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1 Desafiados a ser padrão de submissão a Cristo Chegamos ao último trimestre deste ano. Agra- decemos a Deus pelo privilégio de chegarmos até aqui. “Desafiados a ser padrão de submissão a Cristo” , é a ênfase deste ano da CBB. O tema é: “Integralmente sub- missos a Cristo” e a divisa está baseada em Romanos 6.22. O ato de submissão é o que define o caráter do discípulo. Quando recebe um novo coração, o crente é transformado e é natural que sua atitude seja de entrega e submissão a Cristo. A submissão se manifesta pela obediência e essa, por sua vez, se comprova por meio de um co- ração disposto a servir. Cristo dá o exemplo. Ele disse: “Pois, no meio de vós, eu sou como quem serve” (Lucas 22.27). “Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando”. (João 15.14). A igreja de Jesus necessita viver sob sua autoridade e liderança. Mes- mo numa era centralizada no “eu”, as pessoas que estão na igreja de Cristo não devem viver a sua própria maneira. Cada decisão que um cristão toma é uma decisão espiritual, guiada pela obediência à sua liderança. Cristo é o cabeça da igreja. Nós somos o corpo. Sejamos então: “PADRÃO DE SUBMISSÃO A CRISTO”. O nosso entrevistado deste trimestre é o Dr. Lyncoln Pereira de Araújo, Diretor do STBNB – Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil – que responde algumas perguntas sobre o trabalho que vem rea- lizando à frente do Seminário mais antigo dos batistas brasileiros. No artigo “A relevância do diagnóstico no Ministério de Educação Cristã”, a Prof a Izia Barbosa de Araújo fala da importância do diagnósti- co como fundamental para descobrir quais as reais necessidades e pro- blemas existentes no Ministério de Educação Religiosa e como elaborar o planejamento. O Pr. Roberto Ramos da Silva, no artigo “O DNA do Pai”, diz que uma das doutrinas mais extraordinárias que encontramos na Bíblia é a doutrina de nossa relação com Deus como seus filhos. O Pr. Joaquim de Paula Rosa fez uma pesquisa sobre o “Método Paulo Freire ou Método Laubach? ” onde fala do trabalho notável do missionário Franck Laubach, conhecido mundialmente como o ”Após- tolo dos analfabetos”. No artigo “A adolescência não é um “bicho de sete cabeças”, o Pr. Luiz Alberto Teixeira Sayão diz que o abismo entre as gerações é enor- me e que é necessário um esforço maior por parte dos pais para com- preenderem seus filhos. Nos demais artigos, refletiremos sobre a Bíblia, a Palavra de Deus, além das Sugestões de Livros, do Educador em Destaque, Vale a pena LER de Novo e, de muitas novidades e informações que, por certo, se- rão bênçãos para todos nós, leitores. EDUCADOR ISSN 1984-8668 Ano XXIII – Nº 91 EDUCADOR é uma revista destinada a educadores religiosos, professores de EBD, estudantes e líderes em geral Copyright @ Convicção Editora Todos os direitos reservados Proibida a reprodução deste texto total ou parcial por quaisquer meios (mecânicos, eletrônicos, fotográficos, gravação, estocagem em banco de dados etc.) a não ser em breves citações, com explícita informação da fonte Publicado com autorização por Convicção Editora CNPJ (MF): 08.714.454/0001-36 Endereços Telegráfico – BATISTAS Caixa Postal: 13333 Rio de Janeiro, RJ – CEP: 20270-972 E-mail: [email protected] Editor Sócrates Oliveira de Souza Coordenadora Editorial Solange Cardoso de Abreu d´Almeida (RP/16897) Redatora Jane Esther Monteiro de Souza de Paula Rosa Conselho Consultivo Rosane Andrade Torquato – PR Madalena de Oliveira Molochenco – SP Pedro Jorge de Souza Faria – RJ Ivone Boechat de Oliveira – RJ Produção Editorial Oliverartelucas Produção e Distribuição Convicção Editora Tel.: (21) 2157-5567 Rua José Higino, 416 – Prédio 16 – Sala 2 1º Andar – Tijuca – Rio de Janeiro, RJ CEP 20510-412 [email protected] Colaboradores desta edição Israel Belo de Azevedo – RJ Izia Barbosa Brito de Araujo – PE Joaquim de Paula Rosa – RJ Josué Mello Salgado – DF Luiz Alberto Teixeira Sayão – SP Lyncoln Pereira de Araújo – PE Marília Thomaz Lima Pereira – MG Patricia Conceição Grion Soares – RJ Roberto Ramos da Silva – SC Ycléa Cervino – PE Editorial

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Desafiados a ser padrão de submissão

a Cristo Chegamos ao último trimestre deste ano. Agra-

decemos a Deus pelo privilégio de chegarmos até aqui. “Desafiados a ser padrão de submissão a Cristo”, é a ênfase deste ano da CBB. O tema é: “Integralmente sub-missos a Cristo” e a divisa está baseada em Romanos 6.22.

O ato de submissão é o que define o caráter do discípulo. Quando recebe um novo coração, o crente é transformado e é natural que sua atitude seja de entrega e submissão a Cristo. A submissão se manifesta pela obediência e essa, por sua vez, se comprova por meio de um co-ração disposto a servir.

Cristo dá o exemplo. Ele disse: “Pois, no meio de vós, eu sou como quem serve” (Lucas 22.27). “Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando”. (João 15.14).

A igreja de Jesus necessita viver sob sua autoridade e liderança. Mes-mo numa era centralizada no “eu”, as pessoas que estão na igreja de Cristo não devem viver a sua própria maneira. Cada decisão que um cristão toma é uma decisão espiritual, guiada pela obediência à sua liderança.

Cristo é o cabeça da igreja. Nós somos o corpo. Sejamos então: “PADRÃO DE SUBMISSÃO A CRISTO”.

O nosso entrevistado deste trimestre é o Dr. Lyncoln Pereira de Araújo, Diretor do STBNB – Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil – que responde algumas perguntas sobre o trabalho que vem rea-lizando à frente do Seminário mais antigo dos batistas brasileiros.

No artigo “A relevância do diagnóstico no Ministério de Educação Cristã”, a Profa Izia Barbosa de Araújo fala da importância do diagnósti-co como fundamental para descobrir quais as reais necessidades e pro-blemas existentes no Ministério de Educação Religiosa e como elaborar o planejamento.

O Pr. Roberto Ramos da Silva, no artigo “O DNA do Pai”, diz que uma das doutrinas mais extraordinárias que encontramos na Bíblia é a doutrina de nossa relação com Deus como seus filhos.

O Pr. Joaquim de Paula Rosa fez uma pesquisa sobre o “Método Paulo Freire ou Método Laubach? ” onde fala do trabalho notável do missionário Franck Laubach, conhecido mundialmente como o ”Após-tolo dos analfabetos”.

No artigo “A adolescência não é um “bicho de sete cabeças”, o Pr. Luiz Alberto Teixeira Sayão diz que o abismo entre as gerações é enor-me e que é necessário um esforço maior por parte dos pais para com-preenderem seus filhos.

Nos demais artigos, refletiremos sobre a Bíblia, a Palavra de Deus, além das Sugestões de Livros, do Educador em Destaque, Vale a pena LER de Novo e, de muitas novidades e informações que, por certo, se-rão bênçãos para todos nós, leitores.

EDUCADOR

ISSN 1984-8668Ano XXIII – Nº 91

EDUCADOR é uma revista destinada a educadores religiosos, professores de EBD,

estudantes e líderes em geral

Copyright @ Convicção Editora Todos os direitos reservados

Proibida a reprodução deste texto total ou parcial por quaisquer meios (mecânicos,

eletrônicos, fotográficos, gravação, estocagem em banco de dados etc.)

a não ser em breves citações, com explícita informação da fonte

Publicado com autorizaçãopor Convicção Editora

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EndereçosTelegráfico – BATISTAS

Caixa Postal: 13333Rio de Janeiro, RJ – CEP: 20270-972

E-mail: [email protected]

EditorSócrates Oliveira de Souza

Coordenadora EditorialSolange Cardoso de Abreu d´Almeida

(RP/16897)

RedatoraJane Esther Monteiro de Souza

de Paula Rosa

Conselho ConsultivoRosane Andrade Torquato – PR

Madalena de Oliveira Molochenco – SPPedro Jorge de Souza Faria – RJIvone Boechat de Oliveira – RJ

Produção EditorialOliverartelucas

Produção e DistribuiçãoConvicção Editora

Tel.: (21) 2157-5567Rua José Higino, 416 – Prédio 16 – Sala 2

1º Andar – Tijuca – Rio de Janeiro, RJCEP 20510-412

[email protected]

Colaboradores desta ediçãoIsrael Belo de Azevedo – RJ

Izia Barbosa Brito de Araujo – PEJoaquim de Paula Rosa – RJJosué Mello Salgado – DF

Luiz Alberto Teixeira Sayão – SPLyncoln Pereira de Araújo – PE

Marília Thomaz Lima Pereira – MGPatricia Conceição Grion Soares – RJ

Roberto Ramos da Silva – SCYcléa Cervino – PE

Editorial

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ÍNDICE

Educação Teológica

Última Palavra

Educação Geral

Educação Cristã

1 Expediente e Editorial

Desafiados a ser padrão de submissão a CristoJane Esther Monteiro de Souza de Paula Rosa, RJ

2 Índice

3 Entrevista

STBNB – Os desafios do Seminário mais antigo dos batistas brasileiros Lyncoln Pereira de Araújo, PE

8 Resenha

Ouça o Espírito, ouça o mundoMarília Thomaz Lima Pereira, MG

9 Educação Geral

Método Paulo Freire ou Método Laubach?Joaquim de Paula Rosa, RJ

15 Educação Teológica

O DNA do PaiRoberto Ramos da Silva, SC

19 Educação Cristã

A relevância do diagnóstico no Ministério de Educação CristãIzia Barbosa Brito de Araujo, PE

22 Educação Cristã

A adolescência não é um “bicho de sete cabeças”Luiz Alberto Teixeira Sayão, SP

25 Educador em Destaque

Patrícia Conceição Grion Soares, RJ

26 Da Mesa da Redação

Espaço do Leitor

27 Para Pensar

Desafiados a ser padrão de submissão a CristoYcléa Cervino, PE

28 Vale a pena LER de novo

Educando para a incertezaIsrael Belo de Azevedo, RJ

31 Sugestão de Livros

1. A Religiao de Darwin – Autor: Roberto Ramos2. A mais profunda, sensível e ignorada oração de Jesus: uma análise teológica de João 17 – Autor: Isaltino Gomes Coelho Filho3. Chamado à espiritualidade – Autor: Lúcio Guimarães

32 Última Palavra

A mercantilização da fé Josué Mello Salgado, DF

Vale a pena LER de novo

Turma do centenário dos batistas brasileiros – 1982

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Entrevista

SEMINÁRIO TEOLÓGICO BATISTA NORTE DO BRASILOs desafios do Seminário mais antigo dos batistas brasileiros

O Seminário Teológico Ba-tista do Norte do Brasil – STBNB – é assim cha-mado por ser o Brasil, na

ocasião de sua fundação, 1 de abril de 1902, dividido apenas em duas regiões, Norte e Sul. Ele foi criado e continua atuando na cidade do Re-cife, Pernambuco, portanto, no Nor-deste brasileiro.

A Casa de Profetas, como é co-nhecido o STBNB, foi o primeiro Seminário Batista da América Lati-na, sendo também pioneiro entre os evangélicos em diversas áreas do sa-ber teológico. Fundado pelo Missio-nário judeu-russo Salomão Luiz Gins-burg e, ao longo de sua história, foi dirigido, dentre outros, pelos pastores José Munguba Sobrinho, Orlando Fal-cão, João Mein, seu filho David Mein, Hélio Schwartz, David Miller, José Almeida Guimarães, Zaqueu Moreira de Oliveira, Merval Rosa e Roberto Schuller. Todos trouxeram uma con-tribuição valiosa ao STBNB, contudo, foi na administração do Pr. David Mein que o STBNB experimentou uma grande expansão patrimonial e acadêmica.

Localizado no central e aprazí-vel bairro da Boa Vista, em Recife, o STBNB está sediado em proprieda-de com cerca de 13.000m². São 15 prédios com 25 salas de aula, dois modernos auditórios, laboratório de

informática, moradia para alunos, sendo 36 apartamentos para alunos casados e 37 vagas em dormitórios para alunos solteiros, estacionamen-to para 50 veículos, restaurante, uma sala de convivência para alunos, qua-dra esportiva, jardins e centro gráfico para atender a toda demanda de có-pias e impressos.

A Biblioteca, climatizada e infor-matizada, tem um acervo de cerca de 55 mil volumes, sendo segmenta-da para atender aos cursos de Teolo-gia e Música. Nos seus arquivos estão manuscritos, documentos, objetos e fotografias que possibilitam pesqui-sas e estudos mediante a consulta de fontes primárias bem como secun-

dárias indispensáveis à produção de uma história do movimento batista neste país.

Tem duas capelas climatizadas. A menor (Capela Charles Dickson), com 135 assentos é usada para aulas de homilética, ceia, batismo, culto ad-ministrativo e pequenas reuniões. A maior (Capela David Mein), com 800 assentos, é utilizada para grandes re-uniões, cultos e formaturas.

Tendo formado cerca de 3.500 pastores e 1.000 músicos e vários missionários e educadores religiosos, segue o STBNB sua abençoadora ca-minhada. Hoje, o STBNB tem ex-alu-nos atuando no ministério em todos os continentes. Como diz o nosso teólogo

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e historiador Dr. Zaqueu Moreira de Oliveira, em seu livro “Ousadia e De-safios” – 100 anos de STBNB “muita história e inúmeros desafios, repletos de perplexidade, esperança, reflexão, serviço e fé. Pois “esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1Jo 5.4).

Atualmente, o Dr. Lyncoln Pereira de Araújo, está dirigindo o Seminá-rio. É sobre esta nova trajetória que estaremos falando nesta entrevista.

Revista Educador: Quem é Lyncoln Pereira de Araújo? (Igreja, família, ou-tros dados?)Dr. Lyncoln: Sou nordestino, o pri-meiro da família a se converter, ten-do a alegria de ter sido instrumento que Deus usou para converter meus pais. Casado e feliz há 40 anos com a Professora Mariluce Araújo, recifense e docente aposentada da Universi-dade Federal Rural de Pernambuco. Tenho três filhos: Ester (juíza), Filipe (engenheiro), Marta (médica) e qua-tro fabulosos netos (Davi, Ana, Pedro e Eduardo). Este ano de 2015 chega-rão mais duas netas.

Fiz minha decisão ao lado de Cristo na SIB em Areias, Recife, sen-do meu primeiro pastor o Pr. Sidney Viana Leite. Posteriormente, servi ao Senhor em várias funções nas igrejas: Batista da Concórdia (Pr. José Almei-da Guimarães), IEB Casa Amarela (Pr. Merval Rosa e Pr. Ademar Pae-gle), IB Central no Rio de Janeiro (Pr. José Agostinho Almada), IB Perdizes em São Paulo (Pr. Humberto Viegas e Pr. Silas Molochenco). Regressan-do a Recife, voltei a servir na IEB de Casa Amarela e, atualmente, parti-cipo da IB da Jaqueira (Pr. Marcelo Ximenes). Em todas fui e tenho sido grandemente abençoado porquanto sempre me foram dadas muitas e va-riadas oportunidades para servir.

Quanto à minha participação na denominação batista, comecei Pre-sidindo a Juventude Batista de Per-nambuco – JUBAPE. Nesse período estive também na então JUMOC,

Junta de Mocidade da CBB, tendo feito parte da diretoria dessa Junta. Lá convivi com pastores e líderes, como: Fausto Vasconcelos, Olivei-ra Araújo, Ely Fernandes, Daltro Keidmam, Miguel Madeira, Djalma Torres, Waldomiro Tymchak, José Agostinho Almada, Hélio Schwartz, Ozias Monteiro e Gézio Medrado, entre outros homens de Deus, o que foi para mim uma experiência mui-to rica em termos de aprendizagem. Servi na presidência da Associação dos Diáconos Batistas de Pernambu-co e, em seguida, na do Brasil. Tenho presidido a Convenção Batista de Pernambuco inúmeras vezes, tendo dirigido e participado de memorá-veis campanhas de evangelização tais como “Pernambuco para Cristo” e “Há vida em Jesus”. Durante algum tempo participei como membro do Conselho Geral da CBB. A partir de 2002, iniciei minha trajetória servin-do na direção da Convenção Batista Brasileira, sendo por quatro vezes seu 1º Vice presidente e uma vez seu 3º Vice-Presidente.

Profissionalmente, Deus muito me abençoou, pois consegui me for-mar em Ciências da Economia pela UFPE e Ciências Jurídicas (Direito) pela UNICAP, tendo durante minha estada no Rio de Janeiro realizado na Fundação Getúlio Vargas, em nível de pós-graduação, o Curso Planeja-mento Estratégico e Projeto Econô-mico Financeiro.

Na primeira etapa de minha vida profissional, atuei como economista na SUDENE, Ministério da Fazenda, Banco do Nordeste, Ministério de Indústria e Comércio e BNDES. Na segunda etapa, tenho atuado como advogado militante nas áreas de fa-mília e sucessões, tendo, inclusive, escritório estabelecido.

Atualmente, sirvo ao Senhor Deus no STBNB como diretor Geral, onde tenho me dedicado em tempo integral esperando que ele continue me usando em sua obra até quando entenda necessário.

Revista Educador: Como foi que sur-giu o convite para o irmão assumir a direção do STBNB e a quanto tempo o irmão está nesta função?Dr. Lyncoln: Sempre acompanhei com muito amor e interesse a vida do STBNB, principalmente nestes úl-timos anos. Na vice-presidência da CBB vivi muito de perto os grandes desafios que a Casa de Profetas vi-nha enfrentando. Em 2010, por con-vite da Diretoria da CBB e aprovação unânime do seu Conselho Geral, fui nomeado seu Diretor interino. Em Janeiro de 2013, devido a problemas de saúde em pessoa da família, soli-citei encerramento da gestão. Partici-pando da Assembleia da Convenção Batista Brasileira em 2014 na cidade de João Pessoa, PB, fui novamente convidado pela diretoria e Conse-lho, com aprovação da Assembleia, para assumir o STBNB, agora como diretor geral efetivo. Após orar e con-sultar a família, tive tranquilidade no coração de aceitar este desafio e pri-vilégio. E aqui estou servindo a esta instituição que tanto tem contribuído para a obra da educação teológica e de Música Sacra no mundo.

Revista Educador: O Seminário Teo-lógico Batista Norte do Brasil tem uma história de 113 anos. O STBNB nasceu como resultado da visão do judeu-russo Salomão Luís Ginsburg, missionário vinculado à Junta de Rich-mond, nos Estados Unidos, ajudado por D. L. Hamilton, H. H. Muirhead e W. C. Taylor. Fale um pouco sobre os primórdios do STBNB?

O STBNB Tem SidO uma iNSTiTuiçãO de eNSiNO religiOSO que, aO lONgO de Sua hiSTória, Sempre BuScOu um aliNhameNTO dOuTriNáriO de priNcípiOS e práTicaS cOm OS ideaiS da cONveNçãO BaTiSTa BraSileira

Dr. Lyncoln Pereira de Araújo

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Dr. Lyncoln: De acordo com o teólo-go e historiador Dr. Pr. Zaqueu Mo-reira de Oliveira, “a educação teoló-gica batista no Brasil iniciou com as classes teológicas no final do século XIX e início do XX”. Logo que chega-ram ao Brasil os primeiros missioná-rios perceberam que era necessário preparar jovens que pudessem exer-cer um ministério nativo, o que faci-litaria a comunicação do evangelho em virtude do maior conhecimento da língua e da cultura. Havia dificul-dades que não eram só do STBNB, mas se estendiam ao campo batista pernambucano e brasileiro, naturais ao início de trabalho de tamanha en-vergadura. Contudo, pela orientação de Deus e participação de homens como os missionários Salomão Luís Ginsburg, L. Hamilton, H. Muirhead, W. C. Taylor, foi possível vencê-las. Importante registrar a visão estraté-gica daqueles servos, pois edificaram o STBNB em uma das áreas mais no-bres do Recife.

Revista Educador: O STBNB passou por muitas crises. As dificuldades ter-minaram quando o missionário João Mein, em 1942, assumiu a direção da instituição. Quais os destaques de cada uma das gestões administrativas dos Meins para os nossos dias?Dr. Lyncoln: A família Mein teve uma atuação marcante na história do STBNB. O Pr. João Mein dirigiu o STBNB nos períodos de 1930 a 1935 e de 1942 a 1952. Sob sua direção foi organizada a Associação dos Ex-Alunos tendo como objetivo uma maior cooperação destes para com o STBNB e iniciada uma ampliação do ambiente físico. Foram compradas novas propriedades e feitas melho-rias em todos os setores. O Pr. João Mein exerceu forte influência na nova liderança jovem batista emer-gente na região. Em 1953 tem início a gestão do Pr. David Mein, que viria marcar de forma indelével a vida e história da Casa de Profetas. Na área patrimonial, o STBNB cresceu em

número de prédios e salas de aula, dormitórios para alunos, residências para funcionários, alunos casados e professores. Em sua gestão, foi cons-truída uma das mais belas capelas evangélicas do Recife, que toma o seu nome.

Sob sua direção, no ano de 1984, o STBNB atingiu cerca de 810 alu-nos matriculados. Pr. David Mein organizou o Grêmio Acadêmico dos alunos, hoje Diretório Salomão Gins-burg, ampliou a biblioteca, criou a Semana Teológica, ocasião em que convidava sempre teólogos e pensa-dores cristãos de expressão para mi-nistrar no STBNB. Criou e ampliou o curso de Música Sacra, que até hoje tem contribuído para a formação de músicos batistas. Possuindo grande capacidade de liderança, o Pr. David Mein marcou uma forte presença no Brasil como reitor do STBNB e presi-dente da CBB. Além de que foi pas-tor de igrejas influentes na cidade do Recife, como IB do Cordeiro, onde pastoreou durante 31 anos seguidos, IEB de Casa Amarela, 2ª IB de Areias e PIB da Várzea e, no interior, a IB Viração.

Revista Educador: Com está sendo este resgate acadêmico?Dr. Lyncoln: O STBNB tem sido uma instituição de ensino religioso, que ao longo de sua história sempre bus-cou um alinhamento doutrinário de princípios e práticas com os ideais da Convenção Batista Brasileira. No seu caminhar acadêmico, o STBNB so-freu influências externas e internas, mas de uma forma geral manteve seus compromissos com o ideário da CBB. Ao longo de sua história, o STBNB conviveu com dificuldades financeiras, administrativas, econô-micas, bem como dificuldades com o corpo docente e discente. Já sofreu evasão escolar por inúmeras razões. Enfrentou situações de vocacionados sem a devida convicção da chama-da para o ministério e de docentes sem uma real visão do compromisso

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necessário com o ensino numa insti-tuição da estatura do STBNB. Tendo como referências estas situações vi-vidas, tem o STBNB buscado contri-buir na construção de um ambiente de ensino de qualidade e de uma vida discente/docente/funcional de devocionalidade.

O STBNB tem sido uma institui-ção de ensino religioso que, ao longo de sua história, sempre buscou um alinhamento doutrinário de princí-pios e práticas com os ideais da Con-venção Batista Brasileira.

O STBNB trabalha hoje na visão de que seu corpo docente e corpo discente sejam compostos de pes-soas vocacionadas e não apenas de professores e alunos. Um aspecto positivo que tem ajudado neste ca-minhar é que seu corpo docente, em sua grande maioria, está atuando no ministério pastoral e de música em igrejas locais. Some-se a este fato a qualificação permanente da docên-cia, em grau de mestrado e douto-rado em instituições reconhecidas pelo MEC. Atualmente, um projeto acadêmico que está sendo construí-do no STBNB contempla também o ensino de qualidade nas áreas do fazer missões e da gestão eclesiásti-ca. Fato de grande importância é o pedido recente de credenciamento da Faculdade STBNB e autorização para funcionamento dos cursos de Bacharel em Teologia e Licenciatura em Música, feito pelo STBNB junto ao MEC. Após atender as diligências iniciais, a Casa de Profetas aguarda a visita dos avaliadores do MEC na certeza que logrará êxito em seus pedidos. Credenciado, o STBNB ini-ciará uma nova e importante fase de sua história. Internamente passará a buscar, cada vez mais, a necessária excelência no ensino religioso que ministra. Na área externa, buscará construir uma grande rede de inte-gração regional com os demais Semi-nários, visando à melhoria e amplia-ção da oferta do ensino religioso de orientação batista no Nordeste.

Revista Educador: Estamos na era da tecnologia. Como o STBNB está lidan-do com esta nova realidade, com esta transição tecnológica? Já tem planos para a implantação do EaD?Dr. Lyncoln: Há cerca de quatro anos o STBNB promoveu sua pri-meira modernização na área de in-formática que consistiu na instalação de novos programas e aquisição de cerca de 20 computadores. Este ano de 2015, o STBNB deu início a uma nova e ampla modernização, infor-matizando as áreas de finanças, pa-trimônio, acadêmica, do aluno, do professor, biblioteca e agora no En-sino a Distância. A partir de janeiro deste ano iniciamos o projeto STBNB EAD com a oferta inicial do curso de extensão em Teologia. A visão é que em breve tenhamos EAD nas áreas de Gestão Eclesiástica, Missões e Música.

Revista Educador: Quais são os cur-sos que o STBNB está disponibilizan-do atualmente?Dr. Lyncoln: Cursos de Formação em Teologia e Música em quatro anos. Os de extensão de um ano, nas áreas de Teologia, Música e de Mis-sões e no formato de EAD. Promove também no período de férias cursos diversos.

Revista Educador: Como está a fi-losofia do Seminário com relação às parcerias?Dr. Lyncoln: O STBNB entende que a parceria é um dos mais modernos e importantes instrumentos de de-senvolvimento de que dispõe. Pen-sando assim, o STBNB tem mantido parceria com setores gerais da deno-minação como: convenção estadual,

juntas missionárias, igrejas, empresas e empresários cristãos, o que tem viabilizado sua execução orçamen-tária e novos investimentos patrimo-niais. Estas parcerias, em algumas situações, são firmadas para troca de experiência ministerial ou funcional.

Revista Educador: Qual é a sua visão para o futuro do STBNB?Dr. Lyncoln: Minha visão de futuro passa primordialmente pela neces-sidade da instalação definitiva na denominação batista no Brasil de uma visão sistêmica de atuação. Para tanto espero que em breve cada organização atue apenas em sua área específica para a qual foi criada, evitando, assim, superpo-sição. O STBNB tem ainda uma grande contribuição para a melho-ria e expansão do ensino teológico de qualidade no Brasil e para isso tem se preparado. Nesta direção, o STBNB em nível interno investe na melhoria da relação de toda a família seminarial (alunos, profes-sores e funcionários), por meio de programa de oração (são realizados dois cultos semanais de oração) e momentos de comunhão, estimu-lando uma vida espiritual saudável. Estimula mediante seu programa “Por amor a missões” vocações mis-sionárias no seu corpo discente. Ins-talou programa de capacitação fun-cional e formação continuada dos professores. Melhora o preparo dos alunos investindo na vida devocio-nal e acadêmica deles. Preparando-se para os embates futuros, investe na modernização de suas instala-ções, equipamentos e instrumentos musicais. Na área externa, retoma o programa de reaproximação com as igrejas, tendo como prioridade a visita às igrejas, onde apresenta seus planos e desafios. Nestes úl-timos meses foram visitadas cerca de 40 igrejas, estando previsto para este primeiro semestre de 2015, 50 novas visitas. Busca também inte-gração com as Convenções Esta-

miNha viSãO de fuTurO paSSa primOrdialmeNTe pela NeceSSidade da iNSTalaçãO defiNiTiva Na deNOmiNaçãO BaTiSTa NO BraSil de uma viSãO SiSTêmica de aTuaçãO

Vista parcial do Seminário

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duais visando firmar parcerias mais amplas. Ainda externamente, creio que a instalação da esperada Facul-dade STBNB, ampliará nossa visão de futuro, por meio de uma maior inserção do STBNB na sociedade pela execução de programas volta-dos a pessoas carentes. O STBNB nesta perspectiva ampliou sua po-lítica de inclusão social e de acessi-bilidade O ideal de implantação da faculdade STBNB está firmado na manutenção de nossas convicções doutrinárias e princípios cristãos. Também como Faculdade STBNB, cumprindo sua missão, ampliará sua atuação capacitando, cada vez mais, pessoas comprometidas com os verdadeiros valores do reino de Deus.

Revista Educador: Existe um plano permanente de despertamento de vocações? Se a resposta for positiva, detalhe um pouco.Dr. Lyncoln: O STBNB tem um pro-grama permanente de despertamen-to vocacional. Neste ideal, participa

de congressos, simpósios e encontros de jovens e adolescentes quando apresenta informações sobre o STB-NB, estimulando vocações.

Revista Educador: Nestes últimos 30 anos tivemos várias líderes que foram e têm sido expoentes em nossa deno-minação formados pelo STBNB. Algu-mas já se foram e outros ainda estão militando. Como o irmão tem visto este legado na história dos batistas do Brasil? Dr. Lyncoln: O STBNB tem sido um grande celeiro de líderes batistas que atuam no país e no exterior. Este é um legado que a Casa de Profetas tem entregue às igrejas e à denomi-nação batista brasileira, cumprindo sua missão. Dentre os muitos líde-res destacamos os pastores: Djalma Cunha, Orlando Falcão, Antônio Mesquita, José Rodrigues, Lívio Lin-doso, Munguba Sobrinho, Samuel Santos, Zacharias Campelo, Merval Rosa, Jabes Nogueira, José Guima-rães, Ely Fernandes, Raimundo Bar-reto, Zaqueu Moreira, João Ferreira,

Ágabo Borges, Magno Malta, Silair Almeida, Josué Salgado, Isaías Lins, Miqueas da Paz, Estevam Fernandes, Elias Teodoro, Norton Riker, Edvar Gimenez, Alcingstone Cunha, Pedro Serafim e Ney Ladeia.

Revista Educador: Para finalizar nos-sa entrevista, gostaria que o irmão deixasse uma mensagem para os líde-res batistas do Brasil.Dr. Lyncoln: Conto com toda a li-derança batista no Brasil orando e apoiando o STBNB. Grandes são os desafios a serem vencidos no prepa-ro de pastores e músicos para ser-virem às igrejas, mas fiquem certos que o espírito de todos que fazem o STBNB, especialmente das Coor-denadoras dos Cursos de Teologia e Música, doutorandas Maria Betânia e Valdiene Pereira, o Pr. Gilberto da Paz da área administrativa, secretária da direção Flávia Santos, bem como do corpo docente, discente e fun-cional, é de total compromisso com um ensino cujo foco são os valores do reino de Deus. O STBNB, sintoni-zado com os ensinamentos bíblicos, com os postulados da Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira, continuará servindo ao povo batista e sendo eternamente a Casa de Profetas.

O STBNB sintonizado com os ensinamentos bíblicos, com os pos-tulados da Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira, continuará servindo ao povo batis-ta e sendo eternamente a Casa de Profetas.

Revista Educador: Suas considera-ções suplementares a essa entrevista.Dr. Lyncoln: Agradecer a Deus pela oportunidade de servi-lo em tão im-portante função. O STBNB é hoje uma família unida e voltada para ser-vir às igrejas. Gratidão à revista Edu-cador pela oportunidade de prestar informações sobre a rica história da Casa de Profetas.

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Resenha

Ouça o EspíritoOuça o mundo

John Stott

INfORMAçõES

O teólogo e pastor anglicano John Stott foi pastor emérito da All Souls Church, em Londres, e fundador do London Institute for Contemporary Christianity. Foi indicado pela revis-ta Time como uma das cem perso-nalidades mais influentes do mundo.

Possui uma sabedoria singular no meio cristão, realmente é um mestre da Bíblia e a sua obra Ouça o Espírito Ouça o mundo não dei-xa nenhuma dúvida, sendo um dos maiores clássicos da literatura cristã do século XX, publicado no Brasil pela ABU Editora.

RESUMO

Ouça o Espírito Ouça o mundo a-borda diversos temas que são de su-ma importância para o cristão. O au-tor nos dá uma excelente base apo-logética a respeito das verdades bí-blicas, como salvação, ressurreição, dignidade humana, paradoxo huma-no, libertação e a divindade e hu-manidade de Cristo. Sua forma exí-

mia de abordagem faz uma antítese valiosa contra os teólogos liberais e fundamentalistas na exegese das Sa-gradas Escrituras.

John Stott nesta obra leva os leito-res a refletir sobre o papel de ser igre-ja em nossa sociedade, relembrando conceitos evangelicais muitas vezes negligenciado pelos cristãos atuais. Sua forma equilibrada de interpreta-ção da Bíblia, realmente nos lembra o seu outro título “Crer é também pen-sar”, sendo uma referência na teologia bíblica e cristocêntrica.

CONCLUSãO

A obra é edificante. Por meio deste livro o leitor poderá aprender como ouvir o mundo como Deus ouve, mesmo quando tudo em volta está barulhento. É preciso estar sinto-nizado a ele.

O leitor descobrirá como o evan-gelho é importante, como comparti-lhá-lo, como fortalecer a vida espiri-tual e viver com Deus em um mundo atribulado.

No final do livro, existe um guia de estudo que pode ser útil nas Es-colas Dominicais, nas células ou para uso pessoal.

Marília Thomaz Lima PereiraMembro da Igreja Batista em Belo

Horizonte, MG. Professora dos jovens da EBD. Pedagoga.

Selo postal em homenagem a Frank Laubach

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Educação Geral

Método Paulo freire

ou Método Laubach?

Para o enriquecimento dos educadores do Brasil, lem-brei-me deste artigo do historiador David Gueiros

Vieira, publicado originalmente em 9 de março de 2004, nos links relacio-nados no final deste artigo e que vale muito a pena ser relido, especial-mente pelos pedagogos e estudantes de hoje.

INTRODUçãO

Você já tinha ouvido o nome Laubach antes de ler este artigo? Prova-velmente, não. No entanto, este ho-

mem, Frank Charles Laubach era um gigante em seu tempo, conhecido por chefes de Estado e, mundial-mente, como o “Apóstolo dos anal-fabetos”.

Além do título que era conheci-do nos EUA e nas Filipinas como “O apóstolo dos analfabetos”, a revista Time o chamou de Mr. Alfabetização e Lowell Thomas o chamou de “O maior mestre de nosso tempo”.

No aniversário do seu 100º ani-versário, em 1984, os correios dos EUA o homenagearam colocando sua foto em um selo postal na grande série americana.

Frank Charles Laubach

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Mas, talvez, o título mais emo-cionante e revelador foi-lhe dado pelas tribos do Congo Belga. Eles o chamavam de Okombekombe, que significa “Mentor de pessoas de ida-de”, porque ele ensinou as pessoas de idade a ler e escrever.

Frank Laubach era um homem que tinha uma missão. Ele era um homem de Deus e amoroso. Na ver-dade, depois de se formar a partir de Princeton, e obtendo um mestra-do e, em seguida, um doutorado na Universidade de Columbia, ele pas-sou a Union Theological Seminary, daí para o mundo.

Em 1955 foi crida a Fundação Laubach de Alfabetização expan-dindo-se o programa para mais de 34 países em desenvolvimento, in-clusive o Brasil.

MéTODO LAUBACh

O Método Laubach de alfabetiza-ção de adultos foi criado pelo missio-nário norte-americano Frank Charles Laubach (1884-1970). Desenvolvido por Laubach nas Filipinas, em 1915, subsequentemente, foi utilizado com grande sucesso em toda a Ásia e em várias partes da América Latina, du-rante quase todo o século XX. Em 1915, Frank Laubach fora enviado

pela igreja União Congregacional para servir como missionário, na Ilha de Mindanao, nas Filipinas, en-tão sob o domínio norte-americano, desde o final da guerra EUA/Espa-nha. A dominação espanhola deixara à população filipina uma herança de analfabetismo total, bem como de ódio aos estrangeiros.

A população moura filipina era anal-fabeta, exceto os sacerdotes islamitas, que sabiam ler árabe e podiam ler o Alcorão. A língua maranao (falada pelos mouros) nunca fora escrita. Laubach enfrentava, nessa sua missão, um pro-blema duplo: como criar uma língua escrita e como ensinar essa escrita aos filipinos, para que esses pudessem ler a Bíblia. A existência de 17 dialetos dis-tintos, naquele arquipélago, dificultava ainda mais a tarefa em meta.

Com o auxílio de um educador fi-lipino, Donato Gália, Laubach adap-tou o alfabeto inglês ao dialeto mou-ro. Em seguida, adaptou um antigo método de ensino norte-americano, de reconhecimento das palavras es-critas por meio de retratos de obje-tos familiares do dia a dia da vida do aluno, para ensinar a leitura da nova língua escrita. A letra inicial do nome do objeto recebia uma ênfase espe-cial, de modo que o aluno passava a reconhecê-la em outras situações, passando então a juntar as letras e a formar palavras.

Utilizando essa metodologia, Lau-bach trabalhou por 30 anos nas Fili-pinas e em todo o sul da Ásia. Con-seguiu alfabetizar 60% da população filipina, utilizando essa mesma me-todologia. Nas Filipinas, e em toda a Ásia, um grupo de educadores, comandado pelo próprio Laubach, criou grafias para 225 línguas, até en-tão não escritas. A leitura dessas lín-guas era lecionada pelo método de aprendizagem acima descrito. Nesse período de tempo, esse mesmo tra-balho foi levado do sul da Ásia para a China, Egito, Síria, Turquia, África e até mesmo União Soviética. Maio-res detalhes da vida e trabalho de

Laubach podem ser lidos na Internet, no site Frank Laubach.

Na América Latina, o método Laubach foi primeiro introduzido no período da 2ª Guerra Mundial, quando o criador do mesmo se viu proibido de retornar à Ásia, por cau-sa da guerra no Pacífico. No Brasil, este foi introduzido pelo próprio Laubach, em 1943, a pedido do go-verno Vargas, ano em que o missio-nário veio ao Brasil a fim de explicar sua metodologia de alfabetização em Recife, como já fizera em vários ou-tros países latino-americanos. Nessa época, o analfabetismo no Brasil ain-da beirava a casa dos 76%.

A visita de Laubach a Pernambu-co causou grande repercussão nos meios estudantis. Ele ministrou inú-meras palestras nas escolas e facul-dades – não havia ainda uma univer-sidade em Pernambuco – e conduziu debates no Teatro Santa Isabel. Hou-ve também farta distribuição de car-tilhas do Método Laubach, em espa-nhol, pois a versão portuguesa ainda não estava pronta. “As cartilhas de Laubach” foram copiadas pelos mar-xistas em Pernambuco, dando ênfase à luta de classes.

Nessa época, a revista Seleções do Readers Digest publicou um ar-tigo sobre Laubach e seu método – muito lido e comentado por todos os brasileiros de então que, em virtu-de da guerra, tinham aquela revista como único contato literário com o mundo exterior.

PAULO fREIRE

Naquele ano de 1943, Paulo Frei-re já era diretor do SESI, de Pernam-

“aS carTilhaS de lauBach fOram cOpiadaS pelOS marxiSTaS em perNamBucO, daNdO êNfaSe à luTa de claSSeS

Frank C. Laubach (sentado ao centro) com missionários protestantes em Lake Winnipesaukee, New Hampshire, USA – 1961

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buco – assim ele afirma em sua auto-biografia – encarregado dos progra-mas de educação daquela entidade. No entanto, nessa mesma autobio-grafia, ele jamais confessa ter tomado conhecimento da visita do educador Laubach a Pernambuco. Ora, ignorar tal visita seria uma impossibilidade, considerando-se o tratamento VIP que fora dado àquele educador nor-te-americano, pelas autoridades bra-sileiras, bem como pela imprensa e pelo rádio, não havendo ainda tele-visão. Concomitante e subitamente, começaram a aparecer em Pernam-buco cartilhas semelhantes às de Laubach, porém, com teor filosófico totalmente diferente. As de Laubach, de cunho cristão, davam ênfase à cidadania, à paz social, à ética pes-soal, ao cristianismo e à existência de Deus. As novas cartilhas, utilizando idêntica metodologia, davam ênfase à luta de classes, à propaganda da teoria marxista, ao ateísmo e à cons-cientização das massas à sua “con-dição de oprimidas”. O autor des-sas outras cartilhas era Paulo Freire,

diretor do SESI que emprestou seu nome a essa “nova metodologia”, “da utilização de retratos e palavras na alfabetização de adultos” como se a mesma fosse da sua autoria.

Tais cartilhas foram de imediato adotadas pelo movimento estudantil marxista, para a promulgação da re-volução entre as massas analfabetas. A artimanha de Paulo Freire “pegou”, e esse método é hoje chamado Mé-todo Paulo Freire.

O método consiste numa proposta para a alfabetização de adultos desen-volvida e escrita por ele em Pedagogia da autonomia. Desde que Paulo Frei-re despontou no ensino de adultos, rematada polêmica coexiste com o método criado pelo mesmo, conheci-do como Método Freiriano, já que sua base metodológica é uma cópia fiel ao do Método Laubach, diferenciando-se meramente questões de fundo político ministradas junto à alfabetização.

Freire afirmou ter desenvolvido o método enquanto era diretor do Departamento de Extensões Cultu-

rais da Universidade do Recife onde formou um grupo para testar o mé-todo na cidade de Angicos, RN. Aí alfabetizou 300 cortadores de cana em apenas 45 dias, isso porque o processo se deu em apenas 40 horas de aula e sem cartilha.

Freire criticava o sistema tradicio-nal, o qual utilizava a cartilha como ferramenta central da didática para o ensino da leitura e da escrita. As cartilhas ensinavam pelo método da repetição de palavras soltas ou de frases criadas de forma forçosa, que comumente se denomina como lin-guagem de cartilha, por exemplo: Eva viu a uva, o boi baba, a ave voa, dentre outros.

Freire aplicou publicamente seu método, pela primeira vez no Cen-tro de Cultura Dona Olegarinha, um Círculo de Cultura do Movimento de Cultura Popular (Recife). Foi aplica-do inicialmente a cinco alunos, dos quais três aprenderam a ler e escre-ver em 30 horas, outros dois desisti-ram antes de concluir.

Cartilha de Paulo Freire

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Baseado na experiência de Angi-cos, onde em 45 dias alfabetizaram-se 300 trabalhadores, João Goulart, presidente na época, chamou Paulo Freire para organizar uma Campanha Nacional de Alfabetização. Essa cam-panha tinha como objetivo alfabeti-zar 2 milhões de pessoas, em 20.000 círculos de cultura, e já contava com a participação da comunidade – só no estado da Guanabara (Rio de Ja-neiro) se inscreveram 6.000 pessoas. Mas com o Golpe de 64 toda essa mo-bilização social foi reprimida, Paulo Freire foi considerado subversivo, foi preso e depois exilado. Assim, esse projeto foi abortado. Em seu lugar surgiu o MOBRAL, uma iniciativa pa-ra a alfabetização, porém, distinta do

método freiriano, encampado pelo go-verno militar.

Com o Mobral, a mudança da fi-losofia do Método Laubach e a bol-sa-escola foi modificada pelos milita-res: os professores eram pagos e não mais voluntários, e a bolsa-escola de alimentos não mais adotada. Esse novo programa, por razões óbvias, não foi tão bem-sucedido quanto a antiga Cruzada ABC – Ação Bá-sica Cristã, que utilizava o Método Laubach.

O método Laubach – o autêntico – fora de início utilizado com grande sucesso em Pernambuco, na alfabe-tização de 30.000 pessoas da fave-la chamada “Brasília Teimosa”, bem

como em outras favelas do Recife, em um programa educacional con-duzido pelo Colégio Presbiteriano Agnes Erskine, daquela cidade. Os professores eram todos voluntários. Essa foi a famosa Cruzada ABC, que empolgou muita gente, não apenas nas favelas, mas também na cidade do Recife e em todo o estado. Esse esforço educacional é descrito em seus menores detalhes por Jules Spa-ch, no seu recente livro, intitulado Todos os caminhos conduzem ao lar.

O Método Laubach foi também introduzido em Cuba, em 1960, em uma escola normal em Bágamos. Essa escola pretendia preparar pro-fessores para a alfabetização de adul-tos. No entanto, logo que Fidel Cas-tro assumiu o controle total do poder em Cuba, naquele mesmo ano, todas as escolas foram nacionalizadas, in-clusive a escola normal de Bágamos. Seus professores foram acusados de “subversão”, e tiveram de fugir, indo refugiar-se na Costa Rica, onde con-tinuaram seu trabalho, na propaga-ção do Método Laubach, criando então um programa de alfabetização de adultos, chamado Alfalit. A or-ganização Alfalit foi introduzida no Brasil, e reconhecida pelo governo brasileiro como programa válido de alfabetização de adultos.

A oposição ao Método Lauba-ch ocorreu desde a introdução do mesmo, em Pernambuco, no final da década de 1950. Houve tremenda oposição da esquerda ao mencio-nado programa da Cruzada ABC – Ação Básica Cristã – em Pernambu-co, especialmente porque o mesmo não conduzia à luta de classes, como ocorria nas cartilhas de Paulo Freire. Mais ainda, dizia-se que o programa

O méTOdO lauBach TiNha valOreS perTiNeNTeS aO aSpecTO SOcial dO pOvO e NãO era um prOgrama pOlíTicO

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da Cruzada ABC estava “cooptando” o povo, comprando seu apoio com comida, e que era apenas mais um programa “imperialista”, que tinha em meta unicamente “dominar o povo brasileiro”, o que não procedia, pois o método Laubach tinha valo-res pertinentes ao aspecto social do povo e não um programa político.

Como a fome era muito grande na Brasília Teimosa, os dirigentes da Cruzada ABC, como maneira de atrair um maior número de alunos, se propuseram criar uma espécie de “bolsa-escola” de mantimentos. Era uma cesta básica, doada a todos aqueles que se mantivessem na esco-la, sem nenhuma falta durante todo o mês. Essa bolsa- escola tornou-se famosa no Recife, e muitos tentavam se candidatar a ela, sem serem anal-fabetos ou mesmo pertencentes à comunidade da Brasília Teimosa.

O bolsa-escola fora algo proposto desde os dias do império, conforme pode-se conferir no livro de um edu-cador do século XIX, Antônio Almeida, intitulado O ensino público, reeditado em 2003 pelo Senado Federal, com uma introdução escrita por este autor.

No entanto, a ideia da bolsa-es-cola foi ressuscitada por Cristovam Buarque. Quando governador de Brasília Cristovam Buarque, que é pernambucano, fora estudante no Recife nos dias da Cruzada ABC, tão atacada pelos seus correligionários de esquerda. Para a esquerda reci-

fense, doar bolsa-escola de manti-mentos era equivalente a “cooptar” o povo. Em Brasília, como “ideia ge-nial de Cristovam Buarque”, esta é hoje abençoada pela Unesco, espa-lhada por todo o mundo .

O sucesso da campanha ABC – que incluía o Método Laubach e a bolsa-escola – foi extraordinário, sen-do mais tarde encampado pelo go-verno militar, sob o nome de Mobral. Sua filosofia, no entanto, foi modifi-cada pelos militares: os professores eram pagos e não mais voluntários, e a bolsa-escola de alimentos não mais adotada. Esse novo programa, por razões óbvias, não foi tão bem-suce-dido quanto a antiga Cruzada ABC, que utilizava o Método Laubach.

A maior acusação à Cruzada ABC, que se ouvia da parte da es-querda pernambucana, era que o Método Laubach era “amigo da ig-

a cruzada aBc – açãO BáSica criSTã – era evaNgélica, O que gerOu muiTa perSeguiçãO

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norância”, ou seja, não estava ligado à teoria marxista, falhavam em escla-recer seus detratores, e que conduzia a “um analfabetismo maior”, ou seja, ignorava a promoção da luta de clas-ses e defendia a harmonia social. A Cruzada ABC era evangélica, o que gerou muita perseguição.

Não há dúvida que a luta contra o analfabetismo, em todo o mundo, encontrou seu instrumento mais efe-tivo no Método Laubach. Ainda que esse método hoje tenha sido encam-pado sob o nome de Paulo Freire. Os que assim procederam não apenas mudaram o seu nome, mas também o desvirtuaram, modificando, inclu-sive, sua orientação filosófica.

CONCLUINDO

Durante seus 40 anos como o pioneiro de alfabetização, Dr. Frank também encontrou tempo para es-crever 50 livros e dezenas de artigos, em sua maioria educacionais e reli-giosas, mas incluindo alguns temas sociológicos e históricos.

Esperamos que o conhecimen-to sobre esse grande pioneiro da alfabetização possa inspirá-lo. As sementes que plantamos em nos-sos alunos não podem dar frutos imediatamente mas, com cuidado, tempo e amor, eles vão florescer e dar muitos frutos.

Não há dúvida que a luta contra o analfabetismo, em todo o mun-do, encontrou seu instrumento mais efetivo no Método Laubach e mesmo que esse método hoje, no Brasil, tenha sido encampado sob o nome de Paulo Freire, sua essên-cia continua sendo a inspiração de Frank Laubach.

REfERêNCIAS

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Joaquim de Paula Rosa

Pastor e membro da Igreja Batista em Porto da Madama, São Gonçalo,

RJ. Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, pregador, conferencista,

intérprete da Língua Inglesa, professor de Inglês, professor de Teologia, escritor, comunicador de rádio e TV, administrador de entidades

evangélicas e seculares. É “Membro Correspondente” da AELB – Academia

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h t t p: / / w w w. s i s t emac pv.c o m.b r/no t i c ia s /178 -meto do -pau -lo-freire-ou-metodo-laubach

h t t p : / / w w w.u n i c a p . b r / t e d e /tde_arquivos /5/ TDE-2010 - 05-10T194054Z-276/Publico/disserta-cao_jose_ferreira.pdf - a partir da página 71

http://www.escolasempartido.org/artigos/178-metodo-paulo-freire-ou-metodo-laubach