crítica persepolis

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PERSEPOLIS Numa sociedade em que as mulheres não têm autonomia de escolha, sendo somente donas de casa e esposas submissas, a vitória da personagem é ainda mais valorosa O filme “Persepolis” (Persepolis,2007) é uma adaptação da graphic novel de mesmo título e que tem como tema a autobiografia da iraniana Marjane Satrapi. O filme tem como diretores a própria Marjane e o cartunista francês Vincent Paronnaud. A animação foi bem aclamada pela crítica internacional, ganhando vários prêmios como o de Cannes e sendo indicada ao Oscar de melhor filme estrangeiro. A história se inicia com Satrapi já adulta e no aeroporto de Orly na França. Ela olha para o painel de vôos e sua atenção recai sobre um em direção a Teerã. Todo o filme é contado através de flashbacks e a partir desse momento somos transportados para o Irã no final da década de 70. Marjane está com 9 anos, vive com seus pais e sua avó. Seus pais são ativistas de esquerda e por isso ela enxerga de perto as transformações sociais ocorridas em seu país. A população vai às ruas exigir a renúncia do ditador Xá Reza Pahlavi, comandante do País desde os anos 40. De início a personagem não entende o motivo da revolta, pois na escola aprendeu que os xás foram levados ao poder por escolha divina. Era o início da era dos aiatolás e o Irã estava em regime muito severo em que os meninos tinham que ir para o exército em troca de uma entrada no Paraíso, as meninas tinham que andar todas cobertas e tudo que era considerado ocidentalizado como camisetas sobre o punk, discos do Iron Maiden, ABBA, Bee Gees e adesivos e Michael Jackson era considerado proibido. A garota passava por situações difíceis como a prisão e assassinato de seu tio, que era tido como um herói, e aos poucos vai compreendendo tudo que está acontecendo em seu país.

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Page 1: Crítica Persepolis

PERSEPOLIS

Numa sociedade em que as mulheres não têm autonomia de escolha, sendo somente donas de casa e esposas submissas, a vitória da personagem é ainda mais valorosa

O filme “Persepolis” (Persepolis,2007) é uma adaptação da graphic novel de mesmo título e que tem como tema a autobiografia da iraniana Marjane Satrapi. O filme tem como diretores a própria Marjane e o cartunista francês Vincent Paronnaud. A animação foi bem aclamada pela crítica internacional, ganhando vários prêmios como o de Cannes e sendo indicada ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

A história se inicia com Satrapi já adulta e no aeroporto de Orly na França. Ela olha para o painel de vôos e sua atenção recai sobre um em direção a Teerã. Todo o filme é contado através de flashbacks e a partir desse momento somos transportados para o Irã no final da década de 70. Marjane está com 9 anos, vive com seus pais e sua avó. Seus pais são ativistas de esquerda e por isso ela enxerga de perto as transformações sociais ocorridas em seu país. A população vai às ruas exigir a renúncia do ditador Xá Reza Pahlavi, comandante do País desde os anos 40. De início a personagem não entende o motivo da revolta, pois na escola aprendeu que os xás foram levados ao poder por escolha divina. Era o início da era dos aiatolás e o Irã estava em regime muito severo em que os meninos tinham que ir para o exército em troca de uma entrada no Paraíso, as meninas tinham que andar todas cobertas e tudo que era considerado ocidentalizado como camisetas sobre o punk, discos do Iron Maiden, ABBA, Bee Gees e adesivos e Michael Jackson era considerado proibido. A garota passava por situações difíceis como a prisão e assassinato de seu tio, que era tido como um herói, e aos poucos vai compreendendo tudo que está acontecendo em seu país.

Nesse cenário conturbado e desorganizado Marji começa a contestar policiais e professores, sendo levada para viver em Viena. Na Áustria Marjane é tratada como um ser exótico e por consequência cria amizade com pessoas semelhantes e acaba vivendo com pessoas tão estranhas quanto ela. Apesar de tantas turbulências é nesse panorama que a personagem principal descobre seus sentimentos como o amor, o ciúme e as desilusões amorosas. Voltando ao Irã, onde o período de maior instabilidade política já passou, a personagem ainda é tratada de forma diferente e ela não consegue se encaixar.

O filme é bastante interessante e bem marcante, porque impressiona o fato de ela não ter sucumbido diante de tantas dificuldades. Numa sociedade em que as mulheres não têm autonomia de escolha, sendo somente donas de casa e esposas submissas, a vitória da personagem é ainda mais valorosa. Sem querer cair em moralismos, é evidente que o grande responsável por isso foram os valores familiares

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que Marjane recebeu ao longo de sua infância, através de seus pais e também de sua avó. Nada é escondido de Satrapi, que conversa livremente com seus parentes e outros revolucionários. Um pouco depois, antes de embarcar para a Áustria, onde os pais entendem que ela estará mais segura, recebe da avó um conselho para se manter honesta consigo mesma, independentemente dos homens que a tentem passar para trás. É também a avó que vai socorrê-la numa questão ligada ao seu futuro divórcio.

Persepolis é muito bom e tem um tom lúdico e divertido - como é possível perceber em cenas em que Marjane, que tinha o sonho de ser profeta, aparece conversando com Deus - são cenas leves e belas que nos levam a refletir sobre os absurdos cometidos pela humanidade contra si mesma.