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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
“PROGRAMA A VEZ DO MESTRE”
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTETERAPIA
ARTE-EDUCAÇÃO E IMAGENS ELETRÔNICAS: FAZENDO LEITURAS.
TECENDO SIGNIFICADOS
CARLA REGINA VASCONCELOS RODRIGUES
RIO DE JANEIRO, OUTUBRO DE 2001.
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
“PROGRAMA A VEZ DO MESTRE”
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTETERAPIA
ARTE-EDUCAÇÃO E IMAGENS ELETRÔNICAS: FAZENDO LEITURAS.
TECENDO SIGNIFICADOS
CARLA REGINA VASCONCELOS RODRIGUES
Projeto orientado pela professora Maria
Esther Oliveira como requisito de conclusão
parcial do curso de especialização lato sensu
em Arteterapia
RIO DE JANEIRO, OUTUBRO DE 2001.
“ Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do queinteligência precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes avida será de violência e tudo estará perdido.”
Agradeço em especial, a professora Moema Quintanilha, quedesde a concepção deste trabalho, de forma direta ou indireta
se fez luz . Saúde e paz !
RESUMO
Esta monografia foi concebida a partir da necessidade de estudo e atualização,
perante às inovações tecnológicas que invadem o espaço educacional, mudando
hábitos e costumes, dialetizando e incorporando no dia a dia atitudes que exigem de
toda comunidade consciência crítica e pessoal, conhecimento e domínio de
linguagem. O trabalho se divide em duas etapas: caminhos e leituras. Identifica-se a
Arte-Educação e a Imagem Eletrônica como fruto de um processo de evolução
humana e científica. Em linhas rápidas, descreve-se o percurso da Arte-Educação,
destacando-se o momento atual como o mais viabilizador de propostas, com o
advento da nova Lei de Diretrizes e Bases da educação. Foca-se a Metodologia
Triangular e a Alfabetização visual, como mediações possíveis. São interfaces,
janelas para olhar este mundo multifacetário que constituem o primeiro e o segundo
capítulo deste trabalho: São caminhos. Com o objetivo de maior reflexão reconstrói-
se a relação entre arte e tecnologia, enfocando imagens eletrônicas como uma das
etapas dessa trajetória; caracteriza e oferece dados sobre essa forma de
comunicação. Privilegia o potencial humano na sua capacidade de solucionar: sua
intuição, sua criatividade e sua inteligência: novamente caminhos. Em um terceiro
capítulo, Fazendo leituras e tecendo significados, busca-se definir que a prática
necessária, definida pelos capítulos anteriores, tem um rumo só que é o encontro
das pessoas com sua essência, com sua linguagem interior e com a própria
humanidade. Em anexo, vão fotos de prática já executadas em sala de aula e dados
que ajudam a demonstram a situação.
INTRODUÇÃO
Este trabalho busca sincronizar Arte-Educação e tecnologia como veículo
de autoconhecimento e descobertas do ser humano. A opção pelo estudo das
imagens obtidas com os softwares do computador, aliados a um processo
vivenciador através do ensino de arte; decorreu da observação da realidade
circundante: a quantidade de imagens que nos chegam simultaneamente. São fotos,
charges, obras clássicas e simples composições gráficas que combinam elementos
visuais transmitindo informações e conhecimento. Aproveitar a potencialidade destas
formas de comunicação para uma leitura crítica e questionadora é extremamente
necessária e auto-reveladora.
Torna-se relevante identificar nas imagens elementos plásticos e visuais que constituem e
definem uma produção artística ou não; contribuindo assim, quer seja no campo teórico ou no
campo prático, para o conhecimento sobre o processo de leitura e criação artística versus
computador.
Outro fator preponderante nessa pesquisa é a formação de uma proposta
pedagógica, vivenciadora e inovadora, enquanto se refere à questão da prática e
utilização do computador em atividades motivadoras e reflexivas; oferecendo
subsídios para Arte-Educação. Num estudo de mediações pedagógicas, percebe-se
a Metodologia triangular proposta por Ana Mae Barbosa atualmente vem sendo
abordada nos novos Parâmetros Curriculares Nacionais, onde a própria Ana Mae fez
parte da equipe de consultores do MEC.
O momento atual é dominado pelas imagens, o mais evoluído
criativamente e tecnologicamente. Tecnologia e criatividade juntam, desde da época
das cavernas, resultam em condições sociais que contextualizam a humanidade.
Encontram-se denominações como arte eletrônica, multimídia, arte cibernética ou
instalações, todas referem-se a se a utilização de vídeo, xerox, fotografia, cd-rom, tv,
aliados ao computador. Recursos eletrônicos que enriquecem o processo criativo dos
artistas, e que não mais trabalham mais sozinhos ,além de toda tecnologia passa
também a trabalhar em equipe. Como descrever e definir a Arte diante desta nova
modalidade de nossa sociedade? Que tipo de conexão pode fazer entre o fazer
artístico manual e o digital? Que leituras fazem os arte-educadores? Qual o
significado que o indivíduo deve extrair nesse contexto?
Este trabalho visa identificar e descrever o processo criativo natural e
digital, como também fornecer aos profissionais um efetivo conhecimento mais
coerente e discernente das realidades. Assim, Arte e Tecnologia se combinam e se
complementam, servindo de veículo de análise e conhecimento desse mesmo
homem. Através de leituras, serão feitos uma pesquisa com método de raciocínio
indutivo e técnicas indiretos com levantamento de bibliografia e relato de experiência.
O corpo deste trabalho está dividido em capítulos, onde no primeiro traça-se
rapidamente caminhos e os propósitos da Arte-Educação, ratificando sua
importância; no segundo é apresentado as Imagens eletrônicas e suas abrangências;
no terceiro busca-se definir uma prática humanista e o significado que cada um pode
tirar para si.
SUMÁRIO
RESUMO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULOS
1 – ARTE-EDUCAÇÃO: CAMINHOS.................................................................................09 1.1-Breve História da Arte-Educação.........................................................................10 1.2-Mediações pedagógicas..........................................................................................08
1.3-Alfabetização visual...............................................................................................111.4-Criatividade............................................................................................................14
2- IMAGEM ELETRÔNICA: CAMINHOS.........................................................................182.1-Arte e tecnologia....................................................................................................202.2-Alfabetização Digital.............................................................................................21
3– FAZENDO LEITURAS. TECENDO SIGNIFICADOS ................................................233.1-Desenvolvimento da imagem a partir da criança...............................................243.2-Uma abordagem arteterapeutica..........................................................................26
CONCLUSÃO..........................................................................................................................28
ANEXOS...................................................................................................................................29
BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................................32
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1- A ARTE-EDUCAÇÃO: CAMINHOS
Os fundamentos da Arte-Educação visam propiciar ao homem uma
educação integral – entre a razão e a emoção, onde este possa ordenar o seu
mundo significativo, expressá-lo e transformá-lo. Em uma educação vivenciadora,
provocadora de experiências, para que estas sirvam de comparação com outras, e
assim ele possa nomeá-las e traduzi-lás em símbolos. “Apenas o homem constrói
símbolos.”(Duarte JR, 2001, pág. 22). A aprendizagem é o resultado do sentir
(vivências) e do pensar (simbolizações), numa relação de troca dentro de um
contexto cultural. A escola oficializa esta aprendizagem, mas percebe-se que em
grande maioria, a principal preocupação é a formação de uma mão de obra,
atendendo às exigências de uma classe dominante, e de uma sociedade industrial e
globalizada.
A arte é uma linguagem que permite que o indíviduo conheça seus
sentimentos e a si próprio, a educação pela arte é uma forma de se afinar este
conhecimento, é um estímulo, um convite à imaginação: Apresentando a vida como
em um quadro inacabado, ainda incompleto, precisando daquele que o observa e o
aprecia para a sua finalização, eis a proposta de um ensino de arte. Em uma
experiência estética o homem percebe os seus significados com outro sentido,
ausente da mediação da linguagem conceitual e da lógica racional. Sem a
preocupação de formar artistas, o mais importante, na arte-educação, é o processo
de criação. Um misto de comunicação e expressão, num contexto de ambigüidades e
possibilidades múltiplas. Tanto na pré-história como nos dias atuais , o homem utiliza
a arte para definir os sistemas simbólicos, isto quer dizer, que define um sistemas de
signos, que o ajudam a abstrair, a compreender, e a interpretar o mundo _ Em
anexo, encontram-se fotos de atividades e vivências desenvolvidas em sala de aula
(fig. 01 a 11), para elucidar e demonstrar possibilidades. Na linguagem da arte estes
sistemas simbólicos podem ser percebidos pelo órgãos dos sentidos, por isso a arte
cênica, a visual, a musical, a cinematográficas. E assim como, o pensamento está
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sempre em transformação, os seus significados não se encerram em si mesmos,
porque seus códigos não são convencionais, estão sempre sujeitos a uma nova
interpretação. É uma forma singular de revelar um mundo multicultural ao qual o
homem pertence, ou seja, é uma via de entendimento sobre as multiplicidade
culturais existentes.
1.1– Breve História da Arte-Educação
Os seus caminhos foram traçados articulados à Educação brasileira: No
Brasil Colonial, uma dependência inicial, segue os moldes da cultura européia,
atendendo aos interesses do colonizador e da classe dominante. Com a vinda da
família Real, o Barroco brasileiro é substituído pelo Neoclassicismo, isto significa:
academicismo, regras, formas e padrões de concepção burguesa entram em cena -
a atividade artística não era incluída nas escolas elementares públicas. Com o
Barroco, a arte havia se popularizado e as atividades manuais ficavam para os
escravos, alimentando a supremacia das artes literárias sobre as arte visuais, esta
última reservada aos talentosos. Até a Proclamação da República o desenho
geométrico e técnico era obrigatório no currículo escolar, poderia auxiliar na
produção e na invenção industrial, destinava-se as escolas de trabalhadores,
enquanto que as belas-artes para as classes mais abastadas, e a idéia de tudo que é
belo é bom reflete a influencia do romantismo. Nos anos de 1914-1927 são feitas as
primeiras experiências com o desenho da criança, buscando na imaginação infantil
inspiração para libertação do modelos preestabelecidos. São os efeitos da Semana
de Arte Moderna de 1922; “Mário de Andrade e Anita Malfatti foram os introdutores
das idéias de livre-expressão para a criança”, contudo no ensino oficial a Arte é
relegada em posição inferior em relação aos interesses positivistas e liberais com o
ensino do desenho geométrico. Durante o período - 1922 a Reforma Capanema
1971- o ensino de Arte no Brasil fica restrito às “artes industriais” ou às “artes
domésticas”; ainda assim nos anos 30, o movimento da escola-nova buscava
transformar: com as idéias de John Dewey, a educação brasileira afirmando a
importância do desenvolvimento da imaginação, da inteligência, da intuição da
criança através da Arte. Nesse contexto Augusto Rodrigues cria a Escolinha de Arte
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do Brasil, única instituição que preparava o arte-educador e supervaloriza a Arte
como livre-expressão, cujo na mesma época 1948-1958, é possível perceber a
presença de Herbert Read e as primeiras influencias da Bahaus na escola
secundária, assim como o programa de desenho de Lúcio Costa. Um período de
expansão política e econômica inicia-se como governo JK: Objetiva-se a
popularização, e a escola recebe algumas indagações de Paulo Freire. Momento de
modernização com o movimento concretista na literatura, a arquitetura reencontra
suas raízes com Lúcio Costa e Oscar Niemeyer com a construção de Brasília; é
decretada a lei de Diretrizes e Bases de 1961, que permitia algumas atitudes
voltadas para a experimentação de arte nas escolas. Com os militares no poder e o
advento da TV mensagens são esvaziadas e traduzidas conforme interesses em
busca de homogeneização cultural. Em 1971 é sancionada a lei de diretrizes e Bases
onde coloca a arte em caráter obrigatório nas escolas de 1º grau e complementar
nos currículos de alguns programas do 2ºgrau. Em 1973, cria-se um curso de
licenciatura curta para a formação de professores, com uma formação polivalente, e
no mesmo ano nomeia-se a formação como professor de Educação Artística, e em
1977 agrupa-se à Expressão e Comunicação e a Educação Artística é tida como
qualquer atividade sem preocupação, quase optativa; no entanto, em 1982 mantém-
se a obrigatoriedade nas escolas de 1º e 2º grau, mas este caminho tornou-se mais
concreto a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação n.º 9.394 de 20/12/1996
com a obrigatoriedade no ensino fundamental e Ensino Médio, com os PCN
permeados pela metodologia triangular. Ana Mae (1999, pág.32) explica que “ arte-
educação é uma certa epistemologia da arte como pressuposto e como são os
modos de interlacionamento entre arte e o público, ou melhor, a intermediação entre
objeto de arte e o apreciador.”; E agora mais do que nunca, é necessário essa
relação dialógica, apropiativa que resulte na interpretação e na leitura intertemporal
destas imagens. É preciso também tratar a arte como um conhecimento, mas como a
própria Ana Mae alerta, oferendo “estrutura e magia”. Entende-se por estrutura um
conjunto de relações que resultam na automaticidade e na excelência do ensino de
artes: Formam esse conjunto o apoio financeiro, sempre relegado a uma questão
secundária; legitimidade acadêmica, com restrições à uma prática reducionista;
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oferecimento de experiências que permitam ao aluno lidar inteligentemente com o
problema, com uma apreciação estética e critica; e a habilidade do professor e a
busca de um ensino inteligente. Magia é quando as capacidades intelectuais tornam-
se em habilidades intelectuais, tornando-se possível perceber o sutil e o complexo,
as relações enigmáticas e ambíguas. É o fluir a imaginação e das emoções. Defende
Ana Mae (2001, pág. 23):
“Nenhum programa de artes desprovido deste tipo de
experiência, ou que não abra as portas para estas
experiências, realiza sua missão. E nenhuma porta pode ser
aberta sem um currículo que contenha tanto estrutura quanto
mágica. Sem estrutura, não se consegue automaticidade. E,
sem automaticidade, não se atinge internalização. E sem
internalização não há mágica... Não há arte sem ela e não há
acesso sem estrutura.”
1.2- Mediações Pedagógicas
A mediação na Arte ocorre desde do momento de divulgação,
comercialização das imagens pela mídia, pelo governo, instituições e pelo próprio
sujeito fruidor. Com a evolução tenológica e industrial, as reproduções de obras de
arte aumentam sem perder a qualidade das mesmas, tornando-se maior a
democratização do saber. Segundo Moran, Masetto e Behrens (2001, pág. 145): “A
mediação pedagógica busca abrir um caminho a novas relações do estudante: com
os materiais, com o próprio contexto, com outros textos, com seus companheiros de
aprendizagem , incluindo o professor, consigo mesmo e com seu futuro.” As formas
de se abordar arte em sala de aula constitui a parte deste estudo. Algumas
metodologias são conhecidas, e tem como o centro de atenção a criança e provocar
a descoberta de sentidos. A metodologia Triangular divulgada por Ana Mae Barbosa
propõem como prática pedagógica no ensino de arte, o fazer artístico, acompanhado
por uma leitura visual e plástica da obra e a História da Arte. Walter Benjamin
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afirmava que a forma de se perceber o coletivo provoca a transformação individual, e
que a percepção humana se organiza a partir de um olhar sobre o contexto histórico
social. Assim, a História da Arte permeia e promove entendimento, uma busca pelo
significado, que torna-se importante esclarecer que o tempo valorizado aqui é o
fenomenológico, aquele que flui a partir da apreciação e não apenas o histórico, o
data. A arte é o conhecimento necessário para uma leitura sensível e apreciativa da
realidade. O indivíduo pode vir a produzir de forma mais consciente: apropriando-se,
descobrindo e vivenciando informações e dados de outras épocas e momentos.
Definir elementos que compõem e formam uma gramática visual faz parte desta
metodologia. Na verdade é uma busca por uma educação emocional e cognitiva,
fazendo uma abordagem nos campos conceituais da arte: a criação/produção,
percepção/análise; conhecimento/contextualização tornam-se veículos para o
entendimento e a universalização das artes – como se arte fosse a “língua do
mundo”. Em 1970, Feldman propôs o método comparativo, onde o processo de
leitura baseia-se no olhar(descrição), na análise, na interpretação e o julgamento da
obra de arte. O que se propõe neste trabalho é que se descubra novas formas de se
mediar, e o mais importante que se torne este processo significante para o aluno.
1.3 - Alfabetização Visual
Ninguém aprende sozinho, a construção do saber consiste na relação de
trocas; compreender significa apropria-se, tornar próprio o que é do outro e tecer
significados. O saber é a linguagem dos símbolos. É preciso decodificá-los, adquirir
conhecimento para a leitura da imagem, e desenvolver o pensamento
presentacional, aquele que capta e processa informação pela imagem. È o pensar
inteligente, aliado a capacidade de critica e estética, e de informação. Emitir um olhar
capaz de identificar elementos formais como ponto, linha, forma, espaço, textura,
conhecedor da gramática visual, um olhar decifrador de mundos internos contidos na
imagem, sublimado. Estudos confirmam que se um indivíduo for mais trabalhado em
sua linguagem visual, mais facilidade terá em solucionar e responder a tarefas
mentais, ou seja mais intuitivo ele será, e a intuição também é uma forma de se fazer
leituras do mundo. É o que explica Celso Antunes (2000, pág. 23) :“o cérebro
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educado pode aprender a observar melhor e criar, criando aprende a se libertar.”.
Desde das cavernas, o homem utililiza as artes para se comunicar, são os códigos
culturais e códigos de poder e controle. Os arte-educadores precisam promover esta
alfabetização cultural e libertadora, não apenas facilitar a expressão das crianças,
mas promover interpretação, auto-estima e também poder, isto é autoconfiança por
estar se descobrindo porque:
“ Como toda e qualquer linguagem, a arte tem códigos,cada linguagem da arte tem seu código, isto é umsistema estruturados de signos. Assim, o artista, no seufazer artístico, opera com elementos da gramática dalinguagem da arte com liberdade de criação, utilizando-os de forma incomum.....Deixando suas marcassimbólicas...”(GUERRA e col.1998, pág. 45)
Este novo século caracteriza-se pela tirania das imagens. São tantas e de
todos os pontos : primitivas, industrias, manuais, religiosas,....Enfim todas aquelas
que nossa aldeia global permita. São imagens que definem e marcam um tempo, e
este é perceptível plasticamente e visualmente. Contam a história de um povo, de
uma cultura, de grupos de interesse, e de poderes. O homem deste início do século
está refém da cultura da imagem. A inclusão da arte popular e da mídia eletrônica
nos currículos escolares é pertinente quando se pretende trabalhar com artes, assim
como a abordagem da História da Arte, aliada ao fazer artístico. Provocar a leitura
visual representa uma forma de patriocinar o conhecimento, a capacidade de
entendimento e desperta toda uma comunidade sem distinção social ou cultural. As
imagens eletrônicas que chegam pela Internet, por multimídia, filmes concebidos a
partir de tais recursos, e até a própria TV representam um campo com muitas
novidades, ricos em questionamentos, para uma metodologia que atua na
decodificação de mensagens facilitando e estimulando uma alfabetização visual e
estética. com a arte popular A arte-educação viabiliza leituras e conexões, dispõe os
significados. Deve provocar e investigar formas de entendimento diante dessas
imagens: desmacará-las. Descobri-las digitais e naturais em sua essência. Então, a
escola deve ocupar o espaço de alfabetizadora cultural. “Ler é produzir
sentido”(GUERRA e col. 1998, pág.75). Perceber a intemporalidade e a
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temporalidade de uma obra de arte faz parte desta leitura; compor uma memória que
estabeleça vínculos com uma realidade própria, percebendo o patrimônio da
sensibilidade humana.
A formação de uma linguagem visual consiste em dominar e conhecer as
possibilidades de cores, seqüências ou contrastes, entre linhas, formas, volumes,
espaços visuais com ritmos e proporções. E estas seguem uma ordem que vão
resultar em um produto que expõe um determinado significado, que por
apresentarem uma inderteminação inicialmente, permitem inúmeras interpretações.
E em uma “Era de Entretenimento”, Jorge Tadeu (2001, Pág.109) defende a urgência
de provocar leituras de imagens com interpretações críticas, analisando tanto a
forma(como elas são construídas) quanto o conteúdo (o que elas comunicam em
situações concretas), diferenciando os produtos de uma cultura comercial.
Provocados pela própria publicidade, são as imagens portadoras de códigos e
símbolos de poder, de consumo, de estilo de vida, de compulsões. É preciso adotar
nos currículos um alfabetismo visual e critico! É preciso mediar! Como se fossem
“máquinas de sonhos”, a escola desta forma facilitaria a asserção de conhecimento
sobre o mundo e sobre o próprio indivíduo. Dentro da epistemologia do ensino das
artes, o método comparativo oferece opções de trabalhos mais concreta, que
permitem uma demonstração da teoria na prática. Ao tomar conhecimento dos
contatos naturais e digitais, cabe perceber que a arte permeia estas duas origens de
realidades, e que as interpretações resultam da complementação dessas duas vias
que compõe a realidade atualmente. O método Comparativo é uma forma de analisar
uma obra de arte alcançando os objetivos da metodologia triangular. Conhecer a Arte
a partir de ações intrínsecas: Elas partem do ato de ver (descrição), observar o que
se vê (análise), dar significação ao que se vê (interpretação), e atribuir valores
acerca do que se viu (julgamento). Sempre utilizando duas ou mais obras, omitindo
inicialmente o nome e informações que direcionariam a leitura, com perguntas que
encaminham olhar e o pensar.
Para exemplificar, será relatada uma atividade oportuna com momento
atual. Uma análise comparativa de três obras de arte: “ O grito”, de Munch (Fig.12);
“solidão”, de Marc Chagall (Fig.13); “Senécio”, Paul Klee (fig. 14), e também a
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adoção da música “O pulso” dos Titãs. Estas imagens são apresentadas à turma;
inicialmente são observadas e descritas com a preocupação de anotar ou fazer um
relatório distribuído anteriormente, que servirá de futura avaliação, de base e
informação: Qual a cor que se repete? Como estão as linhas? Existe repetição de
algumas delas? Onde mais se repete? Que tipo de textura se percebe? Possuem
volume? O que provoca a sensação de volume? Que tipo de beleza se pode atribuir
:clássica ou moderna? São formas figurativas ou abstratas? Vale ressaltar que tais
informações já teriam sido trabalhadas anteriormente, enquanto definição dos
elementos visuais. Soma-se a esta parte visual, a música “O pulso” de Titãs como
complemento e apelo emocional. Orienta-se para que se perceba aquilo que a
música oferece, se detendo também aos elemento musicais; e ainda como
descrição, comparar as duas formas de arte e linguagem, suas semelhanças e
diferenças, canalizando para a idéia central ou o tema. A formação musical do
educador será interessante, para se conceituar os elementos musicais. Em um
segundo momento, inicia-se a análise das obras de como se apresenta aquilo que se
vê ou o que se ouve: Qual é o personagem principal das imagens? Porque a escolha
desta música para abordar estas imagens? Como estão sendo tratados? Quais as
semelhanças? E as diferenças? Em terceiro momento, pretende-se identificar os
significados: Qual a emoção que as cores ressaltam? Qual a lembrança que
provoca? Os pensamentos que evocam? Qual a relação com acontecimento atuais.
E por fim suscitar o julgamento das obras em relação a intemporalidade da arte,
através da percepção do tempo (data) e sua reflexão histórica, pensar na definição
da arte como conhecimento é indispensável para percorrer este caminho de
elaboração de pensamentos significações.
1.3- Criatividade
A experiência da criação é altamente poderosa. Transcendental, enquanto
se deixa de viver limitadamente para viver a força desafiadora do espírito, como
descreve Dummar Filho (1999, pág. 34):
“Verá então desenvolvendo-se diante de seus olhos osmistérios transcendentais da vida e da morte. Dessa
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sua vivência poderão brotar frutos obras de arte,poesias, louvores, preces e vidas mais plenas. É vivertoda plenitude criativa que está latente no ser humano.É estar diante de Deus, o espírito criador do universo eque nos dotou de uma dimensão espiritual co-criadora,que é o elo entre nós e sua transcendência.”
Não é possível conceber a criatividade como um processo puramente
subjetivo, dissociá-lo de seu mundo objetivo; é um inter-relacionamento da pessoa
com o meio, que tem como lugar a atividade lúdica e a brincadeira_ a
espontaneidade e a imaginação. Por ela é possível exteriorizar um mundo interior,
dar forma aos sentimentos, às emoções e aos significados. Criar é poder, é auto-
afirmação, e também reconhecimentos de limites, de falhas e dificuldades.
Vivenciando, ordenando e selecionando perceptivelmente formas, o ser humano
simboliza e transforma a realidade; assim aconteceu com a própria História da vida:
Nossas células criativas percorreram em um movimento de epigenese (origem sobre
origem) ou alteridade (encontro com o outro), na busca de uma criação, de uma
creação ou da procriação. Crear é o próprio insight, surge do nada, a partir de uma
intuição, enquanto que criar necessita de uma base, de uma referência, e procriar é a
continuidade e a renovação. Como diz Fayga: “Na busca de ordenações e
significados reside a profunda motivação humana de criar” (FAYGA,1991,pág.09). O
potencial criativo só se desenvolve diante de estímulos culturais. O homem biológico
desenvolve-se a partir do homem cultural. E o portal deste potencial é a
sensibilidade. O homem fica “aberto”, perceptível ao seu meio ambiente, reagindo e
estabelecendo trocas, acolhendo e elaborando as sensações. O processo criativo
resulta da dificuldade, da necessidade, na luta pela sobrevivência, e biologicamente
o homem é criativo. Ele usa a cultura em seu benefício, em uma derivação
ontogênica – a formação do próprio ser, e a derivação retrogênica – retorno às
origens, busca o equilíbrio e sua centralidade psíquica. A criatividade constitui um
elemento de conexão entre os dois mundos: o real e o imaginário; o simbólico e o
fantástico; o concreto e o subjetivo; e o individual e o cultural. As formas expressivas
estão vinculadas ao contexto cultural, num processo de ordenação e comunicação. O
caráter expressivo das formas estão intimamente ligados ao seu desenvolvimento e
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as qualidades vivênciais, que através da materialidade (técnica e tecnologia) torna-se
passível de comunicação. “Todos os processos de criação representam, na origem,
tentativas de estruturação, de experimentação e controle, processos produtivos onde
o homem se descobre, onde ele próprio se articula à medida que passa a identificar-
se com a matéria.” (FAYGA,1991, pág.53). Este processo criativo resulta de
caminhos intuitivos e ordenações perceptivas com seleções de imagens e
predeterminação interior _ insight_ são operações mentais instantâneas de
diferenciação, de nivelamento, de comparação, de construção, de alternativa e de
conclusão, que envolvem o relacionamento e a escolha, ainda no subconsciente em
uma situação. Por muito tempo pensou-se em criatividade como um se fosse um
dom, uma forma de ser inteligente, fruto de um mimetismo proposto pelos gregos.
Com estudos atuais e experiências demonstram que a capacidade criativa somado a
imaginação facilitam os caminhos para as várias inteligências: Linguística, lógico-
matemática, espacial, sonora, cinestésico-corporal, naturalista, intrapessoal e
interpessoal _ Teoria das Inteligências Múltiplas. Na verdade, o homem se relaciona
com seu tempo dando formas às suas significações, e ao seu conhecimento. Os
grupos criativos do Renascimento elevaram o aspecto imaginativo, o homem não se
dissocia do seu contexto cultural em que vive consciente ou inconscientemente, vai
demarcar os aspectos da criatividade conforme sua evolução tecnológica, espiritual e
material. Inventivo, assim foi classificado o período de grandes invenções e de
novidades oferecidas pela era industrial, incentivado pelo mas media, criando
necessidades, sem uma prática reflexiva, condicionando-o a uma modernidade. Mas
os avanços tecnológicos levam o homem ao modernismo e tomar atitudes, a trocar
informações. Em um século tão criativo como foi o séc. xx, o homem é associativo,
explora as idéias e sua liberdade de criar; o interesse pela miniaturização,
digitalização e síntese foram seus princípios norteadores – vide anexo. E o que nos
resta hoje? Observar, perceber, possuir uma visão critica, canalizar atitudes que
causem transformação da realidade, ou seja, significar a existência, porque com todo
os avanços tecnológicos pouco se tem contribuído para o crescimento e a
maturidade humana.
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2- A IMAGEM ELETRÔNICA: CAMINHOS
Desde os primórdios a imagem está presente no universo humano através
da pintura, da gravura e da escultura. Analisa-se o desenvolvimento da humanidade
antes e depois da escrita. A passagem de uma fase para outra marca também a
relação tempo-espaço: na fase oral transmissor e receptor estão no mesmo tempo e
no mesmo lugar, a memória está dimensionada nas pessoas como forma de
manutenção da comunicação, viva em um tempo cíclico; na fase escrita percebe-se
a linearidade das circunstâncias, a interação direta entre autor e receptor deixam de
ser necessariamente compartilhadas, quebra-se a barreira do tempo e do espaço,
exige-se a memória como forma de interpretação e manutenção cultural - as
linguagens e as técnicas tem vital importância na cristalização das informações e
organização de uma sociedade. Na era da informática a palavra cubista se aplica
bem ao que acontece no nosso mundo atual: várias realidades, várias imagens
acontecendo ao mesmo tempo. A velocidade é a sua principal característica, de uma
fulgacidade que se desmaterializa e traz uma nova realidade, o virtual. A realidade
virtual é fornecida por um conjunto de técnicas avançadas, que recriam ambientes
irreais, onde as pessoas podem participar, manipular e interagir. Na verdade é a
simulação de criar um mundo à parte onde o espectador se transforma e se adapta;
mas antes o cinema e a fotografia já propunham este tipo de realidade, e com o
surgimento das tecnologias de informação há uma maior manipulação de fronteiras.
A intuição, elemento formador da criatividade e da inteligência, é também a matéria-
prima das interfaces, onde o usuário a utiliza visualmente e passivamente como
assistir uma TV, ou também com dispositivos de controle que o levam o se envolver,
como em um jogo. A cultura da interface acrescenta uma nova relação: o “espaço-
informação”, gerado pela automacidade da informática, é uma forma de
metalinguagem. As interfaces são como a própria mente humana, é possível acessar
arquivos, pastas e sites com conteúdos e imaginação, é um local simbólico
pertencente ao ciberespaço.
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A imagem eletrônica constitui-se de programas que vão servir de
instrumentos e veículos para a reprodução imagética da realidade. Na verdade, a
vida é composta por várias visões ao mesmo tempo, cíclicas e ao redor de -
conseguiu-se detectar bem isso com o advento do cinema, onde vários planos
integram-se para formar um todo, uma mensagem. É o resultado da relação do
homem com o computador, que como outros veículos possui alguns programas que
são ferramentas para a execução de trabalhos:
• Photoshop – fabricado pela Adobe, tem a função de acabamento e retoque
digital. Destaca-se pela sua fidelidade de cor.
• 3D studio MAX – uma ferramenta para animação, formulação de jogos, efeitos
especiais em filmes e na TV.
• CorelDraw – talvez o mais acessível mas não menos capaz! Este programa
disponibiliza instrumentos convencionais, com objetos geométricos e imagens,
adiciona textos, é fácil e intuitivo. Na sua versão 9, tem melhor fidelidade de
cores, tornando-se competitível com a Adobe.
• Dream Weaver – Este auxilia na formação de home pages.
• VRML – Não é uma linguagem muito poderosa, seus arquivos com mais1Mb
compromete esta tecnologia.
• HTML – HiperText Markup Language – destinada a programação da web, é
uma linguagem de marcação, que através de tags posiciona e coloca hiper-
texto no documento. São comandos que formatam as páginas da web.
• Power Point – Programa para apresentação cena a cena.
• Paint-brush – Programa simples e ascecível do windows, que permite fazer
um desenho. Possui menu, Barra de Ferramentas, local de desenho e cores.
Recomendado para iniciantes.
• PhotoPAINT – Programa para tratamento de imagens.
• FLASH – programa que oferece interatividade para usuário. Utilizado para
criar animações.
De acordo com leituras a imagem pode vir a ser analógica ou digital. A
primeira é contínua, sem cortes, infinita, como fotos ; a segunda é composta por
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dígitos, um sistema binário de “zeros” e “uns”. O computador os transforma em
dados, ou seja dividi a imagem em fragmentos, é o conhecimento em dados.
Os procedimentos dessas imagens seguem a uma interdisciplinaridade,
enquanto sua linguagem não se serve de um modelo único, misturam-se com outros
recursos e com outras linguagens: como colagem, texturização, iluminação artificial e
a tipografia. Sugerindo um movimento de interação entre técnicas, como a própria
vida. Já na internet, as próprias páginas com textos possuem um conteúdo
imagético, por isso algumas ressalvas quanto a elaboração que se aplicam: O
conteúdo é primordial, acompanhado de fonte de origem com o autor, data e outros
dados para que o site possa ser identificado e confiável. A sua estrutura deverá
facilitar o acesso, não muito lentos, com uma leitura fácil, com noções de
funcionalidade, e que esta incentivem uma interatividade entre os utilizadores e os
responsáveis do “site”. Existem softwares específico para a criação de páginas na
web, mas é também importante uma pesquisa sobre os conteúdos exibidos
anteriormente, para adotar um critério; O desgin deve se preocupar com uma
experiência sensível e não apenas em utilizar a alta tecnologia, onde o menos é
mais. Esta experiência refere-se a leitura que fazemos de uma narrativa de uma
imagem: diferente das palavras que possuem um código estabelecido, as imagens,
como língua do mundo, estão sujeitos a interpretações. Ocorre um espaço entre a
idéia e os sentimentos do autor e o que foi absorvido pelo receptor. As imagens
eletrônicas contam com a automacidade da informática, e a instantâneidade da
consciência humana, contudo é preciso ter um espaço (físico . E o virtual?) para que
a experiência de leitura realmente aconteça, onde se possa dominar e dialogar com
os elementos componentes da imagem, para que eles vão desmascarando e abrindo
portas para questionamentos e outras emoções. Porque as imagens são recebidas,
assim de forma instantânea, mas precisa-se do tempo (chronos) e das vivências
(kairós) para que a experiência da sensibilidade flua.
2.1 - Arte e Tecnologia
A relação dialética do homem e seu meio ambiente se reflete na relação
de arte e tecnologia. Um conjunto de materiais e instrumentos para realizar algum
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objetivo, servindo a uma determinada técnica, assim é entendido tecnologia. Lèvy
(2000, pág. 25) coloca-a como resultado de uma cultura, é condicionante e não
determinante, ou seja sua capacidade de influenciar a produção da obra é limitada
enquanto veículo, e não encerra em si mesmo. Mas para Silva (1995, pág. 70) arte e
tecnologia mantém uma relação intrínseca de saber e de fazer, e que ambas
desvelam um mundo particular que até então era desconhecível; a tecnologia
constitui o regime de conhecimento e verdade no qual os processos produtivos serão
determinados e articulados como uma forma de tecnologia cultural. O homem é um
ser criativo que formula técnicas para agir e reagir conforme seus interesses
econômicos, seus ideais e seus projetos sociais. O computador é o mediador entre o
sujeito e a produção. É instrumento e veículo que armazena informações. Ele não
pode perceber, os programas servem de técnicas de instrumento de trabalho.
Do simples copiar até as imagens dos Fractais , a expressão constitui uma
das formas de definir e entender a linguagem da Arte, e hoje com o computador,
volta-se ao princípio básico da Arte – “tabula rasa, escrita em latim que significa
tábua rasa, uma tábua na qual a escrita se esbateu ou foi apagada, e na qual se
pode assim voltar e escrever de novo” (SÉPIA, pág.4, 2001)_ no que se refere a
questão do método, das técnicas e das propostas; e o homem desenvolve-se
tecnologicamente e consequentemente multiplica sua competência para se
expressar. Assim, os Fractais são imagens com dimensões fracionárias que resultam
de equações matemáticas, e que só podem ser feitas no computador, quando umas
parte são ampliadas tem a mesma característica do todo. Estas podem ser
observadas na natureza, seguindo um princípio de ordem e desordem, é uma
unidade que representa o princípio de ordem dentro do caos. Arte e tecnologia
mantém uma relação de mediação e interdependência; a arte se constitui a
tecnologia cultural e simbólica de um povo e de um grupo, atualmente percebe-se
que a tecnologia cria um mundo e este atua na transformação do homem, e é uma
forma de se pensar sobre ele.
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2.2 - Alfabetização digital
É a democratização do saber, é deixar de ser passivo diante da
informação. Assim como a alfabetização visual, significa a promoção de poder. Este
termo não se limita a ensinar como lidar com mouse ou acessar o computador, mas
sim uma educação reintegradora, que faça o homem a ser sujeito da tecnologia, que
seja capaz de decifrar e organizar códigos. Para que ocorra a leitura digital, de
acordo com Steven Johnson (Pág. 17, 1997) em seu livro afirma que o computador
não passa de uma máquina de calcular ineficiente quando nada faz além de
manipular seqüências de zeros e uns; é preciso que este represente a si mesmo ao
usuário, numa linguagem que o usuário o compreenda. A computação Gráfica torna-
se cada vez mais didáticas, onde seus programas facilitam a manipulação e o
diálogo entre homem e máquina, fica claro que a máquina não é mera extensão
desse homem, mas um ambiente de criação, análise e leituras. Usar um computador
em sala de aula exige do profissional uma técnica, dentro de passos de motivação,
desenvolvimento e avaliação, como qualquer outro recurso, qual seria a melhor
maneira de usá-lo? A idéia de prazer e de facilidade de aprender está intimamente
ligada, com jogos de multimídia servindo de desafio ao aprender. No entanto, saber
manipular símbolos do computador pode não significar conhecimento, mas é um pré-
requisito para se criar. Basta entender que a criação é um ato de conhecimento, no
momento que é preciso conhecer o material para se desenvolver a técnica.. A
alfabetização digital é um caminho necessário, mediante às inovações desse século
e pelas opções que a própria sociedade ocidental adotou, porque só assim será
possível a inserção neste mundo, na fig. , em anexo é a reprodução da linha do
tempo das evoluções tecnológicas. Neste contexto, a tecnologia educacional objetiva
“recuperar a centralidade da escola na condição de lugar estratégico de gestação da
inteligência criadora” (Sampaio, pág. 46. 2000) .mas é também Paulo Freire que
alerta para a leitura das mensagens tecnológicas e sua interferência na organização
do mundo e da cultura (Sampaio, pág. 55. 2000). A construção do conhecimento na
sociedade de informação perpassa na excelência da qualidade, o que obriga o ser a
estar sempre “on line”, perceptível a novidades; e também a traçar um processo de
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construção de significados (interiorização). A alfabetização digital derruba barreiras e
fronteiras como por exemplo as que impedem o desenvolvimento da criatividade,.
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3 - FAZENDO LEITURAS. TECENDO SIGNIFICADOS
Nesta etapa o objeto de estudo são os resultados, provocadores de
leituras e releituras, condutores de significados, experiências, vivências e valores.
“As pessoas se tornam meros turistas da vida, olhando-a através de vitrinas, como se fossem um show, apenasum espetáculo. Quer dizer, as pessoas olham, mas nãochegam a perceber, pois para tanto teriam queentender as informações. Teriam que poder vivenciá-las. Mas as informações não se dirigem ao vivenciardas pessoas, à participação e ao verdadeiroentendimento, que abrangeria a sensibilidade, aimaginação e os valores humanos (amor, compaixão,generosidade, esperança, coragem), enfim, tudo o quepossa perfazer nossa razão de ser e os conteúdos denossa mente inteligente.” Fayga (1995, pág. 189)
O produto indica o processo de aprendizagem e percepção. O método
comparativo já citado anteriormente, questiona objetiva não somente respostas, mas
visa estes significados, e também notar a mediação das práticas pedagógicas. A
preocupação de tecer signos e seus significantes justifica-se um currículo com uma
política e uma prática voltada aos estudos culturais, respeitando os campos
simbólicos de cada cultura. Os significados são compostos a partir de ordenações
seletivas feitas pela percepção, e que se difere pela estrutura física e emocional de
cada um, a capacidade de se reagir a estímulos conforme interesses, expectativas e
uma prioridade intuitiva. Constrói-se imagens referencias a partir de aspectos que
são siginificativos para o próprio ser e que irão servir de modelo e orientação durante
o ato da percepção. Uma experiência, uma vivência de interpretação, onde o homem
visa encontrar com o mundo exterior e com seu mundo interior, em relações
consciente ou não. Assim, um contexto pode ser alterado conforme novos
significados e novas interpretações vão surgindo. O conteúdo expressivo de uma
obra de arte está conectados por uma ordem entre todo e as partes, onde alteração
de cada um dos elementos interferem na mensagem; o equilíbrio expressivo de uma
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imagem resulta do equilíbrio de forças que se conciliam e se configuram em uma
definição de sentido que não será a única. Na arte não existem significados
predeterminados, tudo vai se formando, concretizando uma configuração final; e os
conteúdos são valores, conteúdo existenciais e visões de vida, resultando de uma
correspondência entre formas espaciais e vivências. A arte como linguagem
aperfeiçoa o domínio da inteligência sobre a formação dos significados perceptivos,
então a Teoria das Inteligências Libertadoras proposta por Celso Antunes, propõe a
aventura em descobrir novos significados. Prevê o controle da mente sobre os
sentidos e as ações, provocando libertações: A libertação da palavra, dos signos de
grandeza, dos sonhos e do imaginário, do espaço geográfico e temporal, do som, do
tato, do olfato, do paladar, do olhar, do movimento corporal, da atenção, da beleza,
da carícia, do pensamento e das emoções. Todas preocupadas em reestabelecer a
qualidade e o encanto da vida. Fazer leituras e tecer significado depende realmente
do grau de maturação e envolvimento de cada um, é preciso criar um contexto
emocional e intelectual para aproximar as informações através de vivências e
familiarizações; práticas pedagógicas que influenciam na produção de significados.
Moran (2001, pág. 34) alerta que a linguagem audiovisual tende a explorar as
imagens básicas, centrais, simbólicas, arquetípicas que definem o indíviduo, porque
são muito mais rápidas e muito mais abrangentes do que o olho, que capta as
informações por etapas, e por isso mesmo os meios de comunicação eletrônicos são
mais eficazes, o que faz o homem ficar suscetível a esta tecnologia. Em
contrapartida afirma Silva (1995, pág. 73) que utilizem a cultura como instrumento de
mediações desses campos simbólicos. O fazer artístico está intimamente ligado com
as vivências dos valores do indivíduo, ou seja, criar não é um ato passivo ou
mecânico, mas sim um total engajamento com sua percepção de mundo. É a
necessidade da busca pelo significado.
3.1- Desenvolvimento da imagem pela criança
Ainda criança, o homem constrói signos inconscientemente e
intuitivamente, imitando os símbolos de sua cultura; piaget denominou como estágio
sensório-motor, isto quer dizer que é uma fase onde é necessário vivenciar através
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de um gesto ou de uma ação o que a percepção deseja traduzir em traços ou em
círculos, suas experiências. De 0 a 2 anos a criança constrói seus símbolos, mas
primeiro explora o seu mundo plasticamente a partir de garatujas, são elas matéria-
prima para a produção de imagens:
• Garatujas ordenadas – movimentos incontrolados e desordenados.
• Garatujas controladas – Descobre a relação do traço deixados sobre o papel.
• Garatuja identificada - Atribui nome às suas garatujas, no final aparecem objetos
circulares.
Alguns materiais são recomendáveis como giz de ceras grossos e com
poucas cores, tesoura sem ponta, pintura a dedo, papéis grandes, guache, massinha
de modelar e sucatas.
Na fase pré-esquemática (2 a 7 anos) a criança desenhas círculos, células
que representam a sua necessidade de consciência do mundo. Constrói símbolos,
dá formas aquilo que é importante (significados) para ela. É comum encontrar
exageros ou omissões. Conforme seu desenvolvimento vão aparecendo partes do
seu corpo, em ritmo mais lento os traços são mais seguros e descontínuo.
Os materiais deverão facilitar uma expressão mais linear: giz de cera
grossos, pastéis à óleo, guache, pilot grossos, folhas de vários tamanhos, papéis
coloridos, sucatas em geral, argila cola colorida e tesouras sem ponta.
A fase esquemática (7 a 9 anos) é marcada pela conscientização maior e
análise do mundo exterior. Os desenhos tomam uma ordem definida, e surgem os
esquemas que vão variar conforme a personalidade da criança, porém com uma
visão menos egocêntrica.. As formas se repetem, mas interrelacionadas dentro de
um conjunto, se separadas perdem o significado. As formas geométricas são comuns
e repetidas, assim como a utilização da linha de base sinaliza um princípio de
ordenação espacial.
Aqui são sugeridas alguns materiais como o guache, o lápis preto e de
cor, borracha , cantas hidrográficas, papéis coloridos materiais para a colagem, argila
tesoura e papie marche.
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Realismo (9 a 12 anos) é a fase da retratação das emoções. A criança
possui autocrítica, não precisa de esquemas para representar. Some a linha base, e
aparece o plano base. Pode-se usar diversos tipos de materiais, é muito valorizados
materiais novos como anilina, aquarela, o papie marche, o pastel seco e gesso.
No pseudonaturalismo (12 14 anos) ocorre o desenvolvimento intelectual,
e uma visível preocupação com a produção artística. Utiliza técnicas. Efeitos de luz e
sombra.
Por fim, a arte do adolescente só se desenvolve se houver um
envolvimento de interesses profissionais. Apresentando resistências e recorrendo a
estereótipos, o que se chama de esgotamento da atividade gráfica. Nestas últimas os
materiais se repetem, mas todos eles com objetivo de incentivar o domínio e facilitar
a expressão.
3.2- Uma abordagem Arteterapêutica
Assim como, o Windows (janela) é um programa com ferramentas que
visão encaminhar, articular e facilitar a comunicação entre o homem e o mundo, a
arte também é uma janela para olhar esse mundo, com imagens através das quais o
artista diz de si e de suas percepções, oferecendo contemplação e participação aos
homens, compartilhando a sua imaginação e o seu saber. Por uma questão de
sobrevivência do próprio sujeito, a arte é uma atividade estética, cujo o resultado
(expressões e de imagens) é a organização de formas particulares de significações,
que demarcam as diferenças e facilitam o reconhecimento das características
individuais e sociais dos indivíduos. A partir de um olhar arteterapêutico, tudo que é
feito em termos de produção artística tem valor e significado, e o que define uma
obra de arte é justamente o caráter expressivo, e a emoção que consegue transmitir:
o acaso e a intenção se combinam na transposição dessa dialética entre o homem e
o seu meio. A leitura arteterapêutica é uma forma de mediar essas expressões
artísticas, favorecendo a estruturação consciente de uma representação. Com o
advento dos aparatos tecnológicos e a ampliação das técnicas, desde a revolução
industrial, a leitura da imagem torna-se mais completa e reveladora. Assim também é
a produção de imagens no computador: Um outro veículo, uma complementação às
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conquistas humanas com suas regras e limitações, se comparadas com o fazer
manual, como em qualquer outra técnica, mas como sua própria origem é a
informática- informações automáticas- torna-se preciso que sua linguagem seja mais
vivenciada. Nesse contexto, é necessário aliar outros materiais e outras estratégias
como tinta, argila, cerâmica, recorte e colagem, que irão aumentar as possibilidades
criativas e simbólicas, e o campo de interpretação e o acolhimento da energia
psíquica. Cabe ressaltar que o centro de uma produção artística é o sujeito, suas
relações e conquistas. O estudo da História da arte e a preocupação plástica
fornecem inspiração e entendimento para esse significados. Transitar entre essas
linguagens: conhecer e experimentar é um exercício de liberdade, traduzir e traduzir-
se pelo fazer artístico inesgotavelmente com materiais e técnicas, dialogar com
signos, é fazer pensar o mundo. O ato criativo é resultado da integração de aspectos
como a percepção, a imaginação, a imagem, o imaginário, o corpo, o espaço, o
tempo, a consciente, o inconsciente, o mito e o símbolo; estes se relacionam e
seguem uma dinâmica própria que poderiam ser desmembrados em outros termos
como a psique, a forma, a linguagem, o material, a técnica e a cultura. A linguagem é
o espaço onde o homem utiliza para expressar seus pensamentos, suas ordenações,
vivências e significados. Desde de cedo o homem evolui em etapas gráficas como já
vimos anteriormente, em uma busca de autoconhecimento, com estas observa-se
que as formas geométricas intuitivamente estão presente, nessa linha de abstração e
nos tempos atuais percebe-se o fractal, imagens feitas no computador, que são
observado também na própria natureza e ilustram a teoria do caos. Fractal são
imagens que se originam de uma estrutura que se quebra e se desfaz, por exemplo:
as nuvens, um rio que se precipita na cachoeira, um fluxo de trânsito que se
congestiona. É o cosmo visto dentro do caos, o início dentro do fim, é um constante
vir a renascer, infinitamente. Os símbolos servem para orientar a transformação do
indíviduo, e o profissional que esteja atuando. Em um processo de comunicação
entre o inconsciente e o ego que traz à tona a realidade interior obscura e
desconhecida- o manto, é um canal de expressão para ser entendido e
transformado, eis a importância de uma abordagem arterapêutica. Os símbolos são
resultado de um processo de individuação, e que se repetem em várias culturas em
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formas de mitos, de contos de fadas, tradições religiosas, ritos de passagem e
tratados alquímicos. Quando passam a pertencer ao inconsciente coletivo, são os
arquétipicos: Padrões básicos e dinâmicos, princípios organizadores que vão ser
expressados nessas produções. Os significados em uma expressão plástica
perpassa por caminhos (signo, código e significante) até alcançar seu objetivo maior
de comunicação com a realidade que o cerca. Em primeiro lugar, o código
morfológico: a relação que os traços e os elementos visuais mantém com a
preocupação de tornar-se claro e definida a idéia, eles por si só soltos não poderão
conduzir a uma leitura total; em segundo lugar, o código simbólico: aquele em que
cada cultura estabelece, legitima histórica e socialmente, e em terceiro lugar o código
subjetivo: é o estilo pessoal, contendo a historicidade do autor. Então, a construção
das imagens é o resultado, como foi colocado no início deste capítulo, de
elaborações mentais a partir de experiências sensório-motoras (percepção e ação),
onde o corpo é base do ato vivido, cabe neste universo todo afeto e todas as
constituições do “eu”: representação do proprietário do corpo (causa) e do potencial
do autor (efeito). Aí está o início da significação subjetiva, porque varia de pessoa
para pessoa, constitui um conjunto de signos que se interrelacionam com seu
contexto, com seu aspecto morfológico e com sua linguagem até a descoberta do
prazer, resultante da criatividade, dando sentido a vida.
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4 – Conclusão
Em tempos de humanização da máquina, estudar a imagem é exercer a
prática da liberdade. É trilhar um caminho em direção ao próprio homem . Descobrir
significados e vivenciar valores é uma atitude necessária. Os caminhos traçados pela
humanidade foram tentativas de ultrapassar fronteiras, só que da mesma maneira
outros desafios aparecem, e novas fronteiras se formam. Nesta caminhada o homem
precisa dominar seus conhecimentos, se posicionar diante de seu tempo; e arte é o
veículo fundamental para sustentar a relação de mediação entre ele e o mundo. Para
tornar-se consciente, é preciso que sinta - que cheire, que olhe, que deguste, que
ouça...que libertes-se! - em seu próprio corpo, em experiências vivas e concretas, a
dimensão da percepção humana. Por isso realizar leituras é na verdade, só uma das
etapas de seu caminho, é extremamente necessário que descubra-se, no sentido
contrário de cobrir, o manto de seu inconsciente e a maneira como estes se refletem
– as linguagens – e se expressam – as imagens. Tecer significados é buscar um
futuro possível, resgatar o ontem, dentro de um hoje. A arte precisa de eco para que
realmente aconteça um princípio de comunicação e leituras, para isso preciso
educação, informação e conhecimento. Arte é conhecimento. Este trabalho inicia
uma pesquisa e que não tem a pretensão de extinguir-se. Ainda ficam muitas
informações a serem testadas e analisadas, até porque os caminhos dos avanços
tecnológicos não permitem repouso. A Arte-educação precisa de um projeto
pedagógico que extrapole o universo escolar, assim como as imagens eletrônicas
invadem e transpõem barreiras. Assim como, nessa sociedade midiática se objetiva
criar necessidade, visando o consumo, também é a arte quando tecida em base
significativa, invade o viver para ser a alma da humanidade.
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Fig.07
Fig.08
Fig. 07 e 08 – Dinâmica realizada sobre a paz, utilizando uma música “A Paz”,de Zizi Possi. O aluno é levado a criar a partir de uma forma recortada empapel colorido. O trabalho da aluno da 7ª série, da Escola Municipal GibertoBento da Silva, foi um dos trabalhos selecionados para compor uma daspáginas de um álbum que narra a letra da música.
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Fig.13Fig.12
Fig.11
Fig.09 Fig.10
Fig.09, 10 e11- Alunos também compondo para o álbum.Fig.10 – “O grito”- MunchFig. 11-“ solidão”- Chagall
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Fig.14- “senécio”- Paul
Klee