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EDITORIAL Em tempos de grandes desafios, o papel da liderança assume crucial importância para a definição de passos importantes que viabilizem a longevidade das organizações. A capacidade de compreen- der o contexto e analisar as tendências torna-se mais necessária ainda para que as decisões a serem tomadas sejam efetivas. Estamos chegando ao último trimestre de mais um ano. A velocidade do relógio cada vez mais pa- rece estar mais alta. Na diversidade e dinâmica nas quais estamos inseridos, o processo de tomada de decisões em nossas igrejas e organizações precisa acompanhar este ritmo. Temos o privilégio de servir ao Senhor, mas este privilégio é acompanhado de tremenda responsabilidade, pois falhar em nossas escolhas pode trazer prejuízos eternos para milhões de pessoas. Não tomamos decisões de negócios que levam a lucros ou prejuízos financeiros, mas nossas decisões têm impactos espirituais profun- dos e eternos. Se decidimos destinar os recursos que chegam às nossas mãos a partir de prioridades equivocadas, poderemos fazer muitas coisas e não alcançar vidas com a mensagem de esperança em nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. É necessária a clara compreensão sobre a missão da igreja a fim de que possamos influenciar a sociedade na qual estamos inseridos a partir de uma atuação espiritual e socialmente relevante. Cientes de tamanha responsabilidade, devemos buscar a visão de Deus para nossas igrejas e orga- nizações e, a partir desta compreensão, direcionar esforços e recursos para que seja cumprida. Mais uma vez, com a intenção de contribuir para este processo de liderança de nossas igrejas e organizações, trazemos artigos que abordam temas importantes para os desafios do dia a dia, seja em questões legais que afetam a gestão, sejam em questões de relacionamento acolhedor e gestão de pessoas. Continuamos a reflexão acerca do PNDH-3 e a cidadania religiosa, oferecemos uma reflexão acerca das doações que são oferecidas às igrejas, assim como um artigo sobre a importância da visão da liderança na condução das organizações entre outros textos que selecionamos para proporcionar a você momentos de reflexão e entendimento dos desafios de nossa época. Esperamos que esta edição seja útil a você e seu ministério. Boa leitura! É necessária a clara compreensão sobre a missão da igreja a fim de que possamos influenciar a sociedade na qual estamos inseridos a partir de uma atuação espiritual e socialmente relevante Tempos de grandes desafios 1

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EDITORIAL

Em tempos de grandes desafios, o papel da liderança assume crucial importância para a definição de passos importantes que viabilizem a longevidade das organizações. A capacidade de compreen-der o contexto e analisar as tendências torna-se mais necessária ainda para que as decisões a serem tomadas sejam efetivas.

Estamos chegando ao último trimestre de mais um ano. A velocidade do relógio cada vez mais pa-rece estar mais alta. Na diversidade e dinâmica nas quais estamos inseridos, o processo de tomada de decisões em nossas igrejas e organizações precisa acompanhar este ritmo. Temos o privilégio de servir ao Senhor, mas este privilégio é acompanhado de tremenda responsabilidade, pois falhar em nossas escolhas pode trazer prejuízos eternos para milhões de pessoas. Não tomamos decisões de negócios que levam a lucros ou prejuízos financeiros, mas nossas decisões têm impactos espirituais profun-dos e eternos. Se decidimos destinar os recursos que chegam às nossas mãos a partir de prioridades equivocadas, poderemos fazer muitas coisas e não alcançar vidas com a mensagem de esperança em nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. É necessária a clara compreensão sobre a missão da igreja a fim de que possamos influenciar a sociedade na qual estamos inseridos a partir de uma atuação espiritual e socialmente relevante.

Cientes de tamanha responsabilidade, devemos buscar a visão de Deus para nossas igrejas e orga-nizações e, a partir desta compreensão, direcionar esforços e recursos para que seja cumprida.

Mais uma vez, com a intenção de contribuir para este processo de liderança de nossas igrejas e organizações, trazemos artigos que abordam temas importantes para os desafios do dia a dia, seja em questões legais que afetam a gestão, sejam em questões de relacionamento acolhedor e gestão de pessoas. Continuamos a reflexão acerca do PNDH-3 e a cidadania religiosa, oferecemos uma reflexão acerca das doações que são oferecidas às igrejas, assim como um artigo sobre a importância da visão da liderança na condução das organizações entre outros textos que selecionamos para proporcionar a você momentos de reflexão e entendimento dos desafios de nossa época.

Esperamos que esta edição seja útil a você e seu ministério.

Boa leitura!

É necessária a clara

compreensão sobre a missão

da igreja a fim de que possamos

influenciar a sociedade na qual estamos

inseridos a partir de

uma atuação espiritual e

socialmente relevante

Tempos de grandes desafios

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SUMÁRIO

ISSN 1984-8684

Literatura BatistaAno 42 • Nº 168

Administração Eclesiástica é uma revista preparada especialmente para a liderança da igreja – pastores, diáconos, seminaristas, educadores religiosos e diretoria – visando a um melhor desempenho de seu ministério nas diferentes áreas de atuação

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Publicado com autorizaçãopor Convicção EditoraCNPJ (MF): 08.714.454/0001-36

EndereçosCaixa Postal, 13333 CEP: 20270-972 – Rio de Janeiro, RJ Telegráfico – BATISTASEletrônico – [email protected]

EditorSócrates Oliveira de Souza

Coordenação EditorialSolange Cardoso de Abreu d’Almeida (RP/16897)

RedaçãoDavidson Pereira de Freitas

Produção EditorialOliverartelucas

Produção e DistribuiçãoConvicção EditoraTel.: (21) 2157-5567Rua José Higino, 416 – Prédio 16Sala 2 – 1º Andar – Tijuca Rio de Janeiro, RJCEP [email protected]

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Todo líder é um visionário

Cidadania religiosa e o PNDH-3

Onde estão os “Timóteos” do século 21?

Doações

Líder conectado, você é um deles?

O desafio da gestão de pessoas em ambientes eclesiásticos

Acolhendo uns aos outros

Preparando para 2016 Ainda há tempo?

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Todo líder é um visionário. Ele é capaz de antecipar neces-sidades e movimentos para que seu grupo ou sua comunidade tenham suas necessidades satisfeitas e anseios realizados. Essa é a razão de se dizer que os liderados o seguem. Não por que ca-minham sozinhos na dianteira arrastando seus liderados, mas porque antecipam suas visões e são capazes de inspirá-los na realização de grandes e pequenas coisas, mas todas de grande importância para eles.

Um líder perde sua legitimidade quando começa a exigir que as pessoas o sigam pelo que ele é, ou acha que é, e não pelo que inspira nelas. Isso é verdade em todas as esferas de liderança. Na vida social, na família, na política, nas empresas, nas igrejas, na vida espiritual. Os sintomas desse estado de inanição do líder podem

Todo líder é um visionário

ser percebidos pela utilização crescente dos pronomes e verbos personalistas: eu sou, eu mando, eu quero, eu posso, eu posso tudo. Já deixaram para trás aquilo que fez deles alguém capaz de inspirar outras vidas.

A força da liderança está na capacidade de manter-se à frente dos movimentos que fazem o grupo avançar em direção aos alvos e objetivos que os motivam, encantam, mobilizam, dão energia, direção. É uma capacidade de renovação suficiente para remover a incredulidade dos dúbios e canalizar as energias dos mais inspi-rados para que todos se sintam realizados e façam a sua parte para o crescimento do corpo.

O oposto disso é gastar cada vez mais energia para tentar calar as oposições que se levantam, não porque não respeitam mais o

Pr Alberto StassenAdministrador, mestrando em administração pelo IBMEC e membro da PIB de Nova Iguaçu, RJ.

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líder. Mas, porque todos esperam que o líder seja capaz de con-duzi-los na realização do seu melhor como pessoas e como filhos do Deus Altíssimo. Foi para isso que Deus estabeleceu a igreja, chamou e separou líderes para estarem à frente dela. Sejam esses doutores, mestres, evangelistas ou pastores.

O desafio de cada líder é renovar a cada dia sua visão. Seus va-lores e princípios precisam ser nutridos e comunicados de maneira coerente e atualizado para uma sociedade desafiadora diante das mudanças cada vez mais velozes que afetam a todos. Heráclito, pensador grego do período pré-socrático, nunca foi tão atual: a única coisa perene que temos é a mudança.

Líderes precisam encarar isso como um desafio e não como uma barreira. Conduzir o seu grupo em meio a essas transforma-ções é tarefa urgente. E as dificuldades para isso engrandecem o papel daqueles que conseguem ser bem-sucedidos nessa cami-nhada.

Por isso, humildade é uma característica fundamental no perfil da liderança. Reconhecer suas virtudes e limitações o habilitam a concentrar-se naquilo que faz de melhor, cercando-se de outros que são capazes de realizar outras coisas melhor do que ele e per-mitindo, assim, que sua capacidade de ação seja amplificada. O trabalho em equipe é sempre mais eficaz e duradouros em seus resultados. Forma-se uma consciência de que o trabalho pertence a todos e, portanto, todos são responsáveis.

Esse papel é fundamental quando se compreende que a igreja foi chamada com uma vocação para a evangelização e a ocupar um papel transformador da sociedade onde está inserida. Seu ob-jetivo é temperar esse mundo com o sabor das coisas de Deus. É incomodar o status quo. Não há dúvidas: quando a igreja exer-ce seu papel de maneira relevante, ela incomoda e é, também, chamada a posicionar-se diante das questões relevantes. Alguém sugeriu que se você quiser saber o quanto uma igreja é relevante dentro de uma comunidade, deve chegar a um lugar onde seja desconhecido e perguntar onde fica a igreja local. Certamente será indicado a procurar aquela que as pessoas procuram quando pre-cisam ir a um lugar que pode ser chamado de igreja, que foi ou é relevante para elas em momentos marcantes de suas vidas.

Tão importante quanto isso é saber que a igreja é procurada por pessoas que anseiam por respostas para sua vida espiritual, afetadas que são pelos problemas e questões cotidianos. A reso-lução de problemas e questões pessoais, emocionais, sociais ou econômicas possuem uma dimensão espiritual e devem ser trata-das sob esse enfoque. É isso que se espera da igreja. É isso que se espera da liderança responsável por sua condução. E não se deve ler isso tendo em mente apenas aqueles que são chamados de pastores. A liderança de uma igreja não se resume aos pastores. Tão importante quanto a assistência pastoral são aquelas pessoas que acompanharão outros no dia a dia e precisam estar prepara-das para isso.

Um dos papéis de qualquer líder é influenciar diretamente na capacitação daqueles que estão ao seu redor e participam de suas ações. Nas igrejas, algumas visões de desenvolvimento como as redes ministeriais, propósitos e pequenos grupos, começam a capturar essa necessidade de crescimento a partir de uma gestão compartilhada de responsabilidades e privilégios afeitos ao exercí-

cio da liderança. Esse fator tem se tornado crítico na definição do papel da igreja na atualidade.

A dificuldade em se compreender essa dimensão do proble-ma que a igreja enfrenta na sua relação com o mundo, e seu pa-pel evangelizador, tem levado diversos líderes a tergiversar sobre o assunto, indicando fatores equivocados e chegando a conclu-sões insatisfatórias, obtendo como resultado igrejas esvaziadas ou compostas por membros peregrinos que passeiam de congrega-ção em congregação, em busca de respostas.

Um desses grandes debates é sobre tradicionalismo ou renova-ção, que ainda se discute. Não estou falando da renovação pentecos-tal, que tanto afetou as igrejas consideradas tradicionais na história recente do povo evangélico brasileiro. Falo da liturgia. Do papel que ocupam a pregação e o canto nas celebrações. Do papel do culto e suas dimensões emocionais, sociais e espirituais na entrega da adora-ção ao Senhor. Do sentimento de participação de cada um, que nos coloca todos, igualmente, diante do altar da graça do Senhor.

Uma das maiores igrejas que já visitei, com mais de seis mil membros, realiza três cultos nas manhãs de domingo. Quando ter-mina a primeira celebração, a congregação se retira pela saída late-ral para os estudos da Escola Bíblica, enquanto a segunda congre-gação entra pela porta principal para o seu momento de adoração. O mesmo acontece quando termina esse segundo momento de adoração e a terceira congregação adentra o santuário para o seu momento de comunhão com Deus. Sem exageros ou coreografias na celebração, uma liturgia tradicional. Os líderes se revezam no acompanhamento dessas congregações. A visão é a mesma.

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Certamente, também há congregações que preferem uma ce-lebração com cânticos contemporâneos e um envolvimento mais pleno de todo o corpo na adoração. E há públicos para todos os tipos de liturgia. O que buscam é uma resposta espiritual para suas necessidades, de maneira que possam sentir o poder de Deus cui-dando de suas mentes e corações.

Com uma leitura equivocada da realidade que invade as igre-jas e do momento que aflige a sociedade diante de uma realidade política e social crítica em que os valores são corrompidos pela vio-lência, corrupção e uma sexualidade descompromissada, torna-se difícil responder ao vazio que invade almas e corações, apresen-tando respostas que não expressam uma preocupação legítima e verdadeira com as pessoas e, portanto, não as satisfazem.

Não era diferente a realidade enfrentada por Jesus e seus dis-cípulos em seus dias. Ele teve que responder à mulher samaritana vazia de amor e cheia de amores prostituídos que não preenchiam sua solidão. Foi levar seu recado à casa do corrupto Zaqueu, que vi-via cheio de amigos na sua riqueza e vazio de valores que dessem algum significado à sua vida. Em seu círculo de liderança, entre os discípulos, estavam dois irmãos que achavam que no céu poderiam cultivar sua vaidade e arrogância, sentando-se à direita e à esquerda do Mestre e ainda usando a mãe para fazer lobby. Houve ainda um que se corrompeu pelo dinheiro dos sacerdotes e traiu o Mestre e o que poderia ter sido seu ministério por trinta moedas de prata.

Para responder a todos esses anseios, Jesus desenvolveu um corpo de liderança chamado de apóstolos, com características tão distintas como Pedro e João, Tiago e Mateus. Mas, todos compro-metidos com a sua visão.

É quando pensamos no contexto em que Jesus pregou e exer-ceu seu ministério e as profundas semelhanças com o ambiente atual, que se ressalta a importância de nossos pastores e líderes espirituais na condução de seus rebanhos, nossas igrejas, e seu preparo para lidarem com os desafios da atualidade, sobretudo na apresentação da mensagem do evangelho de maneira relevante para quem ouve seu apelo de arrependimento e compromisso com Deus. Essa é a atualidade do evangelho.

É palavra comum que a parte mais fácil do ministério pastoral é quando ele está no púlpito. É verdade. Se sabe falar, tem alguma familiaridade com a Bíblia, pode pregar e dirigir uma congregação. No entanto, a maior parte desse ministério se dá fora dos púlpitos. E a coerência entre o que se fala diante da congregação e o que se pratica quando se atende no reservado dos gabinetes pastorais ou nas visitas às ovelhas carentes do amor e cuidado pastoral, é o que caracteriza a integridade do ministério.

Não se ensina com palavras. É o exemplo que mostra a diferen-ça. Isso se chama discipulado. Não apenas ensinar um conjunto de textos bíblicos. Mas, viver um padrão de vida que possa ser usado como referência do que devemos ser e fazer, de acordo com os fundamentos bíblicos. Parece coisa fácil e deveria ser para todo cristão. Nesses tempos de Facebook e WhatsApp, em que acha-mos que podemos viver uma vida em cada lugar, deveríamos nos recordar do exemplo de Davi. Não há nada oculto que não seja re-velado em algum tempo. Hoje ainda escandaliza, mas não surpre-ende tanto mais, a queda de alguns líderes que desdenham des-se princípio espiritual. Em vez de assumirem a liderança de suas igrejas nessa travessia cotidiana, são atropelados por elas. O Deus que comissiona pastores e líderes é também programador e não apenas um usuário das redes espirituais. Ele não se deixa enganar.

Isso significa, também, conhecer e estar sintonizado com o mundo e o que acontece ao seu redor. Houve um tempo em que alguns pastores e líderes se orgulhavam de que o único conheci-mento e instrumental que usavam era a Bíblia. Uma argumenta-ção que expressava sua pouca familiaridade com a vida de Jesus e de um dos maiores mestres da vida ministerial, o apóstolo Paulo. Ambos conheciam profundamente a realidade em que viviam. Por isso, falavam com propriedade e profundidade, ainda que usassem de palavras simples.

Jesus se relacionava e argumentava, quando necessário, com as autoridades civis e religiosas de seu tempo, da mesma maneira que falava com os pescadores e gente simples das cidades por onde passava. Se estava na Galileia ou nas regiões siro-fenícias sabia como comunicar-se com quem encontrasse. O apóstolo Paulo foi capaz de transpor o evangelho para o complexo mundo grego porque tinha uma extensa bagagem intelectual e cultural. Hoje, mesmo nos lugares afastados dos grandes centros, as pesso-as possuem acesso aos meios de comunicação e redes digitais. É preciso saber como fazer o evangelho chegar até elas de maneira significativa nesses novos tempos.

A formação de missionários pelas agências missionárias é um bom exemplo dessa preparação necessária para o exercício da li-derança que influencia positivamente pela mensagem do evange-lho nos campos missionários. Assim como estudam os fundamen-tos bíblicos, aprendem a língua e a cultura dos povos para onde se

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dirigirão. Sejam os sertanejos do Cariri com a forte influência do catolicismo romano, uma das nações europeias com a forte cultu-ra humanista ou ainda os povos do Oriente, com suas religiões éti-cas. É preciso conhecer com quem falamos, se desejamos ocupar um papel significante com o evangelho em nossos dias.

Os estudiosos de temas como a comunicação e criatividade ensinam que quanto mais alguém se aprofunda no conhecimento de um assunto, mais fácil se torna falar sobre ele ou desenvolver novas teorias e abordagens sobre o mesmo. Jesus demonstrou isso na maneira como traduziu o evangelho na simplicidade que uma criança podia entender e Paulo na maneira como traduziu esse mesmo evangelho de maneira que pessoas que nunca ti-nham ouvido falar no Deus único se sentissem atraídas para co-nhecê-lo e servi-lo.

Se para atuar em qualquer área das atividades cotidianas e profissionais, o mundo moderno exige pessoas preparadas, por que aquele que possui uma responsabilidade de tal envergadura como a de ser um líder espiritual deveria ser diferente?

Um dos grandes desafios pastorais da atualidade está em formar uma liderança nas igrejas capazes de reproduzirem esse modelo de atuação inspiradora. Existem alguns modelos de es-tratégia que podem ser usados como exemplos. Sejam baseados em propósitos, redes ou pequenos grupos, suas raízes estão nas lideranças bem preparadas e nos pequenos grupos, onde o rela-cionamento tem como princípio a confiança mútua. O valor de cada uma delas está em função do grupo ou congregação que a escolhe, de acordo com suas próprias características.

As principais barreiras para que pastores sejam os grandes motores da revolução que o evangelho pode causar nesses novos tempos estão centralizadas em suas personalidades. A insegu-rança que impede a alguns de investirem na formação de novas lideranças lhes tira a oportunidade de formar uma rede de apoio para suas iniciativas. A dificuldade de lidar com as novas tecnolo-

gias limita seu relacionamento com um grupo cada vez maior de pessoas, de crianças aos mais idosos, que usam as redes sociais para se relacionarem e trocarem informações. Aqueles que acham que já sabem tudo perdem a oportunidade de leituras preciosas e acesso a novas ideias e releituras de outras mais tradicionais, que caracterizam o processo de formação continuada, fundamental para a vida contemporânea.

A realidade tem mostrado que cada vez menos as pessoas se-guem pessoas. Elas seguem ideias e princípios que traduzam ide-ais pelos quais julgam que vale o esforço de investirem suas forças, habilidades e inteligência, porque dão significado a suas vidas. Há grupos, inclusive em nome de religiões, que já descobriram esse princípio e os aplicam. Não possuem líderes formais, apenas pe-quenos grupos motivados por ideias. Promovem o medo e o terror em nome delas.

Pastores, que fazem do evangelho a energia transformadora de suas próprias vidas, serão capazes de liderar igrejas revolucio-nárias para os padrões de hoje. Se quiserem continuar atuando como líderes nesses novos tempos, terão que mudar. Quem sabe voltemos a ouvir que aqueles que têm transtornado o mundo estão presentes novamente. O mundo anseia urgentemente por essa contrarreforma.

ReferênciasBlanchard, K. Leading at a higher level. Prentice Hall, New Jersey,

2007.Goleman, D.; Kaufman, P. ; Ray, M. O Espírito criativo. Tradução

Gilson César Cardoso de Souza. Editora Cultrix, São Paulo, 1992.D’Souza, A.A. Empowering Leadership. Lead with Vision and Stra-

tegy. Haggai Institute. Singapura, 2001.Os pré-socráticos. Fragmentos, doxografia e comentários. Su-

pervisão e seleção de textos. José Cavalcante de Souza. São Paulo: Editora Nova Cultural, 2000.

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Prosseguimos na analise jurídico-eclesiástica, sendo esta a segunda e última parte do compartilhamento do Plano Nacional de Direitos Humanos – PNDH-3 (Decreto Presidencial 7.177/10), onde abordamos outros itens que também têm direta confron-tação com a forma de crer dos cristãos brasileiros, pois, como já acentuado, estes temas foram encaminhados ao Congresso Nacio-nal como um Plano governamental, que têm sido debatidos pelos Deputados Federais e Senadores da República, os quais relacio-namos para conhecimento dos leitores da revista Administração Eclesiástica mais alguns itens dos que mais se chocam com princí-pios defendidos pelas igrejas cristãs, assegurados na Constituição Federal do Brasil.

Homofobia fica para o Novo Código Penal

Após vários anos de debates, que se iniciaram na Câmara dos Deputados, quando da aprovação do Projeto de Lei 5.003/2001 de autoria da Deputada Iara Bernardi (PT/SP), que visava acres-centar o “crime de homofobia” na Lei 7.716/89; após PLC 122 teve no Senado como relatora a Senadora Fátima Cleide (PT-RO), o PLC 122/2006 tendo sido arquivado, o qual foi desarquivado pela Se-nadora Marta Suplicy (PT/SP), que capitaneou seu progresso no Senado Federal na condição de relatora até se tornar Ministra da Cultura, e a decisão do apensamento do PLC 122/2006 ao ante-

Gilberto Garciaé Mestre em Direito, Professor Universitário e Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros. Autor dos Livros: “O Novo Código Civil e as Igrejas” e “O Direito Nosso de Cada Dia”, Editora Vida e, “Novo Direito Associativo”, e, Coautor nas Obras Coletivas: “Questões Controvertidas – Parte Geral do Código Civil”, Editora Método/Grupo GEN, e, “Direito e Cristianismo”, Editora Betel, e, ainda, do DVD – “Implicações Tributárias das Igrejas”, Editora CPAD. Editor do Site: www.direitonosso.com.br

Cidadania religiosa e o PNDH-3

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projeto do Novo Código Penal contrariou, inclusive, a pretensão da presidente da CDH, senadora Ana Rita (PT/ES).

Segundo a mídia especializada, a Senadora do Partido dos Tra-balhadores pelo Estado de São Paulo, tentou “costurar” um acor-do para aprovação do PL 122/2006, entre os representantes da “Frente Parlamentar Evangélica” que, inclusive, contraria a decisão, como no caso das drogas ilícitas, emanada pelo Supremo Tribunal Federal de que prevalece a Constituição da República Federativa do Brasil que assegura, em Cláusula Pétrea, a ampla liberdade de manifestação de opinião do cidadão e, este acordo pretendia, in-constitucionalmente, permitir “as pregações dos religiosos alusi-vas aos textos bíblicos que condenam as práticas homossexuais, desde que feitas dentro das igrejas”, sem que estas pudessem ser divulgadas em qualquer outro meio externo, ou espaço público, especialmente na televisão, rádio, internet etc., eis que seriam cri-minalizadas só as manifestações fora dos templos religiosos.

É importante lembrar que o PL 122/2006 já foi “sepultado” al-gumas vezes, como divulgado por lideranças evangélicas, e tem insistentemente “renascido”, como já citado, pela mão da Senadora Marta Suplicy (PT/SP) e que, teve como Relator, o então presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH), Senador Paulo Paim (PT/RS), assim mais do que “enterrá-lo”, sem que se corra o risco de ser novamente “ressuscitado”, era necessário, num fortalecimento da democracia brasileira, que ele fosse efetivamente votado, sendo desaprovado em seus termos atuais pelos parlamentares, com sua rejeição pelo Senado da República por ser inconstitucional, em res-peito ao Estado Democrático de Direito Brasileiro; o que não ocorreu, eis que, o mesmo apensado ao Anteprojeto do Novo Código Penal.

No Anteprojeto do Novo Código Penal do Senador Vital do Rego (PMDB/PB), apresentado em dez/14, pela Comissão de Constituição de Justiça do Senado Federal, consta um título: “Dos Crimes Contra os Direitos Humanos”, e neste um capítulo: “Do ra-cismo e dos crimes resultantes de preconceito e discriminação. Art. 486 – Constitui crime, quando praticado por motivo de dis-criminação ou preconceito de gênero, raça, cor, etnia, religião, pro-cedência regional ou nacional ou por outro motivo assemelhado, indicativo de ódio ou intolerância: (...)”, e “(...) Pena – prisão, de um a cinco anos (...)”, foi alterado o texto do Anteprojeto da Comissão Especial do Senado Federal, divulgado em dez/13, pelo Senador Pedro Taques (PDT/MT), onde constava neste artigo 486, o que poder-se-ia caracterizar como tipificação do “crime de homofobia”, eis que acrescentava: “Identidade ou orientação sexual”, que foi em boa hora suprimido.

Entre outras razões previstas consta no Anteprojeto do Novo Código Penal como excludente do crime, inserido neste artigo 486: “(...) § 3º – Não constitui crime a livre manifestação do pen-samento de natureza crítica, especialmente a decorrente da liber-dade de consciência e de crenças religiosas, salvo quando inequí-voca a intenção de discriminar ou de agir preconceituosamente (...)”, visando assim resguardar-se a manifestação de fé; entretanto, a redação concede ampla liberdade de interpretação do magistra-do que julgar um eventual processo homofóbico delimitar a seu livre-arbítrio, se houve ou não houve intenção discriminatória ou de comportamento entendido como preconceituoso, sendo alta-mente temeroso que referido tipo de interpretação seja aferida a

critério exclusivo de um magistrado, devendo haver uma ação de cidadania no Parlamento Nacional para que a parte final do pa-rágrafo terceiro do art. 486 por cautela também seja suprimida, como ocorreu na alteração e supressão da expressão: “Identida-de ou orientação sexual”; devendo haver vigilância, pois o deba-te agora é na Câmara de Deputados, para ratificar ou emendar o aprovado.

Relevante destacar a importante atuação dos parlamentares que atuaram no Senado da República, sobretudo católicos e evan-gélicos, que entendem que não há que se falar em “crime de ho-mofobia”, especialmente quando esta tipificação, como proposta, visa cercear a livre manifestação de consciência e crença do cida-dão brasileiro, os quais devem permanecer vigilantes ao debate que agora trava-se no Anteprojeto do Código Penal no Senado Federal.

Destaque-se que “(...) a senadora Marta Suplicy (PT/SP), que foi relatora da proposta na CDH em 2011 e 2012, afirmou que vai lutar para incluir o tema na discussão do novo Código Penal (PLS 236/2012). Assim que retornou ao Senado, depois de exercer o cargo de Ministra da Cultura, Marta apresentou emendas à Co-missão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) visando tornar a identidade de gênero e a orientação sexual agravantes de vários crimes”.

Ela, segundo publicado no Portal da Agência do Senado, nes-tes primeiros dias de janeiro de 2015, ao saber do Arquivamen-to Regimental, asseverou: “Vou buscar apoio dos senadores para manter as emendas e levar ao Plenário um Código Penal que puna a homofobia tanto quanto já prevemos punições a outras discrimi-nações, como a racial, étnica, regional, de nacionalidade. É um es-cândalo ao crime de homofobia ser ignorado como preconceito.”

Registre-se que em entrevista ao Jornal SBT Brasil, a presidente (reeleita) Dilma Rousseff (PT) afirmou que no seu segundo manda-to irá defender a aprovação de uma lei que puna a homofobia no país. “Darei integral apoio. É uma medida civilizatória. O Brasil tem

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de ser contra a violência que vitima a mulher. A violência que de forma aberta ou escondida fere os negros. E também tem que ser contra a homofobia. É uma barbárie”, disse Dilma. (...)”

Este apoio declarado é explicitado pela Ministra das Mulheres, Eleonora Menicucci, que revelou a pretensão do Governo Federal encaminhar ao Congresso Nacional um Projeto de Lei que crimi-nalize a homofobia, lesbofobia e transfobia, patrocinando uma Legislação similar a Lei Maria da Penha“. É sem dúvida um dos maiores compromissos do governo: acabar com a violência e o preconceito.”, como registrado pelos grandes jornais do país.

Um dos outros caminhos do Movimento Gay para criminalizar a homofobia, tem sido judicialização do tema, inclusive no STF, por meio do Mandado de Injunção Coletivo (MIC), impetrado pela As-sociação brasileira de gays, lésbicas e transgêneros (ABGLT) reque-rendo que o Supremo Tribunal Federal, como inserido no Portal do STF: “(...) i) o reconhecimento de que “a homofobia e a transfobia se enquadram no conceito ontológico-constitucional de racismo” ou, subsidiariamente, que sejam entendidas como “discriminações atentatórias a direitos e liberdades fundamentais” (...)

Neste MIC, a ABGLT requer a Suprema Corte: “(...) ii) a declara-ção, com fundamento nos incisos XLI e XLII do artigo 5º da Cons-tituição Federal, de mora inconstitucional do Congresso Nacional no alegado dever de editar legislação criminal que puna, de forma específica, a homofobia e a transfobia, “especialmente (mas não exclusivamente) a violência física, os discursos de ódio, os homi-cídios, a conduta de praticar, induzir ou incitar o preconceito ou a discriminação por causa da orientação sexual ou da identidade de gênero, real ou suposta, da pessoa” (...)”, este foi rejeitado pelo Relator Ministro Ricardo Lewandowski, tendo havido recurso do Ministério Público Federal, aguardando julgamento no STF.

De igual forma, também buscando, alternativamente, a crimi-nalização da homofobia, pelo Judiciário, o Partido Popular Socia-lista (PPS) ajuizou no STF uma Ação Direta de Inconstitucionalidade por omissão, onde pleiteia um alegado reconhecimento da omissão

constitucional do Poder Público em face das minorias de orientação sexual e de gênero diferentes da maioria, estando esta sob a relatoria do Ministro Celso de Mello, no Supremo Tribunal Federal.

Anote-se a decisão judicial, sob relatoria do Ministro Marco Aurélio de Mello, do Supremo Tribunal Federal, ao rejeitar a denún-cia de prática homofóbica pelo Deputado Marco Feliciano (PSC/SP) exatamente em razão de não haver a tipificação desta conduta social no arcabouço jurídico nacional, assim, não existe crime de homofobia em nosso país, eis que não estabelecido na lei penal brasileira, como estabelecido na Constituição Federal, “Não há cri-me sem lei anterior que o defina”; o que é desnecessário, pois já existem normas legais coibindo qualquer discriminação.

É vital registrar que a sociedade brasileira, ao longo da história, tem buscado a igualdade, por meio da construção de um Estado Democrático de Direito, para que haja respeito e tolerância entre os cidadãos, onde a lei seja um igualador, punindo contundente-mente aqueles que têm dificuldade de convivência com o dife-rente, eis que todos somos contra qualquer tipo de discriminação, seja por raça, cor, etnia, origem, opção sexual, religiosa, estética, ideológica etc.

A Constituição do Brasil elenca como direitos fundamentais, tanto o respeito à diversidade sexual como a liberdade de expres-são de pensamento e crença, assegurando o direito dos homos-sexuais a sua opção de vida e, igualmente, garante aos cristãos evangélicos o direito de viver e propagar sua fé com base na Bíblia Sagrada; por outro lado, deve-se reforçar o ordenamento jurídico penalizando exemplarmente, inclusive pecuniariamente, quem ofende, discrimina ou agride qualquer cidadão, especialmente mulheres, idosos, gays, negros, pessoas portadoras de necessida-des especiais etc., num respeito pela dignidade da pessoa huma-na, assegurado pela Constituição da República Federativa do Brasil.

Diversidade das religiões em escolas públicas

É vital destacar o contexto legal no qual deve ser considerado o Eixo Orientador – Diretriz 10 – Objetivo Estratégico VI – Letra D: “Promoção do ensino sobre a história e diversidade das religiões em escolas públicas”, do Programa Nacional de Direitos Humanos – PNDH-3 – pois o previsto na Constituição Federal é o ensino re-ligioso como disciplina facultativa, inserido no Artigo 210, § 1o: “O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental”.

Acrescente-se que a Lei de Diretrizes e Bases foi alterada e, no artigo 33 da Lei 9.394/96 preconiza: “O ensino religioso, de matrí-cula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. § 1º – Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos professores. § 2º – Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas dife-rentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso”. 

Neste diapasão foi pactuada pelo ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva a Concordata Católica: “Acordo Brasil – Santa Sé”, desconsiderando, à época, praticamente 120 anos, (1891-2011), de Laicidade Republicana no Brasil, que estabelece no “Artigo 11º: A República Federativa do Brasil, em observância ao direito de liberdade religiosa, da diversidade cultural e da pluralidade con-fessional do País, respeita a importância do ensino religioso em vista da formação integral da pessoa. § 1º – O ensino religioso, católico e de outras confissões religiosas, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultu-ral religiosa do Brasil, em conformidade com a Constituição e as outras leis vigentes, sem qualquer forma de discriminação”, item de ensino religioso que encontra-se sob questionamento na Su-prema Corte Pátria.

Nota-se que a Separação igreja-Estado, vigente no Brasil, tem sido, até pelo legislador pátrio, propositadamente desconsiderada, muitas vezes, privilegiando uma vertente espiritual específica no que tange ao ensino religioso, tal qual ocorre com os feriados de fé, que são quase cem por cento de tradição católica apostólica romana, em razão de sua maior influência na história do país, ten-do ainda alguns direcionados para evangélicos, espíritas, eis que, a nosso singelo entender, são todos inconstitucionais, pois não deveriam existir feriados religiosos em nosso país e, sim, “Dias de Guarda”, quando cada cidadão ou grupo religioso, em seu exercí-cio particular ou coletivo, de forma pública ou privada, reverencia-ria sua divindade, extensivos a todos os grupos, sejam evangélicos, católicos, judeus, muçulmanos, orientais, espíritas, cultos afro etc., inclusive, em respeito a ateus e agnósticos.

Este é um importante debate neste tempo no Brasil, especial-mente quando escolas, em boa hora, começaram a perceber que mesmo assuntos científicos, quando são apenas “teorias”, devem

ser ensinados como simples teorias, ainda que não tenhamos ex-plicações mais adequadas, tais como a “Teoria da evolução”, numa perspectiva “Darwiniana” ou, que deve ser ensinado ao lado da “Teoria criacionista”, na ótica do denominado “Design inteligente”. Assim, poder-se-ia oferecer aos estudantes as duas vertentes, para que eles possam pesquisar, aprofundar conhecimento e estabele-cer a opção que melhor se coadune com sua cosmovisão do mun-do, eis que, abrange aspectos racionais, espirituais, morais, éticos e sociais, sobretudo quando o IBGE indica que cristãos-evangélicos perfazem cerca de 25% da população brasileira.

É preocupante perceber que a legislação nacional caminha para a sedimentação da proposição do PNDH-3 que é ampliativa, eis que objetiva além do ensino da disciplina, que se propague a história e diversidade das religiões, e aí, necessitamos, enquan-to sociedade repensar se a escola verdadeiramente deve ter en-tre suas prioridades prover o ensino de fundamentos religiosos, independentemente de sua confissão de fé, na medida em que, modestamente, entendemos, que não é competência da escola e, sim, da família e das igrejas, exceto a confessional, onde os pais e responsáveis legais concordam expressamente que seu filho receba orientações relativas à religiosidade, à espiritualidade, à fé de uma determinação religião, porque se não corremos um gran-de risco de estar ferindo o preceito de laicidade do Estado (art. 19 da Constituição Federal do Brasil), sobre o que aguarda-se um posi-cionamento do Supremo Tribunal Federal.

Respeito e convivência com as diferentes crenças

Compartilhamos aqui uma das salutares vertentes inseridas no PNDH-3 – Programa Nacional dos Direitos Humanos – que é a proposição de universalizar num contexto de desigualdades de

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divulgação sobre a diversidade religiosa para disseminar cultura da paz e de respeito às diferentes crenças, propagando o Encontro de cúpula mundial de líderes religiosos e espirituais pela paz mun-dial, realizado no ano de 2000, na Sede da ONU – Organização das Nações Unidas – em Nova York/EUA, com a participação de cen-tenas de representantes das diferentes religiões do planeta: evan-gélicas, católicas, budistas, judaicas, islâmicas, espíritas, hinduístas, taoístas, bahá’ís, esotéricas, entres outras religiões tradicionais e modernas.

Este encontro resultou no denominado Compromisso com a paz global contendo uma série de ponderações que tem norteado ações de lideranças religiosas por todo o mundo, às quais divulga-mos: “(...) as religiões têm contribuído para a paz no mundo, mas também têm sido usadas para criar divisão e alimentar hostilida-des; o nosso mundo está assolado pela violência, guerra e destrui-ção, perpetuadas por vezes em nome da religião; não haverá paz verdadeira até que todos os grupos e comunidades reconheçam a diversidade de culturas e religiões da família humana, dentro de um espírito de respeito mútuo e compreensão (...)”

Com base nestas asseverações, os líderes religiosos e espiritu-ais do mundo inteiro se comprometeram, entre outras ações: “(...) condenar toda violência cometida em nome da religião, buscando remover as raízes da violência; apelar a todas as comunidades re-ligiosas e aos grupos étnicos e nacionais a respeitarem o direito à liberdade religiosa, procurando a reconciliação, e a se engajarem no perdão e no auxílio mútuo; despertar em todos os indivíduos e comunidades o senso de responsabilidade, compartilhada en-tre todos, pelo bem estar da família humana como um todo, e o reconhecimento de que todos os seres humanos – independen-temente de religião, raça, sexo e origem étnica – têm o direito à educação, à saúde e à oportunidade de obter uma subsistência segura e sustentável (...)”

Neste diapasão, a divulgação deste Compromisso com a paz global divulgado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presi-dência da República na cartilha Diversidade religiosa e direitos humanos, de março/2010, fez inserir outras pertinentes ponde-rações que necessitamos refletir dentro desta ótica do respeito e convivência com as diferentes crenças e correntes religiosas em nosso país, assim, é complementado: “(...) O compromisso com a paz global não é, portanto, apensas de nossos padres, pastores, ra-binos, irmãs, monges, mestres, sacerdotes e sacerdotisas, ialorixás e babalorixás, pajés (...) Ele é de todos nós. O compromisso pela paz não diz respeito somente aos grandes conflitos religiosos, às grandes guerras, a matanças em geral, à violência entre católicos e protestantes na Irlanda, entre muçulmanos e judeus no Oriente Médio, entre hindus e muçulmanos na Caxemira (fronteira da Índia com o Paquistão) (...)”

“(...) Nosso compromisso com a paz na terra diz respeito a seguir ou não a vontade do Criador, a amar ou não amar nosso próximo. E amar nosso próximo, ainda que ele pense diferente de nós, significa antes de tudo respeitá-lo, e trabalhar para que esse nosso próximo tenha garantidos seus direitos à saúde, à educação, ao trabalho, à liberdade de ir e vir e de pensar. Enfim, nosso com-promisso com a paz na terra significa zelar para que todos tenham direito à grande obra do Criador: a VIDA (...)”

Promoção de respeito à diversidade religiosa

No Eixo Orientador III – Universalizar Direitos em um contexto de desigualdades – Objetivo Estratégico VI – “Respeito às diferen-tes crenças, liberdade de culto e garantia da laicidade do Estado”, busca no PNDH-3, o que é um fenômeno mundial relativo à ques-tão religiosa, a importância da promoção do respeito à diversidade religiosa, bem como as implicações legais e suas consequências para a ordem jurídica. Em todo o mundo têm sido relatadas diver-sas situações conflituosas que estão acontecendo, sejam em paí-ses que efetivamente proíbem a liberdade religiosa ou cerceiam seu exercício impondo limitações, ou ainda determinam a religião a ser professada pelos cidadãos, ou mesmo, em nações que ado-tam o modelo brasileiro da ampla liberdade religiosa, exercida por todas as confissões de fé, nos limites da lei pátria.

Por isso, na divulgação destes excertos da cartilha Diversidade religiosa e direitos humanos, publicada pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, em março/2010 que, por sua vez, compartilha uma ótica positiva do PNDH-3 no que tange à necessidade de promoção de respeito à diversidade religiosa em nosso país, direcionado para todos os grupos espirituais de todas as confissões de fé. Destacando-se a desproporção entre cristãos (maioria da população brasileira) e seguidores de religiões tidas como “minoritárias” é tão grande que a proposta 110 do Programa Nacional dos Direitos Humanos, implantado em 1996, é exata-mente “prevenir e combater a intolerância religiosa, inclusive no que diz respeito a religiões minoritárias e a cultos afro-brasileiros.”

“(...) Além da vontade do Criador e das leis terrenas, o respeito pelas minorias é, também, uma questão de bom senso. Até por-que quem é maioria aqui pode virar minoria logo ali na outra es-quina. Maioria no Brasil, os cristãos são minorias em países como a Indonésia, por exemplo. Mais uma vez, a regra de ouro da frater-nidade: não façamos ao outro o que não queremos que seja feito a nós mesmos. Preocupada com os constantes conflitos religiosos no (planeta), a Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou, em 1981, a Declaração sobre a eliminação de todas as formas de intolerância e discriminação fundadas em religião ou crença (...)”

“(...) Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião. Este direito inclui a liberdade de ter uma religião ou qualquer crença de sua escolha, assim como a liber-dade de manifestar sua religião ou crença, individual ou coleti-vamente, tanto em público, quanto em particular”, diz o primeiro artigo da Declaração da ONU. Para, mais, adiante, advertir: “A dis-criminação entre seres humanos por motivos de religião ou crença constitui uma ofensa à dignidade humana (...) e deve ser conde-nada como uma violação dos Direitos Humanos e das Liberdades Fundamentais, proclamados na Declaração Universal dos Direitos Humanos (...)”

“(...) Mas a intolerância está aí a desafiar a lei dos homens e a vontade do Criador. E as religiões afro-brasileiras têm sido as principais vítimas dessa intolerância. Terreiros de umbanda e can-domblé são os locais de culto de religiões de matriz africana. São, portanto, tão sagrados quanto qualquer outro templo de qualquer

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religião. E, no entanto, esses terreiros têm sofrido constantes ata-ques, em diversos pontos do Brasil (...) Objetos de culto são destru-ídos (...) e suas celebrações e festas religiosas interrompidas, de for-ma desrespeitosa, por pessoas de outras religiões. Portanto, para seguirmos a vontade do Criador, é preciso, antes de tudo, aceitar que somos todos iguais, apesar de nossas diferenças (...)” Este texto reproduzido da cartilha Direitos humanos e diversidade religiosa, numa das relevantes ênfases do PNDH-3, a respeito da fé do povo brasileiro, publicada pelo Governo Federal para líderes religiosos do país.

Disseminação de cultura religiosa da paz

Uma proposição relevantíssima contida no PNDH-3, objetivo propagado pela cartilha Diversidade religiosa e direitos humanos, patrocinada pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, em março/2010, da qual concluímos a divulgação, está inserida no Eixo orientador III – “Universalizar Direitos em um contexto de desigualdades; b) Promover campanhas de divulga-ção sobre a diversidade religiosa para disseminar cultura da paz e de respeito às diferentes crenças”.

“(...) Porque intolerância religiosa não é “apenas” pecado contra a vontade do Criador. Intolerância religiosa é, também, desrespeito aos direitos humanos. E é crime, previsto no Có-digo Penal Brasileiro. Contudo, existem boas notícias, pois em Brasília, bem pertinho da capital do Brasil, numa vila de pouco mais de mil moradores chamada Área Alfa, católicos e evangé-licos dividem o mesmo templo. No princípio, a Capela Sagrado Coração de Jesus e Maria era só dos católicos. Os evangélicos faziam seus cultos numa pequena casa desocupada, mas ti-veram que abandoná-la. Ficaram sem templo. Mas por pouco tempo. Logo, a fé dos evangélicos acabou acolhida pela cape-la dos católicos. Há três anos, todo domingo é assim: primeiro vem a missa, e os católicos rezam; terminada a missa, é a hora do culto, e os evangélicos oram, no mesmo lugar onde antes se celebrara a missa (...)”

“(...) Em Pancas, no Espírito Santo, católicos e luteranos se uni-ram para construir com as próprias mãos, um mesmo teto para suas crenças. No Rio de Janeiro, seguidores das religiões matriz africana e grupos católicos desenvolvem em conjunto, ações so-ciais na área de saúde. Já em São Paulo, representantes indígenas e das religiões de matriz africana, zen-budistas, judeus, muçulma-nos, metodistas, católicos, luteranos, presbiterianos e espiritualis-tas entre outros, se mobilizam em iniciativas como a Campanha em defesa da liberdade de crença e contra a intolerância religiosa, com o objetivo de incluir o tema na agenda brasileira dos Direitos Humanos (...)”

“(...) Pelo Brasil afora, diferentes igrejas cristãs, reunidas em entidades como o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), lutam juntas pelos Direitos Humanos, como na Campanha da fra-ternidade de 2005 – Ecumênica: Solidariedade e paz (felizes os que promovem a paz). Experiências como essa, e tantas outras, de convivência e respeito mútuo entre religiões diferentes, refletem a

pluralidade e a diversidade do Brasil e dos brasileiros. Experiências como essas, e tantas outras, deixam contente o Criador. Porque para isso foi criada a humanidade: para que sejamos todos irmãos, para que vivamos em paz e harmonia, para que nos amemos uns aos outros (...)” numa proposição de salutar convivência entre reli-giosos de todos os matizes de fé, num exemplo de respeito, inclu-sive, a ateus e agnósticos.

Assim é necessário que os cidadãos religiosos estejam aten-tos a estes e outros temas integrantes do PNDH-3, para que a sociedade civil possa se posicionar acerca de seu conteúdo, con-tribuindo com a futura regulamentação no Congresso Nacional, pelos representados do povo, eis que, nossas reflexões foram direcionadas no que concerne as suas implicações com o exer-cício da fé em território nacional, como proposto pelo Governo Federal; seja para que a sociedade, inclusive, a liderança evangé-lica brasileira, apoie sua implementação naquilo que beneficia os mais carentes e rejeite os aspectos que afrontam um dos fun-damentos do Estado Democrático de Direito, que é a liberdade religiosa do cidadão brasileiro.

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Esta indagação tem inquietado o meu coração. Tenho visto muita baixa qualidade no ministério pastoral hoje. Há muita gente no ministério que não é séria. Estamos no século 21 e precisamos de pastores comprometidos com o ministério delineado e fun-damentado nas Escrituras. Segundo John Stott, o apóstolo Paulo faz a Timóteo um apelo tríplice: apelo ético, apelo doutrinário e apelo vivencial. O velho líder, morto em 27 de julho de 2011, foi muito sábio nesta abordagem. Temos notado problemas muito sérios nestas três áreas. Aliás, elas são vitais no exercício do minis-

tério concebido na Palavra de Deus. Fazem parte do DNA do mi-nistério pastoral. Timóteo, discípulo de Jesus ensinado por Paulo, era um jovem pastor comprometido com o caráter de Jesus Cristo, pronto a perder a vida pela missão que o Senhor lhe havia confia-do apenas por graça.

Quando examinamos a questão ética, ficamos estarrecidos. Há elementos com deformação de caráter exercendo a ativida-de ministerial. Elementos que usam de mentira, fazem do povo massa de manobra, não são sinceros em suas manifestações, não

Onde estão os “Timóteos” do Século 21?

Oswaldo Luiz Gomes JacobGraduado em Telogia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil.Já atuou como Missionário na África do Sul pela Junta de Missões Mundiais da CBB. Atualmente, é pastor da Segunda Igreja Batista em Barra Mansa, RJ e professor do Seminário Teológico Batista Sul Fluminense.

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sabem liderar com mansidão, não honram seus compromissos fi-nanceiros, gastando mais do que ganham; usam de vaidade, aspi-ram uma vida confortável e o pódio; desejam carros sofisticados, gostam de roupas de grife, transitam em lugares não próprios, maltratam a família, buscam se aproveitar do povo para fins de lucro, exigem salários altos, não honram compromissos de agenda e pregam sermões dos outros como se fossem seus. Estão longe da ética do reino de Deus. Não têm intimidade com o Senhor por meio da oração e da Palavra. Não fazem o culto doméstico. Vivem uma vida mundana, sem autoridade espiritual. Sabemos que a igreja é como o seu pastor.

O apelo doutrinário está ligado ao compromisso com as dou-trinas bíblicas, com a ortodoxia batista (em nosso caso). Timóteo estava visceralmente ligado à verdade das Escrituras. Estas eram centrais em sua experiência como cristão e pastor. Paulo o orien-tou a combater o combate da fé. O apóstolo lembra a Timóteo e a Tito a verdade revelada. O velho pastor os ensinou a amar a Palavra, a tradição oral e escrita da parte de Deus por meio do seu Espírito. A doutrina dos apóstolos e profetas estava enraizada em Tito e Timóteo. O pastor é aquele que está comprometido com a apologética, com a defesa da fé. Um homem versado nas Es-crituras, cuja vida está pautada nelas. Stott indica que devemos defender, proclamar e ensinar a Sagrada Escritura com toda a fidelidade. Timóteo devia manejar muito bem a Palavra da Verda-de (2Tm 2.15). Paulo o orientou à leitura pública das Escrituras, à exortação e ao ensino (2Tm 4.13). A exortação de Paulo a Timóteo é clara: “Tem cuidado de ti mesmo e do teu ensino; persevera nessas coisas. Dessa forma, salvarás tanto a ti mesmo com os que te ouvem” (1Tm 4.16). O pastor genuíno, chamado por Deus como homem comum para um trabalho extraordiná-rio, deve amar as Escrituras, estudá-las com dedicação e zelo. En-siná-la com convicção.

O último apelo de Paulo a Timóteo é o vivencial. A partir de uma vida íntegra (ética), um compromisso com a Palavra de Deus (doutrinário), temos a prática no dia a dia. Vida mais Escritura nos levam à vivência, ao testemunho fidedigno, absolutamente com-prometido com o caráter de Deus Pai. Paulo ordenou a Timóteo

a tomar posse da vida eterna. Esta vida eterna está bem exposta em João 17.3: “Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste”. Esta vida eterna foi-lhe dada quando ele creu na suficiência da obra de Cris-to Jesus na cruz e na ressurreição. O Senhor Jesus é o modelo de vida do pastor. Ele é o Bom Pastor que dá a sua vida pelas ovelhas (Jo 10.11). Deus, nosso Pai, tinha prazer na vida de Jesus Cristo, seu Filho. Como pastores, devemos dar prazer ao nosso Senhor, àquele que nos vocacionou. Que ao olhar para nós ele veja ética, amor à Palavra e obediência. Que cada pastor siga e sirva a Jesus Cristo com alegria e singeleza de coração, sendo o exemplo para o rebanho.

Os “Timóteos” de hoje, do século 21, precisam testemunhar como Paulo, quando da despedida dos pastores de Éfeso: “Mas em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, con-tanto que eu complete a carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus” (At 20.24). Preso em Roma, o velho apóstolo declara em sua carta a Timóteo: “Combati o bom combate, terminei a car-reira, guardei a fé. Desde agora a coroa da justiça me está reservada, a qual o Senhor, Justo Juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim, mas a todos quantos amarem a sua vinda” (2Tm 4.7,8). Os “Timóteos” do século 21 estão conscien-tes do equilíbrio entre ética, doutrina e vivência. O Senhor Jesus, nosso Pastor supremo, sabia muito bem da coerência entre ética, doutrina e vida.

John Stott pergunta: onde estão os “Timóteos” do século 21? Ele responde: “Eles procuram ser leais não só a um ou outro desses apelos, mas para toda a revelação bíblica, sem pinçar o que lhes agrada mais. Eles buscam a retidão, combatem o combate da fé e tomam posse da vida eterna – tudo isso ao mesmo tempo”. Deus é glorificado na vida dos ministros comprometidos com os seus propósitos em Cristo Jesus! Louvado seja Deus pelos “Timóteos” do século 21! Que mais e mais obreiros assim sejam chamados, busquem a excelência no preparo e trabalhem arduamente para a salvação de vidas e a edificação da igreja lavada pelo sangue de Jesus Cristo até que ele volte!