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DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA
Autora: Marici Opalinski Kobner Lopes1 Orientador: João Luiz Domingues Ribas2
Resumo
Este artigo apresenta os resultados de cada uma das etapas desenvolvidas a partir do Projeto intitulado Dificuldades de Aprendizagem em Matemática, inserido no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, da Secretaria Estadual de Educação do Paraná. É grande o desinteresse pela disciplina de matemática e muitos alunos chegam ao Ensino Fundamental do 6º ano com dificuldades de aprendizagem. O projeto possui como primeira etapa a compreensão do que vem a ser essa dificuldade de aprendizagem em Matemática por meio de uma investigação bibliográfica. Na segunda etapa foi organizado um material didático com enfoque nas operações de multiplicação e divisão de números naturais, com o objetivo de desenvolver habilidades de cálculo por meio de jogos. Esta proposta teve a intenção de motivar o aluno para o estudo em um contexto do lúdico. A terceira etapa foi a implementação do Projeto na Escola, que teve como público alvo alunos do 6º ano do Ensino Fundamental do Colégio Rivadávia Vargas, com dificuldades de aprendizagem pela defasagem de conteúdo na disciplina de Matemática. Esse trabalho resultou na melhoria do desempenho do aluno nos cálculos de multiplicação e divisão de números naturais.
Palavras-chave: Dificuldades de Aprendizagem; Jogos; Multiplicação e Divisão;
Sala de Apoio.
1 Professora de Matemática da Rede Pública Estadual do Paraná, pós-graduada em Metodologia do Ensino da Matemática, em exercício no Colégio Estadual Rivadávia Vargas. 2 Professor de Estágio Sup. Em Matemática do Dep. de Métodos e Técnicas de Ensino da Universidade Estadual de Ponta Grossa -UEPG
1. INTRODUÇÃO
Este artigo relata a experiência de um trabalho de pesquisa e da implementação de
um projeto com o tema “Aprendizagem e os fatores intervenientes nas dificuldades em
Matemática”, aplicado com os alunos de 6º ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual
Rivadávia Vargas, na cidade de Piraí do Sul, com dificuldades de aprendizagem em
matemática. Esta dificuldade é devido à defasagem de conteúdos. Este projeto de
intervenção teve como primeiro procedimento a compreensão do que vem a ser essa
dificuldade de aprendizagem em matemática, e, na sequência, a organização de uma
proposta de intervenção com jogos para a melhoria do desempenho escolar do aluno.
Espera-se que toda criança tenha a oportunidade de aprender. No ambiente escolar,
observa-se que alguns alunos não apresentam deficiência intelectual, mas possuem
dificuldade em relação à leitura, à escrita e ao cálculo matemático. Diante dessa
problemática, o professor poderá oportunizar, por meio de uma intervenção pedagógica
planejada, a aprendizagem dos conteúdos acadêmicos a essas crianças e adolescentes que
comumente são rotulados como fracos, com desinteresse, irresponsáveis ou agressivos.
Em muitas escolas as salas de aula estão superlotadas, prejudicando o trabalho
individual e coletivo. Consequentemente, os alunos que apresentam dificuldades de
aprendizagem e falta de pré-requisitos para a série são os mais comprometidos. É fato,
portanto, que o professor muitas vezes não consegue elaborar uma proposta metodológica
eficaz que atenda a essas diferenças. Daí a importância de um trabalho de intervenção
pedagógica, como a elaboração de atividades estimuladoras que despertem o interesse.
Por meio de aulas em contraturno, o professor poderá atender a essa criança de
forma mais próxima, com propostas metodológicas inovadoras, diversificação de materiais e
maior adequação do tempo. Uma dificuldade de aprendizagem faz com que o educando não
consiga compreender os conceitos mais elementares da Matemática. Orientá-lo a centrar-se
em si próprio para depois relacionar-se com o meio a sua volta precisa respaldar-se em
situações mais concretas de aprendizagem.
Os alunos com dificuldade de aprendizagem fazem parte dos inúmeros desafios que a
realidade escolar enfrenta. Este insucesso educativo é referente à questões de natureza
diversa e, geralmente, o professor de matemática enfrenta obstáculos ao lidar com essa
situação. Espera-se, assim, que os educadores sejam os mediadores, colocando em prática
estratégias e ferramentas de ensino para promover a aprendizagem dos seus alunos, mas,
apesar da preocupação, muitos não conseguem trabalhar com as especificidades do
educando, e este acaba sendo ignorado e excluído do sucesso educativo.
Em certas situações, o procedimento didático utilizado na relação ensino e
aprendizagem não produz o resultado esperado diante das dificuldades. Muitos docentes não
estão preparados para enfrentar essa diversidade e acabam se restringindo somente ao uso
dos livros didáticos.
É necessário que a escola tenha um ambiente adequado para este aluno, respeitando
seu ritmo de aprendizagem, compreendendo assim, seus limites e possibilidades. Hoje,
existem programas para atender a esse educando, como o “Programa Salas de Apoio à
Aprendizagem”, que funciona em contraturno, cujo objetivo é o de melhorar o desempenho
escolar. Desta forma, o professor responsável pela Sala de Apoio precisa buscar diferentes
metodologias, para que o aluno venha a superar a defasagem apresentada e consiga
apreender o conhecimento como os demais. O trabalho desenvolvido neste projeto surge
como uma necessidade da escola em minimizar as dificuldades que acontecem no ensino da
Matemática.
Em um primeiro momento foi realizado um levantamento bibliográfico acerca das
pesquisas que tratam o tema de estudo. No segundo momento aconteceram a organização e
a elaboração de atividades com recursos didáticos, abordando as operações de multiplicação
e divisão de números naturais. Estas atividades foram inseridas em um contexto do lúdico,
com jogos. O terceiro momento foi o da intervenção pedagógica. Neste momento foi
organizado um teste de sondagem, envolvendo as operações de multiplicação e divisão de
números naturais e aplicado antes e após a intervenção pedagógica. Durante este processo
de ensino-aprendizagem com atividades lúdicas ocorreram: explicações, questionamentos,
diálogos, atividades individuais e em grupo. Diante dos obstáculos e das dificuldades que as
crianças apresentaram no decorrer das atividades foi oportunizada, por meio da mediação, a
exploração de estratégias que levou à compreensão de conceitos. Realizou-se também um
registro dos problemas diagnosticados e dos avanços alcançados pelos educandos, o qual
possibilitou uma reflexão sobre as dificuldades que cada criança apresentava.
2. DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA
O desafio da escola é o de proporcionar um ambiente em que os alunos tenham uma
aprendizagem efetiva, que é um processo complexo.
A aprendizagem se dá no sistema nervoso central (SNC) e pode ser entendida como
um processo de aquisição de novas informações, que se realiza no interior do indivíduo e se
manifesta em uma mudança de comportamento. Rotta, Ohlweiler e Riesgo (2006, p. 21)
dizem:
Aprendizado e memória podem se confundir do seguinte modo: quando chega ao SNC uma informação conhecida, ela gera uma lembrança, que nada mais é do que uma memória; quando chega ao SNC uma informação inteiramente nova, ela nada evoca, e sim produz uma mudança – isso é aprendizagem, do ponto de vista estritamente neurobiológico.
O sistema nervoso central é uma estrutura complexa e plástica, e só processa aquilo a
que está atento. O cérebro na aprendizagem reage aos estímulos do meio e ativa suas
sinapses (ligações entre neurônios por onde passam os estímulos), tornando-as mais
estáveis e fortes. As redes neurais são modificadas diante de cada nova experiência, e o
registro dessa nova informação se tornará mais forte se tiver relação com o que já está
armazenado. Com a modificação de comportamento, do pensamento do indivíduo e a
permanência dessas novas experiências, acontecerá realmente a aprendizagem. Aprender
não é só memorizar informações, mas saber relacioná-las e refletir sobre elas.
É responsabilidade do professor que os conteúdos desenvolvidos na sala tenham
significado para o aluno, sejam aprendidos e fiquem na memória. O uso de estratégias
adequadas, atividades prazerosas e desafiadoras provocam mudanças na quantidade e
qualidade destas conexões sinápticas, melhorando o funcionamento cerebral.
O professor deve dar condições para que o aluno tenha ousadia para enfrentar
desafios, para questionar, para procurar respostas. Para que isso aconteça, o educador
precisa propor atividades adequadas para a sua realização. Os recursos didáticos
empregados na transmissão de uma informação deixam o aluno mais interessado, curioso,
antenado e, consequentemente, facilita a aprendizagem.
A utilização de materiais diversificados que explorem os sentidos da visão, do tato e
da audição leva os alunos, principalmente os mais lentos, a vivenciar a aprendizagem de
acordo com suas possibilidades neurais. Quanto mais recursos e atividades bem elaboradas
forem empregados na transmissão de uma informação, mais estímulos o aluno terá para ser
um participante ativo do pensar e aprender.
A partir de um planejamento, da observação das dificuldades individuais e abordando
os conteúdos por meio das tendências metodológicas em Educação Matemática, presentes
nas Diretrizes Curriculares Estaduais (2008), o professor poderá consolidar seu trabalho,
possibilitando uma aprendizagem eficaz.
A aprendizagem não é a mesma para todos. Para construir certos conhecimentos, não
se pode estar distante do que já se sabe e do nível de desenvolvimento em que o indivíduo
se encontra.
Jean Piaget (1896/1980), Biólogo e Psicólogo Suíço, queria saber como o homem
aprende. Para ele a aprendizagem é um processo de construção mental interno e se dá na
medida em que o indivíduo interage com o objeto a ser conhecido, passando de um
conhecimento mais simples a outro mais complexo. Analisou a evolução do pensamento
desde o nascimento até a adolescência, observando seus próprios filhos, e concluiu que as
crianças não raciocinam como os adultos, por ainda faltarem certas habilidades. Segundo
Piaget (2010, p. 69):
Estudo mostra, em primeiro lugar, aquilo em que a criança difere do adulto, isto é, o que falta à criança para raciocinar como um adulto normal de cultura média. Pode-se verificar, por exemplo, que certa estruturas lógico-matemáticas não são acessíveis a todas idades, (...)
De acordo com Piaget, a criança passa por fases de desenvolvimento. É importante o
professor considerá-las, para propor aos alunos atividades que respeitem o nível mental de
cada um. Na fase das operações concretas (7 – 12 anos), a criança é capaz de abstrair
dados da realidade, mas ainda depende do modo concreto para chegar à abstração.
Gradativamente, o raciocínio lógico vai se sobrepondo à percepção e à intuição. Adquire
novas habilidades para conceituar, organizando o mundo de forma lógica ou operatória. Tem
a capacidade de reversibilidade. Embora nesta fase a criança já consiga efetuar operações
corretamente, precisa ainda estar em contato com a realidade. Não alcança o nível mais
elevado das operações lógicas, sendo empregadas apenas na solução de problemas
envolvendo objetos e fatos reais. Nessa fase liberta-se gradativamente de seu egocentrismo
e manifesta sentimentos morais e sociais de cooperação, começa a jogar com regras e a
pensar antes de agir, a refletir. A criança busca compreender o pensamento do outro, tem
necessidade de transmitir o seu pensamento aos demais e de colaborar ao se trabalhar em
grupo.
Em vez das condutas impulsivas da primeira infância, acompanhadas da crença imediata e do egocentrismo intelectual, a criança, a partir de sete ou de oito anos, pensa antes de agir, começando, assim, a conquista deste processo difícil que é a reflexão. (Piaget, 2010, p. 42)
Geralmente encontramos alunos de 10 anos e 11 anos, no 6º ano do Ensino
Fundamental. É importante o professor conhecer em qual estágio o aluno se encontra, seu
nível cognitivo, antes de realizar suas atividades educativas, pois ele só aprenderá
determinado conteúdo, se estiver de acordo com o seu desenvolvimento intelectual.
Uma aula baseada na transmissão oral dos conhecimentos, sem participação dos
alunos e com uma matemática sem significado, principalmente nessa etapa das operações
concretas, resultará em uma matemática mecânica e repetitiva, gerando assim uma aversão
à mesma. Nesta fase, as trocas de experiências nas atividades em grupo, que proporcionam
oposições de opiniões e atitudes, são fundamentais ao desenvolvimento das construções
cognitivas individuais, e os recursos didáticos são essenciais para a construção de conceitos.
Os estudos experimentais de Piaget mostram o que esperar do aluno, nas diferentes
fases de desenvolvimento. Respeitando cada fase do desenvolvimento do educando, o
professor poderá intervir com situações educativas que vão ao encontro do seu nível de
compreensão e abstração para obter uma aprendizagem efetiva. Por meio de atividades
diferenciadas, a Sala de Apoio objetiva a superação das dificuldades trazidas das séries
iniciais do Ensino Fundamental. Nesta sala, o professor encontrará alunos com defasagens
de conteúdo, com dificuldades na leitura, escrita e cálculo, e esses alunos, na sua maioria,
encontram-se no estágio das operações concretas. Para promover o processo de ensino-
aprendizagem face a esta problemática, o educador deve possibilitar um ensino por meio de
atividades práticas, com recursos didáticos, com diálogo entre colegas e professor,
conduzindo à compreensão do conteúdo e não só à memorização. Um número reduzido de
alunos na turma, aulas diferenciadas e uma matemática significativa levarão o educando a
expressar suas dúvidas e ideias, sem medo de errar, alcançando-se assim a autonomia do
pensamento, dentro de suas reais potencialidades.
É na escola que a criança receberá conhecimentos para ingressar futuramente em
inúmeras áreas da atividade humana. Quando um aluno está com dificuldades, é necessário
uma análise, a fim de melhor conduzi-lo, pois é um momento definidor de sua vida. Aprender
tornou-se uma necessidade para assumir um lugar na sociedade. Toda criança deve ter a
oportunidade de aprender, mesmo com suas diferenças, e as políticas educacionais
garantem o acesso de todas as crianças à escola. As Diretrizes Curriculares dizem:
Um projeto educativo, nessa direção, precisa atender igualmente aos sujeitos, seja qual for sua condição social e econômica, seu pertencimento étnico e cultural e às possíveis necessidades especiais para aprendizagem. Essas características devem ser tomadas como potencialidades para promover a aprendizagem dos conhecimentos que cabe à escola ensinar, para todos. (Diretrizes Curriculares da Educação Básica - Matemática, 2008, p. 15).
Os cálculos sempre fizeram parte do cotidiano do homem, mas o número de
pessoas com dificuldade para lidar com a matemática é muito grande.
Segundo Rotta, Ohlweiler e Riesgo (2006, p. 117):
(...) o ato de aprender é um ato de plasticidade cerebral, modulado por fatores intrínsecos (genéticos) e extrínsecos (experiência). Com a aprendizagem conceituada dessa maneira, pode-se dizer que dificuldades para a aprendizagem são o resultado de alguma falha intrínseca ou extrínseca desse processo. Dificuldade para a aprendizagem é um termo genérico que abrange um grupo heterogêneo de problemas capazes de alterar as possibilidades de a criança aprender, independentemente de suas condições neurológicas para fazê-lo.
As dificuldades de aprendizagem na matemática são muito complexas, pois os
fatores biológicos, sociais, culturais, metodológicos e psicológicos podem ser a origem de
toda essa problemática. Rotta, Ohlweiler e Riesgo mostram, de forma esquematizada, as
diversas causas de mau rendimento em matemática:
(ROTTA, OHLWEILER e RIESGO, 2006, p. 203).
A aprendizagem das habilidades matemáticas sempre foi considerada difícil, assim,
ter dificuldades na matemática era considerado normal. Na verdade é necessária uma
avaliação em seus vários aspectos diante dessa problemática. Atualmente, analisa-se os
fatores que estão envolvidos com essas dificuldades, que podem estar relacionados com a
própria criança, com a escola ou com a família.
Em relação à Criança, estes fatores podem ser por comprometimentos físicos,
psicológicos ou neurológicos:
Físicos: Em geral destacam-se as dificuldades sensoriais (visual, auditiva). O aluno que não
escuta bem, não consegue ouvir o que lhe é passado oralmente, dificultando o entendimento
para realizar as atividades, e, frequentemente, parece desatento e inquieto. A criança com
dificuldade visual pode trocar 6 por 9 ou 3 por 8, por exemplo, e certamente terá dificuldade
em realizar os cálculos. Outras doenças como anemia, doenças reumáticas, hipotireoidismo,
parasitoses, nefropatias, pneupatias, doenças imunoalérgicas, desnutrição, entre outras,
podem interferir no desempenho escolar, pois é possível que essa criança esteja debilitada
pela patologia ou pelo tratamento. Segundo Rotta, Ohlweiler e Riesgo (2006), em crianças
que nascem desnutridas e continuam expostas à falta de alimentação protéica, foi constatado
um déficit de até 60% de seus neurônios.
Psicológicos: Na idade escolar, a criança pode desenvolver problemas psicológicos, como
ansiedade, timidez, insegurança e baixa autoestima. Esse quadro pode evoluir para fobias,
depressão, transtorno de humor, conduta antissocial, entre outras. A perturbação emocional
pode comprometer o desempenho intelectual, bloqueando os pensamentos e reduzindo a
capacidade de aprendizagem. O aluno pode vir a ter comportamentos inadequados,
tornando-se apático, desinteressado ou agressivo, porque tem medo de enfrentar novas
experiências de aprendizagem, acredita que não é capaz de evoluir. Os pais e professores
correm o risco de piorar a autoestima do aluno com punições e críticas. Face a esta situação,
a prova não deve ser o único instrumento de avaliação, pois um aluno nervoso poderá ter um
péssimo desempenho. A criança também deve ser avaliada em momentos de tranquilidade,
de acordo com suas potencialidades. Muitos alunos do 6º ano do Ensino Fundamental
desenvolvem ansiedade e também expectativa em relação à escola. Neste período, há a
mudança de escola ou de turma e também a troca de professores a cada 50 minutos.
Atrapalham-se com a quantidade de matérias e, comumente, não têm noção dos
conhecimentos prévios para entender os novos conceitos. O professor do 6º ano precisará de
muita paciência para encaminhar a vida escolar dessa criança de forma positiva, para evitar
que neste pequeno espaço escolar sejam desencadeados grandes traumas emocionais.
Neurológicos: As situações neurológicas que interferem no ato de aprender são diversas,
como mostra o esquema de Rotta, Ohlweiler e Riesgo. Elucidando apenas algumas
situações:
a. Discalculia: é uma dificuldade em aprender Matemática. É um falha que está na conexão
dos neurônios, na área responsável pelo reconhecimento dos símbolos. A criança com
discalculia tem uma inteligência normal. Geralmente aparece associada com dificuldade
de concentração e organização e é comum a falta de noção espacial.
Aproximadamente entre 3 e 6% das crianças têm discalculia do
desenvolvimento. Os sintomas encontrados com mais frequência são: 1) erro
na formação de números, que freqüentemente ficam invertidos; 2)dislexia; 3)
inabilidade para efetuar somas simples; 4) inabilidade para reconhecer sinais
operacionais e para usar separações lineares; 5) dificuldade para ler
corretamente o valor de números com multidígitos; 6) memória pobre para
fatos numéricos básicos; 7) dificuldade de transportar números para local
adequado na realização de cálculos; 8) ordenação e espaçamento
inapropriado dos números em multiplicações e divisões. (ROTTA,
OHLWEILER e RIESGO, 2006, p. 202)
Com a intervenção adequada, a criança com discalculia pode desenvolver a
capacidade matemática e as dificuldades permanecerão de uma forma suave. A
concentração geralmente melhora com a compreensão de conceitos matemáticos e símbolos.
O aluno com discalculia terá um melhor rendimento com a interferência direta do professor.
A intervenção em crianças com discalculia será bem-sucedida quando as noções de números elementares de 0 a 9 (habilidade léxica), a produção de novos números (habilidade sintática), as noções de quantidade, ordem, tamanho, espaço, distância, hierarquia, os cálculos com as quatro operações e o raciocínio matemático forem trabalhados, primeiramente como experiências não-verbais significativas. A criança só irá trabalhar com fatos aritméticos mentalmente quando superar as etapas citadas. Para superar as dificuldades de percepção visoespacial, é preciso trabalhar com a percepção de figuras e de formas, observar detalhes, semelhanças, diferenças e
relacionar com as experiências do dia-a-dia, tais como fotos, imagens, tamanho, largura e espessura, e então trabalhar com números, letras e figuras geométricas. (ROTTA, OHLWEILER e RIESGO, 2006, p. 204)
b. Acalculia: é a perda da capacidade de executar cálculos e desenvolver o raciocínio
aritmético. As pessoas com essa dificuldade manifestam total falta de habilidade para
desenvolver qualquer atividade de matemática, são incapazes de aprender os princípios
básicos de contagem. Essa falta de habilidade geralmente indica um dano cerebral.
c. Dislexia: é uma dificuldade específica em ler, e esta dificuldade estende-se para a
aquisição da escrita e da matemática. A criança não consegue identificar símbolos gráficos
(letras e/ou números), consequentemente terá dificuldade na leitura e escrita. O dislexo
possui inteligência normal ou muitas vezes acima da média. Apesar de apresentar dificuldade
em ler o enunciado de um problema, pode interpretá-lo e fazer cálculos, quando lido em voz
alta.
d. Síndrome Fetal Alcoólica: em estudos de pacientes com esta Síndrome, encontram-se a
dificuldade na memória de curto prazo, desorientação espacial e dificuldade em matemática.
Filhos de mãe alcoólatra estão sujeitos às alterações metabólicas. Alguns dos efeitos no
consumo de álcool, durante a gestação, em relação ao feto são: dimorfismos faciais, prejuízo
no crescimento pré e pós-natal e malformações do Sistema Nervoso Central. O número de
mulheres que fazem consumo de bebidas alcoólicas aumentou, e consequentemente, o
número de gestantes também. Fato esse muito preocupante para o ensino.
Em relação à Escola, para que a criança tenha um bom rendimento é importante boas
condições físicas da sala de aula. Esta necessita ser limpa, arejada, com boa iluminação e
um limite aceitável de alunos em cada turma. A atenção e a concentração do aluno serão
desenvolvidas a partir da valorização das condições pedagógicas, como material didático de
acordo com o nível de desenvolvimento do aluno e um professor com estratégias de ensino
adequadas. Os problemas emocionais, sociais e econômicos do professor influenciam e
interferem no processo sociointeracional, também. A exemplo, uma carga horária de trabalho
além das condições físicas faz com que a qualidade pedagógica seja deficitária. A qualidade
da atuação de uma equipe pedagógica e da direção é importante na organização do
ambiente escolar. É por meio da competência dessa equipe que nota-se o bom
funcionamento de uma escola. É ela que propicia um ambiente saudável, com regras,
mediando a qualidade da relação professor-aluno-família, a qual é relevante para o sucesso
escolar da criança, que tem o direito de estar em um ambiente de respeito e educação, para
a tranquilidade de todos.
Em relação à Família, é fundamental a sua colaboração no processo ensino-
aprendizagem. É em casa que a criança recebe as primeiras influências, cabendo à escola o
papel de complementar a sua formação. As condições socioeconômicas e a escolaridade dos
pais influenciam na estimulação do aluno para ter um maior envolvimento com os estudos.
Normalmente estas famílias acabam centradas apenas no resultado final do ensino-
aprendizagem, e deixam de participar do processo de construção do conhecimento de seus
filhos. A construção do conhecimento matemático acontece de forma gradual, é um processo
sequencial e a falta de frequência é um fator que interfere na aprendizagem, levando à
defasagem de conteúdos. Por isso, a família tem a responsabilidade de acompanhar a
assiduidade do educando.
Pais separados, desempregados, com história de alcoolismo, drogas, ou com
comportamento antissocial colaboram para o insucesso da criança na escola. Sem dúvida, o
desenvolvimento cognitivo do aluno com dificuldade será mais concreto se houver a
participação conjunta da família e da escola.
As dificuldades de aprendizagem em matemática são de origem diversa, e não existe
uma forma única de superá-las, em função de suas particularidades. Mas, é importante que o
professor conheça essas dificuldades para ser capaz de analisar seu aluno de uma forma
mais justa, compreensível. Muitas pessoas consideram a matemática uma matéria de difícil
entendimento. Rotta, Ohlweiler e Riesgo (2006, p. 199) descrevem:
O cálculo é uma função cerebral complexa; em uma operação aritmética simples, vários mecanismos cognitivos são envolvidos, como por exemplo: a) processamento verbal e/ou gráfico da informação; b) percepção; reconhecimento e produção de números; d) representação número/símbolo; e) discriminação visoespacial; f) memória de curto e longo prazo; g) raciocínio sintático; e h) atenção.
A matemática, muitas vezes, é transmitida de uma maneira formal, por meio da
memorização de cálculos, deixando de lado a compreensão, o que acaba favorecendo o
desenvolvimento de dificuldades de aprendizagem.
A compreensão do senso numérico é gradativo, primeiro o aluno deve lidar com as
situações diárias e na sequencia desenvolver processos matemáticos mais complexos. Um
aluno que aprende o cálculo da divisão com significado, com compreensão, terá a
possibilidade da apropriação de um cálculo mais complexo, que necessite do entendimento
da divisão para desenvolvê-lo. Os requisitos necessários para o êxito aritmético entre os 6 e
12 anos é relatado por Rotta, Ohlweiler e Riesgo (2006, p. 199):
Entre os 6 e 12 anos de idade são necessários os seguintes requisitos para o aprendizado adequado da matemática: a) ter a capacidade de agrupar objetos de 10 em 10; b) ler e escrever de 0 a 99; c) saber a hora; d) resolver problemas com elementos desconhecidos; e) compreender meios e quartos; f) medir objetos; g) nomear o valor do dinheiro; h) medir volume; i) contar de 2 em 2, 5 em 5, 10 em 10; j) compreender números ordinais; l) completar problemas mentais simples; e m) executar operações matemáticas básicas.
O educando que não consegue apropriar-se de um conhecimento que é esperado
para a sua idade, deve ser observado com atenção pelo professor, para que a intervenção
pedagógica seja iniciada o quanto antes.
Face à diversidade das dificuldades na sala de aula, o educador deve utilizar
diferentes metodologias para tentar alcançar os objetivos para todos os alunos. Caso não
aconteça, a criança deve ser encaminhada aos programas que atendam às dificuldades de
aprendizagem. O aluno que manifestar dificuldades leves, pode ser encaminhado para a
“Sala de Apoio”. Nas dificuldades mais graves, deve ser encaminhado para a “Sala de
Recursos Multifuncionais”, onde acontecerá uma intervenção especial, com avaliações de
especialistas, e poderá ter adaptações curriculares e avaliação diferenciada.
O registro elaborado por meio de fichas individuais dos processos de aprendizagem
dos alunos é uma documentação relevante nas dificuldades de aprendizagem. É um
instrumento que revela os limites, os progressos e os obstáculos de aprendizagem do aluno.
É também uma ferramenta pedagógica que possibilita ao outro professor dar continuidade no
desenvolvimento da criança com dificuldade acadêmica. A interação da equipe pedagógica
com o professor em relação aos registros é de suma importância.
A escola ainda possui muitas falhas em atender crianças com dificuldades de
asprendizagem; os professores não podem se comportar como no passado, em que a criança
que não apresentasse aprendizagem era isolada. O docente deve pesquisar sobre os
problemas sociais, afetivos e cognitivos de seus alunos, a fim de melhor ajudá-los. Deve-se
optar pela compreensão e não pela exclusão.
A realidade social de muitas crianças reflete em problemas comportamentais na
escola. São criadas em condições negligentes, com pouca motivação para seguirem normas
sociais e apresentam atitudes e valores inapropriados, prejudicando a aprendizagem e a
socialização. E é na escola que terão a oportunidade de receber uma orientação adequada
que pode prevenir, muitas vezes, uma delinquência juvenil.
O professor pode contribuir com a formação dessa criança através de atividades
lúdicas. Os jogos e as brincadeiras têm sua função educativa, pois os alunos precisam
respeitar as regras, pensar, decidir, exercitar sua inteligência.
As crianças ficam mais motivadas a usar a inteligência, pois querem jogar bem; sendo assim, esforçam-se para superar obstáculos, tantos cognitivos quanto emocionais. Estando mais motivadas durante o jogo, ficam também mais ativas mentalmente. (Kishimoto, 2011, p.107)
O lúdico é um recurso didático que propicia o desenvolvimento motor, cognitivo,
afetivo e social da criança. Os jogos e as brincadeiras adaptados aos conteúdos e às
necessidades de aprendizagem podem levar a uma melhor apreensão dos conceitos
matemáticos. É uma importante estratégia, quando bem direcionada, favorece a motivação.
Por ser uma atividade de prazer, também contribui para despertar a atenção do aluno e
adquirir o hábito de permanecer concentrado.
A atividade lúdica é um recurso pedagógico que pode ajudar crianças com
dificuldades, tornando a matemática prazerosa, o que despertará o gosto para aprender,
estimulará a cognição e aumentará a capacidade de percepção. Outra contribuição dos jogos
e brincadeiras é a da diminuição da agressividade. Por meio da interação entre colegas,
atitudes de cooperação, diálogo e competição honesta, o aluno desenvolverá atitudes sociais
mais adequadas para um bom convívio. Cada educando tem seu ritmo, suas limitações e
progressos em relação à Matemática, e quando ele se sente parte de um grupo, num
ambiente propício para se desenvolver, terá prazer em aprender.
2.1 UMA PROPOSTA LÚDICA COM JOGOS DE MULTIPLICAÇÃO E DIVISÃO DE
NÚMEROS NATURAIS
Consciente de que toda criança deve ter a oportunidade de aprender, mesmo com
suas diferenças, o professor possui a responsabilidade de auxiliar o aluno a alcançar a
autonomia do pensamento dentro de suas reais potencialidades.
Faz-se necessário sob esse aspecto, que o professor crie situações que despertem o
interesse e o gosto pela matemática. Impulsionar a aprendizagem, por meio da motivação e
dos recursos didáticos apropriados, facilita o trabalho do professor em sala de aula e
dinamiza a assimilação do conteúdo pelo aluno.
Diante do que foi exposto, elaborei um material didático lúdico, contendo uma
proposta de atividades cognitivas que desenvolvem diversas habilidades. Esta Unidade
Didática é o resultado de um estudo reflexivo sobre a importância de se respeitar as
diferenças, pois a aprendizagem não se dá ao mesmo tempo para todos, e, a
contextualização do conteúdo com a vivência do aluno, resultou na necessidade de trabalhar
a matemática sob a forma de jogos.
O jogo, na educação matemática, passa a ter o caráter de material de ensino quando considerado promotor de aprendizagem. A criança, colocada diante de situações lúdicas, apreende a estrutura da brincadeira e, deste modo, apreende também a estrutura matemática presente. (Kishimoto, 2011, p.89)
Organizei uma coletânea de jogos com o objetivo geral de desenvolver habilidades de
cálculo, envolvendo multiplicação e divisão de números naturais. Foram confeccionados 13
jogos, os quais são: Procurando seu par na multiplicação, Guerra da multiplicação, Dominó
da multiplicação, Multiplicação por 10, 100 ou 1000, Mico do quadrado perfeito, Dominó do
quadrado perfeito, Multiplicando por tabela, Procurando seu par na divisão, Dominó da
divisão, Caminhando com o resto, Dominó da multiplicação e divisão, Dividir ou multiplicar e
Respondendo às questões.
No material didático elaborado há: as orientações metodológicas para o professor, os
objetivos pedagógicos de cada jogo; o material necessário para confecção dos jogos; as
regras de como jogar e uma ilustração simulando o início de uma partida. Na sequência,
segue as orientações metodológicas.
Orientações metodológicas:
A atividade lúdica tem sua função educativa, quando bem direcionada. Cabe ao
professor organizá-la de forma que estimule a aprendizagem. O jogo utilizado, como
ferramenta pedagógica, requer um plano de ação que possibilite a apreensão de conceitos
matemáticos e aproxime a criança do conhecimento científico.
Antes de iniciar um jogo, o professor deverá dialogar com seus alunos, evidenciando a
importância das regras, de saber ganhar e perder e da organização da turma. Deverá
também conscientizá-los da importância de analisar seus erros, rever suas respostas, tirar as
dúvidas junto aos colegas ou com o professor, para compreender o seu próprio processo de
aprendizagem.
Em um jogo, a organização dos grupos pode ser de livre escolha entre os colegas.
Contudo, podem surgir alterações em consequência de algumas situações, como: deixar
juntos os alunos com facilidade no cálculo, para que o professor possa acompanhar os que
precisam de intervenção; deixar em um mesmo grupo alunos que necessitam de ajuda com
alunos que gostam de ajudar e pode acontecer de um grupo sempre vencer e o outro sempre
perder. Na organização dos grupos, o ideal é não ter mais que quatro jogadores em cada um.
A partir de uma sondagem em relação ao conhecimento da turma e, também, de sua
evolução no decorrer das aulas, o professor poderá alterar os valores que aparecem nos
jogos. Os alunos receberão uma folha das instruções do jogo, e o professor deve incentivá-
los na leitura, ajudá-los na interpretação e discutir as regras. Na sequência, simular uma
partida para que todos tenham uma melhor compreensão do jogo e possam tirar as dúvidas.
Para haver aprendizagem por meio do jogo, é necessário jogar mais de uma vez. Nas
repetições e nas discussões, o jogo é melhor compreendido e pode haver a apreensão dos
conceitos matemáticos envolvidos. Após jogarem, os alunos vão escrever sua opinião sobre a
ação vivenciada durante a atividade.
No desenrolar das jogadas, o professor deve:
a) Interagir com todos;
b) Estimular seu aluno a pensar e buscar estratégias;
c) Incentivar para que ele manifeste seu pensamento e discuta coletivamente sobre a
jogada;
d) Permitir que os jogadores expressem suas hipóteses, quando aparecerem
diferentes soluções e intervir para a compreensão acerca dos conceitos envolvidos
na situação;
e) Observar os alunos com maior dificuldade;
f) Observar a forma como a criança compreende;
g) Observar as falhas e os avanços do ensino e da aprendizagem, para aprimorar
seu trabalho.
A interferência do professor deve ser menos frequente, quando os alunos
demonstrarem dominar o jogo. Nessas condições, é conveniente deixá-los iniciar, organizar e
jogar, permitindo que sejam autônomos.
Terminadas as atividades do dia, o professor deve fazer uma avaliação, analisando se
os objetivos foram alcançados, como também registrar as situações que chamaram a atenção
no decorrer da aula. Essas observações permitirão a reflexão para o aperfeiçoamento ou a
mudança referente às atividades e condutas.
2.2 GRUPO DE TRABALHO EM REDE
O GTR aconteceu no primeiro semestre de 2013, paralelo à Implementação do
Projeto. Durante o curso houve a socialização do Projeto, do Material Didático e da
Implementação do Projeto na Escola, com os professores da rede pública. O principal
objetivo foi o de refletir sobre a contribuição do Projeto e da relevância da Produção do
Material Didático para a realidade da escola pública.
Os professores relataram que não se sentem preparados para trabalhar com as
especificidades do educando. Mas, com o passar dos anos, consegue-se compreender "em
parte" as dificuldades de cada aluno. Eles estão procurando usar várias metodologias em
suas aulas para motivar o aluno, mas os principais fatores que interferem no seu trabalho
são: as salas superlotadas e a falta de interesse dos pais na vida escolar dos seus filhos, o
que leva a uma frequência irregular desta criança na escola e atrapalha na aprendizagem.
Normalmente são essas crianças com baixa frequência que apresentam dificuldades na
matemática, por defasagem de conteúdo. Também comentaram que os recursos didáticos
fazem toda a diferença na aprendizagem dos alunos com dificuldades, desde que bem
trabalhados e com objetivos claros. Os jogos fornecem oportunidades para criar estratégias,
um trabalho intelectual mais complexo do que completar folhas de exercícios. Os jogos
colaboram na construção do conhecimento a partir do próprio erro e desenvolvem a
autonomia. Alguns professores já utilizam jogos na sala de aula e tiveram bons resultados.
Os jogos elaborados nesta produção didática foram considerados pertinentes às
necessidades da Escola, enriquecendo não só as aulas da sala de apoio, como também as
aulas no período normal, jogos que podem ser adaptados para outras séries. Após a
socialização do Material Didático, professores aplicaram alguns jogos da Produção na sua
turma e aprovaram. Durante o curso, as contribuições no fórum foram significativas e
percebeu-se que os problemas das escolas públicas são semelhantes, e essa troca de
experiência entre os professores é relevante para o ensino e aprendizagem.
2.3 APRESENTANDO A EXPERIÊNCIA
Iniciou-se a implementação com a apresentação do projeto para a direção da escola e
equipe pedagógica. Na sequência, o projeto foi apresentado aos professores na Semana
Pedagógica. Neste momento surgiram vários questionamentos, pois o tema Dificuldades de
Aprendizagem é polêmico em todas as disciplinas.
O desenvolvimento do projeto deveria acontecer na Sala de Apoio do 6º ano do
Colégio Rivadávia Vargas. Como este ano as salas de Apoio funcionaram de forma
heterogênea, com alunos do 6º ano e 9º ano no mesmo horário, não foi possível aplicar o
projeto com esta turma. Para participar do projeto, selecionei alunos do 6º ano A e 6º ano B,
com defasagem de conteúdo na disciplina de matemática, e eles frequentaram em
contraturno nas segundas e quintas-feiras, das 15h e 30min às 17h e 30min. A carga horária
total do projeto foi de 32 horas, ou seja, houve 16 encontros. A única sala disponível no
colégio para desenvolver o projeto era pequena, com uma área de 10 m2, então, só foi
possível trabalhar com no máximo 6 alunos.
A intervenção pedagógica teve início com a aplicação do teste de sondagem,
envolvendo multiplicação e divisão de números naturais. Nesse teste havia dez questões.
Observou-se que os alunos não conseguiram resolver as contas de divisão e também
nenhuma situação-problema que envolvia a mesma. Já as contas de multiplicação, tiveram
alguns acertos, mas não compreenderam a maioria das situações-problema. É fato a
dificuldade que o aluno tem com o algoritmo da multiplicação e da divisão e, também, a falta
de compreensão na leitura de problemas. Pode-se constatar essas dificuldades observando o
teste de um dos alunos (vide anexo 1).
Em nosso colégio, muitos alunos chegam ao 6º ano sem a compreensão dos
conceitos básicos das operações fundamentais, principalmente da divisão. Esses alunos, em
média, já passaram quatro anos pelo banco escolar. Segundo Rotta, Ohlweiler e Riesgo
(2006, p. 117):
O importante problema social em que se transformou a dificuldade está estimado entre 15 e 20% na primeira série. Considerando estatísticas em vários países, sabe-se que é capaz de chegar a 50% dos escolares, nos seis primeiros anos de escolaridade... e que as causas primárias, entre elas dislexias, discalculias, dispraxias, disgnosias, déficit de atenção e hiperatividade, têm importante papel na gênese dessas dificuldades. No entanto, não são as únicas, não podendo ser esquecidas as causas não-primárias da dificuldade para aprender, incluindo aí os problemas físicos, socioeconômicos e pedagógicos.
Diante desta problemática, nós professores, podemos minimizá-la utilizando-se de
diferentes metodologias que explorem os conteúdos e tenham significado para o aluno. O
jogo é um recurso didático que propicia o desenvolvimento motor, cognitivo, afetivo e social
da criança.
O jogo, como promotor da aprendizagem e do desenvolvimento, passa a ser considerado nas práticas escolares como importante aliado para o ensino, já que colocar o aluno diante de situações de jogo pode ser uma boa estratégia para aproximá-lo dos conteúdos culturais a serem veiculados na escola, além de poder estar promovendo o desenvolvimento de novas estruturas cognitivas. (Kishimoto, 2011, p.89)
A metodologia escolhida para trabalhar com esses educandos no projeto foram os
jogos. Foram confeccionados 13 jogos envolvendo multiplicação e divisão de números
naturais, os quais, de maneira geral, apresentam os seguintes objetivos pedagógicos:
exercitar o cálculo de multiplicação e de divisão; explorar estratégias para o cálculo;
desenvolver habilidades de atenção e concentração; incutir normas de comportamento e
respeito às regras; promover o desenvolvimento socioafetivo e cognitivo.
Os primeiros jogos trabalhados foram os que envolviam somente a multiplicação de
números naturais, os quais são: Procurando seu par na multiplicação; Guerra da
multiplicação; Multiplicação por 10, 100 ou 1000; Dominó da multiplicação; Mico do quadrado
perfeito e Multiplicando por tabela.
Antes do início de cada jogo, era apresentado o material e, na sequência, os alunos
faziam a leitura das regras e da ilustração do jogo. Essa ilustração é uma curta história,
simulando o início de uma partida, envolvendo alguns personagens. A ilustração do jogo
chamou a atenção dos alunos. Antes da leitura, eles mesmos decidiam que personagem
cada um seria e gostavam de ler. Após a leitura, era simulada uma partida para que todos
tivessem uma melhor compreensão do jogo e pudessem tirar as dúvidas. Nessa partida eram
observadas as dificuldades que as crianças apresentavam com os cálculos e como o aluno
compreendia os conceitos envolvidos. Na sequência, procurava interagir com os educandos,
estimulando-os a pensar e buscar estratégias. Como eles não dominavam a tabuada, a
estratégia aplicada foi a de usar a soma para encontrar os resultados da multiplicação. No
início, os alunos estavam tímidos em relação ao jogo e demonstravam insegurança para
calcular. Quando começaram a compreender e acertar os resultados, animaram-se.
Ao término de cada encontro, analisava se os objetivos foram alcançados, como
também registrava as situações que chamaram a atenção no decorrer da aula. Essas
observações permitiram a reflexão para o aperfeiçoamento ou a mudança referente às
atividades e condutas.
Dos jogos que envolviam somente multiplicação, apenas o jogo Guerra da
multiplicação terá que passar por mudanças. Os alunos gostaram do jogo, mas, como eles
mesmos comentaram, o jogo ficou longo e cansativo por causa da quantidade de cartas, a
qual terá que ser reduzida. Os outros jogos desenvolveram-se normalmente. O jogo que mais
gostaram e queriam repetir, foi o Mico do quadrado perfeito. O último jogo desse primeiro
momento foi o Multiplicando por tabela, e, durante o desenvolvimento do jogo, observei que
os alunos se esforçavam para fazer os cálculos mentalmente. Os objetivos desse primeiro
momento da aplicação dos jogos foram alcançados.
No segundo momento, foram aplicados jogos que envolviam apenas divisão de
números naturais, os quais são: Procurando seu par na divisão; Dominó da divisão e
Caminhando com o resto.
Cheguei na sala e disse para os alunos: “Hoje vamos trabalhar com jogos que
envolvem divisão”. Para minha surpresa o desânimo tomou conta da turma. Uma aluna
queixou-se de dor de cabeça e não queria participar do jogo. Outra deitou na carteira e ficou
sonolenta. Fiz de conta que não percebi o desânimo da turma. Então iniciamos com o jogo
“Procurando seu par na divisão”. Nas primeiras partidas os alunos tiveram auxílio para
calcular. A estratégia utilizada para dividir foi a de verificar quantas vezes uma quantidade
cabe na outra. Quando eles perceberam que era possível acertar os cálculos, se animaram.
Os outros jogos se desenvolveram normalmente. O jogo que mais gostaram neste segundo
momento foi o Caminhando com o resto. Pediram um para jogar em casa. Os objetivos desse
segundo momento da aplicação dos jogos foram alcançados.
No terceiro momento foram aplicados jogos que envolviam divisão e multiplicação de
números naturais, os quais são: Dominó da multiplicação e divisão; Dividir ou multiplicar e
Respondendo às questões.
Os alunos apresentaram dificuldade para desenvolver o jogo Respondendo às
questões. A dificuldade apresentada foi referente à leitura das questões e compreensão.
Houve aluno que soletrou para ler, outros liam normalmente, mas não compreendiam. Eles
precisaram de ajuda para interpretar as questões, mas não tiveram problemas para calcular.
Os outros jogos se desenvolveram normalmente. O jogo que mais gostaram foi Dividir ou
multiplicar. Os objetivos desse terceiro momento da aplicação dos jogos foram alcançados.
Durante o desenvolvimento da atividade lúdica observei que a aprendizagem
não é a mesma para todos. O jogo é um estímulo para a criança, levando-a a ter atenção e
concentração. É o passo inicial e muito importante para acontecer a aprendizagem, mas não
garante a efetivação da mesma. Foi necessário observar o aluno e analisar seu nível de
conhecimento e, com atendimento individual, levá-lo a superar seus limites, motivando-o a se
sentir inteligente, capaz de pensar e de buscar estratégias para compreender os conceitos
envolvidos. Após o aluno ter uma melhor compreensão dos conceitos matemáticos, aos
poucos conquistou a sua autonomia e o jogo tornou-se uma atividade prazerosa. O jogo
possibilitou que o educando corrigisse seus erros sem deixar marcas negativas.
O jogo, por ser livre de pressões e avaliações, cria um clima de liberdade, propício à aprendizagem e estimulando a moralidade, o interesse, a descoberta e a reflexão. (Kishimoto, 2011, p.107)
Chegou um momento que os alunos estavam mais preocupados com a aprendizagem
do que com o jogo. Também queriam que seu colega acertasse os cálculos e a cooperação
entre eles foi relevante para a aprendizagem.
Após jogarem, os alunos escreveram sua opinião sobre a ação vivenciada durante o
jogo. Observou-se que, além da dificuldade no cálculo e na leitura, eles também
apresentaram dificuldade na escrita. Mesmo com essa limitação, escreveram em poucas
palavras sobre o que vivenciaram (vide anexo 2).
No último encontro foi aplicado novamente o teste de sondagem, envolvendo
multiplicação e divisão de números naturais. Os alunos responderam as mesmas questões do
primeiro teste, que foi realizado antes da intervenção pedagógica. Os dois testes foram
confrontados e percebeu-se a melhora do desempenho dos alunos. Pode-se constatar
observando o teste que foi realizado após a intervenção (vide anexo 3).
Participaram do projeto seis alunos. Destes, quatro foram assíduos e apresentaram
um ótimo aproveitamento. A construção do conhecimento matemático acontece de forma
gradual. A frequência irregular do aluno na escola e a falta de incentivo dos pais para o
estudo são fatores que interferem e muito na aprendizagem. De acordo com Rotta, Ohlweiler
e Riesgo (2006, p. 118):
A família também deve oferecer condições adequadas para que o binômio ensino-aprendizagem se realize com sucesso. A escolaridade dos pais, principalmente das mães, nas diferentes pesquisas desempenha um papel fundamental na estimulação da criança para um melhor envolvimento com os estudos. O hábito da leitura na família, sem dúvida, constitui um diferencial na estimulação pedagógica do escolar. Nesse contexto, as condições socioeconômicas, na maioria das vezes com renda familiar insuficiente, são relevantes e com frequência estão implicadas no fracasso escolar.
A falta de responsabilidade da família de acompanhar a assiduidade e as tarefas do
educando na escola é preocupante. A direção, equipe pedagógica e professores de muitas
escolas públicas não sabem como lidar com esta situação. Aplicam várias medidas para
resgatar o aluno com baixa frequência e com dificuldades na aprendizagem, mas falta o
empenho dos responsáveis.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Projeto de Intervenção Pedagógica possibilitou ao professor conhecer os fatores
intervenientes nas dificuldades em matemática. Essas dificuldades são de origem diversa e
muito complexas, pois os fatores biológicos, sociais, culturais, metodológicos e psicológicos
podem ser a origem de toda essa problemática.
Os recursos didáticos empregados facilitam a aprendizagem, deixando o aluno mais
interessado, curioso, atento. O jogo é um recurso didático que propicia o desenvolvimento
cognitivo, afetivo e social da criança. É um excelente recurso de motivação. O jogo
possibilitou que os alunos fossem estimulados a pensar, traçar estratégias e interagir com
ideias de outros colegas.
Foi de grande importância para aprendizagem levar em conta o que a criança sabe,
analisar seu nível de conhecimento, pois a aprendizagem é um processo de construção
mental interno, passando de um conhecimento mais simples a outro mais complexo.
Com atendimento individual, o aluno foi estimulado a superar seus limites, a ser um
participante ativo do pensar e aprender.
Os jogos adaptados aos conteúdos de multiplicação e divisão de números naturais
levaram a uma melhor apreensão dos conceitos matemáticos. Também permitiram que o
aluno descobrisse onde falhou e corrigisse seus erros, sem deixar marcas negativas,
levando-o à autonomia e ao estímulo para continuar aprendendo, à compreensão. Pode-se
observar, nas frases de alguns alunos, a importância que deram para a sua aprendizagem,
no relato sobre o que vivenciaram durante o jogo: “Eu gostei porque eu pensei bastante.”;
“Jogo do dominó foi meio legal...mas aprendi.”; “...foi legal fazer conta de vezes, é muito legal
mesmo.”; “É legal porque eu aprendi um pouco mais.”; “Eu melhorei na divisão e decorei a
tabuada.”
No curso GTR, os professores salientaram que os recursos didáticos fazem toda a
diferença na aprendizagem dos alunos com dificuldade, desde que bem trabalhados e com
objetivos claros. Os jogos elaborados na produção didática foram considerados pertinentes
às necessidades da Escola, enriquecendo não só as aulas da sala de apoio, como também
as aulas no período normal, e, ainda, são jogos que podem ser adaptados para outras séries.
Enfim, os resultados obtidos do projeto são animadores. Os alunos com frequência
melhoraram nos cálculos de multiplicação e divisão de números naturais. Também verificou-
se, no curso do GTR, na troca de experiências com os professores, que o projeto será útil
para o ensino e aprendizagem, levando-os a refletir sobre os fatores que prejudicam a
aprendizagem e também motivando a implementação de ações para a melhoria educacional.
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ANEXOS
ANEXO 1 – Teste do aluno antes da intervenção pedagógica.
ANEXO 3 - Teste do aluno depois da intervenção pedagógica e a folha de borrão que utilizou para fazer os cálculos.