição e funciona-mento das entidades, como a necessidade de obtenção e renov-ação dos certificados de entidade de fins filantrópicos, sãomatéria que pode ser tratada por lei ordinária. Na ADI 2.028/DF, tal posição já havia sido invocada, refletindo entendimentoiniciado pelo Ministro Soares Muñoz em 1981.

27. Competências privativas, comuns e residuais

A competência tributária também pode ser classificadaem privativa, comum ou residual.

A competência privativa é aquela atribuída a um entepolítico em particular, como a relativa a impostos sobre arenda, sobre produtos industrializados (da União), sobre circu-lação de mercadorias (do Estado), sobre a prestação de serviços(do Município), ou mesmo a relativa a contribuições sociaisgerais, de intervenção no domínio econômico ou do interessede categorias profissionais (da União) e a contribuições de ilu-

minação pública (do Município).95

A competência comum é aquela atribuída aos entespolíticos em geral (União, Estados e Municípios), como a de in-stituir taxas pela prestação de serviços específicos e divisíveis

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ou pelo exercício do poder de polícia, ou mesmo de instituircontribuições de melhoria pelas obras que realizarem. Dequalquer modo, mesmo nestes casos, é preciso ter em conta quetais atividades dos entes políticos que ensejam a instituição detributos são realizadas no exercício das suas específicas com-petências administrativas, de modo que acabam as possibilid-ades de tributação sendo próprias e privativas de cada um

deles.96

A competência residual é aquela atribuída à União para ainstituição de tributos sobre bases econômicas distintasdaquelas já estabelecidas no Texto Constitucional. É o queocorre com os impostos, quando o art. 154, I, da Constituiçãopermite à União a instituição de outros impostos além daquelesque discrimina em seus arts. 153, 155 e 156, e o que ocorre comas contribuições de seguridade social, constando, do art. 195, §4º, da Constituição, a competência da União para a instituiçãode outras contribuições de seguridade social além das expres-samente previstas nos incisos I a IV do mesmo artigo 195. Acompetência residual segue regime específico, estabelecido noart. 154, I, para os impostos, mas aplicável também às con-tribuições de seguridade social por força de remissão constanteno art. 195, § 4º, da CF. Tal regime exige a via legislativa da leicomplementar (não pode ser instituído por lei ordinária nempor medida provisória), não cumulatividade (não pode incidircumulativamente a cada operação) e vedação do bis in idem eda bitributação (a União não pode instituir novos impostossobre fatos geradores e bases de cálculo de impostos já previs-tos nos arts. 153, 155 e 156, e também não pode instituir novascontribuições de seguridade sobre fatos geradores e bases decálculo de contribuições de seguridade social já previstas nosarts. 195, I a IV).

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28. Bitributação e bis in idem

O termo bitributação designa a tributação instituída pordois entes políticos sobre o mesmo fato gerador. Ocorre bitrib-utação, por exemplo, quando tanto lei do Estado como lei doMunicípio consideram a prestação de determinado serviçocomo gerador da obrigação de pagar imposto que tenham in-stituído (por exemplo, ICMS e ISS). A bitributação sempre en-volve um conflito de competências, ao menos aparente.

A expressão bis in idem designa a dupla tributação es-tabelecida por um único ente político sobre o mesmo fatogerador.

Inexiste uma garantia constitucional genérica contra abitributação e o bis in idem, de modo que não decorre automat-icamente da identificação do fenômeno a conclusão pela suainconstitucionalidade.

Mas há várias restrições a tais figuras que se pode extrairexpressa ou implicitamente da Constituição.

A Constituição vedou expressamente a bitributação e obis in idem relativamente aos impostos, ao estabelecer com-petências tributárias privativas em favor de cada ente político edeterminar que eventual exercício da competência residualpela União se desse sobre fato gerador e base de cálculo distin-tos dos atinentes às bases econômicas já previstas no texto con-stitucional (art. 154, I). Tal vedação, pois, diz respeito aos im-postos entre si, excepcionados, apenas, por expressa autoriza-ção constitucional, os impostos extraordinários de guerra (art.154, II). A reserva de bases econômicas em caráter privativo sópassível de ser excepcionada pelo imposto extraordinário deguerra, diz respeito, ressalto, exclusivamente, à competênciapara a instituição de impostos.

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A Constituição vedou, igualmente, o bis in idem relativa-mente às contribuições de seguridade social, ao eleger baseseconômicas e determinar que o exercício da competência resid-ual se conforme à mesma sistemática da competência residualatinente aos impostos. Enquanto, para os impostos, os novosnão podem repetir os já previstos constitucionalmente, para ascontribuições de seguridade, as novas as novas não podem re-petir as contribuições de seguridade já previstas constitucional-mente (art. 195, I, II e III), o que se extrai da remissão feita peloart. 195, § 4º, ao art. 154, I, conforme, aliás, restou esclarecidopelo STF, dentre outros, no RE 228.321 e no RE 146.733. Avedação de bis in idem, assim, dá-se para as contribuições deseguridade social entre si. Há, pois, uma simetria entre o exer-cício da competência residual atinente à instituição de impostose o exercício da competência residual atinente à instituição decontribuições de seguridade social. Mas a sistemática do § 4º,inclusive com a vedação do bis in idem, não se aplica às con-tribuições que foram expressamente recepcionadas pelo textoconstitucional, como a contribuição ao PIS, recebida pelo art.

139 da CF,97 e as contribuições destinadas aos serviços sociaisvinculados às entidades sindicais, estas, aliás, objeto de ressaltaespecífica no art. 240 da CF.

Inexiste vedação a que se tenha identidade de fatogerador e base de cálculo entre impostos e contribuições,mesmo de seguridade social. Assim, o fato de uma con-tribuição ter fato gerador ou base de cálculo idênticos aos dosimpostos não revela, por si só, vício de inconstitucionalidade.Não há vedação expressa nem impedimento decorrente das ca-racterísticas de tais espécies tributárias, pois ambas podem terfato gerador não vinculado. Não há impedimento, pois, a quehaja bis in idem ou mesmo bitributação por contribuição de

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seguridade social relativamente a impostos já instituídos ou

que venham a ser instituídos.98

Tampouco há impedimento ao bis in idem entre con-tribuição sociais de seguridade social relativamente a con-tribuições sociais gerais, de intervenção no domínio econômicoou do interesse das categorias profissionais ou econômicas.

Há vedação constitucional expressa, ainda, a que as taxastenham fato gerador próprio de impostos. O art. 145, § 2º, de-termina que “as taxas não poderão ter base de cálculo própriade impostos”. A aplicação de tal dispositivo resultou na ediçãoda Súmula Vinculante 29 do STF: “É constitucional a adoção,no cálculo do valor de taxa, de um ou mais elementos da basede cálculo própria de determinado imposto, desde que não hajaintegral identidade entre uma base e outra”. Cuidamos daquestão quando da análise das taxas.

Por fim, no que diz respeito à sobreposição de taxas, háuma impossibilidade lógica à ocorrência da bitributação, por-quanto são tributos que tem como fato gerador a própriaatividade estatal, estando vinculados, pois, à competência ad-ministrativa de cada ente político. O mesmo pode-se dizerquanto às contribuições de melhoria, que pressupõem obrapública.

29. Tributos na base de cálculo de outros tributos

São muitos os tributos que incidem sobre bases já onera-das por outros tributos, seja implícita e mediatamente ao longo

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do seu processo de produção e comercialização, seja de modoexplícito e imediato.

É inequívoco, por exemplo, que no preço das mercadori-as, utilizado como referência para a incidência do ICMS (por

dentro)99 e do IPI (por fora)100 estão normalmente embutidostodos os custos da atividade empresarial, inclusive os custostributários já incorridos (IPTU, contribuição sobre a folha desalários, taxa de renovação de licença etc.) e futuros (impostosobre a renda, contribuição sobre o lucro, contribuições sobre ofaturamento ou receita etc.).

A sobreposição econômica de tributos é, aliás, decorrêncianatural de que, a rigor, os diversos fatos geradores e bases decálculo constituem retratos parciais da riqueza existente,tomada sob perspectivas e em momentos específicos para umamelhor distribuição do ônus tributário entre as pessoas. Ariqueza é uma só, sendo identificada para fins de tributaçãopor ocasião da sua percepção, da sua acumulação ou do seuconsumo pela eleição, por lei, de inúmeros fatos geradores deobrigações tributárias.

É absolutamente compreensível, pois, que inexista umavedação constitucional genérica à sobreposição econômica detributos a permitir qualquer conclusão automática pela suainvalidade.

Ademais, não se pode buscar em nenhum princípio con-stitucional a imposição da necessidade de que as bases de cál-culo dos tributos sejam sempre depuradas, de modo que delassejam excluídos os tributos que as componham ou que nelas es-tejam incorporados.

No sentido da inexistência de uma vedação constitucionala que um tributo componha a base de cálculo de outro, ponder-ou o Ministro ILMAR GALVÃO quando do julgamento do RE212.209:

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“Em votos anteriores, tenho assinalado que o sistematributário brasileiro não repele a incidência de tributosobre tributo. Não há norma constitucional ou legal quevede a presença, na formação da base de cálculo dequalquer imposto, de parcela resultante do mesmo oude outro tributo, salvo a exceção, que é a única, do in-ciso XI do § 2º do art. 155 da Constituição, onde está dis-posto que o ICMS não compreenderá, em sua base decálculo, o montante do imposto sobre produtos industri-alizados, quando a operação, realizada entre con-tribuintes e relativa a produto destinado à industrializa-ção ou à comercialização, configure fato gerador dosdois impostos.[...]Na verdade, o preço da mercadoria, que serve de basede cálculo ao ICMS, é formado de uma série de fatores:o custo; as despesas com aluguel, empregados, energiaelétrica; o lucro; e, obviamente, o imposto pago anterior-mente. O problema, diria que é até de ordem pragmát-ica, em face da dificuldade, quase incontornável, deeliminar-se da base de cálculo de um tributo tudo o quedecorreu de tributação.”

Eventual pecha de inconstitucionalidade depende, assim,de uma análise específica da compatibilidade da base de cál-culo prevista em lei com a base econômica estabelecida pelanorma de competência que a condiciona, sempre à luz doprincípio da capacidade contributiva.

O STF entende que não há direito dos contribuintes de ex-cluírem o ICMS da sua própria base de cálculo. Ademais, existenorma constitucional relativa ao ICMS expressa no sentido deque cabe à lei complementar “fixar a base de cálculo, de modoque o montante do imposto a integre, também na importação

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do exterior de bem, mercadoria ou serviço” (art. 155, § 2º, XII, i,da CF, acrescido pela EC 33/01). Em 2011, o STF reiterou seuentendimento em recurso extraordinário com repercussão ger-al: “A base de cálculo do ICMS, definida como o valor da oper-ação da circulação de mercadorias (art. 155, II, da CF/88, c/carts. 2º, I, e 8º, I, da LC 87/96), inclui o próprio montante doICMS incidente, pois ele faz parte da importância paga pelocomprador e recebida pelo vendedor na operação. A EmendaConstitucional 33, de 2001, inseriu a alínea i no inciso XII do §2º do art. 155 da Constituição Federal, para fazer constar quecabe à lei complementar ‘fixar a base de cálculo, de modo que omontante do imposto a integre, também na importação do ex-terior de bem, mercadoria ou serviço’. Ora, se o texto dispõeque o ICMS deve ser calculado com o montante do imposto in-serido em sua própria base de cálculo também na importaçãode bens, naturalmente a interpretação que há de ser feita é queo imposto já era calculado dessa forma em relação às operações

internas”.101

O ICMS-Importação tem como base de cálculo, por forçado art. 13, V, da LC 87/96, o valor da mercadoria ou bem con-stantes dos documentos de importação acrescido do impostode importação, do imposto sobre produtos industrializados, doimposto sobre operações de câmbio e de quaisquer outros im-postos, taxas, contribuições e despesas aduaneiras.

O Imposto de Renda da Pessoa Jurídica incide sobre olucro real sem que seja autorizada a dedução da ContribuiçãoSocial sobre o Lucro (CSL). A questão está sendo analisada noRE 582.525, em que o Ministro JOAQUIM BARBOSA já pro-feriu voto rejeitando a alegação de que a proibição de deduçãoimplicaria cálculo do tributo sobre valor que efetivamente nãocorresponderia à renda, destacando que “é irrelevante tanto acircunstância de o acréscimo patrimonial ou o saldo positivo

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ter sido consumido ou não, antes ou depois da apuração, comoa circunstância de parte da renda tornar-se vinculada ao adim-plemento de uma dada obrigação, de forma a fixar destinaçãoespecífica par ao montante” (Informativo 525 do STF). Mas oMinistro MARCO AURÉLIO divergiu: “a pessoa jurídica tem,considerada a CSLL, um ônus e não uma vantagem, não sendopossível entender que um ônus signifique, ao mesmo tempo,ônus e renda para quem quer que seja”.

As contribuições ao PIS e da COFINS têm como base decálculo, no regime cumulativo, o faturamento, forte na Lei9.718/98. O faturamento, por certo, é composto pelo produtodas vendas de mercadorias e serviços e demais receitas con-stituídas pela realização do objeto da empresa. Apenas na per-spectiva de raciocínio puramente econômico é que se poderiaentender que o ICMS integra a base de cálculo das con-tribuições, por integrar o preço das mercadorias que acaba porcompor o faturamento. De qualquer modo, os contribuintespretendem excluir o ICMS da base de cálculo de tais con-tribuições sobre o faturamento, o que está em discussão naADC 18, Rel. Ministro CELSO DE MELLO. Parece-nos que atributação do faturamento, como riqueza do contribuinte, é vál-ida, sem prejuízo de que tal riqueza já esteja suportando opagamento de outros tributos.

No caso das contribuições PIS-Importação e COFINS-Im-portação, contudo, instituídas pela Lei 10.865/04, a base de cál-culo foi arbitrariamente fixada como sendo o valor aduaneiroacrescido do ICMS e do valor das próprias contribuições in-stituídas. Isto, além de violar a racionalidade (exige que se cal-cule o tributo para então somá-lo à sua própria base de cálculoe recalculá-lo), desborda da base econômica passível de sertributada, qual seja, o valor aduaneiro, nos termos do art. 149, §2º, III, a, da CF. A matéria está em discussão no RE 559.937, emque o primeiro voto foi pela inconstitucionalidade.

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Na solução destas questões todas pelo Supremo TribunalFederal teremos uma posição consolidada sobre a temática dasobreposição de tributos.

Notas do Capítulo III

82 A referência constante do art. 7º do CTN ao “art. 18, § 3º” já não mais per-siste, pois dizia respeito à Constituição de 1946, que dispunha: “Art. 18. CadaEstado se regerá pela Constituição e pelas leis que adotar, observados osprincípios estabelecidos nesta Constituição [...] § 3º Mediante acordo com aUnião, os Estados poderão encarregar funcionários federais da execução delei e serviços estaduais ou de atos e decisões das suas autoridades; e, reciproc-amente, a União poderá, em matéria da sua competência, cometer a fun-cionários estaduais encargos análogos, provendo às necessárias despesas”.

83 No que tange às bases econômicas tradicionais, a Constituição concedeu àUnião, com exclusividade, a competência para instituir imposto sobre a rendae, ainda, sobre a propriedade territorial rural e sobre grandes fortunas, deix-ando a propriedade de veículos automotores aos Estados e a propriedade pre-dial e territorial urbana aos Municípios. Quanto à atividade econômica, reser-vou a industrialização para ser objeto de imposto federal, deixando a circu-lação de mercadorias aos Estados e a prestação de serviços aos Municípios.Também manteve com a União a competência para a instituição de impostossobre a importação e a exportação, importantes como instrumentos de con-trole do comércio exterior. Com isso, resta preservado o papel da União emtal área, devendo-se ressaltar que estas normas, de caráter positivo, queoutorgam competência, são realçadas e complementadas por normas decunho negativo, que vedam aos Estados e Municípios instituir tributos in-terestaduais ou intermunicipais (art. 150, V) e também, estabelecer diferençatributária entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de sua pro-cedência ou destino (art. 152), regra esta já aplicada pelo STJ para afastaralíquota diferenciada de IPVA para veículos importados. Coube à União,ainda, a competência para instituir impostos sobre as operações de crédito,câmbio e seguro ou relativas a títulos ou valores mobiliários, que servem à fi-nalidade extrafiscal de monitoramento da atividade econômica e da moeda.Refiro-me a impostos porque, de fato, embora seja costume utilizarmos a de-nominação IOF – Imposto sobre Operações Financeiras –, bem verdade, são

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diversas bases econômicas distintas, às quais correspondem diferentes fatosgeradores e bases de cálculo. Em suma, não há um IOF, mas vários impostossobre operações de crédito, de um lado, sobre operações de câmbio, de outroe, sobre operações de seguros e sobre operações com títulos ou valores mo-biliários. Ficou com os Estados, além do IPVA e do ICMS, a transmissão causamortis e doação, de quaisquer bens ou direitos, e com os Municípios, além doIPTU e do ISS, a transmissão inter vivos, a qualquer título, por ato oneroso, debens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis,exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição.

84 VELLOSO, Andrei Pitten. Constituição Tributária Interpretada. São Paulo: At-las, 2007, p. 108/109.

85 A impossibilidade de cobrança das contribuições de seguridade que in-cidem na importação (PIS/COFINS-Importação) sobre base de cálculo que ex-trapole o o valor aduaneiro (art. 149, § 2º, III, a, da CF) também está sendoafirmada pelo STF no RE 559937.

86 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO, RE 166.772, 1994.

87 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro ILMAR GALVÃO, RE 346.084, 2006.

88 PAULSEN, Leandro; VELLOSO, Andrei Pitten. Contribuições: Teoria Geral,Contribuições em Espécie. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010, p. 48.

89 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro GILMAR MENDES, RE 474.132, 2010.

90 “A imunidade encerra exceção constitucional à capacidade ativa tributária,cabendo interpretar os preceitos regedores de forma estrita.” (STF, Pleno, RE564413, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, 2010); “Em se tratando deimunidade tributária a interpretação há de ser restritiva, atentando semprepara o escopo pretendido pelo legislador.” (STF, Pleno, RE 566259, Relator(a):Min. RICARDO LEWANDOWSKI, 2010).

91 ECT: STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO, ACO 789,2010; STF, Segunda Turma, Rel. Ministro JOAQUIM BARBOSA, RE 443.648AgR, 2010; CODESP: STF, Segunda Turma, Rel. Ministro CELSO DE MELLO,RE 265749 ED-ED, 2011.

92 “Extraia-se da Constituição Federal, em interpretação teleológica e integ-rativa, a maior concretude possível. IMUNIDADE – ‘LIVROS, JORNAIS,PERIÓDICOS E O PAPEL DESTINADO A SUA IMPRESSÃO’ – ARTIGO 150,INCISO VI, ALÍNEA D, DA CARTA DA REPÚBLICA – INTELIGÊNCIA. Aimunidade tributária relativa a livros, jornais e periódicos é ampla, total,apanhando produto, maquinário e insumos. A referência, no preceito, a papel

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é exemplificativa e não exaustiva.” (STF, Primeira Turma, relator para oacórdão Ministro MARCO AURÉLIO, RE 202149, 2011).

93 “O Supremo Tribunal Federal possui entendimento no sentido de que aimunidade tributária prevista no art. 150, VI, d, da Constituição Federal deveser interpretada restritivamente...” (STF, Primeira Turma, Rel. MinistroRICARDO LEWANDOWSKI, RE 504615 AgR, 2011).

94 STF, Primeira Turma, Rel. Ministro ILMAR GALVÃO, RE 225.082, 1997.

95 PAULO DE BARROS CARVALHO ressalta que, a rigor, impostos privat-ivos são apenas os da União, em razão do que dispõe o art. 154 da Constitu-ição, relativamente à possibilidade da instituição de impostos extraordinários,pela União, compreendidos ou não em sua competência tributária. Senãovejamos: “Tenho para mim que a privatividade é insustentável, levando emconta disposição expressa da Lei das Leis que, bem ou mal, é o padrão em-pírico para a emissão de proposições descritivas sobre o direito posto. A Un-ião está credenciada a legislar sobre seus impostos e, na iminência ou no casode guerra externa, sobre impostos ditos ‘extraordinários’, compreendidos ou nãoem sua competência tributária, consoante o que prescreve o art. 154, II. Dir-se-áque se trata de exceção, mas é o que basta para derrubar proposição afirm-ativa colocada em termos universais, de tal sorte que impostos privativos, noBrasil, somente os outorgados à União. A privatividade fica reduzida, assim,à faixa de competência do Poder Público Federal.” (CARVALHO, Paulo deBarros. Curso de Direito Tributário. 21ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 240).

96 AFONSO DA SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo.6ª ed. São Paulo: RT, 1990, p. 604.

97 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro OCTAVIO GALLOTTI, ADI 1.417, 1999.

98 Apreciando a LC 84/96, o STF, consagrando posição que já adotara anteri-ormente, entendeu que a CF/88 não proíbe a coincidência da base de cálculoda contribuição com a base de cálculo de imposto já existente: STF, TribunalPleno, Rel. Ministro CARLOS VELLOSO, RE 228.321, 1998.

99 Diz-se que um tributo é calculado por dentro quando os recursos para oseu pagamento compõem a própria base de cálculo do tributo. O ICMS, porexemplo, tem como base de cálculo o preço da mercadoria, sendo que destevalor é que o comerciante tira os recursos para pagar o imposto. Vejamos:preço da mercadoria: R$ 100,00; ICMS calculado por dentro de 18%: R$ 18,00;valor total da Nota Fiscal: R$ 100,00. Parte dos R$ 100,00 percebidos é utiliz-ada para o pagamento do imposto.

100 Diz-se que um tributo é calculado por fora quando a lei determina que ovalor total da operação seja composto da base de cálculo do tributo mais o

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valor do mesmo. Em venda de produto pela indústria, por exemplo, a lei de-termina que o valor total da nota fiscal contemple o preço do produto mais ovalor do IPI. Assim, a base de cálculo é inferior ao montante total pago peloadquirente do produto e recebido pelo industrial. Vejamos: preço do produto:R$ 100,00; IPI calculado por fora de 10%: R$ 10,00; valor total da nota fiscal:R$ 110,00. O IPI não é suportado com o valor recebido a título de preço damercadoria (R$ 100,00), mas com o valor do próprio IPI que a lei autoriza sejaacrescido ao preço do produto na nota e repassado ao comprador.

101 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro GILMAR MENDES, RE 582.461, 2011.

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Capítulo IV – Princípios Constitu-cionais Tributários

30. Os diversos tipos de normas: princípios, re-gras e normas de colisão

As normas jurídicas podem consistir em regras ou emprincípios, conforme a sua estrutura normativa.

São regras quando estabelecem simples normas de con-duta, determinando ou proibindo que se faça algo concreto, demodo que serão observadas ou infringidas, não havendo meio-termo. Como exemplos, temos a norma que atribui à União acompetência para instituir imposto sobre a renda (art. 153, III,da CF) e a norma que proíbe os entes políticos de instituíremimpostos sobre o patrimônio, renda e serviços uns dos outros(art. 150, VI, a, da CF). Também são regras o dispositivo legalque estabelece o vencimento dos tributos em 30 dias contadosda notificação do lançamento no caso de a legislação não fixar otempo do pagamento (art. 160 do CTN), e aquele que es-tabelece multa moratória para o caso de pagamento em atraso(art. 61 da Lei 9.430/96).

Em eventual conflito de regras, verifica-se a validade decada qual e sua aplicação ao caso pelos critérios cronológico

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(lei posterior revoga lei anterior) e de especialidade (norma es-pecial prefere à norma geral), definindo-se qual delas incidirá.Assim, se a lei que impunha

São princípios quando indicam valores a serem pro-movidos, de modo que impõem a identificação da condutadevida em cada caso concreto, conforme suas circunstânciaspeculiares. Como exemplos, temos a determinação de que osimpostos, sempre que possível, sejam pessoais e graduados se-gundo a capacidade econômica do contribuinte (art. 145, § 1º,da CF) e a vedação à instituição de tratamento desigual entreos contribuintes que se encontrem em situação equivalente (art.150, II, da CF). Em face de um princípio, teremos de construir aregra para o caso concreto.

Ocorrendo colisão de princípios, trabalha-se de modo aconstruir uma solução que contemple os diversos valorescolidentes, ponderando-os de modo a fazer com que prevaleça,na medida do necessário, aquele que tenha mais peso em face

das circunstâncias específicas sob apreciação102 e cujo afasta-mento seria menos aceitável perante o sistema como um todo.

As regras, pois, caracterizam-se como sendo razõesdefinitivas, prescrições que impõem determinada conduta, en-quanto os princípios são razões prima facie, prescrições deotimização.

Mas há outro tipo de normas, ainda, que pode serdestacado das demais e que costumam ser consideradassimplesmente como princípios ou ser designadas como normasde colisão. São aquelas que orientam o aplicador do Direitoquando da análise das normas-regra e das normas-princípiopertinentes ao caso, habilitando-o a verificar sua consistêncianormativa, sua validade e sua aplicabilidade. Conforme Hum-berto Ávila, cuida-se de metanormas que estabelecem a estru-tura de aplicação de outras normas. São elas a razoabilidade, a

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proporcionalidade e a vedação do excesso, caracterizando-secomo postulados normativos aplicativos, ou, simplesmente,postulados. Situam-se num plano distinto daquele das normascuja aplicação estruturam, sendo que as exigências decorrentesdos postulados vertem sobre outras normas, não para lhes at-ribuir sentido, mas para estruturar racionalmente a sua ap-licação, de modo que “sempre há uma outra norma por trás daaplicação da razoabilidade, da proporcionalidade e da ex-cessividade”, de modo que “só elipticamente é que se podeafirmar que são violados os postulados”, pois, “a rigor, viola-das são as normas – princípio e regras – que deixaram de ser

devidamente aplicadas”.103 104

31. Princípios gerais de Direito Tributário105

A Constituição Federal não traz um rol de princípios emmatéria tributária.

Costuma-se tomar as limitações constitucionais ao poderde tributar como princípios, mas esse critério não é adequado.O rol de limitações, constante do art. 150 da CF, traz princípiose regras, conforme a estrutura normativa de cada qual, além doque há outros princípios que se pode extrair do sistema.

Podemos arrolar os seguintes princípios gerais de DireitoTributário: princípios da capacidade contributiva (graduaçãodos tributos conforme as possibilidades de cada um, sem incor-rer na tributação do mínimo vital, de um lado, tampouco emconfisco, de outro), da isonomia (não estabelecimento de difer-enças em matéria tributária sem razão suficiente embasada no

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critério da capacidade contributiva ou na efetiva e justificávelutilização extrafiscal do tributo), da segurança jurídica (prin-cipalmente como garantia de certeza do direito, servido pelasregras da legalidade, da irretroatividade e da anterioridade) eda praticabilidade da tributação.

32. Princípio da segurança jurídica em matériatributária106

O preâmbulo da Constituição da República Federativa doBrasil anuncia a instituição de um Estado Democrático que temcomo valor supremo, dentre outros, a segurança. Segurança é aqualidade daquilo que está livre de perigo, livre de risco, pro-tegido, acautelado, garantido, do que se pode ter certeza ou,ainda, daquilo em que se pode ter confiança, convicção. OEstado de Direito constitui, por si só, uma referência de segur-ança. Esta se revela com detalhamento, ademais, em inúmerosdispositivos constitucionais, especialmente em garantias quevisam a proteger, acautelar, garantir, livrar de risco e assegur-ar, prover certeza e confiança, resguardando as pessoas do ar-bítrio. A garantia e a determinação de promoção da segurançarevelam-se no plano deôntico (“dever ser”), implicitamente,como princípio da segurança jurídica.

O princípio da segurança jurídica constitui, ao mesmotempo, um subprincípio do princípio do Estado de Direito(subprincípio porque se extrai do princípio do Estado deDireito e o promove) e um sobreprincípio relativamente aprincípios decorrentes que se prestam à afirmação de normasimportantes para a efetivação da segurança (sobreprincípio

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porque dele derivam outros valores a serem promovidos na

linha de desdobramento da sua concretização).107

Para uma melhor identificação da potencialidade norm-ativa do princípio da segurança jurídica, impende que sejamidentificados os seus conteúdos, quais sejam:

1 – certeza do direito (legalidade, irretroatividade,anterioridade);2 – intangibilidade das posições jurídicas (proteção aodireito adquirido e ao ato jurídico perfeito);3 – estabilidade das situações jurídicas (decadência, pre-scrição extintiva e aquisitiva);4 – confiança no tráfego jurídico (cláusula geral da boa-fé, teoria da aparência, princípio da confiança);5 – devido processo legal (direito à ampla defesa inclus-ive no processo administrativo, direito de acesso aoJudiciário e garantias específicas como o mandado desegurança).

Todo o conteúdo normativo do princípio da segurançajurídica se projeta na matéria tributária.

O conteúdo de certeza do direito diz respeito ao conheci-mento do direito vigente e aplicável aos casos, de modo que aspessoas possam orientar suas condutas conforme os efeitosjurídicos estabelecidos, buscando determinado resultadojurídico ou evitando consequência indesejada. A compreensãodas garantias dos artigos 150, I (legalidade estrita), 150, III, a (ir-retroatividade), b (anterioridade de exercício) e c (anterioridadenonagesimal mínima), e 195, § 6º (anterioridade nonagesimaldas contribuições de seguridade social), da Constituição comorealizadoras da certeza do direito no que diz respeito à institu-ição e à majoração de tributos permite que se perceba mais

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adequadamente o alcance de cada uma e o acréscimo de pro-teção que representam relativamente às garantias gerais da leg-alidade relativa (art. 5º, II, da CF), do direito adquirido, do atojurídico perfeito e da coisa julgada (art. 5º, XXXVIII, da CF).

O conteúdo de intangibilidade das posições jurídicaspode ser vislumbrado, por exemplo, no que diz respeito à con-sideração da formalização de um parcelamento de dívidatributária como ato jurídico perfeito, a vincular o contribuinte eo ente tributante, gerando todos os efeitos previstos nas nor-mas gerais de Direito Tributário, como a suspensão da exigibil-idade do crédito tributário (art. 151, VI, do CTN) e o con-sequente direito a certidões negativas de débito (art. 206 doCTN). Já no caso das isenções onerosas, cumpridas as con-dições, surge para o contribuinte direito adquirido ao gozo dobenefício pelo prazo previsto em lei, restando impedida a re-vogação ou modificação da isenção a qualquer tempo quandoconcedida por prazo certo e em função de determinadas con-dições (art. 178 do CTN). Nesses casos, inclusive, é aplicável agarantia estampada no art. 5º, XXXVI, da CF.

O conteúdo de estabilidade das situações jurídicasevidencia-se nos arts. 150, § 4º, 173 e 174 do CTN, que es-tabelecem prazos decadenciais (para a constituição de créditostributários) e prescricionais (para a exigência compulsória doscréditos), ambos quinquenais. Também há garantia de estabil-idade no art. 168 do CTN, em combinação com o art. 3º da LC118/04, que estabelece prazo quinquenal desta feita contra ocontribuinte, dentro do qual deve exercer seu direito ao ressar-cimento de indébito tributário por compensação ou pleitear arepetição.

O conteúdo de proteção à confiança do contribuinte, porsua vez, fundamenta, por exemplo, o art. 100 do CTN, que es-tabelece que a observância das normas complementares das

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leis e dos decretos (atos normativos, decisões administrativascom eficácia normativa, práticas reiteradamente observadaspelas autoridades administrativas e convênios entre os entespolíticos) exclui a imposição de penalidades e a cobrança dejuros de mora e inclusive a atualização do valor monetária dabase de cálculo do tributo. O art. 146 do CTN, igualmente, res-guarda a confiança do contribuinte, mas quanto a mudançasnos critérios jurídicos adotados pela autoridade administrativapara fins de lançamento. Mesmo a título de proteção à boa-fé,tem-se, ainda, a proteção do contribuinte em casos de circu-lação de bens importados sem o pagamento dos tributosdevidos. Em todos esses casos, assegura-se a confiança notráfego jurídico.

O conteúdo de devido processo legal nota-se na amplagama de instrumentos processuais colocados à disposição docontribuinte para o questionamento de créditos tributários,tanto na esfera administrativa, através, principalmente, doDecreto 70.235/72 (o chamado processo administrativo fiscal,que assegura direito à impugnação e recursos), como na esferajudicial, destacando-se a amplitude que se reconhece ao

mandado de segurança em matéria tributária108 e os meios es-pecíficos para a dedução de direitos em juízo, como a ação anu-latória prevista no art. 40 da LEF e as ações consignatória e derepetição de indébito tributário, disciplinadas, respectiva-mente, nos arts. 164 e 165 do CTN. Em se tratando de acesso àjurisdição, remédios e garantias processuais, impende consid-erar, ainda, que têm plena aplicação, também em matériatributária, dentre outros, os incisos XXXV, LIV, LV, LVI, LXIX eLXX do art. 5º da Constituição. Evidencia-se, assim, a segur-ança jurídica enquanto devido processo legal e, mais particu-larmente, enquanto acesso à jurisdição.

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33. Princípio da igualdade em matériatributária109

A diferença de tratamento entre pessoas ou situações éabsolutamente presente em qualquer ramo do Direito, inclus-ive no Tributário. Há normas, inclusive, vocacionadas à difer-enciação, como as normas de isenção, que identificam pessoasou situações que de outro modo estariam normalmente sujeitasà imposição tributária e excluem, apenas quanto a elas, o re-spectivo crédito, desonerando-as.

A questão não é a instituição de tratamento diferenciadoque, por si mesma, nada revela quanto à validade da norma.Importam as razões e os critérios que orientam a discrimin-

ação.110

A isonomia imposta pelo art. 150, II, da CF impede quehaja diferenciação tributária entre contribuintes que estejam emsituação equivalente, ou seja, veda a discriminação arbitrária.Não há espaço, pois, para simples privilégios em favor de tais

ou quais contribuintes.111

Há dois tipos de razões que podem dar sustentação a nor-mas de tratamento diferenciado: a) razões de capacidade con-tributiva; b) razões extrafiscais.

A razão vocacionada a fundamentar tratamento diferen-

ciado em matéria tributária é a capacidade contributiva,112

medida de justiça fiscal com suporte expresso no art. 145, § 1º,da Constituição. Apenas excepcionalmente é que se poderá ad-mitir tratamento diferenciado embasado em razões extrafis-cais, as quais, ademais, terão de encontrar expresso amparoconstitucional.

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A Constituição autoriza a utilização extrafiscal do IPTU edo ITR para induzir o cumprimento da função social da pro-priedade (arts. 170, III, e 182, § 4º, II, da CF), a concessão de be-nefícios fiscais de incentivo regional (art. 151, I, da CF), o es-tabelecimento de tratamento tributário voltado a estimular ocooperativismo (art. 146, III, c, c/c o art. 174, § 2º, da CF), a con-cessão de tratamento favorecido para as microempresas eempresas de pequeno porte (art. 146, III, d, da CF), o trata-mento diferenciado em função da atividade econômica ou dautilização intensiva de mão de obra, do porte da empresa ou dacondição estrutural do mercado de trabalho (art. 195, § 9º, daCF, com a redação da EC 47/05) e o dimensionamento de cer-tos tributos de modo mais flexível, pelo Executivo, como o II, oIE, o IPI, o IOF e a CIDE-combustíveis (arts. 150, § 1º, 153, § 1º,177, § 4º, I, b, da CF), o que lhe dá instrumentos para controledo comércio exterior (art. 137 da CF) e da moeda.

Justifica-se a diferenciação tributária quando, presenteuma finalidade constitucionalmente amparada, o tratamentodiferenciado seja estabelecido em função de critério que comela guarde relação e que efetivamente seja apto a levar ao fimcolimado.

Ademais, ANDREI PITTEN VELLOSO ensina que “devehaver uma relação de adequação e proporcionalidade entre adessemelhança da(s) propriedade(s) levada(s) em consideração(diferença fática) e a diferenciação jurídica”, pois, “mesmo quehaja distinção de capacidade contributiva entre os con-tribuintes do Imposto de Renda e sejam estabelecidosgravames tributários diferenciados [...] é mister que a diferen-ciação de carga tributária seja adequada e proporcional àdessemelhança fática apurada: revelar-se-ia ilegítima, v.g., umamajoração vultosa do tributo com base numa singela diversid-

ade de capacidade contributiva”.113

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Vejamos um exemplo de discriminação válida e um ex-emplo de violação à isonomia.

O STF entendeu válida a isenção de taxa de inscrição emconcurso público para desempregados, o que efetivamente sesustenta, porquanto presume-se que os desempregados têmsua capacidade econômica e, consequentemente, contributivacomprometida, com enormes dificuldades para proverem suasnecessidades básicas, de modo que a dispensa do pagamentoda taxa de inscrição atende à capacidade contributiva (não co-brar de quem não a tem), além do que assegura o acesso aos

cargos públicos.114 Entendeu válida, também, isenção de taxaflorestal às empresas que estivessem promovendo refloresta-

mento proporcional ao seu consumo de carvão vegetal.115

Inválida deveria ter sido reconhecida, contudo, a major-ação de alíquota da COFINS (contribuição sobre a receita), de2% para 3%, associada à possibilidade de compensação de talaumento com a CSLL (contribuição sobre o lucro) devida, poisacabou implicando aumento de tributo apenas para as empres-as com prejuízo, que nada tiveram a compensar, já que, ausenteo lucro, não havia o que pagar a tal título. Note-se que talaumento de tributo, com finalidade meramente fiscal, apenaspara empresas não lucrativas (portanto, com menor capacidadecontributiva), não se sustentava, pois não apenas deixou depromover a tributação igualitária conforme a capacidade con-tributiva como a contrariou, onerando mais quem podia

menos.116

Mas, tanto quanto identificar se houve ou não a violaçãoao princípio, cabe verificar qual a tutela judicial capaz de corri-gir a situação. Isso porque, sempre que uma lei ofende o princí-pio da isonomia, surge um delicado questionamento: está oJudiciário limitado a varrê-la do mundo jurídico, pode estender

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os seus efeitos para aquelas pessoas que foram indevidamentediscriminadas ou deve preservá-la temporariamente para que oLegislativo corrija o vício através de nova lei que ampare da

mesma forma os que dela estavam excluídos?117

O argumento de que o Judiciário não pode atuar como

legislador positivo118 muitas vezes fundamentou a impro-cedência de ações em que o autor apontava violação à isonomiapleiteando a extensão de tratamento privilegiado concedido

por lei a outrem.119 Com isso, o Judiciário acabou por deixarde oferecer prestação jurisdicional que assegurasse tratamentoisonômico, razão pela qual tem sido cada vez mais criticada talposição, havendo quem diga que “equivale a eliminar o princí-

pio da igualdade”.120 Tem-se defendido, pois, mais recente-mente, que o Judiciário “pode declarar a nulidade do critériode diferenciação violador do princípio da igualdade, de modoa que todas as pessoas e grupos possam ser incluídas”, sendoque, no caso, “a decisão continua sendo negativa, mas possui

uma eficácia positiva indireta”.121

34. Princípio da capacidade contributiva

A capacidade contributiva não constitui, apenas, umcritério de justiça fiscal capaz de fundamentar tratamentotributário diferenciado de modo que seja considerado comopromotor e não como violador da isonomia. Configura ver-dadeiro princípio a orientar toda a tributação, inspirando o le-gislador e orientando os aplicadores das normas tributárias.

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A maior parte da doutrina diz tratar-se de um princípiode sobredireito ou metajurídico, que deve orientar o exercícioda tributação independentemente de constar expressamente daConstituição.

De qualquer modo, a previsão de graduação dos impos-tos segundo a capacidade econômica do contribuinte, expressano art. 145, parágrafo único, da CF, constitui positivação doprincípio da capacidade contributiva, suscitando inúmerosquestionamentos, principalmente quanto à sua extensão.

Embora o texto constitucional positive o princípio da ca-pacidade contributiva em dispositivo no qual são referidosapenas os impostos – que devem, sempre que possível, serpessoais e graduados conforme a capacidade econômica docontribuinte (art. 145, parágrafo único, da CF) –, cuida-se deprincípio fundamental de tributação aplicável a todas as espé-cies tributárias, ainda que de modo distinto conforme as cara-cterísticas de cada qual.

Decorre deste princípio, basicamente, que o Estado deveexigir das pessoas que contribuam para as despesas públicas namedida da sua capacidade econômica, de modo que os mais ri-cos contribuam progressivamente mais em comparação aos

menos providos de riqueza.122 123

Mas a possibilidade de graduação do tributo conforme acapacidade contributiva pressupõe, evidentemente, que tenhacomo hipótese de incidência situação efetivamente reveladorade tal capacidade, do que se tira que o princípio encontra ap-licação plena aos tributos com fato gerador não vinculado,quais sejam, os impostos e, normalmente, também os emprésti-mos compulsórios e as contribuições. Não será aplicável àstaxas, tributo com fato gerador vinculado, porque, estas estãofundadas em critério de justiça comutativa e não distributiva.As pessoas que individualmente se beneficiem de serviço

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público específico e divisível ou que exerçam atividade que ex-ija fiscalização por parte do Poder Público, suportarão os re-spectivos ônus. A própria cobrança da taxa, com vista ao res-sarcimento do custo da atividade estatal, pois, já realiza o idealde justiça fiscal. Não é adequado pretender que a taxa varieconforme a capacidade contributiva do contribuinte, pois seufato gerador é a atividade estatal e não situação reveladora dariqueza do contribuinte, embora o STF tenha precedentes em

contrário.124

O princípio da capacidade contributiva também se projetanas situações extremas, de pobreza ou de muita riqueza. Im-põe, de um lado, que nada seja exigido de quem só tem re-cursos para sua própria subsistência e, de outro lado, que a el-evada capacidade econômica do contribuinte não sirva de pre-texto para tributação em patamares confiscatórios que, aban-donando a ideia de contribuição para as despesas públicas, im-ponha desestímulo à geração de riquezas e tenha efeito oblíquode expropriação.

Tais conteúdos normativos extremos (preservação do

mínimo vital125 e vedação de confisco) aplicam-se a todas asespécies tributárias, inclusive aos tributos com fato geradorvinculado, como as taxas. Ainda que as taxas, por terem fatogerador vinculado à atividade estatal, não possam ser gradua-dos conforme a capacidade econômica do contribuinte, de-vendo guardar vinculação ao custo da atividade do estado, háoutros enfoques sob os quais pode ser considerada a capacid-ade contributiva relativamente a tal espécie tributária. O princí-pio da capacidade contributiva poderá atuar, por exemplo,mesmo nos tributos com fato gerador vinculado, fundament-ando eventual isenção para contribuintes que não revelem

qualquer capacidade para contribuir.126

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Aliás, há vários modos diferentes através dos quais serevela e se viabiliza a aplicação do princípio da capacidadecontributiva, dentre os quais: a) imunidade; b) isenção; c) selet-ividade; c) progressividade.

Através de imunidade, a própria Constituição afasta apossibilidade de tributação de pessoas reconhecidamentepobres relativamente à obtenção de certidão de nascimento e

de óbito,127 ou seja, impede que o legislador tenha competên-cia para determinar a incidência de taxa de serviço nessescasos.

Através de isenção, pode-se dispensar do pagamento dedeterminado tributo pessoas que não tenham capacidade con-tributiva, como no caso da isenção, para desempregados, de

taxa de inscrição em concurso público.128

A seletividade implica tributação diferenciada conformea qualidade do que é objeto da tributação, atribuindo-sealíquotas diferentes para produtos diferentes, não se con-fundindo com a progressividade, em que se tem simplesagravamento do ônus tributário conforme aumenta a base decálculo. Há quem considere a seletividade e a progressividade

como subprincípios da capacidade contributiva.129

A Constituição impõe como critério para a seletividade aessencialidade do produto, mercadoria ou serviço (art. 153, §

3º, I, para o IPI, e art. 155, § 2º, III, para o ICMS),130 tendo comopressuposto, pois, a presunção de que “produtos supérfluossão adquiridos por aqueles com maior capacidade con-

tributiva”.131 Também estabelece, como critério de seletivid-ade, o tipo e a utilização do veículo automotor (art. 155, § 6º, II,para o IPVA) e a localização e o uso do imóvel (art. 156, § 1º, II,para o IPTU).

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A progressividade, implicando tributação mais pesadaquando a base de cálculo for maior, pressupõe maior capacid-ade contributiva daquele submetido às maiores alíquotas. Aprogressividade pode ser simples ou gradual: simples quandohaja elevação de alíquotas em face do aumento da base de cál-culo; gradual quando se dê mediante aplicação de alíquotasmaiores para a parte da base de cálculo que ultrapasse o limite

previsto para a alíquota inferior.132 Há quem entenda que

apenas a progressividade gradual é válida.133 Os impostosreais só podem ser progressivos mediante autorização constitu-cional expressa, pois a orientação do STF é no sentido de que,tendo por base uma riqueza estática, não se vocacionam a tal

tipo de graduação.134

O princípio da capacidade contributiva tem papel ex-tremamente importante, ainda, na adequada interpretação dasbases econômicas dadas à tributação e da própria normatributária impositiva, particularmente quanto ao seu fatogerador e à sua base de cálculo.

Quando a Constituição autoriza a tributação da renda(art. 153, III) ou da receita (art. 195, b), o faz tendo em conta arenda e a receita enquanto manifestações de capacidade con-tributiva. Na análise de tais conceitos para a determinação da-quilo que pode ou não ser alcançado pela tributação, o princí-pio da capacidade contributiva assume papel fundamental. Ja-mais se poderia, para fins tributários, considerar as indeniza-

ções por dano material como renda tributável135 ou a contabil-

ização das vendas inadimplidas136 como receita tributávelpois, ausente qualquer capacidade contributiva a elas atrelada,implicaria cobrar tributo quando ausente a capacidade paracontribuir, com violação, portanto, ao princípio da capacidade

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contributiva. Onde inexiste riqueza, não pode haver tributação.E a riqueza tem de ser real, não apenas aparente.

35. Princípio da praticabilidade da tributação

A atribuição de competência tributária aos entes políticosocorre para que possam, legitimamente, buscar recursos nopatrimônio privado para fazer frente aos gastos públicos comcusteio e investimentos. O exercício da tributação não é um fimem si mesmo, mas um instrumento. Só se admite a intervençãono patrimônio das pessoas porque é necessário para o finan-ciamento das atividades que cabe ao Estado promover. É essen-cial, por isso, que a tributação ocorra por mecanismos que lhepermitam chegar aos seus objetivos do modo mais simples,econômico, confortável e eficiente possível.

É necessário, assim, que as leis tributárias sejam aplicá-veis, de modo que a apuração dos créditos seja viável e que oFisco disponha de mecanismos que reduzam o inadimple-mento e a sonegação, bem como facilitem e assegurem a fiscal-ização e a cobrança.

ALFREDO AUGUSTO BECKER já dizia que “a regrajurídica somente existe (com natureza jurídica) na medida desua praticabilidade. […] A regra jurídica deve ser, construída,não para um mundo ideal mas para agir sôbre a realidade so-

cial”.137

REGINA HELENA COSTA define: “‘Praticabilidade’ é aqualidade ou característica do que é praticável, factível, ex-eqüível, realizável. Tal atributo está intimamente relacionado

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ao Direito, permeando-o em toda a sua extensão, pois este sóatua no campo da possibilidade – vale dizer, somente pode op-

erar efeitos num contexto de realidade”.138

Como principio jurídico, a praticabilidade aparece impli-

citamente.139 MISABEL DERZI ensina:

“A praticabilidade não está expressamente em nenhumartigo da Constituição, mas está em todos, porque nadado que dissemos aqui teria sentido se as leis não fossemviáveis, exeqüíveis, executáveis e não fossem efetiva-mente concretizadas na realidade; portanto, a praticabil-idade tem uma profunda relação com a efetividade dasnormas constitucionais. Praticabilidade é um nomeamplo, genérico, e significa apenas um nome para des-ignar todos os meios, todas as técnicas usadas para pos-sibilitar a execução e a aplicação das leis. Sem execuçãoe sem aplicação, as leis não tem sentido; elas são feitaspara serem obedecidas. Por isso a praticabilidade é umprincípio constitucional básico, fundamental, emboraimplícito…… o legislador, para tornar viável a aplicaçãoda lei, muitas vezes cria presunções, ficções, padroniza-

ções”.140

MISABEL DERZI refere a praticabilidade como instru-

mento necessário à aplicação “em massa” da lei tributária.141

REGINA HELENA COSTA cita exemplos: as abstrações gener-alizantes – presunções, ficções, indícios, normas de simpli-ficação, conceitos jurídicos indeterminados, cláusulas generais,normas em branco –, a analogia, a privatização da gestão tribu-taria e os meios alternativos de solução de conflitos tributári-

os.142

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Estão no rol dessas medidas de praticabilidade da trib-utação, por exemplo, as obrigações dos substitutos tributários,

especialmente quando envolvem presunções e ficções.143 Aliás,estão nesta linha as diversas obrigações impostas às pessoasque, mesmo não integrantes da relação tributária contributiva,são chamadas a adotar medidas relacionadas à apuração, fiscal-ização, arrecadação e cobrança dos tributos, de modo que se-jam mais simples e efetivas, ou seja, medidas que colaborampara a praticabilidade da tributação.

MISABEL DERZI distingue a praticabilidade horizontal,adotada através de medidas estabelecidas pela própria lei, e apraticabilidade vertical, em que as medidas são adotadas poratos normativos com vista a dar a aplicação possível à lei. Masadverte: “É função fundamental do regulamento viabilizar aexecução das leis, mas dentro dos limites da lei, jamais de-sprezando diferenças individuais, que para a lei são fundamen-

tais”.144

Efetivamente, se de um lado, a invocação da necessidadede praticabilidade da tributação justifica certas medidas simpli-ficadoras e generalizantes, de outro é necessário destacar queos mecanismos de praticabilidade estão sujeitos a limites. Aprópria REGINA HELENA COSTA adverte: “as técnicas depraticabilidade, tanto quanto possível, devem ser veiculadas

por lei”.145 E, ainda: “a instituição das normas de simplificaçãodeve ser justificada pela idoneidade que ostentem de permitir ocontrole administrativo e pela necessidade de sua adoção, sem

a qual esse controle não seria possível”.146

Sobre a adoção de “pautas fiscais” (as bases estabelecidascom presunção absoluta que dispensam a definição da base emconcreto), EDUARDO MORAIS DA ROCHA destaca que nãopodem, sob a justificativa de atribuir praticabilidade à

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tributação, ser irrazoáveis ou implicarem violacão à capacidade

contributiva e à vedação do confisco.147 Advirta-se, ainda, quenão justificam extrapolação das normas de competência.

Desse modo, a invocação da praticabilidade não deve ser-vir como uma panaceia, como um remédio que cure todos osmales e que justifique quaisquer medidas adotadas em favordo fisco. É preciso analisar se a medida adotada não violaprincípios básicos de tributação, como a legalidade e a capacid-ade contributiva, bem como se não é irrazoável nemdesproporcional.

Há quem diga que a praticabilidade sequer poderia serconsiderada um princípio jurídico, constituindo, isto sim, mera

técnica utilizada em favor da eficiência.148 Não há dúvida deque a ideia de eficiência está presente na praticabilidade. EHUMBERTO ÁVILA ensina que a eficiência não cria nenhumnovo poder, sendo, isto sim, o modo de realização de um poder

anteriormente concedido.149

Vale destacar, ainda, que a própria eficiência também ap-resenta outra face, estabelecida sob a perspectiva do con-tribuinte. Neste sentido, afirma REGINA HELENA COSTA:“Dentro da noção maior de eficiência, cremos ser possível de-duzir, no Direito pátrio, princípio apontado no direitotributário espanhol, qual seja, o da limitação de custos indire-tos, segundo o qual há que se minimizar os custos indiretos de-rivados das exigências formais necessárias para o cumprimentodas obrigações tributárias. … o vetor sob exame rechaça a im-posição de deveres instrumentais tributários que se revelemdemasiadamente custosos ao contribuinte, estimulando seudescumprimento e, conseqüentemente, comprometendo a efi-

ciente arrecadação tributária”.150

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Assim, a adoção de medidas de praticabilidade da trib-utação, para que seja efetiva, com o máximo de eficiência, tam-bém deve atentar para a necessidade de que haja o mínimo derestrição aos direitos das pessoas, sejam contribuintes ou ter-ceiros chamados a colaborar com a Administração Tributária.Como bem destaca ALESSANDRO MENDES CARDOSO “Oque se impõe, na verdade, é a adaptação das medidas tributári-as de praticidade aos princípios constitucionais tributários. Asua validade de forma alguma pode estar vinculada simples-mente a um raciocínio utilitarista, como se a garantia da trib-

utação fosse um valor superior aos demais”.151

Aliás, não só os princípios tributários devem ser observa-dos, como, igualmente, os princípios da razoabilidade e da pro-porcionalidade que, indiscutivelmente, têm larga aplicação àmatéria tributária.

Note-se que a própria Constituição, por exemplo, aoautorizar a substituição tributária para a frente, ressalvou odireito de imediata e preferencial restituição da quantia pagacaso não se realize o fato gerador presumido, nos termos doart. 150, § 7º. Com isso, a um só tempo prestigiou a praticabilid-ade da tributação e preservou a proporcionalidade de talinstrumento.

Especificamente sobre as razões e a proporcionalidade,vide o item 64 desta obra, onde abordamos, também, o princí-pio da dignidade da pessoa humana, o princípio republicano eo princípio federativo.

Notas do Capítulo IV

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102 “El punto decisivo para la distinción entre reglas y principios es que losprincipios son normas que ordenan que algo sea realizado en la mayormedida posible, dentro de las posibilidades jurídicas y reales existentes. Porlo tanto, los principios son mandatos de optimización, que están caracteriza-dos por el hecho de que pueden ser cumplidos en diferente grado y que lamedida debida de sua cumplimiento no sólo depende de las posibilidadesreales sino también de las jurídicas. El ámbito de las posibilidades jurídicas esdeterminado por los principios y reglas opuestos. En cambio, las reglas sonnormas que sólo pueden ser cumplidas o no. Si una regla es válida, entoncesde hacerse exactamente lo que ella exige, ni más ni menos. Por lo tanto, lasreglas contienen determinaciones en el ámbito de lo fáctica y jurídicamenteposible. Esto significa que la diferencia entre reglas y principios es cualitativay no de grado. Toda norma es o bien una regla o un principio.” (ALEXY,Robert. Teoría de los Derechos Fundamentales. Madrid: Centro de Estudios Con-stitucionales, 1993).

103 “Os postulados normativos são normas imediatamente metódicas, que es-truturam a interpretação e aplicação de princípios e regras mediante a exigên-cia, mais ou menos específica, de relações entre elementos com base emcritérios.” (ÁVILA, Humberto. Teoria dos Princípios: da definição à aplicaçãodos princípios jurídicos. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 120).

104 “Os postulados se diferenciam das normas cuja aplicação estruturam emvárias perspectivas: quanto ao nível (os postulados situam-se no metanível ouno segundo nível e as normas objeto de aplicação situam-se no nível objeto ouno primeiro nível), quanto ao objeto (os postulados indicam a estrutura de ap-licação de outras normas e as normas descrevem comportamentos, se foremregras, ou instituem a promoção de fins, se forem princípios) e quanto ao des-tinatário (os postulados se dirigem aos aplicadores e as normas a quem deveobedece-las).” (ÁVILA, Humberto. Multa de Mora: Exames de Razoabilidade,Proporcionalidade e Excessividade. In: Fundamentos do Estado de Direito:Estudos em homenagem ao Professor Almiro do Couto e Silva. São Paulo: Malheir-os, 2005).

105 Sobre os princípios tributários em geral, vale consultar: TORRES, RicardoLobo. Tratado de Direito Constitucional Financeiro e Tributário. Vol. II: Valores ePrincípios Constitucionais Tributários. Rio de Janeiro: Renovar, 2005.

106 Sobre a segurança jurídica em matéria tributária, vale consultar as mono-grafias: ÁVILA, Humberto. Segurança Jurídica. Malheiros, 2011; PAULSEN,Leandro. Segurança Jurídica, Certeza do Direito e Tributação. Porto Alegre: Liv-raria do Advogado, 2005.

107 Diversos Ministros do STF referem-se à segurança jurídica como sobre-princípio em matéria tributária, conforme se pode ver dos votos proferidos

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quando do julgamento do RE 566.621, relativo à aplicação retroativa da LC118/05.

108 Vide, por exemplo: MACHADO, Hugo de Brito. Mandado de Segurança emMatéria Tributária. São Paulo: Dialética, 2006; ALVIM, Eduardo Arruda.Mandado de Segurança no Direito Tributário. São Paulo: RT, 1998.

109 Sobre a isonomia tributária, vale consultar as monografias: VELLOSO,Andrei Pitten. O Princípio da Isonomia Tributária: da Teoria da Igualdade aocontrole das desigualdades impositivas. Livraria do Advogado, 2010; ÁVILA,Humberto. Teoria da Igualdade Tributária. São Paulo: Malheiros, 2008.

110 “[...] afirmar que legislar respeitando o princípio da igualdade na lei con-siste em ‘tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais’ é afirmarrigorosamente nada! O problema está em saber quais os critérios legítimos dediscriminação de grupos ‘iguais’ para os fins legais. Assim, também a apar-ente unanimidade em torno à idéia de igualdade no âmbito jurídico, e mesmorelativamente àquele conceito supostamente aristotélico, não passa de meraretórica, de afirmação sem qualquer significado útil, eis que sem a identi-ficação dos legítimos critérios segundo os quais as pessoas serão discrimin-adas não pode haver efetiva aplicação do princípio da isonomia.” (FERRAZ,Roberto. A igualdade na lei e o Supremo Tribunal Federal. RDDT 116/119,mai/05).

111 “... privilegios, en el estricto sentido de la palabra, es decir, en el sentidode disposiciones excepcionales, no justificadas por un determinado fin deutilidad pública, no pueden existir en el Estado moderno, estando excluidospor disposiciones acogidas en todas las Constituciones, que proclama laigualdad de todos los miembros del Estado ante el deber tributario.”(VANONI, E. Natura ed Interpretazione delle leggi tributarie. 1932. A transcriçãoé da edição espanhola de 1961 publicada pelos Instituto de Estúdios Fiscales,Madrid, p. 159).

112 BERLIRI já afirmava: “[...] ai fini di giudicare se una legge rispetti il prin-cipio di uguaglianza si deve avere riguardo soltando allá capacita con-tributiva.” (BERLIRI, Antonio. Principi di Diritto Tributário. Vol. I. Seconda ed-izione. Milano: Dott. A. Giuffrè, 1967, p. 264).

113 VELLOSO, Andrei Pitten. Constituição Tributária Interpretada. São Paulo:Atlas, 2007, p. 136.

114 STF, Tribunal Pleno, relator para o acórdão Ministro CARLOS BRITTO,ADI 2.672, 2006.

115 STF, Primeira Turma, Rel. Ministro ILMAR GALVÃO, RE 239.397, 2000.

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116 No RE 336.134, contudo, o STF entendeu válida a inovação, sob o argu-mento de que, estando em situações diferentes as empresas lucrativas e asnão lucrativas, o tratamento diferenciado se justificava: STF, Tribunal Pleno,Rel. Ministro ILMAR GALVÃO, 2002.

117 O Ministro CELSO DE MELLO, aliás, bem expôs as possíveis soluções,dentre outros, em voto que proferiu quando do julgamento do RMS 22.307-7/DF, do qual segue excerto: “[...] em tema de inconstitucionalidade por omis-são parcial da lei, emerge a grave questão da exclusão de benefício, comofensa ao princípio da isonomia. A reflexão doutrinária em torno dessaquestão tem ensejado diversas abordagens teóricas do tema, com o objetivode propiciar, a partir do desprezo estatal dispensado pelo Poder Legislativoao postulado da isonomia, a formulação de soluções que dispensem à matériaum adequado tratamento jurídico (J. J. GOMES CANOTILHO. Direito Con-stitucional. 4ª ed. Coimbra: Almedina, 1987, p. 736-737 e 831; JORGEMIRANDA, Manual de Direito Constitucional. 2ª ed. Tomo II/ 407. Coimbra:Almedina, 1988; MENDES, Gilmar Ferreira. Controle de Constitucionalidade: as-pectos jurídicos e políticos. São Paulo: Saraiva, 1990, p. 69-70). A discussãodas possíveis soluções jurídicas estimuladas pela questão da exclusão de be-nefício, com ofensa ao princípio a isonomia, permite vislumbrar três mecanis-mos destinados a viabilizá-las: (a) extensão dos benefícios ou vantagens àscategorias ou grupos inconstitucionalmente deles excluídos; (b) supressão dosbenefícios ou vantagens que foram indevidamente concedidos a terceiros; (c)reconhecimento da existência de uma situação ainda constitucional (situaçãoconstitucional imperfeita), ensejando-se ao Poder Público, em tempo razoável,a edição de lei restabelecedora do dever de integral obediência ao princípioda igualdade, sob pena de progressiva inconstitucionalização do ato estatalque, embora existente, revela-se insuficiente e incompleto (RTJ 136/439-440,Rel. Ministro Celso de Mello).”

118 “[...] A exigência constitucional de lei formal para a veiculação de is-enções em matéria tributária atua como insuperável obstáculo à postulaçãoda parte recorrente, eis que a extensão dos benefícios isencionais, por via jur-isdicional, encontra limitação absoluta no dogma da separação de poderes. Osmagistrados e Tribunais – que não dispõem de função legislativa – não po-dem conceder, ainda que sob fundamento de isonomia, o benefício da ex-clusão do crédito tributário em favor daqueles a quem o legislador, com apoioem critérios impessoais, racionais e objetivos, não quis contemplar com avantagem da isenção. Entendimento diverso, que reconhecesse aos magistra-dos essa anômala função jurídica, equivaleria, em última análise, a convertero Poder Judiciário em inadmissível legislador positivo, condição institucionalesta que lhe recusou a própria Lei Fundamental do Estado. É de acentuar,neste ponto, que, em tema de controle de constitucionalidade de atos estatais,o Poder Judiciário só atua como legislador negativo (RTJ 146/461, Rel.

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Ministro CELSO DE MELLO) [...]” (STF, Primeira Turma, Rel. MinistroCELSO DE MELLO, ARAG-142.348, 1994).

119 “TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO.INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS. ISONOMIA. EXTENSÃO DETRATAMENTO TRIBUTÁRIO DIFERENCIADO. IMPOSSIBILIDADE DOSTF ATUAR COMO LEGISLADOR POSITIVO. 1. O Supremo Tribunal Feder-al possui entendimento consolidado de que a extensão de tratamentotributário diferenciado, previsto em lei, a contribuintes não contemplados notexto legal, implicaria converter-se esta Corte em legislador positivo. Preced-entes.” (STF, Segunda Turma, Rel. Ministra ELLEN GRACIE, RE 485290 AgR,2010).

120 FERRAZ, Roberto. A igualdade na lei e o Supremo Tribunal Federal.RDDT 116/119, mai/05.

121 ÁVILA, Humberto. Sistema Constitucional Tributário. São Paulo: Saraiva,2004, p. 340-1.

122 “Capacità contributiva vuol dire capacità economica di concorrere allepubbliche spese.” (BERLIRI, Antonio. Principi di Diritto Tributário. Vol. I. Se-conda edizione. Milano: Dott. A. Giuffrè, 1967, p. 264).

123 “Que es la capacidad contributiva? Es la potencialidad de contribuir a losgastos públicos que el legislador atribuye al sujeto particular. Significa almismo tiempo existencia de una riqueza en posesión de una persona o enmovimiento entre dos personas y graduación de la obligación tributariasegún la magnitud de la capacidad contributiva que el legislador le atribuye.”(JARACH, D. El Hecho Imponible. Teoría General del Derecho Tributario Sustant-ivo. 2ª ed. Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1971, p. 87).

124 STF, Segunda Turma, Rel. Ministro CELSO DE MELLO, RE 176.382 AReg,2000. Mas na ADI 453, Tribunal Pleno, Rel. Ministro GILMAR MENDES,2006, há referência no sentido de que a variação da taxa, embora com base nopatrimônio líquido do contribuinte, refletiria a quantidade de serviço públicodispensado na fiscalização.

125 “Neste contexto, parece-nos que se poderá afirmar, pelo menos, o direitoà não tributação do rendimento necessário ao mínimo de existência – nãoapenas porque se trata de uma prestação jurídica que se traduz numaprestação de facto negativa (embora envolva um custo económico), mas tam-bém porque representa, logicamente, o mínimo dos mínimos: se o Estado nãoé obrigado a assegurar positivamente o mínimo de existência a cada cidadão,ao menos que não lhe retire aquilo que ele adquiriu e é indispensável à suasobrevivência com o mínimo de dignidade.” (VIEIRA DE ANDRADE, J. C. Os

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Direitos fundamentais na Constituição Portuguesa de 1976. 2ª ed. Coimbra:Almedina, p. 388).

126 “Quanto ao princípio da capacidade contributiva, a doutrina está di-vidida. A disceptação decorre mais do ângulo em que se coloca o estudiosodo que propriamente dos fundamentos opinativos de cada um. Ora, se sepensar em valores diferenciados ou em ‘taxas progressivas’, mais onerosas,em razão da capacidade contributiva do contribuinte, é evidente que não cabea invocação do princípio (formulação positiva do princípio). O fato geradordas taxas, vimos, radica em manifestações estatais (atuações concretas doEstado) e não na capacidade do contribuinte (renda, trabalho, patrimônioetc.). Portanto, não há que se falar, por esse ângulo, em aplicação do princípioda capacidade contributiva, cujo campo predileto seriam os tributos não-vin-culados (impostos), assim mesmo aqueles chamados de ‘diretos’ ou ‘de me-dida’, em contraposição aos ‘indiretos’ ou ‘de mercado’. Não obstante, oprincípio da capacidade contributiva não se liga tão-somente à técnica da pro-gressividade, cujo objetivo é tributar mais quem mais tem, senão que fomentainstitutos tributários de variegada índole. Cabe exemplificar com as isençõessubjetivas em matéria de taxas. As leis, com freqüência, isentam os pobres emrelação a inúmeras taxas, reconhecendo, assim, a incapacidade contributivados mesmos. A taxa judiciária e as custas são dispensadas dos litigantes semrecursos ou presumidamente sem recursos, por serem pobres em sentido leg-al. O fundamento de todas as isenções, por isso legítimas, nas taxas, é justa-mente a incapacidade contributiva (formulação negativa do princípio).”(COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 10ªed. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 131).

127 CF, art. 5º, LXXVI.

128 STF, Tribunal Pleno, Rel. para o acórdão Ministro CARLOS BRITTO, ADI2.672, 2006.

129 TORRES, Ricardo Lobo. Curso de Direito Financeiro e Tributário. 16ª ed. SãoPaulo: Renovar, 2009, p. 94.

130 Há autorização constitucional expressa para que o ITR seja progressivo(art. 153, § 4º, I) e para que o IPTU seja progressivo (art. 156, § 1º, I, e art. 182,§ 4º, II)

131 CONTI, José Maurício. Sistema Constitucional Tributário Interpretado pelosTribunais. Oliveira Mendes e Del Rey, 1997, p. 166.

132 “Há duas maneiras diferentes de aplicar, para efeitos de cálculo do mont-ante do imposto a pagar, a tabela de alíquotas progressivas [...] : a) de formagradual (vários cálculos sucessivos, por etapas, graus ou degraus); e b) deforma simples (cálculo único). O cálculo será, pois, simples, quando se deve

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adotar apenas a alíquota prevista para a faixa na qual se enquadra o valor atributar [...] A maneira de cálculo será, pois, gradual, quando uma a uma dasalíquotas previstas para o valor a tributar devem ser utilizadas, tendo-se, as-sim, como montante devido, o valor que resultar da soma de todos os cálculosparciais sucessivamente efetuados. [...] A forma (progressiva) gradual de cál-culo é utilizada pela atual lei do IR [...], sendo que a tabela respectiva costumaser divulgada para fins de cálculo prático, com o acréscimo de mais umacoluna, chamada de ‘dedução’ que é, na verdade, o valor a ser descontado doresultado da multiplicação da alíquota prevista para a faixa onde se encontrao valor a tributar, correspondendo, assim, na prática, à diferença havida nasfaixas anteriores, de tributação menor. Assim, ao invés de efetuar-se várioscálculos (faixa por faixa), utiliza-se somente uma alíquota (a prevista para ovalor a tributar), deduzindo-se do resultado da sua aplicação, porém, a somados valores tributados com alíquotas menores nas faixas anteriores,chegando-se, por outro caminho, ao mesmo resultado.” (VOLKWEISS, RoqueJoaquim. Direito Tributário Nacional. 3ª ed. Porto Alegre: Livraria do Ad-vogado, 2002, p. 33/34)

133 É “a progressividade aplicável tão-somente para os chamados impostospessoais, e, assim mesmo, a do tipo gradual, não havendo hoje, na constitu-ição Federal, como se disse, nenhuma autorização para a utilização da pro-gressividade do tipo simples.” (VOLKWEISS, Roque Joaquim. DireitoTributário Nacional. 3ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002, p. 35).

134 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro MOREIRA ALVES, RE 153.771, 1996.

135 STF, Primeira Turma, Rel. Ministro MOREIRA ALVES, RE 188.684, 2002.

136 TRF4, AMS 2005.71.11.002457-8.

137 BECKER, Alfredo Augusto. Teoria Geral do Direito Tributário. 2ª ed. SãoPaulo: Saraiva, 1972, p. 63-64.

138 COSTA, Regina Helena. Praticabilidade e justiça Tributaria. Exeqüibilidade deLei tributária e Direitos do Contribuinte. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 52.

139 La legislación portuguesa, es verdad, hace referencia expresa al princípiode la practicabilidad, todavía para fines procedimentales en el Código de Pro-cedimento e de Processo Tributário, aprovado pelo DL 433/99, en su título II:“Art. 46º Os actos a adaptar no procedimento serão os adequados aos objet-ivos a atingir, de acordo com os princípios da proporcionalidade, eficiência,praticabilidade e simplicidade.”

140 DERZI, Misabel. Princípio da Praticabilidade do Direito Tributário: Se-gurança Jurídica e Tributação. In: Revista de Direito Tributário nº 47. São Paulo:Malheiros, jan-mar/1989, p. 166-179.

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141 DERZI, Misabel. Op. cit.

142 COSTA, R. H. Op. cit.

143 COSTA, R. H. Op. cit.

144 COSTA, R. H. Op. cit.

145 COSTA, R. H. Op., cit., p. 216.

146 Idem, p. 219; Idem, p. 398/406: “É preciso empreender esforço para com-patibilizar, de um lado, os benefícios propiciados pela praticabilidade e, deoutro, o prejuízo que as técnicas voltadas ao seu alcance certamente acar-retam à justiça individual, buscando um ponto de equilíbrio entre os doisvalores. [...] ... podemos apontar como limites à praticabilidade tributária osseguintes: (i) a veiculação dos instrumentos de praticabilidade tributária porlei; (ii) a observância do princípio da capacidade contributiva e subsidiar-iedade da utilização de técnicas presuntivas; (iii) a impossibilidade da adoçãode presunções absolutas ou ficções para efeito de instituição de obrigaçõestributárias; (iv) a transparência na adoção de técnicas presuntivas; (v) a obser-vância do princípio da razoabilidade; (vi) o respeito à repartição constitucion-al de competências tributárias; (vii) a justificação das normas de simpli-ficação; (viii) o caráter opcional e benéfico aos contribuintes dos regimesnormativos de simplificação ou padronização; (ix) a limitação do recurso àscláusulas gerais, conceitos jurídicos indeterminados e de competências discri-cionárias pelo princípio da especificidade conceitual (ou tipicidade); (x) oequilíbrio na implementação da privatização da gestão tributária; e (xi) o re-speito aos direitos e princípios fundamentais. [...] No plano hipotético,cumpre ao legislador buscar o ponto de equilíbrio entre a justiça e a praticab-ilidade, para que, ao invés de utilizá-la como instrumento ofensivo à idéia dejustiça, esta seja realizável por meio daquela. A praticabilidade realiza ajustiça viável, exeqüível. De nada adiantaria falar numa justiça tributária inat-ingível, etérea, autêntico devaneio diante de um ordenamento jurídico cujaaplicação não leva em conta os valores que a compõem. [...] Diversamente, seo embate entre justiça e praticabilidade se revelar diante de um caso concreto,estaremos diante de verdadeira colisão de princípios constitucionais, a serresolvida pelo método da ponderação, desenvolvido por Robert Alexy.Assim, verificada a colisão de tais princípios, forçoso empreender a con-strução de uma regra para o caso concreto, mediante a atribuição de pesos aosdiferentes interesses colidentes, de modo a dar aplicação, na maior medidapossível, ao princípio mais relevante em face das circunstâncias específicassob apreciação.”

147 “A adoção, em face da praticabilidade, de pautas fiscais fictícias nas quaisa presunção de valores ali constantes é absoluta, além de irrazoável, viola a

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capacidade econômica do contribuinte, confiscando eu patrimônio, tendo emvista que não lhe possibilita provar a real base de cálculo.” (ROCHA,Eduardo Morais da. Um Exame Crítico do Julgado do Supremo TribunalFederal que admitiu a Construção de Pautas Fiscais de Caráter Absoluto naSubstituição Tributária Progressiva. In: Revista Dialética de Direito Tributário nº179. São Paulo: Dialética, agosto/2010, p. 36-42).

148 “Chegamos ao entendimento de que se trata de uma técnica usada emprol da eficiência e da boa administração, e não de um princípio, como enten-dem muitos autores. A praticidade, ainda que considerada como um princí-pio, seria, como afirma Misabel Derzi, um princípio técnico, razão pela qualentendemos não teria supremacia sobre os princípios decorrentes do primadoda justiça. [...] ... em nome da praticidade são postos vários mecanismos comoesquematizações, abstrações, generalizações, presunções, ficções, enumer-ações taxativas etc. Isto tudo sempre visando possibilitar uma execução sim-plificada, econômica e viável das leis. No entanto, para aplicação... de precei-tos fundados na praticidade, é preciso previamente aferir a existência de pos-síveis dissonâncias dos mecanismos deste instituto em face de todos osvalores desenhados na Constituição Federal...” (FERNANDES, Bruno RochaCesar. Praticidade no Direito Tributário: Princípio ou Técnica? Uma Análise àLuz da Justiça Federal. RET nº 56, jul-ago/07, p. 106).

149 “A eficiência não estabelece algo objeto de realização. Ela prescreve, emvez disso, o modo de realização de outros objetos. ... o dever de eficiência nãocria poder, mas calibra o exercício de um poder já previamente concedido.Nem poderia ser diferente: se a CF/88 se caracteriza por atribuir poder aosentes federados por meio de regras de competência, o dever de eficiência nãoas poderia contradizer, criando poder que elas não criaram. [...] os entes fed-erados não podem, em nome da eficiência, supor a existência de renda ondeela não estiver comprovada; conjecturar a existência de venda de mercadorianos casos em que ela não for verificada, e assim sucessivamente.” (ÁVILA,Humberto. Imposto sobre a Circulação de Mercadorias – ICMS. Substituiçãotributária... RDDT 123/122, dez/05).

150 COSTA, R. H. Op. cit., p. 14.

151 CARDOSO, Alessandro Mendes. A responsabilidade do substitutotributário e os limites à praticidade. Belo Horizonte, n. 21, ano 4 Maio 2006Disponível em: <http://www.editoraforum.com.br/bid/bidCon-teudoShow.aspx?idConteudo=36066> Acesso em: 11 fevereiro 2011.

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Capítulo V – Limitações Constitu-cionais ao Poder de Tributar

36. Natureza das limitações ao poder de tributar

A Constituição Federal arrola as limitações ao poder detributar em seus arts. 150 a 152. Algumas são gerais (art. 150),outras específicas para a União (art. 151) e outras para os Esta-dos e Municípios (art. 152).

Há limitações que configuram verdadeiras normas negat-ivas de competência tributária, ou seja, imunidades, como é ocaso das imunidades genéricas a impostos de que cuida o art.150, VI, da CF. Outras estabelecem cláusulas fundamentais aserem observadas quando do exercício da tributação, de modoque restem preservadas a segurança jurídica, a igualdade, aunidade da federação e liberdades públicas que constituemgarantias individuais.

As limitações que se apresentam como garantias do con-tribuinte (legalidade, isonomia, irretroatividade, anterioridadee vedação do confisco), como concretização de outros direitos egarantias individuais (imunidade dos livros e dos templos) oucomo instrumentos para a preservação da forma federativa deEstado (imunidade recíproca, vedação da isenção heterônomae de distinção tributária em razão da procedência ou origem,

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bem como de distinção da tributação federal em favor de de-terminado ente federado), constituem cláusulas pétreas,aplicando-se-lhes o art. 60, § 4º, da CF: “§ 4º Não será objeto dedeliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I – a formafederativa de Estado; [...] IV – os direitos e garantias indi-viduais”. Assim, são insuscetíveis de supressão ou de excep-cionalização mesmo por Emenda Constitucional.

Certa feita, o Constituinte Derivado, através da EC 3/93,autorizou a instituição imediata do Imposto Provisório sobreMovimentação Financeira (IPMF) estabelecendo, expres-samente, exceção tanto à anterioridade tributária como àimunidade recíproca dos entes políticos, o que foi considerado

inconstitucional pelo STF.152

37. Limitações em prol da segurança jurídica, dajustiça tributária, da liberdade e da federação

As limitações ao poder de tributar visam a preservar val-or fundamentais para o cidadão contribuintes. O papel dasgarantias outorgadas ao contribuinte e das imunidadestributárias normalmente diz respeito à preservação da segur-ança, da justiça, da liberdade e da forma federativa de estado.

As garantias da legalidade, da irretroatividade e da an-terioridade (artigos 150, I, a, III, a, b e c, e 195, § 6º, da CF) pro-movem a segurança jurídica enquanto certeza do direito no quediz respeito à instituição e à majoração de tributos. Ter isto bemclaro permite perceber adequadamente o conteúdo normativo

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de cada uma delas, o que é indispensável à sua aplicação emconsonância com o princípio que concretizam.

As garantias da isonomia e da vedação do confisco (arts.150, II e IV) concretizam critérios mínimos de justiça tributária.

As imunidades dos templos e dos livros, jornais e periódi-cos (art. 150, VI, b e d) estão a serviço da liberdade de crença eda liberdade de expressão.

A vedação à instituição de tributos interestaduais e inter-municipais (art. 150, V) assegura, de um lado, a liberdade de ire vir, e, de outro, a unidade da federação. Também em prol dafederação são estabelecidas a imunidade recíproca a impostos(art. 150, VI, a), as proibições de que os tributos federais não se-jam uniformes no território nacional (art. 151, I) e de que a Un-ião conceda isenção relativas a tributos estaduais, distritais emunicipais (art. 151, III), bem como a proibição de que os Esta-dos estabeleçam diferença tributária entre bens e serviços emrazão da procedência ou destino (art. 152).

38. Garantia da legalidade absoluta

Impende distinguirmos a legalidade geral da legalidadetributária.

A legalidade geral é a referida no art. 5º, II, da CF, que selimita a prescrever que ninguém será obrigado a fazer ou deix-

ar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.153 Tal sequerprecisaria estar expresso no texto constitucional, porquanto res-

ulta do próprio princípio do Estado de Direito.154 MANUELAFONSO VAZ refere, inclusive, que a própria expressão

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“reserva da lei” já não se mostra mais tecnicamente significat-

iva,155 pois, em um Estado de Direito Democrático, não se cir-cunscreve a nenhuma matéria especificamente, constituindogarantia geral.

A legalidade tributária, por sua vez, agrega à garantiageral da legalidade um conteúdo adicional, qualificando-a emmatéria de instituição e de majoração de tributos.

Vejamos o enunciado da legalidade tributária constantedo art. 150, I, da CRFB: “Art. 150. Sem prejuízo de outrasgarantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aosEstados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I – exigir ouaumentar tributo sem lei que o estabeleça”.

A referência não apenas a “exigir”, mas, especificamente,a “aumentar”, torna inequívoco que inclusive o aspecto quant-itativo do tributo precisa estar definido em lei, seja mediante oestabelecimento de um valor fixo, da definição de uma base decálculo e de uma alíquota, do estabelecimento de uma tabela,ou por qualquer outra forma suficiente que proveja critériospara a apuração do montante devido. A lei é que estabelece oquantum debeatur e somente a lei pode aumentá-lo, redefinindoseu valor, modificando a base de cálculo, majorando a alíquota.

Violaria frontalmente a legalidade tributária uma cláu-sula geral de tributação que permitisse ao Executivo instituir

tributo.156 Seria o caso da lei que autorizasse o ente político,por exemplo, a cobrar taxas pelos serviços que prestasse oucontribuições de melhoria pelas obras que realizasse, estabele-cendo apenas critérios gerais e deixando ao Executivo a espe-cificação, para cada serviço ou obra, da sua hipótese de in-cidência, do contribuinte e do valor.

Aliás, não há a possibilidade de qualquer delegação decompetência legislativa ao Executivo para que institua tributo,

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tampouco para que integre a norma tributária impositiva, res-salvadas apenas as atenuações constitucionais que se limitam apermitir, relativamente a alguns poucos tributos expres-samente indicados, a graduação de alíquotas nas condições e

limites de lei (art. 153, § 1º)157 ou, simplesmente, sua redução

ou restabelecimento (art. 177, § 4º, b).158 Estas hipóteses re-forçam o entendimento de que, em todos os demais casos, se-quer atenuação será possível, restando vedada a integração danorma tributária impositiva pelo Executivo, que deve se limitar

a editar os regulamentos para a fiel execução da lei.159

Como se vê, a legalidade tributária exige que os tributossejam instituídos não apenas com base em lei ou por autoriza-ção legal, mas pela própria lei. Só à lei é permitido dispor sobreos aspectos da norma tributária impositiva: material, espacial etemporal, pessoal e quantitativo. A legalidade tributária im-plica, pois, reserva absoluta de lei, também designada de leg-alidade estrita.

A análise do atendimento ou não, por uma lei, à reservaabsoluta, faz-se, pois, pela verificação da determinabilidade darelação jurídico-tributária mediante o critério da suficiência. Alei deve, necessariamente, conter todas as referências necessári-as, em quantidade e densidade, para garantir a certeza dodireito. Deve poder ser possível determinar, com suporte naprópria lei, os aspectos da norma tributária impositiva, demodo que o contribuinte conheça os efeitos tributários dos atosque praticar ou posições jurídicas que assumir, independente-mente de complementação de cunho normativo por parte doExecutivo, ainda que a título de regulamentos intra legem.

Isso não significa, contudo, que todos os cinco aspectosda norma tributária impositiva (material, espacial, temporal,pessoal e quantitativo) devam constar na lei de modo expresso.

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Há situações em que, embora a lei não ostente formalmente to-dos os aspectos de modo claro e didático, é possível deduzi-losimplicitamente ou à luz da respectiva norma de competência.A falta de referência ao sujeito ativo do IPTU, por exemplo, de-ve ser interpretada como simples ausência de delegação de talposição a nenhum ente, mantendo-a o próprio Município. Aausência de indicação do aspecto temporal da norma em trib-uto com fato gerador instantâneo faz com que se considereocorrido no momento mesmo em que a situação se configurano plano fático. Outro exemplo importante é o que decorre daaplicação do art. 22, I, a, da Lei 8.212/91, que não especificaclaramente o fato gerador, mas que permite que seja identific-ado como a realização do pagamento ou creditamento cujomontante constitui sua base de cálculo.

A conclusão sobre a completude da norma tributária im-positiva depende, pois, não de uma análise simplesmente liter-al da lei, mas, isto sim, da possibilidade de se determinar osseus diversos aspectos ainda que mediante análise mais cuida-dosa do seu texto e da consideração do tipo de fato gerador, dacompetência do ente tributante e dos demais elementos de quese disponha em lei, desde que seja desnecessário recorrer a atosnormativos infralegais.

Não há impedimento à utilização de tipos abertos e deconceitos jurídicos indeterminados, até porque todos os con-ceitos são mais ou menos indeterminados, desde que tal não vi-ole a exigência de determinabilidade quanto ao surgimento,sujeitos e conteúdo da relação jurídico-tributária, não se ad-mitindo que a sua utilização implique delegação indevida decompetência normativa ao Executivo.

Também não é vedada a utilização de norma tributáriaem branco que exija a consideração de simples dados fáticos outécnicos necessários à sua aplicação. Assim, entendeu o STF

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que a contribuição ao SAT, de 1% a 3%, conforme o grau derisco da atividade preponderante, determinado por força de es-tatísticas do Ministério do Trabalho (art. 22, III, e § 3º, da Lei

8.212/91), é válida.160 Inadmissível é a norma tributária embranco que exija integração normativa pelo Executivo.

A definição em abstrato dos aspectos da norma tributáriaimpositiva está sob reserva legal. A definição “em concreto”diz respeito a momento posterior, de aplicação da lei. Cabe aolegislador, ao instituir um tributo, definir o antecedente e oconsequente da norma. A lei, por definição, tem o atributo dageneralidade. A previsão legal identifica, e.g., qual o aspectoquantitativo, indicando a base de cálculo e a alíquota. O mont-ante exato da base de cálculo será verificado em concreto, porocasião da aplicação da lei. Assim é que a base de cálculo do IRé o montante da renda ou dos proventos, sendo que, porocasião da sua aplicação, verifica-se o que corresponde a cadacontribuinte. Idêntica é a situação relativamente ao ITR, para oqual a base de cálculo prevista em lei é o valor venal do imóvel,assim considerado o valor da terra nua tributável. É claro que alei não poderia dizer quanto custa um hectare de terra em cadaponto do país; tal já não é mais atribuição do legislador. Ao le-gislador cabe dizer que a base de cálculo é o valor venal e quala alíquota; ao aplicador, apurar e calcular o tributo em con-creto. Nenhum impedimento haveria, pois, relativamente aoIPTU, que a lei dissesse que a base de cálculo é o valor venal doimóvel e que, por ato infralegal, se estabelecesse a chamadaplanta fiscal de valores, que é a referência com o valor do metroquadrado por tipo de construção e localização. A planta fiscalde valores é simples subsídio para a autoridade fiscal pro-mover o lançamento do IPTU; não está no plano da instituiçãodo tributo, da definição abstrata dos aspectos da normatributária impositiva, mas da aplicação da mesma. É matériapara atos infralegais. Aliás, Geraldo Ataliba já destacava que a

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planta de valores se insere na categoria de atos administrativosque incumbem ao Executivo, para instrumentar a ação dosagentes, viabilizando a fiel execução da lei. Entretanto, os pre-cedentes do STF são no sentido de que a planta fiscal de valoresdeve constar em lei, o que também é frisado na Súmula 13 doTASP.

A publicação da lei é requisito indispensável, pois aper-feiçoa o processo legislativo. Sem publicação, não há lei.

As medidas provisórias, tendo força de lei, são aptas a in-stituição ou majoração dos tributos para os quais se faça ne-

cessária lei ordinária.161 Ainda que, após a EC 32, haja limit-ações temáticas à edição de medidas provisórias (art. 62, § 1º,da CF), tal como ocorria com o antigo Decreto-Lei, tais limit-ações não atingem a área tributária. Dever-se-ão observar apen-

as as restrições impostas pelo art. 246 da CF162 e a impossibil-idade de tratar de matéria reservada à lei complementar (art.62, § 1º, III).

A jurisprudência aponta no sentido de que a previsão deque haja correção monetária da base de cálculo ou mesmo domontante devido a título de determinado tributo deve constarde lei, sob pena de não poder o Fisco exigir a correção. Não hánecessidade, contudo, de que a lei defina o indexador, tampou-co que seja feita por lei a atualização de tabelas indicativas paraapuração da base de cálculo de tributos como o IPTU e o

ITR.163 Efetivamente, dispõe o CTN: “Art. 97 [...] § 2º Não con-stitui majoração de tributo [...] a atualização do valor monetárioda respectiva base de cálculo”. É válida, portanto, a definição,pelos Conselhos de Fiscalização Profissional, do valor exato dasanuidades que lhe são devidas, mediante simples aplicação doINPC sobre os valores estabelecidos pela Lei 12.514/11, que de-termina expressamente tal atualização.

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Assim, a atualização monetária depende de previsão leg-al, mas tal reserva de lei não é absoluta, na medida em que aatualização não implica instituição ou majoração de tributo,mas, pelo contrário, a manutenção do seu conteúdo econômicoEntretanto, se, a pretexto de atualizar monetariamente a basede cálculo, o Poder Público determinar a aplicação de índiceque supera a inflação real, estará majorando indiretamente otributo, o que não poderá ser admitido, conforme já restou, in-clusive, sumulado pelo STJ: “É defeso, ao Município, atualizaro IPTU, mediante decreto, em percentual superior ao índice ofi-cial de correção monetária”. (Súmula 160 do STJ).

O prazo para recolhimento do tributo não constitui ele-mento da hipótese de incidência. Trata-se de simples dis-posição sobre a operacionalização de pagamento relativo àobrigação principal estabelecida por lei, não acrescendo nen-huma obrigação ou dever. Pode, assim, ser estabelecido por

simples ato administrativo infralegal.164 Mas, se o legisladorordinário tratar da matéria, estabelecendo o prazo de venci-mento a ser observado, vinculará o Fisco, de modo que não

poderá haver alteração por Portaria.165

Quanto às obrigações acessórias, a matéria é bastantedelicada. É certo que o art. 150, I, da CF diz respeito tãosomente à obrigação tributária principal, não alcançando asobrigações acessórias. Também não há dúvida de que o CTNleva ao entendimento de que poderiam ser instituídas pela le-gislação tributária em sentido amplo, incluindo os atos normat-ivos infralegais, como decorre de interpretação combinada dosseus arts. 96, 100, 113, § 2º, e 115. Também não se pode negarque é prerrogativa do sujeito ativo da relação jurídico tributáriaregulamentar as questões operacionais relativas ao tributo deque é credor.

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Contudo – e apesar da doutrina em contrário a que dur-ante longo tempo aderimos –, não há como afastar, relativa-mente às obrigações tributárias acessórias, a garantia geral delegalidade estampada no art. 5º, II, da CF. Devem, pois, aomenos ser instituídas em lei, sem prejuízo de que esta permitaao Executivo a especificação dos seus detalhes, já que o art. 5º,II, constitui garantia de legalidade relativa, e não de legalidadeabsoluta.

Efetivamente, a Constituição enuncia como garantia indi-vidual que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazersenão por força de lei, mesmo que a obrigação ou dever nãotenha conteúdo econômico direto. Ademais, os chamadosdeveres formais constituem, sim, ônus gravosos aos con-tribuintes, os quais têm de despender tempo e dinheiro para oseu cumprimento.

Soma-se a isto tudo, a constatação de que os deveresformais como os de prestar declaração não configuram meraoperacionalização do pagamento dos tributos. Lembre-se queas obrigações tributárias ditas acessórias têm autonomia re-lativamente às obrigações principais, tanto que devem sercumpridas mesmo por entes imunes e por contribuintes isentos(art. 175, parágrafo único, do CTN).

Por fim, não há consistência na afirmação de que apenas aaplicação de multa pelo descumprimento da obrigaçãoacessória é que dependeria de previsão legal específica. Se oconsequente da norma punitiva depende de previsão legal, porcerto que seu antecedente deve ser definido pela mesma via le-gislativa. Exigir lei para estabelecer que ao descumprimento deobrigação acessória corresponde determinada multa e deixarao executivo dispor sobre o pressuposto de fato da norma, ouseja, sobre os deveres formais cuja infração implica sanção, éum contrassenso que viola tanto o art. 5º da CF, como o art. 97,

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V, do CTN. Note-se que este diz que somente a lei pode es-tabelecer a cominação de penalidades “para as ações ou omis-sões contrárias a seus dispositivos, ou para outras infraçõesnela definidas”, exigindo, pois, que o pressuposto de fato dasanção seja também disciplinado por lei.

39. Garantia da irretroatividade

A Constituição Federal de 1988 não traz uma regra geralde irretroatividade. Seu art. 5º, inciso XXXVI, estabelece, apen-as, que “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídicoperfeito e a coisa julgada”.

Ainda que se possa extrair diretamente do princípio doEstado de Direito a ideia de irretroatividade da lei, ela assumeo contorno de impedir que lei nova alcance direitos adquiridose atos jurídicos perfeitos, ou seja, posições jurídicas já definit-ivamente constituídas. Assim, não pode influir sobre direitos jáconsumados ou, embora não consumados, já adquiridos, pen-dentes apenas de exercício ou exaurimento, tampouco infirmar

atos jurídicos perfeitos.166

A Constituição estabelece, porém, expressamente, a irret-roatividade como garantia especial quanto à definição de

crimes e ao estabelecimento de penas167 e quanto à instituiçãoe à majoração de tributos.

Vejamos tal limitação constitucional ao poder de tributar:

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“Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradasao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Dis-trito Federal e aos Municípios:[...]III – cobrar tributos:a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do inícioda vigência da lei que os houver instituído ouaumentado;”

A enunciação da irretroatividade tributária no art. 150,III, a, da Constituição da República Federativa do Brasil de1988 estabelece, quanto à instituição e à majoração de tributos,uma garantia adicional aos contribuintes, que extrapola a pro-teção ao direito adquirido e ao ato jurídico perfeito.

Como instrumento para conceder ao contribuinte ummaior nível de certeza quanto ao direito aplicável aos atos quepraticar ou à situação que ostentar em determinado mo-

mento,168 a previsão constitucional de irretroatividade da leitributária ocupa papel fundamental, com a qual são incompatí-veis certas retroatividades outrora admitidas no próprio

Direito brasileiro169 e que, até hoje, encontram sustentação no

Direito estrangeiro.170

A irretroatividade tributária, tal como posta no art. 150,III, a, da Constituição, implica a impossibilidade de que leitributária impositiva mais onerosa seja aplicada relativamentea situações pretéritas. Não se pode admitir que, a atos, fatos ousituações já ocorridos, sejam atribuídos novos efeitos tributári-os, gerando obrigações não previstas quando da suaocorrência.

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Preservando o passado da atribuição de novos efeitostributários, a irretroatividade reforça a própria garantia da leg-alidade, porquanto resulta na exigência de lei prévia.

O que inspira a garantia da irretroatividade é o princípioda segurança jurídica, que nela encontra um instrumento deotimização no sentido de prover uma maior certeza do direito.

Não há, no texto constitucional, qualquer atenuação ouexceção à irretroatividade tributária. A lei instituidora ou ma-joradora de tributos tem de ser, necessariamente, prospectiva,não se admitindo nenhum tipo de retroatividade, seja máxima,média ou mínima. Não há que se falar em retroatividade tam-pouco na sua variante conhecida por retrospectividade ou ret-roatividade imprópria, mas apenas em prospectividade da lei

tributária impositiva mais onerosa.171

Aliás, a Constituição não apenas se abstém de admitirqualquer exceção à irretroatividade como estabelece garantiasadicionais, quais sejam, os interstícios mínimos entre a pub-licação da lei tributária impositiva mais onerosa e o início dasua incidência estampados nas anterioridades de exercício enonagesimal mínima.

Não há que se perquirir, pois, de flexibilizações ou de fra-gilizações à irretroatividade, mas, sim, do seu reforço pelasanterioridades.

Impõe-se considerar a locução “fato gerador”, constantedo art. 150, I, a, da CRFB, no sentido tradicionalmente utilizadono Direito brasileiro e consagrado no art. 114 do CTN, como asituação definida em lei como necessária e suficiente ao surgi-mento da obrigação tributária. “Fato gerador” está, assim, nosentido de “aspecto material da hipótese de incidênciatributária”. O aspecto temporal não tem o condão de substituirou de se sobrepor ao aspecto material como critério para a veri-ficação da observância das garantias constitucionais, mormente

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quando consubstancie ficção voltada a dar praticabilidade àtributação.

A irretroatividade assegura a certeza do direito para ocontribuinte independentemente do tipo de fato gerador a quese refira a lei nova. Alcança, pois, também o fato gerador de

período já ocorrido em parte.172 No Direito português e no

Direito italiano, a lei geral tributária173 e o estatuto do con-

tribuinte174 dispõem, expressamente, no sentido da aplicaçãoda lei nova ao período que tiver início após a sua publicação.Na Alemanha, o Tribunal Constitucional Federal admite a ret-roatividade imprópria (a que alcança todo o período já decor-rido em parte quando do advento da lei), entendimento inap-licável, contudo, no Brasil, onde, como visto, temos garantiaconstitucional específica e qualificada.

Sempre que se for analisar, no caso concreto, a ocorrênciaou não de violação à irretroatividade, impende analisar setinha ou não o contribuinte o conhecimento da lei quando daprática do ato considerado como gerador de obrigaçãotributária. Se a resposta for negativa, não terá sido atendida agarantia de irretroatividade que assegura o conhecimento pré-vio da lei tributária que inova majorando a carga tributária.

HUMBERTO ÁVILA afirma que o problema da ret-roatividade não é apenas uma questão de direito intertemporal,envolvendo, isto sim, “a não-restrição arbitrária de direitosfundamentais e de atuação leal e justificada: retroativa não éapenas a norma que alcança fato gerador consumado, mas tam-bém a norma que alcança disposição consumada em razão dahipótese de incidência vigente no momento da sua adoção, as-sim entendida aquela que não mais pode ser revertida por

reação do contribuinte”.175

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40. Garantia de anterioridade

A garantia da anterioridade tributária não encontra mui-tos paralelos nos demais ramos do direito. Inexiste exigência deanterioridade das leis no Direito Civil, tampouco no DireitoPenal. Apenas no Direito Eleitoral é que podemos vislumbrarinstituto parecido, forte na anterioridade prevista no art. 16 daCF, com a redação da EC 4/93, que determina que a lei que al-terar o processo eleitoral não se aplica à eleição que ocorra atéum ano da data de sua vigência.

Anterioridade tributária não se confunde com anualid-ade. A anualidade figurava no § 34 do art. 141 da Constituiçãode 1946 que dizia: “nenhum será cobrado em cada exercíciosem prévia autorização orçamentária, ressalvada, porém, atarifa aduaneira e o imposto lançado por motivo de guerra”.Impunha, portanto, que constasse do orçamento a previsão daarrecadação do tributo sob pena de não poder ser exigido. Talnorma não foi repetida nas Constituições posteriores e já não

existe mais como garantia tributária.176

A anterioridade é garantia de conhecimento antecipadoda lei tributária mais gravosa. Não se trata apenas de proverprevisibilidade ou não surpresa. HUMBERTO ÁVILA diz que“em vez de previsibilidade, a segurança jurídica exige a realiza-ção de um estado de calculabilidade. Calculabilidade significaa capacidade de o cidadão antecipar as consequências altern-ativas atribuíveis pelo Direito a fatos ou a atos, comissivos ouomissivos, próprios ou alheios, de modo que a consequênciaefetivamente aplicada no futuro situe-se dentro daquelas al-

ternativas reduzidas e antecipadas no presente”.177

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A anterioridade apresenta-se não como princípio, mascomo regras claras e inequívocas condicionantes da válida in-cidência das normas que instituem ou majoram tributos.

Há duas normas de anterioridade, dispostas em três dis-positivos constitucionais.

A anterioridade de exercício está consagrada no art. 150,III, b, da CF. Garante que o contribuinte só estará sujeito, noque diz respeito à instituição e majoração de tributos, às leispublicadas até 31 de dezembro do ano anterior.

A anterioridade nonagesimal consta da alínea c ao art.150, III, acrescida pela EC 42/03, bem como do § 6º do art. 195da CF. Garante ao contribuinte o interstício de 90 dias entre apublicação da lei instituidora ou majoradora do tributo e suaincidência apta a gerar obrigações tributárias.

Ambas aplicam-se a todas as espécies tributárias: impos-tos, taxas, contribuições de melhoria, contribuições e emprésti-mos compulsórios. Assim, como regra, a anterioridade de exer-cício e nonagesimal se completam, uma reforçando a outra.Ressalvam-se, todavia, as exceções previstas nos artigos 150, §1º, 177, § 4º, e 195, § 6º, da Constituição.

Os tributos em geral continuam sujeitos à anterioridadede exercício (a lei publicada num ano só pode incidir a partirdo ano seguinte), mas não haverá incidência antes de decor-ridos, no mínimo, 90 dias da publicação da lei instituidora oumajoradora. Prestigia-se, assim, a segurança jurídica emmatéria tributária. Não ocorre mais a instituição ou majoraçãode tributos por lei publicada ao apagar das luzes de um anopara vigência já a partir de 1º de janeiro. Muitas vezes houveaté mesmo edições extras do Diário Oficial em 31 de dezembro,sábado à noite, sem que sequer tivesse chegado a circular, eque no dia seguinte, alheia ao conhecimento sequer dos maisatentos, já geravam obrigações tributárias.

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Com a aplicação simultânea das anterioridades de exercí-cio e nonagesimal mínima, só o atendimento a ambas enseja aincidência da lei.

Assim, publicada a lei majoradora em março de um ano,poderá incidir sobre fatos ocorridos a partir de 1º de janeiro,quando já atendidas, cumulativamente, a anterioridade de ex-ercício (publicação num ano para incidência no exercícioseguinte) e a anterioridade mínima (decurso de 90 dias desde apublicação). Publicada, contudo, em 15 de dezembro de de-terminado ano, só poderá incidir sobre fatos ocorridos a partirde 16 de março, respeitando a anterioridade de exercício e a an-terioridade nonagesimal mínima (interstício de 90 dias, in-cidindo, então, a partir do 91º dia).

As exceções às regras de anterioridade são taxativas, nu-merus clausus. Há um rol de exceções para a anterioridade deexercício e outro para a anterioridade nonagesimal mínima, osquais não se confundem.

O art. 150, § 1º, atento ao uso extrafiscal de certos tributos,diz que não se aplica a anterioridade de exercício ao emprés-timo compulsório de calamidade ou guerra, aos impostos deimportação e de exportação, sobre produtos industrializados esobre operações de crédito, câmbio, seguros e operações comtítulos e valores mobiliários, tampouco ao imposto ex-traordinário de guerra. E diz que não se aplica a anterioridadenonagesimal ao empréstimo compulsório de calamidade ouguerra, aos impostos de importação e de exportação, ao im-posto de renda e sobre operações de crédito, câmbio, seguros eoperações com títulos e valores mobiliários, ao imposto ex-traordinário de guerra e à fixação da base de cálculo do IPVA edo IPTU.

O art. 155, § 4º, IV, c, permite que as alíquotas do ICMSsobre a comercialização de combustíveis e lubrificantes sejam

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reduzidas e restabelecidas sem observância da anterioridade deexercício. O art. 177, § 4º, estabelece exceção idêntica para aCIDE-combustíveis.

Por fim, o art. 195, § 6º, submete as contribuições de se-guridade social exclusivamente à anterioridade nonagesimal,excluindo a aplicação da anterioridade de exercício. A anterior-idade prevista no art. 195, § 6º, da CF tem sido chamada peladoutrina e pela jurisprudência de anterioridade nonagesimal,especial ou mitigada. Basta a observância do decurso denoventa dias, ainda que no curso de um mesmo ano, para quese possa ter a incidência válida de nova norma que institua oumajore contribuição de seguridade social.

Vejamos o rol das exceções:

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Anterioridade deexercício

Anterioridadenonagesimal

II – 153, I exceção – 150, § 1º exceção – 150, § 1º

IE – 153, II exceção – 150, § 1º exceção – 150, § 1º

IR – 153, III - exceção – 150, § 1º

IPI – 153, IV exceção – 150, § 1º -

IOF – 153, V exceção – 150, § 1º exceção – 150, § 1º

IPVA (bc) – 155, III - exceção – 150, § 1º

IPTU (bc) – 156, I - exceção– 150, § 1º

IEG – 154, II exceção – 150, § 1º exceção– 150, § 1º

ECCG – 148, I exceção– 150, § 1º exceção– 150, § 1º

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Quanto à abrangência da garantia, as anterioridades al-cançam tanto a instituição do tributo como a sua majoração.Assim, aplicam-se primeiramente à própria definição legal dosaspectos material, espacial, temporal, pessoal e quantitativo.Posteriormente, também se aplicam a eventuais modificaçõesda norma tributária impositiva que impliquem cobrar maistributo ou de mais pessoas. Isso pode ocorrer com a ampliaçãoda base de cálculo ou das alíquotas e também quando a lei tor-na mais abrangente o polo passivo. Mesmo alterações no ante-cedente da norma, que impliquem definição de novos fatorgeradores, extensão do aspecto espacial ou mesmo antecipaçãodo aspecto temporal estão cobertas pela garantia.

O STF consolidou entendimento no sentido de que a

simples prorrogação de tributo ou de alíquota temporários178

não se sujeita à observância das regras de anterioridade. Assim,a lei que se limita a determinar a manutenção de cargatributária que já venha sendo suportada poderia ser publicada

para vigência imediata.179 Pensamos que tal posição é total-mente equivocada, porquanto a prorrogação de tributo ou dealíquota temporários corresponde ao estabelecimento de umacarga tributária que não existiria não fosse a prorrogação. Con-figura, portanto, imposição tributária que, relativamente aoperíodo acrescido, é nova e inédita. Assim, também a lei

prorrogadora teria de observar a garantia da anterioridade.180

O STF também vem decidindo no sentido de que a re-vogação e a redução de benefício fiscal não estão sujeitas à ob-servância da garantia da anterioridade. Poderiam ser imediata-mente suprimidos ou reduzidos isenções, créditos presumidos,compensações de prejuízos e descontos para pagamento ante-

cipado.181 Esta posição nos parece igualmente equivocada,pois a supressão de benefícios fiscais aumenta a carga

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tributária a que o contribuinte está sujeito, de modo que aocontribuinte deveria ser reconhecido o direito ao seu conheci-mento antecipado, finalidade das regras dos arts. 150, III, b e c,e 195, § 6º, da Constituição. Ademais, o art. 104, III, do CTN de-termina a aplicação da anterioridade à extinção ou redução deisenções, norma esta, ao nosso ver, meramente interpretativa, oque não foi considerado pelo STF.

No que diz respeito aos fatos geradores de período,182 aanterioridade tributária exige conhecimento antecipado danova lei tributária mais gravosa relativamente ao próprio iníciodo período. Assim, a virada do exercício e/ou o decurso dosnoventa dias devem estar cumpridos já no início do períodoconsiderado para fins de tributação, como imperativo de segur-ança jurídica. O STF revisou jurisprudência anterior em sentido

contrário183 para decidir, em 2011, que não é viável a alteraçãoda alíquota da contribuição sobre o lucro (CSL) no curso do

período, sem a observância da anterioridade de 90 dias.184 Talrevisão deve ocorrer, também, quanto ao IR, estando em dis-cussão nos autos do RE 183.130. Mas ainda não foi expres-samente cancelada a Súmula 584 do STF que permitia a ap-licação, a todo o ano-base, da lei de IR publicada ao longo doperíodo, devendo-se destacar que tal súmula foi por diversasvezes aplicada mesmo após o advento da Constituição Federal

de 1988.185

A anterioridade não diz respeito a alterações de índicesde correção monetária, desde que não impliquem aumento ve-

lado do tributo,186 cabendo a aplicação do art. 97, § 2º, do CTN.A anterioridade também não é aplicável à determinação

do prazo de recolhimento do tributo, de maneira que pode seralterado e passar a valer no mesmo exercício. Aliás, veja-se aSúmula 669 do STF: “Norma legal que altera o prazo de

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recolhimento da obrigação tributária não se sujeita ao princípioda anterioridade”.

Por fim, cabe uma observação quanto ao cômputo da an-terioridade relativamente aos tributos instituídos ou majoradospor medida provisória. O STF vinha entendendo que o termo aquo para verificação da observância da anterioridade de exercí-cio era a data da edição da medida provisória, inclusive consid-erando a primeira medida provisória da série no caso de reed-ições (quando as reedições eram possíveis, antes da EC 32/01).Porém, com a EC 32/01, que alterou o regime das medidasprovisórias, acresceu-se o § 2º ao art. 62 da CF, com a seguinteredação: “Medida provisória que implique instituição ou ma-joração de impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV,V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro seguintese houver sido convertida em lei até o último dia daquele emque foi editada”. Note-se que a restrição foi posta apenas para aespécie tributária impostos, de maneira que, para as demais es-pécies tributárias, continua aplicável a orientação do STF. A EC42/03, que estabeleceu a anterioridade mínima de 90 dias aoacrescer a alínea c ao inciso III do art. 150 da CF, não estabele-ceu a conversão em lei como critério para a sua contagem.Assim, a majoração de impostos, decorrente de medida pro-visória, poderá incidir desde que publicada e convertida em leiantes do final do exercício, observada a anterioridade mínimade 90 dias contados estes da edição da medida provisória.Quanto aos demais tributos, ambas as regras de anterioridadesão computadas tendo em vista a data de edição da medidaprovisória.

41. Isonomia

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A isonomia tributária está positivada no art. 150, II, daCF. Constitui uma limitação ao poder de tributar vinculada àideia de justiça tributária. Veda tratamento desigual entre oscontribuintes que se encontrem em situação equivalente, proi-bida qualquer distinção em razão de ocupação profissional oufunção por eles exercida, independentemente da denominaçãojurídica dos rendimentos, títulos ou direitos.

Analisamos a matéria no capítulo atinente aos princípios.

42. Não confisco187

Carga tributária demasiadamente elevada pode compro-meter o direito de propriedade e o próprio exercício da ativid-ade econômica. Daí a relevância do dispositivo constitucionalque veda a utilização de tributo com efeito de confisco.

Costuma-se identificar o confisco com a tributação exces-sivamente onerosa, insuportável, não razoável, que absorve aprópria fonte da tributação.

Mas é preciso atentar, primeiramente, para a estrutura danorma de vedação do confisco. LUIZ FELIPE SILVEIRADIFINI, em profunda análise sobre a vedação ao confisco,destaca: “A norma que estabelece a proibição de utilizar tributocom efeito de confisco não é regra, pois não se aplica por sub-sunção, nem princípio no sentido mais restrito (mandamentoprima facie), mas um dos princípios (em sentido lato) que regema aplicação dos demais e é medida da ponderação destes: énorma de colisão”. E prossegue: “norma de colisão (tal qual aproporcionalidade) que, nos casos mais afetos à sua

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operatividade, substitui o princípio da proporcionalidade,como norma para solução de hipóteses de colisão de princípios

em sentido estrito”.188

Em segundo lugar, é importante ter em conta, conformeesclarece o mesmo Autor, que não estará sempre em questão apropriedade, mas, por vezes, a livre iniciativa e o livre exercí-cio profissional. Esclarece: “Assim como o direito de pro-priedade, também os princípios do livre exercício profissional eda livre iniciativa podem entrar em conflito com outros princí-pios, que visam a fins de sociabilidade objeto de proteção con-stitucional, derivados do princípio do Estado Social e Demo-crático de Direito, aplicando-se, no campo da tributação, oprincípio da não-confiscatoriedade, como norma de colisão

para a solução destes conflitos”.189

O Supremo Tribunal Federal, em 1999, quando do julga-mento da ADI 2.010, entendeu que o aumento da contribuiçãoprevidenciária do servidor público para patamares que poderi-am chegar a 25%, associado à incidência do imposto sobre arenda de 27,5%, implicava confisco, razão pela qual suspendeua majoração da contribuição. Este precedente é extremamenteimportante porque sinalizou que a verificação do caráter con-fiscatório de um novo tributo ou majoração se faz em face dacarga tributária total a que resta submetido o contribuinte, enão em face da onerosidade de cada tributo isoladamente con-

siderado.190

O STF tem sinalizado, também, no sentido de que avedação do efeito confiscatório aplica-se tanto aos tributospropriamente, como às multas pelo descumprimento da legis-lação tributária, invocando o art. 150, IV, da CF em ambos os

casos.191 Mas deve-se ter bem presente que os fundamentos davedação, num e noutro caso, a rigor, são distintos. A vedação

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de efeito confiscatório na instituição ou majoração de tributosdecorre diretamente do art. 150, IV, da Constituição; relativa-mente às multas, da proporcionalidade das penas e do princí-pio da vedação do excesso.

43. Proibição de limitações ao tráfego por meiode tributos interestaduais e intermunicipais e opedágio

A proibição do estabelecimento de limitações ao tráfegopor meio de tributos interestaduais e intermunicipais, con-

stante do art. 150, inciso V, da CF,192 impede a instituição detributos de passagem, ressalvada expressamente a cobrança depedágio pelo uso de rodovia conservada pelo Poder Público. Apar disso, também a tributação que torne mais gravosas as op-erações interestaduais e/ou intermunicipais teriam o efeito deimplicar limitação ao tráfego, enquadrando-se, pois, navedação constitucional.

O pedágio é referido, no art. 150, V, da CF, como exceçãoem norma que estabelece limitações ao poder de tributar. Ade-mais, todos têm direito à circulação em rodovia que constituibem de uso comum do povo. Diga-se, ainda, que o trânsito porrodovias é indispensável ao exercício do direito de ir e vir, demodo que o seu uso não constitui, propriamente, uma opção deque se possa abrir mão.

Tudo aponta, pois, para o caráter tributário da exação co-brada pelo uso de rodovia, o que restou reconhecido pelo STFno RE 181.475-6, tendo sido classificado o pedágio como taxa

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de serviço. O STF, contudo, também tem precedente anterior,em cognição sumária, dizendo configurar preço público. Nesteponto, é importante ter em consideração que a Constituição, aocuidar dos princípios gerais da atividade econômica, prevê aprestação de serviço público por concessionárias ou permis-sionárias, estabelecendo regime específico para tal hipótese. Oart. 175 da CF, de fato, estabelece cláusula de exceção nessescasos, fazendo com que as salvaguardas do contribuinte (limit-ações constitucionais ao poder de tributar) sejam substituídaspela exigência de licitação (“sempre através de licitação”) epela política tarifária definida em lei (“A lei disporá sobre: [...]III – política tarifária;”).

O pedágio é cobrado pela utilização de rodovia conser-vada pelo poder público, visando a fazer frente às despesascom a conservação. Tendo em conta que não há identidadeconceitual entre conservação (manter determinada construçãoem condições de utilização) e ampliação (acréscimo que inova,ampliando a construção anteriormente existente), bem comoque é impositivo distinguir o “serviço de conservação” da“obra de ampliação”, pode-se concluir que a ampliação de ro-dovias não poderia ser custeada por pedágio. De fato, a ampli-ação não constitui serviço de conservação da rodovia, mas obrade construção civil.

44. Imunidades genéricas a impostos

O art. 150, inciso VI, da CF traz um rol de imunidades aimpostos ao dispor que é vedado à União, aos Estados e aosMunicípios “instituir impostos sobre”. Não se trata, pois, de

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imunidades aplicáveis a nenhuma outra espécie tributária,sendo firme a jurisprudência do STF no sentido de que não se

estende, por exemplo, às contribuições.193

As imunidades genéricas do art. 150, VI, da CF ora têmcaráter subjetivo ora objetivo. Isso quer dizer que, por vezes, éestabelecida em favor de uma pessoa e, em outros casos, em fa-vor de um bem ou operação.

Objetiva é a imunidade da alínea d, que afasta a institu-ição de impostos sobre livros, jornais, periódicos e sobre o pa-pel destinado à sua impressão. Alcança os tributos que poderi-am gravar sua produção, distribuição e comercialização, con-forme análise que fazemos no item próprio adiante.

Subjetivas são as imunidades das suas alínea a, b e c, queaproveitam aos entes políticos, os templos e aos partidos políti-cos e entidades educacionais sem fins lucrativos, dentre outraspessoas. Tais imunidades impedem que os entes imunizadospossam ser colocados na posição de contribuintes de quaisquerimpostos. Aplicam-se, assim, não apenas ao IR, inclusive sobre

aplicações financeiras,194 ao IPTU, ao IPVA, ao ITR, ao ISS e ao

ICMS, mas também ao IOF,195 ao II196 e ao IPI e a qualqueroutro imposto.

Importa, para a verificação da existência ou não daimunidade, a posição de contribuinte, nos moldes do ra-ciocínio que inspirou a Súmula 591 do STF. Conforme ori-entação atual do STF, seguindo a linha da referida súmula,descabe verificar se o ente imune é ou não contribuinte de fato,

pois a repercussão econômica não está em questão.197 Ora, se aConstituição diz que é vedado cobrar impostos das entidadesde assistência social, é porque nega competência para tanto,não sendo dado ao intérprete perquirir quanto à repercussãoeconômica do tributo para o efeito de decidir se é devido ou

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não. Note-se que a imunidade faz com que não haja competên-cia para a instituição do imposto. Assim, se a lei coloca o ven-dedor como contribuinte e, num caso concreto, temos entidadeimune em tal posição, não há que se discutir acerca da co-brança do imposto, a menos que se trate de atividade nãoabrangida pela imunidade, conforme os §§ 3º e 4º da CF.

O gozo de imunidade não dispensa o contribuinte documprimento de obrigações acessórias nem da sujeição à fiscal-ização tributária (art. 194, parágrafo único, do CTN).

Do mesmo modo, não o exime dos deveres de colabor-ação para com o Fisco, podendo figurar como substituto ou

mesmo como responsável tributário.198 A retenção de tributosna fonte, por exemplo, se efetuada adequadamente, nenhumônus acarreta às entidades imunes, pois a operação se dá comdinheiro do contribuinte. A responsabilidade tributária, porsua vez, não se configura senão quando infringido algum deverde colaboração por parte do responsável que tenha ensejado oufacilitado a inadimplência pelo contribuinte ou dificultado suafiscalização. Vale transcrever a lição do Min. CELSO DEMELLO:199

“Seja na substituição, seja na responsabilidadetributária, não há o deslocamento da sujeição tributáriapassiva direta. Os substitutos e os responsáveis não são,nem passam a ser, contribuintes do tributo... Entendoque a imunidade tributária não alcança a entidade nahipótese de ser ela eleita responsável ou substitutatributária. Em ambos os casos, a entidade não é con-tribuinte do tributo. Não são suas operações que sesujeitam à tributação. Os fatos jurídicos tributários sereferem a outras pessoas, contribuintes, como oprodutor-vendedor no caso dos autos. Se estas pessoas

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não gozarem da imunidade, descabe estender-lhes a sal-vaguarda constitucional”.

O § 1º do art. 9º do CTN dispõe justamente no sentido deque a imunidade a imposto “não exclui a atribuição, por lei, àsentidades nele referidas, da condição de responsáveis pelostributos que lhes caiba reter na fonte, e não as dispensa da prát-ica de atos, previstos em lei, assecuratórios do cumprimento deobrigações tributárias por terceiros”.

45. Imunidade recíproca

A imunidade recíproca é princípio garantidor da Feder-ação e, por isso, imutável, não podendo ser ofendida sequer

pelo Poder Constituinte Derivado.200 Impede que os entespolíticos cobrem impostos uns dos outros. Esta imunidade nãodiz respeito a outras espécies tributárias, como contribuições

ou taxas.201

Embora o art. 150, VI, alínea a, ao estabelecer a imunidaderecíproca, refira-se a impostos “sobre” “patrimônio, renda ouserviços”, o STF segue a orientação no sentido de que aimunidade não é restrita aos impostos sobre o patrimônio,sobre a renda ou sobre serviços, mas a todo aquele que possacomprometer o patrimônio, a renda e os serviços do enteimune, alcançando, assim, todo e qualquer imposto, conformedestacamos na introdução à análise das imunidades genéricas.Aplica-se, assim, tanto ao IPVA, IPTU, ITR, IR e ISS, como ao

ICMS e ao IPI, ao II e ao IE, ao IOF202 e mesmo ao ITBI ou aqualquer outro imposto presente ou futuro.

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A imunidade aproveita não apenas ao ente político, mastambém às suas autarquias e fundações, conforme o § 2º doart. 150. Assim, são imunes o INSS, o INCRA, os Conselhos deFiscalização Profissional e demais pessoas jurídicas de direitopúblico, sejam federais, estaduais ou municipais.

A imunidade não alcança, em regra, as empresas públicase as sociedades de economia mista, relativamente às quais,aliás, o § 2º do art. 173 proíbe o gozo de privilégios fiscais nãoextensivos às empresas do setor privado. Mas o STF tem esten-dido a imunidade a empresas públicas e a sociedades de eco-nomia mista quando prestadoras de serviço público típico emregime de monopólio, sem concorrência com o setor privado.

São exemplos a ECT203 e da INFRAERO,204 a CODESP205 e o

GHC.206

A imunidade se dá em função das atividades típicas dosentes políticos, de modo que não se aplica a eventuais ativid-ades econômicas realizadas em regime de livre concorrência,regidas pelas normas aplicáveis a empreendimentos privados,ou em que haja contraprestação ou pagamento de preços outarifas pelo usuário, nem exonera o promitente comprador daobrigação de pagar imposto relativamente ao bem imóvel, nostermos do § 3º do mesmo artigo 150.

46. Imunidade dos templos: garantia da liberdadede culto

A imunidade a impostos que beneficia os “templos dequalquer culto” abrange as diversas formas de expressão da

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religiosidade, inclusive as que não são predominantes na so-ciedade brasileira. Mas não alcança os cultos satânicos, por-quanto “por contrariar a teleologia do texto constitucional e emhomenagem ao preâmbulo da nossa Constituição, que diz ser a

mesma promulgada sob a proteção de Deus”.207

A alínea b não exige regulamentação. Mas o § 4º do art.150 impõe vinculação à finalidade essencial que, no caso, é amanifestação da religiosidade. O STF entende que os imóveisutilizados como residência ou escritório de padres e pastores

estão abrangidos pela imunidade.208 Também os cemitériospertencentes às entidades religiosas estão abrangidos pela

imunidade.209 As quermesses e almoços realizados nas igrejas,bem como a comercialização de produtos religiosos tambémnão desbordam das finalidades essenciais, estando abrangidaspela imunidade.

Tem sido defendido que a remessa de recursos ao exteriordeve ser considerada como abrangida por esta imunidade a im-postos, tendo em conta que a Igreja Católica Romana e a IgrejaAdventista, por exemplo, “são igrejas plurinacionais, em que osseus fiéis comungam da mesma crença e ideais, independente-mente da nação em que vivem, e se autoauxiliam na expansãoda fé e dos princípios de caridade e benemerência [...] espal-hando seus movimentos catequéticos e suas obras de benemer-

ência e difusão da fé e de valores por todo o mundo”.210

Caso os templos desenvolvam atividades de naturezapredominantemente econômica, submetem-se, no ponto, à trib-utação, porquanto a igualdade de tratamento tributário entreos agentes econômicos constitui imperativo da livre concorrên-cia, princípio da ordem econômica estampado no art. 170 daConstituição.

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47. Imunidade dos partidos, sindicatos, entidadeseducacionais e assistenciais

A alínea c do inciso VI do art. 150 estabelece a imunidadedos partidos políticos, das entidades sindicais dos trabal-hadores, das instituições de educação e das de assistência so-cial, sem fins lucrativos.

Embora refira os impostos “sobre” “patrimônio, renda ouserviços”, deve-se considerar a interpretação do STF no sentidode que restam abrangidos todos os impostos, conformedestacamos na introdução à análise destas imunidadesgenéricas.

As condições materiais para o gozo da imunidade estãosob reserva de lei complementar, por força do art. 146, II, daCF. Apenas os requisitos formais de constituição e funciona-mento dos entes imunes, como a ostentação de certificados, éque podem ser estabelecidos por lei ordinária.

O art. 14 do CTN regula a matéria em nível de leicomplementar, impondo-se a observância das condições queestabelece: a) aplicação de todos os recursos na manutençãodos seus objetivos institucionais no País; b) manutenção de es-crituração regular; e c) não distribuição de lucro.

São beneficiários os partidos políticos e os sindicatos detrabalhadores. Os sindicatos de categorias econômicas nãorestam abrangidos pela imunidade.

A Constituição atribui imunidade, ainda, genericamente,às instituições de educação. Alcança, pois, tanto o ensino fun-damental, o ensino médio, o ensino técnico e o ensino uni-versitário, como as pré-escolas, as escolas de idiomas, de espor-tes e outras quaisquer voltadas à educação. Além disso, o fatode as instituições de ensino cobrarem mensalidades e obterem

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renda elevada não descaracteriza a imunidade. As atividadesrelacionadas às suas finalidades essenciais são preservadas dacobrança de impostos. Caso desenvolvam atividades voltadas aoutras finalidades, que não se configurem como auxiliares oucomplementares do ensino, restarão tais atividades tributadas,conforme se infere do § 4º do mesmo art. 150.

As instituições de assistência social, também beneficiári-as da imunidade, são aquelas que desenvolvem uma dasatividades descritas no art. 203 da CF. Não se exige filantropia,ou seja, não se exige que atuem, exclusivamente, com pessoascarentes, de modo gratuito e universal e que dependam exclu-sivamente de donativos. Podem exercer atividade econômicarentável, desde que sem finalidade de lucro, ou seja, desde querevertam seus resultados para a atividade assistencial. Há im-pedimento à distribuição de lucros, esta sim descaracterizadora

da finalidade assistencial e do caráter não lucrativo.211 Não sedeve confundir, ainda, a ausência de caráter lucrativo com a

obtenção de superávit,212 este desejável inclusive para as en-tidades sem fins lucrativos de modo a viabilizar a ampliaçãodas suas atividades assistenciais.

O STF firmou posição no sentido de que a imunidade nãoalcança, via de regra, as entidades de previdência privada, ex-ceto quando não houver contribuição dos beneficiários, o que

lhe conferiria o indispensável caráter assistencial.213 Foi edit-ada, inclusive, a Súmula 730 sobre a matéria: “A imunidadetributária conferida a instituições de assistência social sem finslucrativos pelo art. 150, VI, c, da Constituição, somente alcançaas entidades fechadas de previdência social privada se nãohouver contribuição dos beneficiários”.

Essa imunidade só alcança o patrimônio, a renda e os ser-viços relacionados com as finalidades essenciais das entidades

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imunes, nos termos do § 4º do art. 150 da CF. O STF entendeque não descaracteriza a finalidade a destinação de imóvel para

a recreação e lazer dos funcionários,214 tampouco a ma-nutenção de livraria em imóvel de propriedade do ente imune,“desde que as rendas auferidas sejam destinadas a suas ativid-

ades institucionais”, sendo vedada a cobrança do IPTU.215 O

cinema mantido na entidade não se sujeita ao ISS.216 Importater em conta, ainda, a Súmula 724 do STF: “Ainda quandoalugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel per-tencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, c,da Constituição, desde que o valor dos aluguéis seja aplicadonas atividades essenciais de tais entidades”.

48. Imunidade dos livros, jornais, periódicos e dopapel para a sua impressão

O art. 150, VI, d, da CF outorga imunidade aos “livros,jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão”.

Cuida-se de imunidade objetiva, e não subjetiva, não seestendendo às empresas jornalísticas ou de publicidade, editor-

as e autores.217

A referência ao papel teve por finalidade ampliar o âm-bito da imunidade, de modo a envolver o que é normalmente oseu maior insumo. Não há que se entender tal referência comoexcludente dos livros, jornais e periódicos em meio magnéticoou eletrônico. Impõe-se que se considerem os direitos funda-mentais a que a Constituição visa a proteger com a norma em

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questão. Vem sendo reconhecida a imunidade de livros em

CD-ROM,218 o mesmo devendo acontecer com as revistaseletrônicas acessíveis pela Internet.

A CF, “ao instituir esta benesse, não fez ressalvas quantoao valor artístico ou didático, à relevância das informações di-

vulgadas ou à qualidade cultural de uma publicação”.219

Assim, alcança, também, apostilas,220 fascículos semanais221 e

lista telefônica.222 Até mesmo álbuns de figurinhas restam

abrangidos.223

Cabe destacar, ainda, que a veiculação de anúncios e depublicidade nos livros, jornais e periódicos não afasta a

imunidade em questão,224 constituindo, inclusive, muitasvezes, instrumento para a viabilização da publicação e da suaindependência. Aliás, o STF chegou a decidir no sentido de quea imunidade abrange os próprios “serviços prestados pelaempresa jornalística na transmissão de anúncios e de propa-

ganda”.225 Quanto à pura e simples distribuição de encartes depropaganda de terceiros por jornais e periódicos, contudo, en-

tendeu ausente a imunidade.226

A imunidade diz respeito aos livros, jornais e periódicos.Poder-se-ia entender que afastaria a competência para exigên-cia de tributos que dissessem com sua produção, distribuição e

comercialização, abrangendo a composição, impressão,227 dis-tribuição e venda de tais veículos do pensamento, tocando,pois, o ISS, IPI e ICMS. O STF chegou a se manifestar no sen-tido de que “o livro não é apenas o produto acabado, mas o

conjunto de serviços que o realiza”,228 havendo, ainda, decisão

no sentido de que a imunidade alcança a distribuição.229 De

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outro lado, porém, pronunciou-se no sentido de que a imunid-

ade não aproveita à composição gráfica.230

Quanto aos insumos, estão abrangidos pela imunidade opapel e assimiláveis: papel para impressão, papel fotográfico,

papel telefoto e outros tipos de papel.231 O STF chegou a editara Súmula 657: “A imunidade prevista no art. 150, VI, d, da CFabrange os filmes e papéis fotográficos necessários à publicaçãode jornais e periódicos.” Não estão abrangidos a tinta especial

para jornal,232 máquinas e aparelhos utilizados por empresa

jornalística.233 Mas há acórdão recente do STF em sentido con-trário e o TRF4 reconheceu a imunidade dos tablets ou leitores

de livros digitais.234

49. Limitações específicas à União

O art. 151 da CF estabelece limitações ao poder de tribu-tar da União, quais sejam, a uniformidade geográfica, avedação da tributação diferenciada da renda das obrigaçõesdas dívidas públicas e da remuneração dos servidores e avedação das isenções heterônomas. Vejamos cada qual.

50. Uniformidade geográfica

Estabelece a CF:

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“Art. 151. É vedado à União:I – instituir tributo que não seja uniforme em todo o ter-ritório nacional ou que implique distinção ou preferên-cia em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Municí-pio, em detrimento de outro, admitida a concessão deincentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio dodesenvolvimento socioeconômico entre as diferentes re-giões do País;”

Cuida-se de vedação que se apresenta como subprincípio

tanto do princípio federativo235 como do princípio da iso-nomia, assegurando que a tributação federal não se preste aprivilegiar determinados entes federados em detrimento dosdemais, só admitindo diferenciações que, na forma de in-centivos, visem a promover o equilíbrio do desenvolvimentosocioeconômico entre as diferentes regiões. Assim, ao mesmotempo em que concretiza o princípio da isonomia, permitediferenciação com a finalidade extrafiscal de reduzir asdesigualdades regionais, o que configura objetivo fundamentalda República Federativa do Brasil, nos termos do art. 3º, III, daCF.

Note-se, contudo, que a discriminação autorizadarestringe-se à concessão de incentivos fiscais, pressupondo

uma política de fomento.236

MISABEL DERZI destaca os requisitos indispensáveispara que o tratamento diferenciado seja válido: “a) tratar-se deum incentivo fiscal regional; b) em favor de região ou regiõesmais pobres e menos desenvolvidas; c) o incentivo, de modo al-gum, pode se converter em privilégio das oligarquias das re-giões pobres, mas se destina a promover o desenvolvimento so-

cioeconômico daquela região mais atrasada”.237

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Não está autorizado o estabelecimento de alíquotas difer-

enciadas para determinados Estados,238 embora o STF venha

tolerando tal sistemática.239

O art. 40 do ADCT manteve, ainda, a “Zona Franca deManaus, com suas características de área de livre comércio, deexportação e importação, e de incentivos fiscais, pelo prazo devinte e cinco anos, a partir da promulgação da Constituição”,forte no que tem sido afastada a aplicação de dispositivos que

mitigavam tais incentivos,240 bem como reconhecidos, no en-vio de mercadorias à Zona Franca de Manaus, os direito à ap-

licação dos benefícios relativos à exportação.241

51. Vedação da tributação diferenciada da rendadas obrigações das dívidas públicas e da remuner-ação dos servidores

Dispõe o art. 151, II, da CF que é vedado à União:

“II – tributar a renda das obrigações da dívida públicados Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bemcomo a remuneração e os proventos dos respectivosagentes públicos, em níveis superiores aos que fixarpara suas obrigações e para seus agentes;”

Mais uma vez, temos, aqui, a afirmação do princípio fed-erativo, impedindo que a União se imponha perante os demaisentes federados mediante tributação privilegiada em detri-mento dos interesses dos Estados e dos Municípios. Conforme

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MANOEL GONÇALVES FERREIRA FILHO, não houvesseigualdade de carga tributária incidente sobre as obrigações es-taduais, municipais e federais, “estas últimas seriam favoreci-das, visto que, gravadas mais pesadamente as obrigações es-taduais e municipais, o investidor as preteriria, preferindo nat-

uralmente as federais”.242

52. Vedação à isenção heterônoma

Dispõe o art. 151, III, da CF que é vedado à União “in-stituir isenções de tributos da competência dos Estados, do Dis-trito Federal ou dos Municípios”. ALIOMAR BALEEIROrefere-se a esta vedação como uma limitação ao poder de não

tributar ou isentar.243

A vedação constante do art. 151, III, da CF dirige-se à Un-ião enquanto pessoa jurídica de direito público interno. ARepública Federativa do Brasil, nas suas relações externas,pode firmar tratado internacional em que estabeleça isençãode quaisquer tributos, sejam federais, estaduais ou municipais.Efetivamente, o “âmbito de aplicação do art. 151, CF, é o das re-lações das entidades federadas entre si. Não tem por objeto a

União quando esta se apresenta na ordem externa”.244 A

doutrina, aliás, sempre foi dominante neste sentido.245

Note-se que a vedação alcança isenções, no âmbito inter-no, a quaisquer tributos instituídos pelos Estados ou pelosMunicípios, sejam impostos, taxas ou contribuições.

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Lei federal não pode, portanto, sob pena de inconstitu-cionalidade, conceder isenções de tributos estaduais e muni-cipais. Não pode sequer isentar a própria União e suas autar-quias de taxas estaduais, como as custas judiciais. Aliás, acercadisso, há a Súmula 178 do STJ: “O INSS não goza de isençãodo pagamento de custas e emolumentos, nas ações acidentáriase de benefícios propostas na Justiça Estadual”. Os julgados quederam origem à Súmula 178 do STJ, embora sem invocar o art.151, III, da CF, ressaltaram que a Lei Federal 8.620/93 não po-deria isentar o INSS das custas na Justiça Estadual. Contudo,quanto aos registros de nascimento e de óbito, entendeu o STFque a Lei 9.534/97 poderia regulamentá-los, estabelecendo agratuidade para todos os registros de nascimento e assentos deóbito e pelas primeiras certidões desses atos e não apenas paraos reconhecidamente pobres, como assegurado pelo art. 5º,

LXXVI, da CF.246

O art. 41, § 2º, do ADCT preservou os direitos adquiridosrelativos a isenções onerosas validamente concedidas sob a

Constituição de 1967,247 que só vedava as isenções a impostos,permitindo-as quanto às demais espécies tributárias.

53. Limitações aos Estados e Municípios para es-tabelecer diferença tributária em razão da pro-cedência ou destino

Dispõe o art. 152 da CF:

“Art. 152. É vedado aos Estados, ao Distrito Federal eaos Municípios estabelecer diferença tributária entre

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bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de suaprocedência ou destino.”

Tal dispositivo visa a garantir que não haja barreirastributárias entre os Estados e Municípios, que impliquem re-strição à atividade econômica ou o estabelecimento de blocoscom preferência relativamente às demais unidades federadas.Cuida-se, assim, de limitação aos Estados que se agrega àquelaestabelecida pelo art. 151, I, da CF à União (uniformidade geo-gráfica) de modo que, no âmbito da República Federativa doBrasil, tenha-se uma economia unificada, sem quaisquer bar-reiras ou privilégios para determinados entes federados.

Assim, resta constitucionalmente assentado que “[...] aprocedência e o destino são índices inidôneos para efeito demanipulação das alíquotas e da base de cálculo pelos legis-ladores dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. E odispositivo se refere a bens e serviços de qualquer

natureza”.248

Não é possível, por exemplo, utilizar como critério para aseletividade ou para a progressividade a origem, o destino, olocal de sede do vendedor, do prestador ou do consumidor.

Mas o art. 152 da CF também resguarda o papel da Uniãode controlar o comércio exterior, impedindo que os Estados es-tabeleçam diferença tributária para os produtos oriundos deoutros países. Reconheceu-se, por exemplo, a impossibilidadede Estado cobrar IPVA com alíquota diferenciada para veículos

importados.249

54. Vedação da afetação do produto de impostos

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O art. 167, IV, da CF proíbe a vinculação da receita de im-postos a órgão, fundo ou despesa, ressalvadas apenas as autor-izações amparadas na própria constituição. Vejamos o disposit-ivo, com a redação da EC 42/03:

“Art. 167. São vedados:[...]IV – a vinculação de receita de impostos a órgão, fundoou despesa, ressalvadas a repartição do produto da ar-recadação dos impostos a que se referem os arts. 158 e159, a destinação de recursos para as ações e serviçospúblicos de saúde, para manutenção e desenvolvimentodo ensino e para realização de atividades da adminis-tração tributária, como determinado, respectivamente,pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a prestação degarantias às operações de crédito por antecipação de re-ceita, previstas no art. 165, § 8º, bem como o disposto no§ 4º deste artigo;”

As únicas vinculações possíveis são as referentes à re-partição constitucional de receitas tributárias entre os entespolíticos, bem como a destinação de recursos à saúde, ao en-sino, à administração tributária e à garantia da tomada decrédito por antecipação de receita, todas com detalhamentoconstitucional expresso.

O rol do art. 167, IV, da CF é numerus clausus, não ad-mitindo outras hipóteses de vinculação, de modo que nãoabrange, por exemplo, programas de assistência integral à cri-

ança e ao adolescente,250 tampouco determinação de aplicaçãode recursos em reservas indígenas consideradas como unid-

ades de conservação ambiental,251 a vinculação parcial a pro-

gramas de financiamento habitacional252 ou mesmo o finan-ciamento de subsídio de energia elétrica a consumidores de

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baixa renda mediante dedução do ICMS pela concessionária de

energia.253

A razão dessa vedação é resguardar a iniciativa do PoderExecutivo, que, do contrário, poderia ficar absolutamente am-arrado a destinações previamente estabelecidas por lei e, comisso, inviabilizado de apresentar proposta orçamentária apta àrealização do programa de governo aprovado nas urnas.Efetivamente, somente assim será possível o planejamento e oestabelecimento de prioridades tendo como instrumento a lei

orçamentária.254

Entendemos que a não afetação constitui uma regra, e nãoum princípio. Não é um fim a ser buscado, mas uma vedação aser observada pelo legislador, sob pena de inconstitucionalid-ade da lei que disponha em contrário. Ricardo Lobo Torres,porém, refere-se a tal vedação como “princípio da não

afetação”.255

A vedação diz respeito apenas a impostos, porque estaespécie tributária é vocacionada a angariar receitas para asdespesas públicas em geral. As demais espécies tributárias têma sua receita necessariamente afetada, mas não a qualquer ór-gão ou despesa, e sim ao que deu suporte a sua instituição. Acontribuição de melhoria será afetada ao custeio da obra; ataxa, à manutenção do serviço ou atividade de polícia; a con-tribuição especial, à finalidade para a qual foi instituída; o em-préstimo compulsório, também à finalidade que autorizou suacobrança.

Por força de tal vedação, a majoração de imposto comvinculação a determinada finalidade é inconstitucional, rest-ando indevido o pagamento pela nova alíquota. Note-se que oSTF, nesses casos, tem afastado a própria obrigação tributária, e

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não apenas a vinculação, ou seja, entende que a majoração, por

ser vinculada, é inconstitucional.256

Distinta é a questão da malversação dos recursos advin-dos do pagamento de impostos. Nestes casos, não se tem umproblema tributário, relacionado à instituição do tributo, masum ilícito a ser apurado administrativa e criminalmente, demaneira que não vicia o tributo em si.

Notas do Capítulo V

152 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro SYDNEY SANCHES, ADI 939, 1993.

153 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabil-idade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,nos termos seguintes: [...] II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar defazer alguma coisa senão em virtude de lei.

154 HECK, Luís Afonso. O Tribunal Constitucional Federal e o Desenvolvimentodos Princípios Constitucionais: contributo para uma compreensão da JurisdiçãoConstitucional Federal Alemã. Porto Alegre: Fabris, 1995, p. 200.

155 “No seu sentido dogmático tradicional, a ‘reserva da lei’ só tem ver-dadeiramente sentido em estruturas constitucionais que aceitem a existênciade espaços de poder estatal livres da lei, ou seja, que, de algum modo,aceitem o dualismo ao nível da estruturação política dos órgãos estaduais.”(VAZ, Manoel Afonso. Lei e reserva da lei: a causa da lei na Constituição Por-tuguesa de 1976. Porto, 1992, p. 141).

156 “Não há, portanto, no nosso sistema, nenhuma possibilidade de existircláusula geral do tributo, norma aberta de tributação ou qualquer outra de-nominação que se lhe queira dar.” (GONÇALVES, J. A. Lima. Isonomia naNorma Tributária. São Paulo: Malheiros, 1993, p. 37).

157 CF: “Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: I – importaçãode produtos estrangeiros; II – exportação, para o exterior, de produtos

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nacionais ou nacionalizados; [...] IV – produtos industrializados; V – oper-ações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliári-os; [...] § 1º – É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os lim-ites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos enumerados nos in-cisos I, II, IV e V.”

158 CF: “Art. 177 [...] § 4º A lei que instituir contribuição de intervenção nodomínio econômico relativa às atividades de importação ou comercializaçãode petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados e álcool com-bustível deverá atender aos seguintes requisitos: I – a alíquota da contribuiçãopoderá ser: [...] b)reduzida e restabelecida por ato do Poder Executivo, não selhe aplicando o disposto no art. 150, III, b;” Dispositivos com a redação da EC33/01.

159 CF: “Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: [...] IV– sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos eregulamentos para sua fiel execução;”

160 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro CARLOS VELLOSO, RE 343.446, 2003.

161 STF, Primeira Turma, Rel. Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE, RE234.463, 1999; STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro OCTÁVIO GALLOTTI, ADI1.417, 1999.

162 CF: “Art. 246. É vedada a adoção de medida provisória na regula-mentação de artigo da Constituição cuja redação tenha sido alterada por meiode emenda promulgada entre 1º de janeiro de 1995 até a promulgação destaemenda, inclusive.” (com a redação da EC nº 32/01).

163 STF, AG (AgRg) 230.557-SP.

164 STF, Primeira Turma, Rel. Ministro ILMAR GALVÃO, RE 195.218, 2002;STF, Segunda Turma, Rel. Ministro MAURÍCIO CORREA, AGRAG 178723,1996.

165 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro ILMAR GALVÃO, RE 140.669, 1998.

166 Sobre a irretroatividade das leis de ordem pública e respectivas dis-cussões, vide item 10 infra.

167 CRFB: “Art. 5º [...] XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defina,nem pena sem prévia cominação legal;”

168 Caso dos tributos sobre patrimônio.

169 É o caso da retroatividade imprópria consagrada na Súmula 584 do STF.

170 A retroatividade imprópria no Direito alemão e espanhol.

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171 É importante observar que, embora vedada no que diz respeito à institu-ição e à majoração de tributos, a retroatividade não é de todo estranha aoDireito Tributário, havendo normas que se vocacionam mesmo para retroagir,como as de remissão e anistia, além do que o art. 106 do CTN determina a ap-licação retroativa da lei posterior mais benéfica relativamente à cominação depenalidades: “Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito: I – em qualquercaso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a aplicação de pen-alidade à infração dos dispositivos interpretados; II – tratando-se de ato nãodefinitivamente julgado: a) quando deixe de defini-lo como infração; b)quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ouomissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado emfalta de pagamento de tributo; c) quando lhe comine penalidade menos sev-era que a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática.”

172 Os artigos 105 e 144, § 2º do CTN, no que ensejariam a aplicação da leinova a todo o período já decorrido em parte, são incompatíveis com o art.150, III, a, da CRFB de 1988, não tendo sido recepcionados.

173 Lei Geral Tributária portuguesa (Decreto-Lei 398, de 17 de Dezembro de1999): “Artigo 12º Aplicação da lei tributária no tempo. 1 – As normastributárias aplicam-se aos factos posteriores à sua entrada em vigor, não po-dendo ser criados quaisquer impostos retroactivos. 2 – Se o facto tributário forde formação sucessiva, a lei nova só se aplica ao período decorrido a partir dasua entrada em vigor.”

174 Statuto del contribuente italiano (Legge 212, de 27 de julho de 2000): “Art.3. Salvo quanto previsto dall’articolo 1, comma2, lê disposizioni tributarienon hanno effetto retroattivo. Relativamente ai tributi periodici le modificheintrodotte si applicano solo a partire dal periodo d’imposta successivo aquello in corso alla data di entrata in vigore delle disposizioni che lêprevedono.”

175 ÁVILA, Humberto. Segurança Jurídica: Entre a permanência, mudança e real-ização no Direito Tributário. Malheiros, 2011, p. 688.

176 A anterioridade e a anualidade são bastante distintas tanto no funda-mento quanto no conteúdo. A ideia de anterioridade da lei visa a garantir queo contribuinte não seja surpreendido com um novo ônus tributário de umahora para outra, sem que possa se preparar para a nova carga tributária, ouseja, concretiza um comando que tem como fundamento a segurança jurídicae como conteúdo a garantia de certeza do direito, assegurando o conheci-mento prévio da lei. A anterioridade, pois, sempre se relaciona com inovaçãolegislativa relativa à instituição ou majoração de tributo. A anuidade, por suavez, precisa ser analisada conforme o momento histórico. Em uma fase inicial,identificava-se com a ideia de consentimento que deu suporte ao próprio

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surgimento da legalidade tributária, porquanto, a cada ano, em uma única leise instituíam os tributos a serem cobrados no ano subsequente conforme asdespesas previstas. A própria instituição dos tributos era temporária, anual,exigindo, pois, renovação. Assim, pouco importava que se estivesse cuidandoda instituição ou majoração de um tributo novo ou da simples manutenção dasua cobrança tal como já vinha sendo feito em exercícios anteriores. Em umasegunda fase, quando, mais consolidado o sistema representativo, a institu-ição dos tributos já não mais se dava de modo temporário, mas em caráterpermanente, até que a lei instituidora viesse a ser revogada, a anuidade pas-sou a cumprir uma função limitadora da instituição de novos tributos ou ma-joração dos já existentes, pressupondo-se que, se não prevista no orçamentodaquele ano, não poderia incidir, não estando autorizada a sua cobrança. Fi-caria, assim, a incidência e arrecadação para o ano em que, já constando doorçamento aquele ingresso como receita, se justificasse a sua exigência. Emuma terceira fase, que é a atual, sequer se condiciona a instituição ou major-ação de tributos à prévia inclusão na lei orçamentária. Isso porque se entendeque, provindo do mesmo órgão legislativo, ainda que não prevista na lei orça-mentária, a instituição posterior, por força de lei, pressupõe, ela própria, umjuízo contemporâneo quanto à necessidade daquela receita e a autorizaçãopara a cobrança após o decurso do prazo constitucional que garante o conhe-cimento antecipado pelo contribuinte, a anterioridade. Não se deve perder devista, contudo, que a tributação não se justifica por si só, como uma via demão única, como um arrecadar por arrecadar, uma receita sem sentido. Pelocontrário, a tributação só se justifica e encontra amparo constitucional,sustentando-se a ingerência no patrimônio privado, quando se faça ne-cessária. Nesta medida, excluindo-se o exercício inicial, quando a própria in-stituição ou majoração pressupõe tal juízo de necessidade e, por isso, dis-pensa autorização orçamentária prévia, a tributação só restará justificada eautorizada, nos exercício seguintes, se houver na lei orçamentária, que rege aação do Estado em cada exercício, a previsão da arrecadação e da aplicaçãodos respectivos recursos, o que ganha relevância e maior destaque no que dizrespeito aos tributos que, por sua própria natureza, vinculam-se diretamentea uma atividade estatal (taxas, contribuições de melhoria, contribuições espe-ciais e empréstimos compulsórios). Atualmente, pois, ainda que a anualidadenão mais figure como limitação à inovação legislativa que implique institu-ição ou majoração de tributo, prossegue condicionando a tributação no quediz respeito ao prosseguimento da cobrança, a cada exercício.

177 ÁVILA, Humberto. Segurança Jurídica: Entre a permanência, mudança e real-ização no Direito Tributário. Malheiros, 2011, p. 587.

178 Tributo temporário é aquele instituído para vigência até determinadadata. Alíquota temporária é aquela estabelecida para vigência por determ-inado período, findo o qual voltaria a ser aplicada a alíquota anterior.

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179 STF, RE 584100 (DJe fev/2010), RE 566032, AI 392574, ADI 2.666, ADI2.031.

180 Também HUMBERTO ÁVILA pensa assim: “Ora, se a regra da anterior-idade visa a evitar a surpresa, tal dissociação entre instituição e prorrogaçãorevela-se de todo imprópria. Havendo surpresa, que a regra visa a evitar,tem-se a instituição, pouco importa se sob o nome de prorrogação”. (Segur-ança Jurídica: Entre a permanência, mudança e realização no Direito Tributário. SãoPaulo: Malheiros, 2011, p. 592).

181 STF, RE 344.994, RE 545.308, ADI 4.016, RE 204.062.

182 Fatos geradores de período ou fatos geradores complexos são aqueles quepressupõem um conjunto de fatos que acontecem ao longo de um dado per-íodo e que são considerados como um todo único, casos do imposto de rendae da contribuição social sobre o lucro, em que os ingressos e as despesas detodo o ano ou do trimestre concorrem para a verificação da ocorrência dolucro real e do resultado ajustado respectivos.

183 STF, RE 204.271 e RE 197.790.

184 STF, Pleno, RE 587008, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, 2011.

185 STF, RE 194.612 e AgRgpET 2.698.

186 STF, Segunda Turma, AGRRE-176.200.

187 Sobre a vedação do confisco em matéria tributária, consulte-se, principal-mente: DIFINI, Luiz Felipe Silveira. Proibição de tributos com Efeito de Confisco.Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007. GOLDSCHMIDT, Fabio Brun. OPrincípio do Não-Confisco no Direito Tributário. São Paulo: RT, 2003.

188 DIFINI, Luiz Felipe Silveira. Proibição de tributos com Efeito de Confisco. Op.cit., p. 263-264.

189 Idem, p. 266.

190 “[...] A TRIBUTAÇÃO CONFISCATÓRIA É VEDADA PELACONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA [...] A identificação do efeito confiscatóriodeve ser feita em função da totalidade da carga tributária, mediante veri-ficação da capacidade de que dispõe o contribuinte – considerado o montantede sua riqueza (renda e capital) – para suportar e sofrer a incidência de todosos tributos que ele deverá pagar, dentro de determinado período, à mesmapessoa política que os houver instituído (a União Federal, no caso),condicionando-se, ainda, a aferição do grau de insuportabilidade econômico-financeira, à observância, pelo legislador, de padrões de razoabilidade desti-nados a neutralizar excessos de ordem fiscal eventualmente praticados pelo

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Poder Público. Resulta configurado o caráter confiscatório de determinadotributo, sempre que o efeito cumulativo – resultante das múltiplas incidênciastributárias estabelecidas pela mesma entidade estatal – afetar, substancial-mente, de maneira irrazoável, o patrimônio e/ou os rendimentos do con-tribuinte. – O Poder Público, especialmente em sede de tributação (as con-tribuições de seguridade social revestem-se de caráter tributário), não podeagir imoderadamente, pois a atividade estatal acha-se essencialmente condi-cionada pelo princípio da razoabilidade. [...]”. (STF, Tribunal Pleno, ADI2.010-2/DF, rel. Min. Celso de Mello, set/1999, DJ 12.04.2002, p. 51); Tal jávinha sendo afirmado, em sede doutrinária, por Hugo de Brito Machado: “Ocaráter confiscatório do tributo há de ser avaliado em função do sistema, valedizer, em face da carga tributária resultante dos tributos em conjunto”.(MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 30ª ed. São Paulo:Malheiros, 2009, p. 42).

191 “[...] VIOLAÇÃO AO INCISO IV DO ART. 150 DA CARTA DAREPÚBLICA. A desproporção entre o desrespeito à norma tributária e suaconseqüência jurídica, a multa, evidencia o caráter confiscatório desta, atent-ando contra o patrimônio do contribuinte, em contrariedade ao mencionadodispositivo do texto constitucional federal. Ação julgada procedente.” (STF,Tribunal Pleno, ADI 551-1, Rel. Ministro ILMAR GALVÃO, 2002);“TRIBUTÁRIO. MULTA PUNITIVA. VEDAÇÃO DE TRIBUTAÇÃOCONFISCATÓRIA... I – É aplicável a proibição constitucional do confisco emmatéria tributária, ainda que se trate de multa fiscal resultante do inadimple-mento pelo contribuinte de suas obrigações tributárias.” (STF, PrimeiraTurma, AI 482281 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, 2009).

192 CF: “Art. 150 [...] V – estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens,por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrançade pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público;”

193 STF, RE-AgR 332963 e REAgR 378144.

194 STF, ADI 1758-4.

195 STF, ACO 468-3.

196 Câmara Superior de Recursos Fiscais 0302853.

197 “IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS E SERVIÇOS –IMUNIDADE RECÍPROCA – ARTIGO 150, INCISO VI, ALÍNEA A, DACONSTITUIÇÃO FEDERAL. A imunidade prevista no artigo 150, inciso VI,alínea “a”, do Diploma Maior, a impedir a instituição de impostos sobre pat-rimônio, renda ou serviços de pessoas jurídicas de direito público – União,Estados, Distrito Federal e Municípios – está umbilicalmente ligado ao con-tribuinte de direito, não abarcando o contribuinte de fato.” (STF, Primeira

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Turma, AI 500139 AgR, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, 2011). Vide tam-bém: STF, Primeira Turma, AI 805295 AgR, Relator: Min. RICARDOLEWANDOWSKI, 2010.

198 STF, RE 202987; STJ, REsp. 153.664.

199 STF, RE 202987.

200 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro SYDNEY SANCHES, ADI 939, 1993.

201 “1. A imunidade tributária recíproca não engloba o conceito de taxa, por-quanto o preceito constitucional (artigo 150, inciso VI, alínea “a”, da Constitu-ição Federal) só faz alusão expressa a imposto.” (STF, Primeira Turma, RE613287 AgR, Relator(a): Min. LUIZ FUX, 2011).

202 STF, Primeira Turma, Rel. Ministro ILMAR GALVÃO, RE 213.059, 1997.

203 “Imunidade recíproca. Art. 150, VI, a, da Constituição Federal. Extensão.Empresa pública prestadora de serviço público. Precedentes da SupremaCorte. 1. Já assentou a Suprema Corte que a norma do art. 150, VI, ‘a’, da Con-stituição Federal alcança as empresas públicas prestadoras de serviço público,como é o caso da autora, que não se confunde com as empresas públicas queexercem atividade econômica em sentido estrito. Com isso, impõe-se o recon-hecimento da imunidade recíproca prevista na norma supracitada. 2. Açãocível originária julgada procedente.” (STF, Tribunal Pleno, Rel. p/ acórdãoMin. MENEZES DIREITO, ACO 765, 2009).

204 A INFRAERO, que é empresa pública, executa, como atividade-fim, emregime de monopólio, serviços de infra-estrutura aeroportuária constitucion-almente outorgados à União Federal, qualificando-se, em razão de sua es-pecífica destinação institucional, como entidade delegatária dos serviçospúblicos a que se refere o art. 21, inciso XII, alínea ‘c’, da Lei Fundamental, oque exclui essa empresa governamental, em matéria de impostos, por efeitoda imunidade tributária recíproca (CF, art. 150, VI, ‘a’), do poder de tributardos entes políticos em geral. Conseqüente inexigibilidade, por parte do Mu-nicípio tributante, do ISS referente às atividades executadas pela INFRAEROna prestação dos serviços públicos de infra-estrutura aeroportuária edaquelas necessárias à realização dessa atividade-fim. [...] A submissão ao re-gime jurídico das empresas do setor privado, inclusive quanto aos direitos eobrigações tributárias, somente se justifica, como consectário natural do pos-tulado da livre concorrência (CF, art. 170, IV), se e quando as empresas gover-namentais explorarem atividade econômica em sentido estrito, não se aplic-ando, por isso mesmo, a disciplina prevista no art. 173, § 1º, da Constituição,às empresas públicas (caso da INFRAERO), às sociedades de economia mistae às suas subsidiárias que se qualifiquem como delegatárias de serviços

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públicos.” (STF, Segunda Turma, Rel. Ministro CELSO DE MELLO, RE363412 AgR, 2007).

205 “A CODESP, que é sociedade de economia mista, executa, comoatividade-fim, em regime de monopólio, serviços de administração de portomarítimo constitucionalmente outorgados à União Federal, qualificando-se,em razão de sua específica destinação institucional, como entidade deleg-atária dos serviços públicos a que se refere o art. 21, inciso XII, alínea f, da LeiFundamental, o que exclui essa empresa governamental, em matéria de im-postos, por efeito da imunidade tributária recíproca (CF, art. 150, VI, a), dopoder de tributar dos entes políticos em geral, inclusive o dos Municípios.”(STF, Segunda Turma, Rel. Ministro CELSO DE MELLO, RE 265749 ED-ED,2011).

206 “1. A saúde é direito fundamental de todos e dever do Estado (arts. 6º e196 da Constituição Federal). Dever que é cumprido por meio de ações e ser-viços que, em face de sua prestação pelo Estado mesmo, se definem como denatureza pública (art. 197 da Lei das leis). 2 . A prestação de ações e serviçosde saúde por sociedades de economia mista corresponde à própria atuação doEstado, desde que a empresa estatal não tenha por finalidade a obtenção delucro. 3. As sociedades de economia mista prestadoras de ações e serviços desaúde, cujo capital social seja majoritariamente estatal, gozam da imunidadetributária prevista na alínea a do inciso VI do art. 150 da Constituição Feder-al.” (STF, Tribunal Pleno, Rel. p/ o Acórdão Min. AYRES BRITTO, 2010).

207 SARAIVA FILHO, Oswaldo Othon de Pontes. A imunidade das institu-ições religiosas, RFDT 27/21, mai-jun/07.

208 “O fato de os imóveis estarem sendo utilizados como escritório e residên-cia de membros da entidade não afasta a imunidade prevista no art. 150, in-ciso VI, alínea c, § 4º, da Constituição Federal.” (STJ, 2ªT., RE 221.395-8/SP,Min. Marco Aurélio, 2000).

209 “1. Os cemitérios que consubstanciam extensões de entidades de cunhoreligioso estão abrangidos pela garantia contemplada no artigo 150 da Con-stituição do Brasil. Impossibilidade da incidência de IPTU em relação a eles.”(STF, Tribunal Pleno, RE 578.562/BA, Rel. Ministro Eros Grau, 2008).

210 MARTINS, Ives Gandra da Silva. Questões Atuais de Direito Tributário. BeloHorizonte: Del Rey, 1999, p. 241-242, e RDDT 28/68, jan/98.

211 STF, ADIMC 1.802/DF.

212 ÁVILA, René Bergmann. Lei 9.532/97 Comentada e Anotada. Porto Alegre:Síntese, 1998, nota 90, p. 97.

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213 STF, Primeira Turma, REAgR 326.995 e REAgREDED 227.001.

214 STF, Primeira Turma, RE 236.174, Rel. Ministro MENEZES DIREITO,2008.

215 STF, Primeira Turma, EDRE 345.830-2, Rel. Ministra ELLEN GRACIE,2002.

216 STF, Primeira Turma, RE 116.552-9, Rel. Ministro OCTÁVIO GALLOTTI,2000.

217 “... ART. 150, VI, D, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL... Imunidade quecontempla, exclusivamente, veículos de comunicação e informação escrita, e opapel destinado a sua impressão, sendo, portanto, de natureza objetiva, razãopela qual não se estende às editoras, autores, empresas jornalísticas ou depublicidade – que permanecem sujeitas à tributação pelas receitas e peloslucros auferidos.” (STF, Primeira Turma, RE 206.774/RS, Min. Ilmar Galvão,ago/99); “II – A imunidade prevista no art. 150, VI, d, da Lei Maior nãoabrange as operações financeiras realizadas pela agravante.” (STF, PrimeiraTurma, RE 504615 AgR, Rel. Ministro RICARDO LEWANDOWSKI, 2011).

218 TRF4, AC 1998.04.01.090888-5 e REOMS 2002.70.00.008696-3.

219 STF, Segunda Turma, Rel. Ministra ELLEN GRACIE, RE 221.239, 2004.

220 STF, Segunda Turma, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO, RE 183.403, 2000.

221 STF, RE 225.955 AgRg.

222 STF, Primeira Turma, Rel. Ministro ILMAR GALVÃO, RE 114.790, 1992.

223 STF, Primeira Turma, Rel. Ministro MENEZES DIREITO, RE 179.893,2008.

224 STF, RE 199.183.

225 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro XAVIER DE ALBUQUERQUE, RE87.049, 1978.

226 STF, Primeira Turma, Rel. Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE, AI 368.077Ag.Reg, 2004.

227 STF, AgRE 434.826, em discussão.

228 STF, RE 225.955 AgRg.

229 STF, RE 453.670.

230 STF, RE 130.782.

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231 “I – O Supremo Tribunal Federal possui entendimento no sentido de quea imunidade tributária prevista no art. 150, VI, d, da Constituição Federal de-ve ser interpretada restritivamente e que seu alcance, tratando-se de insumosdestinados à impressão de livros, jornais e periódicos, estende-se, exclusiva-mente, a materiais que se mostrem assimiláveis ao papel, abrangendo, porconsequência, os filmes e papéis fotográficos.” (STF, Primeira Turma, RE504615 AgR, Rel. Ministro RICARDO LEWANDOWSKI, 2011)

232 STF, RE 215.435.

233 STF, RE 206.127-1.

234 “A imunidade tributária relativa a livros, jornais e periódicos é ampla,total, apanhando produto, maquinário e insumos. A referência, no preceito, apapel é exemplificativa e não exaustiva.” (STF, Primeira Turma, RE 202149,Rel. p/ acórdão Min. MARCO AURÉLIO, 2011); TRF4, Segunda Turma, Rel.p/ acórdão LUCIANE AMARAL CORRÊA MÚNCH, APELREEX5014246-64.2010.404.7000, 2011.

235 No sentido de que confirma o postulado federativo: CARVALHO, Paulode Barros. Curso de Direito Tributário. 21ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 183.

236 SOUZA, Hamilton Dias de. Comentários ao Código Tributário Nacional, vol.1. Ives Gandra da Silva Martins (coord.). São Paulo: Saraiva, 1998, p. 8-9.

237 DERZI, Misabel. Nota de atualização à obra de Aliomar Baleeiro, DireitoTributário Brasileiro. 11ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 159-163.

238 TRF4, AC 1998.04.01.017397-6.

239 STF, RE 344.331.

240 STF, ADIMC 2.348/DF.

241 STJ, REsp 823.954/SC.

242 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Comentários a ConstituiçãoBrasileira de 1988, v. 3. São Paulo: Saraiva, 1994, p. 109

243 BALEEIRO, Aliomar. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar, 7ª ed.,atualizada por Misabel Abreu Machado Derzi. Rio de Janeiro: Forense, 1997,p. 2.

244 STF, RE 229.096 e ADI 1.600.

245 MACHADO, Hugo de Brito. Tratados e Convenções Internacionais emMatéria Tributária. RDDT 93, jun/03; BARRAL, Welber Barral; PRAZERES,Tatiana Lacerda, Isenção de tributos estaduais por tratados internacionais,

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RDDT nº 70, julho/01, p. 140-149; MARTINS, Natanael. Tratados internacion-ais em matéria tributária, em CDTFP nº 12, RT, 1995, p. 201.

246 STF, ADI 5-2 e ADIMC 1.800-1.

247 STF, RE 361.829-6 e RE 165.099-1.

248 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21ª ed. SãoPaulo: Saraiva, 2009, p. 184.

249 STJ, Primeira Turma, RMS 13.502.

250 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro SYDNEY SANCHES, ADI 1.689, 2003.

251 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro CELSO DE MELO, ADI 2.355 MC,2002.

252 STF, RE 213.739-1 e AgRgAG 228.637/SP.

253 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro ILMAR GALVÃO, ADI 2.848 MC,2003.

254 MISABEL ABREU MACHADO DERZI, em nota de atualização na obrade ALIOMAR BALEEIRO, Direito Tributário Brasileiro, 11ª ed. Rio de Janeiro:Forense, 1999, p. 199.

255 TORRES, Ricardo Lobo. Curso de Direito Financeiro e Tributário. 16ª ed. Riode Janeiro: Renovar, 2009, p. 119/121.

256 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministra ELLEN GRACIE, ADI-3576, 2006.

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Capítulo VI – LegislaçãoTributária

55. Normas constitucionais

O Sistema Tributário Nacional tem todo o seu desenho naConstituição Federal, pois esta discrimina de modo exaustivo acompetência tributária de cada ente político e estabelece limit-ações ao exercício do poder de tributar, evidenciando, ainda, osprincípios expressos e implícitos que regem a tributação.

A análise do Texto Constitucional nos permite saber tudoo que pode ser feito em matéria tributária e quais as garantiasfundamentais do contribuinte cuja inobservância vicia o exercí-cio da tributação.

56. Leis complementares à Constituição

A Constituição elenca, expressamente, as matérias cujadisciplina se dará em caráter complementar à Constituição

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através de veículo legislativo próprio que exige quorum quali-ficado: a lei complementar.

Para sabermos se é necessária lei complementar paradispor sobre determinada matéria, temos de analisar o textoconstitucional. O conteúdo da lei complementar não é arbit-

rário.257 Não se presume a necessidade de edição de lei com-

plementar.258 Só é necessário lei complementar quando a Con-

stituição expressamente a requer.259

O eventual tratamento de certa matéria por lei comple-mentar não impõe, daí para diante, a utilização de tal veículolegislativo. Se a Constituição não exige lei complementar, a leiordinária pode validamente dispor sobre a matéria, de modoque a lei complementar que a discipline terá nível de lei or-dinária e será, pois, revogável por lei ordinária.

A ideia de hierarquia formal entre lei complementar e leiordinária, pois, não se sustenta. A lei ordinária simplesmentenão pode afrontar lei complementar nas matérias a esta reser-vadas, pois não constituirá, nesse caso, veículo legislativo aptoa inovar na ordem jurídica quanto àqueles pontos. A posiçãopela existência de hierarquia formal, outrora acolhida pelo STJ,

jamais encontrou eco no STF.260 Daí por que foram admitidas arevogação, pela Lei 9.430/96, da isenção de COFINS concedida

pelo art. 6º, II, da LC 70/91,261 bem como a revogação ex-pressa, pelo art. 9º da Lei 9.876/99, da LC 84/96. No primeirocaso, jamais fora exigida lei complementar para cuidar da

matéria, ou seja, para instituir a COFINS.262 No segundo, aotempo da publicação da lei ordinária já não mais se fazia ne-cessária lei complementar para instituir contribuição sobre a re-muneração de autônomo, forte na alteração do art. 195, I, da CFpela EC 20/98.

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A Constituição requer lei complementar, por exemplo, emseus arts. 146, I a III, 154, I, 155, § 2º, XII, e 156, III.

O art. 146 inicia exigindo lei complementar para disporsobre conflitos de competência em matéria tributária (art. 146,I) e para regular as limitações constitucionais ao poder detributar (art. 146, II), o que impede que a lei ordinária imponhacondições materiais para o gozo das imunidades do art. 150, VI,

c, e do art. 195, § 7º.263

Merece especial destaque a reserva de lei complementarpara “estabelecer normas gerais em matéria de legislaçãotributária”. São “‘normas gerais’ aquelas que, simultanea-mente, estabelecem os princípios, os fundamentos, as diret-rizes, os critérios básicos, conformadores das leis que com-pletarão a regência da matéria e que possam ser aplicadas uni-formemente em todo o País, indiferentemente de regiões sou

localidades”.264 Conforme o STF, “‘gerais’ não significa‘genéricas’, mas sim ‘aptas a vincular todos os entes federados

e os administrados’“.265

O art. 146, III, da CF qualifica como normas gerais“especialmente” (trata-se de rol exemplificativo) aquelas quesobre a “definição de tributos e de suas espécies”, sobre o fatogerador, base de cálculo e contribuintes dos impostos discrim-inados na Constituição (alínea a), sobre “obrigação, lança-mento, crédito, prescrição e decadência tributários” (alínea b) esobre o “adequado tratamento tributário ao ato cooperativopraticado pelas sociedades cooperativas” (alínea c).

Assim é que cabe à lei complementar definir o arquétipopossível dos principais aspectos dos diversos impostos, o que éfeito pelo CTN (para a maior parte dos impostos), pela LC 87/96 (para o ICMS) e pela LC 116/03 (para o ISS). A validade dalegislação ordinária instituidora de tais tributos fica

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condicionada, não podendo extrapolar o previsto em tais leiscomplementares.

O STF reconheceu a inconstitucionalidade de leis or-dinárias que estabeleceram prazos decadenciais e prescricion-ais diversos dos previstos no CTN ou causas de suspensão ou

interrupção nele não previstas.266 Veja-se a Súmula Vincu-lante 8: “São inconstitucionais o parágrafo único do artigo 5ºdo Decreto-Lei 1.569/77 e os artigos 45 e 46 da Lei 8.212/91,que tratam de prescrição e decadência de crédito tributário”.

O STF tem ressaltado que não se trata de nenhumaimunidade para as sociedades cooperativas: “O art. 146, III, c,da Constituição não implica imunidade ou tratamento neces-

sariamente privilegiado às cooperativas”.267 Além disso, de-pende de regulamentação por lei complementar, de maneiraque, enquanto não sobrevém lei complementar dispondo sobrea matéria, segue tendo aplicação o tratamento comum previstonas leis ordinárias instituidoras de cada tributo. Mas o SuperiorTribunal de Justiça reconheceu o caráter de lei complementar,em cumprimento a tal artigo, da isenção de COFINS estabele-

cida pelo art. 6º, I, da LC 70/91.268 269

O adequado tratamento tributário – interpretado em con-sonância com o art. 174, § 2º, da Constituição, que determinaque a lei apoiará e estimulará o cooperativismo e outras formasde associativismo – é aquele que implica carga tributária inferi-or a das demais atividades produtivas, incentivando o cooper-ativismo, ou, no mínimo, carga tributária que não seja maisgravosa que a incidente sobre outras atividades. Do contrário,ao invés de estimular, estaria inviabilizando o cooperativismo.Mas não decorre do texto constitucional que deva haver trib-utação privilegiada para as cooperativas relativamente a todo e

a cada tributo isoladamente considerado,270 e sim haja uma

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política tributária para as cooperativas que implique menorcarga tributária em comparação com as pessoas jurídicas emgeral.

A eficácia que se pode extrair, de pronto, do citado dis-positivo é a de impedir que o legislador, ao instituir ou majorardeterminado tributo, inove na ordem jurídica estabelecendotratamento tributário que, sendo mais gravoso para os atos co-operativos relativamente aos atos praticados pelas empresasem geral, contrarie a previsão constitucional. Neste caso, aindaque inexista lei complementar estabelecendo o adequado trata-mento tributário do ato cooperativo, a nova norma especial-mente gravosa carecerá de fundamento de validade.

Devem-se ter bem em conta, ainda, os limites do disposit-ivo constitucional em questão, que não se refere genericamenteàs cooperativas, mas aos atos cooperativos. Veja-se o conceitode ato cooperativo constante da Lei 5.764/71, que institui o Re-gime Jurídico das Sociedades Cooperativas: “Art. 79.Denominam-se atos cooperativos os praticados entre as cooper-ativas e seus associados, entre estes e aquelas e pelas cooper-ativas entre si quando associadas, para a consecução dos objet-ivos sociais. Parágrafo único. O ato cooperativo não implica op-eração de mercado, nem contrato de compra e venda deproduto ou mercadoria”.

As operações que não sejam entre as cooperativas e seusassociados ou entre cooperativas, ou seja, que não se enquadr-em como atos cooperativos, constituem operações com terceir-os, não alcançadas pelo art. 146, III, c, da CF e tributáveisnormalmente.

Por fim, relativamente à alínea d, que prevê tratamentodiferenciado e favorecido para as microempresas e empresasde pequeno porte, com regimes especiais ou simplificados,restou disciplinada pela LC 123/06, chamada lei do Super

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Simples ou do Simples Nacional. A tributação simplificada es-tabelecida pela LC 123/06 substitui os regimes especiais anteri-ormente vigentes nos âmbitos federal, estadual, distrital e mu-nicipal, implicando o recolhimento mensal unificado do IRPJ,IPI, CSLL, COFINS, PIS, contribuição previdenciária, ICMS eISS, conforme o art. 13 de tal lei, com as exceções estabelecidasem seu § 1º. Sobre o Simples Nacional, vide item específicodeste Curso.

57. Resoluções do Senado

Cabe ao Senado fixar as alíquotas máximas do Impostosobre Transmissão Causa Mortis e Doação, nos termos do art.155, § 1º, IV, da Constituição, o que é feito por resolução.

Também cabe ao Senado, mediante resolução, fixar asalíquotas mínimas do Imposto sobre a Propriedade de VeículosAutomotores, nos termos do art. 155, § 6º, I, da Constituição.

Por fim, é facultado ao Senado estabelecer alíquotas míni-mas e máximas de ICMS nas operações internas, conforme oart. 155, § 2º, V, a e b, da Constituição.

58. Convênios

Cabe aos Estados e ao Distrito Federal deliberar a sobre aconcessão de isenções, incentivos e benefícios fiscais, conforme

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previsão constante do art. 155, § 2º, XII, g, da Constituição. Taisdeliberações são realizadas mediante convênios entre as Fazen-das de tais entes políticos. São os convênios firmados no âm-bito do Conselho Nacional de Política Fazendária (CONFAZ).São particularmente relevantes no que diz respeito a benefíciosque possam afetar as operações interestaduais, em que é exi-gida a alíquota interestadual pelo Estado de origem e a difer-ença de alíquota pelo Estado de destino. Eventuais benefícios,como créditos presumidos, podem incentivar investimentos emdeterminado Estado em detrimento dos demais. Daí a razão docontrole. Há vários acórdãos do STF dizendo da invalidade debenefícios fiscais concedidos sem prévia autorização em con-

vênio.271

Também podem, os Estados e o Distrito Federal, medi-ante Convênio, autorizar alíquotas internas de ICMS inferioresàs das operações interestaduais, conforme prevê o art. 155, § 2º,VI, da CF.

Aos Convênios é deixada, ainda, a definição das alíquotasde ICMS sobre combustíveis e lubrificantes com incidência ún-ica, nos termos do art. 155, § 4º, IV, da Constituição.

59. Tratados internacionais272

Os tratados ou convenções internacionais273 só

produzem efeitos internamente274 após se completar um com-plexo iter que vai da negociação dos seus termos à publicaçãodo Decreto do Presidente. Seu ciclo envolve:

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• assinatura do Tratado pelo Presidente da República;

• aprovação pelo Congresso revelada por DecretoLegislativo,

• ratificação pelo Presidente mediante depósito do re-spectivo instrumento,

• promulgação por Decreto do Presidente e

• publicação oficial do texto do Tratado.275

Uma vez internalizados, passam a integrar a legislaçãotributária (art. 96 do CTN).

Caso venham a dispor sobre garantias fundamentais doscontribuintes, serão equivalentes às normas constitucionais,

nos termos do art. 5º, §§ 2º e 3º, da CF.276

Normalmente, contudo, cuidam de medidas de políticatributária relacionadas ao comércio exterior. Nesse caso, serãoaplicados como leis especiais.

Cuida da matéria o art. 98 do CTN, que estabelece: “Ostratados e as convenções internacionais revogam ou modificama legislação tributária interna, e serão observados pela que lhessobrevenha”.

Desse dispositivo, tiramos que os tratados, mesmoquando disponham de modo distinto do que estabelecem asleis internas, deverão ser observados. Mas a referência feitapelo art. 98 à revogação legislação tributária interna é impró-pria. Quando o tratado estabeleça tratamento específico paradeterminados produtos, países ou blocos, a lei interna geralcontinua aplicável aos demais casos. Com razão REGINAHELENA COSTA, ao afirmar que “os tratados e convenções in-ternacionais não ‘revogam’ a legislação interna. ... o que de fatoocorre é que as normas contidas em tais atos, por serem especi-ais, prevalecem sobre a legislação interna, afastando sua

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eficácia no que com esta forem conflitantes (critério da especial-idade para a solução de conflitos normativos). Tal eficácia,portanto, resta preservada, para todas as demais situações não

contempladas nos atos internacionais”.277 RICARDO LOBOTORRES ainda esclarece que se trata de “suspensão da eficáciada norma tributária nacional, que readquirirá a sua aptidãopara produzir efeitos se e quando o tratado for denun-

ciado”.278 O art. 85-A da Lei 8.212/91, acrescido pela Lei9.876/99, dispõe no sentido de que “Os tratados, convenções eoutros acordos internacionais de que Estado estrangeiro ou or-ganismo internacional e o Brasil sejam partes, e que versemsobre matéria previdenciária, serão interpretados como leiespecial”.

Os tratados e convenções internacionais são firmadospela República Federativa do Brasil nas suas relações externas.Daí porque a proibição à União de que institua isenções de trib-utos da competência dos Estados e dos Municípios, constantedo art. 151, III, da CF, não impede que seja firmado tratado in-ternacional em que se estabeleça isenção de quaisquer tributos,

sejam federais, estaduais ou municipais.279 Aliás, o STF jáafirmou que o “Âmbito de aplicação do art. 151, CF, é o das re-lações das entidades federadas entre si. Não tem por objeto a

União quando esta se apresenta na ordem externa”.280

Há diversos tratados e acordos internacionais em matériade tributação. Visam a estabelecer mercados comuns, desoner-ar operações bilaterais, evitar a bitributação etc.

Com o Tratado de Assunção, por exemplo, foi deliberadaa criação de um Mercado Comum entre Argentina, Brasil,Paraguai e Uruguai. Dispõe: “Artigo 7. Em matéria de impos-tos, taxas e outros gravames internos, os produtos origináriosdo território de um Estado Parte gozarão, nos outros Estados

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Partes, do mesmo tratamento que se aplique ao produtonacional. Artigo 8. Os Estados Partes [...]: d) Estenderão auto-maticamente aos demais Estados Partes qualquer vantagem, fa-vor, franquia, imunidade ou privilégio que conceda a umproduto originário de ou destinado a terceiros países não mem-bros da Associação Latino-Americana de Integração”.

Outro exemplo é o Acordo sobre Subsídios e MedidasCompensatórias que compõe o Anexo I do Acordo Constitutivoda Organização Mundial do Comércio (OMC) e implementa oAcordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio 1994(GATT). Dentre outras normas, proíbe subsídios vinculados aodesempenho do exportador, dentre os quais a isenção de im-postos diretos ou “impostos sociais” a empresas industriais ecomerciais.

Há, ainda, inúmeras Convenções para evitar a bitrib-utação da renda e evitar a evasão, em que é acordado critériouniforme para que a tributação se dê apenas em um dos países,ou seja, só no de residência ou só no de percepção da renda.Para tanto é que foi firmada a Convenção Brasil-Chile paraevitar a dupla tributação, promulgada pelo Decreto 4.852/03 ea Convenção Brasil-África do Sul, promulgada através doDecreto 5.922/06, dentre muitas outras.

O Brasil não é membro da Organização para a Cooper-ação Econômica e Desenvolvimento (OCDE), mas adota, aomenos parcialmente, muitos dos seus Modelos de Convênio,

inclusive os relativos à dupla tributação da renda.281

60. Leis ordinárias e medidas provisórias

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Exige-se lei ordinária tanto para a instituição de tributo(art. 151, I) como para qualquer modalidade de exoneração daobrigação de pagar tributo instituído por lei (art. 150, § 6º). Domesmo modo, só lei ordinária poderá estabelecer penalidadespelo descumprimento de obrigações tributárias (arts. 5º da CF e

97, V, do CTN).282

Serão tratados por lei ordinária, por exemplo, o fatogerador e a base de cálculo dos tributos, assim como seus de-mais aspectos, os casos de substituição e de responsabilidadetributárias, as isenções e as concessões de créditos presumidos,as multas moratórias e de ofício.

Para todos estes casos, exige-se a chamada legalidade es-trita ou absoluta, de modo que a lei deve dispor por completosobre tais matérias, não deixando ao Executivo senão suasimples regulamentação.

A criação de outras obrigações ou deveres sujeitam-se àgarantia geral da legalidade relativa estampada no art. 5º, II, daConstituição. É o caso das obrigações acessórias, que devem sercriadas por lei, mas não necessariamente de modo exaustivo,podendo deixar ao Executivo que as especifique e detalhe.

Note-se, ademais, que a lei ordinária não tem seu âmbitomaterial limitado. Pode dispor sobre qualquer matéria, desdeque respeitado o Texto Constitucional e não invadidas asmatérias que requerem lei complementar. Assim é que, mesmoquestões de ordem meramente regulamentar ou operacional,que não estejam sob reserva sequer relativa de lei, como oprazo de vencimento dos tributos, podem ser validamente dis-

ciplinadas por lei ordinária.283

As medidas provisórias têm força de lei ordinária (art.62), de modo que podem dispor sobre todas as matérias sob re-serva legal. Mas, assim como as leis ordinárias, não podem

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dispor sobre matérias para as quais se exija lei complementar(art. 62, § 1º, III, da CF). Ademais, a “Medida provisória queimplique instituição ou majoração de impostos, exceto os prev-istos nos arts. 153, I, II, IV e V, e 154, II, só produzirá efeitos noexercício financeiro seguinte se houver sido convertida em leiaté o último dia daquele em que foi editada” (art. 62, § 2º, daCF).

61. Atos normativos infralegais: Decretos, In-struções Normativas, Portarias, Ordens deServiço

Em matéria tributária, não se pode dizer que os Decretosse limitem à regulamentação estrita das leis nem que outrosatos administrativos normativos, especialmente InstruçõesNormativas e Portarias, sejam, tão somente, normas internasda Administração.

A garantia da legalidade tributária absoluta, por exemplo,apresenta atenuação no art. 153, § 1º, da Constituição,permitindo-se que o Executivo gradue a alíquota de algunstributos marcadamente extrafiscais (e.g. IPI, IOF), desde queobservadas as condições e os limites estabelecidos por lei.Nestes casos, os atos infralegais integram a própria normatributária impositiva.

Poderão os atos infralegais, ainda, detalhar as obrigaçõesacessórias criadas por lei, complementando sua normatização,porquanto sujeitas tão somente à legalidade relativa.

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Por fim, há um amplo campo de pura e simples regula-mentação, com farta jurisprudência no sentido de que podemser tratado diretamente pelos atos normativos infralegais.Entende-se, por exemplo, que os atos infralegais podem dispor

validamente sobre o vencimento dos tributos,284 definir o in-

dexador que servirá à correção já determinada por lei285 e es-

pecificar procedimentos de fiscalização tributária.286

Quando não ofendem reserva legal absoluta ou relativa,nem contrariam o conteúdo das leis, os atos normativos infrale-gais têm tanta eficácia normativa quanto às normas superiores,vinculando a Administração e os contribuintes.

Aliás, o art. 100 do CTN considera os atos normativos ex-pedidos pelas autoridades administrativas, as decisões norm-ativas, as práticas reiteradamente observadas pelas autoridadesadministrativas e os convênios celebrados entre os entes políti-cos normas complementares das leis, dos tratados e das con-venções internacionais e dos decretos.

Além do mais, o parágrafo único do art. 100 do CTN con-sagra a proteção da confiança dos contribuintes, dispondo nosentido de que a observância das normas complementares ex-clui a imposição de penalidades, a cobrança de juros moratóri-os e, até mesmo, a atualização monetária da base de cálculo.

62. Vigência e aplicação da legislação tributária

A vigência da legislação tributária segue as regras geraisestabelecidas na LICC, de modo que, salvo disposição em con-trário, inicia 45 dias após a publicação.

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Embora seja comum a cláusula de vigência imediata, oart. 8ª da LC 95/98 determina que a lei conceda “prazorazoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reser-vada a cláusula ‘entra em vigor na data da sua publicação’ paraas leis de pequena repercussão”.

Conforme o CTN, aos atos administrativos, salvo dis-posição em contrário, entram em vigor na data da publicação(art. 103, I) e as decisões normativas 30 dias após a publicação(art. 103, II).

Ademais, impende que se observem as garantias con-stitucionais de anterioridade de exercício (art. 150, III, a) e non-agesimal (arts. 150, III, b, e 195, § 6º), aplicáveis à instituição e àmajoração dos tributos.

Quanto à aplicação da legislação tributária, chamaatenção a determinação, constante do CTN, de aplicação ret-roativa de certas normas da legislação tributária. O art. 106, I,do CTN, determina que a lei se aplique a ato ou fato pretérito“quando seja expressamente interpretativa, excluída a ap-licação de penalidade à infração dos dispositivos interpreta-dos”. Mas lei “supostamente interpretativa que, em verdade,inova no mundo jurídico, deve ser considerada como lei

nova”.287 O art. 106 também determina a aplicação retroativados dispositivos que deixem de definir determinados atoscomo infração ou como contrários a exigência de ação ou omis-

são288 (art. 106, II, a e b) e daqueles que cominem penalidademenos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da suaprática (art. 106, II, c). Este último dispositivo é aplicável en-quanto não tiver sido satisfeita a multa, inclusive no curso da

Execução e no âmbito dos Embargos à Execução.289 Têm sido

reduzidos percentuais de multa moratória de 30% para 20%290

e de multa de ofício de 100% para 75%.291

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63. Integração e interpretação da legislaçãotributária

O art. 108 do CTN dispõe sobre a integração da legislaçãotributária, ou seja, sobre o que fazer no caso de ausência de dis-posição expressa acerca de determinada questão. Arrola quatrométodos de integração: a analogia, os princípios gerais dedireito tributário, os princípios gerais de direito público e aequidade.

Ao fazê-lo, determina a aplicação sucessiva de taismecanismos, de modo que a analogia teria preferência. Mas,ainda que o CTN pareça hierarquizar os modos de integraçãoda legislação tributária, em verdade tal não se mostra ad-equado, tampouco pode ser considerado de modo rígido. Isso

porque a integração do ordenamento292 é atividade complexa,cabendo, ao aplicador, verificar a pertinência de cada métodoem face da existência ou não de dispositivo para hipótesesemelhante, de estarem ou não em questão valores que de-safiem a construção de solução específica para o caso comsuporte nos princípios de direito tributário e de direito públicoe das circunstâncias peculiares que não tenham sido levadasem consideração pelo legislador.

A interpretação da legislação tributária também é compl-exa, descabendo pressupor que seja viável simplificar a posturado exegeta como se pudesse se orientar sempre em favor docontribuinte, por considerar a tributação como ingerência odi-osa sobre o patrimônio privado, em favor do fisco, em atençãoàs exigências financeiras do Estado ou à suposta supremacia do

interesse público,293 ou, ainda, pela literalidade da lei.294

Não há que se falar em interpretação restritiva, em inter-pretação extensiva nem em interpretação declaratória ou

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literal,295 mas apenas em interpretação como atividadecomplexa.

Efetivamente, na interpretação da legislação tributária, in-clusive os princípios gerais de direito privado serão relevantes,conforme referem expressamente os arts. 109 e 110 do CTN.

O art. 111 do CTN determina que se interprete literal-mente a legislação tributária que disponha sobre a suspensãoou exclusão do crédito tributário, a outorga de isenção e a dis-pensa do cumprimento de obrigações tributárias acessórias. Taldispositivo tem sido severamente criticado por ser, ele próprio,interpretado literalmente. O que se extrai como norma do art.111 não é a vedação à utilização dos diversos instrumentos quenos levam à compreensão e à aplicação adequada de qualquerdispositivo legal, quais sejam, as interpretações histórica, tele-ológica, sistemática, a consideração dos princípios etc. Traz,isto sim, uma advertência no sentido de que as regras atinentesàs matérias arroladas devem ser consideradas como regras deexceção, aplicáveis nos limites daquilo que foi pretendido pelolegislador, considerando-se as omissões como “silêncio elo-

quente”, não se devendo integrá-las pelo recurso à analogia.296

Há de se considerar, por certo, as circunstâncias do caso con-creto, pois há princípios constitucionais inafastáveis na ap-licação do direito, como a razoabilidade e a proporcionalidade.

Há, ainda, outro âmbito possível para a invocação do art.111 do CTN. Refiro-me à exigência, pela autoridade fiscal,como condição para o reconhecimento de isenção, suspensãoou exclusão do crédito tributário ou para dispensa documprimento de obrigações acessórias, de requisitos não prev-istos em lei. Ao referir-se à literalidade da legislação quedisponha sobre tais matérias, resta claro que os requisitos tam-bém deverão constar expressamente da lei, não tendo o Exec-utivo espaço para qualquer regulamentação inovadora.

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Não há, portanto, como se pretender atribuir à inter-pretação da legislação tributária um caráter restritivo nem ex-tensivo, mas conforme a vontade do legislador e o que se possa

extrair da lei.297 Interpreta-se a legislação tributária como se in-terpreta o ordenamento jurídico em geral.

O CTN dispõe, ainda, em seu art. 112, que a lei tributáriaque define infrações, ou lhe comina penalidades, interpreta-seda maneira mais favorável ao acusado, em caso de dúvidaquanto à capitulação legal do fato, à sua natureza ou circun-stâncias materiais, ou à natureza ou extensão dos seus efeitos, àautoria, imputabilidade ou punibilidade, ou à natureza da pen-alidade aplicável ou à sua graduação. Embora cuide da inter-pretação da lei punitiva, refere-se, verdadeiramente, à sua ap-licação aos casos concretos, conforme se vê pelo rol dehipóteses constante dos seus incisos. Aliás, não há que se falarem dúvida quanto à lei, na medida em que o seu alcance édefinido pelo Judiciário através da aplicação dos diversos

critérios de interpretação.298 Dúvida pode haver quanto aosatos praticados pelo contribuinte e suas características, com re-percussão no seu enquadramento legal. Daí não se aplicar apenalidade ou o agravamento no caso de dúvida, ou seja, denão ter sido apurada a infração de modo consistente pelo Fiscoa ponto de ensejar convicção plena quanto à ocorrência e carac-

terísticas da infração.299

64. Aplicação dos princípios de DireitoTributário, de Direito Público e de DireitoPrivado e das normas de colisão

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Os princípios estruturam o ordenamento jurídico, perme-ando cada área objeto de regulamentação. Há princípios demaior generalidade, outros específicos de determinado sub-sistema e alguns de ainda maior especificidade. Podem estarexpressos ou implícitos, tendo, em qualquer caso, a mesmaeficácia normativa, ensejando a construção de regras para oscasos concretos.

Há princípios basilares de todo o sistema jurídico, comoo princípio da dignidade da pessoa humana e o princípio doEstado de Direito, e outros do Estado brasileiro, como osprincípios republicano e federativo. Todos condicionando o ex-ercício da tributação.

A tributação do mínimo vital – ou seja, a cobrança de trib-uto de quem não revela capacidade contributiva, pois só dispõedo indispensável à sua subsistência – revelar-se-ia contrária àefetivação do princípio da dignidade da pessoa humana, doqual decorrem os direitos fundamentais à vida, à liberdade, àeducação, à saúde, dentre outros, sendo, pois, inválida. Afirma-se, com acerto, que o “homem não pode ser privado, nem porforça da tributação, do mínimo necessário à conservação de

uma vida saudável”300 e que a “necessidade de preservação domínimo existencial é uma condição inafastável de observânciado princípio da capacidade contributiva e, por decorrência, de

densificação do princípio da dignidade da pessoa humana”.301

Pondera-se, ainda, que “tributar o mínimo existencial éobstaculizar a efetivação do princípio da dignidade hu-

mana”302 e que “se o Estado não é obrigado a assegurar posit-ivamente o mínimo de existência a cada cidadão, ao menos quenão lhe retire aquilo que ele adquiriu e é indispensável à sua

sobrevivência com o mínimo de dignidade”.303 O próprio Con-stituinte, aliás, já estabelece imunidades com vista a impedir

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que a tributação implique lesão a tal princípio, estabelecendo,por exemplo, a gratuidade da certidão de nascimento e do re-gistro de óbito aos reconhecidamente pobres. O legislador or-dinário também age no sentido da preservação do mínimo vitalao estabelecer uma faixa de rendimentos isenta do imposto derenda, o que nada mais significa senão determinar que a trib-utação direta se dê relativamente aqueles que têm condições decontribuir sem prejuízo da sua subsistência, ou seja, sem quetal acabe por impor sacrifício demasiado que acabe por impediro acesso a bens indispensáveis para uma vida digna.

Na própria noção de tributo, por sua vez, temos a inger-ência direta do princípio republicano. Se o povo é o titular dopoder e o exerce através de seus representantes, não se podeadmitir tributação senão em função do interesse público, comdestinação que o prestigie. ROQUE CARRAZZA faz consider-ações muito elucidativas a esse respeito:

“[...] se as pessoas políticas receberam a competênciatributária da Constituição e se esta brotou da vontadesoberana do povo, é evidente que a tributação não podeoperar-se exclusiva e precipuamente em benefício doPoder Público ou de uma determinada categoria depessoas. Seria um contra-senso aceitar-se, de um lado,que o povo outorgou a competência tributária às pess-oas políticas e, de outro, que elas podem exercitá-la emqualquer sentido, até mesmo em desfavor desse mesmopovo. [...] a República reconhece a todas as pessoas odireito de só serem tributadas em função do superior in-teresse do Estado. Os tributos só podem ser criados eexigidos por razões públicas. Em conseqüência, o din-heiro obtido com a tributação deve ter destinação

pública”.304

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Num Estado em que convivem diversos entes políticos –União, Estados-Membros e Municípios –, impende que a trib-utação tenha em consideração, também, o princípio federativo.Daí por que se tem entendido que não pode a Receita Federaldo Brasil interpretar a lei de modo a pretender cobrar con-tribuição sobre a receita relativamente aos créditos presumidosde ICMS concedidos pelos Estados aos contribuintes, pois,dentre outros fundamentos, implicaria restringir a eficácia dobenefício fiscal concedido pelos Estados no exercício da suacompetência tributária e resultaria em apropriação, pela União,de recursos relativos a tributo estadual.

Há outros princípios que dizem respeito especificamenteao direito público e, ainda, alguns relacionados particular-mente à tributação. O art. 108 do CTN a eles se refere, determ-inando a aplicação dos princípios gerais de direito público edos princípios gerais de direito tributário.

A tributação é prerrogativa e instrumento do Estado, demodo que os princípios gerais de Direito Público e, mais espe-cificamente, de Direito Administrativo, lhe são diretamente ap-licáveis. Na regulamentação e aplicação das leis tributárias, aAdministração está, pois, sob a égide de princípios como o dalegalidade, da moralidade e da eficiência.

Mas também o universo do Direito Privado é relevantepara quem trabalha com o Direito Tributário. Quando o legis-lador tributário se refere a institutos, conceitos e formas dedireito privado – e o faz a todo momento –, cabe ao aplicadorbuscar no Direito Privado, inclusive mediante a consideraçãodos princípios gerais de direito privado, a sua definição ealcance.

Princípios como o da autonomia da vontade e da livre ini-ciativa são relevantes e, por vezes, decisivos na interpretação eaplicação das normas tributárias para a identificação do âmbito

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de aplicação de determinados dispositivos como o parágrafoúnico do art. 116 do CTN. A autoridade administrativa poderádesconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a fi-nalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributoou a natureza dos elementos constitutivos da obrigaçãotributárias, mas jamais impedir as pessoas jurídicas de realizar-em planejamento tributário que lhes indique a manutenção deestrutura e a realização de negócios com menor custotributário.

No capítulo atinente à competência tributária, cuidamosda importância da definição, do conteúdo e do alcance dos in-stitutos, conceitos e forma de direito privado na verificação dadimensão das competências outorgadas pela Constituição pelocritério da base econômica.

Por fim, impõe-se que se dê a devida atenção às normasde colisão, assim entendidas aquelas normas que, por si só, nãoimplicam propriamente um fim a ser promovido (daí não sertecnicamente correto denominá-las de princípios), mas que per-mitem a aplicação de outras normas considerando a totalidadedo ordenamento jurídico.

Destacam-se a razoabilidade e a proporcionalidade, am-bas decorrentes do princípio do devido processo legal em suadimensão material. Há autores que não distinguem uma daoutra. A nós parecem ter, sim, cada qual, campo de aplicaçãoespecífico.

A razoabilidade apresenta-se como imperativo de que asnormas jurídicas sejam adequadas à realidade dos fatos e deque imponham condutas que se justifiquem por efetivamente

promoverem o fim colimado.305

Submeter-se à tributação da receita, em regime não cumu-lativo (COFINS não cumulativa), empresa cuja atividade se es-gota na prestação de serviço, cujo maior custo é a mão de obra

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e não a aquisição de bens ou serviços de outras empresas, nãopassa por um juízo de razoabilidade. Isso porque a aplicaçãodo regime não cumulativo, no caso, não é adequada à realidadeda empresa, que não atua no bojo de uma cadeia econômica,sendo incapaz, portanto, de ter qualquer efeito no sentido deevitar a cumulatividade da contribuição que, de qualquer

modo, inexistirá.306

A proporcionalidade constitui instrumento para asolução de conflitos entre normas. Há, por vezes, direitos igual-mente tutelados que se chocam, sendo necessário verificar se anorma que impõe certa conduta, privilegiando um em detri-mento do outro, se sustenta constitucionalmente.

O juízo de proporcionalidade se dá mediante a utilizaçãode três critérios: adequação, necessidade e proporcionalidadeem sentido estrito. A adequação é a relação meio e fim: “um

meio é adequado se promove o fim”.307 A necessidade é a im-prescindibilidade da medida para que o fim seja alcançado,forte na ausência de outros meios menos restritivos. A propor-cionalidade, em sentido estrito, é o juízo de que o bem que seestá promovendo seja maior do que o mal que se estácausando: “um meio é proporcional, em sentido estrito, se asvantagens que promove superam as desvantagens que pro-

voca”.308 Não é admissível, para a obtenção de um bem,comprometer-se ou restringir-se desproporcionalmente outro.

Desproporcional e, portanto, inconstitucional, é o art. 19da Lei 11.033/04, que exige a apresentação de certidões negat-ivas como requisito para a expedição de alvará do valor depos-itado em cumprimento de precatório. Em primeiro lugar,porque não é adequado para tal acautelamento, na medida emque não implica efetivamente qualquer garantia do créditotributário nem autoriza sua compensação, deixando de dar

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uma solução ao impasse para a hipótese de o contribuinte serdevedor. Em segundo lugar, porque é desnecessário, bastandoreferir que a Fazenda dispõe de inúmeros instrumentos para agarantia de seus créditos, como o arrolamento administrativo, amedida cautelar fiscal e a penhora no rosto dos autos, além doque acompanhou todo o processo em que restou vencida, demodo que tem conhecimento do crédito antes mesmo da re-quisição ou expedição do precatório, dispondo de tempo sufi-ciente para a adoção daquelas medidas. Por fim, é despropor-cional em sentido estrito, não se justificando, de modo algum, oacautelamento de crédito tributário, muitas vezes constituídounilateralmente, em detrimento da satisfação do crédito docontribuinte já reconhecido, em caráter definitivo, por sentença

transitada em julgado.309

Tendo o Direito Tributário seu objeto peculiar, de granderelevância são os princípios que traduzem, para a tributação, osvalores como a liberdade, a segurança e a justiça. Em capítulopróprio, cuidamos dos grandes princípios de direito tributário:princípio da segurança jurídica, o princípio da isonomia e oprincípio da capacidade contributiva, especificando o con-teúdo normativo de cada qual. Também abordamos o princípioda praticabilidade da tributação.

65. Analogia

A analogia constitui método de integração da legislaçãotributária mediante aplicação da lei a situação de fato nela nãoprevista, mas cuja análise revele a identidade dos elementos es-senciais e a adequação da norma para também em tal situação

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alcançar o fim pretendido pelo legislador.310 Não se podeconfundi-la com a chamada interpretação extensiva em quenão há integração da legislação tributária, pois se trabalha den-tro dos lindes que a lei originariamente pretendeu estabelecer,ainda que não o tenha feito de modo taxativo e inequívoco.

A analogia, embora vá além da interpretação extensiva,também tem largo campo de aplicação no Direito Tributário.

É certo que, em face da legalidade absoluta que deve serobservada para a instituição e a majoração de tributos (art. 150,I, da CF), a analogia não pode ser aplicada para estender aexigência de tributo a situação não prevista expressamente nalei, conforme vedação inequívoca constante do § 1º do art. 108do CTN.

Mas o Direito Tributário não se exaure nas normas im-positivas, não se limita às leis instituidoras de tributos. Envolvetudo o mais que diz respeito à tributação.

A analogia, aliás, nos termos do art. 108 do CTN, é modopreferencial de integração da legislação tributária e assim temsido aplicada inúmeras vezes.

Exemplo importante de aplicação da analogia temos emmatéria de regulamentação da imunidade das entidades bene-ficentes de assistência social às contribuições de seguridade so-cial (art. 195, § 7º, da CF). Estando as condições materiais parao seu gozo sob reserva de lei complementar (art. 146, II, da CF)e inexistindo lei complementar específica que cuide da matéria,tem sido aplicado, por analogia, o art. 14 do CTN, que surgiuoriginariamente para regular a imunidade a impostos (art. 150,

VI, c, da CF).311 Quanto aos requisitos formais de constituiçãoe funcionamento dos entes imunes, podem ser regulamentadospor lei ordinária. O art. 55 da Lei 8.212/91 dispôs sobre amatéria, mas remetendo tão somente às contribuições previstas

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em seus arts. 22 e 23, quais sejam, as contribuições previden-ciárias, a Cofins e a CSLL. Não havia, pois, regulamentaçãopara fins de imunidade à contribuição ao PIS. Presentes, con-tudo, as mesmas circunstâncias e as mesmas razões, aplicava-seo art. 55 também para fins de reconhecimento da imunidade aoPIS. Também hoje, à luz da Lei 12.101/09, que dispõe sobre acertificação das entidades beneficentes, faz-se necessário recor-rer à analogia para dar ao seu art. 29 aplicação também à con-tribuição ao PIS.

66. Equidade

Equidade é palavra de vários significados, conforme asíntese elaborada por FRANCISCO DOS SANTOS AMARALNETO:

“A eqüidade é um conceito multissignificativo, umaverdadeira cláusula geral [...] tem vários significadosconforme sua imediata função. Tem-se, assim: a eqüid-ade interpretativa, quando o juiz, perante a dificuldadede estabelecer o sentido e o alcance de um contrato, porexemplo, decide com um justo comedimento; a eqüid-ade corretiva, que contempla o equilíbrio dasprestações, reduzindo, por exemplo, o valor da cláusulapenal; a eqüidade quantificadora, que atua na hipótesede fixação do quantum indenizatório; a eqüidade integ-rativa, na qual a eqüidade é fonte de integração, e aindaa eqüidade processual, ou juízo de eqüidade, conjuntode princípios e diretivas que o juiz utiliza de modo al-ternativo, quando a lei autoriza, ou permite que as

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partes a requeiram, como ocorre nos casos dearbitragem. Ressalte-se, de início, que a sedes materiae daeqüidade está no problema da realização integral daJustiça [...] No conceito de justiça percebe-se, todavia,uma antinomia, uma contradição, que se manifestaentre a exigência de igualdade e de justiça individual,surgida no processo de realização do direito em umcaso concreto. Sendo a norma, em princípio, de naturezageral, pode constituir-se tal atributo em obstáculo a umadecisão justa se não se observarem as peculiaridades docaso posto em julgamento. A exigência de igualdade detodos perante a lei, sob o ponto de vista formal, nãopode desconhecer a necessidade de uma decisão tam-bém materialmente justa, de acordo com as circunstân-cias. Entra aqui o conceito de eqüidade como critério in-terpretativo, que permite adequar a norma ao caso con-creto e chegar à solução justa. Diz-se, por isso, ser aeqüidade a justiça do caso concreto. E a decisão seráeqüitativa quando levar em conta as especiais circun-stâncias do caso decidido e a situação pessoal dos re-

spectivos interessados”.312

No que diz respeito à sua função na integração e ap-licação do Direito Tributário, a equidade diz respeito à consid-eração das circunstâncias peculiares ao caso concreto, quedemonstrem o descabimento da norma geral que não as tenhaconsiderado e cuja incidência pura e simples levaria a umasolução que não se pode entender que tenha sido pretendidapelo legislador por implicar um resultado irrazoável, despro-porcional ou de qualquer outro modo ofensivo dos direitos e

garantias do sujeito passivo da obrigação tributária.313

Sua invocação configura instrumento para “suprir a faltade norma adequada ao caso singular, ou mesmo para

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amortecer essa norma, se nas circunstâncias específicas ou in-éditas, ela conduzir ao iníquo ou ao absurdo, um e outro inad-missíveis dentro do sistema geral do Direito e da consciênciajurídica contemporânea em nosso país ou em nosso tipo de es-

trutura econômica, política, social e institucional”.314

É nesse sentido, aliás, que também o art. 172, IV, do CTNse refere às considerações de equidade.

Cabe destacar que a invocação da equidade “se aplicapara corrigir um erro involuntário do legislador, que deixou decontemplar um caso novo e inédito que se apresenta ao juiz” eque “não se admite a aplicação da eqüidade para que o juiz serebele contra a regra geral determinada pela norma, mas como

um complemento a ela”.315 Ademais, nos termos do § 2º do art.108 do CTN, “o emprego da eqüidade não poderá resultar nadispensa do pagamento de tributo devido”.

Podemos destacar diversos exemplos de utilização daequidade para a solução de questões tributárias. Houve casoem que o legislador cominou multa percentual diária para odescumprimento de obrigação tributária, sem estabelecer lim-ite, com o que a sua aplicação, para prazos longos, implicavaônus excessivo. Restou decidido, então, que se impunha con-siderar a longa mora ocorrida no caso concreto de modo a es-tabelecer um limite à multa, evitando-se o confisco e a sua

sobreposição à função dos juros.316

Notas do Capítulo VI

257 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro NERI DA SILVEIRA, AR 1264, 2002.

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258 STF, ADI 2010.

259 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro MOREIRA ALVES, ADI 2028, 1999.

260 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro XAVIER DE ALBUQUERQUE, RE84.994, 1997.

261 STF, Primeira Turma, Rel. Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE, RE419.629, 2006.

262 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro MOREIRA ALVES, ADC 1, 1993.

263 STF, ADIMC 1802 e AgRRE 428.815.

264 TRF4, Corte Especial, AIAC 1998.04.01.020236-8, Rel. MARIA LÚCIALUZ LEIRIA, 2001.

265 STF, Segunda Turma, RE 433352 AgR, Rel. Ministro JOAQUIMBARBOSA, 2010.

266 Art. 5º do DL 1.569/77, STF RE 559.882-9. Arts. 2º, § 3º, e 8º, § 2º, da Lei6.830/80, STJ, REsp 708.227 e TRF4, AC 2000.04.01.071264-1.

267 STF, Segunda Turma, AC 2209 AgR, Relator(a): Min. JOAQUIMBARBOSA, 2010.

268 “TRIBUTÁRIO – COFINS – LEI 9.718/98 – INCIDÊNCIA SOBRE ATOSCOOPERADOS. 1. A LC 70/91, ao instituir a COFINS, deixou expressa a não-incidência sobre os atos cooperativos. 2. O STF, na ADC 01/DF, considerou aLC 70/91 substancialmente como lei ordinária quanto à instituição da con-tribuição, porque o art. 195, I, CF não exigiu o status de lei qualificada paratal. 3. Igual raciocínio não pode ser estendido para a questão do tratamentodispensado às cooperativas, porque para estas há exigência de lei comple-mentar (art. 146, III, c, CF). 4. Como a isenção da COFINS sobre os atos co-operados foi estabelecida em lei complementar (LC 70/91), não poderia tersido suprimido o benefício por lei ordinária (Lei 9.718/98). 5. Recurso especialconhecido e provido.” (STJ, Segunda Turma, RE 388.921/SC, Rel. MinistraELIANA CALMON, nov/1993).

269 A incidência de COFINS sobre atos cooperativos será analisada pelo STFno RE 598.085.

270 “ICMS. Cooperativas de consumo [...] tratamento adequado não significanecessariamente tratamento privilegiado. Recurso extraordinário não con-hecido.” (STF, Primeira Turma, RE-141800/SP, Rel. Ministro MOREIRAALVES, abr/1997) Obs: a posição do STF pode ser um referencial coerente eimportante se a considerarmos no sentido de que o tratamento adequado do

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ato cooperativo não exige privilégio relativamente à cobrança de cada tributoconsiderado individualmente.

271 STF, ADI 2.458, ADI 1.179, ADI 930.

272 Sobre os tratados internacionais em geral, vide VALÉRIO DE OLIVEIRAMAZZUOLI, Curso de Direito Internacional Público, Ed. RT. Sobre o DireitoTributário Internacional, vide HELENO TAVEIRA TORRES, Direito TributárioInternacional Aplicado, Ed. Quartier Latin. Também: ALBERTO XAVIER,Direito Tributário Internacional no Brasil, Ed. Forense.

273 “As palavras tratado e convenção são sinônimas. Ambas representamacordo bilateral ou multilateral de vontades para produzir um efeito jurídico.Criam direitos e obrigações. Tratado (ou convenção) internacional vem a ser oato jurídico firmado entre dois ou mais Estados, mediante seus respectivos ór-gãos competentes, com o objetivo de estabelecer normas comuns de direitointernacional.” (RIBEIRO DE MORAES, Bernardo. Compêndio de DireitoTributário. 2º vol. 3ª ed. 1995, p. 26).

274 Mesmo quando fundados em tratados de integração como o MERCOSUL.

275 Supremo Tribunal Federal, Tribunal Pleno, Rel. Ministro CELSO DEMELLO, CR (AgRg) 8.279-ARGENTINA, 1998.

276 CF: art. 5º... § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição nãoexcluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, oudos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil sejaparte. § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanosque forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos,por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes àsemendas constitucionais. (Incluído pela EC 45/2004).

277 COSTA, Regina Helena. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Saraiva,2009, p. 152. Assim também: AMARAL, Antonio Carlos Rodrigues do. Co-mentários ao Código Tributário Nacional, vol. 2, coord. Ives Gandra da SilvaMartins. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 34.

278 TORRES, Ricardo Lobo. Curso de Direito Financeiro e Tributário. 16ª ed. SãoPaulo: Renovar, 2009, p. 49.

279 “DIREITO TRIBUTÁRIO. RECEPÇÃO PELA CONSTITUIÇÃO DAREPÚBLICA DE 1988 DO ACORDO GERAL DE TARIFAS E COMÉRCIO.ISENÇÃO DE TRIBUTO ESTADUAL PREVISTA EM TRATADOINTERNACIONAL FIRMADO PELA REPÚBLICA FEDERATIVA DOBRASIL. ARTIGO 151, INCISO III, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.ARTIGO 98 DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL. NÃO

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CARACTERIZAÇÃO DE ISENÇÃO HETERÔNOMA. RECURSOEXTRAORDINÁRIO CONHECIDO E PROVIDO. 1. A isenção de tributos es-taduais prevista no Acordo Geral de Tarifas e Comércio para as mercadoriasimportadas dos países signatários quando o similar nacional tiver o mesmobenefício foi recepcionada pela Constituição da República de 1988. 2. O artigo98 do Código Tributário Nacional ‘possui caráter nacional, com eficácia para aUnião, os Estados e os Municípios’ (voto do eminente Ministro Ilmar Galvão).3. No direito internacional apenas a República Federativa do Brasil tem com-petência para firmar tratados (art. 52, § 2º, da Constituição da República), delanão dispondo a União, os Estados-membros ou os Municípios. O Presidenteda República não subscreve tratados como Chefe de Governo, mas comoChefe de Estado, o que descaracteriza a existência de uma isenção het-erônoma, vedada pelo art. 151, inc. III, da Constituição.” (STF, Tribunal Pleno,rel. p/ o acórdão Ministra CÁRMEN LÚCIA, RE 229.096/RS, 2007).

280 Supremo Tribunal Federal, Tribunal Pleno, Rel. para o acórdão MinistroNELSON JOBIM, ADI 1.600, 2001.

281 Vide: <www.oecd.org>.

282 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro ILMAR GALVÃO, ADI 1823 MC, 1998.

283 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro ILMAR GALVÃO, RE 140.669, 1998.

284 STF, Primeira Turma, Rel. Ministro ILMAR GALVÃO, RE 195.218, 2002.

285 STF, RE 188.391; Súmula 160 do STJ.

286 E.g.: Portaria SRF 6.087/05.

287 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministra ELLEN GRACIE, RE 566621, 2011.

288 A alínea “b” repete, com outras palavras, a alínea “a”. Efetivamente, con-forme HUGO DE BRITO MACHADO, “tanto faz deixar de definir um atocomo infração, como deixar de tratá-lo como contrário a qualquer exigênciade ação ou omissão”. (Curso de Direito Tributário. 30ª ed. São Paulo: Malheiros,2009, p. 101).

289 STJ, REsp 191.530.

290 Art. 84, III, c, da Lei 8.981/95 em cotejo com o art. 61 da Lei 9.430/96.

291 Art. 4º, I, da Lei 8.218/91 em cotejo com o art. 44, I, da Lei 9.430/96.

292 “[...] todo el ordenamiento, debe responder a unos mismos métodos en suelaboración, aplicación y estudio. La unidad del ordenamiento nos sirve asípara afirmar que de ella se desprende un único camino en la aplicación detoda norma jurídica, rechazando las pretendidas peculiaridades jurídico-

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tributarias en este tema.” (LAPATZA, J. J. F. Curso de Derecho FinancieroEspañol. 25ª ed. Madrid/Barcelona: Marcial Pons, 2006, p. 308).

293 “[...] aparece desprovista de toda fundamentación la pretensión de negarla aplicación a las normas impositivas de las mismas reglas de interpretaciónque se aplican a las leyes en general. Las normas tributarias, como todas lasotras normas, deben interpretarse con el fin de atribuir al precepto jurídico elvalor que le es propio el la regulación de las relaciones de la vida social queconstituyen su objeto: toda apriorística inclinación de la labor interpretativa afavor del fisco o a favor del contribuyente constituye una inadmisible lim-itación del proceso lógico representado por la interpretación de la ley.”(VANONI, E. Natura ed Interpretazione delle Leggi Tributarie. 1932. A tran-scrição é da edição espanhola de 1961 publicada pelos Instituto de EstúdiosFiscales, Madrid, p. 217).

294 Desde o início da elaboração sistemática do Direito Tributário já sedestacava o descabimento de tais simplificações: “Un examen menos superfi-cial pone de manifiesto la inadmisibilidad de estas posiciones” e que “las mis-mas reglas dominan la interpretación de cualquier norma, y ninguna deaquéllas autoriza a pensar que para el Derecho tributario deban seguirse cri-terios interpretativos diversos de los que presiden la interpretación de cu-alquier otra clase de leyes.” (GIANNINI, A.D. Instituciones de DerechoTributário. Título original: Istituzioni di Diritto Tributário. 7ª ed. italiana, 1956.Tradução de F. Sainz de Bujanda, Madrid: Editorial de Derecho Financiero,1957, p. 31 e 32).

295 “Existe interpretación declarativa cuando el intérprete atribuye a lanorma el valor que resulta evidente del significado literal de la spalabras queel intérprete ‘declara’ y explica. Se habla de interpretación restrictiva cuandoa la norma se atribuye un contenido más restringido del que parece tener enprincipio la expresión adoptada, y ello en base a la idea de que la ley plus dixitquam voluit. Por el contrario, cuando se considera que la fórmula del preceptolegislativo no expresa plenamente la idea que la informa (minus dixit quamvoluit) se alude a interpretación extensiva. […] Si se tienen en cuenta los con-ceptos fundamentales que inspiran la labor interpretativa se observa que enrealidad la norma ni se extiende ni se restringe. El intérprete investiga el ver-dadero valor de la norma. Se esfuerza por identificar el cntenido efectivo de lavoluntad estatal expresada en la norma y trata de aplicar la ley en forma quepueda realizar la función para la que fue creada, pero no tiene competenciapara restringir o extender el ámbito de aplicación del precepto legal. Es purailusión el hablar de interpretación extensiva o restrictiva; en la realidad, lanorma, como voluntad inmanente del Estado, ni se extiende ni se restringe…”(VANONI, E. Natura ed Interpretazione delle Leggi Tributarie. 1932. A

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transcrição é da edição espanhola de 1961 publicada pelos Instituto de Estúdi-os Fiscales, Madrid, p. 335).

296 STJ, Primeira Turma, Rel. Ministro MILTON PEREIRA, RE 36.366-7, 1993.

297 LAPATZA, J. J. F. Curso de Derecho Financiero Español. 25ª ed. Madrid/Bar-celona: Marcial Pons, 2006, p. 308.

“Existe interpretación declarativa, cuando el intérprete atribuye a la norma elvalor que resulta evidente del significado literal de las palabras que el intér-prete ‘declara’ y explica. Se habla de interpretación restrictiva cuando a lanorma se atribuye un contenido más restringido del que parece tener en prin-cipio la expresión adoptada, y ello en base a la ida de que la ley plus dixitquam voluit. Por el contrario, cuando se considera que la fórmula del pre-cepto legislativo no expresa plenamente la idea que la informa (minus dixitquam voluit) se alude a interpretación extensiva. [..] Si se tienen en cuenta losconceptos fundamentales que inspiran la labor interpretativa, se observa queen realidad la norma ni se extiende ni se restringe. El intérprete investiga elverdadero valor de la norma… Es pura ilusión el hablar de interpretación ex-tensiva o restrictiva…” (VANONI, E. Natura ed Interpretazione delle leggi tribu-tarie. 1932. A transcrição é da edição espanhola de 1961 publicada pelos Insti-tuto de Estúdios Fiscales, Madrid, p. 335/336).

298 TRF4, 1ª Seção, EIAC 2000.04.01.077095-1.

299 Aliás, o Min. COSTA MANSO, já em 1936, quando do julgamento, peloSupremo Tribunal Federal, do MS 333/DF, destacou: “O direito subjectivo, odireito da parte é constituido por uma relação entre a lei e o facto. A lei,porém, é sempre certa e incontestavel. A ninguem é licito ignora-la, e com osilencio, a obscuridade ou a indecisão della não se exime o juiz de sentenciarou despachar (Codigo Civil, art. 5º da Introdução). [...] O facto é que o peti-cionario deve tornar certo e incontestavel, para obter o mandado de segur-ança. O direito será declarado e applicado pelo juiz, que lançará mão dos pro-cessos de interpretação estabelecidos pela sciencia, para esclarecer os textosobscuros ou harmonizar os contraditorios. Seria absurdo admitir se declare ojuiz incapaz de resolver de plano um litigio, sob o pretexto de haver preceitoslegaes esparsos, complexos ou de intelligencia difficil ou duvidosa. Desde,pois, que o facto seja certo e incontestavel, resolverá o juiz a questão dedireito, por mais intrincada e difficil que se apresente, para conceder oudenegar o mandado de segurança.”

300 PEZZI, Alexandra Cristina Giacomet. Dignidade da Pessoa Humana: mín-imo existencial e limites à tributação no Estado Democrático de Direito. Curit-iba: Juruá, 2008, p. 148.

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301 BUFFON, Marciano. Tributação e Dignidade Humana: entre os direitos edeveres fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009, p. 264.

302 PESSOA, Geraldo Paes. Imunidade do Mínimo Existencial. RET 47, jan-fev/06.

303 ANDRADE, Vieira. Os Direitos fundamentais na Constituição Portuguesa de1976, 2ª ed. Coimbra: Almedina, p. 388.

304 CARRAZA, Roque Antônio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 9ªed. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 62-63.

305 ÁVILA, Humberto. Teoria dos Princípios: da definição à aplicação dosprincípios jurídicos. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 121.

306 TRF4, AC 2004.71.08.010633-8/RS.

307 ÁVILA, Humberto. Op. cit., 2003, p. 102.

308 Idem, p. 102

309 TRF4, Corte Especial, AIAG 2005.04.01.017909-2.

310 “El procedimiento analógico consiste en la extensión de un precepto legala supuestos no comprendidos en el mismo, pero que revisten, con las hipótes-is previstas por la norma, un grado de afinidad tal que puede afirmarse quese encuentra en la misma ratio jurídica que inspira la norma formulada. [...]no es preciso que exista una absoluta identidad… es necesario que seancomunes los elementos jurídicos que se toman en consideración. En otras pa-labras, es preciso que la hipótesis, a la que se quiere extender la norma,presente unos caracteres jurídicos análogos a aquellos en virtud de los cualesla hipótesis expresamente regulada se convirtió en objeto de una normajurídica.” (VANONI, E. Natura ed Interpretazione delle leggi tributarie. 1932. Atranscrição é da edição espanhola de 1961 publicada pelos Instituto de Estúdi-os Fiscales, Madrid, p. 338).

311 TRF4, Primeira Seção, EIAC 2000.04.01.097540-8.

312 AMARAL NETO, Francisco dos Santos. A Eqüidade no Código CivilBrasileiro. Revista do Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federalnº 25, junho de 2004, p. 16-23.

313 “A autoridade fiscal e o juiz, à falta de elementos no art. 108, I, II, e III, en-contram na eqüidade, se lhe é concedida expressamente – condição exigidapelo art. 127 do CPC-73 – meios de suprir a falta de norma adequada ao casosingular, ou mesmo para amortecer essa norma, se nas circunstâncias es-pecíficas ou inéditas, ela conduzir ao iníquo ou ao absurdo, um e outro

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inadmissíveis dentro do sistema geral do Direito e da consciência jurídicacontemporânea em nosso país ou em nosso tipo de estrutura econômica,política, social e institucional. Dará uma solução de justiça. É certo que ajustiça, em relação a determinada situação, varia no tempo e no espaço. A le-gislação tributária, no sentido do art. 96 do CTN, é femininamente ‘mobilequal piuma al vento’. Mas a justiça, já se disse, é uma idéia-força, do conceitode FOUILLÉ. Todos os povos querem que a justiça presida as relações hu-manas, inclusive aquelas entre o Fisco e o contribuinte.” (BALEEIRO, Alio-mar. Direito Tributário Brasileiro. 10ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1991, p. 441).

314 BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro. 10ª ed. Rio de Janeiro:Forense, 1991, p. 441.

315 BOITEUX, Fernando Netto. A multa de ofício, a Lei 9.430/96 e o Conselhode Contribuintes do Ministério da Fazenda. RDDT 120/60, set/05.

316 TRF4, AC 200404010006399.

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Capítulo VII – ObrigaçãoTributária

67. As diversas relações jurídicas de naturezacontributiva, não contributiva e punitiva

A tributação tem como foco a arrecadação de tributos.Mas, para viabilizá-la, muitas relações jurídicas de naturezasdistintas são estabelecidas, envolvendo tanto contribuintescomo não contribuintes. Os contribuintes são obrigados aopagamento de tributos e também ao cumprimento de deveresformais (prestar declarações, emitir documentos, manter escrit-uração fiscal etc.). Por vezes, pessoas que não são obrigadas aopagamento de determinado tributo, também são chamadas acolaborar com a Administração Tributária tomando medidasque, por exemplo, facilitem a fiscalização, minimizem a soneg-ação ou assegurem o pagamento. Assim é que podem estaspessoas ser obrigadas a apresentar declarações (como asimobiliárias relativamente às operações de que participam), aexigir a prova do recolhimento de tributos para a prática de de-terminado ato, a efetuar retenções etc. Tanto os contribuintescomo as demais pessoas estão sujeitas a punição no caso dedescumprimento das suas obrigações, desde que assimdisponha a lei. Deste modo, podemos afirmar que também

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podem ser aplicadas sanções em razão da tributação, normal-mente multas.

Para uma boa compreensão de tais relações jurídicas, dosdiversos aspectos das obrigações respectivas e do regimejurídico a que se submetem, impõe-se verificar a sua natureza.

Há relações de natureza contributiva fundadas no deverfundamental de pagar tributos e que só podem vincular o con-tribuinte ao Fisco, outras de natureza não contributiva, funda-das no dever de colaboração de qualquer pessoa com a Admin-istração Tributária e, ainda, relações de natureza sancionadora,que só podem ser estabelecidas entre a AdministraçãoTributária e o infrator.

68. Obrigações principais e acessórias

Os entes políticos exercem sua competência tributária at-ribuindo a determinadas situações (fatos, atos, negócios) oefeito de geradoras da obrigação de pagar determinado tributo.Ademais, estabelecem deveres formais no interesse da adminis-tração tributária, como os de emitir nota fiscal, prestar de-claração quanto ao montante devido e facultar o acesso dosauditores fiscais aos livros da empresa. Também estabelecempenalidades, principalmente multas, pelo descumprimento dasobrigações de pagar tributos e pelo descumprimento dasobrigações de cumprir os deveres formais.

O art. 113 do CTN denomina as obrigações de prestardinheiro, seja a título de tributo ou de multa, de obrigaçõestributárias principais (§ 1º) e as obrigações de fazer, deixar de

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fazer ou tolerar – os deveres formais – de obrigações tributári-as acessórias (§ 2º).

As obrigações principais (de pagar) estão sob reservalegal absoluta (art. 150, I, da CF e 97, V, do CTN), dependendode lei que defina seus diversos aspectos. Assim é que tanto ainstituição de tributo, como o estabelecimento da obrigação deterceiro de pagar tributo devido por outrem na condição desubstituto ou de responsável e, ainda, a cominação de penalid-ades dependerão de tratamento legal exaustivo, não admitindodelegação ao Executivo.

As obrigações acessórias estão sob reserva legal relativa(art. 5º, II, da CF), obrigando exclusivamente a quem a lei im-ponha o dever formal, independentemente de serem ou nãocontribuintes. Criadas por lei, podem ser detalhadas peloExecutivo.

Mesmo pessoas imunes ou isentas podem ser obrigadasao cumprimento de deveres formais. Os arts. 175, parágrafoúnico, e 194, parágrafo único, do CTN, aliás, são expressos a re-speito da necessidade de cumprimento das obrigações acessóri-as e de submissão à fiscalização também por parte das empres-as que eventualmente não estejam sujeitas ao pagamento dedeterminado tributo.

Dispõe o art. 115 do CTN: “Art. 115. Fato gerador daobrigação acessória é qualquer situação que, na forma da legis-lação aplicável, impõe a prática ou a abstenção de ato que nãoconfigure obrigação principal”.

A referência à “legislação tributária” remete à definiçãoconstante do art. 96 do CTN, que abrange os decretos e normascomplementares, principalmente as instruções normativas eportarias. Mas não se deve perder de vista a necessidade deque a lei crie o dever formal, ainda que deixe ao Executivo seudetalhamento. Quando ao descumprimento de deveres formais

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for imputada sanção, então tanto o antecedente quanto o con-sequente da norma terão de constar de lei em sentido estrito.

As práticas envolvem a emissão de documentos fiscais, aelaboração e guarda de livros fiscais e a apresentação de de-

clarações ao Fisco.317 As abstenções podem ser exemplificadaspela obrigação de não transportar mercadoria sem nota.

Dentre os documentos fiscais, é de elevada importância aemissão de nota fiscal de venda e de prestação de serviços.

Há diversos livros fiscais. No Livro-Diário, são lançados,dia a dia, diretamente ou por reprodução, os atos ou operaçõesda atividade mercantil, ou que modifiquem ou possam vir a

modificar a situação patrimonial do comerciante.318 O Livro-Razão é utilizado para resumir ou totalizar, por conta ou sub-conta, os lançamentos efetuados no Livro-Diário. O LALUR(Livro de Apuração do Lucro Real) é obrigatório para as pess-oas jurídicas tributadas pelo Lucro Real e se destina à sua apur-ação para fins de cálculo do imposto de renda devido. Mas háainda, inúmeros outros livros, como o Livro de Apuração doIPI, o Livro de Apuração do ICMS, o Livro de Registro Especialdo ISSQN, o Livro Registro de Inventário, o Livro Registro deEntradas, o Livro Registro de Saídas, o Livro Registro de Con-trole da Produção e do Estoque, o Livro Registro Permanentede Estoque, o Livro de Movimentação de Combustíveis, o Liv-ro Registro de Entrada e Saída do Selo de Controle, o Livro Re-gistro de Impressão de Documentos Fiscais, o Livro Registro deUtilização de Documentos Fiscais e Termos de Ocorrências, oLivro Caixa – Carnê-Leão e o Livro Caixa da Atividade Rural.

As pessoas físicas e jurídicas estão obrigadas, ainda, à ap-resentação de declarações, como a Declaração de Rendimentosdo Imposto de Renda da Pessoa Física. Para as pessoasjurídicas, há, por exemplo, a Declaração de Informações

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Econômico-Fiscais da Pessoa Jurídica (DIPJ) e a Declaração doImposto de Renda Retido na Fonte (DIRF), dentre muitas out-ras. Uma das mais importantes obrigações tributárias acessóri-as, na área federal, aliás, é a de apresentação mensal ousemestral de informações acerca da maior parte dos tributosfederais administrados pela Secretaria da Receita Federal doBrasil através da Declaração de Débitos e Créditos Tributários

Federais (DCTF).319 A DCTF é mensal para empresas que noano anterior tenham tido elevada receita bruta ou cujo so-matório de débitos declarados seja considerável e semestralpara as demais. Constam da DCTF informações acerca dosdébitos de CSLL, PIS e COFINS, bem como de outros tributos.A DCTF tem efeito de confissão de dívida. Juntamente com aDCTF, as pessoas jurídicas têm a obrigação de preencher o De-monstrativo de Apuração de Contribuições Sociais (DACON),em que apresentam os dados relativos à apuração do PIS e daCOFINS.

Pode ocorrer, contudo, o descumprimento dasobrigações acessórias, ensejando a aplicação de multa. Ou seja,a infração à obrigação acessória (deveres formais) poderá im-plicar o surgimento de obrigação principal (pagar multa). Oart. 113, § 3º, do CTN, ao referir que a “obrigação acessória,pelo simples fato da sua inobservância, converte-se emobrigação principal relativamente à penalidade pecuniária”destaca que o descumprimento do dever formal implica in-fração autônoma, que independe de ter ou não havido o in-adimplemento de tributo. Mas a aplicação de multa pelo des-cumprimento de obrigação acessória depende de previsão leg-al específica, exigida expressamente pelo art. 97, V, do CTN.

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69. Hipótese de incidência e fato gerador

A lei, ao instituir determinado tributo, estabelece a suahipótese de incidência, ou seja, a previsão abstrata da situaçãoa que atribui o efeito jurídico de gerar a obrigação de pagar.

Rigorosamente, pode-se distinguir tal previsão abstrata(hipótese de incidência) da sua concretização no plano fático(fato gerador). A hipótese de incidência integra o antecedenteou pressuposto da norma tributária impositiva. O fato geradoré a própria situação que, ocorrida, atrai a incidência da norma.

Há situações, contudo, em que o próprio CTN e o legis-lador ordinário tratam a hipótese de incidência por fatogerador, como se pode ver no art. 19 do CTN e no art. 1º do DL37/66. Não há nenhum inconveniente nisso, desde que se tenhabem presente a distinção entre o plano normativo e o planofático.

A incidência é o fenômeno jurídico de adequação da situ-ação de fato verificada (fato gerador) à previsão normativa(hipótese de incidência). Com a subsunção do fato à norma, oque era um simples fato da vida assume a qualidade de fatojurídico gerador de obrigação tributária.

A não incidência é definida por exclusão. É errado, pois,falar-se em “hipótese de não incidência”. Tecnicamente, só háhipóteses de incidência; a não incidência é mera consequência,dizendo respeito ao que se situa fora dos limites da norma.

70. Classificação dos fatos geradores

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Conforme o art. 116 do CTN, considera-se ocorrido o fatogerador e existentes os seus efeitos, “I – tratando-se de situaçãode fato, desde o momento em que se verifiquem as circunstân-cias materiais necessárias a que produza os efeitos que normal-mente lhe são próprios” ou, “II – tratando-se da situaçãojurídica, desde o momento em que esteja definitivamente con-stituída, nos termos do direito aplicável”.

As hipóteses de incidência ou fatos geradores são classi-ficados quanto ao momento da sua ocorrência em in-stantâneos, continuados ou de período, como segue:

• fato gerador instantâneo: é o fato isolado que ocorrenum determinado momento plenamente identificável,como a saída do produto industrializado do estabeleci-mento industrial (art. 2º, II, da Lei 4.502/64: IPI) ou olançamento a débito em conta corrente de depósito (art.2º, I, da Lei 9.311/96: CPMF, extinta no final de 2007);

• fato gerador continuado: é a situação jurídica que seperpetua no tempo, verdadeiro status jurídico, como apropriedade de imóvel rural (art. 1º da Lei 9.393/96:ITR);

• fato gerador de período (ou complexo): é a situaçãocomposta por diversos fatos considerados em conjunto,como os rendimentos anuais da pessoa física ou o lucroreal trimestral ou anual da pessoa jurídica apuradotendo em conta suas receitas e despesas operacionais,com as adições, exclusões e compensações determin-adas pela legislação (arts. 1º e 2º da Lei 9.430/96: IRPJ).Entendemos que a denominação fato gerador “de per-íodo” é preferível à denominação fato gerador “com-plexo” porque esta pode levar à ideia de atos jurídicos

complexos,320 321 quando, em verdade, o fato gerador

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de período pode não envolver atos complexos, mas umconjunto de atos simples considerados como uma unid-ade por questões de política tributária.

Também são classificados, conforme configurem ativid-ade do estado ou situação relativa ao próprio contribuinte, emvinculados e não vinculados:

• fato gerador vinculado: é aquele realizado pela própriaAdministração, como a prestação de serviço de recolhi-mento de lixo (taxa de lixo) ou a realização de fiscaliza-ção para renovação de licença de funcionamento (taxade renovação de alvará);

• fato gerador não vinculado: é aquele que não diz re-speito à atividade da Administração, mas ao própriocontribuinte, como ser proprietário de imóvel rural(ITR), adquirir a disponibilidade econômica ou jurídicade renda (IR), promover a saída de mercadoria do es-tabelecimento (ICMS), importar produto estrangeiro(II).

Não se deve confundir o fato gerador vinculado (aspectomaterial da hipótese de incidência) com a vinculação doproduto da arrecadação (destinação do tributo).

71. Norma tributária antielisiva

Ocorrido o fato gerador, surge a obrigação de pagar otributo, do que o contribuinte não pode se furtar. Pode sim ébuscar evitar, em momento anterior, a própria ocorrência do

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fato gerador, o que configura elisão absolutamente válida. Con-tudo, se o contribuinte praticar o fato gerador, mas ocultá-lomediante roupagem jurídica distinta da que lhe corresponde,estará abusando da forma jurídicas e incorrendo em evasão, oque não é permitido. Tampouco lhe é dado subtrair do conheci-mento do fisco fato gerador já ocorrido.

O parágrafo único do art. 116 do CTN dispõe no sentidode que “A autoridade administrativa poderá desconsideraratos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de dis-simular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a naturezados elementos constitutivos da obrigação tributária, observa-dos os procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária”.

Dissimular é ocultar, esconder, encobrir. Resta o Fisco, as-sim, autorizado a desconsiderar atos ou negócios jurídicos cujoconteúdo não corresponda à intenção das partes, praticadospara iludi-lo.

Note-se que o artigo exige que o ato tenha o efeito deocultar a ocorrência do fato gerador ou a natureza dos elemen-tos que configuram a hipótese de incidência e que o ato tenhasido praticado com tal finalidade.

Faz-se necessário que o Fisco, ao invocar a desconsider-ação, justifique suficientemente sua decisão, demonstrando queo ato ou negócio foi realizado com a finalidade de ocultar aocorrência do fato gerador.

Mas a norma em questão não é autoaplicável, tanto queremete à observância dos procedimentos “a serem estabele-cidos em lei ordinária”, o que ainda não ocorreu.

72. Aspectos da norma tributária impositiva

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A lei instituidora de um tributo não apenas define ahipótese de incidência (antecedente da norma), como prescrevea obrigação decorrente (consequente da norma). A normatributária impositiva é composta por essas duas partes. Contémuma hipótese de incidência, mas não se esgota nela, culmin-ando com um mandamento ou prescrição.

Tanto a hipótese como a prescrição podem ser dissecadasem mais de um aspecto, conforme o quadro abaixo:

NORMA TRIBUTÁRIA IMPOSITIVA

• Antecedente ou hipótese:

a) aspecto material (o que – fato gerador)b) aspecto espacial (onde – território em que a ocorrên-cia do fato implica o surgimento da obrigaçãotributária)c) aspecto temporal (quando – momento em que se deveconsiderar ocorrido o fato gerador)

• Consequente ou prescrição:

d) aspecto pessoal (quem – sujeitos ativo e passivo darelação jurídica tributária)e) aspecto quantitativo (quanto – critérios estabelecidospara cálculo do montante devido)

A lei que veicula a norma tributária impositiva deveráconter os aspectos indispensáveis para que se possa determinaro surgimento e o conteúdo da obrigação tributária, ou seja,qual a situação geradora da obrigação tributária (aspecto ma-terial), onde a sua ocorrência é relevante (aspecto espacial) equando se deve considerar ocorrida (aspecto temporal), bemcomo quem está obrigado ao pagamento (aspecto pessoal:

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sujeito passivo), em favor de quem (aspecto pessoal: sujeito at-ivo), e qual o montante devido (aspecto quantitativo).

Os “aspectos” ou “elementos” da norma tributária impos-itiva são todos integrantes de uma mesma norma e, assim,partes indissociáveis de um todo único, devendo guardar har-monia entre si.

A norma impositiva incompleta, por insuficiência de da-dos, não assegura ao contribuinte a certeza quanto ao surgi-mento ou ao conteúdo da sua suposta obrigação tributária,sendo, pois, incapaz de implicar o surgimento da obrigaçãotributária, já que não pode ser suplementada por regulamentoem face da reserva absoluta de lei.

Isso não significa, contudo, que todos os cinco aspectosda norma tributária impositiva (material, espacial, temporal,pessoal e quantitativo) devam, necessariamente, constar da leide modo expresso e didático. Em leis de boa técnica, isso se

dá,322 mas não constitui requisito para que se a considere com-pleta. Cabe ao intérprete e aplicador analisar a lei e identificaros diversos aspectos, só concluindo pela incompletude na im-possibilidade de levar a efeito tal identificação por absolutafalta de dados, referências ou elementos para tanto. Vejam-se, arespeito, as considerações que fizemos sobre a matéria quandoda análise do princípio da segurança jurídica e da garantia delegalidade tributária absoluta.

Vale destacar que, normalmente, o aspecto espacial éidentificado com o território do ente tributante, o que se impõe,inclusive, para evitar invasão de competência tributária entreEstados-Membros ou entre Municípios. O STJ entende, por ex-emplo, que o Município competente para cobrar o ISS é aqueleem cujo território foi efetivamente prestado o serviço, inde-pendentemente de onde seja a sede do estabelecimento

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prestador.323 Diz-se, pois, que se segue o princípio da territ-orialidade. Mas nos tributos federais, pode haver dispositivoexpresso em sentido contrário, sem vício de inconstitucionalid-ade. No IR, por exemplo, a extraterritorialidade está previstano art. 43, § 2º, do CTN, embora reste amenizada por tratadosinternacionais que procuram evitar a bitributação.

É importante ter em consideração, ainda, que não se con-funde, de modo algum, o aspecto temporal da hipótese de in-cidência com o prazo de recolhimento do tributo. O aspectotemporal é a circunstância de tempo do aspecto material ou omomento em que, por ficção legal, visando à operacionalidade(ou “praticabilidade”) da tributação, é determinado que se con-sidere ocorrido o fato gerador. O prazo de recolhimento, porsua vez, sequer integra a norma tributária impositiva: simples-mente explicita o momento em que deve ser cumprida aobrigação pecuniária surgida com a ocorrência do fato gerador.

Na definição do aspecto quantitativo, por sua vez, a leipode, simplesmente, estabelecer um valor fixo, determinar aaplicação de uma alíquota sobre determinada base de cálculoou utilizar-se do enquadramento em tabelas, mas sempre tendo

em conta a dimensão do fato gerador.324

73. Sujeito ativo

O sujeito ativo da relação tributária é o credor daobrigação, tendo as prerrogativas de editar normas comple-mentares necessárias à fiscalização e à cobrança, exercer a fisc-alização, constituir o crédito tributário mediante lançamento,

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inscrevê-lo em dívida ativa e exigir o seu pagamento, se ne-cessário, mediante o ajuizamento de execução fiscal.

O art. 119 do CTN exige que a lei coloque na condição desujeito ativo uma pessoa jurídica de direito público, ou seja, opróprio ente político, uma autarquia ou uma fundação pública.Tal dispositivo está em perfeita harmonia com o art. 3º, que dizque os tributos são cobrados mediante “atividade adminis-trativa plenamente vinculada”, e com o art. 7º do CTN, que dizda possibilidade de uma pessoa jurídica de direito público con-ferir a outra as funções de arrecadar ou fiscalizar tributos e deexecutar leis, serviços, atos ou decisões administrativas emmatéria tributária.

Assim, a condição de sujeito ativo da relação jurídico-tributária possa ser delegada pelo ente político titular da com-

petência tributária,325 por lei, para outra pessoa jurídica dedireito público, como uma autarquia.

Mas a posição de sujeito ativo não se confunde com a dodestinatário do produto da arrecadação, ou seja, com a daquelea quem a lei destina os valores arrecadados. As pessoasjurídicas de direito privado, desde que exerçam função públicae sem fins lucrativos, podem ser destinatárias do produto dedeterminadas contribuições instituídas justamente para tal fim,mas jamais integrarão a relação jurídico-tributária. Uma pessoajurídica de direito público haverá de fiscalizar e cobrar otributo, repassando-o, então, ao destinatário do seu produto. Éo caso das contribuições devidas ao SENAC e ao SENAI, queatualmente têm a União como sujeito ativo.

Veja-se, de qualquer modo, a Súmula 396 do STJ: “AConfederação Nacional da Agricultura tem legitimidade ativapara a cobrança da contribuição sindical rural”.

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74. Sujeitos passivos das diversas relaçõesjurídicas com o Fisco

O art. 121 do CTN cuida do “sujeitos passivo” daobrigação tributária principal. Ao fazê-lo, limita-se a dizer quesujeito passivo “é a pessoa obrigada ao pagamento de tributoou penalidade pecuniária” e que pode ser “contribuinte,quando tenha relação pessoal e direta com a situação que con-stitua o respectivo fato gerador” ou “responsável, quando semrevestir a condição de contribuinte, sua obrigação decorra dedisposição expressa de lei”. Cuida-se, contudo, de uma simpli-ficação grosseira e que leva a diversos equívocos na inter-pretação e na aplicação das normas tributárias.

O art. 121 não esclarece, por exemplo, que o contribuintee o responsável não são sujeitos passivos de uma mesma re-lação jurídica. O contribuinte é obrigado no bojo de uma re-lação contributiva, instituída por lei forte no dever fundament-al de pagar tributos. O terceiro – designado pelo art. 121simplesmente de responsável – é obrigado no bojo de uma re-lação de colaboração com a Administração, para a simpli-ficação, a facilitação ou a garantia da arrecadação.

Tanto o contribuinte como o terceiro podem vir a ser obri-gados ao pagamento do tributo, sujeitando-se à cobrança e àexecução no caso de inadimplemento. Mas suas obrigações de-correm de diferentes dispositivos legais, têm diferenteshipóteses de incidência, surgem em momentos próprios. Enfim,são inconfundíveis. É absolutamente falso imaginar que, ocor-rido o fato gerador do tributo, dele decorra diretamente aobrigação de qualquer outra pessoa que não o contribuinte. Oterceiro só pode ser obrigado ao pagamento do tributo medi-ante previsão legal específica com recursos do contribuinte (na

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qualidade de substituto tributário) ou com recursos próprios,mas, neste caso, em decorrência do descumprimento de umaobrigação sua de colaboração para com o Fisco (na qualidadede responsável tributário). Cabe notar que o obrigado ao paga-mento de penalidade terá de ser quem cometeu a infração, ouseja, o infrator.

O art. 121 ainda nos leva a uma visão demasiadamentesimplificadora dos sujeitos passivos. Isso porque refere tãosomente duas categorias: contribuinte e responsável. Nesta úl-tima, insere qualquer terceiro não contribuinte. A exata com-preensão das relações jurídicas que vinculam terceiros ao Fiscoexige um maior detalhamento. Tanto a doutrina estrangeiracomo a nacional cuidam de distinguir, dentre os terceiros, osubstituto tributário, de um lado, e o responsável tributário,de outro, isso quando não detalham ainda mais, dando auto-nomia a outras categorias como aos chamados agentes deretenção.

Via de regra, considera-se substituto tributário o terceiroobrigado diretamente ao pagamento do tributo em lugar docontribuinte e com recursos que tenha exigido ou retido deste.Considera-se responsável tributário o terceiro obrigado subsi-diariamente ao pagamento do tributo forte no inadimplementopor parte do contribuinte e do descumprimento, pelo respon-sável, de um dever seu de colaboração para com a Adminis-tração que tenha favorecido aquele inadimplemento.

Cuidaremos de cada classe em item próprio adiante.Não constitui sujeito passivo o mero pagador, que, por

liberalidade, paga tributo em nome de outrem. Também não ésujeito passivo o chamado contribuinte de fato, a quem édiretamente transferido o ônus econômico do tributo mediantedestaque expresso do valor devido na operação mas que nãoestá obrigado ao pagamento e não pode ser demandado pelo

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Fisco. Por fim, tampouco poder ser considerado sujeito passivoo contribuinte econômico, ou seja, aquele que suporta medi-atamente o ônus da tributação.

Quanto ao sujeito passivo de obrigação tributáriaacessória, não entra em questão se a pessoa a ela obrigada écontribuinte, substituto ou responsável tributário, se goza ounão de imunidade ou de algum benefício fiscal como a isenção.Todos, contribuintes ou não, seja em que situação estiverem,podem ser obrigados por lei ao cumprimento de deveres form-ais, forte no dever fundamental de colaboração com a fiscaliza-ção tributária.

A condição de sujeito passivo de obrigação acessória de-penderá única e exclusivamente da previsão, pela legislaçãotributária, de que lhe seja atribuído determinado dever formalde fazer (e.g. elaborar folha de salários indicando as con-tribuições previdenciárias devidas), não fazer (e.g. não trans-portar mercadoria sem nota fiscal) ou tolerar (e.g. facultar oacesso dos auditores-fiscais à documentação fiscal da empresa)em benefício da atividade tributária.

A sujeição passiva de qualquer relação obrigacionaltributária é matéria estritamente legal forte na garantia da leg-alidade tributária (art. 150, I, da CF) ou mesmo da legalidadegeral (art. 5º, II, da CF). O art. 123 do CTN constitui simplesdesdobramento disso ao dispor expressamente no sentido deque “salvo disposições de lei em contrário, as convenções par-ticulares, relativas à responsabilidade pelo pagamento de trib-utos, não podem ser opostas à Fazenda Pública, para modificara definição legal do sujeito passivo das obrigações tributáriascorrespondentes”.

Eventuais convenções particulares, como contratos dealuguel e acordos coletivos de trabalho, na parte em que dis-tribuam ônus tributários para uma ou outra parte, terão efeitos

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entre os contratantes, mas não podem ser opostas ao Fisco, queidentificará os sujeitos passivos tendo como referência exclu-siva a lei ordinária. Assim, se num contrato de aluguel ficarcontratado que cabe ao locatário o pagamento do IPTU, tal seráirrelevante para o Fisco. Havendo inadimplemento, o Municí-pio cobrará daquele que a lei diz ser o contribuinte, normal-mente o proprietário. A cláusula contratual só valerá para queo proprietário busque judicialmente o ressarcimento, pelo loc-atário, do pagamento de tal montante. Do mesmo modo, adefinição contratual quanto à obrigação de recolher o tributonão é relevante perante o Fisco, vinculado que está ao texto dalei tão somente. Podemos tomar como exemplo novamente umcontrato de aluguel, em que reste convencionado que o loc-atário pagará o IR sobre o valor pago a título de aluguel. Jamaispoderá o proprietário locador, titular da renda proveniente dopagamento do aluguel, opor tal cláusula ao Fisco, pois ineficazperante o mesmo.

75. Contribuinte

O contribuinte é aquele obrigado por lei a contribuir paraas despesas públicas, vertendo recursos do seu patrimônio parao erário. O fundamento jurídico direto da sua obrigação é a leiinstituidora do tributo. O fundamento jurídico mediato, quepermite ao legislador a instituição dos tributos, é seu deverfundamental de pagar tributos. Os critérios de justiçatributária considerados são a justiça distributiva, fundada nacapacidade contributiva de cada pessoa, ou a justiçacomutativa, buscando de cada um o custeio da atividade

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estatal que lhe diz particularmente respeito, por ser divisível eespecífica.

Nos termos do art. 121, I, do CTN, o contribuinte guardarelação pessoal e direta com a situação que constitua o re-spectivo fato gerador. Nos tributos com fato gerador não vin-culado, contribuinte é a pessoa cuja capacidade contributiva éobjeto de tributação, ou seja, uma das pessoas que pratica o atoou negócio jurídico ou que está na situação indicada por leicomo geradora da obrigação tributária, por exemplo, o titularda receita, do lucro, da propriedade, o que vende ou adquiremercadorias, o que importa produto estrangeiro. Nos tributoscom fato gerador vinculado à atividade estatal, será aquele quedemanda o serviço público, que sofre o exercício do poder depolícia ou que tem o seu imóvel valorizado pela obra pública.

Não se pode, senão por lei específica (art. 150, § 6º), dis-pensar quem quer que seja do cumprimento das suasobrigações, apenas por dispositivo expresso é que o con-tribuinte poderá ser excluído da obrigação de pagar. A pre-visão legal de que terceiro responderá pelo pagamento do trib-uto não exonera, por si só, o contribuinte. Inadimplido o trib-uto, poderá ser chamado ao seu pagamento, salvo se a at-ribuição da responsabilidade tiver se dado em caráter pessoal,integralmente, com sub-rogação. Não há como afastar aobrigação do contribuinte que, por definição, é devedor do trib-uto, sem que tal decorra diretamente da lei. Assim é que, es-tabelecida a obrigação da empresa de reter o imposto de rendadevido pelos seus empregados, na hipótese de tal não ocorrer,poderá o Fisco exigir o tributo tanto da empresa que deixou dereter e de recolher, como do contribuinte que não sofreu a re-tenção e não pagou. Não poderá, por certo, exigir do con-tribuinte tributo que lhe tenha sido retido, ainda que não recol-hido pelo empregador. Isso porque, neste caso, o contribuinte

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se sujeitou à retenção por determinação legal, suportando oônus da tributação.

76. Substituto tributário

A figura da substituição tributária existe para atender aprincípios de racionalização e efetividade da tributação, orasimplificando os procedimentos, ora diminuindo as possibilid-ades de inadimplemento. Cuida-se de instituto que dá maiorpraticabilidade à tributação.

O legislador pode estabelecer a substituição tributária nashipóteses em que o terceiro, em razão das suas particulares re-lações com o contribuinte, tenha a possibilidade de exigir oureter do contribuinte o montante do tributo. Isso porque a re-lação contributiva dá-se entre o Fisco e o contribuinte,servindo, o substituto, como um facilitador do recolhimentodo tributo. O substituto só poderá ser chamado a recolher otributo com recursos próprios quando tenha descumprido suasobrigações de colaboração com o Fisco (retenção e recolhi-mento), pois tal o coloca na posição de garante pela satisfaçãodo crédito tributário.

O substituto tributário é o terceiro que a lei obriga aapurar o montante devido e cumprir a obrigação de paga-mento do tributo “em lugar” do contribuinte. Mas, embora osubstituto seja obrigado “em lugar” do contribuinte, não há oafastamento automático da responsabilidade do próprio con-tribuinte, o que depende de ter suportado a retenção ou de a leiexpressamente afastar a sua responsabilidade.

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Note-se que, na substituição tributária, a obrigação surgediretamente para o substituto, a quem cabe substituir o con-tribuinte na apuração e no cumprimento da obrigação depagar, total ou parcialmente, o tributo devido pelo con-tribuinte, mas com recursos alcançados pelo próprio con-tribuinte ou dele retidos (arts. 150, § 7º, da CF, 45, parágrafoúnico, e 128 do CTN e diversas leis ordinárias).

Exemplos são os casos em que as instituições financeiras,ao efetuarem o creditamento dos rendimentos de uma ap-licação financeira, são obrigadas a proceder à retenção do Im-posto sobre a Renda respectivo ou que, ao concederem crédito,são obrigadas a exigir do mutuário o montante do Impostosobre Operações de Crédito. Lembre-se, também, da obrigaçãoatribuída por algumas leis municipais à própria AdministraçãoPública quando contratante, de reter o ISS incidente sobre aprestação de serviços e da obrigação constante de lei federal deque os tomadores de serviços prestados mediante cessão demão de obra retenham antecipação da contribuiçãoprevidenciária.

Há quem distinga substituição tributária em sentido es-trito da retenção por conta. A primeira estaria restrita aos casosde tributação exclusiva na fonte, em que o pagamento feitopelo substituto é exclusivo e definitivo, não sujeito a ajuste (im-posto de renda devido sobre aplicações financeiras). A segundadiria respeito aos casos em que o montante pago pelo sub-stituído constitui mera antecipação do tributo devido pelo con-tribuinte, devendo este apurá-lo posteriormente em face detudo o que compõe a sua base de cálculo e deduzir o montanteda retenção suportada, apurando a existência de saldo a pagarou de valores a repetir, efetuando o acerto de contas (impostode renda retido pelos empregadores sobre os pagamentos fei-tos aos seus empregados). Nosso ordenamento jurídico,

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contudo, não distingue tais figuras, considerando ambos comocasos de substituição tributária.

A doutrina costuma classificar os casos de substituiçãotributária em substituição para frente, substituição para trás e,por vezes, em substituição simultânea. São dois os critérios ad-otados para proceder à classificação: 1º – a posição do respon-sável na cadeia econômica, se anterior (para frente) ou posteri-or (para trás) ao contribuinte; 2º – o momento da retenção re-lativamente à ocorrência do fato gerador, se anterior (parafrente), simultânea (simultânea) ou posterior (para trás).

Na substituição para frente há uma antecipação do paga-mento relativamente à obrigação que surgiria para o con-tribuinte à frente, caso em que o legislador tem de presumir abase de cálculo provável e, caso não se realize o fato geradorpresumido, assegurar imediata e preferencial restituição aocontribuintes da quantia que lhe foi retida pelo substituto, talcomo previsto, aliás, no art. 150, § 7º, da CF. Para a base de cál-culo presumida não implique pagamento de tributo relativa-mente à riqueza que não corresponda à dimensão econômicado fato gerador, também deve ser assegurada a restituição doquanto tenha sido pago sobre valores superiores ao da base decálculo efetiva, o que, contudo, ainda não foi reconhecido peloSTF.

Na substituição simultânea, a retenção deve ocorrer porocasião da ocorrência do fato gerador e o pagamento logo emseguida, no prazo que for estipulado pela legislação.

Na substituição para trás, há uma postergação do paga-mento do tributo, transferindo-se a obrigação de reter e recolh-er o montante devido, que seria do vendedor, ao adquirentedos produtos ou serviços. Deve-se ter cuidado para não con-fundir a substituição para trás com a figura do diferimento. Nasubstituição para trás, continua havendo a figura do

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contribuinte, mas é do responsável a obrigação de recolher otributo.

77. Responsável tributário

A atribuição da responsabilidade a terceiro jamais serápresumida ou implícita; decorrerá, necessariamente, de dispos-itivo do CTN ou da legislação ordinária que assim determine.A par da norma tributária que estabelece a obrigação do con-tribuinte, teremos, ainda, uma norma específica impondo a re-sponsabilidade tributária a outra pessoa: “A responsabilidadetributária pressupõe duas normas autônomas: a regra matrizde incidência tributária e a regra matriz de responsabilidadetributária, cada uma com seu pressuposto de fato e seus sujei-

tos próprios”.326

O CTN estabelece alguns casos de responsabilidadetributária e deixa ao legislador ordinário a possibilidade de es-tabelecer outras hipóteses específicas. Seu art. 128 é inequívocono sentido de que “a lei pode atribuir de modo expresso a re-sponsabilidade pelo crédito tributário a terceira pessoa, vincu-lada ao fato gerador da respectiva obrigação, excluindo a re-sponsabilidade do contribuinte ou atribuindo-a a este emcaráter supletivo do cumprimento total ou parcial da referidaobrigação”. Não poderá o legislador ordinário, por certo, con-

trariar o disposto no CTN.327

Note-se que o art. 128 do CTN só permite ao legislador at-ribuir responsabilidade tributária a terceiro vinculado ao fatogerador da respectiva obrigação. Isso porque o responsável

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tributário não integra a relação contributiva. É sujeito passivode obrigação própria de colaboração com o Fisco, cumprindodeveres que facilitam a fiscalização ou que impedem o inadim-plemento. Só no caso de descumprimento da sua obrigação decolaboração é que assume a posição de garante, passando, en-tão, à posição de responsável pela satisfação do créditotributário. Exemplo é o caso do tabelião que tem a obrigação deexigir do vendedor de imóvel a prova de que não há débitos deIPTU e do comprador o comprovante de pagamento do ITBI,com o que impede que o negócio seja feito sem que os tributostenham sido devidamente recolhidos pelos contribuintes. Casoo tabelião cumpra as suas obrigações, exigindo a apresentaçãodas certidões e guias, seu patrimônio nada terá de suportar.Descumprindo, contudo, poderá ser obrigado a satisfazer ostributos inadimplido pelos contribuintes. Não tivesse ele nen-huma relação com o fato gerador ou com os contribuintes, se-quer poderia ser colocado na posição de responsável tributário,pois não teria como interceder junto aos mesmos.

Podemos distinguir as diversas hipóteses, efeitos e objetosda relações jurídicas de responsabilidade disciplinadas peloCTN.

• Quanto aos pressupostos de fato da responsabilidade,pode decorrer:

a) da sucessão, seja na aquisição de imóvel, naaquisição ou remição de bens em geral, no faleci-mento, na fusão, transformação, incorporação oucisão de empresa, ou na aquisição de estabeleci-mento comercial ou de fundo de comércio (arts. 130,131, 132 e 133); neste caso, cuida-se de responsabil-idade pelo pagamento que deveria ter sido feito nopassado pelo contribuinte e não foi, restando adívida em aberto por ocasião da sucessão, ainda que

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a formalização do crédito (normalmente pela lav-ratura de auto de infração) venha a ocorrer posteri-ormente (art. 129);

b) da prática de atos de representação pelos pais,tutores e curadores, administradores de bens, in-ventariantes, síndico e comissário e os sócios de so-ciedades de pessoas, a que o CTN se refere como“terceiros” (art. 134);

c) do descumprimento, pelos tabeliães e escrivães, dodever de zelar pelo recolhimento dos tributosquanto aos atos em que atuem (art. 134);

d) da prática de atos com excesso de poderes ou in-fração de lei, contrato social ou estatutos pelos rep-resentantes já arrolados, pelos mandatários, prepos-tos e empregados, ou pelos diretores, gerentes ourepresentantes de pessoas jurídicas de direitoprivado (art. 135).

e) do dolo ou fraude na expedição de certidão negativade débitos (art. 208).

• Quanto ao objeto da obrigação do responsável, a re-sponsabilidade pode alcançar:

a) os créditos tributários, expressão genérica que cor-responde tanto à obrigação de pagar tributo como àde pagar penalidade (art. 135);

b) os tributos, expressão que não se confunde com asmultas, pois tributo não é sanção de ato ilícito (arts.131, 132, 133, 134); há muitos precedentes, porém,entendendo que, mesmo alguns dispositivos doCTN referindo simplesmente “tributos”, a

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responsabilidade alcançaria também as penalid-

ades.328

c) créditos tributários específicos relativos aos impos-tos sobre a propriedade, o domínio útil ou a possede bens imóveis, às taxas de serviços e às con-tribuições de melhoria referentes a tais bens (art.130).

Note-se que o próprio CTN, no art. 3º, conceitua tributo,deixando inequívoco que não se confunde com sanção de atoilícito. No art. 113, conceitua obrigação tributária principal res-saltando que abrange tanto o tributo como a penalidade pecu-niária, sendo que o crédito corresponde à obrigação, comooutra face de uma mesma moeda, apenas formalizado posteri-ormente. Sendo, os conceitos de tributo e de obrigaçãotributária, distintos, aquele mais restrito que este, impende que,na interpretação dos dispositivos atinentes à responsabilidade,ou seja, quando da aplicação de tais conceitos pelo mesmoCTN, sejam considerados tais conceitos na sua dimensão es-pecífica, deles decorrendo as especificidades quanto àabrangência da responsabilidade em cada uma das hipóteses.

Em determinados casos, pode-se estranhar que a re-sponsabilidade seja apenas pelos tributos, e não pela totalid-ade dos créditos (tributos e multas), mas deve-se compreenderque o CTN busca preservar a pessoalidade da sanção. Assim éque, na maioria das hipóteses de responsabilidade, refere-se àresponsabilidade pelos tributos tão somente, de modo que a re-sponsabilidade pelas infrações (obrigação de pagar as penalid-ades) não se transfere ao sucessor ou a outro terceiro. Ademais,na seção acerca da responsabilidade por infrações, referindo-seà responsabilidade em sentido amplo, como obrigação depagar seja do contribuinte ou do responsável tributário, em-bora estabeleça, como regra, seu caráter objetivo, no sentido de

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que não se tenha de perquirir sobre a “intenção do agente oudo responsável e da efetividade, natureza e extensão dos efei-tos do ato” (art. 136), arrola diversas situações (crimes ou con-travenções, infrações que pressuponham dolo específico e in-frações em que verificado dolo específico do representante con-tra o contribuinte representado) em que o caráter pessoal da re-sponsabilidade resta estabelecido de modo inequívoco (art.137), ou seja, em que é pessoal do agente, e não de qualqueroutra pessoa.

Ainda no que diz respeito à abrangência da responsabil-idade, é relevante considerar que a responsabilidade por su-cessão alcança todos os tributos relativos ao período anterior àsucessão, aplicando-se “por igual aos créditos tributários defin-itivamente constituídos ou em curso de constituição à data dosatos nela referidos, e aos constituídos posteriormente aos mes-mos atos, desde que relativos a obrigações tributárias surgidasaté a referida data” (art. 129).

• Quanto aos efeitos ou ao grau da responsabilidade, po-demos ter:

a) responsabilidade subsidiária, quando se tenha deexigir primeiramente do contribuinte e, apenas nocaso de frustração, do responsável. É o caso maistípico de responsabilidade. Na falta de dispositivoem sentido contrário, presume-se a subsidiariedade.Dentre as hipóteses de responsabilidade previstasno próprio CTN, são subsidiárias as dos arts. 133, II,e 134 do CTN). O STJ também se refere à hipótesedo art. 135 como se de responsabilidade subsidiária

se tratasse.329

b) responsabilidade solidária, quando tanto o con-tribuinte quanto o responsável respondem, sem

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benefício de ordem (art. 124, parágrafo único,); ade-mais, quando há solidariedade, “o pagamento efetu-ado por um dos obrigados aproveita aos demais”, a“a isenção ou remissão de crédito exonera todos osobrigados, salvo se outorgada pessoalmente a umdeles, subsistindo, nesse caso, a solidariedadequanto aos demais pelo saldo” e “a interrupção daprescrição, em favor ou contra um dos obrigados,favorece ou prejudica aos demais”, tudo nos termosdo art. 125, incisos I, II e III, do CTN. Só haverásolidariedade entre responsável e contribuintequando a lei expressamente assim determine, con-forme previsão do art. 124, I, do CTN.

c) responsabilidade pessoal, quando é exclusiva,sendo determinada pela referência expressa aocaráter pessoal ou revelada pelo desaparecimentodo contribuinte originário, pela referência à sub-rogação ou pela referência à responsabilidade integ-ral do terceiro em contraposição à sua responsabiliz-ação ao lado do contribuinte. São pessoais as re-sponsabilidades dos arts. 130, 131, 132, 133, I, e 135

do CTN.330

Vale destacar, quanto a essa questão, que a legislação es-trangeira costuma atribuir caráter subsidiário à maioria das

hipóteses de responsabilidade tributária.331

78. Responsabilidade dos sucessores

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A responsabilidade dos sucessores é disciplinada pelosarts. 129 a 133 do CTN. Inicia o art. 129 dizendo que se aplica atodos os créditos relativos a obrigações surgidas até a sucessão,ainda que constituídos posteriormente.

O art. 130 trata da sucessão da responsabilidade dos ad-quirentes de imóveis, que alcança os créditos relativos a im-postos que tenham como fato gerador a propriedade, odomínio útil ou a posse, bem como os relativos a taxas pelaprestação de serviços referentes ao imóvel, ou ainda os relat-ivos a contribuições de melhoria. A responsabilidade do ad-quirente alcança, assim, o IPTU ou o ITR, que têm como fatogerador a propriedade, mas não o ISS relativo à construção deprédio, pois este tem como fato gerador a prestação de ser-viços. Dentre as taxas, alcança, por exemplo, a taxa de recolhi-mento de lixo. Só resta alcançada pelo dispositivo a con-tribuição de melhoria, não as contribuições previdenciárias re-lativas ao pagamento da mão de obra para construção doimóvel. Os créditos subrogam-se na pessoa do adquirente,“salvo quando conste do título a prova de sua quitação”. Con-forme o parágrafo único do mesmo artigo, no caso de ar-rematação em hasta pública, “a sub-rogação ocorre sobre o re-spectivo preço”. Aliás, conforme já decidiu o STJ, “O créditofiscal perquirido pelo fisco deve ser abatido do pagamento,quando do leilão, por isso que, finda a arrematação, não sepode imputar ao adquirente qualquer encargo ou responsabil-

idade tributária”.332 O arrematante tem direito à certidão neg-

ativa.333

O art. 131 estabelece a responsabilidade pessoal do ad-quirente ou remitente (quem realiza o resgate de dívida) pelostributos relativos aos bens adquiridos ou remidos (inciso I), dosucessor a qualquer título e do cônjuge meeiro, pelos tributosdevidos pelo de cujus até a data da partilha ou adjudicação,

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limitada ao montante do quinhão, do legado ou da meação (in-ciso II) e do espólio, pelos tributos devidos pelo de cujus até adata da abertura da sucessão (inciso III).

O art. 132, por sua vez, define a responsabilidade da pess-oa jurídica de direito privado que resultar de fusão, transform-ação ou incorporação de outra. ou em outra, pelos tributosdevidos. A cisão, embora não referida expressamente, “é mod-alidade de mutação empresarial sujeita, para efeito de re-sponsabilidade tributária, ao mesmo tratamento jurídico con-

ferido às demais espécies de sucessão”.334 Também é respon-sável o sócio, ou seu espólio, que continue a exploração daatividade relativa pessoa jurídica extinta, ou seja, no caso desucessão empresarial de fato.

A responsabilidade por sucessão também ocorre nos caosde aquisição de fundo de comércio ou de estabelecimentocomercial, industrial ou profissional, conforme o art. 133. O ad-quirente que continuar a respectiva exploração responde “in-tegralmente, se o alienante cessar a exploração do comércio, in-dústria ou atividade” (inciso I) ou “subsidiariamente com o ali-enante, se este prosseguir na exploração ou iniciar dentro de 6(seis) meses, a contar da data da alienação, nova atividade nomesmo ou em outro ramo do comércio, indústria ou profissão”(inciso II). Não se dá tal responsabilidade quando a alienaçãoocorra em processo de falência ou em processo de recuperaçãojudicial, desde que o adquirente não seja o próprio sócio, seusparentes, agente da empresa ou sociedade controlada, con-forme os §§ 1º e 2º do art. 133.

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79. Responsabilidade de terceiros, inclusive dossócios-gerentes e administradores

Os arts. 134 e 135 estabelecem a responsabilidade de ter-ceiros, o que, no sistema do código, diz respeito a pessoas quenão são nem os próprios contribuintes, nem seus sucessores.“Terceiros” são os pais, os tutores e curadores, os adminis-tradores de bens de terceiros, o inventariante, o síndico e ocomissário, os tabeliães, escrivães e demais serventuários deofício e os sócios de sociedades de pessoas.

Esses terceiros têm deveres próprios de boa adminis-tração ou de fiscalização cujo cumprimento é capaz de assegur-ar o pagamento dos tributos devidos por seus representados oupelas pessoas que praticaram atos perante eles. Respondemeles “nos atos em que intervierem ou pelas omissões de queforem responsáveis”, conforme os diversos incisos do art. 134.

Caso descumpram seus deveres, passam a garantir ocrédito tributário com seus próprios bens. Assim, por exemplo,o tabelião e o registrador que, por ocasião da lavratura de umaescritura de compra e venda ou do seu registro, deixem de exi-gir as guias comprobatórias do pagamento dos tributos iner-entes à operação ou certidão negativa, passam a ser responsá-

veis pelos respectivos créditos tributários.335

A responsabilidade dos terceiros, nas hipóteses do art.134, tem caráter subsidiário, ocorrendo “nos casos de im-possibilidade do cumprimento da obrigação principal pelo con-

tribuinte”.336 Alcança os tributos e as multas moratórias, con-forme o parágrafo único do art. 134.

Na hipótese de os terceiros referidos no art. 134 daremensejo ao surgimento de crédito tributários ao praticarem atos

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“com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ouestatutos”, sua responsabilidade será pessoal, ou seja, exclu-siva (art. 135, I). A mesma responsabilidade é atribuída, nessescasos, aos mandatários, prepostos e empregados (inciso II),bem como aos “diretores, gerentes ou representantes de pess-oas jurídicas de direito privado” (inciso III). Este último caso,aliás, é a hipótese de responsabilidade tributária mais aplicadae discutida no direito brasileiro.

A responsabilidade de que cuida o art. 135, III, do CTNpressupõe uma situação grave de descumprimento da lei, docontrato social ou dos estatutos em ato que sequer se poderiatomar como constituindo ato regular da sociedade e do qualdecorra a obrigação tributária objeto da responsabilidade, daípor que é pessoal do sócio-gerente.

Tendo em conta que se trata de responsabilidade pessoaldecorrente da prática de ilícito, impende que seja apurada, jána esfera administrativa, não apenas a ocorrência do fatogerador, mas o próprio ilícito que faz com que o débito possaser exigido do terceiro, oportunizando-se aos responsáveis oexercício do direito de defesa. Assim, verificada a responsabil-idade dos diretores nos autos do processo administrativo in-staurado contra a empresa, deve ser lavrado termo apontandoque foi constatada a prática de ilícitos que têm por consequên-cia a sua responsabilização pessoal pelos tributos devidos pelaempresa, dando-se aos supostos responsáveis a possibilidadede oferecerem defesa em nome próprio. Aliás, conforme afirm-ado pelo STF, “Os princípios do contraditório e da ampladefesa aplicam-se plenamente à constituição do créditotributário em desfavor de qualquer espécie de sujeito passivo,irrelevante sua nomenclatura legal (contribuintes, responsá-

veis, substitutos, devedores solidários etc.)”.337 A Portaria RFB2.284/10 dispõe sobre os procedimentos a serem adotados

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nesses casos, valendo ressaltar que deve ser oportunizado aosresponsáveis contestarem tanto o débito como o vínculo eresponsabilidade. É-lhes assegurada, ainda, a possibilidade de

pagamento voluntário antes da inscrição em dívida ativa.338

Somente os “diretores, gerentes ou representantes depessoas jurídicas de direito privado” podem ser responsabiliza-dos, e não todo e qualquer sócio. Faz-se necessário, pois, que osócio tenha exercido a direção ou a gerência da sociedade, compoder de gestão. Efetivamente, a responsabilização exige queas pessoas indicadas tenham praticado diretamente, ou tol-erado, a prática do ato abusivo e ilegal quando em posição deinfluir para a sua não ocorrência. Constitui prova para a config-uração da responsabilidade o fato de o agente encontrar-se nadireção da empresa na data do cumprimento da obrigação, de-vendo ter poderes de decisão quanto ao recolhimento do trib-

uto.339

A mera condição de sócio é insuficiente, pois a conduçãoda sociedade é que é relevante. Daí por que o art. 13 da Lei8.620/93, no que estabelece a solidariedade dos sócios deempresas por cotas de responsabilidade limitada, sem qualquercondicionamento, extrapola o comando do art. 135, III, doCTN, contrariando a norma geral de direito tributário e, port-anto, incorrendo em invasão à reserva de lei complementar,

com ofensa ao art. 146, III, b, da CF.340 Efetivamente, a re-sponsabilidade pessoal dos sócios das sociedades por quotasde responsabilidade limitada, prevista no art. 13 da Lei 8.620/93, só existe quando presentes as condições estabelecidas no

art. 135, III, do CTN.341

Sendo a responsabilidade, assim, do diretor, gerente ourepresentante, e não do simples sócio sem poderes de gestão,também não é possível responsabilizar pessoalmente o diretor

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ou o gerente por atos praticados em período anterior ou pos-terior a sua gestão. Assim, sócios que não tenham tidoqualquer ingerência sobre os fatos não podem ser pessoal-mente responsabilizados pelos créditos tributários decorrentes.

Situação típica de incidência do art. 135, III, do CTN é,sim, a apropriação indébita de contribuições e de impostos,quando a empresa retém os tributos devidos, mas os seussócios-gerentes não cumprem a obrigação de repassar os re-spectivos valores aos cofres públicos.

O mero inadimplemento de obrigação tributária é insu-ficiente para configurar a responsabilidade do art. 135 do CTNna medida em que diz respeito à atuação normal da empresa,inerente ao risco do negócio, à existência ou não de disponibil-idade financeira no vencimento, gerando, exclusivamente,multa moratória a cargo da própria pessoa jurídica. Veja-se aSúmula 430 do STJ: “O inadimplemento da obrigaçãotributária pela sociedade não gera, por si só, a responsabilidadesolidária do sócio-gerente”.

A falência não constitui ato ilícito, não podendo, demodo algum, ser invocada pelo Fisco para justificar a incidên-cia do art. 135, III, do CTN. Aliás, é justamente a falta do re-querimento da autofalência que implica a chamada dissoluçãoirregular, a qual, contudo, a rigor, também não se enquadra naprevisão constante do art. 135 do CTN. Note-se que, ou aempresa encerra suas atividades após o pagamento de todos osseus débitos tributários, obtendo, assim, a certidão negativa in-dispensável à requisição de baixa, ou a encerra com débitosque não tem como saldar. Neste último caso, deverá requerer aautofalência. Muitas vezes, porém, simplesmente fecha asportas deixando credores. Mas, ainda assim, é certo que tal dis-solução irregular (de fato, não de direito) não é fato gerador de

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tributo algum; da dissolução, propriamente, não decorreobrigação tributária nova.

A dissolução irregular tem sido considerada causa para oredirecionamento da execução contra o sócio gerente. Nestesentido, consolidou-se a jurisprudência do STJ, conforme se vêda Súmula 435: “Presume-se dissolvida irregularmente aempresa que deixar de funcionar no seu domicílio fiscal, semcomunicação aos órgãos competentes, legitimando o redirecio-namento da execução fiscal para o sócio-gerente”. Vale desta-car que a o art. 9º, § 3º, da LC 123/06, com a redação da LC139/11, permite a baixa da empresa de pequeno porte que seencontre sem movimento há mais de doze meses nos registrosdos órgãos públicos federais, estaduais e municipais independ-entemente do pagamento de débitos tributários, taxas ou mul-tas. A baixa não impede posterior cobrança dos créditostributários.

80. Responsabilidades estabelecidas pelo legis-lador ordinário

O art. 128 do CTN enseja ao legislador ordinário que es-tabeleça outras hipóteses de responsabilidade tributária alémdaquelas estabelecidas diretamente pelo próprio CTN. Poderácuidar de novos casos; jamais dispor de modo diverso sobre oscasos já previstos no CTN. É o que entende o STF: “O CódigoTributário Nacional estabelece algumas regras matrizes de re-sponsabilidade tributária... bem como diretrizes para que o le-gislador de cada ente político estabeleça outras regras es-pecíficas de responsabilidade tributária relativamente aos trib-utos da sua competência, conforme seu art. 128. 3. O preceito

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do art. 124, II, no sentido de que são solidariamente obrigadas“as pessoas expressamente designadas por lei”, não autoriza olegislador a criar novos casos de responsabilidade tributáriasem a observância dos requisitos exigidos pelo art. 128 doCTN, tampouco a desconsiderar as regras matrizes de re-sponsabilidade de terceiros estabelecidas em caráter geral pelos

arts. 134 e 135 do mesmo diploma”.342

Há alguns dispositivos de leis ordinárias com grande ap-licação, dentre os quais o art. 30, VI, da Lei 8.212/91.

Tal dispositivo estabelece a responsabilidade solidária doproprietário, do incorporador, do dono da obra ou con-dômino, com o construtor, pelo cumprimento das obrigaçõespara com a Seguridade Social, ressalvado o seu direito regress-ivo contra o executor ou contratante da obra e admitida a re-tenção de importância a este devida para garantia documprimento dessas obrigações.

Em vez de simplesmente se referir às atividades inerentesà construção civil e de deixar ao intérprete descortinar suaamplitude, referiu-se expressamente à “construção, reforma ouacréscimo”, delimitando seu âmbito de incidência. São relev-antes, pois, tais definições. “Construção” implica e edificaçãode prédio novo, abrangendo todas as suas fases, desde asfundações até o acabamento. “Reforma” implica alteração emcaracterísticas do prédio, mediante modificações nas divisóriasou aberturas ou substituição de materiais com vista à melhoriana aparência ou na funcionalidade. “Acréscimo” envolve amp-liação, com aumento de área. As obrigações atinentes a con-struções, reformas e acréscimos estão submetidas ao regime deresponsabilidade solidária. Outra é a situação de serviços quepossam ser enquadrados como de simples manutenção, não al-cançados pela norma, como pintar novamente o imóvel que,

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separadamente, não constitui senão mera conservação oumanutenção.

Outro aspecto que merece relevo é que as contribuiçõessobre o pagamento de empregados provavelmente constituamas maiores obrigações para com a seguridade social relacion-adas às obras de construção civil, mas que o dispositivo legalnão restringe às mesmas a responsabilidade estabelecida, poisse refere genericamente às “obrigações para com a SeguridadeSocial”, de modo que abrange também, por exemplo, as con-tribuições retidas dos empregados, bem como as contribuiçõessobre a remuneração de contribuintes individuais e, ainda, asretidas destes, dentre outras que digam respeito à obra.

Caberá ao proprietário, incorporador, dono da obra oucondômino, quando dos pagamentos ao construtor, exigir acomprovação do recolhimento das contribuições previdenciári-as, sob pena de caracterização da sua responsabilidadesolidária. Em face disso, inclusive, a lei os autoriza à retençãoda respectiva importância no caso da não comprovação do re-colhimento pelo construtor.

Contudo, quanto aos efeitos da solidariedade estabele-cida, cabe esclarecer que não autoriza o INSS a efetuar o lança-mento contra o responsável pelo simples fato de não apresentarà fiscalização, quando solicitado, as guias comprobatórias dopagamento, pelo construtor, das contribuições relativas à obra.Impõe-se que o INSS verifique se o construtor efetuou ou nãoos recolhimentos. De fato, não há que se confundir a causa queatrai a responsabilidade solidária do dono da obra (ausência dadocumentação comprobatória do pagamento pelo contribuinte)com a pendência da obrigação tributária em si. A responsabil-idade solidária recai sobre obrigações que precisam ser apura-das adequadamente, junto aos empreiteiros/construtores con-tribuintes, de modo a se verificar a efetiva base de cálculo e a

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existência de pagamentos já realizados, até porque, na solidar-iedade, o pagamento efetuado por um dos obrigados aproveita

aos demais, nos termos do art. 125, I, do CTN.343 A análise dadocumentação do construtor é, assim, indispensável ao lança-mento. Em existindo dívida, poderá ser exigida de um ou deoutro, forte na solidariedade, sem benefício de ordem, con-

forme se infere do art. 124, parágrafo único, do CTN.344

81. Responsabilidade por infrações, multas edenúncia espontânea

Ao referir-se à responsabilidade por infrações, o CTN serefere à responsabilidade em sentido amplo, como obrigaçãode pagar que tanto pode ser do contribuinte como do substi-tuto ou do responsável tributário, conforme o caso.

Há três regras gerais na matéria:

1ª REGRA: A primeira estabelece o caráter objetivo dasanção, com o efeito de afastar qualquer exigência deculpa ou dolo para a caracterização da infração, com oque se tornaria desnecessário perquirir da intenção doagente (art. 136, primeira parte), o que não dispensa,contudo, que tenha praticado o ato ou concorrido para omesmo.

2ª REGRA: A segunda é no sentido de que a responsab-ilidade por infrações independe da efetividade,natureza e extensão dos efeitos do ato, ou seja, pratic-ado o ato que a legislação indica como infração a que

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comina multa, não se perquire outros aspectos atinentesà situação (art. 136, segunda parte).

3ª REGRA: A terceira estabelece o caráter pessoal da re-sponsabilidade pelas infrações que configuram tam-bém crimes ou contravenções, definidas por dolo es-pecífico ou que envolvam dolo específico dos repres-entantes contra os representados (art. 137, incisos I, II eIII).

Quanto ao caráter objetivo da sanção, a questão precisaser analisada cum grano salis. Conforme já destacou o STJ,“Tratando-se de infração tributária, a sujeição à sanção corres-pondente impõe, em muitos casos, o questionamento acerca doelemento subjetivo, em virtude das normas contidas no art. 137

do CTN, e da própria ressalva prevista no art. 136”.345 Já se de-cidiu, também, que é de se afastar a multa por infração aobrigação acessória (apresentar livros) quando o contribuintetenha deixado de cumpri-la sem qualquer culpa, pois não es-

tava ao seu alcance fazê-lo.346 Também é do STJ o entendi-mento de que “Apesar de prever o art. 136 do CTN que a re-sponsabilidade do contribuinte ao cometer um ilícito é objetiva,admitem-se temperamentos na sua interpretação, diante dapossibilidade de aplicação da eqüidade e do princípio da lei

tributária in dubio pro contribuinte – arts. 108, IV e 112...”.347

Não é por outra razão que RUY BARBOSA NOGUEIRA ensina:“... o que o art. 136, em combinação com o item III do art. 112,deixa claro é que para a matéria da autoria, imputabilidade oupunibilidade, somente é exigida a intenção ou dolo para oscasos das infrações fiscais mais graves e para as quais o textoda lei tenha exigido esse requisito. Para as demais, isto é, nãodolosas, é necessário e suficiente um dos três graus de culpa.De tudo isso decorre o princípio fundamental e universal,

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segundo o qual se não houver dolo nem culpa, não existe in-

fração da legislação tributária”.348 LUCIANO AMARO tam-bém pondera: “... o dispositivo não diz que a responsabilidadepor infrações independa da culpa. Ele diz que independe da‘intenção’. Ora, intenção, aqui, significa vontade: eu quero lesaro Fisco. Eu quero ludibriar a arrecadação do tributo. Isto évontade. Isto é intenção. (...) O Código não está aqui dizendoque todos podem ser punidos independentemente de

culpa”.349 E prossegue: “Se ficar evidenciado que o indivíduonão quis descumprir a lei, e o eventual descumprimento se de-veu a razões que escaparam a seu controle, a infração ficarádescaracterizada, não cabendo, pois, falar-se em responsabilid-

ade”.350 THIAGO DA PAIXÃO RAMOS também afirma que“o fato de o art. 136 do CTN dispor que a referida responsabil-idade independe da intenção do agente ou do responsável,bom como da efetividade, natureza e extensão dos efeitos doato, não autoriza, de modo nenhum, a concluir que tal re-sponsabilidade também independe da culpa do sujeitopassivo”. Assim, “ocorrendo a infração da legislação tributáriahá a presunção relativa de culpa do sujeito passivo. mas, vindoeste a provar que não teve culpa no cometimento da infração,

não há que se falar em sua autuação”.351

De grande aplicação é, também, o art. 138 do CTN, quecuida da denúncia espontânea.

A denúncia espontânea é um instituto jurídico tributárioque tem por objetivo estimular o contribuinte infrator a tomar ainiciativa de se colocar em situação de regularidade, pagandoos tributos que omitira, com juros, mas sem multa. Restringe-sea créditos cuja existência seja desconhecida pelo Fisco e que se-quer estejam sendo objeto de fiscalização, de modo que, nãofosse a iniciativa do contribuinte, talvez jamais viessem a ser

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satisfeitos. Na medida em que a responsabilidade por infraçõesresta afastada apenas com o cumprimento da obrigação e que ocontribuinte infrator, não o fazendo, resta sempre ameaçado deser autuado com pesadas multas, preserva-se a higidez do sis-tema, não se podendo ver na denúncia espontânea nenhum es-tímulo à inadimplência, pelo contrário.

Dispõe o CTN: “Art. 138. A responsabilidade é excluídapela denúncia espontânea da infração, acompanhada, se for ocaso, do pagamento do tributo devido e dos juros de mora, oudo depósito da importância arbitrada pela autoridade adminis-trativa, quando o montante do tributo dependa de apuração”.

O parágrafo único do art. 138 do CTN deixa claro que,juridicamente, para os fins do art. 138, é considerado es-pontâneo o pagamento realizado pelo contribuinte antes de so-frer fiscalização tendente à constituição do crédito tributário. Oart. 196 do CTN, positivando o princípio documental, exige quea autoridade fiscal lavre termo de início do procedimento. Essetermo é o marco a partir do qual não se pode mais falar emdenúncia espontânea. Aliás, o § 2º do art. 7º do PAF dispõe nosentido de que o ato de início da fiscalização afasta a espon-taneidade por 60 dias.

Mas há casos em que não há que se falar em início de fisc-alização, pois o próprio lançamento resta desnecessário em faceda formalização do crédito tributário por outro meio: a de-claração de dívida pelo contribuinte. Com a declaração, já setem crédito tributário formalizado e do conhecimento do fisco,estando este habilitado para a sua inscrição em dívida ativa ecobrança, de modo que o pagamento após a declaração nãotem caráter espontâneo. Neste sentido, a Súmula 360 do STJ:“O benefício da denúncia espontânea não se aplica aos tributossujeitos a lançamento por homologação regularmente declara-dos, mas pagos a destempo”.

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Conforme entendimento do STJ, o instituto da denúnciaaplica-se somente a infrações que tenham implicado o nãopagamento de tributo devido. Diz respeito, assim, à obrigaçãoprincipal, sendo inaplicável às infrações relativas ao des-

cumprimento de obrigações acessórias.352 Entendemos demodo diverso. Para nós, a denúncia espontânea alcança, sim, asobrigações acessórias. Isso porque o descumprimento dessastambém constitui infração à legislação tributária e não há razãoalguma que possa embasar satisfatoriamente a não aplicaçãodo art. 138 do CTN às obrigações acessórias. Pelo contrário, aexpressão “se for o caso”, constante deste artigo, cumpre justa-mente este papel integrador das obrigações acessórias, deixan-do claro que nem sempre o cumprimento da obrigaçãotributária implicará pagamento de tributo, pois há os simplesdeveres formais de fazer, não fazer ou tolerar que caracterizamobrigações acessórias.

Não basta a simples informação sobre a infração, desa-companhada do pagamento. Pelo contrário, é requisito indis-pensável à incidência do art. 138 que o contribuinte se coloqueem situação regular, cumprindo suas obrigações. Para queocorra a denúncia espontânea, com o efeito de elisão daspenalidades, exige-se o pagamento tributo e dos jurosmoratórios. Considera-se que a correção monetária integra ovalor do tributo devido. O pagamento dos juros moratórios,por sua vez, está previsto no próprio caput do art. 138 como re-quisito para a exclusão da responsabilidade pelas infrações.Não são, pois, afastados pela denúncia espontânea. A legis-lação federal estabelece a obrigação de pagar os tributos atrasa-dos acrescidos da SELIC, índice que abrange tanto correçãocomo juros.

Não há exigência de forma especial. Como os pagamen-tos de tributos são efetuados através de guias em que constam,

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expressamente, o código da receita (qual o tributo pago), acompetência, o valor principal e de juros, o simples recolhi-mento a destempo, desde que verificada a espontaneidade, im-plica a incidência do art. 138 do CTN, não se fazendo ne-cessária comunicação especial ao Fisco.

O pedido de parcelamento, normalmente acompanhadodo pagamento da 1ª parcela, não é considerado suficiente paraensejar a incidência do art. 138 do CTN, que pressupõe o paga-mento integral do tributo e dos juros devidos. A Súmula 208do extinto TFR já dispunha: “A simples confissão da dívida,acompanhada do seu pedido de parcelamento, não configuradenúncia espontânea”.

A denúncia espontânea exclui a responsabilidade tantopela multa moratória como pela multa de ofício.

Multas moratórias simplesmente são devidas quando,embora reconhecido formalmente o débito pelo contribuinte,não é pago no vencimento. Multas de ofício são as aplicadaspela própria autoridade através de auto de infração quando elaprópria verifique que o contribuinte deixado de pagar tributosobre fato gerador ou base de cálculo de que apurado tributoomitido ou sonegado pelo contribuinte e que não tenha sidoobjeto de declaração nem de confissão por parte deste.

O STJ entende o art. 138 não se aplica às multas por des-cumprimento de obrigações acessórias: “Inaplicável o institutoda denúncia espontânea quando se trata de multa isolada im-

posta em face do descumprimento de obrigação acessória”.353

É absolutamente descabida a discussão sobre a naturezada multa, se multa de ofício ou multa moratória, para fins deexclusão da responsabilidade pela denúncia espontânea. Emprimeiro lugar, é preciso destacar que a multa de ofício éaquela aplicada pela autoridade quando da lavratura de autode infração relativamente a débito não declarado nem

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confessado pelo contribuinte. Em tais situações, não há que sefalar em denúncia espontânea. Presente a espontaneidade ehavendo o reconhecimento do débito pelo contribuinte, jamaisse poderá perquirir da aplicação da multa de ofício, mas tãosomente da multa moratória, a qual, contudo, efetuado o paga-mento do tributo e dos juros, resta excluída por força do art.138 do CTN. Note-se que, quando o contribuinte reconhece odébito e não procede ao imediato pagamento, paga posterior-mente com multa de mora. Fosse devida a multa de mora nadenúncia espontânea, a norma não faria sentido. Efetivamente,a única multa de que se cogita na ausência de lançamento éjustamente a moratória, já que as ditas multas de ofício de-pendem da lavratura de auto de infração. Sempre que o con-tribuinte paga antes de ser notificado para tanto, o faz, no máx-imo, com a multa de mora tão somente, de modo que a denún-cia espontânea, que pressupõe a espontaneidade, só pode ter oefeito de afastar a multa que, sem o favor fiscal, seria exigível,qual seja, a moratória.

A multa moratória constitui penalidade decorrente dodescumprimento da obrigação tributária no vencimento, diver-samente dos juros moratórios que apenas compensam o atrasono pagamento. A multa moratória, por isso, resta excluídafrente à denúncia espontânea. Só não haverá exclusão se o con-tribuinte, anteriormente, já tiver efetuado declaração do mont-ante devido, pois, neste caso, o débito já é do conhecimento dofisco, restando afastada a espontaneidade quanto ao paga-mento, na medida em que seria cobrado.

82. Solidariedade

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A solidariedade é um instituto jurídico que define o graudas relações entre os devedores e entre estes e o credor, indic-ando que cada um responde pela dívida toda, sem benefício deordem.

O Código Civil dispõe sobre a solidariedade em seus arts.275 a 285. O CTN, por sua vez, estabelece alguns casos de re-sponsabilidade tributária e torna inequívocos seus efeitos.

O art. 124 do CTN diz que são solidariamente obrigadas“as pessoas que tenham interesse comum na situação que con-stitua o fato gerador da obrigação principal” (art. 124, I) e deixaao legislador ordinário estabelecer outros casos de solidar-iedade (art. 124, II).

Têm interesse comum aqueles que figuram conjunta-mente como contribuintes, como os coproprietários de umimóvel relativamente ao IPTU ou à taxa de recolhimento delixo.

A solidariedade que venha a ser estabelecida pelo legis-lador ordinário pressupõe que a própria condição de devedortenha suporte legal suficiente. O art. 124, II, do CTN não autor-iza o legislador a criar, a título de solidariedade, novos casos deresponsabilidade tributária sem a observância dos requisitos

exigidos pelo art. 128 do CTN.354 Conforme ensina MisabelDerzi, a solidariedade não é “forma de inclusão de um terceirono pólo passivo da obrigação tributária, apenas forma degraduar a responsabilidade daqueles sujeitos que já compõem

o pólo passivo”.355 O legislador ordinário também não podedeterminar a solidariedade entre devedores que, por força dedispositivo constante do próprio CTN, devam respondemsubsidiariamente.

O CTN torna inequívoca a ausência de benefício de or-dem para os devedores solidários (art. 124, I e parágrafo único)

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e que, quando há solidariedade, “o pagamento efetuado porum dos obrigados aproveita aos demais”, “a isenção ou remis-são de crédito exonera todos os obrigados, salvo se outorgadapessoalmente a um deles, subsistindo, nesse caso, a solidar-iedade quanto aos demais pelo saldo” e “a interrupção da pre-scrição, em favor ou contra um dos obrigados, favorece ou pre-judica aos demais” (art. 125, I, II e III, do CTN).

83. Capacidade tributária

A capacidade tributária passiva é a possibilidade de al-guém figurar como sujeito passivo de uma obrigaçãotributária, seja principal ou acessória, ficando obrigado acumpri-la e a responder por eventual inadimplemento.

A matéria é regulada, em nível de normas gerais deDireito Tributário, pelo art. 126 do CTN.

Conforme tal dispositivo, a capacidade tributária passiva“independe: I – da capacidade civil das pessoas naturais; II – deachar-se a pessoa natural sujeita a medidas que importemprivação ou limitação do exercício de atividades civis, comerci-ais ou profissionais, ou da administração direta de seus bens ounegócios; III – de estar a pessoa jurídica regularmente con-stituída, bastando que configure uma unidade econômica eprofissional”.

Conclui-se, pois, que quem realiza o fato gerador estáobrigado ao pagamento do tributo, ainda que não tenha ounão esteja no gozo de capacidade civil plena ou que esteja atu-ando mediante sociedade irregular ou de fato.

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84. Cadastros de contribuintes

O art. 146, parágrafo único, inciso IV, da CF, acrescidopela EC 42/03, autoriza o estabelecimento, por lei complement-ar, de cadastro nacional único de contribuintes.

A incorporação da antiga Secretaria da Receita Previden-ciária pela Secretaria da Receita Federal, que passou adenominar-se Secretaria da Receita Federal do Brasil, por forçada Lei 11.457/07, constituiu importante passo para a padroniz-ação de procedimentos e unificação de cadastros.

LC 123/06, que cuida do Estatuto Nacional da Mi-croempresa e da Empresa de Pequeno Porte, não chegou a es-tabelecer cadastro único, embora em seu art. 4º refira que ostrês âmbitos de governo deveriam considerar a unicidade doprocesso de registro e de legalização de empresários na elabor-ação das normas de sua competência. A LC 139/11 dispõe nosentido de que os cadastros fiscais estadual ou municipalpoderão ser simplificados ou ter sua exigência postergada parao Microempreendedor Individual, sem prejuízo da emissão dedocumentos fiscais de compra, venda ou prestação de serviços.

Contudo, ainda não sobreveio o pretendido cadastornacional único. Aliás, mesmo quanto aos tributos federais, hámais de um cadastro.

As pessoas físicas possuem um número de inscrição juntoà Secretaria da Receita Federal (CPF) e outro junto ao INSS(NIT).

A inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas é obrigatória,dentre outros, para todas as pessoas físicas sujeitas à ap-resentação de declaração de rendimentos, às pessoas comrendimentos retidos pela fonte pagadora ou obrigadas ao paga-mento pelo carnê-leão, aos profissionais liberais, aos titulares

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de conta bancária ou de aplicações e aos contribuintes indi-

viduais ou requerentes de benefícios do INSS.356

Mas, para os recolhimentos previdenciários, não basta oCPF. Impende que seja indicado o número de inscrição junto aoINSS. Os trabalhadores em geral são inscritos no Cadastro Na-cional de Informação Social – CNIS mediante atribuição de umNúmero de Inscrição do Trabalhador (NIT), que pode corres-ponder à sua inscrição no INSS, no PIS, no PASEP ou no SUS.

As pessoas jurídicas e entidades equiparadas têm, comoprimeira das suas obrigações acessórias, condição ao própriofuncionamento regular, a inscrição no Cadastro Nacional da

Pessoa Jurídica (CNPJ).357 Haverá um mesmo CNPJ com ter-minação distinta para cada estabelecimento. Mas a empresapode optar por centralizar na matriz o recolhimento dos tribut-os devidos por todos os seus estabelecimentos. Nesse caso, oCNPJ da matriz é considerado como CNPJ-centralizador.

85. Domicílio tributário

O domicílio tributário é o local em que o contribuinte re-ceberá notificações e intimações com efeito legal. É extrema-mente relevante, pois o art. 23, inciso II, do Dec. 70.235/72, porexemplo, considera realizada a intimação “por via postal,telegráfica ou por qualquer outro meio ou via, com prova derecebimento no domicílio tributário eleito pelo sujeito passivo”.

Conforme o art. 127 do CTN, pode o contribuinte elegerseu domicílio, desde que não impossibilite ou dificulte a fiscal-ização e a arrecadação, hipótese em que a autoridade

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administrativa poderá recusá-lo com a devida motivação.Efetivamente, a eleição de domicílio tributário situado em mu-nicípio em que não resida o contribuinte, em que não tenha asede das suas atividades e em que não se situe o seu pat-rimônio pode criar embaraço à fiscalização, justificando que o

fisco fixe o domicílio de ofício.358

Na falta de eleição, o domicílio será, para a pessoa física,sua residência habitual ou, se incerta ou desconhecida, o centrohabitual das suas atividades e, para a pessoa jurídica dedireito privado ou firma individual, o lugar da sua sede ou ode cada estabelecimento para os atos ou fatos que derem ori-gem à obrigação, o que se costuma referir como adoção doprincípio da autonomia do estabelecimento. Para as pessoasjurídicas de direito público, consideram-se domiciliadas emqualquer das suas repartições. Na impossibilidade de fixaçãodo domicílio com base em tais critérios, será considerado dom-icílio o lugar da situação dos bens ou da ocorrência dos atos oufatos geradores, tudo conforme os incisos do art. 127 do CTN.

Importa destacar, ainda, que a Lei 11.196/05 alterou o art.23 do Dec. 70.235/72 para fazer constar do seu inciso III a pos-sibilidade de intimação “por meio eletrônico, com prova de re-cebimento, mediante: a) envio ao domicílio tributário do sujeitopassivo; ou b) registro em meio magnético ou equivalente util-izado pelo sujeito passivo”, sendo certo que já restou inclusiveregulamentada por instrução normativa a opção por domicíliotributário eletrônico para efeito de comunicação de atosoficiais.

Notas do Capítulo VII

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317 “Hemos definido las prestaciones formales con aquellas que son objeto dedeberes de hacer, no hacer o soportar inherentes a la gestión de los tributos.Son prestaciones instrumentales, no materiales y no pecuniarias. Y son tantascomo la ley reguladora de cada tributo considere necesarias para la efectivaaplicación del mismo. Pueden catalogarse, no obstante, en algunos grandesgéneros y, dentro de ellos, deslindar prestaciones especiales, concretas. Losgrandes géneros son, a nuestro juicio, el deber de declarar, el de informar, elde contabilizar y conservar documentos, y el de facilitar las comprobaciones ycontroles administrativos.” (LAGO MONTERO, José Maria. La Sujeción a losDiversos Deberes y Obligaciones Tributarios. Madrid: Marcial Pons, 1998, p. 104).

318 DL 486/69, art. 5º.

319 A DCTF é regulamentada pela IN RFB 974/09.

320 “Simples se consideram os atos produzidos pela declaração de vontadede um só agente, ou de dois ou mais agentes constituídos em partes reciproc-amente contrapostas. Dizem-se complexos, em sentido amplo, os atos result-antes do concurso de várias vontades paralelas.” (RAO, Vicente. Ato Jurídico.4ª ed. São Paulo: RT, 1999, p. 57).

321 “A doutrina do direito público, mais notadamente direito administrativo,costuma referir-se (a) a atos complexos e (b) a atos compostos, assim consid-erados aqueles atos jurídicos de direito público para cuja realização se exige aprática de vários atos e deliberações que lhes são condicionantes. A diferençaentre eles residiria na circunstância de que, no primeiro (a), o conjunto de atose deliberações que o integram seriam praticados por órgãos integrantes deum mesmo Poder do Estado ou entidade administrativa autônoma, enquantoo segundo (b) se comporia de atos e deliberações praticados por órgãos dePoderes ou entidades diversos.” (MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do FatoJurídico: Plano da Existência. 13ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 159/160).

322 É o caso das Lei 9.393/96, que institui o ITR, e da Lei 9.311/96, que in-stitui a CPMF.

323 STJ, AgRgAg 763.269 e AgRgAg 747.266.

324 Não é de se admitir, como destaca JARACH, “um hiato artificioso entre elhecho imponible y la unidad de medida, o base imponible.” (JARACH, D. ElHecho Imponible: Teoría General del Derecho Tributario Sustantivo. 2ª ed.Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1971, p. 113).

325 Diferentemente da competência tributária que é indelegável.

326 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministra ELLEN GRACIE, RE 562276, 2011.

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327 A Lei 8.620/93, que dispôs sobre a responsabilidade dos sócios de so-ciedades por quotas de responsabilidade limitada, estabelecendo pura esimples solidariedade relativamente aos débitos junto à Seguridade Social, emsobreposição ao já disciplinado pelo art. 135 do CTN, que estabelecia requisi-tos mais rígidos para a responsabilização dos sócios, teve a sua inconstitu-cionalidade reconhecida pelo Tribunal Pleno do TRF4, AI 1999.04.01.096481-9.Vide, também, do STF, o RE 562.276.

328 STJ, REsp 295.222 e REsp 592.007.

329 STJ, Segunda Turma, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, AgRg noREsp 1196377, 2010; STJ, Segunda Turma, Rel. Ministro CASTRO MEIRA,REsp 1091593, 2010.

330 O art. 41 da Lei 8.212/91 também estabelece caso de responsabilidadepessoal em que restam claros os seus efeitos: “Art. 41. O dirigente de órgão ouentidade da administração federal, estadual, do Distrito Federal ou municip-al, responde pessoalmente pela multa aplicada por infração de dispositivosdesta Lei e do seu regulamento, sendo obrigatório o respectivo desconto emfolha de pagamento, mediante requisição dos órgãos competentes e a partirdo primeiro pagamento que se seguir à requisição.”

331 O § 219 da Abgabenordnung alemã, o art. 22º, apartado 3, da Lei GeralTributária portuguesa e o art. 41.2 da Ley General Tributaria espanhola es-tabelecem o caráter subsidiário da responsabilidade, salvo determinação legalexpressa em contrário.

332 STJ, Primeira Turma, Relator para o acórdão Ministro LUIZ FUX, REsp819.808, 2006.

333 STJ, Segunda Turma, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,REsp 909.254, 2008.

334 STJ, Primeira turma, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, REsp852.972, 2010.

335 Vejam-se, a respeito, também os arts. 48 e 49 da Lei 8.212/91.

336 “10. Flagrante ausência de tecnicidade legislativa se verifica no artigo 134,do CTN, em que se indica hipótese de responsabilidade solidária ‘nos casosde impossibilidade de exigência do cumprimento da obrigação principal pelocontribuinte’, uma vez cediço que o instituto da solidariedade não se coadunacom o benefício de ordem ou de excussão. Em verdade, o aludido preceitonormativo cuida de responsabilidade subsidiária.” (STJ, Primeira Seção, Rel.Ministro LUIZ FUX, EREsp 446.955, 2008).

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337 STF, Segunda Turma, Rel. Ministro JOAQUIM BARBOSA, RE 608426AgR, 2011.

338 Também dispõe sobre a matéria a Portaria PGFN 180/2010.

339 Conclusão tomada por maioria no Iº Encontro Nacional de Juízes Federaissobre Processo de Execução Fiscal, promovido pela AJUFE em 1999.

340 “5. O art. 135, III, do CTN responsabiliza apenas aqueles que estejam nadireção, gerência ou representação da pessoa jurídica e tão-somente quandopratiquem atos com excesso de poder ou infração à lei, contrato social ou es-tatutos. Desse modo, apenas o sócio com poderes de gestão ou representaçãoda sociedade é que pode ser responsabilizado, o que resguarda a pessoalid-ade entre o ilícito (mal gestão ou representação) e a conseqüência de ter de re-sponder pelo tributo devido pela sociedade. 6. O art. 13 da Lei 8.620/93 nãose limitou a repetir ou detalhar a regra de responsabilidade constante do art.135 do CTN, tampouco cuidou de uma nova hipótese específica e distinta. Aovincular à simples condição de sócio a obrigação de responder solidariamentepelos débitos da sociedade limitada perante a Seguridade Social, tratou amesma situação genérica regulada pelo art. 135, III, do CTN, mas de modo di-verso, incorrendo em inconstitucionalidade por violação ao art. 146, III, daCF. 7. O art. 13 da Lei 8.620/93 também se reveste de inconstitucionalidadematerial, porquanto não é dado ao legislador estabelecer confusão entre ospatrimônios das pessoas física e jurídica, o que, além de impor desconsider-ação ex lege e objetiva da personalidade jurídica, descaracterizando as so-ciedades limitadas, implica irrazoabilidade e inibe a iniciativa privada, afront-ando os arts. 5º, XIII, e 170, parágrafo único, da Constituição. 8. Reconhecida ainconstitucionalidade do art. 13 da Lei 8.620/93 na parte em que determinouque os sócios das empresas por cotas de responsabilidade limitada respon-deriam solidariamente, com seus bens pessoais, pelos débitos junto à Segurid-ade Social.” (STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministra ELLEN GRACIE, RE 562276,2011).

341 STJ, REsp 796.613/RS.

342 STF, Tribunal Pleno, relatora a Ministra ELLEN GRACIE, RE 562276,2011.

343 CTN: Art. 125. Salvo disposição de lei em contrário, são os seguintes osefeitos da solidariedade: I – o pagamento efetuado por um dos obrigadosaproveita aos demais;

344 CTN: Art. 124. São solidariamente obrigadas: I – as pessoas que tenhaminteresse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação prin-cipal; II – as pessoas expressamente designadas por lei. Parágrafo único. Asolidariedade referida neste artigo não comporta benefício de ordem.

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345 STJ, 1ª T., REsp 777.732/MG, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, ago/08.

346 STJ, 2ª T., REsp 254.276/SP, HUMBERTO MARTINS, mar/07.

347 REsp 278.324/SC; Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJ 13.3.2006.

348 NOGUEIRA, Ruy Barbosa. Curso de Direito Tributário. 14ª ed. São Paulo:Saraiva: 1995, p. 106-107.

349 AMARO, Luciano da Silva. Infrações Tributárias. RDT nº 67, São Paulo:Malheiros, p. 32/33.

350 AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro.15ª ed. São Paulo: Saraiva,2009, p. 444-445.

351 BOTELHO, Thiago da Paixão Ramos. Interpretação do art. 136 do CTN....RDDT 169/162, out/09.

352 “MULTA MORATÓRIA. ART. 138 DO CTN. ENTREGA EM ATRASODA DECLARAÇÃO DE RENDIMENTOS. 1. A denúncia espontânea não temo condão de afastar a multa decorrente do atraso na entrega da declaração derendimentos, uma vez que os efeitos do artigo 138 do CTN não se estendemàs obrigações acessórias autônomas.” (STJ, Segunda Turma, Rel. MinistroCASTRO MEIRA, AgRg no AREsp 11.340/SC, 2011)

353 STJ, AgRgREsp 916.168.

354 STF, Tribunal Pleno, relatora a Ministra ELLEN GRACIE, RE 562276,2011.

355 Veja-se o ensinamento de MISABEL ABREU MACHADO DERZI em notade atualização à obra do Ministro ALIOMAR BALEEIRO. In: Direito TributárioBrasileiro, 11ª ed. Rio de Janeiro: Forense, p. 729: “4. A solidariedade não éforma de eleição de responsável tributário. A solidariedade não é espécie desujeição passiva por responsabilidade indireta, como querem alguns. OCódigo Tributário Nacional, corretamente, disciplina a matéria em seção pró-pria, estranha ao Capítulo V, referente à responsabilidade. É que a solidar-iedade é simples forma de garantia, a mais ampla das fidejussórias. Quandohouver mais de um obrigado no pólo passivo da obrigação tributária (mais deum contribuinte, ou contribuinte e responsável, ou apenas uma pluralidadede responsáveis) o legislador terá de definir as relações entre os coobrigados.Se são eles solidariamente obrigados, ou subsidiariamente, com benefício deordem ou não etc. A solidariedade não é, assim, forma de inclusão de um ter-ceiro no pólo passivo da obrigação tributária, apenas forma de graduar a re-sponsabilidade daqueles sujeitos que já compõem o pólo passivo.”

356 O Cadastro de Pessoas Físicas é regulamentado pela IN RFB 1.042/2010.

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357 O Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica é regulamentado pela IN RFB1.005/2010.

358 STJ, RE 437.383.

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Capítulo VIII – Constituição doCrédito Tributário

86. Natureza do crédito tributário

A relação obrigacional tributária, de pagar tributo ou pen-alidade, tem duas faces: obrigação e crédito.

Não se pode falar de uma obrigação de prestar dinheiro,senão vinculando um devedor a um credor. Quem deve pagar,deve pagar a alguém e, portanto, se há obrigação, há também orespectivo crédito.

Obrigação e crédito, portanto, sob o ponto de vista dafenomenologia de tal relação, surgem concomitantemente. Sãoas duas faces de uma mesma moeda.

Mas, desta correspondência, não se pode tirar efeitos ab-solutos, pois o CTN, em seu artigo 142, dá, à expressão “créditotributário” sentido muito específico, pressupondo certeza e li-quidez decorrentes da formalização do crédito tributário medi-ante a verificação de que o fato gerador ocorreu, a identificaçãodo sujeito passivo e a apuração do montante devido.

Nesta acepção, pode-se dizer que, enquanto a obrigaçãotributária surge com o fato gerador (art. 113, § 1º), o crédito

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tributário só se considera constituído com a produção do atoque formaliza a sua existência e lhe dá exigibilidade.

Aliás, a referência à constituição do crédito tributário pelolançamento, no art. 142 do CTN, embora imprópria, pois ocrédito surge juntamente com a obrigação, quando da ocorrên-cia do fato gerador, bem revela a intenção do legislador de quenão se possa opor o crédito tributário ao contribuinte, sem queesteja representado documentalmente, com a certeza e a li-quidez daí decorrentes.

87. Existência, exigibilidade e exequibilidade

Com o surgimento da relação jurídico-tributária, decor-rente da incidência da norma tributária impositiva sobre o fatogerador, surgem o débito e o crédito tributários.

Apenas quando formalizada (documentada) a sua ex-istência e liquidez, porém, é que o CTN considera constituído ocrédito e que o Fisco pode opor ao contribuinte a sua existênciae dele exigir seu cumprimento. Diz-se, então, que o créditoganha exigibilidade, no sentido de o Fisco poder agir peranteo contribuinte exigindo-lhe o pagamento.

Na hipótese de inadimplemento por parte do con-tribuinte, o Fisco pode encaminhar o seu crédito devidamenteformalizado e, portanto, exigível, para inscrição em dívidaativa e extrair a respectiva Certidão de Dívida Ativa,produzindo, assim, o título executivo extrajudicial que lhe daráexequibilidade.

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88. Constituição ou formalização do créditotributário

A constituição ou formalização do crédito tributário, ouseja, a representação documental de que o crédito existe emdeterminado montante perante um certo contribuinte ciente dasua obrigação pode se dar de várias maneiras, não estando, demodo algum, restrita ao lançamento por parte da autoridade.

É feita pelo contribuinte, cumprindo suas obrigaçõesacessórias de apurar e declarar os tributos devidos (e.g., de-claração de rendimentos, DCTF, GFIP), ou pelo Fisco atravésda lavratura de auto de lançamento, auto de infração ou noti-ficação fiscal de lançamento de débito (o nome é irrelevante,importa é que se cuide de ato da autoridade através do qualtenha sido verificado que o fato gerador e a infração ocorreram,calculado o tributo e a penalidade e notificado o contribuintepara pagar). Até mesmo por ato Judicial, nas ações trabalhistas,é formalizado o crédito relativo a contribuiçõesprevidenciárias.

O CTN não regula a constituição ou formalização docrédito através de declaração ou de confissão do contribuinte,tampouco aquela realizada nas ações trabalhistas. Trata, apenase exclusivamente, da constituição do crédito tributário atravésde ato da autoridade em seu art. 142, ou seja, por lançamento.

Isso poderia levar ao entendimento equivocado de que,dispondo o CTN sobre as normas gerais de Direito Tributárioem nível de lei complementar e disciplinando apenas o lança-mento de ofício, fosse esta a única modalidade de formalizaçãodo crédito tributário, de modo que as outras seriam inválidas,irregulares, sem sustentação.

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Em verdade, o lançamento de ofício, relativamente aostributos para os quais a lei prevê a obrigação do contribuinte deapurar e pagar, assume caráter tão somente supletivo. Age oFisco quando o contribuinte não o faz, ou não o faz satisfat-oriamente, deixando não apenas de efetuar o pagamento domontante devido como de depositá-lo ou de declará-lo aoFisco. Quando o contribuinte, embora não efetuando o paga-mento, reconhece formalmente o débito, através de declarações(obrigações acessórias), confissões (e.g., para a obtenção de par-celamentos) ou mesmo da realização de depósito suspensivoda exigibilidade, resta dispensado o lançamento, pois tudo oque o ato de lançamento por parte da autoridade apuraria járesta formalizado e reconhecido pelo contribuinte.

Ou seja, embora o CTN diga da constituição do créditotributário pelo lançamento realizado de ofício pela autoridade,há situações em que tal lançamento não se faz necessário,porque já foi definida a certeza e liquidez do crédito tributárioem documento produzido pelo próprio contribuinte.

Cabe reforçar que o ato do contribuinte não deve ser de-nominado de “lançamento”. Lançamento, por força do art. 142do CTN, é ato privativo da autoridade. O ato do contribuinte,isto sim, faz as vezes do lançamento, dispensando-o, na me-dida em que já documenta a existência e liquidez do créditotributário e revela a inequívoca ciência quanto à obrigaçãorespectiva.

89. Pagamento, depósito, declaração ou confissãodo contribuinte

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A quase totalidade dos tributos é sujeita a lançamento porhomologação, ou seja, a lei determina que o contribuinte apuree pague o tributo por ele devido, restando à AdministraçãoTributária a fiscalização da atividade do contribuinte. Poderácom ela concordar, homologando-a expressa ou tacitamente, oudela discordar, lançando de ofício eventual diferença, aindadevida.

Quando o contribuinte preenche guia DARF e efetua opagamento do tributo, ou quando preenche guia de depósitopara sua vinculação a uma ação, buscando o efeito do art. 151,II, do CTN, está a formalizar a existência, certeza e liquidez docrédito, indicando o tributo, a competência e o valor. Nestescasos, é desnecessário que haja lançamento de ofício quanto aovalor pago ou depositado, não se falando, pois, em decadência

relativamente a tais valores.359

Normalmente, atreladas à obrigação do contribuinte deapurar e pagar os tributos, estão obrigações acessórias de de-clarar ao Fisco o montante apurado, o valor dos pagamentosfeitos e as compensações realizadas.

Tais declarações, resultantes de apuração, pelo própriocontribuinte, do montante por ele devido, implicam reconheci-mento do débito, com inequívoca ciência da respectivaobrigação de pagar. São elas a Declaração de Débitos e CréditosTributários Federais (DCTF), a Guia de Recolhimento do FGTSe de Informações à Previdência Social (GFIP), a Guia de Apur-ação e Informação do ICMS (GIA), a Declaração de Ajuste doIR ou qualquer outro documento em que conste o reconheci-mento do débito.

Assim, formalizada pelo próprio contribuinte a existênciada sua obrigação e do correspondente crédito do fisco, restasuprida a necessidade de a autoridade verificar a ocorrência dofato gerador, indicar o sujeito passivo, calcular o montante

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devido e notificar o contribuinte para efetuar o pagamento.Toda essa atividade torna-se despicienda. O lançamento de

ofício resta desnecessário.360

Declarado o débito, pois, resta formalizada a existência ea liquidez do correspondente crédito.

O DL 2.124/84 dispõe justamente no sentido de que odocumento do contribuinte que, em cumprimento a obrigaçãoacessória, comunica a existência de crédito tributário, constituiconfissão de dívida e instrumento hábil e suficiente para aexigência do referido crédito, ensejando, no caso de inadimple-mento, a inscrição direta em Dívida Ativa, com juros e multamoratória, para efeito de cobrança executiva.

Aliás, declarado o débito pelo contribuinte, sequer é per-

mitido ao Fisco proceder ao lançamento de ofício.361 Este,quando efetuado, ocorre com aplicação de multa de ofício empercentual superior à de mora, por pressupor omissão do con-tribuinte em dar ao Fisco o conhecimento quanto à ocorrênciaou dimensão do fato gerador e do correspondente créditotributário. Declarado o débito, a inadimplência só dá ensejo àcobrança do tributo com multa moratória e juros.

Os §§ 6º a 11 do art. 74 da Lei 9.430/96, com a redação daLei 10.833/03, que cuida da Declaração de Compensação, doc-umento através do qual o contribuinte aponta um crédito docontribuinte contra o Fisco e um débito perante o mesmo, pro-cedendo à compensação entre ambos, dispõem no sentido de

que constitui confissão de dívida,362 de modo que, não homo-logada a compensação, o crédito tributário é diretamente in-scrito em dívida ativa.

O art. 12 da Lei 10.522/02, com a redação da Lei 11.941/09, por sua vez, é expresso no sentido de que se considera o

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pedido de parcelamento como confissão de dívida e instru-mento hábil e suficiente para a exigência do crédito.

A jurisprudência é pacífica no sentido de que as de-clarações pelas quais o contribuinte reconhece a existência dedébitos tributários cumprem o papel de formalização da ex-

istência do respectivo crédito,363 com todos os efeitos daídecorrentes. Veja-se a Súmula 436 do STJ: “A entrega de de-claração pelo contribuinte reconhecendo débito fiscal constituio crédito tributário, dispensada qualquer outra providência porparte do fisco”.

Declarado o débito e vencido, o contribuinte não mais os-tenta situação de regularidade, não tendo direito à certidãonegativa de débito. Declarado o débito, pode o Fisco inscrevero crédito em dívida ativa com suporte direto na declaração, in-

dependentemente de lançamento.364 Não há que se falar, nocaso, na necessidade de notificação ou de oportunidade de de-fesa, porquanto a formalização se deu pelo próprio con-

tribuinte.365 Declarado o débito e verificado oinadimplemento, inicia-se de pronto o prazo prescricional para

a cobrança do valor respectivo.366

A retificação da declaração é viável, desde que anterior àcobrança, por analogia ao art. 147 do CTN. Posteriormente, aretificação dependerá da demonstração de que a declaraçãotenha se dado por erro ou sob coação, tal como se exige para aanulação de qualquer ato jurídico.

A declaração em cumprimento de obrigação acessória oua confissão para fins de parcelamento, não impedem a dis-cussão em juízo acerca da existência do crédito, fundada, porexemplo, em inconstitucionalidade, não incidência ou isenção.

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As eventuais cláusulas de irretroatividade, irretratabilid-ade ou renúncia a direito constantes de parcelamentostributários não podem obstar o acesso ao Judiciário, sob penade inconstitucionalidade.

90. Lançamentos de ofício, por declaração e porhomologação

O lançamento é, como diz o art. 142 do CTN, ato privat-ivo da autoridade fiscal. Isso porque é o modo de formalizaçãodo crédito tributário que é feito independentemente do recon-hecimento do débito pelo contribuinte e mesmo contrariamenteao entendimento deste.

O CTN, repercutindo tal exclusividade, refere que olançamento pode se dar de três modos: mediante declaração,por homologação ou de ofício.

No lançamento por declaração, o contribuinte fornece aoFisco elementos para que apure o crédito tributário e o noti-fique para pagar o tributo devido. Note-se que não se cuida dedeclaração em que o contribuinte reconheça o débito, pois, sefosse o caso, dispensaria lançamento pelo Fisco. A declaraçãodiz respeito a fatos necessários à apuração, pelo Fisco, docrédito tributário. O contribuinte, nestes casos, cumpre seu de-ver de informar, mas espera a notificação quanto ao montante aser pago.

No lançamento por homologação, é o contribuinte quemapura e paga o tributo, cabendo ao Fisco simplesmentechancelar tal apuração quando a entenda correta, mediante

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homologação expressa ou tácita. Nenhum ato do Fisco, pois, sefaz necessário para que o crédito tributário reste consolidadocomo sendo aquele reconhecido e pago pelo contribuinte. Porisso, aliás, boa parte da doutrina considera o lançamento porhomologação como um autolançamento pelo contribuinte.

O simples decurso do prazo de cinco anos contados daocorrência do fato gerador tem efeito homologatório, im-pedindo, a contrario sensu, que o Fisco proceda a lançamento deofício de eventual diferença ainda devida e não paga nem de-clarada. O prazo, portanto, não é propriamente para a homo-logação, pois esta ocorrerá de qualquer modo, ainda que tacita-mente. O prazo é, sim, para que o Fisco proceda ao lançamentode ofício de eventual diferença.

O lançamento de ofício, por sua vez, é aquele realizadodireta e exclusivamente pelo Fisco quando a lei assim o de-termine ou quando o tributo seja submetido por lei a uma dasmodalidades anteriores (mediante declaração ou por homo-logação), mas o contribuinte não tenha realizado os atos quelhe cabiam, ou seja, não tenha prestado as informações ouapurado e pago o tributo devido. Neste caso, o lançamento deofício terá caráter supletivo, será a única forma de o Fisco obtera formalização do seu crédito tributário.

O lançamento segue o princípio documental. Sua formadependerá do regime de lançamento do tributo e das circun-stâncias nas quais é apurado. Certo é que estará documentadoe que seu instrumento terá de conter os elementos indispensá-veis à identificação inequívoca da obrigação surgida. Os atosde lançamento costumam ser designados por Auto de Lança-mento, quando relacionados a tributos sujeitos a lançamento deofício, ou por Auto de Infração (AI), quando relacionados atributos sujeitos a lançamento por homologação em que o con-tribuinte descumpriu suas obrigações. Há o Auto de Infração

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de Obrigação Principal (AIOP), designando o lançamento detributo e multa, e o Auto de Infração de Obrigação Acessória(AIOA), designando o lançamento de multa isolada por des-cumprimento de obrigação acessória tão somente.

Do documento que formaliza o lançamento deve constarreferência clara a todos os elementos, fazendo-se necessária,ainda, a indicação inequívoca e precisa da norma tributária im-positiva incidente Sendo, o lançamento, o ato através do qual aautoridade identifica a ocorrência do fato gerador, determina amatéria tributável, calcula o montante devido, identifica osujeito passivo e, em sendo o caso, aplica a penalidade

cabível,367 nos termos da redação do art. 142 do CTN. O art. 10do Decreto 70.235/72 (Lei do Processo Administrativo Fiscal)especifica o conteúdo do auto de infração: qualificação do autu-ado, local, data e hora da lavratura, descrição do fato, dis-posição legal infringida e a penalidade aplicável, determinaçãoda exigência e a intimação para cumpri-la ou impugná-la noprazo de trinta dias, assinatura do autuante e a indicação deseu cargo ou função e o número de matrícula.

Muitas vezes, o documento de lançamento (Auto deLançamento, Auto de Infração etc.) não é detalhado, mas se fazacompanhar de um relatório fiscal de lançamento que o in-tegra, contendo todos os dados necessários à perfeita com-preensão das causas de fato e de direito, do período e da di-mensão da obrigação imputada ao contribuinte, sendo que in-existirá vício de forma.

A notificação ao sujeito passivo é condição para que o

lançamento tenha eficácia.368 Trata-se de providência queaperfeiçoa o lançamento, demarcando, pois, a constituição docrédito que, assim, passa a ser exigível do contribuinte – que éinstado a pagar e, se não o fizer nem apresentar impugnação,poderá sujeitar-se à execução compulsória através de Execução

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Fiscal – e oponível a ele – que não mais terá direito a certidãonegativa de débitos em sentido estrito. A notificação está para olançamento como a publicação está para a lei, sendo que paraesta o Min. Ilmar Galvão, no RE 222.241/CE, ressalta que “Coma publicação fixa-se a existência da lei e identifica-se a suavigência [...]”.

A notificação, conforme previsão do art. 23 do Dec.70.235/72 (Lei do Processo Administrativo Fiscal), pode serefetuada pessoalmente, por via postal ou por meio eletrônico,

indistintamente.369

A notificação postal considera-se realizada mediante aprova do recebimento no domicílio do contribuinte (AR), ainda

que a assinatura não seja do próprio sujeito passivo.370

Tratando-se de IPTU, contudo, foi editada a Súmula 397: “Ocontribuinte do IPTU é notificado do lançamento pelo envio docarnê ao seu endereço”.

Quando resultarem improfícuos os meios anteriores,caberá a notificação por edital. O § 1º do art. 23 do Dec. 70.235/72 também admite a notificação por edital quando o sujeitopassivo tiver sua inscrição declarada inapta perante o cadastrofiscal.

91. Lançamento por arbitramento ou aferiçãoindireta

O lançamento deve ser realizado mediante a verificaçãoconcreta da ocorrência do fato gerador e do cálculo do tributoconsiderando sua base de cálculo própria. Contudo, nem

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sempre isso é possível. Há casos em que a autoridade, emboraverificando que o fato gerador ocorreu, não dispõe de elemen-tos suficientes para a apuração da base de cálculo com exatidãoem face da ausência ou inidoneidade da documentação re-spectiva, tendo de recorrer ao arbitramento ou aferiçãoindireta. Denomina-se lançamento por arbitramento, pois, orealizado mediante apuração da base de cálculo mediante ele-mentos indiciários ou presunções legais.

O art. 148 do CTN autoriza essa prática, dispondo: “Art.148. Quando o cálculo do tributo tenha por base, ou tome emconsideração, o valor ou o preço de bens, direitos, serviços ouatos jurídicos, a autoridade lançadora, mediante processo regu-lar, arbitrará aquele valor ou preço, sempre que sejam omissosou não mereçam fé as declarações ou os esclarecimentos presta-dos, ou os documentos expedidos pelo sujeito passivo ou peloterceiro legalmente obrigado, ressalvada, em caso de contest-ação, avaliação contraditória, administrativa ou judicial”.

Note-se que o lançamento por arbitramento ou aferiçãoindireta é excepcional e subsidiário. Só se justifica quando daimpossibilidade de apuração da base de cálculo real. Con-forme já decidiu o STJ, “O art. 148 do CTN deve ser invocadopara a determinação da base de cálculo do tributo quando certaa ocorrência do fato imponível, o valor ou preço de bens, direit-os, serviços ou atos jurídicos registrados pelo contribuinte nãomereçam fé, ficando a Fazenda Pública, nesse caso, autorizadaa proceder ao arbitramento mediante processo administrativo-fiscal regular, assegurados o contraditório e a ampla de-

fesa”.371

Vale frisar, por fim, que o lançamento por arbitramento

não constitui sanção,372 mas método substitutivo para apur-ação do montante devido, não podendo basear-se em

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elementos destoantes da realidade, ficando, sempre, sujeito àimpugnação por parte do contribuinte.

92. Liquidação no processo trabalhista

A Justiça do Trabalho, nos termos do art. 114, § 3º, da CF,tem competência para executar, de ofício, as contribuiçõesdevidas pela empresa sobre os valores a que for condenada apagar ao trabalhador, decorrentes das sentenças que proferir. Amatéria é regulada pela Lei 10.035/00, que acresceu ao art. 879da CLT o § 1º-A no sentido de que “A liquidação abrangerá,também, o cálculo das contribuições previdenciárias devidas”.

Com isso, criou-se nova modalidade de formalização docrédito relativo a tais contribuições previdenciárias, o que játem resultado no indeferimento de certidão negativa ainda queinexista lançamento ou declaração do contribuinte, desde queos débitos estejam formalizados nos autos de reclamatória tra-

balhista, conforme já decidiu o STJ.373

Notas do Capítulo VIII

359 STJ: EDcl no REsp 736.918/RS, EREsp 767.328-RS, REsp 804.415/RS.

360 STJ, REsp 542975/SC.

361 MACHADO, Schubert de Farias. Lançamento por Homologação eDecadência. RDDT n. 131, ago/06.

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362 Parecer PGFN/CDA/CAT 1499/05. RFDT n. 19, jan-fev/06.

363 STJ, REsp 542975/SC.

364 STF, AgRegAg 144.609; STJ, AgREsp 433.971; STJ, REsp 223.849.

365 STJ, REsp 236.054/SP.

366 STJ, EDREsp 720.612.

367 O art. 142 do CTN fala em “propor a aplicação da penalidade cabível”.Mas tal dispositivo não teve regulamentação adequada em termos procedi-mentais. A proposição da penalidade deveria ensejar oitiva prévia do infratorpara, somente então, ensejar a aplicação da penalidade pela autoridade. Oque se tem, contudo, é a aplicação da penalidade no ato de lançamento dotributo.

368 STJ, REsp 738.205/PR; REsp 594395/MT.

369 STJ, REsp 380.368/RS

370 STJ, REsp 754.210.

371 STJ, RMS 26.964/GO.

372 “A aferição indireta ou arbitramento da base imponível do tributo é in-strumento de tributação indiciária, ou seja, que torna possível ao Fisco a de-terminação e quantificação do fato tributário com base em indícios de suaocorrência e dimensão, através da avaliação qualitativa e quantitativa deelementos extra-contábeis. Não tem a aferição indireta ou arbitramentonatureza de sanção ou penalidade, apesar de ensejar, muitas vezes, situaçãotributária mais gravosa para o contribuinte. Em realidade, esse maiorgravame eventual é mero aspecto acidental de sua conformação, que, por vis-ar salvaguardar o crédito tributário, impõem critérios de quantificaçãobastante estritos do fato tributário com base em opção de seu máximo dimen-sionamento. Em relação às irregularidades na escrituração contábil, a aferiçãoindireta ou arbitramento, com a desclassificação ou desconsideração da cont-abilidade do contribuinte, só se legitima quando essa se mostra absoluta-mente imprestável para a finalidade a que direcionada sob o ponto de vistafiscal (comprovação confiável dos eventos tributáveis ocorridos). Essa limit-ação de sua utilização decorre exatamente de sua natureza não sancionatória,pois a aplicação de penalidade em relação ao descumprimento da obrigaçãotributária acessória de manutenção regular da escrita contábil deve serefetivada através de multa adequada à natureza da infração e não pela des-classificação ou desconsideração daquela. O seu uso limita-se, enquanto me-dida extrema, à hipótese de imprestabilidade da escrita contábil e, con-seqüentemente, impossibilidade de sua aceitação como base de avaliação do

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fato tributário, o que ocorre nos casos em que a contabilidade é mera ficçãodocumental, a qual não apresenta resultados reais ou impossibilita o seurestabelecimento a partir dos eventos registrados, sendo constituída de docu-mentação inidônea e de lançamentos dissimuladores das corretas mutaçõesfinanceiras do contribuinte. As irregularidades formais ou materiais perfeita-mente identificáveis e passíveis de serem sanadas, corrigidas ou retificadascom a adição ou exclusão de elementos quantitativos ao dimensionamento dofato tributário e sem a necessidade de que a escrita contábil seja refeitaafastam a possibilidade de desclassificação dessa e aferição indireta ou arbit-ramento da base imponível.Se o Fisco pode, sem fazer uso da desclassificaçãoou desconsideração da escrituração contábil e, conseqüentemente, aferição in-direta ou arbitramento, dimensionar o seu crédito tributário com base nos ele-mentos contábeis existentes, cuja confiabilidade não restou infirmada por de-cisão motivada, e na correção das conseqüências quantitativas das irregular-idades praticadas pelo contribuinte, deve ele, por evidente, seguir essa últimaforma de atuação, que não traz qualquer prejuízo à sua função arrecadatória eque, além disso, melhor se coaduna com a submissão de sua atividade aoprincípio da legalidade.” (excerto de sentença do Juiz Emiliano Zapata deMiranda Leitão nos autos dos Embargos à Execução Fiscal2001.72.01.001723-8, em tramitação na 1ª Vara Federal de Joinville, em dez/02)

373 STJ, REsp. 852.968/DF.

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Capítulo IX – Suspensão da Exi-gibilidade do Crédito Tributário

93. Hipóteses de suspensão da exigibilidade doCrédito Tributário

O art. 151 do CTN regula a suspensão da exigibilidade docrédito tributário. Arrola hipóteses em que o Fisco fica impe-dido de exigir a sua satisfação e, mesmo, de tomar qualquermedida com vista a constranger o contribuinte ao pagamento:

“Art. 151. Suspendem a exigibilidade do créditotributário:I – moratória;II – o depósito do seu montante integral;III – as reclamações e os recursos, nos termos das leisreguladoras do processo tributário administrativo;IV – a concessão de medida liminar em mandado desegurança;V – a concessão de medida liminar ou de tutela ante-cipada, em outras espécies de ação judicial;VI – o parcelamento.”

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Se relermos com atenção essas hipóteses suspensivas es-tabelecidas pelo art. 151, veremos que podem ser assim sintet-izadas: a) foi dado prazo para pagamento do tributo ou penal-idade, seja por força de moratória ou de parcelamento conce-dido ao contribuinte (incisos I e VI); b) há incerteza quanto àexistência do crédito, colocado em dúvida por impugnação,manifestação de inconformidade ou recurso ainda não definit-ivamente julgados na esfera administrativa, ou suspenso pordecisão judicial que tenha reconhecido a relevância ou ver-ossimilhança dos argumentos do sujeito passivo em ação poreste ajuizada (incisos III, IV e V); ou c) o crédito está garantidopor depósito em dinheiro (inciso II).

O oferecimento de caução através de ação cautelar não écaso de suspensão da exigibilidade, mas de garantia antecipadaequiparada à penhora. Tanto não suspende a exigibilidade quenão impede, antes requer e prepara, a execução. Assim, sequerpoderia estar arrolado no art. 151 como causa de suspensão daexigibilidade do crédito tributário. De qualquer modo, acaução, como antecipação de penhora, enseja ao sujeito passivoque obtenha certidão positiva de débitos com efeitos de negat-iva, neste ponto tendo efeito semelhante ao da pura e simplessuspensão da exigibilidade do crédito tributário.

94. Moratória e parcelamento

Moratória (art. 151, I) é prorrogação do prazo de venci-mento do tributo. O parcelamento é espécie de moratória at-ravés da qual se permite o pagamento do débito tributário em

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diversas prestações, de modo que, a cada mês, só seja exigíveluma parcela, e não o todo.

Há quem distinga parcelamento, de um lado, de mor-atória, de outro, entendendo que aquele pressupõe dívida ven-cida, abrangendo multa e juros, e que esta se dá antes do venci-mento. O entendimento predominante, contudo, é no sentidode que a moratória é prorrogação do prazo para pagamento,com ou sem parcelamento.

O parcelamento constitui causa suspensiva da exigibilid-ade do crédito tributário (art. 151, V, do CTN) disciplinada, es-pecialmente, pelo art. 155-A do CTN, aplicando-se, subsidiaria-mente, as disposições comuns relativas à moratória, conformeexpressamente determina o § 2º do mesmo artigo.

O art. 155-A dispõe no sentido de que o “parcelamentoserá concedido na forma e condição estabelecidas em lei es-pecífica”, o que nos leva à conclusão de que, de um lado, ocontribuinte não tem direito a pleitear parcelamento em formae com características diversas daquelas previstas em lei e, deoutro, que o Fisco não pode exigir senão o cumprimento dascondições nela previstas, de modo que não podem ser estabele-cidos requisitos adicionais por atos normativos. Ademais, édescabida a delegação à autoridade fiscal para que decida dis-cricionariamente sobre a concessão do benefício.

Ao referir-se à “lei específica”, o art. 155-A reforça quenão tem cabimento a pretensão de conjugação dos dispositivosde diversas leis para a obtenção de parcelamento mais benéficoou mediante requisitos menos rígidos. Tal combinação de re-gimes alteraria os benefícios concedidos, implicando a criaçãode uma nova espécie de parcelamento não autorizada pelolegislador.

Via de regra, os parcelamentos são concedidos medianteconfissão dos débitos e pagamento da primeira parcela ou de

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10% do débito em caso de reparcelamento e de 20% no caso dereparcelamento de débito que já conte com historio de anteriorreparcelamento, com prazo total de sessenta meses, conformeos arts. 10, 11 e 14-A da Lei 10.522/02, com a redação das Leis10.637/02 e 11.941/09.

Considera-se o pedido de parcelamento como confissãode dívida e instrumento hábil e suficiente para a exigência docrédito, nos termos do art. 12 da mesma Lei 10.522/02, com aredação da Lei 11.941/09. Ocorrido inadimplemento, o mont-ante confessado poderá, deduzidas as parcelas pagas, ser in-scrito em dívida ativa e executado.

A confissão não impede a discussão do débito em juízo,questionando a validade da lei instituidora do tributo ou com-inadora da penalidade ou sua aplicabilidade ao caso. Issoporque a obrigação tributária decorre da lei e não da vontadedas partes.

As cláusulas legais de irrevogabilidade e de irretratabil-idade devem ser lidas em favor do contribuinte, no sentido deque não pode o Fisco, salvo na hipótese de ausência de re-quisito exigido por lei ou de descumprimento das prestaçõesassumidas, desconstituir unilateralmente o parcelamento.Quanto à exigência ou efeito de renúncia a direito, por sua vez,constitui constrangimento inconstitucional, porquanto procuraobstar acesso ao Judiciário no que diz respeito a relaçãojurídica que tem como fonte exclusiva a lei, e não a vontade daspartes. Até mesmo nas relações privadas é do interesse públicoo seu equilíbrio, a ausência de abusividade, tanto que há in-úmeras normas de ordem pública que condicionam a validadedos contratos. Em matéria tributária, em que o Fisco praticaatos revestidos de autoexecutoriedade, constitui o seu própriocrédito e produz o título executivo, com mais razão ainda faz-se necessário atentar para a necessidade de resguardo do

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equilíbrio nas relações, reconhecendo, também nesta seara, ainvalidade dos eventuais abusos, como as cláusulas que exigemdo contribuinte que abra mão do direito constitucional deacesso ao Judiciário.

A desistência de ações e a renúncia a direito não podemser consideradas, de ofício, pelo Judiciário, como meros efeitoslegais da adesão a parcelamento que as exija. Dependem demanifestação da parte nos autos mediante procurador compoderes especiais.

O parcelamento, salva disposição em contrário, não im-plica exclusão de juros e de multas (art. 155-A, § 1º). Mas, nãoraramente, o legislador concede parcelamentos com prazo maisdilatado ou até sem prazo fixo, vinculando o valor da prestaçãoà receita bruta da empresa, anistiando total ou parcialmente asmultas e excluindo total ou parcialmente os juros, de modo aviabilizar a regularização fiscal das empresas e aumentar a ar-recadação. Assim é que sobreveio o REFIS (Lei 9.964/00), PAES(Lei 10.684/03), o PAEX (MP 303/06) e o Parcelamento daCrise (Lei 11.941/09).

Embora no parcelamento comum não seja admitida a in-clusão de débitos relativos a contribuições retidas dosempregados, objeto de apropriação indébita (quando aempresa retém do contribuinte, mas não recolhe aos cofres

públicos), nos termos do art. 7º da Lei 10.666/03,374 alguns dosparcelamentos especiais têm permitido tal prática, como ocor-reu no REFIS e, mais recentemente, no Parcelamento da Crise,forte no art. 1º, § 2º, III, da Lei 11.941/09.

95. Impugnação e recurso administrativos

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Também suspendem a exigibilidade do crédito tributárioas impugnações e os recursos administrativos. Estando, aexigência fiscal, pendente de revisão em qualquer das instân-cias administrativas, forte em impugnação ou recurso do con-tribuinte, o crédito fica com a sua exigibilidade suspensa porforça do art. 151, III, do CTN. Cuida-se de um efeito automáticoda defesa tempestiva apresentada no âmbito do processo ad-ministrativo fiscal contra exigência de tributo por parte da Ad-ministração, exigência esta que pode decorrer de lançamentoconstitutivo de crédito tributário ou da não homologação decompensação que deixe em aberto o crédito que o contribuintepretendia extinguir. Cabe destacar que basta a defesa tem-pestiva para que a ela se atribua o efeito suspensivo, pois tantoas impugnações como os recursos são incondicionados. O STFconsolidou, na sua Súmula Vinculante 21, entendimento nosentido de que “É inconstitucional a exigência de depósito ouarrolamento prévios de dinheiro ou bens para admissibilidadede recurso administrativo”. Também o STJ editou a Súmula373: “É ilegítima a exigência de depósito prévio para admissib-ilidade de recurso administrativo”.

Quanto às defesas relacionadas à glosa feita pelo Fisco àscompensações realizadas pelo contribuinte, cabe uma dis-tinção. O § 11 do art. 74 da Lei 9.430/96, acrescido pela Lei10.833/03, é claro no sentido de que a não homologação dacompensação dos tributos federais a que se aplica enseja mani-festação de inconformidade pelo contribuinte com o efeito sus-pensivo do art. 151, III, do CTN. Mas tal não ocorre relativa-mente às compensações que sejam consideradas como não de-claradas, conforme o § 12 do mesmo artigo, acrescido pela Lei11.051/04. Neste último caso, trata-se de compensações expres-samente proibidas por lei (por exemplo: com títulos públicos ecom créditos de terceiros), não se permitindo que o con-tribuinte obtenha o efeito suspensivo mediante simples manejo

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formal de compensação que, de antemão, seja sabidamentedescabida.

No regime do art. 66 da Lei 8.383/91, aplicável às con-tribuições previdenciárias e a terceiros, a suspensão da exigibil-idade se dá por aplicação direta do art. 151, III, do CTN, pois alei ordinária não disciplina o modo pelo qual poderá ocontribuinte defender-se, tampouco seus efeitos.

As consultas, no âmbito da SRF, são reguladas pelos arts.48 a 50 da Lei 9.430/96, mas não podem ser enquadradosdentre “as reclamações e os recursos”, pois não têm naturezaofensiva. Veja-se o Dec. 70.235/72: “Art. 49. A consulta nãosuspende o prazo para recolhimento de tributo, retido na fonteou autolançado antes ou depois de sua apresentação, nem oprazo para apresentação de declaração de rendimentos”.

O prazo para que o Fisco se manifeste em processos ad-ministrativos relativos a pedidos de ressarcimento e para quedecida acerca de impugnações ou recursos interpostos pelocontribuinte é de 360 dias, conforme a Lei 11.457, de 16 demarço de 2007: “Art. 24. É obrigatório que seja proferida de-cisão administrativa no prazo máximo de 360 (trezentos e ses-senta) dias a contar do protocolo de petições, defesas ou re-cursos administrativos do contribuinte”. Até o advento da Lei11.457/07, não havia prazo específico para o Fisco semanifestar. Aplicava-se, então, por analogia, a Lei 9.784/99,que cuida do processo administrativo em geral, cujo art. 49 pre-vê que “Concluída a instrução de processo administrativo, aAdministração tem o prazo de até trinta dias para decidir,salvo prorrogação por igual período expressamente motivada”.Pode-se, ainda, hoje, discutir sobre a aplicabilidade do novoprazo, pois o art. 24 da Lei 11.457 está inserido em capítulo quecuida da Procuradoria da Fazenda Nacional. Contudo, aindaque se considere tal aspecto, de qualquer maneira é regra

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preferencial para aplicação por analogia, pois mais afeiçoada àhipótese.

96. Liminares e antecipações de tutela

A existência de ação judicial não tem, por si só, efeitosuspensivo da exigibilidade do crédito tributário. Ademais, oajuizamento de ação judicial discutindo a matéria objeto doprocesso administrativo “importa em renúncia ao poder de re-correr na esfera administrativa e desistência do recurso acaso

interposto”.375 Assim, com o ajuizamento, já não mais sepoderá falar em impugnação ou recurso administrativo sus-pensivo da exigibilidade e não se terá qualquer efeitoautomático nesse sentido.

Somente as decisões liminares, medidas cautelares ouantecipações de tutela que impeçam a exigência do tributo éque terão efeito suspensivo da exigibilidade (art. 151, IV e V, doCTN).

Em quaisquer ações, é possível a obtenção de medida sus-pensiva da exigibilidade de tributo que se mostre indevido.Nenhum óbice há à tutela imediata em matéria tributária parafins de obstar a exigibilidade de crédito tributário. Para tanto,basta que o Juiz verifique a presença dos requisitos para tanto.No mandado de segurança, terá como referência para a análisedos pedidos de liminar o art. 7º, inc. III, da Lei 12.016/09; naação cautelar, a concessão de medida é regida pelo art. 798 doCPC; em outras ações, a antecipação de tutela depende dopreenchimento dos requisitos do art. 273 do CPC.

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Os requisitos são muito semelhantes em todas essasações. Exige-se forte fundamento de direito, fumus boni iuris ouverossimilhança, de um lado, e o risco de ineficácia da medidaou de dano irreversível, de outro. Isso sem falar na necessidadede elementos consistentes quanto aos fatos alegados.

O requisito de risco, perigo ou irreversibilidade é equival-ente para ambas as partes, consistindo em perder ou não obtera disponibilidade dos recursos correspondentes ao tributo dis-cutido, de modo que acaba tendo menor importância.Convencendo-se, o Juiz, da existência de relevante fundamentode direito, deve conceder a medida liminar. Não havendo rel-evante fundamento, a indefere.

Conforme a nova Lei do Mandado de Segurança (Lei12.016/09), o Juiz, ao despachar a inicial, ordenará “que se sus-penda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver funda-mento relevante e do ato impugnado puder resultar a ineficáciada medida, caso seja finalmente deferida” (art. 7º, III). Emborao dispositivo ainda refira que é facultado ao juiz exigir caução,fiança ou depósito, não se costuma impor tais contracautelasem matéria tributária. Isso porque a suspensão da exigibilidadede um tributo é sempre reversível.

A Lei 12.016/09 deixa claro que “Os efeitos da medidaliminar, salvo se revogada ou cassada, persistirão até a pro-lação da sentença” (art. 7º, § 3º).

Deve-se atentar, ainda, para a proibição de concessão deliminar “que tenha por objeto a compensação de créditostributários, a entrega de mercadorias e bens provenientes doexterior” (art. 7º, § 2º). A proibição quanto à compensação põeem lei orientação já consolidada na Súmula 212 do STJ: “Acompensação de créditos tributários não pode ser deferida emação cautelar ou por medida liminar cautelar ou antecipatória”.Tais proibições se estendem à tutela antecipada (art. 7º, § 5º) e,

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por certo, também à medida cautelar (ubi aedem ratio ibi idemjus).

Indeferida a liminar, medida cautelar ou antecipação detutela, restará ao contribuinte, ainda, a possibilidade de efetuaro depósito do montante do tributo para obter a suspensão daexigibilidade do crédito (art. 151, II, do CTN).

97. Depósito do montante integral do créditotributário

Em face da garantia de que nenhuma lesão ou ameaça delesão será excluída da apreciação do Judiciário, não pode o le-gislador condicionar o exercício do direito de ação ao depósitodo tributo discutido. Este entendimento é pacífico e foi con-

struído a partir da censura feita ao art. 38 da LEF.376 O de-pósito constitui, sim, imperativo do interesse do próprio con-tribuinte quanto à suspensão da exigibilidade do créditotributário. Através do depósito, obtém, automaticamente, pro-teção contra o indeferimento de certidão de regularidade fiscal,inscrição no CADIN e ajuizamento de Execução Fiscal, não de-pendendo, para tanto, da concessão de liminar.

Constitui direito subjetivo seu optar por efetuar o de-pósito do montante integral que lhe está sendo exigido e, as-sim, obter a suspensão da exigibilidade do tributo enquanto odiscute administrativa ou judicialmente. Nos casos de substitu-ição tributária, em que o substituto tributário tem a obrigaçãode reter e recolher o tributo supostamente devido (e.g., IRRF),terá o contribuinte de obter decisão judicial que determine ao

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substituto tributário que coloque à disposição do Juízo o mont-ante do tributo em vez de recolher aos cofres públicos. Issoporque, no caso de substituição tributária, há toda uma sis-temática de tributação que não está sob livre disposição do con-tribuinte. Nesses casos, inexiste direito subjetivo ao depósito,podendo ele ser determinado pelo Juiz, entretanto, a pedido daparte, mediante verificação da existência de forte fundamentode direito a amparar a tese do contribuinte quanto a ser in-devido o tributo.

O direito ao depósito independe da modalidade de lança-mento a que esteja sujeito o tributo, aplicando-se, também, aosque devem ser recolhidos no regime de lançamento porhomologação.

Para que tenha o efeito de suspensão da exigibilidade docrédito tributário, o depósito tem de ser em dinheiro e corres-ponder àquilo que o Fisco exige do contribuinte, ou seja, temde ser suficiente para garantir o crédito tributário, acautelandoos interesses da Fazenda Pública. Neste sentido, dispõe aSúmula 112 do STJ: “O depósito somente suspende a exigibil-idade do crédito tributário se for integral e em dinheiro”. Oentendimento ainda predominante é no sentido da insuficiên-cia o depósito mensal das prestações atinentes a parcelamentoobtido pelo contribuinte. A integralidade do depósito verifica-se na data da sua realização. Efetuado, restam afastados osefeitos da mora relativamente ao montante depositado, demodo que não poderão ser cobrados juros e multa sobre omontante depositado tempestivamente. De qualquer modo, osdepósitos, no âmbito federal, recebem atualização pela SELIC.

Os depósitos judiciais relativos à discussão de tributosperante a Justiça Federal devem ser feitos na Caixa EconômicaFederal, e não em outra instituição financeira (art. 1º da Lei9.703/98)

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Efetuado o depósito, fica ele cumprindo função degarantia do pagamento do tributo, com destino vinculado à de-cisão final, após o seu trânsito em julgado. Note-se que, com odepósito, o próprio contribuinte formaliza a existência docrédito e, já tendo o contribuinte apurado o montante devido eo afetado ao resultado da demanda mediante o depósito, nãohá que se exigir lançamento, salvo para a constituição de even-tual diferença por montante superior ao que foi depositado.Não haverá que se falar em decadência, pois, quanto ao mont-ante depositado.

O depósito é feito, por iniciativa do contribuinte, medi-ante simples preenchimento e pagamento de guia própria,diretamente na CEF, indicando o número do processo e que es-tá sendo discutido o tributo. Independe, até mesmo, de requeri-mento ao Juiz.

98. Efeitos da suspensão da exigibilidade doCrédito Tributário

A suspensão da exigibilidade do crédito tributário veda acobrança do respectivo montante do contribuinte, bem como aoposição do crédito ao mesmo, e.g., com vista à compensaçãode ofício pela Administração com débitos seus perante o con-tribuinte ou como fundamento para o indeferimento de cer-tidão de regularidade fiscal (art. 206 do CTN). A suspensão daexigibilidade, pois, afasta a situação de pura e simples inadim-plência, devendo o contribuinte ser considerado em situaçãoregular.

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Por certo que, tendo ocorrido o lançamento ou tendo sidoapresentada declaração com o reconhecimento do débito, existeo crédito tributário formalmente constituído, mas, sobrevindocausa suspensiva da exigibilidade, não pode ser oposto aocontribuinte.

No caso de tributo ainda não lançado, ou seja, quandoainda não houver crédito tributário constituído, a ocorrência deuma das hipóteses do art. 151 em vez de suspender, impede oinício da exigibilidade do crédito tributário que venha a serconstituído.

A ocorrência das hipóteses previstas no art. 151 não im-pede a constituição do crédito tampouco suspende o prazo dec-adencial, apenas impedindo que o prazo prescricional tenhacurso.

A suspensão da exigibilidade impede a execução fiscal,que a pressupõe. Além disso, enseja a obtenção de certidão deregularidade fiscal (art. 206 do CTN) e implica suspensão dainscrição no CADIN.

Notas do Capítulo IX

374 A vedação consta expressamente do art. 7º da Lei 10.666/03, dispondoeste: “Art. 7º Não poderão ser objeto de parcelamento as contribuiçõesdescontadas dos empregados, inclusive dos domésticos, dos trabalhadoresavulsos, dos contribuintes individuais, as decorrentes da sub-rogação e as de-mais importâncias descontadas na forma da legislação previdenciária”.

375 Art. 38, parágrafo único, da Lei 6.830/80.

376 Súmula 247 do extinto TFR. “Não constitui pressuposto da ação anu-latória do débito fiscal o depósito de que cuida o art. 38 da Lei 6.830, de 1980.”

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Capítulo X – Exclusão do CréditoTributário

99. Natureza e efeitos da exclusão do créditotributário

O art. 175 do CTN trata das causas de exclusão do créditotributário: a isenção e a anistia. Tanto uma como outra de-pendem de lei específica, o que decorre direta e expressamentedo art. 150, § 6º, da Constituição Federal.

Como o CTN artificialmente aparta o surgimento daobrigação tributária (art. 114) da constituição do créditotributário (art. 142), estabelecendo momentos distintos paracada qual, pode-se concluir que a exclusão do crédito se dápressupondo o prévio surgimento da obrigação respectiva.

A isenção e a anistia, ao excluírem o crédito, dispensam ocontribuinte de apurar e de cumprir a obrigação tributáriaprincipal. De outro lado, impedem o fisco de constituir ocrédito pelo lançamento e de exigi-lo, seja administrativa oujudicialmente.

Mas a exclusão do crédito não dispensa o sujeito passivode cumprir as obrigações tributárias acessórias (art. 175, pará-grafo único, do CTN). Mesmo as pessoas isentas continuam

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sujeitas aos deveres de colaboração com a administração e àfiscalização tributária.

100. Isenção

A isenção não se confunde com a imunidade, tampoucocom a não incidência ou com a alíquota zero.

A imunidade está no plano constitucional. Trata-se denorma que proíbe a própria instituição de tributo relativamenteàs situações ou pessoas imunizadas. A imunidade é normanegativa de competência tributária. Sendo imune a impostos oslivros, o legislador não pode determinar que incida ICMS sobrea operação de circulação de livros, sob pena de inconstitucion-alidade da lei que assim determinar ou da aplicação que assimse fizer de eventual dispositivo genérico.

A alíquota zero corresponde ao estabelecimento dealíquota nula, resultando em tributo sem qualquer expressãoeconômica. Zero pontos percentuais sobre qualquer base darásempre zero. Desse modo, embora instituído o tributo e ocor-rido o fato gerador, o valor apurado será zero e nada serádevido.

A não incidência está no plano da aplicação da normatributária impositiva. Só pode ser identificada pela inter-pretação, a contrario sensu, da abrangência ditada pela própria

norma tributária impositiva.377 Revela-se na pura e simplesausência de incidência. Fala-se de não incidência relativamentea todas as situações não previstas na regra matriz de incidênciatributária como geradoras de obrigação tributária.

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A isenção, de outro lado, pressupõe a incidência danorma tributária impositiva. Não incidisse, não surgiriaqualquer obrigação, não havendo a necessidade de lei para aexclusão do crédito. A norma de isenção sobrevém justamenteporque tem o legislador a intenção de afastar os efeitos da in-cidência da norma impositiva que, de outro modo, implicaria aobrigação de pagamento do tributo. O afastamento da cargatributária, no caso da isenção, se faz por razões estranhas à nor-

mal estrutura que o ordenamento legal imprime ao tributo378

seja em atenção à capacidade contributiva,379 seja por razões

de cunho extrafiscal.380 Note-se que o efeito da isenção é de-terminado pelo art. 175 do CTN ao elencá-la como hipótese deexclusão do crédito tributário, de modo que soam irrelevantes

as especulações doutrinárias quanto à natureza do instituto,381

pois não podem prevalecer sobre dispositivo válido constantedas normas gerais de direito tributário. O efeito de exclusão docrédito tributário, na sistemática do CTN, faz com que ten-hamos o surgimento da obrigação, mas que reste, o sujeitopassivo, dispensado da sua apuração e cumprimento.

Em suma, a imunidade é norma negativa de competênciaconstante do texto constitucional, enquanto a não incidênciadecorre da simples ausência de subsunção, a isenção emana doente tributante que, tendo instituído um tributo no exercício dasua competência, decide abrir mão de exigi-lo de determinadapessoa ou em determinada situação e a alíquota zero implicaobrigação sem expressão econômica.

A isenção depende de lei específica que defina suas con-dições, requisitos e abrangência (arts. 150, § 6º, da CF, e 176 doCTN). Para os tributos sob reserva de lei complementar, tam-bém a concessão de isenção terá de ser feita através de tal in-strumento legislativo, pois a isenção implica renúncia fiscal,

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precisando ser veiculada com o mesmo quorum exigido para ainstituição da norma impositiva.

O legislador pode delimitar a abrangência da isenção,circunscrevendo-a a determinado tributo em particular. Tam-bém pode isentar determinadas pessoas ou operações dos trib-utos de competência do respectivo ente político. Neste caso deisenção genérica, contudo, de qualquer modo não se aplicará àstaxas e contribuições de melhoria, que têm caráter con-traprestacional, e aos tributos instituídos posteriormente à suaconcessão (art. 177 do CTN). As isenções de taxas e con-tribuições de melhoria têm de ser específicas e inequívocas.

A isenção concedida incondicionalmente pelo legislador

constitui benefício fiscal382 passível de revogação a qualquertempo (art. 178). E, embora o art. 104, III, do CTN possa levarao entendimento de que os efeitos da revogação só ocorreriamno exercício seguinte, o STF tem posição consolidada no sen-tido de que, tratando-se de simples benefício, a revogação podedar-se com efeitos imediatos, sem a necessidade de observânciada anterioridade, conforme destacamos ao analisar estagarantia constitucional.

Tratando-se, porém, de isenção onerosa concedida porprazo certo, ou seja, de isenção temporária concedida medianteo cumprimento de condições que exijam do contribuinte de-terminadas ações concretas – como a realização de investimen-tos, a manutenção de determinado número de empregados etc.–, não poderá o legislador suprimi-la relativamente aos con-tribuintes que já tenham cumprido as condições e que, port-

anto, têm direito adquirido ao gozo do benefício,383 o queresta expresso tanto no art. 178 do CTN quanto na Súmula 544do STF, que enuncia: “Isenções tributárias concedidas, sob con-dição onerosa, não podem ser livremente suprimidas”.

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101. Anistia

A anistia se dá quando o legislador exclui o créditotributário decorrente de infrações à legislação tributária (art.180 do CTN), dispensando o pagamento da multa. Não se con-funde com a remissão, ou seja, com a extinção do crédito quealcança o próprio tributo devido (art. 172 do CTN).

De qualquer modo, concedido benefício fiscal, deverá seranalisado em face das suas características essenciais, e não dasua denominação.

O legislador tem a faculdade de delimitar a extensão daanistia concedida, de modo que restem abrangidas apenas de-terminadas infrações, além do que é válido o estabelecimentode condições, como o pagamento do tributo. Mas não podeconceder anistia relativamente a atos qualificados em lei comocrimes ou contravenções ou de qualquer modo praticados comdolo, fraude ou simulação, pois tal é vedado pelos incisos doart. 180 do CTN.

Notas do Capítulo X

377 STF, ADI 286.

378 “El concepto técnico de exención se produce tan sólo en los casos en quela ley declara no sujeto al impuesto a un determinado objeto por razones ex-trañas a la normal estructura que el ordenamiento legal imprime al tributo.”(GIANNINI, Achille Donato. Instituciones de Derecho Tributario. Madrid: Edit-orial de Derecho Financiero, 1957. Traducción y Estudio preliminar porFERNANDO SÁINZ DE BUJANDA. Intituzioni di Diritto Tributario. 7ª edi-ción italiana, 1956)

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379 A isenção de imposto de renda até determinada faixa de rendimentos oua isenção de taxa de serviço para os reconhecidamente pobres.

380 Uma isenção para determinado setor com a intenção de estimular seurápido desenvolvimento.

381 Para RUBENS GOMES DE SOUSA, favor legal consubstanciado na dis-pensa do pagamento do tributo. Para ALFREDO AUGUSTO BECKER e JOSÉSOUTO MAIOR BORGES, hipótese de não incidência da norma tributária.Para PAULO DE BARROS CARVALHO, o preceito de isenção subtrai parcelado campo de abrangência do critério antecedente ou do consequente danorma tributária, paralisando a atuação da regra-matriz de incidência paracertos e determinados casos.

382 STF, ADIMC 2325.

383 STJ, REsp 487.735.

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Capítulo XI – Extinção do CréditoTributário

102. Hipóteses de extinção do crédito tributário

O art. 156 do CTN estabelece os modos de extinção docrédito tributário. Tendo em conta o fundamento das diversashipóteses, vê-se que o crédito se extingue quando for:

• satisfeito mediante pagamento, pagamento seguido dehomologação no caso dos tributos sujeitos a lança-mento por homologação, compensação, conversão emrenda de valores depositados ou consignados ou daçãoem pagamento de bens imóveis na forma e condiçõesestabelecidas por lei (incisos I, II, VI, VII, VIII e XI),ainda que mediante transação (inciso III);

• desconstituído por decisão administrativa ou judicial(incisos IX e X);

• perdoado (inciso IV: remissão);

• precluso o direito do Fisco de lançar ou de cobrar ocrédito judicialmente (inciso V: decadência eprescrição).

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103. Pagamento, juros e multas

O pagamento é o modo ordinário de satisfação e con-sequente extinção do crédito tributário. Deve ser feito no prazoestabelecido pela legislação tributária, aplicando-se, na falta dedisposição específica, o prazo supletivo de trinta dias previstopelo art. 160 do CTN, contados da notificação do lançamentoou, no caso dos tributos sujeitos a lançamento por homo-logação, da ocorrência do fato gerador.

Nos termos do art. 161 do CTN, o débito não pago novencimento é acrescido de juros, sem prejuízo da aplicação dapenalidade cabível (multa).

Na cobrança dos tributos federais, aplica-se a SELIC, ín-dice que abrange juros e correção monetária. Tal se dá porforça do art. 61, § 3º, da Lei 9.430/96 e do art. 35 da Lei 8.212/91, com a redação da Lei 11.941/09. Na hipótese de inexistênciade lei que estabelecesse taxa de juros moratórios, aplicar-se-ia,supletivamente, o disposto no § 1º do art. 161 do CTN: 1% aomês.

Quanto às penalidades, há multas moratórias pelosimples pagamento intempestivo realizado pelo contribuinteou pela falta de pagamento tempestivo de tributo por ele já de-clarado, e multas de ofício, aplicadas pela fiscalização quandoesta apura tributos não pagos nem declarados pelo contribuintee no caso de descumprimento de obrigações acessórias,hipótese em que também são denominadas multas isoladas.

Para os tributos federais, a multa moratória é de 0,33% aodia, até o limite de 20%, nos termos dos arts. 61 da Lei 9.430/96e 35 da Lei 8.212/91, com a redação da Lei 11.941/09. A multade ofício é de 75%, salvo para os casos de falta de antecipaçãode tributos sujeitos a ajuste, quando fica em 50%, e de infração

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grave caracterizada por sonegação, fraude ou conluio, quandochega a 150%, tudo nos termos do art. 44, I e II e § 1º, da Lei9.430/96, com a redação da Lei 11.488/07, e do art. 35-A da Lei8.212/91, com a redação da Lei 11.941/09.

É importante ter sempre presente que, em matéria depenalidades, sobrevindo lei mais benéfica, aplica-se retroativa-mente, nos termos do art. 106, II, c, do CTN.

Os pagamentos dos tributos federais é feito na redebancária através de guia DARF (Documento de Arrecadaçãode Receitas Federais). O sujeito passivo preenche a guia indic-ando o código do tributo que pretende quitar. A imputação dopagamento, pois, normalmente, dá-se dessa forma, medianteindicação do contribuinte. Entendimento no sentido de quenão coubesse, ao contribuinte, definir a imputação de seuspagamentos poderia levar a situações absurdas. Deixando, ocontribuinte, por hipótese, de proceder a algum pagamento emdeterminado momento, relativamente a uma competência etributo específicos, poderia o Fisco alterar a imputação de to-dos os pagamentos posteriormente realizados pelo con-tribuinte, dezenas, centenas ou milhares, de modo que cadaqual satisfizesse primeiramente o tributo da competência an-terior em aberto. Com isso, todos os pagamentos realizados apartir do inadimplemento seriam considerados como parciais,o que ensejaria a cobrança de multa moratória e juros. Nahipótese de pagamento que não identifique especificamente de-terminado tributo, como os relacionados a parcelamento dedívida consolidada abrangendo diversos tributos e competên-cias, aí sim, terá aplicação o art. 163 do CTN, que diz da im-putação de pagamento pelo Fisco primeiro aos débitos porobrigação própria, nos tributos contraprestacionais como con-tribuições de melhoria e taxas, nos débitos mais antigos e nosdébitos maiores.

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Existe a possibilidade de consignação em pagamento docrédito tributário pelo sujeito passivo, mas em casos muito re-stritos. Isso porque a consignação em pagamento não se con-funde com o depósito do montante integral vinculado a de-terminada ação e sujeito à solução final da demanda. Quando osujeito passivo pretenda discutir a existência ou dimensão deobrigação tributária principal, tem a faculdade de depositar omontante integral pretendido pelo Fisco, suspendendo, assim,a sua exigibilidade. A consignação, diferentemente, só temlugar quando o sujeito passivo não pretenda discutir aobrigação, mas quitá-la simplesmente. Daí constar do art. 164, §1º, do CTN que “a consignação só pode versar sobre créditoque o consignante se propõe a pagar”. Terá lugar a consignaçãonos casos previstos nos incisos I a III do art. 164, ou seja, de re-cusa de recebimento ou sua subordinação ao pagamento deoutro tributo ou penalidade ou ao cumprimento de obrigaçãoacessória ou de exigência administrativa sem fundamento legale de cobrança, por mais de uma pessoa jurídica de direitopúblico, de tributo idêntico sobre um mesmo fato gerador.Muitos contribuintes ingressaram com ações deste tipo paraefetuar o pagamento do ITR por se sentirem pressionados a sófazê-lo em conjunto com a contribuições sindicais à CNA e àCONTAG, que constavam destacadas na mesma guia DARFenviada pelo Fisco para pagamento do primeiro. Seria cabível,ainda, na hipótese de dois Municípios exigirem ISS sobre amesma prestação de serviço, um entendendo que é de sua com-petência em razão do local da sede do estabelecimento presta-dor do serviço e outro entendendo que é de sua competênciaem razão do local em que prestado efetivamente o serviço, po-dendo o contribuinte, então, consignar o valor maior e chaman-do ambos os pretensos sujeitos ativos para discutirem atitularidade.

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104. Pagamento indevido e sua repetição

Efetuado pagamento indevido, surge o direito ao ressarci-mento. Isso porque, em matéria tributária, ninguém age porliberalidade, mas estritamente por força de lei, sendo que opagamento indevido implica enriquecimento sem causa dosuposto credor em detrimento do suposto devedor.

Há dois modos possíveis de ressarcimento: a restituiçãodo montante indevido, de que tratam os artigos 165 a 169 doCTN, e o aproveitamento do crédito para a compensação comtributos efetivamente devidos, de que tratam os artigos 170 e170-A do CTN, dependentes estes de combinação com a legis-lação específica de cada ente político. Enquanto, na restituição,o valor pago indevidamente é simplesmente devolvido, nacompensação, temos a extinção de crédito tributário relativo aoutro tributo, razão pela qual a trataremos em item próprio.

Vejamos a repetição de indébito tributário.O art. 165 do CTN diz que o sujeito passivo tem direito à

restituição. Mas é preciso combiná-lo com o art. 166 para anal-isar, de modo completo, a questão da legitimidade ativa para arepetição.

Aquele que efetua o pagamento do tributo, seja con-tribuinte de direito (aquele que a lei indica como contribuinte),substituto ou responsável, pode habilitar-se à repetição, desdeque tenha suportado a tributação com o seu próprio pat-rimônio. Na substituição tributária, por exemplo, quando osubstituto retém o tributo devido pelo contribuinte e o recolheaos cofres públicos, como no caso do imposto de renda (art. 45,§ 1º, do CTN) e da contribuição previdenciária retidos na fonte,somente o contribuinte poderá pleitear a restituição, pois o sub-stituto terá figurado como simples intermediário entre o Fisco e

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o contribuinte. Na responsabilidade do tabelião pelos tributosdevidos sobre os atos perante ele praticados (art. 134, VI, doCTN), se, por ter deixado de exigir a prova de pagamento, forobrigado pelo Fisco ao pagamento com recursos próprios, terá,ele próprio, o direito à restituição do que pagar indevidamente.

O art. 166 do CTN é inequívoco ao cuidar do caso dostributos cuja sistemática legal de apuração e recolhimento im-plique a transferência do ônus tributário a terceiro, con-tribuinte de fato. Considera legitimado o contribuinte dedireito que tiver suportado o ônus ou que esteja autorizadopelo contribuinte de fato a receber a restituição. O STJ entendeque a transferência do ônus tributário deve decorrer da própria

lei,384 de modo que o âmbito de aplicação do art. 166 do CTNnão se estende além do contribuinte de fato, sendo “irrelevante

a repercussão econômica que se tenha seguido a partir daí”,385

que a ninguém mais habilita, tampouco de ninguém mais exigeautorização.

O STJ entende que o contribuinte de fato, mesmo nahipótese do art. 166 do CTN, “não detém legitimidade ativa ad

causam para pleitear a restituição do indébito”.386 Afirma que aexigência de autorização deste não o transforma em titular dodireito, porque não integra a relação jurídico-tributária.

A restituição pode ser buscada administrativamente emcaso de simples erro na apuração do tributo devido. Tratando-se, por exemplo, de imposto de renda, o contribuinte retificaráa Declaração de Rendimentos e formulará Pedido Eletrônico deRestituição (PER), encaminhando-o pela Internet através deprogramas que se encontram no portal da Receita Federal doBrasil. A restituição será processada automaticamente e ocor-rerá alguns meses depois mediante crédito na conta-correntedo contribuinte.

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Há casos, contudo, em que a verificação do indébito de-pende do reconhecimento da ilegalidade da interpretação dofisco sobre a lei tributária impositiva ou mesmo da declaraçãoda inconstitucionalidade da lei. Em tais situações, é sabido quea Administração não reconhecerá o vício, de modo que não temo contribuinte sequer que formular qualquer pedido adminis-trativo. Ingressará diretamente em juízo através de ação de re-petição de indébito tributário, dizendo do pagamento edemonstrando a ilegalidade ou inconstitucionalidade daexigência mediante análise da legislação específica que estejaem discussão, pedindo, então, com amparo no art. 165 do CTN,a sua restituição, o que culmina, no caso de procedência, com aexpedição de requisição de pagamento de pequeno valor ou deprecatório.

O prazo para a repetição do indébito é de cinco anos,contados do pagamento indevido, o que se extrai da combin-ação do art. 168 do CTN com o art. 3º da LC 118/05. Tal prazo,considerado decadencial, é aplicável para pedidos de restitu-ição tanto na esfera administrativa quanto judicial, bem comopara o exercício do direito à compensação, e não sofrequalquer influência de eventual declaração de inconstitucional-idade pelo STF ou da edição de Resolução pelo Senado Federal.

Desse modo, desde 09 de junho de 2005 – quando, decor-rido o período de vacância, passou a ser aplicada a LC 118/05 –as ações relativas a repetição ou compensação de indébitos sóalcançam indébitos relativos a fatos geradores ocorridos nos úl-timos cinco anos.

Anteriormente ao advento da LC 118/05, era pacífico oentendimento do STJ no sentido de que, para os tributos sujei-

tos a lançamento por homologação, o prazo era de dez anos.387

Daí por que a LC 118/05 não foi considerada meramente inter-pretativa, o que justificaria sua aplicação retroativa, nos termos

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do art. 106, I, do CTN. Entendeu, o STF, que deveria ser consid-erada como lei nova redutora do prazo para repetição ou com-pensação, de modo que sua aplicação retroativa violaria a se-

gurança jurídica.388 Mas, em vez de seguir o entendimento doSTJ quanto à aplicação da regra de transição do art. 2.028 doCC, o STF inclinou-se por resguardar apenas o período de vaca-cio legis da LC 118/05, aceitando sua aplicação plena a todas asações ajuizadas a partir de então. Assim, ressalvou a aplicaçãodo prazo de dez anos apenas para as ações ajuizadas até 08 dejunho de 2005.

No caso de o pedido de restituição ser veiculado adminis-trativamente antes do decurso do prazo decadencial, masacabar indeferido, ou de a compensação ser efetuada pelo con-tribuinte, mas restar expressamente não homologada, terá ele oprazo prescricional de dois anos contados do indeferimentoadministrativo para buscar judicialmente a anulação da de-cisão e a condenação à repetição, nos termos do art. 169 doCTN.

105. Compensação

O art. 170 do CTN estabelece que a lei poderá autorizarcompensações entre créditos tributários da Fazenda Pública ecréditos do sujeito passivo contra ela. Não há direito à com-pensação decorrente diretamente do Código Tributário Nacion-al, pois depende da intermediação de lei específica autoriz-

adora.389

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A lei autorizadora a que refere o art. 170 do CTN será fed-eral, estadual ou municipal, cada qual podendo autorizar acompensação com os tributos do respectivo ente político. É im-portante desde já destacar que o legislador pode estabelecercondições e limites para a compensação. Ademais, tratando-sede um instrumento para a extinção de créditos tributários relat-ivos aos tributos efetivamente devidos, aplica-se a lei vigentepor ocasião do exercício da compensação pelo titular dodireito ao ressarcimento. No âmbito federal, há leis autoriz-ando compensação pelo Fisco e pelo contribuinte.

Havendo pedido administrativo de restituição de in-débito ou de recebimento de outros créditos em dinheiro, devea Receita Federal do Brasil verificar se o requerente também es-tá com débito em aberto e, em caso positivo, proceder à com-pensação. É a chamada compensação de ofício pelo Fisco. Re-manescendo saldo a favor do requerente, é restituído em din-heiro. Tal é determinado ao Fisco pelos arts. 7º do DL 2.287/86,89, § 8º, da Lei 8.212/91 e 73 da Lei 9.430/96. Não estão sujeitosà compensação de ofício os créditos tributários com exigibilid-

ade suspensa, como os parcelados.390

Existe, ainda, a possibilidade de ser efetuada com-pensação pelo contribuinte no regime de lançamento por ho-mologação. Ou seja, o titular do direito ao ressarcimento temuma alternativa à repetição de indébito. Pode optar porutilizar-se de seu crédito para quitar débitos junto ao Fisco. Avantagem de tal opção está no fato de a compensação dependerapenas do contribuinte, que a realiza em vez de efetuar o paga-mento de tributos que deve.

Sempre que o crédito invocado pelo contribuinte tivercomo fundamento a inconstitucionalidade de lei instituidorado tributo ou a ilegalidade de atos normativos com suporte nosquais tenha sido exigido, a compensação dependerá de prévio

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reconhecimento, pelo Judiciário, da inexistência da obrigação.Ademais, a compensação só poderá ocorrer após o trânsito emjulgado da decisão judicial, quando se terá certeza quanto àexistência do crédito, nos termos do art. 170-A do CTN. Não éimprescindível que haja pedido expresso de compensação edispositivo sentencial nesse sentido, mas que reste declarada ainexistência da obrigação de modo que se possa considerar ospagamentos realizados como efetivamente indevidos e, port-anto, passíveis de ressarcimento, o que enseja a incidência dosdispositivos legais autorizadores da compensação.

A compensação efetuada pelo contribuinte extingue ocrédito tributário, sob condição resolutória, ou seja, produzefeitos imediatos, sujeitando-se, contudo, à fiscalização pelaAdministração, que pode rejeitá-la. A autorização para tantoconsta dos artigos 74 da Lei 9.430/96 e 66 da Lei 8.383/91.

A Lei 9.430/96 permite ao contribuinte aproveitar o seucrédito para satisfazer débitos relativos aos tributos administra-dos pela Receita Federal do Brasil, à exceção daqueles relativosa contribuições previdenciárias e a terceiros sujeitos ao art. 89da Lei 8.212/91 e ao art. 66 da Lei 8.383/91. A compensação doart. 74 da Lei 9.430/96 é efetuada mediante a apresentação,pelo titular do crédito, de documento eletrônico denominadoDeclaração de Compensação (DCOMP), do qual constam in-formações relativas aos créditos utilizados e aos respectivosdébitos compensados. Terá o Fisco o prazo de cinco anos conta-dos da declaração para homologá-la (o que ocorrerá tacita-mente) ou para não homologá-la, negando efeitos à com-pensação e dando o débito do contribuinte por aberto. Nestecaso de não homologação, terá o contribuinte direito à ap-resentação de impugnação e de recurso, ambos com efeito sus-pensivo da exigibilidade do crédito tributário, nos termos doDec. 70.235/72 e do art. 151, III, do CTN, tal qual previsto ex-pressamente nos §§ 9º a 11 do art. 74 da Lei 9.430/96, com a

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redação da Lei 10.833/03. Não sendo providos a impugnaçãoou o recurso, o montante do débito apontado pelo contribuintena declaração de compensação será considerado como confis-são de dívida e instrumento hábil e suficiente para a exigênciados débitos indevidamente compensados, podendo ser en-caminhada a declaração para inscrição em dívida ativa demodo a viabilizar a posterior extração de certidão de dívidaativa e ajuizamento de execução fiscal. Mas há compensaçõesexpressamente vedadas por lei (§§ 3º e 12 do art. 74 da Lei9.430/96) que, efetuadas pelo contribuinte, a despeito davedação legal inequívoca, serão simplesmente consideradasnão declaradas, sem direito à impugnação e a recurso comefeito suspensivo, tais como as compensações em que o créditoseja de terceiros e aquelas em que o crédito seja decorrente dedecisão judicial não transitada em julgado, tudo conforme o §12 do art. 74 da Lei 9.430/96.

A Lei 8.383/91, aplicável às contribuições previdenciáriase a terceiros (assim entendidos aquelas incidentes sobre a folhade salários, fiscalizadas e cobradas juntamente com as con-tribuições previdenciárias, mas destinadas a outros entes comoo SESI e o INCRA), bem como a tributos não administradospela Receita Federal do Brasil, pode o contribuinte efetuar acompensação dos valores pagos indevidamente com os tribut-os da mesma espécie e destinação devidos relativamente aperíodo subsequente. A Lei 11.941/09, ao dar nova redação aoart. 89 da Lei 8.212/91, estabelece que a compensação de con-tribuições previdenciárias só poderá ocorrer “nos termos e con-dições estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal doBrasil”, o que não está de acordo com a garantia da legalidade.

A restituição ou compensação de indébitos é feita comatualização pela SELIC, nos termos do § 4º do art. 39 da Lei9.250/95 e do § 3º do art. 89 da Lei 8.212/91, com a redação daLei 11.941/09.

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106. Decadência do direito de lançar

Há dois dispositivos do CTN que cuidam da decadênciado direito do Fisco de constituir o crédito tributário: o art. 150,§ 4º, e o art. 173. Ambos estabelecem prazo de cinco anos, vari-

ando apenas o termo a quo.391 A apresentação de declaraçãopelo contribuinte, contudo, estabelece uma exceção a tais regrasrelativamente aos valores declarados como devidos.

O art. 150, § 4º, é uma regra específica para os casos sujei-tos de tributos a lançamento por homologação, em que o con-tribuinte tem a obrigação de, ele próprio, verificar que o fatogerador ocorreu, calcular o montante devido e efetuar opagamento, sujeitando-se à fiscalização posterior. Efetuado opagamento tempestivo, o Fisco tem cinco anos, contados daocorrência do fato gerador, para verificar a exatidão do paga-mento e, na hipótese de o contribuinte ter calculado e pagomontante inferior ao devido, promover o lançamento de ofícioda diferença ainda devida.

O art. 173, em seu inciso I, traz uma regra geral dedecadência para o lançamento de ofício: prazo de cinco anoscontados do primeiro dia do exercício seguinte aquele em queo lançamento poderia ter sido efetuado, assim considerado:

a) para os tributos sujeitos ao regime de lançamentode ofício, o exercício seguinte ao da ocorrência dofato gerador;

b) para os tributos sujeitos ao regime de lançamentopor declaração, o exercício seguinte ao do decursodo prazo para a apresentação da declaração pelocontribuinte;

c) para os tributos sujeitos ao regime de lançamentopor homologação em que, por falta de pagamento

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tempestivo, não haja o que homologar, o exercícioseguinte ao do vencimento do tributo sem qualquer

pagamento por parte do contribuinte;392

Quando o contribuinte mesmo formaliza a existência docrédito tributário ao cumprir obrigação acessória de declaração,ao confessar a dívida ou mesmo ao depositar o montante docrédito tributário, torna-se desnecessário o lançamento de ofí-cio quanto a tais montantes. Assim, não se fala mais emdecadência, salvo no que diz respeito a eventuais diferençasnão formalizadas em tais atos. A formalização do créditotributário pelo contribuinte após o decurso do prazo dedecadência do Fisco é inócua, pois a decadência extingue opróprio crédito tributário, nos termos do art. 156, V, do CTN.

Quando, efetuado o lançamento, restar posteriormenteanulado em razão de algum vício formal (por exemplo, ausên-cia de requisitos essenciais no auto de infração, elencados noart. 10 do Decreto 70.235/72, ou violação ao direito de defesano processo administrativo fiscal), terá o Fisco a reabertura doprazo decadencial para proceder a novo lançamento do mesmo

crédito.393 É o que dispõe o art. 173, II, do CTN ao dizer dacontagem do prazo de cinco anos “da data em que se tornardefinitiva a decisão que houver anulado, por vício formal,lançamento anteriormente efetuado”. É relevante, pois, quereste claro, das decisões administrativas e judiciais anulatóriasde lançamento, se o fazem por vício formal ou por vício materi-al. A anulação por vício material não reabre qualquer prazo, demodo que, muitas vezes, já decorrido prazo decadencial, nãomais poderá ser lançado o crédito.

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107. Prescrição da ação para execução do créditotributário

A prescrição é matéria de normas gerais de DireitoTributário sob reserva de lei complementar desde a CF/67,atualmente por força do art. 146, III, b, da CF/88. Desse modo,não pode o legislador ordinário dispor sobre a matéria, es-tabelecendo prazos, hipóteses de suspensão e de interrupçãoda prescrição, sob pena de inconstitucionalidade. Válido é o re-gime estabelecido pelo Código Tributário Nacional, recepcion-ado como lei complementar.

O art. 174 do CTN disciplina a prescrição para a cobrançado crédito tributário, que é feita pelo Fisco através de ExecuçãoFiscal.

O prazo é de cinco anos para todos os tributos, contadosda constituição definitiva do crédito tributário. Enquanto trib-utos, as contribuições também se submetem ao prazo prescri-cional quinquenal estabelecido pelo art. 174 do CTN, sendo in-constitucional o 46 da Lei 8.212/91 que estabeleceu prazo de-cenal, por invasão de matéria reservada à lei complementar(art. 146, III, b, da CF). Eis o teor da Súmula Vinculante 8 doSTF: “ São inconstitucionais o parágrafo único do artigo 5º doDecreto-Lei 1.569/77 e os artigos 45 e 46 da Lei 8.212/91, quetratam de prescrição e decadência de crédito tributário”.

Considera-se constituição do crédito quaisquer dosmodos pelos quais se dá a sua formalização.

A referência à constituição “definitiva” não temqualquer repercussão relativamente à formalização do créditopor declaração ou confissão do contribuinte. Isso porque,provindo do próprio contribuinte o reconhecimento do débito,não há abertura de prazo para impugnação. O Fisco pode

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encaminhar prontamente o crédito nela representado para co-brança, sem prejuízo do lançamento de eventuais diferenças.Assim, quanto aos valores declarados ou confessados,considera-se definitivamente formalizado o crédito tributáriono momento mesmo da apresentação da declaração, sendo que“o prazo prescricional tem início a partir da data em que tenhasido realizada a entrega da declaração do tributo e escoado o

prazo para pagamento espontâneo”.394

No que diz respeito à formalização do crédito tributáriopelo lançamento, considerar-se-á definitivo quando do esgota-mento dos prazos para impugnação ou recurso, ou quando da

intimação da decisão irrecorrível.395 Assim, considerar-se-ádefinitivamente constituído o crédito tributário ao final doprocesso administrativo fiscal.

Quanto às contribuições apuradas em liquidação trabal-hista, restará definitiva a formalização dos respectivos créditostributários quando restar preclusa, para o contribuinte e para oFisco, a decisão que homologar os respectivos valores.

O prazo prescricional está sujeito a causas de suspensão ede prescrição.

A suspensão do prazo prescricional ocorre por força daprópria suspensão da exigibilidade do crédito tributário, nashipóteses do art. 151 do CTN: moratória, depósito do montanteintegral, impugnação e recurso administrativo, liminar emmandado de segurança, liminar ou antecipação de tutela emoutras ações, parcelamento. Isso porque, suspensa a exigibilid-ade, resta afastado um dos requisitos para a execução, quepressupõe título certo, líquido e exigível. Não há outras causassuspensivas da exigibilidade que não estas decorrentes direta-mente do CTN, sendo inconstitucionais as leis ordinárias que

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estabeleceram hipóteses diversas, pois invadiram a reserva de

lei complementar constante do art. 146, III, b, da CF.396

A execução promovida quando vigente uma das causassuspensivas da exigibilidade deve ser extinta por falta de pres-suposto. Mas a suspensão da exigibilidade superveniente aoajuizamento da execução fiscal implica a suspensão doprocesso.

Suspensa a exigibilidade por medida liminar ou ante-cipação de tutela (art. 151, IV e V, do CTN), obtidas pelo con-tribuinte contra a exigência do tributo, não corre o prazoprescricional. Contar-se-á o prazo anterior, até a concessão damedida, prosseguindo-se a contagem após a sua cassação.

Obtido parcelamento, por sua vez, também restará sus-penso o prazo prescricional como decorrência da incidência doart. 151, VI, do CTN. Deve-se atentar, porém, para o fato de quemuitos parcelamentos são formalizados mediante assinatura,pelo contribuinte, de termo de confissão do débito. Nestescasos, implicando reconhecimento do débito, haverá uma causainterruptiva do prazo prescricional (art. 174, parágrafo únicoIV, do CTN), seguida do parcelamento como causa suspensivada exigibilidade. Assim, confessado o débito e iniciado o par-celamento, o prazo recomeçará por inteiro apenas na hipótesede inadimplemento. Dispõe a Súmula 248 do extinto TFR: “Oprazo da prescrição interrompido pela confissão e parcela-mento da dívida fiscal recomeça a fluir no dia em que o de-vedor deixa de cumprir o acordo celebrado”.

A inscrição em dívida ativa, ato interno da Adminis-tração, não tem qualquer influência sobre o prazo prescricional.A suspensão de 180 dias por força da inscrição, determinadapelo art. 2º, § 3º, da LEF, invade matéria reservada à lei

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complementar, sendo, portanto, inaplicável à execução de

crédito tributário.397

A interrupção do prazo prescricional dá-se nas hipótesesdo art. 174, parágrafo único, do CTN.

Da leitura dos seus incisos, vê-se que não basta o Fiscoajuizar a Execução Fiscal no prazo quinquenal: tem de obter o“despacho do juiz que ordena a citação”, este sim causa inter-ruptiva do prazo (art. 174, parágrafo único, inciso I, com aredação da LC 118/05). Antes da LC 118/05, apenas a efetivacitação pessoal é que interrompia o prazo, de modo que tinhagrande relevância a hipóteses do inciso II, que diz da inter-rupção “por qualquer ato judicial que constitua em mora o de-vedor”. É que, frustrada a citação pessoal, podia o Fisco obter oefeito interruptivo mediante citação por edital, constituindo odevedor em mora por essa forma.

O STJ consolidou posição no sentido de que a interrupçãoda prescrição retroage à data da propositura, forte no § 1º doart. 219 do CPC, considerado aplicável também à matéria

tributária.398

O despacho do Juiz que ordena a citação da empresa in-terrompe a prescrição também relativamente aos eventuaissócios-gerentes contra os quais, por força do cometimento deinfrações como apropriação indébita, venha a ser redirecionadaa execução com base no art. 135, III, do CTN. Os atos do Fisco,enquanto Exequente, diligenciando na execução contra aempresa, não impedem a retomada do prazo prescricional con-tra os sócios-gerentes. Determinada a citação da empresa, port-anto, terá o Fisco o prazo de cinco anos para obter o despacho

que ordene a citação do sócio-gerente em nome próprio.399

Mas, antes mesmo da Execução Fiscal, pode ser inter-rompido o prazo prescricional. O art. 174, parágrafo único,

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inciso II, do CTN estabelece, como causa interruptiva, oprotesto judicial promovido pelo Fisco, o que se dá nos termosdo art. 867 do CPC. O protesto de CDA em cartório, além dedescabido, porque absolutamente desnecessário para que seconfigure a mora do devedor e para que se possa proceder àexecução, não tem efeito interruptivo do prazo prescricional,pois não está previsto no parágrafo único do art. 174. Já o incisoIII do mesmo parágrafo estabelece, como causa interruptiva,“qualquer ato inequívoco que importe em reconhecimento dodébito pelo devedor”, no que se enquadram as confissões dedébito pelo contribuinte e o oferecimento de caução emgarantia através de ação cautelar.

Note-se que a interrupção do prazo prescricional devedar-se durante o quinquênio, sob pena de consumação daprescrição.

Cabe ao Magistrado o reconhecimento ex officio da pre-scrição, com a consequente extinção da Execução Fiscal. Emmatéria tributária, aliás, a prescrição extingue não apenas odireito de ação, mas o próprio crédito tributário por força dodisposto no art. 156, V, do CTN, de modo que se torna insub-sistente o próprio crédito objeto da execução. Diga-se, ainda,que a Lei 11.280/06, acrescendo o § 5º ao art. 219 do CPC, de-termina que o Juiz pronuncie de ofício a prescrição em todo equalquer processo, com o que afastou qualquer dúvida quantoa tal possibilidade. A Súmula 409 cuida da matéria: “Em ex-ecução fiscal, a prescrição ocorrida antes da propositura daação pode ser decretada de ofício (art. 219, § 5º, do CPC)”.

Pode ser alegada a prescrição, assim, através de simplesexceção de pré-executividade, ou seja, de petição nos autos daExecução apresentada pelo devedor, apontando impedimentoao prosseguimento da execução, acompanhada dos docu-mentos necessários à sua análise.

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Também há dispositivo expresso de lei autorizando o Juiza reconhecer, de ofício, a prescrição intercorrente: o art. 40, § 4º,da Lei 6.830/80 (LEF), com a redação da Lei 11.051/04.

A prescrição intercorrente é a que ocorre no curso da Ex-ecução Fiscal quando, interrompido o prazo prescricional pelodespacho do Juiz que determina a citação, se verificar a inérciado Fisco exequente, dando ensejo ao reinício do prazo quin-quenal. O art. 40 da LEF estabelece que, não encontrado o de-vedor ou bens, haverá a suspensão do processo por um ano.Tal prazo é para que o Fisco exequente realize diligências ad-ministrativas para localizar o devedor e bens, conforme o caso.Durante tal suspensão, presume-se que o Exequente esteja dili-gente, de modo que o reinício do prazo prescricional só ocorreapós o decurso do ano de suspensão, caso o Fisco permaneçainerte. Assim, nos autos, transcorrerão seis anos, desde a sus-pensão, para que se possa considerar ocorrida prescrição inter-corrente. Neste sentido, foi editada a Súmula 314 do STJ: “Emexecução fiscal, não localizados bens penhoráveis, suspende-seo processo por um ano, findo o qual inicia-se o prazo da pre-scrição quinquenal intercorrente”.

Ocorrendo prescrição intercorrente, deve o Magistradodar vista ao Fisco Exequente, para que demonstre a existênciade eventual causa suspensiva ou interruptiva do prazo (e.g. ad-esão a parcelamento). Não havendo tal demonstração, a pre-scrição é reconhecida, extinguindo-se a Execução. Eventualausência de intimação do Exequente só implicará nulidade dasentença quando demonstrado, em apelação, a ocorrência deefetivo prejuízo, ou seja, quando o Exequente demonstrar quehavia causa suspensiva ou interruptiva que não tenha sido con-siderada pela ausência da intimação para demonstrá-la. Docontrário, a sentença deve ser mantida.

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Notas do Capítulo XI

384 STJ, REsp 436.894.

385 TRF4, AMS 2004.72.03.000550-4, excerto do voto condutor.

386 STJ, Primeira Seção, Rel. Ministro LUIZ FUX, REsp 903.394/AL, 2010.

387 O prazo de cinco anos contados da extinção do crédito, estampado no art.168, I, do CTN, vinha sendo aplicado tendo como marco inicial a extinçãodefinitiva do crédito pela homologação tácita, o que só ocorria após cincoanos a contar do fato gerador, tendo em conta o art. 150, § 4º, c/c o art. 156,VII. Com isso, tínhamos 10 anos de prazo (5 + 5 = 10).

388 DIREITO TRIBUTÁRIO – LEI INTERPRETATIVA – APLICAÇÃORETROATIVA DA LEI COMPLEMENTAR 118/05 – DESCABIMENTO –VIOLAÇÃO À SEGURANÇA JURÍDICA – NECESSIDADE DEOBSERVÂNCIA DA VACACIO LEGIS – APLICAÇÃO DO PRAZOREDUZIDO PARA REPETIÇÃO OU COMPENSAÇÃO DE INDÉBITOS AOSPROCESSOS AJUIZADOS A PARTIR DE 9 DE JUNHO DE 2005. Quando doadvento da LC 118/05, estava consolidada a orientação da Primeira Seção doSTJ no sentido de que, para os tributos sujeitos a lançamento por homo-logação, o prazo para repetição ou compensação de indébito era de 10 anoscontados do seu fato gerador, tendo em conta a aplicação combinada dos arts.150, § 4º, 156, VII, e 168, I, do CTN. A LC 118/05, embora tenha se auto-pro-clamado interpretativa, implicou inovação normativa, tendo reduzido o prazode 10 anos contados do fato gerador para 5 anos contados do pagamento in-devido. Lei supostamente interpretativa que, em verdade, inova no mundojurídico deve ser considerada como lei nova. Inocorrência de violação à auto-nomia e independência dos Poderes, porquanto a lei expressamente interpret-ativa também se submete, como qualquer outra, ao controle judicial quanto àsua natureza, validade e aplicação. A aplicação retroativa de novo e reduzidoprazo para a repetição ou compensação de indébito tributário estipulado porlei nova, fulminando, de imediato, pretensões deduzidas tempestivamente àluz do prazo então aplicável, bem como a aplicação imediata às pretensõespendentes de ajuizamento quando da publicação da lei, sem resguardo denenhuma regra de transição, implicam ofensa ao princípio da segurançajurídica em seus conteúdos de proteção da confiança e de garantia do acesso àJustiça. Afastando-se as aplicações inconstitucionais e resguardando-se, nomais, a eficácia da norma, permite-se a aplicação do prazo reduzido relativa-mente às ações ajuizadas após a vacatio legis, conforme entendimento consol-idado por esta Corte no enunciado 445 da Súmula do Tribunal. O prazo devacatio legis de 120 dias permitiu aos contribuintes não apenas que tomassem

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ciência do novo prazo, mas também que ajuizassem as ações necessárias à tu-tela dos seus direitos. Inaplicabilidade do art. 2.028 do Código Civil, pois, nãohavendo lacuna na LC 118/08, que pretendeu a aplicação do novo prazo namaior extensão possível, descabida sua aplicação por analogia. Além disso,não se trata de lei geral, tampouco impede iniciativa legislativa em contrário.Reconhecida a inconstitucionalidade art. 4º, segunda parte, da LC 118/05,considerando-se válida a aplicação do novo prazo de 5 anos tão-somente àsações ajuizadas após o decurso da vacatio legis de 120 dias, ou seja, a partir de9 de junho de 2005. Aplicação do art. 543-B, § 3º, do CPC aos recursossobrestados. Recurso extraordinário desprovido.” (STF, Tribunal Pleno, Rel.Ministra ELLEN GRACIE, RE 566621, 2011)

389 Apenas na hipótese em que a restituição de indébito tributário não éefetiva, em face do não pagamento de precatórios, é que se pode pretender acompensação independentemente de autorização legal, com fundamentodireto no Texto Constitucional, pois, não efetuado o pagamento, tem o Judi-ciário de encontrar outro modo de dar cumprimento às suas decisões, satis-fazendo o direito do credor. A garantia de acesso à Justiça tem de ser efetiva,mesmo contra o Estado, sob pena de ruptura dos pilares do Estado de Direito.O art. 78 do ADCT atribui aos créditos de precatórios parcelados cujo paga-mento esteja atrasado efeito liberatório para a quitação de tributos, autoriz-ando, com isso, sua invocação para fins de compensação. Nos demais casos,contudo, ainda não há posição consolidada nos tribunais. A simples referên-cia à possibilidade de cessão dos precatórios a terceiros no § 13 do art. 100 daCF, acrescido pela EC 62/09, não constitui autorização para sua utilização emcompensações tributárias pelos cessionários.

390 STJ, Primeira Seção, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,REsp 1213082/PR, 2011.

391 O art. 45 da Lei 8.212/91, que estabelecia prazo de 10 anos para as con-tribuições de seguridade social, foi declarado inconstitucional pelo STF,posição consolidada na Súmula Vinculante 8, de junho de 2008. RE 559.882-9.

392 O STJ chegou a manter posição no sentido de que o prazo de cinco anospara o lançamento de ofício, no caso dos tributos sujeitos a lançamento porhomologação em que não tivesse ocorrido pagamento, seria contado a partirdo decurso do prazo que o Fisco teria para homologação do pagamento inex-istente. Assim, contando o prazo do art. 173, I, apenas após o decurso do prazdo art. 150, § 4º, chegava num prazo de 5 + 5 anos = 10 anos. Tal posição, con-tudo, decorria de uma análise equivocada do CTN, implicando, ademais, a in-explicável aplicação cumulativa da regra geral com a regra especial.

393 Sobre a polêmica a respeito do que se deve entender por vício formal,vide: FERREIRA, Fayad. O Vício Formal no Lançamento Tributário: Fixação do

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prazo Decadencial a Partir de Decisão Anulatória Definitiva. São Paulo: LivreExpressão, 2010.

394 STJ, REsp 1.155.127.

395 Dec. 70.235/72: “Art. 42. São definitivas as decisões: I – de primeira in-stância esgotado o prazo para recurso voluntário sem que este tenha sido in-terposto; II – de segunda instância de que não caiba recurso ou, se cabível,quando decorrido o prazo sem sua interposição; III – de instância especial.Parágrafo único. Serão também definitivas as decisões de primeira instânciana parte que não for objeto de recurso voluntário ou não estiver sujeita a re-curso de ofício.”

396 Vide, abaixo, o item relativo às leis complementares. Art. 5º do DL 1.569/77, STF RE 559.882-9. Arts. 2º, § 3º, e 8º, § 2º, da Lei 6.830/80, STJ, REsp708.227 e TRF4, AC 2000.04.01.071264-1.

397 STJ, Segunda Turma, Rel. Ministra ELIANA CALMON, REsp 1.165.216,2010.

398 STJ, Primeira Seção, Rel. Ministro LUIZ FUX, REsp 1120295, 2010.

399 “1. A citação da empresa executada interrompe a prescrição em relaçãoaos seus sócios-gerentes para fins de redirecionamento da execução fiscal. Noentanto, com a finalidade de evitar a imprescritibilidade das dívidas fiscais,vem-se entendendo, de forma reiterada, que o redirecionamento da execuçãocontra os sócios deve dar-se no prazo de cinco anos contados da citação dapessoa jurídica.” (STJ, Segunda Turma, Rel. Ministro MAURO CAMPBELLMARQUES, AgRg no Ag 1211213/SP, 2011).

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Capítulo XII – Garantias e Privilé-gios do Crédito Tributário

108. Meios de garantia e privilégios

O CTN cuida das garantias e dos privilégios do créditotributário, os quais ora tem cunho material, ora processual. OCTN aí enquadra, dentre outras, as chamadas preferências docrédito tributário relativamente a outros créditos.

O art. 183 deixa claro que a matéria é tratada no CTN,mas não em caráter exaustivo, admitindo expressamente que olegislador estabeleça outras garantias e privilégios em atençãoà natureza ou às características do tributo a que se refiram.

109. Sujeição do patrimônio do devedor à satis-fação do crédito

Estão sujeitos à satisfação do crédito tributário todos osbens e as rendas do sujeito passivo, inclusive os gravados porônus real ou cláusula de inalienabilidade ou

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impenhorabilidade, excetuados apenas os que a lei declare ab-solutamente impenhoráveis (arts. 184 do CTN e 30 da Lei6.830/80 – LEF). A inalienabilidade e a impenhorabilidade es-tabelecidas, a qualquer tempo, por ato de vontade são inoponí-veis ao Fisco.

Quando o débito tenha sido contraído em proveito dafamília, implica responsabilidade solidária do cônjuge fundadano interesse comum (art. 124, I, do CTN). Não aproveitando àfamília, resguarda-se a meação. Mas esta não impede a pen-hora e o leilão do bem, tampouco restringe a constrição àquota-parte do devedor. Conforme o art. 655-B do CPC, com aredação da Lei 11.382/06, “tratando-se de penhora de bem in-divisível, a meação do cônjuge alheio à execução recairá sobreo produto da alienação do bem”.

110. Bens absolutamente impenhoráveis por de-terminação legal

Apenas os bens absolutamente impenhoráveis, assim con-siderados aqueles cuja impenhorabilidade decorra direta e ex-clusivamente da lei, independentemente de qualquer ato devontade, é que não respondem pelo crédito tributário. É o quedecorre, a contrario sensu, do art. 184 do CTN e do art. 30 daLEF.

O conceito de bens absolutamente impenhoráveis, na ex-ecução fiscal, é, pois, mais estreito do que aquele constante doart. 649 do CPC, que estabelece serem “absolutamente impen-horáveis: I – os bens inalienáveis e os declarados, por atovoluntário, não sujeitos à execução;”. A remissão a ato

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voluntário, constante do art. 649, I, do CPC, é inaplicável à ex-ecução fiscal. Os demais incisos e leis específicas são aplicáveis.

Aplicam-se, por exemplo, os demais incisos do art. 649 doCPC, com redação da Lei 11.382/06:

“CAPÍTULO IV – DA EXECUÇÃO POR QUANTIACERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTESeção I – Da Penhora, da Avaliação e da ArremataçãoSubseção I – Das Disposições Gerais.[...]Art. 648. Não estão sujeitos à execução os bens que a leiconsidera impenhoráveis ou inalienáveis.Art. 649. São absolutamente impenhoráveis:I – os bens inalienáveis [...];II – os móveis, pertences e utilidades domésticas queguarnecem a residência do executado, salvo os de el-evado valor ou que ultrapassem as necessidadescomuns correspondentes a um médio padrão de vida;III – os vestuários, bem como os pertences de uso pess-oal do executado, salvo se de elevado valor;IV – os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remu-nerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúliose montepios; as quantias recebidas por liberalidade deterceiro e destinadas ao sustento do devedor e suafamília, os ganhos de trabalhador autônomo e os hon-orários de profissional liberal, observado o disposto no§ 3º deste artigo;V – os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios,os instrumentos ou outros bens móveis necessários ouúteis ao exercício de qualquer profissão; VI – o segurode vida;VII – os materiais necessários para obras em andamento,salvo se essas forem penhoradas;

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VIII – a pequena propriedade rural, assim definida emlei, desde que trabalhada pela família;IX – os recursos públicos recebidos por instituiçõesprivadas para aplicação compulsória em educação,saúde ou assistência social;X – até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos, aquantia depositada em caderneta de poupança.§ 1º A impenhorabilidade não é oponível à cobrança docrédito concedido para a aquisição do próprio bem.§ 2º O disposto no inciso IV do caput deste artigo não seaplica no caso de penhora para pagamento de prestaçãoalimentícia.Art. 650. Podem ser penhorados, à falta de outros bens,os frutos e rendimentos dos bens inalienáveis, salvo sedestinados à satisfação de prestação alimentícia.”

De ampla aplicação é, ainda, o art. 1º da Lei 8.099/90, quecuida do “bem de família”, estabelecendo que o imóvel resid-encial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impen-horável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil,comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, sendoque a impenhorabilidade compreende não apenas o imóvel,mas também os móveis que guarnecem a casa, excetuados asobras de arte e os adornos suntuosos. Tal impenhorabilidade éoponível à execução de créditos tributários, mas não à execuçãodaqueles relativos às contribuições previdenciárias sobre a re-muneração de quem trabalha na própria residência (caso dosempregados domésticos, mas não de trabalhadores even-

tuais),400 tampouco daqueles referentes a imposto predial outerritorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvelfamiliar, nos termos do art. 3º, incisos I e IV da própria Lei8.099/90. A interpretação destas exceções não deve serextensiva.

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Tem-se admitido a renúncia à impenhorabilidade, in-clusive tácita, quando os bens objeto de constrição tenham sidolivremente ofertados pelo executado em garantia da execuçãoou tenha ele deixado de alegar a impenhorabilidade naprimeira oportunidade em que teve para se manifestar, à ex-

ceção do bem de família.401 A proteção legal é irrenunciávelquanto ao bem de família, porque não se restringe ao devedor,de modo que “este não poderá, por ato processual individual eisolado, renunciar à proteção, outorgada por lei em norma de

ordem pública, a toda a entidade familiar”.402

111. Arrolamento administrativo de bens

O art. 64 da Lei 9.532/97 determina à autoridade fiscalque proceda ao arrolamento de bens e direitos do sujeitopassivo (preferencialmente bens imóveis) sempre que houverdívida vultosa, sendo os créditos tributários de sua responsab-ilidade de valor superior a trinta por cento de seu patrimônioconhecido e superior a R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais),conforme o § 7º do mesmo artigo, com o limite definido pelo

Decreto 7.573/11.403

Justificam o arrolamento créditos devidamente formaliz-ados (constituídos), por declaração do contribuinte ou porlançamento de ofício, este com a devida notificação do con-tribuinte, “pois somente com a constituição é que se podemidentificar o sujeito passivo e o quantum da obrigação

tributária...”.404

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O arrolamento, ou seja, a redução a termo da indicação debens do sujeito passivo capazes de garantir o crédito tributário,

não tem o efeito legal de implicar indisponibilidade,405 masé levado a registro, de modo que inibe eventuais interessados,além do que o proprietário, ao aliená-los ou onerá-los, devecomunicar o fato à unidade do órgão fazendário, sob pena derequerimento e deferimento de medida cautelar fiscal (art. 64, §4º, da Lei 9.532/97 e art. 2º, inciso VII, da Lei 8.397/92).

112. Ineficácia das alienações em fraude à dívidaativa

O art. 185 do CTN dispõe no sentido de que se presumefraudulenta a alienação ou oneração de bens ou rendas porsujeito passivo inscrito em dívida ativa. Estabelece, assim, ummarco depois do qual eventuais alienações que comprometama satisfação do crédito tributário, ainda que realizadas a títulooneroso, serão consideradas pelo Juiz da Execução como in-eficazes perante o Fisco. Efetivamente, a ineficácia do negóciosó poderá ser afastada se demonstrado, pelo executado, quereservou bens suficientes para fazer frente aos seus débitos in-scritos em dívida ativa.

Note-se que o art. 185 estabelece uma presunção em fa-vor do Fisco, não o impedindo, de outro lado, de buscar a in-eficácia de negócios anteriores à própria inscrição em dívidaativa quando possa demonstrar seu caráter fraudulento e a aus-ência de boa-fé também por parte do adquirente. Neste caso,contudo, não bastará alegar na Execução Fiscal; terá de fazê-loatravés da ação própria (pauliana ou revocatória). Poderá o

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Fisco, ainda, valer-se da Medida Cautelar Fiscal de modo a ob-star negócios que venham a comprometer patrimônio do de-vedor, ameaçando a garantia de satisfação dos créditostributários, nos termos da Lei 8.397/92.

A distinção entre a fraude à execução e a fraude contracredores é útil na diferenciação de tais situações, devendo-se,apenas, atentar para o fato de que, em matéria tributária, para aineficácia correspondente à fraude à execução basta que odébito esteja inscrito em dívida ativa, mesmo que ainda nãoajuizado, não se fazendo necessários o registro de certidão deajuizamento (art. 615-A do CPC, acrescentado pela Lei 11.382/06) ou a citação na execução.

113. Indisponibilidade dos bens

O devedor citado em execução fiscal tem o dever de ap-resentar o seu patrimônio para a satisfação do créditotributário. Aliás, o § 1º do art. 656 e o art. 600 do CPC, amboscom a redação da Lei 11.382/06 e aplicáveis subsidiariamente àexecução fiscal, são expressos justamente no sentido de que édever do executado indicar onde se encontram os bens sujei-tos à execução, exibir a prova de propriedade e se abster dequalquer atitude que dificulte ou embarace a realização da pen-hora, dever este cujo descumprimento é considerado ato at-entatório à dignidade da Justiça, sujeito a multa.

Caso o devedor tributário, citado, não pagar nem ap-resentar bens à penhora e não forem encontrados bens pen-horáveis, o juiz determinará, por força do estabelecido no art.185-A do CTN, a indisponibilidade de seus bens e direitos,

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comunicando a decisão, preferencialmente por meio eletrônico,para os órgãos de registros de transferência de bens, especial-mente ao registro público de imóveis e às autoridades super-visoras do mercado bancário e de capitais.

Note-se que tal decretação de indisponibilidade dependeda presença de três requisitos: a citação, a não apresentação debens à penhora e a frustração das diligências para encontrarbens penhoráveis. Cabe ao Fisco, pois, enquanto exequente,demonstrar a prévia realização de diligências (verificação debens junto ao registro de imóveis e ao departamento detrânsito) e a frustração daquelas realizadas pelo oficial dejustiça no domicílio do executado.

O bloqueio de ativos financeiros faz-se, normalmente, at-ravés do convênio BACEN-JUD, celebrado entre o Banco Cent-ral e o Poder Judiciário, que permite aos Juízes determinarem,pela Internet, a indisponibilidade de contas do executado, oque é cumprido automaticamente pelo BACEN junto às diver-sas instituições financeiras.

O bloqueio é limitado ao valor da execução. Ademais, éfundamental que haja cuidado no sentido de que não recaiasobre depósitos impenhoráveis, como valores correspondentesa salários, vencimentos e proventos e depósitos de até 40 salári-os mínimos em caderneta de poupança. Ocorrendo o bloqueiode bens impenhoráveis, tal deve ser comunicado pelo devedorpara fins de pronto levantamento da indisponibilidade.

A determinação de bloqueio (indisponibilidade) de ativosfinanceiros não implica violação ao sigilo bancário, pois sequerenseja o conhecimento de detalhes acerca da movimentaçãofinanceira do executado, como a origem e a destinação de re-cursos. A indisponibilidade apenas afeta bens do executado – eo dinheiro é preferencial para fins de penhora (arts. 655, I, doCPC e 11, I, da LEF) – à satisfação do crédito em execução,

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impedindo o executado de se furtar ao cumprimento das suasobrigações e à tutela jurisdicional a que tem direito o credor.Cabe destacar, aqui, que o art. 655-A do CPC, acrescentadopela Lei 11.382/06, dispõe expressamente que, “para possibilit-ar a penhora de dinheiro em depósito ou aplicação financeira, ojuiz, a requerimento do exequente, requisitará à autoridade su-pervisora do sistema bancário, preferencialmente por meioeletrônico, informações sobre a existência de ativos em nomedo executado, podendo no mesmo ato determinar sua in-disponibilidade, até o valor indicado na execução” (caput),sendo que “as informações limitar-se-ão à existência ou não dedepósito ou aplicação até valor indicado na execução” (§ 1º).

114. Preferência do crédito tributário, inclusivena recuperação judicial e na falência

O crédito tributário tem preferência relativamente acréditos de outra natureza, independentemente do tempo dasua constituição, ressalvados apenas os créditos trabalhistas eaos relativos a acidente de trabalho, conforme disposição in-equívoca do art. 186 do CTN. Isso significa que, não tendo odevedor patrimônio suficiente para fazer frente a todas as suasdívidas, serão primeiramente satisfeitos os créditos trabalhistase de acidente do trabalho e, logo em seguida, os créditostributários, ficando, todos os demais, em posição inferior.

Na falência, contudo, estarão à frente do créditotributário também os créditos extraconcursais, assim consid-erados aqueles relativos à própria administração da massa,como a remuneração do administrador judicial e de seus

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auxiliares e os créditos decorrentes de serviços prestados àmassa (Súmula 219 do STJ), bem como os créditos comgarantia real, no limite do bem gravado, tendo, esta últimapreferência, sido estabelecida pela LC 118/05, que acrescentouo parágrafo único ao art. 186 do CTN. Tais normas constam,igualmente, da Lei de Falências (Lei 11.101/05), em seus arts.83 e 84. Mas os créditos trabalhistas, na falência, só têmpreferência até 150 salários mínimos por credor, forte no art.186, parágrafo único, II, do CTN combinado com o art. 83, I, daLei 11.101/05.

Importa distinguir, na falência, os créditos relativos a trib-utos devidos, de um lado, dos créditos relativos a multa pordescumprimento de obrigação tributária, de outro. Isto porquea multa tributária prefere apenas aos créditos subordinados, ouseja, aos dos sócios e dos administradores sem vínculo empreg-atício, nos termos do art. 186, parágrafo único, III, do CTN e doart. 83, VIII, da Lei 11.101/05.

Ademais, contra a massa falida não são exigíveis jurosvencidos após a decretação da falência, salvo para cobrança,em último lugar, se houver bens disponíveis após a satisfaçãode todos os demais débitos, por força do art. 124 da Lei 11.101/05.

No regime do DL 7.661/45 (antiga Lei de Falências), ap-licável aos processos de falência ou de concordata ajuizados an-teriormente ao início da vigência da Lei 11.101/05 (art. 192), osjuros tinham o mesmo tratamento e as multas eram simples-mente inexigíveis, conforme determinavam os arts. 23, III, e 26daquele DL e as Súmulas 192 e 565 do STF.

Mas o fato de serem indevidas ou inexigíveis tais rubricasnão significa que devam ser excluídas da CDA. Apenas são ex-cluídas do cálculo, sem prejuízo de serem exigidas dos even-tuais responsáveis tributários.

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115. Autonomia da execução de crédito tributáriomesmo havendo juízo universal

Além de o crédito tributário gozar de preferência, tam-bém não se sujeita a concurso de credores, nos termos do art.187 do CTN. A Súmula 44 do extinto TFR já dispunha no sen-tido de que “ajuizada a execução fiscal anteriormente à falên-cia, com penhora realizada antes desta, não ficam os bens pen-horados sujeitos à arrecadação no juízo falimentar; proposta aexecução contra a massa falida, a penhora far-se-á no rosto dosautos do processo da quebra”.

Assim, a cobrança do crédito tributário mantém a suaautonomia. Isso significa que a execução fiscal ajuizada não éafetada pela superveniência de falência, recuperação judicial,inventário ou arrolamento. Prossegue a execução em seucurso, na Vara em que ajuizada, não se fazendo necessário se-quer que o Fisco habilite seu crédito no juízo universal.

O único cuidado que se impõe ao juízo da execução fiscalé verificar se há créditos que prefiram ao tributário a serem sat-isfeitos. Tal pode ser feito, por exemplo, mediante consulta aoJuízo da falência. Recebida a informação, pode-se enviar o nu-merário correspondente, ficando o saldo para a satisfação dadívida ativa. O STJ, contudo, tem proferido acórdãos no sen-tido de que o produto obtido na execução fiscal deve ser envi-ado, integralmente, ao Juízo da falência, sendo que este, con-forme a classificação dos créditos, procederá à satisfaçãodaqueles preferenciais e, havendo saldo, devolverá o montante

necessário à satisfação da dívida ativa.406

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Notas do Capítulo XII

400 STJ, Primeira Turma, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, REsp 644.733,2005.

401 STJ, Quarta Turma, Rel. Ministro HÉLIO QUAGLIA BARBOSA, AgRgEd-clREsp 787707, 2006.

402 STJ, Segunda Seção, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, REsp 526.460,2003.

403 Esse Decreto foi editado com suporte no § 10 do art. 64 da Lei 9.532/97,acrescentado pela Lei 11.941/09, que autoriza Executivo a aumentar ourestabelecer o limite.

404 STJ, Primeira Turma, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, REsp770.863, 2007.

405 STJ, Primeira Turma, Rel. Ministro LUIZ FUX, REsp 689.472, 2006.

406 STJ, Corte Especial, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS,REsp 188.148, 2001.

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Capítulo XIII – AdministraçãoTributária

116. Órgãos de administração tributária

O sujeito ativo da relação jurídico-tributária tem as prer-rogativas de fiscalizar, lançar e cobrar o respectivo tributo. Noâmbito federal, a maior parte dos tributos federais (os impostosem geral, as contribuições de seguridade social, inclusive asprevidenciárias e a terceiros etc.) tem como sujeito ativo a pró-pria União, que os administra através da Secretaria da ReceitaFederal do Brasil (SRFB), forte na unificação da administraçãotributária federal estabelecida pela Lei 11.457/07. Aliás, noportal da RFB, encontram-se todas as informações oficiais sobreos tributos que fiscaliza: <www.receita.fazenda.gov.br>.

Nos âmbitos estadual, distrital e municipal, a adminis-tração dos tributos dá-se através das respectivas Secretarias daFazenda.

117. Fiscalização tributária

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Compete aos Auditores Fiscais da Receita Federal doBrasil realizar a fiscalização e proceder ao lançamento de crédi-tos correspondentes aos tributos administrados pela Secretariada Receita Federal do Brasil. Nos âmbitos estadual, distrital emunicipal compete aos respectivos fiscais as atribuições de fisc-alização e lançamento.

O art. 196 do CTN dispõe no sentido de que “A autorid-ade administrativa que proceder ou presidir a quaisquer di-ligências de fiscalização lavrará os termos necessários para quese documente o início do procedimento, na forma da legislaçãoaplicável, que fixará prazo máximo para a conclusãodaquelas”. Esta exigência de formalização dos diversos atos re-cebe detalhamento no art. 7º, inciso I, do Dec. 70.235/72 (Lei doProcesso Administrativo Fiscal).

A fiscalização depende de autorização específica con-stante de um Mandado de Procedimento Fiscal (MPF) expe-dido pelo Delegado da Receita Federal do Brasil, autoridade re-sponsável pelas atividades de fiscalização tributária no âmbitode cada Delegacia. O MPF deve ser cumprido em 120 dias, po-dendo tal prazo ser prorrogado.

Ostentando o MPF, o Auditor dará início à chamada açãofiscal lavrando um Termo de Início de Ação Fiscal (TIAF) enotificando o sujeito passivo a apresentar a documentação cujaanálise seja necessária.

O art. 195 do CTN estampa a obrigação inequívoca dequalquer pessoa jurídica de dar à fiscalização tributária amploacesso aos seus registros contábeis, bem como às mercadorias eaos documentos respectivos. Conforme a Súmula 439 do STF,“estão sujeitos à fiscalização tributária ou previdenciáriaquaisquer livros comerciais, limitado o exame aos pontos ob-jeto da investigação”. A obrigação do contribuinte de exibir oslivros fiscais abrange também a obrigação de apresentar todos

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os documentos que lhes dão sustentação. O parágrafo único doart. 195 determina que o contribuinte preserve os livros de es-crituração comercial e fiscal e os comprovantes dos lançamen-tos neles efetuados até que ocorra a prescrição dos créditostributários decorrentes das operações a que se refiram. Dentreestes livros, estão o Livro Diário, em que é escriturada aposição diária de cada uma das contas contábeis, com seus re-spectivos saldos, o Livro Razão, utilizado para resumir ou to-talizar, por conta ou subconta, os lançamentos efetuados no

Livro Diário, e o LALUR, livro de apuração do lucro real.407

O art. 197 do CTN estabelece, para tabeliães, instituiçõesfinanceiras, administradoras de bens, corretores, leiloeiros edespachantes, inventariantes, síndicos, comissários e liquid-atários, dentre outros que a lei designe em razão de seu cargo,ofício, função, ministério, atividade ou profissão, a obrigator-iedade de prestarem informações sobre bens, negócios ouatividades de terceiros. Preserva, contudo, em seu parágrafoúnico, as informações quanto aos fatos sobre os quais o inform-ante esteja legalmente obrigado a observar segredo profission-al, de modo que, nesses casos, o segredo prevalece sobre os

deveres genéricos de informação tributária.408

A matéria atinente à obrigação das instituições financeirasé regulada, com maior detalhamento, pela LC 105/01, que de-termina a informação à administração tributária das operaçõesfinanceiras efetuadas pelos usuários de seus serviços, comidentificação dos titulares e dos montantes globais movimenta-dos mensalmente e, mediante requisição no bojo de procedi-mento fiscal devidamente instaurado, que seja facultado o ex-ame de documentos, livros e registros atinentes às respectivasmovimentações. Note-se que o sigilo bancário não constituium valor em si. Tem cunho meramente instrumental, só se jus-tificando em função da proteção dos verdadeiros direitos

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fundamentais consagrados constitucionalmental. Não ostenta,

de modo algum, caráter absoluto.409 Na quase totalidade dospaíses ocidentais, existe a possibilidade de acesso às movi-mentações bancárias sempre que tal seja importante para aapuração de crimes e fraudes tributárias em geral. No Brasil,não é diferente. A possibilidade de quebra depende da análisedo caso concreto, considerando-se as suas circunstâncias es-

pecíficas e o princípio da proporcionalidade.410 Além disso,deve-se considerar que sequer ocorre propriamente umaquebra de sigilo, mas, isto sim, uma transferência de sigilo.Isso porque as informações sob sigilo bancário são repassadasao Fisco, que tem a obrigação de mantê-las sob sigilo fiscal. Oart. 198 do CTN é expresso no sentido de vedar a divulgação,por parte da Fazenda Pública, de informação obtida em razãodo ofício sobre a situação econômica ou financeira do sujeitopassivo ou de terceiros e sobre a natureza e o estado de seusnegócios.

Mas o STF mantém posição no sentido de que o acesso àsmovimentações financeiras dependeria de ordem judicial, ouseja, de que estaria sob reserva de jurisdição: “SIGILO DEDADOS – AFASTAMENTO. Conforme disposto no inciso XIIdo artigo 5º da Constituição Federal, a regra é a privacidadequanto à correspondência, às comunicações telegráficas, aosdados e às comunicações, ficando a exceção – a quebra do sigilo– submetida ao crivo de órgão equidistante – o Judiciário – e,mesmo assim, para efeito de investigação criminal ou instruçãoprocessual penal. SIGILO DE DADOS BANCÁRIOS –RECEITA FEDERAL. Conflita com a Carta da República normalegal atribuindo à Receita Federal – parte na relação jurídico-tributária – o afastamento do sigilo de dados relativos ao con-tribuinte”. (STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro MARCO

AURÉLIO, RE 389808, 2010).411

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Caso seja necessária a apreensão dos documentos paraanálise, o Auditor lavrará o respectivo termo de apreensão.

Havendo descumprimento do dever de exibição dos liv-ros e documentos por parte da pessoa sujeita à fiscalização, oFisco pode aplicar multa por descumprimento de obrigação

acessória412 e buscar medida judicial que lhe assegure acessoaos mesmos. Embora o art. 200 do CTN autorize a requisiçãodo auxílio de força pública pelas próprias autoridades adminis-trativas quando, vítimas de embaraço no exercício de suas fun-ções, for necessário à efetivação de medida de fiscalização, oSTF tem entendido que, não obstante a prerrogativa do Fiscode solicitar e analisar documentos, os fiscais só podem ingres-sar em escritório de empresa quando autorizados pelo propri-etário, gerente ou preposto. Em caso de recusa, o auxílio deforça policial não pode ser requisitado diretamente pelos fisc-ais, mas pleiteado em Juízo pelo sujeito ativo, dependente queé de autorização judicial, forte na garantia de inviolabilidade

do domicílio, oponível também ao Fisco.413

A determinação de apresentação da documentação pre-scinde da invocação de qualquer suspeita de irregularidade. Averificação da documentação pode ser feita até mesmo parasimples conferência de valores pagos pelo contribuinte re-lativamente a tributos sujeitos a lançamentos por homologação.Efetivamente, jamais pode o contribuinte se furtar à fiscaliza-ção. Poderá, sim, opor-se a eventuais abusos dos agentes fiscaisou aos efeitos de eventual lançamento que entenda ilegal.

O art. 199 do CTN determina o auxílio mútuo entre asadministrações tributárias dos diversos entes políticos e atémesmo a colaboração com Estados estrangeiros no interesse daarrecadação e da fiscalização de tributos.

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A ação fiscal é encerrada com a lavratura de Termo deEncerramento da Ação Fiscal (TEAF), normalmente acompan-hado de Relatório Fiscal e, se for o caso, de Auto de Infração(AI), ao qual, necessariamente, deverão ser anexadas cópias detodos os documentos referidos no Termo e no Auto e entreguesao sujeito passivo.

118. Inscrição em dívida ativa

O crédito tributário definitivamente constituído, mas quepermanece em aberto, em face da ausência de pagamento pelocontribuinte, é inscrito em dívida ativa. A matéria é reguladapelos arts. 201 a 204 do CTN, 2º da LEF (Lei 6.830/80) e 39 daLei 4.320/64.

A constituição do crédito tributário poderá ter sido realiz-ada mediante lançamento pela autoridade, não mais sujeito arecurso, ou por simples declaração ou confissão prestada pelopróprio contribuinte. Ambos são modos de formalização da ex-istência e liquidez do crédito tributário, conforme destacamosno item específico sobre a matéria. Ademais, o art. 5º, §§ 1º e 2º,do DL 2.124/84 é expresso no sentido de que “o documentoque formalizar o cumprimento de obrigação acessória, comu-nicando a existência de crédito tributário, constituirá confissãode dívida e instrumento hábil e suficiente para a exigência doreferido crédito”, sendo que, “não pago no prazo estabelecidopela legislação, o crédito, corrigido monetariamente e acrescidoda mula de 20% e dos juros de mora devidos, poderá ser imedi-atamente inscrito em Dívida Ativa para efeito de cobrança ex-ecutiva”, o mesmo dispondo o art. 74 da Lei 9.430/96, quanto

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ao montante devido, objeto de declaração de compensaçãoquando a compensação não seja homologada ou venha a serconsiderada não declarada. Ademais, a jurisprudência é unís-

sona neste sentido.414 Por sua vez, o art. 12 da Lei 10.522/02,com a redação da Lei 11.941/09, dispõe no sentido de que “Opedido de parcelamento deferido constitui confissão de dívidae instrumento hábil e suficiente para a exigência do créditotributário”.

Tem sido admitida a inscrição em dívida do valor de-clarado, sem prejuízo do lançamento e inscrição de eventualdiferença ainda devida. Portanto, poderemos ter mais de umainscrição em dívida ativa relativamente ao mesmo tributo ecompetência, a primeira do valor declarado e a segunda dadiferença apurada em auto de infração.

A inscrição em dívida ativa é feita, no âmbito federal,pelos Procuradores da Fazenda Nacional, mediante controle dalegalidade da constituição do crédito, nos termos dos arts. 2º,§§ 3º e 4º, da LEF, do art. 12 da LC 73/93 e da Lei 11.457/07.Não havendo qualquer irregularidade, efetuam a inscrição emdívida ativa. Quando identificam vícios formais, ilegalidadesou imprecisões, devolvem o processo administrativo à ReceitaFederal do Brasil para revisão.

O Termo de Inscrição em Dívida Ativa é o documentoque formaliza a inclusão da dívida do contribuinte no cadastrode Dívida Ativa. Seus requisitos constam nos arts 202 do CTNe 2º, § 5º, da LEF. Indicará o nome e domicílio dos devedores,a quantia devida e a maneira de calcular os juros, a origem, anatureza e o fundamento legal do crédito, a data da inscriçãoe o número do processo administrativo de que se originar. Dainscrição em dívida ativa, extrai-se a respectiva Certidão deDívida Ativa (CDA), que deverá conter os mesmos dados eque valerá como título executivo, nos termos do art. 202,

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parágrafo único, do CTN, art. 2º, § 5º, LEF e art. 585, inciso VI,do CPC. Os requisitos, tanto do Termo de Inscrição em Dívidacomo da Certidão de Dívida Ativa, tem por fim evidenciar acerteza e liquidez do crédito neles representados e a ensejar aocontribuinte o exercício efetivo do seu direito de defesa quandodo ajuizamento da execução fiscal.

Embora o art. 203 do CTN diga da nulidade da inscrição eda execução dela decorrente quando da omissão de quaisqueros requisitos previstos no art. 202, tem prevalecido o entendi-mento de que o reconhecimento de nulidade depende dademonstração de prejuízo à defesa. Eventual vício que nãocomprometa a presunção de certeza e liquidez e que não im-plique prejuízo à defesa, como no caso em que o débito járestou sobejamente discutido na esfera administrativa, não jus-tifica o reconhecimento de nulidade, considerando-se, então,

como simples irregularidade.415 A referência, na CDA, a dis-positivos revogados, embora revele má técnica, não autoriza oreconhecimento automático de nulidade quando também es-tejam referidos os dispositivos vigentes por ocasião dos fatosgeradores e o crédito já tenha sido parcelado ou discutido ad-ministrativamente, de modo que se possa constatar que é depleno conhecimento da embargante, não implicando prejuízo àdefesa. Diferentemente, quando não haja nos autos elementosno sentido de ser do conhecimento do contribuinte a funda-mentação específica aplicável, verificando-se, assim, prejuízo àdefesa pela dificuldade de identificação da legislação pertin-ente, deve ser reconhecida a nulidade.

Não constando da inscrição e, posteriormente, da re-spectiva certidão, o nome dos responsáveis tributários, o fun-damento legal da sua responsabilidade e o processo adminis-trativo em que apurada, não poderá a futura execução ser auto-maticamente redirecionada contra os mesmos. Entendemos que

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o Fisco terá de apurar a responsabilidade, nos termos da Por-taria RFB 2.284/10, oportunizando a defesa do responsáveltributário, para só então, após o julgamento de eventuais im-pugnação e recurso, proceder à inscrição do seu nome emdívida e extrair título apto a ensejar execução contra ele. A Por-taria PGFN 180/10, anteriormente, contentava-se com a apur-ação da responsabilidade pela própria PFN, como requisitopara a inscrição do nome do suposto responsável no cadastrode dívida ativa. Os tribunais, por sua vez, vinham admitindoaté mesmo que o Exequente demonstrasse, por simples petiçãonos autos da execução fiscal, os fundamentos de fato e de

direito para o redirecionamento.416

A dívida regularmente inscrita goza da presunção de cer-teza e liquidez e tem o efeito de prova pré-constituída. Tal pre-sunção, porém, é relativa e pode ser ilidida por prova inequí-voca a cargo do sujeito passivo nos termos do art. 204 do CTN.Caberá, portanto, ao devedor, apontar e comprovar os víciosformais ou materiais da inscrição ou, ainda, da declaração oudo lançamento que lhe deram origem.

O sujeito passivo não tem direito à notificação quanto àinscrição. Não há previsão legal nesse sentido, além do que játerá ele se defendido administrativamente por ocasião dolançamento. A inscrição, ato interno da Administração, faz-seapenas quando já definitivamente constituído o créditotributário, ou seja, quando já superada a fase de defesaadministrativa.

A inscrição não tem qualquer implicação no curso doprazo prescricional relativamente aos créditos de naturezatributária. O art. 2º, § 3º, da LEF, que diz da suspensão doprazo prescricional por 180 dias, contados da inscrição dodébito em dívida ativa, só é aplicável à dívida ativa nãotributária. Quanto aos créditos tributários, sujeitam-se às

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normas gerais de direito tributário, as quais, nos termos do art.146, III, b, da CF, abrangem a prescrição. Como o art. 174 doCTN, ao cuidar da matéria, em nível de lei complementar, nãoprevê a suspensão do prazo pela inscrição em dívida, tal não se

dá.417 A cobrança amigável feita pela Procuradoria da FazendaNacional, por Aviso de Cobrança, também não tem efeitossobre a prescrição.

A inscrição e a cobrança de débitos de pequeno valorrevelam-se, por vezes, desinteressantes e antieconômicas para aFazenda Pública. Como os recursos financeiros e de pessoal sãoescassos, melhor atende aos princípios da economicidade e daeficiência concentrá-los na inscrição e cobrança de dívidas maiselevadas. Daí a existência de previsões legais estabelecendolimites mínimos para inscrição e execução e determinando o ar-quivamento das execuções de pequeno valor já existentes atéque surjam outros débitos ou que seus acréscimos justifiquemsua retomada. Aliás, há normas determinando que sequer se-jam lançados valores diminutos.

119. Certidões negativas de débito418

A exigência e a expedição de certidões de regularidadefiscal são reguladas pelos arts. 205 a 208 do CTN.

Decorre do art. 205 que apenas a lei poderá exigir a ap-resentação de certidão negativa, de modo que eventuais atosnormativos que inovem, condicionando a prática de atos à os-tentação de certidão para casos em que a lei não a requer ex-pressamente, serão inválidos. Mas nem mesmo a lei poderá

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exigir a apresentação de CND sem observância da razoabilid-ade e da proporcionalidade. Não poderá comprometer despro-

porcionalmente direito do contribuinte.419 O exercício dedireitos constitucionais como o direito ao trabalho e ao livre ex-ercício da atividade econômica, por exemplo, não podem, comoregra, ser condicionados à ostentação de regularidade fiscal.Ademais, deve-se atentar para a pessoalidade da situação fisc-al, de modo que não se condicione a certificação da regularid-ade fiscal de uma pessoa à verificação da regularidade deoutra. O STJ censura o condicionamento da expedição de cer-tidão para a pessoa física ao pagamento de dívida da empresa

de que é sócio.420

As certidões devem ser expedidas no prazo de até dez di-as, conforme o parágrafo único do art. 205 do CTN.

Certificar significa dar ao conhecimento informações con-stantes de arquivos, livros ou sistemas de determinada re-partição. Não se compadece, pois, com especulações, com pre-sunções. Exige o dado, o ato, devidamente anotado ouregistrado.

Não basta eventual presunção do Fisco de que o con-tribuinte não tenha cumprido suas obrigações tributárias. Nãoé suficiente, e.g., que deixe de constar do sistema de controle daarrecadação ingressos a título de determinada contribuiçãomensal. É preciso que o Fisco possa apontar a existência dedébito, o que depende de prévia formalização do créditotributário por declaração do contribuinte ou por lançamentoda autoridade devidamente notificado ao contribuinte (art.142). Efetivamente, embora o crédito surja simultaneamente àobrigação, apenas quando é documentada a sua existência éque o Fisco pode opor o crédito ao contribuinte, considerando-o devedor. No entanto, o § 10 do art. 32 da Lei 8.212/91, com aredação da Lei 11.941/09, dispõe no sentido de que o

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descumprimento das obrigações de declarar os dados relacion-ados a fatos geradores, base de cálculo e valores de con-tribuições previdenciárias impede a expedição de certidão deprova de regularidade fiscal perante a Fazenda Nacional. O STJtem dado aplicação a dispositivos como este, embora sem fazer

juízo quanto à sua constitucionalidade.421

A Certidão Negativa deve ser expedida quando efetiva-mente não conste dos registros do Fisco nenhum créditotributário formalizado em seu favor. Havendo lançamento(auto de infração, notificação fiscal de lançamento de débitoetc.) ou declaração do contribuinte (DCTF, Declaração deRendimentos etc.), não terá o contribuinte direito à CertidãoNegativa. O STJ, aliás, já assentou tal entendimento na Súmula446: “Declarado e não pago o débito tributário pelo con-tribuinte, é legítima a recusa de expedição de certidão negativaou positiva com efeito de negativa”. O mesmo acontece nas di-vergências entre a declaração do contribuinte e a respectivaguia de pagamento, quando o montante pago é inferior ao de-clarado. Valores declarados como devidos e impagos, ou pagosapenas parcialmente, ensejam a certificação da existência dodébito quanto ao saldo.

Havendo crédito tributário devidamente documentado,somente Certidão Positiva poderá ser expedida, cabendo,apenas, verificar se o contribuinte tem ou não direito à Cer-tidão Positiva com Efeitos de Negativa.

O art. 206 do CTN estabelece que “tem os mesmos efeitosprevistos no artigo anterior a certidão de que conste a existên-cia de créditos não vencidos, em curso de cobrança executivaem que tenha sido efetivada a penhora, ou cuja exigibilidadeesteja suspensa”.

Os sistemas do Fisco podem, pois, acusar três situaçõesdistintas:

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1ª SITUAÇÃO: inexistência de formalização de crédito,dando ensejo à expedição de Certidão Negativa deDébitos (CND);

2ª SITUAÇÃO: existência de crédito formalizadoexigível e não garantido por penhora, dando ensejo àexpedição de Certidão Positiva de Débitos (CPD);

3ª SITUAÇÃO: existência de crédito formalizado nãovencido, com a exigibilidade suspensa ou garantido porpenhora, dando ensejo à expedição de Certidão Positivade Débitos com Efeitos de Negativa (CPD-EN).

O fato de estar o crédito tributário sub judice não dá aocontribuinte o direito à Certidão Positiva com Efeitos de Negat-iva porque o ajuizamento de ação não tem, por si só, qualquerefeito suspensivo da sua exigibilidade. Apenas nas hipótesesdo art. 151 do CTN é que se poderá considerar suspensa a exi-gibilidade, ou seja nos casos de moratória ou parcelamento, de-pósito do montante integral, impugnação ou recurso adminis-trativo, liminar ou antecipação de tutela.

Como a penhora também enseja a obtenção de certidãocom efeitos de negativa, mas, por vezes, a execução tarda a serajuizada, tem-se admitido que o contribuinte se adiante à ex-ecução fiscal, oferecendo garantia em Ação Cautelar de Caução

para a obtenção do efeito da penhora.422 Não se cuida, porcerto, de contracautela a amparar a concessão de liminar sus-pensiva da exigibilidade. Fosse assim, não poderia a execuçãoser ajuizada, pois pressupõe título certo, líquido e exigível.Cuida-se, na verdade, de antecipação de penhora, devendo ob-servar, por isso, o rito previsto na LEF, especialmente a ordemde preferência constante do seu art. 11.

A comprovação da regularidade perante a Fazenda Na-cional depende da obtenção, pelo contribuinte, de certidão

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específica quanto às contribuições previdenciárias, expedidapela SRFB, e de certidão conjunta quanto aos demais tributos equanto à dívida ativa da União, também expedida pela SRFB.A certidão conjunta só é expedida quando não haja qualquerpendência. Havendo, deve ser esclarecida perante a Delegaciada Receita Federal ou, se relativo a débito inscrito em dívidaativa, perante a Procuradoria da Fazenda Nacional. A cadaqual caberá, então, expedir certidão quanto aos débitos sob suaresponsabilidade.

O Dec. 6.106/07, a IN RFB 734/07 e a Portaria ConjuntaPGFN/RFB 3/07 disciplinam a comprovação da regularidadefiscal seja quanto aos tributos em fase de lançamento e co-brança administrativa como quanto aqueles já inscritos emdívida ativa.

Notas do Capítulo XIII

407 MARTINS, Iágaro Jung. Obrigações Acessórias: livros e declarações. PortoAlegre: TRF – 4ª Região, 2006 (Currículo Permanente. Caderno de DireitoTributário: módulo 1).

408 VELLOSO, Andrei Pitten. Constituição Tributária Interpretada. São Paulo:Atlas: 2007, p. 48.

409 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro CELSO DE MELLO, MS 23.452, 1999;STJ, Sexta Turma, Rel. Ministro PAULO MEDINA, HC 24.577, 2003.

410 AMS 2003.70.00.012284-4.

411 Já decidira assim anteriormente: STF, Tribunal Pleno, Rel. MinistroCELSO DE MELLO, MS 23.452, 1999.

412 Vide arts. 32 e 95 da Lei 8.212/91.

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413 STF, Primeira Turma, Rel. Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE, AgRRE331.303, 2004; STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE,HC 79.512, 1999.

414 STJ, Primeira Turma, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, REsp 436.747, 2002;STJ, Primeira Turma, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, AgREsp 443.971, 2002.

415 STJ, Primeira Turma, Rel. Ministro LUIZ FUX, AgRgAg 485.548, 2003.

416 STJ, Primeira Turma, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, REsp729.192, 2006; STJ, Segunda Turma, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, REsp36.543, 1996.

417 STJ, Segunda Turma, Rel. Ministra ELIANA CALMON, REsp 708.227,2005; STJ, Primeira Turma, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, AgRgREsp189.150, 2003.

418 Para maior detalhamento deste ponto, vide nossa obra Manual das Cer-tidões Negativas de Débito. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009.

419 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro JOAQUIM BARBOSA, ADI 173, 20008;STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO, RE 413.782, 2005;Súmula STF 70: É inadmissível a interdição de estabelecimento como meiocoercitivo para cobrança de tributo; Súmula STF 323: É inadmissível aapreensão de mercadorias como meio coercitivo para pagamento de tributos;Súmula STF 547: Não é lícito à autoridade proibir que o contribuinte emdébito adquira estampilhas, despache mercadorias nas alfândegas e exerçasuas atividades profissionais.

420 STJ, Primeira Turma, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, REsp721.569, 2005; STJ, Segunda Turma, Rel. Ministra ELIANA CALMON, REsp439.198, 2003.

421 STJ, Primeira Seção, Rel. Ministro LUIZ FUX, REsp 1.042.585, 2010.

422 STJ, Primeira Turma, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, REsp536.037, 2005.

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Capítulo XIV – Regime doSimples Nacional

120. Regime simplificado e unificado de recolhi-mento de tributos para microempresas e empres-as de pequeno porte – Simples Nacional

A LC 123/06 estabelece o regime de tributação denom-inado SIMPLES NACIONAL, através do qual as microempres-as (ME) e as empresas de pequeno porte (EPP) podem sub-stituir a apuração e o recolhimento de cada tributo por elasdevido pela apuração e recolhimento de valor único com basena receita bruta. Tal sistema implica recolhimento, mediantedocumento único, não apenas de impostos e contribuições fed-erais – IRPJ, IPI, CSLL, COFINS, PIS/Pasep, contribuição pre-videnciária da empresa –, mas também do ICMS e do ISS. Osdemais tributos e algumas hipóteses de substituição tributárianão são abrangidos: IOF, II, IE, ITR, imposto de renda de ap-licações financeiras, imposto de renda relativo aos ganhos decapital auferidos na alienação de bens do ativo permanente,contribuição previdenciária do trabalhador e ICMS nas oper-ações ou prestações sujeitas ao regime de substituiçãotributária, dentre outros. O rol de tributos incluídos e dos ex-cluídos consta do art. 13 da LC 123/06.

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Cuida-se de regime opcional para o contribuinte, masque vincula, obrigatoriamente, os Estados e os Municípios. Orecolhimento é feito por documento único instituído peloComitê Gestor, sendo os valores repassados, por este, a cadaum dos entes políticos conforme a parcela que lhes cabe, nostermos dos arts. 21, I, e 22 da LC 123/06.

O enquadramento das pessoas jurídicas como mi-croempresas e como empresas de pequeno porte depende dasua receita bruta anual. A LC 123/06, com a redação da LC139/11, considera ME a pessoa jurídica que aufira no ano-calendário receita bruta de até R$ 360.000,00 (trezentos e ses-senta mil reais) e EPP a pessoa jurídica que aufira, no ano-calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 até R$3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais). Cabe notarque refira tais valores como receita bruta, conceitua esta comoo produto da venda de bens e serviços nas operações de contaprópria, o preço dos serviços prestados e o resultado nas oper-ações de conta alheia, restringindo-a, pois, à noção defaturamento.

Cabe destacar que nem todas as empresas com receitabruta inferior ao limite estão autorizadas a optar pelo regimeunificado. O art. 17 da LC 123/06 traz um rol de vedações aoingresso no SIMPLES NACIONAL, dentre as quais encontram-se as empresas que tenham sócio domiciliado no exterior, queprestem serviços de comunicação, de transporte intermunicipale interestadual de passageiros, decorrentes do exercício deatividade intelectual, de natureza técnica, científica, desportiva,artística ou cultual, que realizem cessão ou locação de mão deobra etc.

A opção pelo Simples Nacional implica aceitação de sis-tema de comunicação eletrônica para fins de recebimento de in-timações e notificações, inclusiva quanto a indeferimento de

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opção, exclusão do regime e ações fiscais, nos termos do art. 16,§ 1º-A, da LC 123/06, acrescido pela LC 139/11.

Entendemos que o Simples Nacional não constitui propri-amente um benefício fiscal que possa ser concedido ou suprim-ido conforme a conveniência dos entes políticos. É, isto sim,uma sistemática de tributação simplificada, mais adequada àestrutura das microempresas e das empresas de pequenoporte. Tem caráter permanente e unificado, por isso sua discip-lina por lei complementar. Tais empresas, portanto, têm direitoa recolher seus tributos pelo Simples Nacional, forte no art.146, parágrafo único, da Constituição. Pensamos ser inconstitu-cional o art. 17, V, da LC 123, que condiciona o ingresso e a ma-nutenção no sistema à inexistência de débitos tributários dasempresas. Mas o STJ tem precedente no sentido de que “se ocontribuinte não preenche os requisitos previstos na norma,mostra-se legítimo o ato do Fisco que impede a fruição do be-nefício referente ao regime especial de tributação”, inclusive

quando o requisito diz respeito “à quitação fiscal”.423

As alíquotas do SIMPLES NACIONAL são estabelecidasmediante a combinação de dois critérios estampados nas ta-belas anexas à LC 123/06, com a redação da LC 139/11: o tipode atividade (comércio, indústria, serviços e locação de bensmóveis, serviços) e a receita bruta. Variam de 4% (menoralíquota do comércio) a 17,42% (maior alíquota de serviços elocação de bens móveis).

Os débitos do Simples Nacional podem ser parcelados ematé sessenta parcelas, atualizadas pela SELIC, forte na autoriza-ção prevista na LC 139/11 e regulamentada pela Resolução 92/11 do Comitê Gestor do Simples Nacional. Antes, não existia talpossibilidade, pois as leis federais, estaduais ou municipais nãopodiam ser aplicadas por analogia, tendo em conta que o

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sistema unificado de pagamento de tributos envolve as três es-

feras e está sob reserva de lei complementar.424

As empresas podem optar pela sua exclusão do SIMPLESNACIONAL ou dele serem excluídas de ofício em casos comoo de exercício de atividade incompatível, extrapolação dos lim-ites de receita, embaraço à fiscalização e falta de escrituraçãodo livro-caixa.

O art. 33 da LC 123/06 atribui a competência para fiscal-izar o cumprimento das obrigações principais e acessórias re-lativas ao SIMPLES NACIONAL à SRF – hoje SRFB), às Secret-arias de Fazenda ou de Finanças dos Estados ou do DistritoFederal e, tratando-se de prestação de serviços incluídos nacompetência tributária municipal, também ao respectivoMunicípio.

Notas do Capítulo XIV

423 STJ, Primeira Turma, relator o Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI,RMS 27.376, 2009.

424 “Esta Corte já se pronunciou no sentido da legalidade da Portaria Con-junta PGFN/RFB n. 06/2009, a qual vedou a inclusão das empresas optantespelo Simples Nacional no parcelamento previsto na Lei n. 11.941/2009, porentender que apenas Lei Complementar pode criar parcelamento de débitosque englobam tributos de outros entes da federação, nos termos do art. 146 daConstituição Federal. Assim, em não havendo a referida lei, não há comoautorizar a inclusão dos optantes pelo Simples Nacional no referido parcela-mento.” (STJ, Segunda Turma, Rel. Ministro MAURO CAMPBELLMARQUES, REsp 1.267.033, 2011).

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Capítulo XV – ImpostosInstituídos

As características do tributo que conhecemos por “im-posto” são tratadas no Capítulo II deste livro. Lá, distinguimoso imposto das demais espécies tributárias e identificamos seuregime jurídico.

Agora, trataremos de cada um dos impostos do sistematributário brasileiro para que possamos compreender qual aabrangência possível de cada um, o que delimita seus fatosgeradores, bases de cálculo e contribuintes e como foramefetivamente instituídos. Partimos das normas constitucionaisde competência para as normas que constam das leis comple-mentares até chegar nas leis ordinárias que os instituíram, se-

jam estas federais, estaduais ou municipais.425

121. Imposto sobre importação (II)

O art. 153, I, da CF outorga competência à União para in-stituir imposto sobre “importação de produtos estrangeiros”.Os arts. 19 a 22 do CTN estabelecem o âmbito possível de seu

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fato gerador, base de cálculo e contribuintes. A instituição doImposto sobre Importação consta do DL 37/66, editado comforça de lei e ainda em vigor. É regulamentado pelo Decreto6.759/09.

Importação é o ato de trazer para o território nacional ou,

como diz AURÉLIO, “fazer vir de outro país (...)”.426 Mas, emseu sentido jurídico, não basta o simples ingresso físico. É im-prescindível a entrada no território nacional para incorporaçãodo bem à economia interna, seja para fins industriais, comerci-ais ou mesmo de consumo. Daí por que a simples entrada doautomóvel de um turista no território nacional, de um quadropara exposição temporária num museu ou de uma máquinapara exposição em feira, destinados a retornar ao país de ori-gem, não configuram importação, mas “admissão temporária”.Também não configura importação a entrada de produto parasimples passagem pelo território nacional com destino a outropaís, instituto jurídico denominado “trânsito aduaneiro”. Aadmissão temporária e o trânsito aduaneiro, por não configur-arem importação, não estão sujeitos a este imposto.

Produto é termo amplo que abrange tanto mercadorias(que têm finalidade comercial) como outros bens (destinados

ao uso ou consumo pelo importador).427

Estrangeiro, por sua vez, designa o produto que tem ori-gem em outro país, nele tendo sido produzido pela natureza oupela ação humana. Não se confunde com o produto nacionalque eventualmente retorne ao país, que não pode ser tributado

a título de II, sob pena de inconstitucionalidade.428

Em suma, a CF concede à União a possibilidade de in-stituir imposto sobre a entrada no território nacional, para in-corporação à economia interna, de bem destinado ou não ao

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comércio, produzido, pela natureza ou pela ação humana, forado território nacional.

O fato gerador (aspecto material da norma de incidência)é delimitado pelo art. 19 do CTN: “Art. 19. O imposto, de com-petência da União, sobre a importação de produtos estrangeir-os tem como fato gerador a entrada destes no território nacion-al”. O art. 1º do DL 37/66 que institui o Imposto de Im-portação, por sua vez, dispõe: “Art. 1º O Imposto sobre a Im-portação incide sobre mercadoria estrangeira e tem como fatogerador sua entrada no Território Nacional. (Caput comredação dada pelo Decreto-Lei 2.472, de 01/09/88) § 1º ...”. O §1º deste artigo, com a redação determinada pelo DL 2.472/88,ao estender a incidência sobre a mercadoria nacional ou

nacionalizada que retorne ao país é inconstitucional.429 O § 2º,por sua vez, considera presumida a entrada da mercadoria queconste da documentação como importada mas que não seja loc-alizada por ocasião do despacho aduaneiro, de modo que teráde ser pago o imposto acrescido, ainda, de multa de 50% sobreo imposto devido, nos termos do art. 106, II, d, do DL 37/66. Asperdas normais de manuseio e transporte de mercadoria agranel, por sua vez, configuram situação distinta, tolerada pelolegislador quando não superior a 5%, conforme o § 3º do artigo1º.

Considera-se ocorrido o fato gerador na data do registroda declaração de importação (aspecto temporal), realizado elet-ronicamente através do Sistema Integrado de Comércio Exteri-

or (SISCOMEX).430 A declaração é exigida para instrumentaliz-ar o controle aduaneiro e viabilizar o desembaraço do produtoimportado. Incide, pois, a legislação vigente por ocasião do Re-gistro da declaração de importação, já que este imposto não sesubmete às anterioridades de exercício e nonagesimal mínima(exceção que consta do art. 150, § 1º, da CF). É irrelevante,

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portanto, a data da expedição da licença de importação,431 as-sim como a data da assinatura do Termo de Responsabilidadenos casos de trânsito aduaneiro em que, ingressada a mer-cadoria com suspensão, acabe sendo devida por não restar

comprovada a chegada ao destino.432

O sujeito ativo do Imposto sobre a Importação é a pró-pria União, titular das prerrogativas atinentes à regula-mentação, fiscalização, lançamento e cobrança.

Contribuinte é “o importador, assim considerada

qualquer pessoa433 que promova a entrada de mercadoria es-trangeira no Território Nacional”, nos termos do art. 22, I, doCTN c/c o art. 31, I, do DL 37/66. No caso de remessa postalinternacional, contribuinte é o destinatário, conforme o art. 31,

II, do DL 37/66. O transportador434 é responsável tributário,conforme o art. 32, I, do DL 37/66, inclusive no caso de falta damercadoria.

A base de cálculo do imposto do imposto é o valoraduaneiro da mercadoria importada, nos termos dos arts. 20,II, do CTN e 2º, II, do DL 37/66, com a redação determinadapelo DL 2.472/88. O valor aduaneiro é estabelecido mediantesistemática estabelecida em acordo internacional (observando-se o inciso VII, nº 2, do GATT, nos termos do Decreto 92.930/86), correspondendo ao valor do produto no mercado inter-nacional. Assim, nem sempre a base de cálculo do imposto deimportação será exatamente o valor pelo qual o produto foi im-portado. Quando o valor da operação estiver abaixo do valornormal, poderá não servir de base de cálculo.

A alíquota a ser aplicada é definida pela chamada TarifaExterna Comum (TEC) do Mercosul ou na sua Lista de Ex-

ceções.435 Cabe ressaltar, forte na autorização constante do art.

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153, § 1º, da CRFB, e do art. 21 do CTN, que o Poder Executivo,observadas as condições e os limites estabelecidos em lei, podealterar as alíquotas do Imposto sobre a Importação, “a fim deajustá-lo aos objetivos da política cambial e do comércioexterior”.

O recolhimento do Imposto sobre a Importação, atravésdo SISCOMEX, constitui ato contínuo ao registro da declaraçãode importação, ocorrendo eletronicamente, on line, mediantedébito na conta do importador. Isso porque o RegulamentoAduaneiro (Decreto 6.759/09), em seu art. 107, determina que oimposto será pago na data do registro da declaração de im-portação. Aliás, o pagamento do Imposto sobre a Importação,assim como o do Imposto sobre Produtos Industrializados e doICMS, é condição para o desembaraço aduaneiro do produto,sem que, com isso, haja qualquer ofensa à Súmula 323 do STF.De fato, sendo tais tributos devidos por força da própria oper-ação de importação, a exigência do seu pagamento para a liber-ação do produto não é descabida nem configura meio im-próprio para a satisfação do crédito tributário. Não se cuida,pois, de constrangimento passível de ser encarado como

“sanção política”.436

O pagamento do imposto, no caso de importação por mi-croempresa optante pelo SIMPLES NACIONAL, por via ter-restre, de mercadorias procedentes do Paraguai, pode ocorreratravés de Regime de Tributação Unificada – RTU. Neste caso,o pagamento também é feito na data do registro da Declaraçãode Importação, mas aplicando-se a alíquota única de 42,25%sobre o preço de aquisição das mercadorias importadas, corres-pondendo 18% ao II, 15% ao IPI, 7,60% à COFINS-Importação e1,65% ao PIS-Pasep-Importação, tudo nos termos da Lei11.898/09.

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122. Imposto sobre exportação (IE)

O art. 153, II, da CRFB outorga competência à União paraa instituição de imposto sobre “exportação, para o exterior, deprodutos nacionais ou nacionalizados”. Os arts. 23 a 28 do CTNestabelecem as normas gerais atinentes ao Imposto sobre a Ex-portação, definindo o arquétipo para o fato gerador, base decálculo e contribuintes. O diploma básico do Imposto sobre aExportação é o Decreto-Lei 1.578/77, que instituiu o imposto,dispondo sobre todos os elementos da sua hipótese deincidência.

Exportação é o envio de produto para fora do territórionacional.

O termo produtos abrange tanto a mercadoria (com des-tinação comercial) como outros bens (para consumo, incorpor-ação ao ativo fixo etc.), além do que abrange tanto os produtosda ação humana (produtos manufaturados, industrializadosetc.) como os da própria natureza (produtos primários).

Nacionais são os produtos produzidos no territórionacional, enquanto nacionalizados são os produtos que ten-ham sido produzido fora, mas importados para o territórionacional para uso industrial, comercial ou consumo. O impostosobre a exportação pode recair tanto sobre a saída de produtosnacionais como de produtos nacionalizados. Mas não sobre asaída de produto estrangeiro que tenha entrado no país apenaspara participação em uma feira ou para simples trânsito peloterritório nacional, pois, nestes casos, nem chegou a ser“nacionalizado”.

O art. 23 do CTN estabelece o possível fato gerador doImposto sobre a Exportação: “Art. 23. O imposto, de competên-cia da União, sobre a exportação, para o estrangeiro, de

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produtos nacionais ou nacionalizados tem como fato gerador asaída destes do território nacional”. O DL 1.578/77, que in-stitui o Imposto sobre a Exportação, repete o CTN, dispondoem seu art. 1º, com as alterações das Leis 9.019/95 e 9.716/98:“Art. 1º O Imposto sobre a Exportação, para o estrangeiro, deproduto nacional ou nacionalizado tem como fato gerador asaída deste do território nacional”.

Considera-se ocorrido o fato gerador no momento do “re-gistro da exportação” junto ao Sistema Integrado de ComércioExterior (SISCOMEX), pois tal momento é o equivalente atualda expedição da antiga guia de exportação, conforme previsãono art. 1º, § 1º, do DL 1.578/77 e do art. 213 do Dec. 6.759/09.

O STF tem ressaltado que o “registro da exportação” nãopode ser confundido com o “registro da venda”, realizado an-teriormente à exportação, este irrelevante para a incidência doimposto, conforme o RE 223.796. Mas o STJ tem precedentes re-centes no sentido de que importa o registro de vendas (REsp964.151/PR e AgRg no AgRg no REsp 365.882).

O aspecto espacial, no Imposto sobre a Exportação, é iner-ente à descrição do próprio aspecto material: saída do produtonacional ou nacionalizado do “território nacional”, assim con-siderado o território geográfico, excluídas, pois, do conceito deterritório pátrio, as representações diplomáticas no exterior, asaeronaves e as embarcações brasileiras.

O sujeito ativo do Imposto sobre a Importação é a pró-pria União, titular das prerrogativas atinentes à regula-mentação, fiscalização, lançamento e cobrança.

O contribuinte é previsto pelo CTN: “Art. 27. Con-tribuinte do imposto é o exportador ou quem a lei a eleequiparar”. O DL 1.578/77, em seu art. 5º, ao instituir o Im-posto sobre a Exportação, define como contribuinte o

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exportador, assim considerada qualquer pessoa que promova asaída do produto do território nacional.

Nos termos do art. 24 do CTN, o imposto de exportaçãopode ser um valor fixo por unidade de medida (unidade, tone-lada, metro cúbico etc.), o que se chama de alíquota específica,ou variar conforme o valor normal do produto, sendo estabele-cido um percentual a incidir sobre a base de cálculo, o que sechama de alíquota ad valorem.

A base de cálculo do imposto de exportação é estabele-cida pelo art. 2º do DL 1.578/77, que institui o tributo, com aredação da MP 2.158-35/01, tornada permanente por força daEC 32/01: “Art. 2º A base de cálculo do imposto é o preço nor-mal que o produto, ou seu similar, alcançaria, ao tempo da ex-portação, em uma venda em condições de livre concorrência nomercado internacional, observadas as normas expedidas peloPoder Executivo, mediante ato do Conselho Monetário Nacion-al. (Redação determinada pela Medida Provisória 2.158-35, de24.8.2001) § 1º O preço à vista do produto, FOB ou posto nafronteira, é indicativo do preço normal”. A base de cálculo doImposto sobre a Exportação, portanto, é o preço FOB da mer-cadoria. FOB é um INCOTERM (international commercial

term),437 designando a cláusula padrão no comércio inter-nacional em que as obrigações do vendedor se encerramquando a mercadoria transpõe a amurada do navio no porto deembarque, ficando, daí em diante, por conta e sob a responsab-ilidade do comprador, não obrigando o vendedor pela con-tratação e pagamento de frete e de seguro, de modo que indicao preço da mercadoria sem tais custos. Por isso, FOB (free onboard).

As alíquotas do Imposto sobre a Exportação são estabele-cidas por resoluções da Câmara do Comércio Exterior(CAMEX). Isso porque o art. 3º do DL 1.578/77, com a redação

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determinada pela Lei 9.716/98, estabelece as condições e oslimites para que o Executivo altere as alíquotas, forte na autor-ização constante do art. 153, § 1º, da CRFB e do art. 26 do CTN,“para atender aos objetivos da política cambial e do comércioexterior”.

123. Imposto sobre renda e proventos dequalquer natureza (IR)

A competência para a instituição do imposto sobre arenda e proventos de qualquer natureza (IR) consta do art. 153,III, da CRFB, além do que, no § 2º do mesmo artigo, a CF es-tabelece os critérios a serem observados na sua instituição: gen-eralidade, universalidade e progressividade. Os arts. 43 a 45 doCTN estabelecem as normas gerais atinentes ao imposto sobrea renda e proventos, definindo os arquétipos para o fatogerador, base de cálculo e contribuintes. O Imposto sobre aRenda da Pessoa Física (IRPF) tem suporte, no âmbito da legis-lação ordinária, nas Leis 7.713/88 e 9.250/95, dentre outras. OImposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ), por sua vez,tem suporte nas Leis 8.981/95 e 9.430/96, dentre outras. ODecreto 3.000, de 26 de março de 1999, regulamenta a fiscaliza-ção, arrecadação e administração tanto do IRPF como do IRPJ.

O art. 153, III, da CRFB outorga competência à Uniãopara a instituição de imposto sobre “renda e proventos dequalquer natureza”.

A extensão dos termos “renda” e “proventos dequalquer natureza” dá o contorno do que pode ser tributado edo que não pode ser tributado a tal título. Na instituição do

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imposto, o legislador ordinário não pode extrapolar a amp-litude de tais conceitos, sob pena de inconstitucionalidade.

A renda é o acréscimo patrimonial produto do capital oudo trabalho. Proventos são os acréscimos patrimoniais decor-rentes de uma atividade que já cessou. “Acréscimo patrimoni-al”, portanto, é o elemento comum e nuclear dos conceitos derenda e de proventos, ressaltado pelo próprio art. 43 do CTNna definição do fato gerador de tal imposto.

ROQUE ANTONIO CARRAZZA esclarece: “renda édisponibilidade de riqueza nova, havida em dois momentosdistintos. ...é o acréscimo patrimonial experimentado pelo con-tribuinte, ao longo de um determinado período de tempo. Ou,ainda, é o resultado positivo de uma subtração que tem, porminuendo, os rendimentos brutos auferidos pelo contribuinte,entre dois marcos temporais, e, por subtraendo, o total das de-duções e abatimentos, que a Constituição e as leis que com elase afinam permitem fazer. [...] tanto a renda quanto os provent-os de qualquer natureza pressupõem ações que revelem mais-valias, isto é, incrementos na capacidade contributiva. Só di-ante de realidades econômicas novas, que se incorporam aopatrimônio da pessoa..., é que podemos juridicamente falar em

renda ou proventos de qualquer natureza”.438

Não se pode admitir, a título de tributação da renda ou deproventos de qualquer natureza, a tributação do próprio capit-al ou mesmo do faturamento, sob pena de extrapolação da baseeconômica, que pressupõe necessariamente o acréscimo patri-monial num determinado período de tempo.

Está bastante sedimentada, ainda, a jurisprudência nosentido de que as indenizações não ensejam a incidência deimposto de renda. Isso porque não implicam acréscimo patri-monial, apenas reparam uma perda, constituindo mera recom-posição do patrimônio, conforme o STF, RE 188.684-6/SP.

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Por constituírem indenização, é que não incide impostode renda sobre a conversão em dinheiro de férias vencidas e

não gozadas,439 sobre o pagamento de férias proporcionais não

gozadas e sobre o respectivo acréscimo de 1/3440 e sobre as

licenças-prêmio não gozadas.441 Consideram-se indenizatórios

os pagamentos a título de auxílio-creche442 e as ajudas de custo

pela utilização de veículo próprio.443 Tem-se entendido que até

mesmo os juros pagos na desapropriação444 ou pagos em re-

clamatória trabalhista sobre valores indenizatórios445 integrama indenização e, por isso, não se sujeitam à incidência do IR.OSCAR VALENTE CARDOSO, aliás, afirma que “não se dis-tinguem as verbas após a incorporação dos acessórios (multa,correção monetária, juros moratórios e outras verbas) à quantiaprincipal, sendo esta que vai determinar a concretização – ou

não – da hipótese de incidência...”.446 Mas também há preced-entes no sentido de que os juros sempre teriam caráter indeniz-

atório, mesmo quando relativos a verbas remuneratórias.447

O STJ firmou posição no sentido de que não incide im-posto de renda sobre a indenização pecuniária por dano morale o fez em sede de acórdão sujeito ao regime dos recursos re-

petitivos.448 Havia consistente doutrina em sentido con-

trário,449 destacando que não se deveria confundir o pat-rimônio moral (irrelevante para fins de tributação) com o pat-rimônio econômico (revelador de capacidade contributiva). Taldoutrina, contudo, restou superada pelo entendimento do STJno sentido da não incidência.

De qualquer modo, é preciso ter em conta que nem tudo oque se costuma denominar de indenização, mesmo material,efetivamente corresponde a simples recomposição de perdas.

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Não é o nome atribuído à verba que definirá a incidência ounão do imposto. Verbas que constituam acréscimo patrimonial,ainda que pagas sob a rubrica de “indenização”, serão tributa-

das.450 Assim, e.g., as supostas indenizações pagas por liberal-idade do empregador quando da rescisão do contrato de tra-

balho.451 O STJ também tem precedentes no sentido de que acomplementação de aposentadoria recebida por ocasião daaposentadoria incentivada, para assegurar paridade com o

salário da ativa, se sujeita ao IR.452

Embora sujeito à anterioridade de exercício estabelecidapelo art. 150, III, b, da CF, o Imposto de Renda foi excepcionadoda necessidade de observância da anterioridade nonagesimalmínima de que cuida a alínea c do mesmo inciso, conforme sevê do § 1º do art. 150, de modo que a majoração ocorrida ao fi-nal de determinado ano poderá produzir efeitos relativamenteao período a se iniciar em 1º de janeiro seguinte independente-mente da haver ou não o interstício de noventa dias entre apublicação da lei e a virada do exercício.

A generalidade é critério a ser observado na instituiçãodo Imposto de Renda. Conforme DIFINI, “Generalidade signi-fica que o tributo deve abranger todos os contribuintes quepratiquem o ato ou estejam em igual relação com o fato

descrito na hipótese de incidência”.453

Outro critério a ser observado é a universalidade, se-gundo o qual o imposto de renda deve abranger quaisquer ren-das e proventos auferidos pelo contribuinte. É este, também, oentendimento de DIFINI: “(...) universalidade significa incidir otributo sobre todos os fatos descritos na hipótese de incidência(no caso do imposto de renda, incidir indistintamente sobre di-versas espécies de rendimentos). Tais princípios não impedem,todavia, a concessão de isenções objetivas ou subjetivas.

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Impedem é a exclusão apriorística de determinada categoria depessoas ou rendimentos do rol dos sujeitos passivos ou dos fa-

tos tributáveis”.454

Em face do critério constitucional da universalidade, ter-se-ia de considerar a totalidade das rendas do contribuintecomo uma unidade, sem estabelecer distinções entre tipos derendas para efeito de tributação diferenciada. Contudo, a legis-lação estabelece, por exemplo, tributação exclusiva na fonte dosrendimentos de aplicação financeira e tributação isolada dosganhos de capital.

A progressividade, por sua vez, é critério que exige vari-ação positiva da alíquota à medida que há aumento da base decálculo. De fato, ocorre progressividade quando há diversasalíquotas graduadas progressivamente em função do aumentoda base de cálculo: quanto maior a base, maior a alíquota.Como imposto de natureza pessoal, o IR deve, necessaria-mente, ser graduado segundo a capacidade econômica do con-tribuinte também por força de determinação expressa constantedo art. 145, § 1º, da CRFB. A progressividade, aliás, serve de in-strumento para a tributação da renda conforme a capacidadecontributiva.

O CTN dispõe sobre o aspecto material (fato gerador) doimposto, dizendo que é a aquisição da disponibilidade econ-ômica ou jurídica de renda ou de proventos de qualquernatureza: “Art. 43. O imposto, de competência da União, sobrea renda e proventos de qualquer natureza tem como fatogerador a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica: I– de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalhoou da combinação de ambos; II – de proventos de qualquernatureza, assim entendidos os acréscimos patrimoniais nãocompreendidos no inciso anterior. § 1º A incidência do impostoindepende da denominação da receita ou do rendimento, da

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localização, condição jurídica ou nacionalidade da fonte, da ori-gem e da forma de percepção. (Parágrafo incluído pela LC 104, de10.1.2001) § 2º Na hipótese de receita ou de rendimento oriun-dos do exterior, a lei estabelecerá as condições e o momento emque se dará sua disponibilidade, para fins de incidência do im-posto referido neste artigo. (Parágrafo incluído pela LC 104, de10.1.2001)”.

Aquisição é o ato de adquirir, ou seja, de obter, con-seguir, passar a ter. Disponibilidade é a qualidade ou estadodo que é disponível, do que se pode usar livremente, é a “qual-idade dos valores e títulos integrantes do ativo dum comerci-ante, que podem ser prontamente convertidos em numer-

ário”.455

Sendo fato gerador do imposto a “aquisição da disponib-ilidade econômica ou jurídica de renda ou proventos dequalquer natureza”, não alcança a “mera expectativa de ganho

futuro ou em potencial”.456 457 Tampouco configura aquisiçãoda disponibilidade econômica ou jurídica de renda ou provent-os a simples posse de numerário alheio. A disponibilidadejurídica resta caracterizada para o locador de imóvel, e.g., jáquando há o recebimento, pela imobiliária, do aluguel pagopelo locatário, ainda que a imobiliária não tenha prestado con-

tas ao locador.458 OSCAR VALENTE CARDOSO bem con-ceitua as disponibilidades econômica e jurídica: “A disponibil-idade econômica ocorre com o recebimento da renda, a sua in-corporação ao patrimônio, a possibilidade de utilizar, gozar oudispor dela. Por sua vez, a disponibilidade jurídica dá-se com aaquisição de um direito não sujeito a condição suspensiva, ouseja, o acréscimo ao patrimônio ainda não está economica-mente disponível, mas já existe um título para o seu

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recebimento, como, por exemplo, os direitos de crédito

(cheque, nota promissória etc.)”.459

Os §§ 1º e 2º do art. 43 referem-se a “receita” ou rendi-mento. Receita, contudo, é palavra com sentido bem mais largoque o de renda ou proventos, enfim, que o de acréscimo patrimo-nial, pois receita é qualquer quantia recebida. De fato, receita

vem do latim recepta, significando “coisas recebidas”.460

Assim, não considera as saídas, as despesas. De qualquermodo, não se pode perder de vista que a definição do fatogerador está condicionada pela base econômica dada à trib-utação pelo art. 153, III, da CF, que refere “rendas ou proventosde qualquer natureza”, e não “receitas”. Não se pode, portanto,dar ao dispositivo infraconstitucional sentido que desborde danorma de competência, sob pena de inconstitucionalidade.Nunca é demais lembrar que o legislador infraconstitucionalnão pode alterar os conceitos utilizados pelas normas constitu-

cionais que outorgam competências.461

O imposto de renda é imposto com fato gerador com-plexo ou de período (quando são considerados diversos fatosao longo de um período de tempo – os ingressos e as despesas– para considerá-los como uma unidade), o que exige a defin-ição legal do momento em que se deva considerar como ocor-rido o fato gerador, ou seja, a definição legal do aspecto tem-poral da hipótese de incidência tributária. Por certo que, de-pendendo da consideração de todo o conjunto de receitas edespesas ocorridos no período de apuração (anual ou tri-mestral), não tem o legislador grande liberdade para estabele-cer ficções nesta matéria, considerando ocorrido o fato geradorno último dia do período. Admite-se, contudo, que seja es-tabelecida a obrigação de o contribuinte antecipar parcelas a

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medida em que vai percebendo a renda, do que são exemplo os

pagamentos mensais devidos pelas pessoas físicas.462

No IRPF, considera-se ocorrido o fato gerador em 31 dedezembro do ano-calendário, embora haja a determinação deantecipações anuais, sujeitas a posterior ajuste. No IRPJ, tem-seperíodo de apuração trimestral, podendo, a pessoa jurídica quepagar com base no lucro real, optar pelo período anual, com

antecipações mensais.463 No imposto trimestral, considera-seocorrido o fato gerador ao final de cada trimestre civil; no anu-al, em 31 de dezembro do ano-calendário.

O imposto sobre a renda e proventos de qualquernatureza caracteriza-se pela extraterritorialidade, ou seja, poralcançar fatos geradores ocorridos não apenas no territórionacional como fora dele, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 43 doCTN, do § 4º do art. 3º da Lei 7.713/88 e do art. 25 da Lei9.249/95. Trata-se de imposto da União, e não há vedação con-stitucional alguma a que o legislador estabeleça tal tributação.Pelo contrário, há quem defenda que o critério da universalid-ade, previsto no art. 153, § 2º, I, da CRFB, a impõe. A tributaçãoem bases universais contrapõe-se ao critério puro e simples daterritorialidade. Mas a União firmou inúmeros tratados inter-nacionais para evitar a bitributação, definindo em que paísserá tributada a renda.

Sujeito ativo do imposto sobre a renda é a própria União,cabendo a administração do imposto à Secretaria da ReceitaFederal.

Quanto aos contribuintes, dispõe o CTN: “Art. 45. Con-tribuinte do imposto é o titular da disponibilidade a que serefere o artigo 43, sem prejuízo de atribuir a lei essa condiçãoao possuidor, a qualquer título, dos bens produtores de rendaou dos proventos tributáveis. Parágrafo único. A lei pode

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atribuir à fonte pagadora da renda ou dos proventos tributá-veis a condição de responsável pelo imposto cuja retenção e re-colhimento lhe caibam”.

São contribuintes do IRPF as pessoas físicas residentes oudomiciliadas no Brasil, nos termos do art. 1º da Lei 7.713/88.

As pessoas físicas que percebem rendimentos de outraspessoas físicas devem providenciar o pagamento mensal doimposto de renda através do denominado carnê-leão. Por sipróprias, apuram o montante devido e realizam o recolhimentomensal respectivo, procedendo, posteriormente, ao ajuste anualaté o final do mês de abril do exercício subsequente.

No caso de percepção de rendimentos pagos por pessoasjurídicas, a sistemática é diversa, pois teremos, então, a retençãona fonte do imposto devido, nos termos do art. 7º da Lei 7.713/88. O imposto retido nessa sistemática ao longo do ano (ano-calendário) será deduzido do montante a pagar por ocasião doajuste anual, realizado até o final de abril do ano subsequente(o ano do exercício), verificando, então, o contribuinte, se ainda

resta algo a recolher ou se tem direito à restituição.464 É im-portante destacar que a omissão da fonte pagadora em efetuara retenção não exclui a responsabilidade do contribuinte pelopagamento do imposto, o qual fica obrigado a declarar o valor

recebido em sua declaração de ajuste anual.465

Até 30 de abril do ano subsequente ao ano-base, as pess-oas físicas apuram o imposto sobre a renda e proventos efetiva-mente devido, compensando o montante que já foi objeto deadiantamentos mensais (carnê-leão ou retenção), apurando, en-tão, o saldo a restituir (em caso de pagamento antecipado amaior) ou a pagar (em caso de pagamento antecipado a men-or), neste caso efetuando o recolhimento à vista ou

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parceladamente. Tal apuração é objeto da Declaração do Im-posto de Renda da Pessoa Física (declaração de ajuste).

São contribuintes do IRPJ as pessoas jurídicas e firmas in-dividuais, nos termos do art. 146 do RIR/99. As pessoasjurídicas estão obrigadas à apresentação da Declaração de Im-posto de Renda da Pessoa Jurídica até o último dia do mês de

março de cada ano.466

Quanto à base de cálculo, dispõe o art. 44 do CTN: “Art.44. A base de cálculo do imposto é o montante, real, arbitradoou presumido, da renda ou dos proventos tributáveis”.

O art. 3º da Lei 7.713/88 estabelece, como base de cálculopara o imposto de renda da pessoa física, o seu rendimentobruto. Há discussões sobre a possibilidade da equiparação darenda e proventos de qualquer natureza ao rendimento bruto.Entende-se que determinadas despesas têm de ter a sua de-dução autorizada por lei, como as referentes à saúde e à edu-cação, consagrados nos arts. 196 e 205 da CRFB como direitosde todos e deveres do Estado. O fundamento está, ainda, nofato de que tais despesas visam à preservação da saúde e àqualificação como instrumentos, inclusive, para a própriaaquisição da renda, de modo que a tributação dos valores desti-nados ao seu custeio não implicaria tributação de acréscimopatrimonial. A lei autoriza deduções da base de cálculo comoas relativas a despesas com educação, observado o limite indi-vidual por dependente, e a despesas médicas, estas sem limitede valor. Vale ressaltar que inexiste fundamento suficiente paraa pretensão de atualização das tabelas de deduções em juízo,pois inexiste indexação automática, não podendo o Judiciário

substituir o legislador quanto a isso.467

A lei também estabelece montante a ser deduzido dopróprio imposto devido, conforme o patamar dos rendimentos

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auferidos, de modo que a faixa isenta assim o seja para todos oscontribuintes, e que a faixa sujeita à cada alíquota assim o sejapara todos os contribuintes, ou seja, de modo a fazer com quese tenha a chamada progressividade gradual, por faixas, e nãoa progressividade simples. A parcela a deduzir e as alíquotas pro-gressivas constam da Lei 11.482/07, com a redação da MP 528/11, como segue:

Para o ano-calendário de 2012:Tabela Progressiva Mensal

Base de Cálculo (R$) Alíquota (%) Parcela a Deduzir do IR (R$)

Até 1.637,11 - -

De 1.637,12 até 2.453,50 7,5 122,78

De 2.453,51 até 3.271,38 15 306,80

De 3.271,39 até 4.087,65 22,5 552,15

Acima de 4.087,65 27,5 756,53

Para o ano-calendário de 2013:Tabela Progressiva Mensal

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Base de Cálculo (R$) Alíquota (%) Parcela a Deduzir do IR (R$)

Até 1.710,78 - -

De 1.710,79 até 2.563,91 7,5 128,31

De 2.563,92 até 3.418,59 15 320,60

De 3.418,60 até 4.271,59 22,5 577,00

Acima de 4.271,59 27,5 790,58

A partir do ano-calendário de 2014:Tabela Progressiva Mensal

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Base de Cálculo (R$) Alíquota (%) Parcela a Deduzir do IR (R$)

Até 1.787,77 - -

De 1.787,78 até 2.679,29 7,5 134,08

De 2.679,30 até 3.572,43 15 335,03

De 3.572,44 até 4.463,81 22,5 602,96

Acima de 4.463,81 27,5 826,15

A tabela para o ajuste anual corresponde à soma das ta-

belas mensais vigentes no respectivo ano-calendário.468

Também pode ser deduzido do imposto apurado, nos ter-

mos o art. 12 da Lei 9.250/95,469 “até o exercício de 2015, ano-calendário de 2014, a contribuição patronal paga à PrevidênciaSocial pelo empregador doméstico incidente sobre o valor daremuneração do empregado”, estando a dedução limitada “a) aum empregado doméstico por declaração, inclusive no caso dadeclaração em conjunto; b) ao valor recolhido no ano-calendário a que se referir a declaração;”, aplicando-se“somente ao modelo completo de Declaração de Ajuste Anual;”e não podendo exceder “a) ao valor da contribuição patronalcalculada sobre um salário mínimo mensal; b) ao valor do

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imposto apurado”, ficando condicionado “à comprovação daregularidade do empregador doméstico junto ao regime geralde previdência social quando se tratar de contribuinteindividual”.

Há rendas tributadas em separado, como o ganho de

capital,470 e rendas tributadas exclusivamente na fonte, comoas decorrentes de aplicações financeiras e aquelas relativas a

rendimentos recebidos acumuladamente.471 Nesses casos, omontante tributado não se comunica com os demais rendimen-tos para efeito de ajuste, ou seja, ficam tais rendimentos àmargem do ajuste, sendo apenas informada, na declaração, emcampos específicos, a sua percepção e o imposto opor-tunamente pago ou suportado.

O ganho de capital decorrente da compra e venda de imó-veis é tributado à alíquota de 15%. Nos termos da Lei 11.196/05, contudo, são isentas a alienação de imóveis de até R$35.000,00 e a alienação de imóvel residencial para aquisição deoutro dentro de 180 dias, sendo, portanto, esta última isenção,condicional. A mesma Lei estabeleceu a possibilidade de cor-reção do preço de aquisição do bem para cotejo com o preço devenda de modo a que se apure o ganho efetivo, e não simplesganho inflacionário.

Os rendimentos de capital (renda fixa e renda variável)são tributados pelo imposto sobre a renda à alíquota de 20%.As rendas advindas de prêmios e sorteios em dinheiro são trib-utadas à alíquota de 30%.

A pessoa jurídica, por sua vez, submete-se, ordinaria-mente, ao imposto de renda calculado com base no lucro realou com base no lucro presumido, podendo, ainda, vir a ser trib-utada com base no lucro arbitrado.

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A tributação pelo lucro real pressupõe maiores rigoresformais para a apuração efetiva do lucro da pessoa jurídica,mediante consideração das suas receitas e das deduçõescabíveis. Apura-se efetivamente o lucro ocorrido, calculando-sesobre ele, o montante devido a título de IRPJ. Não há que seconfundir o lucro líquido – que é o lucro contábil – com o lucroreal. O que difere é que as deduções e compensações admissí-veis para a apuração do lucro líquido não correspondem exata-mente àquelas admitidas para fins de apuração da base de cál-culo do IRPJ, ou seja, do lucro real. Assim, obtido o lucrolíquido, fazem-se as adequações necessárias (adições, exclusõese compensações) para a apuração do lucro real.

O valor devido a título de CSLL integra a base de cálculo

do IRPJ, não havendo, quanto a isso, qualquer vício.472

A alíquota padrão é de 15% sobre o lucro real. Há, ainda,um adicional de 10% sobre o montante do lucro real que super-ar, no mês, R$ 20.000,00, conforme o art. 2º, §§ 1º e 2º, da Lei9.430/96. Desse modo, acaba ficando em 25% para grandeparte das pessoas jurídicas.

Já as tributações pelos lucros presumido e arbitrado en-volvem a utilização de bases substitutivas.

Empresas com receita até determinado patamar podemoptar por ser tributadas pelo lucro presumido. Em vez deapurarem o lucro real, apuram um lucro presumido, seguindoo art. 15 da Lei 9.249/95. Sobre tal base de cálculo presumida (épresumida porque, em verdade, o lucro pode ter sido maior, oumenor, que tal percentual da receita), aplica a alíquota e recolheo imposto. Como o lucro é presumido, a pessoa jurídica ficadispensada da apuração do lucro real e das formalidades quelhe são inerentes.

O IRPJ é apurado sobre o lucro arbitrado em caráter ex-cepcional, quando a pessoa jurídica tributada com base no

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lucro real não cumprir corretamente as respectivas obrigaçõesacessórias (manter escrituração na forma das leis comerciais efiscais, elaborar e apresentar as demonstrações exigidas...),houver fraude ou vícios comprometedores da idoneidade daapuração realizada, tiver ocorrido opção indevida pelo lucropresumido, enfim, quando não for possível apurar adequada-mente o imposto com base no lucro real ou presumido. Nãoseria o descumprimento das obrigações acessórias ou mesmo oardil do contribuinte que o dispensariam do ônus tributário.Como fazer, e.g., quando não há forma de se apurar sequer areceita da pessoa jurídica, por ausência ou vícios graves na suacontabilidade? Para contornar tais situações, a legislação autor-iza o cálculo do imposto sobre o lucro arbitrado. O art. 51 daLei 8.981/95 estabelece critérios para o arbitramento do lucro.

124. Imposto sobre produtos industrializados (IPI)

O art. 153, IV, da CRFB outorga competência à Uniãopara a instituição de imposto sobre “produtos industrializa-dos”, o IPI. Combinando-se tal dispositivo com o § 2º, I, domesmo artigo, depreende-se que pode ser tributada a “oper-ação” com “produtos industrializados”.

Operação, na linguagem do Direito, é negócio jurídico.473

Segundo ROBERTO QUIROGA MOSQUERA, o termo oper-ações “pressupõe uma visão dinâmica das relações sociais enão uma posição estática”, pois “realizar operações pressupõe

a existência de alguém em relação oposta”.474

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Já produto, é qualquer bem produzido pela natureza oupelo homem. O conceito de produto diferencia-se, assim, doconceito de mercadoria, que é o bem destinado ao comércio;aquele, o produto, é tanto o bem destinado ao comércio comoao consumo ou a qualquer outra utilização.

A palavra industrializado designa o que se industri-alizou, ou seja, o que foi objeto de indústria. O parágrafo únicodo art. 46 dispõe no sentido de que se considera industrializadoo produto “que tenha sido submetido a qualquer operação quelhe modifique a natureza ou a finalidade, ou o aperfeiçoe parao consumo”. O art. 3º, parágrafo único, da Lei 4.502/64, refereque se considera industrialização “qualquer operação de queresulte alteração da natureza, funcionamento, utilização, acaba-

mento ou apresentação do produto”.475 O Regulamento do IPI(Decreto 7.212/10), considera industrialização “ qualquer oper-ação que modifique a natureza, o funcionamento, o acaba-mento, a apresentação ou a finalidade do produto, ou o aper-feiçoe para consumo” (art. 4º), ainda que “incompleta, parcialou intermediária” (art. 3º), e exemplifica com a transformação,o beneficiamento, a montagem, o acondicionamento ou reacon-

dicionamento e a renovação ou recondicionamento.476 Vê-seque cada diploma legislativo parece alargar mais o conceito deindustrialização. O elastecimento que decorre do regulamentoparece, inclusive, desbordar do sentido possível dos termosconstantes do art. 46, parágrafo único, do CTN, particular-mente no que diz respeito ao acondicionamento ou reacondi-

cionamento.477

Desse modo, o imposto em questão pode ser instituído re-lativamente a negócio jurídico que tenha por objeto bem oumercadoria submetidos por um dos contratantes a processode industrialização. Pressupõe, portanto, a industrialização e asaída do produto do estabelecimento industrial. Assim, o IPI

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incide nas operações de que participa o industrial que industri-alizou o produto, mas não, e.g., na venda por comerciante aoconsumidor porque, embora possa se tratar de produto indus-trializado (como qualidade do produto), não se trata de oper-ação com produto que tenha sido industrializado pelo comerci-

ante (que apenas o adquiriu para revenda).478 A compreensãode que a base econômica do IPI são as “operações comprodutos industrializados”, também evita confusão entre os

âmbitos de tributação do IPI e do ISS.479 JOSÉ EDUARDOSOARES DE MELO afirma que, no IPI, a obrigação tributáriadecorre da realização de “operações” no sentido jurídico (atode transmissão de propriedade ou posse), relativo a um bemanteriormente elaborado (esforço humano que consistiu numatransformação ou criação de uma nova utilidade). A obrigaçãoconsiste num “dar o produto industrializado”, pelo própriorealizador da operação jurídica. Embora este, anteriormente,tenha produzido um bem, consistente em seu trabalho pessoal,sua obrigação principal consiste na entrega desse bem, no

oferecimento de algo corpóreo, materializado.480

A CRFB, através do § 1º do art. 153, atenua a legalidadetributária estrita relativamente ao Imposto sobre Produtos In-dustrializados, dentre outros impostos, ao facultar ao PoderExecutivo a alteração das alíquotas, atendidas as condições e oslimites estabelecidos em lei, conforme se vê adiante no trata-

mento do aspecto quantitativo.481

O § 1º do art. 150 da CRFB estabelece exceção à anterior-idade de exercício relativamente ao IPI, mas não à anteriorid-ade nonagesimal, restando, pois, submetida a esta a instituiçãoe a majoração do imposto.

Já o § 3º do art. 153, estabelece que o IPI será seletivo enão cumulativo, imuniza os produtos destinados ao exterior e

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determina a redução do seu impacto sobre a aquisição de Bensde capital.

O critério da seletividade constitui uma imposição con-stitucional, e não uma faculdade do legislador, nos termos doinciso I do § 3º do art. 153 da CF. As alíquotas deverão variarem função da essencialidade do produto, sob pena de incon-stitucionalidade. Ser seletivo implica ter alíquotas diferencia-das dependendo do produto (individualmente considerado) oudo tipo de produto (se alimentício, de higiene, têxtil etc.), sendoque o critério para tal seletividade é dado pelo próprio con-stituinte: o grau de essencialidade do produto. A seletividadenão se confunde com a progressividade, em que se tem simplesagravamento do ônus tributário conforme aumenta a base decálculo.

O inciso II do § 3º do art. 153 da CF impõe a não cumu-latividade e define como ocorrerá, determinando que o IPI seja“não cumulativo, compensando-se o que for devido em cadaoperação com o montante cobrado nas anteriores”. Cuida-se de

norma eficácia plena, autoaplicável.482 A não cumulatividadeconstitui uma técnica de tributação que visa a impedir que asincidências sucessivas nas diversas operações da cadeia econ-ômica de um produto impliquem um ônus tributário muito el-evado, decorrente da múltipla tributação da mesma base eco-nômica, ora como insumo, ora como produto intermediário oumaterial de embalagem integrando o produto final. Em outraspalavras, consiste em fazer com que o IPI não onere, em cas-cata, a produção. Isso ocorreria caso o IPI pudesse ser cobrado,sem qualquer compensação, nas diversas saídas de produtosindustrializados ocorridas numa cadeia de industrializações.

A operacionalização da não cumulatividade dá-se medi-ante o sistema de creditamentos. Quando da aquisição de in-sumo tributado pelo IPI, o industrial se credita do respectivo

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montante, deduzindo-o posteriormente do que vier a deverquando da saída dos seus próprios produtos industrializados.O creditamento independe do efetivo pagamento do mont-ante devido na operação anterior. O industrial adquirente

credita-se do valor de IPI simplesmente destacado na Nota.483

Ademais, a utilização dos créditos não está vinculada à saídada mercadoria em que incorporado o insumo. Não se es-tabelece relação entre a entrada do insumo e a saída especifica-mente do produto final que o incorporou no processo de indus-trialização. Tal identidade é irrelevante. Trabalha-se, sim, porperíodos em que se faz o creditamento do IPI relativo a todosos insumos, produtos intermediários e embalagens entrados noestabelecimento, procedendo-se à compensação com o IPIdevido pela saída de produtos finais no mesmo período. O art.49 do CTN dispõe: “Art. 49. O imposto é não-cumulativo,dispondo a lei de forma que o montante devido resulte dadiferença a maior, em determinado período, entre o impostoreferente aos produtos saídos do estabelecimento e o pago re-lativamente aos produtos nele entrados. Parágrafo único. Osaldo verificado, em determinado período, em favor docontribuinte, transfere-se para o período ou períodosseguintes”.

Os insumos ensejadores de creditamento são asmatérias-primas e os produtos intermediários que integrem onovo produto ou sejam consumidos no processo de industri-alização, bem como as embalagens, nos termos do art. 25 daLei 4.502/64. Portanto, nem toda a entrada que diz respeito aofuncionamento da indústria enseja o creditamento. Asaquisições de bens do ativo permanente e mesmo de energiaelétrica não têm sido consideradas como autorizadoras de cred-

itamento.484 Com mais razão, ainda, não há como a indústriapretender se creditar na entrada de outros bens como materiais

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de limpeza, materiais de expediente, uniformes, capacetes,botas, luvas, cintos de segurança e demais equipamentos indi-viduais obrigatórios, combustíveis relativos ao transporte dematéria-prima adquirida e de mercadorias vendidas, pneus eoutras peças de veículos próprios, peças de máquinas e equipa-mentos desgastados nas operações, óleos lubrificantes das má-quinas e equipamentos.

Também não há direito a creditamento quando da en-trada de produto não onerado pelo IPI, seja por força de is-enção, de alíquota zero, de imunidade ou de simples não in-cidência. Isso porque o creditamento pressupõe efetiva co-brança. Orientação nesse sentido foi consolidada pelo STFquando do julgamento do RE 566.819, em setembro de 2010,que rechaçou definitivamente a pretensão de que a não cumu-latividade pudesse assegurar a tributação pelo valor agregado.

Outro é o caso em que, sendo a matéria-prima tributada,o produto final é isento, sujeito à alíquota zero, não tributadoou imune. Entende o STF que a substância jurídica da não cu-mulatividade está na compensação do que for devido em cadaoperação com o montante cobrado nas operações anteriores, demodo que não se aperfeiçoa quando não houver produtoonerado na saída. Daí por que, a princípio, se não ocorre in-cidência na saída do produto final, os créditos apropriados naentrada devem ser estornados. Apenas se a Lei expressamenteestabelecer é que a indústria poderá manter os créditos apro-priados na entrada dos insumos e utilizá-los para outro fimmesmo que seus produtos tenham a saída desonerada, o queocorreu através do art. 11 da lei 9.779/99 que permite a utiliza-ção dos saldos credores mantidos para fins de compensaçãocom outros tributos mediante remissão aos artigos 73 e 74 da

Lei 9.430/96.485

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A LC 123/06, que instituiu o SIMPLES NACIONAL, vedaa apropriação de crédito na aquisição de insumos “por”empresa optante pelo SIMPLES e “de” empresa optante:“SEÇÃO VI – Dos Créditos Art. 23. As microempresas e asempresas de pequeno porte optantes pelo Simples Nacionalnão farão jus à apropriação nem transferirão créditos relativosa impostos ou contribuições abrangidos pelo SimplesNacional”.

Outra discussão recorrente diz respeito à correção mon-etária do crédito de IPI. O STF entende que a não cumulativid-ade não assegura a correção monetária do crédito básico, quetem natureza escritural, dependendo a correção, assim, de lei

que a autorizasse.486 É preciso ter em conta, de outro lado, con-tudo, que tal se restringe ao crédito oportunamente escrituradoe utilizado na compensação com débitos de IPI na sistemáticaprópria da não cumulatividade. A Súmula 411 do STJ consol-ida o entendimento de que “É devida a correção monetária aocreditamento do IPI quando há oposição ao seu aproveita-mento decorrente de resistência ilegítima do Fisco”.

O § 3º do art. 153 da CRFB estabelece, ainda, em seu in-ciso III, a imunidade dos produtos industrializados destina-dos ao exterior: “III – não incidirá sobre produtos industrializa-dos destinados ao exterior”. Com isso, quando houver a saídade mercadorias do estabelecimento industrial ou equiparadotendo como destino outro País, a operação se dará sem exigên-cia de IPI. A imunidade em questão é autoaplicável, bastanteem si, dispensando qualquer regulamentação. Aliás, seus ter-mos são claros e não admitem moderação.

Cabe-nos, agora, tratar da instituição do IPI, analisandoos aspectos da norma tributária impositiva.

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O sujeito ativo do IPI é a própria União, pois cuida-se deimposto federal e nenhuma outra pessoa jurídica de direitopúblico é indicada por lei para tal posição.

Há três fatos geradores em potencial para o IPI, defin-idos no art. 46 do CTN: “I – o seu desembaraço aduaneiro,quando de procedência estrangeira; II – a sua saída dos es-tabelecimentos a que se refere o parágrafo único do art. 51; III –a sua arrematação, quando apreendido ou abandonado elevado a leilão”. Mas só foi instituído IPI quanto aos doisprimeiros; na arrematação, não.

O fato gerador nas operações internas é a saída doproduto industrializado dos estabelecimentos dos con-tribuintes, ou seja, a saída do estabelecimento industrial ouequiparado ou do estabelecimento de comerciante que forneçaproduto industrializado à indústria. Isso porque o art. 51, pará-grafo único, indica como contribuintes para as operações in-ternas o industrial ou quem a lei a ele equiparar (II) e o comer-ciante de produtos sujeitos ao imposto, que os forneça aos con-tribuintes definidos no inciso anterior (III). Note-se que este úl-timo não é um industrial, mas um comerciante intermediárioentre industriais. Resta colocado como contribuinte do IPIapenas para preservar a cadeia de incidências do IPI e, comisso, o sistema de creditamentos e a não cumulatividade doimposto.

A Lei 4.502/64 dispõe: “Art. 2º Constitui fato gerador doimpôsto: II – quanto aos de produção nacional, a saída do re-spectivo estabelecimento produtor”.

Vale ressaltar que se impõe a saída por força de uma“operação” com produto industrializado, ou seja, por força deum negócio jurídico. As saídas sem tal pressuposto não dãoensejo, a rigor, à incidência do IPI, como é o caso da meratransferência física entre estabelecimentos da mesma empresa,

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ou da saída para uma exposição em uma feira e posterior re-

torno.487

Havendo negócio jurídico, não importa a finalidade doproduto, ou seja, se é destinado ao comércio, à incorporação aoativo fixo do adquirente ou a qualquer outra finalidade, con-forme o § 2º do art. 2º da Lei 4.502/64.

A base de cálculo, nas operações internas, é “o valor daoperação de que decorrer a saída da mercadoria”, conforme oart. 47, II, a, do CTN. Assim, a utilização de pautas fiscais com

bases prefixadas488 não encontra amparo, só se prestando vali-damente a subsidiar lançamento na hipótese de haver descon-formidade entre o preço constante da documentação e o preço

efetivamente praticado.489

A Lei 7.798/89, ao acrescer o § 2º ao art. 14 da Lei 4.502/64, determina que não podem ser deduzidos do valor da oper-ação os descontos, diferenças ou abatimentos, concedidos aqualquer título, “ainda que incondicionalmente”, mas tal dis-positivo tem sido considerado incompatível com o CTN, pois“valor da operação” é o que resulta do ajuste consensual entrevendedor e comprador, inclusive como resultado de descontos

incondicionais.490 Já se decidiu, ainda, que os juros, na vendafinanciada, não podem ser incluídos na base de cálculo do

IPI.491 Também tem merecido censura a inovação trazida pelaLei 7.798/89 que, ao acrescer o § 3º ao art. 14 da Lei 4.502/64,determinou que o frete realizado por empresa coligada ou in-

terligada integre a base de cálculo do IPI.492

O IPI também incide na importação, tendo por fatogerador o desembaraço aduaneiro do produto, nos termos doart. 46, I, do IPI e do art. 2º, I, da Lei 4.502/64), sendo denom-inado, então, IPI-Importação. É necessário, de qualquer modo,

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que tal importação se enquadre como operação com produtoindustrializado (art. 153, IV, combinado com seu § 2º). Enten-demos, por isso, que não poderia incidir na importação realiz-ada não diretamente do industrial estrangeiro, mas de dis-tribuidor ou comerciante, ou relativa a bem adquirido no exter-ior e trazido pelo próprio importador, pois faltaria operaçãoou, ao menos, operação com produto industrializado por umadas partes. Mas ainda não há jurisprudência nesse sentido e o

IPI costuma ser exigido.493

O STF tem entendido que o caráter não cumulativo do IPItem de ser assegurado também na importação, o que só ocor-reria quando a importação fosse realizada por industrial, capazde creditar-se e de repassar o ônus em operação posterior. Porisso, já decidiu impedindo a cobrança do IPI na importação por

pessoa física.494 Não concordamos com tal posição, porquanto,quando o importador não for contribuinte do IPI nas operaçõesinternas, sequer haverá cumulação de incidências a ser evitada.A incidência será única na entrada do produto, qualificando-seo IPI-Importação como tributo direto e figurando o importadorcomo contribuinte, sem que haja qualquer inconstitucionalid-ade nisso.

Na importação, contribuinte do IPI é o importador ouequiparado, nos termos do art. 51, I, do CTN e do art. 35, I, b,da Lei 4.502/64.

A base de cálculo do IPI na importação é o preço normal(valor aduaneiro), acrescido do imposto sobre a importação,das taxas exigidas para entrada do produto no país e dos encar-gos cambiais, conforme dispõe o art. 47 do CTN. O art. 14, I, b,da Lei 4.502/64 refere-se ao “valor que servir de base, ou queserviria se o produto tributado fôsse para o cálculo dos tribut-os aduaneiros, acrescido de valor dêste e dos ágios esobretaxas cambiais pagos pelo importador”.

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As alíquotas do IPI estão estabelecidas na chamada TIPI– Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializ-ados –, variando conforme a essencialidade de cada produto,nos termos dos Decretos 6.006/06, 6.890/09 e 7.543/11. Na TIPIsão identificados os produtos e atribuídas as respectivasalíquotas, sendo que o critério para a variação tem de ser a es-sencialidade do produto. Nessa tabela, por vezes figuramprodutos não industrializados, por isso considerados não trib-utados (NT), e há também produtos industrializados tributadosà alíquota zero (0%), além daqueles tributados normalmentecom alíquotas próprias (15%, 30% etc.) Para verificar na TIPI aalíquota aplicável a cada produtos, faz-se o enquadramentopelos critérios da especificidade e da essencialidade.

O IPI é imposto sujeito a lançamento por homologação,cabendo ao contribuinte a responsabilidade pela verificação dasua ocorrência, cálculo e recolhimento, independentemente dequalquer ato do Fisco. Este só agirá quando o pagamento nãofor realizado ou for insuficiente, ensejando o lançamento de ofí-cio, conforme dispõe a Lei 4.502/64: “Art. 21. A autoridade ad-ministrativa efetuará de ofício o lançamento mediante a in-stauração do processo fiscal, quando o contribuinte não o fizerna época própria ou fizer em desacôrdo com as normas destalei”.

O período de apuração do IPI,495 para a maioria dos

produtos, é mensal,496 inclusive para as microempresas e

empresas de pequeno porte.497

O IPI incidente sobre as operações internas é tributoabrangido pelo SIMPLES NACIONAL, nos termos do art. 13,II, da LC 123/06, de modo que, sendo optante, a empresa nãorecolherá separadamente o IPI. O IPI-Importação não estáabrangido pelo SIMPLES NACIONAL, conforme

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expressamente dispõe o art. 13, § 1º, inciso XII, da LC 123/06.Mas o pagamento do imposto no caso de importação por mi-croempresa optante pelo SIMPLES NACIONAL, por via ter-restre, de mercadorias procedentes do Paraguai, pode ocorreratravés de Regime de Tributação Unificada – RTU. Neste caso,o pagamento também é feito na data do registro da Declaraçãode Importação, mas aplicando-se a alíquota única de 42,25%sobre o preço de aquisição das mercadorias importadas, corres-pondendo 18% ao II, 15% ao IPI, 7,60% à COFINS-Importação e1,65% ao PIS-Pasep-Importação, tudo nos termos da Lei11.898/09.

125. Impostos sobre operações de crédito, câm-bio, seguro ou relativas a títulos ou valores mo-biliários (IOF)

O art. 153, V, da CRFB outorga competência à União paraa instituição de imposto sobre “operações de crédito, câmbio e

seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários”.498 Vê-se,de pronto, que não se trata de uma única base econômicaoutorgada à tributação, mas de quatro bases econômicas:

• operações de crédito;

• operações de câmbio;

• operações de seguro;

• operações relativas a títulos ou valores mobiliários.

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A CRFB não prevê a base econômica “operações fin-anceiras”. De qualquer modo, é usual, inclusive na legislaçãotributária, o uso da locução “Imposto sobre Operações Fin-anceiras – IOF” para designar o conjunto de tais impostos prev-istos no art. 153, V, da CRFB.

Vejamos cada uma dessas bases econômicas, começando,contudo, pela análise do termo “operações”, comum a todaselas.

Operação é negócio jurídico. AIRES FERNANDINOBARRETO ensina: “O termo operações, à luz de um ponto devista estritamente jurídico, significa atos regulados pelo Direitocapazes de produzir efeitos jurídicos, ou seja, negócios jurídi-

cos”.499 ROBERTO QUIROGA MOSQUERA esclarece que “Otermo operações pressupõe uma visão dinâmica das relações

sociais e não uma posição estática”.500 Assim, pode-se afirmarcom AIRES FERNANDINO BARRETO que os impostos men-cionados não oneram os títulos ou valores mobiliários, o câm-bio, o seguro etc.; incidem, sim, sobre os negócios jurídicos quetêm esses bens ou valores por objeto, ou ainda, sobre operações

a eles relativas.501

Vejamos a dimensão específica do Imposto sobre Oper-ações de Crédito – IOCrédito. Tem este como base econômicanegócios jurídicos de crédito, que “é a troca de um bempresente por um bem futuro, ou seja, é o ato por intermédio doqual se realiza uma prestação presente em troca de umapromessa de prestação futura. Logo, o crédito pressupõe a ex-istência de um aspecto temporal, entre a realização da

prestação presente e a prestação futura”.502 Relevante, ainda, éa observação de que está “sempre presente no conceito de op-eração de crédito a idéia de troca de bens presentes por bensfuturos, daí por que se diz que o crédito tem dois elementos

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essenciais, a saber, a confiança e o tempo (Luiz Emigdio da

Rosa Júnior)”.503 Portanto, não será possível a instituição deIOF-Crédito sobre aquilo que não configure um negócio con-substanciado na entrega de moeda mediante obrigação àprestação futura. Daí porque o STF editou a Súmula 664: “É in-constitucional o inciso V do art. 1º da Lei 8.033/90, que in-stituiu a incidência do imposto nas operações de crédito, câm-bio e seguros – IOF sobre saques efetuados em caderneta de

poupança”.504

MISABEL ABREU MACHADO DERZI e SACHACALMON NAVARRO COELHO ressaltam, também, comrazão, a inocorrência de operação de crédito na concessão defiança onerosa, de modo que não admite a incidência de IOF-

Crédito.505

Mas a CF não exige que se trate de operação com institu-ição financeira, o que, inclusive, já restou afirmado pelo STF.

Não obstante entendimentos doutrinários em contrário,506 otribunal apontou a constitucionalidade da incidência doIOCrédito sobre operações de factoring, ou seja, sobre oper-ações mediante as quais, “sem utilização de poupança popular,o faturamento de uma empresa é adquirido pelos empresáriosdessa modalidade de negócio, que passam a ser titulares dos

direitos creditórios afastado o direito de regresso”.507 508

O Imposto sobre Operações de Câmbio, por sua vez, temeste como base econômica negócios jurídicos de câmbio, ouseja, “os negócios jurídicos consistentes na entrega de uma de-terminada moeda a alguém em contrapartida de outra moeda

recebida”.509

O Imposto sobre Operações de Seguro tem por base econ-ômica as operações de seguro, sendo certo que, “Pelo contrato

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de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento doprêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo apessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados”, nos termosdo art. 757 do Código civil. ROBERTO QUIROGAMOSQUERA refere que, nesses contratos, “alguém se obrigapara com outrem, mediante remuneração de um prêmio, a in-denizar prejuízos resultantes de riscos futuros, estes devida-mente especificados quando da realização dos respectivosnegócios jurídicos”, com eles não se confundindo as operações

de previdência privada e de capitalização.510

A CF estabelece, ainda, como base econômica sujeita àtributação a título de imposto pela União, as operações re-lativas a títulos e valores mobiliários. Tanto os documentorepresentativos de direitos como os direitos registrados demodo escritural, mas que sejam, todos, passíveis de negociação,restam alcançados, como os títulos de crédito e a ações.

A CF traz, no § 5º do art. 153, regra específica atinente ao

ouro enquanto ativo financeiro ou instrumento cambial,511

dizendo que sujeita-se exclusivamente ao IOF, “devido na op-

eração de origem”.512 Exige que, em face de operações comouro, identifiquemos a sua finalidade, verificando se é comer-cializado como simples mercadoria (metal destinado à con-fecção de jóias, relógios etc.), hipótese em que se submeterá àincidência de ICMS, ou se é objeto de negócios como instru-mento cambial ou como ativo financeiro (investimentos emouro), hipótese em que não incidirá o ICMS, mas apenas o IOFe tão somente na operação de origem, pois o § 5º acabou por es-tabelecer imunidade para as operações posteriores à primeira.Considera-se como operação de origem do ouro como ativo fin-anceiro ou instrumento cambial a correspondente à suaaquisição por instituição autorizada ou o seu desembaraçoaduaneiro, quando proveniente do exterior, conforme já

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decidiu o STF513 quando julgou inconstitucionais os incisos II e

III do art. 1º da Lei 8.033/90,514 que estenderam a incidência àsoperações subsequentes.

A CF atenua a legalidade tributária relativamente a taisimpostos ao facultar ao Poder Executivo a alteração dasalíquotas, atendidas as condições e os limites estabelecidos emlei, nos termos do § 1º do art. 153. Mas o art. 65 do CTN é in-compatível com o texto constitucional ao prever a possibilidade

de o Executivo alterar também a base de cálculo do IOF.515 516

A par disso, a instituição ou majoração de tais impostosnão estão submetidas à observância das anterioridades de ex-ercício e nonagesimal mínima previstas no art. 150, inciso III, be c, da CF, pois o § 1º do artigo 150 expressamente osexcepciona.

Os impostos instituídos com suporte na regra de com-petência do art. 153, inciso V, da CF são bastante complexos.São muitas as leis que cuidam da matéria, sendo que cada umdesses impostos apresenta muitos fatos geradores e bases decálculo. Para melhor compreendê-los, melhor é irmos direto aoDecreto 6.306/07 (Regulamento do IOF), que reproduz demodo unificado toda essa legislação, bem retratando as in-cidências dos diversos impostos.

O imposto sobre operações de crédito tem como fatogerador a entrega ou colocação do montante à disposição dotomador. Na hipótese de o crédito restar representado por umtítulo, não haverá incidência cumulativa do Imposto sobreOperações de Crédito e do Imposto sobre Operações com Títu-los ou Valores Mobiliários, mas apenas do primeiro. É o quedispõe o art. 63, I e parágrafo único, do CTN.

O DL 1.783/80 instituiu o imposto determinando sua in-cidência sobre operações de empréstimo sob qualquer

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modalidade, inclusive abertura de crédito e desconto de títu-los. A Lei 9.532/97 estabeleceu a incidência sobre operações de

factoring.517 Esta incidência trouxe a discussão acerca da pos-sibilidade ou não da instituição do Imposto sobre Operações deCrédito não realizadas por instituição financeira. Quando daanálise da base econômica, referimos que o STF firmou posiçãoadmitindo a incidência. Cabe notar, realmente, que nem CF, aoenunciar a competência, nem o CTN, ao traçar os arquétipos dofato gerador, base de cálculo e contribuintes, circunscreveramtal imposto às instituições financeiras; pelo contrário, ensejam ainstituição sobre qualquer operação de crédito. A Lei 9.779/99,por sua vez, forte no pressuposto já estabelecido, torna inequí-voca a incidência também nas operações realizadas sem a par-ticipação de instituições financeiras: “Art. 13. As operações decrédito correspondentes a mútuo de recursos financeiros entrepessoas jurídicas ou entre pessoa jurídica e pessoa físicasujeitam-se à incidência do IOF segundo as mesmas normasaplicáveis às operações de financiamento e empréstimos prat-icadas pelas instituições financeiras”.

O legislador não estabelece qualquer ficção no que diz re-speito ao aspecto temporal da hipótese de incidência do Im-posto sobre Operações de Crédito. Assim, considerar-se-á ocor-rido o fato gerador no momento em que, nos termos do art. 63,I, do CTN, ocorre a efetivação das operações de crédito “pelaentrega total ou parcial do montante ou do valor que constituao objeto da obrigação, ou sua colocação à disposição do in-teressado”. O art. 3º do Decreto 6.306/07 (Regulamento doIOF) detalha:

“Art. 3º O fato gerador do IOF é a entrega do montanteou do valor que constitua o objeto da obrigação, ou suacolocação à disposição do interessado (Lei 5.172/66, art.63, inciso I). § 1º Entende-se ocorrido o fato gerador e

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devido o IOF sobre operação de crédito: I – na data daefetiva entrega, total ou parcial, do valor que constitua oobjeto da obrigação ou sua colocação à disposição do in-teressado; II – no momento da liberação de cada umadas parcelas, nas hipóteses de crédito sujeito, contratu-almente, a liberação parcelada; III – na data do adianta-mento a depositante, assim considerado o saldo adescoberto em conta de depósito; IV – na data do regis-tro efetuado em conta devedora por crédito liquidadono exterior; V – na data em que se verificar excesso delimite, assim entendido o saldo a descoberto ocorridoem operação de empréstimo ou financiamento, inclusivesob a forma de abertura de crédito; VI – na data danovação, composição, consolidação, confissão de dívidae dos negócios assemelhados, observado o disposto nos§§ 7º e 10 do art. 7º; VII – na data do lançamento contáb-il, em relação às operações e às transferências internasque não tenham classificação específica, mas que, pelasua natureza, se enquadrem como operações decrédito”.

Relativamente à sujeição passiva, o CTN permite que sejacolocado como contribuinte qualquer das partes na operaçãotributada, conforme seu art. 66. O legislador ordinário, port-anto, poderia colocar tanto aquele que empresta como o quetoma o empréstimo como contribuinte do imposto. A Lei8.894/94, em seu art. 3º, I, dispôs no sentido de que são con-tribuintes os tomadores de crédito. Relativamente às oper-ações de factoring, a art. 58 da Lei 9.532/97 elenca como con-tribuinte a pessoa física ou jurídica que alienar os direitos cred-itórios, conforme se vê do seu art. 58.

Temos de analisar, ainda, os substitutos tributários, por-quanto a substituição é marca sempre presente neste imposto.

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Figura como substituto, invariavelmente, aquele que concedeo crédito: as instituições financeiras, as empresas de factoring eas demais pessoas jurídicas que concederem crédito.

Conforme o art. 64, I, do CTN, a base de cálculo é “omontante da obrigação, compreendendo o principal e os jur-os”. O Decreto 7.458/11 definiu a alíquota em 0,0082% ao dia.Mas trata-se de alíquota máxima, sujeita a redução pelo Exec-utivo. A alíquota é reduzida a zero em diversas operações decrédito, como naquela realizada entre cooperativa de crédito eseus associados. Há, ainda, várias operações de crédito isentas,como a realizada para fins habitacionais, inclusive infraestru-tura e saneamento básico, nos termos do Decreto-Lei 2.407/

88,518 e a realizada para aquisição de automóveis de passageir-os nacionais com até 127 HP, por taxistas e pessoas portadoras

de deficiência física, nos termos da Lei 8.383/91.519 O art. 9º doDecreto 6.306/07 (Regulamento do IOF) traz listagem completados casos de isenção. Em face das diversas modalidades de op-erações sujeitas ao imposto sobre operações de crédito, oDecreto 6.306/07 especifica o momento da retenção ou exigên-cia do imposto pelo substituto e o prazo para recolhimento aoTesouro.

O imposto sobre operações de câmbio tem por fatogerador “a sua efetivação pela entrega de moeda nacional ouestrangeira, ou de documento que a represente, ou suacolocação à disposição do interessado em montante equivalenteà moeda estrangeira ou nacional entregue ou posta à dis-posição por este”, nos termos do art. 63, II, do CTN. A Lei8.894/94 limita-se a dizer da incidência sobre operações decâmbio, interpretando-se-o conforme o inciso II do art. 63 doCTN. O aspecto espacial do IOCâmbio segue a territorialidade.Têm-se, portanto, como juridicamente relevantes as operaçõesde câmbio ocorridas no território nacional. Na ausência de

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ficção legal quanto ao momento em que se deva considerarocorrido o fato gerador, o aspecto temporal corresponde aomomento da exata ocorrência do fato gerador, ou seja, ao daentrega da moeda. O fato gerador considera-se ocorrido, pois,com a realização da operação de câmbio, efetivada pela sua li-quidação, conforme o art. 11 do Decreto 6.306/07 (Regula-mento do IOF): “Art. 1. O fato gerador do IOF é a entrega demoeda... Parágrafo único. Ocorre o fato gerador e torna-sedevido o IOF no ato da liquidação da operação de câmbio”.

O CTN, art. 66, deixa ao legislador ordinário a liberdadede colocar na posição de contribuinte qualquer das partes daoperação de câmbio. A Lei 8.894/94, ao instituir o imposto,identifica como contribuinte, nas operações referentes a trans-ferências financeiras para o exterior, o comprador de moeda es-trangeira e, nas operações referentes a transferências financeir-as do exterior para cá, o vendedor da moeda estrangeira, con-forme seu art. 6º. E seu parágrafo único estabelece a substitu-ição: “As instituições autorizadas a operar em câmbio são re-sponsáveis pela retenção e recolhimento do imposto”.

A base de cálculo do imposto sobre operações de câmbioequivale ao montante da operação de câmbio, em moedanacional. É o que dispõe o art. 64, inciso II, do CTN. O art. 5ºda Lei 8.894/94 refere-se a tal valor como sendo o de liquidaçãoda operação cambial. A alíquota praticada, fixada pelo Exec-utivo através do Decreto 6.306/07 (Regulamento do IOF), ébastante inferior ao limite legal de 25% estabelecido pelo art. 5ºda Lei 8.894/94. A alíquota padrão, fixada pelo Decreto 7.412/10, é de 0,38%, havendo, contudo, diversas exceções, conformese vê dos incisos I a XXI do art. 15-A do Decreto 6.306/07.

O imposto sobre as operações de câmbio é exigido pelosubstituto tributário na data da liquidação da operação decâmbio, cabendo-lhe efetuar o recolhimento ao Tesouro

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Nacional até o terceiro dia útil da semana subsequente, con-forme se vê do art. 17 do Decreto 6.306/07.

O imposto sobre operações de seguro tem o seu fatogerador delimitado pelo art. 63, III, do CTN: “a sua efetivaçãopela emissão da apólice ou do documento equivalente, ou re-cebimento do prêmio, na forma da lei aplicável;” O DL 1.783/80, ao instituir o imposto, opta pelo recebimento do prêmiocomo situação necessária e suficiente ao surgimento daobrigação tributária, conforme seu art. 1º, II. O Decreto 6.306/07, art. 18, § 1º, esclarece o alcance da expressão “operações deseguro” e destaca a ocorrência do fato gerador com o recebi-mento “total ou parcial” do prêmio. Considera-se ocorrido ofato gerador “e torna-se devido o IOF no ato do recebimentototal ou parcial do prêmio”, conforme o § 2º do art. 18 referido.

Embora o art. 66 do CTN enseje a colocação, como con-tribuinte, de qualquer das partes da operação tributada, o DL1.783/80, ao dispor sobre as diversas incidências, define comocontribuintes os segurados, o que resta refletido no art. 19 doDecreto 6.306/07: “Art. 19. Contribuintes do IOF são as pessoasfísicas ou jurídicas seguradas (Decreto-Lei 1.783/80, art. 2º)”. Osegurador ou as instituições financeiras a quem este encarregarda cobrança do prêmio são colocados na posição de substitutostributários, nos termos do art. 3º do DL 1.783/80, com aredação do DL 2.471/88, até porque o imposto é “cobrado nadata do recebimento total ou parcial do prêmio”, devendo serrecolhido ao Tesouro Nacional “até o terceiro dia útil sub-seqüente ao decêndio da cobrança ou do registro contábil doimposto”, conforme o art. 24 do Decreto 6.306/07.

A base de cálculo é o montante do prêmio, nos termosdo art. 63, III, do CTN, sendo que o art. 1º do DL 1.783/80 de-termina o cálculo “sobre o valor dos prêmios pagos”, sejaquanto aos seguros de vida e congêneres e de acidentes

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pessoais e do trabalho, seja quanto aos seguros de bens,valores, coisas e outros não especificados.

A alíquota máxima é de 25%, nos termos do art. 15 da Lei9.718/98, mas o Executivo, no uso da faculdade prevista no art.153, § 1º, da CF, fixa a alíquota em 7% para as operações de se-guro em geral e estabelece diversas alíquotas para casos es-pecíficos, como de 2,38% para os seguros privados de assistên-cia à saúde e de 0% a alíquota para casos especiais como resse-guro, seguro obrigatório vinculado a financiamento habitacion-al, seguro de crédito à exportação etc. Para os seguros de vida,de acidentes pessoais e do trabalho, a alíquota é de 0%, tudoconforme o art. 22 do Decreto 6.306/07, com a redação do Dec.6.339/08.

Por fim, cabe especificar os aspectos do imposto sobreoperações com títulos e valores mobiliários.

O fato gerador “é a aquisição, cessão, resgate, repactu-ação ou pagamento para liquidação de títulos e valores mo-biliários”, sendo que se aplica a qualquer operação, independ-entemente da qualidade ou da forma jurídica de constituiçãodo beneficiário da operação ou do seu titular, estandoabrangidos, entre outros, fundos de investimentos e carteirasde títulos e valores mobiliários, fundos ou programas, aindaque sem personalidade jurídica, e entidades de previdênciaprivada, tudo nos termos do art. 25 do Decreto 6.306/07, quetem como suporte o disposto nos arts. 63, IV do CTN e 2º, III,da Lei 8.894/94. Ainda dispõe no sentido de que o fato geradorocorre e torna-se devido “no ato da realização das operações”.

Deixando, o CTN, em seu art. 66, ampla liberdade para o

legislador definir o contribuinte do imposto,520 estabelece a Lei8.894/94 que serão contribuintes do imposto os adquirentes detítulos e valores mobiliários e os titulares de aplicações fin-anceiras na hipótese de “aquisição, resgate, cessão ou

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repactuação” e que são contribuintes as instituições financeirase demais autorizadas a funcionar na hipótese de “pagamentopara a liquidação das operações referidas na alínea anterior,quando inferior a noventa e cinco por cento do valor inicial daoperação, expressos, respectivamente, em quantidade de Unid-ade Fiscal de Referência (Ufir) diária”. As instituições autoriza-das a operar na compra e venda de títulos e valores mobiliáriossão colocadas na posição de substitutos tributários, nos termosdo DL 1.783/80 em seu art. 3º, inciso IV. Também são substi-tutos, “responsável pela retenção e pelo recolhimento dos im-postos e das contribuições, decorrentes de aplicações em fun-dos de investimento, a pessoa jurídica que intermediar re-cursos, junto a clientes, para efetuar as referidas aplicações emfundos administrados por outra pessoa jurídica”, conforme oart. 28 da MP 2.158-35/01, tornada permanente por força da EC32/01.

A base de cálculo: na emissão, é o valor nominal mais oágio, se houver; na transmissão, o preço ou o valor nominal ouo valor da cotação em bolsa; no pagamento ou resgate, opreço”, conforme o art. 64, IV, do CTN. Forte no arquétipo es-tabelecido pelo CTN, dispõe a Lei 8.894/94:

“... será cobrado... sobre o valor das operações decrédito e relativos a títulos e valores mobiliários... Art. 2ºConsidera-se valor da operação: ... II – nas operações re-lativas a títulos e valores mobiliários: a) valor deaquisição, resgate, cessão ou repactuação; b) o valor dopagamento para a liquidação das operações referidas naalínea anterior, quando inferior a noventa e cinco porcento do valor inicial da operação, expressos, re-spectivamente, em quantidade de Unidade Fiscal de Re-ferência (Ufir) diária. § 1º Serão acrescidos ao valor doresgate ou cessão de títulos e valores mobiliários os

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rendimentos periódicos recebidos pelo aplicador oucedente durante o período da operação, atualizadospela variação acumulada da Ufir diária no período. § 2ºO disposto no inciso II, alínea a, aplica-se, inclusive, àsoperações de financiamento realizadas em bolsas devalores, de mercadorias, de futuros e assemelhadas.”

Cabe destacar que a alíquota de 1,5% ao dia foi estabele-cida pela Lei 8.894/94 como limite, pois, nos termos do art. 153,§ 1º, pode o Executivo alterar as alíquotas do imposto, observa-dos o limite e as condições estabelecidas por lei. O parágrafoúnico do art. 1º da Lei 8.894/94 dispõe que o Executivo”poderáalterar as alíquotas do imposto tendo em vista os objetivos daspolíticas monetária e fiscal”. Os arts. 29 a 33 do Decreto 6.306/07 é que dispõe sobre as alíquotas, que vão de 1,5% ao dia a0%, conforme o tipo de operação.

A incidência sobre operação com o ouro ativo financeiroou instrumento cambial é disciplinada pela Lei 7.766/89, arts.4º a 12, refletida nos arts. 36 a 40 do Decreto 6.306/07, ficando aalíquota em 1% sobre o preço de aquisição do ouro, observadosos limites de variação da cotação vigente.

126. Imposto sobre propriedade territorial rural(ITR)

O art. 153, III, da CRFB outorga competência à União paraa instituição de imposto sobre “propriedade territorial rur-

al”.521

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A propriedade é o mais amplo dos direitos reais, en-volvendo a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa e odireito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente apossua ou detenha. É como aparece retratada no art. 1.228 do

Código Civil (Lei 10.406/02)522 e que já constava do art. 524 doCódigo Civil de 1916. É esta revelação de riqueza que foi apon-tada pela Constituição como capaz de ensejar a sujeição do seutitular a um imposto de competência da União com funda-mento no seu art. 153, VI. Assim, não obstante toda a práticaem sentido contrário e mesmo a letra do art. 29 CTN, o legis-lador só poderia indicar como contribuinte o proprietário, enão o titular de outros direitos reais menos densos e que nãorevelam riqueza na condição de proprietário, ainda que seustitulares exerçam prerrogativas típicas do proprietário. Nessescasos, sempre serão prerrogativas parciais ou temporáriascomo no direito de superfície, nas servidões, no usufruto, nouso e no direito do promitente comprador, previstos no art.1.225, II a VII, do Código Civil (Lei 10.406/02).

O adjetivo territorial indica que a competência é para atributação da grandeza dimensionada pela propriedade daterra nua, diferentemente do que se tem no art. 156, I, em que aCRFB, ao definir a base econômica de competência dosMunicípios, refere-se à propriedade “predial e territorial” urb-ana. A Lei 9.393/96, aliás, estabelece a incidência do ITR sobrea propriedade de imóvel por natureza, apontando, como basede cálculo, o valor da terra nua tributável (VTNt).

A palavra rural, por sua vez, é adjetivo que designa o queé próprio do campo, em oposição ao que é próprio da “cidade”.Imóvel rural é o que se situa no campo, ou seja, na zona rur-

al.523 Se, de um lado, é certo dizer que o imóvel rural, normal-mente, é destinado às atividades agropastoris, de outro é pre-ciso deixar claro que o critério para a distinção de imóveis

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rurais de imóveis urbanos é o da localização, e não o da destin-ação, sendo relevante para tanto a análise do plano diretor decada Município. Deve-se, ainda, contrastar o plano diretor como art. 32, § 1º, do CTN que, ao estabelecer os requisitos mínim-os de infra-estrutura urbana para a consideração do que sejazona urbana (e, a contrario sensu, o que seja zona rural), previneconflitos de competência e dá elementos objetivos para que seresolvam os conflitos que porventura surgirem. Mas o STJ temaplicado o art. 15 do DL 57/66 que, estabelecendo exceção aoart. 29 do CTN, submete ao ITR também o imóvel situado nacidade, mas que esteja sendo destinado a atividade rural, con-forme se vê, adiante, quando cuidamos fato gerador desseimposto.

O texto constitucional, no § 4º do art. 153, com a redaçãoda EC 42/03, também estabelece critérios a serem observadospor ocasião da instituição do ITR. Refere, em primeiro lugar,que “será progressivo e terá suas alíquotas fixadas de forma adesestimular a manutenção de propriedades improdutivas”(inciso I do § 4º do art. 153). Isso enseja tanto o estabelecimentode alíquota maior à medida que aumenta a base de cálculo(progressividade), como a utilização extrafiscal do ITR, demodo que seja mais onerado o proprietário que não dê destin-ação econômica ao seu imóvel rural, produza apenas em partedo mesmo ou com baixo rendimento.

Ademais, o art. 153, § 4º, da CF dispõe que “não incidirásobre pequenas glebas rurais, definidas em lei, quando as ex-plore o proprietário que não possua outro imóvel” (inciso II do§ 4º do art. 153). Trata-se de verdadeira imunidade. A definiçãodo que se deve considerar por “pequenas glebas rurais” no art.2º da Lei 9.393/96, variando de conforme a região: “I – 100 ha,se localizado em município compreendido na AmazôniaOcidental ou no Pantanal mato-grossense e sul-mato-gros-sense; II – 50 ha, se localizado em município compreendido no

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Polígono das Secas ou na Amazônia Oriental; III – 30 ha, se loc-alizado em qualquer outro município”. A referência a propri-etário que não possua outro imóvel consubstancia o denom-inado requisito da unititularidade. Com a redação da EC 42/03, não há mais a exigência de que o proprietário explore oimóvel só ou com sua família. Basta que a única propriedaderecaia sobre pequena gleba rural para que esteja amparada pelaimunidade tributária relativamente ao ITR.

Prevê, ainda, o art. 153, § 4º, da CF que “será fiscalizado ecobrado pelos Municípios que assim optarem, na forma dalei, desde que não implique redução do imposto ou qualqueroutra forma de renúncia fiscal” (inciso I do § 4º do art. 153).

Trata-se de inovação trazida pela EC 42/03 que nãochega a alterar a competência da União para a instituição doITR. Mas autoriza o legislador federal a delegar ao Município,mediante opção deste, a condição de sujeito ativo da obrigaçãotributária, titular dos poderes de fiscalizar, lançar e exigir opagamento. Nesse sentido, sobreveio a Lei 11.250, autorizandoa formalização de convênios entre a União e os Municípios.Nos termos da IN SRF 884/08, a Receita Federal se reservacompetência supletiva para fiscalização, lançamento e cobrançado imposto, restando expresso, ainda, que o convênio entreUnião e Município “não abrange: I – o ITR lançado por homo-logação; II – a competência da RFB para lançamento de multapor atraso na entrega da Declaração do Imposto sobre a Pro-priedade Territorial Rural (DITR); III – o contencioso adminis-trativo decorrente do exercício das atribuições delegadas”. ODecreto 6.433/08 cuida do termo de opção. A repartição da re-ceita tributária do ITR entre a União e os Municípios (50% paraa União e 50% para o Município em que situado o imóvel) ficaalterada na hipótese de opção do Município pela fiscalização ecobrança de que trata este inciso, cabendo, então, ao Município,a totalidade da receita relativa ao ITR por ele lançado (100%),

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nos termos do que dispõe o art. 158, II, da CRFB, com a redaçãoque lhe foi atribuída pela EC 42/03.

O ITR possui fato gerador continuado, que não se con-substancia num ato ou negócio, mas numa situação jurídica,verdadeiro status jurídico. O CTN dispõe: “Art. 29. O imposto,de competência da União, sobre a propriedade territorial ruraltem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou aposse de imóvel por natureza, como definido na lei civil, local-izado fora da zona urbana do Município”. Note-se que o art.29, ao ensejar a tributação não apenas da propriedade, mastambém do domínio útil e da posse, desborda da base econôm-ica dada à tributação, que é, nos termos do art. 153, VI, da

CRFB, tão somente a “propriedade territorial rural”.524 A Lei9.393/96 instituiu o ITR em toda a amplitude preconizada peloCTN, incorrendo no mesmo vício: “Art. 1º O imposto sobre aPropriedade Territorial Rural – ITR, de apuração anual, temcomo fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse deimóvel por natureza, localizado fora da zona urbana do mu-nicípio, em 1º de janeiro de cada ano. § 1º (...)”.

O art. 1º da Lei 9.393/96 segue o critério da localização nadefinição de imóvel rural, repetindo a redação do art. 29 doCTN. O § 2º do art. 1º da Lei 9.393/96 define: “considera-seimóvel rural a área contínua, formada de uma ou mais parcelas

de terras, localizada na zona rural do município”.525 Mas ocritério da localização tem sido temperado com a exceção con-stante do art. 15 do DL 57/66, que sujeitou ao ITR o imóvel que,mesmo situado na zona urbana do Município, “seja utilizadoem exploração, extrativa vegetal, agrícola, pecuária ou agro-in-

dustrial”.526 O STF já aplicou este DL 57/66,527 e o STJ tam-

bém o tem aplicado.528

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Considera-se ocorrido o fato gerador do ITR “em 1º dejaneiro de cada ano”, conforme o art. 1º da Lei 9.393/96. Nestadata, portanto, é que incide a legislação vigente acerca do ITR,gerando a obrigação tributária respectiva.

O aspecto espacial da hipótese de incidência do ITR é oterritório nacional, pois se trata de imposto da competência daUnião, e não há norma alguma em sentido contrário.

Contribuinte “é o proprietário de imóvel rural, o titularde seu domínio útil ou o seu possuidor a qualquer título”, nostermos do art. 4º da Lei 9.393/96.

O art. 30 do CTN como base de cálculo do imposto o val-

or fundiário.529 O valor fundiário é o valor da extensão deterra, ou seja, o valor da terra nua, sem considerar-se naavaliação o que a ela se agrega, como o valor das construções,instalações, benfeitorias, culturas, pastagens e florestas planta-das. Mas, ao instituir o tributo, o 11 da Lei 9.393/96 determinaque o cálculo se dê sobre o “ Valor da Terra Nua tributável –VTNt”, que define como sendo o valor da terra nua, excluídasas áreas de preservação permanente, de reserva legal, de in-teresse ecológico e as comprovadamente imprestáveis paraqualquer exploração agrícola, pecuária, granjeira, aquícola ouflorestal. Obtém-se o VTNt pela multiplicação do VTN peloquociente entre a área tributável e a área total. A Lei 9.393/96

detalha tais conceitos.530

As alíquotas do ITR, por sua vez, são estabelecidas na ta-bela de alíquotas anexa à Lei 9.393/96, variando conforme otamanho do imóvel, em hectares, e o grau de utilização – GU.O grau de utilização é obtido pela relação percentual entre aárea efetivamente utilizada e a área aproveitável. As alíquotasvão de 0,03 para os menores imóveis com elevado grau de util-ização, até 20% para os grandes imóveis improdutivos.

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No regime da Lei 9.393/96, o ITR apresenta-se como trib-uto sujeito a lançamento por homologação: “Art. 10. A apur-ação e o pagamento do ITR serão efetuados pelo contribuinte,independentemente de prévio procedimento da administraçãotributária, nos prazos e condições estabelecidos pela Secretariada Receita Federal, sujeitando-se a homologação posterior”.Apenas quando não apurado pelo contribuinte ou apurado demodo incorreto é que será lançado de ofício, nos termos do art.

14 da Lei 9.393/96,531 utilizando-se, então, de informaçõessobre o preço das terras nos termos da Portaria 447/02, que

aprovou o Sistema de Preços de Terras – SIPT.532 A IN SRF438/04 dispõe, ainda, sobre a prova de regularidade fiscal deimóvel rural, disciplinando o requerimento e a expedição deCertidão Negativa de Débitos de Imóvel Rural.

127. Imposto sobre transmissão causa mortis edoação (ITCMD)

É dos Estados a competência para instituir impostos sobre“transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens oudireitos”, nos termos do art. 155, I, da CF, com a redação da EC3/93. Transmissão é transferência jurídica, implicando a su-cessão na titularidade do bem ou direito. Será causa mortisquando ocorra por força do falecimento real ou presumido dotitular. A Súmula 331 do STF já dispunha: “É legítima a in-cidência do Imposto de Transmissão Causa Mortis no inventáriopor morte presumida”. Aberta a sucessão, “a herançatransmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testa-mentários, conforme o art. 1.784/CC. A doação também

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implica transferência de titularidade de bem ou direito, masdecorrente ato jurídico inter vivos a título gratuito. O art. 538 doCódigo Civil refere-se à doação como o contrato em que umapessoa, “por liberalidade”, transfere bens ou vantagens do seupatrimônio para outra. Note-se que em nenhum dos casos –transmissão causa mortis ou doação – há qualquer con-traprestação. Quanto aos bens imóveis, a transferência ocorreatravés do registro imobiliário; quanto aos móveis, pelatradição (art. 1.267 do CC).

A ausência de onerosidade é o traço comum entre taistransmissões. Ao referir-se a quaisquer bens ou direitos, o dis-positivo constitucional dá enorme abrangência a tal base econ-ômica, abrangendo inclusive a transmissão de imóveis. Há aSúmula 328 do STF a respeito: “É legítima a incidência do Im-posto de Transmissão Inter vivos sobre a doação do imóvel”.

No RE 562.045, o STF está decidindo sobre a possibilidadede progressividade no ITCMD. Há diversos votos em sentidoafirmativo, considerando que o caráter dinâmico do fatogerador a autoriza. É que não incide sobre a propriedade, massobre a transmissão a título gratuito, podendo-se vislumbrarnessa medida capacidade contributiva de quem recebe. En-tendimento contrário funda-se no caráter real do imposto.

O art. 155, § 1º, I e II, da CF define critérios para que sedefina o Estado competente quando se tratar de imóveis(Estado da situação do bem) ou de móveis, títulos e créditos(Estado onde se processar o inventário ou arrolamento, ou tiverdomicílio o doador). Conforme o inciso III, cabe à lei comple-mentar definir a competência nos casos de o doador ter dom-icílio ou residência no exterior ou de o de cujos possuir bens, serresidente ou domiciliado ou ter o seu inventário processado noexterior.

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No Estado de São Paulo, o imposto é disciplinado na Lei10.705/00, com a redação da Lei 10.992/01, e regulamentadopelo Decreto 46.655/02.

Fato gerador é a transmissão de qualquer bem ou direitohavido por sucessão legítima ou testamentária, inclusive a su-cessão provisória, inclusive o fideicomisso, ou por doação”.(art. 2º) O § 1º esclarece que “ocorrem tantos fatos geradoresdistintos quantos forem os herdeiros, legatários ou donatários”.O art. 3º esclarece que também se sujeita ao imposto a transmis-são de “qualquer título ou direito representativo do patrimônioou capital de sociedade e companhia, tais como ação, quota,quinhão, participação civil ou comercial, nacional ou es-trangeira, bem como, direito societário, debênture, dividendo ecrédito de qualquer natureza”. Assim também a transmissão de“dinheiro, haver monetário em moeda nacional ou estrangeirae título que o represente, depósito bancário e crédito em contacorrente, depósito em caderneta de poupança e a prazo fixo,quota ou participação em fundo mútuo de ações, de renda fixa,de curto prazo, e qualquer outra aplicação financeira e de risco,seja qual for o prazo e a forma de garantia”. E, ainda, a trans-missão de “bem incorpóreo em geral, inclusive título de créditoque o represente, qualquer direito ou ação que tenha de ser ex-ercido e direitos autorais”.

Considera-se ocorrido o fato gerador e incide a lei vi-gente à época do óbito. Este o posicionamento do STJ: “2. Peloprincípio da saisine, a lei considera que no momento da morteo autor da herança transmite seu patrimônio, de forma íntegra,a seus herdeiros. Esse princípio confere à sentença de partilhano inventário caráter meramente declaratório, haja vista que atransmissão dos bens aos herdeiros e legatários ocorre no mo-mento do óbito do autor da herança. 3. Forçoso concluir que asregras a serem observadas no cálculo do ITCD serão aquelasem vigor ao tempo do óbito do de cujus. 4. Incidência da

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Súmula 112/STF”.533 Mantém-se, assim, a orientação da an-tiga Súmula 112 do STF: “O Imposto de Transmissão CausaMortis é devido pela alíquota vigente ao tempo da abertura dasucessão”. Mas, conforme a Súmula 114 do STF, “O Imposto deTransmissão Causa Mortis não é exigível antes da homologaçãodo cálculo”.

Vale destacar que “Não se aplica Imposto sobre Trans-missão causa mortis e Doação – ITCD nos bens pertencentes àviúva meeira, pois ela não é herdeira, incidindo o imposto

somente sobre a meação partilhável”.534

Outro ponto a ter em conta é que o adiantamento de legí-tima configura fato gerador do imposto sobre doação e não do

imposto sobre transmissão causa mortis.535 Se a base de cálculoseria a mesma, a alíquota pode ser diversa em alguns estadosda federação.

Contribuintes, conforme a lei paulista, são o herdeiro, olegatário ou o fiduciário, o donatário ou o cessionário de her-ança ou de bem ou direito a título não oneroso, conforme seuart. 7º.

Base de cálculo é o valor venal do bem ou direito trans-mitido, assim considerado “o valor de mercado do bem oudireito na data da abertura da sucessão ou da realização do atoou contrato de doação”. Na transmissão causa mortis, o valor dobem ou direito “é o atribuído na avaliação judicial e homo-logado pelo Juiz”, tudo conforme os arts. 9º e 10 da lei paulista.Nos termos dos parágrafos do art. 9º, quando a transmissãodisser respeito ao domínio útil, a base de cálculo corresponderáa 1/3 do valor do bem; a domínio direto, 2/3; a usufruto porato não oneroso, a 1/3; a transmissão não onerosa da nua-pro-priedade, 2/3.

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Importa destacar, forte no art. 12, que “No cálculo do im-posto, não serão abatidas quaisquer dívidas que onerem o bemtransmitido, nem as do espólio”. Vale considerar, ainda, con-forme o art. 13, que, no caso de imóvel, a base de cálculo nãoserá inferior ao valor considerado para fins de IPTU e de ITR.No caso de móvel ou direito, “base de cálculo é o valor correntede mercado do bem, título, crédito ou direito, na data da trans-missão ou do ato translativo” ou, supletivamente, o valor de-clarado pelo interessado, ressalvada a revisão pela autoridade,nos termos do art. 14.

O art. 15 esclarece que “O valor da base de cálculo é con-siderado na data da abertura da sucessão, do contrato dedoação ou da avaliação”.

Importa ter em consideração as Súmulas do STF no sen-tido de que “O Imposto de Transmissão Causa Mortis é calcu-lado sobre o valor dos bens na data da avaliação” (Súmula 113)e que “Sobre os honorários do advogado contratado pelo in-ventariante, com a homologação do juiz, não incide o Impostode Transmissão Causa Mortis” (Súmula 115)

A alíquota máxima possível é de 8%, limite este estabele-cido pela Resolução 9/92 do Senado Federal forte no que prevêo art. 155, § 1º, V, da CF. Não podem os estados estabelecer quea alíquota do seu imposto seja equivalente à alíquota máxima,porque a instituição do tributo exige a definição da alíquota

pelo ente competente.536 A lei paulista, atualmente, estabelecealíquota linear de 4%, conforme o art. 16, com a redação da Lei

10.992/01.537

O recolhimento deve ser feito até 30 dias após a decisãohomologatória do cálculo ou do despacho que determinar opagamento, na transmissão causa mortis, até o máximo de 180dias da abertura da sucessão, quando começa a correr juros. Na

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doação, o imposto deve ser “recolhido antes da celebração doato ou contrato correspondente”, sendo que, “Na partilha debem ou divisão de patrimônio comum, quando devido, o im-posto será pago no prazo de 15 (quinze) dias do trânsito em jul-gado da sentença ou antes da lavratura da escritura pública”. Éadmitido parcelamento em até doze meses tanto no caso detransmissão causa mortis como no de doação.

O atraso dá ensejo a juros conforme a taxa SELIC e amulta de 0,33% ao dia, esta até o máximo de 20%.

Nos termos do art. 192 do CTN, “nenhuma sentença dejulgamento de partilha ou adjudicação será proferida semprova da quitação de todos os tributos relativos aos bens do es-pólio, ou às suas rendas”, o que envolve também o pagamentodo ITCMD. É certo que “a comprovação do pagamento de to-dos os tributos somente condiciona a expedição do formal departilha e dos respectivos alvarás, mas não a tramitação do ar-rolamento sumário, ou seja, apenas após o trânsito em julgadoda sentença de homologação de partilha é que há a necessidadede comprovação pela Fazenda do pagamento de todos os trib-utos (não apenas dos impostos incidentes sobre os bens do es-

pólio) para a expedição do formal de partilha”.538 No in-ventário, podem ser resolvidas questões incidentais relativas àincidência, cálculo ou mesmo isenção de tal imposto, atéporque, “tratando-se de inventário, compete ao juiz, depois deouvida a Fazenda Pública, proceder ao cálculo do imposto detransmissão causa mortis, conforme dispõem os arts. 1.012 e1.013 do CPC”; “enquanto não homologado o cálculo do in-ventário, não há como efetuar a constituição definitiva do trib-uto, porque incertos os valores inventariados sobre o qual in-cidirá o percentual da exação, haja vista as possíveis modi-ficações que os cálculos sofrerão ante questões a serem dirimi-das pelo magistrado, nos termos dos arts. 1.003 a 1.011 do

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CPC”.539 Mas no arrolamento sumário não se admitem estesquestionamentos, sobrestando-se o feito até que decididas as

questões administrativamente.540 A Lei 11.441/07, alterou osarts. 982 e 983 do CPC para permitir a realização do inventárioe da partilha por escritura pública quando não haja testamentonem interessado incapaz e todos os herdeiros estiverem deacordo. A escritura não será lavrada sem a prévia comprovaçãodo pagamento do ITCMD.

128. Imposto sobre operações relativas à circu-lação de mercadorias e sobre prestação de ser-viços de transporte interestadual e intermunicipale de comunicação (ICMS)

O ICMS é um dos impostos mais complexos do sistematributário brasileiro. Sua legislação é extensa, começando peloart. 155, inciso II e seus longos parágrafos 2º a 5º, passando porResoluções do Senado que estabelecem alíquotas máximas emínimas para determinadas situações, seguindo com a inter-mediação de lei complementar que uniformiza diversos pontosdo seu regime jurídico (art. 155, § 2º, XII, da CF, LC 87/96) eenvolvendo também convênios entre os estados (ConvêniosCONFAZ) que especificam os benefícios fiscais que podem ser

concedidos.541 Isso sem falar nas leis instituidoras do tributoem cada Estado, nos regulamentos e na plêiade de outros atosnormativos infralegais que detalham sua aplicação concreta.Importa compreendermos as linhas gerais de todo essemicrossistema.

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Cabe-nos ter em conta, em primeiro lugar, que temos di-versos impostos sob o mesmo título, cada qual com o seu fun-damento constitucional próprio:

• ICMS interno relativo às operações de circulação demercadorias;

• ICMS interno relativo às prestações de serviços detransporte interestadual e intermunicipal e decomunicação;

• ICMS-Importação relativo às entradas de bens ou mer-cadorias no território nacional;

• ICMS-Importação relativo aos serviços prestados noexterior.

• ICMS sobre operações mistas, que incide sobre o valortotal da operação quando mercadorias forem forneci-das com serviços não compreendidos na competênciatributária dos Municípios.

No art. 155, II, a Constituição prevê a competência dosEstados para instituir imposto “sobre operações relativas à cir-culação de mercadorias e sobre prestações de serviços de trans-porte interestadual e intermunicipal e de comunicações, aindaque as operações e as prestações se iniciem no exterior”. Depronto, podemos perceber que a norma de competência ap-resenta materialidades de natureza distinta, permitindo a co-brança de impostos sobre operações relativas a circulação demercadorias, de um lado, e sobre a prestação de determinadosserviços, de outro. É dizer, o ICMS, no que diz respeito ao “S”da sua sigla, é um imposto sobre a prestação de serviços tam-bém, embora só incida relativamente aqueles expressamenteapontados: “transporte interestadual e intermunicipal e decomunicações”.

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Operações são negócios jurídicos; circulação é transferên-

cia de titularidade542 e não apenas movimentação física; mer-cadorias são bens objeto de comércio.

Por isso, o STF já reconheceu que “O simples desloca-mento de coisas de um estabelecimento para outro, sem trans-ferência de propriedade, não gera direito à cobrança de ICM. Oemprego da expressão ‘operações’, bem como a designação doimposto, no que consagrado o vocábulo ‘mercadoria’, são con-ducentes à premissa de que deve haver o envolvimento de atomercantil e este não ocorre quando o produtor simplesmentemovimenta frangos, de um estabelecimento a outro, para

simples pesagem”.543 Também o STJ consolidou posição nessesentido através da Súmula 166 do STJ: “Não constitui fatogerador do ICMS o simples deslocamento de mercadoria deum para outro estabelecimento do mesmo contribuinte”. Háprecedente em sede de recurso repetitivo tornando fora dedúvida que “O deslocamento de bens ou mercadorias entre es-tabelecimentos de uma mesma empresa, por si, não se subsumeà hipótese de incidência do ICMS, porquanto, para a ocorrênciado fato imponível é imprescindível a circulação jurídica damercadoria com a transferência da propriedade”, “A circulaçãode mercadorias versada no dispositivo constitucional refere-seà circulação jurídica, que pressupõe efetivo ato de mercancia,para o qual concorrem a finalidade de obtenção de lucro e a

transferência de titularidade”.544 Também não incide o ICMSnas operações internas relativas a leasing ou “arrendamentomercantil”, mas isto resta expresso na própria LC 87/96, quedispõe sobre o ICMS: “Art. 3º O imposto não incide sobre: VIII– operações de arrendamento mercantil, não compreendida avenda do bem arrendado ao arrendatário”.

Importa considerar, também, que mercadorias não sãoquaisquer produtos ou bens, mas apenas aqueles que

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constituem objeto de uma atividade econômica habitual e comfinalidade lucrativa consistente na venda de produtos, não seconfundindo com a alienação eventual de um bem por pessoafísica ou mesmo por pessoa jurídica cuja atividade econômicaseja de outra natureza. Daí por que “a venda de bens do ativofixo da empresa não se enquadra na hipótese de incidência...por esse bens não se enquadrarem no conceito de mercadoria eessas operações não serem realizadas com habitualidade, não

há circulação de mercadorias”.545 Pela mesma razão, o STF en-tendeu que não pode incidir ICMS na alienação de bens salva-dos de seguradoras, ou seja, daqueles bens dos quais as se-guradoras se desfazem para diminuir seu prejuízo porqueprovém de sinistros (acidentes, desastres) que implicaram

perda total e que geraram pagamento ao segurado.546

Há acesa discussão acerca da possibilidade de se consid-erar mercadoria apenas os bens corpóreos ou também os in-

corpóreos.547 O STF, defrontado com a questão no que diz re-speito aos softwares, inicialmente posicionou-se pela negativa:“Não tendo por objeto uma mercadoria, mas um bem in-corpóreo, sobre as operações de licenciamento ou cessão dodireito de uso de programas de computador matéria exclusivada lide, efetivamente não podem os Estados instituir ICMS:dessa impossibilidade, entretanto, não resulta que, de logo, seesteja também a subtrair do campo constitucional de incidênciado ICMS a circulação de cópias ou exemplares dos programasde computador produzidos em série e comercializados novarejo como a do chamado software de prateleira (off the shelf) osquais, materializando o corpus mechanicum da criação intelectu-al do programa, constituem mercadorias postas no comér-

cio”.548 Todavia, mais recentemente, em maio de 2010, ao jul-gar a ADI 1.945 MC, o STF manteve lei estadual do Estado doMato Grosso que determinava a incidência do ICMS mesmo

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sobre operações “realizadas por transferência eletrônica dedados”. Entendeu-se que o avanço da tecnologia repercute nainterpretação do texto constitucional, e que o download de soft-wares ou de músicas equivale à sua compra em CD. Nesse sen-tido, por exemplo, pronunciou-se o Ministro GILMARMENDES. Mas o mérito ainda não foi julgado.

O § 3º do art. 155 traz para o âmbito do ICMS as oper-ações relativas a energia elétrica que, portanto, também sesujeitam ao imposto, conforme podemos verificar nas “contasde luz”. Quanto ao cálculo, entende o STJ que “O ICMS incidesobre o valor da tarifa de energia elétrica correspondente à de-manda de potência efetivamente utilizada”, (Súmula 391) enão sobre eventual reserva de potência, ou seja, sobre a potên-cia que, por contrato, deve estar disponível na rede para supor-tar o consumo nos períodos de maior demanda, quando es-tejam operando no limite da sua capacidade produtiva, masque acabe não sendo utilizada efetivamente.

A prestação de serviços de transporte interestadual e in-termunicipal é a segunda base econômica do ICMS. Sãotributáveis os diversos serviços de transporte: de passageiros,de valores, de bens ou de mercadorias. Mas a base econômicanão é o transporte em si; é, isto sim, o “serviço” de transporte.Desse modo, exige-se a contratação onerosa de tal fazer paraensejar a incidência do imposto. Outro aspecto a observar é quenão pode incidir ICMS sobre o transporte internacional, não

abrangido pela base econômica.549

Também incide sobre a prestação de serviços de comu-nicação. JOSÉ EDUARDO SOARES DE MELO adverte que “nacomunicação torna-se necessária a participação de elementosespecíficos (emissor, mensagem, canal e receptor), podendoocorrer (ou não) a compreensão pelo destinatário... Apesar deter sido asseverado que ‘comunicação é diálogo entre pessoas,

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de modo a colocá-las uma perante a outra, embora se encontr-em distanciadas no tempo (usos horários) e no espaço(lugares)’, de modo perspicaz ponderou-se que a relação comu-nicativa se dá independentemente do emissor e o receptormanterem diálogo, porque, se esta situação ocorrer, estar-se-ádiante de uma nova relação. A materialidade (fato gerador) doimposto não ocorre pelo simples ato que torna possível acomunicação (disponibilização de informações), sendo ne-cessária a prestação de serviços de comunicação, em que ossujeitos desta relação negocial (prestador e tomador, – devida-

mente determinados) tenham uma efetiva participação”.550

HUMBERTO ÁVILA, por sua vez, distingue a comunicação, deum lado, da radiodifusão e da propaganda, de outro:

“... o que diferencia a ‘comunicação’ da ‘radiodifusão’ é,precisamente, a qualidade do receptor e a relação entreele e o emissor. 2.1.4.7. De fato, ‘difundir’ tem o sentidode propagar uma mensagem, enviando-a a um semnúmero de pessoas, independente de elas serem de-terminadas ou pagarem pela sua recepção. O termo‘propaganda’, também usado pela CF/88, denota omesmo sentido: difusão de ideias para público inde-terminado. O que interessa, pois, para a ocorrência dedifusão é a ação da propagação pelo emissor, e não a in-teração entre o emissor e um determinado receptor. Nãopor acaso, a veiculação de propaganda, até o ano de2003, estava incluída na lista de serviços tributáveispelos Municípios: sendo uma ação custeada por quemtem interesse em difundir idéias, a veiculação depropaganda encaixa-se, no conceito de esforço humanoprestado em benefício de outrem, para o qual é irrelev-ante a interação entre anunciante e o público-alvo.2.1.4.8. Ora, se a CF/88 usa, a par do termo

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‘comunicação’, também o vocábulo ‘difusão’, e esse temo conceito de propagação de mensagens a um públicoindeterminado, então a locução ‘comunicação’ quer sig-nificar a interação entre emissor e receptor determinadoa respeito de uma mensagem. Isso significa que o con-ceito de comunicação, para efeito de instituição doICMS-C, é o que envolve um receptor determinado euma remuneração diretamente relacionada à interação

entre ele e o emissor”.551

Mas a Constituição considera a radiodifusão comu-nicação, concedendo imunidade apenas às “prestações de ser-viço de comunicação nas modalidades de radiodifusão sonorae de sons e imagens de recepção livre e gratuita” (art. 155, § 2º,X, d).

Já decidiu o STJ que incide o ICMS sobre a tarifa deassinatura básica mensal de telefonia: “Incide ICMS sobre acobrança de assinatura básica residencial, que se constitui emverdadeira remuneração do serviço de telefonia, já que sua pre-visão legal é de estabelecer valor mínimo que justifique a viab-ilidade econômica do serviço com a contrapartida de franquia

de utilização”.552 Considerou também que incide na transmis-

são de sinais de TV a cabo553 e via satélite.554 A Súmula 334do STJ, por sua vez, dispõe: “O ICMS não incide no serviço dosprovedores de acesso à Internet”.

Importa considerar que a base econômica é o serviço decomunicação propriamente, e não as atividades-meio realiza-das e cobradas com autonomia, assim considerados os serviçospreparatórios, acessórios ou auxiliares que configurarão ser-viços comuns, não sujeitos ao ICMS. O STJ, por isso, já decidiu

que não incide ICMS na instalação de linha telefônica,555 naadesão, habilitação e instalação de ponto relativo a serviços de

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TV556 e na produção de programas de TV.557 Há inclusive aSúmula 350 do STJ: “O ICMS não incide sobre o serviço de ha-bilitação de telefone celular”.

A Constituição dispõe que o ICMS será “não cumulativo”e que “poderá ser seletivo, em função da essencialidade dasmercadorias e dos serviços”, nos termos do art. 155, § 2º, I e III,da CF. A não cumulatividade, portanto, é obrigatória; já a se-letividade é facultativa, mas, uma vez adotada, tem de impli-car alíquotas diferenciadas conforme o critério da essencialid-ade da operação tributada.

A não cumulatividade é mecanismo que evita a trib-utação em cascata, ou seja, impede que a tributação de oper-ações sucessivas, com a incidência repetida do mesmo tributo,acabe por gravar diversas vezes a mesma riqueza. Para evitar,isso, a Constituição optou pela não cumulatividade baseadanum sistema de creditamentos. Quando um contribuinte ad-quire mercadorias para revenda, credita-se do ICMS que oner-ou a compra, sendo que poderá deduzir tais valores do ICMSque terá de pagar nas operações posteriores em que ele própriopromover a venda de mercadorias. O art. 155, § 2º, inciso I, éinequívoco ao especificar que o ICMS será não cumulativo“compensando-se o que for devido em cada operação relativa àcirculação de mercadorias ou prestação de serviços com omontante cobrado nas anteriores pelo mesmo ou outro Estadoou pelo Distrito Federal”.

Quando a aquisição de mercadoria não sofre a incidênciade ICMS ou é isenta, não gera crédito (art. 155, § 2º, II, a);quando a saída da mercadoria na operação posterior realizadapelo adquirente é que não é tributada ou é isenta, o crédito an-teriormente apropriado é anulado (art. 155, § 2º, II, a). Issoporque, nesses casos de a entrada ou a saída não sofrerem oônus do ICMS, haverá uma única cobrança. Apenas os créditos

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das empresas exportadoras, apropriados na entrada de mer-cadorias, é que são mantidos, ainda que a operação de vendapara o exterior seja imune, mas isso em razão de norma con-stitucional expressa que visa a desonerar as exportações, com-pensando o exportador pelo ônus de ICMS que suportou inter-namente, nos termos do art. 155, § 2º, X, a, que diz que não in-cidirá “sobre operações que destinem mercadorias para o exter-ior, nem sobre serviços prestados a destinatários no exterior,assegurada a manutenção e o aproveitamento do montante doimposto cobrado nas operações e prestações anteriores”.

As operações de circulação de mercadorias podem ocor-rer no âmbito interno de cada estado ou entre diferentes esta-dos, que são as chamadas operações interestaduais.

Para as operações internas, cada estado define a alíquotado seu ICMS, observada a alíquota mínima estabelecida emResolução do Senado Federal. (art. 155, § 2º, V, a), não po-dendo, ainda, ser inferior às alíquotas previstas para as oper-ações interestaduais.

No caso dessas operações interestaduais, quando destin-ada a mercadoria a consumidor final, aplica-se a alíquota in-terna; quando destinada a contribuinte do imposto, aplica-se aalíquota interestadual, definida por Resolução do Senado, nostermos do art. 155, § 2º, IV, da Constituição Federal. Neste casode operação interestadual destinada a contribuinte do imposto,o Estado do destinatário exige deste a diferença de alíquotaentre a interestadual (menor) e a interna (maior). A Resoluçãodo Senado 22/89 estabeleceu a alíquota das operações eprestações interestaduais em 12% (doze por cento). Mas, paraas operações e prestações realizadas Regiões Sul e Sudeste, des-tinadas às Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e ao Estadodo Espírito Santo, previu alíquota de 7%.

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Desde a EC 42/03, as operações que destinem mercadori-as para o exterior e os serviços prestados a destinatários no ex-terior são imunes ao ICMS (art. 155, § 2º, X, a, da CF.

O ICMS também incide na importação: é o chamadoICMS-Importação. A norma de competência para tanto é espe-cial, constando do art. 155, § 2º, IX, a, da Constituição, que dis-põe: “ incidirá também: a) sobre a entrada de bem ou mer-cadoria importados do exterior por pessoa física ou jurídica,ainda que não seja contribuinte habitual do imposto, qualquerque seja a sua finalidade, assim como sobre o serviço prestadono exterior, cabendo o imposto ao Estado onde estiver situadoo domicílio ou o estabelecimento do destinatário da mercador-ia, bem ou serviço;”. O STF está apreciando a questão nosRREE 226.899, 439.796 e 474.267.

Outro ponto importante relativo ao ICMS diz aos possí-veis conflitos de competência com os Municípios, aos quaiscabem instituir o ISS. Refiro-me às chamadas operações mistas,que envolvem tanto a circulação de mercadorias como aprestação de serviços.

Não são operações mistas aquelas em que o objeto sejaum fazer para dar, em que o fazer constitui apenas meio para aprodução e colocação do bem à disposição do comprador, in-

cidindo sempre o ICMS.558

As operações verdadeiramente mistas apresentam duploobjeto negocial: um dar e um fazer, ambos com certa auto-nomia. Eram conceituadas pelo art. 71, § 2º, do CTN comoaquelas em que havia prestação de serviços “acompanhados dofornecimento de mercadorias”, sendo que estabelecia critériopara tributação proporcional. O conceito ainda é válido, masaquele artigo foi revogado porque hoje o que temos é uma sis-temática diversa de tributação, em que incide o ICMS ou o ISSsobre o todo, um ou outro. Efetivamente, no regime da

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Constituição de 1988, o ICMS e o ISS são excludentes um dooutro: “ou a situação enseja a instituição de ICMS ou de ISS, ja-

mais dos dois simultaneamente”.559

O art. 155, § 2º, IX, b, da Constituição trata especifica-mente das operações mistas, estabelecendo que o ICMS incidirásobre o valor total da operação, quando mercadorias foremfornecidas com serviços não compreendidos na competênciatributária dos Municípios. Associando-se tal regra com a do art.156, III, que diz que os Municípios tem competência para in-stituir impostos sobre serviços de qualquer natureza, definidosem lei complementar, chegamos à conclusão de que as oper-ações mistas em que o serviço envolvido não está arrolado noanexo da LC 116/03 sujeita-se ao ICMS, mas, quando estiverarrolado, sujeita-se ao ISS. Desse modo, aliás, é que a questãose encontra disciplinada na LC 87/96, que dispõe sobre oICMS, e na LC 116/03, que dispõe sobre o ISS. O artigo 2º, IV,da LC 87/96 determina que o ICMS incida sobre o forneci-mento de mercadorias com prestação de serviços não com-preendidos na competência tributária dos Municípios. O art. 1º,caput e § 2º, da LC 116/03 estabelece que o ISS tem como fatogerador a prestação de serviços constantes da sua lista anexa eque os serviços nela mencionados não ficam sujeitos ao ICMS,ainda que sua prestação envolva fornecimento de mercadorias.

A jurisprudência, tanto a do STF560 como a do STJ,561 consagraesse regime. A Súmula 163 do STJ diz que “O fornecimento demercadorias com a simultânea prestação de serviços em bares,restaurantes e estabelecimentos similares constitui fato geradordo ICMS a incidir sobre o valor total da operação”.

A incidência de ICMS sobre combustíveis derivados depetróleo segue regime todo especial baseado na premissa deque “o imposto caberá ao Estado onde ocorrer o consumo” (art.155, § 4º, I). Para viabilizar isso, a Constituição imuniza as

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operações interestaduais, ou seja, as “operações que destinem aoutros Estados petróleo, inclusive lubrificantes, combustíveislíquidos e gasosos dele derivados, e energia elétrica” (art. 155, §2º, X, b). Estabelece, ainda, que “§ 5º As regras necessárias à ap-licação do disposto no § 4º, inclusive as relativas à apuração e àdestinação do imposto, serão estabelecidas mediante deliber-ação dos Estados e do Distrito Federal, nos termos do § 2º, XII,g”. (art. 155, § 5º, da CF, incluído pela EC 33/01). Trata damatéria o Convênio CONFAZ 110/07 que procura concentrar atributação nas refinarias, como contribuintes e como substitutastributárias. É estabelecida uma câmara de compensação paraviabilizar os recolhimentos e a destinação constitucional. Osdetalhes desse regime estão sendo analisados pelo STF na ADI4171.

No ICMS sobre circulação de mercadorias, o fato geradorconsidera-se ocorrido no momento “da saída de mercadoria deestabelecimento de contribuinte”, nos termos do art. 12 da LC87/96.

Quanto à base de cálculo do ICMS, é o valor da operação,conforme do art. 13 da LC 87/96. Note-se que o ICMS é calcu-lado por dentro do preço da mercadoria, o que resta expressono art. 155, § 2º, XII, i, da CF. A matéria restou pacificada noSTF, com efeito de repercussão geral, no RE 582.461, relator o

Ministro GILMAR MENDES.562

Os demais fatos geradores e bases de cálculo também sãodefinidos nos arts. 2º, 12 e 13 da LC 87/96.

129. Imposto sobre propriedade de veículos auto-motores (IPVA)

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A CF outorga competência aos Estados para instituir im-posto sobre a propriedade de veículos automotores. Pro-priedade é o direito real por excelência, o mais amplo, que en-

volve as prerrogativas de usar e dispor.563 Já o conceito deveículos automotores compreende as coisas movidas a motorde propulsão, que circulam por seus próprios meios e queservem normalmente para o transporte viário de pessoas oucoisas, conforme o anexo I do Código Brasileiro de Trânsito.

Entende o STF que não abrange embarcações e aeronaves.564

Trata-se de um imposto real, que considera isoladamentea riqueza correspondente à propriedade do veículo, semqualquer subjetivação. Não se presta, por isso, para qualquermodalidade de progressividade, seja gradual seja simples. Oque o STF admite é que o legislador conceda descontos para o“bom condutor”, ou seja, para o proprietário de automóvel quenão apresente infrações de trânsito, entendendo que a finalid-ade extrafiscal de estimular a observância das leis de trânsitojustifica a distinção de tratamento, não caracterizando violação

à isonomia.565

Submete-se o IPVA, por certo, às limitações constitucion-ais ao poder de tributar previstas no art. 150 do CTN e aplicá-veis aos tributos em geral, como a legalidade, a isonomia, a ir-retroatividade, as anterioridades, a vedação do confisco e asimunidades genéricas a impostos. Mas o § 1º do art. 150 da CFexcepciona o IPVA da necessidade de observância da anterior-idade nonagesimal no que diz respeito “à fixação da base e cál-culo”. Desse modo, as tabelas utilizadas para a definição dovalor dos veículos conforme sua marca, modelo, ano de fab-ricação etc. podem ser alteradas ao final de um ano para ap-licação ao fato gerador que se considere ocorrido já no início doano subsequente, ainda que não decorridos noventa dias.

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Embora a reserva de que trata o art. 146, III, a, da CF, nãohá lei complementar dispondo sobre o fato gerador, base decálculo e contribuintes do IPVA. O CTN não cuidou da matériaporque, à época, inexistia competência para tributar a pro-priedade de veículos automotores, só surgida em 1985, com aEC 27 à Constituição de 1967. Mas, na ausência de lei comple-mentar, o STF entende que os Estados estão autorizados a exer-cer a competência legislativa plena, forte no art. 24, § 3º, da

CF.566

No Estado de São Paulo, cuida da matéria a Lei 13.296/08, que “Estabelece o tratamento tributário do Imposto sobre aPropriedade de Veículos Automotores – IPVA”.

Define como seu fato gerador “a propriedade de veículoautomotor” e considera-o ocorrido no dia 1º de janeiro de cadaano para os veículos usados e na data da aquisição para osveículos novos, tudo nos termos dos arts. 2º e 3º, sendo que esteestabelece ainda outras regras quanto ao aspecto temporal paracasos específicos.

Contribuinte é “o proprietário do veículo”, sendo que, nocaso de pessoa jurídica, considera-se contribuinte “cada um dosseus estabelecimentos”, nos termos do art. 5º.

É importante considerar que o adquirente de veículo é re-sponsável pelo IPVA relativo a exercícios anteriores e que oproprietário que aliena veículo e não fornece os dados ne-cessários à alteração do Cadastro de Contribuintes do IPVA noprazo de trinta dias é responsável pelo IPVA “em relação aosfatos geradores ocorridos entre o momento da alienação e o doconhecimento desta pela autoridade responsável”, dentre out-ras hipóteses de responsabilidade tratadas no art. 6º da leipaulista. A responsabilidade “é solidária e não comporta bene-fício de ordem”.

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A base de cálculo do imposto é o valor de mercado doveículo usado, conforme tabela divulgada pelo Poder Exec-utivo, considerados a marca, o modelo, a espécie e o ano defabricação, independentemente do estado de conservação, ou ovalor constante no documento fiscal de aquisição do veículo,quando novo, forte no art. 7º. Há regras específicas para veícu-los antigos.

As alíquotas são de 1,5% para os veículos de carga, tipocaminhão, de 2% para ônibus e microônibus, caminhonetescabine simples, motocicletas, máquinas de terraplenagem,empilhadeiras, guindastes, tratores e similares, 3% para veícu-los movidos exclusivamente a “álcool, gás natural veicular oueletricidade” e 4% para os demais veículos, tudo conforme oart. 9º da lei paulista. Há redução de 50% relativamente aosveículos de locadoras.

Na aquisição de automóveis novos, o imposto é calculadode forma proporcional ao número de meses restantes do anocivil, nos termos do art. 11. Fica dispensado o pagamento doimposto a partir da ocorrência de furto ou roubo, quando ocor-rido no Estado de São Paulo, casos em que “o imposto pagoserá restituído proporcionalmente ao período, incluído o mêsda ocorrência em que ficar comprovada a privação da pro-priedade do veículo”.

Há isenção para “veículo adequado para ser conduzidopor pessoa com deficiência física”. Também há benefício de is-enção relativamente ao único taxi utilizado profissionalmentepelo proprietário e para “ônibus ou micro-ônibus empregadosexclusivamente no transporte público de passageiros, urbanoou metropolitano, devidamente autorizados pelos órgãos com-petentes”. Há isenção, ainda, para “máquina de terraplanagem,empilhadeira, guindaste e demais máquinas utilizadas na con-strução civil ou por estabelecimentos industriais ou comerciais,

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para monte e desmonte de cargas” e para veículo com mais devinte anos de fabricação, dentre outras hipóteses, conforme oart. 13.

O art. 17 da Lei 13.296/08 também estabelece que o im-posto é sujeito a lançamento por homologação: “Artigo 17 – Ocontribuinte ou o responsável efetuará anualmente o paga-mento do imposto, na forma estabelecida pelo Poder Executivo,o qual ficará sujeito à homologação pela autoridade adminis-trativa competente”. Assim, a iniciativa deve ser do con-tribuinte. Ao lançamento de ofício fica reservada funçãosupletiva: “Artigo 18 – Verificado que o contribuinte ou re-sponsável deixou de recolher o imposto no prazo legal, no todoou em parte, a autoridade administrativa tributária procederáao lançamento de ofício, notificando o proprietário do veículoou o responsável para o recolhimento do imposto ou da difer-ença apurada, com os acréscimos legais, no prazo de 30 (trinta)dias contados da data do recebimento da notificação, reservadoo direito de contestação”.

130. Imposto sobre propriedade predial e territ-orial urbana (IPTU)

O art. 156, I, da CF outorga aos Municípios competênciapara instituir imposto sobre “propriedade predial e territorialurbana”. Para compreendermos a amplitude da base econôm-ica dada à tributação, importa considerar o que significa.

Propriedade é o direito real mais amplo, envolvendo asfaculdades de usar, de gozar e de dispor.

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Prédio é toda porção de terra ou de solo,constituída em

propriedade de alguém, haja nele, ou não, construções.567 Acombinação com “territorial”, no entanto, leva ao entendi-mento de que o constituinte quis ressaltar a possibilidade detributação da riqueza revelada não apenas pela propriedade daterra (territorial) como desta com as construções nela edificadas

(predial).568

A zona urbana, por sua vez, parece constar na Constitu-ição em oposição à área rural, pelo critério da localização. Azona urbana é definida por lei municipal, devendo observar oscritérios constantes dos §§ 1º e 2º do art. 32 do CTN. O § 1º ex-ige, pelo menos, a existência dois melhoramentos de infraestru-tura urbana, dentre os seguintes: “meio-fio ou calçamento, comcanalização de águas pluviais”, “abastecimento de água”, “sis-tema de esgotos sanitários”, “rede de iluminação pública, comou sem posteamento para distribuição domiciliar” ou “escolaprimária ou posto de saúde a uma distância máxima de 3 (três)quilômetros do imóvel considerado”. O § 2º permite que sejamconsideradas urbanas “áreas urbanizáveis, ou de expansão urb-ana, constantes de loteamentos aprovados pelos órgãos com-petentes, destinados à habitação, à indústria ou a comércio”.Mas o STF e o STJ têm aplicado o art. 14 do Decreto-Lei 57/66,segundo o qual o IPTU “não abrange o imóvel que, comprova-damente, seja utilizado em exploração extrativa vegetal, agrí-cola, pecuária ou agro-industrial, incidindo assim, sobre o

mesmo, o ITR”.569 Assim, combinam-se os critérios da localiza-ção e da destinação.

O IPTU é considerado um imposto real, porquanto con-sidera a propriedade de um imóvel isoladamente e nãoriquezas que dimensionem a possibilidade atual de o con-tribuinte pagar tributo. Mesmo assim, a Constituição expres-samente autoriza sua progressividade tanto por razões

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meramente arrecadatórias ou fiscais como para fins extrafiscais.O art. 156, § 1º, com a redação que lhe deu a EC 29/01, autorizaa progressividade do IPTU em razão do valor do imóvel, bemcomo a sua seletividade, de modo que tenha alíquotas difer-entes de acordo com a localização e o uso. Já o art. 182, quecuida da política de desenvolvimento urbano, faculta ao Mu-nicípio exigir do proprietário de terreno urbano que promovaseu adequado aproveitamento, sob pena de parcelamento ouedificação compulsórios, IPTU progressivo no tempo e desap-ropriação, razão pela qual os proprietários de terrenos urbanospagam mais IPTU que os proprietários de casas, embora o val-or venal dessas com seus terrenos seja muito superior aodaqueles.

O CTN define o fato gerador, base de cálculo e con-tribuintes do IPTU, estabelecendo o arquétipo possível dessesaspectos da norma tributária impositiva, a ser observado pelasleis municipais quando da efetiva instituição do imposto.

O art. 32 do CTN estabelece que o IPTU “tem como fatogerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de bemimóvel por natureza ou por acessão física, como definido na leicivil, localizado na zona urbana do Município”. Extrapola, as-sim, a base econômica “propriedade” ao estender o impostotambém ao domínio útil ou à posse.

O art. 33 do CTN define como base de cálculo o “valorvenal do imóvel”, ou seja, seu valor no mercado imobiliário.Tal valor não é verificado imóvel a imóvel e sim presumidoconforme tabelas chamadas “planta fiscal de valores”, quedefinem o valor do metro quadrado conforme a localização, anatureza e o nível da construção. Essas tabelas, normalmenteconstantes de anexos às leis instituidoras do IPTU, podem seratualizadas mediante decreto, mas não em percentual superiorao índice oficial de correção monetária, conforme se vê da

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Súmula 160 do STJ,570 pois tal implicaria verdadeiro aumentodo imposto sem lei. O parágrafo único do art. 33 proíbe que alei considere, no valor venal, o valor dos bens móveis eventual-mente mantidos no imóvel para efeito de utilização, explor-ação, aformoseamento ou comodidade.

Contribuinte do imposto, nos termos do art. 34 do CTN,é “o proprietário do imóvel, o titular do seu domínio útil, ou oseu possuidor a qualquer título”, dispositivo este que, emboraesteja em consonância com a definição que o Código faz do fatogerador em seu art. 32, pode merecer censura constitucionalpor desbordar do titular da propriedade. O STJ já decidiu quesó o possuidor que tenha animus domini é que pode ser cha-

mado a pagar o IPTU, jamais o locatário ou o comodatário571

ou mesmo o arrendatário.572 Estes, normalmente, obrigam-seperante o proprietário, mas jamais poderão ser obrigados aopagamento diretamente pelo Município.

No Município de São Paulo, a instituição do IPTU deu-sepela Lei 6.989/66, ainda em vigor. A regulamentação dá-se peloDecreto 51.357/10, que consolida a legislação tributária muni-cipal. Todos os imóveis, construídos ou não, situados na zonaurbana do Município, são inscritos no Cadastro Imobiliário Fis-cal, com base no qual é lançado o IPTU.

A lei municipal, para fins de disciplina jurídica, distingueo imposto predial do imposto territorial.

Quanto ao imposto predial, considera-se ocorrido o fatogerador no dia 1º de janeiro de cada ano, sendo que o lança-

mento é “é anual e feito um para cada prédio”.573 O imóvel devalor venal igual ou inferior a R$ 70.000,00 (setenta mil reais) éisento, exceto as unidades autônomas de condomínio tributa-

das como garagens e os estacionamentos comerciais.574 Há,

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ainda, isenções para agremiações desportivas, conventos e

seminários, templos etc.575 A alíquota é de 1% para os imóveisresidenciais, mas com desconto ou acréscimos conforme o valor

venal, o que resulta em percentuais que vão de 0,8% a 1,6%.576

Para imóveis com outra destinação, a alíquota é de 1,5%, tam-bém com desconto ou acréscimos acabam resultando em

alíquotas efetivas que vão de 1,2% a 2%.577 Há desconto de50% para imóveis restaurados em localizações específicas e out-ros imóveis de caráter histórico ou de excepcional valorartístico, cultural ou paisagístico, nos termos do art. 1º da Lei10.598/88.

Quanto ao imposto territorial, incide sobre a pro-priedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel não con-struído ou que tenha obra paralisada ou em andamento, edi-ficações condenadas ou em ruínas ou mesmo construções denatureza temporária e, ainda, de imóvel em que a área con-struída seja proporcionalmente diminuta ou inadequada à suasituação, dimensões, destino ou utilidade. Considera-se ocor-rido o fato gerador em 1º de janeiro de cada ano, sendo feitoanualmente o lançamento. O imposto é de 1,5% sobre o valorvenal, com descontos e acréscimos conforme o valor venal queimplicam alíquotas efetivas de 1,2% a 2%. Há descontos de até50% para imóveis com vegetação declarada de preservação per-manente. Também recebem desconto de 50% os imóveis local-izados em área de proteção de mananciais.

Tanto o imposto predial como o imposto territorialpaulistas são apurados mediante apuração do valor venal combase em Planta Genérica de Valores. Os valores unitários demetro quadrado de construção e de terreno são determinadosem função de critérios como os preços correntes das transaçõese das ofertas à venda no mercado imobiliário e característicasda região, não se considerando o valor dos bens móveis

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mantidos no imóvel, tampouco as restrições ao direito de pro-priedade. Há normas bastante detalhadas para a definição dovalor venal conforme diversas características do imóvel.Consideram-se a área predominante o padrão de construção,bem como a idade dos prédios. O valor venal de imóvel con-struído é apurado pela soma do valor do terreno com o valorda construção, os termos do art. 17 da Lei 10.235/86.

131. Imposto sobre transmissão inter vivos debens imóveis e de direitos reais sobre imóveis(ITBI)

O art. 156, II, da Constituição outorga aos Municípioscompetência para instituir imposto sobre “transmissão intervivos, a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, pornatureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, ex-ceto os de garantia, bem como cessão de direitos a suaaquisição”. É o chamado ITBI. A competência é sempre do Mu-nicípio da situação do bem, nos termos do art. 156, § 2º, da CF.

A transmissão de bens imóveis e de direitos reais a elesrelativos dá-se mediante registro do respectivo título (como aescritura de compra e venda) no Cartório de Registro de Imó-veis. O art. 1.227 do Código Civil dispõe que “Os direitos reaissobre imóveis constituídos, ou transmitidos por atos entrevivos, só se adquirem com o registro”. O art. 1.245, que cuidaespecificamente da aquisição da propriedade, dispõe:“Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro dotítulo translativo no Registro de Imóveis”. De qualquer modo,pode o legislador determinar que o pagamento seja feito já

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antecipadamente, por ocasião da escritura, como medida depraticabilidade tributária que vise a evitar o inadimplemento.Isso porque toda escritura deve ser levada a registro, de modoque se pode presumir a iminência do fato gerador. Mas o STJ jádecidiu que “a pretensão de cobrar o ITBI antes do registro

imobiliário contraria o Ordenamento Jurídico”.578

A transmissão inter vivos é a transferência do direito deuma pessoa a outra por força de um negócio jurídico. Não se

confunde com a aquisição originária da propriedade,579 que senão se sujeita à incidência deste imposto porque não implica

transmissão.580

Os direitos reais estão arrolados no art. 1.225 do CódigoCivil: propriedade, superfície, servidões, usufruto, uso, habit-ação, direito do promitente comprador do imóvel, penhor, hi-poteca, anticrese, concessão de uso especial para fins de mora-dia e concessão de direito real de uso. A Súmula 326 do STFdispõe: “É legítima a incidência do Imposto de TransmissãoInter Vivos sobre a transferência do domínio útil”.

Há imunidade para a transmissão na realização de capit-

al581 de pessoa jurídica e também nas transmissões decorrentesde fusão, incorporação, cisão ou extinção de pessoa jurídica, ex-ceto quando a atividade preponderante do adquirente for acompra e venda desses bens e direitos, locação de bens imóveisou arrendamento mercantil, nos termos do art. 156, § 2º, I, daCF.

O STF entende que o ITBI é um imposto de natureza

real582 e que, por isso, não se presta à progressividade,583 ouseja, não pode ter alíquotas progressivamente maiores con-forme o aumento da base de cálculo.

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O CTN dispõe que o fato gerador é a “transmissão”, aqualquer título, da propriedade e do domínio útil (art. 35, I) ou“de direitos reais sobre imóveis, exceto os direitos reais degarantia” (35, II). Conforme a Súmula 111 do STF, “É legítima aincidência do Imposto de Transmissão Inter Vivos sobre arestituição, ao antigo proprietário, de imóvel que deixou deservir à finalidade da sua desapropriação”.

A base de cálculo “é o valor venal dos bens ou direitostransmitidos” (art. 36). Quando da transmissão da propriedade,considera-se o seu valor venal, ainda que haja gravames tem-

porários.584 De outro lado, dispõe a Súmula 108 do STF: “Élegítima a incidência do Imposto de Transmissão Inter Vivossobre o valor do imóvel ao tempo da alienação, e não dapromessa, na conformidade da legislação local”. A Súmula 110do STF, por sua vez, dispõe: “O Imposto de Transmissão InterVivos não incide sobre a construção, ou parte dela, realizadapelo adquirente, mas sobre o que tiver sido construído aotempo da alienação do terreno”.

Os Municípios estabelecem Plantas Genéricas de Valores– PGVs com os critérios gerais que servem para a definição, noscasos concretos, do valor de cada imóvel conforme suas carac-terísticas ou valem-se das Plantas Fiscais de Valores utilizadaspara cálculo do IPTU, utilizando-as para fins de ITBI. Tal éválido, desde que não implique base de cálculo superior ao realvalor de cada imóvel.

As alíquotas são fixadas pela legislação municipal, nãoprevendo mais a Constituição a fixação de limite por Resoluçãodo Senado, o que só está previsto para o ITCMD, mas não parao ITBI.

Contribuinte pode ser qualquer das partes na operaçãotributada, nos termos do art. 42 do CTN.

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A lei instituidora do ITBI no Município de São Paulo é aLei Municipal 11.154/91, regulada pelo Decreto 51.357/10, queconsolida a legislação tributária do município.

O art. 115 do Regulamento diz que o ITBI tem como fatogerador “a transmissão inter vivos, a qualquer título, por atooneroso: a) de bens imóveis, por natureza ou acessão física; b)de direitos reais sobre bens imóveis, exceto os de garantia e asservidões;” e “a cessão, por ato oneroso, de direitos relativos à

aquisição de bens imóveis”.585 Compreende, nos termos do art.116, a compra e venda; a dação em pagamento; a permuta; omandato em causa própria ou com poderes equivalentes para atransmissão de bem imóvel e respectivo substabelecimento,ressalvado o disposto no artigo 117, inciso I; a arrematação, aadjudicação e a remição; o valor dos imóveis que, na divisão depatrimônio comum ou na partilha, forem atribuídos a um doscônjuges separados ou divorciados, ao cônjuge supérstite ou aqualquer herdeiro, acima da respectiva meação ou quinhão,considerando, em conjunto, apenas os bens imóveis constantesdo patrimônio comum ou monte-mor. o uso, o usufruto e a en-fiteuse; a cessão de direitos do arrematante ou adjudicatário,depois de assinado o auto de arrematação ou adjudicação; acessão de direitos decorrente de compromisso de compra evenda; a cessão de direitos à sucessão; a cessão de benfeitoriase construções em terreno compromissado à venda ou alheio; ainstituição e a extinção do direito de superfície; e todos os de-mais atos onerosos translativos de imóveis, por natureza ou

acessão física, e de direitos reais sobre imóveis.586

Considera contribuintes aqueles que transmitem odireito, nos termos do seu art. 120: os adquirentes dos bens oudireitos transmitidos; os cedentes, nas cessões de direitos de-correntes de compromissos de compra e venda; os transmit-entes, nas transmissões exclusivamente de direitos à aquisição

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de bens imóveis, quando o adquirente tiver como atividadepreponderante a compra e venda desses bens ou direitos, a sualocação ou arrendamento mercantil; os superficiários e oscedentes, nas instituições e nas cessões do direito de super-

fície.587

A base de cálculo, nos termos do art. 121, “ é o valorvenal dos bens ou direitos transmitidos, assim considerado ovalor pelo qual o bem ou direito seria negociado à vista, em

condições normais de mercado”.588 Desse modo, poderá nãocorresponder exatamente ao valor da operação, ou seja, ao val-or constante do negócio jurídico realizado. Os §§ 1º e 2º é clarono sentido de que “Não serão abatidas do valor venalquaisquer dívidas que onerem o imóvel transmitido”, mas que“Nas cessões de direitos à aquisição, o valor ainda não pagopelo cedente será deduzido da base de cálculo”.

O Município de São Paulo divulga os valores venais atu-alizados dos imóveis inscritos no Cadastro Imobiliário Fiscal,facultando ao contribuinte, caso não concorde, requerer funda-mentadamente a avaliação especial do imóvel (arts. 122 e 123do Regulamento). O valor da base de cálculo é reduzido, “nainstituição de usufruto e uso, para 1/3 (um terço)”, “na trans-missão de nua propriedade, para 2/3”, “na instituição de en-fiteuse e de transmissão dos direitos do enfiteuta, para 80%”,“na transmissão de domínio direto, para 20%”.

A alíquota normal é de 2%. Mas fica em 0,5% nas trans-missões “compreendidas no Sistema Financeiro de Habitação –SFH, no Programa de Arrendamento Residencial – PAR e deHabitação de Interesse Social – HIS” até o limite de R$42.800,00, conforme o art. 125 do Regulamento; nas superiores,a faixa até o limite é tributada à razão de 0,5%, e a faixa acimado limite, à razão de 2% (art. 10 da Lei 11.154, de 30/12/91, com aredação da Lei 13.107, de 30/12/00 e da Lei 14.865, de 29/12/08).

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A legislação determina o pagamento antecipado quandoo ato ou contrato seja realizado por instrumento público, fic-ando os notários, oficiais de Registro de Imóveis, ou seus pre-postos, obrigados a verificar a exatidão e a suprir as eventuaisomissões dos elementos de identificação do contribuinte e doimóvel transacionado no documento de arrecadação, nos atosem que intervierem. Quando o negócio por realizado por in-strumento particular, o imposto deverá ser pago nos dez diasposteriores. Já na arrematação, adjudicação ou remição, o im-posto será pago dentro de 15 dias desses atos, antes daassinatura da respectiva carta e mesmo que essa não seja ex-traída. Nas transmissões realizadas por termo judicial, em vir-tude de sentença judicial, o imposto será pago dentro de 10(dez) dias, contados do trânsito em julgado da sentença ou dadata da homologação de seu cálculo, o que primeiro ocorrer.Tudo nos termos dos arts. 127 a 130 do Regulamento.

Não sendo pago no vencimento, será acrescido de cor-reção monetária, multa moratória de 0,33% até o limite de 20%e juros de 1% ao mês. Quando o débito é apurado pela fiscaliz-ação, a multa é de 50%. Comprovada omissão ou falsidade, amulta é de 100% sobre o total do débito.

132. Imposto sobre serviços de qualquer natureza(ISS)

O art. 156, III, da CF outorga aos Municípios competênciapara instituir imposto sobre “serviços de qualquer natureza,não compreendidos no artigo 155, II, definidos em lei comple-mentar”, o chamado ISS.

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O conceito de serviços de qualquer natureza é funda-mental para a delimitação da base econômica dada à trib-utação, ou seja, para definirmos o que pode ser tributado atítulo de ISS. Para AIRES F. BARRETO, “serviço é esforço depessoas desenvolvido em favor de outrem, com conteúdo econ-ômico, sob regime de direito privado, em caráter negocial,

tendente a produzir uma utilidade material ou imaterial”.589

Pode-se dizer que se trata de um fazer em favor de terceiros,específico, como objeto mesmo de um negócio jurídico, ou seja,um fazer como fim colimado e não como simples meio paraoutra prestação. Ademais, deve ser prestado a título oneroso,mediante contraprestação.

Há serviços, contudo, excluídos da possibilidade de trib-utação a título de ISS. Note-se que o próprio art. 156, III, afastaaqueles serviços cuja tributação compete aos Estados a título deICMS: os serviços de transporte interestadual e intermunicip-al e de comunicação. Além disso, o art. 150, VI, a, e §§ 2º e 3º,da CF atribui imunidade aos serviços públicos típicos presta-dos pelos entes políticos, autarquias ou fundações públicas vin-culados a suas finalidades essenciais ou delas decorrentes, nãoregidos pelas normas aplicáveis a empreendimentos privados esem contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas. O STFentende que a imunidade também alcança empresas públicas esociedades de economia mista quando atuem como longamanus do ente político, prestando serviço em regime demonopólio, sem disputa de mercado com empresas priva-

das.590 Ademais, não incide ISS nas exportações de serviços,na prestação de serviços em relação de emprego, dos trabal-hadores avulsos, diretores e membros de conselho consultivoou de conselho fiscal de sociedades e fundações, bem como dossócios-gerentes e dos gerentes-delegados e, por fim, sobre ovalor intermediado no mercado de títulos e valores

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mobiliários, sobre o valor dos depósitos bancários e sobre oprincipal, juros e acréscimos moratórios relativos a operaçõesde crédito realizadas por instituições financeiras, nos termosdo art. 2º, I, da LC 116/03.

O ISS exige, ainda, a intermediação de lei complementar,porquanto o art. 156, III, da Constituição comete a tal veículolegislativo o papel de definir, dentre os serviços de qualquernatureza, aqueles que poderão ensejar a instituição do impostopor parte dos Municípios. A LC 116/03 traz, em anexo, a listade serviços tributáveis arrolados em quarenta itens, cada qualcom seus subitens. Dentre os serviços arrolados, estão, por ex-emplo, os serviços de informática, de medicina e assistênciaveterinária, de estética e atividades físicas, de engenharia, ar-quitetura e construção civil, de manutenção e limpeza, de edu-cação e ensino, de hospedagem, turismo e viagens, de estacio-namento, de vigilância, bancários e financeiros, serviços deapoio administrativo, jurídico e contábil, serviços funeráriosetc.

PAULO DE BARROS CARVALHO ensina que “A ex-pressão ‘definidos em lei complementar’ não autoriza que sejaconceituado como serviço aquilo que efetivamente não o é.Indigitada prática subverte a hierarquia do sistema positivobrasileiro, pois o constituinte traçou o quadro dentro do qual os

Municípios podem mover-se...”.591 Os tribunais tambémseguem essa linha. No item 3 da lista de serviços consta “Ser-viços prestados mediante locação, cessão de direito de uso econgêneres”, o que, no entanto, não é admitido pelo STF namedida em que a locação não consubstancia verdadeiraprestação de serviços. Vejamos a Súmula Vinculante 31: “É in-constitucional a incidência do imposto sobre serviços dequalquer natureza – ISS sobre operações de locação de bensmóveis”. Entendeu o STJ, por sua vez, que, dentre as três

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modalidades de arrendamento mercantil, o leasing operacionalcaracteriza-se como locação, não se sujeitando ao ISS, mas que

o leasing financeiro e o lease-back sujeitam-se ao imposto.592 Ajurisprudência do STJ considera, ainda, que o complexo con-trato de franquia não pode ser considerado como prestação de

serviços, não ensejando a incidência do ISS.593

A lista de serviços da LC 116/03 é taxativa, de maneira

que só podem ser tributados os serviços nela arrolados.594

Admite-se, todavia, uma “leitura extensiva de cada item”,595

de modo a “enquadrar serviços correlatos àqueles previstos ex-

pressamente”.596 JOSÉ EDUARDO SOARES DE MELO ad-verte que os Municípios, muitas vezes, “fazem tábula rasa dajurisprudência” quanto à taxatividade “inserindo um item adi-cional, intitulado ‘fornecimento de trabalho, qualificado ou

não, não especificado nos itens anteriores’“,597 o que não en-contra suporte constitucional.

Os serviços arrolados na lista da LC 116/03 e que con-stem também da lei municipal instituidora do serviço dão en-sejo à cobrança do ISS, ainda que o serviço não seja a ativid-

ade preponderante do prestador.598 Incidirá o ISS, também,ainda que a prestação de serviços se dê mediante fornecimentode mercadorias, ou seja, que haja um duplo objeto negocial, ca-racterizando uma operação mista. O STJ é inequívoco: “ sobreoperações mistas, assim entendidas as que agregam mercadori-as e serviços, incide o ISSQN sempre que o serviço agregadoestiver compreendido na lista de que trata a LC 116/03 e incideICMS sempre que o serviço agregado não estiver previsto na

referida lista”.599 Veja-se a Súmula 274 do STJ: “O ISS incidesobre o valor dos serviços de assistência médica, incluindo-seneles as refeições, os medicamentos e as diárias hospitalares”.

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Também a Súmula 167 do STJ: “O fornecimento de concreto,por empreitada, para construção civil, preparado no trajeto atéa obra em betoneiras acopladas a caminhões, é prestação deserviço, sujeitando-se apenas à incidência do ISS”. Outro en-tendimento consolidado na Súmula 163 do STJ é no sentido deque: “O fornecimento de mercadorias com a simultâneaprestação de serviços em bares, restaurantes e estabelecimentossimilares constitui fato gerador do ICMS a incidir sobre o valortotal da operação”.

O art. 1º da LC 116/03 dispõe sobre o fato gerador do ISS:

“Art. 1º O Imposto Sobre Serviços de QualquerNatureza, de competência dos Municípios e do DistritoFederal, tem como fato gerador a prestação de serviçosconstantes da lista anexa, ainda que esses não se con-stituam como atividade preponderante do prestador. §1º O imposto incide também sobre o serviço provenientedo exterior do País ou cuja prestação se tenha iniciadono exterior do País. § 2º... § 3º O imposto de que trata es-ta Lei Complementar incide ainda sobre os serviçosprestados mediante a utilização de bens e serviçospúblicos explorados economicamente mediante autoriz-ação, permissão ou concessão, com o pagamento detarifa, preço ou pedágio pelo usuário final do serviço.”

Embora o art. 3º da LC 113/06 disponha no sentido deque o serviço se considera prestado e o imposto devido no localdo estabelecimento do prestador, como regra geral, salvo ex-

ceções que estabelece, a jurisprudência do STJ600 firmou-se emsentido contrário, afirmando que “o ISS deve ser recolhido nolocal da efetiva prestação de serviços, pois é nesse local que se

verifica o fato gerador”,601 sendo que “O Município

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competente para cobrar o ISS é o da ocorrência do fato geradordo tributo, ou seja, o local onde os serviços foram presta-

dos”.602

Contribuinte “é o prestador do serviço”, dispõe o art. 5ºda LC 116/03.

A base de cálculo “é o preço do serviço”, conformeredação expressa do art. 7º da LC 116/03. Mas em alguns ser-viços relacionados a obras de construção civil, relacionados nositens 7.02 e 7.05 da lista de serviços, a LC prevê que não se in-cluem na base de cálculo o valor dos materiais fornecidos peloprestador dos serviços.

O STJ entende que não é possível incluir no valor dos ser-viços “importâncias que não serão revertidas para o prestador,

mas simplesmente repassadas a terceiros”.603 Abordandoquestão relativa aos valores repassados pelos planos de saúde,entendeu que cobrar da seguradora pelo valor total e depoistambém de cada prestador de serviço implicaria duplatributação, “fazendo-se necessária a exclusão dos valores queforam repassados pela empresa de seguro-saúde aos terceiros,garantindo-lhe que a base de cálculo do ISS abranja apenas aparte que ficou como receita para a recorrente”, sendo que “Aquantia referente aos terceiros será incluída no cálculo do ISS

devido por eles (os profissionais, laboratórios e hospitais).604

As sociedades profissionais e os profissionais autônomosrecolhem ISS por valor fixo, na forma do art. 9º, §§ 1º e 3º, do

DL 406/68, recepcionado pela Constituição de 1988605 e ressal-vado pela LC 116 que, em seu art. 10, numerou especificamenteos dispositivos do DL 406/68 que revogou, sendo que só re-staram revogados os parágrafos do art. 9º do DL 406/68 acres-cidos pela LC 100/99. As sociedades de profissionais que ex-ercem profissão regulamentada continuam, portanto,

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constituindo exceção à base de cálculo ordinária do ISSQN(preço do serviço). A apuração do quantum debeatur da exaçãodeve tomar como base o número de profissionais inscritos, con-soante § 3º do art. 9º do DL 406/68. Não é dado aos Municípiosdesconsiderar o sistema de tributação por valor fixo, tampoucocondicionar a aplicação de tal regime ao cumprimento de re-quisitos não previstos em lei complementar.

A LC 116 ainda estabelece alíquota máxima de 5% para oISS. A Constituição prevê que tanto a alíquota máxima como aalíquota mínima será estabelecida por lei complementar e que aesta caberá também regular a forma e as condições como is-enções, incentivos e benefícios fiscais serão concedidos e re-vogados, conforme seu o art. 156, § 3º, II e III.

No Município de São Paulo, é a Lei 13.701/03 que discip-lina o ISS.

Notas do Capítulo XV

425 Abordagem mais detalhada de cada imposto, fazemos em nosso livro Im-postos Federais, Estaduais e Municipais, escrito em coautoria com JoséEduardo Soares de Melo e publicado pela Livraria do Advogado Editora.

426 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Por-tuguesa. 2ª ed., revista e aumentada. 17ª reimpressão. Rio de Janeiro: NovaFronteira, 1986, p. 923.

427 AMÉRICO MASSET LACOMBE, no seu Imposto de Importação, em 1979, àluz da EC 1/69, já diferenciava os termos “produto” e “mercadoria”.

428 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro OCTAVIO GALLOTTI, RE 104.306,1986.

429 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro OCTAVIO GALLOTTI, RE 104.306,1986.

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430 O SISCOMEX é o Sistema Integrado de Comércio Exterior. Através doSISCOMEX, criado pelo Decreto 660/92, foi informatizado todo o proces-samento administrativo das importações e exportações, fazendo-se, atravésdele, o registro, acompanhamento e controle de todas as etapas das operaçõesde comércio exterior.

431 STJ, REsp 174.444/SP.

432 STJ, AgRg no REsp 742.847/RJ.

433 Pessoa física ou jurídica.

434 O agente marítimo não é indicado como responsável tributário pelo DL37/66, não se equiparando ao transportador, conforme já assentado naSúmula 192 do extinto TFR e reafirmado pelo STJ (REsp 361.324/RS).

435 Por força do Tratado de Assunção, que criou o MERCOSUL, passou-se arumar para uma política comercial comum dos países do bloco relativamentea terceiros Estados ou agrupamentos de Estados, o que envolveu a adoção deuma Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), para padronização da iden-tificação dos produtos, e da denominada Tarifa Externa Comum (TEC). Entreos países integrantes do MERCOSUL, as importações estão desoneradas,provando-se a procedência dos bens mediante Certificado de Origem doMercosul.

436 STF, AGRAG 186.759, nov/1997; STJ, REsp 500.286, REsp 68.247 e REsp180.131.

437 INCOTERMs são os termos que designam, em inglês, de forma sumária,cláusulas usuais no comércio internacional atinentes a direitos e obrigaçõesdo vendedor e do comprador quanto a fretes, seguros e outros encargospróprios do comércio internacional. A ICC (International Chamber of Com-merce), desde 1936, regulamenta os INCOTERMS, sendo que a padronizaçãodo seu uso facilita e confere segurança às contratações. Periodicamente, a ICCpublica Brochura com a atualização dos INCOTERMS. Mas não constitui aúnica fonte. Os Estados Unidos possuem regulamentação própria sobreINCOTERMs.

438 CARRAZZA, Roque Antonio. A natureza meramente interpretativa doart. 129 da Lei 11.196/05, o imposto de renda, a contribuição previdenciária eas sociedades de serviços profissionais. RDDT 154, jul/08, p. 109.

439 Súmula 125 do STJ: “O pagamento de férias não gozadas por necessidadedo serviço não está sujeito à incidência do Imposto de Renda.”

440 STJ, Primeira Turma, AgRg no REsp 1057542.

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441 Súmula 136 do STJ: “O pagamento de licença-prêmio não gozada por ne-cessidade do serviço não está sujeito ao imposto de renda.”

442 STJ, REsp 625.506/RS.

443 STJ, REsp 789.706/RS.

444 STJ, ROMS 11.392/RJ.

445 STJ, REsp 1.023.447/SC.

446 CARDOSO, Oscar Valente. A controversa incidência do imposto de rendasobre juros de mora decorrentes de condenação judicial. RDDT 153, jun/08, p.55.

447 STJ, REsp 1050642/SC.

448 STJ, RE 1.152.764CE.

449 PHILIPPSEN, Eduardo Gomes. A Incidência do Imposto de Renda sobreIndenizações. In Revista da AJUFERGS nº 2. Porto Alegre: 2006, p. 137.MACHADO, Hugo de Brito. Temas de Directo Tributário. São Paulo: RT, 1994,p. 197-99)

450 STJ, Primeira Seção, EREsp 976.082.

451 STJ, Primeira Seção, AgRg nos EREsp 923.775.

452 STJ, ARARREsp 674.296.

453 DIFINI, Luiz Felipe Silveira. Manual de Direito Tributário. São Paulo:Saraiva, 2003, p. 77.

454 DIFINI, Luiz Felipe Silveira. Op. cit., p. 77.

455 FERREIRA, Aurélio. Dicionário..., p. 598.

456 STJ, REsp 320455.

457 STF, RE 193.380-1.

458 IN SRF 25/96, art. 16, § 2º: § 2º Quando o aluguel for recebido por meiode imobiliárias, procurador ou por qualquer outra pessoa designada pelo loc-ador, será considerada como data de recebimento aquela em que o locatárioefetuou o pagamento, independentemente de quando o mesmo for repassadopara o beneficiário.

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459 CARDOSO, Oscar Valente. A controversa incidência do imposto de rendasobre juros de mora decorrentes de condenação judicial. RDDT 153, jun/08, p.55.

460 FERREIRA, Aurélio... p. 1460.

461 Art. 110 do CTN.

462 STJ, AgRg no REsp 281.088/RJ.

463 Arts. 1º, 2º, 5º e 6º da Lei 9.430/96; art. 220 do RIR/99.

464 Arts. 787 e 790 do RIR/99.

465 STJ, REsp 704.845/PR.

466 Art. 808 do RIR/99.

467 STF, Tribunal Pleno, RE 388.312, ago/2011.

468 Cfr. parágrafo único do art. 1º da Lei 11.482/07.

469 Com a redação as Leis 11.324/06 e 12.469/11.

470 RIR/99: Art. 138. O ganho de capital será determinado pela diferença pos-itiva, entre o valor de alienação e o custo de aquisição, apurado nos termosdos arts. 123 a 137 (Lei 7.713, de 1988, art. 3º, § 2º, Lei 8.383, de 1991, art. 2º,§ 7º, e Lei 9.249, de 1995, art. 17). Parágrafo único (...) Art. 142. O ganho decapital apurado conforme arts. 119 e 138, observado o disposto no art. 139, es-tá sujeito ao pagamento do imposto, à alíquota de quinze por cento (Lei 8.134,de 1990, art. 18, inciso I, Lei 8.981, de 1995, art. 21, e Lei 9.532, de 1997, art. 23,§ 1º). Parágrafo único. O imposto apurado na forma deste Capítulo deverá serpago no prazo previsto no art. 852. (...) Art. 852. O imposto apurado na formados arts. 111, 142 e 758 deverá ser pago até o último dia útil do mês sub-seqüente àquele em que os rendimentos ou ganhos forem percebidos (Lei8.383, de 1991, arts. 6º, inciso II, e 52, §§ 1º e 2º, Lei 8.850, de 28 de janeiro de1994, art. 2º, e Lei 8.981, de 1995, art. 21, § 1º).

471 A Lei 12.350/10 acrescentou o art. 12-A à Lei 7.713/88 determinando que,quando do pagamento acumulado de rendimentos do trabalho ou deaposentadorias e pensões, a tributação seja exclusiva na fonte, no mês do re-cebimento do crédito, em separado dos demais rendimentos recebidos nomês, e que será calculado sobre o montante dos rendimentos pagos, mediantea utilização de tabela progressiva resultante da multiplicação da quantidadede meses a que se refiram os rendimentos pelos valores constantes da tabelaprogressiva mensal correspondente ao mês do recebimento ou crédito. Até oano-calendário de 2009, a tributação dos rendimentos recebidos

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acumuladamente era conjunta com os demais rendimentos, submetendo-se osvalores totais à retenção pela tabela do mês, com ajuste posterior. Mas jáhavia entendimento jurisprudencial dominante no sentido de que deveriamser aplicadas as alíquotas vigentes à época em que eram devidos os referidosrendimentos (STJ, REsp 704.845), estando a matéria, contudo, submetida aoSTF nos autos do RE 614.232, com repercussão geral reconhecida.

472 STJ, REsp 365.962/SC, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, mar/06.

473 BARRETO, Aires Fernandino. Natureza jurídica do imposto criado pelamedida provisória 160/90. Repertório IOB de Jrisprudência – 2ª quinzena demaio de 1990, nº 10, p. 152.

474 MOSQUERA, Roberto Quiroga. Tributação no Mercado Financeiro e de Capi-tais. São Paulo: Dialética, 1999, p. 106.

475 Mas estabelece ressalvas, não considerando industrialização: “I – consertode máquinas, aparelhos e objetos pertencentes a terceiros; II – acondiciona-mento destinado apenas ao transporte do produto; III – o preparo de medica-mentos oficinais ou magistrais, manipulados em farmácias, para venda novarejo, diretamente a consumidor, assim como a montagem de óculos, medi-ante receita médica; IV – a mistura de tintas entre si, ou com concentrados depigmentos, sob encomenda do consumidor usuário, realizada em estabeleci-mento varejista, efetuada por máquina automática ou manual, desde que fab-ricante e varejista não sejam empresas interdependentes, controladoras, con-troladas ou coligadas;”.

476 RIPI: “Art. 4o Caracteriza industrialização qualquer operação que modi-fique a natureza, o funcionamento, o acabamento, a apresentação ou a finalid-ade do produto, ou o aperfeiçoe para consumo, tal como: I – a que, exercidasobre matérias-primas ou produtos intermediários, importe na obtenção deespécie nova (transformação); II – a que importe em modificar, aperfeiçoarou, de qualquer forma, alterar o funcionamento, a utilização, o acabamentoou a aparência do produto (beneficiamento); III – a que consista na reunião deprodutos, peças ou partes e de que resulte um novo produto ou unidadeautônoma, ainda que sob a mesma classificação fiscal (montagem); IV – a queimporte em alterar a apresentação do produto, pela colocação da embalagem,ainda que em substituição da original, salvo quando a embalagem colocada sedestine apenas ao transporte da mercadoria (acondicionamento ou reacondi-cionamento); ou V – a que, exercida sobre produto usado ou parte remanes-cente de produto deteriorado ou inutilizado, renove ou restaure o produtopara utilização (renovação ou recondicionamento). Parágrafo único. São irrel-evantes, para caracterizar a operação como industrialização, o processo utiliz-ado para obtenção do produto e a localização e condições das instalações ouequipamentos empregados.”.

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477 MACHADO, Hugo de Brito. Comentários ao Código Tributário Nacional.Vol. I. São Paulo: Atlas, 2003, p. 468/470.

478 LIMA, Rogério. A inconstitucionalidade do IPI na importação. In RDDTnº 77, p. 121 e 125/126.

479 STJ, Primeira Turma, REsp 436.330/PR, ago/02; STJ Primeira Turma,REsp 416.939/RS, ago/02; STJ, Segunda Turma, REsp 395.633-RS, nov/02.

480 MELO, José Eduardo Soares. A Importação no Direito Tributário. São Paulo:RT, 2003, p. 91.

481 O DL 1.199/71 é que, dispondo, dentre outras normas, sobre a tabela doIPI, estabelece as condições e os limites para as alterações de alíquotas peloExecutivo, em seu art. 4º, que dispõe: “Art 4º O Poder Executivo, em relaçãoao Impôsto sôbre Produtos Industrializados, quando se torne necessário at-ingir os objetivos da política econômica governamental, mantida a seletivid-ade em função da essencialidade do produto, ou, ainda, para corrigir dis-torções, fica autorizado: I – a reduzir alíquotas até 0 (zero); II – a majoraralíquotas, acrescentando até 30 (trinta) unidades ao percentual de incidênciafixado na lei; III – a alterar a base de cálculo em relação a determinadosprodutos, podendo, para êsse fim, fixar-lhes valor tributável mínimo.”. Obs:O inciso III não foi recepcionado pela CF, que não mais permite que o Exec-utivo disponha sobre a base de cálculo dos impostos, mas tão somente quealtere as alíquotas.

482 Excerto de voto do Min. Cezar Peluso no RE 475.551/PR, em outubro de2008, conforme Informativo do STF nº 522.

483 CARVALHO, Paulo de Barros. Isenções Tributárias do IPI em face doPrincípio da Não-Cumulatividade. Revista Dialética de Direito Tributário nº 33,junho/98.

484 “TRF4, AC 2002.72.09.002209-1; STJ, REsp 638.745/SC.

485 STF, Pleno, RE 475.551, nov/09.

486 STF, AgRegRE 351754/RS.

487 “IPI (...) SAÍDA PARA EXPOSIÇÃO E PARA TESTES. SUSPENSÃO. 1(...) 3. As notas fiscais de saída de veículos dirigida a feira de exposição sãobeneficiadas com a suspensão do imposto. As notas fiscais foram emitidas emnome da própria empresa em face da impossibilidade de emissão da nota emfavor do local expositor (Parque Anhembi – SP). 4. Também são beneficiadascom a suspensão do IPI as saídas de veículos destinadas a testes (Código6.99)...” (TRF4, Primeira Turma, un., AC 2000.04.01.126037-3/PR)

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488 ILMAR GALVÃO distingue o IPI fixo, de um lado, da pauta fiscal, deoutro: “IPI fixo e ‘pauta’ são conceitos que não se confundem. O IPI fi xo, talcomo instituído pelos Decretos 3.070/99 e 4.544/02, resulta da aplicação daalíquota – fl exibilizada pelo Poder Executivo, no exercício da competênciaprevista no art. 153, § 1º, 817 CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL Art. 47, II,a da Constituição – sobre o preço normal da operação de venda do cigarro. Atributação por ‘pauta’ consiste na pré-fixação arbitrária do valor que serviráde base para o cálculo do tributo devido, sendo, por isso, rejeitada pelo PoderJudiciário.” (GALVÃO, Ilmar. Regime de Tributação de Cigarros pelo IPI.RDDT 155, ago/08, p. 117)

489 TRF4, Corte especial, IAIAC 2003.71.12.002280-6/RS, Rel. Des. Fed.Antônio Albino Ramos de Oliveira, jul/07; STJ, Primeira Turma, REsp24.861/CE, Rel. Ministro Humberto Gomes de Barros, dez/93

490 STJ, Primeira Turma, un., REsp 725983/PR Rel. Ministro José Delgado,abr/05; STJ, Segunda Turma, REsp 510.551/MG, Rel. Ministro JOÃOOTÁVIO DE NORONHA, abr/07.

491 “TRIBUTÁRIO. IPI. BASE DE CÁLCULO. INCLUSÃO DE JUROS ECORREÇÃO MONETÁRIA, DECORRENTES DA VENDA FINANCIADADO PRODUTO (...) 1. Os juros e correção monetária decorrentes da venda fin-anciada dos produtos não podem ser incluídos na base de cálculo do IPI, poisnão fazem parte do processo de industrialização e produção. Precedente es-pecífico da Primeira Turma. 2 (...)” (STJ, Primeira Turma, un., REsp 207.814/RS, Rel. Ministro Milton Luiz Pereira, dez/01, DJ 13.05.2002, p. 155)

492 “IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS. DESCONTOSINCONDICIONAIS/BONIFICAÇÃO. INCLUSÃO NA BASE DE CÁLCULO.IMPOSSIBILIDADE. OFENSA AO ART. 47 DO CTN... 3. A alteração do art.14 da Lei 4.502/64 pelo art. 15 da Lei 7.798/89 para fazer incluir, na base decálculo do IPI, o valor do frete realizado por empresa coligada, não pode sub-sistir, tendo em vista os ditames do art. 47 do CTN, o qual define como basede cálculo o valor da operação de que decorre a saída da mercadoria,devendo-se entender como ‘valor da operação’ o contrato de compra e venda,no qual se estabelece o preço fixado pelas partes. 4...” (STJ, Primeira Turma,AgRg no Ag 703.431/SP, Rel. Ministro José Delgado, fev/06).

493 Poder-se-ia alegar, até mesmo, a inconstitucionalidade da incidência doIPI na importação, porquanto, conforme já destacado por JOSÉ EDUARDOSOARES DE MELO, o IPI não se qualifica como “imposto sobre o comércioexterior”, mas como imposto sobre a “produção”. (MELO, José EduardoSoares de. A Importação no Direito Tributário. São Paulo: RT, 2003, p. 76)

494 STF, Segunda Turma, AgRRE 501.773/SP, jun/08.

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495 Entre 1º de janeiro e 30 de setembro de 2004, foi quinzenal. Anterior-mente, era decendial. Veja-se o art. 1º da Lei 8..850/94 com a redação das Leis10.833/03 e 11.033/04.

496 Lei 8.850/94 com a redação da Lei 11.774/08: “Art. 1º O período de apur-ação do Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI, incidente na saída dosprodutos dos estabelecimentos industriais ou equiparados a industrial, passaa ser mensal. § 1º O disposto no caput deste artigo não se aplica aos produtosclassificados no código 2402.20.00 da Tabela de Incidência do IPI – TIPIaprovada pelo Decreto nº 6.006, de 28 de dezembro de 2006, em relação aosquais o período de apuração é decendial. § 2º O disposto neste artigo não seaplica ao IPI incidente no desembaraço aduaneiro dos produtos importados.”

497 Lei 9.493/97, com a redação da Lei 10.833/03: “Art. 2º As microempresase as empresas de pequeno porte, conforme definidas no art. 2º da Lei 9.841, de5 de outubro de 1999, recolherão o IPI da seguinte forma: I – o período deapuração é mensal; e II – o pagamento deverá ser efetuado até o último diaútil do mês subseqüente ao de ocorrência dos fatos geradores. Parágrafoúnico. O disposto no art. 1º da Lei 8.850, de 28 de janeiro de 1994, e no inciso Ido art. 52 da Lei 8.383, de 30 de dezembro de 1991, não se aplica ao IPI devidopelas microempresas e empresas de pequeno porte de que trata o caput e aoincidente sobre os produtos importados.”

498 “Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: (...) V – operações decrédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários;”

499 BARRETO, Aires Fernandino. Natureza jurídica do imposto criado pela me-dida provisória 160/90. Repertório IOB de Jrisprudência – 2ª quinzena de maiode 1990, nº 10, p. 152.

500 MOSQUERA, Roberto Quiroga. Tributação no Mercado Financeiro e de Capi-tais. São Paulo: Dialética, 1999, p. 106.

501 BARRETO. Op. cit., p. 152.

502 MOSQUERA. Op. cit., p. 107.

503 MACHADO, Hugo de Brito. Comentários ao Código Tributário nacional. Vol.I. São Paulo: Atlas, 2003, p. 592.

504 “TRIBUTÁRIO. IOF SOBRE SAQUES EM CONTA DE POUPANÇA. LEI8.033, DE 12.04.90, ART. 1º, INCISO V. INCOMPATIBILIDADE COM O ART.153, V, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. O saque em conta de poupança, pornão conter promessa de prestação futura e, ainda, porque não se reveste depropriedade circulatória, tampouco configurando título destinado a assegurardisponibilidade de valores mobiliários, não pode ser tido por compreendido

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no conceito de operação de crédito ou de operação relativa a títulos ouvalores mobiliários, não se prestando, por isso, para ser definido comohipótese de incidência do IOF, prevista no art. 153, V, da Carta Magna. Re-curso conhecido e improvido; com declaração de inconstitucionalidade dodispositivo legal sob enfoque.” (STF, RE 232.467-5, Pleno, relator Min. IlmarGlavão, 29/09/99).

505 “A fiança onerosa não é nem prestação de serviços, nem tampouco oper-ação de crédito. É uma obrigação, acessória, de garantia, nada tendo a vercom as obrigações de fazer (facere), dentre as quais se incluem as prestaçõesde serviços, podendo ser civil ou comercial a depender da natureza do pactoprincipal, ao qual adere. (...) Por outro lado, a fiança é negócio totalmente di-verso das operações de crédito. O fiador não põe crédito nas mãos ou à dis-posição do credor ou do devedor, partícipes da obrigação principal. (...) Logo,não há falar em operação de crédito na fiança, para os fins da incidência doIOF” (DERZI, Misabel Abreu Machado; COELHO, Sacha Calmon Navarro. AFiança: o Imposto sobre Prestação de Serviços de Qualquer Natureza, o Im-posto sobre Operações de Crédito e as Contribuições Sociais. Revista Dialéticade Direito Tributário nº 41, 1999, p. 116)

506 MARTINS, Ives Gandra da Silva; SOUZA, Fátima Fernandes Rodriguesde. A Inconstitucionalidade da Incidência de IOF sobre as Operações de Fact-oring. Revista Dialética de Direito Tributário nº 31, 1998, p. 35. Vide, ainda, sobrea matéria: IOF e operações de mútuo, de Guilherme Cordeiro Neto, RDDT nº 88,jan/1993, p. 20; Do IOF em operações de abertura de crédito entre pessoas jurídicasnão financeiras, de Renago A. Gomes de Souza, Flávia M. Sant’Anna e EunycePorchat Secco Faveret, RDDT nº 77, fev/02, p. 114.

507 MARTINS; SOUZA. Op. cit., p. 35.

508 “IOF: incidência sobre operações de factoring (L. 9.532/97, art. 58): apar-ente constitucionalidade que desautoriza a medida cautelar. O âmbito con-stitucional de incidência possível do IOF sobre operações de crédito não se re-stringe às praticadas por instituições financeiras, de tal modo que, à primeiravista, a lei questionada poderia estendê-la às operações de factoring, quandoimpliquem financiamento (factoring com direito de regresso ou com adianta-mento do valor do crédito vincendo – conventional factoring); quando, ao con-trário, não contenha operação de crédito, o factoring, de qualquer modo,parece substantivar negócio relativo a títulos e valores mobiliários, igual-mente susceptível de ser submetido por lei à incidência tributária question-ada.” (STF, Tribunal Pleno, un., ADIMC n. 1.763, Rel. Ministro Sepúlveda Per-tence, ago/98).

509 MOSQUERA. Op. cit., p. 110.

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510 Idem, p. 111.

511 Vide o art. 1º da Lei 7.766/89.

512 “Até a Constituição Federal de 1988, o ouro era tributado pelo ImpostoÚnico sobre Minerais. No regime atual tem tratamento peculiar. Quando util-izado como metal nobre, o ouro está sujeito ao Imposto sobre OperaçõesRelativas à Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços. Se, todavia, forempregado como ativo financeiro, passa ao âmbito do Imposto sobre Oper-ações de Crédito, Câmbio e Seguro ou Relativas a Títulos e Valores Mobiliári-os. A destinação do ouro o identifica como mercadoria ou como ativo fin-anceiro. A entrada do ouro no mercado financeiro e sua permanência nele lheasegura esse regime vantajoso: o de ser tributado uma só vez (monofasica-mente) e de modo exclusivo (unicamente) pelo Imposto sobre Operações deCrédito, Câmbio e Seguro ou Relativas a Títulos e Valores Mobiliários. Tudonos termos do art. 153, § 5º, do texto constitucional (...)”. (Excerto do voto doentão Juiz Ari Pargendler quando do julgamento, pelo Tribunal Pleno doTRF4, da Argüição de Inconstitucionalidade na REO 92.04.09.625-0/RS, RTRFnº 13, p. 93/99)

513 STF: Tribunal Pleno, unânime, RE 190.363-5/RS, Rel. Ministro Carlos Vel-loso, mai/1998; 2ª Turma, unânime, AgRegRE 214.571/SP, Rel. MinistroMarco Aurélio, mar/1999. Veja-se a ementa deste último: “IOF – OURO – LEI8.033/90. Conflitam com a Constituição Federal os incisos II e III do artigo 1ºda Lei 8.033/90. Precedentes: Recursos Extraordinários 225.272-8/SP e190.363-5/RS, relatados pelo Ministro Carlos Velloso, perante o Pleno, comarestos veiculados no Diário da Justiça de 27 de novembro e 12 de junho, am-bos de 1998, respectivamente.”

514 Lei 8.033/90: “Art. 1º São instituídas as seguintes incidências do impostosobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valoresmobiliários: (...) II – transmissão de ouro definido pela legislação como ativofinanceiro; III – transmisssão ou resgate do título representativo de ouro;”

515 CTN: Art. 65. O Poder Executivo pode, nas condições e nos limites es-tabelecidos em lei, alterar as alíquotas ou as bases de cálculo do imposto, afim de ajustá-los aos objetivos da política monetária.

516 CRFB. Misabel Abreu Machado Derzi, em nota de atualização à obra deAliomar Baleeiro, Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar, 7ª ed. Rio deJaneiro: Forense, 1997, p. 71.

517 Lei 9.532/97: “Art. 58. A pessoa física ou jurídica que alienar, à empresaque exercer as atividades relacionadas na alínea d do inciso III do § 1º do art.15 da Lei 9.249, de 1995 (factoring), direitos creditórios resultantes de vendas aprazo, sujeita-se à incidência do imposto sobre operações de crédito, câmbio e

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seguro ou relativas a títulos e valores mobiliários – IOF às mesmas alíquotasaplicáveis às operações de financiamento e empréstimo praticadas pelas in-stituições financeiras. § 1º O responsável pela cobrança e recolhimento do IOFde que trata este artigo é a empresa de factoring adquirente do direito cred-itório. § 2º O imposto cobrado na hipótese deste artigo deverá ser recolhidoaté o terceiro dia útil da semana subseqüente à da ocorrência do fatogerador.”

518 Decreto-Lei 2.407/88: Art. 1º Ficam isentas do Imposto sobre Operaçõesde Crédito, Câmbio e Seguro, e sobre Operações relativas a Títulos e ValoresMobiliários (IOF) as operações de Crédito de fins habitacionais, inclusive asdestinadas a infra-estrutra e saneamento básico relativos a programas ou pro-jetos que tenham a mesma finalidade.

519 Lei 8.383/91: Art. 72. Ficam isentas do IOF as operações de financiamentopara a aquisição de automóveis de passageiros de fabricação nacional de até127 HP de potência bruta (SAE), quando adquiridos por: I – motoristas profis-sionais que, na data da publicação desta lei, exerçam comprovadamente emveículo de sua propriedade a atividade de condutor autônomo de passageir-os, na condição de titular de autorização, permissão ou concessão do poderconcedente e que destinem o automóvel à utilização na categoria de aluguel(táxi); II – motoristas profissionais autônomos titulares de autorização, per-missão ou concessão para exploração do serviço de transporte individual depassageiros (táxi), impedidos de continuar exercendo essa atividade em vir-tude de destruição completa, furto ou roubo do veículo, desde que destinemo veículo adquirido à utilização na categoria de aluguel (táxi); III – cooper-ativas de trabalho que sejam permissionárias ou concessionárias de transportepúblico de passageiros, na categoria de aluguel (táxi), desde que tais veículosse destinem à utilização nessa atividade; IV – pessoas portadoras de deficiên-cia física, atestada pelo Departamento de Trânsito do Estado onde residiremem caráter permanente, cujo laudo de perícia médica especifique; a) o tipo dedefeito físico e a total incapacidade do requerente para dirigir automóveisconvencionais; b) a habilitação do requerente para dirigir veículo com ad-aptações especiais, descritas no referido laudo; V – trabalhadordesempregado ou subempregado, titular de financiamento do denominadoProjeto Balcão de Ferramentas, destinado à aquisição de maquinário, equipa-mentos e ferramentas que possibilitem a aquisição de bens e a prestação deserviços à comunidade. § 1º O benefício previsto neste artigo: a) poderá serutilizado uma única vez; b) será reconhecido pelo Departamento da ReceitaFederal mediante prévia verificação de que o adquirente possui os requisitos.§ 2º Na hipótese do inciso V, o reconhecimento ficará adstrito aos tomadoresresidentes na área de atuação do Projeto, os quais serão indicados pelosGovernos Estaduais, mediante convênio celebrado com a Caixa EconômicaFederal.§ 3º A alienação do veículo antes de três anos contados da data de sua

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aquisição, a pessoas que não satisfaçam as condições e os requisitos, acar-retará o pagamento, pelo alienante, da importância correspondente à difer-ença da alíquota aplicável à operação e a de que trata este artigo, calculadasobre o valor do financiamento, sem prejuízo da incidência dos demais encar-gos previstos na legislação tributária.

520 CTN: Art. 66. Contribuinte do imposto é qualquer das partes na operaçãotributada, como dispuser a lei.

521 “Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: (...) VI – propriedadeterritorial rural;”

522 Código Civil (Lei 10.406/02): “Art. 1.228. O proprietário tem a faculdadede usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quemquer que injustamente a possua ou detenha.”

523 “(...) a Constituição Federal traz, de forma implícita, a definição de imó-veis rurais e urbanos, utilizando-se, para tanto, do critério da localização. Defato, da leitura dos capítulos Da Política Urbana e Da Política Agrícola e Fun-diária e da Reforma Agrária, ambos do título da Ordem Econômica e Fin-anceira, é o que se tira. A Constituição vinculou a expressão propriedade urb-ana à cidade, prevendo que deve atender às exigências fundamentais de orde-nação da cidade expressas no plano diretor aprovado pela Câmara Municipal.Quando a Constituição se refere a imóvel rural, por sua vez, o faz em contra-posição a imóvel urbano.” (PAULSEN, Leandro. Desapropriação e ReformaAgrária. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997, p. 95).

524 Parte da doutrina não vislumbra qualquer inconstitucionalidade. Vide,e.g.: MACHADO, Hugo de Brito. Comentários ao Código Tributário nacional.Vol. I. São Paulo: Atlas, 2003, p. 349.

525 A continuidade tem sentido econômico, de utilidade ou aproveitamento.Assim, ainda que várias sejam as matrículas, os imóveis contínuos de ummesmo proprietário, titular de domínio útil ou possuidor serão consideradoscomo um único imóvel rural para fins de tributação a título de ITR, o quepoderá repercutir na alíquota aplicável, pois a lei estabelece alíquotas diferen-ciadas conforme o tamanho do imóvel. Vide: ANCELES, Pedro Einstein dosSantos. Manual de Tributos da Atividade Rural. São Paulo: Atlas, 2001, p. 377.

526 DL 57/66: “Art 15. O disposto no art. 32 da Lei 5.172, de 25 de outubro de1966, não abrange o imóvel de que, comprovadamente, seja utilizado em ex-ploração extrativa vegetal, agrícola, pecuária ou agro-industrial, incidindo as-sim, sôbre o mesmo, o ITR e demais tributos com o mesmo cobrados.”

527 “(...) IMPOSTO PREDIAL E TERRITORIAL URBANO (I.P.T.U.).IMPOSTO TERRITORIAL RURAL (I.T.R.). TAXA DE CONSERVAÇÃO DE

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VIAS. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. 1. R.E. não conhecido, pela letra ‘a’ doart. 102, III, da C.F., mantida a declaração de inconstitucionalidade da LeiMunicipal de Sorocaba, de n 2.200, de 03.06.1983, que acrescentou o § 4º aoart. 27 da Lei n 1.444, de 13.12.1966. 2. R.E. conhecido, pela letra ‘b’, mas im-provido, mantida a declaração de inconstitucionalidade do art. 12 da Lei fed-eral n 5.868, de 12.12.1972, no ponto em que revogou o art. 15 do Decreto-Lei57, de 18.11.1966. 3. Plenário. Votação unânime”. (STF, Tribunal Pleno, RE140773/SP, Rel. Ministro Sydney Sanches, out/98)

528 “IPTU. ITR. INCIDÊNCIA. CRITÉRIO DA LOCALIZAÇÃO DO IMÓVELINSUFICIENTE. NECESSIDADE DE SE OBSERVAR, TAMBÉM, ADESTINAÇÃO DO IMÓVEL... 1. O critério da localização do imóvel não é su-ficiente para que se decida sobre a incidência do IPTU ou ITR, sendonecessário observar-se, também, a destinação econômica, conforme já decidiua Egrégia 2ª Turma, com base em posicionamento do STF sobre a vigência doDecreto-Lei 57/66. 2... 3. Necessidade de comprovação perante as instânciasordinárias de que o imóvel é destinado à atividade rural. Do contrário, deveincidir sobre ele o IPTU...” (STJ, Primeira Turma, AgRg no Ag 993.224/SP,Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, mai/ 08)

529 CTN: “Art. 30. A base de cálculo do imposto é o valor fundiário.”

530 Lei 9.393/96: Art. 10 (...) § 1º Para os efeitos de apuração do ITR,considerar-se-á: I – VTN, o valor do imóvel, excluídos os valores relativos a:a) construções, instalações e benfeitorias; b) culturas permanentes e tem-porárias; c) pastagens cultivadas e melhoradas; d) florestas plantadas; II –área tributável, a área total do imóvel, menos as áreas: a) de preservação per-manente e de reserva legal, previstas na Lei 4.771, de 15 de setembro de 1965,com a redação dada pela Lei 7.803, de 18 de julho de 1989; b) de interesse eco-lógico para a proteção dos ecossistemas, assim declaradas mediante ato do ór-gão competente, federal ou estadual, e que ampliem as restrições de uso prev-istas na alínea anterior; c) comprovadamente imprestáveis para qualquer ex-ploração agrícola, pecuária, granjeira, aqüícola ou florestal, declaradas de in-teresse ecológico mediante ato do órgão competente, federal ou estadual;(Vide Medida Provisória 2.166-67, de 24 de agosto de 2001) d) sob regime deservidão florestal ou ambiental; (Incluído pela Lei 11.428, de 2006) e) cobertaspor florestas nativas, primárias ou secundárias em estágio médio ouavançado de regeneração; (Incluído pela Lei 11.428, de 2006) f) alagadas parafins de constituição de reservatório de usinas hidrelétricas autorizada pelopoder público. (Incluída pela Lei 11.727, de 2008) III – VTNt, o valor da terranua tributável, obtido pela multiplicação do VTN pelo quociente entre a áreatributável e a área total; IV – área aproveitável, a que for passível de explor-ação agrícola, pecuária, granjeira, aqüícola ou florestal, excluídas as áreas: a)ocupadas por benfeitorias úteis e necessárias; b) de que tratam as alíneas do

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inciso II deste parágrafo (Redação dada pela Lei 11.428, de 2006); V – áreaefetivamente utilizada, a porção do imóvel que no ano anterior tenha: a) sidoplantada com produtos vegetais; b) servido de pastagem, nativa ou plantada,observados índices de lotação por zona de pecuária; c) sido objeto de explor-ação extrativa, observados os índices de rendimento por produto e a legis-lação ambiental; d) servido para exploração de atividades granjeira e aqüí-cola; e) sido o objeto de implantação de projeto técnico, nos termos do art. 7ºda Lei 8.629, de 25 de fevereiro de 1993; VI – Grau de Utilização – GU, a re-lação percentual entre a área efetivamente utilizada e a área aproveitável. § 2ºAs informações que permitam determinar o GU deverão constar do DIAT. §3º Os índices a que se referem as alíneas b e c do inciso V do § 1º serão fixados,ouvido o Conselho Nacional de Política Agrícola, pela Secretaria da ReceitaFederal, que dispensará da sua aplicação os imóveis com área inferior a: a)1.000 ha, se localizados em municípios compreendidos na Amazônia Ocident-al ou no Pantanal mato-grossense e sul-mato-grossense; b) 500 ha, se localiza-dos em municípios compreendidos no Polígono das Secas ou na AmazôniaOriental; c) 200 ha, se localizados em qualquer outro município. § 4º Para osfins do inciso V do § 1º, o contribuinte poderá valer-se dos dados sobre a áreautilizada e respectiva produção, fornecidos pelo arrendatário ou parceiro,quando o imóvel, ou parte dele, estiver sendo explorado em regime de arren-damento ou parceria. § 5º Na hipótese de que trata a alínea “c” do inciso V do§ 1º, será considerada a área total objeto de plano de manejo sustentado,desde que aprovado pelo órgão competente, e cujo cronograma esteja sendocumprido pelo contribuinte. § 6º Será considerada como efetivamente utiliz-ada a área dos imóveis rurais que, no ano anterior, estejam: I – comprovada-mente situados em área de ocorrência de calamidade pública decretada peloPoder Público, de que resulte frustração de safras ou destruição de pastagens;II – oficialmente destinados à execução de atividades de pesquisa e experi-mentação que objetivem o avanço tecnológico da agricultura.

531 Lei 9.393/96: “Dos Procedimentos de Ofício Art. 14. No caso de falta deentrega do DIAC ou do DIAT, bem como de subavaliação ou prestação de in-formações inexatas, incorretas ou fraudulentas, a Secretaria da Receita Feder-al procederá à determinação e ao lançamento de ofício do imposto, consider-ando informações sobre preços de terras, constantes de sistema a ser por elainstituído, e os dados de área total, área tributável e grau de utilização doimóvel, apurados em procedimentos de fiscalização. § 1º As informaçõessobre preços de terra observarão os critérios estabelecidos no art. 12, § 1º, in-ciso II da Lei 8.629, de 25 de fevereiro de 1993, e considerarão levantamentosrealizados pelas Secretarias de Agricultura das Unidades Federadas ou dosMunicípios. § 2º As multas cobradas em virtude do disposto neste artigo ser-ão aquelas aplicáveis aos demais tributos federais.”

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532 Portaria SRF 447/02: “Art. 1º Fica aprovado o Sistema de Preços de Terras(SIPT) em atendimento ao disposto no art. 14 da Lei 9.393, de 1996, que temcomo objetivo fornecer informações relativas a valores de terras para o cál-culo e lançamento do Imposto Territorial Rural (ITR).”

533 STJ, REsp 1142872/RS, out/2009.

534 STJ, AgRg no REsp 821.904/DF, set/2009.

535 STJ, REsp 1143625/MS, nov/2009.

536 STF, RE 213.266.

537 Na redação original da Lei 10.705/00, era progressiva de 2,5 a 4%.

538 STJ, REsp 1.150.356/SP, ago/2010; STJ, REsp 1246790/SP, jun/2011.

539 STJ, AgRg no REsp 1257451/SP, set/2011.

540 Essa questão foi decidida no regime dos recursos repetitivos pelo STJ noREsp 1150356/SP, Primeira Seção, ago/2010. Veja-se também:“ARROLAMENTO. IMPOSTO DE TRANSMISSÃO CAUSA MORTIS.ENTREGA DE DOCUMENTOS À RECEITA ESTADUAL.INEXIGIBILIDADE. EXPEDIÇÃO DE FORMAL DE PARTILHA.COMPROVAÇÃO DO PAGAMENTO DE TODOS OS TRIBUTOS. ARTIGOS1031, § 2º, E 1034 DO CPC. 1. Embora não seja possível a discussão no arrola-mento a respeito dos pagamentos dos impostos, após o trânsito em julgadoda sentença de homologação de partilha, a expedição do formal, bem como osalvarás referentes aos bens por ele abrangidos, só serão expedidos e entreguesàs partes depois da comprovação verificada pela Fazenda Pública do paga-mento de todos os tributos (não apenas dos impostos incidentes sobre os bensdo espólio)...” (STJ, EDcl no AgRg no REsp 823.025/SP, jun/2010)

541 Conforme o art. 155, § 2º, inc. XII, letra g, da CF, a concessão de isenções,incentivos e benefícios deve observar deliberação dos Estados, de modo a seevitar a guerra fiscal, o que se faz através de convênios entre as Secretarias daFazenda, os chamados convênios CONFAZ. Veja-se acórdão sobre a matéria:“Não pode o Estado-Membro conceder isenção, incentivo ou benefício fiscal,relativos ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS, demodo unilateral, mediante decreto ou outro ato normativo, sem prévia celeb-ração de convênio intergovernamental no âmbito do CONFAZ.” (STF,Tribunal Pleno, ADI 2345, Rel. Ministro CEZAR PELUSO, 2011)

542 GERALDO ATALIBA já dizia: “Circular significa para o Direito mudar detitular. Se um bem ou uma mercadoria mudam de titular, circula para efeitosjurídicos. Convenciona-se designar por titularidade de uma mercadoria, a cir-cunstância de alguém deter poderes jurídicos de disposição sobre a mesma,

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sendo ou não seu proprietário (disponibilidade jurídica).” (Núcleo de definiçãoconstitucional do ICM. RDT 25/111)

543 STF, Segunda Turma, AgRAI 131.941/SP.

544 STJ, Primeira Seção, REsp 1125133/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, ago/2010

545 STF, RE 203.904.

546 STF, ADI 1.648, fev/2011. Note-se que o STJ já havia inclusive canceladosua Súmula 152, que dispunha em sentido contrário.

547 GABRIEL PINOS STURTS entende que “O requisito de ser corpóreo éplenamente dispensável”, de modo que deveriam ser consideradas mer-cadorias, por exemplo, “filmes, músicas e sofwares digitalizados, circuláveisatravés de download”. (Tributação do Comércio Eletrônico: Análise da In-cidência do ICMS. RET 34/5, fev/04) Mas JOSÉ EDUARDO SOARES DEMELO pensa de modo diverso, afirmando que o “bem ‘digital’ não consub-stancia as características de âmbito legal e constitucional (art. 155, II e § 3º), demercadoria, além do que o respectivo software representa um produto intelec-tual, objeto de cessão de direitos, de distinta natureza jurídica, o que tornariaimprescindível alteraçãonormativa”. (ICMS: Teoria e Prática. 11ª ed. São Paulo:Dialética, 2009, p. 17/19)

548 STF, RE 176.626-SP.

549 “Os Estados não detêm o poder de instituir ICMS sobre o transporte in-ternacional.” (STJ, Primeira Turma, Rel. Ministro GARCIA VIEIRA, REsp241.674, 2000).

550 MELO, José Eduardo Soares de. ICMS: Teoria e Prática. 11ª ed. São Paulo:Dialética, 2009, p. 138-140.

551 ÁVILA, Humberto. Veiculação de Material Publicitário em páginas na In-ternet. Exame da Competência para Instituição do Imposto sobre Serviços decomunicação. Ausência de Prestação de Serviço de Comunicação. RDDT 173/153, fev/2010.

552 STJ, Segunda Turma, REsp 1022257/RS, Rel. Ministro CASTRO MEIRA,mar/08.

553 STJ, Segunda Turma, AgRg no REsp 1064596/SP, Min. HERMANBENJAMIN, out/08, DJe 09/03/2009.

554 STJ, Segunda Turma, REsp 677.108/PR, Min. CASTRO MEIRA, out/08.

555 STJ, AgRgREsp 1.054.543-RJ, Rel. Ministro Humberto Martins, julgado em21/8/2008.

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556 STJ, Segunda Turma, AgRg no Ag 1108510/RJ, Min. MAUROCAMPBELL MARQUES, jun/09.

557 STJ, Segunda Turma, AgRg no REsp 788.583/MG, Min. MAUROCAMPBELL MARQUES, mai/09.

558 “Ainda que a lógica do sistema seja relativamente clara e de fácil com-preensão, a aplicação dos critérios referidos só levará a uma solução em con-formidade com a Constituição quando sejam bem distinguidas as operaçõesmistas daquelas em que a prestação de serviços seja apenas uma das etapasdo processo produtivo, sem predominância ou equivalência que justifique at-rair a incidência do ISS em detrimento da incidência dos demais impostospassíveis de incidir na espécie.” (Excerto do voto da Min. Ellen Gracie na ADI4.389).

559 Voto da Min. Ellen Gracie na ADI 4.389.

560 STF, ADI 4.413 MC e ADI 4.389.

561 “DELIMITAÇÃO DA COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA ENTRE ESTADOSE MUNICÍPIOS. ICMS E ISSQN. CRITÉRIOS... 1. Segundo decorre do sistemanormativo específico (art. 155, II, § 2º, IX, b e 156, III da CF, art. 2º, IV, da LC87/96 e art. 1º, § 2º, da LC 116/03), a delimitação dos campos de competênciatributária entre Estados e Municípios, relativamente à incidência de ICMS ede ISSQN, está submetida aos seguintes critérios: (a) sobre operações de cir-culação de mercadoria e sobre serviços de transporte interestadual e inter-nacional e de comunicações incide ICMS; (b) sobre operações de prestação deserviços compreendidos na lista de que trata a LC 116/03 (que sucedeu ao DL406/68), incide ISSQN; e (c) sobre operações mistas, assim entendidas as queagregam mercadorias e serviços, incide o ISSQN sempre que o serviçoagregado estiver compreendido na lista de que trata a LC 116/03 e incideICMS sempre que o serviço agregado não estiver previsto na referida lista.”(STJ, Primeira Seção, REsp 1092206/SP, Rel. Ministro TEORI ALBINOZAVASCKI, mar/2009).

562 “1. Recurso extraordinário. Repercussão geral... 3. ICMS. Inclusão domontante do tributo em sua própria base de cálculo. Constitucionalidade.Precedentes. A base de cálculo do ICMS, definida como o valor da operaçãoda circulação de mercadorias (art. 155, II, da CF/88, c/c arts. 2º, I, e 8º, I, daLC 87/96), inclui o próprio montante do ICMS incidente, pois ele faz parte daimportância paga pelo comprador e recebida pelo vendedor na operação. AEmenda Constitucional 33, de 2001, inseriu a alínea i no inciso XII do § 2º doart. 155 da Constituição Federal, para fazer constar que cabe à lei comple-mentar ‘fixar a base de cálculo, de modo que o montante do imposto a in-tegre, também na importação do exterior de bem, mercadoria ou serviço’.

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Ora, se o texto dispõe que o ICMS deve ser calculado com o montante do im-posto inserido em sua própria base de cálculo também na importação debens, naturalmente a interpretação que há de ser feita é que o imposto já eracalculado dessa forma em relação às operações internas. Com a alteração con-stitucional a Lei Complementar ficou autorizada a dar tratamento isonômicona determinação da base de cálculo entre as operações ou prestações internascom as importações do exterior, de modo que o ICMS será calculado ‘pordentro’ em ambos os casos.” (STF, Tribunal Pleno, Rel. Min. GILMARMENDES, RE 582461, 2011).

563 GLADSTON MAMEDE, em sua obra IPVA: Imposto sobre a propriedade deveículos automotores, RT, 2002, entende que poderia incidir também sobre aposse, nos moldes do alargamento que o CTN, em seu art. 32, faz para oIPTU.

564 “IPVA – Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (CF, art.155, III; CF 69, art. 23, III e § 13, cf. EC 27/85): campo de incidência que nãoinclui embarcações e aeronaves.” (STF, Tribunal Pleno, RE 134.509, mai/02);“2. Não incide Imposto de Propriedade de Veículos Automotores (IPVA)sobre embarcações (Art. 155, III, CF/88 e Art. 23, III e § 13, CF/67 conformeEC 01/69 e EC 27/85).” (STF, Tribunal Pleno, RE 379.572/RJ, Rel. MinistroGilmar Mendes, abr/07). A doutrina também se manifesta nesse sentido: “Doponto de vista gramatical, não resta dúvida de que as categorias dos aviões edas embarcações aquáticas são abrangidas pelo conceito manifestado pela ex-pressão ‘veículos automotores’, eis que certamente são meios de transporteauto propulsados. Ocorre que nem sempre o significado semântico indica amelhor interpretação da norma. [...] a simples correspondência de vocábulosnão basta para configuração da competência impositiva constitucionalmenteestabelecida em favor dos Estados quanto à propriedade de veículosautomotores. Faz-se necessário o exame histórico e teleológico da norma [...]já surge desde logo a necessidade de averiguar-se qual o sentido comum daexpressão ‘veículos automotores’ para identificar se alcança embarcações eaeronaves. O que se verifica é que na linguagem comum, as embarcações sãoreferidas como barcos ou navios, e as aeronaves são chamadas aviões. Já osautomóveis são freqüentemente chamados de veículos e a expressão automo-tor tem clara ligação com a usualmente utilizada automóvel. Não parece serda linguagem usual pretender referir embarcações e aeronaves como ‘veícu-los automotores’, que parecem compreender apenas carros, caminhões eônibus.” (FERRAZ, Roberto. Aspectos controvertidos do IPVA. RDDT 113/107, fev/05).

565 STF, Tribunal Pleno, ADIMC 2.301, set/00.

566 STF, REAgRg 206.500-5; Ag(AgRg) 167.777; RE 236.931.

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567 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 28ª ed. Forense, 2009, p. 1072.

568 Distingue-se o IPTU do ITR, nesse ponto, porquanto o ITR só pode incidirsobre a propriedade territorial rural, de modo que a sua base de cálculo é es-tabelecida a partir do preço da terra nua, sem benfeitorias, enquanto o IPTUtem como base de cálculo o valor venal do imóvel como um todo (terreno,casa, apartamento, sala comercial etc.).

569 STF, RE 140.773; STJ, REsp 1.112.646 e AgRgResp 679.173.

570 Súmula 160 do STJ: “É defeso, ao Município, atualizar o IPTU, mediantedecreto, em percentual superior ao índice oficial de correção monetária.”.

571 STJ, REsp 325.489;

572 STJ, AgRgAg 1.009.182.

573 Art. 14 da Lei 6.989/66, cm a redação da Lei 14.256/06 e art. 13 doDecreto 51.357/2010.

574 Art. 17 do Decreto 51.357/10.

575 Art. 19 do Decreto 51.357/10.

576 Conforme o art. 7º-A da Lei 6.989/66, com a redação da Lei 13.475/02 eda Lei 15.044/09.

577 Conforme o art. 8º da Lei 6.989, de 29/12/66, com a redação da Lei13.250/01, e o art. 8º-A da Lei 6.989/66, com a redação da Lei 13.475/02 e daLei 15.044/09.

578 STJ, REsp 253.364.

579 São modos de aquisição originária da propriedade, não sujeitos ao ITBI,por exemplo, a usucapião, a acessão, a aluvião e a avulsão. Vide CC, arts.1.238 a 1.259.

580 “... se o usucapião é forma originária de aquisição da propriedade, nãoencerrando transmissão, inadmissível falar-se em incidência do imposto detransmissão previsto no art. 35 do CTN, agora de competência dos municípi-os, por força do disposto no inciso II do art. 156 da Constituição Federal de1988.” (SALLES, José Carlos de Moraes. Usucapião de Bens Imóveis e Móveis. 2ªed. São Paulo: RT, 1992, p. 186-188).

581 Para DE PLÁCIDO E SILVA, “Realização do capital é o pagamento docapital, seja em dinheiro ou em outros bens, conforme se tenha estipulado emcláusula cntratual, pelos s´coios da sociedade”, em Vocabulário Jurídico, 28ª ed.Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 1.149.

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582 Quando se classifica os impostos em reais e pessoais, não se está consider-ando se diz respeito a direito real ou pessoal. Embora a terminologia, ocritério de distinção está em saber se o imposto grava uma riqueza consid-erada em si, ou se considera as circunstâncias pessoais do seu titular.

583 STF, RE 259.339: “ITBI: progressividade: L. 11.154/91, do Município deSão Paulo: inconstitucionalidade. A inconstitucionalidade, reconhecida peloSTF (RE 234.105), do sistema de alíquotas progressivas do ITBI do Municípiode São Paulo (L. 11.154/91, art. 10, II), atinge esse sistema como um todo, de-vendo o imposto ser calculado, não pela menor das alíquotas progressivas,mas na forma da legislação anterior, cuja eficácia, em relação às partes, serestabelece com o trânsito em julgado da decisão proferida neste feito.”

584 Neste sentido, a doutrina de CÉLIO ARMANDO JANCZESKI no artigoBase de cálculo dos impostos de transmissão: aspectos controversos, RTFP55/96, abr/04. Mas o TJRS considerou inconstitucional a lei que não autorizaa dedução dos ônus reais: “INCIDENTE DE INCONSTITUCIONALIDADE.LEI TRIBUTÁRIA. BASE DE CÁLCULO DO IMPOSTO DE TRANSMISSÃO.SUBTRAÇÃO DOS ÔNUS REAIS. IMPOSSIBILIDADE. 1. É inconstitucionalo art. 12, § 3º, da Lei 8.821/89-RS, que não exclui da base de cálculo do im-posto de transmissão ‘os valores de quaisquer dívidas que onerem o bem,título ou crédito transmitido’, porque, ignorando a capacidade econômicacontributiva objetiva, que ‘somente se inicia após a dedução dos gastos àaquisição, produção, exploração e manutenção da renda e do patrimônio’(MISABEL DERZI), a teor do art. 145, § 1º, da CF/88, acaba redundando emconfisco (art. 150, IV). 2. Incidente de inconstitucionalidade acolhido. Votosvencidos.” (TJRS, Órgão Especial, Inc. 70005713862, Des. Araken de Assis,ago/03)

585 Art. 1º da Lei 11.154, de 30/12/91.

586 Art. 2º da Lei 11.154, de 30/12/91, com a redação da Lei 13.402, de 05/08/02, e da Lei 14.125, de 29/12/05.

587 Art. 6º da Lei 11.154, de 30/12/91, com a redação da Lei 13.402, de 05/08/02, e da Lei 14.125, de 29/12/05.

588 Art. 7º da Lei 11.154, de 30/12/91, com a redação da Lei 14.256, de 29/12/06

589 BARRETO, Aires F. ISS na Constituição e na Lei. 3ª ed. São Paulo: Dialética,2009, p. 64.

590 É o caso da ECT, empresa pública que presta os serviços de correio, e daCODESP, sociedade de economia mista que presta serviços de administraçãoportuária. Assim, também, a empresa pública INFRAERO: “A INFRAERO,

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que é empresa pública, executa, como atividade-fim, em regime demonopólio, serviços de infra-estrutura aeroportuária constitucionalmenteoutorgados à União Federal, qualificando-se, em razão de sua específica des-tinação institucional, como entidade delegatária dos serviços públicos a quese refere o art. 21, inciso XII, alínea c, da Lei Fundamental, o que exclui essaempresa governamental, em matéria de impostos, por efeito da imunidadetributária recíproca (CF, art. 150, VI, a), do poder de tributar dos entes políti-cos em geral. Conseqüente inexigibilidade, por parte do Município tributante,do ISS referente às atividades executadas pela INFRAERO na prestação dosserviços públicos de infra-estrutura aeroportuária e daquelas necessárias àrealização dessa atividade-fim. O ALTO SIGNIFICADO POLÍTICO-JURÍDICO DA IMUNIDADE TRIBUTÁRIA RECÍPROCA, QUEREPRESENTA VERDADEIRA GARANTIA INSTITUCIONAL DEPRESERVAÇÃO DO SISTEMA FEDERATIVO. DOUTRINA. PRECEDENTESDO STF. INAPLICABILIDADE, À INFRAERO, DA REGRA INSCRITA NOART. 150, § 3º, DA CONSTITUIÇÃO. – A submissão ao regime jurídico dasempresas do setor privado, inclusive quanto aos direitos e obrigaçõestributárias, somente se justifica, como consectário natural do postulado dalivre concorrência (CF, art. 170, IV), se e quando as empresas governamentaisexplorarem atividade econômica em sentido estrito, não se aplicando, por issomesmo, a disciplina prevista no art. 173, § 1º, da Constituição, às empresaspúblicas (caso da INFRAERO), às sociedades de economia mista e às suassubsidiárias que se qualifiquem como delegatárias de serviços públicos.”(STF, Segunda Turma, RE 363412 AgR, CELSO DE MELLO, ago/07).

591 CARVALHO, Paulo de Barros. Não-Incidência do ISS sobre Atividadesde Franquia (Franchising). RET 56/65, jul-ago/07.

592 STF, RE 547.245 e RE 592.905.

593 STJ, RE REsp 221.577; REsp 222.246.

594 STF, RE 156.568.

595 STJ, REsp 445.137.

596 STJ:, AgRgAg 1.082.014.

597 MELO, José Eduardo Soares de. ISS – Aspectos Teóricos e Práticos. 5ª ed.São Paulo: Dialética, 2008, p. 60.

598 O art. 1º da LC 116/03 estabelece: “Art. 1º O Imposto Sobre Serviços deQualquer Natureza, de competência dos Municípios e do Distrito Federal,tem como fato gerador a prestação de serviços constantes da lista anexa, ainda queesses não se constituam como atividade preponderante do prestador. § 1º O

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imposto incide também sobre o serviço proveniente do exterior do País oucuja prestação se tenha iniciado no exterior do País ...”.

599 STJ, Primeira Seção, REsp 1092206/SP, Rel. Ministro TEORI ALBINOZAVASCKI, mar/2009.

600 O STF negou repercussão geral ao questionamento acerca da competênciado Município do local da prestação do serviço ou do estabelecimento doprestador, considerando-o matéria infraconstitucional, conforme se vê do RE790.283.

601 STJ, AgRgAg 763.269.

602 STJ, AgRgAg 747.266.

603 STJ, REsp 621.067.

604 STJ, REsp 1.002.704.

605 Súmula 663 do STF: “Os §§ 1º e 3º do art. 9º do DL 406/68 foram rece-bidos pela Constituição.”

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Capítulo XVI – ContribuiçõesInstituídas

No Capítulo II deste livro, relativo às espécies tributárias,analisamos as características e o regime jurídico das con-tribuições, em contraste com os demais tributos. Lá, analisamosas diversas finalidades que autorizam a instituição decontribuições.

Concentramo-nos, a seguir, em cada uma das principais

contribuições instituídas pelo legislador.606

133. Contribuições previdenciárias dos seguradosdo regime geral de previdência social

O art. 195 da Constituição, em seu inciso II, com a redaçãoda EC 20/98, permite à União instituir contribuição do trabal-hador e dos demais segurados da previdência social, ou seja,de todas as pessoas filiadas ao regime geral de previdência so-cial, titulares potenciais dos benefícios garantidos pelo sistema.Trata-se de um reflexo do caráter contributivo da previdência

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social, previsto no art. 201 da Constituição. A contribuição dossegurados é inerente ao sistema.

A pessoa física que tenha mais de uma atividade econ-ômica recolherá como contribuinte obrigatório relativamente acada uma delas, observado, porém, na soma das diversasatividades, o teto mensal correspondente ao maior salário decontribuição, nos termos do art. 12, § 2º, da Lei 8.212/91.

São excluídos do regime geral os servidores públicos e osmilitares que contribuem para regimes próprios de previdência(art. 13) . Mas o servidor que também desenvolver atividadeque o caracterize como segurado obrigatório do regime geralde previdência contribuirá para ambos.

É importante ter em conta, ainda, que o próprio inciso IIdo art. 195 estabelece imunidade à contribuição previdenciáriado Regime Geral de Previdência Social das aposentadorias epensões ao dispor: “não incidindo contribuição sobreaposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de pre-vidência”. Tal não significa que aposentados e pensionistas,subjetivamente considerados, sejam imunes, isso porque, nocaso de permanecerem em atividade ou voltarem a exerceratividade vinculada ao RGPS, contribuirão relativamente àsmesmas. Tal se justifica e se viabiliza constitucionalmente emrazão da universalidade e da solidariedade que inspiram o

custeio da seguridade social.607 Em resumo, os benefícios deaposentadoria e pensão são imunes, mas não outros salários eremunerações que o aposentado ou pensionista perceba. Comsuporte na garantia da isonomia, o STF entendeu que tambémas aposentadorias e pensões concedidas aos servidores públi-cos em seus regimes próprios de previdência são imunes até olimite do benefício máximo do regime geral de previdência so-cial, podendo lhes ser cobrada contribuição quanto ao quesobejar.

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Conforme o art. 12 da Lei 8.212/91, são seguradosobrigatórios:

• na qualidade de empregado, os empregados propria-mente e o servidor público ocupante de cargo emcomissão, conforme o art. 12, inciso I, dessa Lei. Valelembrar que a própria EC 20/98 determinou a vincu-lação obrigatória de quem ocupa cargo em comissão aoregime geral de previdência social ao acrescentar o § 13ao art. 40 da CF;

• como empregado doméstico, a Lei 8.212/91 qualificaaquele que presta serviço de natureza contínua a pess-oa ou família, no âmbito residencial desta, em ativid-ades sem fins lucrativos;

• como contribuinte individual, são qualificados oautônomo e o sócio-gerente, o diretor de cooperativaou associação, o síndico ou administrador eleito paraexercer atividade de direção condominial, desde querecebam remuneração, conforme a alínea f;

• como trabalhador avulso, consta quem presta, a diver-sas empresas, sem vínculo empregatício, serviços denatureza urbana ou rural definidos no regulamento.

• como segurado especial, “a pessoa física residente noimóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural próx-imo a ele que, individualmente ou em regime de eco-nomia familiar, ainda que com o auxílio eventual deterceiros a título de mútua colaboração”, seja produtor,explorando atividade agropecuária em área de atéquatro módulos fiscais ou atuando como seringueiroou extrativista vegetal, ou seja pescador artesanal.

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Mas há, ainda, os segurados facultativos, porquanto oart. 14 da Lei 8.212/91 permite que qualquer pessoa maior de14 anos se filie ao Regime Geral em caráter facultativo, medi-ante contribuição, como, por exemplo, estudantes e donas decasa. Ou seja, não é obrigado a recolher, mas pode fazê-lo parajá ir contando o tempo de contribuição necessário a uma futuraaposentadoria.

Ao definir como os diversos segurados contribuirão paraa seguridade, a Lei 8.212/91 os reuniu em três diferentescontribuições:

• a dos segurados empregados, inclusive do doméstico, edo segurado trabalhador avulso (art. 20);

• a dos segurados contribuintes individual e facultativo(art. 21);

• a do segurado especial (art. 25).

O art. 20 da Lei 8.212/91, com a redação das Leis 8.620/93e 9.032/95, estabelece a contribuição dos seguradosempregados, inclusive do doméstico, e do segurado trabal-hador avulso, estabelecendo que “é calculada mediante a ap-licação da correspondente alíquota sobre o seu salário de con-tribuição mensal, de forma não cumulativa”. Sua base de cálculo,portanto, é o salário de contribuição mensal do trabalhador, as-sim entendida, para o empregado doméstico, a remuneraçãoregistrada na Carteira de Trabalho e Previdência Social (art. 28,II) e, para os demais empregados e para o trabalhador avulso, aremuneração mensal que percebem (art. 28 I), observados oslimites mínimo e máximo. Os § 7º do art. 28 da Lei 8.212/91dispõe no sentido de que o décimo terceiro salário integra osalário de contribuição, sendo certo, ainda, que, desde o ad-vento da Lei 8.620/93 (art. 7º), é feito cálculo em separado dacontribuição previdenciária sobre o décimo terceiro, conforme

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assentado na jurisprudência do STJ.608 Assim, o décimo ter-ceiro salário, em verdade, não integra propriamente o saláriode contribuição (não é somado ao salário do mês de dezembro),constituindo, isto sim, isoladamente, outro salário de con-tribuição para fins de cálculo de contribuição específica sobre odécimo terceiro. O § 8º, por sua vez, aponta as diárias ex-cedentes a cinquenta por cento da remuneração mensal comointegrantes do salário de contribuição pelo seu valor total. Masdeve-se entender esta regra como enunciadora da presunção deque, em tal hipótese, as diárias estejam, em verdade,cumprindo função remuneratória, e não simplesmente indeniz-atória por despesas necessárias por ocasião dos deslocamentos.Havendo comprovação de que a natureza é efetivamente in-denizatória, não poderão as diárias ser incluídas na base de cál-culo. No § 9º do art. 28, aliás, há inúmeras verbas indenizatóri-as expressamente referidas como não integrantes do salário decontribuição, assim, dentre outras verbas, as ajudas de custo, aparcela in natura recebida de acordo com os programas de ali-mentação do trabalhador, as importâncias recebidas a título deférias indenizadas e respectivo adicional constitucional, a par-cela recebida a título de vale-transporte, as próprias diáriaspara viagens, desde que não excedam a 50% (cinquenta porcento) da remuneração mensal, a bolsa recebida por estagiário,a participação nos lucros ou resultados da empresa. Os valoresrecebidos em decorrência da cessão de direitos autorais tam-bém estão excluídos, nos termos da alínea V do § 9º.

Dispõe o § 2º do art. 28 que o salário-maternidade seráconsiderado como salário de contribuição: “§ 2º O salário-ma-ternidade é considerado salário de contribuição”. O STJchancela tal incidência por entender que tem natureza salari-

al.609 Note-se que nenhum outro benefício previdenciário ser-virá de base de cálculo de contribuição previdenciária, nem

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mesmo a aposentadoria ou a pensão, estes inclusive imunespor força do próprio art. 195, II, da CF, conforme já exposto.

Os §§ 3º e 4º do art. 28 da Lei 8.212/91 estabelecem o lim-ite mínimo do salário de contribuição como sendo o salário-mínimo ou piso da categoria, ou, ainda, o mínimo garantidopor lei ao menor aprendiz. O limite máximo, por sua vez, foiestabelecido no § 5º com previsão de reajustamento periódico,que deve ser simultâneo e equivalente ao reajuste dos benefí-cios. O art. 20 da Lei 8.212/91 estabeleceu alíquotas de 8 a

11%610 conforme os patamares de salário de contribuição.Abaixo, a tabela vigente por força da Portaria InterministerialMPS MF 407, de 14 de julho de 2011:

TABELA VIGENTETabela de contribuição dos segurados empregado, empregado

domésticoe trabalhador avulso, para pagamento de remuneração

a partir de 1º de Julho de 2011

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Salário de contribuição(R$)

Alíquota para fins de recolhimento ao INSS(%)

até R$ 1.107,52 8,00

de R$ 1.107,53 a R$1.845,87 9,00

de R$ 1.845,88 até R$3.691,74 11,00

A Lei 8.212/91 obriga o empregador doméstico e aempresa que remunerem seus empregados e trabalhadoresavulsos à retenção e ao recolhimento das contribuições por elesdevidas, conforme art. 30, I, a e b, II e V.

Note-se que, para as empresas, o prazo de recolhimentovai até o dia 20 do mês seguinte ao de competência, enquantoque, para o empregador doméstico, o vencimento ocorre já nodia 15 do mês seguinte ao de competência, ou seja, até meadosdo mês seguinte ao trabalhado. A contribuição sobre o saláriode dezembro e sobre o décimo terceiro salário deve ser pagaantecipadamente, até o dia 20 de dezembro, conforme o art.216, § 1º, do Regulamento (Dec. 3.048/99).

Os arts. 21 e 28 da Lei 8.212/91, com a redação da Lei9.876/99, disciplinam a contribuição dos segurados con-tribuintes individuais e dos segurados facultativos, observa-dos, em ambos os casos, o valor mínimo e máximo admitidospara o salário de contribuição. O contribuinte individual não

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tem alternativa, pagará sobre a sua remuneração, observadosos limites. O segurado facultativo optará pelo valor que, dentrodos limites, melhor lhe convir, sendo certo que os benefíciosserão calculados considerando o valor das contribuições. Aalíquota será, normalmente, de 20% sobre o salário de con-tribuição, conforme o art. 21 da Lei 8.212/91.

Cabe frisar, porém, que, embora a alíquota seja de 20% acargo do contribuinte individual, há a possibilidade de de-dução de até 9%, acarretando, na prática, um encargo de 11%quando preste serviços a pessoas jurídicas que também con-tribuam sobre a remuneração daquele. É que a lei estabelece apossibilidade de dedução de 45% da contribuição da empresaincidente sobre a remuneração que tenha pago ou creditado aocontribuinte individual, limitada a dedução a 9% do salário decontribuição, o que, na prática, faz com que o valor a ser retidoalcance 11% do salário de contribuição. São os §§ 4º e 5º do art.30 da Lei 8.212/91 que cuidam da matéria.

Além disso, a LC 123/06, acrescendo os §§ 2º e 3º ao art.21 da Lei 8.212/91, trouxe a possibilidade de os contribuintesindividual e facultativo contribuírem com alíquota de 11%sobre o valor mínimo do salário de contribuição quando optempela exclusão do direito à aposentadoria por tempo de con-tribuição. Tal opção pode ser reconsiderada pelo segurado me-diante recolhimento da diferença de 9%, acrescida de juros.

A apuração e recolhimento da contribuição pelos segura-dos facultativos cabe a eles próprios, conforme o art. 30, incisoII, da Lei 8.212/91, com a redação da Lei 9.876/99.

Relativamente aos contribuintes individuais, a situação émais complexa. Isso porque podem prestar serviços a pessoasfísicas, que não estão obrigadas a qualquer retenção, ou a pess-oas jurídicas que, ao contratar autônomos e a remunerar outros

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contribuintes individuais, estão obrigadas à retenção e ao recol-himento, nos termos do art. 4º da Lei 10.666/03.

Como os contribuintes individuais prestam serviços, nor-malmente, a diversas pessoas, físicas e jurídicas, submetem-seàs retenções pelas pessoas jurídicas e têm de complementar osvalores devidos relativamente à parcela da remuneração quenão tenha sofrido retenção. Além disso, deverão atentar paraque não seja extrapolado o limite máximo do salário de con-tribuição em face da sobreposição de retenções. Os con-tribuintes individuais (autônomo ou outro) têm de ficar aten-tos, devendo noticiar às empresas a que prestem serviços as re-tenções que já tenham sofrido naquele mês por outras empres-as, de modo que não seja extrapolado o limite do salário decontribuição. A empresa que recebe do autônomo declaraçõesde retenção prestadas por outras empresas sabe que nãopoderá proceder à retenção senão sobre o valor que falte paraalcançar o teto do salário de contribuição. De outro lado, casoas contribuições retidas tenham, em seu conjunto, consideradosalário de contribuição inferior ao mínimo, terá o contribuinteque complementar o pagamento, nos termos do art. 5º damesma Lei 10.666/03.

A empresa que efetua a retenção relativamente aosvalores pagos a contribuinte individual tem prazo até o dia 20do mês seguinte ao da competência para efetuar o recolhi-mento, nos termos do art. 4º da Lei 10.666/03.

Já o próprio contribuinte individual e o segurado facultat-ivo têm prazo até o dia quinze do mês seguinte ao da com-petência para o recolhimento da contribuição, nos termos doart. 30, II, da Lei 8.212/91.

A contribuição do segurado especial tem suas peculiar-idades. A Lei 8.212/91, com a redação das Leis 8.540/92 e daLei 9.528/97, ao instituí-la através do art. 25, estabelece que é

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de “2% da receita bruta proveniente da comercialização da suaprodução” e de “0,1% da receita bruta proveniente da comer-cialização da sua produção para financiamento das prestaçõespor acidente do trabalho”, sendo que “Integram a produção,para os efeitos deste artigo, os produtos de origem animal ouvegetal, em estado natural ou submetidos a processos de bene-ficiamento ou industrialização rudimentar, assim compreen-didos, entre outros, os processos de lavagem, limpeza,descaroçamento, pilagem, descascamento, lenhamento, pas-teurização, resfriamento, secagem, fermentação, embalagem,cristalização, fundição, carvoejamento, cozimento, destilação,moagem, torrefação, bem como os subprodutos e os resíduosobtidos através desses processos”. Essa contribuição do se-gurado especial sobre a receita bruta da comercialização da suaprodução é válida porque encontra suporte específico no § 8ºdo art. 195 da Constituição Federal.

Deve-se considerar, ainda, que o art. 30, IV, da Lei 8.212/91, com a redação da Lei 9.528/97, determina que a empresaadquirente, consumidora ou consignatária ou a cooperativaficam sub-rogadas nas obrigações do segurado especial, inde-pendentemente de as operações de venda ou consignação ter-em sido realizadas diretamente com o produtor ou com inter-mediário pessoa física.

134. Contribuições previdenciárias doempregador, da empresa e da entidade a elaequiparada

O art. 195, I, a, da CF, com a redação da EC 20/98, é ex-presso quanto à possibilidade de instituição de contribuições

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para a seguridade social dos empregadores, das empresas e, in-clusive, de entidades que venham a ser equiparadas a empres-as, sobre “a folha de salários e demais rendimentos do trabalhopagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhepreste serviço, mesmo sem vínculo empregatício”.

Conforme o art. 2º da CLT, “Considera-se empregador aempresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos daatividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestaçãopessoal de serviço. § 1º Equiparam-se ao empregador, para osefeitos exclusivos da relação de emprego, os profissionais lib-erais, as instituições de beneficência, as associações recreativasou outras instituições sem fins lucrativos, que admitirem tra-balhadores como empregados”. O art. 15 da Lei 8.212/91, coma redação da Lei 9.876/99, conceitua empresa e arrola as pess-oas que devem ser consideradas a ela equiparadas para efeitode recolhimento de contribuições de seguridade:

“Art. 15. Considera-se: I – empresa – a firma individualou sociedade que assume o risco de atividade econôm-ica urbana ou rural, com fins lucrativos ou não, bemcomo os órgãos e entidades da administração públicadireta, indireta e fundacional; II – empregadordoméstico – a pessoa ou família que admite a seu ser-viço, sem finalidade lucrativa, empregado doméstico.Parágrafo único. Equipara-se a empresa, para os efeitosdesta Lei, o contribuinte individual em relação a se-gurado que lhe presta serviço, bem como a cooperativa,a associação ou entidade de qualquer natureza ou final-idade, a missão diplomática e a repartição consular decarreira estrangeiras”.

A expressão “folha de salários” pressupõe “salário”, ouseja, remuneração paga a empregado, como contraprestaçãopelo trabalho que desenvolve em caráter não eventual e sob a

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dependência do empregador.611 A remuneração deve ser en-tendida com a dimensão de “ganhos habituais do empregado,a qualquer título”, pois o § 11 do art. 201 da CF (redação da EC20/98) é inequívoco de que tais ganhos “serão incorporados aosalário para efeito de contribuição previdenciária e con-seqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma dalei”.

Podem ser tributados, também, os “demais rendimentosdo trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoafísica que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatí-cio”. Assim, também as remunerações a sócios-diretores (pró-labore), autônomos, avulsos e, inclusive, a remuneraçãoprestada aos agentes políticos (e.g., prefeitos e vereadores) po-dem ser tributadas como contribuição ordinária ou nominadade custeio da seguridade social, ou seja, como contribuição jáprevista no art. 195, I, a, da CF, capaz de instituição mediantesimples lei ordinária.

Cabe ter em conta, de outro lado, o que não pode sertributado a tal título. A referência, na norma de competência, a“rendimentos do trabalho” afasta a possibilidade de o legis-lador fazer incidir a contribuição sobre verbas indenizatórias.Assim, os valores pagos a título de auxílio-creche, de auxílio-transporte e as ajudas de custo em geral, desde que com-pensem despesa real, não podem integrar a base de cálculo dacontribuição previdenciária. Ademais, a base econômicaconsubstancia-se na remuneração “paga ou creditada”. Paga-mento é o valor prestado ao trabalhador seja em espécie, sejamediante depósito em conta corrente, ou mesmo in natura,como utilidades. Creditamento é o lançamento contábil acrédito do trabalhador. Não se pode confundir a remuneraçãopaga ou creditada com a que eventualmente seja devida masque não foi sequer formalizada em favor do trabalhador.

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Considere-se, ainda, que tal competência só diz respeitoaos pagamentos a “pessoa física” diretamente. Não estãoabrangidos pela norma valores pagos a empresas contratadaspara a prestação de serviços ou mesmo a cooperativas de tra-balho, pois a relação, nestes casos, dá-se com pessoa jurídica.Aliás, não há maiores dificuldades em se identificar se o paga-mento ou creditamento foi a pessoa física ou não; basta verquem foi, nominalmente, o seu beneficiário, além do que, se opagamento é feito mediante Recibo de Pagamento a Autônomo(RPA), é pagamento a pessoa física; se o pagamento é feito me-diante Nota Fiscal de Prestação de Serviços, é pagamento apessoa jurídica. A Lei 9.876/99, contudo, instituiu contribuição,a cargo das empresas tomadoras de serviços de cooperativas detrabalho, de 15% sobre o valor da Nota Fiscal de Prestação deServiços. Tratando de pagamento a pessoa jurídica, os paga-mentos a cooperativas de trabalho não encontram enquadra-mento na norma de competência do art. 195, I, a, da Constitu-ição, de modo que a Lei 9.876/99, ao acrescer o inciso IV ao art.22 da Lei 8.212/91, incorreu em flagrante inconstitucionalid-

ade.612 A Corte Especial do TRF4, contudo, em agosto de 2003,ao argumento de que se tratava de pagamentos aos co-operados, através da cooperativa, entendeu válida a referidalei. Tal desconsideração da personalidade jurídica das cooper-ativas, feita pela Corte Especial, a nosso ver, não era autoriz-ada. O STF ainda não se pronunciou sobre a matéria.

Desde o advento da Lei 11.457/07, a União é sujeito ativodas contribuições de seguridade social sobre a folha e não maiso INSS como ocorria anteriormente. A União administra taiscontribuições através da Secretaria da Receita Federal do Brasil(art. 2º). Os respectivos créditos são inscritos em dívida ativa daUnião (art. 16). Mas a destinação continua sendo o pagamentode benefícios do Regime Geral de Previdência Social, conformeo art. 2º, § 1º, da mesma Lei.

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Estudaremos, neste item, três contribuições distintas:

• a contribuição do empregador doméstico;

• a contribuição das empresas e equiparados sobre a re-muneração dos empregados e avulsos;

• a contribuição das empresas e equiparados sobre a re-muneração de contribuintes individuais (autônomos,sócios-gerentes etc.).

Nos termos do art. 15, II, da Lei 8.212/91, considera-se“empregador doméstico – a pessoa ou família que admite a seuserviço, sem finalidade lucrativa, empregado doméstico”. Acontribuição do empregador doméstico é instituída pelo art.24 da Lei 8.212/91: “12% (doze por cento) do salário de con-tribuição do empregado doméstico a seu serviço”. Assim, oempregador doméstico pagará, como contribuinte, 12% sobre osalário de contribuição do empregado doméstico, ou seja, sobre“a remuneração registrada na Carteira de Trabalho e Previdên-cia Social” (art. 28, II, da Lei 8.212/91). Mas, além disso, é im-portante relembrar que o empregador doméstico também éobrigado à retenção e ao recolhimento da contribuição previd-enciária que tem como contribuinte o próprio empregadodoméstico, e que é de 8 a 11%, conforme a faixa de remuner-ação, conforme vimos quando tratamos da contribuição dosempregados. Assim, recolherá, mensalmente, 20% do salário doempregado doméstico, 12% como contribuinte, com recursospróprios, e 8% como responsável tributário, mediante retençãodo salário do empregado doméstico, supondo que a remuner-ação do empregado doméstico esteja sujeita à alíquota mínima.Os recolhimentos de ambas as contribuições (do empregadorcomo contribuinte e do empregado mediante retenção) é feitode modo simplificado, em guia única (GPS) com os dados doempregado.

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Note-se que a contribuição incide sobre o salário de con-tribuição do empregado doméstico, de modo que também écalculada sobre o décimo terceiro salário, tendo em vista o § 7ºdo art. 28 da Lei 8.212/91, com a redação da Lei 8.870/94. Édevida quando do pagamento da última parcela, conformeprevisto no Regulamento (Dec. 3.048/99, com a redação doDec. 4.729/03).

O prazo para pagamento vai até o dia 15 do mês sub-sequente ao mês de competência, ou seja, ao mês relativamentea cujo salário foi calculada a contribuição, conforme a determ-inação constante do inciso V do art. 30 da Lei 8.212/91, com aredação da Lei 8.444/92. As contribuições sobre o salário dedezembro e sobre o décimo terceiro salário, contudo, devemser pagas antecipadamente, até o dia 20 de dezembro, con-forme o art. 7º da Lei 8.620/93 e o art. 216, § 1º, doRegulamento.

A contribuição da empresa sobre o total da remuneraçãodos segurados empregados e trabalhadores avulsos que lhesprestem serviços, por sua vez, é de 20%, nos termos do art. 22,I, da Lei 8.212/91, com a redação da Lei 9.876/99.

Sendo base de cálculo o “total das remunerações”, não selimita pelo salário de contribuição do empregado ou do avulso.De outro lado, embora o dispositivo se refira à remuneração“paga, devida ou creditada”, a base econômica que pode serobjeto de tributação restringe-se à remuneração “paga ou cred-itada”, conforme já referido. Assim, não tem suporte válido olançamento e a cobrança de contribuição sobre remuneração

tida pelos auditores fiscais como devida,613 mas que não tenhasido paga ou creditada, pois é inconstitucional a expressão“devida” constante do art. 22, I, da Lei 8.212/91 na redação daLei 9.876/99.

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Ademais, ao apurar-se o “total das remunerações”, é pre-ciso ter em conta que o art. 195, I, a, da Constituição cuida de“rendimentos do trabalho” e que o próprio art. 22, I, da Lei8.212/91 circunscreve àquelas “destinadas a retribuir o tra-balho”. Verbas que não constituam, propriamente, rendimen-tos do trabalhador destinados a retribuir o trabalho não com-põem a base de cálculo da contribuição. Daí por que o STF sus-pendeu a eficácia da MP 1.523-14, que procurou dar ao § 2º doart. 22 da Lei 8.212/91 redação no sentido de que integrariam aremuneração os abonos de qualquer espécie ou natureza, bemcomo as parcelas denominadas indenizatórias pagas ou credit-adas a qualquer título, inclusive em razão da rescisão do con-trato de trabalho. Tal redação acabou sendo expressamente re-jeitada quando da conversão da MP na Lei 9.528/97.

O art. 22, § 2º, na redação que persiste vigente, determina:“§ 2º Não integram a remuneração as parcelas de que trata o §9º do art. 28”. O referido § 9º do art. 28, com a redação das Leis9.528/97 e 9.711/98, aponta, dentre outras verbas, a parcela innatura recebida de acordo com os programas de alimentaçãoaprovados pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social,várias importâncias pagas a título indenizatório (férias indeniz-adas, incentivo à demissão), abono de férias, ganhos eventuaise os abonos expressamente desvinculados do salário, o valordas contribuições efetivamente pago pela pessoa jurídica relat-ivo a programa de previdência complementar, aberto oufechado, desde que disponível à totalidade de seusempregados e dirigentes, e a parcela recebida a título de vale-transporte.

O STJ firmou posição no sentido de que não incide con-tribuição previdenciária sobre o montante pago pela empresaao empregado nos primeiros quinze dias de afastamento pormotivo de doença (o benefício do auxílio-doença só é pago a

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partir do décimo sexto dia de afastamento)614 A alimentaçãofornecida in natura no estabelecimento da empresa também nãointegra a base de cálculo, ainda que não haja vinculação ao Pro-

grama de Alimentação do Trabalhador.615 O questionamentoacerca da incidência sobre o décimo terceiro salário (grati-ficação natalina), por sua vez, resultou na Súmula 688 do STF:“É legítima a incidência da contribuição previdenciária sobre o

13º salário”.616 De outro lado, integram a base de cálculo osvalores pagos a título de distribuição de lucro ou participaçãoem resultado que não tenham observado a periodicidade mín-

ima estabelecida pelo art. 3º, § 2º, da Lei 10.101/00.617

Cabe às empresas apurar e recolher a contribuição, a seucargo, sobre as remunerações dos empregados e avulsos até odia 20 do mês seguinte ao de competência. Considera-se mêsde competência o mês trabalhado, aquele a que se refere a re-

muneração.618 As contribuições sobre o salário de dezembro esobre o décimo terceiro salário devem ser pagas, antecipada-mente, até o dia 20 de dezembro, conforme o art. 7º da Lei8.620/93 e o art. 216, § 1º, do Regulamento.

Além de suportarem com recursos próprios, enquantocontribuintes, esta contribuição e as adiante abordadas, asempresas são obrigadas, enquanto substitutas tributárias, areter de seus empregados e a recolher as contribuições por elesdevidas, o que detalhamos no item específico relativo às con-tribuições dos segurados.

Mas algumas empresas sujeitam-se elas próprias, en-quanto contribuintes, à retenção das contribuições por outrasempresas colocadas na posição de substitutas tributárias. É ocaso das prestadoras de serviços mediante cessão de mão deobra. Por força do art. 31 da Lei 8.212/91, cabe à empresa to-madora dos serviços reter 11% do valor bruto da Nota Fiscal

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por conta das contribuições previdenciárias devida pelaempresa prestadora dos serviços, o que já foi reconhecido comoconstitucional pelo STF. Essa retenção não descaracteriza a con-tribuição sobre a folha, porquanto a lei assegura a com-pensação ou restituição de eventuais recolhimentos feitos amaior em face do efetivamente devido, considerada a base de

cálculo real e a alíquota respectiva.619 Efetivamente, a empresaprestadora apurará a contribuição devida no mês, conforme abase de cálculo que lhe é própria (total da remuneração dosempregados e avulsos) e deduzirá a retenção sofrida, recol-hendo o saldo devedor ou solicitando a restituição daquilopago a maior. A substituição tributária cumpre, assim, o fim dediminuir as possibilidades de inadimplemento, facilitar a fiscal-ização e ampliar as garantias de recebimento do crédito. Note-se, porém, que só tem aplicação quando se tratar de cessão demão de obra ou atividade legalmente equiparada. O § 3º con-ceitua a cessão de mão de obra como sendo a “colocação à dis-posição do contratante, em suas dependências ou nas de ter-ceiros, de segurados que realizem serviços contínuos”. Em taiscontratos, o objeto é um determinado número de horas diáriasde trabalhadores à disposição do contratante, relacionados, porexemplo, às atividades de vigilância ou de limpeza. O § 4º é ex-emplificativo, além do que estabelece equiparação da empreit-ada de mão de obra aos contratos de cessão de mão de obra,mas não abre espaço para que, por atos infralegais, sejam con-siderados como de cessão de mão de obra serviços que não reú-nam as características inerentes a este tipo de contratação,hipótese em que se terá ilegalidade.

O art. 30, inciso VI, da Lei 8.212/91, por sua vez, es-tabelece hipótese de responsabilidade tributária do dono daobra relativamente às contribuições devidas pelo construtor edeste relativamente às contribuições devidas por subempreit-eira, assegurando, contudo, a possibilidade de retenção e o

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direito a ressarcimento. Deve-se destacar, neste particular, quea lei, em vez de simplesmente se referir às atividades inerentesà construção civil e de deixar ao intérprete descortinar suaamplitude, referiu-se expressamente à “construção, reforma ouacréscimo”, delimitando seu âmbito de incidência. Caberá aoproprietário, incorporador, dono da obra ou condômino,quando dos pagamentos ao construtor, exigir a comprovaçãodo recolhimento das contribuições previdenciárias, sob pena decaracterização da sua responsabilidade solidária. Em face disso,inclusive, a lei os autoriza à retenção da respectiva importânciano caso da não comprovação do recolhimento pelo construtor.

Além da contribuição de 20% sobre os pagamentos aossegurados empregados e avulsos (22,5% no caso das institu-ições financeiras porque sujeitas ao adicional de 2,5% do § 1º

do art. 22 da Lei 8.212/91, com a redação da Lei 9.876/99),620

as empresas têm a obrigação de pagar, também, um adicionaldenominado SAT (seguro de acidente do trabalho) ou RAT(risco ambiental do trabalho) para financiamento da aposenta-doria especial e de benefícios decorrentes de incapacidade de-corrente de riscos ambientais do trabalho. Tal exação não con-stitui propriamente uma contribuição autônoma, havendoquem diga que tampouco seria preciso considerá-la um adi-cional à contribuição de 20%, mas a parte variável da contribuiçãodas empresas sobre a remuneração dos empregados e

avulsos.621 A Lei 8.212/91,622 no art. 22, inciso II, com aredação da Lei 9.732/98, estabelece as alíquotas de 1%, 2% ou 3%a título de SAT conforme o grau de risco da atividade preponder-ante da empresa seja considerado leve, médio ou grave. O STF jáse manifestou pela constitucionalidade da contribuição ao SAT,não vislumbrando violação à garantia da legalidade

tributária.623

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Regulamentando o dispositivo legal, três decretossucederam-se na definição do modo pelo qual se deveria iden-tificar a atividade preponderante com vista ao cálculo da con-tribuição ao SAT. O Decreto 612/92 estabelecia o critério domaior número de empregados por estabelecimento. O Decreto2.173/97, por sua vez, previu, como critério para a identificaçãoda atividade preponderante, o maior número de segurados daempresa como um todo, no que foi seguido pelo Decreto 3.048/99, art. 202. O STJ, no REsp 464.749/SC, realizou o controle delegalidade preconizado pelo STF, dizendo da necessidade de veri-ficação da atividade preponderante por estabelecimento, e não por

empresa.624

Os §§ 6º e 7º do art. 57 da Lei 8.213/91, com a redaçãodada pela Lei 9.032/94, ao cuidar da aposentadoria especial,impõem, ainda, um acréscimo, na alíquota do SAT, de 12, 9 ou 6pontos percentuais especificamente sobre a remuneração do se-gurado que exerça atividade que permita a concessão deaposentadoria especial após quinze, vinte ou vinte e cinco anos decontribuição. Nesses casos, portanto, a alíquota do adicional aoSAT poderá chegar a 15% (3% + 12%).

A Lei 10.666/03 prevê que poderá haver redução de até50% ou aumento de até 100% em razão do desempenho daempresa relativamente aos níveis de frequência, gravidade ecusto dos acidentes de trabalho verificados. O desempenho daempresa em relação à sua respectiva atividade é aferido peloFator Acidentário de Prevenção – FAP, conforme regula-mentado pelo art. 202-A do Dec. 3.048/99.

Em síntese, a contribuição ao SAT constitui a parte var-iável da contribuição da empresa sobre a remuneração deempregados e avulsos, sendo de 1%, 2% ou 3% conforme ograu de risco da atividade preponderante na empresa,sujeitando-se, ainda,a acréscimo de 6, 9 ou 12 pontos

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percentuais relativamente à remuneração dos empregados eavulsos sujeitos à aposentadoria especial e admitindo, também,redução de até 50% ou aumento de até 100% em razão dodesempenho da empresa relativamente aos níveis de frequên-cia, gravidade e custo dos acidentes de trabalho verificados,aferido pelo Fator Acidentário de Prevenção – FAP.

Há, ainda, outra contribuição devida pela empresa eequiparados sobre a remuneração paga a contribuintes indi-viduais, como os autônomos e sócios-gerentes.

É instituída pelo art. 22, III, da Lei 8.212/91, com aredação da Lei 9.876/99, que dispõe no sentido de que é de“vinte por cento sobre o total das remunerações pagas ou cred-itadas a qualquer título, no decorrer do mês, aos seguradoscontribuintes individuais que lhe prestem serviços”. É devidapelas empresas enquanto contribuintes, sem prejuízo da re-tenção da contribuição devida pelos próprios contribuintes in-dividuais que lhes prestam serviços, devendo a empresarecolhê-las até o dia 20 do mês seguinte ao da competência, pordeterminação do art. 4º da Lei 10.666/03. O vencimento da con-tribuição sobre a remuneração de contribuintes individuais,pois, coincide com o da contribuição sobre a remuneração deempregados e avulsos, nos termos do art. 30, I, b, da Lei 8.212/91, com a redação da Lei 11.933/09.

135. Contribuições de seguridade social sobre areceita (PIS e COFINS)

O art. 195 da CF, na sua redação original, outorgava com-petência à União para instituir contribuição dos empregadores

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sobre o “faturamento”. Atualmente, com a redação da EC 20/98, seu inciso I, alínea b, enseja a instituição de contribuição dosempregadores, empresas ou equiparados sobre “a receita oufaturamento”.

Entende o STF que faturamento corresponde ao produtodas atividades que integram o objeto social da empresa, ouseja, as atividades que lhe são próprias e típicas, assim a receitada venda de mercadorias, da prestação de serviços, da ativid-ade seguradora, da atividade bancária, da atividade de locação

de bens móveis625 e imóveis626 etc. Daí por que considera que,sob a égide da redação original, não poderiam ser alcançadaspelas contribuições sobre o faturamento (PIS e COFINS) as re-ceitas dissociadas do objeto da empresa, como a obtida com aalienação eventual de um bem do ativo fixo por empresa nãodedicada a venda desse tipo de bem ou a obtida com aplicaçãofinanceira realizada por empresa que não tem como objeto tal

atividade.627 Ao tentar abranger na contribuição sobre o fat-uramento todas as receitas da empresa, o § 1º do art. 3º da Lei

9.718/98 incorreu em inconstitucionalidade.628

Com a ampliação da base econômica para permitir a trib-utação não só do faturamento, mas também da “receita”, quetem conceito mais amplo, passaram a ser tributáveis tanto asreceitas oriundas do objeto social da empresa (faturamento)como as receitas não operacionais, complementares, acessóriasou eventuais. Ou seja, desde a EC 20/98, quaisquer receitas docontribuinte, desde que reveladoras de capacidade con-tributiva, podem ser colocadas, por lei, como integrantes dabase de cálculo da COFINS.

De qualquer modo, embora o conceito de receita seja maislargo que o de faturamento, nem todo ingresso ou lançamentocontábil a crédito constitui receita tributável. A análise da

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amplitude da base econômica “receita” precisa ser analisadasob a perspectiva da capacidade contributiva. Não pode o le-

gislador fazer incidir contribuição sobre indenizações629 ou

ressarcimentos e recuperações de custos tributários.630 Assim,sobre os valores recebidos a título de repetição do indébito

tributário, não incide COFINS.631 Do mesmo modo, não incideCOFINS sobre os créditos de ICMS, IPI, PIS e COFINS que evit-am a cumulatividade de tais tributos ou mesmo sobre os crédi-tos presumidos de IPI que visam a compensar o PIS e aCOFINS suportados de fato pelo exportador quando da

aquisição de produtos.632 Também não é dado ao legisladortributar ingressos relativos a valores recebidos em nome de ter-

ceiros. Aliás, a Lei 9.718/98, em seu art. 3º, § 2º, inciso III,633

chegou a determinar a exclusão, da base de cálculo da COFINSe do PIS, dos valores que, computados como receita, tivessemsido transferidos para outra pessoa jurídica. Ocorre que o dis-positivo remetia a normas regulamentares que jamais forameditadas, restando, posteriormente, revogado. IVES GANDRADA SILVA MARTINS e FÁTIMA FERNANDES RODRIGUESDE SOUZA manifestaram-se no sentido de que o referido in-ciso III constituía simples explicitação dos parâmetros constitu-

cionais para a incidência das contribuições.634 Mas, se, de umlado, só se pode instituir contribuição sobre a receita do con-tribuinte e não sobre a receita de terceiros, de outro, não hádireito constitucional dos contribuintes de deduzirem da basede cálculo despesas que tenham para com fornecedores de bense serviços, ou seja, não há direito à tributação sobre o “lucro

bruto”, conforme pretenderam muitos contribuintes.635 Docontrário, poderíamos chegar à conclusão de que toda equalquer empresa simplesmente intermedeia a aquisição debens e serviços, bastando para isso que especifique no contrato

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os seus custos, de modo que passassem a ser considerados mer-

os repasses.636

A Constituição de 1988 recepcionou as duas contribuiçõesque havia sobre o faturamento. O PIS/PASEP, instituído pelaLC 07/70, para que continuasse vigendo em caráter perman-ente, conforme o art. 239; e o FINSOCIAL, instituído pelo DL1.940/82, para que prosseguisse vigendo, temporariamente, atéque fosse instituída nova contribuição sobre o faturamento comsuporte no art. 195, I, sobre os termos do art. 56 do ADCT.Como ambas têm suporte constitucional, não há que se opor oóbice do bis in idem.

O PIS/PASEP (PIS como contribuição das empresas desti-nada a programa voltado aos trabalhadores empregados;PASEP como contribuição dos entes políticos destinada a pro-grama voltado aos servidores públicos) continua vigendo, em-bora com suporte em legislação nova. O FINSOCIAL foi sub-stituído pela COFINS. A partir desse momento, tratando dascontribuições das empresas e equiparados sobre a receita, pas-saremos a referir apenas PIS e COFINS.

As contribuições PIS e COFINS não podem incidir sobrereceitas advindas da exportação de mercadorias e serviços,como decorrência da imunidade constitucional estampada noart. 149, § 2º, I, da CF por força da EC 33/01, e repercutida noart. 6º da Lei 10.833/03.

Existem dois regimes jurídicos para cada uma dessas con-tribuições: o comum ou cumulativo e o não cumulativo.Sistemáticas específicas de tributação relacionadas à PIS e àCOFINS são, ainda, as decorrentes da utilização, pelo legis-lador, das técnicas da substituição tributária para a frente e do

regime monofásico.637 Em todos os regimes, a União é o

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sujeito ativo (credor) de tais contribuições, arrecadando-as at-ravés da Receita Federal do Brasil.

No regime comum, as contribuições PIS e COFINS sãodisciplinadas basicamente pela Lei 9.718/98, surgida antes doadvento da EC 20/98. Submetem-se ao regime comum as pess-oas jurídicas tributadas no imposto de renda com base no lucropresumido e as imunes a impostos. Incidem sobre o fatura-

mento das empresas,638 porquanto, à época, a tentativa de trib-

utar toda a receita afrontou o do art. 195, I, da CF,639 e nãosobreveio, depois da EC 20/98, nenhum dispositivo legal quetenha alargado a base de cálculo. No regime comum, o PIS in-cide à alíquota de 0,65%, conforme previsão constante do art.

1º da MP 2.158-35/01.640 A COFINS incide à alíquota de 3%,conforme o art. 8º da Lei 9.718/98, que teve a sua constitucion-

alidade reconhecida pelo STF.641 Tratando-se de regimecomum ou cumulativo, tais contribuições incidem sobre o fat-uramento de cada empresa, sem que haja quaisquer deduçõesmediante apuração e compensação de créditos, tampoucoajuste posterior. Paga-se exatamente o resultado da aplicaçãoda alíquota sobre a base de cálculo, sendo definitivo o mont-ante decorrente dessa operação. O fato gerador dessas con-tribuições ocorre mensalmente com a percepção dofaturamento.

O regime não cumulativo das contribuições PIS eCOFINS são disciplinados, respectivamente, pela Lei 10.637/02e pela Lei 10.833/03. A não cumulatividade do PIS e daCOFINS surgiu por força dessas leis ordinárias, depoissobrevindo a EC 42/03 que se limita a prever a não cumu-latividade ao acrescer o § 12 ao art. 195 da Constituição, sem,contudo, estabelecer quaisquer critérios a serem observados. Oregime não cumulativo é aplicável às empresas tributadas no

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imposto de renda com base no lucro real, ou seja, às maioresempresas.

A Lei 10.637/02 estabelece como fato gerador do PIS nãocumulativo o faturamento mensal, mas compreendido como ototal das receitas auferidas, sua base de cálculo. Não integram abase de cálculo, dentre outras receitas, as decorrentes de saídasisentas da contribuição ou sujeitas à alíquota zero e as relativasa vendas canceladas e aos descontos incondicionais conce-didos, nos termos do § 3º.

O art. 2º da Lei 10.637/02 estabelece a alíquota de 1,65%como regra. Já o contribuinte está definido no art. 4º comosendo a pessoa jurídica que aufere as receitas.

Resta claro da legislação, a par disso, que, diferentementedo que ocorre na não cumulatividade do IPI e do ICMS, nocaso do PIS/PASEP e da COFINS, não há creditamento devalores destacados nas operações anteriores, mas apuração decréditos calculados em relação a despesas com bens e serviçosutilizados na sua atividade econômica. O art. 3º da Lei 10.637/02 autoriza o desconto de créditos calculados em relação a bensadquiridos para revenda, bens e serviços utilizados como in-sumo, inclusive combustíveis e lubrificantes, aluguéis pagos apessoa jurídica, despesas financeiras, máquinas e equipamen-tos adquiridos, energia elétrica e energia térmica etc. O créditoapropriado não aproveitado em determinado mês pode seraproveitado nos meses subsequentes, comunicando-se, pois, osperíodos. Não há previsão de correção monetária de tais crédi-tos. Também é viável o desconto de crédito apurado em relaçãoàs importações tributadas a título de PIS/PASEP-Importação,de que cuida a Lei 10.865/04.

Assim, tem-se a previsão legal do fato gerador (o fatura-mento mensal), da base de cálculo (total das receitas auferidascompreendendo a receita bruta da venda de bens e serviços nas

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operações em conta própria ou alheia e todas as demais receitasauferidas pela pessoa jurídica), da alíquota (1,65%), do con-tribuinte (pessoa jurídica que auferir as receitas), do sistema deapuração de créditos para descontos.

A Lei 10.833/03 dispõe sobre a cobrança da COFINS nãocumulativa. O fato gerador é o “faturamento mensal, assim en-tendido o total das receitas auferidas pela pessoa jurídica, inde-pendentemente de sua denominação ou classificação contábil”.Contribuinte é “a pessoa jurídica que auferir as receitas”. A

alíquota da COFINS não cumulativa é, em regra, de 7,6%,642

forte no art. 2º da Lei 10.833/03.A Lei 10.833/03 ainda autoriza o Executivo a reduzir e a

restabelecer a alíquota relativa à receita da venda de produtosquímicos e farmacêuticos e destinados ao uso em laboratórioque refere, sem que haja, contudo, previsão constitucional paratanto.

Conforme a Lei 10.833/03, a base de cálculo da COFINSnão cumulativa é o total das receitas auferidas pela pessoajurídica, abrangendo as receitas com a venda de bens e serviçosnas operações em conta própria ou alheia e todas as demais re-ceitas auferidas. A locução “todas as demais receitas auferidaspela pessoa jurídica” dá enorme amplitude à base de cálculo daCOFINS não cumulativa, em consonância com a competênciaatribuída pelo art. 195, I, b, da CF após a EC 20/98, que alargoua base tributável de faturamento para “receita ou faturamento”.A Lei 10.833/03, no § 3º do art. 1º, exclui certas receitas da basede cálculo da COFINS não cumulativa: as receitas decorrentesda venda de ativo permanente (inciso II), receitas que venhama ser desoneradas por lei, em face da isenção, não incidência oualíquota zero (inciso I) ou mesmo do estabelecimento de trib-utação monofásica (inciso IV), receitas já tributadas no regimede substituição tributária para a frente (inciso III) e receitas, a

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rigor, inocorrentes (inciso V, a e b) ou que se caracterizam comomera recuperação e custos tributários (inciso VI).

A não cumulatividade da COFINS decorre da possibilid-ade de desconto de créditos apurados, por exemplo, naaquisição de bens e serviços. A Lei 10.833/03 estabelece um sis-tema de creditamento de COFINS mediante a aplicação daalíquota de 7,6% sobre o valor de bens adquiridos para re-venda, bens e serviços utilizados como insumo na prestação deserviços e na produção ou fabricação de bens ou produtos des-tinados à venda, energia elétrica consumida no estabeleci-mento, aluguéis de prédios, máquinas e equipamentos, despe-sas financeiras, máquinas, equipamentos e outros bens incor-porados ao ativo imobilizado, edificações e benfeitorias nosimóveis utilizados nas atividades da empresa, bens recebidosem devolução, armazenagem de mercadoria e frete na oper-ação de venda, vale-transporte, vale-refeição ou vale-ali-mentação, fardamento ou uniforme fornecidos aos empregadospor pessoa jurídica que explore as atividades de prestação deserviços de limpeza, conservação e manutenção (art. 3º).Quando apenas parte das receitas da empresa estiver sujeita àincidência não cumulativa, os créditos terão de ser apuradosem relação aos respectivos custos específicos, conforme o § 7ºdo art. 3º. O crédito não aproveitado em determinado mêspoderá sê-lo nos meses subsequentes.

Importa destacar, por fim, que as contribuições PIS eCOFINS não se confundem com as contribuições PIS-Im-portação e COFINS-Importação: aquelas, incidem sobre o fat-uramento ou receita; estas incidem na importação de produtosestrangeiros ou serviços, tendo por base de cálculo o valoraduaneiro ou o valor pago pelos serviços. A relação que existerestringe-se ao fato de que a Lei 10.865/04, ao instituir a PIS/COFINS-Importação, admite o seu creditamento para fins de

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dedução do PIS e da COFINS devidos no regime nãocumulativo.

136. Contribuição de seguridade social sobre olucro (CSL)

A União tem competência para instituir contribuição dasempresas sobre o lucro com vista ao custeio da seguridade so-cial, nos termos do art. 195, I, c, da CF. Lucro é o acréscimo pat-rimonial decorrente do exercício da atividade da empresa ouentidade equiparada.

A Lei 7.689/88 institui a contribuição social sobre o lucrodas pessoas jurídicas. Sujeito ativo (credor) é a própria União,sendo arrecadada através da Secretaria da Receita Federal doBrasil. Contribuintes são as pessoas jurídicas domiciliadas nopaís e equiparadas. A Lei 10.865/04 isenta da CSLL as so-ciedades cooperativas, salvo as de consumo.

A contribuição pode ser anual ou trimestral, como o im-posto sobre a renda das pessoas jurídicas, sendo paga, também,nos mesmos prazos.

A base de cálculo da contribuição é o resultado do tri-mestre ou do exercício, antes da provisão para o imposto derenda (art. 2º da Lei 7.689/88), com os ajustes determinadospela legislação. Daí falar-se em “resultado ajustado”. Não háque se confundir o resultado ajustado, tributado a título decontribuição sobre o lucro líquido, com o lucro real, tributadopelo Imposto de Renda. O que difere é justamente que as de-duções e compensações admissíveis para a apuração de um

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não correspondem exatamente àquelas admitidas para fins deapuração da base de cálculo do outro. As empresas que, noIRPJ, optem pela tributação conforme o lucro presumido, sãotributadas a título de CSL conforme o resultado também pre-sumido. Inexiste direito constitucional à dedução de prejuízosde períodos anteriores.

A compensação de base de cálculo negativa (prejuízoapurado no ano anterior) é questão legal. Não há que se falarem comunicação automática de exercícios. Esta, quando ad-mitida, constitui medida de política tributária estabelecida porlei, visando a minimizar os efeitos da carga tributária. O STF,inclusive, tem posição firmada no sentido da constitucionalid-ade de leis que limitaram a compensação de prejuízos passad-

os.643

O STJ reconheceu o direito das empresas de não pagaremCSL sobre o chamado lucro inflacionário, que não correspondaa acréscimo patrimonial propriamente, mas a mera atualização

monetária das demonstrações financeiras.644

A alíquota da CSL é de 9%, nos termos do art. 3º da Lei7.689/88, com a redação que lhe foi atribuída pela Lei 11.727/08. Note-se que, para instituições financeiras, a Lei 11.727/08estabeleceu alíquota superior de 15%.

A CSL apurada trimestramente é paga em quota única noúltimo dia do mês subsequente ao do encerramento do períodode apuração, podendo o contribuinte optar pelo parcelamentoem até três quotas, procedendo-se à sua atualização pelaSELIC. Na CSL anual, há pagamentos mensais por estimativaaté o último dia útil do mês subsequente àquele a que se referire ajuste anual, com pagamento de eventual saldo até o últimodia do mês de março do ano subsequente.

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137. Contribuição de intervenção no domínioeconômico destinada ao INCRA

As empresas e equiparados são obrigadas ao pagamentode contribuição sobre a folha de salários de 0,2% destinada aoINCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).Essa contribuição tem suporte no art. 15, II, da LC 11/71 emcombinação com art. 3º do DL 1.146/70 e com os demais diplo-mas a que remetem, ainda mais antigos.

Durante muito tempo o entendimento predominante foino sentido de que se tratava de contribuição de seguridade eque, por isso, teria sido tacitamente extinta quando da uni-ficação das previdências urbana e rural. Mas, em 2006, surgiu atese de que “As contribuições para o INCRA são verdadeirascontribuições de intervenção no domínio econômico que têmpor escopo a arrecadação de recursos para a atuação direta doEstado na estrutura fundiária, por meio, precipuamente, da de-sapropriação para fins de reforma agrária, implantando o pro-grama nacional de reforma agrária, sempre tendo como objet-ivo último a efetiva observância da função social da pro-

priedade”.645 O STJ acatou tal entendimento, passando a re-conhecer o seu caráter de contribuição de intervenção no

domínio econômico e a entender que permanece vigente.646

Voltada às finalidades previstas no art. 170, III e VII, da CF/88,

seu caráter interventivo está realmente presente.647

Discutiu-se se tal contribuição poderia mesmo ser exi-gida de todas as empresas, inclusive as urbanas, que não têmnenhuma relação direta com as questões relacionadas à funçãosocial da propriedade rural. Argumentava-se que, relativa-mente às empresas urbanas, não haveria a necessária

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referibilidade entre a finalidade financiada e os contribuintes.Assim, ROQUE CARRAZZA: “... a empresa que desenvolveatividades urbanas não pode ser alvo da contribuição para oINCRA. Reiteramos que as CIDEs somente são exigíveis depessoa diretamente ligada à atividade que se pretende regular,

não bastando, para tanto, um mero envolvimento difuso”.648

Nesse sentido, aliás, decidiu a 2ª Turma do TRF4 em acórdãopor nós conduzido: “2. A amplitude do pólo passivo dependeda verificação da referibilidade, traço inerente às contribuições.A intervenção para fiscalizar e fazer com que os imóveis ruraiscumpram sua função social só diz respeito ao mundo rural. Éincabível a cobrança da contribuição de empresa urbana, poisnão mantém nenhum nexo com a atividade interventiva do

INCRA”.649

O entendimento que prevaleceu no âmbito do STJ, con-tudo, foi diverso: “2. A Primeira Seção firmou posicionamentode ser legítimo o recolhimento da Contribuição Social para oFunrural e o Incra pelas empresas vinculadas à previdênciaurbana. 3. Orientação reafirmada no julgamento do REsp

977.058-RS, sob o rito dos recursos repetitivos”.650 O STJ,assim, absteve-se de fazer um juízo de referibilidade ao argu-mento de que, em se tratando de CIDE, tal não seria um re-quisito para a sujeição passiva. Mas a posição final será dadapelo STF que, inclusive, já reconheceu a repercussão geral damatéria no RE 578635 RG, cujo mérito, no entanto, está pen-dente de julgamento.

Também se discutiu a compatibilidade da contribuição aoINCRA com a superveniente EC 33/01. É que essa emenda pas-sou a definir as bases econômicas (revelações de riqueza) sobreas quais poderiam incidir as contribuições interventivas: fat-uramento, receita bruta ou valor da operação (art. 149, § 2º, III,a, da CF). Quanto a tal ponto, a 2ª Turma do TRF4, em acórdão

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por nós conduzido, entendeu que a contribuição ao INCRA,por incidir sobre a folha de salários, não teria sido recepcion-ada pela EC 33/01, restando, assim, tacitamente revogada portal emenda. Externamos essa posição, também, em sede

doutrinária, em coautoria com ANDREI PITTEN VELLOSO.651

Posteriormente, ROQUE CARRAZA igualmente expressou talentendimento: “As leis que tratam da Contribuição ao Incra fo-ram revogadas pela Emenda Constitucional 33/01, uma vezque o faturamento, a receita bruta e o valor da operação ou, nocaso de importação, o valor aduaneiro, não se confundem coma folha de salários (base de cálculo da Contribuição para oINCRA)... a contribuição para o Incra somente seria válida casose ajustasse, em tudo e por tudo, ao regime jurídico própriodesta figura, inscrito no art. 149, caput e em seus §§ 2º e 3º, daConstituição Federal... tal, porém, não se dá, porque a legis-lação que instituiu a contribuição para o Incra (cuja base de cál-culo é a folha de salários) passou, com a edição da EC 33/01, apadecer de inconstitucionalidade superveniente, tendo sido, as-

sim, revogada por este ato normativo”.652 O STJ manifestou-seno sentido de que a questão é constitucional e que deverá serresolvida pelo STF em sede de recurso extraordinário, o queainda não ocorreu.

138. Contribuição de intervenção no domínioeconômico destinada ao SEBRAE

A contribuição ao SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoioàs Micro e Pequenas Empresas) foi instituída pelo art. 1º da Lei8.154/90 como um adicional às contribuições ao SESC e

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SENAC (do comércio), SESI e SENAI (da indústria). A parceladestinada ao SEBRAE é de 0,3% sobre a folha de salários.

Alguns setores específicos que recolhiam contribuições aoSESC, SENAC, SESI e SENAI passaram a recolher a serviços so-ciais autônomos mais específicos, criados posteriormente: oSECOOP (do cooperativismo), o SEST (do transporte), oSENAT (de aprendizagem do transporte) e o SENAR (deaprendizagem rural). Como as leis criadoras desses novos ser-viços sociais não fizeram referência ao adicional ao SEBRAE,surgiu a dúvida quanto a ser ou não devido o adicional tam-bém no que diz respeito a essas novas contribuições. En-

tenderam, tanto o STJ653 como o STF,654 que o que ocorreu foisimplesmente a alteração do destinatário das contribuições emnada modificando a sistemática de recolhimento da con-tribuição ao SEBRAE que, assim, é devido como adicional tantoàs antigas contribuições como a essas novas decorrentes dodesdobramento dos serviços sociais.

A natureza de contribuição de intervenção no domínioeconômico restou afirmada pelo STF quando do julgamento doRE 396.266-3: “A contribuição do SEBRAE – Lei 8.029/90, art.8º, § 3º, redação das Leis 8.154/90 e 10.668/03 – é contribuiçãode intervenção no domínio econômico, não obstante a lei a elase referir como adicional às alíquotas das contribuições sociaisgerais relativas às entidades de que trata o art. 1º do DL 2.318/86, SESI, SENAI, SESC, SENAC. Não se inclui, portanto, a con-tribuição do SEBRAE, no rol do art. 240, CF”. Afirmou o minis-tro relator CARLOS VELLOSO no voto condutor que “se oSEBRAE tem por finalidade ‘planejar, coordenar e orientar pro-gramas técnicos, projetos e atividades de apoio às micro epequenas empresas, em conformidade com as políticas nacion-ais de desenvolvimento, particularmente as relativas às áreasindustrial, comercial e tecnológica’ (Lei 8.029/90, art. 9º,

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incluído pela Lei 8.154/90), a contribuição instituída para arealização desse desiderato está conforme aos princípios geraisda atividade econômica consagrados na Constituição. ... nãopossui o SEBRAE qualquer finalidade de fiscalização ou regu-lação das atividades das micro e pequenas empresas, mas deincentivo à sua criação e desenvolvimento, em conformidadecom o disposto no art. 179 da Constituição Federal, acreditandoem seu potencial de influenciar positivamente as áreas indus-trial, comercial e tecnológica, estas também de interesse dasempresas que contribuem ao SESC/SENAC, SESI/SENAI.Conclui-se, portanto, que a contribuição para o SEBRAE édaquelas de intervenção na atividade econômica”. Entende oSTF que se trata de tributo constitucional, matéria, aliás, cujarepercussão geral foi reconhecida no AI 762202 RG para fins deaplicação uniforme do que decidido pelo STF.

Como o SEBRAE atua junto às micro e pequenasempresas, discutiu-se se as médias e grandes também poderi-am ser obrigadas ao pagamento, já que não estavam no grupoalcançado por sua atividade. Surgiram decisões no sentido deque “A exação, apesar de constitucional, não é exigível dasempresas de médio e grande porte, porquanto estas não são be-

neficiárias das atividades desenvolvidas pelo SEBRAE”.655

Mas o STF firmou orientação em sentido oposto, indicandoque, nas contribuições interventivas, é desnecessário que “o

contribuinte seja virtualmente beneficiado”.656 Destacou que acontribuição ao SEBRAE pode ser cobrada também das médi-as e grandes empresas porquanto a atividade de tal ente socialautônomo, embora direcionada às microempresas e às empres-as de pequeno porte, afeta todo o comércio e a toda a indústria,guardando, portanto, relação também com as médias egrandes.

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Note-se que, assim como a contribuição ao INCRA, a con-tribuição ao SEBRAE é contribuição interventiva que tem porbase de cálculo a folha de salários. Desse modo, é pertinente adiscussão sobre a sua compatibilidade com a EC 33/01 que de-limitou as bases econômicas sobre as quais poderiam incidir ascontribuições interventivas: faturamento, receita bruta ou valorda operação (art. 149, § 2º, III, a, da CF). Entendemos que a con-tribuição ao SEBRAE foi tacitamente revogada, tendo em conta

sua não recepção pela EC 33/01.657 As reformas constitucion-ais, aliás, tem sido no sentido de desonerar a folha de salários,do que é exemplo também a EC 42/03, a qual, incluindo o § 13ao art. 195 da CF, previu inclusive a possibilidade de substitu-ição da própria contribuição previdenciária sobre a folha pelaincidente sobre a receita ou o faturamento. Essa questão da re-cepção ou não pela EC 33/01 já teve a sua repercussão geral re-conhecida pelo STF no RE 603624 RG, cujo mérito está para serdecidido.

139. Contribuição de intervenção no domínioeconômico sobre a comercialização decombustíveis

O art. 177, § 4º, da Constituição, acrescentado pela EC 33/01, estabelece suporte constitucional específico para a institu-ição de “contribuição de intervenção no domínio econômico re-lativa às atividades de importação ou comercialização de pet-róleo e seus derivados, gás natural e seus derivados e álcoolcombustível”. A intervenção dar-se-á mediante destinação dosrecursos “ao pagamento de subsídios a preços ou transporte de

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álcool combustível, gás natural e seus derivados e derivados depetróleo”, “ao financiamento de projetos ambientais relacion-ados com a indústria do petróleo e do gás” e “ao financiamentode programas de infra-estrutura de transportes”, conforme pre-vê o inciso II do § 4º.

Estabelece o inciso I do § 4º que tal contribuição pode teralíquota diferenciada por produto ou uso e que a alíquota podeser “reduzida e restabelecida por ato do Poder Executivo”,atenuando, assim, a legalidade. Também dispensa a observân-cia da anterioridade de exercício. Ocorre que tanto a legalidadequanto a anterioridade constituem garantias fundamentais docidadão contribuinte com nível de cláusula pétrea. Dessemodo, nem mesmo por emenda constitucional a sua observân-cia poderia ser dispensada. Por isso, entendemos que a EC 33/01, no ponto, é inconstitucional, tal como já decidiu o STF naADI 939 relativamente à EC 03/03, que, ao autorizar a institu-ição do IPMF, estabelecera invalidamente exceção à anteriorid-ade de exercício. Já a EC 42/01, que criou a garantia da anteri-oridade nonagesimal do art. 150, III, c, da CF, não colocou talcontribuição dentre as suas exceções e é plenamente aplicável.

A CIDE-Combustível foi instituída pela Lei 10.336/01.Dispõe seu art. 1º que incide “sobre a importação e a comercial-ização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus deriva-dos, e álcool etílico combustível” e que terá a destinaçãoidêntica à elencada no dispositivo constitucional (art. 177, § 4º,II). Fatos geradores da contribuição são as operações de im-portação e de comercialização no mercado interno de gasolinase suas correntes, diesel e suas correntes, querosene de aviação eoutros querosenes, óleos combustíveis (fuel-oil), gás liquefeitode petróleo, inclusive o derivado de gás natural e de nafta e ál-cool etílico combustível realizadas por seus produtores, formu-ladores ou importadores, que são os contribuintes, tudo nostermos dos arts. 2º e 3º da referida lei. O art. 3º, § 2º, prevê que

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a contribuição “não incidirá sobre as receitas de exportação,para o exterior, dos produtos relacionados no caput desteartigo”, o que está em consonância com o art. 149, § 2º, I, da CF,tendo em conta a imunidade criada pela EC 33/01.

As alíquotas são específicas: R$ 860,00 por m³ de gasol-ina, R$ 390,00 por m³ de diesel, R$ 92,10 por m³ de querosenede aviação e de outros querosenes, R$ 40,90 por t de óleos com-bustíveis com alto teor de enxofre, R$ 40,90 por t de óleos com-bustíveis com baixo teor de enxofre, R$ 250,00 por t gás lique-feito de petróleo, inclusive o derivado de gás natural e da naftae R$ 37,20 por m³ de álcool etílico. É autorizada compensaçãodo que tenha sido pago na importação ou na aquisição de outrocontribuinte com o devido na comercialização no mercado in-terno (art. 7º).

No caso de comercialização, no mercado interno, a CIDEdevida será apurada mensalmente e será paga até o último diaútil da primeira quinzena do mês subsequente ao de ocorrênciado fato gerador e, na hipótese de importação, o pagamento daCIDE deve ser efetuado na data do registro da Declaração deImportação, nos exatos termos do art. 6º da Lei 10.336/01.

O art. 10 estabelece isenção da CIDE para produtos “ven-didos a empresa comercial exportadora, conforme definidapela ANP, com o fim específico de exportação para o exterior”.

A administração e a fiscalização da CIDE compete à Sec-retaria da Receita Federal, nos termos do art. 13.

140. Contribuição profissional (anuidade) aosConselhos de Fiscalização Profissional

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Os Conselhos de Fiscalização Profissional são autarquiasque fiscalizam o exercício das profissões regulamentadas. Suaconversão em pessoas jurídicas de direito privado foi declaradainconstitucional pelo STF considerando-se que o exercício dopoder de política é inerente ao Estado, só podendo ser desem-

penhado por pessoa jurídica de direito público.658

As contribuições devidas pelos profissionais aos re-spectivos conselhos tem natureza tributária, constituindo con-tribuições do interesse das categorias profissionais, com am-paro no art. 149 da CF, devendo observância às limitações aopoder de tributar, como a legalidade, a irretroatividade e as an-

terioridades.659 Conforme decisões reiteradas de nossostribunais, “Os Conselhos Profissionais não têm poder para fixarsuas anuidades, devendo esta fixação obedecer os critérios es-

tabelecidos em lei”.660

Os profissionais não podem ser obrigados a se inscrever-em em mais de um Conselho. Assim é que “O engenheiroquímico que não exerce a atividade básica relacionada à engen-haria não está obrigado a se inscrever junto ao Conselho Re-gional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia quando suasatividades se enquadrarem exclusivamente na área química,desde que já possua registro no Conselho Regional de Quím-

ica”.661

É exigida inscrição nos Conselhos tanto dos profissionaispessoas físicas, como das empresas pessoas jurídicas. Mas a in-scrição das pessoas jurídicas só pode ser exigida pelo Conselhoa que diga respeito a atividade básica da empresa ou em re-lação à qual preste serviços a terceiros, nos termos do art. 1º daLei 6.839/80. Efetivamente, a inscrição da pessoa jurídica só édevida quando ela é constituída com a finalidade de explorar a

profissão.662 Contudo, a ausência de obrigação das empresas

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de se inscreverem nos Conselhos, senão em função da suaatividade básica, não as desobriga de contratarem profissionaisinscritos para o exercício das funções privativas de cadaprofissão.

A Lei 12.514/11 institui a anuidade devida aos conselhosde fiscalização profissional. É aplicável sempre que inexista leiespecífica ou que a lei específica estabeleça a cobrança emmoeda ou unidade de medida não mais existente ou, em vez deestabelecer os valores, delegue a fixação para o próprio con-selho, nos termos do art. 3º.

Com o advento da Lei 12.514/11, restou tacitamente re-vogada a Lei 6.994/82, que fixava apenas valores limites para

as anuidades em MVR (Medida Valor de Referência).663 Tam-bém foi tacitamente revogada a Lei 11.000/04, que autorizavaos Conselhos a fixarem as contribuições, incorrendo em flag-rante inconstitucionalidade por violação à legalidade absolutaassegurada pelo art. 150, I, da CF, que impede a delegação de

competência normativa ao Executivo.664 665 666

Entendemos que também restou revogado o art. 46 da Lei

8.906/94,667 que prevê a fixação da contribuição devida à OABpor ela própria. Mas o STJ tem atribuído tratamento especial àOAB. A Primeira Seção firmou posição no sentido de que aOAB é uma autarquia sui generis e que as anuidades a ela devi-

das não têm natureza tributária.668 Desse modo, mesmo sendoinaplicável a Lei 6.994/82 à OAB, a anuidade poderia ser co-brada com suporte simplesmente em Resolução do ConselhoFederal da OAB ou em outro ato normativo interno. Talposição do STJ resta nitidamente equivocada, pois não consid-era os requisitos para a caracterização de determinada exigên-cia pecuniária como tributo nem dá a devida aplicação às limit-ações constitucionais ao poder de tributar. Se a OAB é uma

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autarquia de tal ou qual tipo, ainda que sui generis, pouco im-porta. A própria União, que é ente político, não pode instituirtributo sem observar a legalidade estrita, não pode fazer poucocaso da irretroatividade, da anterioridade etc. A OAB, porcerto, que não é ente político, que não tem competênciatributária, não pode instituir contribuição, tampouco definirseu valor. Pode figurar como sujeito ativo, credora da con-tribuição, mas nos exatos termos de lei que, completa e com adensidade normativa necessária, institua o tributo quanto aosseus diversos aspectos, sem oportunidade para delegaçõesnormativas. Tivemos a oportunidade de conduzir julgado nosentido de que não há como excepcionar o regime jurídicotributário: “as anuidades dos Conselhos de Fiscalização Profis-sional, enquanto tributos, enquadram-se na espécie con-tribuições do interesse das categorias profissionais, comsuporte no art. 149 do CTN. Considerando que todos ostributos sujeitam-se à garantia da legalidade, estampada no art.150, I, da CF, a cobrança das anuidades sem que tenham sidoinstituídas por lei viola o texto constitucional. Resolução daOAB não é instrumento apto a criar tal tipo de obrigação. Sus-citado incidente de argüir de inconstitucionalidade do art. 46

da Lei 8.906/94 (Estatuto da OAB)”.669

A Lei 10.795/03, que institui as anuidades do CRECI,resta preservada, pois é lei especial.

Conforme a Lei 12.514/11, fato gerador das anuidades é“a existência de inscrição no conselho, ainda que por tempolimitado, ao longo do exercício”, nos termos do seu art. 5º. Coma inscrição nos Conselhos, surge para os profissionais ouempresas a obrigação de pagar a respectiva anuidade,renovando-se anualmente tal obrigação enquanto permanecer-em inscritos. Deixando de exercer determinada atividadeprofissional ou econômica, têm de requerer o cancelamento da

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inscrição, sob pena de terem de continuar pagando asanuidades.

Antes do advento da Lei 12.514/11 era diferente.Entendia-se que, embora a inscrição dos profissionais e empre-sas estabelecesse uma presunção de que estivessem desen-volvendo a atividade profissional ou econômica regula-mentada e fiscalizada pelo respectivo Conselho, não era a in-scrição, em si, mas o exercício da atividade o fato gerador das

anuidades.670 A inscrição gerava presunção em favor do Con-selho, mas, demonstrado o não exercício da atividade profis-sional ou econômica, era indevida a anuidade. Desse modo,ainda que inscrito, poderia demonstrar que não exercia aquelaatividade ou que exercia atividade incompatível, que nenhumareceita obtivera com aquela atividade ou que se aposentara enão mais a exercera.

Com a Lei 12.514/01, muito mais cuidado com a inscriçãoprecisam ter. Importante é a regra do seu art. 9º, no sentido deque a “existência de valores em atraso não obsta o cancela-mento ou a suspensão do registro a pedido”.

O montante devido é de R$ 500,00 para profissionais denível superior, e de R$ 250,00 para profissionais de nível téc-nico. Relativamente às empresas, a anuidade varia de R$ 500,00a R$ 4.000,00 em função do capital social, tudo conforme dispõeo art. 6º. Está previsto reajuste pelo INPC, cabendo aos Consel-hos proceder à atualização anual e divulgar o valor exato daanuidade devida.

141. Contribuição profissional sindical

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Os sindicatos contam com diversas fontes de receita,dentre as quais a chamada contribuição confederativa, fixadapela assembleia geral e que só obriga os filiados ao sindicato

nos termos da Súmula 666 do STF.671 Também há a con-tribuição assistencial estabelecida por convenção coletiva e queigualmente só é exigível dos sindicalizados nos termos do Pre-

cedente Normativo 119 do TST.672 Por fim, ainda existe a con-tribuição sindical, essa sim de natureza tributária, instituídapor lei com amparo no art. 149 da CF e exigível de todos os tra-balhadores da categoria profissional.

A contribuição sindical é estabelecida pelos artigos 579 e580 da CLT. A CLT prevê que é devida por todos os trabal-hadores empregados, ao respectivo sindicato, na importânciacorrespondente à remuneração de um dia de trabalho. Mas háuma exceção: o STF entende que os advogados, mesmoempregados, não estão sujeitos à contribuição sindical emrazão da sua necessária vinculação e contribuição à OAB e con-siderando que as funções que deveriam, em tese, ser desem-

penhadas pelos sindicatos foram atribuídas à OAB.673

O STJ já decidiu que “A contribuição sindical com-pulsória, também denominada de ‘imposto sindical’ (art. 578 eseguintes da CLT), não se confunde com a contribuição sindicalassociativa (contribuição assistencial) e pode ser arrecadadaentre os funcionários públicos, conforme já declarou o STF, ob-servadas a unicidade sindical (art. 8º, II, da CF/88) e a desne-cessidade de filiação. Assim, seu desconto pode ser pleiteadopor qualquer das entidades constantes do rol de beneficiários

da arrecadação contido no art. 589 da CLT”.674 Mas há preced-entes no sentido de que não seria devida pelos servidores

públicos.675

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Note-se que a União é que tem competência para instituircontribuição do interesse de categorias profissionais ou econ-ômicas, de modo que as contribuições sindicais sempre terãocomo fonte lei federal, no caso presente, artigos da própriaCLT.

Ademais, tratando-se de tributo, não há como a lei at-ribuir aos sindicatos a condição de sujeitos ativos, credores dacontribuição, titulares das prerrogativas, de fiscalização e deconstituição do crédito. Nos termos do art. 119 do CTN, sópessoas jurídicas de direito público é que podem figurar comosujeitos ativos. No caso, caberá à União, através do Ministériodo Trabalho, figurar como credora, lançar e inscrever emdívida as contribuições impagas. Os sindicatos, que são pessoasjurídicas de direito privado sem fins lucrativos e exercematividades do interesse público, figuram como destinatários doproduto da arrecadação.

Os artigos 601 a 610 da CLT, com a redação da Lei11.648/08, é que disciplinam as questões de procedimento e deprocesso relacionadas à constituição dos créditos, inscrição emdívida e cobrança.

São publicados editais durante três dias, nos jornais demaior circulação, até 10 dias da data para pagamento da con-tribuição sindical, nos termos do art. 605 da CLT.

Ocorrendo inadimplência, cabe às autoridades regionaisdo Ministério do Trabalho apurar, lançar e expedir certidãoquanto ao crédito correspondente, que servirá de título exec-utivo para viabilizar a execução a ser realizada pelas entidadessindicais, nos termos do art. 606 da CLT. Tal artigo dispõe,ainda, que da certidão constará “a individualização de con-tribuinte, a indicação do débito e a designação da entidade a fa-vor da qual será recolhida a importância de imposto, de acordocom o respectivo enquadramento sindical”. A cobrança da

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dívida faz-se com todos os privilégios próprios da FazendaPública, conforme o § 2º do mesmo artigo.

Relativamente à contribuição devida à confederação decategoria econômica, foi editada a Súmula 396 do STJ: “A Con-federação Nacional da Agricultura tem legitimidade ativa paraa cobrança da contribuição sindical rural. “ (out/09)

142. Contribuição de iluminação pública muni-cipal (CIP)

O art. 149-A da Constituição autoriza os Municípios a in-stituírem contribuição para o custeio do serviço de iluminaçãopública, mediante lei municipal que observe a legalidade es-trita, a irretroatividade e as anterioridades de exercício e non-

agesimal,676 o que, conforme já decidiu o STF, por certo nãodispensa a observância das demais garantias, como a iso-nomia, tampouco o respeito ao princípio da capacidade con-

tributiva.677

Entende o STF que a cobrança apenas dos consumidoresde energia elétrica não viola a isonomia. Também entende quea progressividade da alíquota não afronta a capacidade con-

tributiva.678

O próprio art. 149-A da CF, em seu parágrafo único,autoriza a cobrança da contribuição na fatura de consumo deenergia elétrica. O fato de ter base de cálculo idêntica à doICMS sobre energia elétrica não viola o § 3º do art. 155 da CFque só veda a incidência de outro “imposto” sobre a mesma

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base e não de uma contribuição. O Ministério Público Federalingressou com Ação Civil Pública para obrigar concessionária afazer com que, das faturas de energia elétrica, constasse códigode barras específico para o preço da energia e para a con-tribuição de iluminação pública, de modo que não fosse con-dicionado o pagamento da conta ao da contribuição e vice-versa (STJ, Primeira Turma, REsp 1.010130, relator MinistroLuiz Fux, 2010), pretensão essa que encontra suporte no art. 164do CTN.

No Município de São Paulo, tal contribuição foi in-stituída pela Lei Municipal 13.479/02, que restou regula-mentada pelo Decreto 43.143/03.

O parágrafo único do seu art. 1º fez constar que o serviçode iluminação pública a que se destina a contribuição “com-preende a iluminação de vias, logradouros e demais benspúblicos, e a instalação, manutenção, melhoramento e ex-pansão da rede de iluminação pública, além de outras ativid-ades a estas correlatas”. Foi criado um fundo especial vincu-lado exclusivamente ao custeio do serviço de iluminaçãopública, destinatário da arrecadação da contribuição (art. 8º). OExecutivo encaminha ao executivo, anualmente, o programasde gastos e investimentos e balancete do fundo (art. 8º).

Contribuinte “é todo aquele que possua ligação de ener-gia elétrica regular ao sistema de fornecimento de energia” (art.3º).

A contribuição tem valores fixos e distintos para os con-sumidores residenciais, de um lado, e para os consumidoresnão residenciais, de outro. Os valores, originariamente, eramde R$ 3,50 e de R$ 11,00, respectivamente, sendo anualmentereajustado por índice idêntico ao do reajuste da tarifa de ener-gia elétrica, tudo nos termos do art. 4º e seu parágrafo único.Há isenção para os contribuintes “vinculados às unidades

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consumidoras classificadas como ‘tarifa social de baixa renda’pelo critério da Agência Nacional de Energia Elétrica –ANEEL”.

A Lei 14.125/05 concedeu isenção aos contribuintes “res-identes ou instalados em vias ou logradouros que não possuamiluminação pública” (art. 3º).

O art. 2º deixa claro que cabe “à Secretaria de Finanças eDesenvolvimento Econômico da Prefeitura do Município deSão Paulo proceder ao lançamento e à fiscalização do paga-mento da Contribuição”.

Mas a concessionária de energia elétrica é responsávelpela cobrança e recolhimento da Contribuição, devendo trans-ferir o montante arrecadado para a conta do Tesouro Municip-al, mediante convênio, nos termos do art. 6º da Lei 13.479/02,devendo manter cadastro atualizado dos contribuintes quedeixarem de efetuar o recolhimento da Contribuição. Ademais,a Lei 14.125/05 estabeleceu que a concessionária do serviço dedistribuição de energia é obrigada à inclusão da contribuiçãona fatura de consumo de energia, cobrança e repasse do valorarrecadado para conta do Tesouro Municipal (art. 4º),sujeitando-se a multa moratória de 0,33% ao dia até o limite de20% caso ocorra atraso no repasse, sem prejuízo da atualizaçãomonetária do débito. Estabeleceu, ainda, multa de 50% do valorda contribuição não repassada ou repassada a menor para ashipóteses de falta ou atraso no repasse.

Notas do Caítulo XVI

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606 Abordagem ainda mais completa e detalhada das diversas contribuiçõesexistentes no nosso sistema tributário fazemos em nosso livro Contribuições:Teoria Geral e Contribuições em Espécie, escrito em coautoria com AndreiPitten Velloso e publicado pela editora Livraria do Advogado.

607 STF, Primeira Turma, AI 668531 AgR, Rel. Ministro RICARDOLEWANDOWSKI, jun/09.

608 STJ, Segunda Turma, REsp 868.242/RN, Rel. Ministra ELIANACALMON, mai/08; STJ, Primeira Seção, EREsp 442.781/PR, Rel. MinistroTEORI ALBINO ZAVASCKI, nov/07.

609 STJ, Segunda Turma, REsp 853730/SC, Rel. Ministra ELIANA CALMON,jun/08.

610 Houve um período em que, com vista à compensação da incidência daCPMF no saque em conta-corrente, a Lei 9.311/96, através do seu art. 17,previu redução de alíquota relativamente aos salários e remunerações até trêssalários mínimos. Em face de tal norma, as alíquotas de 8% e 9% ficaram re-duzidas para 7,65% e 8,65%. Com a extinção da CPMF, contudo, as alíquotasretomaram seu patamar original.

611 Vide CLT, arts. 2º e 3º.

612 “(...) a nova contribuição social no percentual de 15%, exigida das empres-as contratantes, sobre o valor bruto das notas fiscais ou faturas emitidas pelascooperativas de trabalho contratadas (pessoas jurídicas) por serviços presta-dos através dos seus cooperados, instituída pela Lei 9.876/99, ato normativoabsolutamente inadequado e impróprio, é gritantemente inconstitucional, pornão atender às disposições de nossa Carta Magna, consubstanciadas nos arts.195, I, § 4º, e 154, I, podendo sua cobrança ser contestada através de medidasjudiciais próprias. (...) As empresas contratantes não possuem vínculo dequalquer natureza com os cooperados, mas sim, exclusivamente com a so-ciedade cooperativa, a qual compete a responsabilidade privativa e específicada contratação dos prestadores de serviços (associados pessoas físicas), colo-cados à disposição das referidas empresas. (...) As normas constitucionais ref-erenciadas admitem somente a incidência de contribuição previdenciáriasobre salários e rendimentos pagos, a qualquer título, à pessoa física que presteserviço à empresa empregadora, ou seja, sobre as importâncias pagas aos co-operados (associados) pelas próprias sociedades cooperativas, suasempregadoras de fato e de direito.” (SOMM, Daimar Paulo. A Inconstitucion-al Exação Instituída pela Lei n 9.876/99. Revista de Estudos nº 13, mai-jun/2000, p. 14-19)

613 Na hipótese de o Auditor Fiscal entender que determinados pagamentosa autônomo encobriam efetiva relação de emprego, poderá efetuar o

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lançamento das contribuições não recolhidas a este título, mas tomando comobase de cálculo apenas os valores efetivamente pagos ou creditados, e não osque, considerando o vínculo empregatício, eram devidos mas não foram pa-gos nem creditados, como o décimo terceiro.

614 “2. A jurisprudência desta Corte firmou entendimento no sentido de quenão incide a contribuição previdenciária sobre a remuneração paga peloempregador ao empregado, durante os primeiros dias do auxílio-doença,uma vez que tal verba não tem natureza salarial.” (STJ, Segunda Turma, REsp853730/SC, Rel. Ministra ELIANA CALMON, jun/08); “2. É dominante noSTJ o entendimento segundo o qual não é devida a contribuição previden-ciária sobre a remuneração paga pelo empregador ao empregado, durante osprimeiros dias do auxílio-doença, à consideração de que tal verba, por nãoconsubstanciar contraprestação a trabalho, não tem natureza salarial. Preced-entes: REsp 720817/SC, Segunda Turma, Min. FRANCIULLI NETTO, DJ de05/09/2005.” (STJ, Primeira Turma, REsp 836.531/SC, Min. TEORI ALBINOZAVASCKI, ago/06)

615 “PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO DO TRABALHADOR – SALÁRIOIN NATURA – DESNECESSIDADE DE INSCRIÇÃO NO PROGRAMA DEALIMENTAÇÃO DO TRABALHADOR – PAT – NÃO-INCIDÊNCIA DACONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. 1. Quando o pagamento é efetuado innatura, ou seja, o próprio empregador fornece a alimentação aos seusempregados, com o objetivo de proporcionar o aumento da produtividade eeficiência funcionais, não sofre a incidência da contribuição previdenciária,sendo irrelevante se a empresa está ou não inscrita no Programa de Ali-mentação ao Trabalhador – PAT. 2. Recurso especial não provido.” (STJ, Se-gunda Turma, REsp 1051294/PR, Rel. Ministra ELIANA CALMON, fev/09)

616 A Súmula 688 foi aprovada em 24/09/2003.

617 STJ, Segunda Turma, REsp 496.949/PR, Rel. Ministro HERMANBENJAMIN, ago/09.

618 Tal conceito foi objeto de discussão ainda à luz de redação anterior, dadapela Lei 9.876, de 26.11.99, quando o vencimento ocorria no dia 2 do mêsseguinte ao de competência. Surgiram dúvidas quanto ao mês a ser consid-erado como de competência, se seria o mês trabalhado ou o mês em que ocor-resse o pagamento do empregado. Mas o STJ firmou posição no sentido deque mês de competência é o trabalhado, de maneira que o dia 2 do mêsseguinte ao de competência era o dia 2 do mês imediatamente subseqüente aotrabalhado, ainda que o salário propriamente pudesse ser pago, posterior-mente, até o 5º dia útil: “CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SOBRE OPAGAMENTO DE SALÁRIOS. FATO GERADOR. DATA DORECOLHIMENTO. 1. O fato gerador da contribuição previdenciária do

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empregado não é o efetivo pagamento da remuneração, mas a relação laboralexistente entre o empregador e o obreiro. 2. O alargamento do prazo con-ferido ao empregador pelo art. 459 da CLT para pagar a folha de salários até odia cinco (05) do mês subseqüente ao laborado não influi na data do recolhi-mento da contribuição previdenciária, porquanto ambas as leis versam re-lações jurídicas distintas; a saber: a relação tributária e a relação trabalhista. 3.As normas de natureza trabalhista e previdenciária revelam nítida compatib-ilidade, devendo o recolhimento da contribuição previdenciária ser efetuadoa cada mês, após vencida a atividade laboral do período, independentementeda data do pagamento do salário do empregado. 4. Em sede tributária, oseventuais favores fiscais devem estar expressos na norma de instituição da ex-ação, em nome do princípio da legalidade. 5. Raciocínio inverso conduziria auma liberação tributária não prevista em lei, toda vez que o empregador nãoadimplisse com as suas obrigações trabalhistas, o que se revela desarrazoadoà luz da lógica jurídica. 6. Recurso desprovido.” (STJ, Primeira Turma, un-ânime, REsp 219.667/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, fev/2003).

619 STF, RE 603.191, relatora Min. ELLEN GRACIE, 2011.

620 “INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIASOBRE A FOLHA DE SALÁRIOS. ADICIONAL. § 1º DO ART. 22 DA LEI8.212/91. A sobrecarga imposta aos bancos comerciais e às entidades fin-anceiras, no tocante à contribuição previdenciária sobre a folha de salários,não fere, à primeira vista, o princípio da isonomia tributária, ante a expressaprevisão constitucional (Emenda de Revisão 1/94 e Emenda Constitucional20/98, que inseriu o § 9º no art. 195 do Texto permanente). Liminar a que senega referendo. Processo extinto.” (STF, Tribunal Pleno, ACMC 1109, rel. p/ oacórdão Min. CARLOS BRITTO, mai/07).

621 Excerto do voto condutor proferido pelo Desembargador FederalWELLINGTON MENDES DE ALMEIDA quando do julgamento, pela 1ªSeção do TRF4, dos EIAC 1999.71.00.022739-0, em 05/09/2001.

622 A contribuição denominada SAT surgiu com o art. 15 da Lei 6.367/76,que previa um acréscimo na contribuição sobre a folha de salários, no mont-ante de 0,4 a 2,5% dependendo do grau de risco. A Lei 7.787/89, em seu art.3º, inciso II, também cuidou da matéria, fixando alíquota única de 2%. Emseguida, passou-se ao regime atual, estabelecido pela Lei 8.212/91.

623 STF, Tribunal Pleno, unânime, RE 343.446/SC, Rel. Ministro CARLOSVELLOSO, mar/2003.

624 “PREVIDENCÁRIO. SEGURO ACIDENTE DO TRABALHO. SAT.CONTRIBUIÇÃO. LEI 8.212/91. BASE DE CÁLCULO. 1. Na base de cálculoda contribuição para o SAT, deve prevalecer a empresa por unidade isolada,

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identificada por seu CGC. 2. A Lei 8.212/91, art. 22, II, não autoriza seja adot-ada como base de cálculo a remuneração dos empregados da empresa comoum todo. 3. O Decreto 2.173/97 afastou-se da lei para estabelecer além doprevisto. 4. Recurso especial provido. (STJ, Segunda Turma, unânime, REsp499.299/SC, Rel. Ministra ELIANA CALMON, jun/2003)” Eis excerto do votocondutor: “Assim sendo, não se pode chancelar o Decreto 2.173/97 que, comoos demais, veio a tentar categorizar as empresas por unidade total e não porestabelecimento isolado e identificado por CGC próprio, afastando-se do ob-jetivo preconizado pelo art. 22 da Lei 8.212/91. No caso dos autos, a empresaalega separar em estabelecimentos distintos as atividades industriais, comer-ciais, granjas, depósitos e administração (escritórios).” Vide, também, nomesmo sentido, o REsp 464.749/SC, da Primeira Turma do STJ, julgado à un-animidade em agosto de 2003.

625 STJ, REsp 929.521.

626 STF, RE 371.258 AgR.

627 STF, RE 527.602.

628 STF, RE 346.084.

629 “Receita constitui um ingresso de soma de dinheiro ou qualquer outrobem ou direito susceptível de apreciação pecuniária decorrente de ato, fato unegócio jurídico apto a gerar alteração positiva do patrimônio líquido dapessoa jurídica que a aufere, sem reservas, condicionamentos ou corres-pondências no passivo. Daí resulta a não-incidência do PIS/Pasep e da Cofinssobre ingressos recebidos a título de reembolso ou de indenização por danoemergente, que não repercutem positivamente no patrimônio líquido de queos recebe. No caso específico dos contratos de seguro, a não-incidênciaabrange não apenas a indenização recebida pelo segurado como também asdevoluções de prêmios nos casos de recusar da proposta ou renunciar ao con-trato.” (SEHN, Solon. Não-incidênciade PIS/Pasep e da Cofins sobre reem-bolsos e indenizações. RDDT 162/58, mar/09)

630 “Em qualquer hipótese, tratando-se de despesa ou custo anteriormentesuportado, sua recuperação econômica em qualquer período posterior, en-quanto suficiente para neutralizar a anterior diminuição patrimonial, não os-tenta qualidade para ser rotulada de receita, pela ausência do requisito dacontraprestação por atividade ou de negócio jurídico (materialidade), além defaltar o atributo da disponibilidade de riqueza nova. A recuperação de custoou de despesa pode ser equiparada aos efeitos da indenização, pela similitudeno caráter de recomposição patrimonial (...) A recuperação de um valor an-teriormente registrado como encargo tributário não tem o condão detransformá-lo automaticamente de despesa em receita, ainda que a forma

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adotada para sua escrituração em conta credora possa contribuir para a con-figuração de aumento do resultado do exercício da pessoa jurídica no mo-mento da recuperação, efeito que, de concreto, traduz o retorno ao status quoante, não reunindo condições de materializar ingresso de elemento novo quese qualifique no conceito de receita. (...) se o tributo a ser ressarcido incidiuem etapa ecnômica do processo produtivo e foi suportado como parte integ-rante do preço de insumos adquiridos pela empresa, o crédito assim conce-dido tem função de minimizar os custos de fabricação de produtos em razãode determinada política governamental. Dessa forma, tem nítida natureza derecuperação de custos (...), pelo que o valor do resarcimento do tributo em-butido no preço, ou do correspondente direito escriturado como crédito, mel-hor evidencia asua índole se contabilizado em conta redutora dos próprioscustos, jamais de conta de receita, por faltar-lhe os predicados para tal config-uração. (...) 32. Não se qualifica como receita o ingresso financeiro que temcomo causa o ressarcimento, ou recuperação de despesas e de custo anterior-mente suportado pela pessoa jurídica, enquanto suficiente para neutralizar aanterior diminuição patrimonial. Equipara-se aos efeitos da indenização e,portanto, não ostenta qualidade para que possa ser rotulada de receita, pelaausência do requisito da contraprestação por atividade ou de negócio jurídico(materialidade), além de faltar o animus para obtenção de disponibilidade denova riqueza. 33. A recuperação de tributo, anteriormente registrado comoencargo, não tem o condão de transformá-lo automaticamente de despesa emreceita. Enquanto há reconhecimento expresso da administração tributáriapara não incidência das contribuições da COFINS e do PIS ‘sobre os valoresrecuperados a título de tributo pago indevidamente’ (ADI-SRF 25/2003),equivoca-se no entendimento de que os valores ressarcidos a título de créditopresumido são passíveis de tributação, pela falsa premissa de estaremabrangidos pelo conceito de receita, pois se caracterizam, também, recuper-ação de custos.” (MINATEL, José Antônio. Conteúdo do Conceito de Receitae Regime Jurídico para sua Tributação. MP, 2005, p. 218/219, 222, 224 e 259).

631 ADI SRF 25/2003: “Art. 2º. Não há incidência da (...) Cofins e da PIS/Pasep sobre os valores recuperados a título de tributo pago indevidamente.Art. 3º. Os juros incidentes sobre o indébito tributário recuperado é receitanova e, sobre ela, incidem o IRPJ, a CSLL, a Cofins e a Contribuição para oPIS/Pasep.”

632 “CRÉDITO PRESUMIDO DE IPI. PIS E COFINS. BASE DE CÁLCULO.NÃO-INCIDÊNCIA. 1. O legislador, em respeito à máxima econômica de quenão se exportam tributos, criou o crédito presumido de IPI como um in-centivo às exportações, ressarcindo o exportador de parte das contribuiçõesao PIS e à Cofins incidentes sobre as matérias-primas adquiridas para a in-dustrialização de produtos a serem exportados. 2. O crédito presumido prev-isto na Lei 9.363/96 não constitui receita da pessoa jurídica, mas mera

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recomposição de custos, razão porque não podem ser considerados na de-terminação da base de cálculo da contribuição ao PIS e da Cofins. Precedenteda Primeira Turma. 3. Seria um contra-senso admitir que sobre o crédito pre-sumido de IPI, criado justamente para desonerar a incidência do PIS e daCofins sobre as matérias-primas utilizadas no processo de industrialização deprodutos exportados, incidam essas duas contribuições.” (STJ, SegundaTurma, REsp 1003029/RS, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, ago/08).

633 Lei 9.718/98: Art 3º O faturamento a que se refere o artigo anterior corres-ponde à receita bruta da pessoa jurídica... § 2º Para fins de determinação dabase de cálculo das contribuições a que se refere o art. 2º, excluem-se da re-ceita bruta: (...) III – os valores que, computados como receita, tenha sidotransferidos para outra pessoa jurídica, observadas normas regulamentadorasexpedidas pelo Poder Executivo.

634 MARTINS, Ives Gandra da Silva; SOUZA, Fátima Fernandes Rodriguesde. Exclusão das receitas de terceiros da base de cálculo das contribuições aoPIS e Cofins devidas pelo contribuinte. Direito que decorre da norma de com-petência relativa a cada uma dessas contribuições e do princípio da capacid-ade contributiva. Inconstitucionalidade da MP 2.037 que pretendeu obstá-lomediante a revogação do Inciso III do § 2º do art. 3º da Lei 9.718/98. RevistaDialética de Direito Tributário nº 70, julho/2001, p. 150/163.

635 “PIS/COFINS. FATO GERADOR. CONCESSIONÁRIA DE VEÍCULOS.TRANSFERÊNCIA DE RECEITAS. FATURAMENTO. LUCRO BRUTO.INCIDÊNCIA. 1. A receita bruta da autora não é o quantum derivado dadiferença entre o valor do automóvel vendido aos consumidores e o valor re-passado para a montadora-fabricante a título do pagamento do respectivoveículo. 2. As montadoras vendem veículos novos para as concessionárias emperfeita operação de compra e venda mercantil, não operando ela como meraintermediante. Na revenda dos veículos e serviços a terceiros, o produto al-cançado integra seu faturamento. 3. Não se pode inferir que a só distinçãoentre ‘conta alheia’ e ‘nome próprio’ é capaz de excluir, da receita bruta dasconcessionárias de automóveis, parte do faturamento da impetrante, por serapurado em nome destas mas dirigir-se à conta alheia (da concedente). 4. Emque pese o art. 3º, §2º, III, Lei 9.718/98, determinar que as receitas transferidasde uma pessoa jurídica para outra seriam abatidas do lucro bruto para, então,ter-se a base de cálculo do PIS e da COFINS, a norma não gozava de auto-ap-licabilidade, e foi revogada pela MP1991-18/2000.” (TRF4, Primeira Turma,unânime, AC 2000.71.00.039618-0/RS, rel. Desa. Fed. MARIA LÚCIA LUZLEIRIA, ago/2003).

636 STJ, Primeira Seção, REsp 847641/RS, LUIZ FUX, mar/09.

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637 “... a fixação da modalidade monofásica de apuração e cobrança da con-tribuição para o PIS e da Cofins ocorreu, na maioria dos casos, antes mesmoda criação da sistemática não cumulativa advinda com as MP’s 66/02 e 135/03. É possível se inferir desse fato que o regime monofásico foi instituído parasubstituir a incidência cumulativa das contribuições ao longo de toda a cadeiade produção/importação e distribuição/comercialização daqueles produtosque então foram eleitos para se submeter `concentração da tributação em de-terminada etapa do ciclo econômico. Vale dizer: o que se objetiva com a fix-ação da sistemática monofásica de tributação, em geral, é simplesmente con-centrar a obrigação pelo recolhimento das contribuições que seriam devidasao longo da cadeia de circulação econômica em uma determinada etapa – viade regra, na produção ou importação da mercadoria sujeita a tal modalidadede tributação –, sem que isso represente redução da carga incidente sobre osrespectivos produtos.” (MARQUES, Thiago de Mattos. Apuração de créditosde PIS/Cofins no regime monofásico... RDDT 170/129, nov/09).

638 Mas há entidades relativamente às quais a contribuição ao PIS é calculadacom base de cálculo e alíquota diversas, ou seja, com base na folha de salári-os, à alíquota de 1%, como os templos de qualquer culto, os partidos políti-cos, as instituições de educação e de assistência social, instituições de caráterfilantrópico, recreativo, cultural, científico e as associações, sindicatos, feder-ações e confederações, serviços sociais autônomos criados ou autorizados porlei, conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas, fundações dedireito privado e fundações públicas instituídas ou mantidas pelo PoderPúblico, condomínios de proprietários de imóveis residenciais ou comerciaise Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB e as OrganizaçõesEstaduais de Cooperativas, tudo nos termos do art. 13 da MP 2.158-35/01.

639 O STF reconheceu a inconstitucionalidade do § 1º do art. 3º da Lei 9.718/98 no RE 346.084, prosseguindo-se a aplicar, quanto à COFINS, o art. 2º da LC70/91 que previa a incidência “sobre o faturamento mensal, assim consideradoa receita bruta das vendas de mercadorias, de mercadorias e serviços e de serviço dequalquer natureza” e, quanto ao PIS, o art. 3º da Lei 9.715/98, que previa a in-cidência sobre a receita bruta “proveniente da venda de bens nas operações de contaprópria, do preço dos serviços prestados e do resultado auferido nas operações de contaalheia”.

640 Anteriormente, a Lei 9.715/98 já dispunha: Art. 8º A contribuição será cal-culada mediante a aplicação, conforme o caso, das seguintes alíquotas: I –zero vírgula sessenta e cinco por cento sobre o faturamento; II – um por centosobre a folha de salários; III – (...)

641 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro ILMAR GALVÃO, RE 336.134, 2002.

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642 Mas há inúmeras outras alíquotas para receitas específicas nos parágrafosdo art. 2º.

643 “1. Tributário. Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro.Compensação de prejuízos. Constitucionalidade dos arts. 42 e 58 da Lei8.981/95. Recurso extraordinário não provido. Precedentes. É constitucional alimitação de 30% para compensação dos prejuízos apurados nos exercíciosanteriores, conforme disposto nos arts. 42 e 58 da Lei 8.981/95.” (STF, Se-gunda Turma, Rel. Ministro CEZAR PELUSO, RE 229412 AgR, 2009);“TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA E CONTRIBUIÇÃO SOCIAL.MEDIDA PROVISÓRIA 812, DE 31.12.94, CONVERTIDA NA LEI 8.981/95.ARTIGOS 42 E 58, QUE REDUZIRAM A 30% A PARCELA DOS PREJUÍZOSSOCIAIS APURADOS EM EXERCÍCIOS ANTERIORES, A SER DEDUZIDADO LUCRO REAL, PARA APURAÇÃO DOS TRIBUTOS EM REFERÊNCIA.ALEGAÇÃO DE OFENSA AOS PRINCÍPIOS DO DIREITO ADQUIRIDO EDA ANTERIORIDADE E AOS ARTS. 148 E 150, IV, DA CF... Ausência, emnosso sistema jurídico, de direito adquirido a regime jurídico, notadamenteao regime dos tributos, que se acham sujeitos à lei vigente à data do respect-ivo fato gerador. Recurso não conhecido.” (STF, Primeira Turma, Rel. Minis-tro ILMAR GALVÃO, RE 247.633, 2000).

644 STJ Segunda Turma, Rel. Ministra ELIANA CALMON, REsp 899.335/PB,2008; STJ, Primeira Seção, Rel. Ministro LUIZ FUX, AgRg nos EREsp 436.302,2007.

645 CAMARGOS, Luciano Dias Bicalho. Da natureza jurídica das con-tribuições para o Instituto Nacional de Colonização e reforma Agrária –INCRA. MP: 2006, p. 366.

646 STJ, Primeira Seção, Rel. Ministro LUIZ FUX, REsp 977.058, 2008.

647 CF: “TÍTULO VII Da Ordem Econômica e Financeira CAPÍTULO I DOSPRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE ECONÔMICA Art. 170. A ordem eco-nômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tempor fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça so-cial, observados os seguintes princípios: ... III – função social da propriedade;... VII – redução das desigualdades regionais e sociais;”

648 CARRAZZA, Roque Antonio. Contribuição de intervenção no domínioeconômico... RDDT 170/93, nov/09.

649 TRF4, Segunda Turma, Relator para o acórdão Juiz Federal LeandroPaulsen, AC 2005.71.08.005412, 2007.

650 STJ, Segunda Turma, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, AgRgAg1.313.116, 2010.

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651 PAULSEN, Leandro; VELLOSO, Andrei Pitten. Controle das CIDEs e dasContribuições Sociais pela Base Econômica – Art. 149, § 2º, da CF com aredação da EC 33/01. Publicado na RDDT em 2008.

652 CARRAZZA, Roque Antonio. Contribuição de intervenção no domínioeconômico... RDDT 170/93, nov/09.

653 STJ, Primeira Turma, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, REsp 824.268, 2006.

654 STF, Primeira Turma, Rel. Ministro RICARDO LEWANDOWSKI, AI596552 AgR, 2007.

655 TRF4, Primeira Turma, Relator para o acórdão Desembargador FederalLUIZ CARLOS DE CASTRO LUGON, AC 2000.72.05.003646, 2001.

656 STF, Primeira Turma, Rel. Ministro RICARDO LEWANDOWSKI, AI604712 AgR, 2009. Assim, também: STF, Primeira Turma, Rel. MinistroCARLOS BRITTO, RE 401823 AgR, 2004.

657 PAULSEN, Leandro; VELLOSO, Andrei Pitten. Controle das CIDEs e dasContribuições Sociais pela Base Econômica – Art. 149, § 2º, da CF com aredação da EC 33/01. Publicado na RDDT em 2008.

658 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro Sydney Sanches, ADI 1.717, 2002.

659 STJ, Segunda Turma, Rel. Ministra ELIANA CALMON, REsp 928.272,2009.

660 TRF4, Primeira Turma, Rel. Desembargadora Federal MARIA LÚCIALUZ LEIRIA, AC 2000.70.00.015264, 2002.

661 STJ, Segunda Turma, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, REsp 949388, 2007.

662 STJ, Primeira Turma, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, REsp 172.898, 1998;STJ, Segunda Turma, Rel. Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS, RE163.014, 1999.

663 A Lei 6.994/82 estabelecia valores que, mesmo atualizados, mostravam-sebastante defasados. Por isso, os Conselhos acabaram incorrendo em ilegalid-ade e fixando as anuidades em valores superiores, sem fundamento legal. Ostribunais cassavam tais atos normativos e aplicavam sistematicamente o lim-ite para o valor das anuidades de 2 (duas) MVR (Maior Valor de Referência),nos termos da Lei 6.994/82. Como o MVR era uma medida de valor, pres-supondo indexação, sua extinção pela Lei 8.177/91 não impedia que seu, con-vertido em moeda corrente, fosse atualizado. Para tanto, convertia-se seu val-or em moeda corrente por ocasião da sua extinção, forte no art. 21 da Lei

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8.178/91 e, em seguida, passava-se a atualizá-lo pela UFIR. Com a extinção daUFIR, utilizava-se outro indexador, como o INPC.

664 TRF4, Corte Especial, INAMS 2006.72.00.001284-9.

665 CTN: “Art. 97. Somente a lei pode estabelecer: I – a instituição de tributos,ou a sua extinção; II – a majoração de tributos, ou sua redução; [...]; IV – a fix-ação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo [...]”

666 Sobre a inconstitucionalidade da Lei 11.000/04 e sobre o cálculo das con-tribuições com suporte na MVR, vide nossos livros: Direito Tributário, Con-stituição e Código Tributário à Luz da Doutrina e da Jurisprudência; e Contribuições,Teoria Geral e Contribuições em Espécie, publicados pela Livraria do AdvogadoEditora.

667 Lei 8.906/94: “Art. 46. Compete à OAB fixar e cobrar, de seus inscritos,contribuições, preços de serviços e multas. Parágrafo único. Constitui títuloexecutivo extrajudicial a certidão passada pela diretoria do Conselho compet-ente, relativa a crédito previsto neste artigo.”

668 STJ, Segunda Turma, Rel. Ministro CARLOS FERNANDO MATHIAS,REsp 755.595, 2008; STJ, Primeira Seção, Rel. Ministra ELIANA CALMON,EREsp 463258, 2003; STJ, Primeira Seção, Rel. Ministro CASTRO MEIRA,EREsp 503.252, 2004.

669 TRF4, Segunda Turma, relator Juiz Federal Leandro Paulsen, AMS2006.72.00.000596, 2007.

670 TRF4, Primeira Turma, relator Desembargador Federal Wellington M. deAlmeida, AC 2003.70.00.009546-4, 2004; STJ, Segunda Turma, Rel. MinistraELIANA CALMON, REsp 1101398/RS, 2009; TRF4, Primeira Turma, Rel.Desembargadora Federal MARIA LÚCIA LUZ LEIRIA, AC 2001.72.04.002064,2004; GAMBA, Luísa Hickel. Natureza Jurídica das Receitas dos Conselhos de Fis-calização Profissional. In: FREITAS, Vladimir Passos de. Conselhos de FiscalizaçãoProfissional. 2000. p. 126.

671 Súmula 666 do STF: “A contribuição confederativa de que trata o art. 8º,IV, da Constituição, só é exigível dos filiados ao sindicato respectivo”.

672 Precedente Normativo 119 do TST: “A Constituição da República, emseus arts. 5º, XX, e 8º, V, assegura o direito de livre associação e sindicaliza-ção. É ofensiva a essa modalidade de liberdade cláusula constante de acordo,convenção coletiva ou sentença normativa estabelecendo contribuição em fa-vor de entidade sindical a título de taxa para custeio do sistema confederat-ivo, assistencial, revigoramento ou fortalecimento sindical e outras da mesmaespécie, obrigando trabalhadores não sindicalizados. Sendo nulas as

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estipulações que inobservem tal restrição, tornam-se passíveis de devoluçãoos valores irregularmente descontados.”. Mas o STF decidiu:“CONTRIBUIÇÃO – CONVENÇÃO COLETIVA. A contribuição prevista emconvenção coletiva, fruto do disposto no artigo 513, alínea e, da ConstituiçãoFederal, é devida por todos os integrantes da categoria profissional, não seconfundindo com aquela versada na primeira parte do inciso IV do artigo 8ºda Carta da República.” (STF, Segunda Turma, Rel. Ministro Marco Aurélio,RE 189.960, 2000).

673 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro Eros Grau, ADI 2522, 2006.

674 STJ, Segunda Turma, Rel. Ministra ELIANA CALMON, RMS 30930/PR,2010.

675 “... não vejo como possa prosperar a ação contra municipários estatutaria-mente vinculados, ao passo que a pleiteada contribuição sindical é ônus ex-clusivo de celetistas, portanto vinculados à CLT, tanto que prevista nesta, oque, decididamente, não é a hipótese dos autos.” (excerto de voto do Des.Roque Joaquim Volkweiss por ocasião do julgamento do REO 599 211 588pela 1ª Câm. Cív. do TJRS em abr/00).

676 A contribuição de iluminação pública, diferentemente, submete-se à an-terioridade de exercício, prevista no art. 150, III, b, da CF, e, se instituída oumajorada após a EC 42/03, também à anterioridade mínima do art. 150, III, c,da CF.

677 “Não obstante o art. 149-A da Carta Magna faça menção apenas aos incs. Ie III do art. 150, penso que o legislador infraconstitucional, ao instituir a con-tribuição sob exame, considerada a natureza tributária da exação, estájungido aos princípios gerais que regem o gênero, notadamente ao da iso-nomia (art. 150, II) e ao da capacidade contributiva (art. 145, § 1º).” (Excertodo voto condutor do Min. RICARDO LEWANDOWSKI, quando do julga-mento, pelo STF, do RE 573675, mar/09).

678 “CONTRIBUIÇÃO PARA O CUSTEIO DO SERVIÇO DE ILUMINAÇÃOPÚBLICA – COSIP. ART. 149-A DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. LEICOMPLEMENTAR 7/02, DO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ, SANTACATARINA. COBRANÇA REALIZADA NA FATURA DE ENERGIAELÉTRICA. UNIVERSO DE CONTRIBUINTES QUE NÃO COINCIDE COMO DE BENEFICIÁRIOS DO SERVIÇO. BASE DE CÁLCULO QUE LEVA EMCONSIDERAÇÃO O CUSTO DA ILUMINAÇÃO PÚBLICA E O CONSUMODE ENERGIA. PROGRESSIVIDADE DA ALÍQUOTA QUE EXPRESSA ORATEIO DAS DESPESAS INCORRIDAS PELO MUNICÍPIO. OFENSA AOSPRINCÍPIOS DA ISONOMIA E DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA.INOCORRÊNCIA. EXAÇÃO QUE RESPEITA OS PRINCÍPIOS DA

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RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. RECURSOEXTRAORDINÁRIO IMPROVIDO. I – Lei que restringe os contribuintes daCOSIP aos consumidores de energia elétrica do município não ofende oprincípio da isonomia, ante a impossibilidade de se identificar e tributar to-dos os beneficiários do serviço de iluminação pública. II – A progressividadeda alíquota, que resulta do rateio do custo da iluminação pública entre osconsumidores de energia elétrica, não afronta o princípio da capacidade con-tributiva. III – Tributo de caráter sui generis, que não se confunde com umimposto, porque sua receita se destina a finalidade específica, nem com umataxa, por não exigir a contraprestação individualizada de um serviço ao con-tribuinte. IV – Exação que, ademais, se amolda aos princípios da razoabilid-ade e da proporcionalidade. V – Recurso extraordinário conhecido e im-provido.” (STF, Pleno, RE 573675, Relator(a): Min. RICARDOLEWANDOWSKI, mar/09) Veja-se excerto do voto condutor: “... respeitadosos demais princípios tributários e os critérios de razoabilidade e proporcional-idade, nada há de inconstitucional em identificarem-se os sujeitos passivos daobrigação em função de seu consumo de energia elétrica. Esta foi, aliás, a in-tenção do constituinte derivado ao criar o novo tributo, conforme se podeverificar a partir da leitura do seguinte trecho do relatório apresentado peloDeputado Custódio Mattos à PEC 559/2002: ‘A proposta, para viabilizar e fa-cilitar a efetiva implementação da contribuição, deixa explícita a faculdadelegal de cobrança na própria fatura de consumo de energia elétrica dos con-tribuinte, que, fica implícito, seriam as pessoas físicas e jurídicas consumidor-as de energia elétrica.’ Com efeito, sendo a iluminação pública um serviço utiuniversi, ou seja, de caráter geral e indivisível, prestado a todos os cidadãos,indistintamente, não se afigura possível, sob o aspecto material, inclui todosos seus beneficiários no pólo passivo da obrigação tributária.... De qualquermodo, cumpre notar que os principais beneficiários do serviço serão sempreaqueles que residem ou exercem as suas atividades no âmbito do municípioou do Distrito Federal, isto é, pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou priva-das, identificáveis por meio das respectivas faturas de energia elétrica. [...] ...O Município..., ao empregar o consumo mensal de energia elétrica de cadaimóvel, como parâmetro para ratear entre os contribuintes o gasto com aprestação do serviço de iluminação pública, buscou realizar, na prática, a al-mejada justiça fiscal, que consiste, precisamente, na materialização, no planoda realidade fática, dos princípios da isonomia tributária e da capacidadecontributiva, porquanto é lícito supor que quem tem um consumo maior temcondições de pagar mais. Por fim, cumpre repelir o último argumento do re-corrente, segundo o qual a base de cálculo da COSIP se confunde com a doICMS. Tal hipótese, permissa vênia, não ocorre no caso, porque a contribuiçãoem tela não incide propriamente sobre o consumo de energia elétrica, mascorresponde ao rateio do custo do serviço municipal de iluminação pública

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entre contribuintes selecionados segundos critérios objetivos, pelo legisladorlocal, com amparo na faculdade que lhe conferiu a EC 39/02.”

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Capítulo XVII – Taxas Instituídas

As taxas, enquanto espécies tributárias, foram tratadas noCapítulo II deste livro, em que discorremos sobre suas caracter-ísticas e sobre seu regime jurídico, distinguindo-as dos demaistributos.

Já neste capítulo, abordamos uma taxa instituída emrazão da prestação de serviço público e outra em razão do exer-cício do poder de polícia.

143. Taxa de coleta de lixo domiciliar

O art. 145, II, da Constituição outorga aos diversos entespolíticos competência para a instituição de taxas em razão daprestação de serviços públicos específicos e divisíveis. Comsuporte em tal dispositivo é que são aprovadas e publicadasleis instituidoras de taxas federais, estaduais e municipais, con-forme a competência administrativa de cada ente federado.

O recolhimento de lixo é um serviço público prestadopelos Municípios que se reveste da especificidade e divisibilid-ade autorizadora da instituição de taxa. Isso porque passa-seem cada rua para recolher o lixo de cada imóvel. O STF editou

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a Súmula Vinculante 19: “A taxa cobrada exclusivamente emrazão dos serviços públicos de coleta, remoção e tratamento oudestinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis, não vi-ola o art. 145, II, da CF”.

No Município do Rio de Janeiro, a Lei 2.687/98 institui aTaxa de Coleta Domiciliar do Lixo. Seu artigo 1º estabelece quea essa taxa “tem como fato gerador a utilização efetiva ou po-tencial do serviço público, prestado ou posto à disposição, decoleta domiciliar de lixo ordinário, a qual reúne o conjunto dasatividades de recolhimento do lixo relativo ao imóvel, do trans-porte do lixo e de sua descarga”.

Contribuinte “é o proprietário ou o titular do domínioútil ou o possuidor, a qualquer título, de unidade imobiliáriaedificada que seja alcançada pelo serviço”. Os “moradores emfavelas” são isentos. Também são isentos os templos religiosos.(art. 5º)

A taxa é devida anualmente, sendo calculada com baseem critérios que refletem o custo do serviço conforme o bairroem que se localiza o imóvel e sua destinação (art. 3º). Há re-dução em 50% da taxa devida pelas unidades autônomaspopulares.

144. Taxa de Fiscalização, Localização eFuncionamento

Os entes políticos também podem instituir taxas em razãodo exercício do poder de polícia (art. 145, II, parte inicial, daCF), ou seja, daquelas atividades administrativas de

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fiscalização relativas ao cumprimento de normas que dizem re-speito à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à discip-lina da produção e do mercado, ao exercício de atividades eco-nômicas dependentes de concessão ou autorização do PoderPúblico, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade eaos direitos individuais ou coletivos (art. 78 do CTN).

As taxas municipais que se costuma designar por taxas delocalização variam muito conforme a legislação de cada Mu-nicípio. Não se pode generalizar o tratamento da matéria. Épreciso analisar cada lei específica, atentando para o fatogerador por ela estabelecido.

O STF tem reconhecido a constitucionalidade de tais

taxas,679 mas é preciso verificar, também, por ocasião da suaaplicação, se efetivamente é realizada a atividade de fiscaliza-ção que constitui o seu fato gerador. Sem fiscalização, não é

possível a cobrança da taxa.680 Veja-se o bem lavrado preced-ente da relatoria do Min. GILMAR MENDES em sede de reper-cussão geral:

“1. Repercussão geral reconhecida. 2. Alegação de in-constitucionalidade da taxa de renovação de localizaçãoe de funcionamento do Município de Porto Velho. 3.Suposta violação ao artigo 145, inciso II, da Constitu-ição, ao fundamento de não existir comprovação doefetivo exercício do poder de polícia. 4. O texto constitu-cional diferencia as taxas decorrentes do exercício dopoder de polícia daquelas de utilização de serviços es-pecíficos e divisíveis, facultando apenas a estas aprestação potencial do serviço público. 5. A regularid-ade do exercício do poder de polícia é imprescindívelpara a cobrança da taxa de localização e fiscalização. 6.À luz da jurisprudência deste Supremo Tribunal

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Federal, a existência do órgão administrativo não é con-dição para o reconhecimento da constitucionalidade dacobrança da taxa de localização e fiscalização, mas con-stitui um dos elementos admitidos para se inferir o efet-ivo exercício do poder de polícia, exigido constitucional-mente. Precedentes. 7. O Tribunal de Justiça deRondônia assentou que o Município de Porto Velho,que criou a taxa objeto do litígio, é dotado de aparatofiscal necessário ao exercício do poder de polícia. 8.Configurada a existência de instrumentos necessários edo efetivo exercício do poder de polícia. 9. É constitu-cional taxa de renovação de funcionamento e localiza-ção municipal, desde que efetivo o exercício do poderde polícia, demonstrado pela existência de órgão e es-trutura competentes para o respectivo exercício, talcomo verificado na espécie quanto ao Município de

Porto Velho/RO”.681

A Lei 5.641/89, do Município de Belo Horizonte, que dis-põe sobre os tributos cobrados por aquele ente federado, in-stitui a Taxa de Fiscalização, de Localização e Funcionamentoem seus arts. 18 a 21 e Tabela I anexa à lei.

Seu art. 18 dispõe no sentido de que essa taxa, “fundadano poder de polícia do Município, concernente ao ordenamentodas atividades urbanas e à proteção do meio ambiente, temcomo fato gerador a fiscalização por ele exercida sobre a local-ização de estabelecimentos comerciais, industriais e deprestação de serviços, bem como sobre o seu funcionamentoem observância à legislação do uso e ocupação do solo urbanoe às posturas municipais relativas à segurança, à ordem e àtranqüilidade públicas e ao meio ambiente”.

Contribuinte é “a pessoa física ou jurídica titular dosestabelecimentos”.

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É devida por estabelecimento, anualmente, sempre noseu valor integral, “vedado o seu fracionamento em função dadata de abertura do estabelecimento, transferência de local ouqualquer alteração contratual ou estatutária”. O valor da taxa éestabelecido em tabela, conforme a metragem quadrada do es-tabelecimento. Questionado tal critério em recurso ex-traordinário, entendeu o STF que “o fato de, na fixação da taxade fiscalização e funcionamento, levar-se em conta elementopróprio ao cálculo de imposto – a metragem do imóvel –, não a

revela conflitante com a Constituição Federal”.682

Notas do Capítulo XVII

679 STF, Primeira Turma, Rel. Ministro ILMAR GALVÃO, RE 276.564, 2000;foi cancelada a Súmula 157 do STJ que dizia ser ilegítima a cobrança de taxana renovação de licança para localização de estabelecimento comercial ouindustrial.

680 TRF4, AMS 2000.04.01.071251-3/SC.

681 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro GILMAR MENDES, RE 588.322, 2010.

682 STF, Segunda Turma, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO, RE 213.552, 2000.

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Capítulo XVIII – Processo Admin-istrativo Fiscal

145. O Decreto 70.235/72

O processo administrativo fiscal não é regulado pornorma geral de direito tributário. O CTN limita-se a determinarque os atos sejam documentados e que seja fixado prazo paraexercício da fiscalização, não se ocupando, propriamente, doprocedimento.

Cada ente político estabelece o processo administrativofiscal relativo aos tributos que administra.

O Decreto 70.235/72 (Lei do Processo Administrativo Fis-cal – PAF), editado sob a égide de Atos Institucionais que del-egavam ao Executivo tal competência e recepcionado como leiordinária pela Constituição de 1988, dispõe sobre o processoadministrativo de determinação e exigência dos créditos

tributários da União.683 Os arts. 48 a 50 da Lei 9.430/96 dis-põem sobre os processos administrativos de consulta, que sãosolucionados em instância única. O Decreto 7.574/11 regula-menta o processo de determinação e exigência de créditostributários da União, o processo de consulta sobre a aplicaçãoda legislação tributária federal e outros processos sobre

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matérias administradas pela Secretaria da Receita Federal doBrasil.

Através da Lei 9.784/99, foram definidas regras para osprocessos administrativos conduzidos no âmbito da Adminis-tração Pública Federal em caráter geral, de aplicação apenassubsidiária a outros procedimentos específicos que já existiam,

como o administrativo fiscal, conforme se tira do seu art. 69.684

Havendo dispositivo específico e válido no Dec. 70.235/72, pre-valece sobre a Lei 9.784/99. No caso de lacuna, contudo, a Lei9.784/99 deve ser aplicada. Assim, aplica-se, por exemplo, seuart. 2º, que enuncia os princípios a serem observados pela Ad-ministração Pública: legalidade, finalidade, motivação, razoab-ilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contra-ditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.Também aplicam-se os critérios a serem observados nos pro-cesso administrativos, tais como a adequação entre meios efins, a indicação dos pressupostos de fato e de direito que de-terminarem a decisão, a observância das formalidades essenci-ais à garantia dos direitos dos administrados e a adoção deformas simples, suficientes para propiciar adequado grau decerteza, segurança e respeito aos direitos dos administrados.

O processo administrativo fiscal abrange todo o procedi-mento de fiscalização e de autuação (a ação fiscal) e o proces-samento da impugnação e dos recursos (a fase litigiosa).

146. Ação fiscal e autuação

O art. 196 do CTN dispõe no sentido de que “A autorid-ade administrativa que proceder ou presidir a quaisquer

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diligências de fiscalização lavrará os termos necessários paraque se documente o início do procedimento, na forma da legis-lação aplicável, que fixará prazo máximo para a conclusãodaquelas”. O Decreto 70.235/72, por sua vez, determina: “Art.7º O procedimento fiscal tem início com: I – o primeiro ato deofício, escrito, praticado por servidor competente, cientificado osujeito passivo da obrigação tributária ou seu preposto; II – aapreensão de mercadorias, documentos ou livros; III – ocomeço de despacho aduaneiro de mercadoria importada”.

Esta exigência de formalização dos diversos atos, que éregulamentada por atos normativos infralegais, demonstra queo procedimento fiscal é informado pelo “princípio document-

al”.685 Efetivamente, a ação fiscal, assim entendido o procedi-mento de fiscalização tendente a verificar se o contribuintecumpriu suas obrigações e a lançar eventuais valores devidos,é toda documentada. Desde a ordem para que seja realizada afiscalização, passando pela sua abertura, diligências, encerra-mento, conclusão e eventual complementação, tudo é formaliz-ado. Para tanto, há mandados, termos e autos próprios. O pro-cesso administrativo fiscal é autuado tal qual um processo judi-cial, recebendo numeração específica.

Os procedimentos de fiscalização são instaurados medi-ante Mandado de Procedimento Fiscal (MPF), documento esseque constitui ordem do Delegado da Receita para que umAuditor-Fiscal realize determinada fiscalização. O MPF, aomesmo tempo em que autoriza a ação do Auditor-Fiscal, delim-ita o objeto da fiscalização, definindo a abrangência do trabalhoa ser realizado. O prazo para o cumprimento do MPF-F (Fiscal-ização) é de 120 dias, prorrogáveis. Fazendo-se necessária aampliação do objeto da fiscalização para que alcance outrostributos ou períodos, expede-se um MPF-C (Complementação),sob pena de extrapolação inválida do mandado originário. A

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existência de MPF é requisito para que a fiscalização ocorra demodo válido; sua ausência implica nulidade do procedimento,

nos termo do Decreto 3.724/01.686 Mas há algumas poucas ex-ceções à exigência de prévio MPF, relacionadas à fiscalizaçãoaduaneira, a flagrantes de ilícitos e ao tratamento automáticodas declarações, as chamadas malhas finas.

Conforme destacamos alhures, “a ação fiscal poderáabranger apenas os tributos e períodos de apuração constantesno MPF, não sendo legítima a pretensão de, sem novo e prévioMPF com abrangência mais ampla, o setor de fiscalização exigirdo sujeito passivo informações e esclarecimentos sobre tributose períodos não abrangidos pelo MPF. Essa limitação está intim-amente ligada à finalidade de controle administrativo em quese fundou a criação do MPF. O contribuinte tem o direito, in-clusive, de não fornecer informações e documentos que sejampertinentes a tributo ou a período não abrangidos pelo MPF,com a cautela de, em resposta a eventual intimação neste sen-tido, destacar em resposta que o fundamento da recusa é justa-mente a inexistência de prévio MPF com a abrangência preten-

dida”.687

No âmbito dos tributos administrados pela Secretaria daReceita Federal (SRF), o auditor-fiscal, tendo em mãos o MPF,dá início à fiscalização através do Termo de Início de Ação Fis-cal (TIAF), notificando o sujeito passivo para apresentar a doc-umentação e os livros que necessita analisar. Lavrado o TIAF enotificado o contribuinte, que nele apõe sua assinatura, restaafastada a possibilidade de denúncia espontânea das in-

frações688 relativamente ao objeto do MPF que delimita a fisc-alização. A retomada do estado de espontaneidade se dá nocaso de inércia da autoridade por sessenta dias, nos termos doart. 7º, § 2º, do Dec. 70.235/72.

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A não apresentação, pelo contribuinte, dos elementos so-licitados, implica descumprimento de obrigação tributáriaacessória, podendo configurar, por si só, infração autônoma

sujeita a multa.689 Além disso, a falta de elementos para a an-álise da real atividade econômica desenvolvida pelo con-

tribuinte dá ensejo ao arbitramento dos tributos devidos.690 Aautoridade realiza o arbitramento estimando qual tenha sido abase de cálculo a partir de algum dado conhecido da contabil-idade ou da atividade da empresa, o que, muitas vezes, tam-bém é chamado de aferição indireta. Embora não tenha caráterpunitivo, o arbitramento costuma ser bastante gravoso.

Realizados os levantamentos de dados necessários à veri-ficação das obrigações tributárias do contribuinte relativamenteao tributo e período especificados no MPF, o auditor lavrará oTermo de Encerramento de Ação Fiscal (TEAF). No Termo, éenunciada a conclusão sobre a ocorrência de infração quanto àsobrigações principais (pagamento de tributo e multa) ouacessórias (deveres formais). Na hipótese de ser verificada aocorrência de infração, é lavrado Auto de Infração (AI), docu-mento que formaliza a constituição do crédito, apontando otributo devido e aplicando a multa. O Auto de Infração, port-anto, consubstancia lançamento de ofício do crédito tributário.

O Auto de Infração tem de satisfazer requisitos mínimosestabelecidos no art. 10 do PAF, devendo apontar: qualificaçãodo autuado, descrição dos fatos, fundamentação legal daexigência do tributo e da multa, montante devido, notificaçãopara pagamento ou impugnação, identificação do autuante,local, data e assinatura. Como se vê, não se trata de nada quenão seja absolutamente necessário para a compreensão dolançamento e verificação da sua regularidade, ensejando o ex-ercício do direito de defesa.

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É importante considerar que o AI normalmente é acom-panhado de documentos que detalham o trabalho realizado e aexigência fiscal. O primeiro deles é o Relatório Fiscal que in-dica o modo como foram apurados os créditos, as razões dedireito e de fato que lhe dão sustentação. O segundo é o Dis-criminativo de Débito, com o detalhamento dos valoresdevidos, por competência, a partir de seus valores originários.A verificação acerca do cumprimento dos requisitos járeferidos, estampados no art. 10 do PAF, faz-se à vista de todoeste conjunto documental, ou seja, do AI com os seus anexos.

Conforme já ressaltado, a notificação ao contribuinteconclui o procedimento de lançamento, estando, para o lança-mento, como a publicação está para a lei; sem ela, não se temlançamento concluído, mas um procedimento inacabado e in-

eficaz.691 A notificação, portanto, é essencial para que se tenhapor efetivamente lançado o tributo e, assim, exercido pelo Fiscoo direito de constituir o crédito tributário, afastando o decurso

do prazo decadencial.692 Embora o Dec. 70.235/72 cuide da no-tificação em artigo específico (art. 11), exigindo os mesmos re-quisitos do Auto de Infração, normalmente ela se dá mediantea simples ciência do contribuinte aposta no próprio Auto de In-fração, não constituindo documento autônomo.

Caso o auditor-fiscal verifique a ocorrência de outras in-frações para cuja autuação não seja competente, por ser dacompetência territorial de outra Delegacia ou de natureza crim-inal, representará ao Delegado da Receita Federal do Brasilpara que este dê ciência às autoridades competentes.

147. Notificações e intimações

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As notificações e intimações para apresentação de docu-mentos, ciência de decisões, pagamento, oferecimento de im-pugnação ou recurso e para o que mais se fizer necessário noprocesso administrativo fiscal, são regidas pelo art. 23 do Dec.70.235/72.

Podem ser feitas, alternativamente:

• de modo pessoal, pelo próprio autor do procedimentoou por agente do órgão preparador, provada comassinatura do sujeito passivo, seu mandatário oupreposto;

• por via postal, com prova de recebimento no domicíliopessoal do sujeito passivo;

• por meio eletrônico, com prova de recebimento medi-ante envio ou domicílio tributário do sujeito passivo ouregistro em meio magnético ou equivalente utilizadopelo sujeito passivo.

Note-se que a intimação ou notificação não ocorrerá ne-cessariamente na pessoa do representante legal da pessoajurídica, podendo dar-se na pessoa de preposto ou, se postal oueletrônica, pelo recebimento no domicílio do contribuinte.

A notificação ou intimação poderá ser feita, ainda, por ed-ital, mas apenas excepcionalmente, quando resultar im-profícuo um dos meios ordinários, conforme o § 1º do mesmoart. 23.

148. Fase litigiosa: impugnação, instrução erecursos

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O contribuinte tem o prazo de trinta dias, contados da no-tificação do Auto de Infração, para apresentar impugnação porescrito, instruída com a prova documental das suas alegações,

nos termos do art. 15 do Dec. 70.235/72.693 As impugnaçõessão dirigidas à Delegacia da Receita Federal do Brasil deJulgamentos.

Não apresentada impugnação tempestivamente, precluio direito do contribuinte de se opor administrativamente con-tra a exigência tributária. Com isso, considera-se o créditotributário definitivamente constituído. Passa a correr, então, oprazo prescricional quinquenal, nos termos do art. 174 do CTN.Nesse prazo, o Fisco deve proceder à cobrança do crédito, sejaamigavelmente através de Aviso de Cobrança, seja judicial-mente mediante inscrição em dívida ativa e subsequenteajuizamento de execução judicial pelo rito da Lei 6.830/80.

Quando for oferecida impugnação parcial, a parte nãoimpugnada poderá ser de pronto exigida. O art. 21, § 1º, do

Dec. 70.235/72694 determina que, antes da remessa dos autospara julgamento, sejam formados autos apartados para imedi-ata cobrança da parte não impugnada. Nos termos do art. 17 doDec. 70.235/72, considera-se não impugnada a matéria que nãotenha sido expressamente contestada pelo impugnante. Assim,quanto às rubricas não impugnadas, não há suspensão da exi-gibilidade do crédito, nada impedindo a sua cobrança, tampou-co o curso do prazo prescricional relativamente a tal valor.

Apresentada impugnação tempestiva, parcial ou total,considera-se instaurada a fase litigiosa do processo adminis-

trativo fiscal,695 suspendendo-se a exigibilidade do crédito

tributário, conforme estabelecido pelo art. 151, III, do CTN.696

Impugnação apresentada fora do prazo, contudo, não temefeito suspensivo.

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A impugnação deve indicar a autoridade julgadora, qual-ificar o contribuinte impugnante, apresentar as razões de fato ede direito que fundamentam a insurgência, especificar a sua ex-tensão e apontar as diligências e prova pericial pretendidas,com a devida justificação, formulação de quesitos e indicação

de assistente técnico.697 O art. 16 do Dec. 70.235/72 é que ar-rola os requisitos da impugnação. Com a impugnação, neces-sariamente, devem ser anexadas a documentação com-probatória da regularidade da representação do contribuinte(estatutos, atas de eleição da diretoria e, se for o caso, procur-ação ao advogado) e a prova documental (elementos contábeis,guias de pagamento etc.).

A instrução probatória no processo administrativo émuito semelhante à do processo civil.

A prova documental deve ser apresentada já com a im-

pugnação,698 sob pena de preclusão, salvas as hipóteses deforça maior, fato ou direito superveniente, ou, ainda, contra-posição a fatos ou razões posteriormente trazidas aos autos.Porém, tendo em conta que o processo administrativo se regepelo princípio da verdade material, cabe ao Fisco reconhecereventual nulidade ou excesso, inclusive para evitar que tal sedê mediante ação judicial com encargos sucumbenciais. Ade-mais, pode ser determinada, inclusive de ofício, a realização deprovas para a elucidação dos fatos. Tenha-se em conta, ainda,que os documentos que dizem respeito ao cumprimento deobrigações são do conhecimento de ambas as partes. Tudo issojustifica que a autoridade leve em consideração documentaçãoacostada posteriormente à impugnação. Não é por outra razãoque o art. 3º, III, da Lei 9.784/99, que cuida do processo admin-istrativo em geral, autoriza expressamente a consideração dadocumentação acostada até o momento do julgamento.

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O pedido de prova pericial é apreciado pela autoridadejulgadora que pode indeferi-la se impertinente, prescindível ouimpraticável, sem que tal implique violação à ampla defesa. Amenos que a prova seja pertinente e decisiva para a solução daquestão, não há que se falar em cerceamento de defesa, poiseste diz respeito à prova útil. Pode a autoridade, também, de-terminar de ofício a realização de diligências ou de perícias,cabendo-lhe, neste caso, oportunizar ao contribuinte a formu-lação de quesitos e a indicação de assistente técnico.

Encerrada a instrução, a impugnação699 é julgada poruma das Turmas da Delegacia da Receita de Julgamentos.Note-se que, no processo administrativo fiscal relativo aoscréditos da União, o julgamento é sempre colegiado, desde aprimeira instância.

Os recursos das decisões de primeira instância são diri-gidos a uma das Seções do Conselho Administrativo de Re-cursos Fiscais e os recursos especiais, destinados à uniformiza-ção da jurisprudência, à sua Câmara Superior de Recursos Fis-cais. O Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, con-hecido por CARF, foi criado pela Lei 11.941/09 em substituiçãoaos anteriores Conselhos de Contribuintes. O Regimento Inter-no do CARF consta da Portaria MF 256/09.

Tanto o prazo para impugnação como para a interposiçãode recurso é de 30 dias, nos termos dos artigos 15 e 33 do Dec.70.235/72. O prazo para o recurso especial, contudo, é de 15 di-as, estabelecido pelo art. 37, § 2º, do mesmo diploma.

O condicionamento do recurso ao arrolamento de bensequivalente a 30% da exigência fiscal definida na decisão, es-tabelecido pelo art. 33, § 2º, do Dec. 70.235/72, com a redaçãoda Lei 10.522/02, foi declarado inconstitucional pelo STF.Assim, não pode ser exigida qualquer garantia para o recebi-mento de recurso. Eis a Súmula Vinculante 21 do STF: “É

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inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévi-os de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso admin-istrativo”. A Súmula 373 do STJ já dispunha: “É ilegítima aexigência de depósito prévio para admissibilidade de recursoadministrativo”.

Decorrido o prazo de intimação das decisões da Delegaciade Julgamentos ou decididos os recursos pelo CARF por de-cisão não mais sujeita a recurso (art. 42 do Dec. 70.235/72),resta concluído o processo administrativo e definitivamenteconstituído o crédito tributário.

Há fundamento para entendermos que a conclusão doprocesso administrativo fiscal deve se dar no prazo máximo decinco anos contados da data em que tenha sido iniciada a fiscal-ização, ou seja, da data da lavratura do Termo de Início deAção Fiscal de que tenha resultado o lançamento, sob pena de

perempção, forte no parágrafo único do art. 173 do CTN.700 Ajurisprudência, contudo, é no sentido de que não corre prazodurante o processo administrativo fiscal, servindo, o pará-grafo único do art. 173, apenas para antecipar o início do prazodecadencial quando a fiscalização se inicie antes do termoprevisto no inciso I do caput.

149. Nulidades no processo administrativo-fiscal

O reconhecimento da nulidade do processo administrat-ivo fiscal não deve ocorrer em função de simples irregularid-ades formais que não sejam capazes, por si só, de comprometera sua lisura, sua finalidade e sua legitimidade. O art. 59 do

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Decreto 70.235/72 só autoriza o reconhecimento de nulidadequando verificada:

• incompetência do servidor que praticou o ato, lavrou

termo ou proferiu o despacho ou decisão;701 ou

• violação ao direito de defesa do contribuinte em face dequalquer outra causa, como vício na motivação dosatos (ausência ou equívoco na fundamentação legal doauto de infração), indeferimento de prova pertinente enecessária ao esclarecimento dos fatos, falta de apre-

ciação de argumento de defesa do contribuinte.702 703

Não há requisitos de forma que impliquem nulidade demodo automático e objetivo. A nulidade não decorre propria-mente do descumprimento de requisito formal, mas dos seusefeitos comprometedores do direito de defesa assegurado con-stitucionalmente ao contribuinte já por força do art. 5º, LV, daCF. Isso porque as formalidades se justificam como garantidor-as da defesa do contribuinte; não são um fim, em si mesmas,mas instrumentos para assegurar o exercício da ampla defesa.

Alegada eventual irregularidade, cabe, à autoridade ad-ministrativa ou judicial, verificar se implicou efetivo prejuízo à

defesa do contribuinte.704 Regem-se as nulidades do processoadministrativo, portanto, pelo princípio da instrumentalidadedas formas.

Ademais, não se declara qualquer nulidade quando sepode decidir o processo administrativo ou judicial, quanto à

questão material, a favor do sujeito passivo.705

A declaração de nulidade, portanto, é excepcional, sótendo lugar quando o processo não tenha tido aptidão para at-ingir os seus fins sem ofensa aos direitos do contribuinte.

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Os efeitos da declaração de nulidade ficam restritos aopróprio ato viciado e aos posteriores que dele dependam ou

que dele tenham decorrido,706 nos termos, aliás, do que se fazno âmbito do processo civil (arts. 248 e 249 do CPC).

Cabe destacar que a anulação do lançamento por vícioformal reabre o prazo decadencial (art. 173, II, do CTN).

Notas do Capítulo XVIII

683 Para comentários sobre cada um dos artigos do Dec. 70.235/72 (PAF),vide nosso livro, escrito com René Bergmann Ávila e Ingrid Sliwka. DireitoProcessual Tributário: Processo Administrativo Fiscal e Execução Fiscal à Luzda Doutrina e da Jurisprudência. 7ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado,2012.

684 Lei 9.784/99: “Art. 1º Esta Lei estabelece normas básicas sobre o processoadministrativo no âmbito da Administração Federal direta e indireta, vis-ando, em especial, à proteção dos direitos dos administrados e ao melhorcumprimento dos fins da Administração. [...] Art. 69. Os processos adminis-trativos específicos continuarão a reger-se por lei própria, aplicando-se-lhesapenas subsidiariamente os preceitos desta Lei.”

685 AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 15ª ed. São Paulo: Saraiva,2009, p. 482.

686 PAULSEN, Leandro; ÁVILA, René Bergmann; SLIWKA, Ingrid Schroder.Direito Processual Tributário: Processo Administrativo Fiscal e Execução Fiscalà Luz da Doutrina e da Jurisprudência. 7ª ed. Porto Alegre: Livraria do Ad-vogado, 2012, nota ao art. 7º, I, do PAF, p. 27.

687 PAULSEN, Leandro; ÁVILA, René Bergmann; SLIWKA, Ingrid Schroder.Idem, nota ao art. 7º, I, do PAF, p. 26.

688 Art. 138 do CTN e Art. 7º, § 1º, do Dec. 70.235/72 (PAF).

689 Art. 32-A da Lei 8.212/91, com a redação da Lei 11.941/09.

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690 Art. 148 do CTN.

691 “AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO. VIOLAÇÃO À AMPLA DEFESA ECONTRADITÓRIO. VÍCIO NO PRÓPRIO LANÇAMENTO... 1. A ampla de-fesa e o contraditório, corolários do devido processo legal, postulados comsede constitucional, são de observância obrigatória tanto no que pertine aos‘acusados em geral’ quanto aos ‘litigantes’, seja em processo judicial, seja emprocedimento administrativo. 2. Insere-se nas garantias da ampla defesa e docontraditório a notificação do contribuinte do ato de lançamento que a ele re-speita. A sua ausência implica a nulidade do lançamento e da Execução Fiscalnele fundada. 3. A notificação do lançamento do crédito tributário constituicondição de eficácia do ato administrativo tributário, mercê de figurar comopressuposto de procedibilidade de sua exigibilidade...” (Superior Tribunal deJustiça, Primeira Turma, Rel. Ministro LUIZ FUX, REsp 1073494, 2010)

692 Súmula 153 do extinto TFR: “Constituído, no qüinqüênio, através de autode infração ou notificação de lançamento, o crédito tributário, não há falar emdecadência, fluindo, a partir daí, em princípio, o prazo prescricional, que, to-davia, fica em suspenso, até que sejam decididos os recursos administrat-ivos.” Do STJ, vide REsp 445.137 e REsp 83.984; do STF, RE 95.365.

693 Art. 15. A impugnação, formalizada por escrito e instruída com os docu-mentos em que se fundamentar, será apresentada ao órgão preparador noprazo de 30 (trinta) dias, contados da data em que for feita a intimação daexigência.

694 Art. 21. Não sendo cumprida nem impugnada a exigência, a autoridadepreparadora declarará a revelia, permanecendo o processo no órgão pre-parador, pelo prazo de trinta dias, para cobrança amigável. § 1º No caso deimpugnação parcial, não cumprida a exigência relativa à parte não litigiosado crédito, o órgão preparador, antes da remessa dos autos a julgamento,providenciará a formação de autos apartados para a imediata cobrança daparte não contestada, consignando essa circunstância no processo original. §2º A autoridade preparadora, após a declaração de revelia e findo o prazoprevisto no caput deste artigo, procederá, em relação às mercadorias e outrosbens perdidos em razão de exigência não impugnada, na forma do artigo 63.(Redação dada ao caput, §§ 1º e 2º pela Lei 8.748, de 09.12.1993.) § 3º Esgotadoo prazo de cobrança amigável sem que tenha sido pago o crédito tributário, oórgão preparador declarará o sujeito passivo devedor remisso e encaminharáo processo à autoridade competente para promover a cobrança executiva. (Oart. 5º do DL 1.715/79 extinguiu a declaração de devedor remisso.) § 4º O dis-posto no parágrafo anterior aplicar-se-á aos casos em que o sujeito passivonão cumprir as condições estabelecidas para a concessão de moratória. § 5º Aautoridade preparadora, após a declaração de revelia e findo o prazo previsto

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no caput deste artigo, procederá, em relação às mercadorias ou outros bensperdidos em razão de exigência não impugnada, na forma do artigo 63.

695 Art. 14. A impugnação da exigência instaura a fase litigiosa doprocedimento.

696 Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário: [...] III – as re-clamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processotributário administrativo.

697 Art. 16 [...] IV – as diligências, ou perícias que o impugnante pretenda se-jam efetuadas, expostos os motivos que as justifiquem, com a formulação dosquesitos referentes aos exames desejados, assim como, no caso de perícia, onome, o endereço e a qualificação profissional do seu perito. (Redação dadaao inciso pela Lei 8.748, de 09.12.1993, DOU 10.12.1993)

698 Art. 16 [...] § 4º A prova documental será apresentada na impugnação,precluindo o direito de o impugnante fazê-lo em outro momento processual,a menos que: a) fique demonstrada a impossibilidade de sua apresentaçãooportuna, por motivo de força maior; b) refira-se a fato ou a direito super-veniente; c) destine-se a contrapor fatos ou razões posteriormente trazidas aosautos. (Parágrafo e alíneas acrescentados pela Lei 9.532, de 10.12.1997.) § 5º Ajuntada de documentos após a impugnação deverá ser requerida à autoridadejulgadora, mediante petição em que se demonstre, com fundamentos, a ocor-rência de uma das condições previstas nas alíneas do parágrafo anterior. § 6ºCaso já tenha sido proferida a decisão, os documentos apresentados permane-cerão nos autos para, se for interposto recurso, serem apreciados pela autorid-ade julgadora de segunda instância. (§§ 5º e 6º acrescentado pela Lei 9.532, de10.12.1997)

699 Ou “manifestação de inconformidade”, em matéria de compensações (art.74, § 11, da Lei 9.430/96).

700 GRECO, Marco Aurélio. Princípios Tributários no Direito Brasileiro e Com-parado – Estudos jurídicos em homenagem a Gilberto de Ulhôa Canto. Rio deJaneiro: Forense, 1988, p. 502 e segs.

701 É nula, por força do disposto no inciso I do art. 59, do Decreto 70.235/72,a decisão proferida por Delegado da Receita Federal de Julgamento queagrava o crédito tributário, por faltar-lhe competência para lançar imposto oucontribuições, atribuição da esfera das Delegacias e Inspetorias da ReceitaFederal”. (1º CC, 7ª C, Ac. 107-03.821)

702 “[...] a falta de apreciação de argumentos expendidos na peça impug-natória acarreta nulidade da decisão proferida em primeira instância.

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Preliminar acolhida. Decisão anulada.” (1º CC – Ac. 104-17.515 – 4ª C. – Rel.Nelson Mallmann – DOU 28.11.2000 – p. 9).

703 Dec. 70.235/72: Art. 59. São nulos: I – os atos e termos lavrados por pess-oa incompetente; II – os despachos e decisões proferidos por autoridade in-competente ou com preterição do direito de defesa.

704 Dec. 70.235/72: Art. 60. As irregularidades, incorreções e omissões difer-entes das referidas no artigo anterior não importarão em nulidade e serãosanadas quando resultarem em prejuízo para o sujeito passivo, salvo se estelhes houver dado causa, ou quando não influírem na solução do litígio.

705 Dec. 70.235/72: Art. 59 [...] § 3º Quando puder decidir no mérito a favordo sujeito passivo a quem aproveitaria a declaração de nulidade, a autoridadejulgadora não a pronunciará nem mandará repetir o ato ou suprir-lhe a falta.(Parágrafo acrescentado pela Lei 8.748, de 09.12.1993)

706 Dec. 70.235/72: Art. 59 [...] § 1º A nulidade de qualquer ato só prejudicaos posteriores que dele diretamente dependam ou sejam consequência. § 2ºNa declaração de nulidade, a autoridade dirá os atos alcançados, e determin-ará as providências necessárias ao prosseguimento ou solução do processo.

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Capítulo XIX – Processo JudicialTributário

150. Ações do fisco e do contribuinte

O art. 5º, XXXV, da Constituição de 1988 assegura a todosamplo acesso ao Judiciário. Não apenas a lesão a direito, mas aprópria ameaça de lesão já revela interesse processual e é dignade tutela. Ademais, todos os atos administrativos estão sujeitos

ao controle jurisdicional.707

Ao Fisco, no Brasil, não é dado proceder à execução ad-ministrativa. Mas a legislação permite que constitua seupróprio título executivo e estabelece rito especial para a “co-brança” do crédito tributário, que é feita através da ação de ex-ecução fiscal. Pode o Fisco, ainda, buscar em Juízo o acautela-mento da execução através de medida cautelar fiscal. E oprotesto judicial, por sua vez, pode lhe ser útil para a inter-rupção do prazo prescricional (art. 174, parágrafo único, II, doCTN).

Ao contribuinte é dado ir a Juízo preventivamente, paraevitar a exigência de tributo tido por indevido, ou posterior-mente, buscando a anulação de eventual lançamento. Mas adiscussão judicial do crédito tributário, por si só, não é causa

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impeditiva nem suspensiva da sua exigibilidade,708 o que de-pende da concessão de liminar ou antecipação de tutela (art.151, IV e V) ou de depósito do montante integral (art. 151, II, doCTN).

Não se exige do contribuinte, em qualquer caso, o exauri-mento da esfera administrativa como condição para o ingresso

em Juízo.709 As ações do contribuinte também não podem ja-mais ser condicionadas a depósito prévio do valor do débito.O art. 38 da Lei 6.830/80 estabeleceu tal condição para a ação

anulatória e foi declarado inconstitucional.710 O art. 19 da Lei8.870/94 o fez relativamente às ações que tivessem por objeto adiscussão de contribuições previdenciárias e padece do mesmovício. O STF consolidou seu entendimento sobre a matéria naSúmula Vinculante 28: “É inconstitucional a exigência de de-pósito prévio como requisito de admissibilidade de ação judi-cial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de créditotributário”.

O ajuizamento de ação judicial, porém, “importa emrenúncia ao poder de recorrer na esfera administrativa e de-sistência do recurso acaso interposto”, conforme dispõe ex-pressamente o parágrafo único do art. 38 da LEF. Isso porque oato administrativo pode ser controlado pelo Judiciário e apenasa decisão deste é que se torna definitiva, com o trânsito em jul-gado, prevalecendo sobre eventual decisão administrativa quetenha sido tomada ou pudesse vir a ser tomada. Entretanto, oefeito de renúncia pressupõe identidade de objeto nas dis-cussões administrativa e judicial. Caso a ação anulatória fira,e.g., a questão da constitucionalidade da norma tributária im-positiva e o recurso administrativo se restrinja a discussõesquanto à apuração do valor devido, em razão de questões defato, não haverá a identidade que tornaria sem sentido a con-comitância das duas esferas.

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Para a discussão judicial das relações jurídico-tributárias,podem ser utilizados os mais diversos instrumentos proces-suais, como a ação declaratória e a anulatória, tendo larga ap-licação, ainda, o mandado de segurança.

Todos os sujeitos passivos obrigados ao pagamento têmlegitimidade para discutir a obrigação tributária, ajuizando,por exemplo, ação declaratória ou mandado de segurança.Quanto à ação de repetição de indébito ou de compensação, aanálise da legitimidade depende da verificação do regimejurídico do tributo, se é ou não daqueles para os quais a lei de-termina a transferência do ônus econômico. Em caso positivo,incide o art. 166, que, interpretado em combinação com o art.165, estabelece a legitimidade de quem tenha suportado o ônuseconômico, seja o próprio contribuinte, o substituto, o respon-sável ou mesmo o chamado contribuinte de fato. Analisamos amatéria com detalhamento no item em que tratamos do paga-mento indevido e do direito à repetição do indébito.

Quanto à legitimidade passiva para essas ações, é lógicoque figure como demandado o sujeito ativo da relação jurídico-tributária, ou seja, o credor do tributo. Assim, a ação declar-atória de inexistência de obrigação tributária deve ser ajuizadacontra o sujeito ativo a quem cabe fiscalizar e exigir o paga-mento do tributo. O mandado de segurança, por sua vez, deveser impetrado contra ato da autoridade que, em nome da pess-oa jurídica de direito público credora, exige o pagamento dotributo e que tem a prerrogativa de autuar o impetrante.Mesmo a ação de repetição de indébito deveria ser direcionadacontra o sujeito ativo, buscando, este, posteriormente, o ressar-cimento contra o destinatário do produto ao qual tivesse repas-sado os valores. O destinatário do produto da arrecadação nãodeveria integrar a lide, não sendo admitido senão como assist-ente simples, porque não integra a relação jurídico-tributária.Mas não há uma posição clara e consistente dos tribunais

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acerca deste ponto. Relativamente a alguns tributos, entendemque deve haver litisconsórcio passivo necessário entre o sujeitoativo da relação tributária e o destinatário do produto, princip-almente nas ações em que há pedido de repetição ou de com-

pensação de indébito.711 Em outros, entendem que a ação deveser ajuizada direta e exclusivamente contra o destinatário,como no caso do IR, de competência da União, que tem a Uniãocomo sujeito ativo, mas que é retido pelos Estados ou pelosMunicípios de seus servidores, por serem tais estes políticos osdestinatários do produto de tal arrecadação em razão do quedispõem os artigos 157, I, e 158, I, da CF. Veja-se a Súmula 447do STJ: “Os Estados e o Distrito Federal são partes legítimas naação de restituição de imposto de renda retido na fonte pro-posta por seus servidores”.

151. Medida cautelar fiscal

A Lei 8.397/92 cuida da chamada Medida Cautelar Fiscal.Com fundamento nesta lei, a União, os Estados, o Distrito

Federal e os Municípios, bem como suas autarquias, comosujeitos ativos de obrigações tributárias, podem buscaracautelar os seus créditos quando o sujeito passivo pratiqueatos que dificultem ou impeçam a sua satisfação. São casoscomo o do devedor que se ausenta visando a elidir o adimple-mento da obrigação, que põe ou tenta por seus bens em nomede terceiros, que possui débitos superiores a 30% do seu pat-rimônio conhecido ou que tem sua inscrição no cadastro decontribuintes declarada inapta pela Fazenda, dentre outros (art.2º).

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Esta ação cautelar, via de regra, pressupõe créditostributários já constituídos (arts. 1º e 3º), ou seja, declaradospelo contribuinte ou lançados pelo Fisco. Há apenas duashipóteses, decorrentes das alterações impostas pela Lei 9.532/

97,712 em que, excepcionalmente, o legislador admite o seu usoantes mesmo da constituição do crédito (parágrafo único doart. 1º): a do contribuinte que põe seus bens em nome de ter-ceiros e a daquele que aliena bens ou direitos sem proceder àcomunicação devida ao órgão da Fazenda Pública (caso dosbens objeto de arrolamento administrativo).

Deve o Fisco demonstrar a necessidade da medida, pois a“Medida Cautelar Fiscal não é meio útil para atender aoscaprichos do Fisco, exacerbando as suas atribuições de cobrar otributo devido, ao ultrapassar os limites do devido processo

legal”.713

O crédito e as situações referidas devem ser provadosdocumentalmente pelo Requerente (art. 3º). A indisponibilid-ade recairá sobre os bens do ativo permanente da pessoa

jurídica (art. 4º, § 1º), salvo em situações excepcionais,714 sendolevada a registro perante o registro de imóveis e outras re-partições competentes (art. 4º, § 3º).

A indisponibilidade poderá ser estendida ao acionistacontrolador e àquelas pessoas que tenham poderes de gestão,“desde que demonstrado que as obrigações tributárias resul-taram de atos praticados com excesso de poderes ou infraçãode lei, contrato social ou estatutos (responsabilidade pessoal),

nos termos do artigo 135, do CTN”.715

Pode o Requerido pleitear a substituição da indisponibil-idade determinada pelo Juízo pelo oferecimento de garantia,ouvida a Fazenda Pública (art. 10).

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A medida cautelar fiscal concedida conserva sua eficáciamesmo que seja suspensa a exigibilidade do crédito tributário.Mas, quando preparatória, perde sua eficácia se a execução nãofor ajuizada até, no máximo, sessenta dias após o lançamentotornar-se irrecorrível na esfera administrativa. Daí por que oart. 46 do Decreto 7.574/11 determina que seja ajuizada a ex-ecução no prazo de sessenta dias “contados da data em que aexigência se tornar irrecorrível na esfera administrativa”.

Também pode, a ação cautelar fiscal, ser ajuizada nocurso do processo de execução. Em qualquer caso (preparatóriaou incidental), o juízo competente para a ação cautelar fiscal éo mesmo da execução fiscal (art. 5º). Cabe destacar, nos termosdo art. 578 do CPC, que, na execução fiscal, o Fisco pode escol-her qualquer dos domicílios do réu ou, ainda, ajuizar a ação“no foro do lugar em que se praticou o ato ou ocorreu o fatoque deu origem à dívida, embora nele não mais resida o réu,ou, ainda, no foro da situação dos bens, quando a dívida delesse originar”. O Fisco não está adstrito à autonomia dos es-tabelecimentos, possuindo, isto sim, “discricionariedade paraajuizar a execução em qualquer dos domicílios tributários do

devedor”.716

152. Execução fiscal

A ação de execução fiscal é a via processual adequadapara o sujeito ativo da relação tributária, munido da Certidãode Dívida Ativa (CDA) como título executivo extrajudicial,buscar a satisfação compulsória do seu crédito perante osujeito passivo, seja contribuinte ou responsável tributário. A

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execução fiscal também se presta para a cobrança da dívidaativa não tributária.

A CDA deve revestir-se de certeza, liquidez e exigibilid-ade. Quando suspensa a exigibilidade por alguma das causasprevistas no art. 151 do CTN, já não mais poderá ser ajuizadaexecução fiscal ou, se ajuizada, deverá ser suspensa, carenteque estará, o título, de um dos requisitos que dele se exige.

A execução fiscal é regrada pela Lei 6.830/80, denominadaLei de Execução Fiscal (LEF), aplicando-se, ainda, subsidiaria-mente, o CPC, especialmente os dispositivos que regulam a ex-ecução de título extrajudicial.

As execuções fiscais movidas pela União ou por autar-quias federais são, via de regra, ajuizadas na Justiça Federal,mas a Justiça Estadual tem competência delegada para proces-sar aquelas cujo executado tenha domicílio em cidade que nãoseja sede de Vara Federal. A União não goza de imunidade àtaxa judiciária, tampouco pode isentar-se de tal tributo (art.151, I, da CF) e, portanto, terá de suportar as custas na JustiçaEstadual, a menos que lei estadual a isente. Pode a União optarpor ajuizar a execução na sede da Vara Federal, mas, nestecaso, se o executado opuser exceção de incompetência, o feitoterá de ser remetido ao Juízo Estadual da sede do seudomicílio.

Deve ser ajuizada a execução – e obtido o despacho orde-nando a citação (art. 174, parágrafo único, I, do CTN) – noprazo de cinco anos contados da constituição definitiva docrédito, nos termos do art. 174 do CTN, ou seja, da conclusãodo processo administrativo. Quando formalizado o crédito por

declaração do contribuinte, o prazo conta da declaração.717 OSTJ entende que a demora da máquina judiciária em praticar osatos processuais não pode prejudicar o credor que tenha ajuiz-ado a execução tempestivamente, razão pela qual aplica sua

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Súmula 106 também à execução fiscal:718 “Proposta a ação noprazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, pormotivos inerentes ao mecanismo da Justiça, não justifica o acol-himento da arguição de prescrição ou decadência”.

Cita-se o executado para, no prazo de cinco dias, pagar adívida ou garantir a execução mediante depósito em dinheiro,fiança bancária ou nomeação de bens à penhora. Nos termos daSúmula 414 do STJ, “A citação por edital na execução fiscal écabível quando frustradas as demais modalidades”.

O executado tem o dever de colaborar com a execução,sendo que a não indicação de bens sujeitos ou da respectivalocalização é considerada atentatória à dignidade da justiça, en-sejando a aplicação de multa, conforme os arts. 656, § 1º, e 601do CPC, também aplicáveis à execução fiscal.

Caso o executado não pague nem indique bens à penhoraou sejam estes insuficientes para a satisfação do crédito,procede-se à decretação da indisponibilidade dos seus bens,forte no que determina o art. 185-A do CTN, utilizando-se osistema BACEN-JUD para tanto. Identificam-se, assim, even-tuais bens do executado que não tenham sido oferecidos à pen-hora, com destaque para os depósitos em dinheiro, preferenci-ais na ordem de penhora.

Aos embargos é atribuído efeito suspensivo quando es-teja garantido o juízo e haja forte fundamento nas razões doembargante (vide adiante o item específico sobre os embargos àexecução). Não sendo atribuído efeito suspensivo aos embar-gos ou sendo estes rejeitados liminarmente ou julgados impro-cedentes, a execução prossegue, realizando-se leilão dos bens.

Na execução fiscal, mesmo a venda de bens imóveis faz-se por leilão, não se utilizando a denominação “praça”.

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O crédito tributário é preferencial, salvo relativamenteaos créditos trabalhistas e aos de acidente do trabalho e, nafalência, também aos cobertos por garantia real. A execuçãofiscal não se sujeita a concurso de credores, prosseguindo inde-pendentemente da existência de um juízo universal.

Na hipótese de não serem encontrados o devedor ou benssobre os quais possa recair a penhora, a execução é suspensapelo juiz, por um ano, nos termos do art. 40 da Lei 6.830/80(LEF), para que o credor possa realizar diligências adminis-trativas e obter informações que permitam o prosseguimentodo feito. De tal suspensão deverá ser intimada a FazendaPública. Decorrido o prazo sem que nada seja requerido quepermita o prosseguimento, o juiz procede ao chamado arquiva-mento administrativo dos autos, ou seja, ao arquivamento naprópria Vara, sem baixa na distribuição. Cuida-se de uma es-pécie de sobrestamento qualificado. A execução pode retomarseu curso a qualquer tempo a pedido da Fazenda exequente.Mas, se o feito ficar parado por mais de cinco anos, o juiz de-verá intimar a Fazenda para que diga se ocorreu alguma causade suspensão ou interrupção do prazo, como o parcelamentodo débito. Em caso negativo, decretará a prescrição intercor-rente, extinguindo a execução. A respeito da matéria, o STJ ed-itou a Súmula 314: “Em execução fiscal, não localizados benspenhoráveis, suspende-se o processo por um ano, findo o qualinicia-se o prazo da prescrição quinquenal intercorrente”.

153. Exceção de pré-executividade

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O executado pode defender-se, na execução fiscal, atravésde exceção de pré-executividade ou de embargos do devedor.

A exceção de pré-executividade constitui simples petiçãoapresentada nos autos da execução fiscal apontando a ausênciade alguma das condições da ação (como a ilegitimidade pas-siva), de pressuposto processual ou mesmo de causas suspens-ivas da exigibilidade ou extintivas do crédito que não deman-dem dilação probatória. Neste sentido, é a Súmula 393 do STJ:“A exceção de pré-executividade é admissível na execução fisc-al relativamente às matérias conhecíveis de ofício que não de-mandem dilação probatória”.

Tal via é adequada, portanto, para o apontamento de ví-cio ou impedimento demonstrável de pronto. A decadência e aprescrição, por exemplo, podem ser alegadas por simplespetição, desde que presentes elementos que permitam verificarseus termos iniciais e finais. Mesmo o pagamento que tenhasido efetuado e que possa ser comprovado mediante guia devi-damente autenticada pode ser informado mediante exceção depré-executividade.

Entretanto, diante dos limites desta via, jamais deve o Ex-ecutado deixar escoar o prazo para opor Embargos. É aconsel-hável que requeira a suspensão da execução e do prazo paraembargos até que decidida a exceção ou que renove seus argu-mentos nos Embargos.

A exceção, de outro lado, não tem prazo para ser oposta.Mesmo preclusos os embargos, poderá o Executado, através daexceção de pré-executividade, suscitar matérias passíveis deserem conhecidas de ofício pelo Juiz.

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154. Embargos à execução

Os embargos à execução podem ser opostos pelo devedorcitado na execução (embargos do devedor) ou por terceiro pre-judicado pela execução (embargos de terceiro).

Os embargos do devedor dependem de prévia garantia,pois o § 1º do art. 16 da Lei 6.830/80, que continua em vigor,dispõe: “Não são admissíveis embargos do executado antes de

garantida a execução”.719 O prazo é de 30 dias, contados da in-timação da penhora (art. 16, III, da LEF), e não da juntada domandado de citação, de modo que o termo inicial do prazo édiferente daquele que normalmente se costuma considerar no

regime do CPC.720 Na execução inicialmente ajuizada contrauma pessoa jurídica e, posteriormente, redirecionada, o sóciocitado em nome próprio defender-se-á também através de Em-bargos do Devedor (Súmula 184 do extinto TRF).

Do ajuizamento dos embargos não decorre, automatica-mente, a suspensão da execução. A partir do advento da Lei11.382/06, que acrescentou o art. 739-A ao CPC, aplicável sub-sidiariamente à execução fiscal, a atribuição de efeito suspens-ivo aos embargos depende não apenas da garantia da ex-ecução, mas também da verificação da relevância dos seus fun-damentos e de que o prosseguimento da execução possa causarrisco de dano de difícil ou incerta reparação.

Nos embargos, pode ser deduzida toda matéria dedefesa, viabilizando-se discussões sobre o lançamento, sobre oprocesso administrativo, sobre a inscrição em dívida ativa e arespectiva certidão, sobre o procedimento da execução e sobreo próprio mérito do tributo exequendo.

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Aquela pessoa que não for citada como executado e,mesmo assim, restar afetada pela Execução, pode defender-seatravés de embargos de terceiro, consoante o disposto no art.1.046 do CPC: “Quem, não sendo parte no processo, sofrerturbação ou esbulho na posse de seus bens por ato deapreensão judicial, em casos como o de penhora, depósito, ar-resto, sequestro, alienação judicial, arrecadação, arrolamento,inventário, partilha, poderá requerer lhe sejam manutenidos ourestituídos por meio de embargos”. O STJ tem decidido no sen-tido de que o prazo para oposição dos embargos de terceiros

deve ser contado da turbação.721

Aplica-se, em matéria de embargos, o princípio da fun-gibilidade, de modo que os embargos de terceiros apresenta-dos equivocadamente pelo executado devem ser recebidoscomo embargos do devedor se tiver sido garantida a execução

e forem tempestivos.722

155. Mandado de segurança

O mandado de segurança tem ampla aplicação emmatéria tributária. É utilizado sempre que o contribuinte sesente ameaçado por uma imposição tributária indevida e nãose faça necessária dilação probatória. Também é muito utiliz-ado, e.g., para a solução de problemas relacionados a certidõesnegativas de débitos quando o contribuinte se sinta lesado pelaomissão do Fisco, que deixe escoar o prazo de 10 dias para aexpedição de certidão sem disponibilizá-la, ou quando o Fiscose nega a expedir Certidão Negativa de Débitos ou CertidãoPositiva com Efeitos de Negativa.

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Sua grande vantagem é o rito célere (pequeno prazo parao oferecimento de informações, vista ao Ministério Público eimediata conclusão para sentença) e a não condenação em ônussucumbenciais.

Há diversas hipóteses bem frequentes de utilização domandado de segurança em matéria tributária:

• o preventivo, que, antes mesmo da formalização docrédito tributário, ataca a obrigação tributária preven-indo o contribuinte contra exigência do Fisco quetenha por base a inconstitucionalidade da lei que oagente fiscal está obrigado a cumprir, a ilegalidade dedecreto e de outros atos normativos infralegais que

igualmente o vinculam,723 praxe reiterada do Fisco queofenda os direitos do contribuinte ou, ainda, resposta aconsulta em sentido que o contribuinte entende ileg-

al,724 não estando, tal modalidade preventiva, sujeitaao prazo decadencial do mandado de segurança;

• o que é impetrado contra lançamento já realizado,sujeitando-se ao prazo decadencial de 120 dias conta-dos da ciência do ato impugnado;

• o que visa à compensação, admitido pela Súmula 213do STJ e com a tutela liminar vedada pela Súmula 212do STJ, que, de um lado, busca o reconhecimento de in-débito tributário e do direito ao seu ressarcimento,sujeitando-se quanto a isso ao prazo decadencial do art.168 do CTN, e, de outro lado, busca tutela preventivaquanto à possibilidade de satisfação de tal direito medi-ante compensação com tributos devidos.

• o que se insurge contra a negativa de expedição de cer-tidão de regularidade fiscal;

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• o que aponta omissão da autoridade fiscal quanto à suaobrigação de analisar pedido, impugnação ou recursodo contribuinte.

O rito especial do mandado de segurança, contudo, nãose presta para discussões que exijam dilação probatória, nostermos da Lei 12.016/09.

Viabiliza-se o mandado de segurança coletivo emmatéria tributária, mas quanto a exigências tributárias que di-gam respeito, especificamente, à categoria profissional ou econ-ômica em defesa da qual é ajuizado.

A autoridade coatora, nos tributos administrados pelaSecretaria da Receita Federal do Brasil, será, normalmente, oDelegado da Receita Federal do Brasil ou, no que diz respeitoao comércio exterior e às atividades de administração de mer-cadorias estrangeiras apreendidas, o Inspetor da Alfândega ouo Inspetor da Receita Federal do Brasil. Tratando-se de débitojá inscrito em dívida ativa pela PFN, a autoridade será o Pro-curador Regional respectivo. De qualquer modo, considerando

a estrutura complexa dos órgãos administrativos,725 “o STJ pa-cificou o entendimento de que, se a autoridade apontada comocoatora, nas suas informações, não se limita a arguir a sua ile-gitimidade passiva, defendendo o ato impugnado, aplica-se aTeoria da Encampação e a autoridade indicada passa a ter legit-imidade para a causa, não havendo que se falar em violação do

art. 267, inciso VI, do Código de Processo Civil”.726

A sentença, no mandado de segurança preventivo, alémda eficácia mandamental, tem marcante eficácia declaratória,fazendo coisa julgada também quanto a esta.

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156. Ação declaratória

A ação declaratória é utilizada em matéria tributáriaquando o contribuinte pretende ver reconhecido e declaradoem juízo que a prática de determinados atos não geraobrigação tributária ou que a obrigação é inferior àquela queseria devida segundo a interpretação do fisco. O mandado desegurança também se presta para isso, mas só na ação declar-atória é que se pode ter dilação probatória.

O contribuinte poderá utilizar-se da ação declaratóriasempre que esteja ao menos na iminência da prática dos fatosgeradores do tributo atacado. Não é viável utilizar a ação de-claratória com simples finalidade de consulta, sem que hajauma situação concreta que aponte para a existência de efeitoconcreto da decisão para as partes. Normalmente, o con-tribuinte discute tributos a que está sujeito por força da suaatividade.

A utilidade da tutela declaratória evidencia-se pelo fatode que as empresas normalmente realizam reiterada e continu-adamente os mesmos negócios. Havendo declaração de quenão há obrigação tributária a eles associadas, a empresa con-tribuinte não será autuada relativamente aos fatos já ocorridos,tampouco quando aos futuros. É que a declaração define anorma concreta aplicável ao caso, de modo que as partes pas-sam a ter de portar-se conforme o decidido.

Indica-se a ação declaratória pura para os casos em queainda não houve lançamento contra o contribuinte relativa-mente ao tributo discutido. É que, nesses casos, a proteção docontribuinte estará completa com a simples declaração da inex-istência da obrigação. Diferentemente, quando houver lança-mento contra o contribuinte, o contribuinte terá de acrescer

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pedido de anulação do ato administrativo de lançamento, demodo a desconstituir o crédito. O interesse na cumulação depedidos está no fato de que a declaração de inexistência deobrigação terá eficácia inclusive quando a fatos geradores fu-turos, enquanto a anulação diz respeito a um determinadolançamento que já tenha ocorrido e que se pretendadesconstituir.

Contudo, ajuizada ação declaratória, a ocorrência posteri-or de lançamento do crédito tributário não a prejudica. Nãoterá a ação declaratória, é verdade, a eficácia desconstitutivaautomática, por si só, de pleno direito. Contudo, se procedente,a eficácia declaratória da sentença obrigará o Fisco a anular olançamento.

Poderá o contribuinte, mesmo na ação declaratória,pleitear antecipação de tutela, de modo a que, na eventualid-ade de o fisco lançar o crédito tributário relativamente aos fatosgeradores já tenham ocorrido ou que venham a ocorrer, a exi-gibilidade do crédito tributário já esteja suspensa (art. 151, V,do CTN). Com isso o contribuinte terá direito à obtenção decertidão de regularidade fiscal (art. 206 do CTN) e estará asalvo da cobrança em dívida ativa e da execução fiscal, pois es-tas pressupõem a exigibilidade do crédito.

A ação declaratória também é utilizada para buscar a de-claração de que o contribuinte efetuou pagamentos indevidos ede que tem direito à compensação do indébito segundo de-terminado critério.

O pedido declaratório do direito de compensar pode sercumulado com pedido condenatório de repetição do indébitotributário. Mas a jurisprudência tem aceitado que o con-tribuinte opte pela compensação ou pela repetição ao final da

ação, ainda que a sentença seja meramente declaratória.727

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Nas ações declaratórias, o autor deve atribuir como valorda causa o proveito econômica que possa vislumbrar com a tu-tela pretendida. Ao menos aproximadamente, deve aferirquando deixará de pagar relativamente aos fatos passados equando deixará de pagar pelo período de um ano, utilizando-se do critério do art. 260 do CPC.

Haverá condenação nos ônus de sucumbência contra ovencido, fixando-se os honorários sobre o valor da causa. Ocumprimento de sentença ou a execução contra a FazendaPública limitar-se-á a tais ônus.

A eficácia declaratória de eventual sentença de procedên-cia, a princípio, não enseja execução que não a dos ônus su-cumbenciais. Mas, caso o autor venha a noticiar que a fazendavencida não está se portando conforme a declaração, poderá ojuiz reiterar a necessidade de cumprimento, sob pena de medi-das punitivas. Isso porque, ainda que a eficácia principal sejadeclaratória, sempre haverá alguma carga mandamental.

157. Ação anulatória

Quando o contribuinte é notificado para pagar determ-inado tributo contra ele lançado, tem a possibilidade dedefender-se administrativamente, com efeito suspensivo daexigibilidade do respectivo crédito (art. 151, III, do CTN).

Pode ocorrer, contudo, que não obtenha sucesso no pro-cesso administrativo. Ou, ainda, que prefira ir de pronto ajuízo, hipótese em que estará abrindo mão da esfera adminis-trativa. O contribuinte não deve olvidar que o ajuizamento deação anulatória implica renúncia à esfera administrativa, de

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maneira que, se houver alguma impugnação ou recurso admin-istrativo pendentes de julgamento, serão considerados preju-dicados pela autoridade julgadora. É o que dispõe o art. 38,parágrafo único, da LEF: “A propositura, pelo contribuinte, daação prevista neste artigo, importa em renúncia ao poder de re-correr na esfera administrativa e desistência do recurso acasointerposto”.

A ação anulatória é utilizada quando o sujeito passivotenha como escopo anular lançamento já realizado pelo Fisco,desconstituindo o Auto de Infração ou ato administrativoequivalente.

Embora o art. 38 da LEF estabeleça que a ação anulatóriaé precedida de depósito preparatório do valor do débito, o STFhá muito reconheceu a inconstitucionalidade de tal disposit-

ivo.728 O ajuizamento da ação anulatória não está sujeito aqualquer condição. O depósito pode ser realizado pelo con-tribuinte caso deseje suspender a exigibilidade do créditotributário (art. 151, II, do CTN), mas não é condição de proced-ibilidade da ação.

A prestação jurisdicional pretendida tem eficácia pre-dominantemente desconstitutiva. Os fundamentos podem seros mais variados, desde a inconstitucionalidade formal e ma-terial da lei instituidora do tributo, passando pela sua não ap-licação ou melhor aplicação ao caso concreto, até vícios no pro-cedimento de lançamento, no próprio ato de lançamento, ou,ainda, no processo administrativo fiscal.

O valor da causa, na ação anulatória pura, será o valorconsolidado da dívida que o contribuinte pretende anular. Acondenação em honorários incidirá sobre tal valor.

Pode-se cumular pedidos declaratório e anulatório, demodo a obter, de uma única vez, tanto o reconhecimento deque inexiste a obrigação de pagar tributo em tais ou quais

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situações que podem vir a se repetir, como a anulação do lança-mento indevidamente efetuado.

A ação anulatória ainda pode fazer as vezes dos embar-gos quando já exista ou sobrevenha execução fiscal devida-

mente garantida por penhora.729 Assim, garantido o juízo,pode ser requerida a suspensão da execução até que seja jul-gada a ação anulatória, o que será deferido se houver funda-mentos relevantes. A reunião da ação de execução fiscal com aação anulatória, convertida ou não em embargos, faz-se nojuízo da execução. Isso considerando a competência funcionaldeste e a garantia de acesso efetivo do credor à prestação juris-dicional, que, de outro modo, ficaria comprometida pela di-ficuldade da prática dos atos constritivos longe do domicílio dodevedor.

158. Ação cautelar de caução

Não se admite o oferecimento de caução como alternativaao depósito com vista à suspensão da exigibilidade do créditotributário (art. 151, II, do CTN) nos próprios autos da ação emque discutida a obrigação tributária. Mas, com vista a obtercertidão positiva de débitos com efeitos de negativa, nos ter-mos do art. 206 do CTN, o sujeito passivo da obrigaçãotributária pode oferecer caução em ação cautelar, para que façaas vezes da penhora enquanto não seja ajuizada a execuçãofiscal.

Vem sendo admitido o oferecimento de bens em garantiaatravés de ação cautelar como uma espécie de antecipação dapenhora relativa a execução fiscal pendente de ajuizamento

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pelo fisco. A ação principal é a própria execução fiscal a serajuizada pelo Fisco.

Desse modo, deve ser ajuizada perante o juízo compet-ente para a execução fiscal, forte no art. 109 do CPC que dizque o juiz da causa principal é também competente para asações de garantia. Mas o TRF da 4ª Região tem precedentes nosentido de que a competência não é da Vara de Execuções Fis-cais , mas, sim, da vara a que caiba o conhecimento das demais

ações tributárias.730

Ademais, não há perda da eficácia da medida no caso denão haver ajuizamento da ação principal em trinta dias. Cabeao credor tal ajuizamento e a demora corre contra os seusinteresses.

Como o oferecimento de caução em verdadeira ante-cipação de penhora não tem efeito suspensivo da exigibilidadedo crédito, o Fisco pode e deve promover a execução fiscal,quando, então, a caução será convertida em penhora.

O oferecimento da caução implica reconhecimento dodébito pelo contribuinte, interrompendo a prescrição (art. 174,parágrafo único, inciso IV, do CTN). O prazo para o ajuiza-mento da execução, interrompido pelo ajuizamento da ação decaução, recomeça por inteiro o seu curso, sendo que, não ajuiz-ada a execução em cinco anos, restará prescrito o créditotributário. Nesta hipótese, restará a ação cautelar sem qualquerutilidade, pois garantidora de crédito tributário já extinto e quenão mais poderá ser cobrado, de modo que deverá ser le-vantado o gravame.

A ação cautelar de caução não impede o contribuinte dequestionar judicialmente o crédito tributário através de açãoanulatória ou mediante o oferecimento oportuno de embargosà execução.

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159. Ação consignatória

A ação consignatória tem pouca utilidade em matériatributária, pois não se presta para a discussão da dívidatributária, restringindo-se às hipóteses arroladas no art. 164 doCTN como ensejadoras da consignação em pagamento.

Não se presta para que o contribuinte ofereça apenas oque entende devido. Tal não afastaria a mora quanto à totalid-ade do tributo. Lembre-se que só o depósito integral do mont-ante devido, assim entendido aquele exigido pelo Fisco, tem oefeito de suspender a exigibilidade do crédito tributário (art.151, II, do CTN), de modo que a consignação de valor inferiornão produz tal efeito.

A consignação só pode versar sobre o crédito tributárioque o consignante se propõe a pagar (art. 164, § 1º, do CTN). Écabível, apenas, nas hipóteses arroladas pelos incisos I a III doart. 164.

Viabiliza-se, assim, nos casos de:

• recusa de recebimento ou sua subordinação ao paga-mento de outro tributo ou penalidade, ou aocumprimento de obrigação acessória (art. 164, I);

• subordinação do recebimento ao cumprimento deexigências administrativas sem fundamento legal (art.164, II); ou

• da exigência, por mais de uma pessoa jurídica de direitopúblico, de tributo idêntico sobre um mesmo fatogerador (art. 164, III).

É exemplo de utilização desse instrumento processual é aconsignação do valor devido a título de ISS, quando tanto o

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Município da sede do estabelecimento prestador como aqueleem que efetivamente prestado o serviço se considerem compet-entes para exigir o seu pagamento.

160. Ação de repetição de indébito tributário e decompensação

Efetuado pagamento indevido, o sujeito passivo temdireito à sua repetição, forte no art. 165 do CTN. Trata-se defundamento legal suficiente. O mesmo não se pode dizer dacompensação, que depende de previsão em lei ordináriaespecífica.

A repetição viabiliza-se na própria esfera administrativa,quando o indébito decorra de simples erro de apuração e paga-mento. Nesses casos, ainda, poderá proceder diretamente àcompensação no regime de lançamento por homologaçãoquando abrangido o tributo federal pelos arts. 66 da Lei 8.383/91 e 74 da Lei 9.430/96.

Normalmente, contudo, a apuração do indébito dependedo reconhecimento de que a lei instituidora do tributo é incon-stitucional ou que os atos administrativos que a regulamentamsão ilegais. Nesses casos, não pode o contribuinte apurar porconta própria, unilateralmente, o seu crédito. Terá de ir a juízopleitear o reconhecimento do indébito e a condenação dafazenda a restituí-lo. Mesmo a compensação dependerá de talreconhecimento.

Ação de repetição de indébito tributário é o nome que seatribui à ação em que o contribuinte busca a condenação da

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fazenda pública a repetir o tributo pago indevidamente. Ocontribuinte busca o reconhecimento de que realizou pagamen-tos indevidos e a condenação do sujeito ativo da relaçãotributária à repetição de tal montante em dinheiro.

Deve restar demonstrado de pronto ao menos que oautor é parte legítima para repetir, conforme abordamos noitem 104 deste livro. A rigor, a prova documental dos paga-mentos indevidos também deveria acompanhar a inicial. Masse tem entendido, por razões de economia processual, que só éindispensável a efetiva prova dos pagamentos indevidos porocasião da execução do julgado, na hipótese de procedência daação.

O valor da causa deve corresponder ao montante que sepretende repetir. A verba honorária, por sua vez, é fixadasobre o valor da condenação.

O prazo para pleitear, administrativa ou judicialmente, arepetição de indébito ou sua compensação é de cinco anos con-tados do pagamento indevido, o que se infere do art. 168 doCTN interpretado em conformidade com a LC 118/05. Mas,quando o contribuinte optar pela restituição administrativa eesta lhe for indeferida, contará, ainda, com o prazo prescricion-al de dois anos para o ajuizamento de ação que, anulando a de-cisão administrativa, condene o Fisco à restituição, conformeprevisto no art. 169 do CTN.

A repetição de indébito não comporta antecipação de tu-tela. Sua execução ocorrerá, sempre, à vista da sentença transit-ada em julgado, expedindo-se, conforme o valor, requisição depagamento de pequeno valor ou precatório, forte no art. 100 daConstituição. A compensação também não comporta concessãopor liminar (Súmula 212 do STJ), dependendo, o seu exercício,do trânsito em julgado da ação, nos termos do art. 170-A doCTN, acrescido pela LC 104/01.

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Pode-se cumular pedidos de repetição de indébito e dedeclaração do direito à compensação, de modo que o con-tribuinte possa optar por um ou outro modo de ressarcimentopor ocasião da execução.

Poderá o contribuinte, ainda, buscar apenas o reconheci-mento do direito a compensação em ação declaratória oumesmo através de mandado de segurança, conforme a Súmula213 do STJ.

A sentença condenatória da fazenda à repetição do in-débito dá ensejo a execução contra a fazenda pública, nos ter-mos do art. 730 do CPC. Não se exige prévia liquidação,fazendo-se diretamente a execução por cálculo do exequente.Isso porque normalmente é possível simplesmente apresentar adocumentação e a planilha de cálculos que aponta o montantedo indébito.

Caso a fazenda, citada, não oponha embargos, ou seusembargos venham a ser julgados improcedentes, com trânsitoem julgado, procede-se a expedição de requisição de pequenovalor (RPV) ou de precatório.

O TRF da 4ª Região, julgando a Arguição de Inconstitu-cionalidade 003665-24.2010.4040.0000/SC, relator o Desembar-gador Federal OTÁVIO ROBERTO PAMPLONA, decidiu pelainconstitucionalidade dos §§ 9º e 10 do art. 100 da CF, in-troduzidos pela EC 62/09, que determinavam aos juízes que in-timassem a fazenda para que dissesse se tinha algum créditocontra o contribuinte, para fins de compensação, antes da ex-pedição da requisição de pagamento. Entendeu o tribunal quetal determinação ofende, a um só tempo, a independência dospoderes, a garantia da coisa julgada, a segurança jurídica, odevido processo legal, a razoabilidade e a proporcionalidade.Desse modo, não há obstáculo à pronta expedição da RPV oudo precatório.

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161. Conexão entre ações tributárias

A conexão entre duas ações ocorre quando têm, emcomum, o objeto ou a causa de pedir (art. 103 do CPC). Setambém o pedido fosse idêntico, ter-se-ia litispendência e nãoapenas conexão. Deve-se atentar, ainda, para a chamada con-exão instrumental, quando a reunião de feitos for necessáriapara uma prestação jurisdicional adequada, facilitando a in-strução e evitando decisões conflitantes, ainda que não haja

propriamente identidade de objeto ou de causa de pedir.731

A conexão autoriza a modificação da competência territ-orial de uma das ações para que, reunidas em um único Juízo,sejam processadas e julgadas sem contradição. E, a rigor, não éapenas a competência territorial que pode se alterar, mas tam-bém a funcional. Assim é que, entre juízos situados na mesmacomarca ou subseção judiciária, a conexão poderá fazer migraro processo de uma vara para outra, para que tenham proces-samento conjunto.

Sempre se entendeu que há conexão entre a ação anu-latória e os embargos à execução relativos ao mesmo créditotributário. Isso porque a execução é feita com suporte em cer-tidão de dívida ativa que indica, como origem do crédito, olançamento. Tanto na ação anulatória como nos embargos à ex-ecução que ataquem o lançamento, podemos ter identidade deobjeto e de causa de pedir. Aliás, entre uma ação e outra, nor-malmente há relação de continência, pois os embargosabrangem e extrapolam a pretensão anulatória.

Mais recentemente, o STJ firmou jurisprudência aindamais ampla. Passou a reconhecer a necessidade de reunião daação anulatória com a execução fiscal, mesmo não embargada.Isso quando o crédito que se pretende desconstituir na ação

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anulatória é justamente aquele objeto da execução fiscal. É quea concessão de antecipação de tutela na anulatória tem efeitosuspensivo da execução e a sua procedência prejudica aexecução, extinguindo-a em face da inexistência do crédito ex-equendo. Assim, reunem-se a ação anulatória com a execuçãofiscal em nome da segurança jurídica, da economia processuale em razão do objeto mediato das ações ser o mesmo (a dívida

em cobrança e sua exigibilidade).732

O Juízo competente, quando há conexão entre execuçãofiscal ou seus embargos com outras ações é o Juízo da Ex-ecução, ou seja, o do domicílio do réu, não se alterando pelamudança posterior do domicílio. Ademais, correndo a ação deconhecimento em Vara Federal comum ou especializada(Tributária), a reunião com os embargos opostos à execuçãofiscal ajuizada se dará na Vara Federal de Execuções Fiscais.Se uma das ações de conhecimento já tiver sentença, a soluçãoserá a suspensão do outro feito, nos termos do art. 265, IV, a,aguardando-se o julgamento definitivo da questão prejudicial.O exercício de competência federal delegada para processar aexecução fiscal (art. 15, I, da Lei 5.010/66) não é óbice à reuniãodas ações, pois a delegação se estende também aos embargos, à

ação declaratória e à ação anulatória conexas.733

Notas do Capítulo XIX

707 É o que se costuma designar, impropriamente, por “sindicabilidade judi-cial”. Digo impropriamente porque a expressão “sindicabilidade” não existena língua portuguesa. Trata-se de uma adaptação do verbo italiano “sin-dacare”, que significa revisar, criticar. A chamada sindicabilidade judicial,

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assim, é utilizada para fazer referência ao que é passível de controle ou re-visão judicial.

708 CPC: “Art. 585 [...] § 1º A propositura de qualquer ação relativa ao débitoconstante do título executivo não inibe o credor de promover-lhe a execução.(redação da Lei 8.953/94)”; “EXECUÇÃO FISCAL. PENDÊNCIA DE AÇÃOJUDICIAL. NÃO SUSPENSÃO DO PROCESSO DE EXECUÇÃO.INEXISTÊNCIA DAS HIPÓTESES DESCRITAS NO ART. 151 DO CTN... 1. Asimples pendência de ação judicial, em que se discute a legalidade da ex-clusão do contribuinte do REFIS, não impede, por si só, o andamento da ex-ecução fiscal, ainda mais quando não houver qualquer provimento judicial nosentido da suspensão da exigibilidade do crédito tributário ou qualquer de-pósito do montante integral.” (STJ, Segunda Turma, Rel. Ministro MAUROCAMPBELL MARQUES, REsp 1261465, 2011).

709 O exaurimento da esfera administrativa ocorre quando, exercido o direitode defesa no processo administrativo fiscal, através da impugnação e dos re-cursos cabíveis, não haja mais a possibilidade de revisão administrativa doato atacado. Em muitos países, como na Espanha, o exercício da defesa ad-ministrativa e seu exaurimento são condições para que o contribuinte possarecorrer à Justiça contra a exigência do fisco.

710 Súmula 247 do extinto TFR: “Não constitui pressuposto da ação anu-latória do débito fiscal o depósito de que cuida o art. 38 da Lei 6.830, de 1980.”Vide também: STF, RE 104.264 e RE 103.400-9.

711 STJ, Primeira Turma, Rel. Ministro GARCIA VIEIRA, REsp 413.592, 2002.

712 STJ, Primeira Turma, relatora Ministra DENISE ARRUDA, REsp 466.723,2006.

713 STJ, Primeira Turma, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, REsp 690.740, 2005.

714 STJ, Segunda Turma, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO NORONHA, REsp365.546, 2006.

715 STJ, REsp 722.998.

716 STJ, Segunda Turma, Rel. Ministra ELIANA CALMON, REsp. 1.128.139,2009.

717 STJ, EDREsp 720.612.

718 STJ, Primeira Seção, Rel. Ministro LUIZ FUX, REsp 1102431, 2009.

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719 As inovações do CPC que permitem o oferecimento de embargos à ex-ecução independentemente de prévia garantia não se aplicam à execução fisc-al tendo em conta que o art. 16, § 1º, da LEF é norma especial.

720 STJ, Primeira Turma, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, AgRgAg 553490,2004.

721 STJ, Terceira Turma, Rel. Ministro CARLOS MENEZES DIREITO, REsp651.126, 2006.

722 STJ, Segunda Turma, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, REsp 827295, 2006.

723 STJ, Segunda Turma, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, REsp. 91.538,1998.

724 STJ, Primeira Turma, Rel. Ministro LUIZ FUX, REsp 615.335, 2004.

725 STJ, Primeira Turma, Rel. Ministro LUIZ FUX, REsp 625.363, 2004.

726 STJ, Segunda Turma, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,AgRgAg 538.820, 2004.

727 “SENTENÇA DECLARATÓRIA DO DIREITO À COMPENSAÇÃO DEINDÉBITO TRIBUTÁRIO. POSSIBILIDADE DE REPETIÇÃO POR VIA DEPRECATÓRIO OU REQUISIÇÃO DE PEQUENO VALOR. FACULDADE DOCREDOR. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA.ART. 543-C, DO CPC. 1. ‘A sentença declaratória que, para fins de com-pensação tributária, certifica o direito de crédito do contribuinte que recolheuindevidamente o tributo, contém juízo de certeza e de definição exaustiva arespeito de todos os elementos da relação jurídica questionada e, como tal, étítulo executivo para a ação visando à satisfação, em dinheiro, do valordevido’ (REsp 614.577/SC, Ministro Teori Albino Zavascki). 2. A opção entrea compensação e o recebimento do crédito por precatório ou requisição depequeno valor cabe ao contribuinte credor pelo indébito tributário, haja vistaque constituem, todas as modalidades, formas de execução do julgado coloca-das à disposição da parte quando procedente a ação que teve a eficácia de de-clarar o indébito. ... Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC e daResolução STJ 08/2008.” (STJ, Primeira Seção, Rel. Ministro MAUROCAMPBELL MARQUES, REsp 1.114.404, 2010)

728 STF, Segunda Turma, Rel. Ministro DJACI FALCÃO, RE 105552, 1985;STF, Primeira Turma, Rel. Ministro RAFAEL MAYER, RE 103.400, 1984.

729 STJ, Primeira Turma, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, REsp 787.408, 2006;STJ, Primeira Turma, Rel. Ministro Teori Zavascki, REsp 754.586, 2006.

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730 TRF4, Primeira Seção, Relatora MARIA DE FÁTIMA FREITASLABARRÈRE, CC 0008690-20.2010.404.0000, 2010.

731 ASSIS, Araken de. Manual do Processo de Execução. 6ª ed. São Paulo: RT,2000, p. 818.

732 STJ, Primeira Turma, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, REsp 787.408, 2006;STJ, Primeira Seção, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, CC 103229, 2010.

733 Superior Tribunal de Justiça, Primeira Seção, Rel. Ministro HUMBERTOMARTINS, EDAgRgCC 96.308, 2010.

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Capítulo XX – Persecução penaltributária

162. Criminalização de condutas ligadas àtributação

Infrações à legislação tributária implicam, via de regra,sanções administrativas. São aplicadas multas moratórias,devidas em razão da simples extrapolação do prazo de venci-

mento do tributo,734 ou multas de ofício, impostas pela Ad-ministração Tributária quando verifica a ocorrência de alguma

irregularidade maior.735 Há, também, as chamadas multas isol-adas, aplicadas em face do descumprimento de obrigaçõesacessórias de fazer, não fazer ou tolerar. Ainda no âmbito ad-ministrativo, há outras penas menos comuns como o cancela-mento de registro especial do contribuinte produtor de cigarros

que seja inadimplente sistemático e contumaz736 e o perdi-

mento de bens descaminhados.737 É o chamado DireitoTributário Penal, de que cuidamos no item 81 desta obra.

Por vezes, contudo, o legislador criminaliza determinadascondutas que apresentam especial caráter ofensivo, exigindoinibição e repressão mais intensas. Assim é que passam a

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configurar crime, dando ensejo inclusive à aplicação de penasprivativas de liberdade, sem prejuízo das sanções adminis-trativas a que estão sujeitas. Estamos, então, no âmbito doDireito Penal Tributário, objeto deste Capítulo.

Aos crimes tributários aplicam-se os princípios própriosdo Direito Penal, assegurando-se o respeito às garantias indi-viduais da legalidade (art. 5º, XXXIX), da irretroatividade (art.5º XL ) e da pessoalidade (5º, XLV). Merecem especial atenção,ainda, o direito à ampla defesa e ao contraditório (art. 5º, LV) ea possibilidade da utilização do habeas corpus para o relaxa-mento de prisão irregular ou para o trancamento de ação penalsem justa causa (art. 5º, LXVIII).

Algumas condutas são previstas como crime no próprioCódigo Penal, outras em leis esparsas. São exemplos os artigos168-A e 334 do CP, que cuidam da apropriação indébita de con-tribuições previdenciárias e do descaminho, e a Lei 8.137/90,que cuida dos crimes contra a ordem tributária.

Os tipos penais tributários configuram, normalmente,crimes materiais ou de resultado, pressupondo o inadimple-mento de tributo devido.

163. Representação fiscal para fins penais

Quem primeiro toma conhecimento da ocorrência doscrimes tributários é, via de regra, a autoridade fiscal, porocasião das fiscalizações tributárias. Verificada a ocorrência decondutas que a lei considera crime, tem a autoridade aobrigação de proceder à representação para fins penais, noti-ciando a situação ao seu chefe imediato, que adotará as

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providências necessárias para que a questão seja submetida ao

Ministério Público.738

O encaminhamento de representação ao MinistérioPúblico, contudo, está condicionado ao prévio exaurimento doprocesso administrativo fiscal. O art. 83 da Lei 9.430/96, com aredação das Leis 10.350/10, dispõe que a representação fiscalpara fins penais relativa aos crimes contra a ordem tributária eaos crimes contra a Previdência Social será encaminhada aoMinistério Público depois de proferida a decisão final, na esferaadministrativa, sobre a exigência fiscal do crédito tributário

correspondente.739 Isso porque se trata de crimes materiais oude resultado, figurando o não pagamento de tributo devidocomo elemento essencial do tipo.

Importa ter em conta, ainda, que o parcelamento dodébito tributário suspende a punibilidade. Desse modo, se o

contribuinte aderir a parcelamento, seja comum ou especial,740

também restará suspenso o encaminhamento da representaçãofiscal para fins penais ao Ministério Público. A representação sóocorrerá, de fato, na hipótese de o contribuinte ser excluído doparcelamento, nos termos do art. art. 83, § 1º, da Lei 9.430/96,incluído pela Lei 12.382/11: “§ 1º Na hipótese de concessão deparcelamento do crédito tributário, a representação fiscal parafins penais somente será encaminhada ao Ministério Públicoapós a exclusão da pessoa física ou jurídica do parcelamento”.A exclusão ocorre quando o contribuinte deixa de pagar as par-celas ou quando o Fisco verifica que não cumpria os requisitoslegas para aderir ao parcelamento.

164. Ação penal pública

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Os crimes tributários são de ação penal pública incondi-cionada, o que significa que, embora normalmente cheguem aoconhecimento do Ministério Público através de representaçãofiscal para fins penais formulada por autoridade fiscal, a ap-resentação de denúncia independe de tal provocação. Aindaque o Ministério Público tenha conhecimento do crime por out-ras fontes, poderá oferecer denúncia.

O art. 15 da Lei 8.137/90, que define os crimes contra aordem tributária, dispõe expressamente que os crimes nelaprevistos “são de ação penal pública, aplicando-se-lhes o dis-posto no art. 100 do Decreto-Lei 2.848, de 7 de dezembro de1940 – Código Penal”. Seu art. 16 ainda acrescenta: “Qualquerpessoa poderá provocar a iniciativa do Ministério Público noscrimes descritos nesta lei, fornecendo-lhe por escrito inform-ações sobre o fato e a autoria, bem como indicando o tempo, olugar e os elementos de convicção”. O STF, a respeito doscrimes por sonegação fiscal, já editara a Súmula 609: “É públicaincondicionada a ação penal por crime de sonegação fiscal”.

O fato de a ação penal ser pública incondicionada, pre-scindindo de representação fiscal para fins penais, não dis-pensa, contudo, que o Ministério Público verifique se hácrédito tributário definitivamente constituído, pois tal é ele-mento do tipo nos crimes materiais contra a ordem tributária.O STF entende que “A instauração de persecução penal... noscrimes contra a ordem tributária definidos no art. 1º da Lei8.137/90 somente se legitimará, mesmo em sede de invest-igação policial, após a definitiva constituição do créditotributário, pois, antes que tal ocorra, o comportamento doagente será penalmente irrelevante, porque manifestamente

atípico”.741 De qualquer modo, ressalva o fato de que a repres-entação fiscal não é condição para o oferecimento da denúncia:“O Ministério Público pode, entretanto, oferecer denúncia

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independentemente da comunicação, dita ‘representaçãotributária’, se, por outros meios, tem conhecimento do lança-

mento definitivo”.742

165. Constituição definitiva do crédito tributáriocomo elemento essencial dos crimes materiaiscontra a ordem tributária

A configuração dos tipos penais de crimes contra a ordemtributária praticados por particulares, descritos nos arts. 1º e 2ºda Lei 8.137/90 – como a supressão ou redução de tributo me-diante omissão de informação ou declaração falsa, falsificaçãoou alteração de nota fiscal ou ainda não fornecimento de notafiscal quando da venda de mercadoria ou prestação de serviço,ou mesmo o não recolhimento de valor de tributo descontadoou cobrado – depende da existência e exigibilidade do créditotributário que tenha deixado de ser pago em razão das referi-das condutas. Note-se que suprimir tributo indevido seriacrime impossível.

O STF editou a Súmula Vinculante 24 com o seguinteteor: “Não se tipifica crime material contra a ordem tributária,previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei 8.137/90, antes dolançamento definitivo do tributo”. Quando da aprovação dessaSúmula, disse o Min. CELSO DE MELLO que a instauração dapersecução penal antes do lançamento definitivo do tributo im-plicaria “instauração prematura, abusiva e destituída de justacausa”. Anteriormente, o STF já decidira que, “Enquanto ocrédito tributário não se constituir, definitivamente, em sede

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administrativa, não se terá por caracterizado, no plano da tipi-cidade penal, o crime contra a ordem tributária, tal como prev-isto no art. 1º da Lei 8.137/90”. E esclarecera: “É que, até então,não havendo sido ainda reconhecida a exigibilidade do créditotributário (an debeatur) e determinado o respectivo valor(‘quantum debeatur’), estar-se-á diante de conduta absoluta-mente desvestida de tipicidade penal”. Entendeu, então, que“A instauração de persecução penal, desse modo, nos crimescontra a ordem tributária definidos no art. 1º da Lei 8.137/90somente se legitimará, mesmo em sede de investigação policial,após a definitiva constituição do crédito tributário, pois, antesque tal ocorra, o comportamento do agente será penalmente ir-

relevante, porque manifestamente atípico”.743 Ainda: “Emboranão condicionada a denúncia à representação da autoridadefiscal (ADInMC 1571), falta justa causa para a ação penal pelaprática do crime tipificado no art. 1º da Lei 8.137/90 – que ématerial ou de resultado –, enquanto não haja decisão definit-iva do processo administrativo de lançamento, quer se con-sidere o lançamento definitivo uma condição objetiva de pun-

ibilidade ou um elemento normativo do tipo”.744

Daí porque a configuração do tipo dependerá da regulare definitiva constituição do crédito tributário na esfera admin-istrativa, ou seja, de que já tenha restado inequívoco, após o jul-gamento da impugnação e dos recursos do contribuinte, que otributo era mesmo devido e que não foi pago.

Desse modo, a pendência de impugnação ou recurso ad-ministrativo no âmbito do processo administrativo fiscal im-

plica ausência de justa causa à ação penal.745

Deve-se considerar, todavia, que, quando a impugnaçãoou o recurso são parciais, considera-se definitivamente con-stituído o crédito relativamente à parte não impugnada ou não

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recorrida, conforme já destacamos ao cuidar do processo ad-ministrativo fiscal. O art. 17 do Dec. 70.235/72 é inequívoco nosentido de que se considera não impugnada a matéria que nãotenha sido expressamente contestada pelo impugnante. E o art.

21, § 1º, do Dec. 70.235/72746 determina que, antes da remessados autos para julgamento, sejam formados autos apartadospara imediata cobrança da parte não impugnada. Assim,quanto às rubricas não impugnadas, não há suspensão da exi-gibilidade do crédito, nada impedindo a sua cobrança, tampou-co o curso do prazo prescricional tributário relativamente a talvalor. Caso o crédito já definitivamente constituído seja sufi-ciente para caracterizar o tipo penal, também não será ne-cessário aguardar o final de todo o processo administrativofiscal para o oferecimento da denúncia.

Importa considerar que o lançamento pela autoridade édispensado quando o crédito tenha sido formalizado pelopróprio contribuinte através de declaração prestada ao Fisco oupor confissão de débito para fins de parcelamento. Dispõe aSúmula 436 STJ: “A entrega de declaração pelo contribuinte re-conhecendo débito fiscal constitui o crédito tributário, dispens-ada qualquer outra providência por parte do fisco”. A formal-ização do crédito por essa via é suficiente para que se considereo crédito definitivamente constituído. Nesse caso, não há quese esperar por processo administrativo fiscal.

Mas, “enquanto dure, por iniciativa do contribuinte, oprocesso administrativo suspende o curso da prescrição daação penal por crime contra a ordem tributária que dependa do

lançamento definitivo”.747

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166. Princípio da insignificância nos crimes con-tra a ordem tributária

A lei penal tipifica determinadas condutas como visandoà proteção de bens jurídicos. No caso dos crimes contra a or-dem tributária, o bem protegido é a integridade do erário, a ar-recadação e o cumprimento das leis tributárias.

Quando a lesão a tais bens for diminuta, não se justificaa persecução penal. Isso porque haveria desproporção abso-luta entre o bem protegido e a restrição imposta ao agente. Aliberdade é direito fundamental, só se justificando restrição aoseu exercício quando indispensável à proteção de bem relev-ante não apenas em tese, mas de fato.

Nas hipóteses em que o tributo inadimplido tem valor di-minuto, assim considerado aquele relativamente ao qual a leidispensa a própria cobrança judicial pelo fisco, entende-se quenão há justificativa para a persecução penal. Como afirmaBALTAZAR JUNIOR, “... se a Fazenda não executa civilmenteem razão do valor, tampouco se justificaria uma condenação

criminal”.748 Para HUGO DE BRITO MACHADO, “é indis-cutível o acerto do princípio segundo qual não se deve puniraquele que pratica fato sem conteúdo economicamente signific-

ativo”.749

Em suma, não se justifica a punição do agente quando olegislador, em face da pequena dimensão da lesão, dispensa aprópria reparação civil, no caso a cobrança do tributo que tenhadeixado de ser pago e da multa de ofício imposta pela infraçãocometida.

É o que se costuma designar, em matéria penal, por“princípio da insignificância”.

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O art. 20 da Lei 10.522, com a redação da Lei 11.033/04,dispõe no sentido de que “Serão arquivados, sem baixa na dis-tribuição, mediante requerimento do procurador da Fazendanacional, os autos das execuções fiscais de débitos inscritoscomo Dívida Ativa da União pela Procuradoria-Geral daFazenda Nacional ou por ela cobrados, de valor consolidadoigual ou inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais)”.

O STF já decidiu que “uma conduta administrativamenteirrelevante não pode ter relevância criminal”, forte nos princí-pios “da subsidiariedade, da fragmentariedade, da necessid-ade e da intervenção mínima que regem o Direito Penal”.Desse modo, determinou o trancamento da ação penal porcrimes relativos a descaminho que implicaram o não paga-

mento de tributos em montante inferior a dez mil reais.750 O

STJ segue a mesma orientação.751

167. Suspensão da punibilidade pelo parcela-mento e extinção da punibilidade pelo pagamento

O parcelamento dos débitos tributários implica sus-pensão da pretensão punitiva relativa aos crimes materiaisrelacionados à tributação, ou seja, a aqueles que pressupõem aexistência do débito. Esse efeito suspensivo, contudo, só ocorrequando o parcelamento for “formalizado antes do recebimentoda denúncia criminal”, conforme dispõe o art. 83, § 2º, da Lei9.430/96, com a redação da Lei 12.382/11.

Como não se pode deixar o agente ao alvedrio da Admin-istração quanto ao exercício do seu direito ao parcelamento,

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deve-se entender suficiente, para a obtenção do efeito suspens-ivo da exibilidade do crédito tributário e também da punibilid-ade, que o agente tenha cumprido os requisitos para a obtençãodo parcelamento e, no regime da Lei 10.522/02, formulado opedido e pago a primeira parcela. Até porque, nos termos doart. 12, § 1º, II, da mesma lei, o pedido de parcelamento é “con-siderado automaticamente deferido quando decorrido o prazode 90 (noventa) dias, contado da data do pedido de parcela-mento sem que a Fazenda Nacional tenha se pronunciado”.Note-se que os débitos para com a Fazenda Nacional tambémpodem ser reparcelados, hipóteses em que se exige o paga-mento de uma parcela inicial de 10% do débito ou, no caso dehistórico de reparcelamento anterior, parcela inicial de 20% dodébito, conforme o art. 14-A da mesma lei.

É importante ter em conta que nem todo débito tributáriopode ser parcelado, pois o parcelamento depende de lei es-pecífica autorizadora, nos termos do art. 155-A do CTN. Não épossível invocar lei federal para parcelar tributos estaduais evice-versa. Ademais, deve-se observar que as leis de parcela-mento impõem condições, não o admitindo em certos casos.Normalmente, o legislador veda o parcelamento de valoresretidos e não repassados aos cofres públicos. Veja-se, no ponto,a Lei 10.666/03: “Art. 7º Não poderão ser objeto de parcela-mento as contribuições descontadas dos empregados, inclusivedos domésticos, dos trabalhadores avulsos, dos contribuintesindividuais, as decorrentes da sub-rogação e as demais im-portâncias descontadas na forma da legislação previdenciária”.Veja-se o rol de vedações para os parcelamentos comuns dedébitos perante a Fazenda Nacional, constante do art. 14 da Lei10.522/02, com a redação da Lei 11.941/09: “Art. 14. É vedadaa concessão de parcelamento de débitos relativos a: I – tributospassíveis de retenção na fonte, de desconto de terceiros ou desub-rogação; II – Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio

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e Seguro e sobre Operações relativas a Títulos e ValoresMobiliários – IOF, retido e não recolhido ao Tesouro Nacional;III – valores recebidos pelos agentes arrecadadores não recol-hidos aos cofres públicos. IV – tributos devidos no registro daDeclaração de Importação; V – incentivos fiscais devidos aoFundo de Investimento do Nordeste – FINOR, Fundo de Inves-timento da Amazônia – FINAM e Fundo de Recuperação doEstado do Espírito Santo – FUNRES; VI – pagamento mensalpor estimativa do Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica –IRPJ e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL, naforma do art. 2º da Lei 9.430, de 27 de dezembro de 1996; VII –recolhimento mensal obrigatório da pessoa física relativo arendimentos de que trata o art. 8º da Lei 7.713, de 22 de dezem-bro de 1988; VIII – tributo ou outra exação qualquer, enquantonão integralmente pago parcelamento anterior relativo aomesmo tributo ou exação, salvo nas hipóteses previstas no art.14-A desta Lei; IX – tributos devidos por pessoa jurídica comfalência decretada ou por pessoa física com insolvência civil de-cretada; e X – créditos tributários devidos na forma do art. 4ºda Lei 10.931, de 2 de agosto de 2004, pela incorporadora opt-ante do Regime Especial Tributário do Patrimônio deAfetação”. As vedações devem ser verificadas em cada leiautorizadora de parcelamento. Os parcelamentos especiais con-tém suas próprias regras, inclusive quanto às vedações.

Pois bem, concluído o processo administrativo fiscal emesmo oferecida a denúncia, o réu ainda tem a oportunidadede suspender a punibilidade pelo parcelamento quando a leitributária o admita. Mas tem de fazê-lo logo, antes do seu re-cebimento pelo magistrado. Efetivamente, o “recebimento dadenúncia a que se refere o dispositivo é aquele constante da de-cisão judicial que recebe a denúncia (CPP, art. 339), após a res-posta do denunciado (CPP, arts. 396 e 396-A) e não a do ofere-cimento da denúncia mediante ‘protocolização’ na Vara

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Criminal ou distribuição”, de modo que o “denunciado

poderá... requerer o parcelamento no prazo para resposta”.752

Conforme o § 3º do art. 83, com a redação da Lei 12.382/11, se forem pagas todas as parcelas, satisfazendo integral-mente o crédito tributário, inclusive acessórios, extingue-se apunibilidade. Cabe ao agente, assim, aproveitar a oportunidadedo parcelamento e levá-la a sério, cumprindo-o até o final, como que se verá livre da persecução penal. Isso porque implicará aextinção da pretensão punitiva, conforme art. 83, § 6º, da Lei9.430/96, acrescido pela Lei 12.832/11. Restará, com isso, impe-dido o oferecimento de denúncia pelo Ministério Público e oseu recebimento pelo Magistrado.

Mas, ainda que o agente tenha deixado de parcelar odébito até o recebimento da denúncia ou que tenha deixado decumpri-lo até o final, sempre será possível obter a extinção dapunibilidade pelo pagamento do débito. Isso porque a Lei12.381/11 só alterou a regra para o parcelamento, não para opagamento puro e simples. Continua vigendo o art. 9º, § 2º, dalei 10.684/03, no sentido de que “Extingue-se a punibilidade...quando a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar opagamento integral dos débitos oriundos de tributos e con-tribuições sociais, inclusive acessórios”.

Antes ou depois do recebimento da denúncia e mesmo nafase de execução da pena, o pagamento tem efeito extintivo dapunibilidade.

Vale destacar que a extinção da punibilidade dá-se comoconsequencia legal da extinção do crédito tributário (art. 156, I,do CTN). O pagamento é a principal causa de extinção docrédito, mas não a única. Também é muito comum a extinçãodo crédito pela compensação, por exemplo (art. 156, II, doCTN). A conversão de depósito em renda é outra causa de ex-tinção do crédito tributário (art. 156, VI, do CTN). Isso sem

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falar na decadência e na prescrição (art. 156, V, do CTN). Aliás,já se decidiu que a decadência do direito do Fisco de lançar im-

pede a condenação por sonegação.753

Anteriormente ao advento da Lei 12.382/11, era a Lei11.941/09 que cuidava da matéria e seus artigos 68 e 69 não es-tabeleciam qualquer limite temporal à suspensão e à extinçãoda punibilidade. Assim, o agente poderia parcelar o débito oupagá-lo a qualquer tempo, mesmo após o recebimento dadenúncia, após a sentença penal ou mesmo na fase de execuçãopenal, obtendo, com isso, a suspensão da ação ou a sua ex-

tinção, conforme o caso.754

A Lei 12.382/11, por ser mais gravosa, só se aplica aoscrimes praticados após a sua vigência. Para os anteriores, con-tinua aplicável a Lei 11.941/09.

Notas do Capítulo XX

734 Art. 61 da Lei 9.430/96.

735 Art. 44 da Lei 9.430/96.

736 Art. 2º, II, do DL 1.597/77, cuja constitucionalidade está sendo analisadapelo STF no RE RE 550.769/RJ, Rel. Ministro JOAQUIM BARBOSA.

737 Arts. 104 e 105 do Decreto-Lei 37/66, 23 e 27 do Decreto-Lei 1.455/76 e675 segs. do Dec. 6.759/09.

738 O Decreto 70.235/72, que ainda hoje disciplina o Processo AdministrativoFiscal, dispõe: “Art. 12. O servidor que verificar a ocorrência de infração à le-gislação tributária federal e não for competente para formalizar a exigência,comunicará o fato, em representação circunstanciada, a seu chefe imediato,que adotará as providências necessárias.”

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739 Lei 9.430/96, com a redação das Leis 10.350/10 e 11.382/11: “Art. 83. Arepresentação fiscal para fins penais relativa aos crimes contra a ordemtributária previstos nos arts. 1º e 2º da Lei 8.137, de 27 de dezembro de 1990, eaos crimes contra a Previdência Social, previstos nos arts. 168-A e 337-A doDecreto-Lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), será encamin-hada ao Ministério Público depois de proferida a decisão final, na esfera ad-ministrativa, sobre a exigência fiscal do crédito tributário correspondente. §1o Na hipótese de concessão de parcelamento do crédito tributário, a repres-entação fiscal para fins penais somente será encaminhada ao MinistérioPúblico após a exclusão da pessoa física ou jurídica do parcelamento. [...]”

740 Comuns são os parcelamentos que estão disponíveis em caráter perman-ente, a qualquer contribuinte. como o previsto no art. 10 da Lei 10.522/02.Especiais, são os parcelamentos concedidos por leis específicas, normalmentecom a anistia de multas e dispensa ou redução de juros, mas com adesão tem-porária e, por vezes, sujeita ao oferecimento de garantias, como o REFIS, oPAES, o PAEX e o da Lei 11.941/09.

741 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro CELSO DE MELLO, Pet 3593 QO, 2007.

742 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro GILMAR MENDES, ADI 1571, 2003.

743 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro CELSO DE MELLO, Pet 3593 QO, 2007.

744 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE, HC 81611,2003.

745 STF, Segunda Turma, Rel. Ministro EROS GRAU, HC 91725, 2009.

746 Art. 21. Não sendo cumprida nem impugnada a exigência, a autoridadepreparadora declarará a revelia, permanecendo o processo no órgão pre-parador, pelo prazo de trinta dias, para cobrança amigável. § 1º No caso deimpugnação parcial, não cumprida a exigência relativa à parte não litigiosado crédito, o órgão preparador, antes da remessa dos autos a julgamento,providenciará a formação de autos apartados para a imediata cobrança daparte não contestada, consignando essa circunstância no processo original. §2º A autoridade preparadora, após a declaração de revelia e findo o prazoprevisto no caput deste artigo, procederá, em relação às mercadorias e outrosbens perdidos em razão de exigência não impugnada, na forma do artigo 63.(Redação dada ao caput, §§ 1º e 2º pela Lei 8.748, de 09.12.1993.) § 3º Esgotadoo prazo de cobrança amigável sem que tenha sido pago o crédito tributário, oórgão preparador declarará o sujeito passivo devedor remisso e encaminharáo processo à autoridade competente para promover a cobrança executiva. (Oart. 5º do DL 1.715/79 extinguiu a declaração de devedor remisso.) § 4º O dis-posto no parágrafo anterior aplicar-se-á aos casos em que o sujeito passivonão cumprir as condições estabelecidas para a concessão de moratória. § 5º A

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autoridade preparadora, após a declaração de revelia e findo o prazo previstono caput deste artigo, procederá, em relação às mercadorias ou outros bensperdidos em razão de exigência não impugnada, na forma do artigo 63.

747 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE, HC 81611,2003.

748 BALTAZAR JUNIOR, José Paulo. Crimes Tributários: Novo Regime deExtinção de Punibilidade pelo Pagamento – Lei 12382/11, art. 6º. In: Estado deDireito nº 31, 2011, p. 461.

749 MACHADO, Hugo de Brito. Crimes Contra a Ordem Tributária. 3ª ed. SãoPaulo: Atlas, 2011, p. 83.

750 “HABEAS CORPUS. DESCAMINHO. MONTANTE DOS IMPOSTOSNÃO PAGOS. DISPENSA LEGAL DE COBRANÇA EM AUTOS DEEXECUÇÃO FISCAL. LEI N° 10.522/02, ART. 20. IRRELEVÂNCIAADMINISTRATIVA DA CONDUTA. INOBSERVÂNCIA AOS PRINCÍPIOSQUE REGEM O DIREITO PENAL. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. ORDEMCONCEDIDA. 1. De acordo com o artigo 20 da Lei n° 10.522/02, na redaçãodada pela Lei n° 11.033/04, os autos das execuções fiscais de débitos inferi-ores a dez mil reais serão arquivados, sem baixa na distribuição, mediante re-querimento do Procurador da Fazenda Nacional, em ato administrativo vin-culado, regido pelo princípio da legalidade. 2. O montante de impostossupostamente devido pelo paciente é inferior ao mínimo legalmente estabele-cido para a execução fiscal, não constando da denúncia a referência a outrosdébitos em seu desfavor, em possível continuidade delitiva. 3. Ausência, nahipótese, de justa causa para a ação penal, pois uma conduta administrativa-mente irrelevante não pode ter relevância criminal. Princípios da subsidiar-iedade, da fragmentariedade, da necessidade e da intervenção mínima queregem o Direito Penal. Inexistência de lesão ao bem jurídico penalmente tute-lado. 4. O afastamento, pelo órgão fracionário do Tribunal Regional Federalda 4ª Região, da incidência de norma prevista em lei federal aplicável àhipótese concreta, com base no art. 37 da Constituição da República, viola acláusula de reserva de plenário. Súmula Vinculante n° 10 do SupremoTribunal Federal. 5. Ordem concedida, para determinar o trancamento daação penal.” (STF, Segunda Turma, Rel. Ministro JOAQUIM BARBOSA, HC92438, 2008).

751 “1. Pacificou-se no STF e no STJ a compreensão de que autuações fiscaisaduaneiras aquém de dez mil reais não possuem dignidade penal, à luz doprincípio da insignificância, que evidencia no comportamento atipicidadematerial em relação ao art. 334 do Código Penal.” (STJ, Sexta Turma, Rel.Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, HC 137.144/PE, 2011).

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752 BALTAZAR JUNIOR, José Paulo. Crimes Tributários: Novo Regime deExtinção de Punibilidade pelo Pagamento – Lei 12.382/11, art. 6º. In: Estado deDireito nº 31, 2011, p. 9.

753 STJ, Quinta Turma, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, HC 77.986,2007.

754 STF, Primeira Turma, Rel. Ministro CEZAR PELUSO, HC 81.929, 2003.

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Capítulo XXI – Crimes Tributários

168. Crimes tributários praticados porparticulares

Há crimes tributários praticados por particulares, normal-mente por contribuintes, substitutos, responsáveis e obrigadosa prestações formais ou instrumentais.

Alguns dos crimes estão previstos no próprio CódigoTributário, outros na Lei 8.137/90, que define crimes contra aordem tributária praticados por particulares. Enquanto, via deregra, os tipos comuns estão no código e os tipos especiais es-tão em leis esparsas, em matéria tributária acaba ocorrendo oinverso. BALTAZAR JUNIOR observa que “os tipos especiais,que são os crimes de apropriação indébita previdenciária esonegação de contribuição previdenciária (especial em relaçãoao crime de sonegação de tributos em geral), estão no CP, en-quanto o tipo comum (crime de sonegação de tributos em ger-

al) está na lei especial, que é a Lei 8.137/90”.755

É comum que os crimes tributários sejam perpetradosmediante falsidade material ou ideológica. Nesses casos, ocrime de falso restará absorvido pelo crime previdenciário oucontra a ordem tributária, nos termos do entendimento firmadopelo STJ na sua Súmula 17 relativamente ao estelionato:

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“Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencial-idade lesiva, é por este absorvido”.

169. Descaminho

O descaminho é definido como crime no art. 334 do

Código Penal.756 Consiste em iludir, no todo ou em parte, opagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pelasaída ou pelo consumo de mercadoria. Também incorre nasmesmas penas, nos termos do § 1º de tal artigo, dentre outros,quem vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, dequalquer forma, utiliza no exercício de atividade comercial ouindustrial mercadoria introduzida clandestinamente no País ouque sabe importada fraudulentamente, assim como quem ad-quire, recebe ou oculta, no exercício de atividade comercial ouindustrial, mercadoria estrangeira desacompanhada de docu-mentação legal ou acompanhada de documentação que sabeser falsa. Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitosdeste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandes-tino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido emresidências, conforme previsão do § 2º.

O descaminho não se confunde com o contrabando, em-bora sejam definidos no mesmo artigo e apenados do mesmomodo. O contrabando é a importação ou exportação de mer-cadoria proibida. Ao contrabando, não importa o pagamentode direitos ou tributos relativos à exportação ou a importação,mas tratar-se, isto sim, de mercadoria proibida, que não poder-ia entrar ou sair do país.

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A pena, tanto para o descaminho como para o contra-bando, é de reclusão, de um a quatro anos, aplicando-se emdobro, contudo, se o crime é praticado em transporte aéreo,conforme o § 3º do mesmo artigo.

Aplica-se ao descaminho o princípio da insignificância.Considera-se que não há justa causa para a persecução penalquando o crédito tributário seja inferior a dez mil reais. Veja-se,do STF, o HC 92438, 2008; do STJ, o HC 137.144/PE, 2011, tran-scritos no item anterior sobre o princípio da insignificância.

170. Apropriação indébita tributária

A apropriação indébita tributária está estritamente rela-cionada à substituição tributária. Dá-se quando o substituto,ao realizar um pagamento ao contribuinte, procede à retençãodo tributo devido por este último, porque a lei assim lhe de-termina, mas deixa de cumprir a obrigação de repassar talmontante aos cofres públicos. Ou seja, retém do contribuinte ese apropria dos valores em vez de dar-lhe a destinação legal.Também ocorrerá quando a regra matriz de substituiçãotributária determine que o substituto exija do contribuinte omontante do tributo para repassar aos cofres públicos e deixede ser feito tal repasse.

A Lei 8.137/90, que cuida dos crimes contra a ordemtributária, é que define, em seu art. 2º, inciso II, que constituicrime “deixar de recolher, no prazo legal, valor de tributo oude contribuição social, descontado ou cobrado, na qualidade desujeito passivo de obrigação e que deveria recolher aos cofres

públicos”.757 Note-se que a norma é genérica, alcançando

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qualquer tributo ou contribuição social para a qual a lei prevejatais sistemáticas de substituição tributária. A pena é de seismeses a dois anos.

Há norma especial, com pena maior – de dois a cincoanos –, quanto à apropriação indébita de contribuiçõesprevidenciárias. Trata-se do art. 168-A do Código Penal, in-cluído pela Lei 9.983/00. Segundo tal dispositivo, incorre emapropriação indébita quem deixar de repassar à previdência so-cial as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo eforma legal. A pena é de reclusão de dois a cinco anos e

multa.758 O repasse, atualmente, faz-se à União que, por forçada Lei 11.457/07, é o atual sujeito ativo das contribuições pre-videnciárias devidas pelos empregados e recolhidas pelosempregadores enquanto substitutos tributários. A União recebetais valores e os repassa ao Instituto Nacional do Seguro Social.

171. Sonegação de tributos

A diferença entre o simples inadimplemento de tributo ea sonegação, é o emprego de fraude. O inadimplemento con-stitui infração administrativa que não constitui crime e que tempor consequência a cobrança do tributo acrescida de multa e dejuros, via execução fiscal. A sonegação, por sua vez, dá ensejonão apenas ao lançamento do tributo e de multa de ofício quali-ficada, como implica responsabilização penal.

O uso de fraude, consistente em omitir declaração, pro-ceder a falsificação material ou ideológica ou usar documentofalso como instrumento para sonegar ao Fisco o conhecimentodo surgimento da obrigação tributária e o próprio montante

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devido é prática reprimida administrativa e penalmente.Administrativamente, aplica-se penalidade de ofício bastantepesada que, na esfera federal, sói ficar em 75% e 150%. Penal-mente, pode resultar em pena de detenção de seis meses a doisanos e multa ou, tratando-se de sonegação de contribuição pre-videnciária, em pena de reclusão de dois a cinco anos, e multa.

Vale considerar, no ponto, o entendimento do STJ emacórdão conduzido pelo Ministro FELIX FISCHER: “Tendo emvista que as esferas administrativa e penal são, em regra, inde-pendentes, a aplicação por parte da autoridade fiscal de multarelativa a falta de recolhimento ou recolhimento a menor dotributo devido em percentual diverso daquele reservado paraos casos de fraude, conluio e sonegação, não obsta que na es-

fera penal se conclua pela ocorrência de fraude”.759

BALTAZAR JUNIOR destaca que “Como traço comumem todas as hipóteses de sonegação está a ideia de fraude con-sistente em omissão de informação quando existente o dever dedeclarar, falsificação de documento, uso de documento falso,

simulação, omissão de operação tributável etc.”.760

Agente do crime de sonegação não é a pessoa jurídica,mas a pessoa física, como o diretor, gerente ou representantede pessoa jurídica com poder de gestão, o contador que pre-para os documentos fiscais etc.

Note-se que a simples condição de sócio não atrai sequera responsabilidade tributária, ou seja, não implica sequer quetenha de suportar, com o seu patrimônio, os tributos devidospela sociedade. Isso porque não se confundem a pessoa jurídicacom a pessoa física dos sócios. Tanto a responsabilidadetributária do sócio, como a penal em casos de sonegação fiscal,dependem de que o sócio tenha poderes de gestão e que se lhepossa atribuir pessoalmente a infração.

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Os arts. 1º e 2º761 da Lei 8.137/90 dispõe sobre a soneg-ação de tributos em geral. O art. 1º define que constitui crime“suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualqueracessório”, mediante as condutas de “omitir informação ouprestar declaração falsa às autoridades fazendárias”, “fraudar afiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ouomitindo operação de qualquer natureza, em documento oulivro exigido pela lei fiscal”, “falsificar ou alterar nota fiscal,fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer outro documentorelativo à operação tributável”, “elaborar, distribuir, fornecer,emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso ouinexato” ou “negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório,nota fiscal ou documento equivalente, relativa a venda de mer-cadoria ou prestação de serviço, efetivamente realizada, ou

fornecê-la em desacordo com a legislação”.762 A pena comin-ada é de reclusão de dois a cinco anos e multa.

O art. 2º da Lei 8.137/90 define crimes da mesmanatureza, mas sujeitos a pena inferior: detenção de seis meses a

dois anos e multa.763

E há o tipo específico de sonegação de contribuição pre-videnciária, art. 337-A do Código Penal, acrescido pela Lei9.983/00:

“TÍTULO XI – DOS CRIMES CONTRA AADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – CAPÍTULO II – DOSCRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRAA ADMINISTRAÇÃO EM GERAL – Sonegação de con-tribuição previdenciária. Art. 337-A. Suprimir ou re-duzir contribuição social previdenciária e qualqueracessório, mediante as seguintes condutas: I – omitir defolha de pagamento da empresa ou de documento deinformações previsto pela legislação previdenciária

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segurados empregado, empresário, trabalhador avulsoou trabalhador autônomo ou a este equiparado que lheprestem serviços; II – deixar de lançar mensalmente nostítulos próprios da contabilidade da empresa as quan-tias descontadas dos segurados ou as devidas peloempregador ou pelo tomador de serviços; III – omitir,total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, re-munerações pagas ou creditadas e demais fatosgeradores de contribuições sociais previdenciárias: Pena– reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. § 1º É ex-tinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, de-clara e confessa as contribuições, importâncias ouvalores e presta as informações devidas à previdênciasocial, na forma definida em lei ou regulamento, antesdo início da ação fiscal. § 2º É facultado ao juiz deixar deaplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agentefor primário e de bons antecedentes, desde que: I –(VETADO); II – o valor das contribuições devidas, in-clusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabele-cido pela previdência social, administrativamente, comosendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuçõesfiscais. § 3º Se o empregador não é pessoa jurídica e suafolha de pagamento mensal não ultrapassa R$ 1.510,00(um mil, quinhentos e dez reais), o juiz poderá reduzir apena de um terço até a metade ou aplicar apenas a demulta. § 4º O valor a que se refere o parágrafo anteriorserá reajustado nas mesmas datas e nos mesmos índicesdo reajuste dos benefícios da previdência social.”

172. Falsificação de papéis públicos tributários

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Na criminalização de condutas de alto potencial ofensivorelacionadas à tributação, encontramos falsificações que con-stituem instrumento para a ilusão de tributos, como “prestardeclaração falsa às autoridades fazendárias”, “falsificar ou al-terar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualqueroutro documento relativo à operação tributável” e, ainda,“elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documentoque saiba ou deva saber falso ou inexato”. Tais falsidades estãodefinidas nos arts. 1º e 2º, da Lei 8.137/90 e foram tratadas emitem anterior “crime de sonegação fiscal”.

O art. 293, I, do Código Penal, contudo, traz duas formasespecíficas de crime contra a fé pública, que dizem respeito àtributação, em que a falsificação implica crimes por si mesma,caracterizando crimes formais: “Art. 293. Falsificar, fabricando-os ou alterando-os: I – selo destinado a controle tributário, pa-pel selado ou qualquer papel de emissão legal destinado à ar-recadação de tributo; [...] V – talão, recibo, guia, alvará ouqualquer outro documento relativo a arrecadação de rendaspúblicas ou a depósito ou caução por que o poder público seja

responsável;”.764 Sujeita tais condutas delitivas a pena de re-clusão de dois a oito anos, e multa.

173. Crimes tributários praticados por funcionári-os públicos

Tanto o Código Penal como leis esparsas definem crimesrelacionados à tributação que têm como agente funcionáriopúblico.

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Note-se, desde já, que o conceito de funcionário públicopara fins penais não equivale ao conceito administrativo. Parafins penais, funcionário público é qualquer pessoa que estejadesempenhando alguma função pública, ainda que em caráterprecário, temporário, sem vínculo, como estagiário, mesárioetc.

Conforme o art. 327 do Código Penal, com a redaçãodas Leis 6.799/80 e 9.983/00, “Considera-se funcionáriopúblico, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamenteou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou funçãopública”. O Código estabelece, ainda, equiparações: “§ 1ºEquipara-se a funcionário público quem exerce cargo, empregoou função em entidade paraestatal, e quem trabalha paraempresa prestadora de serviço contratada ou conveniada paraa execução de atividade típica da Administração Pública”.

Há agravante para os funcionários ocupantes de cargosem comissão ou função de direção ou assessoramento: “§ 2º Apena será aumentada da terça parte quando os autores doscrimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos emcomissão ou de função de direção ou assessoramento de órgãoda administração direta, sociedade de economia mista,empresa pública ou fundação instituída pelo poder público”.

Na definição dos crimes, o Código Penal cuida do excessode exação e da facilitação do descaminho. A Lei 8.137/90, aodefinir os crimes contra a ordem tributária, considera crimesfuncionais contra a ordem tributária três condutas de fun-cionários públicos distintas: o extravio, sonegação ou inutiliza-ção de livro, processo ou documento fiscal, a corrupção passivafiscal e a advocacia administrativa fiscal.

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174. Excesso de exação

A conduta do funcionário público que exige tributo “quesabe ou deveria saber indevido” ou que, ao exigir o paga-mento de tributo devido, “emprega meio vexatório ou gra-voso” que a lei não autoriza configura crime de excesso de ex-ação, com pena de reclusão de três a oito anos e multa, con-forme definido pelo art. 316, § 1º do Código Penal.

Também incorre em excesso de exação o funcionário que“desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu in-devidamente para recolher aos cofres púbicos”, com pena dedois a doze anos e multa, conforme o § 2º do mesmo disposit-ivo legal.

Trata-se de uma variações do crime de concussão, defin-ido no caput do art. 316: “Exigir, para si ou para outrem, diretaou indiretamente, ainda que fora da função ou antes deassumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida”.

175. Facilitação ao descaminho

Outra conduta de funcionário público que configuracrime relacionado à tributação, definida no art. 318 do Código

Penal, 765 é facilitar a prática de descaminho, ou seja, facilitar oingresso de produtos no país, ou a saída, iludindo o pagamentodos tributos incidentes na importação ou na exportação.

O descaminho ocorre, por exemplo, quando alguém tentadesviar produtos da fiscalização alfandegária de modo a

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introduzi-los no país sem o devido despacho aduaneiro e sem opagamento dos tributos respectivos, normalmente utilizando-se de subterfúgios como a utilização de rotas alternativas aocultando mercadorias para que não sejam vistas.

A facilitação do descaminho pode ocorrer quando o fun-cionário avisa aos agentes os horários em que não haverá fiscal-ização, quando permite que passem ao largo da fiscalização ousem sujeitarem-se aos procedimentos normais, de modo quenão sejam flagrados com o produto trazido.

A pena para o funcionário é de três a oito anos e multa.

176. Extravio, sonegação ou inutilização de livro,processo ou documento fiscal

A Lei 8.137/90, ao definir os crimes contra a ordemtributária, considera crimes funcionais contra a ordemtributária três condutas de funcionários públicos.

A primeira das condutas previstas no art. 3º da Lei 8.137/90 como crime contra a ordem tributária praticada por fun-cionário público consiste em extraviar, sonegar ou inutilizardocumentos de que tenha a guarda em razão da função, acar-retando pagamento indevido ou inexato de tributo. Diz a leino inciso I do art. 3º: “extraviar livro oficial, processo fiscal ouqualquer documento, de que tenha a guarda em razão dafunção; sonegá-lo, ou inutilizá-lo, total ou parcialmente, acar-retando pagamento indevido ou inexato de tributo ou con-

tribuição social”.766

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Trata-se de uma versão, relacionada à tributação, docrime de extravio, sonegação ou inutilização de livro ou docu-

mento.767 A conduta do funcionário, nesse caso, visa a prejudi-car o obrigado tributário, porquanto tais documentos poderiamdemonstrar o descabimento ou o excesso da exigência.Podemos denominá-lo, assim, de crime extravio, sonegação ouinutilização de livro, processo ou documento fiscal.

177. Corrupção passiva fiscal

A Lei 8.137/90, no inciso II do seu art. 3º, também definecomo crime praticado por funcionário público contra a ordemtributária exigir, solicitar ou receber vantagem indevida oupromessa de vantagem para deixar de lançar ou cobrar trib-uto. Eis a definição legal, ipsis literis: “exigir, solicitar ou rece-ber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda quefora da função ou antes de iniciar seu exercício, mas em razãodela, vantagem indevida; ou aceitar promessa de tal vantagem,para deixar de lançar ou cobrar tributo ou contribuição social,

ou cobrá-los parcialmente”.768

Trata-se de uma variação da corrupção passiva769 rela-cionada à fiscalização tributária. Podemos denominá-lo, assim,de corrupção passiva fiscal.

É o recebimento de propina para não constituir créditotributário cuja existência o fiscal tenha verificado ou poderiaverificar no exercício das suas funções.

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178. Advocacia administrativa fiscal

A terceira conduta definida como crime no art. 3º da Lei8.137/90, em seu inciso III, consiste em patrocinar interesseprivado perante a administração fazendária valendo-se da suafunção. Os termos utilizados pelo legislador são: “patrocinar,direta ou indiretamente, interesse privado perante a adminis-tração fazendária, valendo-se da qualidade de funcionáriopúblico”. É uma variação do crime de advocacia adminis-

trativa770 quando relacionada à tributação.771 Podemosdenominá-lo, assim, de advocacia administrativa fiscal.

Notas do Capítulo XXI

755 BALTAZAR JUNIOR, José Paulo Crimes Tributários: Novo Regime deExtinção de Punibilidade pelo Pagamento – Lei 12.382/11, art. 6º. In: Estado deDireito nº 31, 2011, p. 443.

756 Código Penal: “Contrabando ou descaminho Art. 334. Importar ou expor-tar mercadoria proibida ou iludir, no todo ou em parte, o pagamento dedireito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mer-cadoria: Pena – reclusão, de um a quatro anos. § 1º Incorre na mesma penaquem: a) pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei;b) pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando ou descaminho; c)vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza emproveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial,mercadoria de procedência estrangeira que introduziu clandestinamente noPaís ou importou fraudulentamente ou que sabe ser produto de introduçãoclandestina no território nacional ou de importação fraudulenta por parte deoutrem; d) adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exer-cício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência es-trangeira, desacompanhada de documentação legal, ou acompanhada de doc-umentos que sabe serem falsos. § 2º Equipara-se às atividades comerciais,

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para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandes-tino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências. § 3º Apena aplica-se em dobro, se o crime de contrabando ou descaminho é pratic-ado em transporte aéreo.”

757 Lei 8.137/90: “Art. 2º Constitui crime da mesma natureza: ... II – deixar derecolher, no prazo legal, valor de tributo ou de contribuição social, desconta-do ou cobrado, na qualidade de sujeito passivo de obrigação e que deveria re-colher aos cofres públicos; Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, emulta.”

758 Código Penal, art. 168-A, incluído pela Lei 9.983/00: “CAPÍTULO V DAAPROPRIAÇÃO INDÉBITA ... Art. 168-A. Deixar de repassar à previdênciasocial as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ouconvencional: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. § 1º Nasmesmas penas incorre quem deixar de: I – recolher, no prazo legal, con-tribuição ou outra importância destinada à previdência social que tenha sidodescontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada dopúblico; II – recolher contribuições devidas à previdência social que tenhamintegrado despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou àprestação de serviços; III – pagar benefício devido a segurado, quando as re-spectivas cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela pre-vidência social. § 2º É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente,declara, confessa e efetua o pagamento das contribuições, importâncias ouvalores e presta as informações devidas à previdência social, na forma defin-ida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal. § 3º É facultado aojuiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente forprimário e de bons antecedentes, desde que: I – tenha promovido, após o iní-cio da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia, o pagamento da con-tribuição social previdenciária, inclusive acessórios; ou II – o valor das con-tribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabele-cido pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimopara o ajuizamento de suas execuções fiscais.”

759 STJ, Quinta Turma, Rel. Ministro FELIX FISCHER, HC 49.470/PB, 2006.

760 BALTAZAR JUNIOR, José Paulo. Op. cit., p. 442.

761 À exceção do inciso II deste artigo 2º, que cuida da apropriação indébita.

762 Lei 8.137/90: “CAPÍTULO I – Dos Crimes Contra a Ordem Tributária –Seção I – Dos crimes praticados por particulares –Art. 1º Constitui crime con-tra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social equalquer acessório, mediante as seguintes condutas: (Vide Lei 9.964, de10.4.2000) I – omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades

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fazendárias; II – fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexa-tos, ou omitindo operação de qualquer natureza, em documento ou livro exi-gido pela lei fiscal; III – falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, notade venda, ou qualquer outro documento relativo à operação tributável; IV –elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou devasaber falso ou inexato; V – negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório,nota fiscal ou documento equivalente, relativa a venda de mercadoria ouprestação de serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-la em desacordo coma legislação. Pena – reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. Parágrafoúnico. A falta de atendimento da exigência da autoridade, no prazo de 10(dez) dias, que poderá ser convertido em horas em razão da maior ou menorcomplexidade da matéria ou da dificuldade quanto ao atendimento daexigência, caracteriza a infração prevista no inciso V.”

763 Lei 8.137/90: “Art. 2º Constitui crime da mesma natureza: I – fazer de-claração falsa ou omitir declaração sobre rendas, bens ou fatos, ou empregaroutra fraude, para eximir-se, total ou parcialmente, de pagamento de tributo;II – deixar de recolher, no prazo legal, valor de tributo ou de contribuição so-cial, descontado ou cobrado, na qualidade de sujeito passivo de obrigação eque deveria recolher aos cofres públicos; III – exigir, pagar ou receber, para siou para o contribuinte beneficiário, qualquer percentagem sobre a parcela de-dutível ou deduzida de imposto ou de contribuição como incentivo fiscal; IV– deixar de aplicar, ou aplicar em desacordo com o estatuído, incentivo fiscalou parcelas de imposto liberadas por órgão ou entidade de desenvolvimento;V – utilizar ou divulgar programa de processamento de dados que permita aosujeito passivo da obrigação tributária possuir informação contábil diversadaquela que é, por lei, fornecida à Fazenda Pública. Pena – detenção, de 6(seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.”

764 Código Penal, art. 293, com a redação da Lei 11.035/04: CAPÍTULO II –DA FALSIDADE DE TÍTULOS E OUTROS PAPÉIS PÚBLICOS – Falsificaçãode papéis públicos Art. 293. Falsificar, fabricando-os ou alterando-os: I – selodestinado a controle tributário, papel selado ou qualquer papel de emissãolegal destinado à arrecadação de tributo; [...] V – talão, recibo, guia, alvará ouqualquer outro documento relativo a arrecadação de rendas públicas ou a de-pósito ou caução por que o poder público seja responsável; [...] Pena – re-clusão, de dois a oito anos, e multa. § 1º Incorre na mesma pena quem: I – usa,guarda, possui ou detém qualquer dos papéis falsificados a que se refere esteartigo; II – importa, exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda,fornece ou restitui à circulação selo falsificado destinado a controle tributário;III – importa, exporta, adquire, vende, expõe à venda, mantém em depósito,guarda, troca, cede, empresta, fornece, porta ou, de qualquer forma, utilizaem proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou indus-trial, produto ou mercadoria: a) em que tenha sido aplicado selo que se

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destine a controle tributário, falsificado; b) sem selo oficial, nos casos em quea legislação tributária determina a obrigatoriedade de sua aplicação. § 2ºSuprimir, em qualquer desses papéis, quando legítimos, com o fim de torná-los novamente utilizáveis, carimbo ou sinal indicativo de sua inutilização:Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 3º Incorre na mesma penaquem usa, depois de alterado, qualquer dos papéis a que se refere o parágrafoanterior. § 4º Quem usa ou restitui à circulação, embora recibo de boa-fé,qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem este artigo e oseu § 2º, depois de conhecer a falsidade ou alteração, incorre na pena de de-tenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa. § 5º Equipara-se a ativid-ade comercial, para os fins do inciso III do § 1º, qualquer forma de comércioirregular ou clandestino, inclusive o exercido em vias, praças ou outros lo-gradouros públicos e em residências.”

765 Código Penal: “Facilitação de contrabando ou descaminho Art. 318. Facil-itar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando oudescaminho (art. 334): Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.”(Redação da Lei 8.137/90).

766 Lei 8.137/90: “Seção II Dos crimes praticados por funcionários públicosArt. 3º Constitui crime funcional contra a ordem tributária, além dos previstosno Decreto-Lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal (Título XI,Capítulo I): I – extraviar livro oficial, processo fiscal ou qualquer documento,de que tenha a guarda em razão da função; sonegá-lo, ou inutilizá-lo, total ouparcialmente, acarretando pagamento indevido ou inexato de tributo ou con-tribuição social;”

767 Código Penal: “Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou docu-mento Art. 314. Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem aguarda em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente:Pena – reclusão, de um a quatro anos, se o fato não constitui crime maisgrave.”

768 Lei 8.137/90: “Seção II Dos crimes praticados por funcionários públicosArt. 3º Constitui crime funcional contra a ordem tributária, além dos previstosno Decreto-Lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal (Título XI,Capítulo I):... II – exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ouindiretamente, ainda que fora da função ou antes de iniciar seu exercício, masem razão dela, vantagem indevida; ou aceitar promessa de tal vantagem, paradeixar de lançar ou cobrar tributo ou contribuição social, ou cobrá-los parcial-mente. Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.”

769 Código Penal: “Corrupção passiva Art. 317 – Solicitar ou receber, para siou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antesde assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de

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tal vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redaçãoda Lei 10.763/03) § 1º A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüênciada vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticarqualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. § 2º Se o fun-cionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração dedever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena – detenção,de três meses a um ano, ou multa.”

770 Código Penal: “Advocacia administrativa Art. 321. Patrocinar, direta ouindiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-seda qualidade de funcionário: Pena – detenção, de um a três meses, ou multa.Parágrafo único – Se o interesse é ilegítimo: Pena – detenção, de três meses aum ano, além da multa.”

771 Lei 8.137/90: “Seção II Dos crimes praticados por funcionários públicosArt. 3º Constitui crime funcional contra a ordem tributária, além dos previstosno Decreto-Lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal (Título XI,Capítulo I):... III – patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado per-ante a administração fazendária, valendo-se da qualidade de funcionáriopúblico. Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.”

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