culturas de controle- historia, corpo e praticas de justica resumo cnhcs 2013

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ST: Culturas de controle: história, corpo e práticas de justiça RESUMOS NOME INSTITUIÇÃO TÍTULO Modesto Cornélio Batista Neto Emmanuel Felipe de Andrade Gameleira UERN DIREITOS HUMANOS, JUSTIÇA E DEMOCRACIA: O PAPEL E OS SILÊNCIOS DA COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE RESUMO: O debate sobre o direito à verdade e a memória, imprescritível a construção de regimes democráticos coloca em cena, nos países que passaram por experiências de regimes autoritários o imperativo de iniciativas jurídicas e políticas que se circunscrevam no âmbito da Justiça de Transição, que não é um tipo especifico de justiça, mas que congrega ações que visam uma transição democrática de regimes autoritários a democracia. Embora estejamos sob um regime Democrático de Direito a jovem democracia brasileira pós-Regime Militar (1964-1985) ainda carrega no seu passado recente cicatrizes e feridas abertas marcadas pelos mais diferentes tipos de violência praticados nas duas ditaduras brasileiras do século XX que perpetraram uma cultura de controle que se manifesta ainda hoje em atitudes normatizadas de grupos sociais. Neste contexto a partir do lançamento do 3º Plano Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República em 2009 se estabeleceu o eixo Direito à Memória e à Verdade como um dos principais eixos da política dos Direitos Humanos no país, e seguindo esta nesta linha é sancionada pela Presidenta Dilma Rousseff a Lei nº 12.528/2011 de autoria do Poder Executivo que cria a Comissão Nacional da Verdade para apurar o desrespeito a direitos humanos e promover a “reconciliação nacional” empreendendo pesquisas no período compreendido entre 1946 a 1988. Objetivando interpretar/problematizar o papel da Comissão para a democracia brasileira levando em consideração seu alcance e limitações, buscamos além da historiografia sobre o Regime Militar as perspectivas de ex-presos políticos e familiares destes (publicizadas na imprensa) para promover um limitado balanço do debate sobre a Comissão Nacional da Verdade colocando em evidência os vácuos e os silenciamentos existentes e não discutidos na Comissão, tais como o papel do EUA para o golpe e de 1964, a relação entre empresários e Ditadura e o que se perdeu em termos de cultura nacional com a repressão e a censura. Para tal, nos valemos da relação existente entre Análise do Discurso e história para empreendermos o desenvolvimento do presente trabalho lançando perspectivas ainda marginais no debate sobre todo o processo que se desenrola com os trabalhos da CNV. Palavras-chave: Justiça de Transição, Democracia, Comissão Nacional da Verdade

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Page 1: Culturas de Controle- Historia, Corpo e Praticas de Justica RESUMO CNHCS 2013

ST: Culturas de controle: história, corpo e práticas de justiça

RESUMOS

NOME INSTITUIÇÃO TÍTULO

Modesto Cornélio Batista Neto Emmanuel Felipe de Andrade Gameleira

UERN DIREITOS HUMANOS, JUSTIÇA E DEMOCRACIA: O PAPEL E OS SILÊNCIOS DA COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE

RESUMO: O debate sobre o direito à verdade e a memória, imprescritível a construção de regimes democráticos coloca em cena, nos países que passaram por experiências de regimes autoritários o imperativo de iniciativas jurídicas e políticas que se circunscrevam no âmbito da Justiça de Transição, que não é um tipo especifico de justiça, mas que congrega ações que visam uma transição democrática de regimes autoritários a democracia. Embora estejamos sob um regime Democrático de Direito a jovem democracia brasileira pós-Regime Militar (1964-1985) ainda carrega no seu passado recente cicatrizes e feridas abertas marcadas pelos mais diferentes tipos de violência praticados nas duas ditaduras brasileiras do século XX que perpetraram uma cultura de controle que se manifesta ainda hoje em atitudes normatizadas de grupos sociais. Neste contexto a partir do lançamento do 3º Plano Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República em 2009 se estabeleceu o eixo Direito à Memória e à Verdade como um dos principais eixos da política dos Direitos Humanos no país, e seguindo esta nesta linha é sancionada pela Presidenta Dilma Rousseff a Lei nº 12.528/2011 de autoria do Poder Executivo que cria a Comissão Nacional da Verdade para apurar o desrespeito a direitos humanos e promover a “reconciliação nacional” empreendendo pesquisas no período compreendido entre 1946 a 1988. Objetivando interpretar/problematizar o papel da Comissão para a democracia brasileira levando em consideração seu alcance e limitações, buscamos – além da historiografia sobre o Regime Militar – as perspectivas de ex-presos políticos e familiares destes (publicizadas na imprensa) para promover um limitado balanço do debate sobre a Comissão Nacional da Verdade colocando em evidência os vácuos e os silenciamentos existentes e não discutidos na Comissão, tais como o papel do EUA para o golpe e de 1964, a relação entre empresários e Ditadura e o que se perdeu em termos de cultura nacional com a repressão e a censura. Para tal, nos valemos da relação existente entre Análise do Discurso e história para empreendermos o desenvolvimento do presente trabalho lançando perspectivas ainda marginais no debate sobre todo o processo que se desenrola com os trabalhos da CNV. Palavras-chave: Justiça de Transição, Democracia, Comissão Nacional da Verdade

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NOME INSTITUIÇÃO TÍTULO

Arlan Eloi Leite Silva UFRN A problemática do espaço prisional na teoria social: as contribuições de Michel Foucault e Erving Goffman

RESUMO: O presente artigo objetiva discutir a problemática do espaço prisional a partir dos autores Michel Foucault e Erving Goffman. Nesse sentido, queremos saber como o espaço prisional é construído nessas pesquisas articulando problemas, métodos e teorias. Aqui, faremos um exercício de compreensão da espacialidade prisional que emerge das obras em estudo, tendo em vista que, em algumas produções sobre o espaço prisional brasileiro, Foucalt e Goffman são teóricos importantes nas análises dessa temática. O espaço prisional não é uma categoria pensada por meio de conceitos prontos e acabados. A prisão não é definida apenas por um recorte espaço-temporal com linhas arquitetônicas, grades, cubículos, guaritas e torres de vigias, bem como por relações de controle do poder estatal sobre os sujeitos carcerários. O espaço prisional é um problema que entra nas pautas da teoria social e precisa ser desmontado de vez em quando. As ideias de exclusão, segregação de indivíduos do mundo social, trabalho disciplinar, isolamento, silêncio, padronização de comportamentos, gestos e vestimentas por si só não caracterizam uma instituição prisional. Parece mais fácil dizer o que a prisão não é do que construir uma análise de como ela se relaciona com a sociedade. O espaço prisional recebe investimentos materiais e imateriais, além de especulações teóricas que o reinventam em diferentes tempos e espaços. A construção do espaço prisional como problema da teoria social, a partir das contribuições dos autores em epígrafe, aponta para a viabilidade de um instrumental metodológico, aportes teóricos que se articulam às fontes e ao problema levantado, para as áreas de conhecimento traçadas e as subjetividades de quem estuda esta temática. As fontes selecionadas constroem categorias e conceitos espaciais que dão formas e sentidos ao objeto da pesquisa sobre prisão ou instituições de encarceramento. Os procedimentos de desconstrução e construção do objeto estão atrelados não somente aos referenciais teórico-metodológicos adotados pelos pesquisadores, mas, sobretudo, às suas práticas sociais e culturais cotidianas.

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Gleice Linhares de Azevêdo

UFRN Honestas e Transgressoras: Histórias de Mulheres Caicoenses dos Processos Crimes de 1930

Esse trabalho visa problematizar como as mulheres consideradas de família viviam na cidade de Caicó em 1930. Estando submetidas ao controle da figura masculina, seja representada na figura paterna ou de algum irmão, as mulheres “honestas” naquele momento não podiam manifestar suas vontades, desejos, eram vistas como assexuadas e frágeis necessitando da proteção

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masculina. Este controle por parte do responsável pela mulher funcionava como estratégia também de evitar possíveis namoros que viessem a prejudicar o nome da moça e de toda a sua família. Em contraponto a estas mulheres, outras apresentavam comportamento contrário: eram consideradas transgressoras, emancipadas e sedutoras nos processos crimes analisados que fundamentam nosso trabalho. Mulheres desta índole naquele contexto, não se enquadravam nas práticas de comportamentos considerados ideais para as mulheres de boa conduta ou de família. Assim, nossa pesquisa visa analisar quais práticas de controle e quais concepções de honra e valores morais estão presentes na sociedade caicoense naquele momento, visto que os processos judiciais analisados de casos de defloramentos foram abertos para reparar o atentado contra a honra. No entanto, às vezes estes processos serviam como estratégia para dar continuidade ao relacionamento com um possível casamento do que “limpar” a honra da moça. Por outro lado, a justiça preocupava-se com essas mulheres desonradas, pois elas poderiam influenciar outras moças a perpetuar os maus costumes, como também a praticar atos de libertinagens, que as enquadrassem como transgressoras nos processos crimes. Além disso, por meio destas fontes teremos acesso aos detalhes da vida social de cada personagem envolvido em crimes contra o corpo/honra da moça considerada honesta e os artifícios que os envolvidos no processo crime utilizavam para não sofrer a penas judiciais. Portanto, a leitura dos processos-crimes possibilita construir uma cartografia/geografia acerca dos comportamentos e lugares ocupados pelas moças honradas e pelas moças consideradas insubmissas, emancipadas e senhoras de si. Os processos crimes nos permitirão problematizar as concepções e representações presentes no espaço jurídico no que tange aos papéis do homem e da mulher legitimados através de práticas que contribuíram para perfilhar quais lugares de honestidade a mulher deveria incorporar a sua vida uma vez que não interessava o papel da transgressora na produção da sua identidade. Palavras- chaves: processos – crimes; honra; transgressora;

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João Fernando Barreto de Brito

UFRN Conflitos na Colônia Sinimbú: o trabalho e a seca no Rio Grande do Norte na segunda metade do século XIX

“Conflitos na Colônia Sinimbú: o trabalho e a seca no Rio Grande do Norte na segunda metade do século XIX” é um trabalho em construção que tem por objetivo investigar como as tensões e conflitos entre os homens pobres livres e os membros do governo na segunda metade do século XIX, principalmente durante a Seca de 1877-1879, repercutem na criação de instituições espaciais vitais a compreensão dos processos de transição do trabalho escravo para o trabalho assalariado na Província do Rio Grande do Norte. Para tanto, a pesquisa analisa os relatórios de Presidente de Província do Rio Grande do Norte e correspondências entre os representantes do governo de modo a compreender os sentidos atribuídos por estes aos homens pobres livres, bem como dos últimos quanto a proteção e distribuição de justiça em tempos de carestia.

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NOME INSTITUIÇÃO TÍTULO

Débora Quezia Brito da Cunha

UFRN Entre o corpóreo e o sagrado: reflexões sobre acepções corporais no campo religioso e cultural e sua influência na mentalidade e hábitos da sociedade

O corpo ao longo da história teve diversos significados e interpretações tanto no campo do sagrado como no campo cultural e político. Ora visto como um receptáculo carnal onde reinava o mal, ora como um lugar de identidade pessoal gerando o culto ao corpo. A história do corpo desempenhou durante muito tempo um papel secundário dentro da historiografia e, no Brasil, ela começa a aparecer com mais intensidade nas discussões acadêmicas, somente na década de 1990. Quando se pensou em estudar o período pós guerra, foram deparadas novas percepções, não só da sociedade, como também do corpo. Certa tradição cristã envolveu o corpo em suspeita ou até mesmo em censura numa tentativa de não lhe dar muita atenção para assim não o expor a carne. Esse estudo se propõe a analisar o percurso no qual a visão sobre o corpo teve mudanças significativas e suas influências na sociedade entre o final do século XIX e inicio do XX sob a ótica religiosa e política. Para tanto, nos muniremos dos conceitos utilizados por Mauss (2003), Prost (1992) e as formulações teóricas de Vigarello (2008), Courtine (2005) dando especial destaque ao valor semiótico das diversas descrições que esses autores dão ao corpo e ao modo como esse é visto e descrito na sociedade do século XIX e XX.

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Diana da Silva Araujo UFRN Entre discursos e justiça: Pedro Leão Veloso e criminalidade escrava na província do Rio Grande do Norte

O presente trabalho é uma análise da criminalidade escrava na província do Rio Grande do Norte com ênfase à década de 1860. Tal análise terá como ponto fundamental os discursos do político Pedro Leão Veloso, presidente da província do Rio Grande do Norte no início da década e de processos criminais do período. A análise conjunta de tais fontes, permite conhecer melhor como a justiça agia sobre o controle dos escravos, como a falta de instrução do escravo poderia interferir em seus atos e como os discursos, muitas vezes velados, contribuíam (ou não) para uma mudança na estrutura judicial no que diz respeito à escravidão. Pedro Leão Veloso cita a escravidão como um dos principais elementos que levavam ao crime. Considerando a não-neutralidade do discurso(GINZBURG, 2002) e sabendo que o Rio Grande do Norte, província periférica e de menor importância econômica se comparada a províncias como Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro, não tinha quantidade expressiva de escravos. Como então justificar o argumento desse presidente? Os escravos da província do Rio Grande do Norte realmente faziam parte de grande parcela de criminosos do local? Sabe-se que em

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algumas regiões houve verdadeiras revoltas de escravos, contudo, o medo em relação a possíveis revoltas por parte dos escravos não existia somente nas províncias centrais ou nas com maiores números de escravos. Sobre a província do Rio Grande do Norte não há conhecimento de nenhuma revolta escrava. O que levaria as autoridades da província na qual o número de escravos era relativamente baixo afirmar que a escravidão era um dos principais fatores de risco no que diz respeito à criminalidade? Este trabalho possibilitará uma melhor compreensão sobre escravidão no Rio Grande do Norte, os principais crimes cometidos pelos cativos na região e como o político Leão Veloso, fiel estatista, utilizava os dados provinciais em defesa de seus ideais.