direito constitucional - sylvio brito

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Princípios Fundamentais são diretrizes impres- cindíveis à configuração do Estado, determinando-lhe o modo e a forma de ser. Refletem os valores abrigados pelo ordenamento jurídico, espelhando a ideologia do constituinte, os postulados básicos e os fins da sociedade. Na Constituição Brasileira, vêm localizados no Tí- tulo I, arts. 1º a 4º, buscando garantir a unidade da Constituição, orientar a ação do intérprete da lei e preservar o Estado Democrático de Direito. Vejamos, pontualmente, quais são estes princí- pios fundamentais: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constituindo em Estado De- mocrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III – a dignidade da pessoa humana; IV – os valores sociais do traba- lho e da livre iniciativa; V – o pluralismo político. Parágrafo Único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. a) de imediato, a Constituição define a forma de Estado do nosso país como sendo uma Federação, cujos traços essenciais são: I) a aliança permanente de diversos Estados-membros, cada qual cedendo a sua soberania e permanecendo com autonomia políti- ca limitada, expressa na capacidade de auto- organização e normatização própria, autogoverno e auto-administração; II) concentração da soberania com titularidade exclusiva do Estado Federal (reunião dos Estados-membros); III) união indissolúvel das partes componentes da Federação, quais sejam, os Estados-membros, os Municípios e o Distrito Federal. A doutrina especializada define a configuração da forma de Estado como princípio federativo, expressão utilizada com bastante freqüência pelo CESPE/UNB. b) igualmente define como forma de governo a República, com as seguintes características: I) sobe- rania popular; II) exercício do poder supremo por de- legação e em nome da coletividade; III) igualdade de governantes e governados perante a lei; IV) rotativi- dade no exercício do poder executivo. A definição da forma de governo expressa o que a doutrina denomi- na de princípio republicano, nomenclatura algumas vezes utilizadas em provas do CESPE/UNB. c) soberania – poder político supremo e inde- pendente, que se traduz na capacidade que o povo tem de se dirigir, reger e governar por si mesmo, a- través de instituições políticas próprias. Supremo na ordem interna, visto que não está limitado por ne- nhum outro; e independente na ordem internacional, posto que em pé de igualdade e sem submissão aos outros Estados constituídos pelos demais povos. A noção de soberania é também denominada, na dou- trina, de princípio do governo independente. Obs1: o titular da soberania é o povo, que o exerce através de seus representantes, nos termos do parágrafo único do artigo em estudo. A essa forma de exercício da soberania popular chama-se demo- cracia representativa. No entanto, a Constituição Federal consagra também a possibilidade de o povo participar diretamente desse exercício, através do re- ferendo, plebiscito e iniciativa popular (art. 14, I, II e II- I, CF): é a chamada democracia participativa. Dessas duas formas de exercício da titularidade da soberania resulta o princípio democrático que caracteriza o “Es- tado Democrático de Direito”. Obs2: a outra vertente do “Estado Democráti- co de Direito”, proclamado pela Carta Magna, signi- fica a submissão de governantes e governados à lei, com o devido respeito das autoridades públicas aos direitos e garantias fundamentais do cidadão. d) cidadania – povo, em sentindo amplo, é qual- quer habitante de determinado território sujeito à so-

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Princípios Fundamentais são diretrizes impres-cindíveis à configuração do Estado, determinando-lhe o modo e a forma de ser.

Refletem os valores abrigados pelo ordenamento jurídico, espelhando a ideologia do constituinte, os postulados básicos e os fins da sociedade.

Na Constituição Brasileira, vêm localizados no Tí-tulo I, arts. 1º a 4º, buscando garantir a unidade da Constituição, orientar a ação do intérprete da lei e preservar o Estado Democrático de Direito.

Vejamos, pontualmente, quais são estes princí-pios fundamentais:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constituindo em Estado De-mocrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III – a dignidade da pessoa humana; IV – os valores sociais do traba-lho e da livre iniciativa; V – o pluralismo político. Parágrafo Único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

a) de imediato, a Constituição define a forma de Estado do nosso país como sendo uma Federação, cujos traços essenciais são: I) a aliança permanente de diversos Estados-membros, cada qual cedendo a sua soberania e permanecendo com autonomia políti-ca limitada, expressa na capacidade de auto-organização e normatização própria, autogoverno e auto-administração; II) concentração da soberania com titularidade exclusiva do Estado Federal (reunião dos Estados-membros); III) união indissolúvel das

partes componentes da Federação, quais sejam, os Estados-membros, os Municípios e o Distrito Federal. A doutrina especializada define a configuração da forma de Estado como princípio federativo, expressão utilizada com bastante freqüência pelo CESPE/UNB.

b) igualmente define como forma de governo a República, com as seguintes características: I) sobe-rania popular; II) exercício do poder supremo por de-legação e em nome da coletividade; III) igualdade de governantes e governados perante a lei; IV) rotativi-dade no exercício do poder executivo. A definição da forma de governo expressa o que a doutrina denomi-na de princípio republicano, nomenclatura algumas vezes utilizadas em provas do CESPE/UNB.

c) soberania – poder político supremo e inde-pendente, que se traduz na capacidade que o povo tem de se dirigir, reger e governar por si mesmo, a-través de instituições políticas próprias. Supremo na ordem interna, visto que não está limitado por ne-nhum outro; e independente na ordem internacional, posto que em pé de igualdade e sem submissão aos outros Estados constituídos pelos demais povos. A noção de soberania é também denominada, na dou-trina, de princípio do governo independente.

Obs1: o titular da soberania é o povo, que o exerce através de seus representantes, nos termos do parágrafo único do artigo em estudo. A essa forma de exercício da soberania popular chama-se demo-cracia representativa. No entanto, a Constituição Federal consagra também a possibilidade de o povo participar diretamente desse exercício, através do re-ferendo, plebiscito e iniciativa popular (art. 14, I, II e II-I, CF): é a chamada democracia participativa. Dessas duas formas de exercício da titularidade da soberania resulta o princípio democrático que caracteriza o “Es-tado Democrático de Direito”.

Obs2: a outra vertente do “Estado Democráti-co de Direito”, proclamado pela Carta Magna, signi-fica a submissão de governantes e governados à lei, com o devido respeito das autoridades públicas aos direitos e garantias fundamentais do cidadão.

d) cidadania – povo, em sentindo amplo, é qual-quer habitante de determinado território sujeito à so-

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berania estatal. Cidadão, por seu turno, não é qual-quer habitante do Estado, mas aquele que reúne os requisitos constitucionais e legais para participar ati-vamente da vida política desse Estado. Logo, pode-mos definir cidadão como a pessoa que se encontra no uso e gozo dos seus direitos políticos, ou seja, in-vestido da capacidade de participar da formação do governo e da “vontade” do Estado.

e) dignidade da pessoa humana – é um valor moral e espiritual protegido pela Constituição que sig-nifica o direito de autodeterminação do indivíduo em relação à sua própria vida e o necessário respeito das outras pessoas e do próprio Estado à essa pretensão. Comporta, portanto, duas concepções:

I) direito individual protetivo e fundamental, contra ingerências indevidas das outras pessoas e do Estado em sua esfera de autodeterminação;

II) em conseqüência, estabelece o dever funda-mental de tratamento igualitário por parte dos seus semelhantes. A dignidade humana reflete, portanto, um conjunto de valores civilizatórios incorporados ao patrimônio do homem.

Questão correlacionada de concurso: O Su-premo Tribunal Federal (STF) já se manifestou no sentido de que a condução coercitiva de pessoa in-vestigada em ação de paternidade, para realização de exame de DNA, obrigando-a a fazer o teste, é con-trária à dignidade da pessoa humana.

f) os valores sociais do trabalho e da livre ini-ciativa - são os dois fundamentos da sociedade capi-talista preconizada pela Constituição Federal, bases do desenvolvimento nacional. Desse modo, a partir desse preceito fundamental, vários são os dispositi-vos destinados à proteção do trabalhador (art. 7º - seguro-desemprego, fgts, 13º, etc.) e ao incentivo à iniciativa privada como mola propulsora da economia brasileira, como a garantia à propriedade privada, ob-servada a sua função social (art. 170, incs. II e III), tratamento favorecido para as empresas brasileiras de pequeno porte (art. 170, IX, CF), etc.

g) pluralismo político – significa o compromisso fundamental de possibilitar-se a ampla e livre partici-pação popular na condução política do Estado, atra-vés da garantia à liberdade de expressão filosófica e política, bem como a possibilidade de organização e participação em partidos políticos. Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

a) seguindo doutrina clássica consagrada por Montesquieu, a nossa Constituição prevê a reparti-ção das funções estatais básicas (legislação, ad-ministração e jurisdição) entre poderes de Estado in-dependentes (Legislativo, Executivo e Judiciário) po-rém harmônicos, ou seja, devem atuar com exclusivi-dade e sem interferência uns sobre os outros nas su-as respectivas funções, mas de modo harmônico, ten-tando minimizar o quanto possível o conflito entre su-as atribuições em nome da estabilidade estatal.

b) modernamente, nenhum dos três Poderes do Estado exerce exclusivamente cada uma das res-

pectivas funções, sendo que o critério para se aferir a que Poder pertence determinado órgão é a prepon-derância no exercício de determinada função.

Exemplificando: normalmente quem tem a atri-buição de elaborar as leis é o poder legislativo, mas o executivo também pode editar normas de caráter ge-ral, denominadas Medidas Provisórias; por sua vez, ao Judiciário cabe dizer (julgar) quem tem razão (Di-reito) em cada caso concreto, exercendo sua função jurisdicional, mas quando promove concurso para preenchimento dos cargos dos auxiliares da Justiça realiza típica função administrativa; por fim, além de fazer leis, sua tarefa básica, o Legislativo julga o Pre-sidente da República nos chamados crime de respon-sabilidade (impeachment).

c) dois são os objetivos básicos da chamada “Separação de Poderes”: I) evitar a concentração de todas as funções estatais em um único órgão ou uma única pessoa, como acontecia nas monarquias absolutas; II) através do controle mútuo que os Pode-res do Estado exercem entre si, garantir o respeito aos Direitos e Garantias fundamentais do cidadão.

Questão Correlacionada de Concurso - A dou-trina aponta, como exceções ou flexibilidade ao Prin-cípio da Separação de Poderes, as seguintes situa-ções, entre outras:

• Nomeação de Deputados Federais e Senado-res como Ministros de Estado;

• Possibilidade de convocação de Ministros de Estado, pelo Senado Federal e pela Câmara dos Deputados, para prestarem esclarecimen-tos em matérias de sua competência (do Minis-tro).

• Necessidade de aprovação, pelo Senado Fede-ral, de determinadas nomeações feitas pelo Presidente da República, como, por exemplo, a do Presidente e Diretores do Banco Central.

Obs. 1: O Estado é investido no denominado poder político, sendo este poder superior a todos os demais poderes sociais, os quais reconhece, rege e domina, a fim de ordenar as relações sociais como um todo. Obs. 2: O poder político é dotado de três característi-cas fundamentais: unidade, indivisibilidade e indele-gabilidade. Obs. 3: a divisão de poderes se fundamenta em dois elementos: a) especialização funcional; b) indepen-dência orgânica. Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da Re-pública Federativa do Brasil: I – construir uma so-ciedade livre, justa e solidária; II – garantir o de-senvolvimento nacional; III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades soci-ais e regionais; IV – promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

O conteúdo dessa norma pode ser sintetizado em duas funções básicas:

I) a partir da definição do que é fundamental para o desenvolvimento da sociedade brasileira, é obriga-ção das autoridades públicas (do executivo, legislati-

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vo, judiciário e da instituição ministério público) esta-belecerem políticas legislativas e administrativas que contemplem os objetivos propostos;

II) serve como parâmetro para a instituição de di-versos capítulos e artigos da nossa Constituição que possibilitam a implantação desses objetivos funda-mentais, como, por exemplo, a consagração do prin-cípio da igualdade entre homens e mulheres (art. 5º, I,).

Exemplificando como o legislador orientou-se de acordo com os objetivos fundamentais propostos, te-mos a edição da Emenda Constitucional nº 31, que institui o fundo de combate e erradicação da pobreza, tendo os seus recursos destinados a ações suple-mentares de nutrição, habitação, educação, saúde, reforço de renda familiar, entre outros.

Este Fundo Constitucional deverá vigorar até 2010, com o objetivo de propiciar a todos os brasilei-ros acesso a níveis dignos de subsistência. Art. 4º. A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I – independência nacional; II – preva-lência dos direitos humanos; III – autodetermina-ção dos povos; IV – não-intervenção; V – igualda-de entre os Estados; VI – defesa da paz; VII – so-lução pacífica dos conflitos; VIII – repúdio ao ter-rorismo e ao racismo; IX – cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X – con-cessão de asilo político. Parágrafo Único. A Re-pública Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.

a) nos artigos anteriores a Constituição definiu as bases sobre as quais se assentam a organização es-tatal brasileira no plano interno, bem como quais sãos objetivos a serem alcançados a partir dos fundamen-tos apontados no art. 1º. No dispositivo em estudo, o legislador constituinte define quais os parâmetros pa-ra a conduta do país frente aos outros Estados Sobe-ranos.

b) Dessa forma, em primeiro plano, determina-se a completa independência do país ante os outros Es-tados soberanos, sendo essa uma expressa externa da soberania estatal. Como conseqüência do primeiro postulado, proclama-se os princípios da autodetermi-nação dos povos, que é expressão interna da sobe-rania, cada povo devendo conduzir-se da maneira que entender mais adequada, o da não-intervenção, no sentido de um Estado não interferir nos domínios de outro Estado e o da igualdade entre os Estados, ou seja, pobre ou rico, desenvolvido ou periférico, to-dos os Estados Soberanos merecem idêntico trata-mento na ordem internacional.

c) Por outro lado, a prevalência dos direitos hu-manos, a defesa da paz, a solução pacífica dos confli-tos, a cooperação internacional dos povos e o repúdio ao terrorismo e ao racismo constituem faces da mes-ma conduta que o Estado brasileiro deve adotar na ordem internacional: evitar a todo custo a violência na solução dos conflitos internacionais, de que são ex-

pressões o terrorismo e o racismo, buscando compar-tilhar com os outros povos conhecimentos que aju-dem ao desenvolvimento geral da humanidade, com a defesa intransigente dos direitos humanos.

d) finalmente, a concessão de asilo político. Asilo é expressão da soberania estatal e consiste no aco-lhimento de estrangeiro em um Estado que não é o seu, em virtude de estar sofrendo perseguição em seu próprio país, normalmente por motivos políticos. A competência para a concessão é do Presidente da República, que o concede se entender conveniente para a política do país. FORMA DE ABORDAGEM NOS CONCURSOS

Quanto aos princípios fundamentais, normalmen-te se coloca uma situação para o candidato identificar se a conduta do Governo Brasileiro é compatível com os fundamentos da República Federativa do Brasil, com o princípio da Separação de Poderes, com os objetivos fundamentais ou com os princípios regentes das relações internacionais.

O outro modo de abordagem, específico da FCC, é a elaboração de questões de mera reprodução do texto constitucional, nos arts. 3° e 4°, exigindo do candidato uma maior memorização.

Direitos Fundamentais são o conjunto de

normas, princípios, prerrogativas, deveres e institutos inerentes à soberania popular, que garantem a convi-vência pacífica, digna, livre e igualitária, independen-temente de credo, raça, origem, cor, condição eco-nômica ou status social, sendo compreendidos em três dimensões: civil (direitos da pessoa humana), po-lítica (direitos de participação na ordem democrática) e econômico-social (direitos econômicos e sociais).

É clássica a distinção entre Direitos Fundamen-tais e Garantias Fundamentais. Os primeiros são bens e vantagens disciplinados na Constituição Fede-ral, como a liberdade de reunião em locais públicos (CF, art. 5º, XVI) e o direito de propriedade (CF, art. 5º, XXII); as segundas são as ferramentas jurídicas através das quais tais direitos se exercem, limitando os poderes do Estado, como a garantia de acesso ao Judiciário para solucionar conflitos de interesses (CF, art. 5º, XXXV) e a gratuidade das ações constitucio-nais de habeas corpus e habeas data, bem como os atos necessários ao exercício da cidadania.

Também tem sido cobrada em alguns concur-sos públicos a discussão sobre a existência de gera-ções de direitos fundamentais, demarcando a evolu-ção das liberdades públicas.

Segundo entendimento consolidado do STF, os direitos fundamentais teriam evoluído, sucessivamen-

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te, nas seguintes etapas: • Primeira Geração: surgida no final do Século

XVII, corresponde aos direitos e garantias individuais clássicos, voltados para a limitação do poder estatal, gerando prestações negativas do Estado, visando à preservação do direito à vida, à liberdade de locomo-ção, expressão de pensamento, direito à religião, à associação etc.

• Segunda Geração: surge logo após a Primei-ra Grande Guerra, compreendendo os direitos soci-ais, econômicos e culturais, que visam assegurar o bem-estar e a igualdade, impondo ao Estado um a prestação positiva, no sentido de fazer algo de natu-reza social em favor do homem. São exemplos dessa geração de direitos fundamentais: questões relacio-nadas ao trabalho, ao seguro social, à subsistência digna do homem, ao amparo à doença e à velhice etc.

• Terceira geração (ou de novíssima dimen-são): engloba os chamados direitos de solidariedade ou fraternidade. São exemplos desta leva de direitos: direitos difusos em geral, como o meio ambiente e-quilibrado, a vida saudável e pacífica, o progresso, a autodeterminação dos povos, o avanço da tecnologi-a, entre outros.

Por último, nessas breves noções introdutórias, tem se destacado, em alguns concursos públicos, no-tadamente os realizados pelo CESPE/UNB, a questão sobre as características dos Direitos e Garantias Fundamentais. Vamos listar os principais tópicos, de maneira sucinta, somente para conhecimento do can-didato:

• Históricos - derivam de longa evolução, si-tuada em determinado contexto historio, ampliando-se ou limitando-se, de acordo com as circunstâncias.

• Universais – ultrapassam os limites territori-ais de um Estado, para beneficiar os indivíduos, inde-pendentemente de raça, credo, cor, sexo, filiação etc.

• Cumuláveis – podem ser exercidos ao mes-mo tempo, como o direito de informação e a liberdade de manifestação de pensamento.

• Irrenunciáveis – podem deixar de ser exerci-dos, mas nunca renunciados.

• Inalienáveis – Os seus titulares não podem vendê-los, aliená-los, comercializá-los, pois não tem conteúdo econômico.

• Imprescritíveis – não prescrevem, uma vez que não apresentam caráter patrimonial.

• Relativos – nem todo direito ou garantia fun-damental podem ser exercidos de modo absoluto e ir-restrito, salvo algumas exceções.

Vejamos, agora, quais são estes direitos e ga-rantias, começando pelos individuais e coletivos.

DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Art. 5.º Todos são iguais perante a lei, sem distin-ção de qualquer natureza, garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à i-

gualdade, à segurança e à propriedade, nos ter-mos seguintes: • Conteúdo da norma: o caput do art. 5º estabelece

inicialmente o denominado princípio da Igualda-de Formal ou da Isonomia, que tem por finalida-de impedir discriminações sem fundamento ou privilégios sem justa causa, considerando-se em um duplo aspecto: a) igualdade na lei, significan-do que o legislador (aquele que faz a lei) não po-de estabelecer diferenças sem nenhuma razão que as justifique; b) igualdade perante a lei, o que implica dizer que os poderes constituídos (Execu-tivo, Legislativo e Judiciário), quando da aplicação da lei, não poderão estabelecer tratamentos desi-guais para pessoas na mesma situação jurídica.

• ATENÇÃO: o princípio da igualdade formal não significa que a lei não poderá estabelecer qual-quer diferença de tratamento em relação às pes-soas a que se destina, mas sim que a desigual-dade, se houver, deverá ter um motivo que a justi-fique.

Questões correlacionadas de concurso:

• Estabelecimento de cotas raciais, limites máximos

de idade para admissão no serviço público, limi-tes mínimos de altura para admissão em serviço público não ferem o princípio da isonomia (Posi-ção dominante na jurisprudência do STF).

• O tratamento diferenciado estabelecido nas hipóte-ses acima fundamenta-se na distinção doutrinária entre ações afirmativas e discriminações negati-vas. As primeiras (ações afirmativas) compreen-dem as discriminações positivas e as desequipa-rações permitidas, representando situações dife-renciadas a certos grupos sociais, em virtude de marginalizações que sofreram no passado, como os idosos, as mulheres, os negros, os índios, os deficientes físicos etc., ou prerrogativas estabele-cidas em favor de entidades estatais ou a deter-minados agentes políticos, como as imunidades parlamentares. De outro lado, as discriminações negativas são vedadas, posto que são desequipa-rações injustificáveis, visando à preservação de privilégios que devem ser combatidos.

• Súmula 683 do STF: “O limite de idade para inscrição em concurso público só se legitima em face do art. 7º, XXX, da Constituição, quando possa ser justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser preenchido”.

• O STF tem apontado, reiteradas vezes, o tríplice objetivo do princípio da igualdade: limite ao legis-lador, impedindo a criação de normas veiculado-ras de desequiparações ilícitas e inconstitucio-nais; à autoridade pública, que não pode praticar ações discriminatórias, seja aplicando concreta-mente a lei (Poder Executivo), seja interpretando-a (Judiciário); à conduta do particular, que esta proibido de realizar atos discriminatórios, precon-ceituosos, que podem, inclusive, gerar responsa-bilidade penal.

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• É importante observar, também, que apesar de a Constituição Federal assegurar as liberdades pú-blicas “aos estrangeiros residentes no país”, a in-terpretação da Suprema Corte é no sentido de es-tender essas garantias aos não residentes e até aos apátridas, desde que encontrem-se em situa-ção de regularidade em território brasileiro.

Direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade: • o direito à vida, garantido na CF, tem dois as-

pectos: a) o direito de permanecer vivo, punindo-se, por exemplo, o homicídio, como conduta que elimina este direito essencial e pré-requisito para o exercício de todos os outros; b) direito a uma existência digna, ou seja, direito à educação, cul-tura, saúde etc.

Questão Jurídica Atual: direito de abortar feto

anencefálico (com ausência total ou parcial de cére-bro). O STF tem discutido, desde 2004, quando foi proposta uma Argüição de Descumprimento de Pre-ceito Fundamental (ADPF 54), se é cabível a inter-rupção de gravidez por médico, sem autorização judi-cial, quando constatada, de forma indiscutível, que o feto não possui cérebro.

Após o Ministro Marco Aurélio de Melo conceder a liminar, permitindo a interrupção da gravidez, o Ple-nário do STF derrubou, por 7 votos a 4, esta decisão, até o julgamento final.

Retomou-se recentemente a discussão, tendo a Suprema Corte optado por realizar audiências públi-cas, para ouvir várias instituições com argumentos fa-voráveis e contrários ao aborto nessas condições.

Aguarda-se a retomada do julgamento até o final deste ano.

• o direito à liberdade, como prerrogativa de auto-

determinação do indivíduo, tem várias manifesta-ções previstas na própria CF: liberdade de mani-festação de pensamento(5º, IV); de consciência e crença (5,º, VI); de atividade intelectual, artística, científica e de comunicação (5º, IX); de trabalho, ofício ou profissão (5º, XIII); de locomoção (5º, XV) etc., que serão comentados posteriormente.

• direito à igualdade, já comentado anteriormente, mas com uma ressalva importante: em relação aos estrangeiros, veda-se o acesso aos direitos políticos (votar e ser votado). No mais, todos os outros direitos assegurados aos brasileiros tam-bém se estendem aos que não possuem a nacio-nalidade pátria.

• direito à segurança, que é uma das funções bá-sicas do Estado e pode ser sintetizada na obriga-ção estatal de proteger os bens e a vida das pes-soas, principalmente através das corporações mi-litares e da polícia civil, zelando pela manutenção da ordem na sociedade.

• direito à propriedade, que é a prerrogativa que qualquer pessoa tem de livremente usufruir de seus bens, sem que seja arbitrariamente privada

desse direito. Entretanto, a CF 88 garante o direi-to de propriedade (5º, XXII), condicionando-o, po-rém, ao atendimento de sua função social (5º, XXIII).

I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; • reflexo do princípio da igualdade, só que aplicado

à questão do gênero (masculino ou feminino). Exemplo: art. 40, III, CF, que trata da idade e do tempo de contribuição necessários para aquisição de aposentadoria (60 anos – 35 anos – homem; 55 anos – 30 anos – mulher).

• Além de estabelecer que somente a discrimina-ção constitucionalmente prevista ou admitida é aplicável, este direito constitucional retira eficácia de qualquer norma que estabeleça diferenciação com fundamento apenas e tão-somente no sexo das pessoas, bem como impede o estabelecimen-to de qualquer lei que faça esta discriminação

• ATENÇÃO: Em relação a concurso público, a e-xigência diversificada quanto aos testes de capa-cidade física é constitucional e legal, visto que le-va em consideração as diferenças naturalmente existentes entre o homem e a mulher, possibili-tando uma igualdade de condições no acesso aos cargos públicos.

II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fa-zer alguma coisa senão em virtude de lei; • Este é o chamado princípio da legalidade, que

significa: a) somente a lei, regularmente votada pelo Poder Legislativo e sancionada pelo Poder Executivo, além das Medidas Provisórias editadas pelo Presidente da República, podem obrigar a pessoa a realizar ou não realizar algo; b) existin-do a lei, a pessoa não pode deixar de cumpri-la, alegando que a desconhece (LICC, art. 3º).

• O princípio da legalidade é diferente do princí-pio da reserva legal, vez que este último signifi-ca que determinadas matérias somente poderão ser tratadas através de lei em sentido estrito, não podendo o Poder Executivo editar Medidas Provi-sórias sobre o assunto. Exemplo: o direito de gre-ve no serviço público (CF, 37, VII) somente pode-rá ser regulamentado mediante lei específica.

III – ninguém será submetido a tortura nem a tra-tamento desumano ou degradante; • Tratamento desumano é aquele que tem por con-

trário à condição de pessoa humana; tratamento degradante é aquele que, aplicado, diminui a condição de pessoa humana e sua dignidade; tor-tura é o sofrimento físico e psíquico imposto a uma pessoa, por qualquer meio, sendo disciplina-da pela Lei 9.455/97.

• A proibição de tortura, de tratamento desumano ou de tratamento degradante está relacionada a um dos fundamentos da República Federativa do Brasil estabelecido no art. 1º, III, CF, que é a dig-nidade humana. Ou seja, todas essas condutas são contrárias à dignidade humana, que é um va-

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lor espiritual e moral inerente à pessoa, consis-tente no respeito e estima que todas as pessoas merecem, enquanto seres humanos.

• Atenção: a doutrina majoritária aponta a proi-bição de tortura como o único direito funda-mental absoluto, que não permite a harmoni-zação deste princípio com as demais garanti-as fundamentais estabelecidas na Constitui-ção Federal. Isto significa que, em nenhuma hipótese, permite-se o uso da tortura, qual-quer que seja a justificativa apresentada para a sua utilização.

IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; • Um dos reflexos do direito constitucional à liber-

dade, o direito à livre manifestação do pensamen-to é a base da democracia e consiste na possibi-lidade da pessoa expressar, por qualquer forma e meio, o que pensa a respeito de qualquer assun-to. No entanto, a própria CF estabelece uma exi-gência para o exercício desse direito: a opinião não pode ser protegida pelo anonimato, ou seja, a pessoa deve se identificar para que, caso extra-pole no seu direito de manifestação e prejudique outras pessoas, possa ser responsabilizada pelos seus atos.

V – é assegurado o direito de resposta, propor-cional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; • Como vimos no inciso anterior, a pessoa pode se

expressar livremente sobre qualquer assunto. No entanto, caso essa opinião cause algum dano de natureza material, moral ou à imagem da pessoa eventualmente atingida pelas declarações, este dispositivo constitucional assegura duas formas de reparação do dano: a) direito de resposta pro-porcional ao agravo (ofensa) sofrido; b) indeniza-ção, quer dizer, ressarcimento dos prejuízos cau-sados com a manifestação ofensiva do pensa-mento, de natureza material (danos causados e lucros cessantes), moral (à intimidade da pessoa, mesmo que a ofensa não chegue ao conhecimen-to de outrem) e à imagem (maneira como a pes-soa é vista pelos outros, em suas relações exter-nas).

VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; • Este dispositivo constitucional assegura a possibi-

lidade de a pessoa filiar-se a qualquer forma de orientação filosófica ou política, professar qual-quer religião, ou não ter religião alguma, e garan-te a proteção às igrejas, templos, terreiros etc., bem como aos rituais utilizados nesses templos (missa, pregação, “passe”).

• Essa liberdade, no que diz respeitos ao exercício dos cultos, deve obedecer às leis que regulamen-tam o sossego público e o ordenamento do espa-

ço urbano, observando-se os horários de repouso noturno, restrições em locais próximos a hospitais etc.

• Essa inviolabilidade impede que pessoas adeptas de determinada religião hostilizem as de outra, devendo o poder público assegurar este direito constitucional.

VII – é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e mili-tares de internação coletiva; • A regra é que as pessoas possam se deslocar até

os locais em que se exercita o direito à liberdade de culto, via de regra nos templos religiosos, mas quando as mesmas se encontram em entidades de internação coletiva, civis ou militares (hospi-tais, presídios, quartéis), sem possibilidade desse deslocamento, a CF assegura o direito de recebe-rem, no local em que estejam, a assistência espi-ritual desejada.

VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de o-brigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei; • Regra geral: não pode haver a privação de direi-

tos se a pessoa professa religião umbandista, es-pírita, católica, protestante ou qualquer outra, bem como se o cidadão se filia a determinado pensamento filosófico ou político, como o pacifis-mo, o anarquismo ou o socialismo.

• Exceção: se todos estão obrigados a cumprir a determinação legal, ou a realizar uma prestação alternativa, fixada em lei, e um cidadão recusar-se a fazer uma coisa ou outra, poderá ser privado de seus direitos. A justificativa para essa punição encontra-se no princípio da isonomia (todos são iguais perante a lei) e no princípio da legalidade (a lei obriga a todos).

• Exemplo: o serviço militar é obrigatório para os homens que completarem 18 anos (art. 143, CF), e se algum jovem na idade para o alistamento mi-litar recusar-se a cumprir esta obrigação, alegan-do convicção filosófica, política ou religiosa, bem como se negar a realizar a prestação alternativa (Lei 8.239/91), terá seus direitos políticos (votar e ser votado) suspensos enquanto não prestar a obrigação a todos imposta (CF, art. 15, IV).

• Escusa de consciência é o direito, constitucio-nalmente assegurado, de os indivíduos negaram-se a prestar serviço ou imposição contrária às su-as convicções religiosas, políticas ou filosóficas. É também conhecida como imperativo de consciên-cia ou objeção de consciência.

• Principais situações em que pode ser alegada escusa de consciência:

a) alistamento eleitoral e dever de voto – os que estão obrigados por lei a efetivar sua participação ativa no processo eleitoral podem não fazê-lo, mas deverão justificar a falta ou pagar multa pecuniária, nos termos do Código Eleitoral.

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b) serviço militar obrigatório – conforme vimos acima. c) comparecimento ao júri – o jurado que não desejar participar do Júri, por objeção de consciência, deverá encaminhar seu requerimento à autoridade compe-tente, que não poderá negar-lhe o pedido. IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, indepen-dentemente de censura ou licença; • Reflexo da liberdade de manifestação de pensa-

mento, este dispositivo constitucional assegura que o poder público não pode censurar filmes, peças de teatro, música, livros etc., como fazia no tempo da ditadura militar, sendo-lhe facultado a-penas realizar a classificação da produção inte-lectual, artística, científica ou de comunicação, para fins indicativos (CF, 21, XVI – atribuição da União), porém não mais censurar ou fazer de-pender de licença para serem exibidas as men-cionadas manifestações culturais.

• Tecnicamente, censura é o expediente contrário ao regime das liberdades públicas, revestindo-se numa ordem proveniente do detentor do poder, o qual deseja impedir a circulação de idéias e ideais que se chocam com suas convicções pessoais.

• Já a licença é a autorização para veiculação de notícias, comunicados, CDs, DVDs, livros periódi-cos, revistas especializadas, jornais etc.

X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o di-reito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; • Intimidade diz respeito às relações subjetivas e

de trato íntimo das pessoas, como as familiares e de amizade; vida privada é uma forma de exter-nar esta intimidade, envolvendo todos os outros relacionamentos humanos, como os comerciais, de trabalho, estudo etc.; honra é um atributo pes-soal, uma característica da pessoa que consiste, de um lado, no conceito que esta goza na socie-dade (bom nome, boa fama) e de outro na visão que a pessoa tem de si mesma; e imagem é a fi-gura física e material da pessoa.

• A violação de qualquer dessas esferas do direito à intimidade traz para o ofendido o direito a exigir judicialmente a reparação do dano material (pre-juízos sofridos e lucros cessantes) ou moral (bom nome, boa fama) sofridos.

• Questão correlacionada de concurso: quebra de sigilos bancário e fiscal, que só pode ser de-terminada pelo Poder Judiciário ou por Comis-sões Parlamentares de Inquérito (Posição domi-nante no STF).

• O Supremo Tribunal Federal já se posicionou quanto à possibilidade de o Ministério Público re-quisitar, diretamente, a quebra do sigilo bancário ou fiscal. Segundo a Corte Suprema, o Ministério Público está autorizado a requisitar a quebra dos referidos sigilos, sem intermediação do Poder Ju-diciário, quando se tratar de desvio de verbas pú-blicas, pois aí prevalece o princípio da publicidade

dos atos administrativos em face do direito à inti-midade.

• Questão correlacionada de concurso II: A pes-soa jurídica pode ser atingida em sua imagem e honra (bom conceito perante seus clien-tes/usuários), razão pela qual tem se entendido, nos Tribunais Superiores (STF e STJ), que elas podem ser autoras de ações de indenização por danos morais.

XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, nin-guém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial; • Conceito de casa: todo local delimitado e separa-

do que alguém ocupa com exclusividade, a qual-quer título, inclusive profissionalmente. Assim, casa é: apartamento, escritório, moradia coletiva etc.

• Por outro lado, precedentes do STF apontam ba-res, lanchas de serviço ou passeio, restaurantes, boates, ônibus ou outros lugares abertos ao pú-blico em geral como não compreendidos no con-ceito constitucional de casa, porque em tais hipó-teses inexiste vínculo de particularidade ligando o indivíduo à coisa.

• O consentimento para adentrar o domicílio deve ser do morador, não necessariamente do proprie-tário, pois o que se protege é vida privada do in-divíduo.

• Para a maioria da doutrina, compreende-se por dia o período que vai das 6:00 às 18 horas, não podendo ocorrer a invasão do domicílio, nem mesmo com autorização judicial, após este horá-rio. Este período de tempo é válido, seja no horá-rio normal, seja no horário brasileiro de verão.

• Hipóteses de violação de domicílio sem con-sentimento do morador: 1ª - Durante o dia ou à noite: a) para prestação de socorro (morador que se acidenta dentro de casa, ficando impossibilitado de se locomover ou se comunicar); b) em caso de desastre (terremoto, incêndio, i-nundação) c) em flagrante delito 2ª - Somente durante o dia: a) por determinação judicial.

• ATENÇÃO: Somente a autoridade judiciária (juiz) poderá emitir ordem para realizar qualquer dili-gência que implique violação de domicílio, e ainda assim somente durante o dia. É a chamada cláu-sula de reserva jurisdicional ou princípio da reserva de jurisdição.

XII – é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal; • A regra geral é que os quatro tipos de sigilo des-

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critos no inciso, todos relacionados à comunica-ção não podem ser quebrados, pois isto viola o direito à intimidade e vida privada das pessoas.

• Correspondência é toda mensagem verbal reali-zada pelos instrumentos de comunicação escrita (cartas, missivas, fax etc.).

• Comunicação telegráfica é a que se realiza por meio de telegramas (mensagem escrita, transmi-tida por telegrafia, para ser entregue ao destinatá-rio) ou por telex (modalidade de serviço telegráfi-co por meio de teleimpressoras).

• Comunicações de dados compreendem todas as informações confidenciais sobre pessoas físi-cas e jurídicas, presentes nos bancos; nas institu-ições financeiras, creditícias e fazendárias; nos fi-chários, pastas, arquivos e cadastros dos órgãos dos Poderes Públicos e dos organismos privados.

• Comunicações telemáticas são as que associ-am os meios de comunicação à informática.

• Excepcionalmente, o sigilo da comunicação te-lefônica pode ser quebrado, observados os se-guintes requisitos: a) ordem judicial prévia; b) para fins de investigação criminal (via de regra conduzida pela autoridade policial) ou instrução processual penal (conduzida pela autoridade judi-ciária); c) nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer (Lei 9.296/96) Questão correlacionada de concurso: Observe que não pode haver quebra do sigilo de comuni-cação telefônica em processo civil, como, por e-xemplo, em uma ação de improbidade administra-tiva, civil pública ou numa ação de divórcio, para comprovar infidelidade do cônjuge. Também é preciso estabelecer a diferença en-tre quebra de registros telefônicos e intercep-tação telefônica. A interceptação telefônica signi-fica a gravação da relação dialógica (conversa) entre duas pessoas, sem consentimento ou co-nhecimento dos interlocutores. É caso de cláusula de reserva jurisdicional, só podendo ser determi-nado o “grampo telefônico” por autoridade judiciá-ria. A quebra de registros telefônicos, como sim-ples informação de números originados e recebi-dos por uma determinada linha telefônica pode ser determinado pelo Ministério Público, e tam-bém por CPI, pois então não haverá violação da intimidade dos interlocutores. QUESTÃO ESPE-CÍFICA DO CESPE. Questão correlacionada de concurso II: O Su-premo Tribunal Federal tem entendido que é pos-sível a quebra do sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados (bancários e fiscais), telefônicas e telemáticas, sempre que estiverem sendo utilizadas como instrumentos de práticas ilícitas. Isto permite, por exemplo, apreensão e devassa do conteúdo armazenado em computadores, quando utilizados para coletar e transmitir cenas de pedofilia (sexo com crian-

ças). Questão correlacionada de concurso III: o STF também já se posicionou no sentido de ser possí-vel e constitucional a interceptação de carta de presidiário, com base no princípio de que a invio-labilidade do sigilo epistolar não pode salvaguar-dar práticas ilícitas.

XIII – é livre o exercício de qualquer trabalho, ofí-cio ou profissão, atendidas as qualificações pro-fissionais que a lei estabelecer; • Se não houver nenhuma regulamentação especí-

fica do trabalho, ofício ou profissão, estes podem ser livremente exercidos por qualquer pessoa, como por exemplo, ser comerciário ou bancário. Por outro lado, profissões há que exigem deter-minado conhecimento específico e que, portanto, só podem ser exercidas por quem detenha habili-tação legal para tanto, como é o caso dos advo-gados, médicos, engenheiros etc.

XIV – é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessá-rio ao exercício profissional; • Assegura-se aqui a liberdade de informação, que

se traduz em três vertentes: direito de informar (repassar), de se informar (buscar) e de ser in-formado (receber) . Protege-se o sigilo da fonte, como forma de garantir o acesso à informação, que de outra forma poderia ser prejudicado pelo natural receio que as pessoas teriam em fornecê-la, temendo represálias. Logo, o jornalista, a prin-cípio, não está obrigado a revelar a fonte de suas informações.

XV – é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos ter-mos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens; • Cuida-se do direito de transitar pelo território na-

cional, ir e vir sem restrições, inclusive com seus bens. Este direito de locomoção, quando amea-çado, pode ser restabelecido, ou ser evitada a ameaça, se ainda não se concretizou, através do habeas corpus, que estudaremos adiante.

• Deve-se observar que este direito é amplo quan-do em tempos de paz, podendo, porém, ser restri-to em caso de declaração de guerra a outro Esta-do Soberano ou, ainda, durante a vigência do es-tado de sítio (art. 139, I), que poderá ser decreta-do se ocorrer uma guerra civil (interna).

• O direito de locomoção não significa que as pes-soas e bens não se sujeitem a passaporte (pes-soas) ou tributação (bens), pois isto não é consi-derado restrição indevida a este direito constitu-cional.

XVI – todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independen-temente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o

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mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente; • O direito de reunião, que deve ser eventual e

transitória, define-se como um direito de ação co-letiva que envolve a adesão consciente de duas ou mais pessoas com a finalidade de realização de um objetivo comum.

• Características da reunião: pacífica, sem armas e em local aberto ao público.

• Independe de autorização do poder público, po-rém a reunião deverá ser previamente comunica-da para a autoridade competente, por dois moti-vos: a) para que esta adote as providências de segurança pública, se as entender necessárias; b) para assegurar o direito de preferência em sua realização, já que não pode frustrar outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local.

• Exemplo: comício de determinado candidato; co-municação à autoridade competente; adoção de providências, caso não haja outra reunião anteri-ormente convocada para o mesmo local, data e horário.

XVII – é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar; • A associação caracteriza-se pelo caráter perma-

nente e objetivos definidos em torno dos quais as pessoas realizam um esforço comum, para alcan-çar a meta. Podem ser de várias espécies, como associações culturais, desportivas, empresariais etc., mas deverá ter caráter lícito, ou seja, permi-tido ou não expressamente proibido pelo Direito. Além disso, é proibida a associação que tenha característica paramilitar, ou seja, que possua uma hierarquia militar interna, utilize-se de armas, use uniformes etc.

XVIII – a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu fun-cionamento; • Este inciso exclui a possibilidade de o Estado in-

terferir na criação de associações e, em menor medida, de cooperativas, ficando a constituição e funcionamento das mesmas a serem definidas pelos seus membros, não dependendo, via de re-gra, de autorização estatal. Exceção: instituições financeiras, previdenciárias e de seguros.

• Exemplo: Se quatro pessoas decidem montar uma sociedade civil para prestar serviços de ad-vocacia, são os sócios que irão decidir quem res-ponde judicialmente pela sociedade, a forma de repartição dos lucros etc.

XIX – as associações só poderão ser compulsori-amente dissolvidas ou ter suas atividades sus-pensas por decisão judicial, exigindo-se, no pri-meiro caso, o trânsito em julgado; • Se é livre o direito de associação, como vimos an-

teriormente, as sociedades deverão ser dissolvi-das, normalmente, por deliberação de seus só-cios.

• Formas de dissolução das associações: a) espon-tânea, por deliberação dos sócios; b) por determi-nação legal; c) por ato do governo, quando a as-sociação dependa de autorização do Estado; d) compulsoriamente (obrigatoriamente) por ordem judicial, sendo, neste caso, exigida que a decisão transite em julgado, ou seja, que não caiba mais nenhum recurso dentro do poder judiciário.

• Também por ordem judicial poderá a associação ter suas atividades suspensas e, neste caso, não necessita que a decisão transite em julgado.

XX – ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado; • De fácil entendimento: a regra é a liberdade de

associação. Logo, ninguém pode ser obrigado a se associar ou, uma vez associado, permanecer no quadro de sócios de qualquer entidade.

XXI – as entidades associativas, quando expres-samente autorizadas, têm legitimidade para repre-sentar seus filiados judicial ou extrajudicialmente; • Trata-se de representação processual, ou seja,

quando uma entidade associativa defende, em ju-ízo ou fora dele, um direito que não é seu, mas de seus associados, desde que expressamente au-torizada por cada um dos sócios.

• Exemplo: a associação dos moradores do bairro do Coroado pode, em nome de seus sócios, re-querer junto à Administração Municipal (Prefeitu-ra) a prestação de serviços de coleta de lixo para as ruas do bairro. Caso deseje “entrar com uma ação” (ingressar em juízo) para cobrar este servi-ço, cada um dos sócios deverá autorizar a asso-ciação, passando um instrumento procuratório (mandato).

XXII – é garantido o direito de propriedade; • O direito de propriedade é um direito real que se

caracteriza pela possibilidade de exploração de determinado bem, com exclusividade, pela pes-soa que detém este direito. Assegura-se, portan-to, que ninguém será privado arbitrariamente de sua propriedade, exceto quando ela não estiver cumprindo a sua função social, sujeitando-se à desapropriação por necessidade ou utilidade pú-blica, ou por interesse social.

XXIII – a propriedade atenderá a sua função soci-al; • A função social da propriedade significa que a

propriedade não é mais um direito que se exerce de forma absoluta pelo dono, devendo, a sua uti-lização, reverter-se em benefício para a coletivi-dade. É, portanto, a destinação economicamente útil da propriedade, em nome do interesse públi-co.

• Seu objetivo é otimizar o uso da propriedade, de sorte que não possa ser utilizada em detrimento do progresso e da satisfação da comunidade.

• Exemplo1: latifúndio improdutivo, que não esteja sendo explorado pelo dono, sujeita-se à desapro-

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priação para reforma agrária (art. 184, CF). • Exemplo2: terreno urbano que não esteja sendo

utilizado pelo dono, dentro do que prevê o Plano Diretor da cidade, sujeita-se à desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social (art. 182, CF).

XXIV – a lei estabelecerá o procedimento para de-sapropriação por necessidade ou utilidade públi-ca, ou por interesse social, mediante justa e pré-via indenização em dinheiro, ressalvados os ca-sos previstos nesta Constituição; • A desapropriação é uma sanção (penalidade) im-

posta ao particular caso a sua propriedade não esteja atendendo à função social prevista consti-tucionalmente, e consiste na transferência com-pulsória (obrigatória) de domínio do particular pa-ra o poder público, para atender à necessidade ou utilidade pública, ou interesse social.

• São requisitos da desapropriação: a) presença da necessidade pública, ou da utilidade pública ou do interesse social, alternativamente; b) indeniza-ção justa e prévia, em dinheiro, para ressarcir o particular que teve seu bem expropriado.

• Exceções ao pagamento prévio em dinheiro: a) desapropriação de imóvel urbano, que é pago em títulos da dívida pública (182, §4º, III, CF); b) de-sapropriação de imóvel rural para fins de reforma agrária, cujo pagamento é efetivado por meio de títulos da dívida agrária (184, caput, CF).

• Caso em que não há indenização alguma ao par-ticular: terras onde se cultiva plantas psicotrópi-cas (coca, cannabis sativa, papoula etc.) – art. 243, CF. É tecnicamente denominada expropria-ção, não se tratando, portanto, de hipótese de desapropriação.

• Questão correlacionada de concurso: é possí-vel a desapropriação sem pagamento de justa e prévia indenização em dinheiro, em hipóteses expressamente previstas na Constituição Fe-deral, caracterizando desapropriação com caráter sancionatório (penalidade pelo não cumprimento da função social da propriedade).

XXV – no caso de iminente perigo público, a auto-ridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano; • Essa é a hipótese de requisição, ou seja, utiliza-

ção temporária de propriedade particular pelo po-der público, quando ocorrer iminente perigo públi-co, que justifique esta medida.

• Diferenças entre desapropriação e requisição: a) nesta última não há transferência de propriedade para o poder público, apenas utilização; b) na re-quisição também não ocorre a prévia indenização em dinheiro, somente ocorrendo ressarcimento se efetivamente ocorrer algum dano à propriedade particular.

• Portanto, quatro são os pressupostos para o e-xercício do direito de requisição: a) perigo público iminente (calamidade pública, convulsão social

etc.); b) decretação pela autoridade competente; c) finalidade de uso; d) indenização posterior no caso de prejuízo.

• Exemplo: Houve uma grande inundação na cida-de e não há lugar para abrigar todas as pessoas que ficaram desamparadas. Neste caso, a prefei-tura pode requisitar um imóvel do particular (um hotel, por exemplo), a fim de utilizá-lo temporari-amente para uma finalidade pública.

• A indenização, se houver, deverá englobar tanto os danos emergentes (prejuízo material consta-tado de plano) quanto os lucros cessantes (o que o proprietário deixou de perceber pela não exploração econômica de seu imóvel).

• Jurisprudência do STF: a Corte Suprema não admite a requisição incidente sobre bens públi-cos, sem que tenha havido a decretação do es-tado de defesa. O precedente se refere ao De-creto presidencial 5.392/2005, que havia de-clarado estado de calamidade pública do setor hospitalar do SUS do Rio de Janeiro, autorizan-do a requisição, pelo Ministro da Saúde, dos bens, serviços e servidores dos hospitais daque-la cidade. O STF concedeu o mandado de segu-rança impetrado pelo Município.

XXVI – a pequena propriedade rural, assim defini-da em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débi-tos decorrentes de sua atividade produtiva, dis-pondo a lei sobre os meios de financiar o seu de-senvolvimento; • A pequena propriedade rural, desde que tra-

balhada pela família, não poderá ser objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, ou seja, a propriedade não pode servir de garantia da dívida contraída com a aquisição de um trator para ser utilizado na lavoura, por exemplo.

• Logo, quatro são os requisitos para que ocorra a impenhorabilidade da propriedade rural definida neste inciso: a) seja pequena propriedade rural, nos termos da lei 4.504/64 (Estatuto da Terra); b) a propriedade seja trabalhada pela própria famí-lia; c) seja produtiva; d) conexão direta entre o débito e a atividade produtiva.

• Questão correlacionada de concurso: a Consti-tuição Federal não veda a penhora da pequena propriedade rural em qualquer circunstância, mas fixar requisitos que, se cumpridos, impedem que o imóvel seja utilizado como garantia para o pa-gamento da dívida, em processo de execução.

XXVII – aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar; • Trata este inciso dos direitos autorais, que consis-

tem no reconhecimento da criação, idéias, perso-nalidade e trabalho do autor, no direito à integri-dade da obra, que não pode ser alterada sem seu expresso consentimento e no direito patrimonial, que é a exploração comercial de sua obra. Com a

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sua morte, os herdeiros adquirem o direito anteri-ormente titularizado pelo autor.

XXVIII – são assegurados, nos termos da lei: a) a proteção às participações individuais em o-

bras coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades despor-tivas;

b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representações sindicais e as-sociativas;

• Ainda aqui se trata dos direitos autorais, mas vol-tados para as atividades artísticas com reprodu-ção da imagem e voz humanas (cantores, perso-nalidades famosas etc.).

• Obras coletivas significam uma peça de teatro, um filme etc., sendo que as pessoas que partici-pam desta obra têm direito a receber remunera-ção por essa participação.

• A alínea “b” assegura o direito destes participan-tes em fiscalizar o resultado econômico das obras de que participaram, para receberem corretamen-te o direito autoral devido.

XXIX – a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utiliza-ção, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o in-teresse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País; • Também neste inciso protege-se a propriedade

intelectual, desta vez voltada para os inventos in-dustriais (uma novo tipo de máquina de tecela-gem, por exemplo), as criações industriais (me-lhoramentos estabelecidos em cima de um de-terminado invento) e comerciais (a marca de um novo produto, o nome de uma empresa) que te-nham expressão econômica, ou seja, que possam ser medidas pelo seu valor em dinheiro.

• Em relação aos inventos industriais, a lei que dis-ciplina a propriedade industrial (Lei 9.279/96) as-segura aos autores do invento industrial o privilé-gio temporário para sua utilização, após o que caem no domínio público, podendo ser usados por qualquer pessoa.

• Quanto às criações industriais, marcas, nomes das empresas e outros signos distintivos, são propriedade permanente dos seus autores.

XXX – é garantido o direito de herança; • Herança é o patrimônio do falecido, o conjunto de

direitos e deveres que a pessoa que morre trans-fere aos seus herdeiros, podendo se dar através da sucessão testamentária, como ato de disposi-ção de última vontade do de cujus, ou por via da sucessão legítima, que é estabelecida na lei civil em decorrência da relação de parentesco.

XXXI – a sucessão de bens de estrangeiros situa-

dos no País será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus; • Este inciso trata da hipótese em que estrangeiros

possuem bens situados no país e são casados ou têm filhos brasileiros. Falecendo o estrangeiro, caso a lei brasileira seja mais favorável ao cônju-ge supérstite e aos filhos, esta será aplicada; se a lei estrangeira for mais benéfica, será esta a apli-cada ao caso concreto.

• Exemplo: “A”, estrangeiro casado com “B”, brasi-leira, tem 3 filhos em comum com esta última, e vem a falecer. Pelo Código Civil brasileiro, os 3 fi-lhos são herdeiros necessários; pela lei estrangei-ra, a herança deverá ser dividida com os pais do falecido. Aplica-se a lei brasileira, por ser mais benéfica aos herdeiros de nacionalidade brasilei-ra.

XXXII – o Estado promoverá, na forma da lei, a de-fesa do consumidor; • Este inciso já se encontra contemplado desde a

edição da Lei 8.078/90, que estabelece uma série de normas de proteção ao consumidor, parte normalmente mais fraca em face do fornecedor ou produtor. É um direito humano fundamental, bem como um dos princípios gerais da atividade econômica (art. 170, V, CF).

XXXIII – todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão pres-tadas no prazo da lei, sob pena de responsabili-dade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja im-prescindível à segurança da sociedade e do Esta-do; • O objetivo da norma é garantir a publicidade dos

atos do governo, tendo o cidadão o direito a obter informações que digam respeito ao seu interesse particular, como o registro de seus dados em de-terminado órgão governamental, ou de interesse coletivo ou geral.

• Excetua-se esta publicidade quando as informa-ções de interesse coletivo ou geral forem sigilo-sas, em virtude de interesse da Segurança Na-cional, por exemplo. Mas não poderá haver infor-mação sigilosa em relação à própria pessoa do requerente.

• Caso a autoridade requerida recuse-se a prestar a informação solicitada, poderão ocorrer duas si-tuações: a) se for de interesse individual do re-querente, o remédio constitucional para assegurar a informação é o habeas data; b) se for de inte-resse coletivo ou geral, ou ainda de interesse pessoal que não digam respeito à própria pessoa, o meio adequado é a utilização de mandado de segurança.

XXXIV – são a todos assegurados, independente-mente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos poderes públicos em

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defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder; b) a obtenção de certidões em repartições públi-cas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal; • Qualquer pessoa poderá peticionar (requerer) aos

órgãos púbicos, independente do pagamento de taxa, informações para defesa de seus direitos ou para se proteger de ilegalidade ou abuso de po-der.

• Igualmente, também poderá obter certidões em repartições públicas para defender direitos ou es-clarecer situações de interesse pessoal.

• Exemplo: pessoa que pretende se aposentar po-de requerer certidão junto a órgão público em que já trabalhou, para comprovar tempo de contribui-ção suficiente para fruir da aposentadoria.

XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; • Este inciso trata do princípio da inafastabilidade

da jurisdição, ou do acesso ao judiciário, tradu-zindo-se em duas vertentes: somente o judiciário detém o monopólio da jurisdição (poder-dever de “dizer” o direito no caso concreto), com as exce-ções previstas na própria Constituição Federal, além da garantia de que qualquer pessoa tem o direito de acesso a esse Poder.

• Importante saber que não existe no país a obriga-toriedade de esgotar-se a esfera administrativa para ingressar em juízo, ou seja, não existem condicionamentos ou instâncias administrativas obrigatórias prévias, podendo o cidadão deman-dar diretamente o judiciário.

• A doutrina aponta esta característica como inexis-tência de jurisdição condicionada ou inexistência de instância administrativa de curso forçado.

• Exceção: Justiça Desportiva, que tem o prazo de 60 dias para solucionar ações relativas à dis-ciplina e às competições reguladas em lei, con-forme dicção do art. 217, §2º, CF. Mas se, ultra-passado esse prazo, a Justiça Desportiva não re-solver a pendência, cabe a intervenção do Poder Judiciário.

• Jurisprudência do STF: segundo a Corte Su-prema, o duplo grau de jurisdição, no âmbito da recorribilidade ordinária, não consubstancia garantia constitucional.

XXXVI – a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada; • Essas três expressões caracterizam o denomina-

do princípio da segurança jurídica, que importa a impossibilidade de modificar situações já con-solidadas ao longo do tempo, preservando a permanência de situações que não geram mais conflitos sociais.

• Direito adquirido é aquele que já se incorporou ao patrimônio jurídico da pessoa, não podendo ser retirado por lei posterior. Exemplo: após 3 anos o servidor adquire estabilidade no serviço público, não podendo ser exonerado ou demitido exceto

nas hipóteses previstas na própria Constituição Federal.

• Ato jurídico perfeito é o que reúne sujeito capaz, objeto lícito e forma jurídica prescrita ou não de-fesa em lei (art. 81, CC de 1916). Exemplo: “A” e “B” realizam contrato de locação de imóvel, por 6 meses, conforme permite a lei. No 5º mês de vi-gência do contrato é editada nova lei estabele-cendo que a locação de imóvel só pode ser reali-zada por três meses. Não se aplica ao contrato já em vigor.

• Coisa julgada é a decisão do poder judiciário da qual já não caiba recurso, sendo definitiva. E-xemplo:”A” discute em juízo com “B” quem é pro-prietário de determinado imóvel. Ao final do trâmi-te do processo no judiciário, decide-se, em defini-tivo, que o imóvel pertencia a “A”. Essa decisão não poderá ser rediscutida pelo judiciário, ainda que lei posterior modifique o enquadramento jurí-dico da situação examinada.

• Em qualquer dessas hipóteses, o que se veda é a retroatividade da lei, ou seja, a produção de seus efeitos para fatos já passados. A exceção a essa regra é a lei penal posterior que seja mais favorá-vel ao réu, sendo aplicada, então, retroativamen-te.

XXXVII – não haverá juízo ou tribunal de exceção; • A estrutura do poder judiciário, com os órgãos

encarregados de julgar o conflito de interesses no caso concreto, dizendo de que lado está o direito, está definida na Constituição Federal, de modo que quando a matéria é tratada em juízo já é co-nhecido previamente o órgão do judiciário compe-tente para solucionar a demanda.

• Portanto, juízo ou tribunal de exceção é todo a-quele não previsto constitucionalmente, criado pa-ra julgar uma causa específica, desconsiderando a estrutura já definida.

XXXVIII – é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos; d) a competência para o julgamento dos crimes

dolosos contra a vida; • O tribunal do júri é uma especialização da justiça

criminal de primeira instância, composto por 7 ju-rados e presidido por um juiz-presidente (juiz de carreira), com competência para julgar crimes do-losos (intencionais) contra a vida (homicídio, a-borto, infanticídio e instigação ao suicídio).

• Plenitude de defesa significa a garantia que o a-cusado tem de produzir tanto a defesa técnica, que será realizada por um advogado, quanto a defesa pessoal, que é o seu depoimento no ple-nário do júri, para convencer os jurados de sua inocência.

• Sigilo das votações quer dizer que os jurados de-verão decidir sozinhos, sem influência de nin-guém, nem mesmo do juiz-presidente, as ques-

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tões que lhes são submetidas, devendo revelá-las apenas no momento apropriado, quando emitirem o veredicto.

• Soberania dos veredictos significa que o juiz-presidente, ao proferir a sentença, deverá ser ab-solutamente fiel à decisão dos jurados.

• Questão correlacionada de concurso: a lei or-dinária poderá fixar outras competências para o Tribunal do Júri, como, por exemplo, julgar crimes culposos contra a vida. No entanto, não poderá suprimir a definição constitucional de competên-cia.

XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defi-na, nem pena sem prévia cominação legal; • Este inciso cuida do denominado princípio da An-

terioridade da Lei Penal, da Legalidade ou da Re-serva Legal. Significa que, sendo o crime um fato típico, antijurídico e culpável, qualquer conduta só poderá ser considerada crime se, à época do fato, este já for definido como delito, bem como a pe-nalidade aplicável também deverá já ser prevista, para que haja a punição do transgressor.

• Este mesmo princípio impede que o Presidente da República possa disciplinar a matéria penal a-través de Medida Provisória, posto que a discipli-na jurídico-penal é privativa do Congresso Nacio-nal, através de lei ordinária.

XL – a lei penal não retroagirá, salvo para benefi-ciar o réu; • Este é o princípio da irretroatividade da lei penal,

ou seja, a lei penal promulgada posteriormente não tem, via de regra, eficácia para as situações já passadas. Exceção feita quando ela tem cará-ter benéfico ao réu ou mesmo ao já condenado.

• Exemplo: Se a lei penal aumentasse a pena do homicídio simples para de 20 a 30 anos de reclu-são, ela só valeria para os fatos ocorridos a partir de sua vigência: os homicídios simples ocorridos anteriormente continuariam sendo punidos com 12 a 20 anos de reclusão. Por outro lado, se o aborto, que hoje é crime, viesse a ser descrimina-lizado por uma lei nova, mesmo aqueles que es-tão hoje sendo processados por este fato deixari-am de sofrer o processo penal.

XLI – a lei punirá qualquer discriminação atentató-ria dos direitos e liberdades fundamentais; • Este dispositivo é um reforço ao princípio da i-

gualdade, já estudado, uma vez que, seja o parti-cular, seja o Estado, cometam conduta discrimi-natória sujeitam-se às penalidades a serem defi-nidas em lei.

XLII – a prática do racismo constitui crime inafi-ançável e imprescritível, sujeito à pena de reclu-são, nos termos da lei; • Racismo é todo e qualquer tratamento discrimi-

nador da condição humana em que o agente dila-cera a auto-estima e o patrimônio moral de uma pessoa ou de um grupo de pessoas, tomando

como critérios raça ou cor da pele, sexo, condição econômica, origem etc. É prática segregacionista que deve ser abolida de nosso convívio social.

• Crime inafiançável é crime que não admite cau-ção processual, ou seja, pagamento de determi-nada quantia em dinheiro ou em bens, conforme definido no Código de Processo Penal, para res-ponder ao inquérito policial ou à ação penal em liberdade.Logo, quem pratica o racismo, e for preso por isto, permanecerá encarcerado até o fi-nal do processo.

• Crime imprescritível é o que não se sujeita à ex-tinção do direito de propor a ação penal contra o suposto autor, independentemente do transcurso do tempo e da inércia do titular da ação. O Esta-do, que é o titular do poder de punir os infratores da lei penal, não permanece com esse poder de punição indefinidamente, tendo um tempo para localizar, processar, julgar e punir o criminoso. Esgotando-se esse tempo, o Estado já não pode-rá mais promover a ação penal: o direito de ação prescreveu. No caso do racismo, o direito de promover a ação penal não prescreve, perduran-do indefinidamente.

XLIII – a lei considerará crimes inafiançáveis e in-suscetíveis de graça ou anistia a prática da tortu-ra, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas a-fins, o terrorismo e os definidos como crimes he-diondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omiti-rem; • Tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas

afins, terrorismo, e os crimes hediondos (homicí-dio qualificado, latrocínio, estupro, entre outros definidos na Lei 8.072/90) são inafiançáveis e in-suscetíveis de graça ou anistia.

• Graça é o perdão da pena que leva em conside-ração as condições pessoais do preso, como o seu bom comportamento, de iniciativa privativa do Presidente da República.

• Anistia é a descriminalização do fato ou o perdão da pena, baseada em uma condição objetiva, como, por exemplo, a anistia de todos os que par-ticiparam de movimentos políticos contrários à di-tadura militar, concedida mediante lei específica votada pelo Congresso Nacional.

• A responsabilidade recai sobre quem determina a execução do crime (mandante), sobre quem reali-za a conduta criminosa (executor) e sobre quem, podendo evitar o crime, se omite.

XLIV – constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, con-tra a ordem constitucional e o Estado democráti-co; • A ação de grupos armados, civis ou militares, que

tentem desestabilizar a ordem constitucional ou atentar contra os fundamentos do Estado Demo-crático constitui crime inafiançável e imprescrití-vel.

• Exemplo: Se os separatistas do Rio Grande do

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Sul resolvessem pegar em armas para fundar a República dos Pampas, vão atentar contra um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, que é a união indissolúvel dos Estados, Municípios e Distrito Federal.

XLV – nenhuma pena passará da pessoa do con-denado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos ter-mos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimô-nio transferido; • A responsabilidade penal é sempre subjetiva e

pessoal, respondendo apenas o criminoso, e não os seus sucessores, pelo crime cometido. Faleci-do o agente, extingue-se a punibilidade (CP, 107, I).

• Por outro lado, a responsabilidade civil, mesmo sendo via de regra subjetiva e pessoal, transfere-se aos sucessores, mas somente até o limite da herança recebida.

• Isto acontece porque o reconhecimento da res-ponsabilidade penal gera, automaticamente, o dever de indenizar na esfera civil, devendo a víti-ma, ou seus sucessores, ingressarem diretamen-te com a ação executiva contra o autor do delito, visando à reparação do dano.

• É denominado, pela doutrina, como princípio da intransmissibilidade da pena.

• Exemplo: João, autor de homicídio, foi condenado a 20 anos, mas morreu após cumprir 10. Seu fi-lho, José, não cumprirá o restante da sentença, apesar de ser seu único herdeiro. João deixou de herança dez mil reais, mas deve vinte mil reais. José pagará as dívidas (que são de natureza ci-vil), mas somente até o montante dos dez mil re-ais.

XLVI – a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos; • Este inciso trata das penas possíveis no Direito

brasileiro, estabelecendo o princípio da indivi-dualização da pena, que significa a fixação da penalidade de acordo com a conduta em cada caso concreto, dentro dos limites previamente fi-xados, bem como levando-se em consideração as condições pessoais do condenado.

• Privação ou restrição da liberdade correspondem, respectivamente, às penas de reclusão e deten-ção, além da prisão simples.

• Perda de bens é a transferência da propriedade da coisa para reparação da vítima ou do próprio Estado.

• Multa é a imposição de um valor a ser pago pelo preso, não para reparação, mas a título de pena-lidade.

• Prestação social alternativa é a condenação para

fazer algo em benefício da sociedade, correspon-dendo às penas restritivas de direitos, como a prestação de serviços comunitários.

• Suspensão de direito é a supressão temporária do seu exercício, como ocorre quando um moto-rista embriagado atropela e mata um transeunte, podendo ter o seu direito de dirigir suspenso ou mesmo suprimido definitivamente, dependendo da situação.

XLVII – não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada,

nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis; • Este inciso define todas as penas que não podem

ser aplicadas no ordenamento jurídico nacional, por serem inconstitucionais.

• Pena de morte corresponde à execução sumária do criminoso, numa versão moderna do ditado “o-lho por olho, dente por dente”: é a lei de talião. Somente admite-se no Direito brasileiro em caso de guerra declarada e para os crimes de deserção, espionagem e traição, entre outros previstos no Código Penal Militar.

• Pena de caráter perpétuo é aquela em que seu cumprimento se estende por toda a vida do crimi-noso. No direito pátrio, a imposição da pena de reclusão pode ser de 500 anos, mas o seu cum-primento dar-se-á pelo período máximo de 30 a-nos (CP, art. 75).

• Trabalhos forçados é a sanção penal que sujeita o preso a um trabalho que exija extraordinário es-forço físico, como quebrar pedras durante oito ho-ras seguidas.

• Banimento é a expulsão de brasileiro do país, condenando-o a viver no estrangeiro durante de-terminado tempo.

• Cruéis são aquelas sanções que acarretam sofri-mentos físicos ou psíquicos ao condenado, como estipular 10 chicotadas por dia para o cometimen-to de determinado crime.

XLVIII – a pena será cumprida em estabelecimen-tos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado; • Medida que objetiva a ressocialização do preso,

uma vez que é extremamente prejudicial à recu-peração do condenado, que é um dos objetivos da pena, misturar, num mesmo ambiente, presos que cometeram pequenos delitos com “bacharéis” do crime.

• Também objetiva evitar a promiscuidade que cer-tamente adviria se houvesse a reunião de ho-mens e mulheres, em um mesmo presídio. É um reflexo do princípio da individualização da pena.

XLIX – é assegurado aos presos o respeito à inte-gridade física e moral; • O código penal autoriza a imposição das penas

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ali previstas, conservando o preso todos os outros direitos, exceto a liberdade, não se justificando, portanto, tratamento desumano ou degradante para o mesmo.

L – às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos du-rante o período de amamentação; • Norma de caráter humanitário, visa a preservar os

filhos das presidiárias, o máximo possível, dos danos decorrentes da condição de encarceradas das respectivas mães.

LI – nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envol-vimento em tráfico ilícito de entorpecentes e dro-gas afins, na forma da lei; • Extradição é a transferência compulsória de uma

pessoa de um país para outro, a pedido deste úl-timo, para o fim de ser processado e julgado pelo Estado que pediu a extradição. (extradição pas-siva).

• O brasileiro nato não poderá ser extraditado em nenhuma hipótese..

• O brasileiro naturalizado só poderá ser extradita-do em duas hipóteses: a) se antes da naturaliza-ção praticou crime comum no país que o reclama; b) se tem comprovado envolvimento em tráfico ilí-cito de entorpecentes e drogas afins.

LII – não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião; • A regra é que o estrangeiro possa ser extraditado,

dependendo da apreciação dos aspectos formais pelo Supremo Tribunal Federal.

• Em duas hipóteses isto não ocorrerá, visto que a concessão de asilo político é um dos princípios que regem as relações internacionais do Brasil (art. 4º, X, CF):

a) se o crime for político, ou seja, atentar contra o po-der estabelecido em virtude de divergência na condu-ção política do país que deseja a extradição; b) se for crime de opinião, quer dizer, se o pedido de extradição tem como fundamento a manifestação de pensamento do estrangeiro acerca de determinado assunto relativo aos país que pretende extraditá-lo. • Jurisprudência do STF: A Corte Suprema vem

entendendo que não há incompatibilidade abso-luta entre o instituto do asilo político e o da ex-tradição passiva, uma vez que o STF não está vinculado ao juízo formulado pelo Poder Execu-tivo na concessão administrativa daquele bene-fício regido pelo Direito Público Internacional. Isto significa que a condição jurídica de asilado político não suprime, por si só, a possibilidade de o Estado brasileiro conceder, presentes e sa-tisfeitas as condições legais e constitucionais, a extradição que lhe haja sido requerida.

LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;

• Trata-se do denominado princípio do juiz natural, ou seja, para que o processo seja válido é neces-sário que o magistrado que o conduza seja com-petente para apreciar o fato colocado em juízo, tanto pelas regras de organização e competência definidas na Constituição quanto pelas normas estabelecidas no Código de Processo Penal.

• A conseqüência do processamento por autorida-de judiciária incompetente é, via de regra, a nuli-dade do processo.

LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; • Princípio do devido processo legal ou due pro-

cess of law, com dupla significação: a) proteção ao direito material de liberdade e propriedade; b) garantia formal de que o Estado, através dos ór-gãos judiciários, observará todo o procedimento aplicável ao processo, tanto no âmbito judicial quanto no administrativo, sem mudança de regras que dificultem ou impossibilitem o direito de defe-sa do acusado.

LV – aos litigantes, em processo judicial ou admi-nistrativo, e aos acusados em geral são assegu-rados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; • Qualquer litigante, ou seja, qualquer pessoa que

esteja pretendendo determinado objeto e que en-contra resistência da parte contrária, seja em pro-cesso judicial, seja em procedimento administrati-vo, tem direito ao contraditório e à ampla defesa, com todos os meios e recursos a ela inerentes.

• Ampla defesa é a garantia dada ao réu que lhe serão dadas as condições que lhe possibilitem trazer para o processo todos os elementos que entenda necessário para comprovar sua inocên-cia.

• Contraditório é o direito de condução dialética do processo, sendo que para cada oportunidade produzida para uma parte demonstrar suas ra-zões, igual oportunidade deverá ser dada à parte contrária.

LVI – são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos; • Prova ilícita, ou seja, obtida por meios não admi-

tidos pelo Direito, não produzem nenhum efeito no processo, devendo ser desconsideradas, co-mo se não existissem.

• Se a prova originária for ilícita, todas as derivadas dela também o serão. É a teoria da árvore dos frutos envenenados, adotada pelo Supremo Tri-bunal Federal.

• Exemplo: escuta telefônica feita sem autorização judicial não é lícita, e, portanto, é inválida. E se somente através dessa escuta ilegal foi descober-ta a existência de uma testemunha, ela não pode-rá ser ouvida, pois a prova originária é ilícita, con-taminando a prova derivada.

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LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenató-ria; • Princípio da presunção da inocência significa que

enquanto a decisão judicial que apura a respon-sabilidade do acusado não for irreformável, não mais passível de recurso, vale dizer, enquanto não transitada em julgado, presume-se a inocên-cia do réu.

• Questão correlacionada de concurso: a pro-clamação do princípio da presunção da inocência não revogou as chamadas prisões cautelares ou processuais (preventiva, temporária, flagrante, de pronúncia e condenatória penal recorrível).

• Isto significa que as pessoas podem ser presas antes mesmo de terem confirmada a sua “culpa” no juízo criminal, para atender à necessidade de resguardar o resultado útil do processo penal.

• Assim, os investigados no inquérito policial po-dem ser presos ainda durante esta fase da perse-cução criminal, bem como os réus na ação penal, que também podem ser encarcerados, geralmen-te por ordem escrita e fundamentada do juiz (a exceção a essa regra fica por conta da prisão em flagrante, que não depende de ordem judicial pa-ra ser efetivada).

LVIII – o civilmente identificado não será submeti-do a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei; • Caso a pessoa já tenha provado sua identidade

com um documento civil (carteira de identidade, de trabalho, de motorista, funcional etc.) não po-derá ser obrigada a proceder à identificação cri-minal, com base na impressão datiloscópica.

• Exceção feita se o documento apresentado for reconhecidamente falso ou se a pessoa se recu-sar a apresentá-lo.

• Existem várias situações discriminadas na lei 10.054, de 07/12/200, prevendo a identificação criminal do preso ou investigado, mesmo quando identificado civilmente. Ao candidato interessado, sugiro consultar a referida lei, que pode ser en-contrada no site da Presidência da República (www.presidencia.gov.br).

LIX – será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal; • O Ministério Público é o titular da ação penal pú-

blica, que deverá ser proposta para apuração da responsabilidade penal de qualquer pessoa em relação aos crimes mais graves. No entanto, o Ministério Público tem um prazo para propor esta ação. Caso não cumpra o prazo, a parte interes-sada (a vítima ou seus parentes) poderá propor a ação penal privada subsidiária da pública.

LX – a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem; • A regra geral é de que os atos processuais (audi-

ências, inquirições de testemunhas etc.) sejam públicos, ou seja, que as pessoas de modo geral possam ter acesso à realização dos atos. No en-tanto, quando assuntos muito íntimos e delicados são colocados em juízo, como, por exemplo, uma ação de divórcio, é possível que o processo trami-te no chamado segredo de justiça, restringindo-se o acesso aos atos processuais apenas às partes e advogados destas, ou mesmo somente às par-tes. Da mesma forma, se o interesse público o e-xigir, como uma sessão do Tribunal do Júri em que haja grande tumulto, poderá ser restrito o a-cesso apenas aos jurados, partes e seus advoga-dos e ao juiz.

LXI – ninguém será preso senão em flagrante deli-to ou por ordem escrita e fundamentada de auto-ridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente mili-tar, definidos em lei; • Hipóteses constitucionais de prisão:

a) flagrante delito; b) ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente; c) transgressão militar; d) crime propriamente militar.

• Não existem mais no ordenamento jurídico brasi-leiro: a) prisão administrativa; b) prisão para averiguação.

LXII – a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada; • Mais uma garantia aos presos, relacionada a seu

direito à integridade física e psíquica e à verifica-ção da legalidade de sua prisão. Comunica-se ao juiz para que possa observar se a restrição da li-berdade enquadra-se em uma das hipóteses do inciso anterior; e à família para que possa tomar as providências de auxílio ao detido.

LXIII – o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advoga-do; • Em face do princípio da presunção da inocência,

o silêncio do preso não poderá mais ser avaliado como uma confissão de culpa ou como um ele-mento de convicção para o juiz de que o mesmo cometeu qualquer delito.

• O direito de ficar calado pode ser uma estratégia de defesa, para evitar o fornecimento de elemen-tos que poderiam incriminar o acusado e, portan-to, este não é obrigado a falar, nem mesmo quando do interrogatório perante o juiz.

• É também conhecido na doutrina como privilégio contra a auto-incriminação, já que não se pode obrigar acusados ou suspeitos a produzirem pro-vas contra si mesmos.

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LXIV – o preso tem direito à identificação dos res-ponsáveis por sua prisão ou por seu interrogató-rio policial; • Garantia nitidamente preventiva, para possibilitar

que em caso de descumprimento dos preceitos constitucionais que proíbem a prática de tortura e de tratamento desumano ou degradante aos pre-sos estes possam identificar e posteriormente processar os autores de eventual abuso de auto-ridade.

LXV – a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária; • Não se enquadrando a prisão em nenhuma das

hipóteses constitucionalmente previstas, o juiz deverá imediatamente determinar a liberação do preso, posto que a restrição indevida à liberdade de locomoção do indivíduo é passível de ser ata-cada por habeas corpus, por manifesta ilegalida-de ou abuso de poder.

LXVI – ninguém será levado à prisão ou nela man-tido quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança; • Em face do princípio da inocência, a regra é que

o preso possa responder ao inquérito policial ou à instrução processual em liberdade, utilizando-se, em muitos casos, da fiança. Excetuando-se os crimes inafiançáveis, que já vimos anteriormente e que também devem ser identificados pelas re-gras constantes no Código de Processo Penal, a norma geral é que ninguém deva ser levado à pri-são ou nela permanecer enquanto não houver uma sentença condenatória transitada em julga-do.

LXVII – não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depo-sitário infiel; • Enquanto a prisão penal tem natureza punitiva, a prisão civil serve como instrumento de coação para que a pessoa presa seja pressionada a fazer algo. • Em regra, dívidas de natureza civil não possibili-

tam a prisão do devedor, estabelecendo a Consti-tuição Federal duas exceções a esta regra:

a) pelo falta de pagamento de obrigação alimentícia sem nenhuma causa que justifique o débito, perma-necendo o alimentante preso, caso seja pedido ao ju-iz pelo alimentando, enquanto não saldar a dívida; b) no caso de depositário infiel, que é a pessoa que recebe um bem em depósito e, quando tem de devol-vê-lo, não mais se encontra na posse do mesmo, i-gualmente sem justificativa plausível para a falta.

• Questão correlacionada de concurso: é controvertida na jurisprudência a situação do devedor fiduciário, aquele que adquire um bem para pagamen-to em prestações sucessivas, sendo que o próprio bem serve de garantia de pagamento da dívida, po-dendo ser retomado caso o débito não seja quitado.

• O STJ entende que não é cabível a prisão ci-

vil do devedor fiduciário; e o STF, embora ainda não tenha finalizado o julgamento do Recurso Extraordi-nário 466.343 – SP, já conta com 7 votos a favor da inconstitucionalidade da prisão civil do alienante fidu-ciário. LXVIII – conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer vi-olência ou coação em sua liberdade de locomo-ção, por ilegalidade ou abuso de poder; • Habeas corpus é a ação constitucional de caráter

penal destina à proteção do direito de locomoção, ameaçado por ilegalidade ou abuso de poder.

• O habeas corpus pode ser preventivo, caso a ameaça não tenha se concretizado, ou liberatório ou repressivo, caso a ilegalidade ou abuso de po-der já tiver se manifestado.

• Qualquer pessoa física ou jurídica poderá impe-trar habeas corpus, sendo que neste último caso o fará em benefício da pessoa física (empresa que impetra o instrumento liberatório em benefício de um dos sócios). Autoridade coatora poderá ser uma autoridade pública ou mesmo um particular.

LXIX – conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o respon-sável pela ilegalidade ou abuso de poder for auto-ridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do poder público; • Não sendo o direito de locomoção (habeas cor-

pus) nem o direito à informação ou retificação de dados acerca da própria pessoa (habeas data) a-tingidos, para proteção de direito líquido e certo é cabível o mandado de segurança.

• Direito líquido e certo é aquele que se prova, do-cumentalmente, logo na petição inicial. Uma pes-quisa na jurisprudência do STF mostra que a ter-minologia está ligada à prova pré-constituída, a fatos documentalmente provados na exordial. Não importa se a questão jurídica é difícil, com-plexa ou intrincada. O que se exige é o fato apre-sentar-se claro e induvidoso, pois o direito é certo se o fato a que corresponder também o for. Mas se os fatos forem controversos, será descabido o writ, pois inexistirá a convicção de sua extrema plausibilidade.

• A pessoa física competente para desfazer o ato que esteja violando o direito líquido e certo de al-guém será apontada como autoridade coatora. Qualquer pessoa poderá impetrar o mandado de segurança.

• É cabível o mandado de segurança contra ato ju-dicial.

LXX – o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: a) partido político com representação no Con-

gresso Nacional; b) organização sindical, entidade de classe ou

associação legalmente constituída e em fun-cionamento há pelo menos um ano, em defesa

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dos interesses de seus membros ou associa-dos;

• O mandado de segurança coletivo tem os mes-mos pressupostos do mandado de segurança in-dividual.

• Duas são as diferenças essenciais: a) a titularidade do direito; b) a legitimidade ativa para propositura da ação.

• Quanto à titularidade, as pessoas jurídicas indi-cadas no inciso não são titulares do direito pleite-ado, agindo como substituto processual (sindica-tos) ou como representantes processuais (parti-dos políticos, entidades de classe ou associação legalmente constituída).

• Quanto à legitimidade ativa, podem propor o mandado de segurança coletivo as entidades in-dicadas no inciso.

• ATENÇÃO: A exigência de um ano de funciona-mento somente se aplica às associações.

LXXI – conceder-se-á mandado de injunção sem-pre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania; • Em várias oportunidades a CF estabelece direitos

que, para seu exercício, dependem de norma que regulamente o modo de exercê-los. A ausência dessa lei infraconstitucional retira eficácia do co-mando constitucional, que vira “letra morta”. A pessoa que se sentir prejudicada pela ausência da norma regulamentadora poderá recorrer ao ju-diciário para que este declare a mora do poder responsável pela edição da regra. Essa ação im-petrada junto ao judiciário é o mandado de injun-ção.

• Pressupostos do mandado de injunção: a) que haja direito, garantia ou prerrogativa assegurados na Constituição ( e não na lei); b) que esse direi-to, garantia ou prerrogativa exijam regulamenta-ção; c) que essa regulamentação ainda não haja sido feita; d) que sem essa regulamentação não seja possível exercitar a garantia constitucional.

LXXII – conceder-se-á habeas data: a) para assegurar o conhecimento de informa-

ções relativas à pessoa do impetrante, cons-tantes de registros ou bancos de dados de en-tidades governamentais ou de caráter público;

b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;

• O habeas data é remédio constitucional adequa-do para que o impetrante tenha acesso a infor-mações a seu respeito, constantes de banco de dados oficiais ou públicos e, se quiser, através da mesma ação, fazer a retificação dos dados en-contrados, de modo a ajustá-los à realidade e à verdade.

• Importante observar que o habeas data só pode ser utilizado pelo requerente em relação aos seus próprios dados.

LXXIII – qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Es-tado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultu-ral, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, i-sento de custas judiciais e do ônus da sucum-bência; • Sendo o povo o titular da soberania, todos os re-

cursos públicos estão sujeitos à sua fiscalização e controle, e o meio processual colocado à disposi-ção de qualquer cidadão é a ação popular, visan-do à anulação de ato lesivo ao erário (cofre) pú-blico, à moralidade administrativa , ao meio ambi-ente e ao patrimônio histórico ou cultural.

• Custas judiciais são despesas realizadas para movimentação do processo no poder judiciário e que devem ser ressarcidas pela parte interessa-da.

• Ônus da sucumbência é o dever que a parte per-dedora tem de pagar os honorários advocatícios da parte vencedora.

• Os pressupostos da ação popular são a ilegalida-de do ato e a sua lesividade.

• Qualquer pessoa pode propor a ação popular, bastando comprovar a sua condição de eleitor.

LXXIV – o Estado prestará assistência jurídica in-tegral e gratuita aos que comprovarem insuficiên-cia de recursos; • Como reflexo do princípio do acesso à jurisdição,

a Constituição Federal coloca neste inciso a obri-gatoriedade de o Estado prestar assistência jurí-dica integral e gratuita aos que comprovarem in-suficiência de recursos, ou seja, demonstrarem que não têm condições, sem comprometer a sub-sistência própria ou da família, de contratar advo-gado e suportar as custas judiciais decorrentes de uma demanda em juízo. (art. 134, CF; Lei 1.060/50)

LXXV – o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença; • O inciso fixa as duas possibilidades em que o e-

xercício da função jurisdicional obrigará o Estado a indenizar a pessoa que suportar o prejuízo: a) erro do juiz, ao condenar pessoa reconhecida-mente inocente; b) quando o condenado cumprir pena além do estipulado, por culpa do Estado.

LXXVI – são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei: a) o registro civil de nascimento; b) a certidão de óbito; • Pobres, na forma da lei, são os que não podem

pagar os referidos registros públicos sem com-prometer as despesas empenhadas para o sus-tento seu e da própria família, visto que as anota-ções de registro público são, via de regra, carís-simas.

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• Logo, para facilitar o acesso a vários direitos de-correntes do registro da existência da pessoa , que para o Estado só ocorre a partir do registro de nascimento, deferiu-se o benefício da gratui-dade desta certificação. Por outro lado, para evi-tar falcatruas, principalmente em relação aos be-nefícios previdenciários, também o registro de ó-bito é gratuito.

LXXVII – são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data, e, na forma da lei, os atos necessá-rios ao exercício da cidadania. • O direito à locomoção, à informação e os aos

demais atos necessários ao exercício da cidada-nia (como tirar título de eleitor, carteira de traba-lho, carteira de identidade etc.) são gratuitos, co-mo bem define o inciso.

• Porém, em relação ao habeas corpus e ao habe-as data, somente as despesas referentes às cus-tas processuais são gratuitas, o que não dispensa o autor do pagamento do advogado contratado, a não ser que requeira o benefício da justiça gratui-ta.

• As Leis 9.265/96 e 9.534/97 regulamentaram a gratuidade dos atos necessários ao exercício da cidadania, cuja leitura recomendo aos candidatos interessados (site: presidencia.gov.br).

LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administra-tivo, são assegurados a razoável duração do pro-cesso e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. • Inovação da EC 45/2004 (Reforma do Poder Ju-

diciário), o princípio da razoável duração do pro-cesso estabelece a obrigação de as autoridades jurisdicionais e administrativas exercerem suas atribuições com rapidez, presteza e segurança, sem tecnicismos exagerados ou demoras injustifi-cáveis, viabilizando, a curto prazo, a solução dos conflitos.

• Nesse sentido, recente inovação do Código de Processo Civil (com redação dada pela Lei 11.419/2006) estabeleceu a informatização do processo judicial, introduzindo várias medidas que buscam, exatamente, tornar mais célere a prestação jurisdicional.

§ 1.º As normas definidoras dos direitos e garanti-as fundamentais têm aplicação imediata. • Este é o princípio da Imediata Aplicabilidade, se-

gundo o qual os direitos e garantias fundamentais são imediatamente aplicáveis aos beneficiários, no sentido de dar a máxima eficácia possível aos comandos constitucionais.

§ 2.º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Fede-rativa do Brasil seja parte. • O que este inciso determina é que os setenta e

oito incisos do art. 5° não são taxativos, ou seja, existem outros direitos e garantias individuais e

coletivos espalhados pelo texto constitucional, como, por exemplo, o art. 150, III, b, da CF, que estabelece que a União não poderá cobrar tribu-tos no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou.

§3º. Os tratados e convenções internacionais so-bre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois tur-nos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas consti-tucionais. • Inovação da EC 45/2004. Até esta alteração,

qualquer tratado ou acordo internacional firmado pelo Presidente da República e ratificado pelo Congresso Nacional tinha status de lei ordinária. Agora, se for aprovado seguindo o rito da elabo-ração de Emenda Constitucional, passa a ter sta-tus de norma constitucional, desde que o as-sunto tratado seja direitos humanos.

• Essa inovação se correlaciona com a fixação da competência da Justiça Federal para proces-sar e julgar os crimes praticados contra os di-reitos humanos (tortura de presos para obter confissão, por exemplo).

§4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifes-tado adesão. • Inovação da EC 45/2004. • Competência do TPI para processar e julgar os

seguintes crimes: a) genocídio; b) contra a humanidade; c) de guerra

CAPÍTULO II DOS DIREITOS SOCIAIS

Art. 6o São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previ-dência social, a proteção à maternidade e à infân-cia, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. • Conceito: direitos sociais são prestações positi-

vas (obrigações de fazer), previstos na Constitui-ção e cuja implementação são de responsabilida-de do Estado, possibilitando melhores condições de vida aos mais necessitados, dentro de um pressuposto de nivelamento de condições sociais desiguais.

• Esta norma tem caráter programático, quer dizer, o cidadão não pode exigir de imediato, judicial-mente, por exemplo, o direito à moradia, trabalho etc.

• Direitos Sociais e Direitos do Trabalhador, apesar de serem tratados no mesmo capítulo, divergem no ponto em que os primeiros são mais amplos, pois englobam todos os cidadãos, enquanto os segundos restringem-se aos que se enquadram no conceito de trabalhador.

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Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: • A divisão doutrinária entre trabalhador autônomo

e trabalhador subordinado gera diferenças de de-finições entre as diferentes categorias de traba-lhador, a saber: a) trabalhador subordinado (empregado urbano)

– nos termos do art. 3º da CLT, considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empre-gador, sob dependência deste e mediante sa-lário;

b) trabalhador subordinado (empregado rural) – nos termos da Lei 5.889/73, empregado rural é toda pessoa física que, em propriedade ru-ral ou prédio rústico, presta serviços de natu-reza não eventual a empregador rural, sob a dependência deste e mediante salário;

c) trabalhador subordinado (eventual) – é o que presta serviços em caráter transitório, aciden-tal, sem exigência de permanência, sendo o seu trabalho disponibilizado a diversos toma-dores de serviço;

d) trabalhador subordinado (avulso) – é o que presta serviços de forma descontínua, es-sencial e complementar à atividade da em-presa, mas sem estar inserido em sua estru-tura;

e) trabalhador subordinado (temporário) – é o que presta trabalho a uma empresa para a-tender à necessidade passageira de substitu-ição de seu pessoal regular e permanente ou a acréscimo excepcional de demanda;

f) trabalhador subordinado (doméstico) – é o que presta serviços de natureza contínua e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à fa-mília em suas residências;

g) trabalhador autônomo – é o que organiza e dirige sua própria atividade, não se encon-trando subordinado a um patrão.

Obs.1: A Constituição atribui os mesmos direitos e garantias aos trabalhadores urbanos e rurais e equi-para, para os mesmos fins, trabalhadores com víncu-los permanentes aos avulsos. Obs. 2: Estão excluídos do sistema de proteção aos direitos trabalhistas previstos no art. 7º os trabalhado-res eventuais, os temporários e os autônomos. Obs.3: Já os trabalhadores domésticos somente são titulares dos direitos trabalhistas referidos no parágra-fo único deste artigo, que são o salário mínimo, a ir-redutibilidade do salário, 13º salário, repouso sema-nal remunerado, férias a cada ano, com 1/3 de remu-neração a mais, licenças gestante e paternidade, avi-so prévio, aposentadoria e integração à previdência social. I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compen-satória, dentre outros direitos;

• Despedida arbitrária é a que não tem fundamento disciplinar, técnico, econômico ou financeiro, sen-do fruto tão-somente da vontade do empregador.

• Despedida sem justa causa é a que não se en-quadra em nenhuma das hipóteses legais de de-missão do empregado, como improbidade, desvio de conduta, desídia, indisciplina, insubordinação etc.

• Enquanto não editada a lei complementar a que se refere o inciso, o art. 10 dos ADCT assegura ao empregado assim despedido uma indenização compensatória no valor de 40% do saldo do FGTS, sem prejuízo de outras verbas legais a que o empregado tenha direito.

• Exceções à possibilidade de demissão arbitrá-ria/sem justa causa: a) membro de CIPA; b) mulher gestante; c) dirigente sindical.

II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário; • Requisitos: a) ausência de justa causa; b) tenha

trabalhado no mínimo 6 meses nos últimos 36; c) não tenha renda própria para seu sustento e de sua família; d) não seja titular de qualquer outro benefício previdenciário, exceto abono de perma-nência no serviço, pensão por morte ou auxílio-acidente. Obs.: O trabalhador contratado por tempo deter-minado não tem direito ao seguro-desemprego ao término do vínculo empregatício.

III - fundo de garantia do tempo de serviço; • O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço desti-

na-se à formação de uma poupança compulsória, através da cobrança de uma contribuição mensal de 8% do valor do salário pago ao empregado, de responsabilidade do empregador, a ser deposita-da em uma conta vinculada especificamente a es-te fim.

• Súmula 210 do STJ: A ação de cobrança das contribuições para o FGTS prescreve em trinta (30) anos.

• Hipóteses legais de movimentação da conta vin-culada ao FGTS: a) despedida sem justa causa; b) extinção total da empresa; c) aposentadoria; d) falecimento do trabalhador; e) pagamento de parte das prestações decorren-tes de financiamento habitacional; f) liquidação ou amortização extraordinária de saldo devedor de financiamento imobiliário e pa-gamento, total ou parcial, do preço de aquisição de moradia própria.

IV - salário mínimo , fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, a-limentação, educação, saúde, lazer, vestuário, hi-giene, transporte e previdência social, com reajus-

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tes periódicos que lhe preservem o poder aquisi-tivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim; • O salário mínimo é fixado por lei federal, ou me-

dida provisória, sendo vedada a instituição de va-lores regionais diferenciados.

• O inciso também proíbe a utilização do salário mínimo como indexador de quaisquer obrigações, como, por exemplo, no reajuste de contratos de locação de imóveis (aluguel).

• Finalmente, assegura-se a recomposição do po-der aquisitivo do salário mínimo, eventualmente depreciado pela inflação.

V - piso salarial proporcional à extensão e à com-plexidade do trabalho; • Piso salarial é o valor mínimo assegurado ao tra-

balhador que pertence a uma determinada cate-goria profissional ou profissão regulamentada, como enfermeiro, médico ou assistente social, podendo ser fixado por lei, convenção ou acordo coletivo e sentença normativa (na Justiça do Tra-balho).

VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo; VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável; • Determinadas categorias profissionais, como gar-

çons, comerciários e outros recebem remunera-ção variável (gorjetas, comissões etc.) ou mista, uma parte fixa e outra não, razão por que a Cons-tituição estabelece que, nesses casos, não pode-rá ser pago ao empregado valor menor que o sa-lário mínimo, devendo, se for o caso, ser com-plementada a remuneração pelo empregador.

VIII - décimo terceiro salário com base na remune-ração integral ou no valor da aposentadoria; • Abrange trabalhadores ativos e aposentados, in-

cluindo o avulso e o doméstico, levando-se em consideração, na base de cálculo, o salário e as garantias permanentes.

IX – remuneração do trabalho noturno superior à do diurno; X - proteção do salário na forma da lei, constituin-do crime sua retenção dolosa; • A proteção ao salário abrange desde os princí-

pios constitucionais, como o da irredutibilidade salarial e o da garantia de reajustes do poder a-quisitivo do salário mínimo até outras formas de proteção instituídas em lei ordinária.

• Retenção dolosa é a situação em que o empre-gador, intencionalmente e sem amparo legal, re-tém o salário do empregado, o que caracteriza o crime de apropriação indébita.

XI – participação nos lucros, ou resultados, des-vinculada da remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme de-finido em lei;

• Participação nos lucros é um contrato entre em-pregado e empregador no qual este último se o-briga a distribuir entre os assalariados da empre-sa uma parte do lucro líquido.

• Essa participação não interfere na remuneração normal do empregado, não podendo servir de ba-se nem para cálculo de benefícios, como o 13, nem para imposição de descontos, como a con-tribuição previdenciária.

• Participação na gestão da empresa é medida de caráter excepcional, pois implica dividir com o empregador a responsabilidade (e os riscos) da atividade empresarial.

XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei; • Salário-família é calculado em percentual sobre o

salário mínimo, nos termos da legislação traba-lhista.

• Trabalhadores domésticos e avulsos não são be-neficiários do salário-família.

XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coleti-va de trabalho; • Os acordos ou convenções coletivas podem: a)

reduzir a jornada de trabalho, mas não aumentá-la; b) estabelecer a compensação de horários, que permite aumentar a carga de trabalho de se-gunda a sexta, evitando-se o trabalho aos sába-dos.

XIV - jornada de seis horas para o trabalho reali-zado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva; XV - repouso semanal remunerado, preferencial-mente aos domingos; • Se, eventualmente, o empregado trabalhar no dia

destinado ao repouso semanal, a remuneração deste dia será paga em dobro, nos termos da le-gislação trabalhista.

XVI - remuneração do serviço extraordinário supe-rior, no mínimo, em cinqüenta por cento à do nor-mal; XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pe-lo menos, um terço a mais do que o salário nor-mal; XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do empre-go e do salário, com a duração de cento e vinte dias; • Licença-maternidade é um período de repouso

remunerado concedido à gestante, que normal-mente se conta do parto, e dura cento e vinte di-as, não se confundindo com a estabilidade relati-va concedida às gestantes, que não podem ser demitidas arbitrariamente ou sem justa causa desde o momento em que confirmada a gravidez até o quinto mês após o parto (art. 10, ADCT).

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XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei; • 5 dias, nos termos do art. 10 dos ADCT.

XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei; XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de servi-ço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei; • Aviso prévio é a obrigação que ambas as partes

do contrato de trabalho têm de comunicar previ-amente à outra a sua intenção de romper o víncu-lo em data futura e certa, sendo o intervalo míni-mo desta comunicação fixado em 30 dias, nos termos do inciso em estudo.

• A justiça trabalhista tem fixado a proporcionalida-de de 1 dia a mais de aviso prévio para cada ano trabalhado, na ausência de lei regulamentadora do assunto.

XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e seguran-ça; XXIII - adicional de remuneração para as ativida-des penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei; � Atividade penosa é a que exige, para a sua reali-

zação, grande esforço físico, acarretando esgota-mento, fadiga física ou mental do trabalhador.

� Atividade insalubre é a que prejudica a saúde do trabalhador, submetendo-o a agentes nocivos à sua higidez física ou mental.

� Atividade perigosa é a que coloca em risco a vida do trabalhador, como segurança de bancos, eletri-cistas de alta tensão etc.

� Esses acréscimos salariais se dão em cima da re-muneração total do trabalhador, variando de acor-do com as condições e cessando quando se extin-gue a causa que as justifique, normalmente não se incorporando como vantagem permanente ao salá-rio do empregado.

XXIV - aposentadoria; � Aposentadoria é benefício previdenciário que se

concede ao trabalhador para perceber, quando passar para a inatividade, uma quantia chamada proventos, destinada a assegurar sua subsistência quando parar de trabalhar, podendo ser por tempo de serviço, invalidez ou por idade.

XXV - assistência gratuita aos filhos e dependen-tes desde o nascimento até cinco anos de idade em creches e pré-escolas; • Redação dada pela EC 53/2006, que reduziu o

prazo de 6 para 5 anos de duração do benefício do auxílio-creche.

XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho;

• Convenções coletivas de trabalho são acordos de natureza normativa, que obrigam as partes com força de lei, firmados entre dois ou mais sindica-tos de categorias profissionais ou econômicas, que estipulam condições de trabalho válidas, no âmbito das respectivas representações, às rela-ções individuais do trabalho.

• Acordos coletivos também têm natureza normati-va, mas só obrigam as empresas e trabalhadores que participaram da negociação, não se esten-dendo, portanto, a toda uma categoria econômica ou profissional.

XXVII - proteção em face da automação, na forma da lei; • Automação é a substituição progressiva do traba-

lho humano por equipamentos e máquinas, o que tem causado a extinção de muitos postos de tra-balho, gerando, conseqüentemente, aumento nos índices de desemprego.

• Este inciso indica a preocupação do legislador constituinte em determinar ao legislador ordinário que estabeleça meios de proteger o trabalhador do avanço da automação, seja reciclando seus conhecimentos, estabelecendo cotas ou estipu-lando alguma indenização, caso perca o empre-go.

XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa; • Seguro contra acidentes de trabalho é direito do

trabalhador, urbano ou rural, que será implemen-tado às custas do empregador sempre que o em-pregado se lesionar em serviço ou em decorrên-cia do exercício de sua função.

• Além do seguro, que tem natureza previdenciária, se o acidente do trabalho decorrer de dolo (inten-ção) ou culpa (imperícia, imprudência ou negli-gência) do empregador, o empregado poderá exi-gir do patrão o pagamento de uma indenização, que tem natureza de ressarcimento quanto aos danos causados.

XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e ru-rais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho; • O trabalhador tem direito a cobrar os créditos re-

sultantes de sua relação de trabalho, enquanto ela perdurar, no prazo de cinco anos, a contar do fato que originou seu direito. É a chamada pres-crição interna.

• Finda a relação de trabalho, o trabalhador tem dois anos para cobrar seus créditos. É a chamada prescrição externa.

XXX - proibição de diferença de salários, de exer-cício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;

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XXXI - proibição de qualquer discriminação no to-cante a salário e critérios de admissão do traba-lhador portador de deficiência; XXXII - proibição de distinção entre trabalho ma-nual, técnico e intelectual ou entre os profissio-nais respectivos; XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; • Este inciso fixa um piso mínimo para se iniciar a-

tividade laboral, na qualidade de aprendiz, de 14 anos. Logo, nenhuma pessoa com idade menor que esta pode ser contratada, sob pena de ser considerada exploração de trabalho infantil.

• Por outro lado, a partir dos dezesseis anos a pes-soa já é um trabalhador como qualquer outro, somente não podendo exercer trabalho noturno, perigoso ou insalubre.

XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o traba-lhador avulso. Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VIII, XV, XVII, XVIII, XIX, XXI e XXIV, bem como a sua integração à previdência social. Art. 8º É livre a associação profissional ou sindi-cal, observado o seguinte: • Associação profissional tem por finalidade organi-

zar e ministrar cursos, seminários e atualizações voltados para o desempenho da atividade profis-sional, limitando-se à defesa dos interesses de seus associados.

• Associação sindical tem a prerrogativa de repre-sentação de toda a categoria, judicial e extrajudi-cial, devendo participar das negociações coletivas que envolvam interesses da categoria e podendo institui contribuições financeiras aos sindicaliza-dos.

I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o regis-tro no órgão competente, vedadas ao Poder Pú-blico a interferência e a intervenção na organiza-ção sindical; • Proíbe este inciso a interferência do Estado na

organização das entidades representativas dos trabalhadores, exigindo apenas o registro no ór-gão competente, no caso o Ministério do Traba-lho.

II - é vedada a criação de mais de uma organiza-ção sindical, em qualquer grau, representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalha-dores ou empregadores interessados, não poden-do ser inferior à área de um Município; • Princípio da unicidade sindical, que estabelece

somente poder existir uma entidade sindical em

cada base territorial, assim compreendida, como tamanho mínimo, o Município.

• São quatro os graus de organização sindical: a) sindicatos, de trabalhadores; b) federações, de sindicatos; c) confederações, de federações; d) centrais sindicais.

III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e inte-resses coletivos ou individuais da categoria, in-clusive em questões judiciais ou administrativas; • Os sindicatos podem patrocinar judicial ou extra-

judicialmente os interesses da categoria que re-presenta, atuando em duas situações processuais distintas: a) como representante processual dos emprega-dos sindicalizados, exigindo-se, neste caso, auto-rização expressa dos mesmos; b) como substituto processual de toda a categori-a, dispensando-se, neste caso, autorização ex-pressa dos empregados, pois presume-se esta função de defesa dos interesses coletivos da ca-tegoria de suas próprias finalidades.

• Associações precisam de autorização expressa para representar judicial ou extrajudicialmente seus sócios; os sindicatos, quando atuam em nome coletivo, não precisam de autorização ex-pressa.

IV - a assembléia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical respecti-va, independentemente da contribuição prevista em lei; • Contribuição de custeio do sistema confederativo:

fixada em assembléia geral do sindicato, somente obriga aos sindicalizados, dividindo-se a arreca-dação entre os diversos graus de organização sindical.

• Contribuição sindical compulsória: fixada por lei e paga por todos os trabalhadores de uma determi-nada categoria profissional, sindicalizados ou não, dividindo-se a arrecadação entre os diversos graus de organização sindical e o Ministério do Trabalho.

V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato; • Duas conseqüências emergem deste inciso: a) é

livre a filiação de qualquer trabalhador à entidade que o representa; b) o trabalhador não pode ser compelido a associar-se ou manter-se associado ao sindicato.

VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho; • É indispensável a presença do sindicato quando

da celebração de qualquer pacto coletivo, seja convenção, seja acordo, para resolução de um conflito coletivo de trabalho.

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VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas organizações sindicais; VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicali-zado a partir do registro da candidatura a cargo de direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei. • Há três hipóteses de estabilidade relativa previs-

tas na CF: a) membro da CIPA, durante o mandato e até um ano após o fim deste; b) trabalhadora gestante, desde a confirmação da gravidez até o 5º mês após o parto; c) trabalhador eleito para ocupar cargo de direção ou represen-tação sindical, durante o mandato e até um ano após o final deste.

• Em todas as hipóteses referidas existe estabilida-de relativa, pois o empregado pode ser demitido se houver falta grave, ou seja, justa causa para a demissão, na forma da lei.

Parágrafo único. As disposições deste artigo apli-cam-se à organização de sindicatos rurais e de colônias de pescadores, atendidas as condições que a lei estabelecer. Art. 9º É assegurado o direito de greve, competin-do aos trabalhadores decidir sobre a oportunida-de de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. • Direito de greve é a prerrogativa que os trabalha-

dores têm de paralisar suas atividades, para de-fesa de seus interesses, sem que isto acarrete as conseqüências normais da ausência no serviço, como o cômputo de faltas e o desconto dos dias parados.

• Este inciso trata apenas do direito de greve dos trabalhadores da iniciativa privada, já que os ser-vidores públicos encontram-se amparados, neste ponto, pelo art. 37, VII, da CF.

• Cabe aos trabalhadores definirem a natureza do movimento grevista: greve de solidariedade, rei-vindicatória, de protesto ou política.

§ 1º - A lei definirá os serviços ou atividades es-senciais e disporá sobre o atendimento das ne-cessidades inadiáveis da comunidade. • Serviços essenciais, segundo a Lei 7783/89: á-

gua, energia elétrica, gás e combustível, saúde, distribuição de medicamentos e alimentos, fune-rária, transporte coletivo, captação e tratamento de esgoto e lixo, telecomunicações, tráfego aé-reo, compensação bancária e processamento de dados.

§ 2º - Os abusos cometidos sujeitam os respon-sáveis às penas da lei. Art. 10. É assegurada a participação dos trabalha-dores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e deli-beração.

• Tanto trabalhadores quanto empresários têm as-segurado o direito de participar em colegiados dos órgãos públicos quando da discussão e deli-beração acerca de seus interesse profissionais ou previdenciários, como ocorre, por exemplo, com o Conselho Curador do FGTS ou o Comitê de Ges-tão do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).

Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos em-pregados, é assegurada a eleição de um represen-tante destes com a finalidade exclusiva de pro-mover-lhes o entendimento direto com os empre-gadores.

CAPÍTULO III

DA NACIONALIDADE

• Nacionalidade é o vínculo jurídico-político que li-ga um indivíduo a um certo e determinado Esta-do, fazendo desse indivíduo um componente do povo, da dimensão pessoal desse Estado, capaci-tando-o a exigir sua proteção e sujeitando-o ao cumprimento dos deveres impostos.

• População é conceito demográfico que significa conjunto de pessoas em determinados território e momento, englobando tanto os nacionais quanto os estrangeiros.

• Povo é o conjunto de nacionais em determinado território, representando a dimensão pessoal do Estado.

• Cidadão é o nacional dotado das prerrogativas de direito político conferidas à pessoa natural, as-seguradas constitucionalmente.

• Nação é o conjunto de nacionais em qualquer ter-ritório, tendo como elementos comuns a língua, tradições, laços históricos e culturais.

• Apátrida é a pessoa física sem nacionalidade. • Polipátrida é a pessoa física que possui mais de

uma nacionalidade. Art. 12. São brasileiros: • Critérios para definição da nacionalidade: a) jus

sanguinis, definido pela filiação da pessoa, inde-pendentemente do lugar de nascimento, sendo determinada a nacionalidade da pessoa pela de seus pais; b) jus solis, que atribui a nacionalida-de pelo local de nascimento, desconsiderando a nacionalidade dos pais; c) misto, combinando cri-térios da ascendência (jus sanguinis) ou territoria-lidade (jus solis) com outros, como veremos adi-ante.

I - natos: • Têm-se definidas, neste inciso, as hipóteses de

aquisição de nacionalidade originária, orientadas pelos critérios do jus solis e do jus sanguini a par-tir de uma fato natural, qual seja, o nascimento.

• As hipóteses de aquisição de nacionalidade origi-nária ou primária somente podem ser definidas na Constituição Federal, de modo que ao legislador ordinário fica proibida a instituição de novas for-mas e critérios de definição de brasileiros natos.

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a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país; • Nascendo em qualquer ponto do território nacio-

nal, a pessoa será considerada brasileira nata, pela aplicação do critério do jus solis.

• Território, para efeito desta alínea, é a área deli-mitada pelas fronteiras geográficas, o espaço aé-reo e o mar territorial brasileiro, os navios e aero-naves militares brasileiros, os navios mercantes brasileiros em alto-mar ou de passagem em mar territorial estrangeiro, as aeronaves civis brasilei-ras em vôo sobre o alto-mar ou de passagem so-bre águas territoriais ou espaço aéreo estrangei-ro.

• Ainda que ambos os pais sejam estrangeiros, se a pessoa nascer no país será considerada brasi-leira, desde que qualquer um de seus genitores não esteja a serviço de seu país, hipótese em que não adquirirá nacionalidade originária brasileira.

b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil; • Critério do jus sanguini, acrescido de um critério

funcional. • Pai ou mãe brasileiros, prestando serviço diplo-

mático, consular ou público de qualquer outra na-tureza prestado aos órgãos da administração cen-tralizada ou descentralizada.

c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maiori-dade, pela nacionalidade brasileira; (Redação da-da pela Emenda Constitucional nº 54, de 2007) • É a denominada nacionalidade potestativa, que

reúne o critério do jus sanguinis ao critério resi-dencial e à opção confirmativa da nacionalidade brasileira.

• 1ª hipótese: criança nascida no estrangeiro, filha de pai ou mãe brasileira e registrada na reparti-ção consular competente, considera-se brasileiro nato sob condição suspensiva de posterior fixa-ção de residência no Brasil e confirmação dessa opção, perante a Justiça Federal.

• 2ª Hipótese: criança nascida no estrangeiro, filha de pai ou mãe brasileira e sem registro na reparti-ção consular competente, adquire nacionalidade originária brasileira com a fixação da residência no Brasil, sujeita a uma condição confirmativa, de opção perante a Justiça Federal pela nacionali-dade brasileira, a qualquer tempo.

II - naturalizados: • Este inciso disciplina as hipóteses em que o es-

trangeiro poderá adquirir a nacionalidade brasilei-ra, sendo denominada nacionalidade secundária,

e orienta-se pelo critério da voluntariedade, a-crescida de alguns outros requisitos.

• Estas hipóteses não são taxativas, podendo a lei ordinária estabelecer novos casos de aquisição de nacionalidade secundária.

• Registre-se que a concessão de nacionalidade secundária não é direito subjetivo do estrangeiro, ficando a critério do poder executivo brasileiro a sua concessão.

a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionali-dade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral; • Este inciso prevê a naturalização expressa or-

dinária, pois o estrangeiro deverá proceder de acordo com a lei, no caso o Estatuto do Estran-geiro (Lei 6.815/80), exceção feita aos originários dos países de língua portuguesa, dos quais são exigidos apenas residência ininterrupta por um ano e idoneidade moral.

• Requisitos da Lei: capacidade civil segundo a lei brasileira; ter visto permanente no Brasil; residên-cia contínua pelo prazo de 4 anos; ler e escrever em português; boa conduta e boa saúde; exercí-cio de profissão ou posse de bens suficientes à manutenção própria e da família; bom procedi-mento; e inexistência de denúncia, pronúncia ou condenação no Brasil ou no exterior por crime do-loso a que seja cominada pena mínima de prisão, abstratamente considerada, superior a um ano.

b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, re-sidentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem conde-nação penal, desde que requeiram a nacionalida-de brasileira. • Naturalização extraordinária ou quinzenária é

a aplicável aos demais estrangeiros, exigindo-se residência há mais de 15 anos ininterruptos e au-sência de condenação penal, devendo o interes-sado requerer a sua naturalização.

• Parte da doutrina brasileira acha que, nessa hipó-tese, não cabe discricionariedade ao Chefe do Poder Executivo para a concessão da naturaliza-ção, sendo caso de direito subjetivo do estrangei-ro à nacionalidade secundária brasileira.

§ 1º Aos portugueses com residência permanen-te no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição. • Hipótese de quase nacionalidade, em que os

portugueses, desde que haja cláusula de recipro-cidade em favor dos brasileiros, adquirem os mesmos direitos do brasileiro naturalizado, sem, contudo, perder sua cidadania portuguesa.

§ 2º - A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição.

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• Vedações aos brasileiros naturalizados: ocupar os cargos privativos de brasileiro previstos no §3º deste artigo; ter assento no Conselho da Repúbli-ca. Além disso, podem ser extraditados, nos ter-mos do art. 5º, LI, da CF.

§ 3º - São privativos de brasileiro nato os cargos: I - de Presidente e Vice-Presidente da República; II - de Presidente da Câmara dos Deputados; III - de Presidente do Senado Federal; IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal; V - da carreira diplomática; VI - de oficial das Forças Armadas. VII - de Ministro de Estado da Defesa § 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que: I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao inte-resse nacional; II - adquirir outra nacionalidade, salvo no casos: a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira; b) de imposição de naturalização, pela norma es-trangeira, ao brasileiro residente em estado es-trangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis. Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil. § 1º - São símbolos da República Federativa do Brasil a bandeira, o hino, as armas e o selo nacio-nais. § 2º - Os Estados, o Distrito Federal e os Municí-pios poderão ter símbolos próprios.

CAPÍTULO IV DOS DIREITOS POLÍTICOS

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I - plebiscito; II - referendo; III - iniciativa popular. • Conceito de Direitos Políticos: direitos públicos

subjetivos que investem o indivíduo no status ac-tivae civitatis, permitindo-lhe o exercício concreto da liberdade de participação nos negócios políti-cos do Estado, de maneira a conferir os atributos da cidadania (Alexandre de Moraes, in Direito Constitucional).

Direitos Políticos: • Direito de Sufrágio • Alistabilidade • Elegibilidade • Iniciativa popular de lei • Ação popular • Organização e Participação de Partidos Políticos

Sufrágio – direito público subjetivo de natureza Polí-tica, que tem o cidadão de eleger, ser eleito e de par-ticipara da organização e da atividade do poder esta-tal (José Afonso da Silva, in Curso de Direito Consti-tucional Positivo). Obs 1: O sufrágio compreende a capacidade eleitoral ativa (direito de votar) – alistabilidade; e a capacidade eleitoral passiva (direito de ser votado) – elegibilida-de, sendo manifestado através do voto, que é a ex-pressão da vontade popular num processo decisório. Obs 2: Sufrágio é universal quando o direito de votar é concedido a todos os nacionais, independentemen-te de fixação de condições de nascimento, econômi-cas, culturais ou outras condições especiais, ao pas-so que chama-se restrito ou qualificativo quando o di-reito de voto é concedido somente quando presentes determinadas condições específicas, atribuídas ape-nas a alguns nacionais, podendo ser censitário (ren-da) ou capacitário. § 1º - O alistamento eleitoral e o voto são: I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos; II - facultativos para: a) os analfabetos; b) os maiores de setenta anos; c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos. § 2º - Não podem alistar-se como eleitores os es-trangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos. • Alistamento eleitoral – qualificação de uma pes-

soa perante o órgão da Justiça Eleitoral, inscre-vendo-se como eleitor, o que lhe garante o direito de votar (capacidade eleitoral ativa). É condição de elegibilidade.

• Obrigatório para maiores de 18 e menores de 70 anos. Alistabilidade facultativa: alíneas “a”, “b” e “c”.

• Inalistáveis: estrangeiros e conscritos (= que pres-tam serviço militar obrigatório).

• Voto– direito público subjetivo e dever sociopolíti-co do cidadão, manifestando sua vontade para a escolha de governantes em um regime represen-tativo.

• Características: personalidade, obrigatoriedade, li-berdade, sigilosidade, periodicidade, igualdade e direto.

§ 3º - São condições de elegibilidade, na forma da lei: I - a nacionalidade brasileira; II - o pleno exercício dos direitos políticos; III - o alistamento eleitoral; IV - o domicílio eleitoral na circunscrição; V - a filiação partidária; VI - a idade mínima de: a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador; b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;

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c) vinte e um anos para Deputado Federal, Depu-tado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; d) dezoito anos para Vereador. • Elegibilidade – capacidade eleitoral passiva con-

sistente na possibilidade de o cidadão pleitear de-terminados mandatos políticos, mediante eleição popular desde que preencha, cumulativamente, os requisitos previstos no inciso I a VI, seja alistável e não se enquadre em nenhum dos direitos políticos negativos, ou seja, inelegibilidade, perda e sus-pensão dos direitos políticos.

• Observe-se que o TSE firmou entendimento no sentido de que a idade mínima, como condição de elegibilidade, deve ser atendida na data da posse, e não na do alistamento ou mesmo na do registro da candidatura.

§ 4º - São inelegíveis os inalistáveis e os analfabe-tos. • Inelegibilidade é a ausência de capacidade eleito-

ral passiva, constituindo-se em condição impediti-va ao exercício passivo da cidadania. Destina-se a proteger a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou do a-buso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta

• Dos inalistáveis já tratamos anteriormente, valen-do registrar, apenas, que os analfabetos possuem capacidade eleitoral ativa, mas não passiva (não podem ser votados).

QUADRO DE INELEGIBILIDADES Absolutas • São impedimentos eleitorais para qualquer cargo

eletivo, em razão de determinada característica da pessoa que pretende candidatar-se.

• Só podem ser estabelecidas, taxativamente, pela Constituição Federal.

• Hipóteses: a) inalistáveis – estrangeiros, conscri-tos e menores de 16 anos; b) analfabetos.

Relativas • São restrições à elegibilidade para certos pleitos

eleitorais e determinados mandatos, em razão de situações especiais existentes, no momento da e-leição, em relação ao candidato.

• Podem ser estabelecidas, além dos casos previs-tos na Constituição Federal, outras hipóteses, me-diante Lei Complementar.

• Por motivo funcional: a) para o mesmo cargo – re-eleição, para mais de um mandato sucessivo (§5)º; b) para outros cargos – desincompatibiliza-ção (§6)

• Por motivo de casamento ou parentesco, consa-güíneo ou por afinidade – inelegibilidade reflexa (§7º).

• Dos militares, variando a situação conforme tenha mais ou menos de 10 anos de caserna (§8º).

• Previsões de ordem legal (LC 64/90 e LC 81/94), para proteção da probidade administrativa, da normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou do abuso do e-xercício de função, cargo ou emprego na adminis-tração direta ou indireta(§9º).

§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no cur-so dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subseqüente. § 6º - Para concorrerem a outros cargos, o Presi-dente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito. § 7º - São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Pre-sidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. § 8º - O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições: I - se contar menos de dez anos de serviço, deve-rá afastar-se da atividade; II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade. § 9º - Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a mo-ralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de fun-ção, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. § 10 - O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude. § 11 - A ação de impugnação de mandato tramita-rá em segredo de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé. Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;

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II - incapacidade civil absoluta; III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos; IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VII-I; V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º. • A cassação de direitos políticos é expressamente

vedada pela Constituição Federal, pois significa a possibilidade de uma autoridade administrativa, sem amparo legal, arbitrariamente, suprimir do ci-dadão os referidos direitos, como tantas vezes o-correu durante a ditadura militar no Brasil.

• Tanto a suspensão quanto a perda somente ocor-rerão nas hipóteses taxativamente previstas na Constituição Federal

• Suspensão de direitos políticos é a privação tem-porária dos mesmos, ocorrendo nas hipóteses de incapacidade civil absoluta, condenação com trân-sito em julgado, enquanto durarem seus efeitos e improbidade administrativa.

• Perda de direitos políticos é a privação definitiva dos mesmos, e ocorre nas hipóteses de: cancela-mento da naturalização por sentença transitada em julgado, escusa de consciência, aquisição vo-luntária de outra nacionalidade e anulação judicial do procedimento de naturalização, por vício de consentimento no ato jurídico.

Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entra-rá em vigor na data de sua publicação, não se a-plicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência.

CAPÍTULO V DOS PARTIDOS POLÍTICOS

Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e ex-tinção de partidos políticos, resguardados a sobe-rania nacional, o regime democrático, o pluriparti-darismo, os direitos fundamentais da pessoa hu-mana e observados os seguintes preceitos: I - caráter nacional; II - proibição de recebimento de recursos financei-ros de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes; III - prestação de contas à Justiça Eleitoral; IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei. § 1º - É assegurada aos partidos políticos auto-nomia para definir sua estrutura interna, organi-zação e funcionamento, devendo seus estatutos estabelecer normas de fidelidade e disciplina par-tidárias. § 2º - Os partidos políticos, após adquirirem per-sonalidade jurídica, na forma da lei civil, registra-rão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral.

§ 3º - Os partidos políticos têm direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei. § 4º - É vedada a utilização pelos partidos políti-cos de organização paramilitar.

TÍTULO III DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

Capítulo VII Da Administração Pública

Seção I - Disposições Gerais Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, mo-ralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: � Nos termos da Constituição Federal (art. 37, ca-

put), cinco são os princípios básicos da Adminis-tração Pública: legalidade, impessoalidade, mora-lidade, publicidade e eficiência. � O princípio da legalidade, segundo Hely

Lopes Meireles (Direito Administrativo Brasi-leiro, 26a. ed., 2001, p. 82), “significa que o administrador público está, em toda sua ativi-dade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e às exigências do bem comum, e deles não se pode afastar ou desviar, sob pena de praticar ato inválido e expor-se a responsabi-lidade disciplinar, civil e criminal, conforme o caso”.

� Em síntese, se na esfera das relações priva-das é lícito fazer tudo que a lei não proíbe, na Administração Pública só é permitido realizar o que a lei expressamente determina ou auto-riza, sob pena de invalidade do ato, sendo que a violação deste princípio submete o ad-ministrador a eventual ação popular (CF, art. 5º, LXXIII).

� O princípio da moralidade administrativa implica a noção de que o agente público, co-mo qualquer ser humano, deve necessaria-mente distinguir o bem do mal, o honesto do desonesto. A moralidade administrativa é, pois, a imposição ao agente público para que sua conduta interna seja orientada segundo as exigências da instituição a que serve e a finalidade de sua ação, que é o bem comum da coletividade.

� Em síntese, o princípio da moralidade admi-nistrativa está associada ao conceito do bom administrador, que é aquele que, usando de sua competência legal, se determina não só pelos preceitos vigentes, mas também pela moral comum.

� O princípio da impessoalidade ou finalida-de impõe ao administrador público a obriga-ção de só praticar o ato para o seu fim legal. E o fim legal é unicamente aquele que a nor-ma de Direito indica, expressa ou virtualmen-

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te, como objetivo do ato, de forma impessoal. Este mesmo princípio veda ao administrador público a promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos sobre suas realizações administrativas.

� Em síntese, o referido princípio veda a prática de ato administrativo sem interesse público ou conveniência para a Administração, visan-do unicamente a satisfazer interesses priva-dos, por favoritismo ou perseguição dos a-gentes governamentais, sob a forma de des-vio de finalidade.

� O princípio da publicidade se traduz pela divulgação oficial do ato para conhecimento público e início de seus efeitos externos. A necessidade de conhecimento dos atos pelo público é para possibilitar o controle pelos in-teressados diretos e pelo povo em geral, a-través das ações constitucionais (mandado de segurança, ação popular, habeas data) e medidas processuais específicas; já a eficá-cia do ato perante terceiros decorre do fato de que, somente a partir da publicação do ato é que os interessados poderiam contestar administrativamente qualquer prejuízo dele decorrente.

� Em síntese, sendo a Administração pública seus atos também o serão, só se admitindo o sigilo nos casos de segurança nacional, in-vestigações policiais ou interesse superior da Administração a ser preservado em processo previamente declarado sigiloso (Lei nº 8.159/91).

� O princípio da eficiência exige que a ativi-dade administrativa seja exercida com pres-teza, perfeição e rendimento funcional, não se aceitando que a função pública seja exer-cida apenas orientada pelos conceitos de le-galidade e moralidade, mas também com re-sultados positivos para o serviço público e sa-tisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus membros.

� Registre-se, por último, que a observância desses princípios constitucionais é obrigatória para todas as esferas de governo (Federal, Estadual, Distrital e Municipal) e para todos os órgãos da Adminis-tração Pública, seja Direta (Ministérios, Secretari-as Estaduais e Municipais), seja Indireta (Autar-quias, Fundações Públicas, Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista).

I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os re-quisitos estabelecidos em lei, assim como aos es-trangeiros, na forma da lei; � Na redação anterior deste artigo não estava pre-

vista a possibilidade de o estrangeiro ocupar car-gos, empregos e funções públicas, sendo privati-vos de brasileiros. A lei que estabelece os requisi-tos previstos na Constituição é a 8.112/90, quanto à União. Como ainda não houve a edição de lei

regulamentando o acesso dos estrangeiros, na prática permanece a vedação.

II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso públi-co de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração; � A regra geral de acessibilidade a cargo ou em-

prego público é a aprovação prévia em concurso público, excetuando-se o cargo em comissão, cu-jo provimento fica ao livre critério da autoridade administrativa, e a contratação por tempo deter-minado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público, que pelo caráter de urgência possibilita a contratação direta, sem concurso público.

III – o prazo de validade do concurso público será de até dois anos, prorrogável uma vez, por igual período; � Atenção apenas para o detalhe do prazo que é de

até dois anos. Significa que a Administração po-derá fixar o prazo de validade em 6 meses, 1 ano etc., e a prorrogação, se houver, se dará pelo mesmo período fixado inicialmente.

IV – durante o prazo improrrogável previsto no e-dital de convocação, aquele aprovado em concur-so público de provas ou de provas e títulos será convocado com prioridade sobre novos concur-sados para assumir cargo ou emprego, na carrei-ra; � A aprovação em concurso público não gera direito

adquirido à nomeação pelo candidato aprovado, mas este tem preferência sobre os novos concur-sados, caso tenha se realizado novo certame no prazo improrrogável de validade do processo se-letivo inicial.

� Observe-se, no entanto, que em recente decisão proferida pela 6ª Turma do STJ firmou-se o en-tendimento de que, havendo vagas e candidatos classificados, estes deverão ser nomeados (vide observação no tópico Lei 8.112/90 – Direito Ad-ministrativo).

� A jurisprudência (=decisão dos tribunais) tem en-tendido que prazo improrrogável é o período fixa-do após o prazo inicial, como prorrogação deste. Assim, se a Administração fixa o prazo de valida-de do concurso em 1 ano, neste período não po-de editar novo concurso; somente poderá fazê-lo se prorrogá-lo pelo mesmo prazo, priorizando, no entanto a convocação dos aprovados no primeiro concurso.

V - as funções de confiança, exercidas exclusiva-mente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-

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se apenas às atribuições de direção, chefia e as-sessoramento; � Aqui se estabelece a diferença já comentada em

Direito Administrativo, entre cargos em comissão em sentido estrito, que pode ser ocupado por qualquer pessoa, mesmo que não tenha vínculo algum com a Administração Pública, e funções de confiança, que serão exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo. No primeiro caso, a lei estabelecerá os percentuais mínimos dos cargos em comissão que serão e-xercidos por servidores de carreira (concursados).

� Registre-se, também, que as funções de confian-ça e os cargos em comissão são instituídos para que seus ocupantes exerçam atribuições de dire-ção, chefia e assessoramento.

VI – é garantido ao servidor público civil o direito à livre associação sindical; � O direito à livre associação sindical será exercido

nos termos do art. 8º desta Constituição, que es-tabelece, entre outras coisas, a impossibilidade de intervenção do Estado na organização dos trabalhadores, a prerrogativa dos sindicatos em defender judicial e extrajudicialmente seus filiados e a liberdade de iniciativa do trabalhador em as-sociar-se ou permanecer associado à entidade sindical.

VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica; � O direito de greve assegurado ao servidor público

não é uma norma constitucional de eficácia plena, dependendo de complementação legislativa para definir de que forma ele poderá ser exercido, quais os limites, o que são serviços essenciais, qual percentual de servidores deverá ser mantido em caso de greve etc.

VIII – a lei reservará percentual dos cargos e em-pregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admis-são; � Este inciso reflete o princípio da isonomia ou i-

gualdade formal, pois propicia às pessoas porta-doras de deficiência física uma igualdade virtual de condições com cidadãos em perfeitas condi-ções, no que diz respeito ao acesso a cargos e empregos públicos. É uma forma de diminuir os preconceitos e dificuldades em relação àquelas pessoas.

� Na esfera federal, a Lei 8.112/90 estabelece um percentual de até 20% dos cargos públicos do concurso reservados para os deficientes físicos.

IX – a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender a necessida-de temporária de excepcional interesse público; � Dentre as hipóteses previstas na legislação fede-

ral (Lei 8.745/93), incluem-se o combate a surtos epidêmicos (dengue, febre amarela etc.) ou cala-midades públicas (terremotos, enchentes etc.), si-

tuações emergenciais que autorizam o poder pú-blico a contratar sem concurso público, excepcio-nalmente e por tempo determinado.

� Três são, portanto, os requisitos para a utilização desta exceção: a) excepcional interesse publico; b) temporariedade da contratação; c) hipóteses expressamente previstas em lei, não podendo fi-car ao livre critério do administrador.

X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por lei específi-ca, observada a iniciativa privativa em cada caso, assegurada revisão geral anual, sempre na mes-ma data e sem distinção de índices; � Essa disposição significa: a) que a remuneração

dos servidores públicos não poderá ser fixada me-diante decreto (executivo) ou resolução (Judiciário e Legislativo), exigindo-se lei em sentido material e formal (votada e aprovada pelo Legislativo e sancionada pelo Executivo; b) que deve ser ob-servada a iniciativa privativa dos Poderes em rela-ção à remuneração dos seus servidores, ou seja, o Supremo Tribunal Federal envia projeto de lei re-ferente aos seus servidores, o Presidente da Re-pública em relação aos do Executivo, o mesmo acontecendo com o Legislativo; c) anualmente é assegurado a todos os servidores públicos uma revisão de sua remuneração, sendo aplicada o mesmo indicia a todos, independente do Poder a que pertençam; d) obviamente, deve-se assegurar a autonomia dos Estados e Municípios, não po-dendo a União fixar índices de revisão obrigatórios para aqueles entes federativos.

XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da adminis-tração direta, autárquica e fundacional, dos mem-bros de qualquer dos Poderes da União, dos Es-tados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agen-tes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativa-mente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como li-mite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Exe-cutivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Dis-tritais no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, li-mitado a noventa inteiros e vinte e cinco centési-mos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos Procura-dores e aos Defensores Públicos; (Emenda Cons-titucional nº 41) � Este inciso fixa o teto máximo de remuneração

em todo o serviço público, vale dizer, nas três es-

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feras (federal, estadual e municipal) e nos três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), além da instituição Ministério Público, nenhum servidor público em sentido amplo (que se vincula à Admi-nistração Pública por qualquer das formas de in-vestidura) poderá receber, em espécie, mais do que o subsídio mensal dos Ministros do Supremo Tribunal Federal.

� Essa regra vale tanto para a Administração Direta quanto para a Indireta, incluindo-se também os va-lores referentes a eventuais acumulações consti-tucionalmente admitidas.

� Da mesma forma, incluem-se no teto as vanta-gens pessoais ou de qualquer natureza, como os adicionais por tempo de serviço ou a incorporação do exercício de funções de confiança ou cargos em comissão.

� Pelo entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), servidores que recebem acima do teto têm direito adquirido à irredutibilidade salarial; logo, não podem ter seus salários reduzidos.

� Também o mesmo Tribunal entende que a lei que fixará o subsídio do Ministro do Supremo Tribunal Federal deverá ser de iniciativa conjunta dos Pre-sidentes da República, da Câmara, do Senado e do STF.

� Acrescenta-se, com a nova redação dada pela EC 41/2003, os subtetos no âmbito dos Estados e Municípios, fixando limites de remuneração nos respectivos entes federativos, variando de acordo com o Poder ao qual o servidor público encontra-se vinculado.

XII – os vencimentos dos cargos do Poder Legis-lativo e do Poder Judiciário não poderão ser su-periores aos pagos pelo Poder Executivo; � Este inciso prevê a igualdade formal da remune-

ração dos servidores públicos dos três Poderes, estabelecendo que para cargos, empregos e fun-ções públicas com atribuições semelhantes a re-muneração também deverá ser semelhante, guar-dadas, evidentemente, as peculiaridades de cada situação, como as condições em que são exerci-das as atribuições, por exemplo.

XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do serviço público; � O que este inciso proíbe é o estabelecimento de

parâmetros automáticos de indexação salarial, como, por exemplo, o salário-mínimo.

� Igualmente veda o estabelecimento de equivalên-cias salariais, como, por exemplo, atrelar o salário dos servidores ao aumento da arrecadação tribu-tária, ou fixar percentuais de remuneração de uma carreira em relação à outra, por exemplo, de que o salário do técnico da receita federal será o equi-valente a 75% do auditor do mesmo órgão. Logo, toda vez que houvesse aumento para esta última categoria haveria também para a primeira, criando um “efeito cascata” prejudicial à Administração Pública.

� As vinculações e equiparações admitidas estão expressamente previstas na Constituição, como, por exemplo, 75% dos subsídios do Deputado Fe-deral correspondem à remuneração devida ao De-putado Estadual.

XIV - os acréscimos pecuniários percebidos por servidor público não serão computados nem a-cumulados para fins de concessão de acréscimos ulteriores; � Este inciso proíbe que se recebam parcelas re-

muneratórias cumulativas com base em idêntico fundamento, evitando o chamado efeito-repicão, como, por exemplo, receber uma gratificação por desempenho e um adicional por produtividade, que apesar de pertencerem a vantagens remune-ratórias diferentes possuem o mesmo fundamento, qual seja, ou aumento da produtividade do servi-dor.

XV - o subsídio e os vencimentos dos ocupantes de cargos e empregos públicos são irredutíveis, ressalvado o disposto nos incisos XI e XIV deste artigo e nos arts. 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I; � É a regra da irredutibilidade salarial dos subsídios

e vencimentos dos ocupantes de cargos e empre-gos públicos, vez que o salário, como vimos, tem natureza de verba alimentar.

� A norma traz as seguintes exceções: a) adequa-ção ao teto salarial, obviamente para os que entra-ram após a EC 19/98; b) eliminação de acrésci-mos pecuniários cumulativos, sob o mesmo fun-damento; c) para os membros de Poder, os deten-tores de cargo eletivo, os Ministros de Estado, Se-cretários estaduais e Secretários municipais, a a-dequação ao conceito de subsídio, que é pago em parcela única, sem acréscimo de qualquer gratifi-cação, abono etc.; d) para incidência de imposto de renda, que é obrigação tributária a todos im-posta; e) pagamento de imposto de renda pro-gressivo.

XVI - é vedada a acumulação remunerada de car-gos públicos, exceto, quando houver compatibili-dade de horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI: a) a de dois cargos de professor; b) a de um cargo de professor com outro, técnico ou científico; c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissional de saúde, com profissões regulamen-tadas; � A regra geral é de que é vedada (proibida) a a-

cumulação remunerada de cargos públicos, es-tendendo-se a proibição a empregos e funções, mesmo nas entidades da Administração Indireta (Autarquias, Fundações de Direito Público e de Direito Privado, Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista). Art. 37, XVI e XVII, CF; art. 118, Lei 8.112/90.

� Igualmente não é possível acumular cargos, em-pregos ou funções, ainda que de esferas estatais

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diferentes. Por exemplo, não posso ser agente administrativo no município e técnico judiciário do TRF.

� A proibição de acumular estende-se aos aposen-tados, de modo que não lhes é lícito acumular proventos com remuneração de cargo efetivo, conforme tem entendido o STF, exceto se as ati-vidades já fossem acumuláveis quando o servidor estava em exercício.

� A proibição de acumular não atinge a possibilida-de de exercício concomitante de cargos, empre-gos e funções públicas, desde que somente um deles seja remunerado pelos cofres públicos. Exemplo: posso acumular o cargo de médico da rede pública com o de conciliador dos juizados especiais, desde que haja compatibilidade de ho-rário.

� A regra geral comporta as seguintes exceções: a) dois cargos de magistério (professor); um de professor e um técnico ou científico; c) dois car-gos ou empregos privativos de profissional de sa-úde, com profissões regulamentadas; d) um de magistratura (juiz) com um de magistério (profes-sor); e) um de membro do ministério público com um de magistério. As três primeiras encontram-se no art. 37, XVI, “a”, “b” e “c”, CF; a quarta, na CF, 95, parágrafo único, I; e a quinta no art. 128, §5º, II, “d”, CF.

� De qualquer modo, ainda que seja possível a ex-ceção, há que se atender um requisito essencial: a compatibilidade de horário, sem o que ainda que se enquadre nas hipóteses excepcionais a acumulação não será lícita.

� Também é de se observar que mesmo quando permitida a acumulação o somatório das remune-rações ou proventos não poderá ultrapassar o teto fixado constitucionalmente, que é o dos sub-sídios pagos aos ministros do Supremo Tribunal Federal (CF, art. 37, XI).

� Em síntese: para verificar, no caso concreto, se é possível a acumulação, devemos observar os se-guintes passos: 1) trata-se de cargos, empregos ou funções públicas, já que não há regra impe-dindo o acúmulo de funções públicas com cargos da iniciativa privada; b) se incide a hipótese em uma das exceções previstas constitucionalmente; c) finalmente, se há compatibilidade de horários, de modo que o exercício de um car-go/emprego/função pública não conflite com o ou-tro.

XVII - a proibição de acumular estende-se a em-pregos e funções e abrange autarquias, funda-ções, empresas públicas, sociedades de econo-mia mista, suas subsidiárias, e sociedades con-troladas, direta ou indiretamente, pelo poder pú-blico; � Trata-se, aqui, da extensão da regra geral da ina-

cumulatividade de cargos, empregos e funções públicas para todas as entidades da Administração Pública Indireta, suas subsidiárias e sociedades cujo controle esteja com o poder público.

XVIII – a administração fazendária e seus servido-res fiscais terão, dentro de suas áreas de compe-tência e jurisdição, precedência sobre os demais setores administrativos, na forma da lei; � Para realizar suas atividades, a Administração

Pública necessita de dinheiro, e a estrutura orga-nizacional que gerencia as verbas públicas é a administração fazendária, que tem precedência, no exercício de suas atividades, sob qualquer ou-tro órgão ou estrutura da Administração.

XIX - somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste úl-timo caso, definir as áreas de sua atuação; � Dentre as espécies da Administração Pública In-

direta, distinguem-se, quanto ao momento em que adquirem personalidade jurídica, as autarquias, fundações públicas, sociedades de economia mis-ta e empresas públicas.

� Autarquias são criadas por lei da entidade federa-tiva instituidora (União, Estados, Municípios ou Distrito Federal), adquirindo personalidade jurídica no momento da publicação da lei.

� Sociedades de economia mista, empresas públi-cas e fundações são instituídas mediante autori-zação legal, dependendo, para adquirir personali-dade jurídica, do registro de seus atos constituti-vos no cartório competente.

� No caso da fundação, lei complementar de cada entidade federativa estabelecerá sua área de atu-ação.

XX – depende de autorização legislativa, em cada caso, a criação de subsidiárias das entidades mencionadas no inciso anterior, assim como a participação de qualquer delas em empresa priva-da; � Criadas as entidades da Administração Pública

Indireta referenciadas no inciso anterior, estas po-derão ter subsidiárias, ou seja, estruturas menores criadas para descentralizar mais ainda as suas a-tividades, desde que a criação seja autorizada por lei. Exemplo: Banco do Brasil S.A. (Sociedade de Economia Mista) e sua subsidiária PREVI, que tra-ta da previdência complementar dos servidores daquela entidade, além de negociar no mercado.

XXI – ressalvados os casos especificados na le-gislação, as obras, serviços, compras e aliena-ções serão contratados mediante processo de lici-tação pública que assegure igualdade de condi-ções a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações. � A regra na Administração Pública, para aquisição

de bens ou serviços, ou realização de obras, é a

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realização de procedimento de licitação pública, propiciando isonomia de condições para todos os concorrentes e objetivando buscar a melhor pro-posta para a Administração.

� São cláusulas necessárias em qualquer licitação: obrigações de pagamento e exigências de qualifi-cação técnica e econômica indispensáveis à ga-rantia do cumprimento das obrigações.

� Excepcionalmente admite-se a ausência da licita-ção, através da dispensa – hipóteses em que o administrador público pode não realizar o proce-dimento licitatório; inexigibilidade – hipóteses em que ocorre a impossibilidade da competição, nor-malmente por que só existe um fornecedor do produto ou serviço; e licitação dispensada – a lei expressamente proíbe a realização da licitação nas hipóteses que prevê.

XXII - as administrações tributárias da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, ati-vidades essenciais ao funcionamento do Estado, exercidas por servidores de carreiras específicas, terão recursos prioritários para a realização de suas atividades e atuarão de forma integrada, in-clusive com o compartilhamento de cadastros e de informações fiscais, na forma da lei ou convê-nio. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) � O inciso estabelece que as carreiras que atuam

nas administrações tributárias dos entes federati-vos são essenciais ao funcionamento do Estado e, por isso, têm prioridade na destinação de recur-sos, ao mesmo tempo em que prevê a atuação in-tegrada dos respectivos órgãos fazendários, no in-tuito de melhorar a arrecadação e evitar fraudes ao fisco.

§ 1.º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deve-rá ter caráter educativo, informativo ou de orien-tação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos. � Reflexo do princípio da impessoalidade ou finali-

dade, este parágrafo estabelece que a publicidade da atividade desenvolvida pela Administração de-ve ter apenas caráter educativo, informativo ou de orientação social, vedando a promoção pessoal de autoridade ou servidores públicos.

§ 2.º A não-observância do disposto nos incisos II e III implicará a nulidade do ato e a punição da au-toridade responsável, nos termos da lei. � Respectivamente, os que tratam da regra geral de

acessibilidade aos cargos públicos de provimento efetivo e empregos públicos através da realização de concurso, bem como as regras atinentes ao re-ferido processo seletivo. Caso a autoridade des-cumpra os citados preceitos constitucionais, com-portando-se com improbidade administrativa, su-jeita-se à nulidade do ato e à sua responsabiliza-ção civil, administrativa e penal, conforme o caso.

§ 3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário na administração pública direta e indi-reta, regulando especialmente: I - as reclamações relativas à prestação dos servi-ços públicos em geral, asseguradas a manuten-ção de serviços de atendimento ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da qualida-de dos serviços; II - o acesso dos usuários a registros administra-tivos e a informações sobre atos de governo, ob-servado o disposto no art. 5º, X e XXXIII; III - a disciplina da representação contra o exercí-cio negligente ou abusivo de cargo, emprego ou função na administração pública. � Todas essas disposições dizem respeito a três

princípios que regem a Administração Pública: efi-ciência (I), publicidade (II) e legalidade (III).

§ 4.º Os atos de improbidade administrativa im-portarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gra-dação previstas em lei, sem prejuízo da ação pe-nal cabível. � Os atos de improbidade administrativa, que im-

portam malversação de recursos públicos e má gestão administrativa, ferindo os princípios da le-galidade e moralidade, sujeitam o infrator às pena-lidades estabelecidas neste parágrafo, de acordo com a disciplina legal (Lei de Improbidade Admi-nistrativa – 8429/92; Estatutos dos Servidores Pú-blicos Civis), sem prejuízo das sanções penais a-plicáveis ao caso (corrupção, prevaricação, con-cussão etc.)

§ 5.º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente, ser-vidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimen-to. § 6.º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públi-cos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegura-do o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. � Disciplina-se, aqui, a responsabilidade civil do Es-

tado que, conforme veremos em Direito Adminis-trativo, fundamenta-se na teoria do risco adminis-trativo.

§ 7º A lei disporá sobre os requisitos e as restri-ções ao ocupante de cargo ou emprego da admi-nistração direta e indireta que possibilite o acesso a informações privilegiadas. � Servidor que possui acesso a informações privile-

giadas submete-se a requisitos e restrições espe-cificadas em lei, para resguardar o interesse públi-co de eventual atividade ilícita do servidor. Exem-plo: os diretores do Banco Central e do Banco de Nacional de Desenvolvimento Social não podem, após deixar os cargos, empregar-se na iniciativa

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privada durante determinado período, para evitar vazamento de informações financeiras privilegia-das.

§ 8º A autonomia gerencial, orçamentária e finan-ceira dos órgãos e entidades da administração di-reta e indireta poderá ser ampliada mediante con-trato, a ser firmado entre seus administradores e o poder público, que tenha por objeto a fixação de metas de desempenho para o órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre: I - o prazo de duração do contrato; II - os controles e critérios de avaliação de de-sempenho, direitos, obrigações e responsabilida-de dos dirigentes; III - a remuneração do pessoal. � Cuida-se da instituição das Agências Executivas,

título dado às Autarquias e Fundações Públicas que se adequem aos parâmetros fixados na Cons-tituição e na lei, estabelecendo contrato que esti-pule metas, remuneração etc.

§ 9º O disposto no inciso XI aplica-se às empresas públicas e às sociedades de economia mista, e suas subsidiárias, que receberem recursos da U-nião, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Mu-nicípios para pagamento de despesas de pessoal ou de custeio em geral. � Trata-se do teto fixado para os servidores públi-

cos que, como já dito anteriormente, aplica-se a todos os órgãos da Administração Pública Direta ou Indireta, especificamente em relação ao custeio de pagamento de pessoal ou outros de caráter genérico.

§ 10. vedada a percepção simultânea de proven-tos de aposentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 com a remuneração de cargo, emprego ou função pública, ressalvados os car-gos acumuláveis na forma desta Constituição, os cargos eletivos e os cargos em comissão decla-rados em lei de livre nomeação e exoneração." � A regra veda que se receba dois ou mais proven-

tos de aposentadoria decorrentes do regime de previdência pública contributiva, específico para os ocupantes de cargo de provimento efetivo de qualquer dos entes federativos, ou decorrentes do regime de previdência específico dos militares es-taduais com os militares das forças armadas.

� Excluem-se da regra: os cargos, empregos e fun-ções acumuláveis nos termos da Constituição; cargos eletivos; e cargos em comissão.

Art. 38 - Ao servidor público da administração di-reta, autárquica e fundacional, no exercício de mandato eletivo, aplicam-se as seguintes disposi-ções: I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadu-al ou distrital, ficará afastado de seu cargo, em-prego ou função;

II - investido no mandato de Prefeito, será afasta-do do cargo, emprego ou função, sendo-lhe facul-tado optar pela sua remuneração; III - investido no mandato de Vereador, havendo compatibilidade de horários, perceberá as vanta-gens de seu cargo, emprego ou função, sem pre-juízo da remuneração do cargo eletivo, e, não ha-vendo compatibilidade, será aplicada a norma do inciso anterior; IV - em qualquer caso que exija o afastamento pa-ra o exercício de mandato eletivo, seu tempo de serviço será contado para todos os efeitos legais, exceto para promoção por merecimento; V - para efeito de benefício previdenciário, no ca-so de afastamento, os valores serão determinados como se no exercício estivesse. • Afastamento para exercício em mandato eletivo:

a) servidor eleito para presidente, senador, depu-tado federal, governador de Estado ou do Distrito Federal, deputado estadual ou distrital = afasta-mento do cargo efetivo com remuneração pelo cargo eletivo, b) servidor eleito prefeito = afasta-mento do cargo efetivo, podendo optar pela re-muneração de um ou outro cargo , c) eleito vere-ador, se houver compatibilidade de horário acu-mula o salário de ambos os cargos; caso não ha-ja, opta por uma das remunerações.

Seção II

Dos Servidores Públicos Civis Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, no âmbito de sua com-petência, regime jurídico único e planos de carrei-ra para os servidores da administração pública di-reta, das autarquias e das fundações públicas. (Vide ADIN nº 2.135-4) § 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos demais componentes do sistema remuneratório observará: I - a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade dos cargos componentes de cada carreira; II - os requisitos para a investidura; III - as peculiaridades dos cargos. § 2º A União, os Estados e o Distrito Federal man-terão escolas de governo para a formação e o a-perfeiçoamento dos servidores públicos, constitu-indo-se a participação nos cursos um dos requisi-tos para a promoção na carreira, facultada, para isso, a celebração de convênios ou contratos en-tre os entes federados. � Disposição endereçada às autoridades das referi-

das entidades federativas, obedece ao princípio da eficiência, à medida que a participação dos servi-dores nos cursos aumenta a sua qualificação e serve de critério para promoção do servidor, den-tro da carreira.

§ 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII,

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XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, po-dendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão quando a natureza do cargo o exigir. � Estabelece expressamente os direitos sociais dos

trabalhadores extensivos aos servidores públicos: salário mínimo, , garantia de salário nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável, décimo terceiro salário, remuneração do trabalho noturno superior ao diurno, salário-família, jornada de no máximo 44 horas semanais, repouso semanal remunerado, remuneração do serviço extraordinário superior a, no mínimo, 50% do serviço normal, férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salá-rio normal, licença à gestante, licença-paternidade, proteção do mercado de trabalho da mulher, redu-ção dos riscos inerentes ao trabalho e proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil.

� Havendo motivo de fato que justifique, a lei pode-rá estabelecer requisitos diferenciados de admis-são.

§ 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão remunerados exclu-sivamente por subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adi-cional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, obedecido, em qual-quer caso, o disposto no art. 37, X e XI. � A partir da EC 19/98, os membros dos Poderes e

do Ministério Público, além das maiores autorida-des federais, estaduais e municipais só poderão ser remunerados mediantes subsídio, que é espé-cie remuneratória fixada em parcela única, obede-cendo, sempre ao teto fixado no inc. XI e a obriga-toriedade de fixação por lei específica prevista no inc. X, ambos do art. 37, da CF.

� A intenção do legislador foi eliminar uma porção de “penduricalhos” que eram concedidos pelos próprios parlamentares a si mesmos e a outras ca-tegorias funcionais, determinando um pagamento em uma única parcela denominada subsídio.

§ 5º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios poderá estabelecer a relação en-tre a maior e a menor remuneração dos servidores públicos, obedecido, em qualquer caso, o dispos-to no art. 37, XI.. � Cada um dos entes federativos poderá estabele-

cer limites máximo e mínimo em relação às autori-dades maiores de cada um deles. Exemplo: lei es-tadual que defina que o maior salário pago ao fun-cionalismo não exceda 90% do subsídio pago ao Secretário de Estado.

§ 6º Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciá-rio publicarão anualmente os valores do subsídio e da remuneração dos cargos e empregos públi-cos.

� Disposição decorrente dos princípios constitucio-nais da legalidade, moralidade e publicidade, vi-sam a dar transparência para a Administração Pú-blica, possibilitando o controle de seus atos, caso estejam em desacordo com os parâmetros consti-tucionais e legais.

§ 7º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios disciplinará a aplicação de re-cursos orçamentários provenientes da economia com despesas correntes em cada órgão, autar-quia e fundação, para aplicação no desenvolvi-mento de programas de qualidade e produtivida-de, treinamento e desenvolvimento, moderniza-ção, reaparelhamento e racionalização do serviço público, inclusive sob a forma de adicional ou prêmio de produtividade. § 8º A remuneração dos servidores públicos or-ganizados em carreira poderá ser fixada nos ter-mos do § 4º. O subsídio, como forma de remuneração, é obriga-tório para os agentes políticos citados no referido parágrafo, e de estabelecimento facultativo para os demais servidores públicos.

Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efe-

tivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fun-dações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante contri-buição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)

§ 1º Os servidores abrangidos pelo regime de previdência de que trata este artigo serão aposen-tados, calculados os seus proventos a partir dos valores fixados na forma dos §§ 3º e 17: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)

I - por invalidez permanente, sendo os proven-tos proporcionais ao tempo de contribuição, exce-to se decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incu-rável, na forma da lei; (Redação dada pela Emen-da Constitucional nº 41, 19.12.2003)

II - compulsoriamente, aos setenta anos de i-dade, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição; (Redação dada pela Emenda Consti-tucional nº 20, de 15/12/98)

III - voluntariamente, desde que cumprido tempo mínimo de dez anos de efetivo exercício no serviço público e cinco anos no cargo efetivo em que se dará a aposentadoria, observadas as se-guintes condições: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)

a) sessenta anos de idade e trinta e cinco de contribuição, se homem, e cinqüenta e cinco anos de idade e trinta de contribuição, se mulher; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)

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b) sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade, se mulher, com proven-tos proporcionais ao tempo de contribuição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)

§ 2º - Os proventos de aposentadoria e as pensões, por ocasião de sua concessão, não po-derão exceder a remuneração do respectivo ser-vidor, no cargo efetivo em que se deu a aposenta-doria ou que serviu de referência para a conces-são da pensão. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)

§ 3º Para o cálculo dos proventos de aposen-tadoria, por ocasião da sua concessão, serão consideradas as remunerações utilizadas como base para as contribuições do servidor aos regi-mes de previdência de que tratam este artigo e o art. 201, na forma da lei. (Redação dada pela E-menda Constitucional nº 41, 19.12.2003)

§ 4º É vedada a adoção de requisitos e crité-rios diferenciados para a concessão de aposenta-doria aos abrangidos pelo regime de que trata es-te artigo, ressalvados, nos termos definidos em leis complementares, os casos de servidores: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005)

I portadores de deficiência; (Incluído pela E-menda Constitucional nº 47, de 2005)

II que exerçam atividades de risco; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005)

III cujas atividades sejam exercidas sob con-dições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física. (Incluído pela Emenda Consti-tucional nº 47, de 2005)

§ 5º - Os requisitos de idade e de tempo de contribuição serão reduzidos em cinco anos, em relação ao disposto no § 1º, III, "a", para o pro-fessor que comprove exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e mé-dio. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)

§ 6º - Ressalvadas as aposentadorias decor-rentes dos cargos acumuláveis na forma desta Constituição, é vedada a percepção de mais de uma aposentadoria à conta do regime de previ-dência previsto neste artigo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)

§ 7º Lei disporá sobre a concessão do benefí-cio de pensão por morte, que será igual: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)

I - ao valor da totalidade dos proventos do servidor falecido, até o limite máximo estabeleci-do para os benefícios do regime geral de previ-dência social de que trata o art. 201, acrescido de setenta por cento da parcela excedente a este li-mite, caso aposentado à data do óbito; ou (Incluído pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)

II - ao valor da totalidade da remuneração do servidor no cargo efetivo em que se deu o faleci-

mento, até o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201, acrescido de setenta por cento da parcela excedente a este limite, caso em atividade na data do óbito. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)

§ 8º É assegurado o reajustamento dos bene-fícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios estabelecidos em lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)

§ 9º - O tempo de contribuição federal, esta-dual ou municipal será contado para efeito de a-posentadoria e o tempo de serviço corresponden-te para efeito de disponibilidade. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)

§ 10 - A lei não poderá estabelecer qualquer forma de contagem de tempo de contribuição fic-tício. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)

§ 11 - Aplica-se o limite fixado no art. 37, XI, à soma total dos proventos de inatividade, inclusive quando decorrentes da acumulação de cargos ou empregos públicos, bem como de outras ativida-des sujeitas a contribuição para o regime geral de previdência social, e ao montante resultante da adição de proventos de inatividade com remune-ração de cargo acumulável na forma desta Consti-tuição, cargo em comissão declarado em lei de li-vre nomeação e exoneração, e de cargo eletivo. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)

§ 12 - Além do disposto neste artigo, o regime de previdência dos servidores públicos titulares de cargo efetivo observará, no que couber, os re-quisitos e critérios fixados para o regime geral de previdência social. (Incluído pela Emenda Consti-tucional nº 20, de 15/12/98)

§ 13 - Ao servidor ocupante, exclusivamente, de cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração bem como de outro car-go temporário ou de emprego público, aplica-se o regime geral de previdência social. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)

§ 14 - A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, desde que instituam regime de previdência complementar para os seus respecti-vos servidores titulares de cargo efetivo, poderão fixar, para o valor das aposentadorias e pensões a serem concedidas pelo regime de que trata este artigo, o limite máximo estabelecido para os bene-fícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201. (Incluído pela Emenda Consti-tucional nº 20, de 15/12/98)

§ 15. O regime de previdência complementar de que trata o § 14 será instituído por lei de inicia-tiva do respectivo Poder Executivo, observado o disposto no art. 202 e seus parágrafos, no que couber, por intermédio de entidades fechadas de previdência complementar, de natureza pública, que oferecerão aos respectivos participantes pla-nos de benefícios somente na modalidade de con-

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tribuição definida. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)

§ 16 - Somente mediante sua prévia e expres-sa opção, o disposto nos §§ 14 e 15 poderá ser aplicado ao servidor que tiver ingressado no ser-viço público até a data da publicação do ato de instituição do correspondente regime de previ-dência complementar. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)

§ 17. Todos os valores de remuneração consi-derados para o cálculo do benefício previsto no § 3° serão devidamente atualizados, na forma da lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)

§ 18. Incidirá contribuição sobre os proventos de aposentadorias e pensões concedidas pelo re-gime de que trata este artigo que superem o limite máximo estabelecido para os benefícios do regi-me geral de previdência social de que trata o art. 201, com percentual igual ao estabelecido para os servidores titulares de cargos efetivos. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)

§ 19. O servidor de que trata este artigo que tenha completado as exigências para aposentado-ria voluntária estabelecidas no § 1º, III, a, e que opte por permanecer em atividade fará jus a um abono de permanência equivalente ao valor da sua contribuição previdenciária até completar as exigências para aposentadoria compulsória con-tidas no § 1º, II. (Incluído pela Emenda Constitu-cional nº 41, 19.12.2003)

§ 20. Fica vedada a existência de mais de um regime próprio de previdência social para os ser-vidores titulares de cargos efetivos, e de mais de uma unidade gestora do respectivo regime em cada ente estatal, ressalvado o disposto no art. 142, § 3º, X. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)

§ 21. A contribuição prevista no § 18 deste ar-tigo incidirá apenas sobre as parcelas de proven-tos de aposentadoria e de pensão que superem o dobro do limite máximo estabelecido para os be-nefícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201 desta Constituição, quando o beneficiário, na forma da lei, for portador de do-ença incapacitante. (Incluído pela Emenda Consti-tucional nº 47, de 2005)

Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso públi-co. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

§ 1º O servidor público estável só perderá o cargo: (Redação dada pela Emenda Constitucio-nal nº 19, de 1998)

I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

III - mediante procedimento de avaliação peri-ódica de desempenho, na forma de lei comple-mentar, assegurada ampla defesa. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

§ 2º Invalidada por sentença judicial a demis-são do servidor estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupante da vaga, se estável, reconduzi-do ao cargo de origem, sem direito a indenização, aproveitado em outro cargo ou posto em disponi-bilidade com remuneração proporcional ao tempo de serviço. (Redação dada pela Emenda Constitu-cional nº 19, de 1998)

§ 3º Extinto o cargo ou declarada a sua des-necessidade, o servidor estável ficará em dispo-nibilidade, com remuneração proporcional ao tempo de serviço, até seu adequado aproveita-mento em outro cargo. (Redação dada pela E-menda Constitucional nº 19, de 1998)

§ 4º Como condição para a aquisição da esta-bilidade, é obrigatória a avaliação especial de de-sempenho por comissão instituída para essa fina-lidade. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)