curso de direito tributário completo - 8ed · 4/1/1999 · isbn 978-85-472-1672-6 paulsen, leandro...

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  • ISBN978-85-472-1672-6

    Paulsen,LeandroCursodedireitotributriocompleto/LeandroPaulsen.8.ed.SoPaulo:Saraiva,2017.1.Direitotributrio.2.Direitotributrio-BrasilI.Ttulo.16-1563CDU34:336.2

    ndicesparacatlogosistemtico:

    1.Direitotributrio34:336.2

    PresidenteEduardoMufarej

    Vice-presidenteClaudioLensing

    DiretoraeditorialFlviaAlvesBravin

    Conselhoeditorial

    PresidenteCarlosRagazzo

    GerentedeaquisioRobertaDensa

    ConsultoracadmicoMuriloAngeli

    GerentedeconcursosRobertoNavarro

    GerenteeditorialThasdeCamargoRodrigues

    EdioBrunaSchlindweinZeni

    ProduoeditorialAnaCristinaGarcia(coord.)|LucianaCordeiroShirakawaClarissaBoraschiMaria(coord.)|KelliPriscilaPinto|MarliaCordeiro|MnicaLandi|TatianadosSantosRomo|

    TiagoDelaRosa

    Diagramao(LivroFsico)DesgniosEditoriais

    RevisoDesgniosEditoriais

    ComunicaoeMKTElaineCristinadaSilva

    CapaCasadeIdeias/DanielRampazzo

    Livrodigital(E-pub)

    Produodoe-pubGuilhermeHenriqueMartinsSalvador

    ServioseditoriaisSuraneVellenich

    Datadefechamentodaedio:13-12-2016

  • Dvidas?

    Acessewww.editorasaraiva.com.br/direito

    NenhumapartedestapublicaopoderserreproduzidaporqualquermeioouformasemaprviaautorizaodaEditoraSaraiva.

    AviolaodosdireitosautoraiscrimeestabelecidonaLein.9.610/98epunidopeloartigo184doCdigoPenal.

    http://www.editorasaraiva.com.br/direito

  • LEANDROPAULSEN

    DoutoremDireitoseGarantiasdoContribuinte

    ProfessordeDireitoConstitucional,TributrioePenal

    DesembargadorFederal

  • Sumrio

    NotadoAutor

    CaptuloI-Tributao,direitotributrioetributo

    1.Origemdatributaoedasualimitao

    2.Atributaocomoinstrumentodasociedade

    3.Osdeveresfundamentaisdepagartributosedecolaborarcomatributao

    4.Acargatributria,odireitoinformaoeoscustosdeconformidade

    5.Fiscalidade38.eextrafiscalidade

    6.Direitotributrio

    7.Relaocomoutrasdisciplinasjurdicas

    8.Relaocomaeconomia

    9.Relaocomacontabilidade

    10.Conceitodetributo

    11.Preospblicosereceitaspatrimoniais

    CaptuloII-Espciestributrias

    12.Caractersticaseregimesjurdicosespecficos

    13.Critriosparaaidentificaodasespciestributrias

    14.Classificaodostributosemcincoespciestributrias

    15.Impostos

    16.Taxas

    17.Contribuiesdemelhoria

    18.Emprstimoscompulsrios

    19.Contribuies

    20.Contribuiessociais

    21.Contribuiesdeintervenonodomnioeconmico

    22.Contribuiesdeinteressedascategoriasprofissionaisoueconmicas

    23.Contribuiesdeiluminaopblica

    CaptuloIII-Princpiostributrios

    24.Osdiversostiposdenormas:princpios,regrasenormasdecoliso

    25.Arelaoentreosprincpioseaslimitaesconstitucionaisaopoderdetributar

    26.Princpiosgeraisdedireitotributrio120.

  • 27.Princpiodacapacidadecontributiva

    28.Princpiodacapacidadecolaborativa

    29.Princpiodaseguranajurdicaemmatriatributria140.

    30.Princpiodaigualdadetributria143.

    31.Princpiodapraticabilidadedatributao

    CaptuloIV-Competnciatributria

    32.DetalhamentodacompetncianaConstituio

    33.Normasconstitucionaisconcessivasdecompetncia

    34.Critriodaatividadeestatal

    35.Critriodabaseeconmica

    36.Critriodafinalidade

    37.Competnciasprivativas,comunseresiduais

    38.Bitributaoebisinidem

    39.Tributosnabasedeclculodeoutrostributos

    CaptuloV-Imunidadestributrias

    40.Imunidadescomonormasnegativasdecompetncia

    41.Imunidadescomogarantiasfundamentais

    42.Classificao,interpretaoeaplicaodasimunidades

    43.Imunidadesgenricasaimpostos

    44.Imunidaderecproca

    45.Imunidadedostemplosdequalquerculto

    46.Imunidadedospartidos,sindicatos,entidadeseducacionaiseassistenciais

    47.Imunidadedoslivros,jornais,peridicosedopapelparaasuaimpresso

    48.Imunidadedosfonogramasevideogramasmusicais

    49.Imunidadedasentidadesbeneficentesdeassistnciasocialscontribuiesdeseguridadesocial

    CaptuloVI-Daslimitaesaopoderdetributarquesogarantiasfundamentaisdocontribuinte

    50.Naturezadaslimitaesconstitucionaisaopoderdetributar

    51.Limitaesemproldaseguranajurdica,dajustiatributria,daliberdadeedaFederao

    52.Legalidadetributria

    53.Irretroatividadetributria

    54.Anterioridadetributria

    55.Isonomiatributria

    56.Noconfisco315.

    57.Proibiodelimitaesaotrfegopormeiodetributosinterestaduaiseintermunicipais,ressalvadoopedgio

    CaptuloVII-GarantiasdaFederao

    58.LimitaesespecficasUnio

    59.Uniformidadegeogrfica

    60.Vedaodatributaodiferenciadadarendadasobrigaesdasdvidaspblicasedaremuneraodosservidores

    61.Vedaodeisenoheternoma

  • 62.LimitaesaosEstadoseMunicpiosparaestabelecerdiferenatributriaemrazodaprocednciaoudestino

    63.Vedaodaafetaodoprodutodeimpostos

    CaptuloVIII-Tcnicasdetributao

    64.Progressividade

    65.Seletividade

    66.Nocumulatividade

    67.Tributaomonofsica

    68.Substituiotributria

    CaptuloIX-Legislaotributria

    69.Normasconstitucionais

    70.LeiscomplementaresConstituio

    71.ResoluesdoSenado

    72.Convnios

    73.Tratadosinternacionais389.

    74.Leisordinriasemedidasprovisrias

    75.Atosnormativosinfralegais:decretos,instruesnormativas,portarias,ordensdeservio

    CaptuloX-Interpretaoeaplicaodalegislaotributria

    76.Vignciaeaplicaodalegislaotributria

    77.Integraoeinterpretaodalegislaotributria

    78.Aplicaodosprincpiosdedireitotributrio,dedireitopblicoededireitoprivadoedasnormasdecoliso

    79.Analogiaeequidade

    CaptuloXI-Capacidade,cadastroedomiclio

    80.Capacidadetributria

    81.Cadastrosdecontribuintes

    82.Domicliotributrio

    CaptuloXII-Obrigaestributrias

    83.Asdiversasrelaesjurdicascomnaturezascontributiva,colaborativaoupunitiva

    84.Obrigaesprincipaiseacessrias

    85.Aspectosdanormatributriaimpositiva

    86.Hiptesedeincidnciaefatogerador

    87.Ocorrnciadosfatosgeradores

    88.Classificaodosfatosgeradores

    89.Planejamentotributrioenormatributriaantielisiva

    90.Sujeitoativo

    91.SujeitospassivosdasdiversasrelaesjurdicascomoFisco

    92.Solidariedade

    93.Contribuinte

    94.Substitutotributrio

  • 95.Responsveltributrio

    96.Responsabilidadedossucessores

    97.Responsabilidadedeterceiros,inclusivedosscios-gerenteseadministradores

    98.Responsabilidadesestabelecidaspelolegisladorordinrio

    CaptuloXIII-Ilcitotributrio

    99.Infraeslegislaotributriaepenalidades

    100.Multas

    101.Responsabilidadeporinfraeslegislaotributria

    102.Dennciaespontneaeexclusodaresponsabilidadeporinfraes

    CaptuloXIV-Constituiodocrditotributrio

    103.Naturezadocrditotributrio

    104.Existncia,exigibilidadeeexequibilidade

    105.Constituioouformalizaodocrditotributrio

    106.Declaraesdocontribuinteeoutrasconfissesdedbito

    107.Lanamentosdeofcio,pordeclaraoeporhomologao

    108.Lanamentoporarbitramentoouaferioindireta

    109.Liquidaonoprocessotrabalhista

    CaptuloXV-Suspensodaexigibilidadedocrditotributrio

    110.Hiptesesdesuspensodaexigibilidadedocrditotributrio

    111.Moratriaeparcelamento

    112.Impugnaoerecursoadministrativos

    113.Liminareseantecipaesdetutela

    114.Depsitodomontanteintegraldocrditotributrio

    115.Efeitosdasuspensodaexigibilidadedocrditotributrio

    CaptuloXVI-Exclusodocrditotributrio

    116.Naturezaeefeitosdaexclusodocrditotributrio

    117.Iseno

    118.Anistia

    CaptuloXVII-Extinodocrditotributrio

    119.Hiptesesdeextinodocrditotributrio

    120.Pagamento,jurosemultas

    121.Pagamentoindevidoesuarepetio

    122.Compensao

    123.Decadnciadodireitodelanar

    124.Prescriodaaoparaexecuodocrditotributrio

    CaptuloXVIII-Garantiaseprivilgiosdocrditotributrio

    125.Meiosdegarantiaeprivilgios

    126.Sujeiodopatrimniododevedorsatisfaodocrdito

  • 127.Bensabsolutamenteimpenhorveispordeterminaolegal

    128.Arrolamentoadministrativodebens

    129.Ineficciadasalienaesemfraudedvidaativa

    130.Indisponibilidadedosbens

    131.Prefernciadocrditotributrio,inclusivenarecuperaojudicialenafalncia

    132.Autonomiadaexecuodecrditotributriomesmohavendoconcursodecredores

    CaptuloXIX-Administraotributria

    133.rgosecarreirasdeadministraotributria

    134.Fiscalizaotributria

    135.Inscrioemdvidaativa

    136.Certidesnegativasdedbito

    CaptuloXX-Impostossobreopatrimnio

    137.ImpostosobrePropriedadedeVeculosAutomotores(IPVA)

    138.ImpostosobrePropriedadePredialeTerritorialUrbana(IPTU)

    139.ImpostosobrePropriedadeTerritorialRural(ITR)

    CaptuloXXI-Impostossobreatransmissodebens

    140.ImpostosobreTransmissoInterVivosdeBensImveisedeDireitosReaissobreImveis(ITBI)

    141.ImpostosobreTransmissoCausaMortiseDoao(ITCMD)

    CaptuloXXII-Impostosobrearenda

    142.ImpostosobreaRendaeProventosdeQualquerNatureza(IR)

    CaptuloXXIII-Impostossobreaatividadeeconmica

    143.ImpostosobreProdutosIndustrializados(IPI)

    144.ImpostosobreOperaesRelativasCirculaodeMercadoriasesobrePrestaodeServiosdeTransporteInterestadualeIntermunicipaledeComunicao(ICMS)

    145.ImpostosobreServiosdeQualquerNatureza(ISS)

    146.ImpostossobreOperaesdeCrdito,Cmbio,SeguroouRelativasaTtulosouValoresMobilirios(IOF)

    CaptuloXXIV-Impostossobreocomrcioexterior

    147.ImpostosobreImportao(II)

    148.ImpostosobreExportao(IE)

    CaptuloXXV-Contribuiessociais

    149.ContribuiesprevidenciriasdosseguradosdoRegimeGeraldePrevidnciaSocial

    150.Contribuiesprevidenciriasdoempregador,daempresaedaentidadeaelaequiparada

    151.Contribuiesdeseguridadesocialsobreareceita(PISeCofins)

    152.Contribuiesdeseguridadesocialdoimportador(PIS-ImportaoeCofins-Importao)

    153.ContribuiodeSeguridadeSocialsobreoLucro(CSL)

    CaptuloXXVI-Contribuiesdeintervenonodomnioeconmico

    154.ContribuiodeintervenonodomnioeconmicodestinadaaoIncra

    155.ContribuiodeintervenonodomnioeconmicodestinadaaoSebrae

  • 156.Contribuiodeintervenonodomnioeconmicosobreacomercializaodecombustveis

    CaptuloXXVII-Contribuiesdointeressedecategoriasprofissionaiseeconmicas

    157.Contribuioaosconselhosdefiscalizaoprofissional

    158.Contribuiosindical

    CaptuloXXVIII-Contribuiodecusteiodailuminaopblica

    159.ContribuiodeIluminaoPblicaMunicipal(CIP)

    CaptuloXXIX-Taxasdeservioedepolcia

    160.Taxadecoletadelixodomiciliar

    161.Taxadefiscalizao,localizaoefuncionamento

    CaptuloXXX-RegimedoSimplesDomstico

    162.Regimesimplificadoeunificadoderecolhimentodetributosparaoempregadordomstico

    CaptuloXXXI-RegimedoSimplesNacional

    163.RegimeSimplificadoeUnificadodeRecolhimentodeTributosparaMicroempresaseEmpresasdePequenoPorteSimplesNacional

    CaptuloXXXII-Processoadministrativo-fiscal

    164.Processoadministrativo-fiscalfederal

    165.Aofiscaleautuao

    166.Notificaeseintimaes

    167.Faselitigiosa:impugnao,instruoerecursos

    168.Nulidadesnoprocessoadministrativo-fiscal

    169.Processoadministrativo-fiscalestadual

    170.Processoadministrativo-fiscalmunicipal

    CaptuloXXXIII-Processojudicialtributrio

    171.AesajuizadaspeloFisco

    172.Medidacautelarfiscal

    173.Execuofiscal

    174.Exceodepr-executividade

    175.Embargosexecuo

    176.Aesajuizadaspelocontribuinteedemaisobrigados

    177.Mandadodesegurana

    178.Aodeclaratria

    179.Aoanulatria

    180.Aocautelardecauo

    181.Aoconsignatria

    182.Aoderepetiodeindbitotributrioedecompensao

    183.Conexoentreaestributrias

    CaptuloXXXIV-Direitopenaltributrio

    184.Criminalizaodecondutasligadastributao

  • 185.Crimestributriospraticadosporparticulares

    186.Princpiodainsignificncianoscrimescontraaordemtributria

    187.Ofalsocomocrime-meioeconsuno

    188.Constituiodefinitivadocrditotributriocomoelementoessencialdoscrimesmateriaiscontraaordemtributria

    189.Representaofiscalparafinspenais

    190.Aopenalpblica

    191.Suspensodapunibilidadepeloparcelamento

    192.Extinodapunibilidadepelopagamento

    193.ExtinodapunibilidadepelaregularizaocambialetributriadaLein.13.254/16

    194.Continuidadedelitivanoscrimescontraaordemtributria

    195.Descaminho

    196.Apropriaoindbitatributria

    197.Sonegaodetributos

    198.Falsificaodepapispblicostributrios

    199.Crimestributriospraticadosporfuncionriospblicos

    200.Excessodeexao

    201.Facilitaoaodescaminho

    202.Extravio,sonegaoouinutilizaodelivro,processooudocumentofiscal

    203.Corrupopassivafiscal

    204.Advocaciaadministrativafiscal

  • NotadoAutor

    OCurso de direito tributrio que voc tem em mos vem recebendo excelente acolhida junto

    comunidadejurdica.Acadaano,osprofessoresdeinmerasfaculdadespblicaseprivadas,renovando

    suasfontes,vmescolhendoestelivrocomobibliografiabsicadasdisciplinasdedireitotributrio.

    Trata-se de um curso bastante completo. So abordados os diversos temas relativos tributao.

    Analisodesdeasquestesconstitucionaisedenormasgerais,atos tributosemespcie,bemcomoo

    processoadministrativo-fiscal,asaesjudiciaisreferentestributaoeoscrimestributrios.

    Tratodoselementosnecessriosaoconhecimentodosfundamentos,docontedoedaaplicabilidade

    do direito tributrio. Procuro expor os conceitos essenciais, as classificaes que facilitam a

    compreensodamatria,ascaractersticasdecadainstitutojurdicoeseusefeitosprticos.

    SigoaadvertnciadeORTEGAedeSAINZDEBUJANDA,dequeaclarezaacortesiaintelectual.

    Aclarezanopensarobrigaamentearealizarumesforodestinadoaalcanaraessnciadascoisase

    orden-las em um sistema. A clareza no dizer exige o manejo da linguagem com um cuidado

    especialssimoparaqueseeviteovocbuloobscuroouequvoco.

    Estelivrofoiescritoparaquesualeiturasejaagradveleproveitosa!

    LeandroPaulsen

  • CaptuloI

    Tributao,direitotributrioetributo

    1.Origemdatributaoedasualimitao

    O Estado, como instituio indispensvel existncia de uma sociedade organizada, depende de

    recursosparasuamanutenoeparaa realizaodosseusobjetivos. Isso independeda ideologiaque

    inspireasinstituiespolticas,tampoucodoseuestgiodedesenvolvimento.

    A tributao inerente ao Estado, seja totalitrio ou democrtico. Independentemente de o Estado

    servirdeinstrumentodasociedadeouservir-sedela,abuscaderecursosprivadosparaamanutenodo

    Estadoumaconstantenahistria.

    ALIOMARBALEEIRO,nasuaclssicaobraUmaintroduocinciadasfinanas,destacavaque,

    paraauferirodinheironecessriodespesapblica,osgovernos,pelotempoafora,socorrem-sedeuns

    poucosmeios universais, quais sejam, a) realizam extorses sobre outros povos ou deles recebem

    doaes voluntrias; b) recolhem as rendas produzidas pelos bens e empresas do Estado; c) exigem

    coativamentetributosoupenalidades;d)tomamouforamemprstimos;e)fabricamdinheirometlicoou

    depapel.TodososprocessosdefinanciamentodoEstadoseenquadramnestescincomeiosconhecidos

    h sculos. Ensinava, ainda, que essas fontes de recursos oferecem mritos desiguais e assumem

    importnciamaioroumenor,conformeapocaeascontingncias1..

    Osproblemasrelacionadostributao,desdecedo,despertaramanecessidadedecompatibilizao

    daarrecadaocomorespeitoliberdadeeaopatrimniodoscontribuintes.Porenvolverimposio,

    poder, autoridade, a tributao deu ensejo a muitos excessos e arbitrariedades ao longo da histria.

    Muitas vezes foi sentida como simples confisco. No raramente, a cobrana de tributos envolveu

    violncia,constrangimentos,restrioadireitos.

  • Essacondiodedemasiadasujeioemqueseviamoscontribuintes,associadaindignaocomas

    diferenassociaisecomodestinoqueeradadoaosrecursos,despertoumovimentospelapreservaoda

    propriedade e da liberdade, de um lado, e pela participao nas decises pblicas, de outro. Vale

    fazermos uma breve retrospectiva histrica e relembrarmos alguns marcos relacionados tributao,

    seguindoocritriocronolgico.

    Destaca-seaextraordinriaprecocidadedePortugaleEspanhaaocriarosmecanismosjurdicosde

    limitao do poder fiscal do rei [...] oFuero Juzgo, os forais e as cortes so fontes, instrumentos e

    instituiesiniciaisdereconhecimentodaliberdade,deafirmaodanecessidadedoconsentimentodas

    forassociaisedelimitaodopodertributrio,quejaparecemconsolidadosnosculoXII2..

    Noinciodosculoseguinte,em1215,naInglaterra,osbareseosreligiosos impuseramaMagna

    Carta para conter o arbtrio do rei, estabelecendo a separao de poderes. Quanto imposio de

    tributos,consentiramquefossemcobrados trs tributos tradicionalmenteadmitidos(visandoaoresgate

    doreieporforadainvestiduradoprimeirofilhocomocavaleiroedomatrimniodaprimeirafilha),

    mas estabeleceram que a cobrana de qualquer outro fosse previamente autorizada por um conclio,

    incluindooscutage,montantecobradopelanoprestaodoserviomilitar3.4.5..

    As principais enunciaes de direitos tambm restringiram demodo expresso o poder de tributar,

    condicionando-o permisso dos contribuintes, mediante representantes. Tal constou do Statutum de

    TallagiononConcedendo,expedidoem1296porEduardoI,posteriormenteincorporadoPetitionof

    Rights,de1628.

    AConstituiodosEstadosUnidosdaAmrica,de1787,estabeleceuopoderdoCongressoeno

    doExecutivoparaestabelecer tributos.Seno,vejamos:TheConstitutionof theUnitedStatesof

    America ARTICLE I [...] SECTION 8. TheCongress shall have the power to lay and collect taxes,

    duties,impostsandexcises,topaythedebtsandprovideforthecommondefense,andgeneralwelfare

    oftheUnitedStates;butallduties,impostsandexcisesshallbeuniformthroughouttheUnitedStates

    [...]6..

    Na Declarao francesa dos Direitos do Homem e do Cidado, de 1789, resta estampado que os

    tributos devem ser distribudos entre os cidados e dimensionados conforme as suas possibilidades,

    tendo eles o direito de avaliar a necessidade das contribuies e com elas consentir atravs de seus

  • representantes7..

    Passou-se, assim, a compatibilizar a tributao como poder do Estado de buscar recursos no

    patrimnio privado com os direitos individuais. As constituies mais recentes enunciam a

    competncia tributriacomalgumdetalhamentoeestabelecemlimitaesaopoderde tributar.Quando

    umaConstituiodizquaisos tributosquepodemser institudos,qualoveculo legislativonecessrio

    paratantoedemaisgarantiasaseremobservadas,sabe-se,acontrariosensu,queoquedalidesborda

    invlido.

    Antes de concluirmos nossas breves referncias histricas quanto s reaes tributao, vale

    destacar ainda que os excessos da tributao e divergncias quanto aplicao dos recursos tambm

    estiveramnaraizderevoluesemovimentosocorridosemterritriobrasileiro.Aimposiodecarga

    tributriademasiada, incompatvel coma capacidadedepagamentodos contribuintes, e a ausnciade

    investimentos proporcionais nos locais onde arrecadados os tributos foram causas concorrentes de

    movimentospelaindependnciaetambmdecunhoseparatista.

    Aprpriaindependnciabrasileiratemesseingrediente.Noperodoimperial,ochamadoquintodos

    infernos mostrou-se insuportvel. Os relatos acerca da InconfidnciaMineira revelam isso. JORGE

    CALDEIRAdestacaque: Desdeadescobertadoouro,ogovernoportugusalterou inmerasvezeso

    sistema de cobrana de impostos nas minas. Em 1750, foi estabelecido que os mineiros pagariam a

    quantiafixadecemarrobas(cercade1.500quilos)anuais,encarregando-seelesmesmosdecoletaro

    valor.Comodeclniodaproduo,noentanto,ovalortotalnovinhasendoatingidodesde1763.Nos

    primeiros anos emque a contribuio voluntria no atingiu o limite, o governo recorreu a derramas.

    Porm,comoaquantiaarrecadadaficavaprximado limite,oexpedientenochegavapropriamentea

    provocar revoltas. A chegada do governador Cunha Meneses coincidiu com uma grande queda na

    produo do ouro e na arrecadao do quinto.Mal emal, conseguia-se arrecadar ametade do valor

    previsto.Paraaumentaraarrecadao(ogovernadorficavacompartedoexcedente),Menesesrecorreu

    atodososexpedientespossveis.Passouaperseguir,chantagearaprendercidados.Renovouacobrana

    deimpostosantigosejcadosemdesuso,comoadosdonativosparaareconstruodeLisboa.Com

    isso,ganhouodiodoshabitantesdolugar...Oarbtrioporpartedogovernologoteveconsequncias.A

    combinao de economia estrangulada com aumento de impostos era explosiva e incentivava ideias

    ousadas, sobretudo quando se meditava sobre o que haviam conseguido os norte-americanos... A

  • crescente falta de alternativas econmicas acabou levando a elitemineira a considerar a ideia de um

    movimentorevolucionrio.Em1788,osboatossobreaderramaproduziramoelementoquefaltavapara

    adeciso8..

    A derrama foi a cobrana abrupta e violenta dos quintos atrasados. A Inconfidncia Mineira foi

    contida,resultandonamorteenoesquartejamentodeJoaquimJosdaSilvaXavier,oTiradentes,queera

    omaisfrgildentreosconjurados,nasuamaiorparteintelectuaispertencenteselitecolonial9..Eo

    movimentoacaboupornoalteraremnadaaseveraexploraolusitana,que,almdosimpostossobre

    ooutro,exigiaimpostossobreaentradademercadoriasnaregio,semcontaraviolentacargatributria

    geral,eaviolnciadosprprioscobradoresdostributos10..Masoidealdeindependnciaganhouum

    mrtir.

    Aps a independncia, a situao se repetiu, agora no mais entre Colnia e Imprio, mas entre

    provnciasegovernocentral.ANTNIOAUGUSTOFAGUNDES,analisandoaRevoluoFarroupilha,

    aponta a tributao exagerada, associada ausncia de contrapartida, como causas econmicas do

    movimento:AProvnciadeSoPedrodoRioGrande,desdeantesdaIndependnciadoBrasil (7de

    setembrode1822),eravistacomoaestalagemdoImprio.ACortelevavaamaiorpartedosimpostos

    arrecadadosaquienoinvestiaemnada.Deixavaomnimo,queapenasserviaparapagaramanuteno

    dasestruturaspblicas.Eera impostoatrsde imposto:sobreogadoemp,sobrea lguadecampo,

    sobreocharque,sobreocouro,sobreaerva-matetudo!11..

    A revoluo conduzida por Bento Gonalves eclodiu em 20 de setembro de 1835, resultou na

    proclamaodaRepblicaRio-Grandenseem1836,masacabouatravsdoTratadodoPonchoVerdeem

    1845,quandooRioGrandefoireintegradoaoImpriomediantecondies.

    Atualmente, no temos movimentos ativos ameaando nossa unidade poltica. Mas a tributao

    continuaaserelementodeconflitoentreosentesfederados,tantoemrazodaconcentraodemasiada

    derecursosnasburrasdaUniocomonoquesetemnomeadodeGuerraFiscal.OsEstados-Membrose

    tambm osMunicpios utilizam-se da concesso de benefcios fiscais (isenes, crditos presumidos

    etc.)oudealquotasreduzidasparaobteremvantagenscompetitivasperanteosdemais.Aindaquecoma

    finalidadelouvveldeaumentarodesenvolvimentolocalatravsdaatraodenovosinvestimentoseda

    consequente gerao de empregos, certo que, muitas vezes, isso d ensejo simples migrao de

    unidadesprodutivasdeumEstadoparaoutrooudeumMunicpioparaoutrodentrodeummesmoEstado,

  • maculandoessaspolticascomumcarterfratricida12..

    Se a tributao inafastvel, que se d de modo equilibrado, observando limites, princpios e

    critriosquepreservemaseguranaequepromovamajustiaeasolidariedade.

    2.Atributaocomoinstrumentodasociedade

    Omododeveratributaoalterou-semuitonasltimasdcadas.Jnosesustentamossentimentos

    depura e simples rejeio tributao.A figuradeRobinHood,queemalgumasverses atacavaos

    coletoresdeimpostosparadevolverodinheiroaopovo,hojejnofazsentido.

    Atributao,emEstadosdemocrticosesociais,instrumentodasociedadeparaaconsecuodos

    seusprpriosobjetivos.PagartributonomaisumasubmissoaoEstado,tampoucoummalnecessrio.

    ConformeensinouOLIVERWENDELLHOLMESJR.,Taxesarewhatwepayforcivilizedsociety.

    MARCO AURLIO GRECO ressalta a importncia de se evoluir de uma viso do ordenamento

    tributriomeramenteprotetivadocontribuinteparaoutraqueneleenxergueaviabilizaodaspolticas

    sociais.TransitamosdopuroEstadodedireito,emqueseopunhamnitidamenteEstadoeindivduo,para

    umnovoEstado,aindadedireito,mastambmsocial,comoestampaoart.1odanossaConstituioda

    Repblica.Issodlugaraumarealidadequecongregaaliberdadecomaparticipaoeasolidariedade.

    DemonstraqueaConstituiobrasileirade1967foiumaConstituiodoEstadobrasileiro,enquantoa

    de1988dasociedadebrasileira.Naquela,emprimeirolugarestavaaorganizaodopoder;nesta,os

    direitosfundamentaistmprecedncia.Naquela,tnhamosumaConstituiodoEstadobrasileiro,emque

    primeiro se dispunha sobre a estrutura do poder, seus titulares, suas prerrogativas e sobre os bens

    pblicos, para s ento cuidar da tributao como simples suporte doEstado, aparecendo os direitos

    fundamentaisapenasaoseufinal,comoumresguardodevidosociedadecivil.NaConstituiode1988,

    apessoahumanaassumepapelcentral,enunciando-se,jemseuincio,direitosfundamentaisesociais,e

    funcionalizando-se a tributaomediante um novomodo de outorga de competncia tributria em que

    ganharelevnciaajustificaodatributaoemfunodasuafinalidade.

    Alis,restaclaraaconcepodatributaocomoinstrumentodasociedadequandosoelencadosos

    direitos fundamentais e sociais e estruturado o Estado para que mantenha instituies capazes de

    proclamar,promovereassegurartaisdireitos.Nohmesmocomoconceberaliberdadedeexpresso,a

    inviolabilidadeda intimidade e da vida privada, o exerccio dodireito de propriedade, a garantia de

  • igualdade,alivreiniciativa,aliberdadedemanifestaodopensamento,alivrelocomooe,sobretudo,

    a ampla gama de direitos sociais, seno no bojo de um Estado democrtico de direito, social e

    tributrio13.. Percebe-se que a incidncia tributria uma circunstncia conformadora do meio

    ambiente jurdiconoqual sonormalmente exercitadososdireitosde liberdadeedepropriedadedos

    indivduos14..Diga-se,ainda:nohdireitosemEstado,nemEstadosemtributo15..

    ingenuidade, fundada na incompreenso do papel da tributao numa democracia, a assuno de

    posiesferrenhasafavoroucontraoFisco.Efetivamente:Deve-seafastar...aconceponegativada

    tributaocomonormade rejeio socialoudeopressodedireitos (emverdade, a tributaouma

    condioinafastvelparaagarantiaeefetivaotantodosdireitosindividuaiscomodossociais)16..A

    tributao inafastvel.Oque temosdebuscar que seddemodo justo, com respeito sgarantias

    individuaiseempatamaradequadoaosacrifcioqueasociedadeestdispostaafazeremcadamomento

    histrico, de modo que sirva de instrumento para que se alcancem os objetivos relacionados

    solidariedade sematentar contra a segurana e a liberdade.Noporoutra razoque JOSSOUTO

    MAIORBORGESadvertequeainterpretaoeaplicaodasnormasfiscaisnodeveserapriorinem

    prFisconemcontraFisco17..

    3.Osdeveresfundamentaisdepagartributosedecolaborarcomatributao

    Contribuir para as despesas pblicas constitui obrigao de talmodo necessria no mbito de um

    Estado de direito democrtico, em que as receitas tributrias so a fonte primordial de custeio das

    atividadespblicas,queserevelanaConstituioenquantodeverfundamentaldetodososintegrantesda

    sociedade.Somos,efetivamente,responsveisdiretosporviabilizaraexistnciaeofuncionamentodas

    instituiespblicasemconsonnciacomosdesgniosconstitucionais18..

    Odeverdecontribuirnosimplesconsequnciadoqueestabelecealeiaoinstituirtributos,seno

    seufundamento,conformejadvertiaBERLIRIemsuaobraPrincipididirittotributario19..

    A prpriaDeclarao dosDireitos doHomem e doCidado de 1789 j enunciara esse dever nos

    termos do seu art. 13: Para a manuteno da fora pblica e para as despesas da administrao

    indispensvelumacontribuiocomumquedeveserrepartidaentreoscidadosdeacordocomassuas

    possibilidades20..ADeclarao Interamericana dosDireitos eDeveres doHomem, aprovada na IX

    ConfernciaInternacionalAmericanaem1948,porsuavez,traz,emseuart.XXXVI:Todapessoatemo

  • dever de pagar os impostos estabelecidos pela lei para a manuteno dos servios pblicos. A

    cidadania,efetivamente,umaviademodupla.Entende-seodeverfundamentaldepagartributoscomo

    aoutra faceoucontrapartidadocarterdemocrticoesocialdoEstadoqueasseguraaoscidadosos

    direitosfundamentais.

    VANONIafirmava:Laactividadfinanciera, lejosdeserunaactividadquelimitalosderechosyla

    personalidaddelparticular,constituyesupresupuestonecesario,puestoquesintalactividadnoexistira

    EstadoysinEstadonoexistiraderecho21..Ademais, recordaumadecisodoTribunaldeTurimem

    quefoidito:lastasaslibrementevotadasyconformesalanecesidaddelEstadorepresentanelorden,la

    libertad,lajusticia,laseguridad,labeneficencia,elejrcito,laarmada,laindependencia,elhonordela

    patria22..NamesmalinhaaliodeKLAUSTIPKEeDOUGLASYAMASHITA:Odeverdepagar

    impostosumdeverfundamental.Oimpostonomeramenteumsacrifcio,massim,umacontribuio

    necessriaparaqueoEstadopossacumprirsuastarefasnointeressedoproveitosoconvviodetodosos

    cidados23..TambmJOSCASALTANABAISenftico:Comodeverfundamental,oimpostono

    pode ser encarado nem como ummero poder para o Estado, nem como ummero sacrifcio para os

    cidados,constituindoantesocontributoindispensvelaumavidaemcomunidadeorganizadaemEstado

    fiscal. Um tipo de Estado que tem na subsidiariedade da sua prpria aco (econmico-social) e no

    primadodaautorresponsabilidadedoscidadospeloseusustentooseuverdadeirosuporte24..

    Assim que podemos falar em dever fundamental de pagar tributos! ALESSANDRO MENDES

    CARDOSOdestacaqueocumprimentodessedeverestdiretamentevinculadopossibilidadeconcreta

    de efetivao dos direitos fundamentais assegurados aos cidados brasileiros. Ao invs de uma

    dualidadedireitox dever, tem-senaverdadeuma interface, emqueodeverde contribuirde cadaum

    correspondeaumdireitodosdemais.Trata-sedeumaverdadeiraresponsabilidadesocialenomaisde

    simplesdeveremfacedoaparatoestatal.Aosesonegartributosdevidos,ocontribuintenoestapenas

    descumprindoumaexigncialegalexigvelpelasautoridadesfazendrias,mastambm,eprincipalmente,

    quebrandooseuvnculoderesponsabilidadecomasociedade25..

    Masoexerccioda tributaoexigeaindamais.Paraviabilizar-se,necessitadeamplacolaborao

    doscidados.Suasobrigaes,porisso,noselimitamacontribuirparaoerrioquandodaprticade

    umfatogeradorreveladordecapacidadecontributiva.Acolaboraotemummbitomaior,envolvendo

    tambmumagrandepluralidadedeoutras obrigaesoudeveresque tornampossvel o conhecimento

  • quanto ocorrncia dos fatos geradores para fins de fiscalizao e lanamento dos tributos e que

    inclusive facilitam, asseguram e garantem sua arrecadao. Ademais, alcana inclusive quem no

    chamadoasuportaropagamentodetributosporquenorevelacapacidadecontributivaenopraticaos

    fatos geradores ou porque beneficirio de iseno ou de imunidade, seja para que o Fisco possa

    verificaropreenchimentodosrequisitosparaadesoneraoouporqueestprximodecontribuintesde

    quemtenhainformaesourelativamenteaosquaispossarealizarretenes,dentreoutrascolaboraes

    teisquepossaprestaremrazodassuasatividades26..

    Acolaboraocoma tributaoe,atmesmo,aparticipaoativadoscidadosparamelhorarseu

    gradodeeficaciayoperatividadesuafuncionalidadjustificam-seporqueatributaoenvolveno

    somenteosinteressesdoerriocomocredoredocontribuintecomogravado,senotambmointers

    jurdicode la colectividadque, conbase en laConstitucin, se traduceen el intersdeque todos

    contribuyanalsostenimientodelascargaspblicasconformeasucapacidadeconmica27..

    Estasobrigaes,fundadasnodeverdecolaborao28.,emgeralaparecemcomoprestaesdefazer,

    suportar ou tolerar normalmente classificadas como obrigaes formais ou instrumentais e, no direito

    positivo brasileiro, impropriamente como obrigaes acessrias29.. Por vezes, aparecem em normas

    expressas, noutras demodo implcito ou a contrario sensu, mas dependem sempre de intermediao

    legislativa.Taisobrigaes,ademais,soimpostasinclusiveaquemnocontribuinte.

    NumEstadoque instrumentodaprpriasociedadeequevisagarantiaepromoodedireitos

    fundamentaisatodos,humdevergeraltantodecontribuircomodefacilitaraarrecadaoedeatuarno

    sentidodeminimizarodescumprimentodasprestaestributriasprpriasealheias30..

    Alguns deveres atribudos aos prprios contribuintes poderiam, verdade, encontrar suporte no

    cartercomplexodaobrigaotributriaenodeverdecooperaodoobrigadoaopagamento,dosquais,

    comoemqualqueroutroramododireito,jsepoderiaextrairdeveresacessriosesecundrios,fortena

    consideraodaobrigaocomoprocessoenoprincpiodaboa-f.Masissonojustificariaosdeveres

    impostosaterceirosnocontribuintes.

    Poder-se-ia, tambm, invocaro adgiodeque quempodeomaispodeomenos.Seo legislador

    podeimporopagamentodetributos,tambmpodeimporoutrasobrigaesoudeveresquenosoto

    onerosos, mas que tambm so de suma importncia para o exerccio da tributao. Desse modo,

  • contudo, os deveres de colaborao continuariam tendo como esteio o dever fundamental de pagar

    tributos,oquenonospareceseafeioarsuarealnatureza.

    Falamosdedeveresquesepodemimporemcarteroriginriopelosimplesfatodequealgumintegra

    determinadasociedadee tem, ladoa ladoenodemododerivado,osdeveres fundamentaisde

    pagartributosedecolaborarcomoquemaissejanecessrioeestejaaoseualcanceparaosucessoda

    tributao. O dever de colaborao originrio e independente da existncia de uma obrigao de

    pagamentoespecfica, temcarterautnomo,nosecuidandodemerodesdobramentooucomplemento

    do dever fundamental de pagar tributos. Decorre diretamente do princpio do Estado de direito

    democrticoesocial.

    ALIOMAR BALEEIRO j referia a colaborao de terceiros, explicando: A manifestao da

    existncia,quantidadeevalordascoisaseatossujeitostributaocometidaporlei,emmuitoscasos,

    a terceiros, que, sob penas ou sob a cominao de responsabilidade solidria, devem prestar

    informaes,fiscalizare,noraro,arrecadarotributo31..

    A figura do dever fundamental de pagar tributos insuficiente para explicar a imposio de

    obrigaesanocontribuintes,dondeadvmaimportnciadeseterclaroodeverdecolaboraocoma

    tributao,quedetodos,contribuintesouno.Oprimeirofocanacapacidadecontributivadaspessoas;

    osegundo,nasuacapacidadedecolaborao.Sobaperspectivadodeverfundamentaldepagartributos,

    sorelevantesasmanifestaesderiqueza;sobaperspectivadodeverfundamentaldecolaboraocom

    a tributao, a possibilidade de aportar informaes ou de agir de outro modo para o seu bom

    funcionamento.

    Osdeveresdecolaboraotmumfundamentoconstitucionalprprio,talcomoodeverfundamental

    de pagar tributos, baseados ambos no Estado de direito democrtico. No apenas o dever de pagar

    tributos,mastambmtodaaamplavariedadedeoutrasobrigaesedeveresestabelecidosemfavorda

    administrao tributria para viabilizar e otimizar o exerccio da tributao, encontram base e

    legitimao constitucional.O chamamento de todos,mesmo dos no contribuintes, ao cumprimento de

    obrigaescomvistaaviabilizar,a facilitareasimplificara tributao,dotando-adapraticabilidade

    necessria,encontrasuportenodeverfundamentaldecolaboraocomaadministraotributria.

    4.Acargatributria,odireitoinformaoeoscustosdeconformidade

  • Acargatributriaemumpasarelaopercentualentreovolumedetributosarrecadadoseototal

    dariquezaproduzida(ProdutoInternoBrutoPIB).

    OInstitutoBrasileirodePlanejamentoTributrio(IBPT)realizaperiodicamenteestudosobreacarga

    tributriabrasileira32.,tendoverificadoque,em2011,oPIBfoiumpoucomaiorque4trilhesdereais,

    equeaarrecadaotributriachegouaquase1,5trilhodereais,oqueimplicouumacargatributriade

    36,02%doPIB33..Segundoomesmoinstituto,em2012,aarrecadaofoiaindamaior,chegandoa1,59

    trilhodereais,equivalentesa36,27%doPIB.

    Em2015,oPIBbrasileirochegoua5,9 trilhes,comvalorpercapita deR$28.876,00, conforme

    dadosdoIBGE.Nossacargatributria,atualmente,estemtornode35%.

    Entre os pases com maior carga tributria esto a Sucia (46,4%), a Noruega (43,6%), a Itlia

    (42,6%),aAlemanha(40,6%),aDinamarca(39%)eaFrana(38,6%).Poroutrolado,naCoreiadoSul,

    de26,80%;noUruguai,23,1%;naArgentina,37,62%.

    OsdadosdoPIB/2011edoIDH/2014apontamqueanossacargatributria(34,4%)muitoprxima

    dadoReinoUnido(34%)edaqueladaEspanha(37,3%),masqueonossondicedeDesenvolvimento

    Humano(IDH)de0,755,enquantooReinoUnidoapresentaIDHde0,907,eaAlemanha,de0,91634..

    HpasescomoosEstadosUnidoseoJapo,comIDHsuperiora0,9,quetmcargatributriaentre25e

    30%.

    ALein.13.255/16estimouareceitadaUnioparaoexercciofinanceirode2016.Areceitarelativa

    aoOramento Fiscal (referente aos poderes daUnio, seus fundos, rgos daAdministrao Pblica

    Federaldiretaeindireta,inclusivefundaesinstitudasemantidaspelopoderpblico)foiestabelecida

    em quase 1,5 trilho de reais, precisamente R$ 1.425.398.520.951,00. A receita do Oramento da

    SeguridadeFiscal(abrangendotodasasentidadesergosaelavinculados,daAdministraoPblica

    Federaldireta e indireta,bemcomoos fundose fundaes institudosemantidospelopoderpblico)

    ficou em quase 650 bilhes: R$ 643.147.536.053,00. Somando-se a essas receitas mais quase 900

    milhesdereaisderefinanciamentodadvidapblicafederal,exatosR$885.000.330.304,00,chegou-se

    aumaestimativatotaldereceitasedespesasdequase3trilhesdereais:R$2.953.546.387.308,00.E

    note-se que estamos falando apenas do oramento da Unio, e no do oramento dos Estados e dos

    Municpios.Outrosdados interessantesconstantesda leioramentria foramaprevisodequeseriam

  • remanejados 222 bilhes de reais do oramento fiscal para complementar as despesas da seguridade

    social e adequeooramentode investimentos ficouemapenas97bilhesde reais, cercade3%da

    receita.

    interessanteobservaracomposiodooramento.Em2010,por exemplo,dentre as receitasdo

    oramento fiscal e da seguridade social, as diversas espcies de tributos, incluindo as contribuies,

    corresponderam a aproximadamente 85%, o restante ficando por conta de receitas patrimoniais, de

    servios, e de outras receitas correntes etc. As contribuies respondem pela maior parte da

    arrecadao,comdestaqueparaascontribuiesdeseguridadesocialsobrearemuneraodesegurados

    esobreofaturamento.Osimpostostmmuitaimportnciatambm,principalmenteoImpostodeRenda,

    que,dentreosimpostos,oqueapresentamaiorarrecadao(69%),bemacimadosdemais,seguidode

    longepeloIPI(13,5%),peloIOF(9,6%)epeloII(7,6%).Astaxassobemmenosexpressivas,ficando

    abaixode 1%do total da arrecadao, se considerados todos os tributos, inclusive contribuies.Na

    arrecadaodastaxas,asdeexercciodopoderdepolcia,em2010,corresponderama85%,cabendos

    taxasdeserviosapenas15%35..

    Comoformadeprotestocontraaaltacargatributriabrasileiraevisando,tambm,conscientizao

    dapopulaoacercadostributosquesuporta,asociedadeciviltemorganizadooDiadaLiberdadede

    Impostos ao final de maio de cada ano, para simbolizar o momento em que, proporcionalmente, as

    pessoasdeixamde trabalharparaogoverno(atravsdopagamentode impostos)epassama trabalhar

    para si prprias (apropriando-se da riqueza que geram). Em Porto Alegre, o ato organizado pelo

    InstitutoLiberdadeepeloInstitutodeEstudosEmpresariais,entreoutrasinstituies.Nessedia,vende-

    segasolinaporaproximadamenteametadedopreo,expurgando-odostributosquesobreelaincidem.

    Em2013,ocorreuem22demaio,tendosidocomercializadaagasolinaporR$1,50.

    A Constituio Federal, em seu art. 150, 5o, ao dispor sobre as garantias fundamentais do

    contribuinte, estabelece: A lei determinar medidas para que os consumidores sejam esclarecidos

    acerca dos impostos que incidam sobre mercadorias e servios. Cumprindo tal mister, a Lei n.

    12.741/12 determina que os documentos fiscais de venda de mercadorias e servios ao consumidor

    deveroindicara informaodovaloraproximadocorrespondente totalidadedos tributosfederais,

    estaduaisemunicipais,cujaincidnciainfluinaformaodosrespectivospreosdevenda.Devemser

    computados, quando pertinentes, o Imposto sobreOperaes relativas Circulao deMercadorias e

  • sobrePrestaesdeServiosdeTransporteInterestadualeIntermunicipaledeComunicao(ICMS),o

    ImpostosobreServiosdeQualquerNatureza(ISS),oImpostosobreProdutosIndustrializados(IPI),o

    ImpostosobreOperaesdeCrdito,CmbioeSeguro,ouRelativasaTtulosouValoresMobilirios

    (IOF) e as contribuies sobre a receita (PIS e Cofins), bem como a contribuio de interveno no

    domnioeconmicoincidentesobreaimportaoeacomercializaodepetrleoeseusderivados,gs

    naturaleseusderivados,elcooletlicocombustvel(Cide-combustveis).Quandooprodutoenvolver

    insumos ou contiver componentes importados, que forem relevantes para a formao do seu preo

    (superior a 20%), tambm sero informados os valores do Imposto sobre a Importao (II) e das

    contribuies incidentes sobre a importao (PIS/Cofins-Importao).Quando se tratar de produto ou

    serviodecujopreoopagamentodepessoalconstituircustodireto,serodivulgadasascontribuies

    previdenciriasdosempregadosedoempregador.

    Alis, passou a ser direito bsicodo consumidor a informao adequada e clara no apenas sobre

    quantidade,caractersticas,composio,qualidade,preoeriscosqueapresentemosdiferentesprodutos

    e servios, mas tambm sobre os tributos incidentes, nos termos do art. 6o, inciso III, da Lei n.

    8.078/90. A Lei n. 13.111/15 traz dispositivos especficos para o mercado de veculos automotores,

    obrigando os empresrios a informarem ao comprador o valor dos tributos incidentes sobre a

    comercializaodoveculo,inclusivesobpenadearcaremcomovalorcorrespondente.

    Apardacargatributriaedaconscinciaquedela tivermos,fortenodireito informao, importa

    atentarmos,tambm,paraoscustosdatributao.ComoadverteAldoVicenzoBertolucci,nosedeve

    confundircargatributria,baixaoualta,comaracionalidadeouacaoticidadedosistematributrio36.e,

    portanto,comoscustosqueimplica.

    Hoscustosoperacionaisdatributao,quepodemserdivididosemcustosadministrativosecustos

    deconformidade37..Oscustosoperacionaisadministrativossoosincorridospelopoderpblicopara

    oexercciodatributao,envolvendoostrspoderes,porquantoimplicalegislar,fiscalizarearrecadar

    tributos e, tambm, processar as execues fiscais e demais aes relativas tributao. Os custos

    operacionais de conformidade so os incorridos pelas pessoas para o cumprimento de obrigaes

    tributriasprincipaiseacessrias.

    O termo conformidade indica colocar-se de acordo com o que lhe exige a legislao tributria,

    adequar-ses imposiesde tal legislaoparacumpri-la.SegundoAlcidesJorgeCosta,oscustosde

  • conformidade so aqueles em que incorrem os contribuintes para cumprir todas as formalidades que

    lhessoexigidaspelalegislaotributria.

    Essescustosenvolvemassessoriacontbilejurdica,recursosmateriaisehumanosparaamanuteno

    de escrita fiscal, emisso de documentos e prestao de declaraes fiscais, envolvimento com

    processosadministrativosfiscaisejudiciaisrelacionadosquestotributriaetc.Issosemfalarnocusto

    deoportunidadecorrespondenteaotempoutilizado,atenodispensadaecapacidadeaplicadapelas

    pessoas para se dedicarem ao cumprimento das obrigaes tributrias enquanto poderiam estar

    investindonageraode riquezas.E,ainda,aansiedadeea inseguranaqueasujeio fiscalizao

    tributriaacarreta.

    A convivncia do contribuinte com trs entes polticos dotados de competncia tributria, com

    legislaeseadministraestributriasprprias,associadaaonmerodetributosesuacomplexidade

    (detalhes, clusulas de exceo, combinao dos regimes cumulativo, no cumulativo,monofsico, de

    substituio simultnea, para a frente ou para trs, e hipteses de responsabilidades tributrias), bem

    comosconstantesalteraesquealegislaorecebe,implicacustosdeconformidademuitoelevados.

    Areduodetaiscustosdeveconstituirmetapermanenteparaasadministraestributrias,demodo

    que o sistema tributrio como um todo seja mais eficiente. A reduo do nmero de tributos, maior

    estabilidadedalegislao,areduodasclusulasdeexceoeadisponibilizaodeinformaomais

    acessveleclarasoinstrumentosparatanto.

    5.Fiscalidade38.eextrafiscalidade

    NaConstituioFederalbrasileira,ostributosfiguramcomomeiosparaaobtenoderecursospor

    parte dos entes polticos. Ademais, como na quase totalidade dos Estados modernos, a tributao

    predominacomofontedereceita,demodoquesepodefalarnumEstadofiscalounumEstadotributrio,

    assim compreendido o Estado cujas necessidades financeiras so essencialmente cobertas por

    impostos39..

    Os tributossoefetivamenteaprincipal receita financeiradoEstado,classificando-secomoreceita

    derivada (porque advinda do patrimnio privado) e compulsria (uma vez que, decorrendo de lei,

    independem da vontade das pessoas de contriburem para o custeio da atividade estatal). Em geral,

    portanto, possuem carter fiscal, devendo pautar-se essencialmente pelos princpios da segurana, da

  • igualdadeedacapacidadecontributiva.Mas,comoostributossempreoneramassituaesouoperaes

    sobre as quais incidem, acabam por influenciar as escolhas dos agentes econmicos, gerando efeitos

    extrafiscais,eporvezessoinstitudosoudimensionadosjustamentecomesseobjetivo40..

    Emfacedapresenasimultneadeefeitos fiscaiseextrafiscais,poderesultardifcilclassificarum

    tributoporessecritrio41..Costuma-sefaz-loematenoaoseucarterpredominante42..Diz-seque

    se trata de um tributo com finalidade extrafiscal quando os efeitos extrafiscais so no apenas uma

    decorrnciasecundriadatributao,masdeliberadamentepretendidospelolegislador43.,queseutiliza

    do tributo como instrumento para dissuadir ou estimular determinadas condutas44.. Conforme PAULO

    DEBARROSCARVALHO,vezessemcontaacomposturadalegislaodeumtributovempontilhada

    de inequvocas providncias no sentido de prestigiar certas situaes, tidas como social, poltica ou

    economicamentevaliosas,squaisolegisladordispensatratamentomaisconfortveloumenosgravoso.

    Aessaformademanejarelementosjurdicosusadosnaconfiguraodostributos,perseguindoobjetivos

    alheiosaosmeramentearrecadatrios,d-seonomedeextrafiscalidade45..

    Hdispositivosconstitucionaisqueautorizamdemodoinequvocoautilizaoextrafiscaldetributos:

    nasexceessanterioridadesdeexerccioe/ounonagesimalmnimaenasatenuaeslegalidade

    relativamenteaimpostoscapazesdeatuarcomoreguladoresdaproduodebens(IPI),docomrcio

    internacional(IIeIE)edademandamonetria(IOF),atribuindo-seaoExecutivoprerrogativaspara

    agilalteraodalegislaorespectiva;

    naprevisodequeosimpostossobreapropriedadepredialeterritorialurbana(IPTU)eterritorial

    rural(ITR)sejamutilizadosdemodoainduzirocumprimentodafunosocialdapropriedade(arts.

    170,III,e182,4o,II);

    naprevisodebenefciosfiscaisdeincentivoregional(art.151,I);

    nadeterminaodeestmuloaocooperativismo(arts.146,III,c,e174,2o);

    na determinao de tratamento diferenciado e favorecido s microempresas e s empresas de

    pequenoporte(art.146,III,d).

    Ademais, poderia o legislador, por exemplo, para promover a sade, direito de todos e dever do

    Estado(art.196daCF),isentaroshospitaisdaCofins(contribuioparaaseguridadesocialqueincide

    sobreareceita)ouisentaraproduoderemdiosdoIPI(ImpostosobreProdutosIndustrializados).J

  • tributadapesadamente,comelevadasalquotasdeIPI,aproduodetabacoedebebidasalcolicas,a

    refletir no apenas a sua no essencialidade como a inteno de inibir o consumo.Omesmo poderia

    ocorrercomalimentosdebaixovalornutricional46..

    O STF manifestou-se no sentido da validade de incentivos fiscais concedidos a empresas que

    contratam empregados com mais de quarenta anos, a fim de estimular tal conduta por parte dos

    contribuintes47., bemcomode desconto do IPVAa condutores que no tenhamcometido infraes de

    trnsito,incentivandooscontribuintesaserembonsmotoristas48..

    Ocontroledavalidadedatributaoextrafiscalenvolve,emprimeirolugar,aanlisedaconcorrncia

    das competncias administrativa (para buscar o fim social ou econmico visado) e tributria (para

    instituiraespcietributriaeparagravarariquezaalcanadapelanormatributriaimpositiva)doente

    poltico;emsegundolugar,aanlisedaadequaoda tributaopara influirnosentidopretendido,ou

    seja, da sua eficcia potencial para dissuadir as atividades indesejadas ou de estimular as atividades

    ideais49..

    6.Direitotributrio

    A submisso do Estado ao direito permitiu que se colocasse a tributao no mbito das relaes

    jurdicasobrigacionais,tendocomopartesoEstadocredoreocontribuintedevedor,cadaqualcomsuas

    prerrogativas.Eissonoapenassobumaperspectivaesttica,mastambmdinmica,abrangendotanto

    asquestesmateriaiscomoasgarantiasformais,procedimentaiseprocessuais.

    Masaoutorgadecompetncias,aenunciaodelimitaeseacompreensodequeatributaosed

    conforme o direito no implicou, por si s, a possibilidade de se falar propriamente em um direito

    tributrio.

    Aarrecadaotributria,durantemuitotempo,foiobjetodacinciadasfinanase,nombitojurdico,

    doamploramododireitoadministrativo.Posteriormente,asquestesrelacionadasreceitaedespesa

    doEstadopassaramaserobjetoderamoautnomo:odireitofinanceiro.Apenasnoltimosculoque

    se passou a ter um tratamento sistemtico e especfico para as questes atinentes tributao,

    identificando-se princpios e institutos prprios, o que originou o direito tributrio, com objeto ainda

    maisrestrito,focadonaimposioearrecadaodetributos.

  • MARCOAURLIOGRECOdestacaque:Odireitotributrio,talvez,onicoramododireitocom

    data de nascimento definida. Embora, antes disso, existam estudos sobre tributao, especialmente no

    mbitodacinciadasfinanas,pode-sedizerquefoicomaediodaLeiTributriaAlemde1919que

    odireitotributriocomeouaganharumaconformaojurdicamaissistematizada.Emboraotributo,em

    si, seja figura conhecida pela experincia ocidental h muitos sculos, s no sculo XX seu estudo

    ganhouumadisciplinaabrangente,coordenadaecomaformulaodeprincpioseconceitosbsicosque

    oseparamdacinciadasfinanas,dodireitofinanceiroedoAdministrativo50..

    OalemoALBERTHENSEL,considerandooadventodaReichsabgabenordnung(LeiTributriado

    Reich) de 1919 e a instaurao da Administrao Financeira e do Tribunal Financeiro do Reich,

    publicou,em1924,aobraquehojeconsideradapormuitoscomooprimeirograndeclssicododireito

    tributrio,porterdadoumtratamentosistemticomatriacapazdedestacarsuaautonomiacomoramo

    doDireito, intitulada justamenteSteuerrecht (Direito Impositivo).Tambmmerecedestaqueaobrade

    BLUMENSTEIN sobre o direito tributrio suo, publicada em 1926, sob o ttulo Schweizerischen

    Steuerrecht, seguidadapublicao, pelomesmoautor, j em1944, daobraSystem des Steuerrechts.

    Outrograndeclssicododireitotributrioaobraescritaaindanadcadade30peloitalianoACHILLE

    DONATO GIANNINI, Istituzioni di Diritto Tributario. No se deve olvidar, por certo, El Hecho

    Imponible,deDinoJarach,obraemque,em1943,cuidoudateoriageraldodireitotributriomaterial.

    Cabe destacar, contudo, que BERLIRI atribui a GRIZIOTTI a afirmao da autonomia do direito

    tributrio51..Dequalquermodo,BERLIRIensinaquetaldecorreudeumaconstruoplurissecular,com

    impulsona prpria necessidadeprtica de se tratar comamatria.Assim que refere textos comoo

    Tractatusdetributisetvectigalibuspopuliromani,de1619,dentreoutrosaindamaisantigos.

    NoBrasil, foi com a EmendaConstitucional 18/65 que, pela primeira vez, se teve estruturado um

    sistema tributrio, logo em seguida surgindo oCdigoTributrioNacional, de 1966, cujo projeto foi

    apresentadoaindanoexercciodacompetnciaatribudaUniopelaConstituiode1946paralegislar

    sobredireitofinanceiro.

    So obras clssicas do direito tributrio brasileiro, dentre outras: Limitaes constitucionais ao

    poder de tributar (1951) e Direito tributrio brasileiro (1970)52., de ALIOMAR BALEEIRO;

    Introduoaodireitotributrio(1958)eFatogeradordaobrigaotributria(1964),deAMLCAR

    FALCO;Teoriageraldodireitotributrio(1963),deALFREDOAUGUSTOBECKER;Hiptesede

  • incidncia tributria (1973), de GERALDO ATALIBA; e Teoria da norma tributria (1974), de

    PAULODEBARROSCARVALHO.

    7.Relaocomoutrasdisciplinasjurdicas

    Odireito tributrio guarda ntima relao com quase todos os ramos do direito. E, como todos os

    outros, parte do Sistema Jurdico. Alis, hmuito j se desmitificou a ideia de que se poderia ter

    qualquer ramo marcado por uma autonomia que se pudesse confundir com isolamento ou

    independncia53..Odireitoums,aindaquecontempletratamentoespecficodasdiversasreaspor

    eleregidas.

    O domnio do direito constitucional fundamental para a compreenso do direito tributrio,

    absolutamentecondicionadoconstitucionalmentenoquedizrespeitospossibilidadesdetributaoeao

    modo de tributar, bem como aos princpios que regem a tributao. Temas como o sigilo bancrio, o

    direito de petio, o direito a certides e as clusulas ptreas repercutem frequentemente na esfera

    tributria.Aprpriaconsideraodaobrigaodepagartributocomodeverfundamentaleaprojeodo

    Estado social e da solidariedade para o campo tributrio evidenciam as relaes entre o direito

    constitucionaleodireitotributrio.Alegislaotributriatemdeserreconduzidaaotextoconstitucional

    paraaanlisedasuaconstitucionalidade,paraaconstruodasinterpretaesedeaplicaesvlidas.

    So,pois,deelevadaimportnciaostextosdedireitoconstitucionaltributrio54..

    Odireitocivilprojeta-secomevidnciaparaombitotributriojquandodaanlisedasnormasde

    competncia,emquesetemdeconsiderarnasuaprpriadimensoosconceitos,formaseinstitutosde

    direito privado, conforme orientao expressa do prprio art. 110 do CTN. Ademais, o tributo

    obrigaopecuniria,servindo-lhederefernciatodaadisciplinadasobrigaes.

    Revela-se,ainda,umdireitoadministrativotributrio,porquantoatributaoexercidapeloEstado,

    sendoo tributo cobradomediante atividade administrativa plenamente vinculada.Toda a temtica dos

    atosadministrativos,doexercciodopoderdepolcia e, ainda,doprocessoadministrativo seprojeta

    paraodireitotributriocomtratamentoespecfico.

    O direito financeiro, por sua vez, guarda relao estreita com o direito tributrio. E isso

    principalmente em razo da funcionalizao da tributao, a exigir a anlise da finalidade quando da

    instituio das contribuies e emprstimos compulsrios, bem como da efetiva destinao do seu

  • produto,comocritriodevalidaoconstitucionaldetaistributos.

    Odireitocomercialmantmrelaontimacomodireitotributrio,envolvendoostiposdesociedade,

    aresponsabilidadedosscios,dosrepresentantesedosadquirentesdefundodecomrcio,aapuraodo

    lucro,afunosocialdaempresa,o intuitonegocial,osdiversoscontratos,afalnciaearecuperao

    judicial.

    Odireitodotrabalhoigualmenteaparececomfrequncianaslidestributrias,poisdacaracterizao

    ounoderelaodeempregodependeaincidnciadecontribuiesprevidenciriassobreafolhaoua

    incidncia de contribuies sobre o pagamento a autnomos, bem como da caracterizao ou no de

    determinadasverbascomosalariaisouindenizatriasdependeaincidnciadeimpostoderenda.Diga-

    se,ainda,queoincisoVIIIdoart.114daCF,acrescentadopelaEC45/04,determinaqueaJustiado

    Trabalhoexecute,deofcio,ouseja,poriniciativaprpria,ascontribuiesprevidenciriasdecorrentes

    dassentenasqueproferir,demodoquenosautosdareclamatriatrabalhistasoapuradaseexigidasas

    contribuies previdencirias devidas pela empresa como contribuinte e como substituta tributria do

    empregado.

    O direito internacional ganha relevo em face dos tratados e convenes internacionais emmatria

    tributria, estabelecendo mercados comuns (como a Unio Europeia e o Mercosul) ou evitando a

    bitributao em matria de imposto de renda (como a Conveno Brasil Sucia para evitar a dupla

    tributao), e da extraterritorialidade estabelecida para alguns tributos federais55.. Isso sem falar no

    acordo sobre subsdios e medidas compensatrias no mbito da Organizao Mundial do Comrcio

    (OMC)56..

    Odireitoprocessualciviltambmseapresentaintimamenterelacionadocomodireitotributriocomo

    instrumentotantoparaasatisfaodoscrditosdoFiscocomoparaaproteo,defesaeressarcimento

    doscontribuintes.Hoquesepodechamardeumdireitoprocessualtributrio,emqueinmerasaes

    assumemcontornosespecficos,comoocasodaexecuofiscaledaaocautelarfiscal,deumlado,e

    domandadodesegurana,daaoanulatria,daaodeclaratria,daaoderepetiode indbitos

    tributrios,daaodeconsignaoempagamentoedamedidacautelardecauo,deoutro.

    Odireitopenalmantmrelaesestreitascomodireitotributriocomodecorrnciadacriminalizao

    de diversas condutas vinculadas ao descumprimento de obrigaes tributrias, de que exemplo o

  • descaminho,comainternalizaodemercadoriasmedianteilusodostributosdevidos,eaapropriao

    indbitadevaloresretidospelosubstitutotributrioenorecolhidosaoFisco.Ademais,seusprincpios

    e institutos contribuem para a compreenso e aplicao dos dispositivos da legislao tributria que

    impempenalidades,comomultaseperdimentodebens.

    8.Relaocomaeconomia

    Oproblemacentraldaeconomiaageraoderiquezanumcontextodebensescassoseaplicaes

    alternativas.

    Atributaoimplicacustoparaaatividadeeconmica,demodoqueelementoimportantssimopara

    qualquer iniciativa empresarial ou profissional. Carga tributria demasiada pode tornar proibitivos

    certos negcios, comprometendo a livre iniciativa. Os benefcios tributrios, por sua vez, quando

    subjetivos, podem causar violao isonomia e livre concorrncia e, quando objetivos, desonerar

    determinadossetoresemdetrimentodeoutros.

    Ademais,emumsistemaeconmico,aviabilizaodasoperaesestsujeitaaoschamadoscustosde

    transao. A complexidade da legislao tributria influi nesses custos, seja por fora dos esforos

    necessrios ao correto cumprimento das obrigaes acessrias e principais (custos de conformidade),

    sejaemrazodosriscosrelacionadosaoplanejamentofiscal.Quantomaiscertasasregrasrelativas

    tributao, quantomais farta a informao, quantomaior a segurana relativamente observncia das

    garantiasdocontribuinteemaisrpidoeefetivoseuacessojustia,menoresoscustosdetransao,ou

    seja,menoroinvestimentoderecursosnecessrioaocumprimentodasobrigaestributrias.

    Nopodemosdeixardereferir,ainda,aimportnciadaeconomianaanlisedodireitocomoumtodo

    e, em particular, do direito tributrio. Permite compreender os efeitos das normas jurdicas e das

    decisesjudiciaissobreofuncionamentodomercado,emprestandoferramentasparaacompreensodo

    que levaaumamelhoralocaode recursosegeraode riquezas.Essasanlises,que tiveramcomo

    patronoobritnicoRonaldCoase(1910-2013),deramorigemescoladenominadaLawandEconomics,

    da qual Richard Posner um dos principais tericos. Dentre os tributaristas que vm estudando a

    matria,podemosreferirPauloCaliendo57.eCristianoCarvalho58..

    9.Relaocomacontabilidade

  • Acontabilidadepermitequesetenhatransparnciaquantosoperaesesituaopatrimonialdas

    pessoas jurdicas, fornecendo elementos para a anlise do seu desempenho e para a gesto e

    planejamentodassuasatividades,tenhamfinslucrativosouno.Interessa,assim,numprimeiromomento,

    aos administradores, aos scios e aomercado.Mas tambmconstitui ferramenta indispensvel para a

    tributao,permitindoaidentificaodaocorrnciadefatosgeradoreseodimensionamentodostributos

    devidos. Inmeros conceitos contbeis so recorrentes na legislao tributria, como regimes de

    competnciaedecaixa,lucrolquido,patrimniolquidoetc.

    MAZACOSTADEALMEIDAbemesclareceessarelao:

    DeacordocomoAmericamInstituteofCertifiedPublicAccountants(AICPA),afinalidadedacontabilidade,desdeosprimrdios,

    proverosusuriosdosdemonstrativosfinanceiroscominformaesqueosajudaroatomardecises.Dentreosdiversosusuriosdos

    demonstrativos financeiros est o Estado, ou ente poltico tributante, que se utiliza dessas informaes produzidas para identificar a

    realizaodascondutasprescritaspelodireitopositivotributrioeanalisadasdescritivamentepelacinciadodireitotributrio,fazendo

    nasceraobrigaotributria.[...]arelaoentredireitotributrioecontabilidadesedexatamentenamedidaemqueoEstadoum

    dosusurios(noonico)dainformaoproduzidaemrelaosituaoeconmico-financeiradeumadeterminadaentidade.E,na

    medidaemqueacontabilidadenoestexclusivamentevoltadaaidentificarofatogeradorprescritonanormatributria,alegislao

    fiscal trata de adapt-la, dando aos fatos econmicos registrados contabilmente os contornos exigidos para que seja identificada a

    hiptesedeincidnciatributria 59..

    importante considerar que h ajustes para fins de tributao, como no caso do Imposto sobre a

    Renda da Pessoa Jurdica (IRPJ) e da Contribuio Social sobre o Lucro (CSL), que no incidem

    propriamente sobre o lucro lquido (lucro contbil) da empresa, mas sobre o lucro real e sobre o

    resultado ajustado, obtidosmediante adies, excluses e compensaes determinadas pela legislao

    tributria.

    Almdisso,comooobjetodatributaoariquezareveladoradecapacidadecontributiva,sobessa

    perspectiva que precisam ser consideradas as bases econmicas. Da por que nem tudo o que

    contabilmenteconsideradoreceita,porexemplo,podes-loparafinsdetributao.JOSANTNIO

    MINATELdestacaque[...]hequvoconessatentativageneralizadadetomaroregistrocontbilcomoo

    elementodefinidordanaturezadoseventosregistrados.Ocontedodosfatosrevelaanaturezapelaqual

    espera-sesejamretratados,noocontrrio60..

    10.Conceitodetributo

    AConstituioFederal,aoestabelecerascompetnciastributrias,aslimitaesaopoderdetributar

  • e a repartio de receitas tributrias, permite que se extraia do seu prprio texto qual o conceito de

    tributo por ela considerado61.. Cuida-se de prestao em dinheiro exigida compulsoriamente, pelos

    entespolticosouporoutraspessoasjurdicasdedireitopblico,depessoasfsicasoujurdicas,comou

    sem promessa de devoluo, forte na ocorrncia de situao estabelecida por lei que revele sua

    capacidadecontributivaouqueconsubstancieatividadeestatalaelasdiretamenterelacionada,comvista

    obtenoderecursosparaofinanciamentogeraldoEstado,paraofinanciamentodefinsespecficos

    realizadosepromovidospeloprprioEstadoouporterceirosemproldointeressepblico.

    Taiscaractersticasevidenciam-sequandodaleitura,notextoconstitucional,docaptuloDosistema

    tributrionacional.

    Aoutorgadecompetnciasedparaqueosentespolticosobtenhamreceitaatravsdainstituiode

    impostos (arts. 145, I, 153, 154, 155 e 156), de taxas (arts. 145, II, e 150, V), de contribuies de

    melhoria(art.145,III),deemprstimoscompulsrios(art.148)edecontribuiesespeciais(arts.149e

    195).Emtodasasnormasaliexistentes,verifica-sequeestamoscuidandodeobrigaesemdinheiro,

    tantoquehdiversasrefernciasbasedeclculoealquota,bemcomodistribuiodereceitase

    reservadepercentuaisdoseuprodutoparaaplicaoemtaisouquaisreas.

    Tributa-seporquehanecessidadederecursosparamanterasatividadesacargodopoderpblico

    ou,aomenos,atividadesquesodointeressepblico,aindaquedesenvolvidasporoutrosentes.

    Obrigao que no seja pecuniria, como a de prestar serviomilitar obrigatrio, de trabalhar no

    tribunal do jri ou nas eleies, no constitui tributo.Mesmo aquelas obrigaes relacionadas com a

    tributao e, inclusive, alcanadas pela denominao de obrigaes tributrias, conforme a dimenso

    conferidaaotermopeloart.113doCdigoTributrioNacional,masquesejamdefazer,nofazeroude

    tolerar, comoasobrigaesacessriasdeprestarDeclaraodeAjustedo ImpostodeRenda,deno

    procederaotransportedemercadoriadesacompanhadadenotaedeadmitirapresenadeauditorfiscale

    aanlisedoslivrosfiscais,noseconfundemcomaobrigaodepagartributo.Deoutrolado,porm,o

    fatodeseestardiantedeobrigaopecuniriaestabelecidaem leino revela,por si s, suanatureza

    tributria,poisestapressupequenohajanenhumaconcorrnciadavontadedocontribuinte,ouseja,

    quesequalifiquecomoreceitapblicacompulsria.

    Ocartercompulsriodotributo,alis,restaevidentenamedidaemqueaConstituiocolocaalei,

  • quea todosobriga, como fontedaobrigao tributria.De fato,oart.150, I,daConstituioFederal

    exigequeainstituioeamajoraodostributossejamestabelecidasporlei,oquerevelaasuanatureza

    compulsriadeobrigaoexlege,marcadapelageneralidadeecogncia,independentedaconcorrncia

    da vontade do sujeito passivo quanto constituio da relao jurdica.A adequada considerao do

    trao da compulsoriedade faz com que no se caracterizem como tributrias as receitas patrimoniais

    relativasaousoouexploraodebenspblicosemcarterprivado(taxadeocupaodeterrenode

    marinhaecompensaofinanceirapelaexploraoderecursosminerais),porquantonestescasosnoh

    compulsoriedadenaconstituiodovnculo,masadesoaumregimeremuneratrio.

    V-setambmaoutorgadecompetnciatendocomorefernciasimplesmanifestaesderiquezado

    contribuinte (critrio da base econmica na distribuio das competncias), servios especficos e

    divisveisprestadospelosentespolticos,exerccioefetivodopoderdepolcia,realizaodeobraque

    implique riquezaparaosproprietriosde imveisou,ainda,emfacedanecessidadedebuscarmeios

    para custear determinadas atividades vinculadas a finalidades especficas previstas no texto

    constitucional. As diversas espcies tributrias no guardam nenhuma relao com o cometimento de

    ilcitos pelos contribuintes. Da se extrai, pois, a noo de que tributo no constitui sano de ato

    ilcito.

    Porisso,nohqueseconfundirotributoemsicomareceita,tambmderivadaecompulsria,que

    so asmultas por prtica de ato ilcito, fundadas no poder de punir, e no no poder fiscal. Isso sem

    prejuzodequeasmultaspelodescumprimentodalegislaotributria,emboranoconstituindotributos,

    sejamconsideradas,pordispositivoexpressodoCTN,obrigaotributriaprincipal,aoladodotributo,

    isso para que tanto o tributo como as multas tributrias sejam submetidos ao mesmo regime de

    constituio,discussoadministrativa,inscrioemdvidaativaeexecuo.

    O tributo no sano de ato ilcito e, portanto, no poder o legislador colocar o ilcito,

    abstratamente, como gerador da obrigao tributria ou dimensionar o montante devido tendo como

    critrio a ilicitude (e.g., definir alquota maior para o IR relativamente renda advinda do jogo do

    bicho)62..Mascostuma-sedizerqueailicitudesubjacenteirrelevante.Assimque,adquiridarenda

    por algum contribuinte, submete-se ao imposto de renda e, promovida a circulao de mercadorias,

    sujeita-seaoimpostosobreacirculaodemercadorias,semquehajanenhumaobrigaodosrgosde

    fiscalizaode investigarseaorigemdarenda lcitaouseaempresadetinhaosdireitose registros

  • paraacomercializaodosprodutosqueconstituemobjetodoseunegcio.Analisamosatributaodo

    ilcitoadiante,nocaptulorelativoobrigaotributria,quandotratamosdaocorrnciadofatogerador.

    V-sequeaConstituiorecepcionouoconceitodetributoconstantedoCTN:Art.3oTributo

    todaprestaopecuniriacompulsria,emmoedaoucujovalornelasepossaexprimir,quenoconstitua

    sano de ato ilcito, instituda em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente

    vinculada.

    Cabe, porm, ressaltar que o art. 3o do CTN, ao se referir instituio por lei, refere-se a um

    requisito de validade, e no de existncia do tributo. Requisito de existncia do tributo a

    compulsoriedade.Aexignciadeleipeloart.150,I,daCF,comojocorrianasconstituiesanteriores,

    constituilimitaoconstitucionalinstituiodetributos.Institudotributosemlei,serinconstitucional

    a norma infralegal instituidora e, portanto, invlida, restando sem sustentao a sua cobrana. Uma

    exignciapecuniria,compulsria,quenosejasanodeilcito,cobradapelaadministraocombase

    emumaPortaria,ser,sim,tributo(osrequisitosdeexistnciaestosatisfeitos),aindaqueinvlido(o

    requisitodevalidadeobservnciadalegalidadeestritaestviolado).

    Arefernciafeitapeloart.3odoCTNcobranamedianteatividadeadministrativaplenamente

    vinculadaeaprevisodoart.119doCTNnosentidodequeapenaspessoasjurdicasdedireitopblico

    podemfigurarcomosujeitosativosdeobrigaotributriajustificam-seemfacedanaturezadaatividade

    tributria,queenvolvefiscalizao,imposiodemultaserestrioadireitos.Assim,somentemediante

    atividadeadministrativapodeserexigidoopagamentodotributo.Pessoajurdicadedireitoprivados

    pode figurar como destinatria do produto da arrecadao e, ainda assim, apenas quando, sem fins

    lucrativos,exeraatividadedointeressepblico.

    Aplenavinculaoaqueserefereoart.3otem,ainda,outraimplicao.Ocorridoofatogeradorda

    obrigao tributria, a autoridade administrativa tem o dever de apur-lo, de constituir o crdito

    tributrio,atravsdolanamento,edeexigirocumprimentodaobrigaopelocontribuinte.Nohque

    sedizer,porcerto,queinexistamjuzosdeoportunidadeedeconvenincia63.,oqueseimpeemface

    de limitaes quanto capacidade de trabalho, a exigir que se estabeleam prioridades, e anlise

    custo-benefcio, tudo a ser disciplinado normativamente, como o caso das leis que dispensam a

    inscrioeoajuizamentodedbitosdepequenovalor.Almdisso,aplenavinculaosignificaquea

    autoridade est adstrita ao fiel cumprimento da legislao tributria, incluindo todos os atos

  • regulamentares,comoinstruesnormativaseportarias.porisso,e.g.,queoart.141doCTNdizqueo

    crditotributrioregularmenteconstitudosomentesemodificaouseextingue,outemsuaexigibilidade

    suspensaouexcluda,noscasosprevistosnoCdigo, foradosquaisnopodemserdispensadasasua

    efetivaoeasrespectivasgarantias,sobpenaderesponsabilidadefuncional.

    MasoconceitotrazidopeloCTNnofazrefernciacondiodereceitapblicaqueinerenteao

    tributo,receitaestaquepodeserdestinadaaoprprioentetributanteouaterceiros,pessoasdedireito

    pblicooumesmodedireitoprivado,desdequesemfinslucrativos,queexeramatividadedointeresse

    pblico,comoocasodossindicatos(art.8o,IV,daCF)edosentessociaisautnomos(art.240daCF).

    por essa caractersticaque se afasta anatureza tributriada contribuio aoFGTSque, implicando

    depsitoemcontavinculadaemnomedoempregado,caracteriza-secomovantagemtrabalhista64..

    O conceito de tributo constante do Modelo de Cdigo Tributrio para a Amrica Latina, embora

    conciso, faz referncia finalidade do tributo: Art. 13. Tributos so prestaes em dinheiro, que o

    Estado, no exerccio de seu poder de imprio, exige com o objetivo de obter recursos para o

    cumprimentodeseusfins.

    Verificados tais traos, estaremosnecessariamentediantedeum tributo,oqueatrai a incidnciado

    regime jurdico-tributrio e, com isso, implica submisso s limitaes constitucionais ao poder de

    tributaresnormasgeraisdedireitotributrio.

    11.Preospblicosereceitaspatrimoniais

    Enquanto os tributos tm como fonte exclusiva a lei e se caracterizam pela compulsoriedade, os

    preos pblicos constituem receita originria decorrente da contraprestao por um bem, utilidade ou

    servionumarelaodecunhonegocialemqueestpresenteavoluntariedade(nohobrigatoriedade

    doconsumo).Aobrigaodeprestar,emsetratandodepreopblico,decorredavontadedocontratante

    delanarmodobemouserviooferecido.Porisso,afixaodopreopblicoindependedelei;no

    sendotributo,noestsujeitoslimitaesdopoderdetributar.

    J em1969, oSTFproclamava a distino entre preospblicos e taxas utilizando-sedo traoda

    compulsoriedade como critrio, conforme se v do enunciado da Smula 545 do STF: Preos de

    serviospblicosetaxasnoseconfundem,porqueestas,diferentementedaqueles,socompulsriase

    tm sua cobrana condicionada prvia autorizao oramentria, em relao lei que as instituiu.

  • Essa noo continua vlida. Veja-se precedente de 2011 do STF: 1. Taxa e preo pblico diferem

    quantocompulsoriedadedeseupagamento.Ataxacobradaemrazodeumaobrigaolegalenquanto

    opreopblicodepagamentofacultativoporquempretendesebeneficiardeumservioprestado65..

    Ograndedesafio,porm,estemdefinirquaisosserviosquesecaracterizamcomocompulsrios.

    Serviosrelativamenteaosquaissepoderequererodesligamento,comoosdefornecimentodegua

    edeenergiaeltrica,tmsidoconsideradospeloSTFepeloSTJcomosujeitosapreopblico66.67.,

    aindaquenohajaafaculdadedeperfurarlivrementepoos,demodoque,arigor,oconsumodegua

    tratada acaba se tornando impositivo, na prtica. No configurando tributos, sujeitam-se ao regime

    jurdicocomum,razopelaqualfoieditadaaSmula412doSTJ,tornandoinequvocoqueAaode

    repetio de indbito de tarifas de gua e esgoto sujeita-se ao prazo prescricional estabelecido no

    CdigoCivil.

    Quantoaopedgio,oTribunalPlenodoSTFmanifestou-se, em2014,no sentidodequeopedgio

    no tem natureza jurdica de taxa, mas sim de preo pblico, no se sujeitando s limitaes

    constitucionais ao poder de tributar68.. Resta claro que irrelevante se h ou no via alternativa

    gratuita para o usurio trafegar.Destacou, oMinistro relator, Teori Zavascki, quemais limitador do

    trfegoqueopedgioanoconstruoounoconservaoderodovias.Superou,assim,entendimento

    emsentidocontrrioquefirmaraem1999,nosentidodequeconfigurariataxadeservio69..

    importanteteremcontaqueaConstituio,aocuidardosprincpiosgeraisdaatividadeeconmica,

    prev a prestao de servio pblico por concessionrias ou permissionrias, estabelecendo regime

    especficopara talhiptese.Oart.175daCF,de fato,pareceestabelecerclusuladeexceonesses

    casos,fazendocomqueassalvaguardasdocontribuinte(limitaesconstitucionaisaopoderdetributar)

    sejam substitudas pela exigncia de licitao (sempre atravs de licitao) e pela poltica tarifria

    definidaemlei(Aleidisporsobre:...IIIpolticatarifria;).

    Asreceitaspatrimoniais tambm no so consideradas tributrias.No h previso constitucional

    paraainstituiodetaxapelousodebempblico.Alis,quantoaestes,emsetratandodebensdeuso

    comum, todos tm direito sua utilizao sem excluso dos demais usurios e independentemente de

    pagamento. Em se tratando de outro bem pblico cujo uso seja permitido/concedido a particular, em

    carterexclusivo,omontantequevenhaaserexigidoconfigurarreceitapatrimonial,noserevestindo

  • dacompulsoriedadecaracterizadoradostributos.ocasodacompensaofinanceirapelaexplorao

    derecursosminerais70.,quepressupeadecisodoparticulardeexplorarbempblicoepagarUnio

    a participao que lhe cabe, e da chamada taxa de ocupao de terrenos demarinha, uma espcie de

    aluguelpagopeloparticularporocuparafaixademarinhaemcarterprivado.

    Configurando-sedeterminadacontraprestaocomopreopblico,segueasregrasqueregulamentam

    o respectivo setor, conforme o regime legal,mas no s limitaes e institutos prprios dos tributos.

    Qualificando-se como taxa, cobrada compulsoriamente por fora da prestao de servio pblico de

    utilizaocompulsriadoqualoindivduonopossaabrirmo,suaexignciaestsujeitaslimitaes

    constitucionais ao poder de tributar (art. 150 da CF: legalidade, isonomia, irretroatividade,

    anterioridade,vedaodoconfisco)esnormasgeraisdedireitotributrio(CTN),ouseja,aoregime

    jurdicotributrio.

  • 1BALEEIRO,Aliomar.Umaintroduocinciadasfinanas.14.ed.rev.eatualizadaporFlvioBauerNovelli.RiodeJaneiro:Forense,1990,p.115.

    2TORRES,RicardoLobo.Tratadodedireitoconstitucionalfinanceiroetributrio.v.II.RiodeJaneiro:Renovar,2005,p.403-404.

    3UCKMAR,Victor.Princpioscomunsdedireitoconstitucionaltributrio.2.ed.SoPaulo:Malheiros,1999,p.24-25.

    4OtextodaMagnaCartaestdisponvelem:.

    5 ConformeVANONI, havia um adgio ingls emmatria impositiva: LaCorona pide, los Comunes conceden, los Lores permiten.(VANONI,E.Naturaedinterpretazionedelleleggitributarie.1932.Acitaodaedioespanholade1961,publicadapelosInstitutodeEstudiosFiscales,Madri,p.155.)

    6GULLOP,FloydG.TheConstitutionoftheUnitedStates:AnIntroduction.NovaYork:MentorBooks,1984.

    7Dclarationdesdroitsdelhommeetducitoyen.Articletreize.Pourlentretiendelaforcepublique,etpourlesdpensesdadministration,unecontributioncommuneest indispensable;elledoittregalement rpartieentre tous lescitoyens,en raisonde leurs facults.Articlequatorze.Touslescitoyensontledroitdeconstaterpareuxmme,ouparleursreprsentants,lancessitdelacontributionpublique,delaconsentirlibrement,densuivrelemploi,etdendterminerlaquotit,lassiette,lerecouvrementetladure.

    8CALDEIRA,Jorge,etal.ViagempelahistriadoBrasil.SoPaulo:CompanhiadasLetras,1997,p.111-112.

    9BALTHAZAR,UbaldoCesar.HistriadotributonoBrasil.Florianpolis:FundaoBoiteux,2005,p.60.

    10Id.,ibid.,p.61.

    11FAGUNDES,AntnioAugusto.RevoluoFarroupilha:cronologiadoDecnioHeroico.PortoAlegre:MartinsLivreiro,2008,p.17-18.

    12 Sobre a Guerra Fiscal, vide: MARTINS, Ives Gandra da Silva; CARVALHO, Paulo de Barros.Guerra Fiscal: reflexes sobre aconcessodebenefciosnombitodoICMS.SoPaulo:Noeses,2012.

    13[...]themoderneconomyinwhichweearnoursalaries,ownourhomes,bankaccounts,retirementsavings,andpersonalpossessions,andinwhichwecanuseourresourcestoconsumorinvest,wouldbeimpossiblewithouttheframeworkprovidedbygovernmentsupportedbytaxes(MURPHY,Liam;NAGEL,Thomas.TheMythofOwnership.NovaYork:Oxford,2002,p.8).

    14GODOI,MarcianoSeabra de.A volta do in dubio pro contribuinte: avano ou retrocesso? In:ROCHA,Valdir deOliveira (coord.).Grandesquestesatuaisdodireitotributrio.SoPaulo:Dialtica,2013,p.187.

    15 La facultad del Estado de obtener losmedios necesarios para su propia existencia y, por ende, para la tutela y elmantenimiento delordenamientojurdico,seperfilaascomounelementoesencialdelamismaafirmacindelderecho.Laactividadfinanciera, lejosdeserunaactividadquelimitalosderechosylapersonalidaddelparticular,constituyesupresupuestonecesario,puestoquesintalactividadnoexistiraEstadoysinEstadonoexistiraderecho(VANONI,E.Naturaedinterpretazionedelleleggitributarie,1932.Atranscriodaedioespanholade1961,publicadapelosInstitutodeEstdiosFiscales,Madri,p.183).

    No puede serodioso loqueesnecesariopara la existenciamismadelEstadoyque tienepor finalidadnica lautilidadde los ciudadanos.ComofallunaviejasentenciadelTribunaldeTurnlastasaslibrementevotadasyconformesalanecesidaddelEstadorepresentanelorden,lalibertad,lajusticia,laseguridad,labeneficencia,elejrcito,laarmada,laindependencia,elhonordelapatria.Hablardeodiosidaddeltributosignifica,pues,desconocerelindisolublevnculoentreexistenciadelEstadoeimposicin(VANONI,E.,op.cit.,p.182-183).

    16CARDOSO,AlessandroMendes.OdeverfundamentalderecolhertributosnoEstadodemocrticodedireito.PortoAlegre:LivrariadoAdvogado,2014,p.195.

    17Aexpressoretricacorrentejuizfiscalistaumferrodemadeira,umacontradioemtermoseumagravofunojurisdicional.AinterpretaoeaplicaodasnormasfiscaisnodevemserapriorinemprFisconemcontraFisco,masemproldalei(BORGES,JosSoutoMaior.Umensaiointerdisciplinaremdireitotributrio:superaodadogmtica.RDDT,n.211/106,abr.2013).

    http://www.magnacartaplus.org

  • 18Odeverdepagar impostosumdever fundamental.O impostonomeramenteumsacrifcio,massim,umacontribuionecessriaparaqueoEstadopossacumprirsuastarefasnointeressedoproveitosoconvviodetodososcidados.OdireitotributriodeumEstadodedireitonodireito tcnicodecontedoqualquer,masramojurdicoorientadoporvalores.Odireito tributrioafetanosarelaocidado/Estado,mas tambm a relao dos cidados uns comos outros. direito da coletividade (Tipke,Klaus;Yamashita,Douglas.Justiafiscaleprincpiodacapacidadecontributiva.SoPaulo:Malheiros,2002,p.13).

    Comodeverfundamental,oimpostonopodeserencaradonemcomoummeropoderparaoEstado,nemcomoummerosacrifcioparaoscidados,constituindoantesocontributoindispensvelaumavidaemcomunidadeorganizadaemEstadofiscal.UmtipodeEstadoquetemnasubsidiariedadedasuaprpriaaco(econmico-social)enoprimadodaautorresponsabilidadedoscidadospeloseusustentooseuverdadeirosuporte(NABAIS,JosCasalta.Odeverfundamentaldepagarimpostos.Coimbra:Almedina,1998,p.679).

    19 La formulacin constitucional del deber de contribuir cumple una triple funcin jurdico-poltica: a) de legitimacin del tributo, cuyofundamentoojustificacindescansanoyaenlasimplefuerzaopoderdesupremacadelEstado(frentealaimpotenciadelsdito),sinoenel deber de solidaridad de los ciudadanos de contribuir al sostenimiento de los gastos pblicos por su interes, en tantomiembros de lacomunidadpoltica, en la existenciaymantenimientodelEstado.Comoha escritoA.BERLIRI el deberdel contribuyentedepagar lostributosnoeslaconsecuencia,esunapremisa,unprus;eselderecho,omejor,elpoderdelEstadoaexigirlosloqueesconsecuencia,elreflejo,deldeberdelosciudadanosdepagarlos.Ynoalainversa.ElEstadonorecaudalosimpuestosquianominorleo,sinoporqueelciudadanotieneeldeberdecontribuirasumantenimiento.Fundamentocausaldeltributo,portanto,yconexindeldeberdecontribuirconelgastopblicoysuordenacin,queseproclamaenelart.31.2CE;b)delmiteydegarantajurdica,encuantolanormaconstitucionalfijaloslmitesdeldeberdecontribuir,sinqueelEstadopuedaconstreiralparticularapagarmsalldetaleslmitesoenraznomedidade criterios o cnones distintos de los fijados constitucionalmente (la capacidad econmica). Y al propio tiempo, de garanta de losciudadanos,puesaunquelasnormasconstitucionalesqueimponendeberescvicosmsquegarantizarlalibertadylapropiedadindividuallasconstrienalafirmarundeberdelosciudadanosyelcorrelativoderechorectiuspoderdelEstado),sinembargoestambinunanormadegarantaencuantoindirectamentelimitaelderechodesupremaciadelEstado,quehadeconfigurarencadacaso,comoelementobasedelaimposicinsupuestosdehechoqueseanreveladoresdecapacidadeconmica;c)deorientacinprogramticadelaactuacindelospoderespblicos,primordialmentedellegilativo,alcualseleencomiendalacreacindeunsistematributriojustocomocauceparalaactuacindeldeberdecontribuirproclamadoconstitucionalmente,y funcionalmenteconexo,comohemosdicho,conelgastopblico(BEREIJO,lvaroRodrguez.Eldeberdecontribuircomodeberconstitucional.Susignificado jurdico,CivitasRevistaEspaola deDerechoFinanciero,n.125/2005).

    20NABAIS,JosCabalta.Odeverfundamentaldepagarimpostos.Coimbra:Almedina,2004,p.45,nota76.

    21VANONI,E.Naturaedinterpretazionedelleleggitributarie,1932.Acitaodaedioespanholade1961publicadapeloInstitutodeEstudiosFiscales,Madri,p.183.

    22VANONI,E.,op.cit.,p.182-183.

    23Tipke,Klaus;Yamashita,Douglas.Justiafiscaleprincpiodacapacidadecontributiva.SoPaulo:Malheiros,2002,p.13.

    24NABAIS,JosCasalta,op.cit.,p.679.

    25CARDOSO,AlessandroMendes.OdeverfundamentalderecolhertributosnoEstadodemocrticodedireito.PortoAlegre:LivrariadoAdvogado,2014,p.147.

    26 Afirmamos alhures: Assim como o gozo de imunidade no dispensa do cumprimento de obrigaes acessrias nem da sujeio fiscalizaotributria(art.194,pargrafonico,doCTN),tambmnoeximeoenteimunedefigurarcomosubstitutotributrio,comtodasas obrigaes da decorrentes, inclusive respondendo com recursos prprios na hiptese de descumprimento do dever de reteno dotributo.Note-se que a reteno de tributos na fonte, na qualidade de responsvel tributrio, se efetuada adequadamente, nenhum nusacarreta s entidades imunes, pois a operao se d com dinheiro do contribuinte. A previso constante deste 1o, pois, justifica-seplenamente, constituindovlida regulaodas imunidadesenquanto limitaesconstitucionaisaopoderde tributar (PAULSEN.Direitotributrio: Constituio e cdigo tributrio luz da doutrina e da jurisprudncia. 16. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado,

  • 2014).Veja-se,ainda,precedentedoSTF:Aresponsabilidadeouasubstituiotributrianoalteramaspremissascentraisdatributao,

    cujaregra-matrizcontinuaaincidirsobreaoperaorealizadapelocontribuinte.Portanto,aimunidadetributrianoafeta,tosomenteporsi,arelaoderesponsabilidadetributriaoudesubstituioenoexoneraoresponsveltributrioouosubstituto.Recursoextraordinrioconhecido,masaoqualsenegaprovimento(STF,SegundaTurma,RE202987,JOAQUIMBARBOSA,jun.2009).

    27CASADOOLLERO,Gabriel,op.cit.,p.151e157.

    28Vide,especialmente,nossolivroCapacidadecolaborativa:Princpiodedireitotributrioparaobrigaesacessriasedeterceiros,publicadopelaLivrariadoAdvogadoem2014.

    29Art.113,2o,doCTN.

    30OsEstadosvmassumindo,emtodoomundo,predominantementeacondiodeEstadosdedireitodemocrticosesociais.Caracterizam-secomoEstadodedireitoporquetodos,inclusiveoprprioEstado,estosubmetidosaodireito.Democrticosporqueoslegisladoreseogoverno so eleitos pelo povo e atuam em seu nome e em seu benefcio. Sociais porque se exige do Estado que assegure direitosfundamentais inclusive de carter social (os direitos a prestaes). Em um Estado de direito democrtico e social so congregadas aliberdade, a participao e a solidariedade.OEstadoproclama e garante no s direitos fundamentais de primeira gerao (direitos deliberdade: civis e polticos) como promove e assegura direitos fundamentais de segunda gerao (direitos a prestaes: sociais eeconmicos) e, inclusive, de terceira gerao (direitos difusos comoaomeio ambiente equilibrado e aopatrimnio cultural) e de quartagerao(informao,pluralismo).

    31BALEEIRO,Aliomar,op.cit.,p.200-201.

    32EstudosobreaCargaTributria/PIBXIDH.

    33Disponvelem.

    34OndicedeDesenvolvimentoHumanomedeograudedesenvolvimentoeconmicoedequalidadedevidadapopulao,variandode0(mais baixo) a 1 (mais alto). A ONU vem calculando e divulgando anualmente o ndice de cada pas mediante anlise de dadosrelacionadosriqueza,alfabetizao,educaoeexpectativadevida.

    35VideanlisedamatrianositedaControladoria-GeraldaUnio:,empublicaes,prestaodecontas.

    36BERTOLUCCI,AldoVicenzo.Quantocustapagartributos.SoPaulo:Atlas,2003.

    37Id.,ibid.,p.21.

    38Atualmente,FiscoeErriosoexpressessinnimasnaliteraturatributria.Originalmente,contudo,tinhamsignificadodiverso,conformeensinaVANONI,referindo-sehistriaromana:Enlapocarepublicana,cajadelEstadoeraelaerarium,administradoporelSenado.Elfiscussurgicomocajaprivadadelemperador,peropaulatinamente,alirconcentrndoseelpoderenlapersonadelsoberano,elfiscovinoasignificarlareunindetodoslosbienesdelEstadoenmanosdelemperador.AsseanulladistincinentrecajadelEstadoycajaprivadadelemperador(op.cit.,p.183).

    39NABAIS,JosCabalta,op.cit.,p.191-192.

    40Veja-sealiodoprofessorFbioCanazaro:Tributoummeioparaatingir-seumfim.deverfundamentalmaterializadopormeiodeuma prestao pecuniria de carter compulsrio, institudo por lei, devido entidade de direito pblico e cobrado mediante atividadeplenamente vinculada, com vistas promoo dos direitos fundamentais, seja mediante a gerao de receita pblica, seja mediante aorientaosocioeconmicadoscidados.Opresenteconceitojustificaaclassificaodostributosemdoisgrupos.Ogrupodostributosdenaturezafiscal,emqueofimapromoodosdireitosfundamentaisd-seapartirdaatividadedegeraodereceita,issoparaemmomentoposteriorfazerfrentesdespesasdoEstado;eogrupodos tributosdenaturezaextrafiscal,emqueofimapromoodosdireitos fundamentaisd-se a partir da orientaode condutas que estejamem sintonia comos objetivos doEstadodemocrtico dedireito (In:CANAZARO,Fbio.Essencialidade tributria: igualdade, capacidadecontributivae extrafiscalidadena tributaosobreoconsumo.PortoAlegre:LivrariadoAdvogado,2015,p.151).

    https://ibpt.org.brhttp://www.cgu.gov.br

  • 41Leimpostepresentanodueaspetti,quellofiscaleequelloextrafiscale,deiquali iconfininonsemprerisultanoagevolmente individuabili(MARTUL-ORTEGA, Perfecto Yebra. I fini extrafiscali dellimposta. In: AMATUCCI, Andra. Trattato di diritto tributario. 1o v.Milo:CEDAN,2001,p.686).

    42CARVALHO,PaulodeBarros.Cursodedireitotributrio.14.ed.SoPaulo:Saraiva,2002,p.228-229.

    43ALeyGeneralTributariaespaola,de2003,muitoclaraemseuArt.2:Lostributos,ademsdesermediosparaobtenerlosrecursosnecesariosparaelsostenimientode losgastospblicos,podrnservircomoinstrumentosde lapolticaeconmicageneralyatendera larealizacindelosprincipiosyfinescontenidosenlaConstitucin.

    44Aextrafiscalidadeemsentidoprprioenglobaasnormas jurdico-fiscaisde tributao(impostoseagravamentosde impostos)edenotributao (benefcios fiscais) cuja funo principal no a obteno de receitas ou uma poltica de receitas, mas a prossecuo deobjetivoseconmico-sociais(NABAIS,JosCasalta.Odeverfundamentaldepagarimpostos.Coimbra:Almedina,1998,p.695).

    [] se ha generalizado la utilizacin del tributo y, de forma especial, del impuesto como un medio de conseguir otras finalidades:creacin de empleo, fomento del desarrollo econmico de una determinada zona, preservacin delmedio ambiente, ahorro de energa,repoblacin forestal, de ah que quepa hoy distinguir entre impuestos fiscales los tradicionales, aquellos cuya finalidad esencial esfinanciarelgastopblicoeimpuestosextrafiscalesaquelloscuyafinalidadesencialestencaminadaalaconsecucindeesosotrosobjetivos (QUERALT, JuanMartn; SERRANO, Carmelo Lozano; LPES, JosM. Tejerizo; OLLERO, Gabriel Casado.Curso dederechofinancieroytributario.18.ed.Madri:Tecnos,2007,p.90).

    45MARTINS, Ives Gandra da Silva; CARVALHO, Paulo de Barros.Guerra Fiscal: reflexes sobre a concesso de benefcios nombitodoICMS.SoPaulo:Noeses,2012,p.36-37.

    46 A respeito desse tema, h interessante dissertao de mestrado de autoria de Renata Rolla Bernaud, sob a orientao do professorAdalbertodeSouzaPasqualotto,naPUCRS.

    47STF,TribunalPleno,Mina.ELLENGRACIE,ADI1.276,Rel.2002.

    48STF,TribunalPleno,rel.Min.MARCOAURLIO,ADIMC2.301,2000.

    49OleadingcaseemmatriadecontroledatributaoextrafiscalnodireitoespanholaSentenadoTribunalConstitucionalespanhol37-87.

    50GRECO,MarcoAurlio.Contribuies(umafigurasuigeneris).SoPaulo:Dialtica,2000,p.147.

    51Colprincipiodel1900siaffermainvecelatendenza,chesiandatapoisemprepiacentuando,aconsiderareildirittotributariocomeunadisciplina autonoma rispetto al diritto