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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA ARTETERAPIA COMO RECURSO DA TERAPIA OCUPACIONAL NA ABORDAGEM COM 0 DEPENDENTE QUiMICO SALETE APARECIDA CASAGRANDE DEARO Monografia apresentada a Universidade Tuiuti do Parana, como requisito parcial para a obten~ao do Titulo de Especialista no Curso de Saude Mental Interdisciplinar Orientador Prof. Dr. Milton C. Mariotti Novembro ,2002

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA

ARTETERAPIA COMO RECURSO DA TERAPIA OCUPACIONAL

NA ABORDAGEM COM 0 DEPENDENTE QUiMICO

SALETE APARECIDA CASAGRANDE DEARO

Monografia apresentada a Universidade Tuiuti do Parana, como requisito

parcial para a obten~ao do Titulo de Especialista no Curso de Saude Mental

Interdisciplinar

Orientador Prof. Dr. Milton C. Mariotti

Novembro ,2002

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SUMARIO

RESUMO . . .. IV

1 INTRODUc;:Ao . . 5

2 HISTORICO DE DEPENDENCIA Qui MICA, TERMOS E CONCEITOS

2.1 DEPENDENCIA QUiMICA: PATOlOGIA ..

2.2 MODElO DE TRATAMENTO ..

3.1 ARTETERAPIA CONCEITOS E FUNDAMENTOS ..

3.2 PINTURA TERAPEUTICA ..

4 A TERAPIA OCUPACIONAl E ARTETERAPIA

........ 7

. 9

. 11

. 13

. 14

3 A TERAPEUTICA PElA ARTE .

. 17

........................... 19

5 CONSIDERAC;:OES FINAIS 22

REFERENCIA BIBLIOGRAFICA 24

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RESUMO

A Arteterapia, enquanto recurso da Terapia Ocupacional, na abordagem do

dependente quimico, e a foco deste estudo, cujo abjetivo e promover urn

levantamento de literatura, que correlacione a teoria com a pratica. Esta e uma

necessidade da autora, na intervenc;ao com estes. E portanto, uma pesquisa te6rica

de revisao de literatura, desenvolvida no periodo de Janeiro a Setembro de 2002,

referente aD curso de EspeciaJizac;ao em Salide Mental. A relevancia do tern a

evidencia-se na medida em que a Drogadiyao e um problema de Saude Publica,

envolvendo a mobilizac;ao da sociedade como urn todo e tambem dos diversos

profissionais da area da saude. Aborda historicamente a Dependencia Quimica,

levantando termos e conceitos relacionados, a patologia e modelo de tratamento. A

Arteterapia e enfocada historicamente, com seus conceitos e fundamentalfao, e

ainda a terapeutica pela artePrivilegia-se nesta pesquisa, um dos recursos da

Arteterapia, que e a Pintura Terapeutica, sua atuaC;8o direta na organizaC;8o

individual e social do individuo e tambem promoC;80 e acumulo de conhecimentos e

percepc;oes. Isto pode levar a uma refarmulaC;8o de conceitos e atitudes, ideia

preconizada par varios autores. Estabelece-se uma conexao entre Arteterapia e

Terapia Ocupacional, pontuando-se pressupostos comuns, destacando-se 0 fazer, a

criaC;8o, a valorizaC;8o da expressao plastica espontanea e principalmente a

liberaC;8o do potencial criativo.

iv

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1 INTRODUi;AO

o presente estudo discorre sabre a Arteterapia, recurso da Terapia

Ocupaclonal, relacionada com a Dependencia Quimic8. Foi realizado no perfodo de

Janeiro a Setembro de 2002, apresentado como requisito parcial do Curso de

Especializayao em Saude Mental.

A relevancia do tema escolhido, vern da necessidade da autora em sua

experiencia profissional com dependentes quimicos, em correlacionar a tearia com a

pnitica, neste grave problema de Saude Publica, de grande impacto pessoal e

social.

Eo portanto, uma pesquisa te6rica de revisao de literatura, com 0 objetivo de

levantar contribuic;6es historicas de diversos autores sabre 0 tema, compreendidas

no periodo de 1995 a 2002, que evidenciam a importancia da Arte como meio de

expressao, comunica~ao, de linguagem e auto·conhecimento.

Aborda primeiramente a Dependencia Quimica fazendo urn resgate historico

dos S8US termos e conceitos, esta enquanto patologia clinica, que atinge 0 individuo

como um todo, com comprometimentos neurobiopsicol6gicos, espirituais e sociais.

A terapeutica pel a Arte e historicamente abordada no terceiro capitulo,

tam bern a Arteterapia com seus conceitos e fundamentay80 e a Pintura Terapeutica,

urn dos recursos da Arteterapia. Pontuam-se os seus beneficios na constatac;ao de

que atividades artisticas como 0 desenho e a pintura, aplicados com metodologia e

privilegiando as caracteristicas e limitac;oes de cada individuo, permitem a liberac;ao

de sentimentos e reac;:oes. Este processo pode levar a mudanc;as de comportamento

e atitudes, frente a situac;6es pessoais e do cotidiano, pensamentos e ideias

preconizadas por varios autores.

A relac;ao existente entre a Terapia Ocupacional e Arteterapia e enfocada no

quarto capitulo, demonstrando que e essencia da Terapia Ocupacional , 0 fazer, 0

criar, a valorizac;ao da expressao plastica espontfmea, que permite ao individuo

interferir na realidade externa modificando a realidade interna. Estes aspectos sao

compartilhados com a Arteterapia. 0 forte ponto em comum entre am bas, e 0

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despertar do potencial criativo, inerente ao ser humano, fator basico na prevenc;ao e

promoc;ao da saude mental e qualidade de vida.

Salide mental esta relacionada com a possibilidade de viver com liberdade

em rela980 ao mundo e ao proprio destino, e e definida como uma condi980 de bem

estar psicol6gico ou ajustamento comportamental adequado, harmonico com as

padr6es aceitos pela comunidade, de como devem ser as relac;oes humanas. Sao

caracteristicas da saude mental, entre outras, a auto-confianc;a, a auto-estima;

convivencia interpessoal harmonica; capacidade de estabelecer relac;oes amorosas

e de amizade, capacidade de suportar perdas.

Existem varios conceitos sabre qualidade de vida, ora ligados a fatores

socioeconomicos, ora a relac;ao de equilibria com a ambiente, ora a condiyao de

saude, mas a conceito considerado mais abrangente e autentico e a que tambem

en valve a busca pelo equilibria pessoal e a resgate, promoc;ao e respeito dos

valores humanos, espirituais e marais.

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Segundo historiadores, no seculo 19, descobriu-se ou criou-se a

Porem, a embriaguez cr6nica e 0 habito pelas drogas, nao eram novas neste seculo.

Concretamente, registrou-se urna junc;ao de fort;:as socia is que deram relevante

importancia a este fato.

A embriaguez foi considerada doenc;a, somente no seculo 19, mas segundo

LETTSOM, apud GRIFFITH (1994, p.15), anteriormente ao seculo 18, jiI se

conheciam individuos considerados de habiio leve, que por possuirem fragilidade

nervosa, buscavam supera-Ia com 0 uso do alcool, tentando obter alivio ternporario.

LEVINE, citado por GRIFFITH (1994, p.16), afirma que 0 pensamento colonial

do seculo 18, era 0 de que a alcool nao comprornetia a vontade, portanto, nao

causava adit;:ao (vicio). A ernbriaguez nao era considerada como doenc;a e poderia

ser controlada pelas pessoas, pois nao se tratava de urna compulsao inerente.

Os relatarios-padrao da histaria medica, conferem a THOMAS TROTTER

(1804),apud GRIFFITH (1994, p.17), a descoberta da adi,Bo, afirmando que 0"

habito da embriaguez e uma doen,a da mente". Segundo estes relatarios, foi RUSH

quem tornou a embriaguez cr6nica conhecida como uma doenc;a ou urn" transtorno

da vontade".

No continente europeu, somente em meados do seculo 19, e que 0 conceito

de doenc;a em relaC;80 ao alcool se incorporou a cia sse medica.

Em 1819, CRAMER, citado por GRIFFITH (1954, p.17), usou 0 termo

Dipsomania para definir urna doenc;a do sistema nervoso que produzia um desejo

irresistivel pelo alcool.

Com relac;ao ao usa de outras drogas, 0 nome que aparece em primeiro plano

e do Dr. EDWARD LEVINSTEIN (1878) com a publica,ao do livro" DIE MORPHIUM

SUCHT" (0 Desejo Marbido pela Mortina), considerando 0 uso desta como uma

doen,a similar a Dispsomania. KERR (1884), citado par GRIFFITH (1994, p.18), foi 0

principal defensor ingles da posi,ao de doen,a relacionada com a embriaguez.

Segundo este autor: "as danos morais, socia is, politicos, econ6micos e espirituais

causados pelo consumo excessive da bebida, eram resultado da opera,Bo da lei

natural, da aqaa fisla/6gica e patol6gica de um 16x/co narc6lico inslantaneo sobre 0

2 HISTORICO DA DEPENDENCIA QUiMICA, TERMOS E CONCEITOS

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cerebra e 0$ centras nervosos dos seres humanos, dotados de uma suscetibilidade

constitucional a ag80 desta cIa sse de agentes t6xicos". Entendia a embriaguez como

uma doenc;a tal qual a Epilepsia, surgindo assim 0 conceito f[sico-hereditario, ou

seja, uma questao da propria predisposi<;aohereditaria e da constitui<;ao fisica do

individuo.

HARLEY em (1884), citado por GRIFFITH (1994, p.24) disse a respeito..."a

insanidade hereditaria deve-se a transmissao de pai para filho, nao de pensamentos

anormais, mas sim do propria tecida cerebral m6rbido, onde originam-se tais

pensamentas" .. De maneira similar, segundo este autor, 0 bebedor nao transmite asua prole 0 desejo intenso pelo alcool, mas sim 0 tecido corporal organico anormal,

que da origem a este desejo.

Somente no periodo entre-guerras e que as abordagens fisicas e psicol6gicas

da dependencia S8 entrela<;am, marcando uma importante fase para 0 controle

internacional de drogas.

A ado<;ao do termo Dependencia de Drogas, em 1964, englobou tanto a

adic;:aocomo 0 habito, em urn s6 conceito. Assim, dependencia fo; definida como: um

estado resultante da administrac;:aorepetida de uma droga, de uso continuo ou

periodico. (GRIFFITH, 1994, p.24)

A palavra dependencia, tern sua origem no ingles medieval e mais

remotamente no termo em latim pendere, significando algo que esla segura.

Aplicado ao uso de substancias pSicoativas, esta palavra e utilizada como um

substantiv~, urn objetivo e urn verbo intransitiv~. Mas, sua defini<;aomais comum, e

a relacionada a qualidade ou estado de ser influenciado, de estar condicionado a, deestar necessitado de algo ou alguem. (GRIFFITH, 1994, p.39)

BLANKFIELD (1977), citado por GRIFFITH (1994, pAO), assinalou usos da

palavra dependencia, em rela<;5esinterpessoais normais (dependencia das crianc;:as

pelos pais); liga<;oes patologicas a pessoas, objetos e substancias; relac;oes

terapeuticas entre pacientes e alguem que as cure. Tambem pode ser usado em

relac;ao a um trac;o de personalidade, quando consiste em uma caracteristica

exagerada de uma pessoa. Existe ainda, uma conotac;:aopejorativa com relac;:aoao

termo, fortemente relacionada a concepc;:aapopular acerca dos transtomos de usa

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de substancias, como exemplo, os alcoolistas, que sao tipicamente considerados

como pessoas sem vontade propria e sem responsabilidade.

Adi~ao significa inclinac;Eto ou apego de alguem por alguma coisa; 0 abjetivo

adi/a, define a pessaa francamente propensa a pratica de alguma coisa (crian,a,

atividade, etc); etimologicamente adito significa escravo.

o termo sUbstancia psicoativa define a substancia que atuando no cerebra,

modifica 0 seu funcionamento, alterando 0 comportamento do individuo (FERREIRA

e cols, 1995, citado por AZEVEDO, 2001, p.103).

Drogadi~ao e tambem um termo muito usado, tendo como conceito

neurafisiologico a interac;ao organismo substancia quimica, que evolui de maneira

multiforme, segundo condic;oes cerebra is, psiquicas, sistemicas do paciente, tipo,

freqOencia, dose, via de administrac;ao da droga, altera<;6es bioquimicas e sequelas

que seguem ao abuso. (THOMAZ, 1998, p.73).

2.1 DEPENDENCIA QUiMICA: PATOlOGIA

A Drogadic;ao e uma patologia que atinge 0 ser humane como um todo; eoportunista, com bases psicorganicas e instala-se sabre uma ruptura da homeostase

que representa a saude. Esta ruptura aUnge 0 componente organico, psiquico,

s6cio-espiritual e, principalmente na inter-rela,ao entre eles. (THOMAZ, 1998, p.135)

Segundo ° autor supracitado, ha uma busca desenfreada por soluc;oes

magicas que instantaneamente modifiquem ° individuo e desta forma 0 fa9am fugir

da frustrac;ao, perigo, ansiedade, ou mesmo de situa<;oes de prazer intenso.

A utilizac;ao de drogas, acarretam conseq0encias neurobiopsicol6gicas que

pramovem a fal€mcia biopsiquica do organismo. As drogas agem nao somente no

cerebro, mas no organismo como um todo. 0 cerebra e urn orgao que depende do

sistema circulat6rio, respirat6rio, hormonal, do equilibria metabolico e outros. As

drogas agindo nestes sistemas, atingem ° cerebra nao s6 em sua estrutura e

funcionamento, mas tambem compromete e altera 0 seu suprimento circulatorio, sua

oxigenac;ao, suporte glicidico, proteico e a elimina<;80 de catab6litos. Estas,

apresentam caracteristicas neurotoxicas que levarn a destrui<;80 neuronal.

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KALINA (1999), entende drogadi<;ao como resposta as vicissitudes e as

hostilidades biopsicossociais; uma busca pela satisfa<;ao imediata de desejos, porapresentarem baixo limiar de tolerancia a frustra<;8o, impuJsividade e auto·estima

rebaixada.

A natureza (au Bioquimica, au Vida, au Deus) em sua extrema sabedoria,

para garantir sua existencia, proporcionou aos seres vivos, cada vez que

perpetuassem sua especie, uma recompensa: 0 prazer.

As drogas sao substancias quimicas usadas para ativar 0 Circuito da

Recompensa, provocando SenS8y80 de prazer. Estas, competem com alguns

neurotransmissores, imitam Qutros, e desequilibram seus sistemas funcionais. A

sensa<;ao de prazer e obtida enganando 0 corpo, porque a droga libera a

recompensa sem a necessidade de comportamentos positiv~s, como defesa deterrit6rio, autopreserva<;ao e preservac;;aoda especie. Significa muita recompensapara pouco esforc;;o.Portanto, usar drogas significa, em primeira instancia, buscar 0

prazer(TIBA, 1999, p.113, 117, 253).

Alguns anos atras, pensava-se que fraqueza de carater e dificuldades derelacionamento social, eram motivos unicos que conduziam ao vielo. Com adescoberta de substancias com 0 poder de propiciar momentos fugazes de prazer e

felicidade artificial, encontra-se motivos na quimica cerebral. As drogas alteram os

neurotransmissores, produzindo sensa<;6es tao agradaveis e recompensadoras, queo dependente procura cada vez mais, nao se importando com 0 pre<;o a pagar.Estudos indicam que existe uma predisposiC;;aoao vicio, pessoas com deficiencia na

produ<;ao ou libera<;ao da Dopamina, que e 0 principal mensageiro quimico

produzido pelo cerebro para transmitir a sensac;;aode prazer. Assim, a busca dedrogas ou de emoc;;6esintensas, compensaria essa carencia. Pode-se en tao dizerque, 0 inicio do uso de uma droga, depende na maloria das vezes, da vontade doindividuo, depois da primeira vez, quem comanda e a quimica dosneurotransmissores (TIBA, 1999, p.269-270).

Segundo KALINA (1999, p. 203), a quimica e a via regia (pratica suicidal para

o mundo magico da psicose, da droga-escravidao e projeto de morte; para sair

desta, e necessario renunciar a a/egria maniaca da droga, e recriar urn projeto devida, onde valores espirituais e etico-morais sejam resgatados. Para 0 autor, deve

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ser objetivo de quem atua com dependente quimicQ, ajuda-Io a transformar este

projeto, diminuindo-Ihe a dor e 0 sofrimento provocado par suas necessidades,

oferecendo-Ihe estimulos para a vida, ou uma mensagem que desative sua auto-

destrutividade. A impulsividade destes, deve ser combatida com a aprendizagem do

Nac, conceito basieQ, que sintetiza as objetivos centrais do tratamento das adi<;:oes.

o contrale dos impulsos e agressividade serve, fundamentalmente, para aprender a

aeeitar 0 Nao; e necessario domina-los. Sem duvida, incluindo-se em $8U esquema

conceitual - referencial - operativD, a concep9ao sistemica do Naa, ampliam-se

estes conceitos 80 grupo, familia e sociedade.

KALINA (1999. p. 85). pontua 0 aspecto social na drogadi~ao. Acredita que

mais do que uma doenC;:8, a adic;ao constitui um sintoma ou uma manifestaC;:8o de

uma psicose em evid€mcia de tens6es sociais. Para 0 autar supracitado, um adito as

drogas, e alguem que procura substancias quimicas ou drogas (etimologicamente

embustes). para modificar sua percep~ao interna da realidade contextual. Diz

ainda que, a recuperac;ao do adita, encontra-se profundamente unida a

transforma~ao das estruturas do sistema social no qual foi possivel 0 surgimento da

adic;ao. 0 problema das drogas, eriado par crises socia is 56 pode ser resolvido com

a adoC;:8ode uma mudanc;a social, que envolva sua organizac;ao, abjetivos e escala

de valores, ande 0 ser humane possa sentir-se aceitc e protegido, assim nao existira

a angustia da droga.

BLEGER. apud KALINA (1999. p. 86), afirma que 0 primeiro passe no campo

de batalha pela liberdade do homem. e no terreno de suas necessidades socia is e

economicas; ass;m, S8 a reintegraC;8o da saude ps;quica, nao estiver em

consonancia com a tentativa de transformar as estruturas sociais alienantes,

contribui-se unicamente, para manter a ciencia, consciente au incanscientemente, a

servi~o de causas geradoras da doen~a.

2.2 MODELO DE TRATAMENTO

Na Dependencia Quimica naa ha cura, mas tratamento, e nao urn unica e

padronizado. mas multiplos. particularizados e individualizados BERNIK (1991),

citado por AZEVEDO (2001. p.4). Em se tratando de uma doen~a que atinge varias

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dimens6es da vida do paciente (social, profissional, biologica, psicologica), eimperiosa uma terapeutica multi e interdisciplinar, colaborando assim, para sua

reabilita~ao de forma global. (ST.CLAIR, 1995; CASTEL e cols, 1995, citados por

AZEVEDO, 2001, p.5).

As diferentes drogas de abuso, tern caracteristicas proprias em termos de

farmacologia, quadro elinieo e terapeuticQ, mas no que concerne ao tratamento, eimpassivel trac;ar urn plano comum para todas as dependencias quimicas,

envolvendo a promoc;:ao de abstinemcia, tratamento de quadros clinicos

concomitantes e prevenC;3o de recaidas, mudanC;8s do 8stilo de vida par parte do

usuario. (FERREIRA e cols, 1995, apud AZEVEDO, 2001, p.104).

o modelo de tratamento com dependentes quimicos, mais abrangente e a

Modelo Psiquiatrico, que envolve grupos de auto-ajuda do tipo A.A.,(Alcoolicos

Anonimos) e outros; 0 Modelo Medico, que oferece tratamento para patologias

clinicas, relacionadas ao uso de substancias psi coati vas e 0 aconselhamento. 0

Modelo PSiqu;atrico aferece a diagnose pSiquiatrica e tratamento, utilizanda-se ainda

da terapia cognitivo-comportamental, terapia de grupo, psicaterapia individual,

farmacoterapia. Tudo isto desenvolvido par uma equipe multidisciplinar, composta

par psiquiatra, psicologo, terapeuta ocupacianal e enfermeiro, trabalhando

conjuntamente. (ST.CLAIR, 1995, apud AZEVEDO, 2001, p.5)

A Terapia Cognitiva, fundamenta-se na teoria de que 0 comportamento esecunda rio a maneira como a individuo pensa sabre si mesmo e sabre a seu papel

no mundo. KAPLAN e SADOCK (1997) apud AZEVEDO (2001, P.106). 0

pressuposto basico da terapia camportamental e a de que 0 compartamento mal

adaptado, pode mudar, independentemente do insight; quanto mais um

comportamenta positiva for refan;:ada, mais rapidamente desaparece 0

comportamento negativo. Segundo THOMAZ (1998, p.73), 0 comportamento

humano e marcado pelo aparecimento da consciencia plena, grande

desenvolvimenta das fun90es cagnitivas, memoria, critica e julgamento, par

conseqOencia, este comportamento tern componente aprendido e nao incorporado

geneticamente.

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3 A TERAPEUTICA PELA ARTE

"0 Artista naG e uma pessoa dotada de livre arbftrio que persegue seus

proprios objetivos, mas alguem que permite a Arte realizar seU$ pr6prios

prop6sitos atraves dele.

Como ser humano, ele pade ter humores, desejos e metas pr6prias, mas

como artista ele e homem num sentido mais sublime - ele e homem coletivo -alguem que carrega e maida a vida psiquica inconsciente da humanidade."

JUNG (1933).

Historicamente sabemos que desde 0 final do sEkula 19, psiquiatras S8

interessavam peras produc;oes plasticas dos entao cham ados de alienados,deslacando-se enlre eles: SIMON (1876); MOHR (1906) e PRINZHORN (1922).

A Arte tern oferecido urn canal de vazao para expressar a emoC;8o e a alma

(BELLO, 1998, p.24) e 0 homem sempre utilizou-se deste, par mais violenta que

fosse a epoca no percurso da evoluc;ao humana. Jamais deixou de expressar 0

contexto em que vivia, seus medos, anglistias, alegrias, vitorias e conquistas.Portanto, a arte ou 0 ato de criar, se relacionam com a sobrevivencia, que emessen cia, ja e uma arte.

Para OSTROWER (1993), citada por VAZ (1993, p.34), a Arte e um processo

dinamico: a medida que 0 homem cria, transformando a materia, ele tambem se

transforma, percebendo estas transforma~5es e se percebendo nelas. Todo esteprocesso, e portanto, a manifestac;ao de um potencial latente e conscientizadar do

seu proprio eu e dos seus sentimentos.Segundo 0 psiquiatra MARIO C. GUIMARAES, apud JORGE (1981, p.15), e

do conhecimento de quem desenvolve algum trabalho com pacientes que:

tad a expressaa pessoal de sentimentos e pensamentos, sejam estescomunicadas par meio de palavras, gestos, representayao, pintura, escultura,enfim, qualquer veiculo de comunica~aa, possivel de ser utilizado pelo

homem, quando transmitido a alguem cuja resposta e neulra, incenlivadora,

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nao destrutiva e feita de maneira freqOente, a urn mesmo grupo ou individuo,

gera modifica<;6es importantes na personal ida de, em geral, para melhor.

o proprio ato de criar, traz ao homem novas perspectivas e compreensao

para uma a,ao futura (LOWENFELD (1967), apud JORGE, 1980, p.22).

A psicologa e arteterapeuta JOYA ELiEZER, pontua que a Arte tern urn valor

imenso para 0 ser humano, pois ajuda a pensar, a ser criativo, a se expressar,

fatores essenciais para a saude fisica e mental.

HEGEL, apud JORGE (1980, p.21), diz que ... "E preciso, portanto, procurar

a ciencia geral que uma obra de arte provoca no pensamento humano, porquanto a

obra de arte e um meio com 0 qual 0 homem exterioriza 0 que ele mesmo e".Para 0 autor supracitado, a homem adquire con sci Emcia de Sl proprio, teoricamente,

tomando consciencia do que e no seu interior, todos os movimentos da alma, todas

as cambiantes do sentimento, representando-se a si proprio tal como se descobre no

pensamento, e tambem, reconhecendo-se na representa<;80 que seus proprios olhos

oferecem.

BROWN (2000) pontua que a arte tern 0 poder de alcan,ar emo,oes

profundas, podendo mudar a maneira como 0 individuo se sente com rela<;ao ao

mundo, porque esta, pode realizar uma mudan<;a rapida levando a compreensao

profunda do pr6prio ser, promovendo uma nova abordagem de vida.

3.1 ARTETERAPIA CONCEITOS E FUNDAMENTOS

Para desenvolver uma mente completa

Estude a arte da ciencia;

Estude a ciencia da arte.

Aprenda a enxergar.

Perceba que tudo se conecta a tudo.

LEONARDO DA VINCI

LIEBMANN (2000, p.18) define Arteterapia como 0 uso da Arte como meio de

expressao pessoal para comunicar sentimentos.

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15

ARRUDA (1962, p.148) define Arteterapia como 0 uso de atividades como

pintura. eSGultura, mode lag em e desenho, partindo de pressupostos de que

pensamentos e sentimentos do homem, S8 exprimem ma;s facilmente em imagens

do que em palavras, promovendo assim uma oportunidacte de alivio do inconsciente

par meio da projeC;3o de imagens espontaneas, de expressao grafica e plastica.

BROWN (2000) pontua que um trabalho sistematico, con centra do nos

diferentes elementos de expressao artistic8, pode trabalhar emo96es, encontrar

maneiras novas de olhar para situ8c;;:oes dificeis, rever 0 passado e projetar um

futuro melhor.Por Gonta dista, acredita que a Arteterapia e uma terapeutica eficaz.

PESStN e FRIEDMANN, apud ARRUDA (1962, p.158), consideram a

Arteterapia como uma forma de expressao de conflitos que 0 paciente e incapaz de

verbalizar.

LEE, apud ARRUDA (1962, p.158), chamou a aten<;ao para 0 valor etico e

curativo da arte, por promover tranqOilidade acaJmando perturbac;oes emocionais.

HARMS, apud ARRUDA (1962, p.168), pontua que a atividade artistica atua

diretamente sobre as atividades intelectuais, emocionais, volitivas, pSicomotoras,

sociais e profissionais.

Para SILVEIRA (1959) apud ARRUDA (1962, p.156), as atividades artisticas

favorecem a expressao simb6lica, atraves da qual 0 paciente objetivamente traduz 0

que vivencia, porque mobiliza, exterioriza, torna objetivas as forc;as psiquicas que

oprimem sua vida mental, responsaveis pel os disturbios do seu comportamento

social.

Segundo HUNTON apud ARRUDA (1962, p.158), a realiza<;ao simb6lica dos

desejos, 0 refor<;o do ego, 0 alivio da ansiedade pela representa<;ao do material

conflitivo, sao objetivos alcanc;ados atraves da atividade artistica.

Ma;s do que expressar sentimentos, pensamentos, conceitos para os outros,

a atividade artlstica deve ser en tend ida como urn meio de desenvolver simbolos

para mudan<;:a, desenvolvendo assim, sentimentos proprios, conceitos do Eu, e

relacionamento com os oulros.

FRANK, em 1974, citado por BROWN (2000, p.3,5), estabeleceu cinco

caracteristicas essen cia is nas terapias, que sao: proporcionar oportunidades novas

de aprendizado (a nivel cognitivo ou empirico); aumentar a esperan<;:a de alivio;

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favorecer experiemcias de sucesso e conquista; ajudar a superar sentimentos de

aliena<;ao;despertar emo<;oes.A Arteterapia compartilha com estes elementos. 0

aprendizado ocarre quando se aprende a enxergar perspectivas novas para

situa<;6es e estimulo para entender, adaptar e memorizar. A Arte pode conectar-se a

processos de pensamento profundo, causando mudan<;as emocionais duradouras. A

esperan<;a e revigorada com vivencias artisticas porque oferece a oportunidade de

voltar a acreditar no proprio potencial, acreditando em mudan9as; proporciona ainda,

experiencias de sucesso e controle. Cria uma forma de expressao,e uma conquista

por si s6. 0 estabelecimento de conex6es com 0 mundo, e elemento fundamental da

Arte. Ao observar urn quadro, 0 individuo conecta-se com 0 tema, com 0 estilo, com

a ideia, com 0 conceito contido neste. Isto promove reflexao de como se estruturam

as pensamentos, as sentimentos, as rela<;6es com os outros, com 0 mundo e

consigo proprio.

Os simbolos podem conter grande quantidade de informa<;oes intelectuais e

emocionais. A Arteterapia fornece ferramentas para a mente produzir urn estoque de

simbolos, com 0 poder de superar obstaculos no sentido de alcan<;ar um potencial.

o ato de exteriarizar simbolos, refor<;a-os na mente, estes podem ser mais fortes do

que afirma<;6es verbais. Por exemplo, na frase liEu sou forte", pense na diferen<;a

entre a palavra "forte" e uma imagem como cataratas, explodindo num abismo. Com

certeza esta imagem e muito mais forte e significativa, porque as imagens se

conectam com um nivel mais basico da mente. Percebe-se que existe uma

associa<;ao de pensamentos e sentimentos a simbolos, alias, fato este, muito bem

observado pelos publicitarios, nos dias atuais onde por exemplo, transformam 0

simples ate de beber uma xicara de cafe, em algo cheio de sensualidade e glamour.

A Arteterapia como uma abordagem terapeutica deve: objetivar efeitos

duradouros, nao apenas para promover mudanc;:as, mas para mante-Ios; aumentar

sentimentos de esperan<;a, buscando estrategias para lidar com a dar; proporcionar

experiencias de sucesso, buscando entender e superar desafios; transformar

emo<;oes usando simbolos; despertar e processar emo<;oes profundas. BROWN

(2000, p. 6-7). Enfim, a Arteterapia pode reavivar 0 espirito criativo de cada

individuo. ROBERT HENRI, (1984), citado par BROWN, ( 2000, p.18), em seu livro

The Art Spirit (0 Espirito da Arte), diz que: "Quando 0 espirito artistico esta vivo

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dentro de alguem, qualquer que seja 0 seu tipo de batalha, ele se torna criativD,

curador, realizador e expressivo."

Segundo Angela Philippini, psic610ga e arteterapeuta, (membra da Associa<;8o

Americana de Arteterapia), e objetivo da Arteterapia buscar 0 "vinculo" perdido entre

imagem e verba, imaginac;ao e conceito, e procura auxiliar 0 paciente a ser "aquele

que sente, aquele que pensa"; levando-o a recuperar sua intuiQao e potencialidade

artisticas, porque deve ser auxiliado a mergulhar no seu proprio inconsciente para

dele retirar a materia prima para 0 seu auto-conhecimento(PHILIPPINI, 1993, p.12).

3.2 PINTURA TERAPEUTICA

Pintar e profissao de urn homem cega.Ele pinta naG 56 0 que ve, mas 0 que sente, a que ele conta a si mesma sabre

o que viu.PABLO PICASSO

Conforme anteriormente pontuado, a Pintura, em especifico, como forma de

Arteterapia, sera estudada neste trabalho.

Segundo CAVALCANTI (1966),citado por JORGE (1980, p.51), pintar

livremente atua diretamente, tanto na organizac;ao individual como na organiza~ao

social do individuo, assim, este vai acumulando conhecimentos, percepc;oes, que Ihe

possibilitarao reformular seus conceitos.

Atraves da pintura e de desenhos, pode-se acompanhar os mecan;smos

utilizados pelos pacientes, sejam estes de prajeg8o, defesa, simboliza<;8o,

sublimagao. VOLMAT (1956). citado por ARRUDA (1962, p.155), diz que "Se 0

doente se exprime total mente em sua obra, esta exprime total mente sua doenlfa."

SMITH (1959), citado par ARRUDA (1962, p.156), considera que as

atividades artisticas espontaneas, prjncipalmente a pintura, sao produtos da

imaginalfao, satisfac;ao dos desejos frustrados e reprimidos que necessitam exprimir-

se. MOSSE, NAUMBURG et al (1949),tambem citados par ARRUDA(1962, p.156).

consideram que 0 desenho 8 a pintura, sao verdadeiros sonhos graficos, que

aliviando as tensoes, tornam-S8 recursos terapicos, que al8m de servirem como

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meio de diagn6stico de problemas emocionais, sao meios de expressao simbolica,

que permite ao paciente entender e superar suas dificuldades.

Pinturas e desenhos tam 0 poder de despertar sentimentos e fazer eco com

eles. Ao desenhar 0 mundo como cada um ve ou gostaria de va-Io, organizam-se

pensamentos e sentimentos. Criar imagens idealizadas com relac;ao a vida,

flexibiliza conceitos e amplia formas de observa-Ias. Enquanto se pinta, pode-se

representar sentimentos transformado-os, 0 que ajuda a criar novas perspectivas,

observando 0 situac;ao sob novos angulos.

Pintar e eficaz para problemas que requeiram flexibilidade de pensamento,

soJuc;6es intuitivas e para encontrar novas possibilidades, saindo de circulos

viciosos, isto porque a pintura exercita principal mente 0 lado direito do cerebro,

impedindo que 0 lado esquerdo, rnais logico, domine, impedindo 0 fluxo de ideias

criativas BROWN ( 2000, p.29).

o Dr. BERNIE SIEGEL, em seu livro "Love, Medicine and Mirac/es"(Amor,

medicina e milagres), citado por BROWN (2000, p.29), pontua a utiliza~ao

terapeutica da pintura. Este, pede a seus pacientes, portadores de cancer, que

pintem a si rnesrnos, sua doenc;a e as celulas brancas eliminando as celulas

neoplasicas. Estas pinturas superam largamente as descric;6es verbais e alcanc;am a

linguagem simb61ica universal do inconsciente. ~Quando nos cornunicamos de

maneira visual, contamos a verdade porque nao conseguimos manipuJar esta

linguagem muito bem, diz 0 Dr. SIEGEL".

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4 A TERAPIA OCUPACIONAL E A ARTETERAPIA

A Terapia Ocupacional e direcionada por principios te6ricos que foram

organizados objetivando 0 significado da ocupaC;:2ohumana.Segundo KIELHOFNER (1982), apud FRANCISCO (2001p.29),estes

principlas resumem-se em tres considerac;:oes:as humanos foram conhecidos comopossuidores de urna natureza ocupacional; visao de que a doenya passui potencial

para interromper OU romper a ocupaC;:8o; reconhecimento da ocupaC;:8o como urn

organizador natural do comportamento humano, podendo ser usada

terapeuticamente para refazer ou reorganizar 0 comportamento cotidiano.

A definic;ao da Terapia Ocupacional com relaC;8o a ocupaC;8o humana, foi aprovada

em 1977, pela Associa<;aoAmericana de Terapia Ocupacional. Pontua que Terapia

Ocupacional e a aplica<;aoda ocupa<;aode quatquer atividade que se emprega para

avaliac;ao, diagnostico e tratamento de problemas que interferem na atuaC;80

fundonal de pessoas debilitadas por doenya fisica ou mentais, desordens

emocionais, desabilidades congenitas au de desenvolvimento au no processo de

envelhecimento, com a objetivo de alcanc;:ar urn funcionamento 6timo e de prevenir e

manter a saude (citado por FRANCISCO 2001, p.19).

A Associac;:ao Australiana de Terapia Ocupacional, pontua a envolvimento da

ocupa<;aohumana e Terapia Ocupacional e sua importancia na saude das pessoas

em qualquer faixa etaria.

as terapeutas ocupacionais avaliam as fatores fisicos, pSicossociais e ambientais

que reduzem a capacidade dos individuos em participar nas atividades e ocupac;:oes

do cotidiano.

Nos trabalhos desenvolvidos pela psiquiatra e terapeuta ocupacional NISE da

StLVEIRA (citada por FRANCISCO, 2001 p,43,44), e pontuado 0 extrema vator da

atividade expressiva. Segundo esta autora, a atelie de p;ntura a "fez compreender a

principal func;:ao das atividades na terapeutica ocupacional seria criar oportunidade

para que as imagens do inconsciente e seus concomitantes motores encontrassern

formas de expressao".

As atividades expressivas permitem ao doente vivenciar um processo, dando a

possibilidade de dar forma as desordens internas vividas, porque sao instrumentos

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de organizar.;ao da desordem intema e reconstruc;ao da realidade. Na medida em

que, atrav8S de desenhos e pinturas as imagens do inconsciente sao explicitadas,

tornam-se possiveis de serem tratadas.

Eo muito ampla a utilizagao pratica da Arteterapia em Terapia Ocupacional, e

pode ser utilizada com diversos objetivos: como urn recurso diagnostico

psicopatol6gico; recurso de estudo da personalidade do paciente; complemento de

Dutras formas de tratamento ocupacional au oao; forma de tratamento par si 56;

meio de readaptagao e reabilitagao. ARRUDA (1962)

Na Terapia Ocupacional, procura-se ressaltar 0 extrema valor, ainda

desconhecido, da expressao plastica espontanea, muito mais do que da expressao

verbal. Para VAZ (1993, p.3), dar forma ou criar expressando-se plasticamente e a

essen cia da Terapia Ocupacional, portanto, nao um meio de tratamento, mas 0

propria tratamento.

De acordo com JORGE (1990, p.13), a principal importancia da Terapia

OcupacionaJ, e a permissao que ela concede ao paciente de interferir na realidade

externa, segundo sua intenc;:ao, vontade, e com liberdade; desta forma, as atividades

expressivas, principal mente a pintura e 0 desenho, sao verdadeiros instrumentos de

conscientizac;:ao de ideias, par oferecerem diversas maneiras de expressao do "Eu"

interior. Para este autor, "a con sci en cia de si pela obra, que e 0 outro - ele - proprio,

o homem adquire pela atividade reflexionante de pensamento". Assim, no ate de

criar algo concreto, 0 individuo vivencia 0 papel de criador e de critico, podendo

refazer sua vivencia pessoal 0 que possibilita mudar sua historia.

A Arteterapia, enquanto recurso da Terapia Ocupacional, propoe 0$ seguintes

objetivos gerais, com relac;:ao aos dependentes quimicos: conscientizar sobre 0

potencial criativo pessoal, liberando-o para resgatar ou construir a auto-estima; ativar

nucleos saudaveis remanescentes em cada individuo, redescobrindo habilidades;

estimular 0 auto-conhecimento atraves de vivencias de diferentes formas de

expressao (pintura, argila, escrita criativa, autras); favorecer relac;:5es intra e

interpessoais; despertar sentimento etico e de solidariedade; promover analise de

quest5es pessoais e do grupo. Sao propostos os seguintes objetivos especificos:

proporcionar vivencias que possibilitem autonomia e percepc;:ao do proprio potencial;

relacionamento em grupo, favorecendo a aceitag80 e respeito pelo ~Utro,

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ajustamento, cooperayao, disciplina; promover reflexoes sobre dificuldades,

limitac;6es, comportamentos, atitudes, sentimentos e emoc;oes; propiciar reflexoessabre a Situ8C;ElO atual e responsabilidade com relayEio ao futuro, resgatar a 8tica,

valores sociais e morais, direitos e deveres.

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5 CONSIDERAt;:OES FINAlS

o homem desde a AntigUidade, e acompanhado pelo usa de substancias

psicoativas, variando com 0 tempo e cultura. Nas ultimas decadas, observa-se um

crescimento vertiginoso de quadros de abuso e dependemcia qui mica, constituindo

um problema mundial de Saude Publica.

No Brasil, dados nos dao conta de 98 milhOes de brasileiras afetados

negativamente pelo abuso e dependencia de dragas TIBA (1999); este numera

assustador nos leva a refletir seriamente sobre prevenyao. As drogas estao

presentes em qualquer etapa da vida, mas e na adolescencia, periodo de

mudan<;as, conflitos , crises e curiosidades, que esta oferece sua maior atra<;ao.

Estudos mostram que s6 informa<;ao nao basta com rela<;ao as drogas, e necessario

investir na forma<;ao integral do adolescente, enfatizando e respeitando suas

caracteristicas individuais, etnicas, sociais. Um adolescente com valores

internalizados como disciplina, gratidao, espiritualidade, etica e cidadania, sa be que

o uso de drogas, repercute tambem em seu ambiente familiar e tad os saem

perdendo. A auto-estima e a auto-conhecimento, ensina-o a preservar sua saude,

respeitando sua vida, suas relay5es, aprendendo a respeitar e acreditar em si

mesmo. E justa mente nestes aspectos que a Arte torna-se um agente de mudan<;a,

enquanto meio de expressao, comunica<;ao, pois permite dar vazao a sentimentos e

emo<;5es, e assim modificar comportamentos e atitudes.

Sabe-se que 0 homem a essencialmente urn ser criador, e sempre comunicau

suas idaias, sentimentas, medos, vitorias, atraves da Arte.

A Arteterapia e um recurso que pade sensibilizar 0 dependente quimico com

relac;:c3oaos valores humanos, porque da permissao para 0 auto- conhecimento,

desenvolvendo sua capacidade de discernimento para assumir com

responsabilidade suas decis5es. Assim, aprende a lidar de forma rnais ajustada e

saudavel com as situa<;6es pessoais e do cotidiano, sem precisar recorfef a

subterfugios inadequados e destrutivos, na tentativa de aliviar sua ansiedade e

frustra~ao.

o potencial criativo e liberado pela Arte, 0 que permite descobrir e ativar

potencialidades e habilidades. Eo sem duvida um processo de transforma~ao

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dinamico, transforma-se a materia e S8 transforma com esta, percebendo-se nesta

transformac;:ao.

Pinturas e desenhos tern 0 poder de despertar sentimentos e representa-Ios

plasticamente 0 que provoca mudanc;:a e transformag.3o; permitem reformular

conceitos, entender e superar dificuldades.

A Arteterapia e considerada como uma forma de exteriorizar sentimentos que

verbalmente naG seriam comunicados. Este enfoque fa; preconizado pela D~ NISE

DA SILVEIRA, desde 1981, com relac;:ao a atividades artisticas em abordagem com

doentes menta is.

Atividades Artisticas promovem a expressao simb6lica dos conflitos, porque 0

sentimento e vivenciado, exteriorizado. Ha uma associac;:ao de pensamentos e

sentimentos na simbolizac;:ao, esta representac;:ao plastica dos conteudos internos,

acalma a ansiedade, promovendo reflex6es e questionamentos.

Enfim, os efeitos beneficos da Arte sao preconizados pela Psicologia,

Psiquiatria, Terapia Ocupacional, Arteterapia e outras. Em se tratando do

dependente quimico, cuja auto-estima, auto-valorizag8o e auto-conhecimento, estao

lolalmenle depreciados OU inexistentes, onde e importanle conscienliza-Io de que

nao precisa da droga para sentir prazer, ou para resolver suas quest6es pessoais,

familiares ou sociais e um recurso com resultados bastante significativos. Este deve

fazer um projeto de vida, com atitudes dignas e saud~lVeis que privllegiem

habilidades e polencialidades pessoais, a Arteterapia pode conlribuir nesta mudanc;:a

de projelo de morte para um projeto de vida.

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