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TYCIA CARDOSO OAB - SEGUNDA FASE TEORIA GERAL DA CONSTITUIÇÃO CONCEPÇÕES - SENTIDOS DO TEXTO CONSTITUCIONAL Para o STF não existe apenas uma maneira de perceber a Constituição, a Corte já disse inúmeras vezes que adota uma concepção plural, uma acepção múltipla do texto constitucional, ou seja, a concepção sociológica, o sentido jurídico e normativo são importantes para entender a Constituição, mas o STF não adota uma posição específica. São várias as concepções sobre a Constituição, mas as mais importantes são: a) Visão Sociológica (Ferdinand Lassale - "A Essência da Constituição") - Lassale defendia que a Constituição era um fato, somatório dos fatores reais do poder (fatores econômicos, sociais e culturais reunidos) e se ela não correspondesse a esses fatores sociais, fatores reais do poder, ela não passaria de uma mera folha de papel. Ele conta que em determinado reinado havia apenas dois exemplares escritos da Constituição, um exemplar na casa do rei e outro na biblioteca da cidade, os dois se perdem, o primeiro em um incêndio e outro nas águas das chuvas. Essa Constituição é oriunda dos fatores reais do poder, dos fatos existentes na sociedade? Se a resposta for positiva, não tem problema; mesmo que o documento escrito se perca, as pessoas continuarão a respeitar as normas existentes na Constituição, até porque para esta concepção sociológica, a Constituição escrita não é mais o mais importante, mas a Constituição enquanto somatório dos fatos. Mas se a resposta for negativa, se a Constituição não tivesse sido formulada com base nos fatores reais do poder, desaparecendo os exemplares escritos, também desapareceria a necessidade de cumprimento de suas normas, porque ela não passaria de uma mera folha de papel. É claro que defender é um somatório de fatores reais do poder, dá credibilidade ao texto, mas desconsiderar o papel importante da função da norma na criação de fatos talvez seja a grande fragilidade desse sentido sociológico de Constituição. Ou seja, só se analisa os fatos influenciando a formação da norma, não há uma visão dupla, da compreensão de que a norma também influencia na formação dos fatos e, segundo a doutrina, esta seria a grande fragilidade desta acepção. Aspectos que identificam que se está diante de uma Constituição Sociológica: i) fato; e ii) somatório dos fatores reais do poder (questões econômicas, sociais, históricas, religiosas… As questões vivenciadas pela sociedade). b) Visão Política (Carl Schmitt - “Teoria da Constituição") - sustentou que a Constituição não deixaria de ser uma decisão política fundamental, essa é a base de sua teoria —, a reunião das normas essencialmente constitucionais, relacionadas à estrutura principal do Estado (normas materialmente constitucionais): forma de governo, forma de Estado, sistema de governo, repartição de competências nos países federativos, separação de poderes. 1

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TYCIA CARDOSO OAB - SEGUNDA FASE

!TEORIA GERAL DA CONSTITUIÇÃO!

!CONCEPÇÕES - SENTIDOS DO TEXTO CONSTITUCIONAL!

Para o STF não existe apenas uma maneira de perceber a Constituição, a Corte já disse inúmeras vezes que adota uma concepção plural, uma acepção múltipla do texto constitucional, ou seja, a concepção sociológica, o sentido jurídico e normativo são importantes para entender a Constituição, mas o STF não adota uma posição específica.!

São várias as concepções sobre a Constituição, mas as mais importantes são:!

a) Visão Sociológica (Ferdinand Lassale - "A Essência da Constituição") - Lassale defendia que a Constituição era um fato, somatório dos fatores reais do poder (fatores econômicos, sociais e culturais reunidos) e se ela não correspondesse a esses fatores sociais, fatores reais do poder, ela não passaria de uma mera folha de papel. !

Ele conta que em determinado reinado havia apenas dois exemplares escritos da Constituição, um exemplar na casa do rei e outro na biblioteca da cidade, os dois se perdem, o primeiro em um incêndio e outro nas águas das chuvas. Essa Constituição é oriunda dos fatores reais do poder, dos fatos existentes na sociedade?!

Se a resposta for positiva, não tem problema; mesmo que o documento escrito se perca, as pessoas continuarão a respeitar as normas existentes na Constituição, até porque para esta concepção sociológica, a Constituição escrita não é mais o mais importante, mas a Constituição enquanto somatório dos fatos.!

Mas se a resposta for negativa, se a Constituição não tivesse sido formulada com base nos fatores reais do poder, desaparecendo os exemplares escritos, também desapareceria a necessidade de cumprimento de suas normas, porque ela não passaria de uma mera folha de papel.!

É claro que defender é um somatório de fatores reais do poder, dá credibilidade ao texto, mas desconsiderar o papel importante da função da norma na criação de fatos talvez seja a grande fragilidade desse sentido sociológico de Constituição. Ou seja, só se analisa os fatos influenciando a formação da norma, não há uma visão dupla, da compreensão de que a norma também influencia na formação dos fatos e, segundo a doutrina, esta seria a grande fragilidade desta acepção.!

• Aspectos que identificam que se está diante de uma Constituição Sociológica: i) fato; e ii) somatório dos fatores reais do poder (questões econômicas, sociais, históricas, religiosas… As questões vivenciadas pela sociedade).!

b) Visão Política (Carl Schmitt - “Teoria da Constituição") - sustentou que a Constituição não deixaria de ser uma decisão política fundamental, essa é a base de sua teoria —, a reunião das normas essencialmente constitucionais, relacionadas à estrutura principal do Estado (normas materialmente constitucionais): forma de governo, forma de Estado, sistema de governo, repartição de competências nos países federativos, separação de poderes.!

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Ou seja, aquilo que caracteriza propriamente um país na visão de Schmitt seria considerado Constituição. Mas se houvesse outras normas do que foge do essencialmente constitucional, a posição de Schmitt é que se separaria a Constituição das leis constitucionais, dando ensejo ao pensamento sobre normas materialmente constitucionais e formalmente constitucionais. !

A fragilidade dessa teoria é que é difícil estabelecer o que é de verdade uma decisão política fundamental, o que é materialmente constitucional, o que pode reduzir demais o fenômeno jurídico da Constituição (ex: vaca para a Índia). Veja que a Constituição é também cultura, resultado da sociedade, então é difícil estabelecer esta separação do que tem mais valor de Constituição.!

• Aspectos que identificam que se está diante de uma Constituição Política: i) valor da Constituição, decisão política fundamental; e ii) distinção entre Constituição (conjunto de normas materialmente constitucionais) e leis constitucionais (formalmente constitucionais, a exemplo do art. 242, § 2º, CRFB/88).!

c) Visão Jurídica/Positivista/Normativa (Hans Kelsen - “Teoria Pura do Direito”) - entendimento de que a Constituição é fruto da vontade racional do homem, fruto do dever-ser. A Constituição é norma pura desprovida de conteúdo valorativo sociológico, ético, histórico, moral e se embasa no pressuposto lógico-formal de que toda norma criada de acordo com processo legislativo adequado, nasce com sua imperatividade e deve ser respeitada.!

Esta visão também tem algumas informações identificadoras importantes, porque na visão de Kelsen há duas posições: i) sentido lógico-jurídico - a Constituição é uma norma hipotética fundamental e dá fundamento de validade ao sentido jurídico-positivo; e ii) sentido jurídico-positivo - norma posta que deve ser observada.!

Michel Temmer chega a dizer que o sentido lógico-jurídico é o Direito suposto e o sentido jurídico-positivo seria o Direito posto; o primeiro embasa, fundamenta, a existência da Constituição e o segundo já a traz com sua imperatividade.!

A visão positivista vigorou durante muitos anos e traz o embasamento de que o Direito é o somatório de normas elaboradas por um processo legislativo diferenciado, mas ao se extrair o conteúdo ético, moral, mais subjetivo é como se fizesse uma separação entre Direito e moral e no fim da II GM isso entrou em cheque e havia uma reivindicação legítima da população pleiteando o que Direito e moral não poderiam se separar, daí surgiu o neoconstitucionalismo, a visão mais aberta do Direito, porque o positivismo excluía a visão normativa dos princípios.!

Os princípios são normas abertas, mais valoradas e Kelsen dizia que o Direito não precisava ser justo ou injusto para ser cumprido —, é como se a visão defendida fosse completamente diversa da sociológica defendida por Lassale, porque os fatores sociológicos, históricos, culturais, econômicos não produziriam qualquer efeito na formação da Constituição.!

• Aspectos que identificam que se está diante de uma Constituição Jurídica/Positivista/Normativa: i) norma pura (resume a posição da Constituição).!

d) Visão Culturalista/Total (Meirelles Teixeira) - a Constituição teria um sentido culturalista, ou seja, a Constituição seria uma formação objetiva de cultura encerrando elementos históricos, sociais, racionais.!

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Meirelles destaca a importância da vontade humana na concepção da formação e ele diz que a concepção culturalista faz nascer o conceito de Constituição total, o somatório da cultura e história, interferindo mutuamente — recebe a influência da realidade e devolve para a realidade a influência normativa, com influxos constantes do que diz a Constituição e o que vive a realidade.!

• Aspectos que identificam que se está diante de uma Constituição Culturalista/Total: i) cultura - elementos históricos, sociais e racionais.!

e) Visão Estrutural (Spagna Musso e José Afonso da Silva) - sustentam que a Constituição é um ponto de equilíbrio de estruturas sociais, as diversas estruturas sociais existentes no país se equilibrariam de acordo com o texto constitucional.!

f) Visão da Constituição Aberta (Canotilho) - a Constituição precisa estar aberta a sociedade e receber as influências da sociedade, sob pena de desestruturar a sua base normativa, de desequilibrar sua normatividade.!

A constituição aberta caminha com a sociedade e muda quando a sociedade demonstra que há necessidade de mudança, é uma Constituição que dialoga com a sociedade e é passível de receber as influencias da sociedade e não perca seu arcabouço normativo.!

!CLASSIFICAÇÃO - TIPOLOGIA!

Principais parâmetros.!

a) Quanto à Origem!

i) Promulgadas/Democráticas/Populares - como o próprio nome diz, são constituições elaboradas pela vontade popular, são normalmente elaboradas por uma Assembleia Nacional Constituinte composta por representantes do povo, ou até mesmo manifestada pela vontade expressa do povo; gozam de legitimidade popular, tal qual a CRFB/88, a Constituição da República de 1891, a Constituição de 1834 e a Constituição de 1946.!

• A produção de uma Constituição Colaborativa/Participativa na Islândia em 2012 —, estudiosos do Direito norte-americano estão estudando este novo modelo de Constituição, que é uma Constituição produzida diretamente pelo povo, com fortíssima dose de participação popular extraída da internet. Traz uma forte densidade democrática na produção da Constituição com o auxílio das redes sociais e avanços tecnológicos.!

ii) Outorgadas - foi vivenciada na história brasileira muitas vezes. Aquela autocrática, a Constituição elaborada pela vontade unilateral do governante, é uma Constituição com praticamente ausência de participação popular, não tem força ou densidade democrática popular. É fácil distinguir tais Constituições: 1824, 1837, a Constituição de 1946 (Era Vargas - Constituição Polaca), as Constituições de 1967 e a EC 1/69 (Ditadura).!

PS! A EC 1/69 para a doutrina era em sua forma uma reforma constitucional, até porque foi Emenda, mas em sua matéria, foi uma nova Constituição, porque rescreveu a Constituição de 1967.!

iii) Pactuadas - o grande exemplo de Constituição pactuada é a Carta Magna de 1215 na Inglaterra, originada do Pacto entre João Sem Terra e o povo. Quando a Constituição se

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origina de um acordo de vontades entre governante e população, se diz que se está diante de uma Constituição pactuada.!

iv) Cesaristas - José Afonso da Silva diz que é uma Constituição oriunda da outorga, mas que como se sujeita ao crivo popular (por plebiscito ou referendo), não poderia ser chamada de Constituição outorgada. Tem o componente misto de vontade do governante ratificado pela vontade popular. Um exemplo são os plebiscitos napoleônicos da época francesa e hoje aparecem no novo constitucionalismo sul-americano (Venezuela, Bolívia, Equador…). Como, normalmente, a manifestação popular vem antes da produção de efeitos da Constituição, se diz que as manifestações populares são, em geral, são realizadas por plebiscitos.!

b) Quanto à Forma - estereótipo da Constituição, a forma como se exterioriza.!

i) Escritas/Instrumentais/Positivas - aquela que é documentada, organizada e apresentada por meio de um documento que reúne as normas constitucionais em uma codificação e apresentam a Constituição para a comunidade interna e externa.!

ii) Não escritas/Consuetudinárias/Costumeiras - pode possuir normas escritas que são consideras Constituição, mas lhes falta a codificação, a reunião das normas em um documento escrito. A Inglaterra, por exemplo, com a Carta de 1215, o HC 1679 o Bill Of Rights de 1978, são documentos importantes com relação a direitos fundamentais e são considerados como Constituição, mas são documentos separados e não reunidos em uma codificação, sistematizados.!

PS! A depender de cada Estado, pode haver outras fontes de Constituição como a jurisprudência, os costumes… Então, não há padrão específico, mas não são muitos os países de Constituição não escrita, pode-se falar em Inglaterra e Israel.!

c) Quanto à Extensão - aqui se diferencia quanto ao tamanho.!

i) Sintáticas/Concisas/Breves - uma Constituição pequena, com menor número de dispositivos e, via de regra, se preocupam apenas em limitar e legitimar a atuação do Estado (reúnem normas essencialmente constitucionais, que caracterizam o Estado), o principal expoente é a Constituição dos EUA (apenas sete artigos). !

ii) Analíticas/Extensas/Prolixas - as Constituições possuem muitas normas de conteúdo programático e a pragmaticidade natural de suas normas acaba afetando a produção de seus efeitos jurídicos; são repletas de diretrizes, programas, direitos sociais (a ordem social é muito forte, via de regra em Constituição analítica). A Constituição da Índia é um grande exemplo, como também o é a CRFB/88.!

d) Quanto ao Conteúdo!

i) Materiais - a Constituição material só reconhece como Constituição aquilo que representa temas essencialmente constitucionais. Pode se falar do sentido político de Schimmit, para falar destas Constituições materiais que podem estar em um documento escrito ou não, mas que só se valoriza em um Estado a Constituição quando dispõe sobre assunto essencialmente constitucional, que pode estar no corpo da Constituição ou espalhado em outras normas e jurisprudência.!

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PS! Boa parte da doutrina sustenta que no Brasil a única Constituição material seria a Constituição do Império de 1824, isso porque o art. 178 daquela trazia a possibilidade de mudança mais rigorosa da Constituição no que se relacionasse à política fundamental.!

Normalmente são Constituições não escritas.!

ii) Formais - mais comuns na história brasileira e reconhecem como Constituição tudo que encontra em uma codificação independentemente do conteúdo de suas normas, a exemplo do art. art. 242, § 2º, CRFB/88 que traz o Colégio Dom Pedro I, que não é menos constitucional que a proteção à vida em estrutura formal.!

Geralmente Constituições escritas.!

e) Quanto ao Modo de Elaboração - !

i) Dogmáticas/Sistemáticas - é, normalmente, uma Constituição escrita. São aquelas que representam os dogmas existentes no Estado no momento de sua elaboração. Veja, todas as Constituições brasileiras são consideradas dogmáticas e para que se consiga acompanhar o desenvolvimento histórico, é necessário que seja escrita —, alguns autores chegam a dizer que as Constituições dogmáticas são instáveis, porque como respiram a atualidade do momento, quando momento se altera, é preciso mudar a Constituição.!

ii) Históricas - normalmente uma Constituição não-escrita. São Constituições atemporais que traduzem a vida, a história do povo, seus valores, sem um compromisso específico de um dado momento, mais uma vez, a Constituição Inglesa é um grande exemplo, até porque a Carta Magna de 1215 continua sendo reconhecida como parte da Constituição pelos ingleses. Em razão disso, alguns autores dizem que são Constituições mais estáveis.!

f) Quanto à Alterabilidade/Estabilidade - essa classificação pretende apresentar se a Constituição pode ser alterada por um procedimento mais simples ou rigoroso.!

i) Superrígidas - de um tempo pra cá, alguns doutrinadores passaram a sustentar a tese da Constituição superrígida, dentre eles Alexandre de Mores, que diz que a CRFB/88 que possui cláusulas pétreas, de imutabilidade, de modo que estaria acima da rigidez convencional, sendo considerada uma Constituição superrígida. Apesar de a doutrina majoritária entender a CRFB/88 como Constituição rígida, mas há quem diga que ela é superrígida em razão do art. 60, §4º (cláusulas de imutabilidade) que dificultariam, ainda mais, o processo de mudança da Constituição.!

ii) Rígidas - aquelas que só podem ser alteradas por um procedimento legislativo mais solene e rigoroso que o existente para a alteração das demais normas jurídicas. Não se pode confundir uma Constituição rígida com a Constituição estável, a CRFB/88 sofreu muitas alterações até o momento, de modo que é uma Constituição rígida (art. 60, EC - única espécie normativa capaz de promover modificação no corpo da Constituição), mas não é estável.!

À exceção da Constituição de 1824, Carta Imperial, todas as demais Constituições brasileiras desde 1891, passaram a adotar a rigidez constitucional.!

iii) Fixas - aquela que só pode ser alterada por uma nova manifestação do poder constituinte originário, só pode ser alterada pelo mesmo poder que a criou. Alguns autores sustentam a

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existência de uma Constituição imutável, que jamais pode ser alterada, Flávia costuma dizer que Constituições sem mecanismo de alteração (e onde não se conhece nenhuma) é um anti-direito e nasce para viver uma vida curta, porque as Constituições precisam do oxigênio do mecanismo de alteração, ainda que não tanto quanto constitucionalismo brasileiro.!

iv) Semi-rígidas - a Constituição Imperial de 1824 é uma constituição semi-rígida porque o art. 178 apresenta o modelo híbrido de alteração, ou seja, aquilo que versasse sobre assunto essencialmente constitucional só poderia ser modificado por EC, espécie normativa mais rigorosa, mas aquilo que não representasse a decisão política fundamental seria alterado por meio de uma lei simples.!

v) Flexíveis - são aquelas alteradas facilmente por meio de um processo legislativo parecido com o existente para a elaboração das demais normas jurídicas, não há nenhum mecanismo de alteração do texto constitucional mais rigoroso. No Brasil, não há nenhum exemplo de Constituições flexíveis.!

g) Quanto à Finalidade!

i) Dirigentes/Programáticas/Analíticas - trazem em seu bojo muitas normas programáticas, são Constituições que estabelecem metas, diretrizes, programas que devem ser cumpridos por parte do Estado e repletas de normas sociais, em que os direitos de segunda e terceira geração se apresentam de maneira muito forte. !

Claro que não é realizada facilmente, tem dificuldades para realizar a pragramaticidade de suas normas, obviamente que tantas metas e diretrizes, é preciso ter um corpo numeroso de normas constitucionais, daí porque se diz que são consideradas Constituições analíticas.!

ii) Garantias/Negativas/Liberais/Sintéticas - são aquelas que não se preocupam com as finalidades sociais e destinam os poderes constituídos para os próprios governantes, para a própria Administração Pública. Preocupa-se em legitimar e limitar a atuação do Estado, são Constituições como a Americana, que trazem menor número de dispositivos, porque apenas possuem o esqueleto principal da estrutura do Estado.!

h) Quanto à Ideologia!

i) Ortodoxas - só admite uma linha, uma posição de pensamento e não trazem liberdade de manifestação e expressão, como a da antiga URSS, a Constituições Chinesa.!

ii) Ecléticas - admite uma série de liberdades, uma série de pensamentos, tal qual a Constituição Portuguesa, a Constituição Espanhola, a Constituição Brasileira… São Constituições democráticas que possuem muitas liberdades.!

i) Quanto à Correspondência, ou Não, com a Realidade (Critério Ontológico da Constituição) - Karl Loeweinstein!

• Controvérsia da classificação da CRFB/88 quanto à Controvérsia com a realidade: alguns autores sustentam que a CRFB/88 é uma Constituição normativa (Pedro Lenza), mas outros autores (Lamego Bulos e Flávia Bahia) sustentam que a Constituição é nominativa. Ademais, no que tange aos direitos de primeira geração se tem uma Constituição

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normativa, mas no que diz respeito aos direitos de segunda dimensão, seria uma Constituição nominativa.!

i) Normativas - aquela que efetivamente conseguiu regular o texto constitucional e a realidade do país, existe uma identidade entre a Constituição e o que vive o Estado, conseguiu se tornar real para a população, pois há uma regulação entre o que diz o texto e a realidade do Estado. É a “roupa que cai bem”.!

ii) Nominativas/Nominalistas/Nominais - é aquela Constituição que foi feita para atender os anseios da realidade e regular as normas principais e se fazer presente naquele Estado, mas, por motivações das mais distintas, esta Constituição ainda não conseguiu atender às suas conseqüências, necessidades principais… É uma Constituição que ainda não saiu do plano ideal e não se tornou real. É a “roupa que poderia ter caído bem”.!

iii) Semânticas - não foi feita com o compromisso da realidade do Estado, seu objetivo não é realizar o texto para a sociedade, a Constituição semântica é feita para reforçar o poder daquele governante, que já possui o poder e não quer correr riscos de perdê-lo. É a ˜roupa que nunca vai servir”.!

!CLASSIFICAÇÃO DA CRFB/88!

a) Promulgada;!

b) Escrita;!

c) Analítica;!

d) Dogmática;!

e) Formal;!

f) Rígida (ou superrígida);!

g) Eclética;!

h) Dirigente;!

i) Nominal ou normativa.!

!ELEMENTOS (José Afonso da Silva)!

a) Orgânicos - são formados por normas que representam a estrutura do Estado, normas iniciais que trazem a estrutura do país relativas à formas de Estado, forma de governo, teoria dos poderes… São as normas mais estruturais do constitucionalismo brasileiro e na CRFB/88 estão espalhados em vários artigos, dentre eles os que se encontram nos Títulos III (Da Organização do Estado) e IV (Da Organização dos Poderes).!

b) Limitativos - fundamentam o próprio Estado Democrático de Direito e limitam a sua atuação, são elementos formados por direitos fundamentais, regra geral, de primeira dimensão. Por exemplo, todo o Título II da CRFB/88, a exceção do capítulo II, compõem elementos limitativos que restringem a atuação do Estado e o fundamentam.!

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c) Socioidelógicos - revelam as prestações positivas por parte do Estado, são compostos por normas repletas de justiça social e em defesa do hipossuficiente e o estado do bem estar-social, direitos de segunda dimensão. No Título II, o Capítulo II, bem como os Títulos VII e VIII da CRFB/88.!

d) De Estabilização Constitucional - formados por normas destinadas a assegurar a solução de eventuais conflitos constitucionais e a defesa das instituições democráticas, como, por exemplo, é a ADIN (art. 102, I, a; arts. 34 a 36; art. 60; estado de defesa e estado de sítio…).!

e) Formais de Aplicabilidade - aqueles que estabelecem a aplicação da Constituição e alguns autores, inclusive José Afonso da Silva, trazem como exemplo o preâmbulo do texto constitucional que, apesar de não possuir força normativa, seria um elemento formal de aplicabilidade, assim como também o é o art. 5º, §1º, CRFB/88 (que diz que todos os direitos e garantias fundamentais têm fundamentais podem ser plenamente exigidos em juízo, independentemente de sua eficácia) e o ADCT (conjunto de normas constitucionais com eficácia exaurível com o tempo, normas que trazem, via de regra, direito intertemporal e servem para regular a passagem do texto anterior).!

Estes elementos não são analisados em suposta relação de hierarquia, porque não temos diferença hierárquico-formal entre as normas que compõem a CRFB/88.!

!EFICÁCIA/APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS!

Tema clássico que continua em voga.!

a) Thomas Cooley - Visão Bipartida Clássica!

Uma doutrina de vanguarda de 1927 sustentou em 1927, quando analisava a natureza das normas constitucionais, trazia uma diferença entre elas, isso partindo-se da análise das Constituições Sociais já existentes no início do séc. XX.!

Quando os direitos de segunda geração ingressaram na história do constitucionalismo trazendo toda a justiça social (saúde, educação, moradia, assistência, previdência, direito dos trabalhadores) é claro que o fenômeno constitucional foi invadido por esta programaticidade, que possui um lado positivo, mas o ponto negativo de que sua inefetividade é um problema até hoje.!

Então, quando Cooley começou a analisar a produção de efeitos jurídicos das normas constitucionais, ele passou a considerá-las normas como normas self executing e not self executing.!

i) Self-Executing Provisions - normas autoplicáveis, aquelas que desde sua entrada em vigor produzem seus efeitos jurídicos essenciais e não dependem de atuação futura por parte do Poder Público, são normas que bastam-se em si mesmas. Normas de primeira geração.!

ii) Not Self-Executing Provisions - não autoaplicáveis, dependem de atuação futura por parte do Poder Público para que possam produzir seus efeitos principais, normas que não se bastam, como se precisassem de atuação futura, seja no âmbito legislativo ou executivo, para que passem a produzir os seus efeitos principais. Normas de segunda geração.!

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No que tange a esta exposição trazida, as normas de primeira e segunda gerações, as normas relativas a direito de primeira geração se localizam como self executing (autoaplicáveis) e as de segunda geração como not self executing (não autoaplicáveis).!

Então, desde o início do século XX já se falava da diferença entre a eficácia da produção de efeitos e a potencialidade de produção de efeitos das normas constitucionais. Esta é a teoria que influencia daí para frente os brasileiros e italianos nas suas classificações.!

b) Pontes de Miranda - Teoria Bipartida Brasileira!

Na década de trinta, inspirado pela doutrina americana, Pontes de Miranda defendeu a distinção das normas constitucionais em sua eficácia e aplicabilidade em normas bastantes em si e normas não bastantes em si. A primeira teoria bipartida brasileira sobre o assunto.!

i) Normas Bastantes em Si - são aquelas que desde sua entrada em vigor produzem seus efeitos jurídicos essenciais e se bastam. Estão para as normas autoaplicáveis.!

ii) Normas Não Bastantes em Si - aquelas que dependem de atuação futura por parte do Poder Público. Estão para as normas não autoaplicáveis.!

c) A Teoria Italiana!

A influência americana também chegou na Itália e autores como Gaetano Azzariti e Vezio Crisafulli também trabalharam com as normas constitucionais, no que tange a sua eficácia e aplicabilidade, sustentando a existência de normas autoaplicáveis e normas dependentes, cuja efetividade ficaria um pouco comprometida sem atuação da Administração ou do próprio legislador.!

Gaetano Azzariti!

i) Preceptivas!

ii) Diretivas!

Vezio Crisafulli!

i) Eficácia Plena!

ii) Limitada!

d) Teoria Tripartida - José Afonso da Silva!

Principal classificação da eficácia das normas constitucionais, data da década de sessenta, mas continua sendo a teoria mais importante, com inspirações no direito americano e italiano.!

Apesar de ser uma teoria tripartida, é possível devir o estudo em dois grupos para a compreensão inicial - as normas plenas e contidas são autoaplicáveis, de modo que produzem efeitos jurídicos essenciais desde sua entrada em vigor e não dependem da atuação futura do por parte do Poder Público; enquanto as normas constitucionais de eficácia limitada são não autoaplicáveis e dependem de atuação futura para que produzam seus efeitos.!

i) Normas Constitucionais de Eficácia Plena - são autoaplicáveis e produzem incidência direta, imediata e integral, porque não podem sofrer restrições por parte do Poder Público; são normas que se bastam e produzem seus efeitos jurídicos máximos desde sua entrada em vigor. Exs: art. 1º, CRFB/88, que não se condiciona ao pluralismo político, a uma

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atividade administrativa ou legislativa, é norma de incidência direta, imediata e integral; da mesma forma o art. 5º, III, CRFB/88; art. 2º, CRFB/88…!

ii) Normas Constitucionais de Eficácia Contida - são normas autoaplicáveis e também produzem incidência direta, imediata e não dependem de atuação futura do Poder Público para produzir seus efeitos, só que estas normas não são integrais, tal como as normas plenas —, quando se fala de integral, a regra é que a norma plena não possa sofrer restrição por parte do poder público, mas a norma contida pode sofrer restrição por parte do parte do Poder Público, Administrativo ou Executivo e encontra base no próprio texto constitucional. Ex: arts. 5º, XIII, CF - dispositivo que trata da liberdade constitucional com relação à carreira constitucional, há uma liberdade inata neste artigo, mas, ao mesmo tempo, na leitura do dispositivo o que se encontra na parte final do dispositivo que traz a possibilidade de condicionamento no âmbito do legislativo, as categorias profissionais e entidades de classe podem estabelecer restrições ao exercício da atividade profissional com esteio neste texto legal, foi o que fez a OAB em 1990. !

A norma contida é uma norma autoaplicável, não precisa de lei para produzir seus efeitos jurídicos, mas sua previsão pode sofrer condicionamento pelo Poder Legislativo ou Executivo, o art. 93, IX, CRFB/88 diz que a regra das audiências é sua publicidade, mas que pode a lei estabelecer a entrada de advogados e partes, se houver interesse e utilidade. !

PS! MI e ADO, ambas as ações cuidam da omissão constitucional, quando a CF diz que um direito será exercido de acordo uma lei que não é feita, é possível se impetrar um MI para defender um direito existente em norma contida? Não, a norma contida não padece de omissão constitucional, a tutela do MI e da ADO não é a norma contida, mas a norma limitada.!

A norma contida não gera uma omissão constitucional, porque se trata de uma faculdade e não de uma obrigação legal. O foco do MI e da ADO é a norma constitucional limitada ou reduzida.!

iii) Normas Constitucionais de Eficácia Limitada ou Reduzida - fazem parte do grupo das normas não autoaplicáveis, normas de incidência indireta, mediata, não integral e que para produzir efeitos máximos dependem de atuação direta, futura, que pode ser Legislativa ou Administrativa, por parte do Poder Público. !

Este grupo se divide em dois subgrupos, são consideradas de princípios institutivos ou programáticos.!

!1. Normas de Princípios Institutivos ou Organizatórias - criam órgãos, funções, institutos que devem ser regulamentados pelo Poder Público, por exemplo, quando se abre o art. 93, caput, da CRFB/88; art. 134, §1º, CRFB/88, que trata da Defensoria Pública da União e nos estados também.!

2. Normas de Princípios Programáticos - são aquelas que, via de regra, se associam aos direitos sociais, criam metas, diretrizes, programas que devem ser regulados pelo Poder Público e enfrentam esta forte base social, por exemplo, os arts. 196 (saúde como direito de todos) e 205 (educação enquanto direito

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fundamental) da CRFB/88. A Constituição tem uma densidade programática forte e, por isso, acaba sofrendo com a inefetividade de suas normas.!

Alguns autores sustentam que as normas de eficácia limitada teriam, de plano, uma eficácia mínima, negativa, que significa que todas as normas constitucionais produzem pelo menos três efeitos jurídicos: a) todas servem como parâmetro do controle de constitucionalidade; b) todas as normas servem como parâmetro para a recepção; e c) todas as normas servem como fonte de interpretação.!

Veja, não existe norma constitucional desprovida de efeito jurídico, todas as normas constitucionais produzem efeitos jurídicos e têm potencialidade para isso, inclusive, nessa visão clássica da eficácia negativa podemos citar três efeitos, já citados: a) todas servem como parâmetro do controle de constitucionalidade; b) todas as normas servem como parâmetro para a recepção; e c) todas as normas servem como fonte de interpretação.!

Na verdade, o Direito Constitucional contemporâneo exige muito mais das normas que sua eficácia negativa, a eficácia negativa não supre a vontade de Constituição, a vontade de que esta Constituição deixe de ser um texto apenas e passe a ser um texto real, a luta pela efetividade constitucional, pode-se dizer, cabe ao intérprete, à luz do princípio da máxima efetividade da norma constitucional, extrair os efeitos jurídicos máximos que todas as normas estão plenamente aptas a produzir, sejam elas plenas, contidas ou limitadas.!

Ou seja, em uma visão clássica não se pode dizer que normas limitadas não possuem efeitos jurídicos por causa da tese da eficácia negativa, que é característica de toda e qualquer norma. Entretanto, hoje, no direito constitucional moderno, se exige mais do texto constitucional, à luz do princípio da máxima efetividade das normas se deseja que a Constituição seja uma Constituição real, então, discorrer somente sobre a eficácia negativa é muito pouco.!

• MI e ADO nasceram em 1988 para defender o constitucionalismo brasileiro em face da síndrome de inefetividade das normas constitucionais limitadas.

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!PODER CONSTITUINTE!!!

Não se pode confundir a teoria do Poder Constituinte, com o Poder Constituinte em si, porque o Poder constituinte sempre existiu, mesmo antes da teoria do séc. XVIII e durante muitos séculos esteve nas mãos do rei, daquele que personificava Deus na terra e nada fazia de errado.!

Então, não se pode dizer que o Poder, a força pulsante da sociedade somente nasceu no séc. XVIII, até porque ele sempre esteve presente na história; a Teoria do Poder Constituinte, por outro lado, essa sim, é uma teoria do séc. XVIII que se concentra nas alterações de uma Constituição.!

!HISTÓRICO!

O cenário da França no séc. XVIII tratava-se de uma sociedade totalmente estratificada e dividida em três estados: o primeiro e o segundo estados formados pelo clero e nobreza perfaziam cerca de 2% (dois porcento) da população francesa e o terceiro estado formado pela burguesia, proletariado e massa de desempregados.!

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!!!Em que pese a grande população estivesse concentrada neste terceiro estado, em termos de número, quantitativos, o primeiro e segundo estados que comandavam a vida política francesa do séc. XVIII, ou seja, o quadro era que o comando de decisões estava em um grupo pouco significativo que não tinha legitimidade para atuar.!

Daí, em 1788 o abade de Sieyès, Emmanuel Joseph Sieyès, produziu um manifesto conhecido, “o que é o terceiro estado” (qu’est-ce que le tiers état?)? Perguntando a grande massa o que significava o terceiro estado, que tipo de decisão ele poderia tomar e que espécie de força política ele possuiria.!

As respostas eram sempre negativas: o terceiro estado não possui nada, ele não tem poder de decisão.!

E daí, este importante manifesto distribuído em 1788, um ano antes da Revolução Francesa, foi um documento importantíssimo na transferência do poder político, na legitimidade do poder político, que começa a ser fundada em uma Constituição.!

É como se a Teoria do Poder Constituinte fizesse esta transferência, o poder até então era concentrado nas mãos do rei e de uma minoria, passa a ser titularizado por uma maioria através de uma Constituição.!

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Essa teoria do Poder Constituinte é a teoria legitimadora de uma Constituição, o poder não pode mais estar nas mãos de grupos pequenos, o poder precisa revelar toda a vontade da nação.!

Então, a Teoria do Poder Constituinte busca a legitimidade do poder político nas mãos da Constituição, é uma teoria do séc. XVIII e um dos importantes documentos é o manifesto “O que é o terceiro estado?” de autoria do abade de Sieyès.!

!CONCEITO!

Nas palavras de Nelson de Souza Sampaio: poder constituinte é o poder responsável pela criação de uma nova Constituição, por suas futuras alterações e nos estados federativos pela auto-organização dos estados membros.!

Na sua análise inicial, é o poder que vai embasar a criação de uma nova Constituição, mas Constituição sem mecanismo de reforma já nasce morta e terá uma vida muito curta, daí também porque é o poder que legitimará as alterações formais que esta Constituição receberá ao longo dos anos e aí nasceram as federações e o grande ente federativo é o estado-membro, que também precisava de força política, que também precisava de um documento para se auto-organizar, daí porque no conceito se diz que o poder constituinte também é o responsável pela auto-organização dos estados membros com a criação e alteração das Constituições estaduais.!

Daí porque se diz que é preciso uma força inicial, a força que motiva a criação da Constituição do país o poder constituinte originário e daí se derivam outras manifestações de poder —, daí podemos extrair o poder constituinte originário (responsável por criar uma Constituição inicial) e o poder constituinte derivado com suas duas manifestações: o poder constituinte derivado responsável pelas alterações formais a Constituição, o poder reformador; e o poder dos estados federativos, poder constituinte decorrente.!

Então, quando Nelson de Souza Sampaio diz que o poder constituinte é aquele responsável pela criação de uma nova Constituição por suas futuras alterações e que nos estados federativos é o poder que irá respaldar a criação e reforma das Constituições estaduais, se está apresentando a instrumentalização do conceito: a) ao poder de criar a Constituição, poder constituinte originário; b) ao poder de reformá-la e auto-organizar os estados-membros, poder constituinte derivado.!

!NATUREZA JURÍDICA!

Poder Constituinte Originário - poder de criar uma nova Constituição.!

a) Poder de Fato - visão dos positivistas, como Kelsen. Para esta corrente, o poder constituinte se embasa em seu próprio processo de elaboração, é um poder que se legitima em si mesmo e está desapegado dos valores superiores da própria existência humana, é um poder de fato que se respalda em seu próprio poder de elaboração.!

Os positivistas destacam que os próprios valores, princípios, moral, não fundamentam o podem constituinte que se fundamenta em si mesmo, que é um poder de fato.!

b) Poder de Direito - visão dos jusnaturalistas, Sieyès é um deles, sustenta que o poder constituinte não é um poder de fato, mas um poder de direito, mas de direito natural e não

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positivo —, de direito natural porque há valores superiores à própria existência humana, os quais o poder constituinte não poderá se afastar.!

O princípio da vedação ao retrocesso indica que o constitucionalismo deve seguir uma linha de progresso e não de retrocesso, para quem traz uma posição mais positivista é possível acabar com direitos antes imexíveis, tais como a pena de morte, até porque, em termos jurídicos, a nova Constituição não está limitada em nenhuma ordem anterior; todavia, há limites metajurídicos, há limites do poder supranacional que acabam impedindo que se institua a pena de morte em um país que já a aboliu há muitos anos.!

Então, são formas de perceber o Direito: numa visão positivista o poder se legitima em seu próprio processo de elaboração; enquanto que em uma visão jusnaturalista, o poder se legitima com base em valores superiores à própria existência humana associados à igualdade, liberdade, vida, dignidade.!

!!TITULARIDADE x EXERCÍCIO (Art. 1º, parágrafo único, CRFB/88)!

Art. 1º, parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.!

O art. 1º, parágrafo único da CRFB/88 diz que todo poder emana do povo, que o exercerá diretamente ou por meio de seus representantes eleitos, conforme prevê à Constituição.!

O poder aí está regido pela soberania popular, ele se instrumentaliza pelas mãos do povo e no que tange à titularidade de exercício desse poder, o titular do poder político é povo; mas o exercício deste poder pode ser direto ou indireto.!

a) Titular - o titular do poder é o povo, aliás, não poderia ser diferente, em um Estado democrático.!

b) Exercente - manifestar o poder diretamente sempre não seria viável com a grande população do país, então, o poder se manifesta ora diretamente pelo povo e ora indiretamente pelo povo, por meio de seus representantes.!

i) Diretamente - neste caso, o titular se confunde com o exercente quando não necessita de intermediação para manifestar-se politicamente, como exemplo a ação popular, a participação em referendos, plebiscitos…!

ii) Indiretamente - o povo se manifesta por meio de seus representantes eleitos (deputados, prefeitos, governadores, presidente…), aqueles que manifestam o poder político em nome do povo, nos termos da CRFB/88.!

!ESPÉCIES!

a) Poder Constituinte Originário (Primeiro Grau) - respalda a criação de uma nova Constituição, nova ordem jurídica e daí para a frente todas as manifestações do Estado precisam ser pautadas naquela.!

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Responsável pela criação de uma nova Constituição, aquela que será a base política do país, o comando das decisões e a grande energia do Estado.!

É o poder criador cujo fruto é a Constituição e a última que se manifestou em nosso país foi em 1988, com a promulgação da CRFB/88 em 05 de outubro de 1988.!

b) Poder Constituinte Derivado/Constituído/Instituído (Segundo Grau) - esse poder derivado não está presente em todos os estados, é um poder inerente aos estados federativos a fim de respaldar a criação de suas constituições estaduais, em outras palavras, tal poder inexiste em estados-unitários, já que estes não possuem estados-membros ou entes federativos com autonomia.!

Poder que se embasa em uma Constituição já elaborada e que se manifesta de dois modos:!

i) Reformador - poder de criação das emendas constitucionais (art. 60, CRFB/88) e emendas de revisão (art. 3º, ADCT).!

Art. 60, CF. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:!I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal;!II - do Presidente da República;!III - de mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.!§ 1º - A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio.!§ 2º - A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros.!§ 3º - A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem.!§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:!I - a forma federativa de Estado;!II - o voto direto, secreto, universal e periódico;!III - a separação dos Poderes;!IV - os direitos e garantias individuais.!§ 5º - A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa.!!Art. 3º, ADCT. A revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral.!!

ii) Decorrente (art. 11, ADCT) - possui duas subespécies:!

Art. 11, ADCT. Cada Assembléia Legislativa, com poderes constituintes, elaborará a Constituição do Estado, no prazo de um ano, contado da promulgação da Constituição Federal, obedecidos os princípios desta.!Parágrafo único - Promulgada a Constituição do Estado, caberá à Câmara Municipal, no prazo de seis meses, votar a Lei Orgânica respectiva, em dois turnos de discussão e votação, respeitado o disposto na Constituição Federal e na Constituição Estadual.!!

! 1. Institucionalizador dos Estados no que tange à criação da Constituição Estadual;!

! 2. Reforma das Constituições Estaduais através das Emendas Constituicionais Estaduais.!

!PODER CONSTITUINTE DIFUSO - MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL (GEORGES BURDEAU)!

O Poder Constituinte Difuso embasa o processo de reforma informal da Constituição, conhecido como mutação constitucional.!

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!PODER CONSTITUINTE SUPRANACIONAL!

Até 1945 se falava que o indivíduo era apenas protegido por direitos nacionais, era um sujeito de direito nacional e o conceito de soberania estatal até 1945 era aprendido como soberania absoluta. !

Esse é o cenário anterior à II GM e o quadro de caos se instaurou na Europa, o ano de 1945 foi o ano final da II GM.!

A partir de 1945 o sujeito passa a ser titular de um poder que não se resume apenas ao Estado onde vive, do Estado que o fez nacional e ele passa a ser titular de um poder internacional, ele passa a ser sujeito de direitos internacional e daqui para frente não se fala mais em soberania absoluta, a soberania passa a ser compreendida em termos relativos, ou seja, a independência do Estado perante as comunidades internacionais, só será mantida enquanto este Estado defender os direitos da sua gente.!

Então, o poder constituinte supranacional é incentivado pelo momento do pós-guerra, quando as comunidades internacionais se fortalecem, quando a ONU é criada e nós passamos a compreender que o indivíduo deixou de ser apenas titular de poder do seu Estado, ele é titular de poder onde quer que esteja, porque o que sedimenta e fundamenta este movimento do pós-guerra é o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, a sociedade precisa ter seus direitos respeitados, onde quer que esteja.!

A expressão Poder Constituinte Supranacional tem como base a dignidade da pessoa humana e a compreensão de que a partir de 1945 nós passamos a ser titulares, ainda que em uma visão mais teórica que prática, de uma força que transcende as fronteiras do Estado Nacional.!

Assim, é um poder que tem como: a) fundamento a Dignidade da Pessoa Humana; b) histórico, o pós II GM, em 1945; e, c) como marco importante é um poder que entende que o indivíduo é um titular de poder político sujeito de direito onde quer que esteja.!

É uma corrente teórica muito defendida pelos garantistas: Flávia Peovezzano, Antônio Trindade…!

!CARACTERÍSTICAS!

As características do PCO são antagônicas às características do PCD, visto que o primeiro cria uma nova Constituição e o PCD se manifesta de acordo com a ordem instituída; então, enquanto o PCO possui liberdade jurídica, o PCD possui uma subordinação, derivação, limitação política.!

a) Poder Constituinte Originário - possui características de liberdade jurídica. É um poder inicial, incondicionado, ilimitado, podendo ser esta ilimitação jurídica ou metajurídica e também, para alguns, permanente.!

i) Inicial - porque sua obra é a Constituição, o poder que vai criar o novo ordenamento jurídico que vai ensejar a nova base política e jurídica do país. A partir da Constituição todas as normas elaboradas pelo Estado precisam estar em harmonia com suas disposições, sob pena de estas normas serem declaradas inconstitucionais. Então, é inicial porque inaugura uma nova ordem jurídica manifestada por meio de uma Constituição.!

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ii) Incondicionado - não há uma forma pré-fixada para a sua manifestação, por exemplo, a criação de uma Assembleia Nacional Constituinte dotada de poderes originários para a criação da CRFB/88 foi feita por meio de Emenda Constitucional e a convocação do poder não segue forma previamente determinada.!

Então, em termos formais, o poder constituinte originário é incondicionado, não há uma forma pré-definida para a sua manifestação, pode ser golpe, revolução, convocação da Assembleia Nacional por uma Emenda Constitucional, tal qual a CRFB/88.!

PS! Incondicionado não é ilimitado, incondicionado se relaciona à forma e ilimitado à matéria.!

iii) Ilimitado - em termos jurídicos se diz que o poder originário é ilimitado, segundo o STF, a nova Constituição não tem compromissos jurídicos com o texto da Constituição anterior, então, em termos jurídicos positivos, é um poder ilimitado, a sua matéria não tem compromisso com a matéria trazida no texto anterior.!

Agora, a gente não pode dizer que o poder constituinte originário é completamente ilimitado, visto que ele enfrenta limitações de ordem metajurídica, limitações previstas no direito natural, na vida, na igualdade, na dignidade… Assim, o poder constituinte originário não está limitado com a matéria prevista no constitucionalismo anterior e em termos metajurídicos, ele tem compromisso com o direito natural.!

iv) Permanente - característica pensada pelo Min. Gilmar Mendes e atualmente cobrada pelas bancas, não é uma característica oficial, mas deve considerada. Segundo alguns doutrinadores, o poder constituinte originário não seria um poder temporário, ele não desapareceria com a criação da nova Constituição, ele ficaria presente fundamentando a Constituição enquanto vida tivesse.!

Assim, o poder constituinte originário não se esgotaria com a criação de uma nova Constituição, ele serviria como fundamento para criação da nova Constituição e base enquanto vida ela tivesse.!

b) Poder Constituinte Derivado - possui características de subordinação. Se já é um poder em que se manifesta, se já é uma força que está presente tendo como base a Constituição em vigor, obviamente que é um poder que carece de liberdade jurídica e cujas características são distintas das características do poder constituinte originário. É um poder subordinado, limitado e condicionado.!

i) Subordinado - é um poder subordinado porque está hierarquicamente abaixo do poder constituinte originário, é um poder que tira fundamento jurídico de validade da Constituição.!

Então, o poder constituinte derivado, seja reformador ou decorrente, é extraído diretamente da Constituição, estando abaixo do texto constitucional e a ele se subordinando. Daí porque se pode dizer que as Emendas Constitucionais podem ser declaradas inconstitucionais, assim como as Constituições Estaduais e suas respectivas emendas.!

A base, o fundamento de validade, tanto do poder reformador, quanto do poder decorrente é o texto da lei maior. !

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ii) Limitado - se diz limitado porque está limitado ao conteúdo previsto na Constituição e as Emendas Constitucionais encontram limitação material no art. 60, § 4º, CRFB/88, nas cláusulas pétreas e o próprio art. 11 do ADCT que diz que as Constituições Estaduais não podem desobedecer os princípios previstos na Constituição Federal. Então, é um poder limitado materialmente ao que dispõe a Constituição Federal.!

Art. 60, § 4º, CF. Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:!I - a forma federativa de Estado;!II - o voto direto, secreto, universal e periódico;!III - a separação dos Poderes;!IV - os direitos e garantias individuais.!!Art. 11, ADCT. Cada Assembléia Legislativa, com poderes constituintes, elaborará a Constituição do Estado, no prazo de um ano, contado da promulgação da Constituição Federal, obedecidos os princípios desta.!Parágrafo único - Promulgada a Constituição do Estado, caberá à Câmara Municipal, no prazo de seis meses, votar a Lei Orgânica respectiva, em dois turnos de discussão e votação, respeitado o disposto na Constituição Federal e na Constituição Estadual.!!

iii) Condicionado - é um poder condicionado em termos formais. As Emendas precisam de dois turnos de votação em cada casa do Congresso, precisam ter aprovação por maioria de 3/5 dos votos de cada Casa, então, há um procedimento a ser seguido.!

As Constituições Estaduais são elaboradas pelas Assembleia Legislativas dos Estados, conforme prevê o art. 11, ADCT.!

Então, há limites de ordem material e condicionamentos de natureza formal, além de ser um poder subordinado porque retira fundamentos jurídicos de validade diretamente da Constituição.!

!LEIS ORGÂNICAS DOS MUNICÍPIOS E DISTRITO FEDERAL!

Muito se falou do federalismo associado à criação de estados membros, de fato, não há federação sem estado membro, que é o grande ente do Estado Federativo e as federações existentes no direito comparado são todas federações de estados, duais —, o poder se manifesta através da União e dos estados-membros, que possuem a sua capacidade de auto-organização e que elabora suas próprias Constituições.!

O Brasil, todavia, possui um federalismo às avessas, um federalismo singular, porque além dos estados-membros, se possui o Distrito Federal e os municípios e ambos são autonômos, conforme diz o art. 18 da CRFB/88.!

Art. 18, CF. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição.!§ 1º - Brasília é a Capital Federal.!§ 2º - Os Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar.!§ 3º - Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar.!§ 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei. !!

Ademais, o art. 29, da CRFB/88, há o encontro da Leis Orgânicas dos Municípios como normas de organização local e no art. 32 há o encontro da Lei Orgânica do Distrito Federal.!

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Art. 29, CF. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos:!

Art. 32, CF. O Distrito Federal, vedada sua divisão em Municípios, reger- se-á por lei orgânica, votada em dois turnos com interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços da Câmara Legislativa, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição.!

Lei Orgânica dos Municípios e do Distrito Federal é manifestação do poder constituinte derivado decorrente? Na doutrina há muitas controvérsias.!

Lamego Bulos, Dirley da Cunha Jr sustentam que há poder constituinte derivado decorrente no Distrito Federal porque sua Lei Orgânica se assemelha às Constituições Estaduais. E o Lamego Bulos ainda vai além, diz que há manifestação de poder constituinte derivado decorrente no poder municipal porque o município é um autêntico ente federativo.!

As bancas, normalmente, questionam sobre a literalidade do texto constitucional o que leva a dizer que segundo a Constituição não há poder constituinte derivado decorrente nem para a elaboração da lei orgânica do município e também para a elaboração da lei orgânica do Distrito Federal.!

Tais leis orgânicas têm, então, a natureza de ato normativo primário, municipal e distrital extraídos diretamente da Constituição —, são leis, normas primárias extraídas diretamente da Constituição e que auto-organizam os estados-membros, mas, em uma visão expressa, literal, lei orgânica não é manifestação de poder constituinte derivado decorrente.!

Entretanto, em que pesem tenham natureza de ato normativo, não se pode negar que ambas auto-organizam o Distrito Federal e os municípios.

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!PODER REFORMADOR!

!NÚCLEO (Art. 60, CRFB/88)!!

Art. 60, CF. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:!I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal;!II - do Presidente da República;!III - de mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.!§ 1º - A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio.!§ 2º - A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros.!§ 3º - A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem.!§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:!I - a forma federativa de Estado;!II - o voto direto, secreto, universal e periódico;!III - a separação dos Poderes;!IV - os direitos e garantias individuais.!§ 5º - A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa.!!

Até agora foi dito que o poder reformador é uma espécie de poder derivado, é um de segundo grau, constituído, instituído, é o poder que enfrenta limites, que enfrenta a subordinação no poder central, o condicionamento no âmbito formal e a limitação na sua própria base material.!

Então, sempre que se falar em poder reformador, que é o poder de modificar formalmente a Constituição, é preciso lembrar do art. 60, CRFB/88 que é seu núcleo.!

!MANIFESTAÇÕES!O núcleo do poder de reforma se manifesta, hoje, de apenas dois modos: a) Emendas constitucionais (art. 60, CRFB/88); e outrora já se manifestaram também com base nas b) emendas de revisão (art. 3º, ADCT).!!

Art. 60, CF. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:!I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal;!II - do Presidente da República;!III - de mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.!§ 1º - A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio.!§ 2º - A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros.!§ 3º - A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem.!§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:!I - a forma federativa de Estado;!II - o voto direto, secreto, universal e periódico;!III - a separação dos Poderes;!IV - os direitos e garantias individuais.!§ 5º - A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa.!!

Art. 3º, ADCT. A revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral.!!

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Emendas de Revisão - o art. 2º, ADCT marcou um plebiscito para o ano de 1993 para que o povo se manifestasse sobre a forma de governo e sobre o sistema de governo. Ou seja, o povo precisaria se manifestar sobre eventual monarquia, república, parlamentarismo, precisidencialismo…!

O art. 3º, ADCT diz que decorridos cinco anos de promulgada a Constituição, seria realizada uma revisão constitucional a ser aprovada por maioria absoluta em sessão unicameral. Então, vejam só, há um casamento histórico entre os arts. 2º (plebiscito no ano de 1993) e 3º, ADCT (revisão constitucional), que conta nos bastidores da constituinte e como havia um “racha" entre parlamentaristas e presidencialistas, se acordou que a Constituição seria promulgada de acordo com o presidencialismo, mas que cinco anos depois de promulgada haveria um plebiscito e o povo decidiria se queria viver em um presidencialismo ou se optaria pelo parlamentarismo.!

Veja, se o povo dissesse em 1993 que queria viver em um país parlamentarista, seriam necessárias grandes alterações na Constituição, que sequer poderiam ser feitas por Emenda Constitucional (visa alteração de dispositivos certos), seria necessária a realização de uma revisão constitucional.!

Havia uma relação histórica entre os dispositivos do art. arts. 2º e 3º, ADCT, o que aconteceu no plebiscito? No ano de 1993, o povo concluiu que queria viver em um país presidencialista e republicano, o país que foi escolhido pela Assembleia Nacional Constituinte, o país com suas características desde 1988.!

Art. 2º, ADCT. No dia 7 de setembro de 1993 o eleitorado definirá, através de plebiscito, a forma (república ou monarquia constitucional) e o sistema de governo (parlamentarismo ou presidencialismo) que devem vigorar no País.!§ 1º - Será assegurada gratuidade na livre divulgação dessas formas e sistemas, através dos meios de comunicação de massa cessionários de serviço público.!§ 2º - O Tribunal Superior Eleitoral, promulgada a Constituição, expedirá as normas regulamentadoras deste artigo.!!

Ou seja, não houve nenhuma mudança significa no que tange às características importantes.!

A pergunta surge quando o Congresso Nacional abriu a revisão constitucional e editou a resolução nº 01/93, abrindo os trabalhos para a realização da revisão, o tema foi muito controvertido e foi logo ajuizada uma ADIN 981, dizendo que se o povo não havia modificado as características do Estado Brasileiro pelo plebiscito, a revisão constitucional não deveria ocorrer.!

Vejam só, o art. 3º, ADCT, que traz a revisão constitucional possui normatividade própria, conteúdo jurídico próprio, então, independentemente do resultado do plebiscito a revisão poderia ocorrer, sim.!

Agora, como a revisão constitucional é uma espécie do poder reformador, ela precisaria respeitar, também, os limites propostos no art. 60 da CRFB/88.!

Em síntese temos um quadro em que há um poder reformador embasado pelo art. 60 da CRFB/88, que permite a criação de Emendas Constitucionais (art. 60, CRFB//88) e Emendas de Revisão (art. 3º, ADCT).!

Então, o STF no julgamento da ADIN 981, proposta em face da Resolução nº 01/93 que abria os trabalhos do Congresso Nacional para a revisão, o STF resolveu que a emenda de revisão era uma espécie de poder reformador, sobremodo que, de fato, poderia ser realizada, mas além de

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respeitar os limites previstos no art. 3º, ADCT, as emendas constitucionais deveriam ser elaboradas se guiando também pelos limites do art. 60, CRFB.!

Portanto, é de concluir, emenda de revisão alguma poderia abolir cláusula pétrea do art. 60 §4º, CRFB/88. Veja, o STF previu que a revisão poderia ocorrer, só que a revisão promove uma alteração ampla no texto e não havia o que alterar porque a Constituição era muito jovem, então, a revisão foi feita por meio de seis emendas constitucionais entre março e junho de 1994 e no julgamento da ADIN 981 o STF estabeleceu no que não seria mais permitida no país a realização de uma revisão constitucional, a única revisão possível seria a revisão de 1994.!

Então, desde a decisão do STF só se admite a modificação do texto constitucional por meio de Emendas Constitucionais, as Emendas de Revisão foram todas feitas no ano de 1994 e não fizeram alterações substanciais no texto constitucional porque não havia o que se alterar.!

O STF decidiu dessa forma porque a Emenda de Revisão é aprovada de modo muito mais simples que a Emenda Constitucional e isso fragiliza a rigidez da Constituição; ademais, é de resultar que a revisão permite uma análise completa do texto constitucional e a emenda constitucional é pontual e só pode fazer alterações determinadas, não pode alterar o texto de modo amplo.!

Então, desde 1994 não se permite mais revisão constitucional no Brasil.!

!LIMITAÇÕES AO PODER REFORMADOR (Art. 60, CRFB/88)!

De acordo com a doutrina, há quatro categorias de limitações: a) temporal; b) circunstancial; c) formal; e d) material.!

a) Temporais - essas limitações estariam relacionadas a prazos em que não se admitiria a alteração da Constituição. A doutrina majoritária, sustenta a tese de que a única Constituição Brasileira que estabelecia limites temporais foi a Constituição Imperial de 1824, que no seu art. 174 dizia que no prazo de quatro anos de sua outorga não poderia haver reforma da Constituição, como no art. 60, CRFB não se encontra qualquer disposição nesse sentido, a conclusão é que não existe limitação temporal.!

Todavia, existe uma decisão do Supremo, do Ministro Toffoli (RE 587.008-2011), em que ele diz que o poder constituinte derivado não é ilimitado, visto que se submete ao processo do art. 60, CRFB, bem assim aos limites materiais, circunstanciais e temporais também lá previstos. No art. 60 §5º, CRFB/88, o Min. Toffoli entendeu que há um limite de ordem temporal, porque diz que a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) rejeitada não pode ser proposta na mesma sessão legislativa em que ocorreu sua rejeição.!

Art, 60, § 5º, CF - A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa.!!

A doutrina majoritária, entretanto, entende que tal disposição é um limite formal e não temporal e que não há limite temporal no poder de reforma da Constituição.!

Doutrina majoritária sustenta a tese de que não há limite temporal ao poder de reforma da CRFB/88, o único verdadeiro limite temporal foi o previsto no art. 174, da Constituição do Império que dizia que durante quatro não seria possível mudar o texto constitucional.!

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b) Circunstanciais (Art. 60 §1º, CRFB/88) - o texto constitucional diz que a CRBF/88 não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal (arts. 34 a 36, CRFB/88), estado de defesa e estado de sítio (arts. 136 a 141, CRFB/88).!

Art. 60, § 1º, CF. A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio.!!

Todos os três são, de plano, mecanismos de defesa do Estado Brasileiro e são necessários quando o Estado não está vivenciando sua normalidade, são situações de crise, excepcionais daí a Constituição se autoproteger e não permitir que em tais situações haja mudança no texto.!

Mas, qual o ato do processo de Emenda Constitucional que não pode ocorrer durante a vigência de estado de defesa, estado de sítio e intervenção federal? O texto diz: a Emenda não pode ser promulgada.!

Os atos principais de elaboração da PEC compreendem: i) a iniciativa; ii) a discussão; iii) a votação; vi) a promulgação; e v) a publicação.!

Como o texto constitucional diz que a PEC não pode ser promulgada, o que se tem é que é que a PEC pode ser apresentada e discutida nas Comissões das Casas do Congresso Nacional, mas, durante estado de sítio, defesa e intervenção federal ela não pode ser: a) votada - isso porque entre sua última aprovação e sua promulgação não há nenhum ato específico do processo legislativo, sendo promulgada imediatamente quando aprovada com o quórum legal pelas mesas das duas Casas; b) promulgada; e c) publicada. !

Este é entendimento majoritário porque a contrario sensu da disposição do art. 60 §1º, CRFB/88.!

PS! Se ocorrer de a PEC ser apresentada em situações normais, discutida e votada em primeiro turno e antes de ir para segunda votação ser decretada uma intervenção federal, por exemplo, ela ficará suspensa até que se volte à normalidade.!

c) Formais (Art. 60, I, II, III, § 2º, § 3º, § 5º) - dizem respeito ao processo legislativo propriamente dito, o que deve ser seguido, qual o procedimento para a elaboração da Emenda Constitucional.!

Art. 60, CF. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:!I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal;!II - do Presidente da República;!III - de mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.!§ 2º - A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros.!§ 3º - A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem.!§ 5º - A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa.!!

Os atos principais de elaboração da PEC compreendem: i) a iniciativa; ii) a discussão; iii) a votação; vi) a promulgação; e v) a publicação.!

i) Iniciativa - os incisos I, II e III trazem o rol taxativo de legitimados ativos que podem apresentar a PEC, são eles: a) 1/3 dos membros da Câmara ou Senado; b) o Presidente da República; e c) mais da metade das Assembleias Legislativas da

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Federação, cada uma com manifestação da maioria relativa dos seus membros, estando incluída a Câmara Legislativa do Distrito Federal (art. 32, § 3º, CRFB/88).!

Art. 60, CF.!I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal;!II - do Presidente da República;!III - de mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.!!Art. 32, CF. O Distrito Federal, vedada sua divisão em Municípios, reger- se-á por lei orgânica, votada em dois turnos com interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços da Câmara Legislativa, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição.!§ 3º - Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislativa aplica-se o disposto no art. 27.!!

Observe que não há iniciativa popular para a apresentação da PEC e isso é importante, o povo está manifestado por seus representantes, indiretamente. Então, o entendimento majoritário é que não há iniciativa popular para a apresentação da PEC.!

A iniciativa legislativa é concorrente, o que significa dizer que qualquer espécie de composição entre os legitimados é permitida, ou seja: a) 1/3 dos membros da Câmara (171 deputados) poder estar conjunta ou separadamente com um 1/3 dos membros do Senado Federal (27 senadores) e vice versa; b) que podem estar conjunta ou separadamente com o Presidente da República; c) que pode estar conjunta ou separadamente com mais da metade das Assembleias Legislativas da Federação, cada uma com manifestação da maioria relativa dos seus membros.!

Acerca da Câmara Legislativa do Distrito Federal, o que entende o STF, a doutrina majoritária é que aquela teria a base de fundamentação da Câmara Legislativa, então, quando se fala mais da metade das Assembleias Legislativas, se fala em 14 órgãos legislativos.!

ii) Discussão/Votação - uma vez apresentada, a PEC começa a tramitar na forma do art. 60, §§ 2º e 3º, observe que não há deliberação conjunta, as Casas aprovam a PEC separadamente e não sessão conjunta para aprovação da Emenda.!

Art. 60, CF.!§ 2º - A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros.!§ 3º - A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem.!!

Daí o art. 60 § 2º, CRFB/88 passará por dois turnos em cada Casa do Congresso Nacional e será aprovada se tiver 3/5 dos votos dos votos dos respectivos membros em cada um desses turnos —, sendo o quórum estabelecido um quórum de maioria qualificada, sendo, no total um mínimo de 308 deputados e 49 senadores.!

Primeiro se esgotam os dois turnos de votação em uma Casa, para que depois seja ela encaminhada para a segunda Casa. Em geral, as discussões se iniciam na Câmara, conforme prevê o art. 64, caput, da CRFB/88.!

Art. 64, CF. A discussão e votação dos projetos de lei de iniciativa do Presidente da República, do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores terão início na Câmara dos Deputados.!

iii) Promulgação/Publicação - uma vez aprovada PEC, ela seguirá para a promulgação e esta é uma característica muito específica, porque, via de regra, no processo legislativo

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ordinário, os projetos de lei seguem para sanção ou veto do Presidente da República, o que não ocorre com a PEC (art. 60, § 3º, CRFB/88).!

Art. 60, § 3º, CF - A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem.!!

O art. 60, § 3º, CRFB/88 permite concluir que não há sanção do Presidente da República no processo de elaboração das Emendas Constitucionais e estas uma vez aprovadas já serão promulgadas pelas duas mesas do Congresso Nacional, obedecendo o número de ordem.!

PS! O Presidente quanto à PEC apenas ter a faculdade de apresentá-la e se não concordar com a Emenda aprovada, ele deve ajuizar uma ADIN.!

A promulgação é o ato legislativo que certifica formalmente a existência da norma e também confirma que ela foi elaborada de maneira válida. Então, atente-se que a jurisprudência majoritária do STF entende que a partir da promulgação, seja possível se questionar Emenda em juízo para fins de controle repressivo, com ajuizamento de uma ADIN.!

Então, a promulgação permite o questionamento da Emenda de logo, não sendo necessário aguardar pela sua publicação (ex: ADIN 3367 da AMB).!

iv) Impossibilidade de reapresentação de PEC rejeitada/prejudicada na mesma sessão legislativa de sua rejeição (60, § 5º, CRFB/88) - primeiramente, existe diferença entre PEC rejeitada e prejudicada, a PEC rejeitada é aquela que sofreu vício de forma em sua aprovação e a PEC é prejudicada por vício de matéria (ex: tramitação de duas PECs com mesmo objeto).!

Art. 60, § 5º, CF. A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa.!!

Desse artigo conclui-se que a PEC rejeitada não pode ser apresentada, sob qualquer hipótese na mesma sessão legislativa (período anual de trabalho do legislativo que se inicia em 02 de fevereiro vai até o dia 17 de julho e retorna em 1º de agosto e vai até 22 de dezembro), conforme prevê o art. 57, CRFB.!!

Art. 57, CF. O Congresso Nacional reunir-se-á, anualmente, na Capital Federal, de 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1º de agosto a 22 de dezembro.!

PS! Sessão legislativa é o período anual de trabalho, enquanto legislatura é o mandato do membro do legislativo, que dura quatro anos (art. 44, parágrafo único, CRFB/88). Então, veja, a PEC rejeitada pode ser apresentada na mesma legislatura, mas desde que em sessões legislativas diferentes.!

Art. 44, CF. O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.!Parágrafo único. Cada legislatura terá a duração de quatro anos.!!

Nas sessões legislativas há dois tipos de sessões (art. 57, CRFB/88): a) sessões ordinárias; e b) sessões extraordinárias. Todavia, não interessa, para fins de PEC rejeitada se a sessão era ordinária ou extraordinária, ela só pode ser reapresentada quando de uma nova sessão legislativa, em 02 de fevereiro.!

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d) Materiais - o STF entendeu que a PEC pode ser questionada sob o ângulo formal e material e os projetos de lei somente sobre o ângulo formal.!

MS 32.033 (Informativo 711, STF). A regra no país é de que o controle de constitucionalidade judicial seja feito sobre espécies que já existem, sobre espécies de normativas a partir de sua promulgação, por isso se diz que o controle judicial é, geralmente, repressivo —, então, o controle repressivo que recai sobre a norma em si, porque seria uma ofensa à separação dos poderes se o Judiciário pudesse se manifestar durante o processo de formação da norma, dando palpites sobre sua constitucionalidade ou inconstitucionalidade no momento de criação.!

Mas, a jurisprudência do STF passou a entender que a Corte, caso provocada pelo parlamentar, poderia se manifestar sobre uma proposta de Emenda ou lei no curso de sua elaboração, à luz da supremacia constitucional e para garantir o direito de o parlamentar somente participar de um processo legislativo de acordo com a CRFB/88.!

Nesse MS 32033 voltou a falar sobre o tema, sedimentando que o controle preventivo judicial é excepcional e o controle judicial, em regra, é repressivo —, entretanto, o controle preventivo é permitido por meio de mandado de segurança impetrado exclusivamente por parlamentar para defender direito líquido e certo de participar de um processo que somente esteja em harmonia com a Constituição.!

Segundo o STF a PEC pode ser eventualmente questionada em um mandado de segurança se estiver ofendendo o texto durante seu processo de elaboração (ex: foi aprovada em primeiro turno por maioria simples), mas ela também pode ser questionada caso viole cláusula pétrea porque o art. 60, §4º, CRFB/88 diz que não será, sequer, objeto de elaboração PEC tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais.!

Agora, os projetos de lei em geral, só podem ser questionados por meio desse mandado segurança caso tenham violação formal ao processo legislativo.!

i) Expressos (Art. 60, §4º, CRFB/88)!

Art. 60, § 4º, CF. Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:!I - a forma federativa de Estado;!II - o voto direto, secreto, universal e periódico;!III - a separação dos Poderes;!IV - os direitos e garantias individuais.!!

ii) Implícitos!

!CLÁUSULAS PÉTREAS!

Importante destacar que apesar de o termo ser cláusula pétrea, a cláusula pétrea não é algo petrificado, não são algo de imutabilidade, elas, apenas, impedem que a reforma constitucional viole o núcleo essencial do art. Art. 60, §4º, CRFB/88 e seus incisos.!

Veja, nada impede que a PEC altere uma questão relacionada à federação, desde que para agregar valor, reforçar o núcleo do art. 60, §4º, CRFB/88, não há problema algum. !

O que se proíbe é a violação, a abolição de cláusulas pétreas ou, até mesmo, a restrição significativa de direitos na base constitucional.!

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As limitações existentes estão, como dito, no art. 60, §4º, CRFB/88 que diz que não serão sequer propostas as emendas tendentes a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais.!

Tendente a abolir significa que a emenda constitucional não pode extinguir nenhum desses institutos nem, tampouco, restringi-los demasiadamente, mas nada impede que uma PEC venha a ser proposta com o intuito de ampliar a proteção já existente (ex: EC 45/04 que inseriu o inciso LXXVIII no art. 5º, que trata da celeridade e razoável duração do processo).!

Disso se conclui que o art. 60, §4º, CRFB/88 não representa cláusula de imutabilidade, mas existe para preservar as características essenciais dos institutos preservados.!

a) Forma Federativa do Estado (Inciso I) - quando a cláusula pétrea protege a federação, isso significa dizer que todas as grandes características que dizem respeito ao pacto federativo estão preservadas.!

Art. 60, §4º, CF.!I - a forma federativa de Estado;!!

i) Autonomia dos Entes (art. 18, CRFB/88) - não existe federação sem a autonomia dos entes que a compõem e a autonomia está é caracterizada pela tríplice capacidade de autogoverno, auto-organização e auto-administração.!

Art. 18, CF. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição.!

Então, se uma Emenda Constitucional pretender abolir a autonomia dos entes federativos, provavelmente ela será considerada inconstitucional (exs: acabar com o legislativo do município; acabar com a possibilidade de o estado editar uma lei; acabar com a gestão de seus próprios serviços).!

Ou seja, qualquer ofensa a autonomia dos entes atinge o núcleo da federação, por isso se estará diante de uma emenda inconstitucional.!

ii) Impossibilidade de secessão (art. 1º, caput, CRFB/88) - o art. 1º, caput, CRFB/88 prevê que a União entre os entes seja uma união indissolúvel, de modo que o vínculo entre eles não pode se manter e esta é uma característica das federações em geral, então, claro que se uma emenda quiser estabelecer o direito de secessão em um país, ela será considerada inconstitucional, porque federação não combina com secessão.!

Art. 1º, CF. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:!

iii) Repartição de Competências (EC 69/12) - é claro que não existe federação sem um sistema de repartição de competências e divisão de atribuição, nas palavras de Paulo Bonavides e José Afonso da Silva.!

Olha só, a União foi muito beneficiada no sistema de repartição constitucional justamente em razão do histórico, do nascimento da federação brasileira.!

Nesse aspecto, cumpre consignar que nem toda mudança acerca do sistema de repartição de competências será inconstitucional, sempre depende da mudança (ex: a

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EC 69/12 alterou atribuições da União e determinou que a organização da defensoria pública do DF estivesse nas mãos do próprio Distrito Federal e não mais da União).!

As emendas, desde que não desequilibrem as atribuições constitucionais, serão plenamente válidas quando dispuserem acerca da repartição de competências. !

iv) Princípio da Imunidade Tributária Recíproca Entre os Entes (ADIN 939) - no julgamento da ADIN 939, o STF entendeu que em nome do Princípio da Imunidade Tributária Recíproca Entre os Entes, esta cláusula não poderia ser modificada e é uma cláusula obrigatória e, portanto, protegida contra emenda constitucional. !

Em sendo tal princípio cláusula pétrea, não pode ser aprovada uma emenda que altere as imunidades existentes entre os entes federativos, porque temos estados ricos, estados que não arrecadam tanto, municípios também ricos e outros que mal conseguem cumprir com sua folha de pagamento.!

v) CNJ (ADIN 3367) - a EC 45/04 criou o CNJ e logo depois de sua criação a AMAB entrou com ADIN questionando várias violações na criação do CNJ, sendo uma delas a seguinte: o CNJ é um órgão federal e sendo um órgão federal, não pode ele fiscalizar o poder judiciário no âmbito dos estados, o STF negou provimento em relação a este argumento aduzindo, para tanto, que o CNJ não é órgão da União, mas um órgão nacional e como tal fiscaliza o poder judiciário federal e estadual.!

b) O Voto Direto, Secreto, Universal e Periódico (Inciso II) - a segunda cláusula pétrea é a que protege o voto nas suas manifestações: direto; secreto; universal; e periódico.!

Art. 60, § 4º, CF.!II - o voto direto, secreto, universal e periódico;!!

i) Sufrágio x Voto - sufrágio é mais amplo que o voto, é a própria essência dos direitos políticos e como querem alguns autores, é o próprio direito político público subjetivo —, sufrágio é a tradução de várias manifestações políticas e não se esgota no voto, nem no direito de votar ou ser votado.!

O voto, por outro lado, é uma das manifestações do sufrágio e não a única. O sufrágio existe também em plebiscitos, referendos, ação popular, projeto de lei populares…!

Atenção porque sufrágio não é cláusula pétrea, a cláusula pétrea do inciso II é o voto direto, secreto, universal e periódico, uma de suas manifestações.!

Ademais, veja que os sistemas eleitorais não são protegidos por cláusula pétrea, sejam eles proporcionais ou majoritários, o inciso II protege o voto, uma das manifestações políticas e não todo tipo de manifestação política, o sufrágio.!

ii) Art. 55, CRFB/88 - o art. 55, § 2º, CRFB/88 previa há bem pouco tempo o processo de cassação dos membros das Casas Legislativas precedido por um voto secreto, isso sempre levantou polêmicas, até que a EC 76/13 alterou esse art. 55, acabando com o voto secreto.!

Art. 55, CF. Perderá o mandato o Deputado ou Senador:!§ 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa. !!

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O voto agora é aberto e será que essa alteração constitucional ofende o art. 60, §4º, CRFB/88 e possui a mesma natureza que o voto resguardado no texto original? Não. O voto do art. 55, § 2º, CRFB/88 que acabou de ser modificado, é o voto dos representantes em uma atividade administrativa, não é essa a natureza do voto protegido como cláusula pétrea, que é o voto do eleitor, o voto como manifestação política, o voto por meio do qual se elegem os representantes.!

Então, atenção, a EC 76/13 não viola cláusula pétrea alguma, o voto secreto protegido no art. 60, §4º, CRFB/88 é o voto do eleitor no seu representante.!

iii) Voto Facultativo - de acordo com o art. 14, §1º da Constituição que o alistamento eleitoral e o voto são obrigatórios para os brasileiros alfabetizados entre dezoito e sessenta anos que não estejam no período de conscrição (cumprindo serviço militar obrigatório).!

Art. 14, § 1º, CF. O alistamento eleitoral e o voto são:!I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;!II - facultativos para:!a) os analfabetos;!b) os maiores de setenta anos;!c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.!

Então, será que a obrigatoriedade formal de comparecimento às urnas é cláusula pétrea? Ou é possível que o constituinte derivado torne o voto obrigatório facultativo? A pergunta é: viola a cláusula pétrea do art. 60, §4º, II, CRFB/88 a instituição de voto facultativo no país?!

Juridicamente não há óbice, voto facultativo pode ser instituído no país justamente porque as características do voto que são preservadas como cláusula pétrea são: a) voto direto; b) voto secreto; c) voto universal; e d) voto periódico.!

c) Separação dos Poderes (Inciso III) - em todas as Constituições de países democráticos a separação dos poderes se encontra muito viva, aliás, não existe democracia ou direitos fundamentais sem a separação dos poderes.!

Art. 60, § 4º, CF. !III - a separação dos Poderes;!!

A divisão funcional dos poderes políticos é um dos corolários do constitucionalismo moderno, não se fala de defesa de direitos fundamentais, sem que no país haja separação dos poderes.!

i) Fundações Típicas e Atípicas (art. 2º, CRFB/88) - o art. 2º, CRFB/88 diz o que são poderes, independentes e harmônicos entre si: a) legislativo; b) executivo; e c) judiciário - poderes independentes de modo que cada um deles possuem suas próprias atribuições, mas além de possuírem suas atribuições típicas, próprias, existe a possibilidade de cada um dos poderes, justamente em virtude dos freios e contrapesos, limitarem reciprocamente o outro poder.!

Art. 2º, CF. São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.!

Então, a preservação da separação de poderes é completa, se preserva a atividade típica e atípica, ou seja, as funções próprias de cada um dos poderes ou impróprias.!

ii) Imunidades - a Constituição traz um sistema amplo de imunidades, prerrogativas, inviolabilidades para os ocupantes de cargos no legislativo, no executivo e judiciário —, então, há um sistema de imunidades nos três poderes.!

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As imunidades que cercam as funções do legislativo, executivo e judiciário podem ser extintas por meio de emenda constitucional? Olhando positivamente, essas imunidades só existem para preservar a independência, a liberdade funcional, então, o entendimento adotado é que uma emenda constitucional não pode abolir ou restringir de forma significativa as imunidades que a Constituição Federal destinou aos que ocupam os poderes da República, porque isso violaria o princípio da separação de poderes.!

iii) CNJ (ADIN 3367) - mais uma vez nessa ADIN 3367, a AMB questionou a criação do CNJ não apenas sob o aspecto federativo, mas também sob o ângulo da separação dos poderes —, disse a AMB que a criação do CNJ violaria o princípio de separação de poderes. Não, mais uma vez o STF negou provimento a esta ADIN 3367 e com relação a esse argumento disse que o CNJ não exerce nenhuma atividade típica jurisdicional, o CNJ foi criado para reforçar o sistema de fiscalização administrativa e financeira de todos os órgãos do Poder Judiciário, à exceção de um: o STF.!

O STF não está sujeito a fiscalização do CNJ, por conta do art. 102, I, r, CRFB/88, que diz que compete ao STF apreciar as ilegalidades cometidas pelo CNJ, então, não faz sentido que o STF que é o fiscalizados do CNJ seja por ele fiscalizado.!

Art. 102, CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:!I - processar e julgar, originariamente:!r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do Ministério Público;!!

Muito bem, o STF também na análise desta ADIN foi instado a se manifestar acerca da composição mista do CNJ, que é formado por quinze membros: a) nove do Poder Judiciário; b) seis divididos entre advogados, membros do ministério público e cidadãos.!

O STF diz que esta composição mista é, de certo modo, prevista na Constituição em razão do quinto constitucional, art. 94, CRFB/88, e é uma composição perfeitamente democrática, afinada com os ideais constitucionais.!

Art. 94, CF. Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais dos Estados, e do Distrito Federal e Territórios será composto de membros, do Ministério Público, com mais de dez anos de carreira, e de advogados de notório saber jurídico e de reputação ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas classes.!Parágrafo único. Recebidas as indicações, o tribunal formará lista tríplice, enviando-a ao Poder Executivo, que, nos vinte dias subseqüentes, escolherá um de seus integrantes para nomeação.!!

Aliás, se o CNJ fosse composto apenas por membros do Poder Judiciário, seria mais fácil para o corporativismo aparecer.!

d) Direitos e Garantias Individuais (Inciso IV) - direitos e garantias individuais em análise literal, são direitos de primeira geração.!

Art. 60, § 4º, CF.!IV - os direitos e garantias individuais.!!

i) Direitos de Primeira Geração? - direitos e garantias individuais em análise literal, são direitos de primeira geração, que cuidam das liberdades públicas, civis e políticas. O art. 5º da CRFB/88 traz consigo a maioria dos direitos fundamentais de primeira dimensão.!

A pergunta inicial é: considerando que literalmente a Constituição só preservou como cláusula pétrea os direitos de primeira geração, seria apenas o art. 5º a ser protegido como

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cláusula pétrea? Não, a visão do STF sempre foi no sentido a ampliar a proteção, ou seja, não são apenas os direitos e garantias individuais do art. 5º os preservados como cláusula pétrea.!

ii) Princípio da Anterioridade Tributária (ADI 939) - a ADIN 939, julgada pelo STF, consagrou que o princípio da Anterioridade Tributária do art. 150, III, b, da CRFB/88 é uma garantia do contribuinte e é cláusula pétrea.!

Art. 150, CF. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: III - cobrar tributos: b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; !

Então, ainda que se parta de uma ideia de que somente direitos e garantias de primeira geração estariam preservados, o entendimento do STF é de que a extensão da proteção vai muito além do art. 5º e todos os direitos e garantias individuais espalhados na Constituição ficam protegidos como cláusula pétrea.!

iii) Princípio da Dignidade da Pessoa Humana - a doutrina majoritária representada por Barroso defende a tese de que o art. 60, §4º, II, CRFB/88 é uma expressão da própria dignidade da pessoa humana, então, quando o texto fala em direitos e garantias individuais ele não se limita a direitos de primeira, segunda ou terceira gerações… Todos os direitos fundamentais estariam aí preservados.!

Essa é uma visão ampla do instituto, na doutrina é um visão muito aceita, inclusive, é possível dizer que no julgamento da ADIN 1946 (pretendeu acabar com a licença maternidade) há uma tendência garantista do STF.!

Não é possível assegurar com firmeza que todos os direitos de todas as gerações são protegidos como cláusula pétrea, não há posição do STF nesse sentido, mas, sem dúvidas, há uma tendência garantiste da Corte em consagrar como cláusula pétreas não apenas os direitos de primeira geração.!

!LIMITAÇÕES MATERIAIS IMPLÍCITAS!

Além das limitações materiais expressas do art. 60, §4º, CRFB/88, existem as limitações materiais implícitas, segundo boa parte da doutrina (José Afonso da Silva, Nelson de Souza Sampaio), ou seja, temas que também são protegidos contra a emenda que pretenda abolir ou restringir seus institutos.!

a) Forma e Sistema de Governo: Forma de governo republicana e sistema de governo presidencialista. !

No ano de 1993 os brasileiros foram às urnas decidir se gostariam de viver em um país republicano presidencialista ou, eventualmente, em uma monarquia parlamentarista —, o povo escolheu que queria viver em um país republicano e presidencialista.!

Não faria muito sentido que a partir dessa decisão popular legítima, uma emenda constitucional transformasse a república em monarquia e o presidencialismo em parlamentarismo.!

Então, esses são dois dos limites materiais implícitos da Constituição.!

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b) Titularidade do Poder Constituinte (art. 1º, parágrafo único, CRFB/88): "todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”!

Não é possível que uma emenda constitucional transfira a titularidade do poder que está nas mãos do povo para as mãos do Congresso Nacional, não faz o menor sentido.!

c) Art. 60, CRFB/88 - o art. 60 da Constituição é o núcleo da rigidez constitucional, é o núcleo da proteção da Constituição e elemento de estabilidade constitucional, então não é possível que se altere o art. 60, conforme entendimento doutrinário, com a finalidade de facilitar o processo de elaboração das emendas constitucionais.!

Art. 60, CF. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:!I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal;!II - do Presidente da República;!III - de mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.!§ 1º - A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio.!§ 2º - A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros.!§ 3º - A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem.!§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:!I - a forma federativa de Estado;!II - o voto direto, secreto, universal e periódico;!III - a separação dos Poderes;!IV - os direitos e garantias individuais.!§ 5º - A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa.!!

O art. 60 é, na opinião de muitos autores, uma limitação material implícita, uma cláusula tácita ao poder de reforma. !

Ademais, partindo da compreensão do art. 60, o entendimento majoritário é que não se permite a dupla revisão constitucional no país —, posição majoritária na doutrina e jurisprudência —, essa dupla revisão constitucional seria, em linhas gerais, realizar por meio de duas emendas constitucionais o que uma delas, sozinha, não poderia realizar.!

Ex: Imagine que fosse possível que a PEC 01 pudesse retirar o § 4º do art. 60 e aí a PEC 02 viria instituindo pena de morte no Brasil —, isso não é possível porque a PEC 01 já não é permitida, partindo da premissa de que as PECs que visem facilitar o processo de modificação constitucional, a PEC 01 seria, por si só, inconstitucional.!

Do mesmo mesmo que não é possível que se crie uma emenda para facilitar o processo de alteração do texto constitucional, também não é possível que uma emenda altere o art. 60, CRFB/88 para enrijecer o processo de reforma.!

!MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL!

A CRFB/88 só pode ser alterada por meio das emendas, estas elaboradas de acordo com o que prevê o art. 60. Mas nem sempre o processo reformador formal é um processo que atende às necessidades populares, o processo legislativo brasileiro caminha com passos morosos e é um processo que não está afinado com as mudanças que ocorrem na sociedade,!

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Então, cada vez se torna mais presente a mudança informal da Constituição: a mutação constitucional.!

A mutação constitucional é um fenômeno de mudança informal da Constituição que formalmente só pode ser alterada por meio das emendas, a mutação não altera o texto formal do dispositivo, sua literalidade —, ela altera seu sentido, seu contexto, à luz de novos fatos sociais, econômicos, políticos e culturais, permitindo que a Constituição esteja sempre associada com a realidade do país.!

A mutação não é algo exclusivo do Poder Judiciário, a Anna Cândida da Cunha Ferraz diz que a mutação pode ser realizada pelo Poder Legislativo, pela Administração Pública, pelos próprios cidadãos e até mesmo pelo Judiciário.!

Mas o Barroso complementa dizendo que o STF está em posição privilegiada para realizar a mutação, obviamente que sim, vez que ele é o guardião da Constituição e é o senhor da jurisdição constitucional —, então, sim, o STF está em uma posição privilegiada para realizada a mutação.!

Em regra, a mutação é mais bem compreendida em países de Constituição flexível, porque o texto se adapta mais à realidade e pode ser alterado mais facilmente, seja pela lei ou pelos costumes, tradições… Mas existe algum óbice para que a Constituição rígida admita a mutação?!

Não, de modo algum, rigidez não é empecilho para a realização de mutação constitucional e muitas vezes a mutação é indispensável: quando há lacuna no dispositivo constitucional, quando é preciso concretizar o dispositivo constitucional… No país, inclusive, as normas constitucionais originárias não são declaradas inconstitucionais, então, muitas vezes a mutação surge para tentar adaptar a realidade à norma.!

Exemplos: a) cancelamento da súmula 394, STF, reinterpretando o art. 53, § 1º, da CRFB/88; b) a questão da infidelidade partidária (MS 26603, STF e ADIN 3999); c) SV 25 que altera a interpretação do art. 5º, LXVII, CRFB/88; e d) ADIN 4277 que altera o sentido do art. 226 § 3º da Constituição Federal.!

a) Cancelamento da súmula 394, STF, reinterpretando o art. 53, § 1º, da CRFB/88 - a súmula 394, STF determinava a prorrogação de competência da Corte para julgamento de ex-parlamentares e sempre foi muito criticada. Essa súmula demorou anos, mas foi cancelada em 1999 e a partir daí o entendimento majoritário do STF é a regra da atualidade do mandato (se tem mandato, tem prerrogativa).!

Art. 53, CF. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. !§ 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal.!!

b) Fidelidade partidária - no julgamento do MS 26603 e da ADIN 3999, o STF consagrou a fidelidade partidária. A Constituição diz em seu art. 14 que todos os aspirantes a mandatos eletivos precisam estar filiados a cargos eletivos, mas o texto não diz nada sobre a necessidade de fidelidade partidária.!

Art. 14, CF. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:!§ 3º - São condições de elegibilidade, na forma da lei:!V - a filiação partidária;!

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Em razão disso, os candidatos faziam trampolins, trocavam de partido para tentar encontrar sua ideologia, o que contribuía para o enfraquecimento da democracia. O STF, então, no julgamento do MS 26603 e da ADIN 3999, entendeu que a Constituição deve ser reinterpretada e que fidelidade partidária é, sim, uma realidade do país e concluiu pela mudança no sentido de texto a fim de “incluir” a fidelidade partidária.!

c) Súmula vinculante 25 - o art. 5º, LXVII, CRFB/88 diz que são duas as modalidades de prisão civil por dívida: a) a do devedor de alimentos; e b) do depositário infiel.!

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel; !

O STF fez uma releitura do art. 5º no ano de 2008 e, por isso, editou a súmula vinculante nº 25, que diz que não há mais prisão civil por dívida do depositário infiel, o que para alguns autores, a exemplo de Alexandre de Moraes, seria uma afronta ao texto constitucional —, mas, para muitos, foi uma mutação garantista, melhor pro indivíduo. !

SV. 25. É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.!!d) Reanálise do art. 226 § 3º da Constituição Federal - este dispositivo contempla, apenas, a

união estável entre homem e mulher.!

Art. 226, CF. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.!§ 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.!!

Analisando o tema à luz do direito das minorias, dignidade da pessoa humana, autonomia da vontade, igualdade… O STF decidiu que a união homoafetiva também deve ser vista como uma manifestação de união estável.!

Quando se faz uma leitura do art. 226, § 3º, CRFB/88 não é esse o texto constitucional, mas é possível extrair este sentido da norma após uma mutação constitucional.!

• Denominações: a) poder constituinte difuso (Georges Burdeau); b) transição constitucional (Canotilho); c) mudanças informais da Constituição (Anna Cândida da Cunha Ferraz).!

!OBSERVAÇÕES JURISPRUDENCIAIS!

• Segundo orientação do STF, o art. 60 §§ 1º a 5º da CRFB/88, são se observância obrigatória no âmbito das Constituições Estaduais (ex: quórum de 4/5).!

• STF: emendas redacionais não precisão voltar para análise da primeira Casa quando a segunda Casa fizer alterações redacionais que não mudem o sentido normativo.!

• No controle preventivo judicial de constitucionalidade o STF admite a legitimidade do parlamentar com a finalidade de coibir atos praticados no processo de aprovação de lei ou emenda constitucional incompatíveis com o processo legislativo previsto na Constituição Federal.

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!HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL!

!A DIFÍCIL ARTE DE INTERPRETAR!

A interpretação da Constituição é uma interpretação difícil, Lamego Bulos diz que interpretar a Constituição seria mais ou menos a mesma tarefa que interpretar os órgãos do corpo humano, com todas as suas células, músculos e componentes.!

Já José Afonso da Silva diz que interpretar a Constituição é dialogar com o poder constituinte de hoje, o fundamento da Constituição.!

Flávia Bahia acha que a interpretação da Constituição é mais ou menos parecida com a interpretação dos sentimentos, das emoções.!

!HERMENÊUTICA x INTERPRETAÇÃO!

A hermenêutica é, por natureza, um processo que está em constante processo de modificação, até porque depende da interpretação das normas para existir.!

Hermenêutica e interpretação não são expressões sinônimas, a hermenêutica é a ciência que pretende por meio dos métodos e princípios da interpretação, extrair dos símbolos, artigos, incisos… Extrair a sua interpretação mais próxima à real, que mais aproxima o direito da justiça.!

Então, a hermenêutica é a ciência teórica que tem como uma de suas principais ferramentas os princípios e técnicas da interpretação constitucional, para que possa se aproximar ao ideal da interpretação, ao ideal de justiça.!

!MÉTODOS (ELEMENTOS) CLÁSSICOS - ESCOLA DE SAVIGNY (1840)!

Apesar do contexto altamente contemporâneo, a hermenêutica não começa no séc. XX, XXI, há quem defenda que na escola clássica do direito de Savigny, de 1840, já se falava da hermenêutica, inclusive, com métodos próprios.!

Barroso se insurge contra a expressão método, porque método é o meio que pretende atingir determinado fim e para o autor e muitos outros doutrinadores, não há um fim a ser atingido —, a hermenêutica é sempre um meio, buscando um caminho mais próximo ao ideal.!

a) Literal/Gramatical - o ponto de partida da tarefa do intérprete sempre é a leitura do dispositivo, mas o que muda do séc. XIX para o séc. XXI: antigamente a interpretação literal era o ponto de partida e o ponto de chegada da tarefa do intérprete, não se discutia a razoabilidade, a proporcionalidade, ponderação… E hoje não, hoje o mesmo dispositivo legal poder dar ensejo a múltiplas interpretações (exs: poder inquisitorial da CPI que está na Constituição, mas que não é aceito pelo STF porque hoje se vive em um sistema acusatorial; art. 5º, caput, que diz que só brasileiros e residentes gozam de direitos fundamentais).!

b) Histórico - o Barroso sustenta que a interpretação histórica é muito importante, sobretudo nas Constituições jovens, porque isso faz com que se possa compreender melhor, até a origem

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dos institutos previstos na Constituição, como o habeas data que se relaciona com a ditadura; o MI que se liga à inefetividade da Constituição; vedação à tortura; princípio da dignidade da pessoa humana… Ou seja, há um contexto histórico importante, mas aí o que há exatamente hoje não é bem a ocasio legis, o momento de elaboração das normas constitucionais. É preciso colocar a Constituição em movimento, portanto, a ratio legis, o fundamento constitucional que mantém a Constituição viva hoje, é mais importante que a ocasio legis, por este motivo alguns autores defendem que se faça uma interpretação histórico-evolutiva, uma interpretação que está em constante processo de modificação, envolvida pelos fatos históricos e motivada pela história.!

Assim, é preciso atentar para a história, o fundamento de criação a norma, mas também para seus significados no dia de hoje.!

c) Sistemático - traz à baila a necessidade de interpretar a Constituição como se fosse realmente um grande sistema composto de normas, regras, princípios… E essa interpretação ampla só reforça a importância da Constituição para seus institutos. Por exemplo, a Constituição de 1988 evoluiu como nenhuma outra na defesa do meio-ambiente e como é possível respaldar a afirmativa? O meio-ambiente é defendido por meio da ação popular (art. 5º, LXXIII, CRFB/88), o meio-ambiente também é tutelado pela ação civil pública (art. 129, III, CRFB/88), o meio-ambiente é um dos princípios a nortear a ordem econômica (art. 170, VI, CRFB/88), o meio ambiente é matéria de competência comum (art. 24, VI, CRFB)… !

Esse método sistemático traz a necessidade de análise conjunta dos dispositivos da Constituição para fins de ratificar sua importância e normatividade.!

d) Teleológico - aquele que traz em seu bojo a defesa de que o Direito não é um fim em si mesmo, os meios são essenciais para se atingir as finalidades pretendidas. É como se cada dispositivo da Constituição possuísse uma essência e cabe ao intérprete, muitas vezes, buscar do dispositivo constitucional esse máximo, essa essência, conectar a literalidade do texto com a sua base de fundamentação.!

Percebam, muito antes do STF confirmar que a união homoafetiva era um direito, a justiça eleitoral, em 2004, já havia sedimentado que a união homoafetiva servia para fins de inelegibilidade reflexa —, ou seja, em que pese a Constituição não reconhecesse formalmente os direitos e deveres daquela relação, a interpretação teleológica buscasse além do que no texto estava escrito, buscar a essência da inelegibilidade reflexa que é evitar que pessoas com laços afetivos, emocionais próximos, concorram a cargos eletivos naquele município, naquele estado, se aproveitando dos votos alheios.!

Então, a interpretação teleológica é aquela que vai fundo no dispositivo, que busca, muitas vezes, o seu sentido, a sua essência, não esgotando na literalidade do dispositivo.!

!O PÓS II GUERRA MUNDIAL (1945): A NORMATIVIDADE DOS PRINCÍPIOS (DWORKIN, ALEXY, CANOTILHO, PAULO BONAVIDES)!

Até o final da II GM a teoria dominante do Direito era a teoria positivista, com todos os seus aspectos positivos e também negativos. A teoria positivista entendia que a norma era a regra, a regra é uma norma concreta, descritiva, objetiva, aplicada mediante subsunção —, o fato ocorreu, a regra vai naquele fato incidir.!

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Para os positivistas que adotavam a concepção débil a respeito dos princípios, para alguns autores, os princípios não tinham estrutura própria, eram coadjuvantes das regras e alguns sustentavam que os princípios eram regras com maior generalidade, que serviam até (mesmo que com pouca força) ao valor hermenêutico, mas que não tinham o condão de resolver, por si só, os princípios —, até porque, nesta visão positivista, se negava normatividade aos princípios.!

Ou seja, se buscava extrair da norma toda a sua superficialidade e seu subjetivismo, para trazer uma maior concretude e imperatividade e é claro que esta imperatividade sempre foi muito importante e continua sendo hoje. Mas, o que mudou?!

Até 1945 se confiava na lei, em sua imperatividade, os princípios não eram considerados normas e, apenas, coadjuvantes das regras; só que a II GM trouxe tanta barbárie, tortura, desumanidade, que no processo da restauração da dignidade perdida nos pós-guerra as Constituições e Tratados Internacionais começaram a se aproximar cada vez mais dos princípios: dignidade da pessoa humana, boa-fé, liberdade, igualdade…!

Os princípios tomaram conta do constitucionalismo e do direito internacional no pós-guerra e pouco a pouco as Constituições foram imbuídas por meio de importantes princípios, a Constituição Alemã de 1949, a Constituição Italiana de 1947, a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 —, todos esses instrumentos fundados na dignidade da pessoa humana,!

Na década de sessenta, já percebendo a mudança do ordenamento Dworkin escreve “Levando os Direitos à Sério”, que traz duras críticas positivistas e diz que inegavelmente os princípios assumiram o papel de normas, os princípios não são apenas parte coadjuvante das regras, os princípios possuem uma estrutura própria, são distintos das regras porque possuem uma textura aberta, possuem uma base subjetiva, abstrata, são essenciais porque aproximam o Direito da justiça, da moral, da ética…!

Ou seja, os princípios representam a própria ideologia do constitucionalismo do pós-guerra e daí autores como Bobbio, Canotilho, Paulo Bonavides, Jorge Miranda, Alexy passaram a sustentar a normatividade dos princípios que passaram a atingir o constitucionalismo.!

No Brasil, isso demorou de acontecer, porque a Europa tentou se reerguer das cinzas logo no final da II GM, as Constituições Garantistas logo foram criadas na Itália e Alemanha, depois França, Portugal, Espanha… Mas o Brasil de 1964 a 1985 não conseguiu evoluir nesse sentido.!

Como falar de princípios, normas de valor, durante a ditadura militar? Inviável e daí porque dizer que o Brasil se constitucionalizou quanto aos seus princípios tardiamente porque, afinal de contas, a constitucionalização tardia dos princípios ocorreu apenas em 1988 —, é a nossa primeira Constituição fundada no princípio da Dignidade da Pessoa Humana e claro que, por isso, ela é diferente, porque o princípio se espalha por toda a Constituição e também pelo ordenamento constitucional.!

!OS PRINCÍPIOS DA HERMENÊUTICA CONTEMPORÂNEA!

a) Supremacia da Constituição - não se admite interpretações que estejam em desacordo, desafinadas com a Constituição, esse é o princípio-mor.!

b) Princípio da Unidade Constitucional - a Constituição seria formado por um sistema harmonioso de normas-princípios e normas-regras que não colidem entre si. Traz uma visão

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de equilíbrio, ou seja, compete ao intérprete analisar os princípios de forma equilibrada, não permitindo interpretação que gere antinomia entre normas.!

É como se o princípio da unidade fosse um princípio estático, o intérprete precisa partir de uma Constituição à luz de sua unidade, inclusive, não há hierarquia formal entre os dispositivos da mesma Constituição, estando todos no topo da pirâmide jurídica.!

Diogo de Figueiredo chega a falar de uma hierarquia axiológica, valorativa, porque há direitos essenciais, tal qual o direito à vida, que não pode ser colocado no mesmo patamar que o direito à propriedade, entretanto, em termos formais, não há verdadeira hierarquia entre as normas da Constituição —, então, o olhar é um olhar de unidade.!

c) Princípio da Concordância Prática (Harmonização) - deriva do princípio da unidade, sendo que a unidade é um princípio estático e a concordância prática um princípio dinâmico, porque em muitas ocasiões o intérprete se depara com uma coalizão de princípios.!

A concordância prática evita que em uma situação de direitos que concorrem entre si, impede que o intérprete esvazie o núcleo de um desses direitos, cabendo-lhe otimizar os direitos em conflito, evitando que se esvazie o núcleo de um deles.!

Ou seja, é como se a concordância prática realizasse o princípio da unidade (ex: intimidade x liberdade de imprensa), o que se deve é harmonizar a decisão de modo a adotar aquela que naquele caso concreto deve prevalecer, mas sem desmerecer a normatividade e importância de direito algum.!

d) Princípio do Efeito Integrador (Eficácia Integradora) - reforça a importância da integração político-social, conduzindo à decisões pluralisticamente integradoras. Veja, Lei da Ficha Limpa, o STF deu uma decisão pluralisticamente integradora?!

Claro, quem sabe a democracia se salva com candidatos com a ficha mais limpa e o povo possa viver em um país mais digno, com parlamentares com ficha mais condizente com a importância do cargo que irão assumir.!

O efeito integrador é promover uma interpretação que possa servir para uma grande mudança social, por exemplo. Nem sempre é possível compreender esse princípio completamente, nas decisões intesubjetivas, de processos interindividuais, dificilmente se chegará a esse efeito integrador, mas, quando possível, cabe ao intérprete dar uma decisão com a eficácia integradora, gerando mudanças sociais, políticas e alterando os rumos do país.!

e) Princípio da Justeza (Conformidade Funcional) - esse princípio serve como um grande limite na atividade do intérprete, pois evita que o intérprete sob o argumento de que está realizando uma interpretação, coloque em risco o esquema organizatório e funcional que está previsto no texto.!

Não, nem toda interpretação se justifica —, é como se no próprio texto constitucional, o intérprete encontrasse limites à sua atuação e ele não pode colocar em risco princípios de organização, tais como a federação, separação dos poderes, a forma republicana, o sistema presidencialista… É como se a justeza trouxesse um limite à atividade do intérprete para que ele não coloque em risco todo o sistema organizatório e funcional previsto na Constituição.!

f) Princípio da Máxima Efetividade das Normas Constitucionais - no Direito contemporâneo cabe ao intérprete retirar o máximo de efeitos jurídicos que toda norma da Constituição que

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toda norma da Constituição está plenamente apta a produzir, ou seja, não interessa se a norma é classificada como limitada, de conteúdo programático, não existe na Constituição nenhuma norma desprovida de efeitos jurídicos —, tudo que se encontra na Constituição está plenamente ato a produzir seus efeitos jurídicos máximos e não seus efeitos jurídicos mínimos.!

Esse princípio reivindica que o intérprete retire de cada dispositivo constitucional o máximo que pode oferecer.!

g) Presunção de Constitucionalidade das Leis - esse é um princípio de hermenêutica e controle, o STF no julgamento da ADIN 8158 estabeleceu que as normas constitucionais originárias são presumidas como absolutamente constitucionais.!

As normas constitucionais já nascem produzindo seus efeitos e não podem ser declaradas inconstitucionais. Para o STF, no Brasil, há até normas constitucionais inconstitucionais, mas desde que essas normas constitucionais inconstitucionais sejam derivadas, sejam as emendas constitucionais, porque as normas constitucionais originárias não podem ser declaradas inconstitucionais.!

Nesse sentido, as normas constitucionais derivadas e as normas infraconstitucionais podem ser consideradas inconstitucionais em eventual controle de constitucionalidade, porque nascem produzindo seus efeitos jurídicos, mas podem ser perfeitamente declaradas inconstitucionais e recai sobre elas o princípio da presunção relativa de constitucionalidade.!

h) Princípio da Interpretação Conforme a Constituição - a interpretação conforme à Constituição é um princípio da hermenêutica constitucional, mas também é um técnica de decisão usada, muitas vezes, pelo STF no controle de constitucionalidade.!

É muito comum se encontrar normas que são plurissignificativas, que podem gerar mais de uma interpretação e, quando uma das interpretações da lei tiver alguma incompatibilidade com a Constituição, cabe ao intérprete interpretar aquele dispositivo em conformidade com a Constituição, mantendo a norma em vigor e afastando todas as outras interpretações indesejadas.!

Isso ocorre quando, ao menos, uma das formas de interpretação está em conformidade com o texto constitucional.!

André Ramos Tavares sinaliza que não se deve interpretar à Constituição à luz da lei, mas da lei à luz da Constituição, a qual goza de supremacias normativa —, claro que essa técnica só irá existir se realmente houver possibilidade de interpretação da lei conforme a Constituição, existem normas que não permitem interpretação conforme ou como é que se vai interpretar lei que institui a tortura?!

Se fala de normas plurissignificativas, com o objetivo de manter a lei em vigor.!

i) Princípio da Razoabilidade / Proporcionaldade - esses são princípios não-positivados, em que pese o próprio Gilmar Mendes, Barroso, se referirem aos princípios de forma indistinta, adotando uma fungibilidade entre eles, não se pode dizer que razoabilidade e proporcionalidade são princípios idênticos.!

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Na sua origem, a razoabilidade se finca no direito norte-americano, nascendo no final do século XVIII, nos Estados Unidos, fruto do devido processo legal substantivo, material, que aproxima o direito da justiça.!

A proporcionalidade surgiu nas decisões do Tribunal Constitucional Federal Alemão, do pós-guerra (1945).!

Então, observe que a razoabilidade é um princípio muito mais antigo que a proporcionalidade.!

Razoabilidade - indica uma ideia de harmonia entre meios e fins, adequação entre os meios e as finalidades pretendidas, é oriunda do devido processo legal substantivo dos americanos e influenciou os europeus a construírem o princípio da proporcionalidade.!

Proporcionalidade - Alexy sustenta que está dividida em três subprincípios: a) adequação - adequada é a medida capaz de servir como meio para determinado fim; b) necessidade - necessária é aquela que se comparada com outras tão importantes quanto, restringe em menor escala o direito que está sofrendo aquela restrição; e c) proporcionalidade em sentido estrito - é o valor que mais se aproxima da razoabilidade norte americana, porque a medida pode ser adequada e necessária, mas não precisamente será justa.!

PS! Subprincípios muito aplicados em sede de controle de constitucionalidade para resolver conflitos entre princípios.!

Ex: Lei do Rodízio de carros em SP que foi criada para defender o meio-ambiente, porque a poluição gerada pelos automóveis é absurda e também para viabilizar a mobilidade urbana. Analisando a lei à luz da: a) adequação - ela serve como meio para atingir as finalidades pretendidas, se a lei reduz o número de carros em circulação ela diminuirá a poluição e os engarrafamentos; b) necessidade - comparando a medida com outras possíveis (ex: andar de bicicleta; carona…), é essa a medida que restringe direitos em menor escala; c) proporcionalidade em sentido estrito - a medida é justa.!

A razoabilidade norte americana é um princípio mais aberto, mais abstrato, não é composto por subprincípios, os subprincípios são uma tentativa de organização dos europeus na hora de aplicar o princípio da proporcionalidade.!

Esses dois princípios muitas vezes são aplicados indiretamente e possuem uma relação fungível pelos valores comuns: razoabilidade e proporcionalidade possuem valores comuns —, i) a racionalidade; ii) a medida adequada; iii) bom senso; iv) vedação aos arbítrios; e v) justiça. Tanto a razoabilidade quanto a proporcionalidade defendem, principalmente, o ideal de justiça.!

Nós não temos nem razoabilidade e nem proporcionalidade expressos na CRFB/88, por isso se diz que são princípios não-positivados, mas muitos autores sustentam que se pode retirar esses dois princípios do art. 5º, LIV da Constituição, que traz o devido processo legal e o devido processo legal, segundo posição do próprio STF, foi adotado no Brasil sob o ângulo processual (mais duro) e também sob o aspecto substantivo, material e sob o aspecto material os princípios estão implícitos no art. 5º, LIV, CRFB/88.!

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:!LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;!!

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É claro que os dois princípios, apesar de importantes na seara da hermenêutica, geram críticas porque muitas vezes são aplicados de maneira indistinta e sem qualquer esclarecimento em sua aplicação, inclusive em decisões do STF… Muitas vezes os princípios são jogados nas decisões e não trabalhados dentro do contexto, então, é importante que as decisões continuem a ser fundamentadas, não bastando apenas “jogar" o princípio para justificar a atitude tomada, até porque a razoabilidade pode ser algo para um e outra coisa para outro. !

Então, é preciso sempre fundamentar de forma efetiva, como manda a Constituição no art. 93, IX.!

Art. 93, CF. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:!IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;!!!

A SOCIEDADE ABERTA DOS INTÉRPRETES DA CONSTITUIÇÃO (PETER HÄBERLE)!

A obra é originária da década de setenta, mas foi traduzida em noventa para o português. Veja nosso contexto histórico, a evolução constitucional no que concerne a aplicação de princípios é um produto pós 1945, na década de sessenta Dworkin trabalha com os princípios, dando a sustentação jurídica necessária e na década de setenta Peter Häberle escreve “A Socidade Aberta dos Intérpretes da Constituição”.!

Os três principais pilares da obra são: !

a) A ampliação do círculo de intérpretes da Constituição - a interpretação constitucional não é tarefa exclusiva do Judiciário, é tarefa do legislador, da Administração, do povo e também do Judiciário; !

b) A necessidade de que o processo interpretativo seja público, aberto - pode-se trazer dois destaques da jurisdição constitucional hoje que são o i) amicus curiae (levam o sentimento do povo em julgamento de grande repercussão) e ii) as audiências públicas (ampliam o debate sobre matérias de grande sensibilidade); e !

c) A Constituição deve estar conectada com a realidade - nisso pode-se destacar a própria mutação constitucional, quando o processo reformador não acompanha a necessidade de modificar a Constituição.!

!OS MÉTODOS DA NOVA HERMENÊUTICA !

a) Método Tópico Problemático (Theodor Vehweg) - é aquele por meio do qual o intérprete inicia a analisar o caso do fato apresentado, do conflito levado à apreciação do Judiciário e só em um segundo momento ele irá aplicar a norma para resolver o conflito. Esse método é contrário ao método hermenêutico concretizador.!

b) Método Hermenêutico Concretizador (Hesse e Gadamer) - inicia pela análise da norma e pela visão pré-concebida que se possui a respeito do Direito e só em um segundo momento se analisará o conflito existente.!

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c) Método Científico Espiritual (Rudolf Smend) - não é religioso, mas reconhece que a interpretação é aberta e precisa estar associada com as demandas, influências sociais, culturais e políticas, de modo que o intérprete precisa se abrir para receber todas as influências externas e para que sua interpretação esteja harmoniosa com o que precisa a sociedade.!

d) Método Normativo Estruturante (Friedrich Müler) - aquele que entende que não há identidade entre a lei e a norma que dela se origina, a cada conflito será elaborada uma nova norma. Assim, da integração entre a lei e o fato surge uma norma, a cada interpretação constitucional, a norma seria o produto da interpretação, o ponto de partida que para Müler não é o caso em si ou uma norma, é como se ele trouxesse uma relação simbiótica, uma identidade entre a tarefa de interpretar e aplicar a lei e dessa tarefa de interpretar e aplicar a lei nasceria uma nova norma.!

e) Método de Comparação Constitucional (Peter Häberle) - entende que todos os métodos anteriormente estudados e os princípios, tudo contribui para uma interpretação de qualidade; ou seja, na visão de Häberle, os métodos são importantes, os princípios são importantes e em conjunto eles colaboram para uma interpretação de qualidade. É o somatório dos métodos clássicos e princípios da nova hermenêutica constitucional.

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!CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - TEORIA GERAL DO CONTROLE!

!PRINCÍPIOS NORTEADORES!

Os princípios que norteiam e dão base ao controle de constitucionalidade.!

a) Supremacia da Constituição - princípio mais importante. A superioridade jurídica da Constituição pode ser analisada sob o ângulo material ou formal, porque a Constituição singulariza a maneira mais peculiar de ser o Estado, o caracteriza e protege os direitos e garantias fundamentais.!

Então, tudo que encontra inserido no texto constitucional goza de superioridade, sobremaneira que a Supremacia Constitucional pode ser analisada sob os ângulos: i) material - toda Constituição goza de supremacia material, seja ela rígida, flexível, ampla…; e ii) formal - coloca a Constituição no topo das leis, essa supremacia se relaciona com a rigidez constitucional e com a hierarquia das normas e, por isso, é o subprincípio que mais se relaciona ao Controle.!

Em um país de Constituição rígida é sabido que as normas infraconstitucionais não podem alterar a Constituição, elas retiram fundamento jurídico do texto constitucional e com a rigidez se encontra a hierarquia, de modo que não podem alterar o texto constitucional, na verdade, as normas infraconstitucionais devem regulamentar seus dispositivos, exteriorizar a vontade constitucional.!

O que se diz é: o controle de constitucionalidade está normalmente ligado à países de Constituição rígida, a Estados onde a Constituição é colocada no topo do ordenamento jurídico e é protegida em face das demais normais.!

Clèmerson Merlin Clève, que é um dos grandes autores de Controle, sustenta que não é muito comum se analisar o controle em países de Constituições flexível, porque em países de Constituição flexível não existe a hierarquia formal, o que se tem é a convivência da Constituição com as demais leis vividas no país; dentro de um sistema flexível, as normas em geral podem alterar a Constituição.!

Então, o controle, a fiscalização, é oriundo de países de Constituição rígida em razão da superioridade jurídica que o texto constitucional possui em relação às demais leis.!

Assim, em países de Constituição flexível não há um controle organizado, sistematizado, não se trabalha com o controle, porque os conflitos são resolvidos no direito aplicado e não existe um sistema de fiscalização como é típico das Constituições rígidas.!

b) Rigidez Constitucional - princípio porque influencia a hierarquia e, em consequência, a posição superior que a Constituição ocupa no ordenamento jurídico.!

c) Unidade do Ordenamento Jurídico - se a Constituição caracteriza a maneira mais peculiar de ser do Estado, sendo a norma mais importante do país, se é dela que se retira fundamento de validade para a criação das demais leis, não faz sentido que tenhamos leis contrárias à Constituição porque isso geraria uma insegurança jurídica. Então, a unidade traz a relação de equilíbrio entre normas constitucionais e normas infraconstitucionais.!

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d) Presunção de Constitucionalidade das Leis (ADIN 815) - todas as normas produzidas no país são presumidas constitucionais, há uma presunção de boa-fé que o legislador esteja elaborando um projeto de lei condizente com os ideais da Constituição, então, as normas constitucionais derivadas e as normas infraconstitucionais são presumidas constitucionais, mas essa é uma presunção relativa.!

No julgamento da ADIN 815, o STF destacou que as normas constitucionais originárias não podem ser declaradas inconstitucionais, seja no controle difuso ou concentrado, porque gozam de presunção absoluta de constitucionalidade.!

e) Dignidade da Pessoa Humana - Flávia sempre coloca como princípio para nortear o controle, porque se sabe que boa parte dos direitos e garantias fundamentais se encontram na Constituição Federal, que é protegida pelo signo da Dignidade da Pessoa Humana, que se espalha por seu texto.!

É claro que a DPH é um princípio relacionado ao controle que vai impedir que o poder constituído simplesmente viole os direitos, a Constituição, enfraquecendo os direitos e garantias fundamentais, se a Constituição acumula uma série de direitos e garantias fundamentais, obviamente que a DPH também lastreia o Controle de Constitucionalidade.!

!PARÂMETRO DO CONTROLE!

A Constituição é dividida em três partes: a) preâmbulo; b) corpo fixo (parte dogmática); c) atos e disposições constitucionais transitórias (ADCT).!

a) Preâmbulo (ADIN 2076) - na doutrina a natureza jurídica do preâmbulo é muito controvertida, Clèmerson Merlin Clève sustenta que o preâmbulo é repleto de valores e princípios e que, por isso, gozaria de normatividade.!

Tudo o que diz respeito à visão constitucional precisa da visão do STF, na visão do STF o preâmbulo não é norma constitucional, é desprovido de normatividade, é fonte de interpretação, mas representa um sentimento político e não jurídico e, por isso, não é parâmetro para o Controle de Constitucionalidade.!

Inclusive, não é nem de reprodução obrigatória no âmbito das Constituições Estaduais, que podem escolher se desejam ser apresentadas por meio de um preâmbulo ou não —, essa é uma opção do constituinte estadual.!

b) Parte Dogmática - todas as normas (princípios e regras) do normas do corpo fixo são parâmetros de Controle.!

c) ADCT - todas as normas do normas do ADCT são parâmetros de Controle. O ADCT é formado por normas com eficácia exaurível com o tempo, vieram regular a passagem do ordenamento constitucional anterior com a chegada da nova Constituição.!

Em regra, não há relação hierárquico formal entre as normas do ADCT e as normas do corpo fixo e todas podem servir como parâmetro do Controle de Constitucionalidade, a não ser que as normas do ADCT já tenham exaurido seus efeitos jurídicos, nesse caso, para José Afonso da Silva, são estas normas que servem como declaração histórica e não teriam mais normatividade para servir como parâmetro do controle.!

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!HISTÓRICO!

Parte importante porque o Brasil foi influenciado pelo direito norte-americano e europeu.!

Direito Comparado!

a) Caso Marbury x Madison, 1803 (Controle difuso - EUA) - o art. 6º da Constituição dos EUA diz, em resumo, que todos os atos e leis devem estar em harmonia com a Constituição do país e se isso não acontecer, cabe ao julgador afastar a inconstitucionalidade.!

Em resumo, o art. 6º da Constituição Americana de 1787 já trazia a semente do Controle de Constitucionalidade, mas no séc. XVIII o tema não exatamente julgado dessa forma, até que ocorreu o caso Marbury x Madison, julgado pela Suprema Corte Americana.!

Em resumo, John Adams, então presidente dos EUA, estava no último dia do seu governo e seu partido havia perdido muitos representantes e ele resolveu nomear alguns juízes de paz para manter seu poder, mesmo depois de findo o mandato e entregou a nomeação de William Marbury a John Marshall, seu secretário de Estado e Presidente da Suprema Corte dos Estados Unidos.!

Era o último dia de governo e Marshall não conseguiu formalizar a nomeação e investir os nomeados no cargo, no dia seguinte Thomas Jefferson assume a presidência dos EUA e nomeou como seu secretário de Estado James Madison e disse-lhe para anular todas as nomeações que não haviam sido formalizadas no dia anterior, porque ele mesmo trataria de indicar novos nomes para os cargos de juiz de paz.!

O caso chegou à Suprema Corte Americana e em um dos debates o art. 6º vem à tona e tenta convencer os demais juízes que o teor do dispositivo permite que se afaste a indicação de Madison, fazendo valer a nomeação de Marbury.!

A partir daí todos os juízes de tribunais puderam, na análise de um caso concreto, aplicar ou não aplicar uma lei segundo sua interpretação em defesa da Constituição Federal.!

A expressão difuso significa que pode ser feito por qualquer juiz ou Tribunal. Durante o séc. XIX só existia este controle estadunidense, difuso.!

b) Constituição Austríaca, 1920 (Controle Concentrado) - o séc. XIX foi o século do controle de difuso, até que em 1920 a Constituição Austríaca trouxe um modelo novo de fiscalização,!

Kelsen foi convidado para ser o relator da Constituição da Áustria de 1920 e resolveu também idealizar um sistema de controle de constitucionalidade para realizar a preservação da Constituição, mas para trazer para um país de Civil Law o controle difuso seria desprestigiar a lei, então, Kelsen desenhou um modelo de fiscalização de constitucionalidade que coloca a Constituição no topo do ordenamento, mas que permite, apenas, que um Tribunal possa fiscalizar e esse Tribunal é a Corte Suprema (Constitucional).!

Então, diferente do modelo difuso, onde se permite que juízes e tribunais em geral possam aplicar e deixar de aplicar as leis, no modelo concentrado só há um Tribunal capaz de realizar essa fiscalização.!

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Na Corte Austríaca esse modelo de controle passa para os demais países europeus, é um modelo que se espalha pela Europa e por isso se diz que é um modelo europeu de fiscalização das leis, aquele que não permite que todo juiz e Tribunal realize a fiscalização da norma, mas, apenas, a Corte Constitucional.!

Direito Brasileiro!

Enquanto nos EUA o controle difuso sempre foi o principal, enquanto na Europa o controle concentrado reina, o Brasil resolveu buscar um pouco dos dois sistemas, aqui se adota um sistema misto de fiscalização de constitucionalidade.!

a) Constituição de 1824 - sem previsão de controle de constitucionalidade.!

b) Constituição de 1891 (Constituição Republicana) - trouxe o controle difuso, inspirado no modelo estadunidense. Então, no Brasil, o controle mais antigo é o difuso, o qual está presente desde a primeira Constituição Republicana adotada.!

c) Constituição de 1934 - manteve o controle difuso que surgiu no regime anterior; estabeleceu o papel do Senado Federal; a Reserva de Plenário; e instituiu a primeira ação do controle concentrado de constitucionalidade, a RI Interventiva Federal —, esta nunca foi uma ação importante no controle concentrado e desde 1967 não há caso específico de intervenção federal, mas vale para registrar historicamente. A Constituição de 1934 foi a primeira a implantar uma ação de controle concentrado no Brasil.!

d) Constituição de 1937 (Constituição Polaca) - houve um retrocesso, não cuidou da intervenção do Senado Federal, tampouco da Representação de Inconstitucionalidade Interventiva Federal, mas manteve a reserva de plenário e o controle difuso (art. 96, parágrafo único, CRFB/37)!

Daí a Constituição de 1937 estabeleceu um artigo absurdo, o art. 96, parágrafo único, que dizia que caso o Presidente não concordasse com a decisão de inconstitucionalidade do Tribunal Constitucional, ele poderia pegar aquela lei, levá-la para apreciação do Congresso Nacional e caso este desejasse, essa lei voltaria a produzir seus efeitos jurídicos.!

Percebam, o STF declarava a inconstitucionalidade da lei, o Presidente não gostava e submetia a constitucionalidade da lei ao Congresso Nacional e se este votasse favoravelmente, a lei declarada nula voltaria a produzir seus efeitos.!

e) Constituição de 1946 - com o reencontro da democracia, o texto constitucional de 1946 extinguiu o art. 96 da Constituição anterior; manteve o modelo de controle da Constituição de 1891 (controle difuso) e também recuperou as novidades trazidas pela Constituição de 1934, não previstas na Carta de 1937.!

Observe que o texto da redemocratização recuperou os institutos anteriores e aboliu o art. 96, CF/37, que não fazia o menor sentido.!

f) A Emenda Constitucional de 16/65 - alterou a Constituição de 1946 e implementou a grande ação do controle concentrado de constitucionalidade, a representação de inconstitucionalidade genérica, hoje chamada de ADIN.!

À época, não tinha importância de hoje e só poderia ser proposta pelo Procurador Geral da República, que nunca dava conta de tantas ações para ajuizar.!

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g) Constituição de 1967 - sem mudanças no controle de constitucionalidade.!

h) Emenda Constitucional de 1969 - sem mudanças no controle de constitucionalidade, porque o Brasil estava inserido na Ditadura e o controle não conseguiu prosperar, porque tudo que a ditadura não queria era um controle das próprias leis, então o controle ficou um pouco apagado.!

i) Constituição de 1988 - no processo de redemocratização iniciado em 1985 que, sem dúvidas, com grande apogeu com a promulgação da CRFB/88, trouxe mudanças significativas no controle: i) controle difuso; ii) papel do Senado Federal; iii) princípio da reserva de plenário; iv) ações do controle concentrado - ADIN; ADC (EC 03/93); ADO; ADPF; RI Interventiva Federal, a qual foi mantida.!

!TIPOS!

a) Inconstitucionalidade Material (nomoestática) - o conteúdo da norma deve observar os princípios e regras previstos no texto constitucional. Então, a lei ter passado por todo o processo legislativo constitucional corretamente, mas seu conteúdo ser ruim, por exemplo, institui a tortura ou pena de morte.!

Então, é preciso fazer uma análise completa da lei, verificar se ela tem um bom conteúdo, uma boa apresentação e uma boa forma —, é claro que as leis podem ser declaradas inconstitucionais quando o vício somente formal ou material, mas ainda há leis que violam a Constituição sob o ângulo material e formal, um exemplo já decidido pelo STF é a lei estadual que dispõe acerca da gravidade de estacionamento em shoppings centers (inconstitucional sob o ângulo formal porque regula a propriedade, que é instituto do direito civil e, portanto, de competência da União; e materialmente porque permite que o Estado intervenha demasiadamente na propriedade privada, violando o direito à propriedade, livre iniciativa, autonomia da vontade…)!

b) Inconstitucionalidade Formal (Nomodinâmica) - a inconstitucionalidade é aquela observada no processo legislativo incoerente ou em violação em alguma regra de competência. Pode ser de duas formas: i) subjetiva x objetiva; ou ii) orgânica x propriamente dita - Barroso.!

i) Subjetiva/Objetiva - maior parte da doutrina.!

1) Subjetiva - aquela que se opera quando: a) há um vício de iniciativa na apresentação do projeto de lei (ex: o projeto deveria ser apresentado pelo Presidente, mas o foi por um deputado ou senador), normalmente violando o art. 61 §1º, CRFB/88, que traz as matérias de competência privativa do Presidente da República e se há vício de iniciativa, nem a sanção do chefe do executivo convalida o processo de lei; ou b) competência federativa dos arts. 21 a 25 e 30 da Constituição Federal, muito comum o estado membro legislar sobre matéria reservada à União e etc (ex: lei estadual legislando sobre direito do trabalho)…!

2) Objetiva - vício nos demais atos do processo legislativo, no processo de formação da norma, tal qual o vício: 1) fase de discussão; 2) emendas; 3) votação… Vícios de rito ou procedimento (ex: projeto de lei aprovado pela Casa revisora com alterações substanciais e não remetido à Casa iniciadora para análise).!

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ii) Orgânica/Propriamente Dita - para Barroso.!

1) Orgânica - a inconstitucionalidade formal pode ser orgânica quando o vício for de competência;!

2) Propriamente Dita - quando o vício estiver relacionado a algum ato do processo legislativo propriamente dito.!

Não basta o processo legislativo ser coerente, não basta a observância às regras de competência, é preciso também que o conteúdo da norma seja obedecido, em que pese possa haver uma inconstitucionalidade meramente formal (nomodinâmica).!

c) Inconstitucionalidade Total - é total quando recai sobre toda a norma.!

d) Inconstitucionalidade Parcial - quando recai sobre parte do texto e aqui é preciso atentar para o Princípio da Parcelaridade, que indica que uma lei possa ser declarada inconstitucional em apenas uma palavra ou expressão.!

PS! Isso é diferente do veto do executivo, que não pode recair sobre uma palavra ou expressão, mas aqui se fala de inconstitucionalidade, a qual pode ser declarada em apenas uma palavra ou expressão.!

Quando o vício é material é mais fácil identificar e dividir um inconstitucionalidade total ou parcial, ou seja, pode ser que um artigo ou mais não sejam válidos. Mas será que no vício formal é possível que seja declarada uma inconstitucionalidade parcial? Sim, a inconstitucionalidade formal também pode ser total ou parcial.!

Exemplos de Inconstitucionalidade Formal Parcial: i) projeto de lei oferecido pelo Presidente da República que versa, em parte, sobre matéria reservada a outra autoridade; ii) projeto de lei que sofre alterações substanciais, em parte, pela Casa Revisora e segue para sanção presidencial e não retorna à Casa Iniciadora.!

e) Inconstitucionalidade Originária - de nascimento, é inconstitucional em seu nascedouro.!

f) Inconstitucionalidade Superveniente - causada em razão da superveniência de uma nova Constituição (antes era constitucional e depois, com a nova Constituição, se torna inconstitucional).!

No Brasil o STF não adota a tese da inconstitucionalidade superveniente, para o STF a relação de parametricidade é indispensável, a norma é fiscalizada de acordo com a Constituição que existia a seu tempo, à época de sua elaboração —, a inconstitucionalidade é de nascimento, é na origem. !

Ou seja, a lei tem compromissos formais e materiais com a Constituição que existia à época da sua criação e se ela é válida perante esta Constituição, ela não se torna inválida com a superveniência de um novo texto constitucional.!

Ex: Imagine que o CTN de 1966, que foi pensado à luz da Constituição de 1946, para o STF o CTN só pode ser fiscalizado à luz de sua constitucionalidade, no seu plano de validade, de acordo com a Constituição de 1946.!

Não se permite, no Brasil, que uma norma válida se torne inválida com a superveniência de uma nova Constituição, porque esta Constituição não serviu como parâmetro de construção

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desta norma anterior, mas é claro que em razão da supremacia do novo texto é preciso verificar se a norma está compatível ou não com o novo ordenamento constitucional e para isso se tem o fenômeno de direito intertemporal chamado: recepção / não-recepção.!

i) Recepção - a norma será recepcionada quando estiver em harmonia material com a nova Constituição, quando compatível materialmente com o novo texto constitucional. Note que a recepção não analisa o aspecto formal, ou seja, tempus regit actum, o processo legislativo de elaboração da norma deve ter seguido o que exigia a Constituição antes vigente.!

Uma norma não deixa de ser recebida perante o novo ordenamento constitucional por ser incompatível formalmente com a nova Constituição, ou seja, a recepção é fenômeno de direito material.!

Ex: o próprio CTN que foi feito sob a forma de lei ordinária e não complementar como prevê a CRFB/88 —, então, foi ele recebido com status de lei complementar, o que significa que as alterações futuras que ele viesse a sofrer só poderiam ser feitas por meio de lei complementar.!

ii) Não-Recepção - se uma norma inconstitucional anterior não pode ser declarada inconstitucional, ela não poderá ser objeto de ADIN, o objetivo da ADIN é o de declarar a inconstitucionalidade da lei e se a norma é pré-constitucional, ela não pode ser declarada inconstitucional e, portanto, objeto de ADIN.!

No controle concentrado de inconstitucionalidade a ação que analisa normas pré-constitucionais é a ADPF, a qual permite múltiplos pedidos, na ADPF é possível que se pleiteie que em razão da não-recepção da lei, ela seja revogada e não declarada inconstitucional.!

O Brasil adotada a teoria da revogação —, normas pré-constitucionais incompatíveis materialmente com a nova Constituição serão revogadas e não declaradas inconstitucionais, revogação porque, a revogação ocorre com normas do mesmo patamar jurídico ou em relação a normas de superior patamar de uma lei anterior a ela e a Constituição é a norma de patamar máximo no ordenamento jurídico.!

g) Inconstitucionalidade por Ação - fruto de um ato comissivo do legislador, o qual fez uma lei contrariando a Constituição e o ato comissivo será normalmente atacado por ADIN.!

h) Inconstitucionalidade por Omissão - fruto de ato omissivo do Poder Público, quando há uma falta de lei, ou seja, quando a Constituição determina a existência de um direito a ser regido, regulado por lei específica (ex: art. 37, VII, CRFB/88 - greve servidor público).!

A falta da norma também prejudica a supremacia constitucional, porque a Constituição diz que a lei deve ser elaborada e o legisdor queda-se inerte. O instrumento para tentar suprir esta omissão, em geral, é a ADO.!

!MODALIDADES DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE!

a) Quanto ao Momento!

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i) Preventivo - quando recai sobre o projeto de lei em sentido amplo ou proposta de Emenda Constitucional. Esse controle preventivo que recai sobre o projeto ou a proposta é, em geral, um controle político, afinal de contas são os legisladores que participam do projeto de proposta da lei com a participação dos freios e contrapesos.!

Então, via de regra, o controle que recai sobre a proposta é um controle político (ex: parecer das Comissões de Constituição e Justiça; e o veto formal ou jurídico do Presidente da República).!

Durante o processo legislativo existe uma Comissão que atua nesse sentido, o papel dela é de dar o parecer sobre a compatibilidade ou não do projeto de lei ou da proposta de emenda com o texto constitucional —, o parecer é muito importante, é um parecer que se não derrubado pelo plenário das Casas, deverá ser mantido e como recai sobre o projeto ou a proposta se diz que há uma manifestação de controle preventivo político de constitucionalidade.!

O Presidente da República quando recebe um projeto de lei pode sancioná-lo ou votá-lo e um dos motivos do veto é calcado na inconstitucionalidade do projeto. !

Então, veto em razão de projeto inconstitucional é chamado de veto formal ou jurídico e também manifesta controle preventivo político porque recai sobre o projeto e não sobre a lei.!

PS! Há uma hipótese de controle preventivo judicial concreto de constitucionalidade segundo a jurisprudência do STF: deve ser feito por meio de Mandado de Segurança impetrado por parlamentar no curso de um processo legislativo inconstitucional, que tem o direito líquido e certo de somente participar de processos legislativos constitucionais. !

No informativo 711 do STF, ficou sedimentado que o questionamento durante o processo legislativo inconstitucional suscitado por meio de mandado de segurança poderia recair sobre PEC violadora do texto constitucional sob o ângulo material (art. 60, § 4º, CRFB/88) ou formal.!

Art. 60, CF. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:!§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:!I - a forma federativa de Estado;!II - o voto direto, secreto, universal e periódico;!III - a separação dos Poderes;!IV - os direitos e garantias individuais.!!

Mas se estiver diante de um projeto de lei, o STF entendeu que este somente pode ser analisado sob o ângulo formal e não material.!

Peculiaridades do MS: 1) se o parlamentar, único credenciado a impetrar o mandamus, e no curso do MS perder ou renunciar ao cargo, este será extinto sem exame de mérito; 2) se no curso do MS a proposta de emenda for aprovada, se o processo legislativo acabar, mais uma vez se terá extinção sem julgamento do mérito porque não cabe MS contra lei em tese, o que é vedado pela súmula 266, STF.!

S. 266, STF. Não cabe mandado de segurança contra lei em tese.!

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ii) Repressivo - quando recai sobre a lei e a Emenda Constitucional, sendo normalmente judicial. O controle judicial se divide em duas espécies: 1) difuso; 2) concentrado.!

O controle repressivo existe, segundo o STF, a partir da promulgação da norma (ato que confirma a validade da norma e certifica sua existência) ou de sua publicação.!

PS! Há controle repressivo político, hipóteses:!

1) art. 62 §§ 5º, 9º, CRFB/88 - a MP editada pelo Presidente da República é submetida logo após sua criação a uma Comissão Mista de deputados e senadores que deverá dar um parecer sobre a compatibilidade ou não dessa MP sobre a Constituição e o parecer dos deputados e senadores é um exemplo de controle preventivo político de constitucionalidade; !

Art. 62, CF. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.!§ 5º A deliberação de cada uma das Casas do Congresso Nacional sobre o mérito das medidas provisórias dependerá de juízo prévio sobre o atendimento de seus pressupostos constitucionais.!§ 9º Caberá à comissão mista de Deputados e Senadores examinar as medidas provisórias e sobre elas emitir parecer, antes de serem apreciadas, em sessão separada, pelo plenário de cada uma das Casas do Congresso Nacional.!!

2) art. 49, V, CRFB/88 - a lei delegada não é espécie normativa mais popular no Brasil, mas está prevista na Constituição, o Presidente pode solicitar ao Congresso Nacional delegação legislativa para que possa editar uma lei delegada (art. 68, CRFB/88) e quando o Congresso o autoriza a criar uma lei delegada, ele estabelece os limites desta delegação e se o Presidente da República se exceder nos limites desta delegação, o próprio Congresso que o autorizou a legislar pode editar um decreto legislativo (art. 49, V, CRFB/88) para sustar com efeitos ex nunc a lei delegada, no todo ou em parte. !

Art. 49, CF. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:!V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa;!!Art. 68, CF. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional.!§ 1º - Não serão objeto de delegação os atos de competência exclusiva do Congresso Nacional, os de competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria reservada à lei complementar, nem a legislação sobre:!I - organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros;!II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais;!III - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos.!§ 2º - A delegação ao Presidente da República terá a forma de resolução do Congresso Nacional, que especificará seu conteúdo e os termos de seu exercício.!§ 3º - Se a resolução determinar a apreciação do projeto pelo Congresso Nacional, este a fará em votação única, vedada qualquer emenda.!!

3) Súmulas 473 e 347, STF - a súmula 473, STF traz consigo a autotutela da Administração Pública que pode revogar os atos válidos por conveniência e oportunidade ou anulá-los por ilegalidade, esse poder de autotutela da Administração Pública é, para muitos autores, compreendido como uma manifestação de controle repressivo, possibilidade do Executivo rever seus próprios atos, salvaguardando o ordenamento jurídico.!

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S. 473, STF.  A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.!!

A súmula 347, STF tem sido criticada por muitos Ministros do STF porque permite que o TCU possam realizar controle de constitucionalidade na análise de contas do seu parecer, ou seja, o TCU pode, eventualmente, rejeitar as contas com base em lei inconstitucional —, a súmula é criticada porque antiga e à época de sua edição não havia nenhuma ação do controle de constitucionalidade concentrado.!

S. 347, STF. O Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do poder público.!!

4) ADIN 226 (Medida cautelar) - a ADIN 226 a possibilidade de que o chefe do executivo (presidente, governador e prefeito) torne inaplicável uma lei que tende a ser inconstitucional no âmbito da Administração Público, sob o seu comando, ainda que por sua conta e risco —, isso porque o art. 85, VII, CRFB/88 deixa claro que um dos crimes de responsabilidade é o de deixar de cumprir uma lei.!

Art. 85, CF. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra: VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais. !

Essa é uma hipótese criticada porque Presidente e Governador podem ajuizar ADIN.!

b) Quanto ao Órgão Judicial!

i) Concentrado (Reservado, Concentrado ou Fechado) - um tribunal, considerado a Corte Constitucional do país pode realizar a fiscalização. No Brasil, no plano federal, compete apenas ao STF realizar fiscalização concentrada das leis.!

É importante lembrar que existe controle concentrado nos estados e o controle concentrado estadual é feito pelo Tribunal de Justiça e não pelo STF.!

ii) Difuso (Aberto) - controle feito por qualquer juiz ou tribunal, respeitando a regra de reserva de plenário.!

No controle difuso, por ser um controle do dia a dia, a sentença é realizada em três partes, relatório, fundamentos (onde se determina a aplicação ou não aplicação do direito por entendê-la inconstitucional) e dispositivo —, o controle difuso mora na fundamentação da sentença, todo juiz ou tribunal pode aplicar ou deixar de aplicar uma lei que entenda inconstitucional.!

No caso concreto, quem pode provocar a manifestação de um juiz sobre a inconstitucionalidade de uma lei? Qualquer das partes, o MP (custos legis) ou, ainda, o próprio juiz no caso concreto.!

!! Ex: MP que bloqueava dinheiro da poupança.!

• Será que as ações populares, ações civis públicas, ações da tutela coletiva, que não operam efeitos subjetivos completamente inter parts, porque são ações de repercussão

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mais ampla, será que essas duas ações servem como instrumentos controle incidental de constitucionalidade? A posição majoritária da doutrina e jurisprudência hoje é de que essas ações servem como instrumento de fiscalização difusa, agora, claro que não se pode ajuizar ação popular e ação civil pública contra lei em tese; mas discutir incidentemente a qualidade das normas pode, sim, ser feito.!

c) Quanto à Forma!

i) Via Principal (Via de Ação ou Via Direta) - quando o controle é o próprio pedido, é o mérito. Em geral, o controle concentrado é realizado pela via principal.!

ii) Via Incidental (Via de Exceção ou de Defesa) - quando não é pedido, é inserido na causa de pedir, questão prejudicial ao mérito. Normalmente, relaciona-se ao controle difuso.!

!PRINCÍPIO DA RESERVA DE PLENÁRIO!

O Princípio da Reserva de Plenário que se aplica aos Tribunais que praticam controle de constitucionalidade, seja ele difuso ou concentrado, tem origem no Brasil em 1934, com o objetivo de proteger o Princípio da Presunção de Constitucionalidade das Leis.!

Estando em um Tribunal, não faz sentido que apenas um Desembargador ou Ministro desse órgão decida pela inconstitucionalidade da lei, é preciso que a decisão seja respaldada pela maioria dos membros daquele Tribunal, daquele órgão.!

a) Art. 97, CRFB/88 - o art. 97, CRFB/88 diz que somente pelo voto da maioria absoluta dos membros do Tribunal (pleno - composição completa do Tribunal) ou pelo respectivo Órgão Especial uma lei pode ser declarada inconstitucional.!

Art. 97, CF. Até que seja editada a lei complementar de que trata o § 15 do art. 100 da Constituição Federal, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios que, na data de publicação desta Emenda Constitucional, estejam em mora na quitação de precatórios vencidos, relativos às suas administrações direta e indireta, inclusive os emitidos durante o período de vigência do regime especial instituído por este artigo, farão esses pagamentos de acordo com as normas a seguir estabelecidas, sendo inaplicável o disposto no art. 100 desta Constituição Federal, exceto em seus §§ 2º, 3º, 9º, 10, 11, 12, 13 e 14, e sem prejuízo dos acordos de juízos conciliatórios já formalizados na data de promulgação desta Emenda Constitucional.!

Os Tribunais com mais de 25 julgadores, na forma do art. 93, XI, CRFB/88, normalmente criam um órgão especial que atuará em boa parte das competências do pleno para facilitar, agilizar os julgamentos.!

Art. 93, CF. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:!XI nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgadores, poderá ser constituído órgão especial, com o mínimo de onze e o máximo de vinte e cinco membros, para o exercício das atribuições administrativas e jurisdicionais delegadas da competência do tribunal pleno, provendo-se metade das vagas por antigüidade e a outra metade por eleição pelo tribunal pleno; !!

Além do pleno, do órgão especial, os Tribunais também se dividem em órgãos fracionários, como, por exemplo, as turmas, sessões, câmaras… Mas, os órgãos fracionados não representam a vontade do pleno e, tampouco, a vontade do órgão especial.!

O princípio da Reserva de Plenário se aplica tanto ao controle difuso quanto ao concentrado, toda vez que o Tribunal for instado a decidir sobre a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de uma lei, o art. 97, CRFB/88 deve ser aplicado.!

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Se a decisão pela inconstitucionalidade de uma lei em um Tribunal precisa partir da maioria absoluta, ou seja, da maioria da totalidade dos membros do próprio Tribunal ou do seu órgão especial, os órgãos fracionários, em princípio, não podem declarar a inconstitucionalidade das normas ou deixar de aplicar as leis por serem inconstitucionais.!

Quando os órgãos fracionários, em sede de apelação, por exemplo, verificam uma inconstitucionalidade, eles não podem, de plano, decidir, ele precisa promover uma cisão funcional, horizontal de competência, remetendo a análise da inconstitucionalidade da norma ao pleno ou ao órgão especial. Essa é a regra.!

Informações adicionais - quando não é necessária remessa ao pleno ou órgão especial:!

• Turmas Recursais de Juizados Especiais: às Turmas Recursais de Juizados não se aplica o art. 97, CRFB/88, que se refere, apenas, a Tribunal. Turma Recursal é órgão colegiado que não tem status de Tribunal, até porque formada por juízes de primeiro grau.!

• Não se aplica o art. 97, CRFB/88 quando se estiver diante uma não recepção da norma ou do ato normativo secundário - imagine que no controle difuso o órgão fracionário entenda que uma lei de 1950 não é compatível com a CFRB/88, nesse caso, o órgão fracionário não precisa remeter o julgamento ao pleno, visto que não há juízo de constitucionalidade ou inconstitucionalidade aqui.!

• Ilegalidade. É comum que os órgãos no controle difuso entendam que uma norma é ilegal, contrária à lei, para afirmar a ilegalidade, também, não há necessidade de seguir os mandamentos do art. 97, CRFB/88.!

• Se o juízo é monocrático, ou seja, de primeiro grau, a Reserva de plenário também não se aplica, porque o julgador examinará a questão sozinho.!

b) Arts. 480 a 482, CPC - em regra, os órgãos fracionários não podem declarar a inconstitucionalidade da lei, mas excepcionalmente isso pode existir em virtude da norma do art. 481, parágrafo único, do CPC.!

Art. 480, CPC. Argüida a inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo do poder público, o relator, ouvido o Ministério Público, submeterá a questão à turma ou câmara, a que tocar o conhecimento do processo.!!Art. 481, CPC. Se a alegação for rejeitada, prosseguirá o julgamento; se for acolhida, será lavrado o acórdão, a fim de ser submetida a questão ao tribunal pleno.!Parágrafo único. Os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao plenário, ou ao órgão especial, a argüição de inconstitucionalidade, quando já houver pronunciamento destes ou do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a questão. !!Art. 482, CPC. Remetida a cópia do acórdão a todos os juízes, o presidente do tribunal designará a sessão de julgamento.!§ 1o O Ministério Público e as pessoas ’urídicas de direito público responsáveis pela edição do ato questionado, se assim o requererem, poderão manifestar-se no incidente de inconstitucionalidade, observados os prazos e condições fixados no Regimento Interno do Tribunal. !§ 2o Os titulares do direito de propositura referidos no art. 103 da Constituição poderão manifestar-se, por escrito, sobre a questão constitucional objeto de apreciação pelo órgão especial ou pelo Pleno do Tribunal, no prazo fixado em Regimento, sendo-lhes assegurado o direito de apresentar memoriais ou de pedir a juntada de documentos. !§ 3o O relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, poderá admitir, por despacho irrecorrível, a manifestação de outros órgãos ou entidades.!!

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Os órgãos fracionários podem declarar a inconstitucionalidade de uma lei ou deixar de aplicá-la quando inconstitucional quando houver precedente sobre a inconstitucionalidade da lei do próprio Tribunal, ou do STF.!

Está é, então, uma exceção ao Princípio da Reserva de Plenário.!

Por outro lado, cumpre destacar que o órgão fracionário não precisa respeitar o Princípio da Reserva de Plenário quando a lei for constitucional, ora, se a lei é constitucional, o órgão fracionário não precisa remeter à análise de constitucionalidade da norma ao Tribunal ou ao órgão especial —, a Reserva de Plenário é para declarar a inconstitucionalidade da norma.!

c) Súmula Vinculante nº 10 - para reforçar o Princípio da Reserva de Plenário, o STF editou a súmula vinculante 10, que diz que viola a Reserva de Plenário a decisão do órgão fracionário que embora não declare a inconstitucionalidade da lei, deixe de aplicá-la no todo ou em parte.!

SV 10. Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, afasta sua incidência, no todo ou em parte.!!

Para evitar qualquer boicote ao art. 97, CRFB/88, a súmula diz que, se se deixou de aplicar a lei sem submeter ao pleno ou ao órgão especial, ou declarou a inconstitucionalidade da norma sem submeter ao pleno ou ao órgão especial, a não ser na hipótese de exceção do art. 481, parágrafo único, CPC, há uma violação à Constituição.!

Então, os órgãos fracionários não podem declarar a inconstitucionalidade da lei ou deixar de aplicá-la sem seguir o que ordena o art. 97, CRFB/88.!

!QUADRO COMPARATIVO DO SISTEMA DIFUSO E CONCENTRADO!

São controles distintos com características próprias e o Brasil adota ambos.!

!PAPEL DO SENADO FEDERAL!

Foi dito que, em regra, as decisões do controle difuso geram efeitos subjetivos inter partes, o juiz ou tribunal afasta a aplicação da lei para aquela situação concreta, seja em uma ação de conhecimento, seja em um processo cautelar, seja em grau de recurso… Os efeitos de uma decisão no controle difuso que afasta a inconstitucionalidade de uma lei, são efeitos inter partes.!

CARACTERÍSTICAS CONTROLE DIFUSO CONTROLE CONCENTRADO

Apreciação In concreto Abstrato (lei em tese)

Quem pode analisar Qualquer juiz ou tribunal Federal: STF ; Estadual: TJ

Provocação Qualquer pessoa (autor, réu, MP, juiz ou tribunal de ofício)

Art. 103, I a IX, CRFB/88

Forma de realização da fiscalização

Via Incidental (exceção ou defesa)

Via direta (principal): ADIN, ADC, ADO, ADPF

Efeitos subjetivos Em regra, inter partes Erga omnes

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Mas desde 1934 o papel do Senado Federal está presente no país para dar efeitos erga omnes às decisões do STF que no controle difuso afastem constitucionalidade de uma lei e declarem a inconstitucionalidade de uma norma.!

Como funciona? O STF decide em um habeas corpus, em um mandado de segurança, em um habeas data, em uma ação civil originária, em uma ação penal originária, em recurso ordinário ou extraordinário… Tanto faz! O STF decide incidentalmente que a lei é inconstitucional e o Regimento Interno da Corte, em seu art. 178, determina que o STF encaminhe esta decisão para o Senado Federal que, quando recebe a decisão pela inconstitucionalidade da lei, que pode entender por editar uma resolução suspendendo a norma declarada inconstitucional pelo STF no controle difuso para toda a sociedade.!

Art. 178, RI - STF. Declarada, incidentalmente, a inconstitucionalidade, na forma prevista nos arts. 176 e 177, far-se-á comunicação, logo após a decisão, à autoridade ou órgão interessado, bem como, depois do trânsito em julgado, ao Senado Federal, para os efeitos do art. 42, VII2, da Constituição.!

Ou seja, o Senado poderá, caso edite a resolução, suspender a norma dando à decisão do STF efeitos erga omnes.!

A situação, portanto, é a seguinte: quando o STF no controle difuso declara a inconstitucionalidade de uma lei, de acordo com o art. 178 de seu Regimento Interno, deverá comunicar ao Senado Federal e se este quiser poderá, discricionariamente, editar uma resolução na forma do art. 52, X, CRFB/88.!

Art. 52, CF. Compete privativamente ao Senado Federal:!X - suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal;!!

Esclarecendo: o papel do Senado do art. 52, X, CRFB/88 somente se aplica ao controle difuso de constitucionalidade, porque no controle concentrado todas as decisões do STF que declaram a inconstitucionalidade das leis já geral, naturalmente, efeitos erga omnes e vinculantes.!

É preciso atentar que o Senado possui discricionariedade, o Senado não é obrigado a editar a Resolução conforme o art. 52, X, CRFB/88, agora, uma vez editada essa resolução, ele não pode revogá-la, porque isso traria danos para a segurança jurídica.!

Distrinchando o art. 52, X, CRFB/88 se percebe que o Senado pode suspender a execução da lei no todo ou em parte, mas essa decisão do “todo ou em parte", segundo a doutrina majoritária, cabe ao STF —, a discricionariedade não está nas mãos do Senado aqui.!

Ex: se o STF considerou uma lei totalmente inconstitucional, não cabe ao Senado afastar sua incidência, se quiser, apenas em parte e vice versa.!

Então, a discricionariedade consiste em avaliar se há necessidade de editar uma resolução, qual o melhor momento de fazê-lo, mas não com relação ao objeto, que é de responsabilidade do STF.!

No art. 52, X, CRFB/88 ainda se encontra a expressão “lei declarada inconstitucional”, que se refere à qualquer lei ou ato normativo federal, estadual, distrital ou municipal —, então, a atuação do Senado não se limita ao âmbito federal.!

!TENDÊNCIA DE ABSTRATIZAÇÃO DO CONTROLE DIFUSO (ABSTRATIVIZAÇÃO, OBJETIVAÇÃO, OBJETIVIZAÇÃO)!

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O STF pode no controle difuso simplesmente afastar uma norma pré-constitucional por entender que é incompatível materialmente com a Constituição e pode também fazer, eventualmente, o juízo de legalidade de alguma norma infraconstitucional —, e daí fica a pergunta: em caso de não-recepção ou do juízo de ilegalidade de uma norma o STF encaminhará a decisão ao Senado Federal para suspender o ato normativo? Não. A Constituição é clara ao afirmar que o Senado pode suspender no todo ou em parte lei declarada inconstitucional, norma pré-constitucional não é declarada inconstitucional, assim como não o é norma infralegal.!

Ou seja, os efeitos erga omnes dependem do Senado, vez que o STF por si só não pode gerar nas suas decisões do controle difuso, quer dizer, não pode gerar, mas há uma tendência de abstratização do controle difuso.!

O controle difuso é o controle concreto, o controle do dia-a-dia, o controle realizado nos conflitos subjetivos apresentados à análise do Judiciário, seja perante os órgãos de primeiro grau ou os Tribunais, o controle concentrado é que via de regra abstrato e gera, normalmente, decisões com efeitos vinculantes e erga omnes, porque o ataque ali é feito em face da lei em tese e não da norma em face de uma relação jurídica controvertida —, daí que abstratizar o controle difuso significa trazer ao controle difuso as características do controle abstrato.!

Observe, foi impetrado um habeas corpus no estado de São Paulo, o HC 82959/SP, nesse remédio constitucional se discutiu incidentalmente a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei de Crimes Hediondos (Lei 8.072/90), que vedava a progressão de regime.!

O STF em uma decisão muito apertada, 6x5, declarou a inconstitucionalidade incidental da disposição por entender que o dispositivo violava a Constituição —, a decisão normalmente produziria efeitos apenas inter partes, ou seja, a lei foi afastada para aquela situação concreta e continuou a produzir efeitos jurídicos nas outros relações, até porque durante anos o STF se policiou favoravelmente à constitucionalidade desse dispositivo.!

Todavia, o Defensor Geral da União no Acre tentou obter um habeas corpus, RC 4335 do informativo 463, STF, se utilizando da base da decisão do STF no HC 82959/SP, dizendo que era preciso que o juiz afastasse naquela situação a aplicação do art. 2º da Lei de Crimes Hediondos (Lei 8.072/90), porque o STF já tinha adotado aquele posicionamento em uma de suas decisões.!

O juiz negou o pedido feito ao argumento de que a decisão do STF não gera efeitos erga omnes, o Senado Federal não editou decreto considerando a norma inconstitucional e, por fim, porque não havia nenhum empecilho jurídico para afastar a aplicação da lei.!

O que a defensoria fez foi ingressar com uma reclamação constitucional porque o juiz da Vara de Execuções Penais do Acre estaria violando a decisão do HC 82959/SP —, ainda não há decisão final dessa RC, mas, o que chamou atenção foram os votos de Eros Grau e Gilmar Mendes, que sustentaram que de acordo com a atual jurisdição constitucional, o STF deveria dar decisões no controle concentrado e difuso gerando efeitos subjetivos erga omnes. !

Ou seja, de acordo com a atual jurisdição, como muitos casos complexos acabam chegando à jurisdição constitucional, em um sentido de economia processual e celeridade, o STF deveria dar decisões, também no controle difuso, sem precisar da atuação do Senado Federal para que aquela gerasse efeitos erga omnes.!

E aí no corpo do julgado se destaca que o Senado Federal não tem acompanhado a rapidez com que o STF normalmente decide, pela inconstitucionalidade das leis, o Senado não tem editado

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muitas resoluções e etc… Então, esse papel do Senado Federal teria se tornado obsoleto, anacrônico e que o Senado deveria servir, apenas, para dar uma mera publicidade às decisões da Corte que não precisariam da sua atuação para produzir efeitos erga omnes. !

Então, por que a tendência? Porque, caso se concretize, o papel do STF no controle difuso se tornará muito próximo ao papel da Corte no controle concentrado e a tendência é de que o controle difuso deixe, aos poucos, de existir e aí a sociedade vai ficar nas mãos da interpretação constitucional de onze ministros, sempre.!

Há doutrinadores como Barroso que dizem que o papel do Senado se tornou anacrônico; outros, por outro lado, a exemplo de Flávia Bahia, estão preocupados com a tendência ativista do STF em concentrar a interpretação constitucional completa em suas mãos e isso iria um pouco de encontro ao Princípio da Separação dos Poderes.!

Em resumo, a abstratização do controle difuso não é uma realidade, mas uma tendência defendida por alguns Ministros do STF que entendem que todas as decisões da Corte Suprema, diante da atual jurisdição constitucional, seja no controle concentrado ou difuso, gerariam efeitos erga omnes, dispensando a atuação do Senado Federal.!

Segundo o Ministro Eros Grau, inclusive, o art. 52, X, CRFB/88, estaria passando por um processo de mutação constitucional.

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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE!!Art. 102, CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:!I - processar e julgar, originariamente:!a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de

constitucionalidade de lei ou ato normativo federal;!!A ADIN é a rainha das ações do controle concentrado, já foram ajuizadas inúmeras ADINs e reunindo-a com as demais, não dá nem a metade de ações propostas —, talvez, infelizmente, porque a qualidade das leis esteja aquém do que determina a Constituição.!

!HISTÓRICO!

A ADIN surgiu pela EC 16/65, não com a denominação atual de “Ação Declaratória de Inconstitucionaldade”, mas como Representação de Inconstitucionalidade (RI) e quando criada a legitimidade ativa para sua apresentação era muito reduzida, vez que somente o Procurador Geral da República podia fazer uso da RI e o Procurador Geral da República, à época, não tinha a mesma independência funcional de hoje e também não fazia uso de muitas representações de inconstitucionalidade.!

Em 1988 a RI genérica passou a se chamar ADIN (Ação Direita de Inconstitucionalidade) e seu rol de legitimados foi substancialmente ampliado.!

!BASE LEGAL (Arts. 102, I, a, CRFB/88; Art. 102, §2º e Lei nº 9868/99)!

Art. 102, CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:!I - processar e julgar, originariamente:!a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal;!§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.!!

A base legal da ADIN na Constituição é o art. 102, I, a; além dele tem-se o art. 102, §2º, também da CRFB/88, que trata dos efeitos vinculantes, erga omnes das decisões de mérito e a Lei 9.868/99. !

!FINALIDADE!

O objetivo é de declarar a inconstitucionalidade da lei, porque ela viola a Constituição sob o ângulo material ou formal ou porque inconstitucional parcial ou totalmente.!

!LEGITIMIDADE ATIVA (Art. 103, I a IX CRFB/88)!

Art. 103, CF. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: !I - o Presidente da República;!II - a Mesa do Senado Federal;!III - a Mesa da Câmara dos Deputados;!IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;!

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V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; !VI - o Procurador-Geral da República;!VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;!VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;!IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.!!

Vale para todas as ações do controle abstrato federal (ADIN, ADC, ADO, ADPF). !

a) Especial (Art. 103, IV, V e IX, CRFB/88) - precisam comprovar a pertinência temática, a relação de congruência, de harmonia que deve existir entre o objeto da ação e o interesse do grupo, da classe, da categoria.!

Art. 103, CF. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: !IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;!V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; !IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.!!

Até 1988 a única autoridade a ingressar com RI era o Procurador Geral da República, em 1988 esse rol se agigantou e nós temos vários incisos que permitem que uma série de outros legitimados possam fazer uso da ação.!

Mas aí, logo na década de noventa o STF se surpreendeu com tantas ADINS já propostas e daí resolveu trazer um instituto típico de processo subjetivo para o processo objetivo formado pela ADIN: o STF passou a exigir de certos legitimados ativos a pertinência temática, a relação de harmonia que o autor da ação deve provar com o interesse do grupo, do estado, da categoria, dos associados… E a pertinência temática passou a ser exigida dos legitimados dos incisos IV, V e IX —, ou seja, das i) Mesas de Assembleia Legislativa dos estados ou Câmara do Distrito Federal; i) do Governador dos estados ou Distrito Federal; e iii) da confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.!

b) Universal (Art. 103, I a III e VI e VIII, CRFB/88) - interessados remanescentes, os quais não precisam comprovar a pertinência temática para que suas ações sejam apresentadas perante o STF.!

Art. 103, CF. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: !I - o Presidente da República;!II - a Mesa do Senado Federal;!III - a Mesa da Câmara dos Deputados;!VI - o Procurador-Geral da República;!VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;!VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;!!

São eles: i) Presidente da República; ii) mesa do Senado Federal; iii) mesa da Câmara dos Deputados; iv) Procurador Geral da República; v) Conselho Federal da OAB; e vi) partido político com representação no Congresso Nacional.!

!JURISPRUDÊNCIA SOBRE LEGITIMIDADE!

a) Pertinência Temática - a pertinência temática, quando necessária, funciona como condição de legitimidade ad causam da ação.!

"o requisito da pertinência temática – que se traduz na relação de congruência que necessariamente deve existir entre os objetivos estatutários ou as finalidades institucionais da entidade autora e o conteúdo material da norma questionada em sede de controle abstrato – foi erigido à condição de pressuposto qualificador da própria legitimidade ativa ad causam para efeito de instauração do processo objetivo de fiscalização concentrada de constitucionalidade." (ADI 1.157-MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 1º-12-1994, Plenário, DJ de 17-11-2006.)!

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Processo objetivo é aquele cujos contornos ainda estão sendo definidos, mas já tem algumas características importantes: i) objetivo de defender a Supremacia da Constituição e não interesses específicos; ii) o rol de legitimados ativos é um rol taxativo; iii) não se admite desistência em nenhuma das ações do controle concentrado abstrato, porque cuidam do interesse público e defesa da Constituição; iv) não se admite a intervenção de terceiros (tecnicamente amicus curiae não é terceiro); v) todas as decisões do STF geram efeitos erga omnes (porque não há partes, não há lide) e vinculantes (servem para uniformizar o entendimento da matéria em relação à Administração Pública).!

Então, o STF já decidiu que a pertinência temática é um pressuposto qualificador da própria legitimidade ativa, funcionando como legitimidade ativa ad causam.!

b) Partido Político (art. 103, VIII, CRFB/88) - primeiro, para que o partido político possa ser autor das ações diretas, ele precisa ter representação no Congresso Nacional, em pelo menos uma das Casas.!

A posição do STF em relação à representação no Congresso Nacional quando o único representante é caçado, morre ou renuncia é de que a perda superveniente da da representação do partido não gera a extinção do feito sem decisão de mérito, porque o momento de averiguação sobre a existência de legitimidade ou não é quando da propositura da ação.!

"o partido político. Legitimidade ativa. Aferição no momento da sua propositura. Perda superveniente de representação parlamentar. Não desqualificação para permanecer no pólo ativo da relação processual. Objetividade e indisponibilidade da ação." (ADI 2.618-AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 12-8- 2004, Plenário, DJ de 31-3-2006.).!

Ademais, o partido político é legitimado ativo universal, por força, também, do art. 17, da CRFB/88 —, o partido político é essencial para o exercício da democracia brasileira, o Ministro Celso de Mello, em algumas oportunidades, já disse que o partido exerce o monopólio das candidaturas, porque, afinal de contas, não existe candidatura sem filiação partidária.!

"Partido político – Ação direta – Legitimidade ativa – Inexigibilidade do vínculo de pertinência temática. Os partidos políticos, desde que possuam representação no Congresso Nacional, podem, em sede de controle abstrato, arguir, perante o STF, a inconstitucionalidade de atos normativos federais, estaduais ou distritais, independentemente de seu conteúdo material, eis que não incide sobre as agremiações partidárias a restrição jurisprudencial derivada do vínculo de pertinência temática.” (ADI 1.407-MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 7-3-1996, Plenário, DJ de 24- 11-2000.!

Art. 17, CF. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos:!I - caráter nacional;!II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes;!III - prestação de contas à Justiça Eleitoral;!IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei.!§ 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna, organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária. !§ 2º - Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral.!§ 3º - Os partidos políticos têm direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei.!§ 4º - É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar.!!!

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Então, diante desse papel de destaque que recebe o partido político com a Constituição de 1988, é possível alinhar a legitimidade ativa universal, ou seja, sem necessidade de comprovar pertinência temática, ao art. 17, CRFB/88, que inclusive está inserido no Título II, que versa sobre os "Direitos e Garantias Fundamentais”.!

Além disso, o partido político só pode ajuizar as ações diretas perante o STF por meio do seu Diretório Nacional, não sendo permitido o ingresso por meio do Diretório Regional, por exemplo.!

"a representação partidária perante o STF, nas ações diretas, constitui prerrogativa jurídico-processual do Diretório Nacional do Partido Político, que é – ressalvada deliberação em contrário dos estatutos partidários – o órgão de direção e de ação dessas entidades no plano nacional." (ADI 779-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 8-10-1992, Plenário, DJ de 11-3-1994.!

c) Confederação Sindical e Entidade de Classe de Âmbito Nacional (art. 103, IX, CRFB/88) - entidade de classe é aquela que representa os interesses de determinada categoria profissional ou econômica.!

"ação direta de inconstitucionalidade: legitimação ativa: entidade de classe de âmbito nacional‟: compreensão da associação de associações‟ de classe: revisão da jurisprudência do Supremo Tribunal. O conceito de entidade de classe é dado pelo objetivo institucional classista, pouco importando que a eles diretamente se filiem os membros da respectiva categoria social ou agremiações que os congreguem, com a mesma finalidade, em âmbito territorial mais restrito. (…)!

Um destaque: a entidade é considerada de âmbito nacional, segundo o STF que tem aplicado por analogia o art. 8º da Lei 9096/95 (Lei dos Partidos Políticos), quando possui o acompanhamento de, pelo menos, nove estados brasileiros.!

Art. 8º, L. 9096/95. O requerimento do registro de partido político, dirigido ao cartório competente do Registro Civil das Pessoas Jurídicas, da Capital Federal, deve ser subscrito pelos seus fundadores, em número nunca inferior a cento e um, com domicílio eleitoral em, no mínimo, um terço dos Estados, e será acompanhado de:!

Outro aspecto é que os interesses pela entidade defendidos devem ser interesses homogêneos, ou seja, de determinada classe, categoria, seja profissional ou econômica (ex: Associação Nacional dos Membros do Ministério Público), ou seja, os interesses devem ser homogêneos.!

Durante um tempo o STF entendia que as associações de associações, também chamadas de associações de segundo grau (associações regionais), não poderiam ajuizar as ações diretas, mas já há posicionamento revendo tal decisão, desde que os interesses das associações nacionais sejam homogêneos.!

"(…) É entidade de classe de âmbito nacional – como tal legitimada à propositura da ação direta de inconstitucionalidade (CF, art. 103, IX) – aquela na qual se congregam associações regionais correspondentes a cada unidade da Federação, a fim de perseguirem, em todo o País, o mesmo objetivo institucional de defesa dos interesses de uma determinada classe. (…) Nesse sentido, altera o Supremo Tribunal sua jurisprudência, de modo a admitir a legitimação das associações de associações de classe‟, de âmbito nacional, para a ação direta de inconstitucionalidade." (ADI 3.153- AgR, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 12-8-2004, Plenário, DJ de 9-9- 2005.)!

Uma associação deve ter em sua composição, como dito, interesses homogêneos, não se admite que uma associação, ainda que nacional, possa ajuizar ações diretas se tiver como seus associados pessoas com interesses distintos. !

"ilegitimidade ativa da autora, entidade que não reúne a qualificação constitucional prevista no art. 103, IX, da CF. A heterogeneidade da composição da autora, conforme expressa disposição estatutária, descaracteriza a condição de representatividade de classe de âmbito nacional: Precedentes do STF." (ADI 3.381, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 6-6-2007, Plenário, DJ de 29-6-2007.)!

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Para o Ministro Ricardo Lewandowski, inclusive, permitir que associações de interesses estatutários distintos ingressassem suas ações em juízo seria uma forma de “baratear" o acesso à Corte.!

O art. 103, IX, CRFB/88 permite que as confederações sindicais façam uso das ações diretas, sendo a confederação sindical aquela formada de acordo com o art. 535, CLT.!

"O STF, em inúmeros julgamentos, tem entendido que apenas as confederações sindicais têm legitimidade ativa para requerer ação direta de inconstitucionalidade (CF, art. 103, IX), excluídas as federações sindicais e os sindicatos nacionais.” (ADI 1.599-MC, Rel. Min. Maurício Corrêa, julgamento em 26-2-1998, Plenário, DJ de 18-5-2001.)!

Art. 535, CLT. As Confederações organizar-se-ão com o mínimo de 3 (três) federações e terão sede na Capital da República.!

O STF já decidiu que sindicatos e federações sindicais não podem fazer uso das ações do controle concentrado —, então, das entidades sindicais, a única autorizada a ingressar com a demanda do controle abstrato de constitucionalidade é a confederação sindical, aquela formada por três federações.!

"ação direta de inconstitucionalidade – Ausência de legitimidade ativa de Central Sindical (CUT).” (ADI 1.442, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 3-11-2004, Plenário, DJ de 29-4-2005.)!

A CUT, portanto, não é legitimada ativa porque ela não é confederação sindical, é um órgão de defesa dos interesses dos trabalhadores, mas interesses heterogêneos —, ela não se qualifica como entidade de uma classe específica, por isso não pode ser autora de ações do controle concentrado.!

Outro aspecto que se relaciona a esse dado, é que a UNE também não se qualifica para ajuizar ações do controle concentrado, segundo posição do STF —, são interesses dos estudantes dos mais diversos e a UNE também não é entidade de uma classe com interesses delimitados.!

A Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais é um dos subgrupos da ANOREG (Associação dos Notários e Registradores do Brasil), segundo diz o STF, e assim o sendo, não podem fazer uso das ações diretas, somente os grupos nacionais, maiores como é o caso da ANOREG.!

"Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais não se compreende no âmbito do art. 103, IX, 2a parte, da CF, por ser um subgrupo dentro do grupo representado pela ANOREG – Associação dos Notários e Registradores do Brasil. Assim, falta-lhe legitimidade para a propositura da presente ação." (ADI 1.788, Rel. p/ o ac. Min. Nelson Jobim, julgamento em 5-3-1998, Plenário, DJ de 17-3-2006.)!

!CAPACIDADE POSTULATÓRIA!

O STF na ADIN 127 decidiu aqueles que precisam de advogados para ajuizar ações de controle de constitucionalidade e aqueles que possuem capacidade postulatória já extraída da Constituição Federal.!

Os legitimados ativos dos incisos I a VII do art. 103, CRFB não necessitam de advogados: i) Presidente da República; ii) Mesa do Senado Federal; iii) Mesa da Câmara dos Deputados; iv) Mesa da Assembleia Legislativa dos estados ou Câmara Legislativa do Distrito Federal; v) Procurador Geral da República; e vi) Conselho Federal da OAB.!

Art. 103, CF. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: !I - o Presidente da República;!

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II - a Mesa do Senado Federal;!III - a Mesa da Câmara dos Deputados;!IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;!V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; !VI - o Procurador-Geral da República;!VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;!!

Já os legitimados dos incisos VIII e IX precisam de advogados para ingressar com as ações de constitucionalidade, porque não possuem capacidade postulatória: i) Partido político com representação no Congresso Nacional; e ii) Confederação sindical; e iii) Entidade de classe de âmbito nacional.!

Art. 103, CF. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: !VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;!IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.!!!

OBJETO!

a) Leis do Processo Legislativo em Geral - o objeto da ADIN é a lei ou ato normativo federal ou estadual, só que a interpretação sobre o que pode e o que não pode ser objeto da ADIN é pautada muitas vezes pela jurisprudência do STF — ou seja, segundo o STF leis ou atos normativos federais e estaduais podem ser objeto de ADINs se forem normas primárias.!

Se entende por normas primárias aquelas extraídas diretamente da Constituição Federal, a Emenda à Constituição Federal, Emenda à Constituição Estadual, lei ordinária federal estadual e etc… Todas as normas do art. 59, CRFB/88, sejam elas federais ou estaduais, podem ser objeto de ADIN.!

Art. 59, CF. O processo legislativo compreende a elaboração de:!I - emendas à Constituição;!II - leis complementares;!III - leis ordinárias;!IV - leis delegadas;!V - medidas provisórias;!VI - decretos legislativos;!VII - resoluções.!Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração e consolidação das leis.!!

b) Resoluções do CNJ - as resoluções do CNJ também podem ser objeto de ADIN —, veja, no julgamento da ADC nº 12, o STF confirmou que o CNJ possui um poder normativo extraído diretamente da Constituição, de modo que suas resoluções são consideradas normas primárias.!

Ex: CNJ editou a resolução nº 07, vedando o nepotismo no âmbito do Poder Judiciário, logo depois se ajuizou a ADC 12 e o STF confirmou a constitucionalidade da resolução e durante o julgamento foi instado a falar acerca da natureza jurídica da resolução, confirmando que se trata de um ato normativo federal primário.!

c) Resoluções do TSE - as resoluções do TSE também podem ser eventualmente ser objeto de ação constitucional, conforme se depreende da ADIN 3999, onde o STF reconheceu a constitucionalidade das resoluções, compreendendo a sua primariedade.!

d) Leis Distritais - podem ser objeto de ações do controle de constitucionalidade, desde que tenham natureza estadual.!

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e) Decretos - há os decretos legislativos do art. 59, CRFB/88 que são normas primárias da Constituição; há os decretos regulamentares, que são normas secundárias e não podem ser objeto de ADIN; e há também o decreto autônomo do Presidente da República, criado com base no art. 84, VI da CRFB/88, que como extraído diretamente da Constituição Federal é norma primária, de modo que pode ser objeto de ação de constitucionalidade.!

Art. 84, CF. Compete privativamente ao Presidente da República:!VI - dispor, mediante decreto, sobre:!a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; !b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;!!

Ora, como não há entre o decreto e a Constituição nenhum ato normativo, o entendimento do STF é de que ele pode ser, sim, objeto de ADIN.!

!NORMAS QUE NÃO PODEM SER OBJETO DE ADIN!

a) Leis Municipais - a Constituição não contempla ADIN em face de lei municipal.!

b) Leis Distritais - de natureza municipal.!

c) Normas Pré-constitucionais - porque o STF não adota a tese da inconstitucionalidade superveniente, então as normas pré-constitucionais editadas sob a égide de outras Constitucionais não podem ser declaradas inconstitucionais em face da CRFB/88. Essas normas podem ser objeto do controle por meio do sistema difuso (admite questionamento de qualquer espécie normativa) ou, ainda, por meio de ADPF.!

d) Normas Constitucionais Originárias - as normas constitucionais originárias gozam de presunção absoluta de constitucionalidade, então, obviamente que não podem fazer parte de qualquer espécie de controle (difuso ou concentrado).!

e) Atos Normativos Secundários - por exemplo, portarias, circulares, decretos, regulamentares… Como estes atos não retiram fundamento jurídico direto da Constituição, como são normas infralegais (estão abaixo da lei), não podem ser objeto da ação. Esses atos normativos secundários não podem ser objeto de ADIN porque não são declarados inconstitucionais, na verdade, o juízo feito em relação a eles é de legalidade.!

f) Leis de Efeitos Concretos - leis de efeitos concretos, em regra, não podem ser objeto de ADIN. Uma lei de efeito concreto tem forma de lei, é aprovada como lei, mas seu conteúdo é de ato administrativo (ex: lei que modifica o nome de um aeroporto; lei que cria um município; lei orçamentária).!

Aqui é preciso fazer uma ponderação: a regra é que a lei de efeito concreto não possa ser objeto da ADIN, mas há dois precedentes importantes do STF contrários a isso - i) ADIN 2240 que analisou uma lei estadual criadora de município; e ii) ADIN 4048 que analisou uma lei orçamentária.!

!PARTICIPAÇÃO DO PROCURADOR GERAL DA REPÚBLICA (Art. 103, § 1º, CRFB/88)!

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O cidadão não pode fazer uso ativamente da jurisdição constitucional das ações de controle, em que pese recebam todas as conseqüências das decisões da Corte, então, nada mais coerente do que ter algum tipo de decisão democrática no curso da decisão e o Procurador Geral da República atua também nesse sentido.!

O chefe do Ministério Público da União atua como defensor das instituições democráticas e direitos fundamentais, conforme diz o art. 127, CRFB/88.!

Art. 127, CF. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.!

Então, o PGR será ouvido obrigatoriamente nas ADINs como custos legis, como fiscal da lei, ele vai dar um parecer sobre o que pensa a respeito daquela ação, seja pela constitucionalidade ou inconstitucionalidade da norma.!

Art. 103, § 1º, CF. O Procurador-Geral da República deverá ser previamente ouvido nas ações de inconstitucionalidade e em todos os processos de competência do Supremo Tribunal Federal.!

Alguns entendimentos doutrinários entendem, inclusive, que ele atuará nas ações por ele propostas como legitimado ativo (art. 103, VI, CRFB/88). Nesse caso, para Flavia Bahia, ele pode mudar de posicionamento sem que haja desistência do feito, o que é vedado.!

!PARTICIPAÇÃO DO ADVOGADO GERAL DA UNIÃO (Art. 103, § 3º, CRFB/88)!

É sabido que o AGU é o advogado da União de assuntos judiciais e extrajudiciais pelo art. 131, CRFB/88, mas a Constituição de 1988 designou-lhe um outro múnus, o de defender a constitucionalidade do ato normativo impugnado em sede de ADIN.!

Art. 131, CF. A Advocacia-Geral da União é a instituição que, diretamente ou através de órgão vinculado, representa a União, judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe, nos termos da lei complementar que dispuser sobre sua organização e funcionamento, as atividades de consultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo.!

O Advogado Geral da União segundo redação do art. 103, § 3º, CRFB/88, possui obrigação de defender o ato normativo impugnado, sendo o curador da presunção de constitucionalidade das leis.!

Art. 103, § 3º, CF. Quando o Supremo Tribunal Federal apreciar a inconstitucionalidade, em tese, de norma legal ou ato normativo, citará, previamente, o Advogado-Geral da União, que defenderá o ato ou texto impugnado.!

A leitura literal já foi alterada na interpretação do STF, principalmente em duas ocasiões, porque: i) porque obrigar uma autoridade a fazer defesa de um ato normativo completamente inconstitucional não faz sentido; e ii) obrigar uma autoridade que representa a União defender uma lei que seja de autoria estadual, por exemplo, que viola a competência da União não teria lógica.!

Então, esse é um dispositivo que já vem sendo reanalisado há muito tempo —, a) na ADIN 1616, o STF decidiu que o AGU estaria dispensado de fazer a defesa do texto impugnado se houvesse decisão da Corte no controle difuso pela inconstitucionalidade da norma; b) em julgamento mais recente, ADIN 3916, o art. 103, § 3º, CRFB/88 sofreu nova flexibilização e, neste caso, foi dito pelo STF que se a norma impugnada na ADIN prejudicasse os interesses da União, o Advogado Geral da União estaria dispensado de fazer a defesa da norma.!

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PARTICIPAÇÃO DO AMICUS CURIAE!

Foi dito que o cidadão não pode ser autor das ações de controle concentrado, em que pese o impacto das decisões da Corte se estenda a todos nessas ações e, por isso, nada mais justo do que termos algum tipo de legitimação social para democratizar o debate e o papel de aproximar a jurisdição constitucional à população coube ao amicus curiae.!

a) Não é Terceiro Interessado do CPC - até se encontram decisões do STF falando que trata de terceiro, mas não interessado (parte formal como no CPC), é um terceiro especial, colaborador da decisão.!

b) Legitimados como Amicus Curiae - qualquer organização coletiva com pertinência temática (ex: partidos políticos, sindicatos, ONGs, confederações…), não há uma estrutura fechada no que concerne à organização coletiva, mas o entendimento é de que deve haver pertinência temática, até porque se o intuito é o de contribuir, não faz sentido que em uma ação associada a um tema, uma associação sem a menor finalidade institucional correlata atue.!

Então, a pertinência temática deve ser comprovada, até porque o objetivo é de ampliar o debate, a discussão, legitimar socialmente a decisão do STF, então, não faria sentido que qualquer associação atuasse na demanda.!

Em regra não se admite que o cidadão atue como amicus curiae, o cidadão não é amicus curiae —, há mais de cento e noventa milhões de brasileiros, se todos requeressem a participação no processo em uma ação de controle concertado isso abalaria a celeridade social.!

c) Pedido de Intervenção no Feito - o pedido é feito ao Relator da ação e, se aceita sua participação, poderá oferecer memoriais, perícias e realizar, até mesmo, sustentação oral. !

O STF tem decidido que o pedido de participação do amicus curiae deve ser feito até a data de remessa dos autos para julgamento.!

PS! Como o amicus curiae não é parte formal, não possui ele interesse recursal no feito, assim, não pode opor Embargos de Declaração em face da decisão final.!

d) Número Máximo de Amicus Curiae - segundo a jurisprudência do STF não há número máximo de amicus curiae, ou seja, quantas organizações forem necessárias podem entrar no processo, desde que com razoabilidade para não atrapalhar a celeridade processual.!

!AMBIVALÊNCIA: NATUREZA FUNGÍVEL E DÚPLICE DA ADIN E ADC (Art. 24, L. 9868/99)!

Art. 24, L. 9868/99. Proclamada a constitucionalidade, julgar-se-á improcedente a ação direta ou procedente eventual ação declaratória; e, proclamada a inconstitucionalidade, julgar-se-á procedente a ação direta ou improcedente eventual ação declaratória.!

Quando o STF recebe uma ação direta de inconstitucionalidade e acaba, no final, julgando-a improcedente, o que ele fez foi declarar a constitucionalidade da norma. Então, se nega provimento à ADIN, houve declaração de constitucionalidade da norma.!

Mutatis mutantis, quando recebe uma ADC e lhe nega provimento, significa dizer que é inconstitucional.!

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Em resumo, a ambivalência (natureza fungível, dúplice das ações) significa que é possível declarar a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de uma norma em qualquer das ações, ADC ou ADIN e com os mesmos efeitos: erga omnes e vinculante.!

!EFEITOS DA CAUTELAR (Arts. 10 a 12, L. 9868/99)!

Art. 10, L. 9868/99. Salvo no período de recesso, a medida cautelar na ação direta será concedida por decisão da maioria absoluta dos membros do Tribunal, observado o disposto no art. 22, após a audiência dos órgãos ou autoridades dos quais emanou a lei ou ato normativo impugnado, que deverão pronunciar-se no prazo de cinco dias.!§ 1º O relator, julgando indispensável, ouvirá o Advogado-Geral da União e o Procurador-Geral da República, no prazo de três dias.!§ 2º No julgamento do pedido de medida cautelar, será facultada sustentação oral aos representantes judiciais do requerente e das autoridades ou órgãos responsáveis pela expedição do ato, na forma estabelecida no Regimento do Tribunal.!§ 3º Em caso de excepcional urgência, o Tribunal poderá deferir a medida cautelar sem a audiência dos órgãos ou das autoridades das quais emanou a lei ou o ato normativo impugnado.!!Art. 11, , L. 9868/99. Concedida a medida cautelar, o Supremo Tribunal Federal fará publicar em seção especial do !Diário Oficial da União e do Diário da Justiça da União a parte dispositiva da decisão, no prazo de dez dias, devendo solicitar as informações à autoridade da qual tiver emanado o ato, observando-se, no que couber, o procedimento estabelecido na Seção I deste Capítulo.!§ 1º A medida cautelar, dotada de eficácia contra todos, será concedida com efeito ex nunc, salvo se o Tribunal entender que deva conceder-lhe eficácia retroativa.!§ 2º A concessão da medida cautelar torna aplicável a legislação anterior acaso existente, salvo expressa manifestação em sentido contrário.!!Art. 12, , L. 9868/99. Havendo pedido de medida cautelar, o relator, em face da relevância da matéria e de seu especial significado para a ordem social e a segurança jurídica, poderá, após a prestação das informações, no prazo de dez dias, e a manifestação do Advogado-Geral da União e do Procurador-Geral da República, sucessivamente, no prazo de cinco dias, submeter o processo diretamente ao Tribunal, que terá a faculdade de julgar definitivamente a ação.!!!

Da redação do art. 10, da L. 9868/99 se depreende que em um período sem recesso, devem estar presentes oito Ministros, quórum do art. 22, Lei 9868/99, com voto favorável de, no mínimo, seis deles (maioria absoluta do total).!

Art. 22, L. 9868/99. A decisão sobre a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo somente será tomada se presentes na sessão pelo menos oito Ministros.!

Nos períodos de recesso normalmente o relator concede, nos casos de urgência, a medida cautelar ad referendum no plenário.!

Quais os efeitos da decisão cautelar? Primeiro, quando o STF concede uma cautelar em ADIN, significa dizer que ele suspendeu a norma impugnada, mas os efeitos normalmente são:!

a) Efeitos Subjetivos - são erga omnes, se estende para todos, porque não há partes e os legitimados atuam, apenas, como advogados da Constituição Federal.!

b) Efeitos Temporais - como diz o art. 11, § 1º, L. 9868/99, regra geral, são ex nunca - efeitos dali para frente. Mas, excepcionalmente, poderá o Tribunal dar uma eficácia retroativa à norma (efeitos ex tunc).!

Art. 11, § 1º, L. 9868/99. A medida cautelar, dotada de eficácia contra todos, será concedida com efeito ex nunc, salvo se o Tribunal entender que deva conceder-lhe eficácia retroativa.!!!

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c) Efeitos Repristinátorios - o § 2º do art. 11, L. 9868/99 fala ainda de efeitos repristinatórios, repristinar é restaurar a eficácia de uma norma já revogada, caso a norma da ação direta tenha revogado uma lei que lhe é anterior, quando o STF suspende em sede de cautelar a norma impugnada, a anterior que foi por ela revogada voltará a produzir seus efeitos, a não ser que a Corte afaste os efeitos repristinatórios (ex: lei antiga; contrária ao interesse público; viola à Constituição…).!

Art. 11, § 2º, L. 9868/99. A concessão da medida cautelar torna aplicável a legislação anterior acaso existente, salvo expressa manifestação em sentido contrário.!!

Para evitar uma lacuna no ordenamento jurídico, a norma, nesse instante, volta a produzir seus efeitos, a não ser que a Corte afaste tais efeitos.!

Os efeitos repristinatórios nem sempre serão mantidos na decisão final, o que depende é da decisão dos efeitos temporais do pronunciamento final —, se o STF decidir que a lei é inconstitucional, modulando seus efeitos daquele instante para frente, o que aconteceu com a revogação foi válido; se o STF decidir que a norma é inconstitucional com efeitos retroativos, provavelmente a lei anterior voltará a produzir seus efeitos, a não ser que o STF rejeite os efeitos repristinatórios.!

PS! Efeito respristinatório é diferente de repristinação - a repristinação está presente no art. 2º § 3º da LINDB e significa que as normas que foram revogadas não são ressuscitadas com a revogação das leis que as tenham revogado, a não ser que estejam previstas na nova legislação. A modificação legislativa do tempo que vale, agora, é possível que com a revogação de uma lei revogadora, a lei revogada volte a produzir efeitos.!

São coisas distintas porque o efeito repristinatório está relacionado ao controle de constitucionalidade, enquanto a repristinação é fenômeno de sucessão legislativa, que independe da análise de constitucionalidade ou não da norma.!

d) Efeitos vinculantes - os efeitos vinculantes de uma concessão de cautelar para os órgãos do Judiciário e da Administração Pública são extraídos da jurisprudência do STF.!

!EFEITOS DAS DECISÕES DEFINITIVAS (Arts. 22 a 28, L. 9868/99)!

Art. 22, L. 9868/99. A decisão sobre a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo somente será tomada se presentes na sessão pelo menos oito Ministros.!!Art. 23, L. 9868/99 Efetuado o julgamento, proclamar-se-á a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da disposição ou da norma impugnada se num ou noutro sentido se tiverem manifestado pelo menos seis Ministros, quer se trate de ação direta de inconstitucionalidade ou de ação declaratória de constitucionalidade.!Parágrafo único. Se não for alcançada a maioria necessária à declaração de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade, estando ausentes Ministros em número que possa influir no julgamento, este será suspenso a fim de aguardar-se o comparecimento dos Ministros ausentes, até que se atinja o número necessário para prolação da decisão num ou noutro sentido.!!Art. 24, L. 9868/99. Proclamada a constitucionalidade, julgar-se-á improcedente a ação direta ou procedente eventual ação declaratória; e, proclamada a inconstitucionalidade, julgar-se-á procedente a ação direta ou improcedente eventual ação declaratória.!!Art. 25, L. 9868/99. Julgada a ação, far-se-á a comunicação à autoridade ou ao órgão responsável pela expedição do ato.!!

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Art. 26, L. 9868/99. A decisão que declara a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo em ação direta ou em ação declaratória é irrecorrível, ressalvada a interposição de embargos declaratórios, não podendo, igualmente, ser objeto de ação rescisória.!!Art. 27, L. 9868/99. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.!!Art. 28, L. 9868/99. Dentro do prazo de dez dias após o trânsito em julgado da decisão, o Supremo Tribunal Federal fará publicar em seção especial do Diário da Justiça e do Diário Oficial da União a parte dispositiva do acórdão.!Parágrafo único. A declaração de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade, inclusive a interpretação conforme a Constituição e a declaração parcial de inconstitucionalidade sem redução de texto, têm eficácia contra todos e efeito vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública federal, estadual e municipal.!!

O art. 22, L. 9868/99 estabelece que o quórum mínimo de Ministros para iniciar a sessão é de oito Ministros presentes e para declarar a inconstitucionalidade ou a constitucionalidade da lei haverá a necessidade de voto de seis Ministros (art. 23, L. 9868/99).!

Art. 22, L. 9868/99. A decisão sobre a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo somente será tomada se presentes na sessão pelo menos oito Ministros.!!Art. 23, L. 9868/99 Efetuado o julgamento, proclamar-se-á a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da disposição ou da norma impugnada se num ou noutro sentido se tiverem manifestado pelo menos seis Ministros, quer se trate de ação direta de inconstitucionalidade ou de ação declaratória de constitucionalidade.!Parágrafo único. Se não for alcançada a maioria necessária à declaração de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade, estando ausentes Ministros em número que possa influir no julgamento, este será suspenso a fim de aguardar-se o comparecimento dos Ministros ausentes, até que se atinja o número necessário para prolação da decisão num ou noutro sentido.!!

a) Efeitos Subjetivos - erga omnes, porque não há partes, pretensão resistida… !

b) Efeitos Temporais - no Brasil se adota a regra da nulidade, ou seja, uma regra é inconstitucional é nula de pleno direito, então, nunca deveria nem ter existido ou ter produzido efeitos jurídicos.!

Então quando o STF reconhece a inconstitucionalidade de uma lei, ele a declara inválida e os efeitos da invalidado da norma a atingem em seu nascedouro, de modo que os efeitos são, em geral, ex tunc, de modo que nenhuma relação jurídica pautada nessa lei poderá existir.!

Muitas vezes o STF demora anos para declarar a inconstitucionalidade da lei e como toda norma é presumidamente constitucional, a população é obrigada a cumprir a lei até que paire sobre ela uma nuvem de inconstitucionalidade.!

Ex: STF recebeu ADIN sobre uma lei que instituiu novo tributo, sendo esta norma manifestamente inconstitucional, só que a Corte demora seis anos para declarar a inconstitucionalidade da norma. Se a Corte adotar efeitos ex tunc significa que nada do que foi produzido sobre a égide da norma terá validade e todos os contribuintes que pagaram o tributo poderão pleitear a devolução do valor em juízo com juros e correção.!

Em situação como essa, ou qualquer outra que veja necessidade, o STF poderá adotar a técnica da manipulação da modulação temporal dos efeitos da decisão e essa técnica está prevista no art. 27, da L. 9868/99.!

Art. 27, L. 9868/99. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois

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terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.!!

Nesse caso, o STF pode por um quórum de 2/3 dos seus Ministros (total de oito julgadores) decidir que os efeitos daquela decisão serão ex nunc, ou ainda, prospectivos ou profuturos (a partir de quando a Corte determinar).!

Em síntese, o STF pode dizer que a lei inconstitucional pode parar de produzir efeitos somente da decisão pra frente ou a Corte pode estabelecer uma data a partir da qual a lei deixará de produzir seus efeitos.!

c) Efeitos Vinculantes - são extraídos do próprio art. 102, § 2º, CRFB/88 e esses efeitos atingem os órgãos do Poder Judiciário e da Administração Pública (direta ou indireta das esferas federal, estadual, distrital ou municipal).!

Art. 102, § 2º, CF. As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal. !

Claro que os efeitos vinculantes não atingirão o Poder Público em sua função legiferante, legislativa e isso vale para a função Legiferante do Legislativo e também do Executivo ou Judiciário.!

O que se diz é que apesar do STF ter declarado inconstitucional o conteúdo de uma lei específica, no futuro esta lei pode ser votada novamente no Congresso Nacional; o mesmo com Medida Provisória e etc…!

Certa vez foi dito pelos Ministros do STF que, caso isso ocorresse, haveria uma possível fossilização do ordenamento jurídico —, o que não se deseja.!

d) Irrecorribilidade das Decisões - o art. 26 da L. 9868/99 diz que as decisões de mérito do STF são irrecorríveis, de modo que não cabe recurso em geral, tampouco ação rescisória.!

Art. 26, L. 9868/99. A decisão que declara a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo em ação direta ou em ação declaratória é irrecorrível, ressalvada a interposição de embargos declaratórios, não podendo, igualmente, ser objeto de ação rescisória.!!

Todavia, são cabíveis embargos declamatórios para esclarecer algum tipo de omissão, contradição ou obscuridade no julgado.

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AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE!!Art. 102, CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:!I - processar e julgar, originariamente:!a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal;!!

HISTÓRICO!

Não surgiu em 1988, nasce de acordo com EC 03/93. Em algumas ocasiões a ADIN foi utilizada, não com o propósito de se ver declarada a inconstitucionalidade da norma, mas com intenção que o STF, ao negar provimento a ADIN, confirmasse, de uma vez por todas, que a norma era válida, diminuindo a insegurança jurídica.!

Ou seja, havia uma completa deturpação do instituto da ADIN, de modo que a EC 03/93 criou, então a Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC), defendendo a segurança jurídica.!

!BASE LEGAL (Arts. 102, I, a; 102, §2º, CRFB/88 e Lei nº 9868/99)!

Art. 102, CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:!I - processar e julgar, originariamente:!a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal;!§2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.!!

A base legal da ADC na Constituição é o art. 102, I, a; além dele tem-se o art. 102, §2º, também da CRFB/88, que trata dos efeitos vinculantes, erga omnes das decisões de mérito e a Lei 9.868/99. !

!FINALIDADE!

Há doutrinadores, como Pedro Lenza, que sustentam que o objetivo da ADC é de confirmar a presunção absoluta —, ou seja, transformar a presunção relativa de constitucionalidade da lei em presunção absoluta.!

Flávia Bahia, por outro lado, entende que a ADC tenha sido criado para resolver a insegurança jurídica e alguns autores como Gilmar Mendes e Barroso defendem que por meio de novos argumentos, a lei que foi hoje declarada constitucional, pode vir a ser declarada inconstitucional, de modo que ela não se tornaria intocável após o julgamento pela sua constitucionalidade perante o STF.!

Ademais, o art. 14, III, L. 9868/99 confirma tal tese, porque um dos requisitos essenciais para a propositura da ADC é a existência de controvérsias judiciais relevantes a respeito da norma objeto da ação, no julgamento da ADC nº 08 o STF entendeu que é preciso que haja um volume expressivo de decisões sobre o tema para que possa receber a ADC.!

Art. 14, L. 9868/99. A petição inicial indicará:!III - a existência de controvérsia judicial relevante sobre a aplicação da disposição objeto da ação declaratória.!!

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Apesar de ser presumida constitucional a norma, essa presunção é relativa e nada impede que uma lei federal esteja sendo considerada válida em alguns lugares e inválida em outros e se transforme o Judiciário em uma loteria, o que fere a segurança jurídica.!

Então, o objetivo da ADC é o de, na verdade, resolver a controvérsia da insegurança jurídica mediante o pedido de declaração de constitucionalidade da lei, que caso seja considerada válida, produzirá efeitos erga omnes e vinculantes, mas isso não a tornará intocável, de modo a ser presumida absolutamente constitucional, porque é perfeitamente possível que condições de fato no país possam convencer o STF a, eventualmente receber uma ADIN com base na mesma lei e ele a declare inconstitucional.!

!LEGITIMIDADE ATIVA (Art. 103, I a IX CRFB/88)!

Na verdade, nem sempre a legitimidade ativa da ADC foi igual a ADIN, quando a ADC foi criada pela EC 03/93, ela inseriu um § 4º ao art. 103, CRFB/88 que dizia que só podia ajuizar ADC: i) Mesa da Câmara; ii) Mesa do Senado; iii) Procurador Geral da República; e iv) Presidente da República e isso sempre desagradou a doutrina.!

Até que a EC 45/04 foi responsável por equiparar os legitimados e hoje os legitimados ativos da ADIN e ADC são os mesmos.!

Art. 103, CF. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: !I - o Presidente da República;!II - a Mesa do Senado Federal;!III - a Mesa da Câmara dos Deputados;!IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;!V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; !VI - o Procurador-Geral da República;!VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;!VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;!IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.!!

Vale para todas as ações do controle abstrato federal (ADIN, ADC, ADO, ADPF). !

a) Especial (Art. 103, IV, V e IX, CRFB/88) - precisam comprovar a pertinência temática, a relação de congruência, de harmonia que deve existir entre o objeto da ação e o interesse do grupo, da classe, da categoria.!

Art. 103, CF. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: !IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;!V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; !IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.!!

O STF exige de certos legitimados ativos a pertinência temática, a relação de harmonia que o autor da ação deve provar com o interesse do grupo, do estado, da categoria, dos associados… E a pertinência temática passou a ser exigida dos legitimados dos incisos IV, V e IX —, ou seja, das i) Mesas de Assembleia Legislativa dos estados ou Câmara do Distrito Federal; i) do Governador dos estados ou Distrito Federal; e iii) da confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.!

b) Universal (Art. 103, I a III e VI a VIII, CRFB/88) - interessados remanescentes, os quais não precisam comprovar a pertinência temática para que suas ações sejam apresentadas perante o STF.!

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Art. 103, CF. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: !I - o Presidente da República;!II - a Mesa do Senado Federal;!III - a Mesa da Câmara dos Deputados;!VI - o Procurador-Geral da República;!VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;!VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;!!

São eles: i) Presidente da República; ii) mesa do Senado Federal; iii) mesa da Câmara dos Deputados; iv) Procurador Geral da República; v) Conselho Federal da OAB; e vi) partido político com representação no Congresso Nacional.!

!JURISPRUDÊNCIA SOBRE LEGITIMIDADE!

a) Pertinência Temática - a pertinência temática, quando necessária, funciona como condição de legitimidade ad causam da ação.!

"o requisito da pertinência temática – que se traduz na relação de congruência que necessariamente deve existir entre os objetivos estatutários ou as finalidades institucionais da entidade autora e o conteúdo material da norma questionada em sede de controle abstrato – foi erigido à condição de pressuposto qualificador da própria legitimidade ativa ad causam para efeito de instauração do processo objetivo de fiscalização concentrada de constitucionalidade." (ADI 1.157-MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 1º-12-1994, Plenário, DJ de 17-11-2006.)!

Processo objetivo é aquele cujos contornos ainda estão sendo definidos, mas já tem algumas características importantes: i) objetivo de defender a Supremacia da Constituição e não interesses específicos; ii) o rol de legitimados ativos é um rol taxativo; iii) não se admite desistência em nenhuma das ações do controle concentrado abstrato, porque cuidam do interesse público e defesa da Constituição; iv) não se admite a intervenção de terceiros (tecnicamente amicus curiae não é terceiro); v) todas as decisões do STF geram efeitos erga omnes (porque não há partes, não há lide) e vinculantes (servem para uniformizar o entendimento da matéria em relação à Administração Pública).!

Então, o STF já decidiu que a pertinência temática é um pressuposto qualificador da própria legitimidade ativa, funcionando como legitimidade ativa ad causam.!

b) Partido Político (art. 103, VIII, CRFB/88) - primeiro, para que o partido político possa ser autor das ações diretas, ele precisa ter representação no Congresso Nacional, em pelo menos uma das Casas.!

A posição do STF em relação à representação no Congresso Nacional quando o único representante é caçado, morre ou renuncia é de que a perda superveniente da da representação do partido não gera a extinção do feito sem decisão de mérito, porque o momento de averiguação sobre a existência de legitimidade ou não é quando da propositura da ação.!

"o partido político. Legitimidade ativa. Aferição no momento da sua propositura. Perda superveniente de representação parlamentar. Não desqualificação para permanecer no pólo ativo da relação processual. Objetividade e indisponibilidade da ação." (ADI 2.618-AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 12-8- 2004, Plenário, DJ de 31-3-2006.).!

Ademais, o partido político é legitimado ativo universal, por força, também, do art. 17, da CRFB/88 —, o partido político é essencial para o exercício da democracia brasileira, o Ministro Celso de Mello, em algumas oportunidades, já disse que o partido exerce o monopólio das candidaturas, porque, afinal de contas, não existe candidatura sem filiação partidária.!

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"Partido político – Ação direta – Legitimidade ativa – Inexigibilidade do vínculo de pertinência temática. Os partidos políticos, desde que possuam representação no Congresso Nacional, podem, em sede de controle abstrato, arguir, perante o STF, a inconstitucionalidade de atos normativos federais, estaduais ou distritais, independentemente de seu conteúdo material, eis que não incide sobre as agremiações partidárias a restrição jurisprudencial derivada do vínculo de pertinência temática.” (ADI 1.407-MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 7-3-1996, Plenário, DJ de 24- 11-2000.!

Art. 17, CF. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos:!I - caráter nacional;!II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes;!III - prestação de contas à Justiça Eleitoral;!IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei.!§ 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna, organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária. !§ 2º - Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral.!§ 3º - Os partidos políticos têm direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei.!§ 4º - É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar.!!

Então, diante desse papel de destaque que recebe o partido político com a Constituição de 1988, é possível alinhar a legitimidade ativa universal, ou seja, sem necessidade de comprovar pertinência temática, ao art. 17, CRFB/88, que inclusive está inserido no Título II, que versa sobre os "Direitos e Garantias Fundamentais”.!

Além disso, o partido político só pode ajuizar as ações diretas perante o STF por meio do seu Diretório Nacional, não sendo permitido o ingresso por meio do Diretório Regional, por exemplo.!

"a representação partidária perante o STF, nas ações diretas, constitui prerrogativa jurídico-processual do Diretório Nacional do Partido Político, que é – ressalvada deliberação em contrário dos estatutos partidários – o órgão de direção e de ação dessas entidades no plano nacional." (ADI 779-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 8-10-1992, Plenário, DJ de 11-3-1994.!

c) Confederação Sindical e Entidade de Classe de Âmbito Nacional (art. 103, IX, CRFB/88) - entidade de classe é aquela que representa os interesses de determinada categoria profissional ou econômica.!

"ação direta de inconstitucionalidade: legitimação ativa: entidade de classe de âmbito nacional‟: compreensão da associação de associações‟ de classe: revisão da jurisprudência do Supremo Tribunal. O conceito de entidade de classe é dado pelo objetivo institucional classista, pouco importando que a eles diretamente se filiem os membros da respectiva categoria social ou agremiações que os congreguem, com a mesma finalidade, em âmbito territorial mais restrito. (…)!

Um destaque: a entidade é considerada de âmbito nacional, segundo o STF que tem aplicado por analogia o art. 8º da Lei 9096/95 (Lei dos Partidos Políticos), quando possui o acompanhamento de, pelo menos, nove estados brasileiros.!

Art. 8º, L. 9096/95. O requerimento do registro de partido político, dirigido ao cartório competente do Registro Civil das Pessoas Jurídicas, da Capital Federal, deve ser subscrito pelos seus fundadores, em número nunca inferior a cento e um, com domicílio eleitoral em, no mínimo, um terço dos Estados, e será acompanhado de:!

Outro aspecto é que os interesses pela entidade defendidos devem ser interesses homogêneos, ou seja, de determinada classe, categoria, seja profissional ou econômica (ex: Associação Nacional dos Membros do Ministério Público), ou seja, os interesses devem ser homogêneos.!

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Durante um tempo o STF entendia que as associações de associações, também chamadas de associações de segundo grau (associações regionais), não poderiam ajuizar as ações diretas, mas já há posicionamento revendo tal decisão, desde que os interesses das associações nacionais sejam homogêneos.!

"(…) É entidade de classe de âmbito nacional – como tal legitimada à propositura da ação direta de inconstitucionalidade (CF, art. 103, IX) – aquela na qual se congregam associações regionais correspondentes a cada unidade da Federação, a fim de perseguirem, em todo o País, o mesmo objetivo institucional de defesa dos interesses de uma determinada classe. (…) Nesse sentido, altera o Supremo Tribunal sua jurisprudência, de modo a admitir a legitimação das associações de associações de classe‟, de âmbito nacional, para a ação direta de inconstitucionalidade." (ADI 3.153- AgR, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 12-8-2004, Plenário, DJ de 9-9- 2005.)!

Uma associação deve ter em sua composição, como dito, interesses homogêneos, não se admite que uma associação, ainda que nacional, possa ajuizar ações diretas se tiver como seus associados pessoas com interesses distintos. !

"ilegitimidade ativa da autora, entidade que não reúne a qualificação constitucional prevista no art. 103, IX, da CF. A heterogeneidade da composição da autora, conforme expressa disposição estatutária, descaracteriza a condição de representatividade de classe de âmbito nacional: Precedentes do STF." (ADI 3.381, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 6-6-2007, Plenário, DJ de 29-6-2007.)!

Para o Ministro Ricardo Lewandowski, inclusive, permitir que associaç ões de interesses estatutários distintos ingressassem suas ações em juízo seria uma forma de “baratear" o acesso à Corte.!

O art. 103, IX, CRFB/88 permite que as confederações sindicais façam uso das ações diretas, sendo a confederação sindical aquela formada de acordo com o art. 535, CLT.!

"O STF, em inúmeros julgamentos, tem entendido que apenas as confederações sindicais têm legitimidade ativa para requerer ação direta de inconstitucionalidade (CF, art. 103, IX), excluídas as federações sindicais e os sindicatos nacionais.” (ADI 1.599-MC, Rel. Min. Maurício Corrêa, julgamento em 26-2-1998, Plenário, DJ de 18-5-2001.)!

Art. 535, CLT. As Confederações organizar-se-ão com o mínimo de 3 (três) federações e terão sede na Capital da República.!

O STF já decidiu que sindicatos e federações sindicais não podem fazer uso das ações do controle concentrado —, então, das entidades sindicais, a única autorizada a ingressar com a demanda do controle abstrato de constitucionalidade é a confederação sindical, aquela formada por três federações.!

"ação direta de inconstitucionalidade – Ausência de legitimidade ativa de Central Sindical (CUT).” (ADI 1.442, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 3-11-2004, Plenário, DJ de 29-4-2005.)!

A CUT, portanto, não é legitimada ativa porque ela não é confederação sindical, é um órgão de defesa dos interesses dos trabalhadores, mas interesses heterogêneos —, ela não se qualifica como entidade de uma classe específica, por isso não pode ser autora de ações do controle concentrado.!

Outro aspecto que se relaciona a esse dado, é que a UNE também não se qualifica para ajuizar ações do controle concentrado, segundo posição do STF —, são interesses dos estudantes dos mais diversos e a UNE também não é entidade de uma classe com interesses delimitados.!

A Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais é um dos subgrupos da ANOREG (Associação dos Notários e Registradores do Brasil), segundo diz o STF, e assim

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o sendo, não podem fazer uso das ações diretas, somente os grupos nacionais, maiores como é o caso da ANOREG.!

"Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais não se compreende no âmbito do art. 103, IX, 2a parte, da CF, por ser um subgrupo dentro do grupo representado pela ANOREG – Associação dos Notários e Registradores do Brasil. Assim, falta-lhe legitimidade para a propositura da presente ação." (ADI 1.788, Rel. p/ o ac. Min. Nelson Jobim, julgamento em 5-3-1998, Plenário, DJ de 17-3-2006.)!

!CAPACIDADE POSTULATÓRIA!

O STF na ADIN 127 decidiu aqueles que precisam de advogados para ajuizar ações de controle de constitucionalidade e aqueles que possuem capacidade postulatória já extraída da Constituição Federal —, o que foi dito naquele julgamento vale, mutatis mutantis, para a ADC, ADO e ADPF.!

Os legitimados ativos dos incisos I a VII do art. 103, CRFB não necessitam de advogados: i) Presidente da República; ii) Mesa do Senado Federal; iii) Mesa da Câmara dos Deputados; iv) Mesa da Assembleia Legislativa dos estados ou Câmara Legislativa do Distrito Federal; v) Procurador Geral da República; e vi) Conselho Federal da OAB.!

Art. 103, CF. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: !I - o Presidente da República;!II - a Mesa do Senado Federal;!III - a Mesa da Câmara dos Deputados;!IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;!V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; !VI - o Procurador-Geral da República;!VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;!!

Já os legitimados dos incisos VIII e IX precisam de advogados para ingressar com as ações de constitucionalidade, porque não possuem capacidade postulatória: i) Partido político com representação no Congresso Nacional; e ii) Confederação sindical; e iii) Entidade de classe de âmbito nacional.!

Art. 103, CF. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: !VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;!IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.!!!

OBJETO!

O art. 102, I, a, CRFB/88 diz claramente que o objeto da ADC é a lei ou ato normativo puramente federal. Não a toa, alguns autores dizem que a ADC é uma ADIN em via adversa, só que com o objeto mais restrito.!

Art. 102, CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:!I - processar e julgar, originariamente:!a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de

constitucionalidade de lei ou ato normativo federal;!!a) Leis do Processo Legislativo em Geral - o objeto da ADC é a lei ou ato normativo federal, só

que a interpretação sobre o que pode e o que não pode ser objeto da ADIN é pautada muitas vezes pela jurisprudência do STF — ou seja, segundo o STF leis ou atos normativos federais podem ser objeto de ADC se forem normas primárias.!

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Se entende por normas primárias aquelas extraídas diretamente da Constituição Federal, a Emenda à Constituição Federal, lei ordinária federal… Todas as normas do art. 59, CRFB/88, caso federais, podem ser objeto de ADC.!

Art. 59, CF. O processo legislativo compreende a elaboração de:!I - emendas à Constituição;!II - leis complementares;!III - leis ordinárias;!IV - leis delegadas;!V - medidas provisórias;!VI - decretos legislativos;!VII - resoluções.!Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração e consolidação das leis.!!

b) Resoluções do CNJ - as resoluções do CNJ também podem ser objeto de ADC —, veja, no julgamento da ADC nº 12, o STF confirmou que o CNJ possui um poder normativo extraído diretamente da Constituição, de modo que suas resoluções são consideradas normas primárias.!

Ex: CNJ editou a resolução nº 07, vedando o nepotismo no âmbito do Poder Judiciário, logo depois se ajuizou a ADC 12 e o STF confirmou a constitucionalidade da resolução e durante o julgamento foi instado a falar acerca da natureza jurídica da resolução, confirmando que se trata de um ato normativo federal primário.!

c) Resoluções do TSE - as resoluções do TSE também podem ser eventualmente ser objeto de ação constitucional, conforme se depreende da ADIN 3999, onde o STF reconheceu a constitucionalidade das resoluções, compreendendo a sua primariedade.!

d) Decretos - há os decretos legislativos do art. 59, CRFB/88 que são normas primárias da Constituição; há os decretos regulamentares, que são normas secundárias e não podem ser objeto de ADC; e há também o decreto autônomo do Presidente da República, criado com base no art. 84, VI da CRFB/88, que como extraído diretamente da Constituição Federal é norma primária, de modo que pode ser objeto de ação de constitucionalidade.!

Art. 84, CF. Compete privativamente ao Presidente da República:!VI - dispor, mediante decreto, sobre:!a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; !b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;!!

Ora, como não há entre o decreto e a Constituição nenhum ato normativo, o entendimento do STF é de que ele pode ser, sim, objeto de ADC.!

!NORMAS QUE NÃO PODEM SER OBJETO DE ADC!

a) Leis Municipais - a Constituição não contempla ADC em face de lei municipal.!

b) Leis Distritais - de natureza municipal ou estadual.!

c) Normas Pré-constitucionais - porque o STF não adota a tese da inconstitucionalidade superveniente, então as normas pré-constitucionais editadas sob a égide de outras Constitucionais não podem ser declaradas inconstitucionais em face da CRFB/88. Essas normas podem ser objeto do controle por meio do sistema difuso (admite questionamento de qualquer espécie normativa) ou, ainda, por meio de ADPF.!

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d) Normas Constitucionais Originárias - as normas constitucionais originárias gozam de presunção absoluta de constitucionalidade, então, obviamente que não podem fazer parte de qualquer espécie de controle (difuso ou concentrado).!

e) Atos Normativos Secundários - por exemplo, portarias, circulares, decretos, regulamentares… Como estes atos não retiram fundamento jurídico direto da Constituição, como são normas infralegais (estão abaixo da lei), não podem ser objeto da ação. Esses atos normativos secundários não podem ser objeto de ADC porque não são declarados inconstitucionais, na verdade, o juízo feito em relação a eles é de legalidade.!

f) Leis de Efeitos Concretos - leis de efeitos concretos, em regra, não podem ser objeto de ADC. Uma lei de efeito concreto tem forma de lei, é aprovada como lei, mas seu conteúdo é de ato administrativo (ex: lei que modifica o nome de um aeroporto; lei que cria um município; lei orçamentária).!

Aqui é preciso fazer uma ponderação: a regra é que a lei de efeito concreto não possa ser objeto da ADC, mas há dois precedentes importantes do STF contrários a isso - i) ADIN 2240 que analisou uma lei estadual criadora de município; e ii) ADIN 4048 que analisou uma lei orçamentária.!

!PARTICIPAÇÃO DO PROCURADOR GERAL DA REPÚBLICA (Art. 103, § 1º, CRFB/88)!

O cidadão não pode fazer uso ativamente da jurisdição constitucional das ações de controle, em que pese recebam todas as conseqüências das decisões da Corte, então, nada mais coerente do que ter algum tipo de decisão democrática no curso da decisão e o Procurador Geral da República atua também nesse sentido.!

O chefe do Ministério Público da União atua como defensor das instituições democráticas e direitos fundamentais, conforme diz o art. 127, CRFB/88.!

Art. 127, CF. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.!

Então, o PGR será ouvido obrigatoriamente nas ADCs como custos legis, como fiscal da lei, ele vai dar um parecer sobre o que pensa a respeito daquela ação, seja pela constitucionalidade ou inconstitucionalidade da norma.!

Art. 103, § 1º, CF. O Procurador-Geral da República deverá ser previamente ouvido nas ações de inconstitucionalidade e em todos os processos de competência do Supremo Tribunal Federal.!

Alguns entendimentos doutrinários entendem, inclusive, que ele atuará nas ações por ele propostas como legitimado ativo (art. 103, VI, CRFB/88). Nesse caso, para Flavia Bahia, ele pode mudar de posicionamento sem que haja desistência do feito, o que é vedado.!

!PARTICIPAÇÃO DO ADVOGADO GERAL DA UNIÃO!

Não há menção no que atine à participação do Advogado Geral da União, nem na CRFB/88 e nem na Lei 9868/99, na prática ele não atua em ADCs porque o papel que a Constituição lhe conferiu é um papel de defensor legis em ADIN do art. 103, § 3º, CRFB/88.!

Art. 103, § 3º, CF. Quando o Supremo Tribunal Federal apreciar a inconstitucionalidade, em tese, de norma legal ou ato normativo, citará, previamente, o Advogado-Geral da União, que defenderá o ato ou texto impugnado. !

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Se a ADC é proposta para confirmar a constitucionalidade da lei, se imagina quem ajuíza a ação já tenha tratado de lhe fazer uma defesa satisfatória, portanto, não há atuação do AGU na ADC.!

Na doutrina, entretanto, há quem defenda, de forma minoritária, que diante do caráter ambivalente da ADIN e da ADC, partindo-se da premissa na ADC seria possível a declaração de inconstitucionalidade da norma, por via adversa, alguns autores sustentam que seria importante a intervenção do Advogado Geral da União nessa ação.!

Na prática, o AGU não participa da ADC.!

!PARTICIPAÇÃO DO AMICUS CURIAE!

Foi dito que o cidadão não pode ser autor das ações de controle concentrado, em que pese o impacto das decisões da Corte se estenda a todos nessas ações e, por isso, nada mais justo do que termos algum tipo de legitimação social para democratizar o debate e o papel de aproximar a jurisdição constitucional à população coube ao amicus curiae.!

a) Não é Terceiro Interessado do CPC - até se encontram decisões do STF falando que trata de terceiro, mas não interessado (parte formal como no CPC), é um terceiro especial, colaborador da decisão.!

b) Legitimados como Amicus Curiae - qualquer organização coletiva com pertinência temática (ex: partidos políticos, sindicatos, ONGs, confederações…), não há uma estrutura fechada no que concerne à organização coletiva, mas o entendimento é de que deve haver pertinência temática, até porque se o intuito é o de contribuir, não faz sentido que em uma ação associada a um tema, uma associação sem a menor finalidade institucional correlata atue.!

Então, a pertinência temática deve ser comprovada, até porque o objetivo é de ampliar o debate, a discussão, legitimar socialmente a decisão do STF, então, não faria sentido que qualquer associação atuasse na demanda.!

Em regra não se admite que o cidadão atue como amicus curiae, o cidadão não é amicus curiae —, há mais de cento e noventa milhões de brasileiros, se todos requeressem a participação no processo em uma ação de controle concertado isso abalaria a celeridade social.!

c) Pedido de Intervenção no Feito - o pedido é feito ao Relator da ação e, se aceita sua participação, poderá oferecer memoriais, perícias e realizar, até mesmo, sustentação oral. !

O STF tem decidido que o pedido de participação do amicus curiae deve ser feito até a data de remessa dos autos para julgamento.!

PS! Como o amicus curiae não é parte formal, não possui ele interesse recursal no feito, assim, não pode opor Embargos de Declaração em face da decisão final.!

d) Número Máximo de Amicus Curiae - segundo a jurisprudência do STF não há número máximo de amicus curiae, ou seja, quantas organizações forem necessárias podem entrar no!

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AMBIVALÊNCIA: NATUREZA FUNGÍVEL E DÚPLICE DA ADIN E ADC (Art. 24, L. 9868/99)!

Art. 24, L. 9868/99. Proclamada a constitucionalidade, julgar-se-á improcedente a ação direta ou procedente eventual ação declaratória; e, proclamada a inconstitucionalidade, julgar-se-á procedente a ação direta ou improcedente eventual ação declaratória.!

Quando o STF recebe uma ação direta de inconstitucionalidade e acaba, no final, julgando-a improcedente, o que ele fez foi declarar a constitucionalidade da norma. Então, se nega provimento à ADIN, houve declaração de constitucionalidade da norma.!

Mutatis mutantis, quando recebe uma ADC e lhe nega provimento, significa dizer que é inconstitucional.!

Em resumo, a ambivalência (natureza fungível, dúplice das ações) significa que é possível declarar a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de uma norma em qualquer das ações, ADC ou ADIN e com os mesmos efeitos: erga omnes e vinculante.!

!CAUTELAR (Art. 21 da L. 9868/99)!

É permitida, encontrando previsão no art. 21 da L. 9868/99.!

Art. 21, L. 9869/99. O Supremo Tribunal Federal, por decisão da maioria absoluta de seus membros, poderá deferir pedido de medida cautelar na ação declaratória de constitucionalidade, consistente na determinação de que os juízes e os Tribunais suspendam o julgamento dos processos que envolvam a aplicação da lei ou do ato normativo objeto da ação até seu julgamento definitivo.!Parágrafo único. Concedida a medida cautelar, o Supremo Tribunal Federal fará publicar em seção especial do Diário Oficial da União a parte dispositiva da decisão, no prazo de dez dias, devendo o Tribunal proceder ao julgamento da ação no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de perda de sua eficácia.!!

É claro que em uma ADC o objetivo não é o de suspender o ato normativo, já que o que se pretende é ver sua validade ser confirmada, a grande celeuma em relação a ADC são as inúmeras decisões controvertidas a respeito da aplicação da norma.!

Então, a cautelar da ADC, se concedida, vai determinar a suspensão dos processos em curso que envolvam a aplicação da lei pelo prazo de 180 dias e se nesse lapso temporal não houver a decisão final sobre aquela situação, os processos deixarão de estar suspensos e os juízes e tribunais irão aplicar ou não a lei (como bem entenderem), até que haja decisão definitiva sobre o tema.!

a) Efeitos Subjetivos - erga omnes.!

b) Efeitos Temporais - ex tunc.!

c) Efeitos Vinculantes - extraídos do próprio art. 21, L. 9868/99, ou seja, juízes e tribunais tratarão de suspender os processos em curso que dependem da aplicação da lei objeto da ação.!

!EFEITOS DAS DECISÕES DEFINITIVAS (Arts. 22 a 28, L. 9868/99)!

Art. 22, L. 9868/99. A decisão sobre a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo somente será tomada se presentes na sessão pelo menos oito Ministros.!!

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Art. 23, L. 9868/99 Efetuado o julgamento, proclamar-se-á a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da disposição ou da norma impugnada se num ou noutro sentido se tiverem manifestado pelo menos seis Ministros, quer se trate de ação direta de inconstitucionalidade ou de ação declaratória de constitucionalidade.!Parágrafo único. Se não for alcançada a maioria necessária à declaração de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade, estando ausentes Ministros em número que possa influir no julgamento, este será suspenso a fim de aguardar-se o comparecimento dos Ministros ausentes, até que se atinja o número necessário para prolação da decisão num ou noutro sentido.!!Art. 24, L. 9868/99. Proclamada a constitucionalidade, julgar-se-á improcedente a ação direta ou procedente eventual ação declaratória; e, proclamada a inconstitucionalidade, julgar-se-á procedente a ação direta ou improcedente eventual ação declaratória.!!Art. 25, L. 9868/99. Julgada a ação, far-se-á a comunicação à autoridade ou ao órgão responsável pela expedição do ato.!!Art. 26, L. 9868/99. A decisão que declara a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo em ação direta ou em ação declaratória é irrecorrível, ressalvada a interposição de embargos declaratórios, não podendo, igualmente, ser objeto de ação rescisória.!!Art. 27, L. 9868/99. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.!!Art. 28, L. 9868/99. Dentro do prazo de dez dias após o trânsito em julgado da decisão, o Supremo Tribunal Federal fará publicar em seção especial do Diário da Justiça e do Diário Oficial da União a parte dispositiva do acórdão.!Parágrafo único. A declaração de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade, inclusive a interpretação conforme a Constituição e a declaração parcial de inconstitucionalidade sem redução de texto, têm eficácia contra todos e efeito vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública federal, estadual e municipal.!!

O art. 22, L. 9868/99 estabelece que o quórum mínimo de Ministros para iniciar a sessão é de oito Ministros presentes e para declarar a inconstitucionalidade ou a constitucionalidade da lei haverá a necessidade de voto de seis Ministros (art. 23, L. 9868/99).!

Art. 22, L. 9868/99. A decisão sobre a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo somente será tomada se presentes na sessão pelo menos oito Ministros.!!Art. 23, L. 9868/99 Efetuado o julgamento, proclamar-se-á a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da disposição ou da norma impugnada se num ou noutro sentido se tiverem manifestado pelo menos seis Ministros, quer se trate de ação direta de inconstitucionalidade ou de ação declaratória de constitucionalidade.!Parágrafo único. Se não for alcançada a maioria necessária à declaração de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade, estando ausentes Ministros em número que possa influir no julgamento, este será suspenso a fim de aguardar-se o comparecimento dos Ministros ausentes, até que se atinja o número necessário para prolação da decisão num ou noutro sentido.!!

a) Efeitos Subjetivos - erga omnes, porque não há partes, pretensão resistida… !

b) Efeitos Temporais - no Brasil se adota a regra da nulidade, ou seja, uma regra é inconstitucional é nula de pleno direito, então, nunca deveria nem ter existido ou ter produzido efeitos jurídicos.!

Então quando o STF reconhece a inconstitucionalidade de uma lei, ele a declara inválida e os efeitos da invalidado da norma a atingem em seu nascedouro, de modo que os efeitos são, em geral, ex tunc, de modo que nenhuma relação jurídica pautada nessa lei poderá existir.!

Muitas vezes o STF demora anos para declarar a inconstitucionalidade da lei e como toda norma é presumidamente constitucional, a população é obrigada a cumprir a lei até que paire sobre ela uma nuvem de inconstitucionalidade.!

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Ex: STF recebeu ADC sobre uma lei que instituiu novo tributo, sendo esta norma manifestamente inconstitucional, só que a Corte demora seis anos para declarar a inconstitucionalidade da norma. Se a Corte adotar efeitos ex tunc significa que nada do que foi produzido sobre a égide da norma terá validade e todos os contribuintes que pagaram o tributo poderão pleitear a devolução do valor em juízo com juros e correção.!

Em situação como essa, ou qualquer outra que veja necessidade, o STF poderá adotar a técnica da manipulação da modulação temporal dos efeitos da decisão e essa técnica está prevista no art. 27, da L. 9868/99.!

Art. 27, L. 9868/99. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.!!

Nesse caso, o STF pode por um quórum de 2/3 dos seus Ministros (total de oito julgadores) decidir que os efeitos daquela decisão serão ex nunc, ou ainda, prospectivos ou profuturos (a partir de quando a Corte determinar).!

Em síntese, o STF pode dizer que a lei inconstitucional pode parar de produzir efeitos somente da decisão pra frente ou a Corte pode estabelecer uma data a partir da qual a lei deixará de produzir seus efeitos.!

c) Efeitos Vinculantes - são extraídos do próprio art. 102, § 2º, CRFB/88 e esses efeitos atingem os órgãos do Poder Judiciário e da Administração Pública (direta ou indireta das esferas federal, estadual, distrital ou municipal).!

Art. 102, § 2º, CF. As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal. !

Quando o STF declara a constitucionalidade da norma, seus efeitos serão ex tunc, porquanto os efeitos não vão correr a partir da decisão pela constitucionalidade, mas desde seu nascedouro.!

É possível modular os efeitos temporais de uma decisão que em sede de ADC tenha confirmado a constitucionalidade da lei? A regra geral é que a norma nasce constitucional, afinal de contas goza ela da presunção de constitucionalidade desde seu nascimento, só que essa presunção é uma presunção relativa, de modo que a depender do interesse público e da segurança jurídica, é perfeitamente possível manipular os efeitos temporais da decisão e confirmar a necessidade de aplicação da lei a partir de um dado momento.!

d) Irrecorribilidade das Decisões - o art. 26 da L. 9868/99 diz que as decisões de mérito do STF são irrecorríveis, de modo que não cabe recurso em geral, tampouco ação rescisória.!

Art. 26, L. 9868/99. A decisão que declara a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo em ação direta ou em ação declaratória é irrecorrível, ressalvada a interposição de embargos declaratórios, não podendo, igualmente, ser objeto de ação rescisória.!!

Todavia, são cabíveis embargos declamatórios para esclarecer algum tipo de omissão, contradição ou obscuridade no julgado.

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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO x MANDADO DE INJUNÇÃO!

!Inicialmente as duas ações (ADO e MI) nasceram em 1988 e com o propósito muito parecido: o de defender o constitucionalismo brasileiro em face de uma doença que o acompanha desde sempre —, a síndrome da inefetividade constitucionais.!

Todas as Constituições anteriores sempre trouxeram consigo normas constitucionais de eficácia limitada, dependentes de regulamentação e muitas dessas normas de eficácia limitada foram revogadas a posteriori sem que a regulamentação fosse feita.!

Então, em 1988 havia uma esperança no ar de se defender uma Constituição efetiva, real e não apenas ideal e daí se buscou no direito comparado a inspiração para a ação direta de inconstitucionalidade por omissão (ADO) e o mandado de injunção (MI).!

!ASPECTOS COMUNS!

a) Criação em 1988 - ambas as ações surgiram em 1988, com a nova Constituição!

b) Objetivo - defender o constitucionalismo brasileiro em face da síndrome de inefetividade das normas constitucionais, uma doença que acompanha o constitucionalismo pátrio desde a Constituição de 1824.!

!DIFERENÇAS!

a) Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão!

i) Base Normativa - a base constitucional da ADO é art. 103, § 2º, CRFB/88 e também a lei 9868/99.!

Art. 103, § 2º, CF. Declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar efetiva norma constitucional, será dada ciência ao Poder competente para a adoção das providências necessárias e, em se tratando de órgão administrativo, para fazê-lo em trinta dias.

ii) Natureza Jurídica - a ADO é uma ação do controle concentrado e que inaugura um processo objetivo, sem partes, sem lide, sem pretensão resistida, cujo desiderato maior é a defesa da Supremacia da Constituição.!

O MI está relacionado aos direitos fundamentais, o MI defenderá direitos fundamentais que dependem de regulamentação, a ADO, não, ela defenderá normas constitucionais que dependem de regulamentação, sejam essas referentes a direitos fundamentais ou não.!

É como se tudo que pudesse ser discutido em MI, também pudesse ser analisado em sede de ADO, mas o inverso não é verdadeiro.!

Ex: art. 37, VII e art. 40, § 4º, CRFB/88 - o art. 37, VII, CRFB/88 diz que a greve do servidor público será fixada em lei específica que até hoje não foi elaborada e o direito de greve é um direito social de segunda geração; o art. 40, § 4º, CRFB/88 diz que o servidor público que trabalha em atividade de risco terá direito a uma

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aposentadoria especial fixada em lei complementar federal, que também não foi elaborada.!

Essas duas lacunas, a depender do caso, podem ser discutidas tanto no MI quanto na ADO, porque tudo que pode ser discutido em MI, pode ser discutido em ADO, mas o inverso não é verdadeiro.!

No art, 18,§ 4º, CRFB/88 se encontra a seguinte redação: lei estadual poderá criar os municípios no período fixado em uma lei complementar federal, a lacuna da criação da lei complementar federal pode ser discutida em ADO, apenas, porque para que pudesse ser discutida em MI teria que ser norma relativa a direito fundamental.!

Então, a ADO possui muitas possibilidades e o MI está fixado nos direitos e garantias fundamentais; a ADO nas omissões normativas completas ou parciais, mas sem pertinência específica de tema.!

iii) Extensão (Finalidade) - a ADO visa defender a efetividade das normas da Constituição.!

iv) Legitimidade Ativa - a ADO somente pode ser apresentada pelos legitimados ativos do art. 103, I a IX, CRFB/88, com a diferença de que os legitimados dos incisos IV, V e IX precisam comprovar pertinência temática e os demais são universais.!

Art. 103, CF. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: !I - o Presidente da República;!II - a Mesa do Senado Federal;!III - a Mesa da Câmara dos Deputados;!IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;!V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; !VI - o Procurador-Geral da República;!VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;!VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;!IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.!!

v) Cautelar - a ADO admite cautelar por expressa previsão legal do art. 12-F da Lei 9868/99.!

Art. 12-F, L. 9868/99.  Em caso de excepcional urgência e relevância da matéria, o Tribunal, por decisão da maioria absoluta de seus membros, observado o disposto no art. 22, poderá conceder medida cautelar, após a audiência dos órgãos ou autoridades responsáveis pela omissão inconstitucional, que deverão pronunciar-se no prazo de 5 (cinco) dias.!

vi) Órgão Competente para Julgamento - o próprio STF no plano federal e o TJ no plano estadual.!

vii) Efeitos Subjetivos - a ADO gera efeito erga omnes e vinculantes, como todas as decisões do STF no controle concentrado.!

b) Mandado de Injunção!

i) Base Normativa - a base normativa do MI é o art. art. 5º, LXXI, CRFB/88 e por analogia se aplica também a Lei 12.016/09.!

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:!

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LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania;!!

ii) Natureza Jurídica - o MI é um remédio constitucional que inaugura um processo subjetivo, com partes, lide e pretensão resistida de interesse.!

iii) Extensão (Finalidade) - o MI visa defender a efetividade dos direitos fundamentais (sejam de primeira, segunda, terceira geração…).!

iv) Legitimidade Ativa - o MI individual pode ser impetrado por qualquer pessoa natural ou jurídica cujo direito fundamental dependa de regulamentação; enquanto o MI coletivo só pode ser impetrado pelos legitimados ativos do art. 5º, LXX, CRFB/88!

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: a) partido político com representação no Congresso Nacional; b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados; !

v) Cautelar - o MI não admite cautelar, não há base normativa expressa nesse sentido e o STF vem adotando esse entendimento.!

vi) Órgão Competente para Julgamento - o órgão competente para julgamento dependerá da autoridade omissa.!

vii) Efeitos Subjetivos - regra geral, o MI gera efeitos subjetivos inter parts.!

!QUADRO COMPARATIVO!

!CARACTERÍSTICAS

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

POR OMISSÃO

!MANDADO DE INJUNÇÃO

Base Normativa Art. 103,§ 2º, CRFB/88 ; Lei 9868/99

Art. 5º, LXXI, CRFB/88 ; Lei 12.016/09 (por analogia)

Natureza Jurídica Ação do controle concentrado (processo objetivo)

Remédio constitucional (processo subjetivo)

Extensão (Finalidade) Defender a efetividade da Constituição

Defender a efetividade dos direitos fundamentais

!!Legitimidade Ativa

!!Art.103, I a IX, CRFB/88

Individual - qualquer pessoa natural ou jurídica cujo direito

fundamental dependa de regulamentação;!

Coletivo - art. 5º, LXX, CRFB/88

Cautelar Admite, art. 12-F, Lei 9868/99 Não admite

Órgão Competente Para Julgamento

Federal: STF ; Estadual: TJ Depende da autoridade omissa

Efeitos Subjetivos Erga omnes e vinculantes Inter partes, regra geral

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EFEITOS DAS DECISÕES MI E ADO - ORIENTAÇÃO DO STF!

a) Posição Não Concretista Geral - apesar de as duas ações terem sido instituídas em 1988 com o objetivo de efetivar a Constituição, o STF durante muitos anos adotou uma posição muito conservadora, tanto em relação ao MI e quanto relacionado à ADO.!

Durante praticamente vinte anos, até 2007,s o STF tinha uma posição chamada “não-concretista geral”, ou seja, na visão conservadora, em defesa da separação de poderes, o STF entendia que não se podia uma decisão final de MI ou ADO fixar prazo para o legislador legislar, tampouco aplicar por analogia lei existente para suprir a omissão normativa.!

Então, o que se tinha ao final de uma sentença de ADO e MI? A declaração de mora do Poder omisso —, se recebia um atestado formalizando o que já se sabia desde o ajuizamento da ação, então, durante muitos anos foi essa a posição do STF.!

Nesse caso, por ser um mero “atestado”, era uma decisão que não produzia efeitos práticos e isso valeu durante anos, tanto em MI, quanto em ADO (exs: MI 20 e 168, STF).!

Apesar de as duas ações terem sido instituídas em 1988 com o objetivo de efetivar a Constituição, o STF durante muitos anos adotou uma posição muito conservadora, tanto em relação ao MI e quanto relacionado à ADO.!

b) Posição Não Concretista - de 2007 para cá o STF tem adotado uma visão mais efetiva, menos conservadora com relação a essas ações, principalmente no que concerne ao mandado de injunção e aí desde 2007 são encontradas “posições concretistas” em sentido amplo na jurisprudência do STF, que significam que a Corte não se limita a declarar a mora do poder público omisso.!

Em relação a essa posição não concretista, a doutrina entende que o STF adota três espécies de posições, tanto em MI quanto em ADO:!

i) Geral - adotada nos MIs 670, 708, 712. Essa posição, além de declarar a mora do poder público, aplicou a lei de greve destinada aos empregados das empresas privadas aos servidores públicos, para suprir a ausência de lei específica, enquanto essa lei não for elabora.!

O STF, além de atestar que o Poder Público está em mora na elaboração da lei, aplicou analogicamente uma norma para suprir a omissão normativa e como o perfil dessa decisão foi mais aditivo, o STF estendeu os efeitos para todos os servidores públicos —, foi uma posição concretista geral com efeitos erga omnes.!

ii) Individual Direta - adotada nos MIs 721, 758. Com relação ao art. 40, § 4º, CRFB/88 (aposentadoria especial para servidores que trabalham em atividade de risco), o STF também adotou posições concertistas individuais diretas, porque além de declarar a norma do Poder Público, determinou que fosse aplicada a norma da Lei Geral da Previdência para aqueles servidores que ajuizaram os MIs, enquanto a lei complementar não for criada.!

Como os efeitos subjetivos desses MIs têm sido inter partes, o que se tem é uma posição concretista individual direta. !

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iii) Intermediária (Conservadora) - ADIN 3682. A ADO ainda precisa caminhar muito mais, ainda é uma ação tímida na jurisprudência do STF. Em 2007 o STF recebeu uma ADIN que, na prática, questionou uma omissão normativa elencada no art. 18, § 4º, CRFB/88 (lei complementar federal para regularizar a situação dos municípios brasileiros).!

O STF declarou a mora do Poder Público e fixou um prazo de 18 meses para que o Congresso Nacional elaborasse a Lei e já se passou mais de três anos, sem que a lei fosse elaborada. !

Então, essa é uma decisão intermediária porque não prevê eventuais sanções em caso de descumprimento.!

!INFORMAÇÕES ADICIONAIS!

• Nem o MI e nem a ADO cuidam de omissões nos serviços públicos, omissões relacionadas à prestação irregular ou a não prestação de serviços na área da saúde, educação, lazer, moradia… A falta de políticas públicas em algumas searas dos direitos sociais ou difusos não ensejam a propositura de MI ou ADO, para isso existem mandado de segurança, ação popular, ação civil pública… Mas, MI e ADO estão vinculados ao princípio da legalidade, ou seja, a Constituição determina que aquele direito ou disposição seja objeto de regulamentação e o legislador ou não legisla, ou o faz de maneira insuficiente (a omissão normativa pode ser apenas parcial, art. 7º, IV, CRFB/88).!

• ADO - a participação do Procurador Geral da República está prevista no art. 12-E 40, § 3º, Lei 9868/99; enquanto a participação do Advogado Geral da União está elencada no art. 12-E 40, § 2º, Lei 9868/99.!

Art. 12, L. 9868/99.!§ 2o  O relator poderá solicitar a manifestação do Advogado-Geral da União, que deverá ser encaminhada no prazo de 15 (quinze) dias.  !§ 3o  O Procurador-Geral da República, nas ações em que não for autor, terá vista do processo, por 15 (quinze) dias, após o decurso do prazo para informações.!!

A lei 9868/99 não previa a regulamentação da ADO desde sempre, ela começou a prever as normas relativas à ADO com a alteração feita pela Lei 12.063/09, que trouxe regras para seu julgamento.!

O art. 12-E 40, § 3º, Lei 9868/99 apresenta a seguinte regra em relação a ADO: se o PGR for o autor da ADO, ele não não atuará como custus legis; então, se não for autor, será custus legis obrigatório.!

Quanto ao AGU, o relator da ADO, poderá, se quiser, convocá-lo para participar. !

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!ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL!!

Art. 102, CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:§1º A argüição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente desta Constituição, será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei."

!HISTÓRICO!

A ADPF surgiu em 1988 para suprir algumas lacunas até então existentes, nas demais ações do controle concentrado, mas o 102, §1º, CRFB/88 foi considerado pelo STF uma norma de eficácia limitada dependente de regulamentação.!

Então, o STF interpretando o dispositivo legal, sobretudo o trecho que diz que a ação será apreciada na forma da lei, entendeu que a ADPF para ser recebida pela Corte precisaria de uma regulamentação infraconstitucional.!

Então, de 1988 até dezembro de 1999, quando foi editada a lei que regulamenta a ADPF (lei 9882/99), o STF não deu decisão nenhuma em sede de ADPF.!

Para completar, em junho de 2000 o Conselho Federal da OAB ingressou com uma ADIN questionando alguns dos dispositivos da Lei 9882 - ADIN 2231, que ainda não possui uma decisão final.!

!BASE LEGAL (Art. 102, §1º, CRFB/88 e Lei nº 9882/99)!

Art. 102, CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:§1º A argüição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente desta Constituição, será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei."

A base legal da ADPF está no art. 102, §1º, CRFB/88 e na lei 9882/99.!

!DEFINIÇÃO DE PRECEITO FUNDAMENTAL (ADPF 33)!

A vida da ADPF passa por alguns problemas porque existe uma falta de regulação do que são preceitos fundamentais.!

A própria definição do objeto de preceito fundamental não está na lei, mas na jurisprudência. !

No julgamento da ADPF 33, o STF estabeleceu em rol exemplificativo o elenco de preceitos fundamentais: i) arts. 1º a 4º da CRFB/88 - princípios fundamentais; ii) arts. 5º a 17, CRFB/88 - direitos e garantias fundamentais; iii) art. 34, VII, CRFB/88; iv) art. 37, caput, CRFB/88; e v) art. 60, §4º, CRFB/88 - cláusulas pétreas.!

São preceitos importantes da Constituição, preservando a federação, república, os direitos fundamentais, a democracia, os princípios que regem a Administração Pública…!

Vejam, ADIN, ADC e ADO protegem a Constituição, enquanto a ADPF protege os preceitos fundamentais, o seu raio de tutela é um pouco mais restrito.!

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CARÁTER SUBSIDIÁRIO (ADPF 76 e 100)!

A lei 9882/99, ainda trouxe uma novidade, o art. 4º § 1º diz que não será admitida a ADPF quando houver qualquer outro meio eficaz de sanar a lesividade.!

José Afonso da Silva e André Ramos Tavares sustentam a inconstitucionalidade desse dispositivo, porque, afinal de contas, a Constituição não trouxe essa natureza residual para a ADPF, então, qual seria o sentido de a lei restringir a utilização da ação?!

O fato é que o caráter subsidiário existe e há, inclusive, decisões do STF nesse sentido; durante um tempo a Corte adotou uma posição muito excludente da ADPF, chegando a dizer na ADPF 17 que se coubesse uma ação popular, não caberia ADPF.!

Hoje as regras são um pouco distintas, interpretando este caráter subsidiário do art. 4º § 1º, da Lei 9882/99, o STF tem duas decisões de destaque: i) na ADPF 76 a Corte entendeu que o caráter subsidiário da ADPF está relacionado às demais ações do controle concentrado federal; ii) no julgamento da ADPF 100, o STF ampliou as hipóteses de julgamento —, se uma lei municipal violar a Constituição Federal e a Constituição Estadual em uma norma de observância obrigatória ao modelo federal, o entendimento do STF é de que não cabe ADPF e RI estadual, será cabível, apenas, a representação de inconstitucional, com base no art. 125, § 2º, CRFB/88.!

Art. 4º, § 1º, L. 9882/99. Não será admitida argüição de descumprimento de preceito fundamental quando houver qualquer outro meio eficaz de sanar a lesividade."!Art. 125, § 2º, CF. Cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um único órgão."

Na hipótese da ADPF 100, o STF reservou para si, apenas, a competência recursal para analisar o tema, vez que utiliza-se do Tribunal de Justiça como filtro de análise à Constituição Estadual e também Federal, vez que o descumprimento é de norma de observância obrigatória —, caso o julgamento da ação não seja o mais desejado, ainda será possível a interposição de Recurso Extraordinário.!

PS! Se for indicado apenas que a lei municipal viola preceito fundamental da Constituição Federal, sem fazer análise à violação dupla (também à Constituição do Estado), cabe ADPF para analisar sua constitucionalidade.!

!HIPÓTESES DE CABIMENTO!

O rol não é taxativo, porque a ADPF ainda está em fase de transição e amadurecimento, mas, sem dúvidas, seu objeto principal se encontra nas seguintes disposições:!

a) Lei municipal que viole diretamente preceito fundamental da CRFB/88;!

b) Lei distrital de natureza municipal que viole diretamente preceito fundamental da CRFB/88;!

PS! Se a lei distrital tiver natureza estadual, a ação cabível para impugná-la será ADIN e não aADPF.!

c) Normas pré-constitucionais;!

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d) Atos normativos secundários (portarias, autos de infração, decretos meramente regulamentares…).!

!INCABÍVEL ADPF - JURISPRUDÊNCIA DO STF!

a) Súmulas, enunciados comuns (de qualquer Tribunal) - ADPF 80;!

b) Súmula vinculante (não pode ser objeto de nenhuma ação do controle concentrado - ADPF 147;!

c) Veto presidencial - há duas decisões controvertidas, mas, para efeito de prova, vale a última: i) ADPF 45 - o STF aceitou como objeto da ADPF, o veto presidencial; e ii) ADPF 73 - a análise judicial do veto presidencial, seria uma violação ao Princípio da Separação de Poderes e, portanto, prevalece o entendimento de que o veto não pode ser objeto da ADPF.!

!LEGITIMIDADE ATIVA (ART. 103, I a IX, CRFB/88)!

Art. 103, CF. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: "I - o Presidente da República;"II - a Mesa do Senado Federal;"III - a Mesa da Câmara dos Deputados;"IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;"V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; "VI - o Procurador-Geral da República;"VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;"VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;"IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional."!

Vale para todas as ações do controle abstrato federal (ADIN, ADC, ADO, ADPF). !

a) Especial (Art. 103, IV, V e IX, CRFB/88) - precisam comprovar a pertinência temática, a relação de congruência, de harmonia que deve existir entre o objeto da ação e o interesse do grupo, da classe, da categoria.!

Art. 103, CF. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: "IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;"V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; "IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional."!

O STF exige de certos legitimados ativos a pertinência temática, a relação de harmonia que o autor da ação deve provar com o interesse do grupo, do estado, da categoria, dos associados… E a pertinência temática passou a ser exigida dos legitimados dos incisos IV, V e IX —, ou seja, das i) Mesas de Assembleia Legislativa dos estados ou Câmara do Distrito Federal; i) do Governador dos estados ou Distrito Federal; e iii) da confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.!

b) Universal (Art. 103, I a III e VI a VIII, CRFB/88) - interessados remanescentes, os quais não precisam comprovar a pertinência temática para que suas ações sejam apresentadas perante o STF.!

Art. 103, CF. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: "I - o Presidente da República;"II - a Mesa do Senado Federal;"III - a Mesa da Câmara dos Deputados;"

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VI - o Procurador-Geral da República;"VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;"VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;"!

São eles: i) Presidente da República; ii) mesa do Senado Federal; iii) mesa da Câmara dos Deputados; iv) Procurador Geral da República; v) Conselho Federal da OAB; e vi) partido político com representação no Congresso Nacional.!

!CAPACIDADE POSTULATÓRIA!

O STF na ADIN 127 decidiu aqueles que precisam de advogados para ajuizar ações de controle de constitucionalidade e aqueles que possuem capacidade postulatória já extraída da Constituição Federal —, o que foi dito naquele julgamento vale, mutatis mutantis, para a ADC, ADO e ADPF.!

Os legitimados ativos dos incisos I a VII do art. 103, CRFB não necessitam de advogados: i) Presidente da República; ii) Mesa do Senado Federal; iii) Mesa da Câmara dos Deputados; iv) Mesa da Assembleia Legislativa dos estados ou Câmara Legislativa do Distrito Federal; v) Procurador Geral da República; e vi) Conselho Federal da OAB.!

Art. 103, CF. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: "I - o Presidente da República;"II - a Mesa do Senado Federal;"III - a Mesa da Câmara dos Deputados;"IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;"V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; "VI - o Procurador-Geral da República;"VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;"!

Já os legitimados dos incisos VIII e IX precisam de advogados para ingressar com as ações de constitucionalidade, porque não possuem capacidade postulatória: i) Partido político com representação no Congresso Nacional; e ii) Confederação sindical; e iii) Entidade de classe de âmbito nacional.!

Art. 103, CF. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: "VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;"IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional."!

PARTICIPAÇÃO DO PROCURADOR GERAL DA REPÚBLICA!

O art. 7º, parágrafo único, da Lei 9882/99, diz que o Ministério Públicos nas ações que não for por ele ajuizadas, atuará como custus legis."

Art. 7º, L. 9868/99. Decorrido o prazo das informações, o relator lançará o relatório, com cópia a todos os ministros, e pedirá dia para julgamento."Parágrafo único. O Ministério Público, nas argüições que não houver formulado, terá vista do processo, por cinco dias, após o decurso do prazo para informações."!

PARTICIPAÇÃO DO ADVOGADO GERAL DA UNIÃO!

Quanto ao AGU, o relator da ADPF, poderá, se quiser, convocá-lo para participar. !

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MODALIDADES (ESPÉCIES) DE ADPF!

Na prática todas as ações do controle difuso dependem de um ajuizamento principal, para análise em um processo abstrato, todavia, a lei da ADPF prevê duas modalidades de arguições.!

a) Principal - ação pela linha direta, inaugurando um processo objetivo. Está prevista no art. 1º, caput, da Lei 9882/99, o artigo que justifica essa ADPF principal é o art. 102 §1º, CRFB/88 —, essa ação, assim como a ADIN, ADC e ADO é uma ação do controle concentrado abstrato, de modo que a análise do ato é feito em tese.!

1º, L. 9882/99. A argüição prevista no 1º do art. 102 da Constituição Federal será proposta perante o Supremo Tribunal Federal, e terá por objeto evitar ou reparar lesão a preceito fundamental, resultante de ato do Poder Público."!

b) Incidental - ação pela via indireta, proposta no bojo de um processo incidental subjetivo. Está prevista no art. 1º, parágrafo único, inciso I, L. 9882/99. O segundo modelo de ADPF diferente previsto, é uma ação do controle concentrado, mas uma ação do controle concentrado concreto.!

Art. 1º, parágrafo único, L. 9882/99. Caberá também argüição de descumprimento de preceito fundamental: "I - quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à Constituição."!

Essa ação foi desenhada da seguinte forma: estou em um processo subjetivo e nesse processo há um ato que viola preceito fundamental, seria possível apresentar a ADPF no processo através de um tópico na ação, o juiz ou Tribunal iria promover uma cisão funcional vertical de competência e remeter à analise da questão incidental ao STF, o processo ficaria suspenso e o STF decidiria se iria acolher ou não a ADPF, lavrava o acórdão, que retornaria ao processo que seguiria normalmente.!

O porém é que o modelo da ADPF incidental é um modelo falido, que não se operacionaliza, porque tanto a ADPF principal, quanto a incidental só podem ser ajuizadas pelos legitimados do art. 103, I a IX, CRFB/88 —, não há legitimidade popular.!

Normalmente os legitimados ativos preferem ingressar com a ADPF principal diretamente ao STF e não no bojo de um processo subjetivo.!

Veja que a ADPF incidental existe mais em forma que de fato, porque o grande interessado a ajuizar a ADPF incidental seria o cidadão, que não possui legitimidade ativa para a sua propositura.!

!CAUTELAR E DECISÃO DEFINITIVA!

Do mesmo modo que as cautelares e decisões definitivas das demais ações do controle concentrado, a cautelar também gera efeitos erga omnes, vinculantes… A decisão definitiva também gera efeitos erga omnes, vinculantes, regra geral, ex tunc, podendo existir, também a modulação geral dos efeitos da decisão, segundo art. 11 da Lei 9882/99.!

Art. 11, L. 9882/98. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, no processo de argüição de descumprimento de preceito fundamental, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.

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RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL!!Art. 102, CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:!I - processar e julgar, originariamente:!l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões;!!

Flavia não consegue enxergar a jurisdição constitucional sem a reclamação. É uma ação que gera uma série de controvérsias, sobretudo por conta de sua natureza jurídica, porque há um julgado do STF em que a Corte traz inúmeras posições doutrinárias acerca, não optando, ainda, por um modelo específico.!

Mas, é como se a reclamação fosse uma ação de fiscalização. Não adianta ter essa jurisdição constitucional tão reforçada, se não existisse um instrumento para fiscalizar realmente se as decisões do STF estão sendo respeitadas, se as súmulas vinculantes estão sendo observadas, se não há usurpação de competência da Corte…!

!HISTÓRICO!

A reclamação surgiu do regimento da Corte, na década de cinquenta, mas nunca recebeu um papel tão importante no ordenamento pátrio como na Constituição de 1988.!

Hoje é impensável a jurisdição constitucional sem a reclamação.!

!PREVISÃO LEGAL (Art. 102, I, l; Art. 103-A, CRFB/88; Lei 11.417/06 e Lei 8.038/90)!

A previsão legal da reclamação está: i) no art. 102, I, l, CRFB/88, diz que compete ao STF processar e julgar originariamente a reclamação e para a garantir a autoridade de suas decisões; ii) no art. 103-A, CRFB/88 que trata das súmulas vinculantes; iii) na lei 11.417/06 que regula a súmula vinculante no âmbito infraconstituciona; iv) lei 8038/90 que trata dos aspectos procedimentais perante o STF e o STJ.!

Art. 102, CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:!I - processar e julgar, originariamente:!l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões;!!Art. 103-A, CF. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.!!

NATUREZA JURÍDICA!

Há um julgado do STF dizendo:!

“A reclamação, qualquer que seja a qualificação que se lhe dê - ação (Pontes de Miranda), recurso ou sucedâneo recursal (Moacyr Amaral Santos); remédio incomum (Orisimbo Nonato) ou ainda incidente processual configura, modernamente, instrumento de extração constitucional, inconstante a origem pretoriana de sua criação (RTJ 112/504, destinado a viabilizar na concretização de sua dupla função de ordem política-jurídica, a preservação da competência e a garantia das autoridades do STF (CF, art. art. 102, I, l,) e do STJ (CF, art. 105, I, f) (…) (j. 19.12.90, DJU 15.03.91)"!

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Tem algumas decisões isoladas dos Ministros dizendo que a reclamação poderia ser considerada como uma manifestação isolada do direito de petição ou, ainda, instrumento correcional —, enfim, realmente a natureza jurídica ainda não está definida.!

A Corte já decidiu que a reclamação não é recurso e não é recurso por motivos muito fundamentados: i) não está prevista no CPC como recurso no seu art. 496; ii) não há prazo para sua apresentação e todo recurso tem prazo para que o processo não se prolongue de forma indefinida; e iii) não pretende a reforma ou a invalidação da decisão.!

Então, independentemente da controvérsia sobre a natureza jurídica da reclamação, sabe-se que e ela não é recurso. E o STF ao reconhecer a controvérsia disse, como se pode perceber do julgado, que independentemente da controvérsia a reclamação configura nstrumento de extração constitucional, inconstante a origem pretoriana de sua criação (RTJ 112/504, destinado a viabilizar na concretização de sua dupla função de ordem política-jurídica, a preservação da competência e a garantia das autoridades do STF (CF, art. art. 102, I, l,) e do STJ (CF, art. 105, I, f) —, no julgado narrado não se incluiu a súmula vinculante porque se trata de uma decisão do início da década de noventa e não se teve grandes evoluções de lá pra cá.!

Art. 102, CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:!I - processar e julgar, originariamente:!l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões;!!Art. 105, CF. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:!I - processar e julgar, originariamente:!f) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões;!!

HIPÓTESES DE CABIMENTO!

Duas das hipóteses de cabimento são extraídas do art. 102, I, l, CRFB/88: a) garantir a autoridade das decisões da Corte - o STF dá decisões no controle difuso e concentrado, como as decisões dada no controle difuso, via de regra, geram efeitos inter partes, é muito mais comum ter reclamações em face de decisões que descumprem orientações do STF no controle concentrado; e b) preservar a competência do STF - as competências do STF são originárias (art. 102, I, CRFB/88) e recursais (art. 102, II e III, CRFB/88).!

Art. 102, CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:!I - processar e julgar, originariamente:!l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões;!!Art. 102, CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:!I - processar e julgar, originariamente:!a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal; !b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República;!c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente;!d) o "habeas-corpus", sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de segurança e o "habeas-data" contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal;!e) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Território;!f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta;!g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro;!

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i) o habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância;!j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados;!l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões;!m) a execução de sentença nas causas de sua competência originária, facultada a delegação de atribuições para a prática de atos processuais;!n) a ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados, e aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados;!o) os conflitos de competência entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre Tribunais Superiores, ou entre estes e qualquer outro tribunal;!p) o pedido de medida cautelar das ações diretas de inconstitucionalidade;!q) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição do Presidente da República, do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal;!r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do Ministério Público; !II - julgar, em recurso ordinário:!a) o "habeas-corpus", o mandado de segurança, o "habeas-data" e o mandado de injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão;!b) o crime político;!III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida:!a) contrariar dispositivo desta Constituição;!b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;!c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição.!d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal.!!

Há, ainda, uma terceira hipótese de cabimento extraída do art. 103-A, §3º, CRFB/88 somado à lei 11.417/06: c) preservar a observância da súmula vinculante, que é de observância obrigatória.!

Art. 103, § 3º, CF. Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso.!

PS! Não cabe reclamação em face de decisão que descumpre súmula não vinculante.!

O art. 7º, §1º, Lei 11.417/06, diz que da decisão judicial que descumprir a súmula vinculante, cabe a reclamação; mas, da decisão administrativa só caberá reclamação após o esgotamento de instância administrativa —, veja que é um requisito a mais para o cabimento da reclamação nessa situação e não é violação do acesso à justiça porque a parte pode fazer uso de ação judicial, só não pode fazer de Reclamação Constitucional por força desse dispositivo.!

Art. 7o, Lei 11417/06. Da decisão judicial ou do ato administrativo que contrariar enunciado de súmula vinculante, negar-lhe vigência ou aplicá-lo indevidamente caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal, sem prejuízo dos recursos ou outros meios admissíveis de impugnação.!§ 1o Contra omissão ou ato da administração pública, o uso da reclamação só será admitido após esgotamento das vias administrativas.!!

Portanto, a reclamação constitucional é cabível para garantir a autoridade das decisões do STF, mas também para preservar sua competência e a súmula vinculante.!

!LEGITIMIDADE ATIVA!

O autor da reclamação é a parte, seja ela: a) autor; b) réu; c) recorrente; d) recorrido —, é preciso que se esteja no bojo de um processo judicial ou de um procedimento administrativo, não se reclama do nada, se reclama com cópia da decisão.!

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Aliás, muitos autores chegam a dizer que à semelhança do mandado de segurança, a reclamação é uma peça documental.!

O art. 128, I e II, CRFB/88 aponta para a divisão do Ministério Público —, a) há o Ministério Público da União, dividido em: i) MPT, ii) MPF. iii) MPM, e iv) MPDFT; b) Ministério Público do Estado.!

Não se pode esquecer que quem representa o MPU perante o STF é o Procurador Geral da República, então, o MPT, MPM, MPF e MPFDT não podem apresentar reclamação diretamente, o PGR que deve ser autor da reclamação envolvendo os órgãos do Ministério Público da União; mas o MPE pode fazer uso da reclamação diretamente.!

!DECISÃO OBJETO DA RECLAMAÇÃO!

a) Decisão Judicial; ou!

b) Decisão Administrativa!

É preciso que a cópia da decisão acompanhe a reclamação constitucional.!

!PRAZO!

Não existe prazo para o ajuizamento da reclamação, mas é preciso atentar para o teor da súmula 734, STF que diz que não cabe reclamação quando já tenha transitado em julgado o ato judicial que tenha desrespeitado a decisão do STF.!

S. 734 - STF. Não cabe reclamação quando já houver transitado em julgado o ato judicial que se alega tenha desrespeitado decisão do Supremo Tribunal Federal.!

Não faz sentido que a reclamação desrespeite a coisa julgada, se há quinze anos atrás o TJRS aplicou uma lei e depois de certo período a lei foi declarada inconstitucional pelo STF, faz sentido entrar com reclamação para violar coisa julgada? Não.!

Então, não há um prazo específico para apresentação da reclamação, entretanto a súmula 734, STF se aplica, ou seja, não cabe reclamação quando o ato judicial tenha transitado em julgado.!

!MEDIDA LIMINAR!

A medida liminar em sede de reclamação está no art. 14, II, da Lei 8038/90.!

Art. 14, L. 8038/90. - Ao despachar a reclamação, o relator:!II - ordenará, se necessário, para evitar dano irreparável, a suspensão do processo ou do ato impugnado.!!!

RECLAMAÇÃO STJ E TJ!

A reclamação para o STJ está no art. 105, I, f, CRFB/88 quando houver violação de sua autoridade e competência.!

Art. 105, CF. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:!I - processar e julgar, originariamente:!f) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões;!

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A jurisprudência do STF permite que os regimentos internas dos TJs criem as suas reclamações também para preservar sua competência e defender a autoridade suas decisões.!

!JURISPRUDÊNCIA DO STF!

"Inexiste ofensa à autoridade de Súmula Vinculante quando o ato de que se reclama é anterior à decisão emanada da Corte Suprema." (Rcl 6.449-AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 25-11-2009, Plenário, DJE de 11-12-2009).!

A súmula vinculante produz efeitos a partir de sua edição, então, se o ato foi produzido antes da súmula, ele não pode ter desrespeitado a súmula.!

"Não cabe reclamação constitucional para questionar violação a súmula do STF destituída de efeito vinculante. Precedentes. As atuais súmulas singelas do STF somente produzirão efeito vinculante após sua confirmação por dois terços dos Ministros da Corte e publicação na imprensa oficial (art. 8o da EC 45/2004)." (Rcl 3.284-AgR, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 1o-7-2009,!

Como já ressaltado, não cabe reclamação contra súmula não vinculante, ainda que de autoria do STF.!

"(...) somente as decisões concessivas das liminares em ADIs e ADCs é que se dotam de efeito vinculante. Não as denegatórias. Ante a natureza subjetiva do processos, as decisões proferidas em reclamação não têm eficácia erga omnes (contra todos)." (Rcl 3.424- AgR, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 11- 10-2007, Plenário,DJE de 1o-8-2008). No mesmo sentido: Rcl 2.658-AgR, Rcl 2.811- AgR e Rcl 2.821-AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 16-9-2009, Plenário, DJE de 16- 10-2009.!

Somente as decisões concessivas de liminares em ADINs e ADCs possuem efeitos vinculantes e erga omnes e não as denegatórias —, se a lógica é essa, não cabe ajuizar reclamação se a decisão judicial não desrespeitou, por exemplo, a cautelar concedida.!

Ex: STF recebe uma ADIN e concede a cautelar para suspender o ato normativo impugnado e o STF nega provimento à cautelar de ADIN, isso significa dizer que a lei deve ser obrigatoriamente cumprida? Não, porque as decisões vinculantes nas cautelares são aquelas que concedem as liminares e não as que a denegam.!

"Reclamação não é recurso e não se destina a examinar o ato impugnado com vistas a repudiá-lo por alguma invalidade processual- formal ou corrigi-lo por erros em face da lei ou da jurisprudência." (Rcl 3.800-AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 2-2-2006, Plenário, DJ de 9-6-2006.)!

Só reforça o que foi dito: a natureza jurídica da reclamação é incerta, mas o que é certo é que ela não é recurso.!

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!NOÇÕES SOBRE AS AÇÕES DO CONTROLE CONCENTRADO ESTADUAL!!!

Do mesmo modo que a Constituição Federal é protegida pelo Controle de Constitucionalidade, as Constituições Estaduais também o são, afinal de contas, a Constituição do Estado é uma manifestação de sua autonomia e auto-organização.!

!REPRESENTAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE!

!HISTÓRICO!

A EC 16/65, responsável pela criação da representação de constitucionalidade no plano federal, também criou a RI estadual, a mini-ADIN, ou seja, a ADIN estadual.!

À época de sua criação, a RI estadual só podia questionar lei municipal que violasse a Constituição do Estado; em 1988 a RI, na forma do art. 125, § 2º, CRFB/88, teve seu objeto ampliado e passou a admitir o questionamento de lei estadual ou municipal violadora da Constituição do Estado.!

Art. 125, § 2º CF. Cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um único órgão.!

!BASE LEGAL - PODER CONSTITUINTE DERIVADO DECORRENTE!

Não se deve esquecer que a Constituição do Estado é uma manifestação de poder constituinte derivado decorrente, cada estado da federação possui a sua Constituição Estadual que precisa ser protegida em nome até da defesa da autonomia do estado-membro.!

A base da RI estadual, é como dito, o art. 125, § 2º, CRFB/88, que é norma de observância obrigatória, ou seja, todas as Constituições Estaduais devem estabelecer as suas representações de inconstitucionalidade.!

Art. 125, § 2º CF. Cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um único órgão.!

!ÓRGÃO COMPETENTE PARA JULGAMENTO!

O Tribunal de Justiça é o órgão competente para apreciar as ações relativas ao controle estadual;.!

No caso do Distrito Federal, o STF já reconheceu que a Lei Orgânica do Distrito Federal tem status de Constituição Estadual, então, quem vai realizar a apreciar as ações de RI é o Tribunal de Justiça do Distrito Federal.!

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PARÂMETRO!

O parâmetro dual é a Constituição do próprio estado ou a Lei Orgânica do Distrito Federal. Veja, muitos autores dizem que a Constituição Estadual é, na verdade, uma mini-Constituição Federal em seu conteúdo, existem muitas normas na Constituição do Estado que reproduzem o modelo federal, sendo que essa reprodução é, muitas vezes, obrigatória.!

Em virtude disso, o STF na Reclamação Constitucional 383 foi instado a se manifestar sobre o seguinte: será que todas as normas que se encontram na Constituição do Estado servem como parâmetro do controle concentrado estadual ou somente as normas inovadoras?!

No julgamento da RC 383 o STF disse que toda a Constituição Estadual é parâmetro do controle concentrado e não apenas as normas inovadoras, até porque são tantas normas de observância obrigatória, que se elas não pudessem ser parâmetro do controle de constitucionalidade isso geraria prejuízo para a existência do controle estadual e poderia fragilizar a autonomia dos estados-membros.!

Por outro lado, o STF e a doutrina majoritária entendem que a Lei Orgânica Municipal não é parâmetro do controle concentrado, ou seja, não há controle de constitucionalidade com base na Lei Orgânica de municípios, porque estas, salvo a do Distrito Federal, não tem status de Constituição e não serve como parâmetro de controle de constitucionalidade algum; tampouco há posicionamento jurídico nesse sentido.!

Aliás, muitos autores defendem que o controle existente entre uma uma LOM e uma Constituição Estadual seria um controle de legalidade realizado a qualquer instante, por qualquer juiz ou tribunal no bojo de um procesos subjetivo.!

!CONCEITO DE NORMA DE OBSERVÂNCIA OBRIGATÓRIA!

Esse é um tema ainda controvertido, mas existem algumas posições que podem auxiliar neste aspecto. !

Segundo José Afonso da Silva, as normas de observância obrigatória são representadas por princípios:!

i) Princípios Constitucionais Sensíveis (art. 34, VII, CRFB/88).!

Art. 34, CF. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:!VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:!a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;!b) direitos da pessoa humana;!c) autonomia municipal;!d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.!e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.!!

ii) Princípios Estabelecidos (arts. 27, 28, 29, 75, 125 § 2º, CRFB/88) - reservados ao estado pela própria Constituição Federal, ou seja, quando a própria Constituição Federal menciona como deve funcionar o instituto no plano do estado, essa é uma norma estabelecida, então as Constituições estaduais devem reproduzir as normas dessa forma em sua legislação.!

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Art. 27, CF. O número de Deputados à Assembléia Legislativa corresponderá ao triplo da representação do Estado na Câmara dos Deputados e, atingido o número de trinta e seis, será acrescido de tantos quantos forem os Deputados Federais acima de doze.!§ 1º - Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais, aplicando- sê-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas.!§ 2º O subsídio dos Deputados Estaduais será fixado por lei de iniciativa da Assembléia Legislativa, na razão de, no máximo, setenta e cinco por cento daquele estabelecido, em espécie, para os Deputados Federais, observado o que dispõem os arts. 39, § 4º, 57, § 7º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.!§ 3º - Compete às Assembléias Legislativas dispor sobre seu regimento interno, polícia e serviços administrativos de sua secretaria, e prover os respectivos cargos.!§ 4º - A lei disporá sobre a iniciativa popular no processo legislativo estadual.!!Art. 28, CF. A eleição do Governador e do Vice-Governador de Estado, para mandato de quatro anos, realizar-se-á no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do mandato de seus antecessores, e a posse ocorrerá em primeiro de janeiro do ano subseqüente, observado, quanto ao mais, o disposto no art. 77.!§ 1º Perderá o mandato o Governador que assumir outro cargo ou função na administração pública direta ou indireta, ressalvada a posse em virtude de concurso público e observado o disposto no art. 38, I, IV e V.!§ 2º Os subsídios do Governador, do Vice-Governador e dos Secretários de Estado serão fixados por lei de iniciativa da Assembléia Legislativa, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.!!Art. 29, CF. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos:!I - eleição do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores, para mandato de quatro anos, mediante pleito direto e simultâneo realizado em todo o País;!II - eleição do Prefeito e do Vice-Prefeito realizada no primeiro domingo de outubro do ano anterior ao término do mandato dos que devam suceder, aplicadas as regras do art. 77, no caso de Municípios com mais de duzentos mil eleitores;!III - posse do Prefeito e do Vice-Prefeito no dia 1º de janeiro do ano subseqüente ao da eleição;!IV - para a composição das Câmaras Municipais, será observado o limite máximo de: !(…)!V - subsídios do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Secretários Municipais fixados por lei de iniciativa da Câmara Municipal, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I;!VI - o subsídio dos Vereadores será fixado pelas respectivas Câmaras Municipais em cada legislatura para a subseqüente, observado o que dispõe esta Constituição, observados os critérios estabelecidos na respectiva Lei Orgânica e os seguintes limites máximos:!(…)!VII - o total da despesa com a remuneração dos Vereadores não poderá ultrapassar o montante de cinco por cento da receita do Município; !VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município; !IX - proibições e incompatibilidades, no exercício da vereança, similares, no que couber, ao disposto nesta Constituição para os membros do Congresso Nacional e na Constituição do respectivo Estado para os membros da Assembléia Legislativa;!X - julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça; !XI - organização das funções legislativas e fiscalizadoras da Câmara Municipal; !XII - cooperação das associações representativas no planejamento municipal; !XIII - iniciativa popular de projetos de lei de interesse específico do Município, da cidade ou de bairros, através de manifestação de, pelo menos, cinco por cento do eleitorado;!XIV - perda do mandato do Prefeito, nos termos do art. 28, parágrafo único.!!Art. 75, CF. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber, à organização, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios.!Parágrafo único. As Constituições estaduais disporão sobre os Tribunais de Contas respectivos, que serão integrados por sete Conselheiros.!!Art. 125, § 2º CF. Cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um único órgão.!

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iii) Princípios Extensíveis - princípios que partem de uma grande interpretação constitucional, são frutos de outros princípios: a) Princípio da Separação de Poderes; b) Princípio Republicano; c) Princípio Federativo.!

É normalmente nesse princípio que o STF diz que as normas relativas ao processo legislativo federal devem ser reproduzidas no plano dos estados e um dos dispositivos mais destacados sobre o tema é do art. 61, § 1º, CRFB/88 - todos os projetos relativos à iniciativa privativa do Presidente da República são também projetos de iniciativa privativa de Governador e Prefeito.!

Ou seja, processo federativo, em nome do pacto federativo e separação dos poderes, no âmbito estadual e municipal devem seguir o modelo federal.!

Veja, o art, 83, CRFB/88, diante do princípio da separação de poderes, o STF entendeu que deve ser reproduzido no âmbito dos estados.!

Não há uma lista completa das normas de observância obrigatória, mas esses três princípios são importantes porque nos dão uma luz sobre o que deve ser reproduzido ou não.!

!OBJETO!

O objeto da representação de inconstitucionalidade é a a) lei estadual ou b) lei municipal que viole a Constituição Estadual —, normas que sejam, ou não, de observância obrigatória. !

!AÇÕES!

No plano federal, só há uma ação prevista que é a RI que é a ADIN estadual, mas, em que pese não exista previsão constitucional específica, a posição do STF é que as demais ações do controle concentrado federal — ADC, ADO e ADPF —, podem ser reproduzidas no âmbito dos estados.!

Assim, é possível a criação das demais ações do âmbito federal no plano estadual.!

!LEGITIMIDADE ATIVA!

A Constituição Federal no seu art. 125 § 2º faz apenas uma ressalva: é vedada a legitimidade de agir a apenas um órgão, ou seja, segundo o STF não há uma obrigação de seguir o modelo federal no que tange aos legitimados ativos do art. 103, I a IX, CRFB/88.!

Art. 125, § 2º CF. Cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um único órgão.!

Art. 103, CF. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: !I - o Presidente da República;!II - a Mesa do Senado Federal;!III - a Mesa da Câmara dos Deputados;!IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;!V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; !VI - o Procurador-Geral da República;!VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;!

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VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;!IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.!!

Isso quer dizer que os estados podem inovar e estabelecer outros legitimados que não observem o paralelismo do art. 103, I a IV, CRFB/88; agora, o que as Constituições Estaduais não podem fazer é indicar apenas um legitimado ativo.!

!TRÂMITE SIMULTÂNEO DE ADIN E RI!

Imagine que uma lei estadual viole ao mesmo tempo à Constituição Federal e a Constituição do Estado, em uma norma de observância obrigatória ao modelo federal; nesse caso de dupla violação existe a possibilidade da ADIN, art. 102, I, a, CRFB/88 e também a RI com base no art. 125 § 2º, CRFB/88.!

Art. 102, CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:!I - processar e julgar, originariamente:!a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal;!!Art. 125, § 2º CF. Cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um único órgão.!

As ações podem ser apresentadas simultaneamente perante o STF e o TJ, mas a Corte já decidiu que, nesse caso, quando o STF receber a ação, esse recebimento vai suspender a ação no plano estadual para evitar decisões controvertidas —, se o STF der provimento à ADIN federal, a ação estadual será julgada extinta sem resolução de mérito, por perda de objeto.!

Todavia, se o STF negar provimento à ADIN federal, o entendimento de alguns autores é que se o próprio STF pode voltar eventualmente a deliberar sobre a norma, confirmada válida, o TJ não ficaria, neste caso, vinculado à decisão e poderia concluir pela inconstitucionalidade da norma.!

Então, é possível a propositura simultânea, mas não a tramitação conjunta, porque o recebimento da ação federal suspende o julgamento da ação estadual.!

!RECORRIBILIDADE DAS DECISÕES DO TJ!

Diferentemente das decisões do STF no controle concentrado federal, que são irrecorríveis, é perfeitamente possível que uma decisão do TJ viole à Constituição Federal e seja eventualmente objeto de um recurso extraordinário.!

Então, as decisões do TJ no controle concentrado são recorríveis, caso violem à Constituição Federal.!

!AMICUS CURIAE!

O amicus curiae também pode existir no controle concentrado estadual, o STF, inclusive, já decidiu dessa maneira.!

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!TEMAS CONTROVERTIDOS SOBRE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE!!!SINCRETIZAÇÃO DOS CONTROLES DE CONSTITUCIONALIDADE !

Tema interessante para questões de provas discursivas. !

Em resumo, a sincretização dos controles de constitucionalidade significa que o controle concreto, difuso, tem recebido características do controle concreto, abstrato e também que o controle abstrato tem recebido características do controle concreto (a preocupação com fatos e a repercussão da decisão da Corte para a sociedade).!

a) Abstrativização do Controle Concreto (RCL 4335, STF) - a abstratização do controle concreto, difuso, nós já falamos acerca da reclamação 4335, STF, na reclamação, os votos dos Ministros Eros Grau e Gilmar Mendes, foram no sentido de que, de acordo com a atual jurisdição constitucional, as decisões da Corte, sejam no controle concentrado ou difuso, produziriam efeitos erga omnes, sem a participação do Senado Federal (art. 52, X, CRFB/88), que teria se tornado obsoleta, anacrônica.!

Art. 52, CF. Compete privativamente ao Senado Federal:!X - suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal;!!

Como as decisões do controle difuso produzem, em regra, efeitos inter partes e dependem da atuação do Senado para que venham a produzir efeitos erga omnes, é possível dizer que esta é uma característica de controle abstrato que está ingressando no controle difuso, concreto.!

Ou seja, há essa tendência no sentido de que decisões do STF no controle difuso produziriam os efeitos das decisões da Corte no controle abstrato, efeitos erga omnes.!

i) MIs 670, 708 e 712 - são mandados de injunção sobre o direito à greve do servidor público, a posição adotada pelo STF no julgamento dos referidos MIs foi a determinação da aplicação analógica da lei de greve do empregado de empresa privada para suprir a ausência da lei de greve do servidor público prevista no art. 37, VII, CRFB/88 enquanto o legislador não editar a norma.!

A tendência da abstrativização nesses MIs é que o STF não restringiu os efeitos da decisão apenas aos sindicatos da entidades que fizeram uso dos mandados de injunção, o STF aproveitou essas decisões e disse que o entendimento esposado seria aplicado para todos os servidores públicos do país, enquanto a greve do servidor não for regulamentada.!

Então, o que a Corte fez com as decisões de perfil mais aditivo: o STF, além de declarar a mora do Poder Público, determinou a aplicação analógica da lei existente a todos os servidores públicos —, deu efeitos erga omnes a essas decisões que normalmente teriam efeitos inter partes em mais uma tendência de abstrativizar as decisões do controle concreto.!

ii) A Repercussão Geral em Recurso Extraordinário (Art. 102, §3º, CRFB/88)!

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Art. 102 § 3º, CF. No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus membros.!

A EC 45/04 acrescentou ao texto constitucional o art. 102, §3º, CRFB/88, estabelecendo que o recorrente em sede de RE, além de ter de fundamentar seu recurso em uma das hipóteses do art. 102, III, CRFB/88, também precisa comprovar a repercussão geral em Recurso Extraordinário.!

Em resumo, isso significa que a parte precisa comprovar ao STF que a matéria objeto do recurso é relevante sob o ponto de vista social, econômico, cultural, político, previdenciário, trabalhista… Além disso, é preciso demonstrar que a matéria transcende os interesses subjetivos da parte na causa, é preciso uma repercussão coletiva.!

O efeito prático é: se o STF aceita aquela matéria como de repercussão geral, todos os outros recursos com fundamento idêntico, em regra, serão admitidos, mas o efeito dessa abstrativização surge porque, caso a Corte negue a repercussão geral naquele recurso, o que ocorre é que outros recursos com fundamento geral serão, de plano, inadmitidos.!

Isso demonstra uma repercussão coletiva no controle difuso que tradicionalmente se resume as partes em litígio, o que é uma característica do controle concentrado.!

b) Concretização do Controle Abstrato - há tendência de concretização do controle abstrato, concretização porque no caso concreto há fatos envolvidos, há uma preocupação com a repercussão da decisão para as partes.!

O controle concentrado deveria se preocupar com questões de Direito e não com os fatos, mas, cada vez mais, há preocupação relacionada aos fatos e à repercussão social daquelas decisões.!

i) Amicus Curiae (Art. 7º, § 2º, L. 9868/99) - a participação do amicus curiae é um exemplo da concretização do controle abstrato.!

Art. 7º, § 2º, L. 9868/99. O relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, poderá, por despacho irrecorrível, admitir, observado o prazo fixado no parágrafo anterior, a manifestação de outros órgãos ou entidades.!

O amicus curiae é um representante da sociedade, o qual faz a ponte entre a sociedade e o STF, levando suas impressões sobre a matéria objeto da ação, o amicus curiae é um mensageiro da sociedade que vai levar as repercussões sociais daquela decisão para o STF, concretizando o debate abstrato, porque levará fatos, argumentos, sentimentos que a sociedade possui em relação à lei objeto da ação.!

ii) Modulação Temporal dos Efeitos da Declaração de Inconstitucionalidade de Lei ou Ato Normativo (Art. 27, L. 9868/99)!

Art. 27, L. 9868/99. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.!

O art. 27 da lei 9868/99 diz que em nome do interesse público e da segurança jurídica — preocupação fática, com os casos concretos —, por 2/3 dos membros, os Ministros do STF podem manipular, modular os efeitos temporais da decisão e declarar a

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inconstitucionalidade sem pronúncia de nulidade, de invalidado da norma, dizendo que em razão do impacto que a decisão trará à sociedade, que a lei só deixará de produzir efeitos a partir da decisão em diante ou de quando a Corte achar que os efeitos devem deixar de ser produzidos.!

Então, esta não deixa de ser, também, uma tendência de concretização do controle abstrato.!

iii) Audiências Públicas (art. 9º § 1º, L. 9868/99) - o STF já realizou várias audiências públicas justamente para ouvir o que a sociedade tem a dizer sobre termas importantes que chegam à jurisdição da Corte, tais como a lei de biossegurança, questões associadas à saúde, lei de quotas…!

Art. 9º § 1º, L. 9868/99. Em caso de necessidade de esclarecimento de matéria ou circunstância de fato ou de notória insuficiência das informações existentes nos autos, poderá o relator requisitar informações adicionais, designar perito ou comissão de peritos para que emita parecer sobre a questão, ou fixar data para, em audiência pública, ouvir depoimentos de pessoas com experiência e autoridade na matéria.!

Então, não deixa de ser uma tendência de concretização porque o STF está preocupado com os fatos e a repercussão da decisão para a sociedade.!

Da leitura do dispositivo se percebe que há uma preocupação com fatos, de modo que o controle abstrato não é mais o controle entre a análise da lei e a Constituição, há toda uma repercussão social e uma preocupação em relação aos impactos que a decisão trará para a sociedade.!

!INCONSTITUCIONALIDADE POR ARRASTAMENTO SEQUENCIAL (POR ATRAÇÃO OU REVERBERAÇÃO NORMATIVA)!

! ! O Tribunal iniciou julgamento de ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pelo Governador do Distrito Federal contra a Lei distrital 3.228/2003, que obriga as distribuidoras de combustíveis locais a colocar lacres eletrônicos nos tanques dos postos de combustíveis que exibam sua marca e dá outras providências. A Min. Cármen Lúcia, relatora, julgou procedente o pedido, registrando que as normas dos artigos 1º e 2º determinam a declaração de inconstitucionalidade das demais por arrastamento, por se tornarem ineficazes, quando não inexeqüíveis, sem aqueles dispositivos, no que foi acompanhada pelos Ministros Ricardo Lewandowski e Joaquim Barbosa. (ADI 3236/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 17.9.2007) !!

Quando se foi trabalhado com as características do processo objetivo não foi dito que no processo objetivo a causa de pedir tem sido muito aberta e muitos autores sustentam que, inclusive, os pedidos são abertos.!

Ou seja, diferentemente do processo subjetivo comum, quando o juiz está adstrito aquilo que lhe foi pedido (Princípio da Congruência), “o juiz não pode julgar aquém ou além do que foi pedido”, no processo objetivo há uma característica distinta: o STF pode declarar a inconstitucionalidade de uma norma não-impugnada na petição inicial, mas que esteja com ela relacionada em nome dessa causa de pedir um pouco mais aberta e da Supremacia da Constituição, da Razoável Duração do Processo, da Economia Processual.!

Argumentos que sustentam a tese da inconstitucionalidade por arrastamento: a) Supremacia da Constituição; b) não aplicação do Princípio da Congruência (Correlação ou Adstração); c) Economia Processual; e d) Razoável Duração do Processo.!

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Então, o STF pode declarar a inconstitucionalidade de dispositivos não impugnados na petição inicial, mas que estejam com eles relacionadas, numa tendência de inconstitucionalidade chamada por arrastamento, sequencial, por atraçÃo ou por reverberação normativa. !

Há outra manifestação da inconstitucionalidade por arrastamento: é sabido que, em regra, os atos normativos secundários não podem ser objeto de ADIN, mas imagine que o STF declara a inconstitucionalidade de uma norma primária e a Corte pode aproveitar essa declaração de inconstitucionalidade da norma primária e por arrastamento também afastar os efeitos das normas secundárias que tiraram como base o texto da norma primária.!

Então, ao declarar a inconstitucionalidade da norma primária, o STF por arrastamento também poderá retirar os efeitos da aplicação das normas secundárias.!

!AJUIZAMENTO SIMULTÂNEO DE ADINS PERANTE O STF E O TJ!

É comum que uma lei estadual viole ao mesmo tempo uma norma da Constituição Federal e uma norma da Constituição do Estado de observância obrigatória ao modelo federal.!

São muitas as normas de observância obrigatória, então a norma pode violar uma norma da Constituição Federal e uma norma da Constituição do Estado que apenas reproduz o modelo federal.!

Cabe o ajuizamento de ADIN para o STF (art. 102, I, a, CRFB/88) e também cabe o ajuizamento de RI para o TJ (art. 125 § 2º, CRFB/88).!

Art. 102, CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:!I - processar e julgar, originariamente:!a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de

constitucionalidade de lei ou ato normativo federal; !!Art. 125 § 2º, CF. Cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um único órgão.!

As duas ações podem ser apresentadas simultaneamente, mas não tramitarão simultaneamente para se evitar decisões conflitantes —, o entendimento do STF é de que com o recebimento da ADIN federal, a RI estadual ficará suspensa.!

A instauração do processo de fiscalização normativa abstrata, perante o Supremo Tribunal Federal, em que se postule a invalidação de legislação editada por Estado- membro, questionada em face da Constituição da República (CF, art. 102, I, ―a‖), qualifica-se como causa de suspensão prejudicial do processo de controle concentrado de constitucionalidade, que, promovido perante o Tribunal de Justiça local (CF, art. 125, § 2o), tenha, por objeto de impugnação, os mesmos atos normativos emanados do Estado-membro, contestados, porém, em face da Constituição estadual, como sucede na espécie. Tal entendimento, no entanto, há de ser observado sempre que tal impugnação - deduzida perante a Corte Judiciária local - invocar, como parâmetro de controle, princípios inscritos na Carta Política local impregnados de predominante coeficiente de federalidade, tal como ocorre com os postulados de reprodução necessária constantes da própria Constituição da República (RTJ 147/404 – RTJ 152/371- 373,v.g.)‖... (ADI 4138/MT, Inf. 573)!

Com a suspensão o que pode acontecer? !

i) Se ADIN procedente - nesse caso, se a ADIN for julgada procedente a RI perderá o objeto e será julgada extinta sem decisão de mérito.!

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ii) Se ADIN improcedente - nesse caso, se a ADIN for julgada improcedente e o STF confirma a constitucionalidade da lei estadual, a RI estadual poderá prosperar e, inclusive, declarar a inconstitucionalidade da norma estadual.!

O entendimento aqui é: se o próprio STF pode, dentro de outra realidade vir a declarar a inconstitucionalidade da lei que confirmou constitucional, por que impedir o TJ de julgar a inconstitucionalidade da norma?!

Então, nessa situação, o entendimento da doutrina tem sido de que o julgamento improcedente da ADIN não vincularia o TJ no trâmite de sua RI estadual.!

!EMBARGOS DECLARATÓRIOS E MODULAÇÃO TEMPORAL DOS EFEITOS DA SENTENÇA!

O STF tem permitido que os embargos declamatórios sirvam como instrumento de modulação temporal.!

Por exemplo, o autor da ADIN pleiteou pela modulação temporal de efeitos e o STF quedou-se inerte e nada disse na decisão final sobre o tema, como as decisões de mérito da Corte são irrecorríveis, cabendo, apenas, embargos de declaração do art. 26, L. 9868/99, os embargos podem ser utilizados pela parte com a finalidade de esclarecer a omissão no que tange à modulação.!

Art. 26, L. 9868/99. A decisão que declara a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo em ação direta ou em ação declaratória é irrecorrível, ressalvada a interposição de embargos declaratórios, não podendo, igualmente, ser objeto de ação rescisória.!

É preciso destacar que isso só é possível se o autor pleiteou a modulação na inicial e o STF não se manifestou.!

No de o autor não ter feito menção da modulação na ação original, o entendimento é de que, em regra, não caberiam embargos para questionar acerca da modulação, porque, na verdade, os embargos servem para suprir alguma lacuna, contradição ou omissão na decisão —, então, se o autor não se manifestou nesse sentido na inicial, não haveria lacuna no julgado.!

Mas, o Direito está sempre em movimento e o Direito Constitucional têm sofrido muitas modificações de acordo com a jurisprudência da Corte pautada nos casos concretos recebidos para análise.!

Então, o STF recebeu uma ADIN em que relativizou o entendimento de que os embargos não serem opostos para fins originários de modulação de efeitos em nome da razoabilidade e proporcionalidade.!

Então, a conclusão da ADIN 3601 é que, em regra, os embargos somente são cabíveis para fins de modulação quando o autor da inicial pleiteou a modulação e o STF não se manifestou sobre ela na decisão — ou seja, é mantida a regra geral de que embargos servem para questionar omissão, obscuridade ou contradição —, salvo, em uma situação de razoabilidade e proporcionalidade.!

Em conclusão de julgamento, o Tribunal, por maioria, acolheu embargos de declaração para modular os efeitos de decisão proferida em ação direta de inconstitucionalidade. Esclareceu-se que o acórdão embargado tem eficácia a partir da data de sua publicação (21.8.2009).!Na espécie, o Supremo declarara a inconstitucionalidade da Lei distrital 3.642/2005, que dispõe sobre a Comissão Permanente de Disciplina da Polícia Civil do Distrito Federal — v. Informativos 542 e 591. Reconheceu-se, de início,

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a jurisprudência da Corte, no sentido de inadmitir embargos de declaração para fins de modulação de efeitos, sem que tenha havido pedido nesse sentido antes do julgamento da ação.!Entendeu-se que, no caso, entretanto, a declaração não deveria ser retroativa, por estarem configurados os requisitos exigidos pela Lei 9.868/99 para a modulação temporal dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade, tendo em conta a necessidade de preservação de situações jurídicas formadas com base na lei distrital. Mencionou-se, no ponto, que a declaração de inconstitucionalidade com efeitos ex tunc acarretaria, dentre outros, a nulidade de todos os atos praticados pela Comissão Permanente de Disciplina da Polícia Civil do Distrito Federal, durante os quatro anos de aplicação da lei declarada inconstitucional, possibilitando que policiais civis que cometeram infrações gravíssimas, puníveis inclusive com a demissão, fossem reintegrados‖. ADI 3601, Inf. 599.!

Então, excepcionalmente, os embargos declaratórios podem ser aceitos para fins originários de modulação de efeitos da decisão, em caso de proporcionalidade, razoabilidade, envolvidos na questão.!

!MEDIDA PROVISÓRIA - CONTROLE JUDICIAL DOS PRESSUPOSTOS CONSTITUCIONAIS!

Em primeiro lugar, a Medida Provisória pode ser objeto do controle concentrado e também questionada no controle difuso, porque é uma espécie normativa primária extraída diretamente da Constituição Federal.!

Se no curso do controle difuso do processo subjetivo a MP se transforma em lei ou é rejeitada, não haverá grande prejuízo, o juiz vai se fundamentar com base na MP, na lei em que ela se converteu ou em outro fundamento.!

Diferente é a situação de que a MP é objeto de uma ADIN, quando aquela é rejeitada ou convertida em lei ordinária com ou sem alterações —, a medida provisória, em que pese seja norma originária, é uma espécie normativa precária, porque vai durar pouco tempo como medida provisória.!

Então, o entendimento principal do STF e doutrina sobre o tema:!

i) Se no curso da ADIN a MP for convertida em lei ordinária sem alterações no texto ou com alterações não substanciais, não haverá impedimento ao regular o prosseguimento do feito, devendo, apenas, o autor promover um aditamento à petição inicial que serve para parte informar que ajuizou a ação em face de uma medida provisória, mas que foi convertida em lei ordinária.!

ii) Se no curso da ADIN a MP for convertida em lei ordinária com alterações substanciais ou for rejeitada, a ação será julgada extinta sem exame de mérito, pela perda do objeto.!

No que concerne aos requisitos essenciais para edição de medidas provisórias, o STF adotou durante anos uma posição bastante conservadora e entendia que relevância e urgência eram conceitos jurídicos indeterminados e que cabia ao próprio Presidente avaliar quando a situação era relevante e urgente.!

Todavia, o número excessivo de medidas provisórias fez com que a Corte mudasse seu entendimento e hoje é possível o controle constitucional dos pressupostos de edição da MP —relevância e urgência —, em caráter excepcional que está associado ao Princípio da Separação de Poderes.!

No mérito, enfatizou-se orientação da Corte segundo a qual os requisitos constitucionais legitimadores da edição de medidas provisórias — relevância e urgência — podem ser apreciados, em caráter excepcional, pelo Poder Judiciário… (ADI 1910, Inf. 599).!

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Outro aspecto importante que precisa ser destacado é que a lei ordinária de conversão da MP não convalida os vícios existentes na MP em sua origem.!

Ex: uma MP de Direito Penal, que não é permitida, ainda que se convertida em lei ordinária, não estará a salvo dos vícios que a acometeram em sua origem.!

!INTERPRETAÇÃO CONFORME À CONSTITUIÇÃO E A DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE PARCIAL SEM REDUÇÃO DO TEXTO!

A Interpretação Conforme a Constituição e a Inconstitucionalidade Parcial sem Redução do Texto são técnicas do STF no controle concentrado de constitucionalidade e também têm sido levado para o controle difuso.!

O parágrafo único do art. 28, L. 9868/99 prevê as duas modalidades:!

Art. 28, parágrafo único, L. 9868/99. A declaração de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade, inclusive a interpretação conforme a Constituição e a declaração parcial de inconstitucionalidade sem redução de texto, têm eficácia contra todos e efeito vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública federal, estadual e municipal.!

A decisão final em sede de ADIN ou ADC pode ser pela inconstitucionalidade, por sua constitucionalidade ou, ainda o STF pode adotar a a Interpretação Conforme a Constituição e a Inconstitucionalidade Parcial sem Redução do Texto.!

Na prática, é difícil observar nas decisões do STF a verdadeira diferença entre as duas técnicas, porque a Corte muitas vezes as utiliza como expressões sinônimas, mas estas não são técnicas idênticas, Gilmar Mendes, inclusive, faz questão de separá-las, ainda que a linha que as separe seja muito tênue:!

i) Interpretação Conforme a Constituição - técnica que parte de uma norma plurissignificativa, é preciso que o texto normativo impugnado gere múltiplos sentidos.!

Outro aspecto é que, em nome da presunção de constitucionalidade das normas, se é uma norma que gera múltiplas interpretações, se pelo menos uma delas estiver em conformidade com a Constituição, cabe ao intérprete afastar as interpretações contrárias ao texto e manter a norma em vigor, desde que interpretada daquele modo.!

Então, o STF vai afastar as interpretações inconstitucionais e fixar a única forma válida de interpretar a lei.!

Como o resultado é a manutenção da norma no ordenamento jurídico, muitos autores sustentam que o Princípio da Reserva de Plenário, a regra do full bench do art. 97, CRFB/88, não se aplicaria à Interpretação Conforme à Constituição.!

Art. 97, CF. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público.!

ii) Inconstitucionalidade Parcial sem Redução do Texto - não se parte de uma norma plurissignificativa, o que se tem é: do jeito que a norma está escrita ela é inconstitucional, mas o STF pode retirar aquela hipótese de incidência e manter a lei em vigor, inclusive, para receber outras interpretações.!

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Então, a norma não gera múltiplas interpretações, mas da forma que está escrita é inconstitucional, mas se o STF extrair essa hipótese de aplicação, a norma poderá ser mantida e receber, inclusive, novas interpretações.!

Como há uma declaração de inconstitucionalidade, ainda que sem redução de texto da norma, muitos autores sustentam que a regra do full bench, reserva de plenário do art. 97, CRFB deve ser observada.!

Art. 97, CF. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público.!

Nos dois casos, a norma é mantida no ordenamento, mas por motivos distintos: a) na interpretação conforme a Constituição o STF diz exatamente como a norma deve ser aplicada; e b) na declaração de inconstitucionalidade parcial sem redução de texto, o STF diz exatamente como a norma não pode ser aplicada, sob pena de ser inconstitucional.!

!TRANSCENDÊNCIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES!

Tema ainda controvertido sobre controle de constitucionalidade. Essa não é uma realidade no STF, mas é um tema que pode ser explorado de qualquer modo.!

Imagine o corpo da sentença do STF no julgamento de uma ADIN com a) relatório; b) fundamentação; e c) dispositivo —, no caso, a ADIN 123 questiona a lei do estado de Minas Gerais que estabeleceu estacionamento gratuito em shopping center.!

No corpo da sentença o STF: a) no relatório há uma síntese do processo; b) na fundamentação disse que com base no art. 22, I, CRFB/88 a lei é inconstitucional porque regula a atuação do estado na propriedade e propriedade é instituto do direito civil, de competência privativa da União; e c) diz que a lei é inconstitucional.!

A lei declarada inconstitucional é a Lei de Minas, certo? Não para alguns Ministros que entendem que com base no art. 102 § 2º, CRFB/88, não é apenas a parte dispositiva que vincula juízes, tribunais e a Administração Pública —, para alguns Ministros, a fundamentação da decisão também vincularia juízes e tribunais.!

Art. 102, § 2º, CF. As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.!

Então, não é só a lei de Minas que deveria deixar de ser aplicada, mas a lei do Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco… Ou seja, todas as demais leis dos estados que dispuserem sobre o tema deveriam deixar de ser aplicadas porque violadoras da ratio decidendi, ou seja, a fundamentação da decisão.!

Disso se extrai que a regra, para alguns Ministros, é que os efeitos vinculantes da decisão não se restringem à parte dispositiva e também estão relacionados aos fundamentos da decisão.!

O efeito prático disso é, se um juiz do estado da Bahia após a decisão acerca da lei de Minas Gerais resolver aplicar a lei que estabelece a possibilidade de estacionamento gratuito, contra sua decisão poderá ser ajuizada uma reclamação constitucional para o STF.!

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Então, o que se perceber é que a tese da transcendência é uma tentativa de uniformizar o entendimento sobre a matéria constitucional em virtude da segurança jurídica, razoável duração do processo, economia processual, supremacia da Constituição…!

Mas, o tema ainda não está resolvido e não parece que terá solução tão cedo porque é um assunto que o STF ainda está amadurecendo.!

No informativo 379, STF é possível verificar o julgamento da RCL 2986, em que a Corte que o efeito vinculante das decisões proferidas no controle concentrado não se esgotariam na parte dispositiva da decisão, mas alcançariam a ratio decidendi, de modo que qualquer lei idêntica do caso também deveria deixar de ser aplicada, sob pena de ajuizamento de reclamação constitucional.

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!DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS NA CONSTITUIÇÃO DA

REPÚBLICA DE 1988!!!O PÓS GUERRA E A CONSTITUIÇÃO DE 1988!

O ano de 1945 foi determinante com relação à importância de resgatar à Dignidade da Pessoa Humana perdida durante os anos da guerra, foi importante para se reavaliar a própria Teoria do Direito e sua abertura à normatividade dos princípios.!

No que tange à Constituição de 1988, o novo texto marcou esse movimento que a Europa já vivenciada há mais tempo.!

Em que pese no Brasil não se tenha vivido um período de guerra, o longo lapso temporal de cárcere derivado da Ditadura Militar foi inegável e não se fala em Dignidade da Pessoa Humana durante a Ditadura.!

Então, o grande marco no constitucionalismo brasileiro de encontro com o ordenamento internacional garantista foi a Constituição de 1988.!

Para Flávia o art. 1º, III, CRFB/88, pois a Dignidade da Pessoa Humana se apresenta pela primeira vez como fundamento da República Federativa do Brasil —, esse fundamento é essencial e se espalha pelo texto da Constituição, vedando a tortura, o tratamento desumano ou degradante, protegendo a saúde, a educação…!

Art. 1º, CF. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana; !

Assim, com um valor axiológico dessa magnitude todo o constitucionalismo brasileiro vem sendo modificado e sofrendo um processo saudável de releituras.!

!DIREITOS HUMANOS E DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS!

Existe diferença entre direitos humanos e direitos e garantias fundamentais? !

Em termos simples, direitos humanos são os direitos associados à vida, igualdade, propriedade e seus desdobramentos no plano internacional, ou seja, é uma expressão utilizada para se referir a Tratados, Acordos, Pactos do âmbito internacional e também é expressão utilizada pela filosofia do Direito.!

Agora, direitos fundamentais é uma expressão normalmente utilizada no âmbito doméstico, direito nacional, direito constitucional… Alguns autores como Fábio Comparatto dizem que os direitos fundamentais são os direitos humanos positivados no âmbito constitucional, ou seja, no direito nacional.!

Manoel Gonçalves Filho fala em Direitos Humanos fundamentais para evitar qualquer controvérsia sobre o assunto.!

Então, quando for para se referir a Tratados, Acordos e Pactos deve se falar em Direitos Humanos e a Constituição faz isso no art. 5º, §3º, CRFB/88.!

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Art. 5º § 3º, CF. Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.!

!DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS!

Direitos e garantias fundamentais na CRFB/88 possuem um sentido unívoco, ou seja, a Constituição Federal não dividiu os direitos e as garantias, mas existem diferenças entre os institutos.!

Em uma perspectiva clássica, direitos são normas de conteúdo material, declaratório, que imprimem um sentido legal à existência da vida, igualdade, liberdade, propriedade…!

As garantias possuem, por sua vez, um conteúdo mais processual e funcionam como mecanismos prestacionais de defesa dos direitos. Nessa perspectiva, José Afonso da Silva, divide as garantias fundamentais em dois grupos: a) garantias gerais; e b) garantias específicas.!

i) Garantias Fundamentais Gerais - formadas pelos princípios.!

A CRFB/88 é uma efervescência de princípios — princípios que norteiam o processo, princípios que associam Direito à justiça —, então, são exemplos de garantias fundamentais os princípios da ampla defesa, contraditório, devido processo legal, inadmissibilidade de provas ilícitas, presunção de inocência, vedação ao juízo ou tribunal de exceção…!

ii) Garantias Fundamentais Específicas - formadas pelos remédios constitucionais, que para José Afonso da Silva podem ser:!

1. Administrativos (art. 5º, XXXIV, CRFB/88) - direito de petição e obtenção de certidões.!

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:!a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;!b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal;!!

2. Judiciais (art. 5º, LXVIII a LXXIII, CRFB/88) - habeas corpus, habeas data, mandado de injunção, ação popular e mandado de segurança.!

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:!LXVIII - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;!LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público;!LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:!a) partido político com representação no Congresso Nacional;!b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados;!LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania;!

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LXXII - conceder-se-á “habeas-data":!a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público;!b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;!LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;!!!

HISTÓRICO SOBRE A INCORPORAÇÃO DOS TRATADOS SOBRE DIREITOS HUMANOS!

a) Incorporação em 1988 - Art. 49, I c/c art. 84, VIII, CRFB/88!

Em 1988 havia uma incorporação muito conservadora que surgia da combinação dos arts. 49, I, e art. 84, VIII, CRFB/88 —, todo Tratado, versasse sobre Direitos Humanos ou não, passava por esse procedimento comum de incorporação: era assinado pelo Presidente da República ou alguém à sua ordem; o documento era encaminhado para aprovação do Congresso Nacional, que o aprovava por meio de um Decreto Legislativo; o Decreto Legislativo retornava ao Presidente da República que o promulgava por meio de Decreto Presidencial, que sempre teve status de norma infraconstitucional, ou seja, de lei ordinária federal.!

Art. 49, CF. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:!I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional;!!Art. 84, CF. Compete privativamente ao Presidente da República:!VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional;!!

Dessa forma, vários Tratados, inclusive sobre Direitos Humanos, foram incorporados ao direito pátrio, com status de Lei Ordinária Federal.!

b) Emenda 45/04!

Mas aos poucos, diante de uma Constituição tão garantista e todo o engajamento do Brasil em participar das relações internacionais relacionadas aos Direitos Humanos, a EC 45/04 trouxe um procedimento ainda mais privilegiado para os Tratados sobre Direitos Humanos.!

Ou seja, a EC 45/04 trouxe ao art. 5º o §3º, CRFB/88 que trouxe a constitucionalização dos Tratados Sobre Direitos Humanos —, desse modo, os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.!

Art. 5º § 3º, CF. Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.!

Essa constitucionalização que traz um privilégio no tratamento dos documentos internacionais de alta importância só vale para Tratados sobre Direitos Humanos.!

O que aconteceu? Em 2007 o então Presidente da República assinou a Convenção Internacional dos Portadores de Deficiência.!

Em seguida ele pediu ao Congresso Nacional que aprovasse o documento na forma do art. 5º §3º, CRFB/88 e o Congresso produz o Decreto Legislativo 186 (formalmente adequado) e aí o Decreto

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retornou ao Presidente da República que em 2009 o promulgou sob a forma do Decreto Presidencial 6949/09.!

Esse Decreto 6949 constitucionaliza a Convenção Internacional dos portadores de deficiência e seu protocolo facultativo —, então, até o momento é o único decreto com status de emenda constitucional derivada no país, todos os demais Tratados que não versem sobre direitos humanos são incorporados de acordo com o art. 49, I e 84, VIII, CRFB/88 e recebem status de lei ordinária federal.!

c) Pacto de San Jose da Costa Rica (Dec. 678/92 + art. 5º, LXVII) e a Supralegalidade!

O Pacto de San Jose da Costa Rica foi incorporado ao direito pátrio pelo Dec. 678/92 sob a forma de um Decreto simples com status de lei ordinária federal.!

O art. 7º do Pacto de San Jose prevê que só uma modalidade de prisão civil por dívida, que é a prisão civil do devedor de alimentos e que se justifica porque a vida do outro foi colocada em risco.!

O art. 5º, LXVII, CRFB/88 prevê duas modalidades de prisão civil por dívida: a) prisão civil do devedor de alimentos; e b) prisão civil do depositário infiel.!

Na década de noventa quando o STF questionando tal incongruência, a Corte resolvia o problema de forma conservadora, ou seja, pautado na hierarquia das leis, dizendo que o Pacto era norma infraconstitucional prevalecia o que dizia o art. 5º, LXVII, CRFB/88.!

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:!LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;!!

Mas essa posição foi sendo deixada de lado, o próprio STF, com sua nova composição, não compreendia mais que o Pacto de San José pudesse ser considerado uma norma meramente ordinária.!

Então, no final de 2008 houve uma virada de jurisprudência do STF (HC 87585/TO, RE 466343/SP, Inf. 531) e o STF passou entender que o Pacto de San Jose da Costa Rica seria uma norma supralegal, de modo que estaria acima da legislação puramente ordinária, mas abaixo da Constituição, porque não foi incorporado de acordo com o art. 5º, § 3º, CRFB/88.!

Art. 5º § 3º, CF. Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.!

Assim, de acordo com a natureza supralegal, o pacto se posicionou de maneira superior à legislação ordinária que versava sobre a prisão antagônica que previa, a prisão do depositário infiel.!

Daí porque os Ministros dizem que o Pacto revoga a legislação ordinária que dispõe acerca da prisão do depositário infiel. Então, no plano infraconstitucional a questão está resolvida porque o Pacto assume um papel diferenciado e como fica acima da legislação ordinária, o STF diz que ele revoga a legislação infraconstitucional que dispõe sobre a prisão civil do depositário infiel.!

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No que concerne ao art. 5º, LXXVII, CRFB/88, o STF faz uma mudança de entendimento, consubstanciada por muitos na doutrina como sendo uma mutação constitucional e elabora a súmula vinculanete nº 25, colocando um ponto final no debate.!

SV. 25. É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.!!O tema divide opiniões, porque, para muitos, houve uma violação completa do texto da Constituição, para Flávia Bahia é possível ponderar à mudança à luz dos direitos fundamentais e entender que se trata de uma mudança boa, afinal de contas é melhor que haja apenas uma modalidade de prisão civil ao invés de duas.!

O tema foi resolvido pela mutação constitucional, mudança informal de contexto da Constituição à luz de novas demandas, nesse caso, de demandas garantistas, a favor da liberdade.!

d) Teoria do Bloco de Constitucionalidade (Art. 5º § 1º, § 2º e 4º, II, CRFB/88)!

Art. 4º, CF. A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:! I - independência nacional;!II - prevalência dos direitos humanos;!!Art. 5º, CF.!§ 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.!§ 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.!!

Há ainda uma posição que, em que pese não tenha sido adotada pelo STF, merece atenção. É a teoria defendida pela Flávia Piovesan, Antônio Trindade e outros garantistas, que sustentam a tese monista de que o Direito é um só, não interessa se interno ou internacional e todo ele se junta para defender o indivíduo.!

Então, na opinião desses doutrinadores, a simples assinatura do Presidente da República ao Tratado Sobre Direitos Humanos, já tem o condão de fazer com que esse Tratado já produza efeitos imediatos no país como Constituição, é como se esses Tratados gozassem de cláusula de recepção direta e imediata.!

Quando o art. 5º§ 2º, CRFB/88 diz que o Brasil reconhece os princípios e Tratados dos quais faz partes, muitos autores trazem esta conclusão.!

Essa não é a teoria dominante no STF, em que pese existam alguns Ministros favoráveis ao tema, o STF ainda separa o direito interno do direito internacional e adota um dualismo, mas um dualismo moderado que já prevê essa influência do direito internacional sobre o direito interno.!

O STF não adota a tese da recepção direta porque sustenta que isso feriria o Princípio da Separação de Poderes e até a soberania nacional, porque os Tratados Internacionais para serem incorporados dependem da forma de recepção prevista no art. 5º, § 3º, CRFB/88.!

Art. 5º, CF.!§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.!!

PS! Para os autores monistas que sustentam que o direito interno e internacional é um só, o entendimento é que quando há choque entre normas, deve ser aplicada a regra mais benéfica ao indivíduo.!

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EFICÁCIA HORIZONTAL E VERTICAL DE DIREITOS FUNDAMENTAIS!

Classicamente as relações dos direitos fundamentais se aplicam nas relações entre Estado-indivíduo, por dois motivos — a) o Poder Público está vinculado à Constituição e caso a viole o Poder Judiciário deve ser acionado para resolver o conflito; e de outro lado, b) o Estado tem em seus ombros o peso da Supremacia do Interesse Público e em nome desta, o que pode ocorrer é que o Estado restrinja o direito do particular em prol do coletivo (exs: requisição administrativa, desapropriação…).!

Então, essa aplicação de direitos fundamentais nessas relações Estado-indivíduo e indivíduo-Estado é muito comum, afinal de contas, o Estado está protegido pela Constituição e ele deve cumprir as bases que estão lá previstas, caso descumpra os direitos fundamentais o indivíduo pode acionar o juiz que ordenará ao Estado que repare a lesão.!

Do mesmo modo, o Estado tem em seus ombros o peso do interesse da coletividade e, muitas vezes, precisa restringir a autonomia da vontade do particular para promover o interesse público e defender a vontade coletiva.!

Então, inegavelmente os direitos fundamentais se aplicam nessas relações verticais entre Estadpo e indivíduo, nestas relações clássicas.!

Mas, vejam só, no início do séc. XX, na Alemanha, as tensões das relações trabalhistas, privadas, eram muito fortes, os trabalhadores encaravam muitas vezes uma jornada absurda de trabalho, com condições sub-humanas, salários baixos e condições violadoras da Dignidade da Pessoa Humana, de modo que o Tribunal Alemão passou a decidir questões que inicialmente estavam destinadas ao ambiente privado, mas sob tutela pública, ou seja: em nome da eficácia horizontal dos direitos. !

Ou seja, as relações trabalhistas são relações privadas por excelência, mas não se admite que uma relação privada viole diretamente o comando constitucional e nessas relações privadas, entre indivíduos, intersubjetivas, se tem um lado a autonomia da vontade e do outro também a autonomia da vontade, ou seja, a Constituição diz no art. 5º, II, que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude da lei.!

Art. 5º , CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:!II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;!!

! ! ! I! ! ! ! ! ! I!

! ! ! AV! ! ! ! ! ! AV!

A Constituição traz um âmbito de liberdade, na esfera privada as pessoas são inicialmente livres para contratar e decidir o que fazer, mas observe que essa liberdade não é absoluta, é uma liberdade também limitada pelo texto constitucional, pelos direitos fundamentais e fora que nessas relações privadas a linha entre as partes da relação não é sempre tão equilibrada —, na verdade, em muitos casos temos muitos desequilíbrios, a exemplo da relação trabalhista ou da relação de consumo:!

!!

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! ! ! ! Empregador/Fornecedor!

!!! ! ! ! ! ! Empregado/Consumidor!

O entendimento do STF é que quanto mais desequilíbrio existir nas relações privadas, maior será a atuação do Poder Judiciário: não existe relação privada absoluta, não existe violação direta ainda que nas relações privadas.!

Então, a Corte, por exemplo, decidiu que a exclusão de sócio associado de uma cooperativa privada deve ser precedida de ampla defesa e contraditório —, olha aí um bom exemplo.!

Cada caso, uma análise, uma ponderação, mas o que é preciso levar pra prova é o entendimento de que as normas constitucionais também incidem sobre as relações privadas, evitando os excessos e o predomínio dos arbítrios —, a autonomia da vontade permite que a gente contrate com quem desejar e faça as escolhas do dia-a-dia, essa autonomia da vontade é limitada, não existe autonomia da vontade absoluta no país.!

Então, apesar de os direitos fundamentais se aplicarem em sua função clássica de Estado-indivíduo, os direito também se aplicam às relações privadas, justamente para evitar os excessos e os arbítrios.!

!GERAÇÕES (DIMENSÕES)!

Uma das características dos Direitos Fundamentais é a da sua historicidade, os direitos não nasceram ontem, não nascem hoje: eles acompanham o passo a passo da humanidade desde os primórdios: os direitos possuem uma natureza histórica.!

Bobbio, em “A Era dos Direitos” resolveu traduzir um pouco essa natureza dos direitos fundamentais por meio de gerações e fez um corte na história mais moderna a partir do séc. XVII e apontou características específicas dessas gerações e os direitos nelas contemplados. !

a) Direitos de Primeira Geração - são os direitos mais antigos, que inauguram o movimento constitucionalista garantista e marcam os sécs. XVII, XVIII e XIX.!

Alguns documentos históricos que trouxeram a preservação dos direitos de primeira geração, são: i) Bill of Rights de 1688 (Inglaterra); ii) Declaração de Virgínia de 1776; e iii) Declaração Francesa de 1789.!

O que se pode observar entre essas declarações e outras tantas desse período da história é que todas elas fazem menção à defesa dos direitos individuais, civis e políticos —, é a geração da resistência, que solicita que o Estado não mais intervenha na vida dos particulares, respeitando a liberdade individual.!

É a geração que não exige do Estado prestações efetivas, aquela que exige do Estado prestações negativas —, é como se o homem após tanto tempo vivendo sob a égide do Estado absolutista, cerceador das liberdades, quisesse apenas a não-interferência do Estado na sua vida, na sua liberdade, na sua propriedade, na sua manifestação e expressão.!

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Então, se diz que nessa época da história, as liberdades são negativas, porque não se exige do Estado prestações positivas.!

São exemplos de direitos de primeira geração: i) direito de ir e vir; ii) direito à vida; iii) direito à liberdade de manifestação e expressão; iv) direitos políticos; v) direito à nacionalidade…!

Essa é a geração da igualdade formal, ou seja, da igualdade perante a lei, ou seja, o desejo era o de acabar com os privilégios da nobreza fazendo com que a lei fosse igual para todos e nesse momento histórico esse era o ideal ousado para os grandes ideais da época.!

b) Direitos de Segunda Geração - Mas aos poucos o homem vai percebendo que ele não é exatamente igual a seu semelhante, são muitas discrepâncias sociais e a hipossuficiência começa a ser percebida e aí, com a criação da Organização Internacional do Trabalho, a Constituição Mexicana de 1917, a Constituição de Weimar de 1919, nascem os direitos sociais e econômicos de segunda geração —, é inaugurado o Estado do bem-estar social.!

Os direitos de segunda geração são os direitos sociais, econômicos e culturais —, direitos esses que existem prestações positivas do Estado e inauguram o constitucionalismo social do início do séc. XX.!

Então, no início do séc. XX, principalmente com a criação da OIT, a Constituição Mexicana de 1717 e a Constituição de Weimar de 1919 nascem os direitos sociais, econômicos e culturais, é a preocupação com saúde, moradia, previdência, educação… Ou seja, direitos que exigem do Estado prestações positivas, aqui não é mais um não-fazer, mas um fazer: o que o Estado precisa realizar para conquistar os direitos fundamentais?!

Se na saúde, contratar médicos, construir hospitais, comprar medicamentos…!

Então, os direitos de segunda geração trazem exigências por parte do Estado.!

Exemplos de direitos de segunda geração: i) saúde; ii) educação; iii) direito dos trabalhadores; iv) moradia; v) alimentação… Ou seja, direitos com a conotação mais social, mais coletiva.!

PS! Enquanto os direitos de primeira geração representam as igualdades formais, os direitos de segunda geração trazem as igualdades materiais.!

c) Direitos de Terceira Geração - com o advento da II GM, rompendo com a esperança, com a fé, quando do seu término houve um sentimento coletivo de fraternidade, solidariedade entre os povos e se iniciou a preocupação com os direitos que não pertencem a uma coletividade específica, mas a todos.!

A terceira geração, então, nasce no fim da II GM, pautada pelos sentimentos da fraternidade, solidariedade e a preocupação com os direitos difusos.!

São exemplos de direitos difusos: i) direito ao desenvolvimento; ii) direito à paz social; iii) direito ao meio ambiente; iv) direito ao patrimônio histórico; v) direito ao patrimônio cultural… Direitos que pertencem a coletividades indistintas.!

d) Outras Gerações - apesar das três clássicas, existem também os novos direitos, em razão disso, as novas gerações. Alguns autores defendem a existência de direitos da quarta, da quinta e sexta geração de direitos fundamentais, que seriam dos novos direitos e enfrentam várias controvérsias doutrinárias, até porque se tratam de novos direitos.!

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i) Quarta Geração - para Paulo Bonavides e Eliana Calmon, a quarta geração é a geração da manipulação do patrimônio genético, é a geração dos transgênicos, da fertilização in vitro, dos avanços trazidos pela ciência, pela tecnologia. É a geração influenciada pela globalização, pela internet, pelos avanços na área da tecnologia e ciência em geral.!

Alberto Nogueira entende que a quarta geração estaria associada também à graduação da imposição tributária.!

Essa é geração da diversidade em geral, direitos associados às minorias, relações homoafetivas, mudança de sexo…!

ii) Quinta Geração - para Paulo Bonavides é a geração da paz mundial, como o séc. XX foi a geração de duas graves guerras, o séc. XXI tem o compromisso com a paz, os Estados soberanos têm de se unir em torno da paz para que possamos viver um século diferente do século anterior.!

Alguns autores acrescentam que a quinta geração é, ainda, a geração da cibernética, dos avanços ainda maiores na seara da tecnologia.!

iii) Sexta Geração - alguns autores sustentam que a sexta geração seria a da água potável, a água potável para todos os povos e nações; mas também há quem diga que se liga à defesa do direito à felicidade, muito embora, Flávia não consiga entendê-la de forma abstrata, ou seja, no plano interno o Estado não pode viabilizar, mas no plano externo, sim: saúde, educação, moradia, lazer… Que já se encontra nas demais gerações.!

Brasil!

No Brasil as três gerações mais reconhecidas, inclusive pelo STF, são as três primeiras: i) a primeira com as liberdades individuais; ii) a segunda com os direitos sociais e econômicos; e iii) a terceira com direitos difusos.!

PS! A expressão geração dá a sensação de algo que ficou para trás e ficou substituído pelo presente, então se fala em dimensões porque seria uma expressão mais apropriada por remeter a algo atemporal.!

O Brasil foi caminhando com esta história do movimento constitucionalista, garantista, aos poucos. As duas primeiras Constituições (1824 e 1891) foram impregnadas de direitos de primeira geração; a primeira Constituição social do Brasil foi a de 1934 e a partir do texto de 1946 e de uma maneira mais efetiva em 1988, os direitos difusos também foram sendo incorporados aos direitos brasileiros.!

!CARACTERÍSTICAS!

As características não são as características dos direitos em suas manifestações concretas, mas do núcleo dos direitos fundamentais.!

a) Relatividade - para o STF não há direito fundamental de natureza absoluta, porque situações de conflito podem levar o intérprete, o julgador, a ponderar e relativizar o direito em prol do outro para resolver aquele conflito específico.!

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Veja, a pena de morte é proibida, mas é admitida em caso de guerra declarada; matar é crime, mas em legítima defesa não é vedado; aborto é crime, mas em algumas situações é permitido. !

Então, no Brasil vigora a tese defendida pelo STF de que não há direito fundamental de natureza absoluta, portanto, são direitos relativos.!

Os arts. 4º e 5º da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1948 apontam vedações consideradas absolutas: há vedações absolutas à escravidão, à servidão, ao tratamento desumano ou degradante.!

Agora, não se pode esquecer que a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão é principal texto garantista do pós II GM, que foi uma guerra de preconceito, racista, então, permitir eventualmente à escravidão e servidão, é claro que a Declaração não podia se arriscar.!

Então, por isso alguns autores sustentam que essas são vedações absolutas, de fato, a tortura, o tratamento desumano ou degradante, a servidão, são vedados de forma absoluta pela Declaração Universal.!

Artigo IV, DHDHC.   Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas.  !

Artigo V, DHDHC.  Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

Mas, como se está em prova de Constitucional, o foco é a relatividade para o direito pátrio.!

b) Universalidade - pode ser analisada sob dois ângulos: i) destinatários; e ii) geografia, proteção no que tange aos aspectos territoriais.!

i) Destinatários - por que os direitos são universais? Porque se destinam a todas as pessoas, independentemente de sexo, cor, procedência nacional, orientação sexual, idade… Os direitos pertencem ao indivíduo, são universais porque se destinam a todas as pessoas de modo a não trazer discriminações alguma.!

ii) Geografia - está relacionada ao pós guerra, até 1945 reinava a soberania e independência nacional em termos absolutos e a partir de 1945 se fala de releitura do conceito clássico de soberania, porque se inicia o processo de internacionalização dos direitos humanos, que deixam de ser protegidos, apenas, no território nacional.!

Com a internacionalização existe um aparato internacional na defesa dos direitos, aparato este surgido com o final da II GM.!

c) Imprescritibilidade - os direitos não se sujeitam ao decurso do tempo, sendo, portanto, imprescritíveis.!

d) Irrenunciabilidade - não se renuncia ao núcleo de um direito fundamental e muitas vezes cabe ao Estado nos defender de nós mesmos, quando a pessoa ameaça se jogar de um prédio, enquanto as pessoas estão embaixo gritando para que pule, o que o Estado está fazendo (ou deveria fazer), determinar que o Corpo de Bombeiros e chegue aquela pessoa para tentar convencer que é melhor viver.!

e) Indisponibilidade - não se vende, não se compra o núcleo de um direito fundamental, porque são indisponíveis.!

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f) Complementariedade - é uma características porque se deseja a vida, propriedade, liberdade, segurança, moradia, saúde, educação… O que se quer são os direitos em conjunto e não separadamente.!

g) Historicidade - os direitos são produtos da história, não nascem hoje, não são frutos da CRFB/88 ou da II GM, os direitos acompanham a humanidade desde sua origem.!

h) Abstratos - não pertencem a brasileiros, europeus, chineses… Pertencem ao indivíduo.!

i) Aplicabilidade Imediata - os direitos possuem aplicabilidade imediata e essa característica é extraída do art. 5º § 1º, CRFB/88, é perfeitamente possível que o indivíduo acione o Estado na defesa de seus direitos fundamentais porque todos eles possuem aplicação imediata.!

Art. 5º , CF.!§ 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.!

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!NACIONALIDADE!!

!CONCEITO!

A nacionalidade é o vínculo jurídico-civil que liga o indivíduo a um certo e determinado Estado, fazendo-o componente do povo e titular de direitos e obrigações.!

!HISTÓRICO!

Direito fundamental de primeira geração. A nacionalidade é um direito que está relacionado à própria identidade do indivíduo, é um direito muito importante e que foi fragilidade durante o período da Guerra, tanto que a Declaração Universal dos Direitos Humanos em seu art. XV diz que todas as pessoas têm direito à nacionalidade e mudar de nacionalidade e os Estados devem facilitar essa mudança eventual de nacionalidade —, é um típico Direito de primeira geração, porque já acompanha a história brasileira há muito tempo.!

Art. XV, DUDH.  "1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade.    2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade."!

A nacionalidade também se aproxima das questões relativas à soberania e na CRFB/88, recebeu o Capítulo III do Título II, chamado “Dos Direitos e Garantias Invididuais” e o Capítulo III é inteiramente dedicado ao Direito à Nacionalidade.!

!BASE LEGAL (Art. 12, CRFB/88 E L. 6.815/80)!

Art. 12, CF. São brasileiros:"I - natos:"a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país;"b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;"c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira;"II - naturalizados:"a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;"b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira."§ 1º   Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição."§ 2º - A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição."§ 3º - São privativos de brasileiro nato os cargos:"I - de Presidente e Vice-Presidente da República;"II - de Presidente da Câmara dos Deputados;"III - de Presidente do Senado Federal;"IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;"V - da carreira diplomática;"VI - de oficial das Forças Armadas."VII - de Ministro de Estado da Defesa"§ 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:"

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I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional;"II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos: "a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;"b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis; "!

Na CRFB/88, a base principal do direito fundamental à nacionalidade está no seu art. 14; e ainda há uma norma infraconstitucional denominada Estatuto do Estrangeiro (L. 6815/80), que também cuida do tema.!

!NACIONALIDADE x CIDADANIA!

No Brasil a CRFB/88 faz diferença entre o nacional e o cidadão —, nem todo nacional é cidadão, porque o cidadão está associado ao título de eleitor, ao gozo dos direitos políticos e nem todo brasileiro é cidadão: há as crianças, os enfermos mentais, os que cumprem sentença penal condenatória transitada em julgado…!

Então, nem todo nacional é cidadão, mas, em regra, todo cidadão é antes nacional —, é como se a nacionalidade fosse o antecedente lógico da cidadania, ou seja, para garantir o título de eleitor, para realizar o alistamento eleitoral, é indispensável que o indivíduo seja nacional, salvo algumas exceções.!

Assim, a nacionalidade é o vínculo civil e a cidadania o vínculo político do indivíduo. Como dito, Nem todo nacional é cidadão, mas, em regra, todo cidadão é antes nacional, até porque o art. 14 § 2º, CRFB/88 diz que os estrangeiros são inalistáveis, até porque quem vai se alistar é o brasileiro nato ou naturalizado.!

Art. 14, § 2º, CF. Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos."

O cuidado de se dizer que todo cidadão é, antes, nacional advém do art. 12, § 1º, CRFB/88, que prevê a figura singular do português equiparado; o português que vier a residir no Brasil pode pleitear a sua equiparação a brasileiro naturalizado perante o Ministério da Justiça e uma vez adquirida esta equiparação ele poderá pleitear o título de eleitor, se alistar perante a Justiça Eleitoral, depois, claro, de satisfazer os requisitos do art. 17 do Dec. Presidencial 3927/01.!

Art. 12 § 1º, CF. Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição."!Art. 17, Dec. 3927/01.  "1. O gozo de direitos políticos por brasileiros em Portugal e por portugueses no Brasil só será reconhecido aos que tiverem três anos de residência habitual e depende de requerimento à autoridade competente."2. A igualdade quanto aos direitos políticos não abrange as pessoas que, no Estado da nacionalidade, houverem sido privadas de direitos equivalentes."3. O gozo de direitos políticos no Estado de residência importa na suspensão do exercício dos mesmos direitos no Estado da nacionalidade."!

Neste caso, se o português equiparado se alistar perante a Justiça Eleitoral, ele será o único cidadão estrangeiro do Brasil. O português equiparado, apesar de não se tornar brasileiro, possui direitos e deveres de brasileiro naturalizado, mas seu status é de estrangeiro que não é naturalizado porque preferiu optar pela equiparação.!

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CONCEITOS RELACIONADOS À NACIONALIDADE!

a) Apátrida (Heimatlos) - aquele sem nacionalidade e de acordo com Manoel Gonçalves Ferreira Filho, na situação do apátrida, ocorre um conflito negativo de nacionalidade, ou seja, ninguém o fez nacional.!

b) Polipátrida - possui mais de uma nacionalidade e na visão do Manoel Gonçalves Ferreira Filho, nessa situação há um conflito positivo de nacionalidade, ou seja, mais de um país o fez nacional.!

!ESPÉCIES DE NACIONALIDADE!

a) Originária (Primária ou Involuntária) - decorrente do nascimento, a partir do qual, por critérios sanguíneos, territoriais ou mistos o Estado de forma soberana em qual desses critérios se aplica a situação para fins de aquisição de nacionalidade originária.!

Então, a decisão é do Estado e não comporta interferências externas.!

O nacional originário é o brasileiro nato.!

b) Secundária (Adquirida, Derivada ou Voluntária) - não decorre do nascimento, depende de uma manifestação de vontade e, via de regra, é adquirida pelo processo naturalização.!

O nacional derivado é o brasileiro naturalizado.!

!CRITÉRIOS DE ATRIBUIÇÃO DE NACIONALIDADE ORIGINÁRIA!

A nacionalidade originária, como dito, é aquela decorrente do nascimento, a partir do qual por critérios sanguíneos, territoriais ou mistos será estabelecida —, é uma decisão do próprio Estado.!

a) Ius Sanguinis - a origem sanguínea é o critério principal adotado nos países da Ásia, Europa, África… Nesses países, será nacional todo o descendente de nacional independentemente do seu local de nascimento.!

b) Ius Soli - os países mais jovens (Ocenia e Américas) adotam, via de regra, o critério territorial, de modo que será nacional todo nascido no território do Estado, independentemente da nacionalidade de sua ascendência.!

c) Ius Matrimoni - não adotado no Brasil, ou seja, a nacionalidade aqui não decorre diretamente do casamento, como acontece em alguns países europeus.!

O STF já se manifestou a respeito no julgamento da Extradição 1121, em que estabeleceu essa regra, consoante a doutrina majoritária e ausência de precisão legal nesse sentido.!

d) Critério Misto (Ios Soli Relativo ou Ios Soli Não Absoluto) - o Brasil e muitos países adotam o critério misto, ou seja, há o critério principal, mas também admitem outros critérios em algumas situações.!

O Brasil, por exemplo, tem como critério principal o da origem territorial, mas como aqui se adota o ius sanguinis em algumas situações, se diz que o critério é misto.!

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TRATAMENTO DIFERENCIADO ENTRE BRASILEIROS!

A regra é a do Princípio da Igualdade entre brasileiros, que deve ser observada de acordo com art. 12, § 2º, CRFB/88 e 19, III, também da CRFB/88, que vai na mesma linha do Princípio da Igualdade.!

Art. 12 § 2º, CF. A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição."!Art. 19, CF. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:"III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si."!

Então, a regra é do art. 12, § 2º, CRFB/88 que diz que a lei não pode criar distinções entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos na Constituição.!

A Constituição se preocupa com quatro situações específicas, nas quais estabelece distinção de tratamento entre brasileiros natos e naturalizados: i) cargos; ii) situação no Conselho da República; iii) extradição; e iv) propriedade.!

i) Cargos (art. 12, §3º, CRFB/88) - o art. 12, § 3º, CRFB/88 traz uma proteção aos cargos do Presidente da República e altos cargos relacionados à Segurança Nacional.!

Portanto, cargos de: 1) Presidente e Vice-Presidente (única autoridade apta a suceder o Presidente); 2) Presidente da Câmara dos Deputados; 3) Presidente do Senado Federal; 4) Ministro do STF - porque é o órgão que vai julgar o Presidente da República por crime comum; 5) da carreira diplomática; 6) oficial das forças armadas; e 7) Ministro do Estado de Defesa.!

Art. 12 § 3º, CF. São privativos de brasileiro nato os cargos:"I - de Presidente e Vice-Presidente da República;"II - de Presidente da Câmara dos Deputados;"III - de Presidente do Senado Federal;"IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;"V - da carreira diplomática;"VI - de oficial das Forças Armadas."VII - de Ministro de Estado da Defesa"!PS! O Vice-Presidente é a única autoridade apta a suceder o Presidente, sendo as demais autoridades autorizadas, apenas, a substituí-lo, na seguinte ordem: a) Vice-Presidente; b) Presidente da Câmara; c) Presidente do Senado; e d) Presidente do STF.!

Com relação à segurança nacional, a Constituição se preocupa com o membro da carreira diplomática, os oficiais das forças armadas e o Ministro do Estado da Defesa.!

PS2! Lembrar sempre que o rol é taxativo!!

ii) Função (art. 89, VII, CRFB/88) - há uma preocupação no que tange à participação direta do cidadão no Conselho da República.!

Art. 89, CF. O Conselho da República é órgão superior de consulta do Presidente da República, e dele participam:"VII - seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo dois nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de três anos, vedada a recondução."!

Nem todos os membros do Conselho da República devem ser, necessariamente, brasileiros natos, por exemplo, o Ministro da Justiça ou Líderes de maioria/minoria, a CRFB/88 fez

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questão de dizer que a participação do povo direta no Conselho da República deve ser formada por brasileiros natos.!

iii) Extradição (art. 5º, LI, CRFB/88) - a extradição é o processo de entrega do indivíduo de um Estado a outro Estado que o reclama e é competente para processá-lo e julgá-lo.!

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:"LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;"!

É importante notar que a extradição tratada pela CRFB/88 é a passiva, ou seja, do Brasil não extradita algumas pessoas diante de certas circunstâncias.!

De acordo com art. 5º, LI, CRFB/88 é possível concluir que os brasileiros natos não serão extraditados, ainda, que o brasileiro nato tenha mais de uma nacionalidade originária —, a dupla nacionalidade não afasta a regra de que o brasileiro nato não será extraditado.!

Os brasileiros naturalizados, por sua vez, poderão ser extraditados caso cometam: 1) crime comum antes da naturalização; ou 2) envolvimento em tráfico antes ou depois da naturalização. !

O art. 5º, LII, CRFB/88, ainda enfatiza que não haverá extradição de ninguém por crime político ou de opinião.!

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:"LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião;"!PS! Os institutos da expulsão (crime contra a Segurança Nacional) e deportação (desrespeito a normas de imigração) não se aplicam aos brasileiros de qualquer “tipo”, tais entidades se aplicam, apenas, a estrangeiros.!

"O brasileiro nato, quaisquer que sejam as circunstâncias e a natureza do delito, não pode ser extraditado, pelo Brasil, a pedido de Governo estrangeiro, pois a CF, em cláusula que não comporta exceção, impede, em caráter absoluto, a efetivação da entrega extradicional daquele que é titular, seja pelo critério do jus soli, seja pelo critério do jus sanguinis, de nacionalidade brasileira primária ou originária."Esse privilégio constitucional, que beneficia, sem exceção, o brasileiro nato (CF, art. 5o, LI), não se descaracteriza pelo fato de o Estado estrangeiro, por lei própria, haver-lhe reconhecido a condição de titular de nacionalidade originária pertinente a esse mesmo Estado (CF, art. 12, § 4o, II, a)...” (HC 83.113-QO, Rel. Min. Celso de Mello,Julgamento em 26-6-2003, Plenário, DJ de 29-8-2003.)"!

iv) Propriedade (art. 222, CRFB/88) - o art. 222, CRFB/88 se preocupa com o poder da mídia e a formação da opinião nacional, de modo que a propriedade de empresas jornalísticas e de radiofusão será privativa de brasileiros natos ou naturalizados há pelo menos de dez anos.!

Art. 222, CF. A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no País."

!BRASILEIRO NATO (Art. 12, I, a, b, c, CRFB/88)!

Hipóteses taxativas constitucionais para se adquirir a nacionalidade originária.!

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Art. 12, CF. São brasileiros:"I - natos:"a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país;"b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;"c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira;"!

a) Os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país - há na alínea a, o critério principal, territorial “ius soli" e a partir deste critério é possível dizer que, regra geral, quem nasce no Brasil, brasileiro nato é.!

É possível que o indivíduo tenha nascido no Brasil, mas não seja brasileiro nato, quando ocorrerem dois requisitos: i) filhos de pai e mãe estrangeiros; e ii) se pelo menos um deles estiver a serviço oficial do país de origem —, ou seja, é que está no Brasil não por vontade própria, mas por vontade de seu país de origem. A ratio aqui é a seguinte: não se obriga o filho daquele que não está no país por vontade própria a ter nacionalidade brasileira. !

PS! Filho de pai ou mãe brasileiro nascido no Brasil sempre será brasileiro nato, porque para nascer aqui e não ser brasileiro nato é preciso que tanto o pai, quanto a mãe sejam estrangeiros. Essa regra vai viger, ainda, que um dos pais seja estrangeiro e esteja a serviço do seu país de origem.!

b) Os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil - se a criança nasceu no exterior, não é possível dizer que o critério é do ius soli, mas do ius sanguinis somado ao critério funcional, ou seja, será brasileiro o filho de pai ou mãe brasileiros, desde que um deles esteja a serviço do país no exterior.!

Segundo José Afonso da Silva, estar a serviço oficial do Brasil no exterior seria um serviço da Administração Pública direta ou indireta, das esferas federal, estadual, distrital ou municipal.!

Ex: Pesquisador da UFRJ foi encaminhado ao Canadá para estudar sobre um tema, se apaixona por uma canadense e eles têm um filho, qual a nacionalidade da criança aos olhos da CRFB/88? Brasileiro nato, filho de brasileiro à serviço oficial no exterior.!

De acordo com a alínea “a”, o filho do estrangeiro a serviço oficial no Brasil não será brasileiro nato, a alínea “b" traz uma correspondência com esta regra, mas em favor do brasileiro.!

c) Os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira - também contempla uma hipótese de aquisição de nacionalidade originária e até o momento foi a alínea que mais sofreu reformas em sua redação original, foi alterada pela Emenda de Revisão 03/94 e sofreu a última reforma pela 54/07.!

É a situação de ius sanguinis que mais se aplica aos brasileiros que tenham seus filhos no exterior, boa parte dos brasileiros que se encontram fora do Brasil, não estão exatamente cumprindo serviço oficial.!

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Para a CRFB/88, para que o filho de brasileiros no exterior adquiram a nacionalidade brasileira, basta que: i) venham ser registrados em Consulado; ou ii) venham a residir no Brasil e manifeste sua vontade de ser brasileiro após atingida a maioridade —, tal manifestação de vontade é feita por um processo de jurisdição voluntária de confirmação de naturalidade ante à JF de primeiro grau, nos termos do art. 109, X, CRFB/88.!

Art. 109, CF. Aos juízes federais compete processar e julgar:"X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização;"!

Já foi decidido pelo STF que a naturalidade é um direito fundamental personalíssimo, deste modo, quem pode se manifestar e requerê-la é a própria pessoa, o próprio filho de brasileiro. Com isso, se deseja esclarecer que, caso o filho de brasileiro venha para o Brasil ainda menor de idade, os pais não podem entrar com a ação de confirmação de nacionalidade em seu nome.!

Assim, quando o filho de brasileiro ingressa no país recebe um título de brasileiro nato provisório que lhe garante direitos e obrigações, mas é preciso que confirme essa naturalidade após atingida a maioridade civil perante a Justiça Federal.!

PS! Não há prazo para o exercício da opção confirmativa de naturalidade.!

“Vindo o nascido no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira, a residir no Brasil, ainda menor, passa a ser considerado brasileiro nato, sujeita essa nacionalidade a manifestação da vontade do interessado, mediante a opção, depois de atingida a maioridade. Atingida a maioridade, enquanto não manifestada a opção, esta passa a constituir-se em condição suspensiva da nacionalidade brasileira." (RE 418.096, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 22-3- 2005, Segunda Turma, DJ de 22-4-2005.)"!

Os efeitos da declaração de nacionalidade são retroativos (ex tunc)."

Situação interessante é quando um filho de brasileiro nascido no exterior comete um crime lá fora e ele não foi registrado em Consulado no exterior, mas consegue vir ao Brasil e chega seu pedido de extradição pelo governo estrangeiro. O que fazer?!

Ele fará uso da alínea c do art. 12, I, CRFB/88, no que tange a manifestação de vontade perante à JF e quando ele entra com o pedido de aquisição de nacionalidade brasileira, o processo de extradição é suspenso e quando o juiz concede à aquisição de nacionalidade ao requerente, os efeitos são retroativos, de modo que não haverá extradição porque se trata de brasileiro nato. Então, o processo de extradição será extinto.!

!BRASILEIROS NATURALIZADOS (Art. 12, II, a e b CRFB/88 e Lei 6.815/80)!

Art. 12, CF. São brasileiros:"II - naturalizados:"a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;"b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira."!

Antes de se tecer qualquer comentário acerca da naturalização, é importante destacar que não há naturalização tácita no Brasil, ou por decurso de prazo.!

Ex: O indivíduo mora no Brasil há trinta anos, isso não o faz adquirir, de pronto, o título de brasileiro naturalizado.!

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A naturalização depende da manifestação de vontade, por isso não há naturalização tácita ou por decurso de prazo, como dito.!

a) Os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral - estamos diante da hipótese da naturalização chamada pela doutrina de ordinária e o ato de concessão da nacionalidade é ato discricionário, ou seja, mesmo satisfeitos os requisitos constitucionais e legais, o Brasil pode negar a nacionalidade pretendida.!

O procedimento de naturalização ocorre ante o Ministério da Justiça, mas, como o Ministério da Justiça fica em Brasília, as delegacias da Justiça Federal fazem esta intermediação, esta ponte entre o estrangeiro e a capital.!

PS! Quando a CRFB/88 se refere à estrangeiro nesta alínea, também estão inclusos os apátridas.!

A alínea a traz duas hipóteses distintas, estrageiros/apátridas: i) originários de qualquer país que devem preencher os termos da lei; ou ii) de língua portuguesa, que devem preencher os requisitos da Constituição — um ano ininterrupto de permanência no Brasil somado à idoneidade moral.!

A Constituição facilitou a aquisição de nacionalidade brasileira para os originários de países de língua portuguesa por conta da identidade cultural naturalmente existente entre esses países (Angola, Portugal, Goa, Moçambique…) e o Brasil.!

Agora, os demais estrangeiros que não são originários dos países de língua portuguesa, devem preencher os requisitos da lei (Estatuto do Estrangeiro), que em seu art. 112 elenca as condições necessárias para a aquisição da naturalização.!

Art. 112, L. 6.815/80. São condições para a concessão da naturalização:"I - capacidade civil, segundo a lei brasileira;"II - ser registrado como permanente no Brasil;"III - residência contínua no território nacional, pelo prazo mínimo de quatro anos, imediatamente anteriores ao pedido de naturalização;"IV - ler e escrever a língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando;"V - exercício de profissão ou posse de bens suficientes à manutenção própria e da família;"VI - bom procedimento;"VII - inexistência de denúncia, pronúncia ou condenação no Brasil ou no exterior por crime doloso a que seja cominada pena mínima de prisão, abstratamente considerada, superior a 1 (um) ano; e"VIII - boa saúde."§ 1º não se exigirá a prova de boa saúde a nenhum estrangeiro que residir no País há mais de dois anos. "§ 2º verificada, a qualquer tempo, a falsidade ideológica ou material de qualquer dos requisitos exigidos neste artigo ou nos arts. 113 e 114 desta Lei, será declarado nulo o ato de naturalização sem prejuízo da ação penal cabível pela infração cometida. "§ 3º A declaração de nulidade a que se refere o parágrafo anterior processar-se-á administrativamente, no Ministério da Justiça, de ofício ou mediante representação fundamentada, concedido ao naturalizado, para defesa, o prazo de quinze dias, contados da notificação."!

b) Os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira - esta alínea “b" se refere à naturalização extraordinária ou quinzenária e, segundo, entendimento doutrinário, o ato de concessão é vinculado, assim, caso satisfeitos os requisitos previstos na Constituição, há um direito público subjetivo do direito adquirir a nacionalidade brasileira.!

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Os requisitos impostos no art. 12, II, b, CRFB/88 para a concessão da naturalização são, estrangeiros de qualquer nacionalidade, desde que: i) permaneçam quinze anos de residência ininterrupta no Brasil —, a Constituição não exige a permanência ininterrupta, de modo que as saídas esporádicas são, sim, permitidas; ii) não tenham sofrido condenação penal - este requisito deve entendida como condenação penal transitada em julgado; e iii) desde que tenha requerido —, isso porque, como já dito, não há naturalização tácita, a naturalização depende de manifestação de vontade no sentido de ser brasileiro naturalizado.!

O requerimento de aquisição de nacionalidade brasileira previsto na alínea b, II, art. 12, CRFB/88 é suficiente para viabilizar a posse no cargo triunfalmente disputado mediante concurso público, isso quando a pessoa pessoa requerente contar com quinze anos de residência fixa no Brasil, sem condenação penal. A portaria de formal reconhecimento de naturalização expedida pelo Ministério da Justiça é de caráter meramente declaratório, pelo que seus efeitos hão de retroagir à data de requerimento do interessado. (RE 264848)"

!PERDA DE NACIONALIDADE (Art. 12, § 4º, CRFB/88)!

As hipóteses de perda são taxativas e se esgotam na Constituição, de modo que não podem ser ampliadas pelas legislação infraconstitucional.!

Art. 12, § 4º, CF. - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:"I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional;"II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos: "a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;"b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis; "!

Hipóteses:!

a) Tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional - logicamente que quem pode ter cancelado a naturalização é quem um dia se naturalizou, então, essa hipótese do inciso I se aplica, apenas, ao brasileiro naturalizado.!

Não existe uma lei discriminando exatamente quais são as atividades nocivas ao interesse nacional, mas há casos bem compreensíveis: i) crime contra a segurança nacional; ii) terrorismo; iii) tráfico de entorpecentes ou pessoas…!

Neste caso, deve ser proposta uma ação de cancelamento de naturalização pelo Ministério Público Federal ante a JF de primeiro grau, de acordo com o art. 109, X, CRFB/88.!

Art. 109, CF. Aos juízes federais compete processar e julgar:"X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização;"!

Em todo caso, deve ser garantida a ampla defesa, contraditório, mas, se ao final houver decretação de perda de nacionalidade, essa perda será uma perda judicial, denominada pela doutrina de perda-sanção ou perda-punição, com produção de efeitos ex nunc."

A decisão não alcançará, obviamente, os familiares do ex-brasileiro, mas este não poderá readquirir a nacionalidade brasileira administrativamente e a única forma, meio processual, que permitirá que ele recupere a nacionalidade perdida é por meio de ação rescisória.!

Aliás, o STF já se manifestou no RMS 27840/2013 que em sendo a perda judicial, o Ministro da Justiça não seria competente para rever atos de cassação de naturalização. !

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b) Adquirir outra nacionalidade - trata da hipótese de perda da nacionalidade do brasileiro nato e também naturalizado, salvo nos casos de: i) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira; ou, ii) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis.!

A Constituição determina que quando o brasileiro (nato ou naturalizado) decidir adquirir voluntariamente outra nacionalidade, ele precisa abrir mão da nacionalidade brasileira —, é a perda mudança.!

A perda é administrativa.!

Ex: Brasileiro vai morar na Suíça e não há imposição nenhuma do governo suíço, mas ele decide se naturalizar suíço e faz o requerimento próprio; uma vez concedido o pedido, ele precisa avisar as autoridades brasileiras e preenche um documento de perda de nacionalidade, o processo tramita ante o Ministério da Justiça e vai ser declarada a perda administrativa da nacionalidade do brasileiro.!

No fim das contas, caso o brasileiro do exemplo canse da vida na Suíça e decida retornar ao Brasil, ele poderá readquirir a nacionalidade perdida, mas daí surge uma controvérsia doutrinária:!

i) Readquire da forma que perdeu - para José Afonso da Silva e Flávia Bahia, o “brasileiro" vai readquirir sua nacionalidade do modo que perdeu —, se era nato, readquire como nato e se era naturalizado, readquire como naturalizado.!

ii) Readquire como naturalizado - Alexandre de Moraes sustenta que quando o brasileiro nato vai readquirir a naturalidade perdida, ele a readquire como brasileiro naturalizado.!

O tema é controverso, mas uma coisa é certa: o brasileiro ao adquirir outra nacionalidade voluntariamente vai precisar abrir mão da nacionalidade brasileira e esta perda-mudança vai depender de uma declaração administrativa, também com efeitos ex nunc.!

Por outro lado, é possível que as pessoas tenham mais de uma nacionalidade e não percam a nacionalidade brasileira, nesse caso, estarão elas encaixadas nas hipóteses excepcionais expressamente previstas na Constituição Federal.!

Tal situação, inclusive, configura as hipóteses de dupla nacionalidade: i) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira; ou, ii) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis — casos de trabalho ou imposição relativa a casamento, permanência em território…!

PS! Como o Brasil possui a principal característica de aquisição de naturalidade o critério territorial e muitos países europeus possuem o critério sanguíneo, é comum um brasileiro nascer no Brasil e ser considerado brasileiro por isso, mas ser considerado descendente de italianos, alemães, franceses… Nessa situação, ao nascer, ele atendeu o critério de aquisição nacionalidade originária brasileira pelo ius soli e também atendeu o critério de aquisição de nacionalidade estrangeira pelo ius sanguinis.!

Então, o Brasil não estabelece um número máximo de nacionalidades originárias, o que não permite é que o brasileiro se naturalize voluntariamente.!

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Esse assunto pode ser resumido, então, da seguinte forma: o brasileiro nato só perde a nacionalidade se quiser e o naturalizado perde se quiser (art. 12, § 4º, II) ou por meio de uma decisão judicial, em razão de ter cometido um ato nocivo aos interesses nacionais.

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DIREITOS POLÍTICOS!!!À semelhança dos direitos à nacionalidade, direitos políticos são direitos de primeira geração ou dimensão.!

Art. 14, CF. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:!I - plebiscito;!II - referendo;!III - iniciativa popular.!§ 1º - O alistamento eleitoral e o voto são:!I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;!II - facultativos para:!a) os analfabetos;!b) os maiores de setenta anos;!c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.!§ 2º - Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos.!§ 3º - São condições de elegibilidade, na forma da lei:!I - a nacionalidade brasileira;!II - o pleno exercício dos direitos políticos;!III - o alistamento eleitoral;!IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;!V - a filiação partidária; !VI - a idade mínima de:!a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;!b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;!c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;!d) dezoito anos para Vereador.!§ 4º - São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.!§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subseqüente.!§ 6º - Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito.!§ 7º - São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.! § 8º - O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições:!I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade;!II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade.!§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. !§10 - O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude.!§ 11 - A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé.!!Art. 15, CF. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:!I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;!II - incapacidade civil absoluta;!III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;!IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;!V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.!!Art. 16, CF. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência. !!

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DEMOCRACIA!

Regime político pautado pela vontade da maioria e tem como principal princípio a Soberania Popular extraída do art. 1º, parágrafo único da Constituição Federal —, sendo que a soberania popular se revela por meio dos direitos políticos que são os direitos do cidadão, o eleitor que está em gozo dos seus direitos políticos.!

Art. 1º, CF. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:!Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.!!

O modelo democrático adotado formalmente pela Constituição Federal de 1988 é, de acordo com o seu art. 1º, parágrafo único, é o participativo, ou seja, no Brasil há uma democracia semi-direta: o povo participa sem intermediação dos representantes na formação da vontade nacional, mas também participa por meio dos representantes eleitos para essa finalidade específica.!

O regime político democrático é pautado na soberania popular, o poder, a força das decisões, o centro, o comando de energia do Estado, está nas mãos do povo e o povo manifesta esse poder justamente por meio dos direitos políticos, direitos do cidadão, que exteriorizam a democracia, a soberania popular em nosso país.!

!SUFRÁGIO x VOTO x ESCRUTÍNIO!

a) Sufrágio - essência dos direitos políticos, sua alma, ou, em termos jurídicos é o direito público subjetivo político do cidadão, que vai permitir que ele atue na formação da vontade nacional.!

O sufrágio no Brasil já foi censitário, capacitário, até se tornar universal, de acordo com o art. 14, caput, CRFB/88.!

Art. 14, CF. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:!!

O sufrágio censitário era aquele pautado na renda, as pessoas eram discriminadas em razão do que tinham, do seu bolso, se faziam ou não circular riquezas no país. Então, as Constituições de 1824 e 1981, por exemplo, impediam que o mendigo pudesse participar das eleições.!

O sufrágio capacitário era aquele pautado na capacidade intelectual e daí durante muito tempo as mulheres foram afastadas da visão política do Estado e só adquiriu direito de voto em sede constitucional em 1934 —, até então se entendia que mulheres não tinham capacidade intelectual para participar da vida política do país; os analfabetos só passaram a votar em 1985.!

O sufrágio universal preconizado no art. 14, caput, CRFB/88, é um sufrágio que não permite a todos o mesmo grau de manifestação política, mas que permite, dentro de uma razoabilidade, que todos participem da formação da vontade nacional e não traz em seu bojo preconceitos, a discriminação negativa.!

b) Voto - instrumento do sufrágio, ferramenta do sufrágio; sufrágio é gênero, enquanto voto é espécie, assim como são o plebiscito, o referendo, a ação popular, a apresentação de projeto de lei popular…!

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c) Escrutínio - forma do voto, ou seja, o voto pode ser aberto, secreto, direto, indireto…!

!MANIFESTAÇÕES DE DIREITOS POLÍTICOS POSITIVOS!

Manifestações efetivas do cidadão na formação da vontade nacional —, esses direitos são divididos em direitos ativos e passivos.!

Essas manifestações dos direitos positivos são manifestações do sufrágio.!

a) Direitos Políticos Ativos - são adquiridos pelo alistamento eleitoral, ato que irá credenciar os brasileiros como cidadãos.!

A CRFB/88, fala em seu art. 14, § 1º, que o alistamento eleitoral é obrigatório para algumas pessoas e facultativo para outras —, obrigatório para os brasileiros entre dezoito e setenta anos de idade que estejam alfabetizados e fora da conscrição; e facultativo para os analfabetos (possuem alistabilidade, mas não elegibilidade), maiores de dezesseis anos e menores de dezoito anos e os maiores de setenta anos.!

Art. 14, § 1º, CF. O alistamento eleitoral e o voto são:!I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;!II - facultativos para:!a) os analfabetos;!b) os maiores de setenta anos;!c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.!!

Além disso, há os inalistáveis do art. 14, § 2º, CRFB/88, que são os estrangeiros (nem todo estrangeiro, porque há o caso especial do português equiparado que pode eventualmente se alistar e exercer cargos de brasileiros naturalizados) e os conscritos (aqueles que estão cumprindo serviço obrigatório e não os militares de carreira).!

Art. 14 § 2º, CF. Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos.!!

Ao adquirir os direitos políticos ativos, o cidadão poderá participar da sociedade por meio de uma série de manifestações.!

i) Iniciativa Popular - a iniciativa popular de apresentação de projeto de lei prevista no art. 61, §2º; 27 § 4º e 29, XIII, CRFB/88.!

O art. 61, §2º, CRFB/88 diz que os cidadãos podem apresentar projetos de leis populares, desde que satisfeitos uma série de requisitos: 1) projeto referente a matéria de lei ordinária e complementar; 2) o projeto deve ser apresentado à Câmara dos Deputados; 3) deve seguir requisitos do 1.503, ou seja, o projeto popular deve ser subscrito por, no mínimo 1% do eleitorado nacional, dividido em pelo menos 5 estados brasileiro e o número de eleitores em cada um desses estados não pode ser inferior à 0,3% do eleitorado local —, os requisitos são cumulativos.!

Art. 61, § 2º, CF. A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles.!!

A lei 9709/98 traz algumas outras regras: o projeto de lei popular deve versar apenas sobre um assunto e o projeto de lei popular não pode ser rejeitado por vício de forma.!

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A Constituição no que tange à iniciativa de apresentação de projeto de lei federal, trouxe os requisitos completos, mas não com relação aos projetos de lei estadual ou municipal.!

Art. 27 §4º, CF. A lei disporá sobre a iniciativa popular no processo legislativo estadual.!!O art. 27, §4º, CRFB/88 se limita a dizer que o projeto de lei estadual deve ser regido por uma lei.!

Art. 29, CF. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos:!XIII - iniciativa popular de projetos de lei de interesse específico do Município, da cidade ou de bairros, através de manifestação de, pelo menos, cinco por cento do eleitorado; !!

Já o art. 29, XIII, CRFB/88 que fala da iniciativa popular de lei no âmbito municipal diz que a iniciativa popular de projeto de lei de interesse específico do município da cidade ou bairros deve ser feita por, ao menos, 5% do eleitorado local.!

ii) Plebiscito e Referendo (art. 49, XV e lei 9.709/98) plebiscitos e referendos se diferem com relação ao momento da consulta —, o plebiscito realiza uma consulta prévia, ou seja, a conduta que antecede a decisão do Poder Público, seja para formulação de uma lei ou adoção de ato administrativo; o referendo é feito posteriormente ao ato para retirar a eficácia de um ato já existente ou para ratificar a sua manifestação.!

No plano federal a convocação de plebiscitos e referendos é feita pelo Congresso Nacional, por meio de Decreto Legislativo, na forma do art. 49, XV, CRFB/88.!

Art. 49, CF. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:!XV - autorizar referendo e convocar plebiscito.!!

iii) Ação Popular - a ação popular figura no elenco de direitos positivos porque na forma do art. 5º, LXXIII e da Lei 4717/65, a ação popular só pode ser proposta pelo cidadão: brasileiro nato ou naturalizado em gozo de seus direitos políticos.!

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:!LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;!!

O cidadão é o eleitor e o art. 1º, § 3º da Lei 4717/65 diz que o que vai credenciar o cidadão à apresentação da ação popular é o seu título de eleitor e sua regularização eleitoral.!

Art. 1º §3º, L. 4717/65. A prova da cidadania, para ingresso em juízo, será feita com o título eleitoral, ou com documento que a ele corresponda.!!

iv) Voto - grande instrumento democrático, grande manifestação de direito político positivo. Sem dúvidas, apesar de no papel a democracia brasileira se apresentar como participativa, semi-direta, há uma tendência representativa muito forte, porque o voto é o grande instrumento do povo na eleição de seus representantes, que daí em diante tomarão decisões em seu nome.!

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O voto é muito importante, tanto que é protegido como cláusula pétrea no art. 60, § 4º, II, CRFB/88. E é cláusula pétrea ao lado de suas características: 1) direto; 2) secreto; 3) universal; e 4) periódico.!

Art. 60, § 4º, CF. Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:!II - o voto direto, secreto, universal e periódico;!!

José Afonso da Silva quando fala do voto, diz que o voto é um direito e dever de dupla dimensão —, é um direito porque é um direito público subjetivo político do cidadão que permitirá que ele eleja seus representantes; mas é um dever de duplo sentido, é um dever jurídico, porque quem não vota, não justifica sofre as sanções cabíveis da Justiça Eleitoral e é um dever social, porque a falta do voto traz malefícios para formação da vontade nacional. !

v) Elegibilidade - nem todos que possuem a capacidade eleitoral ativa, possuem a capacidade eleitoral passiva, mas todos que possuem capacidade eleitoral passiva, necessariamente, possuem capacidade eleitoral ativa.!

Nem todos que podem votar e apresentar ação popular e projeto de lei popular, necessariamente, podem ser eleitos, como é o caso do analfabeto, por exemplo, o qual tem a alistabilidade garantida pela Constituição, mas é inalistável para qualquer cargo eletivo.!

Não só o analfabeto enfrenta situações de inelegibilidade, o cidadão de dezoito anos pode votar, mas não pode ser eleito para todos os cardos eletivos.!

Para ser eleito o indivíduo precisa votar, tanto que o alistamento eleitoral é uma das condições de elegibilidade.!

O art. 14, § 3º, CRFB/88 cuida das condições de elegibilidade, as quais são cumulativas: 1) nacionalidade brasileira - originária ou derivada, salvo exceções do art. 12§ 3º, CRFB, que traz os cargos que só podem ser ocupados por brasileiros natos; 2) pleno exercício dos direitos políticos - o art. 15, CRFB/88 em que o indivíduo não se encontra em pleno gozo dos direitos políticos; 3) alistamento eleitoral; 4) domicílio eleitoral na circunscrição que deve ser fixado pelo menos um ano antes do período eleitoral; 5) filiação partidária - os partidos políticos formam uma ponte entre a sociedade civil e a sociedade política e exercem, segundo Celso de Mello, o monopólio das candidaturas, de modo que não se admite candidatura avulsa, ademais, é requisito jurisprudencial a fidelidade partidária; 6) idade mínima para cada cargo, que é exigida sempre na data da posse e não do registro de candidatura.!

Art. 14 § 3º, CF. São condições de elegibilidade, na forma da lei:!I - a nacionalidade brasileira;!II - o pleno exercício dos direitos políticos;!III - o alistamento eleitoral;!IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;!V - a filiação partidária; !VI - a idade mínima de:!a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;!b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;!c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;!d) dezoito anos para Vereador.!!Art. 12, § 3º, CF. São privativos de brasileiro nato os cargos:!

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I - de Presidente e Vice-Presidente da República;!II - de Presidente da Câmara dos Deputados;!III - de Presidente do Senado Federal;!IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;!V - da carreira diplomática;!VI - de oficial das Forças Armadas.!VII - de Ministro de Estado da Defesa!!Art. 15, CF. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:!I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;!II - incapacidade civil absoluta;!III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;!IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;!V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.!!

b) Direitos Políticos Negativos - circunstâncias que a Constituição apresenta que vão impedir o indivíduo de exercer seus direitos políticos, sejam ativos ou passivos.!

i) Inelegibilidades - ataca o direito político passivo, são pessoas que não podem ser eleitas. São divididas em dois grupos: inelegibilidades absolutas e relativas.!

1) Absolutas (art. 14, § 4º, CRFB/88) - hipóteses taxativamente previstas na Constituição Federal. O inelegível absolutamente é aquele que não pode concorrer a carga eletivo algum no país e como esta é uma decisão drástica, o STF diz que as hipóteses de inelegibilidades absolutas se esgotam no texto constitucional e não podem ser ampliadas infraconstitucional.!

Segundo art. 14, § 4º, CRFB/88, são inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos —, os inalistáveis são aqueles do art. 14, § 2º, CRFB/88 (conscritos e, em regra, os estrangeiros).!

Art. 14, CF.!§ 2º Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos.!§ 4º - São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.!!

2) Relativas - o art. 14, § 9º, CRFB/88 diz que lei complementar pode ampliar os casos de inelegibilidade. Nesse caso, a lei complementar pode ampliar os casos de inelegibilidades, mas as relativas e não as absolutas, que se esgotam no texto.!

Art. 14, § 9º, CF. Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.!!

Essa lei complementar existe e é a lei 64/90, ou seja, a Lei das Inelegibilidades.!

As hipóteses de inelegibilidades relativas previstas na Constituição Federal são (art. 14 §§ 5º, 6º e 7º, CRFB/88): !

Art. 14, CF.!§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subseqüente.!§ 6º - Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito.!§ 7º - São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou

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Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.!!

a) Art. 14 § 5º, CRFB/88 - Presidente, Governadores ou Prefeitos (ou quem os houver substituído) podem ser reeleitos por um único período subsequente - este dispositivo se refere à reeleição para os membros do Executivo em uma clara proteção aos princípios da Democracia e República; !

Art. 14, CF.!§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subseqüente.!!

O Presidente reeleito não pode concorrer ao terceiro mandato para o cargo que ocupava antes, tampouco para o cargo de vice da mesma função —, isso porque é o vice é o grande sucessor do cargo.!

O Vice-presidente pode concorrer ao cargo de Presidente em 2018? Se ele passar o mandato de 2014 a 2018 apenas substituindo o Presidente em caso de impedimento, ele pode vir a concorrer ao cargo de Presidente?!

Sim, no exemplo dado, Michel Temmer pode concorrer ao cargo de Presidente em 2018 e, até mesmo, nas eleições de 2022.!

Diferente é a situação de Dilma, reeleita com Temmer em 2014 renunciar ao mandato em 2016 —, nesse caso, Temmer assumiria o cargo como Presidente, sucessor legítimo.!

Então, a situação é que Michel Temmer seria titular do cargo, nesse caso, em 2018 ele poderia pleitear novamente a presidência, mas não como seu mandato originário, nesse caso, ele viria na qualidade de candidato reeleito.!

ELEIÇÕES Presidente Vice-Presidente

2010 Dilma Michel Temmer

2014 Dilma Michel Temmer

2018 Inelegível Dilma / Elegível Michel Temmer

Inelegíveis: Dilma e Michel Temmer

2022 Elegíveis Dilma e Michel Temmer

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ELEIÇÕES Presidente Vice-Presidente

2010 Dilma Michel Temmer

2014 Michel Temmer -

2018 Michel Temmer -

2022 Inelegível Michel Temmer -

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PS! O indivíduo pode assumir a titularidade do cargo por duas formas: eleição ou sucessão.!

b) Art. 14 § 6º, CRFB/88 - traz a situação da desincompatibilização e o texto constitucional diz que para concorrem a outros cargos os chefes do Executivo nas três esferas de governo devem renunciar aos cargos com, no mínimo, seis meses de antecedência do próximo pleito.!

Art. 14, CF.!§ 6º - Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito.!!

Essa desincompatibilização só é exigida para quem pretende concorrer a outro cargo eletivo; no caso da reeleição, não há necessidade desincompatibilização, porque esta equivale a concorrência ao mesmo cargo.!

A desincompatibilização só vale para os membros do Executivo que desejam concorrer a outros cargos, os membros do Legislativo não precisam atender este requisito.!

c) Art. 14 § 7º, CRFB/88 - traz o instituto da inelegibilidade reflexa, sendo reflexa porque quem se torna inelegível não é o próprio titular do cargo, mas sua família em razão do cargo ora por ele exercido.!

Art. 14, CF.!§ 7º - São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.!!

Essa inelegibilidade reflexa tenta evitar algo muito comum, que é o paternalismo familiar no poder que compromete a democracia.!

!

! ! !Município ↦ Prefeito!

! ! ! !

! ! !Estado ↦ Governador!

! !

! ! !União ↦ Presidente!

!De acordo com o que está positivado na Constituição, a família do prefeito não pode concorrer aos cargos da sua circunscrição, ou seja: prefeito, vice-prefeito e vereador.!

Agora, a família do Governador, por sua vez, não pode concorrer aos cargos eletivos municipais, dos municípios situados no estado e nem aos cargos eletivos estaduais/distritais ou federais oriundos do próprio estado.!

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A família do Presidente é completamente inelegível por todo o território nacional.!

A definição constitucional de família abrange: a) cônjuge ou companheiro (art. 226, § 3º, CRFB/88; b) parentes consangüíneos até segundo grau, em linha reta são os pais e avós, filhos e netos e em linha colateral há os irmãos; c) parentesco por afetividade (afinidade), que inclui os sogros, cunhados e genros/noras.!

Art. 226 § 3º, CF. Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. !

A súmula vinculante 18 dispõe sobre o tema, aduzindo que a dissolução da sociedade ou vínculo conjugal no curso do mandato não afasta a inelegibilidade reflexa.!

SV, 18. A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 da Constituição Federal.!!

Então, a tentativa de burlar o art. 14 § 7º, CRFB/88, realizando um divórcio apenas para fins eleitoreiros, não é possível, porque a súmula vinculante 18 veda o afastamento da inelegibilidade reflexa nesses casos.!

Há posicionamento do STF no RE 158.314, inclusive, vedando a eleição de irmão do prefeito do “município-mãe” nos casos de desmembramento, porque o município surgido é parte do anterior e sua população a mesma.!

PS! Caso um candidato eleito a cargo do Legislativo em uma eleição decida concorrer na próxima a cargo de Chefe do Executivo, nada impede que na sua reeleição parentes seus concorram a outros cargos na circunscrição do estado desde que também candidatos à reeleição, a exemplo, da esposa a vice, do irmão a deputado e etc… Isso ocorre porque os familiares se elegeram por votos próprios nas eleições anteriores, de modo que não haverá influência na votação a ser recebido —, é o que diz a parte final do dispositivo.!

A renúncia (desfazimento do vínculo com o cargo) é muitas vezes utilizada para fins de afastar a inelegibilidade reflexa e afasta o vínculo com o cargo —, se feita no primeiro mandato e se no segundo mandato, afasta a inelegibilidade, salvo para o cargo anteriormente ocupado pelo renunciante.!

Ex: Garotinho foi eleito Governador do RJ e seis meses antes das eleições ele renunciou para concorrer a Presidente da República; a renúncia do primeiro mandato afastou por completo à inelegibilidade reflexa, sua família poderia se concorrer a qualquer cargo eletivo, inclusive, ao cargo por ele antes ocupado e renunciado, visto que ele próprio poderia pleitear a reeleição.!

Rosinha Garotinho, eleita governadora em 2002 não pôde concorrer à reeleição em 2006, porque o TSE entendeu que são vedados três mandatos consecutivos com a mesma pessoa no poder ou com a mesma família.!

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Diferente é a situação de a renúncia ser feita no segundo mandato, caso em que irá afastar a inelegibilidade reflexa, porém, para outros cargos que não o anteriormente ocupado pelo renunciante, isso para evitar três mandatos consecutivos com a mesma família no poder.!

PS! A inelegibilidade reflexa sempre parte do chefe do executivo e isso não engloba a família dos membros do Legislativo, que podem concorrer a qualquer mandato eletivo, tanto que o art. 14 § 7º, CRFB/88 faz essa referência expressa.!

ii) Perda e Suspensão - atinge os direitos políticos ativos e passivos. O art. 15, CRFB/88 é o responsável por cuidar da perda e suspensão dos direitos políticos.!

Art. 15, CF. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:!I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;!II - incapacidade civil absoluta;!III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;!IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;!V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.!!

A Constituição veda expressamente a cassação de direitos políticos, visto que essa seria uma atitude arbitrária. O que é permitido pelo texto constitucional seria a perda de tais direitos, que implicaria o cancelamento do título de eleitor, enquanto a suspensão seria a paralisação temporária do seu exercício.!

1. Perda - a) inciso I - brasileiro naturalizado que perde a naturalização e direitos políticos, esta prevista no art. 12, § 4º, I, CRFB/88; b) inciso V - escusa de consciência que enseja uma prestação administrativa, esta, caso não cumprida, para a maioria da doutrina enseja a suspensão, mas José Afonso da Silva entende que é hipótese de perda.!

PS! Inciso IV é polêmico.!

2. Suspensão - a) inciso II - incapacidade civil absoluta (art. 3º, CC); b) inciso III - condenação criminal transitada em julgado, aliás, o RE 577012 diz que a substituição da pena restritiva de liberdade por restritiva de direitos não impede a suspensão dos direitos políticos (vale a natureza da sentença e não da pena); c) inciso IV - escusa de consciência que enseja uma prestação administrativa, esta, caso não cumprida, para a maioria da doutrina enseja a suspensão, mas José Afonso da Silva entende que é hipótese de perda.; d) inciso V - condenação em processo de improbidade administrativa transitado em julgado, texto deve ser lido com o art. 37, § 4º, CRFB/88.!

Art. 3º, CC. São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:!I - os menores de dezesseis anos;!II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos;!III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.!!

• Discussão do inciso IV: Então, na hipótese da escusa de consciência do art. 15, IV, CRFB/88 há uma controvérsia doutrinária, como dito, alguns doutrinadores sustentam ser hipótese de perda e outros suspensão.!

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Para José Afonso da Silva e alguns doutrinadores seria perda porque ante as demais Constituições, o tema foi tratado como perda e, além disso, as situações de suspensão só são assim consideradas pela própria natureza dos institutos.!

Todavia, quando se abre o art. 438, CPP ou a Lei 8339/91 (Prestação de Serviço Alternativo ao Serviço Militar Obrigatório), o que se encontra é que quem deixa de cumprir a prestação legal e não cumpre a prestação alternativa instituída, terá decretada a suspensão de seus direitos políticos.!

Art. 438, CPP. A recusa ao serviço do júri fundada em convicção religiosa, filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto.!!

Então, há um antagonismo entre a doutrina e a lei.!

• Discussão inciso V: além de tudo, o inciso V deve ser combinado com o art. 37, § 4º, CRFB/88, porque, segundo o texto, a condenação transitada em julgado em processo de improbidade, gera a suspensão dos direitos políticos.!

Art. 37, § 4º, CF. Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.!

!PRINCÍPIO DA ANUALIDADE (Art. 16, CRFB/88)!

Ao adquirir os direitos políticos ativos, o cidadão poderá participar da sociedade por meio de uma série de manifestações.!

O art. 16, CRFB/88 que também está localizado no capítulo reservado aos direitos políticos, diz que a lei que alterar o processo eleitoral, entrará em vigor na data de sua promulgação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência.!

Art. 16, CF. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência.!

Esse princípio da anualidade da lei eleitoral já foi considerado pelo STF como cláusula pétrea, então a norma do art. 16, CRFB/88 é considerada cláusula pétrea e, portanto, limitação implícita (tácita) ao Poder Reformador da Constituição.!

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!REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS!!!

VISÃO GERAL!

Como se sabe, os remédios constitucionais funcionam como garantias fundamentais em defesa dos direitos fundamentais e têm uma natureza mais processual que material.!

De acordo com a doutrina são divididos em duas espécies: a) administrativos; e b) judiciais.!

a) Remédios Constitucionais Administrativos - se encontram no art. 5º, XXXIV e são revelados por meio do direito de petição e do direito de obtenção de certidões, que, aliás, prescindem de advogado e também do pagamento de taxas.!

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:!XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:!a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;!b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal.!!

Segundo entendimento majoritário, para se defender em juízo o direito de petição e o direito de obtenção de certidões há o mandado de segurança.!

b) Remédios Constitucionais Judiciais - os remédios judiciais estão espalhados na Constituição nos art. 5º, LXVIII, a e LXXIII.!

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:!LXVIII - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;!LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público;!LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:!a) partido político com representação no Congresso Nacional;!b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados;!LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania;!LXXII - conceder-se-á “habeas-data":!a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público;!b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;!LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;!!

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MANDADO DE INJUNÇÃO!!

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:!LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania;!!

HISTÓRICO!

Trata-se de um remédio constitucional surgido em 1988, segundo alguns, inspirado pelo Direito Americano, com o compromisso de defender o constitucionalismo brasileiro da síndrome de inefetividade das normas constitucionais.!

!NATUREZA JURÍDICA!

É uma ação de natureza híbrida, ou seja, é uma ação constitucional e no plano infra é uma ação de natureza civil com rito sumário (mesmo rito do mandado de segurança).!

!CONCEITO!

Remédio constitucional voltado para defender a inefetividade dos direitos fundamentais no seu sentido lato, direitos estes situados no texto constitucional e dependentes de regulamentação infraconstitucional para que tenha sua efetividade garantida.!

Os grandes exemplos são os do art. 37, VII, CRFB/88 (greve de servidor público) e o art. 40, § 4º , II, CRFB/88 (aposentadoria especial do servidor que trabalha em atividade de risco).!

Art. 37, CF. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:      !VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica;  !!Art. 40, §4º, CF. É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria aos abrangidos pelo regime de que trata este artigo, ressalvados, nos termos definidos em leis complementares, os casos de servidores:!II que exerçam atividades de risco;!!

BASE LEGAL (Art. 5º, LXXI e Lei 12.016/09)!

É uma base legal precária porque o MI tem sede na Constituição no art. 5º, LXXI, mas, diferentemente dos demais remédios constitucionais que possuem uma lei própria, o MI não possui regulamentação infraconstitucional, então se aplica por analogia a lei 12.016/09 (Lei do Mandado de Segurança) —, a aplicação analógica pode ser extraída do parágrafo único do art. 24 da Lei 8.038/90 que a prevê enquanto não for criada a lei específica.!

Art. 24, parágrafo único, L. 8038/90. No mandado de injunção e no habeas data, serão observadas, no que couber, as normas do mandado de segurança, enquanto não editada legislação específica.!

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MODALIDADES!

Existem duas modalidades de MI: a) individual; ou b) coletivo.!

a) Individual - deverá ser impetrado por pessoa natural ou jurídica, nacional ou estrangeira, cujo direito esteja à míngua de uma norma que o regulamente.!

b) Coletivo - em que pese não existir disposição constitucional expressa sobre a modalidade coletiva da ação, a jurisprudência vem reconhecendo essa possibilidade, sendo legitimados ativos para a sua propositura os mesmos que podem impetrar o mandado de segurança coletivo (art. 5º, LXX, art. 21, da Lei 12.016/09): i) o partido político com representação no Congresso Nacional; e ii) a organização, entidade de classe ou sociedade legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano.!

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:!LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:!a) partido político com representação no Congresso Nacional;!b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados;!!Art. 21, L. 12.016/09. O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido político com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária, ou por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa de direitos líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou associados, na forma dos seus estatutos e desde que pertinentes às suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial. !Parágrafo único.  Os direitos protegidos pelo mandado de segurança coletivo podem ser: !I - coletivos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica básica; !II - individuais homogêneos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os decorrentes de origem comum e da atividade ou situação específica da totalidade ou de parte dos associados ou membros do impetrante. !!

É preciso atentar que o partido político precisa ter representatividade do Congresso Nacional, o que significa dizer que basta que esteja representado em uma das Casas e, além disso, as organizações sindicais, entidades de classe ou associações devem estar em juízo defendendo os membros ou associados e, no que tange à associação, a comprovação de que esteja em funcionamento há pelo menos um ano (isso para evitar que as associações sejam criadas, apenas, com o intuito de se impetrar mandado de segurança coletivo ou mandado de injunção coletivo).!

O art. 21, da L. 12.016/09, ressalta que não é possível a defesa de toda a categoria ou parte dela, sendo que não é preciso autorização expressa dos seus membros ou associados para que pleiteie a defesa de seus interesses em juízo, isso porque atuam na qualidade de substitutos processuais.!

No que concerne à aplicação da lei aos sindicatos, o STF foi instado a se manifestar sobre o tema porque não há previsão expressa do mandado de injunção coletivo na Constituição, sendo esta uma construção jurisprudencial.!

“A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal admite legitimidade ativa ad causam aos sindicatos para a instauração, em favor de seus membros ou associados, do mandado de injunção coletivo” (STF, MI 102, Rel. p/ o ac. Min. Carlos Velloso, j. 12.2.98, DJ 25.10.02).!!

PRESSUPOSTOS PARA IMPETRAÇÃO DO REMÉDIO!

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Há necessidade de comprovação do binômio a) impossibilidade de exercício do direito fundamental + b) inexistência de lei específica para fins de impetração do MI.!

a) Impossibilidade de Exercício do Direito Fundamental - Flávia Bahia destaca que não importa que direito fundamental é o que se está impossibilidade de fruir, podendo ser ele de primeira, segunda ou terceira geração, sendo a única exigência que esteja previsto na Constituição.!

b) Inexistência da lei - a lei exigida pode ser complementar, ordinária… Não existe previsão constitucional específica.!

!POLO PASSIVO!

Quem figura no polo passivo do MI é a autoridade, órgão ou Poder responsável por legislar.!

Importante destacar que quando o projeto de lei for de iniciativa reservada de alguma autoridade específica, o polo passivo do MI deverá ser formado por aquela autoridade e não por outra.!

Ex: Aposentadoria dos Sevidores Públicos, o art. 61, § 1º, CRFB/88 diz que o projeto deve ser apresentado pelo Presidente da República.!

Na ausência de iniciativa reservada, normalmente, deve se indicar a Mesa do Congresso Nacional, tendo em vista que lhe compete no plano federal, a atividade legiferante.!

"Mandado de injunção. Ilegitimidade passiva do Presidente do Senado Federal se a iniciativa da lei é da alçada privativa do Presidente da República (CF, arts. 37, VIII, e 61, parágrafo 1o, II, c)." (STF, MI 153-AgR, Rel. Min. Paulo Brossard, j. 14.3.90, DJ 30.3.90).!

!EFEITOS DO MANDADO DE INJUNÇÃO!

A posição não concretista geral acompanhou o STF até 2007 e, em nome da Separação de Poderes, impedia que o Judiciário de aplicar lei existente para suprir omissão legislativa e que também o impedia de fixar prazo para o legislador legislar.!

De 2007 para frente há uma mudança de jurisprudência e as posições concertistas têm sido mais frequentes, principalmente no mandado de injunção e daí se encontram as posições concretistas gerais e individuais, as mais comuns.!

a) Posição Não Concretista Geral - apesar de as duas ações terem sido instituídas em 1988 com o objetivo de efetivar a Constituição, o STF durante muitos anos adotou uma posição muito conservadora, tanto em relação ao MI e quanto relacionado à ADO.!

Durante praticamente vinte anos, até 2007,s o STF tinha uma posição chamada “não-concretista geral”, ou seja, na visão conservadora, em defesa da separação de poderes, o STF entendia que não se podia uma decisão final de MI ou ADO fixar prazo para o legislador legislar, tampouco aplicar por analogia lei existente para suprir a omissão normativa.!

Então, o que se tinha ao final de uma sentença de ADO e MI? A declaração de mora do Poder omisso —, se recebia um atestado formalizando o que já se sabia desde o ajuizamento da ação, então, durante muitos anos foi essa a posição do STF.!

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Nesse caso, por ser um mero “atestado”, era uma decisão que não produzia efeitos práticos e isso valeu durante anos, tanto em MI, quanto em ADO (exs: MI 20 e 168, STF).!

Apesar de as duas ações terem sido instituídas em 1988 com o objetivo de efetivar a Constituição, o STF durante muitos anos adotou uma posição muito conservadora, tanto em relação ao MI e quanto relacionado à ADO.!

b) Posição Não Concretista - de 2007 para cá o STF tem adotado uma visão mais efetiva, menos conservadora com relação a essas ações, principalmente no que concerne ao mandado de injunção e aí desde 2007 são encontradas “posições concretistas” em sentido amplo na jurisprudência do STF, que significam que a Corte não se limita a declarar a mora do poder público omisso.!

Em relação a essa posição não concretista, a doutrina entende que o STF adota três espécies de posições, tanto em MI quanto em ADO:!

i) Geral - adotada nos MIs 670, 708, 712. Essa posição, além de declarar a mora do poder público, aplicou a lei de greve destinada aos empregados das empresas privadas aos servidores públicos, para suprir a ausência de lei específica, enquanto essa lei não for elabora.!

O STF, além de atestar que o Poder Público está em mora na elaboração da lei, aplicou analogicamente uma norma para suprir a omissão normativa e como o perfil dessa decisão foi mais aditivo, o STF estendeu os efeitos para todos os servidores públicos —, foi uma posição concretista geral com efeitos erga omnes.!

ii) Individual Direta - adotada nos MIs 721, 758. Com relação ao art. 40, § 4º, CRFB/88 (aposentadoria especial para servidores que trabalham em atividade de risco), o STF também adotou posições concertistas individuais diretas, porque além de declarar a norma do Poder Público, determinou que fosse aplicada a norma da Lei Geral da Previdência para aqueles servidores que ajuizaram os MIs, enquanto a lei complementar não for criada.!

Como os efeitos subjetivos desses MIs têm sido inter partes, o que se tem é uma posição concretista individual direta. !

iii) Intermediária (Conservadora) - ADIN 3682. A ADO ainda precisa caminhar muito mais, ainda é uma ação tímida na jurisprudência do STF. Em 2007 o STF recebeu uma ADIN que, na prática, questionou uma omissão normativa elencada no art. 18, § 4º, CRFB/88 (lei complementar federal para regularizar a situação dos municípios brasileiros).!

O STF declarou a mora do Poder Público e fixou um prazo de 18 meses para que o Congresso Nacional elaborasse a Lei e já se passou mais de três anos, sem que a lei fosse elaborada. !

Então, essa é uma decisão intermediária porque não prevê eventuais sanções em caso de descumprimento.!

!CAUTELAR!

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O STF não vem permitindo a concessão de medida de urgência, cautelar, em sede de mandado de injunção. !

A decisão final do MI, ainda passa por esse momento final de transição, então, a cautelar não é aceita pelo STF.

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!HABEAS DATA!!

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:!LXXII - conceder-se-á “habeas-data":!a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público;!b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;!!

HISTÓRICO!

Surgiu em 1988 e possui compromissos com a intimidade e a vida privada, inspirado nos anos de ditadura militar, que costumava a recolher documentos das pessoas e proceder a anotações sigilosas em seus dados.!

Há uma inspiração no Freedom Of Information Act do Direito Norte Americano de 1974, no Direito Português de 1976 e Espanhol de 1978.!

!NATUREZA JURÍDICA!

Possui natureza jurídica híbrida mista, ou seja, é ação constitucional e civil ao mesmo tempo, sendo de rito sumário.!

Por ser de rito sumário, o habeas data, obviamente, é uma peça mais célere, a qual não admite dilação probatória.!

!CONCEITO!

Defende os direitos tutelados no art. 5º, X, CRFB/88: intimidade e vida privada e também o direito à informação previsto no inciso XXXIII, da Constituição.!

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:!X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;!XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;!!

BASE LEGAL (Art. 5º, LXXII, CRFB/88 e L. 9.507/97)!

Sua base constitucional está no art. 5º, LXXII, CRFB/88 e no âmbito infraconstitucional a previsão está na Lei 9.507/97.!

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:!LXXII - conceder-se-á “habeas-data":!a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público;!

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b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;!!FINALIDADES!

Segundo a Constituição Federal, o habeas data é cabível em duas hipóteses:!

a) Conhecer dados pessoais desconhecidos;!

b) Ratificar dados pessoais conhecidos, porém, corretos; ou!

A terceira hipótese fica por conta do art. 7º, III, L. 9.507/97:!

c) Complementar dados pessoais que já são conhecidos, mas estão incompletos.!

Art. 7°, L. 9507/97. Conceder-se-á habeas data: I - para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registro ou banco de dados de entidades governamentais ou de caráter público; II - para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo; III - para a anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou explicação sobre dado verdadeiro mas justificável e que esteja sob pendência judicial ou amigável. !

É preciso atentar para o fato de que o foco do habeas data são os dados pessoais, dados da própria pessoa, relacionados à: i) nome; ii) saúde; iii) escolaridade; iv) trabalhado; v) estado civil… O HD não visa defender dados públicos, mas dados relacionados à intimidade e à vida privada.!

!!LEGITIMIDADE ATIVA - HERDEIROS!

O habeas data é um remédio personalíssimo e só pode ser utilizado por quem é o legítimo titular do dado, seja pessoa natural ou jurídica, nacional ou estrangeira.!

Excepcionalmente, a doutrina e jurisprudência permitem que os herdeiros do falecido possam fazer uso da ação e impetrar o habeas corpus, porque o de cujus estará, obviamente, impossibilitado de ingressar com a ação. !

!GRATUIDADE!

É importante lembrar que o habeas data é um remédio gratuito para todos, independentemente da comprovação de hipossuficiência, de acordo com o art. 5º, LXXVII, CRFB/88 —, o mesmo dispositivo que consagra a gravidade da ação de habeas corpus.!

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:!LXXVII - são gratuitas as ações de "habeas-corpus" e "habeas-data", e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da cidadania.!!!

REPRESENTAÇÃO JUDICIAL!

O habeas data carece de representação por advogado, até porque o único processo que dispensa a sua presença é o habeas corpus.!

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POLO PASSIVO!

O HD é impetrado em face da autoridade coatora de um banco de dados público da Administração direta ou indireta e em qualquer esfera de governo, sendo esta a regra.!

Ainda poderá ser alvo do habeas data um banco de dados privado, desde que possua caráter público —, a definição de caráter público se encontra no art. 1º, parágrafo único, da L. 9.507/97.!

Art. 1º, parágrafo único, L. 9.507/97. Considera-se de caráter público todo registro ou banco de dados contendo informações que sejam ou que possam ser transmitidas a terceiros ou que não sejam de uso privativo do órgão ou entidade produtora ou depositária das informações.!

Um banco de dados privado é considerado de caráter público quando não armazena dados pessoais apenas para si, ou seja, armazena os dados pessoais para disponibilizá-los a terceiros.!

! Exs: SPC e SERASA.!

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REQUISITO ESSENCIAL!

De acordo com a Súmula nº 02 do STJ: “não cabe o habeas data se não houve recusa de informações por parte da autoridade administrativa” —, o mínimo que se espera de alguém que deseja acessar uma informação a seu respeito é que essa pessoa se dirija a autoridade e peça administrativamente para acessar a informação. Agora, claro que não dá para esperar a vida inteira pelo dado —, então, o que se exige não é o esgotamento da instância administrativa, mas sim a tentativa de acesso ao dado no plano administrativo.!

S. 02, STJ. Não cabe o habeas data (CF, Art. 5º, LXXII, letra a) se não houve recusa de informações por parte da autoridade administrativa.!

Assim dispõe a Lei nº 9.507/97 no parágrafo único do art. 8º, diz que a petição inicial deve ser instruída com a recusa de acesso às informações ou lapso temporal de mais de dez dias do requerimento; recusa da retificação ou prazo superior há quinze dias, sem alterações; ou, ainda, da recusa de anotação ou decurso de mais de quinze dias, sem decisão.!

Então, a lei estabelece claramente que o decurso do tempo faz prova na recusa do dado.!

Art. 8°, L. 9507.97. A petição inicial, que deverá preencher os requisitos dos arts. 282 a 285 do Código de Processo Civil, será apresentada em duas vias, e os documentos que instruírem a primeira serão reproduzidos por cópia na segunda.!Parágrafo único. A petição inicial deverá ser instruída com prova:!I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias sem decisão;!II - da recusa em fazer-se a retificação ou do decurso de mais de quinze dias, sem decisão; ou!III - da recusa em fazer-se a anotação a que se refere o § 2° do art. 4° ou do decurso de mais de quinze dias sem decisão.!!“(...) O acesso ao habeas data pressupõe, dentre outras condições de admissibilidade, a existência do interesse de agir. Ausente o interesse legitimador da ação, torna-se inviável o exercício desse remédio constitucional. A prova do anterior indeferimento do pedido de informação de dados pessoais, ou da omissão em atendê-lo, constitui requisito indispensável para que se concretize o interesse de agir no habeas data. (…)!(...) Sem que se configure situação prévia de pretensão resistida, há carência da ação constitucional do habeas data” (RHD 22, Rel. p/ o ac. Min. Celso de Mello, j. 19.9.91, DJ 1o.9.95).

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HIPÓTESES DE NÃO CABIMENTO!

a) Negativa de Dados Públicos, Administrativos - HD serve para defender dados privados, pessoais e, jamais, dados públicos;!

b) Provas do Concurso ou Recorreção - não se está diante de um dado pessoal, mas algo diferente é pedir explicação da negativa de perda no psicoteste.!

c) Acesso ao Processo Administrativo Denegado - nesse caso, há negativa de ampla defesa e contraditório e não de informação de dados.!

d) Acesso de Informações sobre Terceiros - a ação é personalíssima e vida defender a intimidade e vida privada.!

!TUTELA DE URGÊNCIA!

Não está prevista na L. 9.507/97, mas a doutrina majoritária entende que é possível aplicar o art. 273, CPC —, Hely Lopes Meirelles diz que é cabível uma aplicação analógica, desde que comprovados os requisitos da urgência.!

Art. 273, CPC. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e:!I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou!II - fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu.!§ 1º - Na decisão que antecipar a tutela, o juiz indicará, de modo claro e preciso, as razões do seu convencimento.!§ 2º - Não se concederá a antecipação da tutela quando houver perigo de irreversibilidade do provimento antecipado.!§ 3º - A efetivação da tutela antecipada observará, no que couber e conforme sua natureza, as normas previstas nos arts. 588, 461, §§ 4º e 5º, e 461-A.!§ 4º - A tutela antecipada poderá ser revogada ou modificada a qualquer tempo, em decisão fundamentada.!§ 5º - Concedida ou não a antecipação da tutela, prosseguirá o processo até final julgamento.!§ 6º A tutela antecipada também poderá ser concedida quando um ou mais dos pedidos cumulados, ou parcela deles, mostrar-se incontroverso.!§ 7º Se o autor, a título de antecipação de tutela, requerer providência de natureza cautelar, poderá o juiz, quando presentes os respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar em caráter incidental do processo ajuizado.!

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AÇÃO POPULAR!!Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:!LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;!!!

HISTÓRICO!

A ação popular é uma ação antiga, que surgiu na Constituição de 1934 e foi extraída na Constituição de 1937 e voltou a fazer parte da história brasileira no texto de 1946.!

Os autores são praticamente unânimes em afirmar que nenhuma Constituição deu tanta importância à ação popular como a Constituição de 1988, que teve seu objeto ampliado e passou a contemplar a defesa do meio-ambiente, moralidade administrativa, patrimônio público no sentido lato…!

!NATUREZA JURÍDICA!

Ação constitucional, manifestação legítima de direito político, porque só pode ser ajuizada por quem é cidadão e no plano infra é uma ação civil do rito ordinário, que admite a dilação probatória.!

!CONCEITO!

Ação que defende os direitos difusos, então, seu objetivo principal é o de invalidar atos ou contratos administrativos que coloquem em risco o patrimônio público (econômico, histórico, ou cultural) , moralidade administrativa, o meio-ambiente… Ou seja, é a ação do cidadão na defesa do bem comum)!

!BASE LEGAL (Art. 5º, LXXIII, CRFB/88 e Lei 4717/65)!

A base legal da ação popular no plano constitucional é o art. 5º LXXIII, CRFB/88 e no plano infraconstitucional é a L. 4717/65).!

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:!LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;!!!

FINALIDADE!

Cada remédio possui sua finalidade precípua e o entendimento majoritário é o de que não se aplica a fungibilidade no que concerne aos remédios constitucionais e cada remédio deve ser utilizado para um objetivo específico.!

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A ação da cidadania, não atoa foi inserida na parte dos direitos políticos, porque só pode ser proposta pelo cidadão (eleitor).!

Sua finalidade é, enfim, a invalidação de atos ou contratos que provoquem lesão ou coloquem em risco real o patrimônio comum.!

!ESPÉCIES!

a) Preventiva - deve ser utilizada quando houver uma ameaça ao patrimônio comum.!

b) Repressiva - quando houver ocorrido lesão ao patrimônio comum e, de acordo com o art. 21 da lei 4717/65, diz que a ação popular deve ser proposta no prazo de cinco anos do conhecimento da lesão.!

Art. 21, L. 4717/65. A ação prevista nesta lei prescreve em 5 (cinco) anos.!

!LEGITIMIDADE ATIVA - CIDADÃO!

Só pode ser ajuizada pelo cidadão, o eleitor, aquele que está em gozo dos seus direitos políticos —, a ação somente poderá ser proposta pelo brasileiro nato ou naturalizado em gozo de seus direitos políticos ou, ainda, pelo português equiparado (se alistado e houver reciprocidade sobre o assunto).!

!PARTES ILEGÍTIMAS PARA AJUIZAR AÇÃO POPULAR!

a) Inalistados - aqueles que deveriam ter se alistado, mas não o fizeram;!

b) Inalistáveis (art. 14, § 2º, CRFB/88) - estrangeiros em geral e os conscritos;!

Art. 14, § 2º, CF. Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos.!

c) Pessoas jurídicas - é o que prevê a súmula 365, STF.!

 S. 365, STF.  Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular.!!d) Ministério Público - não pode ser autor, apesar de ter uma atuação importante na ação.!

!POLO PASSIVO!

Somando os arts. 1º e 6º da Lei 4717/65, depreende-se que há um verdadeiro litisconsórcio passivo necessário para fins de ajuizamento da ação popular, ou seja, todos aqueles que colaboraram para a lesão, ameaça de lesão ou se beneficiaram diretamente do ato, deverão por ele responder. !

Art. 1º, L. 4717/65. Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados, dos Municípios, de entidades autárquicas, de sociedades de economia mista (Constituição, art. 141, § 38), de sociedades mútuas de seguro nas quais a União represente os segurados ausentes, de empresas públicas, de serviços sociais autônomos, de instituições ou fundações para cuja criação ou custeio o tesouro público haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por

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cento do patrimônio ou da receita ânua, de empresas incorporadas ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios, e de quaisquer pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas pelos cofres públicos.!§ 1º - Consideram-se patrimônio público para os fins referidos neste artigo, os bens e direitos de valor econômico, artístico, estético, histórico ou turístico. !§ 2º Em se tratando de instituições ou fundações, para cuja criação ou custeio o tesouro público concorra com menos de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita ânua, bem como de pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas, as conseqüências patrimoniais da invalidez dos atos lesivos terão por limite a repercussão deles sobre a contribuição dos cofres públicos.!§ 3º A prova da cidadania, para ingresso em juízo, será feita com o título eleitoral, ou com documento que a ele corresponda.!§ 4º Para instruir a inicial, o cidadão poderá requerer às entidades, a que se refere este artigo, as certidões e informações que julgar necessárias, bastando para isso indicar a finalidade das mesmas.!§ 5º As certidões e informações, a que se refere o parágrafo anterior, deverão ser fornecidas dentro de 15 (quinze) dias da entrega, sob recibo, dos respectivos requerimentos, e só poderão ser utilizadas para a instrução de ação popular.!§ 6º Somente nos casos em que o interesse público, devidamente justificado, impuser sigilo, poderá ser negada certidão ou informação.!§ 7º Ocorrendo a hipótese do parágrafo anterior, a ação poderá ser proposta desacompanhada das certidões ou informações negadas, cabendo ao juiz, após apreciar os motivos do indeferimento, e salvo em se tratando de razão de segurança nacional, requisitar umas e outras; feita a requisição, o processo correrá em segredo de justiça, que cessará com o trânsito em julgado de sentença condenatória.!!Art. 6º, L. 4717/65. A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as entidades referidas no art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou administradores que houverem autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos do mesmo.!§ 1º Se não houver benefício direto do ato lesivo, ou se for ele indeterminado ou desconhecido, a ação será proposta somente contra as outras pessoas indicadas neste artigo.!§ 2º No caso de que trata o inciso II, item "b", do art. 4º, quando o valor real do bem for inferior ao da avaliação, citar-se-ão como réus, além das pessoas públicas ou privadas e entidades referidas no art. 1º, apenas os responsáveis pela avaliação inexata e os beneficiários da mesma.!§ 3º A pessoas jurídica de direito público ou de direito privado, cujo ato seja objeto de impugnação, poderá abster-se de contestar o pedido, ou poderá atuar ao lado do autor, desde que isso se afigure útil ao interesse público, a juízo do respectivo representante legal ou dirigente.!§ 4º O Ministério Público acompanhará a ação, cabendo-lhe apressar a produção da prova e promover a responsabilidade, civil ou criminal, dos que nela incidirem, sendo-lhe vedado, em qualquer hipótese, assumir a defesa do ato impugnado ou dos seus autores.!§ 5º É facultado a qualquer cidadão habilitar-se como litisconsorte ou assistente do autor da ação popular.!!

PAPEL DO MP!

O ministério público possui três papeis previstos na Lei 4717/65:!

a) Fiscal da Lei - atuará como fiscal da lei em todas ações populares por previsão do art. no art. 7º da L. 4717/65, até porque estas se referem a direitos transindividiais, fundamentais e o art. 127 da Constituição diz que é dever do MP defender as instituições democráticas de direito;!

Art. 7º, L. 4717/65. A ação obedecerá ao procedimento ordinário, previsto no Código de Processo Civil, observadas as seguintes normas modificativas:!I - Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:!a) além da citação dos réus, a intimação do representante do Ministério Público;!b) a requisição, às entidades indicadas na petição inicial, dos documentos que tiverem sido referidos pelo autor (art. 1º, § 6º), bem como a de outros que se lhe afigurem necessários ao esclarecimento dos fatos, ficando prazos de 15 (quinze) a 30 (trinta) dias para o atendimento.!§ 1º O representante do Ministério Público providenciará para que as requisições, a que se refere o inciso anterior, sejam atendidas dentro dos prazos fixados pelo juiz.!§ 2º Se os documentos e informações não puderem ser oferecidos nos prazos assinalados, o juiz poderá autorizar prorrogação dos mesmos, por prazo razoável.!II - Quando o autor o preferir, a citação dos beneficiários far-se-á por edital com o prazo de 30 (trinta) dias, afixado na sede do juízo e publicado três vezes no jornal oficial do Distrito Federal, ou da Capital do Estado ou Território em que seja ajuizada a ação. A publicação será gratuita e deverá iniciar-se no máximo 3 (três) dias após a entrega, na repartição competente, sob protocolo, de uma via autenticada do mandado.!

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III - Qualquer pessoa, beneficiada ou responsável pelo ato impugnado, cuja existência ou identidade se torne conhecida no curso do processo e antes de proferida a sentença final de primeira instância, deverá ser citada para a integração do contraditório, sendo-lhe restituído o prazo para contestação e produção de provas, Salvo, quanto a beneficiário, se a citação se houver feito na forma do inciso anterior.!IV - O prazo de contestação é de 20 (vinte) dias, prorrogáveis por mais 20 (vinte), a requerimento do interessado, se particularmente difícil a produção de prova documental, e será comum a todos os interessados, correndo da entrega em cartório do mandado cumprido, ou, quando for o caso, do decurso do prazo assinado em edital.!V - Caso não requerida, até o despacho saneador, a produção de prova testemunhal ou pericial, o juiz ordenará vista às partes por 10 (dez) dias, para alegações, sendo-lhe os autos conclusos, para sentença, 48 (quarenta e oito) horas após a expiração desse prazo; havendo requerimento de prova, o processo tomará o rito ordinário.!VI - A sentença, quando não prolatada em audiência de instrução e julgamento, deverá ser proferida dentro de 15 (quinze) dias do recebimento dos autos pelo juiz.!Parágrafo único. O proferimento da sentença além do prazo estabelecido privará o juiz da inclusão em lista de merecimento para promoção, durante 2 (dois) anos, e acarretará a perda, para efeito de promoção por antigüidade, de tantos dias quantos forem os do retardamento, salvo motivo justo, declinado nos autos e comprovado perante o órgão disciplinar competente.!!Art. 127, CF. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.!!

b) Substituto Processual - atuará como substituto processual na forma do art. no art. 9º da da lei 4717/65. Se o autor da ação popular desistir da ação, o MP poderá, se quiser, dar continuidade ao feito na qualidade de substituto processual.!

Art. 9º, L. 4717/65. Se o autor desistir da ação ou der motiva à absolvição da instância, serão publicados editais nos prazos e condições previstos no art. 7º, inciso II, ficando assegurado a qualquer cidadão, bem como ao representante do Ministério Público, dentro do prazo de 90 (noventa) dias da última publicação feita, promover o prosseguimento da ação.

c) Desistência - o art. 16 da lei 4717/65, diz que se o autor não promover a execução da sentença condenatória, o MP deverá fazê-lo, sob pena de responsabilidade.!

Art. 16, L. 4717/65. Caso decorridos 60 (sessenta) dias da publicação da sentença condenatória de segunda instância, sem que o autor ou terceiro promova a respectiva execução. o representante do Ministério Público a promoverá nos 30 (trinta) dias seguintes, sob pena de falta grave.!

!GRATUIDADE!

A gratuidade não está sempre presente, a ação popular pode ser gratuita, se proposta de boa-fé, mas se proposta de má-fé, será onerosa ao final.!

!COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO!

A ação popular é proposta perante o juiz da origem do ato, que é o juiz de primeiro grau; se houver envolvimento da União, o juiz será federal, caso contrário, será estadual —, com base no art. 5º da Lei 4717/65.!

Art. 5º, L. 4717/65. Conforme a origem do ato impugnado, é competente para conhecer da ação, processá-la e julgá-la o juiz que, de acordo com a organização judiciária de cada Estado, o for para as causas que interessem à União, ao Distrito Federal, ao Estado ou ao Município.!§ 1º Para fins de competência, equiparam-se atos da União, do Distrito Federal, do Estado ou dos Municípios os atos das pessoas criadas ou mantidas por essas pessoas jurídicas de direito público, bem como os atos das sociedades de que elas sejam acionistas e os das pessoas ou entidades por elas subvencionadas ou em relação às quais tenham interesse patrimonial.!

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§ 2º Quando o pleito interessar simultaneamente à União e a qualquer outra pessoas ou entidade, será competente o juiz das causas da União, se houver; quando interessar simultaneamente ao Estado e ao Município, será competente o juiz das causas do Estado, se houver.!§ 3º A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações, que forem posteriormente intentadas contra as mesmas partes e sob os mesmos fundamentos.!!

A ação popular é a ação do povo, não faria sentido que se estabelecesse a prerrogativa de foro funcional para seu julgamento, então, não há prerrogativa de foro funcional para a ação popular, a qual começa a tramitar perante os juízes de primeiro grau.!

A competência para julgar ação popular contra ato de qualquer autoridade, até mesmo do Presidente da República, é, via de regra, do juízo competente de primeiro grau. Precedentes. Julgado o feito na primeira instância, se ficar configurado o impedimento de mais da metade dos desembargadores para apreciar o recurso voluntário ou a remessa obrigatória, ocorrerá a competência do STF, com base na letra n do inciso I, segunda parte, do art. 102 da CF." (AO 859, Rel. p/ o ac. Min. Maurício Corrêa, julgamento em 11-10-2001, Plenário, DJ de 1o-8-2003)!

Há duas exceções, entretanto, no art. 102, I, alíneas f e n —, i) quando houver conflito federativo; ou ii) quando não houver juízo competente, quando a ação envolver todos os magistrados —, nesses casos, ela será proposta no STF.!

Art. 102, CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:!f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta;!n) a ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados, e aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados;!!!

SÚMULAS DO STF!

S. 365, STF. Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular.!

No caso da súmula 101, STF, obviamente que a ação popular não se confunde com o mandado de segurança, porquanto destinada a defender direitos difusos.!

S. 101, STF. O mandado de segurança não substitui a ação popular.

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HABEAS CORPUS!!Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:!LXVIII - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;!!

HISTÓRICO!

O habeas corpus é um remédio antigo, no direito comparado se fala neste remédio desde a Carta de João Sem Terra em 1215, muito embora o termo habeas corpus só venha a nascer em 1679 no direito inglês por meio do Habeas Corpus Act.!

Daí para frente, muitas Constituições trataram dessa garantia importante para a liberdade de ir e vir, no Brasil o Alvará de D. Pedro em 1821 concedeu a liberdade, o alvará de soltura e o HC esteve presente no Código Criminal de 1530 e em sede constitucional, a primeira Constituição a preservar o habeas corpus foi a de 1891.!

Então, o HC é o remédio constitucional mais antigo na história constitucional do Brasil.!

!NATUREZA JURÍDICA!

À semelhança das demais ações constitucionais, trata-se de uma ação de natureza híbrida, ou seja: constitucional e ao mesmo tempo uma ação penal não condenatória, com rito muito célere (é o remédio constitucional mais célere de todos).!

!CONCEITO!

Visa tutelar o direito que se encontra no art. 5º, XV, CRFB/88, ou seja, a liberdade de locomoção (liberdade de ir e vir ou ambulatorial) que se encontre ameaçada ou que já tenha sofrido lesão.!

!DOUTRINA BRASILEIRA!

Em 1891 era o único remédio constitucional existente na Constituição Federal, então, Ruy Barbosa defendia que esse deveria ser o meio necessário para defender inúmeros direitos, dentre eles, a liberdade de ir e vir —, é o que se denominou “doutrina brasileira do HC”, ou seja, a possibilidade de utilização do instituto de forma ampla.!

Pontes de Miranda e boa parte da doutrina, em sentido contrário, sustentavam que o HC na história brasileira para defender a liberdade de locomoção, então, havia uma controvérsia forte no final do séc. XIX sobre a utilização do habeas corpus e tal controvérsia caiu por terra quando em 1934 surgiu o mandado de segurança individual que, de plano, recebeu esse papel residual do ordenamento jurídico (defendendo direitos que não pudessem ser defendidos pelo habeas corpus e pela ação popular que também nasceu em 1934).!

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BASE LEGAL (Art. 5º, LXVIII, CRFB/88 e CPP)!

A base legal do HC é o art. 5º, LXVIII da Constituição e no âmbito infraconstitucional, está situado a partir do art. 647 do CPP.!

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:!LXVIII - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;!!

GRATUIDADE!

O 5º, LXXVII garante a gratuidade do instituto, do mesmo modo que o habeas data.!

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:!LXXVII - são gratuitas as ações de "habeas-corpus" e "habeas-data", e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da cidadania.!!

ESPÉCIES!

a) Habeas Corpus Preventivo - para evitar a consumação da lesão à liberdade de locomoção, hipótese na qual é concedido o “salvo-conduto”;!

b) Habeas Corpus Repressivo (Suspensivo ou Liberatório) - é utilizado com o propósito de liberar o paciente quando já consumada a coação ilegal ou abusiva ou a violência à sua liberdade de locomoção. O pedido é o alvará de soltura.!

!LEGITIMIDADE ATIVA!

No tocante à legitimidade ativa, é importante frisar o Princípio da Universalidade, ou seja, todas as pessoas (naturais, jurídicas, nacionais ou estrangeiras) podem ser autoras e impetrar HC, em virtude da defesa legítima da liberdade de ir e vir.!

Aliás, para impetrar habeas corpus, não é exigida a capacidade civil.!

O MP também podem fazer uso do HC e, ainda, os juízes e tribunais de ofício (nos processos sob sua tutela, jurisdição).!

“O Código de Processo Penal, em consonância com o texto constitucional de 1988, prestigia o caráter popular do habeas corpus ao admitir a impetração por qualquer pessoa, em seu favor ou de outrem. Assim não é de se exigir habilitação legal para impetração originária do writ ou para interposição do respectivo recurso ordinário” (STF, HC no 80.744, Rel. Min. Nelson Jobim, DJ, 28.06.2002).!

Em virtude de seu caráter popular, a procuração não é exigida na ação de habeas corpus, que pode ser impetrado por qualquer pessoa “comum”, inclusive, em favor de outrem, até mesmo, se necessário recurso ordinário.!

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PACIENTE!

O paciente é a pessoa natural que se encontra ameaçada de prisão ou que já tenha sofrido lesão à sua liberdade de locomoção.!

O entendimento majoritário é no sentido de que pessoas jurídicas (não pode ser presa) e animais (objeto de direito) não podem figurar no habeas corpus como paciente —, no que concerne à pessoa jurídica, esta pode, apenas, ser impetrante do HC para preservar a liberdade de uma pessoa natural, mas paciente, não lhe é permitido.!

!POLO PASSIVO!

O polo passivo é formado pelas autoridades públicas, eventuais promotores, juízes, delegados… !

O texto do art. 5º, LXVIII fala em abuso de poder ou ilegalidade, o dispositivo deve ser interpretado do seguinte modo: só quem abusa de poder é quem o possui, então, quem atua investido no poder do Estado é a autoridade, mas a ilegalidade pode ser praticada por qualquer pessoa.!

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:!LXVIII - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;!!

Por isso, a doutrina e a jurisprudência permitem perfeitamente que particulares estejam no polo passivo do HC quando pratiquem ameaça ou violação à liberdade de ir e vir de outro, então, eventualmente é possível ter figurando no polo passivo: diretores de clínicas, hospitais, manicômios…!

!HABEAS CORPUS E PRISÃO MILITAR (Art. 142 § 2º, CRFB/88)!

O art. 142 § 2º, CRFB/88 diz que não caberá habeas corpus em relação a punições disciplinares de militares.!

Art. 142, § 2º, CF. Não caberá "habeas-corpus" em relação a punições disciplinares militares.!

Os militares podem ser presos por infrações disciplinares e essas prisões administrativas não podem ser discutidas por HC em suas razões de conveniência e oportunidade, mas há o Princípio da Inafastabilidade do Controle Jurisdicional (art. 5º, XXXV CRFB/88) é um princípio caro da Constituição donde é possível extrair que, caso a prisão seja ilegal, ela poderá ser questionada por meio de HC.!

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes!XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;!!

Ex: se determinada por autoridade incompetente; prisão não prevista na legislação atinente…!

Disso se extrai que as razões da prisão do militar não podem ser questionadas via HC, somente quando houver ilegalidade, pois em nome do art. 5º, XXXV CRFB/88 o acesso à justiça deve ser

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facilitado e, obviamente, não faz sentido que uma prisão ilegal possa ser afastada de controle pelo Judiciário.!

!CANCELAMENTO DA SÚMULA 690!

A súmula 690 dizia que HC impetrado em face de Turma Recursal de Juizado Especial seria julgado pelo STF —, esta súmula foi superada desde 2007 e hoje não mais vigora.!

S. 690, STF. Compete originariamente ao Supremo Tribunal Federal o julgamento de habeas corpus contra decisão de turma recursal de juizados especiais criminais.!!

Nessa situação, o responsável pelo julgamento do HC será o Tribunal de Justiça.!

!JURISPRUDÊNCIA DO STF!

S. 693, STF: “Não cabe "habeas corpus" contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada.”!

Não há risco direto ou indireto à liberdade de locomoção.!

S. 694, STF: “Não cabe "habeas corpus" contra a imposição da pena de exclusão de militar ou de perda de patente ou de função pública.”!

Não há risco direto ou indireto à liberdade de locomoção.!

S. 695, STF: “Não cabe "habeas corpus" quando já extinta a pena privativa de liberdade”!

Claro, se extinta a pena privativa de liberdade e o indivíduo estiver solto, obviamente não caberá HC; porém caso, extinta a pena e ele estiver preso de forma ilegal, caberá o uso do remédio.!

Na jurisprudência do STF já se consagrou entendimento de que o habeas corpus é o remédio adequado para impugnar prova ilícita em processo em curso, cuja pena restritiva de liberdade, lhe possa ser imputada. Cabe HC porque é ameaça indireta à liberdade de locomoção; porém, se no processo em curso não houver risco de ser preso (ex: só pode haver multa), para impugnar a prova ilícita será cabível mandado de segurança.!

O habeas corpus é também muito utilizado em sede de CPI, porque esta abre uma fiscalização, investigação que poderá eventualmente culminar em uma ação penal que poderá provavelmente em uma prisão —, então, em algumas situações específicas relacionadas à CPI o HC tem sido utilizado (ex: garantir direito ao silêncio; não obrigação de assinar compromisso da verdade).!

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!MANDADO DE SEGURANÇA!!

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:!LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público;!!

HISTÓRICO!

Alguns autores dizem que o MS foi inspirado no Recurso de Amparo do direito mexicano de 1917 e no Brasil a primeira Constituição a preservar o MS individual foi a de 1934.!

Em 1937 o MS foi retirado do texto constitucional e voltou a fazer parte da história brasileira na Constituição de 1946.!

O MSC (mandado de segurança coletivo) surgiu, apenas, em 1988.!

O MS desde sua origem adotou o caráter individual, ou seja: será cabível se não for possível impetrar nenhuma das outras ações constitucionais.!

!NATUREZA JURÍDICA!

À semelhança dos demais remédios constitucionais, é uma natureza jurídica híbrida, ou seja o MS é uma ação constitucional e no plano infraconstitucional é uma ação civil com rito sumário, possui um rito célere que não admite dilação probatória (carece de prova pré-constituída documental).!

!CONCEITO!

Ação constitucional que visa defender direito líquido e certo não defensável por habeas corpus, habeas data, ação popular ou mandado de injunção.!

!BASE LEGAL (Art. 5º, LXIX e LXX, CRFB/88 e Lei 12.1016/09)!

A base constitucional se encontra no art. 5º, LXIX e LXX, CRFB/88, enquanto a base infraconstitucional está na lei Lei 12.1016/09.!

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:!LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público;!LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:!a) partido político com representação no Congresso Nacional;!b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados;!!

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FINALIDADE!

O MS visa combater ilegalidades ou ameaças de ilegalidades que não possam ser combatidas pelas outras ações constitucionais, dada a natureza residual do instituto.!

!MODALIDADES!

a) Individual - o impetrante é o titular do direito líquido e certo, como por exemplo: a pessoa natural, os órgãos públicos, as universalidades de bens (espólio, massa falida etc.), a pessoa jurídica, nacional ou estrangeira, domiciliada no Brasil ou no exterior...!

b) Coletivo (art. 5º, LXX, CRFB/88 e art. 21, L. 12016/09) - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: !

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:!LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:!a) partido político com representação no Congresso Nacional;!b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados;!!Art. 21, L. 12016/09.  O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido político com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária, ou por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa de direitos líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou associados, na forma dos seus estatutos e desde que pertinentes às suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial. !Parágrafo único.  Os direitos protegidos pelo mandado de segurança coletivo podem ser: !I - coletivos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica básica; !II - individuais homogêneos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os decorrentes de origem comum e da atividade ou situação específica da totalidade ou de parte dos associados ou membros do impetrante. !!

i) Partido político com representação no Congresso Nacional, ainda que o partido esteja representado em apenas uma das Casas Legislativas, não se exigindo a pertinência temática com os interesses de seus membros, tendo em vista a sua importância para assegurar o sistema representativo adotado pelo país; !

ii) Organização sindical, entidade de classe e associações legalmente constituídas e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados.!

As associações, organizações sindicais e entidades de classe precisam comprovar a pertinência temática, ou seja, o interesse do grupo, classe ou categoria na utilização do mandamus.!

O requisito de um ano em funcionamento hoje só é exigido para as associações, com o intuito de evitar que sejam criadas apenas para a impetração do remédio (porque muito simples a criação de associações). !

Ademais, segundo jurisprudência consolidada, como se trata de substituição processual, não há necessidade de autorização expressa de cada um dos associados (diferente da hipótese de representação processual do art. 5º, XXI, em que a autorização é exigida).!

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Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:!XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;!!“Legitimidade do sindicato para a impetração de mandado de segurança coletivo independentemente da comprovação de um ano de constituição e funcionamento" (STF, RE 198.919, Rel. Min. Ilmar Galvão, j. em 15.6.99, DJ de 24.9.99).!!

No que tange à vertente coletiva do MS, é preciso ter atenção com o que diz o art. 21, parágrafo único da L. 12016/09, que autoriza a defesa de duas “categorias” de coletividade: 1) direitos coletivos dizem respeito a grupos determinados passíveis de determinação ligados por uma relação jurídica (ex: membros do MP; delegados de polícia…); 2) direitos individuais homogêneos são os decorrentes de origem comum e da atividade ou situação específica da totalidade ou de parte dos associados ou membros do impetrante —, os direitos difusos não são tutelados pelo mandado de segurança coletivo, mas pela ação popular.!

Art. 21, parágrafo único, L. 12016/09.  Os direitos protegidos pelo mandado de segurança coletivo podem ser: !I - coletivos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica básica; !II - individuais homogêneos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os decorrentes de origem comum e da atividade ou situação específica da totalidade ou de parte dos associados ou membros do impetrante. !!

O art. 22, L. 12016/09 também é muito explorado. Sempre houve uma controvérsia sobre a existência de litispendência ou não caso fosse proposta uma ação individual e posteriormente uma ação coletiva.!

Art. 22, L. 12.016.  No mandado de segurança coletivo, a sentença fará coisa julgada limitadamente aos membros do grupo ou categoria substituídos pelo impetrante. !§ 1o  O mandado de segurança coletivo não induz litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada não beneficiarão o impetrante a título individual se não requerer a desistência de seu mandado de segurança no prazo de 30 (trinta) dias a contar da ciência comprovada da impetração da segurança coletiva. !§ 2o  No mandado de segurança coletivo, a liminar só poderá ser concedida após a audiência do representante judicial da pessoa jurídica de direito público, que deverá se pronunciar no prazo de 72 (setenta e duas) horas. !!

Segundo a exegese do artigo não há litispendência, mas o autor a título individual, para que possa se beneficiar da coisa julgada na ação coletiva, precisará desistir do seu MS individual no prazo de trinta dias a contar da ciência comprovada da impetração da segurança coletiva.!

!!ESPÉCIES!

Há duas espécies de mandado de segurança:!

a) Preventivo - quando há séria ameaça de lesão a direito líquido e certo.!

b) Repressivo - quando a lesão já ocorreu; nesse caso, deve ser obedecido o prazo decadencial de 120 dias, contados da ciência, pelo interessado, do ato que se deseja impugnar, na forma do art. 23, L. 12.016/09.!

Art. 23, L. 12016/09.  O direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á decorridos 120 (cento e vinte) dias, contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado. !

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SÚMULAS STF!

S. 266, STF. - Não cabe Segurança contra lei em tese.!

Claro, na verdade nós poderíamos formar uma súmula para cada um dos remédios nesse sentido: não cabe remédio contra lei em tese, porque os remédios discutem incidentalmente a lei e não as leis em tese.!

Não cabe impetrar MS contra a lei, este é impetrado contra o ato e incidentalmente discute a ilegalidade/inconstitucionalidade da norma.!

!S. 267, STF. - Não cabe segurança contra ato judicial passível de recurso ou correição.!

Essa vedação à utilização do MS como sucedâneo recursal também se encontra no art. 5º, II, L. 12.016/09 —, a súmula (mais antida) diz que não cabe MS em face de decisão passível de recurso, enquanto a lei diz que não cabe MS em face de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo.!

Art. 5o L. 12016/09. Não se concederá mandado de segurança quando se tratar: !II - de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo; !III - de decisão judicial transitada em julgado. !!S. 268, STF. - Não cabe segurança contra decisão judicial com trânsito em julgado.!

O art. 5º, III, da L. 12016/09 versa justamente sobre a hipótese: vedação de MS contra lei transitada em julgado —, na verdade a decisão transitada em julgado é objeto de rescisória, a não ser que haja uma situação muito grave e extremamente violadora de liberdade legal, ou seja, é uma súmula e uma lei não absolutas.!

Art. 5o L. 12016/09. Não se concederá mandado de segurança quando se tratar: !III - de decisão judicial transitada em julgado. !!!S. 269, STF. O mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobrança.!

As indenizações contra o Estado e entes em geral devem ser feitas por meio de ação ordinária, a qual admita dilação probatória e não MS.!

!S. 510, STF. - Praticado ato por autoridade, no exercício de competência delegada, contra ela cabe mandado de segurança ou a medida judicial.!

O MS vai ser impetrado em face da própria autoridade coatora, que ameaça alguém ou produz lesão, mas se estiver diante de uma concessionária, permissionária, o MS vai ser impetrado em face daquela autoridade não da União, caso contrário a delegação/concessão não fariam sentido.!

!S. 625, STF. Controvérsia sobre matéria de direito não impede concessão de mandado de segurança.!

O MS pode discutir a inconstitucionalidade e matérias de direito incidentalmente, mas não se admite a dilação probatória, até porque os remédios constitucionais são instrumentos de fiscalização incidental de constitucionalidade.!

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S. 629, STF. - A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos associados independe da autorização destes.!

Isso porque eles atuam na qualidade de substitutos processuais e não de mera representação.!

!S. 630, STF. - A entidade de classe tem legitimação para o mandado de segurança ainda quando a pretensão veiculada interesse apenas a uma parte da respectiva categoria.!

O MS pode ser impetrado para defender os direitos de todos os associados ou membros, ou apenas de parte da categoria.!

!S. 632, STF. - É constitucional lei que fixa o prazo de decadência para a impetração de mandado de segurança.!

Sempre gerou muita polêmica o prazo decadência estabelecido para a propositura do MS, porque a Constituição na fala em prazo para impetrar MS e muito se questionou acerca de sua validade, mas o entendimento majoritário é de que sim: é um prazo constitucional, compatível com o ordenamento jurídico.!

Agora, é um prazo decadencial sui generis, o que significa que findos os 120 dias não é mais possível impetrar MS, mas é possível ajuizar ação ordinária ou qualquer outra cabível.!

!VEDAÇÕES!

• A primeira delas é uma vedação legislativa, porque a jurisprudência já se posicionava desta forma há algum tempo —, não cabe MS contra os atos de gestão comercial praticados pelos administrados de empresas públicas, de sociedade de economia mista e de concessionárias de serviço público. !

Art. 1o § 2o  L. 12.016/09. Não cabe mandado de segurança contra os atos de gestão comercial praticados pelos administradores de empresas públicas, de sociedade de economia mista e de concessionárias de serviço público. !

Concessionárias, permissionárias, podem figurar no polo passivo de MS, agora, não por seus atos de gestão (atos praticados pelo direito privado, que não tem haver com o exercício da atividade principal).!

Ex: Cabe MS contra particular, desde que haja ilegalidade em uma ação sua ligada à direito fundamental, como a recusa de entrega de diploma, por exemplo. Os atos de gestão particulares, como a insatisfação com o calendário, não são amparados por MS.!

• A segunda vedação é do art. 5º, I, também da Lei de MS que diz que não cabe MS que caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independentemente de caução.!

Art. 5o,L. 12016/09. Não se concederá mandado de segurança quando se tratar: !I - de ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independentemente de caução; !!

Nesse caso, não há interesse em impetrar MS —, o que não quer dizer que o indivíduo precise esgotar a via administrativa para ingressar na via judicial, aqui é preciso escolher: se o recurso teve efeito suspensivo concedido, será incabível MS, a não ser que se abandone a via administrativa e busque a via judicial.!

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CERTIDÕES!

A negativa de certidões gera a propositura do MS — a doutrina separa o acesso ao dado das certidões formalizando o dado, a negativa ao dado pessoal gera HD e a negativa da certidão formalizando o dado MS.

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!PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES!!!

HISTÓRICO!

Nunca houve Estado sem poder, o poder é a fonte de decisões, o centro de decisões. O poder é, por excelência, uno, indivisível, indelegável, imprescritível… Mas durante muitos anos esse centro de energia do Estado esteve nas mãos de um só: o rei que não fazia nada de errado.!

A frase “o Estado sou eu” de Luís XIV identifica muito bem esse absolutismo existente; durante o autoritarismo houve cerceamento das liberdades, abuso de poder, truculências e desrespeitos variados a inúmeros direitos fundamentais.!

Hoje nenhum Estado que se intitule democrático pode se afastar do Princípio da Separação de Poderes, o qual é um dos corolários do constitucionalismo moderno, mas não é um princípio que nasce com a modernidade.!

a) Aristóteles - “A Política” - Aristóteles no período antigo já acreditava que o poder era dividido em funções distintas, mas pela própria atmosfera política, histórica, social, ele não sustentou que essas funções poderiam ser exercidas por órgãos distintos.!

b) Locke - “O Segundo Tratado do Governo Civil” - Locke, no séc. XVII na Inglaterra, defendeu a necessidade de que o poder fosse dividido atividade, funções distintas.!

c) Montesquieu - “O Espírito das Leis” - apenas no séc. XVIII com Montesquieu em “O Espírito das Leis” se difundiu a ideia de que o poder precisava ser exercido por meio de órgãos distintos. O estudioso sustentava ainda que como o poder corrompe, era inegável que este precisava ser limitado por outro poder com igual força e intensidade.!

A doutrina de Montesquieu, então, não apenas pregava que era necessário o exercício dos poderes por meio de órgãos distintos; como também afirmou que havia a necessidade de que cada poder realizasse atividades típicas, próprias, mas que também realizasse funções atípicas, evitando um superpoder e estabelecendo um sistema de freios e contrapesos.!

d) Art. 16 da Declaração Francesa de 1789 no Brasil - o art. 16 da Declaração Iluminista do séc. XVIII apontava que não havia Constituição onde não existisse direitos fundamentais e separação de poderes.!

É claro que não há direitos fundamentais com acúmulo de poderes nas mãos de um só e ao mesmo tempo a separação de poderes serve aos direitos fundamentais.!

!CHECKS AND BALANCES!

A doutrina de Montesquieu, então, não apenas pregava que era necessário o exercício dos poderes por meio de órgãos distintos; como também afirmou que havia a necessidade de que cada poder realizasse atividades típicas, próprias, mas que também realizasse funções atípicas, evitando um superpoder e estabelecendo um sistema de freios e contrapesos.!

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O constituinte adotou a separação de poderes, também, no sistema de freios e contrapesos: cada poder da República realiza uma atividade típica e algumas funções atípicas.!

Alguns autores criticam modernamente a expressão tripartição de poderes, primeiro porque as atividades típicas são quatro e não três: i) executivo - administrativa; ii) judiciário - julgar; e iii) legislativo - fiscalizar e legislar —, então essa tripartirão já não existiria; por outro lado, a outra crítica diz respeito às funções atípicas, além de se realizar as atividades típicas próprias também, nesse sistema de freios e contrapesos, realizam as atividades atípicas.!

a) Funções Típicas - são as funções que o Poderes originalmente exerciam de forma exclusiva.!

i) Legislativo - exerce a função legiferante e a função fiscalizadora contábil (art. 70, CRFB/88).!

Art. 70, CF. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder.!Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária.!!

ii) Executivo - administrar.!

iii) Judiciário - julgar.!

b) Funções Atípicas - são as funções que os Poderes adquiriram depois de um processo de reinterpretação sobre o conceito de 'Separação de Poderes', esse conceito deixou de representar um isolamento entre os Poderes e assim  aumentou a interação entre eles, inclusive com a aquisição de diversas funções que anteriormente não eram típicas!

i) Legislativo - exerce a funções atípicas de Executivo (administrativa - contratos administrativos, licitações…) e Judiciário (atividade jurisdicionais - art. 52, parágrafo único, CRFB/88).!

ii) Executivo - legislar e julgar.!

iii) Judiciário - as de natureza administrativa e legislativa.!

!PREVISÃO NA CRFB/88 (Arts. 2º, 60 § 4º, III, CRFB/88) - ALCANCE!

Na Constituição de 1988, a Separação de Poderes é um Princípio Fundamental, previsto no art. art. 2º e protegido no art. 60 § 4º, III, CRFB/88 como cláusula pétrea (a separação de poderes como cláusula pétrea não se limita ao exercício de atividades típicas, todas as funções são protegidas como clausulas pétreas.!

Art. 2º, CF. São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.!!Art. 60 § 4º, CF. - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:!III - a separação dos Poderes;!!

A Constituição estabelece um sistema de imunidades para defender o exercício do poder político, então, se sabe que a prerrogativa de foro funcional para julgamento de certas autoridades, a imunidade material… Com relação ao art. 60 § 4º, III, CRFB/88, essas imunidades, prerrogativas

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também são protegidas como cláusulas pétreas e não podem ser extirpadas por Emenda Constitucional, porque isso abalaria o sistema de separação de poderes.!

!JURISPRUDÊNCIA DO STF (ADIN 3367 e ADPF 45)!

Essas duas decisões importantes são relacionadas à separação de poderes: i) a primeira defendeu a criação do CNJ e confirmou sua constitucionalidade por entender não haver violação ao princípio da separação dos poderes porque o CNJ seria desprovido de atividade jurisdicional e foi criado para reforçar a fiscalização administrativo-finaneira dos demais órgãos do Judiciário; ii) na ADPF 45, o STF entendeu que em caso de omissão ou má-prestação estatal no direito à saúde, o Poder Judiciário pode ser acionado, sem que haja violação ao Princípio da Separação dos Poderes, justamente porque todas funções do poder políticos se encontram abaixo da Constituição, então o Judiciário está cumprindo sua função de defender o direito fundamental à saúde.!

"Separação dos Poderes. Possibilidade de análise de ato do Poder Executivo pelo Poder Judiciário. (...) Cabe ao Poder Judiciário a análise da legalidade e constitucionalidade dos atos dos três Poderes constitucionais, e, em vislumbrando mácula no ato impugnado, afastar a sua aplicação.” (AI 640.272-AgR, Rel. Min.Ricardo Lewandowski, julgamento em 2- 10-2007, Primeira Turma, DJ de 31-10- 2007.) No mesmo sentido: AI 746.260-AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 9-6- 2009, Primeira Turma, DJE de 7-8-2009.!

“Afronta os princípios constitucionais da harmonia e independência entre os Poderes e da liberdade de locomoção norma estadual que exige prévia licença da Assembleia Legislativa para que o Governador e o Vice-Governador possam ausentar-se do País por qualquer prazo. Espécie de autorização que, segundo o modelo federal, somente se justifica quando o afastamento exceder a quinze dias. Aplicação do princípio da simetria (art. 83, CRFB/88 de observância obrigatória nos planos estadual e municipal).” (ADI 738, Rel.Min. Maurício Corrêa, julgamento em 13-11-2002, Plenário, DJ de 7-2-2003.)!

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!PODER LEGISLATIVO!!!

FUNÇÕES!

o legislativo, à semelhança dos demais órgãos, realiza funções típicas e atípicas, justamente no sistema de independência e harmonia dos Poderes, preconizado no art. 2º, CRFB/88.!

Art. 2º, CF. São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.!!a) Típicas - exerce a função legiferante e a função fiscalizadora contábil (art. 70, CRFB/88).!

Art. 70, CF. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder.!Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária.!!

b) Atípicas - exerce a funções atípicas de Executivo (administrativa - contratos administrativos, licitações…) e Judiciário (atividade jurisdicionais - art. 52, parágrafo único, CRFB/88).!

!ESTRUTURA!

a) Federal - no plano federal, o Legislativo é composto pelo Congresso Nacional, resultado da união das Casas da Câmara dos Deputados e o Senado Federal.!

b) Estadual - há um sistema unicameral, ou seja, a casa legislativa é a Assembleia Legislativa.!

c) Distrital - a Câmara Legislativa.!

d) Municipal - Câmara dos Vereadores.!

!BICAMERALISMO E A FEDERAÇÃO!

É típico das legislações a existência de um Poder Legislativo central bicameral, porque nas federações os estados possuem autonomia, força política, capacidade de autodeterminação… Então, nada mais coerente que permitir que os estados tenham um representante no Poder Legislativo Central para que possam opinar na formação das leis que um dia esses estados irão respeitar.!

Não se quer dizer que o bicameralismo só está presente nas federações, mas nas federações ter um Poder Legislativo Central Bicameral faz todo o sentido, afinal de contas a Câmara representa a vontade do povo e o Senado Federal é o órgão legislativo federativo por excelência e a ele compete representar a vontade dos estados e do Distrito Federal.!

No Brasil é possível dizer que o bicameralismo do poder legislativo central é protegido por cláusula pétrea, a federativa. O art. 60 § 4º, I, CRFB/88 preserva a federação como cláusula pétrea e como uma das características federativas é justamente a existência do bicameralismo no plano central, logo, acabar com o bicameralismo violaria o art. 60 § 4º, I, CRFB/88.!

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Art. 60 § 4º, CF. - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:!I - a forma federativa de Estado;!!!

ÓRGÃOS!

a) Mesa Diretora - cada Casa Legislativa e o próprio Congresso Nacional conta com sua mesa diretora, seu órgão diretor, o órgão de comando e na forma do art. 57 § 5º, CRFB/88.!

Art. 57, CF. O Congresso Nacional reunir-se-á, anualmente, na Capital Federal, de 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1º de agosto a 22 de dezembro.!§ 5º - A Mesa do Congresso Nacional será presidida pelo Presidente do Senado Federal, e os demais cargos serão exercidos, alternadamente, pelos ocupantes de cargos equivalentes na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.!!

i) Mesa do Congresso Nacional - a mesa do Congresso Nacional é formada por membros tanto da Mesa da Câmara dos Deputados, quanto membros do Senado Federal —, quem preside a Mesa do Congresso Nacional é o Presidente do Senado e a partir daí ela é composta por membros da Câmara e do Senado de forma alternada, são sete membros titulares e quatro suplentes.!

O Presidente é o Presidente do Senado Federal, o primeiro Vice-Presidente vem da Câmara dos Deputados, o segundo Vice-Presidente é do Senado Federal, depois primeiro secretário da Câmara e assim sucessivamente…!

ii) Mesa da Câmara dos Deputados - formada apenas por deputados. É presidida pelo Presidente da Câmara, possui o primeiro Vice-Presidente, o segundo Vice-Presidente, quatro secretários e quatro suplentes de secretários, totalizando onze membros.!

iii) Mesa do Senado Federal - formada apenas por senadores. A mesa do Senado é formada pelo Presidente do Senado, há o primeiro Vice-Presidente, o segundo Vice-Presidente, quatro secretários e quatro suplentes de secretários.!

b) Comissões Parlamentares - são órgãos do Congresso Nacional. Essa Comissões são órgãos auxiliares da atividade parlamentar, e podem ser divididas em comissões temporárias e permanentes, ainda, representativas e mistas!

Art. 58, CF. O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e temporárias, constituídas na forma e com as atribuições previstas no respectivo regimento ou no ato de que resultar sua criação.!§ 1º - Na constituição das Mesas e de cada Comissão, é assegurada, tanto quanto possível, a representação proporcional dos partidos ou dos blocos parlamentares que participam da respectiva Casa.!§ 2º - às comissões, em razão da matéria de sua competência, cabe:!I - discutir e votar projeto de lei que dispensar, na forma do regimento, a competência do Plenário, salvo se houver recurso de um décimo dos membros da Casa;!II - realizar audiências públicas com entidades da sociedade civil;!III - convocar Ministros de Estado para prestar informações sobre assuntos inerentes a suas atribuições;!IV - receber petições, reclamações, representações ou queixas de qualquer pessoa contra atos ou omissões das autoridades ou entidades públicas;!V - solicitar depoimento de qualquer autoridade ou cidadão;!VI - apreciar programas de obras, planos nacionais, regionais e setoriais de desenvolvimento e sobre eles emitir parecer.!§ 3º - As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.!

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§ 4º - Durante o recesso, haverá uma Comissão representativa do Congresso Nacional, eleita por suas Casas na última sessão ordinária do período legislativo, com atribuições definidas no regimento comum, cuja composição reproduzirá, quanto possível, a proporcionalidade da representação partidária.!

i) Comissões Temporárias - após criadas para tratar sobre um determinado tema e cuidarem do assunto, serão extintas (ex: CPI).!

ii) Comissões Permanentes - são comissões que não são temporárias, que atravessam as legislaturas (ex: CCJ).!

iii) Representativa - deve funcionar durante o recesso parlamentar, com função definida pelo regimento comum das Casas do Congresso, art. 58, § 4º, CRFB/88.!

Art. 58, § 4º, CF. Durante o recesso, haverá uma Comissão representativa do Congresso Nacional, eleita por suas Casas na última sessão ordinária do período legislativo, com atribuições definidas no regimento comum, cuja composição reproduzirá, quanto possível, a proporcionalidade da representação partidária.!

iv) Mistas - compostas por deputados e senadores para a realização de algumas atribuições específicas; podem ser permanentes ou temporárias, como é o caso da comissão mista de orçamento, que é permanente.!

!FUNCIONAMENTO DOS ÓRGÃOS!

a) Legislatura - o mandato de 4 anos previsto no art. 44. Parágrafo único da CF, para os deputados; e de 8 anos para os senadores.!

b) Sessão Legislativa - tempo anual de trabalho dos legisladores, indo de 2 de fevereiro à 17 de julho e 1º de agosto até 22 de dezembro – Art. 57, CF. A cada legislatura, são 4 sessões legislativas.!

c) Sessões Ordinárias - o Congresso reúne-se anualmente na Capital Federal, de 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1 de agosto a 22 de dezembro. Até a Emenda Constitucional nº. 50 de Fevereiro de 2006 (EC50/2006), o período era de 15 de fevereiro a 30 de junho e de 1 de agosto a 15 de dezembro (Regimento interno da Câmara dos Deputados). Cada um desses períodos é chamado de período legislativo, sendo o ano conhecido como sessão legislativa ordinária.!

d) Sessões Extraordinárias - ocorrem excepcionalmente nos períodos de recesso. !

!ATRIBUIÇÕES!

a) Congresso Nacional - além da função de representação, antes mencionada, compete ao Congresso Nacional exercer atribuições legislativas e de fiscalização e controle.!

Quanto à função legislativa, cabe ao Congresso Nacional legislar sobre as matérias de competência da União, mediante elaboração de emendas constitucionais, de leis complementares e ordinárias, e de outros atos normativos com força de lei.!

O art. 48 da Constituição lista diversos assuntos que podem ser objeto de leis, que dependem da aprovação do Congresso Nacional e da sanção do Presidente da República. Por sua vez, o art. 49 da Constituição Federal traz a relação das competências exclusivas do Congresso

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Nacional, que são veiculadas por decreto legislativo, para o qual não é exigida a sanção presidencial.!

Art. 48, CF. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, não exigida esta para o especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas as matérias de competência da União, especialmente sobre:!I - sistema tributário, arrecadação e distribuição de rendas;!II - plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamento anual, operações de crédito, dívida pública e emissões de curso forçado;!III - fixação e modificação do efetivo das Forças Armadas;!IV - planos e programas nacionais, regionais e setoriais de desenvolvimento;!V - limites do território nacional, espaço aéreo e marítimo e bens do domínio da União;!VI - incorporação, subdivisão ou desmembramento de áreas de Territórios ou Estados, ouvidas as respectivas Assembléias Legislativas;!VII - transferência temporária da sede do Governo Federal;!VIII - concessão de anistia;!IX - organização administrativa, judiciária, do Ministério Público e da Defensoria Pública da União e dos Territórios e organização judiciária e do Ministério Público do Distrito Federal; !X - criação, transformação e extinção de cargos, empregos e funções públicas, observado o que estabelece o art. 84, VI, b; !XI - criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública; !XII - telecomunicações e radiodifusão;!XIII - matéria financeira, cambial e monetária, instituições financeiras e suas operações;!XIV - moeda, seus limites de emissão, e montante da dívida mobiliária federal.!XV - fixação do subsídio dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, observado o que dispõem os arts. 39, § 4º; 150, II; 153, III; e 153, § 2º, I.!!Art. 49, CF. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:!I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional;!II - autorizar o Presidente da República a declarar guerra, a celebrar a paz, a permitir que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente, ressalvados os casos previstos em lei complementar;!III - autorizar o Presidente e o Vice-Presidente da República a se ausentarem do País, quando a ausência exceder a quinze dias;!IV - aprovar o estado de defesa e a intervenção federal, autorizar o estado de sítio, ou suspender qualquer uma dessas medidas;!V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa;!VI - mudar temporariamente sua sede;!VII - fixar idêntico subsídio para os Deputados Federais e os Senadores, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I;  !VIII - fixar os subsídios do Presidente e do Vice-Presidente da República e dos Ministros de Estado, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I; !IX - julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da República e apreciar os relatórios sobre a execução dos planos de governo;!X - fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta;!XI - zelar pela preservação de sua competência legislativa em face da atribuição normativa dos outros Poderes;!XII - apreciar os atos de concessão e renovação de concessão de emissoras de rádio e televisão;!XIII - escolher dois terços dos membros do Tribunal de Contas da União;!XIV - aprovar iniciativas do Poder Executivo referentes a atividades nucleares;!XV - autorizar referendo e convocar plebiscito;!XVI - autorizar, em terras indígenas, a exploração e o aproveitamento de recursos hídricos e a pesquisa e lavra de riquezas minerais;!XVII - aprovar, previamente, a alienação ou concessão de terras públicas com área superior a dois mil e quinhentos hectares.!!

Sobre a função fiscalizadora, o art. 70 da Constituição estabelece a competência do Congresso Nacional para a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta. Para que possa exercer essa função, o Congresso Nacional é auxiliado pelo Tribunal de Contas da União.!

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Art. 70, CF. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder.!Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária.!!

O Congresso Nacional e suas Casas dispõem, ainda, de outros mecanismos de fiscalização e controle, entre os quais podemos mencionar: a possibilidade de convocação de Ministro de Estado ou de titulares de órgãos diretamente vinculados à Presidência da República para prestar informações sobre assunto previamente determinado; o encaminhamento de pedidos de informações a essas autoridades pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal; a instalação de comissões parlamentares de inquérito pelas Casas, em conjunto ou separadamente, para apuração de fato determinado e por prazo certo.!

b) Câmara dos Deputados - composta por representantes do povo, eleitos pelo sistema proporcional em cada estado, em cada território e no Distrito Federal. São 513 Deputados Federais, com mandato de quatro anos. O número de Deputados é proporcional (art. 51, CRFB/88) à população do estado ou do Distrito Federal, com o limite mínimo de oito e máximo de setenta Deputados para cada um deles.!

Art. 51, CF. Compete privativamente à Câmara dos Deputados:!I - autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado;!II - proceder à tomada de contas do Presidente da República, quando não apresentadas ao Congresso Nacional dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa;!III - elaborar seu regimento interno;!IV - dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação, transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remuneração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias; !V - eleger membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII.!!

Brasileiro, 21 anos de idade, sendo que o seu presidente deve ser brasileiro nato; cada estado pode ter de 8 a 70 e se os territórios forem criados, terão direito a quatro.!

c) Senado Federal - cada estado e o Distrito Federal elegem três Senadores, com mandato de oito anos, renovados de quatro em quatro anos, alternadamente, por um e dois terços. A composição do Senado Federal é de 81 Senadores.!

Brasileiro, 35 anos, sendo que o seu presidente deve ser brasileiro nato, cada estado tem o mesmo número, três e se territórios forem criados, não terão nenhum senador. São regidos pelo sistema eleitoral majoritário simples ou comum.!

!ESTATUTO DOS CONGRESSISTAS!

Conjunto das imunidades, inviolabilidades, prerrogativas, impedimentos, incompatibilidades que cercam a função do parlamentar, garantindo-lhe uma maior liberdade e independência funcional.!

a) Histórico!

houve uma inspiração em diplomas estrangeiros, dentro deles o modelo inglês, no qual se destacam o Freedom Of Speech (liberdade de manifestação de manifestação e expressão) e o

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Freedom From Arrest (liberdade contra a prisão), os quais influenciaram a formação dos Estutato dos Congressitas em muitos Estados.!

No constitucionalismo pátrio todas as Constituições estabeleceram em maior ou menor medida o conjunto de normas para garantir a representação e liberdade política. !

b) Base Legal (Arts. 53 a 56, CRFB/88)!

Na CRFB/88 este Estatuto dos Congressitas se encontra entre seus arts. 53 a 56, com foco maior no art. 53.!

Art. 53, CF. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. !§ 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal. !§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão. !§ 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação. !§ 4º O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo improrrogável de quarenta e cinco dias do seu recebimento pela Mesa Diretora.!§ 5º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o mandato. !§ 6º Os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações. !§ 7º A incorporação às Forças Armadas de Deputados e Senadores, embora militares e ainda que em tempo de guerra, dependerá de prévia licença da Casa respectiva.!§ 8º As imunidades de Deputados ou Senadores subsistirão durante o estado de sítio, só podendo ser suspensas mediante o voto de dois terços dos membros da Casa respectiva, nos casos de atos praticados fora do recinto do Congresso Nacional, que sejam incompatíveis com a execução da medida.!!Art. 54, CF. Os Deputados e Senadores não poderão:!I - desde a expedição do diploma:!a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público, salvo quando o contrato obedecer a cláusulas uniformes;!b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, inclusive os de que sejam demissíveis "ad nutum", nas entidades constantes da alínea anterior;!II - desde a posse:!a) ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função remunerada;!b) ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis "ad nutum", nas entidades referidas no inciso I, "a";!c) patrocinar causa em que seja interessada qualquer das entidades a que se refere o inciso I, "a";!d) ser titulares de mais de um cargo ou mandato público eletivo.!!Art. 55, CF. Perderá o mandato o Deputado ou Senador:!I - que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo anterior;!II - cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar;!III - que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta autorizada;!IV - que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;!V - quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos nesta Constituição;!VI - que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado.!§ 1º - É incompatível com o decoro parlamentar, além dos casos definidos no regimento interno, o abuso das prerrogativas asseguradas a membro do Congresso Nacional ou a percepção de vantagens indevidas.!§ 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa. !§ 3º - Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será declarada pela Mesa da Casa respectiva, de ofício ou mediante provocação de qualquer de seus membros, ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.!§ 4º A renúncia de parlamentar submetido a processo que vise ou possa levar à perda do mandato, nos termos deste artigo, terá seus efeitos suspensos até as deliberações finais de que tratam os §§ 2º e 3º.!

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!Art. 56, CF. Não perderá o mandato o Deputado ou Senador:!I - investido no cargo de Ministro de Estado, Governador de Território, Secretário de Estado, do Distrito Federal, de Território, de Prefeitura de Capital ou chefe de missão diplomática temporária;!II - licenciado pela respectiva Casa por motivo de doença, ou para tratar, sem remuneração, de interesse particular, desde que, neste caso, o afastamento não ultrapasse cento e vinte dias por sessão legislativa.!§ 1º - O suplente será convocado nos casos de vaga, de investidura em funções previstas neste artigo ou de licença superior a cento e vinte dias.!§ 2º - Ocorrendo vaga e não havendo suplente, far-se-á eleição para preenchê-la se faltarem mais de quinze meses para o término do mandato.!§ 3º - Na hipótese do inciso I, o Deputado ou Senador poderá optar pela remuneração do mandato.!!

Importante destacar que o Estatuto dos Congressistas não pode ser extinto por Emenda Constitucional, haja vista sua previsão no art. 60 § 4º, III, CRFB/88!

Art. 60 § 4º, CF. - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:!III - a separação dos Poderes;!!

Os suplentes, enquanto suplentes, dos parlamentares não gozam de imunidades e prerrogativas, isso porque não exercem a titularidade do cargo e as imunidades dizem respeito aqueles que exercem a titularidade do cargo.!

Ademais, não é possível se renunciar a uma imunidade, uma prerrogativa, não se abre mão de uma inviolabilidade, isso porque as imunidades e prerrogativas pertencem ao cargo e não ao parlamentar.!

c) Prerrogativa de Foro Funcional (S. 394, STF; L. 10.628/02; ADIN 2797; APs 333 e 396; S. 704, STF)!

O art. 53 § 1º, CRFB diz que parlamentares serão submetidos a julgamento pelo STF. Primeiramente, a natureza desta prerrogativa de foro é uma natureza criminal, apenas —, esta imunidade, assim como as imunidades em geral, é adquirida a partir da diplomação (ato que confirma que a eleição se operou de forma válida), ou seja, antes da posse.!

Art. 53 § 1º, CF. Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal.!

Linhas gerais, parlamentares são diplomados no mesmo ano da eleição e tomam posse no cargo no ano seguinte ao da eleição.!

Há duas situações com relação a essa prerrogativa de foro funcional:!

1. Crime comum cometido antes da diplomação - se o parlamentar cometeu crime antes da diplomação ele será julgado pela Justiça Comum, uma vez diplomado, o processo será remetido ao STF, se findo o mandato sem uma decisão, o processo retorna à Justiça Comum.!

2. Crime comum cometido após a diplomação - caso o crime tenha sido cometido após a diplomação o órgão competente para receber a denúncia ou queixa crime é o STF, findo o mandato a regra é a da atualidade do mandato, o processo segue para a Justiça Comum.!

PS! A prerrogativa de foro funcional prevista na Constituição Federal afasta a competência do Tribunal do Júri —, nessa ótica, durante o mandato, o STF irá julgar os parlamentares federais por crimes culposos ou dolosos.!

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A súmula 394, STF, dizia que o STF era competente para processar e julgar parlamentares que estivessem no exercício dos seus cargos, mas também era competente para julgar ex-parlamentares.!

S. 394, STF. Cometido o crime durante o exercício funcional, prevalece a competência especial por prerrogativa de função, ainda que o inquérito ou a ação penal sejam iniciados após a cessação daquele exercício.!!

Essa súmula que data da ditadura militar e sempre foi muito criticada pela doutrina porque trazia uma extensão da prerrogativa de foro funcional para quem não tinha cargo especial, então, ela violava o princípio da igualdade. A súmula foi cancelada no ano de 1999 configurando uma mutação constitucional, segundo alguns.!

A partir do cancelamento da súmula passou a vigorar a regra da atualidade do mandato, ou seja, enquanto se tem mandato tem prerrogativa e quando não se tem, não há prerrogativa.!

Só que no final do seu mandato, FHC editou a lei 10.628/02 e essa lei reacendeu a chama da súmula 394, STF e aí retornou a regra que o STF julgava parlamentares e ex-parlamentares.!

O MP ingressou com a ADIN 797, a qual foi julgada procedente em setembro de 2005 e, a partir de então, a regra é do atualidade do mandato.!

Em 2007, o então deputado federal Ronaldo da Cunha Lima, após uma longa instrução processual, quando a Corte marcou a data do julgamento pela prática de tentativa de crime doloso contra a vida, ele renuncia cinco dias antes da sessão e seus advogados peticionam nos autos dizendo ao STF que não mais era parlamentar, de modo que o processo deveria ser remetido para a justiça comum, porque, afinal de contas, vale a regra da atualidade do mandato.!

O STF ficou contrariado porque a renúncia configurava um abuso de direito, mas ainda assim se declara incompetente e remete o processo à justiça comum do estado competente.!

Alguns anos depois, o que ocorre é que em 2010 Nathan Donadon, então deputado federal, tem marcada sua data da sessão de julgamento e na sua véspera ele renuncia ao cargo e seus advogados entram com o pedido requerendo a remessa dos autos para justiça competente, porque o que vale é a atualidade do mandato.!

Dessa vez, entretanto, o STF em uma virada jurisprudencial entendeu que, em que pese a renúncia seja um direito público subjetivo do parlamentar, ela foi apresentada com o claro objetivo de procrastinar a decisão final e configura um abuso de direito e o STF diz que manterá o julgamento do ex-parlamentar.!

A partir de então, a regra da atualidade do mandato é a regra geral, mas ela foi atenuada quando houver abuso de direito.!

No início do julgamento do Mensalão, que julgou trinta e oito pessoas, o STF foi instado a se manifestar acerca de uma situação peculiar: dos 38 mensaleiros, apenas três deles tinham prerrogativa de funcional.!

Então, a primeira preocupação do STF no julgamento do mensalão foi verificar se viola, ou não, o duplo grau de jurisdição a reunião do julgamento, por completo, na própria Corte.!

O entendimento da Corte é quase não haveria problema, nem mesmo seria violado o duplo grau de jurisdição, inclusive, a súmula 704, STF diz exatamente isso.!

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S. 704, STF. Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do co-réu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados.!!

Essa súmula 704 foi aplicada ao caso do mensalão para justificar a reunião de todos os corréus para o julgamento ante o STF.!

d) Imunidades Materiais (Inviolabilidades Parlamentares) !

O art. 53, caput, CRFB/88 traz a base dessa imunidade material e em sua origem dizia que os parlamentares federais eram invioláveis por suas palavras, votos e opiniões, apenas no âmbito penal e a jurisprudência que estendia tal imunidade para a esfera civil. A EC 35/01 foi a responsável pela modificação do caput do art. 53, CRFB/88.!

Art. 53, CF. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.!!

A Constituição garante a imunidade material, a inviolabilidade parlamentar que significa a subtração de responsabilidade civil e penal dos parlamentares pelos excessos da palavra, voto, opiniões, ou seja, tudo que diga respeito à representação política.!

O STF entende que a imunidade material é quase que absoluta quando as palavras forem ditas em plenário, o STF entende que os excessos são cometidos porque o deputado está trabalhando. As expressões que eventualmente causariam a responsabilização civil e penal por injúria, calúnia, difamação não chegam ao parlamentar, porque ele goza de liberdade de manifestação e expressão para que possa exercer de forma adequada a representação política prevista na Constituição.!

O STF entende que a imunidade está sempre presente em plenário, além dos veículos da mídia escrita, falada, televisiva… Quando o parlamentar participa da mídia e publicidade, atuando como parlamentar, também terá sua imunidade garantida.!

A imunidade material não protege o parlamentar em sua vida privada, o que significa que a imunidade material não é irrestrita a todos os âmbitos, somente no que concerne ao exercício da atividade profissional.!

e) Imunidades Formais!

Se dividem em duas espécies.!

i) Prisão - se encontra no art. 53§ 2º, CRFB/88. A preocupação constitucional é com a prisão criminal, para Flávia não há nenhum óbice à prisão do parlamentar que deve alimentos, ou seja, sua prisão civil.!

Art. 53, CF.!§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão. !!

Regra geral, não haverá prisão do parlamentar, excepcionalmente o parlamentar poderá ser preso em flagrante de crime inafiançável, neste caso, os autos da prisão deverão ser remetidos no prazo de 24hrs para a Casa Legislativa a qual pertença, que poderá a qualquer momento resolver sobre a prisão (liberar o parlamentar) —, para José Afonso da Silva, trata-se de um relaxamento político da prisão.!

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Enfim, o parlamentar não pode ser preso em flagrante de crime afiançável, não pode ser preso temporariamente ou preventivamente, ele pode ser preso cautelarmente, mas nos moldes previstos na Constituição.!

Mas a doutrina e a jurisprudência sustentam que, além dessa possibilidade de prisão, o parlamentar pode ser preso em razão de sentença condenatória penal transitada em julgado, afinal de contas o processo não faria sentido se o parlamentar depois de condenado não pudesse ser levado ao cárcere.!

Recentemente houve um caso famoso relacionado a este assunto. Natan Donadon foi condenado pelo STF há mais de treze anos prisão e de acordo com o art. 55, § 2º, CRFB, a perda do cargo dependerá do voto da maioria absoluta dos membros daquela Casa e em agosto de 2013 a Casa Legislativa deliberou pela impossibilidade de perda do Cargo.!

Art. 55, § 2º, CF. Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa. !!

Recentemente à Casa, agora sob a égide do voto aberto, voltou a deliberar sobre a questão de Natan Donadon e finalmente caçou seu mandato.!

É um tema polêmico ainda não resolvido, mas para Flávia há tendência clara de que essa declaração da Casa Legislativa em caso de sentença condenatória transitada em julgado é uma declaração meramente formal.!

ii) Processo - presente na Constituição, no art. 53 §§ 3º a 5º. Até o advento da EC 35/01 o STF só podia processar e julgar de parlamentares se recebesse a autorização do Congresso, da Casa Legislativa a que pertencia o parlamentar, desde a EC 35/01 que esse tema foi modificado, hoje o STF não necessita de autorização da Casa Legislativa para instaurar o processo criminal contra o parlamentar.!

Art. 53, CF.!§ 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação. !§ 4º O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo improrrogável de quarenta e cinco dias do seu recebimento pela Mesa Diretora.!§ 5º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o mandato.!!

Hoje o STF não precisa mais de autorização expressa da Casa Legislativa para inaugurar o processo contra o parlamentar, mas a Constituição hoje prevê que!

Imagine um parlamentar que tem uma denúncia dirigida ao STF, que dá ciência à Casa Legislativa correspondente —, qualquer partido político com representação na Câmara pode oferecer, até a decisão final transitar em julgado, um pedido de sustação do processo ante a Casa que terá o prazo improrrogável de 45 dias para decidir se aceita a suspensão não (se não deliberar nesse período, o processo segue).!

A maioria dos membros da Casa podem decidir que é caso de sustar o processo, nesse caso, a Casa deverá informar ao STF que durante o mandato do parlamentar o processo será suspenso e o STF lavrará a suspensão da prescrição.!

Essa suspensão só durará enquanto o parlamentar estiver no exercício daquele mandato e é uma suspensão que não se prorroga para um mandato de reeleição e o STF, como não

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pode realizar mais nenhum ato processual relativo ao processo, deverá declarar a suspensão do prazo prescricional.!

Atenção porque o art. 53 § 3º, CRFB/88 quando se refere a essa possibilidade de suspensão do processo contra o parlamentar, deixa bem claro que a hipótese só vale para aquele parlamentar que cometer crime após a diplomação.!

O parlamentar que cometeu crime antes da diplomação, cujo processo foi encaminhado ao STF pela prerrogativa de foro funcional por conta da diplomação, não pode ter o processo suspenso por iniciativa de partido político.!

f) Imunidades Específicas!

i) Deputados Estaduais - deve-se aplicar o art. 27 § 1º, CRFB/88, que é norma de observância obrigatória nas Constituições Estaduais.!

Art. 27 § 1º, CF. Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais, aplicando- sê-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas.!

Com base nesse dispositivo depreende-se claramente que as imunidades previstas na Constituição Federal são estendidas aos deputados estaduais. Então, no que tange ao Estatuto dos Congressistas dos deputados federais, são aplicáveis as mesmas regras aos deputados estaduais: !

1) imunidade material que subtrai a responsabilidade penal e civil pelos excessos das palavras, votos e opiniões relacionadas ao exercício da função; !

2) imunidade formal quanto à prisão e o processo, ou seja, só podem ser presos cautelarmente por prisão em flagrante de crime inafiançável e os autos da prisão são encaminhados à Casa Legislativa que pode decidir pela maioria dos seus membros pela sua soluta; !

3) imunidade processual, é possível que um partido político apresente um pedido de sustação processual ao TJ; e !

4) no que tange à prerrogativa de foro funcional-criminal deputados estaduais serão julgados por crimes comuns, inclusive os crimes dolosos contra a vida, perante o Tribunal de Justiça e por crimes federais pelo TRF (súmula 702, STF).!

S. 702, STF. A competência do Tribunal de Justiça para julgar Prefeitos restringe-se aos crimes de competência da Justiça comum estadual; nos demais casos, a competência originária caberá ao respectivo tribunal de segundo grau.!!

ii) Deputados Distritais - aplica-se o art. 32 § 3º, CRFB/88 (norma de observância obrigatória nas Leis Orgânicas) que diz que aos deputados distritais e à Câmara Legislativa do Distrito Federal se aplica também o disposto no art. 27, CRFB. Então, deputados distritais gozam de:!

Art. 32 § 3º, CF. Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislativa aplica-se o disposto no art. 27.!

1) imunidades materiais!

2) imunidades formais - quanto à prisão e ao processo!

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3) serão julgados por crimes comuns, inclusive os dolosos contra a vida, pelo TJ do Distrito Federal e dos Territórios.!

iii) Vereadores - o tratamento jurídico dado aos vereadores é distinto do destinado aos deputados, sendo que a eles é aplicado o conteúdo do art. 29, VIII, CRFB/88, que diz que aos vereadores é assegurada a inviolabilidade de suas palavras, opiniões e votos no âmbito do seu próprio município.!

Art. 29, CF. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos:!VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município;!!

A inviolabilidade da palavra é a imunidade material ou inviolabilidade parlamentar, mas quanto aos vereadores esta imunidade material está restrita ao próprio município e o STF quando se manifestou sobre o tema reiterou que há uma limitação geográfica a essa imunidade material.!

Assim, a liberdade de manifestação e expressão do vereador está limitada geograficamente ao próprio município.!

A Constituição Federal trouxe imunidade reduzida aos vereadores e as Constituições Estaduais lhes garantiram o mesmo tratamento jurídico destinado aos deputados estaduais e o STF decidiu que não há extensão de imunidade formal quanto à prisão, tampouco relativa ao processo para os vereadores e se a Constituição Estadual assim dispuser, ela será considerada inconstitucional sob o argumento do Princípio Republicano —, a regra é a da responsabilidade do governante e não o contrário.!

No que tange à prerrogativa de foro funcional, o STF já decidiu que as Constituições Estaduais podem determinar a prerrogativa de foro funcional criminal para o julgamento de vereadores. Todavia, deve ser aplicada a súmula 721, STF, que afirma que a competência constitucional do Tribunal do Juri prevalece sobre o foro de prerrogativa de função estabelecido pela Constituição Estadual.!

S. 721, STF. A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição estadual.!!

Assim, como a prerrogativa de foro do vereador não se encontra na Constituição Federal e só existirá se houver disposição nesse sentido na Constituição Estadual, todo vereador que venha a responder por crime doloso contra a vida será levado a julgamento ante o Tribunal do Juri e não ante o TJ —, como há o critério de norma constitucional, a norma infraconstitucional é afastada por uma relação hierárquica.!

Em resumo, vereadores são presos como qualquer pessoa comum, a imunidade formal quanto à prisão não se estende aos parlamentares municipais; além disso, não há possibilidade de suspensão do processo contra o vereador; e se houver prerrogativa de foro funcional/criminal ele será julgado pelo TJ, salvo na hipótese de crime doloso contra a vida, em que a competência para julgamento será do o Tribunal do Júri. !

g) Observações Complementares!

• A primeira observação se encontra no art. 53, § 8º, CRFB/88 —, a Constituição ensina nesse dispositivo que durante o estado sítio (guerra) as imunidades serão mantidas, mas que é

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possível haver eventual suspensão na forma do art. 53, § 8º, CRFB/88, ou seja, por atos cometidos fora do recinto que sejam incompatíveis com a execução da medida e ainda pelo voto de 2/3 dos membros da Casa respectiva.!

Art. 53, § 8º, CF. As imunidades de Deputados ou Senadores subsistirão durante o estado de sítio, só podendo ser suspensas mediante o voto de dois terços dos membros da Casa respectiva, nos casos de atos praticados fora do recinto do Congresso Nacional, que sejam incompatíveis com a execução da medida.!!

A Constituição não se manifestou acerca das imunidades no estado defesa porque a regra geral continua aplicada e durante o estado de defesa as imunidades não podem ser suspensas, porque garantem a liberdade e independência no exercício profissional.!

• Outra questão importante está no art. 56, I, CRFB que diz que o Ministro de Estado, Governador de Território, Secretário de Estado, do Distrito Federal, de Território, de Prefeitura de Capital ou chefe de missão diplomática temporária não perderão o mandato, mas não dispõe acerca da suspensão e a imunidade. !

Art. 56, CF. Não perderá o mandato o Deputado ou Senador:!I - investido no cargo de Ministro de Estado, Governador de Território, Secretário de Estado, do Distrito Federal, de Território, de Prefeitura de Capital ou chefe de missão diplomática temporária;!!

O entendimento do STF sobre esse assunto é que o parlamentar fica com suas imunidades formais e materiais suspensas, porque está licenciado de seu cargo, mas a Corte tem o entendimento de que a prerrogativa de foro funcional (art. 53, § 1º, CRFB/88) será mantida nos casos de crimes comuns (os parlamentares continuam a ser julgado pelo STF), porque o parlamentar não deixou de ser parlamentar.!

Art. 53 § 1º, CF. Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal.!

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!COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO - CPI!!

Art. 58, § 3º, CF. As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.!

!HISTÓRICO!

Como boa parte dos institutos associados ao parlamento, a CPI também teve origem no Direito Inglês e se espalha para algumas Constituições Europeias.!

No Brasil, a primeira Constituição a sedimentar a existência da CPI foi a 1934, mas os autores são praticamente unânimes em afirmar que nenhum texto constitucional trouxe tantas atribuições à CPI como fez a Constituição de 1988.!

!BASE LEGAL (Art. 58, § 3º, CRFB/88)!

O texto do art. 58, § 3º, CRFB/88 diz que as CPIs é aberta no âmbito da função típica do legislativo, que é de fiscalizar e não tem o propósito de condenar, julgar e absolver ninguém —, a parte final do dispositivo é bem clara que se for o caso, o relatório da CPI será encaminhada ao MP, que poderá ingressar com a ação civil ou penal para apurar os investigados.!

Art. 58, § 3º, CF. As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.!

!FINALIDADE!

A CPI é aberta no exercício da função típica do legislativo, que é de fiscalizar em sentido amplo. O inquérito parlamentar não inviabiliza as demais investigações, civil e parlamentar, é mais uma frente que irá colher dados que poderão eventualmente lastrar a abertura de um processo pelo MP.!

A CPI no âmbito federal irá fiscalizar bens, serviços, dinheiro e valores da União ou, ainda, questões de interesse nacional. Nos planos estadual e municipal as CPIs deverão cuidar, também, de matérias regional e local —, cada adstrita a sua respectiva circunscrição.!

Em nome do princípio federativo, CPI federal apura questões relativas à União; CPI estadual apura questões relativas aos estados; e CPI municipal apura questões locais.!

!PRESSUPOSTOS MATERIAIS!

Segundo alguns doutrinadores, a partir do art. 58, § 3º, CRFB/88 é possível se extrair dois pressupostos materiais: i) o fato determinado; e ii) prazo certo.!

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a) Fato Determinado - o fato apurado deve ser determinado. Não se abre uma CPI para se apurar se há algo a ser investigado, a CPI precisa ter uma base inicial (ex: apuração do mensalão; cartões corporativos…), mas nada impede que ao longo das investigações surjam novos fatos relacionados ao principal e a CPI poderá continuar a investigá-los a mesma legislatura (mandato), desde que justificadamente. Para André Ramos Tavares a CPI precisa ter um direcionamento.!

"É claro que fatos conexos aos inicialmente apurados podem, também eles, passar a constituir alvo de investigação da Comissão Parlamentar em causa. Contudo, para que isso aconteça, torna-se necessária a aprovação de aditamento." (HC 86.431-MC, rel. min. Ayres Britto, decisão monocrática, julgamento em 8-8-2005, DJ de 19-8-2005.)!

Trata-se de um aspecto formal que o STF chama atenção, que é o seguinte: fatos relacionados aos que motivaram a abertura do inquérito podem ser apurados, mas é preciso que em nome do Princípio da Colegialidade, os demais aprovem a análise dos novos fatos que surgiram durante as investigações —, tal princípio, aliás, está muito presente nas decisões da CPI.!

!b) Prazo Certo - é preciso um prazo certo para a apuração da CPI, o que, para alguns autores,

é pressuposto temporal. Uma CPI não pode ser aberta por prazo indeterminado.!

CONSTITUCIONAL. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO: FATO DETERMINADO E PRAZO CERTO. C.F., ARTIGO 58, § 3o. LEI 1.579/52. ADVOGADO. TESTEMUNHA. OBRIGAÇÃO DE ATENDER À CONVOCAÇÃO DA CPI PARA DEPOR COMO TESTEMUNHA. C.F., ARTIGO 133; CPP, ART. 207; CPP, ART. 406; CÓD. PENAL, ART. 154; LEI 4.215, DE 1963, ARTIGOS 87 E 89. I.- A Comissão Parlamentar de Inquérito deve apurar fatodeterminado. C.F., art. 58, § 3o. Todavia, não está impedida de investigar fatos que se ligam, intimamente, com o fato principal. II. - Prazo certo: o Supremo Tribunal Federal, julgando o HC no 71.193-SP, decidiu que a locução "prazo certo", inscrita no § 3o do artigo 58 da Constituição, não impede prorrogações sucessivas dentro da legislatura, nos termos da Lei 1.579/52 (...) HC 71231 / RJ - RIO DE JANEIRO, Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO, Julgamento: 05/05/1994!

A lei 1.579/52 diz que a CPI termina na mesma sessão legislativa em que se iniciou, então o STF em algumas decisões tem aplicado o § 2º do art. 52, que diz que é preciso um prazo certo, mas que é possível que este seja prorrogado, desde que não se ultrapasse ao da legislatura em curso.!

Art. 52, L. 1.579/52. As Comissões Parlamentares de Inquérito apresentarão relatório de seus trabalhos à respectiva Câmara, concluindo por projeto de resolução.!§ 1º. Se forem diversos os fatos objeto de inquérito, a comissão dirá, em separado, sobre cada um, podendo fazê-lo antes mesmo de finda a investigação dos demais.!§ 2º - A incumbência da Comissão Parlamentar de Inquérito termina com a sessão legislativa em que tiver sido outorgada, salvo deliberação da respectiva Câmara, prorrogando-a dentro da Legislatura em curso.!!

A CPI precisa ter um prazo inicialmente fixado para o término dos trabalhos, prorrogado quantas vezes for necessário dentro da mesma legislatura a qual foi aberta.!

(...) Imputa-se, por outro lado, ao mencionado Requerimento subscrito pela minoria parlamentar, uma falha consistente na ausência de indicação do prazo de funcionamento da Comissão Parlamentar de Inquérito. Um dos requisitos constitucionais subjacentes à criação de uma CPI refere-se à temporariedade de sua duração, pois esse órgão de investigação legislativa não pode funcionar por prazo indeterminado.!Ao contrário, exige-se a indicação de “prazo certo” para duração de qualquer CPI (CF, art. 58, § 3o). Cabe observar, no entanto, que o Regimento Interno da Câmara dos Deputados determina, ele próprio, o prazo de vigência das Comissões Parlamentares de Inquérito que deverão atuar no âmbito dessa Casa do Congresso Nacional.O estatuto regimental em questão dispõe, em seu art. 35, § 3o, que: A Comissão (...) terá o prazo de cento e vinte dias, prorrogável por até metade, mediante deliberação do Plenário, para conclusão de seus trabalhos. Isso significa, portanto, que eventual omissão do requerimento de criação de CPI será suprida, de pleno direito, pelo que prescreve a norma regimental em causa, pois esta – dando concreção à finalidade da regra inscrita no § 3o do art. 58 da Constituição – estabelece, desde logo, o prazo de duração dos trabalhos da Comissão encarregada da investigação parlamentar.!No caso ora em exame, a CPI em questão não foi instituída por prazo indeterminado (o que é vedado pela Constituição da República), mas, ao contrário, reconheceu-se – por efeito da incidência da norma regimental

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mencionada – que a investigação parlamentar teria a duração de 120 dias, como expressamente afirmou o eminente Presidente da Câmara dos Deputados, ao indeferir a questão de ordem suscitada pelo Senhor Líder do PT (...).!Vê-se, desse modo, em face do próprio caráter supletivo que qualifica a norma regimental mencionada (art. 35, § 3o), que não se está, na espécie, diante de uma CPI sem prazo certo, pois – insista-se –, tal como expressamente o reconheceu o Senhor Presidente da Câmara dos Deputados (fls. 27/27v.), foi ela criada pelo prazo de cento e vinte dias (...)„, ajustando-se, desse modo, à exigência constitucional de temporariedade, que se impõe a qualquer Comissão Parlamentar de Inquérito." (MS 26.441-MC, rel. min. Celso de Mello, decisão monocrática, julgamento em 29-3-2007, DJ de 9-4-2007.)!!"A duração do inquérito parlamentar – com o poder coercitivo sobre particulares, inerente à sua atividade instrutória e a exposição da honra e da imagem das pessoas a desconfianças e conjecturas injuriosas – é um dos pontos de tensão dialética entre a CPI e os direitos individuais, cuja solução, pela limitação temporal do funcionamento do órgão, antes se deve entender matéria apropriada à lei do que aos regimentos: donde a recepção do art. 5o, § 2o, da Lei 1.579/52, que situa, no termo final de legislatura em que constituída, o limite intransponível de duração, ao qual, com ou sem prorrogação do prazo inicialmente fixado, se há de restringir a atividade de qualquer comissão parlamentar de inquérito.!A disciplina da mesma matéria pelo regimento interno diz apenas com as conveniências de administração parlamentar, das quais cada câmara é o juiz exclusivo, e da qual, por isso – desde que respeitado o limite máximo fixado em lei, o fim da legislatura em curso –, não decorrem direitos para terceiros, nem a legitimação para questionar em juízo sobre a interpretação que lhe dê a Casa do Congresso Nacional."!(HC 71.261, rel. min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 11-5-1994, Plenário, DJ de 24- 6-1994.) No mesmo sentido: Rcl 4.966, rel. min. Menezes Direito, decisão monocrática, julgamento em 3-8-2009, DJE de 18-8-2009.!!"Prazo certo: o Supremo Tribunal Federal, julgando o HC 71.193-SP, decidiu que a locução prazo certo„, inscrita no § 3o do artigo 58 da Constituição, não impede prorrogações sucessivas dentro da legislatura, nos termos da Lei 1.579/52." (HC 71.231, rel. min. Carlos Velloso, julgamento em 5-5-1994, Plenário, DJ de 31-10-1996.)

!REQUISITOS FORMAIS!

Há dois requisitos formais com relação às CPIs: i) assinatura de 1/3 dos membros; e ii) encaminhamento para o MP —, tais requisitos devem ser conjugados com o prazo certo e o fato determinado.!

a) Assinatura de 1/3 dos Membros - é possível que haja uma CPI somente da Câmara dos Deputados ou no Senado Federal, ainda, mista, a CPMI. !

A CPI para ser aberta naquela Casa, precisa de 1/3 da assinatura dos membros daquela Casa —, 171 deputados e 27 senadores, respectivamente.!

Se a situação envolver uma CPMI, é preciso de 1/3 das assinaturas dos membros da Câmara + 1/3 de assinaturas do Senado Federal.!

b) Encaminhamento para o MP - o STF em algumas decisões vem se manifestando pela discricionariedade do encaminhamento do relatório final e não das investigações em curso e isso não implica que os documentos sigilosos sejam também encaminhados ao parquet.!

"A Constituição Federal, no § 3o do seu artigo 58, dispõe que as conclusões da CPI, se for o caso„, serão encaminhadas ao Ministério Público para que promova a responsabilidade civil e criminal dos infratores. Ora, somente a comissão poderá decidir se se verifica, ou não, a hipótese do referido encaminhamento das conclusões, o que não implica, necessariamente, que sejam elas acompanhadas dos documentos sigilosos." (MS 23.970-MC, rel. min. Maurício Corrêa, decisão monocrática, julgamento em 29-5- 2001, DJ de 5-6-2001).!

“É preciso esclarecer, porém, que apenas o relatório conclusivo dos trabalhos da CPMI é enviado ao Ministério Público e à Advocacia- Geral da União para que promovam a responsabilidade civil ou criminal por infrações apuradas (art. 37 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados)." (MS 25.707, rel. min. Gilmar Mendes, decisão monocrática, julgamento em 1o-12-2005, DJ de 13-12-2005.)!

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!Para fins de instauração da CPI, não há necessidade de votação do plenário da Casa, os requisitos se bastam.!

E M E N T A: COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO - DIREITO DE OPOSIÇÃO - PRERROGATIVA DAS MINORIAS PARLAMENTARES - EXPRESSÃO DO POSTULADO DEMOCRÁTICO - DIREITO IMPREGNADO DE ESTATURA CONSTITUCIONAL - INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO PARLAMENTAR E COMPOSIÇÃO DA RESPECTIVA CPI - TEMA QUE EXTRAVASA OS LIMITES "INTERNA CORPORIS" DAS CASAS LEGISLATIVAS - VIABILIDADE DO CONTROLE JURISDICIONAL - IMPOSSIBILIDADE DE A MAIORIA PARLAMENTAR FRUSTRAR, NO ÂMBITO DO CONGRESSO NACIONAL, O EXERCÍCIO, PELAS MINORIASLEGISLATIVAS, DO DIREITO CONSTITUCIONAL À INVESTIGAÇÃO PARLAMENTAR (CF, ART. 58, § 3o) - MANDADO DE SEGURANÇA CONCEDIDO. CRIAÇÃO DE COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO: REQUISITOS CONSTITUCIONAIS. -!O Parlamento recebeu dos cidadãos, não só o poder de representação política e a competência para legislar, mas, também, o mandato para fiscalizar os órgãos e agentes do Estado, respeitados, nesse processo de fiscalização, os limites materiais e as exigências formais estabelecidas pela Constituição Federal. -!O direito de investigar - que a Constituição da República atribuiu ao Congresso Nacional e às Casas que o compõem (art. 58, § 3o) - tem, no inquérito parlamentar, o instrumento mais expressivo de concretização desse relevantíssimo encargo constitucional, que traduz atribuição inerente à própria essência da instituição parlamentar. -!A instauração do inquérito parlamentar, para viabilizar-se no âmbito das Casas legislativas, está vinculada, unicamente, à satisfação de três (03) exigências definidas, de modo taxativo, no texto da Carta Política: (1) subscrição do requerimento de constituição da CPI por, no mínimo, 1/3 dos membros da Casa legislativa, (2) indicação de fato determinado a ser objeto de apuração e (3) temporariedade da comissão parlamentar de inquérito.!Preenchidos os requisitos constitucionais (CF, art. 58, § 3o), impõe-se a criação da Comissão Parlamentar de Inquérito, que não depende, por isso mesmo, da vontade aquiescente da maioria legislativa.!Atendidas tais exigências (CF, art. 58, § 3o) cumpre, ao Presidente da Casa legislativa, adotar os procedimentos subsequentes e necessários à efetiva instalação da CPI, não lhe cabendo qualquer apreciação de mérito sobre o objeto da investigação parlamentar, que se revela possível, dado o seu caráter autônomo (RTJ 177/229 - RTJ 180/191-193), ainda que já instaurados, em torno dos mesmos fatos, inquéritos policiais ou processos judiciais.MS 24831 / DF - DISTRITO FEDERAL, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO Julgamento: 22/06/2005!!

Claro que a CPI pode ser instituída no âmbito dos estados e no âmbito municipal, uma vez instituída ela precisa seguir os requisitos do art. 58§ 3º, CRFB e já aconteceu de uma Constituição Estadual prever que a CPI estava condicionada ao crivo da maioria dos membros da respectiva Assembleia Legislativa, depois de atingidas as assinaturas mínimas, 1/3.!

O STF entendeu que esta Constituição Estadual violava de plano o direito das minorias parlamentares, porque os partidos pequenos não conseguem assinaturas de maneira fácil, então, se os pequenos já lutam para conseguir o número das assinaturas, ocorreria um grande problema se as assinaturas necessitassem passar pelo crivo do restante da Casa.!

Então, o STF garantindo o direito das minorias e partindo da premissa que se vive em um Estado pluralista (art. 1º, V, CRFB/88), entendeu que a norma seria inconstitucional.!

O Tribunal, por maioria, julgou procedente pedido formulado em ação direta ajuizada pelo Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores para declarar inconstitucionais o trecho “só será submetido à discussão e votação decorridas 24 horas de sua apresentação, e”, constante do § 1o do art. 34, e o inciso I do art. 170, ambos da XII Consolidação do Regimento Interno da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo que estabelecem, como requisito à criação de Comissão Parlamentar de Inquérito, a aprovação do respectivo requerimento em Plenário (“Art. 34... § 1o - O requerimento propondo a constituição de Comissão Parlamentar de Inquérito só será submetido à discussão e votação decorridas 24 horas de sua apresentação, e deverá indicar, desde logo:...; Art. 170 - Será escrito, dependerá de deliberação do Plenário e sofrerá discussão o requerimento que solicite: I - constituição de Comissão Parlamentar de Inquérito; ”). Inicialmente, rejeitou-se a preliminar de não- conhecimento da ação, suscitada pela Assembleia Legislativa do aludido Estado- membro, no sentido de que os dispositivos impugnados comporiam texto normativo pré- constitucional. Entendeu-se que, embora regras semelhantes aos preceitos contestados tenham sido originalmente veiculadas em Resoluções anteriores ao advento da CF/88, estas foram consolidadas em texto único por ato normativo posterior à vigente Constituição,

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possuindo, assim, autonomia suficiente para ser submetido ao controle concentrado de constitucionalidade. ADI 3619/SP, rel. Min. Eros Grau, 1o.8.2006. (ADI-3619)!

O terceiro (e último) fundamento em que se apoiou a impugnação ao Ato de criação da CPI do tráfego aéreo consiste na afirmação de que o Requerimento subscrito pela minoria parlamentar não indicou a composição numérica desse órgão de investigação legislativa. Embora não se trate de exigência constitucional (MS 24.847/DF, rel. min. Celso de Mello, v.g.), cumpre assinalar que o Ato da Presidência da Câmara dos Deputados expressamente indicou que a CPI em causa será composta de 23 membros titulares e de igual número de suplentes„ (fls. 26), o que significa, portanto, que foi atendida, no caso, até mesmo essa simples prescrição regimental." (MS 26.441- MC, rel. min. Celso de Mello, decisão monocrática, julgamento em 29-3-2007, DJ de 9-4-2007.)!

!PODERES DA CPI: QUEBRA DE SIGILOS BANCÁRIO, FISCAL E TELEFÔNICO!

A Constituição estabelece no art. 58, § 3º uma equiparação de poderes da CPI aos poderes do Judiciário, mas a verdade é que essa equiparação não existe porque a CPI não possui todos os poderes instrutórios do juiz, em nome dos princípios da Separação de Poderes e Reserva Constitucional de Jurisdição, a CPI não age como se fosse julgadora.!

Então, os poderes da CPI, o que ela pode e não pode fazer são fruto da jurisprudência.!

Segundo orientações do STF, a CPI pode decretar a quebra do sigilo de dados bancários (também com base na LC 105), fiscais e telefônicos (é possível a violação dos dados telefônicos, mas não da captação da conversa telefônica em si) —, a interceptarão telefônica depende de lei e só pode ser realizada por ordem judicial.!

Toda decisão da CPI que restrinja direito fundamental precisa ser tomada em função da maioria em nome do Princípio da Colegialidade e, além disso, precisa ser fundamentada.!

“A norma inscrita no art. 58, § 3o, da CF, permite a qualquer Comissão Parlamentar de Inquérito o poder de decretar a quebra do sigilo inerente aos registros bancários, fiscais e telefônicos, desde que o faça em ato adequadamente fundamentado (CF: “Art. 58. ... § 3o - As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.”).!Com base nesse entendimento, o Tribunal concedeu mandado de segurança impetrado por corretora de seguros contra o Presidente da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI/Correios) e o Relator da Subcomissão de Sindicância do IRB Brasil Resseguros S/A, pelo fato de esse órgão de investigação legislativa haver aprovado a “transferência dos sigilos bancário, fiscal e telefônico” da impetrante.!No caso concreto, a CPMI dos Correios, ao motivar a quebra de sigilo, acolhera a alegação feita, em requerimento, de que a impetrante estaria envolvida, direta ou indiretamente, em caso de possível favorecimento a “Brokers”. Salientando-se que os poderes de investigação das Comissões Parlamentares de Inquérito se submetem às mesmas limitações que se aplicam aos órgãos do Poder Judiciário, considerou-se que, na espécie, a quebra determinada se dera mediante fundamentação genérica e insuficiente, em ofensa ao comando contido no art. 93, IX, da CF (“todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade,...”). MS concedido para invalidar o ato impugnado. MS 25668/DF, rel. Min. Celso de Mello, 23.3.2006. (MS-25668).!!

A CPI pode ter como fonte inquérito sigiloso, mas em hipótese alguma pode dar publicidade a tais documentos.!

“Utilização, por CPI, de documentos oriundos de inquérito sigiloso. Possibilidade.‖ (HC 100.341, rel. min. Joaquim Barbosa, julgamento em 4-11-2010, Plenário, DJE de 2- 12-2010.)!!

i) A CPI pode ouvir investigados, testemunhas (pode, inclusive, exigir sua condução coercitiva).!

ii) A CPI pode transportar-se a qualquer localidade do país, se necessário.!

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iii) A CPI pode solicitar auxílio e auditorias do Tribunal de Contas.!

iv) Pode determinar a quebra de sigilo de dados bancários, telefônicos…!

v) É permitido a CPI fazer prisões em flagrante, mas lhe é vedado expedir mandados de prisão.!

vi) Convocação de autoridades. para prestar informações, na forma do art. 50, CRFB/88 !

Art. 50, CRFB/88. A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, ou qualquer de suas Comissões, poderão convocar Ministro de Estado ou quaisquer titulares de órgãos diretamente subordinados à Presidência da República para prestarem, pessoalmente, informações sobre assunto previamente determinado, importando crime de responsabilidade a ausência sem justificação adequada.!

!VEDAÇÕES - PRINCÍPIO DA RESERVA CONSTITUCIONAL DE JURISDIÇÃO!

São muitas as vedações decididas pelo STF com relação à CPI e boa parte das vedações com base no Princípio da Reserva Constitucional de Jurisdição. Toda vez que a Constituição determinar que um ato só pode ser realizado por ordem judicial, a CPI está fora desses atos.!

i) CPI não pode interceptar conversas telefônicas na forma do art. 5º, XII, CRFB/88.!

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:!XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal!!”Comissão Parlamentar de Inquérito. Interceptação telefônica. Sigilo judicial. Segredo de justiça. Quebra. Impossibilidade jurídica. Requisição de cópias das ordens judiciais e dos mandados. Liminar concedida. Admissibilidade de submissão da liminar ao Plenário, pelo Relator, para referendo. Precedentes (MS n. 24.832-MC, MS n. 26.307- MS e MS n. 26.900-MC). Voto vencido. Pode o Relator de mandado de segurança 43 submeter ao Plenário, para efeito de referendo, a liminar que haja deferido. Comissão Parlamentar de Inquérito - CPI. Prova. Interceptação telefônica.!

"Entendimento do STF segundo o qual as CPI'S não podem decretar bloqueios de bens, prisões preventivas e buscas e apreensões de documentos de pessoas físicas ou jurídicas, sem ordem judicial." (MS 23.455, rel. min. Néri da Silveira, julgamento em 24-11-1999, Plenário, DJ de 7-12-2000.)!

Decisão judicial. Sigilo judicial. Segredo de justiça. Quebra. Requisição, às operadoras, de cópias das ordens judiciais e dos mandados de interceptação. Inadmissibilidade. Poder que não tem caráter instrutório ou de investigação. Competência exclusiva do juízo que ordenou o sigilo. Aparência de ofensa a direito líquido e certo. Liminar concedida e referendada. Voto vencido. Inteligência dos arts. 5o, X e LX, e 58, §3o,daCF,art.325doCP,eart. 10,cc.art. 1o da Lei federal n. 9.296/96.!

Comissão Parlamentar de Inquérito não tem poder jurídico de, mediante requisição, a operadoras de telefonia, de cópias de decisão nem de mandado judicial de interceptação telefônica, quebrar sigilo imposto a processo sujeito a segredo de justiça. Este é oponível a Comissão Parlamentar de Inquérito, representando expressiva limitação aos seus poderes constitucionais." (MS 27.483-REF-MC, rel. min. Cezar Peluso, julgamento em 14-8- 2008, Plenário, DJE de 10-10-2008.)!

!ii) A CPI não pode determinar a violação de domicilio com esteio no art. 5º, XII, CRFB/88.!

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:!XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;!!

iii) A CPI não pode determinar a suspensão ou a dissolução das atividades de uma associação com base no 5º, XIX, CRFB/88.!

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iv) A CPI não pode expedir mandado de prisão.!

v) Em nome do poder de cautela reservado ao Judiciário, a CPI não pode expedir decreto de indisponbilidade de bens dos investigados (arresto, sequestro…).!

"Incompetência da Comissão Parlamentar de Inquérito para expedir decreto de indisponibilidade de bens de particular, que não é medida de instrução – a cujo âmbito se restringem os poderes de autoridade judicial a ela conferidos no art. 58, § 3o –, mas de provimento cautelar de eventual sentença futura, que só pode caber ao juiz competente para proferi-la." (MS 23.480, rel. min. Sepúlveda Pertence, julgamento 4-5-2000, Plenário, DJ de 15-9-2000.) No mesmo sentido: MS 23.446, rel. p/ o ac. min. Nelson Jobim, julgamento em 18-8-1999, Plenário, DJ de 9- 11-2007; MS 23.471, rel. min. Octavio Gallotti, julgamento em 10-11-1999, Plenário, DJ de 10- 8-2000.!

vi) A CPI não pode impedir que uma pessoa deixe determinada localidade ou o país.!

vii) CPI não pode investigar magistrado, apenas requisitar sua oitiva enquanto testemunha e não são obrigados a decidir questões funcionais, aliás, sobre os membros do MP, há decisões nesse sentido, os membros do MP podem ser convocados também na qualidade de testemunhas e em nome da autonomia e independência funcional não são obrigados a responder questões relativas ao exercício de suas funções.!

“Configura constrangimento ilegal, com evidente ofensa ao princípio da separação dos Poderes, a convocação de magistrado a fim de que preste depoimento em razão de decisões de conteúdo jurisdicional atinentes ao fato investigado pela Comissão Parlamentar de Inquérito.” (HC 80.539, rel. min. Maurício Corrêa, julgamento em 21-3-2001, Plenário, DJ de 1o-8-2003.

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!PODER EXECUTIVO!!

FORMAS DE GOVERNO!

Pretende indicar de que modo o poder é instituído naquele determinado Estado e como se dá a relação entre governantes e o povo.!

a) Monarquia - a mais antiga. Hoje boa parte das monarquias existentes são monarquias constitucionais e não monarquias absolutistas como no passado e hoje reis e rainhas se curvam ao poder da Constituição.!

Então, é preciso temperar a questão da irresponsabilidade política, porque hoje não há mais governo completamente irresponsável por seus atos.!

b) República - mais nova. É um governo do povo, instituído pelo povo. !

A república é um governo responsável, ou deveria ser, porque os governantes respondem a seu povo.!

A república, forma de governo adotada no Brasil desde 1889 se encontra prevista no texto constitucional como princípio fundamental (art. 1º, caput, CRFB/88), além disso é um princípio sensível do art. 34, VII, a, CRFB/88 e, além de tudo, é uma limitação material implícita ao poder reformador.!

Art. 1º, CF. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:!!Art. 34, CF. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:!VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:!a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;!!

!SISTEMAS DE GOVERNO!

Pretende indicar como se dá a relação entre Executivo e Legislativo.!

a) Parlamentarismo - sistema mais antigo. Há uma dualidade no exercício das funções do executivo: o chefe de Estado (rei ou presidente) exerce as funções externas, internas e internacionais e o chefe de governo (primeiro ministro, aquele realmente administra o Estado), realiza as funções administrativas e só governa enquanto usufruir da confiança do parlamento.!

MONARQUIA REPÚBLICA

Poder emanado de Deus, divino Governo do povo, instituído pelo povo

Vigora a vitaliciedade (o rei governa enquanto poder tiver)

Temporariedade dos mandatos

Poder repassado pela sucessão, hereditariedade Poder repassado pelas eleições periódicas

O governante é irresponsável politicamente por seus atos

O governante é responsável político por seus atos

Há uma personificação do poder político (dinastias) Ausência de personificação do poder político

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O Brasil teve algumas tentativas parlamentaristas no fim do império, mas o sistema de governo que mais vigorou foi o sistema presidencialista.!

b) Presidencialismo - sistema mais novo. O art. 76, CRFB/88 marca o sistema de governo presidencialista, que segundo alguns autores, seria também uma limitação material implícita ao poder reformador, porque o povo confirmou a importância do sistema presidencialista por meio de plebiscito no ano de 1993.!

Art. 76, CF. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos Ministros de Estado.!

!VISÃO GERAL DO PODER EXECUTIVO!

O executivo federal, composto pelo presidente e vice presidente da república, deve ser ocupado por candidatos que atendam aos requisitos impostos no art. 14, § 3º, CRFB/88.!

Art. 14, § 3º, CF.São condições de elegibilidade, na forma da lei:!I - a nacionalidade brasileira;!II - o pleno exercício dos direitos políticos;!III - o alistamento eleitoral;!IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;!V - a filiação partidária; !VI - a idade mínima de:!a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;!b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;!c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;!d) dezoito anos para Vereador.!!

PS! Não há candidatura autônoma de modo que a eleição do presidente importará na eleição do vice; também não se admite candidatura avulsa, é preciso filiação partidária.!

i) Cargos ocupados apenas por brasileiros natos!

ii) Idade Mínima da posse de 35 anos!

O vice é o único sucessor do presidente, sendo os demais meros substitutos, conforme art. 80, CRFB/88: 1) Vice-presidente; 2) Presidente da Câmara; 3) Presidente do Senado; e 4) Presidente do STF.!

O presidente exercerá um mandato de quatro anos, admitida uma recondução na forma do art. 14, § 5º, CRFB/88 e se decidir concorrer a outro cargo político precisa se desincompatibilizar como ordena o art. 14, § 6º, CRFB/88 e toda a sua família fica impedida a concorrer qualquer cargo eletivo, segundo o 14, § 7º, CRFB/88, salvo se já candidatos a cargos eletivos e candidatos a reeleição.!

Art. 14, CF.!§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subseqüente.!§ 6º - Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito.!§ 7º - São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.!!!!

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Sistema Eleitoral!

O sistema eleitoral responsável pela eleição da chefia do Executivo Federal é o sistema majoritário de maioria absoluta, ou de dois turnos —, o art. 97, CRFB/88 diz que se o primeiro colocado não receber a maioria dos votos, não computados os brancos e nulos, ele concorrerá no segundo turno, com quem obteve a segunda melhor colocação.!

Art. 97, CF. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público.!

O sistema eleitoral responsável pelas eleições do Presidente da República também é o mesmo sistema utilizado para a eleição de governadores (estados e distrito federal) e quanto a prefeitos, o art. 29, II, CRFB/88 ensina que os prefeitos de municípios com mais de 200.000 eleitores também serão eleitos pelo sistema de dois turnos, todavia, municípios com 200.000 eleitores ou menos terão seus prefeitos eleitos pelo sistema majoritário simples ou comum (ganha quem recebeu maior número de votos, sem importar a diferença entre colocados) e em caso de empate, assume o governo municipal o mais velho, porque a Constituição faz a relação entre o amadurecimento e a sabedoria.!

Art. 29, CF. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos:!

II - eleição do Prefeito e do Vice-Prefeito realizada no primeiro domingo de outubro do ano anterior ao término do mandato dos que devam suceder, aplicadas as regras do art. 77, no caso de Municípios com mais de duzentos mil eleitores;!

!Vacância!

De acordo com o art. 81, CRFB/88 as eleições são diretas, mas há possibilidade de eleições indiretas no caso de vacância de Presidente e Vice-Presidente nos dois anos finais do mandato eletivo, nesse caso, serão convocadas em trinta dias da vacância, havendo a votação pelos membros do Congresso Nacional (funciona como colégio eleitoral) na forma do art. 81, § 1º, CRFB/88.!

Art. 81, CF. Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga.!§ 1º - Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei.!§ 2º - Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar o período de seus antecessores.!!

Porém, se a vacância de Presidente e Vice-Presidente ocorrer nos dois anos iniciais do governo, ocorrerão eleições diretas após noventa dias de vacância da última vaga.!

Nas duas hipóteses narradas, quem for eleito para ocupar esse mandato tampão, vai apenas cumprir o que restou do mandato de seus antecessores.!

PS! O STF já decidiu que o art. 81, § 1º, CRFB/88 não é de observância obrigatória no âmbito dos estados.!

Perda do Cargo (Art. 78, parágrafo único e art. 83, CRFB/88)!

Art. 78, parágrafo único, CF. Se, decorridos dez dias da data fixada para a posse, o Presidente ou o Vice-Presidente, salvo motivo de força maior, não tiver assumido o cargo, este será declarado vago.!

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É algo difícil de ocorrer, a força maior até ocorre, mas a força maior determina que nova data para a posse seja marcada —, é como se o presidente e o vice concorressem apenas para testar popularidade, ganham as eleições e não querem tomar posse.!

Não faz muito sentido, mas ocorre tendo em vista que o cargo de Presidente da República é o cargo mais elevado do Estado Brasileiro.!

Art. 83, CF. O Presidente e o Vice-Presidente da República não poderão, sem licença do Congresso Nacional, ausentar-se do País por período superior a quinze dias, sob pena de perda do cargo.!

Para que haja perda do cargo com base nesse dispositivo, há três requisitos que precisam ser satisfeitos: i) a viagem para fora do Brasil; ii) período superior a quinze dias; iii) sem licença do Congresso Nacional. !

O STF, em inúmeras decisões já confirmou que esse art. 83 é de observância obrigatória nos estados e municípios. !

Então, muitas constituições estaduais, antes de o STF decidir que a norma era de observância obrigatória, previam que se o governador deixasse o estado por um dia sem licença da Assembleia Legislativa, ele perderia o cargo.!

Então, para evitar esse tipo de decisão e norma constitucional no plano estadual, o STF estabeleceu que do mesmo modo que o Presidente e o Vice só podem perder o cargo se viajarem para fora por mais de quinze dias sem a respectiva autorização, no plano estadual os governadores só podem perder o cargo se viajarem sem licença da Assembleia Legislativa para fora do estado por mais de quinze dias e no âmbito municipal, a mesma regra (limitada ao município).!

Então, o art. 83, em nome da Separação dos Poderes é uma cláusula de observância obrigatória.!

!IMUNIDADES E RESPONSABILIDADES!

Sistema de imunidades e responsabilidades reservado pela Constituição ao Chefe do Executivo.!

Do mesmo modo que as imunidades dos parlamentares não podem ser objeto de renúncia ou extintas por emenda constitucional, sob pena de ofensa ao Princípio da Separação dos Poderes (art. 60, § 4º, III, CRFB/88), aqui vale a mesma regra para presidente, governador e prefeito.!

Art. 60, § 4º, CF. Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:!III - a separação dos Poderes;!!

a) Imunidades Formais - a Constituição não prevê expressamente imunidades materiais para a chefia do executivo, mas estabelece imunidades formais quanto à prisão e quanto ao processo.!

i) Prisão (art. 86 § 3º, CRFB/88) - com relação à prisão criminal, é possível dizer que a regra geral é a de que o Presidente da República não poderá ser preso, ou seja, inexiste prisão criminal que possa levar o Presidente ao cárcere.!

O Presidente não pode ser preso nem por flagrante de crime inafiançável, a Constituição no art. 86, § 3º, CRFB/88 diz que enquanto não sobrevier sentença condenatória, inexistirá a prisão, nesse caso, haverá prisão definitiva.!

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Art. 86, § 3º, CF. Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações comuns, o Presidente da República não estará sujeito a prisão.!

Sobre a prisão civil, Flávia Bahia entende que não há óbice algum, porque a Constituição Federal tratou apenas da prisão civil no âmbito criminal e se não há um tratamento diferenciado sobre a prisão civil geral, a estudiosa entende que não há óbice para que esta seja determinada.!

ii) Processo (art. 86, caput, CRFB/88) - o texto prevê que compete à Câmara dos Deputados realizar o juízo de admissibilidade das ações contra o Presidente da República, somente pelo voto favorável de 2/3 da Câmara, o STF poderá receber uma denúncia ou queixa-crime (crime comum) contra o Presidente e o Senado Federal, se autorizado pela Câmara, deverá iniciar o impeachment do Presidente e seu julgamento por crime de responsabilidade.!

Art. 86, CF. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade.!

Na situação, a Câmara funciona como um filtro porque é muito fácil apresentar uma denúncia contra uma pessoa e em se tratando do Presidente, não faz sentido que a acusação logo o leve a julgamento (crime comum ou de responsabilidade) e a tramitação depende do voto favorável de, no mínimo, de 2/3 ou 342 deputados.!

O STF entende que o devido processo legal (ampla defesa e contraditório) deve ser respeitado não apenas na fase processual perante o STF e o Senado, mas também devem ser observados na fase procedimental, durante o juízo de admissibilidade das acusações que ficam a cargo da Câmara dos Deputados.!

A análise sobre as acusações contra o Presidente é uma análise discricionária da Câmara e o STF entendeu que não cabe recurso da decisão que não aceita uma denúncia contra o Presidente, seja por crime comum ou de responsabilidade —, não há previsão constitucional ou regimental nesse sentido.!

b) Prerrogativas de Foro Funcional (art. 86, caput, CRFB/88).!

Art. 86, CF. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade.!

i) Crime Comum - quem julgará o Presidente da República por crime comum, caso aceita a acusação pela Câmara de Deputados será o STF. São crimes comuns os previstos no Código Penal, na Lei de Contravenções e Crimes Eleitorais.!

Ainda que aceita a acusação contra o Presidente da República por crime comum pela Câmara dos Deputados, o STF fará um juízo técnico-jurídico para decidir se irá instaurar o processo criminal contra o Presidente.!

ii) Crime de Responsabilidade - crimes de responsabilidade estão previstos no art. 85, CRFB/88 e lei 1079/50, são, na verdade, infrações político administrativas que, caso cometidas pelo Presidente, poderão levá-lo a julgamento perante o Senado. Os crimes de responsabilidade estão sob o comando do Senado Federal, de modo que, caso aceita a acusação contra o Presidente da República, o Senado Federal deverá se investir na qualidade de Tribunal Político de julgamento de Presidente, ou seja, o entendimento

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majoritário é que não cabe ao Senado decidir se vai julgar o Presidente ou não (não há discricionariedade no recebimento da acusação).!

Art. 85, CF. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra:!I - a existência da União;!II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação;!III - o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;!IV - a segurança interna do País;!V - a probidade na administração;!VI - a lei orçamentária;!VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais.!Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial, que estabelecerá as normas de processo e julgamento.!!

Segundo a súmula 722, STF legislar sobre crimes de responsabilidade depende do comando da União.!

S. 722, STF. São da competência legislativa da União a definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento.!!“Oferecimento de denúncia por qualquer cidadão imputando crime de responsabilidade ao presidente da República (...). Impossibilidade de interposição de recurso contra decisão que negou seguimento à denúncia. Ausência de previsão legal (Lei 1.079/1950). A interpretação e a aplicação do Regimento Interno da Câmara dos Deputados constituem matéria interna corporis, insuscetível de apreciação pelo Poder Judiciário.” (MS 26.062-AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 10-3- 2008, Plenário, DJE de 4-4-2008.)!

Quem oferece uma acusação por crime de responsabilidade contra o Presidente da República na Câmara dos Deputados é o cidadão, aquele que está no gozo de seus direitos políticos.!

c) Impeachment (art. 52, parágrafo único, CRFB/88) - o julgamento do Presidente da República perante o Senado Federal por crime de responsabilidade é o impeachment, ou seja, o processo de impedimento.!

Art. 52, parágrafo único, CF. Nos casos previstos nos incisos I e II, funcionará como Presidente o do Supremo Tribunal Federal, limitando-se a condenação, que somente será proferida por dois terços dos votos do Senado Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis.!

O art. 52, parágrafo único, CRFB/88 traz algumas regras acerca do processo de impedimento do Presidente:!

i) Presidência do Julgamento - quem vai presidir o julgamento por crime de responsabilidade no Senado Federal é o presidente do STF, isso porque o Presidente do Senado vai se juntar aos demais senadores para julgador o Presidente;!

ii) Condenação - a condenação do Presidente da República dependerá do voto favorável de, pelo menos, 2/3 dos membros do Senado Federal (54 Senadores) e a condenação é dupla, ou seja: 1) perda do cargo; somada à 2) inabilitarão ao exercício que qualquer cargo, emprego ou função pública por oito anos.!

O STF já decidiu que a decisão do Senado Federal no processo de impedimento do Presidente da República é uma decisão irrecorrível, então, o STF não funciona como órgão de revisão. No plano do Senado, como já dito, a ampla defesa deve ser respeitada em todas as suas nuances.!

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Durante o julgamento de impeachment, Collor acreditava que a Câmara dos Deputados não iria receber as acusações, mas ela o fez, então, durante o julgamento no Senado Federal ele renunciou e impetrou MS para dizer que não mais era Presidente, de modo que a ação perderia seu objeto —, a tentativa foi clara de preservar a elegibilidade, porque a condenação era iminente e o STF denegou, ao argumento de que renúncia oferecida após instaurado o julgamento no Senado, não tem por condão afastar o julgamento, até porque as sanções do impeachment são cumulativas: perde-se o cargo e há a inelegibilidade por oito anos.!

O art. 86, §§ 1º e 2º prevêem que no momento em que o Senado Federal recebe a acusação sobre o Presidente, ele ficará suspenso do seu cargo, mas se em 180 dias não houver decisão final, ele retoma suas funções sem prejuízo do regular prosseguimento do feito.!

Art. 86, CF.!§ 1º - O Presidente ficará suspenso de suas funções:!I - nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime pelo Supremo Tribunal Federal;!II - nos crimes de responsabilidade, após a instauração do processo pelo Senado Federal.!§ 2º - Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julgamento não estiver concluído, cessará o afastamento do Presidente, sem prejuízo do regular prosseguimento do processo.!!

O MP é o responsável por oferecer a denúncia contra o Presidente, no caso de ação penal pública; em sendo o crime de responsabilidade, cumpre ao cidadão (eleitor em gozo de seus direitos políticos) oferecer a denúncia ao Presidente na Câmara, conforme prevê o art. 14 da L. 1079/50.!

Art. 14, L. 1079/50. É permitido a qualquer cidadão denunciar o Presidente da República ou Ministro de Estado, por crime de responsabilidade, perante a Câmara dos Deputados.!

d) Cláusulas de Irresponsabilidade Penal Relativa (Art. 86, caput + § 4º, CRFB/88) - essa cláusula de redação abstrata já foi interpretada pelo STF,!

Art. 86, CF. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade.!§ 4º. O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções.!!

Primeiramente é preciso destacar que se trata de uma cláusula penal. É possível dizer que com relação a crimes, o Presidente da República só responderá aos crimes associados ao exercício de suas funções.!

Se o Presidente comete um crime na qualidade de cidadão comum, antes da diplomação, o processo em curso não será encaminhado da justiça comum para o STF, porque o crime cometido pelo cidadão comum em nada tem haver com o exercício das funções presidenciais —, o processo ficará suspenso, a prescrição suspensa, até o final do mandato.!

E se o Presidente cometer um crime durante o mandato e esse crime em nada se relacionar com o exercício de suas funções (ex: lesão corporal contra amigo), o STF não tem competência para julgar o Presidente nessa situação porque o art. 86 § 4º, CRFB/88 diz que o julgamento criminal perante o STF está relacionado ao exercício das funções presidenciais.!

O STF não julga o Presidente da República por crimes cometidos antes da diplomação, tampouco durante o mandato, mas sem relação com o exercício das funções presidenciais. !

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Assim, o STF só julgará o Presidente por crimes comuns, desde que tais crimes estejam relacionados ao exercício das funções presidenciais (ex: crimes contra a administração pública) e findo o mandato, o processo segue para a justiça comum, caso tenha se iniciado no STF.!

e) Imunidades de Governadores e Prefeitos - o STF na interpretação das imunidades de governadores e prefeitos deixou claro em algumas oportunidades (ADIN 1022 e ADIN 978)!

O STF na interpretação das imunidades de governadores e prefeitos, deixou claro em algumas oportunidades (ADINs 1022 e 978) que nem todas as imunidades previstas na Constituição para o cargo de Presidente da República se estendem para o cargo de governadores e prefeitos.!

A Constituição economizou nas prerrogativas para os chefes de governo estadual e municipal, então, muitas situações foram levadas ao STF e a Corte, com base em dois argumentos, vem restringindo as imunidades de governadores e prefeitos: i) o Princípio Republicano que exige responsabilidade dos governantes, sendo esta a regra, então não cabe ao intérprete da Constituição exagerar na extensão das imunidades para autoridades que não foram beneficiados de acordo com a Constituição Federal; ii) Presidente da República é a única autoridade no Brasil que acumula funções de Chefe de Estado (representa o país nas relações internacionais) e Chefe de Governo (no âmbito interno governa a administração pública), governadores e prefeitos são, apenas, Chefes de Governo estadual e municipal, respectivamente –, então, esse é mais um motivo para justificar a impossibilidade de se estender todas as cláusulas de irresponsabilidade e imunidade não previstas na Constituição Federal.!

i) Governadores!

1. Imunidades Formais!

• Prisão (art. 86 §3º, CRFB/88) – o STF entendeu em inúmeras decisões que a imunidade referente à prisão é exclusiva do cargo de Presidente da República, tendo em vista o Princípio Republicano que determina que os governantes sejam responsabilizados por seus atos, o art. 86 §3º da Constituição não se aplica a governadores, que podem ser presos como qualquer pessoa comum e não apenas após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.!

Art. 86, §3º, CF. Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações comuns, o Presidente da República não estará sujeito a prisão.!

• Processo - (art. 86, caput, CRFB/88) – pode haver juízo de admissibilidade na Assembleia Legislativa para verificar processos que vão ser tramitados contra o governador, segundo o STF, embora essa não seja norma de observância obrigatória, é uma faculdade.!

Art. 86, CF. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade.!

Todavia, uma vez prevista tal cláusula, o quórum de tramitação do feito deve reproduzir o quanto estipulado na Constituição Federal, ou seja, 2/3 de votos dos membros do órgão legislativo.!

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A Corte, no julgamento de cautelar na ADI 1.628-SC, já adotou posição quanto à aplicabilidade do quorum de 2/3 previsto na CF como o a ser observado, pela Assembleia Legislativa, na deliberação sobre a procedência da acusação contra o governador do Estado." (ADI 1.634-MC, Rel. Min. Néri da Silveira, julgamento em 17-9-1997, Plenário, DJ de 8-9- 2000.)!

O juízo de admissibilidade das ações contra o governador pode ser instituído no plano estadual, a Assembleia Legislativa pode ter esse papel, mas é preciso que o quórum de 2/3 seja cumprido.!

2. Prerrogativa de Foro Funcional !

• Crime comum (art. 105, I, a, CRFB/88) – quando acusados de ter cometido crime comum, os governadores são julgados pelo STJ.!

Art. 105, CF. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:!I - processar e julgar, originariamente:!a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais;!

• Crime de Responsabilidade (art. 78 §3º da Lei Federal 1079/50) – o governador, quando cometer crime de responsabilidade, deverá ser julgado por um Tribunal Especial formado por cinco membros do Legislativo e cinco desembargadores do Tribunal de Justiça.!

Art. 78, § 3º, L. 1079/50. Nos Estados, onde as Constituições não determinarem o processo nos crimes de responsabilidade dos Governadores, aplicar-se-á o disposto nesta lei, devendo, porém, o julgamento ser proferido por um tribunal composto de cinco membros do Legislativo e de cinco desembargadores, sob a presidência do Presidente do Tribunal de Justiça local, que terá direito de voto no caso de empate. A escolha desse Tribunal será feita - a dos membros do legislativo, mediante eleição pela Assembléia: a dos desembargadores, mediante sorteio.!

Flávia acha o tema controvertido e acha pouco provável uma questão de prova sobre o assunto; mas muitos doutrinadores e o STF entendem que se aplica o art. 78 §3º da Lei Federal 1079/50.!

3. Cláusula de Irresponsabilidade Penal Relativa (art. 86 §4º, CRFB/88) – cláusula exclusiva do Chefe do Executivo Federal e governadores são responsabilizados por crimes comuns ante o STJ, estejam estes crimes (ou não), relacionados ao exercício das atividades funcionais.!

Art. 86 § 4º, CF. O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções.!

ii) Prefeitos!

1. Imunidades Formais!

• Prisão (art. 86 §3º, CRFB/88) – não existe, não há previsão de extensão de imunidade formal quanto à prisão aos prefeitos e o art. 86 §3º, CRFB/88, é uma cláusula reservada ao Presidente da República.!

Art. 86, §3º, CF. Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações comuns, o Presidente da República não estará sujeito a prisão.!

• Processo - (art. 86, caput, CRFB/88) – o STF entende que o art. 86, caput, pode ser estendido aos prefeitos, mas não é uma norma de observância obrigatória no plano municipal.!

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TYCIA CARDOSO OAB - SEGUNDA FASE

Art. 86, CF. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade.!

Todavia, uma vez prevista tal cláusula, o quórum de tramitação do feito deve reproduzir o quanto estipulado na Constituição Federal, ou seja, 2/3 de votos dos membros do órgão legislativo municipal.!

2. Prerrogativa de Foro Funcional !

• Crime comum (art. 29, X, CRFB/88) – em casos de infração penal comum, os prefeitos serão julgados pelo Tribunal de Justiça. !

Art. 29, CF. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos:!X - julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça; !!

A súmula 702, STF prevê que se o crime for federal, o prefeito será julgado pelo TRF e não pelo TJ.!

S. 702, STF. A competência do Tribunal de Justiça para julgar Prefeitos restringe-se aos crimes de competência da Justiça comum estadual; nos demais casos, a competência originária caberá ao respectivo tribunal de segundo grau.!

! Se o crime for eleitoral, o julgamento é feito pelo TRE.!

• Crime de Responsabilidade - há uma posição do STF no sentido de que a infração político administrativa será julgada pela Câmara dos Vereadores (Câmara Municipal).!

3. Cláusula de Irresponsabilidade Penal Relativa (art. 86 §4º, CRFB/88) – cláusula exclusiva do Chefe do Executivo Federal e prefeitos são responsabilizados por crimes comuns ante o TJ, estejam estes crimes (ou não), relacionados ao exercício das atividades funcionais.!

Art. 86 § 4º, CF. O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções.!

!JURISPRUDÊNCIA DO STF!

O Estado-membro dispõe de competência para disciplinar o processo de escolha, por sua Assembleia Legislativa, do Governador e do Vice-Governador do Estado, nas hipóteses em que se verificar a dupla vacância desses cargos nos últimos dois anos do período governamental. Essa competência legislativa do Estado-membro decorre da capacidade de autogoverno que lhe outorgou a própria Constituição da República. As condições de elegibilidade (CF, art. 14, § 4o a § 8o) e as hipóteses de inelegibilidade (CF, art. 14, § 4o a § 8o), inclusive aquelas decorrentes de legislação complementar (CF, art. 14, § 9o), aplicam-se de pleno direito, independentemente de sua expressa previsão na lei local, à eleição indireta para Governador e Vice-Governador do Estado, realizada pela Assembleia Legislativa em caso de dupla vacância desses cargos executivos no último biênio do período de governo.” (ADI 1.057-MC, Rel. Min. Celso de Mello, Julgamento em 20-4- 1994, Plenário, DJ de 6-4-2001.) No mesmo sentido:Rcl 7.759-MC, Rel. Min. Celso de Mello, decisão monocrática, julgamento em 26- 2-2009, DJE de 4-3-2009.!

Flávia ressalta que já havia dito que o art. 81, §1º, CRFB/88 não é de observância obrigatória no plano dos estados.!

!S. 722, STF. São da competência legislativa da União a definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento.!

A súmula 722, STF diz que é da competência legislativa da União a definição dos crimes de responsabilidade e o respectivo estabelecimento dos processos de julgamento.!

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!“A definição das condutas típicas configuradoras do crime de responsabilidade e o estabelecimento de regras que disciplinem o processo e julgamento das agentes políticos federais, estaduais ou municipais envolvidos são da competência legislativa privativa da União e devem ser tratados em lei nacional especial (art. 85 da CR).” (ADI 2.220, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 16-11-2011, Plenário, DJE de 7-12-2011.)!

É uma decisão que respalda a súmula 722 e diz que crime de responsabilidade será objeto de lei federal.!

"Orientação desta Corte, no que concerne ao art. 86, § 3o e § 4o, da Constituição, na ADI 1.028, de referência à imunidade à prisão cautelar como prerrogativa exclusiva do presidente da República, insuscetível de estender-se aos governadores dos Estados, que institucionalmente, não a possuem." (ADI 1.634-MC, Rel. Min. Néri da Silveira, julgamento em 17-9-1997, Plenário, DJ de 8-9- 2000.)!

Essas imunidades são prerrogativas exclusiva do Presidente da República e não podem ser estendidas aos governadores dos estados que não a possuem.!

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!PROCESSO LEGISLATIVO!!

LEIS ORDINÁRIAS E LEIS COMPLEMENTARES!!!ATOS DE ELABORAÇÃO!

Os atos de elaboração, tanto da lei ordinária como da lei complementar são muito parecidos e se distanciam, apenas, no que tange ao quórum de aprovação, porque a LC é aprovada com quórum de maioria absoluta e a LO com quórum de maioria simples ou relativa.!

!INICIATIVA!

A iniciativa geral encontra-se no art. 61, caput da CRFB/88. Vale lembrar que no processo de elaboração das Emendas Constitucionais também há previsão de iniciativa concorrente (art. 60, I, II e III da CRFB/88).!

Art. 61, CF. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao SupremoTribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição.!

Art. 60, CF. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:!I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal;!II - do Presidente da República;!III - de mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.!!

O entendimento majoritário sobre essas duas normas, na doutrina, no STF e no STJ é de que inexiste hierarquia entre essas duas normas, até porque ambas retiram fundamento de validade da Constituição Federal e não se subordinam umas as outras.!

Ambas as leis (ordinárias e complementares) são normas primárias, mas que se diferem quanto a dois aspetos: a) matéria complementar, para que seja regida por Lei Complemantar e quando não há distinção, a Constituição fala somente em lei; b) quorum - lei complementar é aprovada com quórum de maioria absoluta, segundo art. 69, CRFB/88) e lei ordinária é aprovada com quórum de maioria simples (relativa), segundo art. 47, CRFB/88.!

Art. 69, CF. As leis complementares serão aprovadas por maioria absoluta.!

Art. 47, CF. Salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações de cada Casa e de suas Comissões serão tomadas por maioria dos votos, presente a maioria absoluta de seus membros.!

Manoel Gonçalves Ferreira Filho ainda destaca que como a Constituição reservou matérias específicas para a lei complementar e como seu quórum é um quórum elevado de aprovação e pela disposição topográfica no art. 59, CRFB/88, para o autor, haveria uma hierarquia formal –, essa, contudo, não é a posição dominante.!

Art. 59, CF. O processo legislativo compreende a elaboração de:!I - emendas à Constituição;!II - leis complementares;!III - leis ordinárias;!IV - leis delegadas;!V - medidas provisórias;!VI - decretos legislativos;!

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VII - resoluções.!Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração e consolidação das leis.!!

Não há previsão de iniciativa conjunta, seria inviável a Constituição determinar que duas autoridades, obrigatoriamente, assinassem um projeto de lei —, em geral, a iniciativa é concorrente porque se permite que qualquer dos legitimados em conjunto ou separadamente possa deflagrar o processo legislativo.!!a) Iniciativa Geral (Concorrente) - a iniciativa geral encontra-se no art. 61, caput da CRFB/88

e estabelece que a iniciativa das LC ou LC qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos.!

É preciso inicialmente verificar se a matéria foi reservada a alguma autoridade específica, são muitas matérias de iniciativa exclusiva do Presidente da República, há projetos de iniciativa dos Tribunais, do STF... O que significa que a iniciativa geral é residual, se a matéria não estiver reservada para um autoridade ou órgão específico, aí valerá a iniciativa geral.!

Art. 61, CF. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição. !

Vale lembrar que no processo de elaboração das Emendas Constitucionais também há previsão de iniciativa concorrente ou geral, extraída, do .art. 60, I, II e III da CRFB/88 –, , esses são os únicos legitimados para apresentar a PEC – Presidente da República; um terço de uma das casas do Congresso; ou mais da metade das Assembleias Legislativas –, porque o rol é taxativo.!

Art. 60, CF. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:!I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal;!II - do Presidente da República;!III - de mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros!!A análise dos autos evidencia que o acórdão mencionado diverge da diretriz jurisprudencial que esta Suprema Corte firmou na matéria em referência. Com efeito, não mais assiste, ao chefe do Poder Executivo, a prerrogativa constitucional de fazer instaurar, com exclusividade, em matéria tributária, o concernente processo legislativo. Esse entendimento – que encontra apoio na jurisprudência que o STF firmou no tema ora em análise (RTJ 133/1044 – RTJ 176/1066-1067) !

consagra a orientação de que, sob a égide da Constituição republicana de 1988, também o membro do Poder Legislativo dispõe de legitimidade ativa para iniciar o processo de formação das leis, quando se tratar de matéria de índole tributária, não mais subsistindo, em consequência, a restrição que prevaleceu ao longo da Carta Federal de 1969 (art. 57, I) (...).‖ (RE 328.896, Rel. Min. Celso de Mello, decisão monocrática, julgamento em 9-10- 2009, DJE de 5-11-2009.) No mesmo sentido: ADI 352-MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento 29-8-1990, Plenário, DJE de 8-3-1991!

Matéria tributária, em geral, é matéria de iniciativa concorrente ou geral. Há uma confusão com relação à matéria tributária ser de iniciativa privativa do Presidente da República por força do art. 61, §1º, II, CRFB/88.!

Art. 61, § 1º, CF. São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:!II - disponham sobre:!b) organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária, serviços públicos e pessoal da administração dos Territórios;!

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O texto constitucional nesse art. 61, §1º, II, b diz claramente que a matéria dos territórios é privativa do Presidente da República, mas matéria tributária da União, não, é uma matéria concorrente e nela se aplica o art. 61, caput, CRFB/88.!

Art. 61, CF. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição.!

"O constituinte estadual não pode estabelecer hipóteses nas quais seja vedada a apresentação de projeto de lei pelo chefe do Executivo sem que isso represente ofensa à harmonia entre os Poderes." (ADI 572, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 28-6-2006, Plenário, DJ de 9-2-2007.) !

A reserva de lei de iniciativa do Chefe do Executivo, prevista no art. 61, § 1o, II, b, da Constituição somente se aplica aos Territórios federais.‖ (ADI 2.447, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 4-3-2009, Plenário, DJE de 4-12-2009).!

Processo legislativo estadual e municipal é guiado pelo processo legislativo federal, a regra da simetria se aplica em boa parte das disposições relacionadas ao processo legislativo. Então, se no plano federal a matéria é de iniciativa privativa do Presidente, no âmbito estadual será do governador e no plano municipal, do prefeito.!

Outra observação: se no plano federal o Presidente é legitimado para deflagrar o processo legislativo, não pode jamais a Constituição Estadual excluir o governador da possibilidade de apresentar projetos de lei –, isso viola a simetria e a harmonia entre os poderes.!

Processo legislativo dos Estados-membros: absorção compulsória das linhas básicas do modelo constitucional federal entre elas, as decorrentes das normas de reserva de iniciativa das leis, dada a implicação com o princípio fundamental da separação e independência dos poderes: jurisprudência consolidada do Supremo Tribunal.‖ (ADI 637, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 25-8-2004, Plenário, DJ de 1º-10-2004.) !!

O art. 61 §1º, da Constituição é de observância obrigatória no plano dos estados e municípios, dada a implicação como princípio fundamentação da Separação e Independência dos Poderes.!

Art. 61, § 1º, CF. São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:!I - fixem ou modifiquem os efetivos das Forças Armadas;!II - disponham sobre:!a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta e autárquica ou aumento de sua remuneração;!b) organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária, serviços públicos e pessoal da administração dos Territórios;!c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria;!d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União, bem como normas gerais para a organização do Ministério Público e da Defensoria Pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios;!e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública, observado o disposto no art. 84, VI; !f) militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, provimento de cargos, promoções, estabilidade, remuneração, reforma e transferência para a reserva.!

"A atribuição, exclusivamente ao chefe do Poder Executivo estadual, da iniciativa do projeto de Lei Orgânica do Ministério Público, por sua vez, configura violação ao art.128, § 5º, da CF, que faculta tal prerrogativa aos procuradores-gerais de Justiça." (ADI 852, Rel. Min. Ilmar Galvão, julgamento em 28-8-2002, Plenário, DJ de 18-10-2002.) !!

O art. 61 §1º, II, d, da Constituição entra em suposto choque com o art. 128 §5º, CRFB/88. Quando se faz a leitura do artigo 128 encontra que projeto sobre a organização do MP deve ser apresentado pelo respectivo Procurador Geral da instituição e o STF entendeu que a iniciativa não é privativa do Presidente ou tampouco privativa do Procurador Geral, a iniciativa é concorrente entre eles (art. 61, §1º, II, d + 128 §5º, CRFB/88).!

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Art. 61, § 1º, CF. São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:!II - disponham sobre:!d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União, bem como normas gerais para a organização do Ministério Público e da Defensoria Pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios;!

Art. 182, § 5º, CF. Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público, observadas, relativamente a seus membros: !

"A atribuição, exclusivamente ao chefe do Poder Executivo estadual, da iniciativa do projeto de Lei Orgânica do Ministério Público, por sua vez, configura violação ao art.128, § 5o, da CF, que faculta tal prerrogativa aos procuradores- gerais de Justiça." (ADI 852, Rel. Min. Ilmar Galvão, julgamento em 28-8-2002, Plenário, DJ de 18-10-2002.)!!

b) Iniciativa Popular (L. 9709/98) - além da iniciativa concorrente ou geral, existe a iniciativa popular sobre matérias que não são reservadas a autoridades específicas, o povo pode apresentar projetos de leis populares.!

A apresentação de projetos de leis populares não é simples, porque o art. 61, § 2º, CRFB/88 traz requisitos duros: o projeto de lei popular deve ser subscrito por, pelo menos, 1% do eleitorado nacional dividido em pelo menos cinco estados e o número de eleitores em cada estado não deve ser menor que 0,3% do eleitorado local.!

Art. 61 § 2º, CF. A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles.!

Já o art. 13 da Lei 9709/98 diz:!

Art. 13, L 9709/98. A iniciativa popular consiste na apresentação de projeto de lei à Câmara dos Deputados, subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles.!§ 1º O projeto de lei de iniciativa popular deverá circunscrever-se a um só assunto.!§ 2º O projeto de lei de iniciativa popular não poderá ser rejeitado por vício de forma, cabendo à Câmara dos Deputados, por seu órgão competente, providenciar a correção de eventuais impropriedades de técnica legislativa ou de redação.!!

Realmente não faz sentido que o projeto oferecido pelo povo (o que já não é muito comum diante dos requisitos duríssimos para sua apresentação) fosse rejeitado por vício de forma.!

O Regimento Interno da Câmara dos Deputados também discorre sobre a iniciativa popular de leis, em seu art. 252, e estabelece outras condições dentre as quais pode-se destacar:!

Art. 252, RICD. A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um centésimo do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três milésimos dos eleitores de cada um deles, obedecidas as seguintes condições:!I - a assinatura de cada eleitor deverá ser acompanhada de seu nome completo e legível, endereço e dados identificadores de seu título eleitoral;!II - as listas de assinatura serão organizadas por Município e por Estado, Território e Distrito Federal, em formulário padronizado pela Mesa da Câmara;!III - será lícito a entidade da sociedade civil patrocinar a apresentação de projeto de lei de iniciativa popular, responsabilizando-se inclusive pela coleta das assinaturas;!IV - o projeto será instruído com documento hábil da Justiça Eleitoral quanto ao contingente de eleitores alistados em cada unidade da Federação, aceitando-se, para esse fim, os dados referentes ao ano anterior, se não disponíveis outros mais recentes;!V - o projeto será protocolizado perante a Secretaria-Geral da Mesa, que verificará se foram cumpridas as exigências constitucionais para sua apresentação;!VI - o projeto de lei de iniciativa popular terá a mesma tramitação dos demais, integrando a numeração geral das proposições;!VII - nas Comissões ou em Plenário, transformado em Comissão Geral, poderá usar da palavra para discutir o projeto de lei, pelo prazo de vinte minutos, o primeiro signatário, ou quem este tiver indicado quando da apresentação do projeto;!

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VIII - cada projeto de lei deverá circunscrever-se a um único assunto, podendo, caso contrário, ser desdobrado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania em proposições autônomas, para tramitação em separado;!IX - não se rejeitará, liminarmente, projeto de lei de iniciativa popular por vícios de linguagem, lapsos ou imperfeições de técnica legislativa, incumbindo à Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania escoimá-lo dos vícios formais para sua regular tramitação;!X - a Mesa designará Deputado para exercer, em relação ao projeto de lei de iniciativa popular, os poderes ou atribuições conferidos por este Regimento ao Autor de proposição, devendo a escolha recair sobre quem tenha sido, com a sua anuência, previamente indicado com essa finalidade pelo primeiro signatário do projeto.!!

1. a assinatura de cada eleitor deve ser acompanhada de seu nome completo e legível, endereço e dados identificadores de seu título eleitoral;!

2. as listas de assinaturas devem ser organizadas por Município e por Estado, Território e Distrito Federal, em formulário padronizado pela Mesa da Câmara;!

3. o projeto será protocolizado na Secretaria- Geral da Mesa, que verificará se foram cumpridas as exigências constitucionais para sua apresentação.!

A Câmara dos Deputados, na forma do art. 64, caput, CRFB/88 é a Casa iniciadora do processo de formação das leis, não é sempre que o projeto é apresentado à Casa do Povo, mas, de acordo com o art. 64, caput, CRFB/88 é possível concluir que o Senado Federal será a casa iniciadora quando apresentar o projeto de lei.!

Art. 64, CF. A discussão e votação dos projetos de lei de iniciativa do Presidente da República, do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores terão início na Câmara dos Deputados.!

c) Iniciativa Reservada ao Presidente da República - possui suas hipóteses previstas no art. 61, § 1° da CRFB/88, artigo muito importante porque muito descumprido.!

Art. 61, CF. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição.!§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:!I - fixem ou modifiquem os efetivos das Forças Armadas;!II - disponham sobre:!a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta e autárquica ou aumento de sua remuneração;!b) organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária, serviços públicos e pessoal da administração dos Territórios;!c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria;!d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União, bem como normas gerais para a organização do Ministério Público e da Defensoria Pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios;!e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública, observado o disposto no art. 84, VI !f) militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, provimento de cargos, promoções, estabilidade, remuneração, reforma e transferência para a reserva.!!

Se a Constituição reserva no plano federal um projeto ao Presidente da República, no âmbito dos estados o projeto deve ser oferecido pelo governador e no plano municipal pelo prefeito, sendo o art. 61, § 1° da CRFB/88 norma de observância obrigatória.!

PS! Segundo a jurisprudência da Corte, pelo princípio da simetria, no âmbito estadual, distrital e municipal as matérias elencadas no art. 61, § 1° da CRFB/88 são de iniciativa, também reservada, dos seus respectivos Chefes do poder executivo, se isso não ocorrer haverá um vício formal subjetivo.!

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"À luz do princípio da simetria, é de iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo estadual as leis que disciplinem o regime jurídico dos militares (art. 61, § 1o, II,f, da CF/1988). Matéria restrita à iniciativa do Poder Executivo não pode ser regulada por emenda constitucional de origem parlamentar." (ADI 2.966, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 6-4-2005, Plenário, DJ de 6-5-2005.) No mesmo sentido:ADI 858, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 13-2-2008, Plenário, DJEde 28-3-2008. Vide: ADI 2.102, Rel. Min. Menezes Direito, julgamento em 15- 4-2009, Plenário, DJE de 21-8-2009.!

A iniciativa de lei que disponha sobre o regime jurídico dos servidores públicos é reservada ao Chefe do Poder Executivo local por força do artigo 61, § 1o, II, c, da Constituição Federal.‖ (ADI 4154, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI Tribunal Pleno, julgado em 26/05/2010) ―Incorre em vício de inconstitucionalidade formal (CF, arts. 61, § 1o, II,aece63, I) a norma jurídica decorrente de emenda parlamentar em projeto de lei de iniciativa reservada ao chefe do Poder Executivo, de que resulte aumento de despesa. Parâmetro de observância cogente pelos Estados da Federação, à luz do princípio da simetria.‖ (ADI 2.079, Rel. Min. Maurício Corrêa, julgamento em 29-4-2004, Plenário,DJ de 18-6-2004.) No mesmo sentido: ADI 2.113, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 4-3-2009, Plenário, DJE de 21-8-2009.!

Alegação de inconstitucionalidade desta regra, ante a emenda da Câmara de Vereadores, que reduziu o tempo mínimo de exercício de quinze para doze anos. Entendimento consolidado desta Corte no sentido de ser permitido a parlamentares apresentar emendas a projeto de iniciativa privativa do Executivo, desde que não causem aumento de despesas (art. 61, § 1o, a e c c/c art. 63, I, todos da CF/1988). Inaplicabilidade ao caso concreto.” (RE 274.383, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 20-3-2005 Segunda Turma, DJE 22-04-2005)!

"Por tratar-se de evidente matéria de organização administrativa, a iniciativa do processo legislativo está reservada ao chefe do Poder Executivo local. Os Estados-membros e o Distrito Federal devem obediência às regras de iniciativa legislativa reservada, fixadas constitucionalmente, sob pena de violação do modelo de harmônica tripartição de poderes, consagrado pelo constituinte originário." (ADI 1.182, Rel. Min.Eros Grau, julgamento em 24- 11-2005, Plenário, DJ de 10-3-2006.) No mesmo sentido: RE 508.827-AgR, rel. min. Cármen Lúcia, julgamento em 25-9-2012, Segunda Turma, DJE de 19-10-2012.!

"Lei estadual que dispõe sobre a situação funcional de servidores públicos: iniciativa do chefe do Poder Executivo (art. 61, § 1o, II, a e c, CR/1988). Princípio da simetria." (ADI 2.029, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 4-6-2007, Plenário, DJde 24-8- 2007.)!

"Processo legislativo. Iniciativa privativa do Poder Executivo. Emenda pelo Poder Legislativo. Aumento de despesa. Norma municipal que confere aos servidores inativos o recebimento de proventos integrais correspondente ao vencimento de seu cargo. Lei posterior que condiciona o recebimento deste benefício, pelos ocupantes de cargo em comissão, ao exercício do serviço público por, no mínimo,doze anos. Norma que rege o regime jurídico de servidor público. Iniciativa privativa do chefe do Executivo.!

d) Iniciativa Reservada aos Tribunais (Art. 91, I, a, CRFB/88 e Art. 93, caput, CRFB/88) - o art. 96, I, a, CRFB/88 diz que compete aos próprios tribunais (tribunais em geral) a elaboração de seus regimentos, porque não faria sentido que o legislativo o fizesse; assim, o art. 96, I, a, CRFB/88 traz uma iniciativa reservada importante dos tribunais.!

Art. 96, CF. Compete privativamente:!I - aos tribunais:!a) eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus regimentos internos, com observância das normas de processo e das garantias processuais das partes, dispondo sobre a competência e o funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos;!!

Já o art. 93, caput, CRFB/88 traz uma iniciativa reservada ao STF: lei complementar de iniciativa do STF para dispor acerca do Estatuto da Magistratura.!

Art. 93, CF. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:!!

e) Iniciativa Reservada ao Tribunal de Contas (Art. 73, caput, CRFB/88) - com relação aos Tribunais de Contas, o dispositivo específico remete ao art. 96, CRFB/88, o que significa que quem deve elaborar as normas internas de auto-organização é o próprio Tribunal de Contas.!

Art. 73, CF. O Tribunal de Contas da União, integrado por nove Ministros, tem sede no Distrito Federal, quadro próprio de pessoal e jurisdição em todo o território nacional, exercendo, no que couber, as atribuições previstas no art. 96.!

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Art. 96, CF. Compete privativamente:!I - aos tribunais:!a) eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus regimentos internos, com observância das normas de processo e das garantias processuais das partes, dispondo sobre a competência e o funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos;!!Por considerar usurpado, em princípio, o poder de iniciativa reservado constitucionalmente aos Tribunais de Contas para instaurar processo legislativo que visa alterar sua organização e seu funcionamento, o Tribunal deferiu, com efeitos ex tunc, pedido de medida cautelar em duas ações diretas de inconstitucionalidade propostas, respectivamente, pela Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil - ATRICON e pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, para suspender a eficácia da Lei 2.351/2010, do Estado de Tocantins. A norma impugnada, de origem parlamentar, alterou e revogou diversos dispositivos da Lei Orgânica do Tribunal de Contas daquele ente federativo. Preliminarmente, na linha de precedentes firmados pela Corte, assentou-se a legitimidade ativa ad causam da ATRICON, bem como se entendeu configurada a pertinência temática. Em seguida, sem adentrar o exame de cada artigo do diploma adversado, reputou-se configurado o aparente vício de iniciativa, porquanto não caberia ao Poder Legislativo estadual ,mediante projeto de lei de iniciativa parlamentar, propor modificações em dispositivos da Lei Orgânica do Tribunal de Contas estadual. Enfatizou-se que apenas a própria Corte de Contas teria a prerrogativa de fazer instaurar processo legislativo concernente à alteração desse diploma normativo, sob pena de se neutralizar sua atuação independente. Consignou-se, por fim, que a lei em questão, além de acarretar conflitos institucionais entre o Tribunal de Contas e a Assembleia Legislativa, subtrairia daquele competências fiscalizatórias e interferiria em sua autonomia administrativa e financeira. Vencido o Min. Marco Aurélio que deferia a medida cautelar com eficácia ex nunc por considerar que a natureza do pronunciamento do Supremo seria acautelador e não reparador. ADI 4418 MC/TO,rel. Min. Dias Toffoli, 6.10.2010.!

O Legislativo não pode se imiscuir na norma de auto-organização do Tribunal de Contas, por força dos arts. 73 e 96, CRFB/88.!

!CONCLUSÃO - INICIATIVA!

A iniciativa consiste na deflagração do processo administrativo, estamos aqui cuidando do projeto de lei ordinária e complementar e quem pode oferecer projetos de leis ordinárias e complementares são, em regra, os legitimados do art. 61, caput, CRFB/88 e se não houver iniciativa reservada, esta será concorrente ou geral.!

A ideia geral é que a iniciativa pode ser parlamentar, quando oferecida por um membro do parlamento ou extraparlamentar, quando quem oferece o projeto são os demais legitimados: povo, Presidente, STF, tribunais…!

A iniciativa popular do art. 61, § 2º, CRFB/88 está assim prevista para o plano federal, mas é preciso registrar que a iniciativa popular no âmbito dos estados está regulada pelo art. 27 § 4º, CRFB/88 e para os municípios no art. 29, XIII, CRFB/88 —, a) para os estados, a lei deverá estabelecer as regras para a iniciativa popular no plano estadual, de modo que normas infralegais não podem dispor sobre iniciativa popular infralegal, porque a matéria é reservada à lei em sentido formal; b) quanto aos municípios, diz o art. 29, XIII, CRFB/88 que 5% dos eleitores podem apresentar projetos de lei sobre matéria local.!

A iniciativa, na maioria das vezes, consiste na apresentação de um projeto à Câmara dos Deputados a qual, em geral, será a Casa iniciadora do processo legislativo; a Câmara não será a Casa iniciadora do processo legislativo de leis ordinárias e complementares, excepcionalmente, se o Senado Federal apresentar o projeto, nesse caso, a Câmara exercerá a função de Casa revisora.!

A simetria ao modelo federal norteia o processo legislativo estadual e municipal, então, se no plano federal deve o Presidente apresentar um projeto de lei sobre remuneração e aposentadoria

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dos servidores públicos, nos planos estadual e municipal os responsáveis serão o governador e o prefeito.!

Uma vez apresentado o projeto de lei, se parte para a análise dos atos da i) discussão; ii) emendas (alterações que esse projeto pode vir a sofrer); iii)!

!DISCUSSÃO!

No momento das discussões o projeto vai passar por várias Comissões, segundo o regimento interno das Casas Legislativas, mas como o tema é de matéria regimental, não se cobra em prova.!

Agora, há uma Comissão que interessa muito: a CCJ, a Comissão de Constituição e Justiça realiza um controle preventivo político de constitucionalidade —, a CCJ tem um papel muito importante de emitir um parecer acerca da compatibilidade ou não do projeto de lei para com a Constituição.!

O parecer da CCJ é um parecer terminativo, essa é a visão regimental sobre o tema, mas o art. 58, § 2º, I, CRFB/88 diz claramente que é possível que a Casa Legislativa se insurja contra esse parecer, é possível que 1/10 da Casa se insurjam contra o parecer e esse recurso vai derrubar o parecer da CCJ.!

O que se deseja esclarecer é que o parecer não é definitivo, porque pode ser derrubado pelo plenário da Casa, o que Flávia concorda porque uma Comissão não pode ter mais força que o plenário da própria Casa.!

É um parecer terminativo, entretanto, porque se não houver recurso, o processo se encerra ali mesmo.!

!EMENDAS (Art. 63, CRFB/88)!

Nessa fase dos debates dos projetos de lei nas Casas Legislativas perante suas Comissões, há possibilidade de se fazer alterações no projeto que foi oferecido pelo Presidente, pelo STF… Enfim, essa é uma atividade legislativa, mas a Constituição com relação a relação a essas alterações traz algumas regras.!

Art. 63, CF. Não será admitido aumento da despesa prevista:!I - nos projetos de iniciativa exclusiva do Presidente da República, ressalvado o disposto no art. 166, § 3º e § 4º;!II - nos projetos sobre organização dos serviços administrativos da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, dos Tribunais Federais e do Ministério Público.!!

Projetos de Leis de iniciativa reservada ao Presidente da República — isso vale para os planos estadual e municipal também —, podem sofrer alterações, segundo o art. 63, I, CRFB/88 e a doutrina, desde que as alterações: a) não mudem o sentido normativo do projeto (conteúdo substancial do projeto); e b) em regra, não acarretem aumento de despesas.!

Em regra, porque há possibilidade de aumento de despesas segundo o art. 166 § 3º e § 4º, CRFB/88, ou seja, nas situações que envolvam leis orçamentárias, o aumento de despesas é permitido, nas demais situações, não —, o que significa que o Presidente não pode criar um

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projeto de lei, criando um órgão público e determinando um valor X de despesa pública para custear aquele projeto e o Congresso aumentar o valor.!

Art. 166, CF.!§ 3º - As emendas ao projeto de lei do orçamento anual ou aos projetos que o modifiquem somente podem ser aprovadas caso:!I - sejam compatíveis com o plano plurianual e com a lei de diretrizes orçamentárias;!II - indiquem os recursos necessários, admitidos apenas os provenientes de anulação de despesa, excluídas as que incidam sobre:!a) dotações para pessoal e seus encargos;!b) serviço da dívida;!c) transferências tributárias constitucionais para Estados, Municípios e Distrito Federal; ou!III - sejam relacionadas:!a) com a correção de erros ou omissões; ou!b) com os dispositivos do texto do projeto de lei.!§ 4º - As emendas ao projeto de lei de diretrizes orçamentárias não poderão ser aprovadas quando incompatíveis com o plano plurianual.!!

VOTAÇÃO!

A aprovação do projeto de lei ordinária se afasta do processo de aprovação do projeto de lei complementar, porque o quórum é diferenciado.!

a) Leis Ordinárias - o art. 47, CRFB/88 diz que a deliberação, salvo disposição em contrária, será feita pela maioria dos seus membros, sendo esta uma maioria simples (relativa ou ocasional), desde que presentes a sua maioria absoluta.!

Art. 47, CF. Salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações de cada Casa e de suas Comissões serão tomadas por maioria dos votos, presente a maioria absoluta de seus membros.!

Maioria simples é o quórum de maioria dos presentes, mas se não houvesse um número mínimo qualificado de presentes para respaldar a votação, seria muito ruim para o processo democrático e o banalizaria, por fim.!

De acordo com o art. 47, CRFB/88 o número mínimo de presentes para deflagrar um projeto de lei ordinária na Câmara dos Deputados é de 257 e no Senado Federal de 41 senadores. Com esse referencial, são necessários os votos favoráveis de 129 deputados e 21 senadores.!

No que concerne à lei ordinária, é preciso destacar que quanto mais gente presente, será maior o número de votos para que o projeto seja aprovado.!

b) Leis Complementares - o art. 69, CRFB/88 diz que o quórum de aprovação da lei complementar é qualificado de maioria absoluta, a maioria absoluta tem sempre como referencial a totalidade dos membros, então, o quórum de maioria absoluta é a maioria da totalidade de Deputados da Câmara (513 = 257 deputados) e maioria de Senadores (81 senadores = 41 senadores).!

Art. 69, CF. As leis complementares serão aprovadas por maioria absoluta.!

Então, todo projeto de lei complementar levado à Câmara precisará ser aprovado por, pelo menos, 257 deputados e todo projeto de lei complementar levado ao Senado precisará de, pelo menos, 41 senadores.!

257 deputados e 41 senadores é, ao mesmo, o quórum mínimo de aprovação e o quórum de instalação da sessão —, para abrir a sessão de projeto de lei complementar na Câmara é

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necessária a presença de 257 deputados e para inaugurar a sessão de projeto de lei no Senado é necessário que hajam, pelo menos 41 senadores presentes.!

É preciso ressaltar que o quórum mínimo de presentes não influencia na diminuição do quórum de aprovação, que é o mesmo no caso deste mínimo.!

!SANÇÃO!

Em nome dos check and balances, freios e contrapesos, o processo legislativo brasileiro não está exclusivamente nas mãos do Congresso Nacional, há também a atuação do Executivo, seja na parte da deflagração do projeto ou na parte da sanção e veto.!

Sanção e veto são atos exclusivos do Chefe o Executivo, na forma do art. 66, CRFB/88.!

Art. 66, CF. A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de lei ao Presidente da República, que, aquiescendo, o sancionará.!

A sanção consiste na aquiescência, enquanto o veto é a discordância. A sanção poderá ser de duas formas: a) tácita, ou b) expressa; enquanto o veto será sempre expresso.!

O Presidente recebe o projeto de lei da Câmara ou do Senado e a partir de então ele terá quinze dias úteis para se manifestar sobre o processo —, o silêncio importa na concordância, “quem cala consente”, então, se o Presidente não se manifesta no prazo, o projeto será aceito, enquanto que para recusá-lo é preciso um motivo.!

A sanção é ato exclusivo do Chefe do Poder Executivo, podendo ser expressa ou tácita. Importante destacar que a sanção do Chefe do Poder Executivo não é capaz de convalidar vício de iniciativa, estando a Súmula n° 5 do STF superada pela jurisprudência da própria Corte.!

Os atos do processo legislativo que não foram elaborados da forma prevista na Constituição, não são convalidados por outros atos, ou seja, a votação não convalida o vício de iniciativa, a sanção não convalida o vício de iniciativa ou de votação… Então, a sanção não convalida o vício de iniciativa como nenhum ato no processo tem o condão de convalidar o vício anterior.!

A sanção do Governador do Estado à proposição legislativa não afasta o vício de inconstitucionalidade formal. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.‖ (ADI 2113, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 04/03/2009)!

"A sanção do projeto de lei não convalida o vício de inconstitucionalidade resultante da usurpação do poder de iniciativa. A ulterior aquiescência do chefe do Poder Executivo, mediante anção do projeto de lei, ainda quando dele seja a prerrogativa usurpada, não tem o condão de sanar o vício radical da inconstitucionalidade. Insubsistência da Súmula 5/STF. Doutrina. Precedentes." (ADI 2.867, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 3-12-2003, Plenário, DJ de 9-2-2007.)!

!VETO!

Assim como a sanção, o veto também é ato exclusivo do Chefe do Poder Executivo, devendo ser sempre expresso.!

Características do veto:!

a) Expresso;!

b) Irretratável;!

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c) Superável pela derrubada do Congresso Nacional (art. 66, CRFB/88);!

Art. 66, CF. A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de lei ao Presidente da República, que, aquiescendo, o sancionará.!§ 1º - Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto.!§ 2º - O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea.!§ 3º - Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Presidente da República importará sanção.!§ 4º O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de trinta dias a contar de seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e Senadores. !§ 5º - Se o veto não for mantido, será o projeto enviado, para promulgação, ao Presidente da República.!§ 6º Esgotado sem deliberação o prazo estabelecido no § 4º, o veto será colocado na ordem do dia da sessão imediata, sobrestadas as demais proposições, até sua votação final. !§ 7º - Se a lei não for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo Presidente da República, nos casos dos § 3º e § 5º, o Presidente do Senado a promulgará, e, se este não o fizer em igual prazo, caberá ao Vice-Presidente do Senado fazê-lo.!!

d) Pode ser total ou parcial - o veto parcial não pode ser palavra ou de expressão, deve recair sobre todo o texto do artigo, inciso, parágrafo ou alínea;!

e) Político (material) - quando o Chefe do Executivo entende que o projeto é contrário ao interesse público;!

f) Jurídico (formal) - quando o Presidente veta um projeto de lei que entende violador da Constituição, exercendo um controle preventivo de constitucionalidade, seja ela formal ou material.!

Se para a apreciação do veto é exigido o voto da maioria absoluta (CF, art. 66, § 4o) e o seu exame ocorreu na vigência da atual ordem constitucional, não poderia a Assembleia Legislativa valer-se daquele fixado na anterior Carta estadual para determiná-lo como sendo o de dois terços. O modelo federal é de observância cogente pelos Estados-membros desde a data da promulgação da Carta de 1988.‖ (Rcl 1.206, Rel. Min. Maurício Corrêa, julgamento em 22-8-2002, Plenário, DJ de 18- 10-2002.)!

No caso, o que se pretende, na impetração, é provimento que iniba o Congresso Nacional de apreciar o Veto Parcial n.o 38/2012, aposto pela Presidente da República ao Projeto de Lei n.o 2.565/2011, antes da votação de todos os demais vetos anteriormente apresentados (mais de 3.000 – três mil), alguns com prazo vencido há mais de 13 – treze – anos. A medida liminar, que tem natureza antecipatória, não pode ir além nem deferir providência diversa da que deriva da sentença definitiva. Assim, no entender majoritário da Corte, não há como manter a determinação liminar ordenando ao Congresso Nacional que se abstenha de deliberar acerca do Veto Parcial no 38/2012 antes que proceda à análise de todos os vetos pendentes com prazo de análise expirado até a presente data, em ordem cronológica de recebimento da respectiva comunicação‖. (MS 31816 MC-AgR, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Relator(a) p/ Acórdão: Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em 27/02/2013)!

No Brasil, o art. 66, CRFB/88, que fala sobre a derrubada do veto é muito descomprido, são processos de anos com vetos ainda pendentes de deliberação no Congresso Nacional, mas no ano passado Dilma vetou parte do projeto 2565/2011 que trata dos royalties do petróleo e o Congresso tratou de passar esse veto na frente de todos os demais vetos pendentes de deliberação e daí foi impetrado o MS 31816 ante o STF contra este ato das Casas Legislativas.!

O Min. Fux ao receber o MS deu uma liminar dizendo que o Congresso Nacional deveria respeitar a ordem cronológica para apreciar os vetos, mas logo em seguida o STF cassou a liminar em nome do Poder de Agenda do Congresso Nacional, o poder de organizar sua própria agenda legislativa e decidir qual projeto vai ser colocado na sessão para ser deliberado ou não.!

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A decisão do STF, em outros termos, entendeu que não cabe ao Judiciário se imiscuir nas deliberações políticas, regimentais a respeito do veto presidencial, o que seria uma ofensa ao Princípio da Separação dos Poderes — e com isso é possível dizer que o Congresso Nacional possui liberdade para estabelecer qual o veto que vai ou não derrubar e qual a ordem a seguir para a derrubada do veto presidencial.!

!SIMULAÇÃO DE PROCESSO LEGISLATIVO DE APROVAÇÃO - LEIS ORDINÁRIA E COMPLEMENTAR!

Considere a Câmara como Casa Iniciadora e o Senado como Revisora —, digamos que o projeto de lei tenha sido apresentado pelo Presidente da República, projetos de lei apresentados chefe do executivo começam a tramitar perante a Câmara.!

Apresentado o Projeto à Câmara, Casa Iniciadora, esta pode: !

a) rejeitar o projeto de lei com base no art. 67, CRFB/88 e rejeitado o projeto este não poderá ser representado na mesma sessão legislativa daquela que o rejeitou, salvo se houver manifestação dos membros de qualquer das Casas na própria sessão legislativa —, então o art. 67, CRFB/88 é denominado de Princípio da Irrepetibilidade pelo STF; !

Art. 67, CF. A matéria constante de projeto de lei rejeitado somente poderá constituir objeto de novo projeto, na mesma sessão legislativa, mediante proposta da maioria absoluta dos membros de qualquer das Casas do Congresso Nacional.!

b) aprovar o projeto, com ou sem alterações, seja com ou sem alterações, o projeto segue para a Casa Revisora, Senado Federal, porque o projeto legislativo federal é bicameral.!

Quando o projeto chega à Casa Revisora, Senado Federal, este pode:!

a) rejeitar o projeto com base também no art. 67, CRFB/88 (Princípio da Irrepetibilidade);!

b) pode a Casa Revisora aprovar o projeto com ou sem emendas —, se a Casa Revisora aprova o projeto sem emendas, este segue para o Presidente da República para sanção ou veto; caso o projeto seja aprovado com alterações, o entendimento do STF é no sentido de que se as alterações forem redacionais (que não modifiquem o sentido normativo da regra), não há necessidade de reapresentar as alterações ante à Casa Iniciadora e o projeto segue adiante para sanção ou veto, todavia, se o Senado realiza alterações substanciais (de conteúdo, que modificam o sentido normativo do projeto), as alterações precisam voltar para a Casa Iniciadora, arts. 65 e 66, CRFB/88, que será aquela que dará a palavra final sobre o texto quando houver alterações substanciais no projeto. Nesse caso, a Casa Iniciadora pode concordar com as alterações e mandar o projeto para o Presidente ou discordar delas, e manda para o Presidente da mesma forma —, a Casa Iniciadora não está autorizada a fazer emenda da emenda, novas alterações, o papel dela é aprovar as alterações da Casa Revisora ou rejeitá-las.!

Art. 65, CF. O projeto de lei aprovado por uma Casa será revisto pela outra, em um só turno de discussão e votação, e enviado à sanção ou promulgação, se a Casa revisora o aprovar, ou arquivado, se o rejeitar.!Parágrafo único. Sendo o projeto emendado, voltará à Casa iniciadora.!!Art. 66, CF. A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de lei ao Presidente da República, que, aquiescendo, o sancionará.!§ 1º - Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do

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recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto.!§ 2º - O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea.!§ 3º - Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Presidente da República importará sanção.!§ 4º O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de trinta dias a contar de seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e Senadores. !§ 5º - Se o veto não for mantido, será o projeto enviado, para promulgação, ao Presidente da República.!§ 6º Esgotado sem deliberação o prazo estabelecido no § 4º, o veto será colocado na ordem do dia da sessão imediata, sobrestadas as demais proposições, até sua votação final. !§ 7º - Se a lei não for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo Presidente da República, nos casos dos § 3º e § 5º, o Presidente do Senado a promulgará, e, se este não o fizer em igual prazo, caberá ao Vice-Presidente do Senado fazê-lo.!!

O Presidente da República, recebe, então, o processo de qualquer das Casas e tem o prazo de 15 dias úteis para sancioná-lo ou vetá-lo:!

a) se vetar o projeto de lei, deve fazê-lo oferecendo as razões de veto ao Presidente do Senado Federal no prazo de 48 horas art. 66, CRFB/88 e do recebimento das razões de veto do Presidente da República é aberto um prazo de 30 dias para a realização de uma sessão conjunta entre deputados e senadores com o objetivo de derrubar o veto do Presidente —, a derrubada do veto depende da maioria absoluta de deputados e senadores, ou seja, 298 parlamentares (257 deputados + 41 senadores).!

PS! Antes a derrubada do veto seria feita em sessão secreta, hoje não é mais assim, a regra hoje é o voto aberto, em nome da moralidade e publicidade! A EC 76/13 altera o art. 66, CRFB/88 modificando seu § 4º, trazendo o voto aberto.!

Se derrubado o veto do Presidente, a norma será promulgada e a Constituição determina que o Presidente receberá a lei fruto do seu voto e terá 48hrs para promulgar a norma e se não o fizer nesse prazo (o Presidente tem faculdade de promulgar ou não), será dado o prazo de mais 48hrs para o Presidente do Senado promulgar a lei e se este não o fizer nesse prazo, nascem as 48hrs derradeiras para o Vice-Presidente do Senado promulgar a lei e se ele não a promulgar, segundo alguns autores, se estará diante de um crime de responsabilidade —, promulgada a lei, ela será encaminhada para a publicação.!

b) se se manter inerte nesse período, considerar-se-à uma sanção tácita do projeto de lei, nesse caso, a norma será promulgada e segue para publicação.!

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MEDIDAS PROVISÓRIAS!

!As medidas provisórias são atos normativos primários, extraídos diretamente da Constituição Federal, até porque o art. 62, CRFB/88 que lhe dá base de validade.!

Art. 62, CF. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. !§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: !I - relativa a: !a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito eleitoral; !b) direito penal, processual penal e processual civil; !c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros; !d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º; !II - que vise a detenção ou seqüestro de bens, de poupança popular ou qualquer outro ativo financeiro; !III - reservada a lei complementar; !IV - já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e pendente de sanção ou veto do Presidente da República. !§ 2º Medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada.!§ 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12 perderão eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no prazo de sessenta dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma vez por igual período, devendo o Congresso Nacional disciplinar, por decreto legislativo, as relações jurídicas delas decorrentes.!§ 4º O prazo a que se refere o § 3º contar-se-á da publicação da medida provisória, suspendendo-se durante os períodos de recesso do Congresso Nacional.!§ 5º A deliberação de cada uma das Casas do Congresso Nacional sobre o mérito das medidas provisórias dependerá de juízo prévio sobre o atendimento de seus pressupostos constitucionais. !§ 6º Se a medida provisória não for apreciada em até quarenta e cinco dias contados de sua publicação, entrará em regime de urgência, subseqüentemente, em cada uma das Casas do Congresso Nacional, ficando sobrestadas, até que se ultime a votação, todas as demais deliberações legislativas da Casa em que estiver tramitando. !§ 7º Prorrogar-se-á uma única vez por igual período a vigência de medida provisória que, no prazo de sessenta dias, contado de sua publicação, não tiver a sua votação encerrada nas duas Casas do Congresso Nacional. !§ 8º As medidas provisórias terão sua votação iniciada na Câmara dos Deputados.!§ 9º Caberá à comissão mista de Deputados e Senadores examinar as medidas provisórias e sobre elas emitir parecer, antes de serem apreciadas, em sessão separada, pelo plenário de cada uma das Casas do Congresso Nacional.!§ 10. É vedada a reedição, na mesma sessão legislativa, de medida provisória que tenha sido rejeitada ou que tenha perdido sua eficácia por decurso de prazo. !§ 11. Não editado o decreto legislativo a que se refere o § 3º até sessenta dias após a rejeição ou perda de eficácia de medida provisória, as relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos praticados durante sua vigência conservar-se-ão por ela regidas. !§ 12. Aprovado projeto de lei de conversão alterando o texto original da medida provisória, esta manter-se-á integralmente em vigor até que seja sancionado ou vetado o projeto.!!

As medidas provisórias não são leis, mas têm força de lei e se têm força de lei, a força de lei é ordinária —, isso permite concluir, de plano, que a medida provisória não pode tratar de matéria reservada à lei complementar.!

Antes de 1988 haviam os Decretos Leis, todos os atos institucionais existentes eram feitos, principalmente na época da ditadura, por meio de decreto lei que era editado com base na relevância ou urgência e se o Congresso Nacional não o convertesse em lei ou o rejeitasse, ele se tornava uma espécie normativa definitiva —, o que não ocorre com a MP.!

!MEDIDA PROVISÓRIA NO ÂMBITO ESTADUAL E MUNICIPAL!

É possível a criação de MPs nos estados e municípios, com respaldo no art. 25 § 2º, CRFB/88. O STF em algumas decisões já sedimentou que a MP pode ser instituída no âmbito estadual e

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municipal, mas não é de observância obrigatória em nome da autonomia, da auto-organização dos estados e municípios, é possível instituir a MP, mas não obrigatório, como dito.!

!Art. 25 § 2º, CF. Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação.!

José Afonso da Silva diz que boa parte dos estados e municípios não instituíram as medidas provisórias, MP estadual não é comum no país, mas é permitido —, o art. 25 § 2º, CRFB/88 diz que é vedado que os estados disponham sobre gás canalizado via MP, o que não deixa de ser uma forte base normativa a respeito.!

!LIMITAÇÕES MATERIAIS!

A MP enfrenta limitações materiais expressas e implícitas, as principais limitações materiais estão no art. 62,§ 1º, 25 § 2º, CRFB/88, art. 73, ADCT e art. 246, CRFB/88.!

Art. 62 § 1º, CF. É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: !I - relativa a: !a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito eleitoral; !b) direito penal, processual penal e processual civil; !c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros; !d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º; !II - que vise a detenção ou seqüestro de bens, de poupança popular ou qualquer outro ativo financeiro; !III - reservada a lei complementar; !IV - já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e pendente de sanção ou veto do Presidente da República. !!Art. 25 § 2º, CF. Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação.!

Art. 73, ADCT. Na regulação do Fundo Social de Emergência não poderá ser utilizado o instrumento previsto no inciso V do Art. 59 da Constituição.!

Art. 246, CF. É vedada a adoção de medida provisória na regulamentação de artigo da Constituição cuja redação tenha sido alterada por meio de emenda promulgada entre 1º de janeiro de 1995 até a promulgação desta emenda, inclusive!

a) Limitações Expressas (Arts. 62,§ 1º, 25 § 2º, 246 CRFB/88 e art. 73, ADCT) - o art. 62,§ 1º diz que a MP não pode tratar de matéria reservada à nacionalidade, direitos políticos, penal, processual penal ou civil, não pode, em regra, cuidar de regras relacionadas ao orçamento público, salvo nos casos de créditos extraordinários do art. 167, § 3º, CRFB/88, em caso de calamidade pública, que seja justificável, sendo uma situação excepcional.!

Art. 167 § 3º, CF. A abertura de crédito extraordinário somente será admitida para atender a despesas imprevisíveis e urgentes, como as decorrentes de guerra, comoção interna ou calamidade pública, observado o disposto no art. 62.!

b) Limitações Implícitas - doutrina e jurisprudência destacam que em nome do princípio da separação dos poderes, a MP não pode tratar de matéria reservada ao Congresso Nacional, à Câmara dos Deputados ou Senado Federal, que são matérias legislativas e sua invasão ensejaria uma ofensa ao princípio à harmonia e ao equilíbrio entre os poderes.!

!CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE!

A MP pode ser questionada no controle difuso ou concentrado. !�15

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No controle difuso, se no curso de um processo subjetivo, a MP for rejeitada ou convertida em lei, com ou sem alterações, não fará diferença, porque o juiz ao final respaldará sua decisão com base na MP, na lei, com base em outro fundamento.!

Já quando a MP é objeto de uma ADIN, porque o próprio objeto da ação é a norma, então: i) se no curso da ADIN a MP for convertida em lei ordinária, sem alteração de texto ou com alterações não substanciais, o que ocorre é que a ação vai prosseguir, mas o autor deve apresentar um aditamento à inicial informando que a MP foi convertida em lei; se, entretanto, ii) no curso da ADIN a MP for rejeitada ou convertida em lei com alterações substanciais, a regra é, que a ação perde seu objeto e será julgada extinta sem decisão de mérito.!

!REQUISITOS DE RELEVÂNCIA E URGÊNCIA!

O STF enfatizou que os requisitos constitucionais legitimadores da edição de MP podem ser verificados judicialmente.!

No mérito, enfatizou-se orientação da Corte segundo a qual os requisitos constitucionais legitimadores da edição de medidas provisórias — relevância e urgência — podem ser apreciados, em caráter excepcional, pelo Poder Judiciário...‖ (ADI 1910, Inf. 599).!

Em resumo, é possível que a MP seja declarada inconstitucional por descumprir esses pressupostos constitucionais que devem fundamentar sua edição —, assim, os requisitos de relevância e urgência podem ser analisados judicialmente.!

a) Relevância - a relevância diz respeito à matéria objeto da MP.!

b) Urgência - a urgência diz respeito à situação inesperada que deve ter fundamentado a edição da norma.!

!PROCEDIMENTO!

a) Casa Iniciadora - a Casa Iniciadora que irá deliberar sobre a MP é a Câmara dos Deputados, na forma do art. 62, § 8º, CRFB/88 e é lá que iniciará seu processo de conversão em lei ordinária.!

Art. 62§ 8º, CF. As medidas provisórias terão sua votação iniciada na Câmara dos Deputados.!!b) Casa Revisora - o Senado Federal.!

c) Prazo - o prazo de produção de efeitos jurídicos da MP, segundo o art. 62 §§ 3º, 4º e 7º as informações de que a MP nasce para produzir sessenta dias de efeitos jurídicos e se nesse prazo inicial ela não for convertida em lei ou rejeitada, haverá uma prorrogação por igual prazo, ou seja, mais sessenta dias.!

Art. 62, CF.!§ 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12 perderão eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no prazo de sessenta dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma vez por igual período, devendo o Congresso Nacional disciplinar, por decreto legislativo, as relações jurídicas delas decorrentes.!§ 4º O prazo a que se refere o § 3º contar-se-á da publicação da medida provisória, suspendendo-se durante os que se ultime a votação, todas as demais deliberações legislativas da Casa em que estiver tramitando. !§ 7º Prorrogar-se-á uma única vez por igual período a vigência de medida provisória que, no prazo de sessenta dias, contado de sua publicação, não tiver a sua votação encerrada nas duas Casas do Congresso Nacional. !

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!É possível que uma MP passe mais de 120 dias produzindo efeitos, porque em situações como recesso parlamentar, o prazo ficará suspenso.!

d) Vedação à Reedição - há uma vedação à reedição de MP rejeitada na mesma sessão legislativa em que ocorreu sua rejeição, segundo dispõe o art. 62, § 10º, CRFB/88.!

!Art. 62 § 10, CF. É vedada a reedição, na mesma sessão legislativa, de medida provisória que tenha sido rejeitada ou que tenha perdido sua eficácia por decurso de prazo. !!

e) Conversão em Lei - a MP pode ser convertida em lei ordinária com ou sem alterações:!

i) Sem Alterações - se convertida em lei sem alterações, o entendimento esposado é de que não há sanção ou veto do Presidente da República e a norma será promulgada pelo Presidente do Senado Federal.!

"Medida provisória e sua conversão em lei. Conversão da medida provisória na Lei 11.658/2008, sem alteração substancial. Aditamento ao pedido inicial. Inexistência de obstáculo processual ao prosseguimento do julgamento. A lei de conversão não convalida os vícios existentes na medida provisória. Precedentes. (...) Medida cautelar deferida. Suspensão da vigência da Lei 11.658/2008, desde a sua publicação, ocorrida em 22-4- 2008." (ADI 4.048-MC, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 14-5-2008, Plenário, DJE de 22-8-2008.)!

ii) Com Alterações - caso a MP seja aprovada com alterações, deve-se aplicar o art. 62 § 12, CRFB/88, que diz que nesse caso haverá sanção ou veto do Presidente.!

Art. 62 § 12, CF. Aprovado projeto de lei de conversão alterando o texto original da medida provisória, esta manter-se-á integralmente em vigor até que seja sancionado ou vetado o projeto.!!

f) Rejeição - a rejeição pode ser tácita, silenciosa ou expressa. É preciso lembrar que não há conversão tácita de MP em lei ordinária, se não houver deliberação convertendo a MP em lei, esta será rejeitada.!

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MP1 efeitos ex nunc!

! ! efeitos ex tunc 120 dias efeitos jurídicos! !Rejeitada!

CN Decreto Legislativo em 60 dias!

!Imagine que a MP1 tenha produzido 120 dias de efeitos jurídicos até ter sido rejeitada, quando rejeitada, ela, automaticamente, deixa de produzir efeitos jurídicos dali para frente: ex nunc.!

Mas, a combinação do art. 62 §§ 3º e 11, CRFB/88, permite concluir que a rejeição opera efeitos retroativos, ex tunc, porque é como se a MP nunca tivesse existido após a sua rejeição.!

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Art. 62, CF.!§ 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12 perderão eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no prazo de sessenta dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma vez por igual período, devendo o Congresso Nacional disciplinar, por decreto legislativo, as relações jurídicas delas decorrentes.!11. Não editado o decreto legislativo a que se refere o § 3º até sessenta dias após a rejeição ou perda de eficácia de medida provisória, as relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos praticados durante sua vigência conservar-se-ão por ela regidas. !!

Todavia, é possível que a rejeição opere efeitos ex tunc e que nenhum ato jurídico ocorrido durante a MP tenha eficácia, nesse caso, a Constituição diz que o Congresso Nacional (responsável pela rejeição), deverá criar um decreto legislativo em sessenta dias contados da rejeição para que o decreto se coloque no lugar da MP e regule seus direitos jurídicos pretéritos.!

Assim, se o Congresso não produzir o Decreto, a MP continuará a regular as situações pretéritas e só deixará de produzir efeitos a contar de sua rejeição.!

!TRANCAMENTO DE PAUTA!

O art. 62 § 6º, CRFB/88 é uma disposição constitucional que vem sofrendo uma série de mudanças de interpretação, há proposta de emenda sobre o tema e fale sobre o truncamento de pauta.!

Art. 62 § 6º, CF. Se a medida provisória não for apreciada em até quarenta e cinco dias contados de sua publicação, entrará em regime de urgência, subseqüentemente, em cada uma das Casas do Congresso Nacional, ficando sobrestadas, até que se ultime a votação, todas as demais deliberações legislativas da Casa em que estiver tramitando. !!

O art. 62, CRFB/88 foi profundamente alterado pela EC 32/01, a qual foi responsável por implementar doze parágrafos na redação do art. 62, CRFB/88, dentre eles, o que inseriu no ordenamento o “trancamento de pauta” para forçar o Legislativo a trancar a MP, só que com o número excessivo de MPs, esse truncamento de pauta tem atrapalhado o processo legislativo comum, ordinário, de elaboração de leis ordinárias, complementares e etc…!

De acordo com o que diz o texto constitucional, se em 45 dias as duas Casas não deliberarem em definitivo sobre a MP, seja aprovando ou rejeitando-a, a MP trancará a pauta, onde quer que esteja tramitando —, a partir do 45º dia, sem a deliberação das duas Casas, a MP vai trancar a pauta da Casa onde quer que esteja tramitando, na primeira e na segunda.!

Em 2009, Michel Temmer (então Presidente da Câmara), editou um ato em nome do Poder de Agenda, determinando que o art. 62 § 6º, CRFB/88 fosse interpretado da seguinte forma: a MP, passado o prazo de 45 dias, só trancaria a pauta de projetos de leis ordinárias, até porque tem força de lei ordinária.!

Logo depois, em face do ato de Michel Temmer é impetrado o MS 27931 (Inf. 540, STF) com pedido de liminar, no qual o Ministro Celso de Mello não concedeu a liminar e disse que o que estava sendo feito pela Câmara era uma reação institucional ao excessivo número de MPs que vem sendo feitas no país —, o mérito desse MS ainda não foi julgado.!

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REVOGAÇÃO (SUSPENSÃO) DE MEDIDA PROVISÓRIA POR OUTRA!

Quando o Presidente edita uma MP, ele não pode voltar atrás e revogar sua própria MP, se esta ainda não foi rejeitada o comum é que ele edite uma nova medida provisória sobre aquele tema versando de modo distinto da MP anterior.!

MP1 e MP2: Quando a MP2 chega ela suspende a MP1, ela não tem o condão imediato de revogar porque se trata de uma espécie normativa precária, então o que acontece de fato é a suspensão. Nesse caso, se a MP2 for convertida em lei, aí sim a MP1 será revogada; todavia, se a MP2 for rejeitada, MP1 volta a produzir efeitos jurídicos.!

"Já se firmou a jurisprudência desta Corte (assim, nas ADI 1.204-MC, 1.370-MC e 1.636- MC) no sentido de que, quando medida provisória ainda pendente de apreciação pelo Congresso Nacional é revogada por outra, fica suspensa a eficácia da que foi objeto de revogação até que haja pronunciamento do Poder Legislativo sobre a medida provisória revogadora, a qual, se convertida em lei, tornará definitiva a revogação; se não o for, retomará os seus efeitos a medida provisória revogada pelo período que ainda lhe restava para vigorar." (ADI 1.665-MC, Rel. Min. Moreira Alves, julgamento em 27-11- 1997, Plenário, DJ de 8-5-1998.)!

!ART. 2º, EC 32/01!

Art. 2º, EC 32/01. As medidas provisórias editadas em data anterior à da publicação desta emenda continuam em vigor até que medida provisória ulterior as revogue explicitamente ou até deliberação definitiva do Congresso Nacional.!

A EC 32/01 mudou o regime jurídico da MP e diz que as medidas provisórias até então existentes serão mantidas como medidas provisórias, até que haja eventual revogação ou que o Congresso Nacional decida a seu respeito.!

Todas as MPs que estavam em vigor no dia 11/09/2001 foram mantidas em vigor e continuaram a produzir efeitos como MP, isso porque não dava para decidir de maneira distinta, visto que eram muitas MPs regulando temas importantes. Então, essas MPs anteriores foram assim mantidas até houvesse uma deliberação definitiva do Congresso Nacional ou que fossem revogadas.!

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LEIS DELEGADAS!

!São poucas as leis delegadas existentes no Brasil, visto que a lei delegada não sobrevive em um país de medidas provisórias.!

!BASE LEGAL (Art. 68, CRFB/88)!

O art. 68, CRFB/88 traz a base da lei delegada: leis elaboradas pelo Presidente que, para tanto, deverá solicitar a delegação do Congresso Nacional.!

Art. 68, CF. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional.!

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§ 1º - Não serão objeto de delegação os atos de competência exclusiva do Congresso Nacional, os de competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria reservada à lei complementar, nem a legislação sobre:!I - organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros;!II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais;!III - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos.!§ 2º - A delegação ao Presidente da República terá a forma de resolução do Congresso Nacional, que especificará seu conteúdo e os termos de seu exercício.!§ 3º - Se a resolução determinar a apreciação do projeto pelo Congresso Nacional, este a fará em votação única, vedada qualquer emenda.!

!NATUREZA JURÍDICA!

À semelhança das demais normas que retiram fundamento jurídico da Constituição, a Lei Delegada é um ato normativo primário.!

!PROCESSAMENTO!

O art. 68, caput, CRFB/88 diz que o Presidente da República pode pedir (solicitar ao Congresso Nacional) a delegação legislativa para editar a norma —, então, é uma faculdade, mas uma faculdade exclusiva do Presidente, porque só ele pode pedir delegação ao Congresso Nacional para editar a lei delegada.!

Art. 68, CF. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional.!!

Feito o requerimento, o Congresso Nacional decidirá se vai conceder ou não a referida atribuição legislativa.!

Atenção nessa delegação porque o poder (centro de decisões) é, por excelência, uno, indivisível, indelegável e imprescritível, então, ainda que o Congresso Nacional delegue a atribuição de legislar sobre o tema específico ao Presidente, a qualquer tempo poderá rever a delegação e editar uma lei com o mesmo tema que foi objeto da delegação. Assim, o Congresso não fica obrigado a deixar de legislar sobre o tema que foi objeto da delegação.!

!LIMITAÇÕES MATERIAIS À LEI DELEGADA (Art. 68, § 1º, CRFB/88)!

Art. 68, § 1º, CF. Não serão objeto de delegação os atos de competência exclusiva do Congresso Nacional, os de competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria reservada à lei complementar, nem a legislação sobre:!I - organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros;!II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais;!III - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos.!!

Não serão objeto de leis delegadas matérias de competência exclusiva do Congresso Nacional, privativas da Câmara e do Senado, matérias reservadas à lei complementar, porque a lei delegada age também com o poder parecido à lei ordinária.!

Além disso, não pode ser objeto de delegação a organização do MP, do Poder Judiciário, essas limitações materiais são muito importantes.!

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MODALIDADES!

Existem duas modalidades de delegação, segundo a interpretação constitucional e o entendimento doutrinário sobre o assunto.!

a) Delegação Atípica (Imprópria ou Impura) - a delegação atípica é extraída do art. 68, § 3º, CRFB/88, que faz a seguinte orientação: o Congresso Nacional pode autorizar o Presidente da República a criar um projeto da lei delegada, que vai retornar para o Congresso Nacional (o Congresso não pode fazer qualquer espécie de alteração no projeto), mas se o Congresso Nacional não o aprovar, não haverá lei delegada.!

Art. 68 § 3º, CF. Se a resolução determinar a apreciação do projeto pelo Congresso Nacional, este a fará em votação única, vedada qualquer emenda.!

Na delegação atípica o Congresso autoriza o Presidente a criar uma lei delegada, mas analisará seu teor antes da edição da lei e, assim, vai decidir se autoriza sua edição ou não.!

Por isso, alguns autores chegam a dizer que a delegação atípica ou imprópria é uma delegação com retorno.!

b) Delegação Típica (Própria ou Pura) - extraída, a contrario sensu do que se encontra no art. 68, § 3º, CRFB/88, ou seja, é a delegação sem retorno. !

O Congresso Nacional autoriza o Presidente a criar a lei delegada estabelecendo os limites da delegação e ele pode, de plano, criar a lei delegada —, não há necessidade de submissão da lei delegada ao Congresso Nacional antes de sua edição.!

É importante não esquecer que, de um modo ou de outro, de uma modalidade ou outra, há um controle político-repressivo de constitucionalidade. !

O art. 48, V, CRFB/88 demanda a realização do controle repressivo-político de constitucionalidade —, o Presidente da República pede para editar a lei delegada e o Congresso vai estabelecer no corpo dessa resolução os limites dessa delegação, se o Presidente se empolgar e resolver extrapolar os limites da delegação legislativa, o mesmo Congresso que o autorizou a editar a lei delegada poderá sustar, com efeitos ex nunc, por Decreto Legislativo os efeitos da lei delegada que tenham extrapolado os limites das delegações legislativas.!

Art. 48, CF. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, não exigida esta para o especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas as matérias de competência da União, especialmente sobre:!V - limites do território nacional, espaço aéreo e marítimo e bens do domínio da União;!!

Aliás, em sendo a lei delegada ato normativo primário, poderá ser objeto do controle de constitucionalidade em suas espécies difusa e concentrada.!

!PROCEDIMENTO!

a) Solicitação - somente o Presidente da República pode solicitar delegações legislativas ao Congresso Nacional e não é ele obrigado a solicitar delegações, até porque, essa é uma espécie normativa muito pouco utilizada, mesmo tendo mais legitimidade democrática que a MP, porque parte de uma autorização do legislativo;!

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b) Deliberação sobre a Solicitação - o Presidente solicita ao Congresso Nacional e este não tem prazo para decidir se vai autorizá-lo ou não a editar a lei delegada, mas se decidir autorizá-lo, deve seguir o que ordena o art. 68, § 2º, CRFB/88, ou seja, fazê-lo em forma de resolução e especificar seu conteúdo e termos de exercício.!

Art. 68 § 2º, CF. A delegação ao Presidente da República terá a forma de resolução do Congresso Nacional, que especificará seu conteúdo e os termos de seu exercício. !!

A resolução é bicameral, aprovada por quórum comum de maioria simples pelas Casas do Congresso Nacional —, o entendimento doutrinário acerca da resolução é no sentido de que se houver uma previsão específica na resolução autorizando o Presidente a editar várias leis delegadas sobre um assunto, o Presidente só estará autorizado a editar uma lei delegada.!

Mesmo recebendo a autorização, é preciso destacar que o Presidente não é obrigado a editar a lei delegada, por conta dos freios e contrapesos e Separação dos Poderes.!

Outro aspecto acerca da autorização é que o Presidente não está obrigado, quando autorizado a editar a lei delegada, a criá-la logo em seguida, no entanto, ele estará limitado a criar a lei delegada, se quiser, na mesma legislatura em que foi concedida, sob pena de perda do direito —, então, o Presidente não pode editar a lei delegada ad eternum.!

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DECRETOS LEGISLATIVOS E RESOLUÇÕES!

!BASE LEGAL (Art. 59, CRFB/88)!

Normas primárias extraídas do art. 59, CRFB/88 e que cuidam de matérias legislativas.!Art. 59, CF. O processo legislativo compreende a elaboração de:!I - emendas à Constituição;!II - leis complementares;!III - leis ordinárias;!IV - leis delegadas;!V - medidas provisórias;!VI - decretos legislativos;!VII - resoluções.!Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração e consolidação das leis.!!

a) Decretos Legislativos (Art. 49, CRFB/88) - cuidam de matérias reservadas ao Congresso Nacional, de modo que quando delibera por meio de decretos legislativos produz efeitos externos (ex: art. 49, XV, CRFB/88 - convocar plebiscitos e referendos).!

Art. 49, CF. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:!I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional;!II - autorizar o Presidente da República a declarar guerra, a celebrar a paz, a permitir que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente, ressalvados os casos previstos em lei complementar;!III - autorizar o Presidente e o Vice-Presidente da República a se ausentarem do País, quando a ausência exceder a quinze dias;!IV - aprovar o estado de defesa e a intervenção federal, autorizar o estado de sítio, ou suspender qualquer uma dessas medidas;!V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa;!VI - mudar temporariamente sua sede;!

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VII - fixar idêntico subsídio para os Deputados Federais e os Senadores, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I; !VIII - fixar os subsídios do Presidente e do Vice-Presidente da República e dos Ministros de Estado, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I; !IX - julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da República e apreciar os relatórios sobre a execução dos planos de governo;!X - fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta;!XI - zelar pela preservação de sua competência legislativa em face da atribuição normativa dos outros Poderes;!XII - apreciar os atos de concessão e renovação de concessão de emissoras de rádio e televisão;!XIII - escolher dois terços dos membros do Tribunal de Contas da União;!XIV - aprovar iniciativas do Poder Executivo referentes a atividades nucleares;!XV - autorizar referendo e convocar plebiscito;!XVI - autorizar, em terras indígenas, a exploração e o aproveitamento de recursos hídricos e a pesquisa e lavra de riquezas minerais;!XVII - aprovar, previamente, a alienação ou concessão de terras públicas com área superior a dois mil e quinhentos hectares.!!

Se os decretos legislativos são criados pelo Congresso Nacional, em regra, se diz que são bicamerais.!

b) Resoluções (Arts. 51 e 52, CRFB/88) - cuidam de matérias normalmente que devem ser tratadas pelas Casas separadamente.!

Art. 51, CF. Compete privativamente à Câmara dos Deputados:!I - autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado;!II - proceder à tomada de contas do Presidente da República, quando não apresentadas ao Congresso Nacional dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa;!III - elaborar seu regimento interno;!IV - dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação, transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remuneração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias; !V - eleger membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII.!!Art. 52, CF. Compete privativamente ao Senado Federal:!I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles; !II processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União nos crimes de responsabilidade; !III - aprovar previamente, por voto secreto, após argüição pública, a escolha de:!a) Magistrados, nos casos estabelecidos nesta Constituição;!b) Ministros do Tribunal de Contas da União indicados pelo Presidente da República;!c) Governador de Território;!d) Presidente e diretores do banco central;!e) Procurador-Geral da República;!f) titulares de outros cargos que a lei determinar;!IV - aprovar previamente, por voto secreto, após argüição em sessão secreta, a escolha dos chefes de missão diplomática de caráter permanente;!V - autorizar operações externas de natureza financeira, de interesse da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios;!VI - fixar, por proposta do Presidente da República, limites globais para o montante da dívida consolidada da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;!VII - dispor sobre limites globais e condições para as operações de crédito externo e interno da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, de suas autarquias e demais entidades controladas pelo Poder Público federal;!VIII - dispor sobre limites e condições para a concessão de garantia da União em operações de crédito externo e interno;!IX - estabelecer limites globais e condições para o montante da dívida mobiliária dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;!X - suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal;!

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XI - aprovar, por maioria absoluta e por voto secreto, a exoneração, de ofício, do Procurador-Geral da República antes do término de seu mandato;!XII - elaborar seu regimento interno.!XIII - dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação, transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remuneração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias; !XIV - eleger membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII.!XV - avaliar periodicamente a funcionalidade do Sistema Tributário Nacional, em sua estrutura e seus componentes, e o desempenho das administrações tributárias da União, dos Estados e do Distrito Federal e dos Municípios. !Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e II, funcionará como Presidente o do Supremo Tribunal Federal, limitando-se a condenação, que somente será proferida por dois terços dos votos do Senado Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis.!!

Segundo alguns autores, as matérias das Resoluções são matérias internas, por exemplo, no art. 51, CRFB/88 há a possibilidade de a Câmara elaborar seu regimento interno.!

As resoluções são, em regra, unicamerais, aprovadas em cada uma das Casas isoladamente; todavia, é preciso destacar que o art. 68§ 2º, CRFB/88 prevê uma resolução bicameral (lei delegada).!

Art. 68 § 2º, CF. A delegação ao Presidente da República terá a forma de resolução do Congresso Nacional, que especificará seu conteúdo e os termos de seu exercício. !!!!

DISPENSA DE SANÇÃO OU VETO!

Em nome do Princípio da Separação de Poderes, não há sanção ou veto do Presidente da República no processo de elaboração do decreto legislativo ou da resolução.!

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DECRETOS!

!Termo comum no ordenamento brasileiro, trata dos decretos legislativos e decretos leis que não existem mais (hoje são mais aproximados das MPs).!

a) Decretos-Leis - os decretos-leis eram criados de forma unilateral pelo Chefe do Executivo, podiam ser editados em razão de relevância ou urgência, mas se o Congresso Nacional não o convertesse em lei, ele se tornava espécie normativa definitiva.!

Apesar de o CP e o CPP serem decretos-leis, estes foram recepcionados pelo ordenamento jurídico vigente, porque normas anteriores compatíveis materialmente com a Constituição.!

Aliás, com base no mero status, nenhuma norma deixa de ser recebida —, os antigos decretos-leis foram recebidos na Constituição de 1988 com status de lei ordinária, então, as alterações que esses decretos venham a receber ou suas alterações devem ser feitas por meio de lei ordinária.!

b) Decreto Autônomo - criados com base no art. 84, VI, CRFB/88 e só podem cuidar das matérias que a Constituição determina expressamente.!

Art. 84, CF. Compete privativamente ao Presidente da República:!

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VI - dispor, mediante decreto, sobre:!a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; !b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;!!

Decretos autônomos segundo entendimento do STF são atos normativos primários, porque entre eles e a Constituição não há norma alguma, de modo que podem ser objeto de controle de constitucionalidade.!

c) Decretos Regulamentares - estão embasados no art. 84, IV, CRFB/88 que diz compete expedir decretos e regulamentos para fiel execução da lei, ou seja, são atos normativos secundários porque entre eles e a Constituição existe a lei.!

Art. 84, CF. Compete privativamente ao Presidente da República:!IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução;!!

Então, são normas secundárias que existem para regulamentar a lei e não diretamente a Constituição.!

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!ORGANIZAÇÃO DO ESTADO!!!

FORMAS DE ESTADO!

As formas de Estado pretendem indiciar de que modo há, ou não, a divisão geográfica de poder político naquela determinada localidade.!

Existem duas formas de Estado:!

a) Unitário - Estado concentrado, a relação entre o poder central da União e os poderes locais e regionais é uma relação de subordinação, o poder é concentrado no âmbito central (ex: França, Itália, Uruguai…)!

b) Federativo (Composto) - a relação entre o poder central e os poderes regionais e locais é fundada pela colaboração, participação dos entes, há, pois, uma divisão geográfica do poder político.!

O Brasil já foi estado unitário (Brasil Império), com a proclamação da República em 15 de novembro de 1889 também houve a criação da Federação, o imperador transformou as antigas províncias em estados-membros com a autonomia necessária —, então, o Brasil se tornou República e Federação ao mesmo tempo e a primeira Constituição Republicana e Federativa foi a de 1891.!

!CARACTERÍSTICAS DA FEDERAÇÃO BRASILEIRA!

a) Descentralização político-administrativa - descentralização política, significando que a divisão do Poder Público no espaço territorial, será realizada através de repartição constitucional de competências. De acordo com os arts. 21 a 24, 25 e 30, a Constituição delimitou a esfera de poder interno de cada um de seus entes, que será estudado em capítulo próprio;!

Art. 21, CF. Compete à União:!I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais;!II - declarar a guerra e celebrar a paz;!III - assegurar a defesa nacional;!IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente;!V - decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a intervenção federal;!VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico;!VII - emitir moeda;!VIII - administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as operações de natureza financeira, especialmente as de crédito, câmbio e capitalização, bem como as de seguros e de previdência privada;!IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social;! X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;!XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais;!XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:!a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens;!b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos;!c) a navegação aérea, aeroespacial e a infra-estrutura aeroportuária;!

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d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os limites de Estado ou Território;!e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros;!f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;!XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e a Defensoria Pública dos Territórios; !XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, bem como prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a execução de serviços públicos, por meio de fundo próprio;!XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geografia, geologia e cartografia de âmbito nacional;!XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e de programas de rádio e televisão;!XVII - conceder anistia;!XVIII - planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente as secas e as inundações;!XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso;!XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos;!XXI - estabelecer princípios e diretrizes para o sistema nacional de viação;!XXII - executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; !XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições:!a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional;!b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais;!c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, comercialização e utilização de radioisótopos de meia-vida igual ou inferior a duas horas; !d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa; !XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho;!XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de garimpagem, em forma associativa.!!Art. 22, CF. Compete privativamente à União legislar sobre:!I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;!II - desapropriação;!III - requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e em tempo de guerra;!IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;!V - serviço postal;!VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais;!VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores;!VIII - comércio exterior e interestadual;!IX - diretrizes da política nacional de transportes;!X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, aérea e aeroespacial;!XI - trânsito e transporte;!XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;!XIII - nacionalidade, cidadania e naturalização;!XIV - populações indígenas;!XV - emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estrangeiros;!XVI - organização do sistema nacional de emprego e condições para o exercício de profissões;!XVII - organização judiciária, do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e da Defensoria Pública dos Territórios, bem como organização administrativa destes;!XVIII - sistema estatístico, sistema cartográfico e de geologia nacionais;!XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da poupança popular;!XX - sistemas de consórcios e sorteios;!XXI - normas gerais de organização, efetivos, material bélico, garantias, convocação e mobilização das polícias militares e corpos de bombeiros militares;!XXII - competência da polícia federal e das polícias rodoviária e ferroviária federais;!XXIII - seguridade social;!XXIV - diretrizes e bases da educação nacional;!XXV - registros públicos;!XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;!XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III; !

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XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa marítima, defesa civil e mobilização nacional;!XXIX - propaganda comercial.!Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo.!!Art. 23, CF. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:!I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar o patrimônio público;!II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência;!III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;!IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural;!V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência;!VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;!VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;!VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar;!IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico;!X - combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a integração social dos setores desfavorecidos;!XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios;!XII - estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito.!Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional. !!Art. 24, CF. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:!I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico;!II - orçamento;!III - juntas comerciais;!IV - custas dos serviços forenses;!V - produção e consumo;!VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;!VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;!VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;!IX - educação, cultura, ensino e desporto;!X - criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas;!XI - procedimentos em matéria processual;!XII - previdência social, proteção e defesa da saúde;!XIII - assistência jurídica e Defensoria pública;!XIV - proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência;!XV - proteção à infância e à juventude;!XVI - organização, garantias, direitos e deveres das polícias civis.!§ 1º - No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.!§ 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados.!§ 3º - Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.!§ 4º - A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.!!Art. 25, CF. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição.! § 1º - São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição.!§ 2º - Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação.!

§ 3º - Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.!!

Art. 30, CF. Compete aos Municípios:!I - legislar sobre assuntos de interesse local;!II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;!

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III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei;!IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual;!V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial;!VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamental; !VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da população;!VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano;!IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.!!

Não existe federação sem repartição de competências e divisão de atribuições e a Constituição de 1988 trouxe atribuições materiais, legislativas, exclusivas, concorrentes, comuns, cumulativas…!

A doutrina divide as competências em três grupos:!

i) Competências Materiais (Políticas ou Administrativas) !

1. Exclusivas da União (art. 21, CRFB/88) - art. 21, CRFB/88 traz competências materiais exclusivas da União (indelegáveis), um dos princípios que mais se destacam no que tange à repartição de competências é o Princípio da Predominância de Interesses.!

Art. 21, CF. Compete à União:!I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais;!II - declarar a guerra e celebrar a paz;!III - assegurar a defesa nacional;!IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente;!V - decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a intervenção federal;!VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico;!VII - emitir moeda;!VIII - administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as operações de natureza financeira, especialmente as de crédito, câmbio e capitalização, bem como as de seguros e de previdência privada;!IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social;! X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;!XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais;!XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:!a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens;!b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos;!c) a navegação aérea, aeroespacial e a infra-estrutura aeroportuária;!d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os limites de Estado ou Território;!e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros;!f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;!XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e a Defensoria Pública dos Territórios; !XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, bem como prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a execução de serviços públicos, por meio de fundo próprio;!XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geografia, geologia e cartografia de âmbito nacional;!XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e de programas de rádio e televisão;!

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XVII - conceder anistia;!XVIII - planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente as secas e as inundações;!XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso;!XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos;!XXI - estabelecer princípios e diretrizes para o sistema nacional de viação;!XXII - executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; !XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições:!a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional;!b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais; !c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, comercialização e utilização de radioisótopos de meia-vida igual ou inferior a duas horas; !d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa; !XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho;!XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de garimpagem, em forma associativa.!!

Se a matéria for de interesse nacional, compete à União cuidar; se de interesse regional, compete ao estado; e local, ao município.!

As matérias do art. 21, CRFB/88 são relacionadas à emissão de moeda, declaração da guerra, celebração da paz, material bélico… E, por isso, são de competência exclusiva da União, não passíveis de delegação.!

2. Comuns, Cumulativas ou Paralelas da União, Estados, Distrito Federal e Municípios (art. 23, CRFB/88) - muitos autores dizem que o art. 23, CRFB/88 é uma manifestação clara do federalismo cooperativo, federalismo de repartição de função entre os entes, de colaboração de responsabilidades (ex: saúde)…!

Art. 23, CF. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:!I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar o patrimônio público;!II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência;!III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;!IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural;!V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência;!VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;!VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;!VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar;!IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico;!X - combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a integração social dos setores desfavorecidos;!XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios;!XII - estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito.!Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional. !!

ii) Competências Legislativas!

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1. Exclusivas da União (art. 22, CRFB/88) - há dois artigos que se destacam, o art. 22, CRFB/88, que traz matérias de competências privativas da União e que devem ser objeto de lei federal, mas o parágrafo único do mesmo dispositivo permite que uma lei complementar autorize estados e DF a cuidar de matérias específicas de competência da União.!

Art. 22, CF. Compete privativamente à União legislar sobre:!I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;!II - desapropriação;!III - requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e em tempo de guerra;!IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;!V - serviço postal;!VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais;!VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores;!VIII - comércio exterior e interestadual;!IX - diretrizes da política nacional de transportes;!X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, aérea e aeroespacial;!XI - trânsito e transporte;!XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;!XIII - nacionalidade, cidadania e naturalização;!XIV - populações indígenas;!XV - emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estrangeiros;!XVI - organização do sistema nacional de emprego e condições para o exercício de profissões; !XVII - organização judiciária, do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e da Defensoria Pública dos Territórios, bem como organização administrativa destes;!XVIII - sistema estatístico, sistema cartográfico e de geologia nacionais;!XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da poupança popular;!XX - sistemas de consórcios e sorteios;!XXI - normas gerais de organização, efetivos, material bélico, garantias, convocação e mobilização das polícias militares e corpos de bombeiros militares;!XXII - competência da polícia federal e das polícias rodoviária e ferroviária federais;!XXIII - seguridade social;!XXIV - diretrizes e bases da educação nacional;!XXV - registros públicos;!XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;!XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III; !XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa marítima, defesa civil e mobilização nacional;!XXIX - propaganda comercial.!Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo.!!

Então, as matérias privativas da União podem ser objeto de delegação por LC federal, mas a delegação não é da matéria inteira, apenas da específica (ex: direito do trabalho está no art. 22, I, CRFB/88 mas não pode ser objeto de delegação, só matérias específicas relacionadas, como o piso salarial por categoria profissional).!

A delegação é conjunta e permite que todos os estados e o Distrito Federal legislem sobre o tema, é inconstitucional e violador ao princípio da igualdade se uma lei complementar autorizar, apenas, determinado estado a legislar sobre o assunto específico.!

2. Concorrentes entre União, estados e Distrito Federal (art. 24, CRFB/88) - os parágrafos finais do art. 24 §§ 1º, 2º, 3º e 4º há regras muito específicas, porque

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apesar de ser dado a todos os entes a possibilidade de legislar sobre o assunto, a Constituição estabeleceu a responsabilidade de cada um, ou seja: i) a União cabe estabelecer normas gerais sobre o assunto; ii) aos estados e ao Distrito Federal cabe suplementar a lei federal para atender às suas peculiaridades; iii) na ausência de lei federal, os estados e o DF podem exercer competência legislativa plena; e iv) na superveniência da norma federal, esta vai suspender a lei estadual ou distrital que a contrarie — quando esta lei suplementar violar a norma geral frontalmente, será analisada segundo sua constitucionalidade, porque a lei suplementar retira fundamento jurídico de validade da Constituição e não da norma geral.!

Art. 24, CF. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:!I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico;!II - orçamento;!III - juntas comerciais;!IV - custas dos serviços forenses;!V - produção e consumo;!VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;!VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;!VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;!IX - educação, cultura, ensino e desporto;!X - criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas;!XI - procedimentos em matéria processual;!XII - previdência social, proteção e defesa da saúde;!XIII - assistência jurídica e Defensoria pública;!XIV - proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência;!XV - proteção à infância e à juventude;!XVI - organização, garantias, direitos e deveres das polícias civis.!§ 1º - No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.!§ 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados.!§ 3º - Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.!§ 4º - A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.!!

iii) Competências Tributárias!

!b) Autonomia entre Entes Federativos - autonomia dos entes federativos, que é identificada

pela tríplice capacidade de que os mesmos possuam Governo próprio, administração própria e organização própria. !

Essa autonomia é extraída do art. 1º, 18, CRFB/88.!

Art. 1º, CF. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:!I - a soberania;!II - a cidadania;!III - a dignidade da pessoa humana;!IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;!V - o pluralismo político.!Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.!!Art. 18, CF. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição.!§ 1º - Brasília é a Capital Federal.!

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§ 2º - Os Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar.!§ 3º - Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar.!§ 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei!!

É preciso destacar que os territórios não são entes federativos e não gozam de autonomia, são descentralizações político-administrativas da União Federal e alguns autores chegam a falar, até, em autarquias.!

c) Inexistência de Direito de Secessão - não há direito de retirada, inexistência do direito de secessão (de retirada), pois de acordo com o art. 1º da CF/1988, o vínculo que une os entes da federação é indissolúvel. Ressalte-se que o direito de secessão é permitido nos Estados Confederados (quando há pluralidade de soberanias reunidas por um Tratado);!

Art. 1º, CF. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:!I - a soberania;!II - a cidadania;!III - a dignidade da pessoa humana;!IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;!V - o pluralismo político.!Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.!!

A federação é, por natureza, um pacto indissolúvel e se houver a tentativa de um Estado se retirar, essa rebeldia poderá ser contida pela intervenção federal na forma do art. 34, I, CRFB/88.!

Art. 34, CF. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:!I - manter a integridade nacional;!!

d) Existência do Bicameralismo - existência do bicameralismo no Poder Legislativo central, com um dos órgãos representando a vontade dos entes federativos na formação das leis centrais. No Brasil, esse papel foi destinado ao Senado Federal (órgão legislativo federativo por excelência) na forma do art. 46, CRFB/88;!

Art. 46, CF. O Senado Federal compõe-se de representantes dos Estados e do Distrito Federal, eleitos segundo o princípio majoritário.!§ 1º - Cada Estado e o Distrito Federal elegerão três Senadores, com mandato de oito anos.!§ 2º - A representação de cada Estado e do Distrito Federal será renovada de quatro em quatro anos, alternadamente, por um e dois terços.!§ 3º - Cada Senador será eleito com dois suplentes.!!

e) Rigidez Constitucional - rigidez constitucional, que protege a competência dos vários entes federativos, suas autonomias e a própria estabilidade da Federação como um todo;!

f) Existência de Órgão Judicial para Dirimir Conflitos - existência de órgão judicial para resolver eventuais litígios entre os entes da federação, sendo do STF essa função, na forma do art. 102, I, “f”, CRFB/88;!

Art. 102, CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:!I - processar e julgar, originariamente:!f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta;!

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g) Existência de Mecanismo de Defesa da Para Defender o Estado - existência de um mecanismo de defesa para a proteção do Estado, consistindo na intervenção federal, na forma dos arts. 34 e 35, CRFB/88;!

Art. 34, CF. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:!I - manter a integridade nacional;!II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra;!III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública;!IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação;!V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que:!a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior;!b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei;!VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial;!VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:!a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;!b) direitos da pessoa humana;!c) autonomia municipal;!d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.!e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.!!Art. 35, CF. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos Municípios localizados em Território Federal, exceto quando:!I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos, a dívida fundada;!II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei;!III - não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde;!IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a observância de princípios indicados na Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial.!!

h) Controle Concentrado de Constitucionalidade - controle concentrado de constitucionalidade, que oferece maior estabilidade ao texto constitucional e, portanto, essencial à manutenção do equilíbrio entre os diversos entes federativos, já que a solução de seus eventuais conflitos reside na própria Constituição, por isso é essencial à sua supremacia;!

i) Federalismo Tricotômico - adoção de um federalismo tricotômico, com três manifestações de poder (local, regional, nacional), em vez de duas, como no federalismo clássico, dual (nacional e regional) norte-americano;!

As federações são, em regra, duais, como as federações americana, alemã, australiana… Nesse tipo de federalismo só existe duas forças de poder, ou seja, há o poder central representado pela União e o poder regional representado pelos estados.!

! ! ! ! ! !União!

!! ! ! Estados!

!A federação brasileira é especial, é tricotômica, porque possui três frentes de poder: o poder central representado pela União, o poder regional nas mãos dos estados, o poder local nas mãos dos municípios e ainda há um ente tão anômalo quanto o município que é o Distrito Federal, que acumula as funções regionais e locais.!

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TYCIA CARDOSO OAB - SEGUNDA FASE

! ! ! ! ! BRASIL!

!! ! ! ! ! ! !União! !Estados! ! ! ! ! !! ! ! !

!Municípios! !

! ! DF!

!j) Forma Federativa - deve-se recordar que a forma federativa do Estado brasileiro é “cláusula

pétrea”, limite material à reforma constitucional (art. 60, § 4º, I, CRFB/88).!

Art. 60 § 4º, CF. Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:!I - a forma federativa de Estado;!!!!

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!INTERVENÇÃO FEDERAL!!!

BASE LEGAL (Arts. 34 a 36, CRFB/88)!

A intervenção federal é medida excepcional em nosso ordenamento, tendo como sua base legal os arts. 34 a 36, da Constituição.!

Art. 34, CF. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:!I - manter a integridade nacional;!II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra;!III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública;!IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação;!V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que:!a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior;!b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei;!VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial;!VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:!a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;!b) direitos da pessoa humana;!c) autonomia municipal;!d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.!e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.!!Art. 35, CF. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos Municípios localizados em Território Federal, exceto quando:!I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos, a dívida fundada;!II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei;!III - não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde;!IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a observância de princípios indicados na Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial.!!Art. 36, CF. A decretação da intervenção dependerá:!I - no caso do art. 34, IV, de solicitação do Poder Legislativo ou do Poder Executivo coacto ou impedido, ou de requisição do Supremo Tribunal Federal, se a coação for exercida contra o Poder Judiciário;!II - no caso de desobediência a ordem ou decisão judiciária, de requisição do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do Tribunal Superior Eleitoral;!III de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de representação do Procurador-Geral da República, na hipótese do art. 34, VII, e no caso de recusa à execução de lei federal. !§ 1º - O decreto de intervenção, que especificará a amplitude, o prazo e as condições de execução e que, se couber, nomeará o interventor, será submetido à apreciação do Congresso Nacional ou da Assembléia Legislativa do Estado, no prazo de vinte e quatro horas.!§ 2º - Se não estiver funcionando o Congresso Nacional ou a Assembléia Legislativa, far-se-á convocação extraordinária, no mesmo prazo de vinte e quatro horas.!§ 3º - Nos casos do art. 34, VI e VII, ou do art. 35, IV, dispensada a apreciação pelo Congresso Nacional ou pela Assembléia Legislativa, o decreto limitar-se-á a suspender a execução do ato impugnado, se essa medida bastar ao restabelecimento da normalidade.!§ 4º - Cessados os motivos da intervenção, as autoridades afastadas de seus cargos a estes voltarão, salvo impedimento legal.!!!!

PRINCÍPIOS NORTEADORES!

a) Necessidade - a regra é a da não-intervenção, conforme se depreende do caput do art. 34, CRFB/88 que diz “a União não intervirá nos estados ou Distrito Federal, exceto para…”, apesar da intervenção ser um mecanismo de defesa do Estado, a regra é a da não

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intervenção, porque a intervenção é uma antítese da autonomia e numa federação a autonomia é a regra e a intervenção a exceção.!

Além do Princípio da Não-Intervenção, há outros princípios que norteiam a medida excepcional da intervenção federal: a necessidade, porque é preciso que se fundamente a intervenção em uma das hipóteses previstas no art. 34, CRFB/88 e segundo alguns autores seria inconstitucional ampliar as hipóteses de intervenção por emenda, porque violaria o pacto federativo.!

b) Temporariedade - toda medida de exceção e toda situação de situação de ilegalidade extraordinária é temporária, o Princípio da Temporariedade norteia a intervenção federal —, isso vale para estado de defesa e estado de sítio também —, porque nenhuma situação de emergência pode ser decretada de forma permanente.!

c) Proporcionalidade - os atos decididos durante a intervenção precisam ser proporcionais aos fatos vivenciados na realidade, a proporcionalidade dá o tom do direito contemporâneo e a intervenção não pode se afastar desse primado.!

!CONCEITO!

A intervenção é um procedimento político-administrativo que de forma temporária irá restringir a autonomia do ente federativo, autonomia esta caracterizada pela tríplice capacidade de auto-organização, auto-governo, auto-administração.!

Então, a intervenção atinge a auto-organização, auto-governo, auto-administração e pode, eventualmente, atingir o legislativo do Estado, o Executivo, o Judiciário.!

A intervenção não atinge o ente como instituição, ela atinge uma das manifestações de sua autonomia de forma temporária.!

!MANIFESTAÇÕES DE INTERVENÇÃO FEDERAL!

a) A intervenção federal prevista na Constituição, art. 34, é a intervenção da União em seus estados e no Distrito Federal;!

Art. 34, CF. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:!I - manter a integridade nacional;!II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra;!III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública;!IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação;!V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que:!a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior;!b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei;!VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial;!VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:!a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;!b) direitos da pessoa humana;!c) autonomia municipal;!d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.!e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.!!!

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b) Intervenção da União em municípios de territórios (art. 35, CRFB/88) — hoje não há territórios no Brasil, mas eles podem ser criados na forma do art. 18 § 3º, CRFB/88 e se forem criados, poderão ser divididos em municípios com autonomia.!

Art. 35, CF. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos Municípios localizados em Território Federal, exceto quando:!I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos, a dívida fundada;!II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei;!III - não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde;!IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a observância de princípios indicados na Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial.!!Art. 18, § 3º, CF. Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar.!!

Então, se houver uma situação que legitime a intervenção em um município, quem vai intervir é a União, porque o território não tem autonomia própria de modo a atingir a autonomia de um ente.!

!IMPOSSIBILIDADE DE INTERVENÇÃO FEDERAL!

a) Não há intervenção federal em município de estado. Os municípios de estado só podem sobre sofrer intervenção dos próprios estados, na forma do art. 35, CRFB/88, isso porque não existe intervenção per saltum no país, para que a União chegasse ao município, ela passaria passar por cima da autonomia do estado; além do que, caso o município pudesse sofrer intervenção federal, sua autonomia estaria mais abalada;!

b) Não há intervenção do Distrito Federal em ente algum, afinal de contas o DF não pode ser dividido em municípios;!

c) Não há intervenção do território em ente algum, porque não goza de autonomia;!

d) Não há intervenção municipal porque o município é o menor dos entes federativos, com a abrangência mais restrita, então, ele só sofre intervenção.!

!OITIVA DO CONSELHO DA REPÚBLICA E DA DEFESA NACIONAL (Arts. 90, I, e 91 § 1º, II, CRFB/88)!

Art. 90, CF. Compete ao Conselho da República pronunciar-se sobre:!I - intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio;!!Art. 90, § 1º, CF. Compete ao Conselho de Defesa Nacional:!II - opinar sobre a decretação do estado de defesa, do estado de sítio e da intervenção federal;!!

O Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional são órgãos superiores de consulta do Presidente da República, os quais atuam em questões associadas à segurança, à soberania nacional. !

Então, antes do decreto interventivo no plano federal há a participação dos dois órgãos superiores de consulta que vão opinar sobre a necessidade ou não de se decretar a intervenção federal. !

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Os pareceres do Conselho da República e do Conselho de Defesa Nacional são pareceres opinativos e não vinculam o Presidente, mas o Presidente deve ouvir os Conselhos antes de decretar a intervenção.!

!DECRETO INTERVENTIVO (Art. 36, § 1º, CRFB/88)!

Art. 36, § 1º, CF. O decreto de intervenção, que especificará a amplitude, o prazo e as condições de execução e que, se couber, nomeará o interventor, será submetido à apreciação do Congresso Nacional ou da Assembléia Legislativa do Estado, no prazo de vinte e quatro horas.!!

a) Competência!

i) Plano Federal - no plano federal, a intervenção deverá ser determinada pelo Presidente da República, art. 84, X, CRFB/88;!

Art. 84, CF. Compete privativamente ao Presidente da República:!X - decretar e executar a intervenção federal;!!

ii) Plano Estadual - no plano estadual, quem decreta a intervenção é o governador do estado.!

b) Elementos - em qualquer situação o decreto interventivo deve estabelecer a amplitude, o prazo e as condições de intervenção e, se couber, a nomeação do interventor. !

Na doutrina, se diz que se a intervenção ocorrer no Executivo de determinado estado, haverá necessidade de se nomear um interventor, caso contrário, não há necessidade obrigatória fazê-lo.!

Ainda, o decreto deve ser submetido à apreciação do Congresso no prazo de 24 hrs.!

!MODALIDADES (Art. 34, CRFB/88)!

Há duas modalidades de intervenção:!

a) Espontânea (incisos I a III e V) - aquela na qual o Presidente avalia a situação e decreta, moto proprio, a intervenção federal após ouvir os Conselhos;!

Art. 34, CF.!I - manter a integridade nacional;!II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra;!III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública;!V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que:!a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior;!b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei;!!

Hipóteses:!

i) Manter integridade nacional - é a situação da secessão, se o estado quiser se separar do país, pode ser decretada a intervenção;!

ii) Repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra - invasão física, a Constituição se refere à litígio judicial, apenas;!

iii) Pôr termo a grave comprometimento da ordem pública - como greves da polícia, por exemplo, que geram comprimento da ordem pública;!

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iv) Reorganizar as finanças da unidade da Federação que: 1) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior; ou 2) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei.!

A intervenção espontânea ocorre, enfim, sem provocação externa.!

b) Provocada (Incisos IV, VI e VII) - o Presidente só pode provocar a intervenção federação após solicitação (pedido) ou requisição (determinação, mando), sendo que as solicitações podem ser negadas, mas não as intervenções.!

Art. 34, CF.!IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação;!VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial;!VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:!a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;!b) direitos da pessoa humana;!c) autonomia municipal;!d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.!e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.!!

Combina os pressupostos materiais do art. 34, CRFB/88, com aspectos formais do art. 36, CRFB/88.!

Essa modalidade de intervenção depende do cumprimento dos pressupostos materiais e formais.!

PS! Questões de prova são de letra de lei, porque não há tradição de intervenção federal no Brasil, Barroso diz que desde 1967 não há decreto de intervenção federal no Brasil.!

Hipóteses:!

i) Garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação - Legislativo, Executivo e Judiciário, mas o pressuposto formal que deve ser cumprido para que haja a intervenção é combinação com art. 36, I, CRFB/88, que diz que a decretação de intervenção dependerá de solicitação do Poder Legislativo ou Executivo, ou requisição do STF, se a coação for contra o Judiciário.!

Art. 36, CF. A decretação da intervenção dependerá:!I - no caso do art. 34, IV, de solicitação do Poder Legislativo ou do Poder Executivo coacto ou impedido, ou de requisição do Supremo Tribunal Federal, se a coação for exercida contra o Poder Judiciário;!!

Então, se a coação for no Legislativo, o próprio Presidente da Assembleia Legislativa que vai solicitar ao Congresso que decrete a intervenção; se o problema for no Executivo, também caberá ao próprio Chefe do Executivo local, governador, a solicitar ao Presidente da República; em sendo a coação no Judiciário, o Poder Judiciário coato solicita ao STF e este, se for o caso, irá requisitar ao Presidente da República que decrete a intervenção.!

No caso da intervenção requisitada pelo STF, se o Presidente não a cumprir, poderá vir a responder por crime de responsabilidade.!

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ii) Prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial - este artigo deve ser entendido, dividido, em duas partes:!

1. Prover a execução de lei federal - deve ser combinado com o art. 36, III, CRFB/88, ou seja, em caso de descumprimento de execução de lei federal, se dará ensejo à Representação de Inconstitucionalidade interventiva federal, que deverá ser proposta pelo Procurador Geral da República ao STF.!

Art. 36, CF. A decretação da intervenção dependerá:!III - de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de representação do Procurador-Geral da República, na hipótese do art. 34, VII, e no caso de recusa à execução de lei federal. !!

A RI interventiva federal (ADIN interventiva federal) é, para muitos autores, uma ação do controle concentrado concreto, ou seja, seu objetivo principal é o de resolver o conflito federativo, um caso concreto, mas incidentalmente há um ato do Poder Público que deixou de promover a execução de uma lei federal.!

Então, o PGR poderá ajuizar a ação ante o STF e a Corte, se der provimento a RI, vai determinar que o Presidente suspenda o ato impugnado e caso não seja suficiente para restabelecer a ordem, o Presidente da República deverá decretar a intervenção.!

2. Prover ordem ou decisão judicial - deve ser combinado com o art. 36, II, CRFB/88, que diz que a decretação de intervenção federal dependerá de requisições do STF, STJ ou TSE.!

Art. 36, CF. A decretação da intervenção dependerá:!II - no caso de desobediência a ordem ou decisão judiciária, de requisição do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do Tribunal Superior Eleitoral;!!

Se a decisão descumprida for de algum dos órgãos referentes à justiça eleitoral, será o TSE o responsável por requisitar a intervenção ao Presidente, por meio de seu Presidente; se a ordem descumprida for da justiça federal, estadual comum ou do próprio STJ, será este que requisitará a intervenção ao Presidente; se a decisão descumprida for da Justiça Militar, Justiça do Trabalho ou do próprio STF, quem requisitará ao Presidente da República é o Presidente do STF.!

iii) Assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais - é um inciso que traz os princípios constitucionais sensíveis da Constituição — 1) forma republicana, sistema representativo e regime democrático; 2) direitos da pessoa humana; 3) autonomia municipal; 4) prestação de contas da administração pública, direta e indireta; 5) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde — e se houver a violação de um desses princípios, é possível o ajuizamento de uma RI interventiva federal (ex: penitenciárias no Maranhão).!

Deve haver uma combinação com o art. 36, III, CRFB/88 que traz a base constitucional da Representação de Inconstitucionalidade interventiva, regulamentada pela L. 12.562/11 (a lei regulamenta em poucos dispositivos o procedimento da RI interventiva federal que, de certo modo se assemelha ao procedimento das demais ações do controle concentrado).!

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Art. 36, CF. A decretação da intervenção dependerá:!III - de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de representação do Procurador-Geral da República, na hipótese do art. 34, VII, e no caso de recusa à execução de lei federal.!!

A RI interventiva federal é considerada por muitos uma ação do controle concentrado concreto de constitucionalidade, porque a análise de violação à Constituição é feita de forma incidental.!

Sobre a intervenção, é importante reforçar os §§ 1º, 2º e 3º do art. 36, CRFB/88.!

Art. 36, CF.!§ 1º - O decreto de intervenção, que especificará a amplitude, o prazo e as condições de execução e que, se couber, nomeará o interventor, será submetido à apreciação do Congresso Nacional ou da Assembléia Legislativa do Estado, no prazo de vinte e quatro horas.!§ 2º - Se não estiver funcionando o Congresso Nacional ou a Assembléia Legislativa, far-se-á convocação extraordinária, no mesmo prazo de vinte e quatro horas.!§ 3º - Nos casos do art. 34, VI e VII, ou do art. 35, IV, dispensada a apreciação pelo Congresso Nacional ou pela Assembléia Legislativa, o decreto limitar-se-á a suspender a execução do ato impugnado, se essa medida bastar ao restabelecimento da normalidade.!!

O § 1º fala dos limites do decreto interventivo, que, ainda, deverá ser submetido ao Congresso Nacional no prazo de 24rhrs, o Congresso não precisa autorizar a intervenção, mas na forma do art. 49, IV, CRFB/88 vai aprovar ou não a intervenção — trata-se de um controle político a posteriori sobre o decreto de intervenção.!

Art. 49, CF. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:!IV - aprovar o estado de defesa e a intervenção federal, autorizar o estado de sítio, ou suspender qualquer uma dessas medidas;!!

O § 2º, por sua vez, diz que caso o Congresso não esteja em funcionamento, haverá uma convocação extraordinária no mesmo prazo de 24hrs e o art. 57, § 6º diz que nessa situação de intervenção federal decretada durante o recesso, quem vai convocar a sessão extraordinária é o Presidente do Senado Federal.!

Art. 57, § 6º, CF. A convocação extraordinária do Congresso Nacional far-se-á:!I - pelo Presidente do Senado Federal, em caso de decretação de estado de defesa ou de intervenção federal, de pedido de autorização para a decretação de estado de sítio e para o compromisso e a posse do Presidente e do Vice-Presidente- Presidente da República;!!

E o § 3º diz que nos casos dos incisos dos incisos VI e VII é dispensada a apreciação pelo Congresso Nacional ou pela Assembleia Legislativa e o decreto vai se limitar a suspender a execução do ato impugnado, há a dispensa do controle político porque já houve um controle judicial prévio —, nesse caso, como os check and balances já foram realizados antes, não há necessidade do controle político posterior.!

Ademais, é preciso lembrar que nenhum estado de exceção vivenciado pelo país pode afastar a apreciação do Poder Judiciário, então, ilegalidades cometidas durante a intervenção, bom base no art. 5º, XXXV, CRFB/88.!

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:!XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito!

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SEGURANÇA PÚBLICA!!Segundo o Professor Uadi Lammego Bulos[1] “como a convivência harmônica reclama a preservação dos direitos e garantias fundamentais, é necessário existir uma atividade constante de vigilância, prevenção e repressão de condutas delituosas. Daí a razão de ser a Segurança Pública do Estado, isto é, manter a paz dentro da adversidade, pois é dentro do embate de interesses antagônicos que emerge o seu papel fundamental, qual seja, o de procurar manter o equilíbrio nas relações sociais”.!

Então, para Lammego Bulos, o papel fundamental da segurança pública seria o de procurar manter o equilíbrio nas relações sociais.!

A Segurança Pública não se resume a uma questão de Polícia, tanto que no caput do art. 144, CF, está enunciado que ela é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos. Art. 144: “A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:”!

Art. 144, CF. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:!I - polícia federal;!II - polícia rodoviária federal;!III - polícia ferroviária federal;!IV - polícias civis;!V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.!§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a:!I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;!II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;!III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; !IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.!§ 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais.!§ 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais. !§ 4º - às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.!§ 5º - às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.!§ 6º - As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.!§ 7º - A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades.!§ 8º - Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei.!§ 9º A remuneração dos servidores policiais integrantes dos órgãos relacionados neste artigo será fixada na forma do § 4º do art. 39. !!

É possível dizer que a segurança é um ideário de segunda geração para muitos autores, faz parte dos direitos sociais, econômicos, culturais e é claro que a responsabilidade pela segurança não é só da polícia, a responsabilidade pela segurança é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos (art. 144, caput, CRFB/88).!

Interpretação do STF (RE 5596446) ao art. 144, CRFB/88: “o direito à segurança é prerrogativa constitucional indisponível, garantido mediante a implementação de políticas públicas, impondo ao

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Estado a obrigação de criar condições objetivas que possibilitem o efetivo acesso a tal serviço. É possível ao Poder Judiciário determinar a implementação pelo Estado quando inadimplente de políticas públicas constitucionalmente previstas, sem que haja ingerência em questão que envolve o poder discricionário do Executivo.”!

O controle judicial das políticas públicas em geral é um dos grandes temas da atualidade, na área da saúde, então, é um tema muito presente no dia a dia do direito contemporâneo.!

A decisão do STF é importante porque demonstra a possibilidade de controle judicial eventual na área de políticas públicas, como a segurança pública, em caso de omissão, prestação indevida do serviço por parte do Estado, sem, é claro, se avançar na discrionariedade administrativa e sem violar o Princípio da Separação dos Poderes.!

!!REALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES DE POLÍCIA!

a) Polícia Administrativa - tem por objeto as limitações impostas a bens jurídicos individuais (liberdade e propriedade);!

b) Polícia de Segurança - se divide em: !

i) Polícia Ostensiva - tem por objeto a preservação da ordem pública, evitando danos e perigos que podem ser causados ao homem, é uma polícia preventiva;!

ii) Polícia Judiciária - empreende tarefas investigatórias, para a apuração dos delitos penais, fornecendo ao Ministério Público os elementos necessários à repressão das condutas criminosas, através da ação penal pública, é uma polícia repressiva.!

!ÓRGÃOS DA SEGURANÇA PÚBLICA (Art. 144, CRFB/88)!

O art. 144, CRFB/88 aponta o rol taxativo de órgãos que compõem a segurança pública.!

Art. 144, CF. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:!I - polícia federal;!II - polícia rodoviária federal;!III - polícia ferroviária federal;!IV - polícias civis;!V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.!!

a) Polícia Federal!

b) Polícia Rodoviária Federal!

c) Polícia Ferroviária Federal!

d) Polícias Civis!

e) Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares!

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MUNICÍPIOS (Art. 144, § 8º, CRFB/88)!

Os municípios não têm uma polícia própria, mas poderão constituir, na forma do art. 144, § 8º, CRFB/88, guardas municipais destinados a proteção de seus bens, serviços e instalações.!

Art. 144 § 8º, CF - Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei.!

A guarda municipal não é um órgão de polícia, nem de polícia ostensiva, nem de polícia judiciária, mas é um órgão de proteção dos bens, serviços e instalações municipais.!

!POLÍCIAS FEDERAIS!

Todas as três polícias federais (art. 144, I a III, CRFB/88) são organizadas e mantidas pela União Federal (art. 21, XIV, CRFB/88), que também organiza e mantém a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal e nos Territórios. Todas elas hão de ser instituídas em lei, como órgãos permanentes estruturados em carreira.!

Art. 144, CF. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:!I - polícia federal;!II - polícia rodoviária federal;!III - polícia ferroviária federal;!!Art. 21, CF. Compete à União:!XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, bem como prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a execução de serviços públicos, por meio de fundo próprio!!!

Polícia Federal!

A Polícia Federal destina-se a:!

a) A apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;!

b) Prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência.!

c) Exercer as funções de polícia marítima, aérea e de fronteiras;!

d) Exercer, com exclusividade (por isso se afasta a polícia civil), as funções de polícia judiciária da União.!

!Polícias Rodoviária e Ferroviária Federal!

A polícia rodoviária federal e a polícia ferroviária federal destinam-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo, respectivamente das rodovias e das ferrovias federais, só das federais, porque o patrulhamento das rodovias e ferrovias estaduais é matéria de competência das polícias dos Estados.!

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POLÍCIAS ESTADUAIS!

Elas são responsáveis pelo exercício das funções de segurança e de polícia judiciária: a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar. À Polícia Civil cabem as funções de apuração de infrações penais, exceto: as de competência da polícia federal no âmbito restrito acima mencionado e as militares. !

À Polícia Militar, em cada Estado, cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública, enquanto ao corpo de bombeiros de cada Estado compete, além de outras definidas em lei, como a de prevenção e debelação de incêndios, a execução de atividades de defesa civil. Essas polícias militarizadas dos Estados são consideradas forças auxiliares do Exército e se subordinam, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.!

!JURISPRUDÊNCIA DO STF!

Há algumas decisões do STF sobre segurança pública.!

“O que caracteriza a sociedade moderna, permitindo o aparecimento do Estado moderno, é, por um lado, a divisão do trabalho; por outro, a monopolização da tributação e da violência física. Em nenhuma sociedade na qual a desordem tenha sido superada, admite-se que todos cumpram as mesmas funções. O combate à criminalidade é missão típica e privativa da Administração (não do Judiciário), através da polícia, como se lê nos incisos do art. <144> da Constituição, e do Ministério Público, a quem compete, privativamente, promover a ação penal pública (art. 129, I).” (HC 95.009, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 6-11-2008, Plenário, DJE de 19-12-2008.) !

Como já dito, é possível o controle de políticas públicas pelo Judiciário, em que pese sejam as políticas públicas responsabilidade do Poder Executivo. Entretanto, são poucas as ações civis públicas sobre a segurança, porque a segurança mexe com um tema muito complexo — violência, sociedade, complexidade das cidades… —, então, o assunto é sensível, mas nada impede que haja o controle judicial na área da segurança (ou qualquer outra) que sejam omissas e prestadas de maneira indevida.!

“Os Estados-membros, assim como o Distrito Federal, devem seguir o modelo federal. O art. <144> da Constituição aponta os órgãos incumbidos do exercício da segurança pública. Entre eles não está o Departamento de Trânsito. Resta pois vedada aos Estados- membros a possibilidade de estender o rol, que esta Corte já firmou ser numerus clausus, para alcançar o Departamento de Trânsito.” (ADI 1.182, voto do Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 24-11-2005, Plenário, DJ de 10-3-2006.) !

Departamento de trânsito não pode ser órgão responsável pela segurança pública, porque o art. 144, CRFB/88 traz um rol taxativo de órgãos.!

"Polícia Militar: atribuição de radiopatrulha aérea‟: constitucionalidade. O âmbito material da polícia aeroportuária, privativa da União, não se confunde com o do policiamento ostensivo do espaço aéreo, que – respeitados os limites das áreas constitucionais das Polícias Federal e Aeronáutica Militar – se inclui no poder residual da Polícia dos Estados.” (ADI 132, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 30-4-2003, Plenário, DJ de 30-5-2003.)!

Segundo o STF é perfeitamente admissível a radiopatrulha aérea pela polícia dos Estados e não há um confronto direto com a atribuição da União.!

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FORÇA NACIONAL DE SEGURANÇA (Portaria Nº 394, DE 04 DE MARÇO DE 2008)!

A Copa está chegando, as Olimpíadas também, o Pan já passou e, aliás, o que não falta é atuação da Força Nacional de Segurança no país.!

Em eventual redação de prova, Flávia diz que é importante lembrar do federalismo cooperativo (federalismo de participação): a Constituição Federal estabelece parcerias entre os entes para a realização de várias atribuições (ex: a parceria na área da saúde, educação), porque é importante para o desenvolvimento do país e realização de políticas institucionais.!

Por isso, questiona-se, porque não a parceria na área da segurança? Vários fatores fizeram com que FNS fosse criada, sendo um deles a greve de policiais e outro o aumento da violência, porque a polícia não consegue dar conta das multidões —, então, a força nacional não significa intervenção da União, é criada em nome do federalismo de cooperação, de participação entre os entes.!

Portaria 394/08 !Regulamenta as disposições da Lei n°11.473, de 10 de maio de 2007 e do Decreto no 5.289, de 29 de novembro de 2004, relativas aos critérios de atuação e emprego da Força Nacional de Segurança Pública.!!Art. 1º. Para efeito de aplicação do art 3o, I, da Lei n° 11.473, de 2007, considera-se policiamento ostensivo as operações conjuntas com os órgãos federais no cumprimento de suas atribuições policiais ou com os órgãos de segurança pública estaduais realizadas pela Força Nacional, no cumprimento das seguintes missões:!I - apoio às ações de polícia para realização de cerco e contenção em áreas de grande perturbação da ordem pública;II - apoio às ações de polícia sobre grandes impactos ambientais negativos;!III - apoio às ações de polícia na realização de bloqueios em rodovias;IV - atuação em grandes eventos públicos de repercussão internacional;!V - apoio às autoridades locais em ações de defesa civil em caso de desastres e catástrofes;VI - apoio às ações do Programa Nacional de Segurança Pública - PRONASCI, criado pela Lei no. 11.530, de 24 de outubro de 2007. !!

Segundo o art. 1º, CRFB/88 a FNS fará um policiamento ostensivo.!

Art. 3º O emprego da Força Nacional de Segurança Pública em qualquer parte do território nacional, salvo nos casos de solicitação dos órgãos federais no cumprimento de suas atribuições policiais, fica condicionado à observância dos seguintes requisitos:!§ 1º A celebração de convênio de adesão ao programa de cooperação federativa da Força Nacional de Segurança Pública, entre a União e os Estados e o Distrito Federal, para execução das atividades e serviços imprescindíveis à preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, nos termos do art. 1o da Lei 11.473, de 2007.!§ 2º A solicitação expressa do respectivo Governador de Estado ou do Distrito Federal, onde deverá constar:I - descrição do fato que!justifique o emprego da Força!II - declaração da imprescindibilidade de apoio da Força Nacional de Segurança Pública para o restabelecimento da situação de preservação da ordem pública e incolumidade das pessoas e do patrimônio;III - delimitação territorial da área de atuação da Força Nacional de Segurança Pública;VI - proposta de emprego da Força Nacional de Segurança Pública no Estado ou no Distrito Federal, indicando que o fato descrito no inciso I deste artigo compreende uma das atividades ou serviços previstos no art. 3o da Lei n° 11.473, de 2007, e no art. 1o desta portaria.!!

Os requisitos para atuação da FNS são: a) celebração de convênio de adesão ao programa nacional da FNS para cooperação federativa; b) solicitação expressa do respectivo governador do estado ou do DF, de modo que o Presidente não pode, motu proprio enviar a FNS para o estado ou DF, constando; i) descrição do fato; ii) declaração de imprescindibilidade do apoio da FNS; iii) delimitação territorial da área de atuação; e iv) proposta de emprego da FNS.!

Art. 5º A permanência da Força Nacional de Segurança Pública em qualquer parte do território nacional deverá ocorrer durante o prazo delimitado pelo ato do Ministro de Estado da Justiça, nos termos do art. 4o, §3o, do Decreto no. 5.289, de 2004.

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Parágrafo único. A renovação do emprego da Força Nacional de Segurança Pública fica condicionada a nova solicitação do Governador do Estado ou do Distrito Federal que, além de conter os requisitos previstos no art. 3o desta portaria, deverá indicar as medidas de preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio a serem implementadas com o fim de desmobilização da Força Nacional de Segurança Pública.!!

FNS não pode atuar de forma indefinida, permanente, é sempre temporária, aliás, segundo o parágrafo primeiro, para que haja renovação de atuação FNS, é preciso que haja outra solicitação do governador com os requisitos necessários para fazer o requerimento ao Presidente da República, na forma do art. 3º.!

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!PODER JUDICIÁRIO!!

CONCEITO!

Ao lado das funções de administrar e legislar, ao Estado também compete a função judicial, ou jurisdicional, dirimindo as controvérsias que surgem quando da aplicação das leis. O Judiciário, porém, como as demais funções do Estado, possui outras atribuições, denominadas atípicas, de natureza administrativa e legislativa (ex: concessão de férias de seus membros e elaboração de seus regimentos internos).!

No Brasil se adota o Princípio da Separação de Poderes, com os freios e contrapesos, então, todo poder exerce funções típicas e atípicas.!

!ESTRUTURA!

!STF!

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CNJ!

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STJ! ! TST!! TSE STM!

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TJs! ! TRFs! TRTs! TREs TMs!

!!Juiz de Direito!! Juiz Federal! Juiz do Trabalho Juiz Eleitoral Juiz Militar!

!ÓRGÃOS DO PODER JUDICIÁRIO!

a) Supremo Tribunal Federal (Art. 101, ss, CRFB/88) - formado por onze membros, divididos em duas Turmas, que se encontram no mesmo plano hierárquico. O Presidente da República escolhe livremente o candidato, que será sabatinado pelo Senado Federal, devendo ser aprovado pela maioria absoluta de seus membros (art. 52, III, “a”, e art. 101, parágrafo único, CRFB/88).!

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Art. 52, CF. Compete privativamente ao Senado Federal:!III - aprovar previamente, por voto secreto, após argüição pública, a escolha de:!a) Magistrados, nos casos estabelecidos nesta Constituição;!!Art. 101, parágrafo único, CF. Os Ministros do Supremo Tribunal Federal serão nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal.!

São requisitos para a escolha dos Ministros (art. 101, CRFB/88):!

i) Idade - 35 a 65 anos.!

ii) Nacionalidade - brasileiro nato (art. 12 § 3º, CRFB/88).!

iii) Gozo de Direitos Políticos - ser cidadão, ou seja, estar em pleno gozo dos direitos políticos.!

iv) Notório Saber Jurídico!

v) Reputação Ilibada!

Competências estão dispostas nos arts. 102 e 103, CRFB/88, ou seja, se esgotam na Constituição Federal.!

Art. 102, CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:!I - processar e julgar, originariamente:!a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal;!b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República;!c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente;!d) o "habeas-corpus", sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de segurança e o "habeas-data" contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal;!e) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Território;!f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta;!g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro;!i) o habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância;!j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados;!l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões;!m) a execução de sentença nas causas de sua competência originária, facultada a delegação de atribuições para a prática de atos processuais;!n) a ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados, e aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados;!o) os conflitos de competência entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre Tribunais Superiores, ou entre estes e qualquer outro tribunal;!p) o pedido de medida cautelar das ações diretas de inconstitucionalidade;!q) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição do Presidente da República, do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal;!r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do Ministério Público; !II - julgar, em recurso ordinário:!a) o "habeas-corpus", o mandado de segurança, o "habeas-data" e o mandado de injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão;!b) o crime político;!

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III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida:!a) contrariar dispositivo desta Constituição;!b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;!c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição.!d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal.!§ 1.º A argüição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente desta Constituição, será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei. !§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal. !§ 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus membros. !!Art. 103, CF. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: !I - o Presidente da República;!II - a Mesa do Senado Federal;!III - a Mesa da Câmara dos Deputados;!IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; !V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; !VI - o Procurador-Geral da República;!VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;!VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;!IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.!§ 1º - O Procurador-Geral da República deverá ser previamente ouvido nas ações de inconstitucionalidade e em todos os processos de competência do Supremo Tribunal Federal.!§ 2º - Declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar efetiva norma constitucional, será dada ciência ao Poder competente para a adoção das providências necessárias e, em se tratando de órgão administrativo, para fazê-lo em trinta dias.!§ 3º - Quando o Supremo Tribunal Federal apreciar a inconstitucionalidade, em tese, de norma legal ou ato normativo, citará, previamente, o Advogado-Geral da União, que defenderá o ato ou texto impugnado.!!

b) Superior Tribunal de Justiça (Art. 104, ss, CRFB/88) - o Superior Tribunal de Justiça compõe-se de, no mínimo, 33 (trinta e três) ministros escolhidos pelo Chefe do Poder Executivo, porém não livremente, pois obrigatoriamente, deverão ser:!

i) 1/3 de Juízes dos TRFs!

ii) 1/3 de Desembargadores dos TJs!

iii) 1/3 da seguinte maneira: !1/6 de advogados; 1/6 de membros do Ministério Público Federal, Estaduais e Distrital.!

São requisitos para a escolha dos Ministros:!

i) Idade - 35 a 65 anos.!

ii) Nacionalidade - brasileiro nato ou naturalizado.!

iii) Gozo de Direitos Políticos - ser cidadão, ou seja, estar em pleno gozo dos direitos políticos.!

iv) Notório Saber Jurídico!

v) Reputação Ilibada!

Competências estão dispostas nos arts. 105, CRFB/88, ou seja, também se esgota na Constituição Federal — assim como a competência de qualquer Tribunal Superior —, e não podem ser ampliadas por legislação infraconstitucional.!

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Art. 105, CF. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente: a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais; b) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal; c) os habeas corpus, quando o coator ou paciente for qualquer das pessoas mencionadas na alínea "a", ou quando o coator for tribunal sujeito à sua jurisdição, Ministro de Estado ou Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral; d) os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvado o disposto no art. 102, I, "o", bem como entre tribunal e juízes a ele não vinculados e entre juízes vinculados a tribunais diversos; e) as revisões criminais e as ações rescisórias de seus julgados; f) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões; g) os conflitos de atribuições entre autoridades administrativas e judiciárias da União, ou entre autoridades judiciárias de um Estado e administrativas de outro ou do Distrito Federal, ou entre as deste e da União; h) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição de órgão, entidade ou autoridade federal, da administração direta ou indireta, excetuados os casos de competência do Supremo Tribunal Federal e dos órgãos da Justiça Militar, da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal; i) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias; II - julgar, em recurso ordinário: a) os "habeas-corpus" decididos em única ou última instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão for denegatória; b) os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a decisão; c) as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo internacional, de um lado, e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País; III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência; b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal; c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal. Parágrafo único. Funcionarão junto ao Superior Tribunal de Justiça: I - a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados, cabendo-lhe, dentre outras funções, regulamentar os cursos oficiais para o ingresso e promoção na carreira; II - o Conselho da Justiça Federal, cabendo-lhe exercer, na forma da lei, a supervisão administrativa e orçamentária da Justiça Federal de primeiro e segundo graus, como órgão central do sistema e com poderes correicionais, cujas decisões terão caráter vinculante. !

c) Conselho Nacional de Justiça - o CNJ é órgão do Poder Judiciário, em que pese seja desprovido de atividade jurisdicional.!

O CNJ foi criado pela EC 45/04 que introduziu ao texto da Constituição o art. 103-B e foi pensado para reforçar o controle financeiro, administrativo dos órgãos do Poder Judiciário, à exceção do STF, no julgamento da ADIN 3367, o STF sedimentou que o STF não fiscaliza o próprio STF, até porque o art. 102, I, r, CRFB/88 dispõe que eventuais ilegalidades cometidas pelo CNJ, serão apreciadas pelo STF.!

Art. 103-B, CF. O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de 15 (quinze) membros com mandato de 2 (dois) anos, admitida 1 (uma) recondução, sendo: I - o Presidente do Supremo Tribunal Federal; II - um Ministro do Superior Tribunal de Justiça, indicado pelo respectivo tribunal; III - um Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, indicado pelo respectivo tribunal; IV - um desembargador de Tribunal de Justiça, indicado pelo Supremo Tribunal Federal; V - um juiz estadual, indicado pelo Supremo Tribunal Federal; VI - um juiz de Tribunal Regional Federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça; VII - um juiz federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça; VIII - um juiz de Tribunal Regional do Trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho; IX - um juiz do trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho; X - um membro do Ministério Público da União, indicado pelo Procurador-Geral da República; XI um membro do Ministério Público estadual, escolhido pelo Procurador-Geral da República dentre os nomes indicados pelo órgão competente de cada instituição estadual; XII - dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; XIII - dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal.

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§ 1º O Conselho será presidido pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal e, nas suas ausências e impedimentos, pelo Vice-Presidente do Supremo Tribunal Federal. § 2º Os demais membros do Conselho serão nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal. § 3º Não efetuadas, no prazo legal, as indicações previstas neste artigo, caberá a escolha ao Supremo Tribunal Federal. § 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura: I - zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências; II - zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Poder Judiciário, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da competência do Tribunal de Contas da União; III - receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços notariais e de registro que atuem por delegação do poder público ou oficializados, sem prejuízo da competência disciplinar e correicional dos tribunais, podendo avocar processos disciplinares em curso e determinar a remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa; IV - representar ao Ministério Público, no caso de crime contra a administração pública ou de abuso de autoridade; V - rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes e membros de tribunais julgados há menos de um ano; VI - elaborar semestralmente relatório estatístico sobre processos e sentenças prolatadas, por unidade da Federação, nos diferentes órgãos do Poder Judiciário; VII - elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias, sobre a situação do Poder Judiciário no País e as atividades do Conselho, o qual deve integrar mensagem do Presidente do Supremo Tribunal Federal a ser remetida ao Congresso Nacional, por ocasião da abertura da sessão legislativa. § 5º O Ministro do Superior Tribunal de Justiça exercerá a função de Ministro-Corregedor e ficará excluído da distribuição de processos no Tribunal, competindo-lhe, além das atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura, as seguintes: I receber as reclamações e denúncias, de qualquer interessado, relativas aos magistrados e aos serviços judiciários; II exercer funções executivas do Conselho, de inspeção e de correição geral; III requisitar e designar magistrados, delegando-lhes atribuições, e requisitar servidores de juízos ou tribunais, inclusive nos Estados, Distrito Federal e Territórios. § 6º Junto ao Conselho oficiarão o Procurador-Geral da República e o Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. § 7º A União, inclusive no Distrito Federal e nos Territórios, criará ouvidorias de justiça, competentes para receber reclamações e denúncias de qualquer interessado contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, ou contra seus serviços auxiliares, representando diretamente ao Conselho Nacional de Justiça. !Art. 102, CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do Ministério Público;

O CNJ é presidido pelo Presidente do STF e composto por quinze membros: a) nove oriundos do Poder Judiciário; b) seis divididos em: i) dois membros do MP, um MPU e outro MPE, ii) dois advogados, e iii) dois cidadãos.!

Cada integrante do CNJ ocupará um mandato de dois anos, admitida uma recondução e quem vai nomear os membros do CNJ é o Presidente da República, após aprovado o nome pela maioria absoluta dos membros do Senado Federal.!

O STF no julgamento da ADC 12 reconheceu o poder normativo primário do CNJ, o poder de editar resoluções com força de lei.!

GARANTIAS DA MAGISTRATURA (Art. 95, CRFB/88)!

São garantias de independência e delas não se pode abrir mão, porque a garantia é do cargo e não da pessoa que o ocupa.!

Art. 95, CF. Os juízes gozam das seguintes garantias:!

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I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado;!II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma do art. 93, VIII;!III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. !Parágrafo único. Aos juízes é vedado:!I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério;!II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo;!III - dedicar-se à atividade político-partidária.!IV - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei;!V - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração.!

a) Vitaliciedade - o Juiz, após dois anos de exercício, só pode perder o cargo em virtude de sentença judicial transitada em julgado. Antes dos dois anos, estando o magistrado no período de estágio probatório, a perda do cargo pode operar-se por deliberação do Tribunal a que o Juiz estiver vinculado; !

Art. 95, CF. Os juízes gozam das seguintes garantias:!I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado;!!

b) Inamovibilidade - esta garantia proíbe que os juízes sejam removidos do local em que se encontram (isso para evitar que haja embate entre poderes, como o caso do juiz que decide contrariamente ao Prefeito), mesmo sob a forma de promoção, sem o seu consentimento, salvo motivo de interesse público (art. 93, VIII, e 95, II, CRFB/88), caso em que haverá deliberação por maioria absoluta dos membros do Tribunal a que estiver vinculado, ou do CNJ, por força do art. 93, VIII, CRFB/88, assegurada ampla defesa. Refere-se não apenas à comarca, mas até mesmo à vara na qual o juiz serve;!

Art. 93, CF. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:!VIII o ato de remoção, disponibilidade e aposentadoria do magistrado, por interesse público, fundar-se-á em decisão por voto da maioria absoluta do respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada ampla defesa;!!Art. 95, CF. Os juízes gozam das seguintes garantias:!II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma do art. 93, VIII;!!Art. 93, CF. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:!VIII o ato de remoção, disponibilidade e aposentadoria do magistrado, por interesse público, fundar-se-á em decisão por voto da maioria absoluta do respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada ampla defesa;!!

c) Irredutibilidade de Subsídios - almeja garantir aos magistrados a necessária tranquilidade para o exercício do cargo, protegendo-os de perseguições governamentais de natureza econômica.!

!VEDAÇÕES!

As vedações são consideradas garantias de Imparcialidade (art. 95, parágrafo único, I, II, III, IV e V, CRFB/88).!

Art. 95, parágrafo único, CF. Aos juízes é vedado:!I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério;!

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TYCIA CARDOSO OAB - SEGUNDA FASE

II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo;!III - dedicar-se à atividade político-partidária.!IV - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei;!V - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração.!!

Assim, os juízes não podem:!

a) Exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério, esse salvo uma de magistério diz respeito a uma universidade pública, não há limite específico para que o juiz seja impedido de atuar em escolas privadas e cursos preparatórios, claro que, se a atividade docente, não contrariar atividade de magistrado.!

b) Receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo;!

c) Dedicar-se à atividade político-partidária —, o partido político é um repertório de ideologia e liga a sociedade civil à sociedade política, de modo que não faria sentido que o juiz tivesse tendências político-partidárias porque isso atrapalharia sua imparcialidade.!

d) Receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei;!

e) Exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração — trata-se da quarentena, a tentativa de evitar o lobby, o uso de influências.!

!REFORMA DO PODER JUDICIÁRIO - ALTERAÇÕES DA EC 45/04!

a) A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação (art. 5º, LXXVIII, CRFB/88);!

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:!LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.!!

A EC 45/04 inseriu o inciso LXXVIII, trazendo a celeridade para a Constituição.!

b) A possibilidade de se criarem varas especializadas para a solução das questões agrárias. (art. 126, CRFB/88);!

Art. 126, CF. Para dirimir conflitos fundiários, o Tribunal de Justiça proporá a criação de varas especializadas, com competência exclusiva para questões agrárias.!Parágrafo único. Sempre que necessário à eficiente prestação jurisdicional, o juiz far-se-á presente no local do litígio.!!

c) A “constitucionalização” dos tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos desde que aprovados pelo quórum qualificado das emendas constitucionais (art. 5º, § 3º, CRFB/88);!

Art. 5º, § 3º, CF. Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais!

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Até hoje há o DC 6949/09 que constitucionalizou a Convenção Internacional dos Portadores de Deficiência, seu protocolo facultativo.!

d) Submissão do Brasil à jurisdição do Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão (art. 5º, § 4º, CRFB/88);!

Art. 5º, § 4º, CF. O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão.!

e) A federalização de crimes contra direitos humanos, objetivando o deslocamento de Competência para a Justiça Federal (art. 109, V-A e § 5º, CRFB/88);!

Art. 109, CF. Aos juízes federais compete processar e julgar:!V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo;!§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal.!!

Trata-se de uma manifestação do Federalismo Cooperativo.!

f) Previsão do controle da Magistratura por meio do Conselho Nacional de Justiça (art. 92 , I-A § 1º, CRFB/88);!

Art. 92, CF. São órgãos do Poder Judiciário:!I-A o Conselho Nacional de Justiça; !§ 1º O Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justiça e os Tribunais Superiores têm sede na Capital Federal.!!

g) Previsão do controle externo do Ministério Público por meio do Conselho Nacional do Ministério Público (art. 130 –A, CRFB/88);!

Art. 130-A, CF. O Conselho Nacional do Ministério Público compõe-se de quatorze membros nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal, para um mandato de dois anos, admitida uma recondução, sendo: !I o Procurador-Geral da República, que o preside;!II quatro membros do Ministério Público da União, assegurada a representação de cada uma de suas carreiras;!III três membros do Ministério Público dos Estados;!IV dois juízes, indicados um pelo Supremo Tribunal Federal e outro pelo Superior Tribunal de Justiça;!V dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;!VI dois cidadãos de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal.!§ 1º Os membros do Conselho oriundos do Ministério Público serão indicados pelos respectivos Ministérios Públicos, na forma da lei.!§ 2º Compete ao Conselho Nacional do Ministério Público o controle da atuação administrativa e financeira do Ministério Público e do cumprimento dos deveres funcionais de seus membros, cabendo lhe:!I zelar pela autonomia funcional e administrativa do Ministério Público, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências;!II zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Ministério Público da União e dos Estados, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da competência dos Tribunais de Contas;!III receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Ministério Público da União ou dos Estados, inclusive contra seus serviços auxiliares, sem prejuízo da competência disciplinar e correicional da instituição, podendo avocar processos disciplinares em curso, determinar a remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa;!IV rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de membros do Ministério Público da União ou dos Estados julgados há menos de um ano;!V elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias sobre a situação do Ministério Público no País e as atividades do Conselho, o qual deve integrar a mensagem prevista no art. 84, XI.!

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§ 3º O Conselho escolherá, em votação secreta, um Corregedor nacional, dentre os membros do Ministério Público que o integram, vedada a recondução, competindo-lhe, além das atribuições que lhe forem conferidas pela lei, as seguintes:!I receber reclamações e denúncias, de qualquer interessado, relativas aos membros do Ministério Público e dos seus serviços auxiliares;!II exercer funções executivas do Conselho, de inspeção e correição geral;!III requisitar e designar membros do Ministério Público, delegando-lhes atribuições, e requisitar servidores de órgãos do Ministério Público.!§ 4º O Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil oficiará junto ao Conselho.!§ 5º Leis da União e dos Estados criarão ouvidorias do Ministério Público, competentes para receber reclamações e denúncias de qualquer interessado contra membros ou órgãos do Ministério Público, inclusive contra seus serviços auxiliares, representando diretamente ao Conselho Nacional do Ministério Público.!!

h) Ampliação de algumas regras mínimas a serem observadas na Elaboração do Estatuto da Magistratura, todas no sentido de se dar maior produtividade e transparência à prestação jurisdicional, na busca da efetividade do processo (art. 93, CRFB/88);!

Art. 93, CF. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:!I - ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz substituto, mediante concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as fases, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e obedecendo-se, nas nomeações, à ordem de classificação; !II - promoção de entrância para entrância, alternadamente, por antigüidade e merecimento, atendidas as seguintes normas:!a) é obrigatória a promoção do juiz que figure por três vezes consecutivas ou cinco alternadas em lista de merecimento;!b) a promoção por merecimento pressupõe dois anos de exercício na respectiva entrância e integrar o juiz a primeira quinta parte da lista de antigüidade desta, salvo se não houver com tais requisitos quem aceite o lugar vago;!c) aferição do merecimento conforme o desempenho e pelos critérios objetivos de produtividade e presteza no exercício da jurisdição e pela freqüência e aproveitamento em cursos oficiais ou reconhecidos de aperfeiçoamento;!d) na apuração de antigüidade, o tribunal somente poderá recusar o juiz mais antigo pelo voto fundamentado de dois terços de seus membros, conforme procedimento próprio, e assegurada ampla defesa, repetindo-se a votação até fixar-se a indicação;!e) não será promovido o juiz que, injustificadamente, retiver autos em seu poder além do prazo legal, não podendo devolvê-los ao cartório sem o devido despacho ou decisão;!III o acesso aos tribunais de segundo grau far-se-á por antigüidade e merecimento, alternadamente, apurados na última ou única entrância; !IV previsão de cursos oficiais de preparação, aperfeiçoamento e promoção de magistrados, constituindo etapa obrigatória do processo de vitaliciamento a participação em curso oficial ou reconhecido por escola nacional de formação e aperfeiçoamento de magistrados; !V - o subsídio dos Ministros dos Tribunais Superiores corresponderá a noventa e cinco por cento do subsídio mensal fixado para os Ministros do Supremo Tribunal Federal e os subsídios dos demais magistrados serão fixados em lei e escalonados, em nível federal e estadual, conforme as respectivas categorias da estrutura judiciária nacional, não podendo a diferença entre uma e outra ser superior a dez por cento ou inferior a cinco por cento, nem exceder a noventa e cinco por cento do subsídio mensal dos Ministros dos Tribunais Superiores, obedecido, em qualquer caso, o disposto nos arts. 37, XI, e 39, § 4º;!VI - a aposentadoria dos magistrados e a pensão de seus dependentes observarão o disposto no art. 40;!VII o juiz titular residirá na respectiva comarca, salvo autorização do tribunal;!VIII o ato de remoção, disponibilidade e aposentadoria do magistrado, por interesse público, fundar-se-á em decisão por voto da maioria absoluta do respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada ampla defesa;!VIIIA a remoção a pedido ou a permuta de magistrados de comarca de igual entrância atenderá, no que couber, ao disposto nas alíneas a , b , c e e do inciso II;!IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;!X as decisões administrativas dos tribunais serão motivadas e em sessão pública, sendo as disciplinares tomadas pelo voto da maioria absoluta de seus membros; !XI nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgadores, poderá ser constituído órgão especial, com o mínimo de onze e o máximo de vinte e cinco membros, para o exercício das atribuições administrativas e jurisdicionais delegadas da competência do tribunal pleno, provendo-se metade das vagas por antigüidade e a outra metade por eleição pelo tribunal pleno;!

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XII a atividade jurisdicional será ininterrupta, sendo vedado férias coletivas nos juízos e tribunais de segundo grau, funcionando, nos dias em que não houver expediente forense normal, juízes em plantão permanente; !XIII o número de juízes na unidade jurisdicional será proporcional à efetiva demanda judicial e à respectiva população; !XIV os servidores receberão delegação para a prática de atos de administração e atos de mero expediente sem caráter decisório; !XV a distribuição de processos será imediata, em todos os graus de jurisdição. !!

i) Ampliação da garantia de imparcialidade dos órgãos jurisdicionais (art. 95, parágrafo único, IV e V, CRFB/88);!

Art. 95, parágrafo único, CF. Aos juízes é vedado:!IV - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei;!V - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração.!!

j) A extinção dos Tribunais de Alçada, passando os seus membros a integrar os TJ ́s dos respectivos Estados e uniformizando assim a nossa Justiça (art. 4º da EC 45/2004); transferência de competência do STF para o STJ no tocante à homologação de sentenças estrangeiras e a concessão do exequatur às cartas rogatórias (art. 102, I, “h”(revogada); 105, I, “i”);!

Art. 4º, EC 45/04. Ficam extintos os tribunais de Alçada, onde houver, passando os seus membros a integrar os Tribunais de Justiça dos respectivos Estados, respeitadas a antigüidade e classe de origem.!Parágrafo único. No prazo de cento e oitenta dias, contado da promulgação desta Emenda, os Tribunais de Justiça, por ato administrativo, promoverão a integração dos membros dos tribunais extintos em seus quadros, fixando-lhes a competência e remetendo, em igual prazo, ao Poder Legislativo, proposta de alteração da organização e da divisão judiciária correspondentes, assegurados os direitos dos inativos e pensionistas e o aproveitamento dos servidores no Poder Judiciário estadual.!!

k) Criação da Súmula Vinculante do STF (art. 103- A, CRFB/88);!

Art. 103-A, CF. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei!

A súmula vinculante só pode ser criada pelo STF e vai vincular os demais órgãos do Poder Judiciário e a Administração Pública direta e indireta das esferas federal, estadual, distrital e municipal.!

A súmula vinculante não possui o condão de vincular a função legiferante do Estado, em nome da Separação de Poderes, sendo perfeitamente possível criar uma lei ou editar uma medida provisória de conteúdo contrário à súmula vinculante.!

Os requisitos cumulativos para a criação de uma súmula vinculante são: a) a matéria constitucional deve estar sedimentada (o entendimento é maduro sobre o tema); b) comprovação de existência de controvérsias judiciais ou administrativa atuais sobre a matéria a sumular; e c) quórum de aprovação de 2/3 dos Ministros.!

A provocação do STF para criar, revisar ou cancelar a súmula vinculante (art. 103-A, CRFB/88 e L. 11417/06): a) STF, de ofício; b) legitimados do art. 103, I a IX, CRFB/88; c) Defensor Público Geral da União; e, d) pelos Tribunais brasileiros.!

A súmula vinculante não pode ser objeto de nenhuma das ações do controle concentrado de constitucionalidade e o grande instrumento de verificação de cumprimento da súmula

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vinculante é a reclamação constitucional (não cabe reclamação pelo descumprimento de súmula não vinculante).!

Art. 103, CF. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: !I - o Presidente da República;!II - a Mesa do Senado Federal;!III - a Mesa da Câmara dos Deputados;!IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; !V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; !VI - o Procurador-Geral da República;!VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;!VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;!IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.!!

O amicus curiae (art. 3, § 2º, L. 11.417/06) para tentar democratizar a jurisdição constitucional está prevista no processo de criação, revisão ou cancelamento de súmula vinculante.!

A lei também prevê em seu art. 4º a possibilidade de modulação temporal dos efeitos da súmula, ou seja, o STF pode criar uma súmula hoje e determinar que só passe a produzir seus efeitos a partir de uma determinada data —, desde que por 2/3 dos votos de seus Ministros.!

l) A aprovação da nomeação de Ministro do STJ pelo quórum de maioria absoluta dos membros do Senado Federal (art. 104, parágrafo único, CRFB/88); !

Art. 104, Parágrafo único, CF. Funcionarão junto ao Superior Tribunal de Justiça:!I - a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados, cabendo-lhe, dentre outras funções, regulamentar os cursos oficiais para o ingresso e promoção na carreira; !II - o Conselho da Justiça Federal, cabendo-lhe exercer, na forma da lei, a supervisão administrativa e orçamentária da Justiça Federal de primeiro e segundo graus, como órgão central do sistema e com poderes correicionais, cujas decisões terão caráter vinculante.!!

m) Ampliação da garantia de imparcialidade dos membros do MP (art. 128, CRFB/88)!

Art. 128, CF. O Ministério Público abrange:!I - o Ministério Público da União, que compreende:!a) o Ministério Público Federal;!b) o Ministério Público do Trabalho;!c) o Ministério Público Militar;!d) o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios;!II - os Ministérios Públicos dos Estados.!§ 1º - O Ministério Público da União tem por chefe o Procurador-Geral da República, nomeado pelo Presidente da República dentre integrantes da carreira, maiores de trinta e cinco anos, após a aprovação de seu nome pela maioria absoluta dos membros do Senado Federal, para mandato de dois anos, permitida a recondução.!§ 2º - A destituição do Procurador-Geral da República, por iniciativa do Presidente da República, deverá ser precedida de autorização da maioria absoluta do Senado Federal.!§ 3º - Os Ministérios Públicos dos Estados e o do Distrito Federal e Territórios formarão lista tríplice dentre integrantes da carreira, na forma da lei respectiva, para escolha de seu Procurador-Geral, que será nomeado pelo Chefe do Poder Executivo, para mandato de dois anos, permitida uma recondução.!§ 4º - Os Procuradores-Gerais nos Estados e no Distrito Federal e Territórios poderão ser destituídos por deliberação da maioria absoluta do Poder Legislativo, na forma da lei complementar respectiva.!§ 5º - Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público, observadas, relativamente a seus membros:!I - as seguintes garantias:!a) vitaliciedade, após dois anos de exercício, não podendo perder o cargo senão por sentença judicial transitada em julgado;!b) inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, mediante decisão do órgão colegiado competente do Ministério Público, pelo voto da maioria absoluta de seus membros, assegurada ampla defesa; ! c) irredutibilidade de subsídio, fixado na forma do art. 39, § 4º, e ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 150, II, 153, III, 153, § 2º, I; !II - as seguintes vedações:!a) receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários, percentagens ou custas processuais;!b) exercer a advocacia;!

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c) participar de sociedade comercial, na forma da lei;!d) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de magistério;!e) exercer atividade político-partidária; !f) receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei. !§ 6º Aplica-se aos membros do Ministério Público o disposto no art. 95, parágrafo único, V.!!!

SÚMULAS VINCULANTES!

SV 01. OFENDE A GARANTIA CONSTITUCIONAL DO ATO JURÍDICO PERFEITO A DECISÃO QUE, SEM PONDERAR AS CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO CONCRETO, DESCONSIDERA A VALIDEZ E A EFICÁCIA DE ACORDO CONSTANTE DE TERMO DE ADESÃO INSTITUÍDO PELA LEI COMPLEMENTAR Nº 110/2001.!!SV 02. É INCONSTITUCIONAL A LEI OU ATO NORMATIVO ESTADUAL OU DISTRITAL QUE DISPONHA SOBRE SISTEMAS DE CONSÓRCIOS E SORTEIOS, INCLUSIVE BINGOS E LOTERIAS.!!SV 03. NOS PROCESSOS PERANTE O TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO ASSEGURAM-SE O CONTRADITÓRIO E A AMPLA DEFESA QUANDO DA DECISÃO PUDER RESULTAR ANULAÇÃO OU REVOGAÇÃO DE ATO ADMINISTRATIVO QUE BENEFICIE O INTERESSADO, EXCETUADA A APRECIAÇÃO DA LEGALIDADE DO ATO DE CONCESSÃO INICIAL DE APOSENTADORIA, REFORMA E PENSÃO.!!SV 04.. SALVO NOS CASOS PREVISTOS NA CONSTITUIÇÃO, O SALÁRIO MÍNIMO NÃO PODE SER USADO COMO INDEXADOR DE BASE DE CÁLCULO DE VANTAGEM DE SERVIDOR PÚBLICO OU DE EMPREGADO, NEM SER SUBSTITUÍDO POR DECISÃO JUDICIAL.!!SV 05. A FALTA DE DEFESA TÉCNICA POR ADVOGADO NO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR NÃO OFENDE A CONSTITUIÇÃO.!!SV 06. NÃO VIOLA A CONSTITUIÇÃO O ESTABELECIMENTO DE REMUNERAÇÃO INFERIOR AO SALÁRIO MÍNIMO PARA AS PRAÇAS PRESTADORAS DE SERVIÇO MILITAR INICIAL.!!SV 07. A NORMA DO §3º DO ARTIGO 192 DA CONSTITUIÇÃO, REVOGADA PELA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 40/2003, QUE LIMITAVA A TAXA DE JUROS REAIS A 12% AO ANO, TINHA SUA APLICAÇÃO CONDICIONADA À EDIÇÃO DE LEI COMPLEMENTAR.!!SV 08. SÃO INCONSTITUCIONAIS O PARÁGRAFO ÚNICO DO ARTIGO 5º DO DECRETO-LEI Nº 1.569/1977 E OS ARTIGOS 45 E 46 DA LEI Nº 8.212/1991, QUE TRATAM DE PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA DE CRÉDITO TRIBUTÁRIO.!!SV 09. O DISPOSTO NO ARTIGO 127 DA LEI Nº 7.210/1984 (LEI DE EXECUÇÃO PENAL) FOI RECEBIDO PELA ORDEM CONSTITUCIONAL VIGENTE, E NÃO SE LHE APLICA O LIMITE TEMPORAL PREVISTO NO CAPUT DO ARTIGO 58.!!SV 10. VIOLA A CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO (CF, ARTIGO 97) A DECISÃO DE ÓRGÃO FRACIONÁRIO DE TRIBUNAL QUE, EMBORA NÃO DECLARE EXPRESSAMENTE A INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI OU ATO NORMATIVO DO PODER PÚBLICO, AFASTA SUA INCIDÊNCIA, NO TODO OU EM PARTE.!!SV 11. SÓ É LÍCITO O USO DE ALGEMAS EM CASOS DE RESISTÊNCIA E DE FUNDADO RECEIO DE FUGA OU DE PERIGO À INTEGRIDADE FÍSICA PRÓPRIA OU ALHEIA, POR PARTE DO PRESO OU DE TERCEIROS, JUSTIFICADA A EXCEPCIONALIDADE POR ESCRITO, SOB PENA DE RESPONSABILIDADE DISCIPLINAR, CIVIL E PENAL DO AGENTE OU DA AUTORIDADE E DE NULIDADE DA PRISÃO OU DO ATO PROCESSUAL A QUE SE REFERE, SEM PREJUÍZO DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO.!!SV 12. A COBRANÇA DE TAXA DE MATRÍCULA NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS VIOLA O DISPOSTO NO ART. 206, IV, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.!!SV 13. A NOMEAÇÃO DE CÔNJUGE, COMPANHEIRO OU PARENTE EM LINHA RETA, COLATERAL OU POR AFINIDADE, ATÉ O TERCEIRO GRAU, INCLUSIVE, DA AUTORIDADE NOMEANTE OU DE SERVIDOR DA MESMA PESSOA JURÍDICA INVESTIDO EM CARGO DE DIREÇÃO, CHEFIA OU ASSESSORAMENTO, PARA O EXERCÍCIO DE CARGO EM COMISSÃO OU DE CONFIANÇA OU, AINDA, DE FUNÇÃO GRATIFICADA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA E INDIRETA EM QUALQUER DOS PODERES DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DO DISTRITO FEDERAL E DOS MUNICÍPIOS, COMPREENDIDO O AJUSTE MEDIANTE DESIGNAÇÕES RECÍPROCAS, VIOLA A CONSTITUIÇÃO FEDERAL.!

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!SV 14. É DIREITO DO DEFENSOR, NO INTERESSE DO REPRESENTADO, TER ACESSO AMPLO AOS ELEMENTOS DE PROVA QUE, JÁ DOCUMENTADOS EM PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO REALIZADO POR ÓRGÃO COM COMPETÊNCIA DE POLÍCIA JUDICIÁRIA, DIGAM RESPEITO AO EXERCÍCIO DO DIREITO DE DEFESA.!!SV 15. O CÁLCULO DE GRATIFICAÇÕES E OUTRAS VANTAGENS DO SERVIDOR PÚBLICO NÃO INCIDE SOBRE O ABONO UTILIZADO PARA SE ATINGIR O SALÁRIO MÍNIMO.!!SV 16. OS ARTIGOS 7º, IV, E 39, § 3º (REDAÇÃO DA EC 19/98), DA CONSTITUIÇÃO, REFEREM-SE AO TOTAL DA REMUNERAÇÃO PERCEBIDA PELO SERVIDOR PÚBLICO.!!SV 17. DURANTE O PERÍODO PREVISTO NO PARÁGRAFO 1º DO ARTIGO 100 DA CONSTITUIÇÃO, NÃO INCIDEM JUROS DE MORA SOBRE OS PRECATÓRIOS QUE NELE SEJAM PAGOS.!!SV. 18. A DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE OU DO VÍNCULO CONJUGAL, NO CURSO DO MANDATO, NÃO AFASTA A INELEGIBILIDADE PREVISTA NO § 7º DO ARTIGO 14 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.!!SV. 19. A TAXA COBRADA EXCLUSIVAMENTE EM RAZÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS DE COLETA, REMOÇÃO E TRATAMENTO OU DESTINAÇÃO DE LIXO OU RESÍDUOS PROVENIENTES DE IMÓVEIS, NÃO VIOLA O ARTIGO 145, II, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.!!SV. 20. A GRATIFICAÇÃO DE DESEMPENHO DE ATIVIDADE TÉCNICO-ADMINISTRATIVA – GDATA, INSTITUÍDA PELA LEI Nº 10.404/2002, DEVE SER DEFERIDA AOS INATIVOS NOS VALORES CORRESPONDENTES A 37,5 (TRINTA E SETE VÍRGULA CINCO) PONTOS NO PERÍODO DE FEVEREIRO A MAIO DE 2002 E, NOS TERMOS DO ARTIGO 5º, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI Nº 10.404/2002, NO PERÍODO DE JUNHO DE 2002 ATÉ A CONCLUSÃO DOS EFEITOS DO ÚLTIMO CICLO DE AVALIAÇÃO A QUE SE REFERE O ARTIGO 1º DA MEDIDA PROVISÓRIA NO 198/2004, A PARTIR DA QUAL PASSA A SER DE 60 (SESSENTA) PONTOS.!!SV. 21. É INCONSTITUCIONAL A EXIGÊNCIA DE DEPÓSITO OU ARROLAMENTO PRÉVIOS DE DINHEIRO OU BENS PARA ADMISSIBILIDADE DE RECURSO ADMINISTRATIVO.!!SV. 22. A JUSTIÇA DO TRABALHO É COMPETENTE PARA PROCESSAR E JULGAR AS AÇÕES DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E PATRIMONIAIS DECORRENTES DE ACIDENTE DE TRABALHO PROPOSTAS POR EMPREGADO CONTRA EMPREGADOR, INCLUSIVE AQUELAS QUE AINDA NÃO POSSUÍAM SENTENÇA DE MÉRITO EM PRIMEIRO GRAU QUANDO DA PROMULGAÇÃO DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45/04.!!SV 23. A JUSTIÇA DO TRABALHO É COMPETENTE PARA PROCESSAR E JULGAR AÇÃO POSSESSÓRIA AJUIZADA EM DECORRÊNCIA DO EXERCÍCIO DO DIREITO DE GREVE PELOS TRABALHADORES DA INICIATIVA PRIVADA.!!SV 24. NÃO SE TIPIFICA CRIME MATERIAL CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA, PREVISTO NO ART. 1º, INCISOS I A IV, DA LEI Nº 8.137/90, ANTES DO LANÇAMENTO DEFINITIVO DO TRIBUTO.SV 25. É ILÍCITA A PRISÃO CIVIL DE DEPOSITÁRIO INFIEL, QUALQUER QUE SEJA A MODALIDADE DO DEPÓSITO.SV 26. PARA EFEITO DE PROGRESSÃO DE REGIME NO CUMPRIMENTO DE PENA POR CRIME HEDIONDO, OU EQUIPARADO, O JUÍZO DA EXECUÇÃO OBSERVARÁ A INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 2O DA LEI N. 8.072, DE 25 DE JULHO DE 1990, SEM PREJUÍZO DE AVALIAR SE O CONDENADO PREENCHE, OU NÃO, OS REQUISITOS OBJETIVOS E SUBJETIVOS DO BENEFÍCIO, PODENDO DETERMINAR, PARA TAL FIM, DE MODO FUNDAMENTADO, A REALIZAÇÃO DE EXAME CRIMINOLÓGICO.SV 27. COMPETE À JUSTIÇA ESTADUAL JULGAR CAUSAS ENTRE CONSUMIDOR E CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO DE TELEFONIA, QUANDO A ANATEL NÃO SEJA LITISCONSORTE PASSIVA NECESSÁRIA, ASSISTENTE, NEM OPOENTE.SV. 28. É INCONSTITUCIONAL A EXIGÊNCIA DE DEPÓSITO PRÉVIO COMO REQUISITO DE ADMISSIBILIDADE DE AÇÃO JUDICIAL NA QUAL SE PRETENDA DISCUTIR A EXIGIBILIDADE DE CRÉDITO TRIBUTÁRIO.SV. 29. É CONSTITUCIONAL A ADOÇÃO, NO CÁLCULO DO VALOR DE TAXA, DE UM OU MAIS ELEMENTOS DA BASE DE CÁLCULO PRÓPRIA DE DETERMINADO IMPOSTO, DESDE QUE NÃO HAJA INTEGRAL IDENTIDADE ENTRE UMA BASE E OUTRA.

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SV. 30. É INCONSTITUCIONAL A INCIDÊNCIA DO IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS DE QUALQUER NATUREZA – ISS SOBRE OPERAÇÕES DE LOCAÇÃO DE BENS MÓVEIS.!!SV. 31. O ICMS NÃO INCIDE SOBRE ALIENAÇÃO DE SALVADOS DE SINISTRO PELAS SEGURADORAS.

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ESTADO DE DEFESA E ESTADO DE SÍTIO!!!São medidas excepcionais, de crise e fazem parte segundo José Afonso da Silva e Alexandre de Moraes, do sistema constitucional de crise e visam restaurar a normalidade constitucional.!

!PRINCÍPIOS NORTEADORES!

a) Princípio da Necessidade - é preciso legitimar o estado de defesa e o estado de sítio em uma das hipóteses expressamente previstas na Constituição;!

b) Temporariedade - é preciso estar diante de uma situação temporária; e!

c) Proporcionalidade - as decisões tomadas devem ser proporcionais aos fatos.!

!COMPETÊNCIA (Art. 84, IX, CRFB/88)!

O decreto de estado de defesa e estado de sítio é privativo do Presidente da República, após as oitivas do Conselho da República e do Conselho de Defesa, do mesmo modo que ocorre a intervenção federal, muito embora sejam oitivas, apenas, de opinião, que não estão vinculadas a cumprir o teor da opinião do Conselho da República e do Conselho de Defesa Nacional.!

Art. 84, CF. Compete privativamente ao Presidente da República:!IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio;!!

DIFERENÇAS!

O que diferencia o estado de defesa e o estado de sítio é a gravidade, o estado de sítio é uma situação mais grave que o estado de defesa.!

a) Estado de Defesa - está previsto no art. 136, caput, CRFB/88 e consiste em uma situação de emergência na qual o Presidente da República conta com poderes especiais para suspender algumas garantias individuais asseguradas pela Constituição cuja suspensão se justifica para restabelecer a ordem em situações de crise institucional e nas guerras.!

Art. 136, CF. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, decretar estado de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e

CARACTERÍSTICAS ESTADO DE DEFESA ESTADO DE SÍTIO

Base Legal Art. 136, caput, CRFB/88 Art. 137, I e II, CRFB/88

Autorização do Congresso Nacional

Dispensável para o decreto e necessária para a prorrogação

(Art. 136, § 4º, CRFB/88)

!Imprescindível

Área Delimitada Nacional

Prazo 30 dias, admitida uma prorrogação por igual período

Se hipótese inciso I - 30 dias, admitidas quantas prorrogações

necessárias; se hipótese inciso II, não tem prazo

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determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza. !

O Presidente da República não precisa de autorização do Congresso Nacional para decretar o estado de defesa, mas uma vez editado o o decreto do estado de defesa, segundo o art. 136, § 4º, submeterá o ato ao Congresso Nacional —, então, não há controle preventivo político, o controle é repressivo, com base no art. 136, § 4º e também no art. 49, IV, CRFB/88.!

Art. 136, § 4º, CF. Decretado o estado de defesa ou sua prorrogação, o Presidente da República, dentro de vinte e quatro horas, submeterá o ato com a respectiva justificação ao Congresso Nacional, que decidirá por maioria absoluta.!!Art. 49, CF. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:!IV - aprovar o estado de defesa e a intervenção federal, autorizar o estado de sítio, ou suspender qualquer uma dessas medidas;!!

As áreas do estado de defesa são delimitadas, o estado de defesa é regional e não nacional.!

O decreto deve ser feito no prazo de 30 dias, admitida uma prorrogação por igual período.!

b) Estado de Sítio - previsto no art. 137, I e II, CRFB/88, consiste na instauração de uma legalidade extraordinária, por determinado tempo e em certa área( que poderá ser o território nacional inteiro).!

O Presidente pode decretar o estado de sítio, depois de autorização ao Congresso Nacional —, então no estado de sítio há um controle prévio ao decreto, art. 49, IV, CRFB/88.!

Art. 137, CF. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, solicitar ao Congresso Nacional autorização para decretar o estado de sítio nos casos de:!I - comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa;!II - declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira.!Parágrafo único. O Presidente da República, ao solicitar autorização para decretar o estado de sítio ou sua prorrogação, relatará os motivos determinantes do pedido, devendo o Congresso Nacional decidir por maioria absoluta.!!Art. 49, CF. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:!IV - aprovar o estado de defesa e a intervenção federal, autorizar o estado de sítio, ou suspender qualquer uma dessas medidas;!!

No estado de sítio, no caso do inciso art. 137, I, CRFB/88 (comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de ineficácia da medida) pode ser decretado por trinta dias, segundo o art. 138 § 1º, CRFB/88 e prorrogado quantas vezes seja necessário).!

No caso do art. 137, II, CRFB/88 (guerra, calamidade), não tem um prazo, porque não se sabe quanto será necessário para restabelecer a paz —, mas em nome do princípio da temporariedade, em nome da proporcionalidade e da própria dignidade da pessoa humana, não pode haver um estado de sítio permanente.!

!RESTRIÇÃO A DIREITOS FUNDAMENTAIS !

Os direitos fundamentais que vão sofrer restrições com base no art. 136 e 139, CRFB/88 são taxativas, não se admite ampliação das restrições (ex: incomunicablidade do preso).!

Art. 136, CF. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, decretar estado de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem

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pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza.!§ 1º - O decreto que instituir o estado de defesa determinará o tempo de sua duração, especificará as áreas a serem abrangidas e indicará, nos termos e limites da lei, as medidas coercitivas a vigorarem, dentre as seguintes:!I - restrições aos direitos de:!a) reunião, ainda que exercida no seio das associações;!b) sigilo de correspondência;!c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica;!II - ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de calamidade pública, respondendo a União pelos danos e custos decorrentes.!§ 2º - O tempo de duração do estado de defesa não será superior a trinta dias, podendo ser prorrogado uma vez, por igual período, se persistirem as razões que justificaram a sua decretação.!§ 3º - Na vigência do estado de defesa:!I - a prisão por crime contra o Estado, determinada pelo executor da medida, será por este comunicada imediatamente ao juiz competente, que a relaxará, se não for legal, facultado ao preso requerer exame de corpo de delito à autoridade policial;!II - a comunicação será acompanhada de declaração, pela autoridade, do estado físico e mental do detido no momento de sua autuação;!III - a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá ser superior a dez dias, salvo quando autorizada pelo Poder Judiciário;!IV - é vedada a incomunicabilidade do preso.!§ 4º - Decretado o estado de defesa ou sua prorrogação, o Presidente da República, dentro de vinte e quatro horas, submeterá o ato com a respectiva justificação ao Congresso Nacional, que decidirá por maioria absoluta.!§ 5º - Se o Congresso Nacional estiver em recesso, será convocado, extraordinariamente, no prazo de cinco dias.!§ 6º - O Congresso Nacional apreciará o decreto dentro de dez dias contados de seu recebimento, devendo continuar funcionando enquanto vigorar o estado de defesa.!§ 7º - Rejeitado o decreto, cessa imediatamente o estado de defesa.!!Art. 137, CF. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, solicitar ao Congresso Nacional autorização para decretar o estado de sítio nos casos de:!I - comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa;!II - declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira.!Parágrafo único. O Presidente da República, ao solicitar autorização para decretar o estado de sítio ou sua prorrogação, relatará os motivos determinantes do pedido, devendo o Congresso Nacional decidir por maioria absoluta.!!Art. 138, CF. O decreto do estado de sítio indicará sua duração, as normas necessárias a sua execução e as garantias constitucionais que ficarão suspensas, e, depois de publicado, o Presidente da República designará o executor das medidas específicas e as áreas abrangidas.!§ 1º - O estado de sítio, no caso do art. 137, I, não poderá ser decretado por mais de trinta dias, nem prorrogado, de cada vez, por prazo superior; no do inciso II, poderá ser decretado por todo o tempo que perdurar a guerra ou a agressão armada estrangeira.!§ 2º - Solicitada autorização para decretar o estado de sítio durante o recesso parlamentar, o Presidente do Senado Federal, de imediato, convocará extraordinariamente o Congresso Nacional para se reunir dentro de cinco dias, a fim de apreciar o ato.!§ 3º - O Congresso Nacional permanecerá em funcionamento até o término das medidas coercitivas.!!Art. 139, CF. Na vigência do estado de sítio decretado com fundamento no art. 137, I, só poderão ser tomadas contra as pessoas as seguintes medidas:!I - obrigação de permanência em localidade determinada;!II - detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns;!III - restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das comunicações, à prestação de informações e à liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão, na forma da lei;!IV - suspensão da liberdade de reunião;!V - busca e apreensão em domicílio;!VI - intervenção nas empresas de serviços públicos;!VII - requisição de bens.!Parágrafo único. Não se inclui nas restrições do inciso III a difusão de pronunciamentos de parlamentares efetuados em suas Casas Legislativas, desde que liberada pela respectiva Mesa.!!

EMENDA CONSTITUCIONAL!

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Não admitida durante os estados de defesa ou de sítio porque é uma proteção ao texto constitucional nessas situações de crise.!

!!LEGISLAÇÃO ATINENTE!

Art. 136, CF. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, decretar estado de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza.!§ 1º - O decreto que instituir o estado de defesa determinará o tempo de sua duração, especificará as áreas a serem abrangidas e indicará, nos termos e limites da lei, as medidas coercitivas a vigorarem, dentre as seguintes:!I - restrições aos direitos de:!a) reunião, ainda que exercida no seio das associações;!b) sigilo de correspondência;!c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica;!II - ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de calamidade pública, respondendo a União pelos danos e custos decorrentes.!§ 2º - O tempo de duração do estado de defesa não será superior a trinta dias, podendo ser prorrogado uma vez, por igual período, se persistirem as razões que justificaram a sua decretação.!§ 3º - Na vigência do estado de defesa:!I - a prisão por crime contra o Estado, determinada pelo executor da medida, será por este comunicada imediatamente ao juiz competente, que a relaxará, se não for legal, facultado ao preso requerer exame de corpo de delito à autoridade policial;!II - a comunicação será acompanhada de declaração, pela autoridade, do estado físico e mental do detido no momento de sua autuação;!III - a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá ser superior a dez dias, salvo quando autorizada pelo Poder Judiciário;!IV - é vedada a incomunicabilidade do preso.!§ 4º - Decretado o estado de defesa ou sua prorrogação, o Presidente da República, dentro de vinte e quatro horas, submeterá o ato com a respectiva justificação ao Congresso Nacional, que decidirá por maioria absoluta.!§ 5º - Se o Congresso Nacional estiver em recesso, será convocado, extraordinariamente, no prazo de cinco dias.!§ 6º - O Congresso Nacional apreciará o decreto dentro de dez dias contados de seu recebimento, devendo continuar funcionando enquanto vigorar o estado de defesa.!§ 7º - Rejeitado o decreto, cessa imediatamente o estado de defesa.!!Art. 137, CF. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, solicitar ao Congresso Nacional autorização para decretar o estado de sítio nos casos de:!I - comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa;!II - declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira.!Parágrafo único. O Presidente da República, ao solicitar autorização para decretar o estado de sítio ou sua prorrogação, relatará os motivos determinantes do pedido, devendo o Congresso Nacional decidir por maioria absoluta.!!Art. 138, CF. O decreto do estado de sítio indicará sua duração, as normas necessárias a sua execução e as garantias constitucionais que ficarão suspensas, e, depois de publicado, o Presidente da República designará o executor das medidas específicas e as áreas abrangidas.!§ 1º - O estado de sítio, no caso do art. 137, I, não poderá ser decretado por mais de trinta dias, nem prorrogado, de cada vez, por prazo superior; no do inciso II, poderá ser decretado por todo o tempo que perdurar a guerra ou a agressão armada estrangeira.!§ 2º - Solicitada autorização para decretar o estado de sítio durante o recesso parlamentar, o Presidente do Senado Federal, de imediato, convocará extraordinariamente o Congresso Nacional para se reunir dentro de cinco dias, a fim de apreciar o ato.!§ 3º - O Congresso Nacional permanecerá em funcionamento até o término das medidas coercitivas.!!Art. 139, CF. Na vigência do estado de sítio decretado com fundamento no art. 137, I, só poderão ser tomadas contra as pessoas as seguintes medidas:!I - obrigação de permanência em localidade determinada;!II - detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns;!III - restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das comunicações, à prestação de informações e à liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão, na forma da lei;!

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IV - suspensão da liberdade de reunião;!V - busca e apreensão em domicílio;!VI - intervenção nas empresas de serviços públicos;!VII - requisição de bens.!Parágrafo único. Não se inclui nas restrições do inciso III a difusão de pronunciamentos de parlamentares efetuados em suas Casas Legislativas, desde que liberada pela respectiva Mesa.!!Art. 140, CF. A Mesa do Congresso Nacional, ouvidos os líderes partidários, designará Comissão composta de cinco de seus membros para acompanhar e fiscalizar a execução das medidas referentes ao estado de defesa e ao estado de sítio.!Art. 141, CF. Cessado o estado de defesa ou o estado de sítio, cessarão também seus efeitos, sem prejuízo da responsabilidade pelos ilícitos cometidos por seus executores ou agentes.!Parágrafo único. Logo que cesse o estado de defesa ou o estado de sítio, as medidas aplicadas em sua vigência serão relatadas pelo Presidente da República, em mensagem ao Congresso Nacional, com especificação e justificação das providências adotadas, com relação nominal dos atingidos e indicação das restrições aplicadas.!

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