da escola pÚblica paranaense 2009 · fafiuv – fac. est. de filosofia, ciÊncias e letras de u....

53
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

Upload: hoangkhuong

Post on 20-Jan-2019

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

SEED-SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ

PDE-PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

FAFIUV – FAC. EST. DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE U. DA VITÓRIA.

ANA T. S. JACKIW

UNIDADE DIDÁTICA

BULLYING: VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA E SUAS IMPLICAÇÕES NO PROCESSO

DE APRENDIZAGEM E SOCIALIZAÇÃO DO ADOLESCENTE

UNIÃO DA VITÓRIA - PR

2010

2

UNIDADE DIDÁTICA

BULLYING: VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA E SUAS IMPLICAÇÕES NO PROCESSO

DE APRENDIZAGEM E SOCIALIZAÇÃO DO ADOLESCENTE

Material Didático - Unidade Didática elaborado pela professora Ana T. S. Jackiw, da disciplina de Pedagogia, Município de União da Vitória, Núcleo de União da Vitória, como parte integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional PDE 2009, sob a orientação do professor Aurélio Bona Jr. da FAFIUV – União da Vitória.

UNIÃO DA VITÓRIA - PR

2010

3

PRIMEIRA PARTE: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA INTRODUÇÃO ............................................................................................................4

1.0 - CONCEITO .........................................................................................................5

1.1 - Brincadeiras inofensivas ou atos de Bullying? ..................................................10

1.2 - Caractérísticas dos protagonistas: .................................................................... 11

1.3 - Formas de maus - tratos utilizados em atos de Bullying: ..................................12

1.4 - Características das vítimas de Bullying:...........................................................12

2.0 - FATORES QUE DESENCADEIAM O BULLYING .............................................13

2.1 - Consequências do Bullying............................................................................... 20

3.0 - CIBERBULLYING...............................................................................................22

4.0 - BUSCANDO CAMINHOS DE SUPERAÇÃO DO BULLYING........................... 23

5.0 - Referências....................................................................................................... 27

SEGUNDA PARTE:

1.0 - ROTEIRO DE ESTUDOS PARA TRABALHAR O TEMA COM ALUNOS DO

ESNSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO.......................................................................28

1.1 - OBJETIVOS...................................................................................................... 28

2.0 - METODOLOGIA................................................................................................29

3.0 - SUGESTÃO DE PROGRAMAS DE PREVENÇÃO E FILMES .........................48

4.0 - REFERÊNCIAS ............................................................................................... 52

4

INTRODUÇÃO

Um dos desafios da escola, além da produção do conhecimento, é lidar

com a violência. O tema “violência” é cercado de grandes dificuldades, exigindo dos

educadores novos posicionamentos. Dada a sua importância, “O Enfrentamento à

violência na escola” é um dos Desafios Educacionais Contemporâneos sob a forma

de caderno temático que propõe discutir e definir meios de enfrentamento à

violência.

O foco desta Unidade Didática é o bullying, um fenômeno velado e sutil

que ocorre no contexto escolar, cujas vítimas não possuem mecanismos de defesa

plenamente desenvolvidos, ficando, portanto, mais vulneráveis a ele. A escolha do

tema se deu pela forma como vem se disseminando no ambiente escolar, com

grandes danos psicológicos às suas vítimas.

Este tipo de violência não é exclusividade de escolas públicas, o

fenômeno vem ocorrendo de forma indistinta, também em escolas em particulares,

localizadas nos grandes centros nas periferias.

O presente estudo visa entender os motivos pelos quais os alunos

praticam o bullying e compreender os fatores que determinam suas causas, formas

de manifestação e consequências na aprendizagem e no processo de socialização

do (a) aluno (a). Para tal apresenta um conceito geral sobre o tema, seus fatores

determinantes, as características dos protagonistas, alguns encaminhamentos para

o enfrentamento do problema, bem como, algumas informações acerca da mais

recente forma de manifestação do bullying, chamado de “cyberbullying”, ou também

denominado bullying virtual. Por fim será proposto um roteiro de estudos dirigido ao

aluno do Ensino Fundamental/Médio, com dicas para entender o que é bullying e

como se defender desta violência.

O processo de prevenção e intervenção ao bullying passa pela

compreensão deste fenômeno. É necessário, portanto, informar à comunidade

escolar sobre as causas e as consequências desta violência para o desenvolvimento

integral dos alunos, sobretudo a influência desta prática no processo de

aprendizagem.

5

1- CONCEITO

Bullying é uma palavra de origem inglesa, adotada em muitos países para

definir o desejo consciente e deliberado de maltratar outra pessoa e colocá-la sob

tensão, utilizando-se do poder ou da força para intimidar. É sempre executado numa

relação desigual de poder, afetando a auto-estima e a saúde mental dos

adolescentes, levando-os a exclusão social.

O bullying é brincadeira revestida de crueldade, prepotência e insensatez,

ultrapassando em muito os limites suportáveis, que variam de acordo com o grau de

tolerância de cada indivíduo e se converte em atos de violência, quando se tornam

repetitivos, intencionais e deliberados, com o intuito de intimidar e provocar

sofrimento a outrem. Não se trata de uma violência pontual, de agressões verbais,

mas de atitudes hostis que violam o direito à integridade física e psicológica e à

dignidade humana, ameaçando o direito a uma educação tranquila, normal, ao

desenvolvimento integral, à saúde das vítimas. As vítimas desenvolvem sentimentos

negativos, como a vergonha, o medo, desencadeando uma baixa em sua

autoestima. Há interferências negativas também no processo de aprendizagem, no

desenvolvimento cognitivo, sensorial e emocional. A insegurança e o medo são

sentimentos que surgem no ambiente escolar tanto para as vítimas quanto para os

testemunham a prática.

A origem da palavra bullying, de acordo com Fante, (2005) vem do termo

bully que pode ser traduzido como valentão, tirano, brigão. Como verbo, significa

tiranizar, amedrontar, brutalizar, oprimir. E o substantivo bullying, envolve o conjunto

de ações de violência física ou psicológicas intencionais e repetida, praticados por

um indivíduo ou grupo com a finalidade de intimidar, agredir o outro que se encontra

numa situação vulnerável, incapaz de se defender. “É um comportamento cruel

intrínseco nas relações interpessoais, em que os mais fortes convertem os mais

frágeis em objetos de diversão e prazer, através de brincadeiras que disfarçam o

propósito de maltratar e intimidar.” (FANTE, 2005, p.29).

“Muito cedo, as crianças são classificadas e confinadas em subgrupos ou panelinhas nas escolas e nos bairros, segundo aparência, interesses ou comportamento:” os populares, “os atletas”, “os cabeças”, “os esquisitos”, “os estranhos”, “os rejeitados”, “os retardados”, “os ninguém”, “as bichinhas”. (MOZ & ZAWADSKI, 2008 p.22).

As principais causas da ocorrência deste tipo de violência são a não

6

aceitação às diferenças individuais e a influência de fatores familiares e culturais.

Este fenômeno pode ocorrer em vários locais, como o ambiente de trabalho (entre

patrão e empregado, entre colegas de trabalho) a família (entre pais e filhos, entre

os cônjuges) e a escola (entre professor e aluno, diretor e professor, aluno e

professor e entre os alunos). O foco deste trabalho é o bullying que ocorre na

relação entre os alunos ou seus pares.

O recreio e as aulas de educação física apresentam maior visibilidade

dessas relações ou também chamadas de “panelinhas”, que são espaços

pedagógicos privilegiados para se observar essas classificações. Trata-se de uma

dinâmica psicossocial na qual há um envolvimento cada vez maior de crianças tanto

do sexo masculino quanto do feminino, à medida que esta vitimização é reproduzida

contra outros, tornando-se assim um ciclo vicioso.

Este fenômeno vem se disseminando de forma sutil entre os alunos,

crescendo e envolvendo, de forma quase epidêmica, um número cada vez maior de

alunos. Segundo Fante (2005, p.9) “Sua ação maléfica traumatiza o psiquismo de

suas vítimas, provocando um conjunto de sinais muito específicos, caracterizando

uma nova síndrome, denominada pela autora de Síndrome de Maus-Tratos

Repetitivos (SMAR)”.

Para Moz & Zawadski (2008, p.13), “Bullying é crueldade

deliberadamente voltada aos outros com intenção de ganhar poder ao infligir

sofrimento psicológico e/ou físico”.

O bullying envolve atos, palavras ou comportamentos intencionais e

repetitivos. Os comportamentos incluídos no bullying são diversos: ofender, humilhar,

espalhar boatos, expor ao ridículo em público, fazer de “bode expiatório” e acusar,

isolar, dar socos, tapas, chutes, insultos, ostracizar, sexualizar ou fazer ofensas

étnicas ou de gênero.

A criança que pratica bullying ganha a reputação de ser poderosa, má, “esquentada” e durona, passando a ser conhecida como alguém de quem se deve ter medo e manter distância. Os bullies obrigam os outros a fazer seus trabalhos de escola ou a ajudá-los a colar em provas por meio de ameaças e de intimidação. Muitas vezes desenvolvem a reputação de ser mentirosos e usam a exclusão como forma de obter mais poder ou aquilo que queiram. (MOZ e ZAWADSKI, 2008, p.78).

Ao contrário do que se pensa os bullies não costumam abandonar esse

7

comportamento a menos que sejam detidos, no sentido de que alguém os faça

parar, que haja intervenção permanente, confrontação sensível e consequências

para os atos praticados. Na verdade eles têm medo de enfrentar suas inseguranças,

a confrontação e as consequências de seus atos. Mas segundo Moz e Zawadski

(2008), sem que haja confrontação e responsabilização, os bullies simplesmente irão

aperfeiçoar seu requinte de maldade.

Muitos bullies vieram aperfeiçoando suas habilidades de intimidação desde quando eram crianças. Sem intervenção, os sentimentos e as crenças dos que fazem isso desde a infância se fortalecem e se enraízam. O bullying durante brincadeiras com outros amigos muitas vezes é apenas o começo de um padrão de atitude durante a vida que culmina em violência doméstica e/ou bullying no local de trabalho. (MOZ e ZAWADSKI, 2009, P14).

Muitas vezes os pais procuram os pedagogos informando que seu filho (a)

não quer vir mais à escola, e nos momentos que antecede o período escolar, sente

dor de barriga, de cabeça. Os pais geralmente ficam perdidos sem entender o que

se passa com a criança e/ou adolescente, pois esta permanece calada, não comenta

em casa o que ocorre. Também chama a atenção a frequência com que alguns

alunos (as) sentem dor de cabeça ou mal estar na escola, querendo ir para casa

antes do término das aulas. Essas manifestações podem indicar que os alunos estão

sendo vitimizados pela prática do bullying.

O medo constante e repetitivo bloqueia a agressividade e o bom funcionamento mental, prejudicando as funções de raciocínio, abstração, interesse por si mesmo e pelo aprendizado, além de estender-se a outras faculdades mentais ligadas à autopercepção, concentração, auto-estima e capacidade de interiorização. (FANTE, 2005 p.24).

O aluno vítima de bullying sente-se isolado dos demais, incompreendido,

indefeso, deprimido, ansioso, vulnerável, com medo, vergonha e com a autoestima

abalada, sem força para lutar, impotente, diante da violência da qual está sendo

vítima. Não consegue participar de eventos como jogos entre salas, trabalhos em

grupos. Nas aulas de educação física nenhum grupo os chama para fazer parte do

time, o que aumenta suas chances de continuar vitimizado. Além do sofrimento por

que passa, acha-se culpado da perseguição. Muitos que sofrem por um período

longo apresentam manifestações suicidas, outros reagem de forma violenta ou

8

podem também praticar bullying contra outros alunos, tornando um ciclo vicioso.

A escola impõe aos professores e pedagogos uma rotina agitada e

estressante na qual ficam minimizadas as queixas feitas pelos alunos. Têm-se

preocupação em cumprir calendário, projetos, que acabam não percebendo o que

ocorre “debaixo de seus olhos” deixando em segundo plano esses alunos que

deveriam ser prioridade. Isso ocorre às vezes por desconhecimento das

conseqüências nefastas que essa violência pode causar aos alunos (as) ou por

considerarem que estes comportamentos fazem parte da idade. A falta de

informação acerca do fenômeno e das graves consequências às vítimas os deixa

limitados quanto à intervenção necessária.

Em muitos casos há ainda influência do comodismo, pois é mais fácil

fazer de conta que se está tudo bem, para que a rotina não seja quebrada. Tomar

ciência implica na mudança de postura, e outras formas de encaminhamentos.

As crianças vitimizadas pelo comportamento bullying sofrem terrivelmente ao longo dos anos, muitas vezes sob os olhos de seus professores no ambiente escolar, nas salas de aulas. Sofrem silenciosamente, de maneira cruel e velada, maus tratos, humilhação pública, rejeição social, gozações, perseguições, angústias, medos, desrespeitos constantes e repetitivos, na maioria das vezes por apresentar um biotipo diferente dos demais. (FANTE, 2005, p.11).

“O bullie têm poder porque lhes damos esse poder através de nossa

apatia e de nosso silêncio” (MOZ e ZAWADSKI, 2008, p.29). A passividade, a

imobilidade e o sentimento de vergonha tornam o bullie mais eficaz. O agressor

conta com a certeza de que não será denunciado, o silêncio de suas vítimas os

fortalece e os estimula a dar continuidade em suas ações. Além de todo o estrago

que provoca na vida das vítimas, não se acha culpado, ao contrário, culpa-se as

vítimas pela violência que praticam com expressões como “quem manda ele/ela ser

tão gordo”, “podia emagrecer”. Segundo a autora, para continuar com seu

comportamento, bullies dependem da confusão, do medo e da sensação de

impotência dos que pretendem transformar em vítimas e do silêncio dos que estão

ao seu redor.

Moz & Zawadski (2008), afirmam que os meninos estão presos ao

contexto cultural a que pertencem, o que influencia na sua maneira de agir em

relação aos seus pares, sentindo-se na obrigação de agir de acordo com as regras

impostas, porém não declaradas, de pertencimento ao grupo para não serem

9

discriminados de alguma forma. Em nossa sociedade existe um padrão cultural

estabelecido que de certa forma força as pessoas a terem comportamentos

parecidos ou também ditos “normais”. E quando as pessoas se distanciam desta

normalidade, apresentando atitudes diferentes, são discriminadas e excluídas do

grupo. Um exemplo disso é quando um menino apresenta uma sensibilidade maior,

demonstra seus sentimentos diante do grupo, com certeza será alvo de bullying por

se distanciar de estereótipo culturais do tipo: “menino valentão”, não chora, não

demonstra sentimento. Ou ainda alunos que se destacam na sala pelo bom

desempenho. O preço pago pelo aluno que foge aos padrões estabelecidos pela

nossa cultura é bem alto, pois sofre muitas discriminações. A sociedade não perdoa

aqueles que se diferenciam de alguma forma e a escola, sendo reflexo desta

sociedade, também mantém o mesmo padrão cultural. Segundo Moz & Zawadski

(2008), o contexto cultural exerce um poder limitador sobre o indivíduo, influenciando

nas opções de escolha de atitudes diante de situações desafiantes.

Até então apontamos o bullying ocorrendo apenas com o sexo masculino,

mas o sexo feminino não está imune a tal fenômeno. As meninas também estão

sujeitas a serem vítimas deste tipo de violência; assim como acontece com os

meninos também elas têm que se enquadrar a certos padrões culturais

estabelecidos pelo grupo. Como por exemplo, ter um corpo bem delineado, ou seja,

“bem magra”, alta, bonita, andar bem vestida e de preferência seguindo a moda,

sensual, atraente, com belos cabelos e de acordo com a moda. E quando elas não

se encaixam neste biotipo, são alvos de bullying, são chamadas de gordas,

desajeitadas, “cabelo de bombril” ou “espoja de aço”, entre outras coisas.

Em geral as meninas exercem o bullying de maneira diferente dos meninos. (Elas tendem a espalhar boatos maliciosos, intimidar sussurrando insultos ou rindo em grupo, alto o suficiente para que seus alvos escutem), desconstruir a reputação da outra, dizer a outras que deixem de gostar de uma menina de quem querem se vingar. Elas tendem a usar a exclusão social como principal arma, em lugar da agressão emocional ou física direta, embora estudos têm revelado que também elas têm se tornado cada vez mais agressivas fisicamente na última década.(MOZ e ZAWADSKI, 2008, p.23,24).

É exatamente o que ocorre, as meninas sofrem muito, assim como os

meninos. Para não serem isoladas do grupo às vezes se submetem a situações

constrangedoras que não fazem parte de seu perfil. Também as que fogem do

padrão são deixadas de lado na hora de formar, por exemplo, o time de vôlei e se

10

por acaso entrarem no time de forma imposta pelo professor, da mesma forma são

isoladas, porque as colegas as ignoram dentro do jogo, não conseguem participar.

Fica presente apenas fisicamente, mas sem nenhuma participação.

Estas situações causam muito sofrimento, pois na faixa etária de 10 a 14

anos, principalmente, fazer parte de um grupo, ter amigas, é de extrema importância.

Uma outra forma de prática de bullying pelas meninas é espalhar boatos acerca de

sua intimidade, sexualidade. Se for “bv” (boca virgem), com que ficou, transou.

Esses boatos iniciam na sala de aula e se espalham rapidamente no recreio, nos

banheiros. E hoje com o acesso à internet, estão cada vez mais aprimorados, se

utilizam da tecnologia, através do “orkut”, msn e outros. O corredor da escola é o

espaço físico no qual durante as entradas e saídas das aulas, ou para o recreio, as

alunas se encontram, e o olhar, e os empurrões são as armas utilizadas para

intimidar as vítimas. O recreio também é um momento em que as provocações se

acirram. Infelizmente muitas vezes não se consegue evitar que nas saídas das aulas

a agressão física ocorra.

De acordo com Fante (2005), a lei do silêncio é mantida pela vítima de

bullying por medo de sofrer represálias dos agressores, por conformar-se com a

situação ou por sentir vergonha dos próprios colegas. A família quando toma ciência

dos fatos reage diante do problema tentando amenizá-lo por temer que o filho sofra

represálias dos agressores. E quando resolve agir de fato, o problema já está

instalado.

Outro fator que faz perdurar o problema é o despreparo dos professores

para perceber o que está ocorrendo na sala de aula, visto que, este ocorre através

da linguagem não verbal, em forma de olhares intimidatórios, risadinhas ou por

atitudes corporais durante o intervalo entre as aulas. E também pela atitude dos

colegas que assistem a tudo sem se envolver, passivos, e não denunciam os

agressores com medo de serem as próximas vítimas.

1.1 - BRINCADEIRAS INOFENSIVAS OU ATOS DE BULLYING?

As brincadeiras são inofensivas quando todos os envolvidos se divertem,

não apenas um grupo, e tornam o ambiente escolar mais descontraído, alegre,

quando é algo esporádico. Porém, quando essas brincadeiras começam fazer parte

da rotina escolar, com requinte de crueldade, extrapolando os limites que variam de

11

acordo com cada indivíduo, a brincadeira passa a se configurar violência.

Dan Olwues (citado por FANTE, 2008), pesquisador da Universidade de

Bergen, (Noruega) estabeleceu alguns critérios para identificar as condutas de

bullying e diferenciá-las de outras formas de violência e das brincadeiras próprias da

idade. Os critérios são:

a) - Ações repetidas contra a mesma vítima num período longo:

Consideram-se como ações repetitivas segundo o pesquisador aqueles atos que

são desferidos contra a mesma pessoa por um determinado tempo, podendo variar

de uma a duas vezes no ano letivo. Mesmo parecendo pouco, a experiência vivida

pela vítima é tão fortemente negativa, desencadeando na vítima sentimentos de

medo de novos ataques. Por isso a vítima mobiliza de forma inconsciente

sentimentos de ansiedade, insegurança, medo, angustia raiva, tensão. Evita

participar das aulas como forma de não chamar a atenção sobre si mesma.

b) - Desequilíbrio de poder, o que segundo o pesquisador dificulta a defesa da

vítima:

A vítima geralmente é uma pessoa que apresenta comportamento não agressivo, é

incapaz de se defender a ataques ardilosos e sutis a que é submetida, muitas vezes

em público, originando sentimento de vergonha. Geralmente os bullies são

inseguros por isso escolhem como suas vítimas pessoas que tem dificuldade de se

defender.

c) - Ausência de motivos que justifiquem os ataques: Os ataques bullies não se

originam a partir de discussões ou conflitos. Os praticantes elegem a vítima pelo

aspecto físico ou psicológico que as mesmas apresentam, traços estes, que

denunciam ser ela uma “presa fácil”, “Bode Expiatório.” Nasce, portanto, de uma

recusa de aceitação a uma diferença, da intolerância, do desrespeito ao outro.

1.2 - CARACTERÍSTICAS DOS PROTAGONISTAS:

Fante (2005) aponta algumas características comuns de bullying entre os

alunos: são comportamentos que ocorrem de forma constante, repetitiva, por um

longo período contra um (a) mesmo (a) aluno (a); há uma relação de desequilíbrio

de poder, não apresentam um motivo aparente para tal ação; são comportamentos

que apresentam consequências incalculáveis às vítimas. Pode ocorrer de duas

12

formas: direta e indireta; a direta inclui agressões verbais e físicas e a indireta ocorre

através da difamação da vítima, objetivando-se com isso, a exclusão do grupo a que

pertence, esta sem duvida, segundo a autora é a que mais apresenta consequências

graves danosas às vítimas.

1.3 - FORMAS DE MAUS-TRATOS UTILIZADOS EM ATOS DE BULLYING:

Os maus tratos empregados são: de forma física, verbal, moral, sexual,

psicológica, material e virtual. Na forma física: destaca-se, bater, chutar, empurrar,

dar socos; na verbal há xingamentos, apelidos, difamações, zoação; na forma

moral: a estratégia usada é a difamação, calúnia, perseguição; sexual: abuso,

assedio, insinuação; forma psicológica: intimidação, ameaça e perseguição; na

forma material: roubo, destruição de pertences; e a mais recente virtual

(ciberbullying): zoar, discriminação, difamação, calunia através da internet (orkut,

msn e outros) e do celular. O bullie utiliza-se de um conjunto de ações para atacar

sua vítima, inclusive a exclusão social.

De acordo com a idade as formas de ataque do bullying se modificam, à

medida que as crianças crescem evoluem as formas. Na escola, por exemplo, os

ataques se materializam em forma de empurrões, encontrões, cuspidas, ofensas

verbais, rasteiras, distrações, interrupções, e risos em relação ao outro; e quando

essas crianças alcançam uma idade mais avançada (adolescência), sua forma de

agir se modifica, se aperfeiçoa mais: brigas verbais, intimidação, espalhar mentiras e

boatos, exclusão, danos à propriedade e roubo; implicância com a aparência e com

o comportamento dos outros é o que declara Moz e Zawadski (2008).

1.4-CARACTERÍSTICAS DAS VÍTIMAS TÍPICAS DE BULLYING:

Geralmente são os alunos (as) mais tímidos, retraídos, com dificuldade

em socializar-se, por isso tem poucos amigos, não costumam reagir a provocações.

São inseguros, com dificuldades na coordenação motora, são apáticos, submissos,

com baixa autoestima e dificuldade em auto afirmar-se. Mas segundo Fante (2008)

se algum aluno vir a apresentar essas características não significa que seja ou

venha a ser vítima de bullying, é preciso analisar a situação dentro de um contexto,

não de forma isolada.

13

Vítima provocadora: provoca tensões e depois tem dificuldade de lidar com as

situações que cria;

Vítima agressora: é aquela que reproduz os maus tratos recebidos de outros,

passou por sofrimento causado por bullying e reproduz em colegas mais frágeis,

cria-se um ciclo dinâmico desse comportamento;

Agressor: São aqueles alunos que se valem de sua força física para amedrontar e

intimidar os mais fracos, utilizam-se da prepotência e arrogância para se impor

diante dos mais fracos e indefesos. Agem fazendo pouco caso do outro, apelidam de

forma pejorativa.

Espectador: Representa a maioria dos alunos que convive com o problema e

adotam a lei do silêncio por temer se transformar em alvo para o agressor. (FANTE,

2005).

2.0 - FATORES QUE DESENCADEIAM O BULLYING.

Destacamos os fatores que levam uma criança a se tornar um bullie nas

visões das autoras: Fante(2005) Moz e Zawadski(2008), Beaudoin e Taylor( 2007).

Para Fante (2005) o fenômeno bullying é influenciado por fatores internos

e externos à escola. Como fatores internos, a autora aponta: “o clima escolar, as

relações interpessoais e as características individuais de cada membro da

comunidade escolar”. (FANTE, 2005, p.168).

A adaptação da criança à escola depende muito da forma como

estabelece os relacionamentos, com seus pares e professores. Quando este

relacionamento se dá de forma tranquila, as crianças sentem prazer de estarem

inseridas neste contexto; mas quando é ao contrário seu processo de adaptação é

doloroso, principalmente com crianças que sofrem algum tipo de discriminação,

isolamento. Em vez de fonte de prazer, a escola se torna fonte de estresse,

interferindo no processo e na qualidade da aprendizagem (FANTE, 2005).

Os fatores externos são determinantes na formação da personalidade do

aluno, pois este recebe influências do contexto familiar, do contexto social e também

dos meios de comunicação. A escola não consegue impedir as influências externas,

mas tem que lidar com a violência originada por estes fatores. Não é uma tarefa

14

fácil, pois isso implica numa constante atualização profissional, o que geralmente

não ocorre por muitos condicionantes, como tempo, questões familiares e

econômicas. Para que a escola cumpra hoje com o seu papel social que é ensinar e

bem, é preciso dar conta também desses desafios que estão postos. De nada

adianta negar a existência desta prática que é a “violência”.

A necessidade que o agressor tem de reproduzir contra o outro, os maus tratos sofridos tanto em casa quanto na escola, como forma de exercer autoridade, de ser notado, ou pode ser a única forma que foi ensinada para lidar com inseguranças pessoais, sentidas diante do grupo de iguais, buscando com isso reconhecimento, auto-afirmação, e satisfação pessoal. [...] A ausência de modelos educativos humanistas, capazes de estimular e orientar o comportamento da criança para a convivência social pacífica e para seu crescimento moral e espiritual, fatores indispensáveis ao bom processo socioeducacional, que se torna promotor de autosuperação na vida. A ausência desses valores humanistas tem induzido o educando ao caminho da intolerância, que se expressa pela não aceitação pelas diferenças pessoais inerentes a todos os seres humanos. (FANTE, 2005, p.62).

O comportamento agressivo apresentado pelo aluno (a) na escola, tem

origem no contexto familiar, na forma como foi criado, pois ninguém nasce bullie.

Alguma coisa ocorreu no processo de formação dessa criança para que assim se

tornasse. Os estímulos que recebeu na infância, pela forma como aprendeu a lidar

com o prazer, com a satisfação de seus desejos; a postura e o tom de voz

empregado pelos pais na correção de seus erros com xingamentos e comparações;

pelos castigos físicos impostos com raiva. É na família, segundo a autora que a

criança vivencia o primeiro modelo de socialização, e deveria ser um referencial

positivo para a criança. Infelizmente, é na escola que se constata o quanto esse

referencial familiar faz a diferença. Os alunos exteriorizam os comportamentos

vivenciados na família.

É neste contexto que a criança aprende ou deveria aprender a se relacionar com outras pessoas, respeitar e valorizar as diferenças individuais, desenvolver a empatia e adotar métodos não-violentos de lidar com seus próprios sentimentos e emoções e com os conflitos surgidos nas relações interpessoais. Portanto, é nesse contexto que a criança deveria aprender a criar mecanismos de defesa e de autosuperação e desenvolver atitudes e valores humanistas que a estruturem psicologicamente e norteiem seu desenvolvimento social. (FANTE, 2005, p.174).

15

A relação de afetividade que a criança estabelece com seus pais na

infância ecoa de forma positiva na formação da personalidade do indivíduo. Quando

o amor e o carinho são sentimentos presentes nessas relações, se tornam registros

positivos na memória da criança fortalecendo sua autoestima e a sua autoconfiança.

Por outro lado, segundo a autora, a falta desses sentimentos nas relações entre pais

e filhos levará o indivíduo a ter dificuldades de se adaptar às normas de convivência

social, de se integrar ao grupo. Portanto, “as raízes do comportamento agressivo

estão fincadas na infância, sendo o modelo de identificação familiar o elemento

fundamental para a sua compreensão.” (FANTE, 2005, p.175).

“A punição, seja por meio de castigo, seja por meio de qualquer outra

forma de maus tratos, desenvolve condutas agressivas mais intensas do que as

experiências frustrantes poderiam provocar.” (FANTE, 2005, p.177).

Dentre as práticas de violência mais evidenciadas no processo educativo

está a violência psicológica; é a mais comum, porém a mais difícil de ser

identificada. Esta violência está instalada quando há depreciação constante das

crianças, dificultando o processo de autoaceitação e superação. Este tipo de

violência compromete a estrutura psíquica da criança, uma vez que a mesma não se

sente aceita, amada, valorizada; percebe-se rejeitada por aqueles que deveriam

mais demonstrar amor, carinho e paciência.

Esse sentimento de rejeição compromete o desenvolvimento de sua autoestima e o poder de superação, uma vez que está arraigada em seu inconsciente devido aos inúmeros registros negativos que ficaram impressos em sua memória, com tendência a reproduzir tais situações de abuso em outros relacionamentos. (FANTE, 2005, p.179).

Essas crianças tendem a se tornar abusadores, repetindo atitudes

agressivas na escola com seus colegas e mesmo em casa com seus irmãos

menores. Na idade adulta podem repetir esse comportamento com seus cônjuges,

ou no local de trabalho. Há aqueles que se tornarão eternos submissos à vontade

alheia, tornando-se “bodes expiatórios” por não terem desenvolvidos as habilidades

de defesa e autodeterminação.

Ainda de acordo com Fante (2005), o bullying se manifesta originalmente

pela não aceitação à diferença, seja ela qual for de ordem psicológica, social, sexual

e física ou está relacionada a fatores como força, coragem, habilidades esportivas

16

ou intelectuais. A ação dos hormônios, também pode justificar a agressividade

especialmente entre os adolescentes.

A adrenalina é um dos principais hormônios segregados na preparação para a agressão, uma vez que sua passagem para a corrente sanguínea, devido a sinais do sistema nervoso simpático, produz um aceleramento fisiológico que prepara o indivíduo para agir de forma agressiva ou violenta. (FANTE, 2005, P.165).

Segundo Moz e Zawadski (2008), desde o nascimento, a criança absorve

crenças externas de si mesmo, valores, regulação de emoções, comportamentos

aceitáveis e inaceitáveis, que influenciarão na forma de como desenvolverão. À

medida que a criança cresce o alicerce para o comportamento agressivo se

desenvolve e se torna mais resistente às mudanças. As crianças criadas em família

emocional e fisicamente violentas, frias, negligentes, inconstantes, restritivas,

punitivas e/ou indulgentes vivenciam a desorganização de padrões normais de

desenvolvimento que resultam em problemas emocionais, comportamentais e

cognitivos.

Os pais ou avós, ou quem por ventura forem as primeiras pessoas a

cuidarem de uma criança, exercerão muita influência sobre ela. A forma como se dá

esta interação é que vai dar determinar o comportamento desta criança no futuro.

Este relacionamento vai ser o alicerce para o desenvolvimento de vínculos afetivos,

regulando e equilibrando as emoções e capacidade de aprender; será a base sobre

a qual todos os relacionamentos serão construídos. Hoje não existe um modelo

familiar definido. O modelo familiar tradicional sofreu muitas mudanças ao longo dos

tempos, e os avós, a quem antes cabia o papel secundário na educação dos netos,

acabaram, em muitos casos tendo que assumir a educação, além do sustento, e

com um agravante a mais: eles já não possuem mais o vigor de outrora e nem mais

condições de saúde, e acabam sozinhos neste processo. É cada vez mais comum

os pais destas crianças assumirem novos relacionamentos e as abandonarem à

própria sorte.

O vínculo saudável com pais permite que uma criança assimile o que ocorre a sua volta, do exterior e traga para dentro de si um sentimento de amor-próprio, a capacidade de confortar a si mesma em situações emocionalmente difíceis e a internalização de limites saudáveis que mantenham impulsos agressivos controlados. “A confiança construída a

17

partir da constância, do amor incondicional e da segurança de cuidadores adultos se torna base sobre a qual se constrói confiança em si mesma e nos outros”. (MOZ e ZAWADSKI, 2008, p.59,60).

É por meio de vínculos afetivos saudáveis que a criança estabelece com a

família, que conseguirá desenvolver o sentimento da empatia (que é a capacidade

de se colocar no lugar do outro sentindo as mesmas emoções). As crianças não

nascem com a consciência pronta, com a noção do que é certo ou errado

plenamente desenvolvido, é preciso ensiná-las a desenvolver esta consciência,

assim como, o sentimento de empatia, também não surge num passe de mágica,

esses sentimentos precisam ser internalizados pelas crianças através dos

ensinamentos e exemplos dos seus responsáveis.

“As sementes de cuidado, preocupação e vínculo que germinam e

florescem mais tarde, tornando-se a capacidade de uma criança estabelecer empatia

com os sentimentos dos outros, são semeados nos primeiros anos de vida.” (MOZ e

ZAWADSKI, 2008, p.60). O conforto tranquilo, dos pais e/ou responsáveis pela

criança se transforma em autocontrole em momentos a sós. À medida que a criança

cresce e torna-se adolescente, vai se deparar na vida com situações tensas que vão

desencadear sentimentos de raiva, ciúme e medo. E os padrões emocionais e

fisiológicos estabelecidos na infância serão os suportes que darão à criança na fase

adulta, condições de desenvolver um autocontrole necessário para a vida. As formas

como seus pais a ensinaram a lidar com as emoções na infância as acompanhará

para o resto de suas vidas. (MOZ e ZAWADSKI, 2008).

A voz firme, paciente, amorosa e delicada de um cuidador adulto se refletirá nos limites amorosos e firmes que a criança se dará durante a vida. Essas crianças ensinarão os mesmos limites amorosos a seus próprios filhos ou a crianças confiadas aos seus cuidados. (MOZ e ZAWADSKI, 2008, p.63).

As crianças vindas de famílias, estruturadas, equilibradas

emocionalmente, saudáveis, que educam os filhos principalmente através do

exemplo; que mantém vínculo afetivo com seus filhos demonstrando um amor

incondicional, na qual aceitam a sua singularidade, aprendem a aceitar os próprios

erros, pois foram apoiadas nas consequências, e por isso, aprendem a aceitar as

outras pessoas como são, tratam o outro como gostariam de serem tratadas.

Aprenderam a confiar em si mesmo e nas pessoas com as quais convivem, e em

situações difíceis da vida conseguem pedir ajuda. Isso não ocorre com crianças que

18

não receberam o devido preparo para enfrentar novas experiências talvez pela

superproteção ou falta de apoio de seus familiares que não permitiram que a

criança desenvolvesse o controle e os limites internos necessários. Geralmente

sentem medo de fazer escolhas erradas, ou mesmo de não conseguir fazer uma

escolha. Não possuem autoconfiança e por isso sentem medo de errar. Não

enfrentam os problemas, são inseguros, além de negar as coisas que fazem, e

tendem a culpar os outros além de distorcer a realidade. (MOZ e ZAWADSKI, 2008).

Inúmeros estudam mostram que aquelas crianças que não têm um “espelho” honesto não desenvolveram consciência de seu comportamento e de efeitos em outras pessoas. Se não forem ajudadas a desenvolver um novo conjunto de “ferramentas” comportamentais, darão continuidade a seu comportamento na idade adulta. As habilidades aprendidas nas brincadeiras as ajudarão no bullying a seus companheiros, amigos, chefes, clientes, eleitores e/ou nações. (MOZ e ZAWADSKI, 2008, p.82).

Beaudoin e Taylor (2007) afirmam que vivemos em uma sociedade com

uma cultura capitalista, individualista, patriarcal que frequentemente é intolerante às

diferenças (padrões restritos de normalidade, pouco aceitação das diferenças de

raça, religião, orientação sexual, etc.). “O contexto cultural da vida do indivíduo

influencia as opções que vem à mente em uma situação de desafio” (BEAUDOIN e

TAYLOR, p.23).

“Em geral nessas culturas, as instituições passam a estruturarem-se por

temas como a competição, as regras, as conquistas, a avaliação, a recompensa e a

punição e as hierarquias de poder” (BEAUDOIN e TAYLOR, p.29). Segundo as

autoras, o problema não está nesta forma de estruturação, mas na aplicação

exagerada, constante e rígida que podem trazer efeitos negativos. São quatro os

bloqueios contextuais que acabam influenciando e agravando os problemas de

desrespeito e do bullying: a competição, as regras, uma ênfase exagerada em

relação às conquistas e a avaliação.

A cultura na qual o indivíduo está inserido exerce um poder limitador

fazendo com que se recorra à violência em primeira mão na resolução de um

problema mesmo que vá contra os valores em que o indivíduo acredita. Esse tipo de

restrição de possibilidades afeta todas as pessoas, em todas as esferas da vida,

tornando-se especialmente evidente onde existe uma pressão social particularmente

forte no sentido de se seguir determinadas normas.

19

O bullying geralmente “ocorre nas culturas em que os meninos precisam

mostrar que são durões; os adolescentes somente se rebelam contra os adultos

naquelas culturas que lhes conferem pouco poder na juventude”. (BEAUDOIN e

TAYLOR 2007, p.23,26). Segundo essa concepção, para que ocorram mudanças

nas práticas de desrespeito e do bullying é preciso explorar todas as opções de

atitudes do aluno perante uma situação de violência bem como os bloqueios

contextuais.

Frequentemente os alunos envolvidos em situações de desrespeito e bullying são infelizes, não gostam de si mesmos e ficam muito frustrados e ressentidos, acham que o mundo está contra eles, e que os adultos são injustos e nunca os compreendem. (BEAUDOIN e TAYLOR, p.75).

Beaudoin e Taylor (2007) destacam que todas as culturas possuem um

conjunto próprio de discursos (crenças que orientam os pensamentos, sentimentos e

ações das pessoas em uma determinada cultura). Apresentam uma lista contendo

alguns discursos presentes nos bloqueios culturais: As culturas patriarcais,

capitalistas, individualistas que enfrentam questões de racismo, culturas que revelam

crenças adultistas1. Segundo as autoras os discursos possuem efeito mais nocivo

sobre as pessoas (como por exemplo: o racismo, a homofobia e o adultismo) do que

outros que se tornam prejudiciais somente quando levados ao extremo (capitalismo,

individualismo, patriarcado).

Consideram importante levar em conta o contexto nas situações de

desrespeito e bullying para evitar conclusões tendenciosas e injustas. Segundo as

autoras a única forma de ser justo é tendo “consciência daquilo que você pensa,

afastando-se das histórias problemáticas, entendendo o contexto e lidando com a

situação de forma a culpar menos os indivíduos isoladamente.” (BEAUDOIN e

TAYLOR, p.45).

Há diversos fatores que contribuem para que alguém se envolva em

condutas de bullying e de desrespeito. Os “bloqueios contextuais” geram um

sentimento da falta de opções na forma de agir. Os jovens envolvidos em questões

de bullying e desrespeito precisam de um auxílio que lhes ofereça experiências de 1Cf Beaudoin e Taylor (2007) adultismo é o mau uso que os adultos fazem do poder em relação às crianças, que é uma forma de desqualificar a criança, desrespeitar o conhecimento que ela possui.

20

opções de forma que eles realmente possam fazer escolhas diferentes. Mas isto não

significa que os adultos vão apresentar estas opções, mas sim um convite para que

os jovens realizem um processo aprofundado de autoinvestigação, no qual

estabelecem internamente uma ligação com uma noção mais pessoal e profunda de

possibilidades e um meio de ação, dado o contexto específico de suas vidas. Como

por exemplo, práticas para promover a responsabilidade, o controle interno, e

percepção de opções.

2.1 - CONSEQUÊNCIAS DO BULLYING

Todos os envolvidos de certa forma sofrem as consequências desta

violência, porém a mais atingida é a vítima, que poderá levar para sua vida afora os

efeitos deste fenômeno. A vítima terá dificuldades nos relacionamentos pessoais, no

trabalho e com os filhos. A superação dependerá das características individuais das

vítimas, descreve Fante (2005). Em caso de não superação a vítima poderá

comprometer o seu desenvolvimento psíquico, os traumas internalizados pela vítima

poderão orientar de forma inconsciente o comportamento da vítima como uma

defesa para evitar novos traumas. Gerando-se então, sentimentos negativos na

vítima, como sentimento de vingança, baixa autoestima, dificuldades de

aprendizagem, queda do rendimento escolar.

Dependendo da intensidade do sofrimento vivido em consequência do bullying, a vítima pode desenvolver reações intra-psíquicas, com sintomatologias de natureza psicossomática: enurese, taquicardia, sudorese, insônia, cefaléia, dor epigástrica, bloqueios de pensamentos e do raciocínio, ansiedade, estresse e depressão, pensamentos de vingança, e de suicídio, bem como reações extrapsíquicas, expressas por agressividade, impulsividade, hiperatividade e abuso de substâncias químicas. (FANTE, 2005 p.80).

Ainda, segundo Fante (2005) o bullying na infância pode desencadear

explosões de cólera e episódios de paranóia ou psicose conhecida como Borderline

Personality Disorder [transtorno de personalidade limítrofe], alterando os sistemas

límbicos, cujos distúrbios são irreversíveis no desenvolvimento da criança.

“O bullying afeta seriamente suas vítimas, causando-lhes prejuízos

físicos, mentais, emocionais, sociais e espirituais e costuma desencadear suicídio e

atos de violência.” (MOZ e ZAWADSKI, 2008 p.125).

21

O suicídio é uma das consequências mais graves da prática de bullying,

muitos jovens põe fim a própria vida para abreviar o sofrimento a que são

submetidos. É o caso citado por Moz e Zawadski(2008), de uma adolescente de 12

anos que se matou depois de sofrer durante muito tempo provocações e ameaças

de bullying incessante de jovens de 16 e 17 anos.

A vítima experimenta sentimentos de confusão, medo, vergonha,

ansiedade e vulnerabilidade. Poderá também apresentar comportamentos

agressivos, depressivos, praticar ou sofrer bullying no local de trabalho.

As consequências para o agressor traduzem-se em fortalecimento de

suas condutas autoritárias, afastando-se das finalidades escolares. A violência é a

forma como obtêm o poder. Se não forem contidos, desenvolvem habilidades

voltadas para a criminalidade, tornando-se uma pessoa de difícil convívio, pessoal,

profissional e social. Com uma inclinação forte às drogas.

De acordo com estudos realizados por Olweus (citado por FANTE. 2005)

com jovens entre 12 e 16 anos que praticavam o bullying, constatou-se que 60%

deles sofreram penalidades antes que completassem 24 anos de idade. Os bullies

sentem uma sensação de gratificação passageira quando estão no controle da

situação, mas logo voltam a experimentar sentimentos de vazio, inadequação e

insegurança.

22

3.0 – CIBERBULLYING

É uma nova forma de prática de bullying-ciberbullying, utilizando-se como

ferramentas a internet (orkut, msn e outros), celular.

De acordo com Fante & Pedra (2008) é a forma virtual de praticar

bullying. Essa forma de praticar o bullying tem preocupado pais e educadores pelo

efeito devastador e pelo número de pessoas atingidas. Utiliza-se de instrumentos

tecnológicos de informação com a finalidade de humilhar e constranger sua vítima.

Extrapola em muito os muros da escola, expondo a vítima de forma instantânea e

com dimensões incalculáveis. A diferença entre as duas formas de ataque é que

uma ocorre em tempo real e a outra no mundo virtual. E nesta os agressores são

motivados pelo anonimato, utilizando nomes falsos, apelidos ou ainda se fazem

passar por outra pessoa. O ciberbullying ocorre através de Orkut, MSN, e-mails,

torpedos e blogs e outros. Fotos são tiradas sem o consentimento da vítima e são

modificadas e divulgadas em sites com o intuito de expor a vítima com piadinhas e

comentários sexistas ou racistas. Quando a vítima se dá conta seu nome e sua

imagem já estão na rede mundial com prejuízos emocionais e psicológicos

incalculáveis.

Qualquer pessoa pode ser alvo destes ataques virtuais, não há motivo

que justifique a escolha do alvo. Os maiores praticantes de ciberbullying são os

adolescentes, porém é difícil traçar um perfil por se tratar de ataques virtuais e

também devido ao anonimato.

Para interromper os ataques é preciso denunciar os agressores, a vítima

deve imprimir o conteúdo das páginas, registrar as provas que estejam on-line e

fazer uma declaração de fé pública, para provar que o crime existiu. Esta atitude

deve ser tomada o mais breve possível para evitar que o autor retire do ar as

informações e mude de endereço. Após este procedimento a vítima deve procurar a

Delegacia Especializada em crimes cibernéticos, caso não haja na cidade, procurar

uma delegacia de polícia para fazer a denúncia ou procurar diretamente a

Promotoria da Infância e Juventude. Outra forma apontada é informar o prestador de

serviço da internet para remover o conteúdo ilegal ofensivo.

23

4 .0 - BUSCANDO CAMINHOS DE SUPERAÇÃO PARA O BULYING.

De acordo com Fante (2005) a prevenção ao bullying é um dos primeiros

passos a ser dado, começando pela capacitação dos professores, funcionários para

que possam identificar distinguir e diagnosticar o fenômeno, assim como devem

tomar ciência das estratégias de intervenção e prevenção existentes. Cada escola

possui uma realidade que as diferencia das demais e é com base nesta realidade

que as ações devem ser pensadas. Mas uma idéia que deve ser comum a todas é

que a violência é um comportamento que pode ser evitado, minimizado diminuindo

assim, os danos sobre as vítimas.

Com o intuito de diminuir a violência e educar para a paz foi criado o

Programa Educar para a Paz, desenvolvido com o objetivo de auxiliar os

profissionais da educação a identificar, caracterizar, diagnosticar o fenômeno. O

programa se sustenta em valores como a tolerância e solidariedade. E tem como

propósito informar os alunos sobre o fenômeno e suas consequências; desenvolver

valores como a empatia, envolvê-los com o coletivo da escola. Tornando-os assim,

agentes de transformação. E desta forma contribuindo, para a cultura da paz nas

escolas.

Segundo as autoras Moz e Zawadski (2008) pensar em enfrentar os

problemas apenas punindo os autores, já demonstrou não ser eficaz, porque os

agressores estão habituados ao longo de suas vidas com a punição. É preciso, pois

buscar caminhos alternativos. Chamar os pais é um dos caminhos, mas muitas

vezes as crianças correm o “risco de sofrerem mais abusos em casa, devido aos

intensos medos internalizados de consequência e abuso [...] elas podem vir a mentir,

a tornarem-se desafiadoras, ou ainda ficar gravemente deprimidas”. (MOZ e

ZAWADSKI, p.88).

Essas crianças são frutos de pais bullies, cujo clima familiar é permeado

de abusos, medo, raiva, culpa; sentimentos que fazem parte da rotina familiar. Essas

famílias sentem pavor de chamar a atenção externa sobre seus problemas, portanto,

seus filhos foram ensinados a mentir, esconder. Alguns pais bullies sentem orgulho

das atitudes dos filhos e quando são chamados na escola negam e defendem o

filho, veem-no como vítimas e ainda acusam a escola de perseguição, preferem a

opção de trocar de escola a enfrentar o problema. Essas crianças não possuem

nenhuma referência que possa confrontá-las, que lhes imponham limites e ainda que

24

lhes apontem alternativas de agir. É preciso confrontar as crianças que praticam o

bullying, com paciência e mostrando que não são pessoas más, mas que seu

comportamento não mais será admitido. Ensiná-las a ouvir, e apresentar um leque

de opções de comportamentos diferentes dos praticados por ela.

Uma das ferramentas mais eficazes de que dispomos para prevenir a paralisia e o sentimento de impotência é autoconsciência. Os bullies são especialistas em encontrar nossos calcanhares de Aquiles, aquelas partes onde somos mais sensíveis, exagerando-as, humilhando-as e as usando como armas contra nós. Se há aspectos que você tenha vergonha, como cometer um erro ou ter sardas, faça as pazes com eles. Busque apoio de alguém que sirva de espelho honesto e sensível, de forma a não dar aos bullies em sua vida uma arma para ser usada contra você. [...] Um dos grandes dons que a vida pode oferecer é aqueles “espelhos” honestos que nos aceitam e nos fortalecem. Precisamos uns dos outros. (MOZ e ZAWADSKIz, p. 33,34).

Segundo Moz e Zawadski é necessário criar um ambiente escolar mais

seguro para todos, através da criação de uma cultura no interior da escola da não

tolererância à agressão física ou emocional por parte de qualquer pessoa; esse

ambiente deve ser alimentado e mantido por todos.

Para Beaudoin e Taylor (2007), os alunos têm sucesso em ambientes

onde são ouvidos e respeitados, onde possam estabelecer vínculos com colegas e

professores. Num ambiente em que não haja pressão para ser o melhor. As autoras

apontam valores a serem promovidos em sala de aula como apreciação,

colaboração, estabelecimento do vínculo que favoreçam um clima de pertencimento.

“Não há nada pior do que se sentir sozinho na multidão”. (BEAUDOIN e TAYLOR,

p.119).

É preciso estabelecer vínculos afetivos na escola, que nada mais são do

que um processo de aceitação do outro como é. Integração, aceitação, participação

são ações que a escola pode desenvolver para evitar segundo as autoras o

aparecimento de brigas entre os alunos, da competição, do tédio e do bullying

propriamente dito.

Os vínculos são apresentados como o único aspecto mais importante da experiência da educação escolar para os alunos, mas é provável que seja o aspecto menos discutido do currículo. (BEAUDOIN e TAYLOR, p.120).

A promoção do vínculo apresenta várias vantagens: motiva os alunos a

melhorar a si próprios. Constrói a autoestima permitindo aos alunos que cometam

25

erros; proporciona-lhes segurança, pois podem errar e ser mais autênticos,

espontâneos, e se expressar com mais liberdade. Propiciando ao aluno autonomia

para se impor diante dos padrões culturais. Aumenta a satisfação dos alunos e o seu

desempenho. Promovendo a responsabilidade e o comprometimento destes com a

comunidade escolar. “Os vínculos significativos diminuem o desrespeito, as

comparações, o isolamento, a marginalização e a competição que há entre os

alunos para atrair a atenção do professor” (BEAUDOIN e TAYLOR, p.119).

A apreciação é outro valor que deve estar presente nas relações

interpessoais na escola que é o sentimento de reconhecimento, gratidão, admiração

que deve ser demonstrado de forma sincera e clara. É saber reconhecer quando o

aluno faz algo por merecer, dar-lhe atenção, O educador deve demonstrar

sentimentos de contentamento em relação às atitudes do aluno. Mas é importante

que os comentários de apreciação sejam feitos quando o aluno se encontra

presente, se não poderá perder seu efeito.

Sistemas ideais permitem que todos sejam apreciados, incluindo os professores. [...] Quando os educadores sentem-se apreciados, eles abastecem-se de energia e também demonstram paciência e bondade em relação aos alunos. Diminui assim a probabilidade de se exasperarem e caírem em um ciclo problemático de desrespeito com os alunos. (BEAUDOIN e TAYLOR, p.127).

A observação de alguns aspectos são indispensáveis pelos professores

como as formas sutis de competição presente em suas metodologias, que isso

aconteça de forma consciente e sincera de modo a reduzir as práticas de violência

na escola significativamente. É necessário pensar numa metodologia que incentive a

colaboração e não a competição pura e simples. As atividades quando

desenvolvidas sem o propósito da competição estimulam a participação de todos e

desta forma não há perdedores, mas ao contrário, todos são vencedores.

A autorreflexão é uma prática que deve ser desenvolvida de forma

rotineira e precisa envolver os alunos e a escola como um todo, e não apenas uma

prática nos momentos que os conflitos já ocorreram.

Enfim, ainda de acordo com Beaudoin e Taylor (2007, p.137), quando se

trata os jovens com respeito e consideração, com dignidade, estes ”desenvolvem um

senso de responsabilidade, de polidez, de juízo crítico, e expressam suas opiniões

com maior clareza”.

26

Precisamos reconstruir comunidades em que as vozes e as ações da

“maioria que se preocupa” substituam a apatia e o medo da “maioria silenciosa.”

(MOZ. e ZAWADSKI, p.147). Segundo as autoras é hora de reconhecer as

consequências nefastas do fenômeno bullying e enquanto indivíduo precisa trabalhar

a nossa agressividade, a nossa vitimização e de nosso silêncio e ter coragem para

assumir responsabilidade por nossas escolhas e provocar mudanças em nossas

vidas. “Precisamos ter a visão de um mundo sem medo” (MOZ. e ZAWADSKI, p.14).

A escola, através do projeto político pedagógico, deve promover ações

visando o combate e a prevenção a qualquer forma de violência praticada em seu

interior. Para tanto é indispensável à capacitação dos profissionais que atuam no

contexto escolar, para que possam auxiliar na promoção de um ambiente favorável

às relações de cooperação, solidariedade, tolerância, ao respeito às individualidades

e às diferenças desenvolvendo estratégias de forma a envolver a todos. As vítimas

de bullying precisam internalizar habilidades necessárias para enfrentarem os

bullies, tornando-se mais seguros, acreditando mais em si mesmo e tendo nos

professores o apoio necessário para construção de sentimentos de autoconfiança,

de amizade e amor. E para isso, a autora sugere que “Os educadores sejam

preparados para lidar com suas emoções, é necessário educar as emoções dos

alunos, dando lugar, em suas aulas, para a expressão de afeto, com isso,

aprenderão a lidar com seus próprios conflitos e com os mais diversos tipos de

violência, especialmente, o bullying”. (FANTE, 2005, p. 213).

A educação, portanto, é o caminho que conduz à paz. A solidariedade, a tolerância e o amor são ingredientes que compõem o antídoto contra a violência e que deve ser aplicado no coração de cada criança, de cada adolescente de cada jovem, enfim, no coração de todos os seres humanos, em especial no coração daqueles que se dedicam à arte de educar. (FANTE, 2005, p.213).

27

5.0 - REFERÊNCIAS

AQUINO, Julio Groppa Org. Diferenças e Preconceitos na Escola-Alternativas Teóricas e Práticas. São Paulo: Summus.1998.

BEAUDOIN, Marie-Nathalie e TAYLOR, Marureen. Bullying e Desrespeito – Como acabar com essa cultura na escola. Tradução: Netz, Sandra Regina, Artmed, 2007.

FANTE, Cleo. Fenômeno Bullying - Como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. Campinas - S. P Versus Editora, 2005.

FANTE, Cleo e Pedra. José Augusto. Bullying Escolar-Perguntas e respostas. Porto Alegre. Artmed. 2008.

ODÁLIA, Nilo. O que é violência. Nova Cultural/ Brasiliense, São Paulo. 1985.

MOZ, Jane Middelton-Moz; ZAWADSKI, Mary Lee. Bullying – Estratégias de sobrevivência para crianças e adultos. Tradução: Costa, Roberto Cataldo. Porto Alegre. Artmed. 2008.

28

2ª Parte:

1.0 - ROTEIRO DE ESTUDOS

PÚBLICO ALVO: ALUNOS ENSINO FUNDAMENTAL

(6ª SÉRIE)

1.1- OBJETIVOS:

*INFORMAR AOS ALUNOS (AS) SOBRE O

“BULLYING” CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS.

* PROPORCIONAR AOS ALUNOS (AS)

FERRAMENTAS PARA SE DEFENDER EM

SITUAÇÕES DE BULLYING.

* INCENTIVAR ATITUDES SOLIDÁRIAS ENTRE OS

(AS) ALUNOS (AS).

29

2.0 - METODOLOGIA:

O roteiro de estudos será aplicado na 4ª etapa da

implementação do projeto e terá “dicas” destinadas aos

alunos (as) de como agir e se defender diante de

situações de bullying. O roteiro será impresso e

distribuído a todos os alunos da turma. A disposição

física da sala será em forma de circulo e/ou mesa

redonda de forma tal que os alunos sejam envolvidos na

leitura e discussão dos tópicos contidos no roteiro.

O roteiro busca apresentar o tema para os alunos

de forma simples e clara. Procura mostrar que a prática

de bullying não é benéfica para ninguém, que todos

saem perdendo de alguma forma.

Como também é muito importante deixar claro para

os alunos, que estamos sujeitos a vivenciar as três

situações: agressor, vítima e testemunha, dependendo

das circunstâncias. Isso tem que ser muito frisado para

evitar que haja rótulos, classificações entre os alunos.

30

Mas afinal O que é

Bullying

Bater

Amedrontar

PROVOCAR

Encarnar Ignorar Quebrar o material escolar

Humilhar Tiranizar

Discriminar

Perseguir

Ferir

Fazer sofrer

31

PARA QUEM PRATICA

PARA QUEM SOFRE AS CONSEQUÊNCIAS

ATENÇÃO: A PRÁTICA DO BULLYING É RUIM

PARA TODOS

32

Bullying é uma relação desigual de poder

de agressividade, de atitudes repetitivas

entre estudantes,

com o objetivo de ferir, humilhar

os mais fracos e indefesos

33

AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

NO PÁTIO DA ESCOLA

EM QUE LUGAR O BULLYING

PODE ACONTECER?

ESCOLA PARTICULAR

ESCOLA PÚBLICA

NA SALA DE AULA

DURANTE O RECREIO

ENTRADAS E SAÍDAS DAS AULAS

AULAS

34

Quem são os envolvidos em situações

de bullying?

Todos os alunos direta e indiretamente!

Alunos alvos de bullying!

Quem são Eles?

Alunos que praticam o bullying!

Alunos que são obrigados a conviver de forma silenciosa com medo de tornarem-se a próxima vítima!!!

35

E DEPOIS COMO TESTEMUNHA

HOJE COMO VÍTIMA

AMANHÃ COMO O AGRESSOR

É IMPORTANTE SABER!!! QUE VOCÊ ESTÁ SUJEITO A PASSAR PELAS

TRÊS SITUAÇÕES:

36

Geralmente são alunos egoístas, que tem dificuldade de se colocar no lugar do outro. Gostam de chamar a atenção sobre si, de ser o centro das atenções. Sentem prazer ao impor medo nos colegas.

E acabam sendo uma influência negativa na turma.

Como agem os alunos que praticam

“O bullying”?

37

Alunos que apresentam dificuldades de se impor diante dos colegas.

Geralmente, são alunos humildes, quietos, de poucos amigos, inseguros, com a autoestima em baixa. O aspecto físico é frágil ou que apresenta características físicas ou comportamentais que se diferenciam dos demais

E não tem esperança de se serem aceitos (as) pelo grupo.

Sentem-se culpadas pelo próprio sofrimento.

Em casos extremos, as vítimas se sentem tão oprimidas que podem acabar tentando ou até cometendo suicídio.

Quem são as vítimas de

“O bullying”?

38

É a grande maioria dos alunos que convivem com a violência.

Os quais não violam a lei do silêncio por temer se tornar “a próxima vítima”.

Apesar não sofrerem as agressões diretamente, as testemunhas sentem-se impotentes e inseguras sem muitas vezes saber o que fazer.

Conviver diariamente com um clima de tensão pode provocar prejuízos ao desenvolvimento escolar e social destes alunos.

E as testemunhas quem são?

39

Para alunos que são vítimas:

� A criança ou adolescente vítima de

bullying poderá crescer com sentimentos negativos especialmente com baixa autoestima, apresentando dificuldade de superar os traumas vividos na fase escolar tornando-se um adulto com sérios problemas de relacionamento, com propensão a depressão ou agressividade.

� A vítima de bullying sofre

intensamente, sente-se humilhado, intimidado, seu processo de aprendizagem fica comprometido.

CONSEQUÊNCIAS DO

BULLYING:

40

� Sente dificuldade em pedir ajuda, isola-se dos colegas, sofre em silêncio, pois acha que ninguém gosta dela, é triste; sente medo de ir à escola, vive faltando às aulas.

� A escola passa a ser um local inseguro para a vítima inseguro, pois causa medo e desconforto emocional, desfavorável à aprendizagem e ao convívio social;

� Com frequência fica doente, apresenta (dor de cabeça, dor de barriga,...). Geralmente alimentam-se mal, não conseguem dormir.

� Sua vida emocional quando adulto fica comprometida, pode tentar ou até mesmo cometer suicido.

� Alguns alunos vítimas de bullying podem tornar autores de bullying, quando percebem que este comportamento agressivo não está trazendo nenhuma consequência séria para quem o pratica.

41

Para alunos que praticam o bulluing (também denominados de “bullies”): � Quem pratica o bullying tem uma falsa

sensação de poder, prejudica sua aprendizagem e a dos colegas além de criar na escola um ambiente de tensão permanente.

� Quando adulto o bullie pode tornar-se num adulto violento e apresentar dificuldades nos relacionamentos familiares.

� Poderá tornar-se um consumidor de drogas lícitas como: álcool, cigarro e ilícitas como as drogas de um modo geral.

� Como também poderá fazer ser um

membro de gangues.

42

Para os alunos que testemunhas atos de bullying: � Quem testemunha o bullying também

sofre por sentir-se inseguro, indefeso, intimidado e sente medo de tornar-se a próxima vítima. Também sofre em silêncio, fica ansioso e com medo de ir à escola.

� Sua aprendizagem também pode ser prejudicada. Como também pode vir a acreditar que é bom praticar o bullying.

43

� Não se isole, não entre no jogo de

intimidação do bullie, procure apoio de seu professor mais próximo, ou do pedagogo de sua escola, diretor ou funcionário (a) como, por exemplo, o (a) inspetor (a).

� A sua família também deve ser informada que você está sofrendo ataques de bullies.

� Una-se com outros colegas que também já tenham sido vítimas bulling, isto te fortalecerá e te dará mais segurança.

� Fortaleça-se cuide de sua autoestima acreditando na sua capacidade, entenda

O QUE VOCÊ DEVE “FAZER” PARA EVITAR SER

“VÍTIMA DE BULLYING”!

44

que o erro faz parte da nossa aprendizagem e que este não nos torna mais burro ou inútil.

� Lute pelo direito de ser respeitado pelos colegas e professores e de ter suas ideias reconhecidas.

� Todos têm defeitos e qualidades, não sinta vergonha de si mesmo, procure conhecer-se melhor.

� Não permita que os bullies encontrem em você a parte mais sensível, vulnerável, utilizando-se como uma arma contra você mesmo.

� Peça ajuda aos amigos e a sua família para que te auxiliem neste processo.

� Enfrente o bullie de forma afirmativa, sem violência, não abaixe os olhos diante dele ao contrário olhe bem em seus olhos, não demonstre medo. Seguro (a) de si, você tem tudo para não se tornar uma vítima de bullying e ainda terá força para enfrentar quem faz isso.

� O seu corpo não deve se encolher, mas indicar que você não está sentindo medo, a sua voz deve demonstrar firmeza, não

45

gagueje. � LEMBRE-SE você tem direito de

“ESTUDAR” num ambiente “TRANQUILO” livre de julgamentos, acusações, ameaças físicas e emocionais.

� Dê apoio ao seu amigo que está

sofrendo nas mãos de um bullie, converse com ele, esteja com ele em trabalhos em grupo, no recreio, nas aulas de educação física.

� Crie uma lista afirmativa de suas qualidades e seus direitos e cole num local visível e leia para você si todos os dias,

O QUE VOCÊ DEVE “FAZER” PARA “AJUDAR” UM COLEGA

QUE ESTÁ SENDO “VÍTIMA DE BULLYING”!

46

para internalizar. � Incentive seu amigo a lutar pelos seus

“direitos” começando pelo direito de expressar seus pensamentos livremente sem ser ridicularizado pelos colegas.

� Através destas atitudes você poderá

impedir que o bullying se instale na sua escola, não tenha medo de enfrentar os que se acham mais fortes, valentões, pois a escola é um espaço democrático no qual todos têm os mesmos direitos, lute por eles.

Para reduzir os efeitos do bullying é essencial a “cooperação de todos”: diretores, professores, funcionários, alunos e pais.

Roteiro de estudos inspirado na cartilha elaborada pelo observatório da infância

47

.

A “Escola” deve ser um local de socialização entre os alunos de forma prazerosa, para que a aprendizagem

aconteça de forma tranquila, na qual os direitos das crianças e adolescentes sejam respeitados por todos, onde valores como:

a amizade, solidariedade e o respeito estejam presentes. Onde cada um possa

ser feliz aceito do jeito que “é.”

48

������������� �������� ��� �������������� ���

* Programa Educar para a Paz. SUGESTÃO DE PROGRAMAS DE INTERVENÇÃO: Programa Educar para a Paz Objetivos do programa:

• Que os alunos sejam conscientizados do fenômeno e suas conseqüências; • Que os alunos, por meio da interiorização de valores humanos desenvolvam a capacidade de empatia; • Que os alunos se comprometam com o bem estar comum; ETAPAS DO PROGRAMA: Etapa A: Conhecimento da realidade escolar, Etapa B: modificação da realidade escolar; O programa completo está disponível no livro: FANTE, Cleo - Fenômeno Bullying- Como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. Verus Editora- 2005.

* Projeto Bicho-que-irrita. Objetivo do projeto: O projeto é voltado para a redução da presença dos bloqueios contextuais, como também, favorecer um clima de colaboração, de espírito de equipe, de respeito entre o adulto e o aluno e uma valorização das diferenças. ETAPAS DO PROGRAMA: SEÇÃO 1: A exteriorização do programa SEÇÃO 2: Construindo os Sucessos SEÇÃO3: Celebração do Conhecimento e da Habilidade Este projeto é desenvolvido em 11 semanas. O projeto na íntegra está disponível no livro: BEAUDOIN, Nathalie-Marie e TAYLOR, Maureen - Bullying e Desrespeito – Como acabar com essa cultura na escola. Artmed,2007.

49

* Bullying na escola: O que é isso?

Uma história de bullying entre os animais, é uma estratégia para introduzir o tema aos alunos. A história completa está disponível no livro:

FANTE, Cleo; PEDRA, José Augusto. Bullying Escolar. Perguntas e respostas. Porto Alegre: Artmed, 2008.

*Questionário para a sondagem da realidade: a)- Você já foi maltratado por seus colegas de escola?

( )Sim, desde o ano passado meus colegas de escola me maltratam.

( )Sim, meus colegas de escola começaram a me maltratar este ano.

( ) Sim, já fui maltratado por colegas de escola, porém não sou mais.

( ) Não, nunca fui maltratado por colegas de escola.

O questionário na íntegra encontra-se disponível no livro:

FANTE, Cleo; PEDRA, José Augusto. Bullying Escolar. Perguntas e respostas. Porto Alegre: Artmed, 2008.

50

SUGESTÃO DE FILMES

*Um grande garoto

1º janeiro

Will Freeman (Hugh Grant) é um homem na faixa dos trinta anos metido a galã que inventa ter um filho apenas para poder ir às reuniões de pais solteiros, onde tem a oportunidade de conhecer mães também solteiras. Will sempre segue a mesma tática: vive com elas um rápido romance e quando elas começam a falar em compromisso ele acaba o namoro. Até que, em um de seus relacionamentos, Will conhece o jovem Marcus (Nicholas Hoult), um garoto de 12 anos que é completamente o seu oposto e tem muitos problemas em casa e

na escola. Com o tempo Will e Marcus se envolvem cada vez mais, aprendendo que um pode ensinar muito ao outro. Informações Técnicas Título no Brasil: Um Grande Garoto Título Original: About a Boy País de Origem: Inglaterra Gênero: Drama Tempo de Duração: 105 minutos Ano de Lançamento: 2002 Site Oficial: http://www.about-a-boy.com Estúdio/Distrib.: Tribeca Productions / Kalima Productions / Studio Canal / Working Title Films Direção: Chris Weitz e Paul Weitz

51

* Bang Bang Você Morreu

(Bang Bang You Are Dead)

Jovens podem ser mais cruéis que todos. Naturalmente cruéis. As palavras de Trevor Adams, que já foi um estudante exemplar, refletem suas experiências no colégio. Ele era vítima de tão traumatizante perseguição que ameaçou destruir o filme de futebol da escola. Mas a salvação veio através do Sr. Duncan (Tom Cavanagh, astro da série de TV "Ed"), o professor de teatro, que ofereceu a Trevor o papel principal de sua peça, o lado da bela Jenny Dahlquist. O professor e a garota tentam ajudá-lo a manter-se na linha. Mas há um risco: o sombrio enredo sobre assassinos em um playground, combinado com o passado problemático de Trevor, faz com que os pais tentem vetar a peça. Se eles conseguirem é possível que a voz de Trevor jamais seja ouvido e isso pode detonar uma bomba-relógio humana.

Lançamento: 08/03/2002 Direção: Guy Ferland Atores/Artistas: Ben Foster, Tom Cavanagh, Randy Harrison País/Ano de Produção: EUA - 2002

Duração: 93 Minutos Etária: Faixa Etária:16 Anos Disponível no site abaixo relacionado http://www.observatoriodainfancia.com.br/rubrique.php3?id_rubrique=19 acesso em 23/03/10 – 15:52

52

4.0 - REFERÊNCIAS

AQUINO, Julio Groppa Org. Diferenças e Preconceitos na Escola-Alternativas Teóricas e Práticas. São Paulo: Summus.1998.

BEAUDOIN, Marie-Nathalie e TAYLOR, Marureen. Bullying e Desrespeito – Como acabar com essa cultura na escola. Tradução: Netz, Sandra Regina, Artmed, 2007.

FANTE, Cleo. Fenômeno Bullying - Como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. Campinas - S.P: Versus Editora, 2005.

FANTE, Cleo e Pedra. José Augusto. Bullying Escolar-Perguntas e respostas. Porto Alegre. Artmed. 2008.

ODÁLIA, Nilo. O que é violência. Nova Cultural/ Brasiliense, São Paulo. 1985.

MOZ, Jane Middelton-Moz; ZAWADSKI, Mary Lee. Bullying – Estratégias de sobrevivência para crianças e adultos. Tradução: Costa, Roberto Cataldo. Porto Alegre. Artmed. 2008. Roteiro de estudos foi inspirado no modelo da cartilha do observatório da infância http://www.observatoriodainfancia.com.br/rubrique.php3?id_rubrique=19 (acessado em 02/03/10). http://educarparacrescer.abril.com.br/comportamento/testes/acabar-bullying.shtml (acessado em 02/03/10). http://images.google.com.br/images?hl=pt-BR&source=hp&q=escola+solidária&btnG=Pesquisar+imagens&gbv= (acessado em 02/03/10). http://images.google.com.br/images?hl=pt-BR&source=hp&q=bullying&btnG=Pesquisar+imagens&gbv=2&aq=f& (acessado em 02/03/10).