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Fontes das Obrigações: Contratos do Código Civil (em espécie) Caderno de Luís Felipe Rasmuss de Almeida Professor Dr. Eduardo Tomasevicius Filho Observação: esse caderno não constitui material oficial do curso, sendo apenas um guia para os contratos abordados. Versão: 1.0 (futuramente será unido à primeira parte do curso, para os anos vindouros). Não foi inteiramente revisado. Aula – 23/09/2014: Contratos em Espécie – Compra e Venda Compra e venda (art. 481 ao 532, CC) Será destacado o que o Código traz de diferente em relação às fontes Romanas, estudadas anteriormente no primeiro ano. É aquele contrato por meio do qual um indivíduo se obriga a transferir a propriedade de uma coisa, mediante o pagamento em moeda. Para que a propriedade se transfira, é necessária uma traditio, no caso de móveis, e o registro do instrumento de compra e venda em um Cartório de Registro (antes, deve-se lavrar o contrato de compra e venda, com a obrigação de transferir a propriedade, em um Tabelião de Notas, se o bem imóvel tiver valor superior a 30 salários mínimos, pois nesses casos, a escritura pública é da substância do ato). Elementos essenciais da compra e venda: coisa, preço e consenso. As regras trazidas sobre a compra e venda do Código Civil correspondem exatamente aos elementos do negócio jurídico: agente, objeto e forma. Ocorrerá a regulação de quem pode ser parte, o que pode ser vendido, etc. Pode-se vender por amostras e protótipos? Sim. Ao vender por amostra, o indivíduo se obriga que a qualidade da amostra seja igual ao do produto que será entregue futuramente. Lei 9.605 Plano Real. Decreto nº 857/69: casos típicos de pagamento com moeda estrangeira. O termo “dinheiro” está colocado equivocadamente, já que o pagamento deve ser feito em moeda corrente, e excepcionalmente, em moeda estrangeira. Recusar o curso legal da moeda (dinheiro) é uma contravenção penal. Porém, recusar cheque não é ilegal, pois cheque é título de crédito. Da mesma forma, não é obrigatório aceitar cartão de crédito. A doutrina diz que o preço deve ser certo (determinado ou determinável), pois o preço corresponde ao objeto do negócio jurídico. Orlando Gomes falava em preço “justo”, mas a lógica diz respeito à lesão ou estado de perigo, sendo que o indivíduo prejudicado poderia pedir a rescisão do contrato.

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Page 1: DCV0212 - Fontes Das Obrigações - Prof Tomasevicius - Rasmuss T186-23 (2014)

Fontes das Obrigações: Contratos do Código Civil (em

espécie)

Caderno de Luís Felipe Rasmuss de Almeida

Professor Dr. Eduardo Tomasevicius Filho

Observação: esse caderno não constitui material oficial do curso, sendo apenas um guia para

os contratos abordados.

Versão: 1.0 (futuramente será unido à primeira parte do curso, para os anos vindouros). Não

foi inteiramente revisado.

Aula – 23/09/2014: Contratos em Espécie – Compra e Venda

Compra e venda (art. 481 ao 532, CC)

Será destacado o que o Código traz de diferente em relação às fontes Romanas, estudadas

anteriormente no primeiro ano.

É aquele contrato por meio do qual um indivíduo se obriga a transferir a propriedade de uma

coisa, mediante o pagamento em moeda. Para que a propriedade se transfira, é necessária uma

traditio, no caso de móveis, e o registro do instrumento de compra e venda em um Cartório de

Registro (antes, deve-se lavrar o contrato de compra e venda, com a obrigação de transferir a

propriedade, em um Tabelião de Notas, se o bem imóvel tiver valor superior a 30 salários

mínimos, pois nesses casos, a escritura pública é da substância do ato).

Elementos essenciais da compra e venda: coisa, preço e consenso.

As regras trazidas sobre a compra e venda do Código Civil correspondem exatamente aos

elementos do negócio jurídico: agente, objeto e forma. Ocorrerá a regulação de quem pode ser

parte, o que pode ser vendido, etc.

Pode-se vender por amostras e protótipos? Sim. Ao vender por amostra, o indivíduo se obriga

que a qualidade da amostra seja igual ao do produto que será entregue futuramente.

Lei 9.605 Plano Real.

Decreto nº 857/69: casos típicos de pagamento com moeda estrangeira.

O termo “dinheiro” está colocado equivocadamente, já que o pagamento deve ser feito em

moeda corrente, e excepcionalmente, em moeda estrangeira.

Recusar o curso legal da moeda (dinheiro) é uma contravenção penal. Porém, recusar cheque

não é ilegal, pois cheque é título de crédito. Da mesma forma, não é obrigatório aceitar cartão

de crédito.

A doutrina diz que o preço deve ser certo (determinado ou determinável), pois o preço

corresponde ao objeto do negócio jurídico. Orlando Gomes falava em preço “justo”, mas a lógica

diz respeito à lesão ou estado de perigo, sendo que o indivíduo prejudicado poderia pedir a

rescisão do contrato.

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Quando se trata de compra e venda de coisa, a coisa é tangível. Porém, ao se falar de venda de

patentes e/ou marcas (coisa vendida imaterial), fala-se em CESSÃO, gratuita ou onerosa. A

licença, por outro lado, é um arrendamento.

Art. 485 fixação do preço, seguindo regras Romanas, do Digesto.

Art. 486 ex: a cotação do dia na importação/exportação de commodities.

Art. 490 “salvo disposição contrária”, ou seja, é uma norma dispositiva. O legislador define

que ficará ao cargo do comprador as despesas de escritura e registro, enquanto que o vendedor

cuidará dos valores relacionados à traditio.

Exceptio inadimplenti contractus o vendedor não é obrigado a entregar a coisa antes de

receber o preço. No art. 495 há uma aplicação específica.

Art. 492 res perit domino. Um exemplo quanto ao preço seria a penhora on-line do valor.

Quem pode ser parte no contrato de compra e venda? Há situações em que o indivíduo é

incapaz, e em outras, o sujeito não tem legitimidade para comprar/vender. 497.

Compra e venda de pai para filho é possível de se pedir a anulação, se os terceiros cujos

efeitos jurídicos podem respingar sobre sua esfera patrimonial não anuírem (irmãos, esposa,

etc.)

Venda ad mensuram X Venda ad corpus

A venda ad corpus corresponde à venda de uma coisa em que se leva em consideração a coisa

em si, e não a sua área. (Ex: venda da Fazenda Sítio Dourado). Porém, se a venda for feita levando

em consideração o tamanho de sua área, por exemplo (extensão geográfica), a venda é ad

mensuram e há uma tolerância de 5% de área. Essa nomenclatura aplica-se à imóveis.

Actio ex empto: ação possível para o caso de venda ad mensuram em que a área não foi

cumprida. Dá algumas possibilidades: (I) resolução do contrato, (II) abatimento do valor, (III)

transferência de propriedade da área restante.

Cláusulas especiais à compra e venda

Cláusulas que podem ser inseridas em um contrato de compra e venda, que o transforma em

outros tipos de contratos.

Incoterms: no comércio internacional, deve-se facilitar as coisas, já que os indivíduos podem não

falar a mesma língua e trazer certas confusões. Existe a Câmara de Comércio Internacional de

Paris, que estabeleceu um conjunto de siglas, denominadas Incoterms, na década de 30. Ao

inserir tais siglas, os indivíduos sabem diversas informações à respeito desse contrato.

Fábrica Cais (Porto) navio viaja Entrega ao comprador.

Cost + insurance (seguro) + freight (frete)

Ex works a responsabilidade é mínima ao vendedor. O comprador deve vir buscar o produto.

FAS free alongside ship (a responsabilidade cessa quando o produto chega ao cais). O

caminhão chega ao cais e deixa o produto ali.

FOB free on board (a responsabilidade cessa depois que os estivadores colocam o produto no

navio). Mais comum.

CIF cost, insurance, freight (vendedor paga, preço mais elevado)

DDP delivery duty paid (desembaraço aduaneiro realizado pelo vendedor)

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Cláusulas sobre a compra e venda

Retrovenda (art. 505) cláusula válida apenas para imóveis, por meio da qual, o comprador se

obriga a vender o imóvel para o vendedor, dentro do prazo de três anos. Aquele que comprar o

imóvel sabe que o vendedor pode recomprar o imóvel dentro daquele prazo, e compra

assumindo tal risco. Serve para encobrir a agiotagem. Ex: o sujeito dá o dinheiro (R$ 100.000,00)

e compra o imóvel (que valia R$ 200.000,00). Se a pessoa não pagar para recuperá-lo (R$

200.000,00 100% de juros), o agiota já tomou o imóvel.

Venda ad gustum (art. 513) está sujeita ao indivíduo gostar ou não da coisa.

Cláusula de preempção (ou preferência) corresponde ao direito de preferência, que vale

tanto para imóveis como para móveis. Por meio dessa cláusula, o indivíduo se obriga a dar a

preferência para um determinado indivíduo na compra de um imóvel. Em igualdade de

condições, o indivíduo que detém a preferência ganha. Existe a preferência legal, no caso da

locação. O não-cumprimento da cláusula enseja inclusive indenização. Essa preferência

geralmente é cobrada, e é muito comum em contratos para aquisição do passe de jogador de

futebol.

Venda com reserva de domínio (art. 521) não é mais tão utilizada. É um contrato de compra

e venda que tem uma cláusula que diz que à despeito da tradição para transferência de

propriedade, ela só se efetivará com o pagamento do preço por inteiro (em compras à prazo,

especialmente na década de 60). Se não for pago, o vendedor entrava com reintegração de

posse. Atualmente, utiliza-se o recurso da alienação fiduciária.

Venda sob documentos (art. 529) compra e venda de uma mercadoria que está num armazém

geral/depósito. Ao se depositar lá, o indivíduo lhe fornece um recibo de “conhecimento de

depósito”.

Também há a possibilidade do carro no estacionamento, em que o vendedor dá o

conhecimento/certificado do estacionamento para o comprador ir lá buscar.

Venda mediante poupança o comprador vai ao estabelecimento do vendedor e adquire um

carnê. O indivíduo compromete-se a pagar cada cártula do valor rigorosamente em dia. Então,

troca-se o valor por mercadorias (que não eram produtos bons, geralmente quinquilharias).

Revista dos Tribunais artigo do prof. Tomasevicius sobre Assis Chateaubriand e a destinação

de seus bens.

Aula – 30/09/2014: Troca, Estimatório, Doação, Comodato e Fiança A troca é um contrato em que um sujeito se obriga a entregar uma coisa mediante outra. O

código diz que tudo que vale para a compra e venda vale para a troca. A única diferença é que

enquanto na compra e venda trata-se de entrega de coisa mediante pagamento pecuniário, na

troca é mediante outra coisa.

Contrato estimatório

É um contrato que foi inserido no Código de 2002. Não tinha previsão no Código de 1916,

embora ele existisse. A disciplina do contrato estimatório foi cópia do Código Civil Italiano,

herdando daí o seu nome. É o contrato da “venda em consignação”, que se dá pela entrega de

mercadoria, coisas móveis, de um consignante a um consignatário. Se o consignatário vender a

coisa, ele entrega o dinheiro para quem era o dono da mercadoria (o consignante); caso

contrário, ele devolve a mercadoria. Obviamente, o consignatário irá vender a mercadoria por

um preço mais alto do que irá pagar ao consignante, pois caso contrário, não terá lucro. É um

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contrato razoavelmente complexo, já que não se sabe qual a sua natureza jurídica: seria uma

compra e venda? Tem aspectos, mas transcende a compra e venda. É um novo tipo contratual,

não sendo comissão (vende produtos em seu próprio nome, e não do comitente), nem contratos

coligados. Não se sabe, assim, qual a natureza jurídica desse contrato; porém, se sabe que é um

novo contrato.

Tanto faz para o consignante com quem irá ficar com a mercadoria.

Venda em consignação x pagamento em consignação (ou consignação em pagamento): são

coisas diversas, pois o pagamento em consignação é uma situação em que o credor se recusa a

receber a prestação, pois há dúvidas sobre o que deve ser entregue ou para quem deve ser

entregue.

Ex: bancas de jornal e livrarias costumam fazer compras em consignação, para não ficar com

mercadorias presas em seu estoque.

No Código Civil, a matéria está disciplinada a partir do art. 534. “Pelo contrato estimatório...”

O fato da responsabilidade ser do consignatário nos casos de perecimento da coisa

consignada faz uma exceção à lógica do “res perit domino”.

Doação

A primeira questão envolvendo a doação é saber se doação é contrato. A definição de doação é

o contrato por meio do qual uma pessoa se obriga a entrega de algo sem contrapartida (no

máximo, um encargo). Se um contrato exige um acordo de vontades, e a doação, do jeito que

está descrita, não se admite concordância, ou até mesmo se admite a aceitação tácita.

Transferência de bens por liberalidade da parte.

A doação é muito próxima do testamento (negócio jurídico por meio do qual uma pessoa

disciplinará/criará regras jurídicas que serão obedecidas quanto à destinação de seus bens, a

partir do momento de sua morte). Na doação, poderia se falar que é um negócio jurídico em

que uma pessoa destina seus bens em vida.

ITCMD – Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação. O mesmo imposto incide para o

testamento e para a doação.

na compra e venda, um ascendente pode vender para descendente, desde que os outros não

impugnem. No caso da doação, é tido como um adiantamento da herança. Assim, na divisão da

herança, deve-se declarar que já recebeu, para não receber mais do que o devido (art. 544)

No testamento, se houver descendentes necessários, o indivíduo só pode dispor de 50% dos

seus bens. Na doação, é proibido doar todos os bens, a chamada doação universal (art. 548, CC

– “é nula a doação de todos os bens...”). Inválido ab initio, eficácia ex tunc.

Em outros países, como no caso da França, a doação é um meio de aquisição de propriedade,

ao lado da usucapião, não constituindo uma espécie de contrato. Não é uma regra geral e nem

uma mera discussão doutrinária: pode-se considerar a doação como contrato ou não.

Além disso, há a discussão sobre o caso da necessidade da aceitação: se um indivíduo deseja

doar dez cavalos a outra, será que não deveria haver aceitação? Onde a pessoa irá colocar os

cavalos? Deve-se assim ter um animus donandi, de fazer a doação/ter intenção de doar, e por

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isso, há forma específica para contrato de doação: deve ser escrita, por escritura pública (ex:

transmissão de direitos reais) ou instrumento particular (ex: um automóvel). Admite-se a doação

verbal, em casos de bens móveis, de pouco valor, ocorrendo a traditio em seguida.

Ainda sobre a aceitação expressa, tácita, e a presumida (em que o doador fixa o prazo para

manifestação. Se não se manifestar, presume-se que aceitou).

Existem ainda diversos tipos de doação: negócio misto com doação; doação pura e simples

(pode-se colocar algumas cláusulas, como a inalienabilidade, incomunicabilidade – no caso de

casamento civil e regime de bens – e impenhorabilidade); etc

Não se pode fazer doações em prejuízo aos credores, pois constituir-se-á em fraude aos

credores.

O negócio não precisa declarar causa/motivo/finalidade do negócio. Exceto na doação

contemplativa, feita em merecimento do donatário.

Doação remuneratória: feita com base em serviços prestados pelo donatário ao doador.

Doação conjuntiva: feita para mais de uma pessoa (art. 551)

Doação em contemplação de casamento futuro (art. 546)

Doação com reversão por premoriência do donatário (?) – art. 547 seria um fideliscomissio?

Art. 555: doação pode ser revogada por ingratidão do donatário ou não-cumprimento

do encargo.

Art. 556: não se pode dizer antecipadamente que não se arrepende de ter doado.

Situações de ingratidão (art. 557).

Art. 558: revogação do ofendido. Prazo: 1 ano

Art. 562: doação onerosa (com encargo) Cumprimento da obrigação assumida

IMPORTANTE: a doação é real, pois não há promessa de doação.

Comodato

É o empréstimo de coisa infungível (deve-se devolver a mesma coisa). É um contrato unilateral

(bilateral imperfeito). O comodato se constitui com a entrega da coisa.

Deveres do comodatário: devolver a coisa, cuidar dela como se fosse sua, usar de acordo com

a finalidade definida pelo comodante. O inadimplemento contratual faz com que o devedor

responda por perdas e danos. (art. 582)

Se houver hipótese de perdimento da coisa, deve-se primeiro salvar a coisa do outro e depois a

própria.

Prazo: estabelecido no contrato. Quando não o houver, o comodante não tem a pretensão

jurídica de reavê-la. O prazo seria o necessário para que a pessoa faça uso da própria coisa.

Porém, se o indivíduo não devolver, o comodante pode arbitrar um aluguel pela mora, de

maneira unilateralmente. Na prática, irá ocorrer discussão judicial: será discutido se o

comodante excedeu os limites impostos do contrato (abuso de poder).

Art. 579 – “empréstimo gratuito de coisas não-fungíveis”. Explica que o comodato é contrato de

cunho REAL.

Art. 585 – exemplo de solidariedade legal.

Comodato modal estabelece-se um encargo. Exemplo dos freezers de sorvete: é emprestado

apenas para guardar os produtos da empresa x.

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Fiança

É um contrato por meio do qual alguém assume uma responsabilidade (se obriga a) de

responder pela obrigação em caso de inadimplemento do devedor. Art. 818

É o exemplo da responsabilidade sem débito (Schuld-Haftung).

Tipos de fiança: civil (a que está no Código), bancária (o banco é o fiador), seguro-fiança (uma

mistura de contrato de seguro com o de fiança).

A fiança pode ser gratuita ou onerosa (existem pessoas que cobram para ser fiadoras). É um

contrato intuitu personae (o credor não é obrigado a aceitar o fiador), e serve para reduzir riscos,

e não fazer circular a riqueza. É um contrato aleatório, pois o indivíduo pode ou não pagar. A

fiança deve ser por escrito, e não admite interpretação expansiva. A fiança é um contrato

acessório, já que só existe fiança se houver uma obrigação principal.

Art. 824 – as obrigações nulas não são suscetíveis de fiança. Nulo o contrato principal, nula será

a fiança.

Art. 820 – sobre a aceitação do devedor

Art. 822 – o fiador será compelido apenas depois da citação. Alguns acórdãos, contudo, dizem

que é desde o momento do inadimplemento líquido e certo.

Art. 6º, CF – direito fundamental/social da moradia. Criou uma grande celeuma no meio jurídico,

pois não poderia se renunciar um direito social, isto é, ao colocar como fiança um bem único/de

família. A questão foi ao STF, que decidiu que se feito voluntariamente, é lícito.

O fiador tem o direito de que o credor cobre primeiro do devedor, e apenas depois, do fiador.

Todo contrato diz, contudo, que o fiador renunciou a esse benefício. “O fiador responde

solidariamente”. Art. 828. No caso de cônjuge, deve haver outorga uxória (ou marital),

excetuando-se a hipótese do regime de separação total de bens.

Aula – 07/10/2014: Locação de Imóveis É um tema bastante interessante. No Direito Romano, havia três tipos de locatio: rei (de

coisa), operis (empreitada) e operarum (locação de serviços). As regras ali existentes valiam para

uma economia agrária, de relações econômicas muito simples. No século XIX, especialmente por

causa da Revolução Industrial e advento do capitalismo, as relações de trabalho se modificaram:

o trabalho não era mais servil, e sim, assalariado. Os rudimentos do Direito do Trabalho no Brasil

estavam presentes no Código Civil de 1916, em que o trabalhador era um locador de serviços.

Na sociedade contemporânea, o principal objeto a ser alugado é um imóvel, pelo qual

diversos indivíduos exercem o direito à moradia e o direito à livre iniciativa (no caso de

empresários). Para exercer uma atividade econômica, precisa-se de um estabelecimento (que

embora não se confunda com um imóvel, pois existem estabelecimentos virtuais, eles

geralmente são físicos).

Em 1934, criou-se a “Lei de Luvas” para a proteção do comerciante.

Livro: “Redes Contratuais no Mercado Habitacional”

Collor foi retirando o Estado da economia, e fez uma lei que dava mais autonomia para ambas

as partes, e foi uma lei que deu certo (só teve uma alteração em 2009, em matéria

procedimental, para celeridade da ação de despejo): é a Lei do Inquilinato (lei nº 8.245/91).

Na locação, o locador se obriga a transferir a posse da coisa, que é uma figura parcelar da

propriedade, mediante remuneração. O locatário é hipossuficiente em face do locador? Não se

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aplica o Código do Consumidor, pois a Lei do Inquilinato é uma lei mais específica do que o

Código de Defesa do Consumidor, na locação de imóveis urbanos.

A lei do Inquilinato, entretanto, só se aplica à locação de imóveis urbanos: imóveis rurais são

regidos pelo Estatuto da Terra. Também não se aplica para vagas de garagem, e tampouco para

imóveis de propriedade do Estado (Decreto-lei 9.460/46 lei sobre locação de imóveis da

União). Apart-hotéis, hotéis e flats também não são contemplados pela Lei de Locação de

Imóveis Urbanos (aqui, aplicar-se-á o CDC). Como a Lei do Inquilinato dialoga com o direito à

moradia, não faria sentido que uma hospedagem de poucos dias fosse contemplada por essa

lei. No caso de shopping center, aplicam-se algumas disposições dessa lei, pois ela dispõe

explicitamente sobre essa questão.

Art. 22 – “Dos Deveres do Locador e do Locatário”

Obrigações do locador: ceder e garantir a posse. É responsável por vícios redibitórios do

imóvel (“fazer boa a coisa locada”).

Obrigações do locatário: pagar o valor da locação, cuidar da/conservar a coisa, devolvê-la ao

final do contrato.

As taxas serem pagas são deveres do locador, que é proprietário (e isso é uma obrigação

propter rem). Mesmo que o inquilino pague, ele o faz em nome do proprietário do

imóvel.

Locação residencial x Locação não-residencial/comercial

Na locação residencial, tem-se a locação para moradia (90+ dias) e para temporada (até 90 dias).

Na não-residencial, há o exercício de uma atividade econômica. O despejo e a aplicação de multa

são ensejados numa hipótese em que o indivíduo aluga imóvel residencial e pratica atividade

comercial (é uma infração contratual gravíssima).

A locação não-residencial pode ser também o aluguel de imóvel para residência de

empregados da empresa, além da hipótese mencionada acima. Constitui-se uma exceção, pois

o indivíduo não está ali para exercer seu direito à moradia, e sim porque a empresa quer que

ele fique ali.

Auditoria pode ser realizada antes da locação, de forma a verificar, ao final do contrato, o

que deve ser consertado, por exemplo.

A Lei de Locações estabeleceu que é livre a fixação do valor de aluguel. O Estado não pode

congelar o valor da locação. É proibida a indexação ao salário mínimo (aumentava-se todo mês)

ou à moeda estrangeira (o dólar flutuava bastante), porque na época tínhamos um histórico de

inflação.

O valor da sublocação não pode ser maior que o da locação, segundo a lei. No caso de

habitações coletivas multifamiliares (cortiços), o valor total a ser cobrado dos inquilinos

(sublocatários) pode ser até o dobro do que o locatário paga para o dono. Se o valor ficar

defasado, a lei estabelece que há a possibilidade de revisão do valor de aluguel, por meio da

ação revisional de aluguéis. O prazo para a propositura dessa ação é de 3 anos após a locação

(art. 68, LdI). O Código Civil, entretanto, previa que o reequilíbrio contratual pudesse ser

suscitado a qualquer tempo, mas a questão chegou ao Superior Tribunal de Justiça, que decidiu

que por ser lei especial, a Lei do Inquilinato tem predominância no caso em voga.

Pode-se exigir o aluguel adiantado? Não, salvo se o locatário não possuir nenhuma

garantia (arts. 19 e 20).

Todo contrato de locação pode ser reajustado para correção monetária (por meio de índices

IGP-M, IPCA, etc), repondo o poder de compra pela moeda, segundo a Lei do Plano Real (lei

9.069/95), e tal correção só pode se dar uma vez por ano.

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Garantias locatícias (art. 37).

Estabelecer pessoas que serão responsáveis pelo inadimplemento do devedor. A primeira

possibilidade é a caução, a segunda é a fiança, a terceira é o seguro-fiança e a nova é a “cessão

fiduciária...”. Como locador, só se pode exigir uma das quatro opções, porque é contravenção

penal exigir mais de uma garantia. Qualquer das garantias se estende até a efetiva devolução do

imóvel (art. 39).

Caução: o valor é de três meses de aluguel. Não é tão utilizada, e o problema é que só se garante

três meses. O dinheiro fica em uma conta poupança, para no máximo se manter o poder de

compra, em uma conta administrada pelo locador.

Fiança: COMPLETAR

Seguro-fiança: a vantagem do seguro-fiança para o locatário é que ele não precisa buscar um

fiador. Para o locador, a seguradora apenas dará a fiança após ter vasculhado a vida do locatário.

As desvantagens são que o locatário deve realizar o pagamento do seguro-fiança, e o prazo é de

12 meses, sendo que o prazo de aluguel é 30 meses. Se há um incidente com o inquilino, não

haverá possibilidade de ajustar uma renovação desse seguro-fiança.

Se não for oferecida nenhuma garantia, o locador poderá cobrar de maneira antecipada os

aluguéis.

Súmula nº 214 do STJ: se houver uma novação (ou aditamento ao aluguel), o fiador não

responde por isso, já que em uma novação, as obrigações acessórias caem por terra.

Seguro-fiança: pode a seguradora cobrar do inquilino se ele não pagar o seguro-fiança, e ela

ressarcir o locador? Há decisões para ambos os lados.

Circulação do contrato

A regra geral é que na locação residencial não se pode transferir o contrato para outra pessoa

(assunção de dívida – é necessária a anuência do credor). Existem exceções, em que o contrato

se transferirá por força legal (art. 10 e seguintes) O primeiro caso é em um divórcio, em que o

marido é o locatário e sai de casa, deixando a ex-esposa no local, o contrato se transfere para

ela (art. 12), e também em caso de morte de locador ou locatário.

Súmula nº 411 – STF.

Ao inquilino se confere o direito de preferência na venda de imóveis, por 30 dias. Se o inquilino

não se manifestar ou negar, o proprietário pode realizar a venda para terceiro. Se o direito de

preferência da locação estiver averbado na matrícula do Cartório de Registro de Imóveis, ainda

que o comprador tenha feito o pagamento, o locatário pode depositar e passará na frente do

terceiro. Se não houver a averbação, ele só poderá ser titular de uma indenização pelo não-

respeito ao direito da preferência.

Cabe ao locador fazer as obras. Se as obras durarem de 10 a 30 dias, a hipótese é pedir o

abatimento do aluguel. Se passar de 30 dias, o inquilino pode resolver o contrato, pois o locador

não está garantindo o bom uso do imóvel. O inquilino pode realizar benfeitorias, por outro lado,

exceto se houver cláusula dizendo que o inquilino renuncia essa feitura, inclusive nas necessárias

(STJ – súmula nº 335).

O prazo de vigência do contrato

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Para contratos residenciais: o prazo pode ser qualquer um, porém, se o prazo for inferior a 30

meses, a locação prorroga-se automaticamente. Expirado o prazo desse contrato, o inquilino é

obrigado a devolver o imóvel, desembaraçado de pessoas e coisas? Não necessariamente, pois

a locação corre por prazo indeterminado, até a denúncia do contrato pelo locatário. Também

pode-se fazer outro contrato.

Em uma locação não-residencial, se se ficar por cinco anos ininterruptos, adquire-se o ponto: o

direito do inquilino de ficar lá pelo resto da vida, podendo renovar compulsoriamente o contrato

de locação. A hipótese para quebra disso seria o fim desse aluguel por inadimplemento, ou se o

dono deseja estabelecer uma atividade empresarial naquele local, desde que não seja a mesma

(que se aproveitaria da clientela do outro). Para que o inquilino exerça esse direito, quando

faltar seis meses para a completude dos 5 anos, ele deve fazer essa propositura, caso contrário,

perderá a potencialidade do direito.

Oscar Barreto Filho – “Teoria do estabelecimento comercial”

IMPORTANTE: a lei protege o fundo de comércio quando fala em locação não-residencial (o

fundo de comércio enseja a ida de clientes ao local). Exemplo: uma incorporadora que tinha

escritório na Av. Brasil, nos Jardins, teria direito ao ponto depois de transcorridos cinco anos?

Entende-se que não, porque a clientela não se desloca para o escritório por causa do local

(“quando se pensa em Brookfield, não se pensa na Av. Brasil”).

Para locações em período inferior a 30 meses, deve ser feita a DENÚNCIA CHEIA (motivada).

Após os 30 meses, e o contrato é prorrogado por prazo indeterminado, é possível a DENÚNCIA

VAZIA (sem motivação). Essa denominação é de Pontes de Miranda.

Se o inquilino devolver o imóvel antes do prazo final, ele terá de pagar a multa

proporcionalmente aos meses que não ficou. Existem duas multas no contrato: a primeira é

referente ao não-pagamento dos aluguéis (até 20% do valor da locação), e a segunda é para a

infração às demais cláusulas (ex: alugou para fins residenciais e o locatário montou um

comércio), sendo o valor limite de três aluguéis.

OBS: pode colocar limitação de pessoas na locação residencial.

A ação executiva para o locador reaver o imóvel se chama AÇÃO DE DESPEJO, por quaisquer

justificativas. Ela foi remodelada processualmente em 2009 para dar mais celeridade, embora

tal alteração tenha se provado inútil.

Estabelecimentos (hospitais e escolas): nesses casos, é mais difícil se propor ação de despejo,

por conta do interesse público.

Shopping center (art. 54): nesse caso, o locador pode cobrar coisas a mais do que em um

contrato normal. A primeira coisa que será cobrada a mais é o chamado “Tenant mix” (valor pela

capacidade de atração. Também está relacionado ao fato de existirem lojas-âncora). O fato

desse estabelecimento ter um mix de serviços atrai mais pessoas do que uma loja comum

(exceto em ruas tradicionais, como a Sta. Ifigênia e a José Paulino). O lojista também deve pagar

o 13º aluguel, e é obrigado a exibir para o dono a contabilidade, pois a administradora do

shopping center tem um percentual nas vendas. Não se adquire o ponto no shopping center,

pois o ponto é feito pelo próprio shopping, e não pelo lojista.

Existem os contratos “built-to-suit”: constrói-se um imóvel para alugá-lo (art. 54-A).

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Aula – 14/10/2014: Mútuo, Leasing e Consórcio Mútuo

É um contrato unilateral de transferência de propriedade de coisa fungível e consumível, como

o dinheiro (mútuo feneratício). Os prazos estão dispostos no Código Civil (art. 592 – até a

próxima colheita, de produtos agrícolas; 30 dias de dinheiro, etc). A obrigação do mutuário é

devolver a coisa na mesma quantidade e mesmo gênero (espécie).

O mútuo se tornou um contrato importantíssimo, pois é graças a ele que a economia funciona.

Quando os Romanos desenvolveram tais regras, a atividade bancária era realizada quase que

por armadores romanos, ou seja, não houve grande desenvolvimento ali.

Na Idade Média, o comércio começou a florescer, sendo os pagamentos realizados com moedas.

Como os Estados sequer existiam, não havia segurança no trânsito das pessoas, que se

utilizavam das antigas vias romanas. Por isso, o dinheiro era depositado com um sujeito na feira,

que emprestava o dinheiro para outros, já que as feiras só se realizavam uma vez por ano.

Bancarrota o sujeito descontente quebrava a banca. Não se admitiam coisas erradas, a

quebra da banca era um símbolo de que o comerciante havia agido mal.

Em algumas línguas, os juros são chamados de “interesse”, como no espanhol e inglês.

Os juros podem ser de dois tipos: (1) moratórios e (2) remuneratórios.

Os juros moratórios correspondem a uma penalidade na Teoria Geral das Obrigações. Eles são

devidos ainda que o credor não alegue o prejuízo. A finalidade de haver juros de mora é dividir

o período antes da mora e depois: afinal, se o indivíduo não tivesse tal sanção, ele pagaria

quando quisesse, o que configuraria uma condição potestativa (sujeita a vontade de apenas uma

das partes), defesa pelo ordenamento brasileiro. Pelo Código Civil, o valor da multa não pode

exceder o valor da obrigação principal. No CDC, o valor é de 2%. O valor da taxa de juros de mora

está no art. 406 do Código Civil. OBS: o credor não precisa alegar prejuízo para os juros

moratórios serem devidos. Já a Cláusula Penal, que é a pré-fixação de perdas e danos, é acessória

e opcional.

CTN – art. 161, inc. I (1% ao mês – valor da taxa de juros de mora)

Juros remuneratórios consistem na remuneração do capital emprestado.

Moeda escritural está nos registros contábeis dos bancos. Por isso o Estado buscou limitar

essa remuneração dos banqueiros ad infinitum.

Nos anos 30, com o governo provisório de Getúlio Vargas, houve um forte dirigismo contratual,

e foi editada uma lei, que é o decreto 22.626/33 (trazer para a prova) – “Lei da Usura”. “Só se

pode cobrar os juros permitidos em lei.”

No Código de 1916, a disciplina estava no art. 1062 (a taxa de juros moratórios é de 6% - o

legislador quis dizer remuneratórios). O máximo que poderia ser cobrado, portanto, era 1% ao

mês. Se alguém cobrasse juros acima de 1% ao mês, seria um usurário, e as penas estão

prescritas no art. 13. Essa lei também proibiu a cobrança de juros sobre juros (anatocismo). Ex:

se o capital era 100, no primeiro mês teria 101, no segundo 102, no terceiro 103, etc.

O art. 4º diz que “é proibido cobrar juros dos juros.”

Só se pode cobrar juros dos juros depois de um ano (os juros serão incorporados ao capital);

antes, apenas sobre o capital.

O SISTEMA NESSE PERÍODO era baseado em casas bancárias, que só eram mais avançados que

banqueiros medievais.

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Dando um salto de 31 anos, temos 1964. (Lei 4595/64) estrutura o sistema financeiro

nacional. Acabou com a SUMOC (Superintendência de Moeda e Crédito), criando-se o BC.

Lei 4728/65 (Mercado de Capitais) reestruturação do sistema financeira.

O art. 17 da lei 4.595 (Lei de Reforma Bancária) define o que é uma instituição financeira.

“Consideram-se instituições financeiras, as pessoas jurídicas públicas ou privadas que tenham

como atividade principal ou acessória a coleta, intermediação ou aplicação de recursos

financeiros...”

§ único equiparam-se às instituições financeiras, as pessoas físicas que realizam as atividades

de forma permanente ou eventual.

Art. 18 – necessidade de autorização do BC brasileiro.

O sistema financeiro não tem como funcionar cobrando 1% de juros (lei da oferta e procura).

Essa questão foi parar no STF (os bancos queriam cobrar valor de mercado, e os clientes

desejavam pagar 1%). O STF editou a súmula nº 596 (15/12/1976). “As disposições do decreto

22.626/33 não se aplicam às taxas de juros e aos outros encargos cobrados por operações

realizadas por instituições públicas ou privadas que integram o sistema financeiro nacional”. As

pessoas naturais teriam de cobrar 1%, porém, o banco pode cobrar o que quiser.

Na década de 90, com a Constituição Federal, houve a criação da SELIC (Serviço de Liquidação e

Custódia), com base em títulos do Tesouro Nacional. Como o risco é menor, a taxa de juros é

menor. A taxa básica, portanto, é a SELIC (é o valor de juros cobrados mais baixo dentro do

mercado, servindo para regular a liquidez), que é uma taxa de juros remuneratórios (e NUNCA

moratórios).

Art. 192, CF/88 (sobre o sistema financeiro nacional). O §3º que tentou tabelar a taxa de juros

foi revogado. No período que esteve em vigor, as pessoas só queriam apenas pagar 1% ao mês

(pois a CF diz). Daí temos a súmula vinculante nº 7, além da súmula 648, que disse que essa

norma tinha sua aplicabilidade condicionada à aplicação de lei complementar.

Os bancos tentaram sustentar por muito tempo que o Código do Consumidor (lei 8.078) não se

aplicava a ele. O STJ editou a súmula 287, “O CDC é aplicável às instituições financeiras”. Daí

surgiu a dúvida: a administradora de cartão de crédito é ou não é uma instituição financeira? A

doutrina dizia que a operadora era um terceiro que pagava em nome do devedor. Se o devedor

não tem dinheiro, o mandatário (operadora do cartão) faz um empréstimo bancário em nome

do devedor, que é o chamado crédito rotativo. O devedor pode inclusive entrar com uma ação

de prestação de contas. Se se alegasse que ela não era uma instituição financeira, os juros do

cartão teriam de ser 1%. Como foi determinado pela súmula 283 do STJ, “a administradora dos

cartões de crédito são instituições financeiras”. Hoje, a doutrina mais moderna diz que é um

novo tipo contratual, o celebrado entre a administradora do cartão, o usuário e o vendedor.

Os consumidores continuaram indo à Justiça, dizendo que juros altos seriam “abuso de direito”.

A súmula 382 do STJ disse que juros maiores que 12% não indicam, por si só, abusividade. Deve-

se analisar o contexto.

Alguns contratos, como cheque especial e cartão de crédito, praticam anatocismo todo mês.

Pela Medida Provisória 1963/00, a ementa tratava sorrateiramente no art. 5º, que para bancos,

seria possível praticar o anatocismo. Quando se compra parcelado “sem juros”, na realidade os

juros já estão embutidos no valor.

Comissão de permanência cobrança pela não-devolução da coisa (que pode ser dinheiro). Ao

invés de chamar de juros, fala-se nesse termo. Se o indivíduo não pagar no dia, não será cobrado

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juros, porém, será cobrado um aluguel diário até a devolução da coisa, arbitrado pela parte, e é

ilimitado. Súmula a respeito do assunto: 294. RE 1.058.114 STJ

Leasing (lei 6.099/74)

Chamado de “arrendamento mercantil”, inicialmente voltado para empresários. É um contrato

por meio do qual se aluga uma coisa. Ao final do contrato, há a opção de devolver a coisa ou

ficar com a coisa, pagando o chamado “valor residual” (valor de mercado do bem naquele

momento). Existe o leasing operacional, com o aluguel de coisas, sejam móveis ou imóveis.

Também há o leasing praticado por bancos. O leasing pode ser usado como aluguel ou como

financiamento, quando as taxas de juros para obtenção de crédito estão altas.

O problema que ocorre na prática é que o indivíduo às vezes não consegue pagar. O banco não

quer a coisa, e força que o indivíduo continue. Mas se ele resolver o contrato, o banco pode ficar

com uma parte do valor pago a título de indenização, já que ele poderia ter realizado negócio

com outro. O indivíduo, por outro lado, tem direito ao resto do valor residual pago.

Consórcio

A ideia do consórcio é de fazer uma captação de recursos por meio do autofinanciamento.

Exemplo: consórcio de um Chery QQ – R$ 20.000,00. 20 pessoas pagam R$ 1.050,00 e um carro

é sorteado. (Lei 11.795)

Aula – 21/10/2014: Empreitada e Formação de Contratos

Empreitada no Direito Civil tem o sentido de "construção". Uma obra arquitetônica, um trabalho

do dentista ou médico não deixa de ser uma empreitada, mas são denominados "prestação de

serviços".

É um contrato por meio do qual, uma pessoa denominada comitente ou contratante usará a

força de trabalho do outro (empreiteiro), mediante remuneração (se for entrega de outra coisa

sem ser dinheiro, é dação em pagamento). É um contrato bilateral, oneroso e consensual.

É um contrato de EXECUÇÃO CONTINUADA. Uma obra não é feita imediatamente.

A empreitada tem uma peculiaridade: pode envolver apenas a realização das obras (de lavor),

ou ser mista, que é aquela em que além do serviço prestado, há a inclusão dos materiais. O

problema da empreitada mista é que o indivíduo cobra o preço do melhor e entrega o pior (ex:

asfaltamento das ruas é feito de qualquer maneira), apesar da regra geral de concentração.

O contrato de empreitada pode ser ou não intuitu personae. Um grande problema é a situação

em que o indivíduo acha que o pedreiro irá realizar o serviço, e este delega o serviço para seus

assistentes, que produzem um resultado final de qualidade duvidosa.

A primeira obrigação é a de realizar o serviço conforme o contratado, sob pena do comitente

rejeitar a obra feita ou exigir um abatimento no preço. Se pessoas naturais contratarem, o

regime aplicável é o do CDC, ainda há a possibilidade de exigir o refazimento da obra, ou ainda,

pedir para terceiro, fazendo com que o empreiteiro pague pelo serviço.

Incorporador: profissional que se responsabiliza por levantar o prédio, buscando desde o

terreno, até a busca de uma empreiteira para construir a torre, de fato.

A segunda obrigação do empreiteiro é não interromper a obra no meio. A terceira, é a de

fornecer os materiais, quando a empreitada por mista. A quarta é a de indenizar o comitente

pelos materiais que recebeu, quando ele os destruir por negligência, imprudência e imperícia,

no caso de empreitada de lavor.

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O empreiteiro deve dar um orçamento prévio, se a relação for de consumo (art. 39, CDC),

“compete ao empreiteiro dar a descrição dos serviços prévios”, e também deve ser fixado um

prazo para o fim da obra. O empreiteiro responde solidariamente pelos atos de seus

empregados (art. 932, CC). Essa questão vem do Direito Romano, pois a princípio, o empregado

que responderia pelo dano causado, mas foi verificado que seria mais interessante cobrar do

patrão.

Se um assistente do empreiteiro sofre acidente, o comitente não é obrigado a indenizar.

Entretanto, se se considerar como uma relação de terceirização, daí sim o contratante

poderia responder, pois ele poderia ter feito a contratação diretamente, segundo o

direito do trabalho.

Contrato para a realização de um projeto não implica em executá-lo. Ex: uma empreiteira que

faz o projeto de reforma da São Francisco não deve ser a mesma que irá executar a obra, de

forma com que não haja aproveitamento dela em colocar produtos mais caros, por exemplo.

Obrigações do contratante: o pagamento, que pode ser por preço fixo, ou por medida, isto é,

paga-se por serviço feito. A vantagem da medida estimula a pessoa a ir fazendo cada etapa.

Também há a possibilidade de preço variável/reajustável, mas geralmente apenas obras

públicas (inclusive um dos princípios da administração pública é o aditamento contratual

unilateral, passo para a corrupção). Também há o preço máximo, isto é, há uma garantia de qual

será o valor máximo (“só pago até determinado valor”).

O contratante/comitente não pode exigir modificações na obra, já que há um cálculo com base

no que foi pedido. A obrigação do contratante também está ligada a receber a obra, caso

contrário, será constituído em mora do credor. Se a empreitada for de lavor, há a obrigação de

fornecer os materiais. Se o contratante desiste da obra, terá de indenizar o empreiteiro pelos

lucros cessantes.

O Código Civil traz garantias que devem ser dadas pelo empreiteiro, no art. 618: “Nos contratos

de empreitada de edifícios ou outras construções consideráveis, o empreiteiro de materiais e

execução responderá durante o prazo irredutível de 5 anos pela solidez e segurança do

trabalho...”

Miguel Reale inseriu o artigo 625, que corresponde aos casos de suspensão da obra: (I) culpa do

dono – resolução da outra parte, (II) força maior (ato inevitável relacionado a coisas da natureza.

Ex: chuva, vendaval), (III) dificuldades imprevisíveis (exemplo dado pelo prof. Miguel Reale:

Edifício Itália. As estacas não paravam no lugar por questões geológicas ou hídricas; não

suportava-se o peso), (IV) modificações exigida pelo dono da obra são desproporcionais à obra,

ainda que o comitente deseje pagar. (V) morte, há a transferência para os herdeiros da

obrigação.

O contrato é um programa, e há departamentos em empresas de administração de contratos,

para ver se a empresa e a contraparte estão cumprindo o contrato. A importância também é a

de trazer regras fixadas em caso de litígio. O contrato é um “feixe de obrigações”.

Formando um contrato

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Título tem função indicativa de vontade das partes. Dá o rumo das obrigações das partes. Se é

uma empreitada, “(Instrumento Particular de) Contrato de Empreitada”.

Inciso I do 104 “Por meio deste Instrumento particular de contrato de Empreitada, de um lado

Fulano de Tal, brasileiro (nacionalidade), casado (estado civil), empresário (profissão), portador

da cédula de identidade RG nº ..., inscrito no CPF/MF sob o nº, residente e domiciliado na Av.

...., São Paulo (colocando o CEP), doravante denominado EMPREITEIRO, e de outro lado, o Sr.

Beltrano de Qual, nacionalidade, estado civil, profissão, identificação (RG e CPF), residência e

domicílio, doravante denominado COMITENTE, têm entre si, como justas e contratadas as

cláusulas seguintes: “

Inciso II do 104

“Cláusula 1 descrição da obra;

O EMPREITEIRO realizará os seguintes serviços...

1.2. O fornecimento de materiais é de responsabilidade do COMITENTE. (exemplo)

A redação de cláusulas deve possuir a noção de “quem vai fazer o quê, a quem, quando, onde,

como”. Nada impede de se quebrar a cláusula em diversos pontos (1.1, 1.2, etc).

1.3 O EMPREITEIRO usará suas próprias ferramentas.

Cláusula 2 Dos Auxiliares

2. A despeito de ter auxiliares, autorizados pelo COMITENTE (ou O COMITENTE concorda que

o EMPREITEIRO utilize auxiliares), o serviço/entrega da obra é de total responsabilidade do

EMPREITEIRO.

CLÁUSULA 3 Da Duração da Obra

3. O prazo para a execução da obra será de três meses, a contar da assinatura deste

INSTRUMENTO.

CLÁUSULA 4 Do Preço

4. O COMITENTE pagará ao EMPREITEIRO o preço, que se limitará a um máximo

correspondente à importância de R$ ... (número por extenso, depois) da seguinte maneira:

a) 40% na data de assinatura deste instrumento;

b) 30%, quando ...

c) 30% na entrega da obra.

(é sempre bom detalhar tudo: pode-se colocar também a forma pelo qual o pagamento se

dará).

CLÁUSULA 5 Da Circulação do Contrato

5. O EMPREITEIRO não poderá transferir este contrato nem subempreita, sem expressa

concordância do COMITENTE.

CLÁUSULA 6 Das Penalidades/Das Infrações

6. Em caso de descumprimento da CLÁUSULA 3 deste INSTRUMENTO, o EMPREITEIRO pagará

ao COMITENTE a importância equivalente a 10% do preço final da obra.

6.1. Em caso de descumprimento da cláusula 4, o COMITENTE pagará os juros de mora de 1%

a.m., multa de 2% do valor de cada prestação em atraso, além de todas as despesas processuais

e honorários advocatícios em seu maior valor legal

CLÁUSULA 7 Da Força Maior

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Em caso de força maior, as partes suspenderão a execução da obra pelo prazo de 30 dias, a

contar da data do evento. Transcorrido o prazo com a continuidade do evento, este contrato

será resolvido de pleno direito

CLÁUSULA 8 Da Onerosidade Excessiva

Em caso de necessidade de alteração na execução da obra por eventos imprevisíveis que a

tornem excessivamente onerosa, as partes obrigam-se a rediscussão de novo preço para a

conclusão da empreitada

CLÁUSULA 9 Do Foro Competente

Para dirimir as eventuais dúvidas oriundas deste INSTRUMENTO DE CONTRATO, as partes

elegem o Foro/Câmara de Comércio (exemplo).

Na presença das testemunhas abaixo, as partes celebram este CONTRATO em duas vias de igual

teor.

Local e data

OBS: O CONTRATO deve ser utilizado para situações em que há litígio entre as partes, portanto,

deve-se ter tal pensamento ao redigi-lo.

Obs: nos contratos americanos, há a ideia do “considerando” (“whereas the parties ... the”). A

causa é requisito de validade lá, enquanto aqui não, e nem faz sentido. Caso contrário, o

contrato não se formou, e deveremos utilizar o “Promissory Estoppel” para defender a

vinculação do contrato. Os contratos americanos são maiores pois é o próprio contrato que, na

maioria das vezes, supre a lacuna, enquanto aqui, a lei tem esse papel fundamental.

Aula – 04/11/2014: Depósito e Transporte Depósito é um contrato (que pode ser oneroso ou gratuito) em que uma pessoa guarda um

determinado objeto móvel com outra.

Contrato de estacionamento é um contrato de depósito. Deposita-se o carro.

Depósito bancário - o banco usa o dinheiro

O próprio Código define o contrato de depósito. Além disso, ele é um contrato real, que só se

perfaz com a entrega da coisa. É também um contrato de execução continuada. Também não se

exige forma escrita. É apenas para uma questão de provas. Admite-se depósito de coisas

fungíveis e infungíveis. Quando se trata de coisa de coisa fungível, pode-se entregar outra coisa,

e o regime é do mútuo.

A obrigação do depositário é de restituir a coisa quando for solicitada. Não faz sentido

necessidade de prazos, o que traz uma diferença essencial para com o mútuo: a coisa, no

depósito, pode ser exigida e devolvida a qualquer momento.

CDB certificado de depósito bancário. Só se pode resgatar depois de certo prazo. Esse

dinheiro foi usado para fazer o financiamento de algum crédito bancário.

Não se pode utilizar a coisa depositada, exceto no depósito bancário. regra geral

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Inadimplemento:

Culpa do devedor: perdas e danos

Sem culpa do devedor: resolução do contrato sem indenização

Depósito necessário (ocorre por força de lei) – art. 647.

Alienação fiduciária ao ocorrer o financiamento de bens nos anos 60, o governo criou o

instituto da alienação fiduciária (decreto-lei 911/69). Se o sujeito comprasse o veículo por meio

do banco, ele tinha acordo com o vendedor de automóveis. Assim, o banco pagava à vendedora

e se tornava o proprietário, enquanto o indivíduo pagava as parcelas para o banco. Se ele se

tornasse inadimplente, o banco impetraria uma ação cautelar de busca e apreensão. Se o bem

não fosse encontrado, a ação convertia-se em depósito, e o devedor se tornava um depositário

da coisa. Se ele não entregasse a coisa, seria um depositário infiel (art. 652), e corria o risco de

ir para a cadeia, até que o bem aparecesse.

Quando o prof. Moreira Alves se aposentou do STF, rapidamente a jurisprudência mudou no

sentido de entender que a Convenção de Direitos Humanos revogava o artigo. Moreira Alves,

anteriormente, sustentava a tese de que a convenção não tinha força de lei ordinária, e

portanto, não revogava o decreto-lei 911/69. Mesmo assim, alguns juízes aplicavam a prisão

após a mudança da jurisprudência. Por isso, editou-se a súmula vinculante nº 25 para dirimir tais

questões.

A alegação de bem de família não cabe aqui, pois a propriedade é do banco. Assim, a família

está ocupando um bem que não é o dela.

Mandato (do latim “manus datum”), alguém organiza um ato no interesse de outrem. O ato é

feito no meu próprio nome, e irei representar a outra pessoa. Pratico um negócio jurídico no

interesse de outrem, pois os efeitos jurídicos irão recair na esfera do representado. Há a

representação legal, a voluntária/negocial/convencional (por meio do contrato de mandato).

Também há o judicial, que não segue as regras do Código Civil, e sim do CPC.

A procuração é o instrumento do mandato (assim, como do seguro, que é a apólice), pois o

mandato exige forma escrita, para a realização de um ou mais atos, mas a ideia é de fazer algo

uma ou duas vezes (realização de alguns atos), e não uma atividade (arts. 660 e 661).

Na sociedade limitada, por exemplo, o administrador é o órgão da sociedade, é a própria pessoa

jurídica.

Um promotor, por exemplo, é um órgão. Ele deve ser investido no cargo, para exercer a

atividade, e portanto, não necessita de um contrato de mandato para representar o MP. Ele é o

próprio MP agindo.

Por meio do mandato, atribuem-se/outorgam-se poderes jurídicos (que irão constituir

obrigações) ao mandante.

Como mandante, o indivíduo tem de ser capaz. Pode ser menor de idade se for assistido ou

representado. Mesmo sendo os pais, é necessária a escritura pública.

Como mandatário, o maior de 16 anos e menor de 18 não-emancipado pode ser mandatário

(art. 666). O revés é que se o procurador fizer besteira, o mandante não tem ação contra ele.

Para não impedir o direito de defesa por conta de uma formalidade, existe a

possibilidade de juntar a procuração em até 15 dias aos autos.

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Escritura pública tem fé pública. No instrumento particular, há vários requisitos necessários

definidos no Código. A interpretação é restritiva (se não tiver, não pode).

O terceiro com quem o mandatário tratar poderá exigir que exista firma reconhecida. Por

autenticidade (assina-se na frente da pessoa) e por semelhança (apenas compara-se com a ficha

presente no cartório).

Subestabelecimento o ato por meio do qual o mandatário transfere poderes para uma outra

pessoa. Pode ser com reserva de poderes (conserva-se os poderes, mas outra pessoa também

poderá realizar atribuições) ou sem reserva (total delegação à outra pessoa, o mandatário se

livra das obrigações). O mandante pode ou não aceitar o subestabelecimento.

Procuração ad judicia delegação apenas de atos processuais (et extra: mandato civil).

É um contrato bilateral (ambas as partes tem obrigações). Na Roma antigo, era sempre gratuito

(não estender as mãos era uma desonra). Hoje pode ser gratuito ou remunerado. Pode ser um

contrato solene (no tabelião) ou não. É um contrato formal, mas admite-se verbal para pequenas

coisas. Pode ou não ser intuitu personae (dependendo da possibilidade de subestabelecer).

Obrigações do mandatário: agir de acordo com as instruções do mandante, prestar contas do

que fez, transferindo-lhe as vantagens do que fez.

Obrigações do mandante: indenizar as despesas que o mandatário tiver.

Se o mandatário excede os poderes, o mandante não é obrigado a responder por isso, salvo se

houver ratificação do mandante. O mandatário também responde perante o mandante sobre o

que fez de errado.

Procuração apud acta não é necessária a feitura de um instrumento de procuração. O juiz

certifica que o indivíduo é o seu advogado (apenas para defender, e não para fazer acordos,

exigir, etc). Figura do advogado dativo.

O mandato se extingue pela morte (mors omnia solvit), embora possa ocorrer a transferência

para o herdeiro do mandatário, que agirá apenas como um gestor de negócios (comunicar a

morte do pai, perguntar o que quer ser feito, etc).

Revogação (“revocare”) do mandato quando o mandante não quer mais que o mandatário

seja seu procurador. Faz-se pela comunicação ao mandatário. Se não chegar ao conhecimento

do mandatário a revogação, há a aplicação da teoria da aparência, em que o indivíduo, mesmo

não tendo poderes jurídicos, os efeitos serão produzidos como se o ato fosse regular.

Aparência de representação mandato aparente. Nesse caso, se o mandatário desconhece a

morte do mandante, ou desconhece a revogação, os atos serão considerados válidos. Consoante

ao princípio da boa-fé.

A comunicação não deve ser feita apenas ao mandatário, e sim, a todos que podem realizar

negócios com o mandatário. Exemplo do caso de um funcionário que fazia movimentações

bancárias para uma empresa, é demitido, mas como o gerente do banco não sabia, acaba por

não pedir a procuração e o indivíduo saca todo o dinheiro. Pela teoria da aparência, o prejuízo

é da empresa (deve ser cobrado do mandatário, e não do banco). (Art. 686)

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Procuração em causa própria (procuratio in rem suam): é um negócio jurídico indireto. O

procurador faz a venda para ele mesmo, pois por algum motivo, não posso realizar o negócio

diretamente.

O comprador é nomeado como procurador. Muito comum no caso de indivíduos que vão deixar

o país, e não podem fazer a venda diretamente.

Contrato de transporte

Esse contrato não existia no Direito Romano. Esse contrato se formou principalmente com a

Revolução Industrial. Só fazia sentido pensar nesse contrato com o desenvolvimento de sistemas

de transporte, que vieram sobretudo com as estradas de ferro. É um contrato por meio do qual

uma pessoa se obriga a realizar o deslocamento de uma pessoa ou de alguma coisa mediante

remuneração, embora exista transporte sem remuneração (caronas). Art. 730. Esse contrato foi

inserido no CC de 2002. A parte do transporte de coisas é reprodução do Código Civil Italiano, já

o de pessoas corresponde à consolidação da jurisprudência.

Essa matéria começou a aparecer nos Códigos Comerciais europeus, e no Brasil, tivemos uma

lei importante, que é o decreto 2681/1912, que era a antiga Lei das Estradas de Ferro, que só

foi revogada com o advento do CC/2002. A importância dessa lei consistia no fato de que ela

inseriu no nosso país a responsabilidade objetiva do transportador.

São Paulo Railway Company (Jundiaí-Serra do Mar/Santos). No passeio inicial, em 1867, duas

pessoas morreram, bem como a ocorrência de atropelamentos, já que a linha cortava a cidade

no meio. Em Perus, havia uma fazenda por onde passava uma estrada de Juqueri (agora

Francisco Morato e Caieiras) e Osasco, e por lá passava a estrada de ferro. De vez em quando

ocorriam atropelamento de boiadas lá. As companhias não queriam indenizar. A partir da lei de

1912, se ocorrer um acidente, a pessoa será indenizada.

Deve-se transportar com segurança, transferindo a pessoa de maneira incólume. Como dever

acessório, é necessário levar as bagagens da pessoa. As obrigações do transportado consistem

no pagamento da passagem e no respeito aos regulamentos.

EM termos de pessoas, quando o indivíduo sofre acidente, ele tem direito à indenização. Em

matéria de transporte, o transportador assume sempre a responsabilidade. Há a figura de caso

fortuito interno (o pneu fura, sujeitos “surfando” na linha, etc) e o externo (bala perdida, por

exemplo). No interno, cabe indenização. No externo, não.

A Convenção de Varsóvia de 1929, que trata de responsabilidade internacional do transporte

aéreo, que foi substituída pelo Protocolo de Montreal, de 1981. Havia a tarifação da indenização

do Código Aeronáutico. Pagava-se tantos reais por quilo de bagagens. Mas a jurisprudência

modificou isso. O CDC estabelece como princípio fundamental a reparação total dos danos.

A transportadora não pode recusar passageiros.

Em caso de atraso, existem regras do CC (art. 741) estada + alimentação.

Se é um transporte gratuito (carona), não é cabível indenização por acidentes. (Art. 736)

Leitura conjunta com a súmula 145 do STJ – checar. Cabe apenas dolo ou culpa grave.