arteterapia e a formaÇÃo do arteterapeuta
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
ARTETERAPIA E A
FORMAÇÃO DO ARTETERAPEUTA
ALINE MENDUIÑA CALIL
ORIENTADORA
Mª. DINA LÚCIA CHAVES ROCHA
Rio de Janeiro
2010
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
ARTETERAPIA E A
FORMAÇÃO DO ARTETERAPEUTA
Rio de Janeiro
2010
Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Arteterapia em Educação e Saúde. Por: Aline Menduiña Calil
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus e a todos aqueles que
mantêm viva a capacidade e a “arte” de encantar-se pelo
caminho.
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DEDICATÓRIA
Dedico à minha mãe, Oliva, pelo meu “existir”;
ao meu marido, Jhoab, pela nossa união; à minha
orientadora, Profª. Dina Lúcia, pelo conhecimento
compartilhado; aos meus amigos, pelo afeto estruturante;
aos meus alunos, pelo estímulo ao crescimento pessoal e
profissional; a todos que participaram desse curso, direta
ou indiretamente, pelas contribuições e companhia.
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RESUMO
O presente trabalho pretende investigar a formação, tanto teórica quanto
prática, exigida para o exercício profissional da Arteterapia em nosso país,
considerando que seus referenciais partem, principalmente, da aplicação na
clínica psicoterápica e no ambiente pedagógico, mas já vislumbram a
estruturação de um possível novo campo de conhecimento. Nesse sentido,
esta investigação retorna às origens históricas da Arteterapia, lançando um
olhar sobre seu processo evolutivo e os benefícios proporcionados aos
indivíduos que buscam, através de suas múltiplas aplicabilidades, o
autoconhecimento, a melhor expressão da criatividade e o resgate emocional
por meio da Arte. Contudo, ao mesmo tempo em que reconhece a satisfação
proporcionada pela prática arteterapêutica, esta abordagem esbarra no
questionamento dos alunos sobre a qualidade técnica e a aplicação adequada
dos aprendizados adquiridos durante a formação. A certeza de estar “bem
preparado” equivale, portanto, à segurança de poder exercitar plenamente a
“escuta sensível”, auxiliando outros indivíduos na tarefa, tantas vezes difícil, de
permitir que as emoções venham à tona, por meio de imagens simbólicas.
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METODOLOGIA
Apoiado na pesquisa descritiva e bibliográfica sobre Arteterapia, o
presente trabalho recorre, também, à contribuição de autores de diferentes
áreas, como Psicologia, Pedagogia, Filosofia e Artes, entre outras, para
fundamentar uma investigação que passa, necessariamente, pela descrição da
prática arteterapêutica e de suas técnicas, em diversos ambientes, como
complemento indispensável à teoria.
Tais fontes incluem a regulamentação existente e artigos de
profissionais que atuam em campos diversos, mas possuem vasta experiência
prática, seja na aplicação de oficinas específicas, seja no atendimento clínico,
seja em sala de aula, ambientes nos quais o “fazer artístico” se destina à
emersão de conteúdos emocionais represados.
A fim de complementar o conteúdo desta investigação, foi realizada
entrevista com membro da direção da Associação de Arteterapia do Rio de
Janeiro (AARJ), que trouxe informações sobre as normas vigentes para o
exercício da Arteterapia e o atual estágio da regulamentação profissional.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO 1
DAS CAVERNAS À CLÍNICA: ARTE É UM ATO HUMANO 11
CAPÍTULO 2 24
MANEJOS DO FAZER: BRINCAR, CRIAR, EXPRESSAR
CAPÍTULO 3 34
COMO DESENVOLVER (BEM) UM “ESCUTADOR” SENSÍVEL?
CONCLUSÃO 46
BIBLIOGRAFIA 47
WEBGRAFIA 49
ANEXO 1 50
ANEXO 2 51
ÍNDICE 58
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INTRODUÇÃO
A necessidade de registrar percursos e hábitos coletivos é uma
característica marcante do ser humano. Dentre as diversas linguagens
possíveis para tal registro, o uso de símbolos e imagens é o que mais se
destaca e, de fato, permanece.
Como se buscasse “eternizar” sua passagem através dos tempos e
lugares, por meio dos próprios registros, o Homem foi narrando sua história, ao
longo das gerações. E, dessa forma, expressando temores, questionamentos e
expectativas, seja numa caverna ou numa tela de pintura, viabilizou a
reconstituição antropológica, econômica e social da vida em nosso planeta.
A capacidade de fornecer tantas informações sobre seu cotidiano e
os sentimentos ali contidos, valendo-se de materiais distintos, é o que distingue
o ser humano, enquanto sujeito consciente de seu ato de expressão.
Criativo por natureza, o Homem foi encontrando meios de deixar os
seus sinais, de brincar com suas alegrias e exorcizar seus medos, de dar forma
aos pensamentos, de traduzir suas emoções.
Contudo, foram necessários alguns milhões de anos e incontáveis
transformações físicas, psíquicas e sociais para que o ser humano aprimorasse
o entendimento sobre as próprias produções e potencialidades, dando outros
sentidos aos seus registros.
Assim, apurando o olhar e o senso estético, percebeu a beleza de
suas construções, compreendendo-as como Arte. Interessando-se por seus
símbolos como manifestações inerentes aos movimentos e conhecimentos de
uma dada época, elaborou estudos que fundamentassem a Cultura e a
Academia. Observando de forma sensível os traços inscritos nas produções de
seus semelhantes, permitiu-se apurar a percepção e a “escuta”, inaugurando a
Clínica para, em seguida, inserir o Fazer Artístico no ambiente terapêutico.
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Neste século XXI impregnado pela tecnologia, muitas vezes o
excesso de informações leva o Homem ao adoecimento, ainda que lhe amplie
o conhecimento. Os processos de criação ganharam novos e surpreendentes
recursos técnicos, mas o fundamento básico da criatividade humana continua
sendo o Símbolo.
O significado de uma imagem, aquilo que representa ou comunica, é
sempre variável, de pessoa para pessoa, pois a interpretação é marcada pela
subjetividade. Esta característica determinará as escolhas, os limites e os
avanços pessoais, pois cada indivíduo se expressa de forma única.
Tal fato é plenamente observado no ambiente escolar, através da
análise da grafia, do uso das cores, da execução das atividades, da
capacidade de atuar em equipe e desenvolver projetos e proposições.
No campo da investigação psicológica, a grande contribuição da
Clínica à expressão dos conteúdos emocionais do ser humano reside na
escuta sensível. Mas, quando a Clínica busca na Arte o apoio para aprimorar
essa escuta, o processo terapêutico se amplifica e se enriquece com novos
recursos, novas possibilidades.
Na Arteterapia, é oferecida ao ser humano a possibilidade de
retornar à experiência ancestral de registrar vivências e emoções, através de
diferentes materiais. Nesse sentido, “plasmar” os sentimentos é uma forma de
expressá-los para alcançar o autoconhecimento.
Da aplicação adequada desse trabalho, resultará a melhor
integração do indivíduo consigo próprio e com o meio circundante, no qual está
inserido. Suas atitudes, escolhas e relacionamentos tendem a mudar, em
função de sua mudança de postura, pois o trabalho arteterapêutico conduz ao
desenvolvimento da percepção, da autoestima, da capacidade criadora e
cognitiva, da segurança do fazer.
Escutar a “voz interior” do outro, em suas queixas e dores,
facilitando a emersão de conteúdos emocionais represados, é uma verdadeira
Arte que se aprimora com a técnica e a prática cotidianas. Daí, a preocupação
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dos estudantes de Arteterapia com uma formação adequada, que possibilite
uma atuação profissional atenta e sensível.
Estar aberto, estar preparado, estar atento. Entrar em contato com o
outro sem interferir nem inferir. Isso se aprende? Ou será talento que se
aprimora? Há regulamentos, currículos mínimos para formação, correntes de
pensamento arteterapêutico?
Tais são as indagações mais frequentes entre os futuros
arteterapeutas. Tratando-se de um campo riquíssimo para atuação, mas que
somente agora aponta para o pleno desenvolvimento, seja em sala de aula, em
oficinas ou na clínica, a Arteterapia poderá transformar-se em novo campo do
conhecimento, tal sua aplicação em diversos ambientes, individualmente ou
dentro de propostas multidisciplinares.
É ainda improvável que, a curto prazo, a Arteterapia se torne um
campo de estudo estruturado em curso universitário, com uma carreira
regulamentada. Mas, é prioritário exigir-se uma formação consistente e bem
fundamentada, nos cursos de especialização e de formação existentes, para
aqueles que se dispõem a auxiliar outros seres humanos, destituindo-os, por
meio do fazer artístico, do peso das emoções aprisionadas no inconsciente.
Esse aprendizado arteterapêutico não pode estar limitado à
linguagem dos materiais, à elaboração de oficinas de arte, ao estudo da teoria.
Nem se trata, apenas, da apreensão de conteúdo programático.
É preciso ir além, destacando a importância e a responsabilidade do
arteterapeuta, com todas as possibilidades e limitações de seu papel – e,
principalmente, o cuidado perene na execução dessa verdadeira obra de Arte
que é o exercício sensível da observação e escuta do “eu” de um outro.
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CAPÍTULO 1
DAS CAVERNAS À CLÍNICA:
ARTE É UM ATO HUMANO
“Que substrato é esse, que une todas as coisas?” (Jung, 1946, p.60)
A capacidade de registrar, por vontade própria, sua presença e seus
valores por onde transita, é o que distingue o ser humano das demais
espécies, na escala evolutiva. Nesses registros, inúmeros fatos, ideias,
interesses e emoções foram sendo exteriorizados e eternizados, por meio de
símbolos, ao longo das eras. Contudo, esse rico universo não teria sido
expresso se o Homem não buscasse, desde sempre, dar forma ao seu mundo.
Como destaca Ostrower (1977, p. 9, síntese da obra em versão
online), a forma é o elo organizador de toda a natureza. A necessidade de
“enformar” os próprios símbolos atende ao chamado de uma instância muito
mais profunda do ser humano, que é seu inconsciente.
Esse ponto obscuro, desconhecido, “(...) está em constante atividade
e vai combinando os seus conteúdos de forma a determinar o futuro”, como
ressaltou Carl Jung (1983, p. 106).
Tal instância não tem, ainda, uma forma estabelecida. Ao contrário,
afigura-se como caótica, ainda que nela resida a base de todo o conhecimento
humano. É justamente esse caos que irá impulsionar, através da função
simbólica, a organização da consciência, buscando uma forma de expor os
aspectos, até então desconhecidos ou ignorados, cuidadosamente guardados
em tão vasto e misterioso território. Em essência,
O inconsciente encerra possibilidades inacessíveis ao consciente, pois dispõe de todos os conteúdos subliminais (que estão no limiar da consciência), de tudo quanto foi esquecido, tudo o que passou despercebido, além de contar com a
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sabedoria da experiência de incontáveis milênios, depositada em suas estruturas arquetípicas. (JUNG, 1983, p. 106)
As produções oriundas do inconsciente são sempre múltiplas,
surpreendentes e únicas. Dentre tantas, a possibilidade da autoexpressão por
meio da Arte talvez seja a mais intrigante capacidade do Homem de “dar
forma” à sua subjetividade. Ou, quem sabe, tenha sido este o caminho mais
belo, encontrado pelo inconsciente, para organizar o próprio caos.
1.1 Um Mundo de “Paus e Bolas”
A pintura foi a primeira manifestação do potencial humano de
comunicar-se através de seus símbolos. Incapaz, ainda, de dar uma forma
gráfica aos sons, o Homem coloriu seus territórios (no mundo físico),
reproduzindo valores do cotidiano por meio de uma linguagem pictórica.
Nas paredes das cavernas que serviam de moradia ou como refúgio
contra intempéries e ameaças externas, o habitante do Paleolítico Superior
registrou seus recursos, percursos, medos e afetos. Para isso, usou sangue,
argila, látex de plantas e gordura animal, entre outros materiais ao seu alcance.
Além de testemunhar o cotidiano do planeta, há 30 mil anos, a Arte
Rupestre expõe a recorrência no uso de retas e círculos, para a composição
dos desenhos. Esses traços, ora contínuos, ora circulares, foram a base da
comunicação primitiva, figurativa, e prosseguiram gerações afora, dando
origem aos diversos alfabetos de que se tem conhecimento. (Anexo 1)
Retas e círculos – “paus” e “bolas” – eram os elementos comuns (e
comunais) compartilhados pelo homem primitivo, sendo fundamentais à sua
estruturação social e econômica, tanto quanto seu desenvolvimento biológico.
As lanças utilizadas para subjugar a caça, logo transformada em
alimento, eram tão importantes quanto as pedras atiradas contra os animais
potencialmente ameaçadores ou nos adversários de tribos rivais. Da mesma
forma, a construção de refúgios exigia a presença de materiais com esses
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formatos, como galhos, gravetos e rochas, que também eram utilizados nas
fogueiras acesas para assar os alimentos ou produzir o calor que afugentava o
frio e iluminava os membros do clã, nas reuniões ao redor do fogo – em círculo!
Símbolo ancestral, o círculo está presente em todas as antigas
civilizações, chegando aos dias atuais com a mesma força representativa de
sua origem. É a forma “perfeita”, sem início nem fim, mas que estrutura o “todo”
com sua constância, harmonia e dinamismo.
Do sol que perpetua a Vida às mesas de deliberações que afetam
coletividades inteiras, o círculo transmite o conceito de unidade, confiança,
cumplicidade, inteireza. Assim, ao longo da evolução humana, a forma circular
foi sendo inscrita e perpetuada em objetos utilitários, lúdicos ou em armas, em
manifestações artísticas, em danças de júbilo ou ritos de fé, em estratégias de
combate ou rituais destinados à busca da comunicação humana com o Divino.
Como destaca Santa Catarina (2009, p.19), as pesquisas
antropológicas de Carl Jung, baseadas em 14 anos de estudos de diversas
civilizações primitivas, evidenciaram a tendência do Homem a desenhar
círculos, desde os tempos mais remotos, principalmente em períodos de crise.
Denominados mandalas, em sânscrito, “estes desenhos circulares
ajudavam aquela sociedade a encontrar saída para as suas aflições”, diz Santa
Catarina (2009, p.19). Partindo dessa observação, Jung constatou que,
“embora aqueles povos não possuíssem o conhecimento do poder que este
símbolo exercia na psique, era um impulso interno que buscava sua
integração.” (SANTA CATARINA, 2009, p.19)
Com o tempo, as novas experiências e experimentações, diversos
outros significados foram sendo gradativamente apreendidos, aprimorados ou
incorporados ao repertório simbólico. Contudo, os valores ancestrais
permanecem inalterados:
Todos os símbolos com que o homem buscou explicações, seja por meio da mitologia ou em outras formas, encontram-se tão vivos hoje como sempre estiveram. Expressam-se nas artes, na religião e nos processos psíquicos por meio dos sonhos e das fantasias. O círculo, a esfera e o redondo
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continuam a representar a divindade, aquilo que é completo e suficiente em si mesmo, o eu integrado e expresso por meio do mandala. (SANTA CATARINA, 2009, p. 21)
Sem dúvida, a vocação do Homem para deslocar-se
geograficamente, promovendo a conquista de novos territórios, possibilitou o
intercâmbio entre povos e, para o bem ou para o mal, a assimilação
intercultural, a incorporação de valores e simbolismos de outrem, a
experimentação de novas técnicas de produção e de conceitos sobre o
“(a)fazer”, artístico ou utilitário.
A escrita veio complementar a linguagem figurativa, dando forma
aos sons. Contudo, o surgimento da escrita não pode ser creditado a uma
única sociedade, mas sim, ao desenvolvimento simultâneo, por diversas
civilizações, de um conjunto de sistemas de representação gráfica.
De toda sorte, a escrita, compreendida como a representação
gráfica dos sons ouvidos e reconhecidos, conscientemente, pelo Homem,
derivou dos desenhos primitivos de animais, utensílios e situações cotidianas,
para deter-se em retas e círculos recorrentes, comuns a todos os povos.
Assim, sobre “paus” e “bolas” estruturou-se o ser humano, numa
busca ininterrupta pela compreensão dos múltiplos fenômenos externos, pela
exteriorização de suas premências (tensões) internas e pela perpetuação da
própria espécie.
Nem sempre o Homem compreendeu seus conteúdos, mas
certamente procurou ordená-los. E, sempre que o fez, foi por meio da Forma,
transformando em Arte, com o recurso de diferentes suportes e linguagens, os
atos mais simples e os sinais mais marcantes de sua existência.
Como, ludicamente, registrou o compositor Toquinho, ao adaptar
para a língua portuguesa a letra de Maurizio Fabrizzio para a composição
“Acquarello” (1982), resultante de fabulosa parceria de ambos:
Numa folha qualquer / Eu desenho um sol amarelo / E com cinco ou seis retas / É fácil fazer um castelo... / Corro o lápis
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em torno / Da mão e me dou uma luva / E se faço chover / Com dois riscos / Tenho um guarda-chuva... / Se um pinguinho de tinta / Cair num pedacinho / Azul do papel / Num instante imagino / Uma linda gaivota / A voar no céu (...). (TOQUINHO, Rio de Janeiro, 1982)
1.2 Registrar Para “Estar Presente”
Dos desenhos pintados nas rochas aos fractais produzidos com o
recurso da computação gráfica, passando pelas partituras musicais, pelos
passos de dança, pelas diversas técnicas artísticas, pelos diferentes sistemas
de escrita, pela invenção da tipografia, que estimulou a criação de tantas
tipologias (letras ou “fontes”, em linguagem gráfica), tudo o que se relaciona às
produções criativas do homem traduz, prioritariamente, seu desejo de marcar
presença, em sua época e seu território.
Está na essência humana a demarcação geográfica, a associação
em parcerias, a tendência à dominação, tanto quanto a necessidade de
transmitir, às futuras gerações, um legado de beleza, alegria e bem-estar.
Se até mesmo as guerras exigem arte – a arte da estratégia –, a paz
conduz à reflexão e à reorientação de prioridades e desejos, propiciando o
descanso e o tempo necessários para a celebração de acordos, pessoais e/ou
coletivos. E aí também existe uma arte: a de negociar a paz.
Para Ostrower (1977, p. 6), a memória é o que possibilita ao ser
humano interligar o ontem ao amanhã, através dos resultados obtidos pelas
experiências vivenciadas. As intenções humanas se estruturam juntamente
com essa memória e são importantes para o processo criativo, embora nem
sempre sejam conscientes ou atendam a objetivos imediatos.
Nesse sentido, desenvolve-se um processo permeado por múltiplas
associações, originárias de áreas inconscientes ou pré-conscientes, que vão
compor nosso mundo imaginativo, “povoado por expectativas, aspirações,
desejos, medos, por toda sorte de sentimentos e de ‘prioridades’ interiores.”
(OSTROWER, 1977, p.7)
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Grande parte dessas associações está ligada à linguagem verbal,
visto que “a fala se articula no uso concreto da língua”, como destaca a autora.
Mas, se as palavras podem representar “coisas com seus conteúdos”,
transmitindo emoções, ideias e lembranças, é possível ao homem comunicar
seus conteúdos expressivos por meio de outras linguagens, não verbais.
Se a fala representa um modo de ordenar, o comportamento também é ordenação. A pintura é ordenação, a arquitetura, a música, a dança, ou qualquer outra prática significante. São ordenações, linguagens, formas; apenas não são formas verbais, nem suas ordens poderiam ser verbalizadas. Elas se determinam dentro de outras materialidades. O aspecto relevante a ser considerado aqui é que, por meio de ordenações, se objetiva um conteúdo expressivo. A forma converte a expressão subjetiva em comunicação subjetivada. Por isso, o formar, o criar, é sempre um ordenar e comunicar. Não fosse assim, não haveria diálogo. (...) Mas somente quando na forma se estruturam aspectos de espaço e tempo, mais do que assinalar o evento, poderá a mensagem adquirir as qualificações de FORMA SIMBÓLICA. (OSTROWER, 1977, p.9)
Se registrar seus símbolos é fundamental para o ser humano, na
maior parte das vezes, ao longo da História, o Homem reproduziu os símbolos
que o ligavam ao poder material ou divino.
Erguer um templo a alguma divindade, esculpir um animal
ritualístico, pintar um local considerado sagrado, retratar num quadro um
governante, enaltecer em versos as bravuras de heróis, compor uma sinfonia
para o ser amado, movimentar-se no compasso de uma dança de guerra ou de
celebração de uma conquista... eis o Homem, manifestando-se!
Portanto, a ostentação ou busca de “poder”, em todas as suas
vertentes, permeia os principais registros humanos. Testemunha, ainda, o
quanto, apesar de tantas mudanças, invenções, maquinárias e tecnologias, a
essência do ser humano permanece inalterada: é sempre atual o seu desejo de
ser, estar ou possuir. E, também, de revelar-se, de pertencer e de “permanecer
vivo”, através de suas produções e daquilo que “doa” ao mundo.
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Por extensão, tais registros revelam, também, o entendimento de
“poder” como capacidade de buscar, alcançar, realizar, pois “(...) em cada ato
nosso, no exercê-lo, no compreendê-lo e no compreender-nos dentro dele,
transparece a projeção de nossa ordem interior.” (OSTROWER, 1977, p. 2)
Partindo da observação das expressões criativas desse Homem e
de seu percurso histórico, tornar-se-ia possível apreender seu “Universo
Simbólico”, calcado sobre a construção da identidade pessoal, mas mantendo
o vínculo do “pertencimento” à sua coletividade.
Segundo Urrutigaray (2008, p.16), “(...) vincular o homem com seu
meio traz a possibilidade de poder entender, elucidar e compreender os
padrões de significação que estariam ocultos no seu comportamento.”
De acordo com a autora, isto se deve ao fato de que
A criatividade manifesta nas produções artísticas traz características simbólicas, as quais viabilizam meios de pesquisas apropriados à integração dos aspectos qualitativo e valorativo presentes na atuação humana. (URRUTIGARAY, 2008, p.17)
Assim sendo, das cenas rupestres do Paleolítico Superior aos
grafitti que recobrem muros e paredes das grandes cidades deste século XXI,
os traços deixados pelo ser humano representam uma espécie de necessidade
visceral de espalhar seus rastros, enquanto se “apodera” de seus territórios e
transmite suas mensagens internas.
Ao contrário de tantos outros animais, que se camuflam e se
escondem, aparecendo somente para atender às necessidades básicas à
sobrevivência e perpetuação de sua espécie, o Homem tende a se expor para
destacar sua presença e seu “pertencimento” à “tribo”. Nesse aspecto, ele se
impõe, individual e/ou coletivamente, enquanto ser social.
Em contrapartida, a forma de cada homem (sujeito) se expressar
será sempre pessoal e única, posto que a chave para a compreensão dos
caminhos escolhidos encontra-se guardada em seu próprio inconsciente. Expor
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ou não os conteúdos ali ocultos transcende qualquer exigência social ou
capacidade de julgamento. Mas, configura-se, desde sempre, como uma
escolha e um ato de significação ou de ressignificação.
1.3 Quando Arte e Terapia se Encontram
A produção intencional de objetos ou imagens, atribuindo-lhes
forma, cor, textura, relevo e até funções, é uma das características mais belas
do gênero humano. Entretanto, é preciso apurar os sentidos para perceber que,
nessa “intenção”, ocultam-se diversos outros significados, além do simples
desejo de fazer para expor, marcar ou utilizar.
Produzir Arte não se limita ao emprego de técnicas. Prende-se,
essencialmente, ao “deixar fluir” a criatividade, a subjetividade, a emoção e a
inquietação existentes na esfera do inconsciente.
Referindo-se à capacidade humana de “fazer” como uma
possibilidade de autoconhecimento, Reísin (2006, p. 16) descarta o caráter
meramente projetivo das criações, afirmando que “o criado sempre mostra
outra coisa, habilita outro discurso, tal qual um espelho que tem voz própria.”
Em suas palavras:
Se alguém pensa que aquilo que cria é somente tirar de si o que há dentro, não existiria espaço de produção, de novidade. (...) Não somente tiramos o que está dentro de nós, como também colocamos para fora coisas que nem existem em nós. (...) O objeto pode devolver-me um olhar não visto. De que maneira a “devolução” do objeto – que é um pouco do exterior que retorna ao sujeito – é capaz de transformá-lo? Um efeito que se transforma em causa. (REÍSIN, 2006, p. 17)
É sobre o caráter desse lado desconhecido do discurso humano que
o autor se detém, criticando o fato de estarmos “adestrados” a partir de uma
lógica “científica” para pensar o lado plano e visível das ideias. Assim,
excluímos de nosso pensamento, talvez por comodidade, “as zonas incertas,
caóticas, imprecisas (...), típicas da arte.” (REÍSIN, 2006 p.16)
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De fato, a tendência do homem tecnológico é afastar-se do contato
íntimo e direto com sua própria intuição. Impregnado pela cientificidade, que
lhe cobra explicações técnicas ou didáticas para todos os fenômenos, o
homem moderno rechaça a força dos símbolos ancestrais trazidos ao longo de
seu percurso sobre a Terra. Virando-se contra suas origens, recusa-se a ouvir
os apelos de seu inconsciente. E, nessa recusa, muitas vezes adoece e sofre.
A escuta do sofrimento psíquico de outrem, num ambiente de
acompanhamento clínico, adquiriu um aspecto mais amplo a partir da
introdução do fazer artístico nos encontros psicoterápicos.
Ainda que a clínica psicanalítica tradicional atue essencialmente por
meio da verbalização, não são poucos os profissionais da saúde mental que
buscam aprofundar seus conhecimentos sobre Arte, fazer artístico e a
integração entre a fala e esse fazer, no ambiente terapêutico.
Esse novo olhar deve-se, principalmente, à constatação de que a
linguagem falada pode ser manipulada pelo sujeito que fala, de forma
consciente ou não. Contudo, a fala contida nas imagens produzidas por esse
mesmo sujeito, com o auxílio de materiais artísticos diversos, conterá
elementos indisfarçáveis das premissas e tensões que habitam sua psique.
Remonta à Antiga Grécia o uso da Arte, especificamente a pintura,
no tratamento de pessoas com diferentes tipos de adoecimento, notadamente
os da alma. Em diversos estágios da História, encontramos relatos do uso de
algum tipo de manifestação artística – pintura, escultura, música, literatura –
para confortar enfermos de diferentes patologias.
Mas, no âmbito da saúde mental, a experiência é relativamente
recente. Até as primeiras décadas do século XX, o trancafiamento em
manicômios era o destino natural dos indivíduos em estado de sofrimento
mental e/ou adoecimento emocional.
Quanto mais abastada a família, mais excluídos eram os seus
“loucos”. Quanto mais nítidos os sintomas do sofrimento, maior a quantidade
de medicamentos prescritos pelos médicos. E diante de manifestações mais
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bruscas ou recorrentes do desequilíbrio, o tratamento incluía eletrochoques ou
lobotomia.
A mudança de olhar foi um processo longo, mas perseverante. A
constatação de que a Arte pode aliar-se à Clínica, no tratamento da Loucura, é
parte do esforço para a “superação do modelo psiquiátrico tradicional,
manicomial, da discriminação e segregação das pessoas em sofrimento
mental”, diz o médico psiquiatra Paulo Amarante, numa entrevista publicada no
portal da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fundação
Oswaldo Cruz, em 28/5/2010.
Coordenador do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde
Mental e Atenção Psicossocial da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro,
Paulo Amarante defende a utilização de atividades culturais no tratamento da
loucura. Não por acaso, foi um dos pesquisadores envolvidos no projeto
“Loucos pela Diversidade”, desenvolvido entre 2007 e 2009, numa parceria
entre os Ministérios da Saúde e da Cultura, através da Secretaria da Identidade
e da Diversidade Cultural.
Nesse projeto, foram montadas diversas oficinas artísticas, que
acabaram originando grupos musicais e teatrais, que se apresentam
regularmente no circuito artístico, como: Loucos por Música, Harmonia
Enlouquece, Camisa de Força, Lokonaboa e Pirei na Cenna.
Segundo o psiquiatra, o que move os profissionais da saúde
engajados na luta antimanicomial é a possibilidade de mostrar a reforma
psiquiátrica não como uma “reforma de serviços, reforma administrativa, mas
sim como transformação cultural, social e política, como transformação das
relações entre sociedade e cultura.” (Informe ENSP, Entrevistas, 28/05/2010)
Na esfera da escuta da dor causada pelas neuroses, complexos e
conflitos psíquicos, o auxílio da Arte, através de um “fazer” livre, não
intencional, firmou-se a partir dos estudos e experiências práticas na clínica de
Carl Jung.
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Observador dos símbolos humanos, Jung recorreu à mitologia grega
clássica e aos quatro elementos (Terra, Água, Fogo e Ar), referidos em antigas
práticas, como a Astrologia, para fundamentar sua análise sobre os
comportamentos “arquetípicos” inconscientes dos seres humanos.
Conforme explica Urrutigaray (2007, p.17), a psicoterapia junguiana
considera “(...)a totalidade das funções psicológicas, desde sua manifestação
em atitudes e comportamentos até suas razões mais profundas, suas raízes e
origens.” Nessa abordagem, valores como Luz (Consciente) e Sombra
(Inconsciente) são considerados, a partir das imagens produzidas pelo
analisando, suas atitudes e a forma de lidar com as próprias construções.
São as manifestações de seus sentimentos e a clarificação dos mesmos que vão lhe devolvendo as asas da imaginação criativa. Deste modo, o trabalho com as técnicas expressivas ou a arteterapia possibilita, no Encontro Analítico, esta conexão amorosa no cliente, (...) sua reorganização por meio da união de seus sonhos, fantasias, ideais com rabiscos, desenhos, colagens, construções com caixas de areia, etc., os quais aproximam o imaginário com o real do paciente. (URRUTIGARAY, 2007, p. 41)
A proposta analítica de Jung encontrou resistências, além de fortes
críticas da Academia. Mas, na contramão dos que o enxergavam como um
“alquimista” e não como um médico da mente e da alma, houve quem partisse
de suas considerações e análise inovadora para renovar o ambiente da Clínica.
No Brasil, desde 1925, Osório César conjugava arte à terapia, no
atendimento aos seus pacientes no hospital psiquiátrico do Juqueri, em São
Paulo. Mas, foi em 1946, no Centro Psiquiátrico Pedro II, no Rio de Janeiro,
que a psiquiatra Nise da Silveira aguçou o olhar, a escuta e a sensibilidade,
acolhendo a proposta de Jung para auxiliar seus pacientes – a maioria, com
diagnóstico de esquizofrenia – na reorganização de tensões e distorções
psíquicas, com o recurso da Arte.
Ainda que não o denominasse de “arteterapia”, o trabalho realizado
sob sua supervisão foi iniciado em ateliês de pintura e de modelagem da Seção
de Terapia Ocupacional do hospital. O volume de produções foi tão grande e
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rico, além de contribuir, de fato, para a ordenação dos conteúdos subjetivos
dos pacientes, que se destacou no cenário científico da época.
Muitos daqueles pacientes tiveram suas obras expostas em mostras
de arte. Algumas dessas produções – como os mandalas de Fernando Diniz –
ratificaram as investigações de Jung sobre a existência de uma “camada
impessoal na psique”, que levaria o Homem a reproduzir símbolos ancestrais,
mesmo quando não estão presentes em seu cotidiano.
O trabalho da Dra. Nise da Silveira, ancorado nas trocas de ideias e
informações com Carl Jung, ganhou projeção internacional. Mais tarde, com a
desativação dos manicômios, o Centro Psiquiátrico Pedro II abriu espaço para
a constituição do Museu de Imagens do Inconsciente.
Referindo-se a essa iniciativa e ao potencial da Arte como auxiliar da
Clínica, Arcuri (2006, pp. 22 e 23) destaca que “(...) a expressão artística,
muitas vezes, exprime indivisíveis emoções, levando à concretização dos
anseios e das necessidades do ser humano.” Destaca, também, o papel da
estruturação do espaço pessoal, nesse processo:
O que garante o Homem sadio contra o delírio, a depressão e o sofrimento psíquico de ordens diversas não é a sua crítica, mas a estruturação do seu espaço. O sofrimento, muitas vezes, é oriundo do estreitamento do espaço vivido, do enraizamento das coisas no nosso corpo, da vertiginosa proximidade do objeto. Nos sintomas neuróticos, as experiências da espacialidade são essencialmente determinadas pelo tom afetivo dominante no momento. O espaço adquire qualidades peculiares de acordo com o estado emocional do indivíduo: sensação de plenitude ou de vazio, de espaço amplo ou opressor, iluminado ou sombrio. (ARCURI, 2006, p.23)
A infinita capacidade humana de deixar fluir sua criatividade para
enviar ao exterior, por meio desta, as mensagens adormecidas de seu
inconsciente individual ou coletivo, encontra fundamental apoio na Arte, um
campo libertário e despreconceituoso por essência.
23
O “fazer artístico”, no ambiente psicoterapêutico, contribui para
tornar o tratamento mais humano, sensível e produtivo, jogando luz e cor num
mundo de sombras e temores.
Encontra-se já em curso um processo de abertura da Academia,
visando à melhor compreensão dessa proposta. Os avanços dessa iniciativa,
com o respaldo de cientistas, profissionais da arteterapia, artistas, analistas e
analisandos, certamente contribuirá para a quebra das barreiras ainda hoje
existentes, contra a utilização do “fazer” artístico no ambiente da clínica, em
auxílio ao “dizer”.
Enquanto se avança, é pertinente pensar na estruturação da
arteterapia como um novo campo do conhecimento, em nosso país, lançando
um olhar mais apurado sobre o vasto território em que essa prática se insere,
além da Clínica.
Pois, mais do que um canal expressivo para os intercâmbios entre
os conteúdos que emergem do inconsciente e as interpretações da clínica,
destinadas ao alívio dos sofrimentos, a arteterapia possui, também, linguagem
e proposições marcantes, como registra Sara Paín:
A arteterapia é possível hoje porque a arte liberou-se de toda norma canônica, de toda obrigação que não emane das regras de jogo que o próprio artista inventa.(...) Certamente que ao não ser o artistant1 um artista, a atividade que realiza em nome da arte não é, em absoluto, arte. Na arteterapia, a arte é concebida como uma metáfora (...). A atividade artística transforma-se assim numa representação dramática da intenção criativa do sujeito. É nessa duplicidade que encontramos a eficácia dessa modalidade terapêutica. (PAÍN, 2009, p.12)
1 Artistant – termo usado pela autora para “definir o sujeito que vem à psicoterapia sem a paciência de um paciente, nem a urgência de um enfermo e nem as exigências de um cliente”. (op.cit. p.11)
24
CAPÍTULO 2
MANEJOS DO FAZER:
BRINCAR, CRIAR, EXPRESSAR
“Agora eu era o rei / Era o bedel e era também juiz / E pela minha lei
/ A gente era obrigado a ser feliz.” (Chico Buarque, 1977)
O mundo do faz-de-conta pertence ao grande reino da Imaginação.
Regido pelas leis da Criatividade e governado pela Subjetividade, esse
território apresenta uma produção rica e abundante, que repercute
externamente através da linguagem Lúdica. Embora não tenha limites
geográficos estabelecidos, nem regras que delimitem suas fronteiras, seu
principal portão de acesso encontra-se no quintal da infância.
Brincando livremente, dando vida a personagens imaginários,
construindo “cenários”, ouvindo ou reproduzindo sons, dançando, cantando,
enfim, a criança vai desenvolvendo não apenas a coordenação motora. A
identidade pessoal, a noção do espaço ocupado (física e afetivamente), a
capacidade de elaborar as próprias emoções e de expressá-las
adequadamente, de acordo com sua faixa etária, são alguns dos aspectos
proporcionados pelo “brincar”.
Esse mundo mágico diz respeito à capacidade humana de criar,
expressar, encantar e encantar-se. Uma criança saudável, à qual seja
permitido brincar e mergulhar no faz-de-conta, apropriando-se gradativamente
dos conteúdos de seu universo, certamente se transformará num adulto
criativo, com passe livre e permanente ao território de sua imaginação, cujas
paisagens lhe parecerão sempre alegres, coloridas, estimulantes.
Contudo, nem todos os seres humanos têm essa oportunidade. O
ato de viver, com sua dinâmica própria e as interações psicossociais, impõe
25
mudanças e adaptações. Dependendo do tipo ou intensidade dessa demanda,
pode haver a perda ou o embotamento da capacidade de interagir plenamente,
de alegrar-se com o mundo ao redor, de elaborar e expressar os próprios
conteúdos emocionais.
Coutinho (2005, p.15) alerta para a necessidade de “(...)
considerarmos as crianças como sujeitos em plenitude”, compreendendo que
acontecimentos aparentemente banais, sob a ótica dos adultos, “(...) para as
crianças podem ser causadores de angústia e ansiedade legítimas.”
Nesse sentido, a autora recomenda que os terapeutas agucem sua
observação para as mensagens não-verbais transmitidas pelas crianças, pois
“(...) as grandes comunicações, as revelações mais importantes, em geral, não
serão iniciadas verbalmente, e sim por essa atuação com todo o corpo, com
todo o ser.” (COUTINHO, 2005, p.16)
Considerando que as experiências da infância se refletirão nas
escolhas e posturas ao longo da vida, tal recomendação é válida para todos os
que lidam com crianças – seja no setting psicoterapêutico, na escola, na
família, no grupo social como um todo.
Por isso, os diferentes “manejos” do fazer criativo, do produzir sem
intenção, pelo simples prazer e/ou a inquietação de expressar, devem ser
estimulados desde cedo. Da mesma forma, as interpretações desse “fazer”, por
parte dos profissionais encarregados de acompanhar outro ser humano,
qualquer que seja sua faixa etária, devem privilegiar o questionamento e a
“escuta”, para que a comunicação do “outro” esteja isenta de projeções.
Tal escuta é ainda mais relevante quando se trabalha com crianças:
Eu costumo pegar o trabalho da criança e dizer: “Muito bem! O que você gostaria de falar a respeito do seu desenho (ou pintura, ou colagem, etc.)?” É importante que a criança me informe a respeito de sua própria criação, e que eu leve em consideração aquilo que ela diz. (COUTINHO, 2005, p.28)
26
“Fazer arte” é tão próprio da infância que, até o século XX, a
expressão era utilizada pelos adultos, em relação às pequenas ou grandes
peraltices das crianças. Enquanto conservar sua capacidade de “fazer arte”, no
sentido de criar, de brincar de forma saudável, de expressar adequadamente
sua “criança interior”, o ser humano tenderá à alegria, não ao sofrimento.
2.1 A Ludicidade Como Fator de Equilíbrio
Se brincar é essencial, convém destacar a importância do uso das
mãos, na construção desse processo, a qualquer tempo. Da capacidade de
produzir objetos e desenvolver atividades com as mãos, derivou-se o termo
“manejo”, sempre associado ao ato humano do “fazer”.
Enquanto “soltou” livremente as mãos, em produções e (a) fazeres,
o ser humano modelou e estruturou seu meio e seu modo de viver com a
inteireza das sensações e a delicadeza dos afetos – fosse produzindo
utensílios, criando animais domésticos ou construindo moradias.
Ainda que o aperfeiçoamento de máquinas e tecnologias seja
resultado do próprio esforço humano para conquistar mais conforto e
autonomia, com menor dispêndio de energia física, a mudança na forma de
ordenar e criar roubou-lhe, além do aprimoramento da coordenação motora
fina, uma parcela significativa da percepção tátil e visual, decorrente do contato
e dos intercâmbios com os materiais expressivos.
Usar as mãos na construção dos próprios brinquedos, na infância,
valorizando materiais diversos, aparentemente imprestáveis, a ponto de dar-
lhes novas feições e utilidades, é um prazer e uma conquista, magia e deleite
que jamais serão esquecidos.
Como observa a professora e pedagoga Mônica Ledo Silvestri
(2005, pp. 9 e 10), “(...) brincadeira é coisa séria – precisa ser respeitada, mas,
principalmente, estimulada.” Esse fator nem sempre é levado em consideração,
em nosso mundo atual, “onde as crianças, ricas ou pobres, têm seus espaços
27
reduzidos – mais violência, menos quintais”, enquanto o “(...) brincar virou
sinônimo de consumir/possuir brinquedos.”
Desenvolvendo pesquisas e oficinas voltadas para o aproveitamento
da sucata na construção de brinquedos, Silvestri enfatiza a importância do
“fazer”. Esses brinquedos, criados pelas crianças com a supervisão de arte-
educadores, podem ser utilizados como alternativa pedagógica no âmbito da
Educação Infantil, dentro do sistema escolar público, carente de recursos.
Da mesma forma, tais produções conscientizam os participantes da
experiência (alunos e educadores) sobre o aproveitamento dos materiais, a
transformação dos objetos, o olhar mais crítico sobre o desperdício, a
preservação ecológica por meio da reciclagem. E, naturalmente, a
possibilidade do uso das mãos para “dar asas” à imaginação, na construção de
brinquedos coloridos, criativos, cercados de afeto e de faz-de-conta.
O (bom) uso da sucata demonstra, claramente, que não há
necessidade de “ter” dinheiro para “possuir” um brinquedo, pois o próprio
“fazer” também é um modo de brincar. Destacando a “magia que salta da
capacidade criadora e inventiva de todos nós, sejamos crianças ou adultos”, a
autora aposta na transformação do espaço escolar em ambiente de “criação e
interações coletivas.” (SILVESTRI, 2005, p. 10).
Na falta de materiais para produções tridimensionais ou mesmo
bidimensionais, persistem outros recursos, como a contação de histórias, as
danças folclóricas, o canto, a interpretação teatral, a elaboração de textos
coletivos, a criação de jogos e gincanas.
Ainda que, nas grandes cidades, os playgrounds de concreto
armado tenham substituído os quintais e as árvores frutíferas de outrora
tenham cedido lugar aos arranha-céus, é sempre possível reservar um espaço
ao “brincar”, tão indispensável ao equilíbrio e à alegria interior.
28
2.2 Criatividade Cochila, Mas Não Dorme
Todos os seres humanos possuem potencial criativo, ainda que o
manifestem de formas bastante diversas – e até mesmo imperceptíveis, de
acordo com os conceitos de cada um. Por isso, diante da alegação de alguém
sobre “não ser criativo”, é aconselhável questionar “em que momento” aquele
sujeito foi cerceado ou criticado em suas construções e potencialidades.
Reconstruir cada história e trajetória é essencial para essa compreensão.
Segundo Ostrower (1977, p. 1), “(...) a criatividade é um potencial
inerente ao homem”, que busca realizar esse potencial através de múltiplos
processos criativos, não restritos somente à arte.
Portanto, a criatividade está no cotidiano e permeia toda a
existência. Talvez não possa ser expressa por meio da pintura, da escultura ou
num desenho artístico, mas, certamente, haverá uma boa dose dela no bolo
caseiro de laranja, na toalha bordada em relevo, no arranjo de flores que
enfeita a sala de estar.
Em cada etapa da vida, algum fator será priorizado, atraindo a
atenção e os sentidos. Se as crianças descobrem o mundo através das
brincadeiras solitárias e coletivas, os jovens buscam estruturar-se dentro desse
mundo, organizando e integrando suas construções e reconhecendo-se dentro
de seu grupo. Tempos depois, passada a fase da consolidação de desejos e
escolhas, o sujeito que avançou na idade cronológica revisitará seus símbolos,
para reolhar suas construções e resgatar valores fundamentais à preservação
de seu interesse no interagir, no expressar, no existir.
Muitas vezes, a escola tem parcela de responsabilidade na inibição
da criatividade natural do ser humano. Alguns métodos de ensino e de
avaliação restringem-se à oferta de conteúdos didáticos, sem dar espaço à
elaboração, à plena compreensão de conceitos e à imprescindível reflexão,
essencial à formação de indivíduos “críticos e criativos”, como preconizava
Paulo Freire (2008).
29
Esse padrão é, de tal forma, introjetado pelos atores do sistema educacional que, mesmo nas universidades, onde se poderia supor que houvesse maior espaço e desejo de produzir (e não apenas reproduzir) conhecimento, por vezes os mestres, por vezes os próprios alunos, exigem aquele velho modelo de aula, no qual o professor fala, escreve, explana, e os alunos copiam, arquivam e decoram pontos a serem, literalmente, repetidos nas avaliações. (COUTINHO, 2005, p.54)
Dessa forma, reitera Coutinho (2005, p. 54), “(...) a criatividade vai
sendo inibida com o passar dos anos e, como preço (alto) pagamos com o fato
de, muitas vezes, não nos reconhecermos, pois não sabemos mais do que
gostamos ou não.” Portanto, o papel da escola como agente facilitador dos
processos criativos deve ser observado atentamente e cobrado às instituições,
pelos pais e pelos educadores.
No ambiente da clínica, o trabalho com arteterapia proporcionou, a
Ângela Philippini (2004, p. 89), a oportunidade de acompanhar “(...) processos
de transformações diversos, compartilhando o prazer de múltiplas
descobertas”, que se materializaram no dia-a-dia, com imagens produzidas
através de diversos canais de comunicação, por pessoas de diferentes idades
e origens.
Na facilitação do acesso aos conteúdos inconscientes, com o uso de
diferentes materiais expressivos e linguagens, Philippini testemunha, há mais
de 20 anos, o reencontro do sujeito com sua criatividade, até então relegada a
algum canto sombrio do self.
É bem verdade que não existem só prazeres, algumas vezes há lacunas, áreas sombrias e a jornada é marcada por decepções, projetos desfeitos, desconforto diante das construções de precário equilíbrio, tristezas por sucessivas tentativas abortadas de criação, dores e afetos de comunicação truncada, fechados no peito, explodindo depois em dores reais ou imaginadas, e sempre duramente sofridas. Outras vezes, é hora de acompanhar o confronto com imagens disformes e ameaçadoras, emissárias de temores e perdas, de elos rompidos, de emoções reprimidas ou simplesmente do novo, que não tem espaço nem vez no velho arranjo das mesmices. (PHILIPPINI, 2004, pp. 89 e 90)
30
Não obstante os percursos marcados pelos atos de outrem ou da
própria condição do viver, qualquer que tenha sido o motivo para o ‘fechar de
olhos’ ao próprio potencial criativo, seu resgate e posterior expressão é
surpreendente e encantador, tanto para o sujeito quanto para o arteterapeuta.
Como assegura Philippini (2004, p. 90), “(...) o símbolo configurado
em materialidade leva à compreensão, transformação, estruturação e
expansão de toda a personalidade do individuo que cria”, prova incontestável
de que, no universo do ser, o ato de criar jamais adormece – no máximo,
cochila.
2.3 Expressar Emoções, Liberar Tensões
O fazer criativo, com o auxílio das técnicas expressivas, seja no
setting terapêutico, seja no ambiente pedagógico, visa integrar “elementos
perceptivos, sensoriais, sinestésicos e cognitivos.” (PHILIPPINI, 2004, p. 92)
Nesse sentido, as imagens produzidas, num primeiro momento,
resultam de um processo de elaboração psíquica que permite a livre expressão
de conteúdos subjetivos, sem a intervenção e a censura da consciência ou do
ego.
Produzindo uma imagem, desenhando, pintando, esculpindo, o sujeito está fornecendo uma oportunidade para conhecermos mais a seu respeito. E não apenas observando o resultado final, mas também acompanhando o seu processo de criação. De que forma se relaciona com os materiais e com a possibilidade de se expressar. E também de que forma se relaciona com aquilo que cria. (COUTINHO, 2005, p. 46)
Segundo Paín (2009, p. 93), a expressão de ideias e sentimentos
também pode ser reprimida ou simulada pelo indivíduo que se deixa manipular
pelo consciente. Entretanto, mesmo quando o “sujeito protege seu pensamento
íntimo pela inibição expressiva, pela imitação rígida das convenções sociais e
31
pela repetição de seus hábitos”, sempre haverá caminhos e brechas pelos
quais “se filtra o inexpressável.” (PAÍN, 2009, p. 93)
Portanto, é preciso estar atento para distinguir o “comunicar-se” do
“expressar-se”, pois o ato expressivo genuíno deriva, sempre, da pulsão por
mostrar, a outrem, o peso de ideias e sentimentos. Nesse processo, como
destaca Paín (2009), “(...) o sujeito faz de tudo para que o outro possa
compartilhar, e não apenas imaginar, a intensidade de sua dor.”
A possibilidade – oferecida pela arte – de criar mundos nos quais habitar abre tempos e espaços de encontros subjetivos. Curiosamente, é nesse habitat – entre reais e virtuais –, que os sujeitos dialogam, compartilham, olham-se, encontram-se, diferenciam-se e enriquecem-se. Residência majestosa cujos tijolos são a poderosa materialidade do subjetivo. (REÍSIN, 2006, p. 20)
Carl Jung dedicou décadas de sua existência ao estudo sobre a
psicologia da representação pictórica de processos mentais. Da análise atenta
das produções de pacientes e de artistas, concluiu que “(...) a arte não-objetiva
extrai seus conteúdos essencialmente do ‘íntimo’ da pessoa”. (JUNG, (1985,
pp. 119 e 120)
Observando a obra de Pablo Picasso, do ponto de vista cronológico,
Jung percebeu “um aumento daqueles elementos que não correspondem mais
a nenhuma experiência externa, mas surgem de um ‘íntimo’ que se encontra
atrás da consciência”. Nesse lugar, em vez de um “nada absoluto”, o
psicanalista identificou a existência da “(...) psique inconsciente que afeta a
consciência por trás e por dentro, da mesma forma como o mundo externo
afeta a consciência pela frente e por fora.” (JUNG, 1985, p. 120)
A partir dessas constatações, desenvolveu um método psicanalítico
clínico voltado para a expressão desses conteúdos.
Como este “íntimo” é invisível e inimaginável, mas pode influenciar a consciência de um modo muito eficaz, levo os meus pacientes, sobretudo os que sofrem de tais efeitos, a reproduzi-los da melhor maneira possível, através da forma pictórica. A finalidade deste “método de expressão” é tornar os conteúdos inconscientes acessíveis e, assim, aproximá-los da
32
compreensão. Com esta terapêutica consegue-se impedir a perigosa cisão entre a consciência e os processos inconscientes. Todos os processos e efeitos de profundidade psíquica representados pictoricamente são, em oposição à representação objetiva ou “consciente”, simbólicos, quer dizer, indicam da melhor maneira possível, e de forma aproximada, um sentido que, por enquanto, ainda é desconhecido. (JUNG, 1985, p. 120)
O arteterapeuta tem a oportunidade de atuar como um facilitador
para a reintegração da personalidade dos que recorrem ao seu trabalho.
A liberação dos conteúdos inconscientes, guardados nas
profundezas de cada indivíduo, traz à tona as tensões psíquicas, com toda a
sua força reveladora e riqueza de elementos. E desde que o processo é
conduzido através das diferentes técnicas expressivas, destinadas à produção
de imagens e formas, o domínio das linguagens dos materiais é prioritário.
Para Philippini (2009, p. 18), a grande contribuição da Arteterapia
reside em sua capacidade de proporcionar uma “amplificação simbólica” por
meio do fazer artístico, num processo que passa pelo resgate de símbolos há
muito “esquecidos” e culmina com o reolhar do sujeito para si próprio, na
compreensão e comunhão com suas emoções.
Integrando linguagens plásticas e materiais expressivos diversos,
esse processo de amplificação simbólica conduz à elaboração consciente dos
conteúdos subjetivos, antes ocultos, enquanto conduz o sujeito,
gradativamente, à expansão da estruturação emocional.
Assim, algumas linguagens e materiais estarão a serviço do desbloqueio, liberação de conteúdos inconscientes e fluência do processo criativo. Outros estarão favorecendo mais a comunicação e a configuração das informações objetivas, enquanto outras permitem a saída do plano fugidio das ideias, sensações e emoções, para o campo concreto da densidade, peso, volume e texturas. Combinar estas estratégias e complementá-las com outras, advindas de outras áreas da criação, além das Artes Plásticas, é atividade complexa, que é auxiliada por observação intuitiva, mas é também exercício teórico e técnico, resultante do estudo e do conhecimento da natureza harmonizadora e organizadora do fazer artístico e de suas propriedades terapêuticas específicas, inerentes a cada
33
materialidade e a cada linguagem plástica. (PHILIPPINI, 2009, p. 18)
Manejar as técnicas para conduzir à cura, minorar a dor, reintegrar o
indivíduo consigo mesmo, eis algumas das atribuições da Arteterapia. São
muitos os manejos do fazer e as possibilidades de criar. Seja brincando ou
aprendendo a brincar, o indivíduo tende a seguir seu percurso rumo à harmonia
do Todo. O sucesso irá depender de múltiplos aspectos. Mas, certamente, a
decisão de se expressar será seu passo mais importante nessa direção.
34
CAPÍTULO 3
COMO DESENVOLVER (BEM)
UM “ESCUTADOR” SENSÍVEL?
“Qual é a prescrição para a função do arteterapeuta?” (Alejandro
Reísin, 2006, p.91)
Arteterapia é uma atividade que reúne múltiplos saberes e se
expande em todo o mundo. Interligando conhecimentos em Artes, Educação e
Saúde, foi classificada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como
técnica complementar de saúde pertencente ao conjunto das práticas holísticas
e transdisciplinares,
Mais do que simplesmente “trabalhar com a Arte”, o processo
arteterapêutico configura-se, em si mesmo, como uma verdadeira arte. Afinal, a
função precípua do arteterapeuta é “escutar” o outro, com o recurso de
múltiplas linguagens, facilitando a emersão de conteúdos inconscientes
representados – e sem interferir, inferir ou projetar-se no universo desse outro
sujeito, mas proporcionando-lhe toda a estrutura para que se exponha, por
meio de suas produções imagéticas.
A menos que tenha uma experiência prática significativa na “escuta”
de outrem, em atividades vinculadas à Educação e/ou à Saúde, quem ingressa
nos cursos de formação e/ou especialização em Arteterapia manifesta, sempre,
o receio de não conseguir atender, de forma adequada, às exigências
“imateriais” da profissão. O temor de “falhar”, como facilitador do processo
arteterapêutico, por falta de preparo adequado, supera até uma eventual
preocupação com os recursos para estruturar o próprio espaço de atendimento.
Como manter um vínculo tão estreito, permeado por absoluta
confiança recíproca, sem emitir conceitos ou sinais que interfiram na franca
expressão desse outro? Em que momento o arteterapeuta está “pronto”?
35
Buscando aprofundar a reflexão sobre a função do arteterapeuta,
Reísin (2005) encara este papel como “um estado de ser ativo na quietude,
para alojar a atividade do outro”, uma vez que, “se o arteterapeuta é muito
ativo, não facilita o ‘ser ativo’ ao paciente.” (REÍSIN, 2005, p. 89)
Para o autor, que também é músico, o arteterapeuta deve ser “ativo
na proposição (com suas propostas), para facilitar um processo no fazer em
arteterapia”, tendo em vista que “é o outro quem dá sentido ao processo
arteterapêutico”, a partir dos conteúdos que traz para o setting. Portanto, está
reservado ao profissional “um fazer tomado como um não-fazer (...). A
atividade é o contato, a comunicação, a contenção habilitante, o encontro com
o próprio e o outro.” (REÍSIN, 2005, p. 92)
Mas, se o arteterapeuta é um facilitador, cujo olhar atento e
acolhedor observa tanto o fazer artístico quanto os aspectos subjetivos
expressos nas produções do outro, ele também precisa ser um artista, um
terapeuta, um aluno, um mestre?
Em psicanálise, é a abstinência do analista que “promove” a associação livre do paciente. Imagine quanto menos frutífero seria se o paciente tivesse que medir suas palavras para o (suposto) agrado do terapeuta. (...) A psicanálise trabalha com as representações, para que o mítico divórcio entre a representação e o afeto deixe de estar em deslocamento, num enlace de compromisso, unindo novamente palavra e afeto. Em arteterapia se trabalha a partir do afeto, de outras representações (artísticas) e depois, num processo secundário, vão se unir às representações: palavras. (...) A função em que estamos pensando não é só a do vínculo (afetivo), nem a de um animador sociocultural, nem recreador, nem mestre... menos ainda a de um amigo. (...) é essa comunidade do fazer artístico com propósitos terapêuticos que fundamenta o vínculo arteterapêutico. (REÍSIN, 2005, pp. 92 e 93)
3.1 Buscando a Qualificação Adequada
No Brasil, cabe à União Brasileira de Associações de Arteterapia
(UBAAT) estabelecer os parâmetros curriculares mínimos para os cursos de
formação profissional. Dessa formação, as grades das instituições formadoras
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devem garantir 360 horas/aula em matérias destinadas à fundamentação
teórica e prática expressiva, 100 horas de estágio comprovado e 60 horas de
supervisão, totalizando pelo menos 520 horas de aprendizado.
De acordo com a Ata do Fórum Brasileiro de Arteterapia, realizado
em 12 de outubro de 2006, em Recife (PE) pelo Conselho Diretor da UBAAT,
após a discussão sobre a “identidade da Arteterapia (...) concluiu-se que essa
utiliza várias modalidades expressivas que devem ser contempladas pelos
cursos (...), mas que ela (sic) utiliza fundamentalmente as Artes Plásticas e que
isto a identifica como uma disciplina diferenciada”.
Assim sendo, o Fórum de Recife aprovou o seguinte currículo
mínimo, para cursos de Pós-Graduação, Especialização e Formação em
Arteterapia: “– Fundamentos da Arteterapia (introdução, panorama geral,
história e teorias); – Linguagem e Práticas em Arteterapia; – Fundamentos
da Arte (história da arte; linguagens artísticas diversas com predominância e
aprofundamento nas Artes Plásticas; criatividade); – Fundamentos
Psicológicos e Psicossociais (fundamentos da teoria psicológica que
embasa o curso; postura terapêutica; Ética no exercício terapêutico; ciclos de
desenvolvimento humano; psicopatologia; noções de psicossocial); – Estágio e
Supervisão (Prática) – Trabalho de Conclusão de Curso.”
Nesse encontro, foram definidas, ainda, as formações acadêmicas
exigidas dos docentes que atuam nesses cursos, de acordo com a
especificidade de cada matéria da grade mínima. Algumas matérias, como
Fundamentos da Arteterapia e Linguagem e Práticas em Arteterapia, por
exemplo, somente poderão ser ministradas por “Arteterapeuta reconhecido
como profissional da associação estadual a que pertence e estar em dia com
suas obrigações para com esta.” (Ata do Fórum da UBAAT, Recife, 2006)
Philippini (2008), uma das precursoras da prática arteterapêutica no
país, alerta para a importância de que o arteterapeuta domine as múltiplas
modalidades expressivas e suas potencialidades, para que reconheça o tipo de
linguagem mais apropriada, em dado momento, àqueles a quem estiver
acompanhando.
37
Esta é, certamente, uma das primeiras dificuldades no trabalho de formação de novos arteterapeutas, pois muitos chegam ao processo com pouca ou nenhuma intimidade com a arte e suas manifestações. E, se uma das tarefas do arteterapeuta é resgatar as possibilidades criativas de seus clientes, mantendo um convívio terapêutico diário com o processo criativo, é fundamental que possa construir e ampliar suas próprias vivências criativas. (PHILIPPINI, 2008, p.27)
Para a autora, o fato de estar em contato permanente com as
imagens de outrem, estimula o profissional a mergulhar em sua própria
subjetividade, além de confrontar-se com produções e fatos potencialmente
difíceis. Portanto, reitera Philippini (2008, pp. 27 e 28), “(...) estas são boas
razões para que o arteterapeuta cuide de estar em bons termos com suas
próprias imagens internas”, frequentando regularmente um ateliê ou oficina de
criação para “(...) pesquisar e desenvolver sua própria linguagem expressiva.”
Além do domínio das diferentes técnicas expressivas, Philippini
considera essencial que o arteterapeuta se mantenha, também, em processo
terapêutico – se possível, com um arteterapeuta –, a fim de “(...) assegurar uma
formação sólida, confiável e sobretudo ética.” (PHILIPPINI, 2008, p. 28)
Na delimitação de seu espaço de trânsito profissional, o
arteterapeuta deve evitar o que Philippini qualifica como “síndrome da
clinificação”, uma tendência a unificar linguagens para assemelhar-se a outras
abordagens clínicas, comprometendo a essência da Arteterapia, que é o
enfoque sob o prisma da produção artística.
A produtividade da Arteterapia reside basicamente na possibilidade de facilitar caminhos expressivos singulares para cada cliente e o fluir neste processo vem da prática, experimentação e estudos das modalidades expressivas diversas. (PHILIPPINI, 2008, p.28)
Tratando-se de um saber transdisciplinar, que se efetiva e expande
na prática cotidiana, a Arteterapia não exige, segundo a autora, graduação
prévia nesta ou naquela área do conhecimento. Sua recomendação é que, a
qualquer tempo, o profissional evite o academicismo, priorizando a criação
38
contínua e o aprofundamento da pesquisa de sua linguagem plástica particular,
com o suporte essencial da própria terapia, individual ou em grupo.
E completa:
Para transformar-se em observador presente, ativo, empático companheiro nesta aventura do construir-se e transformar-se pela via das imagens, precisará o arteterapeuta do contínuo trabalho de autodesvelar expressivo do ateliê (...) para que assegure uma comunicação fluente através de estratégias expressivas diversas (...) E isto será então apoiado por sua própria criatividade e fluência expressiva. A necessária complementação advém do contínuo estudo no modelo teórico escolhido para nortear sua prática terapêutica e do persistente trabalho de autoconhecimento em seu próprio processo terapêutico. (PHILIPPINI, 2008, p. 30)
3.2 A Prática e Seus Desafios
Ao facilitar a expressão de conteúdos emocionais complexos,
potencialmente bloqueadores da alegria e da vontade de viver, a prática
arteterapêutica contribui não apenas para o restabelecimento da saúde integral
do sujeito, mas determina sua reinserção social na coletividade à qual
pertence.
O desenvolvimento do processo arteterapêutico se fundamenta
sobre três eixos: a produção imagética, por meio de diferentes materiais
plásticos ou linguagens expressivas; a possibilidade de deixar fluir a
criatividade, plasmando tais imagens sem intencionalidade, e a relação do
sujeito com sua própria obra, percebendo quais são os símbolos ali contidos e
de que forma se processa sua relação com tais significados.
Nesse processo, como em todos os demais “mergulhos” na
subjetividade, surgem alguns desafios, cuja superação irá depender da relação
de abertura e confiança estabelecida no ambiente arteterapêutico. Um dos
grandes desafios, para o arteterapeuta, é o ato de lidar com a resistência do
sujeito aos elementos que compõem o espaço de atendimento – seja um (ou
vários) dos materiais utilizados; uma técnica específica; autonegação em deixar
39
fluir o processo de criação; transferência na relação sujeito-arteterapeuta, entre
outros. Quando o sujeito resiste, o que se faz com suas resistências?
Para Reísin (2006, p. 95), é preciso fazer, antes de tudo, uma
distinção entre obstáculos e resistências. Os primeiros demandam uma
abordagem assertiva, que promova sua remoção do caminho evolutivo do
processo terapêutico. Já a presença de resistências, “(...) requer um respeito
de nossa parte, [pois] elas possuem justificadas razões para existir.”
Nesse contexto, as resistências devem ser trabalhadas com extremo
cuidado, mas também com perseverança, em estreita “(...) co-construção, do
envolvimento e da contenção que possibilita o ato de experimentar com
diferentes vivências no vínculo intersubjetivo e com os objetos.” (REÍSIN, 2006,
p. 96)
Outra questão que se coloca, com bastante frequência – e, muitas
vezes, diz respeito à resistência, mais do que ao obstáculo –, é o fato de o
sujeito alegar impossibilidade de produzir imagens, para restringir-se à
verbalização. Este aspecto encontra sua contrapartida numa dúvida de outra
ordem, também relacionada à palavra: é preciso encerrar cada produção
utilizando palavras, conceituando verbalmente aquilo que foi vivenciado por
meio de imagens?
O momento de encerramento pode incluir o de reflexão, mas são diferentes. A palavra supõe um processo simbólico que se abstrai do concreto e real da experiência, podendo realizar uma captação desta, para uma possível capitalização. (REÍSIN, 2006, p. 96)
O aspecto do “poder”, derivado do “saber”, no ambiente relacional
arteterapêutico, também merece uma reflexão do autor. Em sua visão, diversos
conhecimentos se formam, após o processo arteterapêutico, fundados nas
revelações de aspectos e conteúdos antes interiorizados e na própria dinâmica
em que o trabalho é conduzido.
O saber (de alguém sobre si mesmo; sobre o outro; que outro tem
sobre si mesmo; do outro sobre esse alguém) confere poder (de alguém sobre
40
si mesmo; sobre o outro; que o outro tem sobre si mesmo; do outro sobre esse
alguém; dos sujeitos sobre os objetos; dos objetos sobre os sujeitos), e tal
constatação leva Reísin (2006, pp. 96 e 97) a questionar como o arteterapeuta
irá “manusear o poder para que o poder não o manipule com suas escuras
artimanhas”, notadamente nos grupos, onde não raro se estabelece “o poder
de uns sobre os outros”:
Essa sugestão de percurso confirma uma construção de saberes-poderes, outorgada por e para uma circulação da potência na recuperação e criação do subjetivo. Nas intervenções arteterapêuticas, como fazer para que o outro veja o que alguém vê e sabe? (Com a advertência do perigo das projeções do próprio sobre o outro...). Não é condição suficiente que alguém se dê conta do que acontece com o outro: que caminho seguir para que o outro se dê conta? Aqui é necessário sustentar um não-ter o saber, posição de atendimento para que o timing e o cuidado façam abertura para articular as intervenções, numa pulsação que construa saberes (nem mago nem deus), construção em que o trabalho em equipe não nos deixaria só, nem deixaria só os pacientes... (REÍSIN, 2006, p. 97)
Nessa dinâmica tão complexa e rica de interações e potenciais
(re)construções, os limites do “saber” do arteterapeuta devem interagir e atuar
em favor do seu “poder” de lidar com os excessos de outrem:
Na coordenação grupal, seu saber (fazer) precisa poder conter o grupo (o extravasamento supõe um transbordamento do limite) para que este funcione no enquadre em que se encontra. Os limites que o arteterapeuta coloca a partir desse saber (como algo recipiente) situam-se em outro extremo de seu uso como poder (abuso). (...) E a arteterapia, como síntese poderosa de positividades e negatividades, é um caminho de composição para saber poder. (REÍSIN, 2006, pp. 97 e 98)
Marise Piloto, professora do Instituto A Vez do Mestre, pedagoga e
arteterapeuta com atuação destacada em ateliê, oficinas, sala de aula e
trabalho voluntário em ambiente hospitalar, afirma, numa entrevista2 concedida
à pesquisadora, que considera ainda longa a jornada a ser vencida pelos
2 A entrevista concedida por Marise Piloto, em 18 de junho de 2010, está reproduzida, na íntegra, no Anexo 2.
41
profissionais da área. Embora a Arteterapia venha conquistando mais espaço,
gradativamente, no âmbito da saúde e da educação, ainda não atingiu, no
Brasil, a notoriedade observada em países como os Estados Unidos, onde a
profissão é reconhecida e valorizada, ou Portugal, que dispõe de cursos
universitários.
A utilização das sete Artes, como configuração de uma produção
simbólica, propicia a construção de um processo terapêutico rico e variado.
“Como a arte faz parte do dia a dia das pessoas, fica muito mais prazeroso e
fácil conhecer-se através da expressão artística”, diz Marise Piloto (Anexo 2),
que tem predileção pelas técnicas expressivas plásticas e pelo trabalho com
sucatas.
A arteterapeuta, que é vice-presidente da Associação de Arteterapia
do Rio de Janeiro (AARJ) e coordena seu próprio curso de formação, além de
integrar o Projeto Social Cola Caco, voltado para o ensino da técnica do
mosaico com reaproveitamento de materiais, explica que sua atuação varia de
acordo com o cliente, suas necessidades e, também, a faixa etária. Assim,
recorre à abordagem da Gestalt, no atendimento a crianças e idosos, e à
abordagem junguiana, com adultos e alguns adolescentes.
O fato de ter seu próprio espaço de atendimento (o Atelier de
Expressão Marise Piloto) dinamiza o processo terapêutico, pois “os encontros
acontecem num setting de clima descontraído, repleto de receptividade e
afetividade, para reflexões, discussões, vivências e atendimentos”, explica.
Em sua opinião, a prática aprimora a técnica, sendo gratificante
observar como “o cliente vai desvendando e apreendendo, no consciente, as
informações vindas do inconsciente, através do confronto e da atribuição de
significado” a essas mensagens. Contudo, Marise recomenda, ao arteterapeuta
interessado em evoluir profissionalmente, que participe sempre de grupos de
estudo, recorra à supervisão e se coloque “obrigatoriamente, em terapia”.
Quando alunos de Formação em Arteterapia perguntam, “mas o que é mesmo que deve fazer um arteterapeuta?”, gosto de responder que um arteterapeuta tem como responsabilidade fundamental criar, conservar, ativar e ampliar espaços de
42
autonomia criativa, liberdade de expressão e que o resto viera em natural desdobramento. Aqui temos o resgate da cidadania, a inserção ativa na “polis” e o descobrir-se ou redescobrir-se vivo, criativo e inteiro. (PHILIPPINI, in VALLADARES, 2004, p. 91)
3.3 Um Novo Campo do Conhecimento?
Historicamente, o uso da criatividade como forma expressiva, com o
recurso da arte, esteve sempre associado à insanidade mental, como prática
para o tratamento de pacientes psiquiátricos incapazes de estabelecer uma
comunicação puramente verbal. (SANTANA in VALLADARES, 2004, p. 130)
Esta visão começou a mudar, gradativamente, a partir da década de
1970, por conta das inúmeras transformações sociais e políticas ocorridas no
mundo. Avanços tecnológicos, novas configurações econômicas, a
transformação na dinâmica interrelacional em todas as coletividades foram
consagrando a visão de que o planeta rumava, de fato, para tornar-se “uma
aldeia global”. A “abertura” de pensamento levou o Homem, notadamente o
ocidental, à descoberta, aceitação e/ou proposição de terapias alternativas,
pouco ou nada vinculadas aos métodos tradicionais. Surgiu, também, um novo
tipo de paciente – mais curioso, mais aberto, mais “experimental”.
No bojo dessas transformações, vieram os esforços para viabilizar
um novo modelo de atenção à saúde mental e a luta antimanicomial.
(...) outras formas de escuta e de promoção da saúde mental são resgatadas através de novas experiências com o fenômeno da enfermidade mental, vividas fora do âmbito restrito e hegemônico do hospital psiquiátrico em nosso país e no mundo. Assim, percebemos nestes novos cenários de atenção à saúde mental a inclusão, nos últimos anos, de arteterapeutas, arte-educadores, cientistas sociais, filósofos e outros profissionais que não pertencem necessariamente à tradição psi, mas que estão possibilitando novas perspectivas acerca da relação entre aquele que sofre e aquele que cuida, entre produção simbólica e subjetividade, entre portador de sofrimento psíquico grave e sociedade. (SILVA in VALLADARES, 2004, pp. 32 e 33)
43
A consolidação de um entendimento sobre o papel da Arteterapia,
como prática eficaz no combate ao sofrimento emocional, somente começaria a
ser observada, no Brasil, a partir da década de 1990. Campo de atuação amplo
e interdisciplinar por natureza, suas múltiplas possibilidades de criações e
recriações foram surgindo com a interlocução de diversas áreas.
Para Arcuri (2006, p. 20), o que se observa, hoje, é “o surgimento de
um novo saber a partir de múltiplos outros saberes”, razão pela qual “o termo
‘transdisciplinaridade’ [seria] o mais correto para designar o caminho que se
descortina à nossa frente.”
Reísin (2006, p. 149) entende a multidisciplinaridade como a
abordagem que requer um atendimento profissional no qual intervêm diversas
disciplinas. Mas, a transdisciplinaridade vai além da disciplina, pensando “a
partir do problema, não da teoria”. Para o autor, é neste nível que se situa a
Arteterapia.
Como prática mobilizadora de múltiplos saberes, a Arteterapia aguça
a observação, a escuta, a intuição, numa proposta que transcende os limites do
uso dos cinco sentidos, para operar um mergulho além da percepção
consciente do Homem.
Nesse percurso, segundo Coutinho (2008, pp. 12 e 13), “(...) o
terapeuta funciona ora como um espelho, ora como um acompanhante (...).
Mas não é o guia da jornada. Quem traça o rumo é o sujeito do processo.” Por
essa razão, a Arteterapia mobiliza, também, afetos, emoções, permissões e,
certamente, resistências.
Embora as relações entre arte e psiquiatria tenham sido abordadas farta e amplamente pela literatura através dos tempos, a inserção da arte nos meios acadêmicos e científicos é recente. Durante muito tempo, a utilização da linguagem artística em ambiente terapêutico foi restrita à antipsiquiatria e aparecia como prática alternativa e não complementar à atuação da psiquiatria biológica. Essa visão distorcida ainda é presente em nosso meio. (SANTANA, in VALLADARES, 2004, p. 130)
44
Certamente, tais distorções deixarão de existir quando a Arteterapia
for considerada, de fato, em nosso país, como um novo campo do
conhecimento – o que não está muito distante.
Segundo Marise Piloto, a UBAAT3 tem uma audiência marcada com
o Ministro do Trabalho, Carlos Lupi, visando regulamentar a Arteterapia como
ocupação e, posteriormente, como profissão.
Por enquanto, não existe, no Brasil, um curso de graduação
específica em Arteterapia, em nível universitário. Por isso, cada associação
regional de profissionais avalia e reconhece os cursos de formação oferecidos
nos estados sob sua jurisdição.
No Rio de Janeiro, onze cursos estão registrados na Associação de
Arteterapia (AARJ) e são credenciados pela UBAAT. Portanto, poderão atuar
como terapeutas aqueles que concluírem um desses cursos, com 24 meses de
duração, mais as horas de estágio e as supervisões dos atendimentos.
Nesse contexto, Piloto explica que não há exigência de graduação
prévia em Psicologia, para obtenção da licença. Psicólogos e pedagogos
devem cumprir a grade curricular e as horas de prática estipuladas pela
UBAAT, para que os profissionais da saúde e da educação sejam qualificados,
também, como arteterapeutas.
Philippini (2008) também considera que a Arteterapia é
Transdisciplinar. Como tal, o tipo de graduação prévia não é relevante para o
desempenho e a adequação do perfil esperado de um arteterapeuta. A título de
curiosidade, mas também como reflexão, a autora relata que, em 1982, quando
estava organizando o programa de formação de sua Clínica Pomar (RJ),
foi solicitado o intercâmbio com instituições congêneres para estudo e avaliação de seus programas de formação. (...) Dentre os programas recebidos, o que mais se assemelhava ao nosso recém-inaugurado programa de treinamento era o curso de Arte Terapia do Gold Smith College da Universidade de Londres. Além do programa (...), enviaram pormenorizados relatos sobre a estrutura e o processo de criação deste curso, incluindo uma ampla discussão da equipe organizadora sobre
3 UBAAT – União Brasileira de Associações de Arteterapia.
45
seus próprios questionamentos, em relação aos melhores critérios de avaliação dos candidatos a arteterapeutas, dos quais destacavam um (...), que constituía-se numa soma de fatores, aos quais referiam-se como ‘Atitude Terapêutica Básica’. E, na abrangência desta designação, apontavam como fundamental uma qualidade em particular, a qual davam ênfase especial: “Entusiasmo”. (PHILIPPINI, 2008, pp. 29 e 30)
Entusiasmo, reforça Philippini (2008, p. 30) está na essência de cada
um. E também a disposição para ouvir, sem interferir no discurso do outro.
46
CONCLUSÃO
“(...) ninguém pode levar ninguém além do lugar onde conseguiu chegar...”
(Jung, 1932)
Ao longo desta investigação, um aspecto relacionado à (boa) prática
da Arteterapia tornou-se ainda mais evidente: não existe uma norma padrão,
quando se trata de acolher e “escutar” as emoções de outra pessoa.
Ainda que essa “escuta” envolva todos os sentidos, além da intuição,
é preciso manter-se em atitude receptiva aos ensinamentos que emanam de
diversas “vozes”, provenientes dos conteúdos plasmados pelos sujeitos, no
processo arteterapêutico. Sem essa postura, não haverá como facilitar-lhe o
acesso ao alívio de suas pesadas cargas emocionais.
No processo arteterapêutico, que pressupõe estreita interrelação
entre sujeito-terapeuta, a Arte adquire força, como recurso, meio e fim.
Contudo, não se trata, aqui, de dispor diversos materiais plásticos num local
para atendimento, e deixar o outro “brincar”. Trata-se de utilizar o fazer artístico
não intencional para, através de técnicas expressivas diversas, proporcionar o
reencontro consigo mesmo a quem escolhe mergulhar no próprio inconsciente,
para iluminar os pontos sombrios de sua alma.
O processo arteterapêutico vai, literalmente, muito além do que os
cinco sentidos captam. O investimento do arteterapeuta, enquanto profissional,
envolve estudo contínuo, supervisão adequada, a necessidade de colocar-se
também em terapia – evitando, assim, projeções e contratransferências que
interfiram no percurso de ambos, sujeito e terapeuta.
O fato de inexistir, no Brasil, curso universitário de graduação,
muitas vezes desestimula os que pretendem enveredar pela Arteterapia.
Contudo, ao longo desta pesquisa, tal visão foi gradativamente substituída pela
certeza de que Arte e Afeto não estão limitados à escola: a melhor formação
está na abertura de espírito, na prática cotidiana e na fé no potencial do outro.
47
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48
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ANEXO 1
Pintura rupestre Alfabeto grego (leitura circular)
Ao lado: Alfabeto fenício.
Abaixo: Alfabetos hebraico (à esq.) e latino.
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ANEXO 2
ENTREVISTA COM MARISE PILOTO4
Qual a sua formação acadêmica e trajetória profissional?
Marise Piloto - Sou graduada em Pedagogia pela Universidade
Mackenzie, de São Paulo. Psicopedagoga Clínica e Institucional, Contadora de
Histórias, Arteterapeuta, Arte-Educadora, Especialista em Arteterapia e em
Educação Infantil, Especialista em Museologia pela USP e folclorista.
Especialista em Aprendizado da Leitura e Escrita e Supervisora do Ensino
Fundamental. Atuo na Universidade Candido Mendes, como professora em
cursos de pós-graduação na área pedagógica (Arteterapia em Educação e
Saúde, Educação Infantil, Docência, Orientação Educacional, Psicopedagogia
e outros cursos). Atuo, também, em creches particulares e em espaços
terapêuticos com atendimento psicopedagógico e arteterapêutico. Ofereço
atendimentos em domicílio, dependendo das necessidades das famílias, para
idosos e crianças. Coordeno e ministro cursos, vivências e workshops em todo
o Brasil. Já participei de vários Congressos de Criatividade e Arteterapia, como
ministrante de vivências e como palestrante, no Brasil e no exterior. Componho
o quadro da Diretoria da Associação de Arteterapia do Rio de Janeiro estando,
atualmente, como vice-presidente desta Associação. Faço trabalho
arteterapêuticos voluntário em hospitais – setor de pediatria, em instituto de
psicologia com portadores de necessidades especiais, em creches, orfanatos,
entre outras instituições. Sou membro fundador do Projeto Social Cola Caco,
onde ensinamos a arte do mosaico com reaproveitamento de material.
Coordeno o curso de formação em Arteterapia no “Atelier de Expressão Marise
Piloto”.
Como foi seu encontro com a Arteterapia?
4 Entrevista realizada com o recurso de troca de correspondências eletrônicas, sendo finalizada em 18 de junho de 2010.
52
Marise Piloto - A partir dos atendimentos psicopedagógicos, onde
utilizava a arte como recurso, percebia que havia muito mais conteúdo
envolvido nas atividades de desenhar, pintar, modelar, que eu desconhecia.
Busquei, então, me aprofundar no assunto. Nessa época, morava em São
Paulo e resolvi procurar o curso de Arteterapia. Nesta cidade, o enfoque teórico
é sobre a psicoterapia gestáltica. Quando saí de São Paulo e vim para o Rio de
Janeiro, soube que a abordagem era junguiana e fiz o curso na Universidade
Candido Mendes. A partir daí, não deixei mais de participar da equipe do
projeto A Vez do Mestre.
Quais os principais desafios enfrentados nesse percurso?
Marise Piloto - A jornada é longa nesta área de atuação, pois as
pessoas conhecem pouco sobre essa forma de terapia aqui no Brasil,
implantada a partir dos trabalhos realizados por Nise da Silveira com doentes
internados nos hospitais psiquiátricos. Já nos EUA, temos Florence Cane e
Margareth Naumburg, e, na Inglaterra, Adrian Hill como as principais
referências do trabalho de terapia através da arte, que é muito valorizado e
reconhecido como profissão. Em todas as referências, temos um processo
terapêutico que ocorre através de modalidades expressivas variadas: música,
dança, desenho, pintura, modelagem, literatura. Utilizamos todas as sete artes
como a configuração de uma produção simbólica. É através do confronto e da
atribuição de significado às informações vindas do inconsciente que o cliente
vai “desvendando” e apreendendo no consciente.
Como desenvolve seu trabalho arteterapêutico?
Marise Piloto - No atelier, a forma de atuação varia de acordo com o
cliente. Para crianças e idosos, normalmente desenvolvo um atendimento na
abordagem da gestalt. Para adultos e alguns adolescentes, a linha teórica é de
abordagem junguiana. Mas, em ambos os casos, são utilizados suportes
materiais adequados para que a energia psíquica circule no sujeito e possibilite
a ele plasmar símbolos do seu mundo interior.
53
Por que decidiu ter seu próprio espaço de atendimento?
Marise Piloto - Antes mesmo de ser arteterapeuta, já contava com
um espaço de atendimentos e cursos de artes. Ter um espaço próprio
possibilita uma ampla dinâmica, onde os encontros acontecem num “setting” de
clima descontraído, repleto de receptividade e afetividade, para reflexões,
discussões, vivências e atendimentos.
Tem predileção por alguma técnica ou material?
Marise Piloto - As preferências ficam com as técnicas expressivas
plásticas, o que de certa forma é uma das características fortes na Arteterapia.
Também utilizamos muito os contos de fadas, mitos e técnicas de jogos. Os
materiais são muito vastos e adoro todos os que são utilizados em construção,
principalmente as sucatas.
Quais os benefícios da Arteterapia e em que aspectos esse processo
difere de outras terapias?
Marise Piloto - Nosso objetivo, como arteterapeutas, segundo a
AATA (Associação Americana de Arteterapia), é possibilitar que “por meio do
criar em arte e do refletir sobre os processos e trabalhos artísticos resultantes,
pessoas possam ampliar o conhecimento de si e dos outros, aumentar sua
auto-estima, lidar melhor com sintomas, estresse e experiências traumáticas,
desenvolver recursos físicos, cognitivos e emocionais e desfrutar do prazer
vitalizador do fazer artístico”. E como a arte faz parte do dia a dia das pessoas,
fica muito mais prazeroso e fácil se conhecer através da expressão artística.
Pode contar/tornar público algum caso de atendimento no Espaço Marise
Piloto?
Marise Piloto - Ao longo da minha experiência, já tivemos muitos
casos interessantes. Mas, o que me chamou a atenção foi o caso de uma
senhora de 78 anos, que nunca havia brincado com boneca e que, através das
sessões, construiu várias, permitindo que sua criança interior fosse ativada. A
54
partir daí, tornou-se mais criativa e mais feliz. Conseguiu romper com algumas
“amarras” do passado, especialmente com o pai, quando trouxe para a sessão
uma meia que havia pertencido ao pai e que cortando com a tesoura, fazendo
um personagem. Foi um momento mágico para ela e para mim.
Existe alguma regulamentação para o exercício da Arteterapia ou
órgãos/instituições de fiscalização desse trabalho? Como atuam? Como é
a formação do profissional de Arteterapia?
Marise Piloto - Estamos em processo de regulamentação da
profissão. Ainda não existe, no Brasil, o curso de graduação em Arteterapia
oferecido pelas faculdades ou universidades. O que temos é uma Associação
de Arteterapeutas em cada estado do país e um órgão que controla todas as
associações, que é a União Brasileira das Associações de Arteterapia
(UBAAT), com sede na cidade do Rio de Janeiro. A Associação de Arteterapia
do Rio de Janeiro (AARJ) tem como eixo fundamental a convivência
democrática e a ética dos seus associados, a troca de informações e de
experiências, a produção teórica e de pesquisa com base nos direitos
humanos, na solidariedade e na cooperação. Cada associação regional avalia
e reconhece os cursos existentes. No Rio de Janeiro, contamos com onze
cursos registrados na AARJ e credenciados pela UBAAT, atendendo ao
currículo mínimo exigido, à carga horária dos estágios e supervisões. É
importante lembrar que a Arteterapia em Educação e Saúde ministrada nas
universidades é como uma especialização em nível de pós-graduação que não
habilita o aluno, no final de seu curso (12 meses), a atender clientes como
terapeuta. Só poderá atuar como terapeuta quem cursar dois anos (24 meses)
de curso e fizer os estágios exigidos. O currículo mínimo exige as sequintes
áreas: Fundamentos da Arteterapia, Linguagem e Práticas em Arteterapia;
Fundamentos Psicológicos e Psicologia Social, Teorias Psicológicas, Ciclos do
Desenvolvimento Humano, Psicologia Social, Psicopatologia, Ética,
Fundamentos da Arte. O arteterapeuta deverá ser capaz de conhecer e
manejar bem várias possibilidades expressivas. Nos cursos de formação de
55
arteterapia são oferecidas oficinas de: artes plásticas, artes cênicas; artes
manuais; literatura; expressão corporal; música.
É imprescindível estudar Psicologia ou o profissional pode ser oriundo de
outras áreas? Quais?
Marise Piloto - Não há exigência de que seja Psicólogo para ser
Arteterapeuta. O que se exige é que seja cumprida a grade curricular, as horas
de estágio e as supervisões dos atendimentos, determinados pela UBAAT.
Todos os profissionais das áreas de Educação e Saúde podem ser qualificados
como arteterapeutas.
A prática da Arteterapia difere de acordo com a formação do profissional?
Por que?
Marise Piloto - Assim nos descreve a Associação Americana de
Arteterapia, que é um dos modelos seguidos no Rio de Janeiro: “Arteterapeutas
são profissionais com treinamento tanto em arte como em terapia. Têm
conhecimento sobre desenvolvimento humano, teorias psicológicas, práticas
clínicas, tradições espirituais, multiculturais e artísticas e sobre o potencial
curativo da arte. Utilizam a arte em tratamentos, avaliações e pesquisas,
oferecendo consultoria a profissionais de áreas afins. Arteterapeutas trabalham
com pessoas de todas as idades, indivíduos, casais, famílias, grupos e
comunidades. Oferecem seus serviços individualmente e como parte de
equipes profissionais em contextos que incluem saúde mental, reabilitação,
instituições médicas, legais, centros de recuperação, programas comunitários,
escolas, instituições sociais, empresas, ateliês e prática privada”. (AATA,2003)
Em sua opinião, o que o arteterapeuta deve “saber” para tornar-se um
bom profissional?
Marise Piloto - A arteterapia na abordagem junguiana parte da
premissa de que os indivíduos, no curso natural de sua vida, em seu processo
de autoconhecimento e transformação, são orientados por símbolos. Esses
símbolos surgem do self (regulador da psique), representando a essência de
56
cada um. É através dos símbolos que o self é reconhecido, compreendido e
respeitado. Quando utilizamos materiais diversos para a produção desses
símbolos estamos auxiliando a mente consciente a reconhecer a mente
inconsciente. Dando significado àquilo que veio das profundezas, da escuridão,
estamos facilitando a resolução de estados afetivos conflitivos para que o
indivíduo fortaleça a estruturação da sua personalidade. Às vezes, os símbolos
podem surgir também de imagens oníricas. Segundo Jung, todo esse trabalho
é a busca do caminho da individuação.
O que pode ser aprimorado nessa formação?
Marise Piloto - Como em toda profissão, necessitamos estar sempre
em grupos de estudo, supervisão e, principalmente, como terapeutas da alma,
é obrigatório estar em terapia.
Quais os principais problemas enfrentados pelos arteterapeutas para o
exercício profissional?
Marise Piloto - A Associação de Arteterapia do Rio de Janeiro, junto
a outras associações do Brasil e resguardadas pela UBAAT, criou várias
comissões para atender às necessidades que aparecem: comissão de ética,
comissão de banco de dados, comissão científica, entre outras. Todas estão
atuando com vigor para que cada vez mais a arteterapia tenha “corpo próprio”.
Há algum projeto destinado a criar um curso de graduação em Arteterapia
no Brasil?
Marise Piloto - Estamos com uma audiência marcada com o Ministro
do Trabalho, Carlos Lupi, com o objetivo de colocar a arteterapia como uma
ocupação e, posteriormente, como profissão.
Conhece algum curso universitário em Arteterapia, fora do país? Em caso
positivo, qual a estrutura e conteúdo programático do curso?
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Marise Piloto - Existem vários países com cursos nas universidades.
Uma delas é da Associação Portuguesa de Arteterapia, com seus modelos
polimórficos.
Alguns segmentos consideram que a Arteterapia já se constitui num novo
campo do conhecimento. Qual a sua opinião sobre essa concepção?
Marise Piloto - O programa do Curso de formação em Arteterapia
oferecido pelo Espaço Marise Piloto há muito considera a Arteterapia um vasto
campo de conhecimento. Por isso, oferecemos o curso em módulos,
trabalhando a teoria e a prática concomitantemente.
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ÍNDICE
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPITÚLO 1 11
DAS CAVERNAS À CLÍNICA: ARTE É UM ATO HUMANO
1.1 Um Mundo de “Paus e Bolas” 12
1.2 Registrar Para “Estar Presente” 15
1.3 Quando Arte e Terapia se Encontram 18
CAPÍTULO 2 24
MANEJOS DO FAZER: BRINCAR, CRIAR, EXPRESSAR
2.1 A Ludicidade Como Fator de Equilíbrio 26
2.2 Criatividade Cochila, Mas Não Dorme 28
2.3 Expressar Emoções, Liberar Tensões 30
CAPÍTULO 3 34
COMO FORMAR (BEM) UM “ESCUTADOR” SENSÍVEL?
3.1 Buscando a Qualificação Adequada 35
3.2 A Prática e Seus Desafios 38
3.3 Um Novo Campo do Conhecimento? 42
CONCLUSÃO 46
BIBLIOGRAFIA 47