dificuldades e transtornos de aprendizagem

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Módulo 2 por que o aluno não aprende? Dificuldades e Transtornos de Aprendizagem

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Page 1: Dificuldades e Transtornos de Aprendizagem

Módulo 2

por que o aluno não aprende?

Dificuldades e Transtornos de Aprendizagem

Page 2: Dificuldades e Transtornos de Aprendizagem

“Quase que nada sei, mas desconfio de muita coisa.”

Guimarães Rosa(1908 – 1967)

Page 3: Dificuldades e Transtornos de Aprendizagem

4 5

• Dificuldades de aprendizagem.

• Transtornos específicos de aprendizagem.

• Transtorno global de aprendizagem.

• Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).

Nestemódulo,serãodiscutidasasváriasrazõespelasquaisumacriança

nãoaprende,apontandoossinaisquediferenciamasdificuldadesesco-

laresdostranstornosdeaprendizagem.Tambémserãoapresentadasas

principaiscaracterísticasdostranstornosespecíficosdeaprendizageme

deoutras condiçõesquepodemafetarde formasecundáriaoprocesso

aprendizagem.

Apresentação Conteúdo

Page 4: Dificuldades e Transtornos de Aprendizagem

6 7

O que são as dificuldades de

aprendizagem?

Por que alguns aluno

s apresentam

dificuldades para aprender a ler

e escrever que persist

em ao longo

dos anos escolares?

É mesmo necessário um sistema

de classificação diagnóstica para

“rotular” os alunos?

Essas são as questões que irão

nortear o Módulo 2.

Page 5: Dificuldades e Transtornos de Aprendizagem

8 9

Identificando o problema para aprender:Dificuldades versus transtornos de aprendizagem

Cadaalunotemumperfildistintodeaprendizagem,comovimosnoMódu-

lo1,masdiferentesalunospodemapresentardificuldadesparaaprender

ematividadesdamesmanatureza,porexemplo,transformarasletrasem

sons(i.e.,decodificar).

Quandoumalunonãoconsegueaprendercomoseuscolegasemsaladeaula,

costumamosdizerqueeletemumadificuldadedeaprendizagem.Esteéum

termobastantegenéricoe se refere aumadefasagemna aquisiçãoe/ou

automatizaçãodeumaoumaiscompetências,semcausaevidente.A priori,

quandousamosotermodificuldade de aprendizagemnãoestamosfazendo

referênciaàorigemdadificuldade,nemàssuascaracterísticas,masapenasa

umsintoma;estamosdizendoqueháalgoquenãoestábemnoprocessode

aprendizagemdaquelealuno.

Quandoaprofundamosa investigaçãosobreaorigemeascaracterísticas

dasdificuldadesdosalunosdefasadosemsaladeaula,podemosidentificar

doisgrandespadrões.

Oprimeiropadrão,quedenominamosdificuldade de aprendizagem,resulta

dainfluênciadecondiçõesoueventostransitóriosnavidadoalunoqueestão

interferindonegativamentenoatodeaprender.Podesermudançadeescola,

trocadeprofessor,nascimentodeumirmão,separaçãodospais,perdade

umafamiliar,faltadesono,problemasdesaúde,entreoutros.

Existeumsegundopadrãoquesecaracterizapelocaráterinatoepersisten-

tedasdificuldadesparaaprender.Sãodificuldadesquesempreestiveram

presentesnavidaescolardoaluno;ouseja,seobservarmosohistóricoda-

quelealuno,vamosnotarqueele sempreestevesignificantementedefa-

sadonaaprendizagemdeumaoumaisáreasdoconhecimento,semuma

causaevidente,comoumadeficiênciaintelectualousensorial.Essesegun-

dopadrãocaracterizaoquechamamosdetranstorno de aprendizagem.

Amaioriadostranstornosdeaprendizagemsósãoidentificadosquandoa

criançaingressanaescola,masoolharatentodafamíliaedosprofessores

doensinoinfantilpoderiamauxiliarnaidentificaçãoprecocedoscasosmais

graves.

Otranstorno de aprendizagempodeserespecíficoparaumadeterminada

competência(porexemplo,paraleituraeescritaouparaaaritmética)ou

pode envolver múltiplas competências, atrapalhando diversos processos

cognitivosenvolvidosnaaprendizagem.Nesseúltimocaso,estamosdiante

deumtranstorno global de aprendizagem.

Emboraotranstornoglobaldeaprendizagemtenha impactosignificati-

vonoprocessodeaprendizagem,oresultadodaavaliaçãodasalterações

cognitivasencontradasnãoconfiguraumadeficiênciaintelectual.Entre-

tanto,ostranstornosglobaisdeaprendizagemestãogeralmenterelacio-

nadosaatrasosimportantesdodesenvolvimentodalinguagemedeou-

trasfunçõescognitivas.

Portanto,quandoestamosdiantedeumalunoqueestáemsituaçãode

defasagemdeaprendizagem,podemossuspeitardeumadificuldadeou

deumtranstornodeaprendizagem.Somenteumaavaliaçãoespecializa-

davaipoderdefinirecaracterizaranaturezaeagravidadedoproblema,

masissonãoimpedequeoprofessorestejaatentoatodososalunosque

nãoestejamacompanhandoseuscolegasemsaladeaulaeofereça-lhes

ajuda.Emtodaavaliaçãomultidisciplinardaaprendizagem,aobservação

doprofessoréfundamentalparaajudaradefiniranaturezaeaimplicação

dasdificuldadesencontradas.Paraajudarmosessealunode formamais

eficaz,precisamoscaracterizarbemsuasáreasdedificuldadeetambém

seustalentos.

Page 6: Dificuldades e Transtornos de Aprendizagem

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Antesdeentrarmosnaquestãoespecíficadosdiagnósticosdasdificulda-

desdeaprendizagem,queremosproporumparalelocomumasituaçãoque

muitosdevocêsjádevemtervivido.

Imaginequeseufilho/sobrinho/primo,estácomfebreevocê,muitopreo-

cupado,rapidamenteolevaparaumpronto-socorroafimdeidentificaro

porquêdafebree,claro,tratá-loomaisrápidopossível.Osmotivospelos

quaistemosfebresãoosmaisvariados:vãodesdeumainfecçãoporvírus

oubactéria, atédoençasneoplásicas (comocâncer)oucardiovasculares.

Comoafebreéapenasa“pontadoiceberg”,ouseja,éamanifestaçãoclí-

nicaqueconseguimosver,precisamos identificarascausaspara traçaro

tratamentomaisadequado.

Nocasodasdificuldadesdeaprendizagem,oraciocíniosegueamesmali-

nha.Doisalunospodemapresentardificuldadesmuitosemelhantesdelei-

tura e escrita (apontado iceberg),mas as causasdessasmanifestações

seremdiferentes.

A característica dimensional das dificuldades de aprendizagem

Aidentificaçãodascausasportrásdo“nãoaprender”podemnospermitir

elaborarumdiagnóstico,quenadamaisédoqueumsistema de classifi-

caçãoutilizadoparadescreverosmaisdiversosfenômenos(porexemplo,

divisãodasespéciesdeplantaseanimaisnabiologia).SegundoFletcher,

Lyon,FuchseBarnes(2009),asclassificaçõessãosistemasquepermitem

queumconjuntomaiorsejadivididoemsubgruposmenoresemaishomo-

gêneos.Esseprocessoéumaoperacionalizaçãoquefacilitaaidentificação

deperfis distintos de aprendizagem,oquenaprática,contribuiparaopla-

nejamentodeatividadeseestratégiasmaisadequadasparacadaindivíduo.

Porque os perfis diferentes podem favorecer ou diminuir a eficiência da

aprendizagem, sobretudo a aprendizagem acadêmica. Independente do

perfildeaprendizagem,seacriançapossuiralteraçõescognitivasqueafe-

tem sistematicamente o seu processo de aprendizagem, podemos estar

diantedeumtranstornodeaprendizagem.Porexemplo,algumaspessoas

têmmemóriaoperacional,piordoqueoutraseissonãotemimpactosignifi-

cativoemseucotidiano,masseumalunotiverumadificuldadesignificativa

dememóriaoperacionalelepodetermuitadificuldadeparaaprenderregras

ortográficas,compreendertextoslongosourealizaroperaçõesaritméticas,

entreoutrastarefas.(Oconceitodememóriaoperacionalserádetalhadono

Módulo4–emlinhasgerais,éamemóriaresponsávelpeloarmazenamento

temporáriodainformaçãonecessáriaparaodesempenhodediversastare-

fascognitivas,entrecálculo,leitura,conversaçãoeplanejamento.)

Diantedoalunoquenãoestáconseguindoaprender,éimportanteidentifi-

caranaturezadoseuproblema.Apontaradificuldadeémenosnocivodo

queoduroestigmadealunoburro,incapazoupreguiçoso.Oalunoquenão

consegueaprendertemconsciênciadesuasdificuldadesequerserajudado.

Aoevitarmosaidentificaçãoeacaracterizaçãodanaturezadasuadificulda-

de,estamoscomprometendoseuprocessodeaprendizagem,oqueequiva-

le,narealidade,aomitirajuda.

Portanto, identificar e diagnosticar adequadamente são importantes recursos para que juntos – pais, professores e especialistas – possamos oferecer uma ajuda mais efi-ciente e eficaz.

Page 7: Dificuldades e Transtornos de Aprendizagem

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Ostranstornosdeaprendizagemsemanifestamcomoumcontinuumenão

comocategoriadicotômicaclara–estecontinuumrepresentaavariabilida-

deentreos indivíduos.Considereaclassificaçãodaobesidade;estapode

variardesdeumalertade sobrepesoàobesidademórbida.Adiferençaé

queocontinuumdaobesidadeutilizaatributosabsolutos,comopesome-

didoemquilogramaseaalturamedidaemmetros.Nocasodaaprendiza-

gem,diversascaracterísticasnãoconcretas,comoashabilidadescogniti-

vas,estãoemjogo,oquetornaatarefaaindamaisdifícil.

O caráter dimensional dos transtornos de aprendizagem

Para fazerumaanalogia, vamos imaginarquecadaumadasdiversasha-

bilidades envolvidas no processo de aprender está representada em um

eixoquevaide–(inabilidade)até+(domíniototal).Então,comosomos

diferentes,estamossituadosempontosdistintosdoeixo.Poderíamosdizer

que nosso perfil geral de aprendizagempode ser representado por uma

imagemmultidimensional,emquecoexistemdiversoseixosrepresentando

asdiferenteshabilidadesenvolvidasnoatodeaprender.

Operfildehabilidadesdaspessoaspodeserrepresentadoporumapaleta

decoresqueindicaseuspontosfortesefracos.Coresfortesrepresentam

asáreasdemaiorhabilidadeecores fracasasáreasdemaiordificuldade

e,consequentemente,maiorvulnerabilidade.Amaioroumenorhabilidade

para aprender estará relacionada ao fato de a pessoa dispor demais ou

menoshabilidadeshistoricamenterequisitadasparaosucessonomeioaca-

dêmico,quenotadamenteprivilegiaamemóriaoperacional,avelocidade

doprocessamentodainformaçãoeashabilidadeslinguísticas.

Vamosanalisaraaprendizagemdeumacompetênciabásicacomoaleitura.

Existemdiversashabilidadesnecessáriasparaqueumleitorsejaconsidera-

doumleitorcompetente,masvamosnosdeteraquiàsquestõesdadeco-

dificaçãoedacompreensão.

Podemosdefinirquatro perfis distintos de aprendizagem da leituraapartir

doesquemaextraídoeadaptadodeCarrol,Broyer-Crance,Duff,Hulme&

Snowling(2011).

Na figura, o eixo horizontal representa a habilidade de decodificar pala-

vras,quevaria(seguindodaesquerdaparadireita)desdeumasignificativa

dificuldadeatéumadecodificação fluente. Jáoeixovertical representaa

habilidadedecompreendera informação,quevaria (decimaparabaixo)

desde uma compreensão muito boa até uma dificuldade significativa de

compreensão.

Page 8: Dificuldades e Transtornos de Aprendizagem

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Estegrupodecriançasnãoapresentadificuldadeparalerecompreender.

Ouseja,conseguedecodificaraspalavrasdemaneiraadequada,semgran-

deesforço cognitivo, oquepermiteque amemóriade curtaduração se

ocupedosignificadodoqueestásendolido.

Acompetênciadaleituradeveconsiderarafaixaetáriadacriançaedoado-

lescente.Éesperadoque,no iníciodoprocessodealfabetização,oaluno

saibaosignificadodepalavrasmaisfrequentementeutilizadasnodiaadia

ecompreendasituaçõesmaisexplícitas,expressõesclaras.

Comopassardosanosescolares,éesperadoqueoalunoaumenteseuvo-

cabulário,consigafazer inferênciase iralémdoconteúdoexplícito,com-

preendametáforas,expressõescomduplosentidoeironias.Oaperfeiçoa-

mentodanossalinguageméconstanteaolongodanossavida.

Perfil “bom leitor” quadrante superior direito

Estesalunosdecodificampalavraseoutextosdeformaruim e lenta.Como

aleituraexigegrandeesforçocognitivo,amemóriadecurtaduraçãodes-

ses alunos fica sobrecarregada e, consequentemente, a compreensão do

conteúdolidoficaprejudicada.Sãoaquelesalunosqueapresentamdesem-

penho de leitura inesperadamente abaixo damédia, pois aparentemente

não apresentam causa conhecida que justifique a dificuldade em leitura,

comotranstornossensoriais,déficitintelectual,distúrbiosemocionais,des-

vantagenseconômicaseouinstruçãoinadequada.

Uma importantecaracterísticadessesalunoséqueelesnãotêmprejuízona

compreensãooraldoconteúdoseoutrapessoalerotextoemvozalta.Ouseja,

ficaclaroquenão é uma dificuldade de compreensão em si,masumadeficiên-

ciaparadecodificarocódigoescrito,queconsequentementeprejudicaacom-

preensãodoqueestásendolido.Essassãoascriançasqueestãoem“situação

derisco”paraumtranstorno específico (ou funcional) de aprendizagem.Nes-

senossoexemplo,otranstornoespecíficoemquestãoseriaotranstornode

leitura(tambémconhecidocomodislexia).Outrostranstornosespecíficosde

aprendizagemsãoadiscalculiaeadisgrafia,queserãovistosaseguir.

Perfil “leitor de risco para o transtorno

específico de aprendizagem da

leitura ou dislexia” quadrante superior esquerdo

Os alunos com dificuldades de decodificação geralmente apresentam

déficits no processamento fonológico, por isso, as atividades devem

priorizar o ensino explícito da relação entre a letra (grafema) e o

som (fonema). Atividades que estimulam a percepção dos sons e as

características formais da linguagem oral são bastante recomenda-

das. Veremos estratégias para incentivar o bom ouvinte e estratégias

de comunicação no Módulo 3.

Noquadrante inferior esquerdoestãoaquelesalunosqueapresentamdéfi-

cits mais globais de linguagem,ouseja,tantoadecodificaçãocomoacom-

preensãosãoruins.Noquadrante inferior direitoestãoosalunosqueapre-

sentamdificuldadeparacompreenderapesardeconseguiremdecodificar

demaneiraadequadae,emalgunscasos,atémanterumaleiturafluente.

Osalunosqueseenquadramnessesquadrantes inferioressediferenciam

dosalunossituadosnosquadrantessuperiores,poismesmoqueoutrapes-

soaleiaotextoemvozaltaparaeles,acompreensãodoconteúdodotexto

aindaestaráprejudicada.Essadificuldadeparacompreenderpodedecorrer

de lacunas em diversos domínios da linguagem, que vão desde aspectos

fonológicos a aspectos pragmáticos.Essesdomíniosserãomaisbemexplo-

radosnoMódulo3.Sabemosquecadaindivíduoéúnico,masgeralmente,

paraaquelesqueseencaixamnoquadrante inferior esquerdo, os déficits

de linguagem são mais amploseprovavelmenteabrangem,emalgumgrau,

todososdomínioslinguísticos.Jáosquesesituamnoquadrante inferior di-

reito,possivelmente,apresentamumadificuldademaisfocadaemaspectos

semânticos e/ou pragmáticos.

Essegrupode indivíduoscomperfilderiscoparaumtranstorno global de

aprendizagem é bastante heterogêneo. Uma característica comum é que

apresentamatrasonodesenvolvimentodeumoumaisdomínioslinguísticos.

Essascriançastambémpodemapresentardificuldadesemoutrasáreasda

aprendizagemcomoaaritméticaeocálculo.É importanteobservarque

nãoestamosnosreferindoacriançascomdeficiênciaintelectuale,sim,a

criançascomumperfilmaisabrangentededificuldades.Porisso,chama-

mosoquadrodetranstorno global da aprendizagememcontraposiçãoao

transtorno específico de aprendizagem,queenvolvedomíniosmaisrestri-

tosdedificuldadescognitivas (porexemplo, adificuldadepara realizara

associaçãoentre letrase sons,característicado transtornoespecíficoda

leituratambémconhecidocomodislexia).

Mas,porquealgumaspessoastêmumtranstornoglobaldeaprendizagem?

Namaioriadoscasos,ocorreumasomatóriadecircunstânciasquenãofa-

voreceoplenodesenvolvimentodosmúltiplosaspectoscognitivos,meta-

cognitivos e afetivos envolvidosnoatode aprender, entre eles: atenção,

percepção,linguagem,memória,planejamento,abstração,processamento

dainformação.

É importante enfatizar que o objetivo aqui não é que vocês professores

passemadiagnosticarostranstornos de aprendizagem,masqueconsigam

identificarotipodadificuldadedoalunoepossamreconhecerascrianças

queestejamem“situaçãoderiscopotencial”paraterumquadrodetrans-

tornodeaprendizagem.Apartirdessaidentificação,vocêtambémpoderá

planejareadotaratividadesqueatendammelhorademandadeaprendi-

zagemdaqueleindivíduoe,emalgunscasos,realizarumencaminhamento

paraumaavaliaçãoespecializada.

Perfil “aluno de risco para o transtorno global de aprendizagem” quadrante inferior direito e esquerdo

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Muitas crianças brasileiras crescem em situação de pobreza e não dis-

põemdecondiçõesdemoradia,nutriçãoehigieneadequadas.Também

nãocontamcomfatoresdeproteçãocomoosvínculosafetivosfamiliares

e estímuloparaodesenvolvimentoda fala eda linguagem.A tudo isso

soma-semuitasvezesaexposiçãoaoestresseeàviolência

Afaltadepré-natal,adesnutrição,aalimentaçãoinadequada,asdoenças

nãotratadas,ousoeabusodeálcool,detabacoededrogascomococaína

e crack são considerados comportamentosmaternos de risco e podem

influenciar negativamente o desenvolvimento do feto.Muitos desses ca-

sosresultamnonascimentodebebêsprematuros,combaixopesoemal-

formaçõesfísicas.Nocasodacocaína,algunsbebêsapartirdosegundo

diadevidajáapresentamsinaisdeabstinênciacomofebre,irritabilidade,

sudorese,tremoreseconvulsões.Emoutraspalavras,océrebrodobebê

necessita de boas condições de saúde e nutrição para seu crescimento

saudável.

Interface meio ambiente versus desenvolvimento

Afaltadecuidadosadequadosduranteagestaçãoeduranteosprimeiros

meses de vida pode afetar negativamente o desenvolvimento do cére-

broinfantil,alémdeaumentaraocorrênciadedoençasfísicasementais.

Criançasnessascondiçõesestãoemsituaçãoderiscoparaatrasosglobais

dodesenvolvimento.

Éporissoqueoacompanhamentopré-nataleoscuidadosadequadosnos

primeirosmeseseanosdevidasãoessenciaisparagarantirodesenvolvi-

mentoinfantilsaudável.

Umaoutraetapaimportanteparaodesenvolvimentosaudáveldobebêé

aprenderalidarcomoestresse.Entretanto,vivergrandepartedotem-

posobestressenãoésaudável.Situaçõesdeestresseativamreaçõesde

alertanocorpoenocérebro–umasériedemodificaçõesocorrem,como

aceleraçãodobatimentocardíacoeaumentodadescargadeadrenalina.

Quandodiantedeumasituaçãodeestresse,acriançalogoéassistidapor

umcuidador,osníveisdeestressesereestabelecemeoorganismovolta

afuncionarnormalmente.Mas,nãoéissoqueaconteceemsituaçõesde

negligênciaeabuso.Nessescasos,osistemadeestressepermaneceativo,

mesmonaausênciadeumperigoreal.Talmecanismosobrecarregaosis-

temaemocionaldocérebro,enfraqueceasconexõesentreosneurôniose

asconsequênciasmuitasvezesperduramatéavidaadulta.

Omeio ambiente é responsável por proporcionar experiências que irão

estimularefortalecerasconexõesentreosneurônioslocalizadosemdi-

ferentesregiõesdocérebro,porexemplo,quandoobebêvêumobjeto

eoadultonomeiaoobjetoparaobebê.Essasimplessituação favorece

as conexões entre um som e uma imagem ainda desconhecidos para a

criança.Maistarde,ascriançasentenderãoqueomesmoobjetopodeser

representadoporumafotoouumdesenho,eaindaporalgunstraçosnas

páginas (i.e., letras). Esta é abasedodesenvolvimentoda linguageme

maistarde,daleitura.

A interação com adultos que proporcionam experiências

e oferecem retorno por meio do olhar, da repetição e da apre-

sentação de novos estímulos é essencial para o desenvolvimento

saudável do cérebro da criança, desde o nascimento.

Conversar e ler para as crianças mesmo antes de elas começarem

a falar é importante, porque favorece a construção de “pontes”

entre as diferentes partes do cérebro. Quanto mais pontes,

mais fácil será o caminho da aprendizagem.

Page 11: Dificuldades e Transtornos de Aprendizagem

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Anomenclaturatranstornoéumaterminologiatécnicautilizadanaáreada

saúde.Umdosobjetivosdeseuusoédescreverdemaneiraclaraesistema-

tizadaumasériedecaracterísticascomunsaumgrupodepessoas,alémde

auxiliarnacomunicaçãoentreprofissionaisdediversasáreas.

Otermotranstorno de aprendizagemrepresentaumaconceituaçãoteórica.

Envolveocomprometimentoemumoumaisdosseguintesdomínios:leitu-

ra, expressão escrita e matemática.Nogeral,sãopessoasqueapresentam

dificuldadesnãoesperadasnessesdomíniosapesardenãoapresentaremde-

ficiênciaintelectual,deestarem–pelomenosinicialmente–motivadaspara

aaprendizagemedecontaremcomcondiçõesadequadasdeensinagem.

Resumirconceitoseideiasamplasemnomesmaisespecíficoséumprocesso

naturaldoserhumano.Quandodescrevemosumalunocomo“bagunceiro”ou

“terrível”,estamosresumindoumasériedecomportamentosobservadosem

umapalavra.Assim,quandodizemosqueumapessoaapresentatranstorno

de aprendizagem,estamosreunindodiversasdificuldadesespecíficasemum

termo.Jáadificuldade de aprendizageméumdescriçãomaisgenérica,ampla

enãosistematizada,quepodeenglobarperfisbastantedistintosdealunos.

Fletcher,Lyon,Fuchs&Barnes(2009)consideramquecincoperfisdepreju-

ízosacadêmicossãoosmaisfrequentementeidentificados.Cadaperfilapre-

sentaumprejuízomaissobressalente,oquenãoquerdizerqueumamesma

pessoanãopossaterprejuízoemmaisdeumdessesdomínios.

Entendendo o termo transtorno de aprendizagem

Principal dificuldade Prejuízo acadêmico

Leitura Reconhecimentodepalavraseortografia

Leitura Compreensão

Leitura Fluênciadeleituraeautomaticidade

Matemática Cálculos,resoluçãodeproblemas

Escrita Grafia,ortografiae/ouproduçãotextual

Adaptado de Fletcher, Lyon, Fuchs & Barnes (2009).

Quandohásuspeitadequeumacriançapossuaumtranstornodeaprendi-

zagem, recomenda-sequeseja realizadaumaavaliação diagnósticamul-

tidisciplinarenvolvendodiferentesespecialistascomformaçãonaáreada

aprendizagem (médicos, fonoaudiólogos, psicólogos, neuropsicólogos e

psicopedagogos).

Na perspectiva atual sobre o processo diagnóstico dos transtornos de aprendizagem, três componentes são considerados essenciais:

1) Avaliação embasada nos pressupostos da resposta à intervenção (do inglêsResponsetoIntervention-RTI);

2) Avaliação do desempenho em habilidades específicas, como as descritas na tabela anterior (coluna “prejuízo acadêmico”);

3) Avaliação de fatores contextuais, que envolvem desde o histórico médico da criança e de sua família, assim como dados sobre o desenvol-vimento global da criança e questões sobre o comportamento dentro e fora da escola.

Page 12: Dificuldades e Transtornos de Aprendizagem

22 23

ÉummétododeintervençãoacadêmicadesenvolvidonosEstadosUnidos

para oferecer assistência precoce e sistemática aos alunos que estejam

apresentandodificuldadespara aprender. Estádivididoem trêsníveisou

camadas.Inicialmente,érealizadaumasondagemcomtodososalunosde

umasalae todos recebem instruçõesparaatividadesespecíficas.Emum

segundomomento,realiza-seumanovaavaliaçãoeaquelesqueapresenta-

remalgumadefasagemrecebeminstruçõeseatividadesmaisdirecionadas

paraasuadificuldade.Realiza-se,então,umaterceiraavaliaçãoe,nocaso

dosalunoscujasdificuldadespersistam,faz-seumencaminhamentopara

oreforçoindividualdentrodaescolae,emhavendonecessidade,parauma

avaliaçãocomumprofissionalforadaescola.

RTI Resposta à Intervenção

Hámuitosanospesquisadoresvemtentandoachararespostaaestapergunta,e

oquesesabeatéhojeéqueostranstornosdeaprendizagemdecorremdeuma

somatóriadefatores.Nocampodosestudosgenéticos, jáfoi identificadoum

componentedeherdabilidade,ouseja,aprobabilidadedepaiscomtranstornos

deaprendizagemteremfilhoscomestemesmoprejuízoémaior.Alémdessaob-

servaçãodemaiorprevalênciadevidoàproximidadedeparentesco,tambémfo-

ramrealizadosmuitosestudoscomgêmeosmonozigóticos(quecompartilham

100%dacomposiçãogenética)edizigóticos.Osresultadosindicamqueacon-

cordânciaémaiornosgêmeosmonozigóticos,oquereforçaateoriagenética.

Umaoutralinhadeinvestigaçãosãoosestudosqueutilizamtécnicasdeneu-

roimagemparaexaminarocérebro.Demodogeral,osresultados indicam

queopadrãode funcionamentocerebral daspessoas com transtornosde

aprendizagemédiferentedasdemais.Existemáreascerebraisimportantes

paraaleituraquesãomenosativadas.Porexemplo,aregiãodolobotempo-

raldohemisférioesquerdo,importanteregiãoparaoprocessamentofono-

lógico,émenosativada(funcionacommenosintensidade)empessoasque

têmtranstornosdeaprendizagem.Porisso,essestranstornossãoconheci-

doscomoalteraçõesdoneurodesenvolvimento.

Ostranstornosdeaprendizagemdecorremdeumasomatóriadeeventos

e sofrem influênciadagenéticaedas condiçõesdagestaçãoedonasci-

mento.Deumaformageral,podemosdizerquenessaspessoasocérebro

funcionadeummododiferentedasdemais,interferindodeformanegativa

naaprendizagemformal.

Os transtornos específicos de aprendizagempodem ser divididos em três

grandesgruposcombasenosprincipaisprejuízosapresentados:

• Transtornoespecíficodeleitura.

• Transtornoespecíficodaescrita.

• Transtornoespecíficodashabilidadesmatemáticas.

Vale lembrar que ummesmo indivíduo pode apresentar dificuldades em

mais de um domínio. Na realidade, em 40% dos casos de transtorno de

aprendizagem,existeacombinaçãodemaisdeumadificuldadeespecífica

(chamamosissodecomorbidade).

O que causa o transtorno de aprendizagem?

Tipos de transtornos de aprendizagem

Page 13: Dificuldades e Transtornos de Aprendizagem

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Transtorno Específico da Leitura ou Dislexia

Adislexia é um transtornoespecíficoda leitura epersistente, sendouma

alteraçãodoneurodesenvolvimento.Écaracterizadoporumfracodesem-

penhonaleitura,quenãoéesperado,poisoalunotemadequadainstrução

educacional,alémdehabilidade intelectualesensorialpreservadas(Peter-

son&Pennington,2012).Onometranstornoespecíficoéutilizadoparaen-

fatizarqueodéficiténadecodificaçãoenãonacompreensão.

A dislexia é uma condição hereditária com alterações genéticas, que re-sultam em alterações no padrão neurológico de recebimento e processa-mento das informações.

Ocorre em pessoas que têm visão e audição normal ou corrigida, e que não apresentam problemas psíquicos ou neurológicos graves (como a epilepsia) que possam justificar, por si só, as dificuldades escolares.

O termo dislexia refere-se a um transtorno específico, por isso não deve ser usado para referir-se a qualquer dificuldade de aprendizagem.

Page 14: Dificuldades e Transtornos de Aprendizagem

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Transtorno de Escrita ou Disgrafia

Asdificuldadesnaescritapodemenvolvertrêsdimensões:grafia,ortografia

eprodução textual.

Adificuldadenagrafiaafetaalegibilidadedeletras,palavrasetextos.Geral-

mentesãodecorrentesdedéficitsemhabilidadesmotorasfinas,movimento

sequencialeplanejamentomotor.Essadificuldadenaáreamédicarecebeo

nomededisgrafia.

Grafia

Page 15: Dificuldades e Transtornos de Aprendizagem

28 29

Pessoas que apresentam transtornos de leitura frequentemente também

apresentamemalgumgraudedificuldadenaescrita.Apesardadificuldade

emleituraeescritamuitasvezescaminharemjuntas,pesquisascomadultos

mostramquenãosãoomesmofenômeno.Estudosrealizadoscompessoas

adultasquesofreramlesãocerebralmostramquedependendodaregiãoem

quealesãoocorreu,adificuldadepodeserbemespecíficanaleitura(chama-

daalexia)ounaescrita(agrafia).

Habilidadesortográficasdependemdehabilidadeslinguísticasqueenvolvem

mapeamento fonológico,ortográfico,alémdehabilidadede integraçãovi-

suomotora.Étambémnecessáriocapacidadedememóriaparaarmazenaras

regrasortográticasdoidiomaeaescritadepalavrasirregulares.

Naáreadasaúde,aspessoasquetêmsignificativadificuldadenessesdomí-

nios,apresentamdisortografia.Nadisortografia,aescritaémarcadaporer-

rosqueenvolvemarepresentaçãodaortografia.Algunserrosfazemparte

doprocessodeapropriaçãodosistemaortográficodalíngua–fasedeaqui-

siçãodaescrita–e,porisso,devemserinvestigadascomcautela.Asaltera-

çõesquandopersistentesenãomaisesperadasparaoanoescolare idade

podemindicarumtranstornoespecíficodeescrita(Zorzi,1998;Mousinho,

2003;Capellinietal.,2004;Zorzi,2006).

Ortografia

Aprodução textualéumdomíniomaisamplo,querequerhabilidadede“con-

tarhistória”.Poressemotivo,émuitoimportantequeacriançadesdeoensino

infantil sejaestimuladaacontarhistóriascomcomeço,meioe fim;comca-

racterísticasdepessoaselugares(adjetivos)eimpressõessubjetivas.Opapel

doadultoououtracriançacommaiorcompetêncialinguísticaéodeumme-

diador,apresentandoperguntasnorteadorasparaessediscurso,como“Onde

vocêfoi?”ou“Quemestavacomvocê?”(veremosmaisdetalhesnoMódulo3).

Aproduçãotextualdosalunoscomtranstornodeexpressãoescritaébastan-

teempobrecidaemtermosdedetalhes,organizaçãoecoerênciadorelato.

Muitasvezesnecessitamdasperguntasnorteadorasparaorientaraprodu-

çãodeumtexto.

Até o 3o ano é comum que as crianças façam confusões ortográficas, porque a relação com sons e palavras impressas ainda não está dominada por completo.

Produção Textual

Page 16: Dificuldades e Transtornos de Aprendizagem

30 31

A literaturaespecializadaaindaestáembuscadeummelhorentendimen-

todostranstornosdamatemática,emboratenhamsidorealizadosgrandes

avanços nos últimos anos, particularmente graças às pesquisas de Shalev

(2003),Dehaene(2004),Butterworth(2005)eChinn(2007),entreoutros.

Provavelmente, hámais alunos com transtorno específico das habilidades

matemáticasemsuasaladeauladoquevocêsupõe.Sevocêtemalunosque

leemosnúmerosde tráspara frente, têmdificuldadeparadizer ashoras,

confundempartescomotodo,têmdificuldadedeacompanharpontuação

emum jogoe têmdificuldadepara lembrar fatosmatemáticos,conceitos,

regras,fórmulas,sequênciaseprocedimentos,elespodemterumtranstorno

específicodashabilidadesmatemáticas.

Os termos transtornoespecíficodashabilidadesmatemáticas ediscalculia

sãocomumenteempregadosparafazerreferênciaàsdificuldadesnashabi-

lidadesmatemáticaseenvolvemdiversos sistemascognitivos.Mais recen-

temente também foi introduzido o termo discalculia do desenvolvimento

(Butterworth,2005)para fazer referência aos transtornosdematemática

envolvendooconceitodosensonumérico,danoçãodalinhanuméricaeda

representaçãonuméricadeumadeterminadaquantidade(Dehaene,1997).

Otranstornoespecíficodashabilidadesmatemáticaspode-seapresentariso-

ladamenteouemcombinaçãocomoutrostranstornosespecíficosdeapren-

dizagem,comoadislexia,porexemplo.

Hojesabemosque,damesmaformacomoacontececomaleitura,odomí-

niodamatemáticapodeserdecompostoemdiferenteshabilidades.Existem

habilidades extremamente complexas como resolução de problemas, que

dependemdeoutrascompetênciascomocompreensãode textoeconhe-

cimentodevocabuláriomatemático(porexemplo:“maisque”,“tirar”,“do-

brar”etc.)eoutrasquesedesenvolvemmuitoprecocementeeparecemnão

depender da linguagem, como o senso numérico (conhecimento intuitivo

sobreadistribuiçãodosnúmerosnalinhanuméricaesuarelaçãocomamag-

nitudequeelesrepresentam).

Essashabilidadessãoregidaspordiferentessistemasnocérebro,especiali-

zadosemprocessamento numéricoedecálculos.Geralmente,essasregiões

trabalhamjuntasparaintegrarasdiferentesinformaçõesdemodoadar-lhes

sentido.Aexecuçãobem-sucedidadequalqueratividadematemáticatam-

bémrequerdomíniodeoutrashabilidadescognitivascomoatenção,organi-

zação,capacidadedealterarconjuntosememóriaoperacional.

Transtornos de habilidades matemáticas ou discalculia

Éimportanteressaltarque,mesmonapresençadessasdificuldades,osindi-

víduoscomtranstornodashabilidadesmatemáticastêminteligênciadentro

ouacimadamédia(Dehaene,2004)enãoraroapresentamváriaspotenciali-

dades,taiscomo:linguagemoral,escritadepoesia,áreasdaciênciaquenão

envolvamdiretamenteamatemática(porexemplo,conceitosdabiologiae

química),criatividadeeartesvisuais.

Page 17: Dificuldades e Transtornos de Aprendizagem

32 33

OTDAHnãoéumtranstornodeaprendizagem,maspodeinterferirnega-

tivamentena aprendizagem. Ele é um transtornodo comportamentoque

secaracterizapordesatenção,hiperatividadeeimpulsividade.Teminíciona

infânciaefrequentementeacompanhaapessoaportodaasuavida.Paraque

aaprendizagemocorra,osprocessosligadosàatençãodevemestarpreser-

vados e íntegros.Diferentes áreas e circuitos cerebrais participamde for-

maintegradaparaamanutenção,seleçãoealternânciadofocodeatenção,

oquepropiciaaaprendizagem.Quandoissonãoacontece,apessoaétida

como“esquecida”:esquecerecadosoumaterialescolar,aquiloqueestudou

navésperadaprovaetc.O“esquecimento”éumadasprincipaisqueixasdos

paisedosprofessores.

Quandoacriançasededicaafazeralgoestimulanteoudoseuinteresse,con-

seguepermanecermaistranquilaeatenta.Issoocorreporqueoscentrosde

prazernocérebrosãoativadoseconseguemdarum“reforço”nocentroda

atençãoqueéligadoaele.Ofatodeumacriançaconseguirficarconcentrada

emalgumaatividadenãoexcluiodiagnósticodeTDAH.

O TDAH é um diagnóstico clínico, realizado por médicos, de preferência em equipe interdisciplinar.

Alguns dos sintomas já são observados antes dos 7 anos de idade.

Os prejuízos decorrentes dos sintomas devem ocorrer em pelo menos três locais diferentes (por exemplo, em casa, na sala de aula e na escola de esportes).

Existe clara evidência de prejuízo significativo no funcionamento acadêmico, social ou ocupacional.

Outros transtornos que podem interferir na aprendizagem

Transtorno do déficit de atenção

e hiperatividade (TDAH)

AtríadesintomatológicaclássicadoTDAHcaracteriza-sepordesatenção,

hiperatividadeeimpulsividade.

Adesatençãoémaisfrequentenosexofeminino;ahiperatividadepodenão

ocorrereexisteelevadataxadeprejuízoacadêmico.

Oshiperativossãomaisagitadoseimpulsivosemrelaçãoaosubtipoanterior

eporissogeralmentesãomaisrejeitadospeloscolegas.

Desatenção

Hiperatividade

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34 35

Nestegrupo,observamoselevadograudeprejuízoacadêmico,maiorpre-

sençadesintomascomportamentaisemaiorprejuízonofuncionamentoglo-

balquandocomparadoaosoutrosdoissubtipos.

Impulsividade

As pessoas com TDAH podem necessitar de acompanha-mento médico e em alguns casos são prescritos medi-camentos para minimizar alguns sintomas, tais como a excessiva desatenção e a impulsividade.

Precisamosestaratentoseintervirprecocementenoscasosdosalunosque

nãoconseguemaprender.Otranstornodeaprendizagemcomprometenão

apenasodesempenhonaescola,mastambémavidasocialeofuturoprofis-

sionaldapessoa.

Osentimentodenãopertencimentoaoambienteescolarqueexperimentaa

criançacomumtranstornodeaprendizageméextremamentelimitanteem

termosdoplanejamentodesuasfuturasaçõesnavidaadulta.Apóspassar

anosafiorepetindoumahistóriadefracasso,semferramentasparaprogre-

dir,énaturalqueoindivíduosinta-sevencidopelosseus“limites”.

Neste módulo, introduzimos os conceitos de dificuldade e transtorno de

aprendizagem.Adificuldadeétransitóriaedecorredeeventospontuaisna

vidado indivíduo,taiscomomudançadeescola, faltadeadaptaçãoauma

determinadametodologiadeensino,problemasfamiliares,etc.Otranstor-

nodeaprendizagemtemnaturezaneurológica,éinato,permanenteemui-

tasvezes temcaráterhereditário.Exemplosde transtornosespecíficosde

aprendizagemsãoadislexia,adiscalculiaeadisgrafia.

Independentedanaturezadosproblemasapresentadospeloaluno(dificul-

dadeoutranstornodeaprendizagem),existemformasdeajudá-los.Asele-

çãodamelhorformavaidependerdaidentificaçãodaseveridadeedaboa

caracterizaçãodesuasdificuldades:estratégiasindividualizadasemsalade

aula,acompanhamentoporespecialistasdasaúde,orientaçãofamiliar,etc..

Poressemotivo,oprofessorépeçafundamentalnosuporteàidentificaçãoe

caracterizaçãodosperfisdehabilidadesedificuldadesdeseusalunos.Onão

aprenderé fontedeansiedadee frustraçãoparaacriançaenãopodemos

deixá-ladesamparadanesseprocesso.

Conclusão

Page 19: Dificuldades e Transtornos de Aprendizagem

36 37

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“A alma respira através do corpo, e o sofrimento, quer comece no corpo ou numa imagem mental, acontece na carne.”

António Damásio(1944)

EstaapostilafoielaboradapelaequipemultidisciplinardoComitêdeEducaçãodoiABCDparaservirdeapoioaocursodeformaçãodeprofessoresdoPrograma Todos Aprendem.Asinformaçõesaquicontidaspodemserrevistasemumvídeoanimadoeemumques-tionáriodemúltiplaescolhaquedeveseracessadoerespondidoonlinenositeiabcd.qmagico.com.br.

Comitê de Educação AdrianaPizzoNascimentoGabanini

AlfredoRheingantz

CarolinaNikaedo

CarolinaToledoPiza

RoselainePontesdeAlmeida

TaciannyLorenaFreitasDoVale

Coordenação Técnica CarolinaToledoPiza

MonicaAndradeWeinstein

Equipe Administrativa BeatrizGarofalo

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KelvinGunjiAraki

MonicaAndradeWeinstein

Supervisão

MonicaAndradeWeinstein

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