crédito ao consumo - trabalho

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Crédito ao Consumo Alexandre Bruno Ferreira Balteiro, ISCAC nº 8994 Melodie Matias Ferreira, ISCAC nº 9075 Disciplina: Legislação Empresarial Docente: Prof. Dr. Benjamin Rodrigues Mestrado em Contabilidade e Fiscalidade Empresarial Ano Lectivo 2010/2011 – 2º Trimestre

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Crédito ao Consumo

Alexandre Bruno Ferreira Balteiro, ISCAC nº 8994

Melodie Matias Ferreira, ISCAC nº 9075

Disciplina: Legislação Empresarial

Docente: Prof. Dr. Benjamin Rodrigues

Mestrado em Contabilidade e Fiscalidade Empresarial

Ano Lectivo 2010/2011 – 2º Trimestre

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Índice

1. Introdução................................................................................................................................ 3

2. Crédito ao consumo ............................................................................................................... 4

3. Crédito ao consumo em Portugal ........................................................................................ 6

4. Disposições legais e sua evolução ...................................................................................... 8

5. O contrato de crédito ao consumo .................................................................................... 10

5.1. Conceito ........................................................................................................................ 10

5.2. Normativo ..................................................................................................................... 10

5.3. Exclusões ...................................................................................................................... 10

5.4. Publicidade .................................................................................................................... 11

5.5. Informação pré-contratual ........................................................................................... 12

5.6. Informações contratuais .............................................................................................. 12

5.7. Responsabilidade pré-contratual ................................................................................ 13

5.8. Requisitos dos contratos de crédito ........................................................................... 14

5.9. Invalidade e Inexigibilidade do contrato de crédito ................................................ 14

5.10. Nulidade do contrato de crédito ............................................................................... 14

5.11. Anulabilidade do contrato de crédito ...................................................................... 16

5.12. Direito de arrependimento ou desistência .............................................................. 17

5.13. Contratos coligados ................................................................................................... 18

5.14. Reembolso antecipado .............................................................................................. 19

5.15. Não cumprimento do contrato de crédito pelo consumidor ................................. 20

5.16. Fraude à lei ................................................................................................................. 20

5.17. Usura ............................................................................................................................ 21

5.18. Vendas associadas ..................................................................................................... 21

6. Conclusão ............................................................................................................................. 22

7. Referências bibliográficas .................................................................................................. 23

3

1. Introdução

Este trabalho intitulado “Crédito ao consumo”, realizado no âmbito da disciplina

de Legislação empresarial pretende abordar a temática sobre o consumismo e sobre a

problemática que isso conduz nas sociedades, nomeadamente os créditos que os

indivíduos, independentemente do género, contraem para satisfazer esses desejos de

consumo, sejam eles mais extravagantes ou indispensáveis. A razão da escolha prende-

se com o facto de ser um tema bastante actual e com a qual muitas famílias se deparam.

Neste âmbito, será feita uma abordagem acerca do significado do conceito de

“crédito” e as razões que levam os consumidores a endividarem-se cada vez mais para

“alimentar” esse vício que devora as sociedades contemporâneas, de “consumo” e por

sua vez do crédito ao consumo.

Iremos também referir o caso português, tentando responder a questões como:

como se tem manifestado o crédito ao consumo em Portugal? Quem se endivida mais?

O que compram os portugueses quando compram a crédito?

De seguida iremos fazer referência a disposição legal que rege os contratos de

crédito ao consumo e a sua evolução no normativo nacional.

Além dos temas anteriormente referidos também faremos uma abordagem

aprofundada e detalhada do contrato de crédito ao consumo que tem como normativo o

Decreto-Lei nº 133/2009, de 2 de Junho que procede à transposição para a ordem

jurídica interna da Directiva n.º 2008/48/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de

23 de Abril, relativa a contratos de crédito aos consumidores.

Por último serão expostas algumas conclusões acerca do assunto exposto neste

trabalho de forma a sintetizar aquilo que se pretende aprofundar no tratamento do tema.

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2. Crédito ao consumo

A palavra crédito significa “uma coisa confiada de boa fé”. A MoneyBasic

(2005) define crédito como “uma soma em dinheiro disponibilizada por uma pessoa,

uma entidade financeira ou um banco, por um determinado período. O beneficiário

deve pagar uma forma de remuneração, designada por juro, como contrapartida da

disponibilização do dinheiro. Implica, geralmente, a prestação de uma garantia ao

banco, pela quantia emprestada. O crédito ao consumo, geralmente, dispensa esta

garantia e consequentemente implica uma taxa de juro mais elevada”.

Por sua vez, consumo significa “a aquisição de bens que podem ser bens de

consumo, bens de capital ou serviços”. A Wikipédia define consumo como “a

utilização, aplicação, uso ou gasto de um bem ou serviço por um indivíduo ou uma

empresa.”

O crédito ao consumo está inserido no consumo privado, ou seja, no consumo

realizado pelas famílias, enquanto agente económico, utilizando o rendimento que

obtêm na actividade produtiva para comprar bens e serviços necessários à satisfação das

suas necessidades, tais como: alimentação, vestuário, habitação, divertimentos e outros.

A procura de crédito ao consumo é um fenómeno das sociedades modernas que

está relacionado com aspectos económicos, sociais e culturais.

Os cheques pré-datados ou as vendas às prestações já fazem parte do passado e

têm vindo a ser substituídos cada vez mais pelo crédito “informal, ou seja, o crédito ao

consumo.

Os consumidores de créditos dirigem a sua procura para determinado tipo de

bens e serviços tais como automóveis/motas, obras em casa, electrodomésticos,

mobiliário e equipamentos informáticos.

Assim os indivíduos que recorrem ao crédito de consumo caracterizam essa

procura mediante a taxa de desemprego, rendimento das famílias, taxas de juro,

poupança, taxa de inflação, quadro jurídico e fiscal, preferências, estilos de vida e

valores culturais privilegiados

O perfil do utilizador do crédito ao consumo incide maioritariamente em

indivíduos do sexo masculino, verificando-se menor afluxo no recurso ao crédito por

5

parte de indivíduos pertencentes a classes sociais com menores rendimentos,

nomeadamente, domésticas, desempregados reformados/pensionistas e estudantes. Por

outro lado, os indivíduos pertencentes a classes médias/superiores são os que acedem

com maior frequência ao crédito para aquisição de bens e serviços.

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3. O crédito ao consumo em Portugal

O crédito ao consumo em Portugal é um fenómeno relativamente recente no

nosso país, sendo essencialmente a partir da década de 90 que este tipo de concessão de

crédito, regista em Portugal, um grande crescimento, no entanto, na generalidade dos

países europeus já é prática corrente há bastante mais tempo.

Este crescimento registado em Portugal deve-se a múltiplos factores, tais como:

a liberalização do sistema financeiro português, a descida das taxas de juro, o baixo

nível de endividamento das famílias portuguesas e a manipulação das campanhas

publicitárias para a cedência de crédito ao consumo.

A grande concorrência no mercado do crédito bancário obriga os bancos o

tomarem novas medidas e uma das grandes apostas desse sector, tem sido nos últimos

anos, o crédito ao consumo. Com as suas campanhas agressivas têm vindo a cativar

cada vez mais adeptos devido a que “o negócio do crédito ao consumo é altamente

vantajoso para os bancos, pela grande dispersão do risco, pela cobrança de taxas mais

elevadas e pela fidelização dos clientes, as perdas causadas por quem deixa de pagar

as dívidas são altamente compensadas, e os bancos facilitam a concessão deste tipo de

crédito.” (Lobo, 1998). Por outro lado, com as descidas das taxas de juro e com a

facilidade de acesso ao crédito, as famílias são impulsionadas a aderir ao crédito

Além disso, o consumo ao crédito em Portugal tem vindo a aumentar porque o

que outrora era visto como um sinal de pobreza e agora tornou-se algo banal na nossa

sociedade, dando aos consumidores a possibilidade de acesso ao crédito com mais

frequência e também para a aquisição de bens cada vez mais diversificados

Desta forma, verifica-se que em Portugal o crédito ao consumo tem vindo a

aumentar de ano para ano e que consequentemente as famílias têm adquirido cada vez

menos hábitos de poupança, levando cada vez mais as famílias ao endividamento.

A poupança é uma prática cada vez menos corrente nos dias de hoje, devido a

que os factores relacionados com a aquisição de crédito ao consumo estão directamente

relacionados com a diminuição dos níveis de poupança, não existindo perspectivas de

uma evolução favorável no que diz respeito a este assunto. Isto preconiza que as

famílias tenham um endividamento maior a cada dia que passa, vivendo assim acima da

sua realidade.

7

Nos dias que correm tem vindo a notar-se uma maior afluência ao crédito por

partes dos consumidores no que diz respeito ao consumo relacionado com o lazer, férias

e despesas de saúde das suas famílias, mostrando uma mudança de estilo de vida por

parte das pessoas. Este tipo de crédito também está associado a factores demográficos,

ao efeito da globalização e à redução do tempo de trabalho que permite uma maior

disponibilidade para o consumo.

Um forte responsável que influencia o consumo parte dos indivíduos são as

grandes superfícies comerciais, em que a sua expansão e a grande oferta comercial

oferecida, coincide com a expansão do crédito ao consumo.

Em Portugal existem gabinetes de informação e de apoio ao contribuinte, com

pessoal especializado que se encontram disponíveis para aconselhar e apurar se o acesso

ao crédito ao consumo foi efectuado em conformidade com a lei, e se existem soluções

para o ajustamento ou redução do total e número de prestações a pagar.

8

4. Disposições legais e sua evolução

Em relação a disposição legal que rege os contratos de crédito ao consumo e a

sua evolução no normativo nacional, não existe melhor forma de demonstrar isso do que

a transposição da introdução ao Decreto-Lei n.º 133/2009 de 2 de Junho, alterado pela

Declaração de Rectificação n.º 55/2009, de 31 de Julho.

“A Directiva n.º 87/102/CEE, do Conselho, de 22 de Dezembro de 1986,

relativa à aproximação das disposições legislativas, regulamentares e administrativas

dos Estados membros relativas ao crédito ao consumo, alterada pela Directiva n.º

90/88/CEE, do Conselho, de 22 de Fevereiro, e pela Directiva n.º 98/7/CE, do

Parlamento Europeu e do Conselho, de 16 de Fevereiro, estabeleceu regras

comunitárias para os contratos de crédito ao consumo, tendo sido transposta para o

ordenamento jurídico interno pelo Decreto-Lei n.º 359/91, de 21 de Setembro.

Os aspectos inovadores que então foram introduzidos respeitam ao dever de

informação clara, completa e verdadeira, às condições a que deve obedecer a

publicidade, aos requisitos do contrato, ao direito de revogação e à instituição da taxa

anual de encargos efectiva global (TAEG), uniformizada no quadro da Comunidade

Europeia, cujo método normalizado de cálculo foi anexado ao referido decreto-lei,

possibilitando a apresentação de exemplos representativos da sua aplicação,

requeridos na fase pré-contratual.

O balanço da aplicação deste acervo legislativo demonstra que o mesmo se

revelou extremamente importante para o funcionamento do mercado de crédito, tanto a

nível nacional como comunitário.

Porém, verificou-se, entretanto, uma evolução profunda – social, política e

económica – no espaço europeu. O mercado, ao longo de duas décadas, transformou-se

radicalmente: consumidores mais informados e exigentes, novos actores e agentes

intermediários, novos métodos na oferta e novas ferramentas – designadamente a

Internet. Assim, surgiu a necessidade de uma nova legislação comunitária, que

reflectisse, ao nível jurídico, a evolução verificada neste mercado.

Deste modo, o Parlamento Europeu e o Conselho aprovaram a Directiva n.º

2008/48/CE, de 23 de Abril, relativa a contratos de crédito aos consumidores, que

exprime a urgência na realização de um mercado comunitário de produtos e serviços

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financeiros, quer prevendo a uniformização da forma de cálculo e dos elementos

incluídos na TAEG, quer reforçando os direitos dos consumidores, nomeadamente o

direito à informação pré-contratual. É esta directiva, que revoga os textos comunitários

vigentes sobre esta matéria, que o presente decreto-lei vem transpor para o direito

interno. Nesta transposição, destacam-se, de entre as várias medidas adoptadas, a

obrigatoriedade, por parte do credor, de avaliar a solvabilidade do consumidor em

momento prévio à celebração de contrato, o incentivo à realização de transacções

transfronteiriças, assim como a maior eficácia do direito de revogação do contrato de

crédito.

A TAEG é objecto de uma uniformização mais adequada, sendo ainda instituída

uma ficha específica e normalizada sobre «informação europeia em matéria de crédito

a consumidores relativa a descobertos e à conversão de dívidas».

É instituída uma mais eficaz protecção do consumidor em caso de contratos

coligados, configurando -se uma migração das vicissitudes de um contrato para o

outro.

Mantém-se a responsabilidade subsidiária de grau reduzido do credor, em caso

de incumprimento ou de cumprimento defeituoso do contrato de compra e venda ou de

prestação de serviços.

Na linha do disposto nos artigos 934.º a 936.º do Código Civil, estabelecem -se

novas regras aplicáveis ao incumprimento do consumidor no pagamento de prestações,

impedindo -se que, de imediato, o credor possa invocar a perda do benefício do prazo

ou a resolução do contrato.

Assinala -se ainda a proibição de consagração de juros elevados, sob pena de

usura.”

(O sétimo parágrafo do preâmbulo, rectificado pela Declaração de Rectificação

n.º 55/2009, de 31 de Julho, estabelecia, na versão originária, que “a TAEG é objecto de

uma uniformização mais adequada, sendo ainda instituída uma ficha específica e

normalizada sobre «informação europeia em matéria de crédito a consumidores relativa

a descobertos, às ofertas de certas organizações de crédito e à conversão de dívidas» ”)

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5. Contrato de crédito ao consumo

5.1. Conceito (artigo 4º. DL 133/2009, de 2 de Junho)

Contrato pelo qual um credor concede ou promete conceder a um consumidor

um crédito sob a forma de diferimento de pagamento, mútuo, utilização de cartão de

crédito, ou qualquer outro acordo de financiamento semelhante.

5.2. Normativo (artigo 1º. DL 133/2009, de 2 de Junho)

Decreto-Lei nº 133/2009, de 2 de Junho

O presente decreto-lei procede à transposição para a ordem jurídica interna da

Directiva n.º 2008/48/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de Abril,

relativa a contratos de crédito aos consumidores.

5.3. Exclusões (artigo 2º. DL 133/2009, de 2 de Junho)

a) Contratos de crédito garantidos por hipoteca sobre coisa imóvel;

b) Contrato de crédito cujo objectivo seja o financiamento da aquisição ou a

manutenção de direitos de propriedade sobre terrenos ou edifícios existentes ou

projectados;

c) Contrato de crédito cujo montante total de crédito seja inferior a 200€ ou

superior a 75 000€;

d) Contratos de locação de bens móveis de consumo duradouro que não de

locação-venda;

e) Contratos de crédito sob a forma de facilidades de descoberto com reembolso

num mês;

f) Contratos de crédito em que o crédito seja concedido sem juros e outros

encargos;

g) Contrato de crédito em que exista reembolso em três meses com pagamento de

encargos insignificantes;

11

h) Contratos de crédito cujo crédito é concedido por um empregador aos seus

empregados, sem juros ou com TAEG inferior às taxas praticadas no mercado, e

que não sejam propostos ao público em geral;

i) Contratos de crédito celebrados com empresa de investimento, sempre que a

empresa ou a instituição de crédito intervenha nessa transacção;

j) Contratos de crédito que resultem de transacção em tribunal ou perante outra

autoridade pública;

k) Contratos de crédito que se limitem a estabelecerem o pagamento diferido de

uma dívida preexistente, sem quaisquer encargos;

l) Contratos de crédito exclusivamente garantidos por penhor constituído pelo

consumidor;

m) Contratos que digam respeitam a empréstimos concedidos a um público restrito

com taxas de juro inferiores às praticadas no mercado ou sem juros ou noutras

condições mais favoráveis para os consumidores do que as praticadas no

mercado e com taxas de juro não superiores às praticadas no mercado.

5.4. Publicidade (artigo 5º. DL 133/2009, de 2 de Junho)

As informações normalizadas devem especificar, de modo claro, conciso, legível

e destacado, por meio de exemplo representativo:

a) A taxa nominal, fixa ou variável;

b) O montante total do crédito;

c) A TAEG;

d) A duração do contrato de crédito, se for o caso;

e) O preço a pronto e o montante do eventual sinal, no caso de crédito

sob a forma de pagamento diferido de bem ou de serviço específico; e

f) O montante total imputado ao consumidor e o montante das

prestações, se for o caso.

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5.5. Informação pré-contratual (artigo 6º. DL 133/2009, de 2 de Junho)

Prestação de informação antes da celebração do contrato de crédito.

Tais informações devem ser prestadas em papel ou noutro suporte duradouro,

através da ficha sobre «informação normalizada europeia em matéria de crédito a

consumidores»

5.6. Informações (artigo 6º. DL 133/2009, de 2 de Junho)

As informações em causa devem especificar:

a) O tipo de crédito;

b) A identificação e o endereço geográfico do credor ou do mediador,

consoante o caso;

c) O montante total do crédito e as condições de utilização;

d) A duração do contrato de crédito;

e) Nos créditos sob a forma de pagamento diferido de um bem ou de um

serviço específico e nos contratos coligados, o bem ou o serviço em

causa, assim como o respectivo preço a pronto;

f) A taxa nominal, as condições aplicáveis a esta taxa…

g) A TAEG e o montante total imputado ao consumidor, ilustrada através

de exemplo representativo que indique todos os elementos utilizados

no cálculo desta taxa;

h) O tipo, o montante, o número e a periodicidade dos pagamentos a

efectuar pelo consumidor;

i) Se for o caso, os encargos relativos à manutenção de uma ou mais

contas para registar simultaneamente operações de pagamento e de

utilização do crédito;

j) Os custos notariais a pagar pelo consumidor pela celebração do

contrato de crédito, se for o caso;

13

k) A eventual obrigação de celebrar um contrato acessório ligado ao

contrato de crédito, nomeadamente um contrato de seguro;

l) A taxa de juros de mora e, se for caso disso, os encargos devidos em

caso de incumprimento;

m) As consequências da falta de pagamento;

n) As garantias exigidas, se for o caso;

o) A existência do direito de desistência pelo consumidor;

p) O direito de reembolso antecipado;

q) O direito de o consumidor ser informado, imediata, gratuita e

justificadamente do resultado da consulta de uma base de dados para

verificação da sua solvabilidade;

r) O direito de o consumidor obter, por sua solicitação e gratuitamente,

uma cópia da minuta de contrato de crédito;

s) O período durante o qual o credor permanece vinculado pelas

informações pré-contratuais, se for o caso.

5.7. Responsabilidade pré-contratual

Segundo o artigo 8.º da Lei da defesa do consumidor:

1) O fornecedor de bens ou o prestador de serviços que viole o dever de

informar responde pelos danos que causar ao consumidor, sendo

solidariamente responsáveis os demais intervenientes na cadeia da

produção à distribuição que hajam igualmente violado o dever de

informação.

Segundo o artigo 227.º do Código Civil (culpa na formação dos contratos):

1) Quem negoceia com outrem para conclusão de um contrato deve,

tanto nos preliminares como na formação dele, proceder segundo as

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regras de boa-fé, sob pena de responder pelos danos que

culposamente causar à outra parte.

5.8. Requisitos do contrato de crédito (artigo 12º. DL 133/2009, de 2 de

Junho)

Os contratos de crédito devem ser registados em papel ou noutro suporte

duradouro, em condições de inteira legibilidade.

A todos os contraentes, incluindo os garantes, deve ser entregue, no momento da

respectiva assinatura, um exemplar devidamente assinado do contrato de crédito.

5.9. Invalidade e inexigibilidade do contrato de crédito (artigo 13º. DL

133/2009, de 2 de Junho)

O contrato de crédito é nulo se não for reduzido a escrito ou não for entregue um

exemplar devidamente assinado.

A garantia prestada é nula se, em relação ao garante, não lhe for entregue um

exemplar do contrato.

5.10. Nulidade do contrato de crédito (artigo 13º. DL 133/2009, de 2 de

Junho)

A nulidade e a anulabilidade são modalidades que podem invalidar o contrato de

crédito.

Primeiramente, importa saber a distinção entre estes dois conceitos enunciados

no parágrafo anterior, sendo que a nulidade poderá ser invocada a todo o tempo por

qualquer interessado e pode ser declarada oficiosamente pelo tribunal de acordo com o

art.º 286º do Código Civil, esta é aplicada aos actos que, desde o início, não produzem

efeitos jurídicos.

Por outro lado, a anulabilidade, conforme o artigo 287.º,só pode ser arguida por

pessoas em cujo interesse a lei estabelece e só dentro do ano subsequente à cessação do

15

vício que lhe serve de fundamento. Concluído esse prazo a declaração negocial subsiste

como válida.

Em resumo, a grande diferença entre a nulidade e a anulabilidade é o facto de a

nulidade se destinar a defender os interesses públicos, enquanto a anulabilidade destina-

se apenas a defender os interesses privados.

O contrato de crédito é nulo se faltar algumas das seguintes informações:

a) O tipo de crédito;

b) A identificação é o endereço geográfico do credor, bem como, se for o

caso, a identificação e o endereço geográfico do mediador de crédito

envolvido;

c) O montante total do crédito e as condições de utilização;

d) A duração do contrato de crédito

e) Nos créditos sob a forma de pagamento diferido de um bem ou de um

serviço específico e nos contratos coligados, o bem ou o serviço em

causa, assim como o respectivo preço a pronto;

f) A taxa nominal, as condições aplicáveis a esta taxa e, quando

disponíveis, quaisquer índices ou taxas de juro de referência relativos

à taxa nominal inicial, bem como os períodos, as condições e os

procedimentos de alteração da taxa de juro;

g) A TAEG e o montante total imputado ao consumidor, ilustrada através

de exemplo representativo que indique todos os elementos utilizados

no cálculo desta taxa;

h) O tipo, o montante, o número e a periodicidade dos pagamentos a

efectuar pelo consumidor e, se for o caso, a ordem pela qual os

pagamentos devem ser imputados aos diferentes saldos devedores a

que se aplicam taxas de juro diferenciadas para efeitos de reembolso;

i) A TAEG e o montante total do crédito ao consumidor, calculados no

momento da celebração do contrato de crédito, devendo ser

mencionados todos os pressupostos utilizados para calcular esta taxa;

16

j) As informações sobre os encargos aplicáveis a partir da celebração do

contrato de crédito e, se for o caso, as condições em que estes podem

ser alterados.

5.11. Anulabilidade do contrato de crédito (artigo 13º. DL 133/2009, de 2 de

Junho)

O contrato de crédito é anulável, se faltar qualquer um dos seguintes elementos:

a) No caso de amortização do capital em contrato de crédito com

duração fixa, o direito do consumidor a receber, a seu pedido e sem

qualquer encargo, a todo o tempo e ao longo do período de vigência

do contrato, uma cópia do quadro da amortização;

b) Se houver lugar ao pagamento de despesas e de juros sem amortização

do capital, um extracto dos períodos e das condições de pagamento

dos juros devedores e das despesas recorrentes e não recorrentes

associadas;

c) Se for o caso, os encargos relativos à manutenção de uma ou de mais

contas para registar simultaneamente operações de pagamento e de

utilização do crédito, a menos que a abertura de conta seja facultativa;

d) A taxa de juros de mora aplicável à data da celebração do contrato de

crédito, bem como as regras para a respectiva adaptação e, se for o

caso, os encargos devidos em caso de incumprimento;

e) As consequências da falta de pagamento;

f) Se for o caso, a menção de que os custos notariais de celebração do

contrato devem ser pagos pelo consumidor;

g) A existência do direito de retractação pelo consumidor, o prazo, o

procedimento previsto para o seu exercício, incluindo designadamente

informações sobre a obrigação do consumidor pagar o capital

utilizado e os juros;

17

h) O direito de reembolso antecipado, o procedimento a seguir nesse

caso, o modo e a forma de cálculo da redução, as informações sobre o

direito do credor a uma comissão de reembolso antecipado e a forma

da sua determinação;

i) Procedimento a adoptar para a extinção do contrato de crédito;

j) A indicação de que, a seu pedido, pode ser exigido ao consumidor, em

qualquer momento, o reembolso integral do montante do crédito;

k) O procedimento a adoptar para o consumidor exercer o direito de

retractação do contrato de crédito;

l) Outros termos e condições contratuais, se for o caso.

5.12. Direito de arrependimento ou desistência (artigo 17º. DL 133/2009, de

2 de Junho)

1) Imotivabilidade do Direito de Arrependimento ou Desistência:

a) O consumidor dispõe de um prazo de 14 dias de calendário para

exercer o direito de retractação do contrato de crédito, sem

necessidade de indicar qualquer motivo.

2) O prazo para o exercício do direito de arrependimento ou desistência começa a

correr:

a) Da celebração do contrato de crédito; ou

b) Da recepção pelo consumidor do exemplar do contrato e suas

informações, se essa data for posterior

3) Eficácia do Direito de Arrependimento ou Desistência:

a) Expedirá a declaração no prazo referido, 14 dias, em papel ou noutro

suporte.

18

4) Indemnizabilidade do Direito de Arrependimento ou Desistência:

a) Restituirá o capital e pagará os juros vencidos, sem atrasos indevidos,

em 30 dias.

b) E a indemnização por eventuais despesas não reembolsáveis pagas

pelo credor a qualquer entidade da Administração Pública.

5.13. Contratos coligados (artigo 18º. DL 133/2009, de 2 de Junho)

A invalidade ou a ineficácia do contrato de crédito coligado repercute-se, na

mesma medida, no contrato de compra e venda.

A invalidade ou a retractação do contrato de compra e venda repercute-se, na

mesma medida, no contrato de crédito coligado.

No caso de incumprimento ou de desconformidade no cumprimento de contrato

de compra e venda ou de prestação de serviços coligado com contrato de crédito, o

consumidor que, após interpelação do vendedor, não tenha obtido deste a satisfação do

seu direito ao exacto cumprimento do contrato, pode interpelar o credor para exercer

qualquer uma das seguintes pretensões:

a) A excepção de não cumprimento do contrato;

b) A redução do montante do crédito em montante igual ao da redução

do preço;

c) A resolução do contrato de crédito.

Nos casos previstos nas alíneas b) ou c), o consumidor não está obrigado a pagar

ao credor o montante correspondente àquele que foi recebido pelo vendedor.

Se o credor ou um terceiro prestarem um serviço acessório conexo com o

contrato de crédito, o consumidor deixa de estar vinculado ao contrato acessório se

desfizer o contrato de crédito no uso do direito de arrependimento ou desistência ou se

este se extinguir com outro fundamento.

19

O disposto nos números anteriores é aplicável, com as necessárias adaptações,

aos créditos concedidos para financiar o preço de um serviço prestado por terceiro.

Estes esclarecimentos devem ser fornecidos antes da celebração do contrato de

crédito, devem ser entregues ao consumidor em suporte duradouro reprodutível e devem

ser apresentados de forma clara, concisa e legível.

Sendo a informação da responsabilidade do credor, os mediadores de crédito têm

o dever de a transmitir integralmente ao consumidor.

Compete ao credor e, se for o caso, ao mediador de crédito fazer prova do

cumprimento das obrigações neste passo prescritas.

5.14. Reembolso antecipado (artigo 19º. DL 133/2009, de 2 de Junho)

O consumidor tem o direito de, a todo o tempo, mediante pré-aviso ao credor,

cumprir antecipadamente, parcial ou totalmente, o contrato de crédito, com

correspondente redução do custo total do crédito, por via da redução dos juros e dos

encargos do período remanescente do contrato.

O prazo de pré-aviso referido anteriormente não pode ser inferior a 30 dias de

calendário e deve ser exercido através de comunicação ao credor, em papel ou noutro

suporte duradouro.

O credor tem direito a uma compensação, justa e objectivamente justificada,

pelos custos directamente relacionados com o reembolso antecipado, desde que tal

ocorra num período em que a taxa nominal aplicável seja fixa.

A compensação a que se referida anteriormente traduz-se no pagamento, pelo

consumidor, de uma comissão de reembolso antecipado que não pode exceder 0,5 % do

montante do capital reembolsado antecipadamente, se o período decorrido entre o

reembolso antecipado e a data estipulada para o termo do contrato de crédito for

superior a um ano, não podendo aquela comissão ser superior a 0,25 % do montante do

crédito reembolsado antecipadamente, se o mencionado período for inferior ou igual a

um ano.

20

O credor não pode exigir ao consumidor qualquer comissão de reembolso por

efeito do reembolso antecipado do contrato de crédito:

a) Se o reembolso tiver sido efectuado em execução de contrato de

seguro destinado a garantir o reembolso do crédito; ou

b) No caso de facilidade de descoberto; ou

c) Se o reembolso ocorrer num período em que a taxa nominal aplicável

não seja fixa.

Em nenhum caso a comissão referida anteriormente pode exceder o montante

dos juros que o consumidor teria de pagar durante o período decorrido entre o

reembolso antecipado e a data estipulada para o termo do período de taxa fixa do

contrato de crédito.

5.15. Não cumprimento do contrato de crédito pelo consumidor (artigo 20º.

DL 133/2009, de 2 de Junho)

O credor só pode por termo ao contrato em caso de:

a) Não pagamento de duas prestações sucessivas que excedam 10 % do

crédito

b) Concessão sem sucesso de um prazo suplementar mínimo de 15 dias

para pagamento das prestações em atraso

5.16. Fraude à lei (artigo 27º. DL 133/2009, de 2 de Junho):

São nulas as situações criadas com o intuito fraudulento de evitar a aplicação do

disposto no Decreto-Lei n.º 133/2009, de 2 de Junho.

Configuram, nomeadamente, casos de fraude à lei:

a) O fraccionamento do montante do crédito por contratos distintos;

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b) A transformação de contratos de crédito sujeitos ao regime do

presente decreto-lei em contratos de crédito excluídos do âmbito da

aplicação do mesmo;

c) A escolha do direito de um país terceiro aplicável ao contrato de

crédito, se esse contrato apresentar uma relação estreita com o

território português ou de um outro Estado membro da União

Europeia.

5.17. Usura (artigo 28º. DL 133/2009, de 2 de Junho):

É havido como usurário o contrato de crédito cuja TAEG, no momento da

celebração do contrato, exceda em um terço a TAEG média praticada no mercado pelas

instituições de crédito ou sociedades financeiras no trimestre anterior, para cada tipo de

contrato de crédito ao consumo.

A identificação dos tipos de contrato de crédito ao consumo relevantes, a TAEG

média praticada para cada um destes tipos de contrato pelas instituições de crédito ou

sociedades financeiras e o valor máximo resultante da aplicação do disposto no número

anterior, são determinados e divulgados ao público trimestralmente pelo Banco de

Portugal, sendo válidos para os contratos a celebrar no trimestre seguinte.

Considera-se automaticamente reduzida ao limite máximo previsto

anteriormente, a TAEG que os ultrapasse, sem prejuízo de eventual responsabilidade

criminal.

Os efeitos decorrentes deste artigo não afectam os contratos já celebrados ou em

vigor.

5.18. Vendas Associadas (artigo 29º. DL 133/2009, de 2 de Junho):

Às instituições de crédito e sociedades financeiras está vedado fazer depender a

celebração dos contratos abrangidos por este decreto-lei, bem como a respectiva

renegociação, da aquisição de outros produtos ou serviços financeiros.

22

6. Conclusões

Actualmente, pedir crédito a uma instituição já é algo bastante banal. Solicitam-

se créditos para habitações, automóveis, mobiliário e, cada vez com mais frequência,

para despesas como a saúde e educação.

Através dos meios de comunicação, a publicidade assumiu proporções

gigantescas, criando necessidades nos consumidores. Cada vez mais, os consumidores

querem mais e de melhor qualidade. A evolução tecnológica tem contribuído para que

as necessidades se alterem e, desta forma, o que agora é topo de gama, num futuro

próximo poderá não o ser.

Assim, o endividamento começa a ser uma verdade bem presente com que

muitas pessoas têm de se confrontar. Para além do endividamento, muitas famílias

chegam mesmo ao multiendividamento, isto é, ter mais do que um crédito. Como

explicação para este fenómeno está uma maior afluência ao crédito por partes dos

consumidores no que diz respeito ao consumo relacionado com o lazer, férias e despesas

de saúde das suas famílias, mostrando uma mudança de estilo de vida por parte das

pessoas. Este tipo de crédito também está associado a factores demográficos, ao efeito

da globalização e à redução do tempo de trabalho que permite uma maior

disponibilidade para o consumo, sendo independente do sexo ou idade.

A poupança é uma prática cada vez menos corrente nos dias de hoje, uma vez

que os contratos relacionados com a aquisição de crédito ao consumo estão

directamente relacionados com a diminuição dos níveis de poupança, não existindo

perspectivas de uma evolução favorável no que diz respeito a este assunto. Isto

preconiza que as famílias tenham um endividamento maior a cada dia que passa,

vivendo assim acima da sua realidade.

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7. Referências bibliográficas

� Decreto-Lei nº 133/2009, de 2 de Junho

� Gelpi, Rosa-Maria e Labruyère, François Julien (2000), História do Crédito ao Consumo: doutrinas e práticas. Cascais: Principia.

� Lobo, Flora Hermengarda de Pinho e Cunha (1998), “Crédito ao consumo e restrições de liquidez: uma aplicação à economia portuguesa”, Dissertação de Mestrado em Economia. Coimbra: Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

� Marques, Maria; Neves, Vítor; Frade, Catarina; Lobo, Flora; Pinto, Paulo, (2000), O endividamento dos consumidores. Coimbra, Edição Almedina.

� MoneyBasic (2005), “MoneyBasics Portugal - Controlar melhor as suas finanças”.

� Wikipédia