deficiÊncia auditiva -...

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CAMPAINHA PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA Diógenes Souza Freitas 1 Luca Ananias Moraes da Silva 2 Resumo: O presente artigo objetiva apresentar o protótipo de um sistema de campainha eletrônica para alertar portadores de deficiências auditiva sobre a presença de pessoas tocando a campainha. Utilizando a plataforma Arduino, comunicação bluetooth e smartphone Android, conseguimos desenvolver um protótipo que alerta o deficiente através de vibração, a partir do celular que tenha instalado o aplicativo desenvolvido. Este trabalho não tem a pretensão de esgotar essa temática, muito pelo contrário, tenta apenas situar o leitor e incitá-lo a problematizar e realizar novas pesquisas, aprimorar nosso projeto ou desenvolver novos. Palavras-chave: Campainha. Surdo. Arduino. Android. 1 INTRODUÇÃO O desenvolvimento intelectual e científico possibilitou ao ser humano conquistar espaços antes impossíveis e desvendar grandes mistérios que sempre acompanharam a história da humanidade. Tal desenvolvimento deve justificar-se apenas se 1 Formado em Letras (Português/Espanhol) e pós- graduado em Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e Espanhola; professor de Espanhol e de Robótica Educacional no Colégio Diocesano e Caruaru. 2 Estudante do 2º período de Ciência da Computação do Cin. UFPE; monitor em Álgebra Vetorial Linear para Computação. estiver associado a um progresso positivo para o homem, o meio ambiente e todos os seres que compartilham esse ambiente. É a partir da tecnologia desenvolvida ao longo do tempo que pode ser vislumbrado um avanço em uma das características mais humanas: a solidariedade. Aliando a vontade humana de pensar no outro com o desenvolvimento tecnológico, grandes passos podem ser dados na melhoria da qualidade de vida das pessoas, especialmente aquelas que nasceram ou adquiriram alguma limitação física ou intelectual. A origem motivadora deste trabalho está na solidariedade, de um modo especial na alteridade. Assim, é primordial que, de modo conciso, sejam apresentados os fundamentos em que está apoiada a origem deste trabalho. Inicialmente se pode acreditar, de acordo com Gomes (2013, p.53), que “do ponto de vista prático-existencial, o corriqueiro conhecimento de si é suficiente para que cada indivíduo seja capaz de alcançar certo conhecimento do Outro, o que se dá pelo relacionamento, pelo diálogo e por outros modos da razão.” Assim, olhar para si é começar a compreender o outro, que em alguns, ou muitos aspectos, se assemelha a quem se submete a tal autorreflexão. Porém, o que tem acontecido de forma cada vez mais consolidada no mundo atual é um certo desprezo com o outro, uma egocentralização das ações e pensamentos, que levam a uma postura afastada da ética e

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CAMPAINHA PARA PESSOAS COM

DEFICIÊNCIA AUDITIVA

Diógenes Souza Freitas1

Luca Ananias Moraes da Silva2

Resumo: O presente artigo objetiva apresentar o protótipo de um sistema de campainha eletrônica para alertar portadores de deficiências auditiva sobre a presença de pessoas tocando a campainha. Utilizando a plataforma Arduino, comunicação bluetooth e smartphone Android, conseguimos desenvolver um protótipo que alerta o deficiente através de vibração, a partir do celular que tenha instalado o aplicativo desenvolvido. Este trabalho não tem a pretensão de esgotar essa temática, muito pelo contrário, tenta apenas situar o leitor e incitá-lo a problematizar e realizar novas pesquisas, aprimorar nosso projeto ou desenvolver novos. Palavras-chave: Campainha. Surdo. Arduino. Android. 1 INTRODUÇÃO

O desenvolvimento intelectual e

científico possibilitou ao ser humano

conquistar espaços antes impossíveis e

desvendar grandes mistérios que sempre

acompanharam a história da humanidade. Tal

desenvolvimento deve justificar-se apenas se

1 Formado em Letras (Português/Espanhol) e pós-

graduado em Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e Espanhola; professor de Espanhol e de Robótica Educacional no Colégio Diocesano e Caruaru. 2 Estudante do 2º período de Ciência da

Computação do Cin. – UFPE; monitor em Álgebra Vetorial Linear para Computação.

estiver associado a um progresso positivo para

o homem, o meio ambiente e todos os seres

que compartilham esse ambiente.

É a partir da tecnologia desenvolvida

ao longo do tempo que pode ser vislumbrado

um avanço em uma das características mais

humanas: a solidariedade. Aliando a vontade

humana de pensar no outro com o

desenvolvimento tecnológico, grandes passos

podem ser dados na melhoria da qualidade de

vida das pessoas, especialmente aquelas que

nasceram ou adquiriram alguma limitação

física ou intelectual.

A origem motivadora deste trabalho

está na solidariedade, de um modo especial

na alteridade. Assim, é primordial que, de

modo conciso, sejam apresentados os

fundamentos em que está apoiada a origem

deste trabalho.

Inicialmente se pode acreditar, de

acordo com Gomes (2013, p.53), que “do

ponto de vista prático-existencial, o

corriqueiro conhecimento de si é suficiente

para que cada indivíduo seja capaz de alcançar

certo conhecimento do Outro, o que se dá

pelo relacionamento, pelo diálogo e por

outros modos da razão.” Assim, olhar para si é

começar a compreender o outro, que em

alguns, ou muitos aspectos, se assemelha a

quem se submete a tal autorreflexão.

Porém, o que tem acontecido de

forma cada vez mais consolidada no mundo

atual é um certo desprezo com o outro, uma

egocentralização das ações e pensamentos,

que levam a uma postura afastada da ética e

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que preza unicamente pelo benefício próprio

em detrimento do bem geral. É o que afirma

Arduini (2002, p.108) “o Outro humano

perdeu o seu lugar, perdeu sua face. É

dispensável.” São muitas as situações em que

o outro é marginalizado, excluído por

questões sociais, raciais e preconceituosas.

Parece ser comum e normal

na pós-modernidade vivermos

[uma] situação paradoxal. Há

flagrante desproporção entre o

significado do ser humano e o

tratamento que lhe é destinado.

Proclama-se, com razão, que o

ser humano é pessoa consciente

e livre, capaz de planejar a

sociedade e transformar o

cosmos. O ser humano é gênese

de pensamento, decisão e

criatividade em nosso universo.

Por outra parte, não se garantem

a dignidade, o direito e o lugar

que são devidos a todo ser

humano. Há humanidade

desrespeitada.” (ARDUINI, 2002,

p.74).

É nesse contexto, de exclusão e

desrespeito à dignidade e ao direito humano

de ser parte integrante da sociedade, que foi

levantado o problema que motivou o projeto

em que se baseia este trabalho. Como já

mencionado, a tecnologia tem a obrigação de

ajudar a humanidade em suas necessidades. A

tecnologia pode ajudar a garantir uma

inclusão social, a promover justiça suprindo as

necessidade humanas mais diversas.

Foi pensado desta forma que surgiu a

problemática deste trabalho: como a

tecnologia pode auxiliar, por exemplo,

pessoas que apresentam alguma limitação

física? Uma das respostas é muito fácil de

encontrar: milhares de pessoas utilizam

próteses, implantes, chips, e diversos aparatos

tecnológicos para melhorar sua qualidade de

vida. Porém, em um questionamento mais

específico, observou-se que a resposta não

era tão comum: como um deficiente auditivo

consegue, estando sozinho em casa, perceber

que alguém toca a campainha?

Com este problema, foi pensado em

um sistema que pudesse ajudar os surdos a

identificar a presença de alguém tocando a

campainha. Apesar de parecer algo simples,

um pequeno detalhe na vida do surdo, são as

pequenas limitações superadas que fazem a

grande diferença na vida dessas pessoas.

A relevância de uma questão como

essa está em não ser indiferente. Porque

“perante a indiferença, a diferença é rebelde.

Diferença quebra o uniformismo, convulsiona

a quietude, sacode a rotina. Diferença é apelo

à definição. O clima da diferença é a inovação”

(ARDUINI, 2002, p.106).

É a diferença em não poder ouvir que

provoca a inovação desta solução para o

surdo. Exige, de quem se propõe a estudar

uma solução, muita ousadia. E, segundo

Arduini (2002, p.40), “ousar é desprender-se

do lugar onde se está. Ousar é desarmar-se, é

lançar-se, é atirar-se a um projeto.”

Essa motivação de ousar nada mais é

do que a solidariedade de que foi falada

anteriormente e que é confirmada por Arduini

(2002, p.114) quando diz que

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a sociedade autêntica supera o

isolacionismo e busca

companheiros para reprogramar

a sociedade. Em nosso tempo, é

indispensável articular

intelectuais, artistas, cientistas,

educadores, jornalistas.

religiosos, políticos honestos,

líderes populares e muitos outros

setores, para promover

mudanças sociais efetivas e

provocar a germinação da nova

sociedade.”

Se essa preocupação com o outro, que

recebe o nome de alteridade, tiver boa

germinação no seios de uma sociedade, a

justiça e a igualdade podem ser elementos

visíveis no horizonte das possibilidades. Pois

“a sociedade que garante os direitos humanos

a todos, que efetiva a justiça social e respeita

o valor da pessoas é sociedade avançada”

(ARDUINI, 2002, p. 47).

2 DESENVOLVIMENTO DO PROJETO

Para conseguir chegar ao objetivo de

auxiliar um deficiente auditivo na tarefa de ser

alertado sobre a presença de uma pessoas

tocando a campainha de sua casa, chegamos à

alternativa em que utilizaríamos a plataforma

Arduino e um smartphone Android. A escolha

pelo Arduino se deve ao fato de ser uma

plataforma barata e acessível, inclusive

porque o projeto pretende se aberto, para

que qualquer pessoa possa desenvolvê-lo. A

documentação do projeto estará disponível

para consulta.

Optamos por utilizar um smartphone

por ser um dispositivo muito comum à grande

parte das pessoas atualmente. Só no Brasil,

por exemplo, segundo a Fundação Getúlio

Vargas (FGV), até maio de 2016 eram 168

milhões de smartphones em uso no Brasil, e a

projeção é que para 2018 alcance a cifra de

236 milhões3. Segundo pesquisa da Kantar

Worldpanel, no final de 2015, 91,4% dos

smartphones possuíam o sistema Android4, o

que justifica nossa escolha por esta

plataforma.

Nosso protótipo conta com uma placa

Arduino Uno R3, que possui o

microcontrolador Atmega328, um módulo

bluetooth HC-06, um pushbutton, um buzzer

de 5v, dois resistores (de 330Ω e 10kΩ), uma

protoboard e jumpers.

O funcionamento, como descrito no

esquema da imagem 1 (todas as imagens

estão no apêndice), acontece da seguinte

maneira: o pushbutton simula o interruptor da

campainha, que quando pressionado envia o

sinal para o Arduino, que faz o buzzer emitir

um som, e enviar um sinal via bluetooth para

um aplicativo no smartphone Android criado

para essa finalidade. O aplicativo, ao receber o

sinal via bluetooth do Arduino, começa a

3 Pesquisa da FGV disponível em

http://eaesp.fgvsp.br/ensinoeconhecimento/centros/cia/pesquisa 4 Pesquisa disponível em

http://br.kantar.com/tecnologia/m%C3%B3vel/2015/novembro-android-avan%C3%A7a-e-conquista-91,4-do-mercado-brasileiro/

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vibrar, fazendo com que o surdo, que estará

com o celular no bolso, sinta a vibração.

Na imagem 2, encontra-se o esquema

de conexões feito no Fritzing utilizado no

protótipo.

A comunicação entre o Arduino e o

bluetooth acontece através da comunicação

serial. O módulo bluetooth HC-06 está

conectado às portas de comuniação serial RX

e TX, que são as mesmas dos pinos digitais 0 e

1, respectivamente. Trata-se de

uma comunicação no padrão

UART TTL (5 V). Um chip FTDI

FT232RL na placa encaminha esta

comunicação serial através da

USB e os drivers FTDI (incluído no

software do Arduino) fornecem

uma porta virtual para o software

no computador.(RENNA et al,

2013, p.6).

O código utilizado na programação

para o Arduino está no apêndice.

O aplicativo para Android foi

desenvolvido através do MIT AppInventor. Na

imagem 3 está algoritmo/código e a

aparência do aplicativo.

3 RESULTADOS E CONCLUSÃO

Tendo desenvolvido o projeto, fizemos

o teste do protótipo com uma pessoa

portadora de deficiência auditiva e ela julgou

o projeto como sendo de grande utilidade.

Além de testar, sugeriu novas ideias para o

projeto, especialmente a melhoria do

aplicativo em algumas necessidades, como

avisar na tela, não apenas com a vibração,

mas com sinais luminosos a presença de

alguém à porta. Também estudaremos, para a

próxima versão do protótipo, incluir no

aplicativo um pequeno tutorial em vídeo em

LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais).

Percebemos, com o desenvolvimento

deste projeto, que há muitas necessidades de

pessoas portadoras de deficiências, e que

muitas deles poderiam ser supridas com o uso

da tecnologia. Entendemos que não é preciso

grandes investimentos financeiros para

desenvolver alguns projetos que auxiliariam o

dia a dia dos portadores de necessidades

especiais e que esse desenvolvimento não

exige tanto conhecimento técnicos.

Acreditamos que inicialmente o fundamental

é a solidariedade, a alteridade, o preocupar-se

com o outro. Sem essa motivação, não há

disposição e ousadia para ajudar as pessoas e

inovar.

REFERÊNCIAS

ARDUINI, Juvenal. Antropologia: ousar para

reinventar a humanidade. São Paulo: Paulus,

2002.

GOMES, Mércio Preira. Antropologia. São

Paulo: Contexto, 2013.

RENNA, Roberto Brauer Di et al. Introdução

ao kit de desenvolvimento Arduino. 2013.

Disponível em: <

http://www.valdick.com/files/TuorialArduino.

pdf>. Acesso em: 11 set. 2016.

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APÊNDICE

Código

Imagem 1

int leitura; //variável que fará a leitura do pino 13 (pushbutton)

void setup(){

Serial.begin(9600); //inicia a comunicação serial

pinMode(13, INPUT); //configura o pino 13 como pino de entrada, para o pushbutton

pinMode(8,OUTPUT); //configura o pino 8 como pino de saída, para o buzzer

}

void loop(){

leitura = digitalRead(13); //declava a variável 'leitura' como sendo a leitura digital do pino 13

if(leitura == HIGH){ //condição que é satisfeita se o resultado da leitura do pino 13 for HIGH (1)

digitalWrite(8,HIGH); //liga o buzzer

Serial.print(1); //print, através da comunicação serial, o valor "1", que é enviado pelo bluetooth

delay(1000); //aguarda 1 segundo

}

else{

digitalWrite(8,LOW); //se a condição acima não for satisfeita, o buzzer é desligado

}

}

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Imagem 2

Imagem 3