condiÇÕes de trabalho dos catadores de materiais...

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA Programa de Pós-Graduação Meio Ambiente e Sustentabilidade Mestrado Profissional CONDIÇÕES DE TRABALHO DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS JANE RABELO ALMEIDA CARATINGA Minas Gerais – Brasil Agosto de 2007

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA Programa de Pós-Graduação Meio Ambiente e Sustentabilidade

Mestrado Profissional

CONDIÇÕES DE TRABALHO DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS

JANE RABELO ALMEIDA

CARATINGA Minas Gerais – Brasil

Agosto de 2007

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA Programa de Pós-Graduação Meio Ambiente e Sustentabilidade

Mestrado Profissional

CONDIÇÕES DE TRABALHO DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS

JANE RABELO ALMEIDA

Dissertação apresentada ao Centro Universitário de Caratinga, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Sustentabilidade, para obtenção do título de Magister Scientiae.

CARATINGA Minas Gerais - Brasil

Agosto de 2007

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ii

JANE RABELO ALMEIDA

AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS

Dissertação apresentada ao Centro Universitário de Caratinga, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Sustentabilidade, para obtenção do título de Magister Scientiae.

APROVADA: 30 de agosto de 2007. Prof. Antônio José Dias Vieira Prof. Marcus Vinícius de Mello Pinto (Orientador)

Prof. Luís Guilherme Barbosa Prof. Luciano José Minette

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O bicho

Manuel Bandeira

Vi ontem um bicho

Na imundície do pátio

Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,

Não examinava nem cheirava:

Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,

Não era um gato,

Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

Rio de Janeiro, 27 de dezembro de 1947

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A todos que me ajudaram nesta caminhada:

Meu pai, grande homem, grande mestre, exemplo de vida, saudades...

Minha mãe, amiga fiel e verdadeira, exemplo de afeto e determinação.

Meu esposo, amado companheiro, cúmplice, exemplo de amor.

Giovana e Wellington, apoio de todas as horas, exemplo de irmãos.

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v

AGRADECIMENTOS

A Deus, meu grande ajudador, quem abre as portas e me conduz em triunfo.

Ao Centro Universitário de Caratinga pelo apoio e incentivo ao aperfeiçoamento

profissional de seu corpo docente.

A Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Governador Valadares,

Minas Gerais, pela colaboração e prontidão em fornecer dados para a execução do

trabalho.

A Secretaria Estadual de Educação do Estado de Minas Gerais, por conceder

autorização especial para afastamento de atividades para freqüentar o curso.

Aos nobres mestres Prof. Dr. Antônio José Dias Vieira e Prof. Dr. Marcos Alves

de Magalhães, que durante esse tempo foram muito mais que orientadores, mas grandes

amigos e incentivadores.

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vi

CONTEÚDO

Página

LISTA DE ABREVIATURAS......................................................................................viii

RESUMO...........................................................................................................................x

ABSTRACT....................................................................................................................xii

1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................16

2. REVISÃO DE LITERATURA.................................................................................19

3. MATERIAL E MÉTODOS.......................................................................................24

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO...............................................................................27

4.1. Estrutura organizacional e perfil sócio-econômico da população de catadores de

materiais recicláveis de Governador Valadares.........................................................27

4.1.1. Histórico da Associação.............................................................................27

4.1.2. Critérios para cadastramento de associados..............................................29

4.1.3. Treinamento...............................................................................................29

4.1.4. Organização administrativa.......................................................................30

4.1.5. Estrutura física............................................................................................31

4.1.6. Perfil sócio econômico dos associados.......................................................33

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vii

4.1.7. Parcerias e Incentivos.................................................................................40

4.1.8. Rotina de Trabalho.....................................................................................41

4.1.9. Abrangência da coleta seletiva...................................................................45

4.1.10. Melhorias nas condições de trabalho........................................................47

4.1.11. Melhorias no ambiente de trabalho..........................................................48

4.1.12. Vícios........................................................................................................48

4.1.13. Percepção dos catadores quanto ao esforço físico para segregar os

materiais recicláveis.............................................................................................50

4.1.14. Lazer........................................................................................................50

4.2. Efeito da idade sobre a saúde e qualidade de vida dos catadores de materiais

recicláveis de Governador Valadares........................................................................51

5. CONCLUSÕES.........................................................................................................61

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................63

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................65

ANEXOS.........................................................................................................................68

1. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido............................................................68

2. Parecer do Comitê de Ética.........................................................................................69

3. Questionário - coleta de dados / Catador.....................................................................70

4. Questionário - coleta de dados / Coordenador.............................................................73

5. Ficha de cadastro.........................................................................................................75

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LISTA DE ABREVIATURAS

BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CEMPRE - Compromisso Empresarial para Reciclagem

EJA - Educação de Jovens e Adultos

EPI - Equipamento de Proteção Individual

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IES - Instituição de Ensino Superior

INSS - Instituto Nacional de Seguro Social

OMS - Organização Mundial de Saúde

PEAD - Polietileno de Alta Densidade

PEBD - Polietileno de Baixa Densidade

PET - Polietileno Tereftalato

PETI - Programa de Erradicação do trabalho Infantil

PME - Pesquisa Mensal de Emprego

PMGV - Prefeitura Municipal de Governador Valadares

PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

PNSB - Pesquisa Nacional de Saneamento Básico

PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PVC - Policloreto de Venilha

RSS - Resíduos Sólidos de Saúde

RSU - Resíduos Sólidos Urbanos

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ix

SIS - Síntese de Indicadores Sociais

SMS - Secretaria Municipal de Saúde

SUS - Sistema Único de Saúde

UNEC - Centro Universitário de Caratinga

UNB - Universidade de Brasília

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x

RESUMO

ALMEIDA, JANE RABELO. Centro Universitário de Caratinga, agosto de 2007.

Avaliação das condições de trabalho dos catadores de materiais recicláveis.

Orientador: Professor D.Sc. Antônio José Dias Vieira. Co-orientador: Professor D.Sc.

Marcos Alves de Magalhães.

O perfil dos catadores de materiais recicláveis de uma associação, na cidade de

Governador Valadares, Minas Gerais, Brasil, é apresentado neste trabalho. Não há

registros sobre a realidade desses trabalhadores e mediante as dificuldades encontradas

para sobrevivência desse grupo, foram descritas as condições de trabalho e de vida

visando subsidiar propostas para melhoria dessas condições de vida, desse grupo social.

Os catadores de materiais recicláveis são expostos, diariamente, a condições insalubres

de trabalho que podem afetar sua saúde em função do tempo de exposição e do aumento

de idade cronológica. Foram entrevistados 61,2% dos catadores associados na própria

sede da associação, sendo abordados sobre questões referentes às condições de trabalho,

moradia, lazer, renda, acesso a serviços de saúde, presença ou ausência de acidentes de

trabalho e grau de satisfação pessoal. Também foram entrevistados os coordenadores da

associação com abordagens sobre o histórico da associação, histórico pessoal dos

catadores, a estrutura física da associação e a rotina de trabalho. Foram realizadas

anotações em diário de campo, e durante as visitas, foram analisados os documentos e

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registros da associação desde o início das atividades. A atividade econômica da

associação é fonte de renda para 67 catadores e garante a sobrevivência de 181 pessoas,

catadores e seus dependentes. As variáveis dependentes (escolaridade, moradia,

acidentes de trabalho e grau de satisfação pessoal) foram correlacionadas com a variável

independente idade do trabalhador. A idade não tem nenhuma associação com a

ocorrência de acidentes de trabalho e tipo de moradia. O nível de escolaridade dos

trabalhadores é baixo, a maioria, 53,6% dos associados apresentam escolaridade igual

ou inferior a três anos de estudo e teve associação negativa com a idade. Os catadores

mais jovens apresentaram menor grau de satisfação com a vida, pois almejam maiores

oportunidades de ascensão social. A desigualdade sócio-econômica ocasiona baixa

auto-estima, desesperança e descrédito em alcançar melhores condições de vida.

Contudo, para a maioria dos trabalhadores, o grau de satisfação com o trabalho e com a

vida é grande.

Palavras chave: insalubridade, escolaridade, condições de trabalho

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ABSTRACT

ALMEIDA, JANE RABELO. Centro Universitário de Caratinga, August of 2007.

Evaluation of the conditions of work of the collectors of materials recycled.

Adviser: Antônio José Dias Vieira. Co-adviser: Marcos Alves de Magalhães.

The profile of recycling stuff collectors of an organization in Governador

Valadares , Minas Gerais, Brazil is presented in this research . There are no registrations

about this workers reality and through the difficulties which have been found for this

group survival Work and life conditions were described, intending to subsidize

proposals for improving life conditions of this social group Recycling stuff collectors

are daily exposed to insalubrious work condition which can affect their health due to

exposure time and rise of chronological age. 61,2% of the associated collectors were

interviewed in the own commercial trade-hall of the corporation . They were

interviewed with broaching of work conditions, housing , leisure, rent, health services

access, presence or absence of work accidents and personal satisfaction grade .

Corporation coordinators were also interviewed with broaching of corporation

description , collectors personal description ,corporation physical structure and routine

work . Notes on daily field about direct observations were peformed during visits to the

corporation as well as documents and corporation registrations have been analysed

from the beginning of its activities. Work in the corporation is source of revenue to 67

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collectors and it guarantees survival to 181 people ,collectors and their dependents. As

dependent variables (scholarship ,housing, work accidents and personal satisfaction

grade) were correlationed to the independent variable worker age . Age isn’t

associated to ocurrence of work accidents and kind of housing . Scholarship workers

level is low most of them , 53,6% of the associates present scholarship iqual or under

three school years and it was negatively associated to age . Younger collectors

present lower life satisfaction grade for aiming at bigger oportunities of social

ascension. Socioeconomic inequality causes low self-steem, hopelessness and discredit

on achieving better life conditions . However ,work and life satisfaction grade is high

for most part of the workers.

Key words : insalubrity, scholarship, work conditions

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1. INTRODUÇÃO

Governador Valadares é uma cidade de porte médio, em pleno processo de

expansão e como todo centro urbano em expansão apresenta uma série de problemas

ambientais e sociais, dentre eles, destaca-se o aumento na geração de resíduos sólidos

urbanos (RSU) e a falta de opção de trabalho. Neste contexto, surge a necessidade de

interação do crescimento econômico com a manutenção e preservação da natureza.

No Seminário Legislativo Lixo e Cidadania ocorrido em Belo Horizonte, em 2005

(ALEMG, 2005), enfatizou-se que a população brasileira cresceu 16% e a capacidade de

produção de lixo aumentou em torno de 50% entre o período de 1989 a 2000.

A geração de RSU é um problema que não atinge apenas os grandes centros

urbanos, cidades de pequeno porte, ainda que os produzam em menor quantidade,

também sofrem com a degradação ambiental e social relacionada a esses resíduos

gerados por todos; nos espaços domésticos, nas vias públicas, nos locais de trabalho,

nos hospitais e outros. Os RSU fazem parte da vida cotidiana da sociedade. É assunto de

todos e para todos, independente de formação ou classe social (MMA, 2003).

Se por um lado, o aumento na geração de resíduos se constitui um problema, em

muitas localidades, devido a falta de opção de trabalho, torna-se uma fonte alternativa

de renda, possibilitando a sobrevivência para muitas pessoas excluídas socialmente, que

vivem da catação de materiais recicláveis segregados do lixo.

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A falta de oportunidade de trabalho tem levado muitas pessoas, no Brasil, a se

transformarem em catadores de lixo como forma de garantir a sobrevivência

(Magalhães et al., 2004).

De acordo com o Compromisso Empresarial para a Reciclagem (D’Almeida e

Vilhena, 1999), a atividade informal de catação de materiais recicláveis, em ruas e

lixões do Brasil, envolvia cerca de 200 mil catadores no ano de 1999. A reciclagem se

destaca no cenário do mundo atual, diante da escassez de matéria prima, como uma

alternativa que permite aproveitamento de resíduos, economia de energia e de recursos,

além de gerar postos de trabalhos (Magalhães et al., 2004). Por tudo isso, a reciclagem

só tende a crescer. Faz-se necessário reconhecer a importância dessa prestação de

serviços para os cofres públicos e para a sociedade e, rever as políticas públicas de

apoio a esses trabalhadores. Dentre os problemas enfrentados pelos catadores,

destacam-se: a insalubridade do ambiente, a falta de segurança no trabalho e de

assistência médica, a exploração dos atravessadores, a pobreza e a exclusão social.

Na cidade de Governador Valadares, há uma associação de catadores de materiais

recicláveis na qual trabalha um grupo de catadores em regime associativista, fundada

em 2002, formada, inicialmente, por 144 indivíduos, quase que na totalidade por ex-

catadores do antigo "lixão" da cidade onde, hoje, funciona um aterro controlado e está

em construção o futuro aterro sanitário. São 67 trabalhadores que há cerca de 5 anos

atrás, viviam marginalizados, em condições degradantes, catando lixo nas ruas, ou no

lixão e, atualmente, trabalham de forma organizada e podem ser reconhecidos, por parte

da população, como agentes de preservação ambiental. Um projeto de reciclagem bem

gerenciado pode apresentar resultados positivos e surpreendentes (Cunha e Melchior,

2005).

Como não foi feito anteriormente avaliação das condições de trabalho e de saúde

dos membros da associação de catadores de materiais recicláveis de Governador

Valadares, para verificar se houve melhoria em suas condições de vida após a saída do

ambiente do “lixão”; pouco se sabe das dificuldades e das expectativas de vida desses

trabalhadores.

Os objetivos deste trabalho são: (i) traçar o perfil da população de catadores de

materiais recicláveis de uma associação da cidade de Governador Valadares, (ii)

relacionar a idade com o tipo de moradia, nível de escolaridade e ocorrência de

acidentes de trabalho em membros da associação de catadores de materiais recicláveis

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de Governador Valadares, levando em consideração a variável resposta: estado de

satisfação pessoal.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

As administrações públicas municipais têm enfrentado dificuldades em gerir os

RSU descartados, considerando que o crescimento populacional implica numa produção

crescente e inesgotável de resíduos. Uma gestão ambiental participativa, além de

possibilitar a reversão dos custos ecológicos e sociais da crise econômica, possibilita

integrar a população marginalizada num processo que vá satisfazer suas necessidades

fundamentais, aproveitando o potencial ecológico de seus recursos ambientais e

respeitando suas identidades coletivas (Leff, 2004).

Estima-se que 30% dos danos à saúde estão relacionados aos fatores ambientais

decorrentes de inadequação do saneamento básico (água, lixo, esgoto), poluição

atmosférica, exposição a substâncias químicas e físicas, desastres naturais, fatores

biológicos (vetores, hospedeiros e reservatórios), dentre outros (OMS, 2002).

Segundo Leff (2004) uma proposta viável de gestão ambiental participativa e

democrática, para gerar oportunidade de trabalho e renda, é a criação de associações ou

cooperativas, favorecendo a melhoria na qualidade de vida de muitas pessoas que vivem

da catação informal de materiais recicláveis. Projetos, que envolvem o apoio do poder

público, a conscientização e a colaboração da comunidade, para separar os diferentes

tipos de lixo, estão contribuindo para resgatar a dignidade humana de muitas pessoas

que viviam em condições subumanas e degradantes, retirando seu sustento dos lixões e

assegurar a melhoria das condições de vida de milhares de pessoas, além de minimizar

os impactos causados pela crescente produção e descarte do lixo no meio ambiente.

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Nesse contexto, organizar catadores de materiais recicláveis de rua e lixão em

associações ou cooperativas é um projeto promissor de inclusão social.

Há anos, a indústria de reciclagem no Brasil é “sustentada” pela catação informal

de materiais encontrados nas ruas e lixões. As condições de trabalho, embora

extremamente insalubres, proporcionam para esses catadores uma liberdade no horário

de trabalho e de comportamento inexistente em empregos fixos (D’Almeida e Vilhena,

2000), razão pela qual, muitos catadores recusam oportunidades de empregos,

preferindo as atividades de segregação de materiais recicláveis.

No Seminário Legislativo Lixo e Cidadania, destacou-se que o trabalho dos

catadores de materiais recicláveis garante 90% da matéria prima que chega à indústria

recicladora do País. A reciclagem é uma atividade econômica que deve fazer parte de

um conjunto de ações integradas que visam um melhor gerenciamento do lixo

(D’Almeida e Vilhena, 2000). Os catadores de materiais recicláveis têm contribuído

para que o país se destaque entre os maiores recicladores do mundo. O Brasil aparece

como um dos maiores recicladores de Polietileno Tereftalato - PET do mundo, com

índices que superam os Estados Unidos e a Europa. Em 2005, o mercado brasileiro

consumiu 374 mil toneladas de PET para embalagens e reciclou 174 mil toneladas,

mantendo o índice nacional de reciclagem de 2004 que foi de 47%. No ano anterior, o

País registrou o consumo de 360 mil toneladas, sendo que 167 mil toneladas foram

reaproveitadas (CEMPRE, 2007).

Embora a reciclagem seja uma prática muito recomendada para países pobres e

em desenvolvimento, com poucos recursos naturais, passou a ser exigência do mundo

moderno em todos os paises que se convenceram de que não será mais possível

desperdiçar e acumular, de forma poluente, materiais recicláveis (Magalhães et al.,

2004). A catação de materiais recicláveis está despontando neste cenário como uma

fonte alternativa de renda e meio de sobrevivência de muitas famílias excluídas

socialmente, bem como um dos meios de contribuir com a sustentabilidade de centros

urbanos. A cada dia, aumenta o número de excluídos que se transformam em catadores

de lixo como forma de garantir a sobrevivência (Magalhães et al., 2004), e com isso, o

histórico de degradação ambiental, causado pelo impacto do descarte inadequado do

lixo, está mudando em muitas partes do mundo. A criação de associações ou

cooperativas de catadores tem contribuído de forma significativa para a melhoria da

qualidade de vida dos catadores de materiais recicláveis.

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Leff (2004) sugere uma reflexão sobre o “desenvolvimento sustentável”, que para

o autor, passa pela erradicação da pobreza, da degradação ambiental e da perda de

valores e práticas culturais, garantindo condições dignas de vida para as futuras

gerações, com apropriação igualitária e responsável dos recursos da natureza. Viabiliza

a criação de novos projetos sociais e culturais através dos quais as etnias são respeitadas

e os conhecimentos culturais de cada região, são preservados. Em contrapartida, com

essa autonomia, favorece o fortalecimento da economia local e regional, e ao mesmo

tempo, promove a transformação e mudança de hábitos desta geração, e de futuras

gerações.

A colaboração da sociedade na organização dos catadores de materiais recicláveis,

além de contribuir no resgate da dignidade das pessoas que vivem nos lixões em

condições subumanas e degradantes, permite a garantia do seu sustento e desponta

como parceira nas ações de preservação ambiental, assegurando a melhoria das

condições de vida de milhares de pessoas e a minimização dos impactos causados pela

crescente produção e descarte do lixo de forma inadequada no meio ambiente. Entender

a importância da reciclagem é o primeiro passo, mas saber praticá-la é o desafio maior

(Cunha e Melchior, 2005).

No Encontro Nacional de Catadores, ocorrido na Universidade de Brasília,

Distrito Federal, em 2001, enfatizou-se que no Brasil, desde a Revolução Industrial, a

coleta seletiva ocorre, informalmente, através do trabalho do catador, outrora conhecido

como papeleiro, garrafeiro, ou por denominações pejorativas como “burro sem rabo”.

Nos tempos passados ou atuais, o catador sempre esteve presente de forma mais ou

menos institucional no processo de gerenciamento de resíduos. O catador trabalha na

sombra do consumo da sociedade, que teima em não refletir sobre a geração de

resíduos, para o bem e para o mal (UNB, 2001). Salientou-se ainda, que onde as ações

relativas a lixo e gerenciamento de resíduos não contemplam questões sociais e

sociológicas, os seres humanos são, e continuarão excluídos e marginalizados. Ainda

que pela via da inclusão social através do trabalho de catação e comercialização de

materiais recicláveis, alguns até se organizam em cooperativas e associações, eles não

são contemplados nem valorizados. Poderão ser excluídos do processo e empurrados de

volta para a exclusão (UNB, 2001).

Estudo realizado em 2004 sobre o levantamento e diagnóstico das condições

sócio-econômicas e culturais dos catadores de lixo e do mercado de recicláveis da

cidade de Viçosa em Minas Gerais (Magalhães et al., 2004) concluiu-se que a atividade

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dos catadores promove a redução significativa da carga de lixo aterrada, contribui para a

redução dos gastos energéticos e dos custos de coleta, fomenta o mercado de

reciclagem, gerando novas fontes de renda, e por isso tudo, concluiu-se que a Prefeitura

como gestora do serviço de limpeza pública deve promover a organização dos catadores

do lixo como forma de garantir sua fonte de renda.

A maioria dos estudos, já realizados com catadores de materiais recicláveis, trata

dos impactos do lixo sobre a saúde destes trabalhadores. As questões concernentes à

exclusão social, cotidiano, perspectivas, qualidade de vida, dentre outras, até então

pouco discutidas, surgem como uma nova proposta de estudo; visando proporcionar

melhorias no contexto social dessas pessoas e resgatar a sua dignidade humana (Porto et

al., 2004). Estudo com catadores de um aterro metropolitano, no Rio de Janeiro,

comparou dois grupos de trabalhadores com materiais recicláveis em diferentes

ambientes, e a sua discussão final aborda a complexidade do tema e a necessidade de

maior integração das políticas públicas, nas propostas de resgate de dignidade destes

trabalhadores (Porto et a.l, 2004).

Em 2004, foi traçado o perfil sócio-econômico dos cooperados de produtos

recicláveis de uma cooperativa em Camaçari, no estado da Bahia, com o objetivo de

auxiliar na construção conjunta de novas diretrizes, que assegurem a continuidade e

melhoria do funcionamento da cooperativa. Concluiu-se que há necessidade de

aplicação de políticas sociais municipais e também a possibilidade de ampliação de

oportunidades de renda e inclusão social (Nunesmaia et al., 2004).

Para que uma comunidade seja saudável, o ambiente de trabalho, tipo de moradia,

renda, saúde, qualidade de vida e outros fatores devem ser discutidos e considerados

como fundamentais. Segundo Walton (apud Fernandes, 1996) o trabalho é um dos

meios de assegurar a satisfação das necessidades pessoais. Os principais fatores que

podem afetar a qualidade de vida dos trabalhadores são: remuneração adequada; jornada

de trabalho; carga de trabalho; condições do ambiente físico; material e equipamentos

adequados, ambiente saudável e estresse.

Foi avaliado, sob a ótica dos catadores, o nível de percepção de bem estar

relacionado à atividade por eles desenvolvida. Por se tratar de complexo e subjetivo,

deve-se considerar os aspectos individuais físicos, emocionais e sociais e também de

percepção, isto é, o modo como a pessoa se vê em relação à vida. Avaliar o nível de

satisfação pessoal representa verificar como o indivíduo se sente em relação às suas

aptidões: física, emocional e social; ao trabalho e ao estilo de vida (Filho, 2001).

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O patamar material mínimo para se falar em satisfação pessoal diz respeito à

satisfação das necessidades mais elementares da vida humana: alimentação, acesso à

água potável, habitação, trabalho, educação, saúde e lazer; elementos materiais que têm

como referência noções relativas de conforto, bem estar e realização individual e

coletiva (Minayo et al., 2000). Nesse sentido, o trabalho é um dos meios de assegurar a

satisfação das necessidades pessoais e como tal, representa um fator determinante na

qualidade de vida. O trabalhador deve ter assegurado o direito a “um bom ambiente de

trabalho” e a “boas condições físicas”, “emocionais” e “materiais”, para desempenhá-lo

de “forma satisfatória”.

Muitos membros de grupos minoritários, dentre esses os catadores de materiais

recicláveis, que estão em envelhecimento se encontram em alto risco, por causa da

pobreza, da assistência médica inadequada, da história irregular de trabalho e da

educação e sujeitos a um menor nível de instrução e de renda (Papalia e Olds, 2000).

Portanto, à medida que os catadores envelhecem, pioram suas condições de moradia e

escolaridade, ocorrendo um decréscimo na satisfação pela vida. Quando se avalia a

condição de vida de pessoas de diferentes idades, poderá ser identificada uma

associação negativa entre idade com indicadores de saúde e de qualidade de vida.

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3. MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado na cidade de Governador Valadares, maior cidade e pólo

econômico-cultural do Vale do Rio Doce, localizada na região Leste do estado de Minas

Gerais, a 324 km de Belo Horizonte e a 410 km de Vitória, Espírito Santo, fundada em

31 de janeiro de 1938. A cidade possui 14 distritos e sua população total é de

aproximadamente 379.000 habitantes (PMGV, 2007). Em 2000, de acordo com o último

censo sua população urbana era de 247.131 habitantes, sendo que 22,4% de sua

população urbana encontram-se na faixa etária entre 18 e 29 anos e 40,1% entre 30 e 74

anos (IBGE, 2000).

A cidade exerce significativa influência sobre o Leste e Nordeste de Minas Gerais

e alguns municípios do estado do Espírito Santo. No aspecto do transporte terrestre, a

cidade é servida pela ferrovia Vitória-Minas da Companhia Vale do Rio Doce que liga

os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, pela rodovia Rio - Bahia (BR 116) e pela

rodovia BR 381 que liga à capital mineira. É sede de uma das etapas do Campeonato

Brasileiro de Vôo Livre, os competidores saltam do Pico da Ibituruna, sua principal

atração turística (PMGV, 2007).

A população em estudo é composta por indivíduos com idades que variam de 18 a

74 anos. Todos os catadores associados são maiores de 18 anos, sendo que 80,5% são

do sexo feminino e 90,2% têm filhos.. A expressão “catadores mais jovens” refere-se a

opiniões de indivíduos na faixa etária dos 18 aos 30 anos (29,3% da população),

enquanto “catadores mais velhos” (70,7% da população) refere-se a opiniões de

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indivíduos acima de 30 anos de idade. O critério usado na discussão para identificar os

catadores em duas classes de idades, foi pelo fato da maioria dos catadores possuírem

idade maior que 30 anos.

A associação de catadores de materiais recicláveis de Governador Valadares era

composta por 67 associados. Desse total foram entrevistados 41 indivíduos cadastrados

e ativos na associação. A amostra representou 61,2% da população. Foram excluídos os

catadores que não concordaram em participar da pesquisa.

A coleta de dados foi realizada nos meses de junho de 2006 e de janeiro de 2007,

dentro dos limites físicos da associação. Na fase inicial da pesquisa, a associação

funcionava em dois galpões de triagem, localizados em bairros distantes um do outro, o

estudo foi realizado no galpão que era freqüentado por 89,5% dos catadores associados.

Antes de iniciar a coleta de dados, foram realizadas algumas visitas ao galpão

para estabelecer uma aproximação entre o pesquisador, os coordenadores e demais

catadores. Também foi realizada uma reunião com os catadores com o objetivo de

prestar esclarecimentos sobre a pesquisa, solicitar a assinatura do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO 1); obter autorização dos coordenadores

para se ter acesso às dependências da associação; assegurar o direito de cada membro da

associação decidir pela sua participação, ou não, na pesquisa; no compromisso de que

os nomes dos participantes seriam mantidos em sigilo.

O Projeto de Pesquisa e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foram

submetidos à apreciação do Comitê de Ética e Pesquisa localizado no Centro

Universitário de Caratinga - UNEC e obtiveram parecer favorável (ANEXO 2) .

O questionário aplicado aos catadores foi composto por cinqüenta e quatro

questões (ANEXO 3), fazendo abordagens sobre idade, condições de trabalho, moradia,

lazer, renda, escolaridade, acidente de trabalho, satisfação pessoal e satisfação com o

trabalho. O questionário para os coordenadores foi composto de vinte e quatro questões

abordando o histórico da associação, histórico pessoal dos catadores, a estrutura física

da associação e a rotina de trabalho (ANEXO 4).

Foram analisados os efeitos da idade sobre as variáveis: moradia; ocorrência de

acidentes de trabalho; escolaridade e satisfação pessoal. As relações entre idade e

ocorrência de acidentes de trabalho, satisfação pessoal e moradia foram testadas pelo

Teste χ2 ao nível de 5% de probabilidade. Enquanto, para avaliar a correlação linear

entre idade e escolaridade (meses), foi utilizado Teste t ao nível de 5% de

probabilidade.

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As anotações no diário de campo sobre as observações diretas durante as visitas à

associação, e a análise de documentos e registros para o levantamento histórico da

associação, desde o início das atividades, serviram de apoio à pesquisa.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O trabalho, com a catação de materiais recicláveis na associação, garante trabalho

e renda para 67 pessoas e a sobrevivência de 181 pessoas, catadores e seus dependentes.

4.1. Estrutura organizacional e perfil sócio-econômico da população de

catadores de materiais recicláveis de Governador Valadares

4.1.1. Histórico da Associação

De acordo com a ata de registro do início das atividades, a associação foi

idealizada em 1999 por um religioso católico e foi implantada próximo ao entorno do

antigo lixão. O publico alvo era composto por pessoas de baixa renda, sem qualificação

educacional e profissional, especialmente as que trabalhavam na catação de materiais

recicláveis no “lixão” e nas ruas. Inicialmente, o fundador reuniu um grupo de

voluntários chamado Grupo Fermento, que durante dez meses, se envolveu com a

aproximação com os catadores do “lixão”. Após esse tempo de convivência, decidiram

organizar uma associação de catadores em Governador Valadares, baseada no modelo

da Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Belo Horizonte.

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Em novembro de 1999, representantes desta associação visitaram Governador

Valadares e oficializaram a parceria. No mesmo ano, quatro membros do Grupo

Fermento foram a Belo Horizonte, conhecer a estrutura da associação.

Em seguida, várias ações foram realizadas no sentido de tornar a associação de

catadores uma realidade: (i) realização de um trabalho de aproximação também com os

catadores de rua para formarem um só grupo de catadores; (ii) realização de algumas

reuniões no “lixão” e nas ruas com os catadores para mobilizá-los a participarem do

processo; (iii) realização de visitas de representantes do Grupo Fermento às empresas

do município para levantamento de materiais e de busca de parcerias; (iv) foi

constituído o Fórum Municipal “Lixo e Cidadania”, envolvendo catadores, sociedade

civil, poder público e entidades não governamentais com o objetivo de discutir a gestão

integrada dos RSU do município.

Consolidado o projeto de criação da associação, vários eventos foram realizados

para viabilizar sua implantação, a saber: (i) 01 de fevereiro de 2000 - I Seminário de

Catadores de Governador Valadares; (ii) 27 de maio de 2000 - primeira assembléia com

os catadores; (iii) 20 de agosto de 2000 - segunda assembléia com os catadores; (iv) 18

de setembro de 2000 - II Seminário de Catadores de Governador Valadares, quando foi

escolhido o nome definitivo da associação; (v) 30 e 31 de agosto de 2000 - reunião do

Fórum Municipal “Lixo e Cidadania” para elaboração de propostas relacionadas à

gestão de RSU do município; (vi) 31 de março de 2001 - visita de reconhecimento dos

catadores a área onde seria construído o galpão de triagem da futura associação de

catadores. (vii) 06 de junho de 2001 - fechamento do lixão; (viii) 06 de janeiro de 2002

- inauguração oficial da associação; (ix) 18 de fevereiro de 2002 - inicio das atividades

de segregação de materiais no galpão da associação; (x) março e abril de 2002 -

sensibilização da comunidade para a doação de material reciclável e (xi) 23 de maio de

2002 - lançamento da coleta seletiva e da assinatura do termo de permissão de uso do

galpão pela administração pública municipal.

Inicialmente, as atividades de segregação aconteciam em dois galpões, um

comportando maior número de catadores e material a ser segregado e localizado dentro

da área do antigo “lixão”, onde hoje está em construção o aterro sanitário e outro em um

bairro distante, utilizado apenas por sete catadores e funcionando também como

deposito de material já segregado. Em julho de 2006, este galpão foi desativado pela

administração municipal e o galpão localizado dentro do aterro passou a ser a única

sede da associação.

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4.1.2. Critérios para cadastramento de associados

Inicialmente, os critérios para cadastrar os primeiros associados eram: (i) ser

catador de rua ou do lixão por um período mínimo de dois anos; (ii) ter como única

fonte de renda a catação de materiais recicláveis e (iii) preencher a ficha de cadastro

(ANEXO 4). Atualmente, os critérios são: (i) a existência de vaga; (ii) a indicação de

um outro catador cadastrado e ativo na associação e (iii) o preenchimento da ficha de

cadastro.

Para a entrada de um novo membro, os catadores se reúnem em assembléia, o

candidato é apresentado e todos votam. Caso seja aceito, é feito um contrato constando

a data de entrada e o período de experiência. O catador novato passa por um período de

90 dias de experiência, nesse período, ele assina o ponto em livro separado, participa da

divisão dos lucros, porém não tem poder de voto. Após os 90 dias, a assembléia vota

por sua permanência ou não na associação. Todas as decisões são registradas em ata e o

catador passa a ter direitos e deveres como os demais, inclusive o poder de voto.

4.1.3. Treinamento

Após a inauguração da associação, em 06 de janeiro de 2002, antes do início das

atividades, os catadores participaram de um curso de capacitação ministrado por

representantes do Grupo Fermento e receberam certificados, contudo, somente 43,9%

dos atuais catadores cadastrados afirmaram ter recebido algum treinamento para realizar

as atividades de segregação do lixo. Representantes da associação já marcaram presença

em eventos como: O Grito dos Excluídos, I Congresso Nacional de Catadores de

Materiais Recicláveis, Encontros Nacionais de Catadores de Materiais Recicláveis,

Seminário Legislativo Lixo e Cidadania; I Congresso Latino-Americano de Catadores

de Materiais recicláveis e outros.

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4.1.4. Organização administrativa

Atualmente, os trabalhos da associação são coordenados por um Conselho Fiscal

composto por três catadores; uma Coordenação Geral composta por um coordenador

geral, um vice-coordenador e três coordenadores auxiliares e quatro comissões

formadas por três pessoas cada: Comissão de Finanças, Comissão de Apoio e Infra-

estrutura, Comissão de Meio Ambiente e Saúde e Comissão de Formação (Figura 1).

Figura 1. Organograma da administração da associação de catadores de materiais recicláveis

Na associação, trabalham quatro funcionários, que não são catadores, dois são

pagos pelo Grupo Fermento e dois são funcionários públicos municipais e todas as

atividades administrativas são apoiadas por eles.

O coordenador tem mandato de dois anos e pode candidatar-se a quantas

reeleições quiser. Para pleitear o cargo de coordenador, o candidato deve saber ler e

Conselho Fiscal

Coordenação Geral

Finanças

Apoio e Infra-Estrutura

Meio Ambiente e Saúde

Formação

Apoio Grupo Fermento

e Administração Municipal

Comissões

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escrever e manifestar sua vontade de concorrer ao cargo. Sua candidatura é analisada

pela coordenação vigente e se aprovada, é eleito por voto direto em assembléia. Os

critérios para a composição do quadro administrativo são falhos, pois omitem quesitos

importantes como capacidade administrativa e de liderança de equipes. Os

coordenadores de comissões desconhecem todas as suas funções, têm dúvidas quanto à

abrangência das mesmas e são vistos com certa resistência por alguns colegas de

trabalho, por ocuparem uma função de liderança sendo catadores como todos os demais.

Os coordenadores se ocupam tanto da segregação de materiais como de eventuais

atividades como visita a instituições para arrecadar materiais ou realizar palestras,

atender visitantes na associação, trabalho na cozinha, anotações e outros. Essas horas

são computadas como atividades na segregação, ele recebe o mesmo valor da hora

trabalhada que os demais catadores. Como o coordenador passa um período maior na

associação o seu é salário é maior que da maioria dos catadores. Percebeu-se uma

insatisfação dos associados quanto a forma de trabalho e de ganho dos coordenadores,

contudo os critérios de escolha não são discutidos e não há um preparo dos associados

para uma eleição consciente e representativa.

Os serviços ligados à coleta, ao transporte e à deposição dos resíduos demandam

por projetos, que contemplem a percepção do desenvolvimento sustentável, isto é, que

sejam, ambientalmente corretos, e socialmente justos; evitando contaminação do solo,

água e ar, e ainda que tratem do maior agravante, que é a presença de pessoas, que

sobrevivem da segregação desses resíduos, expostas a diversos tipos de contaminantes.

Para tal, sugere-se a busca de parcerias com Instituições de Ensino Superior (IES) ou

empresas privadas para ministrar cursos sobre promoção da saúde, economia solidária,

autogestão, auto-estima e relações humanas.

4.1.5. Estrutura física

A sede da associação foi construída pela Prefeitura Municipal de Governador

Valadares (PMGV) em 2001, em uma área de 740 m2, dentro dos limites físicos do

antigo lixão e futuro aterro sanitário (Figura 2), conta com a infra-estrutura de dois

banheiros (masculino e feminino); uma cozinha que funciona como refeitório, sala de

reunião e sala de aula, quando acontecem aulas de Educação de Jovens e Adultos (EJA)

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e um escritório. Todas as instalações são muito precárias, o mobiliário (mesas, cadeiras,

fogão, geladeira, ventiladores, e outros) é antigo e bastante danificado, o piso é de

cimento grosso e o pátio é de terra, o que ocasiona a suspensão de partículas

contaminantes como material particulado, micróbios e outros, devido a descarga dos

materiais a serem segregados e ao fluxo constante de veículos.

Figura 2. Vista frontal da sede da associação de catadores de materiais recicláveis de Governador Valadares, em agosto de 2007

Segundo entrevista com dois coordenadores de trabalho o espaço para a

segregação dos materiais é insuficiente, existe um único galpão para a realização de

todas as etapas da segregação e o volume do lixo é grande, pois o material oriundo da

coleta seletiva chega à associação muito misturado com o lixo comum (Figura 2).

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4.1.6. Perfil sócioeconômico dos associados

A população em estudo apresenta idades que variam de dezoito a setenta e quatro

anos (Tabela 1); 80,5% são do sexo feminino; 61,3% são casados (as) ou tem um

companheiro (a), 32,2% são solteiros (as) e 6,5% são viúvos (as); 75,0% são ex-

catadores (as) do lixão, 6,25% são ex-catadores de rua e 18,75% trabalhavam em outras

atividades sem nenhuma relação com materiais recicláveis (doméstica, serviços gerais,

babá, salão de beleza, padeiro, pedreiro e outros); 59,4% são naturais de cidades do

interior de Minas Gerais, 37,5% são nascidos em Governador Valadares e 3,1% são

oriundos de outros estados brasileiros.

O nível de escolaridade dos catadores é baixo (Tabela 1), de acordo com a

Pesquisa Mensal de Emprego (PME) de novembro de 2006 (IBGE, 2006), se

comparado com o índice da população economicamente ativa da Região Metropolitana

de Belo Horizonte, encontra-se entre os trabalhadores com menor nível de escolaridade,

somente 6,2% dos trabalhadores da capital mineira apresentam tempo de estudo menor

que quatro anos, e também é inferior a média de escolaridade da população brasileira,

que segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) (IBGE, 2005)

31,5% da população brasileira, possuía de quatro a sete anos de estudo. Entre os

catadores, a média foi de dois anos e oito meses de estudo, quase todos são

considerados analfabetos ou analfabetos funcionais uma vez que apresentam nível de

escolaridade inferior a quatro anos de estudo (IBGE, 2000). No início da pesquisa, uma

IES da cidade mantinha uma parceria com a associação para ministrar aulas de EJA aos

catadores interessados, porém, as aulas aconteciam na primeira hora de trabalho e

segundo os catadores que freqüentavam, isso interferia na produção e nos salários.

Devido ao crescente desinteresse dos catadores, as aulas foram suspensas.

O baixo nível de escolaridade associado à ausência de oportunidade de

qualificação para o trabalho, determinam que o indivíduo se submeta a atividades mais

rudimentares e de pouco rendimento, tendo como conseqüência a reprodução do ciclo

de pobreza (Ribeiro e Santos, 2000).

O número médio de filhos é de 4,6 (Tabela 1) e foram muitos os relatos de

catadoras cujos filhos morreram quando crianças, uma catadora afirmou que sua

primeira gravidez foi aos doze anos de idade tendo ao todo vinte e quatro filhos, porém

quatorze morreram ainda crianças. Pesquisas mostram que existe relação entre a

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escolaridade da mãe e a taxa de mortalidade infantil, de acordo com a Síntese de

Indicadores Sociais (SIS) (IBGE, 2003), filhos de mães com menos de três anos de

estudo tem 2,5 vezes mais risco de morrer antes dos cinco anos que os filhos de mães

com mais de oito anos de estudo. Atribui-se essa diferença a uma maior percepção da

mãe escolarizada quanto aos cuidados com a higiene e a saúde dos filhos.

Os catadores relataram que começaram a trabalhar muito cedo para reforçar a

renda familiar, a idade média é de treze anos e quatro meses (Tabela 1), 26,8% com

menos de nove anos de idade. Este fato encontra similaridade com os dados

disponibilizados pela SIS (IBGE, 2003), 22,8% dos jovens brasileiros com idades entre

dez e dezessete anos começaram a trabalhar com menos de nove anos de idade.

Tabela 1. Perfil Sócio-Econômico da população dos catadores de materiais recicláveis

Característica Mínimo Máximo Média

Idade (anos) 18 74 41,5 ± 15,3

Escolaridade (meses) 0 72 33,6 ± 24,3

Número de filhos 0 13 4,6 ± 3,5

Tempo de trabalho na Associação (anos) 0,3 5 2,6 ± 1,8

Idade em que começou a trabalhar (anos) 6 51 13,4 ± 9,4

Tempo de trabalho com recicláveis (meses) 3 420 88,8 ± 76,1

Renda 15 dias-1 (R$) 60 300 176,0 ± 58,0

Número de pessoas da família que trabalham 1 2 1,5 ± 0,5

Número de habitantes por residência 1 9 4,4 ± 2,0

Carga horária (hora dia-1) 5 10 7,6 ± 0,8

Os salários variam de sessenta a trezentos reais “quinzenais”, a renda “quinzenal”

média dos catadores, oriunda do trabalho na associação, é de R$ 176,00, ou seja, 46,3%

do salário mínimo vigente, (Tabela 1). Segundo os coordenadores, os lucros são

repartidos a cada vinte e um dias, no entanto são referentes às vendas da quinzena

anterior a semana do pagamento, daí dizer que o salário é quinzenal, porém os

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trabalhadores entrevistados afirmam que este é o lucro mensal. Para 63,4% dos

catadores, essa é a única fonte de renda, contudo 36,6% dos catadores possuem outra

fonte de renda como, por exemplo, venda de galinhas, salão de beleza, pensão do

marido, trabalho no “lixão” e programas sociais do governo como o Bolsa Família e

Programa de Erradicação do trabalho Infantil (PETI). De acordo com a PNAD (IBGE,

2004), na Região Sudeste do Brasil, 27% das pessoas que recebem até meio salário

mínimo e 10,9% dos que recebem até um salário mínimo se beneficiam desse tipo de

ajuda. Uma catadora afirmou que no final da jornada de trabalho vai para casa, cuida

dos filhos e depois vai para o lixão, às vezes, leva um filho menor em idade, e trabalha

lá até meia noite ou mais para complementar a renda familiar.

Os salários são pagos aos catadores associados de acordo com o número de dias e

horas trabalhadas (Tabela 1). De acordo com a PNAD (IBGE, 2005), 10,1% da

população brasileira ocupada, recebem menos de meio salário mínimo e 20,4% até um

salário mínimo, essas pessoas são consideradas “pobres”. A pobreza não é definida de

forma universal, porém refere-se a situações de carência em que os indivíduos não

conseguem manter um padrão mínimo de vida, condizente com as referências,

socialmente, estabelecidas em cada contexto histórico (Barros et al., 2000).

Baseado nos padrões de comparação do Relatório de Desenvolvimento Humano

de 1997 (PNUD, 2007), nos baixos rendimentos, no número de pessoas que trabalham

para compor a renda familiar e no número de pessoas que moram em casa (Tabela 1),

observou-se que 85,4% dos catadores vivem abaixo da linha de pobreza, termo utilizado

para descrever o nível de renda anual com o qual uma pessoa e uma famíla não possuem

condições de obter todos os recursos necessários para viver. Para uma pessoa estar

abaixo da linha da pobreza, ela precisa ganhar menos de 2 dólares por dia, isto equivale

a aproximadamente R$ 4,00. Esta linha de pobreza baseia-se no consumo de bens e

serviços (PNUD, 2007).

Os catadores com menores salários reclamam que os coordenadores têm ganhos

maiores, e acusam de irregularidades, no entanto, de acordo com os coordenadores,

esses catadores faltam muito ao trabalho o que favorece as diferenças salariais e a

sobrecarga para os trabalhadores assíduos. De acordo com o regimento em vigor até

dezembro de 2006, o catador poderia faltar até vinte e cinco dias ao mês, sem

justificativas, fato que levava muitos catadores a se ocuparem de outras fontes de renda

e a fazer do trabalho de catação, uma fonte alternativa de renda. O regimento foi

alterado e a partir de 2007 o catador só pode faltar cinco dias ao mês sem justificativa.

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Em épocas de Natal, Fim de Ano e Início do Ano Escolar e Dia das Crianças, os

catadores recebem de empresas, sociedade civil e até de entidades estrangeiras doações

de brinquedos, cestas básicas, material escolar e outros. A pedido dos coordenadores, os

catadores foram questionados, se consideram as doações dos parceiros como forma de

aumentar a renda familiar. 92,7% disseram que sim. Segundo eles, “isso ajuda muito”,

no entanto, 7,3% responderam com indiferença e disseram que não; segundo eles, “isso

altera muito pouco”, pois são contribuições exporádicas.

No Estado de Minas Gerias, de acordo com a PNAD (IBGE, 2005), em 2005

32,1% dos empregados trabalhavam com carteira assinada e possuíam rendimento

médio mensal de R$ 711,40 enquanto 17,8% não tinham carteira assinada e o

rendimento médio mensal era de R$ 402,50. Na Região Metropolitana de Belo

Horizonte, 42,7% dos empregados trabalharam com carteira assinada e rendimento

mensal de R$ 854,30 enquanto 12,5% sem carteira assinada e rendimento mensal de R$

621,10. Os entrevistados têm um tempo médio de exposição ao trabalho com materiais

recicláveis de 7,4 anos (Tabela 1), muitos começaram a trabalhar acompanhando os pais

na catação no antigo “lixão” e alguns deles nunca tiveram outra atividade senão a

segregação do lixo e a maior parte, 92,7%, nunca tiveram registro em carteira de

trabalho.

De acordo com a PNAD (IBGE, 2005), no Estado de Minas Gerais, 50% das

pessoas ativas contribuem para Instituto de Nacional de Seguro Social (INSS) e na

Região Metropolitana de Belo Horizonte o índice é de 49,7% em qualquer trabalho. Na

população, em estudo, nenhum catador faz esse tipo de contribuição. Uma catadora de

50 anos de idade realiza esse tipo de atividade há trinta e cinco anos, nunca teve carteira

assinada e nunca contribuiu para o INSS, ou seja, apesar do tempo de trabalho, não tem

direito a aposentadoria e demais benefícios que são de direito do trabalhador.

Apesar de 82,9% dos catadores acreditarem que podem contrair doenças com essa

atividade, 92,7% não utilizam Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) ou não vêem

a necessidade do uso dos mesmos; sendo que a associação disponibiliza luva, máscara,

bota e avental (Figura 3).

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Figura 3. Catadora manuseando objeto cortante na segregação de plástico sem utilizar EPI em agosto de 2007.

Indivíduos que entram em contato com o lixo, ainda que por curtos períodos de

suas vidas, são expostos a agentes contaminantes e vetores de inúmeras doenças

(insetos, baratas, ratos e outros) e tornam-se agentes transmissores de doenças (Ribeiro

e Lima, 2000).

Em relação aos bens duráveis e condições de moradia, comparativamente, com os

índices nacionais, segundo a PNAD (IBGE, 2005), a realidade dos catadores se

aproxima muito da média da população brasileira (Tabela 2), embora muitos tenham

afirmado que encontram e retiram eletrodomésticos, roupas e outros utensílios no lixo e

muitos destes bens não funcionam ou funcionam de forma precária. Observou-se uma

diferença significativa somente nos itens telefone e aparelho de som. Os catadores

afirmaram ainda que 51,2% possuem ventilador, 34,1% liquidificador, 19,5% ferro

elétrico e 4,9% DVD. Uma catadora que não sabe quantos anos tem, é analfabeta, tem

dificuldade de compreensão, mora sozinha em uma casa alugada de dois cômodos, disse

que não possui nenhum tipo de eletrodoméstico e não tem energia elétrica em casa.

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Tabela 2. Perfil Sócioeconômico - Comparação de consumo de bens duráveis e condições de moradia com a população brasileira.

Itens Avaliados População em Estudo (%)

População Brasileira (%)

Bens Duráveis

Fogão a gás 97,5 97,5

Geladeira 85,4 87,4

Televisão 87,8 90,3

Máquina de lavar 36,6 34,6

Aparelho de som ou rádio 31,7 87,8

Telefone 12,1 71,6

Condições de Moradia

Casa própria 73,2 73,5

Casa alugada 12,2 16,0

Casa cedida 14,6 10,0

Possui água e esgoto 73,2 69,7

Não possui água e esgoto 26,8 30,3

Apresenta energia elétrica 97,6 97,2

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - 2004-2005.

A maioria, 73,2% dos catadores moram em casa própria (Tabela 2), dessas, 95,1%

residem em casas que possuem até quatro cômodos e segundo os entrevistados são

residências precárias. Observou-se, de fato, que são moradias construídas na periferia da

cidade, em bairros muito pobres, em verdadeiras aglomerações habitacionais, locais de

difícil acesso, sem infra-estrutura de calçamento e iluminação pública, com mínimas

condições de conforto. As casas são de madeira ou construções de alvenaria inacabadas,

identificadas por eles como “barraco” ou “puxada”, contudo, os entrevistados

demonstraram satisfação por não pagarem aluguel. Somente, dois catadores moram em

casas maiores com seis e sete cômodos. Uma catadora que além de trabalhar na

associação, recebe aposentadoria, vende galinhas e tem uma outra pessoa em casa para

compor a renda familiar, foi a única a afirmar que sua casa, apesar de possuir, somente,

dois cômodos, é confortável e de alvenaria.

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Grande parte da população de baixa renda fica à margem do mercado imobiliário

legal, não tendo outra alternativa, senão buscar formas irregulares de habitação ou

ocupação do solo. Muitos não possuem os meios necessários para comprar ou financiar

um imóvel, por isso, são obrigados a ocupar loteamentos clandestinos. Estas moradias

são, comumente, construídas de maneira precária, em locais que não interessam ao

mercado imobiliário, como áreas públicas da periferia, margens de córregos, terrenos

íngremes, charcos ou áreas de mangue. De acordo com o Censo Demográfico (IBGE,

2000), em 2000 existiam, no Brasil, 258.185 destes domicílios, e 32% deles, na região

Sudeste.

Segundo o relatório da SIS (IBGE, 2006), erradicar a pobreza envolve, além de

geração de emprego e a conseqüente melhoria da renda, habitar em casa digna no

sentido de ser uma construção com materiais duráveis para as paredes, chão e telhado, é

poder viver em um ambiente com baixo adensamento domiciliar. E ainda, considerando

os padrões de linha de pobreza, o percentual de domicílios urbanos em relação ao total

de domicílios urbanos brasileiros, que estão nessa situação, foi de 20,7% em 2005. O

Brasil, apesar de ser um país de muitos pobres, com um enorme contingente da

população abaixo da linha de pobreza, não é um país pobre, mas com muitas

desigualdades e injustiças sociais. A pobreza do Brasil é um problema relacionado à

distribuição dos recursos e não à sua escassez (Barros et al., 2000).

Apesar das condições precárias de moradia, 71,6% dos catadores possuem

banheiro dentro de casa e 73,2% têm acesso à rede de água e esgoto e 97,6% utilizam

energia elétrica. Suas realidades se aproximam das realidades da média da população

brasileira (Tabela 2), de acordo com a PNAD (IBGE, 2005).

A coleta seletiva atende 56,1% dos bairros onde residem os catadores, no entanto,

somente 39% dos entrevistados separam o lixo seco independente da coleta seletiva.

Dentre os coordenadores 40% não realizam a coleta seletiva em suas casas. Percebe-se

que uma parte dos agentes sociais do processo de reciclagem não se vê com agentes de

preservação ambiental, há uma transferência de responsabilidades da coleta seletiva

para a população de não catadores. Para alguns catadores, o trabalho com materiais

recicláveis é apenas a fonte de renda. Desconhecem o valor e a necessidade da

reciclagem para a sustentabilidade do meio ambiente. Sugere-se que nas aulas de EJA, o

tema seja trabalhado como tema transversal e sempre antes das assembléias; o assunto

seja tratado, mostrando inclusive os índices de reciclagem no Brasil e no mundo e os

benefícios oriundos do trabalho de catadores e recicladores.

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4.1.7. Parcerias e Incentivos

A associação conta com a parceria da administração municipal na concessão do

espaço físico, no fornecimento de máquinas para limpeza do pátio, no transporte do

material arrecadado na coleta seletiva e no pagamento das contas de água e luz. A

associação também é parceira de alguns órgãos públicos municipais (secretarias,

escolas, departamentos e outros), autarquias estaduais e federais; agencias bancárias,

gabinetes políticos e empresas privadas (empreiteiras, estabelecimentos comerciais e

outros) para a arrecadação de materiais.

No dia 25 de outubro de 2006, o Governo federal firmou apoio às cooperativas de

materiais recicláveis. Entrou em vigor o Decreto nº 5.940, que institui a separação de

resíduos recicláveis em órgãos e entidades da administração pública federal, e sua

destinação para associações e cooperativas de catadores. Essa iniciativa tem como

objetivo contribuir com a preservação do meio ambiente e promover a inclusão social

por meio do trabalho e renda. Segundo o decreto cada órgão público teria 90 dias para

formar sua Comissão para Coleta Seletiva Solidária (responsável pela coordenação de

toda a atividade) e 180 dias para implementar a ação. Estão aptas a receber os materiais

recicláveis, as associações que apresentam como única atividade de renda a catação;

adotam o sistema de rateio entre os cooperados e dispõem de infra-estrutura para

triagem e classificação dos resíduos (CEMPRE, 2007).

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES

(CEMPRE, 2007) lançou também, no dia 25 de outubro de 2006, uma linha de crédito

para cooperativas de catadores para financiar investimentos em infra-estrutura física,

aquisição de equipamentos, assistência técnica e capacitação dos cooperados. Para se ter

direito ao incentivo, a cooperativa precisa de apresentar um projeto e de estar em

atividade legalizada, pelo menos, seis meses e não apresentar risco sanitário (CEMPRE,

2007). Com vistas a esse incentivo, os coordenadores relataram que já foi elaborado um

projeto chamado “Rede Solidária Central Leste” com a participação das associações de

catadores dos municípios vizinhos a Governador Valadares que permitirá a venda

conjugada do material arrecadado pelas associações participantes. Isso viabilizará a

venda de um volume maior de material e permitirá melhor negociação de preços. As

associações serão interligadas em rede e o produto poderá ser vendido, diretamente, às

indústrias recicladoras.

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4.1.8. Rotina de Trabalho

Os catadores iniciam suas atividades laborais às oito horas, trabalham na triagem

do material oriundo da coleta seletiva durante 7,6 ± 0,8h dia-1, durante cinco dias da

semana (de segunda a sexta-feira) e recebem, quinzenalmente, um valor proporcional ao

volume de material que segregam dentro deste período.

Figura 4. Vista geral da área interna do galpão de triagem onde é feita a segregação dos materiais recicláveis Aspectos do material a ser segregado, da prensa, esteira e bolsas em agosto de 2007

O material oriundo da coleta seletiva é despejado no pátio localizado do lado de

fora do galpão, a equipe da esteira recolhe o material com pás para a rampa, e em

seguida, o material é arrastado para a esteira, onde é realizada a separação do material

reciclável do lixo comum (Figura 4 e 5).

Prensa

Esteira

Bolsa

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Figura 5. Organograma da rotina de trabalho dos catadores em 2007. O termo lixo comum refere-se a material não passível de comercialização tais como material orgânico, PVC, PEBD, PEAD, PET

As equipes de catadores são fixas e os grupos de trabalho são distribuídos para

desempenharem suas funções nos seguintes setores: área da esteira: local onde é feita a

segregação dos resíduos; área do box: local onde é feita a segregação por tipo; área de

prensagem: local onde é preparado o enfardamento dos materiais segregados. Este

trabalho tem como objetivo racionalizar espaço no galpão de armazenamento (Figura

5).

As bolsas contendo os resíduos são arrastadas pela equipe que trabalha nos box e

conduzidas para um espaço reservado no fundo do galpão, onde o material é separado

por tipo: Polietileno de Baixa Densidade (PEBD), Polietileno de Alta Densidade

(PEAD), Polietileno Tereftalato (PET), papelão, papel “branco”, metal e outros como

isopor, Policloreto de Venilha (PVC) e vidro (Figuras 6 e 7).

Esteira/ separação do material reciclável do lixo comum

Vidro

Papelão Papel Branco

PEAD

Metal, PVC e Isopor

PEBD

PET

Pátio / recepção do material da coleta seletiva

Prensagem

Comercialização

Boxes de separação

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Figura 6. Vista interna do galpão de triagem. Aspectos dos Boxes de separação e das bolsas de resíduos a serem segregados no galpão de triagem, em agosto de 2007.

Após os materiais terem sidos separados, de acordo com a classificação

supracitada, estes são novamente recolhidos nas bolsas e arrastadas pela equipe

responsável pela preparação dos fardos para a área de enfardamento. A Associação

dispõe de três prensas de enfardamento (Figura 4). Com exceção do vidro e dos rejeitos,

todos os demais materiais segregados são prensados e, em seguida, os fardos são

transportados em um “carrinho de mão” para o lado de fora do galpão, local onde fica

aguardando a negociação com os atravessadores.

No ato da comercialização do produto segregado, os materiais são pesados em

uma balança fora da associação, na entrada do aterro controlado, aproximadamente 200

metros de distância do galpão. O ticket de pesagem é arquivado pela Comissão de

Finanças, na própria sede da associação, e ao final de cada quinzena, o lucro da

produção é dividido entre os catadores de acordo com o número de horas trabalhadas de

cada indivíduo.

Box

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Figura 7. Material separado por tipo: plástico PET (A), plástico PEAD (B), papel branco (C) e vidro (D), em agosto de 2007

Os coordenadores relataram que em janeiro de 2006 a associação enfrentou

muitas dificuldades como: alto índice de afastamento de catadores por problemas de

saúde; espaço insuficiente para segregação e armazenagem do material segregado;

falhas na coleta seletiva; falta de consciência dos catadores quanto à necessidade do uso

de EPI, falta de assistência médica, falta de apoio do poder público e sociedade civil;

apesar dos convênios citados a priori.

4.1.9. Abrangência da coleta seletiva

Segundo a empresa responsável pela coleta de lixo do município de Governador

Valadares, em 2006, a limpeza urbana atendia a 21 setores da zona urbana, em dias

alternados. A coleta seletiva era realizada em 10 destes setores, atingia 70% dos bairros

A B

C D

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da cidade e, mensalmente, eram recolhidos e encaminhados para a associação cerca de

65 toneladas do chamado "lixo seco" ou material reciclável. Diariamente, eram

coletadas pela empresa, cerca de 180 toneladas de RSU, produzidos pela sociedade

valadarense e distritos, o que representam pouco mais de meio quilo por habitante,

considerando que a população da cidade e dos distritos somam cerca de 379.000

habitantes (PMGV, 2007), esse material é encaminhado ao aterro controlado. Segundo

os coordenadores, em dezembro de 2006, a associação recebeu um volume médio de 3,6

toneladas por dia, oriundo da coleta seletiva, perfazendo um volume total aproximado

de 64,5 toneladas no mês, considerando que a coleta seletiva, acontece três dias por

semana. No entanto, 16,6% deste material são rejeitos. É preciso envolver a população

de Governador Valadares em uma campanha de conscientização sobre o impacto

negativo que o tratamento inadequado do lixo pode trazer à comunidade e ao meio

ambiente, bem como sobre os benefícios de uma coleta seletiva bem feita para garantia

da sobrevivência de muitas famílias.

Os coordenadores afirmaram que, comparativamente, a períodos anteriores, desde

o início das atividades até o momento atual, vem ocorrendo queda significativa na

separação de materiais potencialmente recicláveis (embalagens plásticas, papel,

papelão). Esse fato está relacionado ao aumento de catadores não associados que

segregam esses materiais nas ruas, principalmente na área central da cidade, onde se

concentra o comércio, causando redução quantitativa e qualitativa dos resíduos que

chegam a associação. Em função da diminuição do volume segregado, o material que

antes era vendido semanalmente passou a ser negociado quinzenalmente, além do que, o

material segregado não é mais vendido diretamente às indústrias recicladoras, mas aos

atravessadores, implicando numa redução significativa na renda mensal dos catadores.

Considerando que no início de 2005 o valor de venda do plástico PET foi de R$ 1,17

Kg -1 e no final de 2006 o material segregado foi vendido a R$ 0,50 Kg -1, a queda já

ultrapassava 50%.

Em 2006 a diferença do valor de venda do material reciclável, comparando as

realidades de Itabira onde o material era vendido direto para as indústrias recicladoras e

Governador Valadares onde o material passa por atravessadores, ambas são cidades do

Estado de Minas Gerais e as variações podem chegar a 37,5% (CEMPRE, 2007) (Tabela

3).

O volume médio de material ferroso negociado mensalmente é de

aproximadamente 7.000 kg, em dezembro de 2006 esse material foi vendido ao

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atravessador por um valor médio de R$ 0,22 kg-1 (Tabela 3)). Essa renda média de R$

1.500,00, equivalente a 3,95 salários mínimos, complementada com doações de

parceiros (pessoas que visitam a associação e empresas privadas), ajuda na compra de

gêneros alimentícios para garantir o almoço de 90% dos trabalhadores, que fazem suas

refeições no próprio local de trabalho, e ainda, contribui em parte com o pagamento das

contas telefônicas da associação como informou uma catadora que é coordenadora e

responsável pela cozinha

Tabela 3. Comparação dos valores pagos a associação pelos atravessadores com os valores pagos por uma indústria recicladora de Minas Gerais a uma outra associação de catadores em Itabira, em 2006.

Indústria Recicladora* Atravessador Tipo de Material

Valor médio pago (R$ kg-1)

PEAD 0,70 0,60

PET 0,65 0,50

Alumínio 3,70 3,00

Papelão 0,24 0,16

Papel Branco 0,34 0,30

Vidro 0,16 0,10

Material Ferroso ** 0,22

Fonte: *CEMPRE (2007) ** dado não informado.

As contas de água e de luz são pagas pela PMGV. Portanto, a receita da venda dos

demais materiais segregados, compõe o salário dos associados e paga as despesas de

material de escritório e outros gastos extras.

4.1.10. Melhorias nas condições de trabalho

Quando questionados sobre o que poderia trazer melhorias ao trabalho na

associação, 48,8% dos catadores disseram que gostariam de ter um salário melhor.

Segundo os entrevistados, o salário mínimo seria um salário digno e isso seria possível,

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se o material segregado não passasse por atravessadores, mas vendido, diretamente, às

indústrias recicladoras.

A venda do material segregado está à mercê de atravessadores, porque o volume

foi bastante reduzido nos dois últimos anos, devido ao aumento de catadores nas ruas.

Geralmente, as vendas são feitas pelo menos para três atravessadores diferentes. A

comercialização do produto é negociada e vendida àquele que pagar o melhor preço.

Outros 17,1% dos catadores acham que o material poderia chegar mais “limpo”; o

“lixo seco” ou reciclável ainda chega muito misturado com lixo comum, parte da

população valadarense ainda não se conscientizou sobre a importância de separar os

resíduos e destina-los a coleta seletiva. Direitos trabalhistas (contribuição para o INSS,

férias, décimo terceiro, licença maternidade, licença para tratamento de saúde e auxílio

doença) e garantia de emprego apareceram em 9,7% das opiniões; 7,3% acham que

melhoraria se tivesse mais uma prensa e uma esteira e que houvesse conserto e

manutenção adequados dos referidos maquinários. A associação conta com uma esteira

e três prensas, que segundo os entrevistados, são equipamentos que estragam com

freqüência por falta da manutenção adequada e esta é feita pelos próprios catadores;

7,3% disseram que não sabem o que poderia trazer melhorias ao trabalho; 4,9%

disseram que gostariam de ter mais proteção no trabalho (citaram o uso de EPIs) ,

observou-se que a associação disponibiliza luvas e máscaras para os trabalhadores,

contudo, segundo os coordenadores, os catadores não as utilizam, alegando causar

incômodo e não existe uma política interna de obrigatoriedade do uso de EPIs. 2,45%

disseram que não há nada que possa fazer o trabalho ser melhor; 2,45% acham que está

tudo bom.

4.1.11. Melhorias no ambiente de trabalho

Quando questionados sobre o que deixaria o ambiente de trabalho melhor, 12,2%

dos entrevistados relataram que poderia ser melhor se houvesse “mais dedicação dos

catadores”, “melhor distribuição das funções” e “mais igualdade na forma de trabalhar”.

O trabalho é feito em equipes, no entanto, um coordenador relatou que os catadores há

mais de um ano na associação, têm preferência para trabalhar nos boxes. Observou-se

que esse fato causa incômodo aos trabalhadores novatos que trabalham em pé na rampa

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e na esteira. O trabalho demanda um grande esforço físico e segundo eles, “mais

dedicação” e “mais igualdade” seriam um trabalho distribuído de forma igualitária, em

regime de rodízio, obedecendo a uma escala de trabalho, onde todos executariam todas

as funções em dias diferenciados.

Para 4,9% dos entrevistados o ambiente de trabalho seria melhor se viessem

pessoas “de fora” para acompanhar o trabalho; referindo-se a pessoas que não fossem

catadores como eles. A figura do coordenador é descrita como alguém que deveria estar

em um nível diferente dos demais trabalhadores, contudo, não souberam opinar quem

seria ideal para coordenar os trabalhos. 4,9%, disseram que gostariam de ter mais

educação, mais esclarecimentos sobre as coisas que acontecem “lá fora”, referindo-se a

necessidade que sentem de ter alguém para explicar as notícias que vêem na televisão,

sobre os seus direitos de trabalhadores e cidadãos e ainda, mais informações sobre a

importância e a melhor forma de realizar o trabalho para os catadores novatos,

proporcionando-lhes o melhor desempenho de suas funções.

Para 12,2% dos entrevistados o ambiente seria melhor, se o trabalho fosse de fato

realizado em equipe, com “mais consideração entre os colegas”, “mais união”, “menos

intrigas, fofocas e brigas”. Os catadores afirmaram que as brigas são freqüentes na

associação, no entanto, segundo os coordenadores as agressões são verbais e não físicas.

São passageiras e geralmente acontecem, quando não concordam com a forma de

distribuição do trabalho ou quando um catador está “encostando” serviço no outro, ou

seja, trabalhando com lentidão, acumulando horas, porém, produzindo pouco, uma vez

que o salário é pago por horas trabalhadas e não por volume segregado. Os

coordenadores afirmam que existe um clima de amizade entre os catadores e um bom

ambiente de trabalho, “eles se entendem logo”, disseram. Durante as visitas à

associação, foram poucas as discussões observadas, e quando aconteciam, de fato, eram

queixas uns com os outros ou aos coordenadores pelos fatos acima citados.

Para 4,9% dos entrevistados, seria bom se houvesse no ambiente de trabalho,

“mais obediência” e “boa vontade” entre os colegas, isso se deve ao fato de alguns

catadores apresentarem resistência em cumprir suas funções obedecendo às orientações

dos coordenadores. Observou-se que, por não concordarem com a posição ocupada

pelos colegas, os catadores fazem muitos questionamentos, discutem e reclamam da

forma como os coordenadores distribuem as tarefas e organizam a rotina de trabalho.

A maioria das respostas, 60,9% reafirmaram o desejo dos catadores: que o

material chegasse menos misturado à associação, que após a segregação o material fosse

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comercializado por um valor maior; sem ficar a mercê de atravessadores. Assim, todos

teriam maiores ganhos o que segundo eles, contribuiria para um ambiente de trabalho

melhor, mais feliz.

Todos os catadores, 100% dos entrevistados, demonstraram em algum momento

da entrevista, o incômodo e a insatisfação de se sujeitarem as negociações com os

atravessadores.

4.1.12. Vícios

A pedido dos coordenadores, os catadores foram abordados sobre vícios, 70,8%

afirmaram não possuir nenhum tipo de vício, 19,5% afirmaram serem viciados em

tabaco, 7,3% admitiram ter problemas com alcoolismo e 2,4% possuírem os vícios do

álcool e tabaco. Somente, um catador disse que foi viciado em maconha, mas

abandonou o vício para não dar “mau exemplo” aos filhos de sua companheira, que para

ele, são como seus filhos. No entanto, os coordenadores afirmaram que são muitos os

catadores que têm problemas com o álcool, porém, são impedidos de trabalharem

alcoolizados. O fato não é freqüente, uma vez que, segundo o estatuto da associação,

que não nos foi disponibilizado para consulta, porém, é do conhecimento de todos os

associados, quando um associado chega ao trabalho embriagado, é impedido por um dos

coordenadores de exercer suas funções, como medida preventiva de acidentes de

trabalho e brigas com os colegas.

4.1.13. Percepção dos catadores quanto ao esforço físico para segregar os

materiais recicláveis

De acordo com os dados levantados, a atividade de segregação de materiais

recicláveis demanda esforço físico, para 46,3% o esforço é considerado moderado, para

31,7% é forte, para 17,1% o esforço é muito forte e para 4,9% é fraco. Para os catadores

que consideram o grau de esforço físico entre moderado e muito forte, as principais

causas são: o peso das bolsas que geralmente são arrastadas por apenas uma pessoa e o

trabalho de separação na esteira; pois, exige que o funcionário fique o tempo todo em pé

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e encurvado, posição, ergonomicamente, incorreta. Os efeitos do esforço físico são

sentidos por 53,6% dos catadores e segundo eles, geralmente, manifestam-se causando

dores em todo o corpo, principalmente, nas pernas e coluna. Não há como deixar de

considerar a forte carga física no trabalho dos catadores e a própria rotina do serviço,

que podem estar associados às dores corporais, osteoarticulares, hipertensão e

nervosismo (Porto et al., 2004).

Apesar das precárias condições de trabalho e do grau de esforço físico sentido e

relatado pelos entrevistados, 78% dos trabalhadores declararam ter grande satisfação

pessoal e 73,17% estão muito satisfeitos com a atividade que desenvolvem na

segregação de material reciclável.

4.1.14. Lazer

No tempo livre, as formas de distração relatadas pelos catadores foram: 34,7% se

ocupam das atividades domésticas, dão atenção ou brincam com filhos, sobrinhos ou

netos; 21,1% ouvem música ou vêem televisão; 17,4% vão à igreja ou reuniões de

associação de bairro; 13,0% ficam em casa descansando; 13,8% se distraem em

atividades com amigos. Um catador disse que não tem distração em casa, fica debaixo

de uma árvore no quintal, para não ter aborrecimentos com os filhos que são muito

rebeldes.

4.2. Efeito da idade sobre a saúde e qualidade de vida dos catadores de

materiais recicláveis de Governador Valadares

No início da fase adulta as mudanças fisiológicas são muito pequenas e quase não

são percebidas (Papalia e Olds, 2000). Pressupõe-se que o que acontece com o corpo, à

medida que se envelhece, influencia muito na questão da qualidade de vida e quantidade

de vida e que as condições de vida e saúde do ser humano tendem a piorar.

Segundo entrevista com dois coordenadores de trabalho, há um alto índice de

afastamento de catadores por problemas de saúde como dores musculares, alergias,

febres, ferimentos e outros, provocando um déficit na capacidade de trabalho da

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associação. Segundo uma coordenadora, falta uma melhor assistência médica,

referindo-se as dificuldades dos catadores para conseguirem fichas nos postos de saúde.

A distribuição de fichas tem número limitado e para consegui-las, o cidadão precisa ir

de madrugada para a porta do posto e ainda assim, muitas vezes não consegue. Outros

entraves são a falta de meios de transporte para o socorro mediante à necessidade de se

deslocarem para o hospital público em caso de emergências em casa ou no trabalho, e

uma maior conscientização dos catadores quanto à necessidade do uso de EPI na

prevenção de acidentes de trabalho.

A relação entre idade e ocorrência de acidentes não foi significativa (Tabela 4).

Tabela 4. Relação entre idade e ocorrência de acidentes de trabalho

Acidentes de Trabalho

Classes de Idade (anos)ns

Presença

Ausência

10 a 30 6 6

31 a 50 9 9

51 a 80

5

6 ns Associação não significativa ao nível de 5% de probabilidade pelo Teste χ2

Também não foi significativo o efeito da idade sobre a freqüência de respostas

sobre as classes de moradia dos catadores (dados não mostrados).

Os catadores com idade maior que 30 anos manifestaram sentir pelo menos um

tipo de dor, sendo a maior incidência de dor na cabeça, perna e coluna. Pesquisas

mostram que na idade avançada, as mudanças fisiológicas, apesar de muito variáveis,

nem sempre implicam em deterioração do funcionamento físico e da saúde, muito dos

declínios associados com o envelhecimento, podem ser mais efeitos do que causas

(Papalia e Olds, 2000), segundo esse autor, estilos de vida mais saudáveis podem

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permitir que um número cada vez maior de jovens e adultos de meia idade mantenha um

nível elevado de funcionamento físico em boa parte da terceira idade. O relato da

catadora mais jovem da associação, com 18 anos de idade, uma pessoa delicada, de

aparência frágil e muito triste corroborou esta afirmação quando afirmou sentir muitas

dores no coração, quase todos os dias e de intensidade muito forte. Demonstrou não ter

interesse sobre a opinião alheia sobre o seu trabalho, afirmou que o seu grau de

satisfação com o trabalho e com a vida é baixo e que qualidade de vida é “ganhar bem e

ter o que precisa”.

Segundo Quirino e Xavier (apud Filho, 2001), uma das dificuldades para

investigar a qualidade de vida nas organizações, reside na “diversidade das preferências

humanas e diferenças individuais dos valores pessoais e o grau de importância que cada

trabalhador dá as suas necessidades [....]”. Para a população em estudo, qualidade de

vida implica em “melhor salário”; “ter condições de dar uma vida melhor para os

filhos”; “deitar sem preocupações”; “pagar as contas em dia”; “ter alegria e viver bem”;

“mais informações sobre todo tipo de assunto”; “estudar”; “ter uma casa melhor”; “ter

uma boa alimentação e saúde”; “ter muita saúde para cuidar dos filhos”; “estar bem com

os amigos, a família e consigo”; “viver em um ambiente saudável”; “trabalhar e ter

amizade com Deus”; “não ter vicio”; “ter tranqüilidade”; “ter uma casa com banheiro”;

“ter um trabalho melhor”; dentre outros.

A idade média dos indivíduos da população foi de 42 ±15 anos. Este valor está

contido na faixa etária, que segundo o Censo (IBGE, 2000), encontram-se 42,2% da

população valadarense. Na associação em estudo, observou-se que mesmo os

trabalhadores, com idade acima da média da população de catadores, são produtivos,

envolvem-se com o trabalho e com a rotina das atividades. Alguns grupos de

trabalhadores, nesta faixa etária, são muito produtivos, em parte, porque tendem a ser

mais conscienciosos e cuidadosos (Papalia e Olds, 2000).

Existe relação positiva entre idade e satisfação pessoal, catadores mais jovens

demonstraram menor satisfação pessoal (Tabela 5).

O aumento da idade não é fator determinante no nível de satisfação pessoal dos

catadores de materiais recicláveis. A maioria dos catadores (75,6%) está satisfeita com a

vida, conseguiu sair de um ambiente de trabalho degradante (quase todos trabalharam

anteriormente no antigo “lixão”)

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Tabela 5. Relação entre satisfação pessoal e idade (anos)

Classes de Idade (anos)*

Grau de Satisfação Pessoal

10 a 30

31 a 50

51 a 80

Pequeno

1

0

0

Médio

10

0

0

Grande

1

18

11 * Associação significativa pelo Teste χ2 ao nível de 5% de probabilidade,

A maior parte dos catadores mais jovens mostrou-se indiferente à pesquisa, alguns

não quiseram responder aos questionários, e quando responderam, fizeram-no com

descaso, externando com palavras ou gestos a descrença em algo que possa mudar sua

realidade de vida. Esse descaso não representa um viés na pesquisa, uma vez que

observou-se que os catadores vivem a realidade da falta de políticas públicas, que

atendam suas expectativas para uma condição de vida melhor. A manifestação dessa

descrença foi percebida pela forma como reagiram às abordagens. Já os catadores mais

velhos se apresentaram bem cordiais, alguns aproveitaram o momento da aplicação dos

questionários para falarem da importância que vêem no trabalho, das suas conquistas e

do valor que acreditam ter para a sociedade.

Quando os trabalhadores sentem que estão no emprego errado, ou seus esforços

não são suficientes para atender suas demandas básicas, em virtude da baixa

recompensa por salário, estima, oportunidade de progresso e senso de controle; o

resultado pode ser o estresse, o qual apresenta como sintomas mais comuns:

nervosismo, ansiedade, tensão, raiva, irritabilidade, fadiga e depressão (Papalia e Olds,

2000). O fato de participarem da pesquisa com indiferença, e alguns relatos transcritos a

seguir demonstram, que para os catadores mais jovens a atividade laboral não é algo

prazeroso.

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Ao serem entrevistados, 16,6% dos catadores mais jovens disseram que sentem-se

envergonhados pelo trabalho que fazem, 50% declararam que gostariam de ter um

trabalho mais seguro, ganhar bem e ter carteira assinada e 33,3% gostariam de comer

bem e ter as coisas em casa. Apesar dos catadores mais jovens possuírem um maior

grau de escolaridade, uma média de três anos e sete meses de estudo, foi entre os

mesmos, que se percebeu um menor grau de satisfação pela vida (Tabela 5). Durante as

entrevistas, quando questionados sobre a percepção de outras pessoas sobre o seu

trabalho, houve as seguintes respostas: “eu não sei”; “muito ruim, dizem que sou muito

nova para isso”; “é um trabalho fácil que paga pouco”; “não tenho nada para falar”;

“esquisito por causa da pouca idade”; “alguns têm preconceito”; somente três catadores

disseram que as pessoas admiram seu trabalho. Um catador disse que as pessoas falam

que o seu trabalho “é bom, saiu da rua”, ele foi o único catador jovem que afirmou ter

uma grande satisfação pela vida, relatou que já foi usuário de maconha, vivia pela rua,

mas hoje tem uma família, vive com uma mulher que tem cinco filhos e abandonou o

vício para dar bom exemplo às crianças, que considera como filhos.

Foi constatada uma relação negativa e significativa ao nível de 5% de

probabilidade entre idade e escolaridade (Figura 8).

A educação é um processo mediante o qual as pessoas adquirem a capacidade de

redefinir, constantemente, a qualificação necessária para uma determinada tarefa e

ainda, quem possui educação, no contexto organizativo adequado, pode reprogramar-se

para as tarefas em mutação constante do processo produtivo (Afonso e Antunes, 2001).

Nesse sentido, corroborando com esse ponto de vista, essas demonstrações de

insatisfação, ficam mais evidentes nos catadores jovens, provavelmente, por

apresentarem maior grau de escolaridade, pois a educação induz a uma exigência maior

por qualidade de vida e salário. A ênfase na promoção da empregabilidade por meio da

expansão de oportunidades de acesso à educação e formação, assenta-se no pressuposto

de que o desemprego se encontra associado a um déficit de qualificação, que sendo

confrontado e resolvido se reflete na anulação, ou diminuição desse mesmo desemprego

(Afonso e Antunes, 2001).

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Figura 8. Correlação entre idade (anos) e escolaridade (meses)

Segundo a SIS (IBGE, 2000), a escolaridade média dos jovens brasileiros na faixa

de 20 a 24 anos é de 7,5 anos de estudo, e com base nos dados da SIS (IBGE, 2004), foi

esse o grupo etário que apresentou maior crescimento na freqüência à escola em 2003.

No entanto, esses índices não condizem com a realidade dos jovens catadores da

associação. Todos abandonaram a escola, e como apresentam escolaridade média

inferior a quatro anos de estudo, são considerados analfabetos funcionais (IBGE, 2006).

De acordo com a PNAD (IBGE, 2004, 2005) 11,3% da população brasileira é

considerada analfabeta, pois possui menos de um ano de estudo e 14,5% são analfabetos

funcionais.

Conforme o Censo, (IBGE, 2000) 12,8% da população valadarense adulta possui

entre um e três anos de estudo (IBGE, 2000). Na associação em estudo, 53,6% dos

trabalhadores apresentam escolaridade igual ou inferior a três anos de estudo, destes,

22,7% são catadores jovens com idade inferior a 30 anos. Porém, ainda que considerado

baixo, o aumento do nível educacional implica em melhor conhecimento da realidade de

vida, que se distancia da realidade vivida pelos catadores mais jovens, uma vez que o

mercado de trabalho é competitivo e exige qualificação. Pessoas, que abandonam a

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escola, têm dificuldade para conseguir e para manter o emprego, e os cargos

conquistados. Tendem ser de nível inferior e mal remunerado (Papalia e Olds, 2000).

Com a baixa escolaridade, e a falta de qualificação, as oportunidades de emprego

ficam muito limitadas, acarretando desemprego, razão pela qual, segundo os

entrevistados, levou os catadores a retirarem o seu sustento da catação do lixo, gerando

frustração em muitos deles. O trabalho com a segregação do lixo é visto como o último

recurso em uma sociedade marcada pela redução na oferta de empregos (Paixão, 2005),

enquanto outras portas se fecham, essa é uma atividade sempre disponível. As

oportunidades, de obtenção de um melhor grau de escolaridade, são remotas para

muitos, pois as condições de vida não possibilitam a entrada ou a permanência por

tempo significativo na escola (Paixão, 2005). A precariedade de recursos materiais, a

incerteza, e a pobreza dificultam a formação; por isso é ingenuidade alimentar

expectativas de se retirar benefícios significativos da expansão de oportunidades de

educação e formação, sem antes pensar em oferecer garantias à segurança material e às

condições dignas de vida (Afonso e Antunes, 2001).

Os catadores mais velhos apresentaram um grau de escolaridade menor, média de

dois anos e cinco meses de estudo, sendo que destes, 27,5% nunca freqüentaram uma

escola, no entanto, os catadores acima dos cinqüenta anos, durante as entrevistas

demonstraram grande satisfação pela vida, pelo trabalho, e orgulho pelo que fazem,

sentem-se úteis à sociedade e ao meio ambiente, gostam de conversar e contar

experiências. Enfrentam a desqualificação afirmando que o que lhes importa é estarem

trabalhando, garantindo a sobrevivência da família com honestidade (Paixão, 2005).

Dentre os catadores entrevistados, 14,6% relataram que estão freqüentando aulas de

EJA. A atividade mental continuada ajuda a manter o desempenho em indivíduos

adultos, razão pela qual os trabalhadores mais velhos, muitas vezes, são mais produtivos

que os mais jovens (Papalia e Olds, 2000).

De acordo com as informações levantadas, percebeu-se que a visão dos catadores

mais jovens é diferente, quando comparada aos mais velhos; os primeiros apresentam

uma visão pessimista no que diz respeito às esperanças e às expectativas de vida, assim,

o grau de satisfação pessoal é baixo. Já os catadores mais velhos demonstram

expectativas de vida e esperanças positivas, portanto a qualidade de vida é satisfatória.

A idade afeta a maneira como as pessoas se sentem em relação ao trabalho, pessoas com

menos de quarenta anos tendem a ser menos satisfeitos com trabalho, pois consideram o

trabalho desagradável e estressante, em contrapartida, trabalhadores, com maior idade,

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tendem a demonstrar maior satisfação. Preocupam-se com o tipo de trabalho que fazem,

tendem a ser mais cuidadosos, responsáveis e moderados com o tempo e com os

materiais, comparativamente, aos trabalhadores mais jovens (Papalia e Olds, 2000).

Ao serem abordados sobre o que as outras pessoas acham do seu trabalho, 69,2%

dos catadores mais velhos disseram que “é bom”, “importante”, “bonito”, “falam bem”,

“importante para o meio ambiente”, “muito importante”, “muito bom, melhor que o

lixão”, “gostam do meu trabalho”, “importante porque contribui com a natureza”.

Somente oito catadores relataram o contrário: “acham que eu trabalho no lixo”; “não é

digno”; “não é bom trabalhar com esse material”; “muito esforço, pesado; “abusam,

criticam, dizem que eu trabalho com coisa suja”, um desses catadores tem Hanseníase,

está em tratamento, mas fala da doença sem problemas. Uma catadora disse que “as

pessoas acham que esse trabalho pode trazer enfermidades”, ela demonstrou ser uma

pessoa triste, disse que mora sozinha e se sente desamparada e outra disse que não fala

com as pessoas sobre esse trabalho, deixou claro que não gosta do que faz, ela tem um

salão de beleza em casa, onde trabalha nos finais de semana e durante a semana trabalha

na associação para completar a renda e pagar as passagens para o filho que estuda fora.

Disse que sente muita vergonha “desse tipo de trabalho”. No entanto, destes oito, três

afirmaram que o grau de satisfação com a vida é médio e todos os demais afirmaram

que o seu grau de satisfação pela vida é grande.

Quanto mais estressantes são as mudanças, que ocorrem na vida, maior a

possibilidade de se contrair doenças e esse estresse pode estar relacionado a vários

fatores, dentre eles o trabalho. O estresse debilita o sistema imunológico deixando a

pessoa mais vulnerável a doenças como as infecções, distúrbios estomacais, depressão,

insuficiência cardíaca, pessoas sob estresse podem dormir menos, fumar e beber mais,

comer mal e dar pouca atenção à saúde (Papalia e Olds, 2000).

A saúde é produto de alguns fatores relacionados com a qualidade de vida,

incluindo um padrão adequado de alimentação, nutrição, habitação e saneamento; boas

condições de trabalho; oportunidades de educação; ambiente físico limpo; apoio social

para famílias e indivíduos; estilo de vida responsável e cuidados de saúde (Buss, 2000).

No entanto, para os catadores da associação em estudo, o conceito de saúde não

contempla todos esses fatores, limita-se a atender a suas necessidades e a seus anseios

para se sentirem bem como: “não sentir dor, não sentir nada”; “não precisar de hospital

ou de médico”; “não precisar de remédios”; “alimentar bem”; “não ter vício”; “estar

bem com a vida”; “conseguir trabalhar”; “levantar com coragem para trabalhar”;

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“trabalhar feliz”; “deitar bem e levantar sem dor”, pois tem dificuldade para levantar por

causa das dores que sente; “ter higiene e casa limpa”; “não comer coisas que fazem

mal”; “ter disposição, ser robusta”; “ter ânimo”; “ser forte e animada”; “acordar de bem

com a vida, alegre e sem febre”; “ser normal e não ter nada nos exames”.

Apesar do contato direto com o lixo, 63,4% dos trabalhadores disseram não

sentir nenhum tipo de incômodo com o cheiro do lixo, segundo eles “a gente acaba

acostumando”. Observou-se que muitos catadores retiram do lixo roupas,

eletrodomésticos, utensílios para uso pessoal e para casa e também restos de alimentos.

Em conversa informal os trabalhadores negaram o fato de recolherem alimento do lixo,

contudo, ocorreram vários flagrantes desse tipo de conduta. Quando questionados sobre

o funcionamento do intestino, 78% dos entrevistados afirmaram que sempre o intestino

funciona regularmente, 29,3% sentem enjôos freqüentes ou esporádicos e 70,7%

afirmaram que nunca sentem enjôos.

As condições de trabalho dos catadores são caracterizadas como extremamente

insalubres (D’Almeida e Vilhena, 2000), pois as pessoas são expostas ao contato direto

com materiais perfuro cortantes, insetos, baratas, ratos, e outros agentes contaminantes e

vetores de inúmeras doenças. Estima-se que 30% dos danos à saúde estão relacionados

aos fatores ambientais decorrentes de inadequação do saneamento básico (água, lixo,

esgoto), poluição atmosférica, exposição a substâncias químicas e físicas, desastres

naturais, fatores biológicos (vetores, hospedeiros e reservatórios), dentre outros (OMS,

2006). Contudo, 73,1% dos entrevistados se consideram com saúde.

“A promoção da saúde consiste nas atividades dirigidas à transformação dos

comportamentos dos indivíduos, focando nos seus estilos de vida, e localizando-os no

seio das famílias, e no máximo, no ambiente das culturas da comunidade em que se

encontram” (Buss, 2000). Nesse sentido, cabe uma discussão sobre os motivos que

levam a ocorrência de acidentes de trabalho. Os dados confirmam que os acidentes são

comuns com os catadores: 90,3% dos catadores declararam encontrar objetos perfuro

cortantes no material que segregam, e 43,9% declararam que já sofreram acidentes com

esses materiais, alguns por mais de uma vez, 12,1% já sofreram acidente de outra

natureza, e 63,4% já presenciaram, pelo menos, um tipo de acidente sofrido por um

colega de trabalho (Tabela 6).

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Tabela 6. Tipos de acidentes mais comuns sofridos ou presenciados pelos catadores

Tipo de Acidente Sofrido (número) Presenciado (número)

Corte com vidro 15 19

Furo com prego ou agulha 3 12

Picada ou mordida de animal 2 2

Prensagem de membros 2 4

Outros* 3 1

*Descuido ao puxar as bolsas utilizadas para colocar o material segregado; brigas; uso incorreto de equipamentos; susto com animais como ratos, escorpiões, cobras e outros; aborrecimentos com problemas pessoais ou com o trabalho e colegas

De acordo com as informações prestadas pelos coordenadores da associação,

“todos” os catadores tem acesso aos EPIs (luvas, botas, máscaras e aventais), porém não

querem utilizá-los e não há exigência por parte da coordenação nesse sentido. Uma

catadora pediu para registrar que no início das atividades da associação todos receberam

EPIs, ela rejeitou, não tem e não usa porque não quer, e outro catador afirmou que não

tem e não gosta de utilizar EPIs, no entanto, no dia seguinte trabalhou de bota e avental.

Dentre os entrevistados, 14,6% possuem e utilizam EPIs.

Quando questionados sobre os motivos dos acidentes de trabalho, os catadores

responderam: 46,3% falta de atenção; 17,1% falta do uso de EPIs, 17,1% materiais

misturados (vidros, latas, agulhas, e outros); 14,7% outros (descuido ao puxar as bolsas

utilizadas para colocar o material segregado; brigas; uso incorreto de equipamentos;

susto com animais como ratos, escorpiões, cobras e outros; aborrecimentos com

problemas pessoais ou com o trabalho e colegas) e 4,8% não sabem.

Quando se acidentam ou precisam de cuidados médicos, 75,6% dos catadores

afirmaram ter acesso a serviços de saúde. Eles utilizam os serviços dos postos de saúde

próximos às suas residências, ou os atendimentos no Pronto Socorro Municipal pelo

Sistema Único de Saúde (SUS). A maioria dos catadores, 61% não se preocupam com a

prevenção e manutenção da saúde, apenas 39% afirmaram fazer exames médicos pelo

menos uma vez ao ano. Somente 51,2% afirmaram acreditar que o trabalho com o lixo

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pode causar algum dano a saúde, e segundo eles, as doenças que podem ser causadas

pelo contato com o lixo são: “gripe”, “contaminação”, “qualquer tipo de doença”,

“doença de pele”, “dor nos ossos”, “manchas na pele”, “infecção”, “micose”, doença de

lixo de hospital”, “tuberculose”, “febre amarela”, “cortes”, “dor na coluna”, “alergia”,

“câncer”, “doença de urina de rato” e “doença de ratos e baratas”. Segundo os

coordenadores, anualmente, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) disponibiliza

vacinas contra gripe, tétano, rubéola e febre amarela, no entanto, somente, 65,8% dos

trabalhadores afirmaram ter tomado algum tipo de vacina depois que começaram a

trabalhar na associação.

No aspecto relativo à escolaridade que é um meio imprescindível e eficaz para a

conscientização do ser humano quanto à valorização da própria vida e para a obtenção

de informações que contribuam para melhorar sua saúde, o depoimento da catadora com

maior nível de escolaridade da associação (com 6 anos de estudo e 8 anos de trabalho

com a catação), a mesma enfatizou a importância que se deve ter com a saúde, já que

“toma todas as vacinas nos períodos certos, faz exames periódicos a cada três meses e é

doadora de sangue”, a mesma afirmou que se orgulha disso. No entanto, afirma que não

utiliza EPIs, não quer utiliza-los e não vê necessidade do uso para o tipo de trabalho que

realiza. Nesse contexto, a Carta de Otawa elaborada na I Conferência Internacional

sobre Promoção da Saúde em 1986 (OPAS, 2006) descreve promoção à saúde como “o

processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de vida e saúde,

incluindo uma maior participação no controle deste processo. Para atingir um estado de

completo bem-estar físico, mental e social os indivíduos e grupos devem saber

identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio

ambiente [....]. A Saúde é o maior recurso para o desenvolvimento social, econômico e

pessoal, assim como uma importante dimensão da qualidade de vida” (Buss, 2000).

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5. CONCLUSÕES

Com base nos resultados e nas condições em que foi realizada a presente

pesquisa, conclui-se que:

i. Foi observado baixo nível de escolaridade entre os catadores.

ii. A desigualdade socioeconômica em relação a média dos trabalhadores

brasileiros ocasiona baixa auto-estima, desesperança e descrédito em melhorias nas

condições de vida entre os catadores.

iii. A maioria dos catadores não vê o trabalho de segregação de material reciclável

como forma de contribuir para a preservação ambiental, mas somente como uma fonte

de renda. Desconhece o valor e a necessidade da reciclagem para a sustentabilidade do

meio ambiente.

iv. Embora os acidentes de trabalho sejam freqüentes entre a população em estudo,

não existe relação positiva com aumento da idade.

v. Não existe relação entre o tipo de moradia e a idade, e tipo de moradia e a

satisfação pessoal.

vi. A idade apresenta relação negativa com escolaridade e positiva com a satisfação

pessoal.

vii. O grau de satisfação com o trabalho é grande para a maioria dos catadores.

Apesar de exigir grande esforço físico, oferecer condições precárias de trabalho e baixos

salários, o trabalho é dignificado pelos trabalhadores por oportunizar uma mudança no

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estilo de vida e a possibilidade de valorização do papel do catador por segmentos da

sociedade que dispõem de senso social e percepção para esse grupo social.

viii. São indivíduos produtivos, seu trabalho deve ser valorizado e atendido nas suas

necessidades de forma a garantir o desenvolvimento e a expansão do serviço prestado à

comunidade e ao meio ambiente.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando as informações obtidas neste trabalho, sugere-se:

Uma política de orientação para a capacitação e organização da coordenação da

associação, bem com um maior preparo dos catadores para a realização das atividades,

sobretudo para o trabalho em equipe.

Trabalho de capacitação dos trabalhadores da associação de catadores de materiais

recicláveis de Governador Valadares, com ênfase na promoção de mudanças de

comportamentos, tais como uso de equipamentos de proteção individual e de

valorização da própria vida.

A busca de novas parcerias com IES ou faculdades locais para a retomada das

aulas de EJA, porém, que seja decidido em assembléia um horário conveniente e

contado como hora trabalhada como forma de incentivo para que os catadores voltem a

freqüentar as aulas sem que haja interferência na produção e na renda do catador..

Aliado ao acompanhamento psico-pedagógico aos profissionais que trabalham com o

lixo e a seus familiares, facilitando sua inclusão social, por meio de fortalecimento de

sua auto-estima (ALEMG, 2005).

Um programa de apoio à associação de materiais recicláveis, de forma semelhante

ao Governo Federal. A elaboração de uma política pública municipal de incentivo à

coleta seletiva em escritórios comerciais, shopping center e indústrias da região,

concedendo incentivos fiscais aos segmentos, que realizarem a separação de resíduos

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recicláveis, e sua destinação para associação. Bem como, elaboração de programas

específicos que incentivem as instituições públicas a implantarem a coleta seletiva em

seus locais de trabalho, firmando parcerias com a associação (ALEMG, 2005).

Aquisição e instalação de uma balança nos limites físicos da associação, para

evitar o deslocamento do trabalhador de seu local de trabalho, para acompanhar a

pesagem.

Considerando, que os catadores mais jovens demonstram menor satisfação pela

vida, cabe discutir a necessidade da criação de mais oportunidades de trabalho e de

políticas públicas voltadas para qualificação e incentivo ao aproveitamento da mão-de-

obra jovem.

Sobre o aspecto holístico da questão, sugere-se ainda a criação de leis que

incentivem as empresas a destinar materiais recicláveis as associações de catadores,

garantia de inserção dos filhos dos catadores de materiais recicláveis em projetos de

capacitação profissional, elaboração e implementação de programas de capacitação para

profissionalizar e valorizar as pessoas que atuam na coleta seletiva e inclusão dos

catadores de materiais recicláveis, associados e cooperados, na política habitacional do

município, elaborando-se projetos que levem em consideração sua renda social como

sugerido por ALEMG (2005).

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Cidades 2000, Censo 2000, Brasil em Síntese, Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2000, Síntese de Indicadores Sociais 2000, 2003 e 2004, Brasil em Síntese 2003, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2004-2005. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 10 jun. 2006, 15 ago. 2006, 12 jan. 2007 e 17 fev. 2007. LEFF, E. O saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. p. 8-154. MAGALHÃES, M.A.; MAGALHÃES, A.B.S.; MATOS, A.T. Levantamento e diagnóstico das condições sócio-econômicas e culturais dos catadores de lixo e do mercado de recicláveis no município de Viçosa, MG. In: CONGRESSO MUNDIAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL, 2., 2004, Rio de Janeiro. Anais..., Rio de Janeiro. RJ, 2004. MINAYO, M.C.S.; HARTZ, Z.M.A.; BUSS, P.M. Qualidade de vida e saúde: um debate necessário. Revista Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 5 p.7-18, 2000. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE - MMA, 2003. Disponível em: <http://www.mma.gov.br>. Acesso em: 17 dez. 2006. NUNESMAIA, M.F.; LIMA A.M.F.; RODRIGUES C.S.; CARDOSO C.S. Estudo do perfil de cooperados de produtos recicláveis. Salvador, BA. In: SIMPÓSIO LUSO-BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA AMBIENTAL, 11, 2004, Salvador. Anais..., 2004. Salvador. BA, 2004 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE - OMS. Disponível em: <http://www.who.int>. Acesso em: 17 jul. 2006. ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE – OPAS. Disponível em: <http://www.opas.org.br>. Acesso em: 01 set. 2006. PAIXÃO, L.P. Significado da escolarização para um grupo de catadoras de um lixão. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 35 p. 141-170, jan.- abr. 2005. PAPALIA, D.E.; OLDS, S.W. Desenvolvimento Humano. Porto Alegre: ARTMED, 2000. 684p. PORTO, M.F.S.; JUNCA, D.C.M.; GONÇALVES, R.S.; FILHOTE, M.I.F. Lixo, trabalho e saúde: um estudo de caso com catadores em um aterro metropolitano no Rio de Janeiro, Brasil. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 20 p.1503-1513, nov.- dez. 2004. PREFEITURA MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES - PMGV. Disponível em: <http://www.valadares.mg.gov.br>. Acesso em: Acesso em: 17 fev. 2007 PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO - PNUD. Disponível em: <http://www. pnud.org.br>. Acesso em 15 jan. 2007

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RIBEIRO, A.C.M.; SANTOS,V.F. Criança no lixo, nunca mais. Relatório social - Morro do Céu. Jornal do Meio Ambiente, Niterói, jul. 2000. Disponível em <http://www.jornaldomeioambiente.com.br> - Acesso em: 15 dez. 2006 RIBEIRO, T.F.; LIMA, S.C. Coleta seletiva de lixo domiciliar - estudo de casos. Revista Caminhos de Geografia, Uberlândia, v. 1 p.50-69, dez. 2000. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - UNB - Encontro Nacional de Catadores. Brasília, DF: 2001, DF. Disponível em: <http://www.Lixo.com.br> - Acesso em: 11 jan. 2007

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ANEXOS

ANEXO 1 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão

COMITE DE ÉTICA EM PESQUISA – CEP/UNEC E-Mail: [email protected] Telefone: (33) 3329- 4555

Eu, ___________________________________________________________,

concordo em participar voluntariamente da pesquisa sobre Avaliação das condições de

trabalho dos catadores de materiais recicláveis e suas relações com a qualidade de

vida e saúde em Governador Valadares, Minas Gerais, Brasil, na qualidade de

entrevistado, estando informado e esclarecido de que os dados serão utilizados

exclusivamente nesta pesquisa, sendo minha identificação mantida em sigilo.

Governador Valadares (MG), de de 2006

_________________________________

Assinatura do Entrevistado

_________________________________

Assinatura do Pesquisador

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ANEXO 2 - PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA

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ANEXO 3 - QUESTIONÁRIO PARA COLETA DE DADOS / CATADOR

1) Nome:______________________________________ Idade: ___ Data: ___/__/__

2) Quantos anos você estudou?___________ _________________________________

3) Tem filhos? ( ) não ( ) sim em caso afirmativo quantos são ( )

4) Há quanto tempo participa da associação? ________________________________

5) Onde você trabalhava antes de se associar?________________________________

6) Com que idade começou a trabalhar?____________________________________

7) Há quanto tempo trabalha com coleta de material reciclável?__________________

8) Qual a sua renda mensal na associação?__________________________________

9) Você tem alguma outra fonte de renda? ( ) sim ( ) não

10) Você considera as doações dos parceiros (alimentos, material escolar, outros)

como uma forma de aumentar a sua renda familiar? ( ) sim ( ) não

11) Quantas horas em média trabalha por dia?_________________________________

12) Quantos dias você trabalha por semana? __________________________________

13) Quantas pessoas da sua família trabalham para formar a renda familiar? ________

14) Quantas pessoas moram na sua casa? ____________________________________

15) Você mora em: ( ) casa própria ( ) casa alugada ( ) casa emprestada por

parentes/ amigos

*considerar própria a casa que pertencer ao entrevistado ou a algum familiar que

more nela.

16) Quantos cômodos possui a casa que reside? ________ (não considere o banheiro).

17) A rua onde mora possui rede de água e esgoto? ( ) sim ( ) não

18) Possui banheiro dentro de casa? ( ) sim ( ) não

19) Assinale os eletrodomésticos que tem em casa:

( ) fogão a gás ( ) geladeira ( ) televisão ( ) ventilador ( ) outros_________

20) Existe coleta seletiva em seu bairro? ( ) sim ( ) não

21) Na sua casa, o lixo seco é separado, independente da coleta seletiva?

( ) sim ( ) não

22) O cheiro do lixo incomoda você em qual intensidade?

( ) não incomoda ( ) incomoda pouco ( ) incomoda muito ( ) é insuportável

23) Você tem enjôo?

( ) nunca ( ) às vezes ( ) quase todos os dias ( ) todos os dias

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24) Seu intestino funciona bem?

( ) não ( ) às vezes ( ) quase sempre ( ) sempre

25) Você possui algum vício?

( ) álcool ( ) tabaco ( ) outros ( ) não possui nenhum vício

26) Qual o grau do seu esforço físico no trabalho?

( ) fraco ( ) moderado ( ) forte ( ) muito forte

27) Este esforço provoca em você algum efeito? ( ) sim ( ) não

28) Qual?______________________________________________________________

29) No seu tempo livre o que você faz para se distrair ou divertir? _________________

30) Você possui equipamentos de proteção individual? ( ) sim ( ) não

31) Quais? ( ) luvas ( ) botas ( ) máscara ( ) avental ( ) outro______________

32) Você utiliza esses equipamentos de proteção individual? ( ) sim ( ) não

33) Você encontra objetos cortantes ou perfurantes (agulhas, pregos, cacos de vidro,

facas, etc...) no lixo que separa? ( ) sim ( ) não

34) Você já se acidentou com algum deles? ( ) sim ( ) não

35) Que tipo de acidente? _________________________________________________

36) Você já presenciou algum acidente com os seus colegas neste trabalho?

( ) sim ( ) não

37) Que tipo de acidente?_______________________________________________

38) Aqui na Associação os acidentes são comuns? ( ) sim ( ) não

39) Na sua opinião, quais são as causas dos acidentes ocorridos no seu

trabalho?________________________________________________________________

40) Na sua opinião, o seu trabalho pode provocar alguma doença em você?

( ) sim ( ) não

41) Qual? ______________________________________________________________

42) Você tem acesso a algum serviço que cuida da saúde? ( ) sim ( ) não

43) Que tipo de serviço? __________________________________________________

44) Você faz exames de saúde periodicamente? ( ) sim ( ) não

45) Quais os exames? _____________________________________________________

46) De quanto em quanto tempo? ___________________________________________

47) Você tomou vacinas depois que começou a trabalhar aqui na Associação?

( ) sim ( ) não

48) Quais?______________________________________________________________

49) O que as pessoas acham do seu trabalho? ___________________________________

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50) O que é qualidade de vida para você?

______________________________________________________________________

51) O que você acha que traria melhorias ao trabalho realizado na associação?

______________________________________________________________________

52) O que pode ser melhorado no ambiente de trabalho?

______________________________________________________________________

53) Qual o seu grau de satisfação no trabalho? ( ) pequeno ( ) médio ( ) grande

54) Grau de satisfação com a vida? ( ) pequeno ( ) médio ( ) grande

OBRIGADA POR SUA ATENÇÃO E COLABORAÇÃO.

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ANEXO 4 - QUESTIONÁRIO PARA COLETA DE DADOS / COORDENADORES

1) Como se deu o início das atividades na associação, onde e quando?

2) Quando o galpão foi inaugurado?

3) Quais foram os critérios para fazer o cadastramento inicial?

4) Como é feito o cadastro atualmente?

5) Como é feito o registro desses trabalhadores?

6) Como são escolhidos os coordenadores?

7) O salário do coordenador é maior? Qual a porcentagem?

8) Como é feito o registro da produção diária?

9) Quais são os atuais parceiros? Que tipo de parceria?

10) Como é o espaço físico? (banheiro, cozinha, tamanho do galpão...)

11) Como é distribuído o trabalho dentro do galpão?

12) Quais as etapas da separação?

13) Quanto pesam as bolsas?

14) As brigas são freqüentes?

15) E os problemas com alcoolismo?

16) Qual o volume que chega pela coleta seletiva?

17) Quanto é aproveitado?

18) Para quem é vendido o material segregado? Qual o preço do quilo?

19) Histórico pessoal - número de catadores que:

a. são casados ____________

b. são solteiros ____________

c. são viúvos ____________

d. vieram do lixão _____________

e. são ex-catadores de rua ___________

f. vem de outra atividade ___________

g. são naturais de Governador Valadares ___________

h. são naturais do interior de Minas Gerais ___________

i. são naturais de outro estado brasileiro ___________

20) Como e quando são feitas as doações dos parceiros (material escolar, cestas básicas

e outros)

21) Quantos funcionários não são catadores?

22) Como são obtidos os alimentos para fazer a comida, quem faz e para quem?

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23) Qual a participação da Prefeitura?

24) Quem paga as contas? (funcionários, água, luz, telefone...)

OBRIGADA POR SUA ATENÇÃO E PARTICIPAÇÃO!

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ANEXO 5 - FICHA DE CADASTRO

FICHA DE CADASTRO - GALPÃO________________________________________

I - Identificação:

1. Nome: _____________________________________________________________

2. Data de Nascimento: ____/____/____ Natural de: ___________________________

3. Estado Civil: ( ) Casado ( ) Solteiro ( ) Outros

4. Filiação:

5. Paterna______________________________________

Profissão_______________________________

6. Materna______________________________________

Profissão______________________________

II - Endereço Residencial:

1. Rua: ___________________________________ Nׂ° _____ Bairro _____________

2. A casa onde reside é? ( ) própria ( ) cedida ( ) alugada – valor__________

3. Construção: ( ) alvenaria ( ) outros

4. Quantos Cômodos? ________________________

5. Água: ( ) Cisterna ( ) SAAE ( ) Não tem

6. Luz: ( ) CEMIG ( ) Lamparina ( ) Não tem

7. Banheiro: ( ) Descarga ( ) Fossa ( ) Não tem

III - Escolaridade:

1. Estuda: ( ) sim ( ) não Quantos em casa estudam? _________

2. Estudou até que série? ______________ Quantos estão fora da escola? _____

3. Gostaria de continuar estudando? ( ) sim não ( )

4. Por que? _____________________________________

IV - Situação Familiar / Quantos filhos?

1. De 0 a 6 anos ________________________ freqüenta creche - sim ( ) não ( )

2. De 6 a 12 anos ________________________________ estuda? Sim ( ) não ( )

3. Acima de 16 anos ______________________________________

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V - Situação Sócio-econômica:

1. Quantas pessoas moram nesta casa? __________ Quantos trabalham? ___________

2. N° de dependentes: _____________________________________

3. Quantos trabalham na associação de catadores? _____________________________

4. Renda familiar mensal: _______________________________

VI - Situação Social:

1. Participa de algum movimento? ( ) sim ( ) não Qual? ________________

2. Recebe algum benefício do programa do Governo Federal?

( ) sim ( ) não

3. Qual(is) ____________________________________________________________

4. Programa do Governo Municipal? ( ) sim ( ) não

5. Qual(is) ____________________________________________________________

VII - Higiene / Saúde

1. Tem problema de saúde? ( ) sim ( ) não

2. Faz uso de medicamento? ( ) sim ( ) não

3. Já teve alguma doença grave? ( ) sim ( ) não

4. Toma remédio controlado? ( ) sim ( ) não Qual? _______________

5. Você toma água? ( ) fervida ( ) filtrada ( ) de qualquer jeito

6. Já ouviu dizer sobre saúde alternativa? ( ) sim ( ) não

7. Faz uso de chá caseiro? ( ) sim ( ) não

8. Quando adoece você procura? ( ) Posto de Saúde ( ) Hospital Municipal

VIII - Fale da sua experiência de catador(a):

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

IX - Observação Geral:

_____________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________