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Corpo Movimento e Psicomotricidade

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Breve História do Corpo, do Movimento e da Psicomotricidade

Material Teórico

Responsável pelo Conteúdo:Profª. Ms. Maria Stella Aoki Cerri

Revisão Textual:Profª. Dra. Maria Isabel Andrade Sousa Moniz

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• Introdução

• O corpo humano e sua história

• O Movimento

Ao ler esta unidade e aprofundar seus estudos, você deve ter como foco a compreensão e a contextualização do que representa o conhecimento e a reflexão sobre a interação entre corpo, movimento e psicomotricidade no trabalho educativo do professor. O eixo central desta unidade é a percepção do educador acerca da necessidade de dominar e refletir sobre o tema e de compreender que a criança aprende através do corpo. Acesse no item Documentos da Disciplina o conteúdo teórico.

Em seguida, leia com atenção as questões que compõem a Atividade de Sistematização, procurando sempre interagir com a proposta apresentada.

Você encontrará a indicação de Materiais Complementares, que enriquecerão ainda mais seu estudo sobre o tema. A bibliografia também constitui um material complementar valioso para o aprofundamento do seu estudo.

Na Atividade de Aprofundamento da unidade, participe do Fórum que o levará a refletir sobre a teoria estudada.

Então, bons estudos e lembre-se de que em caso de dúvidas estarei em contato com você, através do ambiente virtual.

Esta unidade tem por objetivo apresentar a noção de Corpo, Movimento e Psicomotricidade que foi se construindo e reconstruindo nos diferentes contextos sociais, históricos e religiosos. Ela possibilitará a você conhecer e compreender que o uso do movimento corporal na escola é muito importante, também, para a concretização do processo de ensino e de aprendizagem.

Breve História do Corpo, do Movimento e da Psicomotricidade

• O Movimento na Educação

• Psicomotricidade

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Unidade: Breve História do Corpo, do Movimento e da Psicomotricidade

Contextualização

Para nosso momento de contextualização, sugerimos que leia um pequeno artigo da revista Nova Escola intitulado: O corpo, o movimento e a aprendizagem.

O artigo fala da importância do trabalho com a dança nas escolas e defende a ideia de que “quem dança tem mais facilidade para construir a imagem do próprio corpo, o que é fundamental para o crescimento e a maturidade do indivíduo e a formação de sua consciência social”.

Leia o artigo e faça uma reflexão sobre a importância da dança no currículo escolar. Ressaltamos a importância do estudo da unidade para a sua formação pessoal e profissional.

A matéria está disponível no seguinte endereço eletrônico:http://revistaescola.abril.com.br/arte/pratica-pedagogica/corpo-movimento-aprendizagem-514704.shtml

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Introdução

Nesta unidade, ao estudarmos o que se conhece sobre o corpo e o movimento corporal, veremos que o ser humano tem visões muito particulares do que é e o que significa o corpo, o movimento e a psicomotricidade humana.

Como educadores, deveremos ter uma visão mais científica, mais aprofundada, pois vamos trabalhar esses sentidos e funções em um ser humano em formação.

Assim sendo, veremos em pormenores o que cada um desses temas – corpo, movimento, psicomotricidade – tem em particular e como interagem na formação da personalidade da criança, contribuindo para que o adulto cresça em sua caminhada para uma formação dita civilizada, consciente, cidadã, onde valores humanos e tecnológicos se harmonizem pela vida.

O corpo humano e sua história

A história do corpo humano revela a dimensão da civilização em que foi criado.

No corpo estão inscritas todas as regras, todas as normas e todos os valores de uma sociedade específica, por ser ele o meio de contacto primário do indivíduo com o ambiente que o cerca. (DAÓLIO, 2003, p.39)

O autor nos indica que nosso corpo é o construtor e, ao mesmo tempo, é construído pela sociedade em que vive. É pelo estudo do percurso histórico do corpo, por todos os tempos, que poderemos ter uma visão (ainda que nem sempre clara) de como o corpo foi visto e sentido.

Desta forma, é necessário, primeiro, ter uma visão histórica de como cada sociedade, cada cultura ao longo do tempo e de cada uma dentro do seu espaço, construiu e representou o corpo humano, atribuindo-lhe certos atributos, negando outros e criando padrões referenciais de beleza, saúde, postura, etc.

Nota-se que, conforme a evolução histórica do pensamento e do discurso humano, as mudanças corporais foram acontecendo, sendo aceitas, de forma que as novas concepções serviram de base para a próxima mudança.

A partir dessas considerações, vamos desenvolver algumas concepções sobre o corpo no campo histórico, filosófico, religioso, etc. Todavia, observaremos que ao longo da história o homem procurou sempre um ideal de corpo. Observe a imagem a seguir. Note que o corpo ideal ou idealizado possui tamanho e proporções matemáticas, e ainda os tem. Esta matemática buscava a harmonia e uma estética corporal perfeita.

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O homem vitruviano é um conceito apresentado pelo arquiteto romano Marco Vitruvio Polião. O conceito é considerado um cânone das proporções do corpo humano, segundo um determinado raciocínio matemático e baseando-se, em parte, na proporção áurea. Desta forma, o homem descrito por Vitrúvio apresenta-se como um modelo ideal para o ser humano, cujas proporções são perfeitas, segundo o ideal clássico de beleza.

Homem Vitruviano, (1490) desenho de Leonardo da Vinci.

Você Sabia ?

Pensamos que por ser o nosso próprio corpo, uma propriedade nossa, teremos o domínio e o conhecimento sobre ele.

Segundo o grande psicanalista Jacques Lacan (ARANHA, 2003), nos primeiros meses de nossas vidas (até os dezoito primeiros meses) a criança tem uma visão corporal pela experiência, que se denomina “experiência do espelho”: ela se alegra e ri ao conseguir se identificar com a imagem refletida de sua figura. Nesse contexto, ela constrói a figura do outro, que é diferente dela. Um adulto geralmente tem uma experiência que antes de tudo é pré-cognitiva ou pré-reflexiva.

Muitas pessoas passam a vida sem conhecer o seu próprio corpo por dentro, não sabendo como é e como funciona. Desconhecem a sua anatomia e sua fisiologia, essenciais para poder usufruir do corpo e suas benesses.

Além dessas considerações, somente quando olhamos num espelho temos uma visão aproximada do nosso corpo, pois, em geral, só vemos algumas partes dele e mesmo assim em situações nem sempre reveladoras. Quando realizamos nossas atividades rotineiras e básicas, como andar, correr, falar, rir, chorar, etc., temos visões emocionais ou fisiológicas. Temos quase sempre uma visão corporal quando olhamos o outro. É com essa perspectiva, quase sempre surpreendente, que nos reconhecemos quando somos filmados/gravados.

A primeira vez em que me vi filmada, pensei e exclamei: quem é essa figura? Será minha irmã? Tenho uma tia parecida com essa mulher. Não consegui dissimular a minha surpresa.

Conhecemos muito mal o nosso corpo e os sons que emitimos. De agora em diante, veremos algumas concepções a respeito dessa surpreendente e misteriosa “máquina”: o nosso corpo.

1. A visão PlatônicaO mundo ocidental, com uma visão maniqueísta a respeito de quase tudo, tende a ver, explicar e

demonstrar o corpo humano em duas partes bastante distintas: corpo e alma.

A parte material, física, fisiológica é o corpo, enquanto a parte dita espiritual e consciente é chamada de alma. Esse dualismo, que poderíamos chamar de dualis brinquedo construindo mo psicofísico, tenta separar o indivisível.

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Essa relação já aparece entre os gregos no século V a.C. por meio de Platão, que admite que a alma tenha vivido no mundo das ideias antes de se encarnar num corpo e, quando isso acontece, a alma fica aprisionada ao corpo e acaba se degradando.

Platão demonstra no diálogo “O Banquete” que a alma superior deve controlar as paixões ou seremos incapazes de comportamento moral adequado. Segundo Platão, o amor sensível deve estar subordinado ao amor intelectual. Na Grécia, o berço das Olímpiadas, até a guerra cessava por essa ocasião, daí o clássico ditado popular: “corpo são em mente sã”, de onde se deduz que o corpo para estar com boa saúde deve estar subordinado às boas ideias. Amar platonicamente é estar ligado primeiro às ideias, ao intelecto, à mente.

Maniqueísmo: Doutrina filosófica do persa Mani ou Manes (séc. III) segundo a qual o mundo foi criado e é dominado por dois princípios antagônicos, o bem absoluto e o mal

absoluto. Forma de julgamento ou de avaliação que reduz uma questão a apenas dois aspectos opostos e incompatíveis.

2. A visão medieval/ascetismoO império romano se desagrega e os bárbaros migram marcando o fim da Antiguidade e o

início da Idade Média. O corpo passa a ser um sinal de pecado e a religião faz sua purificação por meio do Ascetismo. Em grego, ascetismo significava exercício e depois, disciplina e autocontrole.

Ascese: Conjunto de exercícios (oração, meditação, etc.) que visam ao aperfeiçoamento espiritual.

Ascetismo: Prática da ascese para alcançar elevação espiritual. Moral fundada no desprezo do corpo e das sensações físicas.

Desta forma, o cristianismo significou a renúncia aos prazeres, o controle corporal por meio da abstinência, jejum, flagelo. Santo Agostinho afirma que o corpo e a alma constituem uma unidade, embora o corpo seja mortal e a alma imortal. No livre arbítrio – onde o homem consegue evitar o mal – é a alma que governa, ou fazer o pecado onde o corpo contraria a lei divina. O corpo na Idade Média é o grande gerador do conflito “ação – consciência – Deus e pecado”. (ARANHA,2003)

Neste período, a Igreja Católica era a grande controladora da vida e costumes na Europa e entendia o corpo como um grande gerador de pecado, fase que começa a desaparecer lentamente com o início do Renascimento.

Imperador Justiniano e arcebispo Maximiano junto com a corte; Basílica de San Vitale em Ravenna, na Itália.

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3. O Renascimento e a descoberta do corpoNa Idade Média, havia uma proibição expressa da Igreja em dissecar

cadáveres, pois o corpo, embora fonte de pecado, era uma criação divina. Descobrir o corpo era um sacrilégio, pois Deus, que o havia criado, não deveria ser desrespeitado.

A revolução acadêmica, onde despontavam Da Vinci, Galileu, Newton e outros, começou a dessacralizar o corpo e as ideias sobre ele.

Um olhar secularizado passa a considerar o ser humano do ponto de vista biológico e físico, retirando-lhe a essência religiosa. Aparece novamente o “dualismo psicofísico” onde o homem é formado por uma parte pensante com natureza espiritual e uma parte corpórea, de natureza material.

Outras concepções sobre o corpo foram se estabelecendo nesse período. Baruch Espinoza (1632-1677) afirma em sua obra não haver hierarquia entre Corpo e Espírito: o que existe é uma relação de correspondência. Não existe um passivo e outro ativo, as forças se equilibram e se correspondem. Espinoza é um filósofo da vida e diz: “É falsa a moral baseada no dever, é falsa a moral baseada na falta e no mérito, é falsa a moral baseada em pecado e perdão”.

Para Espinoza, liberdade é autodeterminação, é autonomia. O Renascimento e a Idade Moderna começam a libertar o corpo de todas as amarras externas que o prendiam.

4. O contemporâneo e o poder sobre o corpoA integração do corpo-consciência se dá mediante o engajamento do conhecimento e do

trabalho, que resulta em produção. Máquinas e ferramentas são ampliações do poder corpóreo: o martelo amplia o punho e o computador amplia o cérebro.

É preciso consciência desse poder para lhe conferir legitimidade, porque todo instrumento confere sentido a quem o usa: a arma para o caçador tem um sentido muito diverso do que lhe dá um guerrilheiro.

Para que o corpo não use esse poder de maneira indiscriminada, segundo aqueles que detêm a dominação, é preciso torná-lo dócil “a quem” usa esse corpo.

Ao longo dos tempos, a história mostra exemplos de sofrimento por parte daqueles que se negaram a seguir padrões que deveriam seguir. O poder entende que comportamentos fiquem dóceis pela domesticação. Usa-se o corpo para dobrar o espírito.

A hierarquia (e seus organogramas) é uma criação do poder dominante. Michel Foucault (1926 – 1984) cria a teoria da “microfísica do poder” onde ela é imposta pela “docilização do corpo”. (ARANHA, 2003)

O autor defende que o capitalismo só aceita o corpo que ao mesmo tempo é capaz de produzir e obedecer. Assim, na modernidade não se escraviza mais o corpo. Disciplina-se o espírito e usa-se o corpo como moeda de troca.

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O procedimento para dominação do corpo é exercido por meio de um “olhar que vigia” (muros altos, sinais, horários, controles de ponto, prêmios, ameaças, etc.). É preciso dominar, sem que o outro perceba o domínio.

5. A idolatria do corpo na contemporaneidade Em oposição ao domínio expresso do corpo pelo capitalismo (seja

ele privado ou de estado) surge um esforço para liberar as amarras do corpo, que resulta, entretanto, em idolatria do próprio.

Querer ser sempre jovem, não ter rugas, estrias, querer ser esbelto(a). No final do século XX, a ideia dominante é garantir um corpo bonito, mesmo que seja à custa da saúde. Ser belo e desejado se impõe de modo avassalador.

O narcisismo e a moda impõem modelos, que só através de remédios, cirurgias, academias, alimentos especiais (capitalismo tecnológico) se consegue realizar.

O interesse que é despertado pelo “corpo perfeito” não é uma busca feliz: ela é conduzida e imposta e, mais uma vez, o indivíduo é submetido ao mercado que vai indicar todos os meios para se alcançar a “felicidade”.

6. O educador e o corpoCabe ao educador conhecer significativamente o corpo humano, em especial o corpo das

crianças/adolescentes com o qual terá que trabalhar. O conhecimento anatômico – fisiológico – hormonal é imprescindível, sob pena de não se conseguir resultados intelectuais devido ao desconhecimento corporal.

A sua atuação frente ao aluno será determinante para ele olhar e sentir seu corpo, o corpo do outro e formar a ideia corporal do ser humano. É no conhecimento e aceitação do nosso próprio corpo que aceitaremos os corpos diferentes, das outras pessoas.

O Movimento

Quando estudamos o corpo e sua temporalidade, vimos também que é necessário o estudo de sua anatomia e da sua fisiologia. Ao estudarmos o movimento do corpo humano, em especial o das crianças / adolescentes, veremos que ele é uma importante dimensão da cultura. O desenvolvimento do ser humano jamais poderá se completar sem que lhe organizem e possibilitem movimentos e o seu conhecimento físico/anatômico.

Assim, é imperioso conhecer os movimentos: nós nos movimentamos já no ventre materno e a partir do nascimento as crianças/bebês se movimentam de maneira contínua, adquirindo com isso um controle corporal, de início limitado, mas que aos poucos se intensifica e cresce, apropriando-se do entorno e suas possibilidades e interagindo com o mundo exterior.

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Os bebês engatinham, correm, caminham e colocam o derredor como o seu mundo, sempre experimentando o novo, o desconhecido e surpreendendo com sua maneira de encarar o próprio corpo, as limitações e, sobretudo, com a inventividade. O movimento para um bebê/criança não tem limite, cabendo ao educador não reprimi-lo simplesmente, mas canalizá-lo para algo frutífero-educado e mais apropriado a sua função.

Quando as crianças estão brincando também estão exprimindo sentimentos, emoções e uma maneira de pensar e agir. Cabe ao educador, mais uma vez, observar a movimentação do ser humano em formação e ampliar de maneira significativa (com jogos, brincadeiras, esportes, etc.) o uso de posturas corporais, da gesticulação e aumentar com isso o repertório de verbalização e linguagens.

O movimento, para uma criança/adolescente, é muito mais do que um exercício físico. Na verdade, quando se movimentam eles atuam sobre o meio físico e humano, modificando-o. Quando uma criança se movimenta, ela não apenas se desloca, ela mobiliza pessoas no tempo e no espaço e intenciona uma interação com outras pessoas e com o mundo que a rodeia.

O modo como andamos, saltamos, praticamos esportes, constitui o resultado da nossa interação com o meio físico e social. Todos esses movimentos constituem o produto das nossas necessidades e interesses, em diferentes épocas e em diferentes culturas. Esse comportamento pode ser aclamado como uma cultura corporal: campo da cultura que abrange e expressa a produção esportiva e práticas expressivas de comunicação, que se manifestam por meio de movimentos.

Em diferentes épocas e diferentes culturas foram surgindo movimentos/expressões corporais que deram origem à dança, aos jogos, brincadeiras e esportes que tinham por finalidade última a interação/integração social de determinados grupos. Esses comportamentos e movimentos tinham e têm intencionalidade.

Quando as crianças brincam, elas criam movimentos e ritmos próprios de sua cultura e apropriam-se dos mesmos, aprofundando a cultura e tornando o seu meio mais rico culturalmente. Quanto mais rico o meio nas suas expressões culturais, maior será a preservação de seus costumes e tradições.

Toda e qualquer instituição de educação infantil deve favorecer um ambiente físico seguro e socialmente agradável, para que as crianças, ao se sentirem protegidas e estimuladas, visual e sinestesicamente, se arrisquem e promovam desafios sob a tutela do educador. Se esse ambiente for pobre, pequena será sua manifestação, se for rico e propiciar desafios, grande será sua atuação e ampliação cultural.

O trabalho com movimento é essencial para a criança desenvolver sua psicomotricidade, pois possibilita manifestações motoras, sensoriais e psíquicas que irão proporcionar à criança o desenvolvimento de suas potencialidades psicomotoras.

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A cultura do movimento é essencial para o desenvolvimento da psicomotricidade e quanto mais rica for, maior será a produção intelectual da criança.

Os movimentos corporais da criança expressam desejos: de comunicação, afetividade e interação com o ambiente que a rodeia. Essas possibilidades a fazem crescer culturalmente e a levam a ações intencionais cada vez mais complexas e objetivas.

Veremos que a psicomotricidade, antes relegada ao estudo do desenvolvimento motor com relevância para sua coordenação, tem nos dias atuais uma maior amplitude.

O Movimento na Educação

As diversas práticas pedagógicas que nos tempos atuais marcam a educação refletem diversas concepções em relação ao sentido que se deve dar ao movimento nas creches, pré-escolas, escolas e outras instituições afins.

É muito comum confundir movimentação com indisciplina. Com o intuito de se assegurar ordem, progresso, relações harmoniosas e uma atmosfera civilizada, procura-se simplesmente suprimir a ideia de movimento, cria-se um ambiente rígido nas posturas para as crianças de diferentes idades.

“Vamos formar uma fila: pequenos à frente e grandes atrás”. “Fiquem sentados sem conversar até a chegada do coordenador geral”. “Vamos fazer esta caminhada em ordem – sem bagunça”.

De maneira geral este tipo de imposição não leva em conta as disposições motoras da criança/adolescente. Muitas vezes, o educador acredita que os movimentos que aí se multiplicam atrapalham a aprendizagem. “Criança que se mexe não aprende, não se concentra”. “Ela só pensa em brincar”.

Diante dessas assertivas, tão comuns nas escolas e no pensamento de alguns educadores, poderemos concluir que educação e movimento não se coadunam. É imperioso dizer que não poder movimentar-se, gesticular, é que impede o pensamento e a manutenção da atenção, tão necessários à aprendizagem.

Existem práticas educacionais que ao perceberem a necessidade de movimentação propõem exercícios limitados e deslocamentos em que a criança se movimenta apenas para dispender energia.

Essas práticas que permitem apenas movimentos coordenados totalmente pelo educador até podem ser eficientes para manter ordem e disciplina, porém impedem ou limitam as manifestações de expressão que são extremamente reveladoras nas crianças/adolescentes para se conhecer se gostaram ou não, se aprenderam ou não.

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O movimento para as crianças é muito mais do que mover partes do corpo ou se deslocar. Elas se expressam por meio de gestos e expressões faciais, utilizando o corpo como suporte.

O ato motor é um gesto expressivo de sua necessidade de se comunicar e dizer que está presente.

Ideias Chave

Nesse sentido, é importante que o educador observe e absorva a ideia de que a expressividade e mobilidade são essenciais à educação. Grupo disciplinado não é aquele em que todos ficam quietos e imóveis à espera de ordens e comandos.

Deslocamentos, conversas, brincadeiras, jogos, não podem ser considerados desordem, mas sim manifestações naturais de alegria, desejo de participação e, portanto, guiados e dirigidos pelo educador para o fim que se deseja.

As manifestações de motricidade têm um caráter lúdico e expressivo e permitirão ao educador organizar e melhorar suas práticas educacionais.

Psicomotricidade

É essencial entendermos, depois de estudar o corpo e movimento, como a psicomotricidade contribui para o processo de ensino e aprendizagem.

Não se concebe a criança de forma fragmentada e receptora de conteúdos. A complexidade da aquisição de conhecimentos e sua relação com o mundo são evidenciadas.

A Sociedade Brasileira de Psicomotricidade nos dá um conceito bastante amplo do que é Psicomotricidade, como veremos a seguir:

É a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. É sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o afeto. Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização. (SBP, s/d)

É bom lembrar que os movimentos, no ser humano, se manifestam primeiramente na vida intrauterina e que, durante o nosso crescimento, vão se estruturando e exercendo grande influência no nosso comportamento.

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A história da psicomotricidade acompanha a história do corpo, que sofreu grandes alterações desde a antiguidade até a atualidade. Segundo Fonseca (1995), desde Aristóteles o corpo foi negligenciado em função do espírito, passando apenas a ser estudado no século XIX, por neurologistas e depois por psiquiatras, visando entender as estruturas cerebrais e esclarecer fatores patológicos.

A partir do discurso médico-neurológico tentou-se explicar diferentes disfunções cerebrais que ocorriam sem que o cérebro fosse lesionado ou que se soubesse sobre sua lesão. As primeiras pesquisas psicomotoras tiveram fundo neurológico, que já não podia explicar alguns fenômenos patológicos.

Pela necessidade médica de encontrar respostas, foi empregada pela primeira vez, em 1870, a palavra psicomotricidade. (FONSECA,1995)

Segundo Fonseca (1995, p.9)

Krishaber, Von Monakow, Bonnier, Mayer Gross, Wier-Mitchell, Wernicke, Foerster, Peisse, Head, Leipmann, H.Jackson, Gertsmann, Babinski, Lhermitte, Lunn, Meerovitch, Schilder, Nielsen, etc., e tantos outros, são alguns dos pioneiros no campo neurológico, psiquiátrico, neuropsiquiátrico a conferirem ao corpo significações psicológicas superiores.

Do dualismo teológico ao cartesianismo, o corpo é estudado de modo separado: o psiquismo e a consciência continuam alheios à motricidade corporal.

Os gregos e romanos sensualizaram o corpo, enquanto a religião católica e a Idade Média o tornaram carnal e pecador.

O cartesianismo o reduziu ao comando da razão e vontade.

Os iluministas e positivistas transformaram o corpo em objeto anatômico e físico sem identidade própria.

A psicomotricidade veio estabelecer relações, tendo como princípio o corpo e a motricidade no centro do comportamento e da evolução do ser humano. A psicomotricidade rompe os dualismos: não se trata de estudar o psíquico e depois separadamente a motricidade.

O ser humano é um organismo complexo que possui corpo e cérebro atuando conjuntamente e o educador deve ter uma visão holística, uma visão sistêmica para compreendê-lo.

É necessário entender o corpo humano como possuidor de uma mente de onde emergem dois mundos: o dos objetos e o das sensações.

A mente humana conjuga o corpo e o cérebro, daí resultando a sua integração e a interação, constituídos pelo contexto onde ela se insere.

O corpo e a motricidade do ser humano não podem continuar restritos ao biológico, ao fisiológico, não havendo paralelismo, psicológico e fisiológico separados. O ser humano tem ação e intenção.

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É necessário destacar que o desenvolvimento da psicomotricidade se faz com a criança evoluindo.

O meio, ao propiciar as trocas com a criança, permite uma conquista que se amplia à medida que as necessidades aumentam.

O professor/educador deve estar atento a fatores da psicomotricidade como lateralidade, percepção e esquema corporal.

Henry Wallon (1879-1962), médico, pedagogo, psicólogo e filósofo francês, introduz a partir de 1920 a ideia de que o movimento do corpo tem caráter pedagógico. O gesto e a ação são representativos em si para a psicomotricidade, ajudando a ciência da educação a se redefinir e renovar princípios educacionais.

Wallon se refere ao corpo não como algo estanque. Ele demonstra que há ações recíprocas entre funções motoras e funções mentais. Nos anos 60, a Universidade Salpêtrière cria e certifica a capacitação em Reeducação da Psicomotricidade. Ele também estimula trabalhos psicológicos em diversas escolas francesas (1970) onde se destacam Ajuriaguerra, Stamback e Granjon. Ajuriaguerra se destaca e vai para Genebra, liderar estudos de psicomotricidade.

Wallon enfoca os estudos da criança e da psicomotricidade sob a ótica da totalidade, renunciando às abordagens unidimensionais e setoriais. (FONSECA,1995)

Muito pouco citados por americanos e europeus, surgem autores soviéticos na área de psiconeurologia, como Ozeretsky (citado por Guilman), Vygostsky e Luria, etc. É na integração multidisciplinar e transdisciplinar que estará o futuro da evolução e atualização da Psicomotricidade.

A psicomotricidade cria no ser humano a consciência, onde os movimentos são relacionados a tempo, velocidade e espaço (os padrões motores). A ligação entre os aspectos afetivos, motores e intelectuais são os aspectos culturais do universo a que a criança pertence.

Cada gesto de uma criança carrega a marca do grupo ao qual ela pertence, tornando-se assim também uma marca pessoal e individualizada (só sua).

Wallon é explícito ao afirmar que o meio ambiente onde se realiza a aprendizagem e o meio de onde a criança emerge interferem diretamente na formação de sua identidade.

Um educador consciente da importância que esta ferramenta (a psicomotricidade) traz para a formação da criança entenderá que o movimento e o psíquico se unem para resolver problemas que surgem não só na vida escolar, como também na vida adulta fora da escola, tornando-o um indivíduo mais completo.

Finalizaremos a unidade com um fragmento do texto de Merleau-Ponty, importante pensador contemporâneo. Leia o trecho e pense a respeito do seu próprio corpo:

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A tradição cartesiana habituou-nos a desprender-nos do objeto: a atitude reflexiva purifica simultaneamente a noção comum do corpo e a da alma, definindo o corpo como uma soma de partes sem interior, e a alma como um ser inteiramente presente a si mesmo, sem distância. Essas definições correlativas estabelecem a clareza em nós e fora de nós: transparência de um objeto sem dobras, transparência de um sujeito que é apenas aquilo que pensa ser. O objeto é objeto do começo ao fim, e a consciência é consciência do começo ao fim. Há dois sentidos e apenas dois sentidos da palavra existir: existe-se como coisa ou existe-se como consciência. A experiência do corpo próprio, ao contrário, revela-nos um modo de existir ambíguo. Se tento pensá-lo como um conjunto de processos em terceira pessoa – “visão”, “motricidade”, “sexualidade” – percebo que essas “funções” não podem estar ligadas entre si e ao mundo exterior por relação de causalidade, todas elas estão confusamente retomadas e implicadas em um drama único. Portanto, o corpo não é um objeto. Pela mesma razão, a consciência que tenho dele não é um pensamento, quer dizer, não posso decompô-lo e recompô-lo para formar dele uma idéia clara. Sua unidade é sempre implícita e confusa. Ele é sempre outra coisa que aquilo que ele é, sempre sexualidade ao mesmo tempo que liberdade, enraizada na natureza no próprio momento em que se transforma pela cultura, nunca fechado em si mesmo e nunca ultrapassado. Quer se trate do corpo do outro ou do meu próprio corpo, não tenho outro meio de conhecer o corpo humano senão vivê-lo, quer dizer, retomar por minha conta o drama que o transpassa e confundir-me com ele. (MERLEAU-PONTY, 1999, p.268-269)

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Material Complementar

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Como material complementar sugerimos que você leia o capítulo 2 (Educação psicomotora paginas 55 – 77) do livro Pedagogia do movimento: universo lúdico e psicomotricidade de Hermínia Regina Bugeste Marinho... [et al.]. – 2. ed. – Curitiba: Ibpex, 2007.

O capitulo dois do livro trás uma importante contribuição para refletirmos sobre a importância da psicomotricidade no desenvolvimento dos indivíduos. O referido livro encontra-se em E-books na biblioteca Pearson da universidade.

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Referências

ARANHA, Maria Lucia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 3.ed.revista.São Paulo: Moderna,2003.

BRASIL. Referencial Curricular Nacional Para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.v.3

DAOLIO, Jocimar. Da cultura do corpo. Campinas, SP: Papirus,1995- 7ª ed. 2003.

FONSECA,Vitor da. Psicomotricidade: uma visão pessoal. Construção Psicopedagógica, São Paulo-SP, 2010, Vol. 18, n.17, pg. 42-52

______________. Manual de Observação Psicomotora: significação peisoneurológica dos fatores psicomotores. Porto Alegre:Artes Médicas,1995.

MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. São Paulo,Martins Fontes. 1999.

Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (site) http://profissionaispsicomotricidade.blogspot.com.br/2007/07/segundo-sociedade-brasileira-de.html Acesso em 10/4/2013

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Unidade: Breve História do Corpo, do Movimento e da Psicomotricidade

Anotações

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