conexão rural ed. 01 - fevereiro de 2015

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Ano 1 - Edição 1 - Fevereiro/2015 ENTREVISTA: Norberto Ortigara, secretário da Agricultura e do Abastecimento do Paraná revistaconexaorural.com.br RENOVAÇÃO NO PASTO: A atividade se fortalece com o sistema integração lavoura-pecuária PRAGAS E DOENÇAS: Pesquisadores alertam o que vem por aí e como se prevenir Eles estão no comando Tecnologia de ponta e diferentes métodos de gerenciamento permitem que a nova geração de agricultores renove o campo Marcelo Sehn: “Hoje temos tecnologia que nos permite aumentar a produtividade em três culturas diferentes”

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Revista Conexão Rural – A conexão no campo (www.revistaconexaorural.com.br) A publicação da VP GROUP traz para o setor que mais cresce no País as principais tendências do agronegócio nas áreas de economia, tecnologia, análise de mercado, artigos técnicos e entrevistas. Tudo para auxiliar os profissionais e empresários do campo, na era da inovação e da conectividade.

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Ano

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ENTREVISTA: Norberto Ortigara,secretário da Agricultura e do

Abastecimento do Paraná

revistaconexaorural.com.br

RENOVAÇÃO NO PASTO: A atividade se fortalece com o

sistema integração lavoura-pecuária

PRAGAS E DOENÇAS: Pesquisadores alertam o que vem

por aí e como se prevenir

Eles estão no comando Tecnologia de ponta e diferentes métodos de gerenciamento permitem que a nova geração de agricultores renove o campo

Marcelo Sehn: “Hoje temos tecnologia

que nos permite aumentar a produtividade em três

culturas diferentes”

Aplique somente as doses recomendadas. Descarte corretamente as embalagens e restos de produtos. Incluir outros métodos de controle dentro do programa do Manejo Integrado de Pragas (MIP) quando disponíveis e apropriados. Uso exclusivamente agrícola. Registro MAPA: Nomolt® 150 nº 01393, Pirate® nº 5898 e Fastac® Duo nº 10913.

Três aliados, uma missão: o controle das principais pragas da sua lavoura.

Comando Antipragas

A eficiência dos inseticidas Nomolt® 150 , Pirate® e Fastac® Duo contra as principais pragas da sua lavoura.

Janeiro 2015 | 3

DiretoriaPresidência e CEO

Victor Hugo [email protected]

RedaçãoEditora

Fátima [email protected]

ColaboradoresAlf Ribeiro (Fotos),

Ricardo Maia (texto)Articulistas

Carlo Lovatelli (Abiove), Francisco Turra (ABPA)

ArteFlávio Bissolotti

[email protected] Eduardo Costa

[email protected] Dalmas

[email protected]

Web DesignRobson Moulin

[email protected]

Comercial Diretor ComercialChristian Visval

[email protected] de Contas

Viviane Romãoviviane.romã[email protected]

Ismael [email protected]

MarketingGerente de Marketing

Tomás [email protected]

AnalistaThiago Guedes

[email protected]

Michelle [email protected]

SistemasFernanda Perdigão

[email protected] Martins

[email protected]

FinanceiroRodrigo Oliveira

[email protected]

COnExãO RuRAlwww.revistaconexaorural.com.br

Tiragem: 10.000 exemplaresImpressão: duograf

Al. Madeira, 53, cj 92 - 9º andar - Alphaville 06454-010 - Barueri – SP – Brasil

+55 11 4197-7500 www.vpgroup.com.br

Ano 1 • N° 1 • Fevereiro de 2015

EDITORIAL

Hora de colher

O agronegócio brasileiro, mais do que nunca, vem fazendo jus à fama de âncora verde, o celeiro de alimentos do mundo, com recordes de safra e desempenho extraordinário nas exportações. Neste ano, há expectativa que atinja o recorde de aproximadamente 95,92 milhões de toneladas,

segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento. Dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne preveem um novo recorde também nas exportações da carne brasileira, algo em torno de US$ 8 bilhões. Nesse setor, o cenário continua positivo para 2015, tanto em faturamento quanto em volume.

A questão é que, para manter o status e avançar nos resultados, vem sendo exi-gido dos produtores e das empresas envolvidas cada vez mais profissionalismo, informação e novas ferramentas. A Revista Conexão Rural chega ao mercado com a ambição de se agregar ao leque de ferramentas disponíveis para auxiliar e potencializar o agronegócio brasileiro. Reunir numa única publicação os prin-cipais temas relacionados à atividade agrícola e pecuária. Disseminar as novas tecnologias e os novos conceitos de gestão para o agroempreendedor. Conectar o produtor ainda mais a esse gigante mundo do agronegócio.

Foi com essa disposição que a nossa equipe de colaboradores, liderada pela editora, Fátima Costa, percorreu quilômetros em busca de matérias que compõem esta primeira edição. E, para começar, a Revista Conexão Rural foi parar no Paraná, o Estado que perpetua a fama de Estado agrícola. E lá, no berço do plan-tio direto, da tecnologia, da agricultura familiar, é que se descobriram as novas fórmulas de um campo próspero. E o futuro no campo. O Estado destaca-se pela exportação, pelas suas cooperativas e por seus cooperados e por sua tecnificação.

O Paraná é o segundo maior produtor de grãos do País, perdendo somente para o Mato Grosso. Mas, antes de conquistar esse posto, o Estado era forte na pecuária de corte. Depois de anos na berlinda, a pecuária paranaense volta com um viés mais profissional. Hoje o produtor paranaense busca produzir mais em áreas não muito grandes, uma vez que a agricultura já tomou conta. E o resultado dessa ação é que ele consegue produzir carne com sustentabilidade e competitividade. Nesta edição, apresentamos algumas boas iniciativas vindas de lá, da Região Sul do País. O começo de tudo.

Boa leitura.

Fátima CostaEditora

Foto

de

capa

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Rib

eiro

4 | Fevereiro 2015

05 10 26 30

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Sumário

Entrevista Tecnologia Artigo Pecuária

Artigo

EconomiaNews

Capa

Norberto Ortigara, secretário da Agricultura e do Abastecimento do Estado do Paraná

Aplicativos chegam ao campo e auxiliam o agricultor a produzir mais e melhor

Carlo Lovatelli Soja: em defesa do valor agregado na exportação

Produtores reconhecem a importância do sistema integração lavoura-pecuária

Francisco Turra ABPA: agenda de forte crescimento em 2015As pragas e doenças

que prometem aparecer no campo em 2015

Os campos em números.VPB encerra 2014 com recorde

Novos empreendedores investem alto na produção agrícola paranaense20

Fevereiro 2015 | 5

Do maior produtor de café para o segundo maior produtor de grãos do Brasil, o Paraná é um Es-tado movido pelo agronegócio desde quando os primeiros colonizadores pisaram em suas

terras brancas e vermelhas, possibilitando a produção de inúmeras culturas. Hoje, a maior parte dos agricul-tores foca na produção de grãos, mas o Estado também abre portas para aqueles que se dedicam à pecuária de corte e leite, olericultura, fruticultura, entre outras ati-vidades. Gerenciar todas essas modalidades não é uma tarefa fácil. Para manter todas essas cadeias funcionan-do é preciso gestão e políticas que ajudem o produtor. Em entrevista à Revista Conexão Rural, o secretário da Agricultura do Paraná, Norberto Anacleto Ortigara, traça um panorama do agronegócio da região em rela-ção à produção, política agrícola, sustentabilidade no setor e também fala sobre os desafios que o Estado tem daqui por diante para se manter competitivo.

EntrEvista | Norberto Ortigara, secretário da Agricultura e do Abastecimento do Paraná

Texto: Ricardo Maia | Fotos: Assessoria Seab

Um dos Estados mais importantes para o agronegócio brasileiro, o Paraná enfrenta os desafios se adaptando às exigências do mercado

Agricultura versátil

Revista Conexão Rural – Qual a contribuição do agronegócio para a economia do Paraná?Norberto Anacleto Ortigara – Do ponto de vista esta-tístico e numérico, nem sempre há uma apuração muito exata. Há uma estimativa de que mais de 1/3 do Produto Interno Bruto (PIB) do Paraná vem do agronegócio ou te-nha alguma relação com ele. O setor é fundamental para o tamanho e o grau de desenvolvimento da economia do Estado. Sem o segmento, certamente teríamos poucos empregos, muito menos valor agregado e oportunidades. O setor possui muito peso sobre a economia paranaense.

Conexão Rural – Quais são os fatores que promo-vem a alta produção paranaense de alguns produtos agropecuários?Ortigara – Temos grande parte de nosso território com solos de média e alta fertilidade. Construímos ao lon-go dos anos um modelo de produção que privilegia a

6 | Fevereiro 2015

manutenção da capacidade produtiva, ou seja, pouco a pouco fomos fazendo o agricultor perceber que o bom cuidado com o solo e a perpetuação da capacidade de produção é importante para a continuidade do sucesso. Fomos os pioneiros no manejo de solo e de água. Tam-bém fomos pioneiros no plantio direto, uma tecnologia que hoje está disseminada no mundo inteiro. Outro as-pecto é que a capacidade técnica e de gestão foi sendo aperfeiçoada pouco a pouco pelos agricultores. Perce-bemos uma evolução da capacidade de compreender e adotar a tecnologia, compor insumos e gerenciar. O agricultor está sendo preparado para ser um profissio-nal da agricultura, diferentemente de nossos avós e pais em muitos aspectos, que tinham muita dificuldade pela questão econômica ou pelo difícil acesso e domínio da tecnologia. Outro fator de sucesso se dá pela amplia-ção das escalas de produção. Com a criação do Pronaf [Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar] em 1996, foi-se permitindo uma maior me-canização que tinha por objetivo suprir as deficiências da mão de obra no meio rural. Com isso, ampliou-se a capacidade de produzir em maior escala. Outro aspecto é o modelo paranaense de produção agropecuária foca-do em associações e cooperativas que acabaram dando certo. Nós temos também várias cadeias predominantes que são bem estruturadas, como a produção de frangos, suínos, tabaco e leite. Não há um só fator que podemos dar destaque, pois são muitos. A qualidade da terra, gente preparada, o jeito de fazer, crédito mais abundan-te, mecanização, organização e a participação da cadeia são um conjunto de fatores que permitiram que o nosso pequeno, médio e grande agricultor aumentasse seus desempenhos em produtividade. Conexão Rural – Quais foram as políticas agrícolas adotadas nos últimos anos para tornar a agricultura paranaense mais competitiva?Ortigara – Embora seja uma política federal, a criação do Pronaf e seu aperfeiçoamento continuam sendo im-

EntrEvista | Norberto Ortigara, secretário da Agricultura e do Abastecimento do Paraná

portante. Aplicamos o programa no Estado por meio da gestão da Seab [Secretaria da Agricultura e do Abas-tecimento do Paraná] e da ação técnica no campo por meio do Emater [Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural]. Também são fundamentais os programas de aquisição de alimentos, compra direta, projetos que viabilizam uma agricultura de baixa esca-la, garantindo mercado para os pequenos agricultores. O Paraná também tem políticas de habitação rural que nunca se teve na história do Brasil, permitindo uma expectativa melhor no campo como uma boa moradia. Também temos uma política de saneamento rural, que fomenta ações como a instalação de água em comuni-dades e distritos rurais. Fortalecemos também a políti-ca de incentivos à pesquisa e assistência técnica, com investimentos crescentes. Investimos nas questões sanitárias para dar condições de nossos produtos aten-derem a qualquer mercado do mundo. Também temos os programas de conservação de solo e água, a exem-plo das microbacias. Incentivamos as boas práticas de produção com o programa Plante o Seu Futuro, que visa o uso parcimonioso dos agrotóxicos, levando a um uso consciente. No que se refere aos investimentos em es-tradas e trafegabilidade no meio rural, houve apoio aos municípios como o fornecimento de óleo diesel, maior apoio das patrulhas do campo e a pavimentação com pedras. Também temos feito muitas ações na cadeia do leite, apoio aos sistemas de integração, sistema de finan-ciamento via BRDE [Banco Regional de Desenvolvimen-to do Extremo Sul] às cooperativas e às indústrias. Tudo isso torna o nosso setor mais competitivo; obviamente que temos parcerias importantes com entidades como o Senar [Serviço Nacional de Aprendizagem Rural], Sesco-op [Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativis-mo], federações e sindicatos rurais que nos apoiam.

Conexão Rural – A adoção do programa Plante o Seu Futuro tornou o agronegócio do Paraná mais susten-tável? Por quê?Ortigara – Isso é um desafio! Quando os preços das commodities estão bons há certo descuido, pois não op-tamos pela técnica mais viável de manejo. O segundo ponto é a sustentabilidade ambiental. Não posso deixar a enxurrada levar o meu maior patrimônio, que é o solo. Temos visto o retorno desse fenômeno por causa de um plantio direto malfeito, além do desmanche de terraços e murunduns para melhor aproveitar as máquinas e os im-plementos. Muitos pensam que uma palha rala sustenta o solo. Queremos mais cobertura, mais matéria orgâni-ca, mais carbono e mais água infiltrada para enfrentar

“O agrOnEgóciO é fundamEntal para O tamanhO E O grau dE dEsEnvOlvimEntO da

EcOnOmia dO paraná”

Fevereiro 2015 | 7

os veranicos. Queremos também o uso consciente dos agroquímicos com o controle biológico e a contagem da população de insetos. Com o Plante o Seu Futuro pode-mos reduzir pela metade o volume de fungicidas utiliza-dos na soja. Além disso, retardamos em mais em 30 dias a primeira aplicação de fungicida na cultura. Tudo isso só é possível com o monitoramento da lavoura. Também estamos tratando dentro do programa as formigas corta-deiras, que têm atingido principalmente o Noroeste do Estado. As formigas são um problema sério tanto no as-pecto ambiental, quanto no econômico.

Conexão Rural – O Estado já atingiu a sua fronteira agrícola. Com o aumento da demanda mundial de alimentos, como o Paraná pode aumentar a produ-ção de matéria-prima?Ortigara – Temos muito ainda o que crescer em produti-vidade. Se olhar os dados estatísticos, já crescemos mui-to. Podemos dobrar a produção sem muita área. Temos cerca de cinco milhões de hectares de pastagens que, em grande parte, possui uma baixa eficiência econômica. Na média, não terminamos meia carcaça de um animal por hectare/ano, um indicador de baixa eficiência. Só incen-tivando a integração lavoura, pecuária e floresta, usando áreas de pastagens, teremos mais grãos e carnes produ-zidas. A nova fronteira agrícola acabou, mas temos essas alternativas como as pastagens degradadas que podem virar uma fábrica de alimentos.

Conexão Rural – Muitos produtores paranaenses têm reclamado da falta de profissionais de campo que prestam assistência técnica. Quantos profissio-nais estão trabalhando hoje no Paraná e há planos de contratação de pessoas?Ortigara – Sim, o Paraná precisa duplicar seu contin-gente para cumprir o plano existente de expansão da pesquisa. O Emater, braço público da assistência técni-ca, está muito defasado e envelhecido, embora enten-damos que não compete só ao Estado fazer a assistên-cia técnica. Também temos um corpo técnico dentro das cooperativas paranaenses com mais de três mil profissionais e o Senar que também tem dado uma con-tribuição importante. Mesmo assim, o Paraná tem uma defasagem de cerca de 800 profissionais. Fizemos um concurso que já está homologado, já fizeram exames e agora vamos ver se temos condições financeiras para contratação.

Conexão Rural – Em relação ao seguro rural, quanto esse benefício tem ajudado os produtores a ameni-zar os prejuízos com os efeitos climáticos?Ortigara – A União tem a sua política de subvenção ao seguro e o Paraná tem feito a sua parte. Tradicional-mente dávamos apoio a duas ou três atividades rurais, subvencionando parte dos prêmios que os agricultores contratam e agora estendemos para mais de 28 ativida-des rurais. Temos buscado pagar ao agricultor metade da subvenção não paga pelo governo federal. Se a União banca 60% do prêmio, por exemplo, caberia ao agricul-tor a pagar 40% do prêmio, mas o Paraná banca 20%. Por isso, pouco a pouco o seguro vai ganhando força. Com a ampliação do seguro, ele passa a ser mais barato.

Conexão Rural – Em relação à pecuária de corte do Estado, quanto o Paraná tem avançado na produção nacional de carnes? Quais são os planos para o fu-turo do setor?Ortigara – O Paraná não é um dos maiores na pecuária bovina. Nosso rebanho gira em torno de 10 milhões de cabeças, sendo que uma parte disso é leite. Somos bons mesmo em frangos e suínos, mas temos um nicho de produção de praticamente todas as raças, com uma boa base de zebuínos. Temos também um gado europeu no Centro-Sul do Estado e as cruzas que ganham mais pre-sença na produção. Mas avalio que a pecuária de corte é a de pior desempenho. Historicamente, é um setor de produção extensiva. Produzimos ainda pouca carne por hectare/ano. Mas temos bons exemplos nesse setor.

Conexão Rural – Quais as ações adotadas pelo Estado para melhorar a sanidade do rebanho paranaense?Ortigara – Continuamos a estratégia de vacinar todo o rebanho em novembro e os animais de até dois anos em maio. Estamos investindo em nossas barreiras in-terestaduais com o Mato Grosso do Sul e São Paulo. Temos um fundo com mais de R$ 54 milhões guarda-dos para enfrentar emergência. Até setembro de 2015 encaminharemos o nosso pleito de área livre sem a va-cina e, quem sabe, conseguir o status de livre de aftosa sem vacinação.

“O agricultOr Está sEndO prEparadO para sEr um prOfissiOnal da agricultura,

difErEntEmEntE dE nOssOs avós E pais Em muitOs aspEctOs, quE tinham muita

dificuldadE pEla quEstãO EcOnômica Ou pElO difícil acEssO E dOmíniO da tEcnOlOgia”

8 | Fevereiro 2015

NEWS

O campO Em NúmErOS

O Valor Bruto da Produção (VBP) do País foi de R$ 463,9 bilhões, o que representa um aumento de 2,6% em relação ao obtido em 2013. Desse valor, R$ 291,0 bilhões referem-se às lavouras e R$ 172,9 bilhões, à pecuária. Os dados calculados pela Assessoria de Gestão Estratégica do Ministério da Agricultura (AGE/Mapa) mostram que nas lavouras, os produtos que apresentaram melhor desempenho foram: mamona (191,9%); pimenta do reino (35,2%); algodão (30,0%); café (17,0%); batata inglesa (15,8%); maçã (12,2%); mandioca (8,0%); e banana (7,3%). Na pecuária, todos os resultados foram positivos e apontaram crescimento de 10,8% do valor em 2014. Os destaques ficaram para a carne bovina (12,9%), carne de frango (12,0%), ovos (10,4%) e leite (8,0%). Segundo a AGE, um prognóstico preliminar indica que este ano pode ser melhor que 2014. O valor da produção previsto é de R$ 296,5 bilhões para as lavouras e R$ 180,0 bilhões para a pecuária, totalizando R$ 476,6 bilhões. Este valor pode representar 2,6% a mais que em 2014.

Recentemente, a Elanco anunciou a conclusão da aquisição da Novartis Saúde Animal. Com isso, a multinacional oferecerá uma maior diversidade de produtos e maior capacidade de atendimento aos clientes. Isso não só inclui as marcas da Elanco reconhecidas como também um amplo portfólio de quase 300 marcas que abrangem tratamentos terapêuticos, vacinas, parasiticidas, antimicrobianos, produtos cirúrgicos, enzimas e segurança dos alimentos. A aquisição anunciada em abril ocorreu após a compra da Lohman Saúde Animal pela Elanco, no início de 2014. Segundo Gustavo Tesolin, diretor-presidente da Elanco Brasil, diz que a aquisição da Novartis Saúde Animal pela Elanco trará ao mercado duas fortes empresas com uma paixão em atender aos clientes. A completa integração dos negócios levará algum tempo, e a Elanco atuará para que a transição ocorra sem impactos para o mercado. Nos próximos meses, as

VBP encerra 2014 com recorde

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ção

NEgóciOS

Aquisição concluída

capacitaçãO

Assistência Técnica ampliada

operações com os parceiros comerciais continuarão sendo realizadas com os mesmos procedimentos mantendo os mesmos processos para pedidos e suporte aos clientes. A disponibilidade e o acesso aos produtos continuarão ininterruptos.

Para ajudar a sanar a lacuna existente no Brasil na área de assistência técnica e extensão rural – onde apenas 9,3% dos produtores rurais recebem visitas regularmente (Censo Agropecuário de 2006 do IBGE) –, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) criou o Programa de Assistência Técnica e Gerencial com Meritocracia, em 2014. Ao longo do ano, foram realizados seis cursos preparatórios de Gestão Técnica e Econômica de propriedades rurais, com ênfase em Projetos de Ações de Acompanhamento Técnico e Extensão Rural (ATER) - Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) 2014, totalizando 209 instrutores de 25 Estados qualificados. Para 2015, o programa estará presente em 18 regionais do Senar, com a proposta de atender a 32 mil produtores rurais e capacitar 1.600 técnicos de campo. A parceria com o Sebrae, para a ampliação do programa de assistência técnica nos Estados, também deverá ser intensificada.

Fevereiro 2015 | 9

Fim da maioria dos embargos, ações especiais para promoção e valorização da qualidade do produto nacional trazem novas possibilidades para exportação em 2015. E as perspectivas são ainda mais otimistas. “O Brasil atenderá os mercados emergentes, pois será o único país a ter quantidades e volumes suficientes para abastecê-los. Também não há dúvidas que o mercado americano abrirá as portas”, afirmou Antônio Jorge Camardelli, presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec). De acordo com ele, assuntos pontuais foram resolvidos como a análise de risco da zona livre de febre aftosa brasileira e a análise de impacto econômico da abertura de mercado. Além disso, a entidade projeta a abertura de novas possibilidades como a Indonésia, Taiwan, Japão, Myanmar, Coreia do Sul e do Norte. “A intenção da ABIEC é que para o próximo ano, o setor alcance mais um novo recorde, com a previsão de alcançar US$ 8 bilhões, que foram projetados em 2014. Em volume, os números indicam que podem chegar a 1,7 milhão de toneladas”.

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per

eirapEcuária

Exportações crescem

A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) divulgou o relatório das vendas de etanol pelas unidades produtoras da região Centro-Sul. Dados da entidade apontam que em dezembro atingiram 2,25 bilhões de litros. Esse volume foi recorde para o ano de 2014 e representou crescimento de 12,81% no comparativo com o mesmo período do ano anterior. Do total comercializado em dezembro, 158,26 milhões de litros foram direcionados ao mercado externo e 2,09 bilhões comercializados domesticamente. Especificamente em relação ao volume de etanol hidratado comercializado ao mercado doméstico, este, pela primeira vez na safra 2014/2015, alcançou 1,29 bilhão de litros em um único mês. Este valor de dezembro é 13,78% maior que a quantidade vendida no mesmo mês de 2013. O diretor técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues, ressalta que o volume recorde de etanol hidratado comercializado em dezembro confirmou a expectativa de vendas mais elevadas no final do ano. No acumulado desde o início da safra 2014/2015 até 1º de janeiro, as vendas de etanol alcançaram 18,48 bilhões de litros. Deste montante, 1,15 bilhão de litros foram exportados e 17,36 bilhões de litros vendidos domesticamente.

agricultura

De vilão a herói

10 | Fevereiro 2015

Tecnologia

Texto: Fátima Costa

Empresas ligadas ao agronegócio desenvolvem aplicativos (apps) para auxiliar no incremento da produção. Ferramentas que vão desde realizar tratos fitossanitários até facilitar o manuseio das máquinas no campo

Conexãono campo

Nas propriedades do senhor Joel Andre Pes, localizadas nos municípios de Água Fria, São João d’Aliança e Flores de Goiás – distantes em média a 300 quilômetros de Goiânia (GO)

– a tecnologia ultrapassou a porteira das fazendas. Há quatro anos, o agricultor, que também é engenheiro agrônomo, utiliza o Digilab, da Basf. Trata-se de um serviço portátil de diagnóstico que o auxilia na iden-tificação quase imediata de pragas e doenças de sua lavoura – hoje hectares de plantação de soja, milho e feijão, tudo por meio de fotos tiradas com a câmera do tablet, com a nova versão Digilab 2.0. O serviço pode ser acessado via tablet, além de dispor de um disposi-tivo Global Positioning System (GPS), que possibilita o georeferenciamento dos problemas encontrados nas lavouras. Seu sistema captura e aumenta uma imagem em até 200 vezes, permitindo a comparação com um vasto banco de dados e imagens. “E, se por acaso, o produtor não encontrar alguma imagem parecida, ele envia a foto diretamente para um representante da

empresa para que faça essa identificação. O Digilab, por exemplo, evita o envio de amostras de plantas ao laboratório e a espera para obter o diagnóstico. Já ha-bituados com ferramentas como a internet, os produ-tores querem respostas rápidas”, diz Manoela Maloni, gerente da área de serviços da Basf.

Outra ferramenta da empresa alemã que o produtor utiliza é o AgroDetecta, um serviço de monitoramento agrometeorológico composto por uma rede de estações, modelos físicos de favorabilidade para ocorrência de do-enças e previsão do tempo. “Em tempo real e nas con-dições das nossas fazendas. Antigamente, o serviço era feito na ‘bica da bota’”, afirma Pes.

Desenvolvimento: Basf Lançamento: 2012 (nova versão 2013)Disponibilidade: Sistemas iOS, da Apple e Android, do Googlewww.basf.com.br

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Fevereiro 2015 | 11

FMC Agrícola Brasil

Desenvolvimento: FMC Agricultural ProductsLançamento: 2012Disponibilidade: App Store e Android Market

Não é de hoje que as empresas vêm buscando desenvolver soluções para otimizar a produção na lavou-

ra. A FMC Agricultural Products atualizou o seu aplicativo FMC Agrícola Brasil. O pro-grama auxilia os agricultores a identificar pragas e doenças nas lavouras por meio de todo o acervo de imagens, além do acesso aos manuais técnicos produzidos e elabo-rados pela empresa e por pesquisadores e especialistas parceiros. “Na segunda ver-são, disponibilizamos um catálogo com as principais pragas e doenças que acometem as culturas, informações importantes so-bre os produtos da companhia que as com-batem, além de bulas e fichas de informa-ção de segurança de produtos químicos e

de emergência”, explica Fernanda Teixeira, gerente de comunicação da FMC.

O serviço da companhia química ame-ricana veio atender a uma demanda por parte dos agricultores. “O feedback é muito positivo e influenciador. Só para se ter uma ideia, o Manual de Identificação de Doen-ças da Soja foi disponibilizado para 10 mil produtores. Com a tecnologia do aplicativo, esse acesso é mais rápido e para milhões de agricultores”, diz.

A Yara Brasil disponibiliza o N-Sensor. Trata-se de um dispositivo ótico, que é acoplado em cima do trator

no momento da aplicação de fertilizan-tes, para medir o nível de nitrogênio de

uma lavoura em tempo real e ajustar a apli-cação do produto. “Por meio dessa leitura, dessa biomassa [massa vegetal], é que será determinada a quantidade exata de nitrogê-nio a ser aplicada, sem desperdício do in-sumo”, diz Gustavo Libardi, especialista em agricultura de precisão da Yara.

O N-Sensor determina a demanda de nitrogênio por meio da medição de reflexão de luz da cultura, que abrange uma área total de aproximadamente 50 m², ou seja, plantas de até três ou quatro metros de cada lado da máquina. As medições são feitas a cada segundo. “A tecnologia de sensoriamento aplicada à agricultura é baseada na curva de reflexão de luz típica de vegetação. A aplicação é em tempo real”.

Além disso, a empresa disponibiliza também o CheckIT, um aplicativo que mostra as deficiências nutricionais da planta, permitindo uma rápida correção.

Atualmente, está disponível para 13 culturas, entre elas soja e milho. “A tecnologia foi desenvolvida para chegar a diversos lugares longínquos. Porém vale lembrar que a tecnologia não dispensa o contato visual, o trabalho do agrônomo”, diz Júlio Rost, coordenador de marketing e produtos da Yara.

N-SensorDesenvolvimento: Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Yara, em Hanninghof, na AlemanhaLançamento: 2010, em parceria entre a Stara e a YaraDisponibilidade: iOS e Android

CheckITLançamento: 2014 (Brasil)Disponibilidade: iOS, Android e Windows Phonewww.yarabrasil.com.br

N-Sensor e CheckIT

12 | Fevereiro 2015

TeCnOlOGiA

GoHarvest

AGCOMMAND

Desenvolvimento: John DeereLançamento: 2013Disponibilidade: iOS e Android

Desenvolvimento: Stara (100% nacional) Lançamento: Agrishow 2014 Disponibilidade: iOS e Android www.stara.com.br/web

Desenvolvimento: AGCO Lançamento: novembro de 2012 Disponibilidade: plataforma web ou iOS www.myagcommand.com

Na esteira da conectividade, a John Deere desenvolveu o GoHarvest, aplicativo para smartphones que

possibilita ao produtor analisar e elevar a performance da colheita por meio de uma série de recursos e informações em todos os modelos de colheitadeira da marca. “O aplicativo orienta a melhor regulagem do equipamento, por meio de perguntas e respostas, e interage com o operador, su-gerindo a regulagem necessária. O objetivo é auxiliar o produtor especificamente na questão da mão de obra qualificada, ofere-cer solução e técnicas para que ele se tor-ne mais eficiente”, diz Maurício Menezes, especialista em AMS da John Deere. Para utilizar o GoHarvest, não há necessidade

D ona das marcas Massey Ferguson, Fendt, Challenger e Valtra, AGCO dis-ponibiliza um sistema de telemetria chamado Agcommand para platafor-ma iOS no Brasil, EUA e Europa. O aplicativo direcionado a smartphones

e tablets da Apple melhora o acompanhamento do desempenho das máquinas em campo, agilizando e facilitando os trabalhos de manutenção preventiva, evi-

tando, assim, perdas de produtividade. Com sistema, o condutor pode acessar informações, em tempo real. Esse acesso é feito por meio de uma página da web e pode ser feito em qualquer computador ou outro dispositivo com aces-so à internet. Com a ferramenta, o usuário localiza máquinas praticamente

em tempo real e monitora horas do motor, velocidade de operação e histórico. “A companhia entende que a agricultura passará por mudanças nos próximos anos, com acesso às informações na palma da mão”, diz Rafael Costa, gerente de marketing de produto ATS da Massey Ferguson. A multinacional disponibi-liza também o serviço Fuse Technologies, uma das ferramentas dentro do Ag-command. “Trata-se de um canal direto de comunicação com a fábrica. É uma ferramenta de apoio ao cliente, sendo que as dúvidas com o sistema operacional podem ser resolvidas por meio de chat.”

de cobertura de sinal, ele funciona perfei-tamente em áreas sem alcance de internet. “O aplicativo não substitui o manual de instrução da máquina, porém é uma forma mais intuitiva de realizar ajustes”, diz.

Hoje, o sistema está disponível para todas a Série S. Em breve, a multinacio-nal pretende levar essa tecnologia para todas as máquinas. Se a ideia de controlar equipamentos agrícolas à distância era longínqua para o agricultor, as inovações tecnológicas do campo mostram que isso é totalmente possível nos dias de hoje.

Topper 5500 VT

A Stara, fabricante de implementos agrícolas, desenvolveu um tanto um Hardware quanto o software de um sistema que monitora o trajeto das máquinas agrícolas e traça o melhor percurso de acordo com o que precisa ser feito na plantação. O

Topper 5500 VT, uma evolução do Topper 4500, oferece maior portabilidade e funciona-lidade para telemetria e mobilidade. “Uma plataforma que dará uma versatilidade muito grande com informações para o agricultor. Além disso, ele tem um modem GPRS, apresen-ta sistemas de comunicação Bluetooth e como lançamento o Wi-Fi, trazendo o que há de mais moderno em conectividade e possibilitando transmitir dados desses equipamentos para dentro do smartphone, do tablet”, diz Cristiano Buss, diretor de Pesquisa e Desenvol-vimento da Stara. Outro diferencial dessa ferramenta está na questão da conectividade. Ao permanecer em atividade, a máquina trabalha durante o dia e registra as informações em sua memória interna. “Ao chegar à fazenda, o agricultor sincroniza os dados com a inter-net. Neste caso, não há necessidade de se ter a conectividade em tempo real”. O diferencial também é a câmera de infravermelho, que possibilita o trabalho noturno.

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14 | Fevereiro 2015

Economia

Texto: Fátima Costa

De tempos em tempos, as ameaças fitossanitárias causam grandes danos e deixam rastros nas lavouras das principais culturas do País. Ao que tudo indica, 2015 será mais uma temporada de caça às pragas e doenças

Elas podem comer o seu lucro

E la já ficou conhecida entre os agricultores pela destruição que provocou na safra 2013/2014: prejuízos na soja no Mato Grosso, que foram estimados em mais de R$ 1 bilhão, conforme

dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agro-pecuária (Imea). A Helicoverpa armigera, nome científi-co da lagarta, que foi identificada pela primeira vez no Brasil na safra 2012/2013, protagonizou um pesadelo para os agricultores.

Mas, desta vez, a espécie exótica deixará de ser a vilã principal para se tornar coadjuvante. Ao menos esta é a previsão dos pesquisadores da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária do Mato Grosso (Fundação MT), em Rondonópolis, e da Embrapa Agrossilvipastoril, si-tuada em Sinop (MT). “Devido a todo o alerta que foi dado para monitorar bem essa população, e não deixá-la crescer, tanto em quantidade quanto em tamanho. Outro ponto é a presença dos inimigos naturais, como os parasitoides, que é muito importante para o equilí-brio da população na lavoura e, nesta safra, percebeu-se que em várias áreas houve a presença desses inimigos naturais. Agora dependerá das condições do ambiente e do manejo adequado. A tendência é as populações de inimigos naturais crescerem, só assim, neste ano, pode-

remos ter um número menor de infestações, inclusive em outras culturas comerciais, como o milho e o algo-dão. No entanto, a condição do ambiente, como a umi-dade, influencia na dinâmica dessa população”, afirma Lucia Vivan, entomologista da Fundação MT.

Com a H. armigera dando uma folga, outras espécies prometem ser as principais estrelas em 2015. A lagarta Chrysodeixis includens, mais conhecida como falsa-me-dideira, é uma delas. A praga, que ataca as folhas da soja, está presente também na cultura do algodão e do feijão. “Ela está ocorrendo em populações semelhantes às das safras passadas, ou seja, durante o período de fechamento das linhas, o que dificulta o controle pela dificuldade de atingir o alvo. O surto de populações pode acontecer por um descuido no momento inicial da infestação. Como a soja vegeta muito e a lagarta ataca a parte inferior da planta, é importante ter uma tecno-logia de aplicação que favoreça o molhamento de toda a planta. Também deve-se levar em consideração os inseticidas que são mais efetivos para o controle dessa espécie e, no caso de haver H. armigera, o controle deve ser diferenciado, já que os produtos que oferecem bom controle para H. armigera não oferecem controle satis-fatório para lagartas falsa-medideira”, diz.

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Para o entomologista da Embrapa Agrossilvipastoril, Rafael Pitta, no Estado do Mato Grosso, a região oeste foi a que teve maior registro de infestação da lagarta fal-sa-medideira em soja na safra 2013/2014. “Essa lagarta tornou-se uma praga importante para o sistema de pro-dução onde ocorre o cultivo de soja de verão e algodão safrinha, pois o inseto se adaptou à cultura algodoeira. Como consequência, o período de disponibilidade de alimento aumentou, permitindo, assim, um maior nú-mero de gerações da praga no ano”, afirma.

Ele lembra que outras espécies do gênero Spodopte-ra que eram consideradas de ocorrência esporádica es-tão ganhando maior importância na cultura da soja. “Com a crescente adoção do cultivo da soja Bt [chamada assim porque recebeu uma toxi-na extraída da bactéria Bacillus thurin-giensis], as lagartas de Spodoptera mul-tiplicam-se mais facilmente, pois não há competição com outras espécies de lagarta que são facilmente contro-ladas pela tecnologia Bt. Além disso, após a colheita da soja, essa lagarta migra para as culturas de milho e algo-dão cultivadas na sequência”, explica. Fo

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A Helicoverpa armigera, nome científico da lagarta, que foi identificada pela primeira vez no Brasil na safra 2012/2013

A lagarta Chrysodeixis includens, mais

conhecida como falsa-medideira, promete

ser uma das principais estrelas em 2015

são os danos econômicos anuais das pragas introduzidas nas culturas, pastagens e áreas florestais, segundo levantamentos realizados nos EUA, Reino Unido, na Austrália, África do Sul, Índia e no Brasil.

Segundo as associações de agricultores, esse valor foi o prejuízo que a Helicoverpa armigera provocou nos últimos dois anos.

A estimativa é de que os custos com defensivos por conta da Helicoverpa, chegando a R$ 374 por hectare. (Fonte: Secretaria de Defesa Agropecuária, por meio do Departamento de Sanidade Vegetal - Mapa))

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16 | Fevereiro 2015

Economia

Antes coadjuvante de pragas importantes, Pitta alerta para o percevejo-marrom (Euschistus heros). Pre-sente em todo o território nacional, ele ataca as vagens da soja e pode causar dano à produção. Hoje a mosca- branca também tornou-se uma praga da horticultura, do feijão, do algodão e da soja, gerando grandes perdas em regiões produtoras. “Ela vem ocorrendo em regiões com o final do ciclo da soja, principalmente em áreas onde o algodão é cultivado na sequência”, diz.

Para os especialistas, a orientação para um final fe-liz é a mesma: fazer o monitoramento de toda a área. Acompanhar a lavoura diariamente, o que possibilita a identificação da praga, da espécie, do tamanho, da população e da forma de controle mais eficiente para a espécie da lagarta ou do percevejo. O entomologista reforça que o agricultor precisa manter o controle das lavouras e usar os agrotóxicos com moderação, evitan-do o uso desnecessário e sem fundamento técnico. “O prejuízo maior que a Helicoverpa causou foram os nú-

meros excessivos de pulverizações, sem necessidade, que o produtor aplicou devido à falta de monitoramen-to.” Ele também destaca que é preciso fazer o Manejo Integrado de Pragas. Outra recomendação é o vazio sa-nitário, uma estratégia de controle que pode ser utiliza-da para várias pragas e doenças. “As regras gerais e os prazos específicos para cada cultura são determinados em âmbito estadual, sendo o órgão estadual de defesa sanitária responsável pela fiscalização.”

Invisíveis e perigosos“Nematoide é um problema da sua área?”, este foi o

tema abordado por Rosangela Silva, pesquisadora da Fun-dação MT e uma das palestrantes do evento “É Hora de Cuidar 2014” (ciclo de debates que aconteceu em 25 ci-dades dos Estados de Mato Grosso, Goiás e Rondônia). Na ocasião, a especialista ressaltou a importância dos princi-pais nematoides e o agravamento do seu surgimento em algumas áreas. “Esses vermes que ficam no solo atacam a lavoura, ocasionando prejuízos que podem aumentar po-tencialmente a cada safra, caso não se estabeleçam diver-sas práticas de e, mesmo assim, o produtor ainda terá que conviver com esses maus hóspedes, já que é impossível erradicá-los totalmente”, diz Rosangela Silva.

Há pelo menos cinco espécies de nematoide que cau-sam perdas significativas à cultura da soja, entre elas: Rotylenchulus reniformis (nematoide reniforme) e as espécies Meloidogyne incognita, Meloidogyne javanica, (nematoide de galha), Pratylenchus brachyurus (nema-toide das lesões) e Heterodera glycines (nematoide do cisto da soja), sendo que as três últimas são destacadas como principais para a sojicultura e as mais frequentes nas lavouras do Mato Grosso. “O efeito mais devasta-dor que eles causam é a interrupção da circulação dos

Outro que promete aparecer é o percevejo-marrom (Euschistus heros) que ataca as vagens da soja

“A lagarta falsa-medideira tornou-

se uma praga importante para o

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cultivo de soja de verão e algodão

safrinha, diz Rafael Pitta, entomologista

da Embrapa Agrossilvipastoril

“A condição do ambiente, como a umidade, influencia na dinâmica dessa população”, afirma Lucia Vivan, entomologista da Fundação MT

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“Já temos um número bem maior de foco detectado da ferrugem da soja (Phakopsora sp) do que tínhamos em 2014”, diz o pesquisador Fabiano Siqueri, da Fundação MT.

“A rotação, ou pelo menos a sucessão de culturas não hospedeiras, é muito importante para quebrar o ciclo dos nematoides”, diz Rosangela Silva, pesquisadora da Fundação MT

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Popularidade crescenteSe os produtores estão esperando uma trégua da ferrugem asiática ou ferrugem da soja (Phakopsora sp) as notícias não são animadoras. “O fato é que em 2015 pode haver uma ocorrência bastante forte da doença devido a inúmeros fatores. Clima mais favorável e maior área plantada de soja do que nos anos anteriores facilitaram a sobrevivência do fungo na safrinha. Resultado: já temos um número bem maior de foco detectado do que tínhamos em 2014. Com isso, a lógica nos diz que será um ano complicado.” A constatação foi feita pelo pesquisador Fabiano Siqueri, da Fundação MT.Outro fator que vem agravando a situação é que, segundo Siqueri, em algumas regiões, o plantio atrasou por causa da falta de chuvas no fim de setembro e início de outubro. “Com isso, a doença chegará mais cedo, podendo pegar a lavoura mais jovem do que

normalmente estaria, afirma o pesquisador.O problema da ferrugem é que ela é imprevisível. Muitas vezes, reconhecem os pesquisadores, ela aparece e, em outras, não. O segredo é ter cuidado e estar sempre atento. Monitorar a lavoura, respeitar o intervalo de aplicação e usar corretamente as doses de fungicidas são as três principais recomendações do pesquisador. Outras práticas que foram bem-sucedidas no controle da doença têm sido a adoção de variedades de soja mais resistentes à doença e a observância do período do vazio sanitário. “Tem produtor que peca pela segurança, e outros, pelo descaso. Em geral, a ferrugem não tem jeito.” Quando ela chega, ela divide o lucro com o produtor. Quanto mais cedo ela chega, maior o percentual no lucro”, diz.

nutrientes, devido à destruição do sistema radicular, reduzindo o vigor da planta e consequente redução da rentabilidade do produtor”, afirma.

Como são vermes muito pequenos e transparentes, impossíveis de ser vistos a olho nu, eles estão presentes na raiz da planta e são de difícil diagnóstico, uma vez que não deixam sinais aparentes e só são identificados por meio de análise de solo. “Eles infestam várias cul-turas, sendo que as espécies Meloidogyne incognita, Me-loidogyne javanica, (nematoide de galha) e Pratylenchus brachyurus (nematoide das lesões) também são impor-tantes patógenos para a cultura do milho.”

Esses patógenos são, de acordo com a pesquisadora, uns dos beneficiados pelo manejo inadequado do solo. Outro fator é que, com o advento da introdução da sa-frinha de soja, esses fitonematoides continuam multi-

plicando-se na lavoura e possibilitando maiores danos às safras subsequentes. Em fevereiro do ano passado, a Fundação MT divulgou um comunicado reforçando o alerta sobre os riscos de se fazer uma safrinha. De acordo com a instituição, a presença de nematoides foi constatada em visitas a lavouras no Estado mato-gros-sense. E o fato pode se repetir. Segundo a pesquisadora, a semeadura sequencial de soja mantém os hospedei-ros que favorecem a presença da praga. “As principais culturas utilizadas em sucessão ou rotação com a soja, sejam milho, sorgo granífero, algodão, girassol ou aveia, possuem nematoides comuns”, diz.

Rosangela lembra que se consegue um bom resul-tado no manejo desses vermes usando variedades re-sistentes. O aumento de massas e matéria orgânica e, consequentemente, o aumento dos micro-organismos do solo também contribuem. A rotação, ou pelo menos a sucessão de culturas não hospedeiras, é muito im-portante para quebrar o ciclo dos nematoides. “Assim como o uso do controle biológico, que tem sido bastante feito, principalmente no Mato Grosso.”

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“Precisamos de rapidez para fazer a safrinha e depois entrarmos com a cultura de inverno. E essa agilidade na colheita só vem com o uso de grandes maquinários. O que requer um investimento muito alto”, afirma João Henrique Caetano, sócio-proprietário da fazenda Monday

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Texto: Fátima Costa, de Cascavel e Serranópolis do Iguaçu (pR) | Fotos Alf Ribeiro

Como a nova geração de agricultores está renovando uma das primeiras fronteiras agrícolas do País e prometendo dobrar a produção de grãos, principalmente a safrinha, com tecnologia e “nova frota” agrícola

Paraná que não para

da soja 2014/2015 no Paraná avançou nove pontos per-centuais em apenas sete dias e alcançou 84% da área prevista. Na fazenda Monday, a soja precoce aguarda as últimas pulverizações para ser dessecada e colhida. “Começamos a plantar no dia 15 de setembro e termi-namos após um mês. No mais tardar, a colheita segue até o fim de fevereiro. Tudo dependerá das condições climáticas”, explica.

Na dinâmica da fazenda, sai a soja, entra a safrinha de milho, e a semeadura de trigo começa logo em se-guida. E nada pode atrasar a sequência da produção que na média dos últimos três anos atingiu 152 sacas por alqueire (aproximadamente 62 sacas por hectare) e que segue parte para um silo próprio, no aguardo da co-mercialização para algumas “gigantes” tradings como a Cargill e a Bunge, e as demais, para a Cooperativa Agroindustrial de Cascavel (Coopavel).

Como a maior parte das propriedades rurais do mu-nicípio, a Monday é uma fazenda mediana. São 240 alqueires de plantação (na região a conta é feita por al-queires, e não por hectares) e mais 30 alqueires de pas-to, 40% destinado à reserva legal, não há espaço para o aumento de área, mas a produtividade cresce graças à gestão implantada na fazenda. Há 12 anos, Caetano in-veste no plantio direto. “Isso agregou no rendimento da lavoura. Do plantio direto é que surgiu a possibilidade da safrinha”, diz.

O agricultor conta que a história do plantio direito tem inúmeras versões. Antes da implantação do plantio direto, o solo da região era muito pobre, ácido e com gra-ves problemas de erosão. Conta-se que tudo começou no Paraná, quando um agricultor na década de 1970 inventou de cobrir o solo com milho. Isso era no mês de fevereiro. O milho acabou produzindo pouco, mas com alguma rentabilidade, e todos passaram a copiar a ideia. Virou alternativa para o trigo, muito desvalo-rizado. “Se não fosse a semeadura direta na palha, não haveria agricultura por aqui. Aos poucos, fomos cons-

A fazenda Monday (escrita de língua indígena, mas que se pronuncia Mondaí), localizada na cidade de Cascavel, a 490 quilômetros de Curitiba, capital do Paraná, é um desses lu-

gares onde dá gosto de se ver. Na pequena estrada de terra que dá acesso à propriedade, de um lado a outro há plantações de soja a perder de vista. Mas, não só lá. Logo nos primeiros dias de janeiro, quem sobrevoava o aeroporto municipal de Cascavel, Coronel Adalberto Mendes da Silva, deparava-se com um mar de soja verde que circundam a região. Há também outros pontos em que a vegetação já se encontra dessecada. Estão à espera de um exército de colheitadeiras que levantarão uma nu-vem de poeira para retirar da terra a soja madura. Mal se encerra a colheita, e as plantadeiras já estão em campo para semear o milho safrinha. “Plantarei milho e trigo na sequência. Hoje, conseguimos realizar uma sequência de até três culturas diferentes aqui na região. O que produ-zimos muito bem é o milho, mas estamos partindo para a soja de verão. Os entraves do cereal são a logística: a demora em colher, em transportar e beneficiar os grãos. Precisamos de rapidez para fazer a safrinha e depois en-trarmos com a cultura de inverno. E essa agilidade na co-lheita só vem com o uso de grandes maquinários. O que requer um investimento muito alto”, afirma João Henri-que Caetano, sócio-proprietário da fazenda.

Outro fator que vêm estimulando o agricultor e tan-tos outros a introduzirem mais à soja de verão na região são a alta produtividade, o bom preço recebido pela saca (cerca de R$ 60) e no baixo custo de produção. No oeste do Paraná, 90% da oleaginosa que está saindo do campo é de ciclo mais curto (soja precoce que leva apro-ximadamente 100 dias para chegar ao ponto de colhei-ta, enquanto que a de ciclo médio demora 140 dias), e a produção cresce a cada ano no Estado. Segundo os dados divulgados pelo Departamento de Economia Rural do Estado (Deral) – ligado à Secretaria de Agri-cultura do Estado do Paraná – em novembro, o plantio

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“Hoje, o perfil do agricultor da nossa região que mora na cidade é um industrial. Eu visito meus clientes para vender máquinas na cidade, e não mais no campo”, afirma Nelson Fernando Padovani, diretor da Grandcase Máquinas Agrícolas

“No ano passado, aqui no Show Rural Coopavel, nas áreas de demonstração colhemos 129 sacas por hectares e, queremos colher mais em algumas parcelas”, afirma Rogério Rizzardi, coordenador geral Show Rural Coopavel

truindo a fertilidade do solo, que hoje é muito bom”.Até quatro, cinco anos atrás, a safrinha também

era uma atividade praticamente secundária na região. Hoje, segundo o agricultor, se tornou quase tão prioritá-ria quanto a semeadura de verão em suas terras. Bem-sucedida, a safrinha de milho ultrapassou a safra de milho verão. “Na propriedade são 35 alqueires de mi-lho verão, mas teremos 100 alqueires de milho na safri-nha, que pretendo colher entre junho e julho. Há pou-co tempo, os agricultores ser preparavam para a safra de inverno, semear o trigo. Eu, por exemplo, semeava a aveia. Até cheguei a pensar em realizar a integração lavoura-pecuária. Entretanto, aos poucos, fui dominan-do a tecnologia da safrinha, que era um problema para mim, uma vez que esta região sofre com geadas a partir do mês de maio. Por esse motivo, a importância de se plantar cada vez mais cedo”, afirma Caetano.

Conectados com o futuro do campoPara driblar questões quanto ao clima, manejo e

atingir maior qualidade do produto (% quebra de grão) e a diminuição nas janelas de colheita e plantio, fatores impactantes na produção, o agricultor lançou mão da tecnificação. Diferentemente do tempo do seu padrasto, um dos desbravadores que um passado não tão distante fizeram história ao investir na região e fizeram brotar riqueza máxima daquelas terras. “Na década de 1970, ele adquiriu a fazenda que pertencia a uma família que veio da cidade de Mondaí, Santa Catarina. Daí, a origem do nome da fazenda”. Naquele tempo, a aquisição das terras acontecia pelos pinheiros que lá existiam. Com isso, a família montou uma madeireira na cidade e, aos poucos, foi retirando as árvores até pagar a fazenda. “Quando o último pinheiro saiu, já tínhamos pagado a propriedade. Antigamente a atividade era pecuária, mas a agricultura prevaleceu”. Quando retornou da ci-dade, após cursar Engenharia Agronômica, em Passo Fundo (RS), e mestrado, em Porto Alegre (RS), Caetano implantou uma nova gestão de produção na fazenda. Após o falecimento do seu padrasto, assumiu de vez as terras no Paraná.

Hoje elenca com naturalidade o nome técnico das pra-

gas que aparecem na plantação, sabe o dia exato em que a colheita de soja que deverá terminar. Atualmente, pro-duz grãos quase praticamente sem colocar um dedo na terra. Do plantio à colheita, tudo é mecanizado. O mais recente equipamento adquirido foi um pulverizador Uni-port 2500 Star 2500, da Jacto. O valor da máquina, algo em torno de R$ 430 mil, foi gasto para dar eficiência e rendimento à produção. “Esse é o desafio, pretendemos investir mais em colhedoras, uma outra maior, para re-solver os problemas nas áreas de curvas”, explica.

Nas lavouras, as máquinas agrícolas parecem mui-to mais videogames do que tratores. Alguns comandos são acionados por joysticks, com barra de luzes (GPS), piloto automático, sistemas de telemetria, sistema de monitoramento de pulverização e colheita, entre outros. Entretanto, todo o investimento aplicado se esbarra na questão da contratação de mão de obra. “Os nossos fun-cionários estão ficando velhos, e as pessoas mais jovens não querem trabalhar no campo. À medida que máqui-nas modernas chegam às lavouras, vamos aos poucos perdendo gente”.

O município do oeste paranaense que abriga uma população de aproximadamente 310 mil habitantes, se-gundo dados do IBGE, expandiu-se graças às forças dos colonos sulistas, a maioria descendente de alemães, italianos e ucranianos que deram início às atividades econômicas, como a exploração de madeira, suinocul-tura e a agricultura. Levada pelos imigrantes do Rio Grande do Sul, a soja passou a dividir com o milho a preferência dos agricultores, que se especializaram na cultura. “Hoje, o perfil do agricultor da nossa região que mora na cidade é um industrial. Eu visito meus clientes para vender máquinas na cidade, e não mais no campo. Na fazenda estão apenas os trabalhadores, uma mão de obra cada vez mais escassa”, afirma Nelson Fernando Padovani, diretor da Grandcase Máquinas Agrícolas, que atende oeste, sudoeste e mais de 70 municípios pa-ranaenses, com sede em Cascavel, filial em Pato Branco e Medianeira (PR).

Esqueça aquele estereótipo do agricultor que prefere contratar um exército de gente sem qualificação para trabalhar em condições precárias a investir em máqui-

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nas modernas. Padovani relata que a cidade conta com aproximadamente 4.500 propriedades rurais, em sua maioria pequenas e médias. Além da atividade agrícola, a região mantém-se pelo forte comércio de matéria-pri-ma e pela produção e de prestação de serviço, que tam-bém chegam ao campo. Diferentemente de outros mu-nicípios, Cascavel gerencia e realiza a cadeia completa de produção. “A cidade é sui generis, antigas terras de volutas. Eis a razão pelo qual grandes grupos saíram do município, tais como Mascarello Carrocerias e Ônibus, Grupo Muffato, maior empresa de varejo do Estado”.

Renovação e boas práticas Outro problema da região, assim como das demais, é

que em grande parte as propriedades rurais estão sem sucessor. Porém, em raros casos, os agricultores de ca-belos brancos e escasseando, que estão no sul do País, veem os filhos crescidos, ocupando postos importantes na produção da fazenda. Isso ocorre no Sítio São Jorge, situado no município de Matelândia, distante a 561 qui-lômetros da capital paranaense. Nas terras da família Sehn, quem conduz o trabalho é o filho caçula, Marcelo Sehn, 32 anos, mas ainda sob a supervisão do pai José Arlindo Sehn, quase um sexagenário. A família do se-nhor José, que mora em Serranópolis do Iguaçu, muni-cípio ao lado de Matelândia, faz parte de uma pequena e privilegiada safra de agricultores que contam com sucessor. Ele também faz parte da primeira geração de agricultores que chegaram à região há mais de três dé-cadas para investir na lavoura. O ex-cerealista comprou aos poucos alguns alqueires de terra. “Naquele tempo, retirava-se madeira e plantava-se com matraca”, lem-bra José Arlindo Sehn. Nas décadas de 1960 e 1970, os agricultores de muitos municípios interiorano que re-cebiam seus títulos de posse tinham metas de desma-tamento a cumprir. Quem não estivesse em dia com as obrigações poderia até perder a posse da terra.

Com a adoção de tecnologia, os Sehn criaram novas fór-mulas de um campo próspero e de preservação. Só nesta safra, eles estão colhendo 170 sacas por alqueire (média de 70 sacos por hectare) em sistema de plantio direto. E

mais duas áreas arrendadas de 330 alqueires, eles plan-tam soja, milho, trigo e feijão. “Em algumas áreas chega-mos a fazer 85 sacos por hectare”, diz Marcelo Sehn.

De acordo com Rogério Rizzardi, engenheiro agrôno-mo e coordenador geral do Show Rural Coopavel (even-to que ocorre anualmente no mês de fevereiro e é hoje considerada uma vitrine tecnológica para o produtor), os bons agricultores estão chegando à casa dos 80 sacas por hectare. “No entanto, há muitos com que ainda seguem com saca abaixo de 60, como se fosse algo produtivo. Essa fase deveria ter sido ultrapassada há muito tempo, uma vez que nos temos tecnologia para colher mais de 100 por hectare. Temos solo, clima e máquinas. O dia em que o agricultor olhar para soja e perceber que ela é um ser vivo, pois necessita que sejam atendida todas as suas exigências, uma vez que o incremento da produtividade da nossa região passa pela questão nutricional da planta, conquistaremos muito”, diz. Ele reforça que na região há variedades com grande potencial. “No ano passado, aqui no Show Rural Coopavel, nas áreas de demonstração co-lhemos 129 sacas por hectares e, queremos colher mais em algumas parcelas”, afirma Rizzardi.

Por essa razão, o desafio do momento da família Sehn é aumentar cada vez mais a produtividade, uma vez que a fazenda faz fronteira com o Parque Nacional do Igua-çu. A única solução encontrada por eles foi investir ano a ano em adubação, análise de solo e agricultora de preci-são. O lema é produzir mais na mesma área.

Para isso, com o incentivo do filho, eles adquiriram uma colheitadeira 2566 plataforma com 20 pés. O in-vestimento chegou à casa dos R$ 410 mil. “Chegamos a fazer uma adaptação de uma colheitadeira para tentar colher o feijão [cultura que voltou às terras após dois anos], porém optamos pela compra de um novo maqui-nário”, diz Marcelo. “A implantação de novas tecnologias por aqui foi culpa dele. Aqui a teoria venceu a pratica. Mas, no final, chegamos a um bom termo”, brinca o pai.

No Sítio São Jorge, há 20 anos só se faz plantio di-reto. “Hoje temos uma plantadeira dotada de dosador de sementes a vácuo, tecnologia que nos proporcionou aumentar a produtividade em três culturas diferentes.

A família do senhor José, que mora em Serranópolis do Iguaçu, município ao lado de Matelândia, faz parte de uma pequena e privilegiada safra de agricultores que contam com sucessor

“Naquele tempo, retirava-se madeira e plantava-se com matraca”, lembra José Arlindo Sehn, que parte da primeira geração de agricultores que chegaram à região, há mais de uma década para investir na lavoura

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A força das cooperativas Hoje o Paraná também fortalece-se pela presença das grandes cooperativas. Em 1970, uma delas nasceu perante a um grupo de 42 produtores rurais de municípios diferentes daquela região oeste que oficializou o nascimento da Cooperativa agropecuária de Cascavel (Coopavel), rebatizada uma década depois de Cooperativa Agroindustrial de Cascavel. Hoje, a Coopavel conta com 4.215 associados e 4.897 colaboradores. “Ao longo dos anos, as cooperativas acabaram tornando-se uma importante aliada na transformação da atividade rural na região. Virou ponte entre agricultor e a indústria. Temos investido muito na agregação de valor. Não se vende mais sacas de milho ou de soja, mais quilos de carnes bovina e suína. Não se vende mais apenas o leite, mas a

Cooperativa Agroindustrial Coopavel – com sede em Cascavel Faturamento: R$ 1,6 bilhões (referentes a 2013*)Produção total recebida**: Suínos (Abate 1.500 animais/dia); Aves (abate 150 mil aves/dia); Bovinos (abate 200 animais/dia). Laticínios (100 mil litros de leite/dia); Soja (Indústria de Rações; Unidade de Esmagamento processa 800 ton/dia); Sementes (Unidade de Beneficiamento de Sementes, que produz 300 mil sacas/ano); Matrizeiro (44 milhões de aves/ano)Número de associados: 4.215Número de funcionários: 4.897 (colaboradores direto)**Dados aproximados

Coamo Agroindustrial Cooperativa – com sede em Campo MourãoFaturamento: R$ 8,18 bilhões. Receitas Globais (Referentes a 2013*)Produção total recebida: 6,80 milhões de toneladas de produtos agrícolas.Número de associados: 26 mil (cooperados) Número de funcionários: 6.452 (efetivos) e média mensal de 1.679 colaboradores (temporários e terceirizados).

(*Data-Base 31/12/2013)

manteiga, o queijo o iogurte. Hoje 75% dos produtores in natura passam pelo processo de industrialização”, diz Rogério Rizzardi.Dados divulgados em dezembro do ano passado apontam que com uma safra praticamente igual à do ano anterior, as cooperativas agropecuárias do Paraná conseguiram ampliar o caixa. As 228 cooperativas instaladas no Estado faturaram R$ 50,9 bilhões em 2014. O resultado é atribuído ao avanço no índice de industrialização da produção paranaense. Segundo a organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), a movimentação de 2013 foi de R$ 46,1 bilhões. O setor de produção agropecuária fechou com R$ 46 bilhões. Entre as principais cooperativas estão a Coopavel, Coamo, C.Vale, Lar, Cocamar, entre outras dezenas.

Um pulverizador agrícola autopropelido, que nos dá condição de colhermos três safras/ano. Isso no passado nunca iria acontecer. Atualmente, a lavoura está toda com soja, depois entra uma parcela de milho. A segun-da parte da área se semeia feijão, e a terceira soja de novo”, afirma Marcelo.

O cultivo do feijão abandonado por alguns agricultores da região beneficia a família Sehn. Segundo Marcelo, a cultura do feijão naquelas terras encaixa-se como “luva”. “Há uma rotação, você planta feijão agora, colhe e planta trigo. Exista ainda uma expectativa de se conseguir um bom preço pelo produto”, diz. A saca do feijão carioca está em torno de R$ 120, enquanto no início do plantio, em se-tembro do ano passado, o preço era bem menor. Do que é produzido pela família cerca de 90% dos grãos seguem para a Cooperativa Agroindustrial Lar (PR).

O papel da cooperativa Na opinião de Nelson Padovani, as cooperativas se

especializaram em fazer a industrialização o que contri-bui para a região executar a cadeia produtiva completa. “Em regiões do Mato Grosso, o agricultor não sabe o que faz com o milho. Aqui ele se transforma em proteína, em frango. O grão é disputado pelo mercado local e

segue firme, pois sempre há demanda, principalmen-te por cooperadas como Coopavel, Copacol, Lar, Sadia, Aurora e Globoaves. Esse é o sucesso da região”, afirma.

“Mas, a soja continua sendo o carro chefe. Atualmen-te, o preço da oleaginosa está fugindo das expectativas de redução. O mercado está bom. Os contratos antecipa-dos, que estão sendo fechados ao preço de R$ 60 a saca. Podia chegar a R$ 70. Mas, o que dá mais que soja?”, pergunta ele. O que se sabe é que a valorização no mer-cado causou aumento da área destinada à oleaginosa no Paraná, segundo maior produtor do grão do País.

No Estado, alguns agricultores estão cultivando soja sobre soja. Ou seja, eles fizeram o plantio de inverno com a cultura da oleaginosa e repetem agora na safra de verão, segundo informações divulgadas em novem-bro pela Expedição Soja Brasil – um projeto, que faz um diagnóstico da safra de verão por todo o País – que en-controu exemplos de quem fez e continuará semeando a segunda safra de soja. A característica da região era plantar soja no verão e plantar milho no inverno na se-gunda safra. De três anos para cá, o divisor de águas fo-ram as últimas safras, o agricultor experimentou muito o plantio de soja safrinha. Foi relativamente bem, por-que o preço da soja estava melhor. E o que está fazendo

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hoje Jair Daronch, 47 anos. “Aqui temos três safras por ano, colhe soja, semeia soja de novo e trigo e volta com oleaginosa de novo”, diz o agricultor, que na média de produção conseguiu 202 sacas por alqueire de soja, ou 83 sacas por hectares. Só no ano passado, alcançou a média de 75 sacas/hectare. “Há dois anos consecutivos, eu produzo mais usando o esterco do aviário. Aqui a gen-te faz o plantio semidireto. Você precisa dar comida e for-necer para a terra o que ela precisa”, explica o proprietá-rio da fazenda, situada em Serranópolis do Iguaçu (PR).

Aliás, com o Estado rico em culturas agrícolas e um dos maiores celeiros de grãos, fumo, madeira, mandioca e batata do País, tamanha diversidade faz do Paraná um dos motores agrícolas do Brasil. Por esse motivo, por lá, a máxima “em se plantando, tudo dá” ganhou força na voz do agricultor. Daronch passou a desenvolver outras atividades além da soja, do milho, do fumo e do trigo. Aos poucos, foi ampliando a produção, comprando mais alguns pedaços de terra, arrendando outros e, há alguns anos, começou com a produção de leite e também de aviários, em 130 hectares de terras, sendo 100 de plan-tação. Atualmente, toda a sua produção de frango segue para a Cooperativa Agroindustrial Lar (PR).

A propriedade já está na terceira geração de agricul-

Cocamar Cooperativa Agroindustrial – com sede em MaringáFaturamento em 2014: R$ 2,850 bilhõesProdução total recebida: Soja (900 mil toneladas) Milho (850 mil toneladas). Trigo (120 mil toneladas), Café (330 mil sacas de grãos beneficiados) e 7,4 milhões de caixas laranja (40,8 quilos).Número de associados: 12 mil Número de funcionários: 2,4 mil

Cooperativa Agroindustrial Lar – com sede em Medianeira Faturamento em 2014: R$ 3 bilhões (faturamento líquido de 84 milhões)Produção total: Soja (14. 375 toneladas) Milho (20.825 toneladas), trigo (514 mil – sacas de 60 kgs) frangos (cabeças média) – 69.930.371, suínos (336 mil cabeças) e leite (52 milhões/litros) Número de associados: 9.597Número de funcionários: 7.300

C. Vale Cooperativa Agroindustrial – com sede em Palotina Faturamento em 2014: R$ 4,647 bilhõesProdução total recebida: 3 milhões toneladasNúmero de associados: 15.562Número de funcionários: 6.404

tores. O filho mais velho, Diego Daronch, cursou Admi-nistração e resolveu permanecer na fazenda, assim como o mais novo, Lucas, que ainda está no curso de técnico agrícola. Naquela primeira semana de janeiro, a família recebia em sua propriedade a mais recente máquina ad-quirida, um Puma 140 da Case 144 cv, um trator de mé-dia potência. “Não tínhamos uma máquina nova há mais de 20 anos. Agora vamos trabalhar com ar- condicionado e não ter mais esforço físico. Quem sabe no futuro próxi-mo a nova aquisição não seja uma plantadeira”, diz ele, que investiu na máquina algo em torno de R$ 160 mil. “A escolha do trator foram eles que opinaram”, completa.

Na entrada da propriedade – às margens de uma es-trada vicinal, há um jardim, uma casa, galpões, área para descanso e uma pequena piscina. Sinais de qualidade de vida conquistada por ele e que promete ser seguida pelos filhos. “Agora, a gente trabalha de forma organizada, di-vide as responsabilidades, mas a união e as decisões con-juntas garantem boa renda e uma vida com conforto”, diz. O trabalho organizado e agora mecanizado permite aos Daronch tirarem férias, um luxo até pouco tempo im-pensável entre os agricultores que não podiam se ausentar da propriedade. “Fora do período da colheita, a família dá conta do trabalho e tira férias”, afirma Daronch.

Jair Daronch e os filhos Diego e Lucas: diversificação e profissionalização

26 | Fevereiro 2015

Soja: em defesa do valor agregado na exportaçãoTexto Carlo Lovatelli *

* Carlo Lovatelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais – Abiove

A s vendas externas de soja em grão, farelo e óleo, em 2014, somaram US$ 31,5 bilhões, o que representa 14% das exportações totais do Brasil. O País embarcou 45,69 milhões de to-

neladas de soja em grão, 13,71 milhões t de farelo e 1,30 milhão t de óleo. Praticamente, o Brasil é um fornece-dor de matéria-prima para países que processam o grão e o transformam em farelo para a produção de proteína animal. Essa condição de exportador de produtos bási-cos se deve a políticas tributárias distorcivas, que pena-lizam o fornecimento da soja processada e beneficiam os embarques do grão.

Na China, principal importador da soja em grão bra-sileira, que em 2013 comprou 32,66 milhões de tonela-das do Brasil, o grão se transforma em farelo para ração, com a qual se produzem frango e suíno.

Diante dos resultados da balança comercial brasilei-ra em 2014, que puseram em evidência o déficit de US$ 3,93 bilhões, o pior resultado desde 1998, reforça-se o argumento de que o governo federal precisa priorizar po-líticas de aumento de valor agregado dos embarques, so-bretudo os do agronegócio e, em seu âmbito, os do com-plexo soja. Pela primeira vez, desde 2009, a soja superou o minério de ferro e liderou as exportações brasileiras. A expectativa é que o governo federal, recentemente empossado, volte às atenções para esse carro-chefe do agronegócio, que mereceria ser aquinhoado com políti-cas competentes de aumento de competitividade.

A Abiove, que representa a indústria processadora de soja – farelo, óleo e biodiesel –, começa 2015 com a bandeira de que é preciso trabalhar para a superação das dificuldades que afetam a cadeia produtiva da soja

e a agregação de valor no País. Entre os entraves, es-tão os problemas tributários, que reduzem a competi-tividade internacional do setor frente a seus principais concorrentes, especialmente China, Estados Unidos, Argentina e União Europeia. São distorções ligadas a tributos federais e ICMS que, em conjunto, tornam mais dispendiosa a exportação de farelo e óleo em relação à soja in natura.

A palavra de ordem, portanto, é ampliar a competi-tividade da economia brasileira em um mercado global em que os concorrentes do Brasil praticam políticas de aumento de produtividade, de redução de encargos fis-cais e de entraves burocráticos, além de cuidarem da modernização da logística de transportes e do conse-quente barateamento de fretes.

No caso da soja, por exemplo, a Argentina, terceiro maior exportador, favorece a agregação de valor via em-barques de farelo e óleo, produtos nobres da oleaginosa.

É possível – e urgente - melhorar a balança comer-cial mediante políticas de agregação de valor.

Artigo | ABIOVE

“PelA PrimeirA vez, desde 2009, A sojA suPerou o

minério de ferro e liderou As exPortAções brAsileirAs.”

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28 | Fevereiro 2015

ABPA: agenda de forte crescimento em 2015Texto Francisco Turra*

Em um ano em que a economia brasileira deverá crescer menos de 1%, a produção e a exportação da avicultura e suinocultura apresentam resultados que engrandecem o

agronegócio e contribuem para elevar significativa-mente as divisas do País. Os números positivos de 2014 e as perspectivas de mais crescimento em 2015 se devem às fortalezas do setor – sanidade, inovação, tecnologia e capacidade de atender com eficiência e responsabilidade o consumidor brasileiro e os clien-tes no mercado internacional, que demandam produ-tos diferenciados de acordo com requisitos religiosos e hábitos culturais.

Na produção de carne de frango (12,30 milhões de toneladas), registramos aumento de 2,8% em 2014, na comparação com 2013. Em 2015, espera-mos crescimento na produção entre 3% e 4%, que será absorvido pelo mercado interno, com a espera-da ampliação do consumo per capita, hoje de 43 Kg, e as exportações.

Projetamos elevação nas vendas externas, em

volume, de 2,5% (recorde de 3,99 milhões de tone-ladas) em 2014, em relação a 2013, e em valor, de 2,4%, para US$ 7,94 bilhões. Prevemos para 2015 crescimento entre 3% e 4% nos embarques interna-cionais, que certamente serão impulsionados pela China e pela Rússia. Hoje, são 29 os frigoríficos habi-litados a exportar para o mercado chinês. A Rússia é outra praça em expansão, que se soma a tradicionais clientes do frango brasileiro: Japão, Angola, Emira-dos Árabes Unidos, Filipinas.

O fato é que, de 53 países africanos, o Brasil exporta

carne de frango para 46; de 34 nações nas Américas, 20 recebem o produto brasileiro; de 31 na Ásia, 22 conso-mem o que nossos frigoríficos vendem. Todos os 13 paí-ses do Oriente Médio importam o frango do Brasil. E na União Europeia, 19 dos 28 membros do bloco compram a proteína. A fortaleza do setor também está na globali-zação das nossas empresas, como a BRF e a JBS, que se instalam em mercados compradores importantes.

Avicultura: US$ 8,6 bilhões de exportação - Soma-das as exportações de todos os segmentos da avicultu-ra (carnes de frango, de peru, de pato e de outras aves, ovos, ovos férteis e material genético), as divisas deve-rão atingir US$ 8,6 bilhões em 2014, o equivalente a R$ 20,11 bilhões.

Contabilizamos um bom desempenho na produção de ovos: 37,25 bilhões de unidades em 2014, 9,2% de crescimento em relação a 2013. O consumo per capita subiu para 182 ovos, ante 168 no ano passado. Em ovos férteis, a previsão é de atingir exportações de 11,75 mil t, variação positiva de 56,5% na comparação com igual período de 2013. A receita deverá crescer 62% e se situ-ar em US$ 72,83 milhões.

Os embarques de patos, marrecos e outras aves deve-rão atingir 10 mil toneladas, resultado 297% superior ao de 2013. A receita prevista é de US$ 12,96 milhões, aumento de 98,7% na comparação com a de 2013.

Artigo | ABPA

“prEVEMoS pArA 2015 CrESCiMENto ENtrE 3% E 4% NoS EMBArQUES

iNtErNACioNAiS ”

Fevereiro 2015 | 29

* Francisco Turra, presidente-executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e ex-ministro da Agricultura

Suinocultura: receita de US$ 1,7 bilhão - Na sui-nocultura, a presença do Brasil no mercado externo também é significativa. Vendemos para cerca de 70 países. Na África, atendemos 21 de 53 países; nas Américas, 16 de 34; na Ásia, 14 de 44; na Europa ex-tra-UE, 8 de 17 nações.

Quarto maior produtor e exportador mundial, o Bra-sil deve embarcar ao exterior, em 2014, 505 mil tone-ladas de carne suína, 12 mil t a menos do que em 2013 (retração de 2,4%). Porém, em receita, o total a ser ob-tido é de US$ 1,7 bilhão, elevação de 25% na compara-ção com 2013. Nossos principais mercados são Rússia, Hong Kong, Angola, Cingapura e Uruguai.

A ABPA acredita que em 2015 as vendas externas de carne suína ficarão estáveis. Estamos nos esforçando para abrir novos mercados, como a Coreia do Sul, o Mé-xico, o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia. Também esperamos crescer gradativamente nos EUA, na China, no Japão e na África do Sul, mercado que se reabriu ao Brasil em 2014.

Neste ano, que terminamos após nove meses de vida da ABPA, que resultou na união entre a Ubabef (carne de frango) e a Abipecs (carne suína), no final de março, nos compraz destacar o dinamismo da nova entidade, que tem participado de inúmeras reuniões internacio-nais para promover a proteína animal brasileira e abrir

mercados. Nesse sentido, registramos o início de con-sultas na Organização Mundial do Comércio (OMC) com a Indonésia, em dezembro. Esse país está sendo ques-tionado sobre práticas adotadas para barrar a entrada da carne de frango do Brasil em seu mercado.

Em 2015, a ABPA intensificará seus esforços para consolidar mercados recém-conquistados e para abrir novas oportunidades em países com os quais estamos negociando. Quanto às nossas empresas, elas estão ganhando espaço e assumindo a vanguarda no mer-cado internacional.

“EM 2015, A ABpA iNtENSifiCArá SEUS ESforçoS pArA

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30 | Fevereiro 2015

Pecuária

Texto Ricardo Maia, de Londrina (Pr) | Fotos Alf Ribeiro

Produtores do Paraná começam a perceber que produzir carne de uma forma mais sustentável pode ser um bom negócio

Nada se perde tudo se transforma

As terras do Paraná sempre chamaram a atenção de aventureiros de todos os cam-pos pela sua alta fertilidade e por ter uma estrutura de fácil manejo. A busca por pas-

tagens mais ricas, principalmente no Noroeste e Norte do Estado, atraiu grandes pecuaristas que decidiram investir. A partir disso, a pecuária extensiva tomou conta das terras argilosas e arenosas típicas do Paraná. Mas, a abrupta valorização dessas terras e o aumento gradativo dos preços das principais commodities –soja e milho – acabaram desestimulando a atividade.

Dados do Instituto Paranaense de Assistência

Técnica e Extensão Rural (Emater) revelam que nos últimos anos, a pecuária de corte paranaense com suas 6,2 milhões de cabeças, tem perdido suas áre-as de pastagens para a produção de grãos, que hoje ocupam um espaço de aproximadamente 5,8 mi-lhões de hectares, dados referentes à safra 2014/15.

Devido à predominância da agricultura e o de-sestímulo da pecuária, o setor na região passou por momentos difíceis, principalmente para aque-les que estavam acostumados com o modelo de pe-cuária extensiva. Hoje, porém, muitos pecuaristas paranaenses estão percebendo que é possível pro-

Fevereiro 2015 | 31

Nada se perde tudo se transforma

duzir carne em menores áreas, de forma econo-micamente viável e ambientalmente correta. Em algumas dessas propriedades que tentam trazer de volta o brilho da pecuária do Estado, o sistema integração lavoura-pecuária – que permite reve-zar a atividade agrícola e pecuária dentro de uma mesma propriedade – aliada a uma boa genética, tem sido a nova ferramenta que muitos pecuaris-tas estão investindo para manter a atividade em uma área predominantemente agrícola.

Há 35 anos produzindo carne em confinamento, a Fazenda Cachoeira, localizada no município de São

Sebastião da Amoreira, norte paranaense, descobriu que é possível produzir carne de alta qualidade, de forma competitiva e com o menor espaço de terra possível. “Aliar uma produção altamente competiti-va em espaços restritos só foi possível depois que adotei a integração lavoura-pecuária. O método é o mais eficaz para produzir a proteína”, diz André Ca-rioba, proprietário da fazenda.

Alguns resultados são bem práticos. Carioba con-ta que 98% da alimentação dos animais são prove-nientes da própria fazenda. Além da produção de soja e milho, o pecuarista também alia o sistema à

Tanque de armazenamento dos dejetos dos animais na

Fazenda Cachoeira

32 | Fevereiro 2015

Pecuária

Pesquisador Alvadi Balbinot, da Embrapa Soja (PR), destaca que qualquer tipo de integração aumenta a quantidade e a qualidade da pastagem, o que eleva a produtividade com um baixo custo.

A oportunidade de produzir mais e melhorNa Fazenda Flor do Café, localizada na região de Londrina, a associação lavoura-pecuária trouxe bons resultados para o pecuarista Alexandre Turquino. Ele conta que dividiu a sua propriedade de 348 hectares, em vários quadrantes e cada um deles não fica com apenas uma atividade por muito tempo. Em uma determinada área, por exemplo, quando a pastagem já foi devidamente utilizada, ele arrenda para um agricultor, que planta grãos e colhe. Depois que termina a colheita ele deixa o espaço descansando por um tempo e depois retoma a pastagem. “Com isso, ‘rodo’ toda a fazenda”, explica.O retorno que a rotação de cultura trouxe para o pecuarista foi apreciável, principalmente no índice de ocupação, que na sua propriedade chega a quatro cabeças por hectare, contra uma média nacional de 1,2 cabeças por hectare. Ele destaca que esse resultado só é possível graças à boa qualidade do pasto, proporcionado também pela rotação.O pecuarista trabalha com gado de recria, comercializando-os principalmente por meio de dois leilões que realiza anualmente, o primeiro em abril e o segundo no mês de outubro, ambos na região de Londrina. Para vendê-los, os animais precisam ser de alto desempenho. Por isso, a necessidade de uma alimentação de qualidade, além de uma boa genética que mostra que aquele animal terá um bom ganho de peso.Com o sistema de rotação e o respeito ao meio ambiente, o pecuarista descobriu que é possível permanecer na atividade e trabalhar com qualidade. “É preciso dedicação e investimento”. Ele afirma que a integração é a saúde da cadeia produtiva. E completa que o sistema é hoje a forma mais sustentável de produzir carne.

deve ser de alta qualidade, principalmente o milho.O pecuarista revela que os melhores grãos são destina-

dos exclusivamente para o confinamento. Ele aponta que uma péssima alimentação prejudica a engorda dos ani-mais. “Se um talhão da lavoura não se desenvolve, trans-formo aquelas plantas em volumoso para o gado”, diz ele, reafirmando que na propriedade tudo é aproveitado.

Com isso, o pecuarista avalia que, para aqueles que estão começando na atividade, realizar esse tipo de in-tegração é um pouco complicado. A própria fazenda, se-gundo ele, demorou anos para atingir o seu equilíbrio. “Nos últimos tempos, fizemos vários testes e diversas parcerias para encontrar a melhor metodologia de produção”. Outra dificuldade foi mudar a conduta dos funcionários, cuja atenção precisa, agora, estar voltada para todos os setores e não somente ao gado.

Lá na fazenda, o lema é dos antigos e bem simples: “nada se perde tudo se transforma”. O milho vira carne, os dejetos viram insumos que voltam a ser utilizados como fonte de energia para o desenvolvimento das plantas na forma de adubo. Vale salientar que, toda a área de proteção ambiental é cuidadosamente mantida.

Produção rima com Integração O pesquisador Alvadi Balbinot, da Embrapa Soja, em

Londrina (PR), estuda há anos a integração lavoura-pe-cuária-floresta, como um modelo de sistema produtivo que tem ajudado a recuperar a produção paranaense de carne bovina. Balbinot explica que a técnica proporcio-na ganhos econômicos e ambientais, gerando estabili-dade de renda, melhoria na qualidade do solo, redução na erosão e aumento na qualidade da produção.

O pesquisador “cultiva” seus estudos sobre a técnica na Fazenda Maravilha, em Londrina. Nessa área, se re-aliza diversas combinações como: floresta e pecuária; floresta e lavoura e pecuária com floresta. “Em quatro anos de pesquisa, temos encontrados ótimos resultados em relação à união dessas atividades”, afirma.

Para a pecuária, ele destaca que qualquer tipo de in-tegração aumenta a quantidade e a qualidade da pasta-gem, o que eleva a produtividade com um baixo custo. A pecuária proporciona, por sua vez, uma melhoria na

sua produção de tomate. Todos os frutos colhidos nas terras considerados impróprios para a comercializa-ção são agregados à alimentação dos animais, ainda composta de silagem e sal mineral. “No tomate, não utilizo agrotóxico, por isso também sirvo para eles”, diz Carioba. Para fechar esse círculo, todos os dejetos dos animais vão parar em um tanque, onde são penei-rados e utilizados como adubo na produção agrícola. Além de não agredir o corpo d’água, que corre em sua propriedade, Carioba reduziu os seus custos de pro-dução. Atualmente, o pecuarista gasta em média, R$ 4,50 por animal/dia em alimentação – contra R$ 6,50 por animal/dia em um sistema de confinamento tra-dicional – ou seja, sem a integração. Para dar conta de uma capacidade estática do confinamento de 2.160 animais a cada 90 dias, Carioba possui uma área de 500 hectares de milho. Ele diz que para a integração lavoura-pecuária dar certo, tudo o que for utilizado

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Fevereiro 2015 | 33

Fazenda Cachoeira, localizada no município de São Sebastião da Amoreira, produzir carne de alta qualidade, de forma competitiva e com o menor espaço de terra possível

Pastagem e água em abundância garantem bom rendimento de carcaça

Enquanto isso no leite... A profissionalização da agropecuária paranaense não ocorreu só na pecuária de corte. Na produção de leite, os pecuaristas perceberam que necessitavam se capacitar e se modernizar para entrar em um mercado cada vez mais competitivo. Sem muito espaço para expandir as áreas de pastagens, eles tiveram que investir em produtividade, com a adesão de uma boa genética e uma alimentação de qualidade. Os investimentos ocorreram com resultados surpreendentes. Fábio Mezzadri, médico veterinário do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab), aponta que o investimento em pastagens e uma boa genética proporcionaram um crescimento de 105% na produção de leite no Estado entre os anos de 2002 e 2012, quando o Paraná chegou a produzir 3,9 bilhões de litros. Ele estima que em 2013, a produção paranaense deve ter chegado a 4,3 bilhões de litros. “O Estado se profissionalizou bastante na atividade leiteira, adotando novas tecnologias, utilizando melhor o solo e principalmente usando a produção de milho para silagem durante o inverno”, explica o veterinário.

Além disso, os pecuaristas passaram a cuidar mais da sanidade do rebanho, fator este que contribui muito para a obtenção de um bom índice de produtividade. “As vacas passaram a ser mais produtivas”, afirma. Ao todo, o Paraná possui um rebanho leiteiro de 2,5 milhões de cabeças. Desse total, 1,7 milhão são ordenhadas.Valdeir Martins, outro produtor de leite na região de Londrina, afirma que é possível produzir com alta qualidade mesmo em pequenas propriedades. O segredo, assegura ele, é ter uma alimentação adequada, garantida graças ao investimento na pastagem e uma boa genética. Para não ter queda de produção no inverno, Martins aposta na alimentação dos animais com a silagem de milho, grão produzido na propriedade.Com esses investimentos e a sua dedicação, o pecuarista consegue 1.200 litros por dia de leite, tipo A. “Para produzir esse tipo é preciso uma boa alimentação, utilizar equipamentos adequados na hora da ordenha e dedicação”, diz o produtor que possui 90 animais em lactação.

estrutura do solo e eleva o índice de palhada no siste-ma de plantio direto. “É um casamento, um beneficia o outro”, brinca o pesquisador.

No caso da inserção de floresta-pecuária, o plantio de árvore pode ser utilizado como quebra-vento, o que dimi-nui os riscos de geada e proporciona conforto térmico para os animais, com as sombras geradas pelas árvores. Com isso, eles passam a ingerir uma quantidade maior de ali-mentos, reduzindo assim o período de engorda. Com essa diversificação, sem necessitar de uma área muito grande, a pecuária pode ser um negócio altamente rentável.

Balbinot acrescenta que, além disso, é muito impor-tante que o pecuarista utilize uma boa genética. Em climas mais quentes, como na região de Londrina e de todo o norte do Paraná, a recomendação é pelo gado nelore, que possui um alto índice de rusticidade, ou seja, se adapta melhor às altas temperaturas. Mais ao

sul do Estado, onde o clima é ameno, como em Gua-rapuava e Pato Branco, o pecuarista pode optar por animais de raças europeias, que possuem um melhor aproveitamento de carcaça, a exemplo da raça Angus.

Em relação ao solo, Balbinot explica que a integra-ção ajuda na retenção de umidade e na absorção de nutrientes. A braquiária, capim muito utilizado nas pastagens, permite trazer os nutrientes da camada mais profunda do solo para a superfície. Com isso, uma planta de soja ou milho consegue absorver me-lhor os nutrientes. “Além do mais, o Paraná possui óti-mas opções de solo e clima”, afirma.

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O DNA do Agronegócio

22ª Fe i ra In te rnac iona l de Tecno log ia Agr íco la em Ação

De 27 de Abril a 01º de Maio Das 8h às 18h - Ribeirão Preto - São Paulo

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