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DIRETORIA DE PESQUISA E PÓS GRADUAÇÃO PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM BIOENERGIA PROGRAMA NACIONAL DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL X COOPERATIVAS: UM ESTUDO DE CASO DA COOPERATIVA DE PRODUTORES DA AGRICULTURA FAMILIAR - COOPAF André Luiz Nascimento Kaercher Salvador – Ba Novembro/2009

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DIRETORIA DE PESQUISA E PÓS GRADUAÇÃOPROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM BIOENERGIA

PROGRAMA NACIONAL DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL X COOPERATIVAS: UM ESTUDO DE CASO DA COOPERATIVA DE PRODUTORES DA

AGRICULTURA FAMILIAR - COOPAF

André Luiz Nascimento Kaercher

Salvador – Ba

Novembro/2009

2

FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIASDIRETORIA DE PESQUISA E PÓS GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM BIOENERGIA

PROGRAMA NACIONAL DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL X COOPERATIVAS: UM ESTUDO DE CASO DA COOPERATIVA DE PRODUTORES DA

AGRICULTURA FAMILIAR - COOPAF

Dissertação a ser apresentada ao curso de Mestrado em Bioenergia da Faculdade de Tecnologia e Ciências, Salvador – Bahia como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Bioenergia.

Orientador:

Prof. Dr. Humberto dos Santos Filho

Salvador – Ba

Novembro/2009

3

Dedico este trabalho a minha família e ao bebê mais cheio de saúde que está por vir.

4

AGRADECIMENTOS

Durante dois anos de trabalho muitos obstáculos tiveram que ser suplantados

para que eu chegasse a etapa de conclusão deste Programa de Mestrado. Para

tanto, diversos foram os incentivos e muitos foram os colaboradores que

contribuíram para que o meu crescimento fosse gradativo neste processo.

Gostaria de agradecer aqueles que me carregaram nas mãos neste período

me fazendo capaz de saltar mais esta barreira em minha trajetória acadêmica e de

vida:

A Deus, pelo dom da vida e pelo dom da capacidade diária do

desenvolvimento da auto-motivação em prol das coisas que acredito e pelo simples

fato de me ter feito acreditar a cada dia que eu era capaz de seguir em frente neste

projeto;

À Rede de ensino FTC (Faculdade de Tecnologia e Ciências), não só por ter

me formado administrador, por ter me dado a grande oportunidade de inserir-me no

mercado como docente, mas também por ter me proporcionado estes dois anos de

estudos no Programa de Mestrado Profissional em Bioenergia;

A todos os profissionais que formaram a minha base profissional tão

importante para que eu chegasse até aqui, desde a época do Sebrae em nome do

grande amigo Angelo Mario de Carvalho e Silva, primeiro a me abrir as portas do

mercado, IDL através do amigo Delney Lima, CETEB-BA na pessoa do sr. Claudenir

Machado, SENAC-BA através da amiga Angélica.

A todos os meus grandes amigos que estiveram comigo durante todo este

tempo, incentivando, apoiando e me fazendo crer que este realmente era o caminho

profissional que eu deveria seguir;

5

A minha família como um todo, avós, tios, irmãos, sobrinhos e, especialmente

a minha mãe, maior responsável pela minha formação. Desde cedo acreditando em

mim e investindo “pesado” no meu futuro profissional, abrindo mão dos seus projetos

pessoais para que eu pudesse estudar e efetivamente ocupar um lugar neste

mercado tão competitivo;

A minha esposa Camila, pela capacidade que tem de me fazer sempre

enxergar que tudo é possível se houver busca e dedicação. Por estar comigo nestes

anos difíceis de trabalho, pesquisas, incertezas e muitas pressões em prol deste

projeto. Deus te colocou em minha vida para que eu pudesse ser feliz e eu acredito

muito nisso;

Ao meu orientador, o Professor Dr. Humberto dos Santos Filho, por todo

incentivo e apoio prestado neste último ano, apesar de uma agenda dinâmica,

sempre a postos para me atender;

À minha co-orientadora, Professora Marcly Amorim Pizzani, por tudo que fez

em minha vida nestes quase três anos de convivência, pelas portas abertas, pelas

oportunidades a mim oferecidas e pelo direcionamento profissional prestado;

À todos vocês, muito obrigado.

6

“Ainda que a obrigação de ensinar seja conseqüência do

amor aos demais, a obrigação de continuar aprendendo,

cada dia, é conseqüência do amor à verdade”.

(SANTO AGOSTINHO)

7

RESUMO

As energias renováveis ganharam uma inserção no cenário político e econômico nacional através do Programa Nacional de Produção do Biodiesel. Em virtude disto, o aparecimento de cooperativas de produtores da agricultura familiar obtiveram um crescimento considerável em diversos aspectos, contribuindo para o desenvolvimento sócio econômico de diversas regiões do Brasil. Assim, este trabalho levanta o seguinte questionamento: Qual o impacto do PNPB nas cooperativas de biocombustíveis? Para tanto, utilizou-se a metodologia com base em um estudo de caso realizado na COOPAF - (Cooperativa de Produtores da Agricultura Familiar), localizada em Morro do Chapéu na Chapada Diamantina –Bahia. Tendo como objetivos, identificar os impactos causados pelo Programa Nacional da Produção do Biodiesel nas Cooperativas de Biocombustíveis; analisar a inserção da agricultura familiar na cadeia do biodiesel; avaliar os impactos ambientais, sociais e econômicos do Programa na agricultura familiar nos últimos quatro anos; analisar a política do PNPB no desempenho da Cooperativa de Produtores da Agricultura Familiar. Este trabalho retrata, ao longo de seus quatro capítulos, o histórico das energias renováveis, a situação atual dos biocombustíveis, o Programa Nacional da Produção do Biodiesel e a inserção da agricultura familiar neste programa ratificando a importância deste no desenvolvimento sustentável da economia regional.

Palavras-Chave: Biocombustíveis, PNPB, Agricultura Familiar

8

ABSTRACT

Renewables have gained inclusion in the political and economic level through the National Program of Biodiesel Production. Because of this, the emergence of cooperative family farmers achieved a considerable growth in various aspects, contributing to the socio-economic development of different regions of Brazil. This work raises the question: What is the impact of the cooperatives PNPB biofuels? We used the methodology based on a case study conducted in COOPAF - (Producers Cooperative of Family Agriculture), located in Morro do Chapéu in the Chapada Diamantina - Bahia. Review aimed to identify the impacts caused by the National Program of Biodiesel Production in Biofuels Cooperative, consider the inclusion of family farming in the biodiesel chain, assess the environmental, social and economic program in family farming in the past four years, examining the policy PNPB the performance of Producers Cooperative of Family Farming. This work shows, along its four chapters, the history of renewable energy, the current situation of biofuels, the National Program of Biodiesel Production and incorporation of the Family farms in the program confirming the importance of the sustainable development of regional economy.

Keywords: Biofuels, Program of Biodiesel, Family Farming

9

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Mapa de Atuação da Coopaf e respectivas oleaginosas.......................46

FIGURA 2 - Área de cultivo da mamona na região de Irecê-BA ...............................50

FIGURA 3 - Área Plantada com Milho e Mamona na Região de Jurema-BA ...........51

FIGURA 4 - Agricultor Cooperado da COOPAF após a coleta das sementes de rícino

na região de Jurema-BA – Março de 2009................................................................52

FIGURA 5 - Técnicos da EBDA prestando assistência técnica a produtores da

Lagoa Jurema – Região de Brumado – BA...............................................................55

FIGURA 6 - Galpão de Sementes da COOPAF – Morro do Chapéu – BA ...............65

FIGURA 7 - Últimas plantações de girassol na região de Irecê – BA .......................67

10

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 – Produção de Álcool no Brasil – Década de 1980...............................31

GRÁFICO 2 – Produção de Açúcar no Brasil – Década de 1980 .............................31

GRÁFICO 3 – Exportação de Açúcar no Brasil – Década de 1980...........................32

GRÁFICO 4 - Evolução dos preços do rícino na Bahia............................................72

GRÁFICO 5 - Evolução da Assistência Técnica prestada

aos agricultores familiares.........................................................................................74

GRÁFICO 6 - Evolução das famílias envolvidas X volume de financiamentos

adquiridos..................................................................................................................75

GRÁFICO 7 - Número de Famílias Cooperadas a Coopaf ......................................76

GRÁFICO 8 - Evolução da Renda das famílias cooperadas à COOPAF..................77

GRÁFICO 9 - Número de Famílias Cooperadas a Coopaf .......................................78

11

LISTA DE SIGLAS

Abiove – Associação Brasileira de Indústria de Óleos Vegetais

Anfavea – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Auto-motores

ANP – Agência Nacional do Petróleo

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CAEAF – Compra Antecipada Especial com Doação Simultânea

CDLAF – Compra Direta Local

Cofins – Contribuição para Financiamento da Seguridade Social

Conab – Companhia Nacional de Abastecimento

Contag – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

Coopaf – Cooperativa de Produção e Comercialização da Agricultura Familiar do

Estado da Bahia

Cooperbio – Cooperativa de Produção e Comercialização de Oleaginosa

EBDA – Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrário

EUA – Estados Unidos da América

FapesP – Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo

Fetag – Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Estado da Bahia

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

Iea – International Energy Agency

Ufop – Union for Support of Oilseedand Proteinplants

UP – Unidade de Produção

Mapa – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia

MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário

12

MDS – Ministério de Desenvolvimento Social

MEG – Mistura do Metanol, Etanol e Gasolina

MME – Ministério de Minas e Energia

Nasa – National Aeronautics and Space Administration

ONG – Organização não Governamental

PAA – Programa de Aquisição de Alimentos

PGPAF – Programa de Garantia de Preços Mínimos à Agricultura Familiar

Pib – Produto Interno Bruto

Pis/Paseb – Programa de Integração Social

PNPB – Programa Nacional da produção do Biodiesel

Proerg – Empresa Cearense Produtora de Sistemas Energéticos

Pronaf – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

Proóleo – Programa Nacional de Produção de Óleos Vegetais para fins Energéticos

UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro

MP´S – Medidas Provisórias

Seagri – Secretaria de Agricultura

Sicaf – Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores

Siscop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo

13

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................15

1.1 O PROBLEMA E A SUA IMPORTÂNCIA............................................................17

1.2 OBJETIVOS ........................................................................................................18

1.2.1 Geral ................................................................................................................18

1.2.2 Específicos .....................................................................................................18

1.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................18

2. BIOCOMBUSTÍVEIS.............................................................................................21

2.1 BIOCOMBUSTÍVEIS NO MUNDO: BREVE HISTÓRICO ...................................21

2.2 BIOCOMBUSTÍVEIS NO BRASIL .......................................................................28

2.2.1 o Proálcool......................................................................................................29

2.2.2 O Pró biodiesel ...............................................................................................33

2.3 PROGRAMA NACIONAL DA PRODUÇÃO DO BIODIESEL ..............................35

2.3.1 O Selo Combustível Social ............................................................................37

2.3.2 As misturas obrigatórias ...............................................................................38

2.3.3 A estruturação do mercado do Biodiesel no Brasil ....................................38

2.3.4 Linhas de crédito............................................................................................41

2.3.5 Zoneamento agrícola de oleaginosas para Produção de Biodiesel...........41

2.3.6 Agricultura Familiar X Empresas Capitalizadas ..........................................43

3. COOPERATIVA DA AGRICULTURA FAMILIAR DO ESTADO DA BAHIA ........45

3.1 O CULTIVO DO RÍCINO .....................................................................................49

3.2 O ACESSO AO CRÉDITO ..................................................................................53

3.3 BASE DE APOIO PARA A COOPERATIVA........................................................54

3.4 DESENVOLVIMENTO DO PROJETO DE PRODUÇÃO.....................................56

3.4.1 O início dos problemas..................................................................................59

3.4.2 Reajustes da rota do projeto da COOPAF....................................................61

3.4.3 A produção de sementes de rícino...............................................................63

3.4.4 A produção de girassol..................................................................................66

3.4.5 Outras Atividades...........................................................................................68

4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.......................................................................70

14

4.1 AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS .....................................................70

4.2 AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS ECONÔMICOS..................................................71

4.3 AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS SOCIAIS ............................................................76

4.4 AVALIAÇÃO DA POLÍTICA DO PNPB NO DESEMPENHO DA

COOPERATIVA ........................................................................................................79

CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES .....................................................................82

CONCLUSÃO............................................................................................................82

RECOMENDAÇÕES.................................................................................................86

REFERÊNCIAS.........................................................................................................88

APÊNDICE................................................................................................................93

15

1.0 INTRODUÇÃO

O Brasil é um país que possui uma vocação histórica quando o assunto é a

produção de energias renováveis. Na década de 1970, diante da grande crise

nacional por conta da depressão do petróleo, o país iniciou um ambicioso programa

de produção de etanol combustível para substituir a gasolina. Este programa

denominado de Pró-álcool respondeu com sucesso o desafio de desenvolver

tecnologia de conversão da sacarose da cana em etanol, de desenvolver um motor

veicular para o combustível e de mudar o perfil do consumidor nacional para

assimilar o uso do novo produto. Dentre os desafios do Pró-álcool, merece destaque

o avanço na tecnologia de produção agrícola.

A cana-de-açúcar, matéria-prima do etanol brasileiro teve sua produção

iniciada com o descobrimento do Brasil, quando objetivava a produção de açúcar

para abastecer Portugal. Por esta razão, o aumento da produção agrícola para

atender o mercado do biocombustível não encontrou tantas dificuldades. A

tecnologia agrícola da cana-de-açúcar foi aperfeiçoada com aportes substanciais em

P&D para melhoria da produção e produtividade da matéria-prima, contribuindo para

o país produzir o etanol mais barato do mundo (CARMÉLIO, 2008).

O país, de dimensões continentais, ao longo dos anos passou a ser um

importante produtor de commodities agropecuárias tais como a soja, o café, o milho,

a carne bovina, suína e de aves.

Em 2003 o governo brasileiro recém-empossado adotou uma série de medidas e

programas para combater a pobreza e para favorecer o desenvolvimento regional.

16

Com o objetivo de atender estas reivindicações foi decidida a implementação da

cadeia produtiva do biodiesel.

Entendido como um programa para favorecer as populações rurais mais

empobrecidas do Norte e Nordeste, para ampliar a diversificação e sustentabilidade

da matriz energética brasileira e para contribuir para o meio-ambiente, o biodiesel foi

lançado com todo o seu arcabouço legal já definido no fim de 2004. A experiência

acumulada no Pró-álcool e o know-how agrícola deram suporte à construção do

novo mercado.

Como parte da ambição de inclusão social, o desenvolvimento do programa

evidenciou as dificuldades do Nordeste, uma das regiões semi-áridas do mundo com

maior ocupação humana na área rural, representada por mais de 50% da agricultura

familiar brasileira, caracterizada como a de menores rendas no país. Segundo

Carmélio, 2008, dentre os problemas da região, podem ser citados:

O baixo nível organizacional dos agricultores familiares;

A baixa qualidade dos solos do semi-árido seja por compactação, pouca de

matéria orgânica ou acidez elevada;

O baixo rendimento financeiro das culturas oleaginosas;

Pouco uso e acesso a tecnologias agropecuárias e a boas práticas agrícolas; e

Assistência técnica deficiente, principalmente nos aspectos tecnológicos e

organizacionais.

Diversas são as causas das fragilidades sócio-econômicas do Nordeste,

podendo-se destacar, dentre as mais diretamente relacionadas com a agricultura

familiar:

Pouca capacitação e motivação para o cooperativismo;

17

Baixa produtividade agrícola, especialmente do rícino (chamada no Brasil de

mamona), quer seja por fatores climáticos, solos esgotados, sem matéria

orgânica e ácidos, pouca disponibilidade de sementes de alto padrão genético,

falta de crédito para adoção das técnicas agrícolas corretas e incapacidade dos

técnicos envolvidos;

Dispersão dos agricultores familiares, especialmente no semi-árido; e

Pouca disponibilidade de terra (minifúndios), especialmente no semi-árido.

1.1O PROBLEMA E A SUA IMPORTÂNCIA

As dificuldades organizacionais e estruturais da agricultura familiar do

Nordeste, conforme supracitado, somadas à determinação de colocar o biodiesel a

serviço do desenvolvimento da região, levaram a apresentação deste estudo de

caso, em que a cooperativa, objeto da análise, enfrentou, e continua enfrentando,

dificuldades para o primeiro passo de qualquer processo de agregação de valor à

produção: a organização da base produtiva.

Diante desde cenário e, em face de discussões acerca da inserção, o do papel

da agricultura familiar no Programa Nacional da Produção do Biodiesel, surgiu o

seguinte questionamento:

Qual o impacto do Programa Nacional da Produção de Biodiesel na

Cooperativa dos produtores da Agricultura Familiar do Estado da Bahia?

18

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Geral

1. Identificar os impactos causados pelo Programa Nacional da Produção do

Biodiesel na Cooperativa dos Produtores da Agricultura Familiar do Estado

da Bahia;

1.2.2 Objetivos Específicos

1. Analisar a inserção da agricultura familiar na cadeia do biodiesel;

2. Avaliar os impactos ambientais, sociais e econômicos do Programa

Cooperativa dos Produtores da Agricultura Familiar do Estado da Bahia nos últimos

quatro anos;

3. Analisar a política do PNPB no desempenho da Cooperativa de Produtores

da Agricultura Familiar;

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A metodologia adotada para a execução deste trabalho foi qualitativa e

quantitativa. Para tanto, utilizou-se um estudo de caso realizado na COOPAF -

(Cooperativa de Produtores da Agricultura Familiar), localizada em Morro do Chapéu

na Chapada Diamantina – Bahia.

Para obtenção dos dados, foi elaborado um roteiro de entrevista contendo

questões abertas. Os dados coletados foram criticados, categorizados, enquadrados

em gráficos, e em seguida analisados.

19

Para atingir os objetivos do presente trabalho, foram utilizados os seguintes

procedimentos:

1. Revisão bibliográfica e eletrônica: através de leituras sistematizadas de

publicações científicas, visando ao aprofundamento de questões relacionadas ao

tema;

2. Coleta de dados através de questionários, visitas, entrevistas com os

responsáveis pela Cooperativa COOPAF;

3. Análise das informações e dos dados coletados;

4. Organização do relatório final.

Este trabalho está dividido em 4 (quatro) capítulos. Primeiramente aborda-se o

histórico do Biodiesel em nível mundial, a situação do biodiesel em países

considerados referência em sua produção e comercialização, o ingresso das

energias renováveis no Brasil, os principais programas até a criação do Programa

Nacional da Produção do Biodiesel e os principais elementos do PNPB.

Na seqüência enfoca-se objeto de estudo que é a COOPAF: Cooperativa da

Agricultura Familiar do Estado da Bahia, onde é apresentada uma visão geral da

situação dos agricultores familiares antes da formação da cooperativa, uma

descrição da experiência vivida pela cooperativa desde sua fase inicial até o

momento atual, seguida de uma análise dos principais problemas enfrentados e, por

fim, uma avaliação das condições de reprodutibilidade da experiência aqui

apresentada.

20

Por fim, realiza-se a análise dos aspectos propostos nos objetivos, abordando

os impactos ambientais, econômicos, sociais e políticos do PNPB na Cooperativa

onde pretende-se responder o questionamento inicial.

21

2 BIOCOMBUSTÍVEIS

2.1 BIODIESEL NO MUNDO: BREVE HISTÓRICO

“O motor a diesel pode ser alimentado por óleos vegetais, e ajudará no desenvolvimento agrário dos países que vierem a utilizá-lo. O uso de óleos vegetais como combustível pode parecer insignificante hoje em dia. Mas com o tempo vão se tornar tão importante quanto o petróleo e o carvão são atualmente”.

Rudolf Diesel, 1911

Este capítulo aborda o histórico do Biodiesel em nível mundial, a situação do

biodiesel em países considerados referência em sua produção e comercialização, o

ingresso das energias renováveis no Brasil, os principais programas até a criação do

Programa Nacional da Produção do Biodiesel e os principais elementos do PNPB.

O processo de desenvolvimento do biodiesel teve início com a condução do

processo de transesterificação pela primeira vez em 1853 por E. Duffy e J. Patrick.

Este processo, que só ocorreu na presença de um catalisador, consistiu na

separação entre a glicerina contida no óleo e sua posterior substituição pelo álcool

na cadeia, tendo como resultado um combustível, resultado de um óleo mais fino e

menos viscoso. (RATHMANN; BENEDETTI; PADULA; 2006).

Muitas décadas depois, mais precisamente na década de 30, o criador do

motor a combustão, Rudolf Diesel, utilizou o óleo de amendoim na demonstração

que fez do motor que levou o seu nome, na Exposição de Paris, em 1900.

Entretanto, o combustível foi logo superado pelos derivados de petróleo em virtude

de problemas técnicos e econômicos. Isto porque, seu uso prolongado, devido a

uma combustão incompleta gerava problemas como depósitos de carbono nos

motores, adesão dos anéis e entupimento de injetores o que levava,

ocasionalmente, à falha dos motores (RATHMANN; BENEDETTI; PADULA; 2006).

22

Esses problemas fizeram com que os óleos vegetais fossem marginalizados

por algumas décadas, sendo utilizados somente como combustíveis de emergência

ao longo do Segundo Grande Conflito Mundial. Embora no Brasil o Instituto Nacional

de Tecnologia, já ao longo da década de 1920, tenha feito experiências e estudos

pioneiros sobre a utilização como combustíveis dos óleos vegetais.

Segundo Rathmann et al (2006), após os ensaios de Diesel, em 1937 foi

concedida a primeira patente relativa aos combustíveis oriundos de óleos vegetais

ao pesquisador G. Chavanne, em Bruxelas na Bélgica. Já em 1938, segundo os

mesmos autores, foi realizado o primeiro registro de uso de combustíveis de óleos

vegetais em um ônibus que fazia a linha Bruxelas-Lovaina. Além destes, há diversos

outros registros ainda durante o período da Segunda Guerra Mundial (1939-1945),

em que carros de guerra eram abastecidos com combustível de origem vegetal.

Porém, Segundo a revista Pesquisa, da Fundação de Amparo à Pesquisa de São

Paulo (Fapesp, nº 8, 2007), a primeira patente de biodiesel, embora naquela época

ainda não fosse usado este nome, foi registrada na década de 1940 no Japão e

consistiu num combustível feito com óleo de amendoim e metanol. Naquela época, o

combustível era tratado como um éster metílico.

A Segunda Guerra Mundial resultou numa diminuição de oferta de

combustíveis líquidos, o que levou a uma maior exploração comercial dos óleos

vegetais. Neste período a China produziu óleo diesel e óleos lubrificantes a partir

dos óleos de tungue e de outras oleaginosas, e houve relatos de um navio japonês

chamado Yamamoto que utilizou óleo de soja refinado como óleo de combustível

para seus motores.

A necessidade de substituição momentânea fez com que, posteriormente os

países que assim procederam como EUA, Alemanha e Índia dessem seqüência às

23

pesquisas iniciadas naquela época e passassem a ocupar importantes posições no

cenário energético mundial no que tange ao uso de óleos vegetais como

combustíveis, embora muitas atividades de pesquisa, em nível mundial, tenham sido

abandonadas, quando o petróleo voltou a tornar-se mais acessível (KNOTHE et al,

2006).

De acordo com Knothe, (2001)

Durante a II Guerra Mundial, o combustível de origem vegetal foi utilizado extensamente em vários países, incluindo a China, a Índia e, obviamente, a Bélgica. Em 1941 e 1942, havia uma linha de ônibus entre Bruxelas e Louvain, que utilizava combustível obtido a partir do óleo de palma.

Somente após o 1º e 2º choques do petróleo, respectivamente em 1973 e

1979, os países voltaram a pensar no desenvolvimento de fontes de energia

alternativas, como o biodiesel, capazes de substituir, pelo menos em parte, a

primazia dos combustíveis fósseis. Desde então, o crescimento do biodiesel tem se

apresentado de forma contínua, principalmente após o estabelecimento do Protocolo

de Kyoto, que tem por objetivo promover a redução sistemática na emissão de gases

que causam o chamado “efeito estufa”. (KNOTHE, 2001)

O biodiesel já vem sendo utilizado em larga escala em diversas partes do

mundo, principalmente na Europa, que atualmente responde por aproximadamente

90% da produção mundial, segundo a International Energy Agency (IEA, 2004). No

início da década de 1990, foi implantada uma política agrícola comunitária que

ofereceu uma série de subsídios com vistas a descongestionar os mercados de

alimentos, para a produção agrícola não alimentar. Em 1991, o biodiesel passou a

ser aproveitado de maneira corrente na Europa e desde 1992 é fabricado em larga

escala (MELLO; PAULILLO; VIAN, 2007).

Em 2003, a União Européia lançou duas diretivas para misturas de

biocombustíveis em caráter voluntário que envolveu subsídios às plantações de

24

produtos alimentícios em áreas até então não utilizadas e isenção de 90% dos

impostos. O resultado foi a montagem de cerca de 40 usinas a partir de então, em

vinte países. Em 2005, a capacidade de produção totalizou 4,2 milhões de

toneladas, sendo produzidos no mesmo ano 3,2 milhões de toneladas de biodiesel.

Todavia, a expansão efetiva da produção deste combustível só irá ocorrer

após as crises internacionais do petróleo na década de 1970, quando vários países

buscam novas alternativas energéticas. É o caso de países como a Áustria, França

e Alemanha que já na década de 1980 lançam políticas de estímulo à produção

deste biodiesel. Os EUA aprovaram o biodiesel como combustível alternativo apenas

na década de 1990. Esta trajetória, de certa forma, explica porque a produção deste

produto está fortemente concentrada na Comunidade Européia, principalmente na

Alemanha (SOUZA, 2003).

Os primeiros ciclos de produção de biodiesel alemães deram-se em junho de

1991 em uma usina situada próxima da cidade de Leer. Nesse período, o biodiesel

era conhecido ainda como um “produto que não tinha nome” e conhecido por poucas

pessoas. Uma grande campanha de marketing foi realizada para que o biodiesel

passasse a ser conhecido e aceito pelos desconfiados consumidores. Diversas

feiras, workshops e seminários, foram promovidos pela UFOP (Union for Support of

Oilseedand Proteinplants) com o propósito de esclarecer as principais dúvidas sobre

o combustível para toda comunidade alemã (FISCHER, SCHRATTENHOLZER,

2001).

O programa alemão de biodiesel deu-se início com uma frota de táxis, os

quais promoviam o combustível através da distribuição de folders explicativos com

suas vantagens; além disso, foram disponibilizadas duas saídas, com selo verde,

para o biodiesel, o qual, por sua vez, era misturado em diversas proporções ao

25

diesel puro até que os usuários adquirissem plena confiança para a sua utilização.

Há registro de mais de 100.000 veículos utilizando biodiesel, há mais de cinco anos,

com muitos destes veículos já tendo mais de 100.000 Kilômetros rodados. O número

de carros alemães registrados, aprovados para rodar com biodiesel soma mais de

2,5 milhões; e do total de carros registrados que utilizam biodiesel, estão 17.000

caminhões. Com o objetivo de regular a produção e comercialização do biodiesel na

Alemanha, foi criada a Association Quality Management Biodiesel. Mantendo desta

forma a qualidade do produto oferecido para os consumidores finais (SUAREZ;

MENEGHETTI, 2007).

Segundo o European Biodiesel Board, a França é atualmente o segundo

maior produtor europeu de biodiesel. “As motivações e os sistemas produtivos na

França são semelhantes aos adotados na Alemanha, porém o combustível é

fornecido no posto já misturado com o óleo diesel de petróleo na proporção atual de

5%. Contudo, esse percentual deverá ser elevado para 8%. Atualmente, os ônibus

urbanos franceses consomem uma mistura com até 30% de biodiesel” (LIMA, 2004).

Segundo Expedito José de Sá Parente, a evolução dos conceitos de um Biodiesel

para uso urbano deu-se através da criação do Partenaires Diester (antigo Club des

Villes Diester), uma associação de entidades francesas, grandes produtores e

consumidores do combustível.

Em 2005, a França produziu praticamente 500 mil toneladas de biodiesel. Isto

porque, o país oferece incentivos semelhantes aos da Alemanha, assim como adota

a mesma rota de produção. (ABREU; 2006).

Saindo do continente Europeu, o maior produtor são os EUA, que produzem o

biodiesel principalmente através do óleo de soja, graças a incentivos de tarifas e

créditos reduzidos concedidos por parte do governo. O país tem como maior

26

motivação a melhoria na qualidade do meio ambiente. Além da vazão aos estoques

de soja, o programa americano também conhecido como “Programa Ecodiesel”,

prevê uma produção anual de 20 bilhões de litros por ano, recomendação de

produção de biodiesel nos ônibus de transporte escolar e, tanto a NASA quanto as

Forças Armadas Americanas consideram, oficialmente, o biodiesel como um

combustível de alto padrão para qualquer motor diesel (PARENTE, 2003).

Segundo Parente, (2003):

Considerando que um litro de biodiesel equivale em capacidade energética veicular a 2,5 litros de álcool etílico, o programa americano de biodiesel equivale a 7 vezes o máximo atingido do programa brasileiro do álcool.

O biodiesel é produzido em diversas combinações, mas a principal é a B20,

com a maioria das iniciativas restritas às frotas cativas. Além dos incentivos

tributários, há outros ligados diretamente à produção como o Commodity Credit

Corporations Program, que concede subsídios para a aquisição de matérias primas

para a produção de biodiesel e etanol, além de atos normativos que determinam

níveis mínimos para o consumo de biocombustível. O país também adota a rota por

esterificação metílica (PIRES, 2004).

Nacionalmente, existem mais de 450 postos de venda das várias

combinações de biodiesel, e mais de 1400 distribuidores de petróleo que também

transportam o combustível e suas misturas. Cerca de 25 companhias têm divulgado

planejamentos para construir usinas de biodiesel num futuro próximo. Porém essas

intenções ainda dependem do crescimento da demanda regional e nacional (PIRES,

2004).

A tabela a seguir mostra o estágio atual dos diferentes programas de estímulo

ao uso do biodiesel no mundo. Além dos países citados anteriormente, e do Brasil,

27

que será abordado adiante, os países da Ásia e Oceania, apesar de serem grandes

produtores de óleos vegetais; muito disso graças a medidas tomadas diretamente

pelos governos locais.

QUADRO 1 - ESTAGIO ATUAL E PERSPECTIVAS DOS PROGRAMAS DE

BIODIESEL NO MUNDO

País Estágio Atual e Perspectivas

EUA Atualmente são utilizados 2% de mistura de biodiesel em Minnesotta, mas já há uma autorização de 2% de mistura voluntária no país, com possibilidades de tornar obrigatória (porcentagem já usada em caminhões e tratores)

Brasil Em 2004, o governo autorizou 2% de mistura de óleos vegetais ao óleo Diesel. Entretanto, só a partir de 2008 este percentual se tornou obrigatório, e passou para 3%, aumentando para 5% em 2013.

Alemanha Lei exige pelo menos 5% de mistura, dando permissão para usar o combustível de forma voluntária em qualquer proporção.

França 5% de mistura, devendo aumentar para 8%. Os ônibus urbanos utilizam mistura com até 30% de biodiesel.

Canadá Programa em Desenvolvimento. Algumas companhias de ônibus estão fazendo testes com biodiesel importado com uma mistura de 20%. O governo canadense concedeu isenção fiscal de 4% sobre isenção e o uso de biocombustíveis e estabeleceu uma meta de produção de 50 milhões de litros/ano até 2010.

Argentina O governo iniciou um programa em 2001 oferecendo vantagens fiscais para a produção do biodiesel. Atualmente, há 7 unidades de produção do biodiesel no país, com uma capacidade de produção entre 10-50 toneladas/dia, mas apenas 1 fábrica está efetivamente produzindo em baixa escala, em função da falta de capital gerada pela recente crise econômica.

Japão Empresas locais produzem biodiesel a partir da reciclagem de óleo de cozinha usado (5 mil litros/dia). O produto é utilizado nos veículos das próprias empresas, nos veículos governamentais e em caminhões de lixo de algumas cidades japonesas, numa proporção de mistura de 20%. Faltam ainda regulamentar leis sobre o assunto.

Austrália Já produzem algumas usinas de biodiesel produzindo em larga escala ( a partir do óleo de cozinha reciclado), com uma capacidade de produção de 20 milhões de litros/ano. Pretende iniciar a produção do etanol para biodiesel.

Tailândia Possui programa aprovado para promover o uso do biodiesel no diesel de petróleo nos próximos sete anos. A porcentagem de mistura deverá ser de 10%, gerando uma demanda interna de 3,1 bilhões de litros por ano. A matéria-prima principal é o óleo de palma.

Índia Está em construção a primeira unidade de produção de Biodiesel. Para a elaboração do programa nacional de biodiesel, vem fazendo parcerias com a Alemanha na questão tecnológica.

Coréia do Sul

Duas pequenas fábricas de biodiesel estão em operação no país, somando uma capacidade de produção de 8 mil toneladas/ano. Percentual de mistura é de 20% (opcional).

Taiwan Possui lei aprovada para adição de 20% de biodiesel no diesel de petróleo desde o ano 2000. Em 2004 foi construída a primeira fábrica produzindo em baixa escala a partir do óleo de cozinha reciclado.

Fonte: MELLO,PAULILO e VIAN, 2007, p.31

28

2.1 BIOCOMBUSTÍVEIS NO BRASIL

Desde a primeira crise mundial do petróleo, na década de 70, observa-se a

existência de políticas públicas em vários países destinadas a promover a produção

de biocombustíveis de maneira mais consistente. No Brasil, alguns programas foram

idealizados visando reduzir a dependência do país nos combustíveis fósseis, ao

mesmo tempo em que se buscavam construir alternativas à matriz energética

brasileira (LUCENA, 2004).

Assim, desde a década de 1970 o Brasil vem estimulando o estudo de novas

fontes energéticas a partir do uso mais expressivo da biomassa, destacando-se

especialmente a produção do etanol. Já o programa de Biodiesel, incorporado no

debate da matriz energética apenas na última década do século XX, se constitui em

uma fonte renovável de energia derivada de produtos agrícolas, biomassa florestal e

outras matérias orgânicas, além de produtos de origem animal (GEHLING, 2007).

Em termos de trajetória histórica, percebem-se distintas fases na incorporação

do Biodiesel na agenda das políticas públicas. Em 1980 o Governo Federal lançou o

Programa Nacional de Produção de Óleos Vegetais para Fins Energéticos (Proóleo),

que continha o Prodiesel, como um de seus subprogramas. Ainda naquele ano foi

criada a Empresa Cearense Produtora de Sistemas Energéticos (Proerg), em

Fortaleza, de onde surgiram dois tipos de óleos combustíveis: o óleo de origem

vegetal, obtido através da semente de maracujá; e óleo de origem animal, extraído

de peixes (GEHLING, 2007).

Em 1983, a Proerg, em parceria com Aeronáutica, desenvolveu o Prosene,

que substituiu o querosene de avião, sendo realizado no mesmo ano o primeiro vôo

com combustível não derivado do petróleo. No entanto, como nos anos seguintes a

crise do petróleo diminuiu, o programa foi desativado e a Proerg extinta.

29

Este tema voltou à agenda pública somente na segunda metade da década

de 1990, quando houve uma reestruturação da matriz energética do país, com a

instituição de novos marcos regulatórios e com a própria criação das agências

reguladoras, dentro da lógica que comandou o processo de privatização do sistema

energético estatal edificado nas décadas anteriores (VEIGA, 2007).

Assim, através da resolução 180, de 1998, a Agência Nacional do Petróleo

(ANP) autorizou a realização de testes e comercialização de combustíveis não

especificados, sendo a UFRJ, através do COPPE, a primeira instituição que solicitou

a realização de testes para uso do biodiesel em motores de combustão. Registre-se

que nesses primeiros testes foi utilizado óleo vegetal residual advindo de frituras

para obter o biodiesel, o qual foi misturado ao óleo diesel normal a uma proporção

de 5% (VEIGA, 2007).

De posse de alguns resultados, a UFRJ/COPPE realizou em 2001 o

seminário “Potencial do Biodiesel no Brasil”, contando com a participação de

diversos agentes públicos (Petrobrás, Instituto Nacional de Tecnologia, ANP) e

privados (empresários dos ramos de transportes e energia). O evento concluiu pela

viabilidade econômica de uma política nacional que buscasse a substituição

paulatina do óleo diesel derivado do petróleo pelo biodiesel advindo de produtos

vegetais e da biomassa (VEIGA, 2007).

2.2.1 O Próalcool

O Proálcool ou Programa Nacional do Álcool foi lançado no dia 14 de

novembro do ano de 1975 pelo decreto n° 76.593, com a missão de estimular a

produção do álcool, visando o atendimento das demandas do mercado interno e

30

externo e da política de combustíveis automotivos. De acordo com o decreto de lei

referente ao programa, a produção do álcool advindo, da mandioca, da cana-de-

açúcar ou de qualquer outro insumo deveria ser implementada por meio da

expansão da oferta de matérias-primas, com especial ênfase no aumento da

produção agrícola, da modernização e ampliação das destilarias que já existiam e da

instalação de novas unidades de produção (UP´s), anexas a usinas ou autônomas,

e de unidades armazenadoras (LUCENA, 2004).

A produção de etanol a partir de cana-de-açúcar, além do preço do açúcar, é

decisão política e econômica, que envolvia diversos investimentos adicionais. Esta

decisão fora tomada em 1975, ano em que o Governo Federal decidiu fornecer

aporte para a produção do álcool a fim de substituir à gasolina pura, visando de

baixar as importações de petróleo, até então com um peso excessivo na balança

comercial externa. Nessa época, o preço do açúcar em nível internacional vinha

caindo aceleradamente, o que tornou conveniente a mudança de produção de

açúcar para álcool (PIRES, 2004).

O Proálcool funcionou muito bem no Brasil durante cerca de uma década,

porém, a partir de 1986, o cenário mundial do mercado de petróleo é drasticamente

alterado. O preço do barril de óleo bruto decaiu de um patamar de US$ 30 a 40 para

um nível de US$ 12 a 20.

Os baixos preços pagos a indústria álcooleira a partir do vertiginoso declínio

dos preços internacionais do petróleo que se deu inicio ao final do ano de 1985

impedindo o aumento da produção interna deste produto. Por outro lado, a procura

pelo etanol, por parte dos consumidores finais, continuou sendo bem estimulada

pela manutenção do preço atrativo comparado ao da gasolina e da manutenção de

menores impostos nos veículos a álcool comparados aos à gasolina (PIRES, 2004).

31

Produção de Álcool no Brasil - década de 1980

9,5

10

10,5

11

11,5

12

12,5

1985-1986 1986-1987 1987-1988 1988-1989 1989-1990

Entresafras

Vo

lum

e d

e P

rod

uçã

o e

m

Bil

es d

e L

itro

s

Produção de açúcar no Brasil - Década de 1980

6,8

7

7,2

7,4

7,6

7,8

8

8,2

8,4

1985-1986 1986-1987 1987-1988 1988-1989 1989-1990

Entresafras

Pro

du

ção

de

açú

car

em

mil

es d

e to

nel

adas

De acordo com o gráfico abaixo, a produção de álcool manteve-se em níveis

praticamente constantes, atingindo 11,8 bilhões de litros na safra 1985-86; 10,5

bilhões em 1986-87; 11,5 bilhões em 1987-88; 11,7 bilhões em 1988-89 e 11,9

bilhões em 1989-90.

Fonte: Revista Biodieselbr http://www.biodieselbr.com - acesso em - 10/08/2009

As produções brasileiras de açúcar no período foram de 7,8 milhões de

toneladas na safra 1985-86; 8,2 milhões em 1986-87; 7,9 milhões em 1987-88; 8,1

milhões em 1988-89 e 7,3 milhões de toneladas em 1989-90.

Fonte: Revista Biodieselbr http://www.biodieselbr.com - acesso em - 10/08/2009

32

Exportação de açúcar no Brasil - Década de 1980

0

0,5

1

1,5

2

1985-1986 1989-1990

Entresafra

Exp

ort

ação

de

açú

car

em

mil

es d

e to

nel

adas

As exportações de açúcar, por sua vez, reduziram-se nesse período,

passando de 1,9 milhões de toneladas na safra 1985-86 para 1,1 milhão de

toneladas na safra 1989-90.

Fonte: Revista Biodieselbr http://www.biodieselbr.com - acesso em - 10/08/2009

Mesmo que de forma passageira, a crise de abastecimento de álcool no final

dos anos 80 interferiu na credibilidade do Proálcool, que, juntamente com o declínio

de incentivos ao seu uso, o levou, nos anos posteriores, a um significativo

decréscimo da procura e, conseqüentemente, da comercialização de automóveis

movidos por esse combustível.

A crise no fornecimento de etanol foi superada com a introdução no cenário

mercadológico do que se convencionou nomear de mistura MEG que substituía o

álcool hidratado. Essa mistura que continha 60% de etanol hidratado, 34% de

metanol e 6% de gasolina obrigaria o Brasil a realizar importações de etanol e

metanol que, inclusive, no período entre 1989 e 1995 superou a 1 bilhão de litros)

para garantir o abastecimento do mercado na década de 1990. A mistura atendeu as

necessidades do mercado naquele período (LUCENA, 2004).

33

2.2.2 O Probiodiesel

Desde o início da primeira crise mundial do petróleo, ainda na década de 70,

observa-se a existência de inúmeras políticas públicas em diversos países

destinadas a promover a produção de biocombustíveis de forma mais consistente.

No caso do Brasil, a política de criação do Pró-Álcool visou reduzir a dependência do

país dos combustíveis fósseis, ao mesmo tempo em que se buscou construir uma

alternativa à matriz energética do país. Assim, nota-se que desde a década de 1970

o Estado brasileiro vem estimulando o desenvolvimento de novas fontes de energia

a partir do uso mais expressivo da biomassa, destacando-se especialmente a

produção de etanol (PIRES, 2004).

Já o programa do Biodiesel, incorporado efetivamente no debate da matriz

energética somente na última década, se constitui em fontes renováveis de energias

derivadas de produtos agrícolas, biomassa florestal e outras matérias orgânicas,

além de produtos de origem animal. Em termos de trajetória histórica, verificam-se

distintas fases na incorporação do Biodiesel à agenda das políticas públicas. Em

1980 o Governo Federal lançou o Programa Nacional de Produção de Óleos

Vegetais para Fins Energéticos (Proóleo), que continha o Prodiesel, como um de

seus subprogramas. No mesmo ano foi criada a Empresa Cearense Produtora de

Sistemas Energéticos (Proerg), em Fortaleza, de onde surgiram dois tipos de óleos

combustíveis: o óleo de origem vegetal, obtido através da semente de maracujá; e

óleo de origem animal, extraído de peixes (TOLMASQUIM, 2000).

Segundo Pires, 2004:

No ano de 1983, a Proerg, em parceria com Aeronáutica, desenvolveu o Prosene, que substituiu o querosene de avião, sendo realizado no mesmo ano o primeiro vôo com combustível não derivado do petróleo.

34

No entanto, como nos anos seguintes a crise do petróleo diminuiu, o programa foi desativado e a Proerg extinta. Este tema voltou à pauta pública somente na segunda metade da década de 1990, quando houve uma reestruturação da matriz energética do país, com a instituição de novos marcos regulatórios e com a própria criação das agências reguladoras, dentro da lógica que comandou o processo de privatização do sistema energético estatal edificado nas décadas anteriores.

Assim, através da resolução 180, de 1998, a Agência Nacional do Petróleo

(ANP) autorizou a realização de testes e comercialização de combustíveis não

especificados, sendo a UFRJ, através do COPPE, a primeira instituição que solicitou

a realização de testes para uso do biodiesel em motores de combustão. Registre-se

que nesses primeiros testes foi utilizado óleo vegetal residual advindo de frituras

para obter o biodiesel, o qual foi misturado ao óleo diesel normal a uma proporção

de 5%. De posse de alguns resultados, a UFRJ/COPPE realizou em 2001 o

seminário “Potencial do Biodiesel no Brasil”, contando com a participação de

diversos agentes públicos (Petrobrás, Instituto Nacional de Tecnologia, ANP) e

privados (empresários dos ramos de transportes e energia). O evento concluiu pela

viabilidade econômica de uma política nacional que buscasse a substituição

paulatina do óleo diesel derivado do petróleo pelo biodiesel advindo de produtos

vegetais e da biomassa (PIRES, 2004).

Em decorrência dos diversos estudos e pesquisas realizadas após o novo

marco regulatório energético brasileiro, o Governo Federal criou, em 2002, o

Programa Brasileiro de Biocombustíveis (Probiodiesel), cuja coordenação ficou ao

encargo do Ministério das Ciências e Tecnologia. Em linhas gerais, esse programa

tinha como objetivos reduzir a dependência do petróleo; expandir os mercados das

oleaginosas; impulsionar a demanda por combustíveis alternativos; e reduzir a

emissão de gases poluentes, visando atender as regras do Protocolo de Kioto, do

qual o Brasil é signatário (ABREU, 2006).

35

2.3 PROGRAMA NACIONAL DA PRODUÇÃO DO BIODIESEL

Antes do lançamento do PNPB, os Deputados do Conselho de Altos Estudos

apresentaram um Projeto de Lei que foi baseado nos trabalhos desenvolvidos sobre

o tema “Biodiesel e Inclusão Social”, obtendo assinaturas de todas as Lideranças

Partidárias da Câmara dos Deputados em um pedido de urgência para sua

implementação. No entanto, a Presidência da República enviou ao Congresso duas

MP´s (Medidas Provisórias) relativas ao Programa Nacional de Produção e Uso de

Biodiesel (PNPB) que tratavam dos mesmos temas abordados por aquele Projeto de

Lei, que acabou sendo arquivado (Altos Estudos, 2005).

O programa foi elaborado através de uma parceria entre o grupo de trabalho

interministerial, instituído através de Decreto pelo presidente da república, que foi

encarregado de apresentar estudos sobre a viabilidade de utilização do óleo vegetal,

junto com associações empresariais (Associação Nacional dos Fabricantes de

Veículos Auto-motores – Anfavea, Associação Brasileira de Indústria de Óleos

Vegetais – Abiove). Visando à implantação do PNPB, o Poder Executivo enviou para

o Congresso Nacional duas Medidas Provisórias (ABREU, 2006).

Em janeiro de 2005, um Projeto de Lei de Conversão foi sancionado pelo

Presidente da República e transformado na Lei nº 11.097, responsável por

estabelecer a obrigatoriedade da adição de 5% de biodiesel em oito anos após a

publicação da referida lei, havendo um percentual obrigatório intermediário de 2%

três anos após a publicação da mesma. Entretanto, foram vetados os artigos 16 e 17

que criavam linhas de crédito para cultivo de oleaginosas e para a construção de

unidades de produção de biodiesel (ABREU, 2006).

36

A obrigação legal de adição de pelo menos 2% de biodiesel é plenamente

justificável a partir dos pontos de vista social, técnico, ambiental e econômico.

Mesmo admitindo-se um custo de produção do biodiesel três vezes maior que o óleo

diesel de petróleo, o aumento final para o consumidor seria de apenas R$0,02 para

se ter um "óleo aditivado". Além disso, o principal motivo dessa obrigatoriedade é o

avanço do programa nacional de biodiesel. A segunda MP dispõe sobre o Registro

Especial de produtor ou importador de biodiesel e sobre a incidência da Contribuição

para o PIS/PASEP e da COFINS sobre as receitas decorrentes da venda desse

produto, sendo que a preocupação arrecadatória mostra-se forte, uma vez que

dispõe sobre o dever de interromper a produção caso haja uma inoperância do

medidor de vazão (HOLANDA, 2005).

A medida também autorizou o Poder Executivo a reduzir essas alíquotas em

razão da matéria-prima utilizada na produção do biodiesel, segundo a espécie, o

produtor-vendedor e a região de produção daquela, tornando a política fiscal de

incentivo à produção de biodiesel muito dependente do Poder Executivo

(HOLANDA, 2005).

Além das medidas provisórias, foi enviado o Decreto nº 5.297, de 6 de

dezembro de 2004, que dispõe sobre os coeficientes de redução das alíquotas da

Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS incidentes na produção e na

comercialização de biodiesel e sobre os termos e as condições para a utilização de

alíquotas diferenciadas, ou seja, ressalta aspectos sobre benefícios fiscais.

O decreto também cria o selo "Combustível Social", que será concedido ao

produtor de biodiesel que promover a inclusão social dos agricultores familiares

enquadrados no PRONAF que lhe forneçam matéria-prima e que comprovar

37

regularidade perante o Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores -

SICAF.

2.3.1 O Selo Combustível Social

O registro que identifica o Selo Combustível Social materializa-se num

certificado que é concedido aos produtores de biodiesel que adquirem as matérias

primas da agricultura familiar, dentro de limites mínimos, que são variáveis segundo

a região, e atendam as demais exigências, adiante mencionadas (PETRÓLEO

BRASILEIRO S/A, 2006).

Como previsto nas Instruções Normativas MDA nºs 01 e 02, de 2005, o Selo

Combustível Social é concedido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) a

produtores de biodiesel habilitados pelas leis brasileiras a operar na produção e

comercialização desse novo combustível e que atendam aos seguintes requisitos:

a) adquiram percentuais mínimos de matéria-prima de agricultores familiares, sendo

de 10% nas regiões Norte e Centro-Oeste até as safras 2009/2010, devendo subir

para 15% nas safras 2010/2011; de 30% nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste e no

Semi-Árido; e

b) celebrem contratos com os agricultores familiares estabelecendo prazos e

condições de entrega da matéria-prima e respectivos preços e lhes prestem

assistência técnica.

As empresas detentoras do Selo Combustível Social podem ter redução

parcial ou total de tributos federais, conforme definido no modelo tributário aplicável

ao biodiesel. Podem também participar dos leilões de compra desse novo

38

combustível e usar esse certificado para diferenciar a origem/marca do biodiesel no

mercado (PETRÓLEO BRASILEIRO S/A, 2006).

2.3.2 Misturas Obrigatórias

Pela Lei nº 11.097/2005, a partir de janeiro de 2008 seria obrigatória, em todo

território nacional, a mistura B2, ou seja, 2% de biodiesel e 98% de diesel de

petróleo, porém, em julho de 2008 o governo federal estabeleceu a mistura B3 que

passou a vigorar no segundo semestre do mesmo ano. Em janeiro de 2013, essa

obrigatoriedade passará para 5% (B5). Há possibilidade também de empregar

percentuais de mistura mais elevados e até mesmo o biodiesel puro (B100)

mediante autorização da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e

Biocombustíveis (ANP).

Assim sendo, os estímulos econômicos à produção de biodiesel no Brasil

decorrem da própria evolução desse mercado cativo e da conquista de mercados

externos, cabendo às políticas públicas proporcionar condições para que ele

funcione de modo eficiente e atenda aos objetivos de promover a inclusão social e o

desenvolvimento das regiões mais carentes, com sustentabilidade em sentido

amplo.

2.3.3 A Estruturação do Mercado de Biodiesel no Brasil

Como o uso obrigatório de biodiesel só iniciaria a partir do ano de 2008, entre

os anos de 2005 a 2007 o este combustível foi incentivado por meio de leilões

públicos com volumes coerentes com a oferta e eram quase que exclusivos de

empresas possuidoras do Selo Combustível Social. A Petrobrás, detentora de 93%

39

deste mercado ficou responsável pela aquisição e mistura do biodiesel. De acordo

com o Ministério de Minas e Energia, no período foram leiloados 885 milhões de

litros, mas entregas foram de somente 402 milhões de litros devido a problemas de

logística, start-up de umas empresas e inoperância de outras (FLEXOR, 2007).

Apesar disto, o início da obrigatoriedade da mistura, em janeiro de 2008, ocorreu

com relativa tranqüilidade, pois a capacidade instalada firme no país era superior à

demanda do mercado e o sistema de transporte, mistura e distribuição de diesel com

biodiesel já estava em operação.

Com a vigência da obrigatoriedade da mistura de 2% de biodiesel ao diesel,

esperava-se que o mercado não mais seria regulamento através de aquisições

públicas, entretanto, entendendo a necessidade de melhor consolidação do mercado

e da agricultura familiar na cadeia produtiva, o governo estabeleceu a manutenção

do mecanismo de leilões para o mercado obrigatório e passou a fazer leilões de

estoque, via Petrobrás, para garantia de abastecimento em casos de eventuais

descumprimentos de entregas. A partir de então, os leilões para atender a

obrigatoriedade da mistura são separados em dois lotes, um com 80% do volume

total, restrito às empresas de biodiesel com a concessão do Selo Combustível Social

e para o outro lote dos 20% restantes são elegíveis todas as empresas de biodiesel.

Os leilões de estoque por sua vez são exclusivos de empresas com o Selo

(FLEXOR, 2007).

Visto que a capacidade industrial instalada era capaz de atender à demanda

de biodiesel para a composição do B5, inicialmente prevista para 2013, em julho de

2008 o percentual de mistura foi aumentado para 3% (conforme Resolução Nº 02, do

CNPE) e se mantém, até o momento (março de 2009) neste patamar e com a

supracitada dinâmica de acesso ao mercado. Para tanto, também está sinalizada

40

uma nova elevação do percentual de mistura para 4% a partir do próximo segundo

semestre, atingindo-se o patamar de 5% já em janeiro de 2010.

Quanto à produção de biodiesel, em 2008 ela somou 1,16 bilhões de litros,

colocando o país como o terceiro maior produtor mundial, atrás apenas da Alemanha

e dos Estados Unidos. Nos anos anteriores ela totalizou 474 milhões de litros entre

2005 e 2007, sendo 404 milhões de litros somente em 2007.

Até meados de 2008, o Nordeste possuía apenas duas empresas de

biodiesel, sendo que uma delas possuía quatro unidades produtivas, cada uma com

capacidade de cerca de 100 mil t/ano de biodiesel (considerado o padrão de

capacidade da maior parte das empresas brasileiras) nos estados do Ceará,

Maranhão, Piauí e Bahia e a outra empresa, de menor capacidade, situada também

na Bahia. A partir do segundo semestre de 2008 entra no Nordeste uma empresa

pública, subsidiária da maior produtora de petróleo do Brasil, com unidades de

biodiesel na BA e no CE e com capacidade de 50 mil t/ano de biodiesel cada uma.

Neste contexto antes da vigência obrigatória do B2 (diesel com adição de 2%

de biodiesel) a participação das unidades do Nordeste nos leilões e na produção de

biodiesel foi expressiva, atingindo 39% e 44%, respectivamente, e as duas unidades

de produção do estado da Bahia foram responsáveis 13% do volume arrematado

nos leilões e 16% da produção neste período. Convém ressaltar que a participação

da região Nordeste no mercado de diesel brasileiro é de somente 14%, enquanto

que a da Bahia é pouco superior a 5%. Já em 2008 devido a problemas financeiros

do principal player neste mercado a performance da região Nordeste decaiu para

11% no volume de biodiesel produzido no país, enquanto que a Bahia atingiu

somente 6%.

41

Por outro lado, a participação das regiões Centro-Oeste e Sul, principais

produtoras de soja do país, na produção de biodiesel saltou de 38% no período de

2005 a 2007, para 72% da produção nacional de biodiesel no ano de 2008.

2.3.4 Linhas de Crédito

Existem diversos incentivos financeiros e linhas de financiamento específicas

com encargos reduzidos, carência, prazos e amortização para toda a cadeia

produtiva do biodiesel, abrangendo inclusive investimentos em equipamentos e

plantas industriais e financiamentos ao cultivo de matérias-primas para produção de

biodiesel.

Esses financiamentos são fornecidos pelos bancos oficiais com recursos do

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), do Programa

Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e de outras fontes.

Devido a atratividade econômica da produção do biodiesel, várias outras instituições

de crédito estão financiando ou planejam financiar elos da cadeia produtiva do

biodiesel, como vem ocorrendo com o Banco do Brasil, com a linha de crédito

BBBiodiesel, e com outros bancos oficiais e privados nacionais e estrangeiros.

2.3.5 O zoneamento agrícola de oleaginosas para Produção de Biodiesel

O Zoneamento climático de culturas é uma metodologia que o Ministério do

Desenvolvimento Agrário desenvolveu e adotou como política pública. Pelo

zoneamento são definidas as aptidões ao cultivo agrícola nas diversas regiões do

42

país e são indicadas as culturas aptas ao cultivo, objetivando mitigar os riscos de

frustração de safra (CAMPOS, 2008).

O zoneamento, além de reduzir as “experimentações” não científicas e as

aventuras a que agricultores são muitas vezes conduzidos, facilita sobremaneira a

operacionalização do agente de crédito agrícola já que o seguro da produção é

automaticamente vinculado (CAMPOS, 2008).

A metodologia adotada para o zoneamento é um processo dinâmico, interativo

e gradual. Culturas convencionais e zoneadas, como a soja, são sistematicamente

avaliadas, devido à disponibilidade de novos materiais genéticos e também às

modificações climáticas que impactam na agricultura.

Visando oferecer aos agricultores maiores possibilidades de cultivos de

oleaginosas, com mais conhecimento dos riscos climáticos e principalmente acesso

ao crédito agrícola, o Governo Federal priorizou um plano de zoneamento de

oleaginosas para até 2010, baseado na demanda de mercado colocada pelo

biodiesel, na existência de base tecnológica e aptidão comprovada das culturas nos

respectivos estados (CAMPOS, 2008).

Em 2005, apenas a soja no Centro-Sul e Tocantins, a rícino no Nordeste e o

algodão tinham zoneamento agrícola. Hoje a rícino também está zoneada no

Centro-Oeste, Sudeste e Sul do país, enquanto o girassol, a canola, o amendoim, a

palma, o gergelim e o coco estão em processo de zoneamento em diversos estados

com aptidão às referidas culturas (SAF, 2007).

No estado da Bahia, além do rícino também estão zoneadas as culturas

oleaginosas: amendoim, girassol, palma e soja.

43

A diversificação de fontes de obtenção de óleos é considerada uma estratégia

importantíssima para competitividade do biodiesel e para a própria agricultura,

especialmente a agricultura familiar (SAF, 2007)..

2.3.6 Agricultura Familiar X Empresas Capitalizadas

Embora haja diversos incentivos tributários para a produção de biodiesel com

matérias primas cultivadas por agricultores familiares principalmente nas regiões

mais carentes do País, a existência de um mercado cativo e crescente para o

biodiesel representa um estímulo econômico muito importante para empresas

capitalizadas e com maior escala de produção. Estas empresas, como é próprio

numa economia de mercado, vem se posicionando de acordo com as suas

características e estratégias de negócios, já que ao Governo Federal não cabe

produzir biodiesel, mas promover sua produção e uso, com sustentabilidade e

qualidade compatível com as exigências dos mercados interno e externo (SAF,

2007).

Além disso, o Brasil tem diferentes peculiaridades regionais e potencial para

produzir biodiesel com diversas matérias-primas (mamona, dendê, soja, nabo

forrageiro, girassol, pinhão-manso, babaçu, óleos e gorduras residuais, etc.) e com

diferentes tecnologias e finalidades (SAF, 2007).

Por essas razões, o Governo Federal considera caber aos agentes

econômicos a seleção das melhores alternativas, devidamente apoiadas pelas

pesquisas, experimentos e testes.

Assim, o PNPB não é excludente em termos de categorias de agentes

econômicos, matérias-primas ou rotas tecnológicas, mas ele se apóia num balizador

44

rígido: o biodiesel deve atender especificações físico-químicas estabelecidas pelo

Governo Federal por meio da ANP, que tem a responsabilidade de autorizar o

funcionamento de indústrias de biodiesel e de fiscalizar sua produção e

comercialização. Sem atender esse padrão de qualidade, monitorado e fiscalizado

pela ANP com sistemas modernos, como o marcador molecular, o biodiesel não

pode ser comercializado e misturado ao diesel mineral (CAMPOS, 2008).

45

3 COOPERATIVA DA AGRICULTURA FAMILIAR DO ESTADO DA BAHIA

Este capítulo enfoca o objeto de estudo deste trabalho que é a COOPAF:

Cooperativa de Produtores da Agricultura Familiar do Estado da Bahia, onde será

apresentada uma visão geral da situação dos agricultores familiares antes da

formação da cooperativa, uma descrição da experiência vivida pela cooperativa

desde sua fase inicial até o momento atual, seguida de uma análise dos principais

problemas enfrentados e, por fim, uma avaliação das condições de reprodutibilidade

da experiência aqui apresentada.

Os dados a seguir surgiram através das entrevistas realizadas na coopaf nos

meses de Julho e agosto de 2009 com a diretoria geral, assistência técnica, corpo

administrativo, cooperados e agricultores familiares.

A Coopaf - Cooperativa de Produção e Comercialização da Agricultura

Familiar do Estado da Bahia foi idealizada e fundada, no mês de dezembro 2005, na

cidade de Morro do Chapéu-BA, tendo como origem a organização do movimento

sindical. Nasceu incentivada por um projeto de organização da produção com base

no Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo – Siscop iniciado no final

do ano de 2002. Os principais problemas enfrentados naquela época pela agricultura

familiar local eram referentes a acesso ao crédito, à assistência técnica e à

comercialização da produção.

Apesar do objetivo inicial do projeto ser o cooperativismo voltado para o

crédito, com o lançamento do Programa Nacional de Produção do Biodiesel – PNPB

– e a chegada à região de uma grande empresa de biodiesel (que viria a ter a

concessão do Selo) viu-se a possibilidade de formação da cooperativa de produção

e comercialização, a Coopaf. Com o apoio da Federação dos trabalhadores na

46

Agricultura do estado da Bahia – Fetag-BA, a cooperativa tomou a decisão de atuar

de forma incisiva na estruturação da cadeia produtiva do rícino, envolvendo os mais

de 9.000 agricultores familiares vinculados aos sindicatos dos municípios da área

que se pretendia atuar, que estão apresentados na Figura 1.

Figura 1. Mapa de Atuação da Coopaf (Fonte: Coopaf)

A Coopaf define sua visão de futuro como sendo: “em 2027 ser referência

mundial em cooperativismo, desenvolvimento e difusão de tecnologia para a

agricultura familiar”.

A Coopaf tem abrangência em mais de 50 municípios e dedica-se

majoritariamente à comercialização de rícino para o mercado de biodiesel. Iniciou o

fomento a produção de girassol, feijão, milho e, mais recentemente, está planejando

ampliar suas atividades para as áreas produtoras de sisal. Ingressou na produção de

47

sementes certificadas de rícino com o objetivo de atender sua própria demanda e,

mais recentemente, procura organizar a base para o fomento da produção de palma

na região de mata atlântica, reconhecida pelo potencial no cultivo desta cultura.

O quadro social da Coopaf hoje é composto por um conselho de

administração, com sete membros, uma diretoria executiva com três membros, uma

gerência de planejamento e desenvolvimento, uma coordenação de projetos

agrícolas, um supervisor administrativo e financeiro, um supervisor operacional com

um assistente, quatro supervisores regionais e técnicos para atender os agricultores

familiares.

De acordo com dados do IBGE/2009, o município de Morro do Chapéu fica

localizado a 384 km a noroeste da capital do estado da Bahia, na zona oriental da

Chapada Diamantina. Possui uma das maiores áreas municipais do estado, com

uma população de 36.484 habitantes. O relevo é caracterizado por formas tabulares,

dispostas em patamares, que se elevam de 480 a 1.350 m de altitudes, a altitude

média fica em torno de 1.100 m, o que a caracteriza como uma das cidades mais

frias do estado, com temperaturas em torno dos 10ºC em algumas épocas do ano.

Normalmente as temperaturas são amenas, ficando em 18 e 24°C, mínima e

máxima média, respectivamente. A precipitação média anual geralmente é reduzida,

em torno de 800 mm. Os solos apresentam acidez e baixa fertilidade natural, e

predomina o tipo climático tropical de altitude de verão brando. A tipologia vegetal é

de caatinga e outras formações vegetacionais como campo rupestre, mata, tabuleiro,

vegetação de dunas interiores e áreas de transições. Como Indicadores, o município

possui IDH igual a 0,605, PIB igual a R$67.221.578,00 e PIB per capita igual a R$

1.889,84 (IBGE, 2009).

48

A Fetag-BA, principal responsável pela criação e trajetória da Coopaf, atua

em 400 dos 417 municípios do estado da BA, sendo imprecisa a identificação do

número total de agricultores sindicalizados, mas que por certo é da ordem de

algumas centenas de milhares. Esta grande capilaridade da instituição lhe confere

condições políticas e técnicas de organizar a agricultura familiar no estado e lhe dá

legitimidade para negociar com o setor privado e com o próprio governo sendo,

portanto, fundamental para a sustentabilidade da cooperativa.

Os agricultores da área de atuação da cooperativa são caracterizados como

familiares com baixas rendas brutas anuais, situadas entre R$5.000,00 a

R$15.000,00. Muitos são beneficiários do Bolsa-Família, um programa de

assistência social do Governo Federal que consiste na doação mensal de recursos

para a subsistência de família em situação de pobreza, cuja renda mensal por

pessoa seja de até R$120,00, ou seja, R$7.200,00/ano para uma família com cinco

pessoas (CARMÉLIO, 2008).

A agricultura familiar da região tinha e ainda tem como atividades principais a

produção de feijão, de rícino e de milho. A bovinocultura mista (leite e carne)

também é praticada, sendo muito importante para a segurança alimentar.

Antes da entrada da Coopaf, os agricultores cultivavam a rícino de maneira

tradicional. O preço que o agricultor recebia pelo rícino era muito baixo, cerca de

R$0,36/kg. A comercialização do agricultor à única empresa do setor ricinoquímico

que atuava na região, chegava a ter cinco atravessadores.

A formação do preço dava-se de forma decrescente na cadeia produtiva, ou

seja, a empresa definia o valor que estava disposta a pagar pelo produto recebido

em sua porta e daí cada atravessador tirava do preço o seu custo e sua margem de

lucro e a sobra era o preço pago ao produtor. Como não havia concorrência, não

49

havia margem de negociação, ou seja, ou o agricultor vendia ao preço que o

atravessador estava disposto a pagar ou não tinha como escoar sua produção. Era

comum o agricultor vender a produção sem entregar o produto, recebia o dinheiro e

ia fazer suas compras na cidade para atender as necessidades da família. No caso

do rícino, era muito comum a compra antecipada da produção, quando ainda estava

florescendo. O atravessador pagava por ela e buscava depois. Em todas as

circunstâncias, apesar da facilidade de acesso ao dinheiro, o preço não motivava a

atividade, a tal ponto de se refletir num decréscimo da produtividade.

Paradoxalmente, a indústria ricinoquímica brasileira é importadora de rícino,

principalmente da Índia, beneficia e vende os derivados para o mercado interno e

externo.

3.1 O CULTIVO DO RÍCINO

O rícino na região da Coopaf tem particularidades que merecem ser

mencionadas. Uma delas é que 80% da produção nacional de rícino advêm do

estado da Bahia e, no estado, cerca de 80% da produção vem da área de

abrangência da Coopaf. A produção nacional é muito pequena, tendo sido de quase

100.000 toneladas em 2007, e o país importa óleo de rícino para atender a demanda

da indústria ricinoquímica, sendo a Bahia o maior estado importador, o que

representou 90% das 10.000 toneladas importadas pelo país em 2007 e 2008

(CARMÉLIO, 2008). Só para comparação quantitativa, o país produziu mais de 58

milhões de toneladas de soja em 2007 enquanto exportou três milhões de toneladas

óleo de soja bruta e mais um milhão de toneladas de óleo de soja refinado, na soma

de 2007 e 2008.

50

A lógica da agricultura familiar para o rícino é de um cultivo secundário,

marginal para melhor aproveitamento da propriedade. O agricultor cultiva o feijão

como atividade principal e intercala a rícino na forma de consórcio para aproveitar a

área já preparada e dispensa pouco esforço no manejo da cultura. O rícino ocupa

mais a mão-de-obra da família durante a colheita manual que ocorre nos meses de

seca, quando não há outra atividade que possa gerar concorrência pela mão-de-

obra familiar, nem tampouco há demanda de venda de serviços braçais fora da

propriedade (CAMPOS, 2008).

FIGURA 2. Área de cultivo da mamona na região de

Irecê-BA – Março de 2009

Uma família, normalmente com cerca de quatro pessoas com capacidade de

trabalho braçal, consegue cuidar de até 10 ha, sendo a colheita manual a etapa mais

consumidora de trabalho. Cada hectare necessita, em média, de 10 homens/dia, ou

seja, de 10 diárias de trabalho braçal rural.

51

A renda auferida com o rícino é empregada para compra de bens alimentares

para a família, estando, portanto, intimamente relacionada com a segurança

alimentar, embora não seja um alimento em si. Há informações, inclusive, de que a

rícino seja usada para escambo por alimentos nos mercados das pequenas cidades

da Bahia (CAMPOS, 2008).

O milho, por outro lado, concorre nas áreas de plantio com o rícino e o

agricultor não abre mão deste cultivo principalmente para o uso como ração a seu

gado, apesar de ser muito sensível às secas e o sorgo, substituto natural do milho,

porém mais resistente, não é bem aceito pelos agricultores familiares devido,

segundo relatos, às dificuldades de colheita manual.

FIGURA 3. Área Plantada com Milho e Mamona na Região

de Lagoa Jurema-BA – Março de 2009

A maior parte das famílias possui área de rícino variando de dois a nove

hectares (ha), mas são comuns áreas menores que um ha a até 70 ha. Apenas o

plantio despende mecanização, com cerca de 2 horas máquina por ha, mas esta

52

despesa é normalmente compensada com a venda do feijão. Assim, a renda

auferida com a venda do rícino é praticamente líquida tendo em vista não haver

tomada de financiamento, tampouco a aplicação de insumos agrícolas e a semente

para a formação do plantio é doada pelo produtor de biodiesel. Ou seja, na safra

2006/2007 quando o preço pago ao agricultor era de R$0,55/kg, com uma

produtividade de 500 kg/ha, a renda variou de R$550,00 a R$2.475,00 para a maior

parte das famílias.

Considerando que a faixa de renda bruta anual destes agricultores situa-se

entre R$5.000,00 e R$15.000,00, o rícino possibilitou, na referida safra, um

incremento de renda na faixa de 11% a 16% (MINISTÉRIO DO

DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO, 2009).

FIGURA 4. Agricultor Cooperado da COOPAF após a coleta

das sementes de rícino na região de Lagoa Jurema-BA

– Março de 2009

53

Os agricultores consideram que o rícino é a base de sustentação da agricultura

familiar na época da seca, quando não há outra fonte de renda.

Consideram que a renda do rícino ainda não é boa devido ao nível de

compactação dos solos que prejudica o desenvolvimento da cultura. A este despeito,

um dos resultados da atuação da Coopaf, é que, ainda que timidamente, a

cooperativa iniciou um trabalho de subsolagem, para descompactação do solo, nas

áreas de seus associados.

3.2 ACESSO A CRÉDITO

O Brasil possui uma das mais interessantes linhas de crédito para a agricultura

familiar, o Pronaf, pelo qual o agricultor tem acesso a recursos de custeio e de

investimento em condições de juros e prazo de amortização adaptados ao perfil do

agricultor e da atividade a ser financiada. Para atender a demanda criada pelo

programa do biodiesel, foram feitas modificações no Pronaf para que o agricultor

pudesse ter acesso a crédito adicional para o cultivo de oleaginosas, desde que a

região produtora permitisse mais de um cultivo por ano. Assim o agricultor poderia

tomar o crédito para o plantio de oleaginosas sem comprometer os recursos

destinados à produção de alimentos. A ampliação do portfólio de oleaginosas com

zoneamento agrícola visou apoiar o financiamento da produção com acesso a

mecanismos de seguro da produção.

Entretanto, na prática, o sistema bancário operador de recursos públicos

mostrou-se refratário ao PNPB e evitou, com algumas exceções, fazer a concessão

de crédito para oleaginosas. Os financiamentos do Pronaf foram expressivos

somente para o financiamento da soja produzida pela agricultura familiar do Centro-

54

Sul e cujos agricultores se vincularam a empresas de biodiesel com expressivas

movimentações financeiras nos bancos operadores ou eram associados de

cooperativas com um histórico de tomada de crédito. As aplicações de recursos no

Nordeste foram irrisórias, mesmo nos bancos que existem exclusivamente para o

desenvolvimento da região, apesar dos esforços conjuntos das instituições

promotoras do PNPB junto ao sistema financeiro. Segundo estimativas do MDA, na

safra 2006/2007 houve o atendimento apenas 4% da demandas de crédito Pronaf

para biodiesel no Brasil, sendo que no Nordeste, o atendimento foi inferir a 1%. Uma

exceção meritosa é o Banco da Amazônia que atendeu 100% da demanda de

produção de palma da agricultura familiar.

Embora a criação da Coopaf tenha sido motivada pelo cooperativismo de

crédito este parece um problema intransponível até o momento. Após um imenso

esforço em nível local, estadual e nacional, apenas 46 contratos do Pronaf foram

realizados na safra 2007/2008 e nesta safra (2008/2009) somente 27 operações

foram liberadas. Ou seja, o financiamento da produção dos cooperados tem sido por

meio da doação de insumos, por parte das empresas contratantes e da cooperativa,

ou com recursos do próprio agricultor.

Diante da falta de acesso a crédito não foi possível, até o momento, o

investimento na reestruturação dos solos, sobremaneira a descompactação e

adubação. A ampliação das áreas de produção fica limitada à capacidade da

cooperativa junto com as empresas parceiras de fazer a doação de insumos e

serviços agrícolas.

3.3 BASE DE APOIO PÚBLICO À COOPERATIVA

55

A Coopaf conta com o apoio de instituições públicas, da organização sindical e

das empresas de biodiesel contratantes.

O MDA aportou recursos para a dotação de assistência técnica aos

cooperados e atuou na organização local da produção, por meio de equipe

contratada pela ONG Obra Kolping. O governo do estado também tem alocado

ações para os cooperados da Coopaf, a exemplo da aprovação do projeto de

construção de 130 casas populares, das quais 30 foram direcionadas para a zona

rural visando atender associados da cooperativa.

A cooperativa recebeu suporte técnico e político da sua própria confederação

sindical, a Contag, instituição muito atuante e pró-ativa no programa do biodiesel,

desde a fase de concepção até o momento atual de esforço de consolidação da

agricultura familiar no programa.

FIGURA 5. Técnicos da EBDA prestando assistência técnica

a produtores da Lagoa Jurema – Região de Brumado - BA

56

A Contag financiou estudos de viabilidade para a cooperativa, propiciou cursos

de capacitação dos associados e dirigentes e também procurou observar as

dificuldades enfrentadas pela cooperativa e trazer para o núcleo de monitoramento

do desempenho do programa do biodiesel na Casa Civil e para o Ministério do

Desenvolvimento Agrário.

Recentemente a Contag finalizou um plano de negócio para a extração de óleo

de rícino e de girassol para que a cooperativa verticalize-se na cadeia de

oleaginosas. Entretanto, face à oscilação da produção da cooperativa é arriscado

avançar da fase de comercialização de oleaginosa para a extração do seu óleo.

Assim, este projeto está sendo apresentado aos associados da Coopaf e tão logo a

cooperativa consiga estabilidade na sua produção de oleaginosas o mesmo deverá

ser rediscutido para visualizar a sua implantação.

Ainda do ponto de vista agroindustrial a Coopaf também conta com recursos da

ordem de R$600.000,00 para a construção de uma unidade de limpeza, secagem e

armazenamento de rícino.

A Fetag-BA é o braço direito da cooperativa e atua como interlocutora junto ao

governo do estado e junto à Contag. É responsável pela articulação de ampliação da

cooperativa, por meio dos sindicatos municipais filiados e também custeia um

consultor técnico dedicado à gestão da cooperativa.

3.4 O DESENVOLVIMENTO DO PROJETO DE PRODUÇÃO

Em 2005 a maior empresa de biodiesel do Brasil, e única no Nordeste, iniciou

seu trabalho de formação da base produtiva da agricultura familiar, procurando

57

seguir minimamente as regras estabelecidas pelo Selo Combustível Social. A

assistência técnica era feita por técnicos da própria empresa que instalou escritórios

regionais em toda a região (CAMPOS, 2008).

Os técnicos dispunham de um contrato padrão para ser firmado com os

agricultores familiares, pelo qual a empresa fornecia a semente, enxadas e

matracas, garantia uma produtividade mínima estimada pelos próprios técnicos e

preço fixo pré-estabelecido antes do plantio, diferentemente da prática usual dos

atravessadores. Quanto a esta garantia de produtividade mínima, se os agricultores

seguissem as orientações técnicas, mas mesmo assim a produtividade ficasse

aquém daquela estabelecida, a empresa pagaria a diferença.

Em maio de 2006, já com a fundação da Coopaf, através da Fetag-BA, a

cooperativa fechou um contrato com aquela empresa para a venda do rícino da safra

em curso e da safra seguinte. O preço foi pré-fixado em R$0,55/kg (50% maior do

que o preço pago pelos atravessadores, com base na praça de Irecê – R$0,36/kg) e

a cooperativa receberia mais R$0,11/kg de rícino, correspondente aos serviços de

prestação da assistência técnica, logística de aquisição do rícino e retirada da casca,

operação chamada de debulha. Para a formação da lavoura a Coopaf recebeu as

sementes de produção própria da empresa que na verdade eram grãos melhorados

sem qualquer atestado de qualidade, o que conferiu descontentamento por parte dos

agricultores, não só os da cooperativa mas em todo o país, pois a expectativa de

melhoria na produtividade não foi atingida.

Com este contrato em 2006, iniciavam-se os trabalhos da cooperativa de

organização da produção de rícino da agricultura familiar baiana na cadeia de

biodiesel. A Coopaf fez aquisições de cinco tratores, contratou profissionais para a

assistência técnica e iniciou seu trabalho de articulação dos agricultores familiares

58

associados e também procurou buscar novos integrantes à cooperativa. A empresa

de biodiesel contratante disponibilizou debulhadeiras de rícino.

Como resultado deste trabalho inicial, naquela safra (2005/2006) a

comercialização para a empresa chegou a 5.500 toneladas de rícino, gerando

receita de aproximadamente R$ 3.000.000,00 (três milhões de reais) e envolveu

cerca de 1.500 agricultores. Isto significara que a cooperativa havia sido responsável

por cerca de 4,5% do PIB do município de Morro do Chapéu. Naquela época o preço

ao produtor no mercado de Irecê, principal formador de preço do Brasil, situava-se

em torno de R$0,36/kg, muito abaixo dos valores praticados pela Coopaf. A

produtividade média dos associados foi em torno de 500 kg/ha, considerada

adequada para a região. Pela primeira vez os agricultores de rícino puderam

vivenciar uma comercialização segura a preços pré-estabelecidos, além de terem

sido beneficiados com assistência técnica e apoio para as operações de debulha e

ensacamento.

Pela dinâmica estabelecida a Coopaf buscava a matéria-prima até a

propriedade do agricultor que tinha um incentivo de R$1,80 por saca (60 kg) para

que ele mesmo fizesse a debulha do rícino. Caso isso não ocorresse a Coopaf fazia

um desconto de 50% no pagamento sobre o peso do rícino em casca. Em alguns

casos a Coopaf deslocava a máquina de debulha até a propriedade para a

realização desta operação. A secagem do rícino era feita de forma tradicional, com

exposição ao sol pelo próprio agricultor, com orientação do técnico.

Em 2006 a Coopaf absorveu cerca de 7% da produção do estado que foi de

74.900 t segundo dados do levantamento de safra da Conab. Como não houve

ampliação expressiva da área plantada na região de abrangência da cooperativa

ocorreu uma depressão no tradicional mercado da ricinoquímica local que se viu

59

desabastecido, pois como a produção é pequena, qualquer desvio comercial é

sentido imediatamente pelas empresas que dependem desta produção.

3.4.1 Início dos Problemas

Com base nos bons resultados do primeiro ano de atuação da cooperativa, na

safra seguinte, 2006/2007, e motivados pela expansão do PNPB e da empresa, e

pelos bons preços negociados, a Coopaf estimulou o plantio junto aos agricultores

familiares em uma área de cerca de 34.000 ha com o envolvimento de cerca de

7.000 agricultores, o que significava um crescimento de mais de 200% em relação à

safra anterior. À parte a empresa e biodiesel também contratou diretamente mais

outros 6.000 agricultores familiares para o plantio de mais de 80.000 ha de rícino na

Bahia.

Entretanto, naquela safra, cuja comercialização foi feita em 2007, a região foi

acometida por uma seca muito forte que comprometeu boa parte da produção e,

além do mais, a tradicional indústria ricinoquímica local reagiu à escassez de oferta

e repassou parte de seu expressivo lucro para a aquisição do rícino, fazendo com

que os atravessadores viessem comprar a produção diretamente dos agricultores

familiares associados à Coopaf e daqueles contratados pela empresa de biodiesel a

preços muito acima daquele pré-estabelecido, que chegou a R$1,15/kg. Este cenário

pode ser observado na figura 2, apenas tomando-se o cuidado de interpretar que o

preço negociado em contrato deve ser comparado com o ano seguinte, ou seja, por

exemplo, o preço de mercado em julho de 2007 era de cerca de R$0,92/kg, mas o

preço de contrato (firmado anteriormente) era de R$0,66/kg. Dessa forma, os

atravessadores desestabilizaram o projeto da Coopaf fazendo com que muito

agricultores não cumprissem o contrato com a cooperativa, tampouco com a

60

empresa de biodiesel, e a cooperativa conseguiu comercializar somente cerca de

3.000 t de rícino, um valor muito aquém das suas expectativas. A questão foi que

não havia, por parte da cooperativa, capital para fazer frente à ação dos

atravessadores. Tampouco era razoável tentar impedir o agricultor auferir melhores

preços a sua produção, já acometida pela seca.

Assim, o investimento feito pela cooperativa junto aos agricultores não resultou

em significativa comercialização e houve diminuição da capacidade financeira da

instituição. Do outro lado, como consequência da baixa performance, a empresa

compradora que dependia destas aquisições para cumprir o requisito de aquisições

mínimas da agricultura familiar, se viu em vias de perda da concessão de uso do

Selo Combustível Social.

Paralelamente, a descrença dos agricultores no plantio de rícino para o PNPB

também aumentou quando se descobriu que a empresa contratante da Coopaf

desde o começo da produção, praticamente não produziu biodiesel de rícino. No

primeiro momento, antes de 2007, a empresa afirmava que o óleo de soja estava a

preços mais competitivos e fez estoques do rícino adquirido da agricultura familiar.

Mas quando o óleo de soja subiu de preço em 2007, chegando aos patamares de

R$2.500,00/t, a empresa continuou comprando este óleo no mercado Centro-Sul do

país visando atender sua demanda de produção de biodiesel cujo preço fixo era de

R$1,74/l.

Com isto o custo de produção do biodiesel ficou acima de suas expectativas,

diminuindo substancialmente suas margens de lucro. Por vezes a empresa fez a

extração de óleo com o rícino de que dispunha em estoque e o vendeu ao mercado

ricinoquímico que, em 2007, teve preços variando entre R$2,90 a R$5,00 por kg.

E para completar, ainda em 2007, em face de endividamentos, a empresa de

61

biodiesel fez venda do rícino em grão já adquirida da agricultura familiar para o setor

ricinoquímico o que resultou, na visão dos agricultores, na caracterização da

empresa como atravessadora de rícino. O tema ganhou importância na mídia e foi

transmitido pelo principal programa sobre agropecuária na maior rede de televisão

aberta do Brasil provocando uma crise em nível nacional a respeito das

possibilidades de inclusão social do biodiesel.

3.4.2 Reajustes na rota do Projeto da Coopaf

Esta situação levou a cooperativa, em conjunto com a organização sindical e

com a empresa compradora a avaliar melhor o critério de formação de preço, nos

contratos para a safra 2008/2009. Entretanto, a redução da produção de biodiesel na

Bahia, fruto das dificuldades financeiras da empresa, resultou na descontinuidade

contratual com a Coopaf. No mesmo momento um novo player apresentava-se no

conturbado mercado do rícino na Bahia: uma empresa pública de biodiesel

subsidiária da maior empresa de petróleo do Brasil e uma das mais importantes do

mundo.

A Coopaf estabelece com esta nova empresa estatal, o compromisso de

produzir, para a safra 2008/2009, cerca de 10.000 t de rícino envolvendo 1.400

agricultores familiares.

A formação de preço se dá em novos patamares: a nova empresa garante o

preço mínimo estabelecido pelo Governo Federal para os casos do preço de

mercado, à época da aquisição, ficar abaixo deste e estabelece que o preço de

aquisição seja a média dos preços praticados no mercado da Bahia nos 36 meses

anteriores à compra, devidamente corrigidos. Os resultados deste contrato não

62

puderam ser aferidos.

À parte disto e ciente do alto nível de distorção no mercado do rícino, o

Governo Federal insere a oleaginosa no Programa de Garantia de Preços Mínimos à

Agricultura Familiar – PGPAF. Este programa visa proteger o crédito da agricultura

familiar e cobre a diferença (uma forma de bônus) entre o preço praticado no

mercado e o preço garantido pelo Governo. Independente de o agricultor ter acesso

ao bônus, o estabelecimento de um preço-referência, acima do preço mínimo, cria

um novo referencial para o balizamento das relações comerciais entre agricultores e

empresas, mas não equaciona a questão de concorrência nos casos do mercado

remunerar mais que a referência do Governo.

Em meados de 2008 uma nova diretoria assume a referida empresa estatal de

biodiesel quando todas as bases de articulação com a agricultura familiar são

revistas e um novo critério de preço para o rícino é pactuado com as representações

dos agricultores familiares: a empresa garante o preço do PGPAF e paga o preço de

mercado vigente à época da realização da venda, valendo-se o maior valor dentre

os dois critérios.

A remuneração da cooperativa para as atividades de logística de aquisição da

matéria-prima não foi definida até o momento, mas o contrato de prestação de

assistência técnica foi estabelecido mediante a disponibilização inicial de 33 técnicos

escolhidos pela Coopaf para atender 3.300 famílias para o cultivo de cerca de

10.000 ha de rícino.

Entendendo que, exceto a soja, a maior parte das oleaginosas não traz

viabilidade econômica para produção de biodiesel em função do elevado preço

destas commodities, associado ao baixo preço relativo do biodiesel o

encaminhamento sindical, expresso pela Contag, é de que o preço pago ao

63

agricultor para oleaginosas vinculadas ao Selo Combustível Social deve ser superior

ao de mercado, independente da doação de insumos como sementes, uma vez que

as empresas são beneficiadas com isenções fiscais devidas ao Selo Combustível

Social, entretanto não faz a exigência de que esta oleaginosa seja utilizada

diretamente para a produção de biodiesel, podendo a empresa, por exemplo, trocar

o equivalente monetário adquirido em rícino por óleo de soja, ou outra matéria-prima

graxa mais barata para a produção de biodiesel. É curioso notar que esta lógica

adotada pela Contag é diferente da prática comercial vigente no Brasil onde o preço

pago ao agricultor que vende via cooperativa é o preço de mercado do dia subtraído

dos custos de beneficiamento e de armazenagem.

A Contag negociou praticamente todos os contratos com as empresas com

Selo Combustível Social desde o início do PNPB e conseguiu, por exemplo, que

cada saca de soja fosse vendida com um real de bônus, o que foi considerado pelos

sojicultores familiares um grande avanço conseguido pelo PNPB. No caso das

cooperativas do sul do país que já possuem seu corpo de assistência técnica, além

do bônus da venda, as empresas de biodiesel com o Selo Combustível Social fazem

aporte de recursos expressivos para “pagar” a assistência técnica que é uma

obrigação delas, conforme estabelecido nas normas do Selo.

Segundo a Contag, no caso do rícino, a negociação comercial que será

aplicada na próxima safra, é de que o preço mínimo garantido seja aquele do

PGPAF acrescido de um bônus de 10%. Com isto a instituição espera equacionar a

relação entre o mercado riciniquímico e o do biodiesel com vantagens para favorecer

a fidelização do agricultor à cooperativa.

64

3.4.3 A produção de sementes de rícino

O Brasil não possuía, até o advento do PNPB, uma política de produção de

sementes de rícino certificadas. Embora existissem algumas empresas

credenciadas, relatos de compradores eram de que o produto não atendia em

termos de pureza genética e de índice de germinação e o preço era muito alto.

A cooperativa entendeu que a qualidade genética das sementes era essencial

para o sucesso da lavoura. As promessas do governo do estado de fornecer

sementes não se consolidavam e, então, a cooperativa tomou a decisão estratégica

de produzir sua própria semente. Implantou, em 2007, com recursos próprios

auferidos nas suas transações comerciais de rícino com a empresa de biodiesel, um

campo de 106 ha aproveitando uma área irrigada no entorno do Rio São Francisco,

no município de Bom Jesus da Lapa.

Desafortunadamente houve dificuldade na condução do campo certificado,

devido à falta de capital de giro (resultado da crise mostrada anteriormente) de forma

que a produção, inicialmente estimada em 300 T, foi de apenas cerca de 200 t

(suficiente para plantar em cerca de 40.000 ha). A maior parte da produção foi

comercializada para a Petrobras que distribuiu as sementes nos estados do Ceará e

do Piauí. O preço de venda (ao redor de R$5,80/kg) foi suficiente para a geração de

capital e sustentação da cooperativa no ano de 2007, quando houve a depressão na

comercialização da mamona. Agora o campo está em seu segundo ciclo produtivo

(plantaram uma variedade, chamada de Paraguaçu que produz duas vezes) e a

expectativa de que finalizem a safra com cerca de 70 a 80 t que já está vendida para

a Petrobras ao preço de R$6,80/kg.

65

Para o beneficiamento da semente certificada, o MAPA exige que se disponha

de uma unidade apropriada, chamada de Unidade de beneficiamento de Sementes –

UBS. Como a cooperativa não dispõe de tal infra-estrutura, firmou parceria com uma

cooperativa do município de Irecê para o beneficiamento, pagando pelos serviços

prestados e estão em negociação para a prestação de serviços de armazenagem.

Para atender a demanda da próxima safra a cooperativa já está implantando 80

ha. A cooperativa deverá em breve alterar seu estatuto de maneira a possibilitar que

o agricultor familiar direcione sua cota-parte especificamente para a produção de

sementes e possa, separadamente da comercialização de grãos, receber as sobras

financeiras desta atividade.

A EBDA considera que os campos de sementes da Coopaf são os melhores do

estado.

FIGURA 6. Galpão de Sementes da COOPAF –

Morro do Chapéu - BA

Na safra 2008-2009 100% dos agricultores associados receberam sementes

certificadas da cooperativa.

66

A Coopaf hoje procura ter acesso às variedades de ciclo curto desenvolvidas

pela Embrapa, pois a variedade tardia não permite que o agricultor faça o giro de

uso da terra com o gado. Outra motivação é baseada no entendimento de que é

preciso melhorar o nível tecnológico para que o agricultor possa ter a possibilidade

de colheita mecânica, necessária para se melhorar a escala de produção, otimizar a

mão-de-obra e ampliar a escala de produção dentro da propriedade familiar. A

Coopaf deseja fazer este up-grade tecnológico com a adoção de técnicas vivenciais

e implantação de unidades demonstrativas para a capacitação de técnicos,

lideranças e de agricultores. O esforço da cooperativa é no sentido de que o

agricultor familiar tenha acesso às melhores técnicas e materiais que possam

melhorar seu rendimento líquido da atividade e, com isto, promover a

sustentabilidade da produção.

3.4.4 A produção do girassol

O girassol foi introduzido em 2006, por estímulo da empresa de biodiesel

contratante, que fez a dotação de sementes hibridas e boro (um insumo fundamental

para o desempenho da cultura). A cooperativa plantou 300 ha próprios que, somado

ao cultivo com cerca de 300 agricultores familiares associados, chegou a uma área

de 3.500 ha. No período final de formação da flor ocorreu, no campo da Coopaf, uma

semana de chuva extemporânea que acabou por apodrecer a planta, causando

significativa perda. A condução da lavoura pelos agricultores familiares teve toda a

sorte de problemas, pois os agricultores não dispunham de tecnologia mínima que a

cultura exige, tais como disco de plantio adequado, ferramenta para a aplicação do

boro (muitos simplesmente não aplicaram) e, mais importante, não tinham nenhum

67

conhecimento da cultura. Deste plantio, resultou na comercialização de somente

325 t auferindo uma receita de R$ 164.000,00.

Do ponto de vista dos agricultores entrevistados, o girassol possui um nível

tecnológico muito acima dos padrões acessíveis à agricultura familiar local. A

colheita do girassol, por exemplo, era feita de forma manual, sendo muito laboriosa.

A Coopaf recuou da estratégia de fomentar a produção de girassol e

compreende hoje que a introdução de uma nova cultura agrícola é um processo

gradual e crescente, que necessita de implantação de uso de técnicas de

transferência de tecnologia, tal como campos demonstrativos, com capacitação dos

envolvidos. Entende-se que qualquer frustração em lavouras novas leva a uma

absoluta incredulidade da agricultura familiar, sendo muito difícil ganhar novamente

a confiança do agricultor.

FIGURA 7. Plantações de girassol na região de Irecê – BA

– Janeiro de 2009

68

3.4.5 Outras atividades

Somente na fase inicial a Coopaf fomentou a produção de feijão por seus

associados, mas não se envolveu no processo de comercialização que ficou por

conta dos atravessadores da região de Irecê, uma tradicional produtora. O feijão é

um produto de uma maior liquidez de mercado regional e há muitos compradores,

facilitando sobremaneira o escoamento da produção familiar. Nas últimas safras,

entretanto, o feijão vem se mostrando mais sensível às sucessivas secas na região o

que está deprimindo a renda da agricultura familiar.

A Coopaf tenta iniciar sua participação na cadeia produtiva do sisal pela

incorporação dos agricultores da região produtora (mais de 5.000 ha em Morro do

Chapéu), mas não obteve êxito até o momento por dificuldades de criar canais de

comercialização.

A Coopaf atua no Programa de Aquisição de Alimentos na modalidade de

doação simultânea. Esta modalidade do Programa de Aquisição de Alimentos - PAA

também conhecida por Compra Direta Local – CDLAF ou Compra Antecipada

Especial com Doação Simultânea – CAEAF tem como objetivos a garantia do direito

humano à alimentação para pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade

social e/ou de insegurança alimentar; o fortalecimento da agricultura familiar; a

geração de trabalho e renda no campo e a promoção do desenvolvimento local por

meio do escoamento da produção para consumo, preferencialmente, na região

produtora.

O mecanismo utilizado pelo MDS para a execução do Programa é a celebração

de convênios com os governos estaduais, municipais e com a Companhia Nacional

do Abastecimento – CONAB com repasse de recursos financeiros aos convenentes,

69

os quais assumem a responsabilidade pela sua operacionalização. Os produtos

elegíveis são gêneros alimentícios oriundos da agricultura familiar próprios para

consumo humano, incluindo alimentos perecíveis e característicos dos hábitos

alimentares locais.

Por este programa a Coopaf fez a comercialização para cerca de 1.000

famílias, envolvendo sete produtos como o mel, farinha de mandioca, e biju. Esta

transação não aufere nenhuma receita para a cooperativa, contudo, permite o

acesso da agricultura familiar ao instrumento de política pública.

70

4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Este capítulo tem como objetivo a análise dos aspectos propostos nos objetivos

desta pesquisa, abordando os impactos ambientais, econômicos e sociais na

cooperativa, bem como avaliar as políticas do PNPB na COOPAF onde pretende-se

responder o questionamento inicial.

4.1 AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DO PROJETO

A discussão sobre o impacto ambiental da expansão dos plantios de rícino,

ainda ocorre de forma controversa. A maior preocupação é a expansão do rícino

através de monoculturas, o que poderia levar para outras áreas, os problemas que

hoje podem ser observados na região de Irecê –BA, inclusa na área de abrangência

da Coopaf, na qual o rícino é a principal fonte de renda dos agricultores familiares há

muitos anos. Nesta região percebe-se um avanço da degradação e compactação

dos solos, que não suportam mais a utilização excessiva de máquinas e insumos. O

Governo Federal está apoiando iniciativas e projetos que introduzem novos pacotes

tecnológicos, ecologicamente sustentáveis, que irão servir de modelo para novos

pólos de produção do rícino. Um elemento central deste novo pacote é a

substituição da monocultura por consórcios e rotação de culturas.

Contudo, a ação da Coopaf junto aos agricultores já resultou na adoção de

melhores práticas agrícolas, refletindo-se num incremento de produtividade de mais

de 25% na safra 2008/2009 em relação às safras anteriores à existência da

cooperativa. Isto foi devido praticamente à adoção de melhores práticas de manejo,

já que não houve, até o momento, possibilidade de melhoria dos solos por meio da

descompactação e da adubação. Houve também um aumento da área plantada de

71

23% na safra 2008/2009 em relação à safra 2005/2006 no estado da Bahia, segundo

levantamentos de safra realizados pela Conab.

No âmbito da agricultura familiar, o plantio mecanizado, com utilização de

insumos químicos, encontra seus limites à monocultura no tamanho reduzido das

propriedades e nas condições de solo e clima. Na sua grande maioria, os

agricultores familiares plantam o rícino, nas áreas menos férteis de suas

propriedades. Nestas áreas, os pacotes tecnológicos praticados, contribuem com a

recuperação de solos, antes sujeitos ao processo de desertificação. Assim, outro

impacto ambiental, e econômico, positivo foi que antes da criação da cooperativa a

casca do rícino era queimada para “limpar o terreno”, mas depois, com a orientação

técnica da Coopaf, passou a ser reincorporada ao solo.

Desafortunadamente, a torta de rícino, um adubo orgânico, obtida do processo

industrial de extração do óleo, não tem sido devolvida à propriedade o que poderia

ser muito bom devido a sua alta fertilidade. O preço da torta de rícino experimentou

expressivas altas com o advento do programa do biodiesel, passando de cerca de

R$280,00/t em 2006 para R$410,00/t em 2008 e contribui positivamente para as

receitas das indústrias.

4.2 AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS ECONÔMICOS

Para realizar a avaliação dos impactos econômicos, recorreu-se aos

indicadores econômicos que segundo o portal discoveryarticles.com do ministério de

desenvolvimento econômico são grandezas de caráter econômico expressos em

valor numérico onde algumas das principais utilidades são por exemplo: Aferição dos

níveis de desenvolvimento de países, regiões, empresas podendo naturalmente

72

fazer-se a comparação entre estas; compreender, informar e prever o

comportamento de uma economia; ajuizar a política econômica do governo. Entre

os principais indicadores econômicos estão: A geração de emprego, os índices de

preços e consumo, volume de capital injetados no mercado através de bancos de

fomento, renda individual ou familiar.

A entrada da Coopaf, com um novo paradigma negocial, apesar dos problemas

enfrentados no primeiro momento, tem feito com que os atravessadores venham

perdendo espaço na competição pela produção da agricultura familiar. A expectativa

é de que, no futuro, os atravessadores não poderão fazer frente aos “pacotes” de

incentivo da cooperativa e o caminho natural é de que a indústria ricinoquímica

procure a negociação entre as partes, envolvendo a organização sindical com vistas

a migrarem para uma relação direta e vantajosa para ambas as partes. Este novo

cenário, desenhado pela cooperativa que soube aproveitar o ferramental oferecido

pelo PNPB, pode ser observado na mudança dos patamares de preços ao produto

para todos os agricultores e não somente aqueles associados à cooperativa ou para

os contratados das empresas de biodiesel, conforme se pode observar abaixo.

Gráfico 4. Evolução dos preços do rícino na Bahia.

Fonte: Seagri-BA e MDA

73

Do lado da produção do biodiesel não é possível fazer inferições a respeito da

sua economicidade, visto que o biodiesel brasileiro, até o momento, vem sendo

produzido basicamente a partir de óleo de soja. A produção industrial do biodiesel de

rícino indubitavelmente é mais cara do que o de soja, por exemplo. Isto porque a

reação química é mais lenta e o processo de separação do metanol é mais difícil. O

produto final, obtido a partir do biodiesel puro, não atende especificações técnicas

nos quesitos viscosidade e densidade devido a características intrínsecas de seu

óleo (Ministério de Minas e Energia, 2008). Se produzido em mesclas com outros

óleos, como o de soja, até o nível de 20% os padrões de qualidade são plenamente

atendidos.

O que pouco se comenta são as qualidades deste biodiesel em

complementaridade àqueles produzidos de outras oleaginosas. A exemplo do

biodiesel de rícino que pode melhorar a especificar o biodiesel de óleo de palma no

quesito ponto de congelamento, essencial para uso em países frios. Assim como em

mistura com o biodiesel de soja o coloca dentro dos padrões de qualidade

requeridos pelo mercado europeu (CARMÉLIO, 2008).

O biodiesel de rícino também melhora a lubricidade do diesel de petróleo o que

contribui para manutenção da vida útil dos motores. Quando o diesel é submetido ao

processo de desulfuração, que visa retirar o enxofre do produto a níveis seguros

para a saúde humana, há a necessidade de recompor a lubricidade perdida no

processo, o que pode ser feito com aditivo ou com o próprio biodiesel de rícino. De

fato, mesmo ressaltando que são necessárias pesquisas para delimitar este

potencial e níveis de uso, pesquisadores como o Prof. Paulo Suarez, responsável

pelo Laboratório de materiais Combustíveis do Departamento de Química da

Universidade de Brasília, acreditam que empregado no diesel, em nível de até 1%, o

74

0100020003000400050006000

2005 2006 2007 2008 1 sem2009

biodiesel de rícino poderia devolver a lubricidade necessária ao diesel sem

comprometer outros parâmetros físico-químicos como a viscosidade e a densidade.

Ou seja, o biodiesel de rícino é um aditivo por excelência, mas esta característica

não tem sido considerada para melhoria dos combustíveis nem tampouco para

diferenciar a sua produção a partir das matérias-primas do Nordeste.

Visando melhorar ainda mais estes indicadores, a assistência técnica da

Coopaf tem melhorado consideravelmente e vem acompanhando a evolução do

número de famílias cooperadas à organização. A qualidade dos solos, pela adoção

de práticas mais sustentáveis, o que contribuirá para a sustentabilidade econômica

das famílias no longo prazo.

Gráfico 5 Evolução da Assistência Técnica prestada aos agricultores

familiares. Fonte: COOPAF/2009

Conforme o gráfico acima, percebe-se uma evolução considerável na

assistência técnica prestada aos agricultores familiares. Conseqüência disto é a

melhora constante na qualidade do produto final á comentado anteriormente. Um

dado bastante relevante é justamente que todo cooperado tem assistência técnica

personalizada, contribuindo assim para o desenvolvimento econômico e sustentável

75

0100020003000400050006000

2005 2006 2007 2008 1 sem2009

Famílias Enolvidas Números de Financiamentos

de toda a região de abrangência da Coopaf, além de visar exportações de matérias

prima para o mercado Europeu.

Diante dos vários incentivos para o desenvolvimento econômico da região,

mesmo que discreta, a participação do pronaf vem contribuindo para o aumento da

produção do rícino. Desde o início do projeto, o programa nacional do fortalecimento

da agricultura familiar vem financiando cerca de 20% do montante de famílias

envolvidas neste projeto. Conforme gráfico abaixo, percebe-se que no ano de 2005,

530 financiamentos foram liberados para agricultores credenciados a coopaf, no na

seguinte, este número pulou para 660 financiamentos e em 2007 para 800 projetos.

Mesmo com a proposta dos 8.000 sócios até o final de 2009, a coopaf continua com

a sua meta de pelo que menos 20% dos projetos de expansão saiam do incentivo do

pronaf.

Gráfico 6 Evolução das famílias envolvidas X volume de

financiamentos adquiridos. Fonte: COOPAF/2009

Através de toda a análise da evolução da renda destas famílias associadas à

coopaf e de acordo com o gráfico a seguir pode se perceber uma evolução anual

relevante, haja vista que, no ano de 2005 as famílias cooperadas à COOPAF

obtinham uma renda mensal bruta de aproximadamente 1 (um) salário mínimo. Esta

76

R$0,00

R$200,00

R$400,00

R$600,00

R$800,00

R$1.000,00

2005 2006 2007 2008

renda era advinda do cultivo do feijão e segundo relato de produtores da região, mal

dava para alimentar as suas famílias, visto que para esta cultura não há uma safra

anual ininterrupta. Nos anos seguintes esta evolução de renda se deu de maneira

gradativa devido a contratos firmados com empresas de biodiesel que buscavam

obter o selo combustível social aqui mesmo no estado da Bahia. No ano de 2008,

por conta do novo decreto implementado pelo governo federal onde a mistura do

diesel passou de B2 para B3, a demanda por mamona aumentou

consideravelmente, elevando a renda destas famílias em quase 100% desde o início

do projeto.

Gráfico 7 Evolução da Renda das famílias cooperadas à COOPAF.

Fonte: COOPAF, 2009

4.3 AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS SOCIAIS

Segundo o Portal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, os

indicadores sociais são as próprias estatísticas sobre aspectos da vida de uma

nação que, em conjunto, retratam o estado social dessa nação e permitem conhecer

o seu nível de desenvolvimento social. Os Indicadores Sociais constituem um

sistema, isto é, para que tenham sentido, é preciso que sejam vistos uns em relação

77

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

2005 2006 2007 2008 1 sem/2009

aos outros, como elementos de um mesmo conjunto. Tal conjunto é composto por

informações sobre as características da população, sobre a dinâmica demográfica,

sobre trabalho e rendimento; sobre saúde, justiça e segurança pública, educação e

condições de vida das famílias.

No final do ano de 2004, ao iniciar as atividades visando atender as demandas

o PNPB, a Coopaf iniciou um grande “mutirão” de cadastramento de famílias que

tinham algum interesse em fornecer-lhes matéria prima. Naquela época, as famílias

da região viviam basicamente do cultivo do feijão e a mamona veio como uma

grande oportunidade de negócio para grande parte dos agricultores. No primeiro ano

de trabalho foram cadastradas 2.500 famílias que começavam a fornecer para a

Coopaf. No ano de 2006 com a entrada da Empresa Brasil Ecodiesel, grande

produtora de Biodiesel em todo pais, estes número foram aumentando

significativamente e o que era basicamente um complemento à renda mensal,

passou a ser um vetor de desenvolvimento social para 5.000 famílias de várias

regiões da Bahia até o primeiro semestre de 2009. Como já citado, a meta da

Coopaf é cadastrar 8.000 famílias ao final deste ano.

Gráfico 8. Número de Famílias Cooperadas a Coopaf.

Fonte: COOPAF/2009

78

0

200

400

600

800

1000

1200

2005 2006 2007 2008

Com o apoio das políticas públicas e sob um novo olhar do governo federal

acerca dos investimentos que foram feitos em toda a área de atuação da coopaf, os

níveis de educação também obtiveram um crescimento considerável em toda aquela

região. De acordo com o gráfico abaixo, pode perceber-se que no ano de 2005,

pouco mais de 400 jovens de famílias cooperadas à coopaf tinham acesso a

escolas. No último ano este número quase que triplicou devido ao desenvolvimento

de novos projetos, novas escola e a abertura de concursos públicos para

professores de nível estadual naquela região.

Gráfico 9. Número de jovens com acesso a escolas.

Fonte: COOPAF/2009

A Coopaf, apesar de todos os problemas enfrentados no conturbado mercado

da ricinoquímica, tem contribuído significativamente para o estabelecimento de um

mercado de rícino mais justo para a agricultura familiar, facilitando o escoamento da

produção a preços justos, apoiando no acesso a melhores técnicas agrícolas e

organizando a produção de forma a gerar escala para auferir melhores preços.

79

A cooperativa se mostra também como um canal para que os agricultores

tenham acesso a políticas públicas, a exemplo do Bolsa-Família, da doação de

caprinos e do programa de construção de casas populares, sendo este o principal

impacto social da atuação da Coopaf. Apesar disto, outras políticas públicas tais

como as de reordenamento fundiário, de inclusão digital e de escolas técnicas

agrícolas ainda não foram acessados na região.

4.4 AVALIAÇÃO DA POLÍTICA DO PNPB NO DESEMPENHO DA COOPERATIVA

Muitos são os aspectos de influência do PNPB no desempenho da cooperativa,

em particular, e do Nordeste em geral. A principal vantagem do PNPB foi a criação

de um mercado firme para a agricultura familiar que, pelo mecanismo do Selo

associado ao benefício tributário e ao acesso ao mercado, levou as empresas

responsáveis por mais de 95% da produção do combustível a saírem em busca da

produção familiar e se viram obrigadas a se estruturarem para a manutenção da

relação com este especial fornecedor.

O programa possibilitou tanto a relação direta da empresa de biodiesel com a

agricultura familiar quanto por meio de cooperativas e, com isto, a cadeia produtiva

do biodiesel se tornou ferramenta importante para a organização associativista,

especialmente na região Nordeste, onde o associativismo é visto com muita

desconfiança, mas a exemplo da Coopaf, no Ceará outra cooperativa de produção e

comercialização de oleaginosa, a Cooperbio, também foi fundada com apoio da

organização sindical. Hoje existem mais de 40 cooperativas da agricultura familiar

contratada e comercializando empresas de biodiesel com o Selo Combustível social

80

e muitas delas foram recentemente formadas, devido ao estímulo do programa, ou

ficaram fortalecidas com esta nova atividade ou mesmo ampliaram sua carteira de

negócios.

O processo de gestão e controle social, centrado nas organizações sindicais,

também se enquadra no conjunto de benefícios para a sustentabilidade da

agricultura familiar e do cooperativismo neste mercado. Em situações de desvios de

conduta das empresas, as organizações sindicais têm poder de atuar no sentido de

corrigir rumos e de orientar a agricultura familiar.

Por outro lado, o que se viu em três anos de mercado de biodiesel voluntário

(2005 a 2007) e um ano de mercado obrigatório (2008), foi uma composição

desigual de empresas, em relação aos seus arranjos produtivos com a agricultura

familiar, em igualdade de condições de concorrência em leilões. Ou seja, não houve,

até o momento, qualquer diferenciação referente a mercado para as empresas que

atuam com a agricultura familiar mais pobre do país que certamente possuem um

custo agrícola mais alto do que aquelas que se vincularam a agricultura familiar do

Sul que é altamente organizada. O mecanismo de leilões é muito positivo, mas falha

por dar um tratamento regional igualitário, tornando a competitividade das empresas

situadas no Nordeste menor do que as do sul. A afirmação parece paradoxal, pois

em 2007 as empresas do Nordeste foram as que venderam sua produção nos leilões

aos preços mais baixos e por isto tiveram os maiores volumes arrematados, mas o

resultado se refletiu em 2008 com uma incapacidade financeira de se manter e de

produzir biodiesel, expressa na queda da produção do biocombustível na Bahia. E,

como estas empresas que fomentaram a produção de rícino pela agricultura familiar

não produziram biodiesel desta matéria-prima, não puderam usufruir do benefício

tributário.

81

As diversas políticas públicas não foram direcionadas para o suporte à

agricultura familiar do Nordeste. Talvez o exemplo mais evidente seja o não acesso

dos agricultores da Coopaf ao crédito agrícola. A assistência técnica “oficial”

governamental se negou, na maior parte dos casos, de cooperar com o

desenvolvimento das oleaginosas pela agricultura familiar. Houve, portanto, uma

incompatibilidade entre a assistência técnica das instituições tradicionais e das

empresas em vez de uma complementaridade como seria desejável. O Ministério do

Desenvolvimento Agrário tem trabalhado arduamente neste processo de interação.

Apesar do conhecimento tecnológico sobre a cultura do rícino, este

conhecimento não tem sido colocado a serviço da agricultura familiar envolvida no

biodiesel no Nordeste nem dos técnicos. As ferramentas de transferência de

tecnologia, como dias de campo, implantação de unidades demonstrativas e práticas

vivenciais não têm sido empregados de forma sistemática no Nordeste de maneira a

dificultar ainda mais a evolução da região.

82

CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES

CONCLUSÃO

A recente experiência da Coopaf mostra que o cooperativismo é um caminho

para se suplantar as dificuldades estruturais e de mercado de regiões deprimidas,

como é o caso do semi-árido da Bahia. Este trabalho mostra que a cooperativa se

orientou com base na política pública desenhada na cadeia produtiva do biodiesel

que foi direcionada para favorecer o acesso dos agricultores ao mercado e à

assistência técnica.

Embora a experiência do Brasil com a inclusão social da agricultura familiar no

biodiesel seja recente, os elementos apresentados mostram que há boas

potencialidades para, de fato, contribuir para a redução das desigualdades sociais.

Tão importante quanto o desenho de arcabouço legal bem definido e com regras

claras é a capacidade de gestão do programa o que exige identificação das causas

dos problemas e a sua rápida correção em todos os elos da cadeia produtiva.

A agroindustrialização da produção da agricultura familiar é um alvo no médio

prazo, mas o cuidado dos formuladores de políticas públicas e dos agentes de

desenvolvimento precisa ser no sentido de que cada etapa seja cumprida e

aprendida. Como se pode observar no caso da Coopaf, o principal desafio da

cooperativa foi, e continua a ser, a organização da base produtiva e o acesso dos

agricultores a melhores práticas agrícolas para sua estruturação no mercado. O ideal

de produção de óleo para o mercado ainda é muito distante, haja vista não haver

escala suficiente para isto. A doação de equipamentos para a extração de óleos,

uma prática muito comum no Brasil e, supõe-se, em outros países subdesenvolvidos

ou em desenvolvimento, em nada contribui com a sustentabilidade dos agricultores

83

familiares e de suas cooperativas, exceto se já estiverem em um alto nível de

organização e de profissionalismo na gestão de negócios e na comercialização. O

que se defende é de que a sustentabilidade econômica se dá pelo acesso ao

mercado e, quanto mais se avança nas cadeias produtivas, maior é o requerimento

de especialização para a atividade. Neste trabalho, buscou-se identificar os

impactos causados pelo Programa Nacional da Produção do Biodiesel nas

Cooperativas de Biocombustíveis. Constatou-se, então, que diversos são os fatores

que impactam no processo de gestão das cooperativas de biocombustíveis. Entre os

mais relevantes estão os impactos econômicos, Impactos sociais, impactos políticos

e impactos ambientais. Analisou-se também a inserção da agricultura familiar na

cadeia do biodiesel. Percebeu-se que, através do Selo Combustível Social,

concedido aos produtores de biodiesel que adquirem as matérias primas da

agricultura familiar, atribuindo redução parcial ou total dos tributos federais. Desta

forma, as cooperativas de Biocombustíveis entraram fortalecidas no projeto, por

serem parte integrante no processo de incentivo aos grandes produtores em todo o

Brasi, inclusive, a região Nordeste.

Buscou-se também avaliar os impactos, sociais, econômicos e ambientais do

Programa Nacional da Produção do Biodiesel na agricultura familiar nos últimos

quatro anos. Na análise dos impactos sociais, constatou-se que:

a) Houve a inserção de 5.000 famílias no Programa Nacional de Biodiesel

através do cadastramento sistematizado, gerando assim um desenvolvimento social

considerável para toda a região, visto que os indicadores sociais são estatísticas

sobre aspectos da vida de uma nação que, em conjunto, retratam o desenvolvimento

social.

84

b) O número de jovens com acesso a escolas triplicou, saltando de 400, para

pouco mais de 1.200 no último ano. Isso se dá por conta do novo olhar do governo

federal acerca dos investimentos que foram feitos em toda a área de atuação da

coopaf, os níveis de educação também obtiveram um crescimento em toda aquela

região.

A análise dos impactos econômicos, constatou que:

a) A evolução dos preços da mamona se deu de maneira gradativa seguindo a

evolução natural da economia nacional, enquanto os preços na região de Irecê,

oscilaram de maneira descontrolada. Isso se deu, pelo surgimento natural de

atravessadores na comercialização deste produto, por conta da demanda latente

criada pelo programa;

b) A assistência técnica acompanhou o aumento gradativo do número de

famílias nos últimos anos. Isso acabou impactando diretamente o produto final dos

agricultores. Todo cooperado passou a ter assistência técnica personalizada,

contribuindo assim para o desenvolvimento econômico e sustentável de toda a

região de abrangência da Coopaf, além de visar exportações de matérias prima para

o mercado Europeu;

c) O Pronaf vem contribuindo diretamente para o aumento da produção da

mamona. Desde o início do projeto, o programa nacional do fortalecimento da

agricultura familiar vem financiando cerca de 20% do montante de famílias

envolvidas neste projeto. Atualmente, cerca de 1.000 famílias cooperadas tem

acesso ao credito através do PNPB.

85

Através da avaliação dos impactos ambientais pode-se constatar

a) Na região de abrangência da Coopaf percebe-se um avanço da degradação

e compactação dos solos, que não suportam mais a utilização excessiva de

máquinas e insumos, porém, o Governo Federal está apoiando iniciativas e projetos

que introduzem novos pacotes tecnológicos, ecologicamente sustentáveis, que irão

servir de modelo para novos pólos de produção do rícino. Um elemento central deste

novo pacote é a substituição da monocultura por consórcios e rotação de culturas;

b) Houve aumento de áreas plantadas, refletindo-se num incremento de

produtividade de mais de 25% na safra 2008/2009 em relação às safras anteriores à

existência da cooperativa. Isto foi devido praticamente à adoção de melhores

práticas de manejo, já que não houve, até o momento, possibilidade de melhoria dos

solos por meio da descompactação e da adubação. Houve também um aumento da

área plantada de 23% na safra 2008/2009 em relação à safra 2005/2006 no estado

da Bahia, segundo levantamentos de safra realizados pela Conab.

Por fim, este trabalho se propôs a analisar a política do PNPB no

desempenho da Cooperativa de Produtores da Agricultura Familiar, chegando as

seguintes constatações:

a) Houve a criação de um mercado firme para a agricultura familiar que, pelo

mecanismo do Selo Social associado ao benefício tributário e ao acesso ao

mercado, levou as empresas responsáveis por mais de 95% da produção do

combustível a saírem em busca da produção familiar e se viram obrigadas a se

estruturarem para a manutenção da relação com este especial fornecedor;

86

b) O processo de gestão e controle social, centrado nas organizações sindicais,

se enquadra no conjunto de benefícios para a sustentabilidade da agricultura familiar

e do cooperativismo neste mercado. Em situações de desvios de conduta das

empresas, as organizações sindicais têm poder de atuar no sentido de corrigir rumos

e de orientar a agricultura familiar.

Percebe-se, então, que os objetivos deste trabalho foram alcançados na

medida em que se identificou os impactos causados pelo Programa Nacional da

Produção do Biodiesel nas Cooperativas de Biocombustíveis, analisando a inserção

da agricultura familiar na cadeia do biodiesel, avaliando os impactos ambientais,

sociais e econômicos do Programa na agricultura familiar nos últimos quatro anos e,

por fim, Analisando a política do PNPB no desempenho da Cooperativa de

Produtores da Agricultura Familiar.

RECOMENDAÇÕES

Para a sobrevivência das cooperativas de biocombustíveis neste mercado

competitivo e dinâmico, o grande objetivo é a manutenção dos indicadores de

desenvolvimento sociais, econômicos e ambientais. Contudo para que estas se

solidifiquem neste cenário faz-se necessário que:

- Ofereçam cada vez mais assistência técnica aos seus cooperados, permitindo-

os acompanhar os avanços inerentes às metodologias de cultivo e plantio do

rícino;

87

- Busquem na gestão empresarial um aporte maior de organização e

competitividade através de um planejamento estratégico sistematizado, onde

possa ser realizada toda a análise do mercado de atuação da cooperativa;

- Estabeleçam objetivos e metas mensuráveis e tangíveis para os próximos 5

(cinco) anos, visto que há uma demanda latente pela produção de mamona pelas

grandes indústrias de biocombustíveis;

- Estabeleçam parcerias com prefeituras locais visando a aproximação da

agricultura familiar com os governos municipais, visando um maior

desenvolvimento tanto social quanto econômico nestes municípios;

- Realizem a análise dos aspectos sociais, econômicos e ambientais de forma

anual, pois, estes são fatores primordiais para o sucesso e crescimento

organizado das cooperativas de biocombustiveis;

Diante das limitações do presente trabalho, recomenda-se ainda estudos em

outras cooperativas de biocombustíveis no objetivo de tecer comparativos entre

diferentes realidades. Afinal, o Brasil é um país continental, onde para cada região

podem-se encontrar aspectos sociais, culturais, políticos, econômicos e até

demográficos bem diferenciados.

88

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93

APÊNDICE

94

PROGRAMA NACIONAL DA PRODUÇÃO DO BIODIESEL X

COOPERATIVAS: UM ESTUDO DE CASO COOPAF:

COOPERATIVA DE PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DA

AGRICULTURA FAMILIAR

Roteiro de entrevista aplicado na COOPAF

Entrevistador:

André Luiz Nascimento Kaercher

Questionamentos:

1. Quando foi fundada a COOPAF?

2. Como foi idealizada esta Cooperativa?

3. Quais os incentivos iniciais para a implementação da COOPAF?

4. Qual o objetivo inicial da COOPAF?

5. A COOPAF realizou algum planejamento estratégico para a sua implementação?

6. Qual a Missão da COOPAF? E a Visão de Futuro?

7. Qual a abrangência de atuação da COOPAF? Em quantos municípios atua?

8. A COOPAF possui um conselho social ativo? Por quem é composto?

9. Qual o perfil dos cooperados da COOPAF?

95

10. Qual era a renda mensal destes cooperados antes do PNPB?

11. Qual a renda atual destes cooperados?

12. Qual o número de famílias que fazem parte do projeto da COOPAF?

13. Qual a atividade principal da agricultura familiar na região de Morro do Chapéu?

14. Quais as oportunidades surgidas à COOPAF através do PNPB?

15. Quais eram as culturas cultivadas na região antes do PNPB?

16. E após o PNPB? Mantiveram-se essas culturas? Surgiram outras culturas?

17. Qual a atuação das famílias na agricultura? Qual o potencial de produção destas

famílias?

18. Existem consórcios de plantio nas propriedades das famílias cooperadas?

19. Quais os incentivos financeiros para a atuação da COOPAF no PNPB?

20. Existem linhas de crédito direcionadas ao Programa Nacional da Produção do

Biodiesel. A COOPAF aderiu a estas linhas? Como?

21. Qual a relação da COOPAF com os bancos de fomento?

22. O Governo Federal e Estadual prestam apoio técnico à Cooperativa?

23. Quais as dificuldades da COOPAF com a venda da matéria prima a empresas de

Biodiesel?

24. O Selo Combustível Social é realmente visto como oportunidade de negócios

para a agricultura familiar?

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25. Quais são os entraves para este processo?

26. Quais as maiores dificuldades enfrentadas pela COOPAF nestes anos de

PNPB?

27. Quais as estratégias para suplantar estas dificuldades?

28. A Coopaf já tentou o cultivo de outras culturas que não a mamona após o

lançamento do PNPB?

29. Em caso positivo, quais os resultados?

30. Qual a avaliação que a COOPAF faz destes quase cinco anos de PNPB?