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  1 DIREITO PENAL

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    DIREITO PENAL

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    CAPTULO VI NDICE GERAL

    CAPTULO I APLICAO DA LEI PENAL

    1 Princpio da Legalidade ............................................................................................07

    2 Lei Penal no Tempo ..................................................................................................07

    2.1 Princpios Adotados

    2.2 Hipteses de Conflitos de Leis Penais no Tempo

    2.3 Lei Excepcional ou Temporria

    2.4 Lei Penal em Branco e Conflito de Leis

    2.5 Tempo do Crime

    3 Lei Penal no Espao ..................................................................................................10

    3.1 Princpios Penais

    3.2 Princpio Utilizado no Brasil

    3.3 Lugar do Crime

    CAPTULO II TEORIA DO CRIME

    1 Conceitos de Crime ....................................................................................................11

    2 Classificao das Infraes Penais ...........................................................................12

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    2.1 Classificao Tripartida e Bipartida

    2.2 Crimes Doloso, Culposo e Preterdoloso

    2.3 Crimes Comissivo, Omissivo e Comissivo-Omissivo

    2.4 Crimes Instantneo e Permanente

    2.5 Crimes de Dano e de Perigo

    2.6 Crimes Material, Formal e de Mera Conduta

    2.7 Crimes Inissubjetivo e Plurissubjetivo 2.8 Crimes Unissubsistente e Plurissubsistente

    2.9 Crimes Comum, Prprio e de Mo Prpria

    2.10 Crimes de Ao nica, Ao Mltipla e de Dupla Subjetividade

    3 Sujeitos Ativo e Passivo .............................................................................................15 3.1 Sujeito Ativo 3.2 Sujeito Passivo 3.3 Objeto do Crime

    4 Fato Tpico ..................................................................................................................16

    4.1 Elementos do Fato Tpico

    4.2 - Teorias

    4.3 - Conduta

    4.4 - Resultado

    4.5 Nexo de Causalidade

    4.5 - Tipicidade

    5 Conflito Aparente e Normas .....................................................................................20

    5.1 Princpios Adotados

    6 Crime Doloso ..............................................................................................................21

    6.1 Conceito

    6.2 Teorias sobre o Dolo

    6.2 - Teoria Adotada no Brasil

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    6.3 - Espcies de Dolo

    7 Crime Culposo .........................................................................................................22

    7.1 Cuidado Objetivo

    Previsibilidade

    7.2 Elementos do Fato Tpico Culposo

    7.3 Imprudncia, Negligncia e Impercia

    7.4 Espcies de Culpa Crime Preterdoloso

    8 Antijuridicidade .........................................................................................................25 8.1 Causas Excludentes de Antijuridicidade

    9 Culpabilidade .............................................................................................................30

    9.1 Teorias da Culpabilidade

    9.2 Elementos da Culpabilidade

    9.3 Clusulas Excludentes da Imputabilidade

    10 Concurso de Pessoas ................................................................................................34

    10.1 Previso Legal

    10.2 Requisitos Essenciais

    10.3 Teorias Existentes

    10.4 Participao

    CAPTULO III SANO PENAL

    1 Conceito de Pena ........................................................................................................40

    2 Princpios Fundamentais ...........................................................................................40

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    2.1 Princpio da Legalidade ou da Reserva Legal

    2.2. Princpio da Anterioridade da Lei

    2.3 Princpio da Aplicao da Lei mais Favorvel

    2.4 Princpio da Individualizao da Pena

    2.5 Princpio da Necessidade Concreta da Pena

    2.6 Princpio da Humanidade

    2.7 Princpio da Impessoalidade da Pena

    2.8 Princpio da Suficincia da Pena

    2.9 Princpio da Proporcionalidade

    3 Classificao das Penas ..............................................................................................42

    4 Sistemas Penitencirios ..............................................................................................43

    4.1 Sistema da Filadlfia, Pensilvnia, Blgica ou Celular

    4.2 Sistema Auburniano Nova Iorque

    4.3 Sistema Progressivo Ingls e Irlands

    5 Aplicao da Pena ......................................................................................................44

    5.1 Circunstncias do Crime

    5.2 Requisitos

    5.3 Perodo de Prova

    5.4 Circunstncias Judiciais

    6 Fixao da Pena ..........................................................................................................46

    6.1 Momento Judicial da Fixao da Pena

    6.2 Juzo de Culpabilidade

    6.3 Clculo da Pena

    6.4 Concurso de Circunstncias Atenuantes e Agravantes

    7 Suspenso Condicional da Pena ................................................................................48

    7.1 Formas

    7.2 Requisitos

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    7.3 Perodo de Prova

    7.4 Condies

    2.8 Revogao do Sursis

    2.9 Cassao do Sursis

    2.10 Restabelecimento do Sursis

    8 Livramento Condicional ............................................................................................51

    8.1 Requisitos

    8.2 Condies

    8.3 Procedimento

    8.4 Conselho Penitencirio

    8.5 Revogao

    9 Medida de Segurana .................................................................................................54

    9.1 Pressupostos

    9.2 Espcies

    9.3 Sistema Vicariante

    10 Extino da Punibilidade .........................................................................................55

    10.1 Conceito

    10.2 Causas

    10.3 Efeitos

    10.4 Rol Exemplificativo

    CAPTULO IV EXAMES DA OAB ............................................................................56

    CAPTULO V BIBLIOGRAFIA .................................................................................68

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    CAPTULO I APLICAO DA LEI PENAL

    1. PRINCPIO DA LEGALIDADE Previsto no art. 5, XXXIX, da Constituio Federal, o princpio da

    legalidadevem estampado no art. 1 do Cdigo Penal, que diz:

    Art. 1 No h crime sem lei anterior que o defina. No h pena sem prvia cominao legal.

    Atravs desse princpio ( "nullum crimen, nulla poena sine lege "}, ningum pode ser punido se no existir uma lei que considere o fato praticado como crime.

    Esse princpio tambm chamado de princpio da reserva legal,pois que a definio dos crimes e das respectivas penas deve ser dada apenas e exclusivamente por lei, excluindo qualquer outra fonte legislativa.

    Nos dizeres do mestre Cezar Roberto Bitencourt O princpio da legalidade ou da reserva legal constitui uma efetiva limitao ao poder punitivo estatal. Embora constitua hoje um princpio fundamental do Direito Penal, seu reconhecimento constitui um longo processo, com avanos e recuos, no passando, muitas vezes, de simples "fachada formal" de determinados Estados. Feuerbach, no incio do sculo XIX, consagrou o princpio da reserva legal atravs da frmula latina nullum crimen, nulla poena sine lege. O princpio da reserva legal um imperativo que no admite desvios nem excees e representa uma conquista da conscincia jurdica que obedece a exigncias de justia, que somente os regimes totalitrios o tm negado.

    Pode-se dizer que, pelo princpio da legalidade, a elaborao de normas incriminadoras funo exclusiva da lei, isto , nenhum fato pode ser considerado crime e nenhuma pena criminal pode ser aplicada sem que antes da ocorrncia desse fato exista uma lei definindo-o como crime e comi-nando-lhe a sano correspondente. A lei deve definir com preciso e de forma cristalina a conduta proibida.

    Sendo assim, o princpio da legalidade tem sua complementao no princpio da anterioridade("nullum crimen, nulla poena sine praevia lege "), eis que do teor do art. 1 do Cdigo Penal, decorre a inexistncia de crime e de pena sem lei anterior que os defina. Deve, assim, a lei estabelecer previamente as condutas consideradas criminosas, cominando as penas que julgar adequadas, a fim de que se afaste o arbtrio do julgador e se garanta ao cidado o direito de conhecer, com antecedncia, qual o comportamento considerado ilcito.

    2. LEI PENAL NO TEMPO

    A eficcia da lei penal no tempovem regulada pelo art. 2 do Cdigo Penal, que diz:

    Art. 2. Ningum pode ser punido por fato que a lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execuo e os efeitos penais da sentena condenatria.

    Pargrafo nico. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentena condenatria transitada em julgado.

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    Tambm a lei penal, como todas as demais leis do ordenamento jurdico, entra em vigor na data nela indicada. Caso no haja indicao na prpria lei, aplica-se o disposto no art. 1, caput, da Lei de Introduo ao Cdigo Civil, no qual est estabelecido o prazo de 45 (quarenta e cinco) dias aps a publicao oficial, para que a lei entre em vigor no Brasil.

    O prazo supra denominado de vacatio legis, ou seja, o perodo compreendido entre a publicao oficial da lei e sua entrada em vigor.

    Segundo o princpio do "tempus regit acum ", desde que a lei entra em vigor, at que cesse sua vigncia, rege todos os fatos abrangidos pela sua destinao.

    Em regra, a lei permanecer em vigor at que outra a modifique ou revogue, segundo o disposto no art. 2 da Lei de Introduo ao Cdigo Civil, a no ser que a lei se destine vigncia temporria.

    2.1. Princpios Adotados

    a) Irretroatividade da lei penal - h uma regra dominante em termos de conflito de leis penais no tempo. a da irretroatividadeda lei penal, sem a qual no haveria nem segurana nem liberdade na sociedade, em flagrante desrespeito ao princpio da legalidade e da anterioridade da lei, consagrado no art. 1a do Cdigo Penal e no art. 5, XXXIX, da Constituio Federal.O fundamento dessa proibio, a idia de segurana jurdica, que se consubstancia num dos princpios reitores do Estado de Direito, segun-do o qual as normas que regulam as infraes penais no podem modificar-se aps as suas execues em prejuzo do cidado.

    b) Retroatividade da Lei Penal - no conflito de leis penais no tempo, indispensvel investigar qual a que se apresenta mais favorvelao indivduo tido como infrator. A lei anterior, quando for mais favorvel, ter ultratividade e prevalecer mesmo ao tempo de vigncia da lei nova, apesar de j estar revogada. O inverso tambm verdadeiro, isto , quando a lei posterior for mais benfica, retroagir para alcanar fatos cometidos antes de sua vigncia.

    c) Ultra-atividade da Lei Penal - ocorre quando a lei nova, que revoga a anterior, passa a reger o fato de forma mais severa. A lei nova mais severa e no pode abranger fato praticado durante a vigncia da anterior mais benigna. Assim, a anterior mais benigna, mesmo revogada, aplicada ao caso, ocorrendo a ultra-atividade.

    2.2. Hipteses de Conflitos de Leis Penais no Tempo

    Existem quatro hipteses de conflitos de leis penais no tempo: a) "abolitio criminis", que ocorre quando a nova lei suprime normas incriminadoras anteriormente existentes, ou seja, o fato deixa de ser considerado crime; b) "novatio legis" incriminadora, que ocorre quando a nova lei incrimina fatos antes considerados lcitos, ou seja, o fato passa a ser considerado crime; c) "novatio legis in pejus ", que ocorre quando a lei nova modifica o regime penal anterior, agravando a situao do sujeito;

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    d) "novatio legis in mellius", que ocorre quando a lei nova modifica o regime anterior, beneficiando o sujeito.

    2.3. Lei Excepcional ou Temporria Conforme o que dispem o art. 3 do C.P. A lei excepcional ou temporria, embora decorrido o perodo de sua durao ou cessadas as circunstncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigncia. Lei Excepcional aquela que possui vigncia durante situao transitria emergencial, como nos casos de guerra, calamidade pblica, inundao etc. No fixado prazo de vigncia, que persistir enquanto no cessar a situao que a determinou.

    Lei Temporria, por sua vez, aquela que possui vigncia previamente determinada. Pode-se dizer que so leis auto-revogveis e so criadas para atender situaes anmalas.

    De acordo com a exposio de motivos do Cdigo Penal de 1940, o fundamento dessa regra "impedir que, tratando-se de leis previamente limitadas no tempo, possam ser frustradas as suas sanes por expedientes astuciosos no sentido do retardamento dos processos penais".

    Por outro lado, ressalte-se que a ultra-atividade das leis temporrias ou excepcionais no infringe o princpio constitucional da retroatividade da lei mais benfica, pois no h duas leis em conflito no tempo, tendo em vista que as leis excepcionais ou temporrias versam matria distinta, j que trazem no tipo dados especficos. A questo relaciona-se com lipicidade e no com direito intertemporal.

    Porm, pode ocorrer o surgimento de lei posterior excepcional ou temporria mais benfica, regulando a prpria situao anmala que determinou a vigncia da lei excepcional ou temporria, hiptese em que a nova lei retroagir.

    2.4 Lei Penal em Branco e Conflito de Leis

    Os princpios que regulam a sucesso da lei penal no tempo devem ser observados. Sero aplicadas as disposies do art.3 do CP quando a norma complementar ou integradora estiver ligada a uma circunstncia temporal ou excepcional, ou seja, a norma ter ultra-atividade.

    Exemplo: o art.269 do CP ("Deixar o mdico de denunciar autoridade pblica doena cuja notificao compulsria") uma lei penal em branco, haja vista que outra norma deve especificar seu contedo (elenco das doenas que devem ser denunciadas). Suponhamos que doena no denunciada pelo mdico seja retirada do elenco complementar, deixando de ser de notificao compulsria. Se a doena constava do elenco por motivo de temporariedade ou excepcionalidade, aplica-se a regra da ultra-atividade. Se a doena constava do elenco por motivo que no excepcional, o caso de retroatividade.

    2.5Tempo do Crime

    Art. 4. Considera-se praticado o crime no momento da ao ou omisso, ainda que outro seja o momento do resultado.

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    importante a fixao do tempo em que o delito se considera praticado para sabermos a lei que deve ser aplicada; para estabelecer a imputabilidade do sujeito ou mesmo para fixar o marco prescricional.

    So trs as teorias acerca do tempo do crime:

    a) Teoria da atividade: considera o momento da conduta (ao ou omisso), ainda que outro seja o momento do resultado. O CP adotou esta teoria (art.4). Funda-se no argumento de que o tempo do crime deve ser o tempo do ato de vontade do agente, uma vez que a lei penal destinada a agir sobre a vontade.

    b) Teoria do resultado: considera o momento da produo do resultado;

    c) Teoria mista: considera tanto o momento da conduta como o do resultado.

    3. LEI PENAL NO ESPAO

    Art 5 do C.P. Aplica-se a lei brasileira, sem prejuzo de convenes, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no territrio nacional.

    A importncia da questo relativa eficcia da lei penal no espao reside na necessidade de apresentar soluo aos casos em que um crime viole interesses de dois ou mais pases, ou porque a conduta foi praticada no territrio nacional e o resultado ocorreu no exterior, ou porque a conduta foi praticada no exterior e o resultado ocorreu no territrio nacional.

    3.1. Princpios Penais

    Existem cinco princpios mais importantes acerca da matria: a) Princpio da territorialidade, segundo o qual aplica-se a lei nacional ao fato praticado

    no territrio do prprio pas; b) Princpio da nacionalidade, tambm chamado de princpio da personalidade, segundo

    o qual a lei penal de um pas aplicvel ao seu cidado, independentemente de onde se encontre;

    c) Principio da defesa, tambm chamado de princpio real ou princpio da proteo, segundo o qual a lei do pas aplicada em razo do bem jurdico lesado, independentemente do local ou da nacionalidade do agente;

    d) Princpio da justia universal, tambm chamado de princpio da justia penal universal, princpio universal, princpio da universalidade da justia, princpio da competncia universal, princpio da represso universal, princpio da justia cosmopolita e princpio da universalidade do direito de punir, segundo o qual o agente deve ser punido onde se encontre, segundo a lei do pas onde esteja independentemente ou da nacionalidade do bem jurdico lesado;

    e) Princpio da representao, segundo o qual o crime praticado no estrangeiro deve ser punido por determinado pas, quando cometido em embarcaes e aeronaves privadas de sua nacionalidade, desde que no tenha sido punido no pas onde se encontrava.

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    3.2. Princpio Utilizado no Direito Penal Brasileiro O Brasil adotou o princpio da territorialidade como regra e os demais princpios

    como exceo, da seguinte forma: . Regra: princpio da territorialidade - art. 5 do Cdigo Penal; . 1a exceo: princpio da defesa - art. 7, I e 3, do Cdigo Penal; . 2a exceo: princpio da justia universal - art. 7, II, a, do Cdigo Penal; 3a exceo: princpio da nacionalidade - art. 7, II, b, do Cdigo Penal; 4a exceo: princpio da representao - art. 7, II, c, do Cdigo Penal.

    Assim sendo, o princpio adotado pelo Brasil denomina-se princpio da territorialidade temperada, uma vez que a regra da territorialidade prevista no art. 5 do Cdigo Penal no absoluta, comportando excees nos casos previstos em lei e em convenes, tratados e regras de direito internacional.

    3.3. Lugar do crime

    A perfeita caracterizao do lugar do crime necessria para a correta aplicao do princpio da territorialidade temperada.

    Trs teorias procuram solucionar o problema:

    a) Teoria da atividade - segundo a qual o local do crime aquele onde praticada a conduta criminosa (ao ou omisso);

    b) Teoria do resultado - segundo a qual o local do crime aquele onde ocorre o resultado;

    c) Teoria mista ou da ubiqidade o local do crime aquele onde ocorreu tanto a conduta quanto o resultado; esta teoria a adotada no Brasil, segundo o art. 6 do C.P..

    CAPTULO II TEORIA DO CRIME

    1. Conceitos de Crime

    a) Material (substancial): refere-se ao contedo do ilcito penal, com anlise da conduta danosa e sua conseqncia social. Assim, crime o "comportamento humano que, a juzo do legislador, contrasta com os fins do Estado e exige como sano uma pena" (Antolisei).

    b) Formal (formal sinttico): conceito sob o aspecto da contradio do fato norma penal. " toda ao ou omisso proibida pela lei sob ameaa de pena" (Heleno Cludio Fragoso). "Todo fato humano proibido pela lei penal" (Giuseppe Bettiol).

    c) Analtico (dogmtico ou formal analtico): enfoca os elementos ou equisitos do crime. O delito concebido como conduta tpica, antijurdica e culpvel (conceito tripartido,

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    teoria clssica ou tridimensional), ou apenas como conduta tpica e antijurdica. Pode ser considerado ainda como fato tpico, antijurdico e punvel abstratamente. d) Sintomtico:considera o crime como um comportamento humano que lesa ou ameaa bens jurdicos protegidos pela norma penal de forma que revela o ndice de periculosidade do agente.

    Importante atualmente o conceito de Roxin (teoria teleolgico-funcional e racional), segundo o qual o crime composto de trs requisitos: tipicidade, antijuridicidade e responsabilidade, sendo esta composta de culpabilidade e necessidade concreta de pena.

    2. Classificao das Infraes Penais

    2.1 Classificao tripartida e bipartida

    Conforme orientao do Professor Cezar Roberto Bitencourt, apesar das vrias classificaes existentes de crimes, analisaremos, sucintamente, aquelas que apresentam maior interesse prtico.

    Alguns pases, como Alemanha, Frana e Rssia, utilizam uma diviso tripartida na classificao das infraes penais, dividindo-as em crimes, delitos e contravenes, segundo a gravidade que apresentem. A diviso mais utilizada, porm, pelas legislaes penais, inclusive pela nossa, a bipartida ou dicotmica, segundo a qual as condutas punveis dividem-se em crimes ou delitos (como sinnimos) e contravenes, que seriam espcies do gnero infrao penal.

    Ontologicamente no h diferena entre crime e contraveno. As contravenes, que por vezes so chamadas de crimes-anes, so condutas que apresentam menor gravidade em relao aos crimes, por isso sofrem sanes mais brandas. O fundamento da distino puramente polttico-critninal e o critrio simplesmente quantitativo ou extrnseco, com base na sano assumindo carter formal.

    Com efeito,nosso ordenamento jurdico aplica a pena de priso, para os crimes, sob as modalidades de recluso e deteno, e, para as contravenes, quando for o caso, a de priso simples (Decreto-lei n. 3.914/41). Assim, o critrio distintivo entre crime e contraveno dado pela natureza da pena privativa de liberdade cominada.

    2.2 Crimes doloso, culposo e preterdoloso

    Essa classificao refere-se natureza do elemento volitivo caracterizador da infrao penal.

    Diz-se o crime doloso quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudncia, negligncia ou impercia (art. 18 do CP). Preterdoloso ou preterintencional o crime cujo resultado total mais grave do que o pretendido pelo agente. H uma conjugao de dolo (no antecedente) e culpa (no subseqente): o agente quer um minus e produz um majus.

    2..3 Crimes comissivo, omissivo e comissivo-omissivo

    O crime comissivo consiste na realizao de uma ao positiva visando um resultado tipicamente ilcito, ou seja, no fazer o que a lei probe. A maioria dos crimes previstos no Cdigo Penal e na legislao extravagante constituda pelos delitos de ao, isto , pelos delitos comissivos.

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    J o crime omissivo prprio consiste no fato de o agente deixar de realizar determinada conduta, tendo a obrigaojurdica de faz-lo; configura-se com a simples absteno da conduta devida, quando podia e devia realiz-la, independentemente do resultado.

    A inatividade constitui, em si mesma, crime (omisso de socorro). No crime omissivo imprprio ou comissivo por omisso, a omisso o meio atravs do qual o agente produz um resultado. Nestes crimes, o agente responde no pela omisso simplesmente, mas pelo resultado decorrente desta, a que estava, juridicamente, obrigado a impedir (art. 13, 22, do CP).

    2.4 Crimes instantneo e permanente

    Crime instantneo o que se esgota com a ocorrncia do resultado. Segundo Damsio, o que se completa num determinado instante, sem continuidade temporal (leso corporal). Instantneo no significa praticado rapidamente, mas significa que uma vez realizados os seus elementos nada mais se poder fazer para impedir sua ocorrncia. Ademais, o fato de o agente continuar beneficiando-se com o resultado, como no furto, no altera a sua qualidade de instantneo. Permanente aquele crime cuja consumao se alonga no tempo, dependente da atividade do agente, que poder cessar quando este quiser (crcere privado, seqestro). Crime permanente no pode ser confundido com crime instantneo de efeitos permanentes (homicdio, furto), cuja permanncia no depende da continuidade da ao do agente.

    2.5 Crimes de dano e de perigo

    Crime de dano aquele para cuja consumao necessria a supervenincia da leso efetiva do bem jurdico. A ausncia desta pode caracterizar a tentativa ou um indiferente penal, como ocorre com os crimes materiais (homicdio, furto, leso corporal). Crime de perigo aquele que se consuma com a simples criao do perigo para o bem jurdico protegido, sem produzir um dano efetivo. Nesses crimes, o elemento subjetivo o dolo de perigo, cuja vontade limita-se criao da situao de perigo, no querendo o dano, nem mesmo eventualmente.

    O perigo, nesses crimes, pode ser concreto ou abstrato. Concreto aquele que precisa ser comprovado, isto , deve ser demonstrada a situao de risco corrida pelo bem juridicamente protegido. O perigo s reconhecvel por uma valorao subjetiva da probabilidade de supervenincia de um dano. O perigo abstrato presumido juris et de jure. No precisa ser provado, pois a lei contenta-se com a simples prtica da ao que pressupe perigosa.

    2.6 Crimes material, formal e de mera conduta

    O crime material ou de resultado descreve a conduta cujo resultado integra o prprio tipo penal, isto , para a sua consumao indispensvel a produo de um dano efetivo. O fato se compe da conduta humana e da modificao do mundo exterior por ela operada.

    A no-ocorrncia do resultado caracteriza a tentativa. Nos crimes materiais a ao e o resultado so cronologicamente distintos (homicdio, furto).

    O crime formal tambm descreve um resultado, que, contudo, no precisa verificar-se para ocorrer a consumao. Basta a ao do agente e a vontade de concretiz-lo, configuradoras do dano potencial, isto , do eventus periculi (ameaa, a injria verbal). Afirma-se que no crime formal o legislador antecipa a consumao, satisfazendo-se com a

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    simples ao do agente, ou, como dizia Hungria, "a consumao antecede ou alheia-se ao eventus damni".

    Seguindo a orientao de Grispigni, Damsio distingue do crime formal o crime de mera conduta, no qual o legislador descreve somente o comportamento do agente, sem se preocupar com o resultado (desobedincia, invaso de domiclio).

    Os crimes formais distinguem-se dos de mera conduta afirma Damsio porque "estes so sem resultado; aqueles possuem resultado, mas o legislador antecipa a consumao sua produo". A lei penal se satisfaz com a simples atividade do agente. Na verdade, temos dificuldade de constatar com preciso a diferena entre crime formal e de mera conduta.

    2.7 Crimes unissubjetivo e plurissubjetivo

    Crime unissubjetivo aquele que pode ser praticado pelo agente individualmente que tambm admite o concurso eventual de pessoas , constituindo a regra geral das condutas delituosas previstas no ordenamento jurdico-penal.

    Crime plurissubjetivo, por sua vez, o crime de concurso necessrio, isto , aquele que por sua estrutura tpica exige o concurso de, no mnimo, duas pessoas. A conduta dos participantes pode ser paralela (quadrilha), convergente (adultrio e bigamia), ou divergente (rixa).

    2.8 Crimes unissubsistente e plurissubsistente

    O crime unissubsistente constitui-se de ato nico. O processo executivo unitrio, que no admite fracionamento, coincide temporalmente com a consumao, sendo impossvel, conseqentemente, a tentativa (injria verbal).

    Os delitos formais e de mera conduta, de regra, so unissubsistentes. Contrariamente, no crime plurissubsistente sua execuo pode desdobrar-se em vrios atos sucessivos, de tal sorte que a ao e o resultado tpico separam-se espacialmente, como o caso dos crimes materiais, que, em geral, so plurissubsistentes.

    2.9 Crimes comum, prprio e de mo prpria

    Crime comum o que pode ser praticado por qualquer pessoa (leso corporal, estelionato, furto).

    Crime prprio ou especial aquele que exige determinada qualidade ou condio pessoal do agente. Pode ser condio jurdica (acionista/; profissional ou social (comerciante); natural (gestante, me); parentesco (descendente etc.).

    Crime de mo prpria aquele que s pode ser praticado pelo agente pessoalmente, no podendo utilizar-se de interposta pessoa (falso testemunho, adultrio, prevaricao).

    A distino entre crime prprio e crime de mo prpria, segundo Damsio, consiste no fato de que, "nos crimes prprios, o sujeito ativo pode determinar a outrem a sua execuo (autor), embora possam ser cometidos apenas por um nmero limitado de pessoas; nos crimes de mo prpria, embora possam ser praticados por qualquer pessoa, ningum os comete por intermdio de outrem".

    2.10 Crimes de ao nica, de ao mltipla e de dupla subjetividade

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    Crime de ao nica aquele que contm somente uma modalidade de conduta, expressa pelo verbo ncleo do tipo (matar, subtrair).

    Crime de ao mltipla ou de contedo variado aquele cujo tipo penal contm vrias modalidades de condutas, e, ainda que seja praticada mais de uma, haver somente um nico crime (arts. 122, 180 e 234 do CP e 12 da Lei n. 6.368).

    Fala-se tambm em crimes de dupla subjetividade passiva, quando so vtimas, ao mesmo tempo, dois indivduos, como, por exemplo, a violao de correspondncia, no qual so sujeitos passivos remetente e destinatrio.

    Os crimes tentado, consumado, exaurido, putativo, impossvel, habitual, falho e de ensaio foram definidos no captulo da tentativa.

    3. SUJEITO ATIVO E PASSIVO

    3.1 Sujeito Ativo O sujeito ativo pode ser tanto quem realiza o verbo tpico ou possui o domnio finalista

    do fato como quem de qualquer forma concorre para o crime.

    A Constituio Federal admitiu a responsabilizao penal da pessoa jurdica nos artigos 173, 5 e 225, 3. Regulamentando as disposies constitucionais foi editada a Lei 9.605/98 que trouxe expressamente em seu texto a possibilidade da pessoa jurdica ser sujeito ativo de infrao penal (art. 3).

    Porm, grande parte da doutrina contrria idia de responsabilizao penal da pessoa jurdica, argumentando que: o direito penal moderno se funda nos princpios da culpabilidade e da personalidade das penas; no se pode reconhecer a responsabilidade sem culpa ou por fato de terceiro; a pessoa jurdica incapaz de voluntariamente realizar conduta e atender s exigncias subjetivas da tipificao, de forma que no poder ser intimidada ou reeducada.

    Em sentido oposto, argumenta-se que deve haver desapego teoria do delito tradicional, pois a idia de punio da pessoa jurdica manifestamente incompatvel com essa teoria e, em especial, com a noo de culpabilidade individual. Argumenta-se que a responsabilizao penal h de ser associada responsabilidade social (capacidade de atribuio e exigibilidade) da pessoa jurdica. Assim, deve ser criado um novo edifcio dogmtico para disciplinar a efetiva tulela penal do direito ambiental, sobretudo para tornar eficaz a responsabilizao da pessoa jurdica.

    3.2 Sujeito Passivo No que tange ao sujeito passivo, distingue-se em: a) material ou eventual: titular do bem jurdico violado ou ameaado; b) formal ou constante: titular do mandamento proibitivo, ou seja, o Estado.

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    O Estado pode ser sujeito passivo eventual. A pessoa jurdica pode figurar corno sujeito passivo em alguns crimes. O morto no pode ser sujeito passivo, pois no titular de direitos. Considera-se prejudicado aquele que sofreu algum prejuzo com a prtica do delito. Ningum pode ser ao mesmo tempo sujeito ativo e passivo diante de sua prpria conduta.

    3.3 Objeto do Crime

    a) objeto jurdico: bem ou interesse tutelado pela norma. Exemplos: no crime de homicdio a vida; no crime de furto o patrimnio;

    b) objeto material: pessoa ou coisa atingida pela conduta criminosa. Pode haver crime sem objeto material, como na hiptese de falsotestemunho. Exemplos: no crime de homicdio oobjeto material a pessoa; no crime de furto a coisa subtrada.

    4. FATO TPICO

    4.1 Elementos do Fato Tpico

    So considerados elementos do fato tpico:

    1 conduta;

    2 resultado;

    3 nexo causal;

    4 tipicidade.

    Esses elementos podem ser desdobrados segundo a concepo de sistema criminal. O Cdigo Penal adotou o sistema finalista. No entanto, esse sistema vem sofrendo mudanas ao longo do tempo. Compare:

    4.2 Teorias

    a - Teoria Finalista (antes)

    1) conduta humana voluntria (dolosa ou culposa) 2) resultado naturalistico (nos crimes materiais) 3) nexo de causalidade (entre a conduta e o resultado naturalstico) 4) tipicidade formal

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    b - Teoria Finalista (atual)

    l ) conduta humana voluntria (dolosa ou culposa) 2) resultado naturalstico (nos crimes materiais) 3) nexo de causalidade (entre a conduta e o resultado naturalistico) 4) tipicidade formal e material

    4.3 Conduta

    a exteriorizao da vontade humana. No devemos confundir conduta com ato, sendo que em uma nica conduta pode haver vrios atos. A conduta o comportamento humano consistente em uma ao ou omisso, consciente e voltada a uma finalidade (teoria finalista da ao).

    Existem vrias teorias a respeito da conduta, podendo ser destacadas: a) Teoria naturalista (lambem conhecida por teoria causalista, teoria causai da ao,

    teoria tradicional ou teoria clssica), segundo a qual a conduta um comportamento humano voluntrio, no mundo exterior (fazer ou no fazer), sem qualquer contedo valorativo.

    b) Teoria social (tambm conhecida por teoria normativa, teoria da adequao social ou teoria da ao socialmente adequada), segundo a qual a ao nada mais que a realizao de uma conduta socialmente relevante. A vontade estaria situada na culpabilidade.

    c) Teoria finalista, segundo a qual todo comportamento humano finalista, ou seja, toda conduta voluntria e dirigida a um determinado fim.

    A condutaapresenta duas formas:

    a) ao, que a atuao humana positiva voltada a uma finalidade; b) omisso, que a ausncia de comportamento, a inatividade. A omisso penalmente relevante quando o emitente devia e podia agir para evitar o

    resultado. No art. 13, 2, do Cdigo Penal, esto dispostas as hipteses em que o omitente tem o

    dever de agir.

    So elas: a) quando tenha por lei obrigao de cuidado, proteo ou vigilncia (Ex.: dever dos pais

    de cuidar dos filhos); b) quando, de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado ( a

    chamada situao de garante, onde o agente encontra-se em uma posio que o obriga garantir o bem jurdico tutelado do sujeito passivo. Ex.: mdico que presta servio em pronto-socorro; enfermeira contratada para cuidar de um doente; tutor em relao ao tutelado etc.);

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    c) quando, com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrncia do resultado (aqui tambm ocorre a chamada situao de garante. Ex.: o instrutor de pra-quedismo em relao aos alunos).

    Crimes omissivos prprios

    So aqueles que ocorrem com a mera conduta negativa do agente, independentemente de qualquer outra conseqncia. So tambm chamados de omissivos puros.

    Nesses crimes, a norma penal determina, implicitamente, que o sujeito atue positivamente, incriminando a lei penal o comportamento negativo. Ex.: art. 135, CP - omisso de socorro (a conduta incriminada pela lei "deixar de prestar assistncia", eis que a norma estabelece o dever de prestar assistncia).

    Crimes omissivos imprprios

    So aqueles em que a conduta comissiva (ao), mas o agente os pratica atravs da absteno dessa atuao. Deve o agente, nesses casos, conforme j foi dito anteriormente, ter o dever de agir para evitar o resultado, segundo as hipteses elencadas no art. 13, 2, do Cdigo Penal. Ex.: homicdio (me que, desejando matar o filho, priva-o de alimentos). Esses crimes so tambm chamados de comissivos por omisso.

    Caso fortuito e fora maior

    Caso fortuito aquele que ocorre de modo inevitvel, imprevisvel, sem a vontade do agente, que no age com dolo ou culpa. Ex.: problema mecnico apresentado pelo veculo, fazendo com que o motorista, sem condies de control-lo, atropele e mate um transeunte.

    Fora maior pode ser caracterizada pela influncia inafastvel de uma ao externa. Ex.: coao fsica irresistvel.

    Na presena de caso fortuito e fora maior inexiste fato tpico.

    4.4 Resultado

    O resultado outro elemento integrante do fato tpico. Duas teorias procuram explicar a natureza jurdica do resultado: a) Teoria naturalstica, segundo a qual resultado toda modificao do mundo

    exterior provocada pelo comportamento humano voluntrio. Da decorre a classificao, dos crimes em materiais, formais e de mera conduta.

    b) Teoria jurdica ou normativa, segundo a qual o resultado a leso ou perigo de leso de um interesse protegido pela norma penal.

    Resultado, na praxe jurdica, sinnimo de evento. Alguns autores, entretanto, sustentam que evento qualquer resultado, independentemente da conduta de algum (Ex.: incndio provocado por um raio), enquanto que resultado a conseqncia de uma conduta humana (Ex.: morte por disparo de arma de fogo efetuado por algum).

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    4.5 Nexo de causalidade

    Nexo de causalidade, tambm chamado de nexo causal ou relao de causalidade, o eloque existe entre a conduta e o resultado. a relao de causa e efeito existente entre a ao ou omisso do agente e a modificao produzida no mundo exterior.

    O nexo de causalidade integra o fato tpico, pois existe a necessidade de se verificar se o resultado ou no imputvel ao agente, ou seja, se foi o agente que deu causa ao resultado criminoso.

    Existem vrias teorias que estudam a ao e a omisso como causas do crime, dentre as quais podemos citar:

    a) Teoria da Causalidade Adequada, segundo a qual a causa a condio mais adequada a produzir o evento. Baseia-se essa teoria no critrio de previsibilidade do que usualmente ocorre na vida humana;

    b) Teoria da Eficincia, segundo a qual a causa a condio mais eficaz na produo do evento.

    c) Teoria da Relevncia Jurdica, segundo a qual a corrente causai no o simples atuar do agente, mas deve ajustar-se s figuras penais, produzindo os resultados previstos em lei;

    d) Teoria da Equivalncia dos Antecedentes ou Teoria da conditio sine qua non, que foi adotada pelo nosso sistema penal.

    4.6 Tipicidade

    Tipicidade formal a conformidade entre o fato praticado e o tipo.Em outras palavras, a adequao do

    fato ao tipo penal. A tipicidade a caracterstica que tem uma conduta em razo de estar adequada a um tipo penal, ou seja, individualizada como proibida por um tipo penal.

    O tipo um modelo abstrato de comportamento proibido. Ex.: Joo subtraiu para si o carro de Maria. Esse fato amolda-se ao art.155, caput, do CP (tipo penal): Maria matou Jos. Esse fato amolda-se ao art.121 do CP (tipo penal).

    A doutrina tradicional conceitua como tipos normais aqueles que possuem apenas elementos objetivos/objetivos-descritivos (item a abaixo). De outra parte, tipos anormais so aqueles que, alm dos elementos objetivos-descritivos, possuem elementos normartivos (item b abaixo) e/ou subjetivos especiais (item c abaixo).

    a) elementos objetivos ou objetivos-descritivos; descrevem os aspectos materiais da conduta, como objetos, animais, coisas, tempo, lugar, forma de execuo ou atos perceptveis pelos sentidos.

    b) elementos normativos ou objetivos-normativos: so descobertos por intermdio de um juzo de valor. Se expressam em termos jurdicos (funcionrio pblico, documento, cheque, duplicata etc), extrajurdicos ou em expresses culturais (decoro, pudor), e em referncia antijuridicidade (sem justa causa, indevidamente, sem autorizao legal etc).

    c) elementos subjetivos especiais (elementos subjetivos especiais do tipo ou elemento subjetivo do injusto): so dados ou circunstncias que se referem ao estado anmico do autor. O tipo impe uma finalidade especfica do agente. Indicam o especial fim ou

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    motivo de agir do agente. Ex.: para si ou para outrem; com o fim de obter; em proveito prprio ou alheio; para o fim; por motivo de; para fim libidinoso etc.

    Tipicidade material

    No basta a adequao tpica legal (tipicidade legal) para que ocorra o fato tpico, deve ainda ser analisada a ofensividade da conduta em relao ao bem jurdico, de sorte que quando for insignificante no haver tipicidade material (princpios da insignificncia e da ofensividade).

    No exemplo citado de tipicidade formal (Joo subtraiu para si o carro de Maria. Esse fato amolda-se ao art. 155, caput, do CP), houve a lesilo do bem jurdico, qual seja, o patrimnio. Assim, alm da tipicidade formal, caracteriza-se a tipicidade material (ofensa ao bem jurdico patrimnio).

    5. CONFLITO APARENTE DE NORMAS

    5.1 Princpios Adotados

    Na hiptese de determinado fato apresentar dificuldade para a correta adequao tpica, tendo em vista que aparentemente se mostra subsumido a mais de um tipo penal, surge o conflito aparente de normas. Assim, temos como pressuposto desse conflito a unidade de fato e apluralidade de normas. Para solucionar a questo, evitando o bis in idcm, so apontados quatro princpios:

    1) Principio da Especialidade Segundo Hungria, "uma norma penal se considera especial em relao a outra (geral)

    quando, referindo-se ambas ao mesmo fato, a primeira, entretanto, tem em conta uma particular condio (objetiva ou subjetiva) e apresenta, por isso mesmo, um plus ou um minus de severidade".

    Assim, a norma tida como especial quando acrescenta outras circunstncias (especializantes) em relao norma geral. Havendo a realizao da especializante, aplica-se a norma especfica. Observe-se que existe uma relao de gnero e espcie. Exs.: 1) infanticdio (especial) e homicdio (geral); 2) o tipo bsico gnero e a forma qualificada espcie, o que exclui o tipo bsico.

    2) Princpio da Subsidiariedade A norma subsidiria se trata de um crime autnomo com cominao de pena menos grave

    que o previsto em outra norma, chamada de primria. No entanto, a norma primria contm o crime autnomo descrito na norma subsidiria. A norma primria prevalece sobre a subsidiria.

    Segundo Hungria, "a diferena que existe entre especialidade e subsidiariedade que, nesta, ao contrrio do que ocorre naquela, os fatos previstos em uma ou outra norma no esto em relao de espcie a gnero, e se a pena do tipo principal (sempre mais grave que a do tipo subsidirio) excluda por qualquer causa, a pena do tipo subsidirio pode apresentar-se como "soldado de reserva" e aplicar-se pelo residuum.

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    3) Princpio da Conumao Neste princpioocorre a absoro de um delito por outro, pode ocorrer nos casos de:

    a) crime progressivo: o agente desde o incio de sua conduta possua a inteno de alcanar o resultado mais grave, de modo que seus atos violam o bem jurdico de forma crescente. As violaes anteriores ficam absorvidas. Ex.: para consumar o homicdio j houve a consumao do crime de leso corporal.

    h) crime complexo: ocorre quando as elementares de um tipo esto contidas em outra figura tpica, formando um tipo complexo. Resolve-se pela aplicao do princpio da especialidade ou da subsidiariedade tcita.

    4) Princpio da Alternatividade

    Aplica-se aos tipos mistos alternativos, isto , aqueles que descrevem crimes de ao mltipla. Assim, mesmo havendo vrias formas de conduta (mais de um verbo) no mesmo tipo, somente haver a consumao de um nico delito, independente da quantidade de condutas realizadas no mesmo contexto, (ex: art. 122 do CP). Na realidade, observa-se que no h conflito de normas, mas conflito dentro da prpria figura tpica.

    6. CRIME DOLOSO

    6.1 Conceito Segundo o disposto no art. 18 do Cdigo Penal, o crime doloso quando o agente quis

    o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.Dolo, segundo a teoria finalista da ao, o elemento subjetivo do tipo; a vontade de concretizar as caractersticas objetivas do tipo.

    2.11 Teorias sobre o dolo

    Existem trs teorias a respeito do contedo do dolo:

    a) Teoria da vontade, segundo a qual dolo a vontade de praticar uma ao consciente, um fato que se sabe contrrio lei.

    Exige, para sua configurao, que quem realiza a ao deve ter conscincia de sua significao, estando disposto a produzir o resultado.

    b) Teoria da representao, segundo a qual dolo a vontade de praticar a conduta, prevendo o agente a possibilidade do resultado ocorrer, sem, entretanto, desej-lo. suficiente que o resultado seja previsto pelo sujeito.

    c) Teoria do assentimento (ou do consentimento), segundo a qual basta para o dolo a previso ou conscincia do resultado, no exigindo que o sujeito queira produzi-lo. suficiente o assentimento do agente ao resultado.

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    6.3 Teoria adotada pelo Brasil

    O Brasil adotou, no art. 18, I, do Cdigo Penal, a teoria da vontade (para que exista dolo preciso a conscincia e vontade de produzir o resultado - dolo direto) e a teoria do assentimento (existe dolo tambm quando o agente aceita o risco de produzir o resultado - dolo eventual).

    6.4 Espcies de dolo a) dolo normativo: para a teoria clssica (naturalista ou causai da ao) ou dolo natural:

    para a teoria finalista da ao, adotada pelo Cdigo Penal, o dolo natural, ou seja, corresponde simples vontade de concretizar os elementos objetivos do tipo, no portando a conscincia da ilicitude. Assim, o dolo situado na conduta composto apenas por conscincia e vontade. A conscincia da ilicitude requisito da culpabilidade.

    b) tradicional, o dolo normativo, ou seja, contm a conscincia da ilicitude. O dolo situa-se na culpabilidade e no na conduta.

    c) dolo direto ou determinado: a vontade de praticar a conduta e produzir o resultado. d) dolo indireto ou indeterminado, ocorre quando a vontade do sujeito no se dirige a

    certo e determinado resultado;

    O dolo indireto possui duas formas:

    . dolo alternativo, quando a vontade do sujeito se dirige a um ou outro resultado, indiferentemente. Ex.: o agente desfere golpes de faca na vtima com inteno alternativa: matar ou ferir.

    . dolo eventual, quando o sujeito assume o risco de produzir o resultado, ou seja, aceita o risco de produzi-lo. O agente no quer o resultado, pois, se assim fosse, ocorreria o dolo direto. O dolo eventual no se dirige ao resultado, mas sim conduta, percebendo o agente que possvel causar o resultado. Ex.: motorista dirigindo em velocidade excessiva, aceita a possibilidade de atropelar um pedestre.

    e) dolo de dano: a vontade de produzir uma leso a um bem jurdico;

    j) dolo de perigo: a vontade de expor um bem jurdico a perigo de leso;

    g) dolo genrico: a vontade de praticar a conduta sem uma finalidade especfica;

    h) dolo especfico (ou dolo com inteno ulterior): a vontade de praticar a conduta visando uma finalidade especfica.

    i) dolo geral (tambm chamado de erro sucessivo ou "aberratio causae": ocorre quando o agente, tendo realizado a conduta e supondo ter conseguido o resultado pretendido, pratica

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    nova ao que, a sim, alcana a consumao do crime. Exemplo clssico largamente difundido na doutrina o do agente que, tendo esfaqueado a vtima e supondo-a morta, joga o corpo nas guas de um rio. Entretanto, a vtima ainda estava viva, vindo a falecer em virtude de afogamento.

    7. CRIME CULPOSO Segundo o disposto no art. 18, II, do Cdigo Penal, o crime culposo quando o agente

    deu causa ao resultado por imprudncia, negligncia ou impercia.

    7.1. Cuidado objetivo A culpa elemento subjetivo do tipo penal, pois resulta da inobservncia do dever de

    diligncia. Cuidado Objetivo a obrigao determinada a todos, na comunidade social, de realizar

    condutas de forma a no produzir danos a terceiros. Assim, a conduta culposa torna-se tpica a partir do momento em que no tenha o agente

    observado o cuidado necessrio nas relaes com outrem.

    7.2 Previsibilidade

    Para saber se o sujeito ativo do crime deixou de observar o cuidado objetivo necessrio preciso comparar a sua conduta com o comportamento que teria uma pessoa, dotada de discernimento e de prudncia, colocada na mesma situao do agente.

    Surge, ento, a previsibilidade objetiva, que a possibilidade de antever o resultado produzido, previsvel ao homem comum, nas circunstncias em que o sujeito realizou a conduta

    At a se realiza a tipicidade do crime culposo, tambm antijurdico, se ausente causa excludente.

    J a culpabilidade do delito culposo decorre da previsibilidade subjetiva, questionando-se a possibilidade de o sujeito, segundo suas aptides pessoais e na medida de seu poder individual, prever o resultado.

    Assim, quando o resultado era previsvel para o sujeito, temos a reprovabilidade da conduta e a conseqente culpabilidade.

    7.3. Elementos do fato tpico culposo

    So elementos do fato tpico culposo: a) conduta humana voluntria, consistente numa ao ou omisso; b) inobservncia do cuidado objetivo, manifestada atravs da imprudncia, da

    negligncia e da impercia;

    c) previsibilidade objetiva; d) ausncia de previso; e) resultado involuntrio; f) nexo de causalidade;

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    g) tipicidade.

    7.4. Imprudncia, negligncia e impercia A inobservncia do cuidado objetivo necessrio se manifesta atravs das trs

    modalidades de culpa: imprudncia, negligncia e impercia. A imprudncia a prtica de um fato perigoso, atuando o agente com precipitao, sem

    cautelas. Ex.: desobedecer sinal semafrico vermelho, indicativo de parada obrigatria. A negligncia a ausncia de precauo ou indiferena, em relao ao ato realizado.

    Ex.: deixar substncia txica ao alcance de uma criana. A impercia a falta de aptido, de conhecimentos tcnicos, para o exerccio de arte ou

    profisso. Ex.: mdico que se dispe a realizar cirurgia, sem ter conhecimentos adequados sobre a especialidade da molstia.

    7.5 Espcies de culpa

    So espcies de culpa: a) culpa inconsciente, na qual o resultado no previsto pelo agente, embora previsvel;

    a culpa comum, normal, manifestada pela imprudncia, negligncia ou impercia.

    b) culpa consciente (ou culpa com previso), na qual o resultado previsto pelo agente, que espera inconsideradamente que no ocorra ou que possa evit-lo. Exemplo difundido na doutrina o do agente que, numa caada, percebe que um animal se encontra nas proximidades de seu companheiro, estando ciente de que, disparando a arma, poder acert-lo. Confiante em sua percia com armas de fogo, atira e mata o companheiro.

    No dolo eventual, o agente tolera a produo do resultado, pois o evento lhe indiferente; tanto faz que ocorra ou no.

    Na culpa consciente, o agente no quer o resultado, no assume o risco nem ele lhe tolervel ou indiferente.

    c) culpa prpria, na qual o resultado, embora previsvel, no previsto pelo agente.

    d) culpa imprpria (culpa por extenso, culpa por assimilao ou culpa por equiparao): na qual o agente quer o resultado, estando sua vontade viciada por erro que poderia evitar, observando o cuidado necessrio. Ocorre por erro de tipo inescusvel, por erro de tipo escusvel nas descriminantes putativas ou por excesso nas causas de justificao.

    e) culpa mediata ou indireta: na qual o agente, dando causa a resultado culposo imediato, vem a determinar, mediata ou indiretamente, outro resultado culposo. Exemplo difundido na doutrina o da pessoa que, socorrendo ente querido que se encontra atropelado, acaba por ser tambm atingido por outro veculo, sendo ferido ou morto. O interesse nessa modalidade de culpa

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    est justamente na responsabilidade do primeiro agente com relao ao segundo atropelamento. Deve-se perquirir, nesse caso, se o primeiro atropelador tinha previsibilidade do segundo resultado. Se tinha, responder por ele. Se no tinha, inexistir responsabilidade penal pelo segundo fato.

    7.6 Crime preterdoloso O crime preterdoloso ou preterintencional aquele onde coexistem os dois elementos

    subjetivos: dolo na conduta antecedente e culpa na conduta conseqente.

    Existe um crime inicial doloso e um resultado final culposo. Na conduta antecedente, o elemento subjetivo o dolo, eis que o agente quis o resultado. Entretanto, pela falta de previsibilidade, ocorre um outro resultado culposo, pelo qual tambm responde o agente.

    Ex.: aborto praticado sem o consentimento da gestante com o resultado morte. O aborto doloso, querido pelo agente. A morte da gestante culposa, pois o agente no queria o resultado, embora fosse ele previsvel.

    Nesse sentido, prescreve o art. 19 do Cdigo Penal:

    Ari. 19. Pelo resultado que agrava especialmente a pena, s responde o agente que o houver causado ao menos culposamente.

    8. ANTIJURIDICIDADE

    Segundo nos ensina o Professor Rogrio Greco, ilicitude, ou antijuridicidade, aquela relao de antagonismo, de contrariedade entre a conduta do agente e o ordenamento jurdico. Quando nos referimos ao ordenamento jurdico de forma ampla, estamos querendo dizer que a ilicitude no se resume a matria penal, mas sim que pode ter natureza civil, administrativa, tributria, etc. Se a conduta tpica do agente colidir com o ordenamento jurdico penal, diremos ser ela penalmente ilcita.

    Esse conceito, contudo, limita-se a verificar a existncia de uma norma anterior conduta do agente, e se esta contraria quela, deixando transparecer uma natureza meramente formal da ilicitude.

    claro que para que possamos falar em ilicitude preciso que o agente contrarie uma norma, pois, se no partirmos dessa premissa, sua conduta, por mais anti-social que seja, no poder ser considerada ilcita, uma vez que no estaria contrariando o ordenamento jurdico-penal. Contudo, em determinadas situaes, segundo as lies de Assis Toledo, a ilicitude, na rea penal, no se limitar ilicitude tpica, ou seja, ilicitude do delito, esta sempre e necessariamente tpica. Um exemplo de ilicitude atpica pode ser encontrado na exigncia da agresso ('agresso injusta' significa 'agresso ilcita') na legtima defesa. A agresso que autoriza a reao defensiva, na legtima defesa, no precisa ser um fato previsto como crime, isto , no precisa ser um ilcito

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    penal, mas dever ser no mnimo um ato ilcito, em sentido amplo, por inexistir legtima defesa contra atos lcitos".

    Grande parte da doutrina, contudo, no se satisfaz com o conceito meramente formal da ilicitude penal, e aduz um outro, de natureza material, cujas distines sero analisadas a seguir.

    Conforme preleciona Miguel Reale Jnior,

    "Von Liszt lanou, por primeiro, nas 12a e 13a edies de seu trabalho, a distino entre o que formal e o que materialmente antijurdico. No seu entender, um fato seria formalmente antijurdico enquanto contrrio a uma proibio legal, e materialmente antijurdico por implicar na leso ou perigo a um bem jurdico, ou seja, formalmente, a antijuridicidade se caracteriza como desrespeito a uma norma, a uma proibio da ordem jurdica; materialmente, como ataque a interesses vitais de particulares e da coletividade protegidos pelas normas estatudas pelo legislador."

    Com a finalidade de demonstrar que a mera contradio entre a conduta tpica e ordenamento jurdico no suficiente a fim de se concluir pela antijuridicidade, Assis Toledo conceitua a ilicitude como "a relao de antagonismo que se estabelece entre uma conduta humana voluntria e o ordenamento jurdico, de sorte a causar leso ou a expor a perigo de leso um bem jurdico tutelado".

    Como se percebe pelo conceito de Assis Toledo, alm da relao de contrariedade entre a conduta do agente e a norma (ilicitude formal), preciso que essa conduta possa, de alguma forma, causar leso ou expor a perigo de leso um bem juridicamente tutelado (ilicitude material).

    Se a norma penal probe determinada conduta sob a ameaa de uma sano, porque aquela conduta ou causa leso ou expe a perigo de leso o bem juridicamente protegido, e se o agente insiste em pratic-la devemos concluir pela sua ilicitude, desde que no atue amparado por uma causa de justificao. A questo assim colocada nos leva total desnecessidade de se fazer a distino entre ilicitude formal e ilicitude material. Sim, porque se a norma penal existe porque visa proteger o bem por ela considerado relevante, sinal de que qualquer conduta que a contrarie causa leso ou expe a perigo de leso aquele bem tutelado, levando-nos a adotar uma concepo unitria de ilicitude, e no dualista como se quer propor.

    8.1. Causas de Excludentes de Antijuridicidade

    As causas de excluso da antjuridicidade esto previstas no art. 23 do Cdigo Penal, e so tambm encontradas na doutrina com os nomes de causas de excluso da ilicitude, descriminantes, causas de excluso do crime, eximentes ou tipos permissivos.

    8.1.1 Estado de necessidade

    O estado de necessidade vem previsto no art. 24, caput, do Cdigo Penal:

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    Ari. 24. Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que no provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito prprio ou alheio, cujo sacrifcio, nas circunstncias, no era razovel exigir-se. Estado de necessidade uma situao de perigo atual de interesses legtimos e protegidos pelo Direito, em que o agente, para afast-la e salvar um bem prprio ou de terceiro, no tem outro meio seno o de lesar o interesse de outrem, igualmente legtimo.

    Como exemplos de estado de necessidade poderamos citar o do agente que, em ocasio de incndio ou desastre, invade domiclio alheio para salvar as pessoas que l se encontram em perigo. Tambm o do nufrago que, de posse de apenas um colete salva-vidas, deixa que outros companheiros se afoguem no mar. Ou ainda o exemplo do agente que, no intuito de socorrer pessoa gravemente enferma, furta um automvel para transport-la ao hospital.

    Requisitos

    O estado de necessidade requer, para sua configurao, a concorrncia dos seguintes requisitos:

    a) ameaa a direito prprio ou alheio: significa que o agente pode agir para evitar leso a bem jurdico seu (estado de necessidade prprio) ou de terceiro (estado de necessidade de terceiro), no sendo necessrio qualquer tipo de relao entre eles;

    b) existncia de um perigo atual: perigo atual aquele que est acontecendo. Embora o Cdigo Penal no mencione expressamente, a doutrina e a jurisprudncia vm admitindo o estado de necessidade tambm quando ocorra perigo iminente, que aquele que est preste a ocorrer;

    c) inexigibilidade de sacrifcio do interesse ameaado: significa que a lei no exige do agente que sacrifique o seu bem jurdico para preservar o bem jurdico de terceiro. Ao contrrio, admite que, para salvaguardar seu direito, o agente sacrifique o interesse tambm legtimo do terceiro. Deve tambm ser ponderada a proporcionalidade entre o interesse ameaado e o interesse sacrificado;

    d) situao no causada voluntariamente pelo sujeito: significa que o agente no pode invocar o estado de necessidade, quando tenha causado a situao de perigo voluntariamente. A expresso voluntariamente utilizada pela lei indica dolo, sendo certo que, no caso de ter agido com culpa o agente, poder invocar o estado de necessidade.

    e} inexistncia de dever legal de enfrentar o perigo: significa que o agente no pode invocar o estado de necessidade para a proteo de seu bem jurdico, quando tenha o dever legal de enfrentar a situao de perigo, como o caso do bombeiro que se recusa a enfrentar o fogo para salvar vtimas de um incndio, ou o caso do policial que se recusa a perseguir malfeitores sob o pretexto de que pode ser alvejado por arma de fogo (art. 24, 1, CP).

    f) conhecimento da situao de fato justificantee: significa que o estado de necessidade requer do agente o conhecimento de que est agindo para salvaguardar um interesse prprio ou de terceiro.

    Causa de diminuio da pena Diz o art. 24, 2, do Cdigo Penal: Art. 24. (...) 2 Embora seja razovel exigir-se o sacrifcio do direito ameaado, a pena

    poder ser reduzida de um a dois teros.

    Assim, embora se reconhea que o sujeito estava obrigado a sacrificar seu direito ameaado, oportunidade em que, a rigor, no haveria estado de necessidade, respondendo o agente pelo crime que praticou, a pena poder, a critrio do juiz e vista das peculiaridades do caso concreto, ser reduzida de um a dois teros.

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    Formas de estado de necessidade

    O estado de necessidade pode ser classificado de acordo com os seguintes critrios: a) quanto titularidade do interesse protegido: dividindo-se em estado de necessidade

    prprio (quando o agente salva direito prprio) ou estado de necessidade de terceiro (quando o agente salva direito de outrem);

    b) quanto ao aspecto subjetivo do agente: dividindo-se em estado de necessidade real (que efetivamente est ocorrendo) e estado de necessidade putativo (onde o agente incide em erro - descriminante putativa);

    c) quanto ao terceiro que sofre a ofensa: dividindo-se em estado de necessidade agressivo (caso em que a conduta do agente atinge direito de terceiro inocente) e estado de necessidade defensivo (caso em que o agente atinge direito de terceiro que causou ou contribuiu para a situao de perigo).

    8.1.2 Legtima defesa A legtima defesa vem prevista no art. 25 do Cdigo Penal, que diz:

    Ari. 25. Entende-se em legtima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessrios, repele injusta agresso, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.

    Legtima defesa a repulsa a injusta agresso, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem, usando moderadamente os meios necessrios.

    Requisitos

    A legtima defesa requer, para sua configurao, a ocorrncia dos seguintes elementos: a) agresso injusta, atual ou iminente: a agresso pode ser definida como o ato humano que

    causa leso ou coloca em perigo um bem jurdico. A agresso injusta quando viola a lei, sem justificao. Agresso atual aquela que est ocorrendo. Agresso iminente aquela que est preste a ocorrer;

    b) direito prprio ou de terceiro: significa que o agente pode repelir injusta agresso a direito seu (legtima defesa prpria) ou de outrem (legtima defesa de terceiro), no sendo necessria qualquer relao entre eles;

    c) utilizao dos meios necessrios: significa que o agente somente se encontra em legtima defesa, quando utiliza os meios necessrios a repelir a agresso, que devem ser entendidos como aqueles que se encontrem sua disposio. Deve o agente sempre optar, se possvel, pela escolha

    do meio menos lesivo; d) utilizao moderada de tais meios: significa que o agente deve agir sem excesso, ou seja,

    deve utilizar os meios necessrios moderadamente, interrompendo a reao quando cessar a agresso injusta;

    e) conhecimento da situao de fato justifcante: significa que a legtima defesa requer do agente o conhecimento da situao de agresso injusta e da necessidade de repulsa ("animus defendendi").

  • 29

    Formas de legtima defesa

    A legtima defesa pode ser classificada de acordo com os seguintes critrios: a) quanto titularidade do interesse protegido: dividindo-se em legtima defesa prpria

    (quando a agresso injusta se volta contra direito do agente) e legtima defesa de terceiro (quando a agresso injusta ocorre contra direito de terceiro);

    b) quanto ao aspecto subjetivo do agente: dividindo-se em legtima defesa real (quando a agresso injusta efetivamente est presente) ou legtima defesa putativa (que ocorre por erro - descriminante putativa).

    c) quanto reao do sujeito agredido: dividindo-se em legtima defesa defensiva (quando o agente se limita a defender-se da injusta agresso, no constituindo, sua reao, fato tpico) e legtima defesa ofensiva (quando o agente, alm de defender-se da injusta agresso, tambm ataca o bem jurdico de terceiro, constituindo sua reao fato tpico).

    Espcies

    A - Legtima defesa subjetiva Legtima defesa subjetiva aquela em que ocorre o excesso por erro de tipo escusvel. O

    agente, inicialmente em legtima defesa, j tendo repelido a injusta agresso, supe, por erro, que a ofensa ainda no cessou, excedendo-se nos meios necessrios. Exemplo largamente difundido na doutrina o do agente que, em face de injusta agresso, desfere golpe de faca no agressor, que vem a cair. Pretendendo fugir, o agressor tenta levantar-se, pensando o agente que aquele opressor intenta perpetrar-lhe nova agresso, pelo que, em excesso, lhe desfere novas facadas, matando-o. Nesse caso, com a queda do agressor em virtude da primeira facada, j havia cessado a agresso injusta. O agente, entretanto, por erro de tipo escusvel, supe que o agressor pretende levantar-se para novamente atac-lo, razo pela qual, agindo com excesso, mata-o com novas facadas.

    O erro de tipo escusvel exclui o dolo e a culpa, conforme j foi mencionado em captulo prprio.

    B - Legtima defesa sucessiva

    Ocorre a legtima defesa sucessiva na repulsa contra o excesso. A ao de defesa inicial legtima at que cesse a agresso injusta, configurando-se o excesso a partir da. No excesso, o agente atua ilegalmente, ensejando ao agressor inicial, agora vtima da exacerbao, repeli-lo em legtima defesa. o caso, por exemplo, do agente que, para defender-se de injusta agresso, desfere um soco no agressor, que foge. O agente, mesmo cessada a agresso, persegue o agressor com o intento de mat-lo. O agressor, agora vtima do excesso, pode defender-se legitimamente do agente.

    C - Legtima defesa recproca

    aquela que ocorre quando no h injusta agresso a ser repelida, uma vez que a conduta inicial do agente ilcita. a hiptese de legtima defesa contra legtima defesa, que no admitida no nosso ordenamento jurdico.

    Se o agente atua em legtima defesa, porque h injustia na agresso. O injusto agressor no pode, em seu favor, alegar legtima defesa se repelir o ataque lcito do agente. Exemplo comum o do agente que, pretendendo matar injustamente seu oponente, e vista da lcita reao deste, desfere-lhe tiros sob o pretexto de salvaguardar sua vida.

  • 30

    8.1.3 Estrito cumprimento do dever legal

    Ocorre o estrito cumprimento do dever legal quando a lei, em determinados casos, impe ao agente um comportamento. Nessas hipteses, amparadas pelo art. 23, III, do Cdigo Penal, embora tpica a conduta, no ilcita.

    Exemplos de estrito cumprimento de dever legal, largamente difundidos na doutrina, so o do policial que viola domiclio onde est sendo praticado um delito, ou emprega fora indispensvel no caso de resistncia ou de tentativa de fuga do preso (art. 284 do Cdigo de Processo Penal), o do soldado que mata o inimigo no campo de batalha, o oficial de justia queviola domiclio para cumprir ordem de despejo, dentre outros.

    Somente ocorre a excludente, quando existe um dever imposto pelo direito, seja em regulamento, decreto ou qualquer ato emanado do poder pblico, desde que tenha carter geral, seja em lei, penal ou extrapenal.

    de se destacar que esto excludas da proteo legal as obrigaes morais, sociais, religiosas etc.

    8.1.4 Exerccio regular de direito Essa excludente da antijuridicidade vem amparada pelo art. 23, III, do Cdigo Penal, que

    emprega a expresso direito em sentido amplo. A conduta, nesses casos, embora tpica, no ser antijurdica, ilcita.

    Exemplos de exerccio regular de direito largamente difundidos na doutrina so o desforo imediato no esbulho possessrio, o direito de reteno por benfeitorias previsto no Cdigo Civil, a correo dos filhos pelos pais etc.

    O agente deve obedecer estritamente, rigorosamente, aos limites do direito exercido, sob pena de abuso.

    Excesso punvel

    Dispe o art. 23, pargrafo nico, do Cdigo Penal:

    Art. 23. (...) Pargrafo nico. O agente, em qualquer das hipteses deste artigo, responder

    pelo excesso doloso ou culposo.

    Em cada uma das hipteses de causas excludentes da ilicitude estudadas, verifica-se a existncia de requisitos, traados pela prpria lei, que devem ser obedecidos pelo agente.

    As excludentes da ilicitude so exceo antijuridicidade contida na descrio tpica dos crimes, da porque devem ter sua ocorrncia verificada caso a caso pelo Direito Penal, a fim de que no ocorra o excesso.

    O excesso ocorre quando o agente extrapola os limites traados pela lei para as causas excludentes da antijuridicidade. Ocorre, por exemplo, no caso em que o agente, depois de repelida a injusta agresso por legtima defesa, continua a ofender o bem jurdico do terceiro; ou no caso do estado de necessidade, em que o agente continua atuando, ainda depois de afastado o perigo atual, causando leso desnecessria a bem jurdico de terceiro.

    O excesso pode ser: a) doloso: quando o agente, j tendo atuado em conformidade com o direito na

    conduta inicial da excludente, avana voluntariamente os limites impostos por lei e produz dolosamente resultado antijurdico.

  • 31

    b) culposo: quando o agente, j tendo atuado em conformidade com o direito na conduta inicial da excludente, avana os limites impostos por lei, por impercia, imprudncia ou negligncia, produzindo culposamente o resultado antijurdico.

    9. CULPABILIDADE

    Como conceito pode-se dizer que, culpabilidade o juzo de reprovao social e tem a funo de preceder a aplicao da pena.

    9.l TEORIAS DA CULPABILIDADE

    9.1.1 Teoria psicolgica

    Essa teoria desenvolveu-se segundo a concepo clssica (positivista-naturalista) do delito. Para a concepo clssica, o delito constitui-se de elementos objetivos (fato tpico e ilicitude) e subjetivos (culpabilidade). A ao humana tida como um movimento corporal voluntrio que produz uma modificao no mundo exterior. Integram a ao: a vontade, o movimento corporal e o resultado. A vontade despida de contedo (finalidade/querer-interno). Esse contedo (finalidade visada pela ao) figura na culpabilidade.

    Pode-se dizer que a ao voluntria se divide em dois segmentos distintos: processo causai, figurado no fato tpico (ao tpica), e querer-interno do agente, figurado na culpabilidade (ao culposa: dolo ou culpa).

    Em sntese, a conduta apenas um processo causai despido de contedo (finalidade/querer interno). O contedo da vontade (elementos internos, anmicos, ou seja, o dolo e a culpa) situa-se na culpabilidade. A culpabilidade vista como um nexo psquico entre o agente e o fato criminoso.

    9.1.2 Teoria psicolgico-normativa

    Frank foi o precursor da teoria normativa ao introduzir no conceito de culpabilidade um elemento normativo, um juzo de censura que se faz ao autor do fato, e como pressuposto deste, a exigibilidade de conduta conforme a norma. Essa teoria desenvolveu-se segundo a concepo neoclssica/normativista do delito (Teoria causal-valorativa ou neokantista).

    Teve influncia na filosofia dos valores de origem neokantiana, desenvolvida pela escola de Baden (Wildelband, Rickert, Lask). A corrente filosfica neokantista surge como superao, e no negao, do positivismo, tendo como lema o retorno metafsica. No campo jurdico, afirma

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    que o direito como realidade cultural valorativa. A noo de valor marca a diferena entre as cincias naturais (mtodo ontolgico) e as cincias jurdicas (mtodo axiolgico).

    9.1.3 Teoria normativa pura (adotada pelo CP)

    Tem como fundamento a teoria finalista da ao (Hans Welzel). Segundo Welzel, a ao humana no pode ser considerada de forma dividida (aspecto objetivo e subjetivo), considerando que toda ao voluntria finalista, ou seja, traz consigo o querer-interno. O processo causal dirigido pela vontade finalista.

    Desse modo, a ao tpica deve ser concebida como um ato de vontade com contedo (finalidade/querer interno). O dolo e a culpa so retirados da culpabilidade e passam a integrar o fato tpico. Com isso, a conduta tpica passa a ser dolosa ou culposa.

    No entanto, retira-se do dolo seu aspecto normativo (conscincia da ilicitude). A conscincia da ilicitude, agora potencial, passa a figurar como elemento da culpabilidade, ao lado da imputabilidade e da exigibilidade de conduta diversa (a culpabilidade, dessa forma, fica composta apenas de elementos normativos).

    9.2 ELEMENTOS DA CULPABILIDADE

    9.2.1 Imputabilidade

    Imputabilidade consiste na atribuio de capacidade para o agente ser responsabilizado criminalmente. O agente considerado imputvel quando, ao tempo da conduta, for capaz de entender o carter ilcito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento, e tenha completado 18 anos. O Cdigo Penal define apenas as situaes de inimputabilidade (arts.26, caput, 27 e 28, 1). A imputabilidade encontra fundamento na dirigibilidade do ato humano e na possibilidade de sua intimidao pela ameaa de pena.

    So distintos os conceitos de imputabilidade e responsabilidade. O primeiro a capacidade de culpabilidade; j a responsabilidade funda-se no princpio de que toda pessoa imputvel (dotada de capacidade de culpabilidade) deve responder pelos seus atos.

    9.2.2 Potencial conscincia da ilicitude

    Para que haja o juzo de reprovao necessrio que o agente possua a conscincia da ilicitude do fato ou que ao menos tenha a possibilidade de conhec-la. Pode-se dizer que o agente deve ter a possibilidade de conhecer as normas de proibio e mandamentais (incriminadoras) e as normas justificativas (excludentes da ilicitude).

    9.2.3 Exigibilidade de conduta diversa

    Para que a conduta seja reprovvel, alm dos elementos acima, dever-se- verificar se o agente poderia ter praticado a conduta, em situao de normalidade,conforme o ordenamento

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    jurdico.Ser reprovvel a conduta quando, podendo o sujeito realizar comportamento diverso, de acordo com a ordem jurdica, realiza outro, proibido.

    9.3 CAUSAS EXCLUDENTES DA IMPUTABILIDADE *

    Existem quatro causas que excluem a imputabilidade: doena mental, desenvolvimento mental incompleto, desenvolvimento mental retardado e embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou fora maior.

    a) doena mental:O art. 26, capu, do Cdigo Penal, tratou da doena mentalcomo um pressuposto biolgico da inimputabilidade. Doena mental deve ser entendida como toda molstia que cause alterao na sade mental do agente.

    Na presena de doena mentalque leve incapacidade de entendimento do carter ilcito do fato e incapacidade de determinao de acordo com esse entendimento, o agente ser inimputvel e, conseqentemente, no ter culpabilidade. O crime persiste (fato tpico e antijurdico), faltando ao agente culpabilidade, que pressuposto de aplicao da pena. A sano penal aplicvel ao agente, portanto, no consistir em pena, mas, antes, em medida de segurana.

    Dispe o art. 149, "caput", do Cdigo de Processo Penal, que "quando houver dvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz ordenar, de oficio ou a requerimento do Ministrio Pblico, do defensor, do curador, do ascendente, descendente, irmo ou cnjuge do acusado, seja este submetido a exame mdico-legal." Deve ser ressaltado que, a teor do art. 153 do Cdigo de Processo Penal, "o incidente de insanidade mental processar-se- em auto apartado, que s depois da apresentao do laudo, ser apenso ao processo principal."

    b) desenvolvimento mental incompleto:Como desenvolvimento mental incompleto, deve ser entendido aquele que ocorre nos inimputveis em razo da idade, e tambm como aquele que ocorre nos silvcolas inadaptados.

    Diz o Cdigo Penal no art. 27:

    Art. 27. Os menores de 18 (dezoito) anos so penalmente inimputveis, ficando sujeitos s normas estabelecidas na legislao especial.

    Nesse dispositivo, o Cdigo Penal adotou o critrio biolgico para aferio da imputabilidade do menor. Trata-se, em verdade, de uma presuno absoluta de inimputabilidade do menor de 18 (dezoito) anos, fazendo com que ele, por imposio legal, seja considerado incapaz de entender o carter ilcito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

    O menor de 18 (dezoito) anos, a rigor, pratica crime (fato tpico e antijurdico), faltando-lhe apenas a imputabilidade, ou seja, a culpabilidade, que pressuposto de aplicao da pena. Logo, ao menor no se aplica sano penal.

    Atualmente, o menor de 18 (dezoito) anos que infringe a lei penal est sujeito legislao prpria, ou seja, Lei n. 8.069 de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criana e do Adolescente. Para o referido estatuto, a terminologia menor est superada, chamando-se criana, a pessoa at 12 (doze) anos de idade incompletos, e adolescente a pessoa entre 12 (doze) e 18 (dezoito) anos de idade. Ato infracional, para o mesmo diploma, toda conduta descrita como crime ou contraveno penal..

    Outrossim, as sanes aplicveis criana infratora chamam-se medidas especficas de proteo, e vm relacionadas no art. 101 do estatuto, sem prejuzo de outras

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    que pode a autoridade competente determinar. Ao adolescente infrator aplica-se, como sano, a medida scio-educativa, cujo rol encontra-se no art. 112 do estatuto.

    c) desenvolvimento mental retardado:O desenvolvimento mental retardado o estado mental caracterstico dos oligofrnicos, que podem ser classificados em dbeis mentais, imbecis e idiotas. A perfeita caracterizao de cada uma dessas anomalias dada pela medicina forense. No curso do processo penal, a percia inafastvel (arts. 149 e 156 do CPP).

    Tambm nesse caso, se o agente, em razo do desenvolvimento mental retardado for incapaz de entender o carter ilcito do fato ou incapaz de determinar-se de acordo com esse entendimento, ser considerado inimputvel, faltando-lhe a culpabilidade, que pressuposto de aplicao da pena. Ausente a pena, aplicar-se- medida de segurana.

    d) embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou fora maior:Diz o art. 28, 1, do Cdigo Penal:

    Art 28. (...) " isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou

    fora maior, era ao tempo da ao ou da omisso, inteiramente incapaz de entender o carter ilcito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

    Embriaguez a intoxicao aguda e transitria causada pelo lcool ou substncia de efeitos anlogos. Em virtude da embriaguez, para que haja excluso da imputabilidade, deve faltar ao agente capacidade de entendimento do carter ilcito do fato ou capacidade de determinao de acordo com esse entendimento.

    caso fortuito (em que o agente desconhece o efeito da substncia que ingere ou desconhece alguma condio sua particular de suscetibilidade a ela);

    fora maior (quando o agente no responsvel pela ingesto da substncia alcolica ou de efeitos anlogos, como nos casos de ser forado a dela fazer uso).

    A embriaguez pode ser: a) completa, em que h absoluta falta de entendimento por parte do agente, com confuso

    mental e falta de coordenao motora; b) incompleta, em que resta ao agente ainda alguma capacidade de entendimento, muito

    embora haja comprometimento relativo da coordenao motora e das funes mentais.

    10. CONCURSO DE PESSOAS

    10.1 PREVISO LEGAL

    Cuidando do concurso de pessoas, diz o art. 29, caput, do Cdigo Penal, que quem, de qualquer modo, concorre para o crime, incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.

    O art. 29 do Cdigo Penal aplica-se, como regra, aos delitos unissubjetivos, tambm conhecidos como delitos de concurso eventual, uma vez que para os crimes plurissubjetivos, ou de concurso necessrio, pelo fato de exigirem a presena de, no mnimo, duas ou mais

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    pessoas, dependendo do tipo penal, no haveria necessidade de regra expressa para os autores, ou co-autores, tendo aplicao somente no que diz respeito participao nessas infraes penais.

    Fala-se em concurso de pessoas, portanto, quando duas ou mais pessoas concorrem para a prtica de uma mesma infrao penal. Essa colaborao recproca pode ocorrer tanto nos casos em que so vrios os autores, bem como naqueles onde existam autores e partcipes.

    10.2 REQUISITOS ESSENCIAIS

    Como bem nos ensina o renomado Professor Rogrio Greco, a regra trazida pelo art. 29 do Cdigo Penal aplica-se, mormente, aos chamados crimes de concurso eventual (unissubjetivos), que so aqueles que podem ser cometidos por um nico agente, mas que, eventualmente, so praticados por duas ou mais pessoas. Quando duas ou mais pessoas se renem a fim de cometer tais infraes penais (homicdio, furto, dano etc.), ou, na expresso do Cdigo, se concorrerem para o crime, incidiro nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.

    Para que se possa concluir pelo concurso de pessoas, ser preciso verificar a presena dos seguintes requisitos:

    a) pluralidade de agentes e de condutas; b) relevncia causai de cada conduta; c) liame subjetivo entre os agentes; d) identidade de infrao penal.

    A pluralidade de agentes (e de condutas) requisito indispensvel caracterizao do concurso de pessoas. O prprio nome nos est a induzir sobre a necessidade de, no mnimo, duas pessoas que, envidando esforos conjuntos, almejam praticar determinada infrao penal.

    O segundo requisito diz respeito relevncia causai das condutas praticadas por aqueles que, de alguma forma, concorreram para o crime. Se a conduta levada a efeito por um dos agentes no possuir relevncia para o cometimento da infrao penal, devemos desconsider-la e concluir que o agente no concorreu para a sua prtica. Imaginemos o seguinte: A, com o firme propsito de causar a morte de B, pelo fato de no ter encontrado a sua arma, vai at a residncia de C e, explicando-lhe o fato, pede-lhe o revlver emprestado. C, mesmo sabendo da inteno de A, empresta-lhe a arma. Antes de ir ao encontro de B, A resolve, mais uma vez, procurar a sua pistola, calibre 380, e, para sua surpresa, consegue ach-la. Assim, deixa de lado a arma que havia solicitado a C e, agora, com a sua pistola vai procura de B e causa-lhe a morte.

    A pergunta que devemos nos fazer a seguinte: Ser que a conduta de C foi relevante a ponto de podermos atribuir-lhe o delito de homicdio praticado por A, ou, em razo de no ter o agente utilizado a arma tomada de emprstimo de C, a conduta deste ltimo deixou de ser relevante na cadeia causal? Como o agente j estava decidido a cometer o crime, entendemos que, pelo fato de no ter se utilizado da arma emprestada por C, a conduta deste passou a ser irrelevante, uma vez que no estimulou, ou de qualquer modo influenciou o agente no cometimento de sua infrao penal. Dessa forma, embora tenha querido contribuir, a ausncia de relevncia de sua conduta far com que no seja responsabilizado penalmente pelo resultado.

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    O terceiro requisito indispensvel caracterizao do concurso de pessoas diz respeito ao chamado liame subjetivo, isto , o vnculo psicolgico que une os agentes para a prtica da mesma infrao penal. Se no se conseguir vislumbrar o liame subjetivo entre os agentes, cada qual responder, isoladamente, por sua conduta. No caso clssico em que A e B atiram contra C, sendo que um deles acerta mortalmente o alvo e o outro erra, no se sabendo qual deles conseguiu alcanar o resultado morte, dependendo da concluso que se chegue com relao ao vnculo psicolgico entre os agentes, as imputaes sero completamente diferentes. Se dissermos que A e B agiram unidos pelo liame subjetivo, no importar saber, a fim de conden-los pelo crime de homicdio, qual deles, efetivamente, conseguiu acertar a vtima,causando-lhe a morte. Aqui, o liame subjetivo far com que ambos respondam pelo homicdio consumado. Agora, se chegarmos concluso de que os agentes no atuaram unidos pelo vnculo subjetivo, cada qual dever responder pela sua conduta. No caso em exame, no sabemos quem foi o autor do resultado morte. A dvida, portanto, dever beneficiar os agentes, uma vez que um deles no conseguiu alcanar o resultado morte, praticando, assim, uma tentativa de homicdio. Dessa forma, ambos devero responder pelo crime de homicdio tentado.

    O quarto e ltimo requisito necessrio caracterizao do concurso de pessoas a identidade de infrao penal. Quer isto dizer que os agentes, unidos pelo liame subjetivo, devem querer praticar a mesma infrao penal. Seus esforos devem convergir ao cometimento de determinada e escolhida infrao penal.

    Em sntese, somente quando duas ou mais pessoas, unidas pelo liame subjetivo, levarem a efeito condutas relevantes dirigidas ao cometimento de uma mesma infrao penal que poderemos falar em concurso de pessoas.

    10.3 TEORIAS EXISTENTES

    Ainda na lio do ilustre mestre Rogrio Greco, com a finalidade de distinguir e apontar a infrao penal cometida por cada um dos seus participantes (autores e partcipes), surgiram trs teorias que esto a merecer destaque:

    a) teoria pluralista; b) teoria dualista; c) teoria monista.

    Para a teoria pluralista, haveria tantas infraes penais quantos fossem o nmero de autores e partcipes. Na precisa lio de Cezar Bitencourt, "a cada participante corresponde uma conduta prpria, um elemento psicolgico prprio e um resultado igualmente particular. pluralidade de agentes corresponde a pluralidade de crimes. Existem tantos crimes quantos forem os participantes do fato delituoso" Seria como se cada autor ou partcipe tivesse praticado a sua prpria infrao penal, independentemente da sua colaborao para com os demais agentes. Assim, se algum tivesse induzido duas outras pessoas a praticar um delito de furto, teramos trs infraes penais distintas. Uma para cada um dos agentes. Ou seja, uma para o partcipe e uma para cada um dos co-autores, isto , para aqueles que realizaram a subtrao da coisa alheia mvel.

    J a teoria dualista distingue o crime praticado pelos autores daquele cometido pelos partcipes. Para esta teoria, haveria uma infrao penal para os autores e outra para os partcipes. Manzini, defensor da mencionada teoria, argumentava que "se a participao pode ser

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    principal e acessria, primria e secundria, dever haver um crime nico para os autores e outro crime nico para os chamados cmplices stricto sensu. A conscincia e vontade de concorrer num delito prprio confere unidade ao crime praticado pelos autores; e a de participar no delito de outrem atribui essa unidade ao praticado pelos cmplices". Tomando emprestado o exemplo acima, teramos uma infrao para aquele que induziu os agentes prtica do crime de furto e outra para os co-autores, isto , para aqueles que subtraram a coisa alheia.

    A teoria monista, tambm conhecida como unitria, adotada pelo nosso Cdigo Penal, aduz que todos aqueles que concorrem para o crime, incidem nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. Para a teoria monista existe um crime nico, atribudo a todos aqueles que para ele concorreram, autores ou partcipes. Embora o crime seja praticado por diversas pessoas, permanece nico e indivisvel. No esclio de Esther de Figueiredo Ferraz, "o delito cometido graas ao concurso de vrias pessoas no se fraciona em uma srie de crimes distintos. Ao contrrio, conserva-se ntegro, indiviso, mantendo sua unidade jurdica custa da convergncia objetiva e subjetiva das aes dos mltiplos participantes". Ainda nos valendo do exemplo acima, haveria um nico crime de furto, atribudo ao partcipe e aos co-autores.

    10.4 PARTICIPAO A participao (propriamente dita) consiste em contribuir na conduta criminosa do autor ou co-

    autores, praticando atos que no se amoldam diretamente figura tpica ou que no possuam o domnio final da ao criminosa. Mesmo assim, o partcipe concorre, de qualquer modo, para a realizao do crime.

    O partcipe responde pelo crime em virtude do disposto no art.29 do Cdigo Penal, a saber: "Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade ".

    A participao ocorre antes da consumao. Se a contribuio for aps a consumao poder configurar crime autnomo, como, por exemplo, receptao, favorecimento real, favorecimento pessoal.

    10.4.1Formas de Participao

    a participao moral (determinao ou induzimento); b participao material (cumplicidade).

    Parte da doutrina admite a hiptese de participao por omisso quando o agente podia e devia agir para evitar o resultado, mas se omitiu, aderindo ao crime de outrem. Assim, se um policial, podendo e devendo agir, deixa de evitar um farto, aderindo subjetivamente a este, responde pelo crime. Em outro sentido, h quem sustente que neste exemplo, o policial no partcipe, mas sim autor direto (crime omissivo imprprio, nos termos do art.13, 2, a, do CP)

    Ao adotar a tese da possibilidade da participao por omisso Luiz Flvio Gomes esclarece que "a diferena que existe entre o partcipe por omisso e o crime omissivo imprprio (ou comissivo por omisso) a seguinte: no primeiro (participao omissiva) o partcipe no tem o co-domnio do fato ( mero participante dele); no segundo o autor tem total domnio do fato (ou seja: ele quem dirige o destino do fato)".

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    Obs.: autoria de reserva: durante a execuo do crime o agente aguarda para ver se ser preciso a sua atuao. Exemplo: enquanto um agente executa o roubo, o outro aguarda do o