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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO DIFERENTES PERSPECTIVAS SOBRE O FORMATIVO AGRO-: ASPECTOS HISTÓRICOS, MORFOLÓGICOS E SEMÂNTICOS Neide Higino da Silva Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do Título de Doutor em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa) Orientador: Prof. Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves Rio de Janeiro Março de 2016

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Page 1: DIFERENTES PERSPECTIVAS SOBRE O FORMATIVO ......Higino da Silva, Neide. Diferentes perspectivas sobre o formativo agro-: aspectos históricos, morfológicos e semânticos. / Neide

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

DIFERENTES PERSPECTIVAS SOBRE O FORMATIVO AGRO-: ASPECTOS

HISTÓRICOS, MORFOLÓGICOS E SEMÂNTICOS

Neide Higino da Silva

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Letras Vernáculas da Universidade

Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do Título de Doutor em Letras

Vernáculas (Língua Portuguesa)

Orientador: Prof. Doutor Carlos Alexandre Victorio

Gonçalves

Rio de Janeiro

Março de 2016

Page 2: DIFERENTES PERSPECTIVAS SOBRE O FORMATIVO ......Higino da Silva, Neide. Diferentes perspectivas sobre o formativo agro-: aspectos históricos, morfológicos e semânticos. / Neide

Higino da Silva, Neide.

Diferentes perspectivas sobre o formativo agro-: aspectos históricos,

morfológicos e semânticos. / Neide Higino da Silva. Rio de Janeiro: UFRJ/FL,

2016.

x, f.: 188. il.: 31cm

Orientador: Carlos Alexandre Victorio Gonçalves.

Tese (Doutorado) – UFRJ/ FL/ Programa de Pós-Graduação em Letras

Vernáculas, 2016.

Referências Bibliográficas: f. 149 a 156.

1. Continuum composição – derivação. 2. Formativo agro- 3. Compostos

Neoclássicos. 4. Recomposição. I. Gonçalves, Carlos Alexandre Victorio II

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós-

graduação de Letras Vernáculas. III. Título.

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RESUMO

DIFERENTES PERSPECTIVAS SOBRE O FORMATIVO AGRO-: ASPECTOS HISTÓRICOS,

MORFOLÓGICOS E SEMÂNTICOS

Neide Higino da Silva

Orientador: Prof. Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves

O objetivo desta pesquisa é analisar o estatuto do formativo agro-, por meio de diferentes

enfoques: histórico, morfológico e semântico. Essas perspectivas são utilizadas, uma vez que, pela

observação dos dados, são reconhecidas, na Língua Portuguesa, duas formas de diferentes origens,

agro- e agri-, do grego e do latim, respectivamente, com significados comuns, coexistindo no

Português, a exemplo de agricultura e agronomia. Por isso, as implicações históricas dessas origens

são verificadas na atual sincronia.

A análise do estatuto morfológico dos formativos é feita a partir do continuum composição e

derivação, como proposto por Bauer (2005) e Kastovsky (2009) e, posteriormente, implementado,

para o português, por Gonçalves (2011b) e Gonçalves e Andrade (2012). As características do

formativo são examinadas, a fim de encontrar seu posicionamento no referido continuum.

Os dois elementos morfológicos, embora de origens distintas, possuem o mesmo significado

genérico, campo, nas palavras advindas das línguas clássicas, como agrícola e agrônomo, ou em

formações classificadas como “compostos neoclássicos”, a exemplo de agricultar e agrologia. No

entanto, em novas construções, agro- assume diferentes sentidos, a exemplo de agricultura em

agropecuária e produtos de origem agrícola em agrocombustível. O significado dos formativos

relaciona-os a processos distintos: composição neoclássica ou recomposição. Por isso, os sentidos

instanciados nas construções são examinados.

O modelo baseado no uso (BYBEE, 2005, 2010), (LANGACKER, 2008) é o referencial

linguístico que orienta esta pesquisa, uma vez que as estruturas investigadas são compreendidas

como resultado de atividades cognitivas e sociais que se manifestam em mudanças linguísticas.

PALAVRAS-CHAVE: Composição. Derivação. Continuum. Compostos neoclássicos.

Recomposição.

Rio de Janeiro

Março de 2016

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RESUMEN

DIFERENTES PERSPECTIVAS SOBRE EL ELEMENTO MORFOLÓGICO AGRO-:

ASPECTOS HISTÓRICOS, MORFOLÓGICOS Y SEMÁNTICOS

Neide Higino da Silva

Asesor: Prof. Doctor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves

El objetivo de esta investigación es analizar la situación de la formación agro- por

intermedio de diferentes enfoques: histórico, morfológicos y semánticos. Se utilizan estos puntos de

vista, ya que se reconocen los datos de observación, en portugués, dos formas de distinto origen,

agro- y agri-, griego y latín, respectivamente, con significados comunes, coexistiendo en portugués,

por ejemplo como la agricultura y la agronomia. Por lo tanto, las implicaciones históricas de estas

fuentes se comprueban en la sincronización actual.

El análisis del estado morfológico de la formación se hace del continumm composición y

derivación, como se lo propone por Bauer (2005) y Kastovsky (2009) y posteriormente

implementado para el portugués, por Gonçalves (2011b) y Gonçalves y Andrade (2012). Las

características de la formación son examinadas con el fin de encontrar su posición en ese

continumm.

Los dos elementos morfológicos, aunque de diferente origen, tienen el mismo significado

general, el campo, lo que resulta en las palabras de las lenguas clásicas, como la agricultura y la

agronomia, o formaciones clasificadas como "compuestos neoclásicos”, como agricultar y

agrologia. Sin embargo, la nueva construcción agro- asume diferentes significados, como

agricultura en agropecuária y produtos de origem agrícola en agrocombustível. La importancia de

la formación se refiere a los diferentes procesos: composición neoclásica o recomposición. Por lo

tanto, los sentidos expresados per agro- son examinados.

El modelo basado en el uso (BYBEE, 2005, 2010) y (LANGACKER, 2008) es la referencia

del lenguaje que guía esta búsqueda, ya que las estructuras investigadas se entienden como

resultado de las actividades cognitivas y sociales que se producen en el cambio lingüístico.

PALABRAS CLAVE: Composición. Derivación. Continumm. Compuestos Neoclásicos.

Recomposición.

Rio de Janeiro

Março de 2016

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SUMMARY

DIFFERENT PERSPECTIVES ON MORPHOLOGICAL ELEMENT AGRO: HISTORICAL,

MORPHOLOGICAL AND SEMANTIC ASPECTS

Neide Higino da Silva

Advisor: Ph. D. Carlos Alexandre Gonçalves Victorio

The objective of this research is to analyze the status of formative agro- through different

approaches: historical, morphological and semantic. These perspectives are used, since the

observation data are recognized, in Portuguese language, two forms of different origins, agro- and

agri-, Greek and Latin, respectively, with common meanings, coexisting in Portuguese, such as, for

example, agricultura and agronomia. Therefore, the historical implications of these sources have

found in the current synchrony.

The analysis of the morphological status of the formative has done from the continuum

composition and derivation, as proposed by Bauer (2005) and Kastovsky (2009) and subsequently

implemented for the Portuguese, by Gonçalves (2011b) and Gonçalves and Andrade (2012). The

formative’s characteristics have examined in order to find its position in that continuum.

Although their different origins, the two morphological elements have the same general

meaning, campo, resulting in the words of the classical languages, such as agricultura and

agronomia, or formations classified as "neoclassical compounds", like agricultar and agrologia.

However, new construction agro- express different meanings, like agricultura in agropecuária and

produtos de origem agrícola in agrocombustível. The significance of the formatives relates to the

different processes: neoclassical compounding or re-componding. Therefore, the instanced

meanings have examined in the constructions.

The usage-based model (BYBEE, 2005, 2010) and (LANGACKER, 2008) is the language

reference which guides this search, since the investigated structures have understood as a result of

cognitive and social activities that manifest themselves in language change.

KEYWORDS: Composition. Derivation. Continuum. Neoclassical Compounds. Recomposition.

Rio de Janeiro

Março de 2016

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SINOPSE

Estudo de construções morfológicas constituídas

pelo formativo agro-.

Verificação de limites entre categorias, segundo o

Continuum Composição-Derivação

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Aos meus pais que, por limitações impostas, não chegaram à escola. Mas

com o “saber só de experiências feito” (Camões), são meus educadores por

excelência.

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AGRADECIMENTOS

A Deus sempre e por tudo.

Ao meus pais, Terezinha e José, por indicarem a direção, pelo amor e pelo incentivo.

Aos meus irmãos, Antônio Carlos e Gilcimar, meus companheiros e amigos, pela partilha de vida e

de conhecimento. Toni, obrigada pelas traduções do Francês.

Ao meu marido, Alexandre, figura onipresente nas minhas falas, pelas orientações, pelo fomento e

pelos sonhos.

Aos meus tios e tias pela vibração diante de cada nova conquista. Agradeço, especialmente, ao meu

tio Adilson Guilherme, o primeiro na minha família a desbravar o mundo acadêmico, por mostrar

que era possível.

Aos meus amigos, de ontem e de hoje, pelas diferentes trocas de saberes.

Aos professores que, direta ou indiretamente, contribuíram com a minha educação. Agradeço, de

forma especial, à professora Rita de Cássia pelas memoráveis frases de incentivo, no ensino

fundamental.

À professora Mônica Nobre pela acolhida e pelo conhecimento transmitido.

À professora Terezenha Bittencourt por acreditar em mim e por mostrar-me os primeiros passos

rumo ao mestrado.

À amiga Regina Simões pela “sororidade” desde o ínico.

À amiga Katia Emmerick Andrade pela amizade, pela troca generosa de conhecimento, pelas

indicações bibliográficas, pelas horas doadas para escutar as minhas ideias, para ler os meus textos

e pelas palavras de entusiasmo.

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Aos amigos feitos nessa jornada, Silvio Cesar Santos, Caio Castro, Roberto Rondinini, João

Tavares, Patrícia Affonso, José Augusto Pires, Dedilene Alves, Vitor Vivas e Daniele Filizola, pelo

apoio e pelas boas risadas.

À amiga Ana Paula Belchor que, na sua discrição, muito ensina sobre o fazer acadêmico.

Ao querido Jorge Lisboa por fazer de cada encontro na Letras uma festa.

Aos meus amigos integrantes do NEMP, sem exceção, os meus agradecimentos.

À professora e amiga Maria Lucia Leitão pelo entusiasmo contagiante, pelo conhecimento dividido,

pelo processo contínuo de formação.

Ao meu orientador, professor Carlos Alexandre, pela maestria na sua conduta acadêmica, pelo

diálogo, pelos caminhos indicados, pela paciência, pelo incentivo, pela orientação impecável e pela

amizade. Muito obrigada!

Agradeço à Professora Doutora Arlete José Mota - do Programa de Pós-Gradução em Letras

Clássicas da UFRJ - pela tradução precisa dos textos em Latim Clássico que constituem e

corroboram as hipóteses apresentadas nesta tese de doutorado em Letras Vernáculas.

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“Os contornos do meu futuro pensamento

começavam a delinear-se; o problema central viria a ser

a língua. Em primeiro lugar, obviamente, porque amo a

língua. Amo sua beleza, sua riqueza, seu mistério e seu

encanto. Só sou verdadeiramente quando falo, escrevo,

leio ou quando ela sussurra dentro de mim, querendo

articular-se. Mas também porque ela é forma simbólica,

morada do Ser que vela e revela, vereda pela qual me

ligo aos outros, campo de imortalidade aere perennius,

matéria e instrumento da arte. Ela é meu compromisso,

através dela concebo minha realidade e por ela deslizo

rumo ao seu horizonte e fundamento, o silêncio do

indizível. Ela é minha forma de religiosidade. É, quiçá,

também a forma pela qual me perco”.

(VILÉM FLUSSER)

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................

15

1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................. 20

1.1. Linguística Cognitiva: modelo baseado no uso ........................................................... 20

1.2. Categorização: a flexibilidade do processo cognitivo ................................................. 22

1.3. Gramática e as Construções ........................................................................................ 25

1.4. Morfologia: conceitos de morfema e de léxico ........................................................... 28

1.4.1. Morfema ............................................................................................................ 28

1.4.2. Léxico ................................................................................................................ 31

1.5. Frequência e Regularidade: fatores geradores de produtividade ................................ 33

1.6. Analogia e as Constribuições da Diacronia e da Sincronia na Formação de Novas

Palvras ........................................................................................................................

37

1.7. Analisabilidade e Composicionalidade: forma e significado........................................

39

2. ΑΓΡΌΣ E AGER: UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA ............................................. 42

2.1. Pareceres dos Dicionários etimológicos...................................................................... 42

2.2. Ager-: análise fonética e morfológica........................................................................ 46

2.2.1. Breves Comentários sobre a História do Latim: a forma ager .......................... 48

2.2.2. Possíveis Transformações de Ager .................................................................... 50

2.3. Textos Latinos e seus Contextos Históricos .............................................................. 52

3. COMPORTAMENTO DE AGRO- E AGRI- NA ATUAL SINCRONIA .................. 67

3.1. Posicionamento dos Compostos Neoclássicos no Continuum Composição-

Derivação.....................................................................................................................

67

3.2. Análise dos Formativos Agro- e Agri- ....................................................................... 75

4. COMPOSTOS NEOCLÁSSICOS: REVISÃO LITERÁRIA .................................... 78

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4.1. Ralli (2008 a) ............................................................................................................. 84

4.2. Petropoulou (2009) .................................................................................................... 86

4.3. Panocová (2012) ........................................................................................................ 91

4.4. Lüdeling (2006) ......................................................................................................... 93

4.5. Bauer (1998) .............................................................................................................. 97

4.6. Amiot e Dal (2007) .................................................................................................... 104

4.7. Pontos de Convergência entre as Propostas .............................................................. 107

5. AGRO- E AGRI- ENTRE OS COMPOSTOS NEOCLÁSSICOS E A

RECOMPOSIÇÃO ........................................................................................................

110

6. PAPEL DA VOGAL FRONTEIRIÇA NA FORMAÇÃO DE UMA REDE

ASSOCIATIVA ...................................................................................................................

120

6.1. Gramática Latina: estrutura dos compostos ............................................................... 120

6.2. Gramática Grega: estrutura dos compostos ............................................................... 123

6.3. Segmento Vocálico: possíveis interpretações para o português ................................ 125

6.4. Descrição Sincrônica em Diferentes Línguas ............................................................ 127

6.5. Análises para o Português .......................................................................................... 133

6.6. Análises das Diferentes Construções Neoclássicas do Português e do Segmento

Fronteiriço ....................................................................................................................

136

6.7. Novas Propostas de Análise para o Continuum Composição-Derivação.................... 144

6.8. Produtividade ............................................................................................................. 151

CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 153

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 158

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA..................................................................................... 170

ANEXOS .............................................................................................................................. 172

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14

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Inspirado na Rede de Relações de Palavras proposta por Bybee (2010) ................. 29

Quadro 2 - Exemplos de Construções, com variação de tamanho e complexidade (extraído de

Goldberg, 2006, p. 5) ..................................................................................................................

33

Quadro 3 - Declinação de Ager .................................................................................................. 47

Quadro 4 - Declinação de Αγρόσ ............................................................................................. 51

Quadro 5 - Comparação entre as Declinações Latina e Grega ................................................... 51

Quadro 6 - Fatores de distinção entre Composição e Derivação .............................................. 72

Quadro 7 - Continuum das Construções Neoclássicas ............................................................... 149

Quadro 8 - Detalhamento dos Processos de Formação das Construções Neoclássicas ............ 149

Quadro 9 - Desmembramento do Processo Clássico de Composição ........................................ 150

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15

INTRODUÇÃO

O objetivo desta pesquisa é analisar o estatuto do formativo agro-, por meio de diferentes

enfoques: histórico, morfológico e semântico. Essas perspectivas serão utilizadas, uma vez que, pela

observação dos dados, são reconhecidas, na língua portuguesa, duas formas de diferentes origens,

agro e agri, do Grego e do Latim, respectivamente, com significados comuns. Tais formas

coexistem em Português, a exemplo de agricultura e agronomia. Por isso, as implicações históricas

dessas origens são verificadas na atual sincronia.

Os dois elementos morfológicos, embora de origens distintas, possuem o mesmo significado

prototípico, campo, nas palavras advindas das línguas clássicas, como agrícola e agrônomo, ou em

formações classificadas como compostos neoclássicos, a exemplo de agricultar e agrologia. No

entanto, em novas construções, agro- assume diferentes sentidos, ainda que relacionados, a exemplo

de agricultura, em agropecuária e produtos de origem agrícola, em agrocombustível. Esse

comportamento semântico remete a outro processo de formação de palavras: a recomposição;

contudo, a instabilidade do sentido de agro- suscita o questionamento sobre o processo que subjaz a

essas novas formas.

Além da questão semântica, que revela a incongruência da classificação de algumas

construções morfológicas como compostos neoclássicos (cf. GONÇALVES, 2011a), outros

aspectos demonstram a discrepância entre a categorização e o comportamento de novas formações.

No que se refere à pragmática, algumas fogem do esperado, pois não estão vinculadas ao âmbito

técnico-científico, tais como agromulher, agroshop, agrotv (cf. anexo 2); sintaticamente, as bases

dos compostos neoclássicos estabelecem uma relação de subordinação do tipo determinante-

determinado, mas, no corpus analisado, há palavras em que a subordinação é do tipo determinado-

determinte, e há, ainda, casos de coordenação entre os formativos, a exemplo de agroaçucareiro e

agroflorestal (cf. anexo 1), respectivamente. No tocante a morfologia, a posição fixa do formativo,

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na estrutura do vocábulo, e a constituição dessas palavras complexas por radicais, afastam os

compostos neoclássicos das características dos compostos do vernáculo, o que leva a questionar a

inclusão daqueles entre a composição.

Portanto, diante do exposto, às questões que aspiramos responder nesta pesquisas são: 1)

agro- e agri- são formativos distintos ou alomorfes de uma mesma unidade morfológica? 2) os

compostos neoclássicos inserem-se na composição? 3) qual é o estatuto morfológico dos

formativos? 4) quais são as características morfológicas, sintáticas e semânticas dessas formações?

5) esse é um processo produtivo?

Pretendemos, por meio da análise dos dados, apresentar uma descrição do formativo agro-

na atual sincronia, sem deixar de considerar dados diacrônicos, uma vez que o modelo teórico que

fundamenta esta pesquisa – Bybee (2010) – prevê uma relação dialógica entre sincronia e diacronia.

A abordagem histórica leva em conta a mutabilidade das línguas, uma vez que essas estão

num jogo constante de mudança e permanência, e as estruturas e funcionamentos das diferentes

sincronias podem revelar relações com o passado e esclarecer fenômenos presentes. Para isso,

foram utilizados dicionários etimológicos, textos latinos dos períodos arcaico e clássico e textos

portugueses dos séculos XX ao XXI.

A análise do estatuto morfológico dos formativos, no Português contemporâneo, é feita a

partir do continuum composição-derivação, como proposto por Bauer (2005), e Kastovsky (2009), e

posteriormente implementado, para o Português, por Gonçalves (2011b) e Gonçalves e Andrade

(2012). Procuraremos verificar as características do formativo, a fim de encontrar seu

posicionamento no referido continuum. Para tanto, esta análise fundamentar-se-á nas questões

propostas por Gonçalves (2011a, 2011b, 2012) e Gonçalves e Andrade (2012), pois os autores

discutem o comportamento de alguns elementos que não se enquadram perfeitamente nas

características prototípicas dos formativos que constituem a composição e a derivação.

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17

O modelo baseado no uso (BYBBE, 2010) é o referencial linguístico que orienta esta

pesquisa, uma vez que as estruturas investigadas são compreendidas como resultado de atividades

cognitivas e sociais que se manifestam em mudanças linguísticas. Portanto, os conceitos de língua,

categoria, regularidade, frequência, produtividade, diacronia e sincronia utilizados ao longo deste

trabalho estão comprometidos com essa perspectiva.

O corpus aqui utilizado é formado de verbetes do Dicionário Eletrônico Houaiss, do Grande

Dicionário Houaiss Beta da Língua Portuguesa, do Novo Dicionário Eletrônico Aurélio da Língua

Portuguesa, do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa e informações recolhidas por meio

da Internet, sobretudo a ferramenta eletrônica de busca Google. As quatro primeiras fontes serviram

como recursos para observar formas já consagradas na língua; a última, por sua vez, funcionou para

verificar novas formações agro-X e o grau de produtividade do elemento à esquerda. Na pesquisa

realizada por meio do Google, foram excluídas palavras com agro- em que o formativo aparece

exclusivamente como designação de empresas (oniônimos), ou seja, seu significado tem a função de

relacionar a empresa à agricultura como em Agro Ramoa Indústria; Agro Química Maringá, Timac

Agro Brasil. No entanto, foram consideradas palavras que, embora nomeassem empresas,

apresentavam, na própria ferramenta eletrônica de busca, uma definição, como agrolink (portal

agrolink.com.br sobre o agronegócio brasileiro)

Após o levantamento do corpus, constituído por 101 dados, houve a divisão das formações,

distinguindo agro- dos possíveis elementos morfológicos concorrentes: agri- (agrícola), agric(o)-

(agricopecuário) e agra- (agrar). Em seguida, analisou-se a estrutura das palavras a fim de

estabelecer comparações entre os compostos neoclássicos e o compostos vernaculares, foram

consideradas: a) a natureza das bases, se livre ou presa; b) a relação sintática entre elas; isto é, se de

subordinação ou de coordenação; e c) a categoria lexical das bases e das construções, como exposto

no anexo 1. Posteriormente, observou-se as acepções veiculadas pelos formativos agro- e agri- e as

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18

datas de entrada dos vocábulos na língua, com o objetivo de verificar a densidade semântica dos

elementos morfológicos e a produtividade em diferentes períodos. As acepções foram arroladas no

anexo 2.

Para analisar os formativos desde o latim até sua entrada na língua e nos dias atuais,

utilizou-se, como fontes de informações diacrônicas, a gramática histórica (SAID ALI, 1931);

manuais de filologia e de linguística (BASSETO, 2013; MONTEIL, 1992; NOLL, 2008; ROBINS,

1967); e, principalmente, dicionários etimológicos (NASCENTES, 1966; COROMINAS, 1961;

CUNHA, 1994; MACHADO, 1984).

A tese está dividida em seis capítulos. No primeiro capítulo, apresenta-se a fundamentação.

No segundo capítulo, são expostas informações de caráter histórico: descrições de dicionários

etimológicos; percurso fonético-fonológico e morfológico do formativo e uma contextualização

histórica. No terceiro capítulo, são discutidas as características dos compostos neoclássicos, tendo

como referência os critérios empíricos, que identificam tendências gerais da composição e da

derivação, postulados por Gonçalves (2011a) e Gonçalves e Andrade (2012), a fim de traçar

paralelos que permitam encontrar ou não uma possível relação entre os compostos neoclássicos e os

compostos do vernáculo e, consequentemente, sua localização no continuum composição-derivação.

Identificadas as semelhanças e as diferenças entre os compostos neoclássicos e os

compostos vernaculares; no quarto capítulo, é feita uma revisão literária, na qual se apresentam

algumas pesquisas acerca dos compostos neoclássicos em diferentes línguas. As análises dos

diferentes autores (RALLI, 2008a, PETROPOULOU, 2009; PANOCOVÁ, 2012; LÜDELING,

2006; BAUER, 1998; AMIOT; DAL, 2007) dialogam diretamente com as questões expostas no

terceiro capítulo e com a análise de agro- e agri-, exposta no quinto capítulo, foco dessa pesquisa.

No quinto capítulo, abordam-se as características da composição neoclássica e da

recomposição, visando à relação das formações com o protótipo de cada processo. Destacam-se,

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nesse capítulo, a ressignificação e a densidade semântica de agro-, que sugerem um novo processo

de formação de palavras diferente da recomposição. No sexto capítulo, propõe-se uma rede

associativa entre diferentes construções neoclássicas, considerando as semelhanças estruturais entre

elas, e propõe-se um continuum em que se distribuem: construções neoclássicas prototípicas –

construções neoclássicas híbridas - construções vernaculares com marcador composional.

Pretende-se, com esta pesquisa, sistematizar o conhecimento a respeito dos formativos agro-

e agri-, para que se possa viabilizar futuras generalizações (morfológicas e semânticas), por meio da

comparação com outros formativos de origem greco-latina, que hoje são considerados radicais

neoclássicos, embora também apresentem comportamento controverso, a exemplo de -metro, -

mania, -teca, hetero-, entre outros.

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20

1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo apresenta alguns pressupostos da Linguística Cognitiva (LC) que

fundamentam a análise e a descrição do corpus aqui pesquisado. Como lembra Martelotta (2011, p.

55), esse modelo teórico, também defendido e aplicado pela Linguística Funcional e Linguística

Cognitiva-Funcional, “considera haver uma estreita relação entre a estrutura das línguas e o uso que

os falantes fazem delas nos contextos reais de comunicação.” Dentre os diferentes temas (cf.

SILVA, 1997, p. 59) de interesse da LC, este estudo prioriza a interface forma/significado e as

experiências da linguagem em uso.

Os conceitos elencados, nas seções a seguir, baseiam-se em Bybee (2005, 2010); Croft e

Cruse ([2004], 2009) e Langacker (2008). Além da apresentação das definições, quando pertinentes,

confrontos entre as abordagens dos autores serão apontados.

1.1. Linguística Cognitiva: modelo baseado no uso

A Linguística Cognitiva é um modelo teórico que compreende a linguagem como fenômeno

dinâmico, emergente da relação entre homem, meio e cultura (LAKOFF; JONHSON, 1980) e

integrado com os demais elementos do sistema cognitivo. Nessa perspectiva, a estrutura da

linguagem não se organiza em módulos, mas em um continuum de unidades simbólicas, resultante

da associação entre o polo semântico e o polo formal em diferentes níveis: morfologia, léxico e

sintaxe. Como tais componentes estruturam o conteúdo conceptual, qualquer mudança formal tem

efeitos semânticos.

Bybee (2010, p. 1-2) compara a linguagem a dunas de areia que possuem uma aparente

regularidade de forma e estrutura; no entanto, cada duna possui variações e está em constante

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mudança. Portanto, as línguas são sistemas complexos e adaptáveis, capazes de reunir

características paradoxais:

“A língua também é um fenômeno que apresenta estrutura e regularidade padrões

e, ao mesmo tempo, apresenta uma variação considerável em todos os níveis:

línguas diferem umas das outras; no entanto, estão sendo, notoriamente, moldadas

pelos mesmos princípios; construções comparáveis em diferentes idiomas têm

funções semelhantes e são baseadas em princípios semelhantes, mas diferem umas

das outras de modo específico; enunciados em línguas diferentes continuam a

exibir os mesmos padrões estruturais; as línguas mudam ao longo do tempo, mas

de maneira bastante regular. Assim, uma teoria da linguagem poderia,

razoavelmente, centralizar-se nos processos dinâmicos de criação linguística,

expondo sua estabilidade e seu dinamismo.” (tradução nossa)1

Segundo a autora (op.cit.), a linguagem é muito mais um fenômeno dinâmico do que estático

e esse movimento manifesta-se na perfeita relação entre variação e gradiência. O conceito de

gradiência favorece a análise de elementos gramaticais ou lexicais que são difíceis de distinguir, em

função da mudança gradual que sofrem ao longo do tempo, que os leva a moverem-se num

continuum de uma categoria2 para outra. Já a variação das unidades e da estrutura da língua é uma

contingência do uso e as sucessivas mudanças em uma sincronia criam um caráter gradiente na

variação. Bybee (2010) conclui que a gradiência não é apenas um tratamento descritivo dos

processos linguísticos; é também um reflexo do uso da linguagem no processo de armazenamento

na memória e na organização desse armazenamento.

De acordo com o exposto inicialmente, a gradiência e a variação, a regularidade e a

padronização são características que constituem a linguagem. Bybee (2010, p. 6) esclarece que

1 “Language is also a phenomenon that exhibits apparent structure and regularity of patterning while at the same time

showing considerable variation at all levels: languages differ from one another while still being patently shaped by the

same principles; comparable constructions in different languages serve similar functions and are based on similar

principles, yet differ from one another in specifiable ways; utterances within a language differ from one another while

still exhibiting the same structural patterns; languages change over time, but in fairly regular ways. Thus it follows that

a theory of language could reasonably be focused on the dynamic processes that create languages and give them both

their structure and their variance” (BYBEE, 2010, p.1).

2 De acordo com Langacker (2008, p.17), o termo “categoria” refere-se ao conjunto de elementos com propósito

equivalente.

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esses diferentes fatores atuam tanto na produção de padrões regulares quanto na identificação de

desvios. O tratamento dado aos desvios e às regularidades por esse modelo será abordado na seção

1.5. Na próxima seção, será tratado o aspecto da gradiência, tendo em vista a categorização de

elementos linguísticos via protótipos.

1.2. Categorização: a flexibilidade do processo cognitivo

Segundo Lakoff ([1986]1990, p. 5), não há nada mais básico do que a categorização para

nosso pensamento, percepção, ação e fala. Para Markman (1989, p. 11), categorização é o meio de

simplificar o ambiente, de reduzir a carga sobre memória, de ajudar a armazenar e recuperar

informações de forma eficiente.

De acordo com Croft e Cruse ([2004] 2009, p. 54), a categorização, ou seja, o uso de uma

palavra, morfema ou construção em uma experiência particular de comunicação, envolve a

comparação entre essa experiência atual e experiências prévias, a fim de estabelecer a que classe

das experiências anteriores a expressão linguística aplica-se. Nesse processo, segundo Langacker

(2008, p. 17-18), o falante faz uso da flexibilidade na elaboração de uma situação, em que a

ocorrência “A” (agrologia) é esquemática para a ocorrência “B” (geologia), havendo

compatibilidade, mas a flexibilidade também é notada nos casos em que há diferença entre as

ocorrências “A” (agrologia) e “B” (musicologia). Nessas circunstâncias, a categorização ocorre

também por similaridade, mas “B” é uma extensão do protótipo “A”.

A visão de categorização adotada pela Linguística Cognitiva (LAKOFF, 1987) ancora-se

nas propostas de organização categorial de Eleonor Rosch (1978) e no desdobramento dessa

abordagem, os efeitos de prototipicidade. Segundo a autora (1978, p. 27-37), as categorias

organizam-se de acordo os seguintes princípios básicos: o da economia cognitiva – o máximo de

informação é reunido com o mínimo de esforço cognitivo – e o da percepção estrutural do mundo –

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correlações entre as estruturas dos objetos materiais do mundo são estabelecidas. Esses princípios

trazem implicações tanto para o nível de abstração das categorias formadas de uma cultura quanto

para a estrutura interna dessas categorias, uma vez formadas.

Diferente dos modelos clássicos de categorização, em que os membros de uma classe devem

possuir igualmente condições necessárias e suficientes, a organização prototípica avalia o grau de

informação que determinado elemento conduz em relação aos demais elementos da mesma

categoria e de outras categorias. Há membros mais facilmente reconhecíveis, os prototípicos,

justamente por agrupar uma quantidade maior de características, mantendo uma posição mais

central em relação aos demais membros da categoria; e há membros periféricos, aqueles que

apresentam menos semelhanças com o prototípico e características próprias de outra categoria. Os

exemplos de pardal e de pinguim representam esse tipo de organização, pois ambos são aves; no

entanto, o primeiro reúne características que não colocam em dúvida a sua classificação; o mesmo

já não acontece com o segundo, que compartilha alguma semelhança com peixe, embora seja uma

ave.

Segundo Bybee (2010, p. 19), até mesmo a similaridade entre os membros marginais facilita

a identificação dos membros de uma categoria; portanto, se uma pessoa já está familiarizada com o

conceito de avestruz e o categoriza como pássaro, o reconhecimento de uma ema na mesma

categoria é facilitado, embora tanto ema quanto avestruz estejam longe do protótipo de pássaro.

Outra evidência, para autora (op. cit.), do armazenamento detalhado é o conhecimento que as

pessoas têm das características intracategoriais. Por exemplo, a possibilidade de um pássaro

pequeno cantar é maior do que de um pássaro grande; apenas o uso de protótipos não seria o

suficiente para distinguir essa subcategoria, ou seja, faz-se necessário o conhecimento de

exemplares individuais.

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A proposta de Rosch (1978) contempla uma série de elementos e fenômenos que outrora

eram deixados à margem por não se enquadrarem no modelo clássico de categorização. No entanto,

apresenta lacunas: quantos protótipos devem possuir uma categoria? Quantas características deve

ter o protótipo em comum com outros membros da categoria? Em função de tais aspectos, protótipo

passa a ser definido como entidade cognitiva, uma imagem mental, mais do que um fenômeno de

superfície que toma diferentes formas mediante a categoria estudada, sendo considerado,

basicamente, como o produto das representações mentais do mundo, dos modelos cognitivos

idealizados3.

Bernardo (2009, p. 1109) assevera que, depois de reformulações, a noção de protótipo deu

lugar aos efeitos de prototipicidade, que se irradiariam, a partir do elemento central, na

conceptualização de categorias definidas por um conjunto de semelhanças, semelhanças de família,

nos termos de Wittgenstein (1953). De acordo com o autor (1953), os membros de uma categoria

não precisam apresentar os mesmos atributos que os outros; os elementos, bem como uma família,

podem possuir semelhanças de forma amplamente variada, constituindo, assim, uma categoria.

Wittgenstein (op. cit.) observa que a categoria pode ser estendida e novos membros podem ser

introduzidos, desde que se assemelhem a membros constituintes. Além disso, os limites entre as

categorias não são fixos; são artificiais e podem ser ampliados, conforme os propósitos

enunciativos. A ideia de membros centrais e não-centrais está presente na sua proposta; contudo,

vinculada pela semelhança de família.

Markman (2000, p. 471) explica que o processamento cognitivo é flexível, o que permite às

pessoas identificar semelhanças entre novas situações e as já experimentadas e também a lidar com

3 Grosso modo, entende-se por Modelo Cognitivo Idealizado (MCI) a representação cognitiva que se fundamenta no

contexto cultural, uma versão idealizada do mundo que simplesmente não inclui toda possibilidade de situações do

mundo real.

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situações diferentes das normais. A abordagem clássica de representação reconhece que essa

flexibilidade exige abstração; contudo, ignora detalhes perceptuais das situações específicas e

preserva na abstração apenas os pontos comuns a todas as situações. Assim, a abordagem clássica

assume a existência de representações abstratas “amodais”4, agentes de um papel importante no

processamento cognitivo. No entanto, esse sistema demonstra dificuldades para tratar as potenciais

variações de um simples evento.

O autor (op. cit.) ressalta que as pesquisas atuais sugerem que a flexibilidade no

processamento cognitivo decorre do armazenamento e utilização de episódios específicos na

memória e no seu conteúdo perceptual. Isso será observado na formação dos esquemas elaborados a

partir das construções linguísticas.

1.3. Gramática e as Construções

Langacker (2008), com ênfase na cognição, concebe a gramática como a organização global

do sistema linguístico de natureza simbólica. A linguagem está vinculada à interação social, mas até

mesmo a sua função interativa é extremamente dependente de conceptualização. Em comparação

com as abordagens formais, a Linguística Cognitiva se destaca por resistir à imposição de limites

entre linguagem e outros fenômenos psicológicos. Percebe-se, assim, que a estrutura linguística é

parte integrante da cognição, juntamente com outros sistemas mais básicos de habilidades (por

exemplo, percepção, memória, categorização) e, portanto, não se pode segregá-la.

A organização global reflete diretamente na função semiológica básica da linguagem, ou

seja, permite que significados sejam simbolizados fonologicamente. Para desempenhar essa função,

uma linguagem precisa de, pelo menos, três tipos de estruturas: semântica, fonológica e simbólica.

4 Amodal – modelo que ignora as especificidades das diferentes situações.

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A alegação central e mais distintiva da Gramática das Construções5 (doravante GC) é que apenas

essas estruturas são necessárias. O que torna isso possível é a noção de que léxico, morfologia,

sintaxe formam um continuum totalmente descrito por conjuntos de estruturas simbólicas.

Conjuntos simbólicos podem ser específicos ou esquemáticos. Os conjuntos simbólicos

específicos constituem manifestações linguísticas (como palavras, frases e orações). Já os conjuntos

simbólicos esquemáticos são a extração de características comuns das diversas experiências, a fim

de se obter uma representação de nível mais alto de abstração, denominado em GC de esquemas de

construção (LANGACKER, 2008, p. 167). Os esquemas, uma vez estabelecidos como unidade,

podem servir como referência para a formação de novas expressões no mesmo padrão.

Por sua vez, Bybee (2010, p. 8), enfatizando o uso, compreende a gramática como

organização cognitiva de experiências com a linguagem. Para a autora (2005) a representação

exemplar é a rede organizacional vasta que classifica e armazena a experiência token. O processo

de classificação em si tem um impacto sobre a representação, de modo que, em cada caso de

utilização, há um efeito sobre a memória de armazenamento. Um exemplar é uma construção

advinda de um conjunto de tokens que são igualmente categorizados pelo falante. Assim, “tokens”

são as instâncias de uso (nos termos de Langacker (2008), eventos de uso) e exemplares são as

representações desses tokens.

Um conjunto de exemplares que são julgados semelhantes e representantes do mesmo

significado é agrupado e representado em um nível superior como uma palavra ou frase. Observa-

5 Segundo Croft e Cruse ([2004] 2009, p 257-258), a GC é um modelo teórico não-derivacional que compreende o

conhecimento gramatical como construções. A diferença central entre as teorias sintáticas componenciais e a gramática

das construções está na ligação simbólica entre forma e significado; para as primeiras, a relação é externa, faz-se por

meio de regras; para a segunda, é interna. Croft e Cruse ([2004] 2009, p. 257) apresentam variações desse modelo

teórico: Construction Grammar (KAY e FILLMORE, 1999; KAY et al. em preparação), The Construction Grammar

(LAKOFF, 1987; GOLDBERG, 1995), Cognitive Grammar (LANGACKER 1987, 1991) e Radical Construction

Grammar (CROFT, 2001) – que se concentram em características distintas da teoria.

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se, no entanto, que os esquemas ou as representações exemplares são formados a partir das

características salientes das construções.

Os esquemas são menos detalhados que os eventos de uso que lhes dão origem, como afirma

Langacker (2008, p. 220). E, uma vez estabelecido o esquema, este servirá como ancoragem

conceptual (SILVA, 1997) para novas formas. Isso não significa que os exemplos necessitam ser

ignorados, com já afirmado por Bybee (2010), uma vez que fortalecem as representações

exemplares, pois indicam os processos de mudança na língua e corroboram a flexibilidade do

processo cognitivo.

A construção, na GC, consiste no pareamento entre forma e significado que varia conforme

a extensão e a categoria dos constituintes das construções, gerando implicações nas relações

internas estabelecidas entre eles. Segundo Croft e Cruse ([2004] 2009, p. 258), o termo

"significado" pretende representar todos os aspectos convencionalizados da função de uma

construção, que pode incluir não apenas as propriedades da situação descrita pelo enunciado, mas

também propriedades do discurso em que o enunciado é encontrado (por exemplo, o uso do artigo

definido para indicar que o objeto referido é conhecido por ambos, falante e ouvinte) e da situação

pragmática dos interlocutores (por exemplo, a utilização de uma construção exclamativa tal como

Que susto! para transmitir a surpresa do falante).

Langacker (2008, p. 15) assevera que as estruturas semânticas são conceptualizações

exploradas para fins linguísticos, particularmente como significado das expressões. Sob a rubrica de

estruturas fonológicas, o autor (op. cit.) inclui não apenas sons, mas também gestos e representações

ortográficas. A característica essencial dessas duas estruturas é a de se manifestarem abertamente,

sendo, portanto, capazes de cumprir um papel simbólico. Já as estruturas simbólicas não são

distintas das estruturas semânticas e fonológicas, mas incorporam-nas.

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Considerando construções como associação entre forma e significado, serão apresentados,

na seção a seguir, os conceitos de morfema e léxico para LC.

1.4. Morfologia: conceitos de morfema e de léxico

1.4.1. Morfema

Bybee (2010, p. 2) define morfema, considerando sua a definição canônica, como uma

forma recorrente associada a um significado constante, sem perder de vista as possibilidades de

variação e, consequentemente, o caráter gradiente que apresentam ao se organizarem nas categorias

linguísticas. A autora (op. cit.) ressalta que os morfemas lexicais mantêm mais facilmente a

regularidade dessa relação do que os morfemas gramaticais, embora haja morfemas lexicais que

mudem seu significado, a depender do elemento com o qual se adjungem. Como exemplo, elenca

go a head (ir em frente), go bad (vai mal), let’s go (vamos) e be going to (irá para), entre outros, em

que go (ir) exibe um processo gradual de mudança, passando a depender das outras unidades que o

circundam. À semelhança do verbo ir, em Português, a exemplo de não ir com (não simpatizar), ir

desta para melhor (morrer).

No que se refere aos morfemas gramaticais, a autora (2010, p. 2-3) não se afasta do conceito

clássico de Martinet (1973), definindo-os como itens de classe fechada, em termos das propriedades

das construções, uma vez que estão restritos a posições particulares nas construções. Como uma

classe de unidade, isto é, uma construção entrincheirada, armazenada devido à alta frequência de

uso, morfemas gramaticais são altamente variáveis. Bybee (2010, p.3) ilustra, por meio da

construção Powell knows how to thread his way between conflicting views6, a possibilidade de uma

palavra ser usada como morfema gramatical, visto nessa oração, que parece ser uma expressão

6 Powell sabe como se posicionar entre pontos de vista conflitantes (tradução nossa).

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idiomática semiaberta, isto é, em que há espaços que podem ser preenchidos por diferentes palavras

e outros com palavras determinadas, somente way preenche essa posição da construção,

caracterizando-se, na expressão, como morfema gramatical. Os exemplos business e hapiness,

também da autora, ressaltam outro elemento de aspecto gradiente, o sufixo -ness7, que apresenta

diferentes graus de analisabilidade8, sendo menos passível de análise na primeira do que na segunda

palavra. Portanto, a variação e a gradiência na categoria ‘morfema gramatical’ constituem o

resultado direto dos processos de mudança que afetam morfemas e moldam as suas propriedades em

termos de forma e significado.

Para identificação dessas unidades, Bybee (2010, p. 22-23) defende uma rede de associações

entre as palavras, ou seja, por meio de um mapeamento, identificam-se semelhanças semânticas e

fonéticas compartilhadas por palavras distintas, chegando assim aos constituintes da construção. A

autora (op. cit.) apresenta as possíveis redes emergentes das relações morfológicas na figura abaixo.

Quadro 1 - Inspirado na Rede de Relações de Palavras proposta por Bybee (2010, p.23)

7 “- ness: word-forming element denoting action, quality, or state, attached to an adjective or past participle to form an

abstract noun, from Old English -nes(s), from Proto-Germanic *in-assu- (cognates: Old Saxon -nissi, Middle Dutch -

nisse, Dutch -nis, Old High German -nissa, German -nis, Gothic -inassus), from *-in-, noun stem, + *-assu-, abstract

noun suffix, probably from the same root as Latin -tudo.” (http://www.etymonline.com/)

"- ness: elemento formador de palavra que denota ação, qualidade ou estado, ligados a um adjetivo ou particípio

passado para formar um substantivo abstrato, do Inglês Antigo -nes (s), a partir de Proto-Germânico*in-assu- (cognatos:

Antigo Saxão -nissi, Holandês Médio –nisse, Holandês -nis, Alemão Muito Antigo –nissa, Alemão -nissa, Gótico -

inassus), a partir de * -in-, radical nominal, + * -assu-, sufixo nominal resumitivo, provavelmente a partir da mesma raiz

latina -tudo. " (tradução nossa).

8Cf. Seção 1.7. deste capítulo.

9 Legível, lavável, inacreditável, acreditar, desinteressante, injustificada (tradução nossa).

R E A D A B L E

W A S H A B L E

U NB E L I E V A B L E

B E L I E V E

U N A T T R A C T I V E-

U N W A R R A N T E D9

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A identificação de morfemas, por meio da oposição entre palavras, pode lembrar a

comutação, técnica de cunho estruturalista baseada “no princípio de que tudo no sistema linguístico

é oposição e consiste na substituição, pelo confronto, de uma forma por outra” (MONTEIRO, 1986,

p. 49). No entanto, nessa perspectiva, são considerados apenas aspectos sincrônicos e todos os

elementos analisados devem possuir significados. Portanto, -ada, em manada (exemplo de

MONTEIRO, 1986, p. 53), não deve ser analisado, uma vez que a forma resultante, após a retirada

do sufixo, não é reconhecida sincronicamente.

De acordo com Bybee (2010, p. 23), a vantagem da rede de associações advém da não

exigência de uma palavra ser exaustivamente analisada em morfemas. Por exemplo, capable

(capaz) parece ter o sufixo -able apropriadamente sinalizando um adjetivo, embora cap- não seja

considerado um radical. Nota-se que a autora também desconsidera a relação etimológica entre a

palavra latina capax (que tem capacidade) e a forma cap-, valendo-se possivelmente de

informações apenas sincrônicas.

Para Langacker (2008, p. 16), morfema é uma expressão simbólica cuja complexidade é

zero, ou seja, um morfema não é constituído por unidades simbólicas menores, por si só, e é a

menor unidade simbólica. Em contrapartida, Booij (2010, p. 15) defende que morfemas não são

signos linguísticos; contudo, fazem parte de esquemas morfológicos e sua significação só é

acessada mediante o significado da construção morfológica de que fazem parte. É a palavra,

segundo Booij (2010, p. 15), a menor unidade de significação e não o morfema.

Goldberg (2006, p. 5), por sua vez, afirma que:

“Todos os níveis de análise gramatical envolvem construções: o pareamento forma

e significado ou forma e função discursiva incluem morfemas ou palavras,

expressões idiomáticas - parcialmente preenchidas lexicalmente - e padrões frasais

totalmente gerais. (...) Qualquer padrão linguístico é reconhecido como uma

construção, desde que algum aspecto da sua forma ou da sua função não seja

rigorosamente previsível (regular) a partir dos seus componentes ou de outras

construções existentes já conhecidas. Além disso, os padrões são armazenados

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como construção, ainda que sejam totalmente previsíveis (regular), desde que

ocorram com frequência suficiente." (tradução nossa)10.

O significado, como sugerido por Booij (201011), é instanciado pelas construções

linguísticas, isto é, nas relações estabelecidas pelas unidades simbólicas; contudo, diferentemente

do autor, nesta pesquisa, assumem-se as posições de Goldberg (2006, p. 5), Langacker (2008) e

Bybee (2010), que conceituam morfema como a menor unidade complexa.

1.4.2. Léxico

Langacker (2008, p. 16) define léxico como o conjunto de expressões fixas em um idioma.

Segundo o autor (op. cit.), esta definição é útil, simples, e mais ou menos consoante com a

compreensão cotidiana do termo. Por isso mesmo, difere de propostas que entendem o léxico como

o conjunto de palavras em um idioma. Langacker (2008, p. 16) salienta algumas questões que

distinguem os dois conceitos: a) a existência de expressões fixas maiores do que palavras (como

moonless night12); b) a potencialidade das novas formações, ou seja, palavras como dollarless, que

não são familiares e nem convencionalmente estabelecidas, são passíveis de existir, pois o esquema

está disponível na língua e o seu estabelecimento depende das práticas linguísticas da comunidade

de fala; c) a ausência de fronteira inflexível entre expressões lexicais e não lexicais, uma vez que

familiaridade e convencionalidade envolvem uma questão de grau.

10 “All levels of grammatical analysis involve constructions: learned pairings of form with semantic or discourse

function, including morphemes or words, idioms, partially lexically filled and fully general phrasal patterns. (…) Any

linguistic pattern isrecognized as a construction as long as some aspect of its form or function is not strictly predictable

from its component parts or from other constructions recognized to exist. In addition, patterns are stored as construction

even if they are fully predictable as long as they occur with sufficient frequency.”

11 Booij (2010, p. 15) defende que morfemas não são signos linguísticos e a própria Goldberg (2009, p. 94) exclui da

tabela de construções o morfema, apresentando a palavra como a menor construção complexa (GOLDBERG, A. The

nature of generalization in laguage. In: Cognitive Linguístics, 20, p.93-127, 2009).

12 Noite sem luar (tradução nossa).

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De acordo com o autor (2008, p. 18), na concepção padrão, itens lexicais são essencialmente

átomos sintáticos13, pois são "inseridos” em determinados espaços particulares na parte inferior da

estrutura sintática arbórea. Analisados individualmente, os itens lexicais são justapostos,

independentes, e não se sobrepõem. Sendo complexos, sua estrutura interna é analisada morfológica

e não sintaticamente, ainda que desempenhe a mesma função de um item lexical sintaticamente

simples. Langacker (op. cit.) considera que essa separação clara entre léxico e sintaxe só pode ser

mantida através da imposição de limites artificiais.

Os apontamentos do autor, em relação à análise interna dos itens lexicais, parecem

confundir-se com questões já tratadas e discutidas no próprio gerativismo (cf. CAETANO, 2010 b),

tais como a pertinência das análises dos processos regulares de formação de palavras competir à

sintaxe ou à fonologia, até considerarem a autonomia da morfologia. As explicações de Langacker

(2008) sobre a relação léxico-sintaxe indicam que subjazem a ela conexões sintáticas14, ao invés da

complexidade das construções, como exposto na seção 1.4.

Embora não fique clara a pertinência dessa análise para o modelo, o autor (2008, p. 18)

observa que a extensão e a previsibilidade do significado das construções lexicais e das construções

sintáticas não são suficientes para estabelecer uma diferença entre elas. As expressões idiomáticas,

por exemplo, embora sejam maiores do que uma palavra, conforme a definição de léxico dada

acima pelo autor, constituem um item lexical, uma vez que são expressões fixas e seu significado

não é composicional, no sentido estrito do conceito.

13 “Constituinte terminal de uma sentença” (SCHWINDT. L.C. Manual de linguística: fonologia, morfologia e sintaxe.

Rio de Janeiro: Vozes. 2014 p. 130).

14 “In the standard conception, lexical items are essentially syntactic atoms. They are “insert” into particular slots at the

bottom of syntactic tree structures (…). The individual lexical items are continuous, self-contained, and

nonoverlapping. While they may be complex, their internal structure is morphological rather than syntactic. Healthy, for

example, is analyzable into the component morphemes health and -y (or, more tenuously, into heal, -th, and -y). Yet it

functions syntactically as a simple adjective analogous to big. This neat partitioning between lexicon and syntax can

only be maintained by imposing artificial boundaries (…)”.

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A GC compreende construções como representações de diferentes tamanhos e complexidade

(formada por morfemas, palavras, frases) constituindo o continuum morfema-sentença, entrelaçado

pelo pareamento forma e significado, representado na tabela a seguir, proposta por Goldberg (2006,

p. 5), embora por ela mesma revista em (GOLDBERG, 2009), excluindo a primeira linha da tabela

(ver nota 11).

Morpheme e.g. pre-, -ing

Word e.g. avocado, anaconda, and 15

Complex word e.g. daredevil, shoo-in

Complex word (partially filled) e.g. [N-s] (for regular plurals)

Idiom (filled) e.g. going great guns, give the Devil his due

Idiom (partially filled) e.g. jog<someone’s>memory, send<someone>to

the cleners

Covariational Conditional The Xer the Yer (e.g. the more you think about

it, the less you understand)

Ditransitive (double object) Subj V Obj1 Obj2 (e.g. he gave her a fish taco;

he baked her a muffin)

Passive Subj aux VPpp (PPby) (e.g. the armadillo was

hit by a car) Quadro 2 – Exemplos de Construções, com variação de tamanho e complexidade (extraído de Goldberg, 2006, p.

5)

1.5. Frequência e Regularidade: fatores geradores de produtividade

A linguagem, como exposto ao longo deste capítulo, é uma atividade cognitiva e social;

consequentemente, a língua retrata a dinamicidade dessas esferas, que estão fortemente imbricadas.

Pensar em regularidade, a partir desse ponto de vista teórico, é identificar esquemas comuns nas

diferentes manifestações linguísticas.

15 por exemplo. pré-, -ing

por exemplo. abacate, anaconda, e

por exemplo. temerário, barbada

por exemplo. [N-S] (para plurais regulares)

por exemplo. estar fortemente armado, vender a alma ao diabo

por exemplo. dizer ou fazer alguma coisa para que < alguém> se memória, roubar o dinheiro der <alguém>.

O Xer o Yer (por exemplo, quanto mais você pensa sobre algo, menos você entende)

Subj V Obj1 Obj2 (por exemplo, ele lhe deu um taco de peixe, ele cozinhou para ela um muffin)

Subj aux VPpp (PPby) (por exemplo, o tatu foi atingido por um carro)

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Nessa abordagem, regularidades consistem em unidades linguísticas convencionais. O

caráter de unidade é conferido pelas rotinas cognitivas entrincheiradas, isto é, formas repetidas com

um alto grau de frequência, sendo, por isso, armazenadas independentemente na memória, e o de

convenção, por representarem práticas linguísticas estabelecidas em uma determinada comunidade

de fala.

Bybee (2010, p. 14-15), destaca que, no modelo baseado no uso, as representações

exemplares (esquemas advindos da repetição das instâncias de uso) contêm, pelo menos,

potencialmente, todas as informações que um usuário da língua pode perceber em uma experiência

linguística.

Portanto, o conceito de regularidade, no modelo da GC, relaciona-se a convenções e,

consequentemente, a esquemas. Os esquemas emergem de expressões, por meio do reforço das

semelhanças que apresentam, em algum nível de abstração.

Croft e Cruse ([2004] 2009, p. 292) afirmam que o primeiro fator que determina a

independência de armazenagem, ou seja, o entrincheiramento, é a frequência de ocorrência de uma

construção ou a frequência token. De acordo com os autores (op. cit.), cada vez que uma construção

é usada, ativa um nó ou padrão de nó na mente. A frequência de ativação afeta o armazenamento da

informação, levando, finalmente, ao armazenamento da unidade gramatical convencional. A

estabilidade dessas unidades de construção, como já exposto, é garantida pelos eventos de uso, ou

seja, uma situação real de comunicação (LANGACKER, 2008, p. 17).

Para Bybee (2010, p. 94-95) a produtividade, isto é, a capacidade de aplicar a estrutura

existente a novos enunciados, está diretamente relacionada à frequência type, ou seja, ao número de

diferentes construções que instanciam um esquema, quanto mais alta a frequência type, maior a

produtividade. Já a alta frequência token contribui menos para a produtividade, uma vez que torna a

construção autônoma e com menos analisabilidade. Quando uma construção atinge uma alta

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frequência token, é processada sem ativar os outros exemplares da construção e começa a perder

analisabilidade e composicionalidade. Assim, construções constituídas principalmente por membros

de alta frequência ou expressões estereotipadas tenderão a não ser produtivas. Portanto, a alta

frequência token diminui a produtividade na morfologia e também na morfossintaxe, ao atingir um

certo nível de autonomia.

Croft e Cruse ([2004] 2009, p. 296-297) questionam a relação inversamente proporcional

entre produtividade e frequência token estabelecida por Bybee (op. cit.), uma vez que se faz

necessário, para o armazenamento de construção, a alta frequência token. Considerando o aspecto

da flexão gramatical, os autores definem produtividade como o esquema passível de ser aplicado a

qualquer construção apropriada semântica e fonologicamente, estendendo-se a novas formas

cunhadas e a empréstimos.

Embora teçam críticas à proposta de Bybee (2010), os autores admitem como uma das

hipóteses para produtividade de um esquema: a) a frequência type de suas instâncias e b) o esquema

aberto, proposta que defende uma certa flexibilidade na relação entre forma e significado, mais

precisamente no que diz respeito ao constituinte fonológico, pois este pode ser instanciado por

diferentes elementos e, ainda assim, assumir o significado de uma determinada categoria.

Os autores (op. cit.) tomam como exemplos os esquemas de flexão de número da língua

alemã e da língua árabe, esquemas abertos dissociados da frequência type. De acordo com os

autores, a descrição do esquema aberto é aplicável em substantivos não padrão, como nomes

próprios, novos empréstimos, substantivos derivados e adjetivos; a aplicação em construções não-

canônicas gera diferentes interpretações: (a) o fato de serem empregados em substantivos não

convencionais seria motivo tanto para o uso de esquema aberto quanto para baixa frequência type;

(b) a aplicação do esquema aberto em substantivos não convencionais é evidência de sua

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produtividade; e, por fim, (c) o uso do esquema aberto evidencia apenas a sua “emergência”,

justamente por ser aberto.

Na língua árabe, o plural com iâmbico quebrado16tem a maior frequência type, e aplica-se a

qualquer substantivo (incluindo substantivos emprestados) que se adapte aos critérios fonológicos

da forma canônica. O plural com iâmbico quebrado é generalizado por crianças, assim como o som

plural padrão (um sufixo no lugar de uma mudança no radical interno), o que indica que tanto o

plural com iâmbico quebrado quanto o plural de som padrão são produtivos, o primeiro

especialmente.

A expressão do plural em língua alemã, no relato dos autores ([2004] 2009, p. 300), é mais

complexa. Não existe um único padrão de formação de plural altamente produtivo. No entanto, há

evidências de algum grau de produtividade no plural com diferentes terminações, incluindo -s,

exceto para os substantivos não-canônicos. Crianças generalizam -en mais frequentemente;

diferentes terminações são preferidas para distintos gêneros de substantivos. Até mesmo

empréstimos recentes usam -en e, em menor medida, -e, especialmente para substantivos

masculinos; -s é utilizado em cerca de metade dos dados, e alguns empréstimos perdem, na

adaptação à língua, o -s, e passam a ser realizados com -en. Entre substantivos comuns, o -s está

associado a substantivos terminados em vogal. Esses fatos sugerem que -s não é verdadeiramente

um esquema padrão.

Croft e Cruse (op. cit.) concluem que o surgimento de um esquema padrão não requer uma

alta frequência type. Uma forma padrão pode surgir se as não-padrões criarem conjuntos

relativamente pequenos e fonologicamente bem definidos. Isso porque as propriedades das

16 A rigor, um pé iâmbico contém duas sílabas, sendo a primeira breve e a segunda longa (˘ˉ). Pés iâmbicos são,

portanto, dissilábicos e apresentam proeminência final (* .). No entanto, o próprio Hayes (1995) admite a existência de

iambos não-canônicos, aqueles constituídos de uma única sílaba pesada (–). O termo “broken iambic foot” deve fazer

referência a essa manifestação do iambo.

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instâncias do esquema padrão permanecem espalhadas por todo o espaço fonológico restante,

mesmo tendo essas instâncias uma baixa frequência type, a exemplo dos plurais em alemão e árabe,

que bem demonstram esse comportamento.

Bybee (2010, p. 35) defende que a esquematicidade, ou seja, um esquema preenchido por

constituintes, tende a tornar o esquema menos produtivo. A autora ratifica sua hipótese

argumentando que esquemas abertos são mais produtivos em função da alta frequência type, uma

vez que o mecanismo por trás da produtividade é a diversidade dos itens específicos; logo, um

esquema aberto com alta frequência type será mais suscetível de ser utilizado em novos enunciados

do que os que têm baixa frequência.

Esquemas ou construções mais gerais são fontes para criação de novos dados por meio de

analogia, como exposto na seção a seguir.

1.6. Analogia e as Contribuições da Diacronia e da Sincronia na Formação de Novas Palavras

Segundo Bybee (2010, p. 57), analogia – processamento baseado na similaridade de itens

existentes para criar novas formas – tem sido usada como contraponto ao modelo de produtividade

governado por regras – baseado em regras simbólicas mais gerais.

A autora (op. cit.) utiliza o conceito com sentido mais abrangente: processo pelo qual um

falante cria um item novo em uma construção. Bybee (2010) acrescenta que a especificidade das

construções e a maneira como os novos dados são construídos, por meio da experiência com a

linguagem, gera uma gradiência, pois a probabilidade e a aceitabilidade de um item novo ocorrem

com base no grau de semelhança com os usos anteriores da construção.

Bybee (2010, p. 57-59) compreende analogia não apenas como um mecanismo de

regularização morfológica, mas também como o principal mecanismo de criatividade

morfossintática e de mudança fonológica, embora esta aconteça em menor escala. A autora (op. cit.)

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concebe a analogia como um processamento de domínio geral, ou seja, uma nova forma é criada

pela evocação de uma construção mais geral, e não pela comparação entre elementos individuais.

Por último, descreve que os elementos envolvidos devem ser da mesma natureza, havendo entre

eles semelhanças semânticas ou fonológicas. Bybee (2010, p. 102) trazendo à baila a similaridade

existente entre as construções, defende que questões de ordem sincrônica quanto de ordem

diacrônica podem contribuir para novas formações.

Como exposto na seção 1.2, o modelo baseado no uso define língua como um sistema que

comporta estabilidade e dinamismo e, portanto, a observação dos fatos da língua contempla a

situação real de uso e as mudanças decorrentes desse uso, isto é, a experiência cognitiva do falante

com a linguagem. As mudanças, por estarem em curso, não são apenas analisadas entre diferentes

sincronias, mas dentro de uma única sincronia. Os conceitos de variação e gradiência ratificam essa

proposta.

Sincronicamente, a analogia ocorre entre exemplares (construções advindas de um conjunto

de tokens que são igualmente categorizados pelo falante, cf. seção 1.3.) existentes; diacronicamente,

mediante construções desenvolvidas fora da estrutura existente ou construções já existentes que

transmitem, por herança, suas propriedades para as novas ao longo do tempo. A mudança

linguística não é apenas um fenômeno periférico que pode ser anexado a uma teoria sincrônica;

sincronia e diacronia têm de ser vistas como um todo integrado.

A autora (2010, p. 119) conclui que, embora seja certamente necessário entender os papéis

distintos de sincronia e diacronia quanto à descrição e à teoria, importa também ter em mente que a

linguagem é um objeto cultural convencional que tem evoluído ao longo do tempo e continua a

evoluir. A teoria linguística não é completa se não abraçar a contribuição de mudança linguística

para a compreensão da estrutura da linguagem.

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39

Na próxima seção, serão tratados os conceitos de composicionalidade e analisabilidade,

muito relevante para esta pesquisa, uma vez que o corpus examinado trata de formações

constituídas por elementos não vernaculares.

1.7. Analisabilidade e Composicionalidade: forma e significado

O princípio da composicionalidade, atribuído a Friedrich Ludwig Gottlob Frege (2009, p.

28-29), formula que o significado de uma expressão complexa é uma função do significado das suas

partes constituintes e da forma como estão combinadas. No entanto, esse conceito, na perspectiva

da GC, deixa de ser categórico e ganha o caráter gradual.

De acordo com Langacker (2008, p.245), a semântica é parcialmente composicional. Em

algumas expressões, o significado é previsível por meio da soma das suas partes constituintes; em

outros, não é possível acessá-lo por meio dessa soma. Entretanto, como observam Croft e Cruse

([2004] 2009, p. 105), a compreensão de significado como construção exige uma conceituação mais

complexa que envolva a situação comunicativa; então, para contemplar esse aspecto, os autores (op.

cit.) apresentam a seguinte modificação: o significado das expressões complexas é o resultado do

processo de construção advindo da interpretação das suas partes constituintes. Segundo os autores,

essa releitura permite ao contexto agir em dois níveis: a) no da construção inicial do significado das

palavras e b) no da construção do significado da expressão.

Langacker (2008, p. 245) pontua que o significado de uma expressão complexa não pode ser

computado a partir de significados lexicais e de padrões de composição (os polos semânticos dos

esquemas de construção), pois seria mais adequado considerá-lo como algo provocado por eles. No

entanto, os esquemas de construção são importantes e trazem uma contribuição semântica

indispensável às expressões complexas. Se não contam toda a história de como se chegou ao

significado composicional, tais esquemas, pelo menos, fornecem informações essenciais sobre a

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forma como as concepções de componentes se ajustam e como o seu conteúdo é integrado,

influenciando na interpretação dos componentes dos itens lexicais e contribuindo para o seu próprio

conteúdo conceitual.

Nessa perspectiva, Bybee (2010, p. 45) assume o mesmo paradigma de composicionalidade

– uma medida semântica referente ao grau de previsibilidade do significado do todo a partir do

significado das partes. Todavia, a autora (op. cit.) o contrapõe a um outro conceito, o de

analisabilidade – o reconhecimento da estrutura morfológica. Esse conceito envolve o

conhecimento do falante sobre as palavras e os morfemas que a compõem, bem como o da sua

estrutura morfossintática. De acordo com a autora (op. cit.), a analisabilidade também é gradiente,

uma vez que as partes de uma construção podem ser total ou parcialmente identificadas. Assim,

outro fator que contribui para o caráter gradiente da variação é o conhecimento do falante, já que

esse conhecimento também é passível de variações.

Os dois conceitos são independentes, pois a composicionalidade pode ser perdida, enquanto

a analisabilidade é mantida e o inverso é verdadeiro, embora Bybee (2010, p.45) reconheça a

dificuldade de comprovar isso, ou seja, de encontrar exemplos em que uma construção seja

composicional sem ser analisável. Gonçalves (no prelo) mostra que em “cheguei” na expressão

“roupa cheguei”, roupa para a qual se volta a atenção – “cheguei” não é analisável nem

composicional, já que as informações de tempo e modo não contribuem para o sentido pejorativo

assumido pelo verbo. No entanto, vale ressaltar que palavras são complexas justamente porque são

analisáveis.

O norte adotado nesta pesquisa, tendo em vista o modelo apresentado, entende a língua

como um fenômeno dinâmico relativamente estável, constituído de esquemas abstratos que lhe

garantem sistematicidade e constância, ao mesmo tempo em que lhe permitem movimento e

mudanças, e essas provocadas pelo uso. No próximo capítulo, são expostas informações que

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mostram como o movimento interno do sistema (mudança e constância) e as influências externas

(aspectos de ordem sociocultural) contribuem para a análise dos dados.

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2. ΑΓΡΌΣ E AGER: UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA

Neste capítulo, analisamos diacronicamente os elementos agro- e agri-, a fim de

examinarmos, ainda que de forma incipiente, o comportamento desses formativos ao longo dos

séculos. Utilizamos, para tanto, dicionários etimológicos, textos latinos dos períodos arcaico e

clássico17 e textos portugueses dos séculos XIV ao XXI. Não se pretende realizar um estudo

etimológico de tais elementos, tendo em vista que não é o objeto deste trabalho e a grandeza dessa

tarefa por si só desdobraria em outra pesquisa. Aspira-se, aqui, encontrar pistas para uma melhor

compreensão do comportamento desses formativos no Português brasileiro contemporâneo.

2.1. Pareceres dos Dicionários Etimológicos

O Dicionário Eletrônico de Elementos Mórficos Houaiss apresenta agro- como um

elemento de composição antepositivo oriundo do grego αγρός (campo), com registro na língua

portuguesa a partir do século XIX, como é visto nos exemplos citados na obra: agrogeografia,

agrologia, agromancia. No entanto, na entrada do dicionário da língua portuguesa, agro aparece

como um substantivo masculino, de origem latina, significando “terreno cultivado ou

potencialmente cultivável; campo, agra”. O verbete agra, segundo o Grande Dicionário Houaiss

Beta da Língua Portuguesa, é um substantivo feminino que significa o mesmo que “agro” (campo),

com datação de 1676.

17 Fases da Língua Latina: período proto-histórico (séc. VII - 240 a.C.), com as primeiras inscrições encontradas;

período arcaico (240-81 a.C.) – com textos epigráficos e literários de autores como Livio Andronico, Névio, Ênio,

Catão, Plauto, Terêncio e Lucílio; período clássico (81 a.C. - 17 d.C.) - quando a prosa e a poesia chegam ao apogeu

com autores como Cícero, Virgílio, César, Horácio, Salústio, Lucrécio, Catulo, Ovídio, Tito Lívio, entre outros; período

pós-clássico (17 d.C – séc. II d.C) com poetas e prosadores não originários da Itália, já que não seguem os modelos

clássicos da Itália em sua totalidade, a exemplo de Fedro, Sêneca, Plínio, Marçal, Juvenal, Tácito, Quintiliano; e

período cristão (séc. III d.C – V d.C) representado pelos escritos de Tertuliano, Santo Agostinho, Santo Ambrósio,

dentre vários outros. (MONTAGNER, Airto Ceolin. Língua Latina I. Rio de Janeiro: UCB, 2008, p. 21).

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Sobre agric-(o), forma originada do latim agri, no Dicionário Eletrônico Houaiss de Língua

Portuguesa, afirma-se que é um elemento de composição antepositivo ao qual se adjunge o afixo

-ico, utilizado em compostos (sic!)18 a partir do século XX.

Outra forma que pode ser considerada concorrente de agro- é agri- que, de acordo com o

Dicionário (op.cit.), é um elemento de composição antepositivo, proveniente do latim ager, agri.

Nessa língua, os formativos já eram utilizados para criar palavras como agrário, agreste, agrícola,

agricultura, agrimensor e agrimensura, introduzidas na língua portuguesa, já assim constituídas, a

partir do século XV. No Dicionário Eletrônico Houaiss de Língua Portuguesa, verifica-se ainda

que, por analogia a essas formas, teriam sido criadas, a partir do século XIX, desta feita na língua

portuguesa, as palavras ágrico-industrial, agricolar, agrícolo-industrial, agricultado, agricultar,

agricultável, agricultor, agrimensão e agrimensar.

O Grande Dicionário Houaiss Beta da Língua Portuguesa apresenta um possível percurso

do formativo agro- até o Português. Segundo a obra, agro- é o resultado da fusão entre o elemento

mórfico oriundo do grego, αγρός, e o elemento latino agri, que ora permite a realização da vogal -i-,

residual do latim, ora permite a realização da vogal -o-, residual do grego, presentes em

agroindústria/agrindústria, agroindustrial/agrindustrial, agrofabril/agrifabril.

As informações prestadas pelo Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa ([1982] 2011)

ratificam alguns dados já fornecidos pelos Dicionários Houaiss, tais como as origens latina e grega

de agro-, assim como a origem latina de agri-. No entanto, aquele não menciona a forma agra- e

não faz referência à concorrência entre agro- e agri-.

Já o Dicionário Onomástico Etimológico (1984) cita, sem detalhamento, agra, substantivo

feminino, provindo do plural latino de agra, utilizado como um topônimo frequente em Portugal e

18 Se -ico é um afixo e agr, uma base, tecnicamente teríamos um derivado (e não um composto).

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na Galiza. No Minho, significa campo. Essa obra também não menciona a origem de agro- nem de

agri-.

O Dicionário Etimológico Resumido (1966) apresenta apenas duas entradas para agro-, a

primeira oriunda de acru (azedo) e a segunda de agru, ambas formas latinas.

Em relação aos dados históricos expostos nos Dicionários Houaiss, fazemos algumas

observações. No que tange à etimologia latina de agro-, vale salientar que a forma que lhe originou,

ager, pertence à 2ª declinação, que tem tema em -o, no dativo, assim como no ablativo assume a

forma agro, o que pode justificar a existência de um radical latino com uma vogal final -o. No

nominativo e no vocativo plural, ager assume a forma agri.

Ager não é apresentado pelo dicionário Houaiss como elemento de composição no latim,

mas como forma livre. Já agri- tem dois comportamentos: como forma livre, provavelmente,

advindo da declinação de ager, e como elemento de composição formador de palavras no latim,

como agricultura. Tal comportamento pode indicar um processo de morfologização19 do radical

agri- já no latim. Vale observar que “cultura”, elemento na segunda posição, chegou ao Português

como forma livre, o que torna as construções X-cultura especiais na língua, por terem cabeça

lexical20 à direita, diferentemente de quase todas as composições com base livre,

predominantemente de cabeça à esquerda.

19 Lehmann (1982, p.11) denomina gramaticalização “como processo que consiste na passagem de um item lexical para

um item gramatical”, posição classicamente definida por Kurilowicz que “concebe a gramaticalização como um

processo de morfologização, que pode levar à mudança de estatuto de um item não somente lexical a gramatical, mas

também do menos gramatical para o mais gramatical”. (GONÇALVES, S.C.L.; LIMA-HERNANDES, M.C.; CASSEB-

GALVÃO, V.C. (Orgs). Introdução à Gramaticalização – em homenagem a Maria Luiza Braga. São Paulo: Parábola. 2007. p. 22). 20 Nespor; Vogel (1986 apud BisoL, 2000: 6) defendem que, entre os constituintes de um sintagma fonológico, há uma

cabeça lexical, início de um constituinte. Segundo Callou e Serra (2012: 49), cabeça lexical são núcleos de sintagmas

sintáticos cuja natureza é lexical e não funcional.

BISOL, Leda. O clítico e seu status prosódico. Revista de Estudos da Linguagem, v. 9, n.1, 2000.

CALLOU, Dinah; SERRA, Carolina. Variação do rótico e estrutura prosódica. Revista do GELNE, v. 14, n. Especial,

2012.

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O verbete agra, além de ser considerado uma forma em desuso pelo dicionário, não compõe

as palavras encontradas no corpus: agrar, agrário, agrarianismo, uma vez que agrar, segundo a

obra, tem registro a partir de 1913 e é formado por agri- + -ar, radical latino e sufixo vernáculo; já

agrário é vocábulo latino incorporado ao Português no século XVII e agrarianismo, uma forma

derivada de agrariano (agrariano + ismo), datada em 1871, que, por sua vez, é derivada de

agrário.

Em relação à agric-(o), o dicionário sugere que se trata da adjunção do sufixo -ico à

partícula agri-, uma forma vernácula agregada a agri-. Bechara (2000) elenca -ico entre os sufixos

diminutivos; Cunha e Cintra (1985), além de reconhecerem-no como formador de diminutivos,

relacionam-no entre os sufixos formadores de adjetivos a partir de substantivos, casos nos quais não

se enquadra o uso do sufixo junto a agri-. Propõe-se, a partir dos exemplos de palavras constituídas

com o elemento agri- e formadas no Português a partir do século XIX, uma outra explicação para

agric-(o).

Uma análise alternativa para agric(o)- seria o truncamento21, encurtamento da palavra

agrícola, nos moldes propostos por Gonçalves (2011b, p. 18) para salafrário>>salafra. Portanto, o

que atualmente é considerado um sufixo (-ico), seria a vogal final de agri-, terminação latina, e a

parte inicial do constituinte da direita, -cola, resultando agric(o)-. No entanto, a concorrência de

agric(o)- com os demais formativos pode ser relativizada, uma vez que não foram encontradas

novas formações em Português e as que existem, como agricoindustrial e agricopecuária, são

preteridas em favor de agroindustrial e agropecuária.

Outra questão que pode gerar controvérsia é a compreensão de agro- como uma fusão entre

os formativos latino e grego, em que ora se manifesta a vogal -i, ora se manifesta a vogal -o. Mira

21 Adotamos, neste trabalho, o conceito de truncamento de acordo com Gonçalves (2012b, p. 185), “processo pelo qual

uma palavra-matriz é encurtada sem distanciamento de significado, mas com frequente “mudança no valor estilístico da

palavra”, de caráter morfêmico ou não.”

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Mateus et al. (2003, p. 976) asseveram que essas vogais são resíduos de marcadores casuais na

estrutura dos compostos do Latim e do Grego e, no Português, funcionam como vogais de ligação

que caracterizam composições morfológicas e delimitam as fronteiras entre radicais. Já Gonçalves

(2011b, p. 25) afirma que em “português, como em inglês, não há segmento fônico que ligue

palavras em compostos e, em princípio, não existem marcadores de composição com bases livres

nessas línguas”. Para Caetano (2010a, p. 135), a vogal -i- surge quando o primeiro elemento da

composição é de origem latina, independente do tema a que pertença. Nos compostos em que o

primeiro elemento é proveniente do grego, aparece a vogal -o-. Contudo, os autores (CAETANO,

2010a; MIRA MATEUS et al., 2003) admitem que podem manifestar-se outras vogais tanto no

primeiro quanto no segundo caso. À luz de gramáticas latinas e gregas, voltaremos a analisar o

estatuto dessas vogais no capítulo 5.

2.2. Ager-: análise fonética e morfológica

Segundo Chauveau (2009), críticas são feitas à etimologia por esta tratar cuidadosamente da

evolução dos significantes e satisfazer-se com a aproximação da história semântica. O autor

acrescenta que a história dos sentidos é tão necessária quanto a das formas, uma vez que o étimo é o

signo linguístico, associando significante e significado usuais em uma comunidade linguística, em

um dado período de sua história. Tomando por base essa premissa, analisamos agro- e agri-

considerando seus significados em alguns momentos históricos sem, no entanto, negligenciar os

aspectos fonológicos.

Na perspectiva morfológica, ager é um substantivo masculino de 2ª declinação, como

apontamos em 2.1. Há autores, como Aguiar e Ribeiro (1925) e Bennett (1913, p. 12), que afirmam

que os temas latinos são conhecidos pelo genitivo singular. Já Rosário (2008, p. 17) sustenta que,

para obtenção do tema em latim e, consequentemente, para a identificação da declinação, descarta-

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se a terminação do genitivo plural. Seguindo esse critério, ager possui tema em -o, pois, conforme

exposto nos quadros de declinação a seguir, seu genitivo plural é agrorum. Descartada a terminação

-rum, evidencia-se a desinência da declinação.

Quadro 3 – Declinação de Ager

Rosário (op. cit.) salienta que a declinação nos dicionários é apresentada no nominativo e no

genitivo singular. Logo, os dicionários exibem as formas ager e agri, nominativo e genitivo

singular, com tema em -i, o que indica irregularidade: nominativo com sequência vogal + consoante

+ vogal + consoante (ager); e genitivo com a sequência vogal + consoante + consoante + vogal

(agro). De acordo com Rosário (2008, p. 17), a alomorfia é provocada por regras fonológicas que

influenciam o tema de alguns nomes, fazendo alterações significativas, principalmente no

nominativo, como é o caso de magister, puer, uir22 e ager, que têm, respectivamente, os seguintes

temas: magistro-, puero-, uiro- e agro-.

Rosário (2008, p.17) lança mão de alguns metaplasmos para justificar as alterações fonéticas

nas palavras acima citadas. Sobre puer e uir, agem sobretudo a síncope e a assimilação. Em

magistro-, assim como em agro-, além das regras já mencionadas, atua a epêntese, cujas mudanças

podem ser assim esquematizadas: *agros > agrs > agrr > agr > ager, o que explicaria as duas

realizações: ager e agro.

22 De acordo com o Dicionário Escolar Latino-Português de Ernesto Faria, magister e puer significam, respectivamente,

“o que comanda, dirige e conduz” e “menino, criança, rapazinho”. Em relação a uir, o autor adota a grafia com “v”, vir,

que significa homem, seguindo a escrita latina tradicional de representar o u com o símbolo v.

Singular Plural Nominativo ager agri Genitivo agri agrorum Dativo agro agris Acusativo agrum agros Vocativo ager agri Ablativo agro agris

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Para justificar a existência das duas formas, o autor sugere, já que não deixa claro em sua

obra, uma forma hipotética, *agros, que coincide com o acusativo plural. No entanto, essa escolha

suscita alguns questionamentos:

a) sendo o nominativo e o genitivo singulares casos referenciais para os dicionários latinos e

o genitivo plural para identificação do tema, por que escolher o acusativo para explicar as alterações

fonéticas?

b) caso seja uma forma hipotética, a partir de que dados é construída?

c) sendo o nominativo a primeira forma da palavra (SEABRA FILHO, 2012, p. 79) e a

entrada das palavras declináveis (ALDRIGUE; FARIA, 2008, p. 12), o percurso feito pelos

metaplasmos não deveria ser a partir deste caso?

Buscando responder a essas questões, serão apresentadas algumas informações históricas a

respeito da língua latina.

2.2.1. Breves Comentários sobre a História do Latim: a forma ager

Marcus Fabius Quintilianus23 (± 35 d.C. – 95 d.C ±.), em seu Institutio Oratoria, menciona a

origem e o significado da forma ager, assinalando o deslize de Varrão no seu Tratado de Língua

Latina:

Mas a quem, depois de Varrão, não se perdoará, se ele próprio desejou convencer a

Cícero (pois a este dedicou seu tratado), acerca de ager ‘campo’, que assim se diz

porque nele se faz algo, e de gragulli ‘gralhas’, porque essas aves voam em

bandos, quando o primeiro termo deriva claramente do grego, o segundo é

onomatopaico? (QUINTILIANO, Inst. Orat. I, 6, 37, in VALENZA, G. M.)24

23 Marcus Fabius Quintiliano (35 d.C.- 96 d. C) foi professor de latim e escritor. Seu trabalho Institutio Oratoria trata da

educação e do domínio da oratória (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA).

24 “Sed cui non post Varronem sit uenia? Qui “agrum”, quia in eo agatur aliquid, et “gragulos”, quia gregatim uolent,

dictos uoluit persuadere Ciceroni (ad eum enim scribit), cum alterum ex Graeco sit manifestum duci, alterum ex

uocibus auium”.

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Robins (1992, p. 68) afirma que, para Varrão, a linguagem desenvolveu-se a partir de um

número limitado de palavras básicas, por meio das quais a realidade era referida, e, ao serem

usadas, produziam outras, por mudanças em algumas de suas letras ou alguns de seus sons. De

acordo com Robins (op. cit.), som e letra eram o mesmo para Varrão.

Segundo Robins (1992, p. 66-67), os romanos mantiveram contato com os gregos e

reconheceram a influência artística e cultural destes. Linguisticamente, isso não foi diferente, pois

aqueles aplicaram ao latim as controvérsias, a categorização e o pensamento gregos, essas

transferências foram facilitadas pela semelhança entre as duas línguas.

Contudo, expomos o parecer de Pierre Monteil (1992), que defende, como motivação para

as semelhanças entre as duas línguas, uma origem comum: o Indo-Europeu.

Para descrever os elementos fonéticos e morfológicos do latim, Monteil (1992) expõe uma

série de transformações que lhes deram origem. Com base no grego, no latim e no sânscrito, o autor

faz uma reconstrução linguística, a fim de estabelecer uma relação entre o indo-europeu e essas

línguas e justificar a semelhança entre elas.

Apresentamos alguns exemplos do autor pertinentes a ager, que, embora tenham sido

utilizados para uma reconstrução linguística, comprovam a semelhança entre o Grego e o Latim.

Segundo o autor (1992, p. 176), a formação dos temas em latim, assim como em grego, resulta de

uma tematização secundária, uma vez que, no indo-europeu, a flexão temática não possuía nomes

raízes25, nem temas primários, mas temas secundários, com sufixação. De acordo com o proposto, a

terminação -ro, presente em ager = αγρός, uesper = ἐσπερος, aper = κ-άπρος, taurus = ταύρος, uir

< *wī-ro26, é um sufixo indo-europeu remanescente.

25 Monteil (1992) define raíz como um esquema, reconstruído da estrutura indo-europeia, que corresponde ao elemento

significante da palavra.

26 Forma hipotética indo-europeia.

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2.2.2. Possíveis Transformações de Ager

Ao analisar as vogais herdadas do indo-europeu, Monteil (1992, p. 125-126) as observa em

diferentes ambientes fônicos. Em *agros, examina-se a sílaba final fechada, em que, por regra

geral, a vogal seria conservada; contudo o ŏ, no grupo -rŏs, é considerado um caso especial. Nesse

ambiente, ocorrem os seguintes fenômenos segmentais: o ŏ é absorvido pela líquida, permanecendo

o grupo rs que evolui a -r (foneticamente, um tepe), que, por sua vez, desenvolve o centro vocálico,

representado na seguinte trajetória:*agros > *agr > *agºr > ager, justificando a passagem de agros a

ager.

Monteil (1992), assim como Rosário (2008), apresenta agros como uma forma hipotética.

No entanto, não oferece um percurso histórico para elucidar a existência da palavra latina

coincidente com a forma grega, αγρός. Ademais, sendo agros uma forma hipotética, por que a

língua manteria as duas formas?

“A própria língua latina possui uma estrutura gramatical e sintática, em casos,

muito similar à grega. Então, de certa forma, os romanos souberam absorver e

adaptar grande parte da cultura helênica na formação de seu Império, por isso o

termo greco-latino, relativo à cultura. Apesar de não se usar o mesmo termo em

relação à língua, houve também um determinado grau de absorção e adaptação do

grego no latim” (GARCIA, 2010, p. 130).

Portanto, os relatos históricos corroboram a afirmação de Quintilianus sobre ager, forma

oriunda da palavra grega masculina de segunda declinação αγρός. Os casos gramaticais e suas

respectivas terminações podem ser observados no quadro abaixo, que chegou ao latim em função da

impregnação da cultura romana pela cultura grega.

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2ª DECLINAÇÃO

NÚMERO CASOS TERMINAÇÕES

Singular

Nominativo ος

Genitivo ου

Dativo ω΄

Acusativo ον

Vocativo ε

Plural

Nominativo/Vocativo οι

Genitivo ων

Dativo οις

Acusativo ους Quadro 4 -Declinação de Αγρός

Ao serem comparadas as terminações da segunda declinação do grego e do latim, as quais

pertenciam αγρός e ager, respectivamente, observa-se a semelhança entre os mesmos casos nas

duas línguas:

2ª DECLINAÇÃO

NÚMERO CASOS TERMINAÇÕES

GREGAS

TERMINAÇÕES

LATINAS

FONEMAS

Singular

Nominativo ος er -

Genitivo ου i -

Dativo ω

΄

o /o/

Acusativo ον um /on/ /um/

Vocativo ε er /e/

Plural

Nominativo/Vocativo οι i /i/

Genitivo ων orum /on/ /o( r) um/

Dativo οις is /is/

Acusativo ους os /os/ Quadro 5- Comparação entre as Declinações Latina e Grega.

Aguiar e Ribeiro (1925) incluem, entre as palavras pertencentes à segunda declinação latina,

palavras de origem grega, ratificando nossas impressões. Portanto, compreende-se que os

metaplasmos propostos por Rosário (2008) e Monteil (1992) seriam alterações sofridas pela forma

grega ao ser assimilada pelo latim, culminando em ager. Já agro/agri, ou seja, a sequência

consoante + consoante (gr), seria vestígio da realização grega no latim.

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Em função do exposto, entendemos, diferentemente do proposto pelo Grande Dicionário

Houaiss Beta da Língua Portuguesa, que as formas agro- e agri-, presentes no Português, são

elementos distintos. A primeira é oriunda do Grego, como em agrônomo, e a segunda, do Latim,

como em agricultura. Contudo, a forma latina já seria um hibridismo entre o Grego e o Latim na

sua origem.

Retomando Chauveau (2009), uma reconstrução semântica requer, também, uma

contextualização histórica e, para isso, faz-se necessário conhecer os contextos, os empregos, as

distribuições e a ligações entre as palavras, principalmente em cada língua em particular e, a

posteriori, nos vários estágios da reconstrução comparativa, a fim de chegar aos possíveis

significados originais.

Para melhor compreender o comportamento de agro- e agri- e suas significações, na seção

seguinte, são apresentados dados históricos, validados por textos literários, que demonstram a

importância da agricultura para sociedade romana.

2.3. Textos Latinos e seus Contextos Históricos

Dois dos textos analisados estão localizados no período da República (509-27 a.C.), no qual

foram estabelecidos valores de civismo que permaneceram por toda história romana27. Corassin

(2006) apresenta uma sociedade organizada em dois pilares: agricultura e militarismo. O cidadão

romano, considerando a definição de cidadão dentro do modelo e do período estabelecido, é um

militar, um soldado, mas, antes de tudo, um agricultor.

27 Corassin (2006, p. 272) afirma que “para autores como Cícero e Catão, o Censor, o bom cidadão é representado pelo

agricultor, proprietário que cultiva a terra e é o soldado. Catão afirmava, na sua obra De Agricultura, que “nossos

ancestrais (...) quando elogiavam um homem de bem, elogiavam assim: bom agricultor e bom cultivador; considerava-

se que receber tal elogio era receber o maior deles”. E completava: “É dos camponeses que nascem os homens mais

fortes e os soldados mais corajosos”.

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A República inaugura um período em que uma aristocracia rural controla Roma, impondo-se

contra os “elementos urbanos que se haviam desenvolvido durante a monarquia etrusca”

(CORASSIN, 2006, p. 272). Logo, a “educação latina conservará traços desse contexto agrário”

(loc. cit.). A experiência comum entre os falantes dessa comunidade faz do latim uma língua de

camponeses e, de acordo com Codeço (2008, p. 109), havia muitas palavras técnicas voltadas para

agricultura.

Entre os autores que representam esse período, utilizaremos fragmentos de textos de Marco

Pórcio Catão (234 a.C. – 149 a.C.) e Marco Terêncio Varrão (116 a.C. – 27 a.C.), pois ambos

escreveram obras sobre a agricultura. Pimenta (2014, p.42-43) apresenta os dois autores citados.

Catão, o Velho ou o Censor, foi agricultor, militar e, por dedicar-se aos estudos liberais e à oratória,

obteve uma bem-sucedida carreira política28.

A seguir, são expostos fragmentos da obra De Agri Cultura29, de Catão, em que ager e suas

instanciações, isto é, seus diferentes casos, manifestam-se. As ocorrências são marcadas de acordo

com as seções da obra.

M. PORCI CATONIS CENSORIS

DE AGRI CVLTVRA.

Marco Pórcio Catão Censor

Sobre a agricultura

28 Catão exerceu várias funções, entre elas, a de censor. Foi o primeiro a escrever a história de Roma em latim,

Origenes. Destacam-se entre suas obras também Disticha Catonis, um conjunto de regras sapiências para vida, e De

Agri Cultura, que a autora (op. cit.) ressalta como sendo “o tratado em prosa mais completo acerca do cultivo dos

campos, assinalando tal cultura como uma das principais técnicas no contexto da Roma veteri.”. Contudo, Basseto

(2013, p. 118) inclui a obra entre uma das fontes que contribuem para a reconstituição do latim vulgar, uma vez que

“seus numerosos arcaísmos fundamentam muitas formas correspondentes ao latim vulgar”.

29 Os textos latinos foram traduzidos e adaptados pela Professora Drª Arlete José Mota.

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[PRAEFATIO] (...) At ex agricolis et uiri fortissimi et milites strenuissimi gignuntur, maximeque

pius quaestus stabilissimusque consequitur minimeque inuidiosus, minimeque male cogitantes sunt

qui in eo studio occupati sunt(...).

(PREFÁCIO) Mas os homens mais fortes e os soldados mais vigorosos nascem dentre os

agricultores; os que pensam minimamente no mal são aqueles que se dedicaram ao cultivo no

campo – o que resulta em uma renda extremamente honesta, sólida e muito pouco invejada

[1] (...)Videto quam minimi instrumenti sumptuosusque ager ne siet. Scito idem agrum quod

hominem, quamuis quaestuosus siet, si sumptuosus erit, relinqui non multum. Praedium quod

primum siet, si me rogabis, sic dicam: de omnibus agris optimoque loco iugera30 agri centum,

uinea est prima, uel si uino multo est; secundo loco hortus irriguus; tertio salictum; quarto oletum;

quinto pratum; sexto campus frumentarius; septimo silua caedua; octauo arbustum; nono glandaria

silua.

Mantenha um número mínimo de equipamentos, para que o terreno não se torne dispendioso.

Repara que o campo é igual ao homem: mesmo rico, se se tornar caro, não restará muita coisa. Se

me perguntares que tipo de propriedade deve-se preferir, direi o seguinte: dentre todos os tipos de

cultura, em um ótimo local, de cem jeiras, primeiro a vinha, se esta produz o melhor vinho e em

boa quantidade; em segundo lugar, um jardim irrigado; em terceiro, um salgueiral; em quarto, um

olival; em quinto, relva; em sexto, uma plantação de trigo; em sétimo, mata que produza madeira de

corte; em oitavo, um bosque; e, em nono, um azinhal.

[3] Prima adulescentia patrem familiae agrum conserere studere oportet (...).

Em sua juventude, convém ao pai de família dedicar-se a semear o campo.

[6] (...)In agro crasso et caldo oleam conditiuam, radium maiorem, Sallentinam, orcitem, poseam,

Sergianam, Colminianam, albicerem, quam earum in iis locis optimam dicent esse, eam maxime

30 Segundo Faria (1962, p. 535), jūgĕra, -um. subs. n. pl. é a medida agrária correspondente à porção de terra lavrada

por uma junta de bois durante um dia, geira.

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serito (...). Ager oleto conserundo, qui in uentum fauonium spectabit et soli ostentus erit, alius

bonus nullus erit. Qui ager frigidior et macrior erit, ibi oleam Licinianam seri oportet (...).

Semeia na terra grossa e quente as oliveiras que produzem as azeitonas para conserva, a comprida,

a salentiana, as de castas distintas, como a dos salentianos e a sergiana, a de Colminio e

especialmente a branca, que dizem ser a melhor das que são plantadas nestes locais. Não existirá

melhor terreno para a plantação de um olival do que aquele que estiver voltado para o vento do

oeste e exposto ao sol. Se o terreno for mais frio e menos fértil, convém semear no local a oliveira

liciniana.

[61] (...) Siquis quaeret, quod tempus oleae serendae siet, agro sicco per sementim, agro laeto per

uer.

Se alguém assim o desejar, o tempo de semear a oliveira é durante a sementeira, com o campo seco;

durante a primavera, com o campo favorável.

Nos trechos de De Agri Cultura, percebe-se que ager e suas instanciações participam das

construções sintáticas como formas livres, considerando o ponto de vista gráfico, isto é, “a

sequência de caracteres que aparece entre espaços e/ou pontuação e que corresponde a uma

sequência de sons que formam uma palavra na língua” (BASILIO [2004] 2006, p. 13-18). O aspecto

gráfico foi salientado, pois, segundo Greenough e Allen (1903, p. 161) há, em latim, os compostos

sintáticos, compostos não etimológicos, formados por palavras que recorrentemente aparecem

juntas no discurso31. Portanto, entre os casos que se apresentam como uma forma simples, pode

haver formas complexas. Contudo, para verificação da existência desse tipo de composição, seria

necessário um corpus maior para observar a ocorrência de determinadas construções.

Identificam-se, ainda, as formas compostas agricolis e agricultura, já presentes no latim

arcaico, período no qual se enquadra o texto de Catão. A composição morfológica é reconhecida em

31 Greenough e Allen (1903, p.160) definem palavras compostas como aquelas cujas raízes são formadas por duas ou

mais raízes.

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agricolis, pela aglutinação entre o substantivo ager, na forma de agri, e o verbo colo e pela

presença da vogal “i” no primeiro elemento da composição. O papel dessa vogal será discutido no

capítulo 5.

A sequência agri cultura, embora não apareça com a forma aglutinada nesse texto e nem no

texto de Varrão, transcrito oportunamente, parece-nos um caso passível de análise, já que pode

trazer elementos de dois processos composicionais em transição: uma composição sintática, gerada

pela frequência de uso, passando à morfológica, marcada pela presença acidental da vogal “i” no

primeiro elemento. A forma aglutinada presente no Português, agricultura, e em algumas línguas

neolatinas, como o Francês, agriculture, e o Espanhol, agricultura, corroboram a hipótese.

De acordo com Pimenta (2014, p. 43-44), Varrão, assim como Catão, atuou como militar,

foi censor, tribuno da plebe, pretor e embaixador32. Trechos da obra Rerum rusticarum Liber primus

De agricultura (Sobre as coisas do campo – Livro primeiro – Sobre a agricultura) serão expostos a

seguir, nos moldes de como foi apresentado De Agri Cultura, de Catão, com a ressalva de que as

seções aparecem numeradas em algarismos romanos. Os excertos foram extraídos dos parágrafos 1

e 2.

[I] (...)Et quoniam, ut aiunt, dei facientes adiuuant, prius inuocabo eos, nec, ut Homerus et Ennius,

Musas, sed duodecim deos Consentis; neque tamen eos urbanos, quorum imagines ad forum auratae

stant, sex mares et feminae totidem, sed illos XII deos, qui maxime agricolarum duces sunt.

Primum, qui omnis fructos agri culturae caelo et terra continent, Iouem et Tellurem: itaque, quod ii

parentes, magni dicuntur, Iuppiter pater appellatur, Tellus terra mater. (...) Nec non etiam precor

Lympham ac Bonum Euentum, quoniam sine aqua omnis arida ac misera agri cultura, sine

successu ac bono euentu frustratio est, non cultura. (...)

32 Contudo, destacou-se e entrou para a história pela sua erudição. Iniciou seus estudos em Roma, aprendendo

gramática, etimologia e oratória, e, em Atenas, aprofundou-se em filosofia. Escreveu cerca de 620 livros sobre os mais

diversos assuntos: língua, direito, filosofia, agricultura, poesia. No entanto, conservaram-se apenas dois, um sobre a

língua latina – De Lingua Latina – e outro sobre agricultura, mais precisamente a gestão de uma granja - Rerum

rusticarum. Este último é de suma importância para nossa pesquisa.

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E, visto que, como dizem, os deuses ajudam os que trabalham, em primeiro lugar, os invocarei. Não

suplicarei, como Homero e Ênio, às Musas, mas aos doze deuses maiores. Não rogarei, contudo, os

deuses urbanos, cujas imagens douradas se erguem para o Forum, seis deuses e outro tanto de

deusas, mas, precisamente, aqueles doze deuses que são os condutores dos campônios. Em

primeiro lugar, suplico a Júpiter e a Tellus (Terra), que conservam todos os frutos da agricultura

no céu e no solo – por isso são nomeados grandes pais: Júpiter é chamado de pai e Tellus, terra mãe.

(...) E também rogo à Linfa e ao Bom Evento, uma vez que, sem água, toda a plantação fica árida e

pobre e, sem um bom resultado, há frustração, não cultivo.

[II] (...) An non M. Cato scribit in libro Originum sic: 'ager Gallicus Romanus uocatur, qui uiritim

cis Ariminum datus est ultra agrum Picentium. In eo agro aliquotfariam in singula iugera dena

cullea uini fiunt'? Nonne item in agro Fauentino, a quo ibi trecenariae appellantur uites, quod

iugerum trecenas amphoras reddat? (...) Alterum collegam tuum, uiginti uirum qui fuit ad agros

diuidendos Campanos, uideo huc uenire, Cn. Tremelium Scrofam, uirum omnibus uirtutibus

politum, qui de agri cultura Romanus peritissimus existimatur. (...) Nec ullae, inquam, pecudes

agri culturae sunt propriae, nisi quae agrum opere, quo cultior sit, adiuuare, ut eae quae iunctae

arare possunt. (...) Neque ideo non in quo agro idoneae possunt esse non exercendae, atque ex iis

capiendi fructus: ut etiam, si ager secundum uiam et opportunus uiatoribus locus, aedificandae

tabernae deuorsoriae, quae tamen, quamuis sint fructuosae, nihilo magis sunt agri culturae partes.

(...)

Por acaso, Catão não escreveu assim, em seu livro Das origens: “é chamado galo-romano o campo

que se estende do lado de cá do rio Armino e, mais especificamente, além do campo picentino”?

Neste campo, em alguns lugares, para cada jeira, não são produzidos dez odres de vinho? Acaso, do

mesmo modo, não há no campo faventino vides que produzem trezentas ânforas por jeira e por isso

são chamadas aí de “trecentésimas”? (...) Vejo chegar um companheiro teu, Tremelio Escrofa, um

dos homens dentre os que foram incumbidos de dividir os campos da Campânia, um homem

adornado de todas as virtudes e que é considerado o romano que mais conhece a respeito da

agricultura. (...) Digo que não há animais próprios para a agricultura, a não ser os que ajudam

com seu trabalho, tonando a terra preparada para o cultivo: são os que podem arar juntos, presos à

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canga. (...) Não pode ser negligenciado o que não representa propriamente fruto da terra, pois, se

um terreno está próximo de uma estrada, tem-se um local apropriado para os viajantes, devem ser

construídos aí albergues. Mas estes, embora rendáveis, não representam, de forma alguma, parte da

agricultura.

Os outros dois textos utilizados são obras inseridas no início do Império Romano, Ab Urbe

Condita, de Tito Lívio (59 a.C. – 17 d.C.) e Tibulli Elegiae, de Álbio Tibulo (55 a. C. – 19 d.C.)33.

Dos 142 livros escritos que compõem a obra Ab Urbe Condita, 35 são hoje conhecidos. A

seguir, são reproduzidos fragmentos do livro I (parágrafos 15, 22 e 46); do livro II (parágrafo 41);

do livro III (parágrafos 1 e 6), do livro IV (parágrafo 58); e do livro V (parágrafos 12 e 24).

LIVRO I

[15] (...) In fines Romanos excucurrerunt populabundi magis quam iusti more belli. Itaque non

castris positis, non exspectato hostium exercitu, raptam ex agris praedam portantes Veios rediere.

Romanus contra postquam hostem in agris non inuenit, dimicationi ultimae instructus intentusque

Tiberim transit. (...) Agri parte multatis in centum annos indutiae datae.

[Os veientes] acorreram às fronteiras romanas, mais pelo costume de uma guerra devastadora do

que por uma luta justa. Assim, sem fixar acampamentos ou aguardar o exército dos inimigos,

retornaram para Veios, trazendo dos campos os despojos. O [exército] romano, já que não avançou

contra o inimigo nos campos, decidido e bem preparado para um último combate, transpõe o Tibre.

(...) Foi concedida uma trégua de cem anos, uma vez que foram espoliados de parte do campo.

33 Sem pretender abordar a complexidade do que se compreende por Império Romano, mas com o objetivo de situar

historicamente os textos, vale a pena pontuar algumas informações sobre o período. Segundo Collares (2010, p. 11-12),

o Império Romano inicia-se após um período de guerras internas e externas que geraram um cenário político favorável

ao aparecimento de um novo regime, marcando o fim da República. Em função da concentração de poder de Otávio

Augusto, filho adotivo e herdeiro de Júlio César, uma nova ordem política foi estabelecida: o Império, embora não se

pretendesse romper com os costumes ancestrais, denominados pelos romanos de mos maiorum, e com as bases de

sustentação do regime republicano.“Em torno dessas transformações que romperam com o instituído, mas que não

descaracterizaram completamente suas bases, Lívio projetou uma narrativa histórica aparentemente validada pelos

mores (moral), constituindo, no entanto, exemplos de um passado projetado segundo anseios, demandas e expectativas

próprias.” (COLLARES 2010, p. 13). Lívio, em latim, Titus Livius (59 a.C. – 17 d.C.), um dos três mais importantes

historiadores romanos, é o autor de Ab Urbe Condita – Desde a Fundação da Cidade. A obra tornou-se um clássico e

exerceu profunda influência sobre o estilo e a filosofia da escrita histórica até o século XVIII.

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[22] (...) Senescere igitur ciuitatem otio ratus undique materiam excitandi belli quaerebat. Forte

euenit ut agrestes Romani ex Albano agro, Albani ex Romano praedas in uicem agerent. (...)

Portanto, calculando que a cidade envelhecia no ócio, buscava de todas as formas um motivo para

desencadear a guerra. Sucedeu por acaso que os campônios romanos arrastaram despojos do

território albano e os albanos fizeram o mesmo no território romano.

[46] Seruius quamquam iam usu haud dubie regnum possederat, tamen quia interdum iactari uoces

a iuuene Tarquinio audiebat se iniussu populi regnare, conciliata prius uoluntate plebis agro capto

ex hostibus uiritim diuiso, ausus est ferre ad populum uellent iuberentne se regnare; tantoque

consensu quanto haud quisquam alius ante rex est declaratus. Neque ea res Tarquinio spem

adfectandi regni minuit; immo eo impensius quia de agro plebisaduersa patrum uoluntate senserat

agi, criminandi Serui apud patres crescendique in curia sibi occasionem datam ratus est, et ipse

iuuenis ardentis animi et domi uxore Tullia inquietum animum stimulante. (...)

Embora Sérvio já possuísse o reino, obtido com certeza pela prática, algumas vezes, contudo, ouvia

que era perseguido pelo jovem Tarquínio – este dizia que Sérvio reinava sem o consentimento do

povo. Tendo atraído a boa vontade da plebe, dividindo por cabeça o campo conquistado aos

inimigos, ousou dirigir-se ao povo para saber se desejavam e até mesmo se ordenavam que ele

reinasse. Obtido um consenso maior do que qualquer outro obtivera antes, foi proclamado rei. Para

Tarquínio este fato não diminuiu a esperança de retomar o reino; ao contrário, de forma mais

cuidadosa ainda, percebera que se tinha agido, em relação aos campo doado à plebe, contra a

vontade dos senadores. Calculou que lhe era oferecida a oportunidade de acusar Sérvio, junto aos

senadores, e de elevar-se na cúria. O próprio Tarquínio era um jovem ardoroso, tendo ainda, em sua

casa, a esposa, Tulia, estimulando seu espírito inquieto.

LIVRO II

[41] (...) Tum primum lex agrariapromulgata est, nunquam deinde usque ad hanc memoriam sine

maximis motibus rerum agitata. (...) Quid ita enim adsumi socios et nomen Latinum, quid

attinuisset Hernicis, paulo ante hostibus, capti agripartem tertiam reddi, nisi ut hae gentes pro

Coriolano duce Cassium habeant? Popularis iam esse dissuasor et intercessor legis agrariae

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coeperat. Vterque deinde consul, ut certatim, plebi indulgere. Verginius dicere passurum se

adsignari agros, dum ne cui nisi ciui Romano adsignentur: Cassius, quia in agraria largitione

ambitiosus in socios eoque ciuibus uilior erat, ut alio munere sibi reconciliaret ciuium animos,

iubere pro Siculo frumento pecuniam acceptam retribui populo. (...)

Então, pela primeira vez, foi promulgada a Lei Agrária, e nunca, pelo que se recorda, deixou de ser

comentada, com muitas discussões. (...) Por que ter incluído assim os aliados e os latinos? Por que

foi conveniente devolver aos hernicos, há pouco inimigos, a terça parte do território capturado, a

não ser que estes povos quisessem como chefe Cassio, em lugar de Coriolano? Desde então, o

oponente e intercessor da Lei Agrária começara a ficar popular. Em seguida, os dois cônsules,

como desafio, favorecem à plebe. Vergínio disse que distribuiria os terrenos, contanto que não

fossem dados a alguém que não fosse cidadão romano. Cassio, porque se tornou ambicioso na

questão da distribuição dos campos para os aliados, era o mais vil dentre os cidadãos e, para que

recuperasse os ânimos dos cidadãos, com um outro favor, ordenou que fosse devolvido ao povo o

dinheiro recebido pelo trigo da Sicília.

LIVRO III

[1] Antio capto, T. Aemilius et Q. Fabius consules fiunt. Hic erat Fabius qui unus exstinctae ad

Cremeram genti superfuerat. Iam priore consulatu Aemilius dandi agri plebi fuerat auctor; itaque

secundo quoque consulatu eius et agrarii se in spem legis erexerant, et tribuni, rem contra consules

saepe temptatam adiutore utique consule obtineri posse rati, suscipiunt, et consul manebat in

sententia sua. (...)

Capturado Âncio, Tibério Emílio e Quinto Fábio tornam-se cônsules. Este Fábio era o único que

sobreviveu à extinção de sua família em Cremera. Já no exercício anterior do consulado, Emílio foi

o defensor da distribuição do campo para a plebe; assim, na ocasião de seu segundo consulado, os

partidários da Lei Agrária resgataram sua esperança. Os tribunos defenderam a causa, muitas vezes

não levada a termo por oposição dos cônsules. Estes tribunos estavam cientes do apoio de Emílio,

que manteve seu parecer.

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[6] Comitia inde habita; creati consules L. Aebutius P. Seruilius. Kalendis Sextilibus, ut tunc

principium anni agebatur, consulatum ineunt. Graue tempus et forte annus pestilens erat urbi

agrisque, nec hominibus magis quam pecori, et auxere uim morbi terrore populationis pecoribus

agrestibusque in urbem acceptis. (...)

Assim, reunida a assembleia, foram eleitos os cônsules Lúcio Ebucio e Publio Servilio. No dia

primeiro de agosto, iniciaram o consulado – tal data representava o começo do ano consular. Houve

um período de um calor fustigante e vigoroso, foi um ano de muitas epidemias na cidade e nos

campos. A força da doença aumentou em virtude da vinda para a cidade de animais e camponeses,

aterrorizados pelos exércitos inimigos.

LIVRO IV

[58] (...) Haec sua sponte agitata insuper tribuni plebis accendunt; maximum bellum patribus cum

plebe esse dictitant; eam de industria uexandam militia trucidandamque hostibus obici; eam procul

urbe haberi atque ablegari, ne domi per otium memor libertatis coloniarum aut agri publici aut

suffragii libere ferendi consilia agitet. (...)

Os tribunos da plebe exortavam insistentemente o povo – já agitado por sua própria vontade – e

repetiam que a maior guerra é aquela entre os senadores e a plebe. Esta é lançada deliberadamente

aos inimigos; arrastada e trucidada pelos soldados; mantida longe da cidade, expulsa, para que, em

casa, por causa da tranquilidade da liberdade, não remeta livremente às ideias de retomada dos

terrenos públicos pelos colonos e do direito de votar.

LIVRO V

[12] (...) Victores tribuni ut praesentem mercedem iudicii plebes haberet legem agrariam

promulgant, tributumque conferri prohibent, cum tot exercitibus stipendio opus esset resque militia

ita prospere gererentur ut nullo bello ueniretur ad exitum spei. (...)

Os vitoriosos tribunos promulgam a Lei Agrária, como recompensa por um julgamento dado pela

plebe, e proíbem que seja pago o tributo, embora o soldo seja necessário a todos os exércitos e os

soldados atuem com ventura, para que, em nenhuma guerra, se veja o fim da esperança.

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[24] (...) Ab iis non urbes ui aut operibus temptatae, sed ager est depopulatus praedaeque rerum

agrestium actae; nulla felix arbor, nihil frugiferum in agro relictum. (...) Ea largitio sperni coepta,

quia spei maioris auertendae solatium obiectum censebant: cur enim relegari plebem in Volscos

cum pulcherrima urbs Veii agerque Veientanus in conspectu sit, uberior ampliorque Romano agro?

Vrbem quoque urbi Romae uel situ uel magnificentia publicorum priuatorumque tectorum ac

locorum praeponebant. (...).

As cidades não foram atacadas por eles nem pela força nem pelas manobras militares, mas o campo

foi devastado e foram destruídas as propriedades campesinas; não se deixou na terra nenhuma

árvore frutífera, nada fértil (...). Essa liberalidade começa a ser desprezada, porque julgavam um

alívio oferecido para afastar uma esperança maior. De fato, por que relegar a plebe para o desterro

entre os volscos, quando estavam diante dos olhos a belíssima cidade de Veios e o território

veientano, mais fértil e maior que o romano? Preferiam a cidade de Veios a Roma, seja pelo local

onde está situada, seja pela grandeza dos edifícios públicos e privados e das moradias.

Destacamos, nos trechos de Ab Urbe Condita, as formações agerque, agraria, agrarii e

agrestium. Agerque poderia ser considerada uma forma derivada; no entanto, adjungida a ager tem-

se a conjunção copulativa que, conferindo o sentido de “e, também; isto é, a saber; e mesmo; e

também, semelhante”, de acordo com Faria (1962). Agraria e agrarii são duas palavras derivadas,

em que o sufixo -arium agrega-se a uma raiz que talvez possa ser chamada de doublet34, nos termos

de Gonçalves (2005), já que mantém a forma original grega. As duas palavras possuem entradas

distintas no Dicionário escolar latino-português (1962): a primeira é um adjetivo e significa dos

campos, relativo aos campos; a segunda é um substantivo com sentido de os partidários da lei

agrária.

34 Segundo Skeat (1887, p. 414), doublet são palavras que apresentam duas formas. Entre as motivações para essa

concorrência linguística, de acordo com o autor (op.cit.), estão as diferenças dialetais e empréstimos de palavras que

têm a mesma origem de outras já existentes na língua tomadora. Nesta língua, as duas formas, geralmente, não são

usadas com o mesmo sentido. (SKEAT, W. W. Principles of english etymology: the native element. Orfoxd: At the

Clarendon press, p. 414, 1887).

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Já agreste poderia ser identificado como um processo derivacional por analogia a agraria e

agrarii, uma vez que não foi encontrado o sufixo -este; no entanto, a construção parece permitir a

isolabiladade dos seus constituintes. Agreste e agraria, palavras registradas em textos do período

clássico, assim como a mais antiga, agri cultura, foram transmitidas diretamente ao Português,

provavelmente pela relevância que a agricultura continuou a apresentar durante o período de

formação das línguas neolatinas. Como vimos, importantes tratados foram escritos sobre o assunto,

o que mostra o amplo conhecimento técnico-científico dos romanos sobre essa área de

conhecimento.

Albio Tibulo (55 a.C. – 19 d.C.), poeta romano, o segundo na sequência clássica de grandes

escritores latinos de elegias35, que começa com Cornélio Galo, passando por Tibulo e por Sexto

Propércio, era considerado por Quintiliano o melhor dentre os três36.

Abaixo seguem trechos de “Tibulli Elegiae” (Elegias), poemas I, 1; II, 1 e II, 6

LIVRO I

1

Nam ueneror, seu stipes habet desertus in agris

seu uetus in triuio florida serta lapis,

et quodcumque mihi pomum nouus educat annus,

libatum agricolae ponitur ante deo.

(versos 11 a 14)

35 Elegia – 1. Entre os gregos e latinos, poema formado de versos hexâmetros e pentâmetros alternados. 2. Poema

lírico, cujo tom é quase sempre terno e triste (Novo Dicionário Aurélio – Dicionário eletrônico – versão 6.0).

36 Tibulo destaca-se entre os poetas romanos por sua simplicidade idílica, graça, ternura e requinte de sentimento e

expressão. Entre as quatro obras remanescentes que são reconhecidas como sendo de sua autoria, duas são, sem

dúvidas, suas. Além de seus próprios poemas, as únicas fontes sobre a vida de Tibullus são algumas referências em

escritores antigos e uma pequena obra de autoria duvidosa denominada “Vita”. De família abastada, tornou-se um

membro proeminente do círculo literário de Messala. Manteve-se afastado da corte de Augusto, a quem o autor nem

sequer menciona em seus poemas. Tibulo parece ter dividido o seu tempo entre Roma e sua propriedade rural,

fortemente preferindo a última. (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA).

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Pois que eu venero, seja um tronco abandonado nos campos, seja a velha pedra na encruzilhada,

que ostentam flores entrelaçadas, e qualquer que seja o fruto que a nova estação produza para mim,

como oferenda, é posto diante do deus do agricultor.

LIVRO II

1

Di patrii, purgarnus agros, purgamus agrestes:

uos mala de nostris pellite limitibus,

neu seges eludat messem fallacibus herbis,

neu timeat celeres tardior agna lupos.

(versos 17 a 20)

Ó deuses pátrios, nós purificamos os campos, nós purificamos os camponeses: afastai os males de

nossas fronteiras. Que a terra não frustre a colheita com ervas daninhas; que a ovelha mais vagarosa

não tema os lobos impetuosos.

6

Acer Amor, fractas utinam tua tela sagittas,

si licet, extinctas aspiciamque faces!

Tu miserum torques, tu me mihi dira precari

cogis et insana mente nefanda loqui.

Iam mala finissem leto, sed credula uitam

Spes fouet et fore cras semper ait melius.

Spes alit agricolas, spes sulcis credit aratis

semina quae magno faenore reddat ager:

haec laqueo uolucres, haec captat harundine pisces,

(...)

(versos 15 a 23)

Ó cruel Amor, se é permitido, que eu veja quebradas tuas flechas – tuas armas - e também

apagados teus archotes! Tu atormentas um infeliz, tu me impeles a desejar mal a mim mesmo e

dizes coisas abomináveis, de um louco pensamento. Eu daria prontamente um fim aos meus

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males, com uma morte violenta, mas a Esperança, crédula, abraça a vida e diz sempre que

amanhã há de ser melhor. A Esperança alimenta lavradores; a Esperança confia às terras

revolvidas pelos arados sementes, que o campo devolve através de farta colheita. A Esperança

captura pássaros cum uma rede e peixes com uma vara (...).

A temática rural nas obras de Catão e Varrão, supracitadas, mostra a relevância do assunto

tratado em manuais para o cultivo do campo ou para trabalhos que cercam a vida rural, como o

cuidado de animais. Já nas obras de Lívio e Tibulo, há uma outra perspectiva em relação a este

espaço; no primeiro, o campo aparece como lugar de conquistas e guerras e, no segundo, como um

lugar, em contraste com a cidade, idealizado, perfeito. Independentemente do foco adotado, o

campo – ager – é realçado, uma vez que é a “principal fonte da riqueza, e portanto da receita

imperial” (MENDES, 2007, p. 40).

A observação da história interna – aquilo que “afeta o sistema e as mudanças desse sistema”

(NOLL, 2008, p. 261) – e da história externa – “eventos históricos e sociológicos suscetíveis de

influírem na evolução da língua” (loc.. cit.) – pode esclarecer fenômenos linguísticos do passado e

do presente.

As palavras são “composições moleculares que reúnem informações fonéticas, semânticas,

sintáticas e pragmáticas” (FERREIRO, 2010, p. 112), construídas, dinamicamente, pela interação

das capacidades cognitivas do ser humano com o mundo que o cerca. Em suma, é por meio desse

processo de mão dupla, com base na dinâmica ativação de conceitos disponíveis, manifestados pela

linguagem, que as palavras adquirem significado.

O latim, por ser língua mãe das línguas neolatinas, particularmente no Português, manifesta-

se por meio de várias influências. Contudo, ressaltamos suas extensões na formação dos compostos

neoclássicos a partir do século XIX. A emersão do Latim, e do Grego também, faz-se notar não só

pelo uso de radicais eruditos, mas também pelo processo de composição das formações neoclássicas

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no vernáculo das diversas línguas modernas, incluindo as de origem não-românica, como o Alemão,

o Inglês e o Holandês. Observando que palavras como agricultura, do Latim, e agrônomo, do

Grego, existem anteriormente à formação do Português, podemos considerar que as construções

provenientes daquele século tenham-se constituído por analogia às formas clássicas.

Considerando o exposto neste capítulo, conclui-se que as formas agro- e agri- presentes no

Português são dois formativos de origens distintas, do Grego e do Latim, respectivamente, embora

agri- tenha chegado ao Latim via empréstimo do grego. Observou-se que os sentidos de ager

configuram uma rede semântica constituída por metonímia. Os significados extensionais de ager

abrangem espaço geográfico delimitado para cultivo; solo; terra; espaço de enfrentamento,

território, zona fora do perímetro urbano, área bucólica.

No próximo capítulo, serão discutidos os comportamentos de agro- e agri- na atual

sincronia e as influências diacrônicas sobre os formativos.

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3. COMPORTAMENTO DE AGRO- E AGRI- NA ATUAL SINCRONIA

Construções como agricultura, agribusiness, agronomia, agropecuária e agrofit, embora

possuam em comum os elementos composicionais agri- e agro-, apresentam características

morfológicas, sintáticas e semânticas distintas; contudo, algumas podem ser classificadas, segundo

a tradição, de compostos neoclássicos, de recomposição ou não serem analisadas, uma vez que suas

propriedades não se adequam às esperadas. Em função das variáveis manifestadas pelo corpus,

objetivamos discutir, na esteira de Gonçalves (2011a, 2011b, 2012) e Gonçalves e Andrade (2012),

os conceitos de composição neoclássica e recomposição a partir do continuum composição-

derivação, que admite uma interpretação para os casos emblemáticos, tais como agricultar e

agronomia, e casos periféricos, como os já citados agribusiness e agrofit. A partir do apresentado

pelos autores (op. cit.), propomos um posicionamento das formações aqui examinadas nesse

continuum.

3.1. Posicionamento dos Compostos Neoclássicos no Continuum Composição-Derivação

A composição, processo no qual duas palavras são combinadas para formar uma nova, e a

derivação, processo por meio do qual se adjunge um afixo à base37, são analisadas,

tradicionalmente, por meio de uma perspectiva aristotélica de classificação em que os membros

devem possuir, igualmente, todas as condições necessárias e suficientes para pertencer à

determinada categoria e, nessa ótica, os processos são compreendidos como totalmente distintos e

estanques. No entanto, abordagens mais recentes – Bauer (2005), Kastovsky (2009), Gonçalves

(2011a, 2011b, 2012), Gonçalves e Andrade (2012) e Andrade (2013), entre outras – propõem uma

37 “Exceto nos casos de conversão, subtração ou mudança na constituição fonológica de uma palavra-matriz.”

(GONÇALVES, 2011a).

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reanálise pautada no modelo de classificação originalmente apresentado por Rosch (1978), que

parte de membros exemplares, mais facilmente reconhecíveis (os chamados protótipos), para

membros periféricos, aqueles que exibem menor semelhança com o prototípico, gerando uma

gradiência. Há, portanto, membros prototípicos e fronteiriços, ou seja, mais próximos ou mais

distantes daqueles que melhor representam a categoria.

Segundo Bauer (2005), a fronteira entre derivação e composição é permeável em ambos os

sentidos, pois formações que eram, originalmente, consideradas composições, podem ser

compreendidas como derivição e o contrário também pode ocorrer, embora, Bauer (2005), afirme

que com menor frequência. O autor (2005) analisa alguns processos de formação de palavras, a

exemplo de cruzamento vocabular38 e compostos neoclássicos, concluindo que composição e

derivação são processos distintos. No entato, alguns formativos, em transição entre formas livres e

presas e vice-versa, dificultam a identificação do processo de formação que subjaz a determinadas

palavras, como os splinters, advindos do cruzamento vocabular, a exemplo de –cade, de cavalcade

(cavalgada) e de motorcade (carreata), classificado como sufixo; entretanto, Bauer (2005) ressalta

que esse elemento pode aparecer em início de palavras. Portanto, ora o formativo comporta-se como

afixo, ora como palavra.

Segundo o autor (2005), os compostos neoclássicos, em inglês, trazem outro embaraço,

tendo em vista que os compostos do vernáculo são constituídos por palavras e aqueles por radicais,

não se enquadrando no rótulo de composição. Contudo, nas palavras de Bauer (2005), itens como

philo- e -sophy têm características de palavra, tanto em termos fonológicos quanto semânticos, o

que jusitifica a nomenclatura 'composto neoclássico'. O autor assinala que o comportamento

38 Gonçalves (2012b), na esteira de Fandrich (2008), afirma que “o termo blend (cruzamento vocabular) é metafórico, já

que vem a ser utilizado em referência à mistura de partes aleatórias de lexemas existentes. Nesse sentido, as formas

resultantes refletem, iconicamente, as palavras-matrizes.” Tal como, lixeratura (lixo + literatura = “literatura de má

qualidade”) e aborrescente (adolescente + aborrece = “adolescente que aborrece”), exemplos do autor.

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flutuante dos formativos não compromete a distinção entre composição e derivação, mas influencia

na limitação da fronteira entre esses processos.

Kastovsky (2009) argumenta que composição, clipping (truncamento) e cruzamento

vocabular devem ser considerados como padrões prototípicos dispostos em uma escala de

componentes cada vez menos independentes que vão desde palavras passando por radicais,

afixoides39, afixos, palavras/radicais reduzidos em splinters40. O autor propõe uma escala sem fazer

distinção entre formativos e processos; todavia, destaca a importância do estatuto do formativo para

a identificação do processo de formação de palavras, como exposto a seguir:

composição (palavra) > composição de base presa (radical) > afixoides > afixação propriamente

dita > composição por truncamento (recorte de palavras/radical) > cruzamento vobular > splinters

> acrônimos.

Gonçalves (2011a) e Gonçalves e Andrade (2012), na esteira de Bauer (2005), Kastovsky

(2009), entre outros autores, propõem uma aplicação do continuum composição-derivação para o

Português. Gonçalves (2011a) e Gonçalves e Andrade (2012) elencam critérios para o

reconhecimento de compostos e derivados prototípicos e analisam diferentes formações que estão

entre os polos desse continuum como “a combinação truncada (‘caipifruta’, ‘caipivodka’,

‘caipissuco’), a substituição sublexical (‘mãedrasta’, ‘irmãdrasta’, ‘sogradrasta’) e a recomposição

(‘auto-peças’, ‘auto-escola’, ‘auto-tecnologia’)”. (Gonçalves, 2011a: 69).

39 “Na literatura morfológica sobre o português, o termo afixóide apresenta três diferentes acepções: (i) forma truncada

que remete, metonimicamente, ao significado da palavra complexa de onde se desgarrou (Duarte, 1999, 2009;

Gonçalves, 2011b), a exemplo de bio- e agro-; (ii) elemento que aparece em formações isoladas, únicas, os hapaces

(Rocha, 1988), como o ebre de casebre; (iii) elemento ressemantizado que, necessariamente, coexiste com uma palavras

da língua, seja ela preposição, como contra- (contra-ataque) ou um substantivo (mania de chocolate vs. chocomania).”

(GONÇALVES, 2016, p. 65). 40 Segundo Bauer (2005: 104), splinter é o fragmento de uma palavras usado repetidamente na formação de novas palavras, ou seja, é uma partícula não morfêmica formada por cruzamento vocabular, com a qual se cria novas palavras. O termo foi cunhado por J.M. Berman em "Contribution on Blending",1961, de acordo com Bauer (op. cit.). Exemplos: fran- em frambúrguer (frango + hambúrguer); franfilé (frango + filé); e –nese em macarronese (macarrão +

maionese), em ovonese (ovo+ maionese).

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Aplicando esse modelo à morfologia, pode-se afirmar que existem formações que são

composições prototípicas (o modelo NN de composição, como ‘bolsa família’) e derivações

prototípicas (X-eiro); no entanto, há, entre esses dois extremos, inúmeros processos de formação de

palavras que não se assemelham inteiramente a esses protótipos, partilhando, em maior ou menor

escala, características desses dois modelos básicos de expansão lexical.

A organização categorial por protótipos permite não apenas uma análise dos elementos de

uma mesma classe – central e periférico –, mas dos elementos que figuram entre as classes, uma vez

que há construções que partilham características das diferentes classes, tais como o cruzamento

vocabular (burocracia), a composição neoclássica (agrociência) e a recomposição (agromaníaco),

processos que justificam a existência de um continuum.

A flexibilidade na análise desses processos surge da necessidade de encontrar um

posicionamento para os formativos que não se caracterizam, plenamente, como unidades

constituintes da composição e da derivação, palavras/radicais e afixos, respectivamente, e

apresentam propriedades tanto de um, quanto de outro. Tomado como exemplo o formativo agro-,

reconhecido pela tradição gramatical como radical neoclássico, constituinte, portanto, do processo

de composição (CUNHA; CINTRA, 1985; BECHARA, 2000), percebe-se que, em algumas

formações, como agroecossistema e agrocombustível, agro- é uma forma presa, a cabeça lexical

posiciona-se à direita e a partícula recorrente combina-se a palavras, assemelhando-se aos prefixos

e, portanto, aproximando-se da derivação. Já em construções como agroclimático e agropastoril, as

bases mantêm uma relação de coordenação, comportamento que remete a formações constituídas

por formas livres, aproximando-se, por isso, da composição. O comportamento de agro- suscita

dúvidas sobre o seu posicionamento no continuum radical-afixo (RALLI, 2008a, p.15; ANDRADE,

2013, p. 11), e é nesse sentido que se justifica a presente análise.

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Assim, como evidenciado por Bauer (2005), Gonçalves (2011a, 2011b, 2012), Gonçalves e

Andrade (2012) e Andrade (2013), a controvérsia, entre outras questões, repousa na inserção desse

processo de formação de palavras entre os processos de composição de palavras do vernáculo.

Observando alguns atributos que identificam casos mais emblemáticos da composição e da

derivação, percebe-se que, no tocante ao corpus aqui analisado, agro- exibe especificidades que

sugerem a dilatação do conceito de composição. Para estabelecer comparações entre os compostos

vernaculares prototípicos e os compostos neoclássicos formados por agro- e agri-, serão utilizados

os critérios propostos por Gonçalves (2011a, p. 68) e Gonçalves e Andrade (2012, p. 122-123), uma

vez que os critérios identificam tendências gerais da composição e derivação.

A fim de formar um único quadro, aos critérios propostos por Gonçalves (op. cit.),

acrescentamos, em negrito, os sugeridos por Gonçalves e Andrade (op. cit.)

Elementos analisados Critérios

Composição Derivação

As unidades

Radicais

Palavras

Afixos

Lexemas autônomos

Formas encurtadas, presas, que

remetem a palavras.

Elementos de fronteira (formas presas

que não correspondem a palavras).

Características estruturais

Unidades com posição não

necessariamente fixa na estrutura

da palavra.

Unidades definidas por uma posição pré-

determinada na estrutura da palavra (à

esquerda ou à direita).

A variável lexical utilizada é

predominantemente a palavra.

A variável lexical utilizada é

predominantemente o radical.

Cabeça lexical à direita ou à

esquerda.

Cabeça lexical à direita.

Possibilidade de existir relação de

coordenação entre constituintes.

Ausência desse tipo de relação.

Possibilidade de flexão entre

constituintes.

Flexão periférica.

O formativo seleciona a categoria

lexical da base.

Os afixos não se combinam entre si.

Característica fonológica Realização em mais de uma palavra

prosódica.

Realização em uma única palavra

prosódica.

Características Expressa um significado lexical. Manifesta um conteúdo gramatical ou

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semânticas funcional.

Pode ser endocêntrica41 ou

exocêntrica.

Predominantemente endocêntrica.

Apresenta função semântica pré-

determinada.

Recorrentemente, os afixos atribuem a

mesma ideia a todas as formas a que

se vinculam.

Os afixos selecionam classe semântica.

Produtividade e produção

Forma conjuntos mais fechados de

palavras (é mais ad hoc.)

Forma conjuntos mais completos de

palavras (é mais regular).

Caracteriza grande número de

formas manufaturadas.

Produz palavras em série.

Quadro 6 – Fatores de distinção entre Composição e Derivação

Entre os distintos critérios que balizam o reconhecimento do processo de composição,

destacamos a identidade dos elementos que constituem os exemplos prototípicos dessas

construções, o radical e a palavra. Esses conceitos, assim como o de composição, são complexos e

discutíveis no que se refere a definições e fronteiras. Para ilustrar os diferentes aspectos pelos quais

podem ser observados, serão elencadas as definições de radical propostas por Mattoso Camara

([1977] 1981), Rocha Lima ([1972] 2000), Melo (1978), Cunha e Cintra (1985), Bechara (2000) e a

de palavra proposta por Basilio (2000).

Radical, conforme Bechara (2000, p. 335), “é o núcleo onde repousa a significação externa

da palavra, isto é, relacionada com o mundo em que vivemos”. Para Rocha Lima ([1972] 2000, p.

193) “é o morfema que funciona como o segmento lexical da palavra, opondo-se ao segmento que

lhe assinala (...) as flexões e a derivação.” Cunha e Cintra (1985, p. 78) afirmam que “ao que

chamamos até agora MORFEMA LEXICAL42 dá-se tradicionalmente o nome de RADICAL. É o

41 Os termos endocêntrico e exocêntrico são assumidos, de acordo com os conceitos propostos por Sandmann (1992).

Os compostos endocêntricos são aqueles em que o significado é motivado, completa ou parcialmente, pelo significado

das bases, em peixe-agulha, apenas a palavra agulha aciona um sentido metafórico, já peixe mantém uma relação direta

com o referente. Os compostos exocêntricos são aqueles em que o significado é construído por meio de metáfora ou

metonímia, a exemplo de viúva negra (aranha) e de chapa-branca (automóvel oficial), metáfora e metonímia,

respectivamente.

42 “Os morfemas lexicais têm significação externa, porque referente a fatos do mundo extralinguístico, aos símbolos

básicos de tudo o que os falantes distinguem na realidade objetiva ou subjetiva” (CUNHA; CINTRA, 1985, p. 76).

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radical que irmana as palavras da mesma família e lhes transmite uma base comum de

significação.”

Melo (1978, p. 48-49) define raiz como “elemento nuclear que contém a ideia central”, “o

elemento último, irredutível e comum a todo um grupo de palavras” e iguala-o ao termo base. Já

radical “é a parte do vocábulo destituída das desinências”, sufixos ou a terminação (termo usado

pelo autor para desinência de gênero e vogais temáticas nominais), “nas palavras desprovidas de

afixos, ditas primitivas, o radical coincide com a raiz”.

Mattoso Camara ([1977] 1981, p. 205) entende radical como “a parte lexical de um

vocábulo, que se opõe à parte correspondente à flexão externa, a que se liga ou não pelo índice

temático”. O autor distingue dois tipos de radicais, o primário, em que há apenas o semantema,

confundindo-se com a raiz, e o secundário, que resulta da derivação ou da composição –

identificado por meio da análise morfotática dos constituintes. Para o autor (op. cit.), raiz,

sincronicamente, é o semantema43 – “parte básica da estrutura das palavras” - e, diacronicamente, é

o “segmento fônico originário correspondente a um semantema do indo-europeu”.

Percebe-se, nas definições acima, que há alguns aspectos merecedores de destaque: há

conceitos de natureza, exclusivamente, linguística e há outros referentes a fatores extralinguísticos,

pontuando a relação entre palavra e referente; os critérios morfológicos (destituído de desinência) e

semânticos (em que repousa a significação) são norteadores na delimitação do conceito; no entanto,

o termo raiz, originalmente, de viés diacrônico, confunde-se, em algumas propostas, com o termo

radical, por serem ambos formas mínimas morfológicas, sendo este de caráter sincrônico.

Outra questão que se levanta é a inserção, no quadro acima, dos radicais entre as unidades

que constituem os compostos prototípicos, uma vez que os radicais, em Português, são formadores

43 “O semantema - dá-se este nome ao elemento formal que simboliza na língua o ambiente biossocial em que ela

funciona.” (MATTOSO CAMARA, 1977, p. 215).

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de compostos neoclássicos, de recomposição e não de compostos vernaculares; para estes, a palavra

é a base.

Basilio (2000, p. 9) afirma que o “conceito de palavra é de grande dificuldade em

morfologia”. Reconhecida até o início do século XIX como forma mínima, deixa de ser unidade

relevante da estrutura da língua a partir dos estudos da morfologia derivacional, quando os

morfemas se tornam as unidades básicas. Todavia, a morfologia depende do conceito de palavra,

uma vez que os processos morfológicos giram em torno dela, de acordo com a autora (op. cit.).

Basilio (2000) assevera que os conceitos de forma presa e forma livre, propostos por Bloomfield,

distinguem palavra (forma livre) dos morfemas presos, radicais, afixos ou clíticos (formas presas) e

dos sintagmas oracionais, que podem conter mais de uma forma livre, tornando a palavra a unidade

mínima do enunciado. Portanto, “a palavra é a forma livre mínima: uma forma que pode ocorrer

isoladamente, por si só constituindo um enunciado, e não podendo ser totalmente subdividida em

formas livres” (BASILIO, 2000, p. 10). No entanto, a autora (2000, p. 11) ressalta que essa

definição esbarra no conceito de palavras compostas: se palavras são formas mínimas, como

equacionar a formação constituída por mais de uma palavra?

Os problemas na definição de palavra, de acordo com Basilio (2000, p. 11), refletem-se

sobre a conceituação de palavra composta. A autora adota o conceito de palavra como unidade

lexical e, consequentemente, de composto “como conjuntos de palavras que funcionam

lexicalmente como uma palavra só” (BASILIO, op .cit.). Basilio ([2004] 2006, p. 13-18) afirma que

a problemática em torno de palavra é a tentativa de enquadrar o conceito em uma das categorias

(fonológica, gráfica, morfológica, sintática, pragmática) como elemento preciso, ao passo que

deveriam ser considerados os diversos enfoques.

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Devido a essa imprecisão classificatória, Ralli (2008a, p. 150) propõe que as categorias

morfológicas, tais como palavras, radicais e afixos, não sejam separadas radicalmente, mas sejam

colocadas num continuum, afixo – radicais presos – radicais.

Na próxima seção, serão expostas as fundamentações teóricas de cunho morfológico que

orientam esta pesquisa. Será discutida a proposta do continuum composição-derivação e serão

analisados os formativos agro- e agri- a partir de critérios apresentados por Gonçalves (2011a, p.

68) e Gonçalves e Andrade (2012, p. 122-123). Os critérios auxiliam no reconhecimento de

estruturas compostas e derivadas prototípicas. A apreciação dos formativos por meio de um

conjunto pré-determinado de características é pertinente, uma vez que as gramaticas normativas

incluem a composição neoclássica entre os compostos do vernáculo.

3.2. Análise dos Formativos Agro- e Agri-

O corpus analisado nesta pesquisa é formado por 101 dados dos quais 13 são constituídos

por agri- e 88 são por agro-. A tabulação dos dados está registrada no anexo 1 e as acepções dos

vocábulos, no anexo 2.

A partir dos critérios propostos por Gonçalves (2011a, p.68) e Gonçalves e Andrade (2012,

p. 122-123), observou-se que, nas 87 construções constituídas por agro-, o formativo funciona

como base presa (agrogestão, agroecoturismo, agroaçucareiro)44, o mesmo comportamento foi

observado nas 13 ocorrências com agri- (agricultar, agricultável). Há apenas 2 ocorrências em que

agro- comporta-se como forma livre: na campanha publicitária “Sou agro”, lançada na mídia entre

2010/2011, e num texto do jornal Folha de São de Paulo (1994) – “A transferência de recurso de o

44 As formas dicionarizadas constituídas por agro-, agri- e agric(o)- arroladas tanto no Houaiss quanto no Aurélio

apresentam grafia uniforme e a escrita é aglutinada. No entanto, os verbetes encontrados no Google que ainda não estão

dicionarizados não apresentam padronização em relação (a) ao emprego ou não do hífen e (b) à escrita aglutinada ou

não. Em função dessas distinções, optamos por uniformizar a grafia, não utilizando o hífen.

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agro para o financeiro”. No entanto, o escasso uso de agro- como forma livre não permite

classificá-lo como unidade autônoma, já que não há notícias de outras ocorrências, e não há

registros de frequência de uso para configurar um processo de mudança, embora esses usos

corroborem a mobilidade do formativo em um possível continuum forma presa-forma livre.

Há dados em que a etimologia interfere de maneira relevante na análise, como em

agricultura, agrimensor, agrícola, formados no Latim, ou agrônomo (άγρονόμος) e agronomia

(άγρονομία), constituídos no Grego, porém com entrada na língua via empréstimo do Francês. Se

considerados empréstimos, uma vez que não foram constituídos no vernáculo, não são passíveis de

análises, mas essa opção não é simples, pois o Português é uma língua neolatina e muitos afixos do

Latim foram assimilados pelo Português, a exemplo -ario < -arium; palavras foram incorporadas ao

léxico (lat. status> port. status45), e deve-se ressaltar que os processos de formação de palavras do

Latim remanescem no vernáculo, tornando alguns vocábulos acessíveis à morfologia da língua.

No caso das palavras agrícola, agrônomo e agronomia, embora os elementos à direita não

sejam tão transparentes, pela menor frequência de uso, é possível reconhecê-los por meio da

comparação com outros vocábulos na língua, a exemplo de vinícola, gastrônomo, economia,

respectivamente. As semelhanças estruturais e lexicais que aproximam essas palavras levam-nos a

analisar os dados como compostos neoclássicos, a fim de estabelecer semelhanças e diferenças entre

as composições neoclássicas e as composições do vernáculo. Lüdeling (2006, p. 580) afirma que a

noção de 'neoclássico' não é simplesmente uma noção etimológica. Em primeiro lugar, segundo a

autora (op. cit.), não se pode esperar que os falantes tenham conhecimento etimológico. Além disso,

muitas vezes é difícil determinar a origem de um elemento morfológico porque muitos entram para

uma língua através de outras. Mas a rede de associações (BYBEE, 2010) permite identificar os

constituintes da construção.

45 cf. VIARO, M..E. Etimologia. São Paulo: Contexto, 2014, p. 114.

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Entre os critérios utilizados por Gonçalves (2011a) e Gonçalves e Andrade (2012) para

distinção entre radicais e afixos está a seleção da categoria lexical do constituinte a que se adjunge,

característica própria dos afixos. As palavras que compõem o corpus têm a função de nomear ou de

caracterizar. Essas funções resultam das construções em que o formativo agro- se adjunge a

lexemas pertencentes a uma das seguintes categorias morfológicas: substantivo ou adjetivo. Esse

comportamento assemelha agro- aos prefixos, visto que não muda a categoria da palavra da base,

como se observa nos exemplos a seguir:

1) agrofloresta (substantivo) = agro- (formativo) + floresta (substantivo).

2) agropastoril (adjetivo) = agro- (formativo) + pastoril (adjetivo)

Outra questão que vale ser ressaltada é a de que das 87 formações com agro-, em 73, o

formativo combina-se com formas de livre curso na língua, como agrobanditismo, agromineral,

agropesca; em 15 casos, coaduna-se a outros radicais eruditos, entre eles: -metro (agrômetro), -

logo46 (agrólogo), -grafo (agrógrafo) e -logia (agrologia), -grafia (agrografia), que, de acordo com

as análises feitas por Rondinini (2009) e Gonçalves (2011a), são formativos que admitem uma

revisão dos seus estatutos, uma vez que apresentam comportamento semelhante ao de sufixos.

Às formas agrólogo e agrógrafo, agrega-se o sufixo -ico, formador de adjetivo a partir de

substantivos, gerando agrológico e agrográfico. O sufixo -ico adicionou-se à agronomia e à

agronometria, formando agronômico e agronométrico. Em agronomando (estudante de agronomia

com formatura iminente), observa-se a união de agrônomo ao sufixo -ndo, próprio dos gerúndios,

em analogia à palavra graduando. Bauer (1998, p. 408), ao estudar o caso dos compostos em inglês,

46 “Os exemplos fornecidos por Basilio corroboram a ideia de que sequências como -(o)logia e -(o)grafia, denominadas

formas combinatórias finais (BAUER, 1988), talvez, não sejam constituídas de apenas um, mas de dois morfemas, uma

vez que se prestam à análise morfológica adicional, e podem ser divididas em (o)log-ia e (o)graf-ia, respectivamente,

como sugerido na comparação de palavras como soci-(o)log-ia / soci-(o)lóg-ico e ginec-(o)log-ia / ginec-(o)log-ista;

geo-graf-ia / geográf- ico e tele-graf-ia / tele-graf-ista, entre outras.” (cf. ANDRADE, 2013, p. 25).

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atenta para o caráter híbrido que essas formações adquirem no vernáculo, já que é possível

encontrá-las combinadas com afixos, a exemplo gynocidal, composto neoclássico gynocide

(“assassinato de mulheres”) mais o sufixo inglês -al (formador de adjetivo). O autor (op. cit.)

ressalta o ajuste desses compostos à língua a ponto de permitir uma derivação.

Em 6 ocorrências, o formativo anexa-se a estrangeirismos, formando hibridismos:

agroservice, agrolink, agroboy e agrofit, que foram agrupados entre as construções constituídas de

base presa + base livre, uma vez que são empréstimos usados em outras construções do Português,

como as encontradas no Google, a exemplo de “service contabilidade”, “humana service”, “Link

Estadão – Cultura Digital”, “Link Brasil apresenta óculos do Google com tecnologia de realidade

aumentada”, “motoboy”,“Fit São Paulo Academia”, “Estação Fit Academia”.

Os dados com agri-, embora poucos, apresentam diferentes peculiaridades. Há um número

reduzido de palavras, uma vez que não existem novas formações. A datação dos vocábulos varia

entre o século XV e início do século XX, de acordo com o Houaiss. Entre as 13 palavras

encontradas, 4 já existiam no Latim clássico, agricultura, agrimensor, agrimensura47 e agrícola.

Em função da rede de associação, isolamos o segundo elemento dessas construções, tomando como

referência palavras existentes na língua (cultura, mensurar) ou comparando-as a outros compostos

já existentes (vinícola, rizícola). Nos dois primeiros casos, agri- combina-se a formas livres, sendo

cultura mais transparente que mensurar, devido a sua maior frequência de uso. Já em agrícola,

agri- une-se a uma base presa e opaca, sem livre curso na língua, mas passível de ser isolada, em

razão de haver outras construções complexas com o mesmo formativo.

Em agricoindústria, ainda que preterida por agroindústria, consideramos a base à esquerda

um encurtamento de agrícola (agrico-) ao qual se agrega a base livre, indústria, sendo agri- um dos

elementos constituintes.

47 cf. “De arte Mensora”, de Sexto Julio Fontino (30 a.C. - 140 d.C.).

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As construções formadas no Português selecionam radical e sufixo, gerando verbo e

adjetivo:

3) agricultar (verbo) = agri- (formativo) + cult- (radical) + -ar (sufixo).

4) agricultado (adjetivo) = agri- (formativo) + cult- (radical) + -ado (sufixo).

Considerando os critérios norteadores e a análise da natureza das bases, observa-se que

agro-, assim como agri-, tem as seguintes características: a) é forma presa; b) possui posição pré-

determinada, à esquerda; e c) combina-se a palavras, aproximando dos afixos e, consequentemente,

da derivação; entretanto, agro- pode unir-se a radicais eruditos, como -metro, -logo, -grafo, -logia e

-grafia, que se comportam como sufixos e, de acordo com os critérios estruturais, afixos não se

combinam entre si, o que afastaria agro- da derivação.

O próximo critério leva em conta a posição da cabeça. Em 77 ocorrências com agro-, a

cabeça está à direita, independente de os formativos a que se adjunge serem bases livres ou presas:

5) agroexportação – exportação de produtos agrícolas;

6) agroecossistema – ecossistema artificial que se estabelece em áreas agrícolas;

7) agrógrafo – especialista em agrografia;

8) agrólogo – especialista em agrologia;

Nas palavras com agri-, observa-se o mesmo comportamento:

9) agricultar – devotar-se à agricultura;

10) agrícola – aquele que cultiva a terra.

Em 2 palavras do corpus, constituídas por base presa + base livre, a cabeça está à esquerda:

11) agroaçucareiro – cultivo e industrialização da cana-de-açúcar;

12) agroalimentar – relativo à produção, processamento e embalagem de produtos

alimentares de origem agrícola, destinados ao uso humano.

Segundo Sandmann (1989, p. 123), a relação sintática própria dos compostos da língua

portuguesa é representada pela sequência DM-DT (determinado - determinante), como visto em

(11) e (12), já a relação DT-DM (determinante - determinado), presente de (5) a (10), seria

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“influência de modelos estrangeiros bem como, possivelmente, do modelo de prefixação”. Mas vale

ressaltar que o exemplo em (10) é uma palavra latina incorporada pelo Português48.

Segundo Bennett (1913, p. 115), os compostos em Latim são formados pela união de

palavras simples. O segundo membro contém o significado essencial da composição, e o primeiro

membro funciona como um modificador do sentido. Entre as três classes de compostos gregos

arrolados por Goodwin (1900, p.194) estão os compostos determinativos e os compostos

atributivos, nos quais o primeiro elemento qualifica o segundo; portanto, esse é o padrão clássico de

composição.

Existem 7 casos em que ocorre uma relação de coordenação entre os constituintes; na

sequência, apresentamos 2 deles:

13) agroambiental– concernente à produção agrícola e ao meio ambiente;

“A Gestão Agroambiental tem como propósito ordenar as atividades desenvolvidas nas

propriedades rurais, de forma a integrar os sistemas produtivos respeitando a capacidade de

suporte do agrossistema onde está inserida (...).” (http://www.agencia.cnptia.embrapa.br)

14) agroclimatérico/agroclimático– referente à agricultura e ao clima.

“O zoneamento agroclimático age pelo conhecimento do clima relacionado aos trabalhos

na agricultura, principalmente em tempos de aquecimento global, perdas na agricultura

podem ser causadas por questões climáticas.”

(http://www.infoescola.com/geografia/zoneamento-agroclimatico)

48 A palavra agrícola, registrada no latim arcaico e clássico (De Agri cultura, de Catão, e Tibulli Elegiae, de Tibulo),

embora apareça no Corpus Inscriptionum Latinarum (http://arachne.uni-koeln.de/Tei-Viewer/cgi-

bin/teiviewer.php?manifest=BOOK-ZID1318096), fonte do latim vulgar, no Corpus Lexicográfico do Português foi

encontrada a partir do século XVII apenas em dicionário de latim-português (Prosodia in vocabularium bilingue,

Latinum, et Lusitanumdigesta) e em vocabulário (Vocabulario Portuguez e Latino), levando a inferir que nesse período

a palavra não havia sido incorporada ao léxico. No Corpus do Português, aparece a partir do XVIII com sentido hoje

corrente.Corpus Inscriptionum Latinarum. Disponível em: <http://arachne.uni-koeln.de/Tei-Viewer/cgi-

bin/teiviewer.php?manifest=BOOK-ZID1318096>.

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Nas formações híbridas, agrofit (software para produtos agrários), agroservice (serviço de

jardinagem) e agrolink (portal de conteúdo agropecuário), agroboy (filho protegido, mimado de

latifundiários ou de empresários do ramo do agronegócio), coletadas no Google e não

dicionarizadas, a cabeça mantém-se à direita, reiterando a tendência DT-DM das construções agro-

X.

Em relação aos latinismos agrimensura e agrícola, a analogia com outras palavras da língua

(mensurar, vinícola) leva-nos a inferir que o produto tenha cabeça lexical à direita: medida das

terras e cultivo da terra, respectivamente.

Verificamos que há um número maior de formações em que o segundo elemento é uma base

livre (ex. agrocombustível) e que, na maior parte dos dados, a cabeça, tanto em construções com

agro- quanto com agri-, está à direita (ex. agrometeorologia e agricultar), fato que aproxima os

formativos à classe dos afixos; no entanto, não se pode ignorar que há palavras em que a cabeça

encontra-se à esquerda (ex. agroalimentar) e outras em que não há cabeça, pois os elementos estão

numa relação de coordenação, comportamento que remete aos radicais (ex. agroambiental).

Ainda quanto ao critério semântico, Gonçalves (2011a) e Gonçalves e Andrade (2012)

descrevem que derivados são, predominantemente, endocêntricos, enquanto os compostos podem

ser endocêntricos ou exocêntricos. Entre as composições com agro- e agri-, as formas com registros

mais antigos na Língua Portuguesa, tais como agricultura (séc. XV)49, agrícola (1635) e agrônomo

(1818), o sentido advém de suas bases; portanto, são endocêntricas. Já nas novas formações, o

significado de agro- é construído por meio de uma metonímia, como em agroambiental (agro

significa produção agrícola e ambiental significa meio ambiente), sendo, portanto, exocêntrico,

comportamento que aproxima, mais uma vez o formativo da composição.

49 Ao lado dos vocábulos em itálico, estão as datas de registro do vocábulo na língua, segundo o Dicionário Eletrônico

Houaiss da Língua Portuguesa. O Breve Diccionario Etimológico de la Lengua Castellana, de Joan Corominas

(1961[1998]), registra agricultura com entrada no Espanhol em 1440; agrícola em 1535 e agrónomo em 1832.

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Entretanto, há casos em que agro- tem o sentido, relativamente, esvaziado, dependendo da

base à sua direita, a exemplo de agroboy (playboy filho de latifundiário), no qual agro- significa

latifundiário. Outro exemplo é agroquímico (especialista em agroquímica), em que agro- significa

agroquímica. Fato que remete aos afixos, uma vez que o significado desses é instanciado nas

construções, não evocando um referente direto como fazem as formas livres, ainda que estas

também tenham o seu significado instanciado nas construções sintáticas. Conforme observa

Langacker (2008, p. 245), os esquemas de construção fornecem informações essenciais sobre a

forma como as concepções de componentes se ajustam e como o seu conteúdo é integrado,

influenciando na interpretação dos componentes dos itens lexicais e contribuindo para o seu próprio

conteúdo conceitual.

Do ponto de vista fonológico, faltou um contato prévio com uma comunidade de fala, a fim

de observar as possíveis variações de pronúncia das construções com agro-, já que novas palavras

com esse formativo têm sido criadas. Todavia, nota-se que o acento pode variar nessas construções,

realizando-se como uma palavra prosódica apenas, a exemplo de agrônomo – em que a vogal

fronteiriça -o- realiza-se como tônica, e pode realizar-se também em duas palavras prosódicas, tal

como ‘agr[u]negócio’ e ‘agr[u]exportação’, nas quais a vogal fronteiriça -o-, em posição postônica,

passa por um alteamento, ratificando a hipótese de que a primeira base é fonologicamente

independente, uma vez que a vogal final enquadra-se na regra de neutralização. O comportamento

fonológico corrobora o que vem sendo descrito.

As palavras criadas com agro-, como já afirmado acima, remetem ao significado de campo

ou de produção agrícola; estão relacionadas a esse domínio cognitivo, limitando a sua aplicação, de

acordo com os critérios sobre produtividade de Gonçalves (2011a) e Gonçalves e Andrade (2012).

Com isso, formam um conjunto mais fechado de palavras, como as composições vocabulares mais

prototípicas.

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Considerando os aspectos analisados nesta seção, o formativo agro- posiciona-se entre os

radicais e os afixos, ratificando a proposta de Ralli (2008 a, p.15) e de Andrade (2013) na

constituição de um continuum radical-afixo. O enquadramento das construções com agro- na

composição poderia ser respaldado pelo conceito de semelhança de família, de Wittgenstein (1953),

uma vez que a categoria pode ser estendida e novos membros podem ser introduzidos, desde que se

assemelhe a membros constituintes. Os limites entre as categorias não são fixos; são artificiais e

podem ser ampliados, de acordo com os propósitos. No entanto, o formativo apresenta

características que o aproxima dos afixos, o que levaria a classificar o processo como derivação.

Percebe-se que, mesmo que estes processos, composição e derivação, tivessem o sentido ampliado,

seria difícil rotular o elemento constitutivo como radical ou afixo.

Em função do comportamento variante dos elementos neoclássicos, muitas têm sido as

classificações recebidas por eles, como destacam Petropoulou (2009) e Gonçalves (2011b): raízes

clássicas; radicais presos; raízes de fronteira; semiafixos; pseudoafixos; afixos; afixoides; formas

combinatórias iniciais/finais; confixos; arqueoconstituintes, sinalizando que tanto os formativos

quanto o(s) processo(s) que envolvem os neoclássicos possuem identidade híbrida.

Os critérios utilizados para identificar composição e derivação prototípicas parecem reforçar

as características desviantes dos hoje denominados pela literatura de compostos neoclássicos. No

próximo capítulo, propõe-se fazer uma revisão literária com a descrição do processo e dos

elementos neoclássicos em diferentes línguas.

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4. COMPOSTOS NEOCLÁSSICOS: REVISÃO LITERÁRIA

Diferentes autores têm se voltado para o estudo do processo de formação de palavras

constituído por radicais de origem grega e latina; no entanto, como um caleidoscópio, as

construções neoclássicas produzem uma combinação diferente a cada movimento, sendo difícil

classificá-las nos moldes aristotélicos, mas são passíveis de sistematização no modelo de

classificação por protótipos, pois, como argumenta Bybee (2010, p. 19), a similaridade entre os

membros marginais facilita a identificação dos membros de uma categoria.

A seguir, é feito um percurso por diferentes autores e, embora esses adotem perspectivas

teóricas distintas, pretende-se examinar as distinções e similaridades na descrição dessas

construções nas línguas observadas. Cotejamos, sempre que pertinente, com exemplos do Português

analisados nesta pesquisa e com exemplos apresentados por Gonçalves (2011a, 2011b).

4.1. Ralli (2008 a)

Ralli (2008 a) aborda as formações deverbais no Grego Moderno. Essas construções

consistem em um radical e um elemento preso. A autora discute: a) a classificação dessas

formações; b) se elas são derivadas ou compostas; c) sua estrutura interna; d) as restrições

específicas que regem a sua formação; e e) a questão da produtividade.

Entre os fatores para os quais Ralli (op. cit.) chama a atenção, destacamos os listados em

“c”, “d” e “e”. As formações deverbais em Grego Moderno apresentam uma quantidade

considerável de construções constituídas de radicais oriundos do Grego Antigo, suscitando

discussões sobre a natureza dessas formações, se são vernaculares ou não. Ralli (2008 a) salienta

que essas formações diferem de compostos produtivos regulares apenas no que diz respeito à

natureza dos seus constituintes presos, pois as propriedades estruturais da base são as mesmas:

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forma e transparência de significado, padrão de formação [radical radical], elemento-cabeça à

direita, marcador de composto -o-, preenchimento interno do papel teta50. Portanto, apesar de a

maioria ter sido inventada, a fim de cumprir algumas necessidades específicas (para expressar

conceitos tecnológicos e científicos), e, apesar de seus constituintes serem radicais presos e

pertencerem a um conjunto fechado, são construções totalmente integradas ao sistema de formação

de compostos do Grego Moderno. Nesse ponto, esse tipo de composto diverge de formações

internacionais semelhantes, que diferem estruturalmente da composição nativa, como no Inglês.

No que diz respeito à transparência, Ralli (2008a) defende que, embora os falantes não

tenham necessariamente conhecimento etimológico, a maioria das criações que surge no uso com

elementos presos não é de palavras fossilizadas. Para a maioria delas, há transparência semântica e

estrutural, pois são criadas produtivamente hoje, não apenas na ciência e na tecnologia, mas

também na linguagem corrente. Ainda que, no Grego Moderno, essas construções obedeçam a

algumas restrições específicas que não se aplicam aos compostos com itens vernaculares, um

grande número pertence a itens comuns do vocabulário.

Outra questão relevante é a produtividade. A autora (op.cit.) contrapõe-se ao conceito de

produtividade que se aplica apenas a processos nos quais novas palavras são criadas

espontaneamente e nos quais as bases não se submetem a restrições de combinabilidade, pois essa

perspectiva exclui um número considerável de línguas em que os itens que são aprendidos não se

combinam livremente com qualquer tipo de base comum nativa. Ralli (2008ª) afirma também que

as palavras neoclássicas são produtivas e que, em Grego Moderno e em Inglês, os radicais

neoclássicos adjungem-se a bases nativas, embora haja casos em que aqueles se agreguem apenas

50 Segundo Ralli (2008 a, p.156), os radicais advindos do Grego Antigo impõem uma estrutura argumental às suas

construções, que é herdada da base do verbo subjacente.O substantivo do lado esquerdo das construções de que

participam pode satisfazer um de seus papéis teta, geralmente o tema, mas também outras funções, como locativo, ou

um objetivo.

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com radicais do Grego Antigo.

Em função dos diferentes comportamentos dos radicais neoclássicos, a autora (2008 a)

defende uma gradação para medir a produtividade dos processos constituídos por eles, dos mais

produtivos aos menos produtivos. Ralli (2008 a) atesta que essas composições possuem

especificidades que as distinguem das formações vernaculares; entretanto, ressalta que aquelas estão

integradas ao sistema de composição da língua, sendo produtivas, embora em um grau menor que as

composições vernaculares.

4.2. Petropoulou (2009)

Petropoulou (2009) investiga a estrutura dos compostos neoclássicos em Inglês,

considerando o estatuto de seus elementos constituintes, comparando-os com compostos do Grego

Moderno. A autora defende que, nos compostos neoclássicos em Inglês, os componentes em

posição final sofrem influências das propriedades categorias da língua de origem, limitando as

combinações das quais participam.

Petropoulou (2009) observa que o assunto levanta inúmeras questões, entre elas a de

incorporação dos elementos originários do Grego Clássico e do Latim ao sistema de formação de

palavras nativas da língua em que aparecem, já que formações constituídas pelos chamados

arqueoconstituintes (GONÇALVES, 2011b) são produtivas.

A autora (op. cit.) elenca algumas das várias classificações que os formativos desses

compostos recebem: 'Raízes clássicas', '(Bound) Stems - Radicais presos', ‘Afixos’, ‘Afixoides’,

‘Formas Combinatórias (Inicial/Final), ‘Confixos’, e cada um desses termos corresponde a

diferentes análises aplicadas às construções das quais participam. Contudo, Petropoulou (2009)

argumenta que é possível identificar características comuns entres esses compostos e,

consequentemente, realizar uma descrição com o objetivo de criar generalizações.

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Antes mesmo de descrever o que chamará de neoclássico prototípico, a autora (op.cit.)

mostra por que as classificações dadas acima aos formativos de origem clássica não são pertinentes.

Os neoclássicos constituem-se de morfemas do Grego Clássico e do Latim que, normalmente, não

têm livre curso na língua tomadora. Petropoulou (2009) destaca as exceções a essa afirmativa, pois

há formas livres, que chegaram às línguas via empréstimo, conectadas morfologicamente a esses

formativos. Um exemplo dado pela autora (2009) é o da palavra history (história) e do elemento

histori(o) que aparece no composto historiography (historiografia), os quais, embora tenham a

mesma origem, apresentam distribuição diferente na língua.

Segundo Petropoulou (2009), outro fator relevante é a classificação do termo como

“morfema”, já que essa escolha conduz a uma perspectiva. De acordo com essa orientação, os

elementos neoclássicos poderiam ser reconhecidos como afixos, sendo divididos entre prefixos

(micro-, hydro-, bio-) e sufixos (-(o)logy, -graphic, -logic, -pathic), ou raízes de fronteira, o que

daria origem a um novo conjunto de afixos, a exemplo de -y, -ic, -ical, -er, que se adjungem ao

radical preso graph. Conforme a autora (2009), o termo forma combinatória ou confixo (no

Francês) abrange elementos com características totalmente diferentes, tais como econo-, cyber-,

bio-, Euro-, formas combinatórias iniciais e -nography, -(a)holic, -(a)thon, -gate, -phobia e -logy,

formas combinatórias finais.

Petropoulou (2009) apresenta os problemas que envolvem uma dessas escolhas. O estatuto

de afixo, logo rejeitado, traz alguns problemas, uma vez que: a) afixo não pode ser prefixo e sufixo

ao mesmo tempo, como em hydrophobe vs. phobia; b) afixos não se combinam entre si, como

ocorreria, entre outros exemplos, em biography, caso bio- e -graphy fossem classificados como

afixos, formando uma palavra somente com afixos; e c) esses formativos possuem maior densidade

semântica que os afixos. Portanto, assume posição análoga à de Bauer (1988), discutida a seguir,

em 4.5.

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Semelhanças relacionadas ao posicionamento dos formativos nas construções são percebidas

no Português. Se a posição sistemática fosse o fator para classificar os elementos neoclássicos,

agro-, agri-, bio-, eco-, petr(o)- seriam classificados categoricamente como prefixos; por sua vez, -

latra e -metro seriam sufixos. Todavia, esse fator não é suficiente, embora se reconheça a similitude

entre esses elementos e os afixos. A categorização como afixo sujeitaria os elementos neoclássicos

do Português às mesmas restrições que as elencadas por Petropolou (2009): em “a” (métrico;

centímetro), “b” (agrômetro, geógrafo) e “c”, haja vista a extensionalidade de agro- nas novas

formações.

Para a autora (2009), a classificação ‘forma combinatória’ abrange elementos distintos,

encontrados em vários contextos morfológicos, tais como as formas decorrentes de cruzamentos ou

de truncamentos vocabulares, a exemplo de Euro- ou -(a)holic. A possibilidade de os constituintes

dos compostos neoclássicos estabelecerem diferentes relações entre si, uma vez que se combinam

uns com os outros e também com formas livres nativas (por exemplo, microcomputer,

filmography), aproxima-os das formas combinatórias. Isso poderia ser um impedimento, de acordo

com Petropoulou (2009), para formação de uma categoria própria, peculiar, para a composição

neoclássica.

Dessa maneira, Petropoulou (2009) sugere, em termos categoriais, que os elementos

neoclássicos posicionam-se em algum lugar entre as palavras nativas e as não-nativas, entre as

simples e as complexas, as truncadas e as não-truncadas, flutuando entre categorias. Portanto, forma

combinatória seria uma classificação mais precisa, pois abarca todos os contextos em que o

elemento possa aparecer. Contudo, Petropoulou (2009) salienta que uma grande quantidade de

palavras constituídas com elementos de línguas clássicas compartilham características muito

semelhantes, podendo, por isso, formar uma classe própria, a de compostos neoclássicos. O critério

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para pertencer a essa classe pode ser a gradação com que determinada palavra apresenta elementos

de origem clássica, tendo como referência o protótipo da composição neoclássica.

A autora assume como composição neoclássica prototípica aquela em há pelo menos duas

raízes de origem grega ou latina, uma das quais podendo ser livre. A composição ao ser submetida

ao processo de derivação, o resultado será um composto neoclássico derivado (biolog+y = biology;

geograph+er = geographer). Com relação ao status morfológico, nessa análise, os elementos de

compostos neoclássicos são considerados radicais presos, ao invés de afixos ou formas

combinatórias. A abordagem incorpora duas características muito importantes: a) o reconhecimento

de um status nominal para os radicais presos, uma vez que há compostos neoclássicos que

pertencem à categoria nominal, sem conter qualquer sufixo nominalizador e b) a existência de um

elemento de ligação (-o- ou -i-) entre os elementos combinados, originalmente, uma vogal temática

que passou a marcador composicional na língua de procedência, embora essas características não

sejam consensuais.

Antes de descrever os compostos neoclássicos em Grego Moderno, Petropoulou (2009)

ressalta que os constituintes dos compostos neoclássicos prototípicos têm ultrapassado os limites da

composição neoclássica prototípica, aparecendo em novos contextos e desempenhando novos

papéis. No entanto, a autora (op. cit.) presume que os critérios acima sejam suficientes para dar

conta da maior parte dos chamados compostos neoclássicos em Inglês e em Grego Moderno.

Igualmente, o mesmo pode ser notado em nossos dados, a exemplo de agromoda,

agroportal, agroservice, agroboy, agrotv, em que a forma agro-, um neoclássico, combina-se com

vários tipos de bases: palavras nativas, empréstimos já consagrados pelos uso e siglas, formas que,

em nossa análise, podem ser chamadas de compostos neoclássicos não prototípicos.

A autora (op.cit.) define os compostos neoclássicos como internacionalismos. Termo usado

mais como uma descrição pragmática das palavras morfofonologicamente semelhantes, existentes

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em diferentes línguas e formadas por elementos oriundos do Grego Clássico e do Latim. Essas

palavras expressam o mesmo conceito independentemente do idioma. Na maioria das línguas

europeias, esses radicais presos foram reconhecidos como elementos aprendidos que ressurgiram do

passado, por pressão de determinadas necessidades sociais e culturais comuns a diversas nações

heterofalantes, especialmente em decorrência da necessidade de expressar conceitos científicos.

Petropoulou (2009), em seguida, apresenta duas possíveis classificações dadas a esses

constituintes em Grego Moderno: sufixo ou radical preso. Adotando a classificação de radical

preso, a autora traça um paralelo entre compostos neoclássicos em Inglês e em Grego Moderno, a

fim de identificar características estruturais e semânticas dos primeiros. Mostra que os componentes

finais dos compostos, ou seja, os radicais presos de origem clássica, dependendo da categoria

morfológica de seu radical, podem ter características verbais ou nominais, o que impõe certas

limitações nas combinações e determina a estrutura dos compostos que formam. Identifica como

compostos neoclássicos prototípicos em Inglês: os compostos neoclássicos deverbais, constituídos

por radicais presos com propriedades verbais em posição final, a exemplo de: -vorus em

herbivorous (aquele que se alimenta de erva), e compostos neoclássicos determinativos –

atributivos ou subordinativos, constituídos por radicais presos com características nominais em

posição final, dividindo-os em compostos endocêntricos, como thermometer (instrumento de

medição de temperatura), e exocêntricos, por exemplo astronaut (aquele que viaja pelo o espaço).

Portanto, para a autora (2009), compostos neoclássicos prototípicos são palavras

constituídas apenas por elementos de origem clássica, em contraste com "formações híbridas", que

são combinações de elementos nativos e clássicos, como queenomania (obsessão pela banda

Queen) ou microcomputer (microcomputador)

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4.3. Panocová (2012)

Panocová (2012), à semelhança de Petropoulou (2009), tem como foco as propriedades

morfológicas das formações neoclássicas em Inglês, mas diferentemente desta autora, não

estabelece comparações dessas formações em diferentes línguas. Em suma, evidencia o estatuto

morfológico dos constituintes neoclássicos como responsável pelo reconhecimento do processo

morfológico que subjaz a essas construções. Segundo a autora (2012), as respostas para essas

questões resultam do referencial teórico adotado. Panocová (2012) utiliza o tratamento dado pela

Fonologia Lexical de Kiparsky (1982) e compara-o com o Modelo Onomasiológico de Formação

de Palavras de Štekauer (1998).

Para a autora, formações neoclássicas são aquelas que consistem de elementos gregos ou

latinos que, normalmente, não ocorrem como itens independentes. Muitas destas palavras

morfologicamente complexas não têm equivalentes no vocabulário do Grego Clássico ou do Latim,

por serem frutos dos avanços científicos da modernidade, segundo Panocová (2012), o que torna o

processo produtivo.

Panocová (2012) assevera que os diferentes quadros teóricos, que orientam as pesquisas

sobre o assunto, têm levado a distintas respostas acerca do estatuto morfológico dos constituintes

das formações neoclássicas: formas combinatórias, afixos, radicais. Portanto, ainda não há uma

resposta consensual sobre o assunto.

A autora (2012) compara dois modelos teóricos: a Fonologia Lexical e a Teoria

Onomasiológica de Formação de Palavras. A primeira baseia-se na suposição de que as regras

morfológicas e fonológicas são encontradas no léxico, no qual estão hierarquicamente organizadas

em níveis. Cada nível pode ser caracterizado por um conjunto particular de regras morfológicas e

fonológicas. No entanto, observa que essa abordagem apresenta limitações. O segundo modelo,

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adotado pela autora, a Teoria Onomasiológica de Formação de Palavras, preconiza os seguintes

princípios:

a) a formação de palavra é um componente independente, separado do componente lexical

e do sintático;

b) as regras de formação de palavras são consideradas produtivas e regulares;

c) a teoria onomasiológica de formação de palavras baseia-se no léxico;

d) a natureza bilateral de signos linguísticos é tônica;

e) a comunidade de fala desempenha um papel crucial no processo de nomeação;

f) a terminologia tradicional dos processos de formação de palavras, tais como a

prefixação, sufixação, composição, cruzamento vocabular, etc. é rejeitada e substituída

pelos chamados tipos onomasiológicos;

g) a noção de base em formação de palavras é central.

Panocová (2012) utiliza os dois modelos para a análise da formação neoclássica, tomando

como exemplo a palavra colonoscopic, e conclui que a abordagem onomasiológica oferece mais

vantagens quando comparada à fonologia lexical. No primeiro, o estatuto do constituinte

neoclássico é irrelevante para análise e, consequentemente, não se faz uma distinção entre os

processos (composição e derivação), ou mesmo da combinação de ambos, sendo nomeadas as

formações neoclássicas de tipos onomasiológicos. Já na Fonologia Lexical, a análise de

colonoscopic depende da determinação do status de elementos neoclássicos e há uma definição

precisa do processo de formação de palavras.

Segundo a autora, o modelo de Štekauer não precisa introduzir quaisquer outros princípios

para explicar a formação neoclássica; já no modelo de Kiparsky, é necessário fazê-lo para explicá-la

a formação neoclássica e, nem mesmo, outras modificações adicionais cobrem todos os casos. Com

base na análise, Panocová (2012) conclui que o modelo onomasiológico de formação de palavras de

Štekauer parece ser mais vantajoso para descrever a formação de palavras neoclássicas em Inglês,

pois há um componente separado para a formação de palavras, para o léxico e para a sintaxe. Esses

três componentes estão correlacionados e, juntos, constituem a linguagem. O componente de

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formação de palavras consiste em níveis semânticos, onomasiológicos, onomatológicos e

fonológicos que preenchem a lacuna entre significado e forma.

4.4. Lüdeling (2006)

Lüdeling (2006) aborda aspectos já discutidos nos demais artigos apresentados

anteriormente, tais como o conceito de neoclássico, o estatuto dos elementos que constituem a

formação neoclássica e a produtividade. Ainda que brevemente, destaca questões históricas

relevantes para análise dessas formações, principalmente, em línguas que tiveram o Grego e/ou

Latim como língua mãe.

Lüdeling (2006) define formações neoclássicas, considerando a origem dos elementos

constituintes, ou seja, uma formação de palavras com elementos de origem grega ou latina. A autora

(op. cit.) destaca que, nas línguas europeias, a formação de palavras neoclássicas é encontrada 'ao

lado' da formação de palavras nativas. Nessas línguas, os elementos neoclássicos combinam-se

produtivamente uns com os outros (cf. automobile, morphology, hydrophobic) e com elementos

nativos. Esse também é o caso do Português, pois as formas neoclássicas podem, produtivamente,

combinar-se entre si, como a recente criação ortorexia (distúrbio alimentar caracterizado pelo

consumo compulsivo de alimentos considerados adequados), ou com elementos vernáculos, a

exemplo de hidromassagem (massagem à base de água).

Lüdeling (2006) destaca a importância política do Grego (parcialmente), e do Latim antes

mesmo do surgimento dos Estados. O Latim foi uma língua franca europeia e o idioma oficial em

muitos países por muitos séculos. Isso justifica a presença de elementos gregos e latinos nas línguas

europeias. Alguns estão desde a formação das línguas nacionais, sendo assimilados fonológica e

morfologicamente, o que dificulta a distinção com as palavras do vernáculo, a exemplo do inglês

market (mercado) do Latim mercatus, citado pela autora. Lüdeling (2006) assinala que tais

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elementos se comportam, na formação de palavras, apenas como elementos nativos. No entanto, os

constituintes das formações neoclássicas são elementos não totalmente assimilados em diferentes

línguas europeias.

A autora (op. cit.) ressalta que essas formações tornaram-se produtivas, nos séculos XVII e

XVIII, em muitos idiomas europeus. Na constituição das línguas vernáculas, houve um movimento

de afastamento do Latim como língua franca; contudo, a evolução das ciências promoveu a criação

de termos científicos com base em elementos clássicos. Portanto, segundo Lüdeling (2006),

palavras neoclássicas não são meros empréstimos, pois são formadas por novos mecanismos que

muitas vezes diferem da formação de palavras com radicais nativos. Como há muitos elementos,

palavras e mecanismos que são semelhantes em idiomas diferentes (às vezes chamados de

internacionalismos), há uma série de perguntas comuns que precisam ser esclarecidas pela teoria

morfológica. Estas dizem respeito ao status de elementos neoclássicos, à natureza de sua

combinação e à questão da sua produtividade.

A dificuldade pontuada pela autora a respeito da distinção entre formações venaculares e

neoclássicas, nota-se na palavra agricultura: a) termo técnico voltado para contexto específico; b)

mecanismo de formação de palavras diferentes da do vernáculo, e c) semelhança morfofonológica

entre palavras em diferentes línguas: agriculture (Francês); agricultura (Espanhol); agriculture

(Inglês). No entanto, a descrição feita no capítulo 2 mostra que a palavra foi herdada pelo Português

do Latim.

As atenções da autora voltam-se para aspectos morfológicos: o estatuto dos elementos

neoclássicos; a diferença entre esses e os elementos nativos; a classificação dos elementos

neoclássicos e a categorização do processo de formação. Lüdeling (op. cit.) observa que a noção de

'neoclássico' não é simplesmente uma noção etimológica e destaca as seguintes questões

envolvidas: a) o conhecimento ou desconhecimento etimológico do falante; e b) a entrada desses

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elementos na língua, que pode se dar via direta, tomado da língua de origem, ou indireta, entrando

para uma língua através de outras, como é o caso de agronomia, vinda do Francês para o Português,

visto na seção 3.2.

Logo, 'neoclássico' (ou 'latino' ou 'aprendido') refere-se a propriedades estruturais. Essas

diferenças estruturais podem ser fonológicas, morfológicas e morfofonológicas, ortográficas e,

ainda, referentes ao uso, mas essas propriedades contribuem apenas para identificar características

comuns dessas formações. Segundo a autora, as peculiaridades estruturais não conduzem a

categorias definidas, mas têm de ser vistas como dispositivo propulsor de classes similares.

Persistindo, assim, a dificuldade em classificar, de forma imperativa, tais elementos como afixos ou

radicais, Lüdeling ressalta que, semanticamente, eles se comportam como radicais, mas muitas

vezes só aparecem como formas presas. Exemplos disso são psych(o)-, hydr(o)-, morph(o)-, -

(o)phob, -(o)log. O mesmo se observa em todos os correspondentes portugueses dessas formas

oriundas do Grego Clássico.

Em seguida, a autora elenca as possíveis classificações que os elementos neoclássicos

podem ter devido ao seu comportamento flutuante: formativos, formas combinatórias ou confixos.

Lüdeling propõe como critério de identificação o traço preso e a seleção, descartando a distinção

radical-afixo, sendo, portanto, elementos neoclássicos os constituintes presos e os que não

selecionam elementos. Por conta disso, a autora apresenta outra possibilidade de classificação

desses elementos como formas truncadas ou abreviadas e não como elementos completos, cita o

exemplo de gastroguide (guia gastronômico), em que gastro- representa gastronomy

(gastronomia). O mesmo raciocínio valeria para a formação ‘agroboy’, em que -boy remete a

playboy, (“indivíduo rico ou que ostenta riqueza, geralmente ocioso e frequentemente jovem e

solteiro, e vida social intensa”) e agro-, a latifundiário (dono de grande propriedade rural), o que

torna essa formação um caso com muitas propriedades do cruzamento vocabular.

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Lüdeling (2006) descreve os processos de formação constituídos por elementos

neoclássicos, isto é, as possíveis relações desses com outros elementos morfológicos. A autora (op.

cit.) afirma que, embora haja peculiaridades pertinentes a cada língua, em geral, essas relações

apresentam características comuns: os radicais presos combinam-se entre si, como em telephone

(exemplo da autora); adjungem-se a afixos neoclássicos, a exemplo de morphologist, e ligam-se

também a elementos do vernáculo (agrobusiness). As formações híbridas são argumentos para a

distinção entre os processos de formação de palavras neoclássicas e os processos de formação de

palavras do vernáculo. Contudo, assevera que o quadro das relações não é tão simples e salienta

que, embora existam elementos neoclássicos bastante específicos quanto às suas restrições seletivas,

há outros que se combinam facilmente com elementos nativos. No Português, há elementos que

apresentam uma quantidade significativa de construções, combinando-se com elementos nativos.

Ferreira (2010) elencou 450 construções tele-X, Vivas (2012) levantou quase mil formações com

bio-.

A autora chama a atenção para um elemento de ligação, geralmente -o-, frequente entre os

constituintes das formações neoclássicas, mas que se faz presente também em formações híbridas

do Alemão. Ela destaca a dificuldade em estabelecer a relação estrutural dessa vogal, isto é, se está

ligado à base da direita ou da esquerda.

Por fim, Lüdeling (2006) sublinha que as diferenças estruturais descritas sugerem que os

compostos neoclássicos são constituídos por um processo distinto dos demais processos formadores

de palavras do vernáculo, posição assumida pelos autores arrolados e por estudiosos que se

dedicaram à questão em Português: Caetano (2010a), Gonçalves (2011b), Tavares da Silva (2013),

Oliveira (2013) e Pires (2014), entre outros, os quais esta pesquisa corrobora.

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4.5. Bauer (1998)

Embora tenha sido um dos primeiros a dedicar-se à questão, deixamos Bauer (1998) para

este ponto da análise justamente porque dele partiram várias das discussões previamente

apresentadas. Ele traz à discussão a classificação dos processos de formação de palavras em Inglês e

a necessidade de revisitá-los, contemplando a complexidade que os envolve, em vista de não haver

classes bem definidas, mas uma variedade de tipos que apresentam fronteiras difusas entre si. Para

analisar os processos de formação de palavras, o autor (op.cit.) propõe observá-las em um espaço

tridimensional: dimensão de palavras (1) simples-compostas; (2) nativas-estrangeiras e (3)

truncadas-não truncadas. Composição neoclássica é uma classificação dada a uma pequena seção

dentro desse espaço 3D. Há que se considerar as nuanças entre os membros periféricos e os

membros prototípicos das categorias.

Duas questões suscitaram a pesquisa de Bauer (1998): o conceito de produtividade e a

análise dos compostos neoclássicos. Embora o autor (op. cit.) restrinja suas observações ao Inglês,

ele acredita que alguns apontamentos tenham aplicação a outras línguas europeias. Bauer (op. cit.)

define os compostos do vernáculo como lexemas constituídos de dois ou mais radicais. O autor

seleciona, para efeitos de comparação com o Grego Clássico, as formações substantivo +

substantivo endocêntricas, tais como houseboat (casa flutuante), office desk (mesa de escritório).

Os elementos à direita são a cabeça, o núcleo da construção, em vários sentidos, talvez mais

obviamente na determinação das marcas flexionais de concordância para o composto como um

todo. Comportamento semelhante caracteriza o Português, uma vez que as composições de base

livre endocêntricas têm núcleo à esquerda e respondem pela informação de número: tubarões-

martelo, peixes-espada, homens-rã.

De acordo com o autor, há muitas semelhanças entre os compostos do Inglês e os do Grego

Clássico: a combinação substantivo+substantivo, embora não seja o padrão principal no Grego, é

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um modelo conhecido, como nos exemplos elencados pelo autor, anemo-mulos (moinho de vento),

melisso-keipos (colmeia), mutki-koraks (coruja). Bauer descreve que, nas palavras com ordenação

não-marcada, modificador + cabeça, o comportamento da palavra como um todo é determinado pela

natureza morfológica e semântica da cabeça. Há, no Grego, como no Inglês, em menor proporção,

uma gama de relações de significado entre os dois elementos do composto.

Compostos neoclássicos são palavras que se estruturam com esse modelo clássico de

formação e são constituídas por elementos, em geral, gregos e, ocasionalmente, latinos. Essas

palavras não foram formadas nas línguas clássicas, mas são formações mais recentes usadas em

línguas modernas. Têm em comum o elemento-cabeça do lado direito e são endocêntricas. Bauer

cita, entre outros exemplos, geology – study of the earth (estudo da Terra), photograph - drawing

made by light (imagem pela ação da luz).

Comportamento similar identifica-se entre os dados com agri- e agro-, destacando-se o

último, por ser uma forma produtiva. Agro- funciona, na maioria dos casos, como modificador, à

esquerda, seguindo o padrão clássico, e a cabeça à direita. A cabeça determina a categoria

morfológica e o significado essencial do produto, como em agroecossitema51 –– modificador +

cabeça (substantivo) = substantivo. Há poucos casos de cabeça à esquerda, a exemplo de

agroaçucareiro52 – formativo neoclássico + modificador (adjetivo) = adjetivo; no entanto, a

categorização é determinada pelo modificador. Por fim, registram-se, entre os dados, exemplos de

coordenação, como em agroambiental – concernente à produção agrícola e ao meio ambiente.

Significativo é o número de palavras nas quais agro- passa por uma ressignificação e, por

consequência, apresenta um número maior de formações exocêntricas, haja vista os exemplos

citados, agrovila, agrossocial, agrocanal, agromulher, agropesca.

51 (ecossitema artificial que se estabelece em áreas agrícolas) 52 (cultivo e industrialização de cana-de-açúcar)

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Bauer (1998) menciona a dificuldade em identificar o estatuto da vogal -o- que comumente

aparece entre os constituintes dos compostos neoclássicos em Inglês. O autor assevera que, no

Grego Clássico, o -o- era uma vogal temática, mas tornou-se gradativamente um elemento de

ligação da composição, desempenhando esse papel no Grego Moderno.

Bauer (1998) defende que há uma série de evidências para não denominar os compostos

neoclássicos de "compostos". Aqueles diferem dos compostos do Inglês por (a) terem um elemento

de ligação que não é encontrado nestes e (b) utilizarem radicais de línguas clássicas em vez de

vernaculares, mas, ainda sim, são palavras formadas, no Inglês, pela combinação de dois (ou mais)

radicais. No entanto, o autor observa que há palavras que não se encaixam nessa descrição. Um dos

problemas é a seleção dos elementos que se adjungem aos neoclássicos, que podem ser afixos ou

palavras, o que gera implicações na classificação destes e, consequentemente, do processo que

subjaz as formações constituídas por eles. O outro fator é a densidade semântica desses elementos,

fato que os aproxima dos lexemas. A dificuldade em classificar o estatuto desses formativos

desdobra-se na dificuldade em identificar o processo de formação de palavras que os acessa.

Em português, esse é um aspecto que diferencia os radicais neoclássicos de primeira posição

dos prefixos. Noções como “posição ou movimento no espaço”, “ausência, negação”, “oposição”,

“intensidade” e “repetição”, típicas de prefixos, diferem consideravelmente das veiculadas pelos

radicais neoclássicos, que são, nos termos de Ralli (2008 a), mais densos semanticamente:

expressam noções como agente (-nauta, em argonauta), luz (foto- em fotocromático) e apreciador

(-filo em cinéfilo), entre outros (GONÇALVES, 2012). Os exemplos a seguir confirmam o exposto

(GONÇALVES, 2012, p. 151): refazer (fazer novamente); subchefe (chefe substituto); bicampeão

(campeão duas vezes); sobrepeso (peso a mais); mega-show (grande show).

Outros tipos de formações são apresentadas por Bauer (1998), oriundas do cruzamento

vocabular entre formas encurtadas, morfêmicas ou não-morfêmicas, como em telethon = televison +

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marathon, que poderia ser classificado, de acordo com o autor, como um composto. Formas que são

difíceis de distinguir qual é o tipo de processo e os constituintes que estão em jogo, como Eurocrat.

Segundo Bauer, essa formação pode ser a junção de Euro com o formativo grego kratos “poder”,

ou cruzamento de European com bureaucrat, ou, ainda, como tecnofobia que pode ser formada por

radicais neoclássicos gregos, ou a junção de um elemento grego a uma palavra inglesa. O autor (op.

cit.) identifica também palavras cuja análise é clara, mas que misturam dois tipos de formação de

palavras, entre os exemplos citados, há gastrodrama (peça teatral em que o alimento é um

ingrediente importante) e Bauer (1998) sugere que gastro deve ser um recorte de gastronomy

(gastronomia).

Os compostos neoclássicos e os seus constituintes, conforme Bauer (1998), apresentam

outras combinações possíveis: os compostos neoclássicos admitem uma sufixação (gynocide + -al =

gynocidal) e, ainda, os elementos neoclássicos podem adjungir-se, concomitantemente, a diferentes

elementos. O autor toma como exemplo a palavra transgenic, formada pelo prefixo inglês de

origem latina trans-, a forma combinatória -gen- e o sufixo -ic, e conclui que a utilização de um

prefixo com uma forma combinatória faz dessa uma palavra particularmente notável, parecendo ser

uma harmonização entre um composto neoclássico e um derivado.

O autor defende a simbiose entre as formas do Inglês e as de origem clássica, as quais teriam

como diferencial apenas a origem e o elemento de ligação, que, segundo Bauer, em última análise, é

um formativo próprio de palavra em Grego, e não de palavras em Inglês. O autor (1998) visualiza

uma matriz bidimensional: no eixo horizontal, palavras simples a palavras compostas, e, no eixo

vertical, palavras com elementos vernaculares a palavras com elementos emprestados. No entanto,

essa descrição não engloba truncamentos e, por isso, uma terceira dimensão é fornecida por uma

gradação de palavras recortadas para não-recortadas, com etapas intermediárias fornecidas por

graus de encurtamento.

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As palavras são distribuídas em três dimensões já referidas: simples - derivada - composta;

vernácula - emprestada; e não-recortada ou ("inteira") – recortada. Esse espaço tridimensional, de

acordo com Bauer (1998), pode ser visto como uma série de 12 células, em uma matriz, cada uma

representando o cruzamento de três dos pontos marcados nas três dimensões; ou a partir das

posições extremas, considerando que as palavras podem distribuir-se entre os pontos.

O autor chama a atenção para questões que ficam em aberto nesse espaço 3D. A primeira faz

referência à dimensão “emprestada”, que, por não ser de ordem estrutural, não é relevante para o

Inglês. O mesmo pode ser notado em Português, língua em que o processo é produtivo. A origem da

palavra não interfere no uso.

Bauer (1998) destaca que essa observação pode ser feita para todos os processos envolvidos

na formação de palavras, pois não é necessário que o falante os conheça para fazer uso adequado

deles. Ainda que o falante não conheça outras línguas, pode reconhecer a estrutura das palavras por

meio da comparação com outras palavras emprestadas. Bauer (op. cit.) salienta que essas

informações não devem ser ignoradas, por não se conhecerem as consequências delas sobre a

análise. A segunda está relacionada à quantidade de tipos de formação de palavras não

contemplados, incluindo compostos neoclássicos, os quais são compreendidos como um subtipo de

processo.

O autor conclui a seção, defendendo que há muitos estágios intermediários nas três

dimensões, o que ratifica a hipótese de rearranjo dos processos em dimensões, ao invés de

categorias, e argumenta que parte da dificuldade em lidar com a identificação dos compostos

neoclássicos está numa classificação aristotélica, que pressupõe uma classe bem definida.

Bauer (op.cit.) esclarece que, embora sua análise tenha uma preocupação puramente

taxonômica, a proposta apresenta vantagens sobre as classificações tradicionais, pois contempla

uma variedade de tipos encontrados na língua em uso; permite relacioná-los a mais de um protótipo

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e identifica semelhanças entre os vários tipos de formações que podem ter sido previamente

obscuros. Com base nessas prerrogativas, o autor pretende avaliar se a classificação tridimensional

pode fornecer ou não subsídios para a produção de palavras.

Segundo o autor (1998), as regras de formação de palavras não se ajustam a esse modelo,

pois aquelas relacionam uma forma a uma classe. No modelo proposto, há uma única regra de

criação de palavras que direcionará para o espaço 3D, no qual qualquer nova palavra terá de ser

posicionada. Bauer (op. cit.) salienta que essa perspectiva muito diferente parece não ter apelo

direto à forma, pois a forma exata da nova palavra terá de ser determinada por fatores semânticos,

que estão além do âmbito normal de regras morfológicas. Essa abordagem, de acordo com o autor,

possui vantagens em termos de realidade psicológica, já que os falantes, diante de um dado novo,

podem lançar mão de seus conhecimentos prévios sobre o mundo ou sobre as línguas. Ainda que

um substantivo seja produzido considerando aspectos morfológicos e prosódicos adequados, isso

não ajuda o falante a nomear uma entidade, mas permite explicar a situação em que o falante está

inserido. Tal hipótese mostra algo sobre o uso de palavras emprestadas.

Apesar de haver morfólogos holandeses que neguem a produtividade com formações de

palavras estrangeiras, segundo Bauer (1998), há dados que provam o contrário. Diante dessa

contradição, salienta que é preciso repensar o conceito de produtividade ou encontrar justificativa

para esse paradoxo. Para o autor, a explicação passa pelo processo de criação, que é, em princípio,

individual, podendo ou não ser adotado por uma comunidade linguística.

O conhecimento particular do falante sobre sua língua e sobre outras pode influenciar na

criação. A comunidade vale-se de questões socioculturais ao adotar, em algumas situações, padrões

estrangeiros de formação de palavras; contudo, o uso sistemático desses padrões pode torná-los

pertencentes ao vernáculo. No nosso entendimento, Português e Inglês são línguas bastante

aproximadas no que diz respeito à incorporação da formação neoclássica como legítimo processo de

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formação de palavras, com estatuto próprio, independente da composição e da derivação, mas em

constante interação com eles, tendo em vista o espaço tridimensional da criação lexical.

O autor destaca que a mistura de padrões estrangeiro e vernáculo, por falta de conhecimento,

pode levar a criações como em television, formação criticada por mesclar elementos grego e latino.

Hamburger é exemplo de uma adoção equivocada de uma palavra alemã. A cunhagem, por

exemplo, de witticism (graça, humor), a partir do padrão de criticism (crítica), ignora a

inexistência, em Inglês, da palavra *wittic, como há (em relação ao discurso) critic (critico).

Bauer (1998) descarta a distinção entre produtividade automática e o tipo de produtividade

que pode não ser totalmente governada por regras (semiprodutividade, criatividade, analogia – os

termos não se sobrepõem exatamente, mas, de acordo com o autor, são usados em contraste com a

produtividade governada por regra automática). A diferença entre as duas formas de produtividade

são as frequências de utilização de padrões desiguais ou a facilidade de utilização diversa de vários

padrões. No entanto, ressalta que, se a frequência é um motivador fundamental, deve ser observado

que: (a) diferenças de frequência fornecem escalas, ao invés de distinções categóricas e (b)

diferenças nas frequências não refletem necessariamente as diferenças de tipo. Já se a facilidade de

uso é o motivador fundamental, outros fatores são evidenciados: (c) os processos morfológicos

mostram dificuldade gradual, e (d) alguns processos morfológicos podem ser difíceis de serem

usados em algumas ocasiões e fáceis em outras. Portanto, para a autor, as provas favorecem a noção

de que há uma escala gradual, que vai do mais produtivo ao menos produtivo, em vez de uma

divisão abrupta.

Segundo Bauer (1998), um princípio cognitivo geral ajudaria a responder à seguinte

pergunta: por que os casos prototípicos são os mais produtivos? A resposta pode estar na

transparência. Casos clássicos de prefixação, sufixação e composição nativa são exaustivamente

analisáveis em unidades recorrentes, de modo que têm um significado fixo (o morfema clássico, na

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verdade). Isso faz com que tais palavras não só sejam de fácil interpretação, mas também de fácil

formação. Junto com outros princípios, como a preferência por formações que não envolvem

mudanças morfofonêmicas, tais considerações restringem os padrões que podem ser maximamente

produtivos. No tocante à produtividade dos compostos neoclássicos, Bauer (op. cit.) aborda duas

questões: a) a existência dessa formação, uma vez que o quadro proposto pelo autor não a

contempla; e b) sua produtividade, pois, considerando sua existência, de acordo com morfólogos

holandeses, essa construção não seria produtiva por ser constituída por padrões estrangeiros.

De acordo com a abordagem apresentada, Bauer (1998) conclui que composição neoclássica

é um nome para uma subdivisão relativa, mas não completamente arbitrária do espaço da criação de

palavra e deve ser compreendida como um protótipo, em vez de uma categoria bem definida. A

nomeação da construção é necessária, em função do número, particularmente grande, de palavras

que podem ser encontradas com este padrão, ou seja, o modelo é utilizado para identificar uma parte

do espaço tridimensional definido para a criação de palavras. A resposta para a segunda questão

está imbricada com a definição de produtividade, pois os dados confirmam a existência de um

número considerável de palavras criadas nesse padrão. Portanto, para Bauer (op. cit.), o modelo

apresentado sugere que não é possível traçar uma linha rígida entre o potencial criativo dos

compostos neoclássicos e outros tipos de formação de palavras, uma vez que todos são produtos

diferentes de uma mesmo processo. Como tal, é um desafio para aqueles morfólogos que desejam

estabelecer distinções em termos de produção de palavras consciente versus subconsciente.

4.6. Amiot e Dal (2007)

Amiot e Dal (2007) discutem os processos de formação de palavras que envolvem as formas

combinatórias neoclássicas ou clássicas (FC), tais como -anthrop-, -logue, (anthropologue) e lud-

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(ludothèque). As autoras partem do pressuposto de que os elementos neoclássicos são formas

combinatórias e identificam quatro propriedades dessas FCs:

1) lexematicidade em línguas de origem: em Latim ou Grego, eram geralmente lexemas

com palavras gramaticais associadas;

2) ausência de realização sintática na língua-alvo;

3) tipo de vocabulário que serve para formar: geralmente, as palavras complexas

constituídas de FC parecem pertencer ao vocabulário utilizado em campos científicos ou

técnicos: medicina, geografia, antropologia etc;

4) presença de uma vogal de ligação (o ou i) entre os dois componentes no contexto

fonológico / ... CfCi ... / onde Cf e Ci são consoantes em posição final do primeiro

constituinte e posição inicial do segundo componente, respectivamente.

As autoras observam que, embora tais propriedades possam sugerir uma homogeneidade na

classe, os elementos apresentam comportamento bem diverso, o que dificulta o estabelecimento de

posição na construção, se final ou inicial, haja vista os exemplos das autoras: anthropophage

(antropofagia), africananthrope (fóssil de pré-homídeo descoberto na África Oriental); somente

em posição inicial: microorganisme (microorganismo); microampère (milionésima parte de um

ampère), ou apenas em posição final: omnivore (onívoro) , publivore (devorador de publicidade).

Amiot e Dal (2007) expõem diferentes critérios utilizados na análise das FCs neoclássicas:

a) a natureza vinculada a esses elementos, se sua posição é fixa ou não; b) a sua natureza semântica

(lexical ou gramatical); c) suas propriedades fonológicas. Os critérios levam, de modo geral, a

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quatro resultados principais: (i) FCs neoclássicas são afixos, (ii) raízes/radicais53, (iii)

raízes/radicais em alguns casos e em outros afixos, (iv) não são afixos nem raízes.

A comparação entre os compostos neoclássicos e compostos do vernáculo pode evidenciar

as diferenças ou as semelhanças, como salientam as autoras. Entre as diferenças, Amiot e Dal

(2007) elencam as propriedades combinatórias, fonológicas e a presença da vogal de ligação entre

os dois elementos, distinguindo os compostos neoclássicos dos compostos do vernáculo. As

semelhanças, entre outros fatores, pautam-se no compartilhamento entre as propriedades das FCs e

dos afixos ou lexemas.

As autoras propõem uma análise a partir da morfologia lexemática, adotando o conceito

clássico de lexema como uma unidade lexical abstrata que possui as seguintes propriedades:

(i) pertence a uma lista aberta e é membro de uma grande categoria lexical, ou seja, é um

substantivo, um verbo ou um adjetivo. Às vezes, a categoria de advérbio é adicionada.

Advérbios especialmente complexos com base em adjetivos, por exemplo, em Francês, a

classe de advérbios com sufixo –mente.

(ii) semanticamente, um lexema tem um significado constante e totalmente especificado.

(iii) um lexema tem uma representação fonológica.

Em relação ao modelo teórico, as autoras destacam que a morfologia lexemática contempla:

as fases de transição pelas quais um lexema passa a afixo na evolução diacrônica, porque os

lexemas e os expoentes de regras (afixos) são concebidos para ser de natureza diferente. Nos casos

de micro- e -logue, a análise não levanta quaisquer problemas particulares, porque esses dois

53 “In the presentation of the previous approaches, we do not distinguish between the two terms, which are often used as

equivalent by the authors we refer to.” (AMIOT e DAL, 2007, p. 324).

“Em abordagens anteriores, não se faz distinção entre os dois termos, que são muitas vezes utilizados como

equivalentes pelos autores que se referem” (tradução nossa)

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elementos são bem gramaticalizados como prefixo e sufixo, respectivamente, mas isso nem sempre

acontece: por exemplo, com FCs como -cide, -vore ou -phage, que compartilham algumas

características com lexemas e outras com afixos, uma clara categorização não é facilmente

identificável.

4.7. Pontos de Convergência entre as Propostas

As propostas de interpretação para a composição neoclássica aqui arroladas levam a

diferentes respostas sobre o estatuto desse “processo de formação”; contudo, é possível identificar

pontos convergentes no que concerne (1) à dificuldade em definir um status para os constituintes

das construções neoclássicas, em função de englobar elementos etimologicamente comuns, mas

que, na atual sincronia das línguas (Inglês, Francês, Grego, Alemão), têm características gramaticais

distintas uns dos outros. Mesmo as propostas que classificam esses elementos como formas

combinatórias apresentam limitações, uma vez que essa categorização abrange elementos distintos

tanto em relação à origem (splinters54, encurtamentos) quanto ao comportamento morfológico

(posição na estrutura, forma livre/ forma presa); (2) ao reconhecimento das diferenças estruturais

entre as composições vernaculares e as composições neoclássicas, que possuem, a depender da

língua, maior ou menor ponto de convergência.

Ralli (2008 a), por exemplo, afirma que a diferença entre as formações neoclássicas e as do

Grego Moderno é só a natureza dos seus constituintes; (3) à formação de novas palavras, ou seja, se

a construção é produtiva considerando uma gradação entre composições do vernáculo e as

neoclássicas. A produtividade está diretamente relacionada à capacidade que os formativos

54 Segundo Bauer (2005, p. 104), splinter é o fragmento de uma palavra usado repetidamente na formação de novas

palavras, ou seja, é uma partícula não morfêmica formada por cruzamento vocabular, com a qual se criam novas

palavras.O termo foi cunhado por J.M. Berman em "Contribution on Blending",1961, de acordo com Bauer (op. cit.)

Exemplos: fran- em frambúrguer (frango + hambúrguer); franfilé (frango + filé); e -nese); macarronese (macarrão +

maiones), ovonese (ovo+ maionese)

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neoclássicos possuem de adjungirem-se a elementos morfológicos do vernáculo; e (4) à necessidade

de analisar as construções constituídas por neoclássicos via protótipos, porque, além das diferenças

existentes entre composição neoclássica e composição nativa, há uma heterogeneidade no

comportamento das construções neoclássicas.

As propriedades estruturais não definem categorias, mas grupos de elementos similares

(LÜDELING, 2006) e auxiliam no reconhecimento das construções prototípicas, formadas por dois

radicais clássicos; entretanto, as discussões sobre o assunto encontram maior motivação nas novas

formações, nas quais se combinam elementos neoclássicos e elementos do vernáculo, que fogem

aos critérios, como os propostos por Amiot e Dal (2007), o que pode ser notado em agrogestão,

agrobanditismo. Petropoulou (2009) defende que, embora haja uma flutuação dentro da categoria, é

possível identificar semelhanças que possibilitem postular a existência de uma classe própria.

Vale ressaltar que as construções neoclássicas prototípicas diferem mais ou menos das

composições vernaculares, uma vez que não só a forma, mas também o processo de composição

clássico foi adotado. Portanto, o conceito de composição foi transferido, ainda que na língua

tomadora os elementos tenham se tornado formas presas. O critério da lexematicidade (AMIOT e

DAL, 2007) ratifica esse comportamento.

Os neoclássicos não formam um conjunto homogêneo; logo, a classificação categórica dos

formativos como afixos ou radicais implica contradições, pois há formativos com mais

características de sufixo, como -logo, -dromo, -grafo, -metro (GONÇALVES, 2011 a), e outros com

mais características de radical, como antropo- (GONÇALVES, 2011a), mesmo entre os compostos

neoclássicos prototípicos.

As várias designações que o formativo recebe indicam as características mais salientes do

formativo: afixoides, semiafixos, pseudoafixos são denominações que os aproximam dos afixos e,

consequentemente, do processo de derivação. Já os termos raízes de fronteira, raízes neoclássicas,

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radicais presos, identificam-no com os radicais e, por conseguinte, constituintes do processo de

composição.

Bauer (1998) e Amiot e Dal (2007) propõem analisar os compostos neoclássicos como

protótipos. Os autores sugerem um continuum entre compostos do vernáculo e compostos

neoclássicos. Esse continuum contempla as nuanças da construção no que tange às semelhanças

entre os dois polos, mas, como indicam Caetano (2010a), Gonçalves (2011a) e Andrade (2013),

esse é o meio do caminho, pois há semelhanças com os afixos que apontam para um outro polo, a

derivação.

A descrição dos autores referenciados ao longo do capítulo, ainda que fundamentada por

diferentes perspectivas teóricas, mostra características consensuais: essas formações são diferentes

das composições vernaculares nas diferentes línguas e podem combinar-se a elementos nativos;

estão passíveis de encurtamento e de ressignificação; e possuem uma vogal intermediária.

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5. AGRO- E AGRI- ENTRE OS COMPOSTOS NEOCLÁSSICOS E A RECOMPOSIÇÃO

A classificação de agro- e agri- como radicais neoclássicos demanda reconhecê-los com

algumas características. Como vimos no capítulo precedente, Lüdeling (2006) elenca propriedades

estruturais específicas para distinguir compostos do Alemão dos compostos neoclássicos. Já Amiot

e Dal (2007) sugerem critérios mais gerais, aplicáveis a diferentes línguas na análise dos chamados

internacionalismos (LÜDELING, 2006). Por isso, esses critérios serão utilizados para diferenciar os

compostos neoclássicos prototípicos com agro- e agri- das demais construções com esses

formativos: a) lexematicidade; b) ausência de realização sintática na língua alvo; c) tipo de

vocabulário que formam: técnico ou científico; d) presença de uma vogal de ligação -o- ou -i-.

Acrescentam-se a esses critérios o proposto em Gonçalves (2011b), tipo de significado que

atualizam – se se comportam mais como morfemas lexicais do que como gramaticais, e o proposto

por Higino da Silva (2012, p.54): significado original latino55 ou grego56 dos formativos, visto que

na recomposição adquirem novo sentido. Sugerimos também a combinação entre radicais clássicos.

Satisfazem a esses critérios as formas complexas agricultura (séc. XV); agrícola (1635);

agrimensura (1784)57, agrografia (1871), diferentemente de agrimensor (1795); agrônomo (1818),

agrógrafo (1871), agrólogo (1913), pois nessas palavras os sentidos de agri- e de agro- estão

relacionados à especialidade indicada pela base à direita. Em agrobanditismo (ação de bandidos no

campo), palavra não dicionarizada coletada do Google, de registro mais recente, agro- significa

campo, semelhante aos compostos neoclássicos prototípicos. Embora a origem (grega ou latina) das

55De acordo com Lewis e Short (1955) ager pode significar campo, solo, terra, terreno cultivado, território, opondo-se

à cidade; pode significar também “medida de comprimento”, “território”.

56 Segundo Chantraine (1968), agro pode significar campo, terreno, pasto, campo não cultivado.

57 O Breve Diccionario Etimológico de la Lengua Castellana, de Joan Corominas (1961[1998]), registra agrimensor e

agrimensura com entrada no Espanhol em 1740.

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bases seja um dos critérios para identificação dos compostos neoclássicos, o último exemplo afasta

o termo da classificação por não ser o segundo elemento um radical erudito, banditismo. O

formativo agro- adjunge-se a outras formas livres do vernáculo (agro- + turismo, agro- + tóxico,

agro- + energia), em discordância com o último critério.

As palavras criadas mantêm-se no domínio cognitivo de campo, mas algumas não têm o

caráter técnico ou científico, como agrocanal (emissora de televisão online), agrotv e agromoda.

Compreende-se vocabulário técnico ou científico aquele utilizado por uma área específica do

conhecimento. Todavia, palavras com um teor técnico são criadas, mas mesclando agro- com

palavras do vernáculo, a exemplo de agroclimático, agropastoril, agroflorestal. Em todos os

exemplos, agro- funciona como um verdadeiro morfema lexical.

Não foi feita a mesma análise para agri-, porque novas construções com o formativo não

foram encontradas. No entanto, todas preservam o significado original, e a única que se combina

com uma palavra é agricultura, que veio diretamente do Latim para o português, como tivemos

oportunidade de destacar no capítulo 2.

A vogal de ligação, -o-, típica dessas construções, está presente nos compostos neoclássicos

prototípicos e nas construções híbridas. A vogal -i-, no corpus analisado, restringe-se às construções

mais antigas, porém realiza-se em novas palavras como baraticida, cacauicultura. O papel dessa

vogal será discutido no capítulo 6.

Os significados instanciados por agro- são outro ponto de inflexão na categorização do

formativo. A construção do significado de alguns desses itens lexicais passa pela composição entre

os significados das bases que os constituem. Essa composicionalidade é gradiente, uma vez que há

significados mais transparentes e outros mais opacos. Os termos abaixo são formados por base

presa + base livre. As bases livres dessas construções possuem alta frequência de uso na língua,

conferindo às palavras maior transparência:

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15) agroexportador – “diz-se da empresa, instituição, país, especializado em produzir gêneros

agrícolas para exportação.” (http://www.dicionarioinformal.com.br/);

16) agroecologia – “estudo que visa à integração equilibrada da atividade agrícola com a

proteção do meio ambiente.” (AURÉLIO);

17) agrobanditismo – “ações de bandidos no campo” (GOOGLE).

Já o significado técnico das bases presas à direita das formações de (18) a (20) é menos

transparente; no entanto, é possível acessar seus significados, pois -metro remete à unidade de

medida, -grafo reporta-se à palavra grafia (escrita) e -logia é forma produtiva utilizada para referir-

se a estudo de determinada área, como demonstrado por Rondinini (2009), ou seja, isso não

compromete a analisabilidade, pois é estabelecida uma rede de associação entre as palavras

(BYBEE, 2010), como vimos no capítulo 1, mais especificamente em 1.7.

18) agro + metro = agrômetro – “instrumento usado para fazer agrimensura.” (HOUAISS);

19) agro + logia = agrologia – “ramo da agricultura ligado ao estudo dos solos” (HOUAISS);

20) agro + grafo = agrógrafo – “especialista na descrição dos campos” (HOUAISS).

De forma semelhante, as palavras a seguir, embora vindas do Latim, do Grego e do Francês,

permitem a isolabilidade dos seus constituintes, pois têm formas correlatas em Português. Os

vocábulos são formados por bases presas à direita com significados técnicos com menor frequência

de uso na língua que as citadas em (18), (19) e (20), tornando as formações mais opacas.

21) agrimensor – do Latim – “que ou quem está legalmente habilitado para medir, dividir e/ou

demarcar terras ou propriedades rurais.” (HOUAISS);

22) agromancia – do Grego – “suposta arte de adivinhar pelo aspecto dos campos.”

(HOUAISS);

23) agronometria – do Francês – “ramo da agronomia que tem por objetivo avaliar a

capacidade” (HOUAISS).

O fato de agro- assumir diferentes significados, motivado por uma metonímia, como

descrito até o momento, relaciona-o à recomposição, nos termos de Gonçalves (2011b, p. 19) e

Gonçalves e Andrade (2012, p. 134): a recomposição é “uma metonímia formal (de um

arqueoconstituinte), (que) assume o significado do composto de que era constituinte e atualiza esse

conteúdo especializado na combinação com novas palavras”.

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Na recomposição, os formativos guardam semelhanças com radicais e afixos, sendo, por

isso, nomeados por Gonçalves e Andrade (2012, p. 135) de afixoides. Segundo Sandmann (1989, p.

105), eles são elementos intermediários que estão entre a composição e a derivação. De acordo com

Booij (2005),

Um afixoide é um lexema que ocorre em um subesquema de compostos em que a

outra posição ainda é uma variável, sem uma especificação lexical. Tais esquemas

são intermediários entre compostos concretos individuais e esquemas totalmente

abstratos para estruturas compostas. O significado específico e recorrente de um

lexema na estrutura do composto é especificado neste nível intermediário. (BOOIJ,

2005, p. 130)

Gonçalves e Andrade (2012, p.135) apresentam alguns pontos de interseção dos afixoides:

a) são extremamente aplicáveis em Português, aproximando-se dos afixos e, logo, da derivação; b)

realizam-se em palavras prosódicas diferentes na construção; c) apresentam paridade entre forma

truncada e forma plena, como em homo que evoca homossexual, e d) são sensíveis à regra de

redução de coordenação para frente (FCR), a exemplo de agro e eco-negociação, identificando-se

com radicais e, portanto, deslocando-se para a composição.

Nos exemplos (24) e (25), agro- assume o sentido de agricultura; em (26), propriedades

rurais; e, em (28), produtos agrícolas, aproximando o formativo dos afixoides e do processo de

recomposição. Porém, os significados sintetizados não aludem à forma encontrada na

recomposição, uma vez que o formativo à esquerda é agro- (e não agri-):

24) agrogeologia (1949) – ciência que trata da constituição física e química do solo em relação à

agricultura. (HOUAISS)

25) agroquímica (séc. XX) – estudo, técnica e prática da química destinados à agricultura.

(HOUAISS)

26) agroturismo (s/ data) – tipo de turismo caracterizado por visitas a propriedades rurais e a

seus arredores. (GOOGLE)

27) agroexportação (s/ data) – exportação de produtos agrícolas. (HOUAISS)

Nas palavras de (24) a (27), há uma ressignificação: ora o radical grego adota o significado

das palavras latinas agricultura e agrícola, uma vez que não foi encontrado vocábulo de origem

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grega (cf. nota 63) para referir-se ao cultivo da terra, ora condensa um significado para além do

sentido prototípico; todavia, não há, nessas relações, coerência entre a parte formal do encurtamento

e da palavra original, não sendo possível analisá-los por meio do conceito de Monteiro (1986, p.

170), “recomposição é um processo associado à composição (...) que ocorre quando apenas uma

parte do composto passa a valer pelo todo e depois se liga a outra base, produzindo uma nova

composição”, nem de Gonçalves (2011b, p. 19) e Gonçalves e Andrade (2012, p. 134): “nas

formações recompostas um arqueoconstituinte (designação mais neutra para radical neoclássico),

por meio de uma metonímia formal, assume o significado do composto de que era constituinte e

atualiza esse conteúdo especializado na combinação com novas palavras.” Apesar disso, há nesses

complexos morfológicos, de fato, uma metonímia – “processo cognitivo em que uma entidade

conceitual, o veículo, fornece acesso mental a outra entidade conceitual, dentro do mesmo domínio”

(KöVECSES; RADDEN, 1998, p. 39).

O encurtamento e a nova significação assumida por agro-, em palavras como agrogeologia

e agroexportação, não foi classificado como truncamento, uma vez que a forma resultante do

encurtamento não pode ser “escaneada” das palavras-fonte agricultura e agrícola, pois há alteração

da vogal do vocábulo (originalmente -i-, passando a -o-). A mudança da vogal é algo extremamente

relevante (e instigante), tanto do ponto de vista histórico quanto morfológico, já que há dois

formativos em concorrência, agri- e agro-. Entretanto, nota-se, no encurtamento, que o formativo

que assume o significado do todo contém uma vogal diferente em sua constituição, aspecto a ser

considerado na recomposição (MONTEIRO, 1986; OLIVEIRA: GONÇALVES, 201058),

Warren (1990, p.119) propõe o conceito de secretion, processo no qual as unidades

linguísticas que sofrem truncamento conservam alguns elementos semânticos e descartam outros.

(58) OLIVEIRA, P. A.; GONÇALVES, C. A. V. O processo de recomposição e os formativos eco- e homo- no português

brasileiro: compressão semântica e análise estrutural. In: Cadernos do NEMP. Rio de Janeiro: UFRJ, 2010. v. 2. p. 171-

182.

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As palavras passam por um encurtamento na forma e no conteúdo, tornando o truncamento

semanticamente incompleto e, por isso, precisando ser preenchido. Essa é uma análise possível para

o comportamento das palavras ilustradas entre (24) e (27).

No entanto, reanalisando o processo, poderíamos propor um novo conceito para secretion,

processo no qual as unidades linguísticas passam por metonímia formal e semântica, havendo um

encurtamento na forma e uma seleção de sentidos no conteúdo, ativando um e desativando os

demais significados da forma truncada. A base livre adjungida à forma truncada provocaria o ajuste

focal (LANGACKER, 1987), capacidade humana de direcionar a atenção ao que é relevante na

construção dos sentidos. Quando “as pistas verbais” (MIRANDA, 2001, p. 76) não forem o foco, a

moldura comunicativa, o “enquadramento social e linguístico que permite a compreensão de

determinado significado” (HIGINO da SILVA, 2011, p. 35) ganhará maior importância.

Portanto, nos exemplos de (24) a (27), parte da rede de sentidos de agro- ficaria ativada; e as

demais, desativadas. O significado seria ativado a partir da base à direita de agro-. Essa provocaria

o ajuste focal. Em agrocanal (canal de televisão dedicado ao agronegócio) e agroquímico

(produtos químicos sobre culturas agrícolas), as bases à direita fornecem informações sobre a

forma como as concepções de componentes podem se ajustar e como o seu conteúdo pode ser

integrado (LANGACKER, 2008, p. 245), pois, na primeira, canal pode remeter-se a fosso, a rio ou

à emissora de tv e, na segunda, a químico, ao profissional dessa área, ou à substância tóxica.

Nesses casos, a moldura comunicativa terá maior relevância para a construção do sentido.

Em primeira instância, tal ajuste pode parecer uma hipótese ad hoc formulada a fim de

categorizar a maioria das construções agro-X, mas esse comportamento também é observado, em

menores proporções, em tele-, já que pode significar telefone (tele-atendimento) ou televisão

(telejornal) em novas formações, como apresentado por Ferreira (2011, p. 70).

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A releitura do conceito difere da definição de Warren (op. cit.), pois desconsidera o

esvaziamento semântico da forma e sugere a ativação extensional59 de acordo com o ajuste focal,

provocado pela base livre a qual se adjunge o formativo, e assemelha-se à proposta de Gonçalves

(2011b, p. 19):

“(...) compactação (zipagem), termo que corresponde, em inglês, ao já aludido

secretion (Warren, 1990): a parte (truncamento), numa relação de metonímia

formal, adquire o significado do todo (composto original) e atualiza esse conteúdo

especializado, já bastante diferenciado do etimológico, na combinação com

palavras.” (GONÇALVES, 2011b, p.19)

Contudo, a nossa proposta distingue-se das aludidas acima por compreendermos secretion

como um subprocesso da recomposição, pois nesta o significado do formativo é recorrente nas

diferentes construções e naquelas o significado atualiza-se de acordo com a base livre que se agrega

ao formativo.

Outra diferença está no trato da rede de sentidos do formativo: na proposta de Gonçalves

(op. cit.), o significado é compactado. Na hipótese por nós sugerida, o significado é focalizado, ou

seja, é provocado pelo constituinte da composição e construído pela moldura comunicativa.

Portanto, os sentidos não são abandonados e nem condensados, instanciando-se de acordo com o

evento de uso. A esse processo nomearemos de secretion morfoperfilado60.

Retomando Bauer (1998), amplamente referenciado em 4.5, as formações constituídas por

elementos neoclássicos fazem parte de uma pequena seção dentro do espaço 3D, que comporta uma

série de características de diferentes processos de formação de palavras.

59 Segundo Miranda e Farias (2011), “a extensão diz respeito aos referentes que são designados por uma dada expressão

linguística.” E, para Storms et al. (1993), “a intensionalidade está relacionada às características importantes do conceito

e a extensionalidade, às qualidades associadas ao conceito.”

60 “O perfilamento é um tipo de construção do significado que consiste no recorte conceptual de uma expressão em uma

base conceptual mais ampla. A base conceptual não se confunde com o significado das palavras, mas representa um

conjunto de conhecimento indispensáveis para a interpretação das mesmas.” (FERRARI, 2011, p. 63).

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Analisando o dado agroboy61 a partir do conceito de secretion morfoperfilado, a palavra

playboy (empréstimo do inglês) sofre um truncamento, mas, diferente do que acontece na

recomposição, o segundo elemento, boy, passa a valer pelo todo – jovem rico, ocioso e ostentador

sustentado pelo pai – e une-se a agro-, que nessa construção significa latifundiário, em função da

moldura comunicativa, identificando o pai, um proprietário de terras, que sustenta o jovem.

Considerando a relação produtividade/esquematicidade, como apresentado por Bybee

(2010), esse seria um esquema relativamente aberto, favorecendo a frequência type e influenciando

na produtividade, gerando formas como agromoda, agromulher, agroservice, agrotv, agroevento,

agroturismo, agrobanditismo, agrogirl. Todavia, agro- não seria um afixoide, pois seu significado

não é recorrente (cf. BOOIJ, 2005).

A descrição apresentada possibilita elaborar a seguinte hipótese: agro- instancia-se em dois

subesquemas que se colocam entre a composição e a derivação: processo clássico de composição

(cf. seção 6.7) e secretion morfoperfilado, sendo o último um processo periférico da recomposição,

distinguindo-se dessa por não ter o formativo um significado recorrente.

Poucas, porém significativas, observações podem ser feitas a respeito de agri-. O formativo

significa “campo”, “solo”, como em agricultura (cultivo do solo); em agricultor (aquele que cultiva

o campo); em agricultado (campo que foi cultivado) e em agricultar, quando esta significa cultivar

o solo, mas, quando significa devotar-se à agricultura, há uma metonímia formal e semântica, já

que um verbo foi formado a partir da substituição do sufixo -ura pela terminação -ar, característica

da primeira conjugação e modo produtivo de verbalizar um substantivo: âncora > ancorar; culto >

cultuar.

61 Fazemos uma observação em relação à palavra agroboy; não denominamos –boy de splinter, por ser esse empréstimo

uma das palavras constituintes da composição do inglês, play + boy.

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Há o empréstimo do Inglês, agribusiness, formado do encurtamento agriculture mais a

palavra business em inglês. Esse empréstimo gerou um decalque62 em Português, agronegócio, mas,

na tradução, a língua optou pelo formativo agro- e não por agri-, embora disponha de tal elemento.

O mesmo pode ser observado em agricopecuário e em outras nas quais agrico- aparece como

formativo, todas em desuso. Nesses casos, a forma selecionada é sempre agro-.

O comportamento de agro- não pode ser observado em agri-, pois não foram encontradas

palavras novas com este formativo, inviabilizando a comparação entre significados novos e

registros mais antigos. As poucas palavras que compõem o corpus são datadas entre o século XVI e

século XVIII:

28) agricultado – (1552)

29) agricultar – (1552)

30) agricultável – (1799)

Outras formas com agri-, investigadas em função da analisabilidade, são latinismos, como

agricultura, com entrada no Português no século XV; agrícola em 1635, agrimensor em 1795 e

agrimensura em 1784. A exceção é agribusiness, empréstimo do Inglês, datado em 1985. Numa

rápida busca no Google, com a utilização dos filtros idioma português e país Brasil, foram

encontrados 235.000 resultados para agribusiness, em contraste com os 496.000 resultados para

agrobusiness, o que mostra preferência pela segunda formação. Das 101 construções morfológicas

complexas, 87 são formadas com agro- e 13 com agri-.

As palavras recém-formadas são constituídas por agro-, a exemplo de agropesca, agroboy,

agrolink, agroservice, agrofit, agrovida e agroturismo, entre tantas outras. Fatores de caráter

histórico podem ser um agente favorecedor da maior produtividade de agro-. Gonçalves (2011b,

p.18) afirma que “muitos radicais latinos tardiamente emprestados apresentam correspondentes

(62) “[...] a denominação neológica inspirada na tradução das partes da palavra ou da expressão original”. (VIARO,

2014, p.277).

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livres em português e isso certamente facilita a sua vinculação a uma palavra”, identificando-os

com elementos do vernáculo.

Neste capítulo, as formações com agro- e agri foram examinadas, levando-se em conta as

características das formações neoclássicas prototípicas e as características da recomposição. Entre

os elementos que chamam a atenção, estão as vogais fronteiriças presentes naquelas e conflitantes

nas construções com agro- e agri-. No próximo capítulo, o papel dessa vogal nas construções será

discutido.

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6. PAPEL DA VOGAL FRONTEIRIÇA NA FORMAÇÃO DE UMA REDE ASSOCIATIVA

O segmento vocálico entre os constituintes das formações neoclássicas é constatado pelos

diferentes autores, mas as opiniões sobre o estatuto desse segmento divergem. Li Ching (1973)

classifica-o, no Português, como infixo. Já Ralli (2008 a) identifica-o como um marcador

composicional no Grego Moderno. Lüdeling (2006) e Petropoulou (2009) categorizam-no como um

elemento de ligação. Gonçalves (2011b) rechaça, para o Português, essa classificação em função da

pauta acentual desse segmento. Por fim, Bauer (1998) faz uma descrição detalhada apresentando

algumas possibilidades morfológicas para o segmento.

Por meio da comparação de compostos neoclássicos constituídos de diferentes elementos

neoclássicos, apresentamos uma interpretação esquemática para as vogais fronteiriças.

6.1. Gramática Latina: estrutura dos compostos

De acordo com Allen e Greenough (1903, p.60), palavras compostas são aquelas cujo tronco

é constituído de dois ou mais radicais simples. Os autores (op. cit.) descrevem, em seguida, o

processo de composição no Latim:

a) A vogal final do radical do primeiro membro da composição, diante de outra vogal ou de

uma consoante, geralmente, desaparece e toma a forma de "i", recebendo apenas o segundo membro

flexão. Nos casos em que o- e a- são as vogais finais dos radicais, essas são suprimidas e aparece "i-

" no seu lugar, tal como em āli-pěs (a partir de āla, raiz ālā-); portanto, "i-" é a terminação comum

dos radicais em compostos e é, frequentemente, adicionada aos radicais que não a tem, como, flōri-

comus (corroa de flores) (a partir flōs, flōr-is (flor) e coma (cabelo)).

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b) Apenas radicais substantivos podem ser assim compostos. As preposições, no entanto,

muitas vezes, adjungem-se a um verbo, a exemplo de: inter + rumpere = interrūmpō (interromper);

dĕ + struere = destruo (destruir).

Allen e Greenough (op. cit.), embora não utilizem esses termos, expõem critérios

morfológicos e sintáticos de formação de compostos:

1. A segunda parte é simplesmente adicionada à primeira: su-ove-taurīlia (sūs, ovis,

taurus), o sacrifício de um suíno, de um carneiro e de um touro.

2. A primeira parte modifica a segunda como um adjetivo ou advérbio (Compostos

Determinativos), como em latī-fundium (latūs, fundus) (grande propriedade territorial) e Omni-

potēns (omnis, potēns) (Todo-poderoso).

3. A primeira parte tem a força de um caso e a segunda apresenta força verbal (Compostos

Objetos), como nos exemplos a seguir:

agri-cola (ager (campo) + cola (semelhante a colō, cultivar) – agrícola;

armi-ger (arma (arma) + ger (semelhante a gerō, portar, carregar) – escudeiro;

corni-cen (cornū (chifre) + cen (semelhante a canō, cantar) – berrante (chifre soprador);

carni-fex (carō (carne)+fex (semelhante a faciō, fazer) – carrasco.

Segundo os autores (1903, p.160), os tipos de compostos referidos acima, em que a última

palavra é um substantivo, podem tornar-se adjetivos, ou seja, indicar qualidade denotada:

āli-pēs (āla (asa), pēs (pés));

māgn- animus (māgnus (grande), animus (alma));

an-ceps (amb- (duas extremidades), caput (cabeça) duas cabeças).

Outra categoria de compostos descrita por Allen e Greenough (1903, p.161) são os

compostos sintáticos, ou seja, composições apenas aparentes: palavras completas – não radicais –

utilizadas juntas no discurso. De acordo com os autores (op.cit.), estes não são compostos estritos.

Entre os exemplos, os autores elencam sintagmas que deram origem a compostos sintáticos, tais

como bene-dīcō (bem/dito); satis-faciō (suficiente/fazer); prō-consul (advérbio combinado com um

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verbo, no lugar do cônsul), frase imposta na flexão do substantivo comum. Allen e Greenough (op.

cit.) observam que, em todos esses casos, estão unidas palavras e não radicais.

Allen e Greenough (1903, p.13) ressaltam, ainda, que as formas classificadas de raízes

nunca existiram em Latim, mas remetem a formas utilizadas antes de o Latim constituir-se como

língua autônoma.

Monteil (1992, p.177) assevera que, ao traçar um paralelo entre a flexão temática no indo-

europeu e no Latim, a formação dos temas em Latim, assim como em Grego, resulta de uma

tematização secundária, uma vez que no indo-europeu a flexão temática não possuía nomes raízes63,

nem temas primários, mas temas secundários, com sufixação. De acordo com o proposto, a

terminação -ro, presente em ager = αγρός, uesper = ἐσπερος, aper = κ-άπρος, taurus = ταύρος,

uir< *wī-ro64, é um sufixo indo-europeu remanescente.

Allen e Greenough (1903) e Monteil (1992) sugerem que os processos morfológicos no

latim davam-se a partir de radicais, ou seja, uma forma primária acrescida de um elemento

morfológico.

Bennett (1913, p. 115), em A Latin Grammar, diferentemente de Allen e Greengough

(1903), afirma que os compostos em Latim são formados pela união de palavras simples. O segundo

membro contém o significado essencial da composição e o primeiro funciona como um

modificador. No processo de composição, as vogais sofrem mudanças frequentes. Essas podem

ocorrer no segundo membro da composição ou no primeiro.

Bennett (1913, p. 115) assevera que, no primeiro constituinte, o ĭ aparece, frequentemente,

como vogal temática desse elemento e, algumas vezes, essa vogal ocupa a posição do ŏ ou do ă.

63Monteil (1992) define raíz como um esquema, reconstruído da estrutura indo-europeia, que corresponde ao elemento significante

da palavra.

64 Forma hipotética indo-europeia.

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Entretanto, em algumas situações, o ĭ pode ser completamente descartado. Quando o primeiro

vocábulo termina por consoante, faz-se uma epêntese utilizando a vogal. O autor cita os seguintes

exemplos, sem, contudo, detalhar o processo de composição: signifer (porta-estandarte); tubicen

(trombeteiro); magnanimus (magnânimo, nobre); matricida (matricida). O autor (1913, p.6)

apresenta exemplos de algumas alterações mais simples que podem acontecer com as vogais do

segundo vocábulo da composição:

a) ě torna-se ĭ. Ex.: con-legō >colligō (juntar);

b) ă torna-se ĭt Ex.: ad-agō >adigo (impelir);

c) ă torna-se ě. Ex.: ex-pars >expers (isento de);

d) ae torna-se ī. Ex.: con-quaerō >conquīrō (procurar com empenho);

e) au torna-se ū e algumas vezes ō. Exs.: con-claudō>conclūdo (fechar); ex-plaudō >

explodo (repelir batendo palmas).

6.2. Gramática Grega: estrutura dos compostos

Horta (1970, p. 391) afirma que a maior parte do léxico grego é formada por composição

(radical formado de dois ou mais elementos) ou por derivação (formado por sufixos). Segundo a

autora (1970, p. 392), palavras compostas são facilmente formadas no Grego. O primeiro elemento

da composição pode ser um prefixo (έξ +οδος = saída) ou um radical (ναυ + μαχία = batalha naval),

sendo o segundo elemento sempre um radical. Horta (op. cit.) afirma que as bases dos compostos

ora combinam-se diretamente, ora combinam-se por intermédio de uma vogal de ligação; no

entanto, a autora não detalha quais são essas possíveis vogais fronteiriças.

No que tange à relação sintática, a autora (1970, p.394) descreve que os constituintes

estabelecem uma relação de subordinação: o núcleo, o determinado, mantém-se à direita; e o

complemento, ou atributo, o determinante, à esquerda (por exemplo, οίκο-νόμος = o que administra

a casa ou o país). Eventualmente, essa posição pode ser invertida, quando o primeiro termo é um

radical verbal, tal como em φιλό-σοφος, o que ama o saber e não “sábio amante”, conclui a autora

(op. cit.).

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Segundo Goodwin (1900, p.191), em sua Greek Grammar, na composição de palavras, são

observadas: a) a primeira parte da composição, b) a segunda parte, e c) o significado do todo.

Quando a primeira parte dos compostos é um substantivo ou um adjetivo, somente seu radical

aparece na composição. O autor não cita exemplo.

No que se refere a alterações internas da composição, o autor (op. cit.) afirma que, diante de

uma consoante, o radical da primeira declinação geralmente muda a vogal ᾱ final, passando a ο:

Θασσ-κράτωωρ (ϴαλασσᾱ-) – aquele que dita as regras do mar. O radical de segunda declinação

mantém o -o: χορο-διδάσκαλος (χορο-) – professor de música; e o radical de terceira é acrescido de

-o: παιδο-τρίβης (παιδ-) – treinador juvenil. Diante de uma vogal, os radicais de primeira e de

segunda declinações perdem suas vogais finais ᾱ e o, respectivamente. Exemplos: κεϕαλ-αλγής

(κεϕαλᾱ-) – causa dor de cabeça; χορ-ηγςα(χορο-) – diretor de música.

Como toda regra, essas também possuem muitas exceções, conforme informa o autor. Entre

elas, há situações em que o η ocupa o lugar do o, como em χοη- ϕόρος (χοή, libação) – aquele que

traz a libação; em outras, o substantivo aparece em um dos seus casos, como se fosse uma palavra

distinta: ναυσί-πορος (travessia por navio), em que ναυσί é um dos casos de ναϋς (navio).

Já nas questões que tratam do segundo elemento, quando esse inicia-se por α, ε, ou ο (a

menos que essas vogais sejam longas pela posição), é muito frequente serem alongadas passando a

η ou ω, a exemplo de Στρατ-ηγός (στρατό-ς, άγω) – general; κατ-ηρεϕής (κατά, έρέϕω) –

percorrido e έπ-ώνυμος (έπί-όνομα) – nomeado.

Goodwin (1900, p.194) enumera três classes de compostos, pautadas na relação do

significado de cada um dos constituintes entre si e com o todo composicional: 1) Compostos

Objetivos – aqueles em que o substantivo, sendo primeiro ou segundo elemento, funciona como

caso oblíquo (λόγος χράφων = autor do discurso); 2) Compostos Determinativos – nos quais o

primeiro elemento qualifica o segundo (̒ομό-δουλος = escravo igual); e 3) Compostos Atributitivos

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ou Possessivos, em que a primeira parte qualifica a segunda e o todo denota a qualidade ou a

atribuição de uma pessoa ou coisa (κακο δαίμων = destino ruim). Apenas no terceiro tipo, o autor

fala do significado do todo; nos demais, apenas descreve a relação ente as partes.

Considerando as formações em uma perspectiva etimológica e as descrições das gramáticas

latinas e grega, as vogais presentes nas composições latinas e gregas, -i- e -o-, respectivamente, são

marcadores de composições passíveis, na suas línguas de origem, de modificação.

A próxima seção trata das possíveis classificações no Português para as vogais fronteiriças.

Para tanto, são expostos os argumentos de Mattoso Camara ([1977] 1981), Li Ching (1973),

Monteiro (1998) e Kehdi (1999).

6.3. Segmento Vocálico: possíveis interpretações para o português

Li Ching (1973, p.213) afirma que o avanço científico trouxe ao uso uma série de elementos,

em sua maioria, de origem grega, aos quais o autor (op. cit.) denominou pseudoprefixos e cita

alguns deles: aéro-, foto-, geo-, micro-, mono-, rádio-, tele-. O autor chama a atenção para uso

dessas formas: “não é naturalmente português, mas um fenómeno internacional que ocorre em todas

as línguas europeias”.

Li Ching (1973, p. 213) destaca o segmento -o- como elemento mais importante nessas

formações e o classifica como infixo da composição.

“O terminus -o-, que é o eixo mais importante nesta série, é uma espécie de infixo

da composição que se encontrou há muito tempo, sem dúvida nenhuma, nas

formações adjectivas (cf. luso-brasileiro, luso-espanhol, etc.)” (CHING, 1973, p.

213)

No que se refere a vogais -o- e -i- intermediárias, nos compostos neoclássicos, Monteiro

(1998), ao definir interfixo como “elemento que une uma raiz a um sufixo ou dois radicais de um

composto”, cita a palavra filósofo e o -ó- entre as duas bases como interfixo, mas, na seção 3.3, em

que trata especificamente dos interfixos, o autor não aborda o assunto e comenta apenas “que não

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devem ser considerados como interfixos os segmentos presentes em decalques ou em termos de

origem latina que não produzem mais palavras novas”.

Kehdi (1999, p.191) descreve e analisa diferentes pesquisas sobre infixo e critica a proposta

de Li Ching (1973, p.213), pois a vogal -o- posiciona-se entre radicais e não no interior de um

radical, como os infixos. O autor ressalta o seguinte:

“O verdadeiro caráter da vogal terminal do primeiro elemento do composto é muito

mais sufixal (diferentemente do que afirma Li Ching), sobretudo levando-se em

conta a produtividade desse tipo de formação e a freqüente redução do composto

ao seu primeiro elemento.” (KEHDI, 1999, p.191)

Para Mattoso ([1977] 1981), a categoria infixo inexiste em português, assim como para

Kehdi (1999). Este, fundamentado na definição de infixo como “morfema que se introduz no

radical”, rechaça a possiblidade de a vogal -o-, presente no final do primeiro elemento dos

compostos neoclássicos, ser um infixo. Kehdi (op. cit.), tendo em vista a produtividade dessas

formações e o truncamento, que reduz os compostos ao primeiro constituinte, identifica

características sufixais na vogal.

Lí Ching (1973) não define infixo. O autor (op. cit.) defende a existência de infixos nas

formações neoclássicas e traça um paralelo com o comportamento de alguns adjetivos compostos,

tais como luso-brasileiro e luso-espanhol (exemplos do autor). Monteiro (1998) afirma que esses

segmentos, presentes em formas latinas, não são considerados interfixos, em função de não serem

produtivos.

Infere-se que a produtividade é o critério responsável pela classificação; logo, sendo

produtivo, o segmento pode ser categorizado como interfixo. Contudo, as observações de Monteiro

(1998) não incluem as formas de origem grega, pois ele menciona apenas as latinas.

Diante do exposto, a indagação é a seguinte: se o -o- e -i- fossem infixos, como sugere Li

Ching (op. cit.), e, consequentemente, um elemento mórfico, qual seria o seu significado? Na seção

seguinte, serão expostas as análises de Ralli (2008a, 2008b), Petropoulou (2009), Amiot e Dal

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(2007), Lüdeling (2006), Bauer (1998) e Kastovsky (2009) sobre a possível função desses

segmentos, na atual sincronia de diferentes línguas.

6.4. Descrição Sincrônica em Diferentes Línguas

Nesta seção, os aspectos concernentes à vogal fronteiriça são retomados a fim de reunir os

pareceres de diferentes autores, sobre um possível estatuto da vogal em diferentes línguas.

Ralli (2008b), pautada numa abordagem gerativista, mais precisamente na Teoria de

Princípios e Parâmetros, que tem como objetivo discutir os parâmetros responsáveis por permitir as

diferenças entre as línguas naturais, defende a existência de um marcador de compostos em Grego

Moderno e em outras línguas tipologicamente diferentes. Defende que a presença de tal marcador se

relaciona com um parâmetro de flexão paradigmática explicitamente realizada e que o seu carácter

sistemático ou não sistemático depende da categoria dos constituintes, radical ou palavra, que estão

envolvidos na formação do composto. Mostra também que, com relação à origem, o marcador pode

ser resíduo sincrônico de uma epêntese fonológica ou o produto da evolução de outros elementos

funcionais ou lexicais que se tenham submetido ao processo de morfologização.

Compreendendo composição como um processo de formação de palavras que caracteriza as

línguas de vários tipos e várias famílias, a autora define o mecanismo como uma associação entre

palavras ou radicais, dependendo da morfologia da língua em particular, e cita o Inglês como

exemplo de língua em que composição ocorre entre palavras, e o Grego como exemplo de língua

em que a composição baseia-se em radicais.

Ralli (2008b) afirma que, em alguns idiomas, os compostos apresentam um segmento

semanticamente vazio entre o primeiro e o segundo componentes (p. exemplo, a palavra grega kukl-

o-spito = casa de boneca). Segundo a autora (op. cit.), em compostos de outros idiomas, este

segmento não vem à superfície. Ela cita a palavra inglesa appletree (macieira). Ralli (2008b) faz

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referência às diferentes denominações que o segmento recebe na literatura: elemento de ligação,

interfixo ou, mais raramente, confixo.

Ralli (2008b) não discute, todavia, o estatuto do segmento intermediário presente nos

compostos neoclássicos, fazendo apenas menção à origem dos radicais-base dessas formações,

Grego Antigo e Latim, uma vez que a pesquisa restringe-se a analisar os compostos vernáculos

produtivos do Grego Moderno. Contudo, Ralli (2008a) salienta que as formações neoclássicas em

Grego Moderno só se diferenciam das composições produtivas regulares no que diz respeito à

natureza dos seus constituintes, e afirma que as propriedades estruturais da base são as mesmas,

entre elas, o marcador de compostos -o-. Logo, o -o- é um marcador tanto nas composições do

Grego Moderno quanto nas formações neoclássicas dessa língua.

Petropoulou (2009) elenca como uma das características importantes dos neoclássicos

prototípicos, tendo como base de análise o Inglês e o Grego Moderno (cf. 4.2), a existência de um

elemento de ligação (-o- ou -i-) entre os constituintes da composição, orginalmente uma vogal

temática que passou a marcador composicional nas línguas de origem, Grego ou Latim.

Lüdeling (2006) lança mão de alguns exemplos de diferentes línguas europeias, mas faz uma

análise mais geral dessas formações. A autora faz referência ao "elemento de ligação" que aparece

nessas formações, indicando que -o-, geralmente, exerce essa função, porém há possibilidade de

outra vogal exercer o mesmo papel. Lüdeling (2006) questiona o vínculo morfológico desse

elemento, se ao primeiro ou ao segundo constituinte da composição, levantando a hipótese de a

vogal ser requerida por um dos constituintes.

Bauer (1998) descreve a dificuldade em identificar o estatuto da vogal -o- que comumente

aparece entre os constituintes dos compostos neoclássicos em Inglês. O autor assevera que, no

Grego Clássico, o -o- era uma vogal temática, mas tornou-se, gradativamente, em um elemento de

ligação da composição, desempenhando esse papel no Grego Moderno.

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129

Bauer (op. cit.) arrola quatro possiblidades de interpretação para essa vogal nas novas

formações: (a) como um elemento de ligação entre formas truncadas, como em phot e graph,

embora diga que é incomum a forma phot realizar-se em Inglês (photic, photopsy); (b) como parte

do primeiro elemento, quando este elemento estiver ligado a lexemas (photoluminescence

‘fotoluminescência’); (c) como parte do segundo elemento, quando o segundo elemento é ligado a

lexemas (Addressograph®65, phraseograph); (d) como pertencente, simultaneamente, aos

componentes inicial e final (como em [b] e [c]), e a sequência -oo- é morfofonemicamente reduzida

a um único -o-.

Uma das diferenças entre os compostos neoclássicos e outros padrões de formação de

palavras em Inglês é que neoclássicos não são nativos. A outra é o elemento de ligação -o-, visto,

em última análise, como um segmento próprio da palavra em Grego, e não de uma formação de

palavras em Inglês. Uma forma como hamburgerology é inicialmente um composto em Inglês, e,

finalmente, um composto neoclássico. Em outras palavras, há uma relação entre a origem grega dos

compostos neoclássicos e a anglicidade dos compostos nativos. Muitos outros idiomas distinguem

entre os padrões de formação de palavras nativas e estrangeiras, como vimos no capítulo 4.

De acordo com Bauer (1998), em Holandês, Alemão, Checo e Russo, as bases nativas são

concatenadas a afixos nativos; e as bases estrangeiras, a afixos estrangeiros, mais do que se observa

em Inglês. Por exemplo, uma forma como Sterbation pode ser totalmente agramatical em Alemão,

mas Starvation (fome) é uma palavra real em Inglês (embora incomum justamente devido à mistura

de elementos nativos e estrangeiros). Em Vietnamita, há compostos nativos e compostos

estrangeiros (emprestados do Chinês), que diferem em termos de modificador e elemento-cabeça.

65 “Marca registrada de uma empresa norte-americana que fazia máquinas para imprimir nomes e endereços em jornais,

etiquetas de endereçamento, envelopes, cartas, e outros itens”.

(http://www.earlyofficemuseum.com/mail_machines.htm)

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Amiot e Dal (2007) elencam uma série de propriedades para identificação das formas

combinatórias clássicas, nomenclatura adotada para classificar os elementos neoclássicos. Entre as

características arroladas pelas autoras, está a presença de um vogal de ligação, -o- ou -i-. Todavia,

diferentemente dos demais autores, Amiot e Dal (op. cit.) chamam a atenção para o ambiente

fonológico em que aparecem: / ... CfCi ... / nos quais Cf e Ci são consoantes em posição final do

primeiro constituinte e posição inicial do segundo componente, respectivamente. Nessa perspectiva,

o -o-, entre as bases de agroexportação, agroambiental, agroaçucareiro, agroecologia, não é

analisado, uma vez que se afasta do ambiente fonológico previsto pelas autoras (op. cit.). De acordo

com Amiot e Dal (2007), a presença do -o- ou do -i- está relacionada à origem grega ou latina das

formas, nessa ordem. Outro aspecto salientado é a presença do -o- em formas combinatórias não-

neoclássicas, tal como como em afro-cubain (afro-cubano).

Kastovsky (2009), examinando as formações neoclássicas no Inglês, rechaça a classificação

forma combinatória, proposta pela literatura, e expõe diferentes motivos para tal posicionamento,

entre os quais o estatuto da vogal intermediária entre os constituintes dessa formação. As formas

combinatórias terminariam na vogal -o- ou -i-; contudo, diferentes prefixos exibem essa terminação,

entre os citados pelo autor: anti-, epi-, pro-, co-.

Assim como Bauer (1998) e Ludelíng (2009), Kastovsky (2009) indaga a relação

morfológica da vogal, se esse segmento pertenceria ao elemento da direita ou ao da esquerda ou

seria apenas uma vogal de ligação. O autor (op. cit.) também aborda o aspecto histórico dessas

formações e, consequentemente, desse segmento, ao qual denomina de “formativo de radical”66 do

primeiro membro – classificação que recorda os apontamentos, na seção 6.1, de Allen e Greenough

(1903) e de Monteil (1992) sobre a formação dos radicais no Latim.

66 Termo original utilizado pelo autor: stem-formative (cf. KASTOVSKY, 2009, p. 6).

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Kastovsky (2009) esclarece que radicais gregos, latinos e neo-latinos passaram por

mudanças. Afirma que o Grego e o Latim, como todas as línguas indo-europeias, foram,

originalmente, baseadas em uma estrutura morfológica tri-partida, raiz + “formativo de radical” +

flexão. Na composição, a raiz, como primeiro elemento de um composto, foi seguido por um

“formativo de radical”, como em agr-o-nomia, mas, nas fases posteriores das línguas Indo-

Europeias, foi igualmente seguida por uma vogal de ligação que remonta a uma desinência, como

em agr-i-culture. O autor (op. cit.) assinala que este último tipo de formação resultou de expressões

lexicalizadas envolvendo o caso de marcação do primeiro membro, que serviu de base analógica

para formações paralelas, um fenômeno que pode ser observado também em outros ramos do indo-

europeu, como as línguas germânicas (cf. KASTOVSKY, 2009) – essa descrição remete aos

compostos sintáticos, como expostos por Allen e Greenough (1903). No decorrer do tempo; no

entanto, o “formativo de radical”, bem como as terminações flexionais originais, tornaram-se

opacas, mais no Latim do que no Grego, e esses elementos morfológicos já não podem ser

identificados com qualquer material flexional, passam a ser reinterpretados como elementos de

ligação.

Segundo Kastovsky (2009), esses segmentos perderam sua função. O mesmo ocorreu com

terminações de caso dos compostos no Alemão; contudo surgem em formações que não

gramaticalmente justificadas. O autor (op. cit.) sugere que a presença de um elemento de ligação

poderia ser acionada pelo primeiro ou segundo elemento, com base em alguma analogia histórica, e

não como um elemento de ligação fazendo parte de um dos constituintes.

Para efeitos de análise, Kastovsky (2009), toma o formativo -logy, presente em anthrop-o-

logy, cosm-o-logy, bio-logy, geo-logy, no qual o -o-, por questões históricas, pertence ao

constituinte da esquerda. Já em Kremlin-o-logy, hamburger-o-logy, life-o-logy, a forma depreendida

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parece ser ology. O autor (op.cit.) enumera as seguintes possibilidades de interpretação para a vogal

-o-:

a) o sufixo teria adotado a forma -ology;

b) -ology seria um alomorfe morfologicamente condicionado de -logy; e

c) o sufixo desencadearia a inserção de um elemento de ligação, que não pertenceria a

nenhum dos constituintes.

Kastovsky (2009) considera a última proposta mais plausível e assinala que os compostos do

Inglês admitem elemento(s) de ligação, como em officer’s mess (praça d’armas), driver’s license

(carteira de motorista).

No que se refere às formações constituídas de elementos clássicos e elementos vernáculos,

tais como filmo-(-graphy), kisso-(-gram), Kastovsky (2009) defende que o -o- entre os constituintes

é um elemento de ligação, por analogia às formações clássicas; portanto, não estaria ligado nem ao

formativo da direita, nem ao da esquerda. Todavia, sugere que formas como -gram e -logy acionam

a vogal, caso essa não seja parte integrante do primeiro elemento.

As hipóteses apresentadas pelos autores acima, a partir do exame do Inglês, Grego e

Francês, entre observações de outras línguas europeias, indicam que as formações neoclássicas,

nessas línguas, possuem como característica um segmento intermediário, geralmente, -o- ou -i-,

embora outras vogais possam aparecer nessa posição. Nas formações em que se combinam

elementos clássicos e vernáculos, a vogal -o- tende a aparecer.

Na seção seguinte, são expostas as ponderações de Caetano (2010a) e Gonçalves (2011b)

sobre o comportamento das vogais -o- e -i-, intermediárias entre os constituintes da formação

neoclássica. Os autores, nos respectivos textos, descrevem o comportamento dessas formações no

Português; entretanto, nesta seção, serão arroladas apenas as questões pertinentes às vogais.

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133

6.5. Análises para o Português

Caetano (2010a) expõe pareceres das Gramáticas Históricas de José Joaquim Nunes e de

Antônio Garcia Ribeiro de Vasconcelos e da Gramatica da Língua Portuguesa de Maria Helena

Mira Mateus et al. sobre o papel da vogal entre os constituintes e assume que os compostos do

Português, em que o primeiro elemento da composição termina nas vogais -o- ou -i-, tais como

médico-cirúrgico e novilatino (exemplos da autora), possuem um marcador de fronteira, entre um e

outro radical, semelhantemente aos compostos com radicais neoclássicos. Caetano (op.cit.) afirma

que, “aparentemente”, não há diferenças entre a) construções resultantes de dois elementos

neoclássicos; b) dois elementos vernáculos e c) aquelas em que o primeiro elemento vernáculo é

resultante de um truncamento terminando em -o e o segundo, um elemento vernáculo. A autora cita

como exemplo as palavras turbo-diesel e turbo-prof, em que o primeiro elemento é oriundo do

truncamento de turbocompreensor.

Gonçalves (2011b) afirma que não há, nas composições de base livre em Português,

marcador de compostos. O autor ressalta que palavras encurtadas em que o primeiro elemento é de

origem grega, a vogal -o- mantém-se no truncamento, como em foto de fotografia e pólio de

poliomielite.

Gonçalves (op.cit.) enumera exemplos de formações híbridas, constituídas de elementos

clássicos e vernáculos em que a vogal -o- aparece como um segmento intermediário entre os bases,

musicolatria, achologia, oviniologia. O autor destaca que os exemplos sugerem que a vogal não é

constituinte fonológico da primeira base.

Além dos casos acima, Gonçalves (2011b) descreve o comportamento sintático de algumas

construções: a) nos compostos coordenativos formadores de adjetivos, a primeira palavra apresenta

a vogal -o- e a mantém, independe da variação que possa ocorrer com a segunda palavra: aspectos

léxico-gramaticais, ações médico-hospitalares, metas político-partidárias (exemplos do autor).

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Essa mesma vogal também é encontrada em compostos determinativos de cabeça à direita,

radiomania, beatlomania, sonoterapia, musicoterapia.

No primeiro conjunto de exemplos elencados pelo autor, as bases à esquerda são formas

livres que possuem o -o como vogal temática na sua constituição, o que pode comprometer a

análise, embora a manutenção da vogal sobreponha-se à concordância entre os componentes

coordenativos. Já no segundo conjunto de exemplos, as bases à direita são elementos de origem

grega, -mania, -terapia, que conferem à composição um caráter neoclássico e justificaria o

acionamento da vogal -o-.

O autor (op. cit.) destaca também dois comportamentos fonológicos distintos: a) em que a

vogal, mesmo em posição postônica pode não se neutralizar e o todo realizar-se em duas palavras

prosódicas, já que a base à esquerda mantém o seu acento: music[o]terapia, bronc[o]embolia

(exemplos do autor); b) nas formações em que o segundo elemento são -metro, -dromo, -latra,

-logo e -grafo, a vogal de fronteira é tônica e a pretônica neutraliza-se, mas tende a se realizar como

aberta, em função da harmonização vocálica. Entre os exemplos citados pelo autor, destacam-se

f[o]tógrafo e l[e]prólogo.

Em função do exposto, o autor afasta a classificação de vogal de ligação para esse segmento

intermediário, uma vez que vogais de ligação não portam acento; outro argumento é a realização de

diferentes vogais nessa posição, a exemplo de análogo, epílogo, homólogo (grifo nosso).

Segundo Gonçalves (2011b), as pesquisas de Rondinini (2004) e Rondinini e Gonçalves

(2006) indicam que as vogais anteriores a -logo e -grafo foram assumidas como parte do formativo,

demonstrando uma transição da composição para a derivação, passando a -ólogo e -ógrafo,

respectivamente. Pires (2014) adota a mesma posição em relação à -dromo, pois, segundo o autor

(op. cit.), nas novas formações, assume características de sufixo, passando a -ódromo, o que

justifica a presença de uma consoante de ligação em paizódromo e gayzódromo, por exemplo.

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Caetano (2010a), como já citado, com base em Mira Mateus et al. (2003), classifica a vogal

como marcador de fronteira, independente dos elementos formadores da composição: a) dois

elementos neoclássicos; b) dois elementos vernáculos; e c) primeiro elemento vernáculo resultante

de truncamento e um elemento vernáculo.

Destaca-se, no último processo de formação, a classificação que Caetano (2010a) confere a

forma truncada de turbocompressor, turbo, elemento vernáculo. Os dicionários Priberam e o

Grande Dicionários Houaiss Beta da Língua Portuguesa, ambos online, registram turbo como

forma truncada de turbocompressor. O primeiro apresenta-o como uma forma livre e também como

um elemento de composição, já o segundo o faz apenas como um apositivo67. Entretanto, a forma é

registrada no Dicionário Escolar Latim-Português de Faria (1962): turbo – “todo objeto animado

de movimento rápido e circular”. Isso evidencia que determinar quais são os elementos de origem

latina e quais são os elementos do vernáculo não é tarefa simples.

Gonçalves (2011b) retoma a posição consensual de que não há marcadores de compostos de

base livre em português. O autor (op.cit.) apresenta dois tipos construções em que a vogal -o-

aparece como um segmento intermediário da formação, além de destacar a sua permanência nas

formas truncadas. A distinção dessas construções apoia-se na diferença dos elementos constitutivos

que se combinam para criá-las: a) constituídas de elementos clássicos e vernáculos e b) constituídas

de elementos do vernáculo. O autor descreve o comportamento sintático dos compostos adjetivos

em que essa vogal se manifesta e o comportamento fonológico das vogais. Contudo, não sugere um

classificação para esse segmento intermediário.

67 “Diz-se de ou palavra, ou sintagma invariável, que condensa uma frase de teor adjetivo” (Grande Dicionários Houaiss

Beta da Língua Portuguesa Online).

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6.6. Análises das Diferentes Construções Neoclássicas do Português e do Segmento Fronteiriço

As formações neoclássicas introduzidas em diferentes línguas, como exposto no capítulo 4,

são fruto da retomada das tradições greco-latinas, no Renascimento, e do Desenvolvimento

Científico, no séc. XIX, que fez uso dessas línguas como referência para a criação de palavras

relacionadas às novas descobertas. Contudo, como observa Lüdeling (2006, p.580), a noção de

‘neoclássico’ não é simplesmente uma noção etimológica. Em primeiro lugar, não se pode esperar

que os falantes tenham conhecimento etimológico. Além disso, muitas vezes é difícil determinar a

origem de um elemento morfológico porque muitos elementos entram para uma língua através de

outras.

Viaro (2014, p. 270) afirma que “é pura ilusão nacionalista imaginar que cada língua,

independentemente, tenha criado seus cultismos. Normalmente é uma língua quem os cria e as

outras os importam ou os modificam por meio de decalque”.

No Português, essa tarefa não é simples, uma vez que a formação lexical ou os modelos de

formação de palavras68 possuem origem no Grego e no Latim. Entretanto, pretende-se distinguir

essas construções, por meio da característica que lhes é peculiar, conforme ressaltaram Li Ching

(1973), Bauer (1998), Amiot e Dal (2007) e Petropoulou (2009), entre outros: as vogais, -o- e -i-,

intermediárias entre seus constituintes.

É possível identificar ao menos sete tipos de construções diferentes constituídas por

elementos neoclássicos:

a) formada por dois elementos de origem grega: agrômetro (séc XIX69), fotógrafo (séc

XIX);

b) formada por dois elementos de origem latina: apicultura (1871), herbívoro (1844);

68 O Português, como objeto do ensino de língua, torna-se premente por meio do Alvará Régio de 1770 que oficializa o

uso da Gramática de Antônio José dos Reis Lobato e tira do foco o ensino de Grego e de Latim (FÁVERO, L. L. As

concepções linguísticas no século XVIII: a gramática portuguesa. São Paulo: UNICAMP. 1996, p. 301-302).

69 A fonte da datação dos exemplos é o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa (CUNHA, 2012).

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137

c) formada pelo primeiro elemento de origem grega e o segundo de origem latina:

sociologia (1858), neolatino (1873);

d) formada pelo primeiro elemento de origem grega e o segundo de origem vernácula:

agroambiental (s/ data), homoafetivo (s/ data);

e) formada pelo primeiro elemento de origem latina e o segundo de origem vernácula:

pluricampeão (s/ data);

f) formada pelo primeiro elemento de origem vernácula e o segundo de origem grega:

cachorródromo (s/ data), cervejólogo (s/ data); e

g) formada pelo primeiro elemento de origem vernácula e o segundo de origem latina:

baraticida (s/ data), agricultura (1440).

As construções descritas em a) e b) possuem uma motivação histórica para o uso das vogais

-o- e -i-, respectivamente. Em ambos os casos, há um modelo clássico de formação de palavras: os

processos e os elementos são de origem grega e latina. Retomando Goodwin (1900), as vogais

finais das bases à esquerda das composições gregas sofriam alterações, passando, geralmente, a -o,

e essas vogais pertenciam ao primeiro elemento. Da mesma forma, como visto em Allen e

Greenough (1903) e Bennett (1913), as vogais finais das bases à esquerda nas composições latinas

passavam, normalmente, a -i.

Em c), há um hibridismo70, que, segundo os puristas, seria uma má formação, pois seus

elementos são de origens diferentes, Grego e Latim. A presença da vogal -o-, nessa constituição,

parece natural, uma vez que o primeiro elemento é de origem Grega. Contudo, se os elementos

clássicos foram tomados de empréstimo do Grego, em todos já havia na origem -o como

constituinte desse elemento?

Cunha e Cintra (1985, p.110) elencam 63 radicais gregos que funcionam, preferencialmente,

como primeiro elemento da composição; entre eles, 51 terminam em -o, os outros 12 apresentam

terminações em -i, -a e -n. Esses dados, comparados com as informações de Goodwin (1900),

suscitam o seguinte questionamento sobre a formação em b): os radicais gregos apresentados pela

70 “São palavras híbridas, ou hibridismos, aquelas que se formam de elementos tirados de língua diferentes,” (CUNHA;

CINTRA, 1985, p. 113)

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gramática de Cunha e Cintra (1985) seriam formas truncadas dos internacionalismos e, por isso,

terminam em sua maioria na vogal -o ou essas formas possuíam uma outra terminação no Grego?

Os questionamentos não invalidam a motivação histórica do uso da vogal -o em c). A

origem grega, porém, pode ser mais uma justificativa para a quase supremacia desse segmento nas

composições, diminuindo as variações de elementos possíveis na posição ocupada pelo -o-.

Em Português, chama a atenção a significativa quantidade de radicais gregos arrolados pelas

gramáticas normativas em comparação com os radicais latinos: Cunha e Cintra (1985) registram 39

radicais latinos, entre eles 26 são classificados como primeiro elemento de composição e 13, como

segundo elemento de composição; e 109 radicais gregos, sendo 63 usados, preferencialmente, como

primeiro elemento de composição e 46, como segundo elemento de composição. Lima ([1972]

2000) elenca 50 radicais latinos, em sua maioria de origem verbal, e 91 radicais gregos. Bechara

(2000) relaciona 230 radicais gregos e 80 radicais latinos, também em sua maioria de origem

verbal.

Outras análises ratificam a predominância dessa vogal. Tavares da Silva (2013) registra

eletro- como encurtamento das palavras eletricidade e elétrico. Essa é a forma encontrada nas

recomposições (eletrochoque, eletrocondutor), embora ela não seja escaneada a partir das palavras-

fontes, elétrico e eletricidade. Belchor (2009) assinala características do truncamento que validam a

descrição do dado: a) a margem esquerda é preservada na forma truncada; e b) à forma encurtada,

uma vogal pode ser adicionada. Algumas motivações podem ser inferidas para esse comportamento:

o recorte é feito sobre uma unidade morfêmica que tem origem grega; e a frequência de uso dos

radicais gregos, considerando as listas registradas pelas gramáticas. Isso influencia a escolha da

vogal -o- para adjungir-se à forma encurtada. O mesmo não ocorre em alguns truncamentos não-

morfêmicos, a exemplo de japa de japonês ou de japonesa; portuga de português.

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O primeiro constituinte das formações em d) é de origem grega e, de acordo com Gonçalves

e Andrade (2012, p. 134), na recomposição, por meio de uma metonímia formal, assume o

significado do composto de que era constituinte e atualiza esse conteúdo especializado na

combinação com novas palavras. Portanto, homo-, em homoafetivo, assume o sentido de

homossexual e não de igual. O truncamento mantém a vogal, mas o mesmo não pode ser afirmado

em relação à agroambiental, uma vez que agro-, na recomposição, retoma produção agrícola e não

uma palavra da qual o formativo faça parte, como agronomia ou agrônomo. Uma proposição,

pensada a partir do conceito de metonímia formal de Gonçalves e Andrade (2012, p. 134) e do

conceito de analogia, como defendido por Kastovsky (cf. seção 6.4), seria a de uma metonímia

formal de agricultura e, em função da analogia motivada pela alta frequência de uso das formações

com agro-, a vogal -o- seria acionada, da mesma maneira que ocorre em -gram e -logy quando a

vogal não faz parte do primeiro elemento.

Todavia, alguns formações semelhantes à agroambiental, em “d”, trazem uma complexidade

para além da correspondência entre forma truncada e a forma plena da palavra, pois agro- nessas

construções pode instanciar diferentes significados: ciência, produto, cultivo, por isso interpretamos

o comportamento de agro- como secretion morfoperfilado, como exposto no capítulo 5, uma vez

que o processo abrange uma rede maior de significações, para além de agricultura.

Segundo Chantraine (1968, p. 15), a palavra mais adequada em Grego para referir-se à

campo cultivado71 era ᾰρουρα72, já que αγρός era usado para campos não cultiváveis; contudo, agri-

71 Rosa (2010, p. 106) assevera que os grandes feitos da Civilização Grega estão no âmbito da Filosofia, da Ciência, das

Artes, do Direito e da Política. O autor (loc. cit.) observa que há autores que argumentam que os gregos tinham

desprezo por atividades manuais por considerá-las indignas para o homem livre. Colossi et al. (1997, p. 55) afirmam

que “o trabalho na Grécia antiga gozava de prestígio, especialmente, o da agricultura, passando a ser realizado por

escravos somente no período helenístico.” Segundo Horta (1970, p. 335), os campos atenienses não produziam

suficientemente para a população, era preciso importar alimentos. As atividades econômicas estavam voltadas para

exploração de minério, por ser abundante e exigir um investimento em mão de obra menor do que o requerido pela

agricultura.

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e agro- são apresentadas em Língua Portuguesa com o mesmo sentido, campo, sendo, portanto,

concorrentes morfológicas e semânticas e, por isso, a imbricação entre esses formativos suscitam

questionamentos.

Sobre as construções em f), cachorródromo e cervejólogo, mais especificamente, sobre

-logo, Rondinini (2004) afirma que a criação de palavras em série levou “à mudança no status

morfológico desses constituintes no século XX”, pois adjungem-se a bases livres, e -logo passa de

radical a afixo, -ólogo. A vogal, por analogia às formações neoclássicas, realiza-se, mas não

pertence ao primeiro elemento e sim ao sufixo, como em cervejólogo. Pires (2014) posiciona-se de

maneira semelhante, em relação a -dromo e defende que nas formações mais recentes o outrora

radical grego funciona hoje como um sufixo produtivo, -ódromo, como em cachorródromo. O

posicionamento dos autores remete às possibilidades apresentadas por Kastovsky (2009) para

interpretação da vogal.

As formações em g) necessitam de uma pesquisa mais acurada, para que sejam feitas

afirmações mais precisas; contudo, numa primeira análise, tomando por base os números indicados

por Cunha e Cintra (1985) sobre os radicais gregos e latinos, percebe-se que i) há um número menor

de palavras constituídas de elementos latinos na segunda posição; ii) as palavras criadas são mais

opacas, como em “franguívoro”, “mulherívoro” (exemplos de GONÇALVES, 2011b), portanto, iii)

não geram produção em série e iv) algumas, ainda que se combinem com formas livres, têm

Lidell e Scott (1883, p. 15) no Greek –English Lexicon, definem agrônomo como magistrado, em Atenas, responsável

pela fiscalização das terras públicas. Já Chantraine (1968, p.15), no Dictionnaire Étymologique de la Langue Grecque,

como que vive na zona rural. Em relação à palavra agronomia, Houaiss informa que, provavelmente, é um empréstimo

do Francês. Os dicionários franceses pesquisados, Le Dictionnaire Étymologique et Historique Du Galloroman (FEW)

(2003, p.271) mencionam a palavra no verbete agronome (agrônomo) e define como função do oficial e o CNRTL

(Centre National de Ressources Textuelles et Lexicales) como ofício do agrônomo. Ambos os dicionários informam que

a palavra com acepção de ciência passa a ser usada apenas no século XVIII.

Embora sejam inferências, as relações socioculturais dos gregos com o trabalho agrícola podem justificar a difusão de

ἀγρος em detrimento de ᾰρουρα da palavra específica para referir-se ao cultivo da terra. 72 Segundo Chantraine (1968) e Boisaeq (1916), em latim, arvum significa terra cultivada ou cultivável.

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contexto de uso específico, retomando as formações neoclássicas prototípicas, tais como pesticida,

inseticida e as formações em -cultura, cafeicultura, bananicultura, cacauicultura.

Embora, inicialmente, pareçam ter menor produtividade, as composições com as formas

latinas apresentam um comportamento morfológico parecido com as formações com elementos

gregos: o elemento anterior perde sua vogal e o -i- assume a posição intermediária entre as bases. A

presença da vogal ratifica uma composição por analogia. A seleção linguística, -cida e -cultura,

associada à função pragmática do termo (utilizado pela indústria química e pela agricultura,

respectivamente) podem ser gatilhos para o uso do modelo neoclássico de composição.

Palavras compostas tais como médico-hospitalar, público-privado, clínico-cirúrgico, como

observado por Li Ching (1973) e Gonçalves (2011b), chamam a atenção, pois são processos

composicionais não constituídos por elementos neoclássicos em que a vogal -o- se instancia. Porém,

como já afirmado anteriormente, as bases à esquerda são formas livres que possuem o -o na sua

constituição, o que pode comprometer a análise, embora a manutenção da vogal sobreponha-se à

concordância entre os componentes coordenativos.

Há exemplos em que as duas bases fazem parte do vernáculo, como dento-bucal, buco-

maxilar, linguodental, e ocorre a instanciação73 da vogal -o-, que não pertence nem ao primeiro,

nem ao segundo elemento, mas caracteriza estruturalmente esses adjetivos compostos, mais do que

nas formações com -cida e -cultura, e a função pragmática pode ser um fator relevante para escolha

do modelo neoclássico para criação dessas palavras.

Os dados apresentados, nessa seção, tendo em vista as combinações entre dois elementos

neoclássicos ou entre um elemento neoclássico e uma forma livre do vernáculo, podem ser

divididos em três grupos, de acordo com as propostas de Bauer (1998) e Kastovsky (2009) para

73 Instanciação é uma relação sustentada pelo amplo inventário altamente estruturado de conjunto simbólico conhecido

pelo falante que se manifesta no uso da linguagem (cf. LANGACKER, 2008, p. 17).

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relações das vogais com as bases: a) -o- ou -i- pertencente ao primeiro elemento – agrômetro,

agroambiental, neolatino, fotógrafo, pluricampeão, agricultura, apicultura, sociologia, herbívoro,

homoafetivo; b) -o- pertencente ao segundo elemento, comportando-se como parte do sufixo –

cachorródromo, cervejólogo (cf. RONDININI, 2004; PIRES, 2014); e c) -i- intermediário não

pertencendo a nenhuma das bases – baraticida, bananicultura. A gama de combinações possíveis

entre os elementos neoclássicos e os do vernáculo gera mudanças nas construções neoclássicas,

ocasionando variações no comportamento dos segmentos fronteiriços; portanto, enquadrá-los sob

uma classificação parece-nos equivocado. Descartamos apenas as possibilidades de interpretá-los

como infixo, pois não são morfemas, e como vogal de ligação, uma vez que, diferentemente das

vogais de ligação, esse segmento pode portar acento.

Observamos uma ocorrência sistemática desses segmentos nas construções, com

predominância da vogal -o-, dado sua maior abrangência na língua: a) maior número de radicais

terminados em -o; b) inexistência de formas neoclássicas truncadas com -i; c) uso de -o- como

vogal fronteiriça em compostos adjetivos copulativos (coordenados); e d) aproveitamento dessa

vogal em casos de recomposição, nos quais a palavra-fonte não apresenta tal segmento, como no

caso de “eletro” (TAVARES da SILVA, 2014).

Embora não tenhamos o compromisso em categorizar as vogais, defendemos a hipótese de

que as vogais, -i- e -o-, fronteiriças funcionem como elo entre as construções neoclássicas. Por meio

de uma rede de associações (Bybee, 2010: 22-23) entre as palavras, ou seja, por meio de um

mapeamento, identificam-se semelhanças semânticas e fonéticas compartilhadas por palavras

distintas, chegando assim aos constituintes da construção, por isso, nomeamos, independentemente,

das relações com as bases, esse segmento de marcador de construções neoclássicas, semanticamente

vazio, alternando ente -o- e -i-, sem levar em conta a pauta acentual. Palavras como buco-maxilar,

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linguodental, ratificam a hipótese, pois não apresentam uma motivação morfológica para presença

da vogal entre as bases.

Considerando o exposto por Bybee (op. cit.), a analogia de ordem diacrônica seria a

motivação para a semelhança entre as construções analisadas, já que o esquema abstraído dos

compostos neoclássicos é o herdado das línguas clássicas, justificando, assim, a existência de

formações de cunho técnico como agrografia (1871), agrologia (1858).

Gentner e Markman (1997, p. 48) ressaltam que analogia ocorre quando as comparações

exibem um elevado grau de semelhança relacional com pouquíssima semelhança de atributo. À

medida que a quantidade de atributos similares aumenta, a comparação desloca-se em direção à

semelhança literal74. Por isso, Bybee (2010, p. 102) pontua que a analogia requer muito

conhecimento relacional ou alinhamento estrutural.

Bybee (2010, p. 60) afirma que a aceitabilidade de novas formas está pautada na

similaridade de sequências frequentes e convencionalizadas. Embora sejam consensuais as

afirmações sobre a capacidade criativa da linguagem humana, a autora (op. cit.) assevera que os

enunciados são formados por muitas sequências de palavras “pré-embaladas”. Esse esquema é fruto

das repetições realizadas na fala, que, segundo Bybee (2010), necessita de uma ou duas ocorrências

para estabelecer-se.

A criatividade, nesse modelo, segundo a autora (op. cit.), estaria justamente na forte relação

entre esquemas “pré-fabricados” e o surgimento de novas palavras por meio deles. Palavras como

agromoda (s/ data), agrotv (s/ data), agroquímico (s/ data) e agromulher (s/ data), entre tantas

outras, são criadas a partir do esquema estabelecido Radical+o+Radical, próprio dos compostos

neoclássicos prototípicos. O falante faz a associação a partir do acionamento de qualquer parte da

74 Analogy occurs when comparisons exhibit a high degree of relational similarity withvery little attribute similarity. As the amount

of attribute similarity increases, the comparisonshifts toward literal similarity. (GENTNER; MARKMAN, 1997, p. 48).

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estrutura, nesse caso, do determinante, elemento relevante da composição, comportamento esse

semelhante ao dos compostos N-N do Holandês, como mostra Bybee (2010, p. 61).

A justificativa dada pela autora (op. cit.) para a escolha do modificador como elemento de

ancoragem no Holandês, que pode estender-se às novas formações com agro-, está na representação

exemplar dos compostos, esquemas nos quais a primeira palavra já está acionada e, por isso, é

utilizado como modelo para formações de novos compostos. Atrelada a isso está a frequência de

uso do formativo de origem grega, agro-, causa do número largamente maior de ocorrências do

segmento fronteiriço -o- nas construções em análise.

Portanto, de acordo com a autora (op.cit.), todos os compostos que partilham palavras já

estariam conectados no armazenamento, formando uma rede e tornando a aplicação do processo

analógico mais direto.

6.7. Novas Propostas de Análise para o Continuum Composição-Derivação

As análises das vogais fronteiriças levaram à hipótese de uma rede associativa entre os

compostos neoclássicos, que passamos a nomear de construções neoclássicas, por abarcar diferentes

formações com elementos neoclássicos, independentemente, do comportamento morfológico que os

formativos possam ter, pois as observações evidenciam que as construções neoclássicas apresentam

características que as aproximam e que as afastam do processo de composição de palavras nas

línguas vernáculas.

Por exemplo, em agropesca, agroflorestal, agroclimático, as bases mantêm uma relação de

coordenação, aproximando o formativo aos radicais e às palavras e, consequentemente, tais

formações da composição. Nas construções, agromineral, agroecossistema, agrógrafo,

agroreformista a relação entre as bases é de subordinação, na qual o elemento da direita é o

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determinado e o da esquerda, o determinante, segundo Sandmann (1989, p. 123), essa relação é

típica da prefixação.

A flutuação de agro- poderia ser um impasse para a formulação de generalizações acerca das

formações neoclássicas. No entanto, no corpus, com 87 dados, foram observadas as características

mais salientes dessas composições: a) presença de um radical clássico – nesse caso, agro-; b)

presença da vogal fronteiriça -o-. Os demais critérios, tais como posicionamento do formativo na

construção, relação sintática entre os elementos, realização fonética e significado do formativo, não

só identificam os membros prototípicos, mas também podem aproximar essas construções de outros

processos de formação de palavras.

É possível afirmar que, entre as palavras pertencentes ao corpus analisado, apenas 4

(agrômeno, agromania, agrografia, agrologia) são as que apresentam todas as características

propostas por Amiot e Dal (2007). As demais são novas formações que fogem das características

prototípicas. Entretanto, cabem alguns apontamentos em relação a alguns aspectos proeminentes.

A origem etimológica é um critério controverso, pois o Português é uma língua neolatina e

sofreu influência grega indiretamente. Embora seja um fator que distinga a composição vernacular

da composição neoclássica, já que a introdução desses elementos na língua foi tardia, via línguas

clássicas ou via empréstimo de outras línguas, exigiria um trabalho diacrônico mais profundo, e

palavras como agricultura, agrícola, agrimensura, formadas no Latim, e agrônomo e agronomia,

formadas no Grego, seriam excluídas da análise. A etimologia diferencia os elementos não

considerados como pertencentes ao vernáculo.

Segundo Bizzocchi (1998, p. 68) “para línguas românicas, são vernáculos os elementos

léxicos provenientes diretamente do latim vulgar e do romance, por evolução fonética regular”. Rio-

Torto (2014, p. 33) distingue dois níveis de abordagens para palavras, herdadas ou criadas, a partir

de padrões greco-latinos: a) o de uso não reflexivo da linguagem e, portanto, da gramática

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interiorizada do falante e b) o da descrição, análise e entendimento de como funcionam as estruturas

linguísticas, ou seja, o da gramática explícita. Em ambos os casos, salienta a importância de

conhecer a história e as mudanças reveladas pelas línguas para explicar o seu funcionamento

sincrônico.

A autora (2014, p. 48) reconhece a dispensabilidade do conhecimento diacrônico pelo

falante para o uso da língua; contudo, considera a hipótese de uma internalização de conhecimentos

históricos pelos falantes, por meio do funcionamento da língua; logo,

“Se a estrutura da palavra não está dissociada das condições genéticas e históricas

da sua criação, os vestígios que a história deixa na estrutura da palavra hão de

refletir-se no modo como esta está representada no nosso léxico mental.” (RIO-

TORTO, 2014, p. 48)

O posicionamento da autora dialoga com as considerações apontadas por Bybee (2010) a

respeito da analogia de ordem sincrônica e diacrônica, como exposto na seção anterior. Ambos os

argumentos ratificam que sincronia e diacronia têm de ser vistas como um todo integrado.

O critério semântico preza pelo sentido dos radicais em suas línguas de origem (cf. notas 55

e 56). Como mencionado anteriormente, esse fator ratifica a identidade dos neoclássicos, pois há

uma ressignificação do formativo em outros processos constituídos por esses elementos, como em

agrobiodiversidade (diversidade das formas de vida nas paisagens agrícolas). Embora ager e agro,

de acordo com os dicionários etimológicos, apresentem diferentes acepções, no Latim e no Grego,

respectivamente; em Português, agro- amplia seu sentido de acordo com a construção de que

participa e, por isso, os significados nem sempre são recorrentes.

A existência de uma vogal fronteiriça entre os constituintes da construção, marca formal em

diferentes línguas, é observada em novas formações do Português, tenham elas elementos

neoclássicos ou apenas elementos vernaculares, como observado na seção 6.6. Nos processos de

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formação de palavras constituídos por agro- ou por agri-, as vogais estão presentes (agricultar,

agromoda, agroflorestal).

Em função dos apontamentos concernentes aos compostos do vernáculo constituídos de

bases livres (dento-bucal, linguodental), apresentando a vogal intermediária -o-, mesmo não

havendo uma motivação na estrutura morfológica, inferimos, embora sejam necessárias maiores

investigações, que essa vogal é um marcador de construções neoclássicas.

A presença da vogal em novas formas criadas pela evocação de uma construção mais geral

(BYBEE, 2010), o ESQUEMA DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS NEOCLÁSSICAS, doravante

EFPN, de acordo com nossa hipótese, seria acionado pela moldura comunicativa, ou seja, pelo

evento de uso específico: técnico-científico:

“As molduras comunicativas constituem estruturas de conhecimento relacionadas a

formas organizadas de interação. Caracteriza-se por um conjunto de procedimentos

que identifica um tipo de atividade social” (MARTELOTTA; PALOMANES,

2008, p. 185)

As análises sugerem três tipos de construções que instanciam o EFPN: a) construções

neoclássicas prototípicas, como em agrografia (1871), agricultura (séc. XV), agrícola (1635),

agrimensura (1784); b) construções neoclássicas híbridas, a exemplo de agronegócio, agroportal,

agroreformista, baraticida, monocultura, sociologia; e c) construções vernaculares com marcador

composicional, tal como médico-hospitalar, dento-bucal, buco-maxilar, linguodental.

Refletindo sobre o exposto, recobra-se o conceito de protótipo como uma imagem mental,

mais do que um fenômeno de superfície que toma diferentes formas mediante o conjunto de

exemplares estudado. Portanto, as construções prototípicas analisadas nesta pesquisa, pautadas nas

características proeminentes apontadas por Amiot e Dal (2007) e nas duas sugeridas por nós, são

elementos centrais que irradiam efeitos de prototipicidade (BERNARDO, 2009), as nomeadas

construções neoclássicas prototípicas, a exemplo das já citadas, agrômeno, agromania, agrografia,

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agrologia. Essas construções são modelos para outras, em função de suas semelhanças, tais como:

(a) construções neoclássicas híbridas – que se desmembram entre as que são constituídas por

elementos neoclássicos, latinos e gregos, independente da ordem que assumam na construção, e as

constituídas por elementos clássicos e do vernáculo e vice-versa, com a presença de marcador

composicional; e (b) construções vernaculares com marcador composicional – aquelas em que as

bases à direita e à esquerda são elementos do vernáculo; entretanto, apresentam a vogal -o-

fronteiriça, acionada pela moldura comunicativa, retomando a rede analógica, proposta por Bybee

(2010).

As construções em (a) e (b) mantêm com a construção prototípica uma semelhança

relacional (BYBEE, 2010). Em (a), as sequências frequentes que se alinham ao protótipo podem ser

de dois tipos: 1) dois elementos neoclássicos, mas de origens diferentes; 2) um elemento

neoclássico adjungido a uma base livre do vernáculo, e um marcador composicional que poderá ser

-i- ou -o-, conforme a origem dos elementos combinados. Destacamos que as bases neoclássicas,

das formações descritas em 2, podem ou não sofrer ressemantização, por exemplo, em

agrobanditismo, agro- significa campo; todavia, em agrossocial, agro- significa agronomia (cf.

anexo 2). A mudança de significado dos elementos neoclássicos pode configurar distintos processos

subjacente à formação das palavras, recomposição ou secretion morfoperfilado. Outra questão que

merece ser salientada é a possibilidade de adjunção de empréstimos à base neoclássica, como em

eletrobike (bicicleta elétrica), agroshop, agrogirl, agroboy (cf. anexo 2).

Nas construções em (b), o marcador composicional associado à moldura comunicativa é o

responsável pela familiaridade entre o protótipo e as construções não constituídas de elementos

neoclássicos. As formações neoclássicas englobam três tipos de construções, a saber: construções

neoclássicas prototípicas, construções neoclássicas híbridas e construções vernaculares com

marcador composicional, o que nos leva a sugerir o continuum, ilustrado no quadro 7, abaixo:

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Construções

neoclássicas

prototípicas >>>>>>>>>>>>

Construções

neoclássicas

híbridas

>>>>>>>>>>

Construções

vernaculares com

marcador

composicional

Quadro 7- Continuum das Construções Neoclássicas

O esquema de formação das construções tratadas no quadro anterior participa do continuum

composição-derivação, ratificando a maleabilidade das fronteiras entre os processos de formação de

palavras complexas, como detalhado no quadro 8 a seguir:

Esquemas de Formação de

Composição >>>>>>>>>> Palavras Neoclássicas >>>>>>>>>> Derivação

Processo Clássico de

Composição

Recomposição

Secretion

Morfoperfilado

Quadro 8 – Detalhamento dos Processos de Formação de Palavras Neoclássicas

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Quadro 9 - Desmembramento do Processo Clássico de Composição

Tendo em vista a descrição apresentada nesta pesquisa, os compostos neoclássicos

encontram-se entre a composição e a derivação, uma vez que reúnem características dos dois

processos. Contudo, considerando as peculiaridades das diferentes construções congregadas pelo

rótulo de “compostos neoclássicos”, é possível estabelecer uma representação exemplar ou um

esquema, ao qual nomeamos de ESQUEMA DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS NEOCLÁSSICAS

(EFPN), que, sendo menos detalhado que os exemplares, abarca uma diversidade de construções e

serve como âncora para novas formações. Esse Esquema é instanciado pelas construções

neoclássicas prototípicas, formadas por dois elementos neoclássicos de mesma origem (agrômeno,

agromania, agrografia, agrologia, homófono, biófito); construções neoclássicas híbridas, formadas

por elementos neoclássicos de origens distintas (automóvel, decímetro, sociologia); construções

híbridas constituídas por elementos neoclássicos e elementos do vernáculo (agrobanditismo,

agroaçucareiro, agroalimentar, telemensagem, heteroagressão, ecoturismo) ou não (eletrobike,

petrodiesel, agroboy, agrogirl, agroshop); e construções vernaculares, formadas por elementos

Processo Clássico de Composição

Prototípico

duas bases neoclássicas com mesma etimologia

Híbrido

uma base neoclássica e duas bases neoclássicas com

outra vernácula (ou não) etimologia diferente

Recomposição Secretion

Morfoperfilado

uma base neoclássica ressemantizada e outra vernacular (ou não)

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nativos, com marcador composicional (médico-dentário, luso-brasileiro, sócio-econômica,

linguodental, bucomaxilar).

As construções neoclássicas prototípicas e híbridas, constituídas por elementos neoclássicos,

seriam formadas pelo processo clássico de composição; as construções neoclássicas híbridas,

constituídas por elemento neoclássico e elemento do vernáculo, mais periféricas, seriam criadas via

recomposição ou secretion morfoperfilado. As construções vernaculares com marcador

composicional, apesar de ser instanciação do EFPN, compartilham mais caracaterísticas com a

composição.

6.8. Produtividade

Uma das questões abordada, no capítulo 4, a respeito dos “compostos neoclássicos’, é a

produtividade. Não pretendemos discutir conceitos de produtividade, nesta seção, mas salientar

alguns aspectos relevantes concernentes a agro- e agri-

Lüdeling (2006) e Ralli (2008 a) afirmam que formações neoclássicas estão integradas ao

sistema da língua e são produtivas. Bauer (1998) sugere que a análise da produtividade seja feita

por uma escala gradual, entre construções mais e menos produtivas. Ralli (2008 a) propõe que a

gradiência leve em conta o continuum composições do vernáculo e composições neoclássicas.

Embora o corpus examinado com agro- e agri- elenque apenas 101 palavras, o corpus examinando

por Vivas (2012), de aproximadamente mil palavras com bio-, e o examinado por Ferreira (2010),

com cerca de quinhentas palavras com tele-, demonstra quantitativamente o potencial desses

elementos.

A quantidade de novas formações com agro-, se comparada com novas formações com tele-

e bio-, é bem menor, mas, se comparada com construções com agri-, a quantidade toma contornos

qualitativos, pois é possível afirmar, tendo em vista o corpus analisado, que este formativo está

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reduzido a formações praticamente fossilizadas, como agricultar, agricultado, agricultável75,

agrimensura, com exceção de agricultura e agrícola. A qualidade também se destaca nas diferentes

possibilidades de combinação entre agro- e elementos do vernáculo, tal como sigla, em agrotv,

empréstimos, em agroservice, e encurtamentos (ou cruzamentos), em agroboy.

De acordo com Bybee (2010), a alta frequência type, o número de diferentes construções

que instanciam um esquema, conferem maior abrangência ao esquema e, consequentemente,

tornam-no mais produtivo. Uma classe morfológica com um elevado grau de semelhança

fonológica será menos esquemática, restringindo a aplicabilidade e, por extensão, a produtividade.

A diversidade de construções com agro- contribui com a estabilidade do EFPN.

75 Essas três formas constituem palavras relacionadas por processos de sufixação, valendo, na verdade, por apenas uma.

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CONCLUSÃO

Esta pesquisa originou-se de algumas questões discutidas na morfologia sobre o conceito de

Compostos Neoclássicos, perguntas semelhantes às feitas pelos diferentes autores referenciados

nesta pesquisa, tais como: 1) agro- e agri- são formativos distintos ou alomorfes de uma mesma

unidade morfológica? 2) os compostos neoclássicos inserem-se na composição? 3) qual é o estatuto

morfológico dos formativos? 4) quais são as características morfológicas, sintáticas e semânticas

dessas formações? 5) esse é um processo produtivo? Ao longo do trabalho, outras dúvidas surgiram,

as quais tentamos responder ou, quando não, refletimos e apontamos caminhos para futuras

pesquisas.

Dados históricos contribuíram para responder a primeira questão: agro- e agri- são o mesmo

elemento, apresentando, no final, uma alternância vocálica? Textos do Latim Arcaico, do Latim

Clássico, dicionários etimológicos do Português, do Francês e do Espanhol, levaram-nos à

conclusão de que são duas formas com origens distintas, agro- advindo do Grego e agri-, do Latim,

embora tenham relações históricas comuns nas Línguas Clássicas. Algumas das formações gregas

chegaram ao Português, indiretamente, via Francês.

A segunda questão diz respeito à pertinência da classificação das construções com elementos

neoclássicos como composição. A partir do continnum composição-derivação, pautando-se nas

características prototípicas de cada um desses processos, foi traçado um paralelo entre esses

processos e os “compostos neoclássicos”. Identificamos semelhanças que ora identificam formações

neoclássicas com a composição, ora com a derivação. A posição intermediária das formações

neoclássicas no continuum é fruto do comportamento flutuante dos elementos que as constituem,

que alternam características de radical, de afixos, e de afixoides, dificultando a classificação.

Diferentemente de Amiot e Dal (2007), que iniciam suas análises classificando os elementos

neoclássicos de Formas Combinatórias (FC), evitamos rótulos, pois, como destaca Kastovsky

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(2009), sob FC agrega-se uma série de formativos com características distintas: palavras, raízes,

radicais, afixos, truncamento, splinters. Por isso, ao longo do trabalho, os elementos denominados

pela tradição de “radicais neoclássicos” foram nomeados de elementos morfológicos ou formativos,

por conferir mais neutralidade. A análise mostrou um comportamento heterogêneo de agro-,

ratificando o continuum composição-derivação.

As construções neoclássicas prototípicas com agro- e agri- diferem dos compostos do

vernáculo por: a) serem constituídas por dois elementos clássicos e não por elementos do vernáculo;

b) assumirem posição à esquerda, embora essa posição se modifique entre os diferentes

construções; c) não imprimirem mudança categorial. A relação sintática entre as bases, com poucas

exceções, é a canônica do modelo clássico, DT-DM. No que se refere ao significado, agro-

apresenta densidade semântica.

As características que distinguem os compostos vernaculares dos compostos neoclássicos

prototípicos possibilitam a identificação de um esquema para essas formações. No entanto, os

neoclássicos não formam um conjunto homogêneo, nem mesmo entre aqueles que reúnem as

características mais salientes. A adjunção dos formativos neoclássicos a bases livres do vernáculo

gera uma gama de modelos que divergem no nível fonético, morfológico, sintático e semântico,

estando unidos por semelhança de família. Em consonância com Petropoulou (2009), identificamos

como aspecto mais saliente das construções neoclássicas prototípicas a combinação entre dois

elementos de origem clássica, mas divergimos da autora (op. cit.) por não incluirmos entre os

elementos neoclássicos os que se comportam como forma livre, por considerarmos que esse aspecto

os afasta dos prototípicos.

A heterogeneidade das construções abarca todos os níveis gramaticais, mas, no

desenvolvimento do trabalho, demos destaque a fatores morfológicos e semânticos. Sendo os

formativos aqui tratados também constituintes do processo de recomposição, observamos a

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considerável densidade semântica entre as formações com agro-. Algumas construções são

recompostas, mas não podem ser classificadas categoricamente como recomposição, pois seu

significado não é recorrente e não mantém uma relação de fidelidade com a palavra matriz (BOOIJ,

2005). Portanto, esse seria um subprocesso da recomposição ao qual nomeamos de secretion

morfoperfilado.

Em relação ao aspecto morfológico, há uma sobreposição entre agro- e agri-, pois aquele

surge como forma truncada de palavras constituídas por este. A analogia pode ser um hipótese para

esse comportamento, como destaca Kastovsky (2009). A forma truncada agri- perderia a vogal -i e,

em função da relação associativa e da frequência de uso, a vogal -o- assumiria a posição. Essa pode

ser uma justificativa para manutenção da forma concorrente agri- em Português, embora seja

produtiva.

Diante do exposto, analisamos o papel do segmento vocálico inserido entre as bases da

construção; elencamos as possíveis combinações entre os elementos clássicos e entre estes e os

elementos do vernáculo; observarmos que as vogais -o- e -i- estão presentes de acordo com a

origem dos formativos, se grego ou latino, respectivamente. Por fim, notamos que algumas

composições constituídas apenas por elementos do vernáculo apresentam -o- como vogal final da

primeira base, algumas com motivação morfológica como em médico-cirúrgico, outras não, como

em dento-bucal, ainda que sejam compostos do vernáculo, apresentam uma vogal fronteiriça.

Inferimos que a moldura comunicativa aciona a vogal e a escolha pelo -o- deve-se à frequência de

uso.

As construções com elementos apenas do vernáculo ratificam as hipóteses de formação por

analogia e a de classificação dessa vogal como marcador composicional, específico de processos de

formação de palavras que possuem elementos neoclássicos ou que exercem uma função pragmática

típica dessas construções, isto é, são designações técnicas ou científicas, embora os elementos sejam

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do vernáculo. Por isso, propusemos o continuum Construções neoclássicas prototípicas > Construções

neoclássicas híbridas > Construções vernaculares com marcador composicional, ilustrado no quadro

7.

As variadas combinações possíveis com agro-, ou melhor, a frequência type, fortalecem os

esquemas que, por sua vez, servem como fonte para novas palavras. Atrelados a esses conceitos

estão analogia e produtividade. A criação de novos dados, considerando-se a semelhança e usos

anteriores, faz-se por meio de construções gerais, e a abrangência de tais construções pode tornar o

esquema mais ou menos produtivo. A diversidade de construções com agro- potencializa a sua

produtividade.

Diferentes apontamentos foram feitos com o propósito de responder à questão inicial desta

pesquisa: Qual é o estatuto morfológico de agro- e agri-? Ao nos aproximarmos dos formativos,

várias imagens foram desenhadas como um caleidoscópio, que a cada movimento foi trazendo

novos arranjos com diferentes peculiaridades, mas a semelhança entre as construções marginais

permitiu estabelecer a correlação entre as estruturas. Portanto, agri- e agro-, principalmente o

último, podem ser melhor entendidos no continuum radical-afixo, e, consequentemente, as

construções neoclássicas, das quais participam, são mais bem descritas a partir do continuum

composição-derivação, uma vez que seus membros são categorizados como prototípicos e

periféricos, demonstrando a heterogeneidade inerente aos processos de formação de palavras de

Português.

Portanto, as questões analisadas durante este trabalho corroboram a hipótese do

processamento cognitivo flexível (MARKMAN, 2000), que permite a organização e

armazenamento das experiências linguísticas atuais e antigas via comparação, ou seja,

estabelecendo relações que consideram as compatibilidades e os desvios das formas, gerando

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esquemas a partir de construções linguísticas. A flexibilidade correlaciona e reúne na mesma

categoria elementos que são correspondentes e também, por extensão, os que são similares.

Com isso, o assunto não se esgota, tendo em vista a sua complexidade; contudo,

apresentamos uma alternativa de sistematização para as formações agro-X, que poderá lançar luz

sobre a forma como os processos de formação de palavras são compreendidos, e poderá contribuir

para a análise de diferentes construções neoclássicas.

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172

ANEXOS

Os verbetes, do anexo 1, estão distribuídos em 5 colunas. Na primeira coluna, estão

dispostos os vocábulos e as datas de registro de entrada na Língua Portuguesa, de com o Houaiss e.t

al. (2009). Na segunda coluna, são elencadas as fontes de consulta: o Grande Dicionário Houaiss

Beta da Língua Portuguesa (Houaiss), o Novo Dicionário Eletrônico Aurélio da Língua Portuguesa

(Aurélio), o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) e o Google. As fontes são

citadas de acordo com o registro do vocábulo nelas:

a) Apenas no VOLP, quando não dicionarizadas;

b) Nos dois dicionários;

c) Apenas em um dos dicionários;

d) Em um dos dicionários e VOLP;

e) Nos dois dicionários e no VOLP.

O Google serviu para atestar o uso de palavras registradas apenas no VOLP e para coletar

novas construções ainda não inscritas nos dicionários e no VOLP. Palavras arroladas, no VOLP,

não passíveis de verificação de uso por meio do Google, não foram elencadas, uma vez que podem

não representar práticas linguísticas estabelecidas pela comunidade de fala.

Na terceira coluna, é identificado a classificação morfológica da construção e na quarta

coluna, a natureza das bases constitutivas dos vocábulos.

Na quinta coluna, são expostas as possíveis relações sintáticas entre os formativos da

construção: a subordinação e a coordenação (SANDMANN, 1989). Na primeira, a relação pode ser

do tipo determinante-determinado (DT-DM) ou determinado-determinante (DM-DT). Na segunda,

não há determinação do núcleo por um determinante.

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173

No anexo 2, os verbetes são inventariados na primeira coluna e as acepções na segunda,

conforme definido pelo Houaiss. Para palavras não dicionarizadas, fragmentos de textos retirados

do Google são exibidos, a fim de apresentar possíveis definições propostas na ferramenta de busca

e/ou contextos de uso.

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174

ANEXO 1

Vocábulo e Data de Registro de

Entrada na língua

Fontes Classificação

Morfológica

Natureza

das Bases

Relação Sintática

1. Agribusiness -1955 Houaiss Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

2. Agricoindústria – (s/data) Houaiss

VOLP

Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

3. Agricoindustrial - 1899 Houaiss

VOLP

Adjetivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

4. Agrícola - 1635

Houaiss

Aurélio

VOLP

Substantivo/

Adjetivo

Base Presa +

Base Presa

DT-DM

5. Agricopecuária – (s/data) Houaiss

VOLP

Substantivo Base Presa +

Base Livre

COORDENAÇÃO

6. Agricopecuário – (s/data) Houaiss

VOLP

Adjetivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

7. Agricultado -1552

Houaiss

Aurélio

VOLP

Adjetivo Base Presa +

Base Presa

DM-DT

8. Agricultar -1552

Houaiss

Aurélio

VOLP

Verbo Base Presa +

Base Presa

DT-DM

9. Agricultável -1799

Houaiss

Aurélio

VOLP

Adjetivo Base Presa +

Base Presa

DM-DT

10. Agricultor – 1532

Houaiss

Aurélio

VOLP

Substantivo/

Adjetivo

Base Presa +

Base Presa

DT-DM

11. Agricultura – séc.XV

Houaiss

Aurélio

VOLP

Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

12. Agrimensor -1795

Houaiss

Aurélio

VOLP

Substantivo Base Presa +

Base Presa

DT-DM

13. Agrimensura - 1784

Houaiss

Aurélio

VOLP

Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

14. Agro – séc. XIII

Houaiss

Aurélio

VOLP

Substantivo Forma Livre

15. Agroaçucareiro – séc XX

Houaiss

Aurélio

VOLP

Adjetivo Base Presa +

Base Livre

DM-DT

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175

16. Agroalimentar – (s/data) Houaiss

VOLP

Adjetivo Base Presa +

Base Livre

DM-DT

17. Agroambiental – séc. XX Houaiss

Adjetivo Base Presa +

Base Livre

COORDENAÇÃO

18. Agrobandido – (s/data) Google Substantivo/

Adjetivo

Base Presa +

Base Livre

DT-DM

19. Agrobanditismo – (s/data) Google Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

20. Agrobioclimático – (s/data) VOLP Adjetivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

21. Agrobiodiversidade –

(s/data)

Houaiss Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

22. Agrobiologia – (s/data) Houaiss Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

23. Agroboy – (s/data) Google Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

24. Agrocanal – (s/data) Google Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

25. Agrociência – (s/data) Google Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

26. Agroclimatérico – 1986 Houaiss

VOLP

Adjetivo Base Presa +

Base Livre COORDENAÇÃO

27. Agroclimático – 1986 Houaiss

VOLP

Adjetivo Base Presa +

Base Livre COORDENAÇÃO

28. Agrocombustível – (s/data) Google Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

29. Agroecologia – (s/data)

Houaiss

Aurélio

VOLP

Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

30. Agroecológico – (s/data) Houaiss

Aurélio

Adjetivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

31. Agroeconomia – (s/data) Google Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

32. Agroeconômica – (s/data) Google Adjetivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

33. Agroecossistema – (s/data) Houaiss

VOLP

Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

34. Agroecoturismo – (s/data) Google Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

35. Agroempresário – (s/data) Google Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

36. Agroenergia – séc. XX Houaiss Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

37. Agroexportação – (s/data) Houaiss Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

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176

38. Agroexportador – (s/data) Houaiss Substantivo/

Adjetivo

Base Presa +

Base Livre

DT-DM

39. Agrofit – (s/data) Google Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

40. Agrofloresta – (s/data) Google Substantivo Base Presa +

Base Livre

COORDENAÇÃO

41. Agroflorestal – (s/data) Houaiss Adjetivo Base Presa +

Base Livre

COORDENAÇÃO

42. Agrogeógrafo – (s/data) VOLP Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

43. Agrogeologia - 1949

Houaiss

Aurélio

VOLP

Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

44. Agrogeológico – 1949

Houaiss

Aurélio

VOLP

Adjetivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

45. Agrogestão – (s/data) Google Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

46. Agrogirl – (s/data) Google Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

47. Agrografia – 1871 Houaiss

Aurélio

Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

48. Agrográfico – (s/data) Houaiss

Aurélio

Adjetivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

49. Agrógrafo -1871 Houaiss

Substantivo Base Presa +

Base Presa

DT-DM

50. Agro-hidrologia – (s/data) Houaiss Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

51. Agroindústria – séc. XX Houaiss

Aurélio

Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

52. Agroindustrial – séc XX Houaiss

Aurélio

Adjetivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

53. Agrolink – (s/data) Google Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

54. Agrologia -1858 Houaiss

Aurélio

Adjetivo Base Presa +

Base Presa

DT-DM

55. Agrológico – 1871 Houaiss

Aurélio

Adjetivo Base Presa +

Base Presa

DT-DM

56. Agrólogo -1913 Houaiss

Aurélio

Substantivo Base Presa +

Base Presa

DT-DM

57. Agromancia - 1652

Houaiss

Aurélio

VOLP

Substantivo Base Presa +

Base Presa

DT-DM

58. Agromania – 1827

Houaiss

Aurélio

VOLP

Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

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177

59. Agromaníaco - 1871

Houaiss

Aurélio

VOLP

Substantivo/

Adjetivo

Base Presa +

Base Livre

DT-DM

60. Agrômano – (s/data) Aurélio

VOLP

Substantivo Base Presa +

Base Presa

DT-DM

61. Agromante – 1913

Houaiss

Aurélio

VOLP

Substantivo Base Presa +

Base Presa

DT-DM

62. Agromântico – 1913

Houaiss

Aurélio

VOLP

Adjetivo Base Presa +

Base Presa

DT-DM

63. Agromanufatura – (s/data) VOLP

Google

Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

64. Agrômeno – 1871 Houaiss

VOLP

Substantivo Base Presa +

Base Presa

DT-DM

65. Agrometeorologia – (s/data)

Houaiss

Aurélio

VOLP

Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

66. Agrometeorológico – (s/data)

Houaiss

Aurélio

VOLP

Adjetivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

67. Agrometria – (s/data) VOLP Substantivo Base Presa +

Base Presa

DT-DM

68. Agrômetro - 1900 Houaiss

VOLP

Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

69. Agromineral – (s/data) Google Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

70. Agromoda (s/data) Google Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

71. Agromulher – (s/data) Google Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

72. Agronegócio - 1990

Houaiss

Aurélio

VOLP

Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

73. Agronomando – séc. XX

Houaiss

Aurélio

VOLP

Substantivo/

Adjetivo

Base Presa +

Base Presa

DT-DM

74. Agronometria - 1858

Houaiss

Aurélio

VOLP

Substantivo Base Presa +

Base Presa

DT-DM

75. Agronométrico – séc. XX

Houaiss

Aurélio

VOLP

Adjetivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

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178

76. Agronomia - 1818

Houaiss

Aurélio

VOLP

Substantivo Base Presa +

Base Presa

DT-DM

77. Agronômico -1818

Houaiss

Aurélio

VOLP

Adjetivo Base Presa +

Base Presa

DT-DM

78. Agrônomo - 1818

Houaiss

Aurélio

VOLP

Substantivo Base Presa +

Base Presa

DT-DM

79. Agropastoril - 1986 Houaiss

VOLP

Adjetivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

80. Agropecuária – séc. XX

Houaiss

Aurélio

VOLP

Substantivo Base Presa +

Base Livre

COORDENAÇÃO

81. Agropecuário – séc. XX

Houaiss

Aurélio

VOLP

Adjetivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

82. Agropecuarista – (s/data)

Houaiss

Aurélio

VOLP

Substantivo/

Adjetivo

Base Presa +

Base Livre

DT-DM

83. Agropédico – 1986 Houaiss

VOLP

Adjetivo Base Presa +

Base Presa

DT-DM

84. Agropesca – (s/data) Google Substantivo Base Presa +

Base Livre

COORDENAÇÃO

85. Agroportal – (s/data) Google Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

86. Agroproduto – (s/data) Google Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

87. Agroquímica - séc. XX

Houaiss

Aurélio

VOLP

Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

88. Agroquímico - 1956

Houaiss

Aurélio

VOLP

Adjetivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

89. Agroreformismo – (s/data) Google Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

90. Agroreformista – (s/data) Google Adjetivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

91. Agroservice – (s/data) Google Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

92. Agroshop – (s/data) Google Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

93. Agrossocial – (s/data) Houaiss

VOLP

Adjetivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

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179

94. Agrotecnologia – (s/data) Google Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

95. Agrotecnológico – (s/data) Google Adjetivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

96. Agrotóxico – (s/data)

Houaiss

Aurélio

VOLP

Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

97. Agroturismo – (s/data) Google Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

98. Agrotv – (s/data) Google Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

99. Agroveterinária – (s/data) Google Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

100. Agrovia – (s/data) Houaiss

VOLP

Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

101. Agrovila – (s/data) Houaiss

VOLP

Substantivo Base Presa +

Base Livre

DT-DM

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180

ANEXO 2

Vocábulo Fonte Acepção ou fragmento de texto

1. Agribusiness -1955 Houaiss O dicionário remete ao verbete agronegócio.

2. Agricoindústria (s/data) Houaiss O dicionário informa que o verbete é menos usual e remete ao

verbete agroindústria.

3. Agricoindustrial - 1899 Houaiss O dicionário informa que o verbete é menos usual e remete ao

verbete agroindustrial.

4. Agrícola - 1635 Houaiss Substantivo - o mesmo que agricultor.

Adjetivo – relativo ao campo ou à agricultura; que se de se

dedica à agricultura ou que nela se baseia.

5. Agricopecuária (s/data) Houaiss O dicionário remete ao verbete agropecuária.

6. Agricopecuário (s/data) Houaiss O dicionário remete ao verbete agropecuária.

7. Agricultado -1552 Houaiss O que foi lavrado ou cultivado; diz-se do terreno ou campo

em que se aplicaram processos agrícolas.

8. Agricultar -1552 Houaiss Cultivar; consagra-se à agricultura.

9. Agricultável -1799 Houaiss Terreno ou campo que pode ser agricultado; arável, cultivável.

10. Agricultor -1532 Houaiss Aquele que agriculta; lavrador.

11. Agricultura - séc. XV Houaiss Atividade que tem por objetivo a cultura do solo com vistas à

produção de vegetais úteis ao homem e/ou à criação de

animais; lavoura.

Conjunto dos métodos e técnicas necessários a essa produção.

12. Agrimensor -1795 Houaiss Que ou quem está legalmente habilitado para medir, dividir

e/ou demarcar terras ou propriedades rurais.

13. Agrimensura -1784 Houaiss Medição de terras e campos. Arte ou técnica dessa medição.

14. Agro - séc. XIII Houaiss Terreno cultivado ou potencialmente cultivável.

15. Agroaçucareiro - séc XX Houaiss Referente à cultura e industrialização da cana-de-açúcar.

16. Agroalimentar (s/data) Houaiss Relativo à produção, processamento e embalagem de produtos

alimentares de origem agrícola, destinados ao uso humano.

17. Agroambiental - séc. XX Houaiss Concernente à produção agrícola e ao meio ambiente.

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18. Agrobandido (s/data) Google “Protegidos sob o discurso de “setor produtivo” e

“responsável” pelo equilíbrio da balança comercial, estas

forças não somente. bloqueiam estradas para chantagear o

Governo Federal, mas são verdadeiros agrobandidos que

corporificam as injustiças e violência do modelo de

“desenvolvimento” que se alimenta da prática do trabalho

escravo, da exploração ilegal e predatória dos recursos

ambientais, e da grilagem de terras públicas, se articulando

nacionalmente através da União Democrática Ruralista, da

Confederação Nacional da Agricultura (CNA)e da bancada

ruralista no Congresso.”

(http://www.adital.com.br/site/noticia2.asp?lang=PT&cod=15

336)

19. Agrobanditismo (s/data) Google “A morte do cacique me fez lembrar a do líder sindical,

ambas executadas pelo agrobanditismo, que agora atua com

milícia armada paramilitar”.

(http://www.taquiprati.com.br/cronica.php?ident=947).

20. Agrobioclimático

(s/data)

VOLP “(...) indicando que essas características são influenciadas pela

colheita e manuseio das sementes, pelas condições

agrobioclimá- ticas de cultivo e, possivelmente, componente

genético”. (http://www.scielo.br/pdf/hb/v22n1/a23v22n1.pdf).

21. Agrobiodiversidade

(s/data)

Houaiss Variedade genética das espécies cultivadas, tanto a variedade

dentro de uma espécie, quanto a variedade entre espécies,

gêneros, famílias. A diversidade das formas de vida nas

paisagens agrícolas que inclui, além das espécies vegetais,

fungos, bactérias, insetos, pássaros etc.

22. Agrobiologia (s/data) Houaiss Estudo da nutrição e crescimento das plantas direcionado ao

aumento da produção agrícola.

23. Agroboy (s/data) Google “Bando de playboys do mato, que gostam de músicas de

corno que gravam no banheiro!”

“Filhinho de papai”.

(http://desciclopedia.org/wiki/Agroboy)

24. Agrocanal (s/data) Google “Desde 1995 o canal de maior credibilidade no meio rural.

Possui 22 horas de programação com conteúdo jornalístico

voltado a agricultura e pecuária. Destina a sua programação à

leilões de animais, como: bois, cabras e cavalos, além de vasta

programação com assuntos do agronegócio”.

(http://www.sba1.com/sobre-o-sba/canais-de-tv)

25. Agrociência (s/data) Google “A Revista Brasileira de Agrociência é uma revista trimestral

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editada pela Universidade Federal de Pelotas, Faculdade de

Agronomia "Eliseu Maciel", que tem por objetivo publicar

artigos originais elaborados por especialistas nacionais ou

estrangeiros, que contribuam para o desenvolvimento das

Ciências Agrárias”.

(http://www2.ufpel.edu.br/faem/agrociencia/)

26. Agroclimatérico -1986 Houaiss O dicionário remete ao verbete agroclimático.

27. Agroclimático -1986 Houaiss Referente à agricultura e ao clima; agroclimatérico.

28. Agrocombustível

(s/data)

Google Combustíveis feitos à base de produtos agrícolas.

(pt.wikipedia.org/wiki/).

29. Agroecologia (s/data) Houaiss

Ciência que aplica os conceitos e princípios ecológicos ao

planejamento e manejo de agroecossitemas sustentáveis;

agricultura ecológica.

30. Agroecológico (s/data) Houaiss

Relativo a agroecologia.

31. Agroeconomia (s/data) Google “Conforme a proposta, a atividade rural não deve se limitar

somente à produção de alimentos e incluir atividades

agroindustriais, agropecuárias, pesqueiras, aquícolas,

florestais e de turismo rural, que integram cadeias produtivas

de agroeconomia”.

(http://www.capal.com.br/noticia/375_2_mais-atencao-a-

agroeconomia).

32. Agroeconômica (s/data) Google “Atividade agroeconômica é toda atividade que tenha relação

com a terra. Coletor de minhocas, por exemplo.

Agroeconomia é um nome genérico. A atividade

agroeconômica também diz respeito à fabricação de máquinas

para o campo”.

(http://notasdeaula.org/dir5/direito_trabalho1_17-03-10.html).

33. Agroecossistema (s/data) Houaiss

Ecossistema artificial que se estabelece em áreas agrícolas.

34. Agroecoturismo (s/data) Google “Turismo rural e ecológico - O turismo rural e ecológico é

uma categoria de turismo que ultimamente tem se destacado

como uma atividade bastante atraente em termos de geração

de renda”.

(http://www.apremavi.org.br/cartilha-planejando/turismo-

rural-e-ecologico-ou-agroecoturismo).

35. Agroempresário (s/data) Google “Bom, me chamo Leonardo..tenho 28 anos, moro

sozinho...não tenho muitos passatempos, sou agro empresário,

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vulgo fazendeiro, meus objetivos mais concretos são mais

voltados à área profissional, mas também, meu maior intuito é

buscar um relacionamento sério, com alguém que queira o

mesmo. Se quiserem saber mais sobre mim, me conheça”.

(http://www.pof.com/viewprofile.aspx?profile_id=54932669).

36. Agroenergia séc. XX Houaiss Energia provinda de agricultura de matérias-primas

energéticas renováveis.

37. Agroexportação (s/data) Houaiss Exportação de produtos agrícolas.

38. Agroexportador (s/data) Houaiss Substantivo – que ou aquele que exporta produtos agrícolas.

Adjetivo – relativo à exportação.

39. Agrofit (s/data) Google “O sistema Agrofit –Online é uma ferramenta de consulta ao

público, composta por um banco de dados todos os produtos

agrotóxicos e afins” (www.tudofacil.rs.gov.br).

40. Agrofloresta (s/data) Google “Agrofloresta é o manejo que integra a agricultura, a floresta e

o ser humano” (www.fazendasaoluz.com/agrofloresta).

41. Agroflorestal (s/data) Houaiss Referente ao setor agrícola e florestal.

42. Agrogeógrafo (s/data) VOLP 1 “Tendo o econômico como aspecto primordial da análise

geográfico da agricultura, o autor afirma que o

agrogeógrafo se deve permitir buscar leis explicativas

para os aspectos da atividade agrícola na Economia

Política” ( Mundo rural e geografia: geografia agrária no

Brasil, 1930-1990,https://books.google.com.br)

43. Agrogeologia 1949 Houaiss Ciência que trata da constituição física e química do solo em

relação à agricultura.

44. Agrogeológico 1949 Houaiss Referente à agrogeologia.

45. Agrogestão (s/data) Google “Agrogestão já tem 700 inscritos.

Identificar as tendências, prever o futuro, fortalecer os

diferenciais competitivos e obter excelência em gestão no

vastíssimo e complexo mundo do agronegócio”

(http://www.ags.com.br/Not%C3%ADcia/15032010-

agrogestao-ja-tem-700-inscritos-2790)

46. Agrogirl (s/data) Google “Iris Pistoleirnelli, mostranso que por famosas que sejam, as

agrogirls são sempre semi-virgens e de família (se for de um

agroboy ricaço, melhor

ainda!)”(http://desciclopedia.org/wiki/Agroboy).

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47. Agrografia -1871 Houaiss Descrição dos campos, especialmente, no que se relaciona ao

seu cultivo.

48. Agrográfico (s/data) Houaiss Relativo à agrografia.

49. Agrógrafo -1871 Houaiss Especialista em agrografia.

50. Agro-hidrologia (s/data) Houaiss Ciência que estuda os mecanismos de transferência da água

em meio agrícola.

51. Agroindústria séc. XX Houaiss

A indústria nas suas relações com a agricultura.

Atividade econômica da industrialização do produto agrícola.

52. Agroindustrial séc XX Houaiss Referente à agroindústria.

53. Agrolink (s/data) Google “O portal do conteúdo agropecuário” (www.agrolink.com.br)

54. Agrologia -1858 Houaiss Ramo da agricultura ligado ao estudo dos solos.

55. Agrológico 1871 Houaiss Referente à agrologia ou à agrólogo.

56. Agrólogo -1913 Houaiss Especialista em agrologia.

57. Agromancia -1652 Houaiss Suposta arte de adivinhar pelo aspecto dos campos.

58. Agromania -1827 Houaiss

Afeto muito intenso ou paixão pelas coisas do campo, pela

agricultura.

Desejo mórbido de permanecer em solidão nos campos.

59. Agromaníaco -1871 Houaiss Que ou o que sofre de agromania.

60. Agrômano (s/data) Aurélio

O mesmo que agromaníaco.

61. Agromante -1913 Houaiss

Pessoa que se dedica à prática da agromancia.

62. Agromântico -1913 Houaiss

Relativo a agromancia ou agromante.

63. Agromanufatura (s/data) Google “Complexo que envolve produção de cana e beneficiamento

do produto para extração de seus derivados”

(www.dicionarioinformal.com.br)

1.4.2. “A agromanufatura do açúcar e a escravidão” (http://ronildaff.blogspot.com.br/2013/08/texto-

aagromanufatura-do-acucar-e.html)

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64. Agrômeno -1871 Houaiss

Indivíduo que vive no campo; camponês, agricultor

65. Agrometeorologia

(s/data)

Houaiss

Aplicação da meteorologia a atividades agrícolas, esp. cultivo,

colheita, regimes climáticos.

66. Agrometeorológico

(s/data)

Houaiss

Relativo à agrometeorologia.

67. Agrometria (s/data) VOLP “Neste trabalho é abordada uma área da ciência da

computação interligada a agricultura

denominada agrometria”.

(bbg.unemat.br/bibliotecavirtual/autor/apresenta.php?id=117)

68. Agrômetro -1900 Houaiss Instrumento usado em agrimensura.

69. Agromineral (s/data) Google “Agrominerais (tais como enxofre, minerais de potássio,

rocha fosfática, cálcário e turfa) é matéria‐prima de origem

mineral sendo insumo absolutamente indispensável para

viabilizar a agricultura e a pecuária brasileiras, ou seja, é parte

integrante da alimentação dos cidadãos brasileiros, da

viabilização do agronegócio externo, e ainda, alavancando o

nascente e pujante setor dos biocombustíveis.”

(http://www.cetem.gov.br/agrominerais)

70. Agromoda (s/data) Google “Agromoda: novidade: moda country em geral”

(https://www.facebook.com/agrovet.agromoda/about)

71. Agromulher (s/data) Google “AgroMulher é um projeto desenvolvido pela UNEMAT com

parceria da Escola Estadual Onze de Março e fomentada pelo

CNPQ. (...) (Tem como objetivo) promover e estimular nas

alunas de ensino médio a formação nas áreas bases de

engenharia agronômica; demonstrar a importância da

educação na formação profissional na vida das meninas e

como estratégia para o ''empoderamento'' feminino.”

(https://www.facebook.com/AgroMulher)

72. Agronegócio -1990 Houaiss

Conjunto de operações da cadeia produtiva, do trabalho

agropecuário até a comercialização.

73. Agronomando -séc. XX Houaiss

Estudante de agronomia próximo da formatura.

74. Agronometria -1858 Houaiss

Ramo da agronomia que tem por objetivo avaliar a

capacidade produtiva do solo.

75. Agronométrico -séc. XX Houaiss

Relativo à agronometria.

76. Agronomia -1818 Houaiss Totalidade das ciências, técnicas e conhecimentos que regem

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a prática da agricultura.

77. Agronômico -1818 Houaiss

Referente à agronomia.

78. Agrônomo -1818 Houaiss Diplomado ou especialista em agronomia; técnico em

agronomia.

79. Agropastoril -1986 Houaiss

Relativo à agricultura e ao pastoreio.

80. Agropecuária -séc. XX Houaiss

Teoria e prática da agricultura e da pecuária, considerando

suas relações mútuas.

Atividade ou indústria simultaneamente agrícola e pecuária.

81. Agropecuário -séc. XX Houaiss

Referente à agropecuária.

82. Agropecuarista (s/data) Houaiss

Que ou quem trabalha ou exerce atividades em setores

pertencentes à agropecuária.

83. Agropédico -1986 Houaiss

Aquilo que diz respeito ao solo arável.

84. Agropesca (s/data) Google “A Lista de Produtos e Serviços da Agropecuária e Pesca,

PRODLIST-Agro/Pesca foi desenvolvida como uma das

etapas do projeto de elaboração de uma classificação central

de produtos para o sistema estatístico nacional”

(concla.ibge.gov.br/classificacoes/por-tema/produtos/lista-de-

produtos/prodlist-agro-pesca.html)

85. Agroportal (s/data) Google “O Agroportal reunirá mais de 80 empresas na Fenagro – O

evento, no Parque de Exposições de Salvador, é uma

importante vitrine para a agroindústria baiana”.

(http://www.seagri.ba.gov.br/noticias/2006/11/08/agroportal-

reunir%C3%A1-mais-de-80-empresas-na-fenagro-

di%C3%A1rio-oficial-da-bahia#sthash.82IWorvU.dpuf)

“O agroportal é, na minha opinião, um dos melhores locais da

internet onde se pode encontrar notícias, atualidade,

informação e artigos sobre as agriculturas de Portugal”

(josemartino.blogspot.com.br.)

86. Agroproduto (s/data) Google “Frango já está entre os 10 principais agroprodutos de Mato

Grosso Nada, claro, que ameace a posição da carne bovina,

principal produto de origem animal de Mato Grosso”

(http://avisite.com.br/noticias/imprimir.php?codnoticia=13266)

87. Agroquímica -séc. XX Houaiss

“Estudo, técnica e prática da química destinados à agricultura;

envolve tanto a produção quanto a análise e prevenção da

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ação de fertilizantes e defensivos sobre as culturas agrícolas,

sobre os consumidores e os trabalhadores do setor”

88. Agroquímico -1956 Houaiss

Especialista em agroquímica

89. Agroreformismo (s/data) Google “Apesar de seu conteúdo ainda sigiloso, o referido PNRA já

começa a receber calorosos apoios das forças mais engajadas

no agro-reformismo socialista e confiscatório”.

(http://www.usinadeletras.com.br)

90. Agroreformista (s/data) Google “A propriedade privada e a livre iniciativa, no tufão agro-

reformista”.

(www.intratext.com/IXT/POR0105/_PX.HTM)

“O Brasil assiste nestes dias a uma ampla e inquietante

articulação de forças da esquerda agro-reformista, que visa

impor uma radical transformação no ponto mais vital de nossa

organização sócio-econômica, a estrutura agrária do país”.

(http://www.usinadeletras.com.br)

91. Agroservice (s/data) Google “A CL- AGROSERVICE é uma empresa que está há 2 anos

no mercado, na área de prestação de serviços de Jardinagem,

priorizando qualidade, competência, eficiência e

responsabilidade”

(http://www.sindiconet.com.br)

92. Agroshop (s/data) Google Loja de produtos agrários

“Veja a reputação da empresa Agroshop, registre reclamação e

solucione seu problema. O produto atrasou, o serviço falhou?

Reclame Aqui.”

(www.reclameaqui.com.br)

93. Agrossocial (s/data) Houaiss

Referente às questões de natureza social que envolvem a

agronomia

94. Agrotecnologia (s/data) Google “O autêntico ‘feijão maravilha’. Agrotecnologia.

Produtividade de feijão aumenta com novas tecnologias”

(www.jornalexpressoregional.com.br/notícias-

ver.php?id=633)

95. Agrotecnológico –

(s/data)

Google “Desenvolvimento de sistema agrotecnológico para produção

de capim limão”

(www.fapitec.se.gov.br/?q=documento)

96. Agrotóxico (s/data) Houaiss

Qualquer produto de origem química ou biológica us. na

prevenção ou extermínio de pragas e doenças das culturas

agrícolas (fungicidas, herbicidas, inseticidas, pesticidas);

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agroquímico, defensivo agrícola

97. Agroturismo (s/data) Google “É a prática de atrair visitantes para áreas agrícolas,

geralmente com propósitos educacionais e recreativos”

(viagem.hsw.uol.com.br)

98. Agrotv (s/data) Google “GR Agrotv”. (http://grupogragro.com.br/agro-tv/)

“Agrotv” (http://www.agronovas.com.br/agro-tv)

99. Agroveterinária (s/data) Google “Loja virtual distribuidora de produtos medicamentos para Pet

cães gatos e grandes animais, produtos agrícolas pragas

urbanas fornecedor para Médico “

(www.agroveterinaria.com.br)

“Revista de Ciência Agroveterinária (...) destina-se à

publicação de trabalhos técnico-científicos originais, inéditos,

resultantes de pesquisas em Ciências Agrárias e Veterinárias e

suas áreas correlatas”

(http://revistas.udesc.br/index.php/agroveterinaria)

100. Agrovia (s/data) Houaiss

Toda e qualquer via de ligação (terrestre, marítima, fluvial)

entre os centros de produção agrícola, os centros de

intermediação e/ou a armazenagem e os centros de consumo

final”

101. Agrovila (s/data) Houaiss

Núcleo populacional construído para servir de abrigo e

oferecer assistência aos que trabalham na construção de

estradas de desbravamento