dificuldades de aprendizagem em matemÁtica · dificuldades de aprendizagem em matemÁtica autora:...

26

Upload: dinhminh

Post on 12-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA

Autora: Marici Opalinski Kobner Lopes1 Orientador: João Luiz Domingues Ribas2

Resumo

Este artigo apresenta os resultados de cada uma das etapas desenvolvidas a partir do Projeto intitulado Dificuldades de Aprendizagem em Matemática, inserido no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, da Secretaria Estadual de Educação do Paraná. É grande o desinteresse pela disciplina de matemática e muitos alunos chegam ao Ensino Fundamental do 6º ano com dificuldades de aprendizagem. O projeto possui como primeira etapa a compreensão do que vem a ser essa dificuldade de aprendizagem em Matemática por meio de uma investigação bibliográfica. Na segunda etapa foi organizado um material didático com enfoque nas operações de multiplicação e divisão de números naturais, com o objetivo de desenvolver habilidades de cálculo por meio de jogos. Esta proposta teve a intenção de motivar o aluno para o estudo em um contexto do lúdico. A terceira etapa foi a implementação do Projeto na Escola, que teve como público alvo alunos do 6º ano do Ensino Fundamental do Colégio Rivadávia Vargas, com dificuldades de aprendizagem pela defasagem de conteúdo na disciplina de Matemática. Esse trabalho resultou na melhoria do desempenho do aluno nos cálculos de multiplicação e divisão de números naturais.

Palavras-chave: Dificuldades de Aprendizagem; Jogos; Multiplicação e Divisão;

Sala de Apoio.

1 Professora de Matemática da Rede Pública Estadual do Paraná, pós-graduada em Metodologia do Ensino da Matemática, em exercício no Colégio Estadual Rivadávia Vargas. 2 Professor de Estágio Sup. Em Matemática do Dep. de Métodos e Técnicas de Ensino da Universidade Estadual de Ponta Grossa -UEPG

1. INTRODUÇÃO

Este artigo relata a experiência de um trabalho de pesquisa e da implementação de

um projeto com o tema “Aprendizagem e os fatores intervenientes nas dificuldades em

Matemática”, aplicado com os alunos de 6º ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual

Rivadávia Vargas, na cidade de Piraí do Sul, com dificuldades de aprendizagem em

matemática. Esta dificuldade é devido à defasagem de conteúdos. Este projeto de

intervenção teve como primeiro procedimento a compreensão do que vem a ser essa

dificuldade de aprendizagem em matemática, e, na sequência, a organização de uma

proposta de intervenção com jogos para a melhoria do desempenho escolar do aluno.

Espera-se que toda criança tenha a oportunidade de aprender. No ambiente escolar,

observa-se que alguns alunos não apresentam deficiência intelectual, mas possuem

dificuldade em relação à leitura, à escrita e ao cálculo matemático. Diante dessa

problemática, o professor poderá oportunizar, por meio de uma intervenção pedagógica

planejada, a aprendizagem dos conteúdos acadêmicos a essas crianças e adolescentes que

comumente são rotulados como fracos, com desinteresse, irresponsáveis ou agressivos.

Em muitas escolas as salas de aula estão superlotadas, prejudicando o trabalho

individual e coletivo. Consequentemente, os alunos que apresentam dificuldades de

aprendizagem e falta de pré-requisitos para a série são os mais comprometidos. É fato,

portanto, que o professor muitas vezes não consegue elaborar uma proposta metodológica

eficaz que atenda a essas diferenças. Daí a importância de um trabalho de intervenção

pedagógica, como a elaboração de atividades estimuladoras que despertem o interesse.

Por meio de aulas em contraturno, o professor poderá atender a essa criança de

forma mais próxima, com propostas metodológicas inovadoras, diversificação de materiais e

maior adequação do tempo. Uma dificuldade de aprendizagem faz com que o educando não

consiga compreender os conceitos mais elementares da Matemática. Orientá-lo a centrar-se

em si próprio para depois relacionar-se com o meio a sua volta precisa respaldar-se em

situações mais concretas de aprendizagem.

Os alunos com dificuldade de aprendizagem fazem parte dos inúmeros desafios que a

realidade escolar enfrenta. Este insucesso educativo é referente à questões de natureza

diversa e, geralmente, o professor de matemática enfrenta obstáculos ao lidar com essa

situação. Espera-se, assim, que os educadores sejam os mediadores, colocando em prática

estratégias e ferramentas de ensino para promover a aprendizagem dos seus alunos, mas,

apesar da preocupação, muitos não conseguem trabalhar com as especificidades do

educando, e este acaba sendo ignorado e excluído do sucesso educativo.

Em certas situações, o procedimento didático utilizado na relação ensino e

aprendizagem não produz o resultado esperado diante das dificuldades. Muitos docentes não

estão preparados para enfrentar essa diversidade e acabam se restringindo somente ao uso

dos livros didáticos.

É necessário que a escola tenha um ambiente adequado para este aluno, respeitando

seu ritmo de aprendizagem, compreendendo assim, seus limites e possibilidades. Hoje,

existem programas para atender a esse educando, como o “Programa Salas de Apoio à

Aprendizagem”, que funciona em contraturno, cujo objetivo é o de melhorar o desempenho

escolar. Desta forma, o professor responsável pela Sala de Apoio precisa buscar diferentes

metodologias, para que o aluno venha a superar a defasagem apresentada e consiga

apreender o conhecimento como os demais. O trabalho desenvolvido neste projeto surge

como uma necessidade da escola em minimizar as dificuldades que acontecem no ensino da

Matemática.

Em um primeiro momento foi realizado um levantamento bibliográfico acerca das

pesquisas que tratam o tema de estudo. No segundo momento aconteceram a organização e

a elaboração de atividades com recursos didáticos, abordando as operações de multiplicação

e divisão de números naturais. Estas atividades foram inseridas em um contexto do lúdico,

com jogos. O terceiro momento foi o da intervenção pedagógica. Neste momento foi

organizado um teste de sondagem, envolvendo as operações de multiplicação e divisão de

números naturais e aplicado antes e após a intervenção pedagógica. Durante este processo

de ensino-aprendizagem com atividades lúdicas ocorreram: explicações, questionamentos,

diálogos, atividades individuais e em grupo. Diante dos obstáculos e das dificuldades que as

crianças apresentaram no decorrer das atividades foi oportunizada, por meio da mediação, a

exploração de estratégias que levou à compreensão de conceitos. Realizou-se também um

registro dos problemas diagnosticados e dos avanços alcançados pelos educandos, o qual

possibilitou uma reflexão sobre as dificuldades que cada criança apresentava.

2. DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA

O desafio da escola é o de proporcionar um ambiente em que os alunos tenham uma

aprendizagem efetiva, que é um processo complexo.

A aprendizagem se dá no sistema nervoso central (SNC) e pode ser entendida como

um processo de aquisição de novas informações, que se realiza no interior do indivíduo e se

manifesta em uma mudança de comportamento. Rotta, Ohlweiler e Riesgo (2006, p. 21)

dizem:

Aprendizado e memória podem se confundir do seguinte modo: quando chega ao SNC uma informação conhecida, ela gera uma lembrança, que nada mais é do que uma memória; quando chega ao SNC uma informação inteiramente nova, ela nada evoca, e sim produz uma mudança – isso é aprendizagem, do ponto de vista estritamente neurobiológico.

O sistema nervoso central é uma estrutura complexa e plástica, e só processa aquilo a

que está atento. O cérebro na aprendizagem reage aos estímulos do meio e ativa suas

sinapses (ligações entre neurônios por onde passam os estímulos), tornando-as mais

estáveis e fortes. As redes neurais são modificadas diante de cada nova experiência, e o

registro dessa nova informação se tornará mais forte se tiver relação com o que já está

armazenado. Com a modificação de comportamento, do pensamento do indivíduo e a

permanência dessas novas experiências, acontecerá realmente a aprendizagem. Aprender

não é só memorizar informações, mas saber relacioná-las e refletir sobre elas.

É responsabilidade do professor que os conteúdos desenvolvidos na sala tenham

significado para o aluno, sejam aprendidos e fiquem na memória. O uso de estratégias

adequadas, atividades prazerosas e desafiadoras provocam mudanças na quantidade e

qualidade destas conexões sinápticas, melhorando o funcionamento cerebral.

O professor deve dar condições para que o aluno tenha ousadia para enfrentar

desafios, para questionar, para procurar respostas. Para que isso aconteça, o educador

precisa propor atividades adequadas para a sua realização. Os recursos didáticos

empregados na transmissão de uma informação deixam o aluno mais interessado, curioso,

antenado e, consequentemente, facilita a aprendizagem.

A utilização de materiais diversificados que explorem os sentidos da visão, do tato e

da audição leva os alunos, principalmente os mais lentos, a vivenciar a aprendizagem de

acordo com suas possibilidades neurais. Quanto mais recursos e atividades bem elaboradas

forem empregados na transmissão de uma informação, mais estímulos o aluno terá para ser

um participante ativo do pensar e aprender.

A partir de um planejamento, da observação das dificuldades individuais e abordando

os conteúdos por meio das tendências metodológicas em Educação Matemática, presentes

nas Diretrizes Curriculares Estaduais (2008), o professor poderá consolidar seu trabalho,

possibilitando uma aprendizagem eficaz.

A aprendizagem não é a mesma para todos. Para construir certos conhecimentos, não

se pode estar distante do que já se sabe e do nível de desenvolvimento em que o indivíduo

se encontra.

Jean Piaget (1896/1980), Biólogo e Psicólogo Suíço, queria saber como o homem

aprende. Para ele a aprendizagem é um processo de construção mental interno e se dá na

medida em que o indivíduo interage com o objeto a ser conhecido, passando de um

conhecimento mais simples a outro mais complexo. Analisou a evolução do pensamento

desde o nascimento até a adolescência, observando seus próprios filhos, e concluiu que as

crianças não raciocinam como os adultos, por ainda faltarem certas habilidades. Segundo

Piaget (2010, p. 69):

Estudo mostra, em primeiro lugar, aquilo em que a criança difere do adulto, isto é, o que falta à criança para raciocinar como um adulto normal de cultura média. Pode-se verificar, por exemplo, que certa estruturas lógico-matemáticas não são acessíveis a todas idades, (...)

De acordo com Piaget, a criança passa por fases de desenvolvimento. É importante o

professor considerá-las, para propor aos alunos atividades que respeitem o nível mental de

cada um. Na fase das operações concretas (7 – 12 anos), a criança é capaz de abstrair

dados da realidade, mas ainda depende do modo concreto para chegar à abstração.

Gradativamente, o raciocínio lógico vai se sobrepondo à percepção e à intuição. Adquire

novas habilidades para conceituar, organizando o mundo de forma lógica ou operatória. Tem

a capacidade de reversibilidade. Embora nesta fase a criança já consiga efetuar operações

corretamente, precisa ainda estar em contato com a realidade. Não alcança o nível mais

elevado das operações lógicas, sendo empregadas apenas na solução de problemas

envolvendo objetos e fatos reais. Nessa fase liberta-se gradativamente de seu egocentrismo

e manifesta sentimentos morais e sociais de cooperação, começa a jogar com regras e a

pensar antes de agir, a refletir. A criança busca compreender o pensamento do outro, tem

necessidade de transmitir o seu pensamento aos demais e de colaborar ao se trabalhar em

grupo.

Em vez das condutas impulsivas da primeira infância, acompanhadas da crença imediata e do egocentrismo intelectual, a criança, a partir de sete ou de oito anos, pensa antes de agir, começando, assim, a conquista deste processo difícil que é a reflexão. (Piaget, 2010, p. 42)

Geralmente encontramos alunos de 10 anos e 11 anos, no 6º ano do Ensino

Fundamental. É importante o professor conhecer em qual estágio o aluno se encontra, seu

nível cognitivo, antes de realizar suas atividades educativas, pois ele só aprenderá

determinado conteúdo, se estiver de acordo com o seu desenvolvimento intelectual.

Uma aula baseada na transmissão oral dos conhecimentos, sem participação dos

alunos e com uma matemática sem significado, principalmente nessa etapa das operações

concretas, resultará em uma matemática mecânica e repetitiva, gerando assim uma aversão

à mesma. Nesta fase, as trocas de experiências nas atividades em grupo, que proporcionam

oposições de opiniões e atitudes, são fundamentais ao desenvolvimento das construções

cognitivas individuais, e os recursos didáticos são essenciais para a construção de conceitos.

Os estudos experimentais de Piaget mostram o que esperar do aluno, nas diferentes

fases de desenvolvimento. Respeitando cada fase do desenvolvimento do educando, o

professor poderá intervir com situações educativas que vão ao encontro do seu nível de

compreensão e abstração para obter uma aprendizagem efetiva. Por meio de atividades

diferenciadas, a Sala de Apoio objetiva a superação das dificuldades trazidas das séries

iniciais do Ensino Fundamental. Nesta sala, o professor encontrará alunos com defasagens

de conteúdo, com dificuldades na leitura, escrita e cálculo, e esses alunos, na sua maioria,

encontram-se no estágio das operações concretas. Para promover o processo de ensino-

aprendizagem face a esta problemática, o educador deve possibilitar um ensino por meio de

atividades práticas, com recursos didáticos, com diálogo entre colegas e professor,

conduzindo à compreensão do conteúdo e não só à memorização. Um número reduzido de

alunos na turma, aulas diferenciadas e uma matemática significativa levarão o educando a

expressar suas dúvidas e ideias, sem medo de errar, alcançando-se assim a autonomia do

pensamento, dentro de suas reais potencialidades.

É na escola que a criança receberá conhecimentos para ingressar futuramente em

inúmeras áreas da atividade humana. Quando um aluno está com dificuldades, é necessário

uma análise, a fim de melhor conduzi-lo, pois é um momento definidor de sua vida. Aprender

tornou-se uma necessidade para assumir um lugar na sociedade. Toda criança deve ter a

oportunidade de aprender, mesmo com suas diferenças, e as políticas educacionais

garantem o acesso de todas as crianças à escola. As Diretrizes Curriculares dizem:

Um projeto educativo, nessa direção, precisa atender igualmente aos sujeitos, seja qual for sua condição social e econômica, seu pertencimento étnico e cultural e às possíveis necessidades especiais para aprendizagem. Essas características devem ser tomadas como potencialidades para promover a aprendizagem dos conhecimentos que cabe à escola ensinar, para todos. (Diretrizes Curriculares da Educação Básica - Matemática, 2008, p. 15).

Os cálculos sempre fizeram parte do cotidiano do homem, mas o número de

pessoas com dificuldade para lidar com a matemática é muito grande.

Segundo Rotta, Ohlweiler e Riesgo (2006, p. 117):

(...) o ato de aprender é um ato de plasticidade cerebral, modulado por fatores intrínsecos (genéticos) e extrínsecos (experiência). Com a aprendizagem conceituada dessa maneira, pode-se dizer que dificuldades para a aprendizagem são o resultado de alguma falha intrínseca ou extrínseca desse processo. Dificuldade para a aprendizagem é um termo genérico que abrange um grupo heterogêneo de problemas capazes de alterar as possibilidades de a criança aprender, independentemente de suas condições neurológicas para fazê-lo.

As dificuldades de aprendizagem na matemática são muito complexas, pois os

fatores biológicos, sociais, culturais, metodológicos e psicológicos podem ser a origem de

toda essa problemática. Rotta, Ohlweiler e Riesgo mostram, de forma esquematizada, as

diversas causas de mau rendimento em matemática:

(ROTTA, OHLWEILER e RIESGO, 2006, p. 203).

A aprendizagem das habilidades matemáticas sempre foi considerada difícil, assim,

ter dificuldades na matemática era considerado normal. Na verdade é necessária uma

avaliação em seus vários aspectos diante dessa problemática. Atualmente, analisa-se os

fatores que estão envolvidos com essas dificuldades, que podem estar relacionados com a

própria criança, com a escola ou com a família.

Em relação à Criança, estes fatores podem ser por comprometimentos físicos,

psicológicos ou neurológicos:

Físicos: Em geral destacam-se as dificuldades sensoriais (visual, auditiva). O aluno que não

escuta bem, não consegue ouvir o que lhe é passado oralmente, dificultando o entendimento

para realizar as atividades, e, frequentemente, parece desatento e inquieto. A criança com

dificuldade visual pode trocar 6 por 9 ou 3 por 8, por exemplo, e certamente terá dificuldade

em realizar os cálculos. Outras doenças como anemia, doenças reumáticas, hipotireoidismo,

parasitoses, nefropatias, pneupatias, doenças imunoalérgicas, desnutrição, entre outras,

podem interferir no desempenho escolar, pois é possível que essa criança esteja debilitada

pela patologia ou pelo tratamento. Segundo Rotta, Ohlweiler e Riesgo (2006), em crianças

que nascem desnutridas e continuam expostas à falta de alimentação protéica, foi constatado

um déficit de até 60% de seus neurônios.

Psicológicos: Na idade escolar, a criança pode desenvolver problemas psicológicos, como

ansiedade, timidez, insegurança e baixa autoestima. Esse quadro pode evoluir para fobias,

depressão, transtorno de humor, conduta antissocial, entre outras. A perturbação emocional

pode comprometer o desempenho intelectual, bloqueando os pensamentos e reduzindo a

capacidade de aprendizagem. O aluno pode vir a ter comportamentos inadequados,

tornando-se apático, desinteressado ou agressivo, porque tem medo de enfrentar novas

experiências de aprendizagem, acredita que não é capaz de evoluir. Os pais e professores

correm o risco de piorar a autoestima do aluno com punições e críticas. Face a esta situação,

a prova não deve ser o único instrumento de avaliação, pois um aluno nervoso poderá ter um

péssimo desempenho. A criança também deve ser avaliada em momentos de tranquilidade,

de acordo com suas potencialidades. Muitos alunos do 6º ano do Ensino Fundamental

desenvolvem ansiedade e também expectativa em relação à escola. Neste período, há a

mudança de escola ou de turma e também a troca de professores a cada 50 minutos.

Atrapalham-se com a quantidade de matérias e, comumente, não têm noção dos

conhecimentos prévios para entender os novos conceitos. O professor do 6º ano precisará de

muita paciência para encaminhar a vida escolar dessa criança de forma positiva, para evitar

que neste pequeno espaço escolar sejam desencadeados grandes traumas emocionais.

Neurológicos: As situações neurológicas que interferem no ato de aprender são diversas,

como mostra o esquema de Rotta, Ohlweiler e Riesgo. Elucidando apenas algumas

situações:

a. Discalculia: é uma dificuldade em aprender Matemática. É um falha que está na conexão

dos neurônios, na área responsável pelo reconhecimento dos símbolos. A criança com

discalculia tem uma inteligência normal. Geralmente aparece associada com dificuldade

de concentração e organização e é comum a falta de noção espacial.

Aproximadamente entre 3 e 6% das crianças têm discalculia do

desenvolvimento. Os sintomas encontrados com mais frequência são: 1) erro

na formação de números, que freqüentemente ficam invertidos; 2)dislexia; 3)

inabilidade para efetuar somas simples; 4) inabilidade para reconhecer sinais

operacionais e para usar separações lineares; 5) dificuldade para ler

corretamente o valor de números com multidígitos; 6) memória pobre para

fatos numéricos básicos; 7) dificuldade de transportar números para local

adequado na realização de cálculos; 8) ordenação e espaçamento

inapropriado dos números em multiplicações e divisões. (ROTTA,

OHLWEILER e RIESGO, 2006, p. 202)

Com a intervenção adequada, a criança com discalculia pode desenvolver a

capacidade matemática e as dificuldades permanecerão de uma forma suave. A

concentração geralmente melhora com a compreensão de conceitos matemáticos e símbolos.

O aluno com discalculia terá um melhor rendimento com a interferência direta do professor.

A intervenção em crianças com discalculia será bem-sucedida quando as noções de números elementares de 0 a 9 (habilidade léxica), a produção de novos números (habilidade sintática), as noções de quantidade, ordem, tamanho, espaço, distância, hierarquia, os cálculos com as quatro operações e o raciocínio matemático forem trabalhados, primeiramente como experiências não-verbais significativas. A criança só irá trabalhar com fatos aritméticos mentalmente quando superar as etapas citadas. Para superar as dificuldades de percepção visoespacial, é preciso trabalhar com a percepção de figuras e de formas, observar detalhes, semelhanças, diferenças e

relacionar com as experiências do dia-a-dia, tais como fotos, imagens, tamanho, largura e espessura, e então trabalhar com números, letras e figuras geométricas. (ROTTA, OHLWEILER e RIESGO, 2006, p. 204)

b. Acalculia: é a perda da capacidade de executar cálculos e desenvolver o raciocínio

aritmético. As pessoas com essa dificuldade manifestam total falta de habilidade para

desenvolver qualquer atividade de matemática, são incapazes de aprender os princípios

básicos de contagem. Essa falta de habilidade geralmente indica um dano cerebral.

c. Dislexia: é uma dificuldade específica em ler, e esta dificuldade estende-se para a

aquisição da escrita e da matemática. A criança não consegue identificar símbolos gráficos

(letras e/ou números), consequentemente terá dificuldade na leitura e escrita. O dislexo

possui inteligência normal ou muitas vezes acima da média. Apesar de apresentar dificuldade

em ler o enunciado de um problema, pode interpretá-lo e fazer cálculos, quando lido em voz

alta.

d. Síndrome Fetal Alcoólica: em estudos de pacientes com esta Síndrome, encontram-se a

dificuldade na memória de curto prazo, desorientação espacial e dificuldade em matemática.

Filhos de mãe alcoólatra estão sujeitos às alterações metabólicas. Alguns dos efeitos no

consumo de álcool, durante a gestação, em relação ao feto são: dimorfismos faciais, prejuízo

no crescimento pré e pós-natal e malformações do Sistema Nervoso Central. O número de

mulheres que fazem consumo de bebidas alcoólicas aumentou, e consequentemente, o

número de gestantes também. Fato esse muito preocupante para o ensino.

Em relação à Escola, para que a criança tenha um bom rendimento é importante boas

condições físicas da sala de aula. Esta necessita ser limpa, arejada, com boa iluminação e

um limite aceitável de alunos em cada turma. A atenção e a concentração do aluno serão

desenvolvidas a partir da valorização das condições pedagógicas, como material didático de

acordo com o nível de desenvolvimento do aluno e um professor com estratégias de ensino

adequadas. Os problemas emocionais, sociais e econômicos do professor influenciam e

interferem no processo sociointeracional, também. A exemplo, uma carga horária de trabalho

além das condições físicas faz com que a qualidade pedagógica seja deficitária. A qualidade

da atuação de uma equipe pedagógica e da direção é importante na organização do

ambiente escolar. É por meio da competência dessa equipe que nota-se o bom

funcionamento de uma escola. É ela que propicia um ambiente saudável, com regras,

mediando a qualidade da relação professor-aluno-família, a qual é relevante para o sucesso

escolar da criança, que tem o direito de estar em um ambiente de respeito e educação, para

a tranquilidade de todos.

Em relação à Família, é fundamental a sua colaboração no processo ensino-

aprendizagem. É em casa que a criança recebe as primeiras influências, cabendo à escola o

papel de complementar a sua formação. As condições socioeconômicas e a escolaridade dos

pais influenciam na estimulação do aluno para ter um maior envolvimento com os estudos.

Normalmente estas famílias acabam centradas apenas no resultado final do ensino-

aprendizagem, e deixam de participar do processo de construção do conhecimento de seus

filhos. A construção do conhecimento matemático acontece de forma gradual, é um processo

sequencial e a falta de frequência é um fator que interfere na aprendizagem, levando à

defasagem de conteúdos. Por isso, a família tem a responsabilidade de acompanhar a

assiduidade do educando.

Pais separados, desempregados, com história de alcoolismo, drogas, ou com

comportamento antissocial colaboram para o insucesso da criança na escola. Sem dúvida, o

desenvolvimento cognitivo do aluno com dificuldade será mais concreto se houver a

participação conjunta da família e da escola.

As dificuldades de aprendizagem em matemática são de origem diversa, e não existe

uma forma única de superá-las, em função de suas particularidades. Mas, é importante que o

professor conheça essas dificuldades para ser capaz de analisar seu aluno de uma forma

mais justa, compreensível. Muitas pessoas consideram a matemática uma matéria de difícil

entendimento. Rotta, Ohlweiler e Riesgo (2006, p. 199) descrevem:

O cálculo é uma função cerebral complexa; em uma operação aritmética simples, vários mecanismos cognitivos são envolvidos, como por exemplo: a) processamento verbal e/ou gráfico da informação; b) percepção; reconhecimento e produção de números; d) representação número/símbolo; e) discriminação visoespacial; f) memória de curto e longo prazo; g) raciocínio sintático; e h) atenção.

A matemática, muitas vezes, é transmitida de uma maneira formal, por meio da

memorização de cálculos, deixando de lado a compreensão, o que acaba favorecendo o

desenvolvimento de dificuldades de aprendizagem.

A compreensão do senso numérico é gradativo, primeiro o aluno deve lidar com as

situações diárias e na sequencia desenvolver processos matemáticos mais complexos. Um

aluno que aprende o cálculo da divisão com significado, com compreensão, terá a

possibilidade da apropriação de um cálculo mais complexo, que necessite do entendimento

da divisão para desenvolvê-lo. Os requisitos necessários para o êxito aritmético entre os 6 e

12 anos é relatado por Rotta, Ohlweiler e Riesgo (2006, p. 199):

Entre os 6 e 12 anos de idade são necessários os seguintes requisitos para o aprendizado adequado da matemática: a) ter a capacidade de agrupar objetos de 10 em 10; b) ler e escrever de 0 a 99; c) saber a hora; d) resolver problemas com elementos desconhecidos; e) compreender meios e quartos; f) medir objetos; g) nomear o valor do dinheiro; h) medir volume; i) contar de 2 em 2, 5 em 5, 10 em 10; j) compreender números ordinais; l) completar problemas mentais simples; e m) executar operações matemáticas básicas.

O educando que não consegue apropriar-se de um conhecimento que é esperado

para a sua idade, deve ser observado com atenção pelo professor, para que a intervenção

pedagógica seja iniciada o quanto antes.

Face à diversidade das dificuldades na sala de aula, o educador deve utilizar

diferentes metodologias para tentar alcançar os objetivos para todos os alunos. Caso não

aconteça, a criança deve ser encaminhada aos programas que atendam às dificuldades de

aprendizagem. O aluno que manifestar dificuldades leves, pode ser encaminhado para a

“Sala de Apoio”. Nas dificuldades mais graves, deve ser encaminhado para a “Sala de

Recursos Multifuncionais”, onde acontecerá uma intervenção especial, com avaliações de

especialistas, e poderá ter adaptações curriculares e avaliação diferenciada.

O registro elaborado por meio de fichas individuais dos processos de aprendizagem

dos alunos é uma documentação relevante nas dificuldades de aprendizagem. É um

instrumento que revela os limites, os progressos e os obstáculos de aprendizagem do aluno.

É também uma ferramenta pedagógica que possibilita ao outro professor dar continuidade no

desenvolvimento da criança com dificuldade acadêmica. A interação da equipe pedagógica

com o professor em relação aos registros é de suma importância.

A escola ainda possui muitas falhas em atender crianças com dificuldades de

asprendizagem; os professores não podem se comportar como no passado, em que a criança

que não apresentasse aprendizagem era isolada. O docente deve pesquisar sobre os

problemas sociais, afetivos e cognitivos de seus alunos, a fim de melhor ajudá-los. Deve-se

optar pela compreensão e não pela exclusão.

A realidade social de muitas crianças reflete em problemas comportamentais na

escola. São criadas em condições negligentes, com pouca motivação para seguirem normas

sociais e apresentam atitudes e valores inapropriados, prejudicando a aprendizagem e a

socialização. E é na escola que terão a oportunidade de receber uma orientação adequada

que pode prevenir, muitas vezes, uma delinquência juvenil.

O professor pode contribuir com a formação dessa criança através de atividades

lúdicas. Os jogos e as brincadeiras têm sua função educativa, pois os alunos precisam

respeitar as regras, pensar, decidir, exercitar sua inteligência.

As crianças ficam mais motivadas a usar a inteligência, pois querem jogar bem; sendo assim, esforçam-se para superar obstáculos, tantos cognitivos quanto emocionais. Estando mais motivadas durante o jogo, ficam também mais ativas mentalmente. (Kishimoto, 2011, p.107)

O lúdico é um recurso didático que propicia o desenvolvimento motor, cognitivo,

afetivo e social da criança. Os jogos e as brincadeiras adaptados aos conteúdos e às

necessidades de aprendizagem podem levar a uma melhor apreensão dos conceitos

matemáticos. É uma importante estratégia, quando bem direcionada, favorece a motivação.

Por ser uma atividade de prazer, também contribui para despertar a atenção do aluno e

adquirir o hábito de permanecer concentrado.

A atividade lúdica é um recurso pedagógico que pode ajudar crianças com

dificuldades, tornando a matemática prazerosa, o que despertará o gosto para aprender,

estimulará a cognição e aumentará a capacidade de percepção. Outra contribuição dos jogos

e brincadeiras é a da diminuição da agressividade. Por meio da interação entre colegas,

atitudes de cooperação, diálogo e competição honesta, o aluno desenvolverá atitudes sociais

mais adequadas para um bom convívio. Cada educando tem seu ritmo, suas limitações e

progressos em relação à Matemática, e quando ele se sente parte de um grupo, num

ambiente propício para se desenvolver, terá prazer em aprender.

2.1 UMA PROPOSTA LÚDICA COM JOGOS DE MULTIPLICAÇÃO E DIVISÃO DE

NÚMEROS NATURAIS

Consciente de que toda criança deve ter a oportunidade de aprender, mesmo com

suas diferenças, o professor possui a responsabilidade de auxiliar o aluno a alcançar a

autonomia do pensamento dentro de suas reais potencialidades.

Faz-se necessário sob esse aspecto, que o professor crie situações que despertem o

interesse e o gosto pela matemática. Impulsionar a aprendizagem, por meio da motivação e

dos recursos didáticos apropriados, facilita o trabalho do professor em sala de aula e

dinamiza a assimilação do conteúdo pelo aluno.

Diante do que foi exposto, elaborei um material didático lúdico, contendo uma

proposta de atividades cognitivas que desenvolvem diversas habilidades. Esta Unidade

Didática é o resultado de um estudo reflexivo sobre a importância de se respeitar as

diferenças, pois a aprendizagem não se dá ao mesmo tempo para todos, e, a

contextualização do conteúdo com a vivência do aluno, resultou na necessidade de trabalhar

a matemática sob a forma de jogos.

O jogo, na educação matemática, passa a ter o caráter de material de ensino quando considerado promotor de aprendizagem. A criança, colocada diante de situações lúdicas, apreende a estrutura da brincadeira e, deste modo, apreende também a estrutura matemática presente. (Kishimoto, 2011, p.89)

Organizei uma coletânea de jogos com o objetivo geral de desenvolver habilidades de

cálculo, envolvendo multiplicação e divisão de números naturais. Foram confeccionados 13

jogos, os quais são: Procurando seu par na multiplicação, Guerra da multiplicação, Dominó

da multiplicação, Multiplicação por 10, 100 ou 1000, Mico do quadrado perfeito, Dominó do

quadrado perfeito, Multiplicando por tabela, Procurando seu par na divisão, Dominó da

divisão, Caminhando com o resto, Dominó da multiplicação e divisão, Dividir ou multiplicar e

Respondendo às questões.

No material didático elaborado há: as orientações metodológicas para o professor, os

objetivos pedagógicos de cada jogo; o material necessário para confecção dos jogos; as

regras de como jogar e uma ilustração simulando o início de uma partida. Na sequência,

segue as orientações metodológicas.

Orientações metodológicas:

A atividade lúdica tem sua função educativa, quando bem direcionada. Cabe ao

professor organizá-la de forma que estimule a aprendizagem. O jogo utilizado, como

ferramenta pedagógica, requer um plano de ação que possibilite a apreensão de conceitos

matemáticos e aproxime a criança do conhecimento científico.

Antes de iniciar um jogo, o professor deverá dialogar com seus alunos, evidenciando a

importância das regras, de saber ganhar e perder e da organização da turma. Deverá

também conscientizá-los da importância de analisar seus erros, rever suas respostas, tirar as

dúvidas junto aos colegas ou com o professor, para compreender o seu próprio processo de

aprendizagem.

Em um jogo, a organização dos grupos pode ser de livre escolha entre os colegas.

Contudo, podem surgir alterações em consequência de algumas situações, como: deixar

juntos os alunos com facilidade no cálculo, para que o professor possa acompanhar os que

precisam de intervenção; deixar em um mesmo grupo alunos que necessitam de ajuda com

alunos que gostam de ajudar e pode acontecer de um grupo sempre vencer e o outro sempre

perder. Na organização dos grupos, o ideal é não ter mais que quatro jogadores em cada um.

A partir de uma sondagem em relação ao conhecimento da turma e, também, de sua

evolução no decorrer das aulas, o professor poderá alterar os valores que aparecem nos

jogos. Os alunos receberão uma folha das instruções do jogo, e o professor deve incentivá-

los na leitura, ajudá-los na interpretação e discutir as regras. Na sequência, simular uma

partida para que todos tenham uma melhor compreensão do jogo e possam tirar as dúvidas.

Para haver aprendizagem por meio do jogo, é necessário jogar mais de uma vez. Nas

repetições e nas discussões, o jogo é melhor compreendido e pode haver a apreensão dos

conceitos matemáticos envolvidos. Após jogarem, os alunos vão escrever sua opinião sobre a

ação vivenciada durante a atividade.

No desenrolar das jogadas, o professor deve:

a) Interagir com todos;

b) Estimular seu aluno a pensar e buscar estratégias;

c) Incentivar para que ele manifeste seu pensamento e discuta coletivamente sobre a

jogada;

d) Permitir que os jogadores expressem suas hipóteses, quando aparecerem

diferentes soluções e intervir para a compreensão acerca dos conceitos envolvidos

na situação;

e) Observar os alunos com maior dificuldade;

f) Observar a forma como a criança compreende;

g) Observar as falhas e os avanços do ensino e da aprendizagem, para aprimorar

seu trabalho.

A interferência do professor deve ser menos frequente, quando os alunos

demonstrarem dominar o jogo. Nessas condições, é conveniente deixá-los iniciar, organizar e

jogar, permitindo que sejam autônomos.

Terminadas as atividades do dia, o professor deve fazer uma avaliação, analisando se

os objetivos foram alcançados, como também registrar as situações que chamaram a atenção

no decorrer da aula. Essas observações permitirão a reflexão para o aperfeiçoamento ou a

mudança referente às atividades e condutas.

2.2 GRUPO DE TRABALHO EM REDE

O GTR aconteceu no primeiro semestre de 2013, paralelo à Implementação do

Projeto. Durante o curso houve a socialização do Projeto, do Material Didático e da

Implementação do Projeto na Escola, com os professores da rede pública. O principal

objetivo foi o de refletir sobre a contribuição do Projeto e da relevância da Produção do

Material Didático para a realidade da escola pública.

Os professores relataram que não se sentem preparados para trabalhar com as

especificidades do educando. Mas, com o passar dos anos, consegue-se compreender "em

parte" as dificuldades de cada aluno. Eles estão procurando usar várias metodologias em

suas aulas para motivar o aluno, mas os principais fatores que interferem no seu trabalho

são: as salas superlotadas e a falta de interesse dos pais na vida escolar dos seus filhos, o

que leva a uma frequência irregular desta criança na escola e atrapalha na aprendizagem.

Normalmente são essas crianças com baixa frequência que apresentam dificuldades na

matemática, por defasagem de conteúdo. Também comentaram que os recursos didáticos

fazem toda a diferença na aprendizagem dos alunos com dificuldades, desde que bem

trabalhados e com objetivos claros. Os jogos fornecem oportunidades para criar estratégias,

um trabalho intelectual mais complexo do que completar folhas de exercícios. Os jogos

colaboram na construção do conhecimento a partir do próprio erro e desenvolvem a

autonomia. Alguns professores já utilizam jogos na sala de aula e tiveram bons resultados.

Os jogos elaborados nesta produção didática foram considerados pertinentes às

necessidades da Escola, enriquecendo não só as aulas da sala de apoio, como também as

aulas no período normal, jogos que podem ser adaptados para outras séries. Após a

socialização do Material Didático, professores aplicaram alguns jogos da Produção na sua

turma e aprovaram. Durante o curso, as contribuições no fórum foram significativas e

percebeu-se que os problemas das escolas públicas são semelhantes, e essa troca de

experiência entre os professores é relevante para o ensino e aprendizagem.

2.3 APRESENTANDO A EXPERIÊNCIA

Iniciou-se a implementação com a apresentação do projeto para a direção da escola e

equipe pedagógica. Na sequência, o projeto foi apresentado aos professores na Semana

Pedagógica. Neste momento surgiram vários questionamentos, pois o tema Dificuldades de

Aprendizagem é polêmico em todas as disciplinas.

O desenvolvimento do projeto deveria acontecer na Sala de Apoio do 6º ano do

Colégio Rivadávia Vargas. Como este ano as salas de Apoio funcionaram de forma

heterogênea, com alunos do 6º ano e 9º ano no mesmo horário, não foi possível aplicar o

projeto com esta turma. Para participar do projeto, selecionei alunos do 6º ano A e 6º ano B,

com defasagem de conteúdo na disciplina de matemática, e eles frequentaram em

contraturno nas segundas e quintas-feiras, das 15h e 30min às 17h e 30min. A carga horária

total do projeto foi de 32 horas, ou seja, houve 16 encontros. A única sala disponível no

colégio para desenvolver o projeto era pequena, com uma área de 10 m2, então, só foi

possível trabalhar com no máximo 6 alunos.

A intervenção pedagógica teve início com a aplicação do teste de sondagem,

envolvendo multiplicação e divisão de números naturais. Nesse teste havia dez questões.

Observou-se que os alunos não conseguiram resolver as contas de divisão e também

nenhuma situação-problema que envolvia a mesma. Já as contas de multiplicação, tiveram

alguns acertos, mas não compreenderam a maioria das situações-problema. É fato a

dificuldade que o aluno tem com o algoritmo da multiplicação e da divisão e, também, a falta

de compreensão na leitura de problemas. Pode-se constatar essas dificuldades observando o

teste de um dos alunos (vide anexo 1).

Em nosso colégio, muitos alunos chegam ao 6º ano sem a compreensão dos

conceitos básicos das operações fundamentais, principalmente da divisão. Esses alunos, em

média, já passaram quatro anos pelo banco escolar. Segundo Rotta, Ohlweiler e Riesgo

(2006, p. 117):

O importante problema social em que se transformou a dificuldade está estimado entre 15 e 20% na primeira série. Considerando estatísticas em vários países, sabe-se que é capaz de chegar a 50% dos escolares, nos seis primeiros anos de escolaridade... e que as causas primárias, entre elas dislexias, discalculias, dispraxias, disgnosias, déficit de atenção e hiperatividade, têm importante papel na gênese dessas dificuldades. No entanto, não são as únicas, não podendo ser esquecidas as causas não-primárias da dificuldade para aprender, incluindo aí os problemas físicos, socioeconômicos e pedagógicos.

Diante desta problemática, nós professores, podemos minimizá-la utilizando-se de

diferentes metodologias que explorem os conteúdos e tenham significado para o aluno. O

jogo é um recurso didático que propicia o desenvolvimento motor, cognitivo, afetivo e social

da criança.

O jogo, como promotor da aprendizagem e do desenvolvimento, passa a ser considerado nas práticas escolares como importante aliado para o ensino, já que colocar o aluno diante de situações de jogo pode ser uma boa estratégia para aproximá-lo dos conteúdos culturais a serem veiculados na escola, além de poder estar promovendo o desenvolvimento de novas estruturas cognitivas. (Kishimoto, 2011, p.89)

A metodologia escolhida para trabalhar com esses educandos no projeto foram os

jogos. Foram confeccionados 13 jogos envolvendo multiplicação e divisão de números

naturais, os quais, de maneira geral, apresentam os seguintes objetivos pedagógicos:

exercitar o cálculo de multiplicação e de divisão; explorar estratégias para o cálculo;

desenvolver habilidades de atenção e concentração; incutir normas de comportamento e

respeito às regras; promover o desenvolvimento socioafetivo e cognitivo.

Os primeiros jogos trabalhados foram os que envolviam somente a multiplicação de

números naturais, os quais são: Procurando seu par na multiplicação; Guerra da

multiplicação; Multiplicação por 10, 100 ou 1000; Dominó da multiplicação; Mico do quadrado

perfeito e Multiplicando por tabela.

Antes do início de cada jogo, era apresentado o material e, na sequência, os alunos

faziam a leitura das regras e da ilustração do jogo. Essa ilustração é uma curta história,

simulando o início de uma partida, envolvendo alguns personagens. A ilustração do jogo

chamou a atenção dos alunos. Antes da leitura, eles mesmos decidiam que personagem

cada um seria e gostavam de ler. Após a leitura, era simulada uma partida para que todos

tivessem uma melhor compreensão do jogo e pudessem tirar as dúvidas. Nessa partida eram

observadas as dificuldades que as crianças apresentavam com os cálculos e como o aluno

compreendia os conceitos envolvidos. Na sequência, procurava interagir com os educandos,

estimulando-os a pensar e buscar estratégias. Como eles não dominavam a tabuada, a

estratégia aplicada foi a de usar a soma para encontrar os resultados da multiplicação. No

início, os alunos estavam tímidos em relação ao jogo e demonstravam insegurança para

calcular. Quando começaram a compreender e acertar os resultados, animaram-se.

Ao término de cada encontro, analisava se os objetivos foram alcançados, como

também registrava as situações que chamaram a atenção no decorrer da aula. Essas

observações permitiram a reflexão para o aperfeiçoamento ou a mudança referente às

atividades e condutas.

Dos jogos que envolviam somente multiplicação, apenas o jogo Guerra da

multiplicação terá que passar por mudanças. Os alunos gostaram do jogo, mas, como eles

mesmos comentaram, o jogo ficou longo e cansativo por causa da quantidade de cartas, a

qual terá que ser reduzida. Os outros jogos desenvolveram-se normalmente. O jogo que mais

gostaram e queriam repetir, foi o Mico do quadrado perfeito. O último jogo desse primeiro

momento foi o Multiplicando por tabela, e, durante o desenvolvimento do jogo, observei que

os alunos se esforçavam para fazer os cálculos mentalmente. Os objetivos desse primeiro

momento da aplicação dos jogos foram alcançados.

No segundo momento, foram aplicados jogos que envolviam apenas divisão de

números naturais, os quais são: Procurando seu par na divisão; Dominó da divisão e

Caminhando com o resto.

Cheguei na sala e disse para os alunos: “Hoje vamos trabalhar com jogos que

envolvem divisão”. Para minha surpresa o desânimo tomou conta da turma. Uma aluna

queixou-se de dor de cabeça e não queria participar do jogo. Outra deitou na carteira e ficou

sonolenta. Fiz de conta que não percebi o desânimo da turma. Então iniciamos com o jogo

“Procurando seu par na divisão”. Nas primeiras partidas os alunos tiveram auxílio para

calcular. A estratégia utilizada para dividir foi a de verificar quantas vezes uma quantidade

cabe na outra. Quando eles perceberam que era possível acertar os cálculos, se animaram.

Os outros jogos se desenvolveram normalmente. O jogo que mais gostaram neste segundo

momento foi o Caminhando com o resto. Pediram um para jogar em casa. Os objetivos desse

segundo momento da aplicação dos jogos foram alcançados.

No terceiro momento foram aplicados jogos que envolviam divisão e multiplicação de

números naturais, os quais são: Dominó da multiplicação e divisão; Dividir ou multiplicar e

Respondendo às questões.

Os alunos apresentaram dificuldade para desenvolver o jogo Respondendo às

questões. A dificuldade apresentada foi referente à leitura das questões e compreensão.

Houve aluno que soletrou para ler, outros liam normalmente, mas não compreendiam. Eles

precisaram de ajuda para interpretar as questões, mas não tiveram problemas para calcular.

Os outros jogos se desenvolveram normalmente. O jogo que mais gostaram foi Dividir ou

multiplicar. Os objetivos desse terceiro momento da aplicação dos jogos foram alcançados.

Durante o desenvolvimento da atividade lúdica observei que a aprendizagem

não é a mesma para todos. O jogo é um estímulo para a criança, levando-a a ter atenção e

concentração. É o passo inicial e muito importante para acontecer a aprendizagem, mas não

garante a efetivação da mesma. Foi necessário observar o aluno e analisar seu nível de

conhecimento e, com atendimento individual, levá-lo a superar seus limites, motivando-o a se

sentir inteligente, capaz de pensar e de buscar estratégias para compreender os conceitos

envolvidos. Após o aluno ter uma melhor compreensão dos conceitos matemáticos, aos

poucos conquistou a sua autonomia e o jogo tornou-se uma atividade prazerosa. O jogo

possibilitou que o educando corrigisse seus erros sem deixar marcas negativas.

O jogo, por ser livre de pressões e avaliações, cria um clima de liberdade, propício à aprendizagem e estimulando a moralidade, o interesse, a descoberta e a reflexão. (Kishimoto, 2011, p.107)

Chegou um momento que os alunos estavam mais preocupados com a aprendizagem

do que com o jogo. Também queriam que seu colega acertasse os cálculos e a cooperação

entre eles foi relevante para a aprendizagem.

Após jogarem, os alunos escreveram sua opinião sobre a ação vivenciada durante o

jogo. Observou-se que, além da dificuldade no cálculo e na leitura, eles também

apresentaram dificuldade na escrita. Mesmo com essa limitação, escreveram em poucas

palavras sobre o que vivenciaram (vide anexo 2).

No último encontro foi aplicado novamente o teste de sondagem, envolvendo

multiplicação e divisão de números naturais. Os alunos responderam as mesmas questões do

primeiro teste, que foi realizado antes da intervenção pedagógica. Os dois testes foram

confrontados e percebeu-se a melhora do desempenho dos alunos. Pode-se constatar

observando o teste que foi realizado após a intervenção (vide anexo 3).

Participaram do projeto seis alunos. Destes, quatro foram assíduos e apresentaram

um ótimo aproveitamento. A construção do conhecimento matemático acontece de forma

gradual. A frequência irregular do aluno na escola e a falta de incentivo dos pais para o

estudo são fatores que interferem e muito na aprendizagem. De acordo com Rotta, Ohlweiler

e Riesgo (2006, p. 118):

A família também deve oferecer condições adequadas para que o binômio ensino-aprendizagem se realize com sucesso. A escolaridade dos pais, principalmente das mães, nas diferentes pesquisas desempenha um papel fundamental na estimulação da criança para um melhor envolvimento com os estudos. O hábito da leitura na família, sem dúvida, constitui um diferencial na estimulação pedagógica do escolar. Nesse contexto, as condições socioeconômicas, na maioria das vezes com renda familiar insuficiente, são relevantes e com frequência estão implicadas no fracasso escolar.

A falta de responsabilidade da família de acompanhar a assiduidade e as tarefas do

educando na escola é preocupante. A direção, equipe pedagógica e professores de muitas

escolas públicas não sabem como lidar com esta situação. Aplicam várias medidas para

resgatar o aluno com baixa frequência e com dificuldades na aprendizagem, mas falta o

empenho dos responsáveis.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Projeto de Intervenção Pedagógica possibilitou ao professor conhecer os fatores

intervenientes nas dificuldades em matemática. Essas dificuldades são de origem diversa e

muito complexas, pois os fatores biológicos, sociais, culturais, metodológicos e psicológicos

podem ser a origem de toda essa problemática.

Os recursos didáticos empregados facilitam a aprendizagem, deixando o aluno mais

interessado, curioso, atento. O jogo é um recurso didático que propicia o desenvolvimento

cognitivo, afetivo e social da criança. É um excelente recurso de motivação. O jogo

possibilitou que os alunos fossem estimulados a pensar, traçar estratégias e interagir com

ideias de outros colegas.

Foi de grande importância para aprendizagem levar em conta o que a criança sabe,

analisar seu nível de conhecimento, pois a aprendizagem é um processo de construção

mental interno, passando de um conhecimento mais simples a outro mais complexo.

Com atendimento individual, o aluno foi estimulado a superar seus limites, a ser um

participante ativo do pensar e aprender.

Os jogos adaptados aos conteúdos de multiplicação e divisão de números naturais

levaram a uma melhor apreensão dos conceitos matemáticos. Também permitiram que o

aluno descobrisse onde falhou e corrigisse seus erros, sem deixar marcas negativas,

levando-o à autonomia e ao estímulo para continuar aprendendo, à compreensão. Pode-se

observar, nas frases de alguns alunos, a importância que deram para a sua aprendizagem,

no relato sobre o que vivenciaram durante o jogo: “Eu gostei porque eu pensei bastante.”;

“Jogo do dominó foi meio legal...mas aprendi.”; “...foi legal fazer conta de vezes, é muito legal

mesmo.”; “É legal porque eu aprendi um pouco mais.”; “Eu melhorei na divisão e decorei a

tabuada.”

No curso GTR, os professores salientaram que os recursos didáticos fazem toda a

diferença na aprendizagem dos alunos com dificuldade, desde que bem trabalhados e com

objetivos claros. Os jogos elaborados na produção didática foram considerados pertinentes

às necessidades da Escola, enriquecendo não só as aulas da sala de apoio, como também

as aulas no período normal, e, ainda, são jogos que podem ser adaptados para outras séries.

Enfim, os resultados obtidos do projeto são animadores. Os alunos com frequência

melhoraram nos cálculos de multiplicação e divisão de números naturais. Também verificou-

se, no curso do GTR, na troca de experiências com os professores, que o projeto será útil

para o ensino e aprendizagem, levando-os a refletir sobre os fatores que prejudicam a

aprendizagem e também motivando a implementação de ações para a melhoria educacional.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, C. S. Dificuldades de aprendizagem em matemática e a percepção dos

professores em relação a fatores associados ao insucesso nesta área. 2006. Disponível

em: <http://www.matematica.ucb.br/sites/100/103/TCC/12006/CinthiaSoaresdeAlmeida.pdf>

Acesso em 10 de maio de 2012.

BIANCHI, L.C.P. ; MIETTO, V. L. S. Neurociência: As novas rotas da educação.

2012. Disponível em: <http://www.psiquiatriainfantil.com.br/biblioteca_de_pais_ver.

Asp?codigo=58> Acesso em 02 de junho de 2012.

Coletânea de Jogos e Materiais Manipuláveis. Disponível em:

http://www.educacao.org.br/eja/areadoeducador/Socializao de Prticas Pedaggicas/Coletânea de Jogos e

Materiais Manipuláveis. Acesso em 05 de outubro de 2012.

CORSO, L. V. ; DORNELES, B. V. Senso numérico e dificuldades de aprendizagem na

matemática. 2010. Disponível em:

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862010000200015

Acesso em 15 de maio de 2012.

ESPÍ, P. ; ESTER, P. ; Matemática em Foco. Belo Horizonte: Fapi, 2009

GARCIA, J. N. Manual de dificuldades de aprendizagem: linguagem, leitura, escrita e

matemática. Tradução de Jussara Haubert Rodrigues. Porto Alegre: Artmed, 1998.

KISHIMOTO, T. M. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 14ª edição. São Paulo:

Cortez, 2011.

MAIA, H. et al. Neuroeducação e ações pedagógicas. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011.

(Coleção Neuroeducação, v. 4).

PARANÁ, Portal dia a dia educação. Programas e projetos – Salas de apoio à aprendizagem.

Disponível em:

<http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=28>

Acesso em 10 de maio de 2012.

PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação/SEED. Diretrizes Curriculares de Matemática

para a Educação Básica. Curitiba, Pr 2008.

PIAGET, J. Seis estudos de psicologia. Tradução de Maria Alice Magalhães D’ Amorim e

Paulo Sérgio Lima Silva. 24ª edição. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010.

PILETTI, N. ; ROSSATO, S. M. Piaget: Desenvolvimento cognitivo e aprendizagem. In:

______. Psicologia da Aprendizagem. São Paulo: Contexto, 2011. p. 65-79.

Projeto Jogos Matemáticos. Disponível em:

http://www.slideshare.net/CidaLondrina/projeto-jogos-matemticos. Acesso em 15 de outubro de

2012

RELVAS, M. P. Neurociência e transtornos de aprendizagem. 4ª edição. Rio de Janeiro: Wak

Editora, 2010.

ROTTA, N. T. ; OHLWEILER, L. ; RIESGO, R. S. Transtornos da Aprendizagem. Porto

Alegre: Artmed, 2006.

SALLA, F. Toda a atenção para a Neurociência. Rev. Nova escola, n. 253, p. 48-55, jun./jul.

2012.

SMOLE, K.S. ; DINIZ,M.I. ; CÂNDIDO, P. Cadernos do Mathema Ensino Fundamental.

Jogos de Matemática do 1º ao 5º ano. Porto Alegre: Artmed, 2007.

ANEXOS

ANEXO 1 – Teste do aluno antes da intervenção pedagógica.

ANEXO 2 – Alguns relatos dos alunos sobre a ação vivenciada durante o jogo.

ANEXO 3 - Teste do aluno depois da intervenção pedagógica e a folha de borrão que utilizou para fazer os cálculos.